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Jogos da Sedução

Minha vida em meio ao PU


Por Max v3
Coloquei uma prévia do ebook em um tópico, no site PuaBase.com/forum. Eis alguns
comentários que recebi:

“É engraçado como muitos tem um começo nesse mundo de maneiras semelhantes,


sua escrita ta bem fluída, com leveza.” Rivas23

“Você escreve de um jeito cativante e misterioso, despertando uma curiosidade no


leitor que o faz querer continuar lendo, e com uma linguagem leve, o que torna possível a
continuação da leitura!” Marinho/Ghost

“Meus olhos lacrimejaram lendo isso, pois tirando a parte do MSN, que eu fiz cara a
cara, minha história é igual”. Neton

“Acho que é chover no molhado falar que tu escreve bem e como estou ansioso pelo
ebook” Alfieosedutor

“Você escreve super bem. Estou ansioso aqui para saber o final da historia, porque me
identifiquei muito com o personagem descrito.” Wictblade

Agradeço a todos os comentários que me incentivaram a continuar escrevendo.

Sem maiores delongas,

Eis meu Ebook:


Índice

*O Despertar

*A Revolução da Primeira Sarge

*Calor e Frio

*Descontrole

*O Borbulhar de Sangue

*Uma Carta de Redenção

*Novo Começo

*Uma janela de MSN, Um brinco prata, Um balde d’água e Um lenço manchado


de sangue
O Despertar

Então eu estava parado novamente em frente ao computador. Não para ver outra
série de comédia ou suspense, não para jogar meus games de RPG online e muito menos para
ver vídeos engraçados no YouTube. Meu quarto, como sempre, estava uma bagunça: meu
controle de Playstation 2 estava jogado sobre a cama, havia um fone de mp4 sobre minha
cabeceira, sendo que perdi meu mp4 a muito tempo, haviam roupas jogadas para um lado e
meu tênis (somente um pé) jogado perto da porta. Mas nada disso tirava minha atenção. Eu
acabara de jogar Guitar Hero a 3 horas seguidas na casa de meu vizinho, e viera embora,
porque sabia que ela entraria no MSN a aquela hora.

Era um historia estranha. Nunca havia gostado de uma garota como gostava desta. Eu
a conhecera em um curso. Ela era loira, um pouco mais baixa que eu, tinha uma voz suave e
um corpo lindo. Havia quase três meses que eu conversava com ela todos os dias, sendo cara-
a-cara ou pelo MSN. A cada dia ficava mais difícil essa conversa: toda vez que eu a via, meus
braços começavam a tremer, minha testa a suar e meus olhos a lacrimejar. Eu já nos imaginara
tendo uma vida juntos como namorar, casar e por ai vai. Tudo isso estaria à prova em poucos
minutos.

Max diz: Ola

Mary diz: Oi, tudo bem?

Max diz: Tudo. Quero te falar uma coisa...

Mary diz: Fala

Max diz: To tentando te dizer isso há algum tempo já. Gosto de você. Gosto muito de
você. Te conheço melhor que todos os seus ex-namorados, sei do que você gosta e não gosta.
Tenho certeza que sou seu melhor amigo. Antes eu te via como amiga...

Mary diz: Max... espera....

Max diz: Já estou acabando.

Max diz: ...Agora já não te vejo mais como amiga, quero ter um relacionamento serio
com você. Vou te fazer a mulher mais feliz do mundo. Quer namorar comigo?

Mary diz: Max, eu também gosto muito de você. Você é muito especial pra mim, eu
estava esperando você falar comigo. Sim eu quero!

E tudo poderia ter terminado da forma que começou: rápido, simples e mágico. Mas
não. Tudo isso foi apenas o começo, de uma jornada que eu faria, conhecendo pessoas,
rotinas, linguagem corporal, estilo, uma forma de viver. Tudo isso foi necessário para eu entrar
de vez nesse estranho e misterioso mundo da sedução, onde solitários homens outrora gagos,
feios, gordos e desajeitados, conseguem mudar a forma como vivem e passam a namorar
mulheres lindas. Tudo isso foi necessário para que minha jornada nesse mundo bizarro
começasse, nesse mundo PU.
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Mary diz: Max, eu também gosto muito de você. Você é muito especial pra mim, mas
eu te vejo somente como amigo. Mas obrigada por falar, é sempre bom saber que alguém
gosta da gente.

Mary diz: Tenho que ir agora, te vejo depois.

Mary diz: Beijo

- Mary esta offline no momento. As mensagens serão entregues quando esse contrato
entrar.

Foi como um soco no meu estomago. Aquela velha sensação de suor, tremedeira e
meus olhos começaram a lacrimejar. Deixei o computador ligado, tocando uma musica de que
jamais me lembrei, deitei na minha cama e fechei os olhos. Eu ainda podia ver flashes de uma
vida a dois, eu e ela em uma piscina, eu e ela almoçando juntos, eu e ela adotando um
cachorro, eu e ela nos mudando pra um apartamento, eu e ela nos casando, eu e ela... flashes
de uma vida que jamais aconteceria.

Fiquei deitado durante um tempo, sem saber se estava sonhando ou acordado. Nunca
acreditei muito em destino ou coisa parecida, só sei que me levantei e caminhei, como um
zumbi, até a sala e me joguei no sofá, após ligar a TV. Fiquei ali vendo imagens que passavam
sem nenhum interesse para mim, sons de risadas que eu parecia não ouvir a muito tempo. O
programa de comédia acabou (sem nenhuma contribuição da minha parte em risadas) e um
novo programa começou. Nunca havia visto esse, e também não tinha vontade de vê-lo. Era
algum tipo de Reality show onde homens nerds (como eu) ia a boates tentar conseguir uma
transa, um beijo ou até mesmo um telefone de uma garota bonita. Mas não foram esses
detalhes que me fizeram prestar atenção na série e sim um homem de cartola, roupas escuras
e uma confiança extrema no que dizia que o fez, dizendo coisas como rotinas, openner de
aproximação, negs, kinos. Eu acabara de conhecer Mystery, o senhor da sedução, mestre nas
artes venusianas. A partir daquele momento, minha vida mudaria, de uma forma que nunca
esperei.

O primeiro livro que li foi O Manual da Artes Venusianas. Falava muito no status que o
homem tinha quando entrava em uma boate, da forma como deveria abordar as mulheres.
Não vi em parte nenhuma a palavra “carros”, “dinheiro” ou “jóias”. Aquele livro me dizia que,
com os métodos certos, eu pegaria a mulher que quisesse sem ser rico, bonito ou famoso.
“Besteira!”, pensei comigo mesmo. Mas a curiosidade me fez procurar vídeos sobre Pua e o
mestre da sedução Mystery, no YouTube. Descobri um vídeo que ele (Mystery) chega em uma
festa, faz amizades com um grupo e acaba saindo com a garota, que ele insistia em ignorar
apesar dos IDis (indicadores de interesse) que ela o dava. Acabei por achar também uma série,
a mesma que havia assistido na TV, chamada The Pickup Artist. Assisti aos 9 episódios
compenetrado nas técnicas, apesar de ainda não ter fé nelas. “Besteira!”, eu continuava a
pensar, talvez só funcione nos EUA. O Brasil é um País diferente.

Esse pensamento perdurou durante longas semanas, eu continuava cínico sobre o


assunto. Estudava na horas vagas, pois estudava no colégio pela manhã e fazia curso a tarde.
Os métodos, no começo, pareciam estranhos: ignorar a garota pra ela ficar deslocada no
grupo, dar negs (tiradas sutis) nela para aumentar seu status e abaixar o dela, e coisas do tipo.
Aos poucos, passei a aprender jargões novos como Hb (garota) e Sargear (sair pra praticar as
técnicas em campo).

Nerd era a palavra que melhor me definia. Ficava por horas na frente de um
computador, assistindo a séries de comédia como The Big Bang Theory ou Two And a Half
Man, jogava games online iguais a Ragnarok ou Dota e poderia passar uma eternidade do meu
tempo assistindo a vídeos amadores no Youtube. Sempre fui tímido, magro e desajeitado.
Usava óculos, roupas largas que me deixavam com uma aparência raquítica, e meu linguajar
era cheio de gírias nerds como “Perfect!” ou “Double kill!”. Nunca fui de sair, talvez por não ter
tantos amigos (os 300 amigos do Orkut não contam, não conheço a maioria) ou por não ter
muitos lugares para ir já que moro em uma cidade pequena no interior de Minas com pouco
mais de 100 mil habitantes.

Vendo um episódio em que Mystery ensina a um de seus pupilos, uma técnica em que
junta os dedos de uma mulher, dizendo coisas como “esse dedo sou eu e esse é você” e “você
não consegue separá-los, temos uma conexão muito forte”, percebi os olhos da mulher a que
ele fazia a brincadeira, brilharem. Eu nunca havia visto um brilho daquele, atração pura e
simples. Eu queria experimentar essa sensação, vive-la, quando meu telefone toca. Alexander,
um grande amigo meu, me liga, dizendo que iria a uma festa e que gostaria que eu fosse
também. Achei estranho na hora, pois todos sabem que não vou a festa e quase não saio de
casa. Estou prestes lhe dizer que não, mas olho para a tela do computador. O vídeo esta
pausado exatamente na hora que a mulher da um sorriso radiante, com os olhos brilhando em
direção ao pupilo de Mystery, após a aplicação da técnica. De alguma forma, aquele olhar me
fez dizer sim ao telefone. O primeiro passo, a gente nunca esquece. O pequeno grande passo,
para a revolução.
A Revolução da Primeira Sarge

Eram quase 10 horas da noite quando chegamos ao local da festa. Um grande espaço
construído pela prefeitura da minha cidade, para a realização de shows. No momento, uma
banda de Axé tocava uma musica conhecida para a maioria, mas não para mim (sempre preferi
Rock). Havia mais alguns conhecidos no local, Alexander e eu nos juntamos a eles. Estávamos
conversando, quando um grupo de meninas nos desperta a atenção. Duas eram loiras e uma
morena, ambas bonitas e bem vestidas. Dois de nosso grupo chegaram nelas, jogando
cantadas que todos já devem ter escutado um dia:

-Quer ficar comigo garota? Se sim, da um sorrisinho, se não, dê três mortais para trás!

Ou então:

-Não doem as suas pernas, de fugir dos meus sonhos todas as noites?

Não preciso nem dizer que ambos voltaram da mesma forma que foram: sem
nenhuma mulher. Eu comecei a rir, sabia o que tinham errado pois, através do que eu
aprendera com o livro de Mystery, cantadas são uma forma ruim de começar uma conversa e
que, provavelmente, outros 5 caras já deveriam ter jogado exatamente as mesmas cantadas
para elas essa noite, nenhum com resultado positivo. Minha risada acabou incomodando
Alexander, que me perguntou o motivo:

-Isso foi perda de tempo rapazes, essas cantadas não funcionam. – Eu disse, ainda
rindo.

-Então mostra pra gente como você faz, já que você é tão bom nisso. – Respondeu
Alexander em tom de crítica.

-Claro – Foi tudo que eu falei, antes de ir em direção ao grupo de meninas, sozinho. De
alguma forma a aprendizagem que eu havia ganho estudando sedução me dava um pouco de
coragem.

-Ola! – Disse eu, olhando para as garotas. Senti meus braços tremerem um pouco, mas
continuei: -me acompanha – Comecei a mostrar o movimento que Mystery fez, esperando um
resultado parecido. Mas não foi isso que aconteceu... Depois de 1 minuto que parecia uma
eternidade, nenhuma das meninas entendeu o movimento, fiquei com cara de trouxa no meio
do grupo. Meus braços tremiam como nunca, o suor começava a inundar minha camisa e meus
olhos, aos poucos, iam ficando úmidos. Por fim uma delas disse:

- Meninas, vamos no banheiro?

Fiquei lá, de pé, enquanto as meninas se retiravam em direção ao a outra ponta do


salão de festas. Podia ouvir o som das gargalhadas de meu amigos atrás de mim, se
misturando com a batida do som. Uma musica de risadas caia sobre mim. Não agüentei ficar
por muito mais tempo na festa. Meus amigos começaram a beber, beber e beber. Bebados,
chegavam em um maior numero de mulheres e, por conseqüência, cada um deles conseguiu
ficar com, no mínimo, uma garota durante a festa. Fui embora antes que vissem que eu tinha
ficado só por toda a noite. Sozinho, voltei, jurando que seria a ultima vez. Parte da
mentalidade que tenho hoje, eu criei naquele dia, enquanto voltava para casa por entre ruas
escuras e latidos noturnos. Uma jura de melhora, lançada aos ventos frios da noite.

Eu estava faminto. Uma fome corria por minha veias, indo do dedão do pé até meu
cérebro, que estava a mil. Eu precisava daquilo. Aquilo que me daria a chave para uma vida
melhor, mais emocionante. Uma imagem de um homem rodeado de mulheres passou rápida
em minha mente. Eu queria ser como aquele homem.

Informação. A fome do saber era forte, e eu já estava entregue a ela. Procurei através
do Google, mais livros sobre o assunto. Descobri novas formas de abordagem, como o Direct
(em que o homem fala de forma a demonstrar interesse logo na abordagem), mas foi um site,
na verdade um fórum, que me chamou a atenção: Chamava-se Pua Base. Mal sabia eu que
esse fórum mudaria a forma como eu tratava o assunto, mudando meu conceito sobre o que é
sedução.

“Se quer seduzir uma mulher, seduza a si mesmo primeiramente”

Me olhei no espelho e a resposta foi clara e rápida: se eu fosse uma mulher, nunca me
apaixonaria pelo cara que via no espelho todos os dias. Meus óculos eram desproporcionais a
meu rosto magro, minhas roupas largas me deixavam parecido a um palhaço, meu cabelo
desarrumado e minha postura determinavam que eu seria para sempre um solitário. Hora de
mudar.

Comecei uma verdadeira faxina no meu guarda-roupa. Adeus roupas largas e cafonas,
deixei somente as que caiam bem no meu corpo e que tinham um certo estilo. Cortei meu
cabelo, antes era grande e volumoso, agora era curto e simples. Troquei meus óculos grandes,
por um menor e com mais estilo. Mas ainda faltava uma coisa, que eu tinha vontade há muito
tempo e ainda não tinha coragem o suficiente.

Fui criado em uma família extremamente conservadora, em um ambiente


extremamente rígido. O futuro que meus pais imaginavam para mim era a de um homem
usando terno, bem sucedido em uma grande empresa, com uma linda mulher ao meu lado.
Esse também era o futuro que eu esperava. Ter uma mulher linda seria conseqüência de ter
prestigio e fama no trabalho. Me esforcei a vida inteira para que isso acontecesse mas, ainda
na faculdade, me deparei com uma verdade diferente da que eu imaginara: homens boa pinta
e bem-humorados namoravam garotas perfeitas, sem nem mesmo ter uma situação financeira
estável. Eu estava caminhando para ser um deles, mas precisava passar por um pequeno
teste...
-Pai –Reuni toda a coragem que tinha – Vou na farmácia colocar um brinco na minha
orelha...

Meu pai olha pra mim, como se eu tivesse falado que daria um tiro no Papa.

-Não vai! – Foram suas únicas palavras

-Pai, sempre gostei de brincos. Não é uma coisa de gay, muitos homens, hoje em dia,
usam brinco.

- Um monte de homens mata, estupra e rouba. Vai fazer isso também?

-Não estou falando disso pai, vou furar porque é um acessório que acho legal. Na
verdade não me importo com que os outros pensem e façam. Se é uma coisa que gosto, vou
correr atrás. Isso foi você quem me ensinou Pai... – E sai pela porta, com os 10 reais no bolso,
necessários para colocar um brinco.

Quando voltei e me olhei no espelho, la estava ele. Um pequeno ponto prata, um


pequeno marco de mudança. Passei pela sala, minha mãe comentou que ficara ótimo e que
combinava com meus novos óculos. Mas, rapidamente, me virei para meu pai. Ele olhou pra
mim durante poucos segundos e deu um sorriso. Seu filho estava crescendo e agora tomava
suas próprias decisões. Um pequeno ponto na minha orelha, um pequeno brinco para se olhar
no espelho e ter esperanças, que eu ainda poderia mudar. Era hora de por as cartas na mesa e
fazer as apostas. O jogo começou!
Calor e Frio

Duas ou três festas então haviam se passado, desde que coloquei o brinco. No começo,
sentia uma fria sensação de incapacidade: não conseguia abordar nenhuma garota, eu
simplesmente travava. Aos poucos fui ficando mais relaxado a cada abordagem que fazia, mas
os sintomas de nervosismo ainda eram visíveis. Eu usava técnicas indiretas nas garotas,
pedindo opiniões rápidas sobre algum assunto. Mas ainda não conseguira passar disso. Já
estava ficando frustrante, reunir coragem, chegar nelas, fazer a pergunta e morrer o assunto.
Eu sempre ia embora, jurando que da próxima vez seria diferente. E foi.

Aconteceu em um show. Eu estava na pista de dança, planejando ir embora do lugar.


Foram duas abordagens que havia feito, uma em um grupo de 6 garotas morenas e um outro
de 3 garotas e um garoto, em vão. Foi quando senti um esbarrão.

- Desculpe – Disse uma garota. Ela era um pouco menor que eu, cabelos negros que
combinavam com seus olhos escuros.

-Tudo bem – Eu respondi – Vem cá, você sabe que musica é essa?

-Não – foi a primeira vez que ela olhou em meus olhos (sorte eu ter deixado os óculos
em casa) – Não gosto muito dessas musicas, vim porque minhas amigas me chamaram.

- Eu também não gosto. Você tem cara de quem gosta de um rock.

Ela riu

- Gosto sim, e você parece gostar também... - E por ai continuamos.

Ela me contou que havia se perdido das amigas. Continuei a conversa normalmente e
só percebi que havia feito toda a rotina do anel e jogado negs (tiradas sutis), quando ela já me
contava sobre sua vida.

Um momento mágico aconteceu. Me aproximei, enquanto ela ainda falava, olhando


diretamente para sua boca. Ela parou de falar, sabia o que aconteceria. “É Inevitável”, diria o
Agente Smith do filme Matrix. O mundo pareceu ficar mais lento, a batida da musica tocava
conforme nossos corações. Não havia mais ninguém, só eu e ela. Fui chegando mais perto, a
medida que ela chegava também e colamos os corpos, um no outro. Eu podia senti-la. Sua
respiração. Seus olhos se fechando lentamente. O beijo.

Joguei as chaves de casa sobre minha cômoda. Me joguei na cama como um garoto, o
sorriso ainda estampado em meu rosto. Eram 3 horas da manhã. A cena ainda estava em
minha mente. Seus cabelos negros, olhos brilhantes, sua pele macia e sua boca...

“Apenas o começo” eu pensei e logo adormeci.


Eu continuava abordando as garotas, e não precisava ser em uma festa. A rua era um
lugar perfeito. O jogo precisava ser um pouco calibrado, mas era muito simples. Apenas um
problema ainda me incomodava: minha tremedeira, meu suor excessivo e meus olhos que não
paravam de lacrimejar quando começava uma conversa com uma mulher bonita. Aquilo
deveria ser resolvido, e rápido. Eu aprendera com o Pu, que eu tinha que fazer o que eu queria
agora e não deixasse pra mais tarde, ou então não teria coragem.

Fiquei assistindo a vídeos de mulheres bonitas e o pausava exatamente nas horas em


que elas olhavam fixamente para a câmera. Passei a encarar Shakiras, Beyonces e Ladys Gagas
por tardes e noites, mas ainda não era o suficiente.

Foi uma das piores noites na minha vida (que eu lembrara). O mesmo pesadelo que eu
havia tendo a anos. Eu sonhava que estava me afogando em uma lagoa e meu tio (já falecido)
me resgatara. O pesadelo ainda me atormentava uma ou duas vezes no ano e, a cada vez,
parecia mais real. Eu podia sentir a água fria entrado pela minha boca e pelo nariz, ao longe a
luz do sol me ofuscando, gritos silenciados pelo bater de minhas mãos e pés na água e meu tio,
mergulhando para me salvar.

Olhei para minhas mãos, ainda sentado na cama. Estavam tremendo. Podia sentir o
suor correr pela minha pele, encharcando minha camisa e meus olhos insistiam em não parar
de lacrimejar. Só de pensar no pesadelo, tinha arrepios. Percebi que não eram as mulheres
que provocavam aquela reação: era o nervosismo! Eu agora tinha uma idéia de como reverter
a situação.

Esperei até a noite chegar, no dia seguinte. Todos na minha casa estavam dormindo e
eu tinha um plano. Fui até a lavanderia e achei um balde vazio, enchi de água da forma mais
silenciosa possível e coloquei-o no chão. Olhei para aquela água fria e vi meu reflexo. O que eu
estava prestes a fazer era loucura, uma forma de tortura. “É necessário” foram as palavras que
ouvi saindo de minha própria boca. Mergulhei minha cabeça na água tentando buscar, no
fundo da minha memória, aquela cena que insistia em me atormentar a noite.

No começo, me senti um idiota, prendendo a respiração dentro de um balde cheio de


água. Mais então meu cabelo passou sobre meu olhos e tive que fechá-los por um segundo.
Minha adrenalina foi a mil. Senti de novo meu corpo mole, sem forças, afundando na água e
um vulto negro se aproximando: meu tio. Abri os olhos e tirei a cabeça pra fora do balde. Meu
coração estava disparado, o suor se misturava com a água que caia de meus cabelos, fechei os
olhos para diminuir a ardência. Eu achara uma linha. Uma linha que separava o que eu
pretendia ser e o que eu podia ser. Aquele acontecimento havia me definido com eu era e
estava decidido a mudar isso de vez, de uma forma ou de outra.

Aquele balde parecia me esperar todas as noite. Parecia se alimentar de meus


pesadelos e pensamentos ruins. Eu continuava, revendo imagens que não queria e
continuando com aquelas tremedeiras, com o suor e com os olhos vermelhos de tanto
lacrimejar. Mas, naquela noite, seria diferente. Sexta-Feira, eu precisava de resultados. Eu iria
sair de férias no dia seguinte, indo então para um sítio onde não poderia praticar durante duas
semanas. Tudo seria resolvido nesta noite, ou nunca mais.

Coloquei minha cabeça dentro da água e fechei os olhos esperando pelo inevitável. La
estava eu, batendo minhas pernas e braços, sem conseguir respirar, afundando cada vez mais,
pra dentro da água fria do lago. Ao longe, o vulto veio se aproximando, nadando, mas era
tarde demais: meu corpo já não agüentava lutar. Fui afundando e aceitei que era o fim. Com
minhas ultimas forças, voltei meus olhos para o vulto que se aproximava e tive uma surpresa.
Ao invés da imagem de meu tio se formar, foi a de outra pessoa que se formou. Um jovem
com cabelos curtos, roupas elegantes e óculos apareceu, mas não foram esses detalhes que
me prenderam a atenção. Um brinco, um brilho prata, pequeno como um grão, iluminava a
orelha do rapaz. Sou eu! O rapaz veio ate meu eu de anos atrás e segurou minha mão num
instante e, no outro, desapareceu. Sozinho, novamente.

-Você consegue – Minha voz ecoou em minha mente.

Olhei para mim novamente. Minhas roupas haviam mudado, eu estava maior. Meu Eu
presente. Senti minha mão ir até minha orelha e acariciar meu brinco. Eu entendi: eu precisava
me salvar, ninguém faria isso por mim, só eu podia fazer isso! Uma onda de energia invadiu
meu corpo e comecei a nadar, em direção a superfície da água. Parecia longe mas eu ia
conseguir. Meus braços e pernas já estavam ardendo, mas eu não podia parar, faltava pouco.
Pouco. Muito pouco. Com um estalo, tirei minha cabeça de dentro do balde. Eu ofegava, ficara
tempo demais lá. Ajoelhado no chão, olhei para baixo e vi minhas mão: não estavam
tremendo. Minha camiseta estava encharcada somente da água do balde e meus olhos
estavam perfeitos. Aquela sensação de nervosismo se fora de uma vez por todas. Eu acabara
de me libertar. “Consegui!”.

Fui para a cama e deitei, com a certeza de que não haveria pesadelos aquela noite. Eu
estava prestes a me tornar o que eu havia nascido pra ser. Minha maior criação: Eu.
Descontrole

Havia mudado, isso estava claro. Alguns meses haviam se passado desde aquele balde.
Eu já havia ingressado na faculdade. Quatro ou cinco era o numero de garotas que eu ficava
nas festas. Meus amigos mudaram a forma como me viam. Me pediam dicas, de como
conseguir atrair tantas mulheres assim. Foi numa dessas conversas que uma garota chegou em
mim, numa pequena festa de aniversário na casa de um dos meus amigos. Eu já havia
percebido que ela estava me olhando a todo momento. Seu cabelo era vermelho, tinha a
mesma altura que eu e um corpo muito bonito.

- Com licença – Disse para meus amigos, pegando na mão da garota e a levando pra
longe.

Foi fácil perceber que ela queria algo mais que um simples beijo. Me arrastou para um
canto e começou a se esfregar em mim. Eu tinha total controle da situação, mesmo estando
nervoso por ser a primeira vez. A camisinha em meu bolso me dava um pouco mais de
confiança. Foi num movimento rápido em que agarrei o cinto dela para poder tirá-lo, quando
olhei em seu rosto. Vi que seus olhos brilhavam de tesão, mas não foi isso que me chamou
atenção. Um rosto no meio da multidão, ela não se destacaria no meio de outras para mim.
Sempre que imaginara minha primeira vez, seria com uma parceira que o encantasse com o
modo de falar e agir, que fosse especial e que o fizesse se sentir bem quando a visse chegando
dentre um milhão de pessoas. Aquela não era minha pessoas especial e, de alguma forma,
fiquei bravo. Deixei a garota e fui em direção aos meus amigos, pedido pra ir embora. Um dos
meus amigos, Jonh, aceitou pois não conseguira ficar com nenhuma garota. Jonh quase nunca
pegava garota nenhuma.

-Como você faz isso? Pegar tantas garotas em uma só noite? – Escutei Jonh dizer
aquilo pela terceira vez aquela noite.

Dei algumas dicas para ele, como não tratar a mulher como se fosse uma deusa,
ignorar a garota alvo no começo da interação se estivessem em grupo e coisas do tipo. Olhei
para Jonh e vi tristeza. Era o Eu que havia deixado para trás, meses atrás. Eu precisava fazer
alguma coisa. Voltamos para casa a pé, tempo suficiente. Durante mais de quinze quarteirões,
eu o apresentei ao PU, suas técnicas, rotinas e coisas do tipo. Falei de Mystery, Style e Badboy.
Falei muito e ele ouviu a tudo, calado. Mal sabia eu que me arrependeria desta conversa
durante muito tempo.

Poucos dias depois da quase transa e a conversa com Jonh, lá estava eu, na porta da
faculdade, esperando uma carona. Vi um de meus amigos, Peter, e logo fui conversar com ele.
Grande erro. De longe, vi que ele tinha furado a orelha. Eu teria rido, já que Peter não era
dessas coisas, mas ainda estava de cabeça quente por causa da ruiva que havia conhecido na
festa. Eu podia perceber agora um vazio no meu peito, alguma coisa estava faltando e eu
ficava nervoso cada vez com mais freqüência.

-Também to pensando em colocar um piercing e fazer uma tatuagem na perna. – Disse


Peter. Eu o encarei. Aquelas idéias eram minhas. Eu que havia contado a alguns amigos que
planejara colocar um piercing e fazer uma tatuagem na panturrilha. Eu comecei a dizer alguma
coisa, mas fui interrompido:

-Peter – Disse uma conhecida do meu amigo, passando pelo local e puxando um papo
com ele. Eles continuaram conversando e eu fiquei de lado, pensando se gritaria com ele ou se
iria embora. Estavam falando de alguma coisa quando escutei meu nome na conversa:

-...Peça ajuda ao Max aqui... – disse Peter segurando meu braço. E o olhei com a cara
mais feia que consegui fazer – Ele é muito forte, e pode te ajudar com a mudança. – Continuou
ele, apertando meu braço, mostrando o quão magro eu era. Ele estava me amongando (
desqualificando alguém em frente a outra pessoa).

Se isso tivesse acontecido há um ano, eu teria dado meia volta e ido embora, mas
naquele dia, eu fiquei. Senti minha mochila deslizar para o chão, e comecei a tirar minha blusa.
Eu iria brigar, coisa que não acontecia desde que eu era pequeno. Olhei para o lado e vi o
guardinha ir embora, ao longe, e desaparecer por entre as portas da biblioteca. A garota que
conversava com Peter (que ainda não havia percebido nada), notou que eu estava furioso e
tratou de se despedir e ir embora. Olhei fixamente para ele, escolhendo o melhor lugar para o
primeiro soco. O primeiro soco foi no olho, ele cambaleou. Fui para cima procurando chutar-lo
no estomago quando...

-Max – Com um susto, voltei a realidade. Alfred me chamava, oferecendo uma carona.
Eu estava parado de frente a Peter que continuava conversando com sua amiga, sem perceber
nada. Aquele soco estava somente em minha mente, a raiva ainda tomava conta de mim. –
Você vem ou não vem? – Continuou Alfred, com pressa.

- Vou – Foi o que consegui dizer, deixando Peter e sua amiga para trás, caminhei ate o
carro, entrei e fui embora. Foi por pouco, mas, eu tinha certeza que algo assim aconteceria
mais cedo ou mais tarde. “Inevitável” diria o Agente Smith.
O Borbulhar de Sangue

Acessar o Pua Base quase todos os dias era uma espécie de ritual para mim. Eu
acompanhava os relatos de desconhecidos, descobrindo novas técnicas e pondo à prova as
antigas. Os artigos e livros novos me ensinavam a melhorar meu novo Eu. Foi num desses
tópicos qualquer que me deparei com um cara que morava na mesma cidade que a minha. Seu
nome era Doug. Trocamos msns e acabei por descobrir: Eu já o conhecia pois já etudamos
juntos na mesma escola, só que não o via a muito tempo. Conversamos durante muito tempo,
ele me mostrou técnicas inovadoras, onde o artista poderia agir da maneira que quisesse
sendo ele mesmo e se livrando das correntes que o prendiam aos métodos diretos e indiretos.
Descobri que ele praticava a arte da sedução a muito mais tempo que eu e logo o chamei para
dar umas voltas pela cidade.

-Ser você mesmo é a base do método natural – Disse ele, enquanto caminhávamos por
entre as ruas da minha pequena cidade, num dia de sol morno e um vento fresco. Doug estava
diferente, mais confiante, mais carismático do que quando o conhecera, anos atrás –
Qualidade é melhor que quantidade. Não importa quantas você pega e sim qual você pega. –
Eu não me dava conta na hora, mas aquele seria o método que usaria por muito tempo em
minha vida.

-Hey! – disse ele, dando um susto a mim e a uma garota que acabara de passar por
nós. A garota parou e Doug se aproximou dela. Eu veria um mestre em ação agora e não
poderia ficar em seu caminho: tratei de pegar meu celular e fingir uma conversa qualquer,
enquanto observava os dois.

Primeiro ele começou elogiando os óculos escuros que ela usava. Era uma garota mais
ou menos da nossa idade, morena, com um rosto de anjo. Olhava para ele com certa
curiosidade. Em poucos minutos de conversa, pareciam dois grandes amigos se reencontrando
após um longo período sem se verem. Trocaram telefones e juraram marcar um dia pra se
encontrarem. A garota saiu com um grande sorriso no rosto, surpresa por conhecer um cara
tão diferente e eu fiquei sem palavras na hora. Era mágico, simples, sem rotinas ou truques.
Era... Natural.

Naquele dia, andamos mais um pouco, conversamos com algumas pessoas e fomos
embora. Eu aprendera bastante com Doug, sobre como ser eu mesmo e deixar de decorar
enlatados. Foi uma tarde ótima, de muito conhecimento, e me diverti a beça. Mal sabia eu que
o grande desafio estava por vir, para por a prova tudo que eu sabia e tudo no que havia
transformado. Aquela tarde com Doug era um suspiro glorioso que se dá, antes do mergulho
profundo.
Eu aprendera que o jogo não se tratava apenas cara-a-cara, envolvendo também o
MSN. Não eram raras as vezes que eu pegava o MSN de uma garota para, mais tarde, marcar
um novo encontro, portanto, tive que aperfeiçoar minhas técnicas pelo mensageiro eletrônico.
Me isolei do mundo por semanas, sentado em frente ao meu computador, não para ver séries
de internet ou blogs de humor. Pratiquei com desconhecidas em chats, hora ou outra
conseguindo fotos, web cams ligadas e pequenos strip-teasers. Foram várias semanas
cansativas, mas de muito aprendizado. Aquele tempo, excluído do mundo, foi alimentando
uma impaciência em meu ser, que se voltaria contra mim em breve. Foi durante uma conversa
com uma garota do Pará, que Jonh me chama a atenção. Há muito tempo eu não conversara
com ele e, da ultima vez, havia sido pra me dizer que continuava treinando nas artes
venusianas e que tentaria usar as técnicas em uma garota, na qual era apaixonado havia anos.
Abri a janela de MSN e lá estava ele:

Jonh diz: Cara, você ta ai?

Max diz: To sim mano, tudo bem?

Jonh diz: Aquele livro que você me deu é uma merda, não presta.

Jonh diz: Você é um mentiroso, aquilo não me serviu pra nada, só piorou as coisas...

Max diz: O que aconteceu Jonh?

-Jonh esta offline no momento. As mensagens serão entregues quando esse contrato
entrar.

Eu não entendera nada na hora, mas sabia que havia algo errado. Talvez um outro dia
eu o procurasse em casa, para perguntar o que havia acontecido mas, por conseqüência de um
destino que eu não acreditava, estaria prestes a descobrir o que Jonh fizera. Uma janela de
MSN se abriu:

Maradona diz: Mano, você vai na festa de aniversario da tia do Alexander hoje?

Max diz: Vou sim, já estou indo.

Maradona diz: Algumas amigas do Alexander vão estar lá. Você vai poder mostrar suas
artes de sedução pra gente, kkkkk.

Maradona diz: Te vejo lá

Maradona diz: Abraço

Max diz: Artes de sedução?

Max diz: Espera...

-Maradona esta offline no momento. As mensagens serão entregues quando esse


contrato entrar.
Alguma coisa estava errada. Artes da sedução? Eles haviam descoberto meu segredo,
sobre o mundo Pu e todo o resto? Eu precisava ir à festa, onde poderia perguntar a Maradona
o que significava aquilo. Grande erro.

Me arrumei de forma normal e fui para o aniversário da tia de Alexander. Chegando lá,
percebi que meus dois amigos me esperavam e que começaram a cochichar quando me viram.
Não dei muita atenção a isso:

-Lá vem o mestre da sedução! – Disse Maradona

-Como?- Perguntei. Um suor frio escorreu em meu rosto, em uma noite fria como
aquela.

-Você sabe do que a gente ta falando! –Alexandre exclamou - Você anda estudando
sobre sedução, sobre como pegar mulheres. Você precisa de um livro pra saber como chegar
em uma mulher?

Os dois riram, dando altas gargalhadas. Tentei me acalmar, sai andando da forma mais
tranqüila possível, em direção a uma mesa com guloseimas, para pegar um refrigerante. Enfim,
eu havia sido desmascarado. Meus amigos me olhavam com atenção, como se eu fosse um
objeto de estudo interessante, um ET caído na terra. Pensei no Pu, nos livros que li e nos sites
que freqüentei, em Doug e nas Hbs (mulheres) que havia conseguido até agora. Minha cabeça
estava a mil, quando uma garota, amiga de Alexander, veio até mim:

-Olá- Disse ela. Um pouco mais nova que eu, branca como papel exceto pelas
bochechas vermelhas, olhos marron-claros, usando uma saia provocativa. – Você que é o Max?

-Sim. E você deve ser a Branca de nev... – Não terminei porque, antes, vi meus colegas
rindo. Havia sido um truque, uma armadilha para eu usar minhas técnicas na frente deles.
Olhei novamente para a garota. Podia ver em seus olhos, o mesmo brilho que haviam nos
olhos de Maradona e Alexander: Curiosidade. Maradona devia ter espalhado meu segredo. Ela
sabia que eu era um artista da sedução! Mais que depressa, fui até onde meus amigos estavam
me observando.

-Quem contou a vocês?!? – Explodi na frente deles. Alguns rostos estranhos na festa se
viraram para mim, para saber o porquê de um garoto, até a pouco, calmo, gritar com seus
amigos. As risadas de Maradona e Alexander cessaram.

-Calma cara... - Começou Alexander, mas interrompi.

Quem? – Repeti, ainda mais alto que antes.

-Jonh comentou com a gente cara, que você havia recomendado um livro sobre
sedução pra ele. Só isso. – Respondeu Maradona, agora vermelho de vergonha por ter se
tornado o centro das atenções- Agora se acalma...

Mas antes que acabasse de falar, eu já tinha ido embora da festa. Havias contas a
acertar. Sentia aquela conhecida raiva, que crescia a cada dia desde a festa com a ruiva, desde
o dia em que Peter resolvera ser igual a mim em tudo, uma raiva enraizada em minha alma, se
tornar ódio puro. Meu grande amigo, a quem confiara um segredo, havia me traído. Meus
passos pesados ecoaram na noite, como botas de um carrasco prestes a executar um
condenado. Era hora de botar tudo para fora, sem me importar com as conseqüências...

Liguei para Jonh várias vezes e ele não atendera. Resolvi ir em sua casa, logo no dia
seguinte (domingo á tarde) para tirar satisfações do ocorrido. A raiva só aumentava e eu
precisava explodir com alguém.

Chegando lá, toquei a capainha várias vezes, até o próprio Jonh vir atender.
Começamos um bate boca em frente ao seu portão, virados para a rua.

- O que você quer? - Disse ele, com cara de poucos amigos.

- Quero saber porque você saiu contando sobre o Pu para todo mundo! Eu te disse que
é um segredo! – Respondi de forma ríspida.

- Então por que você contou pra mim, se era segredo? – Rebateu ele – Aliás, nada
daquilo funciona de verdade. Semana passada eu tentei usar as técnicas na garota que eu te
falei e acabou piorando tudo. Ela não quer me ver mais... por sua culpa!

- E ai você se acha no direito... – Comecei, mas alguém apareceu na portão da casa de


Jonh, Peter.

- Fala Max! Tudo em cima? Você andou malhando? Hahaha – Disse ele, se colocando
em minha frente.

-Cala a boca Peter, vaza! – Respondi, me virando novamente para Jonh. Mas meus
assuntos inacabados com Peter ainda assombravam minha mente.

- Calma cara, só queria dizer que você ta parecendo mais forte. Andou malhando pra
ficar gostosão igual a mim? – Peter falou isso, segurando meu braço.

Na mente de Peter, eu havia tentado copiar seu estilo, pude perceber em sua voz e seu
olhar. Aquilo me deixou puto da vida. Tirei o braço a que ele agarrara com a mão na hora e o
empurrei no peito, jogando Peter contra a parede. Uma raiva se apoderou dele, gato e
cachorro se olharam para uma luta épica.

Fui com tudo pra cima dele, com um primeiro soco bem dado próximo ao olho
esquerdo. Ele recuou, alguns passos e me atacou, procurando me dar um chute. Peter era mais
forte mas eu era mais rápido. Me esquivei do chute, que ia em direção a meu joelho, e desferi
um soco em seu peito. Coloquei-o contra a parede desferindo socos e chutes, que Peter
tomava em posição de defesa. Eu ainda não vira nenhum sangue e sangue era o que eu queria.
Eu havia armado um novo soco, que iria exatamente na falha entre os dois braços dele, em
modo de defesa, quando sinto uma forte dor no nariz. Jonh, sem avisar, desferira um soco em
meu rosto, me deixando cego por alguns segundos (eu havia deixado os óculos em cassa,
temendo por uma briga e um soco como aquele). Senti meu nariz jorrar um liquido quente:
sangue. Peter não perdeu sua oportunidade e veio pra cima, socando meu abdômen. Senti o ar
esvair de meus pulmões. Ajoelhei, o tronco voltado para frente, as mãos apertadas sobre
minha barriga. Abri os olhos e pude ver Peter se preparando para um ultimo golpe, seu vulto
iluminado pelo sol da tarde, ao fundo. Um gancho de direita, digno de um lutador de Mortal
Kombat, “Os anos jogando aquele game haviam servido para alguma coisa”, devia ter pensado
Peter. Cai para trás, sem me mexer.

Fiquei ali deitado, estirado no asfalto da rua por segundos, minutos... Não ouvia nada
nem via nada. Talvez eu tivesse desmaiado, mas não poderia afirmar com certeza. Escutei uma
moto passar a alguns metros de mim, buzinando. Abri os olhos e vi o motoqueiro me olhar e ir
embora. Me levantei com mais facilidade do que pensava (por quanto tempo ficara ali
deitado?). Peter e Jonh não estavam mais lá. Havia alguns pingos de sangue no chão, expulsos
de meu nariz. Sangue eu vira buscar, sangue agora eu tinha. Talvez fosse por isso que me
sentia tão leve, botei pra fora toda aquela raiva e ódio e agora estava em paz. Procurei se
havia algum dente faltando ou se meu nariz havia quebrado. Nenhum dos dois, eu ainda
estava inteiro.

Olhei para o portão da casa de Jonh, fechado. Resolvi que era hora de ir embora.
Comecei a caminhar em direção a minha casa, mas, a cada passo, isso parecia mais difícil. Senti
uma dor que não era, de forma alguma, física.
Uma Carta de Redenção

Eu havia caminhado ha algum tempo, mas resolvi parar em uma praça, a poucos
quarteirões da minha casa. Eu havia acabado de voltar da casa de Jonh (se é que posso dizer
assim, já que nem entrei). Sangue estava sendo expulso pelo meu nariz em gotas cada vez
maiores e minha cabeça latejava muito, mas não foi por isso que me havia feito parado. Pensei
em Jonh e Peter, ambos grandes amigos meus. Eu havia perdido o controle e sabia o que tinha
de fazer: Peguei meu celular e liguei para a casa de Jonh. Por uma. Duas. Três vezes liguei até a
ligação cair e ninguém atendeu. O mesmo aconteceu com o celular de Peter. Me levantei e fui
para casa, descansar, pensando em uma desculpa para dar aos meus pais por estar com o nariz
envolto em sangue e alguns arranhões. Mas não eram com eles que eu estava preocupado.

Um dia inteiro se passou, fui para a faculdade, mas não para a sala onde estudava.
Entrei por um corredor, passando por outro. Nunca havia estado naquela parte da
universidade. Cheguei perante uma porta e parei. Meu olho direito havia ficado roxo durante a
madrugada e meu nariz ainda não parara de sangrar, me dando uma aparência um tanto
perturbadora. Bati na porta e esperei a professora me atender. Todos me olharam, quando a
professora abriu a porta, pois sabiam que Peter, aluno daquele curso, havia brigado comigo.

-Gostaria de falar com o Peter – Disse eu, da forma mais confiante que consegui, á
Professora.

Peter se levantou e foi até mim, fechando a porta ao passar.

-Cara, não quero brigar...- Começou ele, mas interrompi.

-Mano, desculpa. Eu tava com a cabeça quente naquele dia e fiz burrada. Você é meu
amigo, não devia ter feito aquilo. Me desculpa, com toda sinceridade. – Falei com um fôlego
apenas. Percebi que é mais difícil pedir desculpas a um amigo do que abordar um milhão de
HBs 10.

Ele olhou pra mim, como se não acreditasse no que eu dissera e um silêncio
perturbador invadiu o local. Até mesmo as corujas (estudo a noite) pareciam ter ficado quietas
para ver aquela cena. Enfim Peter quebra o silêncio:

-Tranqüilo cara, não esquenta. Me desculpa pelos socos também, sua cara ficou muito
estranha, hahaha- Disse ele de forma tranqüila, soltando uma gargalhada.

-Socos, aquilo não eram socos... no máximo tapas. Mão-de-moça! – Disse eu, um
pouco aliviado.

Ainda faltava Jonh, eu não o havia encontrado e ninguém atendia o telefone de sua
casa. Jonh é um grande amigo e eu iria perdê-lo por conta de um descontrole me minha parte.
Minha culpa. E eu ainda pensava sobre meus outros “amigos” que espalhavam a sete ventos
meus segredos. Esses pensamentos agourentos ficaram vagando pela minha mente até o final
da aula. Até o final da aula somente, pois, no ponto de ônibus, enquanto esperava o coletivo
para voltar pra casa, eu conheci uma pessoa especial, que exorcizaria meus fantasmas do
passado em um sorriso radiante, como uma fonte de luz, numa caverna de morcegos.

O ponto de ônibus estava lotado de pessoas naquela segunda feira, por isso tive que
esperar o coletivo em pé. Não conhecia ninguém ali, por isso minhas mãos foram
automaticamente colocando os fones do mp3 em meus ouvidos, quando senti um cutucão.
Olhei para o lado e vi uma garota, na sombra que fazia uma arvore que ficava entre ela e o
poste de luz. Uma voz suave surgiu em meio à escuridão:

-Seu nariz esta sangrando - Disse a garota misteriosa.

Eu não havia percebido, mas havia, novamente, sangue jorrando pelo meu nariz.
Peguei meu lenço e comecei a limpar, me voltando para a garota.

-Acho que estou menstruado – Disse, ironicamente. Foi ai que aconteceu.

Aquela cena ficaria marcada por tempos e tempos em minha mente. A garota saiu das
sombras, vindo para um ponto iluminado ao meu outro lado, exibindo um sorriso angelical. Era
pequena, um corpo lindo de dar inveja em muitas garotas nota 10, e olhos verdes brilhantes.
Por um segundo emudeci. “Você é um Pua!” disse uma voz em minha cabeça, “hora de jogar
com ela”. Com toda a confiança, comecei com um openner, depois negs. Mas a medida que
jogava, era ela quem parecia dar as cartas. Sempre que eu dizia algo que aprendera na Pu, ela
rebatia de uma forma impressionante:

-Bom, até acho você bonita, mas beleza é comum... – Comecei eu.

-Pois é, também acho. Beleza não é tudo. – Disse ela, cortando minha fala. – Que
outras qualidades você tem alem de ser o primeiro garoto menstruando que eu vejo?

Eu estava desarmado, nada funcionava com ela. Não conseguiria pega-la, isso era um
fato e eu o aceitara, decidindo, então parar de jogar com ela. Comecei a ser eu mesmo, coisa
que não acontecia a muito tempo perto de uma garota. Por sorte, meu ônibus era o mesmo
que o dela. Voltamos juntos, conversando. Sem que eu percebesse, contei a ela sobre minhas
mudanças, festas, amigos, tudo (menos sobre o Pu, claro). Quando havia chegado meu ponto,
me despedi dela:

-Gostei de você, apesar de nem saber seu nome ainda. Acho que falo muito. Aqui é
meu ponto, te vejo por ai.

Sem dizer nenhuma palavra, ela segura minha blusa. Parei por um instante, para
admirar seu sorriso por mais um longo segundo. A mão da garota se estendeu e me entregou
um pedaço de papel, o qual havia seu MSN.
- Millie – Disse ela, enquanto eu descia pela porta traseira do ônibus.

Olhei para o pequeno papel o qual continha, em letras femininas, o MSN de uma
pessoa fantástica e especial. Millie. Percebi que esse era um daqueles momentos mágicos
onde sentimos que a vida vale a pena ser vivida.

Comecei uma caminhada em direção a minha casa, ainda observando o coletivo a que
acabara descer, fazer uma curva ao longe. A lua estava clara e iluminava um sorriso estampado
em meu rosto. Dizem que, quando se esta apaixonado, borboletas voam em nosso estomago,
nos deixando um pouco atordoados. Era isso, ou eu acabara de perder sangue demais pelo
nariz.

Eu conversava com ela todos os dias, no ponto de ônibus, no coletivo e pelo MSN.
Ficamos nesse papo a semana inteira. Eu ficava ansioso para vela, para continuar a conversa
de onde parávamos e sabia o que era aquilo: estava apaixonado. Eu não precisava ler as
centenas de tópicos nos fóruns que eu freqüentava sobre PU, dizendo o quão ruim era se
apaixonar por uma amiga. Eu havia vivenciado aquilo e sabia as conseqüências. Foi numa
dessas conversas de MSN, sexta-feira, que fiquei sabendo que Millie conhecia a garota que
Jonh gostara. Era uma caixa de uma locadora próxima a minha casa, uma garota simpática e
bonita a que Jonh achava que havia estragado tudo, pois dera um neg muito forte nela.
Combinei de ir ao cinema com Millie, se esta chama-se essa amiga para ir também. Eu havia
arrumado uma forma de fazer as passes com Jonh, que havia me bloqueado no MSN e não
retornava minhas chamadas.

Fui até a casa de Jonh, no outro dia, para conversar com ele. Sua mãe foi quem
atendeu o portão, me dizendo logo que ele não estava em casa. Eu não poderia perder uma
chance como aquela e sabia que, mesmo se Jonh estivesse em casa, provavelmente ele teria
dito para sua mãe me informar de que havia saído. Por sorte, fui preparado. Tirei uma carta
que havia preparado, pensando de forma cuidadosa em cada palavra, e entreguei a mãe de
meu amigo, pedindo para que entregasse a ele o mais rápido possível. Na cara estava escrito:

Cara, eu queria pessoalmente te pedir desculpas pra você, mas acho que você não quer
falar comigo. Sei que fui irresponsável pelo que eu fiz e gostaria que voltássemos a ser amigos.
Sinto muito por pelo que aconteceu, do fundo da minha alma. Hoje, vou ao cinema com uma
garota. Essa garota chamou uma amiga que tenho certeza que você conhece: A menina da
locadora! Ela disse que sabe quem você é e que vai conosco pra te conhecer melhor!Ela sabia
seu nome e até onde você morava! Estaremos te esperando lá de fora do cinema as 8 horas.

Ps: “A vida pode te derrubar, mas você é quem decide quando é a hora de se levantar.”
– Karatê Kid
Novo Começo

Eu, Millie e a garota da locadora, que se chamava Annie, ficamos esperando Jonh na
porta do cinema. O filme estava prestes a começar e nada de meu amigo (ou ex-amigo)
chegar. Por um segundo, achei que o carro de seu irmão havia cruzado a rua. Fiquei esperando
em vão o carro parar e Jonh descer dele, mas o carro passou direto, fazendo uma curva na
próxima rua. Nossas esperanças já tinham acabado, deixando Annie um pouco constrangida
quando, da rua em que o carro que eu pensara ser do irmão de Jonh descera, um rapaz
aparece. Roupa social, cabelos cortados, elegante. Jonh. Ele se aproxima de Annie e a
cumprimenta, deixando-a vermelha como uma pimenta. Depois cumprimenta Millie e por
ultimo a mim, com um sorriso sincero. Perdão. Os monstros que viviam em minha mente
foram embora.

Sentamos em cadeira no meio do cinema e vimos o filme, o qual me lembro somente


ser de comédia, dando altas gargalhadas. Ao final do filme, saímos da para a noite, cada qual
com seu par. Logo, Annie e Jonh se separam de nós, com a desculpa de Jonh ter de ir
acompanhar sua nova companheira até sua casa. Fui com Millie, acompanhando-a ate a sua.
Paramos na esquina de sua casa conversando. Nunca havia me sentido tão relaxado
conversando com uma garota assim antes. Conversamos sobre tudo e sobre nada. Os silêncios
entre um assunto e outro eram preenchidos por troca de olhares, com ternura. Foi num desses
silêncios que ocorreu. Mágica e silenciosamente, um beijo. Não havia livros de sedução,
mestres, gurus, vídeos, ou relatos de fóruns que pudessem explicar o que eu senti naquela
noite. O mistério do beijo apaixonado me fora revelado em segundos. Paz, vida, perfeição.
Uma palavra somente definia tudo isso: Millie.
Uma janela de MSN, Um brinco prata, Um balde d’água e Um
lenço manchado de sangue

As vezes me pego imaginando naquela cena, há quase um ano e meio atrás. Eu, de
frente ao computador, me declarando para uma garota. Imagino se ela tivesse dito sim.
Pessoas que não conheceria, livros que não leria, coisas que não faria. Cientistas que estudam
variações do tempo-espaço vivem com estas perguntas na cabeça: o que seria, o que faria, o
que sentiria, se...

Não me admiraria se, em sua velhice, ficassem loucos.

Eu esperava a um telefonema, deitado no sofá, olhando para o teto. Eu estava


nervoso. Algum tempo havia se passado desde aquele dia no cinema. Não consigo dizer ao
certo quanto tempo: a vida com Millie ao meu lado parece não combinar com as palavras
minutos, horas, dias, meses. Vivemos, e só.

Eu voltara a ser amigo de Peter, Jonh, Maradona e Alexander e vivíamos saindo e


conversando. O tempo havia jogado suas areias sobre a mente de meus amigos e conhecidos,
fazendo-os, aos poucos, esquecer que um dia me chamaram de Max, O Sedutor. Eu voltara a
ser somente Max para a maioria (Jonh às vezes ainda me chama assim, pois continua
estudando sobre o PU).

O telefone toca. Atendo, é ela na outra linha. Conversamos por alguns segundos e
percebo o nervosismo em sua voz. Millie diz que seus pais saíram e que voltarão somente em
duas horas. Tempo suficiente.

-Te vejo daqui a pouco – Eu digo, e desligo o telefone.

Namoro Millie há algum tempo, e chegou o grande dia, tanto para mim quanto para
ela. Me certifico se esta tudo nos conformes: minhas balas halls no bolso esquerdo, meu
preservativo no direito. Meu cabelo arrumado, roupas limpas e elegantes e um leve aroma do
meu novo perfume indicam que tudo será perfeito. Abro a porta de casa e olho para trás.
Penso nos momentos que vivi, desde aquele dia, em frente ao computador, onde lia um amor
não correspondido em meu monitor, até hoje. Lembro de coisas, que, na hora, pareciam sem
importância: Uma janela de MSN, um brinco prata, um balde com água, um lenço manchado
de sangue. Sinto um vento frio quando ponho os pés pra fora de casa, caminhando em direção
a casa da minha garota especial, naquela tarde sem nuvens. Olho para frente, sempre para
frente.

E termino meu Ebook assim, como comecei: Em direção a uma nova e grande
aventura...

FIM

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