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andreasumepsicologia@gmail.com
www.facebook.com/andrea.sume
Dados Internacionais de
de Catalogação
Catalogação na Publicação (CIP)
ISBN 978-85-68703-15-1.
CDD 869.3
CDU 82-31(81)
Patrocínio
ÍNDICE
Agradecimentos .................................................................11
Prefácio ................................................................................13
Primeiras Palavras .............................................................17
Semente ................................................................................19
Runas ................................................................................21
Senhoras................................................................................23
Quadris ................................................................................25
Olhar ................................................................................27
Pactos ................................................................................29
Presente ................................................................................31
Raiz ................................................................................32
A cor da minha alma .........................................................33
Cigarra ................................................................................34
Acordos ................................................................................37
Bússola ................................................................................39
Rede ................................................................................41
Ferida ................................................................................42
Mistério ................................................................................44
Corsário ................................................................................46
Filho ................................................................................48
Tambor ................................................................................51
Fio ................................................................................54
Fim ................................................................................56
Razão ................................................................................58
Giro ................................................................................60
Milagre ................................................................................62
Antes ................................................................................64
Leveza ................................................................................65
Moiras ................................................................................67
Baile ................................................................................69
Medicina................................................................................71
Eclipse ................................................................................73
Natureza ..............................................................................74
Recursos................................................................................75
Vazio ................................................................................77
Narciso ................................................................................79
Agora ................................................................................81
Lugares ................................................................................82
Espírito ................................................................................83
Sonhos ................................................................................84
Dogma ................................................................................86
Salto ................................................................................88
Limbo ................................................................................90
Pajé ................................................................................91
Foco ................................................................................92
Clã ................................................................................93
Pegada ................................................................................95
Drama ................................................................................97
Magia ................................................................................99
Amor ................................................................................100
Brincar ................................................................................102
Não ................................................................................103
Birra ................................................................................105
Reverência............................................................................106
Folhas ................................................................................108
Controle ................................................................................109
Heróis ................................................................................111
Feminina................................................................................113
Rezo ................................................................................115
Asas ................................................................................117
Perséfone...............................................................................118
Elementos..............................................................................120
Ciclos ................................................................................121
Rito ................................................................................123
Inquisidora...........................................................................125
Bruxa ................................................................................127
Ventre ................................................................................129
Vovós ................................................................................130
Elas ................................................................................133
Alma ................................................................................135
Mãe ................................................................................136
Deusas ................................................................................137
Inquisição.............................................................................139
Louca ................................................................................141
Mulher ................................................................................144
Família ................................................................................146
Gaia ................................................................................147
Toma ................................................................................149
Infinito ................................................................................150
Espelho ................................................................................152
Agradeça...............................................................................154
Afrodite ................................................................................156
Vento ................................................................................158
Cheia ................................................................................159
Lua ................................................................................161
Podar ................................................................................163
Soberana ..............................................................................164
Evocação de reconhecimento e pertencimento à Terra.....165
Deus e Deusa.......................................................................167
Beija-flor..............................................................................168
André Sumé........................................................................171
Agradeço à natureza onde vivo. À montanha, ao rio e à floresta
que acolhem minha família no colo fresco do amor.
Ela acredita nas relações, seja de gente com gente, seja de gente
com a natureza. Ela acredita. Sua força vem da sua crença, vem da sua
raiz, vem de sua pesquisa com a ancestralidade.
Karla Concá
Fundadora do primeiro grupo de mulheres palhaças do Brasil, As
Marias da Graça, Rio de Janeiro. Palhaça, atriz e diretora de
teatro. Ensina a arte da palhaçaria pelo mundo afora.
PRIMEIRAS PALAVRAS
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18
Semente
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Finaliza acusações. Cessa culpa. Morre o medo. Mulher
íntima de si mesmo. que dá goles fartos na fonte do vale e
segue caminho por muito tempo sem sentir sede.
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Runas
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as runas, que dormiram quietinhas no jardim de sua casa
em noite de lua minguar, acordaram felizes. Estavam de volta
ao colo daquela que sabia o sentido e orientava os significados.
Com a montanha tomada de verdes e dourados, as runas e a
mulher estavam juntas novamente.
de todos os dias, justo aquele dia.
22
Senhoras
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onde as frequências cerebrais se alinham criando uma linha
reta, uma ponte, cuja travessia já conhece seu destino.
Cruzando as porteiras do self, deus, deusas, poesia,
música, insights, conexões. são muitos os territórios
percorridos quando entramos nesta fenda mágica em sintonia
com elas. da soma de muitos desses encontros, nasce a
intimidade com um psiquismo soterrado. Esse aspecto
selvagem da mulher que sabe dialogar com espíritos e
fantasmas de si mesma, que sabe ouvir a voz das vovós, suas
anciãs, as memórias perdidas no elo sua história.
assim, o invisível se torna visível e posso, nitidamente,
constatar que nós e elas somos apenas uma.
vez ou outra, de mãos dadas, danço com elas. Canto
junto delas. Posso niná-las no embalo do sonho que me guia.
24
Quadris
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pouco mais mulher. aprendendo a soltura dos quadris.
dançando a iniciação do ventre. soltando a voz nos sons
desconhecidos e nos gritos de enrolar a língua típicos da
música árabe. olhando os movimentos de minha mãe e minha
avó.
hoje, toda vez que o quadril dança, elas dançam junto
comigo. uma herança. um legado. um elo. uma mulher.
26
Olhar
27
ela teve a estranha certeza que um anjo guerreiro forjava
minha alma.
Filha de promessa eu sou. Foram cinco bebês perdidos
no labirinto da morte do ventre de minha mãe. assim, me
tornei a sétima filha. Primeiro, meu irmão. Mais cinco. depois
eu. desde histórias estranhas e fantásticas, até a crendice
popular, a sétima filha carrega uma marca: bruxa, curador. E
fui crescendo, me tornando modelo e molde do seu amor.
hoje, mulher que sou, entre as angústias e os dramas
naturais de uma existência com significado, encontro seu
olhar. nos varais que secam a roupa do tempo, seu olhar. na
inocência que insiste em não me abandonar, seu olhar. olhar
seguro. Coração valente. a mãe mora em nós eternamente.
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Pactos
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prédio, subia e descia correndo as escadas do primeiro ao
décimo-quinto andar como quem desbrava uma floresta.
Meus pés ansiavam pela terra. quando moça, na faculdade,
cuidei de conhecer muitos cantos naturais. Cachoeiras e mato
abrigavam minha alma já cansada da dureza da cidade. dias
de magia junto à tribo dos índios guaranis. na oca o eco de
quem sou. Então, muito tempo depois, rompi com o pacto que
meu pai celou com a natureza. Fui morar ao pé de uma
montanha, na certeza de que este era o único caminho para
me tornar inteira. subi a montanha com o mesmo entusiasmo
que subia as escadas do prédio na infância. Porém, agora, os
pés pelados encontravam o colo da Terra. o espírito enraizou.
Meus pés, sempre astutos, aprenderam a direção e se
tornaram os olhos do meu corpo.
desfiz o equívoco do meu pai e não permiti que a
maldição cavalgasse pelas gerações afora. sei que onde quer
que ele esteja, respira aliviado. o elo perdido com a natureza
foi restaurado. Por todas as nossas relações.
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Presente
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Raiz
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A cor da minha alma
33
Cigarra
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alto de uma árvore uma cigarra. a danada voou até mim,
pousou no meu ombro e cantou alto.
o ouvido acordou. Entorpecida por tamanho vento
musical, dou milhões de voltas em espirais dentro daquele
turbilhão sonoro. sem nenhum medo, agora íntimas e tão
próximas que éramos, faço um pedido que somente a intuição
poderia guiar a ordem de tamanha conexão:
– Cigarra, leva minha dor de ouvido embora!
atendendo meu pedido ousado, a cigarra voou para
longe e, como num passe de mágica, levou a dor junto com o
pulsar de suas asas.
nunca mais!
anos sem dor de ouvido.
na intensidade dos insights que nenhuma lógica ou razão
sabe explicar como ou porquê, num lampejo de tempo que
galopa experiências passadas e emoções vividas, compreendi
naquele dia que de todos os sentidos, é o som, e sempre foi o
som, meu canal de entrada e saída para os despertares da
alma. E que as cigarras estavam ali, provocando a audição para
mais um chamado na escuta sintonizada do espírito.
acredito, não porque me contaram, mas porque vivi, que
os animais, assim como as pedras e as plantas, carregam
medicinas poderosas desconhecidas pela ciência do homem.
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o canto em tom alto da cigarra sana dores de ouvido e
estabelece conexão segura entre a mente e o coração. os
sábios guaranis já diziam que fora a cigarra a primeira a
entoar o som da cura.
Todo comecinho de janeiro, na passagem do ano em que
as cigarras cantam tão alto quanto o desejo dos nossos
corações por um ano verdadeiramente novo, tenho a estranha
certeza de ser amiga delas.
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Acordos
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poeira do destino. quebrar a fidelidade na infância prometida.
acoplar a alma num corpo que anseia não somente existir.
Traímos o sistema de crenças e os valores morais toda
vez que não compactuamos mais com a cultura social vigente
e achamos outra maneira de seguir adiante. Mais autênticos
e confiantes. novas formas de viver no mundo e nos sentirmos
seguros. ações políticas, estratégias elaboradas e forjadas no
amor que nos traga a lembrança de quem somos.
dizem que deus é o amor. assim sendo, concluo aqui que
o diabo é o medo. E quantas vezes mais for preciso vamos trair
o diabo e nos unir com o que é pleno.
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Bússola
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escavar fundo todas as possibilidades de que sou feita.
sustentar novas atitudes, focar nos sentidos e compreender
os significados.
aqui existe um lugar real para minha humanidade. aqui,
onde existe ordem. aqui é natural o zelo e o amar. Minha
bússola, guiada novamente pelo faro da minha alma e
orientada ao norte do coração, encontra o caminho de volta
para gaia. uma pátria. uma tribo. uma nação.
40
Rede
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Ferida
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solidão ainda era o nó na garganta. a faca no pescoço. um
drama existencial sem resposta.
absolutamente conectada com todas as teorias de
vanguarda que decifrasse o enigma solitário de viver, ela foi
amadurecendo e tornando-se íntima de uma solidão que se
tornou sua melhor amiga. ali, como no colo das boas amigas,
junto da solidão estava protegida. Como no embalo de mãe
que transmite o amparo, a solidão ganhou um lugar de honra
onde finalmente a escuta interna se completava.
ali, bem junto da grande amiga solitária, a mulher
encontrou a voz mansa de sua natureza. Foi aí, justo na
solidão, que ela finalmente completou a dança louca do ciclo
eterno que morre e nasce, concluindo em si mesma as
travessias que jamais ousara fazer no colo das boas amigas. o
sentido sagrado da solidão sanou a ferida secreta do abandono
e resgatou de dentro dela a segurança necessária para existir
no mundo sem se perder de si.
43
Mistério
44
tão presente, nos encontramos num mesmo espaço tempo,
pelo chamado das nossas intenções que nos une em torno de
um mesmo propósito. um elo ancestral na história do
feminino.
são rezas e orações. Pedidos de perdão, gratidão e
reverência. são mantos coloridos de proteção que caem nos
ombros de toda sua família e queridos. são deuses e deusas,
anjos, arcanjos e serafins que estão conosco neste
momento. Cada uma de nós pode criar a imagem arquetípica
que quiser deste instante soberano. Templos, florestas, em
volta da fogueira ou na beira do mar. o círculo e as mulheres
estão ali, praticando cura e galopando pelas oitavas superiores
do espírito. E mesmo que a mulher não faça conscientemente
este ritual, ele acontece pela força ancestral de um tempo em
que todas nós, desde sempre, praticamos a proteção e o am-
paro. o cuidar e o cuidado. Por nós e por todos. Por mim e pelo
outro. um círculo sem fim de generosidade e amor está
ali. vivo e pulsando. É real. E ele se faz na hora de dormir.
45
Corsário
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o lençol e a cama conhece. a floresta e a pedra. de dia.
Preferimos o dia. somos do sol e do rio. de noite, a lua guarda
a fogueira, nossa eterna companheira. do fogo, nosso bisavô
ancestral, são os cantos de pé no chão, com batuque e
rebolado solto onde nos sentimos totalmente tomados pelo
ato de viver.
dizem que isso se chama amor. Prefiro chamar de amar,
já que aqui as profundezas do mar se faz presente e me remete
ao dia em que você me pescou. Eu, toda embolada nos meus
dramas, feito mulher esqueleto, fisgada pela linha do desejo.
Com uma sublime paciência, você continua calmamente
a desenrolar os fios que dão o nó em volta de quem sou.
incansável atitude que confere a maestria de reconhecer em
mim quem é você. Como todo pescador carrega em si o
sentido do isolamento e da solidão, nossa relação atou a
costura do significado de um homem que captura uma mulher
profunda para conhecer com ela seu próprio mundo.
você é o pescador de coragem. não desiste de mim
porque cria a condição de estar intimamente conectado com
você. nossos corações são tropicais. “Mesmo que eu mande
mensagens por todo o mar.” amar. “rosas partindo o ar” e nós
a nos amarmos. na vida e na morte. amar.
47
Filho
48
significado e, assim, nos tornamos um tanto mais completos
no mundo. Éramos índios novamente.
Corredores de luzes douradas chegaram junto com o seu
nascimento. Ele nasceu em casa. de parto realmente natural,
seguindo o fluxo da natureza. não foi na água. Foi na terra e
no fogo. assim como o lugar de onde sua alma veio. Porque
ele é forjado na firmeza que sustenta o espírito do entusiasmo.
a tradução de seu nome diz muito: calmo, tranquilo,
pacífico formoso. devo confessar que em alguns aspectos ele
é exatamente o oposto. Mas a essência do lugar de onde veio
mantém um sopro doce e fresco já que “espirito da
montanha” é uma das muitas traduções do seu nome
indígena. não tenho dúvida que foi também por esse que
construímos nossa oca no pé da serra.
Esse menino ama o verde. É amigo dos animais e salta as
pedras do rio com a segurança de quem conhece sua casa. a
natureza é sua morada. É nesse colo selvagem que ele foi
educado, recebendo as lições do retorno e praticando a
observação que integra respeito e cuidado.
Posso chamar ele de filho, mas também sei que nosso
encontro é antigo. nos perdemos em outra vida e hoje nosso
reencontro é uma cura para todas as marcas do abandono.
nascemos como família novamente e isso atou o laço sagrado
do vículo pertetuando o desejo de sermos melhores. uma
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viagem xamânica de retorno ao caminho de volta para casa
onde meu filho é personagem e escritor dessa jornada.
50
Tambor
51
meu campo vibratório e transmutando padrões da
ancestralidade. suor salgado, lágrimas e saliva que faz no
encontro das águas uma mistura alquímica.
ao som de suas batidas sintonizo com meu ritmo.
Certifico minhas ansiedades e limitações, caso esteja fora do
tempo da cadência da música. ajustar esse ritmo com a voz e
com a dança é exercício de afinação do corpo com a alma.
sim, tambor é remédio. não tem contra indicação, ativa
os estados naturais de consciência e saímos da roda com a
incrível sensação de que algo mágico aconteceu. E de fato
aconteceu. retornamos para um lugar sagrado onde nos
sentimos profundamente compactuados com as forças da vida
que unem todos nós.
Estar em roda, tocando tambor é um ato mágico que une
os mundos físico e espiritual. É uma decisão sagrada de tomar
o coração nas próprias mãos e tocar junto dele os compassos
do ritmo e do tempo. Entoar cantigas que traduzam o mistério
e o sentimento.
quando afino minha alma com o pulsar de sua sintonia,
posso confirmar que pertenço a algo muito maior. sou capturada
pelo sentido do clã, e sinto toda a natureza seguramente minha
aliada. Tambor não me deixa esquecer que estou alinhada com
a Terra e profundamente conectada com o Céu. aqui e agora. no
meu centro. Em casa. no coração de quem sou.
52
o tambor marca o pulsar do coração. E para afinar o
pulsar de um coração com pulsar do coração da Terra, o ritmo
deve ser construído em roda, como já diziam os índios, no
pulsar de outros corações que criam juntos um único som
acentuado com um mesmo fluxo respiratório. É uma prática
muito ancestral nos reunirmos neste propósito. Porque sentir
o coração da Terra e pulsar junto com ele nos devolve a
lembrança de que somos todos um.
uma lembrança que não se percebe com a mente, mas
com o corpo. sentimos fisicamente essa doce lembrança.
Medos se vão. Couraças se quebram. uma limpeza natural que
acontece na presença do fogo, nas palavras cantadas que
entoamos. nos pés pelados que firmam o passo e transferem
poder.
o tambor forjou minha alma e acalmou todos os meus
sentidos de abandono. através do seu som faço um retorno ao
útero sagrado da Terra e vivo o embalo de estar novamente
no ventre. É minha medicina potente.
53
Fio
54
lembrança quase morta nos corredores do tempo emergiu de
sua memória e foi resgatado do esquecimento. Essa lembrança
trouxe aquele fio solto que não foi capaz de recuperar o tecido
devastado, mas foi responsável por dar mais um ponto na
costura enviesada de sua jornada.
isso basta. Ela aceitou os mistérios de sua trama e decidiu
que o desejo de reparar-se era quase uma transgressão
totalmente imatura do processo voraz que lhe acompanhava.
Foi assim que, naquela úmida noite de verão, ela
finalmente encontrou a paz que sonhara. não foi um estado
de paz permanente. Mas foi o suficiente.
55
Fim
56
sentido limitante. naquele dia, onde a trilha ficou escura e a
dor gritou, eu pude capturar mais um punhado de amor.
Peneirei nas águas doces do rio uma pedra preciosa que
trouxe de volta a riqueza que precisava. lágrimas.
57
Razão
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“imagine que tudo faça sentido”, disse o professor. Por
algum instante pude tocar na essência do campo das relações.
E de lá veio o eco que reverbera até agora no aqui da alma:
onde a razão domina, não existe espaço para um
relacionamento.
59
Giro
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novamente. Ela está pronta para a escuta sensível do corpo.
Madura, sábia e jovem, ela integra todos os aspectos de sua
psique e retorna a um lugar autêntico onde o abismo e
confiança caminham em sintonia. na dança cíclica do ventre
que reconhece a magia, ela capturou profunda intimidade
consigo. Está pronta para cavalgar pelas esferas do espírito.
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Milagre
62
efeito disso em nós: injustiça, desigualdade, dor. Como
sociedade já colhemos a dureza da pobreza dessas relações.
um novo tempo para uma nova humanidade começa
com a finalização do jogo de acusações entre nós. Estamos
dispostos a absolver todos os que condenamos?
63
Antes
64
Leveza
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encantamento com a voz e o pronuncia: leva o mal. Traz o
bem. nutre o coração da mulher que asas tem.
Por muitas vezes ela repete o encanto e me circula com
ramos de guiné e arruda. Foi assim, em noite de lua minguar,
que acordei com uma sensação indescritível de leveza. a
leveza típica de quem agora aprendeu a voar.
66
Moiras
67
lembrar que por todo o tempo costuramos a bainha de nossas
intenções na saia encantada de gaia. Elas nos pedem que
criemos maior sintonia com o tecido de nossos padrões
psicológicos e afrouxemos as amarras da resistência.
desfazendo o nó apertado e dando um laço no que ampara e
acalenta, seguimos o ato libertador de revolucionar nossa
senda.
de todos os cantos que uniram nossas vozes no embalo
criativo da música que se formou, de todas as ervas cheirosas
que pilamos juntas e aguçaram o sentido da beleza de nossos
ciclos, foram as Moiras, que com a magia de sua costura,
trançaram em nós o bordado do amor.
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Baile
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Essa é a cena que traz ao centro da nossa roda a feiticeira.
Mulher tão bela, médica antiga, curandeira das feridas da
alma. Ela pega minha menina pelas mãos e juntas dançamos
no ritmo do amadurecer.
num baile de saias onde a cintura circula a esfera da
Terra inteira, a menina, pulsando em ritmo novo, acordou do
sono profundo e se fez um tanto mais mulher. satisfeitas, a
bruxa, a fada e a feiticeira encontram lugar na alma da menina
e acabou-se o esquecimento. Empoderada de si mesmo, pela
estrada afora, ela não teme mais a floresta.
70
Medicina
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do veneno ao remédio, do amargo para o doce, do sutil
ao espesso, a elaboração de nossa medicina é um caminho de
volta para a essência. sem bula, nosso destino mais auspicioso
é curar o ego da sombra de si mesmo.
72
Eclipse
73
Natureza
74
Recursos
75
recursos. Esgotamos, poluimos, exterminamos. Precisamos
aprender com urgência a reciclar o lixo de nossa natureza, do
contrário, os traços psicopatas de nossa personalidade
humana vão assassinar a vida. Cada um de nós como semente
deste pedaço de chão chamado Terra tem missão junto com
ela. Fertilize. não corrompa sua natureza. atenção aos
cuidados de manejo. Construa a partir de seus recursos
naturais.
76
Vazio
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alma. as relações e os vínculos não precisam mais ocupar o
lugar de proteção. Porque já não sentimos mais medo.
78
Narciso
79
lembra que o tempo não pertence a narciso. o tempo é de
nossa autoria. narciso espera ansioso por seu destino: a morte.
a morte psicológica necessária que nos dê vida.
80
Agora
81
Lugares
82
Espírito
83
Sonhos
84
de cura, uma mensagem vinda do profundo mundo ao qual
pertencemos.
85
Dogma
86
um respiro doce e profundo vem ao meu encontro neste
momento. É o meu caminho, a minha estrada. Eu com meu
ritmo. a vida assim me dará de troco mais generosidade e
abertura. liberto todos e encontro a mim.
87
Salto
88
um lugar fértil, onde cada imagem, cada palavra, cada gesto,
ação ou intenção nascia daquilo que ela criava. não era um
lugar pronto como os outros lugares que ela havia visitado.
Era um lugar para ser construido, parido a partir dela mesma.
Consciência encontrou Essência. E juntas inventaram
mundos. Edificaram soluções. Castelos inesperados,
fantásticas formas de olhar. amar. Compartilhar. Casadas,
foram felizes.
89
Limbo
90
Pajé
91
Foco
92
Clã
93
vão as raízes. assim como a folha pertence à árvore, nós
pertencemos a nossa família de origem. não me assusto com
tamanha verdade. Tomo a força dela. desbravo o mistério das
gerações e sei, a ancestralidade está em mim.
inspiro amor para todas as gerações. Compartilho a dor
de todas as gerações. Transfiro amor para todas as gerações.
nosso destino está sendo compartilhado através das gerações.
94
Pegada
95
Tribos antigas, esquecidas por nós na oca da aldeia nos
contam: somos música. Cada um tem missão de afinar seu
instrumento. Cada um de nós desenvolve um ritmo, e a
precisão do ritmo constroi a música que sou. Para ser música,
primeiro ritmo. Para ser humano, primeiro amor.
qual a pegada que resta do meu passo?
Como afinar o instrumento que sou e construir uma
bonita música que ajude a afinar a Terra?
um mar de possibilidades.
96
Drama
97
Ela sorriu e me disse para retornar num outro momento.
aceito. só me resta sair só comigo. Mais uma vez vou repetir
o drama e, talvez, em outro momento, minha condição
permita caminhar ao lado da paz.
98
Magia
99
Amor
100
acreditamos que o outro é quem deve fazê-lo. “você me deve,
eu mereço” é a mesnsagem oculta. assinamos secretamamente
com o outro uma dívida e interrompemos o fluxo do amor.
Cortamos um elo sagrado e criamos distâncias que separam.
Em dívida, seguimos na jornada da vida achando que algo nos
falta.
sim, de fato, algo nos falta. nos falta dar todo amor que
nos cabe. É assim que um amor generoso nasce no peito.
grandioso. dando o melhor de nós para si e para o outro.
o amor é misterioso. vou respeitar o mistério do amor e
tentar não desvendá-lo. não vou invadi-lo com minhas
milhões de perguntas. Porque somos todos infinitos, e é no
infinito onde mora toda a vida. vou saciar minha sede de amar
vivendo meus relacionamentos e dar todo o infinito que posso
de mim.
101
Brincar
102
Não
103
“nãos” que me prendem. vou buscar a voz do pai e da mãe
que dizem não por mim e soltar a corrente. uma grande
travessia. alforria.
104
Birra
105
Reverência
106
na linhagem do Fogo, os ancestrais das escolhas são
aqueles que cuidaram de nós quando nossos pais não puderam
estar presentes. amigos, professores, tios e vizinhos que nos
ensinaram modelos e nos transferiram amor. reverenciá-los
amplia nosso círculo de relações, dando lugar ao cuidado
generoso entre o eu e o outro.
na linhagem do ar, os ancestrais da voz são aqueles
cujas histórias inspiram de bravura nossas vidas. orientam
com seus exemplos nossos passos. sua voz ecoa em nós e
reverenciá-los é um grito que convoca criatividade e ousadia.
na linhagem do Espírito, os ancestrais da magia. anjos,
guardiões e guias. aqueles que deram início a qualquer
tradição filosófica que apreciamos ou seguimos. uma
reverência a eles mostra intenção de fortalecimento espiritual
e proteção psíquica.
atravesso pontes e cruzo mundos quando minha bruxa
me toma pela mão. lá é onde, aqui é ontem, será agora. Foi é
tempo que não existe.
a bruxa sabe. E honra.
107
Folhas
108
Controle
109
efeito de hipóteses e especulações do que existe do lado de lá.
ser orientado pela alma exige infinito. vastidão. Estou
disposta a sustentar meu olhar nesta direção?
110
Heróis
111
se já estamos imersos no triângulo do drama, que
sejamos heróis, porque de agressores e vítimas o mundo já
está cheio.
112
Tempo
113
completa a escuta da alma... um tempo perdido.
aprendi que o tempo é rei. E dele sou a rainha.
Juntos governamos um pequeno povoado que leva o meu
nome.
Tudo o que cabe no tempo de ser quem sou é uma
escolha minha. o tempo é de nossa autoria.
E no tempo residem todas as soluções.
vou pedir ao tempo que encontre meu destino.
vou deitar na rede e escutar o que o tempo trouxe desta
vez para conversar comigo. um tempo companheiro e amigo,
que fala manso e suave.
114
Rezo
115
Para trás, a paz com o que ainda não enxergamos. o
futuro tempo por vir.
Medos e angústias encontram lugar sereno na confiança
do existir. refletir e agir por aqueles que aqui ainda não
estiveram. adiante de nossos netos. Transferir o legado e
compartilhar o mesmo chão chamado gaia.
Para os lados, a paz nas relações reflete o espelho de
nossas sombras. Para a esquerda, a paz com os familiares. Para
a direita, a paz com amigos e vizinhos. Estabelecer conexão
uns com os outros, elaborar soluções de amor e celebrar a
sintonia que nos une.
Para dentro, a paz com nossa natureza interior. o campo
alquímico das emoções, a floresta do mundo de dentro.
reconhecer em cada canto sagrado da alma, silêncio, grito e
eco. a voz que cala e fala. Escuta e conversa num diálogo único
que somente o encontro com nós mesmos tem ouvidos para
capturar tamanha frequência.
Como humanidade, desejo que sejamos capazes.
a paz nas sete direções é meta. a seta.
116
Asas
117
Perséfone
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Escuto o chamado de Perséfone toda vez que sou raptada
por forças maiores que vão muito além de meu entendimento.
Convoco sua força e peço permissão para entrar em
corredores escuros onde moram os fantasmas perdidos da
inconsciência. É ali que as soluções esquecidas encontram o
caminho de volta até mim mesma. retorno do nosso encontro,
que pode levar dias ou horas, com a incrível certeza de que
sou capaz de reunir todos os pedaços que estão fragmentados
em mim.
não resisto mais ao nosso encontro. Já não sinto medo
de me confrontar com sua face tão negada. sou eu quem bate
na sua porta e ela nem precisa mais ter o trabalho de vir me
buscar. Poupo-lhe a viagem, porque assumi a travessia.
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Elementos
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Ciclos
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na menstruação somos o inverno. o arquétipo da bruxa
vem nos abraçar com recolhimento e reflexões. aqui
morremos junto com nossos óvulos e sangramos em
sabedoria.
E novamente visitamos a primavera e florescemos.
somos verão e irradiamos. no outono soltamos e voltamos ao
inverno com a chegada de nosso sangue. um ciclo belíssimo
de morte vida e renascimento nos embala junto com o
desenho da lua que segue no céu.
gaia, nossa comandante chamada Mãe Terra, leva
trezentos e sessenta e cinco dias para concluir o mesmo ciclo.
a conclusão de que somos um corpo acelerado de gaia é no
mínimo um instigante mistério, ou uma descoberta
avassalodora, de que caminhamos juntas com os ciclos da
Terra. não estamos separadas dela. regeneramos e
transmutamos na senda do feminino que reconhece em si o
corpo da natureza.
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Rito
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sempre que a intuição pede. Ela segue seu faro e ouve o
silêncio. Canta sua música e dança no seu ritmo.
o sagrado mistério da fêmea se trata em aprender a lidar
com esta poderosa energia: dar passagem aos processos
criativos e emocionais que nos habitam.
a estagnação nos diz que interrompemos o fluxo e
fechamos a passagem para algo fundamental em nosso
psiquismo. abortos e mutilações do feminino acontecem
nesta fase onde o medo e a culpa capturam o campo selvagem
da mulher.
o que te pede passagem? Entre uma contração e outra
vamos aprendendo a afrouxar as resistências. o trabalho aqui
é parir a si mesma.
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Inquisidora
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da bruxa como uma parte sadia da persona. aquela parte que
com frequência tem uma boa orientação para dar. a sábia
mulher que nos ajuda a escapar para a floresta, a nossa guia
interior que está em paz com a solidão e o silêncio. sabe ouvir
e decodificar as mensagens ocultas da alma. Pronuncia
encantamentos.
o desejo da inquisidora é queimar a bruxa. aniquilar o
selvagem que habita a alma da mulher. a inquisidora quer o
poder e o domínio desta alma selvagem para conter a mulher
no cativeiro das convenções.
um rito de passagem aguarda a mulher que decide
romper com os emaranhados da inquisidora e abraçar com
sinceridade sua bruxa. uma jornada xamânica de morte e
renascimento. um ato numinoso, uma travessia necessária.
quem ainda não fez, vai sentir com vigor e paixão a
necessidade deste rito.
um capítulo da nossa história, que teremos a honra de
contar para nossos netos e filhos, um legado que deixamos
para todas as mulheres do nosso clã. o plano aqui é capturar
a inquisidora das mordaças que ferem a linhagem do
feminino. É uma missão ousada, admito. Porém, esta é uma
causa nobre para as bravas mulheres que ousam correr pela
floresta do mundo de dentro. Em liberdade. Em harmonia. não
apenas por si. Mas por todas.
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Bruxa
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a bruxa é a mulher que não pode morrer. Ela vive por
gerações a fio. das tataravós, das bisavós, das avós, de mãe
para filha, a bruxa vai perseguindo a linhagem da família das
mulheres. voando de uma geração para outra, compreender
a bruxa é acender o fogo sagrado que transmuta padrões
sistêmicos e reforma toda a estrutura celular da saúde
psicológica da mulher.
a bruxa, quando maldita, conduz ao caminho da loucura.
a bruxa, quando bendita, conduz ao caminho da cura. não
ouse bani-la. atreva-se a conhecê-la.
do que não mais podemos fugir? Pergunte a ela. nos
arredores das matas virgens do self, a bruxa deseja voar em
sua companhia.
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Ventre
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Vovós
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castrador, onde meu corpo movimenta uma dança enfeitiçada
que serpenteia os braços. no transe das respirações,
enlouquecida com as possibilidades que percebo fazerem
parte de mim, nessa dança intensa onde o corpo cala a mente,
posso nitidamente me apropriar daquilo que estava vago e
quase morto. agora, exposta a uma lucidez que não me
pertencia, posso criar as condições que desejava para refazer
algo profundamente reparador.
aquela que Tudo sabe não desiste de buscar nos
caminhos do meu espírito aquilo que está certa de que vai
encontrar. não sei o que ela tanto busca, mas pouco importa
diante da confiança do nosso elo.
Ela acende a fogueira e canta junto das vozes roucas das
vovós. um canto que percorre toda a minha coluna e explode
a visão do entendimento. distribuindo perfumes e galhos de
limoeiro, ela limpa minha mente espiralando os galhos ao
redor de minha cabeça e pinga uma gota do perfume entre as
sobrancelhas. sinto-me pronta para ocupar meu lugar e
sentar em roda diante delas. ouço com clareza. uma clareza
que refloresta imediatamente minha natureza devastada.
sim, agora me lembro. Foi um pedido de ajuda que fui
buscar neste encontro. um pedido velado que nem mesmo eu,
ao certo, recordo. Elas transferiram seus ensinamentos de
amor e compaixão através de rezos cantados e assoprados, ao
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som de tambores e chocalhos, no círculo mágico onde o
infinito foi nosso convidado.
sei que as vozes delas são minhas e que minha voz é
delas. É neste pacto de ajuda e respeito que caminhamos
juntas. Por algum motivo, seja por necessidade ou desejo,
nosso encontro pelos corredores do espírito sintoniza um
aprimoramento para a alma.
Calma.
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Elas
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Todas elas vivem em nós. Por vezes, soterradas pelos
fragmentos da história, nossa responsabilidade é trazê-las
novamente para conviver na alquimia de nosso dia-a-dia. E
que essas antigas senhoras do feminino possam cumprir seu
ofício de vínculo no elo selvagem que nos une. não mais
esquecidas. agora incluídas. Elas somos nós.
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Alma
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Mãe
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Deusas
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maldição. Exige um profundo vínculo consigo, e desse vínculo
nasce o elo com o sagrado, e do sagrado surge a deusa. É
dessas profundezas interiores que nascemos como deusas
encarnadas no corpo de mulher.
sim, é real e elas existem. Eu conheço um bando delas.
graças à deusa!
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Inquisição
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renascimento da vida. saias coloridas. vestidas de autonomia.
o elo do ventre. a lua e a floresta vivas novamente dentro da
gente.
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Louca
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com ela. a natureza da sábia mulher é dar ouvidos e as mãos
para a louca e inclui-la na sua personalidade.
a louca tem um poderoso antídoto: a cura pela loucura.
aquela loucura sadia que me faz escapar de uma gaiola
criando soluções criativas. Mas a louca também pode me
enlouquecer, caso não seja ouvida por resistência do meu ser.
a transformação da louca interior em uma mulher
serena e amadurecida, à vontade com o selvagem, é o destino
de toda mulher que deseja correr consigo. Pertence ao destino
da louca criar intimidade com os fantasmas que assombram
a alma e libertá-los da maldição de gerações de esquecimento.
Porém é necessário que esse mergulho não me afogue. É uma
linha tênue. visitar a louca e fazer amizade com ela demanda
ajuda e cuidado. do contrário, saio ferida, afogada no mar de
minhas emoções. uma travessia de ousadia e bravura, onde
criaturas míticas e forças desconhecidas são envocadas para
salvar minha psique. não há como escaper, um dia a louca vem
me pegar.
a louca é uma mulher sábia. Ela vive dentro mim e
precisa ser reconhecida. não pode ficar esquecida no
calabouço do inconsciente ou presa na masmorra do
esquecimento. a louca traz a chave que abre a ultima porta, o
fio que repara a trama. sem ela, nunca serei inteira. Fico pela
metade.
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na psique feminina podemos imediatamente reconhecer
a louca olhando para nossas mães. Todas nós sabemos. Cada
mãe com suas feridas que feriram suas filhas. Cada uma com
sua forma de amar e doer. da mãe boazinha demais até a mãe
gelada e fria, ou a mãe que solta fogo pelas ventas e queima
tudo à sua frente, a mãe doente. Cada mãe nos conta onde está
nossa louca e qual a direção que devemos encarar para
encontrá-la.
Preciso criar coragem para contemplar minha louca e
me tornar consciente de nossos laços psicológicos. Então a
louca viverá para sempre na sua forma mais curativa: na
função sublime de criar uma vida autêntica, rica em gozo e
liberdade. busco minha louca toda vez que paro de temer a
mim mesma.
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Mulher
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quando eu nasci mulher, nasci em círculo. numa roda.
no acalento do sopro das minhas irmãs que nasceram e
morreram junto comigo. num parto coletivo. do mesmo
ventre soberano, foi a deusa quem nos pariu. a montanha e o
rio guardam memórias do compartilhar da nossa intimidade.
renascidas, o amor ainda mais maduro vem nos coroar.
que nenhuma parte se distancie de nós, nunca mais. uma
dança em ciranda, de mãos dadas com gaia, para sempre.
Fecundada está nossa consciência.
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Família
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Gaia
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apenas humanos. Preciso ser gaia para me reconhecer
unificada comigo mesma.
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Toma
Toma tua água. Toma teu fogo. Toma teu ar. Tua terra.
Mexe no caldeirão sagrado da vida tuas intenções.
Pitadas de entusiasmo, punhado de emoção, o sopro da
criação, a consistência da consciência. Mexe até dar o ponto.
Conselho: depois de mexer bastante tem que descansar.
repousar para pegar bem o gosto. Está feito. agora é só
degustar de ti mesmo.
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Infinito
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assim que me sinto mais ancorada e não me esqueço que esse
infinito está vivo em mim. Porque o infinito pulsa em tudo
que respira vida. sim, somos infinito, mesmo sendo
microorganismos bem pequeninhos vivendo num corpo bem
grande chamado Terra.
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Espelho
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me sinto rica e prospera. Porque o desenho da natureza é
abundância e prosperidade. Fartura e amor. assim como nós.
a natureza é parte do que me forma. Meu caráter foi
sustentado com seus ensinamentos. É na consistência do
vínculo com a natureza que amadureço. Como mulher, cresço.
Plantas, pedras, água e fogo. ventos e tempestades.
Cobra, cigarra, macaco, tatu. Árvores e floresta. vejo a
natureza e sei que ela também me vê. rompemos o manto da
invisibilidade há muito tempo. demos nascimento uma à
outra.
relação forte. É nela que encontro meu norte. sentido.
direção.
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Agradeça
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agradecer é agradar a alma que desfruta no oceano de
calma. Como suportar tamanha grandeza? agradeça.
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Afrodite
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bem quietinha, assoprou sua bênção final e vênus se pôs no
limite do horizonte. atrás do monte, afrodite disfarçada de
estrela teve seu descanso.
aqui na Terra, um suspiro. Mais um vento. E pronto.
silêncio.
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Vento
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Cheia
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vou aprender com a lua cheia e fazer como ela faz. vou
mostrar ao céu da consciência toda a beleza e clareza que está
ancorado nas terras selvagens do Eu. reunido com todas as
partes que tenho, a lua cheia me faz lembrar que eu sou um
reflexo de seu espelho.
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Lua
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um dia, o sonho desenhado no céu da mente chega na
terra que enraíza. dores do parto, contrações, nascimento.
Cuidado e atenção. Está andando com as próprias pernas.
Passo firme. Confiança no caminho.
nestas noites de lua cheia, senti a própria vovó lua me
ninar. Embalou sua calma no colo sereno de que sou e fez
nascer em mim mais um punhado de amor. Compaixão pela
nossa humanidade. Compaixão pela fome do espírito.
Compaixão pelo rio que não pode mais correr. a água que
morreu, a floresta que sumiu. Compaixão. aquela ensinada
pelo buda na lua de seu nascimento.
quando a cheia lua vem morar dentro de mim, quando o
céu da noite clara toca a natureza interior, a mulher completa
sua senda e está enluarada.
do poder da lua não trago mistérios, pois foi a própria
lua quem me revelou que para enluarar preciso me esvaziar
de mim e encher-me dela.
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Podar
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Soberana
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Evocação de reconhecimento e
pertencimento à Terra.
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possa reconhecer e honrar a vida e assim servi a ti para o bem
maior.
honro tuas águas, honro tuas montanhas, honro tuas
árvores e tuas folhas. honro teus frutos e tuas flores e sei que
toda essa natureza existe em mim, dentro de mim, e que em
nenhum momento estivemos separadas.
Moro no teu colo, no teu corpo e nele eu pertenço.
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Deus e Deusa
Pai nosso que está no céu. Mãe nossa que está na Terra.
bendito seja teu fruto saboroso e generoso que degusto
diariamente na água que bebo, no alimento que degusto, no
sol que aquece, na noite que aquieta, no amor que
compartilho. bendita seja a consciência, teu fruto mais
maduro e potente.
deus Pai Todo Poderoso. deusa Mãe Toda Poderosa.
orienta, guia, acolhe e auxilia. que a magia do amor se
manifeste no aqui e agora deste minuto que se inicia. que a
confiança embale o meu dia, agora e sempre. amém.
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Beija-flor
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dissolvo minha forma humana e resgato o vínculo com outras
formas de vida. É assim que venho me sentindo natureza.
Pois bem, levo as plantas para casa e com elas faço
pequenos vasos em vidros de água. arranjos florais com ervas
perfumadas espalhados na cozinha, na sala e nos quartos. as
folhas e galhos que sobram vão para o caldeirão. Ficam lá
secando e depois são usadas em chás, banhos, benzimentos.
ou vão para as fogueiras que com frequência acendemos no
quintal. nada se perde. o fluxo da alquimia não pode ser
interrompido. isso é Magia. nada demais. somente beleza.
livre dos credos e das cruzes que pregam as religiões,
honrando os ritos sagrados que nos tornam melhores e
humanos, deixo aqui meu testemunho, firmado e confirmado
que a natureza somos nós e nós somos a natureza. Favoreça
este círculo.
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Andréa Sumé
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Arrisco.Rabisco.