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Matheus Souza

e outros autores

POESIAS

62ª Edição
Nona impressão

Jardinópolis-SP
Palavra é Arte
2015

Palavra é Arte - POESIA • 1


EDITORA PALAVRA É ARTE
18.304.851/0001-93
RUA ARCÂNGELO FURLAN, 26
JARDINÓPOLIS - SP
16 3693-3608

Dados para catalogação

Editora Palavra é Arte - Poesia


Jardinópolis, SP - Editora Palavra é Arte, 2015
1. Literatura.
ISBN: 978-85-68593-00-4
PREFIXO EDITORIAL - 68593

Projeto Gráfico:
Lucy Dolácio e Lara Caxico

Diagramação:
Anderson Oliveira

Capa:
Lucy Dolácio

Contatos:
projetopalavraearte@bol.com.br
editorapalavraearte@gmail.com
16.3693-3608

2 • POESIA - Palavra é Arte


Quando publicamos uma coletânea de textos como
esta, temos a certeza de que a Literatura Brasileira é muito
mais grandiosa do que aquilo que aprendemos nos livros es-
colares. Carlos Drummond, Adélia Prado, Vinícius de Moraes,
e tantos outros poetas que se destacaram, são apenas alguns
exemplos do que temos em nosso país em se tratando de gen-
te com enorme talento neste campo da arte.
A poesia se identifica em todas as medidas como a pró-
pria arte, uma vez que ela sintetiza o que de mais significativo
existe em todas as demais modalidades de expressões huma-
nas.
A saudade, a angústia, o amor, a felicidade, a fé...
Qual a fórmula mágica para se falar de tudo isso, fazen-
do uso do mínimo de palavras e do máximo de sentimento?
Que nos perdoem a dança, a música, a pintura... Sem
poesia nenhuma dessas expressões artísticas teria vida.
O poeta mexicano Jaime Sabines disse certa vez que a
poesia é um acontecimento humano único, mas que pode-
mos encontrá-la em qualquer parte, a qualquer hora, de for-
ma surpreendente.
Lendo os versos de alguns autores desta coletânea,
percebemos que eles, com maestria, nos fazem acreditar que
a arte de fazer versos é tão fácil que até nós, simples amantes
das artes e da vida, seríamos capazes de tal façanha.
Ao mergulharmos em seus escritos, na multiplicidade
de seus temas, na delicadeza e precisão de suas palavras, e às
vezes em sua linguagem quase telegráfica, temos a impressão
de que somos seus velhos amigos, que os conhecemos pro-
fundamente.
Gilberto Martins e Carmen Sestari – editores

Palavra é Arte - POESIA • 3


4 • POESIA - Palavra é Arte
Sumário
Matheus Souza
A Partida .............................................................................. 09
Saudade, um Tiro no Peito................................................... 12
Felicidade é Simplicidade .................................................... 14
Ondas................................................................................... 15
Tons Frios ............................................................................. 16
Saudades de Mim ................................................................ 18
Sentir e Viver........................................................................ 19
Mente Suja .......................................................................... 20
Labirinto............................................................................... 22
Fim ....................................................................................... 25
Simples................................................................................. 27
Ah! O Coração...................................................................... 28

Nadine Borges
Manifesto............................................................................. 29
Só Sei ................................................................................... 30
Festim .................................................................................. 31
Licor ..................................................................................... 32
Oco ...................................................................................... 33
Incógnita .............................................................................. 34
Serenidade .......................................................................... 35
Par(t)ir ................................................................................. 36
Fresta ................................................................................... 37
Enfrente ............................................................................... 38
Última .................................................................................. 40
Volta..................................................................................... 41
(Re)iniciar ............................................................................ 42
Te Quero............................................................................... 43
Te Sinto................................................................................. 44

Sandro Dias de Souza


Amizade ............................................................................... 45
Retrato de Nós Dois ............................................................. 46
Ciclo ..................................................................................... 47
Burka ................................................................................... 48

Palavra é Arte - POESIA • 5


Cidadania ............................................................................. 50
Gratidão ............................................................................... 51
Universo Novo ..................................................................... 52
Clara .................................................................................... 53
A Luva .................................................................................. 54
Eu......................................................................................... 56
Ilha de Amor ........................................................................ 57
Faça Agora ........................................................................... 58
Evolução .............................................................................. 59
Fio de Ariadne ..................................................................... 60

Anna Nalon
Agradeço.............................................................................. 61
Amadora............................................................................... 62
Amigos.................................................................................. 63
Aquela menina..................................................................... 64
Carinhoso............................................................................. 65
Correndo contra o tempo..................................................... 66
Dois mundos......................................................................... 67
Eterno amor......................................................................... 68
Família.................................................................................. 69
Lara....................................................................................... 70
Meu brasil brasileiro ............................................................ 71
Paz ou covardia?!................................................................. 72
Sobre a inveja ...................................................................... 73
Viajar.................................................................................... 74
Vida...................................................................................... 75

Amanda Maria Lins da Rocha


A caminhada ........................................................................ 76
Nostalgia .............................................................................. 77
A evaporização .................................................................... 78
Rotinando ............................................................................ 79
Vou tecer o texto ................................................................. 80
Enquanto eles dormem ....................................................... 81
Caras e carências ................................................................. 82
Sofia...................................................................................... 83
Tropical ................................................................................ 84
A lilás mariposa.................................................................... 85
Programação Anual.............................................................. 86
Cintia.................................................................................... 87
6 • POESIA - Palavra é Arte
Vênus.................................................................................... 88
Curiosidade.......................................................................... 89
A volta em 24 horas.............................................................. 90
Roziane da Silva Jordão
Minha mãe, minha heroína.................................................. 91
Vou-me embora para plóbritige aqui eu não sou feliz......... 92
Porto velho, meu porto amado!........................................... 93
Sufoco! Lá vem ele .............................................................. 95
Sem sorrisos, sem cerimônias ............................................. 96
Meu primeiro amor.............................................................. 97
Depois de entrar no desejo proibido da vida....................... 98
Garotinha do sapato Cor de Rosa......................................... 99
A rosa do bairro Me diz que................................................. 100
Meu adorado Ivan................................................................ 101
Águas passadas: Já me sentido quase
morta lhe ofereço esta flor................................................... 102
Os porquês do Amor............................................................ 103
Prefiro vê-los todos nús........................................................ 104
Relatos de um Amor do Nordeste ....................................... 105
O “Amigo da Onça”............................................................... 107
Lúcio Alves
Chuva de Fevereiro............................................................... 108
As pessoas............................................................................ 109
Era Véspera de Inverno......................................................... 110
Bênçãos Populares (Fortuna, Minerva e Vênus)................... 111
A Orquestra do Diabo........................................................... 112
Confiança.............................................................................. 113
Sonhos e Ironia..................................................................... 114
Noite Inescrupulosa............................................................. 115
Paixão Maldita...................................................................... 116
Versos Desvairados............................................................... 117
Olivia Maria Beltrão Gondim
Divino romance das rosas.................................................... 118
Amor calmo e ardente.......................................................... 119
Amor que chega para amar.................................................. 120
Abraço confortável............................................................... 121
Rendição............................................................................... 122
Pulando muros..................................................................... 124

Palavra é Arte - POESIA • 7


Novo habitat......................................................................... 125
Canto da princesa acordada................................................. 126
Dança cigana........................................................................ 127
Ametista............................................................................... 128
Sem tempo........................................................................... 129
Simone e Paul....................................................................... 131
Regresso............................................................................... 132
Carnaval do acho é pouco.................................................... 133
Danúbio................................................................................ 134
Brendow Henrique
Metafísica poética................................................................ 136
Depois que você partiu......................................................... 138
Soneto embriagado.............................................................. 139
Soneto insensato.................................................................. 140
Anjo do meu pesadelo......................................................... 141
Viver por amor vale a pena.................................................. 142
Um soneto importante......................................................... 143
Um parágrafo delirante........................................................ 144
Soneto dominical.................................................................. 145
Nada será............................................................................. 146
Vinte e poucos anos............................................................. 147
Stand by me.......................................................................... 149
Dissanctis
Plenitude.............................................................................. 150
Água..................................................................................... 151
Natureza no cio.................................................................... 152
Moça da boca vermelha....................................................... 153
Adão e Eva............................................................................ 154
Chovi..................................................................................... 155
Lua cheia.............................................................................. 156
Suspirar................................................................................ 157
Versos................................................................................... 158
Vida...................................................................................... 159
Amor..................................................................................... 160
Morte................................................................................... 161
Beijo..................................................................................... 162
Salvador................................................................................ 163

8 • POESIA - Palavra é Arte


A PARTIDA

Ele veio de longe,


De um lugar distante,
Eu o encontrei,
E me apaixonei.

Mas a partida agora nos separa,


Ele vai para casa,
A vida segue,
Anda,
Voa,
Passa.

Mas a lembrança fica,


Lembrança boa,
Boa lembrança,
Que traz esperança.

Foi bom te conhecer,


Foi mais que bom te ver,
Foi maravilhoso te beijar,
Foi fantástico te olhar,
Seu jeito me cativou,
Seu olhar me conquistou,
Seu sorriso me encantou,
Sua voz me hipnotizou.

Não penses mal de mim por te escrever,


Mas é que sou cafona se perceber,
Sou romântico com você,

Palavra é Arte - POESIA • 9


Pois em tão pouco tempo pude perceber,
O quão bom ser humano é você.
São palavras simples, mas de coração,
Não é ingenuidade, não é distração,
É um sentimento bonito,
Que me faz sentir-se infinito.
Que ultrapassa meu olhar tímido.

Espero que se lembre de mim quando partir,


Que eu Jamais esquecerei que o percebi, que vivi
Pois foi a melhor pessoa que conheci.

Isso é um presente, é sentimento expresso em palavras,


Palavras que podem tocar a alma,
A alma sensível,
A alma amada,
Que soam profundas,
Mas que são simples como a chuva,
Pois a simplicidade me encanta a alma.

Escrevo-te por que quero que leve um pouco do meu sen-


timento contigo,
Pode ser que não tenha ficado tão encantado comigo, o
quanto eu fiquei com você,
Mas saiba que esses dias só pensei em você.

Enfim,
Você irá,

10 • POESIA - Palavra é Arte


Vai partir,
E eu vou ficar,
Mas saiba que você vai também ficar,
Dentro de mim,
Num especial lugar,
Do qual eu sempre irei cuidar.

Não pense que ficarei Feliz ou triste pela partida,


Só pense que você me fez feliz esses dias,
Que despertou em mim o lado bom da vida,
E que um dia quem sabe poderemos nos encontrar sem
que seja necessária...
A partida.

Matheus Souza

Palavra é Arte - POESIA • 11


SAUDADE, UM TIRO NO PEITO

A saudade é como um tiro no peito,


Ela fere, faz sangrar, machuca, nos deixa em devaneio,
Ela é companheira da morte, companheira da vida,
Mas ela é tão forte, que nos deixa sem saída.

Com ela choramos, berramos, sofremos,


Lembrando de bons momentos,
Com ela andamos por aí sem destino,
À procura de algo que se foi por instinto.

Era pra ir,


Mas na minha cabeça, não, não era pra partir,
Era pra ficar,
Ficar ao meu lado sem pensar em me deixar,
Sem pensar em me abandonar.

Era para sermos felizes, felizes juntos,


Porém o mundo é injusto,
E por força do destino ele continuou sua andança,
Seguiu a vida sem mudanças,
Me deixando sozinho sem esperança.

Fiquei, fiquei sozinho pensando,


Lembrando do beijo em minha boca,
Do abraço forte em meu corpo,
Do sorriso me encantando.

Sua voz me falando,


Me falando de gratidão,
Demonstrando medo do coração,

12 • POESIA - Palavra é Arte


Da força do amor em questão.

Mas aqui ainda estou,


Sempre lembrando do que passou,
Da nostalgia que ele me deixou,
Do beijo molhado que para sempre me marcou.

Matheus Souza

Palavra é Arte - POESIA • 13


FELICIDADE É SIMPLICIDADE

Onde está a felicidade?


Pergunto e respondo com toda sinceridade,
A felicidade está na simplicidade,
Na simplicidade de um sorriso,
Na simplicidade de um olhar,
Na simplicidade de um beijo,
Na simplicidade de um abraçar.

A felicidade é simples,
Basta observar,
Não procuremos o complexo para se saciar,
Busquemos o simples para feliz estar,
Sorria sem limites, deixe a vida voar,
Voar para os braços da felicidade,
Que é simples como o luar.

Matheus Souza

14 • POESIA - Palavra é Arte


ONDAS

As dores voltam, voltam como um grande tsunami,


Devastam tudo, me deixam sem chances,
Sem chances para viver,
Sem chances para cantar,
Sem chances para florescer,
Sem chances para amar.

As ondas levam o que há de melhor,


A esperança, a vida, o amor,
Levam a voz, a força, a coragem,
Levam tudo,
Tudo aquilo que nos ampara.

Ela quer matar,


Quer te levar,
Levar pra longe,
Longe de tudo, e de todos,
Te levar para o fundo,
Para o fundo do poço.

São ondas violentas,


Com tamanha força que atormenta,
Que atormenta o viajante dessa vida,
A ponto de fazê-lo desistir da ida,
da ida ao mundo,
Da ida à vida.

É tristeza,
Tamanha tristeza,
Gigante tristeza,
Que faz-me querer sucumbir,
E deixar de lado o mínimo que me faz feliz.

Matheus Souza
Palavra é Arte - POESIA • 15
TONS FRIOS

O dia está frio, e a tristeza bate à porta,


Eu abro, ela entra e se acomoda,
Viaja pela mente de forma tão rápida como sinapses
nervosas,
Que me deixa tão abatido, a ponto de me levar embora.

Embora desse mundo asqueroso,


Que machuca a alma dos seres humanos bondosos,
Que matam nosso desejo de viver,
Nosso desejo de amar,
Nossa vontade de se libertar,
e revolucionar nossa forma de amar.

Nossos sonhos se esvaem,


O desamor nos abate,
E queremos partir,
Partir para um lugar onde o amor possa existir,
Um lugar utópico se pensar assim,
Mas que em outro mundo pode surgir.

Não há saída,
Estamos perdidos nesse caos,
Nesse mundo sem vida.

16 • POESIA - Palavra é Arte


O que fazer?
Não,
Não há o que fazer,
Aqui onde estamos o jeito é desabafar em palavras,
Palavras que todas as pessoas possam ler,
Refletir,
Sobre o maior mal,
Que ainda está por vir.

Matheus Souza

Palavra é Arte - POESIA • 17


SAUDADES DE MIM

Muitas coisas eu fazia,


Costumes eu tinha,
Nas praças eu lia.
Olhava a paisagem,
Na ponte eu ficava,
E ali eu chorava.
Observava o pôr do sol,
Admirava a beleza da natureza,
Fumava enquanto lia,
Enquanto chorava.
Hoje sinto falta,
Não consigo mais fazer isso,
Eu tinha essência,
Hoje não tenho mais nada.
O que me restou foi uma pequena brasa de saudades,
Saudades de mim,
Saudades das praças,
Saudades de pessoas que se foram,
Saudades da fumaça.
Saudades da essência,
Saudades da leitura,
Saudade do amor,
Saudades de tudo,
Saudades de todos que levaram consigo a minha essência,
Ah! Que saudades de mim.
Que saudades da minha existência.

Matheus Souza

18 • POESIA - Palavra é Arte


SENTIR E VIVER

Tão intenso e tão repentino aconteceu,


Como se o vento soprasse a meu favor você apareceu,
E me deu um frio na barriga de tão nervoso que fiquei,
Mas me deixou tão à vontade que nem me importei,
Apenas curti sua presença,
Apenas senti seu cheiro, sua essência,
Apenas desejei ter te conhecido muito antes,
Apenas planejei uma vida no instante,
Apenas deixei fluir o melhor de mim,
Apenas deixei você fazer parte de mim.
Não se importe se sou cafona assim,
Sou romântico apenas,
Gosto de dar o melhor de mim,
Gosto de fazê-lo feliz,
Pois a vida é breve, e não quero desperdiçar com coisas
ruins,
Quero usá-la para ser feliz,
Para Amar,
Para Desejar,
Para Alegrar,
Para fazer o que sempre quis,
Um sentimento lindo e feliz,
Vamos viver,
Aproveitar o poder,
Deixar acontecer,
Vamos sentir,
E deixar fluir,
Vamos aproveitar a oportunidade de ser feliz.

Matheus Souza

Palavra é Arte - POESIA • 19


MENTE SUJA

Mas que sorriso você tem,


Grande e belo,
Que me cativa tão bem.
Mas que olhar você tem,
Sedutor e marcante,
Que me leva além.
Mas que corpo você tem,
Magro e esguio,
Que me excita e que me leva além.
Além num mundo de fantasias,
Fantasias adultas,
Às vezes sujas,
Fantasias bonitas,
Às vezes promíscuas.
Mas não se assuste,
É interessante pensar assim em certos momentos,
Pois de certo estás longe,
E eu preciso imaginar,
Para se saciar,
Preciso me tocar,
Para gozar.

E você faz isso comigo,


Deixa-me num ponto que eu não consigo explicar,
Faz-me tão bem,
Que me faz esperar,
Esperar ansioso o momento de você chegar.

20 • POESIA - Palavra é Arte


Para poder então te abraçar,
Te Beijar,
Te Tocar.
E assim realizar,
Realizar o que minha mente está a pensar.
Uma mente fértil se você quiser assim imaginar.
Ah! Você é assim,
Cheio de beleza e ternura,
Meiguice e postura,
Educação e sedução,
Carinho sem dimensão,
Erotismo sem limitação,
É assim,
Um ser humano sem explicação,
Tão belo,
Que poucos entenderão.

Matheus Souza

Palavra é Arte - POESIA • 21


LABIRINTO

Na vida acontecem surpresas,


Boas, sim boas,
E então aconteceu,
Você apareceu,
Surgiu,
Encantou-me,
Enlaçou-me,
Fez-me sentir borboletas no estômago,
Fez-me sentir felicidade,
Me fez acreditar que a vida pode ser bela,
Que pode ser vivida,
E que desistir,
Não é a saída.

E então eu pude sentir


A pureza do seu coração,
Cheio de emoção,
Cheio de verdades,
Mas cheio de medo,
Cheio de insegurança,
Mas eu digo vamos, vamos em frente,
Ainda há muitas andanças.
Vamos nos encontrar,
Vamos nos conhecer,
Vamos viver,
Vamos amar,
Vamos beijar,
E deixar o tempo passar,
Vamos deixar o passado,
Vamos viver o presente,

22 • POESIA - Palavra é Arte


E pensar no futuro,
Vamos sair deste mundo escuro,
Corramos rumo à luz,
Deixemos ela brilhar,
Guiar-nos,
Proteger-nos,
Guardar-nos,
Deixe o amor reinar
Deixe o medo pra lá.

Venha,
Deixe-me mergulhar em você,
Ir profundo a sua mente,
Deixe-me desvendar seus mistérios,
Deixe-me passear pelo seu corpo macio,
Deixe-me sentir sua pele na minha,
Deixe-me acariciar seus lábios com os meus,
Deixe,
Apenas deixe que eu viaje em você,
Sobre você,
Com você.

Quero você em mim,


Sobre mim,
Para mim,
Quero você comigo,
Sendo assim como és,
Meigo,
Delicado,
Às vezes detestável,
Mas tão amável,
Tão lindo,

Palavra é Arte - POESIA • 23


E tão perfeito,
Menino deus.

Amo seu EU,


Sua essência,
Sinto algo muito intenso,
Muito puro,
É algo que me deixa com paz de espírito,
Arrisco-me se for preciso,
Para poder sempre estar contigo,
Vale a pena,
Vale tudo,
Você é quem eu quero para sempre,
Quem eu quero para minha vida,
É meu tudo,
É simplesmente meu tudo,
Meu mundo.

Matheus Souza

24 • POESIA - Palavra é Arte


FIM

Os pensamentos divagam,
Viajam e voam,
Voam muito alto,
Almejam utopias,
Desejam o impossível,
Buscam o improvável,
Mas no final se jogam do penhasco.

Vão caindo em queda livre,


Pois não o ajudaram a manter-se no alto,
E eles continuaram caindo,
E voltaram à realidade,
Retornaram da viagem,
Pararam de sonhar,
Esqueceram seus desejos,
E pararam de sonhar.

E então com muita força ao chão caíram,


Quebraram-se por completo,
E o alto da montanha tornou-se miragem,
E nada mais são,
Pois agora faltam-lhes coragem,
Então eles
Não sonham,
Não desejam,
Não voam,
Não andam.

Palavra é Arte - POESIA • 25


Agora descansam,
Pois sofreram,
Correram,
Alçaram voo,
Tentaram,
Mas caíram,
E então,
Depois de muito...
Morreram.

Matheus Souza

26 • POESIA - Palavra é Arte


SIMPLES

É simples o que quero,


É pouco o que desejo.
Mas é difícil entender o coração,
Se apaixonar é automutilação.
O medo toma conta do coração,
A insegurança te segura pela mão.
Mas continua sendo simples o que quero,
Eu só quero ser amado,
Pela primeira vez ser notado,
Pela primeira vez ser importante.
Ser alguém para alguém,
E ir além,
Amar sem culpa,
Amar sem ressentimentos,
Amar com confiança,
Amar com esperança.
É muito simples o que quero,
É pouco o que desejo,
É só amor e afeto.

Matheus Souza

Palavra é Arte - POESIA • 27


AH! O CORAÇÃO

Pensar com razão,


Eis a questão,
Difícil situação,
Pois quem tem maior poder é o coração,
Ele nos tem na palma de suas mãos.
Vamos caminhado sem direção,
Ou na direção do coração,
E esquecemos que muitas vezes,
É necessário usar a razão.
É muita emoção,
Vem como um furacão,
Derruba tudo ao chão,
Pois quem manda é o coração.
Ele é quem diz a direção,
Ele é quem nos leva à perdição,
E vamos caminhando sempre sem razão,
Sem rumo,
Sem direção,
Pois quem sempre vai mandar,
Independente do que pensar,
Vai ser o coração.
Ah! O coração.

Matheus Souza

28 • POESIA - Palavra é Arte


MANIFESTO

Era a personificação da decepção.


Nuvens cinzas acima de sua cabeça, uma tempestade em
seu coração.
Embriagou-se de pensamentos falhos, acordou com ressa-
ca emocional.
Tomou um banho de realidade.
Seus conceitos e expectativas desceram pelo ralo junta-
mente com toda a impureza que trouxe da rua.
A água quente encostava-se a sua pele, abrindo as feridas
cicatrizadas e assim, expondo toda sua fraqueza.

As máscaras caíram por terra.


Gritava soluços, camuflava lágrimas.
Ligou o piloto automático pra aguentar os 3 primeiros dias
daquela eternidade.
Breve eternidade momentânea

Obteve licença poética para sofrer em silêncio.


Deu um passo em falso, em direção ao território inimigo.
Puxou o pino da granada e esperou a explosão.
Boom!!!

Nadine Borges

Palavra é Arte - POESIA • 29


SÓ SEI

Não sei qual foi o exato momento em que tudo começou a


desandar,
Só sei que não somos mais os mesmos.
Não sei se foi naquela noite fria de inverno ou foi após aquele
café amargo,
Só sei que não somos mais os mesmos.
Não sei se entrei em abstinência ou em overdose de você,
Só sei que não somos mais os mesmos.
Não sei se foi algo que eu disse ou algo que deixei de dizer,
Só sei que não somos mais os mesmos.
Não sei se foi cautela ou imprudência,
Só sei que não somos mais os mesmos.
Não sei se agir com a razão vale mais do que com a emoção
Só sei que não somos mais os mesmos.
Ah, meu bem, como eu queria que fôssemos os mesmos!

Nadine Borges

30 • POESIA - Palavra é Arte


FESTIM

Daquela vez em que nossos olhares cruzaram-se pela pri-


meira vez, senti falta de ar...
E desde então, tem sido uma sucessão de apneias.

Daquela vez em que nossas mãos tocaram-se pela primei-


ra vez, senti uma leve taquicardia...
E desde então, tem sido uma sucessão de arritmias.

Naquela primeira vez em que pude sentir sua respiração,


próxima ao meu rosto, tive a sensação de estar sem gravi-
dade...
E desde então, tem sido uma sucessão de viagens ao espa-
ço sideral.

Daquela vez em que observamos as estrelas, o mundo


quis parar...
E desde então, o céu é de um brilho mais intenso.

E naquela manhã, quando nossos lábios tocaram-se pela


primeira vez, houve fogos de artifícios explodindo em
mim...
E desde então, eu agradeço por todo dia ser Ano-Novo.

Nadine Borges

Palavra é Arte - POESIA • 31


LICOR

Uma xícara de café em uma mesa qualquer


Nostalgiando o que sobrou de nós dois
Sobras do que não fomos
Gotas amargas com sabor de melancolia transpiravam
pelos poros daquela alma que se encontrava vazia.
Lástima.

Nadine Borges

32 • POESIA - Palavra é Arte


OCO

Despejando palavras doloridas


Doloridas palavras que corroem
Corroendo palavras sem medidas
Desmedidas

H
Sem sentido
Despedidas.

P
AA
Nadine Borges
R LX
J
Ç B X
O
VB T
V S Ç

B
S

TH

Palavra é Arte - POESIA • 33


INCÓGNITA

A Lua é Nova, a história é a mesma.


A dor é constante, embora já conhecida.
Observou com cautela todos os seus ferimentos e puxou
pra perto sua caixa de primeiros socorros.
Não havia linha para sutura e nem gaze para estancar o
sangue que esvaia de suas entranhas, a ponto de fazê-la
enojar-se de seu próprio interior.
Esforçava-se muito e cada minuto que passava, era crucial
para sua sobrevivência.
Métodos alternativos para conter a hemorragia não foram
o suficiente para mantê-la em pé.
Desdobrava-se, dia a dia, para encaixar-se no pequeno
espaço que havia sobrado entre o real e o abstrato de sua
vida.
Estava cansada de todos esses esforços em vão, mas nem
pra desistir seu corpo encontrava forças.

Inércia.

Criou teorias, torcendo para que elas fossem só mais um


de seus devaneios tolos.

Apneia. Arritmia. Hipotermia. Tumulto!

Um choque em seu coração e voltaria à vida.


Quem controlará as pás dessa vez?

Nadine Borges

34 • POESIA - Palavra é Arte


SERENIDADE

Um mês. 30 dias.
Uma vida. Um renascimento.
Palavras novamente são despejadas.
Lágrimas já não caem mais sobre o papel.
O sorriso volta ao rosto, agora sereno.
A calmaria aos poucos retorna ao corpo inquieto.
Sem muito alarme.
Um mês ou um segundo podem mudar tudo. Tudo muda.
Ou fica muda.
Aos poucos. Por pouco. O fim.

Nadine Borges

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Palavra é Arte - POESIA • 35


PAR(T)IR

A vida é um parto, desde que a hora que te


par(t)em.
Partem ao meio, partem contigo, de ti e
repartem as partes partidas.
Perdidas nessas partidas.
De perdas e vitórias.
De partidas e regressos.

Nadine Borges

36 • POESIA - Palavra é Arte


FRESTA

Da janela ela via a luz que a cegava.


Apoiada no parapeito era ela e mais nada.
Da janela ela ouvia o som que a ensurdecia.
Apoiada no parapeito era ela e a melancolia.
Da janela ela sentia a brisa que a esfriava.
Apoiada no parapeito era ela e mais nada.
Da janela ela sentiu o fio da vida ser cortado;
E no parapeito, não estava mais apoiada.

Nadine Borges

Palavra é Arte - POESIA • 37


ENFRENTE

Sentiria falta do perfume marcante.


Da camisa cinza, quase desbotada, que servia de pijama.
Das músicas em comum.
Das saídas noturnas.

Sentiria falta dos beijos intensos e dos sorrisos tímidos.


Dos beijos na testa e da mordida no lábio.
Dos beijos estalados na orelha

Sentiria falta da maciez do cabelo.


Dos carinhos na nuca.
Das cócegas.
Das mãos entrelaçadas, que esquentavam uma à outra.

Sentiria falta da cor que aquele inverno teve.


Das manhãs de frio e do azul do céu.
Do canto dos pássaros e dos assovios.

Sentiria falta das mensagens matutinas e também das no-


turnas.
Do “Bom dia, meu bem” e do “Boa noite, amor!”
Dos cafés, dos chás e dos doces.

Sentiria falta dos Domingos sonolentos.


Das conversas preguiçosas.
Dos carinhos e do alento.

Sentiria falta dos olhos claros.


Das promessas de amor. Do não saber reagir.

38 • POESIA - Palavra é Arte


Sentiria falta do sabor que a vida tinha.
Do cheiro que o amor exalava.
Da inspiração.
Sentiria, sentiu e ainda sente.
Aguente. Em frente.

Nadine Borges

Palavra é Arte - POESIA • 39


ÚLTIMA

Aquele último trago, desceu rasgando sua garganta.


Aquele último beijo, a deixou sem ar.
Aquele último abraço, a suspendeu em transe.

Era o último, o mais doloroso.


Era o último, o mais intenso.
Era o último, o mais triste.

Aquela última conversa maltratou o coração.


Aquela última visita, marcou presença na dor.
Aquela última vez, entristeceu seu semblante.

Era a última, a mais séria.


Era a última, a mais dolorosa.
Era a última, a mais triste.

Foi a última.
A última vez, a última conversa, a última visita, o último
beijo, o último abraço, o último trago.
A última, a penúltima, a primeira.
Começa, recomeça, volta lá no início.
Doeu ou ainda dói? Não dói, né?!

Nadine Borges

40 • POESIA - Palavra é Arte


VOLTA

Volta
Deixa teu perfume na minha roupa, na minha cama, no meu
travesseiro.
Volta
Deixa-me sentir seu beijo doce.
Volta
Deixa teu gosto na minha boca e um sorriso nos meus lábios.
Volta
Traz consigo essa vontade de estarmos juntos mais uma vez.
Volta
E desta vez não se vá.

Nadine Borges

Palavra é Arte - POESIA • 41


(RE)INICIAR

Nesse tabuleiro, volte uma casa.


Recupere sua vontade.
Aquela vontade de seguir em frente.
Ora! Enfrente!

Esqueça-se das noites perdidas,


das noites lamentadas e das mal dormidas.
Pegue, agora, só o caminho de ida.
Caminho que te faça seguir contente.
Ora! Tente!

Recue se for preciso, quantas casas forem desejadas.


Até tu alcançares a felicidade esperada.
Ora, não custa nada.

A vista pode ser ainda mais bonita daqui!

Nadine Borges

42 • POESIA - Palavra é Arte


TE QUERO

Eu tô com essa coisa de querer te amar, te acalentar, te


mimar.
Eu tô com essa coisa de querer teu cheiro, teu aconchego,
teu beijo.
Eu tô com essa coisa de querer teu abraço, teu corpo, teu
sossego.

Eu te quero nas minhas fotografias, nos meus jantares em


família, na minha cama pela manhã.
Te quero nas minhas memórias e nos meus diários.
Eu te quero ao amanhecer, ao entardecer e ao anoitecer.
Eu te quero nessa vida e nas próximas também.

Eu te quero, e estou pedindo:


“Fica, meu amor. Quem sabe um dia, por descuido ou
poesia, você goste de ficar.”

Nadine Borges

Palavra é Arte - POESIA • 43


TE SINTO

Te vejo, te toco, me inspiro


Beijos, abraços, suspiros.
Toques, cheiros, suor,
Tuas curvas, já sei de cor.

Te declamo poemas,
Te conto história de amor,
Nossas histórias,
Meu amor.

Te escrevo, te leio, te sinto


Te amo, não minto;
Apenas omito
Admito.

Nadine Borges

44 • POESIA - Palavra é Arte


AMIZADE

Arrogantes imaginam que o desejo estará em suas mãos,


Desmerecem as conquistas para amar o belo prazer,
Nem desconfiam que o orgulho cego, esfrega no rosto,
O gosto amargo de fel,

Arrogantes compram felicidade para afastar saudade,


Vagam em ruas, labirintos que conduzem a depressão,
E não percebem que se perderam, sucumbiram com o poder,
Que vive e faz morrer.

Um dia quando olharem pra trás verão que tudo é ilusão,


Aí já terá passado o tempo, o mesmo tempo que perdeu
De fazer jovens amigos que hoje seriam velhos amigos seus.

Esta amizade, que traz satisfação é fruto da sinceridade,


Transita entre o sim e o não, reconhece a beleza.
Beleza de gozar a relação, usufruir este existir,

Bem sentir a presença imprescindível da consideração,


Tem a capacidade de manter-se, fortalecer-se,
Que apesar de distante, ainda com a morte é sinônimo de sorte,
Arrogância é ilusão, amizade é doação.

Sandro Dias Souza


Nilo Bueno

Palavra é Arte - POESIA • 45


RETRATO DE NÓS DOIS

Bem te quero;
E te querer faz bem;
Porque assim também;
Você fica bem.

Com você bem perto;


Colada a mim;
Abraçados;
Bem juntinhos;
E felizes!

É bom te querer;
E te quero bem;
Se sou seu bem;
Tu és o meu bem.

Do seu lado;
Sou feliz;
Você tem que saber;
Meu bem querer.

Sandro Dias Souza

46 • POESIA - Palavra é Arte


CICLO

Eu não sou daqui,


Sou d’aculá, de algum lugar,
De lá, de cá, dali.
Eu não sou ninguém,
Mas sei de alguém,
Que me quer bem,
E também.
A imensidão, da solidão,
De uma paixão de um coração,
Traz a mansidão da vastidão,
E a erosão da depressão.
Traz agonia, e o rancor,
Mas só alivia quando acaba a dor,
Traz agonia e o rancor,
Só alivia quando acaba a dor,
Um coração acuado,
Com saudades de alguém,
É ciclo é cerca quebrada,
Que não prende ninguém.
Eu cheguei aqui,
E como quem não queria nada,
Estou na estrada,
E até agora não parei,
Rego na tristeza,
A certeza de um dia lhe encontrar,
Mas eu não sei.
Não sei onde estás, se esperas por mim,
Mas se há esperanças,
Vou até o fim.

Sandro Dias Souza


Palavra é Arte - POESIA • 47
BURKA

Entre o forte e o lado fraco,


Que razões suprimem a dor,
Daqueles que estão em guerra?
Atributos de um mundo que caminha
Para o seu próprio fim.
O que é certo,
Se é incerto o sorriso das flores afegãs,
Que ainda restam nos escombros?
Insistindo brotar em solo infértil,
Onde nasce a dor.

Meu amigo vá e volte, estarei a lhe esperar,


Quero sentir o seu abraço,
Um sorriso um olhar,

Entre a Burka e a face,


Que disfarce esconde a lágrima,
Das meninas talibãs?
Se o mundo inexistente,
É sorriso camuflado,
Sem um pingo de alegria.

Tudo é erro,
Se e certo o ataque,
Ao perfume que sobrou,
Do pedaço de esperanças,
Que exala um cheiro forte,
Onde esconde o próprio amor.

48 • POESIA - Palavra é Arte


Querida me aguarde
Irei te buscar
Vou tirar essa masmorra
Quero poder lhe beijar.

Sandro Dias Souza

Palavra é Arte - POESIA • 49


CIDADANIA

Casos que são casos que não verso,


Versos em que verso são diversos,
Cidadania! símbolo de alegria,

Mas quando em casa você se sente ferido,


E perde as forças pra voar,
Fica como um pássaro sem ninho,
Não sabe como voltar,

Coisas essas coisas de exclusão,


Machucam qualquer puro coração,
É tão ruim, viver assim em um país.
Onde o descaso é quem dita,
As regras que devemos seguir.

Ai! como essa coisa dói!


Tem aqui e tem em todo lugar,
Direitos que foram direitos feitos,
Não valem direito.
E o cidadão continua sem nada,
Nadando no mesmo mar.

Salve Betinho!

É um mistério os bons vão mais cedo,


Assim vejo quando sinto saudades.

Sandro Dias Souza

50 • POESIA - Palavra é Arte


GRATIDÃO

Desprender-se,
Para colocar-se no lugar certo,
Com a certeza de que fará o bem,
Abrir mão da razão do não, para dizer sim.

Ser grato, é lembrar a cada segundo tudo que recebe a


todo instante,
É deixar de ser pigmo, é ser gigante,
Gigante em atitudes, mais do que em palavras,
Correto como a larva do vulcão,

A estrofe da canção,
Ou a criança em ação,
Preemptiva porque sobra em vida, vibra, não teme, pois a
pureza vende verdade.
A gratidão dispensa palavras, é a própria escada para a
mais bela estrada.

Sandro Dias Souza

Palavra é Arte - POESIA • 51


UNIVERSO NOVO

Se o sofrimento fosse o fim de tudo


Eu não estaria nenhum pouco aqui
Não me lembraria de pensar um pouco
Esqueceria até mesmo de mim.

Se a paixão fosse realmente tudo


O mundo não estaria equivocado assim
As pessoas viveriam um universo novo
E um dia seriam por um tiquim.

O pensamento voa, pra bem longe.


No vento ele ecoa, responde.
O mal do século, é desistir de existir.

Mesmo me dizendo que o amor morreu


Eu esperaria só um pouco mais
Mais sendo esse pouco apenas um pouco
No tédio os restos são desiguais

Se a liberdade fosse coisa certa


O valor teria uma expressão séria
Mantendo a juventude longe da miséria
O veneno da injustiça chegaria ao fim.

Sandro Dias Souza

52 • POESIA - Palavra é Arte


CLARA

Eu andei calado, mas agora resolvi falar,


Meu coração amou; fez uma canção pra eu tocar,
Uma canção tão rara, uma canção bacana, uma canção tão
Clara,
Meu coração dispara, quando canto, essa canção,

Clara! Uma canção tão rara, meu coração dispara.


Somente Clara! Meu coração amou, sentiu o seu calor,
Beleza rara! Joia rara!

Neguei várias vezes, vi passar os meses,


Os anos iguais. Sem você não faz sentido.
Eu escondia de mim, o que escondido escondia,
O que não podia esconder em esconderijo algum.

Clara! Uma canção tão rara, meu coração dispara.


Somente Clara! Meu coração amou, sentiu o seu calor,
Joia rara! Não para!

Volta para esse corpo e sinta o gosto do é seu,


E prove desse amor, que por encanto aconteceu,

Clara! Uma canção tão rara, meu coração dispara.


Somente Clara! Meu coração amou, sentiu o seu calor,
Não para! Joia rara! Beleza rara!

Sandro Dias Souza

Palavra é Arte - POESIA • 53


A LUVA

Crianças falam, mas não sabem o valor que têm,


Expressões verbais.
Meninas sentem só que exalam a dor,
Com medo dos pais.

Sozinhos eles inventam mundos,


Onde brinquedos são seus irmãos,
E olhando dizem tudo,
Que lhes permitem,

O coração.
Crianças veem, mas restringem a verdade,
Não querem errar.
Só desejam mesmo, ou seja: almejam,

Um sol pra brincar.


A compreensão que nunca fora feita,
Senão da verdade alheia,
E de palavras que nunca foram suas,

Traz um mundo tosco, iníquo e avesso,


E o futuro trágico vindo das ruas
Meninos não pronunciam,
Mas querem sempre carinho e amor,

54 • POESIA - Palavra é Arte


Uma palavra reta pra recomeçar,
Sem grilo de errar.
Sozinhos inventam mundos,
Onde pensar é a solidão,
E no rosto trazem um crachá;
O desamor e a tristeza no olhar.

Sandro Dias Souza

Palavra é Arte - POESIA • 55


EU

Não estava certo estava só,


Eu, eu, eu.
A lua na estrada a me olhar,
Eu, eu,eu.

O verde da orquídea,
o brilho do olhar.
Tudo passa,
Tudo passará.

Componho meu futuro, ocê o seu,


Eu, você e eu.

A água dos rios,


As ondas do mar,
Me trazem o teu beijo,
Escrito no ar.

Não estava certo estava só,


Eu, eu, eu.
A lua na estrada a me olhar,
Eu, eu,eu.
Eu e Deus.

Sandro Dias Souza

56 • POESIA - Palavra é Arte


ILHA DE AMOR

Gramíneas verde-cana
Não desencanam o meu olhar do seu ô, ô.
A vazão que dá as águas de Brasília;
Me empurram pra sua ilha, ilha de amor;
Grama cor legon
Abrem caminhos para os pingos
Que encontram seu olhar;
A vazão que dá as águas de Brasília
Levam-me pra seu lago
Lago de amor

Antes que caiam chuvas, chuvas caiam


Correm em mim, delícias do seu beijo
Antes que chuvas caiam, caiam chuvas
Correm em mim, venha pra mim
Te desejo.

Sandro Dias Souza

Palavra é Arte - POESIA • 57


FAÇA AGORA

Não ter medo,


Levantar as mãos, não desistir.
Buscar caminhos,
Mesmo com chuva ou sol,
Só seguir.

O tempo já não é tão longo,


Vamos embora.
Só ficam aqueles que têm, tempo a perder,
Não é por nada,
Joga fora o que não soma,
E seja você.

Não tire os pés do chão,


Não deixe a terra descer,
Se amarrar ao corpo é viver preso em fraquezas,
Faça agora.

Sandro Dias Souza

58 • POESIA - Palavra é Arte


EVOLUÇÃO

Toumai, Entifada, Talibã,


Extrabismos e abismos de amanhã,
Ainda ontem caiu por terra a teoria da evolução,
Um crânio trouxe a vaidade e inspirou essa canção.

Reviravoltas e revoltas de alguns,


Satisfazem o interesse só de alguém,
Enquanto isso a Palestina sofre, sem ninguém olhar.
Nem o Mediterrânea e o Mar Vermelho que passam ao
seu redor,

Querem lhe banhar.


A África pede socorro, ninguém escuta.
O Brasil é enganado,
A América do Sul tá na saia justa.

A América do Norte tá com o orgulho ferido,


Corações inseguros, naufragados, perdidos.
A Ásia não tem asas pra voar,
Na terra, e no Globo, não há nada de novo.

Sandro Dias Souza

Palavra é Arte - POESIA • 59


FIO DE ARIADNE

Aproveitar um dia de chuva,


Pra intender um pouquinho,
Ao menos um resto de paz,
Um fio de carinho.

Merejam pingos,
Sangram os Rios,
O Mar.
Expande beleza,

Renova o prazer de viver.


Em passos lentos, escassos, vastos, continuar,
Jamais desistir, vendo a morte lançar-se.
Brotar o Arco- Iris, abraçar na descerteza que é o seu,

Labirinto, sem Fio de Ariadne pra chegar.


Dê uma, duas, três voltas no mundo,
Mais volte pro meu coração.
O seu amor, meu amor faz parte da canção.

Sandro Dias Souza

60 • POESIA - Palavra é Arte


AGRADEÇO

À minha mãe eu agradeço


Pelo bem que me fez...
Pois ninguém que eu conheço
Bem maior jamais me fez!

Não sei como aguentou


Nem tampouco suportou...
Três filhas gerou,
Três adotou,
Com amor restaurador...
Foi assim que nos criou!

Hoje quero agradecer


Pois num lindo amanhecer...
Alguém quis fazer, ela nos esquecer
Proposta lhe fizeram; eu ainda era pequena
Mas o amor que ela tivera
Foi maior e não quisera!
Seu ato de bravura, hoje me faz feliz
É muito bom saber: minha mãe sempre me quis!
Eu cresci... mas, nunca me esqueci
Do grande amor; presente ali!

Anna Nalon

(Esta poesia baseada em fatos reais é dedicada com muito


amor, à Dora Delmont)

Palavra é Arte - POESIA • 61


AMADORA

Sou apenas uma amadora


Que escreve, não difama
Que escreve, porque ama
Buscando aprender
Buscando conhecer
Desejando o saber.

Como é bom sonhar


Muito mais viajar...
Pelas ruas, neste encanto
Correndo contra o tempo
Neste novo universo...
É onde me encontro.

Quero ser um instrumento


Neste mundo encantador
Pois aqui me refugio...
Desse mundo enganador.

Quero ser um instrumento


Que amenize sua dor...
Demonstrando a vocês
Como é grande o meu amor!

Anna Nalon

62 • POESIA - Palavra é Arte


AMIGOS

Alegram o meu viver


Discordar faz parte
Em qualquer parte
Sinto que é arte
Amar nunca é tarde.

Pra sobreviver
Sigo confiante
Às vezes distante
Meu amor é constante,
Incessante...

Por toda parte


Levo no peito,
Eles foram eleitos
Estão bem aqui
Cravados em mim.

Anna Nalon

Palavra é Arte - POESIA • 63


AQUELA MENINA

Aquela menina ingênua


Aquela menina não mais existe
Aquela menina que sofreu
Aquela menina adormeceu!

Anos se passaram e nunca mais se viu


Única, rara, assim ela existiu
Aquela menina que amava
Aquela menina que esperava
Aquela menina que chorava
Por seu amor que a deixara!

Até que um dia ela sentiu


Ficou bem claro, mas sutil
Aquela menina ressurgiu
E seu amor a redimiu!

Anna Nalon

64 • POESIA - Palavra é Arte


CARINHOSO

C omo é maravilhoso
A mar e ser amado
R esgatar um amor
I nda que só em sonho
N ão tem que entender
H ospedar no coração
O desejo de afagá-lo
S im, apenas acariciá-lo
O mais lindo e doce amor!

Anna Nalon

Palavra é Arte - POESIA • 65


CORRENDO CONTRA O TEMPO

C orre, corre
O nosso dia a dia,
R ápido demais
R otina sem fim
E spero que um dia
N a escalada da vida
D epois de uma jornada
O lhe!

C ontemple as maravilhas que


O criador fez
N unca deixe que o
T empo sufoque a
R ara beleza que
A s flores tem!

O lago, o mar, o céu azul...

T rabalhe! mas...
E spere, talvez...
M uitas coisas importantes
P ra você, tenha ficado para trás
O diálogo, o sorriso, enfim o AMOR!

Anna Nalon

66 • POESIA - Palavra é Arte


DOIS MUNDOS

Não sabia que havia dois mundos, nunca ouvi ninguém


afirmar, não falo de um mundo de alienígenas, ou de vida
em outros planetas. Dois mundos em um, nesse onde me
encontro, onde vivo com pessoas de carne e osso, iguais a
mim. Quando me vi fechada, triste, amargurada, vazia...
Sem motivos aparentes; então consegui enxergar um
“outro mundo”.

Um mundo dentro de mim, isolado, solitário,


incompreendido, assustador. Mundo no qual não gostaria
de estar, de onde queria fugir. Mas ele é tão avassalador
que por mais que eu lutasse, ele me invadia. Observava
as pessoas, seus risos, seus movimentos, seus gracejos e
meu coração dizia: Quero estar lá, quero fazer parte deste
mundo onde as pessoas são felizes, onde há esperança...
Onde vivem as pessoas que mais amo nessa vida, nesse
mundo.

Talvez tudo isso seja uma grande bobagem, uma ilusão


talvez, mas não sei, para mim é tão real. Eu vivo em dois
mundos e de vez em quando me liberto e vou para onde
desejo estar.

(Sensação nas crises de depressão)

Anna Nalon

Palavra é Arte - POESIA • 67


ETERNO AMOR

A legria
M omentos felizes
O coração vazio e frio
R apidinho é preenchido, aquecido

E u não tenho palavras


T ransmitir não consigo
E sse amor verdadeiro
R aro e belo
N em espere, só posso dizer:
O amor é eterno!

Anna Nalon

68 • POESIA - Palavra é Arte


FAMÍLIA

É um tanto engraçado
Às vezes no passado
Lembranças, sentimentos
Um misto de emoções.

Como diz mamãe:


“Família são os dentes, de vez em quando dói.”

Estranho, mas verdadeiro.

Família é amor, é dor, é cor, é alegria, é felicidade...


É tudo.

E quando dói, damos um jeito, há curativos, cirurgias...


Às vezes ficam cicatrizes.

Mas quando é pra valer, nada importa,


Porque o que conta mesmo é o amor. A dor?
A dor sempre passa.

Anna Nalon

Palavra é Arte - POESIA • 69


LARA

Amor grandioso
Tão pequenina
Tão linda
Tão intensa

Amor diferente
Mexe com a gente
Amor de vó
Amor xodó
Amor de neta
Sigo esta meta
Te amar e só.

Anna Nalon

70 • POESIA - Palavra é Arte


MEU BRASIL BRASILEIRO

M omentos difíceis
E alegres também
U m país, onde o

B ranco e o negro
R egistram a dor
A cidentes, tragédias... o
S angue se espalha
I ncansável na
L uta, meu

B rasil na disputa
R io de janeiro, será?
A s olimpíadas hospedará
S ó não sei dizer, se
I sso é bom ou não
L á paz, não tem não
E vezes por omissão
I ncrível dimensão
R efletindo sobre isso
O nde estará a solução?

Anna Nalon

Palavra é Arte - POESIA • 71


PAZ OU COVARDIA?!

Todo mundo quer...


Todo mundo busca...
Assim todos levam a vida
Esperando, lamentando
Mas sempre almejando...
Que no nosso dia a dia
ACABEM COM A COVARDIA!

Há medo, há perigo
Até nas rodovias
Dia vem, dia vai
OLHA LÁ A COVARDIA!

Cobram do governo
Falam da periferia
Mas olhem os ricaços...
VEJAM LÁ A COVARDIA!

O povo sofre, o povo clama


Se unem e protestam...
De nada adianta,
O real é que alcança
Não acabam com a matança...
ISSO É PAZ... OU COVARDIA?!

Anna Nalon

72 • POESIA - Palavra é Arte


SOBRE A INVEJA

Sentimento mesquinho, egoísta e digno de dó.


Infeliz de quem sofre desse mal, que corrói a alma
e o pobre coração. Quem tem inveja, tem falta
de amor, autoestima nem pensar, pobre de espírito.
A inveja é capaz de destruir uma amizade, uma
família e a si mesmo. Penso que uma pessoa invejosa
não saiba amar, na verdade jamais conheceu,
experimentou, sentiu o amor. Inveja e amor não
caminham juntos.

Quem ama não sente inveja.


Quem ama sente alegria.
Quem ama sente orgulho.
Quem ama se deslumbra com o “upgrade” do próximo.

Anna Nalon
São Paulo, 08/04/2015

Palavra é Arte - POESIA • 73


VIAJAR

Viajar é tão bom...


Nos faz tanto bem
Pois conhecer lugares,
Pessoas diferentes
Nos dá tanto prazer...
Viajar no pensamento...
Também é tão bom
Nos traz recordações...
Faz bem ao coração!
Viajar nas lembranças...
É olhar atrás...
É ver, reconhecer
O que Deus fez por nós...
Viajar... pra onde tudo começou
Quando Deus o Criador
Olhou por nós...
Mesmo sem termos direito a nada,
deu seu filho amado e remiu nos do pecado.

Anna Nalon

74 • POESIA - Palavra é Arte


VIDA

Viver é uma delícia


Mesmo em meio aos dissabores
Viver é uma dádiva.
Conhecer a vida não basta
É preciso protegê-la
Com carinho,
Com esmero,
Ser apaixonado.
Pra viver uma vida delícia
É preciso ser artista
É preciso sambar
É preciso amar
É preciso respeitar
É preciso se doar
É preciso saber voar
É preciso deixar a vida te levar
É preciso saber voltar.

Anna Nalon

Palavra é Arte - POESIA • 75


A CAMINHADA

Do alto
Para o alto
Mãos ao alto!

Quase não consigo acreditar


Nas coisas que meus olhos veem a contemplar
Você passeia e grita e ora
Mas se cala na expressão que parece vaguear

E agora
Vamos embora?
Talvez para o longínquo quintal de sua casa
Talvez para o frio cimento da sua calçada
Talvez para a vaga linha do horizonte
O horizonte dos olhos... ah como são lindos!
Tão lindos que se calam e parecem vaguear

Amanhã é um novo dia, não é?

Amanda Maria Lins da Rocha

76 • POESIA - Palavra é Arte


NOSTALGIA

Xiii!! Volte para cama, pequena criança


Aqui já não é lugar para mantê-la
Certamente manterá a esperança
Ao olhar a pequena estrela?

Um dia você acordou e sentiu


Aquela antiga sensação que a fazia viver
Acordou e percebeu que ele partiu
E seu lindo rosto jamais voltaria rever

E se pudesse voltar
Pular
Brincar
Zangar
Tudo estaria no mesmo lugar?

Amanda Maria Lins da Rocha

Palavra é Arte - POESIA • 77


A EVAPORAÇÃO

Subiu
Chiando
Chorando

Mesclava-se
Sorrindo
Soprando

Envolvia-se
Abraçando
Brincando

E o tempo passou

Chuá!
Caiu.

Amanda Maria Lins da Rocha

78 • POESIA - Palavra é Arte


ROTINANDO

O despertador toca
O bule ferve
O pássaro canta
O cachorro late
O gato mia
O rádio funciona
O carro anda
O telefone chama
O chefe fala
A carta chega
O sinal avisa
O trem apita
O portão abre
O cachorro late
O gato mia
O bule ferve
O dia acaba
A noite chega.

Amanda Maria Lins da Rocha

Palavra é Arte - POESIA • 79


VOU TECER O TEXTO

Vou tecer o texto


Vou coser palavras
Vou unir os pontos
Vou dobrar a vírgula
Vou ajustar a ortografia
Vou subir as aspas
Vou cortar o desnecessário
Vou costurar as ideias
Vou tecer um texto.

Amanda Maria Lins da Rocha

80 • POESIA - Palavra é Arte


ENQUANTO ELES DORMEM

Enquanto eles dormem


Eu me movimento
Enquanto eles dormem
Eu ando contra o vento
Enquanto eles dormem
Eu faço meus julgamentos

Há uma multidão a esperar


Dias melhores virão
A utopia que me faz vislumbrar
Nada de circo, nada de pão

Eu reflito e luto
E choro e canto
Enquanto eles dormem

Amanda Maria Lins da Rocha

Palavra é Arte - POESIA • 81


CARAS E CARÊNCIAS

Se jovem sou
Livre estou
Cantando eu vou
Sonhando soou...

A força que mudou


A história que contou
O dia que ficou
Na lembrança que restou...

Livre estou
Filosofando eu vou
Meu grito soou

Agora me dê um abraço!

Amanda Maria Lins da Rocha

82 • POESIA - Palavra é Arte


SOFIA

Eis que a vejo


Fito-a desde os pés
Contemplo-a no andar
Seu perfume a me embriagar

Depois que a conheci


Nunca mais poderia ser o mesmo
Palavras suas, eu estremeci, desfaleci
Traquinas, como criança boba eu sorri
Ela conseguiu acendeu o fogo
Que todos meus sentimentos consumirá

Palavras e pensamentos
Versos e rimas
Os olhos se abrem
A boca se cala
E ela, a musa que caminha envolvente

Sofia! Sofia!
Tardou muito!
Não ouça o pranto
Escute o canto
Do servo de sua redenção
Escravo eterno da canção

Clamo, liberte minh’alma


Façamos de nós apenas um
Sofia, Sofia!

Amanda Maria Lins da Rocha

Palavra é Arte - POESIA • 83


TROPICAL

Ai! Que foi isso que vi passar


Ai! Bateu forte, não pude suportar
Tive de seguir seus olhos, menina
Sem os quais já não posso piscar

Seio que acalanta o choro meu


Pois já nada sou sem sua boa, acalma!
Preciso de seu corpo para aquecer o meu
Imploro, divina! Venha ao encontro de minh’alma

É o calor, é o medo
É o amor, ainda é cedo?
Já não me calo, nem poderia
Sem suas curvas, que mais haveria?

O canto que alguém cantou


Me levou! Cá estou
Para lá, bah! Não pretendo voltar.

Amanda Maria Lins da Rocha

84 • POESIA - Palavra é Arte


A LILÁS MARIPOSA

É no silêncio do meu ser


Que eu observo seu olhar
Às vezes tanto a dizer
Às vezes tanto a buscar

É no silêncio do meu ser


Que eu procuro desvendar
O que ela quer parecer
Quando parece titubear

É nesse silêncio...
Palavras, versos, rimas
Pensamentos, momentos, sentimentos
Sina, vítima, lágrimas?

E eu a contemplo
Menina moça, quiçá uma raposa
Acalente-me! A mulher do templo
Voa por meu jardim a lilás mariposa

Às vezes ela tem forma


Perfeita como uma modelo
Mariposa, por que tem tantas normas?
Dê-me apenas o que é belo

É no silêncio do meu ser


Que a mariposa de desfantasia
Sem graça, com graça vem acender
Meu fogo pela mais bela poesia.

Amanda Maria Lins da Rocha


Palavra é Arte - POESIA • 85
PROGRAMAÇÃO ANUAL

Feliz ano novo!


E tudo começa de novo
E vamos falar seriamente
Sobre a condição do povo

Não, espere
Agora é carnaval
Tempo de festejar
E se entregar ao prazer carnal

Talvez agora possamos discutir


Sobre um social mais apropriado
Pois, não façamos nada repercutir
Até o próximo feriado

Entretenimento
Viagens em família
Churrasco com amigos
Fotos em redes sociais!
Celebrar datas históricas
Das histórias que ninguém conhece

E que tal lutar pelo essencial


Derrubar algo que nos faz mal
Ahh... deixemos para o final
E Feliz Natal!

Amanda Maria Lins da Rocha

86 • POESIA - Palavra é Arte


CINTIA

Quem dera os raios de sol iluminassem o louro


Dos cabelos lisos que não cansavam de brilhar
Quem dera a luz de seus olhos trouxesse para mim o ouro
De poder mais uma vez sua alma encontrar

A natureza sente falta de lhe ver passar


O perfume inconfundível que pairava no ar
Aquele segredo que só você tinha
Meiga menina, jeito de rainha
O sol, o mar, as águas cristalinas... Marina

Só a saudade em nós ficou


O momento que alguém guardou
O retrato que alguém tirou
A semente que você deixou

Não se despeça de mim!


Nosso amor não termina assim
Sempre esperarei... até o fim

Eterna
Terna
Cintia

Amanda Maria Lins da Rocha

Palavra é Arte - POESIA • 87


VÊNUS

Luz do sol
Raios a iluminar aqueles cabelos
Confundi-os com a noite, tão negros eram
Pele macia, o sorriso meigo
Enigmático, entretanto
Despertavam minha curiosidade
Oxalá pudera voltar e estar ali
Vivenciar cada segundo
E sentir seus sentimentos
Sentir sutilmente os sentimentos sensíveis
Sensíveis à flor da pele
Suave como as pétalas da flor
Sentia inebriante o inconfundível odor
No auge da madrugada
Vivenciou o ápice das emoções
Fez-se humana
Fez-se deusa
Fez-se mulher
Sentiu deflorar
Desabrochar
Com flores

Amanda Maria Lins da Rocha

88 • POESIA - Palavra é Arte


CURIOSIDADE

O ônibus para!
O metrô para!
O trem para!
Para onde?
Para a estação...

A vida não para.

Amanda Maria Lins da Rocha

Palavra é Arte - POESIA • 89


A VOLTA EM 24 HORAS

Ele é negro
E alaranjado
E rosado
E azul
E azul
E azul
E rosado
E alaranjado
E negro
E negro

Quanta luz!

Amanda Maria Lins da Rocha

90 • POESIA - Palavra é Arte


MINHA MÃE, MINHA HEROÍNA

Quando moça era a mais bela que o povoado tinha


Com seu rostinho de cinderela
Minha mãe virou rainha
Sinto orgulho em apresentar
A grande rainha do nosso lar
Aquela moça tão bonita da cintura fina
Declara-se hoje na figura de uma bela heroína
Não é nada fácil descrever
Tanta qualidade reunida na figura de um só ser
Quem não a conhece não crerá
Mas pra plagiá-la não preciso exagerar
Mesmo em meio à dureza de uma vida sem riqueza
Ostentava traços da nobreza
Ao se vestir com singeleza
Quando éramos pequenos, tão boazinha ela era
Mas cuidava dos filhotes como cuida uma fera
Sempre a acolher os seus três filhos
Fazendo-nos andar nos trilhos
Com educação amor e brilhos

Agradeço de coração a minha querida


A mulher-luz em minha vida
Pelos carinhos que me deu
E o amor que me acolheu

Roziane da Silva Jordão

Palavra é Arte - POESIA • 91


VOU-ME EMBORA PARA PLÓBRITIGE AQUI EU NÃO SOU FELIZ

Vou-me embora para Plóbritige aqui eu não sou feliz


Ela não é libertina como a Passárgada do Bandeira
Nem tampouco ambiciosa como a dos Persas.

Em Plóbritige os moradores se deleitam com risos


e conversas,
Plóbritige, cidade dos meus sonhos, universo de ilusão
Onde os moradores todos ouvem a voz do coração.

...) Porque afinal, a vida é sempre um ponto de interro-


gação — Roziane Jordão- “poemas sem graça e bar sem
cachaça”.
Em Plóbritige dos Angares.

Roziane da Silva Jordão

92 • POESIA - Palavra é Arte


PORTO VELHO, MEU PORTO AMADO!

Estando eu aqui tão longe, tenho saudades de ti:


Das águas que em ti deságuam e do frito mandi
Louvo-te pelos anos idos e vindos os quais permitistes em
ti aportar
Trecos de outras terras oriundos e tão desnecessários à
beleza do lugar:
A bebida dos páreos, que não se comparam ao teu patoá;
A cachaça e o bacalhau que trouxeram a ti
São insossos perante o sabor do teu tambaqui.

Louvo-te, senhor meu porto por ser tão receptivo:


acolhendo no teu horto toda sorte de bandidos.

O que dizer dos ferros com que feriram a ti


Com pretexto de progresso só pra te iludir?
À custa de muitas vidas inocentes, um homem em cada
dormente: enfraqueceram tuas seringas tão bonitas,
Roubaram teu ouro, tuas cassiteritas!

Louvo-te, senhor meu porto por ser tão receptivo:


acolhendo no teu horto toda sorte de bandidos.
Eras tão belo em teu aspecto virginal:
Sem lixo, sem esgotos... Sem políticos.
Hoje sujo e fedido transformaram-te em capital.
Capital dos homens ricos, capital só dos políticos!

Louvo-te, senhor meu porto por ser tão receptivo:


acolhendo no teu horto toda sorte de bandidos.

Estando eu aqui tão longe, tenho saudades de ti:

Palavra é Arte - POESIA • 93


Dos ares que em ti existem, das águas do Rio Madeira
Dos teus filhos que não desistem, mesmo em meio ao sol,
ao calor e à poeira
Louvo-te, senhor meu porto por ser tão receptivo: aco-
lhendo no teu horto toda sorte de bandidos.

Agora já estão a roubarem as águas que deságuam em ti.


(novamente) o pretexto do progresso só prá te iludir
Encharcando o teu solo, matando afogada tua fauna e tua
flora, querem mesmo é te destruir!
Mesmo assim permaneces impassível, sempre receptivo.

Zombam de ti e esquecem
Que tu os manténs vivos!

Roziane da Silva Jordão

94 • POESIA - Palavra é Arte


SUFOCO! LÁ VEM ELE...

Sufoco! Lá vem ele... Um


Degrau,
Dois
De-
graus.
Passadas no corredor
Nossa! Tão cedo, não pode ser
Quase morro. Não era ele. Ufa!
Antes fosse. Teria dado um jeito.
Passadas no corredor. Não era ele...
(...)

Era o cobrador!

Roziane da Silva Jordão

Palavra é Arte - POESIA • 95


SEM SORRISOS, SEM CERIMÔNIAS

Chegou um homem e entrou sem cerimônias


Outro homem. Entrou sem cerimônias
Chegou uma mulher e entrou sem sorrir
Mais outra. Sem sorrir
Chegou uma lésbica e entrou sem cerimônias
Outro homo. Entrou
Um senhor idoso. Entrou
Uma senhora idosa. Entrou
Uma criança. Entrou
Entraram todos. Sem sorrisos, sem cerimônias (...)
Chegou um cachorro... Foi barrado na portaria.
Talvez seja pelo ar alegre que trazia!

Roziane da Silva Jordão

96 • POESIA - Palavra é Arte


MEU PRIMEIRO AMOR

Meu primeiro amor era ruivo como o filho de Jessé


Soube depois que agora ele é moreno,
Mas pra mim ainda ruivo ele é.
Era de pequena estatura,
Capaz de despertar aos meus olhos toda formosura
Tinha os olhos mais belos que já vi
Exalava o melhor perfume que já senti

***

Não beijava nunca


Quase não falava
Bastava um olhar... Um sorriso... Um gesto...
E naquele olhar que exalava confiança- a vida se fazia de
esperança!

***

Tatuei em meu coração seu nome


E nenhuma cirurgia é capaz de removê-lo
Porque tatuei quando criança, nos galhos daquele ingazeiro
O ingazeiro cedeu lugar a belas casas
O amor de menina criou asas.
Amei outras pessoas, sorri para outros olhares,
Mas mantenho o nome tatuado com todos os detalhes.

Roziane da Silva Jordão

Palavra é Arte - POESIA • 97


DEPOIS DE ENTRAR NO DESEJO PROIBIDO DA VIDA

Depois de entrar no desejo proibido da vida


Carregava consigo um coração partido de mágoas da lida
Trazia um corpo pelado
E uma barriga vazia
Os pés esfolados,
Mas o olho reluzia

Roziane da Silva Jordão

98 • POESIA - Palavra é Arte


GAROTINHA DO SAPATO COR DE ROSA

Se eu tenho um sapato cor de rosa


Isso é problema meu
Se vou usá-lo ao meio dia
O problema não é seu
Os óculos são de aros verdes que comprei pra combinar
A bolsa era amarela, mas eu resolvi trocar
Quero uma bolsa grande e roxa
Que é pra todo mundo olhar.

Se eu tenho um tênis vermelho


E sempre colo flores no espelho, o problema é sempre
meu

***

Assim como é sua a carta que recebeu


Se a minha saia é curta – se o vestido é pouco pano
Por mais que você não curta – não estou te incomodado
Vou sair sozinha à noite – e voltar de madrugada
E você fique dormindo

Não quero ser incomodada...

Roziane da Silva Jordão

Palavra é Arte - POESIA • 99


A ROSA DO BAIRRO ME DIZ QUE...

No meio da lama, bem no meio da lama, tinha brotado


uma flor
Tão mimosa, tão cheirosa
Que exalava o cheiro do amor.

No meio da lama, bem no meio da lama tinha brotado


uma flor
Era uma flor apenas e, não duas flores como falam por aí.
Uma flor, no meio da lama, mas era uma flor.

Esse mimo esse cheiro


Jamais foi visto em outra flor,
Mas como do meio da lama?
Se na lama só existe fedô!
Não se sabe exatamente
Mas quem viu não mente
O pé cheio de espinhos
E a flor muito cheirosa
Enxergando meus carinhos
Assumiu ser uma rosa
Se concordam com as pétalas, não sei dizer
Só sei que o cheiro agradou a todos
Inclusive a você

Roziane da Silva Jordão

100 • POESIA - Palavra é Arte


MEU ADORADO IVAN

É claro que a vida é boa o melhor de tudo é viver


As horas passam à toa quando estou sem você.

Os minutos voam depressa quando estou ao seu lado


O mundo todo gira em torno de ti, meu amado.

O tempo vai distanciando nossas vidas sem “eu querer”,


Mas continuarei te amando até o dia em que eu morrer

Ainda que nossos pais não desejem nosso amor,


nossa união
Nossos sonhos e dedicação, ainda que nossos
pais não desejem
Por amados que eles sejam não mandam em meu coração

Roziane da Silva Jordão

Palavra é Arte - POESIA • 101


ÁGUAS PASSADAS: JÁ ME SENTINDO QUASE MORTA LHE
OFEREÇO ESTA FLOR

Hoje ao recordar o que passou


É inevitável meu cabelo branqueou
Aquela pele rosada em rugas se transformou.

E a voz doce que sabia falar de amor se fracassou


Os olhos eram tão brilhantes, mas o brilho apagou.

Pena, o encanto se quebrou


E aquela aparência que eu tinha
Que fazia inveja à vizinha?
Foi embora pra longe de mim
Reconheço que minha vida chegou ao fim...

Só não é fácil admitir


Difícil é reconhecer
Que por engano eu permiti
Viver a vida longe de você!

Agora que o tempo bate em minha porta


Dizendo-me que passou
Já me sentindo quase morta
Ofereço-lhe esta flor!

Roziane da Silva Jordão

102 • POESIA - Palavra é Arte


OS PORQUÊS DO AMOR

Por que antes era tão belo quem beleza não tinha?
Faria morar no castelo quem tinha uma só casinha
Tudo eram rosas flores e buquê
Hoje meros espinhos, não se sabe o porquê.

Beijo louco apaixonado, olhar brilhante e profundo


Abraço gostoso apertado
Nada mais era importante neste mundo
Por que o amor acabou? Ou será que nunca existiu!
Sonhos que o coração sonhou
Teve um alguém que desistiu

Tudo eram rosa flores e buquê


Hoje meros os espinhos
Digam-me, por quê?

Roziane da Silva Jordão

Palavra é Arte - POESIA • 103


PREFIRO VÊ-LOS TODOS NUS

É bonito ver os homens com


seus termos e ternos – Abotoados!

Cheios de si, de orgulho,


com seus discursos eternos: Preparados!

Repetindo cada um de dia em dia


Dos antepassados – a mesma ideologia
Carros, dinheiro, saúde, mulheres, orgia

É bonito vê-los assim competitivos


Ataviados cheios de atrativos
Futebol, política, religião
Gostam muito da fama, da luz, da razão
É bonito olhá-Los pelas vidraças sem cortina persiana
E ver de perto as trapaças: bem à moda provinciana...

SERIA MAIS BONITO “VÊ-LOS” TODOS ‘NUS’!

Roziane da Silva Jordão

104 • POESIA - Palavra é Arte


RELATOS DE UM AMOR DO NORDESTE...

Pra que todos saibam que eu não menti


Vou logo dizendo quem, um dia, eu conheci:
Era um tal de Matos Rosa, seu Francisco de Assis
Era um homem mediano de seus trinta e poucos anos
Não usava bigode e nem barba, mas ainda assim apresenta-
va no rosto um aspecto sombrio.
Os olhos eram castanhos de um brilho fugidio
Sempre que eu o via com todo respeito à palavra lhe dirigia,
por mais que fosse um simples ‘bom dia’
Até que um dia ele narrou sua autobiografia:

(***)

Sou filho de Auto Longaio, nascido em Jenipapeiro.


E depois parti para Teresina-Piauí a fim de ganhar dinheiro
Fui ao colégio C-100 Oliveira e neste me matriculei
Aos passos de poucos dias um grande amor arranjei
A moça que eu amava gostava de mim também
Ela também estudava lá no colégio C-100
Até que eu dei muita sorte naquela linda cidade
Arranjei muitos amigos, desfrutei a mocidade
Mas eu não quis aos estudos dedicar
porque não tinha vontade
E um dia, após muitas juras de amor,
eu disse adeus e fui saindo
Eu fiquei nela pensando e o meu caminho seguindo
Ao acordar no outro dia, num grande contentamento
Tudo pra mim era festa não pensava em um sofrimento
Foi então que recebi a notícia de um grande atropelamento
Meu coração quase para meu corpo não obedeceu

Palavra é Arte - POESIA • 105


Pois me contaram sem arrodeios que meu amor faleceu
Eu não fui ao velório, seus pais eu não conheci
Mas por isso muito me entristeci
O Amado Batista está certo quando canta seu repente
Eu agora reconheço a desgraça de um acidente
Pois leva toda alegria que existe dentro da gente
Adeus, querida Sônia, me ouça na eternidade
“Acredite que te amei com toda sinceridade”
QUANDO TERMINOU ELE CHORAVA E ACREDITE!
AS LÁGRIMAS ERAM DE VERDADE.
(in: caderno de memórias)

Roziane da Silva Jordão

106 • POESIA - Palavra é Arte


O “AMIGO DA ONÇA”

O Zé do bode estava tranquilo, longe de confusão


Mas voltou de uma viagem
Trazendo consigo o negão
O amigo negão não se chamava João
Nem Zé, muito menos Mané
Ele nome não tinha, ninguém soube de onde vinha

Acontece que Zé do bode tinha também outro amigo


E pensando que tudo pode desafiou o perigo
Chamou o negão pra conhecer João
Eles não se fizeram colegas
Não eram crianças e não sabiam brincar
Estabeleceu-se um pega-pega
Salvem-se quem melhor souber brigar
Entre socos e cabeçadas
Queriam ver quem era o melhor
Nesta luta trapaceada, João levava o pior
O Zé do bode sacou a arma amiga
E tentou impor moral
Ou acabam com esta briga
Ou outro será fatal
O negão não se abaixou; era o rei da confusão
O zé do bode mirou e ele ficou no chão
E o Zé do bode?
Foi morar no casão

Roziane da Silva Jordão

Palavra é Arte - POESIA • 107


CHUVA DE FEVEREIRO

Cinco horas da tarde


De uma tarde de agouros.

Saí das aulas da Maristela,


E lá fora chovia,
Como nunca antes choveu,
Chovia como um prelúdio
Como um prelúdio.

Passei então pela chuva,


Mais fria da minha vida.

Para fora da minha janela


Chovia...
E para sempre choveu.
Naquela tarde,
Choveu,
Em fevereiro.

Lúcio Alves

108 • POESIA - Palavra é Arte


AS PESSOAS

Neste entulho
há de tudo,
mas nada
de confiança.

É tanto escárnio
em verdade alheia
desvanece na areia
maré de mentiras.

Sonho sempre
por companhia
mas só aparece
monotonia.

As pessoas
vêm e não veem
que vão...
em vão.

Lúcio Alves

Palavra é Arte - POESIA • 109


ERA VÉSPERA DE INVERNO

Era véspera de inverno


Quando a neve caía-me carmim
A neve caindo nos meus lábios
Amanheceu o amor em mim
O amor, a afeição, a paixão...
E depois de tudo, a solidão.

Lúcio Alves

110 • POESIA - Palavra é Arte


BÊNÇÃOS POPULARES (FORTUNA, MINERVA E VÊNUS)

Minerva me abençoou com sua lucidez


Passou as mãos em meu rosto
Sentiu falta de algo a menos
Me encaminhou a Vênus
Que desdenhou-me, e com desleixo
Fez-se a beleza em meus olhos
Quais cobiçavam a figura da cornucópia
Mostrando a riqueza de Fortuna
Que me recusou a tua bênção
E põe-se a representar sua canção.

“Passas-te por Minerva


Que te concedeu parte de sua sabedoria
Passas-te por Vênus
O qual protestou, mas passou-te certa beleza
E assim nego a ti minha riqueza
Pois faço-te um desafio: crio-te uma vida
Transformar tua inteligência
Em futura e eterna opulência.”

Lúcio Alves

Palavra é Arte - POESIA • 111


A ORQUESTRA DO DIABO

Não cairás no som dos atormentados


Não bailarás na dança dos exasperados.

Lúcifer segue no maestro com tom de presságio


Lilith e Samael tocam em violinos cor de carmim
Judas, Cassius, e Calabar não saem do ensaio
Enquanto no violoncelo da inveja está Caim.

Não cairás no som dos atormentados


Não bailarás na dança dos exasperados.

Lúcio Alves

112 • POESIA - Palavra é Arte


CONFIANÇA

Eu sou o tácito
A própria experiência
A vida e sua ciência.

Eu sou o dilema
O fim da dúbia
E da consequência.

Eu sou os restos
Do tão apanhado
Dilacerado.

Eu sou a sensação
Do tolo coração
A toda dita decisão.

Eu sou...

A confiança?

Lúcio Alves

Palavra é Arte - POESIA • 113


SONHOS E IRONIA

Durante os meus sonhos


Pelas calhas da imaginação
Eu caminhava em harmonia
Até que tudo se tornou ironia.

As marés de aconchego,
viraram um sôfrego
A companheira areia,
isolou-se feito deserto
A noite amena,
tornou-se gélida
O platino estrelar,
ficou-se estúpido
E o reluzente luar,
passou a ser soturno.

Meu céu empalideceu


Meu sonho desvaneceu
A um pesadelo,
A realidade.

Lúcio Alves

114 • POESIA - Palavra é Arte


NOITE INESCRUPULOSA

Confesso-te, oh, lua erguida


Ao que meus olhos exasperam
Ser a perfeição do meu amor.

Um nimbo tão somente forra


Todas estrelas de escárnio
Tidas a mim como desígnio.

Pelas lamúrias de um delírio!


De um jazido tom de carmim
Um tão somente corrompido
Coração jamais entendido.

Nesse profundo mar negro


No fundo dos meus desejos
Afogar-me-ei sem pressa...
Assim, oh, paixão perversa.

Lúcio Alves

Palavra é Arte - POESIA • 115


PAIXÃO MALDITA

Eu vejo em você
A escuridão em seus olhos
A escuridão em sua mente.

Buscando pelos teus monstros


Buscando por existência,
O segredo do êxtase.

Eternamente amaldiçoado
Nesse seu prazer desvairado
Em sua insanidade
Em sua vaidade.

Lúcio Alves

116 • POESIA - Palavra é Arte


VERSOS DESVAIRADOS

Uma dúbia inevitável


Chegou de viagem
Levando-me a vida.

Levou-me o romance
O nexo e o inexo
Restando nestes versos
Totalmente desvairados
Um passado jamais passado
Um passado jamais passado.

Lúcio Alves

Palavra é Arte - POESIA • 117


DIVINO ROMANCE DAS ROSAS

Vou falar do amor que há em mim.


Um amor sem intensão de vingar nem de acabar,
basta o que há. Um olhar.
Meu amor não é para ser vivido,
é amor só para sonhar
exaltando, de forma mística, devoções alegóricas.
Meu amor é amor de trovador,
inspiração para cantar
loas líricas, invenções de um amar.
Meu amor não pede passagem nesta vida,
não é amor de chegada nem de partida,
não é amor em carne viva,
não é amor para chorar nem para sangrar.
Meu amor é amor romântico,
amor cortês que o Romance das Rosas tematiza.
Cavalheiros medievais... arte de amar...
Galanteios... amantes que nunca chegaram a se tocar.
Meu amor reverencia o amor personificado de forma fictícia.
É amor sem causa, não espera recompensa, só quer versejar
enaltecendo as virtudes de um ser, tornando-o inatingível.
Assim é a comédia do meu amor que não se concretiza,
de tão divino não nasceu para vingar.

Dante Alighieri também amou sem nunca amar.


A bela Beatriz o guiou do inferno ao paraíso com um único
olhar.
Será que ela existiu com todas as virtudes que o poeta fez
notar?

Olivia Maria Beltrão Gondim

118 • POESIA - Palavra é Arte


AMOR CALMO E ARDENTE

Se o amor chegar calmo


igual ao canto de um pássaro,
poético e belo como um lírio do campo.

Se ele se infiltrar em minh’alma


feito uma chuva rala
e me agasalhar como um vento brando.

Se o amor não me intrigar,


não me atormentar,
só me acalentar e
incentivar o meu ser romântico.

Se o amor deslizar sobre meus lábios


beijos doces e cômodos.

Se o amor não me atiçar a carne


só para me ferir de morte.

Eu me entregarei ao amor e
amarei ardentemente.

Olivia Maria Beltrão Gondim


Palavra é Arte - POESIA • 119
AMOR QUE CHEGA PARA AMAR

Sinto você como um dia de feriado,


um acalento do mar,
um chope gelado despreocupado,
um riso que acaricia,
um olhar que eu posso tocar.

Sinto em você um amigo o qual eu posso beijar,


ficar ao seu lado em silêncio
ouvindo o barulho do mar.

Posso perseguir os seus passos,


prefiro estar nos seus sonhos,
ser sua gueixa, não ser sua queixa.
Não quero ser seu radar.

Quero olhar nos seus olhos e ver que você quer ficar.

Quero ver você partir, sabendo que vai voltar.

Sinto você como um dia que flui devagar,


como um amor que chega e está sempre a chegar.

Olivia Maria Beltrão Gondim

120 • POESIA - Palavra é Arte


ABRAÇO CONFORTÁVEL

Hoje senti você tão próximo.


Você estava aqui aliviando minhas dores,
deslizando suas mãos pelos meus cabelos,
percorrendo com os dedos todo meu corpo,
pousando suavemente um beijo
sobre o silêncio da minha boca.

Hoje você adentrou nos meus pensamentos,


com sábios argumentos
silenciou meus questionamentos e
acalmou os meus tormentos.

Hoje senti-me confortável no seu abraço e...


Acordei...

Quero dormir de novo,


mas não na solidão do meu corpo.

Como faço para trazer você para mim?

Olivia Maria Beltrão Gondim

Palavra é Arte - POESIA • 121


RENDIÇÃO

Olhe para mim.


Chegue aqui bem perto.
Chegue ainda mais perto.

Encoste sua mão na minha mão,


entrelace seus dedos entre meus dedos,
solte-os devagar.

Deslize seu polegar ao longo do meu antebraço,


lendo o que minhas células têm para revelar.

Pare quando eu o fitar.


Prenda meus braços, sem leveza, usando a mão inteira.

Olhe nos meus olhos,


veja se eles refletem o seu olhar.

122 • POESIA - Palavra é Arte


Segure os meus ombros com pressão intensa,
puxe-me para perto. Devagar.
Encoste sua cabeça sobre os meus cabelos.

Respire para eu poder respirar.

Beije minha testa, minha sobrancelha... o lóbulo da


orelha,
beijos miúdos, só para atiçar.

Aperte-me ao seu tórax sem me machucar.


Deslize suas mãos pelas minhas costas
seguindo a trila imposta e
sinta minhas vértebras se arrepiarem.
Pouse ambas as mãos espalmadas sobre a minha nuca,
mova os dedos em movimentos circulares,
suba-os até a raiz dos cabelos,
incline minha cabeça para lá e para cá.

Encrave seus dentes na minha jugular.

Olivia Maria Beltrão Gondim

Palavra é Arte - POESIA • 123


PULANDO MUROS

Quero pular muros,


derrubar cercas,
beber cachaça e rebelar-me.
Quero rir até chorar.
Quero rasgar disfarces,
quebrar correntes,
mergulhar na vida sem me importar.
Quero dançar...
Quero cantar a voz que me prende
e com um olhar te cativar
ou simplesmente deixar-te me guiar.
Quero a insanidade que minha sanidade consente
e inconsequente me aventurar.
Se ao mundo minha rebeldia surpreende,
direi que a crítica é coerente
com as limitações que a hipocrisia sabe regrar.

Olivia Maria Beltrão Gondim

124 • POESIA - Palavra é Arte


NOVO HABITAT

Quando tudo era deserto, eu chorei.


As lágrimas que nasceram de mim
escorreram pelo solo em riacho,
formaram um lago.

Quando tudo era silêncio, eu contei


em poemas o meu sofrer amargo e
os meus olhos perplexos sorriram,
ao redor de mim surgia um oásis.

Quando tudo era escuro eu acordei,


vi a lua nova e dancei.
Estrelas reluzentes chegaram
para me dar um abraço.

Quando o vento soprou eu me vi


mais uma vez sendo feliz.
O oásis é meu novo habitat,
vejo vida nascendo em mim.

Olivia Maria Beltrão Gondim

Palavra é Arte - POESIA • 125


CANTO DA PRINCESA ACORDADA

Não, não é só saudade,


é um aperto no peito,
uma vontade de abraçar o passado,
regressar para refazer.

Se eu tivesse percebido que por trás de tudo


havia o silêncio,
e no silêncio havia o que era relevante ouvir.
Se eu tivesse calado minhas falas – as mais amargas.
Se eu tivesse enxergado realmente você,
e não apenas o sonho que eu sonhava.

Se eu tivesse aceitado as imperfeições.


Se eu tivesse me visto imperfeita também.

Mas no meu mundo de contos de fadas


não havia lugar para homem real.
Você e toda sua empáfia,
eu e minhas incompreensões.

Deveria ter percebido que


dentro de você existia você.

Olivia Maria Beltrão Gondim

126 • POESIA - Palavra é Arte


DANÇA CIGANA

Hoje eu sou esta paz cigana em mim.

Em minhas veias sinto o ritmo


de um compasso agitado.

Eu liberto-me da busca incessante de mim e


sem destino eu sigo
feito cigana.

Pelo mundo afora eu canto,


eu danço a liberdade
como se a liberdade fosse um canto.

Eu canto...
O vento... sinto-o intenso em mim.
Vejo o pôr do sol,
o céu quase incandescente num vermelho ardente
se debruça sobre mim.

Hoje eu sou a paz das chamas da fogueira,


sou a tempestade
e a chuva quente.
Sou uma cigana...
Sem raízes eu sigo,
eu vivo.

Eu vou com a certeza de poder ir,


confiante que posso regressar ao fim.

Olivia Maria Beltrão Gondim

Palavra é Arte - POESIA • 127


AMETISTA

Não entendi! – Melhor fingir que não.

De fingimento em fingimento, eu me costuro


com as linhas do tempo.

Não há lágrimas para escorrer sobre feridas,


não há feridas, só um arranhão.

Coloco na cabeça um chapéu de fitas e sigo com a vida.


Meu coração virou pedra?
Sou eu uma ametista?

Dionísio, por que te embriagas e negas teu coração?

Se me levasses em teu peito, seria teu amuleto.

Veja, não sou a ninfa que a deusa da castidade


em pedra transformou.

Não quero ser protegida do assédio do deus da bebida.


Deixa eu mergulhar por conta própria na tua urna de
vinho.
Deixa eu me embriagar contigo e falar de amor.

A cor arroxeada que vês no meu peito


é a cor do vinho do desejo.
Não sou uma ametista fria, sem calor.

Olivia Maria Beltrão Gondim

128 • POESIA - Palavra é Arte


SEM TEMPO

Não tenho tempo para rastrear teus passos,


para importunar-te,
para perseguir-te,
para caçar-te.

Não tenho tempo para fazer-te amar-me,


para explicar sobre a liberdade no comprometimento,
sobre a presença na distância,
sobre a ausência em corpos entrelaçados.

Não tenho tempo


para procurar marcas de batom em tua face.

Não tenho tempo para imaginar teus pensamentos,


nem para esconder meus sentimentos.

Não tenho tempo para chorar,


nem para conter as lágrimas.

Não, não tenho tempo


para admirar o sol através de uma janela fechada,
nem para fantasiar.

Mas tenho tempo bastante para amar,


para deslizar meu corpo por sobre teu corpo
e minhas mãos por entre teus cabelos já grisalhos.

Tenho tempo para olhar nos teus olhos


e ouvir atentamente tuas queixas,
alegrias, risadas, mágoas.

Palavra é Arte - POESIA • 129


Tenho tempo para compartilhar,
para dividir,
para me deitar ao sol,
para me deixar molhar pela chuva,
para ouvir o silêncio,
para admirar o luar.

Tenho tempo para escrever poesias.

Tenho tempo e nenhum medo.


Não tenho medo de quase nada,
nem da solidão, nem do envolvimento.

Não tenho medo de amar, nem de ser amada.


Não tenho medo de perder-te,
ou de nunca te ter.

Mas tenho medo, muito medo, de não saber e


de confundir-me e de conformar-me

Olivia Maria Beltrão Gondim

130 • POESIA - Palavra é Arte


SIMONE E PAUL

Não sou Simone, não pretendo ser.


Eu trocaria meu nome para Simone, se...
Mas a liberdade sobre a qual insistes
será realmente uma liberdade livre?

Por que só teu corpo pode ficar exposto aos ventos,


o meu não?
Tens a mente aprisionada em um ser ausente?
Para onde convergem teus pensamentos?

Meu coração não tem portas, não aprisiona.


Porém, pretendo ter domínio sobre os teus limites.

Troque teu nome para Jean-Paul,


siga tua liberdade, rende-te às tuas paixões,
mas não queiras me aprisionar em uma gaiola de ouro
enquanto tu bates asas e voa.

Tu não és Paul, eu não sou Simone.


O que finges? Não tens medo do espelho?
Teus braços se desprendem de ti na ânsia de tocar o mundo,
enquanto tua mente é prisioneira do machismo que escondes.
Tua gaiola tem portas que me prendem.
Meu coração não tem correntes,
mas não sou Simone.
Não te quero preso nem me quero livre.
Nossas liberdades eu delimito em muros rígidos.
Se não queres assim,
então eu digo: Não!

Olivia Maria Beltrão Gondim

Palavra é Arte - POESIA • 131


REGRESSO

Não, não sei dizer que amor é este


nem de que forma ele veio.

Não sei se é amor maduro ou juvenil.


Não sei a idade que ele tem.

Talvez tenha horas, talvez anos ou dias.


Não sei. Juro. Não sei.

É um amor estranho, isso eu sei.


É um amor nascido na alegria,
chorou aos prantos,
agonizou... morreu e
ressuscitou do além sem dizer para que veio.
Não sei que amor é esse – eu não sei.

Não sei nem se é amor ou


vontade de me encarcerar.

Olivia Maria Beltrão Gondim

132 • POESIA - Palavra é Arte


CARNAVAL DO ACHO É POUCO

Este ano não tenho fantasias,


nem ilusões.

Vou subir ladeiras enfrentando a multidão.


Cantando as canções que tocam meu coração
vou sorrir, vou gargalhar,
vou brincar, vou me esbaldar.

Nas ladeiras de Olinda,


vou misturar-me aos palhaços
e sorrir meu riso mágico.

Sem querer de ti lembrar


vou dançar,
vou frevar,
vou pular até cansar.

Vou transpirar para poder de mim tirar


toda e qualquer lembrança
de outros carnavais.

O “Bloco da Saudade” não quero acompanhar.


Talvez no Varadouro
eu encontre o “Acho é Pouco”,
com ele eu vou ficar
vestindo a fantasia da minha alegria,
despindo-me de todas as recordações.

Olivia Maria Beltrão Gondim

Palavra é Arte - POESIA • 133


DANÚBIO

Negra é a floresta que abriga a nascente.

Negro é o mar onde deságuam as águas.

Entre a floresta e o mar há um rouxinol que canta


no topo de um monte.

Eu ouvi seu canto e vi um anjo no monte Galler.


O anjo de pedra protege a cidade,
enquanto o rio serpenteia e cruza a paisagem.

O leão sobre a Ponte das Correntes tudo vê,


escuta e guarda.

O Parlamento com torres góticas elevadas,


“verdadeiro bordado”, espelha sua silhueta nas águas.

No alto da colina, o castelo do rei,


guardado pela águia em pose de voo,
presa aos antigos reinados.

Cavalheiros medievais eternizados em estátuas


descortinam o lindo cenário.

Há séculos cumpre o rio a mesma jornada,


acumulando histórias e vidas em suas margens.

Pontes erguidas sobre as águas azuladas


unem Buda a Peste em suntuoso enlace.

134 • POESIA - Palavra é Arte


Da nascente à foz por muitas cidades, vilas, o rio passa.

Em alguns lugares ele se estreita, em outros se alarga,


e segue dançando a sua própria valsa.

O rouxinol que habita o topo do monte Galler


sussurrou no meu ouvido que fui agraciada,
vi o rio serpentear por aquela cidade,
e agora ele leva minha história em suas águas.

Olivia Maria Beltrão Gondim

Palavra é Arte - POESIA • 135


METAFÍSICA POÉTICA

Não é que eu tenha em mim, todos os sonhos do mundo;


Mas tenho em mim, um mundo do tamanho dos sonhos;
E não há nada de errado comigo;

Esse estranhamento dos derradeiros dias,


É algo que permanece inerte e acomodado;
Aqui dentro. Bem aqui, ó.
A mais fantástica das coisas, perde sua graça.
Num átimo.
Disforme, descontente, uniforme. De repente.
Os furores da adolescência,
E os calores da menopausa. O torpor do adeus;
E a indiferença da morte.
Abençoados por Deus. Todos juntos, estáticos.
Deus e deus.

E muda-se de estrofe; e muda-se um mundo.


O que é sólido, desmancha no ar.
Ela se foi; elas se vão. Eles vão, eles irão.
Conjugando o verbo da partida, da solidão.
A vida é algo extraordinário: Quando se quer.
A vida é algo fantástico: Pra quem está feliz.
A felicidade é um estar; nunca será um ser.
Ser; o que escolher pra ser?
O pássaro vive livre, morre livre,
Mas não deixa saudades.
A sua ausência é notada em cativeiro.

136 • POESIA - Palavra é Arte


E não será a última nem a do meio.
E a vida é breve, a vida traz.
A vida leva.
A vida foi.
A vida será. A vida é.

Brendow Henrique

Palavra é Arte - POESIA • 137


DEPOIS QUE VOCÊ PARTIU

Depois que você partiu o vento não sopra mais;


O silêncio é angustiante, o vazio em ribalta;
Depois que você partiu entreguei-me aos meus ais;
Levastes consigo um pedaço que agora me falta;

– Pobre diabo és tu, jovem sonetista!


Ler tuas rimas pobres, ninguém mais quer;
O que te tortura, dê-me ao menos uma pista?
Pela tristeza das palavras, a tua dor é uma mulher!

E no descompasso do coração busco sorrir;


Numa vã tentativa de ficar bem;
Mas tudo tem um pouco dela, e é tão fácil me deprimir;

Resta-me respirar, tentar encontra-me mais além;


Melancolia semelhante, confesso que meu ser ainda não viu;
O vento não sopra mais, depois que você partiu;

Brendow Henrique

138 • POESIA - Palavra é Arte


SONETO EMBRIAGADO

As mãos erguem o copo a boca inerte;


A mesma boca que em pecado se emergia;
As mãos escrevem: – ei coração, se liberte!
Ei Coração, se liberte ,acabou-se a magia!

Embriagar-me para esquecer? Tola tentativa!


Sorriso inexistente, coração desacelerado;
Como esquecer, se ela ainda é tão viva?
Como esquecer o que meu corpo traz marcado?

Na embriaguez dessas linhas, adeus simetria!


Soneto disforme, tal qual meu coração;
Coração disforme, soneto da alcoolemia!

Escrevo. Paro. Numa completa falta de atenção!


Saudade do teu beijo; sentimentos controversos;
Será que meu soneto tem catorze versos?

Brendow Henrique

Palavra é Arte - POESIA • 139


SONETO INSENSATO

Certa feita me peguei perdido;


Confesso perdido, mas consciente;
E deixei de lado o meu íntimo libido;
E beijei teus lábios, doce, lentamente;

E da insensata perdição que me atingiu como torpedo;


Julgava ser esta, a mais deliciosa insensatez;
Reprimi o meu desejo por razão, talvez por medo;
Tentando calar a ânsia de te ter mais uma vez;

Desde então te quero bem;


Desde então sou só encanto;
Da loucura, entregue me vejo refém;

Ah, garota te digo, enfim, portanto;


Tens sido variante nessa minha lida;
Tens sido a incógnita movente da minha vida;

Brendow Henrique

140 • POESIA - Palavra é Arte


ANJO DO MEU PESADELO

As paredes do meu quarto vão me engolir;


Tenho um grito sepultado na garganta;
Hoje escrevo desnorteado ao invés de sorrir;
Ecoa dentro de mim, a voz terna que me encanta;

Veja o pássaro, ele está triste demais para voar;


A noite é angustiante para ele e para mim;
O que faço é escrever; o que ele faz é cantar;
Razão dilacerada, coração em motim;

Falta-me teu beijo, teu cheiro e teu cabelo;


Você foi o céu, e hoje é meu inferno!
Procuro-te em mim, anjo do meu pesadelo;

Sua ausência corta como o mais frio inverno;


Nos tropeços da sua perda, busco meu rearranjo;
És meu pesadelo, mas não deixará de ser meu anjo!

Brendow Henrique

Palavra é Arte - POESIA • 141


VIVER POR AMOR VALE A PENA

Guarnecido no seu colo,


É onde eu quero estar;
Semeado em teu solo,
Aprazido em ti, eis meu lar!

Hora homem, hora um menino;


Soberana fragilidade exposta;
Hora servo, hora um paladino;
Só o amor é a resposta!

Vinho, flores e poesia;


Doce pétala, serena;
Perfume da melancolia;
Viver por amor vale a pena!

Brendow Henrique

142 • POESIA - Palavra é Arte


UM SONETO IMPORTANTE

Ah! Verdade mais que esta, não existe;


Nem a mais bela, nem a mais amante;
A isso, minha razão não mais resiste;
Que de todas as minhas mulheres, és a mais importante!

De certo que serei abandonado por elas;


Por razão e força, não temo o meu fim;
Que me venham do mundo todas as querelas;
Desde que você fique aqui, junto de mim;

Tão irracional, tão imperfeita, és o puro desamor!


O que seria de você, sem a minha pessoa?
O que seria de mim, sem seu abraço protetor?

És do meu barco, a vela o comandante e a proa;


Sem o seu comando, navegaria a deriva, sem mercê;
Ah, com todas as minhas forças eu amo você.

Brendow Henrique

Palavra é Arte - POESIA • 143


UM PARÁGRAFO DELIRANTE

A melhor parte de sentir-me envolto nesse amor perverso,


é a de perder completamente o senso da realidade.
Percebo que incontáveis vezes, eu poderia ter mentido;
mas a verdade é um vício repudiante. É algo turbilhante,
que espanta as moléstias, e furta os pensamentos. É querer
consumir a mesma língua que outrora te devora. Só há
quatro perguntas de valor na vida: O que é sagrado? Do que
é feito o espírito? Pelo que vale a pena viver? Pelo que vale
a pena morrer? E a resposta pra elas, é a mesma: Amor.

Brendow Henrique

144 • POESIA - Palavra é Arte


SONETO DOMINICAL

Eis que me perco na curta distância


E suspiro pelos cantos, de pura saudade;
Como velho e doce amor de infância;
Arrebatou-me, deixando-me só metade;

E desde então, violão, amargura e poesia;


E desde então, esse sorriso que fascina;
E desde então, amor, loucura, melancolia;
E desde então, minha linda, minha menina;

Queria que eu dela fosse, e vice-versa;


Ser dono do beijo doce, da voz singela;
E na insensatez de Eros, ser criatura submersa;

Uma desvairada? Recatada? Donzela?


Talvez perturbada? Linda, outrora e amiúde;
É, é seu meu coração, e que Deus me ajude!

Brendow Henrique

Palavra é Arte - POESIA • 145


NADA SERÁ

Tu diferes do amor perverso;


Aquele amor perverso que dilacera,
Que sufoca.

Que nasce no ponteiro das dezoito;


E morre no badalar das seis.
Você é pétrea, e eu sei disso.
Um amor que fica; que pulsa. Intermitente.

Vênus.
A constante namorada, eterna mulher;
Idolatrada e amada, és poesia.
E a mais perfeita das rimas, nada será;
Você é o verso que me rima.

Brendow Henrique

146 • POESIA - Palavra é Arte


VINTE E POUCOS ANOS

Pouca idade, muita vida;


Pouco dinheiro, mas muita vida.
Muito amor!
Muitos corações partidos.
De lá e de cá.
Gargalhadas instantâneas.
Olhos úmidos no próximo segundo.
Sexo, e viva o sexo!
O vento acelerado da janela do carro
Gela os meus traços jovens.
Como se eu me conservasse em bálsamo;
Tragam-me bálsamo, por favor, e agora!
Quero ser uma múmia viva!
E vivam os pais!
E com eles, toda a rebeldia contra eles.
E o amor que se deve á eles.
Poesia, juventude, amor. Sinônimos.
Deuses de nós mesmos.
Donos do nosso próprio Olimpo.
Veja lá quem vem: É Afrodite.
Veja quem chegou: É Zeus!
É a festa dos deuses!
É a balbúrdia juvenil!
Todos contra Chronus.
Que ele sucumba, e que não exista tempo.
Eu não pertenço a ninguém.
Eu sou jovem.

Palavra é Arte - POESIA • 147


Eu suave como o vento.
Corto como o vento.
E sou livre como o vento!

Brendow Henrique

148 • POESIA - Palavra é Arte


STAND BY ME

Hoje o céu, já não é o mesmo que eu conhecia.


A lembrança que molha o meu olhar.
E deixa o horizonte trêmulo.
O aperto que dá no peito,
Tal qual o aperto de uma mão mesmo,
Que sufoca o coração.

O nosso mundo ruiu.


Ele era um lugar mágico.
Um lugar onde o mal ainda não havia chegado.
Mas chegou. E com ele a saudade.
Que ocupou o seu lugar.

Os meus versos saem pelo avesso.


Ser poeta nunca foi tão sem graça.
E eu continuo o meu caminho.
Levo falsos bons sorrisos,
De uma vida que me leva em paz.

Brendow Henrique

Palavra é Arte - POESIA • 149


PLENITUDE

Vida, obra-prima do sol, plenitude da criação.

Eu... existo, sou ar, existo intensamente, sou calor, irradio,


sou luz.
Eu... extravaso luz, sou plenitude, extravaso plenitude, sou
vida, extravaso vida, sou sol.

Dissanctis

150 • POESIA - Palavra é Arte


ÁGUA

Natureza, água em abundância, é


Nós, água em abundância, somos

Água, poderosa, refloresta as florestas, renasce os rios,


inunda os mares.

Água, no devaneio afogo, no êxtase ofego, no amor


transbordo... me bebe.

Dissanctis

Palavra é Arte - POESIA • 151


NATUREZA NO CIO

Não é da natureza contrariar seu próprio querer

No cio quero
as contradições
quero a brisa que me envolve
e meus segredos viola
quero a ventania que me assusta
e dos meus sustos zomba
quero o furacão que me assombra
e todo meu ser desordena...

que em mim se queda


inerte
só um sopro...

Dissanctis

152 • POESIA - Palavra é Arte


MOÇA DA BOCA VERMELHA

Moça da boca vermelha


Moça do beijo veneno cereja
Moça da flor na orelha
Moça na relva viceja

Encantada serpente rasteja


Floresta pra moça ajoelha
Moça da boca vermelha
Moça do beijo veneno cereja

Serpente na moça emparelha


Ventre da moça lateja
Semente na moça centelha
Serpente agoniza do beijo cereja
Moça da boca vermelha

Dissanctis

Palavra é Arte - POESIA • 153


ADÃO E EVA

Atraídos pelo coração


No paraíso perderam-se
Na maçã a tentação
Do proibido esqueceram-se

Ao pecado ofereceram-se
Do fruto a revelação
Atraídos pelo coração
No paraíso perderam-se

Entregaram-se à sedução
Nos desejos aqueceram-se
Do paraíso a expulsão
No amor acolheram-se
Atraídos pelo coração

Dissanctis

154 • POESIA - Palavra é Arte


CHOVI

Aos
céus
subi
nuvens
criei
chovi

Dissanctis

Palavra é Arte - POESIA • 155


LUA CHEIA

lua
cheia
de
versos
poetas
procura

Dissanctis

156 • POESIA - Palavra é Arte


SUSPIRAR

fazer-te-ei
suspirar
arfar
lacrimejar
sou  
violino

Dissanctis

Palavra é Arte - POESIA • 157


VERSOS

ano
novo
de
versos
seduzindo
poesias

Dissanctis

158 • POESIA - Palavra é Arte


VIDA

V inda
I nfinda
D ia
A inda

Dissanctis

Palavra é Arte - POESIA • 159


AMOR

A lém do ser
M agia do sentir
O utro viver
R aiz do existir

Dissanctis

160 • POESIA - Palavra é Arte


MORTE

M ais não haverá mais


O ntem não haverá mais
R estará o sentir de mim em
T i o sussurrar
E ntre nós restará

Dissanctis

Palavra é Arte - POESIA • 161


BEIJO

Sou teu beijo


rosto
boca

Sou teu eu
coração
alma

Meu beijo

roubou-te

Dissanctis

162 • POESIA - Palavra é Arte


SALVADOR

Farol da Barra -
praia rasa, mãinha, filhos
acarajé, paz

Dissanctis

Palavra é Arte - POESIA • 163

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