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O CÉU E O

INFERNO
Allan Kardec
CAPÍTULO IV – ESPÍRITOS SOFREDORES
Espírito: Auguste Michel
Era um moço rico, boêmio, gozando larga e exclusivamente a vida material.
Conquanto inteligente, o indiferentismo pelas coisas sérias era-lhe o traço
característico.
Sem maldade, antes bom que mau, fazia-se estimar por seus companheiros de
pândegas, sendo apontado na sociedade por suas qualidades de homem mundano.
Não fez o bem, mas também não fez o mal. Faleceu em consequência de uma queda
da carruagem em que passeava. [...]
1ª Comunicação, 8 de março de 1863: “A queda que me ocasionou a morte do corpo
perturbou profundamente o meu Espírito. Inquieta-me esta incerteza cruel do meu
futuro. O doloroso sofrimento corporal experimentado nada é comparativamente a
esta perturbação.”
631. Tem meios o homem de distinguir por si mesmo o que é
bem do que é mal?
“Sim, quando crê em Deus e o quer saber. Deus lhe deu a
inteligência para distinguir um do outro.”

633. A regra do bem e do mal, que se poderia chamar de


reciprocidade ou de solidariedade, é inaplicável ao proceder
pessoal do homem para consigo mesmo. Achará ele, na lei
natural, a regra desse proceder e um guia seguro?
“Quando comeis em excesso, verificais que isso vos faz mal.
Pois bem, é Deus quem vos dá a medida daquilo de que
necessitais. Quando excedeis dessa medida, sois punidos. Em
tudo é assim.
A lei natural traça para o homem o limite das suas necessidades.
Se ele ultrapassa esse limite, é punido pelo sofrimento. Se
atendesse sempre à voz que lhe diz — basta, evitaria a maior
parte dos males, cuja culpa lança à Natureza.”
(O Livro dos Espíritos)
Disse-lhes a seguir esta parábola: Havia um rico homem
cujas terras tinham produzido extraordinariamente – e
que se entretinha a pensar consigo mesmo, assim: Que
hei de fazer, pois já não tenho lugar onde possa encerrar
tudo o que vou colher?
– Aqui está, disse, o que farei: Demolirei os meus
celeiros e construirei outros maiores, onde porei toda a
minha colheita e todos os meus bens.
– E direi a minha alma: Minha alma, tens de reserva
muitos bens para longos anos; repousa, come, bebe,
goza.
– Mas, Deus, ao mesmo tempo, disse ao homem: Que
insensato és! Esta noite mesmo tomar-te-ão a alma; para
que servirá o que acumulaste?
É o que acontece àquele que acumula tesouros para si
próprio e que não é rico diante de Deus.
(S. LUCAS, 12:13 a 21. O Evangelho Segundo o
Espiritismo, Cap. VI)
18 de março. — “[..] Por que sofrer ainda,
quando o corpo não mais sofre? Por que
existir sempre esta dor horrenda, esta angústia
terrível? [..] Ainda estou ligado ao corpo. [...]
meu corpo lá está, e por que também lá
permaneço sempre? Vinde orar sobre ele para
que eu me desembarace dessa prisão cruel...
Deus me perdoará, espero.[..] Orai por mim.”
6 de abril. — “[...] volto incessantemente ao
lugar em que depositaram o que me pertencia.
164. A perturbação que se segue à separação da alma e do corpo é do mesmo grau e da mesma
duração para todos os Espíritos?

“Não; depende da elevação de cada um. Aquele que já está purificado se reconhece quase
imediatamente, pois que já se libertou da matéria durante a vida do corpo, enquanto que o homem
carnal, aquele cuja consciência ainda não está pura, guarda por muito mais tempo a impressão da
matéria.”
Comentário de Allan Kardec na questão 155-A: [...] “a afinidade que, em certos indivíduos, persiste
entre a alma e o corpo, é, às vezes, muito penosa, porquanto o Espírito pode experimentar o horror da
decomposição. Este caso, porém, é excepcional e peculiar a certos gêneros de vida e a certos gêneros
de morte. Verifica-se com alguns suicidas.”
(O Livro dos Espíritos)
Sendo um dos elementos constitutivos do
homem, o perispírito desempenha importante
papel em todos os fenômenos psicológicos e,
até certo ponto, nos fenômenos fisiológicos e
patológicos. [...]
Pessoas há cujo perispírito se identifica de tal
maneira com o corpo, que só com extrema
dificuldade se opera o desprendimento da alma,
mesmo por ocasião da morte; são, em geral, as
que viveram mais para a matéria; são também
aquelas para as quais a morte é mais penosa,
mais cheia de angústias, mais longa e dolorosa
a agonia.
(Obras Póstumas - Cap. Manifestações dos
espíritos, itens 12 e 31)
A insistência do Espírito, para que se orasse sobre o seu túmulo, é uma
particularidade notável, mas que tinha sua razão de ser se levarmos em
conta a tenacidade dos laços que ao corpo o prendiam, à dificuldade do
desprendimento, em consequência da materialidade da sua existência.
Compreende-se que, mais próxima, a prece pudesse exercer uma espécie
de ação magnética mais poderosa no sentido de auxiliar o
desprendimento. O costume quase geral de orar junto aos cadáveres não
provirá da intuição inconsciente de um tal efeito? Nesse caso, a eficácia
da prece alcançaria um resultado simultaneamente moral e material.
11 de maio. Quando o médium foi ao local onde estava sepultado o corpo
[...] “Fui no mundo um ser inútil; não fiz uso algum proveitoso das minhas
faculdades; a fortuna serviu apenas à satisfação das minhas paixões, aos meus
caprichos de luxo e à minha vaidade; não pensei senão nos gozos do corpo,
desprezando os da alma e a própria alma.”
8 de junho. — “[...] Compreendi as minhas faltas e espero que Deus me perdoe.
Trilhai sempre na vida de conformidade com a crença que vos alenta, porque ela vos
reserva de futuro um repouso que eu ainda não tenho.[..]”
30 de julho. — “Presentemente sou menos infeliz, visto não mais sentir a pesada
cadeia que me jungia ao corpo. Estou livre, enfim, mas ainda não expiei e preciso é
que repare o tempo perdido se eu não quiser prolongar os sofrimentos.
165. O conhecimento do
Espiritismo exerce alguma
influência sobre a duração,
mais ou menos longa, da
perturbação?

“Influência muito grande,


porque o Espírito já
antecipadamente
compreendia a sua situação.
Mas a prática do bem e a
consciência pura são o que
maior influência exercem.”
(O Livro dos Espíritos)
A luz inextinguível
“A caridade jamais se acaba.” — PAULO (1 Coríntios, 13.8)

Permaneces no campo da experiência humana, em plena atividade transformadora.


Todas as situações de que te envaideces, comumente, são apenas ângulos necessários mas
instáveis de tua luta.
A fortuna material, se não a fundamentas no trabalho edificante e contínuo, é patrimônio
inseguro.
A família humana, sem laços de verdadeira afinidade espiritual, é ajuntamento de almas,
em experimentação de fraternidade, da qual te afastarás, um dia, com extremas desilusões.
A eminência diretiva, quando não solidificada em alicerces robustos de justiça e sabedoria,
de trabalho e consagração ao bem, é antecâmara do desencanto.
A posição social é sempre um jogo transitório.
As emoções da esfera física, em sua maior parte, apagam-se como a chama duma vela.
A mocidade do corpo denso é floração passageira.
A fama e a popularidade costumam ser processos de tortura incessante.
A tranquilidade mentirosa é introdução a tormentos morais.
A festa desequilibrante é véspera de laborioso reparo.
O abuso de qualquer natureza compele ao reajustamento apressado.
Tudo, ao redor de teus passos, na vida exterior, é obscuro e problemático.
O amor, porém, é a luz inextinguível. A caridade jamais se acaba.
O bem que praticares, em algum lugar, é teu advogado em toda parte.
Através do amor que nos eleva, o mundo se aprimora. Ama, pois, em Cristo, e
alcançarás a glória eterna.
(Vinha de luz, Emmanuel)

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