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O TAO das constelações

Silvia Angélica Rangel de Aguiar - silvinha_aguiar@hotmail.com - CPF: 936.752.244-49


Silvia Angélica Rangel de Aguiar - silvinha_aguiar@hotmail.com - CPF: 936.752.244-49
Ana da Fonte

O TAO das constelações


3ª edição

Recife
Constelar
2018

Silvia Angélica Rangel de Aguiar - silvinha_aguiar@hotmail.com - CPF: 936.752.244-49


Copyright © 2018, Constelar

Projeto gráfico-editorial e revisão


Salete Rêgo Barros

Capa
Késsia de Souza
Ilustrações
Dani Acioli

F682t Fonte, Ana da, 1960 -


O TAO das constelações / Ana da Fonte; prefácio
Paulo Henrique Martins; ilustrações Dani Acioli e Késsia
de Souza. – Recife: Constelar, 2016.
238p. : il.
3ª edição
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-93013-00-3.

1. TAOÍSMO. 2. TAOÍSMO – HISTÓRIA. 3. FILOSOFIA


TAOÍSTA. 4. CIÊNCIA – FILOSOFIA. 5. EXISTENCIALISMO. 6.
ESPIRITUALI DADE. 7. AUTOCONHECIMENTO. 8. RELAÇÕES
INTERPESSOAIS. 9. MENTE CORPO (TERAPIA). I. Martins, Pau-
lo Henrique. II. Acioli, Dani. III. Souza, Késsia de. IV. Título.

CDU 299.513
CDD 299.514
PeR – BPE 16-570

Edição:
Novoestilo Edições do Autor
Rua Luiz Guimarães, 555, Poço – Recife-PE
Fone: 81 32433927
www.culturanordestina.com.br

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Sumário
Prefácio.............................................................................................7
Agradecimentos .............................................................................15
Introdução ......................................................................................17
Capítulo 1 .......................................................................................23
Visão sistêmica e despertar do TAO...............................................23
Como atua o ser vivo ..................................................................27
Elementos fundamentais do ser vivo .........................................29
Relacionamentos sistêmicos ...................................................... 33
O pulsar da vida ..........................................................................33
O despertar do ser vivo .............................................................. 42
Encontrando o verdadeiro potencial .........................................45
A força do pensamento sobre nossas ações .............................. 48
Liberando nossas constelações ..................................................57
Capítulo 2 .......................................................................................61
TAO e ancestralidade .....................................................................61
Retorno do TAO pela ancestralidade .........................................64
Ancestralidade – O Retorno do TAO ..........................................66
TAO e Constelações Sistêmicas ..................................................67
Reconhecendo as diversas constelações ...................................73
Redoma familiar e sua importância na sobrevivência da família ..84
Ordens do amor nas constelações .............................................93

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Capítulo 3 ....................................................................................... 95
Corpo Sistêmico – uma memória viva ........................................... 95
Corpo Sistêmico ......................................................................... 97
Observação do corpo - uma chave para mudança .................. 103
O mundo em nosso corpo ........................................................ 104
Emoções e sentimentos ativados na convivência....................... 112
Fluxo de vida se move na família ............................................. 117
Corpo – uma memória viva ...................................................... 123
Em ressonância com o corpo de dor do outro......................... 139
Em conexão com nosso corpo ................................................. 141
Capítulo 4 ..................................................................................... 147
O TAO dos relacionamentos ........................................................ 147
Crenças ancestrais.................................................................... 155
Curvas de contração e expansão nas relações ........................ 157
Equilíbrio no desequilíbrio ....................................................... 163
Aprisionamentos mútuos ......................................................... 165
Relacionamentos incompletos ................................................. 169
Resgatando a totalidade através do masculino e do feminino 180
O tamanho do medo, o tamanho do amor .............................. 192
Conclusão ..................................................................................... 195
TAO das Constelações ................................................................... 195
Depoimentos ............................................................................... 233
Bibliografia ................................................................................... 237

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Prefácio

Numa primeira aproximação, a Constelação Sistêmica suge-


re filiação a campos disciplinares consagrados, como a psicologia, o
psicodrama, a psicoterapia familiar e mesmo a psicanálise. Este
enquadramento é um erro de avaliação, assim como as tentativas
de reduzir este novo campo a uma das subdisciplinas da sociologia
acadêmica, como aquelas da sociologia da família, das organizações
ou do corpo e das emoções. Esses esforços de definição conceitual
são válidos na medida em que revelam as tentativas dos pensado-
res contemporâneos de explicar as mudanças do velho paradigma
racionalista da modernidade, fundado no controle instrumental da
natureza humana e ambiental para novos paradigmas mais comple-
xos, e que respondam à importância de entendimento da totalidade
do que chamamos de vida, inclusive a humana. Porém, tais defini-
ções pecam por não considerar que estamos lidando, aqui, com a
emergência de um novo sistema de pensamento complexo, um
novo paradigma científico, o qual não pode ser enquadrado a partir
de qualquer simplificação teórica, na medida em que é fundado
numa ampla variedade de disciplinas situadas entre a filosofia, a
metafísica, a epistemologia científica e as ciências sociais e no inte-
rior desta última, a teoria da dádiva.
O fato é que na busca por novos paradigmas que deem
sentido às mutações da sociedade humana numa realidade larga-
mente caótica, os estudos e o método da Constelação Sistêmica
vêm se impondo a partir de um movimento terapêutico e pedagó-

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

gico que se expande, inicialmente, fora do universo acadêmico.


Contudo, aos poucos, tem chamado atenção da crítica acadêmica,
na medida em que não há como negar sua importância científica.
Sua progressiva legitimação se dá a partir da aceitação crescente
que vem recebendo da opinião pública, na medida em que de-
monstra grande eficácia na resolução de conflitos sistêmicos, em
geral, familiares e organizacionais, em particular. Nesta linha de
reflexão, voltada para entender os fundamentos de seu sucesso
como novo paradigma científico, sugere-se associar a Constelação
Sistêmica ao movimento de renovação do pensamento crítico e à
emergência de correntes de pensamento complexas como o fo-
ram, em suas outras épocas, o positivismo, o marxismo, a psicaná-
lise e o estruturalismo.
A Constelação Sistêmica nasce pelas mãos do filósofo ale-
mão Bert Hellinger, que buscou organizar, ainda nos anos setenta,
um novo método de trabalho de base sistêmica para resolução de
conflitos familiares, considerando para isso as contribuições da psi-
canálise, do psicodrama e da análise transacional e sua rica vivência
pessoal como teólogo e terapeuta. A origem do método explica
porque muitos ainda denominam este novo campo disciplinar de
Constelação Familiar, o que me parece um reducionismo que não
dá conta da complexidade epistemológica que vem sendo apresen-
tada pelo desenvolvimento deste campo de pensamento nas últi-
mas décadas, não somente na Europa, mas em outros países, entre
eles o Brasil. O presente livro de autoria de Ana da Fonte, denomi-
nado o TAO das constelações, por exemplo, constitui um esforço
bem sucedido de ampliação dos fundamentos científicos e dos usos
práticos da Constelação Sistêmica, como veremos mais adiante.
Por ora, é importante assinalar que a grande receptividade
que vem tendo este novo campo de conhecimento/ação está liga-

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da aos resultados rápidos e eficazes que apresenta para resolução


de conflitos diversos, tendo, em particular, grande impacto na
resolução de conflitos familiares complexos marcados por violên-
cias e exclusões. Mas seus usos têm sido ampliados, como o de-
monstra este livro, para abranger outros tipos de conflitos de na-
tureza social envolvendo organizações, mas também conflitos de
natureza energética que provocam enfermidades orgânicas, men-
tais e espirituais diversas. De fato, os novos conflitos que nascem
da complexidade da vida contemporânea marcada por fortes
emoções, não podem mais ser resolvidos pelos métodos psicológi-
cos, sociológicos e religiosos tradicionais. Os novos conflitos e ex-
periências emocionais possuem um caráter sistêmico inédito, re-
sultante de mudanças importantes nas crenças, valores e regras
coletivas, com impactos sobre as redes sociais e mesmo sobre a
estrutura corporal. Do ponto de vista metodológico, a resolução
prática dos novos conflitos que emergem no final do século XX e
neste século XXI, constitui um desafio que extrapola as fórmulas
de resolução tradicionais oferecidas pelos sistemas jurídicos, pelas
psicologias e pelas religiões. Estes novos conflitos extrapolam a
positividade das normas jurídicas tradicionais, as saídas de fortale-
cimento das personalidades e dos egos individuais e coletivos, e a
punição pela culpa e pelo medo impostas tradicionalmente pelas
as normas religiosas e patriarcais.
No meu entender, a localização da Constelação Sistêmica no
interior das Ciências do Homem, hoje, está mais próxima de gran-
des sistemas de ação de caráter interdisciplinar e situados nos cru-
zamentos da filosofia fenomenológica, da teoria dos sistemas, da
psicanálise e da sociologia. Este novo paradigma vem contribuindo
decisivamente para a redefinição conceitual da ideia de experiência
humana, articulando em novo plano o objetivo e o subjetivo, o cor-

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po, a mente e a alma. Ele também está contribuindo para a redefi-


nição dos métodos de observação ao valorizar um novo entendi-
mento sistêmico da realidade observável em vários níveis: dos rela-
cionamentos como redes morfogenéticas, da compreensão afetiva
da vida que se revela pelas “ordens do amor”, e de uma dinâmica
de reciprocidade oferecida pela circulação de dádivas, de ações de
doação, recepção e retribuição de bens simbólicos, que dão amplo
valor moral e afetivo aos relacionamentos. Isso tudo interfere na
redefinição do que seja experiência vivida ou do que os sociólogos
fenomenológicos denominam de “mundo da vida”.
Em particular, penso que a Constelação Sistêmica tem mui-
tas proximidades com o que foi pensado como Sociologia no sécu-
lo XIX, que se constituía num abrangente campo disciplinar volta-
do para interrogar os fundamentos da sociedade industrial euro-
peia e oferecer informações e reflexões relevantes para a organi-
zação daquela modernidade. Hoje, num contexto de declínio dos
valores e regras desta modernidade ocidental, que tomba exausta
sob o peso de uma racionalidade instrumental, usada de forma
inconsequente, surge um novo esforço de renovação da ciência da
vida social e de retomada desta sociologia como ciência da socie-
dade, formada nas fronteiras da fenomenologia da vida cotidiana
e dos sistemas complexos. Certamente, os desafios históricos são
outros, exigindo profundas reinterpretações dos sistemas teóricos
e práticos. Neste contexto, a Constelação Sistêmica aparece como
uma das tentativas intelectuais mais bem sucedidas – o que é pro-
vado pela fama que vem ganhando junto a opinião pública - na
atualização do entendimento complexo da sociedade, dialogando
com aqueles estudos atuais voltados para a ressignificação dos
sistemas identitários, como são aqueles da dádiva, do reconheci-
mento e dos que enfocam o gênero, a etnicidade e as gerações.

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O presente livro de Ana da Fonte intitulado o TAO das


Constelações contribui, no meu entender, para ampliar e atualizar
o caráter teórico e os usos práticos daquilo que foi inicialmente
concebido como um método de resolução de conflitos familiares,
e que vem evoluindo para se apresentar como um novo paradig-
ma científico. A autora amplia os entendimentos e os usos do mé-
todo, ao trazer para o debate as contribuições do Taoísmo, um
conjunto de saberes tradicionais originados na China, há mais de
cinco mil anos, e que constitui uma fenomenologia de interesse
eminentemente prático. Associando os avanços contemporâneos
da teoria dos sistemas com esta fenomenologia prática criada,
inicialmente, pelo mestre Lao-Tsé, Ana da Fonte consegue alargar
a ideia de vida social para aquela de vida em geral, vida total, a
qual inclui tanto as forças da vida no sentido horizontal, das práti-
cas concretas entre indivíduos e grupos sociais, e no sentido verti-
cal, das relações de cada um de nós com os mistérios maiores que
englobam o Viver e o Ser neste planeta. Dessa forma, é que este
livro constitui uma contribuição muito relevante para fazer avan-
çar uma nova prática teórica e energética dos relacionamentos
horizontais e verticais. Ele põe em evidência, por um lado, a im-
portância do corpo na produção da saúde física, mental e social, e,
por outro, a “alma” na germinação de um entendimento generoso
e solidário do ser humano com os sistemas vivos e sociais e com a
liberação de emoções positivas que libertam uma nova presença
do sujeito humano no seu ecossistema vivo e no horizonte mais
amplo das ancestralidades.
A inovação deste livro é dada, em primeiro lugar, pela tra-
jetória biográfica da autora. Engenheira química de formação aca-
dêmica, logo descobriu no interior das fábricas o valor da intera-
ção humana na emergência de motivações coletivas no trabalho.

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Mais tarde, ampliou este entendimento nas assessorias prestadas


a empresas do setor terciário, onde aprofundou sua percepção
fenomenológica das motivações humanas na produção, no con-
sumo e na experiência estetizante da vida. Aos poucos foi deslo-
cando sua curiosidade científica para incorporar um entendimento
mais íntimo das relações humanas, o que a levou a uma série de
formações profissionais que a transformaram na terapêutica sis-
têmica que é hoje. Desde a década de oitenta enveredou pelos
estudos aprofundados do autoconhecimento, o que a levou a des-
cobrir a Constelação Sistêmica como uma resposta teórica e práti-
ca importante na sua busca espiritual e sociológica. Há mais de
dezoito anos atua como divulgadora e facilitadora de constelações
sistêmicas. A fundação do Constelar – Instituto de Práticas Sistê-
micas do Brasil – constitui uma iniciativa institucional fundamental
para a divulgação da Constelação Sistêmica em vários níveis: na
geração de novos facilitadores, na facilitação de casos empíricos e
na promoção do método de Hellinger e dos novos divulgadores do
método, tanto pela organização de cursos como de palestras.
O presente livro consiste, logo, numa reflexão aprofundada
a partir de vivências de vários anos da autora com as facilitações de
constelações com sistemas de relacionamentos humanos. A autora
explora as perspectivas de olhares múltiplos da realidade, ofereci-
dos pelos diálogos entre as fenomenologias ocidentais e orientais
com a teoria dos sistemas e com os estudos sobre a dádiva. Sua
preocupação em articular, a partir de um olhar científico objetivo,
porém amoroso, as tradições orientais e ocidentais, constitui uma
contribuição original para revelar a ideia da alma como construção
sistêmica e prática aberta aos efeitos ecológicos, espirituais, cultu-
rais, sociais e afetivos, presentes em cada grupo social e na relação
do ser vivo com seu corpo, sua mente, sua alma e sua história. Tal

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abordagem ajuda a entender que a solução dos emaranhados da


alma pode ser realizada com o despertar da consciência do sujeito
humano como corpo vibrante que funciona como rede vital na reso-
lução do sofrimento social e existencial, com vistas a liberar uma
vida mais digna e generosa dos indivíduos neste planeta.
Na verdade, o TAO das Constelações já vinha sendo lapidado
há vários anos, aguardando apenas o seu momento de aparecimen-
to, que é o presente contexto das práticas humanas, marcado por
sofrimentos gerados por violências, desigualdades e alienação em
relação ao valor dos vínculos sociais e da espiritualidade. Mas tam-
bém de inovações tecnológicas e de liberação de novos paradigmas
humanistas. Neste sentido, é uma contribuição inestimável ao ofe-
recer luzes sobre o funcionamento da alma humana em contextos
de crise, indicando as chaves para a liberação de outros modos de
viver, mais dignos e solidários. Constitui, sem dúvidas, uma impor-
tante contribuição para a difusão das Constelações Sistêmicas, não
somente como práticas terapêuticas, mas, sobretudo, como con-
junto de saberes práticos necessários na renovação das ciências da
sociedade e da liberação espiritual. Não se trata, como foi dito, de
um texto apenas teórico, embora também o seja. Mas consiste,
sobretudo, em um manual de valor prático para orientar aquelas
pessoas que estão buscando entender e transformar o mundo para
que a natureza amorosa do ser humano possa emergir com suavi-
dade nas relações interpessoais, na vida cotidiana, no resgate de
suas ancestralidades e na busca espiritual.

Recife, julho de 2016


Paulo Henrique Martins

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Agradecimentos

Aos meus queridos pais pela dedicação e amor, ao longo


de minha vida, e pelos valiosos ensinamentos de suas próprias
experiências e as de seus ancestrais: integridade, respeito ao pró-
ximo e liberdade de escolha em busca do meu próprio caminho ao
encontro com Deus. Meu carinho e minha gratidão. Sem eles tudo
seria impossível.
Ao meu companheiro Paulo Henrique, em quem encontrei
os profundos ensinamentos do TAO, através do Livro das muta-
ções, que me trouxe abertura para novas compreensões dos di-
versos movimentos cósmicos aos quais estamos interligados. Sem
a sua participação, este livro não teria expressão.
Ao meu filho Diogo, que me impulsionou ao encontro de
um amor profundo que jamais despertaria se eu não fosse Mãe, e
aos meus enteados Maíra e Lucas, que abriram portas para o amor
de uma família maior.
Aos muitos amigos e amigas, que acreditaram e me incen-
tivaram em muitos momentos de desistência, o livro se conclui
para vocês.
Agradecer aos mestres Lao Tsé, Osho, Bert Hellinger e Man-
tak Chia, que disponibilizaram suas experiências e seus conhecimen-
tos para que eu pudesse inovar as práticas das Constelações, tem um
valor especial para mim. Sem as suas trajetórias neste planeta, em
tempos diferentes, jamais as práticas descritas neste livro seriam
vivenciadas e, tão pouco, escritas.

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Finalmente, a todas as pessoas que se entregaram ao tra-


balho com tanta coragem e confiança no seu expressar, é impor-
tante dizer que vocês fazem parte deste livro.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Introdução

Dentro de mim soavam muitas vozes que, às vezes, se con-


ciliavam e me faziam seguir em frente e, em outras, entravam em
conflito e geravam sofrimentos em meu corpo, estagnando pro-
cessos de expansão, fazendo-me pensar ser uma morta-viva.
Em minha busca interior e, principalmente, através das Cons-
telações, vi camadas se dissolverem em meu corpo/mente, dando-
me a impressão de estar cada vez mais em meu corpo físico ou que
existia mais espaço para o meu SER ficar mais livre e amoroso.
Iniciei um grupo de formação tentando explicar o que
acontecia no trabalho das Constelações. Trabalhamos crenças en-
quanto uma força maior atuava à nossa revelia, mostrando um
movimento que nos conduz, independentemente do nosso que-
rer, da nossa vontade, e das metas e expectativas que criamos em
nossas mentes individuais.
Instalava-se uma busca pelo ponto de equilíbrio, que unia es-
ses dois movimentos simultaneamente, e me fazia entender o cami-
nho do meio tão falado por todos os mestres. Pensamos em Lao Tsé,
mestre precursor do Taoísmo, que revelou práticas espirituais adota-
das até hoje na China, e que fortalecem a integração do mundo espi-
ritual no cotidiano da vida social.
Surge uma imagem. Nela, os dois campos formados no tra-
balho das Constelações atuam, um na vertical e outro na horizon-
tal. Imediatamente, a imagem tão consagrada de uma cruz se
apresenta, junto a uma explicação que o leitor deverá entender,

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apenas, como um compartilhar de experiências do meu exercício


de trabalho.
Esses dois movimentos, na minha percepção, estão atuan-
do, às vezes, como ambivalentes. Em outros momentos eles se
unem trazendo o equilíbrio e a paz de que necessitamos. Exempli-
ficamos um filho que quer ser músico, enquanto a família pressio-
na para que ele seja médico ou engenheiro.
Exercendo a função de protetora dos descendentes, a famí-
lia busca argumentos lógicos sobre a profissão do médico, en-
quanto que, através da força vertical, o Ser solicita dele (o filho) a
representação da divindade através da música.
Esses dois movimentos existem com muita força dentro de
cada indivíduo, gerando conflitos e instalando sofrimentos, não
apenas individual, mas coletivo. A partir do sofrimento de um,
toda a família sofre. Mas essas dores atuam em cada membro de
maneira diferente.
Por outro lado, quando esses dois movimentos encontram o
ponto de equilíbrio, quando eles coincidem no mesmo propósito,
nossa criatividade se expande e nos tornamos a própria criação. So-
mente neste ponto encontramos nosso Ser e despertamos para a
vida em sua totalidade. A partir daí, estaremos aptos a ajudar outras
pessoas a encontrar o seu ponto de equilíbrio.
Tentarei explicar melhor esses movimentos, que estão
sempre variando.
Movimento Horizontal – Quando nascemos, estamos em
momento de profunda entrega, disponíveis para a vida e sem jul-
gamentos. Nossos pais / cuidadores, depositam atenção sobre
nós, para que possamos ser alimentados, protegidos.

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Todos os seres viventes têm o amor suficiente para estar,


neste momento, na graça da vida, mas as crenças que foram insta-
ladas, ao longo de nossas vidas, foram nos distanciando deste mo-
vimento de entrega.
No planeta Terra precisamos dessas crenças (EGO) para
nossa sobrevivência. Nossos medos vêm como consequência da
importância de preservação da vida.
Porém, se nos observarmos, veremos que muitos desses
medos são instalados através das crenças de sobrevivência que
tiveram sua importância em algum momento de nossas vidas. Po-
deríamos largar a maioria desses medos ao longo do tempo, mas
isso nem sempre acontece. Ao contrário, deixamos que eles se
cristalizem enrijecendo padrões de comportamento e perdemos,
dessa forma, a naturalidade e a leveza que nos é disponibilizada
pela força divina. A força vertical nos pede para que voltemos a
confiar na vida e não temer a morte, porque, em algum momento
ela chegará, e essa experiência será vivida por todos.
Movimento Vertical – A força atua sobre nós independen-
temente do nosso querer. Nela atuam os destinos que nos dei-
xam, muitas vezes, aflitos e querendo compreender esse mistério.
Passamos por situações que nos desviam de nossos planos,
vontades e até intenções mais “divinas”. Neste momento reavali-
amos crenças, valores e, muitos de nós, transformamos nossas
vidas para melhor.
A força nos pede para ressuscitar nossa coragem, nossa
tranquilidade, nossa alegria e nosso amor. A este fluxo da vida que
acontece aleatoriamente, chamamos de Movimento Vertical – o
movimento que nos convida a estar mais e mais vivos e em cone-
xão com o Todo.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Ao longo da existência humana e na luta pela sobrevivên-


cia, nossos pensamentos, crenças coletivas e atitudes geram frag-
mentos, sofrimentos, e produzem separatividade com o movimen-
to da vida.
A constelação sistêmica, criada pelo filósofo e seminarista
alemão Bert Hellinger, traz a possibilidade de olharmos essas par-
tes espalhadas ao longo da existência humana, auxiliando a nossa
desidentificação com as dores do passado, e o reconhecimento de
que somos maiores do que acreditamos ser.
Este é o propósito do livro O TAO das Constelações. A ideia
é trazer da cultura milenar Taoísta, entendimentos de uma recone-
xão com tudo o que é vivo, e mostrar que o ser humano pode se
identificar com sua parte dentro desta vasta existência, com o obje-
tivo de se preservar diante dos desafios que, aos poucos, levou-o a
se desconectar do Todo e a se perder de sua própria essência.
O convite contido neste livro é semear possibilidades para
este reencontro, através de partilha das experiências com alunos e
clientes nos mais diversos grupos promovidos pelo Constelar Insti-
tutos de Práticas Sistêmicas, como também vivenciadas por mim,
através de encontros com mestres e suas sabedorias, ensinamen-
tos e práticas que nos ajudaram a ampliar nosso campo de com-
preensão no amor maior. Esperamos, com isso, que o leitor possa
encontrar respostas nas suas próprias vivências e reflexões.
O primeiro capítulo, A visão sistêmica e o despertar do
TAO, ajuda-nos a ampliar olhares, com base em conceitos sistêmi-
cos desenvolvidos pela ciência, que se alinham com sintomas apre-
sentados nos indivíduos, nas famílias, nas organizações, na socieda-
de e nos mais diversos sistemas, de antigas crenças, dando-nos a

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oportunidade de liberarmos padrões e nos alinharmos novamente


com a força que a vida nos presenteia naquele instante.
No TAO e ancestralidade fazemos referência às memórias
ancestrais existentes em cada um de nós, e o que mobiliza nossas
escolhas pelas pressões registradas por nossa reatividade ou leal-
dade à família.
Compreendermos que a unidade divina passa pelos nossos
pais e que o autoconhecimento, tão falado pelos buscadores, e o
encontro pacífico com quem nos deu a vida, é o desafio.
Os sistemas se expandem no fluxo vital. Quando uma famí-
lia está em harmonia, com amor e liberdade seus membros se
movem no fluxo da vida e podem expandir seu campo de visão
para novas possibilidades, incluindo novas culturas, novas manei-
ras de encarar os desafios, podendo viver sem as amarras do pas-
sado ancestral que, em função da luta pela sobrevivência, nos
afastaram de nosso ser uno.
Por isso, O TAO dos relacionamentos apresenta tantos confli-
tos e a complexidade da convivência com o outro, por trazermos
todas essas memórias que precisam ser curadas, agora, em nossa
relação mais profunda: o encontro do masculino com o feminino
espelhado nas tradições e conflitos que migraram através das diver-
sas gerações.
Todos esses sintomas conflituosos são absorvidos, mas, muitas
vezes, não compreendidos pelo nosso Corpo Sistêmico, que está nos
avisando onde nos desconectamos desta alma maior que tudo une.
Dessa forma podemos entender que os conflitos familiares
que estão em nossa memória ancestral explicam razões por que
adoecemos e até morremos precocemente, mostrando como nos

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relacionamos com nossos pais e antepassados de uma maneira


inconsciente, porém, sempre amorosa.
Finalmente, concluímos com o mestre taoísta Lao Tsé, e al-
guns de seus ensinamentos em forma de versos, mostrando como
ele está presente em nosso dia-a-dia abrindo portas para as novas
constelações, que nos desafiam no cotidiano de trabalho, no su-
cesso, na criatividade, na família, nos relacionamentos, na espiri-
tualidade, com nossos amigos e em nossa saúde, que será tema do
próximo livro.
Expandindo nosso campo para a eternidade, passo-a-passo
no que nos é possível, e alinhando com o que a vida nos pede ago-
ra, vamos encontrando nosso lugar de honra nesta vida, a qual
todos nós pertencemos.

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Capítulo 1
Visão sistêmica e despertar do TAO

Silvia Angélica Rangel de Aguiar - silvinha_aguiar@hotmail.com - CPF: 936.752.244-49


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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

“A mente é um prisma; divide as coisas em muitas outras.


A verdade é uma só.”
Osho

“Sistêmico” significa estarmos juntos, reconectados, unifi-


cados, experienciando o outro em nós. Dessa forma permito que
meu campo se expanda para que o outro faça parte de mim e eu
faça parte do próprio campo receptivo que ele expande em minha
direção.
Essa experiência só poderá ser realizada em conexão com o
amor e o princípio de igualdade. Isso é, sem nada, nem ninguém
maior ou menor, melhor ou pior ou mais importante ou menos
importante. Ao ampliarmos essa visão provocamos no leitor a
possibilidade de se enxergar apenas como parte da grande diver-
sidade que se chama Vida.
Com isso, podemos enxergar o equilíbrio existente e a real
origem de nossos sofrimentos e aflições. Percebendo que o fluxo
da vida sempre pedirá o equilíbrio das relações e que, em um
momento, o excesso de poder poderá se traduzir em um recolhi-
mento por uma das partes do sistema.
Assim poderíamos definir a visão sistêmica como a experi-
ência do outro em nós, em um princípio do equilíbrio que, ao lon-
go das páginas deste livro, iremos aprofundar.

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Baseada nesta definição, trataremos alguns conceitos que


surgiram decorrentes das atividades realizadas em grupo de for-
mação ao longo desses 15 anos de encontros, vivências com gru-
pos de Constelação Sistêmica, motivação para abrir nossos cora-
ções para a inclusão da memória universal que nos faz vivos e ce-
lebrativos, retraduzindo o princípio do TAO.
Com isso faremos sempre o jogo do equilíbrio do que nos se-
para e do que nos une, conscientes de que tudo está a favor de uma
ordem maior que nos apresenta a luta pela sobrevivência, mas tam-
bém a possibilidade de nos encontrarmos na unicidade. Para isso são
incluídas nossas crenças e padrões, sejam eles do nosso núcleo fami-
liar, da nossa nação, raça ou cultura que nos separa uns dos outros,
acrescentadas a outro movimento que inclui as dores desses siste-
mas de crenças, que nos fazem querer ajudar e estarmos juntos, co-
mo nos mostra o TAO.
O Despertar do TAO é o encontro do equilíbrio dessas duas
energias, que circulam em nosso corpo, construindo pontes entre o
divino e o mundo manifesto (a forma). O deixar fluir esses dois canais
que unem o céu e a terra, possibilitando o encontro do mundo invisível
com o manifesto dentro de nós, em luz.
No sentido horizontal temos a ancestralidade com toda sua
memória consciente (individual) ou inconsciente (coletiva); no vertical,
toda a revelação de sermos um na força maior que nos une e é capaz
de criar movimentos próprios ao longo de nossa existência, a que po-
demos chamar de Deus, ou mesmo o TAO.
Assim é ao experienciarmos a vida no presente, incluindo
toda diversidade do mundo manifesto e todo o mistério do invisí-
vel, que se revela momento a momento.

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Como atua o ser vivo

Para que estejamos em total vitalidade, devemos estar no


fluxo da vida, sempre em movimento, renovando constantemente
nossos padrões de interação e nos expandindo para novos apren-
dizados.
A VIDA querendo ser MAIS...
No entanto, a maioria de nós está prisioneira de padrões
que perpassam gerações. É muito comum que esses processos de
apego ao velho gerem conflitos com o novo ou com o desconheci-
do que quer chegar. Desse fechamento de crenças, o Carnnot
comprovou, através da segunda lei da termodinâmica, que os sis-
temas fechados entram em caoticidade até liberar toda a energia
e depois morrer.
“O sistema fechado (isolado) se encaminhará es-
pontaneamente para a desordem, sempre cres-
cente, perdendo calor num processo irreversível”
(Sadi Carnnot, 1824)
A frase acima se baseia na segunda lei da termodinâmica,
que introduziu a ideia de processos irreversíveis, podendo ser
aplicada às famílias e organizações. A concentração de poder, a
arbitrariedade, o apego, os julgamentos e o desrespeito a outras
ideias, são posicionamentos de fechamento, que provocam en-
tropia (degradação) e, consequentemente, a morte dos sistemas
familiares ou organizacionais.
Este sistema fechado pode ser comparado aos nossos pa-
drões de rigidez e de donos da verdade em relação ao mundo em

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que vivemos, e nos traz a origem de muitas pressões internas vi-


venciadas como sintomas em nosso corpo.
Muitas vezes, a guerra que provoca tantas mortes nos sis-
temas fechados, em suas crenças provocam, também, expansões
para movimentos de reconciliação e paz, renovando valores ne-
cessários para um novo passo na evolução da vida, que é o nosso
processo natural.
Carnnot também realizou experimentos em sistemas abertos,
e viu a importância da alimentação contínua das energias extraídas
do meio ambiente para que os sistemas permanecessem vivos.
“Todo sistema aberto precisa se alimentar de
um fluxo contínuo de energias extraídas do
meio ambiente para permanecer vivo.”
(Carnnot, 1824)
Da mesma maneira, Ashby complementou as ideias de
Carnnot, quando falou que as chances de sobrevivência do siste-
ma dependem da riqueza e variedade de ideias que provocam
mudanças estruturais de criatividade, desenvolvimento e evolução
do próprio sistema.
“A sobrevivência de um sistema depende de sua
capacidade em gerar riqueza e variedade de idei-
as que provocam mudanças estruturais de criati-
vidade, desenvolvimento e evolução do sistema“.
Willian Ross, 1958 (Ashby)
Essas compreensões científicas podem ser comparadas
com o que mestres Taoístas usaram como metáfora para as nossas
vidas. Eles nos mostram a importância de sermos como um bambu
que, por ser vazio internamente, fica livre do sofrimento quando

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as intempéries da vida o cercam, conseguindo ser flexível quando


submetido a qualquer ventania, por não resistir e nem, tampouco,
se submeter. Diante da tempestade, o bambu desenvolve uma
linda dança celebrativa.
Com as noções que os cientistas nos promoveram, e sa-
bendo de sua influência no trabalho de muitos outros cientistas
importantes, que adaptam a uma nova realidade esses conceitos,
tomei emprestados conceitos que o Capra desenvolveu em A teia
da vida, para adaptar e explicar algumas conclusões que pude tirar
ao longo do meu trabalho com as Constelações Sistêmicas, que
são as reflexões que se seguem.

Elementos fundamentais do ser vivo

Consideramos que todo organismo vivo tem três elemen-


tos interligados, onde a vida se manifesta, como assinala Capra em
seu livro A teia da vida.
São eles:
Padrão (P)
Estrutura (E)
Processo de vida (PV)
Ao alinharmos este conceito, veremos que ele se adequa
ao exercício de muitas reflexões.
Nascemos no sentido horizontal, como já foi explicado, de um
pai e de uma mãe dentro de uma sociedade impregnada de valores
considerados como o nosso padrão de sobrevivência. De acordo com

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este padrão estruturamos nossa vida cotidiana interagindo com situ-


ações que, muitas vezes, fortalecem o sistema de crenças.
Diante da diversidade da vida, e neste sentido, citaria as
culturas, as raças, os gêneros que se apresentam em toda a sua
diversidade. Dessa forma confrontamos sempre com valores dife-
rentes dos nossos, e que se apresentam, muitas vezes, como ge-
radores de conflitos. No entanto, queremos sempre apresentar
esse fato como uma grande fonte de revelações, que a vida ofere-
ce, para o nosso processo de crescimento. Na adaptação do Capra,
chamamos essa oportunidade de processo de vida.
Processo vital é a atividade contínua que realimenta o sis-
tema criando novos padrões, de forma dinâmica, e que favorece
os relacionamentos “limpos” entre as partes, possibilitando novos
ciclos. Em analogia, poderia ser um bom exemplo para o que Car-
nnot provou em relação aos sistemas abertos.
O sistema se beneficia quando possibilita a interação com
fontes externas de alimentação e a troca de experiência entre os
seus integrantes. A adoção de medidas dessa natureza favorece a
evolução da humanidade.
Porém, quando falamos do ser humano, todas essas trans-
formações acontecem em uma estrutura chamada Corpo Físico e,
nem sempre, estamos preparados para mudanças aceleradas, co-
mo propõe Carnnot, porque, muitas vezes, elas mexem com a
nossa sobrevivência e nos põe em risco de morte. Parece-me que
temos uma força que luta a favor da sobrevivência e de sua conti-
nuidade, e pede para irmos passo-a-passo.
É importante visualizarmos que a vida pede novos movimen-
tos, e que os que ainda persistem em preservar padrões e estruturas

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antigas, também correm risco de morte, tomando novamente as


experiências do Carnnot sobre sistemas fechados.
Apresentamos abaixo a curva de expansão dos movimen-
tos dos padrões e estruturas se renovando em todo momento.

Quando um indivíduo está em expansão, uma das questões


que se apresenta é sempre a necessidade de uma nova ordem
para responder às novas demandas.
Como nem sempre estamos prontos para grandes saltos,
muitas vezes nosso corpo (estrutura) poderá entrar em colapso
pelo excesso de carga energética desprendida nestes momentos,
como assinala Carnnot ao definir a terceira lei da termodinâmica,
quando os sistemas totalmente abertos sofrem interferências ex-
ternas e são capazes de perder a sua integridade.
Nas curvas a seguir, ampliamos este conceito também para
outros sistemas de organização e, em especial, citamos o social,
que é a soma dos sistemas individuais.

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A curva de expansão dos padrões sociais, do velho para um


novo, é diretamente relacionada à curva dos padrões dos indiví-
duos, significando que cada indivíduo favorece ou prejudica o sis-
tema como o Todo.
A velocidade dos desafios individuais conquistados, tam-
bém beneficia a sociedade como um todo. Daí a importância de
estimular a tomada de consciência dos processos destrutivos em
prol da consciência maior que a todos une.
Com isso, aconselhamos o movimento passo-a-passo ou
sistema semiaberto, onde as trocas possíveis acontecem sem o
rompimento das estruturas.
No TAO se fala que para ir aos céus precisamos de fortes
raízes.
Daremos sempre estímulos aos novos desafios, sem perder a
capacidade de agir com base na transformação realizada.

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Relacionamentos sistêmicos

Fazemos parte de um grande sistema complexo, que inclui


vários outros sistemas secundários ou subsistemas, em interação
permanente uns com os outros.
O planeta Terra é um grande sistema e seus participantes
correspondem a subsistemas: nações, estados, corpo. No entanto,
este mesmo planeta Terra é um subsistema do próprio universo.
A visão sistêmica permite a compreensão da nossa condi-
ção de indivíduo interferindo neste Todo maior, e da repercussão
de nossos atos, inclusive sobre o destino do planeta.
Cada pessoa influencia na organização do planeta (a parte
interferindo no todo) e, ao mesmo tempo, é influenciada por ela
(o todo interferindo na parte).
Estamos conectados numa grande teia, onde as emoções
(positivas e negativas) interferem de maneira efetiva no desem-
penho do todo.
Detalharemos como pulsam essas emoções e como pode-
remos nos beneficiar delas para o nosso crescimento.

O pulsar da vida

Em todo organismo vivo coexistem movimentos de expan-


são e tensão, o que permite que se chegue a níveis mais altos de
energia. Esta é a pulsação da vida.

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Na observação do movimento das marés e vulcões, dentre


outros movimentos da natureza, encontramos a pulsação da vida. No
reino animal temos o exemplo das batidas do coração e a respiração.
Não seria diferente em nossas relações, conosco e com o outro, a
manifestação dessa pulsação. A vida é pulsante.
Nesta percepção, detalharemos como esses movimentos
acontecem em nosso cotidiano, com as imagens das curvas, que
chamamos construtivas, quando elas estão em evolução, e destru-
tivas, quando nos prendemos a padrões rígidos em relação ao
tempo de vida.
Inicialmente, apresentamos o movimento de expansão –
nesta curva o movimento é ascendente – e a qualificamos como
construtiva. Quando estamos “limpos” e abertos para o novo, a
cada instante, existe a possibilidade de crescimento, de evolução,
de melhora, de cura, sem limite.
A curva de crescimento é a própria vida em evolução, numa vi-
são positiva e saudável, como apresenta a figura seguinte.

Curva em expansão

Os sentimentos primários que favo-


recem essa curva são os de alegria, cora-
gem, compaixão, equilíbrio e serenidade.
Os sentimentos secundários são
eles: autoestima, humildade, doação.
Nos grupos sociais eles são a dis-
ciplina, o vínculo, o comprometimento, a

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solidariedade, a harmonia, a realimentação, a criatividade e o de-


senvolvimento.
Esses sentimentos e comportamentos levam à expansão
ilimitada do grupo e da vida. Isso só acontece no sistema aberto,
não existindo nem tempo nem espaço que restrinja a criatividade.
Ele é o reflexo do Todo, o TAO.
Na curva construtiva, o fortalecimento de todos é im-
prescindível e, por isso, é importante a catalisação dessas emo-
ções que expandem.
Do contrário, teremos uma curva de contração ou destru-
tiva, como apresentamos abaixo. Na imagem verificamos que, se
permanecemos muito tempo neste movimento, ele resultará em
destruição e morte.
Se o tempo de permanência for restrito, poderemos utili-
zar essa contração para ajudar em nossa expansão, com os valores
da curva construtiva.

Curva em contração

A tensão ou contração é o ou-


tro movimento complementar ao mo-
vimento de expansão, por ele ser um
indicador de mudanças, como veremos
a seguir.
Porém, quando negligenciado,
transforma-se em contração excessiva
– cujo limite é a morte –, acarretando a

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destruição do sistema.
Os sentimentos primários que favorecem esta curva são os
de medo, ansiedade, preocupação, tristeza e ódio.
Os sentimentos secundários são: inveja, baixa estima, orgu-
lho, culpa, ressentimento, mágoas, autoritarismo, entre outros.
Nos grupos e estruturas eles são a desorganização, a indis-
ciplina, a falta de vínculo e os conflitos provenientes deste estado
de desorganização.
Esses sentimentos e comportamentos, quando reforçados,
ocasionam a morte de qualquer sistema de organização, que não
resiste ao desperdício de energia.
No entanto, o objetivo deste livro é o retorno do TAO que
se expressa com a unidade dos dois movimentos, trazendo a acei-
tação, o equilíbrio e uma compreensão maior do estado de total
integração com o TODO.
Nesta compreensão, sugerirmos as curvas a seguir, deta-
lhando melhor como o construtivo e o destrutivo podem se ali-
nhar realizando grandes mudanças nos indivíduos, na sociedade,
no próprio planeta e, quem sabe, no Universo.
Na observação das curvas, sugerimos ao leitor a reflexão e
o desapego de alguns padrões antigos de comportamento, que
ainda não se deram a oportunidade de ressignificar. Oportunidade
de encontro do TAO dentro de nós.

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Migrando nas curvas e retornando ao TAO

As imagens das curvas interligadas em um movimento de


migração – vasos comunicantes para que os sistemas estejam em
equilíbrio –, apresentam possibilidades de reflexão sobre nossos
apegos ao que acontece de “bom” e ao que nos mobiliza a agarrar

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este momento, assim como nossos apegos ao sofrimento, que nos


induz à obtenção do ganho da atenção e do reconhecimento.
Quando as entendemos como curvas que se interligam, e que
uma ajuda a outra a seguir o fluxo de crescimento da vida, o tempo
que passamos na curva destrutiva ficará menor por entendermos
que é um movimento de contração para novas compreensões.
Sabermos, também, que o nosso bem-estar nos leva a uma
zona de conforto que nos impossibilita novos movimentos e que,
naturalmente, acontecimentos externos irão acontecer como ca-
talizadores do fluxo da vida.
Ao entendermos as duas curvas, podemos concluir que, es-
tando vigilantes a cada contração (dificuldade), é possível trans-
formar os sentimentos “negativos” em movimento de expansão.
A contração dos sentimentos diz respeito às nossas crenças
(individuais e coletivas), e interfere no cotidiano. Nossos apegos
alimentam o sistema de destruição. Quando os largamos, retor-
namos à curva de expansão, fluindo com a vida.
Podemos então considerar nossas mortes diárias (senti-
mentos negativos) como pequenas experiências que o “divino”
nos oferece para enxergarmos a vida – no trabalho, nas famílias e
noutros grupos sociais – de forma mais harmoniosa e saudável.
A curva a seguir é uma proposta para vivenciarmos a curva
destrutiva, recebendo aprendizados em todo momento.

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O tempo é agora

Podemos assim nos perguntar:


– Quanto tempo nós passamos desnecessariamente na
curva destrutiva, devido a mal-entendidos, ruídos na comunicação
ou falta de intenções maiores com a vida?
– Não seria o TEMPO, o limite que temos para ajudar esses
movimentos de expansão acontecerem? Onde estamos aprisiona-
dos, ainda na linha do tempo, por reclamar das curvas de contra-
ção que se apresentam em nossas vidas? Como estamos alinhados
com o TEMPO, dentro e fora de nós?
Seguem algumas reflexões sobre esse tempo e como lida-
mos com ele.

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O tempo como limite

As pessoas apresentam diferentes crenças sobre o tempo,


e isso se reflete na maneira como veem e agem. Essas expressões
do cotidiano, que muitas vezes repetimos sem nos dar conta, re-
forçam nossa curva destrutiva.
Eis algumas delas:
1- O Tempo é a vida
Indivíduos que estão na crítica, na racionalidade e na co-
brança, querendo tirar da vida o que lhes faltou enquanto memó-
rias de pai e mãe.
2- O tempo é o ano
Corresponde àquelas pessoas que estão “presas” ao calen-
dário anual e, quando o ano é difícil, justificam suas dificuldades e
crenças negativas a isso. São crenças culturais que desperdiçam
tempo e energia.
3- O tempo é o mês
São indivíduos que focam os problemas dentro de prazos
mensais e, invariavelmente, remetem a sua resolução para o mês
seguinte. Os “medidores” da sociedade repetem, monotonamente,
frases do tipo “este foi um mês de crise na economia” ou “mês de
agosto, mês do desgosto”. Distrações da nossa mente para não nos
responsabilizarmos por nosso sucesso.
4- O tempo é a semana
São pessoas que estabelecem e adiam suas metas e proces-
sos de mudança para todas as segundas-feiras e dizem: “nesta se-

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mana deixo de fumar”, “vou fazer exercícios na próxima semana”,


“segunda começo um regime” e “vou superar esse obstáculo na
semana que vem”. Justificativas que tiram nossa força e estima.
5- O tempo é o dia
São pessoas que determinam o sentido do seu dia na hora
em que acordam, geralmente dizem: “hoje tenho certeza que
acordei com o pé esquerdo”, e isso traduz, antecipadamente, a
forma como ela se conduzirá.
6- O Tempo é AGORA
A coragem de viver o risco da vida, sem medo de errar,
compreendendo que as contrações podem nos ajudar a soluções e
a experienciar muitas portas se abrindo.
Hoje, através de ensinamentos de grandes mestres, já sa-
bemos a importância de observarmos a nossa mente e a interfe-
rência dos nossos pensamentos no bem-estar do nosso corpo.
Aprofundaremos este assunto para facilitar a compreensão
dos capítulos que se seguem. O convite é para refletirmos sobre os
porquês dos aprisionamentos que nos impossibilitam de viver ple-
namente, e observarmos que essa prisão está em nossa mente, que
são apenas registros de memória e, por isso, liberar as prisões que
nos trazem sofrimento e caminhar para o nosso próprio despertar.

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“Estamos apenas indo para estarmos aqui,


então torne o tempo tão belo, tão amoroso
e tão alegre quanto possível” OSHO

O despertar do ser vivo

“Despertar o ser é trazer luz para o seu mundo interior; e a


não ser que você esteja iluminado por dentro, todas as luzes de
fora não terão utilidade, e todas as suas ações surgirão desta es-
curidão, desta cegueira” (Osho).
Como pode alguém ir além, através da mente? A mente é
limitada, está sempre ocupada por julgamentos e crenças que nos
impedem de ir além. Mas também é extremamente útil à nossa
sobrevivência e desenvolvimento, porque é lógica e prática. Sem a
mente a ciência e o mundo não existiriam.
A mente funciona sobre as coisas conhecidas, como um
computador no qual se armazenam dados e informações. Porém,
não somos apenas mente, nem nossa inteligência se limita a uma
máquina de calcular. Temos inteligência criativa, que permite en-
contrar o desconhecido, explorar o novo a partir da imaginação, e
revelar coisas das quais nunca se ouviu falar. Somos ilimitados em
nossa criatividade, inteligência e intuição.
Todos os grandes pensadores e gênios da humanidade fo-
ram inteligentes e criativos. Abertos ao novo, eles tinham fé na
capacidade de sonhar e criar. Iam além das crenças e valores do-
minantes, e se permitiam experimentar novas ideias, aquelas
acessadas quando nos abrimos à novidade e à construção de no-
vos paradigmas. Por isso se usa a palavra “insight” quando uma

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informação, uma “dica” ou uma nova compreensão sobre o que


estamos investigando nos é transmitida, como uma luz iluminando
nossas ideias.
Estudos recentes realizados por cientistas renomados, co-
mo o biólogo Rupert Sheldrake (Sete experimentos que podem
mudar o mundo, 2003), sistematizador da teoria morfogenética,
sugerem que as grandes descobertas e criações acontecem, ao
mesmo tempo, em mais de um lugar no planeta. Isso significa di-
zer que novas ideias não são apenas o produto de um gênio isola-
do, mas o resultado de uma experiência coletiva de mudanças, de
quebra de paradigmas e dissolução de verdades estabelecidas.
O gênio apenas concretiza o que a sociedade gera de for-
ma, muitas vezes, caótica. O trabalho de criação em qualquer ati-
vidade – econômica, política, cultural e outras – não se limita ao
esforço individual, revela algo mais amplo e coletivo que chama-
mos de sociedade ou Ser. Despertar para o Ser é abrir espaço para
encontrar em nós a inteligência maior que utiliza a mente como
veículo para concretizar suas ideias.

Autoconhecimento – o caminho do desenvolvimento

Autoconhecimento é um mergulho no próprio ser. Quanto


mais profundo o mergulho, mais clareza nós temos da nossa inte-
ligência, criatividade e sabedoria. Assim procedendo, ampliamos
nossa religação com a fonte natural, desfazendo medos, bloqueios
e crenças, e dando espaço para o novo.

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Abrindo os canais de energia

“A natureza dá a todos a energia criati-


va. Esta só se torna destrutiva quando é obstru-
ída, quando não se permite seu fluxo natural.”
(Osho, Criatividade: Liberando sua força
Interior, pág. 46).

Quando reprimimos emoções e sentimentos ou estagna-


mos conhecimentos, bloqueamos em nosso corpo a energia vital
que deveria fluir, trazendo nossa real inteligência de criar sem

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

limites. A figura anterior mostra um corpo em total vitalidade, sem


nenhuma tensão, sem nenhuma repressão nos seus pensamentos.
Livre apenas para criar.
A vida é como o corpo da figura acima, dinâmica! Sempre
recebendo energia extra.
É preciso tomar consciência da nossa força e da nossa fon-
te: a capacidade que temos de gerar energia e abrir espaço para
que o fluxo aconteça. Para manter o fluxo, devem ser incluídas
paradas obrigatórias e o relaxamento, e nunca parar totalmente.
Deixar o velho sair é liberar-se para o novo, é substituir os apegos
por atos criativos.

Encontrando o verdadeiro potencial


Somos como fonte de água cristalina, sempre em renovação.
Como as fontes que deságuam nos rios e oceanos e mantêm a água
circulando, essa condição humana significa a possibilidade de viver
ciclos de limpeza e de transformação, sempre para algo melhor.
Os desafios, obstáculos e dificuldades nos relacionamentos
são oportunidades, estímulos e, também, um convite para essa lim-
peza. Isso nos deixa cada vez mais próximos da compreensão de nós
e dos outros, e amplia o contato com a fonte maior. Encontrar nosso
potencial é reconhecer nossa autonomia e tomar posse da própria
fonte, sem intermediários.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Observação – a chave para a mudança

Quanto mais atentos estivermos ao que acontece dentro e


fora de nós, mais clareza nós temos a respeito da transformação
dos nossos padrões. O relaxamento é imprescindível para estar-
mos vigilantes e prontos à transformação das ações e padrões. A
observação relaxada nos ajuda a compreender e não repetir atitu-
des inconscientes que provocam estresse.
Ao prestamos atenção à mente, percebemos um conflito
permanente. Um pensamento está sempre brigando com o outro:
um é corajoso e o outro cauteloso; um manda agir e o outro man-
da esperar.
Nossas ações são, em geral, resultado do “vencedor” dessa
briga que, do ponto de vista sistêmico, constitui desperdício de
energia. Muitas vezes, não sendo, o resultado não é favorável ou é
ele muito doloroso, nos trazendo de volta a uma condição psicoló-
gica anterior aparentemente mais segura. A mente (e todo nosso
ser) regride a um estágio mais primário quando se sente em perigo.
Sugerimos um exercício que ajuda a liberar o medo de nos-
sa mente. Ele constitui um instrumento que nos permite acolher,
conscientemente, a experiência afetiva e emocional.
Frequentemente, as pessoas estranham esse tipo de exer-
cício, pelo não enquadramento em esquemas convencionais. Mas
quando tentamos realizá-lo sem receio, os resultados favoráveis
sempre chegam!

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Procedimentos:

Fase 1 - Feche os olhos com o corpo relaxado. Imagine que existe


uma tela de cinema localizada na sua testa, e que você observará
todos os seus pensamentos através dela. A cada pensamento ob-
serve como seu corpo reage. Exercite essa prática durante apro-
ximadamente 5 minutos.

Fase 2 - Feche os olhos e imagine situações antigas que geraram


emoções negativas de medo, raiva, tristeza, ansiedade ou preocu-
pação. Observe o que acontece com seu corpo e com sua respira-
ção. Demore 2 minutos na observação.

Fase 3 - Feche os olhos e imagine algumas situações que geraram


emoções positivas de alegria, serenidade, coragem, amor, compai-
xão. Observe novamente as sensações que se instalam em seu cor-
po e em sua respiração. Tranquilamente e em silêncio reflita sobre
os seguintes pontos:

Reflexão 1 – Se você percebeu seus pensamentos na tela é porque


você não é seus pensamentos, mas algo maior que os observa.

Reflexão 2 – Se o observador é neutro e, logicamente, não pode


se identificar com o pensamento observado, isso significa que po-
demos reorganizar nossos pensamentos, antes que eles tomem
conta do nosso corpo e interfiram em nossas ações.

Reflexão 3 – Se você percebe que os pensamentos se movem e


repercutem no corpo através da emoção negativa (fase 2) e da
positiva (fase 3), que tal acreditar que é possível interferir e trans-
formar o negativo em positivo?

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Reflexão 4 - Se você descobriu que o observador é você, e que o que


sente é fruto de um passado de crenças incorporadas ao longo da vida,
que interferem substancialmente em suas emoções e em seu corpo,
você está pronto a mudar o foco de sua vida, tornando-a muito mais
prazerosa e construtiva.

A força do pensamento sobre nossas ações

O conflito é sempre dual!


Se nós temos medo da noite, vamos querer sempre o dia,
vamos querer o dia o tempo todo, e acenderemos a luz, à noite,
para nunca ficarmos no escuro.
Se nós temos uma religião e rejeitamos outra, isso é um
conflito.
Se nós pertencemos a uma raça e rejeitamos outra, isso é
um conflito.
Então, existe, também, nesses conflitos que causam des-
conforto e sentimento de separatividade, uma grande possibilida-
de de integrarmos o que excluímos quando saímos da luta, acei-
tamos a dor e permitimos que um novo movimento aconteça.
Em nosso relacionamento conosco e com os outros, esses
conflitos aparecem com mais visibilidade quando estamos na posição
de críticos ou julgadores. Carregamos o peso de transferir para o ou-
tro o que queremos, achando que o outro vai solucionar as questões
através do nosso ponto de vista. Com isso, enfraquecemos e perde-
mos de vista nossas reais contribuições jamais pensadas antes.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Quando temos de tomar decisões sendo responsáveis por elas,


sempre surgem pensamentos que se contradizem, justificativas.

Dinâmica de relacionamentos

Como todo ser vivo, as famílias são sensíveis ao desempe-


nho de seus membros. Os fatos existentes neste sistema, muitas
vezes, causam emaranhados que se refletem em toda a estrutura
e mobilizam padrões de dor, muitas vezes, existentes.
Os membros de uma família se nutrem uns dos outros e,
nessa troca, acontecem as transformações – positivas ou negati-
vas, expansivas ou destrutivas.
Uma família harmônica depende, portanto, da capacidade
de cura de seus membros diante dos problemas gerados por emo-
ções negativas, trazendo soluções para a libertação desses fatos
ocorridos no passado, e que aprisionaram todos os membros na
dor, sobre os quais, ao longo deste ensaio, o leitor terá mais escla-
recimentos. Chamamos essa capacidade de autorregulação natu-
ral da família de cura sistêmica.
Para que essa autorregulação ocorra em um processo
construtivo, isto é, olhando para as soluções e novas compreen-
sões disponíveis no momento, precisamos aprofundar as nossas
emoções sem buscar culpados para esse destino.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Buscando o oculto dentro de nós

Todos nós somos capazes de mudar nossa emoção em fra-


ção de segundos. Por que isso acontece? Que forças externas são
essas que interferem? Que sentimentos destrutivos são esses (in-
veja, raiva, medo, ciúme, preocupação) que invadem nosso corpo
e nos fazem tomar atitudes impulsivas ou de congelamento?
Muitas vezes, tentamos explicar culpando o outro do ocorri-
do, por ser este o caminho mais fácil. Quando não temos consciên-
cia da força que nos impele a agir contra a nossa própria vontade
interna, tão logo vêm os arrependimentos, aos quais chamamos de
constelações aprisionadas pelas histórias ancestrais, que ocupam
nosso inconsciente – por isso as chamamos de memória oculta.
Essa teia em que vivemos e que nos apresenta como inter-
conecta é a razão dessas muitas emoções que nos dominam e nos
sequestram para comportamentos que retroalimentam seus ca-
nais de comunicação, como apresenta a figura abaixo.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Imaginando cada flor como sendo um membro de nossa


família, partindo do centro estão nossos ancestrais mais longín-
quos até a ponta, que está sempre em crescimento para novos
descendentes.
Dessa forma, repassamos nossas negatividades sem enten-
der a sua origem.
Somos capazes de excluir, julgar, proteger, matar, amar,
odiar, querer salvar, carregar fardos, ser ricos ou pobres, entre
outros exemplos, muitas vezes sem saber por quê.
A alma coletiva da família, dentro da gente, busca o equilí-
brio para ajudar nosso sistema familiar em sua sobrevivência, sem
ainda se dar conta de que também somos uma grande família –
SERES HUMANOS –, buscando a sobrevivência do planeta.
Filhos do mesmo pai e mãe se comportam de maneira di-
versa, uns reagindo com posturas destrutivas; outros tentando
harmonizar os conflitos existentes; alguns saindo do ambiente
familiar por não suportar a pressão da dor.
Nas sociedades (instituições) podemos ver o reflexo da família.
Justiceiros, matadores, consoladores das dores, aventurei-
ros, mulheres feridas, poder financeiro, pobreza, até buscadores
da Paz, morrendo em guerra por esta causa. Vítimas e algozes jun-
tos em uma mesma energia, em um mesmo destino, em lados
diferentes. Um vivendo pelo outro e para o outro.
Um de nossos objetivos é ajudar na limpeza desses canais
de interações humanas, que querem permanecer em equilíbrio
pelas emoções que expandem, tentando apresentar com simplici-
dade em detrimento de ações midiáticas ou inferiores, que nos
separam até hoje, trazendo desequilíbrios.

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Para melhor explicar, traremos a imagem de uma gangorra,


brinquedo de parques infantis que alternam os lados – um perma-
nece em cima experienciando o alto, em detrimento do outro, que
experiencia o baixo.
Na brincadeira, quem está em cima pode ficar “de castigo”
– atitude imposta por quem está em baixo, no controle, já que o
do alto não tem força dos pés no chão. Ao mesmo tempo, pode se
beneficiar do vento, da paisagem e da entrega, já que não é ne-
cessário segurar ninguém, tarefa de quem quer ficar no controle
do segurar, ao mesmo tempo usufruindo o poder do comando.
Essa brincadeira nos traz muitas reflexões sobre as leis do
equilíbrio social, as interações humanas, a brincadeira do experi-
mentar os diversos lugares, apenas vivenciando a experiência.
Incluindo o descansar na gangorra em equilíbrio, pés no chão,
conquistando um estado de esforço sem esforço, sem julgamentos
de bem e mal, como propõe o TAO, lugar onde nos encontramos
como iguais.

Equilíbrio nos relacionamentos: a desordem para uma nova ordem

Apesar da simplicidade do equilíbrio nas relações aborda-


das no exemplo da gangorra, os sistemas dos relacionamentos
familiares são numerosos e extremamente complexos, porque
retratam toda a história da humanidade e sua origem, assim como
os desdobramentos consequentes desses emaranhados iniciais
que nos separaram do Divino.
Os fechamentos das sociedades em busca de sua preserva-
ção, em contrapartida às expansões necessárias para que as mis-

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turas de raças acontecessem, geraram muitos traumas a toda a


humanidade.
Podemos citar como memórias vivas em nós, exemplos de
guerras, por um lado tão dolorosas, com mortes, traumas e migra-
ção dos que queriam fugir abandonando sua terra e seus ances-
trais e, por outro, a oportunidade do encontro de raças e culturas
diferentes que trouxeram o novo, o diferente – movimentos que
nos trouxeram à vida.
No Brasil, sofremos ainda o efeito da colonização: índios
foram dizimados, negros escravizados e brancos, que deixaram
nação e família para lutar pela sobrevivência em momentos de
crise na Europa. Essa mistura de raças que somos nós, ainda guar-
da conflitos da origem do descobrimento do Brasil, desequilibran-
do as relações sociais.
Na Idade Média, um mundo mais místico decorrente da
expansão da intuição, do poder do invisível, das manipulações de
energia, foi arrefecido pelo aprofundamento da racionalidade,
reflexividade. A energia feminina sendo suprimida em detrimento
da energia masculina da racionalidade, que ganhou força nas di-
versas atrocidades cometidas.
A energia masculina iniciando a busca pelo discernimento
e reflexão, nos ajudando, até hoje, a não acreditar e a ter medo de
tudo que vem do mundo não manifesto.
O princípio da racionalidade, em alguns momentos, man-
tendo a dança das gangorras para compreender e diminuir a força
do movimento invisível realizado pelo feminino.
No entanto, neste momento difícil de nosso planeta, quem
sabe, estejamos sendo chamados a equilibrar as gangorras da vi-

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da, integrando essas duas energias dentro e fora de nós; a retor-


nar à nossa força de expansão corajosa e flexível, que o masculino
nos apresenta para novas conquistas e saltos evolutivos, e o amor
em sua força mais sublime – mergulho no oceano do inconsciente
que ainda permanece invisível e intocado, e que desperta tantas
conexões que nos ligam a todos e a tudo que é vivo.
Esses dois movimentos que unem o feminino e o masculino
estão acontecendo, neste momento, em todos nós, independen-
temente de sermos homem ou mulher, afinal, todos nascemos de
um Pai e de uma Mãe.
Sobre a dádiva que recebemos de nossos pais – a vida – e
esses bloqueios de proteção que alimentamos por gerações, é que
construímos dentro de nós as constelações que, ao se tornarem
conscientes, podem nos liberar para uma vida mais plena e livre e
conectada ao amor.
Da estrutura criada pela raiz (pai e mãe) nasce a força para
encontrar o céu, o amor e a generosidade de oferecer os bons
frutos que semeiam um novo futuro.

A dualidade nos movimentos das Constelações

Constelação Horizontal - relacionamentos em expansão no


ciclo da dádiva da interação com a diversidade do Todo.
Quando essas interações são percebidas como comple-
mentos dentro de uma rica diversidade de trocas, surge a possibi-
lidade de encontro da Constelação Vertical dentro de si.
O Conflito por crenças, valores das mais diversas culturas, re-
ligiões e raças, interrompem o fluxo apresentado abaixo e, ao mesmo

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tempo, podem interagir no todo maior do Amor, quando as pessoas


se encontram para acolher, aceitar e liberar as dores do passado,
expandindo o Amor e se integrando aos movimentos da vida.
Fluxo da dádiva em expansão – Quando cada um exerce o
lugar de doador e receptor diante da vida.

Fluxo da Dádiva Horizontal quando interrompido – o receptor


interrompe quando não quer receber e fica na posição de doador
ou o doador não deseja doar ficando na posição de receptor. O
ciclo se contrai e não há expansão na relação.

Constelação Vertical – a vida seguindo adiante sempre pa-


ra MAIS. Inicialmente, através de nossos pais, recebemos o sopro
divino da vida, que nos pede para transbordar para outras gera-
ções/ comunidade/ etc., e assim sucessivamente, em um movi-
mento constante de conexão com o Todo. Podemos perceber,
através da figura, que para o fluir da vida teremos de repassar
adiante o fluxo da vida ou energia vital.

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Porém, se em algum ponto essa energia vital estiver blo-


queada pelas constelações horizontais, o CHI, como os Taoístas
descrevem, não poderá seguir seu fluxo natural, e as consequên-
cias para a vida do planeta poderão ser desastrosas.
Neste sentido, todo o nosso trabalho é fazer o leitor com-
preender que muitos de nossos sofrimentos, doenças e dificuldades
relacionais são energias suprimidas de sua fonte verdadeira. O
grande rio da vida, que pertence à história da humanidade, está
represado nas dores, com a possibilidade de retornar ao mar, caso
tomemos consciência desses movimentos.

Fluxo vertical da vida

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Liberando nossas constelações

“Deixem os mortos cuidarem dos mortos e os


vivos cuidarem dos vivos”.
Mestre Jesus

Nossos antepassados viveram destinos de dor, que hoje


são guardadas em nossa memória inconsciente, e atuam sobre
nós com uma força maior do que imaginamos. Essa memória traz
o conteúdo de sobrevivência, necessário a cada movimento da
vida coletiva passada, e que ainda atua em nosso inconsciente
vivo nos fazendo atrair situações que se repetem no sistema, pela
necessidade de liberação da energia que ficou bloqueada ao longo
da vida do planeta.
Aos poucos, essa memória tenta se revelar em diversas si-
tuações, tentando nos ajudar a desbloquear ou concluir o amor
que foi interrompido por gerações.
Este amor, que não pode se completar por conta do confli-
to entre as constelações verticais e horizontais, entre o amor mai-
or, medos e dores, para manter a sobrevivência pede para se
completar no amor, por fatos que vamos revelando ao longo dos
capítulos.
Iremos abordar muitas constelações onde, durante a nar-
ração, ficam perceptíveis esses dois encontros. No entanto, cada
cliente nos pede, de maneiras diferentes, que este entendimento
seja utilizado, facilitando nosso olhar para as necessidades imedia-
tas do demandante.

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Muitas vezes, céticos querem resultados concretos quanto


a impedimentos do cotidiano: dinheiro, intrigas familiares, proje-
tos que não saem do papel, etc.
Esses pedidos são recebidos como desejos inconscientes de
encarnar no planeta as necessidades de sobrevivência do cotidiano.
Na maioria dos casos, o medo de não sobreviver pode levar
o sujeito a querer mais e mais, fato que provoca a desconexão
com o próprio equilíbrio interno, ao agir contra o sistema interno
corporal, muitas vezes, desequilibrando o sistema maior, como é o
exemplo da aquisição de bens à custa de trabalho escravo.
Carências e faltas que pertencem aos nossos antepassados
podem criar uma pressão de medo do que pode vir a nos faltar
hoje. Vi muitos casos de clientes, inclusive eu mesma, trabalhando
ansiosamente por essa crença.
Não digo que ansiedade não seja boa para nos fortalecer a
tomar atitudes de crescimento, mas, em muitos momentos, elas
acontecem invertendo o padrão, tomando toda a energia que se-
ria utilizada no sucesso no trabalho.
Alio-me a este indivíduo trabalhando mudanças de crenças
cognitivas, mas tento apresentá-lo à força vertical que atua sobre
todos nós, trazendo-nos aceitação e confiança.
Por outro lado, pessoas que intitulei “Vivendo no Céu”,
apresentam-se com um mundo de fantasias que as impede de
criar a força necessária para os desafios existentes no mundo hori-
zontal (terra) em que vivemos.
Elas necessitam encarnar neste planeta. Para elas, uma
constelação para possibilitar seu ancoramento na realidade, faz-se
necessária.

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Por quê? Se olharmos o planeta onde vivemos, ele contém


tudo para a nossa sobrevivência, mas nossos medos nos levam a
querer mais e mais, e não teria razão de alguém solicitar o que já
temos em abundância. Mas o que acontece nesses casos?
No campo da consciência coletiva, vivemos hoje profundos
desequilíbrios, onde alguns buscam incessantemente ter tudo em
detrimento de outros que desistem da busca, colocando-se contra
o sistema de posse, perdendo seu poder criativo de trazer solu-
ções para a sua própria sobrevivência.
De outro modo, é importante considerar como a nossa al-
ma se desloca de nós mesmos ao longo da vida, deixando o nosso
EU fragmentado. Bert Hellinger fala sobre o Amor Cego, amor in-
terrompido e o amor (sentimento) adotado, como fatos que nos
distanciam de nós mesmos.
Com base em experiências vivenciadas e reflexões com gru-
pos em formação, vamos tentar explicar o que percebemos nessas
definições que Bert Hellinger nos colocou com tanta sabedoria.

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Capítulo 2
TAO e ancestralidade

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“O TAO é um, mas no momento em que ele se


torna manifesto, precisa se tornar dois.
A manifestação precisa ser dual: ela não pode
ser uma só, precisa se dividir em duas.
Ela precisa tornar-se matéria e consciência,
precisa tornar-se homem e mulher, dia e noite,
vida e morte.... Você encontrará esses dois
princípios em todos os lugares.
O todo da vida consiste nesses dois princípios, e
por trás deles está oculto o uno.
Se você insistir em permanecer às voltas com
essas dualidades, nos polos opostos, permane-
cerá no mundo.
Se você for inteligente, se for um pouco mais
alerta e começar a olhar mais ao fundo, a olhar
para a profundidade das coisas, ficará surpre-
so: os opostos não são realmente opostos, mas
complementares.
E por trás de ambos há uma única energia: O
TAO”. OSHO

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Retorno do TAO pela ancestralidade


Retornando pela mesma porta que nos perdemos um dia,
tomando consciência de toda memória ancestral. Liberando dores
do passado que estão em nossa memória corporal, até chegarmos
ao ponto inicial desta história que é: reconhecermos a Luz, energia
universal ou simplesmente o TAO.
No início, o TAO foi fragmentado em qualidades diferentes
de energia: masculina e feminina. Através deste encontro, o pa-
ternal e o maternal floresceram trazendo a nova semente da uni-
dade: o filho.
Somos todos filhos que recebemos a vida de nossos pais
biológicos. Aceitando, amando e agradecendo a eles poderemos
retornar às nossas origens, a quem somos de verdade.
Tomar consciência deste fato, agradecer aos nossos ante-
passados por seus destinos que nos trouxeram a vida, é compre-
ender que o passado teve sua importância em nossa memória de
sobrevivência. Contudo, ao nos perdermos nesta ideia, registra-
mos a separatividade.
Neste capítulo traremos fragmentos espalhados pelo mun-
do manifesto, até a possibilidade de retorno ao TAO, e experiên-
cias deste resgate com o trabalho das Constelações Sistêmicas,
acessadas por Bert Hellinger, e que adaptaremos à nossa compre-
ensão, fruto de diversas vivências realizadas ao longo de 16 anos
de práticas.

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Enquanto não tomarmos consciência da memória viva das


dores que nos separam, e que chegaram até nós através da histó-
ria do planeta, não poderemos retornar ao TAO.
O caminho inverso é necessário para que possamos nos
compreender como SERES UNOS, como nos apontam todos os
mestres que despertaram antes de nós.

Na figura acima, tentamos fazer o leitor compreender este


caminho de retorno da energia, agora no mundo manifesto.

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Ancestralidade – O Retorno do TAO


Não podemos curar feridas olhando simplesmente para os
frutos podres da copa de uma árvore. Se não olharmos as suas
raízes, jamais poderemos colher bons frutos. É assim que o traba-
lho das constelações se apresenta. Com objetividade consegue
não se perder em imagens de sofrimento instalado em nossa men-
te, para saltar para as profundezas de sua raiz, e assim encontrar
soluções desejadas para que o amor flua.
Na imagem da capa deste livro percebemos o reflexo do
nosso passado existencial, onde fatos na história da humanidade
servem como alimento da árvore que se projeta para o céu.
Uma árvore totalmente interligada a outra, interferindo e
sofrendo interferências mutuamente. Cada fruto dependendo de
suas raízes para serem sadios e poderem alimentar toda a vida em
sua cadeia de nutrição – decomposição – semente – nova árvore.
Ciclo da vida que se repete em todos os seres vivos, e nós
não somos excluídos desta cadeia, mesmo que nossas mentes nos
separem uns dos outros e de toda natureza viva.
Tratar da raiz é aprofundar-se nos medos humanos que nos
separam, é compreendê-los e transformá-los em amor maior que
une toda a existência e nos unifica.

O que hoje nos separa?

Na visão sistêmica apresentamos a força do pensamento


sobre nossas emoções e também a força que eles podem ter em

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nossas ações, quando nos deixamos ser sequestrados, isto é, quan-


do nossos pensamentos são maiores do que nós mesmos.

De onde vem a força desses pensamentos que na maioria


das vezes não controlamos?

Na minha experiência, os pensamentos chegam, muitas ve-


zes compulsivamente, drenando toda nossa energia, quando ques-
tões nossas ou de nossos antepassados não foram solucionadas.
Na imagem, agradeceremos também aos nossos pensamentos
como uma grande porta para integrarmos fragmentos perdidos ao
longo da história da humanidade.
Constelar é unir as partes ainda fragmentadas no tempo,
para sentir o silêncio e a paz do Todo dentro de nós. A única cons-
telação é o retorno à fonte.

TAO e Constelações Sistêmicas


As constelações favorecem a ampliação do nosso campo de
visão para muitas coisas das quais fugíamos, evitávamos e excluí-
amos de nossas vidas, rejeitando, fazendo de conta que não acon-
teceram ou, em casos extremos, fugindo da realidade e até esque-
cendo definitivamente, como é o caso de alguns traumas vivenci-
ados por muitos de nós.
No entanto, esses mesmos pontos, ou questões, sempre re-
tornam à nossa porta para que possamos abri-la e olhar reconhecendo
o que nos une, e até agradecer pelo aprendizado.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Então aquilo ou aquele que batia em nossa porta, insisten-


temente, como dor e, por isso, o rejeitávamos e éramos rejeita-
dos, agora pede para ser visto. Olhamo-nos com amor e total acei-
tação, e tudo se transforma em algo maior e se expande ao encon-
tro da paz.
É assim que funcionamos em nossos mais diversos tipos de
relacionamentos, sejam eles afetivos, no trabalho, entre amigos,
nas instituições, etc. Em vez de enfrentarmos os conflitos ou di-
vergências com inclusão da diversidade, tentamos matar o outro
em suas ideias, atitudes e, muitas vezes, inovações. É assim que se
procede ao longo de séculos de existência.
As inovações sempre nos amedrontaram e ainda nos impõem
medos, porém, muito do que usufruímos hoje, devemos à bravura de
nossos ancestrais que, mesmo sendo julgados, tiveram coragem para
disseminar o novo, sacrificar-se por ele, e ter paciência para que, no
tempo certo, a colheita beneficiasse a todos.
Nesta grande TEIA de interconexão todos nós evoluímos,
mas a grande evolução só será compreendida por todos juntos.
Para que isso aconteça, precisamos nos libertar do que nos aprisi-
ona, de pensamentos que produzem ações repetitivas, sem seguir
o movimento da própria vida.
Todos nós fomos hipnotizados. Medos, raivas, tristezas,
preocupações e ansiedades são emoções vivenciadas como um
aviso de que algo foi deslocado de nossa essência e que, ao voltar-
mos ao nosso verdadeiro lugar, poderemos resgatar dentro de nós
a coragem, a alegria, o equilíbrio, a serenidade e o amor que antes
existiam (em algum tempo) e dos quais nos desconectamos por
amor cego (amor leal à tradição), a nossos pais e antepassados.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Perceber que podemos criar um novo contexto e mudar nos-


sos padrões de interação é a grande oportunidade que essa aborda-
gem nos traz, para que possamos chegar o mais próximo de nós
mesmos e curar antigas feridas que nos distanciaram de pessoas que
amamos e, principalmente, de nós mesmos.
Com isso, não estamos falando da mudança de fatos que
pertencem a nossos destinos, e sim da possibilidade de estarmos
presentes em nossa própria vida aceitando a vida como ela se
apresenta, sendo receptivos e amorosos.
Costumo dizer, em palestras, que a Constelação Sistêmica
nos traz a possibilidade de olharmos a mesma paisagem com olhos
atentos – a verdade que foi perdida ao longo da história ancestral
ou bloqueada pelas dores vivenciadas e silenciadas por quem veio
antes de nós, e experienciou outro contexto de vida, diferente do
que vivenciamos hoje.
Ao trazer à tona essa memória, compreenderemos deta-
lhes nunca vistos neste quadro da vida, e podemos não sofrer
mais por algo que já passou e que não é mais necessário cultivar,
por já estar envenenado para as próximas gerações.
Ao saber que o passado foi necessário para nós estarmos
aqui, hoje, honrando a vida de nossos antepassados da melhor
forma, como propõe Bert Hellinger, o criador desta abordagem,
trago a proposta de compartilhar alguns estudos de casos que
aconteceram ao longo de minha jornada em consultório e em gru-
pos realizados nesses últimos 16 anos.
Para introduzir este novo conceito terapêutico, saímos da
condição tradicional, onde o cliente solicita algo do terapeuta para
horizontalizar sua relação, colocando-nos como iguais na diversida-
de da troca e, ao mesmo tempo, juntos em uma mesma força que

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

nos conecta e expande para compreendermos mais e mais que to-


do movimento de bem-estar é unir o que estava ainda separado.
Neste caso, não estamos interessados no que a mente do
cliente quer, porque consideramos que ele quer permanecer em
seu padrão de sobrevivência, em lealdade com quem veio antes
dele – seus pais –, mas sim no que poderemos ajudá-lo a integrar
diante dos conflitos existentes, sem excluir ninguém, nem tam-
pouco desvalorizar qualquer membro da família, por mais que
nossa mente seletiva também o deseje fazer.
Não satisfazemos carências de ninguém, nem tampouco
nos deslocamos para sermos o pai ou a mãe perfeita que ele dese-
ja, mas seremos facilitadores no sentido de ajudá-los a abrir a por-
ta para enxergar a realidade, possibilitando, apenas, uma nova
forma de olhar aquela situação do passado, completando o amor
que foi interrompido.
No amor por nossos pais e ancestrais, vamo-nos deslocan-
do de nós mesmos e tomando informações que não nos perten-
cem, para que retornemos à nossa energia primordial, a nossa
unidade, que são nossos antepassados. Este é o desafio.

A separação que nunca existiu

Ricardo e Telma me procuram em consultório para ajudá-


los a definir o casamento, ou seja, a separação ou o retorno da
união, que nunca teria deixado de ser, um dia.
Eles foram casados durante 25 anos, e há 4 estavam sepa-
rados. Ele era claro em seu amor, e ela em um profundo medo de
retornar a uma situação de dor que a fez se separar.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Até o acontecido, o casal vivia bem. Agora estavam bus-


cando uma maneira de se reencontrar.
Telma era uma mulher do lar, que não trabalhava e cuidava
dos quatro filhos, até então. Ricardo era o provedor e tinha sua em-
presa própria, que dava para o sustento da família.
Uma crise na empresa abalou este homem que tinha cren-
ças de manter a família, mas não se achava merecedor deste lugar
de honra.
Como muitos homens que carregam o peso da sustentação
da família, Ricardo entrou em processo depressivo e não acredita-
va mais nele, até tentar contra a própria vida, diz ele ao narrar sua
própria história.
Neste momento, ela busca sua própria vida escolhendo a se-
paração de corpos. E inicia uma linda busca por sua parte perdida
neste casamento. Sua força para buscar a sobrevivência, já que, até o
momento, ela seria uma mulher tradicional do lar.
Ele resolve se tratar e rever os valores perdidos, de confi-
ança e receptividade, reconhecendo a arrogância de querer se
manter no controle financeiro.
Foi com muita alegria que recebi este casal, já com passos
de integração do masculino e feminino interno. Com a ajuda das
Constelações, em poucas sessões, podíamos ver o amor que os
unia e a alegria que brotava deste novo encontro.
Mas fomos passo a passo, juntos.
Apesar de ela ainda não ter consciência, o medo não en-
contrava mais espaço para existir. Agora ela já trazia o amor e a
força integrados, buscando dentro de si a autonomia para não
depender mais dele.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Naquele tempo de vulnerabilidade, ele precisou de muitos


cuidados, mas, antes de tudo, precisou tomar a decisão de cuidar
de si mesmo. Caso contrário não teria sobrevivido a uma depres-
são profunda.
Mas ainda havia um medo que não facilitava este encontro.
Ao recordar fatos da família sobre falência, ele pode narrar a morte
de um tio, após ter passado pela mesma situação.
Com o trabalho, ele pode se desidentificar deste episódio
que o fez sofrer quando ainda era criança, por um grande apego
ao tio, e compreender que uma parte de sua alma teria sofrido a
mesma situação por amor ao tio.
Telma pode assistir ao trabalho, aliviando, também, seus
medos, e novos passos foram dados. Agora, é hora de incluir os
filhos que se posicionavam contra o retorno do casamento.
Os pais mobilizaram os filhos que, ao longo desses quatro
anos, criaram diversos tipos de aliança para mantê-los no medo do
encontro e, dessa forma, apagar a dor do passado.
Mas o amor pediu para retornar e, para isso, era necessário
um novo olhar para este momento do passado. Ao ajudá-los neste
contexto, após as conquistas dos pais durante os anos de separação,
um novo momento de união poderia se apresentar. E esta oportuni-
dade não deveria se perder, mesmo que em outros momentos eles
escolham estar novamente “separados”.
Dentre as possibilidades está a da liberdade de ir e vir sem,
necessariamente, precisarem ser mantidos pactos rígidos de perma-
nência da união. Isso nos mostra sempre o bom encontro.

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Reconhecendo as diversas constelações


Dentro de cada um de nós existe uma complexidade de
constelações que se aninham dentro das constelações de quem
passa por nosso caminho.
As constelações em sua complexidade, unidas, são todos os
movimentos acontecendo em um único instante.
No entanto, serão fragmentadas para que possamos compre-
endê-las em suas nuances e, momento a momento, iremos integran-
do-as através das práticas e experiências compartilhadas.
Já antecipamos e, agora, aprofundaremos melhor as diver-
sas constelações em nossas vidas.
Constelação Horizontal – Revela as crenças que nos aprisi-
onam e nos impedem de seguir em frente. São constelações que
nos fazem encontrar o nosso verdadeiro lugar dentro da família,
liberando dores do passado e nos libertando para a vida espiritual,
isto é, a constelação vertical.
Nesta constelação existe o passado, o presente e o futuro,
que são projeções das crenças passadas sobre o futuro. Neste ca-
so, quando mudamos uma crença do passado, automaticamente
nos libertamos do nosso futuro interno.
Constelação Vertical - Revela nossa verdadeira essência,
sem tempo nem espaço e, com essa experiência, são revelados
nossos dons, expansões, aceitação e experiência direta com o di-
vino em movimento, que não cessa nunca.
Nesta constelação, o movimento é atemporal, isto é, mui-
tas energias desperdiçadas são bloqueios energéticos que são li-
berados, sem necessariamente distinguirmos sua origem.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Constelação Sistêmica - É a união das constelações hori-


zontal e vertical, em movimentos contínuos e simultâneos, onde,
em um momento trabalhamos o cliente em suas crenças conscien-
tes e inconscientes, que o aprisionam e, em outro movimento, na
vertical, quando o cliente experiencia a força maior, isto é, o sis-
tema maior que nos preenche nesta vida, o amor do céu na terra.
Constelar é unir as partes para sentir o silêncio e a paz do To-
do dentro de nós. O Todo silencioso que é a soma das partes.
É deixar o passado em Paz e viver as conexões de amor, agora.

Família interna - liberando-se das crenças e valores

O trabalho das constelações traz a possibilidade de ampliar


nosso nível de percepção sobre a dor. Ficamos prisioneiros dessas
imagens, que muitas vezes são inconscientes, mas que nos geram
sofrimentos desnecessários. A dor de um passado familiar/social
existente em nossa memória faz, muitas vezes, perdermos a confi-
ança no momento presente, onde já não fazem mais sentido os
antigos padrões.
Os fatos que nossa família/sociedade viveu, funcionam pa-
ra nós, neste momento, como uma paisagem, sem seus detalhes
essenciais, mas que, com eles, mudaria quase que completamen-
te. Construímos ao longo de nossa história e de nossa família/ so-
ciedade, imagens ou paisagens emaranhadas, confusas, e externa-
lizamos essas imagens em nosso cotidiano de convivência.
O trabalho das constelações reconhece os fatos, mas ao
expressar a nossa imagem interna sobre o fato, o cliente pode
perceber as novas imagens desta mesma paisagem que jamais

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havia conectado, vivenciando os detalhes que antes não estavam


no seu quadro de vida.
O efeito deste novo movimento é compreendido de manei-
ra clara pelo cliente, que naturalmente reencontra dentro de si
sua própria verdade, sem continuar sendo alimentado por dores
do passado.
Quanto maior a abertura para esta compreensão dos deta-
lhes da paisagem, mais abertura teremos para funcionar em nossa
força amorosa, nos libertando de antigos pensamentos que antes
nos aprisionavam.
Bert Hellinger, em seu livro O amor do espírito, fala da exis-
tência de três consciências. Aproveito para apresentar minhas
próprias compreensões da atuação dos diversos tipos de consci-
ência (individual, coletiva e espiritual) em nossas vidas e na de
nossos antepassados.

Consciência individual

É estar a serviço de um vínculo num grupo limitado. Os que


não pertencem a este grupo são excluídos. Isso é importante para
nossa sobrevivência. Quando crianças, aprendemos padrões que
nos possibilitam permanecer na vida. Padrões esses que, muitas
vezes, criam emoções negativas de proteção.
Crescemos e esses padrões ficam em nossa memória iden-
tificados nos novos passos realizados, onde a ameaça pode estar
presente. Desconectamo-nos de nossa força e de aprendizados
conquistados ao longo do tempo, e retornamos a emoções infantis
cada vez que somos colocados em xeque. É essa consciência que
nos protege e nos aprisiona. Ela age por si só.

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Consciência coletiva

Vai além da consciência individual, pois também ama aque-


les que foram rejeitados e excluídos dentro da família e de grupos
similares. A consciência coletiva quer trazer de volta os excluídos,
para que possam ser reconhecidos e amados novamente. Neste
caso, podemos adquirir dores emocionais, sintomas e vícios que
pertenceram ao passado de exclusões desta memória familiar. Na
Terapia Sistêmica isso é nomeado por “repetições transgeracio-
nais”. O sistema força um inocente a tomar o lugar de um excluído
pelo sistema ancestral.

Consciência espiritual

A Consciência espiritual nos leva além dos limites. As pes-


soas se dedicam igualmente a todos. Superam diferenciações en-
tre maior e menor, bem e mal. Amor sem fronteiras.

Como atuam as diversas consciências em nós

Essas diversas consciências atuam em nós simultaneamente,


e quando não alinhadas nos fazem sofrer e até adoecer. Muitas prá-
ticas de consciências desalinhadas podem ser relatadas.
Geralmente, quando nossos pensamentos são estimulados
por crenças aprendidas e também repassadas em nossa linhagem
ancestral e, por consequência não atuamos no propósito da força do
momento presente, nosso corpo dá sinais claros de desalinhamento.
Nossa consciência espiritual solicita ações que nos juntem a
todos, e nossa consciência coletiva e individual entram em conflito

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com nossa força. Como um carro de bois sendo puxado simultane-


amente por dois animais que querem sentidos diferentes.
O corpo seria o próprio carro, tomando o exemplo narrado.
Como suporte desses dois comandos, sofre sérias consequências,
podendo perder seu próprio propósito de vida que, no tempo linear,
estará sempre promovendo a expansão do amor.
Retornando ao nosso caso, e trazendo esta compreensão
para as diversas consciências que atuam simultaneamente, o so-
frimento fica instalado no próprio corpo. Sabemos que a doença é
decorrente de conflitos entre nossa essência, quem somos e o que
acreditamos que somos: nossas crenças e valores herdados.
Márcia chegou para uma sessão em consultório com uma
dor enorme: seu marido a teria traído e, posteriormente, pedido
para se separar. Quem trabalha em consultório sabe que este é
um motivo que traz várias mulheres /homens a dores profundas,
inclusive a dor de perder a razão de existir.
Sempre me questionei sobre esta dor tão intensa que surge
ao perdemos alguém querido, por morte ou separação – quando
muitos perdem a razão de existir, no meio de uma existência tão
diversificada, e que nos daria motivos para o ancoramento na vida
(amigos, trabalho, espiritualidade, conexão com a natureza, etc.).
No caso Márcia, sua mãe passou a vida sofrendo traições e
congelou seu amor, produzindo uma série de conflitos com o marido,
o pai de Márcia. Ela cresce com esses conflitos sem perceber o amor
que os mantêm juntos.
Em alguns momentos, Márcia tinha muita raiva da mãe por
não tratar bem seu pai. Por outro lado, tinha muita raiva do pai,

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por estar ausente da criação dos filhos, já que viajava muito tra-
zendo insegurança para mãe e filhos.
Márcia casou-se, teve filhos, e o marido também a traiu e
pediu a separação. Para esta filha que recebeu o recado da mãe,
que só estava com o marido para preservar a família, foi muito
difícil passar pela dor da separação, mesmo que a relação não fos-
se satisfatória. Ela quis preservar a família, conforme o aprendido
com sua mãe. Permanecer mesmo na dor e no sofrimento.
Quando Márcia pode ver que ela estava reproduzindo as
várias gerações de mulheres que abriram mão da vida para man-
terem-se casadas, enfim, ela pode iniciar sua expansão diante da
vida – grupos começaram a chegar, novos trabalhos e um olhar
mais amoroso para seus filhos.
O mais incrível é que tudo isso só foi possível porque Már-
cia saiu da frustração que foi gerada por uma expectativa de ca-
samento para toda a vida, e aceitou o seu amor por aquele ho-
mem, mas também a realidade de não mais tê-lo.
O próximo passo foi aprofundar a própria traição, quando
ainda estava casada, o que acontece com muitas mulheres que
transferem todo o amor do cuidado para seus homens. E, quando
eles se vão, elas entram na dor de terem sido traídas por elas pró-
prias, em suas vidas.
Mais tarde, ela pode acessar que sua mãe teve um primeiro
amor, falecido em consequência de um grave acidente. E o mais sur-
preendente é que ele tinha o mesmo nome e profissão do marido de
Márcia. Ela estava honrando a mãe nesta separação.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Penso que foi a grande liberação de um passado que a


pressionava. Hoje, já em um novo relacionamento, ela se vê no
aprofundamento do amor.
Em outro momento, Fernanda, vindo de uma cidade vizi-
nha, chegou à sessão 30 minutos atrasada. Só tínhamos mais 30
minutos para que ela pudesse compreender a raiz de sua dor, e se
reencontrar dentro dela mesma. Passou dez minutos vomitando
as raivas que transferia para o marido, e suas traições.
Tomei duas cadeiras e fiz com que ela sentasse em uma de-
las, colocando a outra à sua frente: - Você tem 20 minutos para falar
para você mesma, o quanto se traiu nesses 33 anos ou mais de casa-
da. Ela riu e, como tinha pouco tempo, encorajou-se a falar de tudo
que abriu mão em sua própria vida por amor ao marido, encontran-
do dentro dela todos os movimentos interrompidos por amor a este
homem.
Olhamo-nos mutuamente, e ela pode clarear a raiva que
tinha dela mesma, mas que estava sendo transferida para o mari-
do, fato que se transformava em perda de vitalidade. Depois de
um tempo ela retornou e falou da mudança que ocorreu em sua
vida e da aproximação com o marido. A raiva consciente é expan-
dida em amor.
Esses exemplos são claros, de como nossas crenças e valo-
res criam impedimentos para sermos felizes.

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Compreendendo a dinâmica dos sistemas

Ao compreendermos as consciências que atuam sobre nos-


sos corpos, mente e alma, e buscando as lembranças vistas no
capítulo 1, sobre visão sistêmica, complementaremos dando novas
imagens das dinâmicas dos sistemas.

Atuação dos campos ancestrais

A luz apagada no passado de nossas famílias permanece


apagada em nosso próprio corpo. Acendê-la nestes pontos de dor
é dar luz a todo passado e futuro da humanidade, aqui e agora.
O que falamos sobre luz apagada são bloqueios no fluxo de
energia em nosso corpo e também em nossos movimentos diante
da vida, dos quais trataremos, com mais detalhes, no capítulo so-
bre corpo sistêmico.
No entanto, tentaremos neste capítulo, fornecer informa-
ções ao leitor sobre os chamados bloqueios energéticos, e de co-
mo foram necessários como proteção de nossos ancestrais para
estarmos aqui, agora, em corpo físico.
Detalharemos, através de casos de clientes, que toda dor é um
ato de amor para permanecermos vivos nesta caminhada.
Com isso, iremos constatar que tudo está certo e obedecendo
a uma ordem maior que quer se revelar dentro e fora de nós. So-
mente assim, poderemos apaziguar nossos corações, ainda em con-
flito com o nosso passado, observando que tudo isso é o amor que-
rendo juntar os dois movimentos que se expressam.

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Compreenderemos melhor ao trazer alguns conceitos bási-


cos sobre os campos morfogenéticos, estudados pelo biólogo Ru-
pert Sheldrake, traduzido para a visão das Constelações familiares.

Campos morfogenéticos

“Essa teoria trata de sistemas naturais auto-


organizados e a origem das formas. E eu assu-
mo que a causa das formas é a influência de
campos organizacionais, campos formativos
que chamo de ‘campos mórficos’.
A característica principal é que a forma das so-
ciedades, ideias, cristais e moléculas dependem
do modo em que tipos semelhantes foram or-
ganizados no passado.
Há uma espécie de memória integrada nos
campos mórficos de cada coisa organizada. Eu
concebo as regularidades da natureza como
hábitos, mais que por coisas governadas por
leis matemáticas eternas, que existem de al-
gum modo fora da natureza” (Rupert Shel-
drake, 1981)
Morfo vem da palavra grega morphe, que sig-
nifica forma; genética vem de genesis, que sig-
nifica origem. Os campos morfogenéticos são
os campos que revelam nossas origens.

Podemos confirmar o que disse Sheldrake, ao atuarmos nos


campos da Constelação, tanto com representantes quanto com os

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mais diversos objetos que nos ajudam em consultório: papeis, al-


mofadas, bonecos, etc. Na minha prática utilizo as cadeiras.
Independentemente da forma que escolhemos para traba-
lhar, sempre há um mesmo sentido: obter do cliente ou constela-
do as imagens internas que estão em seu inconsciente, e externa-
lizá-las com representantes ou objetos, formando uma imagem
espacial.
Ao sentarmos nas cadeiras, acessamos o campo morfoge-
nético ou campo de memória ancestral do cliente, que nos conduz
à revelação do que antes estava oculto à luz de sua consciência.
Para isso, ao longo do processo, novas cadeiras/representantes
vão sendo incluídos e, naturalmente, essas pessoas/objetos solici-
tam mudanças, buscando sempre um lugar de mais harmonia den-
tro do sistema.
Ao longo da leitura deste livro, muitos casos serão explicados
para que o leitor compreenda mais profundamente a abordagem.
É claro que, para se encontrar o que necessita ser revelado
para o constelado, o facilitador deve ter desenvolvido todos os ca-
nais de percepção para compreender em seu corpo e sentidos o
que o campo instalado pelo cliente quer expressar. Para isso preci-
samos entrar em ressonância com o campo criado pelo constelado.

Campos de Ressonância

Como já é sabido a respeito das interferências de nossos


ancestrais em nossa vida, hoje, iremos explicar como este campo
de memória atua, atraindo situações, aparentemente diferentes,

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mas com consequências muito próximas, ou, às vezes, similar ao


acontecido no passado.
Os campos de ressonância, estudados pela física, nos escla-
rece o que experienciamos no cotidiano.
Somos capazes de mudanças imensas de bem-estar, ao sa-
irmos de um lugar agitado e/ou barulhento e entrarmos num am-
biente de silêncio e paz.
Não compreendemos, às vezes, o fato de pensarmos em
uma pessoa, ela entrar em contato conosco ou a encontramos
eventualmente em lugares jamais imaginados.
Ao observar esses campos, Sheldrake percebeu que um
animal doméstico sente o momento que seu dono saiu de um lu-
gar para retornar à casa. Ele apresenta alegria e o aguarda com
ansiedade.
Esses campos que interagem conosco e permitem a nossa
interferência são chamados campos de ressonância.
Nas Constelações podemos ver campos se atraindo por
amor (afinidades) ou pela dor (conflitos), traduzindo pontos viven-
ciados de amor ou de dor por nossos ancestrais, que buscam, nes-
ses encontros, a revelação através do amor.
Um homem é capaz de atrair para seu campo uma mulher que
lhe traga as memórias de dores de seus ancestrais. Muitas vezes, este
casal vai se perguntar por que permanece neste campo de dor.
No entanto, esta é a oportunidade de curar feridas antigas
que, através da aceitação, isto é, de uma atitude passiva, pode se
revelar e vir à luz o verdadeiro amor que nossas almas buscam
para encontrar a paz.

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Para essas compreensões precisamos nos aprofundar na


força que têm os pensamentos ancestrais, em nós, e em como
ficar atentos para a mudança de nossos padrões de interações,
como observamos nas curvas apresentadas no capítulo 1, e que
traduziremos pelos exemplos a seguir.

Redoma familiar e sua importância na sobrevivên-


cia da família
Sistema familiar fechado – pouco interativo

Facilidade em interagir apenas com sistemas familiares seme-


lhantes (submisso em manter o sistema em suas tradições). Temos
como exemplo sistemas de raças, culturas e religiões.

Sistema com membros reativos

São membros que rompem a redoma de sobrevivência,


trazem novas possibilidades para o sistema, mas com o custo do
seu isolamento e da falta de proteção pela ancestralidade.
Esses sistemas acontecem por três motivos:

1. Os que querem compensar membros excluídos ou


não reconhecidos que morreram, muitas vezes precocemente, co-
mo no caso de abortos e acidentes graves, dizem: “eu sigo você”.
2. Os que querem conhecer novos sistemas e retornar
para a família novos movimentos são chamados “rebeldes”. São

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membros familiares que abrem mão de seu “conforto” e vão para o


mundo buscar o novo para retroalimentar ou oxigenar sua família.
3. Os que querem compensar antepassados que deixa-
ram interrompidos alguns movimentos com sua família (europeus que
tiveram que deixar suas comunidades de destino e seus descendentes;
pai ou mãe, que não tiveram seus filhos reconhecidos; mulheres mal-
tratadas), tendem a adotar dores, solicitando à família dar-lhes o lugar
de honra, através do pertencimento.

Sistema em expansão – Tornando-se UNO

Os sistemas que se expandem no fluxo da vida.


Quando uma família está em harmonia, no amor e em li-
berdade, ela se move com o fluxo da vida, expande seu campo de
visão para novas possibilidades, incluindo as culturas e religiões
diversas. Percebendo a vida em sua diversidade e usufruindo dela.
Expandir é seguir em frente conectado com o fluxo maior da vida.
Unindo corpo, mente e espírito, ausente de conflito e sofrimento.
Todo sistema se retroalimenta do novo, atemporalmente.

Bolhas que nos aprisionam

Bolhas representam a ideia que define nossas prisões nos


campos de memória ancestral e pessoal. Muitos de nossos pen-
samentos, emoções, sentimentos e sintomas relacionais e físicos,
estão ligados à memória que trazemos de nossos ancestrais. Lem-
brando o pensamento Taoísta: quando respiramos trazemos à

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memória a existência universal, e quando expiramos levamos um


pouco de nós para essa memória.
Nesta ideia, definiremos abaixo por que se manifestam bo-
lhas invisíveis nos impossibilitando de sermos livres para uma co-
nexão maior com o movimento da vida que, como um rio, muda a
cada instante.

Primeira bolha

Quando nascemos, estamos totalmente disponíveis para


amar incondicionalmente, entregues e vulneráveis. Não pensamos
em vida e morte e vivemos com nossos instintos.
Nesta entrega tem início a nossa dependência, porque pre-
cisamos de alguém que cuide de nós. Dessa forma, ficamos susce-
tíveis a absorver todas as informações de nossos cuidadores, para
nos mantermos vivos. Com isso, absorvemos todos os movimentos
sem julgar.
Essas impressões ficam guardadas em nossa memória e,
mais tarde, iremos atuar com base nesses aprendizados. Essas são
memórias de sobrevivência, que se refletem em nossa consciência
pessoal.
Está formada a primeira bolha: a luta pela sobrevivência, que
muitos processos terapêuticos chamam de “a criança ferida” – saí-
mos de nosso estado de total entrega e adquirimos uma separativi-
dade para existir. Assim formamos nosso EGO e nos fortalecemos
neste mundo de lutas. Quem for mais capaz e forte, sobreviverá.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Segunda bolha

Chegamos a um mundo a partir de nosso nascimento, que


tem memórias de um tempo maior, um tempo que contém todo o
tempo da humanidade, toda sua história; suas conquistas e tam-
bém suas dores. Um “mundo” com sua própria consciência pesso-
al de sobrevivência.
Memórias vividas por nossos antepassados, e interligadas
com todas as outras possibilidades de vida, nos movem como força
para novos movimentos adiante, mas também nos aprisionam atra-
vés de movimentos raciais, culturais, religiosos e de procura por terri-
tório, que buscaram a sobrevivência através dos conflitos.
Essas imagens, por vezes tão antigas, ainda vibram em nosso
corpo trazendo velhos medos e levando todos nós a repetir os mes-
mos erros, achando ainda, penso eu, que com esses velhos padrões
permaneceremos “vivos”, isto é, sobreviveremos.
Nesta bolha, somos capazes de lutar e matar pela Pátria
(território); fazemos guerras por nossos deuses e também excluí-
mos todos aqueles que não compreendem nossos valores e cren-
ças (conflitos raciais, culturais, etc).
Neste movimento, que parece ser maior que nós, porque
exerce o conflito de traição e culpa em detrimento de uma ino-
cência, está a origem de muitos de nossos sofrimentos.
Nesta bolha somos deserdados, deixamos de pertencer ao
sistema primordial, caso venha um ímpeto de ir além desses valo-
res impostos, também deixando outros, na submissão e na repeti-
ção, atitudes que já não são mais necessárias.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Os que querem fazer diferente são rotulados como rebeldes e


arrogantes, e são excluídos. Isso quer dizer: são proibidos de serem
amados pelos inocentes que mantêm a tradição.
Podemos entender que muitos conflitos que vêm através
de sintomas relacionais ou físicos, são provenientes de uma rigidez
dos membros de uma família/nação/religião, para manter valores
antigos.
Os sintomas apresentados no corpo físico, veremos com
mais detalhes no capítulo que trataremos o corpo sistêmico – que
avisa a rigidez deste membro através de doenças como artrose,
cistos e tumores, dando recados a este sistema sobre a rigidez e
apego desses indivíduos.
Por outro lado, a sensibilidade com a dor das exclusões le-
va algumas pessoas aos sintomas de muita flexibilidade, como:
depressão, hemofilia, perdas financeiras, etc.
Ao compreendermos as razões que nos causam prisões, e ao
percebermos que foi necessário aquele padrão de interação para
alguns de nossos ancestrais, isso nos dá a possibilidade de alargar
nossa compreensão, libertando-nos deste passado e nos conduzindo
ao encontro do amor maior que tudo inclui, se expande e continua
seguindo o caminho do rio, realizando as transformações necessárias
a cada obstáculo encontrado.

Terceira bolha

Esta bolha é um caminho que não depende de nós, mas de


uma força maior que nos conduz à renovação contínua, através do
movimento de contração e expansão que acontecerá em nossas

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

vidas, para que possamos encontrar a paz e unir tudo que ao lon-
go do tempo ficou fragmentado dentro de nós, por sermos partes
que não compreendem o mistério do todo, e talvez nunca com-
preendamos, só nos restando, viver.
Esta é a bolha ilimitada, elástica, que cabe todos nós – pas-
sado, presente e futuro em uma só compreensão de que estamos
juntos na continuidade e na consciência da vida.
Ana, uma jovem de 25 anos, apresenta dificuldades em
conquistar sua autonomia financeira, e vive o conflito entre fazer
concurso (segurança financeira) ou entrar no mundo acadêmico
(ideal).
Em sua constelação colocamos, não só essas duas opções,
mas também abrimos a possibilidade de um novo movimento que
pudesse libertá-la do conflito apresentado.
Apesar do concurso se posicionar distante, ela se mostrava
disponível até que pudesse olhar para as outras partes.
Estava claro que o novo queria estar junto a ela, e que a aca-
demia a aguardava numa posição de também poder se retirar.
Aos poucos, a energia foi-se revelando e nos mostrando
que ali estavam também ligados seu pai e sua mãe, através de um
pacto interno feito com a mãe, que também não conseguiu sua
autonomia financeira, razão dos conflitos com o pai. Daí o concur-
so ser a melhor maneira de conseguir a autonomia, mesmo que
não fosse seu sonho.
Por outro lado, o pai olhava com amor a academia, com-
provando que sua escolha pelo concurso público seria a garantia
de uma boa sobrevivência.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Perguntei a Ana se o olhar do pai fazia sentido, e ela me rela-


tou que, ainda cedo, ele havia sido professor, mas depois decidiu
seguir a carreira de juiz, que era o plano dela, também.
Mas ela estava tão aprisionada na bolha da sobrevivência,
que não pode perceber que na academia também ela poderia rea-
lizar um concurso e obter sua autonomia. E o novo pode se apre-
sentar como sua sensibilidade e busca por um trabalho que olhas-
se diretamente para as mudanças necessárias da humanidade.
Neste exemplo podemos ver a força da hierarquia ances-
tral em nossas vidas. Quem veio antes tem sempre precedência
sobre nós, como uma maneira inconsciente de agradecermos à
vida, muitas vezes, nos impedindo de seguir o próprio fluxo.
Abaixo, trataremos dessas hierarquias para que o leitor
possa compreender que nossa convivência está a mercê de uma
ordem energética.

Hierarquia ancestral

Hierarquia do tempo – Quem veio antes tem precedência,


por ser a peça que possibilita à energia o contínuo fluir. Se hoje
cessarmos a criação, por uma decisão de parar o fluxo da vida,
fatalmente teremos que iniciar o processo de evolução, novamen-
te. Honrar os que vieram antes de nós é o agradecimento por eles
terem escolhido continuar com a evolução humana.
Por isso, a importância de darmos essa continuidade para
nos sentirmos plenos, porque essa é a maneira que temos de
agradecer o esforço de outros.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Hierarquia da experiência – Num mesmo tempo, várias ex-


pressões de vida acontecem simultaneamente, e algumas se tornam
mais conscientes, antes que outras. A sabedoria dos mestres e os
conhecimentos repassados fazem parte deste fluxo de trocas, que
também merecem ser honrados, por nos ajudar a saltos quânticos.
Essas pessoas atuam como catalizadores para acelerar pro-
cessos de tomada de consciência em algum grupo. Todos nós somos
esses agentes em algum lugar, mas poderíamos exemplificar isso
através de personagens que transformaram olhares ao longo da his-
tória da humanidade. Poderíamos citar o Buda, o mestre Jesus, o Lao
Tsé, mestre Taoísta do qual bebo na fonte, hoje, entre outros.
Em um contexto mais próximo, poderemos citar nossos
professores, nossos pais, os mais velhos, que têm a experiência de
vida ainda bem presentes.
E assim migram o tempo e as experiências em um fluxo
constante de honras e aprendizados, nos dando força e amor para
seguir em frente em nossas buscas. Tomamos o que tem de bom
dessas experiências passadas e seguimos adiante, em um movi-
mento continuo de evolução.

Função dos antepassados: transmitir a vida em sua essên-


cia, para seguir adiante sem a necessidade de ficarmos presos à
memória do passado, tendo apenas que reconhecê-la e honrá-la.
Manuel estava com muitos sintomas energéticos na primeira
vez em que nos procurou para abrir uma constelação. Trabalhava
com foco nas tradições indígenas, muito expandida no Brasil neste
momento, e tinha um grupo grande que o seguia.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Ao abrir sua constelação oculta, porque ele necessitava


tratar a sua relação com o filho, rapidamente se apresentou a difi-
culdade com o pai, que era de origem italiana.
Ele não, apenas, apresentava dificuldades com o filho, mas
também com o dinheiro, que nunca chegou de maneira tranquila
para sua família. Sua mulher, que era a administradora das contas,
já estava cansada e com muitos sintomas físicos, também.
Aos poucos, pudemos clarear sua dificuldade em perceber
que ele honrava sua avó indígena e excluía sua parte europeia,
que vinha da família do pai.
Sabemos que, no Brasil, por termos mistura de raças com cul-
turas diversas, como é o caso dos negros, brancos e índios, muitos
desses conflitos, que foram instalados na origem do país, ainda estão
intensificados dentro de cada um de nós.
Vi em muitas constelações essas lutas culturais. Assistir pes-
soas escolhendo a raça que mais se afinava por uma relação mais
próxima com esses antepassados, em detrimento de um distancia-
mento da outra origem, que muitas vezes era alienação paterna.
Assistir brancos se considerando negros e negros excluindo
sua parte branca, sintomatizando aquele poder que só a outra
raça poderia lhes dar. Este foi o caso de Manuel, que não sabia
lidar com dinheiro, que é um conceito do homem branco, acredi-
tando que deveria viver como seus antepassados, em conexão
com a natureza, sendo provido por ela.
Mas o dinheiro ou a falta dele estava sempre batendo à
sua porta, como forma de honrar esses antepassados, ou mesmo,
o próprio pai.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Entregar-se ao destino, aceitando, acolhendo os destinos que


vieram antes de nós, é nos fortalecermos para seguir em frente em
nossa própria vida, aceitando, também, o destino que nos cabe, que
fatalmente é diferente do destino dos nossos pais.

Ordens do amor nas constelações


1. Equilíbrio – Numa relação é importante que haja o equilíbrio
do dar, receber e retribuir, para termos a expansão/amor das
relações. Quando esta ordem é quebrada, a tendência é a re-
lação acontecer movida pelo equilíbrio de contração e dor.

2. Pertencimento - Todos os membros da família têm direito a


um lugar. Quando alguém é excluído por algum motivo, mes-
mo em gerações anteriores, os seus descendentes tendem a
lembrar a existência deste membro, seja repetindo seu padrão
ou gerando outros sintomas que possam lembrar a dor por to-
dos os descendentes.

3. Segurança – A segurança vem de nossos pais. Se algo acontece


com um deles, ficamos sem os pés firmes no chão para poder
caminhar. Muitas vezes, a insegurança é gerada por imagens
internas que o homem faz da mulher e a mulher faz do ho-
mem, transferindo-se o sintoma para os pais das crianças.

Katia morava no interior de Pernambuco e era de origem


humilde. Sua filha, com 30 anos, tinha depressão e havia sido levada,
pela mãe, a médicos e vários centros de cura, comuns no Nordeste
do Brasil, por sua influência indígena e negra, muito fortes.

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Ao chegar a um grupo de final de semana, indicada por


uma amiga acupunturista, que a atendia, comentou sobre a aflição
em ajudar a filha, sendo encaminhada até meu consultório.
Pedi para que colocasse a constelação, isto é, que se posicio-
nasse através de representantes: sua filha e o sintoma apresentado.
O campo assim foi formado e se mostrava congelado, apa-
rentando um segredo. Pedi para que outro representante entras-
se, representado a mãe, e logo o sintoma se retraiu, com medo de
que algo fosse revelado.
Desta forma, ficou claro que o segredo estava com a mãe
da cliente em depressão. Fui carinhosamente até ela e falando ao
seu ouvido, perguntei se deveria continuar a constelação, porque
via que ela guardava um segredo. Neste momento, Katia estica o
corpo, fecha os olhos e grita como uma criança em estado de his-
teria. Coloquei a mão em seu peito e falei ao seu ouvido, quão boa
mãe ela era, até que pudesse se acalmar; que centrasse novamen-
te o olhar para a filha revelando o segredo – quem era seu verda-
deiro pai (um antigo patrão de Katia, casado). Até aquele dia, o
segredo havia sido guardado e a moça apresentava o sintoma,
avisando à mãe que ela não poderia pertencer, ou mesmo existir,
caso não soubesse quem era seu pai, em uma atitude da alma
maior, que pede para amar quem nos deu a vida.
Quando esses pais não estão equilibrados internamente
em nós, as ordens do amor não se cumprem, nos causando inse-
gurança, estranheza no lugar na vida e desequilíbrio em nosso
feminino e masculino internos, interferindo em nossa força e em
nosso amor.

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Capítulo 3

Corpo Sistêmico – uma memória viva

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“O interior mais profundo é chamado alma, o


mais exterior é chamado corpo, e justamente
entre os dois está a psique, a mente”. OSHO

Corpo Sistêmico

“O seu corpo não pode ser persuadido a fazer


algo, a menos que sua mente esteja disposta a
fazê-lo. Até mesmo se uma doença entrar no
seu corpo entrará por intermédio da mente.
Tudo que acontece, acontece por intermédio da
mente”. OSHO

Dirigir nossa atenção para o nosso corpo interior, onde o


SER pode ser percebido, é uma prática antiga dos meditadores.
Segundo os praticantes – e sou um deles –, o sofrimento tem vida
curta, por não nos identificarmos com a memória que chega ao
nosso corpo quando os diversos pensamentos acontecem.
Este é o começo da jornada interior que nos leva ao nosso
verdadeiro lugar, talvez, o lugar que sempre tivemos nesta vida,
para onde as intoxicações mentais, culturais e sociais nos desloca-
ram. O começo de uma percepção de que nós não somos, apenas,
fragmento sem sentido em um universo estranho, mas sim que
estamos em conexão com algo maior, que não podemos entender
como uma parte deste processo em movimento.
Este capítulo será dedicado às experiências realizadas com
as constelações, mostrando a fenomenologia à qual se dedicou
Bert Hellinger, unindo conhecimentos dos mestres Taoístas, re-

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

passadas pelo mestre Mantak Chia que, com suas práticas, conec-
ta o Céu com a Terra através de nossos corpos e suas interligações
com tudo que é vivo.
Neste olhar amplo, podemos, através de diversas vivências,
perceber que nosso corpo é um sistema complexo em total inter-
dependência, e atemporal em memória. Quando estamos presen-
tes nele, observando seus movimentos, podemos compreender a
interferência de tudo e de todos, em especial os relacionamentos
mais próximos, em nosso bem-estar e, também, o seu funciona-
mento interferindo no ambiente.
Dedicamos este capítulo à melhor compreensão dos sintomas
fornecidos pelo nosso corpo, como avisos de nossa consciência indi-
vidual, coletiva e até espiritual. Em muitas situações percebemos que
amamos nossos ancestrais, mesmo que não os tenhamos conhecido,
e somos capazes de repetir sintomas ou buscarmos a morte para que
eles sejam reconhecidos pelo sistema familiar.
Também ampliaremos para o campo maior de entendimento,
como as destruições do nosso planeta alteram nosso corpo físico e,
por consequência, geram doenças desnecessárias.
Talvez compreendendo essa interconexão e ampliando o po-
der de observação e conexão com o nosso corpo, poderemos preve-
nir muitas doenças, assim como também evitar conflitos externos
que se apresentam em nossas relações e, quem sabe, reconhecer-
mos nossa essência harmônica e saudável.

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Corpo sistêmico – ponte entre o céu e a terra

Todo manancial de energia deveria fluir em nosso corpo,


como um rio que corre para o mar. Temos esses rios principais,
que se apresentam nas bases da acupuntura e seus efluentes, que
são chamados de meridianos.
Ao instalarmos padrões de comportamentos rígidos deri-
vados de crenças estabelecidas por nós e nossos ancestrais para,
muitas vezes, mantermos a sobrevivência da espécie, criamos blo-
queios nesses fluxos de energia, impedindo assim que o nosso rio
de energia divina ou CHI, cumpra seu trajeto natural, que é unir o
céu com a terra.
Mergulhar profundamente em nosso corpo, preparando-o
para possibilitar o fluir deste rio da vida é nosso objetivo.
Ao falarmos com tanta simplicidade dessas proteções invi-
síveis que, ao logo da história do planeta, foram formando coura-
ças energéticas, tentaremos detalhar o que nos impede de permi-
tir o fluxo retomar o seu caminho. O Caminho do TAO.
Sabemos que a mente é a guardiã de nossa memória e,
com isso, ela propõe conflitos entre o velho (ou antigos padrões),
e o novo.
Por isso, é a nossa mente que nos adoece com seus conflitos.
Ela cria situações para que emoções se acendam provocando as
áreas que, em nosso sistema físico, estão sem energia.
Os bloqueios são proteções que foram necessárias para a
sobrevivência de nossos antepassados e, consequentemente, nos-
sa própria sobrevivência. Estão baseadas em medos, e trazem co-

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mo consequência áreas desenergizadas ou não oxigenadas, adoe-


cendo esses pontos sem vitalidade em nosso corpo.
Compreender a preciosidade que é o corpo e buscar o
oculto que está sempre se revelando através dos sintomas, é o
desafio.
Precisamos retornar à compreensão de que somos seres
saudáveis em movimento, ponte da energia divina que deseja an-
corar na terra, trazendo mais e mais consciência de quem nós so-
mos e, assim, podermos retornar ao rio da vida e seus constantes
movimentos.
Temos outro olhar sobre a doença, que não é nossa inimi-
ga, mas um aviso da alma da família/sociedade de que muitas de
nossas atitudes estão contra a correnteza da vida. Precisamos
compreender que elas foram necessárias no passado, mas que
não precisamos perpetuá-las em nosso corpo trazendo sintomas
físicos, muitas vezes irreversíveis.
O TAO nos sugere que, em conexão, podemos nos anteci-
par aos caminhos destrutivos que ainda escolhemos retraduzir em
prol da vida.
Por isso, não deveríamos rotular doenças e nem mesmo
entregar aos médicos a nossa cura. Precisamos receber os recados
inconscientes que o sintoma nos pede para enxergar e, assim, aju-
dar nos cuidados da cura.
Nas constelações observamos que muitos desses sintomas
pertencem a memórias instaladas em nosso corpo físico, e que em
sua maioria pertencem aos nossos ancestrais.
Mariana convivia, em sua infância, com pai alcoolista de fi-
nais de semana, e tinha que, muitas vezes, largar as brincadeiras

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para retornar com seu pai cambaleando para casa, em um esforço


maior do que podia. Literalmente carregando o peso do pai.
Com essa memória de salvadora, casou-se e vivenciou com
seu companheiro momentos bem difíceis em relação a anestési-
cos. Até essa memória de infância retornar para ela e assim poder
tomar o seu lugar de inocência de volta, Mariana sofreu crises de
ansiedade (medo que o companheiro morresse) e depressão (tris-
teza por não tê-lo olhando para ela, assim como seu pai).
Claro que não devemos responsabilizar o companheiro,
porque esta seria uma atitude de permanência do sintoma. Tam-
bém não alimentar culpas pelas escolhas dele, e sim, aprofundar o
recado que estava sendo dado, cobrando sua parcela de respon-
sabilidade.
No passado, ela deixou de brincar para assumir muitas res-
ponsabilidades. Agora, tinha o peso, de volta, sem conseguir to-
mar uma atitude por medo de perder o companheiro. Mas, o sin-
toma estava presente todas as vezes em que um movimento novo
acontecia.
Seu foco de atenção estava voltado totalmente para se li-
bertar do sintoma que a deixava tonta, com náuseas e vômitos
frequentes. Sintoma que também se repetia desde a infância.
Mariana estava bem, quando encontrou com um vizinho
(mestre) alcoolista. Neste dia, ele estava totalmente embriagado.
Também soube da notícia do falecimento de um amigo de infân-
cia, que tinha, também, o hábito de beber.
O universo conspirando com toda sua força de contração
para que Mariana pudesse mergulhar nesta dor que a acompa-
nhava há tanto tempo.

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Foi nos exercícios corporais, com a ajuda das respirações


profundas, que ela encontrou essa dor ou bloqueio energético.
Um choro congelado veio à tona e o sentimento de desproteção
também. Agora, já adulta, poderia olhar para sua criança e condu-
zi-la a vivenciar a explosão energética em seu corpo. Pode ver a
raiva contida, o medo do abandono, mas também seu grande
amor pelo pai em forma de energia em seu próprio corpo.
A criança de Mariana podendo absorver todas as virtudes
deste SER, antes mesmo de segurar esses “pesos”.
Outra cliente, Amanda, chegou para tratar um diagnóstico
de esclerose múltipla da irmã, que a autorizou a compreender o
sintoma apresentado.
Ao abrirmos a constelação, as imagens foram se formando
no campo apresentado, e vimos que na família de sua mãe, um
irmão teria morrido de um acidente, batido com a cabeça e faleci-
do ainda adolescente.
Como acontece nesses trabalhos, ao trazer aquele que preci-
sava ser reconhecido em seu destino, para retornar a fluir o amor,
Amanda recordou que, quando pequena, havia sofrido um acidente
de cavalo que quase a levou à morte, com uma pancada na cabeça.
Seu irmão, também, vivenciou situação similar.
Ao ficar adulta foi diagnosticada com aneurisma cerebral e,
por fim, sua irmã com esclerose múltipla, motivo que a levou ao
trabalho.
Essas, entre outras vivências, nos fizeram compreender que
os sintomas chegam para seus descendentes, muitas vezes vestidos
com roupagens diferentes, mas sintonizados com dores similares.
No caso de Amanda, todos os sintomas eram neurológicos.

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Esses sintomas também podem afetar nossas emoções.


Famílias com intensos medos vivendo em redomas, interagindo
pouco com o mundo, podem estar trazendo medos transgeracio-
nais que imobilizam ações e movimentos diante da vida.
Muitas vezes, desenvolvem o pânico, que é um medo sem
uma razão efetiva, e transtornos de ansiedade que representam
um profundo medo do futuro, ou a vida sem ser vivida no aqui e
agora, por ameaças constantes e invisíveis.
Para ajudar o leitor na identificação dos próprios sintomas
que, neste momento seu corpo está expressando, daremos introdu-
ções de conceitos Taoístas desenvolvidos há 2500 anos.

Observação do corpo - uma chave para mudança

Quando apresentamos algum sintoma no corpo, seja ele


emocional ou físico, significa uma desconexão por não nos enxer-
gamos, ainda, como parte de um Todo maior.
Já falamos, quando explicamos o trabalho das constelações,
que existe um alinhamento entre corpo, mente e alma, que nem
sempre acessamos, e que este alinhamento é o que nos traz a paz e a
saúde que tanto buscamos por meios externos.
Há mais de dois mil anos, os Taoístas já estabeleciam uma
ponte entre o corpo e tudo o que é vivo no universo. Através da me-
ditação, que trouxe a observação de como os agentes externos inter-
ferem em nosso corpo, foram desenvolvidos vários conhecimentos
que, até hoje, influenciam a medicina chinesa.
Neste capítulo, mostraremos como foram desenvolvidas as
Constelações do corpo interior, fazendo com que o leitor melhore

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o vínculo com o próprio corpo e, por consequência, com toda a


memória viva do planeta, compreendendo o que os antigos mes-
tres orientais experienciaram: o mundo está em nosso corpo.
Para isso, apresentamos noções básicas, diante da profun-
didade do conhecimento deste corpo Sistêmico, que os antigos
chineses detinham.

O mundo em nosso corpo


“É por meio da ocupação consciente do nosso
corpo, da capacidade de sentirmos plenamente
aquilo que somos, que poderemos despertar
para níveis mais elevados de inteligência”
(Dennis Lewis)

Em suas observações, os Taoístas perceberam mudanças


nas emoções quando havia mudanças climáticas. Olhar um lago
seria diferente de olhar para o fogo, montanha, vento. Escutar um
trovão, o barulho das ondas do mar ou mesmo de uma forte ven-
tania, alteravam nosso campo de percepção e nos geravam vários
tipos de emoção, que poderiam contrair ou expandir nosso corpo.
Quando atuantes, essas emoções também alteravam o
funcionamento dos órgãos vitais, e os diversos sistemas que en-
volvem o corpo humano.
Dentre essas emoções eles identificaram as cinco emoções
básicas negativas ou emoções que contraem o corpo. São elas:
raiva, ansiedade, medo, tristeza, preocupação.

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Identificaram, igualmente, as cinco emoções positivas,


aquelas que expandem o nosso corpo. São elas: amor, alegria,
serenidade, coragem, centramento.
Em suas observações, essas emoções se cristalizam em
nossos principais órgãos vitais, que são: fígado, coração, baço,
pulmões, rins.
Segundo eles, quando as emoções negativas não são supe-
radas no tempo certo, elas geram estresse e doenças físicas, emo-
cionais e psíquicas.
Diferentemente, quando as emoções positivas se instalam, o
corpo responde com uma grande sensação de bem-estar e prazer.
Nesses efeitos apresentados pelos Taoístas, podemos con-
siderar não apenas as influências das emoções em nosso corpo
físico, através do estresse a que somos submetidos ao longo da
vida, e que permanecemos por longo tempo estimulando dentro
de nosso corpo. São eles os efeitos da vida sobrecarregada pelo
estresse gerado pela nossa rigidez, perante os padrões separatis-
tas, dos quais falamos nos capítulos anteriores.
Para eles, a natureza constitui um todo interligado, demons-
trando que estamos em total conexão com tudo o que se passa no
universo. E que, por conseguinte, fazemos parte deste grande sis-
tema e sofremos, em todo momento, a sua interferência.
A tabela abaixo descreve a conexão dos seres humanos
com a natureza, e também a relação das emoções com cada órgão
do nosso corpo, positiva e negativamente.

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Tabela 1- A conexão da natureza interior e exterior

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Para compreendermos melhor a conexão do nosso corpo


com tudo o que é vivo, traremos imagens que possibilitaram a
compreensão desta conexão e que, para nós, intensifica a conclu-
são de que nosso corpo funciona trazendo as belas imagens que a
natureza, fora de nós, fornece.
Esta natureza externa traz ensinamentos pelos seus cinco
elementos que interagem entre si. São eles: o fogo, com a simbo-
logia do nosso sol; a água representada pelos rios, lagos, oceano,
a terra e sua nutrição; o metal e seus minerais e nossas florestas
nos fornecendo a madeira.
Estes elementos apresentados interagem entre si em dois
ciclos distintos: o ciclo de expansão ou criativo, e o ciclo de con-
tração que se repete na natureza e dentro de nosso corpo, como
já apresentado na tabela acima.
Como ciclos, eles se alimentam mutuamente e podem se apre-
sentar de maneira positiva, isto é: trazendo emoções para os órgãos
que expandem nosso corpo, o chamado de ciclo de expansão ou da
saúde. Quando não há uma boa cooperação desses órgãos por um
desequilíbrio interno, provocado por agentes externos, trazendo-nos
emoções negativas: o ciclo de contração da natureza.

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O ciclo de expansão da natureza

A madeira se queima para produzir o fogo; as


cinzas se decompõem infiltrando-se na terra e
minando os metais, que nascem na terra e, ao
serem fundidos, se transformam em água que
nutre árvores e plantas.
(Prática Taoísta)
No ciclo de expansão da natureza conectamos o amor que
nos alimenta com alegria e serenidade. Ele nos deixa em equilíbrio
para termos mais clareza em nossas ações, e mais coragem para ven-
cermos os desafios que a vida nos propõe, sabendo que somos ape-
nas parte desta vasta natureza, e que temos que trabalhar harmoni-
camente com o todo geral, do qual fazemos parte.
A saúde, enfim, nos beneficia com vitalidade para vivermos
com mais prazer este grande sistema, que é o planeta, e esses vários
subsistemas que são as organizações das quais fazemos parte, entre
elas família, trabalho, amigos e espiritualidade.

O ciclo de contração da natureza

A madeira é cortada pelo metal, o fogo é extin-


to pela água, a terra é penetrada pela madeira,
o metal é fundido pelo fogo e a água é obstruí-
da e contida pela terra.
(Prática Taoísta)

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A raiva, a ansiedade e a intolerância, impulsionam ações


destrutivas, impulsivas e precipitadas, revelando excesso de fogo
em nossos corações.
Por outro lado, a preocupação, a tristeza e o medo, fazem
com que desperdicemos energia, congelando as ações necessárias
para o momento. Resultado: a doença se instala em nossos ór-
gãos, em consequência da destruição de nossa própria natureza.
Hoje, podemos verificar a presença forte desses modelos
destrutivos. A humanidade está cada vez mais, com fogo nos cora-
ções (forma de impulsionar as ações).
Nesse descontrole da competição, onde vence quem faz
mais, não estamos nos dando conta da competição destrutiva que
está acarretando em cada um de nós, como por exemplo, as do-
enças do coração e a violência com armas de fogo.
Também, há pessoas mais sensíveis, não pelo excesso de
fogo, mas pelo excesso de água. Essas pessoas reagem a este mo-
delo, contraindo sua forma de atuar, ficando deprimidas e com
medo (síndrome do pânico).

Lidando com as emoções

“O ser humano atualmente não para de criar


barreiras em torno de si. Aos poucos, ele se
torna um túmulo, um ser morto, pois a vida es-
tá no partilhar.”
Osho

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Em nosso cotidiano de trabalho são muitas as emoções


negativas que nos sequestram instalando o estresse, prejudicando
nossa eficiência e produtividade.
São emoções, sentimentos e pensamentos que nos provo-
cam diferentes reações, às vezes nos explodindo; outras vezes nos
controlando; mas, sempre, num caso ou no outro, estamos per-
manentemente nos identificando com essas emoções.
O mau humor, a intolerância, a impaciência, a ansiedade (de
tudo querer fazer e de nada poder), a irritação, a displicência e outras
emoções negativas nos rondam, em todo momento.
Conclusão: ameaças, exigências descabidas e desafios im-
possíveis - geralmente inconscientes -, nos congelam, impedindo
as conquistas necessárias.
Por vivemos desequilibrados em nossas emoções, as doen-
ças se instalam com frequência em nossos corpos físico e mental.
Segundo Lewis, 50% a 80% dessas doenças são produzidas por
estresse.
Muitas pessoas passam a ter problemas de coração apenas
por não conseguirem gerenciar a ansiedade e a impaciência. Por
excesso de fogo, como dizem os Taoístas, terminamos desperdi-
çando a chance de tornar nosso dia-a-dia pleno de alegria e pra-
zer.
Por outro lado, doenças nos rins e nos órgãos sexuais refle-
tem excessos de medo, ou seja, revelam falta de água nos rins,
impedindo que nossas ações fluam na serenidade.
Nosso fígado, por sua vez, embriagado de irritação e raiva,
não dá espaço para o amor. Nessa situação, a tristeza e o cansaço
tomam conta de nossos pulmões, desfazendo a coragem de que

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necessitamos para sermos livres e criativos. A preocupação tam-


bém nos ocupa antes do tempo certo, drenando energia do nosso
baço, estômago, pâncreas, evitando que consigamos o equilíbrio
de nossas ações.
Claro, sabemos que essas emoções negativas, muitas ve-
zes, são informações importantes para que possamos crescer, ul-
trapassando os limites de certas crenças herdadas, que carrega-
mos como fardo.
Quando, por exemplo, os desafios chegam, é natural que
nosso corpo se encha de ansiedade (fogo), favorecendo a ação
para a conquista dos objetivos. Por isso, podemos perceber que as
pessoas mais ansiosas são as que mais concretizam suas metas.
Em outros momentos, a raiva de um participante injustiçado
funciona como um estímulo para que todos possam perceber a situ-
ação e transformá-la, para melhoria das relações.
Na emoção do medo existe uma descarga de adrenalina
que é a forma encontrada pelo corpo, para sair rapidamente de
uma situação de perigo.
No entanto, o esforço errado ou excessivo, nos isola de
nossa própria energia gerando bloqueios e provocando ações irre-
fletidas e indesejadas. Esses desperdícios de energia acontecem,
com frequência, no cotidiano.
Diferentemente, quando temos consciência dessas energi-
as caóticas em nosso corpo, podemos aceitá-las, responsabilizan-
do-nos pelas mudanças das crenças e padrões que existem em
nossas mentes.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Podemos, assim, transformar estresse em vitalidade, con-


flito em harmonia, e voltarmos ao propósito de nossa própria vida
neste planeta.
Nas constelações falamos em encontrar nosso lugar de
honra, que ninguém pode tomar, porque só pertence a nós, e te-
mos que encontrá-lo dentro de nós, retornando nossa força, amor
e prosperidade.

Emoções e sentimentos ativados na convivência

Ao conhecermos melhor os princípios Taoístas, em nosso


corpo, alinharemos com o outro em nossa convivência, afinal, já
vimos que essas memórias que nos causam bloqueios e dão ori-
gem aos conflitos e doenças, são ancoradas em nossa convivência
no cotidiano dos relacionamentos no plano físico, emocional espi-
ritual ou de alma.
Esses sentimentos brotam, muitas vezes nos sequestram,
tirando nossa paz e harmonia interna. São eles:

Sentimentos primários

São sentimentos curtos e rápidos, que vêm do nosso instin-


to de sobrevivência. Sua atuação não dura em nosso corpo. São
sentimentos primordiais, julgados mais primitivos, e necessários
em seu reconhecimento para nosso aprendizado e evolução.
Podemos rememorar quando dois animais brigam: eles en-
tram totalmente no sentimento de raiva e, após solucionar a ques-

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tão, eles retornam em harmonia. Crianças quando mergulham em


choros tão intensos que chegam a perder o ar, assim que têm o
olhar dos pais, relaxam no amor e se entregam a ele.
Esses sentimentos nos levam a ser MAIS quando vivencia-
dos com consciência. No trabalho das Constelações buscamos por
esses sentimentos todo o tempo. É dessa forma que conseguimos
perceber a cura.
Exemplos desses sentimentos:
Raiva – Sentimento de expansão, como o fogo. Tentativa de
pedir o lugar, que fora retirado, de volta. O lugar da Compaixão.
Tristeza – Sentimento de contração – Muitas vezes, uma
raiva congelada nos faz perder a força dando lugar à depressão, na
tentativa de o corpo nos avisar que estamos sendo abandonados
por nós próprios, por amor ao outro.
Ansiedade – Sentimento necessário para nos dar o sinal de
alerta que o novo e o desconhecido estão chegando, e necessita-
mos ficar atentos para não expandir demais ou tampouco com-
primir as ações necessárias.
Preocupação – O prefixo já nos informa que nos ocupa-
mos, antes do tempo, para identificar as condições necessárias
para o equilíbrio, e dar o novo passo com a base necessária para
não cair. Andar passo-a-passo significa não se perder nas atitudes
expansivas do masculino, nem tampouco ficar aguardando, para-
do, na qualidade da energia feminina. Mas trazer o equilíbrio para
o nosso caminhar (pai e mãe se alternando nos passos dados).
Medo – O maior estado de alerta. Quando não fluímos e
congelamos em nossas atitudes, o medo aparecerá para intensifi-
car os movimentos. Ele é necessário para a nossa consciência de

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despertar para o amor. Quando a sua presença é muito intensa,


devemos investigar quais atitudes virtuosas estamos deixando
para amanhã.
Quando eles são evitados por nós, tornam-se sentimentos
secundários que nos congelam e impedem o fluxo da vida.

Sentimentos secundários

São sentimentos mais duradouros, baseados na prisão da


bolha coletiva que nos faz remoer dor e sofrimento por gerações.
Alguns exemplos desses sentimentos são: culpa, remorso, melan-
colia, ressentimento, mágoas. Esses sentimentos perpassam gera-
ções cultivando dores, através de histórias contadas ou não.
Um bom exemplo é a raiva de algumas mulheres em rela-
ção a seus homens, por não serem compreendidas na racionalida-
de. Quando observamos as histórias das gerações passadas, vê-se
que essa raiva foi migrada por gerações.
Para liberar esses sentimentos, que são mais profundos, e
razões de tantas doenças, deveríamos nos abrir para expressar os
sentimentos primários novamente e, assim, ter a liberação neces-
sária para voltarmos ao fluxo da vida.
Luciana estava, há quatro anos, querendo engravidar e não
conseguia. Por duas vezes, teve interrompida a gravidez de crian-
ças consideradas cegas, isto é, que não evoluíam.
Colocamos a constelação em consultório, incluindo essas
crianças e, também, a nova referência de um futuro filho. As duas
crianças abortadas, espontaneamente, tinham um mesmo sinto-

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ma: de terem sido mortas, mesmo que a intensão consciente não


demonstrasse isso.
Quando acontecem esses casos, sabemos que um conflito
inconsciente provoca nossas dores, para que possamos olhar o
passado com amor, novamente.
Perguntei a Luciana sobre sua mãe, se ela tinha abortado, e
Luciana, com lágrimas nos olhos, falou que nos anos 70, 80, sua
mãe seria uma feminista que lutava pela causa, e que teria aborta-
do uma criança antes dela. Ao perguntar a Luciana sobre a dor da
mãe, ela a desconsiderava e não via o episódio com culpa nem dor.
Luciana ressentia o destino da criança abortada, uma vez
que poderia ser o dela, e a julgava no acontecimento.
Inconscientemente, o conflito interno provocava os abor-
tos, para que ela pudesse se igualar à mãe e completar o amor
interrompido pelo julgamento.
Quinze dias depois, Luciana estava grávida de uma menina
e, posteriormente, de um menino.

Sentimentos adotados

Este sentimento foi o maior presente que o Bert Hellinger


nos ofereceu para cura intergeracional. Cada vez que falamos so-
bre ele, vem um profundo agradecimento e honra a este trabalho.
O Hellinger observou nas constelações, que muitos des-
cendentes de uma família tomavam sintomas de membros que
não estavam mais presentes fisicamente, contudo, atuavam ainda
sobre o sistema familiar.

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Nas Constelações, eles aparecem muito evidentes e estão


ligados a exclusões, isto é, a membros que romperam a bolha fa-
miliar e deixaram de pertencer ao sistema. Como a consciência
coletiva quer unir todos, outro membro da família vai lembrar que
necessita desta inclusão.
Muitas vezes, os sintomas permanecem no sistema por
muitas gerações, até que o amor que foi interrompido retorna e a
família fica em paz.

Eu adoeço junto com você, mamãe

Katia relata o fato de estar com todos os sintomas que per-


tencem à mãe. Pedi para que ela me explicasse melhor, e ela nar-
rou que durante a vida, quando sua mãe adoecia, ela adoecia jun-
to, também.
A imagem que me veio, inicialmente, foi a de que ela esta-
va colada à mãe, no que chamamos simbiose. Provoquei a ima-
gem, fiz com que Katia tomasse uma representante para sua mãe
e colasse totalmente nela, na impossibilidade de poder sair deste
emaranhado.
Aflita, a cliente falou: “Eu não quero isso para a minha vida,
estou sufocada”. Então pedi para que ela se separasse lentamente
dessa mãe, observando seu corpo em cada passo dado, sentindo,
atrás dela, o retorno para uma memória de liberdade, que existiu
antes da necessidade de o campo familiar provocar o deslocamento.
Aliviando a dor, Katia foi se sentindo cada vez mais livre, re-
cordando a memória interna de sua força interior. Pedi para que ela

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encontrasse o lugar de força e olhasse para a mãe pedindo que tives-


se carinho por ela, caso ela pudesse retornar ao seu propósito divino.
Muitas vezes, precisamos nos afastar das pessoas que
amamos, na tentativa do encontro com nossa própria vida. O re-
colhimento e o silêncio são grandes instrumentos para termos
acesso ao divino em nós.

Meta sentimento

É o sentimento de conexão com toda a natureza, sem jul-


gamentos, se bom ou mau. A atuação leva em consideração a
consciência da importância do momento.
Este sentimento faz uma mãe se jogar contra um carro pa-
ra salvar o filho e um médico cortar seu cliente para obter a cura
de um sintoma. É um sentimento em prol da vida.

Fluxo de vida se move na família

A partir do momento em que somos concebidos, neste ins-


tante recebemos o dom da vida e, também, incorporamos uma me-
mória de emoções, sentimentos vivenciados por toda a história viva.
Os Taoístas falam que, quando inspiramos, trazemos para o
nosso corpo toda essa memória, e a cada expiração levamos a
nossa experiência para a vida.

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Este talvez seja o grande mistério. No momento em que


nos tornamos “EU”, perdemos a memória de inclusão e de que
temos dentro de cada um de nós, esse Todo.
A partir das Constelações pude refletir, partindo do mo-
mento presente até os tempos mais remotos, e até onde isso po-
de ser verificado, que tudo o que é vivo se encontra dentro de
cada um de nós.
Partimos da ordem lógica do ser humano, onde somos 50%
nosso pai e 50% nossa mãe. Se olharmos para o passado, nossos
pais também são 50% de nossos avós, e assim por diante. Pode-
mos nos perceber como uma grande colcha de retalhos com inter-
ferências positivas e negativas de todos os nossos antepassados.
Essa interferência pode nos trazer prazer e bem-estar no
caso positivo, mas pode nos trazer muitos sintomas corporais,
emocionais e psíquicos, no caso de o amor ter sido interrompido,
negado ou silenciado em algum momento anterior.
Carregamos todas essas informações em nossa memória
celular e, por isso, nos sentimos tentados a repetir situações des-
favoráveis que aconteceram no passado.
Se um bisavô nosso teve um filho não reconhecido, essa in-
terrupção pode estar nos atormentando até hoje. Uma falta que
pertencia a nosso bisavô foi repassada para nossos avós e, poste-
riormente, para nossos pais, que nos repassaram o fato num pro-
cesso inconsciente. E, hoje, podemos querer compensar ou ser-
mos solidários, de alguma forma, indo embora da família, morren-
do ou repetindo a história do bisavô de ter um filho “bastardo”,
como aviso de que algum filho não foi reconhecido no passado.
Outro exemplo são os casos de alcoolismo na família.

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Muitas vezes, tentamos achar que é um “problema” alcoó-


lico, e neste movimento intensificamos a exclusão aumentando o
sintoma.
Nas constelações podemos perceber que a pessoa que está
apresentando o sintoma está assumindo algo por amor à família,
chamando a atenção de outros membros sobre a importância da
inclusão de alguém que foi excluído no passado.
Percebemos que, enquanto essa pessoa do passado não
for incluída, é possível que outros membros da família repitam o
vício para fazer lembrar quem foi esquecido.
Numa visão mais ampla, podemos também verificar que
nossa família, de fato, contém o fluxo da vida, quando qualquer
deslocamento vivenciado no passado nos traz dores, e que é atra-
vés da inclusão e compreensão deste passado, que podemos re-
tornar ao amor que nos reconecta.
Desde pequena vivi em meio à natureza, e logo que tive mi-
nha independência financeira construí uma casa nas terras que per-
tenciam a meus antepassados, local de muitas dores. No cultivo da
cana-de-açúcar, meus bisavós destruíram florestas e, no campo, mui-
tos escravos em sofrimento davam rendimentos aos seus patrões. No
passado, muitos índios foram dizimados ou expulsos do lugar que
lhes pertencia, se é que existem “donos” de terras.
Eu estava lá. Inicialmente, construí a casa para acolher
amigos dos grupos de meditação, depois resolvi ampliar e criar um
ambiente que acolhesse um número maior de pessoas para expe-
rienciar a sua própria natureza, dentro da natureza maior.
Foram 14 anos de muito peso. Tive de conviver com a des-
truição das árvores, pelos vizinhos, que ateavam fogo aos campos

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para “limpar a terra” – hábito antigo da cultura da cana-de-açúcar.


Além de outras dores que passavam pelo meu corpo, cada vez que
queria fazer diferente dos primos e irmãos que lá estavam.
Um dia, resolvi abrir uma constelação sobre este passado
que me fazia prisioneira numa luta sem resultados, por já estar
sem energia e me sentir muito só.
Para minha surpresa, era como se eu tivesse adotado sen-
timentos de preservação e de permanência na terra, mesmo que
isso se mostrasse um peso na minha vida. Dessa forma, eu estava
presa, como os índios que ali habitavam no passado e que, possi-
velmente deixaram na memória do lugar, a dor com a qual me
identifiquei e que queria honrar e compensar.
Na constelação, toda a dor desse povo pode vir à tona e,
finalmente, pude ser liberada dessa memória e seguir em frente
para novos projetos. Hoje, fico feliz com cada memória que chega
para ser percebida conscientemente dentro de mim, por perceber
que cada imagem abre uma força de amor, que me possibilita es-
tar mais plena nas minhas convivências.
Transferi meu projeto para uma cidade no agreste de Per-
nambuco, um lugar, no passado habitado por índios, e que hoje é
uma comunidade de artesãos que trabalham com o barro. Através
da arte, eles trazem a memória de um povo. Sei que, neste novo
lugar, novos aprendizados chegarão para que eu possa, cada vez
mais, estar consciente da minha essência e me descobrir una.
Como vemos no exemplo acima, o método das constela-
ções nos ajuda a trazer as imagens internas de nossa família, o que
está oculto em relação ao passado – vivos e mortos –, e que está
no inconsciente. É possível constatar que atrás de atitudes que
julgamos más, existe também o Amor.

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E através das mudanças dessas imagens, o constelado vai


introduzindo novas possibilidades, novas visões do acontecido.
Apesar de a transmissão dos problemas ser transgeracional, o
mesmo amor que é capaz de criar sofrimento é o mesmo que traz
consigo a sabedoria da solução, ao se tornar consciente e emergir
no decurso da configuração de uma constelação familiar.
Este método une a todos, quando percorre a linha do tem-
po e do espaço, mostrando que todos os emaranhados que julga-
mos pertencentes ao passado, estão acontecendo aqui e agora,
dentro de cada um de nós, e que o nosso futuro é a experiência do
que está dentro de nós, também aqui e agora. Com esta visão e
velocidade quântica, podemos mudar nossa estrutura para um
futuro, agora, mais pleno e prazeroso.

Pela luz dos olhos meus

Giane morava no Canadá, porque havia se casado. Em um


momento da vida, seus olhos apresentaram um sintoma, como se
alfinetes estivessem furando sua córnea. Sintoma este que a fez
percorrer muitos oftalmologistas do Brasil e EUA, sem nenhuma
resposta para a dor.
Sua mãe, que morava no Recife, onde nasci, conheceu o
trabalho das Constelações e, em uma vinda de Giane à cidade,
levou-a ao consultório.
Pedi para Giane colocar uma cadeira representando-a, e
outra, o sintoma que estava instalado em seu corpo.
Como já falamos, nas constelações procuramos saber pou-
co sobre a vida do cliente, para não sermos influenciados, e permi-

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tir que o campo nos mostre o oculto que está no plano invisível da
família, mas que a mente não pode aceitar.
Em consultório, sempre pedimos ao cliente para não iden-
tificar qual cadeira representa quem, deixando o universo desco-
nhecido se revelar.
Entramos no campo. Sentando na primeira cadeira, que
chorava bastante, sentia que a segunda cadeira precisava lhes
falar algo.
Sentei-me na segunda cadeira, que estava ressentida por
eu não poder mais enxergar, já que haviam tirado sua visão.
Neste momento, atrás de mim, um choro compulsivo acon-
tecia. Era Fábia, a mãe de Giane. Saí imediatamente do campo
para compreender o que se passava, e ela chorando me falou que
o marido falecera em um acidente de carro, e que ela soube da
notícia através do cunhado oftalmologista, solicitando a doação da
córnea, o que prontamente foi autorizado.
Neste momento, eu e a filha ficamos surpresas, e trouxemos
uma cadeira para representar a córnea do pai. Ele chorava, e dizia
que podia ver novamente sua filha, e que ela não precisava mais ter
a sensação de que pertencia a ele.
Após este encontro, Giane retornou ao Canadá e, muito
tempo depois, a mãe nos trouxe boas notícias.
Até hoje, uma pergunta ficou dentro de mim, a respeito da do-
ação de órgãos sem a autorização do dono, e das interferências para
quem morre e sua família, assim como para quem vive com o órgão
transplantado e suas interferências na vida cotidiana.

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Corpo – uma memória viva

No trabalho com as constelações fica visível, quando os re-


presentantes, numa imagem de desarmonia familiar, apresentam
sintomas físicos com dores em determinadas partes do corpo,
ânsia de vômito e sintomas emocionais: choros, raivas, tensões,
medos, ansiedades, a interferência do campo familiar sob o nosso
bem-estar físico.
A partir do momento em que memórias antigas de dor vão
se desfazendo, e quem antes estava excluído vai sendo incluído
novamente, os sintomas vão se desfazendo e os representantes
começam a ficar com novas emoções em seus corpos: alegria,
equilíbrio, coragem, serenidade e amor. E o bem-estar se instala
em todo o corpo.
Como já falei antes, estive com o mestre Mantak Chia em
2000, concluindo o meu treinamento nas práticas Taoístas que
iniciei no Brasil.
Através das práticas milenares, repassadas por ele para o
ocidente, pude fazer muitas curas físicas e emocionais, rememorar
situações familiares passadas, presas em meu corpo, e que impe-
diam meu amor de fluir.
Iniciei minhas vivências com constelação em 1997, intensi-
fiquei em 2003 meu trabalho com o método, e pude perceber que
poderia aliar essas duas abordagens e, com isso, ampliar a percep-
ção entre corpo, mente e espírito (alma) dos meus clientes, e par-
ticipantes de workshops.
Em 2003, fiz meu primeiro workshop com o tema “Constelan-
do nosso corpo interior”, em um encontro de Terapia transpessoal.

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A primeira experiência foi incrível – uma jovem de 20 anos


me pede para constelar, e diz que tem muitos problemas nos ór-
gãos reprodutivos (ovários, útero, trompas), e que este sintoma
também pertencia à mãe e à avó.
Ela colocou para o grupo que tinha abortado sem nunca tê-
lo realizado. Inicialmente, parecia uma afirmação louca, mas com
a minha experiência nos dois métodos, e por senti-la com muito
medo (emoção negativa do rim, que é o pai dos órgãos reproduto-
res), resolvi iniciar a constelação com uma representante para o
aborto, uma para a cliente, e outra para representar os órgãos
reprodutores (útero, ovários e trompas).
Neste momento, a representante do aborto se agarra na
perna da representante da cliente, e a representante dos órgãos
reprodutores se afasta. A cliente entra em um grande medo, e
com a informação de que ela nunca teria provocado o aborto, co-
loquei atrás da cliente, cinco mulheres representando as suas an-
tepassadas.
Todas as mulheres que estavam atrás da cliente tinham
sintomas físicos, desde dores na barriga a angústias.
A quarta da fila fez movimentos rasteiros de sair de trás e
seguir em direção ao representante do aborto, que estava ainda
agarrado aos pés da cliente. Ela olhou para cliente e falou: “ele é
meu”, e o aborto se sentiu atraído por essas mulheres. A cliente
neste momento alivia seu medo e pode encontrar novamente
seus órgãos reprodutores.
Essa cliente se tornou, a partir desde momento, muito pró-
xima aos grupos que eu realizava, e falou que a sua vida mudou, e
que, agora, ela poderia ter filhos.

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Para compreendermos melhor as novas experiências realiza-


das com a junção desses dois métodos, precisarei explicitar alguns
conceitos e práticas desta percepção Taoísta milenar.
Os sábios Taoístas, ao observarem seus corpos em relação
ao movimento da natureza, descobriram nossa interconexão com
tudo o que é vivo, e sua interferência nas emoções geradas em
nosso corpo, baseada nas mudanças do contexto externo, seja
familiar, ambiental ou cósmico.

Eu também pertenço – eu vivo

Nossos sofrimentos, muitas vezes, são provenientes de um


sentimento de não-pertencimento, por trairmos algo que perten-
ce à história de antepassados.
Thaisa é filha de um esquizofrênico com uma depressiva já
desencarnada. Os avós paternos (turcos/gregos) fugiram da guer-
ra, e seus bisavós morreram ainda no navio, quando estavam che-
gando ao Brasil, destino propositado.
Por parte de mãe, sua avó, que viveu num orfanato, tinha o
mesmo nome dela.
A questão da cliente era se livrar da depressão e da vonta-
de de morrer, que fazia com que ela já tivesse tentado suicídio
duas vezes. Havia um sentimento profundo de inadequação, cul-
pa, vergonha e medo, que a faziam ficar distante da família (pai e
irmãos).
No momento em que pude escutá-la, uma parte de mim
dizia que essa cliente conseguia ter todos os fatos que contribuí-

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am para o sofrimento de que falam os diversos livros sobre cons-


telação familiar. Outros fatos, eu prefiro não citar aqui.
Em sintonia com a cliente, senti o quanto de amor ela con-
tinha dentro do corpo. Era como se sua alma pedisse socorro, e foi
assim que ela me procurou quase em desespero.
Pedi para que ela colocasse a constelação, que seria: Thaísa
(essência), Thaísa (aprisionada pelo sintoma), mãe e pai. A escolha
dessas representações chegou para mim em imagem, e me fez sen-
tir que ela precisava se resgatar novamente. Toda a alma dela esta-
va aprisionada por essa família. Lembrei o trabalho desenvolvido
pelos xamãs, com animais de poder para resgatar a alma perdida. E
assim iniciei o processo que designei “o resgate de si mesmo”.
Na primeira imagem criada por Thaisa, ela estava de costas pa-
ra sua essência, e totalmente voltada para os pais. Uma boa imagem
para o trabalho de constelação: pais juntos e a filha olhando para eles,
mas, neste caso, ela estava perdida e pedia ajuda a esses pais que não
tinham muito a oferecer, a não ser o bem maior de todos: a Vida.
Precisava que ela se conectasse com essa vida novamente.
Fiz com que entrasse em diálogo com a mãe, falando de todas as
dores de seu corpo, neste momento, mas que pertencem à mãe e
a todos os antepassados da família.
Thaisa, uma pessoa muito sensível, podia sentir e agora tomar
consciência de todo o sofrimento que passava pelo seu corpo, mas
que não lhe pertenciam, podendo, portanto, deixá-los no passado.
Ao entrar em contato com o pai, Thaisa resiste, mas fize-
mos com que olhasse novamente para a mãe e dissesse o quanto
ela sofreu por se afastar de um pai de quem ela tinha tão boas

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lembranças, por amor ao sofrimento da mãe. Thaisa chora ao


olhar novamente para o pai.
Mais uma vez, fiz com que ela tivesse respeito pelo destino
escolhido pela mãe e pedisse a ela que a olhasse com bons olhos,
caso pudesse olhar novamente para si mesma.
Neste momento, Thaisa direciona seu olhar para a represen-
tação da sua essência, e dá uma grande risada dizendo: “Agora, eu
posso te olhar novamente e cuidar de você com carinho. Vamos viver
para honrar todos que sofreram antes de nós, para que pudéssemos
estar vivos. Eu agora pertenço, eu estou viva”.

Mapeando o Corpo

Vimos, neste capítulo, os cinco órgãos vitais: rins, fígado, co-


ração, baço e pulmões, assim como seus filhos, como demonstra a
tabela (pág. 106), e vimos, também, que nossos sentidos estão liga-
dos a esses órgãos fazendo conexão com o mundo externo.
O que nos surpreendeu foi poder comparar tudo isso com
muitos pontos apresentados por Bert Hellinger em suas vivências
como, por exemplo: “cure os pais e você curará os filhos”.
No caso do nosso corpo, quando, por exemplo, cuidamos dos
medos que se instalam em nossos rins, estamos cuidando, também,
de todos os órgãos sexuais, dos sistemas urinário e excretor.
Do mesmo modo, se fortalecemos nosso fígado transforman-
do raivas em compaixão, naturalmente tratamos de nossa vesícula,
assim como de nosso coração que, em ansiedade, desequilibra o
intestino. Ao retornar a alegria, expandimos a força que circula por
todo o corpo através do sangue. Quando em equilíbrio, isto é, sem

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preocupações, o baço favorece o estômago e o pâncreas. Por fim,


nossos pulmões, ao acumular tristezas, às vezes lutos ancestrais não
vivenciados, deixam-nos sem energia e cansados, mas, quando to-
mados de coragem, alimentam o intestino grosso.
Esses são exemplos de como nossos órgãos internos repre-
sentam famílias que se ajudam, entram em sacrifício e até adoe-
cem por amor aos outros aos quais estão interconectados.
Ao vivenciar sua constelação, onde constavam represen-
tantes para os cinco órgãos vitais, Juliana nos encantou com sua
emoção, ao constatar que seus órgãos tinham uma inteligência
própria. No seu compartilhar ela falou: “Eles (os órgãos) têm vida
própria, ficam com raiva, sentem-se abandonados e sentem triste-
za”. Muito bom ver que os órgãos têm sua identidade própria,
independentemente de seus donos.
Tudo clareou quando os órgãos entraram em conexão. Pude
ver a importância do baço, nunca observada antes: ele traz harmonia
para todos os órgãos. Para mim houve um despertar, porque falamos
pouco do baço, mas ele é o órgão que equilibra, é o órgão da terra.
Dália, filha de Juliana, complementa falando que em seus
estudos do corpo, ela sempre deu atenção ao fígado e aos rins,
mas, assim como sua mãe, nunca deu importância ao baço. E na
sua experiência desta mesma vivência, ela pode ver seu baço ex-
cluído e interferindo na saúde de outros órgãos que vinham sendo
cuidados. Como poderia me curar de outros órgãos, se estava sem
conexão com o órgão do equilíbrio? Na verdade, eu não me per-
mitia ver que era este o órgão em desequilíbrio.
Para nós, ficou mais um aprendizado de exclusões transge-
racionais. A mãe Juliana e várias mulheres da família sofriam de

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diabetes, um sintoma instalado no pâncreas, filho do baço, e que


representa o equilíbrio, antes de tudo, a terra.
Outra vivência foi a de Fernanda, que pode perceber que
havia muitas pessoas associadas aos órgãos. Ela pode identificar
situações atuais sendo manifestadas pelos órgãos. Pude ver de
maneira visceral a transgeracionalidade instalada nos órgãos, e a
energia só retornou quando os órgãos se moveram para se mante-
rem interligados.
Expressou Fernanda: “Precisamos identificar e fazer as pa-
zes com nosso corpo e o passado nele instalado através das me-
mórias familiares, o realinhamento dentro de nós”.
Fica claro o cuidado de um órgão com os demais. A um no-
vo reposicionamento, tudo muda.
Assim como fazemos com nossos pais, preenchendo as la-
cunas que eles deixaram em aberto, assim nossos órgãos agem.
Eles são capazes de se reorganizar em prol dos outros, como uma
água preenchendo as valas da terra.
Ocupar bem o nosso corpo é encontrar harmonia, interco-
nexão e paz.

Aceitando as emoções negativas

A aceitação das dificuldades internas é a melhor forma de


retornarmos à fonte de energia, na qual nossa essência natural-
mente caminha.
A simplicidade e a humildade são aberturas necessárias pa-
ra a conquista de uma nova consciência, e quando isso acontece

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verdadeiramente, o corpo se abre para sensações de tranquilidade


e de profunda gratidão.

Meu corpo, meus recados

Nossos encontros são mensais e, geralmente, Clara chega com


questões para aprofundar. Naquele dia ela estava visivelmente com
um sintoma físico. Tinha a energia do corpo baixa e estava sonolenta.
Relatou que teria ido a sua acupunturista por várias semanas,
mas o sintoma persistira. Resolvemos abrir uma constelação dos ór-
gãos, e tomamos o fígado, o baço e a própria Clara como ponto de
partida, já que tinha sido a orientação da medicina chinesa.
O sintoma (fígado) logo se apresentou deixando-a tonta, me-
xendo os olhos, com vontade de acordar o baço, e uma grande sen-
sação de dominar tudo ou entrar em sacrifício pelo outro em falsa
compaixão, por abrir mão da própria saúde. Ao mesmo tempo, um
profundo amor de quem não está sendo olhada, mas ama mesmo no
sacrifício. Vimos com frequência esses movimentos nas constelações
familiares, onde a criança entra em sofrimento pelos seus pais.
Um profundo choro chega e o representante do fígado tem o
desejo de estar junto ao baço dizendo: “Se você se preocupa muito
eu vou ficar junto de você”. O sentimento do feminino (fígado) entra
em sacrifício pelo masculino (baço). O fígado ajudando o baço com
sua energia, para que ele fique bem, mesmo que adoeça.
Ficou claro que, se Clara não olhar para o baço de uma
maneira equilibrada, o fígado irá junto entrando em sacrifício.

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O baço responde com o sentimento de força, mas isolado,


mostrando a Clara a separação que ela está fazendo inconscien-
temente do masculino e do feminino dentro dela.
O que acontece em sua vida, Clara, que você está exigindo
tanto do masculino e desconectando-se do feminino? Era essa a
pergunta que não queria calar em mim, e ela partilhou após a
constelação, que precisou entrar em um ritmo muito grande de
trabalho e, para isso, abriu mão do seu feminino sereno.
Seu corpo, através da sonolência, solicitava a inclusão do fe-
minino em sua vida, trazendo para a sua rotina de trabalho, que po-
de estar em ação, mas em total relaxamento, quando deixamos nos-
sos órgãos em conexão, um ajudando o outro em sua sabedoria.
Quando estamos conectados com amor ao nosso corpo,
ele responde imediatamente nos trazendo a saúde de volta.
No mês seguinte, Clara retornou compartilhando que o sin-
toma teria desaparecido de seu corpo.

Tomando responsabilidade

“Um homem torna-se realmente um homem,


quando ele aceita a responsabilidade total. É
responsável por qualquer coisa que ele seja, es-
ta é a maior forma de coragem”. (OSHO)

Tomar responsabilidade pelo que acontece de bom e de ruim


em nossas vidas é a melhor forma de transformarmos nossa realidade.

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Quando sentimos emoções negativas em relação a algo ou


a outras pessoas, o caminho mais fácil é justificar o que sentimos
culpando o outro. No entanto, a verdade é que este sentimento
está dentro da gente independentemente do que o outro tenha
feito; e se está em mim, a mim pertence.
Claro que é mais fácil sofrermos como vítimas, agarrados a
nossas crenças, culpando os outros, do que termos a coragem de
olhar de frente a realidade, para mudá-la.
Ocultar ou fingir que não vê aquilo que está em nós, é criar
emaranhados no sistema pessoal e grupal. É importante, pois, aceitar
a dificuldade e assumir a responsabilidade, respondendo com habili-
dade às situações e testes que a vida impõe.
Do ponto de vista sistêmico, quando mudamos a posição, o
todo muda conosco.

Observando crenças

“Todas as crenças são emprestadas, os outros lhe


deram, elas não brotaram de você. A crença é so-
cial, a confiança é pessoal. A confiança você tem
que fazer brotar em você”
(Osho)
Quando você começa a ser responsável por suas ações,
percebe que pode transformar sua forma de ser, dando-se conta
de que está no emaranhado de crenças congeladoras do tipo: “É
difícil”; “É muito para mim”; “Eu não vou conseguir”; “Isso não vai
dar certo”; “Isso é loucura” entre outras mais.

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Recebemos, a cada dia, reforços negativos das pessoas que


convivemos, criando um círculo de impossibilidades.
Tomar consciência de que nossas ações se fundam em
crenças, constitui uma primeira tomada de posição para redireci-
onar nossas vidas para objetivos construtivos.
Imagine quantos padrões nos prendem, simplesmente
porque acreditamos que as coisas são assim. E quantas oportuni-
dades perdemos, a todo instante, por medo de romper esse velho
paradigma do desânimo...

Meu corpo fala – minha alma solicita o encontro

Sandra acreditava que não conseguiria estar com nenhum


homem, e seus relacionamentos sempre acabavam em abandono.
Neste momento, já com 54 anos, ela gostaria de ver o impedimen-
to. Uma ansiedade tomava seu corpo, cada vez que se envolvia
afetivamente, e o conflito entre o sintoma e a vontade de estar
com um companheiro, fez com que chegasse ao meu consultório.
Filha de uma mãe dominadora e um pai ausente, Sandra
tinha péssimas imagens do pai, contadas por sua mãe, que havia
sofrido violência doméstica.
Ao montarmos a sua constelação, vimos uma mãe e um pai
ainda se amando, mas ela (a mãe), impedida de receber este ho-
mem como mulher, por consequência de dores do feminino da
família, que remonta ao tempo da tataravó. Casamentos obriga-
dos pelos pais e paixões proibidas eram o cenário que se seguia ao
longo das gerações, facilitando as exclusões dos homens de uma
maneira em geral.

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Quando Sandra pode compreender o sistema de crenças


instalado em sua família, ela pode resgatar o seu feminino, que é a
sua natureza, e confiar novamente nos homens, possibilitando a
entrega, que é o movimento da vida para unir casais.

Nossos órgãos – memórias, sentimentos e soluções

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Assim como nas constelações familiares, nossos órgãos,


nas práticas Taoístas, são sistemas complexos e interligados com
todo o contexto externo vivido ao longo da existência humana, ou
quem sabe, da vida neste planeta.
Quando estava em meus aprendizados, li que quando ins-
piramos o ar que alimenta nossos pulmões, estamos trazendo pa-
ra dentro do nosso corpo a memória de toda a existência humana,
de todos os acontecimentos, que julgamos bons ou negativos.
Da mesma maneira, quando expiramos, levamos junto com
o ar que sai de nossos pulmões, a nossa experiência de vida. Esta
imagem sempre me chamou a atenção, e enriqueceu minhas re-
flexões, que possibilitavam a compreensão de sermos todos um.
Também na tabela 1 da página 106, podemos perceber que
os Taoístas conseguiram mapear ligações entre nosso corpo físico
e outras manifestações vivas.
A desarmonia externa fica presente em nossos órgãos, nos
causando transtornos emocionais e físicos, assim como na família,
onde as soluções chegam para o bem-estar. Constelando nossos
órgãos e deixando-os na possibilidade de retorno da ajuda mútua,
que acontece no ciclo de expansão, muitos insights surgiram a
respeito da força maior que nos conecta nesta vida.
Uma cliente, médica, procurou-me quando seu irmão teve
uma obstrução no canal biliar, e ela estava muito preocupada por
uma pancreatite ter complicado o quadro.
Resolvi, com autorização do irmão, que também era clien-
te, realizar uma constelação que trouxesse os recados necessários
para sua melhora.

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Abrimos a constelação, com três representantes: irmão,


sintoma da obstrução, e o pâncreas. A obstrução falava com a
energia de uma criança que queria chegar. No momento não en-
tendi, mas expressei para a cliente o que vinha.
Ao representar o pâncreas, ele dizia: “temos de ficar quie-
tinhos, estou ajudando a limpeza da obstrução e preciso de muita
energia”.
Quando pude estabelecer o contato com a cliente, ela me fa-
lou surpresa: “Meu irmão está louco para ter um filho, mas a mulher
dele não quer. E quanto à pancreatite, sou médica e sei que a sua
cura se dá quando o paciente fica em repouso absoluto e silencioso”.
Depois, tive notícias de que ele fez a cirurgia com sucesso e que sua
mulher decidiu por ter um filho.
O Bert Hellinger fala que cada órgão retirado corresponde
a um antepassado ou suas histórias, que se honram na dor em
vida, mas que podemos, ao incluir este destino, nos libertar da dor
e expandir o amor, podendo honrar o passado, em vida, fazendo o
melhor para os que ficaram.
Unindo os trabalhos das constelações do Bert Hellinger e
os conhecimentos Taoístas repassados pelo mestre Mantak Chia,
experienciamos, em muitos grupos abertos e cursos, um olhar
apurado dos recados dos nossos órgãos.
Pedíamos aos participantes para escolher representantes
para seus órgãos vitais ou órgãos pais, como dizemos nas práticas
Taoístas. São eles: coração, baço, pulmão, rins e fígado.
Como em uma constelação, sugerimos posicionar os repre-
sentantes criando uma imagem externa do que antes estava ocul-

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to e, assim, nos movimentos da alma, deixar a sabedoria inata


buscar as próprias respostas para sua saúde física e emocional.
Abaixo segue como cada órgão se expressou e como res-
pondiam às questões de vida do cliente escolhido.
Coração – Quero mais espaço, não quero ninguém perto
de mim. Sinto meu joelho fraco. Mas considero que tenho uma
bondade dentro de mim, mas me sinto perdida e preciso me en-
contrar com os outros órgãos.
Fígado – Tenho um peso nos ombros. Sinto o ombro se fe-
chando e uma vontade de me fechar.
Não estou gostando dessa situação do pulmão estar colado
em mim. Quando o pulmão sai, fico mais aliviada.
Muito bom sentir o toque.
O baço – Se apresenta bem, acha o coração engraçado. Es-
ta situação (do coração ir para junto do pulmão, me angustiou).
Estou sentindo canseira, gasto de energia.
Pulmão – Estou com vontade de dormir, esquecer (sentado
na posição fetal).
Quem está me incomodando é o fígado, cada um tem o seu
tempo. A proximidade com o coração faz com que eu sinta que
posso continuar a existir. Sinto que algo não está bem.
Rins – Tenho duas visões: uma mulher que seduz e outra
do militar. Essas imagens me confundem. Quando olho para o
pulmão tenho vontade de dizer: “acorda, pulmão, e também
acorda o fígado”.
Estou com vontade de dizer ao baço o que está acontecen-
do com vocês, acorda!

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Diz ao pulmão: “homem, estou aqui, coragem, vamos olhar


para o fígado”.
Estou me cansando.
Sinto que o coração pode circular gerando energia. O fíga-
do levantou. Depois que o fígado levantou-se, sinto vontade de
me levantar e vejo que estamos todos fazendo a nossa parte. Mas
tem um encontro a ser realizado.
Houve um desencontro, estava perdida, mesmo estando
perto, tive esse desencontro. Agora, sinto o encontro, um encon-
tro de um homem e uma mulher. Está tudo bem e finalmente pos-
so olhar para o fígado.
.....Dor..... O fígado puxa algo de mim. Sinto vontade de
morrer. É como se eu tivesse sido mal usada pelo fígado.
Por que você me abusa?, pergunta o rim para o fígado.
Tem um segredo que o coração sabe. Neste momento tenho sono
e quero que vocês resolvam.
Eu estou me debilitando, novamente os rins falam ao fíga-
do. Existe uma vítima em você que me exaure, me dá falta de ar.
Penso que não deveria ter falado isso, como se você tivesse
muito controle. Quem me afasta de você é você mesma. Sinto
uma raiva, que você não consegue sentir. Finaliza o diálogo dos
rins com o fígado.
Numa segunda etapa, foi pedido que os órgãos pudessem
dar o prognóstico de sua verdade interior.
Seguem palavras de força de cada órgão.

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Rins – Tranquilidade
Baço – força
Fígado – Viver a sensualidade amorosa
Coração – Abra-me porque somos fortes. Viver a liberdade.
Pulmão – Viver alegria
Essas práticas foram intensificadas com diversos partici-
pantes dos grupos desenvolvidos e fizeram com que a conexão
com nosso corpo aprofundasse, nos dando o sentido real da im-
portância do corpo em nossa caminhada pela vida. Muitos dos
sintomas físicos graves acontecem por perdemos esta conexão
que os orientais desenvolveram com tanta sabedoria.
Retornar ao caminho é a possibilidade de nos libertarmos de
uma medicina do medo, que reforça a doença, criando um ciclo
destrutivo desconectado da nossa própria natureza. É trazermos de
volta a saúde integral alinhada com nosso ser divino ou essência.

Em ressonância com o corpo de dor do outro

O Eckhart Tolle, em seu livro O despertar de uma nova


consciência, fala da importância de estarmos atentos ao nosso
corpo e que, quando estamos menos conscientes desse corpo,
podemos ser tomados por dores que pertencem à nossa memória,
ou a de outras pessoas de nossa convivência, que estão num mo-
mento de dor, ainda inconsciente.
Como vimos em outros capítulos, somos interligados por cam-
pos de ressonância e tomamos sentimentos, emoções e doenças, pelo

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simples fato de estarmos no campo de dor e não tomarmos consciên-


cia do que nos pertence e do que pertence ao outro. Em ressonância
assumimos a dor do outro e, muitas vezes, agimos por ela.
Quando intensifiquei os atendimentos nas constelações sis-
têmicas, pude perceber as inúmeras vezes em que trouxe para mim a
dor dos clientes, na tentativa de querer ajudá-los. Via assim, as mi-
nhas crenças e limitações sendo observadas, também, dentro dos
sintomas do meu próprio corpo. E a cada cliente, uma contração,
mas também um novo olhar sobre aspectos nunca tocados antes. A
memória ancestral liberando a todos nós.
Em um momento, a cliente me procurou para curar a sua
dor: o relacionamento com o pai de seus filhos, pelo qual nutria
uma raiva muito grande, motivada pelo estupro, acontecido no
passado.
Tive a tranquilidade de não olhá-la como vítima, e ela pode
perceber durante o processo da constelação que, de fato, havia a
sua participação em tudo o que ela vivenciou.
Seu corpo de dor continha memórias antigas que vinham
do passado das mulheres desta família, mas, imagino eu, também
de um passado de todas as mulheres do planeta, que durante
anos sofreram abusos físicos ou morais por parte de uma cultura
paternalista, instalada no campo do planeta.
E foi por esta memória, que também me deixei, em algum
nível, ser sequestrada. Voltei para a casa com muita raiva dos ho-
mens, pedi para que meu companheiro tivesse paciência por que
não queria agir nesta emoção negativa, e que precisava processar
as informações recebidas em meu corpo.

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A vida me trouxe um companheiro sociólogo, que compre-


endia o momento, dando-me o tempo de que eu precisava para
voltar a fluir o amor novamente. A emoção retorna, de vez em
quando, com outras maneiras de manifestação.
Este exemplo nos mostra quantas emoções podem passar
por nosso corpo, diariamente, sem que nos demos conta, e que
muitas dessas situações vivenciadas, nos fazem adoecer fisicamen-
te, por não cuidarmos delas no momento adequado.
Como terapeuta, essa vigilância deve ser intensificada por
atendermos clientes que depositam em nós a sua dor e a sua cura
e, se nos deixamos ficar no lugar do EGO, podemos transferir
questões não resolvidas, do cliente, que geram sintomas em nosso
próprio corpo.

Em conexão com nosso corpo


Constelando a prática do sorriso interior ancestral

A prática criada pelos Taoístas e revelada ao mundo atra-


vés do Mestre Mantak Chia, ajuda-nos na reconexão com os ór-
gãos do nosso corpo, e a sentir o profundo amor dessa interação.
Anos de experiência com essa prática, com que fomos
agraciados, e que nos traz memórias com tantas revelações e con-
sequentes curas através do olhar, também, direcionado aos ante-
passados, tornou-se o objetivo do livro O TAO das constelações.
Esperamos que o leitor possa compreender e vivenciar es-
sa prática, para que as curas também aconteçam em seu corpo,

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mente e alma, facilitando o retorno das memórias passadas que


nos libertam para estarmos aqui e agora.
Para que o leitor possa localizar os órgãos pais e seus fi-
lhos, facilitando dessa forma a vivência, trazemos uma imagem
(ver figura na pág. 134).
Sente-se confortavelmente, feche os olhos, sinta todo o
seu corpo ao mesmo tempo. Sinta sua respiração se ampliando a
cada ciclo, e seu corpo cada vez mais relaxado. Deixe a sensação
de relaxamento se transformar num grande sorriso e SORRIA para
todo seu corpo.
SORRIA para sua respiração. SORRIA para a vida. Neste
momento, imaginem seus pais a sua frente, e deixe este corpo
honrar a oportunidade de estar vivo; agradeça-lhes a vida, sem
eles você não estaria aqui, neste momento.
Coloque a atenção nos seus olhos. Sorria para eles. Rela-
xando-os, você acalma todo o seu sistema nervoso, liberta sua
mente das tensões contidas em todo o corpo. Tensões essas que
vêm de dores de antepassados, que possivelmente lutaram para
estar vivos e dar continuidade à vida através de você.
Honre os antepassados, que talvez tenham vindo de longe, de
outros países, de outra cultura e que, até hoje, guardam na memória
da saudade este lugar onde nós voltamos a nos sentir relaxados.
Espalhe o sorriso pelos maxilares onde está um dos maiores
depósitos de tensão. Coloque a língua no céu da boca para fazer liga-
ção com seu pescoço e garganta. Sorria para eles relaxando as ten-
sões existentes e expandindo seu poder de comunicação.

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Nesta parte do corpo prendemos muito as nossas raivas e,


também, a de nossos antepassados. As guerras que eles tiveram
que empreender e os nossos próprios conflitos, hoje.
Movimentos de dor que nos comprimem e nos separam do
outro – Vamos visualizar os antepassados em guerra (vítimas e
algozes, todos juntos compreendendo que todos lutavam pela
sobrevivência, mas que agora eles podem ficar em paz dentro de
nós). Sintam essa paz nos maxilares.
Agora, vivenciando essa paz interna, desça seu sorriso para
o coração. Traga de volta a alegria e as memórias de celebrações
dos antepassados.
Todas as culturas têm sua dança. Deixe a ansiedade e a im-
paciência desta luta pela vida se dissolverem pouco a pouco.
Agradeça a seu coração pelo bombeamento constante do
sangue, fazendo-o circular por todo o corpo. Sinta a alegria pul-
sando através da corrente sanguínea para todo o seu corpo.
Aos poucos, o sorriso cheio de alegria que vem do coração
vai invadindo seus pulmões.
Sorria para eles e agradeça o magnífico trabalho de abaste-
cer o corpo com oxigênio, preenchendo-se de coragem.
Neste momento, deixe atuar sobre você a memória da for-
ça dos antepassados que, através da ousadia, nos trouxeram a
expansão da vida.
Perceba que hoje não precisamos de tanto esforço, pode-
mos deixar este peso para trás.

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E quando você liberar o gás carbônico libere também as


tristezas, cansaço e peso que, por ventura, estejam instaladas nos
seus pulmões como sintoma desta luta por se manter vivo.
Sinta-se mais cheio de coragem. Inspire pelos poros, nariz e
planta dos pés, toda a coragem de seus antepassados e também a
que neste momento está disponível para nós, e espalhe isso por
todo o seu corpo.
Vá descendo a coragem que vem dos pulmões para o seu fí-
gado e sorria para ele. Agradeça o trabalho de desintoxicação das
substâncias nocivas, liberando com elas a sua irritação e raiva.
Deixe que raivas e irritações, que foram acumuladas ao
longo da história da humanidade, sejam liberadas pelos seus ten-
dões, para a terra.
Deixe-se envolver pelos sentimentos de humildade e bon-
dade, que preenchem todo o seu corpo físico, pelos tendões, e
leve esses sentimentos junto com seu sorriso, especialmente para
os rins.
Entre em contato com seus rins, trazendo toda a bondade
e humildade para banhá-los com essa energia.
Agradeça aos rins o trabalho de filtragem do sangue, sorria
para eles e sinta-se mais sereno.
Neste momento, o convite é para ampliar seu campo de vi-
são para a compreensão de medos antigos que ainda interrom-
pem o fluxo vital de fluir em nosso corpo.
Medos do masculino, medos do feminino, dos relaciona-
mentos, da entrega que, por ventura, tenha sido vivenciada por
nós ou por um antepassado nosso.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Vamos dissolver esses medos, encontrando um lugar de se-


renidade e possibilitando todo seu corpo a sentir-se sereno.
Com serenidade, leve seu sorriso para o estômago, baço e
pâncreas, e agradeça a eles a produção de insulina que regula a taxa
de açúcar no sangue e produz as enzimas digestivas.
Agradeça seu estado de centramento e equilíbrio que pro-
vêm desses órgãos. Olhe para as suas preocupações (ocupar-se
antes do tempo correto) e de todos os antepassados que lutaram
para o bem-estar dos seus descendentes. Veja-os, agora, em paz
por terem cumprido seu destino, honre-os, diga-lhes que agora é
com vocês a continuidade da vida.
Vejam no futuro seus descendentes, também honrem a
dignidade e diga-lhes: deixo a parte de vocês com vocês, e faço
apenas a minha parte de prosseguir a vida através de vocês.
Por fim, sorria na região do umbigo, onde se armazena o
excesso de energia gerada.
Sinta todo o potencial de energia que se encontra em seu
corpo e usufrua da alegria, serenidade, coragem, amor, compaixão
e centramento.
Agradeça, dessa forma, seus ancestrais e seus destinos
que, da maneira que foi possível, fizeram você estar aqui, hoje,
para avançar no fluxo da vida e buscar uma vida plena.
Agradeça aos seus encontros amorosos que, ao longo da
história, chegaram até você.

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Capítulo 4
O TAO dos relacionamentos

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

“O homem é como uma rocha e a mulher com


a água. Mais cedo ou mais tarde, quando a
água cai na rocha, esta desaparece e vira areia;
é apenas uma questão de tempo. No primeiro
contato da rocha com a água, esta é tão forte e
a água tão delicada, que você não pode imagi-
nar logicamente que um dia a água destruirá a
rocha, que a rocha desaparecerá como areia e
a água ainda estará ali”.
OSHO

O Uno se torna dois

Um relacionamento sadio seria apenas um complemento.


Não entendemos por que o dois se perde em competição, conse-
quentemente gerando conflitos.
As faltas em nossos ancestrais nos fazem buscar no outro o
complemento. Muitas vezes, com a falta de um dos pais, a tendência
da outra parte é tentar substituir o faltante como ato de equilíbrio. Aí
temos como consequência os futuros relacionamentos desastrosos
ou, se olharmos positivamente, como uma grande oportunidade de
completar essa falta no lugar certo. Grandes confusões ocorrem por
projetarmos no outro as faltas. Vamos observar ao longo deste capí-
tulo, que o Uno se fragmenta em dois – homem (pai) e mulher (mãe),
continuando a criação através do EU (filho) e cada um carregando a
semente da unidade dentro de si.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Desequilíbrios do DOIS interferindo no UM

Em um dos cursos das constelações, July observou em sua


vivência, que tivera um excesso de pai em detrimento da ausência
da mãe.
Ela ainda não havia percebido que este pai, mesmo com
boas intenções, teria sido nocivo ao seu desenvolvimento como
mulher e, consequentemente, em seus relacionamentos com os
homens.
Na ocasião, ela também observou o quanto solicitava do
pai, mais e mais, e isso acontecia também em seus relacionamen-
tos afetivos.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Foi importante para ela perceber que o alto grau de exi-


gência com os homens vinha de uma falta materna que, no oculto,
só poderia ser revelada através dos homens.
Nessas cobranças, July estava dizendo para o pai que ele
jamais iria substituir o amor da mãe, não recebido pela vida, des-
tinado a ela.
Ao compreender a situação, a alegria tomou conta de July.
Agora, ela sabia que o pai e a mãe tinham o mesmo peso na cons-
trução de sua identidade.
Outra experiência sobre esses desequilíbrios foi com Már-
cia. Ela desde sempre tinha o hábito de fazer conexão direta com
o divino, para evitar conexão com os pais. Seria ela um exemplo
de uma pessoa extremamente espiritualizada, e que já tinha en-
trado em contato com várias abordagens que a levava para o céu,
mas sua insatisfação continuava. E assim ela chegou nas Constela-
ções.
Numa das vivências montamos uma estrutura para com-
preender o equilíbrio entre nossos pais e o divino, que nos conce-
beu a vida e é puro de luz.
Nesta constelação foram impactantes as revelações obser-
vadas por Márcia. Apesar de ela querer continuar no velho hábito
de fazer conexão direta com o Divino, este não a queria junto. E
com poucas palavras, ele (o Divino) traduziu a angústia instalada
pelos membros da família.
O divino diz: “Eu cheguei a você através de seus pais, e vo-
cê só pode me acessar através deles”.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Imediatamente, a mãe e o pai puderam tomar o seu lugar em


proteção da força maior. Emocionada, ela diz: “Até agora eu não
existia e também não recebia a vida, tudo mudou”!
A ideia do Divino, muitas vezes, pode nos servir como força
de proteção para nos dar uma razão de existir e continuarmos na
busca para que, em dado momento, possamos incluir o destino de
quem veio antes de nós, através de nossos pais.
Logo, este Divino ainda é um artifício para que encontre-
mos a verdadeira religião, mesmo imatura, uma espécie de benga-
la para auxiliar nossos medos, assim como uma oportunidade de
chegarmos mais próximos da verdadeira religião e nos reconhe-
cermos unos novamente.
Bom poder compreender que nossos pais também entram
em sofrimento, e que não nos cabe cuidar deles como pessoas que
não podem carregar seu próprio destino.
Enquanto o divino não se sentir pleno em nós, vamos bus-
cando-o através dos relacionamentos-espelho, que são uma ma-
neira viva de encontrá-los em nós.

O nascer do conflito nas relações afetivas

A maior origem dos conflitos entre homens e mulheres,


parte do desejo infantil de buscar no outro o que faltou em nossos
pais e, por consequência, em nossos ancestrais, já que muitas das
nossas ações estão ligadas a dores do passado em nosso feminino
e em nosso masculino.
Mas, apesar de estarmos repetindo alguns padrões apren-
didos em nossa herança familiar, tudo o que queremos é a reco-

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nexão com o Divino e, para isso, temos que integrar este pai e esta
mãe em nós.
Retornar ao momento de encontro em que fomos gerados,
compreender que a força universal conspirou para aquele encontro e
poder retomar a vida em sua totalidade é o objetivo maior.
No entanto, a partir de nossa concepção, as memórias já
começam a ser instaladas em nós, como um computador que vai
buscando registrar tudo de bom ou do que julgamos ruim, através
da contração do corpo de nossa mãe.
É neste momento, ainda no ventre de nossa mãe, que al-
guns conflitos existentes entre nossos pais ou até a omissão por
uma das partes, sobrecarregam o outro, assim como medos exis-
tentes no computador de nossa mãe, que vem de ancestrais mas-
culinos ou femininos, recebem uma importância maior do que a
devida e, como consequência, nós já nascemos para o mundo com
alguns desses registros bem latentes.
Durante nosso nascimento também registramos imagens
de uma grande contração, para um novo movimento de expansão,
agora separado de nossa mãe. Neste processo, muitos traumas ou
registros acontecem e muitos medos do parto são registrados.
A partir daí, é a nossa própria conexão com a vida, o mundo
dos adultos, seus medos e conflitos, que perpassam como registros
para os movimentos que se seguem, até que ao encontrarmos um
parceiro ou parceira, essas memórias deflagram em busca de se
completarem e, enfim, poder se tornar uno novamente, liberando as
memórias do passado que ainda nos aprisionavam.

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Diante disso, podemos compreender a complexidade dos


relacionamentos e por que muitos deles são motivos de dor e de
até desistência da própria vida.
Nosso consultório é o exemplo mais intenso do que foi fa-
lado. Digo sempre: ou as pessoas chegam para resolver conflitos
do casamento, ou elas querem se separar, ou mesmo querem en-
contrar alguém a quem possam se entregar.
Vemos homens e mulheres que mudam de parceiros com
frequência, aqueles que escolhem ter relacionamentos abertos
para terceiros, aqueles que traem e são traídos.
Indivíduos cheios de raiva, tristeza, solidão, descompromis-
so consigo e com o outro.
De onde vem tanta força que atrai esses casais? De onde
vem tanta força que os repelem, também?
Ao longo deste capítulo, traremos esclarecimentos que
ajudarão na compreensão das origens dos conflitos e, com isso, a
olharmos as soluções que até este momento somos capazes de
entender e, também, instigar o leitor a dar continuidade a suas
próprias reflexões.

O outro e nós

Estamos perdidos na dualidade da vida e nossa alma busca


incessantemente encontrar-se novamente.
Após nossa concepção, movimentos de pulsar estarão pre-
sentes e a dualidade vai se ampliando no mundo manifesto atra-

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vés das nossas vivências sociais e de novas maneiras de interagir


com o meio.
Dessa forma, estamos criando em nosso próprio mundo,
emaranhados que vão se multiplicando ao ponto de perdermos de
vista a origem de tudo e sermos tomados pela angústia do querer
retornar para casa.
O outro nos aparece como uma possibilidade de ajuda nes-
te reencontro. Buscando o outro em nosso íntimo, somos obriga-
dos a buscar em nós mesmos este amor.
Amamos o outro para reencontrarmos o amor dentro de
nós. O outro é a lembrança do EU fragmentado (dor), mas tam-
bém a oportunidade de rememorar o EU divino (amor).
A vida na horizontalidade ou as experiências de acasalamento
vivenciadas por nossos ancestrais nos mais variados momentos deste
planeta, trazem a sensação de que são emaranhados profundos de
difícil compreensão.
Podemos ver que nossa realidade tem, também, o tempo
acumulado nas diversas experiências vivenciadas por nossos ances-
trais e que, aparentemente, tornam-se difíceis serem liberadas e,
muitas vezes, nos geram acomodações nos relacionamentos ou se-
parações precoces, antes mesmo de ter concluído o amor.

Crenças ancestrais

Ao longo desses anos de trabalho com as Constelações fa-


miliares, observamos a força que têm as memórias ancestrais nos
relacionamentos. Repetimos padrões, adotamos sentimentos,

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criamos conflitos, nos impossibilitamos de permanecer juntos,


criamos fantasias não existentes de fato. Tudo isso para nos pro-
teger do encontro maior ou entrega.
No entanto, foi nesta mesma atividade, e junto com os cli-
entes, que o campo de soluções nos revelava os insights de poder
chegar mais próximos do campo de amor que envolve a união do
masculino e do feminino em sua profundidade.
Observamos, nos mais diversos clientes, que a opção de
enxergar suas famílias em uma visão mais distanciada, e com um
colorido que retira o peso das imagens internas geradas, as dores
em repetições, poderiam ser reconhecidas e transformadas em
novas atitudes diante do mesmo fato vivenciado no passado, e
que trouxe mais intensidade de dor.
É muito comum percebermos que, a cada re-atuação de
dor, o cliente se fecha para os movimentos de solução. É necessá-
rio, agora, criar confiança novamente, de maneira que surjam so-
luções, onde a escolha de cada um não seja mais se submeter ou
reagir, porque esses movimentos ainda os deixam prisioneiros,
mas criar a motivação de fazer diferente, buscando o que os Taoís-
tas chamam de “o caminho do meio”.

Os pactos se perpetuam

O que este homem e esta mulher estão fazendo com a dor


do passado?
Estão querendo repetir, passar adiante esta dor.

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Sentimentos adotados de nossos ancestrais

Thomaz tinha um relacionamento homoafetivo com Carlos,


mas antes fora casado com Thais, e tinha com ela três filhos ho-
mens.
Procurou ajuda por querer libertar os filhos do seu próprio
destino, pois compreendia que seria a opção dele, e de outros
membros da família. No entanto, não necessariamente precisava
de mais repetições.
O processo da constelação foi intenso, por haver exclusões
de mulheres por morte, nesta família tradicional de Pernambuco,
onde a violência contra as mulheres sempre foi tão intensa.
Ele compreendeu que sua alma estava compensando a dor
desta mulher do passado, muitas vezes sofrendo com os homens
com quem ele buscava relações violentas e de muita dor.
A constelação ajuda a limpar esses campos de memória,
para que possamos ter uma vida mais plena.
Ao finalizar a constelação, Thomaz partilhou com o grupo o
seu sentimento de alívio diante de um peso que carregava durante
anos, e que não tinha consciência de onde vinha. Finalizou dizendo
que, a partir daquele momento, ele tinha opção de escolha, e que
seu encontro com os homens seria, agora, mais livre e mais amoroso.

Curvas de contração e expansão nas relações

Como vimos no capítulo 1, vivenciamos duas curvas – a de


expansão e a de contração, simultaneamente, dentro de nós. Po-

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demos trazer essas imagens para percebê-las de maneira mais


ampla, quando podem rodar em espiral, uma interferindo na ou-
tra, ampliando ou contraindo as relações.
Com isso, ajudaremos o leitor a compreender os movimen-
tos, também, em nossos relacionamentos.
Muitas vezes, uma parte da relação entra em sua curva de
contração e aciona a curva de contração do outro. E, dessa forma, o
relacionamento se encontrará em um movimento de morte. Caso o
casal permaneça por muito tempo neste movimento, o relaciona-
mento fatalmente tenderá a morrer por opção dos dois, em não se
mobilizarem para um movimento de expansão, novamente.
Foi assim que Gustavo e Fernanda chegaram ao consultório,
já em processo de separação. Ela não concordava com os hábitos
do marido, que fazia um esporte perigoso e de um custo muito alto.
Também, segundo ela, um lugar que facilitava o contato do marido
com várias mulheres. Ele também não concordava que toda a res-
ponsabilidade financeira da casa estivesse com ele, enquanto ela
sonhava em viajar constantemente e viver uma vida de luxo.
Este casal se alimentava mais dos processos que os separa-
vam, do que das poucas convergências que apareciam entre eles.
Fatalmente, mesmo que eles, por um tempo, tivessem ten-
tado realizar as mudanças necessárias para se manter juntos, por-
que tinham crenças de preservação da família, este encontro não
foi possível por não haver um desejo mútuo de abrir mão de al-
guns sonhos.
No entanto, ao aceitar as diferenças e assumir a responsabi-
lidade de suas escolhas, o casal pode se separar permanecendo
com amor em liberdade, o que tranquilizou o filho que eles tinham.

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Outros movimentos de curvas podem acontecer, como


exemplo, de uma parte vivenciar a curva de contração em algum
momento, por uma situação de dor vivenciada, e o outro, em sua
curva de expansão e amor, ajudar seu par a retornar à lucidez, e a
se colocar novamente em sua curva de expansão.
São movimentos saudáveis, se eles se alternam e provo-
cam novos movimentos de mudança de padrão, de ambos. Caso
contrário, o perigo é quando os dois movimentos se fixam sempre
na mesma posição: um escolhendo ser o salvador, e o outro fican-
do na posição do desistente.
Acontecem casos em que a parte que dá energia para a
parte demandante fica cansada, e termina desistindo do relacio-
namento para que o outro possa brigar para mantê-lo.
Cíntia tem filhos, que mal acessam o pai, do primeiro casa-
mento que finalizou de maneira desastrosa, e é somente dela a res-
ponsabilidade de cuidar dos garotos. Resolve casar com Beto, que
também tem filhos, e se dispõe a organizar a família que não lhe per-
tence. Ela permite que ele assuma essa responsabilidade, já que seria
muito pesado para ela, ficar sozinha com a carga, uma vez que os
filhos são problemáticos.
Cíntia não queria ou não podia ver a carga do companhei-
ro, e ele foi se exaurindo até o momento em que desistiu e foi
buscar sua própria autonomia.
Mesmo com esses movimentos de saída da relação, que
ele demonstrava, ela não podia perceber, tamanha a dependência
do relacionamento.

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Compreendemos nas constelações que esses movimentos


se dão pela ausência de um dos pais na vida da pessoa, mas já era
tarde para Cíntia compreender e transformar o relacionamento.
Podemos, também, imaginar os parceiros em movimento
de expansão com total alerta aos eventuais movimentos de con-
tração que pudessem existir. Agora seria um e outro se responsa-
bilizando pelos seus movimentos de contração, e em sua autono-
mia e presença, permanecendo na não-dependência.
Este olhar seria de uma interdependência entre as curvas,
onde cada um daria espaço para que o outro se descobrisse por si
só, encontrando o seu lugar de expansão novamente.
Na maioria dos relacionamentos atuais, não deixamos esta
liberdade para o outro. Queremos tirar o outro da dor a qualquer
custo, não exercitamos a paciência e a aceitação diante da dor do
outro, e não acreditamos que tudo tem o tempo de chegar e o
tempo de partir. Muitas vezes, nesta inconsciência, acentuamos a
dor do outro quando não acreditamos que o outro pode transfor-
mar essa dor.
Para os ajudantes ou salvadores de plantão, é bom refletir
se essa ajuda exacerbada não será, muitas vezes, decorrente de
nosso próprio medo, de que a dor do outro possa acordar a nossa
própria dor.
Temos, ainda, quando a escolha do outro é a contração, e
o outro escolhe vivenciar a dor juntamente com o parceiro, como
uma repetição do que fazíamos, quando crianças, por amor a nos-
sos pais.

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Seguiremos adiante detalhando a interferência desses pais em


nossos relacionamentos e, muitas vezes, acreditando que estamos no
amor. No entanto, temos apenas um sacrifício onde todos sofrem.

Qual o seu lugar diante de seus pais

Maria, casada, e com sintomas nos olhos, recebeu o diag-


nóstico de que estaria perdendo a visão.
Ao colocarmos a constelação, logo ficou claro que seu par-
ceiro não estava olhando para a mãe de sua filha, pela dor sofrida
com a separação.
O homem excluía a mãe de sua filha. No entanto, queria
que Maria o ajudasse na criação da garota, o que ela fazia com
muito amor.
Conflitos existiam entre o pai e a filha, e Maria tentando
ajudá-los, inclusive para que ele olhasse para a mãe de sua filha.
Assim, durante o processo da constelação, a história che-
gava ao nosso conhecimento, e Maria podendo dizer que, já que
ele não podia olhar para a primeira mulher, ela perderia a visão.
Não foi fácil para Maria compreender os movimentos in-
conscientes e, tampouco, os próximos movimentos da relação.
No entanto, quando algo novo é revelado, deixamos o
tempo do amadurecimento e da integração do novo olhar. O
comportamento de Maria tem relação com suas escolhas, quando
criança, de entrar em sacrifício por sua mãe.

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Em outro momento, aprofundamos o prejuízo do desequi-


líbrio da relação dos pais de Juliana, que interferem com bastante
intensidade em seus conflitos atuais.
Em uma constelação fizemos Juliana acessar uma raiva
(sentimento primário), que ela não se permitia sentir da própria
mãe, por ter precisado ficar junto dela, por sobrevivência, em de-
trimento da ausência do pai.
Juliana resistiu à observação a raiva em seu corpo, e iniciou
um processo de dores fortes que tomaram conta de seu corpo
pela resistência. Pedi para que ela não brigasse com o que estava
acontecendo, porque a raiva viria à tona, mas o amor também.
No oculto, Juliana estava brigando com a mãe e transferindo
para suas escolhas masculinas todo o padrão materno de relaciona-
mento com os homens, porque, internamente, ela responsabilizava a
mãe pelo pai não ter permanecido em sua vida.
Eu perguntei: “Como é pra você, Juliana, ser igual à sua
mãe?”
O corpo de Juliana treme muito liberando a memória de dor.
Agora, você está liberando as possibilidades de homens te enlouque-
cerem com dupla informação, como fez tua mãe.
O espaço que se esvaziou, pode agora ser completado com
profundo amor, inclusive por todas as virtudes de sua mãe que
você ainda não podia olhar.

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Equilíbrio no desequilíbrio

Um homem traz em sua essência a energia masculina, isto


é, a força que aprendeu com o masculino da família. Nesta força
inclui o amor recebido da mãe, concluindo em seu ser a FORÇA
AMOROSA.
Uma mulher traz em sua essência a energia feminina, isto
é, o amor que aprendeu com o feminino da família. Neste amor
inclui a força do pai, concluindo em seu ser o AMOR na FORÇA.
Muitos homens ficam mais próximos de suas mães, trazen-
do um perfil mais amoroso do que forte. Em outros casos, mulhe-
res ficando mais próximas de seus pais do que de suas mães, to-
mam sua força em detrimento da amorosidade.
Esses homens e essas mulheres, quando se encontram,
embora exerçam um equilíbrio, o homem no amor e a mulher na
força, eles estão em polaridades invertidas.
Um relacionamento nessas bases corre o risco de ter mui-
tos conflitos, uma vez que cada parte irá projetar no outro a parte
que lhes faltou.
No caso do homem que ficou mais próximo da mãe, possi-
velmente por dificuldades ou impossibilidades de relacionamentos
com o pai, tenderá a encontrar, na(o) parceira(o), a força que ele
recusou do pai, reatuando o conflito ou o abandono que vivenciou
no passado por esta exclusão.
A mulher que partilhou sua vida com seu pai, excluindo a
sua mãe, também irá buscar parceiros(as) que trarão o que ela
rejeitou em sua mãe e, naturalmente, como um convite para que
ela resgate o que está faltando dentro de si.

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Amanda estava em uma profunda dor, por ter sido traída


pelo companheiro. Chegou ao consultório com muita raiva, chora-
va muito e se mostrava decepcionada como o marido, que jamais
imaginou que pudesse tirar o chão de seus pés.
Pedi pra que ela colocasse duas cadeiras: uma que a repre-
sentasse, e a outra, a traição. Uma em frente a outra em posição
de confronto.
Pedi para que ela sentasse, primeiro, na cadeira que a repre-
sentava, e falasse para a outra cadeira, que representava a traição.
Eu me traí quando ..........
Eu me traí quando ...........
Eu me traí quando ..........
Em todas as traições de Amanda, estava o feminino aban-
donado em prol deste homem.
Perguntei gentilmente a ela: “Quem traiu quem?”
Ela abriu no choro e pode ver o quanto ela se abandonou.
Solicitei o consentimento dela para aprofundar mais um pouco, e
ela pode ver o quanto ter uma mãe submissa, a fez brigar com
esta mãe dentro dela, e assumir padrões que vinham de seu pai.
Coloquei mais uma cadeira, agora representando a mãe de
Amanda, que ela excluiu de sua vida por julgá-la uma mulher frá-
gil, e falou: “Mãe, tomei a força de meu pai pra tentar te ajudar,
por amor a você, mas está sendo muito duro pra mim, manter-me
afastada e sem o seu amor”.
Amanda chorou na emoção da alegria de quem encontra a
sua verdade interior, sem orgulho, sem medo, e com muita since-
ridade me falou: “Ana, eu nunca dei atenção ao meu marido nesta

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intensidade. Agora eu compreendo o que ele foi buscar em outra


pessoa. Vou começar daqui pra frente”.

Aprisionamentos mútuos

Com imagens internas cristalizadas por nossas crenças ances-


trais, e acreditando nisso como sendo a única verdade, tendemos a
levar o outro a sair de seu lugar e a fazê-lo acreditar que sabemos um
lugar que será melhor para ele, assim como foi seu aprendizado no
convívio com seus pais, que indicaram em sua inconsciência, os ca-
minhos que os filhos deveriam trilhar.
O outro, por sua vez enfraquecido em suas raízes, e caren-
te de alguém que cuide dele, se entrega e delega ao outro a res-
ponsabilidade de sua própria vida.
Os encontros entre casais iniciam-se nesta base: um em
sua experiência de salvador querendo melhorar a vida de um de-
sistente.
A atração por essas polaridades são intensas, e um se torna
irresistível para o outro. Os campos de um e de outro se atraem mu-
tuamente, e um grande “amor” se inicia com prenúncio de grandes
dores pela busca de seu lugar de honra, novamente.

Quero amar meu pai

Se formos detalhar este tema, encontraremos muitas re-


flexões sobre os relacionamentos homoafetivos que buscam no
outro o que não está completo em suas relações com seus pais.

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Geralmente, os homens estão mais na esfera de suas mães,


buscando um relacionamento com homens (pais), e as mulheres
na esfera de seus pais, buscando se relacionar com mulheres
(mães).
Quando acolhemos a parte que rejeitamos em nós (pai ou
mãe), podemos escolher com mais liberdade nossos parceiros e,
assim, minimizar os conflitos de projeções com o que nos faltou
em nossa vida infantil.
Um cliente que me procurou, com seu companheiro, esta-
va em processo terapêutico individual e, fortalecido, acusava o
namorado de ser o causador de toda descompensação emocional
que ele estava vivendo.
Quando o terapeuta está em sintonia com a alma do clien-
te, ele percebe o que está por traz de suas reclamações, e a dor
que o faz estar sob a capa de proteção que o distancia em vez de
aproximar.
Neste caso, foi evidente poder falar do medo que se encon-
trava em seu interior, e de como ele transferia esta emoção como
forma destrutiva para o seu companheiro. No caso, a destruição se
manifestava em forma de ciúme e violência verbal.
Minha pergunta interna, incialmente, foi: Com quem ele briga
de fato? Por que o medo de amar de maneira expansiva?
Ele me falou que a mãe controlava todos os seus passos, e
que ele não conseguia realizar a vontade de estar com o outro. Neste
momento, ele chora e eu posso localizar para quem estava direcio-
nada a sua raiva. Tranquilizando-se, acenou que compreendia.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

O companheiro, neste momento, chora, e pude ver toda a


dor de estar ligado a este homem. O que poderia atrai-lo para
esta situação? Foi minha pergunta imediata.
Ao expressar seu movimento de querer viver bem com o
companheiro, disse, também, que a vida dele estava em sacrifício
à mãe, e que compreendia o que estava se passando.
Na sessão seguinte, eles estavam em paz, mais próximos, e
algumas mudanças foram realizadas em relação a essa mãe con-
troladora. E pude fazê-lo ver o quanto havia se distanciado do
amor do pai, para equilibrar o casamento (o pai e a mãe, até hoje,
vivem juntos brigando, mas agora o filho encontrou seu verdadei-
ro lugar e não defende mais sua mãe).
Onde podemos localizar o amor? Na raiva. Por isso, as
ações de violência se intensificavam, e foi assim que a mãe pode
se proteger do marido violento, trazendo o filho para expressar a
sua própria raiva. O filho deslocou o seu amor pelo pai, para a rai-
va. Agora era assim que ele manifestava o amor pela mãe, defen-
dendo-a e, pelo pai, se distanciando.

Ressentimentos nas relações

Ressentimento é quando a pessoa dá mais do que pode,


querendo que o outro lhe dê o que você gostaria de ter.
Nosso sofrimento é, apenas, um desequilibro energético
que a mente fortalece a partir do que acreditamos.
Ressentimento é uma dessas dores mais profundas que
vêm da necessidade de nossa criança preencher as lacunas de um

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dos pais, na possibilidade de ser vista, ou de ser nutrida nas diver-


sas percepções de mundo.
O ressentimento pode ser expresso através da dádiva ne-
gativa, isto é: “dou-te minha raiva. Por você não olhar para mim,
ou olhar de maneira oculta, dou-te o meu distanciamento, porque
sinto que não podes olhar pra mim”.
Nos relacionamentos, de uma maneira geral, em especial
os de casais, esse distanciamento se intensifica, muitas vezes, pelo
fato de a relação pedir do outro aquilo que ficou em pendência
por um dos pais. A cobrança se intensifica por uma parte, e a dor
muitas vezes se cronifica pela repetição dos padrões de compor-
tamentos estabelecidos naquela relação.
Na verdade, todos os vícios ou, como chamo, todas as repeti-
ções de um mesmo padrão cronificado ao longo da vida, nada mais
são do que a permanência de um comportamento que não foi per-
cebido, e que toma a identidade da pessoa que, mais tarde, diz que
assim é a sua personalidade, ou “eu sou assim mesmo”.
Muitos dos conflitos relacionais e, consequentemente, so-
frimentos, vêm dessas cronificações de padrão de comportamento
do EU ou EGO.
É nesses movimentos que estão os vícios orgânicos, como as
drogas, alimentação repetitiva, ou mesmo vícios relacionais, que
permanecem estáticos sem fluir no próprio movimento da vida, que
daria a conexão das necessidades do momento presente.
Percebe-se que, muitas dessas atitudes repetitivas, sufo-
cam os relacionamentos que deveriam se mover no fluxo da vida.
Mas, de certa maneira, ficam presos nos mesmos movimentos de
dor, por um querer ajudar ou salvar o outro do seu padrão de re-

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petição, acreditando que é o padrão do outro que o torna em so-


frimento em seu próprio padrão.
De uma maneira mais ampla, poderíamos dizer que nas re-
lações conflituosas temos padrões de interação repetitivos, onde
um alimenta o padrão de dor do outro, criando uma curva de con-
tração negativa de dor e sofrimento que perpassa as gerações.
De outra forma, se cada um se responsabilizasse por seu
padrão de repetição, poderia, ao transformar a si mesmo, não
alimentar mais o padrão do outro e, quem sabe, transformar a
relação de dor em amor.
Por isso, é importante que voltemos para a nossa curva de
expansão, onde a vigilância em nosso corpo de dor, momento a
momento se volta para as soluções possíveis, para a evolução de
nossos padrões de interações, alargando o nosso amor sempre
para mais, como apresentamos no capítulo 1.
Encontrar nosso real propósito e estar, também, em seu
propósito, e ainda assim estar na presença do amor. Este é o nos-
so desafio.

Relacionamentos incompletos

Muitas vezes, antigos relacionamentos fazem sombra sobre


as relações atuais. O passado retorna solicitando completar aquele
amor que ficou pendente e não conseguiu concluir.
Esses relacionamentos permanecem suspensos, dentro de
nós, porque temos a sensação que algo não foi completo, nós não

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

conseguimos internalizar aquele amor, então algo incompleto vai


desejar se completar.
Casais que estão em segundos relacionamentos costumam
trazer queixas de que o outro está tendo comportamentos seme-
lhantes ao anterior ou, muitas vezes, não conseguem estar em har-
monia e, em seguida, arranjam algum motivo para uma separação.
Foi assim que recebi o casal Guilherme e Mariana para um
processo terapêutico. Ela havia deixado seus projetos pessoais em
sua terra natal, para casar com ele e morar, inicialmente, em uma
pequena cidade de Pernambuco.
Ele já tinha uma primeira família com filhos, separou-se por
amor à Mariana e todo o tempo vivia em uma profunda tensão de
fazer o que ela solicitava diante das ameaças ao seu retorno para
a cidade de seus pais.
Guilherme precisava dar assistência à primeira família, e
Mariana tinha crises de ciúme sentindo-se excluída, uma vez que
Guilherme teria finalizado a primeira relação, por causa dela, ape-
sar de ele sempre afirmar que o primeiro casamento não existia
mais.
São notados, neste caso, conflitos eternos, busca por sepa-
ração e, ao mesmo tempo, pela permanência no relacionamento.
Em um momento, uma constelação foi aberta com os
membros da primeira família de Guilherme, e a inclusão do se-
gundo casamento, que seria com Mariana. Aquela imagem rapi-
damente despertou para os confrontos e soluções.
Mesmo que Guilherme e Mariana quisessem permanecer
juntos, eles tinham uma raiva oculta por terem se apaixonado e
destruído a primeira família. Ele, por ela ter aparecido em sua vida

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

e o mobilizado tanto; ela, por ele ter abandonado a primeira mu-


lher e filhos, por ela.
Ele não conseguia se entregar ao novo movimento por uma
culpa que carregava diante daquela família e, no externo, culpava
a própria Mariana por querer todo tempo ir embora.
Ela não confiava que aquele homem pudesse protegê-la,
porque ele, na sua visão, ainda estava prisioneiro da primeira fa-
mília, e criava conflitos em busca de seu próprio lugar. Mas ela se
sentia culpada da situação, não se permitia ocupar o próprio lugar
de segunda esposa.
Quando este oculto fora se revelando, e eles puderam com-
preender o papel importante e não vitimizado da primeira mulher,
e reconhecer os novos movimentos da vida que os favoreciam, algo
se moveu no sentido do amor, e eles puderam estar juntos.
Outra cliente, de 62 anos, procurou-nos angustiada por ser
casada há 36 anos e ter reencontrado seu primeiro amor, e não saber
o que fazer diante deste impasse que o destino lhe aprontou.
Agora, ela tinha uma história com o marido, que não queria
fazer nenhum movimento para esquentar o relacionamento e, do
outro lado, um sonho infantil querendo se completar.
A impulsividade poderia ser um grande conciliador desse
conflito, mas muitas dúvidas pairavam sobre Carla.
Aproveitamos o momento para realizar uma meditação, on-
de ela completaria em imagens todo processo não concluído com o
primeiro amor. A partir daí, chamamos em imagem seu marido,
mostrando para ela os pontos que ainda não teria concluído tam-
bém, e que poderiam estimulá-la a buscar ainda neste relaciona-
mento o complemento do amor que ela tanto buscava.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Carla pode apaziguar o conflito interno e prosseguir com o


atual relacionamento.

Eu traio e morro por você

Norma tentou, por vários dias, um horário. Dizia que era


urgente e que enfrentava problemas no casamento.
Geralmente, dou preferência aos casais, por serem aten-
dimentos ricos que me trazem novos aprendizados. Cada casal me
mostra onde os sistemas se conectam e espelham seus próprios
sistemas de origem.
Norma chegou pontualmente para sua sessão, mesmo que
tenha mudado toda a sua agenda em uma hora. Encaixei-a no ho-
rário de um cliente que adoecera.
Logo que senta na poltrona, traz toda a sua vida à tona. Um
marido “muito bom” e um casamento perfeito há mais de 25 anos.
Norma conhecera Fábio, ainda jovem, e seria ele o homem
com quem aprendera a ser mulher, mãe, e a conhecer o universo
das relações. E assim poder sair do conto de fadas, que acreditava
ser o casamento em que vivia.
Desde que casou com Norma, Fábio ainda virgem, não con-
seguia ter uma vida sexual ativa. Ela teve filhos sem nunca ser pe-
netrada, e acreditava, ou ele a fazia acreditar, que o sexo não era
importante na relação, cobrindo-a de mimos.
Esta relação poderia ter permanecido neste movimento
para sempre, se não fosse Clóvis, o marido de uma amiga, que se
encontrava assiduamente com o casal. Norma e Clóvis se apaixo-

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naram e viveram às escondidas, durante dois anos, quando ele se


separou momentaneamente, mas Norma não conseguia deixar
Fábio, por ele ser um homem muito bom.
Finalmente, Clóvis terminou a relação com Norma, colocando
o perigo que ele estava correndo por causa da relação. Norma entrou
em sofrimento profundo, porque acreditava que este era o amor da
vida dela, mas resolveu tocar a vida em frente.
Quando me procurou, eu a indaguei a respeito do que ela
gostaria de ter como resultado: esquecer Clóvis foi a resposta.
Pedi que ela posicionasse as cadeiras que representavam o
marido, ela, o amante e sua mulher. Para minha surpresa, ela co-
locou dois casais que se comunicavam entre si, tendo ela e o
amante no centro.
Quando em ressonância com o campo de memória colocado,
o marido estava incomodado com a presença do amante, mas, ao
mesmo tempo, não queria olhar para a mulher, queria olhar para o
amigo, como se existisse uma atração.
Pensei inicialmente que poderia ser ele homossexual, mas
antes que eu falasse, ela me explicitou suas dúvidas em relação à
escolha sexual do marido.
Preferi sentir o que o amante trazia em seu campo, e ele
estava muito amedrontado, achando que a família dele estava em
risco de vida, e que o casal de amigos se tornara perigoso para sua
mulher e filhos. Retornei à cadeira do marido, que olhava por trás
da mulher, buscando a sua mãe.
Confirmei com Norma a possível ligação do marido com a
mãe, e ela me confirmou. Neste lugar também sentia a dor de um
pai ausente, que ele não conectava, e solicitei que ela me infor-

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masse o que acontecera com o pai, de fato. Para minha surpresa,


porque ainda tenho surpresas com o mistério deste trabalho, ela
me falou que seu pai fora assassinado pelo marido da amante que
também o assassinara. Eram casais amigos, onde seu pai se apai-
xonara pela mulher do amigo e, sistematicamente se encontra-
vam, até o amigo descobrir tudo e acontecerem as mortes.
Entendi o que Bert Hellinger fala das compensações nos sis-
temas, e como um casal pode assumir o sistema do outro, por amor.
O marido que reprimiu sua sexualidade, para não repetir a
história do pai, colocou sua esposa neste lugar, quando não ofere-
cia a ela a sexualidade plena e, também, não permitia que ela esti-
vesse com outro homem, quando lhe dizia que mataria o homem
que encostasse nela, depois ela comentou.
Norma saiu do consultório leve e eu apenas convidei-a pa-
ra ficar um tempo sem envolvimento com o amante, para que
pudesse compreender melhor tudo o que lhe acontecera, sem
oferecer risco para sua vida.

O feminino e o masculino em nós

O feminino é a força dentro do amor que recebe e se tra-


duz na matéria.
O masculino é o amor dentro da força que expande e se
traduz no vazio.
Toda existência está em equilíbrio, agora, mas para manter-
mos este equilíbrio, muitas vezes, entramos em mini-desequilíbrios.
Aos poucos, vamos ampliando nossa visão sobre essas duas qualida-
des de energia que, juntas, se traduzem na luz.

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A busca do ser uno

Maria, frequentadora dos grupos abertos de constelação,


que facilito mensalmente, marca um horário em consultório, jun-
tamente com seu ex-marido, na intenção de consolidar a separa-
ção de um casamento que lhe tinha feito tanto mal e que, há seis
meses, já estavam em “separação de corpos”. As aspas são para
frisar que se a alma está em conexão, ela sempre chamará para se
completar o que estava impossibilitado.
Francisco, seu companheiro, estava totalmente inconfor-
mado com a “separação”, e disponível a qualquer possibilidade de
encontro, inclusive chegando a um processo terapêutico que sem-
pre julgou ser contra.
O mais surpreendente, para mim, é ter sido ele o mentor da
separação, que, com muita agressividade, tinha colocado a mulher
de casa para fora juntamente com sua filha de um outro relaciona-
mento. Francisco não mediu palavras que magoassem infinitamente
sua amada, e Maria mergulhou em um profundo universo de dor,
mas na força de encontrar ela (ele) mesmo neste processo.

Resgatando antigas relações

Na primeira consulta, criou-se um campo de compreensão


mútua, onde os padrões de comportamento de ambos criaram a
situação. Este homem “macho”, cheio de crenças de controle so-
bre esta mulher, e esta mulher com muito medo de perder este
homem, provocando cenas de ciúme que aprisionava ambos.

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A maneira que eles encontraram foi trazendo memórias dos


antigos parceiros de ambos, que haviam morrido. Maria era casada
com Marcos, que falecera, e Francisco também havia perdido sua
primeira mulher, de um acidente também fatal.
Francisco era muito amigo de Marcos, o que o fazia estar
sempre em conflito interno em lealdade ao amigo e o amor que
tinha por Maria.
Com sabemos, estes conflitos internos sempre geram os con-
flitos externos, e não era diferente com Francisco, que tinha raiva de
Maria por haver se apaixonado por ela e trair o amigo.
Por outro lado, Francisco falava de sua primeira mulher
com imagens generosas, comparando-a com a maneira de Maria
ser, e isso provocava nela, ciúmes enlouquecedores.
Este padrão de interação foi compreendido por Francisco e
Maria, e o próximo passo seria fazer Maria e Francisco completa-
rem seu relacionamento com Marcos, e libertarem-se para poder
olhar o novo movimento de encontro.
Coloquei uma cadeira à frente de Francisco, representando
o amigo e ex-marido de sua atual mulher. Francisco se emocionou
ao poder falar do amor que ele tinha por este amigo, e que sentia
muito a sua partida, e como estava sendo difícil estar apaixonado
por sua mulher. Pediu que ele pudesse liberá-lo para este movi-
mento, que aconteceu e que foi mais forte que ele, e a partir des-
te momento, Francisco pode falar de uma liberação de culpa que
carregava ao longo do tempo de convivência com Maria.
Por outro lado, Maria pode agradecer a este companheiro,
simbolicamente, que a ensinou a amar, e que ela guardaria esta
memória em seu coração, através das belas imagens da relação.

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No momento seguinte, ela pode olhar para a primeira es-


posa de Francisco e também falar da importância dela na vida de
Francisco, e que ela a honrava.
Francisco e Maria saíram do consultório na certeza de que
tinham que aprofundar este movimento de entrega, porém, ainda,
com muitos medos.

O medo do feminino

No tempo certo, Cecília pode olhar as diversas relações e


ver seu medo de se relacionar com os homens. Memórias de dor,
ainda do casamento de seus pais, memórias ancestrais de sua liga-
ção com índias pegas no laço (expressão utilizada para descrever
as diversas índias, ainda muito novas, que eram laçadas como
animais para servir ao seu dono, no caso, os colonizadores de ori-
gem portuguesa).
Cecília, com sintomas de leves pânicos, pode olhar para su-
as qualidades femininas bloqueadas ao longo da história familiar,
sua vidência, sua força e conexão com a natureza. Também pode
liberar medos e raivas instalados no campo familiar, após o trau-
ma de sua ancestral.
No Brasil, muitos casos semelhantes acontecem – o medo de
tocar nessas qualidades inerentes de um povo, como a vidência, a
magia e a utilização dos elementos da natureza (ervas, fogo, água,
animais, etc.) para o processo de cura, muitas vezes, evitados e blo-
queados. O mesmo acontece com a cultura africana, que traz em sua
raiz as mesmas conexões, até hoje descriminalizadas, menosprezadas
e reprimidas pela cultura racional do homem branco.

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Poder liberar essas memórias também a fez compreender


as suas escolhas e seus medos.
Os desafios não paravam por aí, por Cecília ter uma filha do
primeiro casamento e participar de um grupo religioso que havia
vivenciado todos os processos de finalização de seu casamento.
Neste caso, podíamos ver o quadro na dor. Geralmente, bus-
camos a ajuda de pessoas que se enredam em nossos processos, na
maioria das vezes, sem nos ajudar. Buscamos assim amigos, familia-
res que nos convençam do que o nosso medo está querendo decidir,
mas, todos misturados, não percebem onde a alma quer se encon-
trar no amor, e como os momentos de profunda contração nos ele-
vam para um movimento mais profundo do amor.
Decidimos que, juntos, aprofundariam este movimento de
aprendizados, onde a voz do coração pode falar das dores, mágoas
e medos, e o outro pode escutar sem espelhar suas próprias do-
res. Movimento constante em conflitos de casais.
Assim, Cecília e seu companheiro puderam ficar presentes
no medo da entrega, que geralmente nos testa a partir dos novos
passos que buscamos dar, no aprofundamento do amor.
É um caminho na presença, de não se deixar ser seques-
trado pelos medos, mas na coragem e ir além, em busca de si pró-
prio através do outro.

Violência passiva X Violência ativa

Fátima precisava compreender as crises pelas quais passava,


ao achar que poderia enlouquecer com o marido, pelas imagens que
ele formava sobre ela, mas que seriam infundadas.

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Na dor, Fátima chegara a bater em seu companheiro, que


reagira muito mal à sua “violência”.
Iniciei a constelação solicitando um representante para ela
e outro para seu marido, adicionando a violência passiva e a ativa.
Não causou surpresa o fato de a dor instalada em seu corpo
físico ser a mesma que seu companheiro não conseguia expressar
diante do congelamento das emoções, que um dia foram aprisiona-
das, uma vez que, quando criança, apanhava muito da mãe, sempre
precisava reter o choro e ficar na posição de bate-mais – na lingua-
gem da alma: “eu me sacrifico e exponho meu corpo por amor a vo-
cê, mamãe”, no objetivo de aliviar as tensões dela, que vivia em con-
flitos profundos com seu pai.
No caso de Fátima, seria ela a filha que conciliava os conflitos,
também, de agressividade de seu pai. Ao longo da infância e adoles-
cência, sua mãe continuava refletindo em sua relação, a conciliadora
que, às vezes, se expressava com agressividade tentando acordar seu
marido em suas dores mais profundas.
Assim conduzimos todo o grupo para trabalhar um conflito
onde estaria a violência passiva e a violência ativa, para compre-
endermos que, muitas vezes, o que se expressa em conflito é apa-
rentemente o louco, o que reclama, o que briga, mas que está
apenas expressando a dor do outro que inibe sua força, quando
inibe também sua raiva/agressividade.
As crianças “boazinhas” têm essa energia de agressividade
passiva e desconectada com sua própria energia vital, através da
emoção da raiva.

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Resgatando a totalidade através do masculino e


do feminino

Contudo, o que falamos acima para fazer o leitor compre-


ender as diversas fragmentações que provocamos em nossas rela-
ções amorosas, é importante podermos falar das possibilidades de
unir o que antes estava separado no EU e TU, nas nossas ancestra-
lidades, no que não completamos com ex-parceiros, etc.
Deixarei este tema no próprio movimento, que talvez nunca
finde, por não me sintir na possibilidade de falar de algo que ainda
estou experimentando em meu corpo, mente e alma.
Deixo com vocês a minha contribuição de vivências com
clientes e, essencialmente comigo, podendo contribuir para somar
as experiências de todos vocês.
Vânia é uma cliente de consultório, que muito me ensinou
a compreender meus medos e angústias. Percebia que por ser
muito jovem, já carregava dentro de si uma nova visão dos relaci-
onamentos mais livres e com mais amor.
O motivo de sua angústia era, exatamente, não ser autori-
zada pelo sistema de crenças a vivenciar impulsos e instintos que
todos nós conhecemos tão bem em nossos corpos.
A ideia de fidelidade X traição, estava sendo contestada den-
tro dela mesma e, por consequência, dentro da própria relação que
tinha há quatro anos com outro jovem e sensível rapaz.
Em sua história de namoro, em alguns momentos, houve crises
com aparecimento de novas pessoas. Dores aconteciam, mas eles não
conseguiam se distanciar. Parecia que era um grande amor de alma.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Perder, antes que eu perca

Vânia, no entanto, só tinha experiência sexual com Sérgio e


se sentia no desequilíbrio de só ter conhecido um homem e, ao
mesmo tempo, com a pressão do sistema de crenças feminino, que
todos os homens são iguais, que todos traem suas mulheres, etc.
Este conflito vivido por Vânia, e que muitas de nós, mulhe-
res, vivemos, estava acentuando um sintoma em seu corpo, nar-
rado acima: a briga entre permanecer fiel ou conhecer novos ho-
mens, entre ser traída ou trair antes, como uma defesa para sua
própria sobrevivência, escondendo a realidade, que seria seu pró-
prio medo de perdê-lo novamente.
Em um momento pude sentir o seu medo em meu próprio
corpo. Já havia tocado, antes, no meu próprio relacionamento
com meu companheiro, mas ali se fazia a oportunidade de cami-
nharmos juntas nesta mesma dor, mas acessando juntas o nosso
eterno amor.
Convidei Vânia para acessarmos, juntas, este medo, e pude
falar para ela que vivenciava os mesmos medos, e que talvez não
pudesse ajudá-la. Mas, ela tinha confiança, e poderíamos seguir
examinando este ponto, que talvez nos trouxesse mais consciên-
cia. Ela disse que sim, que sentia que poderíamos nos ajudar e
assim prosseguimos em nossa investigação.
Iniciei contando para ela de uma experiência que tive com
meu companheiro. Com frequência me sentia ameaçada de perdê-
lo e, quantas vezes, me senti aprisionada por este medo, até me
submetendo a situações que deixavam minha alma pequena. Por
outro lado, também me via respondendo às suas ameaças, provo-
cando situações que o deixava pequeno.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Neste exercício, que chamo de gangorra, já falado no capí-


tulo 1, num momento um estava em cima e o outro teria que ir
para baixo; no momento seguinte, a situação se invertia e o resul-
tado é que ficávamos em equilíbrio, apenas no cruzar rápido dos
dois lados.
Era assim que me sentia, com poucos momentos de estar
na condição igual, de confiança total no outro e no mergulho den-
tro de mim e do meu amado, simultaneamente. Meus medos não
permitiam e ainda não permitem completamente, ser uma mulher
que possa ter um homem no encontro profundo do amor, mas
também em plena liberdade.
Outro ponto que tocamos neste encontro foi como perma-
necer neste caminho do meio que os Taoístas sempre falam. Co-
mo estar de igual para igual, independentemente das diferenças?
Esta pergunta ficou sem uma resposta objetiva, mas mostrou
uma nova compreensão das relações. Que talvez se relacionar seja
apenas uma grande oportunidade de irmos aprofundando o amor e
transformando nossos medos que, talvez, sempre estarão presentes
conosco, como uma maneira de expandirmos nossa consciência
(amor), dentro de nós mesmos.

Uma constelação não pode negar a realidade

Muitos de nossos sofrimentos são imagens internas criadas


pela identificação com a dor passada, e assim criamos novas imagens
em nosso cotidiano de vida, que alimenta este ciclo destrutivo gera-
dor de emoções que se nutrem de nossa energia de maneira equivo-
cada, e nos tiram de nossa conexão maior.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

O corpo de Sandra deu sinais de uma dor profunda, que ela


não sabia identificar, misturando raiva e medo de ir além, na sua
própria existência.
Ao observar esta energia que circulava em seu corpo em
forma de conflito, Sandra percebia o quanto se afastava dela
mesma e, também, de seu companheiro de 20 anos.
O desejo de encontro e, ao mesmo tempo, uma profunda
resistência, impossibilitava-a em sua própria conexão.
Quanta energia desperdiçada nas brigas que intercalam entre
os encontros e desencontros, até observar que ficara estagnada, co-
mo um carro de boi, onde o cocheiro perde as rédeas e os bois deci-
dem seus próprios caminhos se opondo um ao outro, dando como
resultado em lugar nenhum (congelamento).
Estar consciente dos medos, de onde eles vêm (ancestralida-
de) e para onde eles nos levam, é ficar presente com sofrimentos
vivenciados por todas as mulheres ao longo do tempo e aprender a
confiar na dor (contração) para transformá-la na força do amor.
O movimento de amar o diferente (masculino e feminino) é
estar presente com o que ocorre além das palavras, além dos jo-
gos, além do poder. Compreender o amor que tudo envolve é libe-
rar o medo da entrega.

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O despertar do feminino

Gabie, terapeuta que desenvolveu um método de cura super


importante para todos nós, chega ao consultório para me ensinar
que somos iguais em essência e que estamos aqui para novos apren-
dizados, sempre. Pude me ver na exigência da perfeição, de quem
não poderia sofrer por conta da minha trajetória “espiritual”.
Casada há 18 anos com um também famoso “curador”, que
viaja o mundo transformando e ensinando as pessoas com seu
método de cura, Gabie chega com um sintoma em seu corpo,
aperto no coração e falta de ar, vindo acompanhado de um pro-
fundo medo do momento presente da vida.
Ela, que havia sistematizado todo o trabalho, que mais tarde
foi repassado para o mundo levando sua própria vivência para muitos
dos que a acompanhavam, agora precisava “retornar para a casa in-
terna” em busca de mais um aprofundamento do seu próprio Ser.
Confesso que foi um presente recebê-la, porque um ano
antes estava eu, passando pelos mesmos sintomas, e com medo
de dar um salto no escuro do meu universo feminino.
Naquele momento, muitas amigas “curadoras” me ajuda-
ram com seu amor e, também, em muitos momentos, elas se
amedrontavam com o que ocorria em meu corpo.
Elas me conheciam como empreendedora, líder e curadora
de tantas dores dos clientes. Mas sempre respondia às suas preo-
cupações, de que algo acontecia externamente, mas internamente
tudo estava tranquilo, sabendo que era necessário aquele passo
para mim e para todas as mulheres que estivessem junto de mim
naquele momento.

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Era um feminino vulnerável que se apresentava. O medo,


em todo meu corpo, desta nova energia da qual nós, mulheres,
tanto nos afastamos. Agora sabia quantas lutas empreendi contra
os homens e também quantas fugas, com medo que eles me feris-
sem – medo antigo, após tantas dores e descriminação, até nos
tornarmos os próprios homens, vestidas de saias ou, até mesmo,
com as próprias calças masculinas.
Escondemos nossa natureza, nos reunimos em grupos femi-
nistas, assumimos posições de liderança, construímos o câncer de
seios, útero, etc., e esquecemos que essa mulher está ávida por
compartilhar seu amor e sua receptividade à força dos homens.
Esquecemos que somos seu complemento mais perfeito e,
juntos, podemos construir a FORÇA AMOROSA, como passei a
chamar essa integração que há em cada ser humano, mas que só
se realiza no encontro. Os orientais chamam também de união
mística.
Gabie havia realizado um pacto com seu companheiro, de
que não existiria sexo fora do casamento, embora ele estivesse ao
lado de várias mulheres quando viajava. Gabie, por sua vez, sub-
meteu-se e compreendeu que seria assim sua relação.
Ao chegar, pediu-me para ajudá-la a dissolver esse pacto
que não tinha mais sentido, porque ela gostaria de vivenciar sua
sexualidade novamente, mesmo que com outro homem.
Como já foi explicado, no consultório utilizo cadeiras para o
cliente externalizar a memória espacial dos membros e, a partir
daí, fazemos a leitura do campo formado, que contém toda a me-
mória inconsciente do bloqueio que causa transtornos no momen-
to presente.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Sempre vejo nesses campos, que perdemos energia quan-


do algo está em luta dentro de nós. Geralmente, nossa natureza
nos pede para darmos um passo em prol da liberdade e do amor,
e o nosso sistema de crenças e valores querendo que sigamos pelo
caminho da moralidade.
Entenda-se moralidade como crenças que nos separam do
amor, e integridade como o movimento que realizamos conecta-
dos com a possível dor do outro e, por isso, o cuidado de sua libe-
ração. Chamo também integridade de consciência ou compaixão.
Gabie colocou, inicialmente, quatro cadeiras para formar o
campo de memória – ela, sua sexualidade, o pacto, e seu atual
companheiro.
Quando se forma, o campo traz o oculto das relações que o
próprio cliente não consegue perceber em seu cotidiano, como
um peixe que não percebe a água em que vive. Para ela, a respon-
sabilidade seria do companheiro que teria proposto o pacto, mas
o campo não expressou isso.
O companheiro olhava com muito amor para ela, e ela não
queria vê-lo, pois estava presa ao pacto. Nas constelações, geral-
mente colocamos representantes simbólicos, que trazem a memó-
ria do que foi excluído e que precisa voltar a ser olhado. Pude per-
ceber no campo, que se tratava de seu primeiro amor.
Perguntei-lhe se havia este amor da juventude, e o que te-
ria acontecido, pois o representante da sexualidade queria estar
junto ao representante do pacto.
Ela contou que o seu primeiro amor, que durou cinco anos
de relacionamento, teve medo da vida sexual, por serem muitos
jovens, e o relacionamento foi encerrado. A narrativa mostra que

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

ela o desejava muito como mulher, e que, a partir daí, todos os


seus relacionamentos sexuais não envolviam amor, até o casa-
mento.
O pacto inicial não seria com seu atual companheiro, mas
sim com o seu primeiro amor.
Na constelação é importante que haja liberação e conclusão
dos ex-parceiros, para que o novo seja recebido.
Sempre com atenção no corpo da cliente, pergunto como
ela se sente, e a resposta é, “muito mais leve, com coragem de
seguir meu caminho e trazer o feminino de volta com um novo
homem, porque o atual eu não o quero mais”.
Sabemos que ela ainda precisa olhar para este parceiro,
pois juntos construíram muitas coisas boas. Espero que, um dia,
ela possa voltar a olhar para ele com amor e liberação.
Dias depois de nosso encontro, Gabie retorna, diz que mui-
ta coisa aconteceu: o marido falou que retornaria à casa, e que
estava bem melhor do sintoma que o trouxe ao Brasil, mas que
seu coração ainda apertava.
Não costumo realizar uma constelação antes de um mês do
atendimento, por perceber que precisamos de um tempo para aco-
modar a energia movida e sentir as transformações no cotidiano.
Neste caso, abri uma concessão, porque intuí que o seu retorno, se
daria em breve.
Abrimos uma nova constelação com quatro representan-
tes: Gabie, Luca, o aperto no peito e a xamã que realizou o casa-
mento dos dois e que, ainda, interferia no aprisionamento dela na
relação.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

O posicionamento foi curioso, por que Gabie olhava para a


xamã, Luca afastado, e o sintoma ao seu lado esquerdo, como
uma verdadeira companheira.
Juntamente com Gabie, olhamos a imagem, antes mesmo
de entrar em ressonância com o campo de memória que as cons-
telações nos fornecem.
Ela pode perceber o quanto esse casamento xamânico seria
forte para ela e, ao mesmo tempo, como a confrontava. Luca parecia
isolado e, mais tarde, já em ressonância, ele confirmava esse deslo-
camento, como se não fizesse parte do sistema.
O sintoma parecia pequeno. O medo estava localizado no la-
do esquerdo do cliente, dando-nos a indicação de que ela contraía
seu feminino por algum motivo. Todo esse relato vinha acompanha-
do por um aceno da cliente, confirmando as hipóteses sugeridas.
Esta é uma experiência que sempre surpreende, como po-
demos observar as posições reveladas e o volume de energia que
se instala em cada cadeira colocada.
Após as primeiras reflexões, sugeri que ela ocupasse a ca-
deira a que ela mesma designou, e me sentei na cadeira que re-
presentava o sintoma.
Não foi surpresa perceber que era uma criança amedron-
tada. Resolvi me dirigir à cadeira que representava a xamã. Um
feminino forte e velho se apresentou trazendo sabedoria em sua
alma, mas, ao mesmo tempo, sem querer olhar o feminino frágil
de Gabie. Ela reconheceu sua dificuldade e pediu para se retirar do
sistema que não lhe pertencia.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

O despertar do masculino

Ele chega a um momento de explosão por ter comprimido


sua força masculina durante 28 anos de casamento, e já não su-
portava mais.
Casado com uma mulher líder, empresária, mais velha, que
tinha uma grande força herdada das mulheres ancestrais que luta-
ram pela sobrevivência financeira da família em detrimento da
exclusão de seus homens, afastou-se do pai, logo cedo, pela sepa-
ração de sua mãe que se apaixonara por outro homem.
Cedo, João perdeu o vínculo com o pai, e vinha de uma famí-
lia de muito poder econômico, mas escolheu um ofício que não lhe
dava um financeiro efetivo. Brigou com o pai em proteção de sua
mãe, e tinha em suas funções, um aspecto bem feminino.
João e Carol, dois buscadores de si, entram em crise pro-
funda no casamento, onde ele seria o desistente aparentemente,
e ela, aquela que acordou para o amor.
Ele expressava a necessidade de tomar a força e buscar sua
própria liberdade com a separação; ela não compreendia o que
acontecia, porque tinha feito todo o esforço para a sobrevivência
da família, inclusive o sustentando por muito tempo.
Estava claro que a alma dele estava buscando seu próprio
masculino, que até então estava impossibilitado de crescer por
amor a essas mulheres, a sua mãe e, posteriormente, sua mulher.
A raiva dessas mulheres veio à tona, e nem ele mesmo com-
preendia, já que seria o queridinho da mamãe. Mas a raiva deslocada
para sua mulher, agora, porque não teve forças de despertá-la contra

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

a mãe, seria sua própria força masculina que estava bloqueada inter-
namente e que precisava emergir.
A separação do casal foi inevitável, porque os registros an-
teriores eram insuportáveis de ser vivenciados de uma maneira
tão vigorosa.
No entanto, João sai da relação na possibilidade de expan-
dir a força guardada por 58 anos.
Carol também teve, juntamente com a dor e o susto viven-
ciado, uma grande oportunidade de ser cuidada e acolhida pelo
seu próprio feminino, que estava também oprimido.
Proteger nossos homens é deixá-los crianças diante da vida
e do relacionamento, repetindo a ideia de que, um dia, quando
crianças, absorvemos o fato de achar que podemos salvar nosso
pai e passamos, muitas vezes, a defendê-lo diante das dores de
nossa própria mãe, que também o fragilizavam.
Os homens, por sua vez, perpetuam o padrão de querer se-
rem cuidados, de pedir às parceiras que os satisfaçam em suas ca-
rências, em detrimento de retirar seu amor, como um padrão de
educação desenvolvido pelos adultos, de ameaçar abandonar o ou-
tro. Não é por acaso que muitos desses homens buscam outros rela-
cionamentos, na tentativa de suprir essa falta, que jamais será com-
pletada, a não ser por sua própria mãe.
Nesses casos, podemos ver a força do amor sempre presente
em nossas transformações, mesmo que seja por meio de grandes
contrações. Mas me parece que é assim que viemos ao mundo, por
uma grande contração e, posteriormente, a expansão para a vida e
para que um dia, possamos fazer o caminho de volta para casa, onde

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

encontraremos nossa própria essência, que não é mais dual – pai e


mãe, homem, mulher –, mas sim UNO, a inclusão dos dois em um.

A força amorosa

A relação do casal e o início de tudo. Sem este encontro, a


espécie humana não se desenvolve. Uma relação de harmonia
quando o homem e a mulher estão em seu lugar, em equilíbrio no
dar, receber e retribuir (ver cap. 2), expandindo a relação e a con-
fiança, movendo-se para novos momentos de aprendizado – o
masculino e o feminino dentro de cada um de nós, permitindo
uma vida mais plena e com mais liberdade, e um propósito Taoísta
que chamam de união mística.
Hellinger diz que, quando um filho está na esfera da mãe, o
feminino inunda sua alma, impedindo-o de aceitar seu pai e repri-
mindo, em consequência disso, sua masculinidade. E quando a filha
permanece na esfera do pai, o masculino inunda sua alma, impedin-
do-a de aceitar sua mãe e reprimindo, com isso, sua feminilidade.
É preciso estabelecer a ordem do amor entre o homem e a
mulher, para que possamos resgatar a grande troca que existe
entre os sexos opostos, pois cada um tem o que falta no outro, e
em cada um, falta o que o outro tem.
E, finalmente: podermos voltar à relação adulta (crianças),
confiando, amando e nos entregando ao outro e, consequente-
mente, à totalidade misteriosa da vida; podermos ter um olhar
lúcido sobre o que é um verdadeiro relacionamento, com abertura
para aceitação de imperfeições como oportunidades de cresci-
mento, e descobrirmos o tesouro que reflete cada situação vivida

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no cotidiano; olharmos nosso cotidiano, assumindo responsabili-


dades pelos impedimentos na relação, e observarmos o tanto que
existe de repetições transgeracionais, que interferem em nossa
entrega.

O tamanho do medo, o tamanho do amor

Com o que já vimos anteriormente, sabemos que o medo é


uma proteção para que o amor não seja machucado novamente,
como assim foi ao longo de nossa caminhada neste planeta.
O tamanho do medo é o tamanho do amor, quando conse-
guimos nos entregar ao movimento da confiança e da entrega no
amor. Por isso, em muitos relacionamentos, as pessoas ferem,
traem, abusam e até matam por este medo de amar.
É preciso coragem para dar o passo necessário. É importan-
te abrir mão do poder, do estar maior e experienciar o estar me-
nor, vulnerável, se abrindo ao outro com total entrega. Entrega de
uma criança que acaba de nascer.
É simples, mas não é fácil!
Como a criança, inicialmente machucada pela inconsciência
dos pais e, depois, muitas vezes machucada em seus diversos relaci-
onamentos anteriores, poderia retornar ao amor?
Este é o convite do TAO, que nossa busca seja sempre inter-
na, reconhecendo no outro a possibilidade de encontro de nossas
próprias feridas, como uma maneira de enxergá-las e, assim, realizar
o tratamento correto que, neste caso, é inicialmente o amor por nós

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

mesmos, nos compreendendo em nossas imperfeições e, assim, po-


dendo acolher as imperfeições do outro.
Podemos dar o próximo passo, que é não se ver na depen-
dência do outro e, dessa forma, não ter medo de perdê-lo. Nin-
guém perde ninguém se antes não tiver perdido a si mesmo.
Outro passo é reconhecer o outro em nós e, com isso, po-
der tomar o que há de melhor no outro, e doar o que tem de me-
lhor em si, para a expansão do relacionamento. As virtudes se
complementam.
E, por último, libertar o outro dentro de um amor profun-
do, observando dentro de si que isso será sua própria liberdade.
Foi passo a passo que Thaís, aos poucos, se viu novamente
nos movimentos de entrega em relação a Rodolfo, e ele em um
movimento de profundo amor por ela. O amor podendo se ex-
pressar, e o medo se entregando a algo maior através da aceitação
dos novos movimentos que continuam, através de nós e de quem
virá em decorrência desses relacionamentos divinos.
Quando o sol ilumina a terra, fazendo-a florescer, assim é o
encontro divino entre um homem e uma mulher: o Divino por trás
de nossos antepassados, o divino atrás de nós, o divino atrás dos
descendentes. O amor divino que perpassa gerações, o tempo e o
espaço.
Ele é o TAO, a união do Céu com a Terra, do que se expan-
de e se contrai, do nascimento e da morte, do masculino e femini-
no, do medo e do amor.

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Conclusão
TAO das Constelações
um recordar de quem somos

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

“O TAO é vazio
Mas inesgotável
Insondável, o antepassado de tudo.
Dentro dele, as arestas afiadas tornam-se lisas;
Os nós torcidos, soltos;

O sol é atenuado por uma nuvem;


A poeira assenta-se no lugar.
Ele está oculto, mas sempre presente.
Eu não sei quem deu origem a ele,
Ele parece ser o antepassado comum a todos, o pai das coisas”

4º verso de Lao TSE

Não poderia concluir este livro sem honrar e agradecer ao


grande mestre do TAO, Lao Tse que, em um único livro de 84 ver-
sos que nos deixou, desenhou caminhos, muitas vezes paradoxais,
para que pudéssemos nos aprofundar em nossa verdade interior.
Tentarei repassar ao leitor um olhar humilde, jamais na tentativa
de decifrar o Mestre, apenas complementar os aprendizados que
tive nas constelações, quando pude vivenciar em diversos mo-
mentos, que somos memória ativa e que assim sendo, podemos
recordar nossa ancestralidade maior, o grande pai, a grande mãe,
a fonte original.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Quando somos concebidos, isto é, quando nosso pai e nos-


sa mãe se encontram no ato de amor, recebemos o CHI primordi-
al, a união da força de expansão do masculino e do amor, e a re-
ceptividade do feminino. Duas energias que se encontram com
qualidades diferentes e, ao mesmo tempo, complementares, nu-
trindo a nossa essência no mundo manifesto e, assim, iniciando a
formação do nosso corpo físico.
A partir do momento da nossa concepção, iniciamos o pro-
cesso de acúmulo de uma memória existencial em nossas células,
que irão se multiplicar ao longo de nosso crescimento. Ainda no
ventre de nossa mãe, o mundo externo inicia o encontro com as
percepções através dos pensamentos, reações emocionais e físi-
cas, vivenciadas por nossa mãe em contato com seu próprio mun-
do externo.
Nascemos para este novo mundo, desprotegidos e depen-
dentes dos cuidados de nossos pais, ou de outro adulto. Assim,
iniciamos o processo de busca de nossa sobrevivência, na espe-
rança de retornar ao ambiente harmônico do qual viemos, a fonte
original.
Neste ambiente imperfeito ou ainda inconsciente, no qual
encarnamos, na tentativa de nossa sobrevivência, iremos nos subme-
ter a este mundo com os aprendizados instalados em nossa memó-
ria, ou iremos reagir a esses mesmos aprendizados, na tentativa de
mostrar à memória antiga, que podemos fazer diferente.
Nasce assim, a ideia de luta dentro de nós e, consequen-
temente, os conflitos internos que iremos retraduzir para todos os
ambientes de convivência do mundo externo, sejam eles: relacio-
namentos, trabalho, redes sociais, prosperidade, entre outros, na
tentativa de compensar as desarmonias existentes.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Como exemplo, temos crianças que adoecem para que seus


pais parem de brigar, ou mesmo jovens que acham que são melhores
que seus pais, quando tentam conciliar conflitos entre os dois.
Essa memória ativa irá reatuar de maneira semelhante quan-
do essa criança, ou mesmo adulto, iniciar seus relacionamentos com
os mais diversos sistemas de convivência e, em sua inconsciência,
não associará que são padrões que se repetem ao longo da vida,
mesmo que tenham roupagens aparentemente diferentes.
Quando emaranhado novamente, a tensão aumenta e po-
demos ver como consequência, adultos/crianças, em uma possível
atitude de incorporar sua parte vítima (submissão) ou algoz (reação),
que aprendeu desde cedo para receber atenção de seus pais ou adul-
tos cuidadores, ou ajudá-los a enxergar a desarmonia existente, e
que agora se reflete na mesma atitude diante do mundo.
Esses adultos/crianças transferem para os outros a respon-
sabilidade ou culpa pelos seus processos existenciais, estejam eles
atuando como vítimas ou algozes.
Neste caso, a força e o amor, que fazem parte da fonte ori-
ginal, se invertem em dor e destruição das relações e, consequen-
temente, fragilizam nosso corpo físico/emocional, numa crença de
que alguém poderá salvá-lo ou dar-lhes a atenção que seu SER
precisa para recordar a essência original, ou como diz o verso, o
antepassado de tudo.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

O caminho do meio

O caminho do meio é uma metáfora Taoísta para perceber-


mos o quanto nos deslocamos de um lado para o outro na ideia de
que estamos mudando a nossa maneira de ser. Um cachorro mor-
dendo o próprio rabo ou um lobo se movendo em círculos.
Carmem me procurou para abrir uma constelação, porque
seus filhos, que já estavam com 24 e 26 anos, não conseguiam ter
êxito profissional e ainda moravam com os pais. Ela responsabili-
zava o marido por também ser descansado para o trabalho.
Fiquei atenta ao que Carmem falava sobre a sua própria
história, ela de uma família do interior do Nordeste do Brasil, de
origem humilde, com um pai extremamente violento e rigoroso.
Ela fez a representação de quem seria, com a seguinte fra-
se: “Eu nasci para ser pilastras (colunas que sustentam um prédio
de vários andares), eu carrego muitos, comigo. Saí muito cedo de
minha cidade, para me livrar de meu pai, e trouxe todos os meus
irmãos, aos poucos, para o Recife (cidade do Nordeste do Brasil),
onde os ajudei em suas conquistas”.
Com poucas palavras, Carmem pode apresentar a força que
necessitou adquirir ao longo desses anos, mas também o grande
peso que carregava, ao tomar responsabilidade por todos esses fami-
liares, que ela gostaria que se livrassem dos maus tratos do pai.
Pedi a ela que colocasse a constelação de sua família atual
(marido, ela, filho mais velho e filha mais nova) e, na imagem, per-
cebemos que os filhos eram a liga deste casal, e que o marido ti-
nha muita raiva dessa situação, sendo prisioneiro da família que

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

não se movia. Os filhos também não podiam se mover. A família


estava congelada.
Nesses casos, sempre fico pensando em quem poderia re-
presentar o fogo que dissolveria este congelamento e, rapidamen-
te, veio para mim a imagem do pai de Carmem, este homem forte
e violento que, ao mesmo tempo, pode dar a força suficiente,
através do limite, para que todos os filhos sejam bem sucedidos.
Quando em contato com o pai, Carmem pode sentir sua for-
ça, novamente, e integrar de forma positiva os ensinamentos dele,
que no contexto de sua própria história, agiu por amor ao querer
filhos bem sucedidos, em contraponto com sua própria história.
No entanto, ao rejeitar a imagem do pai, ela reagiu e, con-
sequentemente, educou seus filhos sem qualquer limite, dando
tudo que eles queriam, e sem saber que estava retirando a própria
força dos filhos.
Neste caso, esclarece a roda da vida, em que gerações es-
tão presas em um mesmo padrão de comportamento, por vezes
repetindo e por vezes reagindo. Contudo, a prisão do peso e do
relaxamento estava se estabelecendo por gerações, numa alter-
nância que confundia a própria memória familiar.
Quando tomamos consciência desses movimentos, encon-
tramos um lugar de conexão com o movimento da vida, livre e
sem a prisão das compensações familiares. O caminho em que a
nossa própria verdade ou essência pode se revelar a todo instante,
sem a interferência da memória familiar.

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O TAO é indefinível e intangível

“O TAO é indefinível e intangível.


Embora informe e intangível,
Ele dá origem à forma.

Embora vago e indefinível, ele dá origem às formas.


Embora misterioso e obscuro, ele é o espírito, a essência,
O alento de vida de todas as coisas.

Ao longo das eras, seu nome foi preservado


A fim de recordar a origem de todas as coisas.
Como sei o modo de todas as coisas no início?
Olho para meu interior e vejo o que está dentro de mim”

21º verso

Olho para meu interior e vejo uma criança indefesa em


busca de recordar a origem de todas as coisas

Quando crianças, somos indefesos, desprotegidos, preci-


samos de nossos pais para garantir nossa sobrevivência.
Desde a nossa concepção até os dias atuais, recebemos
mensagens em nosso campo que nos movem para uma necessi-
dade da família, e assim nos deslocamos do verdadeiro amor, o
amor consciente, onde permanecemos em nossa força, e em nos-
so propósito na vida.

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Explicaremos abaixo, com mais detalhes, este amor que nos


confunde e nos deixa culpados ou inocentes nas diversas situações, e
nos trazem sofrimentos de separatividade, uma vez que ele nos des-
loca da ideia de sermos iguais em nossa natureza primordial.
Não podemos negar a importância da família em nosso
bem-estar. A família é a nossa primeira base de sustentação, refe-
rência e proteção. O que acreditamos, valorizamos e agimos e,
consequentemente, sofremos ou nos sentimos felizes, está dire-
tamente ligado ao campo criado por imagens internalizadas ao
longo de nossa vida, como também repassadas pelas experiências
de nossos antepassados.
Nós somos 50% nosso pai e 50% nossa mãe. Se olharmos
para o nosso passado, nossos pais também são 50% pai e mãe,
significando que já somos 25% dos avós, e também 12,5% dos bi-
savós. E assim remontamos um passado de nossa história em nos-
so corpo genético atual. E que esta memória em algum lugar do
passado se encontra, nos traduzindo uma interconexão da huma-
nidade, aqui e agora.
Podemos representar o fato como uma grande colcha de
retalhos com interferências positivas e negativas de todos os nos-
sos antepassados.
Essa interferência pode nos trazer prazer e bem-estar, no ca-
so positiva, mas pode nos trazer muitos sintomas corporais, emocio-
nais e psíquicos negativos, no caso do amor interrompido, negado ou
silenciado, em algum momento anterior.
Nas constelações podemos perceber que a pessoa que está
apresentando o sintoma está assumindo algo por amor à família,
chamando atenção dos outros membros sobre a importância de se
incluir alguém que foi excluído no passado.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Percebemos que enquanto essa pessoa do passado não for


incluída, é possível que outros membros da família repitam este
vício para fazer lembrar aquele que foi esquecido.
Em seu livro, O Amor do Espírito, Bert Hellinger fala do
amor cego, como aquele que está à beira do abismo, por encon-
trar-se no âmbito da consciência inconsciente, isto é, ligado a uma
consciência arcaica coletiva, que interfere e define muitos de nos-
sos sintomas e destinos. Aquele amor que se traduz de uma força
inconsciente do próprio sistema familiar, e que nos move em amor
emaranhado nas necessidades da própria família.
Este tipo de amor, diz ele, frequentemente se mostra sob
a forma de doenças, fracassos ou sentimentos dos quais não te-
mos controle; às vezes, em forma de raiva, desespero, tristeza e
decepção.
No fluxograma abaixo tentamos, de maneira linear, apre-
sentar como saímos da fonte original (TAO) em um processo de
deslocamento energético, para nos oferecer ao sistema famí-
lia/social/planetário, na tentativa de ajudá-los em suas transfor-
mações necessárias para o retorno ao TAO, mas, com isso, nos
enredamos e nos perdemos neste mar de inconsciência, instalado
nesta vida planetária.
Através da ilustração, enxergamos que a única maneira de re-
tornarmos à fonte original é estarmos atentos ao não deslocamento.
O transbordar desta fonte que se origina em nosso próprio centro,
isto é, em nosso SER em conexão com o TODO, não é linear, mas sim
multidimensional, como pode ser observado.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Por amor adotamos a dor

Carregamos todas essas informações em nossa memória


celular e, por isso, nos sentimos tentados a repetir situações des-
favoráveis que aconteceram no passado.
Se um bisavô nosso teve um filho não reconhecido, esta in-
terrupção pode estar atormentando-nos até hoje. Uma falta que
pertencia a nossos trisavós foi repassada para nossos pais, que nos
repassaram num processo inconsciente e, hoje, podemos estar

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

querendo compensar ou ser solidários de alguma forma, ou indo


embora da família, ou morrendo ou repetindo a história do bisavô
que teve um filho bastardo.
Outro exemplo são os casos de alcoolismo na família. Mui-
tas vezes, tentamos achar que é um problema do alcoólico. Mas as
constelações nos mostram que, ao refazermos a imagem, consta-
tamos que outros membros da família do alcoólico vão repetir o
mesmo vício, para fazer lembrar quem foi esquecido.
Muitos casos, ao longo desses anos de trabalho e observa-
ção, nos mostraram que este amor adotado é uma maneira que os
descendentes têm de trazer de volta a memória de pessoas que
foram excluídas pelo sistema familiar, sejam elas com laços san-
guíneos ou mesmo seres vivos que foram lesados, expulsos ou
injustiçadas, ou ainda mortos por membros de nossa família.
Este amor adotado nos faz sofrer, adoecer, tentar compen-
sar atitudes, ou mesmo morrer para que a memória familiar seja
unificada.
O método pode nos ajudar a trazer as imagens internas
que temos de nossa família ou sociedade, o que está oculto em
relação ao passado – vivos e mortos – e que está inconsciente. É
possível constatar que atrás de atitudes que julgamos más, existe
também o amor. E através de mudanças dessas imagens, o conste-
lado vai introduzindo, dentro da pessoa, novas possibilidades, no-
vas visões do acontecido.
Durante toda a nossa vida, desde a concepção, essas memó-
rias irão gritar dentro de nosso corpo, querendo nos revelar a memó-
ria mais antiga que irá preencher todas as nossas inquietações, com-
pletar todos os amores interrompidos, nos inundar com a fragrância

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

universal, a que tudo inclui, até nos banharmos na paz interior e ser-
mos UNO, recordando que o TAO dá origem à forma.
Este lugar que buscamos reencontrar dentro de nós mes-
mos, pode também chamar-se TAO. Alinhar a força maior, nossa
mente e nosso corpo físico, aos movimentos da vida que estão em
constante mutação.
Mas a nossa inconsciência de não saber quem somos, mui-
tas vezes, deixa que nossas crenças aprendidas sejam mais fortes
do que o nosso propósito, nos levando a destinos de escolha do
sofrimento.
Encontrar este lugar de honra que merecemos para viver
uma vida plena em harmonia com o todo maior, é encontrar a si
mesmo.
Enquanto não encontramos este lugar, vamos sempre ter
sensações de inquietações nas relações, no trabalho, nas amiza-
des, nos relacionamentos e, sobretudo, na saúde do nosso corpo,
na tentativa de recordarmos o merecimento à vida.

O TAO ancorado na Terra

“Ao carregar o corpo e a alma


E abraçar a unidade,
Você consegue evitar a separação?

Você pode deixar seu corpo,


tornar-se tão flexível como um bebê recém-nascido?

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

No abrir e fechar do portão do céu, você pode representar o


papel do feminino?

Você pode amar seu povo, e governar sua propriedade sem


auto-importância?
Dar à luz e nutrir;
Tendo, mas não possuindo;
Trabalhando, mas não levando o crédito;
Liderando sem controlar ou dominar.

Aquele que dá atenção a este poder


Traz o TAO para essa própria terra. Esta é a virtude primitiva”.

10º verso

Quando o amor não se completa

Em função do nosso amor cego, que nos desloca de nossa re-


al natureza, como explicamos acima, passamos a interromper muitos
relacionamentos com a ideia de morte e vida, ganhar ou perder. Um
amor interrompido é aquele que não se completa, ficando prisionei-
ro de emoções negativas, seja de raiva, tristeza ou medo.
Como reconhecer nossos próprios limites, quando ainda
somos bebês inocentes e dependentes de nossos pais, para que
possamos estar vivos? Parece-me que essa inteligência ou sabedo-
ria nasce conosco, e sabemos que necessitamos ser cuidados pe-
los nossos pais, ou mesmo por outros adultos a quem eles, por
amor, nos entregue.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Neste momento se inicia o nosso amor dependente, aquele


que irá nos acompanhar por toda nossa vida, caso não busquemos
o autoconhecimento e o retorno à fonte original, onde somos li-
vres e em total amor, como um lindo pássaro que entrou pela ja-
nela do hotel onde estava hospedada. Quando olhei, ele se deba-
tia em uma janela de vidro querendo voltar a voar, e quanto mais
ele tentava, mais ele perdia as forças por conta das batidas.
Tentei ajudá-lo, mas não conseguia por conta de sua ansie-
dade, até que caiu cansado e parou em um canto da sala, como se
já estivesse desistindo.
Fui calmamente tocá-lo e consegui tê-lo na palma de minha
mão. Fiz boas intenções para que se acalmasse e coloquei minha
mão para fora da janela. O pássaro ficou quieto por um tempo em
minha mão, tentando entender se poderia voar livre novamente,
longe das janelas de vidro. Após obter segurança novamente, retor-
nou o seu lindo voo diante dos meus olhos, rumo à chapada.
Penso que assim acontece com nossas vidas, quando inter-
rompemos o seu fluxo e ficamos prisioneiros de movimentos que
interrompem nossos voos. No caso do passarinho, o tempo dele foi
rápido, e ele seguiu em frente. Em nosso caso, muitas vezes, ficamos
retidos e sem consciência da saída por anos, vidas, gerações.
Poderíamos oferecer ao leitor exemplos de relacionamen-
tos incompletos, que se instalam em nossa memória e interferem
em nossas vidas para sempre, caso não olhemos mais para o fato.
Sofia, uma cliente que me procurou porque estava em proces-
so de separação, tinha muita dor por conta da confusão que o compa-
nheiro faria em sua vida. Em alguns momentos ele a amava, e em ou-
tros momentos, desaparecia demonstrando total indiferença.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Durante todo o processo de separação, havia algo que não


podia compreender, sob o ponto de vista das Constelações famili-
ares. Até que um dia, facilitando um grupo de formação, falei so-
bre as interrupções e, no atendimento seguinte, ela me falou com
muita contensão de uma interrupção que ela causou e que, desde
o fato, jamais ela e o marido haviam conversado – um aborto
quando ainda eram jovens.
Sabemos que é muito difícil um relacionamento seguir em
frente, após um aborto, por esta dor ficar sendo lembrada a cada
encontro, mas sabemos também que a nossa alma amorosa não
compreende essas dores e quer estar junto, sempre.
Nesta confusão, que não só o passarinho viveu, nós vive-
mos todas as nossas vidas, caso não provoquemos uma reconexão
com nossa essência.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

O TAO – início e fim, juntos

“Torne-se totalmente vazio.


Deixe seu coração ficar em paz.
No meio da pressa das idas e vindas mundanas,
observe como os fins viram início.

As coisas florescem, uma a uma, apenas para retornarem à


fonte...
Ao que é e ao que é pra ser.

Voltar à raiz é encontrar a paz.


Encontrar a paz é cumprir o próprio destino.
Cumprir o próprio destino é ser constante.
Conhecer o constante é chamado insight.
Não conhecer este ciclo
Leva ao desastre eterno.

Conhecer o constante dá perspectiva.


Esta perspectiva é imparcial.
A imparcialidade é a nobreza mais elevada;
A nobreza mais elevada é divina.

Sendo divino, você será uno com o TAO.


Sendo uno com o TAO, será eterno.
Este modo é perene, não ameaçado pela morte física”.

16º verso

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Em busca das conexões

Como pudemos ver, são muitas as razões que nos desco-


nectam da nossa essência, mas nossa alma ou nosso eu superior
busca esta reconexão em todo momento, através dos relaciona-
mentos que rememoram a dor do passado, para que possamos
liberá-la em amor, novamente, ou através de artifícios que bus-
cam sanar as inquietações processadas em nosso corpo, desde
anestésicos, drogas, compulsão por alimentação, sexo, até mesmo
fanatismo religioso. Tudo isso de maneira inconsciente, na tentati-
va da busca por si mesmo.
As constelações vêm revelando a importância do movi-
mento de encarnar, ou seja, trazer o céu para terra. Os Taoístas
falam que somos pontes entre o céu e a terra; Cristo fala da nossa
imagem e semelhança com Deus (unidade).
No entanto, por muitos séculos, nos deslocamos para o céu
em busca de um Deus ou de uma explicação para a nossa vida neste
planeta, e sua origem. Dessa forma, perdemos a realidade da terra
que são: a dualidade, as diferenças, eu e você, vida e morte, a sepa-
ratividade, e nos tornamos exigentes conosco e com os outros em
um processo infinito de julgamentos, comparações e guerras, bus-
cando sempre o lugar de um ser especial, melhor, maior, em detri-
mento de outros piores e menores. Início do desequilíbrio da duali-
dade.
Todas as religiões falam do ser de luz, e toda ciência sabe
como receber energia das polaridades positiva e negativa, e nos
fornecer a eletricidade. Nesta analogia, há 2500 anos, os Taoístas
colocaram o céu como polo positivo, e a terra como polo negativo

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e nós, humanos, como seres de luz quando essa migração de


energia se faz livremente em nosso corpo.
Nenhum bloqueio, nenhum curto circuito em nosso corpo, ne-
nhuma interrupção do amor. Apenas energia fluindo expandida em
compaixão. Céu e terra se encontrando em nosso corpo e transbor-
dando energia para outros corpos, fazendo-os reconhecer o ser luz.

Constelações Familiares liberando o passado inconsciente

“Voltar à raiz é encontrar a paz


Encontrar a paz é cumprir o nosso destino.”

O método vai nos ajudar a trazer as imagens internas de


nossa família, o que está oculto em relação ao passado – vivos e
mortos –, e o que está inconsciente. É possível constatar que atrás
de atitudes que julgamos más, existe também o amor.
E através de mudanças dessas imagens, o constelado vai
introduzindo novas possibilidades, novas visões do acontecido. A
transmissão dos problemas é transgeracional. Assim, o mesmo
amor que é capaz de criar sofrimento é o mesmo que traz consigo
a sabedoria da solução – desde que venha a se tornar consciente
para a pessoa, como observamos na configuração de uma conste-
lação familiar.
Este método une a todos quando percorre a linha do tem-
po e do espaço, mostrando que todos os emaranhados que julga-
mos do passado estão acontecendo aqui e agora, estão aconte-
cendo dentro de cada um de nós, sendo nosso futuro também a
experiência do que está dentro de nós, aqui e agora.

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Então com essa visão sistêmica ampliada do sistema famili-


ar, podemos mudar para algo mais pleno e prazeroso para nossa
percepção do futuro.

O Amor tornando-se consciente

“A nobreza mais elevada é a divina”

Ao nascermos estamos completamente entregues e des-


frutando o amor, onde não há crenças e julgamentos. Iniciamos
pedindo apenas a atenção básica (comer/dormir) e para o enten-
dimento com os nossos pais, nos expressamos com o corpo mos-
trando as nossas necessidades. Neste momento lutamos pela so-
brevivência, dependentes do outro.
A partir daí, entramos num mundo de possibilidades, cone-
xões e luta pela sobrevivência. São instalados novos medos que
nos separam do outro. Compreendemos que nesta vida temos
uma ameaça constante a estarmos VIVOS, e que devemos lutar
contra o inimigo que nos perturba: a MORTE.
A todo tempo ela está junto a nós, e não somos conscien-
tes de sua presença por temê-la, excluí-la e lutarmos cegamente
por estarmos VIVOS.
Em paralelo e frente às ameaças, construímos impérios,
corporações, instituições religiosas, leis para solução de conflitos
que nos distanciam mais e mais dos outros, guerras, famílias, e,
mesmo assim, a vida fica sem sentido.

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Neste conflito interno entre a memória da entrega, quando


nascemos, e a luta pela sobrevivência, surge a possibilidade de
encontrar um novo lugar dentro de nós, que nos torna conscientes
quando ainda estamos lutando para ter mais, mesmo sem correr o
risco da sobrevivência.
É assim que muitos de nós buscamos acumular dinheiro,
bens, relações, entre outros, na tentativa de preencher nossos me-
dos que, muitas vezes, significam uma distração chamada conquista.
Nesta encruzilhada em que nos encontramos, entre viver a
entrega do amor (recordando Ser) e o medo de morrer (crenças e
valores herdados), está o caminho do meio, que nos deixa consci-
entes da importância deste amor entrega para o nosso bem-estar
em paz, podendo responder com a força amorosa (vital) as possí-
veis ameaças. Este amor consciente é a expressão do nosso retor-
no à conexão, onde a separação, tão importante no momento em
que éramos indefesos, agora possa se integrar àquela possibilida-
de de confiança consciente.

Amor consciente

“Sendo divino você será uno com o TAO”

Antes de iniciar a narração do trabalho desenvolvido, gos-


taria de dar ao leitor o entendimento do que significa para mim
“Amor consciente”. Nas constelações ensinadas por Bert Hellin-
ger, podemos perceber que tudo é Amor.
Mesmo o que julgamos de mal, é uma grande onda de
amor que nos leva a grandes sacrifícios. Pude ver isso atuando em

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meu corpo, várias vezes, enquanto consteladora e, também, en-


quanto constelada – o amor que nos liga à família, a nosso clã, a
nossa tribo, e que passa por nossa sobrevivência e pela continui-
dade da vida.
A história da humanidade já demonstrou quantos movi-
mentos de dor aconteceram em prol da expansão de nossas idei-
as, fronteiras, etc., todos eles movimentos em busca da continui-
dade da vida, da preservação da espécie e, para mim, da oportu-
nidade de busca do Amor consciente, um amor que não é mais
privado e sim compartilhado, que não tem fronteiras, credo, raça
e, por isso, não tem o que nos separe.
Um amor criativo e conectado, que não tem medo e sim-
plesmente se entrega ao movimento da vida que não cessa. Para
este movimento se completar em nós, é necessário sairmos da dor
privada, dos nossos próprios julgamentos, da pressão ou bolha,
como chamo, que nos impossibilita de estar com o outro como ele
é; de ampliar nosso campo de visão para cada momento incluir-
mos mais e sermos mais; de compreender e aceitar a vida como
pulsão, onde os dois movimentos (contração e expansão) coabi-
tam; de experimentar o amor cego e o amor consciente a todo
instante, um ajudando ao outro a se compreenderem mutualmen-
te, como o nosso coração em seu movimento compreende o fluxo
sanguíneo, sem nada reclamar ou condenar, como nossos pul-
mões entendem a natureza da inspiração e expiração como fluxo
da vida, sem questionar quando está cheio ou vazio, apenas doan-
do-se para a aventura da transformação do oxigênio em gás car-
bônico, alimentado as células de vida nova a todo instante.
Assim meus clientes me ensinaram que eles foram amados
de diversas maneiras, e que sua tendência é repetir o que apren-
deram do amor.

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Com muitos casos fui chegando a estar mais próxima dos


clientes, exatamente como eles eram, aceitando-os completamen-
te e podendo juntamente com eles realizar novas escolhas, mais
livres e mais conectadas com o momento presente.
No amor cego, ficamos prisioneiros da repetição da mani-
festação do amor, e no amor consciente nos tornamos mais criati-
vos, podendo experienciar a vida em sua diversidade.
Roberto é um de meus clientes mais bravos (assim me refi-
ro a ele) e chegou através de sua mulher, uma pessoa de natureza
doce e amorosa.
É incrível ver como inúmeros homens chegaram até a mim
através de suas mulheres e, depois, resolvem continuar seus pro-
cessos de autoconhecimento por conta própria. Roberto foi um
deles.
A sua questão inicial era o casamento. Ele simplesmente
não conseguia estar presente com sua mulher, que se enchia de
queixas naturais. Ele bebia muito, fazia muita farra, e a tratava
com bastante grosseria.
Quando solicitei que falasse um pouco de seu pai, entendi
que, quando pequeno, todos os finais de semana o pai saía com os
amigos para beber, e o colocava em uma mesa de bar junto à dele,
oferecendo-lhe guaraná.
Roberto assim foi criado com o carinho do pai em um ambi-
ente de bebida, e longe da mãe, nesses momentos. Também se-
gundo ele, o pai o educava com bastante autoritarismo, e foi assim
que ele percebeu o amor do pai. E era assim que ele passava adian-
te o amor para seu filho, acreditando que estaria fazendo o melhor.

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Pulsando o TAO do amor

“Quem quer que esteja plantado no TAO


Não será desenterrado.
Quem quer que adote o TAO
Não decairá.

Gerações honram gerações incessantemente.


Cultivada no SER, a virtude é concretizada;
Cultivada na família, a virtude transborda;
Cultivada na comunidade, a virtude aumenta;
Cultivada no estado, a virtude abunda.

O TAO está em toda parte;


Ele tornou-se tudo.
Para verdadeiramente vê-lo, veja-o como ele é.
Em uma pessoa, veja-o como uma pessoa;
Em uma família, veja-o como uma família;
Em um país, veja-o como um país;
No mundo, veja-o como o mundo.

Como eu sei que isto é verdadeiro?


Olhando dentro de mim”.
54º verso Lao Tse

Numa família existe um fluxo positivo do amor, que acon-


tece com base em uma hierarquia definida por quem recebe de
quem. Sabemos que sempre recebemos de quem veio antes, na
hierarquia do tempo.

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Gerações honram gerações incessantemente

Nossos ancestrais nos dão a vida e nós a recebemos. Quando


se trata da família nuclear, este recebimento também acompanha a
mesma ordem de tempo, e a imagem de que o homem nutre a mu-
lher e a mulher o homem. Juntos, eles expandem a família para ter
seu primeiro filho, o mais velho, e em seguida o(s) filho(s) do meio e,
finalmente, o filho mais novo.
Quando os pais têm apenas um filho, este amor que trans-
borda da relação é doado para este filho, que devolve aos pais em
forma de cuidados quando eles envelhecem e repassam a vida
para seus próprios filhos.
No caso de um segundo filho, os pais partem do amor com
o primeiro filho, e agora partem para o segundo, deixam a família
em harmonia quando o primeiro filho direciona parte do amor
recebido para seu irmão, e segue a mesma sequência para os ir-
mãos que chegarem depois – o antecessor dá parte deste amor
para o predecessor.
Quando esta ordem é quebrada, por morte de um desses
irmãos, ou adoção, o ciclo de entrega fica interrompido, causando
uma disfunção (desarmonia) em toda a família.
Penso que, como o sistema pede a participação dos excluí-
dos, e os membros da família, em proteção à sua dor não o fazem,
então os que estão vivos tentam preencher essa lacuna, saindo dos
seus verdadeiros lugares, fazendo a compensação dos ausentes.
No momento em que esses membros excluídos retornam a
seus lugares e se veem reconhecidos e amados, a família pode
voltar à sua harmonia.

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Rompimento da hierarquia familiar e transtornos existentes

Essas interrupções podem acontecer por muitas razões,


desde a ausência pré-matura de um dos pais, como a exclusão de
um dos filhos. Se o ciclo de harmonia for quebrado, a interferência
é grande para a saúde de uma família.
Podemos ver que esses processos acontecem ao longo da
nossa história ancestral, e sabemos a verdade buscando dentro de
nós esta memória que perpassa gerações.

A harmonia com o TAO

“Aquele que está em harmonia com o TAO


É como um recém-nascido.
Insetos mortíferos não o picarão.
Feras selvagens não o atacarão.
Aves de rapina não o abaterão.
Os ossos são fracos, os músculos são moles,
Mas o aperto de sua mão é forte.
Ele não experienciou a união do homem e da mulher,
Mas é inteiro.
Sua humanidade é forte.
Ele grita o dia todo sem ficar rouco.
Isso é harmonia perfeita.

Conhecer a harmonia é conhecer o imutável;


Conhecer o imutável é ter conhecimento.
Aquilo que está em harmonia com o TAO permanece;

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Aquilo que é imposto cresce por um tempo, mas depois


murcha.
Isso não é o TAO,
E o que quer que seja contra o TAO logo cessa de existir.”

55º verso de Lao Tse

O Divino por trás de nossos ancestrais

“Aquilo que está em harmonia com o TAO permanece”

O encontro do masculino e do feminino em nós

Faz parte de uma força do inconsciente coletivo, que ainda


julga, e é diferente da força maior que tudo experiencia sem julga-
mento. Na constelação temos que aceitar tudo da maneira que é.
Percebermos que tudo o que aconteceu foi necessário e
que pode ficar neste tempo passado. Assim ficamos livres para
viver o tempo que se apresenta, e entender que não temos força
para mudar a ordem das coisas. Relaxamos e tiramos o peso que
colocamos nas costas, e que nos deixava em sofrimento para viver
o presente.

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O homem-céu, a mulher-terra

Colocaram-nos neste planeta e não deram o manual para


compreendermos este mapa simples do corpo, que os Taoístas
tentaram decifrar para nós, como apresentamos no capítulo 3.
Ao nascermos, encontramos o outro diferente de nós, e aí
têm início os conflitos. Diferentes olhares sobre o mesmo aspecto
faz com que nos separemos uns dos outros. Isso está ligado à nos-
sa sobrevivência. Quando estamos lidando com sobrevivência luta-
mos pela vida.
Antes de encarnar, já vivemos o desafio de um ser uno ex-
pandido, comprimido dentro da barriga de nossa mãe, e que, em
seguida, sofrerá as contrações para finalizar em um movimento de
expansão, e ser liberado para a vida, através da expulsão.
Toda parteira sabe tranquilizar a mãe diante de uma forte
contração, sabendo que, em seguida, haverá uma linda expansão
com a saída da criança.
Essa memória de contração e expansão nos acompanha
nas diversas contrações a que chamamos conflitos, e nos diversos
aprendizados chamados de expansão.
Cada vez que nos sentimos ameaçados em nossa sobrevi-
vência, logo chega uma contração para gerarmos soluções em prol
da vida.
Imagino a força maior, quando nos vê em contração, sa-
bendo que logo em seguida haverá uma expansão. Se soubésse-
mos antecipadamente desse novo movimento, não ficaríamos em
tanto sofrimento, e a evolução humana teria a velocidade da luz.

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Só que, muitas vezes ficamos apegados a conflitos inter-


nos, e expressamos isso para pessoas próximas a nós, em nossa
rede de conexão. E assim, vamos nutrindo os conflitos em rede,
criando emaranhados com outros na dor e, consequentemente,
levando essa memória de dor para os nossos descendentes.
Tudo o que vivemos hoje e julgamos que é uma dor, é ape-
nas uma contração. E se dermos a devida atenção à dor, ela irá se
expandir tornando-se amor.
Se refletirmos sobre nossas vidas, agora, veremos quantos
ressentimentos, mágoas, raivas, preocupações e medos, estamos
remoendo por não nos darmos a oportunidade de olhar profun-
damente a raiz, isto é, a origem da dor.
O objetivo do trabalho das constelações é simples – a dor
sendo olhada no ângulo do amor em movimento.
Quando os acupunturistas dizem que colocar uma agulha
serve para que o rio energético flua, está nos dando a chance de
compreender nosso corpo de amor e êxtase. Mas, em seguida,
retornamos, muitas vezes, a padrões antigos, retornando ao corpo
de dor, como sabotadores de nossa alegria.
Nos tempos remotos, a sobrevivência era o alimento, a
proteção do corpo físico para não ser destruído pelos animais sel-
vagens. Hoje lutamos pela sobrevivência de nossas crenças, que
trazem sofrimentos sutis, porque assim estamos nos separando do
próprio humano, isto é, entramos em conflito com nossa própria
raça. Pela cor racial, pelas religiões, pelas nações, por partidos
políticos, por gênero, etc.

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Essas crenças são mais sutis por trabalharem com o imagi-


nário e a ideia de vida e morte. Dessa forma sofisticamos as guer-
ras internas e externas.
Em algum lugar de nossa alma sabemos que somos todos
iguais.
Nós, brasileiros, por exemplo, estamos vivendo conflitos
raciais dentro de nós. O branco, o negro e o índio dentro de nós,
estão em briga e, à medida que escolhemos uma das raças, esta-
mos brigando com as outras, e expressamos esse conflito em nos-
sas guerras sociais.
Podemos refletir onde estamos reatuando crenças passa-
das, que já não fazem mais sentido agora, em um novo movimen-
to da vida.
Alinharmo-nos ao nosso propósito maior, que é unirmo-
nos aos movimentos naturais da vida, que está sempre em muta-
ção, é deixarmos para traz o passado de dor que já não presta
mais sentido à vida, mas sim à morte das relações.

Compreendendo Vida e Morte

“O homem nasce flexível e fraco;


Em sua morte ele é duro e rígido.
Todas as coisas, incluindo a grama e as árvores,
São macias e flexíveis na vida; secas e frágeis na morte.

A rigidez é, portanto, uma companheira da morte;


A flexibilidade é uma companheira da vida.
Um exército que não pode ceder

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Será derrotado.
Uma árvore que não pode se curvar
Quebrará ao vento.
O duro e o rígido serão quebrados;
O macio e maleável prevalecerão.”

76º verso Lao Tse

A nossa não-compreensão de vida e de morte, do mundo ma-


nifesto e do não-manifesto, nos causam medo e insegurança, que se
traduz em nossa própria realidade, nos causando sofrimento, por não
compreendermos a raiz desta dualidade entre vida e morte.
Vida e morte, uma mesma raiz, uma mesma unidade!
Toda família tem uma ordem natural, comentada nos livros
das mutações pelos antigos chineses. O pai, a mãe, o filho mais
velho, os filhos do meio e o filho mais novo. Nesta harmonia todos
podem se olhar, se tocar, se perceber.
Ao longo da vida, muitos fatos acontecem que ameaçam
nossa sobrevivência e, com isso, nos unimos e fortalecemos o co-
letivo, uma maneira de preservar a vida com ajuda mútua. Todos
se ajudando para a manutenção da vida. Penso ser este o primeiro
ato solidário que fortalece a imagem de que o ser humano é, na
sua essência, generoso.
Nesta ideia e na possibilidade de que hoje a família é o siste-
ma mais próximo dos primeiros ensinamentos da luta por existir,
podemos perceber como tentamos livrar os entes queridos da dor.
Com isso, quando perdemos ou excluímos alguém do nosso
sistema, nossa alma sentirá sua falta, e os que permaneceram
tendem a se sentir incompletos, intranquilos e, por consequência,

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muitas reações negativas podem ser iniciadas nesta família, uma


vez que o sistema não está completo e que nossa alma quer unir o
que nos separou.
Partindo desse olhar, podemos verificar, na prática, que
muitas emoções como tristeza, preocupação, raiva, ansiedade e
medo, podem ser consequência dessa ideia do medo de perder
alguém, ou para ser mais precisa, do medo da morte.
Se examinarmos nossas vidas ou a de pessoas próximas,
para cada fato negativo que acontece nas famílias, cada membro
olhará com uma emoção diferente. Alguém morre prematuramen-
te. Uns ficarão com raiva, outros deprimidos, e terá aquele que
ficará preocupado com quem ficou.
Assim, nesses amores incompletos, criamos nossos pró-
prios sofrimentos.
Maurício, um cliente que colocou seu medo de estar parti-
cipando dos grupos de Constelação, partilhou que o medo com
que ele evitava o trabalho, seria o mesmo que o atraía e que o
fazia permanecer no grupo.
Num dos encontros eu falava sobre este amor interrompi-
do, que favorecia tantos transtornos em nossas vidas, quando ele
levantou o braço e compartilhou que o que estava sendo dito,
tinha-o tocado profundamente, e que sentia alguns efeitos do
amor interrompido em relação a seu pai, mas que em sua mente
racional, jamais julgou que isso teria efeitos sobre seu bem-estar.
Convidei-o para se aprofundar neste olhar e pude compreen-
der as razões de algumas dificuldades por ele narradas anteriormente.
Ele concordou em constelar a sua relação com o pai já mor-
to, mas colocou que não teve nenhum relacionamento de convi-

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vência com ele, e que tinha péssimas imagens deste pai que o te-
ria abandonado, segundo seu pensamento.
Quando colocamos representantes para os dois, pude per-
ceber o tamanho do vínculo que eles mantinham, mas que não
estava registrado em sua mente racional.
Seu pai sentindo falta do pai dele, e sem forças para tomar
a vida. A dor do avô e sua história forte de sobrevivência criaram
rigidez na família (ou nos homens da família), que se viam na im-
possibilidade de permanecer em relações de afeto.
O estresse diário de encontrar o prato de comida e a dor da
miséria que vinha de seus ancestrais negros estava aprisionando
Maurício e o transformando em seus próprios ancestrais masculi-
nos, que se utilizavam da violência como meio de sobrevivência.
Ele confirmou que o que se apresentava era reconhecido
em seu corpo e em suas atitudes, e assim pode compreender me-
lhor o pai, avô, bisavô e, quem sabe, tataravô, que lutaram para
ele estar aqui, neste momento, e a única maneira encontrada foi a
da violência.
Maurício se encheu de emoção e pode honrar esses ante-
passados, completar o amor pelo pai e se libertar para sua própria
existência.

O TAO e a saúde do Corpo

“O conhecimento da ignorância é a força.


Ignorar o conhecimento é doença.
Somente quando estivermos fartos de nossas doenças, po-
deremos parar de sermos doentes.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

O sábio não é doente, mas está farto da doença;


Esse é o segredo da saúde”

71º verso de Lao Tse

Corpo ponte entre Céu e Terra

O Eckhart Tolle, em seu livro O despertar de uma nova cons-


ciência, fala da importância de estarmos atentos ao nosso corpo e
que, quando estamos menos conscientes deste corpo, podemos ser
tomados por dores que pertencem à nossa memória ancestral ou a
de outras pessoas. Num momento de inconsciência e em ressonân-
cia, assumimos essa dor e, muitas vezes, agimos por ela.
Quando intensifiquei meus atendimentos nas constelações
sistêmicas, muitas vezes assumia o corpo de dor do cliente, e preci-
sava de dias para que aquele sintoma saísse do meu corpo.
Essa atividade nos mostra quantas emoções podem passar
em nosso corpo, diariamente, sem que possamos nos dar conta. E,
muitas dessas situações vivenciadas nos fazem até adoecer fisica-
mente, por não cuidarmos do corpo no momento adequado.
Como terapeuta, essa vigilância deve ser intensificada, pelo fa-
to de atendermos clientes que depositam em nós a sua dor e, se dei-
xamos isso assumir o lugar do EGO, poderemos ter muitos problemas.
Em outros casos, podemos tomar dores de membros de
nossa família, como foi o caso de Cristina, que já havia realizado
transplante de medula, por ter sido diagnosticada com leucemia,
uma espécie de câncer do sangue.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Chegou ao meu consultório para liberar dores dos conflitos


existentes na família, especialmente com sua irmã. Neste primeiro
contato vi a beleza do encarar a possível morte com tranquilidade
e buscar uma oportunidade para estar em paz com quem ela ama.
Hellinger nos diz que algumas pessoas querem ficar mais
tempo do que o previsto no corpo físico, e outras querem anteci-
par seu processo. Foi assim que olhei para Cristina e suas escolhas.
Ela iria viajar para fazer o último procedimento em prol da vida,
duas semanas depois deste encontro.
Algo me fez convidá-la para mais um encontro, antes que
viajasse, e assim vi a alegria em seu rosto, percebendo do que sua
alma gostaria: de ficar curada.

Pai, o doador universal; Mãe, a receptora universal

Abrimos a constelação com ela, seu sintoma, o doador de


medula e a doação.
Quatro cadeiras representando-os. Para minha surpresa,
ela posicionou o doador em seu lado direito e a doação em seu
lado esquerdo. Quanto ao sintoma, estaria mais distante.
Nesta imagem que refletiu a sua intermediação entre o lado
direito (pai doador) e seu lado esquerdo (mãe, doação) pudemos
realizar a verdadeira cura, ressignificando sua própria história famili-
ar, que a fez carregar pesos durante a vida, até finalizar com o sinto-
ma que pedia para ser cuidada por todos que, em algum dia, ela es-
teve presente para cuidar, proteger e até prover, assumindo as dores
dos conflitos de seus pais.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Demos outro lugar para o doador e sua doação, uma vez


que se ela não pode receber os pais, também rejeitaria quem es-
tava oferecendo-lhe a vida naquele momento.
Dessa forma, ela pode contatar com o amor do doador
universal (pai) e o da receptora universal (mãe), que promoveu a
conexão de sua energia universal com seu corpo físico. Ela os hon-
rou, agradeceu a vida e pediu permissão para renascer através de
outro doador da vida, podendo, agora, expandir sua receptividade
diante da vida.
Quinze dias depois, ela me envia uma mensagem dizendo
que não foi necessário o terceiro procedimento e que ela estava
curada.
Nós não somos nada, apenas projeções de memórias
Nós somos tudo porque somos muito além das memórias
E nesta experiência nos tornamos iguais,

SOMOS TODOS UM

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

O TAO do Amor
Nossa essência permanece em potencial oculto

“Esvazie-se de tudo
Deixe a mente repousar
As dez mil coisas vem e vão enquanto
O EU observa a sua volta
Elas crescem e florescem
E então voltam à fonte.
Voltar à fonte é serenidade,
e assim é o caminho da natureza”

LAO TZU - TAO te king

O retorno à fonte – O grande encontro

Quanto mais atentos estivermos com o que acontece den-


tro e fora de nós, mais clareza teremos a respeito da transforma-
ção dos nossos PADRÕES atuais.
Para obtermos esta clareza, precisamos ser capazes de
contatar com uma dimensão de nós mesmos que é tranquila, sem
tensões desnecessárias.
O relaxamento é imprescindível para estarmos vigilantes e
prontos para a transformação das ações e padrões antigos em
novas ações e padrões. A observação relaxada nos ajuda a com-
preender e a nos livrar de atitudes inconscientes que trazem es-
tresse às nossas vidas.

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

O TAO das Constelações

“Quando o governante conhece o próprio coração, as pes-


soas são simples e puras.
Quando ele interfere em sua vida, elas se tornam inquietas
e perturbadas.
A má sorte é onde se apoia a boa sorte;
A boa sorte é onde a má sorte se esconde.
Quem conhece o final supremo deste processo?
Não existe norma de correto?
Porém o que é normal logo vira anormal;
A confusão das pessoas existe há muito tempo.

Assim o mestre se contenta em servir como exemplo


E não impor sua vontade.
Ele mostra, mas não se intromete;
Ele endireita, mas não destrói;
Ele ilumina, mas não deslumbra”
58º verso de Lao TSE

Gratidão ao Lao Tse


Gratidão ao Bert Hellinger

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Depoimentos
1ª edição

Ana querida, você é fonte


Que jorra firme e forte
Alimentando e curando de monte
Às pessoas oferecendo um norte

O Tao das Constelações


É um livro bonito e verdadeiro
A base é a prática de suas ações
Aprendizado bom e certeiro

Tem vida em seu miolo


E seiva rica nas entrelinhas
Amor que cura e abre o olho
Cuja sabedoria é a rainha

Humanidade em cada caso


Muita sinceridade e carinho
Voa no Tao com asas de Pégaso
Nas constelações o chão e o ninho

Parabéns pelo trabalho


Reconheço a inteireza do gesto
E aos quatro ventos espalho
Alegria de ler um relato honesto

Bom de convalescer é isso


Tempo de sobra para esta ventura

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Submeter-se sem ser submisso


Entregue e feliz ao prazer da leitura

Abraço-a forte assim agradeço


O presente e sua presença
Ciência e poesia desde o começo
Lapidando o ser desde a nascença

Sucesso te desejo de coração


Pro seu livro viver e fecundar
Todo aquele que o tenha na mão
Disposto a aprender e estudar!

Inteiro seu livro li hoje sem parar


De cabo a rabo sem esmorecer
Entregue às linhas sem titubear
Alegria no peito só florescer

Moacir Amaral
Médico e terapeuta
Ser à escuta do Ser

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Ler, abrir a mente, abrir o coração, ser fluida e não uma ro-
cha estagnada... ”Prefiro ser uma metamorfose ambulante” ... A
vida pedindo mais, pedindo pra seguir... largar antigos padrões e
crenças, que nos impedem de ser como rio, que corre feliz, pra
plenitude do mar. Posso ser feliz hoje? Então serei.

Reflexões ao ler o livro o Tao das Constelações, de Ana da Fonte

Georgia Veras
Coordenadora e Fonoaudióloga do Centro Elohin de Equoterapia

Amei o livro! Muito contente por ter recebido um livro tão


“EU” e tão “TU”, principalmente escrito das estrelas daí de dentro.
Gostei muito mesmo.

Maité Castro
Estudante ensino médio e escritora

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Ler seu livro é um presente único


Pois você preparou-o, como se prepara um nascimento...
E tinha que ser um nascimento.
Não é apenas um livro, é uma inserção em si mesmo, uma obser-
vação de si.
Leio muito, mas não quero exagerar, mas a única comparação que
posso fazer de autores é com Paulo Coelho dentro dos quais co-
nheço.
Ele diz assim... “eu escrevo para a mulher que lava a roupa da patroa,
pra benzedeira e pro doutor... porque escrevo com simplicidade”.
Essa tua forma de escrever tem simplicidade, tem consistência.

João Luís

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Bibliografia

Tzu, Lao, TAO te King, 1999, edição 11, Editora Pensamento


Hellinger, Bert, A Simetria Oculta do Amor, 2004, 9ª edição, Edito-
ra Cultrix
Hellinger, Bert, Ordens do Amor, 2010, edição 09, Editora Cultrix
Hellinger, Bert, Ordens da Ajuda, 2005, edição 01, Editora Atman
Hellinger, Bert, O Amor do Espírito, 2009, Editora Atman
Osho, TAO, o Portal Dourado, Shanti Editora
Osho, TAO, suas histórias e seus ensinamentos, 2013, edição 11,
Editora Cultrix
Osho, Criatividade: Liberando sua força Interior, Editora Cultrix
Osho, O livro da Cura – da medicação para a meditação, Shanti
Editora
Osho, Destino, Liberdade e Alma, qual o Sentido da Vida, 2012,
Editora Academia
Dyer, Wayne W., Novas ideias para uma vida melhor – Descobrin-
do a sabedoria do TAO, 2009, Editora Nova Era
Tolle, Eckart, O Poder do Agora - um guia para iluminação Espiri-
tual, 2002, Editora Sextante
Tolle, Eckart, O Despertar de uma nova Consciência, 2007, Editora
Sextante

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O Tao das Constelações | Ana da Fonte

Mantak Chia, A Energia Curativa através do TAO, 1997, 10ª edição,


editora Pensamento
Lewis, Dennis, TAO da Respiração Natural, 2003, Editora Pensa-
mento
Capra, Frijof, A teia da Vida – Uma nova compreensão dos siste-
mas vivos, 2000, 9ª edição, Editora Cultrix
Ashby, Ross, Design for Brain, Jonh Wiley, Nova York, 1952
Bertalanffy, Ludwig Von, General System Theory, Braziller. Nova
York, 1968.

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