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com - HP16216174934111
THAIS DE OYÁ
Poesia
de Terreiro
PREFÁCIO..............................................................................08
INTRODUÇÃO.......................................................................10
AGRADECIMENTOS............................................................12
PARA EXU..............................................................................13
Felicidade
Crença
A Dança do Mensageiro
O Início de Tudo
Reviravolta
PARA OGUM.......................................................................20
Casa de Ogum
Feijoada
Triunfo
Patakori
Coroa de Mariwô
PARA OXÓSSI......................................................................27
Ode a Odé
Instinto
Aguerê
Flecha
Liberdade
Eu dedico esta obra a todos aqueles que acreditam que Ìwà Rere
(bom caráter) é a cura para todas as mazelas do ser humano e a
todos aqueles que acreditam que a natureza é a cura para todas
as mazelas do mundo. Dedico este livro a todos aqueles que se
permitem conhecer a si mesmos no outro, e a todos aqueles que
não são contidos em seus bons sentimentos nestas eras de mentiras,
jogos e simulações. Muitas vezes ouvi que eu era “sentimental”
demais. Agradeço a Orí por isso. Como bem diz Graciliano Ramos:
“Comovo-me em excesso, por natureza e por ofício. Acho medonho
alguém viver sem paixões”.
Dedico este livro, acima de tudo, a todos aqueles que, assim como
eu, tiveram suas vidas transformadas por Orixá.
Thais de Oyá
A agitação desregrada
mentalidade desenfreada
Quem carrega as ferramentas
Na cabeça
Quem usa o corpo de frente
Pro dia a dia.
Ogum Ye
“Patakori”
Instinto é
o que me faz estudar a presa
que me faz alerta
e não me deixa enganar.
Se é bonzinho demais,
fala mansinho
faz de tudo pra me agradar...
Cuidado redobrado!
Algo me diz que
aí tem alguma coisa
que não querem me mostrar.
E quando eu me mostro
sou flecha em disparada
única e precisamente atirada.
Sei bem onde quero ir
e não demoro a chegar.
Atravessam a madrugada
insones, conhecedores do escuro
não morrem, não falecem
antes do dia chegar, entardecem,
e desaparecem com um giro.
Respeita-se a elegância
da flecha única do pai de Ketu,
que não reluta nem repensa.
Antes, se atira para a eternidade
o Senhor das poucas palavras,
e da voz imensa.
Ao dono da Terra
mais uma vez peço licença
e um pouco de coragem
pra enfrentar as mazelas que chegam
que tão incontroláveis feito elas
sejam as curas que precisam se espalhar.
Senhor da terra
que de velho nada tem
além dos milênios de conhecimento
dos homens que por cima dela andam
Das crianças que a todo segundo nascem
e por ela vão e vêm.
Meu amor mais antigo,
ouve minhas preces,
também me conheces como ninguém.
Se tu tem alma
a folha tem também.
É magia pura
concedida à sua procura
pra tua natureza despertar.
Ko sí ewé
Ko sí Òrisá
Sulco d’árvore,
Galhos que conversam,
Cachimbo e fumaça,
Não quebrem a cabaça.
Sem folha,
Não tem vida,
Sem vida,
Não tem Orixá.
Na terra úmida airada por suas escamas Chuva pra mim é benção,
Quem se atreve a sibilar os olhos Arco-íris é magia antiga,
Vagueia e serpenteia a própria sorte Bote de cobra é livramento
Lá onde o barro é porcelana E Oxumarê é a escadaria
E as vistas grossas de antes Que leva ao Orun,
Encontram os mistérios da vida e da Maior dos firmamentos.
morte.
E isso bastou
pra curiosidade do adulto acordar.
As cabeças se voltaram
buscando o sol de mais cedo,
e os olhos sonolentos fechados
se abriram sem medo
pra ver a serpente passar.
- Chuva que preciso, venha logo “Minha velha, ajuda essa minha gente.
que não posso mais esperar. Não deixa ninguém de sede morrer.
Enche nossas fontes, nossos poços.
Ouvia meu pai dizendo, sem esperanças Torna nossa vida um pouco mais fácil de viver.”
e minha avó prontamente o interrompia:
Adormeci nos braços do fim da tarde,
- Não fale assim na frente da criança! com um céu laranja, pintado de vermelho.
Não foi essa a educação que te dei! Acordei, no dia seguinte, ao som dos pingos.
Já disse que chuva é o sagrado Foi dia de festa no sertão inteiro.
e o sagrado sempre sabe a hora de aparecer.
Nanã amada
fonte daquilo que faltava,
das águas puras renovadas,
lava essas vidas
correndo de lá pra cá.
Oxum leoa,
Tá no dia a dia da mãe que mal se olha no espelho
Mas se sente a mais linda
Quando os filhos se alegram vendo sua coroa
chegar em casa depois do dia cheio.
Oxum Leoa,
Tá nos braços da executiva sobre a mesa cheia de homem,
Falando o que fazer e quando fazer,
Porque se não for do jeito dela
É melhor nem acontecer,
Vai ser trabalho mal feito e a toa.
Ela ralou muito pra estar ali
Não é o leão quem caça, é a leoa.
Oxum Leoa,
Tá na conversa da mulher mais experiente
Que fala pras jovens os conselhos mais pra frente
Que dá a dica e a pista do mapa da mina
Pra ninguém chorar depois de avisada.
Oxum leoa,
Tá no salto da drag, no batom da trans, no trejeito da
afeminada
Ela não tem medo de ser recriminada
Bater de frente com ela não é uma opção,
Respeitar é a única saída pra você, meu bem
Porque de onde ela vem, é a leoa quem manda no leão.
Oxum leoa,
Tá na esperança da mulher que sofre
Porque a cada lágrima dela que escorre
Ela sabe que vai ser água de matar a sede
Da leoa que com a sorte vive de flerte
E por mais que pareça, nunca dorme.
Se o equilíbrio existe
e em tudo habita bem e mal
o homem com o dedo em riste
queima a floresta,
contamina a água
extingue o animal.
Nessas horas,
os pássaros cobrem os céus
com suas coloridas penas.
E viajam desesperados
para perto dEla.
Entoam cânticos
em sua homenagem
“Ri ró! Ri ró!” Refugiados filhos
que correm, voam
deste mundo frio
e pousam alegres
nos braços de Ewá.
Entoam cânticos
em sua homenagem
Ri ró! Ri ró!
A Deusa do segredo,
Conhecedora de todos os enredos
Sibilou em meus ouvidos seus encantos.
Seus lábios não carregam veneno,
Ela é meu antídoto para todo quebranto
E sorrindo de canto a canto
Deu-me a sua visão:
Ewá não rasteja,
Ela é o próprio chão.
Firme, seguro, antigo,
Puro, como seu coração.
E há quem diga
que sou dedo em ferida
Fera enrustida
de natureza tenaz.
Se Ye ye o
é rio de amor sem fim
Iansã é alfange
que por amor
luta por mim.
Não que não lhe caia bem o ouro que herdou, ou o ijexá
que dança com pertencimento. Mas plumas e peixes
não preenchem o espaço no peito de quem nasceu
para desbravar. A delicadeza de uma corte, até parece
bastante adequada à toda sua postura, ainda mais
levando em conta a beleza de Oxum que não se perde
daqueles com quem Ela se senta à mesa para comer,
que dirá Àquele a quem deu vida. Ainda assim, por trás
de toda pompa, brilho e equilíbrio aparente, há o olhar
estreito de um Odé, que aprendeu a usar uma flecha
só, Daquele que nunca precisou de mais do que isso.
Omorodé, Logun é o filho que Oxóssi leva para caçar,
ainda que prefira a solidão. Amar é alimento. Amar aos
seus é prosperidade. Amar aos seus e ser amado de volta,
é fartura e sorte. Amar não é para os frágeis, e Logun, por
mais que pareça, nada de frágil tem.
Yèyé omo ejá (“Mãe cujos filhos são Sem joias ou ouro para se agarrar à
peixes”) Yemanjá é a riqueza na juventude, estampar vaidade.
simplicidade. É o amadurecer com o Yemanjá é a prata da naturalidade.
passar da idade. É a voz sedutora que
insiste em dizer pra gente que as coisas Sem armaduras ou cobre para se
vão melhorar, que o que precisamos é de defender de si mesma, refém da
equilíbrio. impulsividade.
Yemanjá é a pérola da sinceridade.
Yemanjá é a fortuna de aceitar ser amado,
é a sorte de amar com tranquilidade. É Amor de todos os a[mar]es,
sobretudo a serenidade do mar, que sabe Festa de aldeia ou noite mansa
que soberano, acima dele só o céu. Água de todos os altares,
Yemanjá é religiosidade.
Yemanjá é o ancestral que atravessou o Mãe do sorriso das mães,
continente, é a herança do corpo que não Moça em todas as mulheres,
se perdeu no abismo. Abraço suado de criança
É a certeza de que família é sangue, Yemanjá é felicidade.
espírito, vontade.
Yemanjá está no perfume da paz da nossa
casa.
Yemanjá é cumplicidade.
“O Rei chegou!
Kaô, Kaô!”
Atreladas à responsabilidade
de ser exatamente o que são.
umas calçadas, outras sem nada, seminuas
ora tímidas, ora dadas,
sempre puras.
São mistério
tão grande em pequeneza
de palavras enroladas, mensuradas
carregadas feito nuvem
de inocência e leveza.
Quem vê ama
quem não viu, quer ver
o balaio virar quitanda,
e brincar na mão do Erê.
General arredio,
genioso pensador.
Rei em plenitude
nas vestes de soldado.
Mestre nos conflitos,
meu Holmes é Nagô.
voltar ao sumário
Repetindo o mantra
Fui comprar uma rosa branca
Mas em troca de uma benção
a ganhei do vendedor.
Por cada rua que passava,
querendo que chegasse logo minha casa
uma legião de olhos me acompanhava.
Curiosidade, espanto, admiração
Nenhuma dessas emoções me incomodava
Mas quando senti a intolerância na pele
Não consegui ignorar, não.
Esperando o ônibus, deu meio-dia
E fui correndo pra debaixo de uma sombra pedir agô
Ali concentrada, me sentindo mareada
Chegou perto de mim um tal senhor.
Entre berros e palavrões, dizia que Jesus me amava
Falava sobre o sangue de Cristo, que expulsava as mazelas
Enquanto me xingava.
[Todos passavam e ninguém fazia nada]
“Eu só poderia crer num Deus que soubesse Aí um dia perguntaram pra mim:
dançar. (...) Eu aprendi a andar; por Por que tudo isso acontece se você disse sim?
conseguinte corro. Eu aprendi a voar; Acontece porque, “sim” é muito fácil dizer
portanto não quero que me empurrem para quando se vê da estrada o fim.
mudar de lugar.
Agora sou leve, agora vôo, agora vejo a Quando eu disse sim
mim mesmo por baixo de mim, agora dança o mundo continuou o mesmo,
em mim um Deus” . mas só para os outros,
não pra mim.
Quando eu disse sim
tudo era nuvem
confusão, escadaria.
Ninguém entendeu
um ou outro apoiou
e a maioria achou demais.
Minha bússola,
Minha âncora.
Em 2020, migrou o acervo de seus escritos para sua página solo intitulada
“Thais de Oyá” (@thaisdeoya), conforme seu pseudônimo. Atualmente, a
autora também é colunista da revista digital “Koba” (@kobaexu), onde assina
semanalmente, às quartas-feiras, a coluna “Ojú Okàn - Os Olhos do Coração”,
com reflexões em prosa acerca das questões que permeiam o universo das
religiões de matriz africana.
Para isso criamos a iniciativa LIVROS DE UMBANDA, que funciona como uma
editora para facilitar o lançamento de novos autores que escrevem romances
inéditos (mediúnicos ou não). Neste você conhece o primeiro e tão aguardado
livro de poesias de Thais de Oyá, que pela primeira vez reúne seus poemas
neste formato, ricamente ilustrado pela arte de Breno Loeser.
Leia, divulgue, comente! A Umbanda é feita por todos nós!
E se você é autor, gosta de escrever ou conhece alguém que possui este dom
e/ou talento, acesse:
http://editora.umbandaeucurto.com.br/
Muita luz a todos!
Editores
UMBANDA EU CURTO
REVISÃO
Alexandre Negrini Turina – MTB: 64.157
RELAÇÕES INSTITUCIONAIS
Daniel Fernando Marques
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