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Reflexóes
R o s a c r u z es
Reflexóes
Rosacruzes
CHRISTIAN BERNARD
Ia Edigáo
A M <4 » 1 €
O rdem Rosacruz
Curitiba - PR
2011
Christian BERNARD
COORDENAgÁO E SUPERVISAD
Helio de Moraes e Marques, F.R.C.
Grande Mestre
BIBLIOTECA ROSACRUZ
ORDEM R O SACRUZ, AM O RC
GRAN DE LO JA D A JURISD 1QÁO
DE LÍN G U A PO R T U G U E SA
\ a f e DIFFUSION
V ROSICRUCIENNE
Cháteau d’O m onville
2 7 110 Le Tremblay
France
Título original Francés:
Réflexions Rosicruciennes
Indice
Prefácio do Grande M estre.... ........................................................................ 6
Introdugáo........................................................................................................ 10
E ntrevista......................................................................................................... 14
A alquimia esp iritu al.....................................................................................30
Ia Edigáo em Língua Portuguesa Todo sofrimento é aceitável na l u z ............................................................. 42
2011 E voluir...............................................................................................................46
A crenga............................................................................................................ 50
Ser e ter..............................................................................................................52
IS B N -9 7 8 -8 5 -3 1 7 -0 2 0 4 -4
Estejamos em p a z !......................................................................................... 54
Tudo m elhorou!.............................................................................................. 58
Todos os Direitos Reservados á A consciencia cósmica....................................................................................62
ORDEM ROSACRUZ, AMORC Tomada de posigao......................................................................................... 66
GRANDE LOJA DA JURISDigÁO O Espirito Santo............................................................................................. 72
DE LÍNGUA PORTUGUESA A solidáo........................................................................................................... 79
A harm on ía...................................................................................................... 84
Avante com alegría!........................................................................................ 93
Proibida a reproduqáo em p arte ou no todo Humildáde, dignidade, coragem ................................................................ 98
A forga............................................................................................................ 109
A felicidade....................................................................................................113
A sabedoria..................................................................................................... 123
Escutar, falar, com unicar........................................................................... 127
Traduzidó, composto, revisado e impresso na
Grande Loja da Jurisdigáo de Língua Portuguesa A beleza u n iversal........................................................................................138
Rúa Nicaragua, 2620 - CEP 82515-260 Homenagem a H arvey Spencer L e w is................................................... 142
Caixa Postal 4450 - CEP 82501-970 Convicgóes rosacruzes................................................................................ 155
Curitiba / PR Errar é hu m ano............................................................................................ 165
Tel.: (0**41) 3351-3000 Com a ajuda de D e u s!................................................................................ 167
Fax: (0**41) 3351-3065 A prece............................................................................................................ 173
www.amorc.org.br Ser místico...................................................................................................... 177
A influencia da inform agáo........................................................................181
A beleza na arte ou a arte da beleza..........................................................185
O aspecto judaico-cristáo do M artinism o...............................................189
vem desenvolvendo um trabalho exemplar para a perpetuado
da Tradigáo Rosacruz.
Seus esforgos serao sempre lembrados e reconhecidos pelos
Prefacio do Grande Mestre estudantes rosacruzes de todo o mundo.
Sugiro que o leitor faga deste livro um companheiro cons
"Averdade é o fru to da árvore do con hecim en to e nao a própria tante e que, como o próprio título sugere, ele nao seja apenas
á rvore” lido, mas refletido cuidadosamente, para que seu fruto seja a
Antigo provérbio Rosacruz mais pura verdade.
No mais, só posso desejar que este belo trabalho de nosso
Tenho a alegría de apresentar aos nossos fratres e sorores Imperator ilumine os coragóes de todos os que o tiverem em
bem como aos estudiosos de modo geral, este novo livro de suas máos.
nosso caro Imperator, Frater Christian Bernard, responsável
maior pela Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis, AMORC, Boa Leitura!
no qual compila urna serie de importantes reflexóes sobre
assuntos que interessam aos Rosacruzes e, certamente, a todas
as pessoas de boa vontade.
Frater Christian tem a característica de éscrever de forma Helio de Moraes e Marques
acessível, colocando seu ponto de vista de maneira franca e GRANDE MESTRE
cordial. E por isso que suas obras sao muito apreciadas pelos
Rosacruzes e mesmo por aqueles que nao fazem parte de
nossa Augusta Fraternidade.
Em face de sua elevada fungáo no seio de nossa Ordem, e
sua longa formagáo nela, o enfoque aplicado aos temas sao
matizados pelo Rosacrucianismo, que responde as indagagóes
de natureza ética, filosófica e existencial.
Sua experiencia com o misticismo rosacruz desde tenra
idade permite urna investigará© profunda dos temas abor
dados que, além de esclarecedores, nos dáo um vislumbre da
sua estatura espiritual.
Frater Christian é Imperator desde 1990, tendo sido por
muitos anos Grande Mestre da Jurisdigáo da Grande Loja da
Franga. Conhecedor íntimo dos ensinamentos rosacruzes, ele
Para Héléne,
a for^a da minha alma,
com toda a minha gratidáo
por seu apoio incondicional
há 40 anos.
Introdugáo
Om onville,
12 de Abril de 2010
Christian BERNARD
Imperator
Entrevista A.M.: Considerando que o senhor vem de fazer referéncia a
Pitágoras, é dito que ele teria estudado ñas Escolas de Mistério
A.M.: Christian Bernard, a AMORC, da qual o senhor é o egipcias. Isto procede?
Imperator atual, ou seja, o responsável mundial, é considerada s
como urna herdeira da auténtica Tradigáo Rosacruz. A Ordem C.B.: E verdade. Ele estudou lá por aproximadamente vinte
remonta suas origens as Escolas de Mistério do antigo Egito. anos, antes de regressar á sua pátria e fundar a famosa escola de
De que se trata, exatamente? Crótona. Porém, ele náo foi o único, pois Sólon, Tales, Demó-
crito, Platáo, Plutarco e Jámbico, entre outros pensadores gregos,
C.B.: Primeiramente, devo precisar que a historia da foram iniciados aos Mistérios egipcios. Estes exemplos demons-
AMORC comporta dois aspectos: um aspecto tradicional, que tram que o Egito era o depositário de urna sabedoria acima do
se apoia sobre urna transmissáo oral da qual náo podemos comum. Essa sabedoria, essa gnose, foi irradiada na sequéncia
dar prova, e um aspecto histórico, o qual podemos autenticar através da Grécia, depóis na Roma antiga e no mundo árabe
com a ajuda de documentos dos arquivos. No tangente a seu durante a Idade Média. E sobretudo nd Renascimento, depois
aspecto tradicional, a AMORC remonta efetivamente suas da queda de Constantinopla, que ela foi intróduzida na Europa.
origens as Escolas de Mistério do antigo Egito. Nos nossos
dias, a maior parte dos historiadores e egiptólogos reconhece A.M.: Apesar de tradicional, a origem egipcia do Rosacru-
a existencia destas escolas, ñas quais se estudava, conforme o cianismo náo é um mito?
nome atesta, os mistérios do universo, da natureza e do ho-
mem. De acordo com o que sabemos, alguns faraós faziam C.B.: Náo. Posto isso, o Egito náo foi a única fonté tradi
parte délas, as vezes mesmo as dirigindo. Este foi o caso de cional do Rosacrucianismo. Em “S ilencium post cla m ores”,
Amenhotep i y mais conhecido pelo nome de Akhenaton, que Michaél Ma'fer, célebre rosacruz do século XVII, evoca a in-
foi o primeiro a fazer do monoteísmo urna religiáo de Estado. fluéncia que os mistérios bramánicos, eleusianos, pitagóricos,
persas e árabes exerceram sobre a Tradigáo rosacruz. Com
De qualquer forma, ninguém pode negar que o Egito é o efeito, eu creio sinceramente que o Rosacrucianismo integra
bergo náo apenas das ciéncias “físicas” (medicina, astrono as maiores correntes de pensamento que a humanidade co-
mía, geometría...), mas igualmente das ciéncias “sagradas”, nheceu, tanto no Oriente como no Ocidénte. Ó conteúdó dos
das quais o esoterismo. De fato, o número de obras surgidas ensinamentos da AMORC é a prova viva disto.
nos séculos passados faz do Egito o ponto de partida de urna
Tradigao Primordial, isto é, de um conhecimento absoluto A.M.: Alguns historiadores do esoterismo, pensó especial
que Deus teria revelado a determinados Eleitos e que seria mente em Serge Hutin, evocam igualmente a influéncia que
transmitido por meio de urna filiagáo de Iniciados: Hermes
Trismegisto, Moisés, Zoroastro, Orfeu, Pitágoras, Jesús...
a alquimia teria exércido no Rosacrucianismo. Os rosa cru zes C.B.: De fato, é possível, se náo provável, que o termo
éram alquimistas? e o símbolo Rosacruz tenhám sido usados no decurso dos
séculos precedentes. Em seu “Liber resurectione et corporum
C.B.: A alquimia remonta ao Egito antigo, mas foram os glorifica tion e”, de 1533, Paracelso evoca o simbolismo da Rosa
alquimistas gregos e árabes que a introduziram na Europa, e da Cruz. Segundo outro ponto de vista, é provável que
onde ela esteve particularmente ativa durante a Idade Média. Arnaud de Villeneuve a eles se tenha referido no século XIII
Naquela época, e ao contrario do que se acredita usualmente, em “Rosarium Philosophorum ”. Está poderia ser a mais antiga
aqueles que a praticavam náo eram pesquisadores isolados. A referencia histórica á Rosacruz.
maior parte pertencia a sociedades secretas, notadamente áquela
que se fará conhecida no século XVII sob o nome de Ordem da A.M.: Alguns historiadores sustentam que os Manifestos
Rosa-Cruz. Disto resulta que a alquimia exercia efetivamente Rosacruzes circulavam sob forma de manuscritos antes das
urna influencia sobre o que iria tornar-se o Rosacrucianismo. datas que o senhor indicou. O que o senhor acha disso?
Nessa ordem de ideias, é notável que a partir de século XVII, /
alguns alquimistas passaram a simbolizar a última etapa da C.B.: E perfeitamente possível. Segundo a carta de Adam
Grande Obra através de urna rosa vermelha desabrochada. Haselmayer, publicada no “Fama”, o primeiro Manifestó
circulava sob forma de manuscrito no Tirol em 1610. O que
A.M.: No plano estritamente histórico, a origem do Rosa quer que signifique, a publicagáo “oficial” dos tres Manifestos
crucianismo remonta pelo menos ao século XVII? teve urna repercussáo considerável. Voces sabiam que, na se-
quéncia desta publicagáo, centenas de livros foram publicados
C.B.: Sim. Podemos considerar que é com a aparigáo de a respeito da Rosacruz? W E. Peuckert recenseou cerca de 400
tres célebres Manifestos, no caso o “Fama Fratemitatis” (1614), títulos somente entre os anos de 1614 e 1620.
o “Conféssio Fraternitatis” (1615) e o “Bodas A lquímicas de
Christian Rosenf^reutz” (1616), que os Rosacruzes fizeram A.M.: O “Fama F raternitatis” apresenta Christian Ro-
conhecer sua existencia ao público. Como confirma Antoine senkreutz como fundador da Ordem da Rosa-Cruz. O que o
Faivre, historiador do esoterismo, é no século XVII que a Tra- senhor diz a respeito?
digáo ocidental, herdeira da Tradigáo Primordial, conheceu
sua renovagáo histórica tomando corpo no Rosacrucianismo. C.B.: Basta 1er o “Fama” para compreender que se trata de
um texto simbólico. Pór éxtensáo, os Rosacruzes atuais estáo
A.M.: Podemos considerar que foi naquela época que apa- convencidos de que Christian Rosenkreutz é um personagem
receram a palavra “Rosacruz” e o símbolo correspondente? alegórico. Náo pode, portanto, se tratar do fundador da Ordem
da Rosa-Cruz. Com efeito, como disse anteriormente, a A.M.: O ciclo atual da AMORC remonta a 1909, data na
Ordem já existia desde muito tempo, mas náo ainda com esse qual Harvey Spencer Lewis trabalhava no ressurgimento da
nome, ao menos oficialmente. Ordem da Rosa-Cruz nos Estados Unidos. Onde e por quem
ele foi iniciado?
A.M.: E conhecido exatamente o autor, ou autores, dos tres
Manifestos Rosacruzes do século XVII? C.B.: H. Spencer Lewis se interessou muito jovem pelo
esoterismo. Desde os 19 anos, ele participava de pesquisas
C.B.: Harvey Spencer Lewis, Imperator da AMORC de sobre as faculdades paranormais. Ele se voltou, na sequéncia,
1915 a 1939, acreditava que estes Manifestos tivessem sido para a filosofía e para as ciéncias ditas “ocultas”. Em 1907, ele
escritos por Francis Bacon, autor da “Nova Atlántida”. Dito conheceu urna mulher que lhe falou sobre a Rosacruz: May
isto, a maioria dos historiadores de hoje concorda que eles sáo Bank Stacey. Ele ficou particularmente interessadó. Entáo,
urna obra de um grupo de Rosacruzes: o Círculo de Tübin- comegava para ele urna longa busca que o levou á Franga em
gen. Este Círculo compreendia vinte notáveis personalidades, 1909, á Toulouse, onde ele foi iniciado na Ordem.
entre as quais Jean Valentin Andreae, Tobias Hess, Cristophe
Besold, Johann Arndt... Todos apaixonados por alquimia, por
A.M.: Onde aconteceu sua iniciagáo?
cabala e pela mística cristá. Os Manifestos seriam, pois, urna
obra coletiva. E o parecer, dentre outros, de Roland Edighoffer,
C.B.: Foi na Sala dos Ilustres do Capitolio que H. Spencer
especialista na historia dos rosacruzes.
Lewis encontrou aquele que o pos em contato com os res-
ponsáveis franceses pela Ordem. Segundo nossas pesquisas,
A.M.: O senhor poderia nos dizer os nomes dos persona-
esse intejrmediário seria um certo Clovis Lasalle. Quanto a
gens célebres que marcaram á historia do Rosacrucianismo?
iniciado propriamente dita, ela aconteceu num castelo situado
C.B.: Eles sáo relativamente numerosos. De memoria, nos arredores de Toulouse. Nós temos em nossos arquivos
eu citarei, entre outros, Robert Fludd, Francis Bacon, Elias alguns documentos muito interessantes sobre a estadia de
Ashmole, Michaél Ma'íer, a quem já me referi, Comenius, H. Spencer Lewis naquela regiáó. Entre estes documentos
Cagliostro, Descartes... E, mais próximos a nós, Erik Satie, figura a carta que ele enderegou á sua esposa no dia seguinte
Claude Debussy, Nicholas Roerich, Frángois Jollivet-Caste- ao de sua iniciagáo.
lot... Em nóssos dias, a AMORC tem contado sempre entre
seus membros com rosacruzes célebres, mas náo é meu direito A.M.: A Rosacruz estava, portanto, presente em Toulouse
revelar suas identidades. naquela época?
C.B.: Sim. De fato, em 1860, o Visconde de Lapasse fala A.M.: Cómo a Ordem se reinstalou na Franga no comego
da “Rosa-Cruz, sociedade secreta da qual restam, nos nossos do século XX?
dias, alguns adeptos”. Em 1890, Simón Brugal, evocando o
C.B.: Desde 1909, H. Spencer Lewis trabalhava no de-
Visconde de Lapasse, precisa que ele fora aluno, em Palermo,
senvolvimento da Ordem nos Estados Unidos e comegava
do Príncipe Balbiani, um discípulo de Cagliostro. Segundo
a escrever os ensinamentos rosacruzes. Isso, como eu acabo
Brugal, Lapasse teria sido iniciado na Bavária por discípulos
de precisar, feito a partir dos documentos que lhe foram con
do Baráo de Eckartshausen.
fiados pelos rosacruzes da Franga. Assim que a paz foi resta-
belecida, tudo estava pronto para a reativagáo da Ordem na
Voltando á H. Spencer Lewis, ele náo apenas foi iniciado Europa. Foi assim que H. Spencer Lewis regressou á Franga
em Toulouse, como igualmente recebeu a outorga para reati- em 1926 e deixou aos rosacruzes franceses, dentre os quais
var a Ordem Rosacruz no continente americano e passar por alguns também Franco-Magons, o encargo de criar Lojas
escrito os ensinamentos rosacruzes. Efetivamente, até aquele rosacruzes, o que foi feito em Paris e Nice entre 1927 e 1928.
momento, eles eram transmitidos apenas oralmente. Para tal E, por conseguinte, dentre os rosacruzes da Loja de Nice que
fim, ele recebeu os documentos, cartas constitutivas e arquivos foi escolhido o primeiro Grande Mestre para o novo ciclo da
necessários. Apesar das dificuldades encontradas, ele levou a Ordem na Franga, a saber, Hans Grüter.
éxito essa missáo, a ela se dedicando infatigavelmente até sua
morte, em 1939. Infelizmente, edodiu a Segunda Guerra Mundial, o que
provocou o adormecimento provisorio da Ordem, deter
minado ademais pela proibigáo de funcionamento imposta
A.M.: Mas por que os rosacruzes da Europa confiaram a
pelo governo de Vichy as atividades das Ordens tradicionais.
um americano a missáo de reativar. a Ordem Rosacruz? Este
Por outro lado, os rosacruzes da época, assim como outras
ressurgimento náo poderia se operar na Europa?
minorías, foram vítimas do nazismo. Alguns mesmo pagan
do com suas vidas por sua ligagáo com o ideal rosacruz. Foi
C.B.: É preciso pensar que os rosacruzes da Europa ha- preciso aguardar o Io de Janeiro de 1949 para que a AMORC
viam previsto a Primeira Guerra Mundial e sábiam de todas se reativasse na Franga e se desenvolvesse sob a condugáo de
as perturbagóes que déla resultariam. Eles demonstraram, Jeanne Guesdon. Ela seria assim nomeada Grande Mestre,
portanto, urna grande sabedoria confiando os arquivos da fungáo pela qual respondeu até sua morte, em 1955.
Ordem á H. Spencer Lewis, evitando assim que eles fossem
destruidos ou perdidos na tormenta. Os ocorridos provaram A.M.: Aparentemente, havia elos entre a Rosacruz e a
igualmente que o continente americano, contrariamente á Franco-Magonaria no comego do século. Isto permanece hoje
Europa, foi poupado pelo conflito. em dia?
C.B.: Há elos tradicipnais e históricos incontestáveis entre espanhola, francesa, italiana, japonesa, nórdica, portuguesa,
essas duas Organizagóes. Assim qué H. Spencer Lewis veio russa etc. Cada jurisdigáo, designada pelo nome tradicional de
á Franga em 1927, ele foi convidado a urna sessáo magónica “Grande Loja”, é dirigida por um Grande Mestre. Aproveito
reservada ao 18° grau (grau do “Cavaleiro Rosa-Cruz”). o ensejo para dizer que cada Grande Mestre é eleito para sua
Conforme atesta um documento de nossos arquivos, ele foi fungáo por um mandato renovável de 5 anos.
recebido com as honras devidas á sua condigáo por Camille
Savoire, Grande Comendador do Grande Colégio dos Ritos ER.: Em que consiste a fungáo de Grande Mestre?
do Grande Oriente da Franga, que lhe deu as bóas-vindas em
nome de todos os irmáós présentes, antes de lhe solicitar que C.B.: Durante seu mandato, cada Grande Mestre tem o
tomasse assento no Leste do Templo. papel de responder as correspondénciás que os membros da
Ordem lhe enviam, de recebé-los para as entrevistas que eles
Em nossos dias, a Ordem Rosacruz e a Franco-Magonaria solicitam, supervisionar os trabalhos desempenhados ñas
seguem suas respectivas atividades totalmente independen- Lojas, presidir os congressos rosacruzes no plano nacional ou
tes, o que náo impede que haja rosacruzes franco-magons regional, dirigir seminários internos sobre os ensinamentos
ou franco-magons rosacruzes. Néssé mesmo sentido, há rosacriizes, dar conferencias públicas, escrever textos filosó
rosacruzes cristáos, judeus, mugulmanos, budistas etc. Neste ficos, livros etc.
particular, a AMORC é aberta a todas as categorías sociais e a
todas as confissóes religiosas, posto que sua primeira vocagáo ER.: E o senhor, qual sua fungáo enquanto Imperator?
é a filosofía.
/ . . . •
C.B.: E necessário primeiramente precisar que o termo
ER.: Aqueles que se interessam pelo esoterismo em geral “Imperator”, da maneira como é empregado na AMORC,
e ao Rosacrucianismo em particular conhecem a existencia nao. quer dizer “Imperador”, como se pode deduzir. No plano
da AMORC, mas ignoram em grande parte a sua estrutura tradicional, ele vem do latim “Im perare sibi”, que significa
e seu funcionamento. O senhor poderia nos falar disso mais “Mestre de si”. Pelo que nós sabemos, esse título simbólico
precisamente? era empregado desde o fim do século XVII para designar o
mais alto responsável da Ordem da Rosa-Cruz.
C-B.: Foi em 1909, há cerca de um século, que a AMORC
comegou seu ciclo atual de atividade. Em nossos dias, ela se Antes de ser eleito para a fungáo de Imperator pelo Supre
éstende pelo mundo inteiro e abrange diversas jurisdigóes mo Conselho da AMORC, eu era Grande Mestre da jurisdi
idiomáticas. E por isso que existem jurisdigóes alema, inglesa, gáo francófona. Meu papel atual consiste em supervisionar
o funcionamento de todas as Grandes Lojas e cuidar para alto segredo, a fim de proteger seus membros contra as per-
que as regras tradicionais e administrativas da Ordem sejam seguigóes religiosas e políticas. Mas ápós o comego do século
aplicadas córretamente no mundo inteiro. Ademáis, eu me XX, a AMORC funciona sobretudo como urna organizagáo
mantenho a disposigáo de cada Grande Mestre para ajudá-lo discreta, no sentido de que élá náo busca atrair a atengáo do
em sua tarefa de servir aos membros. grande público, embora náo esconda mais a sua existencia. Ela
mantém ademais a regularidade de suas conferencias, a fim de
A AMORC está embasada sobre urna hierarquia de fímgoes, explicar o que ela é e o que ela náo é as pessoas interessadas
e náo de pessoas. Ocorreu, no passado, de um Imperator ou um pela filosofía e pela espiritualidade.
Grande Mestre ser destituido por náo cumprir os deveres que
lhe compétiam e por náo levar a cabo o trabalho que os membros ER.: Quál é o perfil típico do rosacruz?
dele esperavam. A esse respeito, é preciso compreénder que os
dirigentes da Ordem náo o sáo para sua “gloria” pessoal. C.B.: Náo há. A AMORC, náo sendo urna religiáo, tem,
entre seus membros, cristáos, judeus, budistas, mugulmanos
ER.: O senhor falou do Supremo Conselho. Em que con etc., e mesmo pessoas que náo tém nenhuma religiáo parti
siste? cular. Sendo apolítica, ela reúne rosacruzes representativos de
todas as cor.rentes políticas clássicas. Náo fazendo qualquer
C.B.: O Supremo Conselho da AMORC é formado por discriminagáo racial, ela reúne homens e mulheres de todas
todos os Grandes Mestres e o Imperator, constituindo um con as nacionalidades. Portanto., a Ordem é urna fraternidade
junto de pessoas de diferentes nacionalidades. Esse conselho mundial cuja composigáo traduz por si mesma o caráter
se reúne ao menos urna vez por ano em um dos continentes, humanista de seus ideáis. Quem quer que se interesse por
a fim de fazer um balango das atividades rosacruzes em cada filosofía espiritualista pode, pois, tornar-se um membro.
jurisdigáo. E igualmente no decurso destas reunióes que sáo
tomadas em comum as decisóes que dizem respeito ao fun ER.: Mesmo sendo a AMORC aberta a todas as religiÓes,
cionamento geral da Ordem. seus ensinamentos náo tém urna conotagáo predominante
mente cristá?
ER.: Alguns consideram a AMORC como urna sociedade
secreta. O que o senhor teria a dizer a essas pessoas? C.B.: Náo. Os ensinamentos rosacruzes náo concedem
urna primazia particular a Jesús ou ao Novo Testamento, nem
C.B.: Que elas se equivocam. É verdade que a Ordem sequer ao credo cristáo em geral. Náo obstante, estuda-se, em
Rosacruz mantinha, no passado, suas atividades no mais um dos graus da Ordem, o esoterismo das grandes religióes,
dentre elas o Cristianismo. Isto permite a cada membro com- Após o comego do século XX, eles se apresentam formatados
preender em qué elas todas beberam de urna fonte comum, em 'monografías se estendendo por doze graus, enviadas aos
no caso a Tradigáo Primordial. Além disso, nesse mesmo grau membros na razáo de quatro por mes. Cada rosacruz estuda
é explicado que todas sáo respeitáveis, posto que sáo vetores as monografías na sua própria língua.
da espiritualidade. Efetivamente, se é preciso aproximar a
AMORC de urna das grandes religióes existentes, seria nota- ER.: De que tratam os diferentes graus da Ordem?
damente do Budismo, estritamente por se tratar antes de urna
filosofía do que de urna religiáo. C.B.: E impossível responder a esta questáo de maneira
exaustiva. Digamos que cada membro da Ordem é iniciado
PR.: Seguindo a mesma ordem de ideias, alguns
/
pensam de grau em grau a assuntos filosóficos e místicos maiores:
que a AMORC é urna Organizagáo templária. E este o caso? as origens do universo, a estrutura da matéria, as nogóes de
tempo e de espago, as leis da vida, o objetivo da evolugáo, a
C.B.: Náo. Como eu acabo de dizer, a AMORC náo con- alma humana e seus atributos, as fases da consciencia, os fe
fere nenhuma primazia ao Cristianismo, que é o que fazia a nómenos psíquicos, os mistérios do nascimento e da morte, o
Ordem do Templo na Idade Média. Sendo assim, ela náo se pós-vida e a reencarnagáo, a alquimia espiritual, o simbolismo
abre á salvaguarda da fé crista, que é o que faz a maior parte tradicional etc.
dos movimentos templários da atualidade. Mesmo assim,
Devo precisar igualmente que, paralelamente ao ensina-
náo há dúvidas de que os ensinamentos rosacruzes integram
mento escrito que os membros recebem em seus lares, eles
nogóes esotéricas que os Iniciados templários conheciam. Náo
podem frequentar urna Loja da Ordem para participar dos
obstante, os rosacruzes seguem um ideal ético qué lembra o
trabalhos que perpetuam o aspecto oral da Tradigáo rosacruz.
dos Cavaleiros do passado,.considerando que elés se esforgam
Durante estas reunióes, os rosacruzes presentes apreciam
para ser táo virtuosos quanto possível em seu comportamento.
conjuntamente os assuntos filosóficos e místicos.
Daí vem este ideal ético que simboliza o “Cavaleiro Rosacruz”.
ER.: Há iniciagóes na AMORC?
ER.: Sendo a AMORC mundial, isto significa que os en-
sínamentos transmitidos por ela sáo os mesmos no mundo C.B.: Certamente. E precisamente por essa razáo que se
todo ? trata de um moviménto verdadeiramente tradicional e inici-
ático. Dado que há doze graus na AMORC, há também doze
C.B.: Sim. Nos séculos passados, os ensinamentos rosacru iniciagóes. Cada qual consiste num ritual simbólico que tem
zes eram transmitidos apenas oralmente, em lugares secretos. por objetivo introduzir o candidato no novo grau que ele está
prestes a estüdar. Naturalmente, elas náo tém qualquer caráter ensinamentos que ela perpetua continuam sempre atuais e
sectário, dogmático ou oculto. Eu devo ressaltar também que veiculam urna filosofía da qual a humanidade tem grande
elas nao sáo obrigatórias. necessidade. E por isso que possivelmente tenha chegado,
para os rosacruzes, o momento de se fazerem conhecer me-
Considerando que o maior Iniciador é o Mestre Interior lhor. Voces me deram a possibilidade disto por meio dessa
de cada um, em outras palavras a Alma divina que está em entrevista, e eu. lhes agradégo sinceramente.
cada um, todo membro da Ordem pode receber as iniciagóes
rosacruzes em sua casa, ele mesmo realizando o ritual corres
pondente, ou numa Loja, na presenga de outros candidatos e
em toda sua pureza tradicional.
A alquimia espiritual minério era raro e náo podia ser encontrado senáo em lugares
conhecidos pelos alquimistas, os quais faziam dele objeto de
e existe algo essencial para os místicos em geral e para os maior segredo.
S rosacruzes em particular, é a alquimia espiritual. Esta
forma de alquimia constituí um dos fundamentos da filosofía e Após haver procurado a materia prim a, os alquimistas a
define a senda que devemos trilhar para lograr nossa evolugáo colocavam num recipiente que eles chamavam de “ovo filo
interior. De fato, é nela que reside a Grande Obra que todo sófico”, em parte por causa de sua forma ovoide, mas também
ser humano deve realizar para descobrir a Pedra Filosofal que para lembrar que toda a Criagáo é resultado, segundo eles, de
se encontra no mais profundo de si e tornar real a perfeigáo um ovo cósmico no qual ela existia em estado latente, ou seja,
de sua própria natureza. no estado de gérmen. Em seguida, eles submetiam a materia
prim a a sucessivas etapas.
Se no decorrer dos séculos a alquimia material, também
chamada “alquimia operativa”, fascinou os cientistas e mesmo Ao mesmo tempo, e proporcionalmente a essas etapas, a
os místicos, o essencial que devemos reter para nós é a trans materia prim a tomava diversas cores, até apresentar-se sob o
m utado, o aperfeigoamento e, logo, a evolugáo de nosso ser aspecto de um magma vermelho. Depois do resfriamento, esse
interior. Se a alquimia operativa transmuta os metáis vis em magma gerava urna pedra mais ou menos volumosa da mesma
ouro, a alquimia espiritual transforma nossa alma. Antes de cor: a Pedra Filosofal. E precisamente por esta razáo que a trans-
abordar esse assunto, gostaria de lembrá-los em que consiste mutagáo que objetivava obter ouro era chamada de “obra em
a alquimia material. vermelho”. Quanto ao processo que tinha por objetivo fabricar
prata, geralmente a partir do ferro, este era denominado “obra
De maneira geral, ela tiñha por objetivo transformar metáis em branco” e comportava igualmente diversas etapas.
vis em ouro, mais frequentemente o chumbo ou o estanho.
Contudo, essa transmutado nao se aplicava diretamente ao A última etapa da Grande Obra consistía em reduzir a Pedra
metal em questáo, mas sobre urna materia prim a, ou seja, sobre Filosofal a um pó perfeitamente homogéneo. Depois de obter
urna matéria primordial denominada “matéria da pedra” em esse pó, o alquimista o projetava no metal vil em fusáo, que
alguns tratados alquímicos. E difícil precisar o que era esta se transformava gradualmente em ouro em contato com o pó.
materia prim a, pois as descrigóes feitas déla sao confusas e
variam conforme o autor. Segundo determinadas fontes, ela Tal era o principio de base da alquimia material. É preciso
consistía de um minério que existia em estado natural e que saber igualmente que ela era praticada segundo duas vias. A
era constituido essencialmente de enxofre, sal e mercurio,
combinados em proporgóes precisas. Aparentemente, este
primeira, designada pelo nome de “via úmida”, privilegiava tocando determinadas notas, ou combinagóes de notas, eles
o processo de dissolugao e de destilagáo. Ela durava várias prodiiziam vibragóes que tinham um efeito preciso sobre
semanas, ou mesmo meses, e carecía do emprego de retortas e esta ou aquela fase da Grande Obra. De acordo com o que
alambiques. Quanto á segunda, esta era chamada de “via seca” sabemos, eles empregavam com mais frequéncia instru
e dava suprerhacia aos processos de calcinado e de combus- mentos de corda, tais como o violino ou o violáo. Náo obs
táo, o que implicava, antes de tudo, no uso de fornos e crisóis. tante, acontecia de por vezes fazerem uso de instrumentos
Dentre essas duas vias, a segunda era a mais rápida, embora acionados por coluna de arl, como o órgáo ou o trómpete.
também a mais perigosa, por comportar riscos de explosáo. Ademáis, mesmo que náo nos seja possível provar, é também
Acontecia, portanto, dó alquimista se férir no exercício da sua provável que eles éntoassem sons vocálicos. Certamente era
arte ou, pior ainda, de encontrar a morte. o caso dos alquimistas rosacruzes. O objetivo pretendido era,
pois, o mesmo, a saber: criar condigóes vibratorias favoráveis
Conforme sabemos, os alquimistas trabalhavam nüm la
a determinadas operagóes. Podemos supor também que isto
boratorio apropriado, consagrado únicamente a este objetivo.
era feito as vezes para se porem eles mesmos no estado dé
Mais frequentemente, tratava-se de urna cave, de um sótáo
consciencia desejado para o trabalho.
ou de qualquer edificio pouco clarificado, pois a maioria das
operagóes náo podia ser efetuada na plenitude do dia. Os
No que diz respeito á obra em vermelho e á obra em branco,
adeptos dispunham igualmente de vários acessórios. Além
das retortas, alambiques, crisóis e fornos os quais acabo de os alquimistas ás praticavam de dia ou á noite, conforme a
citar, eles usavam balangas, pingas diversas, pildes, foles mais operagáo a ser efetuada. De fato, mesmo trabalhando sempre
ou menos grandes e até instrumentos musicais. Quanto á num espagó pouco iluminado, eles acreditavam que certas eta
lareira principal, chamada “athanor”, esta era geralmente pas deveriam acontecer quando o sol ocupasse esta ou aquela
fabricada de térra refratária e tinha comumente urna forma posigáo no céu ou, inversamente, quando a lúa estivesse nesta
grosseira. Conforme o caso, o fogo que ardia no seu interior ou naquela fase de seu ciclo.
era alimentado por madeira, carváo e as vezes mesmo por
óleo, o que favorecia um melhor controle da intensidade do
1 A expressáo original em francés, instrum ents a vent , é norm alm ente
fogo por ocasiáo das operagóes mais delicadas. traduzida em portugués por “instrumentos de sopro”. Todavia, opta
mos pela tradugáo “instrumentos acionados por coluna de ar” dada
Talvez vocé se pergunte por que os alquimistas utilizavam a citagáo do órgáo, que náo é um instrumento de sopro, embora soe
instrumentos musicais no decurso de suas operagóes. Porque por agáo de coluna de ar. (N. do T.)
Sabemos também que eles davam urna grande importancia importante é o fato de que eles estavam convencidos de que
aos eclipses e atribufam a élés urna influencia precisa ñas suas o homem tem o poder náo de substituir a natureza, mas de
operagóes alquímicas. Conforme o caso, eles classificavam imitá-la. Em virtude dessa convicgáo, eles estudavam as leis
a influencia como negativa ou positiva e agiam conforme o naturais com o maior dos respeitos. Além disso, a maior parte
caso. Náo há dúvidas de que a alquimia valia-se mais da as deles era profundamente espiritualista e usava a alquimia
tronomía que da astrologia. Náo é, portanto, por acaso que os
como um suporte á busca mística. E por esta razáo que seus
alquimistas estabeleciam urna correspondencia precisa entre
laboratorios incluíam sempre um oratorio, ou seja, um lugar
os metáis e os planetas de nosso sistema solar. Além disso, eles
tinham bons conhecimentos de química. reservado á prece, á meditagáo e, de maneira geral, ao estudo
das leis divinas. Esse oratorio se limitava o mais comum das
A questáo que podemos formular a nós mesmos é se os vezes a urna cadeira e urna mesa, sobre a qual se encontravam
alquimistas realmente conseguiram fabricar ouro. Se dedu- livros esotéricos, objetos rituais e velas.
zirmos pelos escritos que nos foram deixados, náo cabem
dúvidas quanto a isso. Ademáis, vários autores afirmam que A alquimia material nao era mais do que a expressáo
foi assim que Jacques Coeur, Jean Bourré, Nicolás Flamel, objetiva de urna transmutagáo infinitamente mais elevada:
Cagliostro, para nos determos apenas nos mais conhecidos, a da própria alma, cujo fundamento náo é senáo a alquimia
produziram suas fortunas. Admitindo que isto seja verdade, espiritual. Este processo místico consiste, para o homem, em
voces notaráo que esses personagens foram reputados por sua transmutar suas imperfeigóes por meio do crisol da vida, sob
generosidade c por seu altruismo, o que faz supor que eles o impulso do fogo divino que se consomé nele. Somos todos
praticavam sua arte para ir ao auxilio dos mais pobres e para imperfeitos, mas o objetivo final de nossa evolugáo é atingir o
financiar prójetós úteis ao bem comum, como hospitais, estra
estado de perfeigáo, o qual os rosacruzes chaniam de “estado
das, pontes etc. Apesar disso, á parte estes testemunhos, náo
de Rosacruz”. Ora, esse estado nao pode se realizar senáo após
dispomos de provas irrefutáveis que atestem que os adeptos
da Grande Obra tenham logrado seu intento ou que tenham termos purificado nossa personalidade de suas qualidades
enriquecido desta maneira. Compete, pois, a cada um formar negativas, o que implica em despertar as virtudes da alma
sua opiniáo a respeito. divina que habita em nos e que náo nos pede mais do que
exprimir seu potencial de sabedoria. Mas tal objetivo náo pode
Saber se os alquim istas do passado conseguiram ou ser conseguido em urna única vida, de onde a necessidade de
náo transmutar metáis vis em ouro é secundário. Ó mais se reencarnar enquanto formos imperfeitos.
Como o homem náo despertou as virtudes de sua alma Se vocé teve interesse ém 1er este texto, é sem dúvida porque
divina, ele manifesta certas imperfeigóes, como o orgulho, o vocé comegou esta alquimia espiritual ao mesmo tempo em
egoísmo, o ciúme, a intolerancia etc. Em retorno, esses mes- que sua busca pessoal e mística. Náo há dúvidas de que se sua
mos defeitos lhe acarretam prejuízos, porque geram carmas experiénciá de vida lhe trouxe um poucó de sabedoria, ela lhe
negativos que se traduzem em sua vida por provas mais ou trouxe também a lucidez. Vocé tem, portanto, a possibilidade
menos penosas. Temos, pois, ao menos duas boas razóes de conhecer e identificar suas falhas, e estou certo de que vocé
para nos aprimorarmos: em primeiro lugar, isto faz parte do tem em si próprio o potencial para transmutá-las. Pessoal-
processo evolutivo do qual náo nos podemos esquivar e cuja mente, posso lhe assegurar que tenho plena consciencia de
finalidade máxima é nos conduzir á perfeigáo, assim como a minhas imperfeigóes, de minhas falibilidades e dos meus
podemos exprimir enquanto seres humanos. Em segundo lu erros, e seguramente fago esforgos para me aprimorar.
gar, isto nos permite “positivar” nosso comportamento e criar Náo é, pois, com insensibilidade que lhe submeto minhas
para nós mesmos carmas positivos, os quais se traduzem em reflexóes, mas sim enquanto ser humano também tocado
nossa vida por alegrías diversas e contribuem para a felicidade por esta alquim ia. Se é sempre mais fácil falar do Bem do
que buscámos. Ora, o ideal náo é conhecer urna existencia táo que o fazer, o mesmo se aplica ao trabalho e as melhorias
feliz quanto possível e obter o dominio da vida? que solicitamos dos outros.
Como é também o casó para a alquimia material, a al Mas para lograr esta transmutagáo interior náo basta aceitar
quimia espiritual demanda várias etapas para chegar ao a ideia de ter defeitos. E preciso também querer corrigí-los,
objetivo almejado. A primeira consiste em aceitar a ideia de o que constitui urna etapa primordial da alquimia espiritual.
que somos imperfeitos e que temos incorregóes a retificar. Dito de outra maneira, é necessário ter vontade de melho-
Quando digo “aceitar”, é mais face a si mesmo do que a rar no plano humano. Isso náo é possível se náo estivermos
outrem. Isto implica em náo apenas nos olharmos tal como verdaderamente convencidos de que o objetivo do homem é
somos no espelho de nossa alma, mas, igualmente, afinar evoluir, o que evidencia todo o problema do sentido real que
nossa atengáo com a imagem que os outros nos reenviam damos á vida.
de nós mesmos. Se náo o fazemos, acabamos nos tornando
cegos á nossa verdadeira personalidade e damos ainda mais De minha parte, estou também convencido de que qual
poder as nossas deficiencias, até o momento em que elas quer pessoa que se esforce no seu polimento recebe o apoio
geram, de nossa parte, comportamentos negativos e dáo do Deus do seu coragáo e pode conhecer a felicidade, e isto
lugar a provas cármicas equivalentes. mesmo se as falhas forem relativamente numerosas. Se este
for o caso, é porque todo o esforgo empregado no sentido do Feito isto, é preciso nos obrigarmos a manifestá-la cada vez
Bem é sempre recompensado pela lei cármica. Inversamente, que a ocasiáo se apresente, até que ela faga parte de nossa
toda pessoa que tem poucos defeitos mas que se deixa domi alma e torne-se natural. Para retornarmos ao exemplo do
nar por eles sem jamais se esforzar para transmutá-los, atrai orgulho, quem quiser se desvencilhar deste defeito deve servir
para si provas evolutivas e problemas diversos, e isso também se da humildade. Como? Obrigando-se a náo sobrevalorizar
enquanto ela se satisfizer nos limites de suas fraquezas. seus méritos, a náo mostrar sua superioridade intelectual ou
qualquer outra, a náo procurar chamar a atengáo sobre si, a
Depois de haver tomado a decisáo de se esmerar, há outra agir ao servigo do Bem impessoalmente etc. Com o tempo,
etapa da alquimia espiritual. Esta consiste em concretizar este esforgo voluntário para se mostrar humilde acaba por
nosso desejo de nos tornarmos melhores por meio da trans tornar-se um hábito, ou seja, urna lei para seu subconsciente.
s
m utado de nossas incorregóes. Mas para lograr esse intento, E entáo que o orgulho é transmutado. Assim é o principio de
náo devemos absolutamente tentar combate-las, o que in base para a alquimia espiritual, tal como o devemos aplicar a
felizmente tendemos a fazer. Efetivamente, esse género de cada urna de nossas imperfeigóes.
combate contribui, ao contrário, para amplificá-las, porque
nosso ego se utiliza dele para dar importancia a si próprio Quando um místico transmuta todos os seus defeitos ñas
e fazer valer sua influencia sobre nosso comportamento. E qualidades opostas, ele conhece entáo a última etapa da
preciso, inversamente, se afastar do defeito em questáo e tra- alquimia espiritual, á saber, a Iluminagáo. Ele está, se náo
balhar sobre si mesmo para adquirir a qualidade oposta. Para perfeito, ao menos muito próximo do estado de perfeigáo,
dar um exemplo, se urna pessoa é profundamente orgulhosa conforme possível a um ser humano de o exprimir na Terra.
e tem consciencia disso, ela náo deve tentar lutar contra sua Com efeito, a m ateria prim a de seu ser, ou seja, sua alma,
soberba, porque lhe dará ainda mais forga e aumentará seu torna-se pura e perfeita. Náo é, portanto, por acaso que os
poder nocivo. Ela deve se dedicar a obter a qualidade oposta, alquimistas rosacruzes simbolizavam a Grande Obra por
no caso a humildade. Isto implica, para ela, em recorrer á sua urna rosa vermelha, frequentemente cingida com urna aura
natureza mais divina. de cor dourada. Como quer que seja, quem atingiu este
estado realizou as famosas “Bodas Químicas”. Ou ainda,
Mas como chegar á qualidade oposta a urna imperfeigáo da efetivou a uniáo entre seu Eu humano e seu Eu divino,
qual temos consciencia? Parece-me que a melhor maneira de simbolizado na linguagem alquímica pelo casamento do
chegar a esse resultado consiste em, primeiramente, definir a rei e da rainha, ou pela uniáo do enxofre com o mercúrio.
maneira com que essa qualidade se traduz na vida corrente.
A partir de entáo, ele possui verdadeiramente o elixir da vida
longa, porque se tornou um puro agente da Divindade e náo
tem mais a obrigagáo de reencarnar.
Deus de todos os homens, Deus de toda vida, na humanidade com a
Que a alquimia se opere em seu espirito, séu coragáo e qual sonhamos:
sua vida! Os políticos sao profundamente humanistas e trabalham a servigo do
bem comum;
Os economistas gerem as finanzas dos Estados com discemimento é
segundó ó interesse de todos;
Os sabios sáo espiritualistas e buscam sua inspirando no Livro da
Natureza;
Os artistas sao inspirados e exprimem em suas obras a beleza e a pureza
do Plano divino;
Os médicos sao animados pelo amor ao seu próximo e cuidam táo bem
da alma quanto do corpo.
Nao há mais miséria nem pobreza, porque cada qual tem aquilo do
qual necessita para viver feliz.
O trabalho nao é vivido com o urna coerqáo, mas sim como urna fon te
de plenitude e bem-estar;
A natureza é considerada com o o mais belo dos templos e os animais
com o nossos irmáos em via de evolugáo;
Existe um govem o mundialformado pelos dirigentes de todas as naqoes,
trabalhando para o interesse de toda a humanidade;
Aespiritualidade é um ideal e um modo de vida que tem suafon te numa
Religiáo universal, baseada antes no conhecimento das leis divinas do
que na crenqa em Deus.
As relaqoes humanas sáo fundamentadas sobre o amor, a amizade
e a fratemidade, de maneira que o mundo inteiro viva na paz e na
harmonía.
Todo sofrimento é aceitável na luz déla náo tenha consciencia. Táó logo tenhamos urna abor-
dagem espiritual da vida e nossa almá, nosso espirito e nosso
m dia, em abril de 2004, como um sinal, ouvi e acatei coragáo estejam em harmonia com as leis divinas, ou se vocé
E consom é os m ales
que nos infligiam um olhar vazio
que nos tom avam os p és pesados
e nos devolviam á poeira
Evoluir
Evoluir hábito fazem aquilo que nós parecia difícil e desagradável ños
parecer simples. O caminho nos parece mais curto; reagimos
á várias décadas um dos principios de base da melhor; nos habituamos.
Ser e ter que ele torne a se harmonizar, faga urna introspecgáo objetiva
e dome seu dragáo.
uito frequentemente justapostos, esses dois verbos
M parecem opostos ou incompatíveis, náo em seus usos
gramaticais e ortográficos, mas quando os associamos á na
O TER deve dar ao SER o lugar que lhe é devido e os
dois devem coabitar. Isto representa também estabelecer
tureza humana, ao ego, á nossa maneira de ver as coisas ou a unidade em si, equilibrar os pratos da balanga, o yin e o
á ética. Nesse caso, a palavra SER tem urna conotagáo mais ya n g, o branco e o negro, o dia e a noite, a alegria e a tristeza,
positiva do que a palavra TER. o SER e o TER!
A paz é, primeiramente, aceitar o medo, e depois saber Eu contribuo com a paz quando mostro compaixáo por todos aqueles
superá-lo. E quando nossos instintos e nossas emogóes con que sofrem.
trolados deixam nosso coragáo sereno como um dia sem vento.
Eu contribuo com a paz porque considero todos os seres humanos com o
E quando o guerreiro que há em nós depóe as armas.
meus irmaos e irmas, quaisquer sejam suas ragas, culturas e religioes.
Se nós perdemos a harmonía, encontremo-la. Sejamos Eu contribuo com a paz quando me alegro com afelicidade dos outros
sensíveis ao aspecto mais belo de nosso mundo. Deixemos e rogo por seu bem-estar.
Deus resplandecer através de nosso comportamento e nós
encontraremos a paz. Eu contribuo com a paz quando escuto com respeito e tolerancia as
opinioes que divergem das minhas ou mesmo as que a elas se opoem.
Por fim, a vocé que le estas quantas linhas, segundo urna
fórmula cara a meu coragáo, desejo que nos próximos anos, Eu contribuo com a paz quando utilizo o diálogo mais do que a forqa
no decorrer de sua encarnagáo, a Paz Profunda esteja em vocé para apaziguar todo o conflito.
e a seu redor.
Eu contribuo com a paz porque respeito a natureza é a preservo para
as geraqóes futuras.
Eu contribuo com a paz quando nao procuro impor aos outros minha
concepqdo de Deus.
Tudo melhorou! também vocé sem dúvida faz, a gravidade e o horror de certos
acontecimentos. Seria urna falta de compaixáo querer ignorá-
udo meíhorouí Técnicamente. Os avangos da ciencia e los e de um angelismo bastante inocente assim afirmar: “Tudo
Tomada de posigáo absolutos, mas este mundo ainda está longe. Teremos todos
muitas encarnagóes pela frente até que o que chamamos de “a
stamos numa época de transigáo para a humanidade. idade de ouro” se torne realidade, o que exige, naturalmente,
do Verbo divino, também chamado de expressáo do próprió Sendo extrovertidos ou introvertidos, náo vivemos a solidáo
Espirito de Deus. da mesma maneirá. Algüns dizem qué éla náo existe, outros
que nos habituamos a ela. Pessoalmente, quando crianga,
Ao íóngo dos períodos de meditagáo, podemos invocar o conheci urna forma de solidáo náo tendo nem irmáos nem
Espirito Santo que é o Sopro divino que purifica, regenera, irmás, sendo, portanto, mais interiorizado.
inspira e ilumina todo ser. Se o fizermos sinceramente e na
esperanga de que esse Sopro nos penetre o corpo e a alnja, nós Mas há muito tempo as coisas mudaram, e sou feliz por ter
receberemos a cada vez um influxo espiritual que nos elevará agora urna grande familia, ou melhor, duas grandes familias,
interiormente, mesmo se náo estivermos conscientes disto. póis sou filho da Rosacruz e por isso tenho milhares de irmáos
e irmás, amigos e companheiros de estrada. Nunca estou
sozinho. Vocé pode ter esse mesmo sentimento se vocé tem
consciéncia de que pertence á grande familia da humanidade.
“É na soliddo que estamos menos, sós. ” Vocé, que lé estas reflexóes, lembre-se que náo está só!
L o r d B yro n
A harmonía disso, quem quer que seja belo interiormente o será também
exteriormente, e isto mesmo a déspeito de suas imperfeigóes
A título de intródugáo, direi que a harmonía é irmá da físicas, pois a luz que emana do mais profundo de seu ser lhe
fraternidade, tal como a podemos conceber e viver nó cotidia dá entáo um brilho e um magnetismo que transcendem sua
no. De maneira geral, ela corresponde ao estado de consciencia aparéncia exterior. Inversamente, nada pode mascarar a feal-
o qual se vive quando se está em paz consigo próprio, com dade interior, porque ela tránsparece sempre, mesmo numa
os outros e com a natureza. Isto faz supor que a harmonia pessoa que alguns possam qualificar de “bela” físicamente. De
integra tres níveis de expressáo, ao mesmo tempo diferentes toda maneira, náó é o corpo que deve se constituir em objeto
e complementares. de culto, o que infelizmente acontece muito ñas sociedades
modernas e materialistas, mas sim a alma que o anima.
Estar em harmonia consigo é, primeiramente, aceitar-se
como é físicamente. De a co rá o com todas as evidencias, pos- Sentir-se bem em seu corpo náo basta para estar em har
suímos um corpo físico o qual podemos considerar mais ou monia consigo. E preciso igualmente aceitar a si tal como é
menos bonito, no sentido plástico do termo. No entanto, náo no plano intelectual. Com frequéncia aconteceu-me de con
há nenhum criterio absoluto de beleza física. Com efeito, este versar com pessoas qué sofriam por náo haver feito grandés
tipo de beleza corresponde únicamente as hormas estipuladas estudos e que se desculpavam por “nao ser outra coisa sendo
pelos próprios homens. Ora, essas normas sáo arbitrárias é, operários”, para citá-las. Contudo, o fato de ter um intelecto
no mais das vezes, náo sáo outra coisa senáo o reflexo de um poderoso, ou de ser culto, náo constitui nem um objetivo em
modo ou de urna corrente de pensamento. Ademáis, elas náo si nem tampouco urna garantía de indulgencia ou mesmo um
tém importancia senáo para aqueles que vivem em fungáo das critério de evolugáo espiritual. A prova é que muitos erudi^
aparéncias, o que traduz urna concepgáo superficial, para nao tos sáo materialistas co n v icto s e nao hesitam em dispor sua
dizer artificial, da existencia. Assim, náo podemos ser felizes ciéncia a servigo do mal. Além do qué, náo sáo nossas máos
a longo termo se fizermos da beleza física o fundamento da as mais belas e sofisticadas das ferramentas? Assim sendo, o
felicidade, pois ela corresponde á parte mortal e transitoria que haveria de mais nobre e precioso que saber usá-las para
de nosso ser. criar coisas úteis á nossa existéncia e á dos outros?
Do ponto de vista rosacruz, o mundo das aparéncias náo Para os místicos, o que faz o valor de um ser humano
tem valor se náo refletir a realidade divina que nos anima e a é a inteligéncia do córagáo, ou seja, a vontade de por suas
qual temos por dever exprimir por meio de nossos pensamen- capacidades, quer sejam intelectuais ou manuais, a servigo
tos, nossas paiavras e nossas agóes. Isto significa que devemos de outrem. Ora, todos temos talentos e aptidóes que pódem
nos preocupar antes de tudó com nossa beleza interior, porque
apenas ela é importante no plano da evolugáo espiritual. Além
contribuir para o bem comum. Por consequénciá, o melhor Efetivamente, táó logo o fazemos, óu julgamo-nos inferiores
meio de estar em harmonia consigo consiste, por um lado, ou nos estimamos superiores. No primeiro caso, temos por
em náo se culpar por aquilo que ignoramos ou que náo sa resultado um complexo de inferioridade que vai ao encontro
bemos fazer, e por outro em dividir os conhecimentos que de nossa paz interior. No segundo, nosso ego é inflado e nos
tenhamos adquirido ou o saber-fazer que possuímos. Agindo póe em oposigáo as aspiragóes mais puras de nossa alma. Em
assim, cultivamos em nós a convicgáo de sermos úteis aos ambos os casos, o resultado é um estado de desarmonia. Para
outros e de bem fázér, o que se traduz por um sentimento de evitar essa desarmonia, o melhor é partir do principió que
alegría interior e de boa consciencia. Logo, este sentimento cada um de nós é um ser único e que é esta unidade que faz
é precisamente o característico de toda pessoa que se esmera nosso valor,
✓
tanto aos olhos de Deus quanto aos olhos dos
em exprimir o melhor de si mesma, sendo feliz em ser o que homens. E, entáo, a nós mesmos que devemos nos comparar
é nos planos físico e mental. a cada dia, a cada més e a cada ano, pois ai está a chave da
nossa evolugáo espiritual. E se pudermos adormecer a cada
Assim, portanto, náo é possível estar em harmonia consigo noite nos dizendo “Fui m elhor do que ontem \ entáo teremos
seríao se amando enquanto individuo, isto é, enquanto alma dado um novo passo na senda da harmonia.
evoluindo dentro de um corpo. Naturalmente, esse amor
por si náo deve se assemelhar ao do egocentrismo ou o da Vejamos entáo o que podemos dizer a respeito da har
vaidade. Este consiste simplesmente em ser um amigo para si monia que devemos cultivar com os outros. Primeiramente,
próprio, o que implica ser indulgente com nossas imperfeigóes é evidente que o homem náo foi feito para viver só, isolado
e nossas fraquezas, desde que elas náo comprometam nossa dos seus semelhantes. Vocé notará ainda que ele sempre
própria integridadé ou a de outrem. Nessa ordem de ideias, viveu em grupos desde sua aparigáo sobre a Terra. Se esse
há muitas pessoas que se apégam a esta ou aquela coisa Ou é o caso, é porque sua natureza profunda sempre o incitou
que se culpam por isto ou por aquilo. Essa atitudé é negativa, a procurar a companhia de outros, primeiro para responder
pois faz destas pessoas inimigos de si próprios e as mantém a uma necessidade de seguranga e depois para satisfazer
num estado de discordancia interior. No entanto, isso além um desejo de afeto. Esse instinto gregário é sempre muito
de nada poder mudar dos acontecimentos pregressos sobre os poderoso e explica hoje a existéncia das familias, dos povo-
quais se lamenta, ainda envenena sua visáo de futuro e lhes ados, das cidades, dos países e das nagóes. A humanidade
traz frequentes agruras. em si resulta do fátó de que os homens jamais cessaram de
perpetuar sua própria espécie e de expandir a influéncia de
Creio verdadeiramente que o melhor meio de se estar em sua raga e de seu grupo de nascenga. Nisso, ela forma um
harmonia consigo consiste em jamais se comparar aos outros. único e próprio corpo.
[861 [871
Por razóes evidentes, é primeiramente no seio de nossa para que a harmonia reinasse entre todos os seres e todas as
familia que devemos cultivar a harmonia com os outros. De nagóes. Por certo, há uma tendencia a privilegiar o interesse
fato, se somos incapazes de cultivar relagóes harmoniosas com de sua raga, de seu país, de sua classe social e de sua religiáo,
nossos cónjuges, nossos filhos, nossos irmáos e irmás etc., se for o caso de seguir alguma. E infelizmente essa tenden
parece difícil, se náo impossível, ser um instrumento de paz cia o porqué de tantas guerras qué pontuaram a historia
entre os homens. Certamente, podem acontecer desacordos da humanidade. Apesar disso, os homens sáo destinados
com nossos próximos, mas estes desacordos nunca devem a se amarem e a fazer da Terra o paraíso ao qual aspiram
se transformar em relagóes de forga, dando lugar a palavras
no mais profundo de si mesmos. Isso implica em ter um
ou atos malfazejos, posto que temos muito mais razóes para
amar aqueles que nos amam do que lhes fazer mal ou lhes comportamento tolerante com relagáo a todas as ragas, todas
causar infortúnio. as nacionalidades, todas as classes sociais e todas as religióes,
o que torna a nos dar o exemplo de uma mentalidade e de
Se é verdade que devemos nos empenhar em preservar uma moralidade universais. Tais devem ser nossas métas,
a harmonia na nossa familia, é certo também que devemos nosso papel e nossá vocagáo desde o momento em que nos
cultivá-la em nossas relagóes sociais e profissionais. Isso náo declaramos humanistas e em que desejamos trabalhar para
é sempre fácil, pois as vezes nos confrontamos com pessoas o advento de um mundo melhor.
desagradáveis. Mas, se este for o caso, procuremos náo estar
na origem da discordia, porque isso constituiría uma falta a Acabo de dizer que a Terra estava destinada á tornar-se
nosso dever e implicaría em nosso próprio carma. E assim que o paraíso ao qual todos os homens aspiram mais ou menos
formos confrontados a uma situagáo discordante, procuremos conscientemente. Isso me leva a abordar o tercéiro e último
re-harmonizar o ambiente por meio de pensamentos, palavras nivel ao qual a harmonia deve se aplicar, a saber, a natureza
e agóes positivas em oposigáo aos pensamentos, palavras e propriamente dita. Primeiramente, me surpreendo ao cons
ágóes negativas dos quais fórmós as vítimas ou as testemunhas.
tatar que certos “místicos” consideram que a ecología é um
Sáo necessárias ao menos duas pessoas para se alimentar uma
relagáo de forga. Uma vez produzida, seja com um colega de assunto sem qualquer relagáo com a espiritualidade. Para
trabalho, um vizinho ou um desconhecido, recusemo-nos a argumentar esse nón-sense eles afirmam que os Mestres e os
ser o segundo polo déla. Dito de outra maneira, apelemos á Iniciados do passado jamais abordaram esse assunto ém seus
nossa vontade para náo nos tornarmos o segundo ponto de ensinamentos, ém suas preces ou seus sermóes. Tal argumento
um triángulo de discordia. é destituido de sentido. Efetivamente, é evidente que se Moi
sés, Buda, Jesús ou Maomé, para citarmos apenas alguns dos
Todo individuo deveria se sentir um cidadáo do mundo e Mestres, jamais se referiram a isso, é simplesmente porque
se comportar como tal. Da mesma forma, deveria orar e agir esse problema náo existia em sua época. Isso náo quer dizer
absolutamente que os homens de entáo respeitavam o meio se os homens sáo os seres mais evoluídos de nosso planeta,
ambiente mas, ao menos, náo tinham os meios de destruí-lo é únicamente porque se situam num ponto mais avangado
com tanta gravidade como hoje. dessa evolugáo. Mesmo assim, eles náo constituem senáo
um elo da corrente que a vida forjou desde que se manifés-
De um ponto de vista místico, a Terra é o templo da hu tou na Terra, há tantos milhóes de anos. Acrescentarei que
manidade, assim como nosso corpo físico é o templo da nossa eles sáo as criaturas mais frágeis dessa corrente, pois seráo
alma. Náo respeitá-la, náo preservá-la e náo protegé-la resulta os primeiros a desaparecer se os equilibrios naturais forem
simplesmente na destruigáo do suporte de nossa evolugáo rompidos. Como quer que seja, náo temos nenhum direito
individual e coletiva. E também aniquilar urna obra-prima sobre os reinos ditos “inferiores”. Ao contrario, temos muitos
da Criagao, pois cada um é capaz de admirar a harmonia e a deveres com relagáo a eles.
beleza de tudo o que ela produziu. Nisso, ela é efetivamente
a Máe de todos os seres vivos que a povoam. Infelizmente, Aplicada á natureza, a harmonia consiste entáo em
e como todos sabem, os homens a puseram em perigo pela considerar toda criatura viva como urna extensáo de nós
ignorancia, pela negligencia ou pelo interesse. A poluigáo mesmos, pois a fraternidade deve incluir todos os seres que
dos solos, das águas e do ar, o desmatamento intensivo, a a vida pos no mundo. Pensó notadamente nos animais, que
exploragáo excessiva dos recursos naturais ai estáo para dar os homens exterminam por razóes mercantis, ou os quais os
testemunho disto. Ora, é evidente que se nada for feitb num homens sujeitam a toda sorte de sofrimentos injustificados,
plano mundial para remediar os males múltiplos dos quais seja em nome de tradigóes bárbaras, por razóes puramente
padece o nosso planeta, ele estará condenado a morrer em mercantis ou numa aplicagáo de urna concepgáo arcaica da
urna lenta agonía, e todos nós teremos urna grande parcela ciencia. Mas a Terra faz parte de um conjunto infinitamen
de responsabilidade nessa tragédia. te mais vasto, no caso o universo. Independentemente das
leis físicas que presidiram sua formagáo, há alguns bilhóes
Mas sejamos confiantes, e apostemos no que há de melhor de anos, ele é obra dessa Inteligéncia universal e absoluta
no homem. Ao mesmo tempo, sejamos nós mesmos exemplos a qual chamamos “Deus”. Como é sabido, ele é composto
de respeito cóm relagáo á Terra e tudo o que ela contém. Náo de bilhóes de galaxias que contém elas mesmas bilhóes de
esquejamos jamais que ela é o veículo da Alma universal tal estrelas, algumas délas constituindo o centro de um sistema
qual ela se manifesta entre os diferentes reinos da natureza. solar comparável ao nosso. Tal constatagáo mostra ao mesmo
De minha parte, é evidente que a consciencia humana é o tempo a grandeza e a pequenez do homem. De fato, com
produto de urna evolugáo milenar que é feita através dos parado á Criagáo e mesmo á Terra em si, ele é totalmente
vegetáis, dos animais e depois dos homens eles mesmos. E insignificante. Mas enquanto encárnagáo do Verbo divino
e enquanto alma viva, ele é consciente de si mesmo e tem Avante com alegría!
a capacidade de contemplar e de estudar o cosmos. Nesse
sentido, é o homem que confere ao universo a sua grandeza, e a alegria é um conceito natural e fundamental no
sua beleza e sua razáo de ser., Assim, somos ao mesmo tempo
atores e espectadores da harmonia cósmica, pois permitimos
a Deus contemplar-Se através de nós, e nós nos aproximamos
Dele estudando Suas obras.
S Orienté, o mesmo náo se aplica, infelizmente, ñas ditas
sociedades ocidentais. Chamada Ananda na India, ela
faz parte da busca espiritual dos habitantes daquela parte do
mundo.
Para resumir, direi que a harmonia inclui o amor próprio, Buda é representado na maioria das vézes rindo óu sor-
pelo outro e pela natureza, que sáo para o homem encarnado rindo. Quando nos encontramos na presenga de uma de suas
os tres nívéis de expressáo do Amor universal. Assim que esses representagóes, seja uma pintura ou uma escultura, olhando
tres níveis forem parte integrante da nossa personalidade e de seu semblante iluminado de alegria, o sorriso nos vem natu
nosso comportamento, viveremos em ressonáncia perfeita com ralmente aos labios. Ele nos comunica sua alegria.
o Deus de nosso coragáo e conheceremos a Paz Profunda. De
todas as evidencias, é esta divina ressonáncia que lhe desejo de Na mitología egipcia, Osíris diz ao defunto: “Destes a a le
toda minha alma, pois é nela que residem a fonte da felicidade gría? Encontrastes a alegría?”. Isso atesta a importancia deste
e a chave da Iluminagáo. estado, póis ele é levado em conta no momento de pesar a
alma, no momento de fazer o balango da vida que se termina.
“A dormecí e sonhei que a vida nao era nada senáo alegría. Deus do m eu coraqáo; Deus da m inha com preensáo.
D espertei e vi que a vida era trabalho. Trabalhei e vi que o tra-
balho era alegría.” Sei que Tu és a origem do universo, da natureza e do próprio
T agore
hom em , mas ignoro o que Tu pensas e o que Tu sentes.
Tua vida anima m eu corpo e fa z d ele o tem plo que minha alma
escolheu para lograr sua evolugáo espiritual.
Humildade, dignidade, coragem A humildade é uma virtude com frequencia mal compre -
endida e é importante que nos esforcemos para definir seu
humildade, a dignidade e a coragem sáo tres valores alcance. De fato, a humildade nao deveria ser difícil de obter
Provemos nossa humildade em nosso trabalho espiritual, A propósito da humildade, Serge Toussaint, Grande Mestre
mas também em nossa vida cotidiana, em meio aos outros. da jurisdigáo francófona da AMORC, escreveu estas frases:
É táo difícil medir nossa pequenez com relagáo á grandeza “Náo som os senáo urna poeira estelar na im ensidáo do universo,
divina? E o que somos nós individualmente, a sós com nós urna gota d ’água no seio do gran de océan o cósm ico. Assim sen
mesmos, no conjunto de nossos irmáos e irmás humanas, onde do, se é verdade que som os táo p ou co enquanto pessoas, a alma
quer que se encontrem sobre a superficie da Terra? Jamais a encam ada em nós dá a cada um o p od er de refletir a Sabedoria
individualidade transcendeu a multipliridade. Jamais, desde divina e de ser um agente de suas obras entre os homens. Mas a
que estamos neste plano físico, ela autorizou urna superiori- única m aneira de lograr esse fe ito consiste precisam ente em ad
dade sobre os outros, em qualquer dominio que seja! Somos quirir a hum ildade, virtude que traduz p or si só um certo grau
um elo de urna imensa corrente e devemos nos lembrar disso. de evolugáo. ”
Devemos ter consciencia de que estamos lado a lado com ou
tros buscadores, mas também juntos daqueles que náo foram A essa citagao eu desejaria acrescentar que na ordem celes
ainda atraídos pela luz. te náo existe inferioridáde. Devemos fazer tudo o que está a
nosso alcance para eliminar de nós mesmos o ego, ao menos
Geralmente náo refletimos o suficiente sobre tudo aquilo no seu aspecto negativo, também dito o elemento que nos
que devemos ao nosso meio e aqueles que o compóem. Sem separa daquilo que nos é exterior. O mau emprego de nosso
eles, o que seríamos? Qual seria nossa razáo de ser e como ego náo pode consolidar os elos que nos unem aos outros.
poderíamos servir, isto é, cumprir a tarefa mais nobre que pode Bem ao contrário, ele é segregativo e está na origem de nos-
ser conferida a um ser humano? Ao redigir estas linhas, me sos maus julgamentos, de nossas críticas negativas e de nossa
vem á mente a lembranga de um grande humanista já fale- auto-avaliagáo com relagáo aos outros, sendo que esta tende
cido, o Abade Pierre, francés, europeu e, sobretudo, cidadáo naturalmente a sempre nos favorecer.
do mundo. Ele encarnou durante várias décadas a trilogia:
humildade, coragem e dignidade. Este grande místico esco- Como compreender e amar, se assim estamos á mercé
lheu por suas competencias, seu entusiasmo e seu amor ao do jogo do nosso ego? Como também podemos supor que
próximo a servigo dos mais humildes. Sua reputagáo, assim progredimos no estreito caminho do conhecimento impessoal,
como a de Madre Teresa, atravessou fronteiras. Ele trocou se o resultado do nosso trabalho náo é mais do que urna
a sombra pela luz, mas sua mensagem permanecerá. Se me exaltagao do nosso eu objetivo? Ser humilde é também saber
nos esquecer de nós mesmos no nosso trato com os outros. E humanidade. Esta nogáo de humanidade, que permaneceu
considerar que, quaisquer que sejam nossa fiingao, responsa por muito tempo abstrata e a qual o escritor Victor Hugo
bilidades e nosso lugar na sociedade, somos e permanecemos imaginou “radiosa e reconciliada”, entrou para a historia como
servidores. É servindo a outrem que encontramos a nós uma congregagáo de todos os homens. Náo existe humanidade
mesmos e que realizamos nossa natureza interior, pois entáo sem humanos. Homens e mulheres sáo membros déla e toda
fazemos vibrar em nós a parte de nossa centelha divina em injuria feita a um só individuo é uma injúria feita a todos.
uníssono com aquela de todo ser vivo.
Ser digno náo significa, de nenhuma maneira, adotar um
A verdadeira humildade náo pode ser dissimulada. Ela comportamento indicativo de que nos sentimos superiores
náo pode se contentar com palavras. Ela é dinámica a ponto aos outros, em qualquer dominio que seja, e exprimindo
de quem se aproximar de nós ser capaz de percebé-la sem
uma forma de desdém com relagáo ao outro. A dignidade é
qualquer restrigao mental. “Doce e humilde de coragáo!”
um respeito a si mesmo e aos outros. Ela implica no dominio
Esta célebre injungáo nos lembra incessantemente de nosso
de nossas palavras e de nossos atos. Náo quero dizer com isso
dever. Mas a humildade é, sobretudo, um resultado de nossas
que se trata de adotar uma linguagem obsoleta, literaria ou
reflexóes, de nossas meditagóes e de nosso estudo daquilo a
que chamamos “As Grandes Verdades Eternas”. A humildade excessivamente intelectual. Porém, toda palavra pronunciada
é um ato de amor, talvez o maior, pois permite compreender deve ser correta e corresponder á ética de nosso tempo. Assim,
os outros, “ser” com eles e estar disponível para consolá-los, damos prova de respeito com relagáo aos outros tanto quanto
encorajá-los e ajudá-los em todas as ocasióes. a nós mesmos.
A humildade nada tem ,a ver com a fraqueza. Ela é, ao Certamente, nós podemos cometer erros e faltas, mas é
contrário, uma prova de coragem, pois necessita, ao menos preciso rápidamente nos dar conta deles, retificá-los e mesmo
no comego, um combate consigo mesmo e com o ser objetivo nos desculparmos. Ser digno pode ser também renunciar a
até que, tendo a certeza da presenga divina em nós, sejamos falar muito para dizer pouco, tomando cuidado para que esse
por natureza humildes em pensamento, palavra e em agáo. silencio náo seja interpretado como desprezo. É evitar formar
A humildade é a origem de muitas outras qualidades ou sobre quem quer que seja um julgamento negativo, pois somos
virtudes. E já que estas nos aproximam dos outros, também entáo rápidamente levados a pensamentos e palavras destrui
nos aproximam dos principios de humanidade e dignidade. dores que, por certo, prejudicaráo náo só aqueles relacionados
como também a nós mesmos. Efetivamente, como poderíamos
Todos os seres dotados de razáo sáo convocados á conhecer a paz interior nos harmonizando com as vibragóes
mesma dignidade. Esta deve ser uma linguagem comum á de um nivel táo baixo, por exemplo, como o da maledicencia
ou o do insulto? Logo, ser digno é saber preservar sua calma Examinemos agora o último termo de nossa trilogía e ten
e permanecer silencioso em certas circunstancias. temos definir assim alguns aspectos da coragem. A coragem
é forga; náo é agressividade. Temos o costume de comparar
Naturalmente, ser digno nao quer dizer que seja preciso
a coragem aquilo que náo é outra coisa senáo audácia, no
dar prova de covardia e recusar assistencia a outrem quan
sentido restritivo do termo. Da mesma maneira, falamos de
do necessário. Inversamente, se em nossa presenga alguém
coragem a propósito de atos bélicos, de agóes empreendidas
for agredido física ou verbalmente, é nosso dever intervir.
contra outros ou de afirmagóes peremptórias que frequente-
Lembremo-nos de que náo somos perfeitos e que ninguém
mente náo sáo mais do que a expressáo de um eu exacerbado.
o é enquanto permanecer neste plano humano, limitado pelo
Coragem significa confianga e constancia, antes com relagáo
seu eu objetivo, suas tendencias e suas reagóes. Podemos supor
a si próprio. E preciso ser corajoso para se tomar uma decisáo
que aquilo que os outros nos fazem, nós mesmos fizemos ou
justa, mesmo se esta náo for, num primeiro momento, apre
faremos, já que, segundo a lei das nossas sucessivas encarna-
ciada em seu justo valor. É preciso igualmente ser corajoso
góes, antes de ter dominado tal defeito ou tal fraqueza, nós
para tomar partido do fraco contra o forte e para defender
devemos sucumbir a elas. grandes ideáis. Mas é preciso também muita coragem para se
Se nós nos encontramos casualmente em uma situagáo tal engajar na via real do conhecimento e na senda mais ardua e
que nossas reagóes náo possam ser outras senáo negativas, geralmente bastante ingrata do servigo altruista.
pensemos em nos isolar mentalmente por alguns instantes
no “manto místico da sabedoria”, a fim de recobrar nossa Ser corajoso é também dar prova, dia após dia, de compai-
forga e de náo perder nossa dignidade. Enfim, velemos por xáo para com todos aqueles que sofrem. É progredir naquilo
nós mesmos e tomemos cuidado para náo pensar e agir de que julgamos como sendo o sum m um bonum , o bem supremo,
uma maneira que náo seja conforme aos nossos ideáis mais tal como o compreendemos e quaisquer sejam os obstáculos. A
elevados. Saibamos também nos mostrar dignos de nossas coragem nesse sentido déve ser acompanhada pela humildade
escolhas. Respeitemos tudo o que foi transmitido e tudo o que e pela dignidade.
aprendemos com os outrós ou por nossa própria experiencia.
Há muito por dizer sobre a dignidade assim como sobre a Mas a coragem comporta riscos. Este reside no excesso e
humildade, e essas duas qualidades devem regularmente ser nos resultados que se seguem a ele. Á guisa de exemplo, ter
objeto de nossas reflexóes e de nossas meditagóes. E claro coragem em nossas opinióes nos faz correr o risco de, se náo
que se vocé se entregar a um exame pessoal sobre esses dois tivermos cuidado, sermos levados á intolerancia e mesmo ao
pontos, chegará a uma conclusáo melhor do que essa a qual fanatismo. Nesse caso, a coragem pode ter por consequencia
acabo de mencionar. uma incompreensáo e uma reagáo negativa, e seu nobre
objetivo náo é entáo conquistado. A coragem implica, pois, Seremos receptivos as injungóes do nosso eu real e, assim,
na prudencia, e mesmo na circunspecto. Mas estaríamos nós cumpriremos a Vontade divina. Esta é sempre boa e visa,
de acordo com nossa definigao de coragem se, precisamente, sem cessar, o maior bem de todos e o de cada um, desde que
náo fóssemos corajosos para enfrentar os riscos implicados tomemos consciencia déla e que a deixemos se exprimir por
pela própria coragem e que se encontram no excesso de urna meio de nós.
qualidade?
Aprendamos o desapego e a náo nos deixar submergir pe
Náo devemos jamais nos furtar de nossas responsabilidades, las circunstancias e condigóes deste mundo, nos lembrando
e é preciso portanto darmos prova de coragem. O que quer constantemente que em nosso coragáo, como nos coragóes de
que fagamos, fagamo-lo bem, e tenhamos sempre em mente todos os seres humanos, permanece para sempre um guardiáo
estas palavras: “Nada de quase!”. Nesse sentido, a coragem silencioso e vigilante: o Mestre interior. Ele é o elemento fun
está também ligada ao esforgo e, portanto, ao trabalho, náo damental da centelha divina presente em nós.
apenas de maneira alegórica ou em referencia ao trabalho
interior que devemos cumprir nós mesmos a cada dia. Refiro- Concluirei, entáo, lhe desejando a humildade, a dignida
-me ao trabalho cotidiano, material e profissional. As vezes de e a coragem em cada um dos seus pensamentos, de suas
é necessário darmos prova de vontade para suplantar nossa palavras e de suas agóes.
falta de dinamismo, nossa preguiga ou fadiga, legítima ou náo.
—Uma terceira condigáo é necessária para se viver a feli —O trabalho é também uma das principáis fontes de
cidade. Ela pode ser resumida da seguinte maneira: viver o satisfagáo e, portanto, de felicidade, póis é na atividade que
instante presente. Ai também a ciencia encontra a filosofía, experimentamos este quase mágico esquecimento de si. O
pois este principio é um dos preceitos de base do ensinamento tédio leva a depressáo. Logó, se vocé náo está mais na ida-
rosacruz. A felicidade é um encadeamento de pequeños pra- de de trabalhar, assim como o entende a nossa sociedade,
zeres que é preciso saber captar: apreciar o lado agradável de dedique-se a outras atividades benévolas. Vocé há de convir
cada instante, como se contentar de sentir o calor da água no que um investimento em uma causa altruista já é um grande
chuveiro, pela manhá, sem pensar em tudo aquilo que nos estímulo. Náo se prive disto, pois o auxilio a outrem é uma.
espera em nosso dia de labuta; aproveitar um raio de sol, o fonte incomparável de felicidade. A isto devemos acrescer
canto de um pássaro, o cheiro do páo fresco em uma padaria, um trabalho espiritual feito todos os dias e consagrado a essa
ou qualquer outra sensagáo agradável, inesperada e furtiva. intengáo, pois esta agáo é. também uma forma de entreajuda
Mesmo em um período tenebroso de nossa existencia, mesmo útil aos outros, além de ser estimulante.
na tormenta e no sofrimento, devemos aproveitar sem com
plexos ou reservas o brilho de alegria que atravessa o nosso - Uma outra constatagáo foi feita. Ela diz respeito á idade.
céu, e aO qual podemos chamar, mesmo se náo durar mais Nos referimos geralmente á plenitude da velhice, e muitas
qué um segundo, de felicidade! pessoas com mais de sessenta anos se declarám mais felizes do
que eram quando jovens. Parece que com o tempo aprende
—Especialistas realizaram experiencias e aparentemente mos a apreciar mais intensamente cada sensagáo de satisfagáo.
descobriram a regiáo do cérebro que influenciaría nosso bem- Portanto, se vocé é jovem, esforce-se, sem que seja necessário
-estar. Esta zona é ativada quando vivenciamos uma nova esperar a idade madura, para sempre ver o aspecto positivo
experiencia. Ora, a sensagáo de felicidade pode ser provocada de sua vida e as condigóes materiais e moráis ñas quais vocé
por tudo aquilo que nos faz sair da nossa rotina, como um evolui. Certamente vocé náo realizou ainda todos os seus
novo projetó de vida ou de trabalho, um trajeto diferenté que sonhos, mas orgulhe-se daquilo que vocé já logrou fazer.
— O sétimo e último ponto revelado por estes cientistas ten- O filósofo grego Aristóteles pensava que “a causa verda
de a provar que o “milagroso remédio” contra a infelicidade, d era m en te determ inante da felicid a d e reside na atividade em
ou chave da máxima felicidade, seria a gentileza. Ah, sim, as con form idade á virtu de”. E verdade que nós nos referimos
pessoas que se dizem felizes sáo, em sua maioria, mais gen- amiúde á virtude. Aquilo que caracteriza uma virtude é que
tis, mais afáveis e mais generosas que as outras! A bondade, ela é um sinónimo de liberdade, desde que a pratiquemos.
a atengáo dirigida aos outros e a compaixáo seriam fatores Com efeito, quanto mais exprimimos virtudes em nossos
determinantes para se alcanzar a felicidade. Eu acrescentaria julgamentos e comportamentos, mais nos emancipamos e
que estes élans do coragáo náo devem se contentar em ser nos sentimos livres.
interiorizados, e depois rejeitados. Devem ser exprimidos e
manifestados concretamente. Comenius, eminente rosacruz do século XVII incitava
o homem a jamais se afastar de seu objetivo: a felicidade?
Eu o encorajo a fazer regularmente um pequeño balango. Harvey Spencer Lewis imaginava a felicidade ideal em um
A quem vocé fez o bem nos últimos tempos? Vocé conside- meio pacífico e amigável. Assim como Madre Teresa, cuja
alegria era magnífica, Irmá Emmanuelle disse: “Afelicid a d e
rou agradecer aqueles que lhe ajudaram? Cumprimentou
éfru ir sim plesm ente daquilo que tem os e daquilo que somos, sem
seu cónjuge, um de seus filhos, um vizinho ou um colega de
comparando com os outros, privilegiando as relagóes puram ente
trabalho? Agindo assim, vocé oferecerá um agradável instante
humanas. E vtver as trocas desinteressadas e dividir calorosam ente
de felicidade a outrem, e ainda contribuirá para seu próprio
com aqueles a nosso redor".
bem-estar. Náo dizemos que “a m aior alegría é aquela que
proporcionam os aos outros” ? Para concluir, direi que a felicidade incondicionalmente se
sitúa na aptidáo de amar cada ser e respeitar tudo aquilo que
Se estou resumindo estas quantas reflexóes, podemos dizer é vivo. Inspirados por tál amor, sentimos entáo nascer em nós
que a ciencia eré que a felicidade associa determinada zona do um único desejo, positivo e construtivo, ou seja, de utilizar
cérebro ao comportamento, e mesmo as maneiras de pensar nossos dons e nossos talentos para servir, ajudar, reconfortar,
que nos tornam felizes: sermos ativos, altruistas, viver o tempo guiar e procurar a paz. Vista por este ángulo, a busca que
presente, sermos ordeiros e organizados, aceitarmos as coisas, devemos empreender é simples, pois consiste em cultivar a
os acontecimentos e a idade com serenidade, e sobretudo serenidade e em desenvolver a inteligencia do coragáo. Isto
sermos gentis e amáveis. Ora, isto está muito próximo, e é faz supor que devemos manter pensamentos puros, que
mesmo similar, aquilo que os sábios em geral e os rosacruzes devemos dizer palavras uteis e cuidar para que nossas agóes
em particular preconizam desde sempre. sejam construtivas. Procedendo assim, permitimos á nossa
alma exprimir a sabedoria que lhe é inerente e contribuir para A sabedoria
a harmonia em nós e a nosso redor.
al como um archote, a sabedoria arde em nós e deveria
Esteja convencido de que é no mais profundo de nós mes
mos que se encontra a fonte da felicidade. E se vocé segue o
T ilum inar cada um de nossos pensamentos, de nossas
palavras e de nossas agóes. Já me referí á sabedoria em um
adágio “C onhece a ti m esm o e conhecerás o universo e os deuses”, texto intitulado: “Aperegrinando in terior ’. Este texto figura
entáo, acredite-me, vocé conhecerá mais do que o universo e em meu livro “Assim S eja !”, editado em 1994. Perm ita-
os deuses: vocé conhecerá a felicidade! -me retomar um excerto dele, já que, em minha opiniáo,
ilustra bem minha percepgáo da sabedoria. Devo precisar
que este excerto se enderega mais particularm ente aos
rosacruzes.
Como peregrinos-cavaleiros da Rosa-Cruz, devemos com- Isso deve nos levar a ser modestos, pois náo podemos jamais
preender, antes que seja tarde demais, o que a palavra “sábio” estar verdadeiramente certos da compreensáo que temos de
significa verdadeiramente. Para tanto, é preciso aprender alguma coisa. Neste sentido, é preferível colocar em prática a
por meio da iniciagáo que, assim como o hábito náo faz o cada dia uma qualidade única a qual integramos perfeitamente
monge, a espada, qualquer que seja, náo faz o cavaleiro. Ser do que falar como um livro de todas as virtudes sem sermos
portador da espada da sabedoria sem ser sábio assemelha-se a capazes de aplicar uma sequer. De fato, o objetivo do homem
contemplar a luz do dia com uma venda nos olhos. Só unindo náo é tanto adquirir conhecimento quanto colocá-lo em prática.
o poder cósmico da sabedoria as virtudes do sábio podemos
realizar o estado de Cavaleiro Rosacruz. Foi pelo fato de os Quando o Mestre Jesús ensinou aos homens que deveriam
antigos místicos haverem compreendido a necessidade dessa se amar uns aos outros, ele acrescentou que náo havia manda-
uniáo que falaram do Sábio dos Sábios. Talvez tenha sido mento superior a este. O que há de mais simples do que dizer,
pela mesma razáo que o Rei Arthur, após ter recebido a Ilu- ler ou escrever esta frase: “Amemo-nos uns aos outros”? Todos a
minagáo, gritou, apontando Excalibur para o céu: ‘Terra e Rei conhecem, mas quem compreende suficientemente sua esséncia
sao uma só coisa!’ Náo tinha ele efetivamente acabado de ter a para colocá-la em prática em sua vida cotidiana?
Quando refletimos sobre o sentido deste único preceito, Escutar, falar, comunicar
vemos que ele mostra o ideal de comportamento que todos
os homens alcangaráo um dia, mas que apenas alguns já ais do que nunca percebemos a importancia da
realizaram. Por outro lado, aqueles poucos que efetivamente
atingiram esse estado foram mais do que sábios. Cada qual
poderia ser chamado “Cristo”. Dado que o estado de sabedoria
deve ser necessariamente alcanzado antes do estado crístico,
M comunicagáo, tanto no plano individual quanto no
coletivo. Desde sempre, a historia da humanidade, e
portanto a nossa própria, foi pontuada por guerras, fanatismo
e agressóes de todos os tipos. Todos esses dramas e ressenti-
isto faz supor que há um mandamento mais fácil de ser se mentos tém sido frequentemente gerados pela recusa ou pela
guido pelos seres em evolugáo, que somos nós. impossibilidade de comunicagáo. Ora, sáo a escuta e a palavra
que dáo vida á comunicagáo.
Esse mandamento mais acessível para nós é precisamente
aquele que o sábio é capaz de observar, e creio que podemos Dentre os sentidos objetivos dos quais o ser humano é
exprimi-lo dizendo: “Compreendamo-nos uns aos outros”, dotado, a audigáo tem urna importancia capital. Quando
ou dito de outra maneira, aprendamos a nos conhecer e anos funciona bem, nenhum esforgo em particular é necessário
apreciar tal qual somos, já que náo somos ainda capazes de e os sons nos chegam fácilmente. Chega mesmo a ser difícil
amar o nosso próximo assim como a nós mesmos. Esforcemo- controlá-los, a ponto de poderem constituir urna agressáo.
-nos por aplicar esta compreensáo mútua em todos as nossas Ás vezes, as palavras se assemelham a ruidos ou a um fundo
relagóes humanas. Agindo assim, faremos muito mais por sonoro. Neste caso, nós ouvimos, porém náo escutamos.
nossa evolugáo e pela evolugáo do mundo do que lendo, sem
compreender, os mais altos preceitos cristáos ou outros. Para escutar e estabelecer urna comunicagáo com outra
pessoa, é preciso estar verdadeiramente disponível e atento.
Se conseguirmos viver este mandamento, náo por amar Nosso espirito náo pode vagar. Nossos pensamentos náo devem
todos os seres, mas por náo detestar nenhum deles, teremos, se dissipar, e nosso centro de interesse naquele instante deve
por nossa atitude, nos aproximado da grande e verdadeira estar limitado ás palavras de nosso interlocutor. Nossos ouvidos,
sabedoria. nosso espirito e também nosso coragáo devem estar abertos.
Homenagem a Harvey Spencer Lewis Atravessando o Atlántico para alcangar o continente que
os habitantes do Novo Mundo chamavam de “velha Europa”,
/
duvidaria ele de que 100 anos mais tarde, reunidos sob a égide
E
com grande emogáo e um sentimento de gratidáo que
redijo este capítulo consagrado ao homem excepcional da Antiga e Mística Ordem Rosacruz, homens e mulheres
que foi Harvey Spencer Lewis. de todas as ragas, de todas as condigóes sociais, de todos os
horizontes religiosos, lhe prestariam homenagem? Gragas á
Personalidade fora do comum, grande figura do Rosacru- sua intuigáo, á sua coragem e á sua perseveranga, a Rosacruz,
cianismo, precursor, vanguardista e resolutamente moderno, entáo na sombra e em segredo, apareceu em plena luz e pode,
Harvey Spencer Lewis tinha o olhar voltado para o futuro e em algumas décadas, iluminar, por sua vez, o coragáo e a alma
na diregáo daquilo que ele gostava de chamar de “Cósmico”. de milhares de seres buscadores de Conhecimento.
Sua mensagem originou-se no passado e na Tradigáo pri Na AMORC, nos referimos frequentemente a esta perso-
mordial, mas seu presente foi criativo, laborioso, dinámico, nagem incomum. Por meio de seus escritos, revistas, livros,
perseverante e portador de esperanza. Depois, suas ideias, conferencias, fotografías etc., os rosacruzes conhecem a vida e
palavras, escritos e métodos foram retomados por um número o caminho trilhado por este místico de excegáo. Ao seu nome,
expressivo de grupos, de pessoas e de escritores, alguns mesmo certamente, está associado o de seu filho, Ralph M. Lewis,
se apropriando deles sem reservas. Toda a sua existencia e sua que foi Imperator da Fraternidade rosacruz a partir de 1939,
obra foram devotadas ao ideal rosacruz por meio da Antiga e durante 48 anos de labuta, servigo e devogáo. Ligam-se ainda
Mística Ordem Rosae Crucis. ao nome de H. Spencer Lewis seus companheiros mais fiéis
na Senda rosacruz. Pensó em Peter Falcone, James Withcomb,
A vida de servido e trabalho intensos que ele levou lhe fez Louis Babcock, Al Williams, Jeanne Guesdon, Martha Lewis
terminar prematuramente sua encarnagáo, mas a heranga lega e muitas outras personalidades que com ele escreveram um
da por ele permanece no coragáo daqueles que o conheceram capítulo da grande historia do Rosacrucianismo. Na minha
e que o sucederam. E agora esta heranga se encontra dentro juventude tive a honra de encontrar alguns deles. Fui tocado
daqueles e daquelas que hoje palmilham a senda que ele tragou. por sua luz e, sobretudo, por sua fidelidade absoluta, mas
também pelo amor e pela admiragáo que exprimiam quando
Há mais de um século (1909), H. S. Lewis efetuou aquilo se referiam ao seu finado Imperator, irmáo e amigo.
que ele mesmo chamou de “a viagem de um peregrino rumo
ao Leste”, o Leste geográfico para ele que se encontrava na A vida e a obra deste grande homem sáo impossíveis de
América, mas também o Leste simbólico, de onde a cada descrever em poucas linhas, tamanha a sua importancia. Além
manhá vem a luz. Este jovem homem ia ao encontro de sua disso, encorajo aqueles que náo o fizeram a procurar o livro
vida. Encontrava seu destino e entrava na historia grandiosa
e misteriosa dos rosacruzes.
intitulado H arvey Spencer Lewis, um Mestre da Rosacruz1. Este esoterismo. Para ele e para a Antiga e Mística Ordem Rosa-
título se impoe como urna evidencia, pois nenhuma afirmagáo cruz, todos os homens e mulheres, todas as ragas, todos os
seria mais justa que esta. povos e meios sociais estavam em pé de igualdade. Nisso
também ele foi precursor e posteriormente imitado.
Ao 1er este livro, vocé constatará o quanto Harvey Spen
cer Lewis era culto, sábio e visionário. Para náo corromper o
Certamente, alguns poderiam dizer que ele possuía urna
espirito e a letra, nada dos seus textos foi mudado. Por con-
imaginagáo um pouco extravagante e que gostava de roman
seguinte, ao lé-los, é preciso levar em considerado a época
cear suas experiéncias e seus escritos. E verdade, mas é o por
em que foram escritos, ou seja, durante a primeira metade do
qué de hoje ainda apreciarmos sua leitura. E também porque
século XX, entre 1916 e 1939. Isto foi antes da Europa conhe-
ele soube, como eu disse anteriormente, iluminar o espirito
cer a paz, numa época em que o racismo e o nacionalismo
dos rosacruzes para que eles pudessem melhor conhecer a si
predominavam, antes da profusáo de livros de psicología,
mesmos. Gostava de imaginar, contar e compartilhar. Soube
de psicanálise, de bem-estar e de busca pessoal em todos os
fascinar seus auditorios, por vezes compostos de pessoas céticas
campos e antes da epopéia “hippie”. Resumidamente, antes
e encarceradas nos grilhoes da religiáo. Ele fez sonhar e deu
da dita moda da “nova era”.
esperanga: em outras palavras, “transmitiu”!
Ao preparar esta obra e relen á o seu s escritos, percebi mais
ainda o quanto Harvey Spencer Lewis foi um ser extraor- Por certo, á luz dos conhecimentos atuais, dos avangos da
dinário, dotado de numerosas qualidades. Foi um grande ciéncia, das descobertas arqueológicas etc., podemos sempre,
espirito de seu tempo e de todos os tempos. com espirito crítico, trazer á tona esta ou aquela ideia emitida
por Harvey Spencer Lewis, assim como podemos, ao contrá-
O livro que lhe é consagrado náo é senáo um reflexo de rio, maravilharmo-nos, já que muitas de suas assertivas, que
sua obra e urna ínfima parcela de seus pensamentos e de seus por vezes foram tomadas por especulagóes, mostraram-se
escritos. Ele era um escritor prolífico e amava dividir seu co- verdadeiras e demonstradas.
nhecimento com aqueles os quais chamava de seus “fratres
e sorores”. E sim, Harvey Spencer Lewis se dirigia tanto ás Os membros da AMORC podem verificar por si mesmos as
mulheres quanto aos homens numa época em que elas náo virtudes da visualizagáo, da intuigáo e de todos os fenómenos
tinham ainda o mesmo reconhecimento que lhes seria de ditos “psíquicos”, cujo estudo é proposto ñas monografías
volvido de fato e por direito, mesmo no mundo fechado do que recebem a cada més. Estes principios os acompanham
e, diariamente, de diferentes formas, eles os experienciam,
1 Editado em portugués pela G L P (N. do T.) seja se felicitando por utilizá-los, seja lamentando por náo
haver feito uso deles, o que lhes permitiría evitar dissabores. do coragáo, espero que nos séculos vindouros, para além
Certamente, náo se demonstra sempre confianga absoluta do porvir da AMORC, de sua estrutura e de seus membros,
naquilo o que é ensinado, o que é muito bom. Efetivamente, Harvey Spencer Lewis seja oficialmente reconhecido em seu
o Rosacrucianismo náo é dogmático e devemos sempre ser justo valor. Que possa a alma deste que foi um iniciado, um
prudentes. Como temos o costume de dizer, é preciso que filósofo, um humanista e Imperator da Rosacruz estar certa de
sejamos “pontos de interrogado ambulantes”. minha gratidao e da gratidáo dos rosacruzes que caminham
sobre seus passos.
Se fago mengáo a este ensinamento rosacruz, tal como é
proposto hoje, é porque é a Harvey Spencer Lewis que nós Alcanzar o Teto
devemos sua escritura. Consoante ao seu desejo, ele foi e é por Harvey Spencer L ew is - 1932
revisado regularmente. Por outro lado, é evidente que se ele
vivesse em nossa época, nao teria hesitado em se servir das “Há pouco tempo, um empreiteiro comegou a construir uma
ferramentas de comunicagáo disponíveis neste século XXI. casa num subúrbio desta cidade e eu me interessei pelo cuidado
com que ele fazia os alicerces. Pareceu-me que uma casa muito
Como Imperator, frequentemente devo tomar decisóes bonita e sedutora iria ser construida sobre os muros de concreto
quanto á orientagáo a dar á Fraternidade rosacruz, para adap que ele estabelecia e construía cuidadosamente. Pouco depois,
tar suas regras e assegurar a perenidade de suas atividades. eu encontrei esse empreiteiro num lanche e lhe perguntei como
Nesses momentos, e sempre que a dúvida se instala em face estava progredindo sua nova casa, e fiquei estupefato ao ouvi-lo
de uma situagáo particular com a qual lidar, pensó em Harvey dizer que estava prestes a terminar o teto. “O q u é?”, disse eu,
Spencer Lewis e digo a mim mesmo: “O que ele teria fe it o ? ”. “v o cé ch egou m uito depressa ao teto !”. “Sim ”, respondeu o em
Para a AMORC ele era audacioso e mesmo ambicioso, e é por preiteiro, “sabe, quando certas pessoas constroem , elas projetam
isso que durante o tempo de sua encarnagáo ele visualizou e um teto q u efiq u e m uito perto do solo e que nao exija m uito tem po
realizou belas e grandes obras. Para ilustrar o que venho de e esforgo para construir depois os alicerces a té o teto ”.
dizer, eu o convido a reler ou a descobrir a seguir um de seus
escritos intitulado “A lcangaro Teto”. Vocé entáo compreenderá Eu náo podia deixa de refletir sobre esta afirmagao filosófica
o espirito que o animava. porque ela continha todo um livro de pensamentos. Sem
dúvida nenhuma, uma das razóes pelas quais tanta gente
Depois de seu encontro com a Rosacruz e de sua iniciagáo no mundo de hoje náo alcangou um lugar mais importante
em Toulouse, em 1909, ele iria marcar o mundo do esoterismo ou mais elevado na vida é porque elas atingiram muito
em geral e o do Rosacrucianismo em particular. Do fundo fácilmente o teto. Em todos os seus planos, em todas as suas
consideragóes, em todos os seus desejos e em todas as suas é comegarem se endividando e assumindo grandes contratos
ambigóes, elas visualizaram um teto que comegava muito e obrigagóes, sendo obrigados a enfrentá-los. Eles dizem que
perto dos alicerces e, depois que a construgáo terminou e o teto mais casas foram adquiridas por jovens casais que se coloca-
estava no lugar, seu prédio era baixo, humilde, insignificante e ram na obrigagáo de pagar para terem urna bela casa do que
provavelmente insuficiente para representar suas verdadeiras por aqueles que tentaram poupar e náo comprar urna casa
possibilidades na vida. senáo quando tivessem fundos suficientes. Seja como for, sei
que o homem ou a mulher que mentalmente concebe e projeta
É verdade que um individuo pode sonhar de maneira vaga construir um grande prédio ou fazer urna grande carreira na
demais, ambiciosa demais ou magnífica demais, e colocar o vida e que está determinado a ter sucesso nos seus projetos é
teto do prédio contemplado bem além das alturas acessíveis, geralmente aquele que tem éxito.
mas é muito raro que os construtores que agem assim náo
cheguem a alcangar urna altura impressionante no seu desejo Quanto maior é a ambigáo, maiores sáo o entusiasmo e o
de atingir o teto. Eles podem náo conseguir realizar seus pro desejo de se ter éxito. Quanto mais o objetivo é elevado e nobre,
jetos, mas em sua tentativa de realizá-los eles se elevam com mais há determinagáo para alcangá-lo. Os obstáculos comuns
frequéncia muito acima daqueles que sáo ultraconservadores que desviam ou desencorajam o individuo que tenta chegar
e prudentes demais. apenas a um lugar mediocre nada significam para aquele que
Urna destas duas categorias de individuos, a que é extrema tem grandes projetos ou urna grande ideia a por em execugáo.
mente conservadora ou pessimista, hesitante, cética, reservada
e indecisa, é a perdedora no grande jogo da vida. Ela dá a M an ter-se fir m e !
partida com limitagóes auto-impostas e é raro que ultrapasse Recorrendo ainda á analogia da construgáo de urna casa,
essas limitagóes. Aquela que é muito ambiciosa, que parece podemos ver que o ser humano que projetar construir somente
ter engatado seu vagáo numa estrela, que acha que o céu é o um bangaló de quatro pegas e de doze a catorze pés de altu
seu limite e que nada está além de suas capacidades, está mais ra, e que desejar construí-lo rápidamente com urna soma de
apta a alcangar o sucesso e a realizar algo. dinheiro limitada e num tempo reduzido, vai se desencorajar
rápidamente em seus esforgos de realizar tal construgáo se, no
E n fren tar as obrigaq oes dia em que comegar a colocar os alicerces, a chuva molhar o
Ouvi economistas e alguns dos mais eminentes financistas solo e continuar a fazé-lo durante certo número de dias, até
da América dizerem que a única maneira de jovens casais, que o solo fique encharcado e lamacento. E se, depois que a
ou de jovens solteiros, poderem acumular vastas posses ma- chuva tiver parado, vierem alguns dias de neve e de gelo, e em
teriais ou chegar a possuir urna verdadeira riqueza material seguida um período de tempo frió e nublado, ele certamente
vai abandonar seu projeto de trabalhar para erguer sua casa. E e elevei o teto do edificio táo alto que, de onde eu estava, náo
se ele aínda tiver de enfrentar algumas decepgóes para obter os podia ver onde ele estava nem como ele era. Na realidade,
materiais apropriados ou a soma necessária de capital, ficará nunca estive certo de que havia um teto sobre essa constru
completamente desencorajado e abandonará definitivamente gáo mental, ou que um teto tivesse sido necessário, pois me
toda a empreitada. parecia que a única coisa a considerar era estabelecer alicerces
e paredes bastante fortes para sustentarem os andares que se-
Tal pessoa que se propóe a edificar uma pequeña construgáo riam acrescentados uns aos outros na construgáo quando ela
limitada espera terminá-la e déla dispor num tempo muito se erguesse a alturas sem limites e sem que se pudesse temer
curto. Todos os obstáculos que retardam a construgáo durante que ela tombasse ou cedesse.
semanas ou meses sáo obstáculos que a impedem também de
alcangar sua meta, ao passo que o individuo que planeja fazer Os projetos pareciam ultrapassar a razáo e eu recebia nume
uma construgáo que vai exigir anos para ser concluida, e que, rosas advertencias, dizendo-me que eu estava empreendendo
como ele sabe, deverá ser perseguida em toda espécie de tempo um trabalho grande demais e uma construgáo grande demais
e em diversas condigóes e circunstancias, náo encara os obstá para ser cumprida numa vida ou com um grupo limitado de
culos que o atrasam durante algumas semanas ou alguns meses individuos. Todo obstáculo possível ou potencial me foi enfa-
senao como obstáculos inconsequentes em comparagáo com o ticamente indicado. A medida que se passaram os meses e os
tempo que deve se passar para que finalmente seu desejo seja anos, a maioria desses obstáculos surgiu, na forma e no tempo
realizado. E por isto que ele náo é seriamente afetado por eles. requeridos. Cada interferencia prevista e centenas de outras
que náo haviam sido nem mesmo supostas, mesmo pelos mais
Eu me lembro bem dos planos previstos para a AMORC, instruidos construtores, também se apresentaram. Mas, dado
quando ficou patente que eu deveria executar a maior parte que o trabalho era enorme, a tarefa magnífica e a construgáo
dos detalhes relativos ao desenvolvimento das atividades ro táo desconcertante por suas dimensóes, os obstáculos, as difi-
sacruzes na América para o novo ciclo colocado sob a minha culdades, os problemas e os atrasos só foram considerados como
diregáo. Eu teria podido dedicar muitas reflexóes aos detalhes naturais e náo nos desanimaram em nossos esforgos.
possíveis, as decepgóes inevitáveis e aos problemas pessoais
que teria de enfrentar. Ao considerar tudo isto, eu teria podido O que essa construgáo é hoje é o resultado de grandes pro
fácilmente me programar para construir uma organizagáo que jetos. Que estes projetos se realizem todos no meu tempo de
tivesse uma boa base, mas um teto bem pouco elevado acima vida náo tem importancia. A verdadeira grandeza do trabalho
dos alicerces. Mas, em lugar disto, eu permití á construgáo do prossegue na sua massiva e esmagadora amplitude. Somos
meu edificio mental que ela subisse no céu a grandes alturas desesperadamente envolvidos no plano das coisas, e a chegada
da existencia última náo nos assusta mais daí por diante do estarem associados a um trabalho deste género, a que o pro-
que um possível esfacelamento de nossa longa e cuidadosa jetem ñas suas próprias vidas, com a maior visáo de espirito e
construgáo das fundagóes. a alturas ilimitadas, como o verdadeiro campo da sua criagáo,
e desta maneira eles teráo a alegria de chegarem acima e além
Na verdade, náo alcanzamos o teto e náo temos a ambigáo daquilo que é mediano e comum, ao singular e ao excepcional.
de fazé-lo rápidamente. O teto ainda está táo longe acima de
nós que só podemos pensar no trabalho que temos a fazer Náo sejam eles apressados demais em chegarem ao teto
em cada nivel de elevagáo, em cada nova segáo de trabalho da construgáo que projetam, a fim de que este teto náo esteja
efetuado em altura. perto demais da Terra.”
Sei que a alma se encam a no m om ento do nascim ento Alguns dizem que Deus nao tem imagem. Outros, que os
quando a crianga respira p ela prim eira vez e que ela homens sáo á imagem de Deus. Todos nós temos nossa própria
deixa o corpo com o últim o suspiro. concepgáo e nossa imagem da Divindade. Para além da ideia
que temos, esforcemo-nos para viver em harmonia com nosso
V Deus interior, o Deus do nosso coragáo. Tomemos consciéncia
regularmente de nossa origem divina e remontemos á fonte
Sei que o hom em é puro e perfeito em essencia e que por meio da meditagao e da prece.
é da ignorancia, e som ente da ignorancia, que ele
De um ponto de vista místico, Deus é a Inteligéncia que
d eve ser libertado.
está na origem de toda a Criagao e de tudo que ela contém nos
planos visível e invisível. Se por um lado é impossível conhecé-
V
-Lo como tal, por outro podemos e mesmo devemos aprender
a respeitar as leis pelas quais Ele se manifesta no homem, na
Sei que a alma é im ortal e que ela sobrevive ao de- natureza e no universo. Isso pressupóe o estudo dessas leis, que
saparecim ento do corpo, de form a que a m orte náo é o que fazem os rosacruzes por meio de seus ensinamentos.
é sendo uma passagem, um a transigdo para outra
form a de existencia. “Sei que o hom em possui uma alma p roven ien te da
Alma universal e que é ela que fa z d ele um ser vivo
V e consciente. ”
Sei que a natureza é o mais belo e sagrado dos san Assim como vocé tem sua própria concepgáo de Deus, vocé
tuarios, pois é a expressáo das leis divinas e participa também tem sua maneira de sentir, de imaginar ou de visu
na Evolugáo cósm ica. alizar a alma que lhe anima desde sua primeira encarnagáo
no plano terrestre. Esta alma conheceu outras vidas, outras Se a morte é um momento importante e se a separagáo do
emogóes, outras alegrías e outros sofrimentos. Ela náo é, pois, mundo e dos outros é frequentemente sofrível, o mesmo se
urna personalidade, mas várias. Em suas meditagóes, deixe aplica, em outro plano, para o nascimento. Em seu romance
que as lembrangas déla venham a vocé. iniciático “O Pássaro Azul”, Maurice Maeterlinck descreve
perfeitamente este momento. Como chamamos tradicio
“Sei que todos os seres hum anos sao alm as-irm as
nalmente o corpo de “Templo do Homem”, podemos imaginar
que tém a mesm a origem e o m esm o destino, o que
o momento do nascimento da seguinte maneira:
fa z da hum anidade urna com um e singular fa m ilia
espiritual. ”
Visualizemos um magnífico edificio assim como aqueles
que se construíam na Grécia e no Egito antigos. Em seu
Já que almas-irmas todos e todas somos, os elos que nos
adro, criangas aguardam. Elas tém o semblante sereno e lu
unem sáo bem reais e é por isso que, mesmo a milhares de
minoso e se preparam para trocar um mundo por outro, náo
quilómetros, podemos sentir emogóes assim que um aconte -
sem lamentos, mas conscientes de que devem novamente se
cimento importante ocorre, mesmo sem que sejamos infor
encarnar. A hora da partida é chegada e é preciso reencon
mados sobre ele, sem que estejamos no lugar em questáo e
trar seu “templo”, aquele gragas ao qual elas viveráo novas
sem estar diretamente a ele ligados. Somos as fibras de um
experiéncias e atravessaráo outras provagóes. Sua alma estará
mesmo tecido e os enredos de nossas vidas se entrecruzam.
abrigada neste templo que habitaráo durante sua encarnagáo
Nossa uniáo, portanto, é espiritual, humana e, certamente,
terrestre. Elas avangam com confianga e nele tomam lugar.
fraternal. Se vocé tem condigóes, e quando se fizer necessário,
Nascem ou renascem em outra vida.
preste auxilio ao seu próximo.
Náo se esquega jamais de que vocé é urna crianga em
“Sei que a alma se en cam a no m om ento do nasci-
transformagáo!
m ento quando a crianqa respira pela prim eira vez e
que ela deixa o corpo com o últim o suspiro. ”
“Sei que o hom em é puro e p erfeito em esséncia e
Do ponto de vista rosacruz, é no momento do nascimen- que é da ignorancia, e som ente da ignorancia, que
to, e náo no da concepgáo, que a alma penetra na crianga, ele d eve ser libertado. ”
fazendo dele inteiramente um ser humano. Inversamente, é
no momento do último suspiro, quando sobrevém a morte, A conquista da pureza e da perfeigáo é um ampio objetivo
que a alma deixa definitivamente o corpo. Neste ponto, todas a se atingir. Dizemos que a pureza náo é deste mundo, e
as religióes e tradigóes estáo de acordo. além disso nenhum místico ousaria afirmar té-la atingido.
No entanto, ela está em nós e devemos a cada dia extraí-la evolugáo e a uma vida feliz, a falta de bom senso, de instinto
do mais profundo de nosso ser para manifestá-la. Foi-nos ou de intuigáo engendram frequentemente, se náo sempre,
dada a faculdade de avaliar, de pressentir e de premunir. Sem erros e até mesmo catástrofes em nossa vida cotidiana, tanto
pretender a perfeigáo e a recusa ao direito de errar, devemos no seu aspecto material como no das relagóes.
nos esforgar para tomar consciéncia de nossas possibilidades e
desta perfeigáo latente por vir. A cada dia podemos e devemos, Quanto a ignorar os outros e aquilo que eles representam
em nosso comportamento, nos aproximar déla. em todos os aspectos, isto é arriscar-se a deixar nascer em nós
a intolerancia, a incompreensao, a rejeigáo, o isolamento e
Gostaria de precisar algo a respeito deste principio da per muitos outros sentimentos negativos. Inversamente, o conhe
feigáo. Um dia, um jornalista que me entrevistava fez-me a cimento do outro ou o desejo de descoberta nos descortina ho
seguinte observagáo: “Pois eu, senhor, desconfío desta perfeigáo rizontes fascinantes, nos mergulha num banho de juventude
e daqueles que a p ersegu em /”. Ele fazia alusáo ao nazismo e á permanente e estimula nossa criatividade. O conhecimento
raga pretensamente perfeita. Eu jamais havia considerado este dos outros é o partilhar, a devogáo, a fraternidade, a uniáo e
assunto sob este ángulo, mas com frequéncia relembro aquela a fiisao. Mas esta fusáo com os outros náo é possível se náo
conversa. Entáo, para que náo fique nenhum mal entendido se produzir primeiro em nós, e é ai que intervem o autoco-
entre nós, insisto no fato de que me refiro ao aspecto místico, nhecimento.
e mesmo utópico, da perfeigáo a ser atingida. Náo tratamos “Conhece a ti mesmo e conhecerás o universo e os deu-
aqui de perfeigáo física, racial ou social. E preciso situar este ses”. Este adágio resume a humanidade e a divindade que
principio em outro nivel. Seja, portanto, confiante se vocé se há em nós. Conhecer a si é, primeiramente, aceitar-se como
sente muito longe do modelo de humano perfeito, e ame a si é, e em seguida fazer um balango sem indulgéncia sobre si,
próprio assim como é. Seja lúcido a respeito de suas imperfei- esforgando-se para corrigir seus defeitos. Com muita fre
góes, mas saiba apreciar igualmente suas qualidades. E aquilo quéncia a imagem que o espelho nos devolve está longe de
que é válido para si mesmo é válido também para o olhar que ser perfeita, mas isso náo nos deve desencorajar. Ao contrário,
vocé langa sobre os outros. este conhecimento que temos de nós pode nos permitir avan-
gar e aprender incessantemente, dia pos dia, provagáo após
A ignorancia é a auséncia de conhecimento: o conhecimen- provagáo. Acolhamos em nós o conhecimento e estejamos a
to das leis divinas, isto é, das leis naturais, universais e espiri- seu servigo por nós mesmos, pelos outros e por Deus.
tuais; o conhecimento dos outros, o que origina a tolerancia;
e, enfim e sobretudo, o conhecimento de si. Se uma falta de Proponho-lhe, entáo, com relagáo ao enunciado desta con-
conhecimento dito “intelectual” náo é um obstáculo á nossa vicgáo, refletir acerca de um trago de sua personalidade que
vocé gostaria de mudar para poder avanzar mais um passo Como poderíamos encarnar, manifestar nossa divindade,
na diregáo da perfeigáo. E como Deus, por intermédio de desabrochar nossa alma, criar lagos fraternais com nossas
seu Mestre interior, está em vocé, pega a Ele que o ajude a se almas-irmás e evoluir para a perfeigáo se a Terra náo nos pu-
aprimorar e faga a si mesmo a promessa de empregar todos os desse acolher? Temos todo o dever de preservá-la, de respeitá-
seus esforgos nesse sentido. Pega a Ele para ser sempre atento -la e de amá-la. Fagamos de sua salvaguarda uma prioridade
e receptivo a todas as formas de conhecimento que possam e ajamos cotidianamente neste sentido. Nosso planeta náo é
lhe permitir alcangar este objetivo algum dia. apenas uma obra-prima da Criagáo. Ele é também o templo
da humanidade e o suporte de sua evolugáo espiritual. Ele
“Set que a alm a é im ortal e que ela sobrevive ao de- merece consequentemente nosso maior respeito.
saparecim ento do corpo, d e form a que a m orte náo
é senáo uma passagem, um a transigáo para outra Deixei a vocé, portanto, algumas das minhas convicgóes.
form a de existencia." Elas podem tornar-se as suas se vocé aderir a elas. Mas, sobre -
tudo, eu o encorajo a descobrir suas próprias convicgóes e a
A imortalidade da alma, evocada tanto pelos egipcios inscrevé-las no livro de sua consciéncia. Náo esquega de abri-lo
e gregos da antiguidade quanto pelos fiéis das religióes regularmente. Costumamos esquecer muito rápidamente!...
existentes, pelos místicos em geral e os rosacruzes em
particular, é um principio universal que está presente
sob diferentes formas em todas as religióes e em todas as
tradigóes. De um ponto de vista místico, a morte é uma
passagem, uma “transigáo” do mundo terrestre ao mundo
espiritual. Ela náo dura mais do que a separagáo dos seres
amados e é uma provagáo muito dolorosa. Esta passagem,
a que poderíamos chamar “retorno”, sempre foi, desde a
noite dos tempos, acompanhada de um ritual que objetiva
ajudar a alma do defunto a cruzar o umbral do além ñas
melhores condigóes possíveis.
Todo ser humano deveria se esforgar para transmutar o pes- Platáo pode ser considerado como o fundador da ciéncia
simismo que predomina atualmente num otimismo baseado do belo. Ele acreditava que existe, para além das coisas mani
em uma análise lúcida, porém confiante, dos acontecimentos. festadas, um “belo” espiritual e absoluto que confere beleza a
Assim, quando tivermos a oportunidade de falar com outros tudo que existe no plano terrestre. Ele dizia igualmente que
sobre atualidades, seja no plano regional, nacional ou inter quanto mais puros forem nossos pensamentos, melhor per-
nacional, deveríamos sempre nos esforgar para evidenciar os ceberemos e sentiremos a beleza universal, a qual é, segundo
pontos que mostram que o mundo, para além das aparéncias, ele, uma emanagáo do Divino. Naturalmente, a beleza náo se
evolui na diregáo de ideáis cada vez mais humanistas. Parale exprime apenas no mundo visível e náo se limita as aparéncias.
lamente, deveríamos nos ocupar emitindo formas-pensamento Há igualmente a beleza interior, a da alma, que transcende o
positivas na intengáo de todos aqueles que sofrem física ou corpo e que cintila através dele.
moralmente. Tenhamos consciéncia disso ou náo, o poder
do pensamento é imenso. Logo, é necessário empregá-lo de A natureza transcendental da beleza pode ser assemelhada
maneira útil e construtiva. á impulsáo que nos conduz na diregáo de tudo aquilo que
participa do bem, como exprimiu magníficamente este grande
neo-platónico que foi Plotino. Este místico inspirado sempre
se dedicou a revelar a beleza associando-a aquilo que ele é preciso que ela participe na razáo que criou este m undo. Em
designava como sendo “o olho interior”, o qual, segundo ele, todas as artes é a proporqáo e a harm onia que agradam. Quando
deve se abrir á percepgáo daquilo que é belo em todas as coisas presentes, tudo é belo. Ora, esta harm onia aspira á igualdade e á
e em todos os seres. A respeito disto declarou ele: unidade. O belo tem sem pre p o r fo rm a a unidade”.
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“E preciso acostum ar a alma a ver prim eiro as belas ocupaqoes, Se a Beleza divina pode ser percebida e recebida di-
depois as belas obras dos hom ens de bem e depois ver a alm a da- retamente pela inspiragao, náo é senáo quando o artista
queles que executam belas obras. Como podem os ver esta beleza da dá forma a ela na matéria que ela se torna beleza para o
boa alm a? Volta a ti m esm o e olha: se ainda nao ves a beleza em comum dos mortais. Ela se aparenta entáo a urna obra
ti m esm o, fa z com o o escultor de urna estátua que d eve to m a rse de arte cuja esséncia, o arquétipo, tem origem nos planos
bela; ele subtrai urna parte, desbasta, bruñe e lustra a té libertar superiores da Criagáo. Isto quer dizer que a beleza, tal
do m árm ore belas linhas. Como ele, retira o supérfluo, corrige qual manifestada entre nós por meio da natureza e das
aquilo que está oblíquo, limpa aquilo que está escuro para tom á- obras do homem, deve nos conduzir a urna tomada de
~lo brilhante e náo cessa de esculpir tua própria estátua a té que o consciéncia da Beleza-divina. Quer dizer ainda que seu
claráo divino da virtude se manifeste... Pois ép reciso que o olho objetivo é nos elevar em consciéncia á Divindade. Se este
se tom e sem elhante e equivalente ao objeto visto para se p or a é o caso, é porque nossa alma é urna emanagáo da Alma
contem plá-lo. Jam ais um olho verá o sol sem se tom ar sem elhante universal e porque ela sente e exprime, por meio daquilo
a ele e tam pouco urna alma verá o belo se náo f o r bela”. que é belo, o que há de mais divino nela.
Há urna progressáo na percepgáo do belo. Este deve seduzir
os sentidos e depois a mente e as emogóes, antes de tocar a alma Se é im portante sermos receptivos á beleza e nos
propriamente dita. Atrás de toda obra de arte há um artista, nutrirmos déla em todos os planos, da mesma maneira
mas quando ela é considerada perfeita, transcende a perso- é importante manifestá-la, ou seja, criá-la, e isto inde-
nalidade de seu autor para exprimir um aspecto do Divino. pendentemente e fora das artes. E assim que devemos nos em-
Deus, no sentido de Inteligencia ou Consciéncia universal, penhar para exprimi-la em cada um de nossos pensamentos,
está, portanto, presente no sentimento puro e auténtico do palavras e agóes, e de tal modo manifestar a relagáo harmónica
belo, pois este é um de seus atributos. Falando da beleza na que nos une a Deus, tal como O concebemos e O sentimos.
arte, Santo Agostinho disse: Nisto, quanto mais um individuo é evoluído espiritualmente,
mais é sensível á beleza e mais se torna capaz de criá-la nele
“A beleza é a marca necessária, ainda que m eio apagada, da e a seu redor, trazendo assim urna parcela do Divino para o
Máo divina. Para que ujna obra de arte seja verdadeiram ente bela, plano terrestre, para a maior ventura dos homens.
Em conclusáo, devemos cultivar nossa sensibilidade á O aspecto judaico-cristáo
beleza das coisas, náo por estas coisas em si, mas pela har
monia que irradia délas e que, por meio délas, manifesta a
do Martinismo
Beleza divina. Ser sensível ao que é belo é abrir uma janela
e o “acaso” colocou em suas máos esta obra e se jamais
para o Mundo divino e se aproximar da Sabedoria divina; é
experienciar o Amor universal, do qual é dito que é a vida e
a luz de todas as coisas no universo. E isto que levou Rümi a
dizer: “Aquilo que Deus disse a rosa e que a fez desabrochar sua
S vocé tinha ouvido falar do Martinismo, permita-me lhe
fazer uma breve apresentagáo. Ela é extraída de uma
brochura intitulada “Luz Martinista”, a qual vocé pode pro
videnciar solicitando á sede da Tradicional Ordem Martinista
beleza, Ele disse ao m eu coraqáo e o tornou cem vezes mais b elo ”.
ou por meio do site da TOM ou da AMORC.
“[...] A Tradicional Ordem Martinista é uma Ordem ini-
ciática cuja meta essencial é perpetuar o esoterismo judaico-
-cristáo. Os martinistas estudam a historia do homem desde
sua emanagáo da Imensidade divina até sua condigáo presente,
assim como as relagóes que unem o homem a Deus e á natu
reza. Pois, segundo o Filósofo Desconhecido: “Nao pod em os
nos ler senáo em Deus, e só nos com preendem os em seu próprio
esplen dor... ”. O homem cometeu o erro de se afastar de Deus
e de cair no mundo material. Desta maneira, ele de algum
jeito adormeceu para o mundo espiritual e seu templo interior
está em ruinas. Ele deve, portanto, reconstruí-lo, pois se ele
perdeu seu poder primordial, o conserva no entanto em forma
de gérmen e só a ele compete fazé-lo frutificar.”
C.B.: Náo. O Martinismo é aberto a toda pessoa que se A.H.: E quantos rosacruzes sáo martinistas?
interesse pelo esoterismo judaico-cristáo, pertenga ela ou náo
á religiáo judaica ou á crista. Quanto aos judeus e aos cristáos
C.B.: Cerca de 20%. Isto se explica pelo fato de que nem
que sáo martinistas, a experiéncia prova que o ensinamento
todos os rosacruzes se interessam necessariamente pelo eso
que eles estudam no seio da Ordem lhes permite compreender
os fundamentos ontológicos de sua religiáo de base. terismo judaico-cristáo.
A.H.: A Tradicional Ordem Martinista é aberta ás mu A.H.: Qual a diferenga entre o Martinismo e o Rosa-
lheres? crucianismo?
C.B.: Conforme lhe evoquei, o ensinamento martinista C.B.: É um ideal de cavalaria espiritual, fundado na von
tem uma conotagáo judaico-cristá, o que náo quer dizer que tade de cultivar em si a sabedoria, visando tornar o mundo
ele tenha caráter religioso. O ensinamento rosacruz, por sua melhor.
vez, é mais ampio e mais universal, no sentido de que se A.H.: Como Soberano Grande Mestre da TOM, qual sua
religa á Tradigáo primordial e transcende todas as religióes visáo sobre o mundo atual?
existentes e extintas. Para fazermos uso de uma metáfora, a
Ordem Rosacruz é uma árvore da qual a Tradicional Ordem C.B.: O mesmo que tenho como responsável pela AMORC.
Martinista é um ramo. Para ser mais preciso, creio que a humanidade se ateizou e
que arrisca perder sua alma na sua carreira desabalada ao
A.H.: Há ligagáo entre o Martinismo e a Franco-Mago- materialismo. E preciso que ela restabelega sua ligagáo com
naria? uma espiritualidade auténtica, ou seja, náo-religiosa, fundada
sob o ternário esotérico Homem-Natureza-Deus, tal como
os martinistas, os rosacruzes e outros místicos o concebem.
C.B.: Eu náo sou franco-magom, mas pelo que sei, certos
rituais magónicos sáo muito semelhantes aos rituais marti A.H.: Qual é a concepgáo de Deus dos rosacruzes e mar
nistas. Isto se explica notadamente pelo fato de que Martines tinistas?
de Pasqually, iniciador de Louis-Claude de Saint-Martin, C.B.: Eles veem Nele a inteligencia, a consciéncia, a ener-
pertencia á Franco-Magonaria. gia, a forga (pouco importando o termo) que está na origem
da Criagáo e que se manifesta por meio de leis impessoais,
A.H.: Fora as reunióes que acontecem ñas Heptadas e Ate- imutáveis e perfeitas. De fato, é no estudo e no respeito a essas
liers, os martinistas tém outras possibilidades de se encontrar? leis que habita a felicidade á qual toda a humanidade aspira.
No entanto, ainda é preciso que ela tome consciéncia disso e
C.B: Sim. ATOM organiza regularmente convengóes que que aja em consequéncia..
se realizam em ámbito regional, nacional ou internacional,
permitindo assim que martinistas vindos de diversos horizon
tes se encontrem e trabalhem juntos. Visto sob este ángulo,
trata-se de uma auténtica Fraternidade.
Ordem Rosacruz, AM O RC
Grande Loja da Jurisdigáo de Língua Portuguesa
Rúa Nicaragua, 2620 —Bacacheri - 82515-260
Curitiba —PR —Brasil
Caixa Postal 4450 - 82501-970
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Fax: (0xx41) 3351-3065 e 3351-3020
www.amorc.org.br
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ti, Missáo Rosacruz T'íjí'
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A Ordem Rosacruz, AMORC é urna
áter .. £
# Organizagáo Internacional de caráter
místico-filosófico, que tem por MISSÁO
kO d e ^
^ pertar o potencial interior do ser
humano, auxiliando-o em
^ :—- seu desenvolvimento, em espirito de : .
“ fraternidade, respeitando a liberdade
? individual, dentro da Tradigáo e W
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da Cultura Rosacruz.
R eflex ó es
Ro s a c r u z e s
Christian Bernard, responsável mundial
pela Antiga e Mística Ordem Rosacruz
desde 1990, apresenta neste livro
alguns dos textos que redigiu no
ámbito de sua fungáo.
ISBN 978-85-317-0204-4