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CHR1STIAN BERNARD

Reflexóes
R o s a c r u z es
Reflexóes
Rosacruzes
CHRISTIAN BERNARD

Ia Edigáo
A M <4 » 1 €

O rdem Rosacruz
Curitiba - PR
2011
Christian BERNARD

COORDENAgÁO E SUPERVISAD
Helio de Moraes e Marques, F.R.C.
Grande Mestre

BIBLIOTECA ROSACRUZ

ORDEM R O SACRUZ, AM O RC
GRAN DE LO JA D A JURISD 1QÁO
DE LÍN G U A PO R T U G U E SA

Edigáo autorizada por:

\ a f e DIFFUSION
V ROSICRUCIENNE
Cháteau d’O m onville
2 7 110 Le Tremblay
France
Título original Francés:
Réflexions Rosicruciennes

Indice
Prefácio do Grande M estre.... ........................................................................ 6
Introdugáo........................................................................................................ 10
E ntrevista......................................................................................................... 14
A alquimia esp iritu al.....................................................................................30
Ia Edigáo em Língua Portuguesa Todo sofrimento é aceitável na l u z ............................................................. 42
2011 E voluir...............................................................................................................46
A crenga............................................................................................................ 50
Ser e ter..............................................................................................................52
IS B N -9 7 8 -8 5 -3 1 7 -0 2 0 4 -4
Estejamos em p a z !......................................................................................... 54
Tudo m elhorou!.............................................................................................. 58
Todos os Direitos Reservados á A consciencia cósmica....................................................................................62
ORDEM ROSACRUZ, AMORC Tomada de posigao......................................................................................... 66
GRANDE LOJA DA JURISDigÁO O Espirito Santo............................................................................................. 72
DE LÍNGUA PORTUGUESA A solidáo........................................................................................................... 79
A harm on ía...................................................................................................... 84
Avante com alegría!........................................................................................ 93
Proibida a reproduqáo em p arte ou no todo Humildáde, dignidade, coragem ................................................................ 98
A forga............................................................................................................ 109
A felicidade....................................................................................................113
A sabedoria..................................................................................................... 123
Escutar, falar, com unicar........................................................................... 127
Traduzidó, composto, revisado e impresso na
Grande Loja da Jurisdigáo de Língua Portuguesa A beleza u n iversal........................................................................................138
Rúa Nicaragua, 2620 - CEP 82515-260 Homenagem a H arvey Spencer L e w is................................................... 142
Caixa Postal 4450 - CEP 82501-970 Convicgóes rosacruzes................................................................................ 155
Curitiba / PR Errar é hu m ano............................................................................................ 165
Tel.: (0**41) 3351-3000 Com a ajuda de D e u s!................................................................................ 167
Fax: (0**41) 3351-3065 A prece............................................................................................................ 173
www.amorc.org.br Ser místico...................................................................................................... 177
A influencia da inform agáo........................................................................181
A beleza na arte ou a arte da beleza..........................................................185
O aspecto judaico-cristáo do M artinism o...............................................189
vem desenvolvendo um trabalho exemplar para a perpetuado
da Tradigáo Rosacruz.
Seus esforgos serao sempre lembrados e reconhecidos pelos
Prefacio do Grande Mestre estudantes rosacruzes de todo o mundo.
Sugiro que o leitor faga deste livro um companheiro cons­
"Averdade é o fru to da árvore do con hecim en to e nao a própria tante e que, como o próprio título sugere, ele nao seja apenas
á rvore” lido, mas refletido cuidadosamente, para que seu fruto seja a
Antigo provérbio Rosacruz mais pura verdade.
No mais, só posso desejar que este belo trabalho de nosso
Tenho a alegría de apresentar aos nossos fratres e sorores Imperator ilumine os coragóes de todos os que o tiverem em
bem como aos estudiosos de modo geral, este novo livro de suas máos.
nosso caro Imperator, Frater Christian Bernard, responsável
maior pela Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis, AMORC, Boa Leitura!
no qual compila urna serie de importantes reflexóes sobre
assuntos que interessam aos Rosacruzes e, certamente, a todas
as pessoas de boa vontade.
Frater Christian tem a característica de éscrever de forma Helio de Moraes e Marques
acessível, colocando seu ponto de vista de maneira franca e GRANDE MESTRE
cordial. E por isso que suas obras sao muito apreciadas pelos
Rosacruzes e mesmo por aqueles que nao fazem parte de
nossa Augusta Fraternidade.
Em face de sua elevada fungáo no seio de nossa Ordem, e
sua longa formagáo nela, o enfoque aplicado aos temas sao
matizados pelo Rosacrucianismo, que responde as indagagóes
de natureza ética, filosófica e existencial.
Sua experiencia com o misticismo rosacruz desde tenra
idade permite urna investigará© profunda dos temas abor­
dados que, além de esclarecedores, nos dáo um vislumbre da
sua estatura espiritual.
Frater Christian é Imperator desde 1990, tendo sido por
muitos anos Grande Mestre da Jurisdigáo da Grande Loja da
Franga. Conhecedor íntimo dos ensinamentos rosacruzes, ele
Para Héléne,
a for^a da minha alma,
com toda a minha gratidáo
por seu apoio incondicional
há 40 anos.
Introdugáo

In tro d u jo lidos em Convengóes rosacruzes e jamais veiculados até hoje


ou foram objeto de publicagáo na revista Rose-Croix1ou numa
das cartas qué enderego anualmente a todos os membros da
á 20 anos, em 1990, precisamente em 12 de abril, os

H membros e todos os Grandes Mestres do Conselho


M undial da Antiga e Mística Ordem Rosacruz
pediram-me que eu aceitasse a presidencia do Bureau Inter­
nacional e a fungao de Imperator. As circunstancias que me
AMORC ao redor do mundo. Eu as adaptei para que pu-
dessem ser lidas por um público mais ampio. Naturalmente,
precisei fazer urna selegáo porque alguns textos náo convi-
riam, e meu dever consiste em preservar o aspecto “esotérico”
do Rosacrucianismo, nossos rituais e outras especificidades.
levaram a assumir este servigo, sendo imprevistas e repentinas, Alguns escritos, portanto, náo se ajustariam a essa obra. O
fizeram-me aceitá-la com a obrigagáo de, durante tres anos, primeiro capítulo é urna entrevista que tive com jornalistas
continuar a dirigir, paralelamente a essa nova incumben­ há alguns anos. Sua leitura permitirá aqueles dentre voces
cia, a fungáo de Grande Mestre da jurisdigáo francófona da que desconhecem, ou conhecem pouco a AMORC, ter urna
AMORC, que assumi a partir de 1977. primeira aproximagáo com ela.
Duas décadas se foram; elas foram ricas de mudangas ne- Jamais tive a pretensáo de ser um escritor prolífico e tam-
cessárias e salutares para a Fraternidade Rosacruz. Um dos pouco pensei que minhas ideias mudariam o mundo, ou
meus objetivos foi reforgar o aspecto internacional da Ordem, mesmo que minhas reflexóes pessoais interessassem á maio-
e creio ter empregado toda a forga das minhas convicgóes para ria. Se eu houvesse consagrado a maior parte do meu tempo
lograr este resultado. Eu náo posso em poucas linhas voltar a a escrever livros, tálvez pudesse ter publicado alguns através
todos os acontecimentos desses últimos vinte anos. Eles foram da Biblioteca Rosacruz. Entretanto, meu primeiro dever foi
diversos e variados, e mesmo as dificuldades foram cabalmente consagrar minha pena e minhas horas a todas as atividades
construtivas. Posso agora langar outro olhar sobre o passado, da AMORC, á minha correspondencia com seus membros,
continuar a viver e construir o presente, e imaginar e esperar aos meus contatos de trabalho com as Grandes Lojas e seus
o futuro, embora náo podendo decidir a partir dele. Grandes Mestres, á reestruturagáo geral da Ordem e de seus
ensinamentos, á supervisáo das novas Administragóes, as nu­
Em breve chegará o tempo no qual deverei sabiamente merosas Convengóes e outras viagens necessárias no ámbito
aceitar o momento de transmitir o archote, mas náo deixando da minha fungáó etc.
a AMORC, que reverenciarei até meu último suspiro. Porém,
antes que chegue este momento, eu quis, por nossos arquivos e
1 Nos países subordinados á G rande Loja da Jurisdigáo de Língua
também porque me foi frequentemente pedido, reunir alguns Portuguesa, a revista “Rose-C roix” circula com o nome “O Rosacruz”.
dos meus escritos. Este livro é, portanto, um testemunho do (N. do T.)
pensamento e das ideias do rosacruz que sou. Alguns textos
sao curtos, outros mais longos, e o estilo varía conforme as
circunstancias ou o suporte de sua publicagáo. Eles foram
Os aniversários sao de modo frequente a ocasiáo de fazer
um balango, urna introspecgáo e de tomar resolugóes para o
porvir. Fago votos, portanto, de ter aindá energías suficientes
para poder cumprir meu servigo durante alguns anos, aguar­
dando a substituigáo.

Amigos léitores, se voces tém este livro em.máos é porque,


por urna razáo Ou outra, voces tém interessé peló Rosacíu-
cianismo. Qualquer que seja ele, os encorajo a conhecer me-
lhor esse movimento filosófico e humanista e, por que náo,
se já náo o fizeram, cruzar o portal com toda a liberdade de
pensamento. De minha parte, fiz essa escolha há 44 anos, sem
qualquer desgosto, e estou sempre convencido de que o ideal
dos rosacruzes, veiculado através da AMORC, é um modelo
de vida notável e urna vereda de conhecimento e sabedoria
inestimáveis.

Om onville,
12 de Abril de 2010

Christian BERNARD
Imperator
Entrevista A.M.: Considerando que o senhor vem de fazer referéncia a
Pitágoras, é dito que ele teria estudado ñas Escolas de Mistério
A.M.: Christian Bernard, a AMORC, da qual o senhor é o egipcias. Isto procede?
Imperator atual, ou seja, o responsável mundial, é considerada s

como urna herdeira da auténtica Tradigáo Rosacruz. A Ordem C.B.: E verdade. Ele estudou lá por aproximadamente vinte
remonta suas origens as Escolas de Mistério do antigo Egito. anos, antes de regressar á sua pátria e fundar a famosa escola de
De que se trata, exatamente? Crótona. Porém, ele náo foi o único, pois Sólon, Tales, Demó-
crito, Platáo, Plutarco e Jámbico, entre outros pensadores gregos,
C.B.: Primeiramente, devo precisar que a historia da foram iniciados aos Mistérios egipcios. Estes exemplos demons-
AMORC comporta dois aspectos: um aspecto tradicional, que tram que o Egito era o depositário de urna sabedoria acima do
se apoia sobre urna transmissáo oral da qual náo podemos comum. Essa sabedoria, essa gnose, foi irradiada na sequéncia
dar prova, e um aspecto histórico, o qual podemos autenticar através da Grécia, depóis na Roma antiga e no mundo árabe
com a ajuda de documentos dos arquivos. No tangente a seu durante a Idade Média. E sobretudo nd Renascimento, depois
aspecto tradicional, a AMORC remonta efetivamente suas da queda de Constantinopla, que ela foi intróduzida na Europa.
origens as Escolas de Mistério do antigo Egito. Nos nossos
dias, a maior parte dos historiadores e egiptólogos reconhece A.M.: Apesar de tradicional, a origem egipcia do Rosacru-
a existencia destas escolas, ñas quais se estudava, conforme o cianismo náo é um mito?
nome atesta, os mistérios do universo, da natureza e do ho-
mem. De acordo com o que sabemos, alguns faraós faziam C.B.: Náo. Posto isso, o Egito náo foi a única fonté tradi­
parte délas, as vezes mesmo as dirigindo. Este foi o caso de cional do Rosacrucianismo. Em “S ilencium post cla m ores”,
Amenhotep i y mais conhecido pelo nome de Akhenaton, que Michaél Ma'fer, célebre rosacruz do século XVII, evoca a in-
foi o primeiro a fazer do monoteísmo urna religiáo de Estado. fluéncia que os mistérios bramánicos, eleusianos, pitagóricos,
persas e árabes exerceram sobre a Tradigáo rosacruz. Com
De qualquer forma, ninguém pode negar que o Egito é o efeito, eu creio sinceramente que o Rosacrucianismo integra
bergo náo apenas das ciéncias “físicas” (medicina, astrono­ as maiores correntes de pensamento que a humanidade co-
mía, geometría...), mas igualmente das ciéncias “sagradas”, nheceu, tanto no Oriente como no Ocidénte. Ó conteúdó dos
das quais o esoterismo. De fato, o número de obras surgidas ensinamentos da AMORC é a prova viva disto.
nos séculos passados faz do Egito o ponto de partida de urna
Tradigao Primordial, isto é, de um conhecimento absoluto A.M.: Alguns historiadores do esoterismo, pensó especial­
que Deus teria revelado a determinados Eleitos e que seria mente em Serge Hutin, evocam igualmente a influéncia que
transmitido por meio de urna filiagáo de Iniciados: Hermes
Trismegisto, Moisés, Zoroastro, Orfeu, Pitágoras, Jesús...
a alquimia teria exércido no Rosacrucianismo. Os rosa cru zes C.B.: De fato, é possível, se náo provável, que o termo
éram alquimistas? e o símbolo Rosacruz tenhám sido usados no decurso dos
séculos precedentes. Em seu “Liber resurectione et corporum
C.B.: A alquimia remonta ao Egito antigo, mas foram os glorifica tion e”, de 1533, Paracelso evoca o simbolismo da Rosa
alquimistas gregos e árabes que a introduziram na Europa, e da Cruz. Segundo outro ponto de vista, é provável que
onde ela esteve particularmente ativa durante a Idade Média. Arnaud de Villeneuve a eles se tenha referido no século XIII
Naquela época, e ao contrario do que se acredita usualmente, em “Rosarium Philosophorum ”. Está poderia ser a mais antiga
aqueles que a praticavam náo eram pesquisadores isolados. A referencia histórica á Rosacruz.
maior parte pertencia a sociedades secretas, notadamente áquela
que se fará conhecida no século XVII sob o nome de Ordem da A.M.: Alguns historiadores sustentam que os Manifestos
Rosa-Cruz. Disto resulta que a alquimia exercia efetivamente Rosacruzes circulavam sob forma de manuscritos antes das
urna influencia sobre o que iria tornar-se o Rosacrucianismo. datas que o senhor indicou. O que o senhor acha disso?
Nessa ordem de ideias, é notável que a partir de século XVII, /
alguns alquimistas passaram a simbolizar a última etapa da C.B.: E perfeitamente possível. Segundo a carta de Adam
Grande Obra através de urna rosa vermelha desabrochada. Haselmayer, publicada no “Fama”, o primeiro Manifestó
circulava sob forma de manuscrito no Tirol em 1610. O que
A.M.: No plano estritamente histórico, a origem do Rosa­ quer que signifique, a publicagáo “oficial” dos tres Manifestos
crucianismo remonta pelo menos ao século XVII? teve urna repercussáo considerável. Voces sabiam que, na se-
quéncia desta publicagáo, centenas de livros foram publicados
C.B.: Sim. Podemos considerar que é com a aparigáo de a respeito da Rosacruz? W E. Peuckert recenseou cerca de 400
tres célebres Manifestos, no caso o “Fama Fratemitatis” (1614), títulos somente entre os anos de 1614 e 1620.
o “Conféssio Fraternitatis” (1615) e o “Bodas A lquímicas de
Christian Rosenf^reutz” (1616), que os Rosacruzes fizeram A.M.: O “Fama F raternitatis” apresenta Christian Ro-
conhecer sua existencia ao público. Como confirma Antoine senkreutz como fundador da Ordem da Rosa-Cruz. O que o
Faivre, historiador do esoterismo, é no século XVII que a Tra- senhor diz a respeito?
digáo ocidental, herdeira da Tradigáo Primordial, conheceu
sua renovagáo histórica tomando corpo no Rosacrucianismo. C.B.: Basta 1er o “Fama” para compreender que se trata de
um texto simbólico. Pór éxtensáo, os Rosacruzes atuais estáo
A.M.: Podemos considerar que foi naquela época que apa- convencidos de que Christian Rosenkreutz é um personagem
receram a palavra “Rosacruz” e o símbolo correspondente? alegórico. Náo pode, portanto, se tratar do fundador da Ordem
da Rosa-Cruz. Com efeito, como disse anteriormente, a A.M.: O ciclo atual da AMORC remonta a 1909, data na
Ordem já existia desde muito tempo, mas náo ainda com esse qual Harvey Spencer Lewis trabalhava no ressurgimento da
nome, ao menos oficialmente. Ordem da Rosa-Cruz nos Estados Unidos. Onde e por quem
ele foi iniciado?
A.M.: E conhecido exatamente o autor, ou autores, dos tres
Manifestos Rosacruzes do século XVII? C.B.: H. Spencer Lewis se interessou muito jovem pelo
esoterismo. Desde os 19 anos, ele participava de pesquisas
C.B.: Harvey Spencer Lewis, Imperator da AMORC de sobre as faculdades paranormais. Ele se voltou, na sequéncia,
1915 a 1939, acreditava que estes Manifestos tivessem sido para a filosofía e para as ciéncias ditas “ocultas”. Em 1907, ele
escritos por Francis Bacon, autor da “Nova Atlántida”. Dito conheceu urna mulher que lhe falou sobre a Rosacruz: May
isto, a maioria dos historiadores de hoje concorda que eles sáo Bank Stacey. Ele ficou particularmente interessadó. Entáo,
urna obra de um grupo de Rosacruzes: o Círculo de Tübin- comegava para ele urna longa busca que o levou á Franga em
gen. Este Círculo compreendia vinte notáveis personalidades, 1909, á Toulouse, onde ele foi iniciado na Ordem.
entre as quais Jean Valentin Andreae, Tobias Hess, Cristophe
Besold, Johann Arndt... Todos apaixonados por alquimia, por
A.M.: Onde aconteceu sua iniciagáo?
cabala e pela mística cristá. Os Manifestos seriam, pois, urna
obra coletiva. E o parecer, dentre outros, de Roland Edighoffer,
C.B.: Foi na Sala dos Ilustres do Capitolio que H. Spencer
especialista na historia dos rosacruzes.
Lewis encontrou aquele que o pos em contato com os res-
ponsáveis franceses pela Ordem. Segundo nossas pesquisas,
A.M.: O senhor poderia nos dizer os nomes dos persona-
esse intejrmediário seria um certo Clovis Lasalle. Quanto a
gens célebres que marcaram á historia do Rosacrucianismo?
iniciado propriamente dita, ela aconteceu num castelo situado
C.B.: Eles sáo relativamente numerosos. De memoria, nos arredores de Toulouse. Nós temos em nossos arquivos
eu citarei, entre outros, Robert Fludd, Francis Bacon, Elias alguns documentos muito interessantes sobre a estadia de
Ashmole, Michaél Ma'íer, a quem já me referi, Comenius, H. Spencer Lewis naquela regiáó. Entre estes documentos
Cagliostro, Descartes... E, mais próximos a nós, Erik Satie, figura a carta que ele enderegou á sua esposa no dia seguinte
Claude Debussy, Nicholas Roerich, Frángois Jollivet-Caste- ao de sua iniciagáo.
lot... Em nóssos dias, a AMORC tem contado sempre entre
seus membros com rosacruzes célebres, mas náo é meu direito A.M.: A Rosacruz estava, portanto, presente em Toulouse
revelar suas identidades. naquela época?
C.B.: Sim. De fato, em 1860, o Visconde de Lapasse fala A.M.: Cómo a Ordem se reinstalou na Franga no comego
da “Rosa-Cruz, sociedade secreta da qual restam, nos nossos do século XX?
dias, alguns adeptos”. Em 1890, Simón Brugal, evocando o
C.B.: Desde 1909, H. Spencer Lewis trabalhava no de-
Visconde de Lapasse, precisa que ele fora aluno, em Palermo,
senvolvimento da Ordem nos Estados Unidos e comegava
do Príncipe Balbiani, um discípulo de Cagliostro. Segundo
a escrever os ensinamentos rosacruzes. Isso, como eu acabo
Brugal, Lapasse teria sido iniciado na Bavária por discípulos
de precisar, feito a partir dos documentos que lhe foram con­
do Baráo de Eckartshausen.
fiados pelos rosacruzes da Franga. Assim que a paz foi resta-
belecida, tudo estava pronto para a reativagáo da Ordem na
Voltando á H. Spencer Lewis, ele náo apenas foi iniciado Europa. Foi assim que H. Spencer Lewis regressou á Franga
em Toulouse, como igualmente recebeu a outorga para reati- em 1926 e deixou aos rosacruzes franceses, dentre os quais
var a Ordem Rosacruz no continente americano e passar por alguns também Franco-Magons, o encargo de criar Lojas
escrito os ensinamentos rosacruzes. Efetivamente, até aquele rosacruzes, o que foi feito em Paris e Nice entre 1927 e 1928.
momento, eles eram transmitidos apenas oralmente. Para tal E, por conseguinte, dentre os rosacruzes da Loja de Nice que
fim, ele recebeu os documentos, cartas constitutivas e arquivos foi escolhido o primeiro Grande Mestre para o novo ciclo da
necessários. Apesar das dificuldades encontradas, ele levou a Ordem na Franga, a saber, Hans Grüter.
éxito essa missáo, a ela se dedicando infatigavelmente até sua
morte, em 1939. Infelizmente, edodiu a Segunda Guerra Mundial, o que
provocou o adormecimento provisorio da Ordem, deter­
minado ademais pela proibigáo de funcionamento imposta
A.M.: Mas por que os rosacruzes da Europa confiaram a
pelo governo de Vichy as atividades das Ordens tradicionais.
um americano a missáo de reativar. a Ordem Rosacruz? Este
Por outro lado, os rosacruzes da época, assim como outras
ressurgimento náo poderia se operar na Europa?
minorías, foram vítimas do nazismo. Alguns mesmo pagan­
do com suas vidas por sua ligagáo com o ideal rosacruz. Foi
C.B.: É preciso pensar que os rosacruzes da Europa ha- preciso aguardar o Io de Janeiro de 1949 para que a AMORC
viam previsto a Primeira Guerra Mundial e sábiam de todas se reativasse na Franga e se desenvolvesse sob a condugáo de
as perturbagóes que déla resultariam. Eles demonstraram, Jeanne Guesdon. Ela seria assim nomeada Grande Mestre,
portanto, urna grande sabedoria confiando os arquivos da fungáo pela qual respondeu até sua morte, em 1955.
Ordem á H. Spencer Lewis, evitando assim que eles fossem
destruidos ou perdidos na tormenta. Os ocorridos provaram A.M.: Aparentemente, havia elos entre a Rosacruz e a
igualmente que o continente americano, contrariamente á Franco-Magonaria no comego do século. Isto permanece hoje
Europa, foi poupado pelo conflito. em dia?
C.B.: Há elos tradicipnais e históricos incontestáveis entre espanhola, francesa, italiana, japonesa, nórdica, portuguesa,
essas duas Organizagóes. Assim qué H. Spencer Lewis veio russa etc. Cada jurisdigáo, designada pelo nome tradicional de
á Franga em 1927, ele foi convidado a urna sessáo magónica “Grande Loja”, é dirigida por um Grande Mestre. Aproveito
reservada ao 18° grau (grau do “Cavaleiro Rosa-Cruz”). o ensejo para dizer que cada Grande Mestre é eleito para sua
Conforme atesta um documento de nossos arquivos, ele foi fungáo por um mandato renovável de 5 anos.
recebido com as honras devidas á sua condigáo por Camille
Savoire, Grande Comendador do Grande Colégio dos Ritos ER.: Em que consiste a fungáo de Grande Mestre?
do Grande Oriente da Franga, que lhe deu as bóas-vindas em
nome de todos os irmáós présentes, antes de lhe solicitar que C.B.: Durante seu mandato, cada Grande Mestre tem o
tomasse assento no Leste do Templo. papel de responder as correspondénciás que os membros da
Ordem lhe enviam, de recebé-los para as entrevistas que eles
Em nossos dias, a Ordem Rosacruz e a Franco-Magonaria solicitam, supervisionar os trabalhos desempenhados ñas
seguem suas respectivas atividades totalmente independen- Lojas, presidir os congressos rosacruzes no plano nacional ou
tes, o que náo impede que haja rosacruzes franco-magons regional, dirigir seminários internos sobre os ensinamentos
ou franco-magons rosacruzes. Néssé mesmo sentido, há rosacriizes, dar conferencias públicas, escrever textos filosó­
rosacruzes cristáos, judeus, mugulmanos, budistas etc. Neste ficos, livros etc.
particular, a AMORC é aberta a todas as categorías sociais e a
todas as confissóes religiosas, posto que sua primeira vocagáo ER.: E o senhor, qual sua fungáo enquanto Imperator?
é a filosofía.
/ . . . •
C.B.: E necessário primeiramente precisar que o termo
ER.: Aqueles que se interessam pelo esoterismo em geral “Imperator”, da maneira como é empregado na AMORC,
e ao Rosacrucianismo em particular conhecem a existencia nao. quer dizer “Imperador”, como se pode deduzir. No plano
da AMORC, mas ignoram em grande parte a sua estrutura tradicional, ele vem do latim “Im perare sibi”, que significa
e seu funcionamento. O senhor poderia nos falar disso mais “Mestre de si”. Pelo que nós sabemos, esse título simbólico
precisamente? era empregado desde o fim do século XVII para designar o
mais alto responsável da Ordem da Rosa-Cruz.
C-B.: Foi em 1909, há cerca de um século, que a AMORC
comegou seu ciclo atual de atividade. Em nossos dias, ela se Antes de ser eleito para a fungáo de Imperator pelo Supre­
éstende pelo mundo inteiro e abrange diversas jurisdigóes mo Conselho da AMORC, eu era Grande Mestre da jurisdi­
idiomáticas. E por isso que existem jurisdigóes alema, inglesa, gáo francófona. Meu papel atual consiste em supervisionar
o funcionamento de todas as Grandes Lojas e cuidar para alto segredo, a fim de proteger seus membros contra as per-
que as regras tradicionais e administrativas da Ordem sejam seguigóes religiosas e políticas. Mas ápós o comego do século
aplicadas córretamente no mundo inteiro. Ademáis, eu me XX, a AMORC funciona sobretudo como urna organizagáo
mantenho a disposigáo de cada Grande Mestre para ajudá-lo discreta, no sentido de que élá náo busca atrair a atengáo do
em sua tarefa de servir aos membros. grande público, embora náo esconda mais a sua existencia. Ela
mantém ademais a regularidade de suas conferencias, a fim de
A AMORC está embasada sobre urna hierarquia de fímgoes, explicar o que ela é e o que ela náo é as pessoas interessadas
e náo de pessoas. Ocorreu, no passado, de um Imperator ou um pela filosofía e pela espiritualidade.
Grande Mestre ser destituido por náo cumprir os deveres que
lhe compétiam e por náo levar a cabo o trabalho que os membros ER.: Quál é o perfil típico do rosacruz?
dele esperavam. A esse respeito, é preciso compreénder que os
dirigentes da Ordem náo o sáo para sua “gloria” pessoal. C.B.: Náo há. A AMORC, náo sendo urna religiáo, tem,
entre seus membros, cristáos, judeus, budistas, mugulmanos
ER.: O senhor falou do Supremo Conselho. Em que con­ etc., e mesmo pessoas que náo tém nenhuma religiáo parti­
siste? cular. Sendo apolítica, ela reúne rosacruzes representativos de
todas as cor.rentes políticas clássicas. Náo fazendo qualquer
C.B.: O Supremo Conselho da AMORC é formado por discriminagáo racial, ela reúne homens e mulheres de todas
todos os Grandes Mestres e o Imperator, constituindo um con­ as nacionalidades. Portanto., a Ordem é urna fraternidade
junto de pessoas de diferentes nacionalidades. Esse conselho mundial cuja composigáo traduz por si mesma o caráter
se reúne ao menos urna vez por ano em um dos continentes, humanista de seus ideáis. Quem quer que se interesse por
a fim de fazer um balango das atividades rosacruzes em cada filosofía espiritualista pode, pois, tornar-se um membro.
jurisdigáo. E igualmente no decurso destas reunióes que sáo
tomadas em comum as decisóes que dizem respeito ao fun­ ER.: Mesmo sendo a AMORC aberta a todas as religiÓes,
cionamento geral da Ordem. seus ensinamentos náo tém urna conotagáo predominante­
mente cristá?
ER.: Alguns consideram a AMORC como urna sociedade
secreta. O que o senhor teria a dizer a essas pessoas? C.B.: Náo. Os ensinamentos rosacruzes náo concedem
urna primazia particular a Jesús ou ao Novo Testamento, nem
C.B.: Que elas se equivocam. É verdade que a Ordem sequer ao credo cristáo em geral. Náo obstante, estuda-se, em
Rosacruz mantinha, no passado, suas atividades no mais um dos graus da Ordem, o esoterismo das grandes religióes,
dentre elas o Cristianismo. Isto permite a cada membro com- Após o comego do século XX, eles se apresentam formatados
preender em qué elas todas beberam de urna fonte comum, em 'monografías se estendendo por doze graus, enviadas aos
no caso a Tradigáo Primordial. Além disso, nesse mesmo grau membros na razáo de quatro por mes. Cada rosacruz estuda
é explicado que todas sáo respeitáveis, posto que sáo vetores as monografías na sua própria língua.
da espiritualidade. Efetivamente, se é preciso aproximar a
AMORC de urna das grandes religióes existentes, seria nota- ER.: De que tratam os diferentes graus da Ordem?
damente do Budismo, estritamente por se tratar antes de urna
filosofía do que de urna religiáo. C.B.: E impossível responder a esta questáo de maneira
exaustiva. Digamos que cada membro da Ordem é iniciado
PR.: Seguindo a mesma ordem de ideias, alguns
/
pensam de grau em grau a assuntos filosóficos e místicos maiores:
que a AMORC é urna Organizagáo templária. E este o caso? as origens do universo, a estrutura da matéria, as nogóes de
tempo e de espago, as leis da vida, o objetivo da evolugáo, a
C.B.: Náo. Como eu acabo de dizer, a AMORC náo con- alma humana e seus atributos, as fases da consciencia, os fe­
fere nenhuma primazia ao Cristianismo, que é o que fazia a nómenos psíquicos, os mistérios do nascimento e da morte, o
Ordem do Templo na Idade Média. Sendo assim, ela náo se pós-vida e a reencarnagáo, a alquimia espiritual, o simbolismo
abre á salvaguarda da fé crista, que é o que faz a maior parte tradicional etc.
dos movimentos templários da atualidade. Mesmo assim,
Devo precisar igualmente que, paralelamente ao ensina-
náo há dúvidas de que os ensinamentos rosacruzes integram
mento escrito que os membros recebem em seus lares, eles
nogóes esotéricas que os Iniciados templários conheciam. Náo
podem frequentar urna Loja da Ordem para participar dos
obstante, os rosacruzes seguem um ideal ético qué lembra o
trabalhos que perpetuam o aspecto oral da Tradigáo rosacruz.
dos Cavaleiros do passado,.considerando que elés se esforgam
Durante estas reunióes, os rosacruzes presentes apreciam
para ser táo virtuosos quanto possível em seu comportamento.
conjuntamente os assuntos filosóficos e místicos.
Daí vem este ideal ético que simboliza o “Cavaleiro Rosacruz”.
ER.: Há iniciagóes na AMORC?
ER.: Sendo a AMORC mundial, isto significa que os en-
sínamentos transmitidos por ela sáo os mesmos no mundo C.B.: Certamente. E precisamente por essa razáo que se
todo ? trata de um moviménto verdadeiramente tradicional e inici-
ático. Dado que há doze graus na AMORC, há também doze
C.B.: Sim. Nos séculos passados, os ensinamentos rosacru­ iniciagóes. Cada qual consiste num ritual simbólico que tem
zes eram transmitidos apenas oralmente, em lugares secretos. por objetivo introduzir o candidato no novo grau que ele está
prestes a estüdar. Naturalmente, elas náo tém qualquer caráter ensinamentos que ela perpetua continuam sempre atuais e
sectário, dogmático ou oculto. Eu devo ressaltar também que veiculam urna filosofía da qual a humanidade tem grande
elas nao sáo obrigatórias. necessidade. E por isso que possivelmente tenha chegado,
para os rosacruzes, o momento de se fazerem conhecer me-
Considerando que o maior Iniciador é o Mestre Interior lhor. Voces me deram a possibilidade disto por meio dessa
de cada um, em outras palavras a Alma divina que está em entrevista, e eu. lhes agradégo sinceramente.
cada um, todo membro da Ordem pode receber as iniciagóes
rosacruzes em sua casa, ele mesmo realizando o ritual corres­
pondente, ou numa Loja, na presenga de outros candidatos e
em toda sua pureza tradicional.

ER.: O Rosacrucianismo é as vezes associado ao Martinis-


riio. O que é preciso saber a respeito?

C.B.: O Martinismo é urna corrente de pensamento que


remonta a Louis-Claude de Saint-Martin, grande filósofo
francés do século XVIII, e cujos ensinamentos se apoiam
sobre o esoterismo judaico-cristáo. Esta corrente de pensa­
mento gerou a Ordem Martinista, criada por Fapus e Augustin
Chaboseau em 1889. Em 1931, esta Ordem foi reestruturada
para originar a Tradicional Ordem Martinista, apadrinhada
atualmente pela AMORC. E por isso que alguns rosacruzes
sáo também martinistas.

A.M.: Christian Bernard, nós chegamos ao fim dessa


entrevista.O senhor teria algo a dizer á guisa de conclusáo?

C.B.: Como é possível constatar, a AMORC é urna orga-


nizagáo esotérica séria cujas origens, tanto históricas quanto
tradicionais, sáo muito antigas. Na aurora do 3o milenio, os
A alquimia espiritual

A alquimia espiritual minério era raro e náo podia ser encontrado senáo em lugares
conhecidos pelos alquimistas, os quais faziam dele objeto de
e existe algo essencial para os místicos em geral e para os maior segredo.
S rosacruzes em particular, é a alquimia espiritual. Esta
forma de alquimia constituí um dos fundamentos da filosofía e Após haver procurado a materia prim a, os alquimistas a
define a senda que devemos trilhar para lograr nossa evolugáo colocavam num recipiente que eles chamavam de “ovo filo­
interior. De fato, é nela que reside a Grande Obra que todo sófico”, em parte por causa de sua forma ovoide, mas também
ser humano deve realizar para descobrir a Pedra Filosofal que para lembrar que toda a Criagáo é resultado, segundo eles, de
se encontra no mais profundo de si e tornar real a perfeigáo um ovo cósmico no qual ela existia em estado latente, ou seja,
de sua própria natureza. no estado de gérmen. Em seguida, eles submetiam a materia
prim a a sucessivas etapas.
Se no decorrer dos séculos a alquimia material, também
chamada “alquimia operativa”, fascinou os cientistas e mesmo Ao mesmo tempo, e proporcionalmente a essas etapas, a
os místicos, o essencial que devemos reter para nós é a trans­ materia prim a tomava diversas cores, até apresentar-se sob o
m utado, o aperfeigoamento e, logo, a evolugáo de nosso ser aspecto de um magma vermelho. Depois do resfriamento, esse
interior. Se a alquimia operativa transmuta os metáis vis em magma gerava urna pedra mais ou menos volumosa da mesma
ouro, a alquimia espiritual transforma nossa alma. Antes de cor: a Pedra Filosofal. E precisamente por esta razáo que a trans-
abordar esse assunto, gostaria de lembrá-los em que consiste mutagáo que objetivava obter ouro era chamada de “obra em
a alquimia material. vermelho”. Quanto ao processo que tinha por objetivo fabricar
prata, geralmente a partir do ferro, este era denominado “obra
De maneira geral, ela tiñha por objetivo transformar metáis em branco” e comportava igualmente diversas etapas.
vis em ouro, mais frequentemente o chumbo ou o estanho.
Contudo, essa transmutado nao se aplicava diretamente ao A última etapa da Grande Obra consistía em reduzir a Pedra
metal em questáo, mas sobre urna materia prim a, ou seja, sobre Filosofal a um pó perfeitamente homogéneo. Depois de obter
urna matéria primordial denominada “matéria da pedra” em esse pó, o alquimista o projetava no metal vil em fusáo, que
alguns tratados alquímicos. E difícil precisar o que era esta se transformava gradualmente em ouro em contato com o pó.
materia prim a, pois as descrigóes feitas déla sao confusas e
variam conforme o autor. Segundo determinadas fontes, ela Tal era o principio de base da alquimia material. É preciso
consistía de um minério que existia em estado natural e que saber igualmente que ela era praticada segundo duas vias. A
era constituido essencialmente de enxofre, sal e mercurio,
combinados em proporgóes precisas. Aparentemente, este
primeira, designada pelo nome de “via úmida”, privilegiava tocando determinadas notas, ou combinagóes de notas, eles
o processo de dissolugao e de destilagáo. Ela durava várias prodiiziam vibragóes que tinham um efeito preciso sobre
semanas, ou mesmo meses, e carecía do emprego de retortas e esta ou aquela fase da Grande Obra. De acordo com o que
alambiques. Quanto á segunda, esta era chamada de “via seca” sabemos, eles empregavam com mais frequéncia instru­
e dava suprerhacia aos processos de calcinado e de combus- mentos de corda, tais como o violino ou o violáo. Náo obs­
táo, o que implicava, antes de tudo, no uso de fornos e crisóis. tante, acontecia de por vezes fazerem uso de instrumentos
Dentre essas duas vias, a segunda era a mais rápida, embora acionados por coluna de arl, como o órgáo ou o trómpete.
também a mais perigosa, por comportar riscos de explosáo. Ademáis, mesmo que náo nos seja possível provar, é também
Acontecia, portanto, dó alquimista se férir no exercício da sua provável que eles éntoassem sons vocálicos. Certamente era
arte ou, pior ainda, de encontrar a morte. o caso dos alquimistas rosacruzes. O objetivo pretendido era,
pois, o mesmo, a saber: criar condigóes vibratorias favoráveis
Conforme sabemos, os alquimistas trabalhavam nüm la­
a determinadas operagóes. Podemos supor também que isto
boratorio apropriado, consagrado únicamente a este objetivo.
era feito as vezes para se porem eles mesmos no estado dé
Mais frequentemente, tratava-se de urna cave, de um sótáo
consciencia desejado para o trabalho.
ou de qualquer edificio pouco clarificado, pois a maioria das
operagóes náo podia ser efetuada na plenitude do dia. Os
No que diz respeito á obra em vermelho e á obra em branco,
adeptos dispunham igualmente de vários acessórios. Além
das retortas, alambiques, crisóis e fornos os quais acabo de os alquimistas ás praticavam de dia ou á noite, conforme a
citar, eles usavam balangas, pingas diversas, pildes, foles mais operagáo a ser efetuada. De fato, mesmo trabalhando sempre
ou menos grandes e até instrumentos musicais. Quanto á num espagó pouco iluminado, eles acreditavam que certas eta­
lareira principal, chamada “athanor”, esta era geralmente pas deveriam acontecer quando o sol ocupasse esta ou aquela
fabricada de térra refratária e tinha comumente urna forma posigáo no céu ou, inversamente, quando a lúa estivesse nesta
grosseira. Conforme o caso, o fogo que ardia no seu interior ou naquela fase de seu ciclo.
era alimentado por madeira, carváo e as vezes mesmo por
óleo, o que favorecia um melhor controle da intensidade do
1 A expressáo original em francés, instrum ents a vent , é norm alm ente
fogo por ocasiáo das operagóes mais delicadas. traduzida em portugués por “instrumentos de sopro”. Todavia, opta­
mos pela tradugáo “instrumentos acionados por coluna de ar” dada
Talvez vocé se pergunte por que os alquimistas utilizavam a citagáo do órgáo, que náo é um instrumento de sopro, embora soe
instrumentos musicais no decurso de suas operagóes. Porque por agáo de coluna de ar. (N. do T.)
Sabemos também que eles davam urna grande importancia importante é o fato de que eles estavam convencidos de que
aos eclipses e atribufam a élés urna influencia precisa ñas suas o homem tem o poder náo de substituir a natureza, mas de
operagóes alquímicas. Conforme o caso, eles classificavam imitá-la. Em virtude dessa convicgáo, eles estudavam as leis
a influencia como negativa ou positiva e agiam conforme o naturais com o maior dos respeitos. Além disso, a maior parte
caso. Náo há dúvidas de que a alquimia valia-se mais da as­ deles era profundamente espiritualista e usava a alquimia
tronomía que da astrologia. Náo é, portanto, por acaso que os
como um suporte á busca mística. E por esta razáo que seus
alquimistas estabeleciam urna correspondencia precisa entre
laboratorios incluíam sempre um oratorio, ou seja, um lugar
os metáis e os planetas de nosso sistema solar. Além disso, eles
tinham bons conhecimentos de química. reservado á prece, á meditagáo e, de maneira geral, ao estudo
das leis divinas. Esse oratorio se limitava o mais comum das
A questáo que podemos formular a nós mesmos é se os vezes a urna cadeira e urna mesa, sobre a qual se encontravam
alquimistas realmente conseguiram fabricar ouro. Se dedu- livros esotéricos, objetos rituais e velas.
zirmos pelos escritos que nos foram deixados, náo cabem
dúvidas quanto a isso. Ademáis, vários autores afirmam que A alquimia material nao era mais do que a expressáo
foi assim que Jacques Coeur, Jean Bourré, Nicolás Flamel, objetiva de urna transmutagáo infinitamente mais elevada:
Cagliostro, para nos determos apenas nos mais conhecidos, a da própria alma, cujo fundamento náo é senáo a alquimia
produziram suas fortunas. Admitindo que isto seja verdade, espiritual. Este processo místico consiste, para o homem, em
voces notaráo que esses personagens foram reputados por sua transmutar suas imperfeigóes por meio do crisol da vida, sob
generosidade c por seu altruismo, o que faz supor que eles o impulso do fogo divino que se consomé nele. Somos todos
praticavam sua arte para ir ao auxilio dos mais pobres e para imperfeitos, mas o objetivo final de nossa evolugáo é atingir o
financiar prójetós úteis ao bem comum, como hospitais, estra­
estado de perfeigáo, o qual os rosacruzes chaniam de “estado
das, pontes etc. Apesar disso, á parte estes testemunhos, náo
de Rosacruz”. Ora, esse estado nao pode se realizar senáo após
dispomos de provas irrefutáveis que atestem que os adeptos
da Grande Obra tenham logrado seu intento ou que tenham termos purificado nossa personalidade de suas qualidades
enriquecido desta maneira. Compete, pois, a cada um formar negativas, o que implica em despertar as virtudes da alma
sua opiniáo a respeito. divina que habita em nos e que náo nos pede mais do que
exprimir seu potencial de sabedoria. Mas tal objetivo náo pode
Saber se os alquim istas do passado conseguiram ou ser conseguido em urna única vida, de onde a necessidade de
náo transmutar metáis vis em ouro é secundário. Ó mais se reencarnar enquanto formos imperfeitos.
Como o homem náo despertou as virtudes de sua alma Se vocé teve interesse ém 1er este texto, é sem dúvida porque
divina, ele manifesta certas imperfeigóes, como o orgulho, o vocé comegou esta alquimia espiritual ao mesmo tempo em
egoísmo, o ciúme, a intolerancia etc. Em retorno, esses mes- que sua busca pessoal e mística. Náo há dúvidas de que se sua
mos defeitos lhe acarretam prejuízos, porque geram carmas experiénciá de vida lhe trouxe um poucó de sabedoria, ela lhe
negativos que se traduzem em sua vida por provas mais ou trouxe também a lucidez. Vocé tem, portanto, a possibilidade
menos penosas. Temos, pois, ao menos duas boas razóes de conhecer e identificar suas falhas, e estou certo de que vocé
para nos aprimorarmos: em primeiro lugar, isto faz parte do tem em si próprio o potencial para transmutá-las. Pessoal-
processo evolutivo do qual náo nos podemos esquivar e cuja mente, posso lhe assegurar que tenho plena consciencia de
finalidade máxima é nos conduzir á perfeigáo, assim como a minhas imperfeigóes, de minhas falibilidades e dos meus
podemos exprimir enquanto seres humanos. Em segundo lu­ erros, e seguramente fago esforgos para me aprimorar.
gar, isto nos permite “positivar” nosso comportamento e criar Náo é, pois, com insensibilidade que lhe submeto minhas
para nós mesmos carmas positivos, os quais se traduzem em reflexóes, mas sim enquanto ser humano também tocado
nossa vida por alegrías diversas e contribuem para a felicidade por esta alquim ia. Se é sempre mais fácil falar do Bem do
que buscámos. Ora, o ideal náo é conhecer urna existencia táo que o fazer, o mesmo se aplica ao trabalho e as melhorias
feliz quanto possível e obter o dominio da vida? que solicitamos dos outros.

Como é também o casó para a alquimia material, a al­ Mas para lograr esta transmutagáo interior náo basta aceitar
quimia espiritual demanda várias etapas para chegar ao a ideia de ter defeitos. E preciso também querer corrigí-los,
objetivo almejado. A primeira consiste em aceitar a ideia de o que constitui urna etapa primordial da alquimia espiritual.
que somos imperfeitos e que temos incorregóes a retificar. Dito de outra maneira, é necessário ter vontade de melho-
Quando digo “aceitar”, é mais face a si mesmo do que a rar no plano humano. Isso náo é possível se náo estivermos
outrem. Isto implica em náo apenas nos olharmos tal como verdaderamente convencidos de que o objetivo do homem é
somos no espelho de nossa alma, mas, igualmente, afinar evoluir, o que evidencia todo o problema do sentido real que
nossa atengáo com a imagem que os outros nos reenviam damos á vida.
de nós mesmos. Se náo o fazemos, acabamos nos tornando
cegos á nossa verdadeira personalidade e damos ainda mais De minha parte, estou também convencido de que qual­
poder as nossas deficiencias, até o momento em que elas quer pessoa que se esforce no seu polimento recebe o apoio
geram, de nossa parte, comportamentos negativos e dáo do Deus do seu coragáo e pode conhecer a felicidade, e isto
lugar a provas cármicas equivalentes. mesmo se as falhas forem relativamente numerosas. Se este
for o caso, é porque todo o esforgo empregado no sentido do Feito isto, é preciso nos obrigarmos a manifestá-la cada vez
Bem é sempre recompensado pela lei cármica. Inversamente, que a ocasiáo se apresente, até que ela faga parte de nossa
toda pessoa que tem poucos defeitos mas que se deixa domi­ alma e torne-se natural. Para retornarmos ao exemplo do
nar por eles sem jamais se esforzar para transmutá-los, atrai orgulho, quem quiser se desvencilhar deste defeito deve servir­
para si provas evolutivas e problemas diversos, e isso também se da humildade. Como? Obrigando-se a náo sobrevalorizar
enquanto ela se satisfizer nos limites de suas fraquezas. seus méritos, a náo mostrar sua superioridade intelectual ou
qualquer outra, a náo procurar chamar a atengáo sobre si, a
Depois de haver tomado a decisáo de se esmerar, há outra agir ao servigo do Bem impessoalmente etc. Com o tempo,
etapa da alquimia espiritual. Esta consiste em concretizar este esforgo voluntário para se mostrar humilde acaba por
nosso desejo de nos tornarmos melhores por meio da trans­ tornar-se um hábito, ou seja, urna lei para seu subconsciente.
s
m utado de nossas incorregóes. Mas para lograr esse intento, E entáo que o orgulho é transmutado. Assim é o principio de
náo devemos absolutamente tentar combate-las, o que in­ base para a alquimia espiritual, tal como o devemos aplicar a
felizmente tendemos a fazer. Efetivamente, esse género de cada urna de nossas imperfeigóes.
combate contribui, ao contrário, para amplificá-las, porque
nosso ego se utiliza dele para dar importancia a si próprio Quando um místico transmuta todos os seus defeitos ñas
e fazer valer sua influencia sobre nosso comportamento. E qualidades opostas, ele conhece entáo a última etapa da
preciso, inversamente, se afastar do defeito em questáo e tra- alquimia espiritual, á saber, a Iluminagáo. Ele está, se náo
balhar sobre si mesmo para adquirir a qualidade oposta. Para perfeito, ao menos muito próximo do estado de perfeigáo,
dar um exemplo, se urna pessoa é profundamente orgulhosa conforme possível a um ser humano de o exprimir na Terra.
e tem consciencia disso, ela náo deve tentar lutar contra sua Com efeito, a m ateria prim a de seu ser, ou seja, sua alma,
soberba, porque lhe dará ainda mais forga e aumentará seu torna-se pura e perfeita. Náo é, portanto, por acaso que os
poder nocivo. Ela deve se dedicar a obter a qualidade oposta, alquimistas rosacruzes simbolizavam a Grande Obra por
no caso a humildade. Isto implica, para ela, em recorrer á sua urna rosa vermelha, frequentemente cingida com urna aura
natureza mais divina. de cor dourada. Como quer que seja, quem atingiu este
estado realizou as famosas “Bodas Químicas”. Ou ainda,
Mas como chegar á qualidade oposta a urna imperfeigáo da efetivou a uniáo entre seu Eu humano e seu Eu divino,
qual temos consciencia? Parece-me que a melhor maneira de simbolizado na linguagem alquímica pelo casamento do
chegar a esse resultado consiste em, primeiramente, definir a rei e da rainha, ou pela uniáo do enxofre com o mercúrio.
maneira com que essa qualidade se traduz na vida corrente.
A partir de entáo, ele possui verdadeiramente o elixir da vida
longa, porque se tornou um puro agente da Divindade e náo
tem mais a obrigagáo de reencarnar.
Deus de todos os homens, Deus de toda vida, na humanidade com a
Que a alquimia se opere em seu espirito, séu coragáo e qual sonhamos:
sua vida! Os políticos sao profundamente humanistas e trabalham a servigo do
bem comum;
Os economistas gerem as finanzas dos Estados com discemimento é
segundó ó interesse de todos;
Os sabios sáo espiritualistas e buscam sua inspirando no Livro da
Natureza;
Os artistas sao inspirados e exprimem em suas obras a beleza e a pureza
do Plano divino;
Os médicos sao animados pelo amor ao seu próximo e cuidam táo bem
da alma quanto do corpo.
Nao há mais miséria nem pobreza, porque cada qual tem aquilo do
qual necessita para viver feliz.
O trabalho nao é vivido com o urna coerqáo, mas sim como urna fon te
de plenitude e bem-estar;
A natureza é considerada com o o mais belo dos templos e os animais
com o nossos irmáos em via de evolugáo;
Existe um govem o mundialformado pelos dirigentes de todas as naqoes,
trabalhando para o interesse de toda a humanidade;
Aespiritualidade é um ideal e um modo de vida que tem suafon te numa
Religiáo universal, baseada antes no conhecimento das leis divinas do
que na crenqa em Deus.
As relaqoes humanas sáo fundamentadas sobre o amor, a amizade
e a fratemidade, de maneira que o mundo inteiro viva na paz e na
harmonía.

Que assim seja!


Todo sofrimento é aceitável na luz

Todo sofrimento é aceitável na luz déla náo tenha consciencia. Táó logo tenhamos urna abor-
dagem espiritual da vida e nossa almá, nosso espirito e nosso
m dia, em abril de 2004, como um sinal, ouvi e acatei coragáo estejam em harmonia com as leis divinas, ou se vocé

U esta frase de Simone Weil. Mesmo tendo com


frequéncia males demais decorrente disto, sempre
acreditei ser melhor exprimir o sofrimento do qual padecemos.
Náo é dito que as palavras curam os males?
preferir, com as leis naturais e universais, a clarividéncia nos
é concedida, e as coisas se nos apresentam entáo á plena luz.
Somente ésta luz clarifica todas as coisas, tanto as boas quanto
ás más; ela se assemelha ao conhecimento.
A ignorancia, contrariamente ao conhecimento, parece,
“Todo sofrim ento éa ceitá vel na luz": essa frase me encorajou
em certos aspectos, mais fácil de se viver. A ignorancia pode
e iluminou, e depois me ajudou a transpassar dificuldades. Ela
ser doce e protetora. Ela nos embala com ilusóes e evita que
certamente suscitou em mim inúmeras perguntas. De umá
sejamos feridos.
reflexáo passamos á outra, e nosso espirito errante nos trans­
porta seja as convicgóes ou a mais questionamentos ainda. Jesús disse: “feliz es os pobres de espirito” ou “feliz es os pobres
em espirito”. Essa parábola tem suscitado ao longo dos séculos
Devemos aceitar o sofrimento ou reprimí-lo? Como aceitar muitas discussóes e interpretagóes. Conforme acreditamos a
o inaceitável? Que luz é essa que acompanha nossa tormenta? expressáo “pobre de espirito” ou “pobre em espirito”, isto re­
Seria nossa chama interior? A luz divina? Ou simplesmente presenta que a inocéncia ou a ignorancia pódem nos proteger
essa claridade é o símbolo de urna máscara que cai, de um ser do infortúnio ou nos trazer a ventura. Representa também
que se revela, ou dos sentimentos negativos por fim admitidos? dizer que o en ga ja m en to na via do conhecimento nao está
isento de riscos. Mas o que importa é tomarmos o caminho e
Num primeiro momento, um esclarecimento é frequen- acéitar que á luz ilumine nossos passos e revele a imperfeigáo
temente difícil de assumir, porque ele leva a urna tomada de da nossa marcha.
consciencia geralmente dolorosa antes de dar lugar á calmaria.
Mas mesmo se por natureza o ser humano reluta em aceitar No plano místico, aceitar náo quer dizer renunciar. Exa-
determinadas realidades e verdades, em um momento ou tamente o contrário. Estejamos padecendo no caminho do
outro este esclarecimento torna-se inevitável. conhecimento ou com a tristeza absorvendo nosso coragáo,
se somos iluminados pela luz divina que brilha em nós e
Por causa dos náo-ditos, dos silencios, do comedimento, ao nosso redor, e se aceitamos o amor dos seres indulgentes
do respeito de outro ou de outros, da timidez, da angústia ou que nos apoiam na provagáo, entáo podemos afirmar: “Todo
da hipocrisia, podemos retardar o instante da revelagáo, mas sofrim ento é aceitável na luz”.
feliz ou infelizmente, cedo ou tarde, a lei se aplica. Ela entra
em agáo para todo o mundo, mesmo que “todo o mundo”
Concluirei este escrito propondo a leitura de um poema Como para além do horizonte
de George L. Hendel, intitulado “Aqueles que eu am ava”. Ele um pássaro vagabundo brinca
poderá lhe parecer sombrio, mas pessoalmente o acho tran­ no vento com urna nuvem ,
quilizante e reconfortante. Creio que ele ilustra perfeitamente voa sereno m eu pensam ento
um dos aspectos destas quantas reflexóes:
Portador da lembranqa
Aqueles qu e eu am ava com lou co am or e d e urna ventura in efável
desferiram -m e os golp es mais duros que cintila doravante
Abriram em m im ferid a s um am or sem sofrim ento
jam ais cicatrizadas
Vocé que está lendo essas póucas linhas, se seu espirito
Eu as escondí sogobra, se seu coragáo está imerso na noite, éu lhé desejo a
no mais profundo do m eu sofrim ento amizade para lhe iluminar. Se seus olhos estáo tristes, que
cóm o o único tesouro alguém possa lhe sorrir e que urna máo reconfortante se in­
que eu tivesse direito de esperar cline em sua diregáo quando o caminho se tornar mais árduo.

Isto f o i no entanto o bem mais precioso


que com hum ildade nesta Terra
recebi, acolhendo-o com um sorriso
quando m eu coraqáo estava martirizado

De seu próprio torm ento


a dor se consom é
e consom é o m al
que nos tortura p o r tanto tem po

E consom é os m ales
que nos infligiam um olhar vazio
que nos tom avam os p és pesados
e nos devolviam á poeira
Evoluir

Evoluir hábito fazem aquilo que nós parecia difícil e desagradável ños
parecer simples. O caminho nos parece mais curto; reagimos
á várias décadas um dos principios de base da melhor; nos habituamos.

H psicologia consiste em afirmar que nao podemos


resolver um problema se nao conhecemos a causa
dele. Daí advém a prática de longas análises com terapeutas,,
Nao podemos avangar retrocedendo a marcha nem galgar
as escadarias da vida indo no sentido inverso. Se queremos
descobrir o que existe atrás da porta que se apresenta para nós,
a da regressá o p or hipnose até a primeira infancia e mesmo
as vidas pregressas etc. Certamente, limitamos melhor nos- é preciso ousar abrí-la. Se o passado ajuda a viver o presente
sos problemas e ñóssas reagoes se conhecemos a origem e a preparar o futuro, ele nao deve entravar a nossa evolugáo.
deles, mas será isto suficiente? Devemos nos satisfazer nesse “Q uerer é p od er” \Por certo, nao seremos bem sucedidos em
principio que escusa muitas das nossas atitudes e nos tira o todos os momentos, mas mesmo se cairmos poderemos nos
sentido das responsabilidades? Devemos nos contentar por levantar e recomegar, de outra maneira, porém melhor, ainda
ter encontrado as causas de nossas más agóes, de nossos falsos melhor... Dizemos com frequéncia que “ofu tu ro sorri para
dizeres ou de nossos pensamentos negativos? Urna expli­ os audaciosos”. Nao sei se é sempre verdade mas, em todo o
cado pode ajudar a cómpreender, mas ela de nada servirá caso, podemos constatar que a ventura e a alegria nao sórriem
se nao for acompanhada por urna vontade de mudanga. E se muito para os pessimistas contumazes.
o essencial nao era conhecer a génese de nossos problemas,
mas simplesmente aceitá-los (á maneira ou combaté-los As dificuldades, as experiencias, as penas e os sofrimentos
(á maneira cavalheiresca) ? sao parte integrante da condigáo humana. Ninguém pode
se furtar a isto, mas o que pode fazer a diferenga é o modo
Nossa existencia é regida por ritmos e hábitos. Nossas como traspassamos e com o qual reagimos á adversidade. O
angustias, medos e fobias podem ser superados, mas é pre­ “dominio da vida” é sobretudo isso. Somos mestres dos nossos
ciso querer isto. Por exemplo, saber por que nos apavoramos destinos e temos nosso livre arbitrio, ao menos na maneira
por estar em determinada situagáo, ou por que sentimos um com a qual administramos as provagoes. E preciso, portanto,
medo irracional diante de um objeto, de um animal, em certas antes de tudo, com discernimento e, claro, prudencia, tentar
circunstancias ou diante de certas pessoas é certamente in- sobrepujar nossos temores, nossas apreensóes ou mudar nossa
teressante no plano intelectual, mas de nada adianta. Nossas maneira de pensar, de falar e de reagir. Por sermos as vezes a
reagoes, ou faltas de reagao, sao também, e sobretudo, hábitos. isso obrigádos, acabamos pór dever e saber suplantar nossos
Tomemos o exemplo de um caminho. Sé o desconhecido nos medos. O mesmo se aplica a muitas outras coisas na vida; basta
aflige, um deslocamento pode nos parecer um suplicio. Na se esforgar um pouco no comego e depois tudo se encaminha.
primeira vez, podemos hesitar e nos estressar. Entáo, a estrada
nos parece longa. Depois, pouco a pouco, a experiencia e o
Naturalmente, ter consciencia disto nao nos isenta das vicis- que o entravem, devem nos dilapidar á vida e nos privar das
situdes da existencia, e nos mais frequentemente suportamos alegrias simples e dos momentos de felicidade furtivos que
os acontecimentos do que os provocamos. deixamos com muita frequéncia passar sem apreciá-los no seu
devido valor. Podemos ser lúcidos no mundo que nos cerca , na
Para voltar á minha primeira idéia, gostaria de insistir barbárie que reina sobre a Terra e em todas as injustigas que
no fato de que devemos nos esforzar para melhorar nosso suportamos coletiva ou individualmente. Mas nao esquejamos
comportamento e fazer nossa vida evoluir positivamente sem jamais, como disse o cantor e poeta belga Jacques Brel, que é
esperar pelos outros, sem procurar o ou os culpados, sem preciso “ver em cada coisa urna coisa bonita”.
pretextos e sem desculpas. Mesmo que tenhamos vivido urna
infancia difícil, mesmo que pensemos que “o inferno sao os Se a torrente das lembrangas lhe submerge, se o remorso
outros”, mesmo q u e..., isso nao deve nos impedir de evoluir. Ihe impede de respirar, se vocé sente o coragáo em pedamos,
Quaisquer que sejam nossas escolhas, devémos assumí-las, e se apenas a fealdade do mundo lhe é evidente, entao, pela
se essas se revelarem infelizes, nao devemos impingir a respon- forga do espirito que há em vocé, resista, e procure a pequeña
sabilidade a outros. E igualmente necessário ser paciente, pois centelha que aindá brilha na sua alma, e como um desafio,
isto que repentinamente consideramos como urna catástrofe com determinado, recomponha-se, reagindo as forjas que
pode se revelar, na sequéncia, como sendo urna bengáo. Estou o impelem ao abismo e, com convícgáo e altivez, afirme:
certo de que vocé teve esta experiencia urna ou mais vezes, em “prosseguirei, prosseguirei, p rossegu irei. .. ”.
diversas esferas de agáo. Vocé certamente conhece o adagio:
“Deixai passar urna desdita sete anos e ela se tornará urna betn- C onñanga, perseveraba e coragem: eis o que lhe desejo.
aventuranqa”. Pessoalmente, creio que sete dias, sete horas,
sete minutos ou sete segundos podem ser suficientes. Também
isto é a alquimia da vida.

Pude constatar que aqueles que reagem da maneira mais


positiva possível face a um problema atraem, por conseguinte,
aquilo que chamamos de “sorte”. Urna outra chance. Temos o
costume de dizer que um místico deve ser um ponto de inter­
rogado ambulante. Por certo, isto é indispensável, e a reflexáo
tem tanta importancia quanto a meditagáo. No entanto, nem
todas as questóes que nos venham ao espirito, ou mesmo
A crenga

A crenga atentos á sua escuta? Se sim, entáo ele saberá transmitir as


respostas ao nosso coragáo e ao nosso espirito, e nós conquista­
homem tem procurado desde sempre elevar-se acima remos um pouco da Paz Profunda táo cara aos rosacruzes. Se

O das trevas para subir em diregáo á luz. Essa elevagáo


é lenta e se opera frequentemente por meio de provas
que marcam a vida cotidiana. Mesmo que isso náo se revele
sempre como urna evidencia, estamos, náo obstante, rumo a
digo “um pouco”, é porque nós estamos e sempre estaremos
em busca da verdade face aos mistérios da existencia.

É certo que estas quantas reflexóes nada tém de original,


um mundo melhor e cheio de esperanza. A esperanza vai além mas veja vocé que, apesar da minha experiencia enquanto
daquilo a que chamamos de “crenga”. A esperanza é vida; individuo, rosacruz e Imperator da AMORC, continuo a
esta vida gragas a qual nossa alma ganha em valor, aprende me questionar. E apesar de numerosas certezas, ainda estou
e progride. Urna simples crenga nos pode bastar para esse muito longe de tudo saber, tudo conhecer e tudo compreender.
desabrochar. Estas questóes que me formulei ainda crianga, depois adulto,
torno a fazé-las. O mesmo acontece com vocé, com certeza.
Estando associada á religiáo, e mesmo á superstigáo, a Pode-se dizer qúe náo sou um bom aluno? Certamente, mas
crenga nos retém dentro dos dogmas que nos agrilhoam e tenho confianga plena no ideal rosacruz e no ensinamento
nos aprisionam, com frequéncia nos impedindo de avan- que a AMORC perpetua. E depois, se a vida me causou mui-
gar. As vezes, felizmente, esses grilhóes se quebram, e nós tas penas e desilusóes, como faz a muitos, ela também me
transcendemos o mundo das ilusóes para déscobrir nosso eu proporcionou tantas coisas verdadeiramente belas e emogóes
interior. Este nos mostra o caminho e entáo tem inicio urna sublimes que prossigo na esperanga e mesmo na crenga, no
longa viagem. Nossa mente se agita e as clássicas e grandes sentido mais elevado do termo. E posso afirmar: “Sim, eu
questóes sobre a existencia nos interpelam: O destino de cada espero; sim, eu creio!”.
um é previamente determinado? Qual a nossa parte de livre-
-arbítrio ñas nossas decisóes? Como podemos agir e mudar
nosso destino se nosso caminho já está tragado? De que serve
a existencia? Por qiie a condigáo humana é táo difícil nesta
Terra? Estas sáo algumas das perguntas que nos preocupam
enquanto seres humanos, místicos ou ateus, porque mesmo
esses últimos se questionam.

As respostas náo parecem evidentes, e portanto náo é fácil


apaziguar nossa mente. Além disso, existe urna única ou mais
respostas? Nosso Mestre interior sabe, mas somos nós alunos
Ser e ter

Ser e ter que ele torne a se harmonizar, faga urna introspecgáo objetiva
e dome seu dragáo.
uito frequentemente justapostos, esses dois verbos
M parecem opostos ou incompatíveis, náo em seus usos
gramaticais e ortográficos, mas quando os associamos á na­
O TER deve dar ao SER o lugar que lhe é devido e os
dois devem coabitar. Isto representa também estabelecer
tureza humana, ao ego, á nossa maneira de ver as coisas ou a unidade em si, equilibrar os pratos da balanga, o yin e o
á ética. Nesse caso, a palavra SER tem urna conotagáo mais ya n g, o branco e o negro, o dia e a noite, a alegria e a tristeza,
positiva do que a palavra TER. o SER e o TER!

SER é mais revalorizador. Revela o que nós somos e, natu­


ralmente, associamos esta palavra mais as nossas qualidades
do que aos nossos defeitos. TER nos remete ao verbo “pos-
suir” ou á palavra “possessáo”. Entáo, imediatamente nossa
consciencia se agita e em nosso espirito as ideias se afrontam,
se opóem ou se contradizem: a matéria e o espirito, o direito e
o dever etc. SER, como “existir”, como “vida”, como “inteli­
gencia”. TER, como “prazer terreno”, como “abundancia de
bens”, como “desejo”. E assim sendo que afirmamos sempre,
á justa razáo, “que vale mais ser do que ter”.

E se tentássemos reconciliar essas düas nogóes? Atribuir ao


verbo TER belas imagens e nobres palavras é fácil e agradável,
mas associar urna conotagáo negativa ao verbo SER é mais difí­
cilmente concebível, e é um exercício ao qual náo temos algum
prazer em nos submeter; e de toda maneira náo os aconselho
a isso. Náo é necessário denegrir o SER para apreciar o TER.
Tentemos antes conciliar os dois. Náo rejeitemos urna parte
de nossa natureza dual, mas esforcemo-nos simplesmente
para dominá-la. Quando o desejo, o espirito de possessáo
imoderada ou, simplesmente, as angustias e temores induzem
o homem ao ciúme, á raiva e á desonestidade, é imperativo
Estejamos em paz!

Estejamos em paz! Dentro de seus coragóes humanistas, a palavra “paz”


ecoa permanentemente. Conforme já disse antes, a primeira
través dos séculos, homens e mulheres de boa vontade expressáo que vem á mente dos rosacruzes, táo logo seja

A se esforgam para tornar a hum anidade melhor.


Naturalmente, os membros da Antiga e Mística Or-
dem Rosacruz fazem parte deles.
evocada a paz, é certamente “a Paz Profunda”. Em suas cor-
respondéncias, eles empregam normalmente, para concluir,
a expressáo “Com meus melhores votos de Paz Profunda”.
Essas palavras, as vezes escritas automáticamente, tém um
Apesar da terrível constatado que podemos ter da situado poder muito importante. Trata-se de muito mais do que urna
do mundo, onde vários países estáo em guerra, devemos seguir fórmula de cortesía ou de uma saudagáo fraternal.
confiando e, sobretudo, trabalhar cada qual em seu nivel,
segundo suas possibilidades. Esta expressáo constituí uma invocagáo através da qual os
Quanto á Fraternidade Rosacruz, ela sé adaptará como fez membros da AMORC expressam sua benevoléncia á pessoa a
sempre. Onde a guerra e o integralismo religioso oprimem e qual se dirigem, quer seja ela rosacruz ou nao. Quanto mais
a impedem de existir, ela se protegerá, e onde o sectarismo sentimos vivamente em nosso interior a esséncia e o poder
laico age da mesma maneira, ela agirá em consequéncia disto. déla, mais efeitos positivos terá essa invocagáo sobre a pessoa.
Sabemos que nada é definitivamente adquirido, que tudo A Paz Profunda nao é apenas um estado de alma. É tam­
muda e que tudo evolui. Nada é imutável, tudo se transforma; bém um estado de coragáo e um estado de corpo. De fato, nao
é a alquimia da vida. é senáo quando o ser reúne a paz do corpo, do coragáo e da
Muitos filósofos e humanistas fizeram da paz o seu credo. Os alma que ele conhece a plenitude da Paz Profunda e que ele
rosacruzes também estáo desde sempre a servigo da paz, a Paz pode, com pleno conhecimento de causa, evocar através déla
Profunda, á qual eles se referem constantemente em seus escri­ as béngá°s a seus irmáos humanos.
tos, mesmo que ela seja muito difícil de conhecer e de manter. A paz é indissociável da harmonía, e a harmonía é indís-
sociável da beleza do mundo e da irradiado de Deus. E isso
Quanto mais nosso mundo se revela cruel, violento e o que inspirou um filósofo a dizer: “Tantas m áospara salvar o
destrutivo, mais vozes se elevam em favor dá paz. Assim é o m undo e tá op ou cos olhospara contem plá-lo'\
principio de dualidade que rege nossas vidas e nossos espíri-
tos. Também os rosacruzes somam oficialmente suas vozes a Todos os místicos gostam de se referir á paz da alma. Esta
todos os que já oram e trabalham pelo entendimento cordial corresponde simplesmente a um estado de plenitude espiritual
entre os povos. Independentemente de suas agóes pessoais e ao qual tem acesso quem quer que tenha escolhido dispor sua
variadas, eles oficiam anualmente urna cerimónia particular,
aberta a todos, sob a égide da AMORC.
vida ao servigo de Deus e da humanidade. É também a paz
interior que conhece aquele que logra viver permanentemente
em harmonía. Ela é, pois, tanto a paz da rosa como a da cruz.
Eu contribuo com a paz quando me esmero em exprimir o melhor de
A paz consiste em olhar a vida como um presente, e isto mim mesmo ñas minhas relaqóes com os outros.
apesar das provagóes e das vicissitudes. E igualmente saber
aceitar um corpo imperfeito, as vezes sofredor, depois a velhice Eu contribuo com a paz quando aplico minha inteligencia e minhas
e, por fim, a partida para o além. competencias a serviqo do Bem.

A paz é, primeiramente, aceitar o medo, e depois saber Eu contribuo com a paz quando mostro compaixáo por todos aqueles
superá-lo. E quando nossos instintos e nossas emogóes con­ que sofrem.
trolados deixam nosso coragáo sereno como um dia sem vento.
Eu contribuo com a paz porque considero todos os seres humanos com o
E quando o guerreiro que há em nós depóe as armas.
meus irmaos e irmas, quaisquer sejam suas ragas, culturas e religioes.
Se nós perdemos a harmonía, encontremo-la. Sejamos Eu contribuo com a paz quando me alegro com afelicidade dos outros
sensíveis ao aspecto mais belo de nosso mundo. Deixemos e rogo por seu bem-estar.
Deus resplandecer através de nosso comportamento e nós
encontraremos a paz. Eu contribuo com a paz quando escuto com respeito e tolerancia as
opinioes que divergem das minhas ou mesmo as que a elas se opoem.
Por fim, a vocé que le estas quantas linhas, segundo urna
fórmula cara a meu coragáo, desejo que nos próximos anos, Eu contribuo com a paz quando utilizo o diálogo mais do que a forqa
no decorrer de sua encarnagáo, a Paz Profunda esteja em vocé para apaziguar todo o conflito.
e a seu redor.
Eu contribuo com a paz porque respeito a natureza é a preservo para
as geraqóes futuras.

Eu contribuo com a paz quando nao procuro impor aos outros minha
concepqdo de Deus.

Eu contribuo com a paz porque fago déla o fundamento do meu ideal


e de minha filosofa.
Tudo melhorou!

Tudo melhorou! também vocé sem dúvida faz, a gravidade e o horror de certos
acontecimentos. Seria urna falta de compaixáo querer ignorá-
udo meíhorouí Técnicamente. Os avangos da ciencia e los e de um angelismo bastante inocente assim afirmar: “Tudo

T da medicina triunfaram sobre velhas doengas e adiaram


a idade da morte. A eletricidade ilumina o mundo. O
aviao, o trem e o automóvél reduziram as distancias. A agri­
cultura produz mais. A informática acelerou as comunicagoes.
melhorou!”.

Depois de urna tragédia, nossa primeira reagáo deve ser a


assisténcia espiritual. Quando tomamos ciencia de ter ocorrido
Tudo vai, portanto, mais rápido, tem melhor desempenho e é urna tomada de reféns, um atentado, urna catástrofe natural
mais confortável. Podemos entáo dizer que tudo melhorou ñas etc., devemos, táo breve quanto possível, trabalhar espiri­
sociedades modernas? Náo, porque o homem náo progride tualmente pelas vítimas. Por mais humilde e insignificante
ou, entáo, progride póuco. Depois de sua misteriosa aparigáo, que possa parecer este trabalho face ao drama em curso,
ele náo. cessou de se enriquecer de descobertas materiais que ele tem um poder extraordinário. Em um instante, todos os
melhoraram, aparentemente, suas condigóes de existencia. Ele nossos pensamentos se tornam forgas que, unidas a todas as
se abriu á cultura, educou-se, observou, leu e escreveu. Mas, outras, formam urna espécie de “curativo universal” e aliviam
lamentavelmente, permaneceu um bárbaro. o sofrimento. Elas sáo a máo que segura a de um moribundo,
Os bragos da máe que acalenta a cñanga que chora e mil ou­
Quanto tempo, quantas encarnagóes seráo necessárias para tras sensagóes de dogura e serenidade. Cumprido este dever,
realizar urna profunda tomada de consciencia? O homem conforme o local onde nos encontramos, segundo nossas con-
segue em marcha, apesar dele mesmo, nesta diregáo, mas o vicgóes filosóficas, espirituais ou religiosas, deve-se seguir ñas
caminho é árduo! Para além das reflexóes a que somos leva­ próximas horas, dias e meses, urna agáo que eu qualificaria
dos a fazer, há urna reagáo instintiva que nos obriga a olhar como mais exterior.
diretamente aquilo o que sao capazes de fazer, em nossa
época dita moderna, homens contra outros homens, mulheres De acordo com nossos meios, nossas aptidóes e o lugar onde
e criangas. Os tempos atuais sáo particularmente violentos e nos encontramos, é preciso que nos esforcemos para fazer um
essa violencia nada tem a ver com a geografía ou a cultura. gesto concreto de apoio as vítimas, ou com relagáo as causas
Ela está cruelmente ligada ao homem. Por certo, falar disso do drama. Por exemplo, se vocé está próximo ao lugar de urna
nada resolve, mas esquecer o assunto seria um erro de náo- catástrofe ou de um atentado, ou se tem méios de chegar até
-assisténcia á humanidade. lá, leve materialmente ou físicamente seu socorro. Se vocé
se sente mais á vontade para escrever, redija urna carta, um
Naturalmente, devemos permanecer positivos, e seria artigo ou um livro, nos quais vocé possa exprimir seu modo
meu dever náo falar senáo de coisas belas. Mas, enquanto
habitante deste planeta, náo posso senáo constatar, como
de pensar. Vocé também pode, simplesmente, tentar mudar Ainda há, sobre a Terra, um refugio de paz? Por certo,
as coisas positivamente discütindo com outras pessoas. Vocé alguns lugares sao máis aprazíveis de habitar do que outros,
podé ainda, seguramente, fazer urna doagao ou, por que nao, mas pór quanto tempo ainda? Existe um governo no qual nao
participar de urna manifestagao. Para resumir, de urna maneira impere nenhuma forma de corrupgáo? A justiga dos homens
ou de outra, nao permanega passivo! Nao aceite o inaceitável! é, de fato, justa? Os servigos de nossos Estados e de nossas
administragóes estáo á disposigáo e a servigo do povo? Como
Desde 1971, ano em que comecei a trabalhar para a despertar as consciencias e fazer nascer o amor e a coragem
AMORC, ñas diferentes fungóes que exerci, fui levado a 1er no coragáo dos homens?
milhares dé cartas e á reencontrar riiilhares de homens e
mulheres, membros da fraternidade rosacruz ou nao, e dividi Vocé tem certamente suas próprias respostas a essas le­
com eles dúvidas e sofrimentos, mas também momentos de gítimas indagagóes que formulamos enquanto cidadáos do
alegría e de esperanza. mundo. Eu nada tenho de um contestador. Sou simplesmente
Nao sei se tudo isso me tornou sábio, porque imagino um militante do direito á vida, ao respeito, á liberdade, á
verdadeira justiga e á paz. Entáo, quem quér que vocé seja,
que se eu fosse sábio minhas reagoes seriam diferentes face
onde quer que esteja, trabalhe pelo bem de acordo com suas
os acontecimentos da vida. Eu sem dúvida saberia relativizar
competencias. Trabalhe materialmente, físicamente, moral­
as provas e olhar o mundo com mais desprendimento. Este,
mente. e espiritualmente onde o “acaso” lhe colocar.
infelizmente, nao é o caso, pois sempre fui muito sensibili­
zado pelo infortúnio dos outros e pela visáo frequentemente
Sejamos homens e mulheres de boa vontade, para que pos-
apocalíptica das tragédias das quais sao vítimas muitos dos
samos dizer, enfim, um dia, em todá a verdade, sem cinismo
meus irmáos e irmás humanos.
e sem ironía: “Tudo melhorou!”.
Um sociólogo afirmou que a época que atravessamos é
táo importante, em matéria de mudanga de ética, de política,
de mentalidade, de cultura etc., quanto aquela que a Europa
conheceu no fim da Antiguidade e através do Renascimento. A
diferenga é que agora nosso planeta ficou “pequenino” e que
todos os países e todos os seres humanos sao afetados. Se as
boas invengóes se propagam rápidamente, o mesmo acontece
com as más, e estas nao afetam mais um país ou um povo por
vez, mas o conjunto dos cidadáos do mundo.
A consciéncia cósmica

mesma na experimentagáo de seu potencial de poder e de


A consciencia cósmica inteligencia. Finalmente, percorrendo a cadeia infinita das
criaturas viventes, ela consegue impregnar formas vivas cada
que é a Consciencia Cósmica? Para responder essa

O questáo, gostaria de primeiro precisar que ela nao é


uma substancia, mas sim uma esséncia. Ela é um atri­
buto da Alma universal, que é uma emanagáo da Inteligencia
vez mais conscientes do Divino, em vista de realizar, um dia,
á perfeigáo que lhe é característica.

As observagÓes precedentes nao devem deixar supor que a


divina. Nós nao devemos, portanto, separá-la das formas de Consciéncia Cósmica tenha uma natureza imperfeita e limita­
consciencia que se exprimem no universo por meio dos seres da. O que acontece é simples e únicamente a maneira pela qual
viventes que o povoam. Dito de outra maneira, a Consciencia cada criatura exprime seus atributos. Dito de outra maneira, a
Cósmica deve ser sempre associada aos veículos que ela utiliza Consciéncia Cósmica é perfeita em si mes.ma, e esta perfeigáo
para se manifestar, qual seja a simplicidade ou a complexidade absoluta impregna da mesma forma todos os seres viventes. Sua
destes veículos. Na Terra, eles variam desde a menor criatura imperfeigáo aparente reside no fato de que cada um deles nao
viva até a mais elaborada: o ser humano. exprime sénáo uma parte mais ou menos grande dos atributos
da Consciéncia Cósmica que os anima, e que é esta tomada de
Podemos entáo dizer que é a Consciencia Cósmica que incita consciéncia que é mais ou menos limitada.
os seres viventes a evoluir rumo á perfeigáo de sua própria natureza.
E gragas a ela que eles percebem seu meio e reagem as condigoes Na Terra, o homem é a criatura viva que tem a possibilidade
exteriores que encontram em seu meio evolutivo. Sob seu impulso, de exprimir melhor a grandeza da Consciéncia Cósmica. Ela
eles atraem o que está em harmonia consigo e fazem uso daquilo se manifesta nele em trés planos principáis de consciéncia.
que íhes proporciona um certo bem-estar físico. Inversamente, eles Em primeiro lugar, ele percebe seu meio por intermédio da
repelem aquilo que os perturba ou aquilo que possa representar consciéncia objetiva, a qual comporta um aspecto puramente
uma ameaga para sua integridade. Nesse sentido, podemos dizer objetivo e um aspecto subjetivo. O primeiro diz respeito aos
impulsos ou as mensagens que nós recebemos por meio dos
que a forma viva mais elementar demonstra inteligencia, pois a
nossos cinco sentidos físicos, a saber, a visáo, a audigáo, o tato,
Consciencia Cósmica que habita nela a impulsiona a manifestar
o paladar e o olfato. O segundo corresponde as faculdades
da melhor maneira os atributos divinos que sua natureza, por mais como a razáo, a memoria e a imaginagáo. Em segundo lugar,
primitiva que seja, lhe permite exprimir. o homem é dotado de um subconsciente que dirige e controla
Na medida em que evolui, ou seja, ao passo em que se as fungóes involuntárias, torna possíveis as agóes voluntárias
adapta progresivamente ao meio e conforme o dominio que e harmoniza o funcionamento de todas as nossas faculdades
exerce sobre si próprio, todo ser vivente, por mais elementar psíquicas. Em terceiro lugar, o homem possui em si a Cons­
ciéncia Cósmica, em seu estado mais puro.
que possa ser, desenvolve um maior e melhor manejo dos
atributos que a Consciencia Cósmica pode manifestar por
meio dele. Assim,. gragas a ele, esta Consciencia enriquece ela
Com efeito, os tres planos de consciencia aos quais acabo mais elevados quanto possíveis. E se é fato que náo podemos
de me referir form a m urna unidade no homem. No entanto, ascender á Consciencia Cósmica, ao menos pela consciencia
náo é senáo através do subconsciente que podemos acessar a objetiva, esta deve ser náo obstante orientada o mais
Consciencia Cósmica na sua expressáo mais perfeita. Por isso frequentemente possível na dirégáo de atividades construtivas.
devemos aprender a conhecer a nós mesmos e a penetrar no Náo é senáo nesta condigáo que podemos cruzar os portáis
mais profundo de nosso ser. Progressivamente, é preciso qué do nosso subconsciente para atingir finalmente a Consciencia
nos elevemos para além do plano objetivo, a fim de utilizar
Cósmica. Assim entáo, o objetivo último da nossa evolugáo
nosso subconsciente como intermediário entre nosso eu hu­
espiritual é reconstituir o fluxo da Consciencia Cósmica que
mano e o Plano divino. Esta elevagáo interior corresponde a
um contato com o que há de mais sublime em nós, a saber, a corre em nós e nos elevarmos, a partir do mundo ilusorio, de
Perfeigáo divina encarnada no homem. Nesse último nivel, sua expressáo terrestre até a pureza de sua Fonte divina.
podemos comungar com aquilo que a Consciencia Cósmica Em conclusáo, direi que assim que um ser humano logrou
pode nos transmitir de mais puro. Nesse momento, os limites experienciar a Consciencia Cósmica, ele se conscientizou do
do tempo e do espago sao superados. Existem apenas a Trans­ Cósmico ou, se vocé preferir, do Divino. Esse estado de reali-
cendencia, a Imanéncia e a Permanencia.
zagáo é aquele ao qual aspiram todos os místicos em geral e
todos os rosacruzes em particular. Ele é o píncaro da evolugáo
É impossível descrever precisamente o estado que resul­
ta de urna comunháo com a Consciencia Cósmica, pois ela do homem através do longo ciclo de vidas terrenas. De fato,
transcende todas as impressóes inerentes ao mundo terrestre. ele corresponde ao estado de consciencia que todo individuo
Ademáis, se tal comunháo unge efetivamente a alma humana deve um dia ou outro experienciar. Tendo conseguido, ele náo
num océano de perfeigáo, isto nao significa que se trate da está mais fadado a se reen carn ar na Terra. Para ascender a esse
Perfeigáo absoluta. Por tal experiencia, o homem ascende ao plano, será preciso ainda muito aprender. Por muito tempo,
nivel de compreensáo mais elevado o qual pode atingir estando urna vida sucederá a outra. Más um d ia...
encarnado, mas mesmo nesse nivel ele náo comunga senáo
com um dos aspectos desta Perfeigáo. Acrescentarei que este
estado sublime é temporario, pois é impossível permanecer em
tal plano de consciencia.

E importante cómpreender que o ser humano, isto é, cada


um de nós, deve sérvir a Consciencia Cósmica aprendendo
a se servir déla. Por isso, é importante dirigirmos nossos
pensamentos e nossas agóes para os centros de interesse
Tomada de posigáo

Tomada de posigáo absolutos, mas este mundo ainda está longe. Teremos todos
muitas encarnagóes pela frente até que o que chamamos de “a
stamos numa época de transigáo para a humanidade. idade de ouro” se torne realidade, o que exige, naturalmente,

E Urna tomada de consciencia se opera, certamente


bastante incompleta e imperfeita, mas algo de novo
foi esbogado. Infelizmente, isto parece se efetuar pela dor, e
o futuro do mundo ainda é bastante incerto. Podemos prever
que nao tenhamos destruido a Terra até lá.

Sempre me considerei um cidadáo do mundo, e esse senti-


mento foi reforgado ao longo dos anos, sem dúvida gragas as
os acontecimentos, predizer as catástrofes ou pressentir o minhas numerosas viagens e encontros. E um sentimento forte
que a humanidade ainda vai conhecer ou vivenciar? Prefiro e que muito exalta, e gosto de pensar que minha alma vibra
nao responder estas questóes, e convido vocé a reler ou a em uníssono com o mundo todo. No Manifestó Rosacruz,
descobrir o Positio Fraternitatis Rosae Crucis, manifestó que a ao qual venho de me referir, é tratada a “universalizagáo das
AMORC publicou em 2001 em ámbito mundial. Este texto consciéncias”, e esse sentimento, partilhado certamente por
é urna constatagáo sobre o estado de nossa sociedade, mas milhóes de humanistas e de espiritualistas, deve se reforgar.
também um alerta, pois o ser humano dispóe sempre de seu E sem dúvida devido a este processo estar em curso✓que tan-
livre arbitrio. Nao somos joguetes de urna forga obscura ou tos conflitos se abatem sobre nossa humanidade. E o eterno
luminosa. Nosso destino está em nossas máos, tanto no plano combate do mal contra o bem, do obscurantismo contra o
individual quanto no coletivo.
vanguardismo, da regressáo contra a evolugáo. Certamente,
estas proposigóes vao lhe parecer bem clássicas e pouco ¿no­
Vocé certamente eré que é difícil, quigá impossível, agir,
vadoras por serem muito evidentes, mas me parecem muito
pois sempre que urna voz justa se eleva, logo é forgada a se ca­
importantes para justificar sua repetigáo.
lar, ou mesmo pior. Assim ocorre com frequéncia, e enquanto
responsável mundial pela AMORC, falo por experiéncia pró-
pria. Apesar disto, nao devemos nos desmotivar, porque deve­ A humanidade passa por grandes transformagóes geopo­
mos continuar a agir segundo nossas condigóes. A primeira e líticas e por importantes mudangas sociais. Ideias que acredi-
mais importante agáo é certamente a espiritual. Devemos nos távamos desaparecidas ressurgiram com forga, ao passo que
esforgar para permanecer positivos e orar por nosso planeta e outras que pensávamos estarem estabelecidas para sempre
por seus habitantes. Certamente, nos mantermos positivos nao caíram por térra. Cada nagáo viu suas próprias crises ou re-
nos deve impedir de estar lúcidos perante a situagáo, e devemos volugóes, tanto políticas quanto culturáis. Tudo é conhecido
mesmo aceitar que as vezes a verdade pulveriza nossos sonhos e revelado. O que se passa num país, mesmo distante muitos
e nossas ilusóes. Os “gentis” e os “justos” nao ganham sempre, milhares de quilómetros do nosso, nos é conhecido e nos diz
ao menos num primeiro momento. Todos nós sonhamos com
um mundo melhor, onde o amor e a fraternidade reinaráo
respeito. Os meios de comunicagáo, cada vez mais ilimitados, agente do socialismo internacional etc. Nada disso, por certo,
modificaram muito as mentalidades. Seguramente, esta aber­ tem qualquer sentido, e eu afirmo que o que faz a forga da
tura é suficientemente positiva, mas nao estamos, apesar disso, AMORC é que, apesar e contra tudo, ela sempre defendeu
obrigados a ceder aos aspectos negativos que a acompanham. seu direito á neutralidade política. Essa forga pode também se
revelar como sua falibilidade, pois alguns de seus inimigos a
As pessoas solicitam com fxequéncia minhas opinióes atacam com virulencia, aceitando mal seu apolitismo. Mas se
sobre temas atuais, e desejariam, as vezes, que eu as desse isso náo ocorre com relagáo a este assunto, certamente ocorre
acerca desta ou daquela decisáo governamental; isto em vários de toda forma em outros.
países. A AMORC é apolítica e seus dirigentes nao tém, em
nenhum caso, o direito de tomar posigáo acerca de assuntos O que constitui a riqueza dos seres humanos é sua dife-
ligados á política. O fato de a Ordem Rosacruz ser apolítica renga. Ninguém pode pensar exatamente a mesma coisa nem
nao implica que seus membros nao possam se engajar provar os mesmos sentimentos. E por isso que é importante
politicamente e aplicar seu livré-arbítrio nesse dominio. insistir na “tolerancia”. Pessoalmente, tenho amigos de todas
Cada um é livre para pensar e agir como melhor lhe convier, as tendencias políticas. Isto náo me causa qualquer problema,
segundo suas convicgóes, suas próprias experiencias, seu porque se temos ideias diferentes nesse dominio, temos muitas
meio, sua profissáo etc. O que os membros da AMORC nao em comum em outros, e isso é o essencial. O que acabo de
podem fazer é propaganda para esta ou aquela agremiagáo dizer a respeito da política é válido para inúmeros assuntos, e
política próximo a pessoas com as quais se relacionem no aquilo que deveria ser dito neste comego do século XXI está
ámbito de suas atividades rosacruzes. Eles também náo estáo no “Positio”. Eis aqui um excerto deste manifestó com relagáo
no direito de exigir que seu Grande Mestre ou qualquer ao assunto que venho de evocar: a política.
outro responsável tomem partido ou explicitem suas opinióes
políticas pessoais. “A/o tocante á política, consideram os que é im perativo que ela
se renove. D entre os grandes m odelos do sécu lo XX, o marxismo­
Desde o comego do século XX, inúmeros disparates fo- -len in ism o e o n a cio n a lsocia lism o, baseados em postulados
ram ditos a respeito da AMORC por individuos, grupos ou sociais pretensam ente definitivos, levaram a uma regressdo da
governos que recusavam qualquer referencia a Deus ou, ao razáo e finalm ente, á barbárie. Os determ inism os correlatos com
contrário, que estavam sob a influencia de autoridades reli­ essas duas ideologías totalitárias contrastaram fa ta lm en te com a
giosas intolerantes e poderosas. Por vezes foi qualificada de necessidade de autodeterminaqáo do Ser H umano, traindo assim
movimento capitalista de tendencia extremista, ou mesmo de seu direito á liberdade e escrevendo, no m esm o golpe, algum as
rede anticomunista, ou, ao contrário, de partido anarquista, de das páginas mais negras da Historia. E a Historia desqualificou
a ambas, esperem os que para todo o sem pre. Seja o que f o r que que a m aioria dos Estados dem ocráticos m anifesta facqdes que
se p en se disso, os sistemas p olíticos baseados num m onologism o, se opoem continuam ente e de maneira quase sistemática. Essas
isto é,, num pensam ento único, tem com freq u en cia em com um facqdes políticas, gravitando o mais das vezes em tom o de uma
o fa to de im porem ao Ser H umano ‘urna doutrina da salvaqáo’ maioria e de um a oposiqáo, náo nos parecem mais adaptadas as
que se presum e libertá-lo de sua condiqáo im perfeita e elevá -lo a sociedades m odernas e desaceleram a Regeneraqáo da H uma­
um status ‘p aradisíaco'\ Por outro lado, a m aioria deles nao p ed e nidade. O ideal nessa matéria seria que cada naqáo fa vorecesse
ao cidadáo que reflita, e sim que creia, o que os assemelha, na a em ergen cia de um g o v em o que reunisse, todas as tendencias
realidade, a 'religióes laicas”’. amalgamadas, as personalidades mais aptas a dirigir os n egocios
do Estado. Por extensáo, fazem os votos de que um dia exista um
Ao contrário, correntes de pensam ento com o o Rosacrucianis­ G ovem o m undial representativo de todas as naqoes, do qual a
m o nao sáo m onológicas e sim dialógicas epluralistas. Em outras ONU éa p en as um em brido.”
palavras, encorajam o diálogo com outrem e fa vo recem as rela-
qoes humanas. Paralelamente, aceitam a pluralidade de opinióes Eis entáo o singular posicionamento político que deixo
e a diversidade dos com portam entos. Tais correntes se nutrem, para sua reflexáo. Minhas convicgóes pessoais (e eu as tenho)
portanto, de trocas, de interaqoes e m esm o de contradiqoes, coisa permaneceráo privadas. Contudo, nos elos democráticos e
que as ideologías totalitarias proíbem e se proíbem . E, aliás, p or fraternalmente universalistas que nos unem enquanto seres
esta razáo que o Pensamento Rosacruz sem pre f o i rejeitado pelos humanos, incito-lhe á votar a favor da política dó Amor uni­
totalitarismos, qualquer que fosse a sua natureza. Desde suas ori­ versal e a tomar partido do único ser que ó merece totalmente:
gens, nossa Fratemidade preconiza o direito individual de fo rja r seu Mestre interior.
suas ideias e expressá-las de m aneira totalm ente livre. Nisso, os
rosacruzes náo sáo necessariam ente livres pensadores, mas todos
sáo pensadores livres.

No estado atual do mundo, parece-nos que a dem ocracia con ­


tinua a sera m elhorform a de govem o, ó que náo excluí certasfra-
quezas. Com efeito, sendo toda verdadeira dem ocracia baseada na
liberdade de opiniáo e de expressáo, nela se encontram, geralm ente,
uma pluralidade de tendencias, tanto entre os govem antes com o
entre os govem ados. Infelizmente, essa pluralidade com frequencia
gera divisáo, com todos os conflitos que disso resultam. Assim é
0 Espirito Santo

O Espirito Santo Louis-Claude de Saint-Martin, pode ascender ao estado de


Novo Homem. E, portanto, nesse sentido alegórico que é
Contrariamente ao que se acredita ordinariamente, este preciso interpretar as palavras “INRF que foram grayadas
conceito nao é específico do Cristianismo. De fato, o Espirito sobre a cruz do Mestre Jesús, sendo estas letras a abrevia-
Santo constituí a terceira pessoa da trindade crista, mas nao se gao da frase latina “Ign e Natura R enovatur Integra”, a qual
trata senáo de urna aplicagáo particular de seu sentido esotéri­ significa “A natureza humana é inteiram ente regenerada p elo
co. Para compreendér bem a origem desta expressáo, é preciso Fogo d ivin o”. No seu contexto cristáo, ela indica que Jesús,
recordar que á palavra “Espirito” é habitual tanto no Antigo enquanto purificador e regenerador do mundo, veio a Terra
quanto no Novo Testamento. Todávia, ó sentido atribuido a para desvanecer os pecados de toda a humanidade e purificar
essa palavra difere conforme o caso, sendo esta diferenciado seu carma coletivo.
devida aos tradutores ou a urna vontade deliberada de variar
séu significado. Além das própriedades inerentes ao seu calor, o fogo é
igualmente urna fonte de luz, pois mesmo a menor chama
Nó Antigo Testamento, particularmente no Génese, está ilumina. Era, pois, natural que ele se tornasse o símbolo do
escrito: “O Espirito de D eusplanava sobre as aguas”. Conforme bem e da verdade, em oposigáo as trevas que representam o
o atesta um estudo comparativo das tradugóes latina, hebrai­ mal e o erro. Ele simboliza também a Luz divina e ó estado
ca e grega da Biblia, o termo “Espirito” (Spiritus, em latim) de consciencia atingido por quem recebe a Iluminagáo.,
corresponde, nessa frase, á palavra hebraica Ruah, e á palavra E precisamente por essa razáo que os messias, profetas e
grega Pneum a, as quais sao indiferentemente empregadas avatares sao sempre descritos como seres que contemplaram
para designar a Alma e o Sopro dé Deus. Ora, na Cabala, o Fogo divino ou que foram consumidos por ele. Um dos
o Sopro divino é definido pela expressáo “Ain Soph Aur\ exemplos mais significativos disto nos é dado na passagem
que significa “Luz Inefável”. Assim, de correspondencia em bíblica que relata como Deus apareceu a Moisés sob a forma
correspondencia, vimos a estabelecer urna relagáo entre a Luz de um arbusto ardente. Ademáis, na iconografía crista os
divina e o Espirito Santo. Com efeito, é neste sentido que o apóstolos est.áo frequente.meñte representados com urna
termo é empregado pelos Martinistas. flama sob suas caberas, simbolizando sua ilum in ad o pelo
Espirito Santo.
A relagáo que se éstabeléce a partir déla mesma entre a Luz
divina e o Espirito Santo permite compreender por que ele está Na origem, o Espirito Santo, entáo, reportava-se a Deus Ele
associado ao simbolismo do fogo na tradigáo judaicó-cristá. mesmo e designava a um so tempo a Luz que Ele infunde no
De fato, o fogo terrestre representa tradicionalmente o poder homem regenerado e o Sopro grabas ao qual Ele transmite essa
regenerador do Fogo divino, considerado como o agente de
transmutadlo grabas ao qual o Homem de Desejo, segundo
Luz. É precisamente por essa razáo que iniciados como Wil- atributo que faga dele um agente particular da Divindade e
lermoz, Boehme, Swedenborg e Saint-Martin o assemelham um instrumento de sua Onipresenga, de sua Onipoténcia
igualmente ao Verbo. Em virtude deste principio, o Evangelho e de sua Onisciéncia. A partir de entáo, é dever do iniciado
segundo Sao Joáo adquire uma outra dimensáo, porque po­ fazer um bom uso do que lhe foi transmitido e empregá-lo a
demos entáo transcrevé-lo da seguinte maneira: “No comego servigo de sua busca mística e de sua própria evolugáo interior.
era o Espirito, e o Espirito estava junto a Deus, e o Espirito era
Deus”. Essa transcrigáo permite melhor compreender por que É evidente que a Tri-Unidade crista encerra um sentido
a Divindade foi na sequéncia dividida em uma Tri-Unidade esotérico que transcende a nogáo antropomórfica de Pai, de
simbolizada no Cristianismo por Deus o Pai, Deus o Filho Filho e de Espirito Santo, considerado como a terceira pessoa
e Deus o Espirito Santo. Esta tríplice divisáo foi instituida dessa trindade. De um ponto de vísta esotérico, o Pai corres­
pelos padres da igreja crista por ocasiáo dos concilios de Ni- ponde ao Pensamento divino, o Filho ao Verbo divino e o
céia e de Constantinopla, que aconteceram respectivamente Espirito Santo á agáo divina. Em virtude deste principio, toda
em 325 e 381 da nossa era. Antes daquilo, o Espirito tinha o a Criagáo visível e invisível foi concebida, posta em movimento
sentido tradicional que lhe havia sido conferido no Antigo e mantida em atividade pelo Grande Arquiteto do Universo.
Testamento, ou seja, repetindo, o de Sopro divino. Esta obra tríplice se encontra, portanto, no homem, pois ele é
dotado de pensamento, de palavra e de agáo. E precisamente
Como venho de me referir ao Sopro divino, me parece por essa razáo que todos os escritos sagrados, sob uma forma
interessante precisar que os místicos sempre atribuíram duas que pouco difere, enunciam que “o hom em fo t fe i t o á im agem
fungoes complementares ao sopro. A primeira é de natureza de Deus”. O objetivo de sua evolugáo espiritual é precisamente
puramente fisiológica e consiste em expulsar dos pulmoes o tomar consciéncia disto e exprimir esta imagem no seu com-
máximo de gás carbónico, a fim de purificá-los e de regenerá- portamento cotidiano, a fim de regressar a seu estado original
-los. Esse é o objetivo de certos exercícios de respiragáo. A de Adáo Kadmon.
segunda fungáo do sopro tem uma dimensáo espiritual e
permite a concentragáo na esséncia cósmica contida no ar ou Em um de seus escritos, Willermoz resume perfeitamente
de focalizá-la na diregáo de um ponto determinado, o mais esse ponto de vista. Ele diz efetivamente: “O prim eiro dos
das vezes no ámbito de uma experiencia mística particular. poderes operantes em Deus é o Pensamento ou Intenqáo divina,
Assim sendo, em certas cerimónias religiosas e em diferentes que cria, con ceb e e executa n ele m esm o todos os seus planos de
rituais iniciáticos, o sopro é utilizado para transmitir ao can­ emanaqáo e de criaqao. Ele é o prim eiro agen te de manifestaqao
didato um influxo particular e conferir a ele uma qualidade, da Unidade. Nós o cham am os Pai d e todas as coisas e atribuim os
uma autoridade, um sacramento, um poder ou qualquer outro a ele especialm ente a Onipoténcia.
O segundo p od er é a Vontade divina, segundo agen te das m a- A relaqáo dos centros particulares com o centro universal é o
nifestaqoes da Unidade. Ela é o Verbo e a expressáo da Intengáo Espirito Santo; a relaqáo do centro universal com o centro dos
divina. E p or isso que a cham am os o Filho único do Pai e atri­ centros é o Filho; e o centro dos centros é o Criador todo-poderoso.
buim os a ela especialm ente a Sabedoria infinita que conhece. Assim, Deus o Pai cria os seres, seu Filho Ihes com unica a vida e
esta vida é o Espirito Santo”.
O terceiro p od er é a Aqáo divina propriam ente dita, o Grande
Fiat, que com anda e opera a perfeita execuqáo de todos os planos Conforme as explicagoes precedentes, o Pai, o Filho e o
d e criaqáo e d e emanaqao espirituais con cebidos no Pensamento Espirito Santo correspondeni as esferas de atividade que sáo
do Pai e adotados e determ inados pela Vontade do Filho. Nós a proprias de Deus Ele mesmo e que, por consequéncia, trans-
cham am os Espirito Santo, pois éla é verd a deram en te o Espirito cendém
/
a Criagáo.t E por isso que essas tesferas náo figuram
y
da Unidadé divina e de todos os seus poderes reunidos”. na Arvore Senrótica. Quandó nos referimos a essa Arvore,
constatamos que, efetivamente, as tres emanagóes superiores,
Em sua obra intitulada O H om em de D esejo, Louis-Claude procedentes diretamente do Pensamento, da Palavra e da Agáo
de Saint-Martin evoca igualmente o simbolismo do Pai, do divinas, correspondem a Kether, Hochmah e Binah. Ora, essas
Filho e do Espirito Santo. Eis o que ele escreveu acerca disto: tressephirot, mesmo constituindo o mundo superior, fazem já
parte do mundo da manifestagáo. Elas designam os atributos
“O Eterno, todo-poderóso Criador, cujo pod er infinito se es­ de Deus ou, mais exatamente, as leis maiores pelas quais Ele
ten de sobre o universo dos éspiritos e dos corpos, con tém em sua se manifesta no mundo invisível. Assim, Kether designa a
im ensidade uma m ultidáo in con tável de seres que Ele emana, primeira de suas emanagóes, considerada como o principio an­
quando assim o deseja, para o exterior do seu seio. Ele dá, a cada drógino da Criagáo. Hochmah representa a segunda e designa
qual desses seres, leis, p receitos e com andos que sáo tam bém p o n ­ o principio masculino. Quanto a Binah, a terceira emanagáo,
tos d é reuniáo desses diferentes seres com esta grande D ivindade. simboliza o principio feminino. Sáo estes tres principios que
encontramos na origem de tudo o que existe, tanto no plano
A correspondencia de todos os seres com o Ser é táo absoluta material quanto no plano espiritual.
que nenhum esforqo desses seres seria capaz de obstruí-la. Eles náo
podem jamais, fazendo o que quer que faqam, sair do círculo onde A questáo que podemos formular é por que Jesús, segundo
fora m colocados, e cada ponto que percorrem desse círculo náo a tradigáo cristá, está aparentado com o Espirito Santo. De
saberia deixar de estar um só instante sem relaqáo com seu centro. fato, no Novo Testamento, é dito com frequencia que ele é
Por razoes ainda mais fortes, o centro náo saberia jam ais cessar de “a encarnagáo do Espirito” ou “aquele pelo qual o Espirito
estar em junqáo, com unicaqáo e relaqáo com o centro dos centros. se fez corpo”. Na mesma ordem de ideias, ele é quálificado
de “Puro Espirito” ou de “Espirito Luminoso”. Se for assim, A solidáo
pensó que é por ser considerado como tendo sido o avatar
mais perfeito que a humanidade conheceu no decurso de suas uantas vezes ouvi pessoas que, ao se confidenciarem
sücessivas eras evolutivas. Dito de outra maneira, este Mestre
é possivelmente o único a ter realizado o estado de conscien­
cia mais elevado que o homem pode alcangar no fim de suas
encarnagóes. Segundo esta mesma ideia, foi a expressáo viva
Q ^
a mim, disseram-me: “Sinto-me só”, “Sofro de
solidáo”, “Sinto-me excluido de tudo”, “Náo me
ou “Fui abandonado” etc.

do Verbo divino, também chamado de expressáo do próprió Sendo extrovertidos ou introvertidos, náo vivemos a solidáo
Espirito de Deus. da mesma maneirá. Algüns dizem qué éla náo existe, outros
que nos habituamos a ela. Pessoalmente, quando crianga,
Ao íóngo dos períodos de meditagáo, podemos invocar o conheci urna forma de solidáo náo tendo nem irmáos nem
Espirito Santo que é o Sopro divino que purifica, regenera, irmás, sendo, portanto, mais interiorizado.
inspira e ilumina todo ser. Se o fizermos sinceramente e na
esperanga de que esse Sopro nos penetre o corpo e a alnja, nós Mas há muito tempo as coisas mudaram, e sou feliz por ter
receberemos a cada vez um influxo espiritual que nos elevará agora urna grande familia, ou melhor, duas grandes familias,
interiormente, mesmo se náo estivermos conscientes disto. póis sou filho da Rosacruz e por isso tenho milhares de irmáos
e irmás, amigos e companheiros de estrada. Nunca estou
sozinho. Vocé pode ter esse mesmo sentimento se vocé tem
consciéncia de que pertence á grande familia da humanidade.

A palavra “solidáo” tem por origem latina solitudo. Nó


dicionário, a solidáo é descrita da seguinté maneira: “Situagao
de urna pessoa que se encontra só m om entáneam ente ou p or longo
período. A solidáo é um estado de abandono ou separagáo o qual
sente o ser hum ano fa c e as consciencias hum anas ou á socied ad e”.

Na vida cotidiana, a solidáo pode ser um grande sofrimén-


to, —o maior deles —,póis ela é as vezes consequéncia de um
drama, de um abandono, de um obstáculo ou da separagáo
temporaria ou definitiva de um ente querido. O célebre poeta
francés do século XIX, Alphonse de Lamartine, escreveu: “Um
único ser Ihe fa lta e tudo está d eserto r.

Há pessoas que éstáo verdadeiramente isoladas e outra.s ventura etc. E possível, e náo duvido disso mesmo porque
que, apesar de vários encontros no dia-a-dia e de um círculo conhego casos. Mas, no entanto, essa solidáo pode mascarar,
de convivencia consequente e presente, sentem-se terrivel- em alguns casos, um mal estar ou mesmo uma inclinagáo
mente sos. Esse isolamento moral é, portanto, psicológico, e aquilo que chamamos “depressáo” ou uma noite negra per­
é imperativo náo se render a ele; nao construir, entre nós e manente. Se, além disso, esta solidáo é acompanhada pelo
os outros, paredes invisíveis sem porta nem janela. Por certo, siléncio, ela pode confirmar o que acabo de dizer. Por certo,
imaginamos que os muros protegem, mas esse náo é o caso. este náo é sempre o caso, e é verdade que a fala excessiva e a
Pelo contrarió, sem saída para o exterior, eles nos su foca m exteriórizaqáo demasiada podem também ser o síntoma de
interiormente, nos impedem de liberar nossas émogoes e nós um grande sentimento dé solidáo. ou de um vazio interior.
confinam numa atmosfera malsá, nociva e nefasta á nossa
saúde moral e física. “Quando eu disse: ‘a solidáo ésa n ta , náo con ceb í a solidáo
com o um a separaqáo ou u m ■esquecim ento com pleto dos
“Nossa língua sabiam ente sentiu os dois aspectos ligados ao hom ens e da sociedade, mas sim com o um recolhim ento
sentim ento de sé estar só. Ela criou a palavra ‘isolam ento’ onde a alm a p od e se encerrar nela mesma. ”
para exprimir a dor de estar sozinho e a palavra ‘solitu d e’ A lfred d e .V ig n y

para exprimir a gloria de estar sozinho’V


Pa u l T il l ic h E notorio que é preciso ser uma boa companhia para si pró-
prio, mas disto náo está excluido sé-la também para os outros.
Podemos constatar que aqueles que se comprazem Vocé poderia me responder alegando que os seres humanos
numa profunda solidáo raramente sao felizes, comunicativos e estáo, em geral, longe de serem individuos fácilmente tratáveis
abertos aos outros. Certamente, vocé me dirá, eles podem sim- ou agradáveis, e que seus defeitos, muito frequentemente ma­
plesmente ser contemplativos ou meditativos, imersos em pén- nifestados, sáo, para vócé, mais uma fonte de desentendimento
samentos profundos. A maneira deles, eles podem também ser e sofrimento do que de interesse e felicidade.
muito felizes, ter uma grande riqueza interior, bastar-se em sua
De onde vem esse sentimento de solidáo que experi­
mentamos, e que nos leva com muita frequéncia a dizer que
1 Trata-se evidentemente de uma tradugao da língua francesa, á qual se
estamos sempre sós? Seria porque, ao nos encarnarmos, dei-
refere o autor nesta citagao. As duas palavras em questao sao isolement
e solitude , cuja palavra correspondente em portugués empregamos xamos a contragosto a grande Alma universal, uma familia?
no sentido de expressar o sentimento náo-negativo de se estar só, em Seria porque nossa máe biológica, nos expulsando de seu
detrimento de “solidáo”. (N. do T.) corpo, nos obriga a tornarmo-nos, em alguns segundos, seres
independentes, doravante sos e langados á descoberta de um um profundo sentimento de solidáo. Assim será por muito
outro universo? Ou será o peso das responsabilidades e dos tempo, certamente: isto faz parte de nossa natureza humana;
devéres que nos incumbem enquanto individuos manifestos? isto está ligado ao nosso ego.

“É na soliddo que estamos menos, sós. ” Vocé, que lé estas reflexóes, lembre-se que náo está só!
L o r d B yro n

“H oje m e darei um tem po para fica rsó. Me darei um tem po


Assim que traspassamos um obstáculo e superamos uma para estar calm o. Neste silencio, h ei de escu tar... e de ouvir
provagáo, ficamos orgulhosos por haver logrado o éxito sem minhas respostas.”
a ajuda de outrem. Com frequencia, uma proeza individual R u t h F ish e l
é mais bem vivida e percebida do que um sucesso coletivo.
Sem cess.ar, de nossó nascimento á nossa morte, reaparece ésse
principio de individualidade ao qual se soma o de respon-
sabilidade e, amiúde, o de culpa. Certamente, este último
pode ser coletivo e estar ligado a uma nagáo ou a um grupo,
mas no mais das vezes ele nos é próprio.

Para voltar a esse sentimento de solidáo o qual todos pro-


vamos em vários níveis, podemos constatar que ele nos ocorre
com mais frequencia nos momentos difíceis, ñas penas e
ñas dores. Ele é acompanhado de um sentimento de incom-
preensáo da parte dos outros, da impressáo de náo sermos
reconhecidos pelos atos e tarefas logradas, de nos debatermos
sós e de nao sermos apoiados nem socorridos. Em suma, de
estarmos sós, muito sós, carrégando um fardo pesado, quando
náo “toda a miseria do mundo”.

Se sentir incompreendido pelo outro ou pelos outros ou,


conforme as expressóes populares, “pregar no deserto”, “náo
ser ouvido mesmo gritando” etc., deixa no coragáo do homem
A harmonia

A harmonía disso, quem quer que seja belo interiormente o será também
exteriormente, e isto mesmo a déspeito de suas imperfeigóes
A título de intródugáo, direi que a harmonía é irmá da físicas, pois a luz que emana do mais profundo de seu ser lhe
fraternidade, tal como a podemos conceber e viver nó cotidia­ dá entáo um brilho e um magnetismo que transcendem sua
no. De maneira geral, ela corresponde ao estado de consciencia aparéncia exterior. Inversamente, nada pode mascarar a feal-
o qual se vive quando se está em paz consigo próprio, com dade interior, porque ela tránsparece sempre, mesmo numa
os outros e com a natureza. Isto faz supor que a harmonia pessoa que alguns possam qualificar de “bela” físicamente. De
integra tres níveis de expressáo, ao mesmo tempo diferentes toda maneira, náó é o corpo que deve se constituir em objeto
e complementares. de culto, o que infelizmente acontece muito ñas sociedades
modernas e materialistas, mas sim a alma que o anima.
Estar em harmonia consigo é, primeiramente, aceitar-se
como é físicamente. De a co rá o com todas as evidencias, pos- Sentir-se bem em seu corpo náo basta para estar em har­
suímos um corpo físico o qual podemos considerar mais ou monia consigo. E preciso igualmente aceitar a si tal como é
menos bonito, no sentido plástico do termo. No entanto, náo no plano intelectual. Com frequéncia aconteceu-me de con­
há nenhum criterio absoluto de beleza física. Com efeito, este versar com pessoas qué sofriam por náo haver feito grandés
tipo de beleza corresponde únicamente as hormas estipuladas estudos e que se desculpavam por “nao ser outra coisa sendo
pelos próprios homens. Ora, essas normas sáo arbitrárias é, operários”, para citá-las. Contudo, o fato de ter um intelecto
no mais das vezes, náo sáo outra coisa senáo o reflexo de um poderoso, ou de ser culto, náo constitui nem um objetivo em
modo ou de urna corrente de pensamento. Ademáis, elas náo si nem tampouco urna garantía de indulgencia ou mesmo um
tém importancia senáo para aqueles que vivem em fungáo das critério de evolugáo espiritual. A prova é que muitos erudi^
aparéncias, o que traduz urna concepgáo superficial, para nao tos sáo materialistas co n v icto s e nao hesitam em dispor sua
dizer artificial, da existencia. Assim, náo podemos ser felizes ciéncia a servigo do mal. Além do qué, náo sáo nossas máos
a longo termo se fizermos da beleza física o fundamento da as mais belas e sofisticadas das ferramentas? Assim sendo, o
felicidade, pois ela corresponde á parte mortal e transitoria que haveria de mais nobre e precioso que saber usá-las para
de nosso ser. criar coisas úteis á nossa existéncia e á dos outros?

Do ponto de vista rosacruz, o mundo das aparéncias náo Para os místicos, o que faz o valor de um ser humano
tem valor se náo refletir a realidade divina que nos anima e a é a inteligéncia do córagáo, ou seja, a vontade de por suas
qual temos por dever exprimir por meio de nossos pensamen- capacidades, quer sejam intelectuais ou manuais, a servigo
tos, nossas paiavras e nossas agóes. Isto significa que devemos de outrem. Ora, todos temos talentos e aptidóes que pódem
nos preocupar antes de tudó com nossa beleza interior, porque
apenas ela é importante no plano da evolugáo espiritual. Além
contribuir para o bem comum. Por consequénciá, o melhor Efetivamente, táó logo o fazemos, óu julgamo-nos inferiores
meio de estar em harmonia consigo consiste, por um lado, ou nos estimamos superiores. No primeiro caso, temos por
em náo se culpar por aquilo que ignoramos ou que náo sa­ resultado um complexo de inferioridade que vai ao encontro
bemos fazer, e por outro em dividir os conhecimentos que de nossa paz interior. No segundo, nosso ego é inflado e nos
tenhamos adquirido ou o saber-fazer que possuímos. Agindo póe em oposigáo as aspiragóes mais puras de nossa alma. Em
assim, cultivamos em nós a convicgáo de sermos úteis aos ambos os casos, o resultado é um estado de desarmonia. Para
outros e de bem fázér, o que se traduz por um sentimento de evitar essa desarmonia, o melhor é partir do principió que
alegría interior e de boa consciencia. Logo, este sentimento cada um de nós é um ser único e que é esta unidade que faz
é precisamente o característico de toda pessoa que se esmera nosso valor,

tanto aos olhos de Deus quanto aos olhos dos
em exprimir o melhor de si mesma, sendo feliz em ser o que homens. E, entáo, a nós mesmos que devemos nos comparar
é nos planos físico e mental. a cada dia, a cada més e a cada ano, pois ai está a chave da
nossa evolugáo espiritual. E se pudermos adormecer a cada
Assim, portanto, náo é possível estar em harmonia consigo noite nos dizendo “Fui m elhor do que ontem \ entáo teremos
seríao se amando enquanto individuo, isto é, enquanto alma dado um novo passo na senda da harmonia.
evoluindo dentro de um corpo. Naturalmente, esse amor
por si náo deve se assemelhar ao do egocentrismo ou o da Vejamos entáo o que podemos dizer a respeito da har­
vaidade. Este consiste simplesmente em ser um amigo para si monia que devemos cultivar com os outros. Primeiramente,
próprio, o que implica ser indulgente com nossas imperfeigóes é evidente que o homem náo foi feito para viver só, isolado
e nossas fraquezas, desde que elas náo comprometam nossa dos seus semelhantes. Vocé notará ainda que ele sempre
própria integridadé ou a de outrem. Nessa ordem de ideias, viveu em grupos desde sua aparigáo sobre a Terra. Se esse
há muitas pessoas que se apégam a esta ou aquela coisa Ou é o caso, é porque sua natureza profunda sempre o incitou
que se culpam por isto ou por aquilo. Essa atitudé é negativa, a procurar a companhia de outros, primeiro para responder
pois faz destas pessoas inimigos de si próprios e as mantém a uma necessidade de seguranga e depois para satisfazer
num estado de discordancia interior. No entanto, isso além um desejo de afeto. Esse instinto gregário é sempre muito
de nada poder mudar dos acontecimentos pregressos sobre os poderoso e explica hoje a existéncia das familias, dos povo-
quais se lamenta, ainda envenena sua visáo de futuro e lhes ados, das cidades, dos países e das nagóes. A humanidade
traz frequentes agruras. em si resulta do fátó de que os homens jamais cessaram de
perpetuar sua própria espécie e de expandir a influéncia de
Creio verdadeiramente que o melhor meio de se estar em sua raga e de seu grupo de nascenga. Nisso, ela forma um
harmonia consigo consiste em jamais se comparar aos outros. único e próprio corpo.

[861 [871
Por razóes evidentes, é primeiramente no seio de nossa para que a harmonia reinasse entre todos os seres e todas as
familia que devemos cultivar a harmonia com os outros. De nagóes. Por certo, há uma tendencia a privilegiar o interesse
fato, se somos incapazes de cultivar relagóes harmoniosas com de sua raga, de seu país, de sua classe social e de sua religiáo,
nossos cónjuges, nossos filhos, nossos irmáos e irmás etc., se for o caso de seguir alguma. E infelizmente essa tenden­
parece difícil, se náo impossível, ser um instrumento de paz cia o porqué de tantas guerras qué pontuaram a historia
entre os homens. Certamente, podem acontecer desacordos da humanidade. Apesar disso, os homens sáo destinados
com nossos próximos, mas estes desacordos nunca devem a se amarem e a fazer da Terra o paraíso ao qual aspiram
se transformar em relagóes de forga, dando lugar a palavras
no mais profundo de si mesmos. Isso implica em ter um
ou atos malfazejos, posto que temos muito mais razóes para
amar aqueles que nos amam do que lhes fazer mal ou lhes comportamento tolerante com relagáo a todas as ragas, todas
causar infortúnio. as nacionalidades, todas as classes sociais e todas as religióes,
o que torna a nos dar o exemplo de uma mentalidade e de
Se é verdade que devemos nos empenhar em preservar uma moralidade universais. Tais devem ser nossas métas,
a harmonia na nossa familia, é certo também que devemos nosso papel e nossá vocagáo desde o momento em que nos
cultivá-la em nossas relagóes sociais e profissionais. Isso náo declaramos humanistas e em que desejamos trabalhar para
é sempre fácil, pois as vezes nos confrontamos com pessoas o advento de um mundo melhor.
desagradáveis. Mas, se este for o caso, procuremos náo estar
na origem da discordia, porque isso constituiría uma falta a Acabo de dizer que a Terra estava destinada á tornar-se
nosso dever e implicaría em nosso próprio carma. E assim que o paraíso ao qual todos os homens aspiram mais ou menos
formos confrontados a uma situagáo discordante, procuremos conscientemente. Isso me leva a abordar o tercéiro e último
re-harmonizar o ambiente por meio de pensamentos, palavras nivel ao qual a harmonia deve se aplicar, a saber, a natureza
e agóes positivas em oposigáo aos pensamentos, palavras e propriamente dita. Primeiramente, me surpreendo ao cons­
ágóes negativas dos quais fórmós as vítimas ou as testemunhas.
tatar que certos “místicos” consideram que a ecología é um
Sáo necessárias ao menos duas pessoas para se alimentar uma
relagáo de forga. Uma vez produzida, seja com um colega de assunto sem qualquer relagáo com a espiritualidade. Para
trabalho, um vizinho ou um desconhecido, recusemo-nos a argumentar esse nón-sense eles afirmam que os Mestres e os
ser o segundo polo déla. Dito de outra maneira, apelemos á Iniciados do passado jamais abordaram esse assunto ém seus
nossa vontade para náo nos tornarmos o segundo ponto de ensinamentos, ém suas preces ou seus sermóes. Tal argumento
um triángulo de discordia. é destituido de sentido. Efetivamente, é evidente que se Moi­
sés, Buda, Jesús ou Maomé, para citarmos apenas alguns dos
Todo individuo deveria se sentir um cidadáo do mundo e Mestres, jamais se referiram a isso, é simplesmente porque
se comportar como tal. Da mesma forma, deveria orar e agir esse problema náo existia em sua época. Isso náo quer dizer
absolutamente que os homens de entáo respeitavam o meio se os homens sáo os seres mais evoluídos de nosso planeta,
ambiente mas, ao menos, náo tinham os meios de destruí-lo é únicamente porque se situam num ponto mais avangado
com tanta gravidade como hoje. dessa evolugáo. Mesmo assim, eles náo constituem senáo
um elo da corrente que a vida forjou desde que se manifés-
De um ponto de vista místico, a Terra é o templo da hu­ tou na Terra, há tantos milhóes de anos. Acrescentarei que
manidade, assim como nosso corpo físico é o templo da nossa eles sáo as criaturas mais frágeis dessa corrente, pois seráo
alma. Náo respeitá-la, náo preservá-la e náo protegé-la resulta os primeiros a desaparecer se os equilibrios naturais forem
simplesmente na destruigáo do suporte de nossa evolugáo rompidos. Como quer que seja, náo temos nenhum direito
individual e coletiva. E também aniquilar urna obra-prima sobre os reinos ditos “inferiores”. Ao contrario, temos muitos
da Criagao, pois cada um é capaz de admirar a harmonia e a deveres com relagáo a eles.
beleza de tudo o que ela produziu. Nisso, ela é efetivamente
a Máe de todos os seres vivos que a povoam. Infelizmente, Aplicada á natureza, a harmonia consiste entáo em
e como todos sabem, os homens a puseram em perigo pela considerar toda criatura viva como urna extensáo de nós
ignorancia, pela negligencia ou pelo interesse. A poluigáo mesmos, pois a fraternidade deve incluir todos os seres que
dos solos, das águas e do ar, o desmatamento intensivo, a a vida pos no mundo. Pensó notadamente nos animais, que
exploragáo excessiva dos recursos naturais ai estáo para dar os homens exterminam por razóes mercantis, ou os quais os
testemunho disto. Ora, é evidente que se nada for feitb num homens sujeitam a toda sorte de sofrimentos injustificados,
plano mundial para remediar os males múltiplos dos quais seja em nome de tradigóes bárbaras, por razóes puramente
padece o nosso planeta, ele estará condenado a morrer em mercantis ou numa aplicagáo de urna concepgáo arcaica da
urna lenta agonía, e todos nós teremos urna grande parcela ciencia. Mas a Terra faz parte de um conjunto infinitamen­
de responsabilidade nessa tragédia. te mais vasto, no caso o universo. Independentemente das
leis físicas que presidiram sua formagáo, há alguns bilhóes
Mas sejamos confiantes, e apostemos no que há de melhor de anos, ele é obra dessa Inteligéncia universal e absoluta
no homem. Ao mesmo tempo, sejamos nós mesmos exemplos a qual chamamos “Deus”. Como é sabido, ele é composto
de respeito cóm relagáo á Terra e tudo o que ela contém. Náo de bilhóes de galaxias que contém elas mesmas bilhóes de
esquejamos jamais que ela é o veículo da Alma universal tal estrelas, algumas délas constituindo o centro de um sistema
qual ela se manifesta entre os diferentes reinos da natureza. solar comparável ao nosso. Tal constatagáo mostra ao mesmo
De minha parte, é evidente que a consciencia humana é o tempo a grandeza e a pequenez do homem. De fato, com­
produto de urna evolugáo milenar que é feita através dos parado á Criagáo e mesmo á Terra em si, ele é totalmente
vegetáis, dos animais e depois dos homens eles mesmos. E insignificante. Mas enquanto encárnagáo do Verbo divino
e enquanto alma viva, ele é consciente de si mesmo e tem Avante com alegría!
a capacidade de contemplar e de estudar o cosmos. Nesse
sentido, é o homem que confere ao universo a sua grandeza, e a alegria é um conceito natural e fundamental no
sua beleza e sua razáo de ser., Assim, somos ao mesmo tempo
atores e espectadores da harmonia cósmica, pois permitimos
a Deus contemplar-Se através de nós, e nós nos aproximamos
Dele estudando Suas obras.
S Orienté, o mesmo náo se aplica, infelizmente, ñas ditas
sociedades ocidentais. Chamada Ananda na India, ela
faz parte da busca espiritual dos habitantes daquela parte do
mundo.

Para resumir, direi que a harmonia inclui o amor próprio, Buda é representado na maioria das vézes rindo óu sor-
pelo outro e pela natureza, que sáo para o homem encarnado rindo. Quando nos encontramos na presenga de uma de suas
os tres nívéis de expressáo do Amor universal. Assim que esses representagóes, seja uma pintura ou uma escultura, olhando
tres níveis forem parte integrante da nossa personalidade e de seu semblante iluminado de alegria, o sorriso nos vem natu­
nosso comportamento, viveremos em ressonáncia perfeita com ralmente aos labios. Ele nos comunica sua alegria.
o Deus de nosso coragáo e conheceremos a Paz Profunda. De
todas as evidencias, é esta divina ressonáncia que lhe desejo de Na mitología egipcia, Osíris diz ao defunto: “Destes a a le­
toda minha alma, pois é nela que residem a fonte da felicidade gría? Encontrastes a alegría?”. Isso atesta a importancia deste
e a chave da Iluminagáo. estado, póis ele é levado em conta no momento de pesar a
alma, no momento de fazer o balango da vida que se termina.

Como venho de me referir ao Oriente, e mais particularmente


á India, permita-me citar estas palavras de sabedoria de Má
Ananda Moyi, cujo nóriie significa: “Impregnada de alegria”.

“O Ser suprem o é alegria encarnada e é p orq u e todas as


criaturas aspiram a alegria. P rocurem sem pre viver em alegria,
exprimir a alegría em seuspensam entos e em seus atos; sintam sua
presenga ju bilosa em tudo o que veem ou escutam ; isso vos trará
uma felicid a d e real. A tristeza é fa ta l ao hom em ; elim inem -na
de vossos pensam entos”.

Ser alegre náo é ser indiferente ou irresponsável; é sim­


plesmente ser positivo e mesmo reconhecer naturalmente
perante a vida o que ela nos traz de melhor; é deixar exprimir estado negativo, por aqueles que se flagelam e se torturam
nossa verdadeira natureza humana, nosso ser interior, nosso físicamente ou moralmente etc. Contrariamente aquilo que
eu profundo. eles pensam talvez, estas pessoas, por sua atitude, estáo longe
de comprazer a Deus; pelo contrário, elas Lhe ofendem e
A alegría auténtica náo é superficial; ela vem da alma e do insultam a vida e a natureza.
coragáo. Ela é espontánea. Se o prazer é mais frequéntemén-
te associado aos aspectos materiais e físicos da existencia, a Associando esse conceito de alegría as provagóes, quero
alegría é vinculada as vibragóes mais sutis e mais místicas. E dizer simplesmente que ela pode nos permitir superá-las,
assim que, em certos escritos sagrados, a palavras “beatitude” melhor cómpree.ndé-las e nos elevar acima délas. A verdadeira
é normalmente empregada, e também assim sáo representados alegría interior é o reflexo de uma atitude positiva perante os
os santos e santas: sorridentes e cóm o semblante iluminado. problemas, e ela pode transmutar bem as coisas, sobretudo
esclarecendo-as sob outro ángulo. Ela é “alquimia”.
A alegría é companheira do amor. Também sejamos nós
um sol para os outros e conheceremos a alegría pura, pois A alegría acompanha nossos esforgos e nos dá coragem.
um córagáo ensolarado pode iluminar o mundo. Enchamos Ela é criadora é é uma parte da Divindade que habita em nós
nossa casa e nossa vida de alegría. Saibamos sorrir e rir e, por desde nossa primeira respiragáo. Ela está presente por tudo e
nossa atitude e nosso exemplo, compartilhemos essa alegría. pode se manifestar a qualquer momento.
Sejamos como a pequeña crianga que, sem racionalizar, nos
oferece seu sorriso e manifesta sua felicidade de comunicar, Ela pode ser a audigáo de uma música ou de um cántico,
através do olhar, o coragáo e a alma. um reencontró ou o compartilhar de uma descoberta. Ela pode
inundar todo o nosso ser numa meditagáo. Podemos cruzar
A alegría á qual me refiro náo está associada a um pra­ com ela num jardim, numa estrada e mesmo num leito de
zer efémero, embora ela possa sé-lo. Podemos encontrá-la, hospital ou numa prisáo.
conhecé-la e vivé-la em todas as circunstancias da existencia,
mesmo ñas horas sombrías que atravessamos inevitavelmente A alegría pode ser durável ou furtiva; ela é “o instante”, um
de nosso nascimento á nossa morte. olhar na diregáo das estrelas, a satisfagáo de um trabalho bem
feito ou a quietude de um momento de repouso.
Certamente, isso náó quer dizer que o sofrimento seja
sinónimo de alegría, e náo tenho nenhuma admiragáo pelos A alegría é a liberdade de espirito, de pensamento, de pala­
mártires voluntários, por aqueles que se comprazem num vra e de agáo. E posto que Séneca disse: “a verdadeira alegría
é serena', entáo, enquanto rosacruz, eu direi: “a alegría é Paz Invocando rosacruz
Profunda”.

Amparados pelas asas da alegría, alcemos nosso voo e, com


ela, ganhemos a félicidade.

“A dormecí e sonhei que a vida nao era nada senáo alegría. Deus do m eu coraqáo; Deus da m inha com preensáo.
D espertei e vi que a vida era trabalho. Trabalhei e vi que o tra-
balho era alegría.” Sei que Tu és a origem do universo, da natureza e do próprio
T agore
hom em , mas ignoro o que Tu pensas e o que Tu sentes.

Desde que Tua existencia se im pós a mim, procuro com preender


as leis pelas quais Te manifestas p o r en tre os planos visível e in-
visível da Criagao.

Tua luz resplandece no mais profundo de m im e clarifica con ti­


nuam ente minha consciencia na senda do bem.

Tua vida anima m eu corpo e fa z d ele o tem plo que minha alma
escolheu para lograr sua evolugáo espiritual.

Teu am or ju stifica minha existencia e suscita em m im o desejo de


am ar todos os m eus irmáos humanos.

Que Tu possas con ced er-m e a vontade de m e aperfeigoar em p en -


sam ento, em palavra e em agáo, a fim d e que eu m e tom e, nesse
m undo, um agente da Tua sabedoria.

Que assim seja!


Humildade, dignidade, coragem

Humildade, dignidade, coragem A humildade é uma virtude com frequencia mal compre -
endida e é importante que nos esforcemos para definir seu
humildade, a dignidade e a coragem sáo tres valores alcance. De fato, a humildade nao deveria ser difícil de obter

A frequentemente evocados em conversas. Diz-se que


“nao podem os fa la r bem senáo daquilo a que cón hecem os
bem \ ou que “aquilo que se con ceb e claram ente se expoe clara­
m en te”. Minhas reflexóes pareceráo, talvez, carecer de clareza,
por toda pessoa que, estudando atenciosamente as ligóes da
vida, se desse conta, á medida que progride, que ela ainda tem
muito a aprender. Qualquer que seja o grau de evolugáo que
tenhamos atingido, devemos ter consciencia que um longo
pois náo ousarei dizer ter adquirido essas tres virtudes, mesmo caminho ainda há para percorrer e, supondo que tenhamos
tentando, em meu comportamento, chegar délas táo mais assimilado perfeitamente tudo o que constituía as etapas pre-
próximo quanto possível. A corágem me faltou muitas vezes, gressas, devemos prevenir o espirito que uma vida náo basta
mas eu também com ela falhei em determinadas circunstan­ para expressarmos nossas capacidades.
cias de minha existencia, e lamento isso. Quanto á dignidade,
certamente me esforcei por dar prova déla, mas ai também A humildade deve, pois, ser exercida no tangente ao nosso
vejo que falhei por ignorancia, inexperiencia ou impaciencia. avango no caminho da evolugáo, e devemos estar atentos. Náo
devemos jamais, em nenhum momento, dar a impressáo que
Quanto á humildade, sob risco de lhe fazer brotar um sorriso tenhamos chegado a um estado de “realizagáo”, nos permi-
pelo paradoxo, creio déla ter sempre dado prova. Ao menos, tindo ostentar uma atitude superior. Assim que chegamos ao
é uma qualidade que mé atribuí meu circuló de convivencia seio de um grupo de pessoas, num meio diferente daquele
e aqueles que me conhecem há muitos anos. Desse fato náo o qual acompanhamos habitualmente, seja ele profissional,
colho qualquer mérito, pois isso se deve, sem dúvida, a uma cultural, místico etc., plenos de nossas convicgóes é de tudo
forma de timidez, a uma aversáo pelo mundano e ao meu aquilo que pudemos aprende^ náo tentemos afirmar nossos
gosto pelas coisas simples da vida. Mas se deve também ao fato conhécimentos e irnpor nossas ideias. Colocar seu saber a
que, quando era bem jovem, pude constatar os danos que o servigo de outrem é certamente útil, interessante e positivo,
orgulho pode produzir. Na minha vida rosacruz, e enquanto
mas existe uma medida precisa em tudo, e é com o coragáo e
Grande Mestre e depois Imperator da AMORC, vi vários de
o espirito humildes e prontos para receber que devemos nos
meus irmáos e irmás caírerti sem jamais sé levantar, e amigos
partindó e traindo suas promessas por nao terem atentado ao engajar e agin E essencial que nos consideremos perpetua­
aspécto negativo daquilo a que chamamos o “ego”. E, mais mente como estudantes, e nunca como mestres, pois este é
ainda, fui com tanta frequencia ofendido que a humildade um estado que náo podemos nos atribuir e que náo poderia
naturalmente se impós a mim. Eis-me entáo a fazer o elogio ser reconhecido senáo pelos seres muito maiores do que nós.
da minha humildade, mas das tres virtudes que evoquei seria Nossa responsabilidade com relagáo a isso é, portanto, muito
adequado me atribuir uma, senáo poder-me-iam reprovar por
ser falsamente humilde!
importante náo apenas face aos outros, mas também face a refiro a ele, é porque ele me parece um bom exemplo daquilo
nós mesmos, aqueles que nos precederam e a Deus. que pode ser a aliangá de humildade e servigo.

Provemos nossa humildade em nosso trabalho espiritual, A propósito da humildade, Serge Toussaint, Grande Mestre
mas também em nossa vida cotidiana, em meio aos outros. da jurisdigáo francófona da AMORC, escreveu estas frases:
É táo difícil medir nossa pequenez com relagáo á grandeza “Náo som os senáo urna poeira estelar na im ensidáo do universo,
divina? E o que somos nós individualmente, a sós com nós urna gota d ’água no seio do gran de océan o cósm ico. Assim sen­
mesmos, no conjunto de nossos irmáos e irmás humanas, onde do, se é verdade que som os táo p ou co enquanto pessoas, a alma
quer que se encontrem sobre a superficie da Terra? Jamais a encam ada em nós dá a cada um o p od er de refletir a Sabedoria
individualidade transcendeu a multipliridade. Jamais, desde divina e de ser um agente de suas obras entre os homens. Mas a
que estamos neste plano físico, ela autorizou urna superiori- única m aneira de lograr esse fe ito consiste precisam ente em ad­
dade sobre os outros, em qualquer dominio que seja! Somos quirir a hum ildade, virtude que traduz p or si só um certo grau
um elo de urna imensa corrente e devemos nos lembrar disso. de evolugáo. ”
Devemos ter consciencia de que estamos lado a lado com ou­
tros buscadores, mas também juntos daqueles que náo foram A essa citagao eu desejaria acrescentar que na ordem celes­
ainda atraídos pela luz. te náo existe inferioridáde. Devemos fazer tudo o que está a
nosso alcance para eliminar de nós mesmos o ego, ao menos
Geralmente náo refletimos o suficiente sobre tudo aquilo no seu aspecto negativo, também dito o elemento que nos
que devemos ao nosso meio e aqueles que o compóem. Sem separa daquilo que nos é exterior. O mau emprego de nosso
eles, o que seríamos? Qual seria nossa razáo de ser e como ego náo pode consolidar os elos que nos unem aos outros.
poderíamos servir, isto é, cumprir a tarefa mais nobre que pode Bem ao contrário, ele é segregativo e está na origem de nos-
ser conferida a um ser humano? Ao redigir estas linhas, me sos maus julgamentos, de nossas críticas negativas e de nossa
vem á mente a lembranga de um grande humanista já fale- auto-avaliagáo com relagáo aos outros, sendo que esta tende
cido, o Abade Pierre, francés, europeu e, sobretudo, cidadáo naturalmente a sempre nos favorecer.
do mundo. Ele encarnou durante várias décadas a trilogia:
humildade, coragem e dignidade. Este grande místico esco- Como compreender e amar, se assim estamos á mercé
lheu por suas competencias, seu entusiasmo e seu amor ao do jogo do nosso ego? Como também podemos supor que
próximo a servigo dos mais humildes. Sua reputagáo, assim progredimos no estreito caminho do conhecimento impessoal,
como a de Madre Teresa, atravessou fronteiras. Ele trocou se o resultado do nosso trabalho náo é mais do que urna
a sombra pela luz, mas sua mensagem permanecerá. Se me exaltagao do nosso eu objetivo? Ser humilde é também saber
nos esquecer de nós mesmos no nosso trato com os outros. E humanidade. Esta nogáo de humanidade, que permaneceu
considerar que, quaisquer que sejam nossa fiingao, responsa­ por muito tempo abstrata e a qual o escritor Victor Hugo
bilidades e nosso lugar na sociedade, somos e permanecemos imaginou “radiosa e reconciliada”, entrou para a historia como
servidores. É servindo a outrem que encontramos a nós uma congregagáo de todos os homens. Náo existe humanidade
mesmos e que realizamos nossa natureza interior, pois entáo sem humanos. Homens e mulheres sáo membros déla e toda
fazemos vibrar em nós a parte de nossa centelha divina em injuria feita a um só individuo é uma injúria feita a todos.
uníssono com aquela de todo ser vivo.
Ser digno náo significa, de nenhuma maneira, adotar um
A verdadeira humildade náo pode ser dissimulada. Ela comportamento indicativo de que nos sentimos superiores
náo pode se contentar com palavras. Ela é dinámica a ponto aos outros, em qualquer dominio que seja, e exprimindo
de quem se aproximar de nós ser capaz de percebé-la sem
uma forma de desdém com relagáo ao outro. A dignidade é
qualquer restrigao mental. “Doce e humilde de coragáo!”
um respeito a si mesmo e aos outros. Ela implica no dominio
Esta célebre injungáo nos lembra incessantemente de nosso
de nossas palavras e de nossos atos. Náo quero dizer com isso
dever. Mas a humildade é, sobretudo, um resultado de nossas
que se trata de adotar uma linguagem obsoleta, literaria ou
reflexóes, de nossas meditagóes e de nosso estudo daquilo a
que chamamos “As Grandes Verdades Eternas”. A humildade excessivamente intelectual. Porém, toda palavra pronunciada
é um ato de amor, talvez o maior, pois permite compreender deve ser correta e corresponder á ética de nosso tempo. Assim,
os outros, “ser” com eles e estar disponível para consolá-los, damos prova de respeito com relagáo aos outros tanto quanto
encorajá-los e ajudá-los em todas as ocasióes. a nós mesmos.

A humildade nada tem ,a ver com a fraqueza. Ela é, ao Certamente, nós podemos cometer erros e faltas, mas é
contrário, uma prova de coragem, pois necessita, ao menos preciso rápidamente nos dar conta deles, retificá-los e mesmo
no comego, um combate consigo mesmo e com o ser objetivo nos desculparmos. Ser digno pode ser também renunciar a
até que, tendo a certeza da presenga divina em nós, sejamos falar muito para dizer pouco, tomando cuidado para que esse
por natureza humildes em pensamento, palavra e em agáo. silencio náo seja interpretado como desprezo. É evitar formar
A humildade é a origem de muitas outras qualidades ou sobre quem quer que seja um julgamento negativo, pois somos
virtudes. E já que estas nos aproximam dos outros, também entáo rápidamente levados a pensamentos e palavras destrui­
nos aproximam dos principios de humanidade e dignidade. dores que, por certo, prejudicaráo náo só aqueles relacionados
como também a nós mesmos. Efetivamente, como poderíamos
Todos os seres dotados de razáo sáo convocados á conhecer a paz interior nos harmonizando com as vibragóes
mesma dignidade. Esta deve ser uma linguagem comum á de um nivel táo baixo, por exemplo, como o da maledicencia
ou o do insulto? Logo, ser digno é saber preservar sua calma Examinemos agora o último termo de nossa trilogía e ten­
e permanecer silencioso em certas circunstancias. temos definir assim alguns aspectos da coragem. A coragem
é forga; náo é agressividade. Temos o costume de comparar
Naturalmente, ser digno nao quer dizer que seja preciso
a coragem aquilo que náo é outra coisa senáo audácia, no
dar prova de covardia e recusar assistencia a outrem quan­
sentido restritivo do termo. Da mesma maneira, falamos de
do necessário. Inversamente, se em nossa presenga alguém
coragem a propósito de atos bélicos, de agóes empreendidas
for agredido física ou verbalmente, é nosso dever intervir.
contra outros ou de afirmagóes peremptórias que frequente-
Lembremo-nos de que náo somos perfeitos e que ninguém
mente náo sáo mais do que a expressáo de um eu exacerbado.
o é enquanto permanecer neste plano humano, limitado pelo
Coragem significa confianga e constancia, antes com relagáo
seu eu objetivo, suas tendencias e suas reagóes. Podemos supor
a si próprio. E preciso ser corajoso para se tomar uma decisáo
que aquilo que os outros nos fazem, nós mesmos fizemos ou
justa, mesmo se esta náo for, num primeiro momento, apre­
faremos, já que, segundo a lei das nossas sucessivas encarna-
ciada em seu justo valor. É preciso igualmente ser corajoso
góes, antes de ter dominado tal defeito ou tal fraqueza, nós
para tomar partido do fraco contra o forte e para defender
devemos sucumbir a elas. grandes ideáis. Mas é preciso também muita coragem para se
Se nós nos encontramos casualmente em uma situagáo tal engajar na via real do conhecimento e na senda mais ardua e
que nossas reagóes náo possam ser outras senáo negativas, geralmente bastante ingrata do servigo altruista.
pensemos em nos isolar mentalmente por alguns instantes
no “manto místico da sabedoria”, a fim de recobrar nossa Ser corajoso é também dar prova, dia após dia, de compai-
forga e de náo perder nossa dignidade. Enfim, velemos por xáo para com todos aqueles que sofrem. É progredir naquilo
nós mesmos e tomemos cuidado para náo pensar e agir de que julgamos como sendo o sum m um bonum , o bem supremo,
uma maneira que náo seja conforme aos nossos ideáis mais tal como o compreendemos e quaisquer sejam os obstáculos. A
elevados. Saibamos também nos mostrar dignos de nossas coragem nesse sentido déve ser acompanhada pela humildade
escolhas. Respeitemos tudo o que foi transmitido e tudo o que e pela dignidade.
aprendemos com os outrós ou por nossa própria experiencia.
Há muito por dizer sobre a dignidade assim como sobre a Mas a coragem comporta riscos. Este reside no excesso e
humildade, e essas duas qualidades devem regularmente ser nos resultados que se seguem a ele. Á guisa de exemplo, ter
objeto de nossas reflexóes e de nossas meditagóes. E claro coragem em nossas opinióes nos faz correr o risco de, se náo
que se vocé se entregar a um exame pessoal sobre esses dois tivermos cuidado, sermos levados á intolerancia e mesmo ao
pontos, chegará a uma conclusáo melhor do que essa a qual fanatismo. Nesse caso, a coragem pode ter por consequencia
acabo de mencionar. uma incompreensáo e uma reagáo negativa, e seu nobre
objetivo náo é entáo conquistado. A coragem implica, pois, Seremos receptivos as injungóes do nosso eu real e, assim,
na prudencia, e mesmo na circunspecto. Mas estaríamos nós cumpriremos a Vontade divina. Esta é sempre boa e visa,
de acordo com nossa definigao de coragem se, precisamente, sem cessar, o maior bem de todos e o de cada um, desde que
náo fóssemos corajosos para enfrentar os riscos implicados tomemos consciencia déla e que a deixemos se exprimir por
pela própria coragem e que se encontram no excesso de urna meio de nós.
qualidade?
Aprendamos o desapego e a náo nos deixar submergir pe­
Náo devemos jamais nos furtar de nossas responsabilidades, las circunstancias e condigóes deste mundo, nos lembrando
e é preciso portanto darmos prova de coragem. O que quer constantemente que em nosso coragáo, como nos coragóes de
que fagamos, fagamo-lo bem, e tenhamos sempre em mente todos os seres humanos, permanece para sempre um guardiáo
estas palavras: “Nada de quase!”. Nesse sentido, a coragem silencioso e vigilante: o Mestre interior. Ele é o elemento fun­
está também ligada ao esforgo e, portanto, ao trabalho, náo damental da centelha divina presente em nós.
apenas de maneira alegórica ou em referencia ao trabalho
interior que devemos cumprir nós mesmos a cada dia. Refiro- Concluirei, entáo, lhe desejando a humildade, a dignida­
-me ao trabalho cotidiano, material e profissional. As vezes de e a coragem em cada um dos seus pensamentos, de suas
é necessário darmos prova de vontade para suplantar nossa palavras e de suas agóes.
falta de dinamismo, nossa preguiga ou fadiga, legítima ou náo.

Gragas á coragem, podemos superar muitas coisas, e se nos


ocorre de faltar, reconhegamo-la e assumamos aquilo que nós
somos. Náo sejamos invejosos ou ciumentos do trabalho, da
forga, da perseveranga ou da inteligencia dos outros. Sejamos
conscientes dos limites de nossas capacidades e olhemo-nos
tal qual somos. Depois dessa análise, esforcemo-nos para
melhorar nosso comportamento. Nao nos deixemos ficar num
estado de preguiga e fraqueza, e tomemos no nosso íntimo a
vontade, irmá da coragem e da dignidade.
Sejamos humildes, sejamos dignos, sejamos corajosos!
Desta maneira, demonstraremos o nosso amor fraternal,
manifestaremos a nossa compaixáo e jamais estaremos sós.
A for^a
e um ponto de vista tradicional, dizemos que o homem

Deus é a Inteligencia universal quepensou, manifestou e ammou toda


a Criaqáo seguñdo leis imutáveis e peifeitas.
D foi criado á imagem de Deus. Ele recebeu, entáo, no
momento de sua criagáo, “a forga”. No plano mís­
tico, esta forga é sua aptidáo para concentrar cada um de seus
pensamentos, de suas palavras e de suas agóes na diregao do
Toda a Criaqáo está impregnada de uma Alma universal que evolui Absoluto divino. Ela representa o estado de consciéncia o qual
na direqáo da perfeigáo de sua própria natureza. denominamos de “estado Crístico”, de “estado Búdico” e de ou­
A vida é o suporte da Evolugáo cósmica, tal qual ela se manifesta no tros nomes mais. Pessoalmente, o chamarei “estado Rosacruz”.
universo e na Terra.
A torga á qual me refiro é perfeitamente ilustrada na narra­
A matéria deve sua existencia a uma energía vibratoria que se propaga tiva alegórica de Davi e Golias. Esta é uma profunda ilustragáo
em todo o universo e da qual cada átomo está impregnado. de seu poder. O jovem Davi, com a ajuda de um seixo, faz
O tempo e o espaqó sáo estados de consciencia e náo tem nenhuma tombar o gigante Golias, acertando-o mortalmente na fronte.
realidade material independente do homem. Quando sabemos que o futuro rei Davi simboliza o poder da
espiritualidade, neste conto, e Golias o poder da materialidade,
O homem é um ser dual em sua natureza e triplo em sua manifestaqáo. compreendemos melhor a que ponto o pensamento vence a
A alma se encama no corpo da crianqa no momento em que ela respira matéria. Isto mostra que a nossa forga náo deve ser aquela do
pela primeira vez, fazendo déla um ser vivo e consciente. corpo, mas sim a da alma.
O destino de todo ser humano é determinado pela maneira com que Encontramos uma outra ilustragáo deste principio na déci­
ele aplica seu livre arbitrio e pelo carma resultante disso. ma primeira carta do taró, onde a forga é simbolizada por uma
A morte se produz no momento em que o homem exala pela última jovem mulher a qual, apenas com suas máos, mantém aberta
vez e se traduzpela separaqáo definitiva entre o corpo e a alma. a boca de um leáo. E evidente que a forga aqui representada
nada tem de física. Ai também ela simboliza a supremacía da
A evolugáo espiritual do homem é regida pela reencamaqáo e tem por forga da alma sobre a do corpo. Isto náo significa que a ener­
objetivo último alcanqar a Perfeiqáo. gía corporal náo possa servir a alguma finalidade espiritual:
Existe um reino supra-humano, formado por todas as almas desencar­ exatamente o contrário. Com efeito, o corpo e suas fungóes
nadas que povoam o mundo invisível. servem de veículo á alma e lhe permitem evoluir no contato
com o mundo material.
Aofim de sua evoluqao espiritual, a alma de todo ser humano se rein­
tegra á Alma universal em toda a pureza e vive em plena consciencia
na Imanéncia divina.
Ao faJarmos, utilizamos os órgáos da voz para exprimir aptidáo de dominar aquiio que diz e faz, isto é, suas palavras,
aquilo em que pensamos. Nesse momento, requisitamos urna seus gestos e suas agóes. Agindo assim, ele coloca todo o seu
parte de nossa forga física. A melhor prova é que a intensidade ser a servigo da alma que evolui por meio dele e contribuí
de nossas palavras está intimamente ligada ao nosso estado positivamente para sua evolugáo espiritual. Essa tomada de
mental e emocional do momento. Assim, quando estamos consciencia é a chave mestra da verdadeira forga e do dominio
exasperados ou em cólera, temos a tendencia, conforme se diz de si mesmo.
familiarmente, de levantar a voz, isto é, de concentrar em nossa
voz urna forga maior do que a habitual. Ao contrario, quando Que. a forga esteja sempre em vocé e que ela lhe ajude a
estamos em prece, de urna maneira que náo mentalmente, as atravessar a vida com sucesso e serenidade.
palavras que pronunciamos se perdem num vago sussurrar.

A forga de nossas palavras reflete com frequéncia o nosso


estado interior, ou seja, o nosso estado de alma. O mesmo se
aplica aos movimentos que fazemos. Por exemplo, um ato
ritual nada tem a ver com um gesto de ira. O interesse desta
relagáo corpo-mente-alma reside no fato de que podemos agir
e reagir sobre nosso estado interior, observando a intensidade
da forga que manifestamos em nosso comportamento.

Para retornar ao exemplo da cólera, o fato de tomar cons­


ciencia de que falamos muito alto e que nossos gestos sáo
discordantes deveria nos incitar a agir mentalmente sobre
nós mesmos para nos acalmarmos. Infelizmente, por falta de
vontade e de mestria, náo é sempre que pensamos fazé-lo.
Inversamente, quando fazemos nossas preces ou meditamos,
nos devotamos a permanecer calmos e descontraídos, a fim
de estarmos receptivos interiormente.

Assim, creio que a forga do ser humano reside náo apenas


em seu poder de concentragáo mental, mas também em sua
/ B
Etica dos Rosacruzes
A felicidade
elicidade! O que é a felicidade? Vasta réflexáo que habita

Sé paciente, pois a paciencia nutre a esperanga e faz do tempo um


aliado na senda da vida.
F em nós desde nossa mais tenra idade até nosso último
suspiro. Todos aspiram a ela. Acreditamos náo té-la, nos
queixamos de sua ausencia e invejamos a dos outros. Acredita­
mos frequentemente que a felicidade é coisa para amanhá. E
Sé confiante, pois a confianga em si é uma fon te de plemtude, e a
confianga nós outros uma fon te de amizade. depois, n u m instante, som os tocados p or sua graqa, repousamos
na sua dogura, passamos a refléti-la e a éxprimi-la.
Sé comedido, pois a temperanga evita a queda nos excessos e busca a
serenidade. A felicidade é furtiva ou pode ser perene? Ela vem do exte­
Sé tolerante, pois a tolerancia amplia o espirito e favorece as relagoes rior ou do interior? Ela é possível de ser conseguida na Terra?
humanas. Essas questóes lhe sao formuladas assim como foram também
Sé desapegado, pois o desapego é uma garantía de liberdade e cultiva formuladas a niilhóes de seres humanos que nos precederam,
a riqueza interior. e aquejes que povoam hoje o n osso planeta. Essa nossa nogáo
de felicidade, a qual podemos definir como uma felicidade da
Sé generoso, pois a generosidade faz bem tanto a quem dá quanto a alma, do espirito e do coragáo, produziu interesse até mesmo
quem recebe. no meio científico. Recentemente, estudos foram coordena­
Sé íntegro, pois a integridade é a garantía de uma boa consciéncia e dos em diversas universidades na tentativa de compreender e
traz a serenidade. elucidar este grande misterio.
Sé humilde, pois a humildade engrandece aquele que déla dá prova e
lhe vale o respeito dos outros. Sabios, professores, doutores e especialistas em cerebro,
de diversos países e, por conseguinte, de enfoques diferentes,
Sé corajoso, pois a coragem constrói no cotidiano e fortalece na ad- chegaram a resultados comuns que váo ao encontro de mui-
versidade. tos aspectos da concepgáo rosacruz (e, portanto, mística ou
Sé pacífico, pois a náo-violéncia gera a harmonia interior e semeia a filosófica) da felicidade.
paz entre os seres.
Antes de fazer uma síntese destas pesquisas que julguei
Sé benevolente, pois a benevolénáa alegra o coragáo e embeleza a alma.
interessantes, gostaria dé submeter á sua meditagáo o seguinte
Se assim fores, poderás dizer de ti que és sábio, pois a sabedoria é a adágio: “R econhecem os afelicid a d e p elo ruido que ela fa z quando
aplicagáo destas virtudes. parte”. Assim, o conselho que lhe dou é para que ouga, veja
e viva a felicidade quando ela ai estiver. Viva e saboreie o
instante presente. A felicidade pode ser apenas para o agora, Múltiplos sáo os desejos dos homens, de maneira que náo
e náo únicamente para o amanhá. podemos nos questionar quanto á natureza da felicidade
sem refletirmos primeiramente sobre a natureza do desejo.
A felicidade é um estado de espirito; é preciso ter desejo de Todos sabemos que á felicidade náo depende únicamente da
felicidade e náo se sentir inapto para tanto. Muitas pessoas satisfagáo dos nossos desejos. Tenham consciéncia disto ou
recusam uma alegría, pequeña ou gra n d e, por medo de que ela náo, todos os seres humanos buscam a felicidade, náo como
seja passageira, efémera e fatalmente seguida de uma desven­ um objetivo acessório, mas como uma última finalidade aos
tura ou algo assim. Portanto, ao invés de se arriscarem a ficar olhos daquela outra aspiragáo completamente diferente e
tristes e decepcionadas mais tarde, por medo do sofrimento, aparentemente secundária. Algumas pessoas afirmam que
elas fecham seus coragóes e seus espíritos para a felicidade náo buscam a felicidade e sim a gloria, o poder e a riqueza.
que se aprésenta. Na réalidade, é exatamente a busca da felicidade o que as
motiva, pois mesmo que elas náo tenham consciéncia disto,
Este modo de pensar e de agir é negativo e fecha efetiva- é a própria felicidade que elas buscam através da gloria* do
mente a porta a toda alegria e felicidade. Já que a felicidade é poder e da riqueza. E ai entáo que precisamos ser vigilantes
antes de tudo um estado de espirito, ela pode ser relativamente e náo confundir a felicidade cóm a necessidade, o desejo ou a
frequente, mesmo durável, apesar das vicissitudes próprias da aspiragáo que tém a capacidade de nos deixar alegres.
cóndigáo humana, das experiencias e provagóes dolorosas,
Comparemos preferencialmente a felicidade á tranquili-
das desilusóes e das traigóes. A plenitude e o bem-estar, logo
dade da alma e consideremos que uma vida alegre repousa
a felicidade, podem habitar em nós, conforme disse anterior­
na serenidade interior. Nossa alma aspira á paz, e daí vem a
mente, com bastante frequéncia. Os temperamentos otimistas.
necessidade de buscarmos em nós mesmos o bem-estar. Sob
ou positivos náo sáo poupados pelos problemas ou suplicios
este ángulo, a felicidade é efetivamente a tranquilidade de
de qualquer natureza que seja, mas eles sabem mais do que
alma, este sentimento de felicidade que se assemelha de fato
os outros “dar a volta por cima”, se adaptar e transmutar
a uma arte de viver. Náo se trata de uma harmonizagáo oca­
üma situágáo negativa em uma positiva. Pessoalmente, náo
sional com a parte divina de nosso ser, mas de uma comunháo
é sempre que tenho esta capácidade, mas tenho a. sorte e a
constante, inscrita em nossa programado cotidiana. Podemos
felicidade de compartilhar minha vida cóm uma pessoa que
entáo afirmar que a felicidade deve ser buscada ñas atividádes
tem esta capacidade por dois ou mesmo maisí
da vida corrente e náo forá da sociedade.,
Certamente, felicidade e prazer náo devem ser confun­ Como dizia Sócrates, “a comparando do prazer com a fe li c i­
didos, mesmo sendo o prazer parte integrante da felicidade. dade conduz a uma vida superficial”. O homem pode tornar-se
escravo do prazer se buscar a felicidade por meio dele. Mas nao Se vocé faz parte daqueles que tém dificuldade em organi­
seria isto o oposto exato da felicidade? Desconfie, portanto, zar seus papéis, ordenar seus escritos e seus espíritos, faga urna
da procura do prazer por ele mesmo, pois esta busca pode análise da situagáo e julgue se a desordem que há a seu redor
conduzí-lo ao turbilháo permanente da insatisfagáo. Na rea- ou que habita sua mente contribui para sua felicidade ou, ao
lidade, este prazer náo é a felicidade, mas ilusao de felicidade. contrário, representa para vocé urna fonte de preocupagáo,
urna angustia e, portanto, um stress que com m uiu frequén-
Dado que a felicidade se assemelha a um estado de ple- cia lhe interrompe o caminho para a verdadeira serenidade,
nitude, supóe-se que deva ser vivida em harmonia com urna a Paz Profunda.
ordem estabelecida, isto é, em conformidáde com as léis que
regem o homem em particular e a natureza em geral. Este — O primeiro ponto náo está em contradigáo com o se­
estado nao pode ser alcanzado senáo por intermédio de nosso gundo, que é o seguinte: é preciso saber se contentar com o
Eu interior. A felicidade é, portanto, o perfume do nosso cora- aceitável. Dizemos continuamente que “aquilo que d eve ser
gao e a emogáo da nossa alma. Como um anjo da guarda, se feito , d eve ser bem fe it o ”. Isto permanecerá urna verdade eter­
assim o desejarmos, ela pode ser um companheiro de viagem, na, e somos geralmente habituados e convencidos do fato de
urna fonte de quietude é de serenidade. que é preciso ehipregar todos os récursos á nossa disposigáo
para atingir o melhor resultado, a exceléncia, quer seja no
Eis agora, em sete pontos e de maneira sintética, a visáo de trabalho ou em qualquer outra área. Mas é preciso reco-
alguns cientistas sobre a felicidade. Os membros da AMORC nhecer que este desafio deixa geralmente um sentimento de
constataráo que há muito de semelhante com a visáo rosacruz insatisfagao pessoal. Isto porque os ultraperfeccionistas sáo
das coisás. O primeiro ponto talvez possa lhe surpreender: com muito mais frequéncia infelizes do que felizes. Também
devenamos nos conscientizar das coisas, relativizar, medir e
— Foi observado que as pessoas que se dizem felizes sáo to­ definir nossas prioridades, pois um individuo que busca per­
das elas adeptas de um meio ordenado e próprio. Elas gostam manentemente a perfeigao náo pode mais se abrir á sensagáo
da ordem em seus lares e em suas cabegas. Ordenar nossos de felicidade da qual necessita para ser afortunado. Dito isso,
negocios, nossos papéis, nossa biblioteca etc., é como classificar é preciso acrescentar que conhego pessoas que náo sao felizes
nossas experiencias para tirar délas um melhor proveito. Sermos senáo na realizagáo absoluta e perfeita de um trabalho, seja
organizados e pontuais nos ajuda a nos sentirmos atores de ele intelectual, ou de outra natureza. Harvey Spencer Léwis,
nossa vida mais do que vítimas submissás. Isto vai ao encontro que foi Imperator da AMÓRC entre 1915 e 1939, em urna
de um adágio frequentemente empregado na AMORC: “Nao de. suas mensagens nos incita a investirmo-nos plenamente e
deixe para amanhd aquilo que v o cé pode fazer hoje”. sem reservas em urna agáo e num ideal, mas na condigáo de
realizá-lo perfeitamente. Entáo, para concluirmos esse ponto, nos faz descobrir paisagens diferentes, um novo encontro ou
díria que devemos dar o melhor de nós mesmos em todas as um simples passeio em uma cidade até entáo desconhecida.
agóes, mas náo a ponto de tornarmo-nos surdos e cegos ao A descoberta e o novo seriam, portanto, estimulantes para
mundo que está ao nosso redor. Em nossa determinagáo de a sensagáo de felicidade. Esta qüarta descoberta nos leva á
bem fazer, náo fechemos a porta á ventura, seja a nossa ou a quinta razáo que contribuirá para uma felicidade durável ou
de outra pessoa que nos seja próxima. quase: a atividade.

—Uma terceira condigáo é necessária para se viver a feli­ —O trabalho é também uma das principáis fontes de
cidade. Ela pode ser resumida da seguinte maneira: viver o satisfagáo e, portanto, de felicidade, póis é na atividade que
instante presente. Ai também a ciencia encontra a filosofía, experimentamos este quase mágico esquecimento de si. O
pois este principio é um dos preceitos de base do ensinamento tédio leva a depressáo. Logó, se vocé náo está mais na ida-
rosacruz. A felicidade é um encadeamento de pequeños pra- de de trabalhar, assim como o entende a nossa sociedade,
zeres que é preciso saber captar: apreciar o lado agradável de dedique-se a outras atividades benévolas. Vocé há de convir
cada instante, como se contentar de sentir o calor da água no que um investimento em uma causa altruista já é um grande
chuveiro, pela manhá, sem pensar em tudo aquilo que nos estímulo. Náo se prive disto, pois o auxilio a outrem é uma.
espera em nosso dia de labuta; aproveitar um raio de sol, o fonte incomparável de felicidade. A isto devemos acrescer
canto de um pássaro, o cheiro do páo fresco em uma padaria, um trabalho espiritual feito todos os dias e consagrado a essa
ou qualquer outra sensagáo agradável, inesperada e furtiva. intengáo, pois esta agáo é. também uma forma de entreajuda
Mesmo em um período tenebroso de nossa existencia, mesmo útil aos outros, além de ser estimulante.
na tormenta e no sofrimento, devemos aproveitar sem com­
plexos ou reservas o brilho de alegria que atravessa o nosso - Uma outra constatagáo foi feita. Ela diz respeito á idade.
céu, e aO qual podemos chamar, mesmo se náo durar mais Nos referimos geralmente á plenitude da velhice, e muitas
qué um segundo, de felicidade! pessoas com mais de sessenta anos se declarám mais felizes do
que eram quando jovens. Parece que com o tempo aprende­
—Especialistas realizaram experiencias e aparentemente mos a apreciar mais intensamente cada sensagáo de satisfagáo.
descobriram a regiáo do cérebro que influenciaría nosso bem- Portanto, se vocé é jovem, esforce-se, sem que seja necessário
-estar. Esta zona é ativada quando vivenciamos uma nova esperar a idade madura, para sempre ver o aspecto positivo
experiencia. Ora, a sensagáo de felicidade pode ser provocada de sua vida e as condigóes materiais e moráis ñas quais vocé
por tudo aquilo que nos faz sair da nossa rotina, como um evolui. Certamente vocé náo realizou ainda todos os seus
novo projetó de vida ou de trabalho, um trajeto diferenté que sonhos, mas orgulhe-se daquilo que vocé já logrou fazer.
— O sétimo e último ponto revelado por estes cientistas ten- O filósofo grego Aristóteles pensava que “a causa verda­
de a provar que o “milagroso remédio” contra a infelicidade, d era m en te determ inante da felicid a d e reside na atividade em
ou chave da máxima felicidade, seria a gentileza. Ah, sim, as con form idade á virtu de”. E verdade que nós nos referimos
pessoas que se dizem felizes sáo, em sua maioria, mais gen- amiúde á virtude. Aquilo que caracteriza uma virtude é que
tis, mais afáveis e mais generosas que as outras! A bondade, ela é um sinónimo de liberdade, desde que a pratiquemos.
a atengáo dirigida aos outros e a compaixáo seriam fatores Com efeito, quanto mais exprimimos virtudes em nossos
determinantes para se alcanzar a felicidade. Eu acrescentaria julgamentos e comportamentos, mais nos emancipamos e
que estes élans do coragáo náo devem se contentar em ser nos sentimos livres.
interiorizados, e depois rejeitados. Devem ser exprimidos e
manifestados concretamente. Comenius, eminente rosacruz do século XVII incitava
o homem a jamais se afastar de seu objetivo: a felicidade?
Eu o encorajo a fazer regularmente um pequeño balango. Harvey Spencer Lewis imaginava a felicidade ideal em um
A quem vocé fez o bem nos últimos tempos? Vocé conside- meio pacífico e amigável. Assim como Madre Teresa, cuja
alegria era magnífica, Irmá Emmanuelle disse: “Afelicid a d e
rou agradecer aqueles que lhe ajudaram? Cumprimentou
éfru ir sim plesm ente daquilo que tem os e daquilo que somos, sem
seu cónjuge, um de seus filhos, um vizinho ou um colega de
comparando com os outros, privilegiando as relagóes puram ente
trabalho? Agindo assim, vocé oferecerá um agradável instante
humanas. E vtver as trocas desinteressadas e dividir calorosam ente
de felicidade a outrem, e ainda contribuirá para seu próprio
com aqueles a nosso redor".
bem-estar. Náo dizemos que “a m aior alegría é aquela que
proporcionam os aos outros” ? Para concluir, direi que a felicidade incondicionalmente se
sitúa na aptidáo de amar cada ser e respeitar tudo aquilo que
Se estou resumindo estas quantas reflexóes, podemos dizer é vivo. Inspirados por tál amor, sentimos entáo nascer em nós
que a ciencia eré que a felicidade associa determinada zona do um único desejo, positivo e construtivo, ou seja, de utilizar
cérebro ao comportamento, e mesmo as maneiras de pensar nossos dons e nossos talentos para servir, ajudar, reconfortar,
que nos tornam felizes: sermos ativos, altruistas, viver o tempo guiar e procurar a paz. Vista por este ángulo, a busca que
presente, sermos ordeiros e organizados, aceitarmos as coisas, devemos empreender é simples, pois consiste em cultivar a
os acontecimentos e a idade com serenidade, e sobretudo serenidade e em desenvolver a inteligencia do coragáo. Isto
sermos gentis e amáveis. Ora, isto está muito próximo, e é faz supor que devemos manter pensamentos puros, que
mesmo similar, aquilo que os sábios em geral e os rosacruzes devemos dizer palavras uteis e cuidar para que nossas agóes
em particular preconizam desde sempre. sejam construtivas. Procedendo assim, permitimos á nossa
alma exprimir a sabedoria que lhe é inerente e contribuir para A sabedoria
a harmonia em nós e a nosso redor.
al como um archote, a sabedoria arde em nós e deveria
Esteja convencido de que é no mais profundo de nós mes­
mos que se encontra a fonte da felicidade. E se vocé segue o
T ilum inar cada um de nossos pensamentos, de nossas
palavras e de nossas agóes. Já me referí á sabedoria em um
adágio “C onhece a ti m esm o e conhecerás o universo e os deuses”, texto intitulado: “Aperegrinando in terior ’. Este texto figura
entáo, acredite-me, vocé conhecerá mais do que o universo e em meu livro “Assim S eja !”, editado em 1994. Perm ita-
os deuses: vocé conhecerá a felicidade! -me retomar um excerto dele, já que, em minha opiniáo,
ilustra bem minha percepgáo da sabedoria. Devo precisar
que este excerto se enderega mais particularm ente aos
rosacruzes.

“Ser sábio é conhecer com perfeigáo todos os aspectos


da dualidade humana e aplicar esse dominio a todas as
relagóes que estabelecemos com os outros. Portanto, é sábio
aquele que sempre mostra o caminho a ser seguido sem
nunca o impor, e que jamais faz pelos outros o que eles
mostram interesse em fazer por si mesmos. Sábio também
é aquele que sabe calar quando é preciso se contentar em
escutar, e falar quando pode e deve se fazer ouvir. O ver-
dadeiro sábio náo é aquele que fala bem da sabedoria, mas
aquele que faz falarem bem dele pela sabedoria de suas
agóes. De tudo que dissemos acima resulta que a verdadeira
sabedoria sempre ouve mais do que fala, fala menos do
que age, e nunca age sem ter antes refletido muito. Dar­
mos prova de sabedoria náo é querermos reformar o mal
que eremos ver nos outros, mas nos conformarmos ao bem
que estamos certos de perceber neles. A sabedoria tem por
missáo preservar a harmonia onde ela existe, e tudo fazer
para que ela se faga onde náo existe.
Empunhar a espada da sabedoria náo é uma fácil tarefa, percepgáo do estado Rosacruz em que sabedoria e Sábio sáo
mesmo para o maior dos cavaleiros. E grande a tentagáo que verdadeiramente uma só coisa?”.
ele tem de se acreditar sábio sob o pretexto de que traz consi­
go essa espada. Lembre-se de como “Excalibur”, a espada do Ora, o que eu dizia sobre a sabedoria me parece igual e
poder, partiu-se quando o Rei Arthur, por ignorancia e por constantemente uma verdade. No entanto, gostaria de precisar
orgulho, invocou seu poder mágico para matar o Cavaleiro algumas coisas. Muitos místicos confundem conhecimento e
Lancelot, símbolo de nobreza e idealismo. Foi só por causa de sabedoria. Conhecer é saber, e ser sábio é compreender e apli­
seu profundo arrependimento e de sua imediata e definitiva car aquilo que sabemos. Aguisa de exemplo, muitas pessoas
tomada de consciencia que a Dama do Lago lhe restituiu a leram várias obras e diversos textos supostamente sagrados,
espada da Realeza. O mesmo se aplica á espada da sabedoria. religiosos ou filosóficos. Mas quem pode afirmar que elas
Se a utilizarmos impunemente para satisfazer os desejos ilegí­ compreenderam e integraram tudo aquilo que esses escritos
timos de nosso ego, faremos déla um instrumento de demencia encerram? Como aplicar, entáo, em sua vida cotidiana, um
e de poder maléfico. Náo é por acaso que os antigos cabalistas saber incompreendido? O problema, em matéria de sabedo­
sempre fizeram a contraposigáo da loucura e da sabedoria em ria, é saber do que falamos e náo falar senáo daquilo de que
seus ensinamentos. estejamos certos de haver compreendido.

Como peregrinos-cavaleiros da Rosa-Cruz, devemos com- Isso deve nos levar a ser modestos, pois náo podemos jamais
preender, antes que seja tarde demais, o que a palavra “sábio” estar verdadeiramente certos da compreensáo que temos de
significa verdadeiramente. Para tanto, é preciso aprender alguma coisa. Neste sentido, é preferível colocar em prática a
por meio da iniciagáo que, assim como o hábito náo faz o cada dia uma qualidade única a qual integramos perfeitamente
monge, a espada, qualquer que seja, náo faz o cavaleiro. Ser do que falar como um livro de todas as virtudes sem sermos
portador da espada da sabedoria sem ser sábio assemelha-se a capazes de aplicar uma sequer. De fato, o objetivo do homem
contemplar a luz do dia com uma venda nos olhos. Só unindo náo é tanto adquirir conhecimento quanto colocá-lo em prática.
o poder cósmico da sabedoria as virtudes do sábio podemos
realizar o estado de Cavaleiro Rosacruz. Foi pelo fato de os Quando o Mestre Jesús ensinou aos homens que deveriam
antigos místicos haverem compreendido a necessidade dessa se amar uns aos outros, ele acrescentou que náo havia manda-
uniáo que falaram do Sábio dos Sábios. Talvez tenha sido mento superior a este. O que há de mais simples do que dizer,
pela mesma razáo que o Rei Arthur, após ter recebido a Ilu- ler ou escrever esta frase: “Amemo-nos uns aos outros”? Todos a
minagáo, gritou, apontando Excalibur para o céu: ‘Terra e Rei conhecem, mas quem compreende suficientemente sua esséncia
sao uma só coisa!’ Náo tinha ele efetivamente acabado de ter a para colocá-la em prática em sua vida cotidiana?
Quando refletimos sobre o sentido deste único preceito, Escutar, falar, comunicar
vemos que ele mostra o ideal de comportamento que todos
os homens alcangaráo um dia, mas que apenas alguns já ais do que nunca percebemos a importancia da
realizaram. Por outro lado, aqueles poucos que efetivamente
atingiram esse estado foram mais do que sábios. Cada qual
poderia ser chamado “Cristo”. Dado que o estado de sabedoria
deve ser necessariamente alcanzado antes do estado crístico,
M comunicagáo, tanto no plano individual quanto no
coletivo. Desde sempre, a historia da humanidade, e
portanto a nossa própria, foi pontuada por guerras, fanatismo
e agressóes de todos os tipos. Todos esses dramas e ressenti-
isto faz supor que há um mandamento mais fácil de ser se­ mentos tém sido frequentemente gerados pela recusa ou pela
guido pelos seres em evolugáo, que somos nós. impossibilidade de comunicagáo. Ora, sáo a escuta e a palavra
que dáo vida á comunicagáo.
Esse mandamento mais acessível para nós é precisamente
aquele que o sábio é capaz de observar, e creio que podemos Dentre os sentidos objetivos dos quais o ser humano é
exprimi-lo dizendo: “Compreendamo-nos uns aos outros”, dotado, a audigáo tem urna importancia capital. Quando
ou dito de outra maneira, aprendamos a nos conhecer e anos funciona bem, nenhum esforgo em particular é necessário
apreciar tal qual somos, já que náo somos ainda capazes de e os sons nos chegam fácilmente. Chega mesmo a ser difícil
amar o nosso próximo assim como a nós mesmos. Esforcemo- controlá-los, a ponto de poderem constituir urna agressáo.
-nos por aplicar esta compreensáo mútua em todos as nossas Ás vezes, as palavras se assemelham a ruidos ou a um fundo
relagóes humanas. Agindo assim, faremos muito mais por sonoro. Neste caso, nós ouvimos, porém náo escutamos.
nossa evolugáo e pela evolugáo do mundo do que lendo, sem
compreender, os mais altos preceitos cristáos ou outros. Para escutar e estabelecer urna comunicagáo com outra
pessoa, é preciso estar verdadeiramente disponível e atento.
Se conseguirmos viver este mandamento, náo por amar Nosso espirito náo pode vagar. Nossos pensamentos náo devem
todos os seres, mas por náo detestar nenhum deles, teremos, se dissipar, e nosso centro de interesse naquele instante deve
por nossa atitude, nos aproximado da grande e verdadeira estar limitado ás palavras de nosso interlocutor. Nossos ouvidos,
sabedoria. nosso espirito e também nosso coragáo devem estar abertos.

Se nos falta a atengáo ou se estamos distraídos, entáo náo


estamos realmente na escuta. Isso pode ser a origem de mal­
-entendidos e de incompreensóes, podendo engendrar urna
legítima vexagáo da parte daquele a quem náo escutamos.
Resumidamente, a escuta é um ato essencial que exige urna
atengáo particular e suficiente concentragáo.
A escuta é sutil e tem nuances que aprendemos a descobrir Se estamos na escuta, no sentido mais ampio do termo, náo
na troca. Esta troca entre os humanos é uma necessidade na­ apenas nos abrimos aos outros e ao mundo como também,
tura], prática e útil; ela preenche o espirito. Pode se tratar de para além das palavras, mesmo no siléncio, podemos ouvir
uma necessidade de informagóes ou de conselhos a dar ou a e compreender. Podemos captar a verdadeira natureza de
receber. Quer estejamos ou nao de acordo com as propostas nosso interlocutor e também suas intengóes. Através de suas
apresentadas, no ato da escuta, nós aprendemos. Consciente palavras, podemos encontrar a passagem que conduz ao seu
ou inconscientemente, uma parte de nós reage. coragáo e nos aproximar de sua personalidade profunda. Para
além das palavras pronunciadas e das emogóes manifestadas,
Nenhuma verdadeira escuta pode acontecer se náo ocorrer, a comunicagáo se transforma entáo numa auténtica troca, ou
entre aqueles que se comunicam, uma troca sincera e real. Isto melhor ainda, numa comunháo.
pressupóe, de inicio, uma vontade de compartilhar e de comu­
A escuta é proporcional á harmonia que se estabelece entre
nicar. E por isso que resulta difícil o diálogo sobre assuntos a
os seres, seja por uma conversagáo íntima entre dois individuos
propósito dos quais as opinióes divergem. A escuta torna-se,
ou num auditorio ampio, por exemplo entre um professor e
pois, sofrível, pois cada uma das partes está mais preocupada
seus alunos, um palestrante e seu público etc.
com a necessidade de fazer valer suas opinióes do que com o
desejo de escutar as da outra. A escuta pode ser mental, emocional ou intuitiva. No
primeiro caso, faz-se necessária a intervengáo da reflexáo e
No mais das vezes, aquilo que deveria ser um d iá lo go uma compreensáo objetiva daquilo que é dito. Assim sendo,
resulta numa discussáo, numa polémica ou mesmo numa cada palavra tem sua importancia e deve ser bem escolhida.
briga. Isso quer dizer que o homem deveria limitar-se a se
comunicar apenas com aqueles com os quais divide as mesmas No segundo caso, o da escuta emocional, a voz, os gestos
ideias? Náo, desde que ocorra verdadeiramente uma troca de e o olhar tém tanta importancia quanto as palavras pronun­
pontos de vista. ciadas. Silencios podem ser dolorosos, pesados, insuportáveis
ou mostrar desdém, e podem ser táo contundentes quanto
A experiéncia atesta que, com muita frequéncia, o diálogo as palavras. Inversamente, um sorriso, assim como um gesto
que se estabelece entre pessoas cujas concepgÓes nada tém amistoso ou terno, pode nos tocar e nos reconfortar tanto
em comum se transforma numa relagáo de forga onde um quanto uma bela frase.
tenta convencer o outro. Nessas condigóes, aquilo que deveria
tornar-se uma comunicagáo e uma permuta acaba resultando Por fim, em terceiro lugar, e talvez o mais importante, temos
num conflito entre egos diferentes. a escuta intuitiva. Esta toma forma na comunháo silenciosa.
Náo dizemos: “a palavra éprata e o silencio é o u r o ”? Nos con­ Se a escuta deve ser uma regra de ouro, o mesmo se aplica
ventos e monasterios, faz-se “voto de silencio”, mas as palavras á palavra. Esta é a expressáo verbal do pensamento e, assim
também tém sua importancia, visto que a leitura em voz alta como a escuta, é um suporte da comunicagáo entre os seres.
da Biblia lá é feita cotidianamente e que os cantos religiosos, Cotidianamente, por meio das palavras, trocamos ideias,
em latim ou náo, ressoam desde sempre sob as abobadas. exprimimos nossas necessidades, manifestamos nosso con-
tentamento ou desacordo etc. E por isso que todo individuo
Podemos considerar que siléncio e palavra sáo comple­ privado da fala tem dificuldades para se fazer compreender
mentares e igualmente necessários e importantes. Deve- pelos outros. Apesar disso, ele pode se esforgar para estabelecer
ríamos indubitavelmente seguir o conselho de M arian um contato além da fronteira verbal.
Edelman: “Aprendam a ser silen ciosos para ou vir o qu e há de
a utén tico em si mesmos, a fim d e ou vi-lo tam bém nos ou tros”. A linguagem que os homens utilizam hoje em dia difere
Ainda a respeito do siléncio, há pouco tempo, uma senhora daquilo que ela foi. Ela é resultado de uma evolugáo muito
muito sabia do meu círculo de convivéncia me disse: “Sáo longa através do tempo. Os especialistas no assunto dizem
necessários tres anos para se aprender a fa la r e toda um a vida que antes de se tornar um modo de comunicagáo, a palavra
para aprender a se ca la r”. era um meio de expressáo.
No comego, os sons e os gritos traduziam antes de tudo um
Para além dos sons, das palavras, dos gestos e dos olhares, a estado emocional e serviam para manifestar medo, alegria, có­
escuta nos permite, conforme eu já dizia, transformar a troca lera ou prazer. Náo foi senáo muito mais tarde que as palavras
em comunháo. A relagáo com o outro vai, portanto, além do vieram adicionar a eles a tradugáo de uma idéia. Além disso,
“boca á orelha” para se estabelecer de alma a alma. muitos sentimentos fortes remetem as palavras: “C onceder
ou retom ar a palavra”, “Náo ter senáo uma palavra”, “Trairsua
Todas as pessoas deveriam se consagrar á escuta da natu­ palavra”, “Respeitar as últim as palavras de um fa lecid o ” etc.
reza, do universo e do Deus de seus coragóes e a estabelecer
um diálogo entre seu eu objetivo e seu eu espiritual. Se vocé Desde o alvorecer da humanidade, a voz foi utilizada nos
está lendo estas páginas é certamente porque se interessa encantamentos, ñas invocagóes, ñas preces, nos mantras e
por filosofía e por aquilo a que denominamos globalmente mesmo ñas artes marciais. Os próprios rosacruzes, no decurso
“misticismo” ou “espiritualidade”. Nesse caso, é provável de seu trabalho, colocam em prática certos sons vocálicos.
que vocé trabalhe de maneira geral no seu aperfeigoamento,
e mais particularmente no cultivo da arte da comunicagáo, Sem entrar em explicagóes excessivas, podemos dizer que
desenvolvendo seu senso de escuta. os sons vocálicos veiculam uma energia física, psíquica e
espiritual que afeta a matéria e a consciencia. É por isso que livros seria necessário para reunir todas as referencias tradi-
os rosacruzes os entoam para agir sobre certos estados pato­ cionais, religiosas e culturáis sobre o tema da fala, da voz e
lógicos do corpo ou para despertar certas faculdades psíquicas das palavras.
latentes. Corretamente entoados, eles vibram em harmonia
com as forgas mais construtivas da natureza e do universo. Numerosas tradigóes se referem indiretamente á Palavra
Sua entoagáo permite, portanto, que nos beneficiemos da sagrada enquanto expressáo do Pensamento divino. O Verbo,
influencia positiva destas forgas. a Palavra perdida, a Língua dos deuses, o L ogos, o Ptah, a pará­
bola, a boa palavra e muitas outras expressóes sáo referencias
Se a palavra é a expressáo de nossos pensamentos e de nos­
suficientes a esse elo entre a divindade e a humanidade.
sas emogóes, ela é também, e antes de tudo, “vibragáo”. Ela
pode ser construtiva ou destruidora. Dito de outra maneira,
A voz pode ser a mais bela das músicas, e os cantos, sejam
ela pode engendrar a discordia ou restabelecer a harmonia.
eles primitivos, étnicos ou religiosos, sempre foram um meio
Urna palavra pode ferir ou reconfortar.
de comunicagáo entre os homens, mas também urna expres­
Quando escapa da boca, as palavras formam urna ponte sáo da alma. E por isso que nos tocam profundamente, nos
na diregao daquele que escuta. O mesmo acontece com a co­ emocionam, exaltam nossa alegria ou nos inundam de tristeza.
municagáo mental ou transmissáo de pensamento. Um lago
que permite a troca entre dois seres ou um grupo de pessoas A propósito da emogáo, podemos sentir se um individuo
é tecido. Por meio de nossas palavras e as do outro podemos, está calmo, preocupado ou irritado únicamente pelo som e
como eu dizia a respeito da escuta, abrir a passagem que pela intensidade de sua voz. Ela cria na atmosfera um am­
conduz ao coragao e á alma de nosso interlocutor. biente vibratorio que traduz perfeitamente seus pensamentos
e suas emogoes. Quando urna pessoa está enfurecida, sua
A voz humana é também um elo entre os planos visível e maneira de falar é tal que ela perturba negativamente o meio
invisível. Ela é a expressáo do poder criador do Verbo divino. a seu redor. Suas vibragóes negativas afetam até mesmo as
Jesús “pregou a boa palavra”, e foi pela palavra que o anjo pessoas presentes, as quais podem, por sua vez, tornar-se
Gabriel tornou-se o anjo anunciador. Foi também por urna também nervosas ou coléricas.
voz que Moisés recebeu a Iluminagáo e que Maomé tornou-se
profeta de Deus: “Nao há Deus senáo Alá e M aomé éseu profeta”. Inversamente, um individuo perfeitamente sereno, po­
sitivo e amável pode, únicamente fazendo uso da palavra,
A importancia da palavra é notável ainda na lenda da Torre transmutar um mau ambiente e restaurar nele a harmonia.
de Babel e em outras centenas de lendas. Um bom número de Náo é raro percebermos, quando entramos num lugar, que
ali houve disputas, gritos, insultos ou grandes mágoas. O es­ palavras excederam m eu pensam ento”, como se nossa boca e
pago, as paredes e os movéis ficam impregnados temporária nossa língua funcionassem independentemente de nossos
ou definitivamente dessas vibragóes. O mesmo ocorre com os pensamentos ou de nossas emogóes. Seria esse o caso? Náo seria
lugares muito positivos onde habitualmente reinam a alegria melhor reconhecer nisso uma breve escapada de nosso pensa­
e a serenidade. mento, como se ele estivesse encerrado num cofre que o calor
do momento abre, permitindo assim uma liberagáo fortuita?
Dotados de nosso livre arbitrio, podemos utilizar a palavra
para construir ou destruir. Em termos absolutos, náo devería-
Uma grande quantidade de obras foi escrita sobre as pa­
mos utilizá-la senáo para um objetivo positivo, pois agindo ao
lavras, tanto as vis quanto as boas, e sobre a comunicagáo
contrário contribuimos para a criagáo de formas-pensamento
em geral. Uma pergunta é recorrente ñas conversagóes entre
negativas, e consequentemente nocivas ao bem-estar físico e
amigos ou ñas entrevistas com personalidades: “Qual é sua
psíquico, náo apenas o nosso como o de todos a nossa volta.
palavra p referida” ou “de que palavra vo cégo sta m en os?”. Esse
Se consideramos nosso planeta como sendo uma entidade pequeño teste, embora restritivo, é suficientemente revelador.
viva, podemos afirmar que más palavras (assim como maus E para vocé, quais sáo essas palavras?
pensamentos) poluem sua aura e, por repercussáo, engendram
O que evidentemente se deduz de todas essas palavras que
vibragóes negativas que voltam a nós como se fossem um bu-
vocé “escutou” lendo essas linhas, é que precisamos aprender
merangue. Infelizmente, nosso comportamento geralmente
a dominar nossos pensamentos e nossas palavras, escutar
difere daquilo que seria o ideal em termos de pensar, fazer
verdadeiramente e falar a verdade.
e dizer. Utilizamos amplamente, e sem reflexáo, palavras
improprias, destrutivas, violentas e ofensivas. Em geral, fala- Para concluir, eis aqui trés extratos de textos sagrados que
mos mal, mas também muito, sendo que a arte de falar bem deixo para sua meditagáo: o primeiro é extraído do Coráo, o
consiste, entre outras coisas, de se fazer entender bem com o segundo do Evangelho segundo Sáo Joáo e o terceiro remonta
mínimo de palavras. Daí o adágio: “Aquilo que bem se con ceb e ao Egito antigo.
claram ente se diz”. •
V
As palavras que pronunciamos sáo evocadoras e sáo fre-
quentemente o refiexo de nosso pensamento. Dizemos que “Uma boa palavra é com o uma boa árvore cuja raiz é sólida e
“as palavras traem o pen sam en to”, e contudo as vezes ouvimos, cujosgalhos se estendem até o céu. Ela da seus frutos em toda estaqáo
como desculpa após uma discussao acirrada, uma troca mo- com a permissáo de Deus. Uma palavra m á é com o uma árvore
vimentada de opinióes ou uma verdadeira querela: “Minhas má que f o i arrancada da Terra; para ela, nao há lugar estável."
Excertos da s Carta da AMORC
__
Tradigao —Etica Humanismo -

“No com ego era o Verbo,


E o Verbo estava com Deus,
E o Verbo era Deus. AAMORC condena, sem reservas e sem ambiguidade, aspráticas con-
Ele estava no C om ego ju n to a Deus. trárias á dignidade humana, á integridade das pessoas e á propriedade
Tudo f o i p or Ele, dos bens. Ademáis, ela se insurge contra o aviltamento dos valores
E sem Ele nada fo i. filosóficos ou tradicionaispor impostores que os desacreditam aos olhos
da opiniáo e dos poderes públicos. E por isso que ela reafirma nesta
De todo ser Ele era a Vida,
Carta os principios éticos que sempre foram os seus:
E a Vida era a Luz dos homens.
E a Luz brilha ñas trevas, 1 —Ela é legalmente constituida e declarada com o associagáo e aceita
E as trevas náo a puderam repelir. prestar contas de suas atividades ás autoridades públicas.
2 —Ela exerce sua atividade associativa no campo do pensamento que
V lhe épróprio, de maneira pacifica e recusando toda manifestagáo suscep-
tivel de acarretar prejuizo á ordem pública ou á autoridade de Estado.
“Ptah, o Grande, é o Pensamento e a Língua dos deuses, e o
Pensamento é o q u egera toda manifestagáo realizada. E é de Ptah 3 —Ela náo impoe jamais a seus membros um dogma ou um pensa­
mento único e respeita apluralidade de crengas religiosas e filosóficas.
que procedeu o p od er do Pensamento e da Língua. ”
4 —Ela se exime de toda atividade ou discussáo de ordem política,
deixando plenamente, nesse dominio, a liberdade de opiniáo a cada
um de seus membros.
5 —Ela náo utiliza nenhum método depersuasáo ou de manipulagáo que
possa resultar em prejuizo ao livre arbitrio ou á vontade do individuo.
6 —Ela náo apresenta jamais a seus membros o pensamento ou a obra
de qualquer de seus dirigentes com o única expressáo da verdade.
7—Ela deixa cada um de seus membros inteiramente livre para deixar
1 Optou-se aqui pela tradugao mais fiel ao francés, mesmo diferindo
a organizagáo a qualquer tempo, sem sé molestar de qualquer maneira
das versees canónicas do Evangelho de Sáo Joáo e daquela constante que seja.
da versao conhecida por “Biblia de Jerusalém ”. (N. do T.)
8 —Ela se opÓe a toda form a de segregagáo racial ou étnica.
9 —Ela condena form alm ente o recrutamento de criangas assim com o
toda infragáo ás leis sobre a escolaridade e a educagáo.
A beleza universal

A beleza universal sáo múltiplos porque a ignorancia desconhece o número de


seus adeptos. Ora, o que torna belo o individuo é o conheci­
adágio “Se v o c é q u er ser belo, d eten h a -se p o r um mento de si mesmo - esse conhecimento que pode elevá-lo

O m inuto diante do seu espelho, cin co diante da sua alma


e quinze diante do seu D eus” resume bem um dos ob­
jetivos a que todo ser humano deveria buscar. Pagar tributo á
até as estrelas mais longínquas para lhe presentear com a
Consciéncia divina.

Observemos também que náo é por acaso que o estado de


Beleza divina deveria ser nosso objetivo prioritário, e ele náo
pode ser alcanzado a menos que nós mesmos nos tornemos consciéncia crística é simbolizado na Arvore cabalística pela
belos. Quando falo em Beleza, naturalmente náo me refiro á sefira Tiphereth, ela própria símbolo da beleza adámica na
estética corporal á qual alguns atribuem demasiada impor­ Terra. Náo é dito que o próprio Mestre Jesús veio para mani­
tancia e que, infelizmente, tornou-se, em nossa época, um festar a Beleza Divina?
culto ridículo e mesmo perigoso. Pensó sobretudo na beleza
de nosso santuário interior, a qual, independentemente do Esforcemo-nos para imitar a beleza de intengáo e de agáo
aspecto exterior do templo no qual se encontre, pode irradiar- que animou o Mestre Jesús ao longo de seu ministerio. Isto
-se a todo momento sob a forma de um magnetismo que nada naturalmente náo quer dizer que devemos nos tomar por ele
nem ninguém pode alterar ou diminuir. e buscar inflar nosso próprio ego por uma pomposa imitagáo
daquilo que julgamos conhecer acerca dele. Isto significa
Neste sentido, a feiúra náo deve ser considerada como simplesmente que devemos nos aplicar plenamente para sen­
uma auséncia de beleza física, mas como a expressáo de uma sibilizar as pessoas de nosso convivio aquilo que é belo, a fim
grande falta de espiritualidade. O que confere beleza á garrafa, de levar seu senso estético a evoluir na diregáo dos arquetipos
á parte a pureza de sua forma e a qualidade de seu vidro, é superiores.
antes de tudo o grau de luminosidade que ela é capaz de re-
fletir. O mesmo se aplica ao ser humano. Pelo tempo em que Creio que é difícil atingir este objetivo por intermédio da
ele esconder sua luz interior, permanecerá prisioneiro de seu arte, pois ela, nesse ponto da evolugáo humana, ainda é uma
corpo e, no melhor dos casos, náo poderá manifestar senáo a expressáo muito imperfeita da Perfeigáo divina. E verdade
aparéncia daquilo que lhe parece belo. que muitos sáo os mestres que, por intermédio da música, da
pintura, da escultura ou de outros ramos da arte, encarnaram
Somente o misticismo pode nos dar o poder de desvelar formas-pensamento de grande pureza e perfeigáo. Mas para
nossa espiritualidade e de libertar plenamente as virtudes a maioria das pessoas, tais obras estáo além do que elas sáoy
escondidas de nossa alma. Tomemos, por exemplo, a verda­ capazes de sentir e de compreender em matéria de beleza. E
de. Náo há erro mais grave do que a recusa em ver e ouvir a
verdade. A verdade é una porque Deus é Uno, mas os erros
sem dúvida por esta razáo que uma pintura inspirada será deste ou daquele objeto. Aparece entáo uma divergencia entre
para alguns o cúmulo do horror ou que, inversamente, uma as diversas concepgóes de beleza, cada qual sendo resultante
música decadente será para outros o sum m um da inspiragáo. da educagáo, da personalidade e da evolugáo interior de cada
um. Portanto, é fácil compreender que o problema do homem
Tudo isto naturalmente náo quer dizer que náo haja be- náo é que ele seja insensível á beleza universal, mas sobretudo
leza universal. Isto simplesmente nos mostra que o homem que, na maioria dos casos, ele náo toma consciéncia déla, náo
encarnado, antes de ser capaz de discernir a existencia de tal sabe onde situá-la ou é incapaz de exprimí-la naquilo que ele
beleza, permanece por muito tempo prisioneiro de uma má pensa, diz e faz.
concepgáo daquilo que é belo. Neste livro, um outro capítulo
também está consagrado á beleza, mas mais particularmente Como venho de salientar, todo individuo é sensível á beleza
á beleza através da arte. que se manifesta pelo viés da natureza. Devemos entáo levar
Náo é senáo evoluindo na diregáo dos planos de consciéncia nosso meio, e mesmo um público mais ampio, se pudermos,
cada vez mais elevados que cada um pode retirar o véu e se a refletir sobre o porqué e o como desta sensibilidade á beleza.
aproximar da magnificéncia da verdadeira beleza. Enquanto Agindo assim, conduziremos progressivamente essas pessoas a
o homem náo atinge um certo degrau de evolugáo, ele náo faz náo mais se contentarem com aquilo que constitui a beleza da
mais do que projetar em seu meio o sentido que sua mente natureza e do universo, mas a participarem conscientemente
dá á beleza. Dito de outra maneira, ele busca aquilo que é nela enquanto atores e espectadores. Que possamos dar a eles
belo por meio dos olhos do corpo, e náo através dos olhos de o desejo de abrir o “Livro do homem” e o “Livro da natureza”
sua alma. Segundo esse ponto de vista, podemos dizer que e o desejo de conhecer e compreender as leis que se operam
existem tantos criterios de beleza quanto individuos, e isto neles e ao redor deles.
procede se compararmos todas as civilizares e formas de
sociedade, mesmo as atuais. Podemos, no entanto, constatar É a isso que me dediquei através destas reflexóes, e espero
que há coisas sobre as quais existe um consenso no tocante á que vocé possa encontrar em si e a seu redor a sublime beleza
sua beleza. Sobre elas, é dito que refletem a harmonia, ins- universal.
piram e apaziguam.

Para darmos alguns exemplos, nunca aconteceu de vocé


ouvir dizer que uma aurora ou um crepúsculo, ou ainda um
céu estrelado, sáo feios. As coisas acontecem diferentemente
quando perguntamos as pessoas o que elas pensam da beleza
Homenagem a Harvey Spencer Lewis

Homenagem a Harvey Spencer Lewis Atravessando o Atlántico para alcangar o continente que
os habitantes do Novo Mundo chamavam de “velha Europa”,
/
duvidaria ele de que 100 anos mais tarde, reunidos sob a égide

E
com grande emogáo e um sentimento de gratidáo que
redijo este capítulo consagrado ao homem excepcional da Antiga e Mística Ordem Rosacruz, homens e mulheres
que foi Harvey Spencer Lewis. de todas as ragas, de todas as condigóes sociais, de todos os
horizontes religiosos, lhe prestariam homenagem? Gragas á
Personalidade fora do comum, grande figura do Rosacru- sua intuigáo, á sua coragem e á sua perseveranga, a Rosacruz,
cianismo, precursor, vanguardista e resolutamente moderno, entáo na sombra e em segredo, apareceu em plena luz e pode,
Harvey Spencer Lewis tinha o olhar voltado para o futuro e em algumas décadas, iluminar, por sua vez, o coragáo e a alma
na diregáo daquilo que ele gostava de chamar de “Cósmico”. de milhares de seres buscadores de Conhecimento.

Sua mensagem originou-se no passado e na Tradigáo pri­ Na AMORC, nos referimos frequentemente a esta perso-
mordial, mas seu presente foi criativo, laborioso, dinámico, nagem incomum. Por meio de seus escritos, revistas, livros,
perseverante e portador de esperanza. Depois, suas ideias, conferencias, fotografías etc., os rosacruzes conhecem a vida e
palavras, escritos e métodos foram retomados por um número o caminho trilhado por este místico de excegáo. Ao seu nome,
expressivo de grupos, de pessoas e de escritores, alguns mesmo certamente, está associado o de seu filho, Ralph M. Lewis,
se apropriando deles sem reservas. Toda a sua existencia e sua que foi Imperator da Fraternidade rosacruz a partir de 1939,
obra foram devotadas ao ideal rosacruz por meio da Antiga e durante 48 anos de labuta, servigo e devogáo. Ligam-se ainda
Mística Ordem Rosae Crucis. ao nome de H. Spencer Lewis seus companheiros mais fiéis
na Senda rosacruz. Pensó em Peter Falcone, James Withcomb,
A vida de servido e trabalho intensos que ele levou lhe fez Louis Babcock, Al Williams, Jeanne Guesdon, Martha Lewis
terminar prematuramente sua encarnagáo, mas a heranga lega­ e muitas outras personalidades que com ele escreveram um
da por ele permanece no coragáo daqueles que o conheceram capítulo da grande historia do Rosacrucianismo. Na minha
e que o sucederam. E agora esta heranga se encontra dentro juventude tive a honra de encontrar alguns deles. Fui tocado
daqueles e daquelas que hoje palmilham a senda que ele tragou. por sua luz e, sobretudo, por sua fidelidade absoluta, mas
também pelo amor e pela admiragáo que exprimiam quando
Há mais de um século (1909), H. S. Lewis efetuou aquilo se referiam ao seu finado Imperator, irmáo e amigo.
que ele mesmo chamou de “a viagem de um peregrino rumo
ao Leste”, o Leste geográfico para ele que se encontrava na A vida e a obra deste grande homem sáo impossíveis de
América, mas também o Leste simbólico, de onde a cada descrever em poucas linhas, tamanha a sua importancia. Além
manhá vem a luz. Este jovem homem ia ao encontro de sua disso, encorajo aqueles que náo o fizeram a procurar o livro
vida. Encontrava seu destino e entrava na historia grandiosa
e misteriosa dos rosacruzes.
intitulado H arvey Spencer Lewis, um Mestre da Rosacruz1. Este esoterismo. Para ele e para a Antiga e Mística Ordem Rosa-
título se impoe como urna evidencia, pois nenhuma afirmagáo cruz, todos os homens e mulheres, todas as ragas, todos os
seria mais justa que esta. povos e meios sociais estavam em pé de igualdade. Nisso
também ele foi precursor e posteriormente imitado.
Ao 1er este livro, vocé constatará o quanto Harvey Spen­
cer Lewis era culto, sábio e visionário. Para náo corromper o
Certamente, alguns poderiam dizer que ele possuía urna
espirito e a letra, nada dos seus textos foi mudado. Por con-
imaginagáo um pouco extravagante e que gostava de roman­
seguinte, ao lé-los, é preciso levar em considerado a época
cear suas experiéncias e seus escritos. E verdade, mas é o por­
em que foram escritos, ou seja, durante a primeira metade do
qué de hoje ainda apreciarmos sua leitura. E também porque
século XX, entre 1916 e 1939. Isto foi antes da Europa conhe-
ele soube, como eu disse anteriormente, iluminar o espirito
cer a paz, numa época em que o racismo e o nacionalismo
dos rosacruzes para que eles pudessem melhor conhecer a si
predominavam, antes da profusáo de livros de psicología,
mesmos. Gostava de imaginar, contar e compartilhar. Soube
de psicanálise, de bem-estar e de busca pessoal em todos os
fascinar seus auditorios, por vezes compostos de pessoas céticas
campos e antes da epopéia “hippie”. Resumidamente, antes
e encarceradas nos grilhoes da religiáo. Ele fez sonhar e deu
da dita moda da “nova era”.
esperanga: em outras palavras, “transmitiu”!
Ao preparar esta obra e relen á o seu s escritos, percebi mais
ainda o quanto Harvey Spencer Lewis foi um ser extraor- Por certo, á luz dos conhecimentos atuais, dos avangos da
dinário, dotado de numerosas qualidades. Foi um grande ciéncia, das descobertas arqueológicas etc., podemos sempre,
espirito de seu tempo e de todos os tempos. com espirito crítico, trazer á tona esta ou aquela ideia emitida
por Harvey Spencer Lewis, assim como podemos, ao contrá-
O livro que lhe é consagrado náo é senáo um reflexo de rio, maravilharmo-nos, já que muitas de suas assertivas, que
sua obra e urna ínfima parcela de seus pensamentos e de seus por vezes foram tomadas por especulagóes, mostraram-se
escritos. Ele era um escritor prolífico e amava dividir seu co- verdadeiras e demonstradas.
nhecimento com aqueles os quais chamava de seus “fratres
e sorores”. E sim, Harvey Spencer Lewis se dirigia tanto ás Os membros da AMORC podem verificar por si mesmos as
mulheres quanto aos homens numa época em que elas náo virtudes da visualizagáo, da intuigáo e de todos os fenómenos
tinham ainda o mesmo reconhecimento que lhes seria de­ ditos “psíquicos”, cujo estudo é proposto ñas monografías
volvido de fato e por direito, mesmo no mundo fechado do que recebem a cada més. Estes principios os acompanham
e, diariamente, de diferentes formas, eles os experienciam,
1 Editado em portugués pela G L P (N. do T.) seja se felicitando por utilizá-los, seja lamentando por náo
haver feito uso deles, o que lhes permitiría evitar dissabores. do coragáo, espero que nos séculos vindouros, para além
Certamente, náo se demonstra sempre confianga absoluta do porvir da AMORC, de sua estrutura e de seus membros,
naquilo o que é ensinado, o que é muito bom. Efetivamente, Harvey Spencer Lewis seja oficialmente reconhecido em seu
o Rosacrucianismo náo é dogmático e devemos sempre ser justo valor. Que possa a alma deste que foi um iniciado, um
prudentes. Como temos o costume de dizer, é preciso que filósofo, um humanista e Imperator da Rosacruz estar certa de
sejamos “pontos de interrogado ambulantes”. minha gratidao e da gratidáo dos rosacruzes que caminham
sobre seus passos.
Se fago mengáo a este ensinamento rosacruz, tal como é
proposto hoje, é porque é a Harvey Spencer Lewis que nós Alcanzar o Teto
devemos sua escritura. Consoante ao seu desejo, ele foi e é por Harvey Spencer L ew is - 1932
revisado regularmente. Por outro lado, é evidente que se ele
vivesse em nossa época, nao teria hesitado em se servir das “Há pouco tempo, um empreiteiro comegou a construir uma
ferramentas de comunicagáo disponíveis neste século XXI. casa num subúrbio desta cidade e eu me interessei pelo cuidado
com que ele fazia os alicerces. Pareceu-me que uma casa muito
Como Imperator, frequentemente devo tomar decisóes bonita e sedutora iria ser construida sobre os muros de concreto
quanto á orientagáo a dar á Fraternidade rosacruz, para adap­ que ele estabelecia e construía cuidadosamente. Pouco depois,
tar suas regras e assegurar a perenidade de suas atividades. eu encontrei esse empreiteiro num lanche e lhe perguntei como
Nesses momentos, e sempre que a dúvida se instala em face estava progredindo sua nova casa, e fiquei estupefato ao ouvi-lo
de uma situagáo particular com a qual lidar, pensó em Harvey dizer que estava prestes a terminar o teto. “O q u é?”, disse eu,
Spencer Lewis e digo a mim mesmo: “O que ele teria fe it o ? ”. “v o cé ch egou m uito depressa ao teto !”. “Sim ”, respondeu o em­
Para a AMORC ele era audacioso e mesmo ambicioso, e é por preiteiro, “sabe, quando certas pessoas constroem , elas projetam
isso que durante o tempo de sua encarnagáo ele visualizou e um teto q u efiq u e m uito perto do solo e que nao exija m uito tem po
realizou belas e grandes obras. Para ilustrar o que venho de e esforgo para construir depois os alicerces a té o teto ”.
dizer, eu o convido a reler ou a descobrir a seguir um de seus
escritos intitulado “A lcangaro Teto”. Vocé entáo compreenderá Eu náo podia deixa de refletir sobre esta afirmagao filosófica
o espirito que o animava. porque ela continha todo um livro de pensamentos. Sem
dúvida nenhuma, uma das razóes pelas quais tanta gente
Depois de seu encontro com a Rosacruz e de sua iniciagáo no mundo de hoje náo alcangou um lugar mais importante
em Toulouse, em 1909, ele iria marcar o mundo do esoterismo ou mais elevado na vida é porque elas atingiram muito
em geral e o do Rosacrucianismo em particular. Do fundo fácilmente o teto. Em todos os seus planos, em todas as suas
consideragóes, em todos os seus desejos e em todas as suas é comegarem se endividando e assumindo grandes contratos
ambigóes, elas visualizaram um teto que comegava muito e obrigagóes, sendo obrigados a enfrentá-los. Eles dizem que
perto dos alicerces e, depois que a construgáo terminou e o teto mais casas foram adquiridas por jovens casais que se coloca-
estava no lugar, seu prédio era baixo, humilde, insignificante e ram na obrigagáo de pagar para terem urna bela casa do que
provavelmente insuficiente para representar suas verdadeiras por aqueles que tentaram poupar e náo comprar urna casa
possibilidades na vida. senáo quando tivessem fundos suficientes. Seja como for, sei
que o homem ou a mulher que mentalmente concebe e projeta
É verdade que um individuo pode sonhar de maneira vaga construir um grande prédio ou fazer urna grande carreira na
demais, ambiciosa demais ou magnífica demais, e colocar o vida e que está determinado a ter sucesso nos seus projetos é
teto do prédio contemplado bem além das alturas acessíveis, geralmente aquele que tem éxito.
mas é muito raro que os construtores que agem assim náo
cheguem a alcangar urna altura impressionante no seu desejo Quanto maior é a ambigáo, maiores sáo o entusiasmo e o
de atingir o teto. Eles podem náo conseguir realizar seus pro­ desejo de se ter éxito. Quanto mais o objetivo é elevado e nobre,
jetos, mas em sua tentativa de realizá-los eles se elevam com mais há determinagáo para alcangá-lo. Os obstáculos comuns
frequéncia muito acima daqueles que sáo ultraconservadores que desviam ou desencorajam o individuo que tenta chegar
e prudentes demais. apenas a um lugar mediocre nada significam para aquele que
Urna destas duas categorias de individuos, a que é extrema­ tem grandes projetos ou urna grande ideia a por em execugáo.
mente conservadora ou pessimista, hesitante, cética, reservada
e indecisa, é a perdedora no grande jogo da vida. Ela dá a M an ter-se fir m e !
partida com limitagóes auto-impostas e é raro que ultrapasse Recorrendo ainda á analogia da construgáo de urna casa,
essas limitagóes. Aquela que é muito ambiciosa, que parece podemos ver que o ser humano que projetar construir somente
ter engatado seu vagáo numa estrela, que acha que o céu é o um bangaló de quatro pegas e de doze a catorze pés de altu­
seu limite e que nada está além de suas capacidades, está mais ra, e que desejar construí-lo rápidamente com urna soma de
apta a alcangar o sucesso e a realizar algo. dinheiro limitada e num tempo reduzido, vai se desencorajar
rápidamente em seus esforgos de realizar tal construgáo se, no
E n fren tar as obrigaq oes dia em que comegar a colocar os alicerces, a chuva molhar o
Ouvi economistas e alguns dos mais eminentes financistas solo e continuar a fazé-lo durante certo número de dias, até
da América dizerem que a única maneira de jovens casais, que o solo fique encharcado e lamacento. E se, depois que a
ou de jovens solteiros, poderem acumular vastas posses ma- chuva tiver parado, vierem alguns dias de neve e de gelo, e em
teriais ou chegar a possuir urna verdadeira riqueza material seguida um período de tempo frió e nublado, ele certamente
vai abandonar seu projeto de trabalhar para erguer sua casa. E e elevei o teto do edificio táo alto que, de onde eu estava, náo
se ele aínda tiver de enfrentar algumas decepgóes para obter os podia ver onde ele estava nem como ele era. Na realidade,
materiais apropriados ou a soma necessária de capital, ficará nunca estive certo de que havia um teto sobre essa constru­
completamente desencorajado e abandonará definitivamente gáo mental, ou que um teto tivesse sido necessário, pois me
toda a empreitada. parecia que a única coisa a considerar era estabelecer alicerces
e paredes bastante fortes para sustentarem os andares que se-
Tal pessoa que se propóe a edificar uma pequeña construgáo riam acrescentados uns aos outros na construgáo quando ela
limitada espera terminá-la e déla dispor num tempo muito se erguesse a alturas sem limites e sem que se pudesse temer
curto. Todos os obstáculos que retardam a construgáo durante que ela tombasse ou cedesse.
semanas ou meses sáo obstáculos que a impedem também de
alcangar sua meta, ao passo que o individuo que planeja fazer Os projetos pareciam ultrapassar a razáo e eu recebia nume­
uma construgáo que vai exigir anos para ser concluida, e que, rosas advertencias, dizendo-me que eu estava empreendendo
como ele sabe, deverá ser perseguida em toda espécie de tempo um trabalho grande demais e uma construgáo grande demais
e em diversas condigóes e circunstancias, náo encara os obstá­ para ser cumprida numa vida ou com um grupo limitado de
culos que o atrasam durante algumas semanas ou alguns meses individuos. Todo obstáculo possível ou potencial me foi enfa-
senao como obstáculos inconsequentes em comparagáo com o ticamente indicado. A medida que se passaram os meses e os
tempo que deve se passar para que finalmente seu desejo seja anos, a maioria desses obstáculos surgiu, na forma e no tempo
realizado. E por isto que ele náo é seriamente afetado por eles. requeridos. Cada interferencia prevista e centenas de outras
que náo haviam sido nem mesmo supostas, mesmo pelos mais
Eu me lembro bem dos planos previstos para a AMORC, instruidos construtores, também se apresentaram. Mas, dado
quando ficou patente que eu deveria executar a maior parte que o trabalho era enorme, a tarefa magnífica e a construgáo
dos detalhes relativos ao desenvolvimento das atividades ro­ táo desconcertante por suas dimensóes, os obstáculos, as difi-
sacruzes na América para o novo ciclo colocado sob a minha culdades, os problemas e os atrasos só foram considerados como
diregáo. Eu teria podido dedicar muitas reflexóes aos detalhes naturais e náo nos desanimaram em nossos esforgos.
possíveis, as decepgóes inevitáveis e aos problemas pessoais
que teria de enfrentar. Ao considerar tudo isto, eu teria podido O que essa construgáo é hoje é o resultado de grandes pro­
fácilmente me programar para construir uma organizagáo que jetos. Que estes projetos se realizem todos no meu tempo de
tivesse uma boa base, mas um teto bem pouco elevado acima vida náo tem importancia. A verdadeira grandeza do trabalho
dos alicerces. Mas, em lugar disto, eu permití á construgáo do prossegue na sua massiva e esmagadora amplitude. Somos
meu edificio mental que ela subisse no céu a grandes alturas desesperadamente envolvidos no plano das coisas, e a chegada
da existencia última náo nos assusta mais daí por diante do estarem associados a um trabalho deste género, a que o pro-
que um possível esfacelamento de nossa longa e cuidadosa jetem ñas suas próprias vidas, com a maior visáo de espirito e
construgáo das fundagóes. a alturas ilimitadas, como o verdadeiro campo da sua criagáo,
e desta maneira eles teráo a alegria de chegarem acima e além
Na verdade, náo alcanzamos o teto e náo temos a ambigáo daquilo que é mediano e comum, ao singular e ao excepcional.
de fazé-lo rápidamente. O teto ainda está táo longe acima de
nós que só podemos pensar no trabalho que temos a fazer Náo sejam eles apressados demais em chegarem ao teto
em cada nivel de elevagáo, em cada nova segáo de trabalho da construgáo que projetam, a fim de que este teto náo esteja
efetuado em altura. perto demais da Terra.”

Como tudo isto difere dos planos conservadores e limitados


daqueles que hesítam e temem projetar e construir coisas mag­
níficas! Somente pela amplitude da nossa visáo, pela grandeza
ilimitada das nossas ambigoes e dos nossos ideáis é que nós
nos elevamos realmente acima e além do comum. A AMORC
na América foi projetada para ser, no seu ciclo atual, o que ela
foi em cada um dos ciclos precedentes neste país e em outros,
ou seja, uma construgáo incomum, distinta, magnífica, de
uma altura ilimitada e sem restrigáo de realizagáo. Ela deve
náo somente lutar para tentar se elevar acima das tentagóes
e da influencia das coisas terrenas, a fim de alcangar ápices
gloriosos, mas deve também prosseguir em seu caminho ñas
nuvens que se juntam ñas alturas que dominam a Terra e que
com frequencia assombram e obscurecem o céu. Isto implica
trabalho e sacrificio, bem como firmeza na fé e determinagáo
para carregar o fardo da cruz, até que as alturas sejam atingidas
e para erigir entáo essa cruz no verdadeiro pináculo.

Que me seja permitido incitar os milhares de membros


e leitores que manifestaram sua alegria e sua satisfagáo em
Excertos da Declarando Rosacruz
dos Deveres do Homem

esde o seu nascimento até o presente dia vocé tem


[...] Todo individuo tem o dever de respeitar o outro, sem distingáo de
raga, de sexo, de religiáo, de classe social, de comunidade ou de qualquer
outro elemento aparentemente distintivo.
D aprendido e tem forjado sua própria filosofía. Há
palavras, ideias e sentimentos que ressoam mais em
vocé do que nos outros. Se nossos gostos sáo ecléticos em
matéria de artes, quer se trate de música, pintura, escultura
Todo individuo tem o dever de respeitar as crengas religiosas e as opi- ou mesmo culinária, nossa maneira de viver, de trabalhar, de
nioes políticas de outrem desde que elas náo atentem contra a pessoa passar as férias etc., difere de uma sociedade á outra, de uma
humana ou contra a sociedade. familia á outra ou de um individuo a outro. O mesmo se aplica
as nossas convicgóes políticas, moráis e espirituais.
Todo individuo tem o dever de ser benévolo em pensamento, em pa­
Já que é na qualidade de responsável e membro da Antiga
lavra e em agáo, a fim de ser um agente da paz social e um exemplo
para os outros, e Mística Ordem Rosacruz que escrevo este texto, confiarei
a vocé minhas principáis convicgóes místicas, filosóficas e
Todo individuo idoso, em estado ou condigoes de trabalhar, tem o de­ humanistas. Elas sáo sete, mas a lista poderia ser bem mais
ver de fazé-lo, seja para prover suas necessidades ou as de sua familia, extensa, dada a riqueza do ensinamento rosacruz.
para ser útil á sociedade, para se desenvolver no plano pessoal ou para
simplesmente náo sogobrar na ociosidade. Eis aqui, entáo, algumas reflexóes que me parecem essen-
ciais. Sobre a base délas, podemos edificar colunas de convic-
Todo individuo encarregado da educagáo de uma crianga tem o dever gáo que se projetam ao infinito. Podemos discutir, filosofar e
de lhe inculcara coragem, a tolerancia, a náo-violéncia, agenerosidade avangar táo longe o quanto nos permita nosso espirito e depois
e, de maneira geral, as virtudes que faráo déla um adulto respeitável receber o tanto que nosso coragáo possa acolher.
e responsável.
Sei que toda a Criagáo em anou desta Inteligéncia
Todo individuo tem o deverde considerar a humanidade inteira com o absoluta a que cham am os “D eus” e que ela responde
suafam ilia e de se comportar em todas as circunstancias e lugares com o a um D esignio cósm ico.
um cidadáo do mundo, fazendo assim do humanismo o fundam ento
de seu comportamento e de sua filosofa.
V
Todo individuo tem o dever de respeitar a natureza e de preservá-la, a Sei que o hom em possui um a alma p roven ien te da
fim de que as geragoespresentes e futuraspossam beneficiarse déla em Alma universal e que é ela que fa z d ele um ser vivo
todos os planos e nela ver um patrimonio universal. [...] e consciente.
Sei que todos os seres hum anos sáo almas-irmás que Eis entáo o enunciado destas sete convicgóes maiores, as
tem a mesma origem e o m esm o destino, o que fa z quais desejo acrescentar ainda alguns comentários.
da hum anidade um a fa m ilia espiritual com u m e
singular. “Sei que toda a Criagdo em anou desta Inteligencia
absoluta a que cham am os Deus e que ela responde a
V um D esignio cósm ico. ”

Sei que a alma se encam a no m om ento do nascim ento Alguns dizem que Deus nao tem imagem. Outros, que os
quando a crianga respira p ela prim eira vez e que ela homens sáo á imagem de Deus. Todos nós temos nossa própria
deixa o corpo com o últim o suspiro. concepgáo e nossa imagem da Divindade. Para além da ideia
que temos, esforcemo-nos para viver em harmonia com nosso
V Deus interior, o Deus do nosso coragáo. Tomemos consciéncia
regularmente de nossa origem divina e remontemos á fonte
Sei que o hom em é puro e perfeito em essencia e que por meio da meditagao e da prece.
é da ignorancia, e som ente da ignorancia, que ele
De um ponto de vista místico, Deus é a Inteligéncia que
d eve ser libertado.
está na origem de toda a Criagao e de tudo que ela contém nos
planos visível e invisível. Se por um lado é impossível conhecé-
V
-Lo como tal, por outro podemos e mesmo devemos aprender
a respeitar as leis pelas quais Ele se manifesta no homem, na
Sei que a alma é im ortal e que ela sobrevive ao de- natureza e no universo. Isso pressupóe o estudo dessas leis, que
saparecim ento do corpo, de form a que a m orte náo é o que fazem os rosacruzes por meio de seus ensinamentos.
é sendo uma passagem, um a transigdo para outra
form a de existencia. “Sei que o hom em possui uma alma p roven ien te da
Alma universal e que é ela que fa z d ele um ser vivo
V e consciente. ”

Sei que a natureza é o mais belo e sagrado dos san­ Assim como vocé tem sua própria concepgáo de Deus, vocé
tuarios, pois é a expressáo das leis divinas e participa também tem sua maneira de sentir, de imaginar ou de visu­
na Evolugáo cósm ica. alizar a alma que lhe anima desde sua primeira encarnagáo
no plano terrestre. Esta alma conheceu outras vidas, outras Se a morte é um momento importante e se a separagáo do
emogóes, outras alegrías e outros sofrimentos. Ela náo é, pois, mundo e dos outros é frequentemente sofrível, o mesmo se
urna personalidade, mas várias. Em suas meditagóes, deixe aplica, em outro plano, para o nascimento. Em seu romance
que as lembrangas déla venham a vocé. iniciático “O Pássaro Azul”, Maurice Maeterlinck descreve
perfeitamente este momento. Como chamamos tradicio­
“Sei que todos os seres hum anos sao alm as-irm as
nalmente o corpo de “Templo do Homem”, podemos imaginar
que tém a mesm a origem e o m esm o destino, o que
o momento do nascimento da seguinte maneira:
fa z da hum anidade urna com um e singular fa m ilia
espiritual. ”
Visualizemos um magnífico edificio assim como aqueles
que se construíam na Grécia e no Egito antigos. Em seu
Já que almas-irmas todos e todas somos, os elos que nos
adro, criangas aguardam. Elas tém o semblante sereno e lu­
unem sáo bem reais e é por isso que, mesmo a milhares de
minoso e se preparam para trocar um mundo por outro, náo
quilómetros, podemos sentir emogóes assim que um aconte -
sem lamentos, mas conscientes de que devem novamente se
cimento importante ocorre, mesmo sem que sejamos infor­
encarnar. A hora da partida é chegada e é preciso reencon­
mados sobre ele, sem que estejamos no lugar em questáo e
trar seu “templo”, aquele gragas ao qual elas viveráo novas
sem estar diretamente a ele ligados. Somos as fibras de um
experiéncias e atravessaráo outras provagóes. Sua alma estará
mesmo tecido e os enredos de nossas vidas se entrecruzam.
abrigada neste templo que habitaráo durante sua encarnagáo
Nossa uniáo, portanto, é espiritual, humana e, certamente,
terrestre. Elas avangam com confianga e nele tomam lugar.
fraternal. Se vocé tem condigóes, e quando se fizer necessário,
Nascem ou renascem em outra vida.
preste auxilio ao seu próximo.
Náo se esquega jamais de que vocé é urna crianga em
“Sei que a alma se en cam a no m om ento do nasci-
transformagáo!
m ento quando a crianqa respira pela prim eira vez e
que ela deixa o corpo com o últim o suspiro. ”
“Sei que o hom em é puro e p erfeito em esséncia e
Do ponto de vista rosacruz, é no momento do nascimen- que é da ignorancia, e som ente da ignorancia, que
to, e náo no da concepgáo, que a alma penetra na crianga, ele d eve ser libertado. ”
fazendo dele inteiramente um ser humano. Inversamente, é
no momento do último suspiro, quando sobrevém a morte, A conquista da pureza e da perfeigáo é um ampio objetivo
que a alma deixa definitivamente o corpo. Neste ponto, todas a se atingir. Dizemos que a pureza náo é deste mundo, e
as religióes e tradigóes estáo de acordo. além disso nenhum místico ousaria afirmar té-la atingido.
No entanto, ela está em nós e devemos a cada dia extraí-la evolugáo e a uma vida feliz, a falta de bom senso, de instinto
do mais profundo de nosso ser para manifestá-la. Foi-nos ou de intuigáo engendram frequentemente, se náo sempre,
dada a faculdade de avaliar, de pressentir e de premunir. Sem erros e até mesmo catástrofes em nossa vida cotidiana, tanto
pretender a perfeigáo e a recusa ao direito de errar, devemos no seu aspecto material como no das relagóes.
nos esforgar para tomar consciéncia de nossas possibilidades e
desta perfeigáo latente por vir. A cada dia podemos e devemos, Quanto a ignorar os outros e aquilo que eles representam
em nosso comportamento, nos aproximar déla. em todos os aspectos, isto é arriscar-se a deixar nascer em nós
a intolerancia, a incompreensao, a rejeigáo, o isolamento e
Gostaria de precisar algo a respeito deste principio da per­ muitos outros sentimentos negativos. Inversamente, o conhe­
feigáo. Um dia, um jornalista que me entrevistava fez-me a cimento do outro ou o desejo de descoberta nos descortina ho­
seguinte observagáo: “Pois eu, senhor, desconfío desta perfeigáo rizontes fascinantes, nos mergulha num banho de juventude
e daqueles que a p ersegu em /”. Ele fazia alusáo ao nazismo e á permanente e estimula nossa criatividade. O conhecimento
raga pretensamente perfeita. Eu jamais havia considerado este dos outros é o partilhar, a devogáo, a fraternidade, a uniáo e
assunto sob este ángulo, mas com frequéncia relembro aquela a fiisao. Mas esta fusáo com os outros náo é possível se náo
conversa. Entáo, para que náo fique nenhum mal entendido se produzir primeiro em nós, e é ai que intervem o autoco-
entre nós, insisto no fato de que me refiro ao aspecto místico, nhecimento.
e mesmo utópico, da perfeigáo a ser atingida. Náo tratamos “Conhece a ti mesmo e conhecerás o universo e os deu-
aqui de perfeigáo física, racial ou social. E preciso situar este ses”. Este adágio resume a humanidade e a divindade que
principio em outro nivel. Seja, portanto, confiante se vocé se há em nós. Conhecer a si é, primeiramente, aceitar-se como
sente muito longe do modelo de humano perfeito, e ame a si é, e em seguida fazer um balango sem indulgéncia sobre si,
próprio assim como é. Seja lúcido a respeito de suas imperfei- esforgando-se para corrigir seus defeitos. Com muita fre­
góes, mas saiba apreciar igualmente suas qualidades. E aquilo quéncia a imagem que o espelho nos devolve está longe de
que é válido para si mesmo é válido também para o olhar que ser perfeita, mas isso náo nos deve desencorajar. Ao contrário,
vocé langa sobre os outros. este conhecimento que temos de nós pode nos permitir avan-
gar e aprender incessantemente, dia pos dia, provagáo após
A ignorancia é a auséncia de conhecimento: o conhecimen- provagáo. Acolhamos em nós o conhecimento e estejamos a
to das leis divinas, isto é, das leis naturais, universais e espiri- seu servigo por nós mesmos, pelos outros e por Deus.
tuais; o conhecimento dos outros, o que origina a tolerancia;
e, enfim e sobretudo, o conhecimento de si. Se uma falta de Proponho-lhe, entáo, com relagáo ao enunciado desta con-
conhecimento dito “intelectual” náo é um obstáculo á nossa vicgáo, refletir acerca de um trago de sua personalidade que
vocé gostaria de mudar para poder avanzar mais um passo Como poderíamos encarnar, manifestar nossa divindade,
na diregáo da perfeigáo. E como Deus, por intermédio de desabrochar nossa alma, criar lagos fraternais com nossas
seu Mestre interior, está em vocé, pega a Ele que o ajude a se almas-irmás e evoluir para a perfeigáo se a Terra náo nos pu-
aprimorar e faga a si mesmo a promessa de empregar todos os desse acolher? Temos todo o dever de preservá-la, de respeitá-
seus esforgos nesse sentido. Pega a Ele para ser sempre atento -la e de amá-la. Fagamos de sua salvaguarda uma prioridade
e receptivo a todas as formas de conhecimento que possam e ajamos cotidianamente neste sentido. Nosso planeta náo é
lhe permitir alcangar este objetivo algum dia. apenas uma obra-prima da Criagáo. Ele é também o templo
da humanidade e o suporte de sua evolugáo espiritual. Ele
“Set que a alm a é im ortal e que ela sobrevive ao de- merece consequentemente nosso maior respeito.
saparecim ento do corpo, d e form a que a m orte náo
é senáo uma passagem, um a transigáo para outra Deixei a vocé, portanto, algumas das minhas convicgóes.
form a de existencia." Elas podem tornar-se as suas se vocé aderir a elas. Mas, sobre -
tudo, eu o encorajo a descobrir suas próprias convicgóes e a
A imortalidade da alma, evocada tanto pelos egipcios inscrevé-las no livro de sua consciéncia. Náo esquega de abri-lo
e gregos da antiguidade quanto pelos fiéis das religióes regularmente. Costumamos esquecer muito rápidamente!...
existentes, pelos místicos em geral e os rosacruzes em
particular, é um principio universal que está presente
sob diferentes formas em todas as religióes e em todas as
tradigóes. De um ponto de vista místico, a morte é uma
passagem, uma “transigáo” do mundo terrestre ao mundo
espiritual. Ela náo dura mais do que a separagáo dos seres
amados e é uma provagáo muito dolorosa. Esta passagem,
a que poderíamos chamar “retorno”, sempre foi, desde a
noite dos tempos, acompanhada de um ritual que objetiva
ajudar a alma do defunto a cruzar o umbral do além ñas
melhores condigóes possíveis.

“Set que a natureza é o mais belo e sagrado dos san­


tuarios, pois é a expressáo das leis divinas e participa
na Evolugáo cósm ica. ”
Texto afixado em 1623 Errar é humano
ñas rúas de Paris
e dizemos que a carne é fraca, a consciencia pode também

S estar errada. Partindo do principio que a alma do homem


evolui para a perfeigáo da Alma universal da qual ela se
originou, sua consciencia objetiva é o reflexo da compreensáo
que ele tem da Consciencia universal que há nele. Sua consci­
“Nós, Deputados do C olégio principal dos Irmáos da Rosacruz, encia mortal está submissa por um lado á ilusáo dos sentidos
fazem os urna estadía visível e invisível nesta cidade, pela graqa e por outro aos erros de interpretado das impressoes vindas
do Altíssimo, para o qual se volta o coraqáo dos Justos. Mostramos do exterior ou do interior. Sua própria razáo é imperfeita em
e ensinamos, sem livros nem sinais, a fa la r todas as espécies de seu funcionamento limitado.
línguas dos países em que desejam os estar para tirar os homens, Sabemos a que ponto a consciencia humana está sujeita ao
nossos semelhantes, do erro de morte. erro. O veículo terrestre de nossa alma, isto é, nosso corpo, per-
tence ao mundo finito da matéria. Assim sendo, ele participa
Se alguém tiver o desejo de nos ver som ente p or curiosidade, ja - na imperfeigáo do mundo terrestre e sucumbe frequentemente
mais se com unicará conosco. Mas se a vontade o leva realm ente aos erros de comportamento. A cada um desses erros come­
a se inscrever no registro de nossa Confraria, nós, que ju lga m os tidos, o corpo e a consciencia submetem-se á lei evolutiva do
pensamentos, o fa rem os ver a verdade de nossas promessas; tanto carma. Estas duas formas de carma estáo intimamente ligadas
é que náo estabelecem os o lugar de nossa morada, urna vez que e se fundem na globalidade do ser.
os pensamentos, unidos á real vontade do leitor, seráo capazes de
nos fa z er conhecidos a ele, e ele a nós. ” O carma, ou “lei da compensado”, opera no corpo de
maneira que o homem aprenda a respeitar as leis naturais
que o regem. Quando elas sáo infringidas, o resultado sáo
efeitos negativos que aparecem entáo na forma de sofrimentos
e de doengas. Estes sofrimentos e doengas constituem-se em
experiencias para a alma, a qual aprende progressivamente a
dominar as suas causas. Desta feita, estes males contribuem
á sua evolugáo, o que naturalmente náo quer dizer que eles
sejam urna necessidade.

Quando nos esforzamos para agir em harmonia com as


leis que regem nosso corpo e nossa consciencia, contribuimos
para o nosso bem-estar geral e experimentamos uma certa Com a ajuda de Deus!
quietude. Vemos entáo que apenas um conhecimento perfeito
destas leis nos permite manter a boa saúde e nos elevarmos em todos temos a mesma concepgáo de Deus. Póde­
aos ideáis espirituais.
Tomemos um exemplo entre dezenas de outros: o do
fumante. Uma pessoa que fuma muito e há muito tempo
N se dizer que há quase tantas maneiras de crer quanto
individuos, e isto apesar das religióes e de suas
estruturas muito elaboradas, de suas sólidas fundagóes e de
náo pode se surpreender por estar doente dos pulmóes e do seus dogmas incansavelmente formulados. Mas há um ponto
coragáo, ou mesmo por morrer. O mesmo principio se aplica comum á multidáo de crentes espalhados pelo mundo, a saber,
á consciéncia. Se durante nossa encarnagáo nossos pensa- a incompreensáo das leis divinas, o que leva muitas pessoas
mentos e emogóes náo sáo orientados na diregáo daquilo que a levarem uma vida espiritual com muitas perguntas sem
há de mais positivo e se náo nos libertamos da ignorancia, respostas. Quando um infortúnio sucede a elas ou atinge um
estam os, pois, em erro, co m todas as consequéncias que isto de seus próximos, sua fé parece oscilar. Entáo sobrevém os
implica nos planos material e espiritual. Assim sendo, parece- seguintes questionamentos: “Por que Deus nao p ro vea s minhas
-me importante insistir no fato de que nem toda provagáo necessidades? Por que Ele náo ve o quanto O ven ero? Por que Ele
é sistemáticamente de origem cármica, de forma que nem náo recom pensa m eus esfo rgo sjá que sou um ser bom, corajoso e
todo problema de saúde ou acídente sofrido por nosso corpo p i e d o s o Ou entáo: “Ele náo m erecía istol E m uito injusto!”.
tampouco o seja. O que é mais surpreendente ainda é que essa argumentagáo é
constantemente retomada por náo-crentes. Neste último caso,
O ensinamento rosacruz oferece a possibilidade de acessar esta contradigáo sempre me intrigou, pois á que justiga fazem
o conhecimento e de se libertar da ignorancia. De fato, nosso eles referéncia se náo a uma justiga divina e invisível? Injusto
Eu interior, ou seja, o Deus que há em nós, possui todas as em relagáo a qué? A quem? E á questáo: “P orq ue com ele? ”,
qualidades e todos os atributos da Sabedoria divina. E a razáo serei tentado a responder: “E p o r que náo com ele? ”. •
pela qual o homem deve se abrir a esta Sabedoria e deixá-la
se exprimir por meio dele. O argumento mais frequentemente retomado pelos ateus é,
resumidamente, que se houvesse um Deus bom e compassivo
a velar sobre a Terra e a humanidade, náo haveria tanto odio
e sofrimento. Esse ponto de vista pode ser defendido e náo
me é lícito por em dúvida o modo de pensar de uma grande
parcela da humanidade. Mas me assombro, contudo, que nos
momentos de confusao ou de dor essas pessoas que se dizem
incrédulas nao possam se furtar de se referir indiretamente
ao Poder divino apelando a Ele.
As leis que regem o universo sáo as mesmas, tenhamos fé dirigidos para a pessoa em questáo náo poderáo senáo ser-lhes
nelas ou náo. O sol se levanta da mesma maneira tanto para benéficos. Mas isto náo a isentará de viver as experiencias que
os crédulos como para os ateus. A morte os leva da mesma sáo necessárias á sua evolugáo. Como qualquer individuo, ela
maneira e tanto as provagóes quanto os problemas náo sáo deverá aprender, compreender e assimilar. Nenhum ser vivo,
indulgentes com ninguém. E jiisto que assim seja, pois as nenhuma sociedade, nenhuma estrutura, nenhuma religiáo,
experiencias nos sáo tao necessárias quanto o alimento para nenhuma obra ou comunidade existe fora dos limites das leis
sobreviven Podemos tirar proveito de cada ligáo da vida e nutrir divinas.
nossa alma com cada nova ligáo aprendida. Se estivéssemos
privados das experiencias que a condigáo humana oferece, Da mesma maneira, um místico náo está imune as doengas
como poderíamos aprender e evoluir? E por isso que deve­ ou á fadiga derivada de um trabalho extenuante. Nesta ordem
mos nos esforgar para abordar com filosofía as provagóes e os de ideias, náo é porque uma pessoa consagra 90% de seu
obstáculos que encontramos. tempo a servigo dos outros ou a uma obra útil que ela estará
protegida e se esquivará das leis naturais, pois náo importa
A diferenga entre um espiritualista e uma pessoa dita quáo bela e evoluída seja sua alma, ela está submetida as mes-
materialista reside na maneira de perceber e transcender os mas condigóes que todos os seres que povoam este planeta.
padecimentos. Eu diria que eles sáo mais fáceis de assumir As experiencias, mesmo dolorosas, lhe sáo necessárias e seria
e aceitar quando temos fé. No entanto, como eu dizia, essa injusto isentar-se délas. .
mesma fé náo nos póe ao abrigo das vicissitudes da existencia.
Efetivamente, em certas circunstancias e contextos, há dores Tomemos o caso bem conhecido de Jesús. Foi ele pou-
táo fortes que nos fazem perder o espirito. Isso faz também pado? Náo conheceu a fadiga, os golpes, a humilhagáo, a
parte da natureza dos homens e mulheres que somos. incompreensáo? Muitas pessoas ainda se interrogam sobre a
divindade desta personagem fora do comum, sob o pretexto
Um soberano, um chefe de estado, um alto dignitário reli­ de que se ele houvesse verdadeiramente vindo de nascimento
gioso ou qualquer pessoa que detenha uma responsabilidade divino ele teria sido protegido. Somos todos uma emanagáo
importante em seu país ou no mundo náo está salvaguardado da Grande Alma universal! Aqueles que pensam que Jesús,
das dificuldades, mesmo se milhares ou mesmo milhóes de os grandes espiritualistas, os filósofos, os santos e santas de
individuos orarem por ele e rogarem com suas vozes na in- todos os horizontes ou mesmo os grandes líderes deveriam
tengáo de sua protegáo. Em alguns casos, até esperamos que ter tido ou devem ter uma vida isenta de toda provagáo, estes
esta ou aquela graga lhe seja concedida etc. Por certo, isto é estáo errados. Eles sáo cegados pela admiragáo e pela afeigáo
muito louvável e todos os pensamentos positivos que seráo que devotam aqueles que sáo objeto de sua veneragáo.
Por que, entáo, crer e venerar Deus se o resultado é o mes­ Em conclusáo, se podemos e devemos pedir o auxilio de
mo para todo o mundo? Por que pedir Sua ajuda? Porque Deus, devemos ter consciéncia de que este auxilio talvez náo se
se colocar em harmonia com Ele é colocar-se em harmonia dé sob a forma e da maneira que esperamos. Devemos apelar
consigo mesmo, e náo é senáo nesta condigáo que podemos a Ele, mas Ele é livre para responder como desejar e como
estar lúcidos e esclarecidos, que podemos ouvir e escutar, me­ deve. Náo esquega jamais que vocé é mestre de seu destino,
dir e avaliar, refletir e compreender. Dissemos: “O q u ep ed ires o capitáo de sua alma e que Deus é o sopro do vento que o
lhe será dado”. Mas náo foi dito que vocé nao evoluiria mais ajudará a guiar o barco de sua vida na diregáo de urna térra
e que vocé estaria além das leis naturais! mais bela. Com a ajuda Dele, sua travessia, do seu nascimento
á sua morte, será mais tranquila.
Nosso objetivo deveria ser dedicar mais reflexáo e atengáo aos
valores espirituais da vida para melhor apreender, compreender
e aceitar a nossa natureza humana e o mundo material. Se náo
podemos evitar as provas e nem exigir de Deus urna protegáo
total, esforcemo-nos para por em agáo as “forgas da vida” que
existem em nós e ao redor de nós. Retenhamos as ligóes passa-
das, traspassemos os obstáculos presentes e, fortalecidos por estas
experiéncias, prevejamos os problemas futuros.

Alguns sistemas religiosos ou filosóficos sustentam que o


sofrimento físico é urna necessidade para evoluir e que ele tem
um efeito redentor. Isto é falso. Tal modo de pensar é total­
mente desprovido de bom senso e de conhecimento das leis
naturais. Certamente, o sofrimento físico pode mudar nossa
percepgáo de certas coisas, nos ajudar a relativizar problemas
que nos pareciam intransponíveis e nos tornar eventualmente
mais pacientes, mas náo há necessidade de que ele seja provo­
cado e mantido, nem que seja de longa duragáo, para levar a
urna tomada de consciéncia. Urna experiéncia desagradável,
mesmo que breve, é táo válida quanto um longo sofrimento,
e isto tanto para o corpo quanto para a alma.
Excertos do Positio Fraternitatis
Rosae Crucis (2001) A prece
“Ó Tu, Espirito d e Vida, p o r Teu sopro espalhai
Tuas graqas em nós; tom ai nossas mdos
e nos elev a i”
[...] “Nós desejamos que haja, algum dia, um Govemo mundial que Richard B axter —17°
represente todas as naqoes, da qual a ONU nao ésendo um embrido”.
prece é parte integrante de urna técnica espiritual cujo
“Pensamos que a racionalizaqáo excessiva da ciencia é um perigo real
que ameaqa a humanidade a médio e, talvez, a curto prazo”.

“Cremos que o problema colocado atualmente pela tecnología advém


A uso se justifica pelo desejo de elevar a alma á Divindade.
Se o estado de oragáo é um conjunto de fórmulas oráis
ou mentáis, é possível aplicá-lo á lei do Triángulo conhecida
pelos rosacruzes.
do fato de que ela evoluiu muito mais rápido do que a consciéncia
humana
A prece pode ser definida em tres pontos, sendo o primeiro
“Pensamos que o desaparecimento das grandes religióes é inelutável e o desejo manifestó pela e na intengáo. Dito de outra maneira,
que, sob o efeito da mundializaqáo das consciencias, elas dardo origem podemos considerar que o termo preciso “orar” define um
a urna Religiáo universal". processo místico que permite por a prece em movimento,
sendo esse movimento procedente de um desejo interior. Este
“Para nós, a moral concem e antes de tudo ao respeito que todo indivi­ constitui o impulso original sem o qual o estado de oragáo
duo deveria ter consigo mesmo, com outrem e com o meio ambiente" náo pode se manifestar perfeita e plenamente. Mas ele deve
ser focalizado pela consciéncia numa impressáo mais tangível
“Pensamos que as artes devem beber sua inspiraqáo nos arquétipos e tornada acessível á nossa compreensáo.
naturais, o que implica que os artistas “se elevem ” a esses arquétipos
ao invés de “descer” aos estereotipos mais comuns’\ O foco de nosso desejo de orar se concebe na intengáo,
cuja análise legitima ou náo o estado de oragáo. Esta intengáo
“Defendemos a causa de urna Fraternidade humana que faqa de todo deve ser táo pura quanto possível, a fim de conferir á prece
individuo um Cidadáo do mundo, o que pressupoe por um fim a toda
urna expressáo realmente intensa e verdadeiramente solene.
discriminaqáo ou segregaqáo de ordem racial, étnica, social, religiosa,
Ela deve também ter por base a sinceridade e a simplicidade.
política ou outra” [...]
Desta maneira, o desejo legítimo de orar constitui o impulso
necessário ao movimento de urna prece desejada e pensada.
Nisto, a afirmagáo que diz que “o desejo de orar já é por si
urna prece” tem perfeito fundamento.
O segundo ponto deste triángulo da prece é o ato: este se O estado produzido pela prece é manifestado na e pela
manifesta na e através da invocagáo. Se nosso primeiro ponto, comunháo, a qual pressupóe um ingresso no silencio. Esta
a intengáo ou desejo, constitui o impulso inicial sem o qual solidáo mística, ou retiro temporário, é necessária. Libertos
a prece náo pode ser posta em movimento, o segundo ponto por alguns instantes do tempo, do espago e da matéria, nos
se manifesta em e através d e uma invocagáo que pode ser abandonamos a uma outra realidade e nos deixamos guiar
oral ou mental. Se a intengáo estimula o ser em uma diregáo para um outro reino.
determinada, podemos considerar que a invocagáo, em seu
conteúdo semántico e em sua forma, reflete e justifica esta Em conclusáo, diria que o processo da prece simbolizado
mesma diregáo. Por conseguinte, o conteúdo da invocagáo pelos tres pontos que sáo o desejo, o ato e o estado, manifes­
pressupóe uma relagáo íntima com a intengáo que o anima, e tados respectivamente pela intengáo, pela invocagáo e pela
a forma dada a esta invocagáo será oral ou mental, conforme comunháo, náo é senáo o desenvolvimento de um estado in­
a natureza do chamado interior. terior que se origina no mais profundo daquele que ora com
convicgáo e sinceridade. Gostaria de finalizar com tres preces
Há preces cujo conteúdo parece exprimir mais particu­
que refletem aspectos deste processo: o reconhecimento, a
larmente o reconhecimento, a confissáo ou a intercessáo. Na
confissáo e a intercessáo.
prece de reconhecimento, saudamos a majestade do Divino
e exprimimos nossa gratidáo pelas venturas recebidas. A con­
A primeira é de Santo Agostinho (século IV). Ela exprime
fissáo se manifesta geralmente numa contrigáo que trata de
a gratidáo:
declarar á Divindade o arrependimento por havé^La ofendido
por uma violagáo de certos ideáis moráis. Quanto á interces­
“Senhor, quando vejo minha própria vida, p a rece-m e que Tu
sáo, ela objetiva pedir a Deus Sua ajuda, Sua inspiragáo, Seu
m e conduziste táo atenciosa e tem am en te que nao tiveste com o
apoio etc., para nós mesmos ou para outrem.
Te ocupar de outra pessoa. Mas quando vejo com o Tu conduziste
A orientagáo dada ao conteúdo da invocagáo é, pois, fungáo m aravillosam ente o mundo, e com o o conduzes sempre, assom-
da intengáo precisa, e esta intengáo determina a intensidade bro-m e que Tu tenhas tido tem po de velar p o r alguém com o e u ”.
emocional manifestada nesta mesma invocagáo. Desta feita,
por a prece em movimento corresponde a um ato íntimo cujo A segunda prece é de Zoroastro (século VI a. C.) e denota
valor náo tem realidade senáo para a alma suplicante. Esse um arrependimento sincero:
ato se desenvolve lentamente na exaltagáo do ser e conduz
á comunháo espiritual. E nela que intervém nosso terceiro “Tudo o que eu deveria ter pensado e que nao pensei, tudo o
ponto do triángulo: o estado. que eu deveria ter dito e que náo disse, tudo o que eu deveria ter
fe ito e náo fiz, tudo o que eu náo deveria ter pensado e que, no Ser místico
entanto, pensei, tudo o que eu náo deveria ter dito e que, no en-
tanto, disse, tudo o que eu náo deveria terfeito e que, no entanto, a expressáo Antiga e Mística Ordem da Rosacruz,
fiz, p or estes pensamentos, estas palavras e estes atos rogo p or m eu
perdáo e m e arrependo com d o r”.

Aterceira é uma prece de intercessao de imensa sabedoria:


N existe a palavra “mística”. Esta palavra náo designa
nada de estranho, de bizarro ou nebuloso. Náo de­
signa tampouco um estado de éxtase permanente. Uma pessoa
dita mística náo vive separada do mundo e de seus problemas
e nem se furta as provagóes e as vicissitudes inerentes á condi-
"Meu Deus, d é-m e a serenidade de aceitar as coisas que náo gáo humana. No entanto, esta palavra é mui frequentemente
posso mudar, a coragem de m udaras coisas que posso e a sabedoria empregada de maneira pejorativa, designando, deste jeito,
para p erceb er a diferenqa uma pessoa por certo geralmente doce e gentil, mas sobretudo
inconsequente, fantasista e desprovida de toda lógica, já que
demasiado sonhadora ou utopista.

Na realidade, a palavra “místico” tem um alcance mais


ampio. Ela indica que devemos manifestar as duas polaridades
do nosso ser de maneira igual. Devemos, pois, ser realistas
e idealistas, ou seja, levar em consideragáo as contingencias
materiais sem negligenciar as aspiragóes profundas e espiri-
tuais de nossa alma. Costumamos opor com frequencia essas
duas nogóes. Ora, é no entanto essencial que elas estejam em
perfeita concordancia. Devemos nos esforgar para manter
este estado de equilibrio por meio de um trabalho cotidiano
em nós mesmos. Se digo nos “esforgar”, é porque náo é fácil
e nem tampouco evidente sermos perfeitamente coerentes
e justos em nossos hábitos, nossas reagóes e nossos desejos.
Nossas agóes diferem constantemente de nossas intengóes e
o resultado difícilmente é aquele que nós esperávamos, ou
mesmo aquele no qual tínhamos nos fixado. Apesar disso,
mesmo se nossos esforgos náo sáo sempre táo mantidos como
deveriam ser, é essencial que tenhamos em nosso espirito que
um místico deve ser o reflexo da harmonia e do equilibrio.
Quando abordamos a vida como místicos, somos mais o material e o espiritual, para que possa atingir o milagre da
fortes interiormente e uma serenidade ativa se desprende de unidade e fazer sua esta célebre injungáo: “Tudo o que está em
nós, sendo sentida por muitos. Em geral, a forga da alma que cim a é com o o que está em baixo”.
veiculamos entáo é apreciada, e mesmo admirada. Mas esta
forga pode também ser invejada ou cobigada e, desta maneira, Ser místico é ter a percepgáo de que existe uma meta,
desencadear a animosidade de algumas pessoas. Pensamos que avangamos na diregáo de um último zénite e que somos
geralmente que a beleza, a riqueza e a ascensáo social sáo os guiados na diregáo dele. Nossos guias sáo as nossas virtudes,
únicos vetores de sentimentos negativos; isto náo é nada. A entre elas a coragem e a perseveranga. Quando em nosso céu
Paz Profunda, a serenidade e a forga yinterior de um individuo aparecer a nuvem da incompreensáo, da angústia, da dúvida
podem bastar para um incómodo. E assim que uma pessoa e da discordia ameagando o nosso avango no caminho, ajamos
dita mística, mesmo se as suas condigóes de vida forem pouco como místicos. A senda que leva á Iluminagáo é árdua e a
invejáveis em vários planos, pode ser objeto de ataques infun­ tentagáo de deter a marcha é grande as vezes. A vertigem pode
dados. Náo se compreende por que, apesar dos problemas e nos abalar e a bruma se tornar mais densa. Dissipemo-la por
provagóes, uma tal pessoa pode permanecer positiva. Logo, é meio de nossa vontade interior e mantenhamos nosso olhar
invejada, mesmo em seu infortúnio. na diregáo do pináculo. Náo nos queixemos do que resta por
fazer, mas alegremo-nos pelo caminho já percorrido.
Portanto, náo é fácil se comportar como um místico, mas
o que importa a quantidade de trabalho a fazer e a duragáo Aquilo que é válido para a nossa caminhada interior e para
da tarefa para aquele que tem fé, convicgóes pessoais e uma nossa evolugáo também o é em qualquer outro campo de nossa
consciéncia luminosa? Se os seus pensamentos estáo constan­ vida, pois os estudantes do misticismo náo sáo, conforme já
temente voltados para o interior, se ele medita cotidianamente havia dito, seres etéreos, cortados do mundo e de suas realida­
e ora por seus semelhantes, náo deve excluir de sua vida o des. Sejamos místicos, afinemo-nos com os outros e sejamos
contato com a sociedade e seus fatos. Ao contrário, seu espi­ um numa verdadeira fraternidade de coragáo.
rito esclarecido pode acrescentar mais ao seu entorno, seja ele
restrito ou muito ampio. Por menor que seja a chance de ter
uma profissáo ou um dom que lhe ponha em relagáo com o
grande público, suas palavras traráo frutos promissores. Sua
voz e suas palavras seráo uma expressáo do Divino. Quais
sejam seu destino e seu campo de agáo, um místico deve al-
cangar a fusáo entre os dois mundos, o temporal e o atemporal,
Excertos do Código Rosacruz de Vida A influencia da informagao
ivemos num mundo onde os meios de informagáo sáo

[...] Sabendo que o objetivo de todo ser humano é se aperfeiqoar e


tomar-se melhor, esforqa-te constantemente para despertar e exprimir
V cada vez mais numerosos, mais rápidos e tém melhor
desempenho. Gragas a eles, as relagoes entre as regiÓes,
os países e os continentes melhoraram consideravelmente e
se encontram até sem limites. Agora é possível, em alguns
as virtudes da alma que te anima. Agindo assim, contribuirás para tua
evolugáo e servirás a causa da humanidade. minutos, tomar conhecimento de um acontecimento ocorrido
do outro lado da Terra. Segundo as evidéncias, isto marca um
Escuta os outros e fala com conhecimento de causa. Se deves emitir urna grande progresso e mostra que os homens, grabas á sua tec­
crítica, faze de tal maneira que ela seja construtiva. Se te perguntarem nología, exercem um certo dominio sobre o tempo e o espago.
tua opintáo sobre um assunto que desconheqas, admite humildemente Contudo, como é o caso de tudo o que o homem criou no seio
tua ignorancia. Náo te deixesjamais recorrerá mentira, á maledicencia da ciéncia, aquilo que deveria lhe ser útil pode, infelizmente,
ou á calúma. Se ouvires comentários maldosos acerca de urna outra lhe prejudicar. Tudo depende do uso que ele faz.
pessoa, náo o alimentes com tua indulgencia.
Como todos sabem, a inteligéncia humana pode ser utiliza­
Comporta-te de tal maneira que todos os que partilham de tua exis­
da tanto para o mal quanto para o bem. A guisa de exemplo,
tencia ou que vivem em contato contigo vejam em ti um exemplo e
alguns sábios trabalham atualmente em projetos que visam
experimentem o desejo de se assemelharem a ti. Guiado pela voz de tua
consciencia, que tua ética seja táo pura quanto possível e que tuapreo- o bem-estar da humanidade enquanto outros consagram seu
cupaqáo primeira seja sempre o bem pensar, o bem falar e o bem agir. tempo na feitura de armas que permitem destruir e matar.
Esta é a ambiguidade do homem. Segundo os ideáis que ele
Se tolerante e defende o direito á diferenqa. Náo usajamais afaculdade persegue e a maneira segundo a qual aplica seu livre arbitrio,
de julgam ento para reprimir ou condenar outrem, pois tu náo podes ele trabalha a servigo da paz e da harmonia ou torna-se agente
ler dentro de seus coraqóes e de suas almas. Considera os outros com da guerra e da discordia. Em outras palavras, ele é “anjo” ou
benquerenqa e indulgencia e ve o que há de melhor neles. “demonio”, e isto em várias esferas de agao. Em certa medida,
a informagáo náo é excegáo a este estado.
Mostra-te generoso com aqueles que estáo em necessidade ou que sáo
menos favorecidos do que tu és. A cada dia, age de maneira a efetuar Todos devem convir que a informagáo tem um grande im­
ao menos urna boa aqáo para com outrem. Qual seja o bem quefizeres pacto ñas mentalidades e nos comportamentos. Infelizmente,
aos outros, náo te glorifiques dele, mas agradece a Deus de te haver aqueles que a fornecem ou fabricam tem com demasiada
permitido contribuir para o bem-estar deles. [...] frequéncia a tendéncia de se colocar no nivel daquilo que as
pessoas esperam. Assim, eles alimentam necessidades e desejos
que nem sempre sáo construtivos. Quanto á imprensa, jornais etc. e, de maneira geral, em cenas que exprimem as desditas
e revistas especializados na apresentagáo de acontecimentos os do mundo, constitui um verdadeiro envenenamento mental
quais sabe-se que captaráo a opiniáo pública tém necessidade com todas as consequéncias negativas derivadas: depressáo,
de chocá-la por meio de fotografías particularmente bem esco- angústia, pessimismo, tristeza...
lhidas. Ora, mesmo que o nivel de consciéncia atingido pela
humanidade seja superior aquilo que foi no passado, muitas Certamente é normal informar as pessoas sobre o que se
pessoas se sentem ainda mais atraídas pelo que é trágico na passa no mundo, pois a informagáo é necessária e evidencia
atualidade do que pelos fatos alegres e positivos. o que é mau ou condenável no comportamento humano.
Ela permite também que as pessoas reflitam sobre questóes
O que é verdade a propósito da imprensa escrita o é tam- que ultrapassam os limites de sua preocupagáo individual e
bém a respeito da audiovisual e da internet ou de qualquer exergam sua compaixáo. Assim sendo, a informagáo deveria
outro meio de telecomunicagáo. A atualidade televisionada, ter como papel essencial elevar as consciéncias. Logo, mais
por exemplo, tem também a tendéncia a insistir ñas noticias do que focalizar as faltas da humanidade e as fraquezas do
que fazem mais apelo ao “voyeurismo” do que naquilo que homem, ela deveria incitar os individuos a se tornarem me-
há de mais nobre no ser humano. Em outras palavras, ela tem lhores e a combaterem aquilo que contribui para a guerra,
propensáo a cobrir os acontecimentos por meio de imagens o racismo, o crime, o fanatismo e as paixóes degradantes do
que póem em cena a miséria, a violéncia, o crime etc., para género humano. Quando ocorre uma catástrofe em alguma
náo citar ainda as catástrofes de toda espécie. E, infelizmente, parte, mais do que buscar a qualquer custo a exclusividade de
a experiéncia prova que este tipo de informagáo tem muita imagens ou de reportagens sensacionalistas, a mídia deveria
audiencia, o que explica, por sua vez, por que é táo explorada. apresentar a informagáo com o objetivo de despertar, por seu
intermédio, a entreajuda e a compaixáo para com as vítimas.
Náo é minha intengáo, por meio destas reflexóes, analisar
as razóes psicológicas que fazem o homem experimentar Priorizando o sensacional, ou seja, os acontecimentos que
uma certa atragáo pela desventura de outrem ou por situagóes apelam á natureza mais instintiva do homem, a informagáo
dramáticas. Meu objetivo é principalmente chamar a atengáo se afasta da missáo que poderia ter. Insistindo, como faz, na
sobre o perigo que representa uma informagáo que insiste noticia mais dramática ou mais sórdida, ela dá lugar a uma vi-
demasiadamente nos acontecimentos trágicos da vida coti­ sualizagáo coletiva que póe em movimento energias da mesma
diana. Tenhamos consciéncia disto ou náo, o fato de sermos natureza. Efetivamente, quando milhóes de pessoas, no mes­
confrontados a cada dia com um noticiário que focaliza as mo instante, estáo concentradas em uma noticia deprimente
pessoas em comentários ou cenas de violéncia, odio, discordia ou depreciativa, elas geram formas-pensamento negativas que,
de maneira sutil, criam e mantém o infortunio ou o mal. Sáo A beleza na arte ou a arte da beleza
igualmente estas formas-pensamento que explicam por que
mais e mais pessoas se sentem angustiadas, pois elas sentem b eleza está estreitam en te ligad a as artes e,
a influencia das energias negativas assim engendradas.

Quando todos aqueles que tém responsabilidade pela in-


formagáo houverem compreendido que é preferível insistir em
A consequentemente, as áreas que se relacionam com ela.
A emogáo e a razáo devem ser nossos guias quando
contemplamos as obras artísticas que nos sáo acessíveis, a fim
de selecionar apenas aquelas que nos elevam em consciéncia.
acontecimentos positivos do que nos negativos que marcam o O belo está em toda manifestagáo, em graus diversos. A mú­
noticiário cotidiano, eles darao á sociedade a possibilidade de sica, a pintura, a escultura, a danga, mas também a natureza
crescimento e de criagáo de um futuro melhor. Isto náo quer e as agóes humanas podem suscitar o sentimento de beleza.
dizer que é preciso ocultar os fatos dramáticos que ocorrem no E mais do que as artes em si, é á percepgáo da beleza que é
palco da humanidade. Significa, antes, que nao é necessário preciso se deter. Efetivamente, se a estética objetiva induzir o
dizer e mostrar tudo da falibilidade humana ou a desgraga do sentimento do belo, seu sentido etimológico é precisamente o
homem, sobretudo considerando-se que a informagáo dada da “percepgáo”, traduzido da palavra grega aisthetikps. Logo,
náo leva nenhum elemento útil aqueles que déla tomam isto significa que a beleza se percebe e se sente, antes de ser
conhecimento. um objeto de reflexáo.

Todo ser humano deveria se esforgar para transmutar o pes- Platáo pode ser considerado como o fundador da ciéncia
simismo que predomina atualmente num otimismo baseado do belo. Ele acreditava que existe, para além das coisas mani­
em uma análise lúcida, porém confiante, dos acontecimentos. festadas, um “belo” espiritual e absoluto que confere beleza a
Assim, quando tivermos a oportunidade de falar com outros tudo que existe no plano terrestre. Ele dizia igualmente que
sobre atualidades, seja no plano regional, nacional ou inter­ quanto mais puros forem nossos pensamentos, melhor per-
nacional, deveríamos sempre nos esforgar para evidenciar os ceberemos e sentiremos a beleza universal, a qual é, segundo
pontos que mostram que o mundo, para além das aparéncias, ele, uma emanagáo do Divino. Naturalmente, a beleza náo se
evolui na diregáo de ideáis cada vez mais humanistas. Parale­ exprime apenas no mundo visível e náo se limita as aparéncias.
lamente, deveríamos nos ocupar emitindo formas-pensamento Há igualmente a beleza interior, a da alma, que transcende o
positivas na intengáo de todos aqueles que sofrem física ou corpo e que cintila através dele.
moralmente. Tenhamos consciéncia disso ou náo, o poder
do pensamento é imenso. Logo, é necessário empregá-lo de A natureza transcendental da beleza pode ser assemelhada
maneira útil e construtiva. á impulsáo que nos conduz na diregáo de tudo aquilo que
participa do bem, como exprimiu magníficamente este grande
neo-platónico que foi Plotino. Este místico inspirado sempre
se dedicou a revelar a beleza associando-a aquilo que ele é preciso que ela participe na razáo que criou este m undo. Em
designava como sendo “o olho interior”, o qual, segundo ele, todas as artes é a proporqáo e a harm onia que agradam. Quando
deve se abrir á percepgáo daquilo que é belo em todas as coisas presentes, tudo é belo. Ora, esta harm onia aspira á igualdade e á
e em todos os seres. A respeito disto declarou ele: unidade. O belo tem sem pre p o r fo rm a a unidade”.
y ^ 4
“E preciso acostum ar a alma a ver prim eiro as belas ocupaqoes, Se a Beleza divina pode ser percebida e recebida di-
depois as belas obras dos hom ens de bem e depois ver a alm a da- retamente pela inspiragao, náo é senáo quando o artista
queles que executam belas obras. Como podem os ver esta beleza da dá forma a ela na matéria que ela se torna beleza para o
boa alm a? Volta a ti m esm o e olha: se ainda nao ves a beleza em comum dos mortais. Ela se aparenta entáo a urna obra
ti m esm o, fa z com o o escultor de urna estátua que d eve to m a rse de arte cuja esséncia, o arquétipo, tem origem nos planos
bela; ele subtrai urna parte, desbasta, bruñe e lustra a té libertar superiores da Criagáo. Isto quer dizer que a beleza, tal
do m árm ore belas linhas. Como ele, retira o supérfluo, corrige qual manifestada entre nós por meio da natureza e das
aquilo que está oblíquo, limpa aquilo que está escuro para tom á- obras do homem, deve nos conduzir a urna tomada de
~lo brilhante e náo cessa de esculpir tua própria estátua a té que o consciéncia da Beleza-divina. Quer dizer ainda que seu
claráo divino da virtude se manifeste... Pois ép reciso que o olho objetivo é nos elevar em consciéncia á Divindade. Se este
se tom e sem elhante e equivalente ao objeto visto para se p or a é o caso, é porque nossa alma é urna emanagáo da Alma
contem plá-lo. Jam ais um olho verá o sol sem se tom ar sem elhante universal e porque ela sente e exprime, por meio daquilo
a ele e tam pouco urna alma verá o belo se náo f o r bela”. que é belo, o que há de mais divino nela.
Há urna progressáo na percepgáo do belo. Este deve seduzir
os sentidos e depois a mente e as emogóes, antes de tocar a alma Se é im portante sermos receptivos á beleza e nos
propriamente dita. Atrás de toda obra de arte há um artista, nutrirmos déla em todos os planos, da mesma maneira
mas quando ela é considerada perfeita, transcende a perso- é importante manifestá-la, ou seja, criá-la, e isto inde-
nalidade de seu autor para exprimir um aspecto do Divino. pendentemente e fora das artes. E assim que devemos nos em-
Deus, no sentido de Inteligencia ou Consciéncia universal, penhar para exprimi-la em cada um de nossos pensamentos,
está, portanto, presente no sentimento puro e auténtico do palavras e agóes, e de tal modo manifestar a relagáo harmónica
belo, pois este é um de seus atributos. Falando da beleza na que nos une a Deus, tal como O concebemos e O sentimos.
arte, Santo Agostinho disse: Nisto, quanto mais um individuo é evoluído espiritualmente,
mais é sensível á beleza e mais se torna capaz de criá-la nele
“A beleza é a marca necessária, ainda que m eio apagada, da e a seu redor, trazendo assim urna parcela do Divino para o
Máo divina. Para que ujna obra de arte seja verdadeiram ente bela, plano terrestre, para a maior ventura dos homens.
Em conclusáo, devemos cultivar nossa sensibilidade á O aspecto judaico-cristáo
beleza das coisas, náo por estas coisas em si, mas pela har­
monia que irradia délas e que, por meio délas, manifesta a
do Martinismo
Beleza divina. Ser sensível ao que é belo é abrir uma janela
e o “acaso” colocou em suas máos esta obra e se jamais
para o Mundo divino e se aproximar da Sabedoria divina; é
experienciar o Amor universal, do qual é dito que é a vida e
a luz de todas as coisas no universo. E isto que levou Rümi a
dizer: “Aquilo que Deus disse a rosa e que a fez desabrochar sua
S vocé tinha ouvido falar do Martinismo, permita-me lhe
fazer uma breve apresentagáo. Ela é extraída de uma
brochura intitulada “Luz Martinista”, a qual vocé pode pro­
videnciar solicitando á sede da Tradicional Ordem Martinista
beleza, Ele disse ao m eu coraqáo e o tornou cem vezes mais b elo ”.
ou por meio do site da TOM ou da AMORC.
“[...] A Tradicional Ordem Martinista é uma Ordem ini-
ciática cuja meta essencial é perpetuar o esoterismo judaico-
-cristáo. Os martinistas estudam a historia do homem desde
sua emanagáo da Imensidade divina até sua condigáo presente,
assim como as relagóes que unem o homem a Deus e á natu­
reza. Pois, segundo o Filósofo Desconhecido: “Nao pod em os
nos ler senáo em Deus, e só nos com preendem os em seu próprio
esplen dor... ”. O homem cometeu o erro de se afastar de Deus
e de cair no mundo material. Desta maneira, ele de algum
jeito adormeceu para o mundo espiritual e seu templo interior
está em ruinas. Ele deve, portanto, reconstruí-lo, pois se ele
perdeu seu poder primordial, o conserva no entanto em forma
de gérmen e só a ele compete fazé-lo frutificar.”

“[...] Em seus trabalhos, os martinistas náo empregam


nem a teurgia nem a magia, pois se conformam ao ideal do
Filósofo Desconhecido: “Conduzir o espirito do hom em p or
um a via natural as coisas sobrenaturais que perten cem a ele p or
direito, mas das quais ele perdeu com pletam en te a ideia, seja
p or sua degradaqáo, seja pela falsa instruqáo de seus instrutores”.
Por isso, é inútil acumular um saber intelectual, pois "náo
é a cabeqa que é preciso empenhar, mas o coraqáo". Em seu
trabalho, o martinista utiliza dois livros: o “Livro da Natureza" Em seguida a este texto, figura uma entrevista dada a uma
e o "Livro do H om em ” A natureza é "a verdadeira cornucopia revista de historia, em janeiro de 2010. Ela completará a breve
para nosso estado atual. .. Ela é, efetivam ente, o ponto de encontro apresentagáo da TOM.
de todas as virtudes criadas. .. Assim, todas estas virtudes divinas,
ordenadas p elo grande principio para cooperar na reabilitaqdo dos
homens, existem sem pre ao redor de nós”. Isto significa que Deus O aspecto judaico-cristáo do Martinismo
semeou na natureza os símbolos de sua sabedoria, a fim de que
pudéssemos descobri-la por nós mesmos. Para o Iniciado, ela Muitas pessoas tém a tendéncia de pensar que a senda mar­
também constituí um imenso reservatório de conhecimentos.” tinista está limitada aos valores tradicionais do Cristianismo
primitivo. Esta maneira de ver as coisas náo chega a ser falsa,
A origem do Martinismo é francesa e remonta ao século mas é muito incompleta, pois a esséncia do Martinismo é de
XVIII, a um período de grande agitagáo política e económica. fato uma tradigáo que associa a gnose cristá á mística judaica.
E Louis-Claude de Saint-Martin e seus escritos que estáo na Parece-me, portanto, necessário voltar a certas nogóes que
origem deste movimento. Depois da morte deste, em 1803, demonstram, tanto no plano histórico quanto no místico, que
a Ordem fez-se discreta até 1888, data na qual retomou suas a Tradicional Ordem Martinista é um movimento judaico-
-cristáo no sentido mais nobre desta expressáo.
atividades. A historia do Martinismo é rica de acontecimentos
e eu estimulo o seu interesse. De um ponto de vista histórico, é importante compreender
bem que os acontecimentos sócio-políticos que possibilitaram
Se detenho o título de Imperator da Antiga e Mística Or­ a aparigáo do Cristianismo estáo ligados aos valores culturáis e
dem Rosacruz, como responsável mundial pela Tradicional moráis pré-estabelecidos pelo Judaismo. Náo é por acaso que
Ordem Martinista é o título de Soberano Grande Mestre que a mesma térra, Israel, tenha sido bergo destas duas grandes
me é atribuido. Há várias décadas tenho tido oportunidade religióes. Ainda em nossos dias, Jerusalém permanece sendo
de me dirigir a meus irmáos e irmás martinistas no decurso a única cidade do mundo onde tanto judeus quanto cristáos
de conventículos ñas Heptadas e durante Convengóes. O podem reivindicar os mesmos direitos para justificar os lagos
ensinamento martinista tem uma nota particular, comple­ profundos que os unem a esta cidade. A mesma coisa pode
mentar mas diferente daquela da AMORC. Dentre minhas se aplicar ao Islá, pois Jerusalém tem igualmente um lugar
alocugóes, escolhi uma mais geral, a qual certamente abreviei muito sagrado no coragáo dos mugulmanos.
e adaptei para o público em geral. Este texto náo é, portanto,
integralmente aquele que meus irmáos e irmás martinistas De um ponto de vista místico, o advento da era cristá náo
tiveram ocasiáo de ouvir, mas eles sabem o porqué... poderia ocorrer senáo em Israel pois, naquela época, este país
era o único a reunir as condigóes humanas que tornavam que nos foram deixadas por aqueles que se aprofundaram no
possíveis tal acontecimento. Náo é surpreendente, portanto, misticismo destas duas religióes, notamos o lago esotérico que
que este mesmo país tenha dado nascenga a dois dos maiores foi estabelecido entre o Judaismo e o Cristianismo. Na verdade,
avatares que a humanidade conheceu. Falo naturalmente de nenhum místico pode negar a evidéncia deste lago e, se o fizer,
Moisés e Jesús. Do primeiro, os textos sagrados nos dizem que náo pode esperar ir muito longe em sua busca espiritual.
ele recebeu a Lei, a alma da Lei e a alma da alma da Lei. O
De um ponto de vista tanto histórico quanto místico, náo há
segundo pregou a Vida, a Senda e a Verdade. Logo, como náo um Antigo e um Novo Testamento, mas um único e singular
compreender que esses dois missionários vieram testemunhar
Testamento que trata de duas épocas que náo se opóem mas
a mesma Luz e a gloria do mesmo Deus?
que, extamente ao contrário, se completam em todos os planos.
Neste sentido, eu o aconselho a 1er ou reler a Biblia partindo
Já que nos referimos ao histórico de suas vidas, tal como
do principio de que ela se compóe de dois livros cujo segundo
retratada ñas obras clássicas, constatamos que a maior parte
esclarece o sentido do primeiro, e cujo primeiro serve de base
dos especialistas se afirma estabelecendo uma ligagáo muito
ao segundo. Para estabelecer um paralelo com o Martinismo,
estreita entre esses dois seres de excegáo. Para eles, um e outro
esta complementaridade existe á imagem daquela que une
foram fundadores de dois sistemas éticos que ultrapassam o “Livro da Natureza” ao “Livro do Homem”, táo caros aos
muito longe a dimensáo estritamente religiosa. De fato, Moisés
martinistas. Se o Antigo e o Novo Testamento foram selados
está presente cada vez mais oficialmente como o fundador da
pelos homens a ponto de constituirem uma única obra, é de
nagáo israelense, e Jesús como um filósofo que veio reforgar e
toda evidéncia porque assim deveria ser. O primeiro trata da
generalizar os códigos moráis e cívicos estabelecidos por seu maneira de aplicaros mandamentos de Deus para estabelecer
predecessor. Insisto no fato de que náo é verdadeiramente a
na Terra um reino conduzido em Seu nome e á Sua gloria. O
historia que busca opor a mensagem crística ao pensamento segundo relata o que é necessário fazer no plano individual
mosaico, mas as religióes que foram fundadas a partir da in- para construir a contrapartida celeste deste reino terrestre.
terpretagáo deles. Ninguém efetivamente ignora o abismo que
se abriu no decurso dos séculos entre as autoridades judias e Vemos, logo, que os dois grandes livros da Biblia formam
católicas. Sendo as coisas como sáo em nossos dias, e isto por uma dualidade na expressáo do Verbo divino. Esta dualidade
razóes que náo me compete detalhar, a maioria dos judeus torna-se evidente se nos lembramos que Moisés tinha, ele
praticantes escolheram náo ver em Jesús senáo um profeta mesmo, anunciado a vinda de Jesús e que Jesús, várias vezes,
entre varios outros, enquanto os cristaos, por seu lado, pare- declarou que ele náo havia vindo para abolir a lei dos profetas,
cem ter esquecido que o Antigo Testamento náo se limita ao mas para cumpri-la. Evidencia-se, portanto, que Jesús é no
Génesis. Considerando isso, quando nos referimos as obras Novo Testamento aquilo que Moisés é no Antigo. Tanto um
quanto o outro foram dois missionários da Grande Fraternidade que os essénios descreveram a respeito do combate dos Filhos
Branca e todos os dois, a partir dos conhecimentos adquiridos da Luz com os Filhos das Trevas. Assim, tudo converge para
ñas escolas de mistérios do Antigo Egito, estabeleceram os fun­ dizer que as tradigoes judia e crista estáo intimamente liga­
damentos de duas sendas de reintegrado; a primeira num plano das, urna vez que elas se harmonizam na antiga sabedoria do
coletivo e a segunda num plano individual. Assim, a missáo de pensamento essénio, o qual se perde na Tradigáo primordial.
Moisés consistía em apresentar aos homens a descida simbólica Parece, pois, evidente que duas correntes místicas táo próxi­
do “Eu sou”, e a de Jesús em mostrar a via a seguir para que mas náo podem ser opostas, e que aqueles que deixam supor
cada um ascenda ao Reino do Pai, como o filho pródigo. o contrário o fazem por ignorancia ou num desejo deliberado
de desfigurar a verdade.
Alguns textos atestam que Moisés foi membro de urna comu-
nidade essénia que se estabeleceu no Monte Sinai, e que é nesse A Tradicional Ordem Martinista sempre baseou seus en-
templo desta comunidade que lhe foi revelada a Lei. Estes mes­ sinamentos no esoterismo da Biblia e, por conseguinte, no
mos textos acrescem que, no momento da destruigáo do Templo esoterismo do Antigo e do Novo Testamento. Ela é, portanto,
de Salomáo, em 587 antes da era crista, a Arca da Alianga fora urna Ordem mística judaico-cristá, no sentido mais tradicional
confiada aos essénios do Sinai, ao passo que os objetos sagrados que é possível atribuir a este qualificativo. Para ilustrar minhas
ideias, bastaria passar em revista certos símbolos utilizados
do Templo foram remetidos aos membros de urna fraternidade
nos rituais martinistas, mas eu me preservarei de fazé-lo nesta
essénia que vivia na mesma época ás margens do Mar Morto.
obra. Os martinistas compreenderáo a que me refiro e se vocé,
Os essénios do Mar Morto, sempre de acordo com esses textos, que lé estas linhas, desejar conhecé-los mais, eu o convido a
deram á sua fraternidade o nome de “Comunidade da Nova unir-se a esta Ordem. Saiba apenas que, entre os símbolos
Alianza”, pois sabiam que o Mestre Jesús seria um deles alguns utilizados em seus trabalhos, há muitos que lá estáo para nos
séculos mais tarde e que ele teria por missáo operar a transigáo lembrar constantemente que os misticismos judeu e cristáo
entre o ciclo do Antigo e o do Novo Testamento. constituem os dois pilares de um mesmo Templo tradicional.
É difícil estabelecer a autenticidade destas afirmagóes mas,
Fora os símbolos, as frases pronunciadas nos rituais mar­
em compensado, os arquivos tradicionais confirmam que
tinistas sáo igualmente urna lembranga constante da essén-
esses dois Grandes Iniciados foram essénios. Alguns historia­
cia judaico-cristá do Martinismo. E por isso que Deus, no
dores, em sua análise recente dos manuscritos de Qumrán, Martinismo, é nomeado o “Grande Arquiteto do Universo”,
estabeleceram numerosas similaridades com os preceitos ao qual fazem referéncia os cabalistas. Paralelamente a esta
mosaicos. A filosofía de base parece comum, pois encontra­ alusáo ao Deus eterno do Antigo Testamento, os martinistas
mos as mesmas referéncias ás oposigoes da vida, tais como se referem igualmente ao Cristo Cósmico Ieschouah, isto é,
simbolizadas na Arvore cabalística, notadamente naquilo a urna Forga divina da qual Jesús foi a encarnagáo terrena.
Podemos igualmente apelar aos números para demonstrar Entrevista
que o Martinismo veicula táo bem o misticismo judeu quan­
to o misticismo cristáo. Vocé certamente sabe que o número “Em nossos dias, a Tradicional Ordem Martinista é considerada
7 é o do Antigo Testamento e que o número 8 é o do Novo. com o o mais dinám ico m ovim ento martinista. Presente no m undo
Ora, esses dois números estáo muito presentes na simbologia
inteiro, ela fu n cion a em diversas jurisdigóes de línguas escritas e
martinista.
faladas, dirigidas cada qual p o r um Grande M estre e dispostas
O primeiro dever de um martinista é aplicar em seus pen­ sob a supervisáo de Christian Bernard, que assume a fu n gá o de
samientos, suas palavras e suas agóes as virtudes manifestadas Soberano Grande Mestre. '
por todos os Mestres que marcaram a evolugáo moral, cultural
e espiritual da humanidade. Outro dever é contribuir para o
A.H.: Christian Bernard, o senhor é o atual Soberano
advento de uma religiáo universal. Tal religiáo náo poderá
Grande Mestre da Tradicional Ordem Martinista. Sem que
conhecer o dia senáo quando o homem chegar a compreen-
der que todas as grandes religióes atuais originaram-se numa entremos no terreno histórico, que é longamente desenvolvido
única Tradigáo. Neste texto, detive-me no lago evidente que nesta revista, o senhor poderia nos dizer em algumas palavras
une o Judaismo e o Cristianismo, mas eu poderia ter esten­ o que é a TOM?
dido esse estudo comparativo para outras correntes religiosas
e ter constatado a mesma unidade esotérica. E importante, C.B.: Por definigáo, trata-se de um movimento filosófi­
cada vez que a ocasiáo se nos apresentar, demonstrar que é co, iniciático e tradicional que remonta a Louis-Claude de
a ignorancia da humanidade que opóe as religióes urnas as Saint-Martin, eminente filósofo francés do século XVIII. O
outras, e que um budista, um mugulmano, um judeu ou um objetivo déla é perpetuar o ensinamento que ele transmitiu
cristáo, se aplicar verdadeiramente o espirito de seu credo, náo a seus discípulos. Em nossos dias, este ensinamento pode ser
pode ver em Buda, Maomé, Moisés e Jesús senáo encarnagóes recebido de duas maneiras: oralmente, frequentando-se uma
diferentes, para povos diferentes, em épocas diferentes, de um Heptada ou um Atelier1; por escrito, pelo estudo, no lar, dos
mesmo e único Verbo divino.
documentos enviados pela sede da Ordem.

A.H.: Mas Louis-Claude de Saint-Martin náo criou, assim,


a Tradicional Ordem Martinista como ela é?

1 No países jurisdicionados á Grande Loja de Língua Portuguesa o


Atelier é chamado de Atrium (Atria, no plural). (N. do T.)
C.B.: Náo. Em vida ele ensinou apenas a alguns discípulos, C.B.: Se se acredita no Génesis, a criagáo do mundo fez-se
escolhidos com circunspecto. A tradigáo atesta que, após em seis dias. E evidente que tal coisa é impossível. A humani­
sua morte, formou-se um Círculo, conhecido pelo nome de dade, por sua vez, náo pode descender de um casal original,
“Sociedade dos Intim os”. Aqueles que faziam parte déla se reu- no caso Adáo e Eva. Esses relatos genesíacos correspondem
niam de tempos em tempos e trocávam informagóes sobre os efetivamente a leis e principios ontológicos, cosmológicos e
escritos do Filósofo Desconhecido, de Martines de Pasqually cosmogónicos explicados no Martinismo.
e de Jacob Boehme.
A.H.: Quanto tempo dura o ensinamento martinista?
A.H.: De que trata o ensinamento martinista? C.B.: Ele está escalonado em trés graus que exigem, cada
qual, dois anos de estudo, antes de se ascender a um último
C.B.: De maneira geral, ele propóe uma abordagem esoté­ grau intitulado “C irculo dos Filósofos D esconhecidos\
rica de grandes temas específicos á tradigáo judaico-cristá, tais
A.H.: Afirma-se que a iniciagáo é fundamental no Marti­
como as origens da criagáo, a queda do homem, a reintegragáo
nismo. Como, efetivamente?
dos seres, a verdadeira missáo do Cristo, a ciencia dos núme­
ros, a simbologia celeste, a angelologia etc., náo sem estudar a C.B.: De fato, para ser considerado um verdadeiro mar­
Cabala, assim como o sentido velado do Antigo Testamento, tinista, é preciso ter sido iniciado em um Templo por um
dos Evangelhos apócrifos etc. iniciador que tenha sido ele mesmo devidamente iniciado ao
Martinismo, e assim sucessivamente voltando no tempo. O
A.H.: A que o senhor se refere por “abordagem esotérica”? objetivo desta iniciagáo é duplo: transmitir ao recipiendário
o influxo espiritual que faz dele ritualmente um martinista;
C.B.: Para os martinistas, é evidente que muitos temas pre­ e admiti-lo tradicionalmente na filiagáo martinista.
sentes tanto no Antigo como no Novo Testamento tém uma
dimensáo simbólica e alegórica. E preciso, pois, ir além das A.H.: Mas o que é feito dos martinistas que estudam o en­
interpretagóes literais se quisermos compreender seu sentido sinamento em casa e que náo frequentam nem uma Heptada
profundo, para náo dizer oculto. O ensinamento martinista e nem um Atelier?
tem precisamente por meta decodificar as verdades místicas
contidas na Biblia, náo sem se apoiar ñas exegeses e nos es­ C.B.: Pode-se dizer que eles tém acesso ao ensinamento
critos apócrifos. martinista mas que náo fazem parte verdadeiramente da fi­
liagáo martinista. No entanto, eles podem, a qualquer tempo,
A.H.: O senhor poderia nos dar um exemplo? iniciar-se em um Templo.
A.H...A priori, pode-se crer que o ensinamento martinista C.B.: Naturalmente. As mulheres sáo admitidas no Mar­
é intelecual. Isto procede? tinismo desde o século XVIII. O mesmo acontecía na época
✓ de Papus.
C.B.: E fato que o estudo martinista, seja na forma oral
ou escrita, exige um trabalho de reflexáo. Mas seria um erro A.H.: ATOM tem envolvimento no plano político?
reduzi-lo a esta abordagem intelectual. E preciso igualmente
aprender a sentir o aspecto emocional da “nota” martinista.
C.B.: Náo. Ela é totalmente apolítica, o que explica por que
Neste particular, lembremos que o próprio Louis-Claude de
ela tem entre seus membros pessoas de opinióes divergentes,
Saint-Martin disse: “Náo é a cabeqa que épreciso em penhar; é o
e mesmo opostas, neste particular.
coraqáo”. O Martinismo é, assim, frequentemente qualificado
de “Via C ardíaca', o que é muito significativo. E preciso saber
igualmente que o ensinamento martinista é tanto prático A.H.: O senhor é igualmente o responsável mundial da
quanto teórico. E desta maneira que ele integra diversas ex­ Antiga e Mística Ordem Rosacruz. Por que essa fungáo dupla?
periencias que objetivam despertar nossa consciéncia interior,
a fim de expandir nossa sensibilidade aquilo que há de mais C.B.: Porque é a AMORC que apadrinha a TOM desde o
divino em nós e ao nosso redor, o que implica, naturalmente, comego do século XX, e porque 90% dos martinistas sáo ro­
em sermos espiritualistas. sacruzes. Todos os Grandes Mestres da AMORC sáo também
y Grandes Mestres da TOM. Assumindo a responsabilidade
A.H.: E preciso ser judeu ou cristáo para ter acesso ao conjunta dessas duas Ordens irmás, é possível dirigir suas
Martinismo? respectivas atividades em perfeita harmonia.

C.B.: Náo. O Martinismo é aberto a toda pessoa que se A.H.: E quantos rosacruzes sáo martinistas?
interesse pelo esoterismo judaico-cristáo, pertenga ela ou náo
á religiáo judaica ou á crista. Quanto aos judeus e aos cristáos
C.B.: Cerca de 20%. Isto se explica pelo fato de que nem
que sáo martinistas, a experiéncia prova que o ensinamento
todos os rosacruzes se interessam necessariamente pelo eso­
que eles estudam no seio da Ordem lhes permite compreender
os fundamentos ontológicos de sua religiáo de base. terismo judaico-cristáo.

A.H.: A Tradicional Ordem Martinista é aberta ás mu­ A.H.: Qual a diferenga entre o Martinismo e o Rosa-
lheres? crucianismo?
C.B.: Conforme lhe evoquei, o ensinamento martinista C.B.: É um ideal de cavalaria espiritual, fundado na von­
tem uma conotagáo judaico-cristá, o que náo quer dizer que tade de cultivar em si a sabedoria, visando tornar o mundo
ele tenha caráter religioso. O ensinamento rosacruz, por sua melhor.
vez, é mais ampio e mais universal, no sentido de que se A.H.: Como Soberano Grande Mestre da TOM, qual sua
religa á Tradigáo primordial e transcende todas as religióes visáo sobre o mundo atual?
existentes e extintas. Para fazermos uso de uma metáfora, a
Ordem Rosacruz é uma árvore da qual a Tradicional Ordem C.B.: O mesmo que tenho como responsável pela AMORC.
Martinista é um ramo. Para ser mais preciso, creio que a humanidade se ateizou e
que arrisca perder sua alma na sua carreira desabalada ao
A.H.: Há ligagáo entre o Martinismo e a Franco-Mago- materialismo. E preciso que ela restabelega sua ligagáo com
naria? uma espiritualidade auténtica, ou seja, náo-religiosa, fundada
sob o ternário esotérico Homem-Natureza-Deus, tal como
os martinistas, os rosacruzes e outros místicos o concebem.
C.B.: Eu náo sou franco-magom, mas pelo que sei, certos
rituais magónicos sáo muito semelhantes aos rituais marti­ A.H.: Qual é a concepgáo de Deus dos rosacruzes e mar­
nistas. Isto se explica notadamente pelo fato de que Martines tinistas?
de Pasqually, iniciador de Louis-Claude de Saint-Martin, C.B.: Eles veem Nele a inteligencia, a consciéncia, a ener-
pertencia á Franco-Magonaria. gia, a forga (pouco importando o termo) que está na origem
da Criagáo e que se manifesta por meio de leis impessoais,
A.H.: Fora as reunióes que acontecem ñas Heptadas e Ate- imutáveis e perfeitas. De fato, é no estudo e no respeito a essas
liers, os martinistas tém outras possibilidades de se encontrar? leis que habita a felicidade á qual toda a humanidade aspira.
No entanto, ainda é preciso que ela tome consciéncia disso e
C.B: Sim. ATOM organiza regularmente convengóes que que aja em consequéncia..
se realizam em ámbito regional, nacional ou internacional,
permitindo assim que martinistas vindos de diversos horizon­
tes se encontrem e trabalhem juntos. Visto sob este ángulo,
trata-se de uma auténtica Fraternidade.

A.H.: Em uma frase, como o senhor definiria o ideal mar­


tinista?
Propósito da Ordem Rosacruz
A Ordem Rosacruz, AM O RC é uma organizagáo internacional,
mística e Templária de caráter cultural, fraternal, náo-sectário
e nao-dogmático, de homens e m ulheres dedicados ao estudo e
aplicagáo prática das leis naturais que regem o universo e a vida.

Seu objetivo é promover a evolugáo da humanidade através do


desenvolvimento das potencialidades de cada individuo c propiciar
uma vida harmoniosa com saúde, felicidade e paz.

A Ordem Rosacruz oferece um sistema eficaz e comprovado de


instrugáo e orientagáo para o autoconhecimento e compreensáo
dos processos que determinam a mais alta realizagáo humana.
Essa profunda e prática sabedoria, cuidadosamente preservada e
desenvolvida pelas Escolas de Mistérios esotéricos, está á disposi-
gáo de toda pessoa sincera, de mente aberta e motivagáo positiva
e construtiva.

Para mais informagóes, os interessados podem solicitar o inform a­


tivo gratuito “O D om inio da V ida”, escrevendo ou telefonando
para:

Ordem Rosacruz, AM O RC
Grande Loja da Jurisdigáo de Língua Portuguesa
Rúa Nicaragua, 2620 —Bacacheri - 82515-260
Curitiba —PR —Brasil
Caixa Postal 4450 - 82501-970
Fone: (0xx41) 3351-3000
Fax: (0xx41) 3351-3065 e 3351-3020
www.amorc.org.br
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ti, Missáo Rosacruz T'íjí'
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A Ordem Rosacruz, AMORC é urna
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# Organizagáo Internacional de caráter
místico-filosófico, que tem por MISSÁO
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^ pertar o potencial interior do ser
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da Cultura Rosacruz.
R eflex ó es
Ro s a c r u z e s
Christian Bernard, responsável mundial
pela Antiga e Mística Ordem Rosacruz
desde 1990, apresenta neste livro
alguns dos textos que redigiu no
ámbito de sua fungáo.

Escritos originalmente voltados para


os rosacruzes, estes textos, adaptados
para a circunstancia, sáo as mesmas
reflexóes que ele apresenta para um
público mais ampio.

Ao ler este livro, toda pessoa


interessada pelo misticismo e pela
espiritualidade poderá ter urna melhor
ideia sobre a filosofía rosacruz.

ISBN 978-85-317-0204-4

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