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FÓRUM ROSACRUZ

Volume IX – Nº 01 – 2017 Publicação Privativa aos Membros da AMORC

O Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci é um desenho famoso que


acompanhava as notas feitas pelo artista por volta do ano 1490 num dos seus
diários. Descreve uma figura masculina nua separada e simultaneamente em
duas posições sobrepostas com os braços inscritos num círculo e num quadrado.
Mensagem do Grande Mestre
Ano 3370

Prezados fratres e sorores,


Saudações em todas as pontas do nosso Sagrado Triângulo!

Com satisfação apresento mais uma edição do Fórum Rosacruz.


O caráter sagrado de nossos ensinamentos e com efeito de nossos rituais templários
devem ser sempre preservados e reverenciados. O afastamento deste pensamento mágico
na linguagem dos antropólogos esvazia, por assim dizer, o ser humano de sua natureza
mística e de sua relação com o transcendente. O processo de despertar e desabrochar da
consciência oferecidos pelas monografias são aperfeiçoados pela literatura complementar
oferecida pela Grande Loja.
As revistas “O Rosacruz” e o “Fórum Rosacruz” contemplam este objetivo, isto é,
esclarecem, motivam, ensinam e consolidam o caráter sagrado de nossa Augusta
Fraternidade.
Faço votos que o amado Frater e a amada Soror recebam esta edição do Fórum como
mais um degrau de crescimento em sua evolução pessoal.
Com meus melhores votos de Paz Profunda, sou

Sincera e fraternalmente
AMORC-GLP

Hélio de Moraes e Marques


GRANDE MESTRE
AVATARES

O que são avatares? Os rosacruzes aceitam o significado tradicional da


palavra “avatar”? Quem foram eles? Há avatares nos dias de hoje?

A palavra “avatar” é de origem hindu, possivelmente sânscrita. Na religião


hindu, esse termo referia-se a qualquer das divindades do panteão hindu que
encarnasse em forma humana. Alguém que tenha alcançado a iluminação espiritual
e seja, de fato, uma divindade, ou o equivalente a isto em realização, e volte à
existência mortal para servir à humanidade é considerado um avatar, segundo a
religião hindu. Misticamente falando, avatar é aquele que alcançou o estado de
Consciência Cósmica (isto é, o estado em que sua consciência está em perfeita
harmonia com a Mente Universal, de modo que ele não é mais cosmicamente
forçado a encarnar em forma física; a personalidade-alma aprendeu suas lições
específicas e realmente completou seu necessário ciclo). Esse ciclo começa com
a expansão da força anímica através da forma humana e vai até o estado final
de plena realização da unidade cósmica. Alcançada essa percepção, a alma terá
retornado, em consciência, à sua fonte.
Nesta premissa tradicional e mística fundamentam-se muitas filosofias
místicas, religiões e conceitos metafísicos. A maneira de explicar os princípios
e leis implicados nesse processo varia sensivelmente nos diversos sistemas. É
geralmente aceito que um indivíduo que tenha exposto uma grande verdade
espiritual e que tenha demonstrado poderes transcendentais não tenha adquirido
esse conhecimento e esse poder numa só vida. Pode-se argumentar que ele se
tornou uma personalidade-alma extremamente evoluída. Talvez se declare
que essa personalidade esteja no último plano de consciência possível de ser
experimentado em forma humana. Assim sendo, adquiriu visão psíquica e poder
pessoal superiores aos de outros mortais. Tais consecuções teúrgicas são explicadas
com base numa sublime teofania ou experiência espiritual.
No misticismo do Oriente, nenhum avatar em particular foi considerado
filho unigênito do Deus único. Nas religiões panteístas, avatar era aquele que
se havia tornado mais plenamente consciente da Inteligência Universal – da
onipresente Mente Divina. Aquele através do qual fluiria a profusão de Luz
Divina. Para muitos místicos (exceto, talvez, os das seitas cristãs), personalidades
como Zoroastro, Moisés, Vishnu, Buda e Cristo eram tidas como apenas alguns
dos avatares. Havia outros que tinham também alcançado a perfeição da
personalidade anímica. E eram ainda incluídos, genericamente, aqueles que, ao
longo da história, haviam alcançado um grande influxo de luz espiritual. Todavia,
o devoto religioso ortodoxo de uma dada seita provavelmente se ressentiria pelo
fato de o expoente espiritual de sua fé ser considerado apenas um em meio ao
panteão de avatares. Para ele, seria como se o seu líder espiritual ou Messias
fosse relegado a uma ordem inferior.

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Para o místico que professa o panteísmo místico, todo ser humano tem a
potencialidade de se tornar um avatar à imagem dos maiores líderes espirituais
conhecidos da humanidade. A senda para essa realização está cheia de sérios
obstáculos. É um caminho difícil; tentações e fraquezas humanas estão presentes
por todos os lados. É extremamente difícil para a vontade humana dominar e
disciplinar o homem físico de modo a alcançar a necessária perfeição. Em
consequência, na história do mundo, os verdadeiros grandes avatares podem
figuradamente ser contados nos dedos. A maioria dos mortais fracassa em algum
ponto nos testes e provações da vida; falham em fazer os necessários sacrifícios
que lhes confeririam a grande iluminação que os tornaria avatares, mesmo depois
de muitas existências.
De um ponto de vista inteiramente objetivo e racional, é questionável que todo
grande “Messias” ou fundador de religião esteja qualificado para ser considerado
um avatar. Alguns tiveram experiências teúrgicas as quais não se poderia afirmar
terem sido induzidas pela elevação mística da consciência, mas antes terem sido
apenas experiências de êxtase emocional – que, embora seja parte integrante da
natureza psicológica da experiência religiosa, pode se originar de outras causas,
mesmo bem distantes da experiência espiritual. Por exemplo, pessoas com
distúrbios nervosos podem ter alucinações que, para elas, podem ter a realidade
de uma experiência religiosa. A linha de fronteira não seria aquilo que o indivíduo
declarasse ter-lhe sido revelado em tal estado, mas sim os poderes que ele passasse
a manifestar em decorrência dessa experiência.
À maior parte dos avatares das religiões atuais foram atribuídas grandes
manifestações de poder espiritual. A eles é creditada a demonstração de fenômenos
estranhos e insólitos, equivalentes à direção e ao controle de leis naturais. “Milagre”
é a palavra usualmente associada a tais fenômenos. O verdadeiro avatar seria capaz
de atos e feitos aparentemente misteriosos e sobrenaturais
para as pessoas não-esclarecidas. Efetivamente, a
compreensão superior e o maior domínio das leis
cósmicas e naturais manifestados pelo avatar tornar-
lhe-iam possível realizar coisas que, para os outros,
pareceriam miraculosas.
Seriamente du-
vidaríamos, porém, Vishnu
do direito de
alguém ser
aclamado como
avatar mera-
mente por ter
conseguido a li-
derança de uma
seita e exposto o

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que ele próprio declarava serem verdades espirituais. O verdadeiro avatar é capaz
de demonstrar em sua própria vida alguns dos preceitos que postula. No mínimo,
deve ensinar e revelar um conhecimento tal que, quando seriamente estudado
e aplicado por outras pessoas, proporciona algum domínio das situações de sua
vida. Em outras palavras, ele deve ser reconhecido por suas obras.
Existem avatares atualmente? Há sem dúvida muitas mentes iluminadas que
possuem as qualificações para, afinal, se tornarem avatares. Grandes místicos dos
nossos dias, filósofos morais e éticos e instrutores espirituais estão alcançando
a evolução da personalidade-alma que fará deles avatares do futuro. Para que
um dos que hoje vivem ser justificadamente intitulado “avatar” seria preciso
que demonstrasse a mestria cósmica atribuída às grandes luzes espirituais do
passado. Embora haja muitas histórias e lendas acerca dessas personalidades,
em nossa opinião é pouco provável que haja atualmente alguma que esteja na
mesma categoria dos avatares tradicionais. Certamente existem muitas que, como
dissemos, em épocas relativamente recentes e no presente, estão evoluindo para
esse estágio.
Nem todo místico é, necessariamente, um avatar. Há uma ordem hierárquica
na evolução mística ou espiritual. Por exemplo, há o neófito, o entusiasta, a
consciência espiritual e intelectual em evolução, que afinal começa a ter uma série
de experiências místicas. Seu discernimento e seu correspondente comportamento
mais tarde justificam que seja chamado “místico aspirante” e, talvez, finalmente,
“místico”. Contudo, o místico tem de se desenvolver em experiência e iluminação
para ser capaz dessa realização que é o clímax que o torna um avatar. Como uma
pirâmide, a aspiração mística é ampla em sua base, mas vai se estreitando à medida
que ascende para o ápice da Realização. (X)

Buda

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EUTANÁSIA

G
ostaria de um esclarecimento do Fórum acerca do caso de pessoas que
já sofreram a dita “morte cerebral” e permanecem com seus sinais
vitais. O último suspiro pode ser determinado pela equipe médica, ou
pelos familiares, ao se decidir sobre o desligamento dos aparelhos que mantêm
aquele ser respirando e vivo?

No que diz respeito à eutanásia, há um conflito entre convenção e humanitarismo.


As doutrinas e tradições religiosas consideram a vida sagrada – um dom divino.
Argumentam que o atributo da vida é outorgado por um poder que transcende
o ser humano. Geralmente sustenta-se também, nos círculos religiosos, que a
extinção da vida não é uma decisão que caiba ser tomada pelo homem. No entanto,
na realidade a humanidade viola na prática esses preceitos e ideais morais de
muitos modos: desencadeia guerras em que milhões de pessoas podem morrer,
em decorrência das condições que ela estabeleceu; executa criminosos; comete
assassinatos; mata por acidente ou negligência na utilização dos dispositivos
mecânicos que ela desenvolve.
O fatalista pode argumentar (e muitas religiões são fatalistas em seus
ensinamentos) que Deus determinou que a vida cesse num dado momento, a
despeito de como ocorra o evento da transição. Assim, se uma pessoa morre na
guerra, não foi o homem – segundo seu próprio raciocínio – quem causou essa
morte, e sim Deus, por ter permitido que se estabelecessem as condições em
que aquela vida foi extinta. De certo modo, essa doutrina escusa o homem por
provocar a morte de outro ser humano por meios outros que não o assassinato.
A responsabilidade é totalmente transferida para uma causa divina consciente:
Deus. Estranhamente, quando o homem deseja tirar a vida a alguma pessoa
desventurada, de maneira indolor e por motivos estritamente humanitários como
o alívio do sofrimento, esse ato é condenado como desumano e bárbaro. É difícil
conciliar esta incoerência com a guerra e a pena de morte.
O humanista/filósofo encara a vida como um poder que ao ser humano
possibilita a autoconsciência – a consciência de sua própria existência. Considera-a
não somente como animação, mas também ação intencional – pelo menos até
certo ponto – de mente e corpo. E ainda, como uma chance de felicidade para
si. Contudo, se cada momento consciente for uma insuportável dor ou se o ser
vivo simplesmente vegeta sem a menor percepção de sua existência e não houver
esperança de recuperação, de que serve continuar vivo? Deve o homem torturar
ainda mais as vítimas de sofrimento, fazendo-as suportar a vida em agonia somente
por algum ideal moral que satisfaz o ego ou as suas convenções?
De acordo com a lei humana, a recusa intencional de se administrar um meio
terapêutico para manter a vida é um crime. Mas constituirá isso um verdadeiro

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crime moral ou místi-
co? Se um indivíduo
permite a transição
de outro que sofre e
não pode ser curado,
proporcionando-lhe a
bênção de se libertar
e esquecer esta vida,
seria ele realmente um
criminoso no senti-
do cósmico? Matamos
animais gravemente
feridos e que estão so-
frendo quando para
eles não há mais esperança. Aclamamos esse ato como uma caridade. Qual a di-
ferença? Por que deve o homem sofrer indefinidamente e sem alívio por força de
alguma concepção ou interpretação do próprio homem?
O ser humano tenta justificar a diferença entre os animais ditos “inferiores” e
ele próprio afirmando ser uma “alma vivente”. Afirma que não temos o direito de
pôr termo às experiências desse elemento divinamente infuso, a alma. No entanto,
repetimos, este mesmo elevado idealismo não o impede de entrar em guerra ou de
cercar com aura de retidão a execução de um criminoso.
As civilizações antigas, a exemplo das sociedades primitivas, com frequência
punham termo à vida de enfermos e inválidos incuráveis. Muitos de seus métodos
são chocantes para a sensibilidade da nossa “adiantada” sociedade. Os gregos
antigos recorriam à prática do abandono. Os velhos, bem como crianças e adultos
deformados, eram abandonados num lugar deserto para que ficassem expostos
aos elementos e morressem de fome. Nas antigas sociedades de cidades-estados da
Grécia, o motivo era a conservação do alimento. A escassa terra cultivável tornava
impossível manter qualquer aumento de população incapaz de se sustentar.
Segundo relatos históricos, as pessoas idosas, por exemplo, eram submetidas a
esse costume que qualificaríamos de brutal e selvagem.
Não há, porém, comparação entre a prática do abandono e a proposição da
eutanásia. Em primeiro lugar, na eutanásia jamais se tiraria a vida àqueles que
desejassem viver a despeito de sua condição mental ou física. Além disso, nem
sequer se propõe pôr termo à vida daqueles que desejam a transição, a menos
que todos os recursos médicos para aliviá-los do sofrimento, além de outros,
demonstrem-se inúteis.
No que diz respeito ao carma, quais são seus preceitos tradicionais? Será
necessário sofrermos por tempo indeterminado nesta vida, sem alívio, segundo
a lei cármica de compensação? E aquele que provocar a transição de alguém

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que esteja sofrendo estará interferindo no
princípio cármico? Mais uma vez, devemos
compreender que o carma é a lei de causa e
efeito ou compensação. A toda causa segue-
N este artigo
não estamos
defendendo a prática
se um efeito. Quando um prato da balança
desce, o outro sobe. Consideremos, pois, essa
da eutanásia. Apenas
lei de causalidade. Em primeiro lugar, como apresentamos os
sabemos, existem causas e efeitos meritórios e argumentos que o
não-meritórios. Além disso, o carma não é uma humanista oferece
filosofia de retaliação ou punição. O Cósmico quando procura
não nos impõe um carma. Trata-se de uma lei promovê-la.
tão natural e impessoal como a da gravitação
ou as leis do movimento de Newton. Não apenas como seres humanos individuais,
mas também coletivamente, como sociedade, provocamos o nosso próprio carma,
meritório ou não, em função dos nossos atos.
É perfeitamente possível, consciente ou inconscientemente, mudarmos o
carma, graças a pensamentos e atos subsequentes. Com efeito, a própria palavra
“carma”, que se origina do sânscrito, significa literalmente “ato” ou “agir”. Assim,
se por nossos atos invocamos uma causa a que se possam seguir circunstâncias
adversas, isto pode ser mitigado (pelo menos até certo ponto) induzindo novos
efeitos através de outras causas, opostas às anteriores. O carma não é inexorável.
Por conseguinte, se uma pessoa atraiu sofrimento físico para si mesma ou herdou
certos efeitos, novas causas podem e devem ser postas em ação, se possível, para
contrabalançar esse carma. Ninguém tem de se resignar a um carma adverso.
Se o fato de uma pessoa sofrer uma doença e dor intensa constitui pressupos­
tamente um carma incontornável, então por que nosso sistema moral e nosso
humanitarismo oferecem tratamento para a vítima? Por que tentam curá-la? De
acordo com aquela premissa, a terapêutica médica ou o uso de drogas não seria
uma interferência no carma do indivíduo? Se a consciência de uma pessoa não
a perturba quando ela procura ajudar um indivíduo que está sofrendo, se ela
acha que não está violando um propósito cármico, por que deverá perturbá-la a
eutanásia? O princípio motor é o mesmo (o bem-estar) em ambos os casos.
Neste artigo não estamos defendendo a prática da eutanásia. Apenas
apresentamos os argumentos que o humanista oferece quando procura promovê-la.
É de se reconhecer, naturalmente, que muitos problemas práticos são envolvidos
nesta questão, a despeito do aspecto moral. Por exemplo, quem determinará
quando a transição deva ser provocada, de modo que a vida não mais persista
num corpo torturado pela dor? Como se poderia evitar que ela degenerasse numa
prática leviana e inconsequente? É bem possível que a eutanásia, apesar de seu
nobre motivo, continue por essas razões a encontrar oposição ainda por muito
tempo. (X)

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EXPANDINDO A ORDEM

E
u gostaria de contar às pessoas sobre a Ordem, mas não sinto que eu seja
a pessoa adequada para a tarefa. Não sei o que dizer e tenho medo de não
conseguir explicar satisfatoriamente o que a Ordem realmente oferece. O
Fórum poderia me ajudar?

Sempre que nos falta confiança sentimos que não estamos aptos para a tarefa
de explicar algo que interiormente sabemos ser verdade. Podemos nos sentir
intimidados pelo ceticismo dos outros ou por solicitações de provas com relação
aos aspectos metafísicos dos estudos. A manifestação psíquica exige determinadas
condições, por exemplo. Além disso, a Ordem é o “caminho do coração”, e não uma
senda feita apenas de compreensão intelectual. Com efeito, a transformação que os
ensinamentos da Ordem produzem na vida de alguém jamais será compreendida
apenas pelo intelecto. Sem uma mente aberta, não se pode progredir muito. Assim,
um membro pode se sentir intimidado ao falar da Ordem para pessoas que podem
ser, por assim dizer, demasiadamente racionais. Pode ser útil, quando fizerem
perguntas sobre a Ordem, responder apenas o que for perguntado. Não é necessário
ir além. Se o interlocutor estiver de fato interessado e quiser saber mais, ele fará
mais perguntas. Do contrário, você terá respondido a questão e deixará as coisas
seguirem seu curso. A outra pessoa pode ter uma boa impressão sobre aquilo que
você disse, mesmo que ela não diga. Se for muita informação para ela, é melhor
não pressionar.
Um último ponto deve ser lembrado. Frequentemente não
precisamos dizer nada. Quando, através dos ensinamentos da
Ordem, nossas vidas mudam para melhor, os outros notarão e se
perguntarão sobre o que terá feito a diferença. Esse é o momento
em que farão perguntas. Enquanto alguns são
atraídos para nós por causa do canal que podemos
representar ao falarmos sobre a
Ordem, devemos ter em mente
que um dos melhores meios de
promover o Rosacrucianismo é
praticando os
princípios
rosacruzes em
nossas vidas.
Permitir que
nossas vidas sejam exemplos de tolerância, amor, natureza investigativa,
benevolência e respeito pela vida é o aspecto mais importante de ser um rosacruz.
(GLE-AUS/NZ)

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MALEDICÊNCIA

U
ltimamente tenho tido contato diário com uma pessoa que é constantemente
negativa com relação a quase tudo o que vê. Essa pessoa não apenas critica
todo mundo como também direciona sua negatividade para mim de um
jeito pessoal e vingativo, talvez sentindo que eu pudesse ser uma ameaça para o
progresso dela na vida. Em qualquer oportunidade ela fala mal de mim para quem
quer que entre em contato com ela, desfigurando meu caráter e depreciando minhas
habilidades. Muitos deram-lhe ouvidos, e o que mais me entristeceu foi ver antigos
amigos darem-me as costas e começarem a acreditar nas mentiras que ela espalhava.
Sinto-me tão mal e deprimida e não consigo pensar em mais nada para desfazer o
mal que ela me causou. O que devo fazer?

Escutamos hoje em dia muitas histórias sobre todos os tipos de poluição: do meio
ambiente, do ar que respiramos, das águas e assim por diante... mas pouquíssimo se
fala sobre a poluição mais mortífera de todas: a poluição mental. Esse membro que
nos escreve é vítima desse último tipo. O Dr. H. Spencer Lewis, primeiro Imperator
da AMORC no século passado, muitas vezes escreveu sobre este assunto, chegando
até mesmo a publicar um interessantíssimo livro, apropriadamente intitulado
“Como evitar o envenenamento mental”. Como rosacruzes, todos estamos conscientes
do poder do pensamento, já que aprendemos que o universo e tudo aquilo que
nele percebemos só existe por causa do pensamento. Também aprendemos que
cada ação nossa modifica de alguma forma o mundo em que vivemos para melhor
ou pior, ainda que seja uma mudança diminuta. Como cada ação é o resultado de
um pensamento, segue-se que cada um de nós tem uma grande responsabilidade
para disciplinar os próprios pensamentos a fim de que eles permaneçam sendo
construtivos e de natureza positiva.
Na qualidade de místicos, percebemos a unidade de todas as coisas e o modo
como nossos pensamentos podem afetar os outros, para o bem ou para o mal.
Enquanto membros da família humana, somos responsáveis por seu bem-estar.
Assim sendo, jamais se enfatizará o bastante sobre a importância do reto pensar,
pois os nossos pensamentos moldam o nosso destino e a sociedade em que vivemos.
Desafortunadamente, existem aquelas personalidades-alma menos evoluídas que
recorrem à poluição mental na tentativa de conseguir seus próprios objetivos
egoístas. Elas se comprazem alimentando pensamentos ruins sobre quem quer
que cruze o seu caminho e fazendo o seu máximo para gravar esses sentimentos
negativos nas mentes de pessoas não-envolvidas, a fim de minar a habilidade e
prejudicar o caráter daqueles a quem consideram como adversários.
Ao passo que ocasionalmente tal praticante de poluição mental representa
um incômodo quase físico, também é verdade que muitas vezes esse indivíduo se
revela muito engenhoso e se empenha em perpetrar sua devastação mental de um
modo bastante sutil, insidioso e muitas vezes quase inocente, de tal forma que a
pessoa sobre a qual ele trabalha pode às vezes nem sequer se dar conta do que está
se passando e acabar de fato aceitando suas sugestões negativas. Um verdadeiro

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místico, contudo, aprendeu a discernir
entre o bem e o mal e repele qualquer
pensamento de natureza negativa
ou destrutiva. Apenas aqueles
fracos de espírito podem aceitar
algo nocivo a outro indivíduo,
e infelizmente boa parte da
humanidade ainda se enquadra
nesta categoria. É fato que cedo
ou tarde tais pensamentos
ruins repercutirão em
seus perpetradores, haja
vista a lei do carma ser
inevitável. Entrementes,
porém, grandes danos e
tristeza podem se abater
sobre vítimas inocentes.
Um modo de se proteger
contra a poluição mental é
rejeitando totalmente qualquer coisa
negativa que seja apresentada à mente
sem qualquer base sólida ou prova válida.
Se depois de ter ouvido algo negativo
sobre alguém ainda houver dúvidas em
nossa mente, deveríamos, com toda
a franqueza, confrontar a pessoa
em questão com o espírito aberto
e uma atitude amorosa e ouvi-la.
Muitíssimas vezes o indivíduo quer
dar ouvidos a boatos que prejudicarão a reputação de outrem, e dessa forma espalha
o boato a outros, sendo assim ele próprio não apenas vítima da poluição mental como
também responsável por amplificar e disseminar ainda mais seus efeitos perversos.
Uma vez tendo cedido à poluição mental, o indivíduo é pego num círculo vicioso
do qual pode nunca escapar na presente encarnação – ou, se conseguir, se ver com
o caráter manchado aos olhos da humanidade. Sua dignidade como centelha da
própria Divindade é grandemente diminuída, sendo necessários grandes esforços
para restaurá-la. É preciso proteger-se atentamente contra a possibilidade de se
tornar um iniciador de poluição mental, haja vista ser este um dos maiores erros
ou perversões que alguém pode cometer.
Tais práticas doentias destruíram muitas vidas inocentes e levaram outras
ao desespero. Por outro lado, dar ouvidos a boatos é uma transgressão quase tão
grande quanto começá-los. Qualquer personalidade-alma evoluída sentirá uma
repulsa imediata até mesmo por uma inocente tentativa de levar adiante falsas
informações sobre alguém. Na qualidade de rosacruzes, procuramos a verdade em

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qualquer situação – e até mesmo arriscando o nosso próprio bem-estar defendemos
essa verdade. Uma vez que em todo o decorrer de cada encarnação terrestre nós
cedo ou tarde entramos em contato com pessoas de baixa integridade moral que
estão preparadas para mentir sobre os outros (e talvez até sobre nós mesmos!) –
especificamente com o intuito de prejudicá-los –, devemos fazer algo para nos
protegermos contra sua influência. Tais pessoas possuem auras extremamente
negativas e devem ser evitadas sempre que possível.
No entanto, sair do caminho nem sempre é a melhor solução – e na verdade nem
sempre é prático ou possível fazer isso. Há uma coisa, porém, que é de grande valor
no combate às influências negativas de tais pessoas, a saber, tomar uma inspiração
profunda, reter o ar o máximo possível sem causar tensão e concentrar-se no
plexo solar, visualizando que essa vitalidade extra fortificará todos os seus centros
psíquicos. É um procedimento de emergência para proteger sua aura da malícia
de outrem, mas que deve naturalmente ser acompanhado também de intenção.
O ato de inspirar profundamente e reter a respiração por si só não dará proteção.
O exercício deve ser acompanhado de uma súplica interior de ajuda para o Cósmico.
Ao mesmo tempo, deve haver uma tentativa orquestrada de eliminar todos os
pensamentos de raiva, ódio ou vingança contra a pessoa da qual você está tentando
se proteger. Acolher tais pensamentos exacerba a situação e puxa sua atenção para
si mesmo.
Repita o exercício a cada meia hora durante o tempo que for necessário. Via
de regra, uma pessoa realmente desenvolvida psiquicamente não permitirá
que sua mente seja afetada por ideias ou pensamentos venenosos, sejam eles
silenciosos ou verbalizados, nutridos por outros enquanto estão em sua presença.
Em todo caso, o poder que o envenenamento mental exerce sobre os outros está
intimamente ligado às emoções da vítima. Especificamente, se a vítima responde
com indignação e mágoa, isso aumenta o poder do envenenamento. Causa grande
satisfação ao perpetrador de envenenamento mental ver sua vítima se molestar
com suas ações.
Contudo, a fim de evitar tais fatos ao se tomar ciência de que alguém está
deliberadamente tentando afetar sua mente, você deve se concentrar por um instante
em seu Eu interior e visualizar que nenhuma impressão negativa o alcançará e que
manterá suas próprias ideias e a integridade de suas convicções. Mantenha isso
em mente, e não importa o quanto a pessoa argumente que você deveria acreditar
nas insinuações ou em outros comentários com duplo sentido que ela possa fazer:
você não vacilará e permanecerá leal à sua própria integridade. Isso testará o seu
caráter, enobrecendo-o e fortalecendo-o.
É preciso lembrar também que tais contatos negativos não devem ser tão
frequentes ou perturbadores a ponto de constituírem uma ameaça constante à nossa
paz de espírito e à nossa saúde psíquica. Se isso ocorrer, então será preciso tomar
medidas positivas para se distanciar das circunstâncias. Contudo, quando isso
ocorrer, é preciso ficar alerta e perceber que é possível controlar a situação. Saber
dominar essas influências negativas é muito reconfortante, pois é através de tal
forma de conhecimento que o místico efetivamente cresce e se desenvolve. (GLE)

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MENINO OU MENINA?

S
ria lícito, do ponto de vista cósmico, predeterminar o sexo da criança?
Estaria uma eventual adaptação artificialmente feita pelo homem
interferindo em alguma lei cármica absoluta?

Há alguns anos cientistas conduziram um experimento com coelhos no decurso


do qual as células dos animais foram manipuladas pouco tempo após a fecundação,
alterando-se seus cromossomos. Em muitos testes eles tiveram êxito em determinar o
sexo antecipadamente. A genética moderna demonstrou qual é o fator determinante
do sexo da criança. O número de cromossomos de cada ser vivente é bem específico.
No ser humano existem 23 pares de cromossomos em cada célula viva e mais um
par de cromossomos sexuais. A particular combinação deste par de cromossomos
determina o sexo da criança. Na mulher, este par adicional de cromossomos sexuais
recebe a designação de XX (isto é, os cromossomos são iguais). No homem, eles
não são iguais; um é X e o outro, diferente, é chamado de Y. A distribuição destes
cromossomos é aproximadamente igual, e isto significa que a possibilidade de a
criança ser menino ou menina é mais ou menos a mesma. Se as células fecundadas
forem do tipo XX, será uma menina; se a combinação for XY, será menino.
Os cientistas especializados em genética e biologia há muito
têm pensado em como controlar
artificialmente esse arranjo dos
cromossomos e, com isto, determinar à
vontade o sexo da criança. Com o
rápido progresso das ciências da vida e a
descoberta das moléculas de RNA e DNA,
que transmitem um gabarito (um padrão
do organismo vivo que determina como
ele será), o homem se vê na iminência de
controlar não apenas o sexo, mas também
fatores ligados à personalidade e à inteligência
do indivíduo. Obviamente, isso impõe uma
tremenda responsabilidade ética e moral à
ciência e à sociedade do futuro.
Certos teólogos e religiosos consideram isto
algo heterodoxo, ou seja, em desacordo com as
leis de Deus, por interferir com seus
mecanismos de ação. No entanto, o
verdadeiro místico encara essa questão
de modo bem distinto. As leis cósmicas,

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naturais, são imutáveis. Elas não constituem entidades que Nosso
pensam ou raciocinam; qualquer que seja a inteligência com ponto de
que se relacionem, ela manifestou-se em sua instituição
vista sobre
original. A partir deste ponto, elas operam imparcialmente.
A lei cósmica ou natural não funciona de conformidade
o carma
com aquilo que o homem considera moral ou eticamente repousa
correto. Por exemplo, a gravidade e a luz obedecem à sua na Lei da
natureza fenomenológica, a despeito do propósito que Causalidade,
tenha o homem de utilizá-las. Por conseguinte, o homem ou seja,
pode perfeitamente tornar-se capaz de dirigir as leis de causa e
genéticas. Essa prática em si mesma não é, portanto, imoral efeito.
ou cosmicamente errônea, no verdadeiro sentido místico.
Entretanto, o que deve realmente ser considerado é o propósito final com que a
tecnologia científica é aplicada. Para darmos mais um exemplo, afirmamos que, sem
dúvida, não é cosmicamente errado fazer experimentações com a fissão nuclear, da
qual resulta a desintegração dos átomos e a liberação de energia. A questão moral e
ética entra em jogo somente quando se considera como esse poder, uma vez obtido,
será empregado.
Como rosacruzes, não sustentamos a ideia da existência de um carma absoluto
ou fixo do qual não se possa escapar. Este conceito seria fatalista e, certamente,
contrário ao princípio de que o homem deve procurar, pelos próprios poderes de
que foi dotado, dirigir a sua vida. Nosso ponto de vista sobre o carma repousa na
Lei da Causalidade, ou seja, de causa e efeito. O carma é também frequentemente
chamado de “lei de compensação”. Esta última expressão, se não for plenamente
compreendida, resulta em ideias errôneas. Por analogia, consideremos uma balança
comum, de dois pratos. Se um prato é abaixado pelo peso, o outro compensa este
fato elevando-se proporcionalmente. Portanto, a compensação, neste sentido,
significa um ajuste igual para cada ato humano. Maus atos produzirão uma série
de efeitos relacionados com esse gênero de ação. Essa compensação, em outras
palavras, não é uma retribuição feita a alguém, nem tampouco uma punição que
lhe seja imposta.
Assim sendo, ao manipular os cromossomos, as moléculas de RNA e DNA, ao
mudar o sexo e ao interferir nos fatores associados à personalidade, o ser humano
assume uma tremenda responsabilidade. Sua obrigação moral e ética consiste em
fazer com que o desenvolvimento científico produza o bem-estar da humanidade – a
felicidade social. Tudo deve ser feito segundo aquilo que o ser humano, em seu atual
estado de compreensão ética, acredita ser benéfico para a humanidade. Se não levar
isto em consideração, poderá ter de assumir as consequências. Isto constituiria um
carma – que não seria exercido contra o ser humano pelo Cósmico ou por qualquer
força sobrenatural, mas sim pelos próprios efeitos das ações humanas.

Fórum Rosacruz – Vol. Ix – 01 – 2017


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De acordo com a doutrina mística, em cada encarnação a personalidade-alma
recebe uma oportunidade de prosseguir em sua evolução. A personalidade pode
se tornar tão refinada que, finalmente, sua perfeição – a realização do Eu – se
torna equivalente à consciência da alma no ser humano. É a personalidade – a
expressão da força anímica no homem – que evolui, e não a própria alma, que é
em si mesma sempre perfeita, não podendo ser alterada pelo homem. Assim sendo,
cabe a indagação: essa manipulação – essa alteração do padrão da personalidade
e a determinação do sexo de uma criança ainda não nascida – afetará a evolução
da personalidade-alma? Como afirmamos, isto não aviltaria a alma. Poderia afetar
a evolução da personalidade, dependendo do que se houvesse operado com a
alteração dos padrões de RNA e DNA. Se fosse criada uma personalidade à qual
faltasse a capacidade de profunda autoconsciência – aquela sensibilidade pela qual
o indivíduo expande sua autopercepção, de modo a incluir mais do que seu próprio
ser físico –, então, misticamente falando, o desenvolvimento da personalidade-
alma seria reprimido. Em outras palavras, se fosse criada uma pessoa deficiente de
compaixão, solidariedade e das virtudes comuns que representam o mais elevado
estado do homem, então essas mudanças na personalidade seriam evidentemente
prejudiciais.
O ser humano se encontra hoje numa encruzilhada. A ciência pode e deve avançar.
O homem deve encorajá-la. Contudo, um elevado plano de ética e moralidade deve
se desenvolver paralelamente a esse progresso científico, ou corremos o risco de ver
nascer gênios intelectuais dotados todavia de personalidades bestiais. (X)

“Sorria, e o mundo inteiro sorrirá com você.


Chore, e terá de chorar sozinho!”
– ELLA WHEELER WILCOX
(escritora e poetisa norte-americana,
membro do Supremo Conselho da AMORC em seus primórdios)

14 Fórum Rosacruz – Vol. IX – 01 – 2017


ÓDIO

A
té que ponto podemos nos permitir sentir ódio? Quem de fato é prejudicado
por esse sentimento? Existe ódio justificado?

Enquanto emoção, o ódio flui diretamente a partir de sentimentos feridos, ou


seja, do fato de se sentir ofendido. Todas as criaturas instintivamente se opõem
a qualquer coisa que lhes inflija dor ou sofrimento, seja físico ou mental. Neste
particular, não somos superiores aos animais. Assim como acontece com todas as
criaturas vivas e inteligentes, não podemos tolerar circunstâncias que ameacem
destruir nossa existência ou ferir aqueles que amamos. Podemos suportar ou evitar
sofrimentos menores, e para alguns de nós até mesmo os golpes mais duros da vida
podem ser relevados. Algumas coisas, porém, são tão intensas, pertinazes e tão
fundamentalmente em conflito com o nosso bem-estar, afetando tão intensamente
os propósitos mais íntimos para os quais acreditamos estar aqui, que não podemos
mais evitá-las e sucumbimos à fúria. Até mesmo os melhores de nós têm um ponto
de ruptura para além do qual uma fúria continuamente provocada desperta um ódio
profundamente assentado e um desejo de destruir aquilo que nos estiver ameaçando.
Moral e espiritualmente, o ódio é, de fato, indigno de uma vida mística. Contudo,
se não tivéssemos experimentado o ódio no decurso de nossa ascensão, poderíamos
não ter sobrevivido absolutamente, tendo sido pisoteados repetidamente de uma
vida para outra. Ironicamente, medo e ódio desempenharam seus papéis em nossa
evolução na medida em que essas emoções nos permitiram sobreviver num mundo
ferozmente competitivo. Todavia, permitindo que tais emoções emergissem de
tempos em tempos, também acumulamos alguns efeitos colaterais extremamente
danosos e dolorosos. Não é o ódio em si que é tão malfazejo, mas antes o estado de
espírito em que ingressamos ao odiar. Isto sim é nocivo. É fato trivial em ciência
médica que uma pessoa que odeia facilmente também estará mais sujeita do que
outras a cair enferma. Ignorância e emoções indisciplinadas são terreno fértil
para o ódio, e tragicamente vemos isso tão claramente manifestado nos maiores
pontos problemáticos do mundo de hoje, particularmente aqueles que envolvem
preconceitos religiosos extremos.

Fórum Rosacruz – Vol. Ix – 01 – 2017


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Por ignorância, incontáveis milhões de pessoas acreditam enfática e cegamente
que o deus de suas fés seja a única realidade e o único deus que alguém pode
venerar. Além disso, qualquer um que não adore esse deus conforme prescrito por
sua fé é considerado menos do que humano, e pode então ser tratado com qualquer
brutalidade que o momento permitir. O credo de suas fés implica que todos os demais
conceitos de divindade sejam falsos e, portanto, que todos aqueles que acreditam
neles sejam hereges e devam ser odiados, perseguidos e finalmente destruídos. A
dedicação de tais pessoas à sua religião é ofendida por qualquer pessoa que ouse
transgredir minimamente que seja suas limitadas visões, e seus egos se sentem
profundamente feridos pela simples existência de credos distintos. Tais pessoas
são verdadeiramente inimigas do misticismo, mas nunca devem ser consideradas
como inteiramente irredutíveis. Não obstante, seu ódio obstinado e acossamento
àqueles que não concordam com eles podem causar uma contínua agonia mental até
mesmo no maior dos místicos – e algumas vezes isso pode fazer com que o místico
deslize em seus padrões pessoais internos, lançando mão da emoção do ódio. Essa
emoção, infelizmente, é uma consequência natural das circunstâncias; mas tais
circunstâncias não devem existir. Todos os meios pacíficos à disposição do místico
devem ser empregados para modificar as razões fundamentais para a existência de
circunstâncias que possam levar ao ódio.
A mais alta prioridade do ser humano deve ser aprender a dominar suas emoções.
Suprimi-las completamente evidentemente seria errado e poderia provocar sérios
efeitos colaterais. Em situações de excitação emocional, o intelecto e a razão
deveriam ter a precedência. Ao se experimentar a emoção do ódio, a disciplina das
emoções deveria assumir a forma de uma autoanálise investigadora e imediata. Por
exemplo, a fonte da emoção em questão poderia ser mitigada de alguma forma? Uma
mudança no curso dos acontecimentos poderia ser implementada, de forma a não
mais se ter a experiência da aflição subjacente ao ódio, ainda que isso envolvesse
dar a outra face nesse momento? Entretanto, muitas vezes também é preferível ter
um embate final de uma só vez do que reprimir a raiva e a mágoa que, sabidamente,
não se dissiparão a menos que sejam resolvidas imediatamente.
Porém, ainda mais preferível – e certamente o jeito místico de fazer as coisas – é
deslocar a consciência de tal modo que a raiva, e especialmente a mágoa, jamais
assumam o controle primeiro. Pense por um instante naquilo que, mais do que
qualquer outra coisa, lhe causa mais angústia. Certamente é magoar-se e ofender-se.
Sem a capacidade de se ofender ou de se magoar pelas palavras e ações dos outros,
não há chance de acabarmos odiando algo ou alguém. (GLE-AUS/NZ)

“O amor acende mais lumes do que


o ódio é capaz de extinguir.”
– ELLA WHEELER WILCOX

16 Fórum Rosacruz – Vol. IX – 01 – 2017


SINERGIA

O
que é sinergia e como ela interage com meus estudos e com minha vida
familiar?

Embora a palavra “sinergia” seja um conceito antigo impregnado de significado


fisiológico, médico e de conotação teológica, sua origem se encontra na palavra
grega synergos, que quer dizer “cooperar”.
Os significados médico e fisiológico são bastante similares. O dicionário define
“sinergia” como associação de diversos sistemas para a realização de uma tarefa, sendo o
resultado superior ao obtido através das ações exercidas individualmente por cada sistema. “O
total sendo maior do que a soma das partes” é, portanto, o fio que liga entre si todos
os significados de “sinergia”. A maioria de nós já participou de um grupo ou então
assistiu ou participou ativamente de um jogo esportivo no qual o resultado final foi
superior à soma dos talentos. Como pode por vezes acontecer, a conotação teológica
tem um grande sentido para nós, que nos
encontramos na senda mística. Mais uma
vez citando a bibliografia, aprendemos
que em certos monastérios do sul
da França, nos séculos V e VI,
considerava-se que “as
pessoas requerem
ajuda especial, e
não mera orien­
tação geral,
para superar o
pecado original,
e essa ajuda é
livremente oferecida a quem quer que seja, sendo que todos devem aceitá-la ou
rejeitá-la por sua própria iniciativa. O indivíduo – e não Deus – dá o primeiro
passo que conduz à salvação, e a graça de Deus para com ele é condicionada
pela própria atitude de aceitação ou rejeição manifestada pelo indivíduo”. A
despeito da questão do pecado original, que não é um conceito rosacruz, nós,
na qualidade de estudantes de misticismo, certamente podemos concordar que
é apenas depois de tomarmos uma decisão para mudarmos nossas vidas que,
efetivamente, a mudança acontece. Ademais, sabemos que as coisas só podem vir
a ser desfrutadas como resultado da Lei Cósmica. Consequentemente, a sinergia
pode estar presente em qualquer parte.
Como isso se relaciona com os nossos estudos e com nossas vidas pessoais?
Duas das muitas maneiras pelas quais a sinergia pode se manifestar em nossos
estudos são:

Fórum Rosacruz – Vol. Ix – 01 – 2017


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(1) Se aceitarmos que nós próprios somos a primeira ponta do triângulo e a lição
ou experimento que estivermos fazendo, quaisquer sejam eles, como sendo a
segunda ponta, então a sinergia será a responsável, como na acepção teológica,
pela manifestação bem-sucedida – a terceira ponta, desde que conduzamos
o experimento com “reta inclinação”. Em outras palavras, se apenas nos
colocarmos num ponto e adicionarmos a isso uma vela e um espelho, não
obteremos o resultado que a sinergia poderia nos dar – um lampejo do Infinito.
(2) Quando nos unimos a outros que pensam como nós, como numa convocação
rosacruz ou numa iniciação, muitas vezes as vibrações resultantes de amor e
espiritualidade com muita folga suplantam o fato de cinquenta ou sessenta
pessoas estarem reunidas em uma sala.
Em nossas vidas pessoais, podemos ver a sinergia se manifestar de múltiplas
formas. A participação acadêmica ou atlética é uma aplicação sinérgica comum.
Relações interpessoais podem ser manifestações sinérgicas, até mesmo se
chegarmos a considerar uma criança como o resultado vivo de uma sinergia. Muitos
são os progressos que as crianças podem levar a bom termo por causa de pais
convenientemente motivados; por conseguinte, elas são exemplos vivos de sinergia.
Resumidamente, o conceito de sinergia, através do qual o resultado é maior do
que a soma das partes, é uma recompensa e uma ferramenta valorosa para nós em
nossos empenhos para avançar em nossa busca mística. (GLE-AUS/NZ)

TRANSCENDER O AMOR PESSOAL

C
omo faço para lidar com sentimentos românticos que vêm à tona quando
procuro e experimento o Amor Cósmico por meio de um relacionamento
com outra pessoa? As experiências que tive me dizem que se trata da minha
“alma gêmea”, minha “outra metade”, mas ela parece não perceber as coisas da
mesma forma. Será ilusão? Existe algum modo de se experimentar o amor num
sentido mais profundo e recíproco?

As expressões de amor podem facilmente ser confundidas com afeição pessoal.


Quando sentimos amor por alguém e descobrimos que essa pessoa não sente o
mesmo, precisamos analisar a verdadeira natureza desse amor. Essa autoanálise
pode nos levar a perceber que o que parece ser a eclosão de um romance mútuo
é na verdade uma expressão do Amor Cósmico. O amor que você busca pode ser
o modo pelo qual seu Eu Interior o conecta a toda a humanidade. Do ponto de
vista do Eu Interior, todos nós podemos ser considerados almas-companheiras,
centelhas do mesmo fogo, amados filhos de Deus.
O estado de amor impessoal encerra tanto júbilo, sentimento de conexão e
tanta satisfação de nossa fome e desejo de unidade e completude que geralmente

18 Fórum Rosacruz – Vol. IX – 01 – 2017


tentamos nos agarrar a ele criando-lhe uma forma fixa. Tentar criar uma forma
para essa energia que flui livremente pode nos levar a personalizá-la. Esse é
um aspecto de nossa natureza humana que sempre está presente, qual seja, a
necessidade de fixarmos a essência informe de nosso ser e nos agarrarmos a ela.
Contudo, no instante em que tentamos fazer isso, a nossa percepção desse fluxo é
interrompida.
O amor impessoal que flui de nosso Eu Interior é muito mais realizador do
que qualquer apego à forma. Nessa experiência do amor impessoal há a chance
de descobrirmos dentro de nós a semente que se abre e que pode dar origem ao
ilimitado e universal amor tão desejado.
Nós, rosacruzes, podemos aprender a expressar a totalidade e a integração que
são a marca de nosso Eu Interior. A importância dessa experiência de totalidade
é que podemos parar de procurar no mundo exterior a totalidade que já existe em
nosso interior. As monografias rosacruzes fornecem exercícios que nos ensinam a
nos concentrarmos nas qualidades magnéticas, atrativas, espaciais e nutridoras
de nosso interior. Esses extraordinários atributos do Eu são funções do princípio
feminino interior, que na alquimia é chamado de “princípio da água” ou anima.
As monografias rosacruzes também recomendam que nos concentremos nas
qualidades diretoras, criativas e dinâmicas de nosso interior. Esses atributos
igualmente maravilhosos de nosso Eu são atributos do princípio masculino
interior, que na alquimia é chamado de “princípio do fogo” ou animus. Assim, os
estudantes rosacruzes aprendem a visualizar as unidades dinâmicas do Eu integral.
O Domínio do Eu reside na capacidade de escolhermos o princípio adequado e
integramos conscientemente ambos os princípios como um casamento da mente,
que nossos antepassados rosacruzes chamavam de “Bodas Alquímicas”.
Com esse casamento interior, deixamos de esperar que nossa autorrealização
provenha de pessoas do mundo exterior. Descobrimos que a verdadeira
autorrealização provém apenas do interior. Podemos então perceber
algo inusitado: todos aqueles com quem entramos em contato podem ser

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tocados pelo amor que nasce de nossa plenitude interior. Então eles também
poderão tocar sua própria plenitude interior e seu ilimitado amor.
Observe que esse amor é oferecido livremente, assim como a luz é ilimitada-
mente radiosa. Por conseguinte, esse amor não espera nem deseja retorno, pois
provém de um casamento interior e já é completo em si. Não há nenhuma neces-
sidade de completar o que já é completo dentro de nós. Para fazermos uso de uma
antiga metáfora alquímica, ao expressarmos esse amor tornamo-nos como a pedra
filosofal, pois nós e todos aqueles que tocamos podemos nos tornar tão puros,
radiosos e belos como o ouro.
Com a natureza universal desse amor, podemos curar, criar e realizar os sonhos
mais acalentados em nosso coração em benefício de todos os seres humanos.
Quando assim vivenciamos e expressamos nosso Eu Interior, manifestam-se em
nós o verdadeiro poder, a verdadeira força e a verdadeira beleza. Quando servimos
o Cósmico e concretizamos o sonho que existe em nosso interior, podemos
testemunhar maravilhados o “Céu” na Terra, que é nosso privilégio presenciar. Ao
fazermos isso, descobrimos que não estamos sós, pois o amor impessoal do Cósmico
está dentro de nós. (K)

TRANSMUTANDO ENERGIAS NEGATIVAS

P
or vezes, quando não me sinto bem ou quando algo ruim acontece, procuro
vibrar de uma forma diferente, transmutando a energia da situação ou
tentando não a receber. Nessas horas, sinto como se essa “energia ruim”
precisasse ser lançada para fora, e então, ao sair de mim, fosse atingir algum
objeto ou alguém. Às vezes parece uma sensação autodestrutiva; é comum (não por
minha intenção) os meus objetos serem danificados na minha presença ou então
não durarem com qualidade na minha mão – o que acaba por me fazer pensar
que esta carga ruim está em mim. Chego a pensar que sou para-raios de energia,
e sinto grande necessidade de influenciar de maneira positiva a vibração dos que
me cercam. Gostaria de saber como lidar com esta situação.

Usamos nossas energias em pensamentos, palavras e ações. Nada é realizado


sem esse maravilhoso e infinito poder que chamamos de “energia”. O ser humano
é também o manipulador dessa força criativa.
Em virtude disso, devemos procurar controlar nossas emoções, pois as energias
negativas que emitimos, por qualquer motivo, são bastante prejudiciais a nós e
também à consciência coletiva da humanidade. Com efeito, elas geram forças
negativas que se condensam no baixo astral e interferem nas energias positivas,
que se irradiam até nós a partir dos planos superiores da Consciência Cósmica. Em
outras palavras, criam uma tela vibratória que impede o homem de ser perfeitamente

20 Fórum Rosacruz – Vol. IX – 01 – 2017


receptivo à Inspiração Divina. Esta é uma das razões pelas quais falta à humanidade
sabedoria nas escolhas coletivas, permitindo que o mal se manifeste em múltiplas
formas em nosso mundo, sendo as guerras o exemplo mais dramático. Paralelamente,
essas forças negativas perturbam a aura da Terra e enfraquecem suas radiações,
sendo esse enfraquecimento a origem, inclusive, de certos desastres planetários.
Como já foi dito anteriormente no Fórum Rosacruz, o equilíbrio energético é
fundamental para o ser humano. Para captar e manter a energia, ou “recarregar as
baterias”, é necessário fortificar a aura – esse campo de radiação que nos influencia,
seja por seu magnetismo, quando plena de vitalidade, ou pelo estado de fraqueza e
impotência quando enfraquecida, trazendo então consequências como cansaço físico
e mental e desânimo (como se faltasse energia para viver, impedindo o indivíduo
de raciocinar e trabalhar apropriadamente). É necessário então se revitalizar, e um
conjunto de fatores é exigido para manter esse estado. Nossas monografias destacam
a importância de se manter vigilante quanto a esse aspecto. O interesse pelas coisas
essenciais da vida e as corretas alimentação e respiração – em concordância com
pensamentos e ações corretos – formam um todo que deixam a pessoa no chamado
“alto astral”. As respirações profundas, ao ar livre, produzem um salutar efeito
para captar energia. Devemos ter em mente que energizar-se deve ser um processo
contínuo, como recomendou o Cristo ao proferir as palavras “vigiai e orai”.
Para proteger-se contra a harmonização involuntária com as vibrações deletérias
existentes ao seu redor, aconselhamos manter uma atitude mental positiva, emissora
de confiança e fortaleza, e não negativa, receptiva, de abandono, hesitação e fraqueza.
Ao invés de se permitir harmonizar com quaisquer vibrações ao seu redor, crie
mentalmente um círculo de proteção, ou melhor, imagine-se dentro de um halo
de luz em formato de ovo. Concentre-se no pensamento de que o Amor Divino se
infunde em você mesmo, bem como se irradia em toda a sua volta, de modo que
seu influxo se imponha a todas as pessoas e coisas no ambiente, beneficiando-as e
trazendo-lhes bem-estar, saúde, paz e felicidade.

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A Grande Loja editou o livro Energias cósmica e telúrica, do frater Pedro Raúl
Morales, da Venezuela. Essa obra contém muitas sugestões específicas e práticas
para nossa proteção. Outra publicação que recomendamos é o livro Como evitar o
envenenamento mental, de H. Spencer Lewis. Ambas podem ser adquiridas através
do setor de suprimentos da Grande Loja ou no Organismo Afiliado de sua região.
(Divisão de Ensino e Instrução/GLP)

VEGETARIANISMO & VEGANISMO

A
tomada de consciência quanto à existência de uma consciência animal é
um fator que deve nos conduzir ao vegetarianismo/veganismo? Os seres
humanos deveriam considerar se tornar vegetarianos a fim de minimizar
a interrupção violenta do progresso da consciência dos animais que são criados
para o abate? Qual a posição da Ordem com relação a essa prática?

A título de introdução ao desenvolvimento que se seguirá a respeito da questão


sobre o vegetarianismo e o veganismo, é importante lembrar que nossa Ordem é não-
dogmática e que, assim sendo, não impõe nenhum regime alimentar em particular.
A filosofia rosacruz convida antes, de fato, a considerar que, de conformidade com
a divisa do « conhece a ti mesmo », compete a cada qual, individualmente e conforme
aquilo que sentir, escolher a alimentação com a qual se sente mais em harmonia.
O vegetarianismo e o veganismo representam duas práticas alimentares distintas,
embora frequentemente confundidas; assim, parece necessário redefini-las e tentar
apreender os motivos que conduzem os vegetarianos e os veganos a fazerem essa escolha.
Hoje em dia, a maior parte dos seres humanos é onívora. Em outras palavras,
sua alimentação se compõe indiferentemente de vegetais, carne, peixe e frutos do
mar. Na maioria dos casos, trata-se de uma normalidade cultural adquirida que
não suscita nenhuma questão particular.
Os vegetarianos se abstêm de toda carne animal (incluindo peixes e frutos
do mar). O fundamento dessa escolha de alimentação repousa em geral sobre
duas razões principais, a saber, a saúde e o respeito aos animais. Com efeito, na
perspectiva da saúde, o vegetarianismo considera o consumo da carne como um
fator importante no desenvolvimento de doenças cardiovasculares, e até mesmo
de certos cânceres. No que tange o respeito aos animais, trata-se de uma tomada
de posição moral e não-violenta para com estes. A esse respeito, os vegetarianos se
abstêm de tudo aquilo que exige a morte de um animal. É por essa razão que, se por
um lado não comem carne ou peixe, por outro, não obstante, incluem subprodutos
animais, tais como o leite e seus derivados (como a manteiga ou o queijo), os ovos
ou ainda o mel. Em princípio, para obter todos esses produtos não é necessário
matar os animais.
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Por sua vez, os veganos escolhem se
alimentar de frutas, legumes e cereais,
abolindo de sua alimentação
tudo aquilo que provém do
reino animal. Efetivamente,
segundo as convicções veganas,
o princípio de não-violência, já
subentendido no vegetarianismo,
deve se estender mais amplamente
e se concretizar na prática. Assim,
por exemplo, os laticínios não
são consumidos porque resultam
de métodos de criação considerados
traumatizantes (parturições anuais,
separação dos vitelos no nascimento, maus-
tratos, desgaste por superprodução etc.), ao passo
que esses mesmos animais e as crias assim obtidas são em
seguida encaminhados ao abatedouro. As mesmas razões condicionam a escolha de
não se comer ovos em razão da prática da trituração dos pintinhos vivos e da inserção
de galinhas poedeiras na fileira da carne. De modo geral, os veganos se abstêm de
tudo aquilo que exija qualquer forma de « exploração animal », considerando que
o direito à liberdade e ao bem-estar é legítimo para todo ser vivo.
A questão do animal e do direito do ser humano dele dispor como bem entender
para sua alimentação é um assunto sensibilíssimo que muitos tentam resolver
invocando a natureza. Alguns cientistas demonstram a necessidade biológica do
homem de consumir carne, respondendo assim a uma predação natural. Outros
afirmam o contrário, explicando que o homem seria na realidade um veg(etari)ano
que não tem consciência disso, deformado por tradições humanas. O que pensar
a respeito?
Se estudarmos atentamente a história do homem, perceberemos que a sua
grande capacidade de adaptação se deve em parte à diversidade natural de sua
alimentação. Lembremos que ao longo de toda a Pré-História não houve apenas uma
única espécie, mas sim cerca de uma dezena de espécies humanas diferentes. Cada
uma possuía seus próprios hábitos alimentares, associados com seu modo de vida.
Assim, os Paranthropus, por exemplo, ancestrais do Homo Habilis, eram veganos, a
abundância da savana permitindo-lhes sobreviver com facilidade. O Homem de
Neandertal, em contrapartida, era um caçador dotado de um regime essencialmente
cárneo, o que ademais lhe permitia enfrentar os grandes frios. Ninguém pode negar
que a evolução do homem foi acompanhada de uma tendência a uma onivoridade
aumentada. De fato, aquilo que constitui o grande sucesso do Homo Sapiens, do
qual resulta a nossa linhagem moderna, é a sua adaptação a todas as limitações
ambientais, sobretudo graças a um regime alimentar dos mais variados. Poderíamos

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deduzir disso, portanto, que comer carne não apenas seria natural e indispensável,
mas também legítimo, considerando-se o que ela trouxe de vantagens para a
humanidade.
No entanto, convém ir mais adiante em nosso raciocínio. Efetivamente, único
sobrevivente dentre todas as espécies humanas, o Homo Sapiens Sapiens originou
múltiplas comunidades em escala planetária, dotadas de culturas relacionadas com
seus modos de vida. Do ponto de vista alimentar, encontramos povos que possuem
um regime baseado essencialmente sobre a carne, como os esquimós. Porém,
encontramos também, opostamente, os bishnoi, os hindus e os budistas, dotados de
um regime vegetariano ou vegano. Esses poucos exemplos mostram, portanto, que
é contraditório afirmar que o ser humano seria naturalmente feito para ser onívoro
ou unicamente vegetariano/vegano. É forçoso constatar que a humanidade, em sua
diversidade, é na realidade tudo isso ao mesmo tempo há milênios. Fora de toda
imposição de sobrevida, nosso regime alimentar é, portanto, condicionado – não por
um imperativo natural, mas por um motivo cultural, filosófico ou ainda religioso:
comer carne é, pois, uma questão de escolha.
A emergência da tomada de consciência atual no que diz respeito à sensibilidade,
à inteligência e, de modo geral, à consciência animal é muito positiva, mas ela
convoca paralelamente uma reforma profunda na relação que tecemos com os
animais. A esse respeito, é urgente fazermos evoluir as condições de criação, as
quais estão em nossos dias na casa dos 93% para as criações intensivas (em nível
mundial), chegando aos 99% no caso de certas espécies como os coelhos ou os
peixes – coisa que, do ponto de vista místico, constitui não apenas uma ofensa
à vida como também um atentado à evolução da Alma Universal. Efetivamente,
se é fato que um animal não é um objeto, seria conveniente desde já deixar de
considerá-lo como tal, mesmo (para não dizer sobretudo) se estiver destinado à
alimentação humana. Aceitar a evidência segundo a qual os animais sofrem e sentem
medo e pavor diante da morte deveria desencadear uma revisão completa do modo
como eles são criados e mortos. Os numerosos estudos etológicos mostram que os
animais são seres conscientes. O porco, por exemplo, é dotado de autoconsciência…

Homo Habilis

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« Não é Ora, a ignorância de outrora não pode mais ser
invocada hoje em dia. É deplorável que em nossos
aquilo que dias seja por ganância que os animais sejam criados
em condições indignas.
entra pela Do ponto de vista místico, essas criações freiam
consideravelmente a evolução da Alma Universal. Com
boca que efeito, os animais são veículos dessa Alma. Tratados
torna o dessa maneira, eles não podem viver uma vida animal
conveniente que lhes permita no plano espiritual
homem enriquecer a alma coletiva à qual pertencem, por
meio das experiências e das interações que deveriam
impuro, mas vivenciar ao longo de sua existência terrestre. Eles não
podem assim estabelecer elos sociais normais com os
aquilo que seus congêneres; o afeto entre os pequenos e sua mãe
dela sai » é reprimido, ou até mesmo inexistente, quando são
retirados da presença e da afeição maternais logo no
(Mat. 15; 10-11). nascimento, e isso quando não são violentados por
procedimentos mecânicos ou pelo próprio ser humano
no abate. Em outras palavras, eles não podem mais manifestar sua natureza mais
profunda e gozar de um bem-estar legítimo. Ora, a humanidade é plenamente
responsável por isso ante a lei cármica, pois tem a possibilidade de reformar todas
essas práticas sem todavia se consagrar a elas. Hoje, em nível mundial, cerca de
120 bilhões de animais são criados e mortos todos os anos em tais condições,
considerando-se além disso que quase 35 milhões dentre eles acabam numa lata de
lixo. Pitágoras já dizia: Todo o mal que o homem faz aos animais retorna sobre o próprio
homem…
Para concluir, o que pensar sobre a prática do vegetarianismo ou do veganismo
no seio do universo rosacruz? Um filósofo naturalista do século 19, Henry David
Thoreau, partilhava a seguinte convicção: « Não tenho nenhuma dúvida de que é parte
do destino que toca a raça humana em seu desenvolvimento gradual que pare de consumir
animais, assim como certamente as tribos selvagens deixaram de comer umas às outras
[…] ». A História mostra de fato que a humanidade progressivamente estendeu
seu círculo de consideração moral; portanto, é absolutamente lógico, do ponto de
vista místico, que a humanidade se dirija progressivamente para uma « nutrição
pacífica », para retomarmos os próprios termos de Pitágoras.
Espiritualmente falando, entretanto, é importante preservarmo-nos de
uma conclusão precipitada. Efetivamente, ser vegetariano não é sinônimo
de alto nível espiritual. A esse respeito, não se pode dizer que um místico
deveria obrigatoriamente ser veg(etari)ano sem com isso cair numa espécie de
superstição prejudicial. Nesse sentido, a Tradição Rosacruz faz suas as palavras
do Mestre Jesus: « Não é aquilo que entra pela boca que torna o homem impuro, mas
aquilo que dela sai » (Mat. 15; 10-11).

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Contudo, a senda rosacruz é um caminho ativo de evolução pessoal e de coerência
com sua natureza profunda em benefício do « conhece a ti mesmo ». A esse respeito,
o nosso Mestre Interior sabe chamar a nossa atenção para assuntos especiais,
sobretudo por meio de nossa consciência. Por conseguinte, a questão do veg(etari)
anismo e de sua prática só pode, pois, encontrar uma resposta pela pesagem de
nossa consciência, e ninguém pode decidir em nosso lugar aquilo que é bom para
nós mesmos.
Se considerarmos legítimo consumir carne, empenhemo-nos em privilegiar a
carne oriunda de animais criados e abatidos em condições decentes. Se, ao contrário,
comemos carne e sentimos um « peso na consciência », ou se o fato de ver um animal
sendo morto nos perturba, então parece ser necessário meditar sobre os nossos
hábitos alimentares e procurar, de maneira objetiva, a causa desse mal-estar, sem
desviarmos o nosso olhar…
Enquanto rosacruzes, e qualquer que seja a nossa escolha a esse respeito, a
tolerância e a benevolência devem nos pôr ao abrigo de toda forma de extremismo,
seja para com nossos fratres e sorores ou para com a humanidade em geral. (URCI/
GLF)

VELAS

Q
ual o simbolismo por trás das duas velas que usamos no sanctum em casa?
E por que no Templo de um Organismo Afiliado usam-se três velas?

Devemos ponderar que as convenções simbólicas estabelecidas para o ritual de


convocação no Pronaos e no Templo de uma Loja Rosacruz, com três velas, são
diferentes das estabelecidas no sanctum do lar, onde são utilizadas duas velas. As
três velas lembram-nos a lei segundo a qual somente com três “pontos” podem existir
manifestações perfeitas. As velas que simbolizam esses três pontos são acesas em
todas as convocações, simbolizando “a chama e a luz, o fogo e o fervor” da Divina
Presença. Em síntese, Luz, Vida e Amor.
As velas utilizadas no sanctum do lar, que é o laboratório do místico, têm um
profundo significado espiritual e metafísico, visando induzir a consciência a um
estado introspectivo. Na memória da consciência interior, a chama das velas evoca
as antigas meditações do homem, que ocorriam diante de uma fogueira. Outra razão
para esse fascínio é que a chama parece viva em sua constante oscilação e sua mudança
de cor. Nenhuma luz artificial pode produzir em nós o mesmo efeito emocional
e psíquico que aquele produzido pela chama da vela. Nesses momentos, a chama
torna-se o ponto focal do nosso pensamento. Ela prende a nossa atenção a tal ponto
que nenhuma outra coisa de natureza visual é facilmente percebida por nós. E como

26 Fórum Rosacruz – Vol. IX – 01 – 2017


ela se torna o ponto focal da
nossa concentração, podemos
entrar mais facilmente em
estado meditativo.
Quando as velas estão
acesas em uma cerimônia,
significa simbolicamente
que parte da Luz Maior, ou
seja, a luz ou energia que
impregna todo o universo,
está concentrada em forma
de chama para cumprir um
propósito específico. Quando
a cerimônia é concluída, e
com ela o propósito pelo qual
a chama foi acesa, apagamos
a vela com um abafador, o que
simboliza que mudamos sua
manifestação concentrada,
fazendo com que a chama – o
ponto luminoso da vela – se
funda com toda a energia
que existe em todas as partes
do universo.
Do ponto de vista místico, a chama de uma vela simboliza também a luz que é
impossível extinguir, isto é, destruir por completo. Por mais escuro que nos pareça,
qualquer lugar sempre possui alguma luz. Esta afirmação representa não somente
um princípio místico, mas também uma realidade científica. A luz é uma qualidade
positiva do universo; faz parte de toda a matéria e, portanto, nunca pode deixar
de existir. A escuridão é uma qualidade negativa; ela é relativa, não possuindo
um estado real e sendo simplesmente, portanto, um grau menor de luz. Quando
dizemos que um lugar está às escuras, isto não significa que a luz tenha sido extinta
ou eliminada, mas simplesmente que ali há menos luz.
E como interpretar então o ato tradicional e simbólico de se assoprar as velas do
bolo de aniversário? O que podemos dizer a respeito é que o simbolismo das velas
utilizadas em aniversários é diferente do simbolismo místico utilizado em nossa
Ordem. Nos aniversários, as velas simbolizam um pedido. Ao apagá-las, as vibrações
se propagam pelo espaço – rumo à sua realização, no caso de uma vontade forte
e justa, ou sua dissipação, no caso de uma vontade frívola. (Divisão de Ensino e
Instrução/GLP)

Fórum Rosacruz – Vol. Ix – 01 – 2017


27
VIVER DE LUZ

H
á mais de uma década algumas pessoas afirmam “viver de luz”, comendo
pouquíssimo ou nada. Parece que demonstram esse princípio, embora suas
explicações acerca do assunto sejam fantasiosas ou algo doutrinárias.
Há no corpus de conhecimento tradicional da Ordem uma abordagem sobre esse
assunto?

De acordo com os ensinamentos rosacruzes, a polaridade negativa da Força Vital


corresponde no ser humano à energia que ele colhe nos alimentos e líquidos que
ingere. Pressupondo-se que tudo que comemos e bebemos tem origem na terra,
essa energia é então predominantemente terrestre, para não dizermos “material”.
Por conseguinte, ela contribui principalmente para o bem-estar do nosso corpo
físico. Por outro lado, sabemos perfeitamente que todos os processos fisiológicos
que nos mantêm vivos provocam regularmente uma perda dos elementos químicos
que compõem nosso organismo. É vital, portanto, que compensemos essa perda
absorvendo novamente esses elementos por meio dos alimentos e líquidos. Na
realidade, essa é a finalidade principal de todas as funções metabólicas do nosso
ser, cujo corpo – templo de nossa alma – é constituído por órgãos que cumprem
necessidades fisiológicas vitais para o organismo como um todo e que não pode e
não deve prescindir de uma boa alimentação para funcionar adequadamente.
Essas observações se aplicam igualmente aos reinos vegetal e animal, pois não
existe nenhum ser vivo capaz de sobreviver sem assimilar regularmente uma
nutrição que reúna os compostos materiais que entram na constituição do seu
organismo, por mais primitivo que seja. Uma planta, por exemplo, retira do solo
os minerais necessários ao seu desenvolvimento e crescimento. Um herbívoro faz
o mesmo comendo ervas e absorvendo vegetais diversos. Um carnívoro, ao comer a
carne de suas presas, fornece também ao seu corpo o alimento terrestre indispensável
ao seu equilíbrio fisiológico. Esse estado de coisas é muito importante, pois prova
que a vida, embora seja uma energia imaterial, está diretamente ligada à matéria
e, portanto, aos átomos que a compõem.
O conceito de “viver de luz” popularizou-se nas últimas décadas, divulgado
sobretudo pela australiana Ellen Greve, mais conhecida pelo nome de Jasmuheen.
De acordo com ela, uma “autorização espiritual” lhe teria sido concedida para criar
uma filosofia (que assumiu as cores de seita para alguns) que envolve um conjunto
de técnicas que supostamente permitiriam à pessoa se abster completamente não só
de alimentos sólidos, mas também de líquidos. O processo é conhecido pelos termos

28 Fórum Rosacruz – Vol. IX – 01 – 2017


técnicos de “inédia” e “respiracionismo”, prometendo ao praticante a possibilidade
de se viver apenas da absorção de prana (Força Vital) pela respiração. Outro nome
do processo apregoado por Ellen Greve é Sun Gazing (“olhando o sol”).
Há variantes dessa prática, conforme as correntes. Em algumas, assegura-se ao
indivíduo que ele poderá se abster totalmente de alimentos, mas não de água. De
todo modo, o sol é considerado a fonte de onde provém a energia absorvida pela
respiração. Daí o termo “viver de luz”.
Tentou-se invocar, em apoio a essa teoria, o exemplo de poucos indivíduos que
afirmam na mídia que têm conseguido viver exclusivamente de prana. A maioria
dessas pessoas não está ligada ao sistema da senhora Greve, mas a técnicas de
yoga e variantes do Hinduísmo. Contudo, nenhuma prova conclusiva foi jamais
apresentada para a ciência. Portanto, não há qualquer evidência de que seja
possível a um ser humano viver apenas da luz do sol, abstendo-se completamente
de alimentos sólidos e líquidos, uma vez que o organismo humano não foi projetado
para ser fotossintetizador.
O fato de, segundo os ensinamentos rosacruzes, a Força Vital ser um componente
essencial do complexo humano não quer dizer que ela possa sustentar a vida no
plano físico apenas em sua polaridade positiva (absorção pelo ar), sendo necessária
a sua complementação negativa (alimentos e líquidos), o que ilustra perfeitamente
a Lei do Triângulo:

Respiração (+) Alimentos e líquidos (-)

Vida no plano físico

Neste diapasão, cabe alertar que há registros na casuística médica de pessoas


que tentaram “viver de luz” com terríveis consequências, inclusive mortes. Os
ensinamentos rosacruzes nunca sustentaram ou apoiaram essa teoria, sempre

Fórum Rosacruz – Vol. Ix – 01 – 2017


29
alertando seus estudantes quanto à prática de sistemas exóticos sem fundamento
nas Leis Cósmicas e que podem, no melhor dos casos, levar a sérias disfunções
orgânicas, e no pior à transição prematura. Daí resulta o fato de a Universidade
Rose+Croix Internacional não ter efetuado pesquisas sobre o tema, o que não
significa que o assunto não seja pautado no futuro, a título de esclarecimento.
É importante ressaltar que mesmo que em algum ponto do planeta uma só pessoa
conseguisse “viver de luz” (o que não se conhece até hoje), isso se constituiria em
uma exceção ao processo normal decretado pelas Leis Cósmicas para o ser humano
na Terra. Tal indivíduo seria mais uma curiosidade científica e uma anormalidade
do que um exemplo a ser seguido.
Lembramos ainda que todos os Mestres Cósmicos e avatares, quando encarnados,
alimentam-se normalmente. Destes, Jesus é o exemplo mais conhecido, pois relata-
se que participava de festas, banquetes e ceias junto a seus amigos e discípulos.
Finalmente, é importante frisar que deixar de alimentar-se ou alimentar-se apenas
de determinados alimentos não confere necessariamente maior espiritualidade a
quem quer que seja, estando a evolução espiritual do ser humano condicionada
unicamente a suas atitudes interiores e à sua expansão de consciência. Por isso, o
Rosacrucianismo sempre sustentou a injunção pitagórica, também invocada por
Buda, da Lei do Equilíbrio em todos os planos. Ao corpo, o que for mais indicado
conforme cada um. À alma, o alimento espiritual necessário.
Seguindo essas diretrizes, podemos assegurar não só boa saúde física, mas
permanente evolução espiritual, cumprindo os desígnios do Cósmico.
(Divisão de Ensino e Instrução/GLP)

Você tem perguntas a propor para


publicação no Fórum Rosacruz?
Envie-as para forum@amorc.org.br

Caso tenha algum problema premente


ou dúvidas mais urgentes quanto aos
ensinamentos rosacruzes, contate diretamente
a Divisão de Ensino e Instrução da GLP.

30 Fórum Rosacruz – Vol. IX – 01 – 2017


ZODÍACO

Qual a origem do zodíaco?


O Sol descreve uma órbita aparente em torno da Terra, segundo uma linha
denominada “eclíptica”. Esta ocupa o centro de uma faixa sobre a qual figuram
doze constelações, no interior da qual evoluem os planetas. Os gregos deram a
esse cinturão cintilante o nome do “zodíaco”, e a seus doze signos os nomes das
constelações correspondentes.
Cada signo ocupa um arco de trinta graus no zodíaco. No seu percurso cotidiano,
o Sol passa diante de uma constelação que se desloca ao mesmo tempo que ele,
porém um pouco mais lentamente. Ao cabo de cerca de trinta dias, também o Sol
se encontra projetado para a zona ocupada pela constelação seguinte. Assim, no
período de um ano ele percorre os doze signos. Com o passar dos séculos, chegou-
se a atribuir cada signo a uma porção fixa do calendário. O ano zodiacal começa
no primeiro dia da primavera no hemisfério norte, quando o Sol se levanta pela
primeira vez na constelação de Áries.
Essa antiga visão de um cosmos regulado como um relógio era elegante, mas
imperfeita. Entre outros erros, representava a Terra como um corpo imóvel, e
não como um astro que gira em torno do seu eixo. Além disso, no curso de sua
rotação a Terra é afetada por uma oscilação muito lenta chamada “precessão”. Seu
período é de 26.000 anos, mas ela é suficiente para modificar a orientação da Terra
em relação às estrelas, de forma que os pontos de referência mudam. Há 2.000
anos o Sol se levantou efetivamente em Áries, quando do equinócio da primavera
no hemisfério norte. Mas em nossos dias, por causa dessa precessão, o equinócio
da primavera se produz quando o Sol sai de Peixes. Essa defasagem celeste que se
produz ao longo das eras é denominada “precessão dos equinócios”.

Esse fenômeno provocou uma cisão na


astrologia moderna. A escola sideral,
representada sobretudo na Índia,
leva em conta a precessão e ajusta
consequentemente os signos do
zodíaco. Uma pessoa que nasce
no dia 19 de abril, por exemplo, é
de Peixes. No Ocidente, por outro
lado, para os astrólogos da escola
chamada “tropical”, ela é de Áries,
ainda que na realidade o Sol tenha
cruzado a constelação de Peixes no
momento de seu nascimento.
(B/GLF)

Fórum Rosacruz – Vol. Ix – 01 – 2017


31
TATUAGENS

Q
ual o posicionamento da Ordem Rosacruz quanto ao uso de tatuagens
permanentes? Símbolos misticos de proteção ou simplesmente
”decorativos” podem afetar a matéria do ser humano? Em razão de uma
possível interferência da tatuagem na matéria, existe algum símbolo ou desenho
que não possa ser tatuado?

A palavra “tatuagem” deriva da palavra inglesa tattoo, que por sua vez é oriunda
da palavra da polinésia tatau, onomatopeia associada ao ato de bater (os nativos
usavam um instrumento de osso para tatuar, no qual batiam com um pedaço de
madeira). Segundo evidências arqueológicas, a prática da tatuagem também era
realizada no Egito Antigo. Quando da exumação de algumas múmias, constatou-
se que estas apresentavam em sua pele sinais de tatuagens. Em outras regiões –
tanto na África quanto na Europa e na Ásia – esse tipo de desenho na pele também
era cultivado.
Quanto ao posicionamento da AMORC sobre a realização de tatuagens,
esclarecemos que o estudante possui o livre arbítrio para fazer aquilo que melhor
julgar para si. Em um dos manuscritos da nossa Ordem está escrito:  “A maior das
liberdades é a que permite a todo ser humano aplicar plenamente seu livre arbítrio com
respeito às leis humanas e cósmicas”. O estudante, por conseguinte, é livre para fazer
a tatuagem que desejar em seu corpo. Entretanto, recomendamos que reflita sobre
essa decisão, procurando evitar dissabores futuros, como o arrependimento pela
opção de um determinado símbolo, desenho ou palavra, por exemplo.
De acordo com o livro “Introdução à Simbologia”, da Biblioteca Rosacruz, uma
das coisas que distinguem o homem dos animais é a capacidade de simbolizar.
Memória, imaginação e impressões psíquicas empregam a função mental
simbolizadora. Religião, ciência, misticismo e mitologia também fazem uso de
símbolos, bem como sonhos, alegorias, contos de fadas e rituais. Um templo
sagrado não apenas contém símbolos: é ele próprio
um símbolo. Uma montanha ou uma escada
podem simbolizar ascensão ao Cósmico;
uma esfera ou bola representar o mundo,
o universo ou o Todo; um livro simboliza
conhecimento; uma corrente ou uma
escada também podem representar a
hierarquia da Criação. Assim sendo,
um símbolo é um objeto, uma ideia,
uma emoção ou um ato, e dessa
forma o ser humano, ao fazer uma
tatuagem, poderá criar um círculo
de proteção através de seu poder
mental ou da sugestão lhe causa. Porém,
materialmente falando, não fará mais do
que marcar o corpo com desenhos. (Divisão
de Ensino e Instrução/GLP)
32 Fórum Rosacruz – Vol. IX – 01 – 2017
HARMONIA

C
omo é possível alcançarmos estados de harmonia quando a maioria das
pessoas com as quais convivemos não é harmoniosa e não deseja sair de
tal estado de não-harmonia?

O ser humano sente instintivamente um desejo de ordem e de repulsa ao caos


e à desordem. Por outro lado, sente uma grande satisfação interna quando as
coisas estão devidamente organizadas. Sistema e ordem criam harmonia. A busca
da harmonia em nosso interior é um desejo forte e natural, e o propósito dos
ensinamentos rosacruzes é nos capacitar a desenvolver essa harmonia na natureza
física, mental e espiritual de nosso ser.
Do ponto de vista físico, a saúde do corpo deve estar em primeiro lugar, visto
que a desarmonia nesse âmbito sempre exige uma grande dose de atenção. A má
saúde pode limitar enormemente as nossas atividades
porque a dor ou o desconforto exigem muita
atenção consciente. A boa saúde, portanto, é
importante não só por significar que estamos
isentos de doenças, mas também porque a
harmonia física contribui para a harmonia
total de nosso ser.
Um ponto importante a ser lembrado
é o de que aquilo que pensamos tem um
efeito profundo sobre o corpo. Se sentimos
ou acreditamos que nossa saúde é precária,
ou que nosso coração é fraco, ou que temos
outros problemas, esses pensamentos exercem
grande influência sobre o nosso estado de saúde. Se,
ao contrário, pensamos que estamos saudáveis e que nos sentimos mais fortes e
vitalizados, estes pensamentos terão um efeito benéfico sobre nossa saúde física.
A harmonia mental, frequentemente chamada de “paz de espírito”, é um desejo
profundo que todos nós possuímos. A harmonia da mente depende de nossa
relação com a sociedade. Se estamos em paz com nosso ambiente e estabelecemos
um bom relacionamento com as pessoas que nos cercam, vivenciamos a harmonia,
pois sentimos que estamos realizando um propósito útil na vida.
Uma vez desenvolvida a autoconfiança e o sentimento de que estamos
contribuindo para a sociedade, seja por nossa vocação ou através de nossos esforços
pessoais, teremos uma sensação de bem-estar. Se somos queridos por amigos e
familiares e estamos dispostos a fazer um sacrifício pessoal por eles de vez em
quando, sentimos satisfação com relação à vida que levamos.

Fórum Rosacruz – Vol. Ix – 01 – 2017


33
A mais elevada har­
monia, porém, está
na relação do homem
com o Cósmico. Quan­
do conseguimos alcan­
çar um ponto de
harmonização com o
Cósmico, experimen­
tamos um fluxo de
energia vibratória em
nosso ser – fluxo que
resulta em perfeita
harmonia espiritual.
Embora esta belíssima
experiência possa ser de
curta duração, seu efeito
produz a harmonia em
todos os sentidos – não
só a harmonia espiritual,
mas também física e mental. Isto se consegue por meio dos muitos exercícios que
desenvolvem nossa consciência psíquica; as monografias oferecem pensamentos
inspiradores e conceitos que visam estimular nossa consciência mais elevada,
permitindo assim a fusão gradual de nossa natureza vibratória.
Seria um erro pensarmos que essa harmonia pode ser obtida apenas pelo
processo da receptividade e da meditação. Grande parte da harmonia em nossa
vida advém da satisfação que alcançamos em nossos afazeres diários. O ditado “na
medida em que damos, recebemos” é um importante princípio na busca da harmonia
pessoal. Precisamos sentir a satisfação de viver uma vida útil. Não importa qual
seja a nossa vocação ou posição na vida: a doação de nós mesmos representa uma
regra da maior importância em nossa relação com o Cósmico. Seria errôneo sugerir
que pela prática de alguns princípios e exercícios simples podemos vivenciar a
harmonia cósmica. Muitas organizações tendem a fazer exatamente isto, mas o
rosacruz vem a compreender que o relacionamento profundamente pessoal que
ele desenvolve com o Cósmico é o resultado de intensas indagações espirituais,
da purificação dos desejos mais grosseiros e do desenvolvimento de um modo de
servir o próximo.
Não precisamos ser perfeitos para vivenciar a harmonia profundamente
gratificante do Cósmico, mas necessitamos de sinceridade e perseverança, que
trazem suas recompensas. Podemos viver a harmonia quando nosso ser trino
está em harmonia com o ritmo do universo. (Divisão de Ensino e Instrução/
GLP)

34 Fórum Rosacruz – Vol. IX – 01 – 2017


ESPÍRITOS BONS E MAUS

A
AMORC concebe a existência de espíritos bons e maus? Há espíritos
que podem estar entre nós, influenciando-nos de maneira positiva ou
negativa? Os demônios existem e são responsáveis por toda a desgraça
humana?

Não há como negar ou refutar a veracidade de determinados fenômenos.


Detalhes à parte, digamos simplesmente: eles ocorrem. O que a AMORC refuta é
a explicação que é dada por algumas correntes espíritas como sendo a verdadeira
e única possível para tais fenômenos.
A grande fonte de conhecimento rosacruz é a experiência direta, por apreensão
mística, dos Mestres invisíveis. Ora, essa experiência é intransferível; precisa
ocorrer a cada indivíduo. Podemos receber orientação de almas evoluídas de outro
plano, mas somos nós que devemos nos elevar
até elas, e não esperar que “desçam” até nós, o
que não pode ocorrer. Para isso, as técnicas
recomendadas são a comunhão cósmica e
a visualização, conforme ensinadas em
nossas monografias.
No que tange à influ­
ência negativa, do ponto
de vista rosacruz, o que em
certas tradições se chama
“baixo astral” corresponde ao
segundo plano da Consciência
Cósmica, sendo o primeiro a
própria matéria. Em princípio,
nenhum ser humano possui uma
alma que vibre com esse plano
astral. Esse plano contém, sob a forma
de energias, todos os pensamentos e
todas as emoções negativas geradas pelos
homens, tanto a título individual como coletivo.
A questão que se coloca é saber se podemos sofrer a influência negativa do
baixo astral. Isto é efetivamente possível, porém unicamente sob o efeito do
nosso próprio estado mental e emocional. Por exemplo, isto se produz quando
permanecemos com raiva ou mantemos pensamentos discordantes, tais como o
rancor, a inveja, a vingança e o ódio. Nestes casos, entramos em contato mais ou
menos conscientemente com o baixo astral e nos convertemos em canal das energias
negativas que este contém, o que se traduz em um comportamento negativo de
nossa parte. O melhor meio de evitá-lo consiste em colocarmo-nos regulamente

Fórum Rosacruz – Vol. Ix – 01 – 2017


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em harmonia com os planos superiores, mantendo pensamentos positivos. Há
um axioma budista que diz: “Um pensamento positivo serve para neutralizar cento e
quarenta e quatro pensamentos negativos”, o que não é senão uma maneira simbólica
de dizer que o Bem é muito mais poderoso do que o mal.
Para finalizar, informamos que a palavra “demônio” originou se do grego
daimon e significava “poder divino”. Xenócrates, discípulo de Platão, foi quem
desenvolveu o conceito de demônio como até hoje é visto. E com o vínculo da
nossa cultura com a grega, ele passou a fazer parte da nossa tradição religiosa.
Posteriormente esse conceito foi modificado
entre bons demônios (anjos) e maus
demônios (diabos).
O Judaísmo agregou o demô-
nio às suas tradições durante
o período helenís­tico. Nessa
crença se reconhece facil-
mente a influência ma-
zdeísta (Zoroastrismo)
quanto à existência de
espíritos bons e maus. O
Cristianismo, enquanto
religião de origem judai-
ca, herdou a crença de
anjos e demônios, a qual
passou a integrar suas tra-
dições.
Os rosacruzes conhecem as
leis naturais, e por experiência
mística sabem que NÃO EXISTEM
FORÇAS NATURAIS DO MAL.
Certos princípios psicológicos já bem
conhecidos são responsáveis pela maioria dos fenômenos atribuídos a supostas
“forças do mal”. Muitas ocorrências estranhas, incomuns e impressionantes são
interpretadas erroneamente, por superstição e crendices – ou seja, por se acreditar
arbitrariamente que elas são efeitos provocados por “forças sobrenaturais do mal”.
Essa crença arbitrária ou superstição resulta da falta de conhecimento das leis
naturais que regem esses fenômenos especiais ou incomuns e, é claro, do medo
que eles causam.
Ressaltamos que o misticismo rosacruz nos liberta de crenças arbitrárias e
superstições. Aos poucos aprendemos a abrir o coração e a mente e a ter confiança
absoluta na natureza construtiva do Cósmico. Aprendemos também recursos
místicos para eliminar vibrações negativas e prejudiciais. Nossa força está
justamente em não admitir nenhuma força e nenhum poder real nesse gênero.
E, naturalmente, devemos sempre evitar que se instale em nosso ser um estado
mental e emocional negativo e destrutivo, por qualquer motivo ou causa.

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Antiga e Mística Ordem Rosacruz – AMORC
41 3351-3000 | www.amorc.org.br

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