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■ IMPERATOR

A Tradição
Espiritual Rosacruz
no Mundo Moderno
Por CLAUDIO MAZZUCCO, FRC – Imperator da AMORC

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A
ntes de nos envolvermos em
qualquer conversa de natu-
reza filosófica, é uma boa

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prática refletir sobre o
Claude Debussy
sentido e o significado das palavras (1862-1918, foto acima)
que estão prestes a serem usadas. Por foi um compositor francês que,
juntamente à Maurice Ravel, se
exemplo, ao utilizar a palavra “espiri- associou fortemente ao movimento
impressionista na música do final do
tualidade”, é importante ter uma visão século XIX e início do século XX. Ele
clara de seu significado dentro do con- também estava intimamente associado à
atividade rosacruz na França. Ralph Waldo
texto da filosofia Rosacruz. Para conseguir Emerson (1803-1882, foto abaixo) – ensaísta
isso, vamos usar a “arte” como um meio de americano e poeta renomado que liderou o
movimento transcendentalista de meados
obter uma compreensão mais clara, uma do século XIX. Ele é carinhosamente
vez que a linguagem da arte toca mui- lembrado por muitos de seus
escritos extraordinariamente
tos níveis, despertando vislumbres da belos.
verdade naqueles que a contemplam.
Vou começar com alguns trechos dos
escritos de Ralph Waldo Emerson:

A verdade é percebida e revelada pela


alma. Nós reconhecemos a verdade quando
a vemos, independentemente do que os
céticos e zombadores escolhem dizer.

Pelo mesmo fogo, vital, consagrado, celestial,


que queima até que acabe dissolvendo
falamos, trata-se de uma visão, não no senti-
todas as coisas em ondas de um oceano de
do de algo exigindo apenas os olhos para ver,
luz, nós enxergamos e conhecemos um ao
mas uma visão de uma imagem interior que
outro, e de qual espírito cada um é feito.
se revela àqueles que sabem como procurá-la.
Vemos o mundo pedaço por pedaço, Apenas as imagens que acompanham cada
vemos o Sol, a Lua, o animal, a pensamento e expressão humanos tornam
árvore; mas o todo, do qual estes são possível em primeira mão a descrição da
as suas partes brilhantes, é a alma. experiência espiritual. Elas devem necessa-
riamente ser sempre simbólicas, evocativas e
Quando ela respira através de seu intelecto, indiretas, sempre sugerindo a Verdade sem
ela é o gênio; quando respira através de nunca a pronunciar. Isso é o que a espiri-
sua vontade, ela é a virtude; quando tualidade significa para os Rosacruzes.
flui através de sua afeição, é o amor. Debussy foi membro de uma vertente da
Perante as revelações da alma, Tempo, Tradição Rosacruz fundada por Joséphin
Espaço e Natureza se encolhem. Péladan no final do século XIX. Eu não
vou aprofundar isto, pois acredito que é
– Emerson “Essay IX, A Alma Universal” mais útil destacar certos aspectos da espi-
ritualidade rosacruz, para que você possa
As palavras de Emerson despertam em nós concluir por si mesmo o significado da
a ideia de que, independentemente do que afiliação de Debussy a esta escola iniciática.

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Uma Iniciativa expressar seus verdadeiros potenciais e


viver em harmonia com os outros e com
da UNESCO o meio ambiente. A relevância desses dois
aspectos torna-se mais evidente se olhar-
Em 1996 a UNESCO, um ramo das Nações mos para eventos recentes no mundo,
Unidas dedicado à educação e ao desenvol- principalmente no que diz respeito ao meio
vimento das habilidades humanas, publi- ambiente e, de fato, à própria sobrevivên-
cou um artigo de um estudo realizado por cia da diversidade cultural. É, portanto,
eminentes cientistas e educadores de várias compreensível porque “aprender a con-
nacionalidades. viver” e “aprender a ser” são pilares tão
O estudo analisou como deve ser o desen- importantes para a evolução humana.
volvimento do indivíduo no século XXI. Co- Sem eles, estamos destinados a ser
nhecido como o Relatório Delors, esse estudo atormentados indefinidamente no futuro
destacou quatro pontos essenciais que podem por constantes conflitos com os outros,
ser chamados de os quatro pilares fundamen- conflitos tanto internos quanto exter-
tais para a educação das gerações futuras: nos. E seremos incapazes de nos adaptar
às condições da vida que estão em cons-
Aprender a fazer. tante mudança, sem saber como manter
Aprender a conhecer. um equilíbrio saudável com o nosso am-
Aprender a conviver. biente e com os outros seres humanos.
Aprender a ser.

A partir de uma primeira análise desses Transformação


quatro pontos, podemos concluir que os
dois primeiros são áreas pertinentes à edu- do século XVII
cação escolar, enquanto o terceiro e o quarto Vamos agora voltar no tempo para os pri-
são elementos que cada indivíduo desen- meiros anos do século XVII, em especial na
volve principalmente dentro do ambiente Renânia-Palatinado, região da Alemanha
familiar. Na verdade, é assim que as coisas central. O século XVII como um todo foi
costumavam ser até o início do século XX, um momento dramático na história da Eu-
quando a transformação da sociedade con- ropa: começou com Giordano Bruno sendo
temporânea levou a família a abdicar, por queimado, mártir do pensamento livre e um
várias razões, do seu papel fundamental de símbolo para todos os que procuraram a sua
preparar o indivíduo para a vida, através dos própria verdade através do conhecimento
relacionamentos afetivos e sociais que são pessoal e das experiências do Sagrado.
típicos de um núcleo familiar. Mas as razões Os pensamentos de Bruno se espalha-
para esta mudança são tratadas de forma ram pela Europa, principalmente para a
mais eficaz pelos sociólogos e antropólogos. Grã-Bretanha e Alemanha, influenciando
No entanto, o que é importante para nós são muitos pensadores proeminentes. A Europa
os dois últimos pontos, ou seja, aprender a no século XVII passou por vários períodos
conviver e aprender a ser. de grandes transformações de pensamento
Partindo de uma análise cuidadosa, fica e consciência, influenciadas pelas teorias
claro que esses dois pontos são essenciais copernicanas…; da profunda transforma-
para os seres humanos serem capazes de ção do pensamento científico nas obras de

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Galileu Galilei, Francis Bacon, Isaac Newton
e vários outros, até as descobertas que
modificaram radicalmente a noção, teolo-

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gicamente liderada até então, da preemi-
nência do homem no centro do Universo.
Com a navegação e a descoberta do Frederico V
(foto acima), Eleitor
Novo Mundo apenas 120 anos antes de Palatino, e Rei da Boêmia
1600, a rápida disseminação do pensamen- por um curto período. Isabel
Stuart (Elizabeth Stuart, foto
to filosófico e científico tornou-se então abaixo), filha de Jaime I da Grã-
Bretanha e Ana da Dinamarca,
possível, graças ao desenvolvimento inicial reinou por um curto período
da imprensa de Gutenberg no século XV, como Eleitora Palatina e Rainha
da Boêmia com seu marido
seguido dos avanços nas técnicas de im- Frederico V, Eleitor
pressão em massa. Esses foram os fatores Palatino.

essenciais que levaram à rápida transfor-


mação que ocorreu durante o século XVII.
Mas com as grandes mudanças vieram
também grandes crises. O norte da Europa
estava sob a influência da Reforma Protes-
tante, que introduziu a necessidade de os
seguidores fora do clero se tornarem cons-
cientes das Sagradas Escrituras do Antigo e
Novo Testamentos sem a intermediação de
um sacerdote. De fato, Lutero alegava que
todo cristão devia ser seu próprio sacerdote.
E assim aconteceu que, em poucas décadas, desenvolvimento para educação e conhe-
a alfabetização no norte da Europa e na cimento no sentido mais amplo do termo.
Grã-Bretanha se tornou superior à do sul Foi durante esse período que começou a
da Europa. Neste contexto, o Palatinado na se desenvolver, entre os eruditos da Euro-
Alemanha, sob influência protestante, go- pa, a ideia de que o mundo estava prestes
zava de uma forma específica de liberdade, a testemunhar a realização de uma uto-
sendo o eminente governador da região, o pia na Terra. Isso foi reforçado pelo fato
Eleitor do Sacro Império Romano, Frede- de que Frederico V se casaria com Isabel
rico V, considerado “moderno” por muitos Stuart (Elizabeth Stuart), filha do rei Jaime
dos eruditos da época. Ao contrário de mui- I da Grã-Bretanha, que, com seu poderio
tos outros líderes poderosos, ele tinha uma militar, poderia ter garantido a seguran-
mente aberta e era receptivo a novas ideias. ça do reinado de Frederico. Mas isso não
Então, dentro de um breve período, o aconteceu. Em relação ao casamento entre
Palatinado tornou-se um centro para onde Frederico e Isabel, a companhia shakespe-
muitas formas culturais e esotéricas con- ariana subiu ao palco na Alemanha com
vergiram, como as correntes cabalísticas, várias produções em homenagem ao casal
alquímicas e herméticas, bem como mate- real. Shakespeare e sua companhia, como
máticos e acadêmicos de medicina, mecâ- será discutido mais tarde, muito prova-
nica e astronomia. Ele reuniu essas áreas velmente desempenharam um papel im-
de aprendizagem em um único centro de portante na gênese do Rosacrucianismo.

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Os Manifestos
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Rosacruzes
Neste clima de rejuvenescimento intelectual, artístico e
espiritual, cheio de novas esperanças, ideias e projetos,
foi publicado o primeiro Manifesto Rosacruz, intitulado
Fama Fraternitatis (Fama da Fraternidade) em 1614. Foi
seguido em 1615 pela publicação do Confessio Fraterni-
tatis (Confissão da Fraternidade), e, em 1616, pelo Ca-
samento Alquímico de Christian Rosenkreutz. Em 1624,
Paris despertava com uma exibição de cartazes colados
nas paredes das principais igrejas da cidade, lendo:

“Nós, deputados do Colégio principal da


Rosacruz, demoramo-nos visível e invisivelmente
nesta cidade pela graça do Altíssimo, para
O Qual se volta o coração dos Justos.

Acima, folha de Nós mostramos e ensinamos a falar sem livros


rosto da edição alemã
de 1616 de um conjunto nem sinais, a falar todas as espécies de línguas
do “Fama Fraternitatis” e dos países em que desejamos estar para tirar os
do “Confessio Fraternitatis”;
logo abaixo, folha de rosto homens, nossos semelhantes, de erro de morte.
da edição alemã de 1616 do
“Casamento Alquímico de
Christian Rozenkreuz.”. Se alguém quiser nos ver somente por curiosidade,
jamais se comunicará conosco, mas, se a vontade o
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levar realmente a se inscrever no registro de nossa


Fraternidade, nós, que avaliamos pensamentos,
faremos com que ele veja a verdade de nossas
promessas; tanto é assim que não estabelecemos o
local de nossa morada nesta cidade, visto que os
pensamentos unidos à real vontade do leitor serão
capazes de nos fazer conhecê-lo, e ele a nós.”

Estudiosos atribuem os dois primeiros manifestos a


um círculo de eminentes pensadores da universidade
de Tübingen, conhecido como “O Círculo de Tübin-
gen”, enquanto o Casamento Alquímico é atribuído a
Johann Valentin Andreae. O Fama conta a história
do lendário fundador da Irmandade da Rosa Cruz,
Christian Rosenkreutz (CRC). Ele explica como CRC
atingiu um alto nível de preparação espiritual e filo-
sófica através de uma longa jornada que o levou até
o Oriente Médio e possivelmente ao sul da Arábia, e

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depois através do norte da África, Espanha e
França, retornando à Alemanha, onde criou
uma Ordem monástica, os Irmãos da Rosa
Cruz, formada por apenas alguns indivíduos.
Em sua essência, o Fama não apenas
conscientizou as pessoas sobre a existência da
Ordem, mas também esperava reunir sábios
para expandir os limites do conhecimento
para o benefício da humanidade como um
todo. A história é como se fosse uma alegoria
e sua mensagem deveria ser entendida sim-
bolicamente, não de forma literal. A própria Acredita-se
que esta figura é
imagem de CRC é simbólica e deve ser enten- de Johannes Kelpius
dida em termos esotéricos, e não exotéricos. (1667-1708) – feita em 1705
– três anos antes de sua morte
O Confessio complementa e completa o aos 41 anos de idade. Kelpius
Fama. Por um lado, enfatizava a regenera- foi o fundador da primeira
comunidade dos Rosacruzes a
ção do homem e da sociedade, e, por outro desembarcar no Novo Mundo.
Eles se estabeleceram
lado, destacava um ponto central, que os em Germantown na
Irmãos Rosacruzes possuíam uma ciência Pensilvânia.
filosófica que permitia que tal regeneração
ocorresse. Destinava-se principalmente aos
que procuravam participar do trabalho da
Ordem e para o benefício da humanidade.
O Casamento Alquímico é uma descri-
ção alegórica de um processo iniciático Quando ele morreu, deixou em sua biblio-
com muitas referências alquímicas sobre teca 30 livros sobre química e física, e entre
a transformação do homem. Trata-se de os 130 livros sobre filosofia alquímica e
um casamento entre um príncipe e uma hermética estavam o Fama e o Confessio.
princesa e, como convidado, CRC narra os René Descartes pode ter viajado para a Ho-
eventos que acontecem no castelo durante landa em parte para escapar da perseguição na
os sete dias de celebração. Não há neces- França e desfrutar das maiores liberdades pes-
sidade de aprofundar os três manifestos soais disponíveis na Holanda; mas outra razão
aqui, uma vez que é um tema bastante era tentar encontrar os rosacruzes. Spinoza
tratado em pesquisas acadêmicas, a maior também estava associado ao movimento. Com
parte disponível de forma fácil e gratuita. a Guerra dos Trinta Anos tudo foi destruído,
Em vez disso, veremos o fato de que esses deixando para trás a morte e a destruição, da
manifestos deram origem a mais de quatro- qual a Europa se recuperou lentamente e com
centas publicações, algumas das quais foram muito sofrimento. O movimento Rosacruz es-
altamente críticas em relação à irmandade, tava ativo na Holanda e na Grã-Bretanha e, em
enquanto outras elogiavam e humildemente 1693, alguns Rosacruzes, liderados pelo Gran-
solicitavam a admissão para seus autores. Seu de Mestre Johannes Kelpius, cruzaram o oce-
impacto no mundo da cultura e do pensa- ano rumo ao Novo Mundo com a intenção de
mento foi muito significativo. Basta pensar construir uma Utopia, como sugerido no livro
em Isaac Newton, o pai da física moderna. de Francis Bacon de 1627, A Nova Atlântida.

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Utopia ças, sendo o ponto de encontro das muitas


diferentes fases que existem da realidade.
Estamos acostumados a pensar em uma Os Rosacruzes estabeleceram-se no
utopia como sendo sinônimo de terra fan- estado da Pensilvânia no final do século
tasiosa ou ideias irreais sobre algum estado XVII, formando uma comunidade cha-
idílico. A palavra “utopia” deriva da palavra mada “Ephrata”, em homenagem à cidade
grega “outopos”, significando nenhum lugar, bíblica de Ephrath na província pré-romana
lugar nenhum ou um lugar que não existe. da Judeia. Em Ephrata, a comunidade
Na obra República, Platão indica de maneira Rosacruz desenvolveu rapidamente ins-
sutil que… a utopia é uma forma de socie- talações de impressão, onde documentos
dade ideal. Talvez seja impossível alcançá-la importantes, alguns até sobre a colonização
na Terra, e ainda assim um homem sábio europeia das Américas, foram impressos.
deve colocar todas as suas esperanças nela. Muitos soldados feridos durante a Guerra
Um eminente pensador Sufi disse uma Civil Americana, 170 anos depois, foram
vez que, enquanto os humanos buscarem atendidos por membros dessa comunidade;
Jerusalém como um lugar no mapa, nunca e aqueles que estavam morrendo foram con-
haverá paz na Terra Santa. Essas palavras solados por leituras de palavras inspiradoras
destacam a natureza inerente de uma utopia, de livros e panfletos impressos pelos primei-
“um lugar que não existe”. Fomos ensina- ros rosacruzes na América do Norte. Como
dos que a realidade é feita apenas de coisas já foi dito, na Europa, no final da Guerra
que podem ser vistas e tocadas. Como diz dos Trinta Anos, o movimento Rosacruz
o ditado, somos pessoas modernas “com os foi atraído para a liberdade relativamente
pés no chão”. No entanto, no início do século maior da Grã-Bretanha e da Holanda.
XX, a própria ciência começou a desmantelar A Holanda era conhecida por seu grande
esse conceito rígido e árido de realidade e espírito de tolerância religiosa e filosófica,
substituiu-o por um conceito mais elástico enquanto a Grã-Bretanha era conhecida
e flexível devido à presença da consciên- como o país de Francis Bacon e Shakes-
cia humana. É por isso que os Rosacruzes peare. Acredita-se que Bacon serviu como
sempre afirmaram que “pensamentos são Imperator da Ordem em algum momen-
coisas”. Pensamentos harmoniosos nos forta- to durante o reinado de Jaime I, e pode
lecem e nos trazem bem-estar; pensamentos ter sido seu depositário durante uma fase
discordantes podem nos levar à morte. tranquila de sua existência após o início das
O pensamento e a consciência humana hostilidades da Guerra dos Trinta Anos.
fazem parte de uma dimensão que é capaz As peças de Shakespeare eram com-
de agir sobre o que interpretamos como postas por alguns atores que, se não eram
“realidade”. E se pensarmos sobre isso rosacruzes, eram simpáticos às suas ideias,
honestamente por algum tempo, quantas e foi até sugerido que algumas das peças de
coisas de nossa experiência atual da realida- Shakespeare eram de autoria ou influencia-
de não são nada mais do que pensamentos das por Francis Bacon. Alguns anos após
“pré-realidade” que residiam nas mentes o fim da Guerra dos Trinta Anos, o “Co-
de indivíduos iluminados do passado? A légio Invisível” foi formado na Inglaterra
utopia é para nós, portanto, uma condição e, posteriormente, se tornou a Sociedade
interna. É um sonho, uma aspiração escrita Real (Royal Society), fundada sobre princí-
nos corações de homens, mulheres e crian- pios bem conhecidos originados no Fama

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Fraternitatis, convocando todos os homens
sábios para a expansão do conhecimento.
Isaac Newton foi seu presidente por vários
anos, assim como o rosacruz Elias Ashmole.
Ela é hoje uma das sociedades científicas
mais conceituadas e oficiais do mundo.
Mas os Rosacruzes, para onde acaba-
ram indo? Por alguns anos eles permane-
ceram em um estado secreto, ou “sub-rosa”
se mantendo “sob a rosa”. Não obstante,
a Ordem continuou suas atividades na
Europa até o final do século XIX, quan-
do retomou suas atividades em conjunto
com a Ordem Martinista e vários rituais
maçônicos disseminados principalmente
na França, na Alemanha e na Itália.

Os Salões da
Rosa-Cruz Pôster de Carlos
Schwabe de 1892
Em 1892, os parisienses foram convidados para o primeiro
dos “Salons de la
para eventos públicos organizados pelo Rose+Croix” de arte e
então chamado de Salon Rose-Croix. Em música de Joséphin
Péladan.
que consistiam esses e outros “salões” e que
relação eles têm com os atuais Rosacru-
zes? No final do século XIX, o Ocidente se
surpreendeu diante das novas possibilidades
oferecidas pela ciência industrial. A ciência
triunfou e as pessoas sentiram que, com
o advento do século XX, a modernidade
lhes traria felicidade. No entanto, algumas
mentes iluminadas, filósofos, místicos e
artistas…, estavam preocupadas com as
perspectivas oferecidas por este progresso.
Essa preocupação foi sentida principalmen-
te através dos Simbolistas, um movimento
que reunia artistas de todas as disciplinas.
Joséphin Péladan, organizador dos Salões não terá, talvez, o mesmo coração e a mes-
e aliado ao movimento Rosacruz, ficou do ma dor?”. Péladan se colocou no ponto de
lado dos Simbolistas. Ele ainda questionou encontro entre os movimentos simbolista e
o problema nos seguintes termos: “A velo- esotérico. Como artista, posicionou-se no
cidade do mundo material acelera a vida movimento Simbolista e, como Esoterista,
interior. Mas o homem, dotado de asas, apresentou-se como iniciado da Rosacruz.

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