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© RISO DA MEDUSA ~ Héléne Cixous Falarei sobre a escrita feminina: sobre o que ela faré. A mulher deve escrever a sua auto- escrita: deve escrever sobre as mulheres e trazer as mulheres para a escrita, de onde foram expulsos tio violentamente como da sua casa, Pelas mesmas razdes, pela mesma lei, com 0 mesmo objetivo fatal. ‘A mulher deve colocar-se no texto - como no mundo e na hist6tia - pelo seu proprio movimento. futuro nio deve mais ser determinado pelo passado. Eu nfo nego que os efeitos do passado ainda esto conosco. Mas eu me recuso a fortalecer para lhes conferir uma capacidade irreversivel de resisténcia equivalente a0 destino, para confundir o biolégico com o cultural. A antecipagio & imperativa. Como essas reflexdes esto tomando forma em uma frea apenas no ponto de serem descobertos, cles tém necessariamente a marca do nosso tempo... durante a qual o novo se afasta do antigo, ¢, mais precisamente, do antigo, e, mais precisamente, do antigo, e do novo, e do antigo, e do novo, e do novo, € do novo, e do novo, ¢ do novo, edo novo, e do novo, e do novo, e do novo, € do novo, € do novo, ¢ do novo, ¢ do novo, ¢ do novo, ¢ do novo, edo novo, ¢ do novo, ¢ do novo, edo novo, € do novo (feminino) novo do antigo (Ia nouvelle de ancien). Assim, como nfo hé fundamentos para estabelecer um discurso, mas sim um étido milénio o que eu digo tem pelo menos dois lados dois objetivos: romper para cima, para destrur; e para prever o imprevisivel, para projetar. Escrevo isto como mulher, para as mulheres. Quando digo "mulher", estou falando de mulher na sua inevitével luta contra o homem convencional; ¢ de uma mulher universal sébdlta que deve levar as mulhetes aos seus sentidos ¢ 20 seu significado na historia. Mas primeito ¢ preciso dizet que, apesar de a enormidade da repressio que os manteve no "escuro”, escuras que as pessoas tém tentado fazer com que elas aceitem como suas hi, neste momento, nenhuma mulher em geral, ‘nenhuma mulher tipica mulher. O que eles tém em comum eu direi. Mas 0 que me impressiona é a infinita riqueza de suas constituigdes individuais: vocé nio pode falar de uma sexualidade feminina, uniforme, homogénea, classificivel em cédigos — qualquer mais do que podes falar de um inconsciente parecido com outro. ( imaginrio das mulheres & inesgotavel, como a misica, a pintura, a escrita: 0 seu 0 fluxo de fantasmas € incrivel. Eu fiquei espantado mais de uma vez.com a descrigio que uma mulher deu. de um mundo s6 dela, que ela andava a assombrar secretamente desde entao na primeira infancia. ‘Um mundo de busca, a elaboragio de um conhecimento, com base numa experimentacao sistemética das anges corporais, uma um interrogat6rio apaixonado e preciso da sua herotogeniedade. Esta pritica, extraotdinariamente rico ¢ inventivo, em particular no que diz respeito & masturbacio, € prolongado ou acompanhado por uma producio de formas, uma verdadeira a atividade estética, cada etapa do arrebatamento inserevendo uma visio ressonante, uma composicio, algo bonito. A beleza no seri mais proibida. Desejei que aquela mulher escrevesse € proclamasse este tinico império para que outras mulheres, outros soberanos nio reconhecidos, possam exclamo: Eu também transbordo; os meus desejos inventaram novos desejos, o meu corpo conhece cangées inéditas. Uma ¢ outra vez cu, também, me senti tio cheio de torrentes luminosas que eu poderia rebentar - rebentar com formas muito mais bonitas do que as que sio colocadas em molduras vendidas por um fedorento Fortuna. Feu, também, nio disse nada, nfo mostrei nada, no abri a minha boca, no pintei a minha metade do mundo. Eu estava envergonhado. Eu estava com medo, ¢ engoli a minha vergonha € 0 meu medo. Eu disse a mim mesmo: Vocé é Louco! © que significam estas ondas, estas inundagdes, estas explosses? eee Onue estdamulherebulientinfaita que imersa com estavana sua ingenuidade, mantida ‘no escuro sobre si mesma, conduzida ao auto desdém pela grande braco do Falocentrismo parental- conjugal, nao se envergonhou da forca? Quem, surpreendido e horrorizado com o fantéstico tumult dela (pois ela foi levada a acreditar que uma mulher normal e bem ajustada tem uma... divina compostura), nfo se acusou de ser um monstro? Quem, sentindo um desejo engracado mexendo dentro dela (cantar, escrever, ousat, etc), no se acusou de set um monstto? para falar, em suma, para trazer algo novo), nio pensou que ela era Doente? Bem, sua doenga vergonhosa € que ela resiste & morte, que ela faz problemas. E porque vocé nao escreve? Escreval Escrever é para voc®, vocé é para vocé; 0 teu cospo é teu, toma. Eu sei por que vocé nfo escreveu. (E por que eu no escreveu antes dos vinte € sete anos.) Porque escrever é a0 mesmo tempo muito alto, muito grande para voeé, € reservado para o grande -isto é para "grande" "homens"; € & "parvoice". Além disso, vocé escreveu um pouco, mas em segredo, E no foi bom, porque foi em segredo, © porque te castigaste ati proprio por escrever, porque no foste até 20 fim, ou porque escreveste, itesistivelmente, como quando nos masturbévamos em segtedo, nfo para it ‘mais longe, mas... para atenuar um pouco a tensfo, apenas o suficiente para alivar a tensfo. Bento assim que chegamos, vamos fazer-nos sentir culpados, de modo a sermos perdoado; ou esquecer, enterri-lo até & préxima vez. Escreve, que ninguém te detenha, que nada te detenha; nem o homem, nem o homem. A imbecil maquinaria capitalista, na qual as editoras so a8 retransmissores astutos € obsequiosos de imperativos transmitidos por uma economia que trabalha contra nés e nas nossas costas,€ nfo contra timesmo. Presuncosos leitores, editores administrativos egrandes chefes no gostam dos verdadeiros textos de escritos de mulheres ¢ mulheres do sexo feminino. Esse tipo de texto assusta-2s. Eu escrevo mulher: a mulher deve escrever mulher. E homem, homem, homem. Entlo, 96 uma consideragao obliqua seri encontrada aqui do homem; cabe acle dizer onde estio a sua masculinidade « feminilidade: isto vai nos preocupar uma vez os homens abritam os olhos e viram-se claramente. Agora as mulheres voltam de longe, de sempre: de "for", de "fora", dea charneca onde as bruxas jo mantidas vivas; de baixo, de além da "cultura"; de sua infincia que os homens tém tentado desesperadamente fazé-los esquecer, condenando-o ao "descanso etemo”. As meninas ¢ seus corpos "“mal-educados" imersos, bem preservados, intactos em simesmos, no espelho, Congelado. Mas seré «que eles esto sempre fervilhando por baixo! Que esforgo é preciso - ni ha fim para isso - para 0s policiais do sexo barrarem suas um regresso ameacador. Tal exibigio de forcas em ambos os lados que a luta foi imobilizada durante séculos no cequilibrio tremendo de um impasse. Aqui estio eles, voltando, chegando sempre, porque o inconsciente € inexpugnave. Eles vaguearam em efrculos, confinados ao quarto estreito em que Ihes foi dada uma mortifera lavagem cerebral. Vocé pode encarceré-los, atrasi-los, fugit com 2 velha rotina do Apartheid, mas s6 por um tempo. Assim que eles comecam a falar, ao mesmo tempo que Ihes é ensinado o seu nome, podem ser ensinados que o seu tertitbrio é negro: porque voce é Africa, vocé € negro. O seu (Os homens ainda tém tudo a dizer sobre a sua sexualidade, ¢ tudo a escrever. Para o que cles disseram até agora, na sua maioria, decorre da atividade/passividade da oposigdo, da relagao de poder entre uma virlidade fantasiosa obrigat6ria para invadir, colonizas e 0 consequente fantasma da mulher como um "continenteescuro" para penetrar e para "pacificar". Sabemos o que significa "pacificas" em termos de deturpar 0 outro € reconhecer mal o ea. Conquistando-a, eles se apressaram a sairde suas fronteiras, para sair da vista, sair do corpo. A maneira que o homem tem de sair de si mesmo ¢ entrar nela a quem no toma para © outro, mas para os seus, priva-o, sabe, do seu proprio corpo tertitério. Pode-se entender como o hhomem, confundindo-se com seu pénis ¢ se precipitando em para o ataque, pode sentir ressentimento cemedo de ser "levado" pela mulher, de estar perdido nela, absorvida, ou sozinha) continente é escuro. A escatidao é perigosa, Vocé nao pode ver nada no escuro, Estés com medo, Nao se mexa, voce pode cair. Acima de tudo, nao entre no floresta. E assim internalizimos este horror do escuro. Os homens cometeram o maior crime contra as mulheres. Inconscientemente, violentamente, eles 0 Jevaram a odiar as mulheres, serem seus préprios inimigos, a mobilizar a sua imensa forga contra si ‘mesmos, para serem os executantes das suas necessidades virilhas. Eles fizeram para as mulheres um antinarcisismo! natcisismo que ama a si mesmo apenas para ser amado pelo que as mulheres nio tém Apanheil Eles construiram a infame légica do antiamor. Nés os precoces, nds os reprimidos da crltura, nossas belas bocas amordagado com pélen, 0 nosso vento attancou-nos, nés os labitintos, 108 escadas, 0s espacos pisoteados, os bevies - somos negros ¢ somos lindos. Somos tempestuosas,¢ 0 que & nosso se solta de nés sem que tememos qualquer debilitacio. Nossos olhates, nossos sorrisos, sio gastos; risos exalar de todas as nossas bocas; 0 nosso sangue flui e nds nos estendemos sem nunca chegar a um fim; nunca retemos os nossos pensamentos, os nossos sinais, nossa esctita, € nfo temos medo de faltar. Que felicidade para nds que somos omitidos, deixados de lado na cena de herancas;inspitamo-nos ¢ expiramos sem nos esgotarmos de respiragio, estamos em todo o lado! De agora em diante, quem, se assim o dizemos, pode dizer-nos niio? Voltamos de sempre. E tempo de libertara Nova Mulher da Antiga, chegando aconheco-a - por amé-la por ter sobrevivido, por ter ultrapassado o Velho Testamento. Sem demora, saindo a frente do que seri a Nova Mulher, como uma seta sai do arco com um movimento que retine e separa vibragdes musicais, para ser mais do que ela propria. Eu digo que devemos, porque, com raras excegdes, ainda nfo houve qualquer escrita que inscreva a feminllidade; excepgdes tio raras, de facto, que, depois de lavrar a literatura através de linguas, culturas ¢ idades, 2 anos, um s6 pode ser assustado com esta vi missio de reeonhecimento. Esté bem. Sabia que o mimero de mulheres escritoras (embora tendo aumentado muito ligeiramente a partir do século XTX) sempre foi ridiculamente pequeno. Este é um fato initil e enganoso, a menos que de sua espécie de nfo deduzimos primeiro a imensa maioria das escritoras cujas nao é de forma alguma diferente da escrita masculina, e que também obscurece as mulheres ou seproduz as representagées clissicas das mulheres (como sensivel-intuitivo-sonho, ete.) 2. Bstou falando aqui apenas do lugar "reservado" para as mulheres pelo mundo ocidental. 3.3. Quais obras, entio, poderiam ser chamadas de femininas? Vou apenas apontar alguns exemplos: terfamos que lhes dar leturas completas para fazer emergir 0 que & perversivamente feminino em sua significacio. O que farei noutro lugar. Na Franga (vocé notou nossa pobreza infinita em este campo?- 6 paises anglo-saxdes tém mostrado recursos de importéncia claramente maior), folheando o que saiu do século XX - e nio & muito -, a Deixe-me inserir aqui uma observacio parentética. Refiro-me a2 isso quando falo de escrita masculina, Eu mantenho inequivocamente que existe algo como que, até agora, muito mais extensiva e repressivamente. Do que alguma vez se suspeitou ou admitiu, a escrita foi dirigide por um libidinoso e cultural - daf a politica, tipicamente masculino-economia; que isto é um lugar onde a repressio das mulheres, tem sido perpetuada, sobre € mais ou menos conscientemente, € de um modo que é assustador, jé que... muitas vezes escondido ou adornado com os encantos mistficadores da fic¢lo; que este locus tem exagerado grosseiramente todos os sinais de oposicio sexual (e nio diferenca sexual), onde mulher nunca tem a sua vez de falar — esta ser ainda mais sério ¢ imperdodvel nesse escrito & precisamente a propria possibilidade de mudanga, o espaco que pode servir de trampolim para pensamento subversivo, o movimento precursor de uma transformacao de estruturas sociais € cultura. Quase a histéria inteira da escrita é confundida com a historia da raziio, da qual é imediatamente 0 feito, o apoio, ¢ um dos slibis priviegiados. ‘Tem sido um com a tradicio falocéntrica. E, na verdade, essa mesma auto-admiracio, auto-estimulacio, auto-felictagio, Falocentrismo. Com algumas excegées, pois tem havido falhas - ese ele nfo era para eles, eu nio estaria escrevendo (L-mulher, fugitivo) — naquilo enorme maquina que tem estado a operar ea revelar a sua "verdade". durante séculos, Houve poetas que se esforgaram 20 méximo para escorregar... algo em desacordo com a tradigo - homens capazes de amar 0 amor e... capaz de amar os outros ¢ de os querer, de imaginar 0 que € 0 mulher que sc levantatia contra a opressio ¢ se constitutia como um sujcito soberbo, igual, portanto "impossivel", insustentivel em uma realidade social real. quadro de referencia. ‘Tal mulher que 0 poeta s6 poderia desejar quebrando a cédigos que a negam, Sua aparéncia necessariamente trari, se nfo fosse a revoluco, pois o bastiio era suposto ser imutivel, gelomenos cxplosdcs horplnts s vezes é na rachadura causada por um terremoto, através dessa mutagio radical das coisas provocada por um transtorno material, quando cada estrutura é por um momento desequilibrada e ‘uma selvageria efémera varse a ordem, que o poeta desiza algo, por um breve periodo, da mulher. Assim, Kleist gastou-se em seu anseio pela existéncia de amantes-irmas,flhas matemns, mies-irmas, «que nunca se envergonharam. Uma vez.que o palicio dos magistrados é restaurado, é hora de pagar: morte imediata e sangrenta para os incontroléveis elementos. Mas apenas 0s poeta - niio os romancistas aliados do representacionalismo. Porque a poesia envolve ganhar forca através do inconsciente ¢ s6 inscrigdes de feminilidade que eu vi foram por Colette, Marguerite Duras, .. € porque o inconsciente, que outro pais sem limites, € 0 lugar onde os reprimidos conseguem sobreviver: mulheres, ou como diria Hoffmann ,fadas. Ela tem de escrever 2 si prdpria, porque esta é a invengio de um novo escrita insurgente que, quando o ‘momento da sua libertacio chegar, Ihe permite realizar as indispenséveis rupturas e transformagées «em sus historia, primeiro em dois niveis que nfo podem ser separados. 4) Individualmente. Ao eserever seu cu, a mulher retomari ao corpo que foi mais do que confiscada a ela, que foi transformada para o estranho estranho em exibi¢io - a figura doente ou morta, que... _muitas vezes acaba por ser 0 companheiro desageadavel, a causa ¢ a localizacio da inibigdes. Censusar © corpo e voc’ censurar a respiragao ea fala no 20 mesmo tempo. Escreva 0 seu proprio nome. Seu corpo deve ser ouvido. S6 entZo surgirlo os imensos recursos do inconsciente. A nossa nafta iri espalhados por todo o mundo, sem délares-preto ou ouro -valozes no avaliados que mudario as regras do jogo antigo. Para escrever. Um ato que niio s6 "perceberi a relagio decensurada da mulher com sua sexualidade, com seu ser feminino, dando-lhe acesso a a sua forca nativa, que Ihe devolverd os seus bens, os seus prazeres, 0s seus 0s seus imensos territbrios corporais que foram mantidos sob sigilo;0 que a afastard da estrutura superegociada em que ela se encontes. Sempre ocupou o lugar reservado aos culpados (culpados de tudo, culpado em cada turno: por ter desejos, por nfo ter nenhum; por ser frida, por ser "muito quent"; por nao ser ambos 20 mesmo ‘tempo; por ser demasiado maternais € nio suficientes; por ter flhos ¢ por nio ter fllos; por amamentar ¢ por nfo amamentat..)-levé-la embora por meio deste pesquisa, este trabalho de anilise e iluminagio, esta emancipacio do texto maravilhoso de si mesma que cla deve aprender urgentemente a falar. A mulher sem corpo, burra,cega, no pode ser uma boa lutadora. Ela é reduzida a ser a serva do homem militante, sua sombra. Nos deve matara falsa mulher que esté aimpedir a viva de respirar. Inscreva a respiracio da mulher inteira. 'b) Um ato que também seri marcado pelo fato de a mulher aproveitar @ ocasiZo para a sua despedagada entrada na historia, que sempre foi a mais importante de todas. baseado na sua supressio, Escrever e assim fora para si mesma a arma do antilogos. Tosnas-se a vontade 0 tomador e iniciador, para o seu proprio em todos os sistemas simbélicos, em todos os processos politicos. E tempo de as mulheres comecarem a marcar as suas proezas pot escrito ¢ oralmente. linguagem. ‘Todas as mulheres conhecem 0 tormento de se levantarem para falar. Bla 0 coragio acelerado, as vvezes inteiramente perdido pelas palaveas, pelo chio e pela linguagem que escorsega - é como um feito ousado, como é grande uma tansgressio por uma mulher para falar, mesmo que apenas abra a boca em piblico. Uma dupla angisti, pois mesmo que ela transgrida, suas palavras caem quase sempre sobre a ouvido surdo mascalino, que ouve em linguagem somente 0 que fala no masculino. Besctevendo, de para as mulheres, ¢ assumindo o desafio da fala que tem sido governada pelo falo, que as mulheres confirmario as mulheres num local diferente do reservado n0 ¢ pelo simbélico, isto 6, num lugae diferente do siléncio. As mulheres deve saiz da armadilha do siléncio. Eles aiio devem ser enganados em aceitando um dominio que &a margem ou o harém. (Ouca uma mulher falar em uma reuniao piiblica (se ela nfo o fez de forma dolorosa). perdeu o seu vento). Bla nfo "fala", ela joga seu corpo trémulo para frente; ela se sota, ela voa, tudo passa para sua voz, ¢.. € com 0 seu corpo que cla apoia vitalmente a "Iégica" do seu discurso. Ela a carne fala averdade. Ela se pée a descoberto. Na verdade, ela fisicamente materaliza o que cla esti 1 pensar, ela significa com o seu corpo. Em um de certa forma ela inscreve o que esté a dizer, porque ‘io a nega. Impulsiona a parte intravel apaixonada que eles tém em falar. Bla discurso, mesmo quando "te6rico" ou politico, nunca € simples ou linear ou "Objetivado", generalizadcr ela atria sua hist6ria para a historia. Nao ha essa cisfo, essa divisio feita pelo homem comum entre a légica do discurso oral ea légica do texto, limitado como ele € pela sua antiquads relagio - sérvia,calcaladora ~ para a mestria. Do qual que se dedica apenas a paste mais fnfima da sua vida. O corpo, mais a mascara. No discurso das mulheres, como na sua escrita, aquele elemento que munca deixa de ressoar, o que, ‘uma vez que tenhamos sido permeados por ele, profundamente eimperceptivelmente tocado por ela, etémo poder de nos mover. Elemento é a cancio: a primeira misica da primeira voz de amor que esti viva em todas as mulheres. Por que essa relacio privilegiada com a voz? Porque neahuma mulher estoca tantas defesas para contrariar 0s impulsos quanto faz um homem, Vocé no constr6i muros a0 seu redor, vocé no renuncia o prazer tio "sabiamente” como ele, Mesmo que a mistificagiio falica tenha geralmente contaminadas boas relagoes, a mulher nunca esté longe da "mie" (I fora das suas fangoes: a "mie" como nao-nome e como fonte de mercadorias). Ha sempre dentro dela pelo menos ‘um pouco desse bem leite matemo. Bla escreve com tinta banca, Mulher para as mulheres - HA sempre na mulher essa forga. que produz/é produzido pela outra - em particular, a outra mulher. Nela, matrz, bergo; ela mesma doadora como mie ¢ filha; ela € sua propria itma-filha. Vocé pode objetar, "B quanto 2 ela que é a descendéncia histérica de uma mA mie?" Tudo seri mudado uma vez que a mulher dé a mulher & outra mulher. H uma mulher escondida e sempre pronto na mulher a fonte; 0 locus para o outro. A mae, também, éuma metéfora E necessério ¢ suficiente que o melhor de si mesmo ser dado & mulher por outra mulher para que ela seja capaz de se amara si mesma e devolver no amor 0 compo que "nasceu" para ela. Toca-me, acaricia- me, tu, 0 nio-nome vivo, di-me o meu eu como eu mesmo. A relagio com o "mie", em termos de intenso prazer e violéncia, no é mais restringida do que a relacio coma infincia (a crianga que cla cra, que ela é, que ela faz, refaz, desfaz, desfaz, li no ponto em que, o mesmo, ela outros se). Texto: ‘omen corpo tito através de cdrregos de cangio, eu no quer dizer a "mie" arrogante ¢ agarrada, mas sim, o que te toca, o equivoco que te afecta, enche 0 teu peito com uma vontade de vir a linguagem e langa a tua forga; 0 ritmo que te si; o ritmo que te faz tir; o receptor intimo que torna todas as metiforas possiveis ¢ desejaveis; corpo (corpo? corpos?), no mais descrivel do que Deus, a alma, ou © Outro; Aquela parte de vooé que deixa um espaco entre vocé mesmo €0 impulsiona. inscreva na linguagem © estilo da sua mulher. Nas mulheres ha sempre mais ou menos da mie que faz tudo bem, que alimenta e que se levanta contra a separacio; uma forca que niio sera cortada, mas que tirar 0 vento dos cédigos. Vamos repensar o inicio do feminino com cada forma e cada perfodo do seu corpo. Os americanos lembram nds, "Somos todas lésbicas", ou seja, nao denigram a mulher, nfo fagam de nds ‘que os homens fizeram de ti. Porque a “economia” dos seus impulsos € prodigiosa, ela nfo pode falhar, em aproveitar a casio para falar, para transformar direta ¢ indiretamente todos os sistemas de toca baseados na economia masculina, Sua libido produzira efeitos muito mais radicais da mudanga politica e social do que alguns poderiam gosto de pensar. Porque ela chega, vibrante, uma ¢ outra vez, estamos no infcio de uma nova histéria, ou melhor, de ‘um processo de se tomar no qual virios as histérias intersectam-se umas com as outras. Como sujeito para a hist6ria, a mulher sempre ocorre simultaneamente em varios lugares. A mulher no pensa 0 unificando, regulando a hist6ria que homogeneiza e canaliza as forcas, reunindo contradigdes sum ‘inico campo de batalha. Na mulher, a histéria pessoal se confunde com a histéria de todas as mulheres, assim como com a histéria nacional. E histéria mundial. Como militante, ela € parte integrante de todas as ibertagdes. Ela deve ser clarividente, no limitada a uma intera¢io sopro por sopro. Ela prevé que a sua libertagio fari mais do que modificar as relagdes de poder ou atira a bola para o outro acampamento; la vai provocar uma mutacio na as relagdes humanas, em pensamento, em toda a prixis: a sua no € simplesmente uma classe que ela leva para a frente num movimento muito mais vasto. Nzo que para ser uma mulher em luta(s) vocé tem que deixar a classe lutar ou repudi-lo; mas vocé tem que ividi-lo aberto, espalhé-lo, empurri-lo para fora, empurrar para a frente, enché-lo com a luta fundamental para impedir que a classe ou qualquer outra luta pela libertagio de uma classe ou povo, de funcionar como uma forma de repressio, pretexto para adiar o adiamento inevitavel, a espantosa alteracio nas relacdes de poder ¢ no pro"De-pense", um neologismo formado no verbo pensador, portanto "impensado", mas também "gasta" (do depensador) (nota do tradutor). O de individualidades. Esta alteragao jé esta em cima de nés — na Estados Unidos, por exemplo, onde milhdes de rastejantes nocturnos se encontram nos de minar a familia e desintegrar todo o conjunto da familia. A socialidade americana. ‘A nova histéria esté chegando; nfo é um sonho, embora se estenda além da imaginacZo dos homens, € por uma boa razao. Vai privar de sua ortopedia conceitual, comegando com a destruigio de a sua miquina de sedugao. E impossivel definir uma pritica feminina de escrita, e esta é uma impossibilidade que permaneceré, pois esta pritica nunca podera ser teorizada, fechado, codificado, o que nao significa que nao exista Mas ele ira sempre superar o discurso que regula o sistema falocéntrico. Se realiza ¢ se realizar em outras reas que no as subordinadas 2 dominagio filosdfico-testica. Sera concebida apenas por sujeitos que sio disjuntores de automatismos, por figuras periféricas que no slo a autoridade pode falocéntricos. O fato de que esse period se estende até o presente nao impede a mulher de comecar ahistéria da vida noutro lugar. Em outro lugar, ela dé. Ela nio "sabe" o que esti dando, nio "sabe" o que esti dando. ‘medi-a; ela no da, no entanto, nem uma impressio falsa nem uma algo que ela no tem. Ela da mais, sem nenhuma gerantia de que ela vai até mesmo algum lucto inesperado com o que ela poe para fora. Ela da que pode haver vida, pensamento, transformagio. Isto é uma "economia", que jf nfo pode ser colocado em termos econémicos. Onde quet que ela ame, todos os velhos conceitos de gestio so deixados para tris. No final de um mais ow menos Computagio consciente, cla no encontra a sua soma, mas as suas diferencas. Eu sou para ti o que queres que eu seja no momento em que olhas para mim de uma forma vocé nunca me viu antes: a eada instante. Quando eu escrevo, é tudo o que no sabemos que podemos ser que esti escrito fora de mim, sem exclusdes, sem estipulacio, ¢ tudo o que seremos chama-nos & incansével, intoxicante, inexpugnével procura de amor. Um no outro nunca nos faltaré. Universidade de Paris VIII-Vincennes Signs: Journal of Women in Culture and Society 1976, vol. 1, no 4. 1976 pela Universidade de Chicago. Todos os dircitos reservados.

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