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Náná, rainha do barro e da vida

Náná, é uma das yabas mais antigas da mitologia africana. Ela faz parte do panteão
das divindades fúnfún que se encarregaram em preparar o mundo para receber os seres
humanos. Quando Odúdúwá se encarregou de criar a terra, foi dado a Náná o poder sobre o
barro e a superfície, o solo massapê onde tudo se produz, onde tudo se planta e se dá.
Quando Obatalá foi designado a fazer as cabeças junto com Ajalá, o corpo seria
construído através do barro de Náná. Esta, ao conceder o barro para Obatalá, lhe informou
que isto só estaria sendo realizado porque os seres humanos se encarregariam de trazer de
volta todo o barro que estava sendo retirado através de Iku. “Do barro eu vim, para o barro eu
voltarei”.
Desde então, a ligação desta senhora com a morte se fez presente, pois ela receberia do
corpo humano a terra retirada e entregaria para Oyà os espíritos desencarnados. Mas a função
desta senhora vai muito além disso, ela é a intermediária dos filhos de Omolu ou Obalúwáyé
quando se deseja dialogar com ele. Apesar de ter abandonado os filho na beira do mar por ter
nascido com feridas, ela foi perdoada e ambos vivem em paz e em sintonia na natureza.
Em países africanos como a Nigéria, o culto a Náná Búùkú, aqui no Brasil conhecida
como Náná Buruku, ocorre na cidade de Isara-Remo, no Estado de Ogun. Lá, o culto é
realizado apenas por mulheres e os homens não possuem acesso aos templo, sacrifícios de
animais, tambores e cântigos dedicados a yabá.
Ao chegarem no processo de menopausa, tornam-se sacerdotisas. Antes disso, são
tidas apenas como seguidoras de Náná Búùkú. Seus cultos são realizados no templo e nas
margens dos rios, pois, também é tida como rainha da terra.
Contam os itans que Náná nunca foi uma boa mãe, pois rejeitou dois de seus filhos por
não terem nascidos com a perfeição do corpo humano. Seu filho Omolu nasceu com feridas
que fediam e isso a fazia sentir vergonha. Seu filho Osumaré nasceu com o corpo e rosto que
lembravam uma serpente, com a textura da pele diferente e isso também a fez sentir vergonha.
Diante das “deformações” e doença dos filhos, ambos foram depositados em um cesto
na beira da água salgada, sendo salvos por Yemoja e criados por ela com muito zelo e
carinho.
Dos dois filhos, quem mais guardava rancor pelo seu abandono era Omolu. Conta um
itan, que na cidade de Benim, Náná iria receber a coroa de rainha, mas Omolu arquitetou um
plano para que seu irmão Osumaré assumisse o trono no dia da coroação. Assim se deu o
ocorrido, ao realizar um discurso para sua mãe, ele transformou-se em serpente e um lindo
arco-íris, deixando o povo fon encantado e tornando-se rei no lugar de sua verdadeira mãe.
Apesar de todas essas desavenças entre mãe e filhos, nas casas de candomblé seus
assentamentos costumam ficar juntos.
De seus instrumentos sagrados conhecemos o Ibiri, que muito se parece com o
instrumento de cura de Omolu. O termo “Ibiri” tem como origem o seu nome indígena e quer
dizer “tremer a terra”. Para sinalizar a função e o sentido de seu instrumento, é uma de suas
danças na casa de àse, Náná dança curvada, próxima ao chão, mostrando e balançando o seu
instrumento. Esta é a sinalização do seu domínio sobre o elemento terra, a verdadeira dona do
barro que lhe foi dado a seu filho Omolu após a sua reconciliação como mãe.
Por ser uma divindade fúnfún, sua grande paixão sempre foi Osala, mas foi enganada,
astuciosamente, por Yemoja. A rainha das águas fez Náná acreditar que sua roupa branca não
possuía nenhum detalhe e que isso não encheria os olhos do grande òrìsà fúnfún. Acreditando
em Yemoja, ela salpicou um pouco de barro em sua roupa deixando Osala contrariado e
fazendo-o escolher a rainha das águas salgadas como sua esposa.
Desde então, Náná vive na solidão da lama e do solo massapê.

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