Nas religiões de matriz africana, o mês de agosto é dedicado as divindades ligadas a
terra e a cura de doenças. O mais conhecido deles chama-se Obalúwàyié. Esta divindade recebe vários nomes de acordo com as nações, no Angola ele é chamado de Kaviungo, no Jeje ele faz parte do panteão da terra e de Sakpata, os voduns da cura e das doenças. O termo Obalúwàyié é uma junção dos termos Oba (rei), Oluwó (senhor) e Ayié (terra) e quer dizer, Rei, senhor da terra. Filho de Nanã Buruku, foi rejeitado pela sua mãe por ter nascido deformado, com feridas no corpo e foi colocado na beira do mar, foi quando Yemonja caminhava pela beira da praia e viu aquela criança cheia de feridas à beira d’agua e se encontrava sendo mordida por caranguejos. Nós do àse não pronunciamos esta palavra e por isso falamos aranhola. Desde então, Yemonja passou a cuidar desta criança e suas chagas foram totalmente curadas, ficando apenas as marcas no corpo. Essa passagem pode ser observada na dança realizada por Obalúwàyié chamada Opanije, onde ele dança mostrando suas dores, chagas e tremores de febre. Nesse momento da dança, ele é coberto com um pano branco para representar a ação de Yemonja ao cuidar de seu “filho” adotado. Por sua ligação com Nanã Buruku, a dona do solo massapê, Obalúwàyié é o dono da terra e possui ligação com o centro dela através de uma divindade chamada Intoto, que representa o centro do solo. Com o seu sasara (xaxará) ele cura as doenças, traz as doenças e controla os mortos, pois divide com Oya o domínio sobre eles. O Olubaje é uma festa realizada nas nações Ketu e nagô vodun, reverenciando esta divindade com todas as comidas de todos os òrìsàs. A palavra Olubaje foi formada pelos monossílabos Olu (Aquele que), Ba(Aceita) e Je (come) e significa “aquele que aceita comer” ou “aquele que come”. Mas, como surgiu o Olubaje? De acordo com Adilson de Oxalá, em seu livro Igbadu, a Cabala da Existência, existe um itan que explica a origem deste ritual. Um dia, Osun resolveu fazer uma festa para que todos os òrìsàs pudessem mostrar os seus encantos. Todas as divindades escolheram a sua melhor roupa, Obalúwàyié chegou com seu filá, sua palha da costa cobrindo seu corpo e rosto. No momento em que ele começou a dançar, todos acharam estranho a sua dança lenta que mostrava as suas dores e chagas, começaram a rir dos movimentos que ele fazia. A zombaria deixou-o chateado, mas ele, o pai das doenças e varíolas, não deixou por menos e enquanto dançava usou o seu sasara para invocar as doenças. Em pouco tempo, as pessoas passaram a ficar doente e nem mesmo as ervas de Òsónyin estavam dando jeito no mal que havia se abatido sobre todos. Preocupados com a situação, os òrìsàs foram consultar o oráculo, que informou sobre a praga lançada por Obalúwàyié. A solução para a saúde retornar à terra foi dada pelo babalawó, era preciso que todos os òrìsàs preparassem a sua comida preferida e levasse ao Senhor da terra. Enquanto ele estivesse saboreando os pratos, todos deveriam cantar e assim que ele acabasse todos deveriam ovacionar a dança realizada por Obalúwàyié. Assim foi feito e a saúde voltou a reinar na terra. Este ritual é realizado nos terreiros Ketu e Nagô no mês de agosto, onde todos os alimentos referentes as divindades são preparadas e oferecidas as pessoas que comem enquanto Obalúwàyié dança ao som de suas cantigas. Também é oferecido neste mês a “flor de Obalúwàyié”, conhecida como pipoca do velho, pelas ruas da cidade, este ritual mostra a peregrinação desta divindade pelas ruas oferecendo seus serviços de cura em troca de alimento e água. Na nação Angola, o mês dedicado a Kaviungo vem acompanhado de uma festa chamada Kizomba, onde esta divindade é cultuada com muita música e dança. Seja bem vindo Agosto. Salve o rei!