Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Assim como no Candomblé, onde cada pessoa tem seu destino regido por
determinados orixás, na Quimbanda, reino de numerosos Exus, cada pessoa
tem afinidade com uma entidade específica. O Exu pessoal,
preferencialmente, deve ser descoberto por um Quimbandeiro porém Morte
Súbita inc trás até você uma cerimônia que pode ser realizada sem o auxílio
dos sacerdotes. Os procedimentos desse ritual são descritos abaixo:
Em uma sexta-feira, depois do por do sol, à noite, reúna os seguintes materiais:
uma vela vermelha, uma velha negra, uma xícara de café forte, um copo de
rum branco. coloque todas essas coisas no chão: são oferendas.
Acenda as velas e bata no chão três vezes, como se estivesse batendo em
uma porta. Diga ou chame: "Exu, Exu, Exu.... Levante-se e, mantendo uma
postura ereta, apresente-se: diga simplesmente seu nome, a data e o local de
seu nascimento.
Continue o ritual convidando seu Exu pessoal para trabalhar com você. Fale
porquê deseja a colaboração dele e mostre que trouxe as oferendas para ele.
peça que o Exu apareça em seus sonhos, que lhe ensine seus mistérios e
reitere seu pedido de colaboração. Prometa que daquela noite em diante
oferecerá as velas e as bebidas em todas as noites de sexta-feira. Peça-lhe
que abra seus caminhos para que possa aprender a tradição
da Quimbandaapropriadamente e, que se for necessário, que você seja guiado
até uma casa ou terreiro, se você achar que isso é necessário ou se o Exu
achar que é o certo para você.
Vire-se de costas para a oferenda e, sem olhar para trás, vá dormir. Deixe as
velas queimando. Pela manhã, remova as oferendas e deposite os restos em
uma encruzilhada próxima à sua casa. Seja fiel à promessa e não deixe de
oferecer as velas e bebidas todas as sextas-feiras à noite. [DOS VENTOS,
Mario. Na Gira do Exu: The Brazilian Cult of Quimbanda, Trad. Ligia Cabús.]
ATENÇÃO: Se depois de fazer este ritual o leitor começar a ver coisas, ouvir
vozes, se seus sonhos se transformarem em pesadelos, a responsabilidade
será inteiramente daquele que resolveu apelar para o sobrenatural, buscando
soluções fáceis na magia primeva, ao invés de encarar seus problemas com
um mínimo de bom senso.
Sobre as Encruzilhadas
A tradição da Quimbanda indica encruzilhadas e cemitérios como locais
adequados para fazer os despachos, embora haja exceções, como as
oferendas a determinadas pombasgiras, depositadas nas praias. Segundo o
autor umbandista W.W. da Matta e Silva [Mestre Yapacany], esses
procedimentos são extremamente perigosos para a saúde física e mental.
Isso porque as encruzilhadas são pontos de concentração do que há de "mais
baixo no astral inferior", "sugadouros" de pensamentos e não raro, abrigam
estabelecimentos que comerciam bebidas alcoólicas e onde se reúnem as
pessoas para compartilham comportamento pouco edificante.
Os cemitérios são ainda piores: ali habitam larvas, cascões astrais, espíritos
presos à carne putrefatas dos próprios corpos aprisionados em sepulcros,
ansiosos por contato com os vivos de quem sugam a energia vital. São almas
penadas, de suicidas, homicidas, vítimas de mortes violentas, espíritos
tomados por sentimentos de ódio, culpa, remorso, vingança.
Xangô
Raios e trovões, fogo, pedras, rochedos, terras áridas, estes são os domínios
de Xangô. Seu metal é o cobre e ele usa o Oxé, machado de dois gumes.
Xangô é belo e, vaidoso, sabe disso. Desposou Oxum, Obá e Iansã, esta
última, sua predileta. O calor de Xangô é a energia vital e ele detesta o frio
característico da morte. É o regente da justiça, aquele que soluciona as
demandas, os litígios. É o algoz dos mentirosos, dos ladrões e bandidos. Dono
de vontade enérgica, este orixá é altivo, é um rei. Seu lado negativo propicia o
descontrole da ira, a cólera e a infidelidade nos relacionamentos amorosos.
Ogun
Ogunhê, é a saudação para o orixá que é o Senhor da Guerra, aquele que
domina a potência do ferro e da forja que modela as ferramentas, extensões da
força do braço desde um tempo imemorial: lanças, espadas, martelos,
enxadas, correntes e até as moedas são os presentes de Ogun que
alavancaram a Humanidade da barbárie para a Civilização. A bigorna onde os
metais são modelados é um dos seus símbolos. Sua forte ligação com a
tecnologia o faz padroeiro de todos artesãos: carpinteiros, escultores,
maquinistas, mecânicos, etc.. Conhecedor dos caminhos e veredas, tão hábil
quanto Exú, Ogun é, por excelência, um vencedor de obstáculos. Seu aspecto
negativo é a violência sem limites e a ausência de misericórdia diante do
inimigo.
Logun-Edé
Filho de Oxum e Oxossi, reúne atributos de seus pais e propicia, especialmente
a riqueza e a fartura. Durante seis meses, vive com a mãe; os outros seis
meses, com o pai. Sua mitologia conta que este orixá assume a essência
feminina durante meio ano e a essência masculina no resto do tempo: é uma
princesa das florestas e caçador das águas. Logun-Edé é um diplomata que
favorece o equilíbrio de forças e a conciliação dos contrários. Em sua
representação aparecem os símbolos maiores de Oxum e Oxossi: o Abebe e o
Arco e Flecha. Seus protegidos são sinceros, perfeccionistas, versáteis em
diversas situações e solidários. São capazes de ver o íntimo do ser das
pessoas. Em seus aspectos negativos, podem ser facilmente irritáveis e têm a
tendência de machucar os pés, as mãos e a cabeça. Seu culto está em vias de
extinção.
Ewa
É uma das orixás de mitologia mais hermética. Também chamada de Senhora
dos Horizontes, é protetora das virgens e dos virgens: sejam pessoas ou
lugares onde ninguém jamais colocou os pés. Também é regente da alegria, do
canto e das mudanças de estado das águas, do sólido gelo, ao líquido e o
gasoso, gerando as nuvens que trazem as chuvas [talvez venha daí sua
ligação com Iansã]. É Ewa quem dá formas às nuvens delineando as mais
diferentes imagens. Ewa opera as transformações da Natureza, seja no botão
de rosa que se abre em flor, seja na lagarta que rompe o casulo como
borboleta. Alguns dizem que é irmã de Iansã e esposa de Oxumaré; outros
afirmam que é a metade feminina de Oxumaré e uma terceira versão aponta
Ewa como esposa de Omolu, que não podia ter filhos. Amiga de Ifá, recebeu
como prenda a afinidade com as artes divinatórias. Seus atributos
representativos são uma lança ou um arpão, a cobra e o leque.
Obá
Também chamada Obassy, Guardiã das Mulheres, Ewa é filha de iemanjá,
fruto de sexo forçado da Rainha do Mar, quando foi violentada pelo próprio
filho, Orugan. É uma das três esposas de Xangô. Ludibriada por Oxum, com
quem disputava o amor de Xangô, mutilou a si mesma, cortando uma das
orelhas: por isso usa um turbante, para esconder o defeito. É uma orixá
guerreira que empunha espada, escudo e uma coroa de cobre. Relaciona-se
aos rios, mas somente aqueles de águas revoltas. Protótipo da mulher forte e
independente, é a propiciadora do sucesso profissional. Em seu aspecto
negativo, é possessiva, ciumenta e carente, relacionada às desilusões
amorosas.
Iansã ou Oyá
Nascida da água e do fogo, Iansã é Senhora dos Ventos e Tempestades
[associada a Santa Bárbara]. A primeira esposa de Xangô teve inúmeros
amantes. Simboliza as mulheres independentes que trabalham para se
sustentar. Conhecedora dos mistérios dos Eguns, os Espíritos desencarnados,
ela os conduz às portas de Orun, o mundo paralelo e apaga a memória das
vidas passadas quando alguém vai renascer. Representa a inquietude, a
autoridade, a dominação. Seus atributos são os chifres de boi ou búfalo e
o irukerê, um cetro feito de rabo de boi ou cavalo que serve de guia na
travessia dos mortos. Seus protegidos têm temperamento agitado e a vida
marcada por mudanças rápidas, bruscas, como as tempestades que surgem,
repentinas, em dias de sol.
Obaluayê ou Omolu
Filho de Nanã e Oxalá, Obaluayê {Dono da Terra] ou Omolu [Filho do Senhor],
rejeitado pela mãe ao nascer por ter o corpo cheio de feridas, foi adotado e
curado por Iemanjá. Sua face tornou-se tão resplandecente que tem de ser
ocultada de todos pois, como o sol, pode cegar quem o contemplar diretamente
[ao contrário do que dizem algumas lendas, que cobre o rosto para esconder
suas marcas]. Vitimado por moléstia de pele na infância, Obaluayê tornou-se o
Senhor das Doenças, o Senhor das Coisas Pútridas, detendo o poder de
provocá-las ou curá-las, usando um instrumento denominado xarará [um feixe
de palha da costa, búzios e conchas]. Também afasta espíritos obcessores e
influências maléficas. Possui os segredos da terra e comanda os espíritos das
árvores. Por conta de seu poder sobre a saúde é muito temido nos Terreiros.
Veste-se com palha da costa e usa um cajado guarnecido com com três
cabaças que contêm os segredos da Criação. Os filhos de Omolu são pessoas
fechadas, sérias, caladas e quando falam vão direto ao ponto. São firmes,
decididos e batalhadores e caridosos. Em seu aspecto negativo são irônicos,
invejosos e se deixam tomar pela auto-piedade.
Oxumaré
Irmão de Omolu e Ossaim, este orixá é representado pelo arco-íris que, para
ele, é uma escada, uma ponte entre o Céu e a Terra. Oxumaré é controlador
do movimento e dos ciclos planetários. Macho e fêmea ao mesmo tempo, é a
serpente que morde a própria cauda, o leminiscato [um oito deitado], símbolo
do infinito. Proporciona riqueza, a vida longa, confere o dom da boa fortuna.
Sua indumentária, multicolorida, inclui, como adereços, o braja [colar de búzios]
trançado com três cabaças, uma lança pequena e duas cobras de ferro. Sua
coroa [ade] também tem a forma de serpente. Seus tutelados são ambiciosos e
buscam obstinadamente vencer na vida. São pacientes, perseverantes, calmos
e corajosos mesmo na adversidade. Em sua manifestação negativa podem ser
orgulhosos, arrogantes e dominadores.
Ossaim
O Conhecedor dos segredos, do Axé das ervas e da flora em geral [incluindo
raízes e cascas] é um grande feiticeiro propiciador de curas e milagres que
favorecem o corpo e o espírito. É um habitante das matas, ambiente sagrado
que tem em Ossaim um protetor. Encantados, como os brasileiros, Curupira e
Saci-Pererê são servos de Ossaim. Seu símbolo é uma haste de ferro com sete
pontas e um pássaro na ponta do meio, representado uma árvore. O pássaro é
o espião de Ossaim, que percorre o mundo contando ao orixá tudo o que ouve
e vê. Aqueles que são regidos por Ossaim são equilibrados, controlados,
imparciais em suas decisões, caseiros, pouco dados a relacionamentos
amorosos. Assim como o orixá, são um tanto curandeiros, dominando a ciência
dos de chás e remédios naturais.