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Evocando o Exu Pessoal

por Ligia Cabús

Assim como no Candomblé, onde cada pessoa tem seu destino regido por
determinados orixás, na Quimbanda, reino de numerosos Exus, cada pessoa
tem afinidade com uma entidade específica. O Exu pessoal,
preferencialmente, deve ser descoberto por um Quimbandeiro porém Morte
Súbita inc trás até você uma cerimônia que pode ser realizada sem o auxílio
dos sacerdotes. Os procedimentos desse ritual são descritos abaixo:
Em uma sexta-feira, depois do por do sol, à noite, reúna os seguintes materiais:
uma vela vermelha, uma velha negra, uma xícara de café forte, um copo de
rum branco. coloque todas essas coisas no chão: são oferendas.
Acenda as velas e bata no chão três vezes, como se estivesse batendo em
uma porta. Diga ou chame: "Exu, Exu, Exu.... Levante-se e, mantendo uma
postura ereta, apresente-se: diga simplesmente seu nome, a data e o local de
seu nascimento.
Continue o ritual convidando seu Exu pessoal para trabalhar com você. Fale
porquê deseja a colaboração dele e mostre que trouxe as oferendas para ele.
peça que o Exu apareça em seus sonhos, que lhe ensine seus mistérios e
reitere seu pedido de colaboração. Prometa que daquela noite em diante
oferecerá as velas e as bebidas em todas as noites de sexta-feira. Peça-lhe
que abra seus caminhos para que possa aprender a tradição
da Quimbandaapropriadamente e, que se for necessário, que você seja guiado
até uma casa ou terreiro, se você achar que isso é necessário ou se o Exu
achar que é o certo para você.
Vire-se de costas para a oferenda e, sem olhar para trás, vá dormir. Deixe as
velas queimando. Pela manhã, remova as oferendas e deposite os restos em
uma encruzilhada próxima à sua casa. Seja fiel à promessa e não deixe de
oferecer as velas e bebidas todas as sextas-feiras à noite. [DOS VENTOS,
Mario. Na Gira do Exu: The Brazilian Cult of Quimbanda, Trad. Ligia Cabús.]

ATENÇÃO: Se depois de fazer este ritual o leitor começar a ver coisas, ouvir
vozes, se seus sonhos se transformarem em pesadelos, a responsabilidade
será inteiramente daquele que resolveu apelar para o sobrenatural, buscando
soluções fáceis na magia primeva, ao invés de encarar seus problemas com
um mínimo de bom senso.
Sobre as Encruzilhadas
A tradição da Quimbanda indica encruzilhadas e cemitérios como locais
adequados para fazer os despachos, embora haja exceções, como as
oferendas a determinadas pombasgiras, depositadas nas praias. Segundo o
autor umbandista W.W. da Matta e Silva [Mestre Yapacany], esses
procedimentos são extremamente perigosos para a saúde física e mental.
Isso porque as encruzilhadas são pontos de concentração do que há de "mais
baixo no astral inferior", "sugadouros" de pensamentos e não raro, abrigam
estabelecimentos que comerciam bebidas alcoólicas e onde se reúnem as
pessoas para compartilham comportamento pouco edificante.
Os cemitérios são ainda piores: ali habitam larvas, cascões astrais, espíritos
presos à carne putrefatas dos próprios corpos aprisionados em sepulcros,
ansiosos por contato com os vivos de quem sugam a energia vital. São almas
penadas, de suicidas, homicidas, vítimas de mortes violentas, espíritos
tomados por sentimentos de ódio, culpa, remorso, vingança.

Olorun - O Criador de Todas as Coisas


No princípio não havia nada, somente havia Olorun, e ele era o Único existindo
na Eternidade e no Infinito. Porém, Olorun se sentiu só e entediado. Sua
plenitude era silenciosa e vazia. Por isso, Olorun, que era o Universo,
fragmentou a si mesmo [o Big-Bang?...] transformando o Uni-verso em Multi-
verso e a primeira obra dessa criação foi o Espaço; depois, o Tempo, a seguir
a Água ou Umidade e, então, surgiu o Fogo, que é a energia, origem a todas as
coisas e essa energia chamou-se Obatalá [primeiro Odu], a primeira
inteligência cósmica.
Dessa inteligência começaram a surgir todos os Seres que existem: os
primeiros eram energia pura, inteligências também, semelhantes em essência
ao próprio Obatalá mas diferentes qualidades e atribuições. Estas inteligências
são chamadas Odus. Os seres criados pelos Odus foram feitos do giro da
energia que produzia matéria de diferentes densidades e qualidades. A
primeira inteligência emanada por Obatalá foi Yeyemowo, e era feminina. Dos
poderes reunidos de Obatalá e Yeyemowo surgiu Orunmilá, Senhor do
Conhecimento e da Sabedoria. Orunmilá gerou Ifá e a ele confiou a tarefa de
presidir o Destino de todas as coisas e todos os Seres.
Obatalá, auxiliado por sua companheira Yeyemowo, gerou muitos outros Odus
e estes Odus, que somavam doze, produziram outros mais até que, finalmente,
engendraram a primeira criatura divina: Oxalá, o primeiro orixá, o primeiro
deus, encarregado de produzir a realidade manifestada: Oxalá, então criou
todos os mundos, planetas e estrelas no espaço de Olorun, criou a Terra e
ainda a ele coube povoar este mundo com todas as plantas, todos os animais,
todas as águas, salgadas e doces, todos os solos, os firmes e pantanosos. Mas
era uma tarefa grandiosa e para auxiliar Oxalá, os Odus fizeram surgir todos os
outros orixás e a cada um foi dada a tarefa de presidir um reino da Natureza
criada pelas idéias que os Odus sussurravam nos ouvidos de Oxalá e dos
outros orixás.
O homem foi o último Ser terreno criado e todas as potências que já existiam
foram acionadas nesta criação: seu corpo foi modelado com barro, por Oxalá;
Ajalá fez a cabeça; a vida lhe foi insuflada pelo sopro de Olodummarê; Obatalá
deu-lhe o espírito; e Orunmilá traçou seu destino. Cada homem tem uma sina
diferente que deve cumprir guiado por seu orixá, por sua divindade pessoal.
* Texto de referência: Awô: O Mistério dos Orixás por Gisèle Omindarewá
Cossard - Iyalorisá Omindarewá

"Antigamente, os orixás eram homens.


Homens que se tornaram orixás por causa de seus poderes.
Homens que se tornaram orixás por causa de sua sabedoria.
Eles eram respeitados por causa de sua força,
Eles eram venerados por causa de suas virtudes.
Nós adoramos sua memória e os altos feitos que realizaram.
Foi assim que estes homens tornaram-se orixás".

Lendas Africanas dos Orixás, Pierre Verger


Oxalá-Oxaguiã - O Jovem
Oxalá é o primogênito entre todos os orixás: foi o primeiro a ser criado por
Olorum através da energia dos Odus, as inteligências cósmicas. É considerado
pai dos orixás mais importantes. A ele foi dada a incumbência de criar a
natureza da terra e povoá-la com seres vivos. Todavia, Oxalá dirigiu-se a este
mundo sem consultar o oráculo, e por isso foi amaldiçoado por Exú que
insuflou no deus uma sede incontrolável. Oxalá procurava uma fonte onde
pudesse saciar essa sede e não encontrando nenhuma cindiu com seu bastão
o tronco de uma palmeira e bebeu a seiva que escorria. Mas a seiva era um
vinho e Oxalá, embriagado, acabou dormindo e boa parte de sua tarefa foi
assumida por outros orixás. Quando acordou, somente restava criar o homem
e esta foi a única coisa que Oxalá pôde fazer. Moldou os seres humanos
usando argila e como ainda estivesse tonto pelo efeito do álcool cada pessoa
criada era diferente da outra.
Oxalá-Oxaguiã tornou-se o Senhor da argila e dos artefatos feitos com esse
material mas também rege o silêncio, a calma, a paz interior, as horas diurnas,
o progresso, a cultura, a inteligência. Porém, o orixá apresenta dois aspectos
distintos: Oxalá jovem e Oxalá velho. O jovem, bravo guerreiro, foi chamado
Oxaguian, que significa ""Orixá comedor de inhame pilado", simplesmente
porque na juventude adorava comer inhame. Conta a lenda que Oxaguian veio
para o Brasil no tempo da escravidão atravessando o oceano sobre o tronco de
uma árvore. Na travessia, conheceu Yemanjá. Os dois se apaixonaram e
tiveram um filho a quem chamaram Ogunjá.
Oxalá-Oxalufã, o Velho
O Oxalá velho anda curvado, apoiado em seu bastão, o opaxorô, feito de metal
branco e ornamentado com a imagem de um pássaro, discos de metal e
pequenos sinos. A ele pertencem as pessoas que possuem deficiências físicas
e os preguiçosos, que se movem com a lentidão dos caramujos bem como os
teimosos e os orgulhosos. Oxalufã não gosta de violência, nem aprecia
comidas com sal ou a cor vermelha. Também odeia cavalos porque foi por
causa desse animal que amargou uma prisão injusta por vários anos.
Exú
Patrono do comércio, da comunicação, das grandes transformações, guardião
das cidades e das casas, portador do Axé [energia vital, luz espiritual] Exu é o
Orixá mensageiro e executor da Lei do Carma [causa-efeito], aquele que abre
[ou fecha] os caminhos dos mundos, do visível e do invisível. Filho de Orumilá,
recebeu desta potência cósmica a regência do oráculo africano, o Jogo de
Búzios. Por isso, toda consulta aos Búzios deve ser precedida de homenagens
e oferendas a este Orixá. Muito alegre, é considerado um orixá brincalhão. É
representado por uma figura humana de cócoras [agachado] portando um
bastão fálico [semelhante a um pênis] provido de numerosos olhos [cerca de 17
olhos, no próprio corpo ou no bastão], indicativos do seu poder de vidência.
Nanã
É a orixá "grande-mãe", precursora de todas as outras divindades africanas do
candomblé associadas à fertilidade. Por isso, é relacionada à umidade dos
pântanos, da lama argilosa de onde foi gerado o primeiro homem e para onde
todos retornaram depois da morte do corpo físico. É guardiã dos Eguns
[espíritos, dos mortos] e dos ancestrais. Seu mito, muito antigo, é anterior à
chamada Idade do Ferro. Usa um cajado com a ponta curva, adornado com
búzios e feito com palha da costa. Suas "aparições" nos Terreiros são
esporádicas, de três em três anos. É associada às avós [no sincretismo, Santa
Ana, mãe de Maria] e seu caráter é marcado pela calma, benevolência,
dignidade e gentileza. Em seu aspecto negativo, pode ser rabugenta, ranzinza.
Um episído cruel na mitologia de Nanã é que sendo mãe de Obaluayê [Omolu]
rejeitou o filho ao nascer [um costume popular, questão cultural], abandonando-
o na praia, quando viu que seu corpo era coberto de chagas.
Yemanjá
Yèyé omo ejá ─ "Mãe cujos filhos são peixes", sua mitologia é repleta de
contradições: seria filha de Olokun, um deus do mar no Benin e casada com
Orunmilá [Senhor das Adivinhações]; depois, casada com o rei de Ifé, com
quem teria tido dez filhos. A versão mais popular apresenta Yemanjá como
esposa de Oxalá e mãe de todos os orixás, símbolo da fecundidade. É a rainha
das águas salgadas; seu império são os mares e oceanos do mundo. Usa um
leque com espelho ou simplesmente um espelho, o Abebe, símbolo da sua
vaidade feminina e do poder multiplicador das imagens, outra simbologia para
a fertilidade. Também é relacionada à saúde mental. Quando Nanã abandonou
Omolu na praia, foi Yemanjá que o recolheu, curou seus males e o criou como
filho. Sua magia controla as Yabás, feiticeiras africanas. Em seus aspectos
negativos personifica a dissimulação, a chantagem emocional, a vingança.
Oxum
Orixá das águas doces: rios, lagos, córregos, cachoeiras, preside a irrigação e,
por isso, está relacionada á fertilidade da terra, ao sucesso das atividades
agrícolas que dependem destas águas. Protetora da gestação e das crianças,
também é relacionada aos órgãos reprodutores femininos. Sua ligação com a
fertilidade não se limita à procriação e transcende para a esfera das idéias.
Oxum também preside o reino dos minerais, especificamente, os metais
preciosos, ouro, prata, etc.. Ela é mestra no encantamento realizado através
das palavras mas também é uma figura de beleza sedutora, superando
Yemanjá em sensualidade. Ardilosa, usa seus predicados estéticos e dialéticos
[lábia, conversa] para obter tudo o que deseja. Suas paixões são as jóias, os
perfumes, as vestes deslumbrantes, as posições de destaque na sociedade.
Oxossi
Representado como um caçador, Oxossi, filho de Yemanjá, reina sobre a
atividade da caça. É o senhor da floresta e dos animais que ali habitam. Por
extensão, promove a fartura e a riqueza, posto que a caça foi a atividade
primitiva de provisão das necessidades básicas de sobrevivência dos homens
primitivos. Com sua magia, Oxossi domina os seres encantados das matas.
Seus atributos são a astúcia e a cautela estratégica. Ele sabe esperar o
momento certo de disparar sua flecha. Os protegidos desse orixá possuem o
dom da esperteza, da rapidez e da iniciativa. São versáteis, podem
desempenhar diferentes atividades e, muitas vezes, são artistas. São rebeldes,
solitários e individualistas. Oxossi não teme Ikú − a morte.

Xangô
Raios e trovões, fogo, pedras, rochedos, terras áridas, estes são os domínios
de Xangô. Seu metal é o cobre e ele usa o Oxé, machado de dois gumes.
Xangô é belo e, vaidoso, sabe disso. Desposou Oxum, Obá e Iansã, esta
última, sua predileta. O calor de Xangô é a energia vital e ele detesta o frio
característico da morte. É o regente da justiça, aquele que soluciona as
demandas, os litígios. É o algoz dos mentirosos, dos ladrões e bandidos. Dono
de vontade enérgica, este orixá é altivo, é um rei. Seu lado negativo propicia o
descontrole da ira, a cólera e a infidelidade nos relacionamentos amorosos.
Ogun
Ogunhê, é a saudação para o orixá que é o Senhor da Guerra, aquele que
domina a potência do ferro e da forja que modela as ferramentas, extensões da
força do braço desde um tempo imemorial: lanças, espadas, martelos,
enxadas, correntes e até as moedas são os presentes de Ogun que
alavancaram a Humanidade da barbárie para a Civilização. A bigorna onde os
metais são modelados é um dos seus símbolos. Sua forte ligação com a
tecnologia o faz padroeiro de todos artesãos: carpinteiros, escultores,
maquinistas, mecânicos, etc.. Conhecedor dos caminhos e veredas, tão hábil
quanto Exú, Ogun é, por excelência, um vencedor de obstáculos. Seu aspecto
negativo é a violência sem limites e a ausência de misericórdia diante do
inimigo.
Logun-Edé
Filho de Oxum e Oxossi, reúne atributos de seus pais e propicia, especialmente
a riqueza e a fartura. Durante seis meses, vive com a mãe; os outros seis
meses, com o pai. Sua mitologia conta que este orixá assume a essência
feminina durante meio ano e a essência masculina no resto do tempo: é uma
princesa das florestas e caçador das águas. Logun-Edé é um diplomata que
favorece o equilíbrio de forças e a conciliação dos contrários. Em sua
representação aparecem os símbolos maiores de Oxum e Oxossi: o Abebe e o
Arco e Flecha. Seus protegidos são sinceros, perfeccionistas, versáteis em
diversas situações e solidários. São capazes de ver o íntimo do ser das
pessoas. Em seus aspectos negativos, podem ser facilmente irritáveis e têm a
tendência de machucar os pés, as mãos e a cabeça. Seu culto está em vias de
extinção.
Ewa
É uma das orixás de mitologia mais hermética. Também chamada de Senhora
dos Horizontes, é protetora das virgens e dos virgens: sejam pessoas ou
lugares onde ninguém jamais colocou os pés. Também é regente da alegria, do
canto e das mudanças de estado das águas, do sólido gelo, ao líquido e o
gasoso, gerando as nuvens que trazem as chuvas [talvez venha daí sua
ligação com Iansã]. É Ewa quem dá formas às nuvens delineando as mais
diferentes imagens. Ewa opera as transformações da Natureza, seja no botão
de rosa que se abre em flor, seja na lagarta que rompe o casulo como
borboleta. Alguns dizem que é irmã de Iansã e esposa de Oxumaré; outros
afirmam que é a metade feminina de Oxumaré e uma terceira versão aponta
Ewa como esposa de Omolu, que não podia ter filhos. Amiga de Ifá, recebeu
como prenda a afinidade com as artes divinatórias. Seus atributos
representativos são uma lança ou um arpão, a cobra e o leque.
Obá
Também chamada Obassy, Guardiã das Mulheres, Ewa é filha de iemanjá,
fruto de sexo forçado da Rainha do Mar, quando foi violentada pelo próprio
filho, Orugan. É uma das três esposas de Xangô. Ludibriada por Oxum, com
quem disputava o amor de Xangô, mutilou a si mesma, cortando uma das
orelhas: por isso usa um turbante, para esconder o defeito. É uma orixá
guerreira que empunha espada, escudo e uma coroa de cobre. Relaciona-se
aos rios, mas somente aqueles de águas revoltas. Protótipo da mulher forte e
independente, é a propiciadora do sucesso profissional. Em seu aspecto
negativo, é possessiva, ciumenta e carente, relacionada às desilusões
amorosas.
Iansã ou Oyá
Nascida da água e do fogo, Iansã é Senhora dos Ventos e Tempestades
[associada a Santa Bárbara]. A primeira esposa de Xangô teve inúmeros
amantes. Simboliza as mulheres independentes que trabalham para se
sustentar. Conhecedora dos mistérios dos Eguns, os Espíritos desencarnados,
ela os conduz às portas de Orun, o mundo paralelo e apaga a memória das
vidas passadas quando alguém vai renascer. Representa a inquietude, a
autoridade, a dominação. Seus atributos são os chifres de boi ou búfalo e
o irukerê, um cetro feito de rabo de boi ou cavalo que serve de guia na
travessia dos mortos. Seus protegidos têm temperamento agitado e a vida
marcada por mudanças rápidas, bruscas, como as tempestades que surgem,
repentinas, em dias de sol.
Obaluayê ou Omolu
Filho de Nanã e Oxalá, Obaluayê {Dono da Terra] ou Omolu [Filho do Senhor],
rejeitado pela mãe ao nascer por ter o corpo cheio de feridas, foi adotado e
curado por Iemanjá. Sua face tornou-se tão resplandecente que tem de ser
ocultada de todos pois, como o sol, pode cegar quem o contemplar diretamente
[ao contrário do que dizem algumas lendas, que cobre o rosto para esconder
suas marcas]. Vitimado por moléstia de pele na infância, Obaluayê tornou-se o
Senhor das Doenças, o Senhor das Coisas Pútridas, detendo o poder de
provocá-las ou curá-las, usando um instrumento denominado xarará [um feixe
de palha da costa, búzios e conchas]. Também afasta espíritos obcessores e
influências maléficas. Possui os segredos da terra e comanda os espíritos das
árvores. Por conta de seu poder sobre a saúde é muito temido nos Terreiros.
Veste-se com palha da costa e usa um cajado guarnecido com com três
cabaças que contêm os segredos da Criação. Os filhos de Omolu são pessoas
fechadas, sérias, caladas e quando falam vão direto ao ponto. São firmes,
decididos e batalhadores e caridosos. Em seu aspecto negativo são irônicos,
invejosos e se deixam tomar pela auto-piedade.
Oxumaré
Irmão de Omolu e Ossaim, este orixá é representado pelo arco-íris que, para
ele, é uma escada, uma ponte entre o Céu e a Terra. Oxumaré é controlador
do movimento e dos ciclos planetários. Macho e fêmea ao mesmo tempo, é a
serpente que morde a própria cauda, o leminiscato [um oito deitado], símbolo
do infinito. Proporciona riqueza, a vida longa, confere o dom da boa fortuna.
Sua indumentária, multicolorida, inclui, como adereços, o braja [colar de búzios]
trançado com três cabaças, uma lança pequena e duas cobras de ferro. Sua
coroa [ade] também tem a forma de serpente. Seus tutelados são ambiciosos e
buscam obstinadamente vencer na vida. São pacientes, perseverantes, calmos
e corajosos mesmo na adversidade. Em sua manifestação negativa podem ser
orgulhosos, arrogantes e dominadores.
Ossaim
O Conhecedor dos segredos, do Axé das ervas e da flora em geral [incluindo
raízes e cascas] é um grande feiticeiro propiciador de curas e milagres que
favorecem o corpo e o espírito. É um habitante das matas, ambiente sagrado
que tem em Ossaim um protetor. Encantados, como os brasileiros, Curupira e
Saci-Pererê são servos de Ossaim. Seu símbolo é uma haste de ferro com sete
pontas e um pássaro na ponta do meio, representado uma árvore. O pássaro é
o espião de Ossaim, que percorre o mundo contando ao orixá tudo o que ouve
e vê. Aqueles que são regidos por Ossaim são equilibrados, controlados,
imparciais em suas decisões, caseiros, pouco dados a relacionamentos
amorosos. Assim como o orixá, são um tanto curandeiros, dominando a ciência
dos de chás e remédios naturais.

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