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IEMANJÁ

“Odô Iyá!” A saudação vem da língua ioruba e quer dizer “Mãe do Rio”.
Ora, Iemanjá não é a “Rainha do Mar”? Pois é. Toda cultura é dinâmica.
Isso significa que o contato com novas realidades pode transformar
tradições que parecem imutáveis em algo absolutamente novo, por
vezes, inclusive, dissociado de sua origem.

Embora Iemanjá nunca tenha deixado de estar relacionada às religiões


afro-brasileiras, sua representação mais conhecida, aquela que se
popularizou no imaginário do nosso povo, está muito distante da mãe
africana de seios fartos que reinava e era cultuada nas terras de
Abeokutá, às margens do Rio Ogum, na Nigéria.

Primeiro, é preciso compreender como uma divindade ligada aos rios


se torna a rainha do mar. Na verdade, Iemanjá é senhora de todas as
águas e seu culto se dá especialmente na confluência entre o rio e o
mar.

A divindade dos oceanos, Olokun, seria, de acordo com algumas


tradições, o pai de Iemanjá (há quem considere Olokun um orixá
feminino). Como o culto a Olokun não prevaleceu no Brasil, muito
provavelmente porque aqueles que o conheciam não sobreviveram à
triste travessia do Atlântico ou não chegaram em número suficiente
para perpetuar seus ritos, Iemanjá assumiu também a função de deusa
dos mares, tornando-se a “senhora das águas que vêm de Olokun” e
transferindo a Oxum a tarefa de cuidar dos rios.

Leia mais em https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-


fe/iemanja-e-negra/.
IEMANJÁ
Se a água é a substância fundamental para a vida, talvez não haja
metáfora melhor para representar a mãe da humanidade.

Seu nome vem da expressão 'a mãe dos peixes' ou 'a mãe cujos filhos
são como peixes'. É considerada a mãe de todos, a que nos prepara
para a vida, nos dá a imensidão das águas para que possamos realizar
todas as potencialidades. Na língua original, seu nome é Yemoja.

Contudo, atualmente há uma aparente contradição que se torna


evidente: se a divindade é originalmente negra, por que sua
representação mais comum em terras brasileiras é uma mulher
branca?

A resposta estaria na violência do processo de sincretismo, muitas


vezes romantizado como algo inerente à chamada "democracia racial", o
que sabemos ser também um grande mito contado em terras
brasileiras. Por ter ela esse papel materno e, consequentemente, fazer
de todo uma só família, ela foi fundamental para refazer os laços dos
escravos separados de seus parentes durante o processo de migração
violenta e forçada.

Para o historiador Guilherme Watanabe, pai de santo do terreiro Urubatão da


Guia, em São Paulo e membro fundador do Coletivo Navalha, no Brasil o culto a
Iemanjá foi a resposta "ao rompimento dos laços familiares e afetivos"
causados pelo regime escravocrata.

"Com o sequestro das famílias africanas, há episódios de mortes de familiares


ainda nos navios negreiros e a separação deles no desembarque, quando eram
encaminhados para locais diferentes de trabalho", pontua.

"Ser filho ou filha de orixá era uma forma de estarem ligados à sua origem
ancestral, uma forma de recapitular o passado, reestruturar os laços."
IEMANJÁ
Embranquecimento da Orixá

Há alguns registros que demonstram uma europeização das


características de Iemanjá já no século 19, muitas vezes a aproximando
de representações de Nossa Senhora.

Mas a imagem que acabou se sobrepondo às outras representações e


dominando o inconsciente coletivo remonta aos anos 1950.

Toda a confusão começou quando uma carioca chamada Dalla Paes


Leme afirmou ter tido uma visão de Iemanjá e encomendou a pintura
de um quadro com essa representação.

"Curiosamente e, em pouco tempo, criam-se movimentos de promoção


do quadro da nova imagem, além de selos postais, eventos, romarias
resultantes de um movimento chamado pelo jornal 'Luta Democrática'
de 'yemanjismo'".

Para reflexão: Dalla Paes Leme era "uma aristocrata e publicitária" e


acabou fomentando uma tradução de "estética branca para a
divindade por meio de uma peregrinação" do quadro aos terreiros de
umbanda da época.

Todos os orixás são negros porque têm uma cultura de origem, um território
de origem e esse território é a região de língua iorubá, em grande parte
sintetizado na atual Nigéria.
mitologia
O Mito de Yemanjá na Civilização Yorubá

“Oduduá deu a seu esposo Obatalá um menino e uma menina:


Aganju (lugar inabitado, mato ou floresta) e Yemojá (mãe dos
peixes).

Yemojá é a divindade dos rios e preside julgamentos pela água.


É representada por uma estátua de mulher, amarela, usa contas
azuis e um traje branco. O culto a Aganju parece ter caído no
esquecimento ou confundiu-se com o culto prestado á sua mãe,
mas diz-se que ele tem lugar diante do palácio do rei de Oyo, onde
o deus era adorado antes, e que ainda se chama Oju Aganju.

Yemoja desposou seu irmão Aganju, do qual teve um filho,


Orungan, que significaria ”no alto do céu”. Seria o ar (entre a terra e
o céu). Orungan enamorou-se de sua mãe. Ela não quis dar-lhe
ouvidos, mas ele, aproveitando-se da ausência do pai, a possuiu,
Logo após o ato Yemojá fugiu, torcendo as mãos, lamentando-se
perseguida por seu filho. Ela repeliu com repugnância todo o
consolo que ele queria dar-lhe. No momento em que Orungan ia
apoderar-se dela, Yemojá, caiu de costas no chão. Seu corpo
inchou imediatamente e de seus seios saíram cursos d´água que
formaram um lago.
mitologia
O Mito de Yemanjá na Civilização Yorubá

Seu ventre explodiu e dele saiu uma série de deuses:


1. Dada (deus dos vegetais);
2. Sango (deus do trovão);
3. Ogum (deus do ferro e da guerra);
4. Olokum (deus do mar);
5. Olosa (deusa dos lagos);
6. Oya (deusa do Níger);
7. Osun (deusa do rio Osun);
8. Oba (deusa do Rio Oba);
9. Orisa Oko (deus da agricultura);
10 Osoosi (deus dos caçadores);
11 Oke (deus das montanhas);
12. Aje salunga (deus das riquezas);
13. Soppona (deus da Varíola);
14. Orun (o Sol);
15 Osu (a lua).

No lugar onde o corpo de Yemoja inchou foi erigida uma cidade, Ife
(que significa distensão, inchaço), a qual se tornou a cidade Santa
dos Yorubá.”
mitologia
O Mito de Yemanjá na Civilização Yorubá

Observações acerca do mito:


– Ife nesta versão é significada como sendo um inchaço. Contudo
em Yorubá Ife é um substantivo que se forma a partir do verbo
fe(querer) e a qualidade do querer(fe) que forma (I)fe e também
designa, em yorubá, a palavra Amor.

- É interessante ressaltarmos que mesmo nesta lenda, Yemoja, não


sendo a rainha do Mar, é a mãe dos Orixás e este mito nos explica a
criação do Universo e a função Cosmológica deste mito como um
elemento feminino responsável pela Gênese do Mundo, pois os
deuses representavam em si os elementos que tinham como
domínio. Na diáspora, também vemos em coletâneas de outros
autores, Yemanjá promovendo esta Gênese e sendo o elemento
feminino responsável por ela. Temos exemplos semelhantes na
coletânea de Reginaldo Prandi “Mitologia dos Orixás” que pode nos
ilustrar como este papel de Senhora da Gênese, relacionado à
Yemanjá chegou até nós na diáspora.

De qualquer forma, o que é um consenso é que tanto Yemoja,


quanto a nossa Yemanjá, estão ligadas às águas, ao poder feminino,
ao poder criador e à Gênese, à maternidade, fertilidade e à
ancestralidade feminina
mitologia
O Mito de Yemanjá na Civilização Yorubá

Observações acerca do mito:


Estas águas que explicam a função cosmológica do mito a partir de
seu poder criador e de Mãe da Gênese, tem seus reflexos no poder
feminino da maternidade que juntamente com o papel feminino da
ancestralidade nos explicam muito da estrutura social que se
constrói historicamente onde este mito está presente.

Dentro de uma sociedade que se


expressa através de linhagens, a
maternidade e a condição de mãe
expressam, antes de tudo, segundo esta
visão, a condição de dar continuidade a
um determinado ciclo que mantenha esta
ordem e estrutura sociais.

Os Orixás formam uma teia energética


que não pode ser dividida ou separada. A
gestação, por exemplo, tem seu inicio em
Oxum, senhora de todos os seres vivos e
da concepção, mas durante os nove
meses quem reina é Iemanjá, senhora das
águas salgadas e guardiã dos Oris. E
Obaluaiê garante a saúde da mãe e do
bebê durante todo o processo.
mitologia
Sobre nossa Mãe Yemojá

Senhora das águas salgadas, mãe da criação e do mar, mãe de


todos os deuses e todos os homens, senhora das cabeças,
portanto, senhora da sanidade mental e da loucura.

Praticamente compartilha de todas as mesmas características de


Oxum, embora se relacione mais diretamente com a água salgada:
é o Orixá regente dos mares e oceanos. Como Oxum, está ligada à
maternidade: é o instinto materno, a capacidade de gerar e criar os
filho. Originalmente, é Orixá de todas as águas:

"Diante da casa da senhora dos barcos brota a prosperidade;


no quintal da senhora dos barcos brotam pérolas;
Iemanjá de seios fartos, somos os filhos das águas."

No Brasil, é fundamentalmente a senhora do mar. Seus movimentos


podem ser rápidos e velozes (como as ondas da beira do mar)
como lentos e profundos (como as ondas pesadas de alto mar).

Seu nome pode ser lido de várias formas: Ye +omo + eja = mãe dos
filhos peixes ou Yèyé omo ejá = mãe cujos filhos são peixes. Esse
nome, sem dúvida, reafirma sua condição de Orixá da água.

Representada pelos seguintes símbolos: metal prata; coral, fósseis


marinhos, conchas e estrelas do mar; sua cor é o azul e o branco;
suas contas são de cristal branco transparente e/ou azul claro.
Dança com o abebê nas mãos, fazendo movimentos interpretativos
das águas
Características dos Filhos de Iemanjá
Pelo fato de Yemanjá ser a Criação, sua filha normalmente tem um tipo muito
maternal. Aquela que transmite a todos a bondade, confiança, grande
conselheira. É mãe. Sempre tem os braços abertos para acolher junto de si
todos aqueles que a procuram. A porta de sua casa sempre está aberta para
todos, e gosta de tutelar pessoas. Tipo a grande mãe. Aquela mulher amorosa
que sempre junta os filhos dos outros com os seus.
O homem filho de Yemanjá carrega o mesmo temperamento: é o protetor.
Cuida de seus tutelados com muito amor.

A força e a determinação fazem parte de suas características básicas, assim


como o sentido de amizade, sempre cercada de algum formalismo. Apesar do
gosto pelo luxo, não são pessoas ambiciosas nem obcecadas pela própria
carreira, detendo-se mais no dia a dia, sem grandes planos para atividades a
longo prazo. Pela importância que dá a retidão e à hierarquia, Yemanjá não
tolera mentira e a traição. Assim sendo, seus filhos demoram a confiar em
alguém, e quando finalmente passam a aceitar uma pessoa no seu verdadeiro
círculo de amigos, deixam de ter restrições,

Não esquecem uma ofensa ou traição, sendo raramente esta mágoa


esquecida. Um filho de Yemanjá pode tornar-se rancoroso, remoendo
questões antigas por anos e anos sem esquecê-las jamais. Fisicamente,
existe uma tendência para a formação de uma figura cheia de corpo, um olhar
calmo, dotada de irresistível fascínio (o canto da sereia). Enquanto os filhos
de Oxum são diplomatas e sinuosos, os de Yemanjá se mostram mais diretos.

São pessoas que não gostam de viver sozinhas, sentem falta da tribo,
inconsciente ancestral, e costumam, por isso casar ou associar-se cedo. Não
apreciam as viagens, detestam os hotéis, preferindo casas onde rapidamente
possam repetir os mecanismos e os quase ritos que fazem do cotidiano.
Todos esses dados nos apresentam uma figura um pouco rígida, refratária a
mudanças, apreciadora do cotidiano. Ao mesmo tempo, indicam alguém doce,
carinhoso, sentimentalmente envolvente e com grande capacidade de
empatia com os problemas e sentimentos dos outros.

filhos

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