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Meus pais foram se mudando

Para o lado sergipano;


Eu nasci em Quebrangulo
No sertão alagoano;
Se nasci em Quebrangulo
Também sou pernambucano;
E os que nascem na divisa
Estes são PERNAMBULANOS!
Pacífico Pacato Cordeiro Manso
Poeta Quebrangulense

Alagoas Pernambuco
Dedicatórias

Aos meus pais (in memoriam)


João Alexandre da Silva
Maria de Lourdes Pereira da Silva

As minhas irmãs
Maria Goretti
Silvana Maria
Márcia Alexandre

Aos meus filhos:


Alexandre Dimas Martins Pereira
Christiane Martins Pereira
João Roberto Martins Pereira
Jorge Romero Martins Pereira

Ao enteado:
João Carlos Lucena

Aos netos:
Amanda
Aline
João Carlos
Lorena
Talita

Dedicatórias especiais:
Fernando Filizola
Luiz Clério Duarte
José Guedes
Amaro Rocha Guedes (in memoriam)
Pedro Pereira Neto (in memoriam)

Digitação, diagramação e formatação:


Rodrigo de Sousa
Urbano Gomes de Araújo Pereira
Neto do Capitão José de Barros Lima, o Leão Coroado, um dos líderes da Revolução
Pernambucana de 1817.
O autor José Roberto Pereira é a sexta geração em sangue direto do famoso
revolucionário.

“Urbano Gomes de Araújo Pereira”


Nascimento: Sítio Cacimbinhas – Bom Conselho – PE (1841)
Falecimento Sítio Carangueja – Quebrangulo – AL (1927)
ÍNDICE

Introdução…………………......................................……….....……………………… 06
Comentários iniciais…….......................................……....………………………….. 09
Pernambulano, Sim Senhor! ....................................................................................... 10
Do autor - Primeira infância que Delícia .....……….....…........................................ 12
O Nordeste brasileiro e a Civilização Árabe……….........................….................... 14
Revolução Pernambucana 1817 .................................................................................. 16
Bom Conselho, Palmeira dos Índios, Quebrangulo: Pequeno Histórico ………. 18
O Início de tudo – Fatos Históricos………………….....…….…............................... 21
Ideias de Libertação - Pernambuco Republicano ….……………………....……… 23
Ana Joaquina de Albuquerque - A Matriarca da família ……… ……………...... 26
A República de Pernambuco e a Maçonaria…….......................................……...... 29
Nos Tempos do Império………………………………….......................................... 30
Um grande homem……………………………………….......................................... 32
Livro de Lembranças……………………………………............................................ 35
Uma Luz, Um Sorriso, Uma Esperança………………............................................. 40
Mãe Zizi, Vovó Zizi, simplesmente Dona mãezinha …......................................... 41
A troca do nome…….……………………………………........................................... 43
Arthur de Araújo Pereira Ramos, “O cientista da Família” ................................... 45
O casamento de Lia Guedes ……………………………........................................... 48
Rainha Isabel, sua História …………………………................................................. 50
A Construção da Capela de Rainha Isabel ……………........................................... 52
Criação do Distrito de Rainha Isabel - Lei 35 ………….......................................... 54
Rainha Izabel – Luta pela Emancipação ……………….......................................... 55
Padre Dimas, um amigo, um educador ………………........................................... 57
A amizade do Cel. Zezé Abílio com Virgulino (Lampião) ................................... 59
Certidão de Nascimento de Lampião ……………….….......................................... 60
O Pau de Merda …..……………………………………............................................. 62
Palmeira dos Índios, anos dourados de 1964 a 1967 ….…………………............. 63
Alcançaremos o TRI? …………………………………............................................... 65
Uma transmissão esportiva ……………………………............................................ 66
Tio Silvino, Avelar Costa e uma pega de boi em Odésio…………………....….. 68
Automobilismo em Pernambuco – Duas últimas décadas ……………………... 71
José Marcolino – o Poeta ……...………………………............................................. 73
Pernambuco na Guerra do Paraguai ..…................................................................. 75
José Roberto Pereira, Cidadão Emérito de Bom Conselho-PE ............................ 77
Zé Múcio Monteiro, a bengala e um sonho ............................................................ 78
A importância do Professor e Maestro Zé Puluca na cultura carnavalesca
pernambucana ............................................................................................................. 80
Reflexões sobre a carta de Caminha ........................................................................ 82
E não raspei a cabeça ................................................................................................. 85
Assim morreu Lampião ............................................................................................ 86
Reza, Pirão e Sola ....................................................................................................... 88
O regime escravocrata em Pernambuco ................................................................. 90
O transporte rodoviário no Brasil ........................................................................... 92
Frei Caetano e a Guerra dos Maribondos .............................................................. 94
Taquary Velho e a Guerra dos Cabanos ................................................................ 96
Náutico: Hexa é luxo, 50 anos! Eu estava lá! ........................................................ 98
Meus encontros com Frei Damião de Bozzano ..................................................... 100
A morte de Che Guevara ......................................................................................... 102
Uma trilha de 400 anos ............................................................................................. 104
Grupo Glória/Relâmpago/Mavispuma ............................................................... 105
Jaboatão-PE, aqui nasceu a pátria brasileira.......................................................... 106
Pernambuco já foi Brasil .......................................................................................... 108
Aché Laboratórios S/A – Prodoctor Nordeste - Uma história de 50 anos ….. 110
Victor Siaulys, o maior gênio do marketing da Indústria Brasileira ................ 115
José Djalma Morais – O Campeão Nacional de Vendas do Lab. Aché de 1979 117
Aché Prodoctor Norte - Fotos históricas ………...……………………………… 119
INTRODUÇÃO

Estávamos no início do milênio e o que observamos é uma desagregação familiar


em todos os sentidos. Não cabe aqui julgar as causas desta profunda transformação,
porém o que notamos é que o sentimento de FAMÍLIA, como célula mater da sociedade,
está morrendo.

José Roberto Pereira, Executivo de Marketing e Comunicação

Nosso trabalho tem como meta principal tentar fazer com que os descendentes de
URBANO GOMES DE ARAUJO PEREIRA se conheçam. Temos inúmeros parentes,
primos, tios com a mesma origem de sangue, no entanto, para a maioria, são completos
desconhecidos entre si.

A geração na faixa etária acima de 60 anos ainda se conhece, no entanto, esta


geração mais nova não se aproximou daí este nosso esforço em resgatar nossa origem.
Estamos bebendo na fonte do conhecimento dos antigos para projetar o futuro. Nossa
história é bonita, é uma história de sacrifícios e nossos antepassados, tinham sua fortaleza
nos laços familiares e no ideal Republicano, já que o principal antepassado José de Barros

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Lima, conhecido como o Leão Coroado, foi um dos líderes do movimento Republicano
de 1817. Temos que nos falar mais, nos corresponder com maior frequência, não podemos
nos encontrar apenas em pequenas ocasiões sociais. Uma caminhada tem início com o
primeiro passo, e este passo estamos dando através deste trabalho, esta pequena
contribuição de juntar os elos perdidos.

Este trabalho visa esclarecer a origem de famílias tradicionais que chegaram nesta
região de Bom Conselho–PE e Quebrangulo–AL entre 1817 e 1825. Famílias como os
Araújo Pereira, os Barros Lima, os Veiga, os Silveira, os Pessoa. Não é só um trabalho que
retrata as famílias supramencionadas como também informa aspectos interessantes do
final do século 19. É contada também a origem dos municípios de Bom Conselho,
Palmeira dos Índios e Quebrangulo. História da Rainha Izabel, Distrito do Município de
Bom Conselho-PE, onde em suas terras se encontram a Fazenda Cacimbinhas (início de
tudo); outros fatos como o casamento de Lia Guedes, Livro de Lembranças de Simplício
Olavo de Araújo Pereira, Certidão de Nascimento de Virgulino Ferreira da Silva, O
encontro de Lampião com o Cel. Zezé Abílio , a juventude de Palmeira dos Índios-AL
entre 64/67, automobilismo pernambucano, a extraordinária história do Aché
Laboratórios S/A, e um pouco da Biografia do empresário Victor Siaulys, o maior gênio
de marketing da Indústria Farmacêutica.
Agradecimentos ao primo Elias Lima por atualizar alguns personagens da família
e pelo livro Revolução de 1817 do Mons. Muniz Tavares (pag. 85), onde mostra a
participação e feliz coincidência do nome e nosso antepassado (ele continuou
monarquista) o Marechal José Roberto Pereira da Silva.
Agradecimentos especiais à minha esposa e companheira Rosely Cristina de
Oliveira pelo incentivo e dedicação. Todas as pesquisas foram realizadas pelo primo, o
médico Pedro Pereira Neto (in memoriam), ele pesquisou toda a origem das nossas
famílias desde a Revolução Republicana de 1817. Não foi fácil este trabalho do primo,
porém, a você nossa eterna gratidão. O Pedro escreveu um capítulo específico transcrito
na íntegra neste livro.

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Galeria de honra do autor

Avô Materno Avó Materna


Simplício Olavo de Araújo Pereira Olívia Nobre de Araújo Pereira

Pai Mãe
João Alexandre da Silva Maria de Lourdes Pereira da Silva

Avó Paterna Avô Paterno


Maria Caridade de Araújo Júlio Alexandre da Silva

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COMENTÁRIOS INICIAIS

Fernando Filizola
Produtor Cultural, Compositor e Músico

Conheci Zé Roberto em 1985 quando, após ter participado 13 anos do grupo


Quinteto Violado, decidi seguir carreira-solo. Foi o amigo Zé Roberto aquela pessoa que
abraçou minha causa e como executivo de marketing apoiou o meu primeiro disco-solo,
como também deu apoio aos artistas André Rios e George Luiz.
Talvez, por ter nascido no Dia da Bandeira (19/11) o Zé Roberto seja tão nativista.
Ainda como executivo de marketing o Zé Roberto patrocinou grandes pilotos do
automobilismo pernambucano como: Ricardo Menezes, Joca Ferraz, Rogério Santos, Rui
Turza e Mauricio Monte.
Quando criamos o Movimento Agrocultura, Zé Roberto foi de fundamental
importância na comunicação e divulgação do movimento cuja filosofia era a de resgatar
os valores históricos e culturais de Pernambuco. Hoje me deparo com Zé Roberto escritor,
com seu primeiro livro Pernambulano, Histórias e Lembranças.
Este livro é o retrato do Movimento Agrocultura, pois o Zé Roberto nos oferece
uma aula de história onde são focalizados os acontecimentos do Pernambuco altivo e
republicano de 1817, dentre outros assuntos e sempre com uma escrita fácil e dinâmica.
O livro tem cheiro de terra molhada sendo rico em detalhes. É um livro de
memórias, da saga de famílias que foram residir ao sul de Pernambuco após a Revolução
Pernambucana. Zé Roberto é um polivalente: Tirador de leite, carreiro, vaqueiro, locutor
esportivo, gerente de vendas e marketing, um comunicador por excelência. Seus
conhecimentos na área de cultura popular, o credenciam para ser um guerrilheiro cívico,
empenhado em construir novos horizontes para os artistas pernambucanos que unidos
certamente entoarão: “NOVA ROMA DE BRAVOS GUERREIROS, PERNAMBUCO
IMORTAL! IMORTAL!”.
Parabéns Zé, pelo livro e todo sucesso, pois você é merecedor. Um forte abraço.

O Fundador do Quinteto Violado


e produtor cultural Fernando
Filizola e sua esposa Goretti

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"PERNAMBULANO SIM SENHOR!"

Luiz Clério Duarte


Jornalista

Recebemos a brochura intitulada Pernambulano sim senhor! Histórias e


lembranças de José Roberto Pereira com a tarefa de escrever sobre a obra. São páginas,
no formato A4, impressas frente e verso. Não se trata de uma tarefa fácil, pois em seguida
ao índice, temos Comentários Iniciais assinado simplesmente por Fernando Filizola,
produtor cultural, compositor, músico e se não bastasse, durante 13 anos fez parte do
famoso Quinteto Violado.
Mas, tarefa é para ser cumprida e vamos percorrer as páginas para conhecer de
leve o que Zé Roberto aprontou para deixar à posteridade. Como disse Fernando Filizola,
o seu potencial de nativismo talvez seja por ter nascido em 19 de novembro — Dia da
Bandeira. E por conta de tudo isso; prega, escreve, discute e pratica o nativismo.
Ele quer com esse trabalho "tentar fazer com que os descendestes de Urbano
Gomes de Araújo Pereira se conheçam" e vai mais longe quando diz: "Nossa história é
bonita, é uma história de sacrifícios e nossos antepassados tinham sua fortaleza nos laços
familiares e no ideal Republicano, já que o principal antepassado José de Barros Lima,
conhecido como o Leão Coroado, foi um dos líderes do movimento Republicano de 1817".
Em quantos de nós existe, a preocupação de registrar a hora e em que dia da
semana nascemos? Ele dá a importância que merece a sua chegada ao mundo quando diz
na página 05: São 11 horas de um sábado, 19 de novembro de 1949. Padre Alfredo Damaso
dá início à Santa Missa pela passagem da comemoração da Padroeira da Rainha, Santa
Izabel da Hungria e pela passagem do décimo primeiro aniversário da fundação do nosso
distrito. Neste exato momento vim ao mundo pelas mãos queridas da Mãe Sinhá Vidal.
Como bom conhecedor de história escreve sobre O Nordeste Brasileiro e a
civilização árabe. Ideias de libertação Pernambuco republicano, A República de
Pernambuco e a Maçonaria, Nos tempos do Império.
Dedica diversas páginas aos seus familiares de variados graus de parentescos. Tem
uma página onde temos um resumo da passagem de Elódia Nobre Pereira que "nunca se
preocupou consigo mesma, tendo no bem do próximo sua maior preocupação. Devido
seu amor extremo pelo semelhante, nunca casou."
Transcreve um artigo de Amaro Rocha Guedes, sobre Mãe Zizi, vovó Zizi,
simplesmente Dona Mãezinha. Escreveu sobre O casamento de Lia Guedes, conta a
Criação do distrito de Rainha Izabel, sobre Lampião, seus amigos e de suas atividades
profissionais.
Por certo, muitos outros escritos ainda serão produzidos por José Roberto Pereira
e que venham outras brochuras para ampliar nossos conhecimentos como leitores.
Parabéns, grande Zé Roberto e o nosso muito obrigado.

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Luiz Clério Duarte, papacaceiro, bonconselhense, editor do jornal A GAZETA de Bom
Conselho.

Bom Conselho, 2019

Luís Clério Duarte, Jornalista

Colégio de Nossa Senhora do Bom Conselho, 166 anos de educação

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Do Autor
PRIMEIRA INFÂNCIA, QUE DELICIA!

São 11 horas de um Sábado dia 19 de novembro de 1949. Padre Alfredo


Dâmaso dá início à Santa Missa pela passagem da comemoração da
Padroeira da Rainha, Santa Izabel da Hungria e pela passagem do décimo
primeiro aniversário da fundação do nosso Distrito. Neste exato momento
vim ao mundo pelas mãos queridas da Mãe Sinhá Vidal. Nasci na fazenda
Garrincha em casa construída, na década de trinta, pelo meu avô paterno
Júlio Alexandre da Silva. Minha avó paterna Maria Caridade de Araújo
deixou, além do meu pai João, os tios Vanutério e Reinaldo, com as tias
Gerusa, Creusa e Auristela.
Minha primeira infância até os sete anos de idade, passei-os numa casa
as margens do Rio Alabary divisa de Bom Conselho com Quebrangulo.
Minha mãe Lourdes tem uma boa formação intelectual e com seis anos
aprendi a ler e escrever através de cubos de madeira que possuíam em seus
lados letras e números, formavam-se as palavras com a maior facilidade
(uma invenção de Dona Lourdes).
Aprendi a amar a natureza e tive minhas primeiras aulas de ecologia
com o meu pai João Costa e minha tia Elodia (Tité). Quantas e quantas
manhãs, sempre ao nascer do sol, minha tia Elódia passeava no orvalho.
Sentir o cheiro da manhã no Agreste é algo indescritível. Logo na primeira
infância aprendi com meu pai a convivência com o dia a dia campestre.
Aprendi a tirar leite nas vacas de peito bom, a andar a cavalo, a carrear, a
conhecer nossa flora e fauna. Foram ensinamentos valiosos que repercutem
até hoje. Primeira vez que vi um automóvel tinha quatro anos de idade. Foi
o JIPE do primo Emerentino Costa pai do Ex-deputado Federal por Alagoas
Zé Costa. Outro Jipe que sempre passava por lá era do Lau Fernandes.
Em 1957 passei a morar em Maceió capital Alagoana pra fazer o
primário e continuar os estudos. Minha primeira escola foi o Educandário
Nossa Senhora da Conceição, ficava ao lado da Praça das Graças em Maceió.
Professoras desta época Dona Inacinha e Dona Tereza. O início do ginásio
foi no Anchieta de propriedade do Professor Eduardo Trigueiros que tinha
sido Professor de meu pai em Quebrangulo. Matérias do primeiro ginasial
que estudava junto com Tia Creusa, minha colega de classe, (1961)
Português, Matemática, História, Geografia, Religião, Trabalho Manual,

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Latim, Francês, Canto Orfeônico e aulas de nativismo todos os sábados onde
cantávamos os hinos, Nacional, de Alagoas, da República, da
Independência, da Bandeira, do Estudante. Eram aulas de puro civismo
exatamente o que está faltando hoje para nossos jovens.
Entre 1964 e 1967 morei na querida Palmeira dos Índios-AL. Dedico
um capítulo a esta época de ouro na Palmeira.
A partir de 1968 passei a residir e com muito orgulho, em minha
querida capital, a Capital da Cultura Nacional: RECIFE.
Agora que já nos conhecemos uma boa leitura.

José Roberto Pereira com seis meses de idade (1950)

O autor com 8 anos (1958)


Educandário Nossa Senhora da Conceição
Maceió-AL
2º ano Primário – Prof.ª Victória

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O NORDESTE BRASILEIRO E A CIVILIZAÇÃO ÁRABE

Portugal, por mais de duzentos anos, (durante a Idade Média) sofreu forte
influência dos Mouros procedentes do Norte da África. Estes Mouro-Muçulmanos
deixaram na Península Ibérica uma forte influência na arquitetura, música e outros
fatores de sua forte cultura.
Ao final da Idade Média vieram juntar-se a esta cultura, nesta região de Portugal,
inúmeras famílias judias e, desta junção de cultura e religiosidade, foram os que vieram
colonizar as colônias portuguesas, principalmente no Nordeste do Brasil.
Com a retomada de Portugal como Nação soberana, todos os descendentes dos
Mouros e Judeus tiveram que jurar fidelidade à Igreja Católica e passaram a se chamar
Cristãos Novos.
No início da colonização Pernambucana, numerosos senhores de engenho eram
cristãos novos que haviam se batizado à força, ou mesmo judeus que permaneciam fiéis
às crenças. Devido a esta situação, a Santa Inquisição Portuguesa enviou à Pernambuco
seus agentes, daí muitas pessoas consideradas de elite viveram horas amargas diante dos
inquisidores. Sabe-se hoje que até o Governador da época, JOÃO PAES BARRETO, era
de origem judia.
Muitos judeus e cristãos novos que viveram no Brasil nos anos quinhentos eram
de origem ibérica que viviam em Portugal, participando de bons negócios com o Reino
até a ocasião em que a Santa Inquisição se instalou nestes países e exigiu o confisco dos
bens e a expulsão dos que não quisessem se converter ao Catolicismo.
A Santa Inquisição foi um movimento orientado pela Igreja Católica com a
finalidade de converter, pela força da fogueira à referida religião, todos os Judeus,
Mouros, Alquimistas (eram considerados bruxos) e demais pessoas que não fossem leais
à Igreja de Roma.
Os judeus portugueses se dividiram, uns ficaram no país, outros, convertendo-se
e tornando-se cristãos novos, vieram para o Recife no período da ocupação holandesa e
aqui permaneceram após a expulsão dos flamengos.
Entre esses judeus havia sobrenomes bem portugueses como SILVA, Dias,
Azevedo, ARAUJO e os cristãos novos, que ao abandonarem os nomes judaicos,
adotavam sobrenomes de animais e de plantas como: Carneiro, Coelho, Cordeiro,
Figueira, PEREIRA, Oliveira, Salgueiro, Parreira, etc. O sobrenome SILVA, comum nas
famílias nordestinas, é a maior prova que os descendentes nordestinos são Cristãos
Novos convertidos ao Catolicismo.
Os nomes portugueses os ajudavam a fugir à identificação de sua origem em terra
distante. É provável que muito anti-semita de hoje, no Brasil e em Pernambuco, tenha em
suas veias uma boa dose de sangue hebraico. Logo, os ARAUJO PEREIRA são
descendentes diretos de Portugueses Católicos (Araújo) e Cristãos Novos (Pereira).

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Ao ficarem ricos, muitos “fidalgos” procuravam-se legitimar. A fidalguia e a
nobreza não são obtidas apenas por conquistas e feitos heróicos, o são também através
de doações ou de conchavos; e esta política ainda não mudou.
O exemplo marcante deste período era a compra da Bula Papal, que dava direito
à vida eterna no Paraíso, após a morte.
O berço da civilização brasileira é, sem sombra de dúvidas, o Nordeste, pois sua
etnia vem da origem da colonização, sua tradição seus costumes, vêm desde a época dos
Mouros e exemplos não faltam para comprovar estes fatos. (Movimento do Agrocultura)
O aboio de um vaqueiro, aquele canto que vem do fundo da alma, é um canto
Mulçumano.
As orações repetidas do Rosário de Maria têm origem no Mantra mulçumano.
As cavalhadas nordestinas mostram as lutas entre Cristãos e Mouros (azul e
vermelho).
O violeiro repentista é o próprio trovador de origem Árabe.
A Nau Catarineta (Pernambuco) ou Chegança (Alagoas) retratam também esta
luta contra os Mouros pela liberação de Portugal.
É importante salientar que os árabes (Mouros) foram os criadores do estribo
(equipamento da sela de montaria) e com esta invenção ganharam a Península Ibérica.
Eram invencíveis nas batalhas pela segurança e apoio oferecido ao cavaleiro pelo estribo
na sela.
Outra característica que nos aproxima dos Árabes é o gosto pela carne de carneiro,
carne de bode, coalhada, queijo de coalho. O nordestino é a mistura do cristão novo, do
índio e do negro africano. Todo mestiço é um forte.

O filho Alexandre, a neta Amanda, a nora Nandeir e a neta Aline

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REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE 1817

Esta revolução sempre foi comentada em nossa família devido principalmente a


dois personagens. O primeiro, o Capitão de Artilharia José de Barros Lima, meu
antepassado, que vem a ser o avô do meu bisavô Urbano Gomes de Araújo Pereira. O
segundo personagem e por incrível que possa parecer, meu xará o Marechal José Roberto
Pereira da Silva, primo legítimo de meu tetravô materno Francisco Gomes de Araújo
Pereira (história da Revolução de 1817 do Monsenhor Muniz Tavares, pg. 85). Eram
amigos e parentes, sendo que o Capitão José de Barros Lima deu início à Revolução
matando a golpes de espada o Brigadeiro Barbosa de Castro. O segundo, o Marechal José
Roberto Pereira da Silva ficou ao lado da monarquia e foi quem retirou em segurança o
Governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro, levando-o ao Rio de Janeiro.
Segundo o historiador Ferrero: “O verdadeiro espírito revolucionário jamais se
encontrou fora das classes altas e cultas; e não há revolução que não tenha nascido de
uma discórdia fomentada no seio das classes dominantes. O povo, a multidão nunca
recorreram a revolução senão quando falta o pão no armário e o carvão na lareira”.
Assim foi a Revolução Francesa.
Esta nossa Revolução de 1817 houve discórdia entre os patriotas revolucionários
principalmente devido ser a libertação dos escravos uma das metas da Revolução com
apoio dos Padres do Seminário de Olinda. Os grandes proprietários de terras e grandes
comerciantes como Domingos José Martins, Gervásio Pires, Cruz Cabugá, dentre outros
não viam com bons olhos essa libertação, pois eram proprietários de escravos. Esta
discórdia, dentre outras, e a falta do apoio popular levou ao término desta Revolução.
Não existe revolução sem o apoio do povo e com certeza além de atos de covardia, como
do Tenente José Mariano de Albuquerque que abandonou sua tropa em Ipojuca. Tudo
isso contribuiu para o fim do sonho revolucionário, sonho que renasceu com a
Confederação do Equador tendo como personagem principal o Frei Caneca. A revolução
de 1817 foi uma consequência da Guerra dos Mascates de 1710, onde a rivalidade entre
portugueses e brasileiros era evidente. O comércio atacadista, os melhores cargos na
administração e nas forças armadas eram dos portugueses, ficando os brasileiros com o
resto, e isso provocava revolta entre os nascidos na terra. A revolução de 1817 foi o maior
movimento republicano até aquela data. A revolta do dia 6 de março (feriado estadual)
até 20 de maio de 1817. Se o movimento demorou apenas 70 e poucos dias, a devassa
demorou 4 anos. Entre os condenados à morte, prisão e degredo foram 295 patriotas.
Dentre eles o Capitão José de Barros Lima, o Leão Coroado, que foi enforcado e
decapitado. Em 23 de fevereiro de 1917 o Governador Manoel Borba criou nossa bandeira
baseada na bandeira revolucionária. A única diferença entre a bandeira inicial é que esta
tinha três estrelas que representavam Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte e o sol
tinha um rosto estilizado. Nossa bandeira tem apenas uma estrela (Pernambuco) e foi
retirado o rosto do centro do sol. Um detalhe interessante é que o Príncipe Pedro I foi
favorável a Revolução de 1817 (comentários de Oliveira Lima).

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Para concluir, os versos do Frei Joaquim do Amor Divino Caneca da sua Canção
Pernambucana:

“Cidadãos pernambucanos
Sigamos de Marte a lida;
É triste acabar no ócio,
Morrer pela pátria é vida
Quando a voz da pátria chama
Tudo deve obedecer;
Por ela a morte é suave,
Por ela se deve morrer
O patriota não morre,
Vive além da eternidade;
Sua glória, seu renome
São troféus da humanidade”.

Frei Caneca

Bandeira Revolucionária de 1817

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BOM CONSELHO, PALMEIRA DOS ÍNDIOS, QUEBRANGULO:
PEQUENO HISTÓRICO

- Comendador Cristóvão de Burgos e Contreiras?


- Ele mesmo.
- Sua Excelência, o Governador de Pernambuco André Vital Negreiros, irá
recebê-lo.

A dúvida do Comendador era grande.


Será que o Governador iria acatar seu requerimento solicitando novas glebas de
terras (Sesmarias)?
Estas terras ficavam ao sul das terras do Quilombo Castainho, em Garanhuns. A
Sesmaria de Garanhuns já pertencia ao seu amigo e compadre Nicolau Aranha Pacheco.
Estamos no Século XVII, aproximadamente em 1663, e a luta contra o Quilombo
dos Palmares era grande. O Quilombo dos Palmares, com seu Rei Canga Zumba, tinha
sob sua posse 27.000 Km2 de terras que compreendiam desde o Cabo de Santo Agostinho
em Pernambuco até o Rio São Francisco em Penedo Alagoas.
A família do Comendador sempre lutou contra os negros e índios. Umas das armas
usadas pelo Governo Holandês Mauricio de Nassau foi o envio do espião Bartolomeu
Lintz para viver entre os negros e realizar um levantamento completo dos palmarinos.
De acordo com o Bartolomeu Lintz, existia nesta região mais de 6.000 negros. Uma
das expedições contra os negros de Palmares tinha o comando Holandês João Blaer e foi
realizada em 1645. O Holandês partiu de Penedo - AL em direção a Porto Calvo, passando
por onde existem hoje as cidades de Arapiraca, Palmeira dos Índios, Bom Conselho,
Lagoa do Ouro e em linha reta até Porto Calvo – Alagoas.
Durante vários meses o Capitão Holandês João Blaer ficou nas terras onde hoje é
a região do Bulandi, em Bom Conselho-PE.
Detalhes a considerar:
Existe ainda hoje uma família HOLANDA em terras que ficam ao sul de Bom
Conselho:
Entre Penedo - AL e Porto Calvo - AL a trilha pela Mata Atlântica passava por Bom
Conselho, passagem obrigatória de quem vinha por terra.
Nesta época, aproveitando a luta entre Pernambuco e Holandeses, a luta pela
posse da Coroa Portuguesa por espanhóis, o grande líder do Quilombo dos Palmares
Canga Zumba iniciou uma aproximação política entre sua gente com os portugueses, os
holandeses, os espanhóis e os índios. O que Canga Zumba desejava era apenas viver em
paz com sua gente por esta região. O velho Rei conseguiu o seu intento.

Havia escravos em Palmares?

- 18 -
Havia. Pela própria cultura negra quando havia guerras entre tribos os vencedores
aprisionavam os vencidos e não poderia ser diferente no Quilombo dos Palmares.
Durante grande período esta paz foi estabelecida e se não fosse Zumbi a história
desta parte do nordeste poderia ser diferente.
Criado por um padre de Porto Calvo, Zumbi sabia ler e escrever, tendo um ódio
mortal aos brancos, apesar de ter entre suas esposas uma mulher branca.
Vaidoso, autoritário, Zumbi não concordava com os métodos humanos do Canga
Zumba. Aproveitando pequena revolta de alguns negros, Zumbi envenenou o Rei
Canga Zumba, assumiu o comando dos Palmares e reiniciou a guerra contra os brancos.

- Sente-se Comendador Cristóvão de Burgos e Contreiras.

- Obrigado Governador

- Comendador pelos serviços prestados por vossa senhoria na luta contra os


negros palmarinos e na luta contra os índios Fulniôs e Xucurús, seu
requerimento solicitando uma Sesmaria foi aceito pelo Rei de Portugal.

- Comendador Burgos e Contreiras, as terras estão localizadas ao Sul da


Sesmaria de Nicolau Aranha Pacheco (Garanhuns) e ficam aproximadamente
na latitude sul 9 graus e longitudes 36 graus.

A Sesmaria do Comendador Cristóvão de Burgos e Contreiras representa hoje as


terras dos Municípios de Saloá, Terezinha, Iati, Lagoa do Ouro, Correntes, Bom Conselho,
Palmeira dos Índios e Quebrangulo.
Nesta vasta propriedade, o Comendador Burgos e Contreiras, fundou duas
fazendas: A Fazenda dos Burgos, posteriormente Fazenda Nossa Senhora do Desterro e
a Fazenda dos Portos, que passou a se chamar Sítio da Conceição.
Os negros que restavam do que ficou de Palmares assaltavam sempre estas
fazendas. Desta forma, as fazendas do Comendador foram ocupadas por muitos anos
pelos negros que nas terras da primeira (Burgos) formaram o Quilombo da Maria Negra
(atualmente Sítio Muniz) e nas terras da Segunda (Portos) o Mocambo de Pedro Papa
Caça (atualmente cidade de Bom Conselho – PE) os territórios de Bom Conselho,
Palmeira dos Índios e Quebrangulo, em seu início, fazendas de criação, ficaram sob
domínio dos negros de Palmares de 1645 a 1695.
Todas as famílias desta região têm quantidade de sangue negro/índio em suas
veias maior que o sangue o sangue branco (grande minoria ao final do Século XVII).
Ninguém, filho de famílias desta região, pode ser considerado como branco autêntico.
No começo do século XVIII, Manuel da Cruz Vilela comprou aos herdeiros do
Comendador Cristóvão de Burgos e Contreiras grande parte da Sesmaria original.
Manuel da Cruz Vilela ficou sendo único dono das terras dos municípios de Bom

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Conselho e grande parte das terras de Palmeira dos Índios e Quebrangulo. Esta compra
foi realizada em 23 de julho de 1712.
Com a morte do Velho Manuel Villela, seu filho Antônio Anselmo da Costa Villela
assumiu as fazendas e associando-se a Joaquim Antônio da Costa deu início ao
povoamento de Bom Conselho - PE.

Bandeiras Municipais

Bom Conselho-PE Palmeira dos Índios-AL Quebrangulo-AL

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O INÍCIO DE TUDO - FATOS HISTÓRICOS

Iniciando como Capitania e posteriormente como Estado Pernambuco (Buraco N’


Água), sempre esteve à frente de movimentos de libertação. O nativismo teve início nos
Montes Guararapes, onde em duas batalhas memoráveis expulsamos o invasor holandês.
A consciência nacional e a união de brancos, negros e índios na formação do nosso
Exército como unidade de defesa do Território teve início em Pernambuco. Este é um fato
que não se pode negar.
É importante esclarecer que não fomos atacados pela Holanda como nação e sim
pela Cia das Índias Ocidentais, que era uma empresa de bandeira Holandesa, porém com
iniciativa particular de exploração de riquezas em qualquer parte, sendo Pernambuco
escolhido pela sua riqueza e boa localização para o abastecimento de navios.
Maurício de Nassau, Gerente desta Empresa, (Cia das Índias Ocidentais),
procurou na amizade com pernambucanos o desenvolvimento desta região,
emprestando inclusive dinheiro a juros baratos para a plantação de cana de açúcar.
Com a transferência de Maurício de Nassau para Angola, na África, teve início
nossa guerra de libertação e, como já foi falado, o nascimento de nossa consciência como
nação.
A Coroa de Portugal nunca viu com bons olhos esta nossa ideia de autonomia e
procurou mutilar nosso território de todas as maneiras, diminuindo sua força de poder
na região nordestina.
O Século 18 foi aquele em que Pernambuco sofreu as maiores mutilações em seu
Território, passando da maior Capitania em extensão territorial a um Estado bem menor.
As terras iniciais de Pernambuco iam para Oeste até a divisa do Tratado de Tordesilhas,
assinado entre Portugal e Espanha. A primeira mutilação de suas terras foi em 1715,
quando perdeu o Estado do Piauí, pois a primeira Capital desta região foi OEIRAS, que
era considerada dependente de Olinda. O Estado do Piauí passou a ter sua jurisdição
colocada sob a bandeira do Maranhão. Outra grande mutilação foi quando o Conde de
Assumar passou para a Capitania de Minas Gerais (Mello M 1985:47), toda a porção de
terra que ficava entre o Rio Carinhanha e as nascentes do Rio São Francisco. (18 de abril
de 1721). As Capitanias eram divididas entre Gerais e Anexas, sendo Pernambuco
classificado como Capitania Geral e responsável pelo comando das Capitanias anexas do
Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas, que era considerada como Comarca de
Pernambuco.
Resumindo, todas as terras do Norte de Minas até o estado do Piauí eram
consideradas sob comando Pernambucano. Para se ter uma ideia, o Ceará passou a ser
governado por Pernambuco de 13 de julho de 1656 até 17 de janeiro de 1799. A Paraíba
ficou como território de Pernambuco de 29 de dezembro de 1675 até 17 de janeiro de 1799.
O Rio Grande do Norte, por sua vez, foi de Pernambuco de 11 de janeiro de 1701 a 20 de
março de 1817. A saída do Rio Grande do Norte do território de Pernambuco foi um
castigo pela sua participação no movimento revolucionário de 1817 (Costa FAD 1953

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VOL 7 46/48). Como retaliação pela Revolta de 1817, a Comarca de Alagoas foi
desmembrada de Pernambuco em 16 de setembro do mesmo ano. Outro castigo imposto
pelo Imperador Pedro I foi retirada da Comarca de São Francisco, que representava mais
de 50% do Território de Pernambuco, para o Estado da Bahia (7 de julho de 1824).
Esta mudança foi provisória e, no entanto, perdura até hoje.

OBS.: Quem nasce na divisa de Alagoas e Pernambuco, como é o caso do autor


deste trabalho, não sabe sua naturalidade, pois ama os dois estados da mesma maneira,
como disse o poeta quebrangulense Pacífico Pacato Cordeiro Manso: “Quem nasce na
divisa estes são Pernambulanos“.

Conde João Maurício de Nassau-Siegen, 1645

Batalha dos Guararapes – Esta batalha deu início ao Exército Brasileiro

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IDEIAS DE LIBERTAÇÃO
PERNAMBUCO REPUBLICANO

A maioria dos países do mundo era governado por imperadores, ditadores ou reis.
O regime de República era exceção como os Estados Unidos com uma República
Democrática muito nova (iniciada em 1775) e a França com sua República iniciada com a
Revolução Francesa de 1789.
Verifica-se que a República não tinha a sedimentação necessária como regime e foi
com estas ideias que Pernambuco partiu para modificar seu Estado de Direito em 1817.
Governava Pernambuco nesta época, CAETANO PINTO DE MIRANDA
MONTENEGRO.
Este movimento teve seu lado de filosofia adquirido no Seminário de Olinda, onde
as ideias republicanas tomaram eco. Foi um movimento de grande importância, pois
representou de fato e de direito o primeiro movimento contra o domínio português no
Brasil. Sendo elaborado com a finalidade principal de organizar um Governo
Republicano, este movimento não teve o êxito esperado, pois não conseguiu alcançar o
povo em sua base como os escravos e os pequenos comerciantes, ou seja, o povo não
vibrou com as mudanças.
Foi simplesmente uma mudança de liderança e ideias, sem a propaganda devida
para alcançar as bases. Um fato não comprovado afirma que o comerciante Antônio da
Cruz Cabugá entrou em contato com oficiais franceses exilados em Recife para sequestrar
o Imperador Napoleão Bonaparte, que estava preso na Ilha de Santa Helena, e trazê-lo
para Pernambuco. Napoleão seria uma bandeira para a República que estava nascendo.
Caso isto tivesse acontecido, Pernambuco iria criar sérios problemas com a Inglaterra, o
que não seria bom para a causa revolucionária.
JOSÉ DE BARROS LIMA, “O LEÃO COROADO”, PRINCIPAL ANTEPASSADO.
Nascido em São Lourenço da Mata-PE em 1764 engajou-se como soldado no
Regimento de Infantaria do Recife em 1783. Foi promovido a Alferes (Tenente), porém
encontrou dificuldades em promoção simplesmente por ser brasileiro.
Apenas em 1794 foi estudar Matemática em Lisboa e na sua volta foi promovido a
Primeiro Tenente do Regimento de Artilharia em Olinda.
Em 1815 foi promovido a Capitão, posto que ocupava quando do Movimento
Revolucionário em 1817. Nesta época o Capitão José de Barros Lima já tinha 53 anos de
idade.
Da sua família, se tem notícia de dois filhos: José de Barros Lima Filho e Ana
Joaquina de Albuquerque casada com José Mariano de Albuquerque Secretário Geral do
Regimento de Artilharia em Olinda. Ana Joaquina de Albuquerque tinha nesta ocasião
16 anos incompletos.
Em 1817, Pernambuco era governado pelo Sr. CAETANO PINTO DE MIRANDA
MONTENEGRO e, segundo o povo: Caetano no nome, Pinto na coragem e negro nas
ações e como se sabe, a voz do povo é a voz de Deus.

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Nesta época Dom João VI Príncipe Regente do Reino Unido Brasil/Portugal e
Algarves, teve a ideia de conquistar a Guiana Francesa em retaliação pelo que fez
Napoleão Bonaparte, forçando a saída da Família Imperial Portuguesa para o Brasil.
Pernambuco teria que cooperar com 1000 Homens e como não havia motivação no seio
da tropa apenas 300 homens se apresentaram para a empreitada.
A elite pernambucana não se conformava com a situação de caos do Governo
Caetano Pinto e teve início a conspiração republicana.
Várias autoridades de prestigio participaram deste movimento revolucionário
como o ouvidor de Olinda, Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, irmão de José Bonifácio
de Andrada (Patriarca da Independência).
Quando os fatos foram apresentados ao Governador Caetano Pinto ele achou que
os PERNAMBUCANOS DE DIVERTEM E NADA PODEM FAZER (GALVÃO SV 1910 3
V 209/217). Toda revolta tem o seu lado romântico e esta de 1817 não poderia ser
diferente. O comerciante Domingos José Martins estava apaixonado por uma filha do
Governador e como não teve acolhido este namoro, o comerciante Domingos José
Martins passou a conspirar contra o seu futuro sogro.
Durante o período que durou a Revolução, Domingos José Martins casou com a
filha do Governador na igrejinha da Jaqueira, em Recife, teve uma lua de mel atribulada
e acabou fuzilado, tudo isso em menos de 2 meses.
Recebendo uma denúncia formal, o Governador solicitou ao Brigadeiro Manoel
Joaquim Barbosa de Castro e ao General José Roberto Pereira da Silva que fossem
verificar o que de fato estava acontecendo. Prepotente, desumano, grosseiro e
imprevidente, o Brigadeiro Barbosa de Castro se dirigiu aos oficiais brasileiros com
palavras não amistosas, provocando-os a todos.
Todos os oficiais brasileiros estavam armados e o clima ficou tenso entre eles.
Neste instante, foi preso o Capitão Domingos Teotônio Jorge Pessoa da Veiga
(tronco inicial das famílias Pessoa e Veiga).
O Capitão Domingos Teotônio Jorge, sob protesto, gritava TRAIÇÃO! TRAIÇÃO!
Na sequência dos fatos, seria preso o Capitão José de Barros Lima, o qual puxou
da espada e, junto com seu genro, Capitão José Mariano de Albuquerque, matou o
enviado do Governador, Brigadeiro Manoel Joaquim Barbosa de Castro.
Os descendentes destes três Capitães, José de Barros Lima, Domingos Teotônio
Pessoa da Veiga e José Mariano de Albuquerque, tornaram-se fugitivos e que foram para
o Sul de Pernambuco.
Para não ficarem isolados no movimento, os patriotas enviaram emissários para
os estados vizinhos. Para a Bahia, foi enviado José Inácio de Abreu e Lima, conhecido
como Padre Roma, pois tinha sido seminarista em Olinda. Ao chegar às praias baianas
foi preso e, num julgamento sumario, foi fuzilado. Quem assistiu a este fuzilamento foi o
próprio filho do Padre Roma, o então Capitão Abreu e Lima.
Já como General, Abreu e Lima foi o braço direito de Simão Bolívar na libertação
dos países como Bolívia, Colômbia, Venezuela.

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Vale salientar que, quando da morte do General Abreu e Lima, o mesmo por ser
maçom, não pode ser enterrado em cemitério católico, sendo seu corpo sepultado no
cemitério dos Ingleses em Recife.
Um fato que merece comentário nesta revolução foi à figura de José Carlos
Mayrink da Silva Ferrão. Tinha sido Secretário do Governador Caetano Pinto, seguiu no
posto com os novos governantes revolucionários e continuou no posto, após o
movimento ser vencido, ainda como Secretário do Governo seguinte à revolução que foi
chefiado pelo General Luís do Rego Barreto.
Ficar no poder em situações tão diferentes só tivemos bem mais tarde o
Pernambucano Marco Antônio de Oliveira Maciel que passou por diversos governos sem
perder o poder.
O sonho da República em Pernambuco durou pouco, pois entre março de 1817 a
20 de junho do mesmo ano tudo ficou definido, com a morte por fuzilamento dos
principais patriotas. No combate do engenho Trapiche, em Ipojuca, foram presos,
enviados para Bahia e fuzilados, Domingos José Martins e José Mariano de Albuquerque
Cavalcante, este casado com a filha de José de Barros Lima, Ana Joaquina de
Albuquerque.
Os amigos e quase irmãos, Capitães José de Barros Lima e Domingos Teotônio
Jorge Pessoa da Veiga foram presos em Paulista em 6 de junho de 1817.
Já no dia 20 de junho foram fuzilados na Praça da República, em Recife. Foram
conduzidos para a morte vestidos com uma alva, escoltados pela tropa e acompanhados
pelas confrarias religiosas. Foram fuzilados junto com José de Barros Lima e Domingos
Teotônio Jorge, o Padre de Itamaracá, Pedro Tenório e Antonio Rabelo. Após a execução,
os corpos foram esquartejados, ficando expostos em locais bem visíveis e as vísceras
enterradas em vala comum.
Apesar de tudo isto, o espírito do Pernambucano em se tornar independente não
morreu e, movimentos posteriores como a Convenção de Beberibe e a Confederação do
Equador, provam esta tenacidade revolucionária.

Vista
panorâmica do
Recife, 1817

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ANA JOAQUINA DE ALBUQUERQUE,
A MATRIARCA DA FAMÍLIA
Pedro Pereira Neto

Esta senhora era filha de José de Barros Lima “O Leão Coroado”. Ana Joaquina de
Albuquerque foi casada com o revolucionário José Mariano de Albuquerque, que era
Secretário do Regimento, e foi acusado junto com o sogro, José de Barros Lima, da morte
a golpes de espada do Brigadeiro Manoel Joaquim Barbosa de Castro. José Mariano de
Albuquerque foi um covarde na Revolução. Abandonou sua tropa no combate de
Ipojuca. Foi julgado e enviado para a Índia em degredo perpétuo.
Nesta situação, Ana Joaquina de Albuquerque, que era de Igarassu, casou-se em
segundas núpcias com Francisco Gomes de Araújo Pereira, que era filho natural de
Nazaré da Mata-PE.
Carta por Clemência de Ana Joaquina de Albuquerque, na época com 16 anos, ao
Desembargador José Ferreira da Cruz, em favor do seu marido o covarde José Mariano
de Albuquerque. Ana Joaquina de Albuquerque gerou Urbano Gomes de Araújo Pereira,
que gerou Simplício Olavo de Araújo Pereira, que gerou Maria de Lourdes Pereira que
gerou José Roberto Pereira, o autor deste trabalho.

Ilmo Sr Desembargador José Ferreira da Cruz.

Olinda, 16 de julho de 1817.

Jamais se esquecera a caridade, honra e bons ofícios com que Vossa Senhoria me recebeu
quando aflita procurei o seu patrocínio ficando certificada ter em Vossa Senhoria uma Generosa
proteção, porém, muito mais realçou a minha esperança quando recebi a oficiosa atestação de
Vossa Senhoria a favor daquele infeliz (José Mariano de Albuquerque) tudo são produções de
uma alma grande e eterno o meu reconhecimento. Tenho notícia que está o Sr. Ouvidor de Olinda
com devassa aberta para conhecer as culpas dos réus que se acham presos, cujo procedimento me
tem consternado e afligido o mais possível na consideração de qual será a sorte de meu infeliz
marido se vossa senhoria não orar por ele e neste lance eu me sacrifico literalmente e sem limite a
minha aflição me transportar de modo que me não sei explicar e só se bradar que por vida da Ilma
Sra. Companheira e pelo Deus que nos sustenta valha a uma desesperada mulher e quase viúva
que fica em consumidoras esperanças pela resposta de vossa senhoria mandando-me a certeza do
que realmente se tem passado se já se devassou nesta praça, e se vem o Ministro conhecer dos
fatos nesta Vila de Igarassu onde e nossa moradia dentro do seu termo. VS me fará o favor de
entregar essas lasquinhas de açúcar a Ilustríssima Senhora Companheira e que me perdoe à
afoiteza, pois é um sinal de que lhe sou tributaria. Deus guarde a Vossa Senhoria com saúde e
felicidade por dilatados anos para maior prazer e amparo de quem é.
De vossa Senhoria muito atenciosa e obrigadíssima sua serva: ANA JOAQUINA DE
ALBUQUERQUE. ”

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Após estes acontecimentos toda a família, ou parte dela, fugiu para o Sul de Pernambuco.
Consta que José de Barros Lima tinha um filho homem e três filhas mulheres. Desta prole
fugiram para o Sul de Pernambuco (Bom Conselho do Papa Caça) José de Barros Lima
Filho, sua esposa Luiza de Barros Lima, a outra irmã Ana Joaquina de Albuquerque (a
mudança do sobrenome Barros Lima por Albuquerque foi devido seu primeiro marido
ser José Mariano de Albuquerque).
Nesta fuga, além dos dois filhos de José de Barros Lima, fugiu também Francisco
Gomes de Araújo Pereira (Frade). Esta alcunha de Frade foi devido a Francisco Gomes
de Araújo Pereira ter fugido vestido de batina, pois, como o mesmo teve alguma
participação na revolta, poderia ser apanhado pelas patrulhas. Fugiu também sua irmã,
Francisca Maria de Barros Pereira e seu marido Simplício Olavo Coelho da Silveira
Barros. Também participaram desta caravana Luís da Costa Pereira, sua esposa Cândida
Angelina de Lima, Alípio Coelho de Barros Lima e sua esposa Maria Izabel de Barros
Lima.
É importante observar que todos os Barros Lima, Araújo Pereira, Pessoa da Veiga,
Silveira são famílias aparentadas e unidas nesta situação de fuga pelo Agreste
pernambucano. Por ser viúva, sem filhos, e em pleno vigor da sua adolescência, ANA
JOAQUINA DE ALBUQUERQUE casou-se com FRANCISCO GOMES DE ARAUJO
PEREIRA (FRADE). Desta união nasceram: Urbano Gomes de Araujo Pereira, (nasceu em
1841 na Fazenda Cacimbinhas, falecendo em 06/03/1927, no Engenho Carangueja), Luis
Gomes de Araujo Pereira; José Gomes de Araújo Pereira (conhecido com JOSÉ DE
FRADE, morreu nas Cacimbinhas em 16/06/1896) e Ana Joaquina de Araújo Pereira.
Do casamento de Simplício Olavo da Silveira Barros e Francisca Maria de Barros
Pereira (irmã de Francisco Gomes de Araujo Pereira (Frade) nasceram: Ana de Azevedo
Lima (nasceu em 1845, falecendo no dia 09/04/1893 aos 48 anos de idade), Ângela de
Azevedo Lima; Cândida de Azevedo Lima; Maria Hermana de Azevedo Lima; Fracelina
Gertrudes de Azevedo Lima e Luzia de Azevedo Lima. (Luzia Menina).
O casamento de Urbano Gomes de Araujo Pereira com Ana de Azevedo Lima foi
realizado em 8/1/1866. Sobre o casamento, é importante esclarecer que Urbano viajou
mais de 30 dias a cavalo entre Bom Conselho e Recife para comprar o enxoval. Foi
acompanhado nesta viagem pelo seu escravo de confiança. A foto de Urbano Gomes de
Araujo Pereira que está neste trabalho foi tirada em Recife por Cassiano Souza (o original
desta foto se encontra em poder de José Roberto Pereira, seu bisneto). Deste casamento
nasceram: Francisco Gomes de Araujo Pereira (mesmo nome do seu tio FRADE), José
Gomes de Araujo Pereira (Cazuza), Antonio Gomes de Araujo Pereira (Totonho),
Simplício Olavo de Araujo Pereira (nasceu em 1867), Laura de Araujo Pereira, Cândida
de Araujo Pereira, Mocinha de Araujo Pereira, Jacinta de Araujo Pereira, Francisca de
Araujo Pereira, Maria Leopoldina de Araujo Pereira (Yaia) Observem que Urbano Gomes
de Araujo Pereira era primo legítimo de Ana de Azevedo Lima. Pois era comum nesta
família o casamento entre primos.

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Um fato histórico é que todos os descendentes das famílias revolucionárias foram
residir na Fazenda Cacimbinhas, que fica localizada entre os Municípios de Bom
Conselho - PE e QUEBRANGULO - AL, adquirida em 1823.
Todas as terras que hoje compreendem as fazendas Cacimbinhas, Garrincha,
Impueiras, Baça, Lagoa dos Colatinos, Borges e Lages, foram compradas por Francisco
Gomes de Araújo Pereira (Frade) e seu cunhado Simplício Olavo Coelho da Silveira
Barros pela quantia de 600 réis. Vale salientar que um escravo na época valia 800 réis
aproximadamente (Diário de Pernambuco).
Na fuga para Cacimbinhas, as famílias levaram dois escravos de campo e um
escravo de confiança. Já sabemos que Urbano Gomes de Araújo Pereira casou com sua
prima legítima Ana de Azevedo Lima. Vamos então, relacionar os casamentos das demais
filhas do Simplício Olavo Coelho da Silveira Barros com Francisca Maria de Barros
Pereira.
Foram elas:

- Ângela de Azevedo Lima casou-se com Teodolo da Costa Pereira

- Cândida de Azevedo Lima casou-se com Lourenço da Costa Pereira

- Maria Hermana de Azevedo Lima casou-se com Antonio Apolinário de Barros


Lima (Sinhozinho das Minas)

- Fracelina Gertrudes de Azevedo Lima casou-se com Agostinho Coelho da


Silveira Barros
- Luzia Menina casou-se com João Evangelista Coelho da Silveira Barros

OBSERVAÇÃO:
Antes de casar-se com Luiza Menina, João Evangelista da Silveira Barros, foi
casado com uma irmã de Luiza Menina. Do primeiro casamento de João Evangelista da
Silveira Barros nasceu uma filha de nome MARIA LIMA SILVEIRA BARROS.

Os descendentes desta Maria Lima Silveira Barros são: Maria Lima da Silveira; José
Mariano Lima da Silveira; Nilo Lima da Silveira e Mario Lima da Silveira (MARIO
VEIGA).
Toda a fazenda Borges foi dividida entre estes Silveiras.

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A REPÚBLICA DE PERNAMBUCO
E A MAÇONARIA

A primeira loja maçônica fundada em Pernambuco foi o Aerópago de Itambé. Foi


seu fundador, Manuel de Arruda Câmara que era médico como ele. Os três irmãos
Francisco, Luis Francisco e José Francisco de Paula Cavalcante de Albuquerque
(conspiradores do Engenho Suassuna), o Padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro
(a participação dos padres e confrarias religiosas nas lojas maçônicas era muito grande)
o Capitão André Dias Figueiredo, os padres Antônio e Felix Velho Cardoso, José Pereira
Tinoco e Antônio de Albuquerque Montenegro.
Em 1801 com a denúncia de conspiração levantada contra os irmãos Cavalcante de
Albuquerque (conspiração dos Suassuna) o Aerópago foi dissolvido. Em 1803, livre das
acusações, Francisco de Paula fundou na sua residência do Cabo de Santo Agostinho, a
chamada Academia Suassuna (nome do engenho). Fazia parte desta Academia o capitão-
mor da Vila do Cabo, Francisco Paes Barreto. Pouco depois, Francisco Xavier de Novais
Cavalcante. Capitão-mor de Igarassu organizou outra loja. Antônio Carlos Ribeiro de
Andrada, ouvidor da Comarca de Olinda, a partir de 1815 era um dos seus
frequentadores.
Em 1816 com a nomeação do Padre João Ribeiro para capelão do Hospital do
Paraíso em Recife, começa a funcionar aí a Academia do Paraíso. Na casa do Antonio
Gonçalves Cruz e de Domingos José Martins estavam instaladas as Academias do Oriente
e do Ocidente, respectivamente. José Lins de Mendonça, advogado, era assíduo
frequentador dessas academias. Portanto, a maior parte dos frequentadores das lojas
maçônicas teve papel de destaque não somente na Revolução Pernambucana de 1817,
como também, na Confederação do Equador, Revolução Praieira, lutas para nossa
independência, Primeiro e Segundo Reinados e nascimento da República. Diria mais
desde os Cavaleiros Templários do Grão Mestre Jacques de Molay (1119), ordem Católica
fundada em Jerusalém, que os maçons prestam um grande serviço à humanidade.

Mons. Francisco Muniz Tavares


Foi participante ativo e escreveu sobre a
Revolução Pernambucana de 1817

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NOS TEMPOS DO IMPÉRIO

Durante o período do Império, principalmente o Segundo, o Brasil tinha uma


moeda estável e forte, possuíamos uma grande marinha mercante, tivemos os primeiros
correios da América do Sul. O Brasil foi uma das primeiras nações a instalar linha
telefônica e o segundo país do globo a ter selo postal.
O Parlamento do Império ombreava com a da Inglaterra. A diplomacia brasileira
era uma das primeiras do mundo, tendo o Imperador sido árbitro em questão da França,
Alemanha e Itália.

Imperador Pedro II

Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula
Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga

Em 67 anos de Império, tivemos uma inflação média anual de apenas 1,58%.


Somente nos primeiros dias do golpe militar, comandado por DEODORO DA FONSECA,
a inflação chegou a 10%.
Em 1890, a inflação foi de 41% e em 1891 já era 50% ao ano.

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A unidade monetária do Império, o mil réis, correspondia a 0,9 (nove décimos) de grama
do ouro equivalente a libra esterlina.
Embora o orçamento geral do Império tivesse crescido dez vezes entre 1841 a 1889
a dotação da casa Imperial se manteve a mesma, isto é, 800 contos de réis anuais. Vale
salientar que, Pedro II destinou ¼ de seu orçamento pessoal à Guerra do Paraguai. 800
contos de réis anuais representavam 67 contos de réis mensais. Uma das alegações dos
que deram o golpe republicano no Império era que a Coroa gastava muito e isto não é
verdade, pois o primeiro ordenado de Deodoro da Fonseca foi de 120 contos ao mês,
praticamente o dobro do que ganhava o Imperador.
Dom Pedro II se recusou a receber a quantia de 5 mil contos de réis quando foi
deposto, explicando que este dinheiro era do povo brasileiro.
No Império, o salário de um trabalhador sem nenhuma qualificação era 25 mil réis.
Esta quantia era equivalente hoje a 3 salários mínimos.
O maior empresário do Segundo Império foi José Evangelista de Souza, O Barão
de Mauá. Em tempos de hoje, era como se o Barão fosse dono de todas as estradas de
ferro, todos os estaleiros, Grupo Votorantin, Bradesco e Vale do Rio Doce.
Nesta época áurea do Império nasceu em 1867 na Fazenda Cacimbinhas, ao Sul de
Bom Conselho, SIMPLÍCIO OLAVO DE ARAUJO PEREIRA, meu avô materno.

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UM GRANDE HOMEM

Simplício Olavo de Araújo Pereira era filho de Urbano Gomes de Araújo Pereira e
Ana de Azevedo Lima. Ainda jovem, não quis continuar trabalhando com os negócios de
fazenda e saiu para procurar vida na cidade.
Morou negociando em Santa EFIGÊNIA - AL. Conta-se que ele, solteiro em Santa
Efigênia não sabendo cozinhar, colocou arroz na panela em quantidade grande e quanto
mais o arroz inchava mais a panela derramava. Uma das poucas coisas que o jovem
Simplício deixou de fazer, foi cozinhar.
Em seguida, o jovem Simplício veio morar em Capela, cidade do interior de
Alagoas, onde se casou com Maria José de Melo, tendo os filhos: Luis, José e Izaura.
Simplício era homem calmo, bom prestativo e a todos queria bem. Sendo
inteligente e prestativo, ele sempre achava tempo para ajudar qualquer pessoa que o
procurava. Consertava relógios, máquinas, instrumentos musicais e em certas
circunstâncias era enfermeiro e “médico”.
Os seus conselhos e remédios alopáticos serviam a todos sem distinção de cor ou
credo. Segundo sua filha Izaura, até pequenas cirurgias ele fazia, sempre com o intuito
de aliviar a dor do próximo. Foi tesoureiro da Prefeitura de Capela, sendo autodidata em
contabilidade. Por serviços prestados à comunidade, foi agraciado pelo Presidente
Floriano Peixoto com o Titulo de Tenente Coronel da Guarda Nacional. Esta comenda o
enchia muito de orgulho. Muito Católico devoto do Sagrado Coração de Jesus, não perdia
uma Primeira Sexta Feira do Mês e frequentava a Missa diariamente.
Toda noite rezava o Terço antes de deitar, sempre diante do quadro do Sagrado
Coração de Jesus. Simplício Olavo tocava violino e flauta, tendo como companhia seu
filho José, alternando os instrumentos.
Seu filho José era de uma personalidade muito parecida com a sua e, com morte
daquele ainda, muito jovem, deixou de tocar. Só voltou à música para ensinar violino a
sua filha Maria de Lourdes Pereira. Sua habilidade manual era tão grande que chegou a
fabricar um violino. Faleceu em Pilar - Alagoas em 27 de fevereiro de 1947.
Como já vimos do seu primeiro casamento, com Maria José de Melo, nasceram os
filhos LUIZ, JOSÉ e IZAURA.
Luiz casou-se com Antonia e teve os filhos José Melo e Lourdes.

José Melo ficou solteiro e Lourdes, casando-se com o Dr. Barreira (Médico) gerou
Elionora, Eliane e Edmilson.
Da união de Elionora com Enéias Fernandes nasceram Noryane e Luis Carlos.
Da união de Eliane com Sérgio Roberto nasceram: Armando e Tadeu.
Da união de Edmilson com Maria Helenisa nasceram: Carlos Eduardo, Helena e
Renata.

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Izaura, filha de Simplício Olavo, casou-se com Enéias Vieira e, desta união,
nasceram: Raimundo (morreu pequeno), Anchises, Maria Dorali, Maria de Avelar, Maria
de Nazaré, Rubem Pereira e Maria Geobertine.
Do casamento de Anchises com Vicência Simão nasceram: Enéias Fábio, Cristina e
Anabela. Dos filhos de Anchises, Enéias Fábio casou com Kátia Maria, nascendo Fábio.
Anabela tem os filhos: Gabriel e Guma.
Maria Geobertine casou-se com José Vespasiano e desta união nasceram: Josemar
e Geovani.
Josemar casou-se com Betânia Pedrosa nascendo Júnior, Igor e Melania.
Geovani casou-se com Pedro Lima nascendo: Rafael e Diogo. Maria de Avelar
casou-se com Samuel Meira Henrique e desta união nasceram: Raimundo, Roberto,
Rossane, Rogério e Ricardo.
Raimundo casou-se com Fátima nascendo: André e Juliana
Roberto casou-se com Cássia.
Rossane casou-se com Isnard Freitas nascendo: Marcela, Mariana e Manoela.
Maria de Nazaré casou-se com Clovis Alencar nascendo: Clovis Fernando (tem um
filho, Iago).
Rubem Pereira casou-se com Marlene Durão que gerou: Lavínia, Monica, Rubem
Fernando e Geanice.
Lavínia casou-se com Paulo Galvão nascendo: Leandro, Marcelo e Henrique.
OBS.: Todos estes são os descendentes do primeiro casamento de Simplício Olavo
de Araujo Pereira.
Ficando viúvo, Simplício Olavo de Araujo Pereira casou-se com Olívia Nobre, que
era filha de pais Cearenses (Mateus e Guilhermina). Desta Segunda união nasceram,
Maria de Lourdes Nobre Pereira e Elodia Nobre Pereira.

Maria de Lourdes Nobre Pereira casou-se com seu primo João Alexandre da Silva
(filho de Maria Caridade de Araujo Pereira e Julio Alexandre da Silva). Desta união
nasceram: José Roberto Pereira da Silva, Maria Goretti Pereira da Silva e Silvana Maria
Pereira da Silva.
Do casamento de José Roberto Pereira nasceram: Alexandre Dimas, Christiane,
João Roberto e Jorge Romero.
Da união de Maria Goretti com José Pereira Lima nasceram: Lindalva Maria, Ligia
e Rafael Augusto.
Silvana Maria casou-se com José Hilton Tenório, nascendo: Alan Victor, André
Vinicius e Maria Clara.

RESUMO DOS DESCENDENTES DE SIMPLÍCIO OLAVO DE ARAUJO PEREIRA:

• FILHOS: Izaura, José, Luiz, Lourdes e Elodia.

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• NETOS: Raimundo, Anchises, Dorali, Georbetine, Maria de Avelar, Rubem, Nazaré,
José Melo, Lourdes Barreira, José Roberto, Goretti e Silvana.

• BISNETOS: Enéias Fábio, Cristina, Anabela, Edmilson, Elionora, Eliane, Clovis


Fernando, Raimundo Nonato, Roberto José, Rossane, Rogério, Ricardo Saulo,
Josemar, Geovani, Monica, Geanice, Rubem Fernando, Alexandre Dimas, Christine,
João Roberto, Jorge Romero, Lindalva Maria, Rafael Augusto, Alan Victor, André
Vinicius e Maria Clara.

• TRINETOS: Juliana, André, Marcela, Marina, Manoela, Patrícia, Helena, Renata,


Armando Lages, Tadeu Lages, Noryane, Luis Carlos, Gabriel, Guma, Leandro,
Marcelo de Lima, Henrique, Iago, Amanda e Aline (Filhas do casamento de Alexandre
Dimas com sua esposa Nandeir).

Simplício Olavo de Araújo Pereira


(Avô materno do autor)

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LIVRO DE LEMBRANÇAS

Simplício Olavo de Araújo Pereira

1920

Observação:
Procuraremos transmitir de maneira cronológica este Livro de Lembranças, o qual
é rico em datas e acontecimentos.

“No dia de Terça feira 15 de junho às 2 horas da tarde do ano de 1891


casei-me, eu Simplício Olavo de Araujo Pereira com Dona Maria José de
Araujo Mello. Na Capelinha de São José no Engenho Bálsamo.
Fomos casados pelo Padre Melo de Capela e sendo nossos padrinhos
e madrinhas, Antonio Gomes de Araujo Mello e sua mulher Dona Cândida,
João Evangelista Coelho e Dona Rosa Monica de Araújo Mello.
Os convidados de minha festa de casamento foram os seguintes
cidadãos: Meu pai Urbano Gomes de Araujo Pereira, Chiquinho, Cazuza, tio
Alípio, tio Lula, Terto, Mestre Vicente, Manoel Cabral, Messias Manoel Gomes
e João Candido.
Às 11 horas do dia 29 de fevereiro do ano de 1892 nasceu minha filhinha
Ephigenia Pereira de Mello; batizou-se no Domingo 6 de março do mesmo
ano, batizada pelo Padre Machado, sendo seus padrinhos, Urbano Gomes de
Araujo Pereira e Dona Rosa Monica de Araújo Pereira.
Morreu minha filhinha Ephigenia numa Quinta feira 12 de março do
mesmo ano às 9 da noite sendo sepultada na Capelinha de São José no
Engenho Mumbaça.
No dia de Terça feira às 10: 34 de hora da noite 14 de março de 1893
nasceu minha filhinha Josepha Pereira de Mello.

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Batizou-se no dia Terça 4 de abril do mesmo ano, pelo Padre Manoel
Correia tendo como padrinhos Hermenegildo de Almeida e Nossa Senhora da
Conceição.
Morreu Josefina no dia de sábado às 8 horas da noite, 8 de abril do
mesmo ano, sendo sepultada na Igreja de Santa Ephigenia às 5 horas da
tarde.
Morreu minha mãe Ana de Azevedo Lima no dia de domingo de 11 para
12 horas da noite de 9 de abril do ano de 1893 com 48 anos de idade. Sepultou-
se na Igreja de Santa Ephigenia às 3 horas da tarde.
No dia Quinta feira às 9 horas da manhã 9 de novembro de 1893 morreu
Dedinho com idade de 59 anos. Foi sepultado na Igreja de Santa Ephigenia
às 2 da tarde do corrente.
No dia Quarta-feira pelas 5 horas da manhã 23 de maio de 1894; nasceu
meu filho Luiz Pereira de Mello. Foi batizado pelo Padre Manoel Correia de
Capela no dia 29 de março do mesmo ano. Foram padrinhos Luiz de França
de Araujo Mello e Santa Ephigenia.
No dia Sábado às 3 para 4 horas da madrugada 29 de julho de 1895
morreu Theolinda e sepultou-se no Cemitério do Engenho Bálsamo.
No dia de quinta-feira, 12 de setembro de 1895, foi Maria José para o
Engenho Mumbaça dar a luz a criança Eudócia.
Nasceu Eudocia no dia de Sábado às 03 da madrugada no dia 05 de
outubro de 1895. Batizou-se no dia Quinta 10 do mesmo mês e ano. Foi seu
padrinho Francisco Gomes e Nossa Senhora das Doures. Foi batizada pelo
Padre Manoel Correia de Capela. Morreu esta criança em 16 de outubro do
mesmo ano sendo sepultada na Capela de São José no Engenho Mumbaça.
Cheguei aqui nesta cidade de Viçosa no dia de Sábado 2 horas da tarde,
2 de maio de 1896, vindo da povoação de Santa Ephigenia.
No dia Quinta-feira 11 de junho de 1896 abri a minha casa de negócio
aqui na Viçosa. Meu filho Luizinho com dois anos de idade está com 80
centímetros de altura nesta data Viçosa 23 de maio de 1896.
Casou-se o meu mano Francisco Gomes no dia Quinta feira 30 de julho
de 1896. Foi casado pelo Padre de Quebrangulo.
No dia Segunda feira 16 de julho de 1896 as 5 horas da manhã, morreu
meu tio José de Frade no Sítio Caranguejo. Sepultou-se na Capelinha desta
localidade.
No dia Segunda feira às 9 horas do dia 26 de abril de 1899 nasceu minha
filha Izaura e foi batizada no dia 1 de maio do mesmo ano pelo Padre Manoel
de Capela sendo seus padrinhos José Guilherme e Nossa Senhora das
Doures.
No dia quarta-feira às 3 horas da tarde, 8 de dezembro de 1899 morreu
tio Alípio e foi sepultado no Engenho Bálsamo.
No dia de Terça feira 29 de março de 1898 mudei-me de Viçosa para a
Villa do Parnaíba.

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Casou-se meus manos Cazuza e Totonho no dia quarta feira 16 de
outubro de 1901 no Sítio Carangueja.

Minha filha Izaura na idade de dois anos, está com 76 centímetros de


altura. Villa da Paraíba 26 de abril de 1899.
Morreu Tio Ginho no dia Sábado 15 de agosto do ano de 1899.
Nasceu meu filho José no dia Sábado ao meio da tarde de 21 de julho de
1900. Serão seus padrinhos Antonio Gomes de Araujo e Nossa Senhora da
Conceição.
No dia 20 para amanhecer do dia 21 de janeiro de 1901 estremeceu a
terra, sendo o primeiro estremecimento às 11 e meia da noite e o segundo as 2
e meia da madrugada. Este segundo de prolongada duração. Tudo isso foi no
Domingo para amanhecer Segunda feira.
No dia quarta feira 29 de fevereiro de 1901 dei a Luis a primeira lição de
ABC na aula do Professor Francisco Oliveira.
Paraíba 29 de fevereiro de 1901.
José da idade de 2 anos está com 77 centímetros de altura. 29 de junho
de 1904.
Morreu o Cel. José Moraes de Aguiar no dia quarta-feira às 2 horas da
madrugada de 29 de junho de 1904.
Casou-se Laura minha irmã no dia Terça feira às 2 horas da tarde de 22
de novembro de 1904 no Engenho Primavera termo de Viçosa. Foi feito o
casamento pelo Vigário Pio de Atalaia.

Eu nasci no ano de 1867 a 26 de março às 2 horas da tarde.

Que idade tenho em 28 de 6 de 1903 às 11 horas do dia?

Tenho 36 anos, 3 meses, 2 dias e 9 horas.

Eu e minha família vacinamo-nos no mês de setembro do ano de 1905.


Estabeleci-me na Cidade do Paraíba (Capela) no mês de novembro de
1905.
Casou-se Jacinta no dia de Quinta feira 22 de fevereiro de 1906 no
Engenho Primavera termo de Viçosa pelo Vigário interino Duerval Góis.
Morreu Francisca Virtulina no dia Quinta feira a 1 hora da tarde de 8 de
setembro de 1910, no Engenho Mumbaça e foi sepultada na Igreja do Engenho
às 11 horas do dia 9.
Morreu o Compadre França no dia de Domingo às 2 horas da manhã em
3 de novembro de 1912.
No dia de Domingo às 3 horas da tarde 27 de fevereiro de 1916 chegou
nesta Villa Frei Manoel Lopes de Oliveira em companhia do Frei Matias Teles
em visita Pastoral e Santa Missão.
Demoram-se 9 dias e seguiram viagem para o Cajueiro.

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No dia 3 de abril de 1913 casou-se o Luiz com Toinha no Engenho
Búzios pelo Vigário Bancaré.
Casou-se minha filha Izaura no dia 17 de janeiro de 1917 na idade de 19
anos. Foi casada pelo Padre Bancáro.
Morreu Maria José no dia de Quinta feira às 10 horas da manhã de 28 de
julho de 1919. Sepultou-se no mesmo dia.
Eustáquio embarcou no dia Terça feira, 16 de setembro de 1913 para
Alemanha.
Casei-me com Olívia Nobre no dia de Sábado às 9 horas da manhã em
24 de junho de 1922. Fomos casados pelo Vigário Francisco Maria (Vigário
do Pilar).
Nasceu minha filha Maria de Lourdes no dia de Segunda feira às 10
horas da manhã, 2 de abril de 1923 na Cidade do Pilar - AL, sendo batizada
com seis dias de vida. Foi batizada pelo Vigário Francisco Maria, sendo o
mesmo seu padrinho com a madrinha Maria Nobre da Silva.
No dia de Quinta feira às 5 horas da tarde, 25 de junho de 1925 nasceu
minha filha Elódia Nobre na Cidade de Paraíba (Capela - AL). Batizou-se, com
8 dias de idade pelo Vigário Bancarel, sendo seus padrinhos Luiz de Melo
Pereira e Comadre Toinha.
Morreu meu pai Urbano Gomes de Araujo Pereira no Sítio Carangueja
às 10 horas da noite do Domingo 6 de março de 1927, na idade de 86 anos.
Sepultou-se no dia 07 de março as 06:00 horas da tarde no Cemitério de
Quebrangulo. Deixando uma prole de 11 filhos, 30 netos e 17 bisnetos.
Vacinei-me com minha família no mês de maio de 1926 na Cidade de
Capela - AL.
No dia de sábado 26 de maio de 1928 morreu o compadre Totonho em
Quebrangulo - AL.
No dia quinta-feira 18 de abril de 1929, mudei-me para minha casa
construída por mim no mesmo ano.
No dia de sexta-feira às 07 horas da noite, dia 18 de outubro de 1929, na
Cidade de Pilar - Alagoas morreu meu filho Luiz e sepultou-se no Cemitério
de Capela no dia seguinte as 10 horas da manhã.
No dia de Terça feira 6 de maio de 1930 foi embora o Vigário Bancarel
para França.

No dia de Terça feira às 3 horas da manhã 18 de agosto de 1931 deu alma


a Deus o Compadre Antonio Gomes.
Em agosto de 1932 minha filha Lourdes tomou as primeiras lições de
violino em Capela das Alagoas.
O Padre Cicero nasceu na Cidade do Crato a 24 de março de 1844 e
morreu em Juazeiro no dia 20 de julho de 1934.
No dia de quarta-feira às 9 horas da manhã de abril de 1935 morreu o
Vigário de Pilar Monsenhor Francisco Maria com 65 anos. Foi Vigário de
Pilar por 38 anos.

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No dia de Terça feira 21 de abril de 1936 mudei-me de Capela onde
morei 38 anos para esta Cidade de Pilar.
No dia de Segunda feira às 5 horas da tarde 8 de junho de 1936 morreu
minha Segunda esposa Olívia Nobre, na idade de 44 anos.
No dia de sexta-feira 18 de fevereiro, às 2 horas da madrugada no ano
de 1938 morreu Guilhermina na idade de 79 anos.
Morreu Comadre Candinha no Rio de Janeiro no dia 8 de setembro de
1938.
Morreu minha irmã Sinhá no dia 18 de março de 1938 em Victoria estado
do Espírito Santo.
Minha filha Lourdes entrou no Colégio no dia 4 de fevereiro de 1937 às
4 horas da tarde. Fez exame de admissão no dia 20 de fevereiro do mesmo
ano.
Nossa casa em Pilar foi comprada em maio de 1940 ao Sr. José Felipe.
Viemos morar na referida casa no dia 20 de junho do mesmo ano.
No dia 14 de junho de 1940 compramos a Drogaria Cruzeiro em Pilar.
No dia 30 de outubro de 1940 acabei com a loja que tinha.

OBS.: Simplício Olavo de Araujo Pereira faleceu a 27 de fevereiro de 1947 no dia de


Quinta feira às 8 e 30 horas da manhã. Foi enterrado no cemitério de Pilar - AL. O enterro
foi acompanhado pelo Cônego Cavalcante.

O autor com sua esposa Rosely Cristina

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UMA LUZ, UM SORRISO, UMA ESPERANÇA

Nascia em 25 de junho de 1925 ELODIA NOBRE PEREIRA, filha de Simplício


Olavo de Araujo Pereira e Olívia Nobre, possui todas as boas qualidades da espécie
humana. Tem que ser criado em novo adjetivo na língua portuguesa para sintetizar todas
estas qualidades.
Nunca se preocupou consigo mesma, tendo no bem do próximo sua maior
preocupação. Devido seu amor extremo pelo semelhante, nunca se casou.
Católica fervorosa, de uma fé inabalável, passou sua infância e adolescência como
toda menina da sua idade. Gostava de poesia e de representar, tendo nas suas primas,
filhas de Silvia Nobre suas grandes companheiras de diversões.
Quantos primos, sobrinhos e parentes ela não preparou para a Santa Primeira
Comunhão? Com a palavra o primo Elizeu José Rêgo.
Nas festas do Engenho Lagartixa, do seu Tio Yoyo Melo, e nas festas de Santa
Efigência, era a primeira a se apresentar para os preparativos.
Irmã de Maria de Lourdes Pereira ajudou na criação dos filhos desta (José Roberto,
Goretti e Silvana) quando ainda a família morava na Fazenda Garrincha (Bom Conselho
- PE).
Com a separação do seu sobrinho Anchises Pereira de Lima, foi Elódia Nobre
Pereira que, num gesto de extrema bondade e desprendimento, assumiu a criação de
Enéias Fábio, Cristina e Anabela, filhos de Anchises Pereira de Lima. Nunca se viu Elódia
reclamar da vida. Tendo sempre uma palavra de apoio e incentivo a quem lhe procura.
No seu corpo franzino, parece um Dom Hélder de saia.
Durante todo o período da doença do seu sobrinho Anchises Pereira de Lima,
nunca mediu esforços para minimizar o sofrimento deste. Continua firme agora na
criação de seus sobrinhos Gabriel e Guma, filhos de Anabela.
Conhecida por grande parte dos sobrinhos por TITÉ, Elódia Nobre Pereira tem sua
síntese de vida numa única palavra: AMOR.

Elódia Nobre Pereira

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MÃE ZIZI, VOVÓ ZIZI, SIMPLESMENTE DONA MÃEZINHA
Por: Amaro Rocha Guedes

Outra personagem que perdura até o presente no sacrário da minha lembrança, e


que muitas vezes é citada quando mantenho palestra com pessoas que a conheceram de
perto e observam-lhe aos méritos, é MARIA CÂNDIDA DE ARAUJO, ou melhor, DONA
MÃEZINHA, como era tratada na intimidade.
Ainda criança, fomos residir, minha mãe e eu, vizinhos de sua casa, num local
pertinho da Matriz de Quebrangulo - AL, onde se ouvia quase que nitidamente os hinos
do som melodioso do órgão, executado na maioria das vezes pela cantora MARIA
ANTONIA, uma moça de meia idade que morava na Rua do Pernambuquinho.
DONA MÃEZINHA era católica praticante e tomava parte em quase todas as
irmandades, cumprindo britanicamente os preceitos emanados da Igreja. Era boa porque
havia nascido com o coração onde a maldade nunca pode entrar nem encontrar moradia.
O mês de MARIA, em sua casa, era festejado com alegria. A sala onde se
improvisava o Altar ficava repleta de seus familiares e de uma grande parte da
vizinhança. Todo engalando, o Oratório desprendia um cheiro suave de rosas e cravos.
OLAVO VIVEIROS não admitia um “piu,” era quem rezava o Terço. Austero, exigia
como era do seu feitio, silêncio absoluto.
Sempre a olhar meninos com a cara de quem advertia alguma coisa. Nós, crianças,
ajoelhadas ao pé do Altar, gaguejando, acompanhávamos a ladainha fora do ritmo e da
música, vezes até fazíamos esforços para não rirmos.
E DONA MÃEZINHA, com aquele jeito que lhe era peculiar, plácido e sereno, nos
dava a impressão de uma pessoa que havia descido do Céu. Muitas vezes ela palestrava
com minha mãe até altas horas da noite, enquanto eu, com seus netos Antônio Ivo
Vanutério e João, correndo pelas calçadas, imitávamos os “mocinhos” do cinema
americano.
Quando praticava as minhas diabruras, que não eram das menores, e minha mãe
me castigava para não reincidir nelas, abria a bocarra e gritava por DONA MÃEZINHA,
a qual corria disposta a me acudir. Depois de me arrancar das mãos de minha mãe,
quando boas chineladas já haviam sido aplicadas, DONA MÃEZINHA me acariciava
com ternura de uma avó carinhosa e dedicada, alisando os meus cabelos.
DONA MÃEZINHA ensinava-me lindos provérbios, frases pitorescas e orações
para serem rezadas à hora de deitar. Aprendi a fumar experimentando os seus
cigarrinhos enrolados com palha de milho.
É por isso que muitas vezes recordo com saudade aquela doce e meiga senhora
tendo o grande privilégio de ser seu amigo. Dela ouvi palavras que foram fontes de
incentivo que me ajudavam a vencer na vida, iluminando-me a inteligência.
O seu falecimento muito me comoveu. Perplexo, senti como se fosse uma pessoa
que fizesse parte da minha família. Por ela sempre tive adoração e respeito. Desapareceu
do nosso convívio uma criatura que na vida só tinha um ideal sagrado: ESPALHAR POR

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TODA PARTE O BEM, desfraldando a bandeira acolhedora de suas boas maneiras
àqueles que necessitavam de uma palavra carinhosa, a fim de solucionar um problema
íntimo qualquer.
Mas, creio, o Céu deve ter aberto suas portas, festivo, para a entrada de mais um
justo.

Dona Mãezinha, bisavó paterna do autor

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A TROCA DO NOME

A família Medeiros teve seu tronco inicial na Lagoa do Meio, região que fica entre
Palmeira dos Índios e Quebrangulo, mesmo local que nasceu o escritor e quebrangulense
Graciliano Ramos.
Aí nasceram: Júlio, Nelson, Sebastião, José e outros irmãos, todos com o
sobrenome Medeiros. Júlio Alexandre da Silva, conhecido também como Júlio Costa (no
início de sua vida trabalhou com um cunhado Lourenço Costa, daí o Costa), tinha como
nome de batismo Júlio Medeiros da Silva.
Quis o destino que Gumercindo Medeiros, primo legitimo de Júlio tomasse deste
uma namorada. Aí o pau cantou, e Júlio não teve dúvida, foi ao cartório e trocou o
Medeiros por Alexandre.
Com o passar do tempo, a rusga terminou e a amizade dos primos Júlio e
Gumercindo continuou. Todos os filhos de Júlio têm Alexandre como sobrenome
quando, o certo, o correto, deveria ser Medeiros. Não importa se Júlio Medeiros, Júlio
Alexandre, Júlio Costa ou Seu Júlio como era conhecido, o que importa ratificar é a grande
personalidade da qual foi possuidor esta extraordinária criatura.
Amigo dos amigos, tendo como característica principal do seu caráter a
honestidade com que tratava seus negócios. Esta principal característica ele conseguiu
incutir em cada um dos seus filhos e netos.

Gumercindo de Araújo Medeiros e sua esposa Ana Julia de Medeiros (Donana)


Ele primo legítimo de meu avô paterno e ela prima legítima da minha avó paterna

Cansado, chegava da labuta e soltava um suspiro característico, acompanhado de


duas palavras: CARAMBA SAMPALANGÁ! (uma gíria aprendida na sua mocidade que
até hoje não sabemos o significado). Desprendido das coisas materiais, e em pleno vigor
da terceira idade, dividiu seus bens com todos os filhos, numa prova inconteste de amor

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pelos seus. Seu Júlio gostava de cozinhar e seu café da manhã tinha um prato especial:
Ovos mexidos com mel de abelha, acompanhando de cuscuz de milho e leite.
Não dormia sem lavar os pés em água morna e todas as doenças ele tratava com
Aguardente Alemã, Quixabeira, Sambacaitá, Aroeira, Jindiroba, Cabacinho, Mussambê.
Era um amante dos produtos fitoalopáticos.
Seu grande amigo, o amigo certo de todas as horas, foi seu cunhado Silvino, que
ele chamava com carinho de Compadre Sirvino.
Seu Júlio está em outra dimensão, porém seu legado de exemplos jamais será
esquecido.

Júlio Alexandre e seu primeiro bisneto Alexandre Dimas - 1974

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ARTHUR DE ARAUJO PEREIRA RAMOS
“O CIENTISTA DA FAMÍLIA”

Nascido em Alagoas no ano de 1903, Arthur de Araújo Pereira Ramos é filho de


Dr. Manoel Ramos de Araujo Pereira e de Ana Ramos de Araujo Pereira. Dr. Manoel
Ramos de Araujo Pereira sempre foi conhecido em Pilar e região como Dr. Ramos
(Médico formado pela Faculdade da Bahia), sendo o mesmo o elo que liga os Araujo
Pereira que ficaram na Zona da Mata Norte de Pernambuco, dos que fugiram para a
região que fica entre Bom Conselho - PE e Quebrangulo - AL. Simplício Olavo de Araujo
Pereira tinha por este primo uma consideração toda especial. Do casamento de Manoel
Ramos de Araujo Pereira e Ana Ramos de Araujo Pereira nasceram: Luis, Evangelina,
Raul, Nilo, Aluisio, Georgina, Julieta e Artur de Araujo Pereira Ramos, o nosso cientista.
Quando o viajante alemão Hans Staden escreveu, na metade do século XVI, sua
“História Verdadeira e Descrição de um país de Selvagens Despidos e Antropófagos” um
relato dos costumes dos índios tupinambás. A primeira pesquisa antropológica do campo
acabava de ser feita no Brasil. Três séculos depois, quando Dom Pedro I subiu a bordo
dos navios que traziam imigrantes europeus e comparou sua estatura com a deles, costas
as costas estavam sendo feitas as primeiras mensurações antropológicas registradas na
história do país. Acasos e improvisações, no entanto, só cederam lugar aos estudos
científicos no século XX, com Curt Ninuendaju, Nina Rodrigues e, entre eles, Artur de
Araujo Pereira Ramos (1903 – 1949), antropólogo e folclorista, autor de 458 trabalhos
originais sobre psicanálise, higiene mental, educação, religião e folclore, é hoje
reconhecido como grande pioneiro da antropologia aplicada no Brasil.
Formado em medicina, Ramos abandonou a psicopatologia em 1934 – de onde
havia partido como seu mestre, Nina Rodrigues, e resolveu dedicar-se aos estudos
antropológicos, publicando o livro “O Negro Brasileiro”, que projetou seu nome. Sua
obra mais importante, entretanto, apesar de básica para todos os estudiosos de ciências
sociais, continuava esgotada desde que a Segunda edição de 1951, foi inteiramente
vendida.
Rápidas mudanças – Em quatro volumes (“O Negro na Civilização Brasileira”,
“As Culturas Indígenas”, e “As Culturas Européias”), a “Introdução” examina as culturas
Negras, Indígenas, Européias e os contatos raciais e culturais no Brasil.
Preparada durante a Segunda Guerra mundial reúne todo o conhecimento da
época sobre o homem brasileiro, suas origens e manifestações. Embora a bibliografia que
Ramos relacionou daquele período lhe era estranha, sua obra se ressente, em alguns
pontos, das transformações que a antropologia, ciência nova, sofreu durante as rápidas
mudanças operadas no mundo nos últimos trinta anos. Os dados antropométricos, por
exemplo, muito usados numa época em que fé e propaganda política falava em tipos
branquicéfalos (indivíduo cujo crânio tem forma de um avo) e delicocéfalo (indivíduo
cuja largura do crânio tem quatro quintos do comprimento), foram depois relegados a
segundo plano na antropologia. Pequenas omissões, porém, não são suficientes para
reduzir a importância da obra de Artur Ramos, antes de tudo pioneira e vasta.

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A dignidade do homem – De fato, sua “Introdução à Antropologia Brasileira”
compõe um mosaico que representava gente de todas as nacionalidades convivendo
pacificamente no cenário rico e único de um grande país acolhedor, trazendo e fundindo
suas culturas de origem, para a formação de algo ainda indefinido, mas de grandeza
previsível. Negros, Índios, Judeus, Holandeses, Portugueses, Espanhóis, Ingleses e
Franceses, imigrantes de todas as latitudes, enriquecendo o patrimônio de um país,
somando culturas, temperamentos, tipos físicos diversos – essa a visão global transmitida
pela obra de Artur Ramos.
Alguns conceitos modernos, entre eles o de desenvolvimento, surgiram desse
trabalho, em que se evidenciava antes de tudo a preocupação com o bem-estar e a
dignidade do homem. Em conferência que realizou em 1941, na Sociedade Brasileira de
Antropologia – é o etnólogo Manuel Diegues Junior quem lembra no prefácio de um dos
volumes -, Arthur Ramos pregava a aplicação dos resultados da antropologia à solução
dos problemas do homem brasileiro. Sem esse sentido, ele achava que essa ciência social
perdia muito do seu significado e corria o risco de passar por um jogo fascinante, mero
entretenimento intelectual.

Dr. Manoel Ramos de Araújo Pereira, médico (1920), primo legítimo de Simplício de Araújo
Pereira e pai do Dr. Arthur de Araújo Pereira Ramos

Essas conclusões, de certa maneira, ficam enfeixadas pelo quarto volume da


“Introdução”, dedicado ao que o autor chama de “a grande aventura européia em terras
do Brasil”. Nele, Arthur Ramos traça com minúcias as características raciais das
principais correntes migratórias que ajudaram a compor a população brasileira e
continuaram gerando tipos novos e imprevistos.
Apesar de sua idade, a obra de Arthur Ramos, especialmente nesses estudos,
permanece atualizada – por sua imensa coleta de material e por sua exposição
pormenorizada. Médico, Professor, Chefe do serviço de Higiene Mental do antigo
Distrito Federal e Chefe do Departamento de Ciências Sociais da UNESCO, em Paris,

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Arthur Ramos não teve, muitas vezes, por premência de tempo ou por modéstia, a
intenção de interpretar, a não ser em suas linhas gerais, a infinidade de dados de que
dispunha. Mas a realidade em que baseou sua obra não envelhece nem depende de
pontos de vista. No museu da Casa de José de Alencar em Fortaleza tem um espaço
científico para este grande cientista, e na cidade de Pilar-AL, terra natal de Arthur Ramos,
existe outro museu na casa que nasceu o ilustre parente.

José Roberto e suas irmãs Goretti e Silvana – 1957

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O CASAMENTO DE LIA GUEDES
José Guedes

Maria José Araújo, conhecida na família por LIA, era filha de José Gomes de Araújo
(Cazuza) e de Maria Cândida de Araújo.
Esta excelente criatura e mãe exemplar nasce no dia 15/08/1903 na Fazenda
Carangueja no Município de Quebrangulo - AL.
Era dia da festa de Assunção de Nossa Senhora. Casou com Manoel Guedes
Sobrinho no dia cinco de setembro de 1922.
Casou, como se dizia na época, fugida, pois seus pais não aceitavam este namoro
devido ser norma dos Araújo Pereira o casamento entre primos. Manoel Guedes foi o
primeiro a enfrentar esta situação, pois, viu, gostou e roubou.
Nesta ocasião, havia um circo instalado em Quebrangulo de nome MOSA e, foi
aproveitando que todos os parentes estavam no espetáculo, que Manoel Guedes e Lia,
decidiram fugir. Talvez a alegria de viver e as boas risadas de Lia e Manoel Guedes tenha
origem neste fato, pois tudo começou no circo. Fugir para casar nesta época era uma festa,
pois os pais às vezes sabiam e faziam vista grossa.

Família Guedes
Década de 50

Fizeram parte da caravana para a fugida de Lia, Pedro Tenório Madruga, Didier
Bernardo, Belarmino de Albuquerque (Belo) e como não poderia deixar de ser, tudo isso
na companhia do sanfoneiro afamado José de Guiler.

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Todos os preparativos para a fuga tiveram a cooperação de duas amigas de Lia;
Anália e Natália. As roupas pessoais e o enxoval foram costurados em grandes toalhas e
colocadas nas garupas dos cavalos. Lia fugiu montada no cavalo “Ensião” indo
inicialmente para a Fazenda Encantado, de propriedade do Sr. José Guedes, onde casou
na Capela do Colégio de Nossa Senhora do Bom Conselho, na cidade do mesmo nome,
município de Pernambuco. Já casada, foi morar na Fazenda Pirauá para em seguida ir
residir nas Cacimbinhas fazenda recebida como herança da sua mãe.
Figura alta, olhar penetrante e possuidor de uma gostosa gargalhada, Manoel
Guedes foi líder político na região de Cacimbinhas e Rainha Izabel, chegando a Vereador
por Bom Conselho. Seu partido a UDN (União Democrática Nacional).
A sua principal rival na política local foi Dona Tercília do Amaral Vilanova, da
Fazenda Taquari. Tomador inveterado de rapé, Manoel Guedes Sobrinho é nome do
Mercado Público de Bom Conselho, numa justa homenagem a este grande homem.
Lia faleceu no dia 25/3/1987, sendo dia de festa da Anunciação de Nossa Senhora,
deixando mais de 200 descendentes diretos.

Lourdes Barreira e sua tia Maria de Lourdes Pereira, mãe do autor

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RAINHA IZABEL, SUA HISTÓRIA

É importante que a juventude de Rainha Izabel tenha conhecimento de sua


história, de suas tradições. Só se quer bem àquilo que se conhece. Vamos aos fatos:
A partir de 1870 os escravos fugitivos provenientes de Quebrangulo, Bom
Conselho, Palmeira dos Índios e outras regiões iniciaram um quilombo numa área que
ficava ao sul da Cidade de Bom Conselho - PE. Esta região de terras férteis e com bastante
água propiciou para os escravos uma boa cultura de subsistência como feijão, milho,
mandioca e uma variedade de frutas muito grande. Este quilombo inicialmente teve
como nome TUPIATI que em língua garnijo (dialeto africano) que quer dizer ALDEIA
DE PRETOS e também era conhecido como MORRO DO QUILOMBO.
É importante lembrar que, estes negros são descendentes diretos dos negros do
Quilombo dos Palmares cujo principal Rei foi o Canga Zumba.
Nesta época havia uma família sedimentada no local conhecido como Fazenda
Cacimbinhas, família esta que teve como Patriarca inicial FRANCISCO GOMES DE
ARAÚJO PEREIRA (Frade) casado com ANA JOAQUINA DE ALBUQUERQUE.
Um dos filhos desse casal, Urbano Gomes de Araújo Pereira oferecia uma
assistência especial a este Quilombo, evitando com força política qualquer tipo de atrito
entre autoridades e os componentes do referido Quilombo. Esta região era passagem
obrigatória entre o Sertão de Pernambuco e a região canavieira de Alagoas.
Um pouco antes do referido Quilombo, havia uma fazenda que servia de pousada
para os viajantes, fazenda esta de propriedade de MARIA DANTAS. Esta senhora fria e
sanguinária oferecia todo apoio principalmente aos que se deslocavam para Viçosa-AL
levando gado para vender. Maria Dantas sabia que na volta o infortunado viajante iria
procurar mais uma vez pousada. Com uma frieza muito grande Maria Dantas
assassinava o incauto e escondia seu corpo.
Ainda hoje esta região é conhecida como ENCANTADO e fica localizada entre
Lagoa de São José e Rainha Izabel.
Havia na época duas localidades que por motivos trágicos e pelo simbolismo que
foi criado não prosperam.
A primeira localidade, TAQUARI VELHO, onde foi assassinado o Padre Morais,
político Alagoano e Deputado Provincial. Foi crivado de balas na porta da capela que ali
existia. Em conseqüência houve uma luta de vingança muito grande.
Na Segunda localidade, TAQUARI NOVO, o indivíduo José Couto assassinou
João Francisco de Oliveira que era casado com Ana Francisca de Oliveira.
Um dos filhos desse casamento foi Miguel de Oliveira conhecido como Miguel de
Aninha que vem ser pai de Cláudio Pessoa Oliveira e Clarício Pessoa Oliveira.
Os dois povoados Taquari Velho e Taquari Novo não mais existem e, segundo o
povo, foi um castigo de Deus.

- 50 -
Com o passar dos anos o MORRO DO QUILOMBO foi crescendo, sendo seus
pretos bastante caracterizados dentre as raças iniciais provenientes da África, como os
Catimbaus, Semeões, Satus e os Queles.
Parte destas famílias de negros chegaram à região acompanhando os fugitivos da
Revolução de 1817.

Pe. Alfredo Pinto Dâmaso


Ex-capitão Capelão da Revolução 1930, amigo de Getúlio Vargas e Juarez Távora
Foi um dos maiores defensores dos índios Xucurús e Fulniôs
Fundador do Distrito de Rainha Izabel – Bom Conselho-PE

- 51 -
A CONSTRUÇÃO DA CAPELA DE RAINHA IZABEL

Com o passar dos anos e o crescimento do povoado, era necessário à construção


de uma Capela. Dentro desta idéia, alguns chefes de famílias tradicionais fizeram a
doação de um terreno mediante escritura pública, terreno este de quarenta braças
quadras e no valor estipulado de duzentos mil réis.
Fizeram a doação os senhores Edmundo Ribeiro dos Anjos, Teófanes Ribeiro dos
Anjos e Antonio Pereira de Lima. Estamos em 8 de dezembro de 1937.
Sobre este ano é preciso acrescentar:

a) Está na Capela de São Pedro em Roma sua Santidade Pio XI.


b) O Arcebispo de Olinda e Recife e Sua Excelência Dom Miguel de Lima Valverde.
c) A Diocese de Garanhuns sob o Governo Capitular do Padre José de Anchieta Callou.
d) É Presidente do Brasil Dr. Getúlio Dornelles Vargas.
e) O Chefe Político de Bom Conselho é o Coronel José Abílio.
Neste dia 8 de dezembro de 1937, o Padre Alfredo Pinto Damaso fez o lançamento
da primeira pedra da futura Igreja de Rainha Izabel. Como o início do povoado teve a
força do Quilombo Tupiati e para comemorar o 50º aniversário da libertação dos escravos
e numa homenagem à Redentora dos negros o povoado passou a se chamar Princesa
Izabel.
O nome certo correto deveria ser até hoje Princesa Izabel.
A Prefeitura de Bom Conselho mudou o nome para Rainha Izabel, alegando já
haver uma Princesa Izabel na Paraíba. Isto é um erro histórico que tem que ser reparado
por sua comunidade e seus políticos devido:

1) No Brasil não houve Rainha com o nome de Izabel e sim, Princesa Izabel, a
Redentora dos Escravos.

2) Porque, sendo a fundação do povoado uma homenagem a Princesa Izabel, por


ocasião da festa das Bodas de Ouro da abolição da escravatura, ficaria sem razão
de ser o motivo da fundação da localidade. Logo, o nome correto tem que ser
Princesa Izabel. (Na Lei que criou o Distrito está escrito: “PRINCESA IZABEL”)
A Capela tem como padroeira Santa Izabel da Hungria, cuja festa é no Dia 19 de
novembro, por sinal, dia da Bandeira Nacional. Esta imagem é de madeira, medindo 1,20
sendo adquirida na Casa Santa Cruz no Rio de Janeiro ao preço de 3 contos e 750 mil réis.
O sino da referida Igreja também foi comprado na Casa Santa Cruz, pesando 50kg
e no valor de 2.500 réis.
Participaram do lançamento da pedra fundamental da Igreja de Santa Izabel da
Hungria: Padre Alfredo Pinto Damasco, Manoel Ferreira, Lino José de Araujo, Manoel
Tenório, José Albuquerque de Araujo, Arquimedes Crespo, Odom Braga, Gaudêncio
Cavalcante Melo, Pedro Horácio dos Anjos, Antônio Gonçalves Junior, Manoel Guedes

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Sobrinho, Aristides Tenório, Otaviano Pereira, Izaura Tenório de Albuquerque, Antônio
Meireles de Souza, José Mecena, João Mecena, Lúcio Duarte, Pedro Ribeiro dos Anjos,
Luiz Salmon dos Anjos, além de inúmeros fieis que assistiram à Missa de lançamento da
Primeira Pedra Fundamental.
Os trabalhos da construção foram iniciados em janeiro de 1938, tendo a
coordenação de Manoel Ribeiro Sobrinho. A Capela tem 27 metros de largura por 8
metros de altura, sendo sua planta elaborada pelo Padre Alfredo Damasco. Em 19 de
novembro de 1939 foi feita a bênção da imagem de Santa Izabel da Hungria, juntamente
com a inauguração da casa Paroquial. Neste dia, realizou-se a primeira festa da Padroeira.

PARÓQUIA DE SANTA IZABEL DA HUNGRIA


Planta: Pe. Alfredo Pinto Dâmaso
Construtor: Manoel Ribeiro Sobrinho
Rainha Izabel- Bom Conselho-PE

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CRIAÇÃO DO DISTRITO DE RAINHA IZABEL
LEI 35

O Prefeito de Bom Conselho: Faço saber que à Câmara de Vereadores decretou e


eu sanciono a seguinte resolução:
Art.1: Apoiada nos artigos 103/123 alínea VIII da Constituição Estadual, resolve
criar o Distrito de Princesa Izabel.
Art.2: O novo Distrito limitar-me-á, pelos pontos seguintes: Ao lado, este partirá
da barra do Riacho Alabarí, onde despeja no Rio Bálsamo, subindo por este para o lado
norte, até a barra do Riacho Seco, daí rumo à Fazenda Traipú rumo ao Riacho Pirauá,
passando pela Fazenda Escuta, daí subindo em direção a Fazenda Alabary, de
propriedade de Aurino Tenório da Fonseca, daí subindo pela cordilheira, pegando a
Fazenda Mata Verde: ao oeste da Fazenda Mata Verde, descer em direção a Fazenda
Grutão, seguindo pela Fazenda Floresta, e daí a Fazenda Olho D’água, donde segue pela
serra a encontrar a linha do telegrafo, dividindo-se pela mesma até a Fazenda Barra Nova
na divisão com o Estado das Alagoas; ao sul descendo pela Fazenda Mulungu, dividindo-
se com o Estado das Alagoas, até o Rio Bálsamo, descendo pelo mesmo rio até o ponto de
partida.
Parágrafo Único – São respeitados os limites dos distritos policiais e as atividades das
suas autoridades.
Art.3 Revogam-se as disposições em contrário.

Prefeitura Municipal de Bom Conselho, em 29 de novembro de 1948.

José Abílio
Prefeito

José Abílio foi nomeado pelo governador Manoel Borba em fevereiro de 1919
Chefe Político de Bom Conselho

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RAINHA IZABEL.
LUTA PELA EMANCIPAÇÃO

Com o crescimento da região, era necessário transformar Rainha Izabel em


Município, sendo que em 1963, o então Governador Miguel Arraes de Alencar fez este
sonho transformar-se em realidade, passando Rainha Izabel à condição de Município.
Um fato importante fez com que Rainha Izabel voltasse à condição de Distrito.
Aproveitando a ingenuidade do povo, um político local passou um abaixo assinado
informando à comunidade que este documento iria facilitar a emancipação. Com todas
as assinaturas na mão, o referido político, fez uma carta às autoridades informadas,
justamente, o contrário, ou seja, que o povo de Rainha Izabel não desejava a emancipação.
Este político fez isto com medo de perder seu curral eleitoral, pois sendo Rainha
município, outras lideranças teriam que surgir, foi a primeira grande traição ao povo da
Rainha Izabel. A luta teve continuidade atendendo solicitação do Vereador GERALDO
GUEDES, o Deputado Estadual FELIPE COELHO entrou com um projeto de Lei
Complementar número 10456 de 12 de julho de 1990, criando o Município de Rainha
Izabel.
Por preencher todos os requisitos necessários para se transformar em município,
o Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco, em reunião realizada no dia 6 de setembro
de 1991, às 14 horas, votou favorável à realização do plebiscito que foi marcado para o
dia 15 de setembro de 1991. Se o plebiscito tivesse sido realizado nesta data, não tenho
dúvida que hoje Rainha Izabel seria município. Os Deputados João Braga (para o povo
da Rainha foi uma PRAGA) e Djalma Paes suspenderam o plebiscito do dia 15 de
setembro de 1991, alegando que os projetos de emancipação não passaram pela Comissão
de Justiça.
No intervalo entre a primeira e a segunda data marcada para o plebiscito, foi o
tempo necessário para que um político de Bom Conselho elaborasse um abaixo assinado
(a Segunda traição da nossa história) alegando que o povo da Lagoa de São José (este
Distrito passaria a pertencer a Rainha Izabel) iria provocar uma reação muito grande
contra a criação deste novo Município. O plebiscito teria que ser resolvido no voto secreto
e soberano e, se o povo da Lagoa de São José não desejasse esta emancipação, que votasse
contra. FOI TUDO RESOLVIDO NA POLÍTICA BAIXA DE ARRUMAÇÃO.
Com toda esta pressão de bastidores, o Governador Joaquim Francisco de Moura
Cavalcante pediu ao Deputado Felipe Coelho que retirasse o projeto da pauta de votação
cinco minutos antes da reunião.
A HISTÓRIA IRÁ JULGAR OS TRAIDORES. O que faltou para a emancipação de
Rainha Izabel?

1. Apoio de um Deputado Estadual comprometido com nossa gente e com


desenvolvimento de Rainha Izabel.

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2. Maior movimentação, esclarecimento e orientação ao povo da Rainha Izabel, através
das suas lideranças locais, informando as vantagens desta emancipação. FALTOU
GARRA, LUTA e MARKETING.

É importante informar à comunidade de Rainha Izabel todos que lutaram por sua
emancipação: GERALDO GUEDES, FELIPE COELHO, JOSÉ ROBERTO PEREIRA, Dr.
CID, JOSÉ GUEDES, CICI PADILHA, SÓSTENES, ANTÔNIO DE BRÁS, VALDOMIRO
COLATINO, ANTÔNIO GUEDES, JOSÉ AMORIM, ALUIZIO FILIZARDO CLARICIO
PESSOA, JOÃO COSTA e tantos outros que amam nossa gente e só desejam nosso
desenvolvimento.

Aos traidores da Rainha nosso protesto. A LUTA CONTINUA!

Pai do autor, João Costa e seu cavalo Patuá

- 56 -
PADRE DIMAS,
UM AMIGO, UM EDUCADOR

A Congregação do Sagrado Coração de Jesus foi fundada pelo Padre Holandês


JOÃO DEHON, tendo como filosofia principal o incentivo à cultura, através dos seus
colégios, e a criação de novos padres, através dos seus seminários.
No nordeste brasileiro, vários estabelecimentos de ensino foram criados, como o
Seminário da Floresta em Fortaleza-CE, o Seminário Menor da Várzea, o Seminário Maior
em Paudalho - PE, Colégio São João, em Recife e o Colégio Pio XII, em Palmeira dos Índios
no Estado de Alagoas.
Dos estabelecimentos de ensino para leigos se destacaram o Colégio São João em
Recife e o Colégio Pio XII em Palmeira dos Índios-AL.
Várias gerações de jovens passaram por estes colégios tendo na fonte do saber
educadores como Pe. Clóvis, Pe Expedito, Pe. Estevam, Pe. Afonso, Pe. Estanislau, Pe.
Mauro Daniel, Pe. Alberto, Pe. Lemos, Pe. Carlos Mesquita, Pe Antônio, Pe. Abelardo, Pe.
Orlando, Pe. Juarez, Pe Gerônimo, Pe Chaves, Pe. Oséias, Pe. Ludjero, Irmão João de Deus
Quirino e tantos outros, porém, a estrela maior desta constelação, o educador dos
educadores, chamava-se DIMAS GOMES DE BRITO, ou simplesmente Pe. DIMAS.
Fundador e primeiro Diretor do Colégio Pio XII em Palmeira dos índios e
posteriormente Diretor do Colégio São João, em Recife, Pe. Dimas sabia ser austero com
a bondade do justo, era firme sem perder o carinho. Não conheço um ex-aluno do Pe.
Dimas que tenha algo a reclamar desta criatura, pelo contrário, cada um deles tem uma
palavra melancólica de carinho para com este extraordinário educador. O Colégio São
João fica na Rua Benfica, no Bairro da Madalena, em Recife. Prédio antigo, que tinha sido
hotel no início deste século, o Colégio São João tinha uma característica especial, ou seja,
qualquer aluno que tinha dificuldade de relacionamento e era expulso de qualquer
colégio, a família mandava para o São João, dentro da máxima: “Pe Dimas fará dele um
bom aluno”. Neste trabalho de orientação e ensino, Pe. Dimas tinha um Secretário da
maior eficiência, querido dos Alunos, Rosendo Gomes Ramos.
José Roberto Pereira teve o privilégio de ser amigo e confidente do Pe. Dimas e foi
convidado por ele para acompanhá-lo em sua última viagem a Fortaleza na companhia
do também querido Pe. Oséias.
Nesta Semana Santa de 1968 José Roberto havia recebido uma carta de sua mãe
solicitando sua presença em Bom Conselho e, como toda carta para aluno interno passava
pelo crivo do Diretor, o Pe. Dimas, num gesto de bondade, retirou o convite da viagem à
Fortaleza e facilitou sua ida à Bom Conselho.
Viajaram os dois, Pe. Dimas e o Pe. Oséias, irmãos em Cristo, para a fatídica
viagem. O veículo era um Jeep Toyota capota metálica bastante seguro.
Na volta de Fortaleza, no percurso entre Mossoró e Natal, houve o acidente. Pela
segurança do Jeep talvez algumas escoriações, porém, na parte de trás do Jeep, havia um

- 57 -
caixote de madeira cheio de livros completamente solto o qual foi o instrumento que
casou os ferimentos mortais nos Padres Dimas e Oséias.
Aparentemente em bom estado de saúde e sem nenhuma escoriação visível, Pe.
Dimas retirou seu companheiro das ferragens retorcidas e nos braços fortes o levou até a
pista.
Era à tarde do dia 11 de abril de 1968 e a estrada com pouco movimento. Após
espera angustiosa Pe. Dimas conseguiu uma carona até Natal, com a preocupação de
socorrer Pe. Oséias na UTI do hospital. Com toda a burocracia resolvida, Pe. Dimas
solicitou um quarto para tomar um banho e descansar um pouco. Morreu dormindo,
devido derrame interno provocado pelas pancadas recebidas.
José Roberto perdeu um amigo, Deus ganhou um confidente. Numa simples
homenagem a este grande homem, seu filho mais velho chama-se Alexandre DIMAS.
O corpo do Pe. Dimas está enterrado no Cemitério da Várzea, em Recife.

Alguns dados biográficos sobre o Pe. Dimas:

- Nasceu em 02 de junho de 1917.


- Profissão de Fé em 02 de janeiro de 1938
- Ordenou-se em 30 de novembro de 1943.
Sua vida foi uma continua doação. Por onde passava irradiava alegria e otimismo.

- 58 -
A AMIZADE DO CEL. ZEZÉ ABÍLIO COM VIRGULINO (LAMPIÃO)

Segundo o historiador, filho de Garanhuns, Antônio Vilela de Souza


(incrívelmundo@hotmail.com) o cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião tinha
uma atenção especial por Bom Conselho-PE, principalmente aos Cel. Zezé Abílio.
Durante a década de 20 do século passado, as irmãs de Lampião e seu irmão mais novo
Ezequiel Ferreira da Silva, o Ponto Fino, tinham residência em nosso município sob a
proteção do Cel. Zezé Abílio. Lampião quando vinha a Bom Conselho assistia filmes no
Cine Rex. Na companhia do Cel. Zezé Abílio visitou Recife, conheceu Olinda, andou de
bonde, conheceu praias e consultou um médico oftalmologista.
O meu grande amigo, já falecido, José Marcolino Alves, compositor de músicas
como Casa de Reboco, Cacimba Nova, Boca de Caieira, dentre outras, era um fã
incondicional de Lampião e para tirar dúvidas sobre a data de nascimento do Virgulino,
ele me presenteou com uma cópia da certidão de nascimento dele. É importante observar
que durante a Guerra do Paraguai, como o Brasil não possuía um bom exército regular
de linha, o Imperador D. Pedro II, através de Decreto Lei, criou os Voluntários da Pátria.
Esses voluntários eram em sua maioria formada pela comunidade negra, aos quais era
prometida sua liberdade se fossem servir na Guerra do Paraguai, através dos Voluntários
da Pátria. A responsabilidade desses regimentos ficava sempre com um Major ou Coronel
da Guarda Nacional e eram localizadas no interior dos estados nordestinos.
Com o término da Guerra, estes voluntários voltaram para sua origem, sem
emprego, sem dinheiro, sabendo apenas manusear bem a sua arma. Estes ex-voluntários
passaram a servir sobre as ordens de algum Coronel, alugando sua arma nesta guerra de
fronteiras, pela posse da Terra entre fazendeiros dos sertões nordestinos. Organizaram-
se também em bandos e passaram a ser chamados de cangaceiros. Existem algumas
versões sobre o nome cangaço. Alguns historiadores afirmam que o nome vem da canga
de boi, ou seja, o cangaço era uma amarração “de vida muito forte entre o ex-voluntário
e o dono das terras”. Cangaço também é conhecido no Nordeste como os restos do gado
bovino comido pelo urubu. No final do século XIX, o mais importante cangaceiro foi
Jesuíno Brilhante.
No início do século passado tivemos Antônio Silvino o “Rifle de Ouro”. O mais
importante de todos eles foi, Virgulino Ferreira da Silva.
Existem algumas dúvidas sobre a data correta do nascimento de Lampião e, para
tirar estas dúvidas, passamos a transcrever o original dessa certidão de nascimento (que
você lê na sequência).

- 59 -
CERTIDÃO DE NASCIMENTO DE “LAMPIÃO”

Este trabalho retrata fatos interessantes passados não só com a Família Araujo
Pereira, como também informa acontecimentos que podem servir de consulta para
futuras gerações.
Como se sabe, um dos maiores fenômenos do Nordeste foi a figura do Capitão
Virgulino Ferreira da Silva, conhecido por Lampião, “O Rei do Cangaço”.
É importante observar que durante a GUERRA DO PARAGUAI, como o Brasil
não possuía um bom exército regular de linha, o Imperador D. Pedro II, através de
Decreto Lei, criou os Voluntários da Pátria. Estes Voluntários eram em sua maioria
formados pela comunidade negra, aos quais era prometida sua liberdade se fossem servir
na Guerra do Paraguai através dos Voluntários da Pátria. A responsabilidade destes
regimentos ficava sempre com um Major ou Coronel da Guarda Nacional e eram
localizadas no interior dos estados nordestinos.
Com o término da Guerra, estes voluntários voltaram para sua origem, sem
emprego, sem dinheiro, sabendo apenas manusear bem a sua arma. Estes ex-voluntários
passaram a servir sobre as ordens de algum Coronel, alugando sua arma nesta guerra de
fronteiras, pela posse da Terra entre fazendeiros dos sertões nordestinos. Organizaram-
se também em bandos e passaram a ser chamados de cangaceiros. Existem algumas
versões sobre o nome cangaço. Alguns historiadores afirmam que o nome vem da canga
do boi, ou seja, o cangaço era uma amarração “de vida muito forte entre o ex-voluntário
e o dono das terras”. Cangaço também é conhecido no Nordeste como os restos do gado
bovino comido pelo urubu.
No final do século passado, o mais importante cangaceiro foi Jesuino Brilhante.
No início do século passado tivemos Antônio Silvino o “Rifle de Ouro”. O mais
importante de todos eles foi, VIRGOLINO FERREIRA DA SILVA.
Existem algumas dúvidas sobre a data correta do nascimento de Lampião e, para
tirar estas dúvidas, passamos a transcrever o original desta certidão de nascimento.
Rita Gomes Filha, Oficial do Registro Civil de Tauapiranga, Município e Comarca
de Serra Talhada do Estado de Pernambuco; em virtude da Lei, etc., etc.

CERTIDÃO

Certifico que no livro número 02, folhas S.V. Foi lavrado aos doze dias do
mês de agosto de mil novecentos neste terceiro distrito do Município de Villa Bella
Estado de Pernambuco, compareceram ao meu cartório José Ferreira dos Santos, e
perante as testemunhas abaixo assignadas e nomeadas declarou. QUE NO DIA SETE DE
JULHO DE MIL OITOCENTOS NOVENTA E SETE nasceu uma criança do sexo
masculino filho legitimo delle declarante e Maria Sulena da Purificação. Avós paternos:
Antônio Ferreira de Barros e Maria Francisca da Chaga e avós maternos: Manoel Pedro

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Lopes e Jacoza Vieira da Solidade e que foi baptizado com o nome de VIRGULINO
FERREIRA DA SILVA sendo padrinhos: Manoel Pedro Lopes e Maria José da Solidade.
E para constar lavrei o presente termo em vias pelas testemunhas do declarante
assignado a rogo do declarante por não saber escrever. Manoel Pedro Lopes.

Eu José Honório de Maura, escrivão, escrevi. José Ferreira dos Santos. Manoel
Pedro Lopes. Antônio Francisco de Souza. José Bernardino de Souza. José Honório de
Moura.

O referido é verdade e dou fé.

Rita Gomes Filha

Virgulino Ferreira da Silva


O Lampião

- 61 -
O PAU DE MERDA

Estamos no inverno de 1933, mais uma tarde melancólica caía sobre Quebrangulo.
Dona Mãezinha, sentada na calçada em sua cadeira preferida, fumava seu cigarro de
palha. Padre Moisés ultimava os preparativos para a novena que teria início aquela noite.
O trem que chegava de Maceió resfolegava por trás da casa de Dona Mãezinha. A
chegada do trem trazia as novidades da Capital como os últimos combates de Lampião
com a Força Pública Alagoana. Brincando no oitão da Matriz, os netos de Dona Mãezinha;
Antônio Ivo, Vanutério, João, e outras crianças da Rua da Matriz estavam planejando
uma maneira de “pegar” o Padre Moisés. Antônio Ivo, o mais prezepeiro dos primos,
teve uma boa idéia: Apanhou uma vara, lambuzou-a de merda e quando avistaram a
chegada do Padre Moisés teve início o “bate boca” entre Vanutério e Antônio Ivo:

- Vanu você só briga porque está com esta vara.


- Você é que pensa Antônio, dou em você com vara, sem vara, no braço.
- Então vamos no braço…

Padre Moisés, vendo aquilo, se aproximou e, após um pequeno sermão, tomou a


vara das mãos de Vanutério. Com a puxada da vara toda a sujeira passou para a mão do
infortunado Padre.

Nesta noite o cinturão de Júlio, pai de Vanutério e João, e o cinturão do pai de


Antônio Ivo, ficaram mais quentes, assim como o couro de cada um dos primos.

João Alexandre, Rosalva e Antônio Ivo - 1934

- 62 -
PALMEIRA DOS ÍNDIOS-AL, ANOS DOURADOS DE 1964 a 1967.

José Roberto Pereira, com 17 anos, morava em Palmeira dos Índios, na casa do Tio
Chico, marido de Nazaré.
Deste casal nasceram Gláucia, Geraldo e Beto. São primos que José Roberto
considerava irmãos, pois, sem sombra de dúvidas, Naza, como é carinhosamente
chamada, foi para José Roberto uma segunda mãe.
Palmeira dos Índios passa por uma época de ouro com a sua juventude
fervilhando de cultura. Os Colégios Estadual Humberto Mendes, Pio XII, Cristo Redentor
brigavam entre si para saber qual o melhor.
Brigavam pela qualidade das bandas marciais, nos júris simulados, nos
movimentos estudantis como CLSJ (Clube Lítero Social da Juventude).
Padre Odilon Amador dos Santos, Diretor do Estadual, Padre Mauro Daniel,
Diretor do Pio XII, cada um querendo o melhor para seus alunos. Mario Cata Osso, Pedro
Piru, João Pizunho, Aloísio Filho do Padre, Jarbas de Boca da Mata, José Osmando, Pedro
Olimpio, José Tadeu Cavalcante, Francisco Medeiros, Sebastião Lessa Neto, Cláudio
Pessoa, Clarício Pessoa, Luiz Antônio, Mozart Noronha, Chico Cabelinho, José Roberto,
Marcelo Arruda, Pedro Tupã todos lutando pelo seu espaço e todos conseguiram chegar
lá.
O Jornal Juventude Palmeirense, O Coral de Irmã Cecília, O Bispo D. Otavio
Aguiar, A festa da Juventude na Praça das Cassuarinhas (O Prefeito Minervo Pimentel
mandou arrancar acabando com a sombra destas árvores seculares), Os Carnavais do
Aeroclube, o trabalho do primo Avelar Costa na construção de sua casa na Rua Graciliano
Ramos, (carregando tijolo e pedra no velho Jeep cinza do Tio Silvino). O incêndio da
Maloca do Índio, as piadas e anedotas de Neto Costa, o Professor Americano Mister Paul,
a Banda Marcial do Colégio Pio XII (sob o comando de Padre Ludgero) e o famoso clarim
do Elcio, os taróis de Guilherme e Pedro Olímpio, a Banda Mirim do Colégio Pio XII, os
grandes desfiles de sete de setembro, a luta pela Presidência dos Estudantes de Palmeira
dos Índios com Helenildo Ribeiro, as crônicas diárias do Jornalista José Rabelo Torres
(“quando os ponteiros apontam para o infinito marcando 12 horas, sua Rádio Sampáio
passa a apresentar a crônica do jornalista José Rabelo Torres”...), o assassinato do ex
prefeito e deputado Robson Mendes pelos pistoleiros José Crispim e José Gago, o timaço
do Centro Social Esportivo-CSE com Pompeia, Dija, José Leite, Roberval, Saci, Pinto,
Pedro Tupan, Givaldo Leôncio, Cabeludo, dentre outros, as vaquejadas do Parque São
José, as fofocas de Sebastião Tupã na esquina do DIVA (Departamento de Informação da
Vida Alheia), o teatro amador no Colégio Cristo Redentor com a peça Francisco José da
Áustria tendo José Roberto no papel do Imperador e Ângela Arruda como a Imperatriz
Cissi, as poesias de Ivan Barros (Palmeira dos Índios, cidade, estradas, ruas estreitas e
tortuosas...” Palmeira dos Índios, mocinhas acanhadas e dengosas...) As aulas de
Educação Física de Margarida Ferro, as amigas Tereza Duarte, Mariana, Isvãnia,

- 63 -
Lourdinha, Irene Márcia, Zenivalda, Eulália, Betânia. Palmeira dos Índios era uma festa
só.

O autor recebendo o Diploma Ginasial da sua Tia Jerusa Alexandre


Palmeira dos Índios-AL, 1965

Da esquerda p/ a direita:
Aluísio Alves de Sousa, José Osmando de Araújo e José Roberto Pereira
Amizade de 55 anos

- 64 -
ALCANÇAREMOS O TRI?

José Roberto Pereira - 1965

Como foi debatido no Seminário de Ensino, a questão de o Juventude Palmeirense


não mandar para suas folhas notícias esportivas, aqui vai uma pequena crônica sobre a
atuação do quadro brasileiro em vista ao Tri Campeonato Mundial que se aproxima. Não
sou um Rui Porto ou um Maucher E sim um dos milhões de desportistas espalhados em
todo o Brasil que deseja de todo coração a vitória do selecionado brasileiro em face ao
sonhado Tri Campeonato. Apesar de haver vários craques, futebolisticamente falando, o
que falta é maior preparo técnico destes valores, pois não estão nunca como aquelas
seleções de 58 e 62. O que existe até agora é o individualismo de alguns e pronto. Diz o
velho provérbio: CONFIAR É BOM, DESCONFIAR É MELHOR. Não obstante alguns
não entenderem, é isto o que acontece com o Brasil. Explicarei:
Pelé, o terror dos gramados, o deus dos estádios é a grande atração do selecionado,
mas, vejam os senhores, que andorinha só não faz verão. O que ouvimos constantemente
nas esquinas é o desportista dizer: Qual nada há o Pelé! Não o nego, há, mas um jogador
nunca poderá fazer sozinho o que fará com quatro ou cinco jogadores mutuamente num
futebol clássico.
A falha lamentável que está se passando na Seleção, é confiar demasiadamente em
um jogador. Não quero de maneira alguma menosprezar de suas qualidades de Rei do
Futebol e sim esclarecer que se todos jogarem um futebol em conjunto, alcançaremos
muito mais depressa o nosso intento do que com jogadas pessoais que lá alguma vez
surte efeito. O mundial de 66 se aproxima e, para conseguir o Tri, o Brasil tem que
apresentar um futebol melhor do que das vezes anteriores, em que conseguiu o
campeonato de 58 e o Bi em 62. Pois, se não me engano, a Itália já foi bicampeã, mas não
o conseguiu pela terceira vez em ficaria definitivamente com a taça. Começa a oposição
por parte dos juízes que preferem ver seu país perder ao Brasil ganhar o Tri Campeonato.
Sei perfeitamente que vários dos leitores são contra o meu modo de pensar. Espero
que analisem e vejam qual o certo, apesar de nossas opiniões não adiantarem para os
senhores dirigentes.
Mas isto fica cá entre nós.

- 65 -
UMA TRANSMISSÃO ESPORTIVA

José Roberto morava na Vila Maria e todo dia ia estudar no Colégio Pio XII
passando sempre pela Rádio Educadora Sampaio onde abraçava alguns amigos, pois
todos estudavam juntos.
De uma feita, José Roberto deixou gravado uma transmissão esportiva imitando
um locutor da Rádio Globo, chamado Waldir Amaral. Foi o bastante para que Gileno
Sampaio, Diretor da emissora, convidasse José Roberto para um teste.
Após passar no teste, José Roberto passou a treinar no coletivo do CSE (Centro
Social Esportivo) dentro destas características: “Boa tarde senhoras e senhores sua Rádio
Sampaio passa a falar do Estádio Edson Amaro, nesta tarde bonita, tropical, muito boa
para a prática do futebol.”
Esta abertura ficou no inconsciente do futuro “narrador”. É importante lembrar
que o locutor esportivo da Rádio Sampaio era Antônio Manuel, funcionário do Banco do
Brasil, porém, com excelente voz e um grande narrador esportivo.

José Roberto Pereira na Rádio Sampaio, seu primeiro emprego.


Palmeira dos Índios – AL (1967)

Numa Quarta-feira à noite seria a decisão de Futebol de Salão entre a AABB e o


Estadual Humberto Mendes sendo que, o Estadual jogava com Nofa, Quinca e Pelado,
Xixinha e José Pequeno.

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Este, sem dúvidas, um dos melhores times de Futebol de Salão da época. O locutor
titular Antônio Manoel estava com faringite, logo, Gileno não teve dúvidas em promover
a estreia de José Roberto.
A quadra do Colégio Pio XII, lotada para o grande jogo, uma rivalidade tremenda,
prenúncio de uma grande noite de Futebol da bola pesada. Após a trilha sonora de
abertura, característica das jornadas esportivas da Rádio Sampaio, José Roberto não teve
dúvidas e sapecou um “Boa tarde Senhores e Senhores, o Estádio Edson Amaro
completamente lotado” a vaia foi grande, porém, eram todos amigos e a primeira
transmissão esportiva de José Roberto foi ao final com uma vitória do Estadual
levantando o campeonato.
O locutor Antônio Manoel continuava doente e no próximo Domingo haveria um
clássico entre CSE e o ASA de Arapiraca. Gileno pediu calma ao José Roberto nesta sua
Segunda transmissão e orientou que em cada parada do jogo ele deveria ler um texto dos
patrocinadores, os quais eram uma sapataria, uma padaria e uma farmácia.
“Durante o primeiro tempo, José Roberto seguiu à risca a orientação do Gileno,
porém, pensando que já sabia de cor os textos, quando iniciou o segundo tempo, José
Roberto soltou a voz” “compre pão na Sapataria Rejane, aquela que vende remédio mais
barato”.

Não foi demitido da Rádio devido, o Gileno ter em cada um dos seus funcionários
um amigo. Gileno sempre foi um paizão para todos, sendo a Rádio Educadora Sampaio
o primeiro trabalho de José Roberto Pereira.

Francisco Assis de Araújo, tio do autor e sua esposa Nazaré

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TIO SILVINO, AVELAR COSTA E UMA PEGA DE BOI EM ODÉSIO

Era muito cedo ainda, e João Costa, filho de Júlio e Caridade, (avós paternos de
José Roberto) já tinha tirado o leite e enviado para a fábrica de Queijo de Zezinho Vitório
em Rua Nova, Distrito de Quebrangulo. Nesta época, início dos anos cinquenta, João
morava numa casa construída por ele às margens do Rio Alabarí, na divisa com Alagoas,
em terras da Fazenda Garrincha.
Esta fazenda pertence às terras originais compradas pelos antepassados em 1817.
Fica localizada aproximadamente no centro do triângulo entre os municípios de Bom
Conselho, Palmeira dos Índios e Quebrangulo.
Esta fazenda pertencia a Júlio Costa e Maria Caridade de Araújo, os quais ainda
em vida dividiram-na com os seus filhos, Vanutério, João, Jerusa, Reinaldo e Auristela.
Um pouco a Oeste do Rio Alabarí ficava a sede da fazenda, sede esta construída
na década de trinta por Júlio Costa. A sede da fazenda dividia suas terras com a Fazenda
Borges dos Irmãos Veiga. O açude da sede fica ao lado da casa e foi construído segundo
a orientação do Padre Cícero Romão Batista.
O Santo do Juazeiro orientou Júlio Costa que o barro da parede do açude deveria
ser misturado com cinza de angico (árvore nativa), pois, com estas misturas jamais o
açude seria destruído pela força das águas.
Foi nesta sede da fazenda Garricha que aos 19 de novembro de 1949, num dia de
Sábado às 11 horas do dia nasceu José Roberto Pereira.
Era dia da Bandeira e aniversário de criação do Distrito de Rainha Izabel. A
parteira Mãe Sinhá Vidal conhecida em toda a região. Vamos aos fatos:
João acabava de lavar seu cavalo Pinga Fogo e vinha puxando a animal pelo
cabresto assobiando “a ema gemeu no tronco do juremá, será que é nosso amor, benzinho
que vai se acabar ”...?
Aquele era um dia especial, pois, haveria uma festa de pega de boi em Odésio que
tinha uma fazenda vizinho a Fazenda Lages e era nestes encontros que os primos e
amigos se reuniam numa confraternização onde as cachaças, “Chora na Rampa, Canta
Calo, Gato Preto, Chica Boa e cigarro Astória” falavam mais alto.
João Costa amarrou seu cavalo Pinga Fogo no oitão da casa e deu ao animal uma
ração de milho reforçada, afinal de contas aquele era um dia especial.

No Domingo anterior, na feira de Rainha Isabel, já tinha acertado com os primos


João, Sebastião Cazuza e seu compadre Batista que era cunhado do tio Cazuza. Eram
bastante conhecidos na lida do gado, e atendendo um convite do seu tio Silvino, do seu
primo Avelar Costa e do seu irmão Vanutério Costa, para uma pega de boi na fazenda
de Odésio. Mais uma vez eram os Araújo Pereira reunidos numa pega de boi.
O primo Sebastião Cazuza, com sua força descomunal, era capaz de sozinho,
colocar um animal ao chão, apertando as orelhas fosse cavalo, burro, jumento ou garrote.

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Seu irmão João Cazuza era especialista em montar animal bravo, fosse burro, égua,
cavalo, não importava a raça, cor ou origem.
Sebastião pegava e João montava. Era um “trupé” pesado, a dupla de irmãos.
Lourdes Pereira, prima e esposa, de João Costa já estava com o café pronto, café
preparado num fogão de lenha.

- Lourdes estou preocupado, pois até agora os meninos não chegaram!

- Tá cedo, João, daqui a pouco eles chegam!

Daí eles iriam todos para a fazenda Lages, onde morava tio Chico, irmão de
Silvino. Lá já estavam esperando tio Silvino, seu filho Avelar Costa, seu tio Francisco e
Vanutério montado em Lenço Branco.
João Costa dava os últimos retoques no arreio de Pinga Fogo. No dia anterior
passara cebo na perneira, no gibão e na corda de couro cru.
Odésio era conhecido em toda a região pela sua vaquejada e pelas pegas de boi no
mato.
Nesta época a vaquejada era “pega e puxa”, ou seja, assim que o boi saia da sangra
tinha que ser derrubado, pois, quanto mais perto da sangra o boi fosse derrubado maior
a contagem de pontos. (Os tios Silvino e Vanutério participaram da primeira vaquejada
em Maceió no ano de 1954)

Numa grande faixa de terra com muita madeira, chique-chique, espinho de Cruz,
unha de gato, alastrado, jurema e marmeleiro, Odésio deixara crescer uma novilha
mestiça de nelore e como a garrota era muito brava, Odésio lançou o desafio a todos os
vaqueiros da região para a pega da garrota.
Desafio lançado, desafio aceito.
Chegaram João Costa, João Cazuza, Sebastião Cazuza e Batista, todos bem
montados foram para as Lages onde já esperavam, tio Chico, (marido de Nazaré e pai de
Gláucia, Geraldo e Beto), Avelar e tio Silvino conhecido e respeitado por todos eles como
o vaqueiro modelo, o melhor, o professor.
Todos se juntaram aos primos e sobrinhos e num galope só, foram para a fazenda
de Odésio. Participei desta cavalgada, ainda criança, montado no meu cavalo Bodinho.
Fiquei na sede da Fazenda Lages brincando com os primos Géo e Beto, e comendo raspas
de queijo da fábrica comandada por Nazaré Bezerro.
Anfitrião por natureza, querido por todos, Odésio, dava as últimas ordens para
que em sua festa nada faltasse. Na hora marcada todos os vaqueiros foram bater a
capoeira atrás da novilha.
Seguiu também a equipe de Tio Silvino. As horas passaram e nada de encontrar a
novilha. Os vaqueiros vão chegando a sede da fazenda desanimados e ainda, Odésio
gozando com todos eles:
- E aí vocês parecem mulheres vestidas de vaqueiro. Onde está a novilha?

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- Odésio, a novilha encantou-se, pois o cercado foi batido e nada.
- A novilha ta lá vocês é que são uns vaqueiros de merda, rebatia Odésio.
Vendo aquela situação, um peão da fazenda, amigo de tio Silvino, informa que a
novilha arrebentou uns arames e está pastando no cerrado vizinho. A estratégia foi
montada, ficando Batista e Avelar no buraco da cerca. E os demais foram procurar e
tanger as novilhas. Não deu outra e a novilha procurou a saída. “O boi sabe onde arromba
a cerca”
A carreira foi bonita, a quebradeira na madeira foi grande e os gritos de levante de
Tio Silvino, eram ouvidos a distância. Na saída do buraco da cerca Avelar Costa deu na
cauda da novilha derrubando-a. Na queda Batista caiu em cima e pela jugular da novilha
enterrou uma faca peixeira bem amolada. Com poucos movimentos a novilha morre.
A noite estava chegando quando a equipe de Tio Silvino volta a sede da fazenda.
Odésio torna a fazer piada.

- E aí seu Silvino, pensei que vocês tinham se perdido?


- Odésio prepare as mulheres, os candeeiros e mande aproveitar a carne da novilha
se não os cachorros irão comer, falou Tio Silvino.

Odésio engoliu em seco não disse nada, porém, ele sabia que desafiar os Araujo
Pereira numa pega de boi só poderia terminar assim.
O forró foi até de madrugada. “A ema gemeu...”

João Costa montado no cavalo Patuá e seu filho Zé Roberto montado no cavalo branco de
nome Ferro Velho. Vaquejada de Fred Brito.

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AUTOMOBILISMO EM PERNAMBUCO
DUAS ÚLTIMAS DÉCADAS

Num dia qualquer do mês de janeiro de 1979 passei a conhecer, vibrar, e trabalhar
pela Federação Pernambucana de Automobilismo. Neste dia conheci duas
personalidades deste esporte o piloto e preparador Joca Ferraz e o extraordinário piloto
Ricardo Menezes. O Joca, sempre valente, trouxe um BOOK do Ricardo Menezes com
suas principais vitórias e uma proposta para à Transportes Gloria S/A, da qual
trabalhava como Gerente Geral patrocinasse este piloto no Campeonato Nordestino de
Formula Wolks no Autódromo do Euzebio em Fortaleza. O chassi do Formula do Ricardo
era um HAVE antigo que pertencia ao Paulo Leão.
A partir desta corrida e com o apoio total dos irmãos Ferreira dos Santos (Mauricio,
Luiz Ricardo e Artur) proprietários do Grupo Relâmpago/Mavispuma Colchões
Champion, passamos a cooperar com a FPA fazendo a comunicação e transmissão de
todos os eventos do automobilismo.
Tive a honra de trabalhar nas administrações de Carlos Alberto Pires de Castro,
Paulo Sergio de Macedo e com o maior executivo da história do automobilismo
Pernambucano o eterno Presidente da FPA o dileto e querido amigo Cleiton Pinteiro (hoje
o Cleiton é Vice-Presidente da Confederação Nacional de Automobilismo). Quantas lutas
e decepções para a construção do nosso autódromo. Passamos pelo Bairro da Várzea, pela
Ilha de Itamaracá para solidificar o marco do automobilismo em terras de Caruaru com
a construção do Autódromo Internacional Airton Sena da Silva. Este sonho, sempre com
a liderança do Cleiton Pinteiro, teve a aprovação e apoio do então Prefeito João Lira Neto.
A partir de 1979 conhecemos grandes pilotos, desde a conversa preliminar com o
Joca e Ricardo. Conhecemos Fernando Pires o fundador e primeiro Presidente do Kart
Clube (foi quem trouxe o Kart para Pernambuco sendo as primeiras “brincadeiras” no
estacionamento da casa de Jorge Baptista da Silva lá na Av. Rui Barbosa). Pilotos de Kart:
Fernando Pires, Cleiton Pinteiro, Roberto da Fonte, Joca Ferraz, Mauricio Monte, Ricardo
Menezes, Luiz Antônio Totó, Tomás Comber, Rui Turza, Leonardo Barcelos, Irmãos
Parafina, George Padilha, Carlos Borba, Gilberto Guedes, Antônio Teixeira, Alexandre
Siqueira e Pinteiro Neto.
Pilotos de Formula VW 1.300 como Aluisio de Castro, Antônio Teixeira, Carlinhos
Feitosa, Elcio Pelegrini, Neném Pimentel, Roberto Fiúza, João Quevedo, Fernando
Macedo, Ricardo Menezes. Na classe turismo pilotos como Joca Ferraz, Mauricio Monte,
Bruno Monte, Elias Alexandre, Rogério Santos, Robson Santos, Nelsinho Albuquerque,
Rui Turza (o Angolano Voador), Leonardo Barcelos, Armando da Fonte, Toinho da Fonte,
Tomas Comber, Zeca Monteiro, e o pai espiritual de todos eles o extraordinário Gegê
Bandeira (lenda do automobilismo Pernambucano).
O amigo Rogério Santos já conhecia desde 1968 quando estudávamos no Colégio
São João do saudoso Padre Dimas. É importante lembrar do melhor Diretor de Provas e
ex-presidente do Kart Clube o Deodato Terra Teodoro também conhecido com o

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Visconde de Cazua e Pango já que o Deodato descende de nobres portugueses que
colonizaram Angola.
Jornalistas que deram uma força muito grande ao nosso automobilismo: Robson
Sampaio, Júlio José, Claudemir Gomes, Jaime Ubiratan, Otávio Jr, José Santana, Gomes
Neto e o eterno e inesquecível Adonias Moura. Esperamos que as futuras gerações de
pilotos e dirigentes sigam estes exemplos de amor ao esporte automotor.
Outra personagem ilustre desta galeria de honra, que foi um grande dirigente do
Kart e do automobilismo é o Alceu Leal. Grande cartola o Alceu Leal, português de
nascimento, foi quem criou a primeira torcida organizada lá nos Aflitos.

José Roberto Pereira


Como Hobby, o primeiro locutor do Autódromo Internacional Ayrton Senna
Caruaru-PE

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JOSÉ MARCOLINO – O POETA

Um dos últimos compositores do Rei Luiz Gonzaga, José Marcolino Alves era filho
da Prata, Município do Estado da Paraíba, divisa com o sertão Pernambucano.
Apesar de ser filho da Paraíba, foi no Estado de Pernambuco precisamente em
Serra Talhada, que o José Marcolino Alves ficou conhecido nacionalmente.
José Marcolino Alves era para os amigos apenas “Zé” a todos ele tratava por
POETA.
Quem gosta de boa música sertaneja, quem gosta do cheiro de terra molhada, do
vaqueiro aboiador, do poeta repentista, tem no Poeta Marcolino uma referência musical
da melhor qualidade.
Sala de reboco, Cacimba Nova, Serrote Agudo, Pássaro Carão, Pedra de Amolar,
A Estrada são Exemplos marcantes deste gênio sertanejo.
Amigo dos amigos, José Marcolino era também Vendedor Viajante ou
Representante Comercial, como ele gostava de ser tratado. Seu setor de atuação como
Viajante sempre foi o Sertão de Pernambuco. Trabalhou ligado a José Roberto (Gerente
geral) por três anos, na fábrica de Colchões Mavispuma como Representante Comercial.
Gostava de vender ouro e prata. Como todo mundo do comércio é sabedor,
qualquer primeiro pedido do cliente para a fábrica tem que ser acompanhado de um
cadastro, com as referências do cliente, relação dos seus fornecedores, etc.
Na simplicidade sertaneja e por conhecer todos os clientes do seu setor, o Poeta
Marcolino não gostava de preencher cadastro e no rodapé do primeiro pedido daquele
cliente, ele colocava uma observação: “Este cliente é pessoa de minha confiança, conheço
o Pai dele que é meu compadre e se ele não pagar, eu pago”.
Todos os pedidos do Poeta sempre foram aprovados pelo setor de crédito.

Para não cometer injustiça com todos os poetas retratados pelo José Marcolino em seu livro,
e como estamos falando sobre saudade, vamos lembrar os versos deste filho de Itapetim-PE,
ANTONIO PEREIRA, conhecido como “Poeta da Saudade”.

Saudade é nada, é tudo


Saudade é como o perfume
Eu só comparo a saudade com o peso do ciúme,
Que a gente carrega o fardo
Mas não conhece o volume.

Quem quiser plantar saudade


Escalde logo a semente
Procure um terreno seco
Na hora do sol bem quente
Que se plantar no molhado,
Quando nascer mata a gente.

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Saudade é um parafuso
Que na rosca quando cai
Só entra se for torcendo,
Porque batendo não vai
Depois que enferruja dentro
Nem distorcendo não sai.

José Marcolino Alves, O POETA e Rolando Boldrin no Programa Som Brasil

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PERNAMBUCO NA GUERRA DO PARAGUAI

Criado pelo Decreto Imperial Nº 3.371 de 7 de janeiro de 1865, ao voluntário da


pátria, tinham por finalidade ampliar o espaço contingente de tropas do país que se vira,
inesperadamente engajado em terrível conflito contra o Paraguai. Pernambuco, sempre
altaneiro, das revoluções libertarias não poderia ficar de fora. Para se ter uma ideia dos
122.698 voluntário nosso estado colaborou com 7.136 homens sendo o quinto colocado
nesta convocação, valendo salientar que o voluntário e jovem bonconselhense Emídio
Dantas Barreto foi o maior herói pernambucano nesta famigerada guerra. Entre doenças
e baixas em combate os voluntários perderam 40% do seu efeito militar. Em Pernambuco
foi criado o 21º Corpo de Voluntário da Pátria a mando do então Presidente Conselheiro
João Lustosa da Cunha Paranaguá, seu 36º Presidente, tendo sido escolhida para seu
Comandante a Tenente Coronel da Guarda Nacional Francisco Joaquim Pereira Lobo.

General Emídio Dantas Barreto


Bonconselhense
Ex-governador de Pernambuco, ex-Senador e membro da Academia Brasileira de Letras.
O maior herói pernambucano na guerra do Paraguai

O embarque aconteceu em 9 de dezembro de 1865, sendo transportado pelo navio


inglês Agnes Arkles. Neste primeiro contingente foram enviados 36 oficiais e 375 praças,
um dos quais Dantas Barreto. No dia 22 de dezembro de 1865 os Pernambucanos foram
enviados para Montevidéu e em seguida para o porto de Corrientes onde já se encontrava
o Almirante Tamandaré. Os Pernambucanos do 21º Corpo de Voluntários participaram
de várias batalhas a saber: Estero Bellaco onde sofreu várias baixas sendo mortos o
Tenente Antônio de Barros Peixoto e 22 praças! Feridos os capitães José Antônio de
Albuquerque e Caetano Pinto Veras, o Tenente Francisco Xavier Pessoa e 48 Praças;
extraviados, 10 praças com o total de perdas de 84 homens. Batalha de Tuiuti, / onde
perdemos um alferes e outros dois gravemente feridos. Combate Punta Naró onde o 21º
apresentou duas baixos, um Tenente e um praça. Combate de Isla Carapá Sobre este

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combate é um importante registrar o relatório escrito pelo seu Comandante o Major
Antônio Joaquim Bacellar ao quartel General: “Vossa Senhoria me permitirá que com
orgulho diga que nenhum Batalhão do Exército Brasileiro faria mais do que fez o 21º
Corpo de Voluntários da Pátria, com algumas praças do 2° de Infantaria e outras do 5º
da mesma arma. Na luta encarniçada que teve este Batalhão dentro das trincheiras
inimigas morreram bravamente os intrépidos Capitães José Antônio de Albuquerque
e José Libano Ribeiro, o Tenente Antônio Gregório Leite e os Alferes José Gonçalves
de Magalhães Cardoso, Vitalino Cordeiro Lino, Silvino José Fontana o Rego; e foram
contusos o Tenente Noval da Sila Pereira de Lucena e não pequeno número de praças
mortas e feridas, como verá Vossa Senhoria da Relação inclusa.”
Com orgulho registramos os principais Comandantes do 21º Corpo de Voluntários da
Pátria do nosso Pernambuco.
1- Tenente Coronel Joaquim Pereira Lobo;
2- Tenente João Paula Ferreira;
3- Major Genuino Olimpio de Sampaio;
4- Major Antônio Joaquim, Bacellar;
5- Major José Antônio de Oliveira Boteilho.
Antes do Fim da guerra o 21º Corpo de Voluntários da Pátria de Pernambuco passou a
ser 53º com o mesmo espirito de luta, bravura, denodo e garra, por isso Pernambuco será
sempre imortal! Imortal!

Major Antônio Joaquim Bacellar um dos Comandantes do Praça Dantas Barreto

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JOSÉ ROBERTO PEREIRA, CIDADÃO EMÉRITO DE
BOM CONSELHO-PE

José Roberto agradece aos vereadores de Bom Conselho esta homenagem da


Casa Dantas Barreto

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ZÉ MÚCIO MONTEIRO, A BENGALA E UM SONHO

Há um tempo atrás vi uma foto dos filhos de Zé Múcio na página social da Folha
de Pernambuco. No centro da foto ladeado, por suas irmãs, José Múcio Neto, hoje um
homem feito. Veio a lembrança o último dia da contagem de votos para Governador e
Senador nos idos de 1986. Zé Múcio morava numa casa à beira-mar de Piedade e toda a
coordenação da campanha sob a direção de Marcos Dubeux, a escutar pela Rádio Jornal
o resultado final e como se sabe ganhou Dr. Miguel Arraes de Alencar. Eis que entra na
sala Zé Múcio Neto, uma criança, chorando muito e com uma bandeira de Arraes
afirmando entre soluços: “meu candidato ganhou”. Talvez tenha sido sua maneira de
explicar a decepção que sentia naquele momento com a derrota do seu pai. Zé, daquele
jeito que nós conhecemos, abraçou o filho deixando-o tranquilo.
Na época Zé Múcio foi candidato do antigo PFL sendo o Valmir Soares ex-prefeito
de Bom Conselho quem primeiro lançou o nome de Zé Múcio para enfrentar o mito
Arraes. Zé teve uma derrota eleitoral, porém, sua vitória política foi extraordinária, com
16 anos como Deputado Federal, Presidente Nacional do PFL, Líder de Partido e de
Governo, Ministro de Estado e hoje ocupando a Presidência do Tribunal de Contas da
União – TCU, sendo o pernambucano melhor colocado no Centro do Poder em Brasília.
Desde 1978, eleito vice-prefeito de sua terra Rio Formoso, prefeito desta cidade em 1982,
Presidente da Celpe, secretário de vários governos pernambucanos. São mais de 40 anos
de serviços prestados ao nosso Estado. Passando por Collor, Itamar Franco, Henrique
Cardoso e Lula nunca vimos o nome de Zé Múcio envolvido em corrupção, convites não
faltaram, porém o berço e o caráter do Zé não deixam dúvidas.
Se não houvesse a “Lei da Bengala” (aposentadoria só com 75 anos) tenho quase
que certeza que o Zé Múcio tinha condições de disputar o governo de Pernambuco na
última eleição, inclusive seu nome foi ventilado pela imprensa. Se não faltar força na
bengala do Zé ele tem condições éticas, morais e políticas de disputar o governo.
Quem hoje na política de Pernambuco tem melhor currículo do que o amigo Zé
Múcio?
Quem tem maior poder de agregar partidos em torno de um projeto para o
desenvolvimento socioeconômico do nosso Estado?

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Em 2022 Zé Múcio será um jovem de 75 anos para dar muita bengalada nesses
políticos que estão levando nosso Estado para fora dos trilhos, a exemplo da
Transnordestina, arco-metropolitano, duplicação de São Caetano a Garanhuns e outras
obras paradas por falta de gestão. É pra frente Zé, bengala neles!!! Nada segura um sonho.

Zé Roberto e o Ministro Zé Múcio Monteiro. Amizade de décadas

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A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR E MAESTRO ZÉ PULUCA NA
CULTURA CARNAVALESCA PERNAMBUCANA

Antes de entrar no tema sobre a importância do Maestro José Duarte Tenório (o


Zé Puluca) não só sobre sua cultura carnavalesca como educador, vamos saber sobre o
que representa Pernambuco para cultura nacional. Recife, nossa capital, e pela posição
geográfica privilegiada junto à Europa recebia o que havia de moderno no antigo
continente e era absorvido em nossa sociedade. Pernambuco das revoluções libertárias,
do início da unidade nacional, como pátria, com as memoráveis Batalhas dos Guararapes
onde expulsamos o invasor Batavo. Aqui também nasceu nosso nativismo cultural e
religioso com a chegada dos primeiros negros em território nacional em 1537 com o
Donatário Duarte Coelho Pereira. Só de ritmos em Pernambuco são mais de 16, desde os
Caboclinhos até o Frevo. Apesar de toda esta história e por culpa dos nossos gestores
(prefeitos e governadores) e do Poder Legislativo, somos um povo sem nativismo e
exemplos não faltam:
1- Não temos, por falta de lei, a obrigatoriedade da história de Pernambuco na grade
curricular, como também, a falta do ensino da história municipal em cada cidade.
Como pode você nascer no município e não conhecer sua história, sua geografia,
seus valores culturais?
2- Falta amor nativista em nossos governantes. Quantas Secretarias Municipais de
Cultura existem em Pernambuco?
Nosso frevo é PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE, de acordo com a
UNESCO, e este título não é valorizado. Na contramão dessa história cultural e de
resgate, nasce em Bom Conselho, no Agreste Meridional do Estado de Pernambuco a
Associação dos Músicos Amadores de Bom Conselho- AMABC, a qual sob a
Presidência do Sr. Carlos Alberto Pereira de Oliveira, iniciou em nosso município o
resgate da nossa história, homenageando nossos personagens vivos e falecidos, mas, que
tem história e serviços prestados em nossa terra através de bonecos gigantes. Aqui em
Bom Conselho não existe boneco do Homem da Madrugada, Mulher do Guarda-chuva,
Menino do Amanhecer. Aqui existe homenagem de boneco gigante aos seus filhos, dos
quais se destaca o maestro, músico, compositor e professor José Duarte Tenório o saudoso
Zé Puluca. Este maestro deixou um acervo de frevos inéditos, frevos do nível de um
Capiba, de um Maestro Nélson Ferreira, de um Getúlio Cavalcante, de um Antônio
Carlos Nóbrega, dentre outros.
O problema é que nosso Pernambuco só valoriza os movimentos culturais do
Recife e grande Recife em detrimento da nossa cultura interiorana onde em cada
município tem seus valores culturais e não são valorizados, pois não existe uma política
cultural voltada para os folguedos do interior. Dos 185 municípios pernambucanos
poucos se destacam. Por que não existe um festival músico/cultural em Recife a exemplo
da FENEARTE que é voltada para o artesanato? Com certeza grandes valores musicais

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iriam se destacar, como nos festivais passados. Falta pernambucanidade, falta uma
política de governo voltada para o resgate cultural em cada município pernambucano.
Hoje a AMABC luta junto aos parlamentares pernambucanos para transformar o
Carnaval de Zé Puluca em Patrimônio Cultural Pernambucano. Senhores e Senhoras
parlamentares não é só o Maestro José Duarte Tenório, o Zé Puluca, que merece este
título. Quantos movimentos culturais existem em Pernambuco, em cada município,
completamente desconhecidos? Falta convênio entre Governo de Estado e Prefeituras
para um levantamento completo da cultura de raiz em Pernambuco, um resgate da sua
história.
Pernambuco com certeza e defendendo nossas tradições históricas têm o
Parlamento Nativista. Pernambuco e Zé Puluca, imortais! imortais!

José Duarte Tenório


Maestro Zé Puluca

Carlos Alberto e Ariano Suassuna (Patrono do Carnaval de Zé Puluca)


Tendo em mãos a bandeira de Bom Conselho-PE

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REFLEXÕES SOBRE A CARTA DE CAMINHA

O celibatário Infante Dom Henrique, filho do rei de Portugal Dom Manoel o


venturoso foi o criador da Escola Marítima de Sagres. O principal centro científico das
grandes navegações foi sem sombra de dúvidas a Escola de Sagres. Criação de
instrumentos náuticos como o astrolábio, a vela latina fabricada com o cânhamo da
canabis sativa (devido a maresia, a antiga vela fabricada com linho se rasgava
constantemente e esta nova vela com cânhamo era praticamente uma lona) e outras
invenções náuticas saíram da Escola de Sagres. O Infante era um gênio e subornava os
grandes pilotos da época como Pinzon, Colombo, Américo Vespúcio, dentre outros, para
ter informações privilegiadas (informação é poder). O Infante sabia que havia terras ao
sul do Equador e a prova principal vem do tratado de Tordesilhas. No primeiro tratado,
onde o Vaticano dividiu as terras a serem descobertas entre os reinos católicos de
Portugal e Espanha, dizia que partindo de Cabo Verde em linha reta para o sul, as terras
à direita seriam da Espanha e da esquerda de Portugal. Se isto fosse mantido, esta linha
cortava o Oceano Atlântico e Portugal não teria direito a nada. Como sabia da existência
de terras virgens, o Infante só permitiu que seu pai assinasse o tratado com a seguinte
escrita: “partindo do Cabo Verde e 370 léguas a Oeste temos um ponto e deste ponto uma
linha reta para o sul.” Neste caso a linha passava onde hoje é Fortaleza e seguia para o
sul. No mapa das Capitanias Hereditárias é visível esta reta. Na carta de Pero Vaz de
Caminha ele escreve como se já soubesse da rota e do entrosamento de paz entre o
português e os índios. Nosso Brasil foi “descoberto” dentro do espírito de cordialidade,
daí talvez o nosso DNA que sempre soube receber com carinho os estrangeiros.
Escreve Caminha o primeiro encontro:
E o Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E
tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois,
quando aos três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou
vinte homens.
Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos
traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes
fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram.
Ali não pôde deles haver fala, nem entendimento de proveito, por o mar quebrar na
costa. Somente deu-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na
cabeça e um sombreiro preto. Um deles deu-lhe um sombreiro de penas de ave,
compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas como de papagaio; e outro
deu-lhe um ramal grande de continhas brancas, miúdas, que querem parecer de
aljaveira, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza, e com isto se
volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar.

Ou seja, no primeiro encontro foi de troca de presentes e cordialidade. Continua


Caminha escrevendo o convite feito por Cabral e aceito por alguns índios para irem jantar
a bordo:

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Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel e figos passados.
Não quiseram comer quase nada daquilo; e, se alguma coisa provaram, logo a lançaram
fora.
Trouxeram-lhes vinho numa taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram nada, nem
quiseram mais.
Trouxeram-lhes a água em uma albarrada. Não beberam. Mal a tomaram na boca, que
lavaram, e logo a lançaram fora.

Caminha escrevendo sobre os índios:

Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos
muito pretos, compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e
tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma
vergonha.

Os cascavéis que Caminha escreve são pequenos chocalhos.


Outro detalhe: a principal alimentação dos índios já era o nosso inhame.
Escreve Pero Vaz:

Eles não lavram, nem criam. Não há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem
galinha, nem qualquer outra alimária, que costumada seja ao viver dos homens. Nem
comem senão desse inhame, que aqui há muito, e dessa semente e frutos, que a terra e as
árvores de si lançam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios, que o não somos
nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos.

O entrosamento foi perfeito, escreve Caminha:

Estavam na praia, quando chegamos, obra de sessenta ou setenta sem arcos e sem nada.
Tanto que chegamos, vieram logo para nós, sem se esquivarem. Depois acudiram
muitos, que seriam bem duzentos, todos sem arcos; e misturaram-se todos tanto
conosco que alguns nos ajudavam a acarretar lenha e a meter nos batéis. E lutavam
com os nossos e tomavam muito prazer.

Quando o Frei Henrique de Coimbra celebrou a primeira missa os índios


acompanharam a celebração. Escreve Caminha:

E quando veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas,
eles se
levantaram conosco e alçaram as mãos, ficando assim, até ser acabado; e então
tornaram-se a

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assentar como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se
puseram assim todos, como nós estávamos com as mãos levantadas, e em tal maneira
sossegados, que, certifico a Vossa Alteza, nos fez muita devoção.

O Brasil nasceu nesta convivência pacífica ao contrário dos espanhóis que


dizimaram a civilização Inca no Peru, e os astecas no México.

1ª Missa no Brasil – Celebrada por Frei Henrique de Coimbra

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E NÃO RASPEI A CABEÇA

O ano de 1968 foi com certeza um dos melhores da minha vida. Neste ano, o ano
que não terminou, passei a morar no Colégio São João. Ano do hexa do Náutico; passei a
conhecer bem nossa capital, o Recife; novas amizades;
Infelizmente na política tivemos o AI 5; atentado a Dom Helder; assassinato do Pe.
Henrique; bomba no aeroporto dos Guararapes com a morte do jornalista Edson Regis e
a perna amputada do jogador Paraíba do Santinha. Terminei o científico, passei a
trabalhar no Aché-Prodoctor e chegamos a janeiro de 1971. Em julho de 70 (entrei no
Aché-Prodoctor em 02/11/70) passei no vestibular para Administração de Empresas e
fui fazer minha matrícula no início de 1971. Aqui vale salientar um detalhe, o Aché-
Prodoctor proibia na época, que um representante comercial, não cursasse faculdade,
com a desculpa que nada poderia atrapalhar ou desviar o foco do trabalho no laboratório.
Era ordem do presidente Adalmiro que o gerente Natale cumpria religiosamente.
Aproveito a oportunidade para lembrar os pioneiros na formatação e lançamento da
linha do Aché-Prodoctor nos estados da região. Em Recife nossa equipe Zé Roberto,
Roney e Esvalter; Alagoas o Vilela, na Paraíba o Peletó (família tradicional) e no interior
de Pernambuco o Fabrício. Com minha mudança para Fortaleza lembro dos nossos
primeiros colaboradores: Maia, Zé Maria, Silvan, Djalma, Vilmar, Gustavo, Simonesi,
Helder e o Nóbrega.
Voltando a matrícula na universidade. Entrei no prédio, fiz a matrícula e na saída
a turma estava “raspando” a cabeça dos novatos. Aparecer no Aché-Prodoctor com a
cabeça raspada era demissão sumária. E agora? As salas da universidade são do tipo
auditório, sendo a janela que dava para a rua bastante alta para um pulo. 20 anos, preparo
um físico de ex-remador pelo Sport, tranquei os dentes e saltei correndo para o Fusca 66
comprado a prestação. Na segunda cortei o cabelo bem baixo, passei 15 dias sem
frequentar a faculdade, e com dificuldade fui cercando a noite. Até hoje Natale não sabe
que cursei faculdade.
Uma vez acheano, sempre acheano. A filosofia implantada pelo Aché-Prodoctor
até hoje é imbatível no trato com a classe médica.

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ASSIM MORREU LAMPIÃO

Um dos principais coiteiros de Lampião foi o Coronel Antônio Caixeiro da Fazenda


Borda da Mata, interior Sergipano, e pai do Interventor deste estado o Capitão, médico do
exército, o Dr. Eronildes de Carvalho. Não só o Coronel Antônio Caixeiro, como o Coronel
Zezé Abílio de Bom Conselho, o Coronel José Pereira da cidade de Princesa na Paraíba e
outros coronéis eram quem proviam munição e armas para o bando. Lampião estava
desaparecido e muitos afirmavam que ele houvera morrido.
De repente, em 17 de abril de 1938 quando atravessa o Velho Chico em canoas,
emparelhou com uma barca que ia com músicos, a “Jazz-Band” da cidade de Pão de Açúcar.
Músicas nervosas e Lampião os tranquilizou solicitando uma apresentação em pleno São
Francisco. Três meses e onze dias após este encontro, Lampião com sua gente foi para o
Grotão do Angico localizado no município de Porto da Folha em Sergipe. Fazia 17 anos que
o então Tenente João Bezerra, pernambucano, servindo a polícia Alagoana, procurava
Lampião como se procura uma agulha no palheiro. A volante de João Bezerra fazia parte do
Segundo Batalhão da Polícia Alagoana com sede em Santana do Ipanema-AL sob o comando
do Tenente-Coronel José Lucena de Albuquerque.
Era a noite de 27 para 28 de julho de 1938. Chovia muito e João Bezerra, com sua tropa
atravessou o Rio São Francisco saindo de Piranhas-Al. No lado sergipano, João Bezerra
apertou um coiteiro, e soube exatamente onde Lampião estava escondido no Grotão do
Angico.
O tenente recebera um telegrama informando: “venha urgente, boi no pasto”. Era um
telegrama em código informando que Lampião estava na área. Após apertar um coiteiro, que
estava na feira de Piranhas-AL comprando grande quantidade de mantimentos, João Bezerra
descobriu o local do esconderijo do Capitão Virgulino, e montou sua estratégia.
O aspirante Ferreira de Melo com quinze homens e uma metralhadora belga de vinte
tiros que Lampião chamava de “costureira”,
entrou pelo centro do riacho. O Cabo Antônio
Bertoldo da Silva, com oito homens, avançaria
da esquerda do João Bezerra e o próprio
Tenente fecharia o cerco com o Cabo Justino
armado com uma metralhadora Hotchkiss de
trinta tiros.
O tenente João Bezerra pediu para
aguardar a sua ordem de ataque, ordem não
cumprida por um soldado do aspirante
Ferreira.

A cabeça degolada do famoso cangaceiro

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Na fuzilaria morreram: Lampião, Maria Bonita, Luiz Pedro, Desconhecido, Cajarana,
Diferente, Mergulhão, Elétrico, Caixa de Fósforo, Quinta-feira e Enedina.
Cabeças cortadas, colocadas com formol em latas de querosene. Falou João Bezerra em seu
livro de memórias: “é sempre melhor apagar uma lamparina do que apagar um Lampião”.
Estas cabeças que estavam expostas no museu Nina Rodrigues, em Salvador, foram
sepultadas por ordem judicial atendendo uma solicitação da família na década de sessenta
O resto é história, são lendas.
Lampião, nem mito, nem bandido, nem herói, apenas um brasileiro.

Ao centro Lampião, Maria Bonita e seu bando

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REZA, PIRÃO E SOLA

Quando tinha em torno de seis anos, ouvi uma conversa entre minha bisavó Zizi,
minha avó Caridade e minha mãe.
Falou a Bisa: “Lourdes (minha mãe) qualquer criança deve ser criada com Reza, Pirão e
Sola. Toda criança tem que aprender todas as rezas e ensinamentos da nossa amada Igreja
Católica; nunca deixe faltar alimento para sua criança, pois uma criança nutrida será
inteligente, e minha filha!, quando precisar “corrigir” nunca bata nem nas costas ou na
cabeça, agora na bunda e nas pernas não tem problema e outra coisa, só se corrige uma
criança até os 8, 9 anos no máximo, do contrário ela poderá ser um adulto introvertido
ou medroso. Ficava sempre no colo da Bisa, numa cadeira de balanço ao lado da Matriz
de Quebrangulo e vendo o movimento da estação. Bons tempos aqueles. Minha mãe
seguiu religiosamente o conselho da sua tia (minha avó paterna era prima legítima da
minha mãe). Fui uma criança levada, dentro da normalidade, e quase toda semana
entrava na “correção”.

O autor ao lado de seus pais, João e Lourdes

Fui criado e criei meus filhos dentro desta filosofia e todos (três filhos e uma filha) do
bem, dentro dos princípios éticos da sociedade. Já não se faz pai, filho e família como
antigamente. Está havendo uma degradação de valores muito grande, e como a sociedade

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procura uma saída, existe o vale tudo das Novas Igrejas Evangélicas (tenho um respeito
muito grande pelos tradicionais). Não sou saudosista, apenas procuro acompanhar o
próprio tempo, sem perder as origens e seus ensinamentos.
Esta degradação que está passando a sociedade ocidental, principalmente no sentido da
família, não acontece com a sociedade árabe, ou asiática. Nestas os valores seculares estão
preservados, o ancião respeitado, sentido de união tribal. Naquela não existe respeito, o
idoso maltratado, pai matando filho (e vice-versa) não existe fé nem religiosidade. Eu me
pergunto:
Quantos Frei Caetano, Frei Damião, Padre Cícero, Antônio Conselheiro e tantos outros
seriam necessários hoje para a propagação da ética e decência? Hoje a religião (berço
máster da sociedade) tem que ser e continuar laica.
Todas as religiões desde Confúcio (5.000 anos A. D), Buda, Maomé, Abraão e Jesus
sempre tem o respeito humano e a paz como princípios fundamentais. Radicais e guerras
religiosas sempre existiram e fazem parte da cultura tribal desde o início da raça humana.
Que me desculpem os que defendem os “direitos humanos” o que está faltando na
sociedade ocidental é o velho princípio do Reza, Pirão e Sola. Se naquele tempo houvesse
a Lei da Palmada minha saudosa e querida mãe Lourdes pegaria uns 30 anos e este seu
amigo uma perpétua. Nunca devemos esquecer nossos valores familiares, são a base de
tudo.

Cabo da FEB
João Alexandre da Silva (João Costa) – 1944

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O REGIME ESCRAVOCRATA EM PERNAMBUCO

Quando Duarte Coelho Pereira


recebeu a Capitania Hereditária
suas terras começavam na divisa de
Itamaracá-PE indo até a foz do Rio
São Francisco-AL. Para o Oeste ia
até o limite do Tratado das
Tordesilhas. Com certeza Duarte
Coelho colocou todo o seu capital e
empenho familiar para o
desenvolvimento da sua capitania.
Enquanto os demais donatários
depredavam suas capitanias
vendendo nosso Pau Brasil, ouro e
diamantes o Duarte Coelho
transformou Pernambuco, partindo
para a plantação de cana na
produção do açúcar.
Em 1584 o Cabo de Santo
Agostinho, ao longo do Rio
Pirapama, já possuía grandes
engenhos, sendo na época, o Cabo o
maior exportador de açúcar no
mundo. Foi Duarte Coelho quem
trouxe para Pernambuco a cana de
açúcar, a manga, o abacate, a jaca, e
outras frutas e especiarias.
O Senhorzinho e sua ama de leite - Recife, 1880

Precisava de mão de obra e solicitou ao Rei de Portugal a importação de 24


escravos por ano vindos da Guiné, autorização concedida pelo Rei D. João III, sendo
nosso Pernambuco a primeira região do Brasil a receber os negros cativos, isto em 1535.
Em carta para Portugal, já afirmava Pe. Anchieta em 1584:
“Na dita Capitania de Pernambuco há muitas fazendas e alguns 60 ou mais
engenhos de açúcar a três, quatro e oito léguas por terra, cada um dos quais é
uma boa povoação com muita gente branca, negros da Guiné e índios da terra.”
(Revista do Instituto Histórico de Pernambuco Vol. XLII 1948 pág. 8 ).

Um detalhe importante: o Papa Urbano VIII proibiu no Brasil escravizar os índios em


1639.

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Foi o Duarte Coelho que trouxe o gado criolo da Ilha da Madeira, via São Francisco
e o levou para o sertão Pernambucano e Piauí. Com a morte do Duarte Coelho, quem
tocou a capitania foi sua esposa, Dona Mirtes e seu cunhado Jerônimo de Albuquerque
Maranhão (o sobrenome Maranhão foi anexado ao nome devido o Jerônimo ter
conquistado aquela região).
Vamos analisar a diferença da cultura escravocrata entre o litoral, agreste e sertão
pernambucanos.
▪ No litoral o senhor de engenho era perverso na compra dos escravos, ou seja, dividia
as famílias, comprava por peças, filhos eram apartados das mães numa desumanidade
total. No litoral só os escravos pertencentes aos jesuítas e beneditinos eram bem
tratados.
▪ No sertão e agreste a situação era bem diferente. Geralmente o comerciante rico tinha
seu comércio em Recife no térreo, morava no 1º andar e muitos deles possuíam
grandes glebas de terras no sertão. Para produzir e criar gado o referido comerciante
precisava de mão de obra escrava, com algumas diferenças em relação ao senhor de
engenho. Vamos aos pontos:
1) O comerciante/fazendeiro comprava a família completa de escravos. Não dividia
a unidade familiar.
2) O acerto do comerciante com a família escrava era o seguinte: a cada quatro
bezerros nascidos, o escravo ficava com um. Assim, também com cabras e ovelhas,
permitindo plantar roças, principalmente mandioca.
3) Com esta situação, grande parte dos escravos sertanejos comprava sua liberdade
e ficava morando na própria fazenda.
4) Não havia senzalas no sertão, as famílias moravam em mocambos (casa de taipa)
e permanecia a unidade familiar.
5) Muitos dos ex-escravos prosperaram, ficaram ricos e para casar suas filhas
enviavam procuradores para Portugal a fim de trazer um genro branco e pobre.

O racismo no Brasil não é só do branco contra o negro. No Quilombo dos Palmares


havia escravos, inclusive caboclos e mamelucos. Na própria África quem vendiam os
negros eram os próprios negros apreendidos em guerras tribais. O negro rico dificilmente
procurava uma companheira da mesma raça, veja o exemplo dos nossos jogadores de
futebol, os quais sempre casam com brancas, principalmente loiras.
No brasil há uma hipocrisia tremenda com relação ao tratamento dispensado aos negros.
Por exemplo, existe apenas uma vaga de executivo numa grande empresa, com as
mesmas qualidades profissionais. Quem o patrão emprega? o negro ou o branco?

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O TRANSPORTE RODOVIÁRIO NO BRASIL

Recentemente assistimos uma greve geral dos caminhoneiros autônomos e


transportadoras de todo Brasil.
Posso dar este testemunho porque fui executivo do ramo de transporte durante anos e vi
de perto como são tratados os caminhoneiros autônomos ou os agregados com grande
falta de respeito principalmente pelas transportadoras que detém a carga. Isto acontece
pela verticalização do transporte, pois 70% da economia brasileira viaja através de
caminhão.
Durante os anos cinquenta do século passado, além do transporte rodoviário, o Brasil
tinha uma boa malha ferroviária como também era utilizado o transporte marítimo e
fluvial. Por exigência das grandes montadoras americanas o governo brasileiro esqueceu
e não mais investiu no transporte ferroviário e fluvial e deu total prioridade a malha
rodoviária num total erro de estratégia, pois, se tivéssemos ferrovias funcionando a
exemplo dos Estados Unidos e Europa esta greve era café pequeno. Ainda hoje não existe
prioridade do governo para o ferroviário. Como andam as obras da Transnordestina que
ligaria o porto do Pecém no Ceará até Suape em Pernambuco? Paradas.
Na minha infância viajei muito na Maria Fumaça de Quebrangulo para Maceió.
Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas, todos estes estados
interligados por ferrovias. Hoje as antigas estações ferroviárias estão servindo de museu
ou casa de cultura. Nunca planejamos o Brasil a longo prazo, o negócio é o imediatismo,
o quebra-galho. Esta greve serviu de lição para o governo. Nossas estradas são malfeitas
e de péssima qualidade. Para você ter uma ideia, 30% da nossa produção de grãos,
principalmente aquela produzida em Goiás e nos dois Mato Grosso ficam perdidas por
falta de estradas e péssimas condições de armazenamento. Vamos ver se no plano de
governo destes pré-candidatos à Presidente tem algum projeto para fortalecer a malha
ferroviária e o sistema fluvial.
Trabalhando com transporte rodoviário, passamos pelo Plano Cruzado do
Governo Sarney, Plano Bresser, Plano Collor, Plano Real. Em todos estes planos, quem
mais sofreu e sofre ainda é o carreteiro autônomo. Na época do cruzado (80% de inflação
ao mês) e por alguns anos e com a economia dolarizada, a transportadora recebia o frete
atualizando o cruzado pelo dólar dia, e também pagava o carreteiro no mesmo sistema.
Grande parte das grandes transportadoras aumentam o frete junto ao cliente e não
repassa o aumento para o carreteiro. A partir desta greve teremos um maior respeito a
esta classe tão sofrida.
Mudando de assunto, você sabia que o primeiro automóvel importado para o
Brasil (um ônibus) veio para Pernambuco? Somos o estado pioneiro no transporte
coletivo de ônibus e a primeira linha foi Goiana/Olinda.
Esta estrada sempre foi famosa desde a fundação de Goiana em 1570. Por ela passou
nosso Imperador Pedro II quando foi visitar Tejucupapo. Em 1880 o transporte coletivo
desta estrada era a velha diligência tipo aquela do velho oeste. Demorava dois dias com
os passageiros pernoitando em Igaraçu. De Olinda a Recife o transporte era feito pela

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maxambomba a tetravó do metrô. Em 1901 surgiu a Companhia de transporte de Goiana,
fundada por Manoel Borba, Mr. Edward Johnon e Henrique Bernardes. Importaram da
Europa um veículo motorizado (um ônibus).
A primeira dificuldade foi retirá-lo da alfândega já que no Brasil nunca ninguém
importou este tipo de equipamento. Sendo Pernambuco o primeiro estado do Brasil a
importar um veículo motorizado.
A segunda dificuldade foi encontrar um motorista. O Diretor da Empresa Henrique
Bernardes que teve algumas aulas de direção na Europa foi o primeiro motorista do Brasil
(Revista do Instituto Histórico de Pernambuco vol. XXXIX, 1944. Pág. 187).
A empresa deu uma geral na estrada e o percurso passou a ser de um dia de viagem. É
sempre o velho Pernambuco dando exemplo de pioneirismo. Conheça mais a história de
Pernambuco, ela é fundamental para o nosso nativismo.

Um dos primeiros ônibus em


Recife-PE

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FREI CAETANO E A GUERRA DOS MARIMBONDOS

Hoje vamos narrar um fato, que poucos pernambucanos conhecem, por falta de
nativismo dos nossos gestores que não se preocupam em ensinar nossa belíssima história.
Pernambuco em meados do século XVIII, tinha 280 mil km² (hoje apenas 90 mil)
de terras que dividiam com Minas Gerais, pois, toda a metade da Bahia era nossa. O
Bispado de Olinda mandava em todo o Nordeste. As capitanias da Paraíba, Rio Grande do
Norte, Ceará, Piauí e Maranhão eram subordinados, politicamente a Olinda, sendo
Alagoas parte do nosso território.

Frei Caetano de Messina, 1853


Realizou trabalhos missionários em Recife, Pau D’Alho-PE, Triunfo-PE.
Sendo em Bom Conselho a sua maior obra.

Pernambuco sempre quis liderar uma autonomia maior para o Nordeste, daí
várias revoltas e conspirações sempre contra a Coroa Portuguesa. Pernambuco participou
da Insurreição Pernambucana, Quilombo dos Palmares, Guerra dos Mascates,
Conspiração dos Suassuna, Revolução de 1817, Convenção de Beberibe, Confederação do

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Equador, Setembrizada, Abrilada, Guerra das Cabanas, Revolução Praieira e guerra dos
Marimbondos da qual Frei Caetano de Messina teve participação direta.
Em Pernambuco (1850) o agricultor pobre não tinha acesso à propriedade da terra e
dependia diretamente dos senhores de terra. Na época eleitoral não tinha direito a voto,
pois não tinha renda suficiente para ser um “homem bom”. A presença do governo só
chegava para cobrar impostos. Esta situação de desprezo contribuía para formar uma
população acovardada, temerosa, mas que também podia reagir com uma violência
imediata.
Alguns Capuchinhos se tornaram famosos como Frei Caetano de Messina que não
só construiu o Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho, como pregou em diversos pontos
da província sendo um dos responsáveis, em 1852, por pacificar o movimento popular
“Guerra dos Marimbondos” que iniciou em Pau D’alho em 1 de janeiro e tinha como
objetivo ser contra Decreto Imperial de 18 de junho de 1851 que tornava obrigatório o
registro de nascimento e óbito em todos as paróquias. Os “matutos” tinham medo que
esse registro facilitasse a convocação para as forças armadas. O movimento foi para a
Paraíba com o nome de “Ronco das Abelhas”. Os matutos não formavam uma força
organizada, pois chegavam em grupos nas vilas e povoados, assaltavam os cartórios
queimando os livros de registros e se dispersavam.
Fato semelhante aconteceu em 31/10/1874 com a Revolta do Quebra Quilos.
Movimento iniciado na Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco contra o sistema
métrico decimal. Os “matutos” estavam acostumados a medir através de braça, arroba,
léguas, côvados, cuias. Chegavam nas feiras e quebravam tudo que representavam o novo
sistema, invadindo cartórios e queimando escrituras.
Nosso Pernambuco sempre indomável.

Igreja Matriz de Bom Conselho-PE

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TAQUARY VELHO E A GUERRA DOS CABANOS

A Independência do Brasil que foi proclamada em 7 de setembro de 1822 só foi


feita plenamente no dia 2 de julho de 1823 quando foi expulso de Salvador-BA o
famigerado português o General Madeira. Salvador foi cercada por tropas brasileiras do
Recôncavo Baiano e faltando abastecimento. Com este sítio a cidade, o último refúgio
Português deixou de existir.
Por este feito e em justa homenagem o aeroporto de Salvador chama-se 2 de Julho.
Após a Independência, o Imperador Pedro I promulgou nossa 1ª Constituição,
uma Constituição Liberal, contrariando o interesse dos Senhores de Engenho e grandes
fazendeiros que desejavam uma Constituição com maiores poderes para o Imperador e
os Liberais (padres, profissionais liberais, jornalistas) que defendiam a nova Constituição.
Pedro I também criou os Conselhos de Província os quais foram substituídos pelas
Assembleias Provinciais. Os conservadores também eram conhecidos como Absolutistas.
A situação da Província de Pernambuco era precária tendo em vista a instabilidade
do Brasil nos dez primeiros anos da Independência. Havia badernas, motins nos quartéis
e golpe de Estado que foi dado pelo próprio Imperador Pedro I quando dissolveu a
Assembleia Constituinte. O sistema era patriarcal com cada chefe político tendo sua
milícia armada. A corrupção era generalizada (1831). Estava em todo canto, nas
repartições, nas instituições, nas alfândegas.
Desde o período colonial raro o alto funcionário do governo que não fosse suspeito de
corrupção.
Ainda hoje a corrupção anda de mãos dadas com todos os setores do governo. A
corrupção faz parte da cultura nacional. A notícia da abdicação de Pedro I em 7 de abril
de 1831, só chegou ao Recife em 5 de maio. Iniciou-se o período da Regência, sendo o
principal Regente o Pe Diogo Antônio Feijó.
Na sociedade patriarcal até meados do século 19, o primeiro filho herdava o título
e propriedades, o segundo seguia a carreira das armas e o terceiro filho seria o padre da
família e grande parte sem a verdadeira vocação sacerdotal. O que havia de padres com
filhos, principalmente de escravas era impressionante.
Um dos grandes personagens da história republicana foi o José do Patrocínio, filho
de um padre com uma escrava. Com a abdicação de Pedro I iniciou-se em Pernambuco
um movimento conhecido como Guerra dos Cabanos, dando sequência a Cabanagem da
província do Pará, movimento este que chegou a ter governo próprio. Os Cabanos de
Pernambuco (viviam em cabanas pelo interior) lutavam contra os chefes políticos, os
Coronéis absolutistas. Os Cabanos queriam maior autonomia das províncias, que a
Constituição fosse mais liberal, libertação dos escravos. O principal chefe Cabano foi
Vicente Ferreira de Paula, mulato, filho de um padre de Goiana. O movimento teve início
em Panelas de Miranda. Nesta época (1841) os Frades e conterrâneos Frei Caetano de
Messina e Frei José Plácido de Messina foram evangelizar a população do Agreste,
ficando Frei Caetano em Bom Conselho.

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Eram numerosos os amancebados, havendo um hábito denominado “despique”
onde os homens trocavam as mulheres uns com os outros. Na Guerra dos Cabanos já
havia uma igreja onde hoje se localiza o cemitério de Taquary Velho. A mando de um
coronel absolutista foi assassinado nesta igreja o Pe Morais que era um representante dos
Cabanos na região. Já escrevi sobre a trilha de 400 anos que liga Quebrangulo a Bom
Conselho. Esta trilha foi usada pelos Cabanos, e Taquary Velho fica à margem desta
estrada.
É o Taquari velho fazendo parte de nossa gloriosa história Pernambucana. Hoje
Taquary pertence ao distrito de Rainha Isabel, município de Bom Conselho-PE.

Guerra dos Cabanos, Panelas-PE

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NÁUTICO: HEXA É LUXO, 50 ANOS! EU ESTAVA LÁ!

Após ter feito o 1º Científico no Colégio Pio XII em Palmeira dos Índios-AL no ano
de 1967, fui transferido para o Recife e morando no Colégio São João na Rua Benfica,
prédio que no início do Século XX era um hotel onde se hospedava Dantas Barreto.
Iniciamos o ano letivo de 68 e na nossa classe do 2º científico estudavam Carlos Wilson,
seu irmão Wilson Campos Jr., Marcantônio Dourado, Severino Farias, dentre outros. No
ano anterior o Náutico foi vice-campeão Nacional, perdendo para o Palmeiras, com gol
feito em completo impedimento pelo ex-alvirrubro Reinaldo. O juiz deste jogo foi o
Armando Marques. Voltando a 68, Náutico ganhou o 1º e 2º turnos, ficando o Sport
campeão do 3º turno, levando a decisão do campeonato para uma melhor de três.
Primeiro jogo nos Aflitos com a vitória do Náutico por 1x0 gol de Ramos de
pênalti.
Segundo jogo na Ilha com vitória do Sport por 3x2, marcando para o Sport Zezinho,
Acelino e Valter, e para o Náutico Nino e Ivan.
O terceiro jogo seria nos Aflitos. Era um domingo, dia 21/07/1968. Domingo de
sol e de agitação no Recife. Só se falava na grande final. Muita gente comprou ingresso e
não conseguiu entrar. O jogo foi transmitido ao vivo pela TV Jornal.
Eu tinha marcado com o rubro-negro Marcantônio Dourado para irmos juntos ao
jogo. Marcantônio morava num apartamento que ficava ao lado da ponte que liga a Praça
do Internacional ao Derby. Passei no apartamento do Marcantônio às 11 horas, conforme
o combinado. Encontrando-o fechado, fui andando até os Aflitos. Arataca do interior,
peguei a primeira fila e quando entrei nos Aflitos fui parar na torcida do Sport. Talvez
tenha sido o único alvirrubro a presenciar o jogo do Hexa na torcida contrária. Foi uma
das piores sensações, calado e sem poder torcer.
O Náutico estava invicto nos Aflitos a 74 jogos (perdera pela última vez para o Santa em
29/12/1963 por 3x0). Os Aflitos com capacidade para 16 mil recebeu um público de
23.320 pessoas.
O Náutico jogou com Valter, Gena, Fernando Matias, Ivan Limeira e Toinho; Jardel
(Ede) e Ivan; Miruca (Rato), Ramos, Nino e Lala. Técnico Davi Ferreira o famoso Duque.
O Sport jogou com Miltão, Valdeci, Bibiu, Gilson Costa e Altair (Zequinha); Walter e
Soares; Dema, Acelino, Zezinho e Garcia (César). Técnico Astrogildo Ney.
O árbitro Erilson Gouveia, um sargento da Aeronáutica.
1º tempo 0x0, 2º tempo 0x0, 1º tempo da prorrogação 0x0. No intervalo da prorrogação o
árbitro por contusão, foi substituído pelo bandeirinha nº 1 Armindo Tavares.
No início da prorrogação Duque colocou pelo entrosamento, o ataque que o Náutico
cumpriu na Venezuela, Rato, Ramos e Ede. Aos 2 minutos do 2º tempo da prorrogação o
lateral Valdeci do Sport perdeu uma bola pela esquerda para o ponta Ede que cruzou na
medida para Ramos que chutou no canto esquerdo do Miltão fazendo 1x0.
Era o Hexa conquistado.
O resto é história.

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Eu vi, eu estava lá!
Esta crônica é dedicada ao grande alvirrubro, um dos maiores e melhores
Diretores do Náutico, o bom-conselhense, filho da Japicanga, Cauby Urquisa, ao ex-
Diretor Jurídico, Presidente da Rádio Papacaça, o Hélio Urquisa, e ao grande alvirrubro,
o meu filho Alexandre Dimas, Executivo do Banco Central em Brasília e a todos os
alvirrubros pelos 50 anos do Hexa.
Um detalhe a considerar, na madrugada do dia 22 (segunda) chegou ao Colégio
São João a turma do Carlos Wilson e a estátua do Leão que ficava na Praça em frente à
Ilha do Retiro, foi pintada de alvirrubro. Essa estátua do Leão encontra-se hoje na Sede
do Sport.

Clube Náutico Capibaribe

HEXA é luxo, 1968

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MEUS ENCONTROS COM FREI DAMIÃO DE BOZZANO

A religiosidade praticada no Nordeste tem suas raízes profundas plantadas pelos


missionários franciscanos entre meados do século dezenove (Frei Caetano de Messina)
até Frei Damião De Bozzano. Os franciscanos mantinham a castidade, a obediência, vida
simples, como filosofia de vida e fé, diferente dos padres seculares do século dezenove,
onde quase todos eram funcionários do Estado, tinham filhos e não observavam os
principais mandamentos.
Desta fé Franciscana tivemos exemplos como Padre Cícero, Beato Lourenço no
Ceará, Antônio Conselheiro em Canudos, dentre outros. Havia um livro onde eram
escritos vários sermões (1867) onde os franciscanos decoravam acrescentando variações
locais e levavam para as Santas Missões, onde o pecado mortal e o fogo do inferno eram
os focos principais. Meu amigo Padre Dimas tinha um original em latim.
O último dos franciscanos com sua extraordinária fé foi sem dúvidas Frei Damião
de Bozzano, que tive a oportunidade de presenciar pessoalmente duas situações distintas
que você pode traduzir como fé ou coincidência.
Em 1972 eu era Supervisor Comercial do Aché Laboratórios S/A e pela função
obrigado a viajar pelas cidades nordestinas. Uma noite de verão estava eu em Santana do
Ipanema-Al. A seca era tão grande que cada hóspede do hotel recebia um litro d’água
para se virar na limpeza pessoal. O Rio Ipanema completamente seco e aquele desespero
que cada nordestino conhece. Nesta noite o grande acontecimento foi o sermão que seria
proferido por Frei Damião no encerramento de mais uma Santa Missão. No meio do
sermão o Frei solicitou que todos rezassem um Pai Nosso e uma Ave Maria pedindo
chuva para esta região castigada. Naquela madrugada iniciaram os trovões, raios, tudo
que uma tempestade tem direito. Foi uma das maiores enchentes do Rio Ipanema.
Outro episódio interessante foi quando assumi a Gerência Regional do Instituto
Químico Campinas. Viajando pelo sertão paraibano no início da década de oitenta do
século passado, a uma hora da tarde, sol abrasador, passo por uma Veraneio com capô
aberto e ao lado um frade franciscano que deu a mão solicitando apoio (não havia a
violência de hoje). Era Frei Fernando, que era uma espécie de secretário de Frei Damião.
A Veraneio com pane na bomba d'água, e no seu interior, aquela figura franzina e
encurvada do Frei Damião. Frei Fernando explicou que Frei Damião iria iniciar uma
Santa Missão em Souza-PB e se poderia dar uma carona. A uns dois km de Souza, iniciava
a fila de carros, uma super carreata aguardando a figura pop do Frei Damião. Nesta
situação acompanhei a carreata deixando os dois frades na Casa Paroquial de Souza. Com
dificuldade em deixar o banco do Fusca, na despedida Frei Damião agradeceu, me deu
uma benção e me desejou boa sorte naquela voz quase imperceptível.
Quando assumi esta função, uma das principais metas era “limpar” a carteira de
cobrança com duplicatas atrasadas a mais de ano e o montante era muito grande
provocando a demissão do antigo gerente. Coincidência ou não nessa viagem todas as
duplicatas foram pagas e vendas realizadas, colocando esta filial em boa situação.

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Quando lembro este fato me vem à memória a multiplicação dos pães e peixes, um
dos principais Milagres de Jesus.
E hoje como está nossa religiosidade?
E a unidade familiar?
Com certeza está tudo na sua rede social.

Frei Damião de Bozzano

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A MORTE DE CHE GUEVARA

O capitão Gary Prado relembra o dia em que capturou um abatido, embora


célebre, guerrilheiro na selva Boliviana.
“Na manhã do dia 8 de outubro de 1967, meus soldados estavam no controle de
rota de saída do desfiladeiro Yuro, transmitiram uma mensagem avisando que haviam
capturado dois guerrilheiros barbudos. Imediatamente fui para lá e pedi para que um
deles se identificasse. “Sou Che Guevara”, ele disse. O outro era Wily Simon Cuba
Sarabia, fiel parceiro de Che. Para confirmar sua identidade, pedi que Che mostrasse sua
mão direita, pois sabia que ele tinha uma cicatriz ali.
Che estava com uma aparência terrível: sujo, exausto, com o cabelo comprido e
emaranhado. Ele vestia uma jaqueta sem botões e estava sem sapatos - havia apenas
fragmentos de couro em seus pés - e suas meias eram esquisitas, uma azul e outra
vermelha. Ele não era uma figura inspiradora. A primeira coisa que notei sobre ele foi
que carregava uma panela de alumínio com seis ovos dentro. Confisquei tudo o que ele
tinha em seus bolsos e sua mochila, onde estavam seus diários. Che portava uma
carabina, mas a arma estava quebrada e imprestável. Ele também tinha uma pistola, mas
sem os pentes de bala para carregar a munição. Então, basicamente, estava desarmado.
Ele estava, na realidade, completamente desmoralizado. Quando viu que eu
estava convocando mais tropas, ele disse: não se preocupe capitão, este é o fim. Acabou!
Nós passando a noite no pequenino prédio escolar em La Higuera, durante a madrugada
tive vários curtos diálogos com Che.
Perguntei a ele: ‘por que você veio para Bolívia? Nosso país tem um governo
democrático.’
Ele respondeu: essa não foi uma decisão minha. Foi uma decisão tomada em todos
os níveis’.
Estava claro que as ordens haviam vindo de Cuba.
Ao amanhecer, o comandante da 8ª Divisão, Coronel Joaquim Zenterno, veio de
helicóptero da cidade de Vallegrande. Eu deixei La Higuera e voltei para o desfiladeiro.
Quando retornei, por volta do meio-dia, encontrei Che Guevara morto. Por volta das
13:30 horas, nós o amarramos ao trem de pouso do helicóptero que estava voltando para
Vallegrande, esta foi a última vez que o vi.
Um dos homens que atirou em Che, Mário Terán, me contou o que havia
acontecido. Depois de receber uma ordem do presidente e do alto comando, para matá-
lo, o comandante de divisão perguntou se havia voluntários, havia sete. Ao contrário do
que conta o mito, todos os soldados se ofereceram como voluntários. Então, ele
selecionou dois aleatoriamente. Eles apenas entraram e atiraram. Não houve discursos,
despedidas, não houve nada. Apenas abriram a porta e atiraram.

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Em Vallegrande, Che foi lavado pelos médicos seguindo as instruções do exército,
já que eles queriam que nas fotos da imprensa o cadáver se parecesse com Che Guevara.
A aparência dele quando foi capturado.... vocês não o reconheceram. Havia outros corpos
no chão, mas eles não foram limpos. Apenas Che recebeu este tratamento. Claro, agora
ele é um ícone: sua imagem é vida em todos os lugares. Ainda assim, a maioria das
pessoas não sabem quem ele foi ou o que ele fez.

Ernesto Che Guevara

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UMA TRILHA DE 400 ANOS
Como prêmio, após comandar a 1ª Batalha dos Guararapes e expulsar os
holandeses de Pernambuco, o Governador Francisco Barreto de Menezes foi nomeado o
Governador Geral do Brasil com sede em Salvador, ficando como Governador de
Pernambuco o paraibano André Vidal de Negreiros.
Pernambuco tinha em sua alma a independência e o André Vidal não respeitava
as ordens de Francisco Barreto. Estamos em 1660 e apesar dos protestos do Francisco
Barreto a coroa portuguesa ofereceu maior autonomia a Pernambuco e foi transferido
para este Estado para resolver o impasse o comendador Cristóvão de Burgos e Contreiras
e seu amigo e compadre o Coronel Nicolau Aranha Pacheco.
A sesmaria dos Quilombos de Pedro Papacaça, Quilombo Tupiaty de Rainha
Izabel e o Quilombo de Quebrangulo foi doada a Cristóvão de Burgos e Contreiras e a
sesmaria que compreendia o quilombo Castainho em Garanhuns foi doado a Nicolau
Aranha Pacheco.
A trilha original que liga o quilombo de Quebrangulo até Bom Conselho ainda
hoje existe e nunca foi explorada para o turismo. Nasci na Fazenda Garrincha sendo suas
terras situadas ao Sul de Bom Conselho - o Rio Bálsamo divide Bom Conselho de
Palmeiras dos Índios-AL e o Rio Alabary divide Bom Conselho de Quebrangulo-AL. Esta
trilha foi criada a partir do Movimento Quilombola em 1595, movimento este que foi até
1695 com a morte do Zumby.
Esta foi a grande trilha da minha infância, tendo início em Quebrangulo passando
pela Fazenda Larges, sempre margeando o Rio Bálsamo, passa pelo encontro dos Rios
Bálsamo e Alabary, ultrapassa o Rio Alabary e se chega a Pernambuco, na Fazenda
Garrincha. Após passar nesta fazenda a trilha cruza a Fazenda Cacimbinhas, dos
descendentes de tio Cazeza e desemboca na estrada que liga Lagoa da Pedra - terra da
preguiça gigante – até Rainha Izabel - Quilombo Tupiaty. Da Rainha vai pela estrada do
Taquary até Bom Conselho. 40% dessa trilha nunca passou um carro, sendo seu percurso
feito a cavalo.
Estou em contato com o produtor cultural Carlos Alberto para elaborar um projeto
e apresenta-lo ao prefeito de Quebrangulo, o primo Marcelo Lima, para ser criada a 1ª
Cavalgada da Integração Quebrangulo/Bom Conselho. São duas cidades com a mesma
história e famílias.
Uma pergunta para os jovens: qual foi o cidadão que foi prefeito de Quebrangulo
e posteriormente prefeito de Bom Conselho?
Não podemos esquecer nosso passado e foi por essa trilha que em 1911
Quebrangulo invadiu Bom Conselho com 300 homens em apoio a Dantas Barreto. Aqui
não houve eleição e todas as urnas foram queimadas. Na trilha encontramos o cemitério
das Larges, construído por Frei Caetano de Messina para atender a demanda dos que
morreram de cólera numa grande epidemia em 1865, aproximadamente. O cemitério de
Quebrangulo também foi construído por Frei Caetano de Messina. Esta trilha, com
certeza, é uma das mais antigas de Pernambuco. Só falta você conhecer.

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GRUPO GLÓRIA /RELÂMPAGO /MAVISPUMA

Conforme já escrevi, fui admitido no Aché/Prodoctor Nordeste em 02/nov/1970,


Supervior do Norte/Nordeste em 01/mai/1972 e primeiro gerente e fundador do
Aché/Prodoctor Norte para os estados do Ceará, Piauí, Maranhão, Pará e Amazonas em
05/fev/1972 permanecendo no grupo Aché até 17/mar/1976. Por problemas pessoais
deixei o grupo Aché e iniciando minha vida de executivo no grupo de Transportes
Glória/Relâmpago e Colchões Champion em 17/mar/1976, ficando nestas organizações
até 21/dez/1993. Foram 17 anos de serviços prestados a este grupo formado pelos irmãos
Carlos Gilberto, Roberto Mário, Maurício Guilherme, Luiz Ricardo e Artur Filho. Todos
com sobrenome Ferreira dos Santos, aos quais agradeço a confiança e consideração.
Foi o grupo de Transportes Glória/Relâmpago e a Fábrica de Colchões
Mavispuma que deu grande impulso ao automobilismo pernambucano. Dedico um
capítulo especial a história do esporte automotor em nosso Estado.

Lançamento do carro Fórmula Volkswagen 1600, com patrocínio do Grupo


Glória/Relâmpago.
Da esquerda para a direita: Luís Ricardo Ferreira dos Santos, Nelson Albuquerque, José
Roberto Pereira e Maurício Guilherme Ferreira dos Santos
Recife, 1979

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JABOATÃO-PE, AQUI NASCEU A PÁTRIA BRASILEIRA

O município de Jaboatão dos Guararapes foi criado pela Lei Provincial nº 1.093 de
24 de maio de 1873, enquanto a Lei Provincial de 27 de junho de 1884 o elevou a categoria
de cidade. Atualmente, Jaboatão dos Guararapes faz parte da Região Metropolitana do
Recife. Estima-se que no início do século em 1908, sua população fosse de 30 mil
habitantes. Já em 1960, sua população chegava a 105.261 pessoas. Seu crescimento
demográfico foi bastante significativo, com um contingente populacional
predominantemente urbano, sendo a maior concentração no distrito de Prazeres. A
cidade de Jaboatão tornou-se distrito sede do município em 12 de dezembro de 1901. O
município tinha uma divisão territorial que comportava três distritos em 16 de dezembro
de 1948.
A prevalência maciça da população urbana, com suas relações sociais de maior
complexidade, assinala uma imensa distância dos seus primeiros tempos de história,
quando predominavam os engenhos de açúcar que remontam ao primeiro século da
colonização portuguesa. Para os habitantes do Jaboatão, fica difícil imaginar que por aqui
passaram escravos, viveram-se tempos de grande fausto para uma chamada aristocracia,
enriquecida com a venda do açúcar para seus primeiros habitantes não foram porém, os
escravos, nem tão pouco invasores europeus, mas os indígenas, que sofreram a violência
da colonização portuguesa, perderam suas terras, foram desrespeitados nos seus
costumes, ficaram subordinados a uma cultura diferente, com símbolos e códigos que os
oprimiam.
Assim, registrava-se o primeiro grande conflito da história brasileira no primeiro
século da colonização portuguesa. A sociedade colonial movia-se determinada pelos
interesses da Metrópole.
O que se buscava era produzir riqueza que ajudasse Portugal a manter-se no
poderio, que já enfrentava dificuldade no século XVI. A esperança de que a colônia
salvasse a Metrópole dos seus infortúnios trouxe investimentos europeus. Não era fácil
ocupar esse imenso território. Sonhava-se com os metais preciosos que os espanhóis
encontraram nas suas colônias. Expedições foram montadas, seduzidas pelo desejo de
enriquecimento rápido. Mas, só no século XVII, Portugal conseguiria acumular e ao
mesmo tempo desperdiçar as grandes riquezas vindas das jazidas descobertas. Assim,
Portugal procurava manter seu Império Colonial de extensão considerável, para manter
o lugar que ocupava nas relações internacionais de poder. As terras brasileiras foram
exaustivamente exploradas. Nada mais promissor nos primeiros séculos de colonização,
do que a doce riqueza vinda das plantações de cana-de-açúcar. Os engenhos de açúcar
tiveram na Capitania de Pernambuco um lugar privilegiado. Nas terras atuais do
município de Jaboatão tornou-se num lugar privilegiado. Nestas terras, muito se
produziu e se exportou, durante séculos que atravessaram os tempos coloniais e
chegaram aos nossos tempos, aproveitando-se da fertilidade da terra.

- 106 -
Dois fatos importantes na cidade de Jaboatão dos Guararapes-PE:
1. Foi em Jaboatão que se iniciou a unidade nacional quando foi expulso o invasor
holandês e pela primeira vez nosso exército foi composto por negros (Henrique Dias),
índios (Felipe Camarão) e brancos (João Fernando Vieira, André Vidal de Negreiros e
Francisco Barreto de Menezes).
2. Foi em Jaboatão dos Guararapes o primeiro prefeito comunista eleito
democraticamente pelo voto no início da década de 60.

Engenho em Jaboatão dos Guararapes. Pintura de Albert Eckhout, 1637

- 107 -
PERNAMBUCO JÁ FOI BRASIL

Nossos pequenos comentários sempre são voltados para um pouco da nossa


história, visando principalmente o leitor mais jovem, pois é importante conhecer o
passado para projetar o futuro.
Estamos vivenciando o grande momento da Copa do Mundo 2014 e não
poderíamos deixar de escrever sobre a participação de jogadores pernambucanos neste
torneio, ou a importância de Pernambuco nos treinamentos da Seleção Brasileira. Vários
jogadores do nosso Estado já vestiram a canarinha, a exemplo de Ademir Queixada,
Vavá, Rildo, Zequinha, Manga, Nado (primeiro jogador a sair de um time do Nordeste,
o Náutico, diretamente para a Seleção), Roberto Coração de Leão, Ricardo Rocha e
Rivaldo são os que me vem na memória. Pouca gente sabe, é que a Seleção Pernambucana
já representou o Brasil no Sul-americano realizado no Equador na cidade de Guayaquil
no ano de 1959 (Copa América). Nossa Seleção foi apelidada de “Cacareco”, existindo
duas vertentes para este apelido.
A primeira, como nossos jogadores tinham uma média alta de idade, Cacareco significava
objeto antigo, aquele que não se usa mais.
A segunda vertente, é que havia uma rinoceronte no zoológico de São Paulo chamada
Cacareco, e por gozação dos paulistanos em voto de protesto foi eleita “vereadora” com
mais de 100 mil votos. O jornalista pernambucano, já falecido, Aramis Trindade, defendia
a primeira vertente.
Foi escolhido como técnico desta Seleção o folclórico Gentil Cardoso que trabalhava no
Santa Cruz e foi o inventor da palavra “Zebra” no futebol. O time titular “Cacareco”
jogava com Valdemar (Náutico), Edson (Santa), Zequinha (Náutico), Clóvis (Santa), Zé
Maria (Sport), Givaldo (Náutico), Traçaia (Sport), Biu (Santa), Geraldo (Náutico), Paulo
(Náutico) e Elias (Náutico). O embarque foi o DC-6 da Panair que segundo os gozadores
significava: Passagem Atrasada Não Adianta Ir Reclamar. O assédio da imprensa
equatoriana foi grande, pois o Brasil tinha sido campeão no ano anterior. Nossa delegação
ficou hospedada no Hotel Majestic. Este torneio Sul-americano tinha as seis principais
seleções do Continente. O primeiro jogo foi Pernambuco 3x2 Paraguai; no segundo,
apesar de boa atuação, perdemos para o Uruguai por 3x0; contra o Equador (dono da
casa) perdendo no primeiro tempo por 1x0 viramos a partida e vencemos por 3x1; contra
a Argentina jogando praticamente com um time reserva (devido a contusões) perdemos
por 4x1 com três gols do artilheiro argentino José Sanfilippo. A Seleção Cacareco ficou na
terceira colocação e Pernambuco vestido de Brasil nos bem representou. Quem
debochava reconheceu nossa luta, e Cacareco a partir da lei ganhava outro significado.

Curiosidades da Seleção Brasileira


1934: Preparando-se para a Copa, o Brasil treinou 2 meses no Recife. Venceu o Náutico,
Sport e Seleção Pernambucana, perdendo para o Santinha por 3x1, sendo Santa Cruz o
primeiro time a derrotar a Seleção Brasileira em preparação para copa.

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1938: Num campo encharcado, Leonidas da Silva perdeu uma chuteira marcando o gol
com pé descalço.
1958: Comentário do jogador Garrincha: “Que campeonato pequeno e parece que a final
será contra o São Cristóvão” (camisa da Suécia parecida com a do time carioca).
1962: Vavá foi o único jogador do mundo a marcar gols em finais de copa 58 e 62. No jogo
contra o Chile (dono da casa) e para evitar uma possível contaminação na alimentação os
jogadores do Brasil comer um sanduíche de salame com refrigerante antes da partida.
1966: Segundo comentários, o jogador Gérson (canhotinha de ouro) para não entrar em
campo comeu pasta de dente provocando vômitos.
1970: Jairzinho, o furacão da copa, foi o único jogador do mundo a marcar gols em todas
as partidas.

Pernambuco representando a Seleção Brasileira na Copa América 1959

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ACHÉ LABORATÓRIOS S/A - PRODOCTOR NORDESTE
UMA HISTÓRIA DE 50 ANOS

Desde o final do século dezenove e inicio do vinte, que a indústria farmacêutica já


divulgava seus produtos através de almanaques e jornais. No começo da década de
quarenta esta indústria iniciou um processo de propaganda onde o divulgador científico,
também chamado de propagandista vendedor, levava sua mensagem diretamente aos
médicos.
A partir daí esta indústria passou a ter seu marketing dividido em produtos éticos
que eram divulgados e prescritos pela classe médica e produtos não éticos que eram
divulgados através dos meios de comunicação como TV, Rádio ou Jornal.
Os laboratórios que vieram para o Brasil pertenciam a duas escolas distintas de
propaganda, ou seja, os laboratórios europeus como Carlos Erba, Roche, Rhodia e
laboratórios americanos como Squib e outros.
Os europeus com uma propaganda mais clássica, mais pesada, e os americanos
bem mais leves com uma propaganda mais agressiva, mais dinâmica.
Até a década de sessenta os laboratórios farmacêuticos nacionais não tinham
nenhuma expressão e em quase toda sua totalidade fabricavam produtos não éticos
usando como fonte de propaganda os meios de comunicação e o ponto de venda
(Farmácias) com o balconista recebendo comissão para “empurrar” estes medicamentos.
A venda dos laboratórios estrangeiros representava quase 90% do mercado nacional.
Na segunda metade da década de sessenta os executivos da Squib Victor Siaulys,
Depieri e Adalmiro Delape Baptista, não se conformavam com as dificuldades das
tomadas de decisões da Squib, dificultando o trabalho.
Experiência, trabalho e motivação não faltavam. O Brasil com a revolução de 64 e
novo planejamento na economia através do Ministro Roberto Campos estava criando
novas linhas de crédito para novos empreendimentos.
Estes executivos com a ideia inicial do Victor Siaulys, montaram a Prodoctor.
Iniciaram com a criação da Distribuidora Prodoctor, que distribuia o Sintofarma
para em seguida adquirirem o controle do Aché laboratórios S/A em 1966.
É importante para as novas gerações de acheanos (uma vez acheano, sempre acheano)
saberem um pouco da história do Aché.
Este laboratório foi criado pelo médico Dr. Philippe Aché, o farmacêutico e
bacteriologista Dr. João Palma Travassos e o advogado Dr. João Alves Meira Júnior em
1922. O Dr. Philippe Aché já tinha criado na capital paulista o Instituto Aché de
Psiquiatria, porém, esta nova empresa criada em Ribeirão Preto-SP teve como nome
Laboratório de Hormonioterapia Aché, Travassos e Cia. O Dr. Philippe Aché faleceu em
Ribeirão Preto em 12 de junho de 1935 aos 66 anos de idade, ele que era mineiro de
Uberaba-MG. A partir da criação do Laboratório Aché, começaram a fabricar os soros
hormônicos a partir do sangue de cavalos e éguas criados em chácara do próprio Aché.
Por sugestão do seu sócio Dr. Palma Travassos, o laboratório Aché passou a fabricar soros
extraídos de órgãos humanos como o Pancreatino, o Hormocerebrino, o Hormohepático,

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o Hormocardino, o Hormoplacentino, dentre outros. Foram lançados também o
Hormoltámico e o Travasma. Com a morte do Dr. Philippe Aché, esta família deixou o
laboratório o qual passou por dificuldades, continuando vivo graças a Carmem Travassos
com apenas 20 anos de idade. Em 1960, a Carmem Travassos vendeu o Laboratório Aché
para Agostinho Cabreira, que já tinha um laboratório o Nitrafarma. Agostinho, com
alguns sócios que incluía a Dra. Lúcia Aché que era filha do Dr. Philippe Aché, decidiram
construir um novo laboratório Aché na Rua Nova dos Portugueses em São Paulo, um
local com 600 m2 aproximadamente. Escrevo um pouco mais sobre a fundação do nosso
Aché no próximo capítulo.
É importante salientar que a indústria farmacêutica nacional, teve duas fases
distintas, antes e depois do Aché Laboratórios.
Victor Siaulys e seus sócios criaram uma verdadeira revolução no conceito de
propaganda médica, distribuição e cobrança. Nunca mais a indústria farmacêutica foi a
mesma.
Os conceitos filosóficos do Aché Laboratórios têm como base a extraordinária
formação profissional de seus dirigentes e o resumo deste conceito sendo passado para
todos os colaboradores.

- Contratar para propagandista, vendedor e colaborador que não conheça a indústria


farmacêutica. O novo facilita o trabalho de aprendizado.

- O jovem candidato tem que ter boa formação pessoal e familiar. Ter o Segundo Grau
completo, boa dicção e apresentação.

- Faixa etária entre 19 e 22 anos, de preferência que tenha veículo próprio.

- Ter sido bancário, vendedor de máquinas, de livros ou Corretor de Imóveis, tem


melhores chances na admissão.

- Candidato nesta faixa de idade e casado tem preferência, pois, a responsabilidade do


casamento leva o colaborador a ter responsabilidade nos negócios do laboratório.

- Após a admissão, treinamento constante, é o oxigênio que nunca irá faltar durante
todo o período que este colaborador prestar serviços ao Aché Laboratórios.

- Controle total nas despesas, através de relatórios desde o propagandista ao Gerente


do Aché/Prodoctor.

- Valorização de tudo que se relaciona ao laboratório. Desde a pasta de propaganda, as


amostras, o material de treinamento e o próprio vestuário do propagandista são
examinados.

- 111 -
- O aumento de venda unitária dentro do princípio de visitar a maior quantidade de
médicos com a melhor propaganda irá, por tabela, facilitar a cobrança junto as
farmácias. A luta constante por uma boa cobrança são um dos primeiros princípios
do Aché, pois, esta valorização do Capital fez o laboratório crescer sem precisar de
favores do governo.
- Ter e lançar produtos de alto giro de acordo com um segmento específico de mercado.
Galeria dos Saudosos Vultos da Medicina Brasileira

Dr. Philippe Aché


Além do trato cientifico e da qualidade do produto, requisitos que o Aché nunca abriu
mão, o fato mercadológico é ponto básico nesta evolução principalmente no Brasil onde
o povo é hipocondríaco.
A sensibilidade e a visão de futuro fizeram a diferença entre os dirigentes do Aché
e os outros laboratórios. O Aché joga no erro dos adversários. Enquanto os outros
laboratórios fazem reunião em dias úteis o Aché recicla seu pessoal em sábados e
domingos. A rapidez da criação e colocação de um plano de ação no campo é outro
diferencial na Equipe do Aché. Isto na década de 70.
- Visitar Acadêmicos de Medicina há partir do quinto ano de estudo com amostra
grátis, numa época em que os outros laboratórios tinham pouco material até para
médicos famosos. Era o Aché com visão de futuro.
Dentro destes princípios e com a evolução dos Laboratórios no eixo Rio/São Paulo
o Aché/Prodoctor resolve iniciar o trabalho de lançar esta nova filosofia no Nordeste do
Brasil.

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Estamos no segundo semestre de 1970. O Brasil acabara de ganhar o Tri
Campeonato Mundial de Futebol. O novo modelo econômico estava dando certo. A
inflação com menos de 10% ao ano.
Dentro deste clima de ufanismo o próprio Adalmiro Delape Baptista então
Presidente, veio ao Recife para entrevistar, admitir e treinar a primeira equipe de vendas
do Aché/Prodoctor Nordeste. Quando todos os grandes laboratórios estavam fechando
suas distribuidoras Victor e seus sócios fizeram o contrário, em mais um lance de
criatividade fundaram esta distribuidora a Prodoctor Nordeste LTDA, que passa a ser a
distribuidora exclusiva do Aché, para os estados do Nordeste.
Com distribuição local e exclusiva a reposição dos produtos seria automática e a
filosofia do laboratório melhor representada.
A primeira equipe de vendas foi entrevistada em uma pequena sala do Ed.
Continental no centro do Recife. Esta sala era de um contador responsável pela
contabilidade da Prodoctor Nordeste. Os escolhidos, aqueles que formaram a primeira
equipe do Aché na região foram: Roney, José Roberto e Esvalter (Recife); Reginaldo (Int.
de Pernambuco); Vilella (Estado de Alagoas) e Palettó (Estado da Paraíba). Para o
comando desta equipe o Adalmiro escolheu um seu velho conhecido da Squib o Teixeira
que passaria a ser o Gerente de Vendas e também escolheu o Nilo para gerente
administrativo.
Esta equipe foi registrada na Prodoctor Nordeste em 02 de novembro de 1970 com
o propagandista recebendo CR$ 40,00 (quarenta cruzeiros) de salário mais comissão
sobre as vendas.
O primeiro endereço do Aché em Recife foi a Rua Real da Torre, 1046.
O Teixeira, fruto da velha escola de propaganda médica, não assimilou esta nova
filosofia que o Aché estava plantando na indústria farmacêutica e logo em seguida foi
demitido.
O Teixeira era um bom treinador e ensinava que todo produto farmacêutico tem o
seu DAVIDA, ou seja: Definição do produto, Ação de cada componente, Vantagens do
medicamento, Indicação do produto, Dose ou Posologia e Apresentação (creme, pomada,
injetável, etc.).
Para assumir a Gerência da Prodoctor Nordeste foi promovido de Supervisor no
Paraná a Gerente no Nordeste, NATALE VANUCCI NETO.
Este executivo, deu andamento a tudo que o Adalmiro imaginava como certo e
grande parte do que existe com o nome Aché em todo o Norte/Nordeste tem o carimbo
de Natale.
Formador de equipe por excelência, emérito treinador, cobrador implacável de
resultados, o Natale criou grandes executivos para a própria formação dos futuros
acheanos. Da primeira equipe do Aché seria promovido a primeiro Supervisor do Norte
/ Nordeste José Roberto Pereira no final de 1971.
Esta Supervisão Regional seria responsável pelo treinamento e acompanhamento
da equipe nos estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Nesta
época foram admitidos, Rinaldo Miranda, Josimar Henrique, Carlos Fabrício, Paulo

- 113 -
Cavalcante, João Vieira, Paulo Rocha, Fred, Wanderley e tantos outros colaboradores
cada um plantando um tijolo nesta grande construção.
Com o equilíbrio neste setor, José Roberto Pereira foi convidado para criar e
assumir a Prodoctor Norte como Gerente Geral (vendas, administração e procurador).
Esta nova Prodoctor seria a distribuidora do Aché nos estados do Ceará, Piauí, Maranhão,
Pará e Amazonas. A primeira equipe da Prodoctor Norte era por Maia, Tonho, Gustavo,
Firmino, José Maria. Com o crescimento dos setores chegaram para somar; José Djalma
Morais, Euclides Albuquerque, Ciro, Vilmar Pinto, Eider, Roberto Nobrega, Simonassi, a
Secretária Doralice e tantos outros bons colaboradores.
Vários laboratórios farmacêuticos tentaram copiar o trabalho do Aché, como não
conseguiram partiram para tirar seus bons elementos na propaganda. O bom elemento
ia, no entanto, a filosofia ficava e novos elementos eram treinados para substituir o ex.
O jeito de ser do Aché é próprio, pessoal intransferível. Será imitado nunca
igualado. A formação profissional do Aché é uma formação de vida para cada um dos
que colaboraram com esta empresa. Exemplos não faltam dos que conseguiram ter seu
próprio negócio, são excelentes pais de família, executivos vencedores em outras
organizações.
São vencedores, primeiro por que são inteligentes, trabalhadores, segundo, pela
formação profissional adquirida no Aché Laboratórios onde o trabalho de equipe, o
treinamento constante e a vontade férrea de atingir objetivos são pontos em comum em
todos eles.
Tudo que Victor Siualys e seus sócios nos incentivaram em 1970 tornou-se
realidade e agora com novas gerações no comando do Aché Laboratórios S/A, teremos
em breve uma nova unidade desta indústria implantada em Suape em solo
pernambucano, talvez em agradecimento pela contribuição não só de Pernambuco, como
também dos demais estados do Norte e Nordeste onde a filosofia do Aché/Prodoctor foi
plantada com raízes profundas.

Unidade Fabril do Aché em construção. Suape-PE


Gerando 500 empregos diretos e 2.500 empregos indiretos

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VICTOR SIAULYS, O MAIOR GÊNIO DO MARKETING DA
INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Antes de escrever sobre este gênio, é importante lembrar de quando o conheci no


início de 1972 quando fundei e assumi como primeiro gerente do Aché Prodoctor Norte,
isto com apenas 22 anos de idade e já casado. Pelo organograma da época nós éramos
ligados diretamente ao Miro (Adalmiro Dellape Baptista), porém ao conhecer o Victor,
sua história no Aché, o executivo de marketing e criador das famosas Táticas Quinzenais
(a maior sacada do marketing no Aché) passei a admirá-lo. Para quem não conhece, toda
tática representava o plano de ação dos próximos 15 dias, todos os enfoques das novas
propagandas que deveriam ser entendidas e decoradas (igual teatro) dava uniformidade
da propaganda em todo o território
nacional e sem falar na famosa mala
quadrada de propaganda para amostras
grátis (a maior do mercado) a qual o
médico conhecia de longe. Essa mala foi
outra criação do Victor.
Quando falo que o Victor Siaulys
foi o maior gênio do marketing
farmacêutico nacional estou dando um
testemunho vivo e “contra fatos não
existem argumentos”.
Para não ser cansativo, irei
enumerar mais ou menos
cronologicamente os “feitos” do Victor
que mudariam para sempre a concepção
da propaganda médica.
Victor Siaulys

- Foi quem criou a Prodoctor (que significa para o médico) em 1965 para
representar o Sintofarma. Convidou Adalmiro e Depieri para sócios, em seguida entrou
na sociedade o Rafael, irmão do Adalmiro.
- Lendo o Jornal Estado de São Paulo, o Victor descobriu o anúnco da venda de
um laboratório farmacêutico, era o Aché, isto em 1966.
- O principal “cliente” era o médico, porém, o público alvo era o feminino. O Victor
mudou a embalagem do Aché para rosa, não só para homenagear as mulheres como
também pela visão dos produtos na prateleira. A cor não foi mudada até hoje.
- Criou as táticas que eram manual de instrução e propaganda para os próximos
15 dias.
- Foi ideia do Victor, as famosas “intrigas promocionais” que era um material de
propaganda deixado com os médicos e nem nós sabíamos o porquê.

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Exemplos: 1. Quando colocou sabor cereja no Iodepol ele distribuiu com toda a classe
médica um sachê com sabor cereja.
2. No pré-lançamento do Menopax, uma folha estilizada que representava o outono foi
entregue como intriga promocional.
3. No pré-lançamento do Energizan, o Victor mandou fabricar um pequeno brinquedo
que apertando fazia um “clic” representando a energia.
Todos os lançamentos do Aché tinham uma sacada genial do Victor Siaulys.
Na minha época de Aché (1970 a 1976), nossa linha básica era: Dextrovitase, Sorini,
Sensiclase, Combiron, Iodepol, Moderex, Menopax, Somalium, Somalium GI, Diazetard,
Energizan e Levoid. Foi também iniciativa do Victor explorar ao máximo junto aos
médicos e acadêmicos o sistema C.L.R. (Crono Liberação Regulada). Os produtos
soltavam microdoses na corrente sanguínea durante 8 horas aumentando o nível
plasmático. Na época foi sucesso absoluto.
Digo sempre que se o Adalmiro Delape Baptista foi o grande apóstolo desta nova
filosofia de propaganda, o Victor Siaulys foi o evangelista, aquele que escreveu e mudou
toda a evolução do marketing farmacêutico nacional.
Conforme já afirmei, deixei o Aché Prodoctor Norte em 1976, passando a gerência
para um colaborador admitido por mim, o Josimar Henrique da Silva. Através de amigos
comuns e da imprensa nunca deixei de acompanhar o trabalho do Victor, principalmente
após junto com sua esposa Mara, criarem a LaraMara neste extraordinário trabalho,
visando tão somente o bem-estar do ser humano. Hoje o profissionalismo do Victor
continua nas mãos da sua filha Tatiana Siaulys dando sequência a esta geração do bom
sangue lituano.

Alexandre, Christiane, João Roberto e Jorge Romero. Filhos queridos

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JOSÉ DJALMA MORAIS – O CAMPEÃO NACIONAL DE
VENDAS DO LAB. ACHÉ DE 1979
Conheci o José Djalma Morais em março de 1973 quando era Gerente do Aché
Prodoctor Norte. Estava eu comprando um terno nas Lojas Milano e fui atendido por um
vendedor que tinha todas as características de um bom propagandista (uma das nossas
missões no Aché era procurar sempre novos valores). Convite feito, convite aceito e o José
Djalma Morais passou a trabalhar conosco. Quando deixei a organização em 1976, deixei
o Djalma como Supervisor. Seguindo religiosamente as Táticas do Aché, encontro o
Djalma Campeão Nacional de Vendas em 1979. José Djalma Morais, amigo da família
Siaulys, continua morando em Fortaleza.
Leia com atenção o agradecimento do Victor Siaulys ao José Djalma Morais,
Campeão Nacional de Vendas com 89% do objetivo atingido:

“Mais uma vez, prestamos homenagem a colegas da região NO/NE.


Norte, a grande campeã do ano que passou, com um sensível diferença sobre as duas
mais diretas concorrentes - Divisul e Interior, mostra que daqui para frente, vai ser
difícil perder esta primazia, pois, com este feito conseguiu a maturidade que há tempos
perseguia. José Djalma de Morais - cearense de Itapipoca, terra de gente brava, que
poucos brasileiros sequer ouviram falar, conosco desde abril de 1973, foi o grande
condutor.
Como a grande maioria dos Acheanos, Djalma abandonou o ramo de magazines, para
ingressar na então Prodoctor NE.
Logo cedo, metabolizou os ensinamentos do Aché e em pouco tempo já estava também
criando novos discípulos nas terras de Maranhão e Piauí, onde foi Supervisor e
englobando mais tarde, já como Gerente, seu estado natal.
Praticamente, começou junto com a sua querida Norte lá no edifício Jalcy em Fortaleza
e daí seu grande amor e devoção pelas coisas que dizem respeito à sua Filial.
Apesar dos difíceis problemas de sua região, rude por natureza, Djalma, tem
conseguido não só alicerçar cada vez mais a linha Aché, sendo no momento cotada
entre as 3 primeiras no “ranking” local, como também, de uma maneira toda especial,
fazer com que o NOVOterápica, também passe a ser considerado como o outro grande
Laboratório nacional.
Tem “nas veias” o sangue dos grandes realizadores.

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Prova disto, que reconhecendo seu valor e capacidade, já está em construção a nova
sede Prodoctor, pioneira no modelo a ser implantado em outras áreas do Brasil, de
linhas arquitetônicas arrojadas que será o símbolo da nossa pujança e sobretudo
confiança no futuro do NORTE.
Destemido e valente em busca das metas que são propostas, não medindo esforços e
sacrifícios, prova a todo instante que “Querer é poder”.
Amável e solícito, no contato com seus comandados, consegue mostrar que trabalho e
união são uma constante na busca dos sucessos que vão se acumulando, numa prova
inconteste de conhecimento e perseverança.
Nós nos juntamos à Norte que deve estar toda engalanada, nas homenagens ao seu
grande líder.”
Parabéns Campeão’ Parabéns Campeões 1979!!!
Victor Siaulys

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ACHÉ PRODOCTOR NORTE – FOTOS HISTÓRICAS

1ª Sede própria do Aché Prodoctor/Norte Fortaleza


Natal – 1975

1ª Equipe - Da esquerda p/ a direita:


Tonho, Zé Roberto (Gerente), Maia, Zé
Maria e Gustavo - 1972
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