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Dissertação de Mestrado
Rio de Janeiro
Julho de 2003
Fábio Carvalho Leite
Ficha Catalográfica
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0014242/CA
1. Direito – Teses. 2.
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Adriano Pilatti, com quem, em um momento feliz da vida, selei uma
amizade que jamais conheceu a dúvida, pelo apoio intelectual, profissional e mesmo
emocional, nos não raros momentos de dificuldade. A esta já sólida – embora não tão
velha – amizade devo muito do que está presente neste trabalho...e, justiça seja feita,
do que não está também.
Palavras-chave
constitutional order.
In this way, the work aims to identify the political project represented
by the Constitution of 1891 and to investigate how that project was defended,
through the study of the Supreme Court decisions.
Keywords
Brazil; history; republic; republicanism; constitution; constitutional law.
SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO....................................................................................... 9
2. A República no Império...................................................................... 11
2.1 A idéia republicana nos primeiros anos do Império....................... 11
2.2 A República na segunda metade do século XIX............................ 14
2.2.1 Quadro Econômico, Social e Político.................................... 14
a) Quadro Econômico.................................................................... 14
b) Quadro Social............................................................................ 20
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c) Quadro Político.......................................................................... 25
2.2.2 O Movimento Republicano e a Queda da Monarquia........... 31
6 CONCLUSÃO........................................................................................ 213
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7 BIBLIOGRAFIA..................................................................................... 218
1
INTRODUÇÃO
2
A República no Império
“(...) não quer dizer que não houvesse republicanos, isto é, homens para os quais
a República era o sistema político ideal para o Brasil, aspiração suprema e
solução completa para todos os problemas brasileiros. Queremos apenas dizer
que acima do espírito republicano, ausente aliás da maioria dos movimentos,
havia interesses mais fortes em jogo, reivindicações de caráter mais imediato,
havia os eternos descontentamentos pelas dificuldades econômicas permanentes
das populações, as quais atendiam indiscriminadamente a qualquer movimento
de rebeldia, sem indagar se era republicano ou não.”1
“Em suma, era necessário estabelecer, pelo menos, duas metas fundamentais
para o movimento: elaborar uma forma de governo republicano e de monarquia
constitucional, com base nas fantasias plebiscitárias de Rousseau ou no esquema
representativo de Locke, e abolir a escravatura. Todas as elites sul-americanas,
desejosas de mudar a posição de seus países no sistema internacional, foram
obrigadas a enfrentar este problema de fixação de metas. Elas sabiam
exatamente o que não queriam e, a partir daí, haviam decidido romper ligações,
altamente perniciosas para elas, com a parte decadente do mundo. Mas
precisavam, também, decidir o que desejavam.
1
BASBAUM, LEONCIO. “A História Sincera da República”, 5.ª edição, São Paulo: Editora
Alfa-Omega, 1986, p. 191.
2
SANTOS, WANDERLEY GUILHERME DOS. “Ordem Burguesa e Liberalismo Político”, São
Paulo: Livraria Duas Cidades, 1978, p. 75.
13
3
Convém observar que a idéia de representação popular não deve ser compreendida aqui como
resultado de uma efetiva preocupação em se assegurar a representação de todo o povo, abrangendo
todas as classes, a partir de um processo eleitoral que observasse o sufrágio universal. A expressão
aqui denota somente uma mera oposição à vontade divina que confere fundamento de legitimidade
aos regimes monárquicos, podendo resultar - como seria o caso - de um processo eleitoral baseado
no sufrágio restrito.
14
a) Quadro Econômico
4
COSTA, EMILIA VIOTTI DA. “Da Monarquia à República: Momentos Decisivos”, São Paulo:
Editora Grijalbo, 1977, p. 244.
15
XIX ficaria por conta do café. O produto, em si, há tempos integrava o quadro
produtivo brasileiro. A novidade ficava por conta da demanda internacional, que
crescia exponencialmente, proporcionando o crescimento da produção interna, a
conseqüente expansão do setor cafeicultor e, o que aqui se revela mais importante,
o surgimento no cenário político de uma nova personagem: o cafeicultor.
A expansão da cultura cafeeira no País tornou-se assim uma exigência de
primeira ordem, a fim de acompanhar a crescente demanda internacional pelo
produto. Ocorre que a cultura do café é marcadamente intensiva em terra e mão-
de-obra, de modo que a possibilidade de seu crescimento depende destes dois
fatores. A este respeito, cumpre verificar que ambos apresentavam problemas, ou
por outra, colocavam questões de difícil resolução, que exigiriam decisões
políticas não rotineiras por parte da elite dirigente brasileira.
Em relação à terra, somente em um primeiro momento, ou seja, a curto
prazo, poderia-se afirmar que a disponibilidade na região fluminense, onde o café
havia sido inicialmente cultivado, seria suficiente. É que, por tratar-se de uma
agricultura extensiva, sua existência, em uma determinada região, tem um tempo,
de certo modo, preestabelecido, o que, se não impede a sua expansão após o
esgotamento da região de cultivo, ao menos a condiciona à existência de uma
5
SANTOS, WANDERLEY GUILHERME DOS, op. cit., p. 83.
16
fronteira agrícola aberta. Este não era, no entanto, o caso do Rio de Janeiro. A
região fluminense revelou-se, em curto espaço de tempo, insuficiente, obrigando
os produtores a migrarem para outras regiões propícias ao cultivo do café e que,
ao mesmo tempo, oferecessem possibilidade de expansão. Verifica-se que o
surgimento da cultura do café como pivô do quadro econômico brasileiro exigia
não apenas decisões políticas não rotineiras, mas também imediatas, por conta da
crescente demanda internacional. Deu-se, então, início ao aproveitamento de
novas terras, em direção ao sul, primeiro nas fronteiras de São Paulo e, em
seguida, no próprio solo paulista.
No que tange à mão-de-obra, deve-se recordar que o país há tempos sofria
imposições por parte da Inglaterra no sentido de que fosse combatido o tráfico de
escravos, visando, ao cabo, à própria abolição da escravidão. Nesse sentido, várias
medidas foram tomadas, tanto pelo governo brasileiro quanto pelo governo inglês,
desde 1826, sempre contra a vontade da classe dirigente no País: os senhores de
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6
Op. Cit., p. 247.
17
"Lutaram pela escravidão enquanto lhes pareceu que a lavoura somente poderia
subsistir com a escravidão. Apoiaram a imigração, o braço livre, de qualquer
espécie, quando lhes pareceu que o braço livre era capaz de produzir mais que o
trabalho escravo. Libertaram os seus escravos, alguns mesmo espontaneamente,
7
Idem.
8
Op. Cit., p. 84.
18
9
Op. Cit., p. 227-228
10
FERNANDES, FLORESTAN. “A Revolução Burguesa no Brasil”, 2.ª edição, Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1976, p. 110.
11
Op. Cit., p. 111.
12
Idem.
13
Op. Cit., p. 112.
19
“Os fatores geográficos e tecnológicos dão apenas uma medida parcial das
razões do avanço nas novas regiões paulistas. Ele se explica fundamentalmente
como resultado de transformações conjugadas no plano interno e nos pólos
dominantes da economia mundial. Muito embora em seus primeiros tempos a
fazenda do Oeste devesse contar com a força de trabalho escrava, ela nasceu em
uma época em que as possibilidades de manutenção de sistema escravista se
esgotavam. Esta antevisão dos novos tempos deu aos empresários da região uma
enorme vantagem sobre os seus colegas do Vale. A utilização do escravo se
tornou uma opção de emergência, enquanto as várias tentativas de trabalho livre
iam sendo ensaiadas até lograr forma definitiva, com a imigração em massa dos
colonos europeus, a partir de meados dos anos oitenta.”14
14
BORIS FAUSTO. “Expansão do Café e Política Cafeeira”, in. História Geral da Civilização
Brasileira, 6.ª edição, Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 1997, p. 198.
20
b) Quadro Social
Não apenas o quadro econômico, mas também, e, em boa parte, por conta
disso, a sociedade brasileira sofreu profundas modificações na segunda metade do
século XIX. Durante este período, o País, ao lado do esboço de uma
industrialização e do crescimento do comércio interno, também experimentou
mudanças significativas em sua estrutura, tais como a criação de ferrovias,
reaparelhamento dos portos, a instalação do telégrafo e, nas cidades, a chegada da
iluminação a gás nas ruas. Estas mudanças, decorrentes do quadro econômico,
foram acompanhadas por alterações no quadro social brasileiro, o qual tornou-se
mais complexo do que a tríade “senhor do engenho – capataz – escravo”,
presente durante os primeiros anos do Império, e que era capaz de resumir a
composição social brasileira em uma grande fazenda.
O quadro social, durante a segunda metade do século XIX, ainda
comportava os velhos proprietários rurais do açúcar, do tabaco e do algodão, além
15
Idem.
21
dos criadores de gado do Norte e do Sul do País, em que pese a crise que estes
produtos experimentavam no comércio internacional, sentida pela significativa
queda nas exportações. Estes constituíam a elite dirigente que dominava o País,
chamada de aristocracia rural, “pelo fato de se ter a si mesma avocado direitos de
nobreza, que lhe provinha, conforme julgava, da terra e da posse de escravos”16.
Nesse sentido, faz-se imperioso assinalar, se não o surgimento, o papel de
destaque adquirido pelo fazendeiro de café, outrora mero coadjuvante no quadro
econômico brasileiro. Ainda que se possa afirmar que o fazendeiro de café seria
apenas mais um no quadro da aristocracia rural, cabe assinalar que a mudança
operada pelo surgimento dos cafeicultores, sobretudo os oriundos de São Paulo, é
muito mais qualitativa do que quantitativa. Não por outra razão, foram batizados,
nas palavras de LEÔNCIO BASBAUM, como a “nova aristocracia rural”: Em
suas próprias palavras:
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“Durante muito tempo, eles formaram uma classe sólida e seus elementos
caminhavam juntos. Iguais eram os seus interesses: o latifúndio, a escravidão, o
antiindustrialismo, o câmbio baixo, o mercado externo. Mas houve um momento
em que essa classe se cindiu. De um lado permaneceram os senhores de engenho
do Norte, constituindo uma nobreza em decadência, que vivia mais da tradição e
das lembranças de um fausto passado que da riqueza atual – e que dirigia o país.
De outro lado, os fazendeiros, os senhores do café, a nova aristocracia rural –
tão burguesa, tão rural, tão escravocrata quanto a outra, porém mais rica, mais
arrogante, mais audaciosa e que desejava dirigir o país. Era como o filho mais
velho que, começando a sustentar a casa, procurava alijar do caminho o pai
aposentado.”17
16
BASBAUM, LEÔNCIO, Op. Cit., p. 140.
17
Op. Cit., p. 141.
22
“essa massa analfabeta e desde então marginal, passava agora a fazer parte do
povo, pois que haviam se tornado cidadãos. Abandonados à sua própria sorte,
em grande número, os que puderam, fugiram dos campos, invadiram as cidades,
para se sujeitarem aos empregos mais brutais, ou a corromper-se no crime ou a
degradar-se no álcool. Numericamente, constituíam uma parte ponderável da
população e mais ainda nas cidades que os acolheram. Está claro que não se
podia esperar deles idéias republicanas. Ao contrário, durante muitos anos os
libertos se mantiveram fiéis à Monarquia que lhes havia dado a liberdade
almejada e organizavam clubes e sociedades com o nome da Princesa Isabel.”18
representava antes uma tendência do que uma solução transitória para o problema
da escassez de mão-de-obra livre para o trabalho nas fazendas de café, e deram
novo colorido à paisagem social do campo.
A situação em que se encontrava o imigrante europeu não se assemelhava,
definitivamente, à dos escravos. Vindos de outros países, os imigrantes não se
encontravam lançados à própria sorte, desprotegidos e sujeitos, portanto, a
qualquer tipo de tratamento. Cabe recordar que os governos da Alemanha e da
Itália não tardaram em intervir no processo de imigração para o Brasil tão logo
verificaram as condições visivelmente injustas (próximos mesmo à escravidão)
em que se encontravam os trabalhadores que saíam destes países para trabalhar
nas fazendas de café brasileiras. Nesse sentido, observa WANDERLEY
GUILHERME DOS SANTOS:
18
Op. Cit., p. 151.
23
19
Op. Cit., pp. 84-85.
20
Op. Cit., p. 146.
21
Op. Cit., p. 147.
24
22
Op. Cit., pp. 149-150.
25
c) Quadro Político
23
Citado por BORIS FAUSTO em sua obra “História do Brasil”, 9.ª edição, São Paulo: Editora
da Universidade de São Paulo, 2001, p. 181.
24
Como observa BORIS FAUSTO: “Na historiografia, existem opiniões diversas sobre o tema,
variando de acordo com as concepções gerais dos autores sobre o período e mesmo sobre a
formação social brasileira. Por exemplo, Caio Prado Júnior admite a existência de certo conflito
entre o que chama de burguesia reacionária, representada pelos donos de terras e senhores de
escravos, e a burguesia progressista, representada pelos comerciantes e financistas. Mas, segundo
ele, a divergência não se manifestava através da política partidária. As duas correntes se
misturavam nos dois partidos, embora houvesse certa preferência dos retrógrados pelo Partido
Conservador.
Por sua vez, Raimundo Faoro vê no Partido Conservador a representação da burocracia,
enquanto o Partido Liberal representaria os interesses agrários, opostos ao reforço do poder
central promovido pelos burocratas.
Ao considerar a questão, devemos ter em conta que a política desse período, e não só dele, em boa
medida não se fazia para se alcançarem grandes objetivos ideológicos. Chegar ao poder significa
obter prestígio e benefícios para si próprio e sua gente. Nas eleições, não se esperava que o
26
27
A respeito da discussão teórica que se travou durante o Império sobre as fórmulas “o rei reina,
mas não governa” e “o rei reina, governa e administra”, defendidas, respectivamente, por
ZACARIAS GÓES E VASCONCELOS e BRAZ FLORENTINO, vide CHACON, VALMIREH,
“Vida e Morte das Constituições Brasileiras”, Rio de Janeiro: Forense, 1987, pp. 72 e segs.
28
mais especificamente, pelos traços conferidos por D. Pedro II, foi marcado por
uma maior participação do Imperador na composição do governo, e, neste quadro,
a prática parlamentarista do Império, em que pese as aparências, escapava ao mais
básico dos fundamentos deste sistema de governo, a saber o governo oriundo do
Parlamento28. O parlamentarismo que se instalou no País a partir de 1847 seguiu,
na prática, um mecanismo diametralmente oposto, onde o Imperador escolhia o
governo e este estabelecia as regras para os pleitos eleitorais, de modo que destes
resultassem a composição de um Parlamento à sua imagem e semelhança. Nesse
sentido, observa RENATO LESSA:
E prossegue o autor:
28
PHILIPEE LAUVAUX, em abordagem histórica acerca da formação do parlamentarismo na
Inglaterra, após narrar o episódio em que o primeiro-ministro lorde North demite-se com todo o
seu gabinete, em 1782, em função do descontentamento do Parlamento em relação ao resultado da
guerra da América, afirma que: “graças a essa demissão coletiva, foram sancionados os
princípios nascentes de responsabilidade e solidariedade do ministério que constituem os
princípios fundamentais do parlamentarismo”. (Op. Cit., p. 23)
29
Op. Cit., pp. 34-35.
29
“No ápice do sistema o papel político do Imperador era decisivo. A ele cabia
dissolver as Câmaras, chamar novos Gabinetes e estes não só “derrubavam” as
situações políticas provinciais e locais como nomeavam novos funcionários. O
exercício da função pública confundia-se com o preenchimento das expectativas
de lealdades partidárias, aberta e justificadamente aos olhos da época, graças à
teoria dos “direitos próprios” da Administração para nomear “seus” homens.
Como não existiam de fato “partidos de representação”, posto que os eleitores
eram circunscritos e as eleições faziam-se por círculos que separavam votantes
de eleitores, garantindo-se, com isso, que o colégio de eleitores fosse uma
espécie de clube de senhores, era decisivo o papel do Imperador para que
funcionasse a rotatividade política do Império e para que se cumprisse o ersatz
de opinião eleitoral da época. Graças às mudanças de inclinação política do
monarca, ventos novos podiam soprar e, com essa ficção de democracia
parlamentarista, impedia-se que os interesses locais se eternizassem com o
predomínio da mesma oligarquia. Havia sempre a ameaça de uma oligarquia
emergente a disputar as preferências imperiais e que tinha chance, uma vez
dissolvida a Câmara e nomeados novos presidentes de província pelo Chefe do
Gabinete em ascensão, de refazer uma “maioria”.”31
30
Op. Cit., p. 26.
31
CARDOSO, FERNANDO HENRIQUE. “Dos Governos militares a Prudente – Campos
Sales”, in. FAUSTO, BORIS (Org.), “História Geral da Civilização Brasileira”, Tomo III. O
Brasil Republicano, vol. 1. Estrutura de Poder e Economia (1889-1930), 6.ª ed., Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1997, pp. 27-28.
30
32
SALDANHA, NELSON, “O Pensamento Político no Brasil”, Rio de Janeiro: Forense, 1978, p.
64.
33
BASILE, MARCELLO OTÁVIO N. DE C., “O Império Brasileiro: Panorama Político”, in.
LINHARES, MARIA YEDDA (org), “História Geral do Brasil”, 9.ª edição, Rio de Janeiro:
Editora Campus, 1990, p. 249.
31
pelos liberais que, descontentes com a conduta do seu partido, deram publicidade
ao Manifesto Liberal Radical, que exigia amplas reformas eleitorais, eleições
diretas em todos os níveis, responsabilidade ministerial perante o parlamento, total
liberdade religiosa, descentralização da autoridade e a emancipação dos
escravos34. A importância do Manifesto Republicano, portanto, não reside nas
reiteradas críticas dirigidas à organização política imperial, mas justamente
naquilo que melhor distingue este documento: a exigência do fim do sistema
imperial. Desse modo, reclamava não a mudança de determinada política adotada
pelo governo, ou mesmo do próprio governo, mas a mudança na fonte de
legitimidade do poder político. Se quantitativamente este era apenas mais um
tópico adicionado às insatisfações de setores excluídos (alguns apenas
ocasionalmente) em relação ao governo, qualitativamente em muito superava as
críticas até então dirigidas à organização política do País. É que a idéia de
República, embora tenha experimentado uma significativa variação de
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34
SANTOS, WANDERLEY GUILHERME DOS, op. cit., pp. 89-90.
34
35
PILATTI, ADRIANO, “O Princípio Republicano na Constituição de 1988”, in. PEIXINHO,
MANOEL MESSIAS; NASCIMENTO, FIRLY; GUERRA, ISABELA FRANCO, “Os Princípios
da Constituição de 1988”, Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2001.
36
Op. Cit., p. 94.
35
nos anos finais da monarquia, onde a idéia republicana, como assinala NELSON
SALDANHA, “conviveu quase oficialmente com o pensamento governamental
do Império”. Assim, o ideal republicano, embora tivesse, ao menos
simbolicamente, nascido com o Manifesto Republicano, apresentando, portanto,
um ponto comum em seu início, havia se espalhado e apresentava-se, desde então,
a partir de diversas frentes, que cobriam desde os fazendeiros paulistas até os
positivistas do Rio Grande do Sul, que pouco ou nada tinham em comum. Desse
modo, não se deve reduzir o significado do Manifesto Republicano a um simples
manifesto pelo retorno ao poder por parte de liberais descontentes. Deve-se
recordar que se é verdade que a volta dos liberais ao governo em 1878 trouxe
muitos republicanos de volta ao Partido Liberal, revelando que o republicanismo
era mais aparente ou circunstancial do que real, não é menos verdade que tal
migração partidária ocorreu mais fortemente no Rio de Janeiro do que em São
Paulo, eis que, como lembra LEONCIO BASBAUM, “os paulistas tinham razões
mais fortes e poderosas para serem republicanos, que os idealistas do Rio e do
Norte do País”37.
Com efeito, o retorno do Partido Liberal ao governo em pouco ou nada
alterava o quadro político no que se refere à participação dos cafeicultores
37
Op. Cit., p. 212.
36
“dos cento e treze ministros que passaram pelos catorze gabinetes sucedidos
após a crise política de 1868, somente dez eram políticos de São Paulo, enquanto
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38
BASILE, MARCELLO OTÁVIO N. DE C., op. cit., P. 290.
39
Idem.
37
40
Op. Cit., p. 216.
38
deixa às vezes de ter sentido nessas áreas. O que não sucede nas zonas de maior
estratificação.”41
41
Op. Cit., p. 318.
42
Idem.
39
ordem do dia e ocupava o centro dos debates e manifestações por todo o país,
mobilizando a opinião pública em favor do fim da escravidão e da condição do
Brasil como um dos últimos países a adotar o regime escravocrata. Desse modo, a
luta pelo abolicionismo, representando uma oposição ao governo que mantinha o
regime de escravidão no país, encontrou abrigo no movimento republicano. Os
fazendeiros do Rio de Janeiro, entretanto, ainda adotavam a mão-de-obra escrava
e, por conseguinte, apoiavam abertamente a monarquia, opondo-se à idéia
republicana.
Grosso modo, pode-se afirmar que o republicanismo na província do Rio
de Janeiro gravitava em torno da questão abolicionista e, desse modo, tornava-se
difícil encontrar neste movimento o autêntico republicanismo, distinguindo
aqueles que defendiam a República pela República dos que encontravam nesta
forma de governo apenas um modo de manifestar oposição à monarquia
escravocrata.
Nesse sentido, cumpre recordar que tão logo foi sancionada em 13 de maio
de 1888 a Lei Áurea, que libertou os escravos sem previsão de pagamento
indenizatório aos proprietários, os fazendeiros descontentes, que outrora
sustentavam a monarquia, ingressaram em massa no Partido Republicano, do
43
BASBAUM, LEONCIO, op. cit., p. 225.
40
44
BASBAUM, LEONCIO, op. cit., p. 213.
45
Op. Cit., p. 94.
41
46
Op. Cit., p. 89.
47
BONAVIDES, PAULO, e ANDRADE, PAES DE, “História Constitucional do Brasil”, 3.ª ed.,
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991, p. 95.
48
Op. Cit., p. 89.
49
VIANA, OLIVEIRA, “O Ocaso do Império”, apud. BASBAUM, LEONCIO, op. cit., p. 204.
50
Neste sentido, vide RODRIGUEZ, RICARDO VÉLEZ, “Castilhismo: uma filosofia da
República”, Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2000.
42
E conclui:
51
Op. Cit., pp. 297-298.
52
EMÍLIA VIOTTI DA COSTA: “É exagero supor que a Questão Religiosa que indispôs
momentaneamente o Trono com a Igreja foi dos fatores primordiais na proclamação da
República. Para que isso acontecesse era preciso que a nação fosse profundamente clerical, a
Monarquia se configurasse como inimiga da Igreja e a República significasse maior força e
prestígio para o clero. De duas uma, ou a nação estava a favor dos bispos e contra D. Pedro e
então a perspectiva de substituição do Imperador pela Princesa seria vista com bons olhos em
virtude de suas conhecidas ligações com a Igreja; ou a nação era pouco simpática aos bispos e
nesse caso se solidarizaria com a Monarquia e a Questão Religiosa em vez de prejudicá-la teria
reforçado o seu prestígio. De qualquer maneira a Questão Religiosa não poderia contribuir de
maneira preponderante para a Queda da Monarquia. Quando muito, revelando o conflito entre o
Poder Civil e o Poder Religioso, contribuiria para aumentar o número dos que advogavam a
44
56
FAORO, RAYMUNDO, Op. Cit., p. 90.
57
Op. Cit., p. 96.
46
sem que os novos “donos do poder” tivessem interesse em trazer o povo para a
arena da atividade política. Ademais, a proclamação da República pelas mãos dos
militares torna nebulosa a verificação da legitimidade dos responsáveis pela
condução da organização jurídica do Estado brasileiro a partir de então.
Desse modo, resta verificar como ocorreu o processo constituinte que
instituiu a República, quem foram os seus responsáveis e, sobretudo, em que
medida foram capazes de traduzir os interesses em jogo para o plano jurídico.
58
Op. Cit., p. 25.
47
3
A Organização Constitucional da República
1
BONAVIDES, PAULO, e ANDRADE, PAES, Op. Cit., p. 211.
2
Vale transcrever o texto do decreto inaugural do ordenamento jurídico republicano, in verbis:
“Decreto n.º 1, de 15.11.1889: O GOVERNO PROVISÓRIO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS
UNIDOS DO BRASIL DECRETA:
Art 1º - Fica proclamada provisoriamente e decretada como a forma de governo da Nação
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locais (art. 3.º), não sendo reconhecido nenhum governo local contrário à forma
republicana estabelecida (art. 7.º). Ainda, o aludido decreto determinava que,
enquanto não se procedesse pelos meios regulares à eleição do Congresso
Constituinte e à eleição das legislaturas de cada um dos Estados, ficaria a Nação
sob a regência do Governo Provisório da República (art. 4.º), liderado pelo
Marechal DEODORO DA FONSECA, e composto ainda por ARISTIDES LOBO
(Ministério do Interior), RUI BARBOSA (Ministério da Fazenda), BENJAMIN
CONSTANT (Ministério da Guerra e Ministério de Instrução Pública, Correios e
Telégrafos), EDUARDO WANDENKOLK (Ministério da Marinha), CAMPOS
SALES (Ministério da Justiça) e QUINTINO BOCAIÚVA (Ministério da
Agricultura e Ministério das Relações Exteriores).
Ato contínuo, o Governo Provisório, assim reconhecido pelo referido
Decreto n.º 01, de 15.11.1889, passou a tratar com maior proximidade dos
governos estaduais, a fim de assegurar a unidade do governo na Federação recém-
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3
Op. Cit., p. 212.
4
BONAVIDES, PAULO, e ANDRADE, PAES, op. cit., p. 213.
51
Decreto n.º 78-B, de 21.12.1889, designando o dia 15.09.1890 para a eleição geral
da Assembléia Constituinte e o início de seus trabalhos para 15.11.1890, de modo
que, entre a data do início dos trabalhos da Comissão e a dos trabalhos
constituintes, se passaria um prazo de quase um ano. Houvesse ou não motivo5 a
justificar tamanho espaço de tempo, deve-se observar que este "generoso"
interregno engrandece significativamente a importância do trabalho prévio
desenvolvido pela Comissão, sobretudo considerando-se as previsíveis pressões
que, com o tempo, far-se-iam presentes pelo retorno do País à legalidade através
da aprovação de uma Constituição, o que já se podia verificar nas considerações
feitas pelo Marechal DEODORO DA FONSECA ao lavrar o Decreto n.º 78-B:
não tinha outro interesse senão limitar a sua responsabilidade na ordem do tempo,
fazendo mais próxima a organização definitiva dos Estados Unidos do Brasil.
A Comissão instalou-se em janeiro de 1890 e estabeleceu que, numa
primeira fase, cada membro desse pequeno colegiado poderia apresentar
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5
Conforme apontam PAULO BONAVIDES e PAES DE ANDRADE, ao lavrar o Decreto n.º 78-
B, Deodoro frisou, em suas considerações, “que a reunião da Constituinte demandava
providências preliminares, sujeitas a certo lapso de tempo inevitável. Tais providências vinham a
ser: a organização do regime eleitoral, o alistamento do novo eleitorado, o prazo indispensável à
convocação deste e a preparação do projeto de Constituição”. (Op. Cit., p. 213)
52
6
apud. ROURE, AGENOR DE, “A Constituinte Republicana”, vol. 1.
7
Idem.
53
“[1] Ao art. 1.º deu Rui Barbosa a forma, que prevaleceu, declarando constituir-
se “a República Federativa” “por união perpétua e indissolúvel entre as suas
antigas províncias”. (...) [2] O projeto da comissão mandava anexar ao Estado
do Rio ou apartar em novo Estado o Distrito Federal, na hipótese da mudança da
Capital. Haveria – se concedida a anexação – o enriquecimento de um dos
Estados da federação em detrimento – teórico – do equilíbrio que lhe é inerente,
pela conservação equânime de seus valores próprios. Não quis a República
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a apuração dos índices eleitorais (art. 28, §2.º). Foi sugestão sua (art. 33, §1.º)
caber ao presidente do Supremo Tribunal Federal a presidência do Senado,
quando este tivesse de deliberar como tribunal de justiça. Redigiu o artigo 32,
§3.º, que prefigura o impeachment. Fixou em 35 anos a idade mínima para a
eleição senatorial. [6] Aditou Rui o projeto da comissão no capítulo das
“atribuições do Congresso”, para incluir nestas a dívida pública, o ensino
superior e secundário... A instrução primária (salvo no Distrito Federal) ficaria
com os Estados. Nem se lhes impedia a legislação supletiva ou complementar
quanto àquelas espécies de ensino, dadas, “mas não privativamente”, à
competência da União. [7] O prazo presidencial fora, pela comissão, fixado em 5
anos. Aumentou-o Rui para 6. O Congresso Constituinte reduziu-o a um
quatriênio. (...) Estavam concordes em relação à inelegibilidade para o período
seguinte. É da redação de Rui o texto do juramento (art. 44). Foi vencido na
forma da eleição para a suprema magistratura política. A comissão e ele
propuseram fosse indireta a eleição – segundo o modelo dos Estados Unidos.
Impôs a Constituinte – contrária nisto ao governo provisório – o sufrágio
universal e direto para tal investidura. (...); [8] O capítulo 4.º, referente aos
ministros de Estado, levou a chancela de Rui Barbosa, empenhado em definir o
estilo presidencial do governo e vitorioso no conceito da harmônica
independência dos poderes que obstava à presença, na tribuna congressual, dos
auxiliares de confiança do chefe da nação. (...) Continuava americano: aos
ministros de Estado cumpria o entendimento com as comissões legislativas, não
com o plenário, isento, por princípio, à influência direta do executivo. Na mesma
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8
Prefácio à BARBOSA, RUI. “Obras Completas de Rui Barbosa”, vol. XVII, Tomo I, Ministério
da Educação e Saúde, 1890, pp. XV-XXIII.
56
Art. 2.º - Esse Congresso trará poderes especiais do eleitorado, para julgar a
Constituição que neste ato se publica e será o primeiro objeto de suas
deliberações.
9
Interessante observar que alguns congressistas abandonaram seu mandato antes de terminados os
trabalhos constituintes, de modo que, dos 268 eleitos, somente 223 assinaram a promulgação da
Constituição em 24 de fevereiro de 1891. Vale ainda trazer à colação os dados coletados por
MARGARIDA MARIA LACOMBE CAMARGO a respeito da proveniência e formação
profissional e intelectual dos primeiros constituintes republicanos. Em suas palavras: “de um total
de 223 membros, 53 eram militares, dentre os quais, 29 "de carreira" e 21 oriundos dos cursos de
engenharia. Dos 170 restantes, não-militares, 103 formaram-se nas Faculdades de Direito de São
57
Paulo e do Recife; e 37 nas de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro. (...) Dentre os militares e
os não-militares, a maioria era composta de homens letrados, autores de obras publicadas
(considerando panfletos e periódicos), professores, não raro com formação no exterior. Muitos
também com experiência na máquina administrativa do Estado.
Entre aqueles que se dedicaram à política, 48 foram antigos membros do Partido Liberal do
Império e 22 do Partido Conservador; 61 haviam sido propagandistas republicanos. Segundo
dados fornecidos por Felisbelo Freire, dos 268 membros iniciais que compunham o Congresso,
131 pertenciam ao Partido Republicano histórico.
Não podemos ignorar, portanto, a presença de militares na Constituinte, bastante enfatizada,
aliás, por autores preocupados com a questão do positivismo no Brasil. São militares
provenientes dos cursos de engenharia ou simplesmente militares de carreira, veteranos da
Guerra do Paraguai.Leais a Deodoro, assumiram, posteriormente, os principais cargos
executivos do início da República. Os primeiros governadores de estado foram, em sua maioria,
militares que passaram pela Constituinte.”(CAMARGO, MARGARIDA MARIA LACOMBE.
“Representação Política e Sistema de Governo na Constituinte Republicana de 1890-91”,
58
Dissertação de Mestrado em Direito Constitucional e Teoria do Estado – PUC-Rio, 1988, pp. 17-
8).
10
LEAL, AURELINO. “História Constitucional do Brasil”, Brasília: Senado Federal, Conselho
Editorial, 2002, p. 223.
59
cada Estado há de reproduzir com mais insistência suas emendas. Logo, não
temos vantagens, temos inconvenientes; é claro que a discussão tem de aparecer
diante dos 21 membros da Comissão, e que esta discussão não se decidirá em
uma hora nem em duas; cada qual há de querer sustentar os direitos de seu
Estado, isto é, seu modo de pensar relativamente às emendas, e o que
acontecerá?
Teremos de gastar tempo desnecessário durante três ou quatro dias; (...)
Se o Congresso tivesse de subscrever em poucos minutos a opinião de 21, então o
orador julgava procedente a nomeação dessa Comissão, mas não há de
acontecer assim.
Além desse inconveniente, é preciso argumentarmos com a natureza humana.
Coisa a mais difícil é achar um homem que confesse estar em erro; temos
estranhado amor às opiniões, sempre presumimos que temos a razão do nosso
lado; essa fraqueza humana é que nos leva a sustentar de um modo ferrenho
nossas convicções.
Esta Comissão dos 21 irá porventura desistir das suas opiniões?
Não. Em regra o pai acha bela a sua filha, e sem o menor defeito; logo a
Comissão, perfilhando essas emendas, há de considera-las o protótipo da
perfeição...”12
11
JOSÉ DA COSTA MACHADO E SOUZA (Minas Gerais) - formou-se em ciências jurídicas e
sociais pela Faculdade de São Paulo. Republicano histórico e importante fazendeiro de São Paulo.
(Os dados a respeito do constituinte COSTA MACHADO aqui expostos, assim como os de todos
os demais constituintes, foram extraídos de ABRANCHES, DUNSHEE DE. “Governos e
Congressos da República dos Estados Unidos do Brasil, 1889 a 1917”, vol. 1, São Paulo: M.
Abranches, 1918)
12
“Regimentos das Assembléias Constituintes do Brasil”, Subsecretaria de Arquivo. – Brasília:
Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 1986, pp. 66-7.
60
13
MANOEL FRANCISCO MACHADO (Amazonas) – Bacharel em Direito pela Universidade de
Coimbra. Recebeu no Império o título de Barão de Solimões. Pertencia ao partido liberal e era
Presidente da província do Amazonas quando se proclamou a República.
14
LAURO NINA E SODRÉ E SILVA (Pará) – Militar. Promovido a Capitão em 7 de janeiro de
1890 e a Major a 17 de março do mesmo ano. Doutor em matemática e ciências físicas.
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24
GIL DINIZ GOULART (Espírito Santo) – Formou-se em ciências jurídicas e sociais. Advogado
no Cachoeiro do Itapemirim, onde foi presidente da Câmara Municipal no Império, aí se envolveu
nas lutas políticas, alistado no partido liberal. Mais tarde, ainda na monarquia, declarou-se
republicano, tomando parte na propaganda.
25
BERNARDINO JOSÉ DE CAMPOS JÚNIOR (São Paulo) – Formou-se em Direito pela
Faculdade de São Paulo. Republicano histórico, foi eleito em 1888 deputado à Assembléia
provincial de SP; e, proclamada a República e organizado o Estado, foi o seu primeiro chefe de
Polícia. Em 1892 elegeu-se presidente do Estado de São Paulo, cargo que viria a ocupar pela
segunda vez em 1902.
26
JOAO BATISTA LAPÉR (Rio de Janeiro) – Formou-se na Escola de Medicina do Rio de
Janeiro. Foi um dos signatários do Manifesto Republicano (1870). Fazendeiro cafeicultor, foi
eleito deputado à assembléia Província do Rio de Janeiro. Na Assembléia, tratou principalmente de
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§2.º - Na 2.ª discussão poderão ser apresentadas ainda novas emendas, as quais,
se forem aprovadas, sofrerão uma 3.ª discussão, finda a qual serão aprovadas ou
rejeitadas sem subemendas.”
33
AQUILINO LEITE DO AMARAL COUTINHO (Mato Grosso) – Formou-se em ciências
jurídicas e sociais. Filiou-se ao partido conservador de São Paulo. Como anotou DUNSHEE DE
ABRANCHES: “proclamada a República, foi para o Mato Grosso, em companhia do engenheiro
militar Caetano de Albuquerque, ali iniciando ambos uma série de conferências em prol da
consolidação do novo regime”. (Op. Cit., p. 275)
34
op. cit., p. 224.
35
Segundo assinala PAULINO JACQUES: “as alterações principais, que a Comissão fez no
Projeto governamental, foram: a) eleição direta do presidente e vice-presidente da República, que
o Projeto fazia indireta, ao modo da Constituição norte-americana (emenda da autoria de JULIO
DE CASTILHOS); b) eleição direta dos senadores, idem, idem; c) período presidencial de quatro
anos, em vez de seis; d) outorga da prerrogativa de prorrogar as sessões ao próprio Congresso,
sem sanção do Presidente, em vez de atribuí-la a este, como fazia o Projeto; e) supressão das
penas de banimento e de morte, que o Projeto mantinha; f) rejeição do dispositivo que proibia a
fundação de novos conventos ou ordens monásticas e mantinha a exclusão da Companhia de
Jesus. A comissão dos 21 limitou-se a democratizar o Projeto de Constituição elaborado pelo
63
que somente havia aceitado a República por causa da Federação. (ROURE, AGENOR DE, op. cit.,
p. 83)
65
38
MANUEL DE FERRAZ CAMPOS SALES (São Paulo) – Bacharel em Direito pela Faculdade
de São Paulo (1863). Foi deputado provincial em 1867 pelo partido liberal. Foi um dos chamados
“republicanos históricos” e também foi um dos signatários do Manifesto Republicano (1870). Em
1872 foi eleito vereador à Câmara Municipal de Campinas, em 1881 deputado provincial, e em
1885 Deputado Geral pelo 7.º distrito de São Paulo. Dissolvidas as Câmaras pelo Ministério
Cotegipe, não conseguiu renovar o seu mandato; mas foi, em 1888, eleito novamente para a
Assembléia Provincial de S. Paulo. Proclamada a República, foi Ministro da Justiça do Governo
Provisório (15 de Novembro de 1889).
39
EPITÁCIO DA SILVA PESSOA (Paraíba do Norte) – Bacharel em Direito pela Faculdade de
Recife (1886). Proclamada a República, foi nomeado secretário do governo da Paraíba
(31.12.1889 a 20.10.1890).
40
ANTONIO AUGUSTO BORGES DE MEDEIROS (Rio Grande do Sul) – De 1881 a 1884
cursou a Academia de Ciências Jurídicas e Sociais de SP. Fez parte do “Clube Republicano
Acadêmico” e do “Clube 20 de Setembro”, dos estudantes rio-grandenses republicanos. Redigiu A
República, órgão do primeiro daqueles clubes. Em 1885, formou-se na Faculdade de Ciências
jurídicas e sociais de Recife.
66
41
Embora vitoriosa, a redação do art. 1.º não passou incólume pela Constituinte, cabendo
transcrever a manifestação do constituinte MEIRA DE VASCONCELLOS (Pernambuco) que, em
sua proposta de suprimir a expressão “perpétua e indissolúvel”, criticava, de forma implícita, a
própria idéia do constitucionalismo, ao afirmar: “(...) me parece que o artigo constitucional (...)
emprega sem efeito prático as palavras – perpétua e indissolúvel – porque essa soberania em
nome da qual nos achamos reunidos, não poderia por esse fato ficar limitada, nem por esses
qualificativos a união ficaria melhor garantida. Nós não sabemos o que são essas frases
convencionais? Pois não temos o exemplo frisante e recente de que não puderam salvar a
Monarquia as expressões que se acham na constituição monárquica, pela qual o Imperador, com
toda a sua dinastia, era declarado defensor perpétuo do Brasil? De que servem estas expressões?
A perpetuidade do impetrante e de sua dinastia voou em estilhaços diante da vontade onipotente
do povo brasileiro. Não admitamos, portanto, estas fórmulas gastas, inúteis, que vieram da
realeza e que não podem jamais ser aceitas e encampadas por uma forma de governo como estas
que tratamos de constituir. A união e a indissolubilidade hão de ser uma resultante das condições
em que forem lançadas as bases desta Constituição; e se não se consultarem os grandes interesses
nacionais, as legítimas aspirações deste país e o ideal autonômico de suas antigas províncias, na
Constituição poderão ser colocadas quantas vezes quiserem, estas chapadas de perpetuidade e
indissolubilidade, porque, ficai certos, elas não terão a força de antepor-se e resistir a essa
grande vontade, para a qual não há limites – a soberania popular...” (ROURE, AGENOR DE,
op. cit., p. 83)
67
RUI BARBOSA (Bahia), não foi exclusivo dos Estados do sul, cabendo registrar
que o deputado nortista NINA RIBEIRO (Pará)43 também lutava por uma
federação ampla, embora por razões distintas. A este respeito anotou AGENOR
DE ROURE:
“[NINA RIBEIRO] Queria a federação para o norte por uma razão diversa
daquela que militava em favor dos Estados do sul: estes eram fortes, com os
recursos precisos para a sua autonomia, ao passo que os do norte precisavam da
Federação exatamente porque eram fracos e porque a sua fraqueza provinha do
abandono em que haviam vivido durante o Império.
Na sua opinião, o Império, preocupado com o engrandecimento do sul, “hauria
todas as forças do norte, que, apertado nas cadeias de ferro de uma
centralização asfixiante, mal podia curar do seu engrandecimento”44.
42
ROURE, AGENOR DE, op. cit., pp. 90-91. Embora o conceito de soberania exposto por
CAMPOS SALES (São Paulo) não resista a um exame mais rigoroso de suas premissas, tratando-
se na verdade de simples autonomia, ou seja, capacidade de autodeterminação subordinada a uma
Constituição, o representante paulista deixou aqui clara a sua intenção em conceder a mais ampla
autonomia aos Estados; tão ampla que explica a confusão com a soberania.
43
RAIMUNDO NINA RIBEIRO (Pará) – Bacharel em Direito pela Faculdade de Recife.
Conforme anotou DUNSHEE DE ABRANCHES: “pertencente a família importante, logo que
concluiu seus estudos, recolheu-se ao Estado natal e filiou-se ao partido conservador, no qual o
seu pai, o sr. Manoel Roque Pinheiro, ocupava posição saliente. No partido conservador, o Dr.
Nina Ribeiro militou sempre ao lado do grupo mais avançado, e era natural que a República em
1889 o encontrasse entre os que adeptos de primeira hora”. (Op. Cit., p. 225)
44
Op. Cit., p. 92.
68
45
JOSÉ MARIANO CARNEIRO DA CUNHA (Pernambuco) – Bacharel em Direito pela
Faculdade de São Paulo (1870). Filiando-se desde muito jovem ao partido liberal, tornou-se mais
tarde um dos chefes de maior prestígio em sua terra natal. Tribuno e propagandista da abolição,
deu combate contra a escravidão ao lado de JOAQUIM NABUCO e JOSÉ DO PATROCÍNIO,
dentre outros. Era deputado geral em 1889, quando então foi proclamada a República.
46
BALARMINO CARNEIRO (Pernambuco) – Dirigiu o serviço telegráfico do jornal O País,
onde escreveu durante muitos anos. Abolicionista e republicano, trabalhou ativamente na
propaganda para a vitória de ambas as causas.
47
JOÃO BARBALHO UCHOA CAVALCANTI (PE) – Bacharel em Direito. Fundou em 1882,
em Pernambuco, a "Tribuna", órgão independente dos partidos, onde abriu campanha em prol do
abolicionismo. Em 1889, editou a "Época", jornal conservador dissidente, que teve pouca
duração. Conforme anotou DUNSHEE DE ABRANCHES: “Filiado, embora ao partido
conservador, o Dr. João Barbalho educou o espírito nas idéias liberais. Fora-lhe mestre seu pai,
o senador radical, propugnador do sufrágio universal. Na primeira página dos seus "Comentário
da Constituição", fixou ele próprio esta influência, dedicando-os a memória do venerando
progenitor, "ao influxo de cujas idéias liberais e progressivas eduquei o meu espírito", escreveu
aí. Subindo ao poder o desembargador Lucena, chamou-o para a pasta do interior e instrução
pública. Mais tarde, passou para a pasta da Indústria, deixando-a por ocasião da renúncia do
marechal Deodoro, em 23 de Novembro de 1891. Recolheu-se à vida privada. Mas o Estado de
Pernambuco, a 18 de Dezembro de 1892, o elegeu senador federal, na vaga do general Simeão.
Ao Senado pertenceu até Dezembro de 1896 e foi escolhido 1.º secretário em 1895. Em fins de
1893, entrou para a direção da "Gazeta da Tarde", nesta capital deixando-a para tomar conta do
escritório de advocacia do Dr. Ubaldino do Amaral, quando este assumiu o exercício de ministro
do Supremo Tribunal Federal. Em 18 de Janeiro de 1897, foi nomeado ministro do Supremo
69
Tribunal Federal, no governo do Dr. Manoel Victorino. Em 1904 solicitou a sua aposentadoria
neste elevado cargo”. (Op. Cit., p. 50)
48
PEDRO AMÉRICO DE FIGUEIREDO (Paraíba do Norte) – Doutor em ciências naturais pela
Universidade Livre de Bruxelas, da qual fora lente adjunto. Jubilou-se como professor da Cadeira
de História das Artes, Estética e Arqueologia da Academia de Belas Artes.
49
CUSTÓDIO JOSÉ DE MELLO (Alagoas) – Militar, promovido a contra-almirante em
08.01.1890. Foi veterano da Guerra do Paraguai, onde tomou parte das batalhas de Curupaiti,
Humaitá e Timbó, naufragando no encouraçado Rio de Janeiro. Especialista em armamentos e
logística esteve várias vezes na Europa fiscalizando o fabrico de torpedos e outras armas para a
Marinha do Brasil. Foi deputado pela Bahia à Constituinte de 1890-91. Em 3 de novembro deste
ano de 1891, em represália ao decreto do Marechal Deodoro, que pretendia um golpe de Estado
com o fechamento do Congresso, fez deflagrar a primeira Revolta da Armada, apossando-se de
todos os navios de guerra ancorados na Baía de Guanabara. A rebelião provocou a renúncia do
presidente e sua substituição pelo Marechal Floriano Peixoto. No governo de Floriano, Custódio
de Melo ocupou o cargo de ministro da Marinha com a patente de Contra-Almirante até 29 de abril
de 1893, quando, opondo-se ao presidente que se recusava a mandar fazer as eleições, fez eclodir
uma segunda Revolta da Armada (6-9-1893), que redundou em fracasso, bem como a revolução
federalista no Rio Grande do Sul, em que engajou-se, ato contínuo. Exilou-se na Europa naquele
mesmo ano. Autor de O Governo Provisório e a Revolução de 1893.
50
FRANCISCO DE PAULA LEITE E OITICICA (Alagoas) – Bacharel em Direito pela
Faculdade do Recife.
51
JOÃO VIEIRA (Pernambuco) – Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Recife.
Filiado desde muito moço ao partido conservador, dedicou-se a princípio à magistratura. Em 17 de
dezembro de 1877, era nomeado professor substituto da Faculdade do Recife e tornado catedrático
em 18 de maio de 1884.
70
§1.º É isenta de impostos, no Estado por onde se exportar, a produção dos outros
Estados.
Art. 9.º - É proibido aos Estados tributar de qualquer modo, ou embaraçar com
qualquer dificuldade, ou gravame, regulamentar, ou administrativo, atos,
instituições ou serviços estabelecidos pelo governo da União.
52
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 10.
71
53
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 26.
72
Este ponto merece ser ressaltado menos pelo texto finalmente aprovado,
que sofreu poucas alterações substanciais, do que pelas propostas apresentadas na
73
“Acreditais que eu teria tal ingratidão para esses bravos que no dia 15 de
novembro puseram à disposição da idéia vitoriosa a força de suas espadas? De
certo que não! Não quero que me acoimem dessa feia ingratidão. Queria apenas
significar, suprimindo o artigo, que ele, o artigo, não o exército, era
desnecessário. No Brasil, como em toda parte, a força armada é a garantia da
ordem no interior e a defesa da honra no exterior. Eu quisera somente que, ou
ficasse subentendido, ou então que, a ser expresso, em vez de ser redigido desse
modo, fosse como, por exemplo, na velha Constituição, em que se consignava:
‘todos os brasileiros são obrigados a pegar em armas para sustentar a
integridade e a independência da Nação e defendê-la contra seus inimigos
internos e externos’. Aí se consignou um dever de honra para todos os
brasileiros; não se tratava somente de uma classe, não se dizia que tais deveres
competem somente ao exército...”54
54
ROURE, AGENOR DE, op. cit., pp. 210-211.
74
55
Idem.
56
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 215.
57
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 210.
75
58
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 213.
59
FRANCISCO LUIZ DA VEIGA (Minas Gerais) – Doutor em ciências jurídicas e sociais. Em
1873, foi nomeado juiz municipal de Pouso-Alegre, cidade de cujo governo municipal foi o
presidente. Foi eleito deputado provincial para o biênio de 1876 a 1877.
60
ADOLFO AFONSO DA SILVA GORDO (São Paulo) – Bacharel em ciências jurídicas e
sociais em 1879. Conforme relatou DUNSHEE DE ABRANCHES: “Abrindo banca de advogado
em Capivary, consagrou-se, desde logo, ao lado de Cezario Morra Júnior, à organização do
partido republicano em toda aquela zona. Em 1886, mudou-se para a capital do Estado, e, em
1888, foi eleito membro da comissão diretora do partido republicano paulista. Proclamada a
República, foi nomeado, pelo Governo Provisório, presidente do Rio Grande do Norte”. (Op.
Cit.,p. 361)
61
FRANCISCO DE PAULA RODRIGUES ALVES (São Paulo) - Bacharel em Direito pela
Faculdade de São Paulo (1870). Foi vereador, juiz de paz, promotor público, deputado, presidente
da então Província de São Paulo (1887-8), quando então recebeu o titulo de Conselheiro de Estado
(retornaria à presidência do já então Estado de São Paulo em 1900) e ministro da Fazenda (em
duas oportunidades: no Governo de FLORIANO PEIXOTO e no de PRUDENTE DE MORAIS).
Em 1902 elegeu-se presidente da República em sucessão a CAMPOS SALES. Assumiu o cargo
em 15-11-1902 e governou até o fim de seu mandato (15-11-1906), retornando, seis anos depois e
pela terceira vez, ao governo do Estado de São Paulo. Outra vez eleito presidente da República em
1918, não chegou a tomar posse: dado o seu estado de saúde, foi substituído na cerimônia de posse
por seu vice-presidente, DELFIM MOREIRA DA COSTA RIBEIRO, e pouco tempo depois
faleceu.
62
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 237.
76
Outro tema que merece ser ressaltado, não pelo debate suscitado, mas
justamente pela sua ausência, é o que se refere à intervenção federal, tema que
envolve diretamente a organização federativa. AGENOUR DE ROURE, em seus
comentários à Constituinte Republicana, já havia observado que:
precisamente, à autonomia política a ser concedida aos Estados, este tema deveria
ocupar o centro das discussões, já que se trata de um instituto que, a fim de
corrigir alguma falha na organização constitucional do país, pode-se valer da
quebra da autonomia dos Estados, afetando diretamente a federação. Ademais, o
seu uso indevido, a partir da não observância dos permissivos constitucionais,
poderia representar verdadeiro instrumento de governo nas mãos do Poder
Executivo da União. Assim, ao menos dois pontos mereceriam maior atenção por
parte dos constituintes: quais os casos que ensejariam a intervenção federal e a
quem seria atribuída a competência para verificar a juridicidade da decretação da
intervenção federal. Razões, portanto, não faltaram aos constituintes para um
debate mais profícuo acerca do tema, o que, todavia, não ocorreu.
63
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 240.
64
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 323.
77
locais, tendo a Constituinte aprovado a redação proposta pela Comissão dos 21,
estabelecendo que os legitimados seriam os respectivos governos. Esta alteração,
também desacompanhada de maiores debates, parece restringir o direito de
requisição da intervenção federal aos governadores dos Estados, afastando as
assembléias legislativas, contempladas pelo PGP, já que a própria Comissão dos
21 havia rejeitado emenda apresentada pelo constituinte VIRGÍLIO DAMÁSIO
(Bahia), alterando a expressão “poderes locais” por “governo do Estado ou de
sua assembléia legislativa”.
65
FRANCISCO DE ASSIS ROSA E SILVA (Pernambuco) – Bacharel em Direito pela Faculdade
de Recife. Filiado ao partido Conservador, foi eleito deputado pelo 10.º distrito de sua terra natal à
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0014242/CA
10.ª legislatura do Império (1886 a 1889), e nomeado em 4 de Janeiro de 1889 ministro da Justiça
a fim de substituir o conselheiro Ferreira Vianna, que passara para a pasta do Império do gabinete
João Alfredo.
66
ARISTIDES CÉSAR SPINOLA ZAMA (Bahia) – Doutor em medicina pela Faculdade de sua
terra natal, ofereceu-se ao governo imperial a fim de seguir para a guerra do Paraguai, em 1865.
Regressando à Bahia, foi eleito muitas vezes deputado provincial pelo partido liberal.
67
FREDERICO AUGUSTO BORGES (Ceará) – Bacharel pela Faculdade de Recife em 1875,
doutorando-se no ano seguinte. Recém-formado, foi nomeado promotor público em Fortaleza.
Filiando-se ao partido conservador, exerceu outros cargos desde a sua formatura, sendo em 1885
eleito deputado geral à 19.ª legislatura do Império pelo 1.º distrito do Ceará. Abolicionista,
redigiu o Libertário e defendeu no parlamento as suas idéias, definindo a sua atitude em discurso
proferido na sessão de 3 de agosto de 1885, e distribuído em folhetos. Um dos fundadores da
Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro.
68
JOSÉ LUIZ DE ALMEIDA NOGUEIRA (São Paulo) – Formou-se em Direito pela Faculdade
de São Paulo. Em 1873 foi eleito pelo partido conservador Deputado provincial pelo 2.º distrito da
província de São Paulo, sendo reeleito para o biênio seguinte; e, na legislatura de 1876-1879, foi
eleito Deputado à Assembléia Geral, onde ocupou o lugar de 1.º Secretário. Conforme anotou
DUNSHEE DE ABRANCHES: “por ocasião da proclamação da República, em 15 de Novembro
de 1889, era o Dr. Almeida Nogueira o redator chefe do “Correio Paulistano”, órgão do partido
conservador, e, inspirado pelo Conselheiro Antonio da Silva Prado, movia então vigorosa
oposição ao Gabinete Liberal, presidido pelo Visconde de Ouro Preto, e ao Governo da
Província, que tinha à sua frente o General Couto de Magalhães. Com todo o seu partido, em 17
de novembro, o Dr. Almeida Nogueira, em uma reunião política havida no teatro S. José, à qual
compareceram os mais proeminentes políticos pertencentes aos partidos monárquicos, aderiu ao
novo regime, do qual, posteriormente, tem sido um dos mais leais e indefectíveis sustentadores”.
(Op. Cit., p. 373)
69
AUGUSTO DE OLIVEIRA PINTO (Rio de Janeiro) – Formado em ciências jurídicas e sociais.
Advogado, pertenceu ao número dos republicanos históricos com serviços ativos na propaganda.
70
TEODURETO CARLOS DE FARIA SOUTO (Ceará) – Bacharel em Direito, bem cedo militou
na política do Império, filiado ao partido liberal. Foi eleito deputado geral pelo Ceará na legislatura
de 1878 a 1881 e presidiu as províncias de Santa Catarina (1883) e do Amazonas (1884).
Representou ainda importante papel na propaganda abolicionista.
71
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 353.
72
LUIZ BARRETO MURAT (Rio de Janeiro) – Bacharel em Direito pela faculdade de São
Paulo.
79
a) composição
73
ROURE, AGENOR DE, op. cit., pp. 367-8.
74
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 398.
75
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 406. A respeito da duração do mandato, opinou AGENOR
DE ROURE: “A não ser nos Estados Unidos e no México, onde o mandato dos deputados dura
dois anos; na Dinamarca e na Suécia, onde o prazo é de três anos como no Brasil, todas as outras
nações do mundo dão ao mandato legislativo uma duração de quatro, cinco e seis anos. A nossa
Constituinte de 1890-91 primou em fixar prazos curtos demais para a duração do mandato, para
a duração das sessões e para o exercício da presidência da República. E nunca se poderá saber o
motivo desse procedimento, porque tais pontos do projeto constitucional passaram sem debate
algum, sem explicação de voto, sem justificação ou exposição de quem quer que seja – comissão
ou membros da assembléia.”(Idem.)
80
76
MANOEL UCHÔA RODRIGUES (Amazonas) – Militar, promovido a capitão a 17 de março de
1890. Bacharel em matemática e ciências físicas.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0014242/CA
77
ANTONIO BORGES DE ATHAYDE JÚNIOR (Espírito Santo) – Militar, promovido a capitão
em 7 de janeiro de 1890.
78
ANTONIO FRANCISCO DE AZEREDO (Mato Grosso) – Começou como estudante da Escola
Militar, da qual afinal saiu dando baixa do serviço do exército. Passou depois a trabalhar em
jornais, entrando para o Diário de Notícias sob a direção do Conselheiro Rui Barbosa.
79
CAETANO MANOEL DE FARIA E ALBUQUERQUE (Mato Grosso) – Militar, promovido a
major graduado em 21 de Março de 1890. Em 1884, lançou a sua candidatura de deputado geral
por Mato Grosso pelo partido liberal, não sendo eleito.
80
MANOEL IGNÁCIO BELFORT VIEIRA (Amazonas) – Militar, promovido a capitão-tenente
em 8.01.1890. Proclamada a República, foi eleito deputado à Constituinte, mas não terminou o
mandato por haver sido aclamado governador do Maranhão.
81
JOSÉ DE MELLO CARVALHO MUNIZ FREIRE (Espírito Santo) – Formou-se em 1881 pela
Faculdade de Direito de São Paulo. Nesse mesmo ano, foi eleito deputado providencial pelo
partido liberal, sendo reeleito nos biênios de 1882 a 1883, e 1888 e 1889. Achou-se diplomado
deputado geral em 1889 quando se proclamou a República.
82
JOAQUIM JOSÉ PAES DA SILVA SARMENTO (Amazonas) – Era funcionário público
aposentado no Estado de Amazonas. Filiado embora ao partido liberal, aderiu à República, sendo
eleito senador à Constituinte.
83
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 556.
84
Cumpre observar que o constituinte EPITÁCIO PESSOA (Paraíba do Norte) já havia
apresentado na Comissão dos 21 emenda estabelecendo que a representação dos Estados na
Câmara dos Deputados deveria ser a mesma, tal como ocorre com o Senado. Esta emenda,
rejeitada no seio da Comissão, foi reapresentada pelos constituintes FREDERICO BORGES
(Ceará) e MARTINHO RODRIGUES na 1.ª discussão da Constituinte, sendo novamente rejeitada.
Apresentando seus argumentos, assim se manifestou EPITÁCIO PESSOA (Paraíba do Norte): “o
art. 27 é uma aplicação perfeita, completa do princípio que defende a proporcionalidade da
representação. Doutrina liberal, que garante a intervenção de todos os indivíduos na gestão dos
negócios públicos, eu compreendo-a como uma condição, como um elemento indispensável da
verdade política nos governos unitários, mas também como uma injustiça grave e inconveniente
nos governos federativos. (...) Nos governo federativos, porém, cada circunscrição tem uma
autonomia própria, tem quase que uma soberania, cada qual representa um corpo político à
parte, tem interesses perfeitamente delineados, perfeitamente discriminados, de maneira que os
representantes são mandatários dos Estados, vêm defender os interesses dos Estados, cuja soma
constitui o interesse da União (Apoiados). (...) Qual a razão por que o Estado de Minas Gerais há
de ter maior influência nos negócios federais do que o da Paraíba ou este do que o do Mato
Grosso?...” (ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 557)
81
§1.º O número dos Deputados será fixado por lei em proporção que não excederá
de um por setenta mil habitantes, não devendo esse número ser inferior a quatro
por Estado.”
b) Competência legislativa
85
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 560. Conforme observou AGENOR DE ROURE: “a idéia
não vingou, mas se vingasse só teria ferido Minas Gerais, único Estado que dá mais de 25
deputados”. (Idem.)
86
GABRIEL DE PAULA ALMEIDA MAGALHÃES (Minas Gerais) – Formou-se em Direito
pela Faculdade de São Paulo. Por muito tempo foi advogado na cidade de Leopoldina, onde atuou
na propaganda republicana.
87
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 563.
82
88
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 541.
89
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 618.
90
JOAQUIM XAVIER GUIMARÃES NATAL (Goiás) – Formou-se em Direito pela Faculdade
de São Paulo. Seguindo a magistratura, foi recém-formado nomeado promotor público e curador
geral dos órfãos na capital de Goiás, cargo que exerceu de 1883 até 17 de Janeiro de 1885, quando
foi nomeado juiz substituto. Completou o seu quatriênio em 17 de Janeiro de 1889. Nesse ano,
proclamada a República, fez parte da Junta Governativa aclamada pelo povo, de 1.º de Dezembro
de 1889 a Março de 1890. Ocupou logo em seguida o cargo de 1.º vice-governador do Estado,
sendo também nomeado Juiz de Direito da comarca do Rio das Pedras.
91
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 617.
83
c) Estado de sítio
d) Revisão constitucional
92
LEOVIGILDO YPIRANGA DO AMORIM FILGUEIRAS (Bahia) – Bacharel em Direito pela
Faculdade do Recife. Exerceu cargos de magistratura. Em 1884, foi eleito pelo partido liberal
deputado à Assembléia Provincial, mandato que desempenhou até 1887.
93
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 632.
94
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 635.
95
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 612.
96
Constituição de 1824, “Art. 178 – É só constitucional o que diz respeito aos limites e
atribuições respectivas dos Poderes Políticos, e aos Direitos Políticos e individuais dos cidadãos;
84
tudo o que não é constitucional pode ser alterado, sem as formalidades referidas, pelas
Legislaturas ordinárias.”
97
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 658.
98
Conforme parecer da Comissão dos 21: “O art. 85 da Constituição dificulta de tal modo as
reformas constitucionais, que praticamente as torna quase irrealizáveis. Pensando a comissão que
convém moderar tamanho rigor, propõe que se substitua a maioria de três quartos de que trata o
§2.º desse artigo, pela maioria de dois terços”. (idem.)
99
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 659. Cumpre observar que o constituinte MARTINHO
PRADO JÚNIOR apresentou emenda também adotando o modelo de semi-rigidez. Entretanto,
segundo a sua proposta, apenas o processo de reforma constitucional referente às matérias relativas
à discriminação de rendas seria igual ao processo legislativo ordinário. (Idem)
100
JOÃO VICENTE MEIRA DE VASCONCELOS (Pernambuco) – Formou-se em ciências
jurídicas e sociais pela Faculdade de Recife (1870). Foi abolicionista e deputado à assembléia
legislativa da província de Pernambuco em quatro legislaturas, de 6 de Março de 1882 a Julho de
1889.
101
INOCÊNCIO SERZEDELLO CORREIA (Pará) – Militar, promovido a Major em 07.01.1890.
102
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 660. Embora rejeitada, vale transcrever a proposta
apresentada pelo constituinte FRANCISCO VEIGA (Minas Gerais) estabelecendo uma data para
revisão constitucional por um processo mais simples, tal como o art. 3.º do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias da Constituição Federal de 1988, a fim de permitir a alteração do
texto constitucional, após um curto período de vigência. Em textual: “Art. O atual Congresso, na
terceira sessão da legislatura ordinária, poderá, independentemente dos trâmites do art. 85,
modificar esta Constituição, se assim aconselhar a experiência e for requerido por alguma das
Câmaras”. (Nas condições excepcionais em que está sendo discutido e votada a Constituição, é de
prever-se que ela sairá com mais de uma lacuna. Tendo o atual Congresso recebido poderes
especiais para decretar a Constituição, parece haver vantagem em autorizar-se sua revisão depois
de dois anos de experiência, se esta assim o aconselhar). – Francisco Veiga. (Idem.)
103
BARBOSA LIMA (Ceará) – Alexandre Barbosa Lima – p. 295 – Militar. Promovido a 1.º
tenente em 4 de janeiro de 1890. Bacharel em matemática e ciências físicas.
85
a) Mandato Presidencial
104
ANTONIO ALVES PEREIRA DE LYRA (Pernambuco) – Formou-se em medicina em 1884.
Entrando desde logo na política, foi deputado provincial de Março de 1884 a Dezembro de 1885.
105
AMFILÓFIO BOTELHO FREIRE DE CARVALHO (Bahia) – Formou-se em direito pela
Faculdade de Recife. Seguindo a magistratura, foi na Bahia promotor, juiz municipal e juiz de
direito. Mais tarde, exerceu o cargo de juiz da vara comercial de S. Salvador. Foi ainda chefe de
polícia na sua terra natal [Bahia]. Em 7 de Outubro de 1885 foi empossado do governo da
província de Alagoas. Proclamada a República, foi nomeado pelo governador da Bahia para, em
comissão com os conselheiros JOSÉ ANTONIO SARAIVA e VIRGÍLIO DAMÁSIO, organizar o
projeto da Constituição do Estado.
106
ROURE, AGENOR DE, op. cit., pp. 690-1.
86
b) Eleição
107
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 693.
108
No mesmo sentido manifestaram-se os constituintes FLEURY CURADO (Goiás) e MUNIZ
FREIRE (Espírito Santo). (ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 718)
109
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 717.
110
ROURE, AGENOR DE, op. cit., pp. 736-7.
111
ANTÃO GONÇALVES DE FARIA (Rio Grande do Sul) – Formou-se em engenharia civil pela
Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Republicano histórico, tomou parte ativa na propaganda no
Rio Grande do Sul. Proclamada a República, foi nomeado diretor das obras do Estado.
87
112
ARISTIDES DE ARAÚJO MAIA (Minas Gerais) – Bacharel em letras e em ciências jurídicas
e sociais. Exerceu a magistratura, a princípio. Propagandista da República, foi chefe de polícia do
seu Estado, membro do Congresso Republicano Mineiro e deputado à Constituinte Federal.
113
JOSÉ CEZARIO DE MIRANDA MONTEIRO DE BARROS (Espírito Santo) – Nascido em
Minas Gerais, residiu largo tempo em Itaboana, onde se dedicou à lavoura. Filiado ao partido
conservador, foi deputado provincial no Espírito Santo, tomando parte ativa na política. Em 10 de
julho de 1888, tomou posse na presidência da Província das Alagoas, cargo que desempenhou até
o fim deste mesmo ano.
114
ALEXANDRE CASSIANO DO NASCIMENTO (Rio Grande do Sul) – Bacharel em Direito
pela Faculdade de São Paulo. Em 26 de Outubro de 1893, foi nomeado ministro do Exterior na
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presidência do marechal Floriano, exercendo esse cargo até a terminação do mandato deste (15 de
Novembro de 1894).
115
ANTONIO ADOLFO DA FONTOURA MENNA BARRETO (Rio Grande do Sul) – Militar,
promovido a tenente-coronel em 17.03.1890. Participou da Guerra do Paraguai mas foi desterrado
para a Amazônia e reformado, em virtude de seus ideais republicanos. Proclamada a república foi
deputado constituinte e terminou por voltar à ativa tendo sido ministro da Guerra (1912) no
governo Hermes da Fonseca.
116
RAMIRO FORTES BARCELLOS (Rio Grande do Sul) – Formou-se em medicina pela
Faculdade do Rio de Janeiro em 1874. Filiado ao partido liberal no Império, foi deputado à
Assembléia Provincial do Rio Grande do Sul de 1877 a 1881.
117
JOAQUIM FRANCISCO DE ASSIS BRASIL (Rio Grande do Sul) – Bacharel em Direito pela
Faculdade de Direito de São Paulo (1882). Conforme relata DUNSHEE DE ABRANCHES:
“declarou-se republicano desde os bancos acadêmicos. Poeta e dramaturgo, homem de letras e
pensador, sportman e criador, possuindo importantes estabelecimentos pecuários em sua terra
natal, iniciou-se na vida pública escrevendo trabalhos para a imprensa. Redigiu ‘A República’,
órgão do Clube Republicano Acadêmico de S. Paulo; a ‘Evolução’ (jornal literário); e a
‘Federação’, de Porto Alegre”.
118
PINHEIRO MACHADO (Rio Grande do Sul) – Foi militar, promovido a alferes pelo governo
imperial. Formou-se em Direito pela Faculdade de São Paulo (1878). Em 1879 fundou o Partido
Republicano Conservador Rio-Grandense, ao lado de JÚLIO DE CASTILHOS e ASSIS BRASIL.
Em 1882, tomou parte ativa no 1.º Congresso Republicano, reunido em Porto Alegre. Conforme
narrou DUNSHEE DE ABRANCHES: “Na véspera de 15 de Novembro de 1889, retirava-se
Pinheiro Machado com a sua esposa da localidade em que residia, ameaçado de morte, por
suspeitas de que preparava um movimento armado, que ali deveria rebentar, com os outros chefes
da propaganda no Rio Grande do Sul. Distante já vinte léguas de sua estância, recebia entretanto
no dia seguinte comunicação inesperada de seus correligionários para que regressasse, pois a
República havia sido implantada no Rio de Janeiro. Implantado o novo regime, explica-se assim
facilmente porque foi preferido a outros denotados republicanos de sua terra para ocupar uma
cadeira no Senado na Constituinte Federal, mandato que lhe foi initerruptamente renovado até a
morte. Signatário embora da Constituição de 24 de Fevereiro, não tomou parte ativa no debate
para a sua confecção, limitando-se a prestigiar os esforços dos seus correligionários do Rio
Grande do Sul no sentido de tornar vitoriosos os pontos capitais do programa do seu partido”.
(Op. Cit., pp. 267-8)
119
FERNANDO ABOTT (Rio Grande do Sul) – Formou-se em medicina pela Faculdade do Rio
de Janeiro. Foi deputado federal à constituinte e à 1.ª legislatura pelo seu estado natal, de que foi
também vice-presidente (1893).
88
§1.º Este pedido deverá ser dirigido à Câmara por número nunca inferior a cem
mil cidadãos que tenham o gozo e o exercício de todos os direitos políticos,
habitantes de um ou mais Estados, em uma ou mais de uma petição, contanto que
a soma total de nomes atinja aquele número. O pedido deverá ser documentado
quando alegar fatos especificados.
120
ALMINO ALVARES AFONSO (Rio Grande do Norte) – Formou-se em medicina pela
Faculdade do Rio de Janeiro em 1880. Voltando a Natal, regeu a cadeira de história no Atheneu
Rio-Grandense. Abolicionista, fundou um jornal e fez conferências públicas em prol da libertação
dos escravos. Republicano, tomou parte ativa na propaganda. Proclamada a República, foi
governador provisório do Estado.
121
THOMAZ THOMPSON FLORES (Rio Grande do Sul) – Militar, promovido a major em 7 de
janeiro de 1890 e a tenente-coronel em 17 de Março do mesmo ano.
122
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 729.
123
JOSÉ AUGUSTO DE FREITAS (Bahia) – Formado em Direito pela Faculdade de Recife.
Conforme aponta DUNSHEE DE ABRANCHES: “Filiado embora ao partido liberal e exercendo
o cargo de promotor público de S. Salvador, colocou-se ao lado dos republicanos durante os
conflitos, ali travados com a polícia, por ocasião da passagem do Conde d’Eu e Silva Jardim.
Proclamada a República, foi nomeado chefe de polícia do seu Estado”. (Op. Cit., p. 322)
124
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 746.
125
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 702.
89
§3.º tomarão parte nessa decisão todos os eleitores alistados até a data em que
ela houver lugar.
§4.º Os sufrágios serão recebidos perante mesas organizadas pela mesma forma
exigida para as eleições do Congresso. Cada eleitor fabricará a sua cédula no
ato de dar o voto, em lugar para esse fim reservado, junto à mesa, perfeitamente
defendido das vistas do público e da mesa.
c) Competências
126
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 707.
127
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 774.
128
ANTONIO PINHEIRO GUEDES (Mato Grosso) – Formado em medicina pela faculdade do
Rio de Janeiro, entrou para o corpo de saúde do Exército em 1870. Foi promovido a major
cirurgião mor de brigada em 5 de março de 1890 e a tenente-coronel médico de 2.ª classe em 27 do
mesmo mês.
129
ANTONIO GONÇALVES CHAVES (Minas Gerais) – Bacharel em Direito pela Faculdade de
SP (1863). Foi eleito deputado provincial por Minas nos biênios de 1866 a 67 e 1868 a 69 pelo
partido liberal do extremo norte. DUNSHEE DE ABRANCHES anota ainda que: “Vitoriosos os
liberais em 1878, o ministério Paranaguá deu-lhe em 1882 a primeira delegação que o seu
partido lhe confiou na administração pública, nomeando-o presidente da província de Santa
Catarina, cargo de que se empossou a 6 de Setembro daquele ano. Pouco se demorou, porém,
naquela província, pois que, nos primeiros meses de 1883, se exonerou daquele cargo, recebendo
de seu partido investidura mais importante, vindo substituir o Dr. Theophilo Ottoni na presidência
de Minas, de que tomou posse a 7 de Março de 1883”. (Op. Cit., p. 390)
90
Executivo130. Foi, portanto, RUI BARBOSA (Bahia) quem substituiu este sistema
de eleição pela nomeação pelo Presidente da República com aprovação do
Senado. Na Comissão dos 21, JULIO DE CASTILHOS (Rio Grande do Sul)
tentou suprimir a participação do Senado, não obtendo êxito.
Iniciada a 1.ª discussão foram apresentadas algumas emendas ao PGP.
Nesse sentido, o constituinte GONÇALVES CHAVES (Minas Gerais) apresentou
emenda estabelecendo que, dos 15 ministros que comporiam o STF, dois terços
seriam escolhidos dentre os magistrados mais antigos e cinco escolhidos dentre
cidadãos de notável saber e reputação, elegíveis para o Senado. NINA RIBEIRO
(Pará) apresentou emenda ampliando o número de ministros do STF, que
deveriam ser eleitos pela magistratura de cada Estado e do Distrito Federal, de
entre os seus pares de notável saber e reputação. O constituinte AMFILÓFIO
(Bahia) apresentou emenda estabelecendo que o número de ministros do STF
deveria ser o mesmo dos tribunais de apelação – nomeado o juiz mais antigo de
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130
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 776.
91
131
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 777.
132
ROURE, AGENOR DE, op. cit., pp. 778-9.
133
(FRANCISCO ÁLVARO BUENO DE PAIVA (Minas Gerais) – Bacharel em Direito pela
Faculdade de São Paulo (1882). Nomeado promotor público de S. José do Paraíso, exerceu o cargo
92
d) Veto Presidencial
“art. 35 (...)
§3.º – Devolvido o projeto à Câmara que o iniciou ali se sujeitará a uma
discussão e à votação nominal, considerando-se aprovado, se obtiver dois terços
dos sufrágios presentes;e, neste caso se remeterá à outra Câmara, de onde, se
vencer, pelos mesmos trâmites, a mesma maioria, voltará como lei ao Poder
Executivo para a solenidade da promulgação.”
de 24 de janeiro de 1885 a 27 de Agosto do mesmo ano, quando foi elevado a juiz municipal,
terminando o seu quatriênio em 1889.
93
destacar que foi apresentada proposta pelos Srs. GABINO BESOURO (Alagoas)
e VALLADÃO – rejeitada, no entanto, pela Comissão dos 21 – no sentido de
reduzir o quorum para derrubada de veto, de 2/3 em ambas as casas para maioria
simples.
e) Ministros de Estado
134
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 789.
135
“Art. 47 – O Presidente da República é auxiliado pelos Ministros de Estado, agentes de sua
confiança, que lhe referendam os atos, e presidem cada um a uma das secretarias, em que se
divide a administração federal.”
136
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 801
137
AMERICO LOBO LEITE PEREIRA (Minas Gerais) – Bacharel em Direito pela Faculdade de
São Paulo (1863). Filiou-se ao partido liberal, pelo qual foi eleito deputado geral pelo 5.º distrito
de Minas (1867 a 1870). Dissolvida a Câmara em 1868, desligou-se do partido liberal, e passou à
propaganda republicana, estabelecendo o seu campo de ação especialmente em Leopoldina.
Proclamada a República, pouco tempo depois era nomeado governador do Paraná.
138
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 803.
139
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 817.
94
140
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 835. Cabe destacar que o constituinte FREDERICO
BORGES (Ceará) também havia apresentado proposta no mesmo sentido.
141
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 836.
95
maioria, não seguiu esta orientação, optando, por um modelo misto, que
assegurava a unidade de legislação e a dualidade do Poder Judiciário, aprovado
em 1.ª discussão e mantido na 2.ª.
142
ROURE, AGENOR DE, op. cit., vol. 2, pp. 3-5.
143
FRANCISCO COELHO DUARTE BADARÓ (Minas Gerais) – Bacharel em Direito pela
Faculdade de São Paulo. DUNSHEE DE ABRANCHES anota que “(...) cultivou desde estudante
as letras, publicando os livros – Faustina (cenas da escravidão, com um juízo crítico de Bernardo
Guimarães 1881); e Parnaso Mineiro (1887).” (Op. Cit., p. 380)
144
ROURE, AGENOR DE, op. cit., vol. 2, p. 11.
145
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 841.
146
A respeito da participação do Apostolado Positivista no processo constituinte, anotam PAULO
BONAVIDES e PAES DE ANDRADE: “Duas expressivas figuras do movimento positivista,
Miguel Lemos e R. Teixeira Mendes, formularam uma representação, enviada ao Congresso
Nacional propondo modificações no Projeto de Constituição apresentado pelo governo e em
debate na Constituinte.(...)
97
"os cargos públicos civis serão preenchidos, no grau inferior, por concurso, ao
qual serão admitidos indistintamente todos os cidadãos brasileiros, sem se exigir
diploma algum de habilitação intelectual. Os cargos superiores serão de livre
nomeação do Governo, excluída também qualquer condição de diplomas. Os
cargos médios serão preenchidos mediante acesso por antiguidade e só
excepcionalmente e só excepcionalmente por mérito".
Tendo sido rejeitada em 1.ª discussão, foi apresentada outra emenda em 2.ª
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"Sr. Presidente, se por acaso visse facilidade de falar na 2.ª discussão do projeto
da Constituição, viria a esta tribuna fazer minha uma emenda apresentada, pela
qual os empregados públicos não podem ser demitidos senão por motivos
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150
ALCINDO GUANABARA (Rio de Janeiro) – Entrou para a Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro, mas interrompeu seus estudos no 3.º ano. Depois de colaborar em pequenos jornais, entrou
para a “Cidade do Rio”, com José do Patrocínio. Logo depois, em 1887, redator chefe do
“Novidades”, e, em 1890, redator chefe do “Correio do Povo”. Distinguiu-se como ardente
defensor do regime republicano. Conforme anotou DUNSHEE DE ABRANCHES: “Na
Constituinte, era uma das figuras proeminentes do grupo (Demétrio Ribeiro, Aníbal Falcão,
Barbosa Lima, Nilo Peçanha, Antão de Faria, Muniz Freire), grupo que iniciou a oposição ao
Governo Provisório”. (Op. Cit., p. 351) Senador em 1912 e redator político de O País, integrou o
grupo de intelectuais que fundou a Academia Brasileira de Letras (ocupou a cadeira n.° 19).
151
DEMÉTRIO NUNES RIBEIRO (Rio Grande do Sul) – Bacharel em ciências físicas e
matemáticas. Em Porto Alegre, foi professor de ciências naturais da Escola Normal. Republicano
histórico, ao ser proclamada a República, foi convidado para fazer parte do Governo Provisório e
ocupou por alguns meses a pasta dos negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas.
152
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 846.
153
THOMAZ DELFINO DOS SANTOS (Distrito Federal) – Formado em medicina pela
Faculdade do rio de Janeiro em 1882. Republicano histórico, trabalhou ao lado de SILVA
JARDIM.
154
ROURE, AGENOR DE, op. cit., p. 847.
99
em 1.ª discussão. Convém dizer que o deputado baiano, na sua emenda supressiva,
explicou que a matéria era administrativa e não constitucional, dando assim uma
determinada significação ao voto da Constituinte155.
155
Idem.
100
“Art. 72 – (...)
§ 24 - É garantido o livre exercício de qualquer profissão moral, intelectual e
industrial.
§ 25 - Os inventos industriais pertencerão aos seus autores, aos quais ficará
garantido por lei um privilégio temporário, ou será concedido pelo Congresso
um prêmio razoável quando haja conveniência de vulgarizar o invento.
§ 26 - Aos autores de obras literárias e artísticas é garantido o direito exclusivo
de reproduzi-Ias, pela imprensa ou por qualquer outro processo mecânico. Os
herdeiros dos autores gozarão desse direito pelo tempo que a lei determinar.
§ 27 - A lei assegurará também a propriedade das marcas de fábrica.
§ 28 - Por motivo de crença ou de função religiosa, nenhum cidadão brasileiro
poderá ser privado de seus direitos civis e políticos nem eximir-se do
cumprimento de qualquer dever cívico.
§ 29 - Os que alegarem motivo de crença religiosa com o fim de se isentarem de
qualquer ônus que as leis da República imponham aos cidadãos, e os que
aceitarem condecoração ou títulos nobiliárquicos estrangeiros perderão todos os
direitos políticos.
§ 30 - Nenhum imposto de qualquer natureza poderá ser cobrado senão em
virtude de uma lei que o autorize.
§ 31 - É mantida a instituição do júri.”
156
ROURE, AGENOR DE, op. cit., vol. 2, p. 140.
157
O parágrafo único do art. 67, que estabelecia que uma lei do Congresso Nacional organizaria o
município do Distrito Federal já havia sido suprimido pela Comissão dos 21, já que o art. 66
tratava da matéria.
102
Comissão dos 21. A polêmica não se referia à liberdade de profissão em si, mas à
sua extensão. De fato, pretendiam alguns constituintes que fosse assegurada a
dispensa de diplomas para o exercício profissional – idéia defendida, dentre
outros, pelo Apostolado Positivista e por JULIO DE CASTILHOS (Rio Grande
do Sul). As emendas que dispensavam expressamente os diplomas para o
exercício das profissões, entretanto, foram todas rejeitadas pela Constituinte.
constituições estaduais uma boa parte dos temas que os unionistas pretendiam
definir na Constituição Federal. Deve-se recordar que o estabelecimento pela
Constituição de um projeto político abrangente que vinculasse os Estados poderia
frustrar os interesses de determinados setores que prefeririam, portanto, assegurar
uma certa margem de manobra política dentro do âmbito estadual. Isto explica o
fato de muitos debates não abordarem o caráter democrático ou até mesmo
republicano das propostas que eram apresentadas, mas apenas a conveniência de
se estabelece-las na Constituição Federal. Desse modo, a atribuição de uma ampla
esfera de autonomia política aos Estados poderia resultar na coexistência de
diversos projetos políticos, distintos entre si e, sobretudo, em relação ao
estabelecido na Constituição Federal.
Além disso, a determinação do quantum de autonomia a ser conferida aos
Estados poderia comprometer o sucesso da própria Federação. É que o pacto
federativo, como, via de regra, qualquer outro pacto, importa em direitos e
obrigações às partes pactuantes, e, no caso da constituinte republicana, a atuação
de constituintes federalistas mais atentos ao bônus conferido aos Estados do que
ao ônus trazido pelo regime federativo poderia afetar o seu equilíbrio. Como
frisou RENATO LESSA ao abordar os desafios abertos à elite política durante o
processo constituinte, “para implantar o federalismo não bastava apostar na
105
158
Op. Cit., p. 54.
106
4
O Projeto Político da Constituição de 1891
4.1 . Introdução
“1.º não pode ser perpétua, 2.º deve ser renovada periodicamente e 3.º a prazos
curtos, 4.º distribuída por diferentes órgãos, 5.º tendo cada um destes funções
definidas e limitadas e 6.º sendo responsáveis no exercício delas todos os agentes
do poder público. Sem estas condições (...) o sistema representativo se tornaria
uma burla, degenerando a representação em despotismo disfarçado com as
fórmulas da liberdade – a pior das tiranias.”1
1
BARBALHO, JOÃO.“Constituição Federal Brasileira – Comentários”, Rio de Janeiro: 1902, p.
8.
110
2
In verbis: “Art 2º - Cada uma das antigas Províncias formará um Estado e o antigo Município
Neutro constituirá o Distrito Federal, continuando a ser a Capital da União, enquanto não se der
execução ao disposto no artigo seguinte.; Art 3º - Fica pertencendo à União, no planalto central
da República, uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcada
para nela estabeIecer-se a futura Capital federal.
Parágrafo único - Efetuada a mudança da Capital, o atual Distrito Federal passará a constituir
um Estado.”
3
Op.Cit., p. 18.
111
constituinte acerca do instituto da intervenção federal cessam por aí. É que, como
foi visto no capítulo anterior, a redação do art. 6.º da Constituição estranhamente
não foi objeto de debate no Congresso Constituinte – ao menos em intensidade
proporcional à sua importância, já que o instituto afetaria diretamente a autonomia
dos Estados, que figurou como tema central no processo de elaboração do texto
constitucional. Desse modo, fazem fila as dúvidas e incertezas deixadas pelo
constituinte a respeito da intervenção federal.
De fato, a Constituição não estabelecia de forma clara qual seria o órgão
competente para determinar a intervenção federal, nem os limites à adoção desta
medida. Não estabelecia também se poderia haver algum controle sobre esta
medida e, neste caso, a quem competiria exercer este controle. Estes pontos
revelam-se de grande importância na medida em que deles dependeria a sorte do
instituto, ou seja, se ele seria efetivamente adotado em caráter excepcional, a fim
tão somente de assegurar a federação.
De acordo com a doutrina, nos casos de invasão estrangeira ou de um
Estado em outro (art. 6.º, 1.º), assim como no caso de grave perturbação da ordem
(art. 6.º, 3.º) a competência para perpetrar a intervenção federal seria do
Congresso, sendo permitido, no entanto, ao Presidente da República agir
imediatamente “se urgente for intervir pelo perigo da ordem pública e tornar-se
112
Deve-se pois considerar essa como uma simples emenda de redação e interpretar
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0014242/CA
4
Op. Cit., p. 24.
113
5
“Art. 4.º - Os Estados Unidos garantirão a cada Estado desta União a forma republicana
de governo e defendê-lo-ão contra invasões; e, a pedido da legislatura, ou do Executivo
114
3.º) e sobre indústrias e profissões (art. 9.º, 4.º). Atribuía ainda aos Estados a
competência para decretar taxas de selos quanto aos atos emanados de seus
respectivos Governos e negócios de sua economia (art. 9.º, §1.º; 1.º), bem como
contribuições concernentes aos seus telégrafos e correios (art. 9.º, §1.º; 2.º). Como
uma exceção ao disposto no art. 7.º, 1.º, a Constituição (art. 9.º, §3.º) permitia aos
Estados tributarem a importação de mercadorias estrangeiras, quando estas fossem
destinadas ao consumo no seu território, in verbis:
7
Op. Cit., p. 40.
116
8
FAORO, RAYMUNDO. “Democratização e Forças Armadas”, in. Senhor, n.º 185 – 3.10.1984.
9
Idem.
117
10
Apud. FAORO, RAYMUNDO, "Democratização e Forças Armadas", Op. Cit.
118
E prossegue o autor:
11
Op. cit., p. 44.
12
Op. cit., p. 46.
119
13
BROSSARD, PAULO. “Rui e o Presidencialismo”. In. Rui Barbosa e a Constituição de 1891.
Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1985.
120
14
MADISON, JAMES, HAMILTON, ALEXANDER, e JAY, JOHN, “Os Artigos Federalistas,
1787-1788”. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1993, p. 342.
15
“Art 16 - O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, com a sanção do Presidente
da República.”
16
O disposto no art. 26 excluía expressamente os cidadãos referidos no art. 69, IV, ou seja, “os
estrangeiros, que achando-se no Brasil aos 15 de novembro de 1889, não declararem, dentro em
121
cabe destacar:
reeleito para o período presidencial imediato (art. 43). Entretanto, caso ocorresse,
por qualquer motivo, vaga da Presidência ou mesmo da Vice-Presidência, antes de
decorridos dois anos do período presidencial, deveria se proceder a uma nova
eleição (art. 42). Como bem observou JOÃO BARBALHO: “A restrição e
cautela que se contem no presente artigo indubitavelmente mostra o congresso
pouco confiante no funcionário assim por ele diminuído em sua estatura, e
induzem à pergunta – se não teria sido melhor haver-se logo prescindido dele?”22
No tocante aos proventos a serem percebidos pelo Presidente da
República, a Constituição, seguindo o modelo norte-americano, definiu que
caberia ao Poder Legislativo fixá-los. Entretanto, como já alertava ALEXANDER
HAMILTON:
22
Op. Cit., p. 164.
23
Op. Cit., p. 457.
126
24
Op. Cit., p. 170.
25
Op. Cit., pp. 457-8
26
O projeto aprovado pela Comissão dos cinco estabelecia que o compromisso deveria ser firmado
perante o Supremo Tribunal de Justiça – nome dado ao órgão de cúpula do Poder Judiciário – e
não perante o Congresso Nacional. RUI BARBOSA manteve este dispositivo, apenas com a
alteração do nome para Supremo Tribunal Federal. Foi, portanto, a Assembléia Constituinte – não
por coincidência exercida pelo Congresso Nacional – quem alterou este dispositivo, estabelecendo
127
que o compromisso deveria ser firmado perante o Poder Legislativo e, apenas em caso de ausência
deste, perante o Supremo Tribunal Federal.
27
“Art 48 - Compete privativamente ao Presidente da República:
1º) sancionar, promulgar e fazer publicar as leis e resoluções do Congresso; expedir decretos,
instruções e regulamentos para sua fiel execução;
2º) nomear e demitir livremente os Ministros de Estado;
3º) exercer ou designar quem deva exercer o comando supremo das forças de terra e mar dos
Estados Unidos do Brasil, quando forem chamadas às armas em defesa interna ou externa da
União;
4º) administrar o exército e a armada e distribuir as respectivas forças, conforme as leis federais
e as necessidades, do Governo nacional.
5º) prover os cargos civis e militares de caráter federal, salvas as restrições expressas na
Constituição;
6º) indultar e comutar as penas nos crimes sujeitos à jurisdição federal, salvo nos casos a que se
referem os arts. 34, nºs 28, e 52, § 2º;
7º) declarar a guerra e fazer a paz, nos termos do art. 34, nº 11;
8º) declarar imediatamente a guerra nos casos de invasão ou agressão estrangeira;
9º) dar conta anualmente da situação do País ao Congresso Nacional, indicando-lhe as
providências e reformas urgentes, em mensagem que remeterá ao Secretário do Senado no dia da
abertura da Sessão legislativa;
10) convocar o Congresso extraordinariamente;
11) nomear os magistrados federais mediante proposta do Supremo Tribunal;
12) nomear os membros do Supremo Tribunal Federal e os Ministros diplomáticos, sujeitando a
nomeação à aprovação do Senado.
Na ausência do Congresso, designá-los-á em comissão até que o Senado se pronuncie;
13) nomear os demais membros do Corpo Diplomático e os agentes consulares;
14) manter as relações com os Estados estrangeiros;
15) declarar por si, ou seus agentes responsáveis, o estado de sítio em qualquer ponto do
território nacional nos casos, de agressão estrangeira, ou grave comoção intestina (art. 6º, nº 3;
art. 34, nº 21 e art. 80);
128
Terá menos ligações pessoais a atender que um corpo cujos membros poderiam
ter, cada um, igual número, e será, na mesma medida, menos passível de ser
desencaminhado por sentimentos de amizade e afeição.”28
28
Op. Cit., p. 470.
130
"a escolha do indivíduo que o exerça não pode caber senão a quem dirige a
administração e a superintende; é ele o mais próprio para escolher os de maior
aptidão, e tem a responsabilidade dessa escolha.
A este poder é correlato o de demitir (quando por exceção o não veda a lei). De
outro modo a administração pública ficaria em muitos casos confiada a agentes
que se tornassem incapazes, infiéis e nocivos, sem que o chefe dela ou a
autoridade a eles proposta pudesse livrá-la desse mal.”
29
Op. Cit., p. 472.
30
Segundo o próprio HAMILTON, ao abordar o modo de designação dos juízes (artigo n.º 78)
“(...) é o mesmo utilizado na designação dos servidores da União em geral, tão amplamente
discutido nos dois últimos artigos que tudo o que poderíamos dizer aqui seria repetição inútil.”
(Op. Cit., p. 478.)
131
"Se a nomeação dos juízes não devesse caber ao presidente da República, a quem
conviria atribuí-la? Ao povo? A escolha dos magistrados por votação popular
tem gravíssimos inconvenientes. Reduz a nomeação deles afinal a mero negócio
de partido. Os candidatos não serão preferidos pelo fato de seu mérito e aptidão
profissional. As agremiações partidárias quererão ter na judicatura homens seus
e na eleição dos juízes será para isso que principalmente hão de olhar. Os
magistrados assim escolhidos trarão compromissos incompatíveis com a isenção
e independência que sua função requer. Serão juízes políticos, farão justiça
parcial, partidária, a negociação da justiça.
Os candidatos à judicatura começarão por fazer um pacto de submissão a um
partido. A independência do juiz porém é medida de interesse público, sobre ela
não cabe transação, não é estabelecida para que ele a renuncie e
voluntariamente aceite uma posição que dela é antípoda. Essa independência é
uma garantia de ordem política. É condição basilar de um regime de governo
livre. E um método de compor desse feitio o pessoal da magistratura
'contraditório com o fim da instituição.” 32
31
Op. Cit., p. 188.
32
Op. Cit., pp. 192-3.
132
“A nomeação pelo congresso não daria melhor escolha; o eleitorado fora menor,
mas eivado do mesmo vírus de partidarismo.
Confiar ao próprio poder judiciário a nomeação de seus membros não seria mais
acertado? Não dever ao governo a nomeação ou acesso é sem dúvida para o juiz
uma condição de independência.
E ser ele escolhido pela mesma corporação para onde vai entrar, ou por quem
dela faz parte, por quem tem o dever de zelá-la e não a quererá desmoralizada
pela admissão dos que não a honrem, é uma boa condição de acerto da
nomeação. Mas é inegável que este método encaminha para a oligarquia
judiciária, com que a república teria muito a perder.
O escolher pessoal para o exercício dos cargos públicos é função de caráter
executivo; mesmo os da administração judiciária devem ser providos pelo
presidente da República, e a Constituição, como se vai ver providenciou de modo
a garantir melhor o certo da nomeação."33
33
Op. Cit., p. 193.
34
MAXIMILIANO, CARLOS.“Comentários à Constituição”, 1918, p. 518.
133
“do mesmo modo que a anterior, esta atribuição, de caráter executivo, não
poderia caber senão ao presidente da República, mas também não ficou
dependente só dele. Trata-se do provimento de cargos de tão elevada hierarquia,
que cumpre faze-lo com cautelas tais que possam evitar quaisquer abusos e
facilidades na escolha. E muito mais facilmente estes poderão ocorrer sendo ela
abandonada ao presidente, sem algum contraste, sem fiscalização. Como
corretivo associou-se o senado a esta função de altíssima importância.” 35
“Se o interesse público exigir providência que não seja da alçada do presidente,
para que não periclite com a demora, não estando reunidas as câmaras
legislativas, cabe-lhe convocá-las. É uma função, como se vê, própria do poder
executivo e que não poderia ser dada a nenhuma outra autoridade senão ao
chefe da nação.”36
35
Idem. CARLOS MAXIMILIANO, a respeito desta atribuição, anotou que “a investidura dos
membros do Supremo Tribunal e dos ministros diplomáticos compete ao chefe de Estado; porém
deve ser homologada pelo Senado, corporação menos numerosa do que a Câmara dos Deputados,
apta a deliberar mais rapidamente e constituída por homens em geral mais experimentados,
cônscios da responsabilidade advinda das posições que ocuparam, não muito dependentes das
facções partidárias.”(Op. Cit., p. 518)
134
“Realmente, este poder foi conferido ao presidente com altos fins de utilidade
nacional, no interesse do regular andamento dos negócios públicos e exata
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0014242/CA
36
Op. Cit., p. 192.
37
Op. Cit., pp. 516-7.
38
Idem.
39
Idem.
135
“Art 59 – (...)
I - processar e julgar originária e privativamente:
a) o Presidente da República nos crimes comuns, e os Ministros de Estado nos
casos do art. 5240;
b) os Ministros Diplomáticos, nos crimes comuns e nos de responsabilidade;
c) as causas e conflitos entre a União e os Estados, ou entre estes uns com os
outros;
d) os litígios e as reclamações entre nações estrangeiras e a União ou os
Estados;
e) os conflitos dos Juízes ou Tribunais Federais entre si, ou entre estes e os dos
Estados, assim como os dos Juízes e Tribunais de um Estado com Juízes e
Tribunais de outro Estado.
40
“Art 52 - Os Ministros de Estado não serão responsáveis perante o Congresso, ou perante os
Tribunais, pelos conselhos dados ao Presidente da República.
§ 1º - Respondem, porém, quanto aos seus atos, pelos crimes em lei.
§ 2º - Nos crimes, comuns e de responsabilidade serão processados e julgados pelo Supremo
Tribunal Federal, e, nos conexos com os do Presidente da República, pela autoridade competente
para o julgamento deste.”
138
que homens que atuam em virtude de poderes a eles confiados podem fazer não
só o que estes autorizam, mas o que proíbem.
Caso se diga que os membros do corpo legislativo são eles mesmos os juízes
constitucionais dos próprios poderes e que a interpretação que lhes conferem
impõe-se conclusivamente aos outros setores, pode-se responder que esta não
pode ser a presunção natural a menos que pudesse ser deduzida de cláusulas
específicas da Constituição. De outro modo, não há por que supor que a
Constituição poderia pretender capacitar os representantes do povo a substituir
a vontade de seus eleitores pela sua própria. É muito mais sensato supor que os
tribunais foram concebidos para ser um intermediário entre o povo e o
legislativo, de modo a, entre outras coisas, manter este último dentro dos limites
atribuídos a seu poder. A interpretação das leis é o domínio próprio e particular
dos tribunais. Uma Constituição é de fato uma lei fundamental, e como tal deve
ser vista pelos juízes. Cabe a eles, portanto, definir seu significado tanto quanto
o significado de qualquer ato particular procedente do corpo legislativo. Caso
ocorra uma divergência irreconciliável entre ambos, aquele que tem maior
obrigatoriedade e validade deve, evidentemente, ser preferido. Em outras
palavras, a Constituição deve ser preferida ao estatuto, a intenção do povo à
intenção de seus agentes.
Esta conclusão não supõe de modo algum uma superioridade do poder judiciário
sobre o legislativo. Supõe apenas que o poder do povo é superior a ambos, e que,
quando a vontade do legislativo, expressa em suas leis, entra em oposição com a
do povo, expressa na Constituição, os juízes devem ser governados por esta
última e não pelas primeiras. Devem regular suas decisões pelas leis
fundamentais, não pelas que não são fundamentais.”43
41
CLÈVE, CLÈMERSON MERLIN, "A Fiscalização Abstrata de Constitucionalidade no Direito
Brasileiro", São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, pp. 63-4.
42
RODRIGUES, LÊDA BOECHAT, “História do Supremo Tribunal Federal”, Tomo I – 1891-
1898 – Defesa das Liberdades Civis, Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, S.A., 1965, p.
1.
43
Op. Cit., pp. 480-1.
140
Quanto ao exercício dos direitos políticos, este era restrito aos cidadãos
maiores de 21 anos alistados na forma da lei. Contudo, a própria Constituição já
estabelecia algumas vedações/alguns impedimentos, a saber:
"Art 70 - (...)
§ 1º - Não podem alistar-se eleitores para as eleições federais ou para as dos
Estados:
1º) os mendigos;
2º) os analfabetos;
3º) as praças de pré, excetuados os alunos das escolas militares de ensino
superior;
4º) os religiosos de ordens monásticas, companhias, congregações ou
comunidades de qualquer denominação, sujeitas a voto de obediência, regra ou
estatuto que importe a renúncia da liberdade Individual.
§ 2º - São inelegíveis os cidadãos não alistáveis."
§ 2º - Perdem-se:
a) por naturalização em pais estrangeiro;
b) por aceitação de emprego ou pensão de Governo estrangeiro, sem licença do
Poder Executivo federal.
§ 3º - Uma lei federal determinará as condições de reaquisição dos direitos de
cidadão brasileiro."
44
Op. Cit., pp. 768-9.
147
45
Op. Cit., p. 769.
46
Op. Cit., p. 342.
47
Op. Cit.¸p. 344.
148
48
BARBOSA, RUI. “Comentários à Constituição Brasiliera”(coligidos e ordenados por
HOMERO PIRES), v. 6, São Paulo: Saraiva, 1934, p. 406.
151
sistema republicano.”50
49
A este respeito, comentou JOÃO BARBALHO: “Não vinha esta proibição nos projetos
anteriores ao do governo provisório e tem incorrido em crítica, quer como incompatível com a
natureza dos atos orgânicos constitucionais, os quais por mais estabilidade que devam ter, não
podem aspirar à imutabilidade, quer além disso como uma restrição posta à soberania
nacional.(...)
Que as duas restrições deste §4.º limitem e mutilem a própria soberania da nação, não é
rigorosamente exato; apenas dizem respeito ao exercício dela e não são as únicas limitações
dessa natureza em nossa Constituição. Já uma Constituição é por si mesma limitativa desse
exercício. Por ela a nação fixa balizas aos poderes que estabelece para o governo, e nisto
restringe sua ação soberana quanto ao modo de ser governada.
E o que são as incompatibilidades eleitorais, senão restrições também da faculdade soberana que
tem a nação de escolher seus representantes? Não o é também a exigência de requisitos especiais,
imposta à eleição para certos cargos? Pois não deveria ficar inteiramente livre à nação a escolha
de seus agentes! E não é certo que até os direitos individuais, anteriores e superiores às
Constituições, sofrem em seu exercício limitações que elas lhes impõem? Exemplos, - a
expropriação forçada, a proibição de reuniões armadas, a prisão preventiva, a suspensão de
garantias constitucionais.
A Constituição da União Norte-Americana proibiu, no seu art. V, que se emendassem por
qualquer forma as cláusulas 1.ª e 4.ª da seção 9.ª do art. 1, até o ano de 1808, e que nenhum dos
Estados fosse, sem seu consentimento, privado da igualdade de representação no senado.”(Op.
Cit., pp. 368-9)
50
Op. Cit., pp. 232-3.
152
51
Op. Cit., pp. 806-7.
52
Op. Cit., p. 364.
53
Op. Cit., p. 808.
153
reforma, diz: por maioria de dois terços dos votos nas duas câmaras do congresso.
O art. 90, assim, nem consagra em seus termos a limitação constante dos outros
artigos citados, não se referindo como eles a votos dos membros presentes, nem
se exprime de modo que induza a supor-se, por argumento, que quisesse
estabelecer tal limitação. Teria usado dos mesmos termos, se houvesse querido a
mesma coisa. Não o fez, e tornou-se mais exigente, querendo dois terços da
totalidade dos membros de cada casa do parlamento, por consideração da
excepcional gravidade e importância da reforma constitucional, que submeteu a
condições e processo mais rigorosos que os prescritos para as leis ordinárias.
Nem é para ter-se por excessiva tão grande cautela. Os constituintes, zelando
como deviam sua obra, quiseram que não ficasse exposta a reformas
precipitadas, inconsideradas, eivadas de vírus partidário, realizadas sob a
inspiração das paixões do momento. Certo, a Constituição não poder-se-ia
considerar intangível, imutável e por mais conservador que haja sido o espírito
que a ditou nesta parte, não lhe teria escapado que para conservar é preciso
aperfeiçoar. Mas tal é a natureza, tão grandiosos os propósitos da lei
fundamental, que deve ela ser considerada com um respeito religioso, e o perigo
de alterar uma constituição para torná-la melhor (no dizer de autorizado
publicista) é quase sempre mais considerável que o de sofrê-la tal qual ela é. (J.
P. Pagés)”54
54
Op. Cit., p. 365.
154
partir da Constituição dos EUA, mas justamente a partir de uma leitura sistemática
do próprio texto constitucional brasileiro, que o quorum exigido pela Constituição
era o de dois terços dos membros das câmaras, o que tornava ainda mais
dificultoso o processo de alteração do texto constitucional. Convém observar que
ambas as interpretações foram expostas pelos autores muito antes da reforma
constitucional de 1926; isentas, portanto, de qualquer casuísmo.
4.7. Conclusão
5
A Constituição de 1891 e o Controle de
Constitucionalidade
Deste modo, se por um lado caberia ao Congresso, nos termos do art. 35, §1.º,
velar na guarda da Constituição, ainda que não privativamente, por outro caberia
ao Poder Judiciário, e especialmente o Supremo Tribunal Federal, rever e
eventualmente anular os atos aprovados pelo Congresso, a partir justamente da
verificação do (des)respeito à Constituição. O STF assumiria uma posição
privilegiada, pois a esta Corte caberia rever as decisões das instâncias inferiores e,
portanto, a manifestação inapelável a respeito da validade das leis e atos
normativos em vigor no País.
Embora um órgão de cúpula do Poder Judiciário não figurasse como
novidade na organização constitucional do País, já que a Constituição do Império
abrigava o Supremo Tribunal de Justiça (art. 164), o STF assumiria, nos termos
definidos pela Constituição de 1891, atribuições desconhecidas até então pelo
Poder Judiciário brasileiro e, nada obstante a sua composição inicial ter sido, em
maior parte, originária dos ministros do Supremo Tribunal de Justiça2, pode-se
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afirmar que o STF surgiu como um novo ator na ordem constitucional que se
inaugurava. Assim, ainda que a Constituição fosse clara a respeito da posição a ser
assumida pelo Poder Judiciário, e especialmente pelo STF, na organização do
Estado, a sua afirmação como tal encontrou forte resistência no cenário político
brasileiro, cabendo aqui destacar as manifestações do Senador ARISTIDES
LOBO, em suas “Cartas ao Rio”, publicadas no jornal Diário Popular:
“É preciso não ser cego. A maior necessidade do momento não é correr atrás de
um suposto e imaginário constitucionalismo, mal pensado aliás, pelo primeiro de
seus guardas, o Supremo Tribunal de Justiça [sic], mas o fortalecimento do
executivo, única garantia, não se iludam, da permanência da República”.
[17.08.1893]
“No jogo de nossas instituições, a garantia institucional não está na mão desse
tribunal (o S.T.F.), que não tem a força nem os meios de agir com eficácia, mas
sim nas mãos do poder executivo, depositário fiel da execução de todas as leis,
imediato representante das garantias de todos os direitos e fiel intérprete da
ordem e da segurança social” [19.08.1893]3
1
Op. Cit., p. 242.
2
Segundo relatou LÊDA BOECHAT RODRIGUES: “A 28 de fevereiro de 1891, quatro dias
depois de promulgada a primeira Constituição republicana, reunia-se o S.T.F. no velho edifício
da Relação, à rua do Lavradio, às 13 horas, em sessão extraordinária. Dos 15 Ministros
nomeados, a maioria vinha do Supremo Tribunal de Justiça e pouco se demoraria no novo
Tribunal. Quatro estavam na casa dos 70 anos, sete na dos 60, 3 na dos 50 e apenas um tinha
menos de 50 anos. A idade média era de 63 anos.” (Op. Cit., p. 7)
158
um órgão não eletivo e, isso nada obstante, competente para limitar a atuação dos
representantes do povo – que até então eram seus próprios limitadores. Ademais,
admitida a perfeição da representação popular, ter-se-ia um órgão não
representativo limitando a vontade popular.
Neste embate, coube destaque a RUI BARBOSA que, co-responsável pela
importação do judicial review para o País, trouxe também os seus doutrinadores.
Assim, em artigo intitulado “Quem Garantirá as Garantias?”, RUI BARBOSA,
defendendo que o povo deveria ser protegido contra seus representantes, citou a
seguinte passagem de BRYCE:
3
apud. RODRIGUES, LÊDA BOECHAT, Op. Cit., pp.37-8.
4
Op. Cit., pp. 2-3.
159
“Posto que à Justiça falte competência para nulificar ou declarar inválida uma
lei, ninguém lhe contesta a faculdade, que é também um dever seu, de se abster
de aplicar a cada caso a lei inconstitucional.”5
“Declarou o Tribunal [STF] que incidia na censura de direito uma sentença que
infirmara em tese, por inconstitucional, um decreto emanado do Executivo,
‘porquanto aos juízes e tribunais só é facultado o deixar de aplicar aos casos
ocorrentes as leis manifestamente inconstitucionais e regulamentos
manifestamente incompatíveis com as leis e a Constituição’.”7
5
Revista do Supremo Tribunal Federal (doravante referida simplesmente como RSTF), vol. 8, pg.
7 – Recurso de Habeas Corpus nº 3715 – 27.01.1915
6
Supremo Tribunal Federal – Jurisprudência, pg. 75, 1897 – Agravo nº 82 – 24.04.1895
161
“Foi julgada improcedente uma ação cível originária proposta pela União
contra o Estado de Pernambuco, pedindo fosse declarada a
inconstitucionalidade de um imposto de 300 réis por tonelada sobre navio
estrangeiro, criado por lei estadual, dizendo-se que apesar de ser
‘manifestamente inconstitucional o imposto’, a Justiça Federal só podia intervir
em espécie. Na petição inicial não se pedia ‘a anulação dos atos do Governo
Estadual praticados em virtude de lei e instruções incompatíveis com a
Constituição’, mas sim que se declarasse ‘em tese inconstitucionais a dita lei e
instruções’ e que se mandasse ‘cessar para o futuro a cobrança do imposto, o
que importa a revogação de disposições regulamentares e portanto a intervenção
do poder judicial in genere e não in specie’.”8
das leis, a fim de que não violasse o princípio da separação dos Poderes, frisou
que deve ser feita uma distinção entre os critérios adotados pelo legislador ao
elaborar uma lei que pudesse correr em vício de inconstitucionalidade e os
critérios adotados pelo juiz ao apreciar uma arguição de inconstitucionalidade de
uma lei. Segundo o autor, o legislador deveria questionar se tem ou não o direito
de aprovar determinado ato, em face da Constituição, ao passo que ao magistrado
caberia indagar se, anulando determinada lei, em salvaguarda do texto
constitucional, não estaria transcendendo suas funções e usurpando as funções
legislativas. Para evitar tal situação, o autor traçou alguns preceitos norteadores de
um uso adequado desta prerrogativa do Poder Judiciário de declarar a
inconstitucionalidade de leis e atos normativos, dentre os quais destacamos os
seguintes:
7
Op. Cit., p. 144. (Apelação Cível n.º 286, de 25.09.1897)
8
Op. Cit., pp. 144-5. (Ação Cível originária n.o. 2, de 30.05.1896)
162
9
MAXIMILIANO, CARLOS, Op. Cit., p. 117.
10
Diário da Justiça, 04.11.1930, p. 6474 – Carta Testemunhável – 05.05.1923.
163
“A Lei n. 3724, de 1919 (Lei dos acidentes de Trabalho), dispõe, no art. 22, que
todas as ações que dela se originarem serão processadas na Justiça Comum;
esse dispositivo, porém, não pode ser observado, por inconstitucional, por ir de
encontro ao art. 60, letra d, CF, que uma Lei ordinária não tem força para
revogar.”13
11
RSTF, vol. 57, p. 72 – Agravo de Petição nº 3556 – 13.07.1923.
12
RSTF, vol. 27, p. 60 – Recurso Extraordinário nº 1251 – 29.01.1920.
13
RSTF, vol. 25, p. 263 – Conflito de Jurisdição n. 467 – 24.04.1920.
164
princípio de que o réu deve ser, em regra, acionado no foro de seu domicílio,
firmando a competência do Juiz do lugar em que tiver ocorrido o acidente.
“(...) considerando que essa disposição regulamentar não pode ser argüida de
inconstitucional, mesmo pelos que ainda seguem a lição de João Barbalho,
porquanto, tendo a Lei, que se regulamentou, falado, no art. 21, em Juízo
competente, sem definir essa competência, cabia ao Poder Executivo sanar essa
lacuna, assegurando assim a execução da lei, cujos intuitos ficariam
inteiramente burlados, se não ficasse estabelecido qual o juiz competente para
processar e julgar as causas oriundas de acidentes no trabalho;
considerando, além disto, segundo a doutrina modernamente ensinada por
publicistas de incontestável valor, que o poder regulamentar do Presidente da
República é amplo, pode inovar na matéria legislada, sanando qualquer lacuna
do ato legislativo.”14
14
RSTF, vol. 29, p. 70 – Agravo de Petição n. 2887 – 15.01.1921. Interessante registrar o voto do
Ministro PEDRO LESSA, a respeito da competência conferida ao Presidente da República para
expedir decretos: “A minha divergência com os votos vencedores reside unicamente em que eu
não admito que o Poder Executivo, ao regulamentar uma lei altere as regras de direito, contidas
de modo formal em outras leis. A CF é muito clara em seu art. 48, n. 1 – ‘Compete privativamente
ao Presidente da República: 1) sancionar, promulgar e fazer publicar as leis e resoluções do
Congresso; expedir decretos, instruções e regulamentos para sua fiel execução’.
Certo que alterar as normas de direito, encerradas em lei expressas, como é o preceito legal que
estatui como regra o foro do domicílio, não é concorrer para a fiel execução das leis, mas para a
subversão do regime legal, com sacrifício de direitos garantidos por lei incontestável.
Não há doutrina que prevaleça contra uma expressa disposição constitucional.”
15
Cabe aqui registrar a distinção entre “inconstitucionalidade orgânica” e “inconstitucionalidade
formal propriamente dita”, conforme aponta CLÈMERSON CLÈVE. Segundo o autor, “a
inconstitucionalidade orgânica, decorrente de vício de incompetência do órgão que promana o ato
normativo, consiste numa das hipóteses de inconstitucionalidade formal. Com efeito, diz-se que
uma lei é formalmente inconstitucional quando foi elaborada por órgão incompetente
(inconstitucionalidade orgânica) ou seguindo procedimento diverso daquele fixado na Constituição
(inconstitucionalidade formal propriamente dita). Pode, então, a inconstitucionalidade formal
resultar de vício de elaboração ou de incompetência. (Op. Cit., pp. 31-2.)
16
RSTF, vol. 51, pg. 28 – Habeas corpus nº 8518 – 29.05.1922.
165
espécie de processo, não havendo uma ação específica para tanto. Com efeito, o
STF exercia o controle de constitucionalidade em qualquer processo que fosse de
sua competência, tanto originária como recursal (v.g., recurso extraordinário,
conflito de jurisdição, recurso eleitoral, agravo de petição, carta testemunhável,
habeas corpus ou apelação cível, sendo estes dois últimos os mais comuns).
Entretanto, vale observar que a possibilidade de se declarar a
inconstitucionalidade por meio de habeas corpus foi alvo de inúmeros debates
pelos ministros do STF ao longo da Primeira República, tendo a jurisprudência do
STF oscilado por diversas vezes, ora decidindo pela viabilidade, ora pela
inviabilidade da argüição de inconstitucionalidade via processual. Nesse sentido,
vale citar os seguintes acórdãos:
Cumpre frisar que não havia qualquer medida judicial que tivesse por
objeto a declaração de inconstitucionalidade. Desse modo, a garantia da
Constituição dependia em um primeiro momento que fosse ajuizada uma ação
visando à reparação do direito violado pela lei que desrespeitava a Constituição.
Somente após o ajuizamento da ação poderia o Poder Judiciário pronunciar-se
sobre a constitucionalidade da norma. Neste caso, a declaração de
inconstitucionalidade poderia ocorrer mesmo que não fosse alegada por nenhuma
das partes, como deixou assente o STF:
17
RSTF, vol. 25, pg. 251 – Habeas corpus nº 5342 – 01.10.1919.
166
“Ao Poder Executivo falta competência para negar execução às leis, sob a
alegação de inconstitucionalidade delas.”21
18
RSTF, vol. 23, pg. 124 – Habeas corpus nº 5428 – 01.11.1919.
19
RSTF, vol. 29, pg. 160 – Apelação Cível nº 3011 – 10.11.1920.
20
RSTF, vol. 30, pg. 140 – Agravo de Petição nº 2927 – 30.04.1921.
21
RSTF, pg. 230 – Apelação Cível nº 2097 – 13.04.1912.
167
22
Interessante observar que a constitucionalidade da própria reforma constitucional foi
questionada perante o STF, no julgamento do processo de habeas corpus n.º 18.178, em 1.10.1926,
alegando o impetrante que o processo de reforma constitucional não seguiu as normas previstas
pela Constituição no que se refere ao quorum necessário para a aprovação de emendas à
Constituição, que, segundo o impetrante, deveria ser de dois terços dos membros das duas câmaras
do Congresso, e não dois terços dos presentes à sessão legislativa. Tratava-se de
inconstitucionalidade formal, portanto. A questão, como foi visto, já se revelava polêmica entre os
principais comentaristas da Constituição de 1891, JOÃO BARBALHO e CARLOS
MAXIMILIANO, cabendo aqui frisar que as manifestações de ambos os autores haviam sido
publicadas muito antes da Reforma de 1926, escapando, desse modo, de qualquer espécie de
casuísmo. O STF, no entanto, filiando-se ao entendimento de CARLOS MAXIMILIANO,
manifestou-se pela constitucionalidade da reforma constitucional, nos seguintes termos:
"Constitucionalidade da reforma da Lei Fundamental da República.
impetrante argui de inconstitucional a recente reforma da Lei Magna, dizendo: que ela não foi
aprovada por dois terços dos votos do Senado, exigido pelo art. 90 § 2º da Constituição de 1891,
segundo o qual “a proposta dar-se-á por aprovada, se no ano seguinte o for mediante três
discussões, por maioria de dois terços dos votos das duas Câmaras do Congresso”, que a
exigência não é, portanto, de dois terços dos membros presentes, e assim deve ser entendido
porque sempre que a Constituição se refere à votação das decisões do Congresso, fala em
“membros presentes” (art.33 § 2º, 37 § 3º, 39 § 1º e 47 § 2º); somente neste caso não se refere a
“membros presentes” mas a “Câmaras”- o que significa “da Casa Legislativa”, isto é, dos
membros que a compõe (...)
(...) Não é de se aceitar a argumentação do eminente constitucionalista patrício (João Barbalho
defendeu a inconstitucionalidade da Reforma Constitucional por não ter sido observado o art.90
da CF). Convence Carlos Maximiliano, que se pronuncia por esta forma: “Para a assinatura da
proposta o texto exige a Quarta parte dos membros da Câmara; para a votação em um ou outro,
reclama dois terços dos votos. Logo, no último caso, refere-se o art. 90 a dois terços dos
presentes, havendo número suficiente para deliberar (a metade mais um) e não dois terços dos
membros.
(...) tratar-se-ia de uma interpretação (de João Barbalho), que não exclui a contrária, firmadas
ambas em raciocínio mais ou menos aceitáveis. (...) Enfim, não tenho necessidade de indagar qual
dessas interpretações é a mais aceitável. O que está fora de dúvida é que se trata de uma
interpretação razoável da lei nunca foi motivo para invalidá-la por inconstitucional.
(...) A pretexto de uma inconstitucionalidade que não é manifesta, mas muito duvidosa pelo menos,
não é lícito ao Poder Judiciário deixar de aplicar a reforma constitucional (...)"
Diário de Justiça, 03.02.1931, p. 818 - Habeas Corpus n.18.178 - 01.10.1926.
168
23
Cumpre frisar que a análise da jurisprudência ficará restrita ao exame das questões mais
recorrentes no exercício do controle de constitucionalidade das leis e atos normativos pelo STF,
razão pela qual não será abordada a defesa dos direitos individuais, que, embora tenha sido
marcante na atuação daquela Corte durante a Primeira República, não envolvia, na sua maior parte,
o controle de constitucionalidade de leis e atos normativos. Desse modo, não se pode afirmar que
os casos que envolviam direitos individuais figuraram entre as questões mais recorrentes no
exercício do controle de constitucionalidade pelo STF. Impende assinalar que a amostragem da
guarda do projeto político da Constituição de 1891 pretendida pelo presente trabalho limita-se ao
exercício do controle de constitucionalidade de leis e atos normativos, embora ciente de que não se
trata da única forma de se exercer a guarda da Constituição. Nesse sentido, ainda que muitos
tenham sido os processos em que o STF assegurou o exercício dos direitos individuais, foram
poucos os processos em que aquela Corte o fez através do controle de constitucionalidade de leis e
atos normativos, razão pela qual não poderia figurar entre as questões mais recorrentes. A título
ilustrativo, no entanto, vale citar os acórdãos pesquisados:
“Em caso de processo crime, a lei não oferece ao advogado o direito de ser recolhido à prisão
especial. A Constituição Federal, art. 72, parágrafo 2., aboliu todos os privilégios incompatíveis
com os princípios constitucionais em vigor. Logo, em face da Constituição Federal, não há, nem
pode haver, o privilégio dos advogados disposto nas Ordenações do Reino.” (RSTF, vol. 5, p. 389
– Recurso de Habeas-corpus n. 3810 – 03.09.1915.) “São compreendidos na exceção do art. 1º da
Lei n. 981, de 7/1/03, para o fim de contarem antiguidade de oficial, das datas das respectivas
comissões, os alferes e os segundos tenentes promovidos a 3/11/94, que tiverem prestado até a
data da referida promoção, serviços de guerra, distinguindo-se por atos de bravura, devidamente
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0014242/CA
justificados e publicados em ordem do dia do Exército, ou constantes de suas fés de ofício. Não é
lícito ao Poder Executivo negar execução às leis que se lhe afigurem inconstitucionais, e muito
menos se lhe pode reconhecer o arbítrio de considerar uma mesma Lei válida para uns e
insubsistente para outros. CF, art. 72, §2º e Lei n. 1836, de 1907, art. 1º.” (RSTF, vol. 39, p. 50 –
Apelação Cível n. 2636 – 02.07.1921.) “O artigo 11, 3º, CF, veda que ao funcionário público se
apliquem disposições legais derrogatórias ou supressivas de garantia de estabilidade em cujo
gozo estiverem por força de Lei anterior.” (RSTF, vol. 15, p. 477 – Recurso Extraordinário n.
1017 – 23.01.1918) “Anulação de ato do Executivo que violou direito adquirido. Sendo vedada a
promulgação de leis retroativas (art. 11, n. 3, CF), com maioria de razão vedada é a expedição de
decretos ou de atos administrativos com esse efeito.” (RSTF, vol. 20, p. 49 – Recurso
Extraordinário n. 1009 – 21.06.1919). “Aos sorteados para o sorteio militar em 1919, não se
aplica a lei n. 3918 de mesmo ano, por força do art. 11, n. 3, CF, que veda a promulgação de leis
com efeito retroativo. Até o sorteio militar de 1919, inclusive, têm isenção do serviço os sorteios
que sustentassem irmã solteira ou viúva, que viva em sua companhia. Aplicação da Lei 1860 de
1908, art. 76.” (RSTF, vol. 25, p. 146 – Habeas-corpus n. 5926 – 31.05.1920.) “A promoção por
antigüidade, assegurada em Lei, constitui para o funcionário a quem vem tocar, desde o momento
em que a vaga se verifica, um direito adquirido, que à Justiça cumpre amparar, quando por
ventura, preterido ou violado. Aplicação da Lei n. 2738, de 1913, art. 119.” (RSTF, vol. 32, p.
134 – Apelação Cível n. 2453 – 02.04.1921). “Os empregados titulados ou jornaleiros da Estrada
de Ferro Central do Brasil perceberão, além dos seus vencimentos ou salários, uma gratificação
adicional, relativa ao tempo de efetivo serviço na Estrada, gratificação que será considerada para
todos os efeitos como parte integrante dos mesmos vencimentos ou salários. Embora suprimida
por lei posterior essa gratificação não pode deixar de ser reconhecida aos funcionários que até
então tenham feito jus á mesma pelo cumprimento da única condição exigida pela lei anterior, do
lapso de tempo e que porventura não chegaram a ser efetivamente pagos dessas gratificações.
Direito adquirido é todo aquele que resulte de um fato idôneo a produzi-lo em virtude de Lei do
tempo em que foi esse fato realizado, se bem que a ocasião de fazê-lo valer não se tenha
apresentado antes da atuação de uma Lei nova sobre o mesmo assunto, isto é, todo o direito
previndo de um fato jurídico já sucedido, mas ainda não feito valer em toda a sua extensão, não
consumado, que existe apenas como poder. Aplicação da CF, art. 11, n.3; (...)” (RSTF, vol. 35, p.
114 – Apelação Cível n. 2877 – 13.11.1920.) “As prerrogativas e garantias concedidas aos
pilotos diplomados pelos estabelecimentos oficiais ou a eles equiparados, antes da Lei de 1907,
constituem direitos adquiridos de que não podem os mesmos pilotos ser despojados por Lei,
regulamento ou aviso posterior. CF, art. 11, n. 3.” (RSTF, vol. 40, p. 47 – Habeas-corpus n. 7952
– 19.11.1921.) “Desde que a Lei não é inconstitucional, o Poder judiciário tem o dever de lhe não
recusar aplicação, quaisquer que sejam os defeitos que se lhe apontem. Uma vez requerida e
169
que parece mais importante, não estabeleceu sequer se caberia algum controle
as restrições ilegalmente impostas pelo Ministério da Marinha à liberdade de profissão para que
devidamente se habilitou o paciente (...)” (Diário de Justiça, 27.03.1931, p. 1629 – Habeas Corpus
n. 8451 – 24.04.1922.) “A garantia do exercício das profissões, consignada no art. 72, parágrafo
24, CF, não exclui a exigência de habilitações técnicas, que fazem parte, e são elementos
constitutivos dessas mesmas profissões. A garantia constitucional é ampla, abrange o exercício da
generalidade das profissões, mas todas ela só podem e devem ser exercidas, respeitadas as
condições de sua exigência legal, segundo a jurisprudência uniforme do STF.” (RSTF, vol. 2, p. 9
– Recurso de Habeas-corpus n. 3544 – 23.05.1914.) “A liberdade de profissão consagrada pelo
§24 do art. 72 da CF, não é, como tem entendido a jurisprudência, uma liberdade ampla,
absoluta, pois está sujeita a certas restrições estabelecidas pela Lei ordinária, como medida
indispensável de segurança pública. Aplicação da Lei estadual do Piauí, n. 891 de 1917.” (RSTF,
vol. 35, p. 16 – Habeas-corpus n. 6697 – 29.01.1921.) “Dos termos amplos do parágrafo 22 do
artigo 72, CF, depreende-se facilmente que o habeas-corpus garante a liberdade individual
qualquer que seja a forma porque se possa manifestar dentro da lei. Restringir aquele recurso à
proteção unicamente da personalidade física, isto é, para que ninguém possa ser preso
injustamente ou impedido de livremente locomover-se, é retrogradar à primitiva concepção da
liberdade individual, é desprezar o texto da lei das leis da República, deixando ao desamparo da
justiça, pela falta de outros meios judiciais de conservá-las, entre outras a liberdade de
pensamento e a de consciência, que o pacto federal assiná-la, no entanto, com a maior firmeza.”
(RSTF, vol. 2, p. 92 – Habeas-corpus n. 3554) “A nenhuma autoridade é lícito ofender a liberdade
de imprensa, traçando normas aos diretores e redatores dos jornais acerca dos assuntos de que
devem tratar, e do modo e do modo por que se devem pronunciar sobre esses assuntos. É proibida
entre nós a censura prévia, respondendo cada um pelos abusos que cometer nos casos e pela
forma que a lei determinar.” (RSTF, vol. 3, p. 18 – Habeas-corpus n. 3609) “A 3. Câmara da
Corte de Apelação é competente para conhecer de habeas-corpus, quando parte do Chefe de
Polícia da Capital Federal o constrangimento de que se queixa o paciente. A censura teatral,
exercida pela polícia em virtude da legislação em vigor, não é contrária à Constituição Federal, e
funda-se em considerações do mais elevado interesse público, não constituindo, assim,
constrangimento ilegal. À Polícia cabe, pela legislação pátria, a inspeção dos teatros e casas de
espetáculo públicos, podendo pois, proibir a representação de qualquer peça, uma vez que
contenha ofensa à moral, às instituições nacionais ou estrangeiras, a particulares, ou possa
171
De fato, defendia RUI BARBOSA que o estado de sítio que havia sido
decretado pelo Presidente FLORIANO PEIXOTO era inconstitucional, porque
causar perturbação da ordem pública.” (RSTF, vol. 13, p. 32. – Habeas-corpus n. 4205 –
12.06.1916.)
172
BOECHAT RODRIGUES:
24
apud. RODRIGUES, LÊDA BOECHAT, Op. Cit., p. 20.
25
Idem. Como bem observou LÊDA BOECHAT RODRIGUES, RUI BARBOSA havia formulado
“um princípio que seria mais tarde incorporado à Constituição de 1946 [art. 141, §4.º - A lei não
poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão de direito individual]: ‘Onde
quer que haja um direito individual violado, há de haver um recurso judicial para a debelação da
injustiça’.”(Op. Cit., p. 21)
26
Op. Cit., pp. 22-3.
173
27
MAXIMILIANO, CARLOS, Op. Cit., p. 375
28
RSTF, vol. 2, pg. 287 – Habeas Corpus nº 3527
174
ressaltar que, mesmo esta orientação adotada pelo STF, que excluía do controle de
constitucionalidade pelo Poder Judiciário o ato da decretação do estado de sítio, já
não se mostrava unânime, havendo uma parcela de ministros do STF que,
discordando desta jurisprudência, manifestavam-se acerca da constitucionalidade
do próprio estado de sítio e, não raro, o declaravam inconstitucional, tal como se
verifica nos seguintes acórdãos:
29
RSTF, vol. 2, pg. 294 – Habeas Corpus nº 3539
30
RSTF, vol. 5, pg. 18 – Habeas Corpus nº 3556 – 10.06.1914.
31
RSTF, vol. 10, p. 303 – Habeas Corpus nº 3603 – 22.08.1914.
32
RSTF, vol. 10, pg. 301 – Habeas Corpus nº 3645 – 24.10.1914.
175
Quanto a este último acórdão, vale aqui trazer à colação o voto do Ministro
Pedro Lessa:
33
Idem.
34
RSTF, vol. 54, pg. 5 – Habeas Corpus nº 8690 –16.10.1922. Tratava-se de habeas corpus
impetrados em favor de Edmundo Bittencourt, diretor do Correio da Manhã, e Irineu Marinho,
diretor d’A Noite. Conforme relatado no acórdão: “(...) alegam os pacientes que o governo serve-
se da medida do sítio parta exercer perseguições contra os pacientes pela crítica que, nos jornais
que dirigem, fizeram a seus atos. (...) considerando que da necessidade e conveniência dos atos de
detenção, ou desterro, enquanto dura o sítio, o único juiz é o Poder Executivo, o responsável pela
manutenção da Ordem Pública; considerando que a Constituição Federal previa a possibilidade
dos abusos a que alude o impetrante, e estabeleceu como único corretivo para eles a
responsabilidade criminal das autoridades que tenham ordenado as medidas abusivas (art. 80,
§4º, CF); (...) considerando que, enquanto tal reforma se não fizer, a intervenção do judiciário na
proteção dos alcançados pelas medidas do sítio terá de se circunscrever ao exame da
conformidade ou não dos atos do Legislativo ou do Executivo relativos à suspensão de garantias
com os dispositivos constitucionais que a regulam (...)”. Embora vencido, vale registrar o voto do
ministro HERMENEGILDO DE BARROS: “(...) sustentando a doutrina de que o Poder
Judiciário tem competência para conhecer de casos políticos, desde que haja lesão de direito
individual, não exceptei a intervenção daquele poder, mesmo em estado de sítio”.
176
5.2.2 Tributos
35
RSTF, vol. 83, p. 5 – Habeas Corpus nº 9326 – 16.07.1923. Neste caso, o paciente havia
requerido ao Juiz Federal da Seção do Estado do Rio de Janeiro uma ordem de habeas-corpus
preventivo, que lhe assegurasse o exercício do direito de manifestar livremente o seu pensamento
sobre a política geral da Nação no Estado do Rio, sob o fundamento da inconstitucionalidade do
estado de sítio decretado pelo Presidente.
177
36
RSTF, vol. 89, p. 9 – Habeas Corpus nº 9382 – 23.07.1923.
37
RODRIGUES, LÊDA BOECHAT, Op. Cit., p. 73. (Recurso Extraordinário n.º 17,
Jurisprudência, 1894, pp. 4-6.)
38
Supremo Tribunal Federal – Jurisprudência, p. 103, 1897 – Recurso Extraordinário n.º 14 –
13.01.1895.
39
BASTOS, JOSÉ TAVARES, Repertório das Decisões do STF, vol. II, pg. 18. – RE n.º 374,
30.08.1909.
178
40
RODRIGUES, LÊDA BOECHAT, Op. Cit., p. 74. (Recurso Extraordinário n.º 12 – 23.05.1896)
41
RODRIGUES, LÊDA BOECHAT, Op. Cit., p. 75.
179
42
RODRIGUES, LÊDA BOECHAT, Op. Cit., p. 76.
43
“Ninguém diz que a justiça federal, em matérias constitucionais, possa obrar ‘por mera
interpretação ampliativa’, que o Supremo Tribunal, ‘como intérprete final da Constituição, possa
julgar da constitucionalidade das leis sempre e como bem lhe pareça’. O meu livro sobre Os Atos
inconstitucionais do Congresso e do Executivo estuda rigorosamente as condições, as regras, os
limites restritivos da função judiciária neste ramo sobre todos melindroso dos seus deveres: e
ainda no meu trabalho recente acerca da aposentadoria dos magistrados em disponibilidade
acumulei arestos, para mostrar que a justiça não deve pronunciar a invalidade das leis, senão
quando contra esta não milite dúvida razoável. Mas daí não tolerar que a magistratura não possa
reconhecer ao Governo, da União, ou dos Estados, ‘limites que não foram, explicitamente,
traçados pelo legislador constituinte’ vai incomensurável distância. ... Para o meu adversário a
constitucionalidade dos impostos interestaduais é palpável. Para mim, é palpável a sua
inconstitucionalidade. Quem decidirá entre nós, senão a hermenêutica judicial?” (RODRIGUES,
LÊDA BOECHAT, Op. Cit., p. 77)
44
RODRIGUES, LÊDA BOECHAT, Op. Cit., pp. 78-9.
180
45
A influência do debate travado entre RUI BARBOSA e AMARO CAVALCANTI revela-se, a
título ilustrativo, na seguinte passagem do voto do Ministro MACEDO SOARES, no julgamento
do Rec. Extr. n.º 92, de 13.02.1897: “Questões do maior momento são aqui apresentadas de
sopetão, com o estudo apenas de um relator e dois revisores, e decididas pela grande maioria da
casa, à qual nem tempo se dá para examiná-las, e há de votar na fé dos que as estudaram. Estou
hoje convencido, e sobretudo depois da luminosa discussão travada na imprensa diária desta
cidade, entre os Drs. Amaro Cavalcanti, Rui Barbosa e Aristides Maia, que a Constituição
Federal não instituiu a liberdade de cabotagem.” (apud. RODRIGUES, LÊDA BOECHAT, Op.
Cit., p. 81)
181
de impostos federais, conforme está hoje declarado pela Lei n.º 410, de 12 de
novembro de 1896, e não, como sustentam os recorrentes, uma limitação ao
direito, irrestritamente conferido a cada um dos Estados por outro artigo
constitucional, de tributar a exportação das mercadorias de sua produção.
Também não se pode enxergar tal limitação no art. 34, §5.º da Constituição. O
poder, aí atribuído privativamente ao Congresso Nacional, de regular o
comércio internacional, bem como o dos Estados entre si e com o Distrito
Federal, não envolve o de regular a tributação das mercadorias ou dos
mercadores.”46
50
Supremo Tribunal Federal – Jurisprudência, pg. 158, 1905 – RE n.º 204, 31.06.1901
51
Manual de Jurisprudência Federal, 1914, p. 191 – Recurso Extraordinário nº 468 – 07.07.1909;
Recurso Extraordinário nº 534 – 01.09.1909; Apelação Cível n.º 1408 – 09.08.1909; Apelação
Cível n.º 1355 – 22.10.1910; Apelação Cível n.º 1415 – 13.06.1911; Apelação Cível n.º 1408 –
09.08.1909; Recurso Extraordinário n.º 585 –14.10.1911; Apelação Cível n.º 1412 – 14.08.1912;
Apelação Cível n.º 1407 – 14.09.1912; Recurso Extraordinário n.º 566 – 24.12.1912; p. 192,
Apelação Cível n.º 1460 – 16.08.1913; Apelação Cível n.º 1975 – 07.05.1913.
52
RSTF, vol. 5, p. 17 – Agravo de Petição n. 1960, 22.09.1915.
183
53
RSTF, vol. 14, p. 45 – Apelação Cível n. 1405 – 12.09.1917.
54
RSTF, vol. 15, p. 287 – Apelação cível n. 1984 – 12.09.1917.
55
RSTF, vol. 15, p. 288 – Apelação Cível n. 1994 – 12.09.1917.
56
RSTF, vol. 61, p. 61 – Apelação Cível n. 1992 – 14.09.1917.
184
mesmo que não estiverem identificadas com as riquezas que constituem o objeto
do seu comércio interno, porquanto, em ambas as hipóteses, o imposto será um
entrave ao intercâmbio dos Estados que a Lei visa facultar e proteger.
Aplicação da CF, art. 60, letra a, e 7º, §2º.”58
60
RSTF, vol. 31, p. 115 – Agravo de Petição n. 2937 – 07.05.1921.
61
RSTF, vol. 33, p. 98 – Agravo de Petição n. 2937 – 17.08.1921.
62
RSTF, vol. 48, p. 123 – Apelação Cível n. 1979 – 20.11.1916.
63
RSTF, vol. 19, p. 309 – Recurso Extraordinário n. 533 – 10.01.1919.
186
“(...) considerando que já no antigo regime havia sido repelida pelo Conselho
de Estado a pretensão de algumas províncias defenderem a sua própria
produção, taxando a importação dos gêneros das outras províncias, sendo um
dos fundamentos da decisão ser essa luta de interesses econômicos muito
prejudicial à União e à integridade do Império (Viveiros de Castro - “História
Tributária do Brasil”);
considerando que foi para impedir essa luta, muito mais de recear no
regime federativo, em que são mais frouxos os laços de coesão nacional, do que
no regime unitário que vigorava no Império, que a CF, art. 11, n. 1, vedou aos
Estados como à União, criar impostos de trânsito;
considerando que, sendo manifestamente inconstitucional o imposto
estabelecido pela Lei paraibana, n. 426 de 8/11/15, era caso de se conceder o
interdito proibitório (...)
É vedado aos Estados como à União criar impostos de trânsito.
CF, art. 11, n. 1, e Lei n. 1185, de 1904, art. 5º.”64
Estados.
CF, art. 11, n. 1.” 65
“O artigo 368 do Código Penal pune unicamente a loteria não autorizada por
lei. A Lei Federal reconhece como autorizadas as loterias dos Estados.
64
RSTF, vol. 39, p. 125 – Apelação Cível n. 3018 – 10.12.1921.
65
RSTF, vol. 48, p. 145 – Apelação Cível n. 3074 – 12.08.1922.
187
66
RSTF, vol. 13, p. 203 – Apelação Cível n. 2884 – 08.08.1917.
67
RSTF, vol. 14, p. 44 – Apelação Cível n. 2900 – 05.09.1917.
68
RSTF, vol. 14, p. 248 – Apelação Cível n. 2888 – 27.10.1917.
69
Diário da Justiça, 10.10.1930, p. 6043 – Apelação Cível n° 2897 – 22.12.1917.
70
RSTF, vol. 11, p. 411 – Apelação Cível n. 1690 – 20.11.1916.
71
RSTF, vol. 13, p. 212 – Apelação Cível n. 1690 – 20.11.1916.
72
RSTF, vol. 63, p. 67 – Apelação Cível n. 2339 – 21.09.1917.
188
73
RSTF, vol. 48, p. 140 – Apelação Cível n. 3241 – 12.08.1922.
74
RSTF, vol. 77, p. 118 – Apelação Cível n. 3320 – 20.08.1924.
75
RSTF, vol. 13, p. 205 – Apelação Cível n. 1892 – 21.07.1917.
189
“(...) habeas-corpus em favor dos Drs. Tarquino ... para exercerem livremente as
funções de presidente e secretário, respectivamente, da Junta governativa do
Estado do Maranhão aclamados pela revolução triunfante naquele Estado, os
quais se acham ameaçados de constrangimento em consequência de um habeas-
corpus concedido pelo juiz federal em favor do Dr. Raul Machado, Governador
deposto.
Acordam preliminarmente não conhecer do pedido por infringente de todos os
preceitos legais e ter por objetivo deturpar a missão que a Constituição da
76
RSTF, vol. 44, p. 134 – Apelação Cível n. 1690 – 20.05.1922.
77
Para um exame mais minucioso, permitimo-nos citar o nosso trabalho: LEITE, FÁBIO
CARVALHO, “Algumas Considerações sobre o Controle da Constitucionalidade das Leis pelo
STF no Período de 1891 a 1934”, in. Direito, Estado e Sociedade, n.º 15 – agosto-dezembro. Rio
de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica – Departamento de Direito, 1999, pp. 137-143.
190
78
RSTF, vol. 41, p. 49 – Habeas-corpus n. 8484 – 22.05.1922.
79
SANTOS, WANDERLEY GUILHERME DOS, Op. Cit., pp. 91-2.
80
VIEIRA, JOSÉ RIBAS. “O Autoritarismo e a Ordem Constitucional no Brasil”, Rio de Janeiro:
Renovar, 1988, p. 55.
191
direitos políticos conquistados por aqueles que haviam sido eleitos nos termos
definidos pela Constituição. Assim, se o STF encontrava-se desprovido de
qualquer meio para conhecer da constitucionalidade em tese (fiscalização abstrata)
do sistema coronelista que se implementava a margem da Constituição, poderia ao
menos exercer o controle de constitucionalidade nos casos concretos, assegurando
o direito ao exercício da função política àqueles que haviam sido legal e
legitimamente eleitos para tanto. Não declaravam, assim, a inconstitucionalidade
da causa, mas ao menos a de seus efeitos.
Desse modo, impende assinalar que o STF, ao longo de todo o período que
abrange a Primeira República, julgou inúmeros processos envolvendo direitos
políticos, sendo, em sua maior parte, pedidos de habeas corpus, a fim de que fosse
assegurado ao impetrante, ocupante de algum cargo político, o direito de exercer a
função para a qual havia sido eleito, obstado por estar o impetrante sofrendo
alguma espécie de constrangimento ilegal. De fato, na esteira da famosa “doutrina
brasileira do habeas corpus” – como ficou conhecida a interpretação extensiva
dada pelo STF ao habeas corpus – entendia o STF que “o habeas-corpus é o
81
CARVALHO, JOSÉ MURILO DE. “Mandonismo, Coronelismo e Clientelismo: uma discussão
conceitual”, in. “Pontos e Bordados: escritos de história e política”, Belo Horizonte: Editora
UFMG, 1999, p. 136.
82
Op. Cit., pp. 136-7.
192
83
RSTF, vol. 3, p. 311 – Recurso de habeas-corpus n. 3686 – 05.12.1914.
84
MAXIMILIANO, CARLOS, Op. Cit., p. 781.
85
RSTF, vol. 50, p. 21 – Habeas-corpus n. 4323 – 25.07.1917.
193
O mandato dos vereadores triênio anterior (1913-1915) perdura até que sejam
reconhecidos os vereadores novamente eleitos. O direito dos primeiros é líquido
e incontroverso - e é amparado pelo habeas-corpus, a fim de que exerçam as
suas funções municipais, enquanto não for empossada a nova Câmara.87
“Foi sob a Constituição de 1891 que Campos Sales precisou dar curso a seu
programa econômico e financeiro de saneamento monetário, redução do débito
externo e restrição dos gastos governamentais em todos os níveis. Para tanto,
necessitava limitar a autonomia dos estados, pelo menos em relação à
capacidade de decidir sobre políticas econômicas sem o assentimento do governo
central, e a resposta foi encontrada no dispositivo político chamado comitê de
credenciais, cujo objetivo era rever os resultados eleitorais e reconhecer os
eleitos. O governo central controlava através deste comitê a representação
política, afastando qualquer ameaça potencial a suas decisões e propostas.”90
86
RSTF, vol. 16, p. 11 – Habeas-corpus n. 4090 – 27.09.1916.
87
RSTF, vol. 8, p. 197 – Recurso de habeas-corpus n. 4090 – 27.09.1916.
88
RSTF, vol. 12, p. 164 – Habeas-corpus n. 3910 – 29.01.1916. No mesmo sentido: RSTF, vol.
12, p. 315 – Habeas-corpus n. 4161 – 06.01.1917; RSTF, vol. 16, p. 22 – Habeas-corpus n. 4321 –
18.07.1917; RSTF, vol. 16, p. 33 – Habeas-corpus n. 4390 – 10.10.1917; RSTF, vol. 16, p. 250 –
Habeas-corpus n. 4485 – 30.01.1918; RSTF, vol. 27, p. 7 – Habeas-corpus n. 6358 – 06.09.1920;
RSTF, vol. 28, p. 7 – Habeas-corpus n. 5554 – 24.01.1920; RSTF, vol. 35, p. 9 – Habeas-corpus n.
6538 – 23.10.1920; RSTF, vol. 35, p. 17 – Habeas-corpus n. 6992 – 29.01.1921; RSTF, vol. 12, p.
21 – Habeas-corpus n. 4136 – 09.12.1916; RSTF, vol. 50, p. 46 – Habeas-corpus n. 8387 –
17.04.1922; RSTF, vol. 51, p. 18 – Habeas-corpus n. 8388 – 17.04.1922; RSTF, vol. 52, p. 22 –
Habeas-corpus n. 8391 – 17.04.1922; RSTF, vol. 57, p. 22 – Habeas-corpus n. 9065 – 18.06.1923;
RSTF, vol. 64, p. 5 – Habeas-corpus n. 8648 – 18.10.1922.
89
Nesse sentido, assim decidiu o STF: “Os direitos políticos somente se tornam individuais depois
de preenchidas as condições de investidura e de exercício. Os cidadãos, que pretenderem ter sido
eleitos para os cargos de Governador e vice-governador de um Estado não podem ser empossados
mediante habeas-corpus, desde que não demonstram eleição apurada, poderes verificados e
compromisso prestado.” (RSTF, vol. 12, p. 178 – Habeas-corpus n. 4238 – 18.01.1917); “A
cidadãos, eleitos representantes do Município, reconhecidos, proclamados e empossados, se
conceda habeas-corpus para o exercício dos respectivos cargos.”(RSTF, vol. 16, p. 444 –
Habeas-corpus n. 4477 – 30.01.1918)
90
Op. Cit., pp. 91-2.
194
Assim, o candidato que houvesse sido eleito, mas não reconhecido pelo
comitê de credenciais não comprovaria direito líquido e certo, já que, segundo o
STF, “constitui função exclusiva dos corpos legislativos a verificação de poderes
dos seus membros componentes”91. Desse modo, conforme decidiu aquela Corte:
“irregular que tenha sido a eleição de representantes estaduais, por qualquer
fundamento que se apresente, desde que foram reconhecidos e proclamados pelo
poder competente, não cabe ao Poder Judiciário senão respeitar e garantir essa
situação”92. Nesse mesmo sentido, vale citar:
91
RSTF, vol. 44, p. 5 – Habeas-corpus n. 6490 – 30.10.1920.
92
RSTF, vol. 17, p. 210 – Habeas-corpus n. 4559 – 19.06.1918.
93
RSTF, vol. 8, p. 208 – Recurso de Habeas-corpus n. 4003 – 17.06.1916.
94
RSTF, vol. 10, p. 177 – Recurso de habeas-corpus n. 4097 – 14.11.1916.
95
RSTF, vol. 75, p. 28 – Habeas-corpus n. 10688 – 28.041924.
96
RSTF, vol. 89, p. 3 – Habeas-corpus n. 6678 – 26.01.1921.
97
RSTF, vol. 44, p. 5 – Habeas-corpus n. 6490 – 30.10.1920.
195
98
Op. Cit., p. 137.
196
julga qual dos dois governadores teve maioria absoluta de votos: decide, apenas,
a questão constitucional em litígio.”99
forma republicana (art. 6.º, n.º 2), seja para restabelecer a ordem e tranqüilidade
nos Estados (art. 6.º, n.º 3). Nesse sentido, vale observar que o STF também
qualificava a decretação da intervenção federal como uma “questão política”, que,
por conseguinte, também escapava ao controle pelo Poder Judiciário101. A
omissão do STF no controle de constitucionalidade da dualidade das assembléias,
bem como da intervenção federal daí decorrente, deixava o campo aberto às
conveniências políticas das forças sociais dominantes e à implantação de um
sistema político expressamente inconstitucional. Com efeito, conforme decidido
pelo STF:
99
RSTF, vol. 11, p. 9 – Habeas-corpus n. 4104 – 01.11.1913.
100
RSTF, vol. 57, p. 14 – Habeas-corpus n. 8906 – 09.04.1923. No mesmo sentido: “O habeas-
corpus não é meio idôneo para resolver questões políticas referentes a dualidades de poderes
municipais.” (RSTF, vol. 57, p. 19 – Habeas-corpus n. 8967 – 02.05.1923)
101
Nesse sentido decidiu o STF: “A intervenção da União Federal nos Estados é um ato
essencialmente político; por isso, falece competência ao Poder Judiciário para conhecer dos
motivos que determinaram esse ato, ou das consequências de natureza política dele decorrentes,
sendo absolutamente indébita a sua ingerência nessa matéria.” (RSTF, vol. 2, p. 10 – Habeas
Corpus n. 3545); “Os atos de caráter essencialmente político, praticados pelo interventor federal,
no desempenho da sua missão, escapam à apreciação e revisão do Poder Judiciário.” (RSTF, vol.
61, p. 6 – Habeas Corpus n. 8910)
197
políticos dos ocupantes de cargos municipais. É que, neste caso, diversas foram as
leis que previam a verificação dos poderes não pelo respectivo órgão legislativo
municipal, mas sim por um dos poderes estaduais, o que violaria a autonomia
municipal assegurada pelo art. 68 da Constituição. Deve-se recordar, no entanto,
que o texto constitucional era extremamente conciso no que se refere à autonomia
municipal, assegurando-a “em tudo quanto respeite ao seu peculiar interesse”,
sem, contudo, oferecer parâmetros minimamente definidores das matérias que
seriam de seu peculiar interesse. Cabe ainda recordar que a vagueza do conteúdo
do dispositivo que assegurava a autonomia municipal resultou da atuação dos
constituintes federalistas durante o processo de elaboração da Constituição, os
quais defendiam que a definição da autonomia municipal caberia aos Estados, em
suas Constituições, de modo que se pode afirmar que o art. 68 da Constituição
representou antes uma conquista da autonomia dos Estados do que efetivamente
dos municípios. Como observa VICTOR NUNCES LEAL: “Já na Assembléia
Constituinte, apesar de ser a autonomia dos municípios, no consenso geral,
considerada inerente ao regime republicano, a sua conceituação provocara
controvérsia, tendo prevalecido a fórmula favorável à maior liberdade dos
Estados para regularem a organização municipal.” E prosseguiu o autor: “Na
102
RSTF, vol. 24, p. 267 – Habeas-corpus n. 6008 – 07.06.1920.
198
103
LEAL, VICTOR NUNES. “Coronelismo, Enxada e Voto: O Município e o Regime
Representativo no Brasil”, 2.ª edição, São Paulo: Editora Alfa-Ômega, 1975, pp. 116-7.
104
VIEIRA, JOSÉ RIBAS. Op. Cit., pp. 54-5 (nota de rodapé)
199
105
A respeito do debate travado entre os defensores de ambas as correntes, ver CAMARGO,
MARGARIDA MARIA LACOMBE, “Hermenêutica e Argumentação – Uma Contribuição ao
Estudo do Direito”, Rio de Janeiro: Renovar, 1999, pp. 124-130.
106
apud. VICTOR NUNES LEAL, p. 119
107
Interessante registrar o estudo feito por ANDREI KOERNER, que revela uma variação nos
votos dos ministros do STF em matérias de caráter político – no caso, em relação à concessão ou
denegação de habeas corpus em conflitos entre oligarquias – o que, segundo demonstra o autor,
decorre da origem da nomeação de cada ministro como parte do compromisso coronelista. (“O
Poder Judiciário Federal no sistema Político da Primeira República”, in. Revista da USP, Dossiê
Judiciário, n.º 21, pp. 58-69, mar-mai/94.)
108
Manual de Jurisprudência Federal, 1914, p. 364 – Recurso Extraordinário nº 600 – 21.01.1911.
109
Manual de Jurisprudência Federal, 1914, p. 52 – Habeas Corpus nº 3005 – 02.05.1911.
200
“Não é contrário ao art. 68, CF, o art. 14, §1º, da Lei do Estado da Bahia, n.
1102, de 11/8/15; e, portanto , é válida e normal a nomeação de intendente
municipal da Bahia, feita pelo governador, com aprovação do Senado
Estadual.”113
110
Manual de Jurisprudência Federal, 1914, p. 58 – Recurso Extraordinário nº 599 – 10.01.1911.
111
Manual de Jurisprudência Federal, 1914, p. 58 – Recurso Extraordinário nº 600 – 24.01.1912.
112
Manual de Jurisprudência Federal, 1914, p. 52 – Habeas Corpus nº 3332 – 12.04.1913.
113
RSTF, vol. 21, p. 447 - Habeas-corpus n. 3865 – 06.11.1915.
114
RSTF, vol. 16, p. 15 – Habeas-corpus n. 4117 – 14.11.1916.
115
RSTF, vol. 12, p. 27 – Habeas-corpus n. 4276 – 23.05.1917.
116
RSTF, vol. 15, p. 429 – Habeas-corpus n. 4318 – 18.07.1917.
201
“Ementa do acórdão: Na autonomia municipal assegurada pelo art. 68, CF, não
se contem, necessária e obrigatoriamente, a verificação de poderes dos membros
do governo do Município pelos Conselhos Municipais. Essa verificação pode ser
atribuída, sem o mínimo desrespeito à predita autonomia, ao Poder Judiciário,
ao Legislativo ou ao Executivo.
Aplicação do art. 68, Cf e art. 71, §5º da Constituição do Pará.
Ementa dos votos vencidos - o único poder, para o qual é permitido instituir
recurso da verificação de poderes efetuada pelos Conselhos Municipais, é o
Poder Judiciário, que julga pelo alegado e provado.
Confiada ao Poder Legislativo, poder essencialmente político, a função de, em
grau de recurso, declarar quais são os cidadãos eleitos vereadores ou prefeitos,
será a extinção completa da autonomia municipal, expressamente assegurada
pelo art. 68, CF.”118
117
RSTF, vol. 19, p. 263 – Habeas-corpus (recurso) n.4703 – 23.12.1918.
118
RSTF, vol. 22, p. 167 – Habeas-corpus (recurso) n.4708 – 23.12.1918.
119
RSTF, vol. 46, p. 34 – Habeas-corpus n. 4718 – 11.01.1919.
120
RSTF, vol. 50, p. 29 – Habeas-corpus n. 4713 – 08.01.1919.
202
Não é lícito, diante dos termos expressos deste artigo, confiar aos Congressos
Legislativos dos Estados a faculdade de decidir em grau de recurso da
verificação de poderes dos vereadores e intendentes municipais. Se se admitisse
o que quer o Estado do Pará, quem em última análise organizaria as Câmaras
municipais seria o Congresso do Estado e não o município. Entregue a um poder
público, como é o poder legislativo, a constituição das câmaras municipais, por
meio de recurso criado no Pará, a autonomia municipal está extinta e burlado o
art. 68, CF.121
121
RSTF, vol. 50, p. 31 – Habeas-corpus n. 4715 – 08.01.1919.
122
RSTF, vol. 20, p. 28 – Habeas-corpus (recurso) n. 4876 – 10.05.1919.
123
RSTF, vol. 20, p. 25 – Habeas-corpus n. 4845 – 30.04.1919.
203
124
RSTF, vol. 21, p. 34 – Habeas-corpus (Recurso) n. 5090 – 05.07.1919.
125
RSTF, vol. 24, p. 260 – Habeas-corpus n. 5451 – 14.11.1919.
126
RSTF, vol. 23, p. 130 – Habeas-corpus n. 5519 – 27.12.1919.
127
RSTF, vol. 25, p. 135 – Habeas-corpus n. 5515 – 03.01.1920.
204
bem como afirmava expressamente a sua independência (art. 151). Entretanto, sua
independência expressamente afirmada não era plenamente garantida, sobretudo
em razão da peculiar organização do Poderes adotada pela Constituição do
Império, com a previsão de um Poder – o Poder Moderador – incumbido de
“velar sobre a manutenção da independência, equilíbrio e harmonia dos demais
poderes políticos” (art. 98), o que o transformava, como colocou PAULO
BONAVIDES, no “Poder dos Poderes, o eixo mais visível de toda a
centralização de Governo e de Estado na época imperial”130. Cumpre frisar ainda
que a Carta Política do Império permitia ao Imperador, no exercício do Poder
Moderador, suspender os Magistrados, em determinados casos (art. 101, n. 7.º)131.
De fato, desprovido de meios que assegurassem sua real independência, era
notória a mobilidade da magistratura durante o Império, que, como anota
128
RSTF, vol. 25, p. 142 – Habeas-corpus n. 5912 – 26.05.1920.
129
RSTF, vol. 33, p. 80 – Habeas-corpus n. 6648 – 05.01.1921.
130
BONAVIDES, PAULO, “Curso de Direito Constitucional”, 7.ª ed., São Paulo: Malheiros,
1997, p. 329.
131
“Art. 101 – O Imperador exerce o Poder Moderador: (...) 7.º) Suspendendo os Magistrados nos
casos do art. 154.
(...)
Art. 153 – Os Juízes de Direito serão perpétuos; o que todavia, se não entende que não possam
ser mudados de uns para outros lugares pelo tempo e maneira que a lei determinar.
Art. 154 – O Imperador poderá suspende-los por queixas contra eles feitas, procedendo audiência
dos mesmos Juízes, informação necessária, e ouvido o Conselho de Estado. Os papéis que lhes
são concernentes serão remetidos à relação do respectivo distrito para proceder na forma da lei.”
205
132
RSTF, vol. 32, p. 152 – Apelação Cível n. 3129 – 23.04.1921.
133
RSTF, vol. 26, p. 334 – Apelação Cível n. 3362 – 02.06.1920.
207
"Art 63 - Cada Estado reger-se-á pela Constituição e pelas leis que adotar
respeitados os princípios constitucionais da União.”
134
RSTF, vol. 3, p. 82 – Recurso Extraordinário n. 773 – 22.08.1914.
135
RSTF, vol. 16, p. 495 – Recurso Extraordinário n. 997 – 25.05.1918.
136
RSTF, vol. 20, p. 65 – Apelação Cível (sobre embargos) n. 3043 – 29.05.1918.
208
leis ou a despeito do que possam elas dispor, aos Juizes do Estados, por força do
disposto no art. 63 da mesma Constituição.”137
“Os juizes estaduais gozam das mesmas garantias conferidas aos federais.
Os juizes federais são vitalícios e perderão o cargo unicamente por sentença
judicial.
CF, art. 57. (Mato Grosso)”138
137
RSTF, vol. 21, p. 51 – Habeas-corpus (Recurso) n. 5129 – 12.07.1919.
138
RSTF, vol. 50, p. 105 – Apelação Cível n. 3426 – 29.07.1922.
139
RSTF, vol. 50, p. 116 – Apelação Cível n. 3691 – 02.09.1922.
140
RSTF, vol. 57, p. 133 – Apelação Cível n. 4225 (Embargos) – 27.07.1923.
141
Manual de Jurisprudência Federal, 1914, p. 37 – Recurso Extraordinário nº 773 – 26.06.1913.
209
“Os vencimentos dos juízes da Corte de Apelação e dos demais juízes locais do
DF são irredutíveis, de acordo com os princípios adotados pela Constituição da
República (art. 57, §1º).”143
142
Manual de Jurisprudência Federal, 1914, p. 233 – Recurso Extraordinário nº 737 – 14.06.1911;
p. 235 – Apelação Cível nº 1800 – 27.09.1911; Apelação Cível nº 1063 – 24.01.1912.
143
Manual de Jurisprudência Federal, 1914, p. 364 –Apelação cível nº 1783 – 20.06.1910;
Apelação Cível nº 1624 – 05.08.1910; Apelação Cível nº 1800 – 27.09.1911.
144
RSTF, vol. 7, p. 368 – Apelação Cível n. 2159 – 12.05.1914.
145
RSTF, vol. 15, p. 518 – Apelação Cível n. 3038 – 26.12.1917.
146
RSTF, vol. 21, p. 73 – Apelação Cível n. 3214 – 10.01.1919.
147
RSTF, vol. 50, p. 118 – Apelação Cível n. 3970 – 16.09.1922.
148
RSTF, vol. 51, p. 133 – Apelação cível n. 4225 – 11.10.1922.
210
“votei pelo provimento do recurso, porque o exame cuidadoso que fiz dos autos,
produziu no meu espírito a certeza de que o recorrente, juiz vitalício no Estado
do Piauí, está inibido de exercer as funções do seu cargo em sua comarca, por
isso que o governo desse Estado não lhe fornece as garantias necessárias para
esse exercício. O representante do recorrido, o Procurador-Geral do Piauí, é o
primeiro a proclamar que o Bacharel Milcíades Lopes se encontra
absolutamente impossibilitado de desempenhar as suas atribuições de juiz de
direito.
Eis alguns trechos das razões do chefe do Ministério Público piauiense:
“Destaco o inquérito aberto pelo delegado militar e o artigo que o “Piauí”,
órgão oficial, publicou a 6 de junho, sob a assinatura do Juiz distrital, promotor
149
RSTF, vol. 73, p. 10 – Habeas-corpus n. 10325 – 30.01.1924. Obs: dispõe o art. 338 do Dec. n.
16.273: “O Governo, na execução desta reforma, e até 10 dias depois de entrar em execução este
regulamento, poderá pôr em disponibilidade, com os vencimentos integrais do cargo, os
magistrados e membros do Ministério Público que, pela idade, enfermidade ou outro motivo
relevante, não estejam em condições de bem exercer as suas funções, ou tenham prestado bons
serviços à Justiça, tornando-se, por isso, merecedor de repouso.”
150
RSTF, vol. 40, p. 120 – Recurso Extraordinário n. 1332 – 09.11.1921.
211
Por fim, cabe destacar que o STF, ao julgar o Habeas Corpus n.º 9801, em
19.12.1923, contrariando sua jurisprudência não no que se refere à observância
pelos Estados dos garantias da magistratura federal, mas – antes disso – no que se
refere às próprias garantias em si, declarou constitucional – ou por outra, que
“não é manifestamente inconstitucional” – o Tribunal de Remoção de
Magistrados, criado pela Constituição Mineira. De acordo com o impetrante, este
Tribunal, composto do Presidente do Tribunal da Relação, do Presidente do
Senado e do Procurador-Geral do Estado, seria “ofensivo das garantias que a
Constituição da República assegura a todos os juizes, sendo assim,
manifestamente inconstitucional”. Entretanto, o STF, por maioria (vencidos os
ministros PEDRO MIBIELLI, PEDRO DOS SANTOS e LEONI RAMOS),
denegou a ordem impetrada sob o fundamento de que a Constituição não
contemplava como uma das garantias da magistratura a inamovibilidade, valendo
transcrever os fundamentos, por contrariem a firma jurisprudência que o próprio
STF havia construído até o momento:
151
RSTF, vol. 75, p. 16 – Habeas-corpus n. 9801 – 19.12.1923.
213
6
CONCLUSÃO
partir de 1870. Com efeito, foi este o setor que mais fortemente encampou o
movimento republicano, embora o atendimento às suas exigências não revelasse a
imprescindibilidade da mudança na fonte de legitimidade do poder, ainda que a
República figurasse como sua maior bandeira, ou ao menos a mais visível.
Entretanto, ainda que naquele momento estivessem exercendo forte
pressão sobre o governo imperial, não foram os cafeicultores os responsáveis pela
mudança do regime, mas os militares – outro setor descontente com o quadro
político vigente, mantendo a tradição da República como uma alternativa ao
governo e não à sua forma, figurando sempre como um meio para se atingir um
determinado fim.
Desse modo, a proclamação da República proporcionou a tábula rasa
institucional que ambos os setores buscavam a fim de redefinirem seus papéis e
sua participação no processo de condução política do País, ao preço de trazer o
“povo” para a arena da atividade política.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0014242/CA
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BIBLIOGRAFIA