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Tese de Doutorado
Rio de Janeiro
Abril de 2015
Lia Duarte Mota
Ficha Catalográfica
CDD: 800
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Desde o início. Obrigada, mãe e pai, pelas muitas histórias variadas, cheias de
detalhes incríveis, que atravessam esta escrita. Acho que, por sermos uma família
grande, acumulamos mais histórias. Compartilhadas. As histórias de cada um são
apropriadas por mim. São também minhas. Em várias situações me pego
pensando como agradeço ter irmãos. Thiago, Lucas, Thomás e Thales, com vocês
aprendi as coisas de meninos, referências tão importantes para mim. Ainda bem,
que tenho também uma irmã. Laís e eu descobrimos, na convivência, que muitas
coisas só uma irmã entende. Lá, obrigada pelas experiências, por ser um
contrapeso de ideias. Rogério, Tatiana e Larissa, vocês fizeram a nossa família, já
ampla, muito mais interessante e diversa. Completaram-na com Luna, Nicolas,
Helena. Sobrinhos fazem as histórias recomeçarem, fazem com que sejam
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Adriana, você meio que previu essa tese antes de mim. Você me apresenta muitas
versões possíveis da minha própria história, das minhas leituras, das minhas
experiências. Você soma. Obrigada por compartilhar a Dinamarca comigo de
modo tão especial. Lia Baron, o doutorado já teria valido a pena só pela sua
amizade. Obrigada por me incluir no seu mundo de pessoas tão peculiares e
queridas. Daniel Castanheira completou esse quarteto. Agora, acho que nossos
encontros banhados a álcool e comidas deliciosas – principalmente, aquelas feitas
por Adri – deveriam ter sido semanais.
Obrigada, Tiago, Manu e Leandro, por segurarem a minha onda, por tornarem
todos os meus lares provisórios, durante a tese, momentos de escrita, por darem
alguma leveza ao caos dos últimos meses.
Obrigada, André, Laura, Moema, Larissa, Michele, Carul, Ingrid, Mariana, Yo,
Ana Flávia, por continuarem presentes após tantos anos, por continuarem me
proporcionando experiências que me participam. Obrigada, Bia Bastos e Maria de
Andrade, pelas conversas certeiras.
Obrigada, Mayk, por sugerir, por se empolgar com o tema, por entender a minha
loucura de forma tão carinhosa. Obrigada, Diego Paleólogo, por aquela conversa
na jornada que foi um esclarecimento e pela sugestão de leituras que se encontram
nestas páginas.
Júlio, seis anos são mesmo um longo caminho. Obrigada por acreditar, pela
orientação, pela leitura.
Obrigada, Karl Erik, pelo acompanhamento tão presente durante boa parte do
doutorado, pela leitura dos textos. Agradeço também a oportunidade de uma
experiência única. A Dinamarca foi um marco nesse trajeto.
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Palavras-chave
Mota, Lia Duarte; Diniz, Julio Cesar Valladão (Advisor). Training Body
Manual. Rio de Janeiro, 2015, 139p. PhD. Thesis - Departamento de
Letras. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
parts of the body. Haruki Murakami, Michel Serres and Jacques Henri Lartigue
train the body to invent sensitive gestures: literature, philosophy, photography.
The gesture of the body is not just an action. The gesture signs up between the
pre-movement – the attitude about gravity – and the movement. There is in it a
desire to project itself into the space that carries its expressiveness. This body
creates space, shapes up in it. It mixes all the forces that govern the space and it is
in continuous contact with them. The forces of the body act and react to the forces
that surround it. It is with them, in the friction, in the clash, in the battle against
these forces and other bodies that the event arises.
Keywords
Animália 12
Alimária
1
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 3. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 54.
2
SERRES, M. Entrevista a Roberto Leo Butinof, Adrián Cangi e Ariel
Pennisi. In. Variaciones sobre el cuerpo. Buenos Aires: Fondo de
Cultura Económica, 2011, p. 138.
3
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 3. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 117.
4
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 1. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 278.
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21
regem o universo:
velocidade, ritmo, peso, e está em contato ininterrupto com gravitacional (a partícula
da primeira força
elas. As forças do corpo agem e reagem às forças que o descoberta, gráviton,
circundam. É com elas, na fricção, no confronto, no embate nunca foi detectada),
eletromagnética (o
com essas forças e com outros corpos, que há o fóton), nucleares fortes
(o gluón funciona como
acontecimento. Treinar é uma espécie de acontecimento. mola, mantendo os
quarks dentro do núcleo
do átomo. Os quarks são
Aomame sabia de cor a “Sinfonietta”, de ponta a ponta. blocos de partículas
formadores dos prótons
Escutar a música enquanto esticava ao máximo o corpo, e nêutrons. O físico que
estranhamente, fazia com que se sentisse calma. Era o os descobriu, Murray
Gell-Mann, tirou o seu
momento em que ela torturava e, ao mesmo tempo, se sentia nome da frase “Three
torturada. Forçava e, ao mesmo tempo, se sentia forçada. O quarks for Muster Mark”,
de Finnegann’s Wake ) e
que mais desejava era provar a si mesma sua capacidade de fracas (o bóson). O corpo
autocontrole interno, pois isso a deixava calma. E a música é composto de todas
essas partículas.
de fundo ideal para essas horas era a “Sinfonieta” de
Janáček.2
26
inteiro. Estão juntas. Podem não ser apreendidas ao mesmo espirituais. Os orientais,
há mais de 2 mil anos,
tempo, podem nunca ser ambas racionalizadas, mas se consideram a respiração
absorção e
apresentam em dupla. transformação de
energia. A respiração
envolve todo o corpo.
Ela sabia de cor todos os nomes dos ossos e músculos do Yoga, t’ai chi chuan têm
esse princípio. Apenas
corpo humano. Conhecia todas as funções e características no século XX,
dos músculos do corpo e sabia como colocá-los no lugar e os ocidentais tornaram a
respiração parte
mantê-los em forma. O corpo é um santuário e, essencial e consciente
independentemente do que se cultue nele, Aomame tinha a dos exercícios físicos.
corpos eram
arredondados e duplos.
O treinamento – e o experimentalismo – é um estar presente Havia o homem, a mulher
no cotidiano e atento para notar que este pode ocorrer de e o andrógino. O homem
veio do sol, a mulher da
outra maneira. terra e o andrógino da
lua. Por suas habilidades
físicas, eles escalaram o
Olimpo para falar com os
Aomame inclinou a cabeça de modo que pudesse ver o céu. deuses. Os corpos foram
Enquanto evocava essas lembranças, ela notou que o céu que separados. O corpo
rompido é symbolon ,
observava estava diferente do céu que normalmente uma das partes que se
costumava ver. Alguma coisa havia mudado. Uma sutil e encaixa perfeitamente
em outra formando uma
inegável diferença que causava uma intensa sensação de unidade.
estranhamento. No céu havia duas luas.9
Assim como o experimentalismo existe na tentativa da
arte de percorrer novos caminhos, experimentar novos
materiais, aproximar-se de novas técnicas, o treinamento
possibilita ao corpo perceber novos espaços internos,
conhecer novas partes, ampliar as percepções. Reagir de
novas maneiras. Disponibilizar-se para as coisas do mundo.
Novo pode ser outro e pode ser de novo. E a reação pode
transcender o próprio corpo.
Artaud faz sua escritura no palco. A primazia da
palavra, no teatro ocidental, reduz a cena à mera
representação. Artaud quer a cena de volta, quer a linguagem
dos gestos, um novo sentido de escrita. A palavra não deixará
de existir, mas terá um lugar delimitado. É na cena que se
saberá quando e como o diálogo deve existir. Relacionando-o
às outras linguagens, ao movimento, aos gestos, à
iluminação, a palavra sendo necessidade. Trata-se de
ampliação das linguagens e não de destruição. A palavra se
retomada na sua origem, se trazida de volta ao corpo, ao
28
argila, com bronze – o peso suspenso pelo detalhe, pela força um lutador pode jogar a
toalha no meio do ringue
delicada –, às vezes, vê a toalha na cadeira e imagina que, e encerrar a luta se
considerar que o seu
tirando o apoio, a toalha permanecerá imóvel. O peso dos pugilista não deve
continuar, mesmo que
corpos não aparece nas estátuas de Giacometti. E mesmo ele ainda esteja de pé. É
sendo estátuas, elas se movem e continuam se movendo na o nocaute técnico. Na
Grécia antiga, a luta só
escritura de Jean Genet. O texto vaga pelo ateliê de acabava quando um dos
lutadores era nocauteado
Giacometti. Não tem início nem fim. Vaga pela poeira, pela ou se rendia. Ele
solidão. É sempre um retomar a partir de novas impressões, levantava o braço para
indicar a desistência.
impressões das mãos. Genet não descreve as figuras de
Giacometti, ele as tateia. São os movimentos de sentir pelas
mãos, que Genet leva ao texto.
29
de Noll. A escritura como um nado livre, intensa e veloz, gordura não se torna um
empecilho e pode até
desliza. O nado livre, como o nome sugere, é uma das auxiliar na flutuação e na
temperatura do corpo.
categorias nas provas de natação em que o nadador escolhe o Há outros empecilhos
nas competições em
estilo. A associação entre o nado livre e o crawl é comum. águas abertas. Além da
Por ser mais veloz, nesses casos, o crawl é o mais praticado. disputa por espaço com
outros corpos no início e
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Inácio, adolescente, tem corpo de nadador e o cabelo áspero das possíveis lacerações
no decorrer da prova,
como se muito exposto ao cloro das piscinas. Ele mergulha está-se suscetível às
porta do banheiro adentro com um corte numa das têmporas. mudanças climáticas e
marítimas. É também um
Ele, o melhor amigo do filho dela. A escritura de João ambiente propício a
reacender os próprios
Gilberto Noll escorrega da cama revirada para o banheiro, de medos. Nadar, para
lá para o hospital, até percorrer o caminho de volta à casa. É Daniel Galera, é entrar
numa espécie de estado
rápida e intensa como se levada por águas agitadas. meditativo, estar a sós
com os seus
Embrenha-se pelos corpos, realiza-se neles. Há sangue, suor pensamentos.
e lágrimas. Inácio é o herói do cloro abatido. É imaginando
adentrar o seu, o de seu filho e o corpo do amigo, figurada e
literalmente, que ela compreende o mundo e se expressa nele.
Ela “levada pelas águas, bem assim, assim...”13
Seu umbigo era o que de mais meu ele tinha. Cheguei mais
perto, bem devagar, sem quase respirar, para que ele não me
pegasse no ato de examinar aquele seu pequeno ponto cavo
na barriga, aquele ponto de onde saía um fio de pelos que ia
se alargando em direção ao púbis –, um ponto enfim que
estivera ligado ao meu corpo por um cordão..., até a noite de
temporal do nascimento dele. Estava tão próxima a seu
umbigo que quase podia sentir o cheiro de suas vísceras... e
por seus caminhos lá dentro eu poderia quem sabe me
embrenhar...14
As intrigas são
Correr de si para si. Qualquer que seja a motivação, a movimentos incessantes
sensação é de que se gasta o corpo durante um determinado da linguagem.
surpreender. Hoje, o ponto alto da corrida foi quando tocou desenvolviam hérnias,
porque o excesso
Lisztomania, do Phoenix. Eu dancei e corri. Claro, dancei atrapalhava o suor,
desequilibrava os
pequeno, limitada pelas passadas rápidas das minhas humores, causava
pernas. Estou sentindo mais dores no corpo por causa do problemas nos órgãos.
corrida, além dos músculos tornarem-se mais perceptíveis, que seu pai se exercitava
com “palmilhas
interna e externamente – como se, de repente, eles chumbadas” para ter
mais leveza ao correr e
começassem a existir – a aparência do corpo muda. Não saltar.
Para saber que se corre, que o corpo aguenta, não é A ultramaratona pode
preciso dados numéricos e aparelhos. Não é preciso saber ser definida pela
quilometragem ou pelo
quantas batidas o coração dá por minuto para conhecer seus tempo de duração. Deve
limites. Saber é bom, principalmente para corredores. A ter, no mínimo, 100 km
ou 24 horas de corrida,
pulsação do coração também pode ser, em alguma medida, sendo o vencedor aquele
que fizer a maior
controlada pela respiração. E, para um corredor, controlar as distância nesse intervalo.
demandas do corpo faz parte do processo de treinamento. Na Amazônia, a
ultramaratona possui 127
Mas aparelhos não são essenciais. É necessário conhecer o km.
corridas apontavam o
escrita. “Ser ativo todos os dias torna mais fácil escutar essa interesse na velocidade,
voz interior.”26 Os músculos de Murakami demoram para se na relação entre
distância e tempo
aquecer, mas depois que se aquecem podem ser exigidos sem percorrido, mas os
nobres as faziam a
demonstrar fadiga por um longo percurso. Seu corpo é mais cavalo. Ninguém
dado a corridas de longa distância. O treinamento o ensinou a simplesmente corria,
nessa época, como
manter respiração e pulso controlados. exercício físico.
uma falha, uma provocação. Nas corridas de rua e nas vantagem de 42 seg
para o segundo lugar
competições de natação em águas abertas, o corpo a corpo é Stephano Baldini, da
Itália, na Maratona
consequência. Muitos corpos ocupando o mesmo espaço. O das Olimpíadas de
manobras no concreto. No final da década de 1970, nos EUA, 21 anos. Seu tempo,
2h 06 min 32 seg.
um novo território da performance surge em East Village. O Fazia 24 anos que o
recorde da Maratona
movimento punk e a contracultura questionaram os limites da Olímpica estava
pode ser a obra em si. O corpo pode tomar uma forma outra
desejada.
Entre 1974 e 1985, a cubana Ana Mendieta realizou
performances em que o corpo era o instrumento da prática
artística. Seu trabalho ficava entre a arte conceitual, a
performance, a mixed media e a land art. Suas performances
eram filmadas e fotografadas para que ela pudesse se afastar
e olhar sob outra perspectiva. Essas imagens compõem suas
exposições. O núcleo de seu trabalho era as Siluetas
(Silhouettes) (1973-1981) gravadas em diferentes superfícies
naturais. Era sua busca por seu lugar, por seu contexto na
natureza. Em seu primeiro tableau, Untitled (Rape Scene),
ela recriou a cena de um estupro em seu apartamento e
projetou diferentes imagens na parede, como forma de
chamar a atenção à violência contra o corpo feminino,
apresentar um sentido de desapego e deslocamento, além de
retomar um processo ritualístico das culturas antigas. Em
seus Rastros corporales (Body Tracks) (1982), Mendieta
mergulhou seus braços em sangue e, esticados acima de sua
cabeça, pressionou-os contra a parede. Com seu corpo
gradualmente se afundando rumo ao chão, ela produz um
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una pessoas distintas por um breve período. Significa que a Seu tempo, 2h 02 min
57 seg.
forma como ela é vivenciada é única, não premeditada e não
transferível. Espectador e autor são um corpo coletivo, pois,
49
1
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol.1. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 59.
2
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol.2. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 47.
3
HOUAISS, A. Grande dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
Disponível em: <
http://houaiss.uol.com.br>. Acesso em: 02 Jan. 2015.
4
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol.2. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 278-
279.
5
CORBIN, A., COURTINE, J.J & VIGARELLO, G. História do corpo:
Mutações do olhar. O século XX. Vol. 3. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011, p.
210.
6
CORBIN, A., COURTINE, J.J & VIGARELLO, G. História do corpo:
Mutações do olhar. O século XX. Vol. 3. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011, p.
221.
7
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol.1. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 192.
8
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol.1. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 193.
9
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol.1. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 276.
10
ARTAUD, A. Para acabar com o julgamento de Deus. Texto-poesias
de transmissão radiofônica.
11
GENET, J. O ateliê de Giacometti. Sao Paulo: Cosac & Naif, 2003, p.
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43-44.
12
NOLL, J.G. Nado livre. In: A máquina de ser. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2006, p. 21.
13
NOLL, J.G. Nado livre. In: A máquina de ser. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2006, p. 26.
14
NOLL, J.G. Nado livre. In: A máquina de ser. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2006, p. 26.
15
LEIRIS, M. Espelho da tauromaquia. São Paulo: Cosac & Naif, 2001,
p. 47.
16
SERRES, M. Variaciones sobre el cuerpo. Buenos Aires: Fondo de
Cultura Económica, 2011, p. 34.
17
MAUSS, M. As técnicas corporais. In. Sociologia e Antropologia. São
Paulo: EPU, p. 227.
18
MURAKAMI, H. 1Q84.
Vol. 3. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 29.
19
MAUSS, M. As técnicas corporais. In. Sociologia e Antropologia. São
Paulo: EPU, p. 227.
20
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol.1. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 279.
21
MURAKAMI, H. Do que eu falo quando eu falo de corrida. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2010, p. 42.
22
MURAKAMI, H. Do que eu falo quando eu falo de corrida. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2010, p. 42.
23
WANJIRU, S. El amo de los 21 km. Entrevista concedida a Martín
Fiz. Disponível em: <http://www.runners.es/noticias/elite/articulo/martin-
fiz-entrevisto-a-samuel-wanjiru.> Acesso em: 15 Jan. 2015.
24
MURAKAMI, H. Do que eu falo quando eu falo de corrida. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2010, p. 44.
25
MURAKAMI, H. Do que eu falo quando eu falo de corrida. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2010, p. 71.
26
MURAKAMI, H. Do que eu falo quando eu falo de corrida. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2010, p. 48.
27
MURAKAMI, H. Do que eu falo quando eu falo de corrida. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2010, p. 75.
28
CAGE, J. De segunda a um ano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2014, p.
134.
51
29
MURAKAMI, H. Do que eu falo quando eu falo de corrida. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2010, p. 49.
30
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol.2. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 142.
31
ZUMTHOR, P. Performance, recepção e leitura. São Paulo: Cosac &
Naif, 2007, p. 33.
32
GUMBRECHT, H. U. Elogio da beleza estética. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007, p. 45.
33
GUMBRECHT, H. U. Elogio da beleza estética. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007, p. 128.
34
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol.1. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 230.
35
CORBIN, A., COURTINE, J.J. & VIGARELLO, G. História do
corpo: Mutações do olhar. O século XX. Vol. 3. Petrópolis, RJ: Vozes,
2011, p.238-239.
36
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol.2. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 194.
37
BARTHES, R. Roland Barthes por Roland Barthes. São Paulo:
Estação Liberdade, 2003, p. 159.
38
RACIÈRE, J. O espectador emancipado. São Paulo: Editora Martins
Fontes, 2012, p. 17.
39
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol.2. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 342.
40
RACIÈRE, J. O espectador emancipado. São Paulo: Editora Martins
Fontes, 2012, p. 19.
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como inteiro. Cada parte toca e interfere na outra. O corpo Ele está em constante
mudança, organiza-se
precisava se libertar de uma rigidez adquirida, do domínio de de diferentes
maneiras, pois ocorre
hábitos estabelecidos. Nos movimentos básicos, percebemos em todas as posições
do corpo. Os
uma repetição prejudicial, um comportamento que restringe. flamingos avançam a
Nos movimentos básicos, podemos fazer alterações cabeça e alongam a
coluna para iniciar o
significativas que, depois, serão incorporadas aos voo.
54
55
56
57
58
59
60
61
qualidade de fascínio.
antigos, atuais e futuros. Uma circunstância do passado pode
ser ressignificada no presente, um objeto antigo pode
continuar a existir. Um corpo velho pode apresentar-se de
forma muito jovial. Jards Macalé é um quase jovem num
corpo de 70 anos. Um corpo jovem, se congelado, mantém
seus traços, sua natureza, intactos. Pode ter filhos mais velhos
que si. Um corpo queimado derrete, desaparece.
62
quando as qualidades
torná-los conscientes, investigá-los nos dão chances de espaciais flexível e
direto tornam-se
alterações, de ampliar opções, logo de desdobramentos pouco aparentes, de
63
forma de recolher, possuir, advém de uma energia das conecta espaços, faz
circular vozes,
extremidades do corpo que se encaminha para o centro. O promove mediações.
64
65
Caminhante, pedestre,
Caminhar exercita um grande número de músculos do andarilho, transeunte,
passeador, multivago,
corpo sem desgastá-los. Libera devaneios. Caminhar regula a errabundo, nômade,
respiração e a circulação sanguínea. Permite encontros. erradio, passante,
caminhador, viageiro,
Caminhar aumenta os estímulos elétricos nos ossos, peregrino, lacaio,
romeiro, vagabundo,
facilitando a absorção de cálcio. Dispõe os sentidos. andante, caminheiro,
Caminhar desacelera o envelhecimento. Alarga as direções. viandante, errante,
vagamundo,
Caminhar ativa a produção de insulina no pâncreas e reverte aventureiro, viajante.
Há quase tantas
a resistência à insulina de alguns corpos. Instiga o olhar. formas de definir
66
67
parte que deve se mexer, cada músculo que deve adquirir chão. A falta é chamada
de salto. A perna de
tônus. Andamos. A criança um dia anda. Descobre uma nova sustentação deve estar
utilidade para os seus membros inferiores. A partir dela, um esticada até que a outra
perna a cruze e o
acervo de possibilidades se abre, pode-se correr, pular, calcanhar encoste o
chão. É esta exigência
dançar. Ações derivadas da primeira. Não, não é preciso que faz o quadril se
andar para dançar. Mas andar implica, em algum momento, movimentar. A marcha
foi inventada no século
dançar. Andar, uma ação quase acidental, um das funções do XVII. Edward Payson
Weston, no século XIX,
corpo, transforma-se num movimento liberal, na abertura fez alterações e utilizou-
68
água, pelos animais, pelo fogo. Caminhos não são fixos. Mas envolvia os trabalhos
domésticos. Pediu que
guardam marcas de seus passantes. Caminhantes deixam levassem os
instrumentos usados na
rastros que transformam-se em indícios. Indicam peso, limpeza para a aula e que
fizessem os movimentos
estatura, pertences, companhias, temperamentos, intenções. habituais realizados em
Rastros desaparecem, misturam-se, são alterados. O caminho casa. Depois, disse que
deveriam repeti-los
também se movimenta. Leva a um fim ou a uma bifurcação. tornando-os agradáveis,
simples e conscientes.
A caminhada obriga a decisões mesmo do corpo que só quer Foi quando perceberam
vaguear. que usavam mal o corpo.
69
cauda, oeste, e ela pela cabeça, leste. Caminhariam até se deu 14 voltas ao redor
do planeta Terra. Ele
encontrarem. Quando concebida, 8 anos antes, a performance declarou que não era
possível ver a Muralha
chamava-se The Lovers, mas demorara 5 anos para que da China do espaço
sem o uso de
obtivessem a licença do governo chinês para fazê-la. Quando aparelhos visuais. Até
saiu a permissão, em 1989, tinham acabado de se separar. esse momento ainda
se acreditava que a
Decidiram manter a peça. Quase toda a ideia original fora muralha era o único
monumento feito pelo
alterada na prática. Eles não poderiam estar sós, não homem que poderia
poderiam acampar, não poderiam caminhar nas áreas ser visto do espaço.
Foi o astronauta
militares. Decidiram manter a peça. Durante 4 anos, viveram americano, Gene
Cernan, quem fez essa
no carro, viajaram por diferentes países. Suas performances e declaração em 1972.
o período em que viveram viajantes lidavam com o risco, o Muito antes dele, em
1938, o livro
limite, a dor, o movimento, a ausência de ensaio, de um fim Maravilhas do Mundo ,
de Richard
determinado, de repetição. A caminhada pela Muralha da Halliburton, já trazia
China durou 3 meses. Era para ser um momento de essa afirmação. Em
2003, o governo
meditação, de se situar num espaço, de ir ao encontro do
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natural. O homem desde o início tendeu seguir a direção Animais se deslocam por
longas distâncias
oeste. Para o leste, vamos de encontro às obras de arte, à periodicamente. As
literatura, à nossa origem. Para o oeste, seguimos rumo ao migrações são sazonais,
reprodutivas ou ocorrem
futuro, à aventura do desconhecido. A rotação da Terra é no devido a condições
alimentares. Suspeita-se
sentido anti-horário, oeste-leste. No Japão, alguns acreditam que muitos animais
conseguem retornar,
que dorme-se melhor com a cabeça voltada para o leste, porque possuem um
acompanhando o sentido de rotação da Terra. O Brasil está a sistema de navegação
baseado no campo
oeste. Sua mestiçagem é cruzada, múltipla, complexa. O magnético da Terra. As
ressonâncias de
processo de conhecimento deve ser mestiço. Adquirir outra Schumann serviriam de
língua, adquirir outra ciência, é adquirir outro corpo. Saber é orientação aos animais.
Há relatos de que o
também colocar a cabeça em uma atmosfera que os pés corpo humano adoece na
ausência das mesmas.
desconhecem.
74
dela impõe outra perspectiva, observação, o estabelecimento a pessoa sente que está
flutuando. Se ela soltar
de um outro centro de gravidade, porque pisa-se outro chão. um objeto dentro do
elevador também o verá
Aquele que conecta os pensamentos à prova física. Alterar o flutuar. No entanto, uma
centro de gravidade permite rever sua posição no mundo, pessoa do lado de fora
fixa num ponto da Terra,
colocar credibilidade nos recursos do corpo. vê tudo em queda livre.
75
Tengo suspirou. Não tinha mais nenhuma pergunta a fazer Em 1890, Tchekhov
decide conhecer as Ilhas
para tentar esclarecer o que havia acontecido na noite Sacalinas, no leste da
anterior. O caminho estreito e incerto terminava ali e, dali Rússia, local onde se
encontra uma colônia
para a frente, só havia uma densa floresta. Ele firmou os pés penitenciária, para um
no chão, olhou ao redor e mirou o céu. Aquele era o estudo sobre o sistema
prisional. Lê informações
problema de conversar com Fukaeri. Todos os caminhos de diversos exploradores
terminavam infalivelmente no mesmo ponto. Os guiliaks e faz seu próprio diário
de bordo. Demorou
continuariam a jornada mesmo sem existir o caminho. Mas quase 12 semanas para
para Tengo era impossível.21 chegar à ilha. Suas notas
trazem descrições da
flora e da fauna, dos
tipos de solo, dos
hábitos dos nativos, da
Dia 8 – Lembro-me perfeitamente que, durante meus relação serviçal entre
colonos e presos, das
breves períodos de prosperidade, essas mesmas caminhadas péssimas condições de
higiene e dos problemas
solitárias que hoje me são tão deliciosas me eram insípidas e do sistema prisional
entediantes. Quando estava na casa de alguém no campo, a russo. Seu plano de
viagem tinha a duração
necessidade de me exercitar e de respirar o ar livre me fazia de três meses.
76
77
padronizada em uma
percorrida cada dia, é uma transformação interior, é a criação barra de ferro com dois
do tempo, é abrir-se ao desvio, é perder alguns pré-requisitos. pinos nas extremidades
colocada na parede do
Institui-se laços em movimento, laços que se movimentam. Grand Chatelet. Cada
toesa é equivalente a 6
Relações que duram o breve momento da passagem, relações pés, quase dois metros.
que acompanham a caminhada. Relações que não se fixam no Depois, veio o metro, a
unidade de medida que
espaço e sim na memória e na expectativa de um reencontro. seria a décima milésima
parte de uma quarto do
Paulo Nazareth caminhou do Brasil aos Estados meridiano terrestre. Os
Unidos. Não uma linha reta, não definindo o norte como franceses Jean Baptiste
Delambre e Pierre
ponto fixo. Algumas vezes eram três passos ao norte e um ao Méchain mediram o
meridiano. Hoje, o metro
sul. Um ir e vir acordado pelas circunstâncias. Levou um ano é definido pelo
comprimento do trajeto
em sua peregrinação, Notícias de América. Uma residência que a luz percorre no
móvel, uma pesquisa de campo, uma arte de conduta. Era vácuo, durante o
intervalo de tempo de
uma coleta de hábitos, modos de vida, coleta de identidades. 1/299.792.458 do
segundo.
Suas próprias identidades. Paulo Nazareth viu-se confundido
com negro, brasileiro, índio, cubano, marroquino. “As
identidades balançam, sua localização se perde nas
vizinhanças imprecisas, a contradição hesita mesmo ante o
confuso.” 23 Além do acúmulo de imagens, memórias,
histórias, contatos, narrativas, acumulou poeira nos pés.
Paulo Nazareth fez todo o percurso com havaianas. Na
fronteira da Guatemala com México, os pés são patas
rachadas. Pela caminhada, pelo trabalho, pelo desgaste diário.
Os pés sujos são uma metáfora das migrações, do seu
percurso, de sua percepção de que é um Latino Americano ou
apenas um Americano. Os pés sem água, em contato direto e
ininterrupto com a poeira, formam uma crosta em constante
modificação. Parte da poeira se renova. Os pés se
transformam assim como o seu portador. As unhas foram se
perdendo pelo caminho. Unhas são formadas por células
78
Para Thoreau, a caminhada não era uma linha reta, mas Ao andar na diagonal
experiencia-se um modo
antes uma órbita, uma espiral, que sempre tendia para o de andar livre na ocasião
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boxe, sumô, judô, corpos se colocam frente a frente. Não há o fim da instrução,
quer dizer, a
barreiras físicas entre eles nessas lutas, apenas a roupa. No invenção.
85
O aprendizado compreende deixar uma parte de si para Após uma tentativa com
trás. Na saída, há sempre a perda de alguma parte do corpo, o corda, Alex Honnold
decidiu escalar a face
contato com o exterior, a opção por uma via transversal e a noroeste do Half Dome,
passagem pelo lugar mestiço. A instrução nunca termina. O no vale Yosemite, sem
corda. Carregava apenas
mestiço instruído está sempre vagando, sempre desalojado, um saco de magnésio
para passar nas mãos,
pois se expondo ao outro, colocando-se em risco. A instrução ouvia música e usava
uma sapatilha especial
leva a um lugar que ainda não se conhece, faz arriscar todas para escaladas. A 30
as referências anteriores. metros do topo, ele
titubeou, mas não tinha
Não pertencer a um único movimento é uma opção à como voltar. Honnold
levou 2h50min para
não exclusão. É uma forma de desobediência. E Serres diz escalar 650 m.
que as guerras, as instituições, deram a ele o sabor da
desobediência. Porque a maioria é fisicamente mais forte,
mas não promete a justiça e a virtude. Um homem não
precisa fazer tudo, mas não deve fazer uma coisa que
prejudique a si mesmo ou ao outro. Thoreau não pagava os
impostos para demonstrar sua pouca satisfação, o seu não
pertencimento. O coletor de impostos era seu vizinho.
Thoreau foi preso. Explicava sua decisão dizendo que é
preciso agir, os debates podem ficar acumulados nas
prateleiras. É preciso habitar uma terra desocupada, produzir
86
87
88
escalaram 8.091 m e
meio de ferramentas, tanto revela o novo quanto o histórico. tornaram-se os primeiros
Os ângulos possíveis do joelho, o triângulo isósceles das a atingir tal altura. Era a
montanha Annapurna
pernas. O corpo faz inventar, a invenção propõe aprendizado (“Deusa da Colheita”), no
Nepal, uma das
que nos leva ao passado do corpo. Uma inversão do tempo: montanhas mais
não mais uma linha reta que orienta ao futuro, e sim saltos perigosas do mundo para
escalar, por causa das
entre diferentes momentos. Uma inversão do espaço: avalanches e dos ventos
de 100 km/h. Até 2013,
modificação de paisagem por meio da aproximação de coisas apenas 191 pessoas já
díspares. Uma inversão do processo: a intuição leva à haviam subido, 64
morreram tentando.
invenção que leva ao reconhecimento de eventos históricos.
A invenção não é resultado de uma dicotomia. Não há
dicotomia quando se coloca todo o esforço na escalada,
quando se arrisca o corpo numa queda, para chegar ao cume.
Não há dicotomia quando se gasta toda a energia dos
músculos e se eleva o bombeamento do coração ao máximo
na corrida. Não há dicotomia num passe de bola, no nado, na
luta.
“O corpo existe em potência, em todos os sentidos
imagináveis.”43 O corpo é real. Primeiro aprende-se o que
pode o corpo. O treinamento ensina músculos e ossos.
Resistência, concentração, coragem, paciência, domínio do
medo são necessários à invenção e podem ser adquiridos nos
exercícios físicos. A vida submetida aos ritmos do corpo.
Essas práticas de força e flexibilidade colocam o corpo
inteiro na invenção.
89
1
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 2. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 173.
2
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 2. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 26.
3
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 2. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 124.
4
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 2. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 317-
318.
5
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 3. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 35.
6
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 2. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 23.
7
NANCY, J.L. Corpus. Lisboa: Vega, 2000, p.15-16.
8
CORBIN, A., COURTINE, J.J & VIGARELLO, G. História do corpo:
da Renascença às Luzes. Vol. 1. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012, p. 399.
9
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 2. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 258.
10
SERRES, M. Luzes: cinco entrevistas com Bruno Latour. São Paulo:
Unimarco, 1999, p. 82.
11
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 3. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 50-
51.
12
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 2. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 264.
13
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 3. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 72.
14
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 1. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 25.
15
VALÉRY, P. Poesia e pensamento abstrato. In: Variedades. São
Paulo: Iluminuras, 1991, p. 207.
16
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 1. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 160.
17
Murakami, 1Q84. Vol. 1. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p.416.
18
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 2. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 317.
19
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 3. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 190-
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1112757/CA
191.
20
SERRES, M. Filososfia mestiça. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993,
p. 20.
21
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 2. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 263.
22
CLARK, L. Caminhando. Três Rios: Associação cultural O mundo de
Lygia Clark, 1964. Disponível em:
<http://www.lygiaclark.org.br/arquivo_detPT.asp?idarquivo=17>. Acesso
em: 31 mar. 2015.
23
SERRES, M. Os cinco sentidos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011,
p. 220.
24
Todos os diários da caminhada são uma edição do livro de Jean Jacques
Rousseau, Diário de um caminhante solitário. In. ROUSSEAU, J.J.
Diário de um caminhante solitário. L&PM
25
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 2. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 224.
26
SERRES, M. Filosofia mestiça. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993,
p. 87.
27
SERRES, M. Filosofia mestiça. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993,
p. 5.
28
SERRES, M. Filosofia mestiça. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993,
p. 56.
29
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 1. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 250-
251.
30
SERRES, M. Luzes: cinco entrevistas com Bruno Latour. São Paulo:
Unimarco, 1999, p. 98-99.
31
SERRES, M. Os cinco sentidos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011,
p. 14.
32
THOUREAU, H. D. Walden ou A vida nos bosques, p.103.
33
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 3. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 156.
34
SERRES, M. Variaciones sobre el cuerpo. Buenos Aires: Fondo de
Cultura Económica, 2011, p. 41.
35
SERRES, M. Variaciones sobre el cuerpo. Buenos Aires: Fondo de
Cultura Económica, 2011, p. 46.
36
SERRES, M. Filososfia mestiça. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993,
p.60.
37
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 1. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 356.
90
38
SERRES, M. Filosofia mestiça. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993,
p.
39
SERRES, M. Entrevista a Roberto Leo Butinof, Adrián Cangi e Ariel
Pennisi. In. Variaciones sobre el cuerpo. Buenos Aires: Fondo de
Cultura Económica, 2011, p. 137.
40
SERRES, M. Variaciones sobre el cuerpo. Buenos Aires: Fondo de
Cultura Económica, 2011, p. 111.
41
SERRES, M. Entrevista a Roberto Leo Butinof, Adrián Cangi e Ariel
Pennisi. In. Variaciones sobre el cuerpo. Buenos Aires: Fondo de
Cultura Económica, 2011, p. 134.
42
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 1. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p.
251.
43
SERRES, M. Variaciones sobre el cuerpo. Buenos Aires: Fondo de
Cultura Económica, 2011, p. 111.
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sustentado, direto e
poderio breves. Não tinham preocupação com uma leve. O deslizar
encenação. Existem porque estimulam o corpo. Causam ocorre quando a
resistência é mais
sensações. Jogo de pela, de malha, luta, corrida, salto, fraca, quando há uma
menor fricção entre o
arremesso de pedra e de outros materiais, muitas vezes em corpo e o objeto
animais. Alguns desse jogos envolviam bolas, tacos e choque tocado.
máquinas, dos corpos. Não quer ficar parado. Cansaço, no forte teor patriótico. Ele
adotou o termo Tuner,
corpo dele, faz gerar mais movimento. Quando está cansado, que refletia o ideal de
uma ginástica baseada
ele se mexe. na autodisciplina,
entendidos de outra
la com o relaxamento dos músculos. Se os músculos ficarem maneira. O progresso
contraídos e endurecidos, eles não responderão aos estímulos físico será reformulado
sob novos enfoques.
dos nervos com toda a sua capacidade e não conseguirão
aguentar o exercício por muito tempo.
Após algumas semanas de execução, percebe-se as
primeiras mudanças no corpo. A gordura dá lugar ao
enrijecimento dos músculos, as costas tornam-se eretas, a
postura melhora, os movimentos do tronco ficam mais
elásticos e maleáveis. Todo o corpo fica mais forte, flexível,
móvel e eficiente. Sadio e bonito. A beleza pode ser
percebida em corpos humanos e animais e tem a ver com
proporção e formato. A beleza se adquire com exercícios
físicos diários.
Müller não recomenda as bicicletas. Enquanto uma
caminhada rápida trabalha diferentes partes do corpo, o
ciclismo trabalha apenas alguns músculos da perna. As outras
partes ficam prejudicadas pela fadiga e pela tensão
depositadas. Ficam inoperantes. O ciclista deve usar My
system para exercitar os músculos do peito, das costas e dos
ombros todos os dias. Alguém que não faça exercícios físicos
diários não deveria se arriscar no ciclismo. Acabaria
estragando diversas partes do corpo e exporia seu corpo às
doenças.
movimento que acontecerá. O tênis e a fotografia são ações capturados. Ainda assim,
a utilidade das
do corpo que pedem tranquilidade, calma e resistência. No competições esportivas
para as mulheres não é
tênis, enfrenta-se outro corpo. É preciso desestabilizá-lo. Os consenso.
bolas no ar. Este gato vive no talvez. Dizem que gatos caem
com as quatro patas colocadas no chão ao mesmo tempo.
Gatos caem em pé. Este talvez voe. (Fotografia 4, p. 133)
contar a minha pulsação por minuto. Quis ouvir o som do aluna e, depois,
assistente de Laban
meu corpo. Ouvi a porta do prédio batendo. Lembrei do dia durante 7 anos. Abriu
sua escola em 1920.
que encontrei o vizinho cineasta perto do prédio e Criou a dança da
por homens e cavalos. Cavalos andam nas pontas dos cascos preservadas mesmo
quando ela altera sua
como as bailarinas clássicas. A equitação é uma apresentação forma ou tamanho. Ou
pode-se dizer que a
ocorrida em festas para exaltar o rei. A história contada geometria métrica cuida
corpo adquire novas qualidades, mais abstratas. Deve ter boa faz a medição num
processo de comparação
graça, força e destreza. O porte deve ser esbelto, os que busca ritmos de
crescimento,
movimentos devem mostrar equilíbrio e simetria. Corpo ágil dissonâncias quando do
e leve. Modos de apresentar uma boa educação, baseada em inverno para o verão,
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concreta no mundo, no sentido de código transmitido. Um sra. Barrett. Aos 19, foi
para The Cornish School
movimento pode ser intencionado. Animais dançam com uma for Performing and
Visual Arts, em Seattle,
intenção definida: acasalamento. Mas eles não intencionam. fazer aulas de teatro e
A dança acontece fora da consciência. É essa distância que dá de dança. No verão, foi
de carona para o Mills
à dança a graciosidade e a energia adquiridas, sentidas, College, em Oakland,
Califórnia, pois
percebidas. Também a relação entre corpos, o treinamento conseguiu uma bolsa.
Aos 21, foi para Nova
anterior e as regras caracterizam a dança, mas não a definem. York dançar na
Cunningham fez um espetáculo todo definido por operações companhia de Martha
Grahan. Estudava balé
de acaso. Nenhuma decisão pronta. Uma única regra. A clássico na American
Ballet School e começou
dança é e não é um jogo. As regras também não definem o a trabalhar nas próprias
jogo. O jogo pode ser um elemento aberto. danças.
A graça da famosa marionete de Kleist está exatamente
em seus movimentos mecânicos. Na ausência de intenção, na
distância com uma subjetividade. O boneco move. Desafia as
leis da gravidade. Não pensa. A graça é um estado entre o
centro de gravidade e o centro do movimento. A marionete
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Com cinco posições do tronco, ereta, curva, em arco, Todas as posições de pés
torcida e inclinada, pode-se criar distinções. Pernas e braços do balé clássico são
feitas com as pontas
se organizam em relação a elas, cinco posições básicas. voltadas para fora (en
dehors) e as pernas
Parte-se do estrito para o vasto. Os movimentos parecem esticadas. A direção faz
estranhos como se cada parte do corpo se dirigisse para um com que toda a
musculatura da perna
lado. O espaço da dança todo utilizado. Não é preciso haver gire. As cinco posições
são: 1ª, calcanhares
uma única frente. Muda-se a direção, muda-se a visão da encostados formando um
dança. Pode-se ver uma pessoa de qualquer ângulo. O espaço V; 2ª, pernas abertas na
largura dos ombros, 3ª,
não é mais fixo, o que faz haver um alargamento de pés cruzados, calcanhar
com calcanhar, 4ª, um pé
possibilidades. Quando se dança, domina-se o espaço. na frente do outro, a
e da pianista Dora
se olhar no palco para não desmanchar a cena, a ilusão de Gray Duncan. Trocou
os EUA pela União
corpos que não pesam. O balé era uma representação. A Soviética e, mais
Homero disse que a dança se situa entre a cidade e o Shiva criou o Universo
labirinto. O labirinto traz a chance de não voltar ao ponto de dançando. O rei
Raghunatha Nayak ,
partida e a chance de encontros. Daí, quando sai, o dançarino no século XVII, criou o
se libera de algumas coisas suas deixadas pelo caminho e se tratado da dança que
trazia os 108 Karana ,
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excêntrico. Como uma linha que se curva por causa do contração do centro do
corpo. Sua dança se
alongamento. Valéry viu dança numa tela. Badiou usa a apropriava do chão.
Louis Horst, figura
dança como metáfora do pensamento. Ela é um ato importante no cenário da
expressivo, criador. Uma forma de experimentar um ato total, dança moderna na época,
era colaborador de
de ser um ato total. Não somente uma contemplação do outro, Graham. Ele tinha grande
influência no trabalho
das coisas, do mundo, mas um estar no mundo. Não dançar dela. Insistia na
disciplina rigorosa, na
para fugir, para se retirar. O êxtase não é ausência. Dançar diminuição do improviso.
para vivenciar as possibilidades do corpo, para atingir a Eles se tornaram
amantes.
imanência do ato. A dança engendra imagens.
116
corpo é assim flexível. Ombros abertos podem ser uma técnica de Laban é
observar as ações
disposição, ombros caídos podem ser distanciamento, passos corporais de uma
pessoa em seu
pesados e ágeis podem ser agressividade, passos arrastados cotidiano, de um ator
encenando, de um
podem ser relaxamento. O gesto de andar indica. O corpo bailarino executando
mente. O gesto de andar varia, nele está implicado o desejo, uma dança típica.
Observar os
um posicionamento somático, estético e político. A relação movimentos permite
perceber melhor as
de equilíbrio que mantenho com o chão, a abertura da variações do uso do
articulação da coxa com a bacia, a posição dos dedos, a corpo em relação aos
fatores de peso,
relação do tronco com as pernas, não. Essa mudança pede espaço, fluência e
tempo.
treinamento.
Quando o homem ficou ereto, o gesto de andar serviu à
caça, à fuga. Ampliou a visão. Depois, andar era,
principalmente, deslocar-se. Ampliado o alcance da visão, o
andar expandiu-se para uma área maior. Vieram os meios de
121
inteiro, o aparato está junto do corpo. Não é um corpo, é Atletismo de Tóquio. Sua
marca: 8,95 m.
parte dele. A câmera se movimenta junto do corpo do
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1
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 3. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 118.
2
RACIÈRE, J. O espectador emancipado. São Paulo: Editora Martins
Fontes, 2012, p. 22.
3
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 3. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 72-
73.
4
CORBIN, A., COURTINE, J.J. & VIGARELLO, G. História do corpo:
Mutações do olhar. O século XX. Vol. 3. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012, p.
208.
5
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 3. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 35.
6
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 3. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 48.
7
MÜLLER, J. P. My system: 15 minutes’ exercise a day for health’s
sake. London: Link House, s/d, p. 14.
8
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 1. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 257-
258.
9
LARTIGUE, J. H. Entrevista a Hervé Guibert. Le Monde. Paris, 1985.
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28
FLUSSER, V. Los gestos: Fenomenología y comunicación. Barcelona:
Herder, 1994, p. 35.
29
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 3. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 197.
30
MURAKAMI, H. 1Q84. Vol. 3. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 249-
250.
31
FLUSSER, V. Los gestos: Fenomenología y comunicación. Barcelona:
Herder, 1994, p. 106.
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130
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132
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