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EXPECTATIVAS X REALIDADE

As derrotas e semivitórias de um ex
aventureiro da night
DEDICATÓRIA

Queria agradecer a Deus e a todos os seus


benfeitores que me abençoaram com a ideia deste
livro. Se vai fazer sucesso ou não, infelizmente, não
tenho como dizer, mas já me considero um
vencedor por ter iniciado este projeto.
Aos amigos Dutra, Jander, Patrícia, Elisângela,
Rudá, Carlos André, e toda a minha turma de
Colégio Naval (1989) e Escola Naval (1995), que me
ajudaram diretamente na elaboração do livro e nos
custos com a edição e divukgação, meu mais
sincero e eterno OBRIGADO!
À minha família, é por vocês que faço isto.
Espero que este empreendimento renda frutos e
que vocês possam se orgulhar de mim.

AVISO

Você, caro leitor, que adquiriu este arquivo digital,


não esqueça que este é um arquivo de uso
exclusivo SEU. Portanto, não repasse este arquivo
para qualquer outra pessoa, por favor. Tal ação vai
comprometer as vendas deste livro.
Estamos construindo uma relação duradoura:
ESCRITOR - LEITOR, pois com as vendas deste, vai
me possibilitar a elaboração de outros, e daí, vou
continuar a divertir vocês.
Se você recebeu este arquivo de outra pessoa,
sem que ela pagasse por isso, por favor, faça a
coisa certa: Favor retornar o arquivo deste livro
para o email hermanoemgouvea@outlook.com e
remova este arquivo de QUAISQUER dispositivos
de sua posse.

Lembre-se que: PIRATARIA É CRIME!!!!


PREFÁCIO

Acho que todo mundo já ouviu falar naquela


famosa frase, “Tem certas coisas que acontecem
com certas pessoas em certas ocasiões” e tenho a
mais absoluta certeza de que vocês leitores vão
constatar, depois de ler tudo aqui exposto, que não
poderia haver algo mais verdadeiro que esta frase.
A minha ideia foi relatar algumas passagens
divertidas que aconteceram na minha trajetória
pela “night” (como chamávamos a balada aqui no
Rio de Janeiro há algum tempo atrás). Algumas
situações são fictícias, porém não vou dizer quais
são verdadeiras ou não, mesmo porque todas terão
um fundo de veracidade.
Haverá relatos que ocorreram com amigos, mas
vou me colocar como protagonista de forma a
incrementar cada ocasião. Minha intenção é
colocar as expectativas no começo, e o que
aconteceu de fato no final (no caso das ficções, o
que aconteceria, provavelmente). Portanto, em
cada capítulo haverá uma introdução e logo após
narrarei as minhas expectativas, seguida da
realidade (ou provável realidade).
Vocês leitores vão se divertir com as mais
variadas situações. Todos os nomes que serão
colocados aqui são fictícios (exceto o meu).
Tal medida serve para salvaguardar a identidade e
a privacidade de todos os envolvidos.
Muitas derrotas, algumas "quase" vitórias,
experiências inacreditáveis, outras nem tanto,
algumas lições aprendidas, e no capítulo final....bem,
vocês vão ter que chegar até lá.
Preciso explicar que a linguagem que eu adotei
pra escrever este livro foi a mais coloquial possível.
Desta feita, vocês vão ver algumas coisas do tipo:
vombora; pra; pro; e etc. Ah, usei de "licença
poética" para colocar alguns palavrões também,
entendendo que, por vezes, a forma mais autêntica
de expressar alguns sentimentos, é usando esse
artifício linguístico. Tudo isso pra permitir uma
aproximação maior com a realidade, de forma que
vocês imaginem a cena, tornando-se expectador da
narrativa que estão lendo.
Questões de formatação, margens, etc, podem
não estar de acordo com o padrão, porque este
programa gratuito de elaboração de ebook, que é
excelente, por ser gratuito, óbvio que oferece
poucos recursos para formatação. Já peço perdão
pelos erros que vocês vão identificar durante a
leitura.
No mais, espero sinceramente, que vocês tenham
um ótimo passatempo e que a leitura seja agradável
do começo ao fim.
Boa diversão.
SUMÁRIO

1. O Gênio da Lâmpada

2. O Dançarino de Lambada

3. Você me quer, taradinho?

4. Mulher Tocha Humana

5. Gringa do EL TURF

6. O Fugitivo da Kombi

7. O Chá das 5 Dimensões

8. Lições Aprendidas

9. Capítulo Final

ATÉ BREVE
1. O Gênio da Lâmpada
— Brother (era a gíria da época), acho que não vai
dá não! — foi assim que começou a balada naquela
sexta-feira de algum mês no ano de 1989, numa
boate que se chamava “Circus”, no bairro do Leblon.
Nesse momento, eu falava para o meu amigo
Renato que a menina que eu estava azarando era
muito gata e não ia dar a mínima condição pra mim.
Renato, um grande otimista e um ser humano com
auto estima elevadíssima, apesar de ser feio para os
padrões da época, e para os padrões de TODAS as
épocas, não tinha o menor pudor em chegar nas
melhores (ou nem tanto) da noite. Sempre audacioso
e impertinente, nem sempre conseguia o que queria
em termos de mulher, mas nunca, nunca perdia as
esperanças, um grande exemplo a ser seguido.
Pois então, o Renato virou-se pra mim pra falar o
seguinte: — Tá maluco! Lógico que dá, vou te
mostrar. Bem, logo após dito isto, ele esperou o
momento em que um canhão de fumaça, acima de
onde a menina se encontrava soltasse aquela
fumaça densa em cima da galera. Assim que o
canhão largou a fumaça, ele foi imediatamente para
o lado da garota e ficou abaixado. A fumaça
dissipou e ele começou a se levantar com as mãos
unidas a frente do rosto, como se estivesse rezando,
levantando-se meio que rodando — muito estranho
— pensei. — mas aquilo tinha um fundamento que
eu descobriria logo em seguida.
Renato se levantou com as mãos daquele jeito de
reza e olhou pra menina. A menina, por sua vez,
olhou espantada pra ele e antes que ela
reclamasse de algo, ele falou alto e em bom tom:
— Eu sou o gênio da lâmpada e eu lhe dou o direito
de fazer três desejos.
Cara, só vinha à minha cabeça que esse meu
amigo era muito maluco mesmo, mas vai quê, né?
Enfim, quando ele terminou de falar, a menina riu e
daí ele emendou um papo e saiu de perto de mim,
mas antes olhou bem pra minha cara e com ar de
vitória, piscou os olhos do tipo, “tá vendo aí como é
fácil!”. — Ah, vou fazer a mesma coisa — decidido
que ia copiar a tática do Renato. Fui pra o outro
lado da pista, onde ninguém viu o ocorrido, para
atingir o mesmo efeito “surpresa”.
Visualizei uma garota linda, tão linda quanto a
primeira que foi “abduzida” pelo Renato, e só
esperei o momento do canhão de fumaça daquele
lado da pista soltar o seu produto para que eu
aparecesse subitamente como o tal gênio da
lâmpada. Quando saiu a fumaça do canhão, corri
rapidamente para o lado daquela gata linda e falei:
— Eu sou o gênio da lâmpada e você tem direito a 3
desejos (...)

PARTE I – Expectativas
— Ah, eu tenho três desejos sim, disse ela.
— Primeiro: eu quero um beijo na boca seu, depois,
que você me leve para minha casa e por último, e
não menos importante, que tenhamos a melhor
noite de amor de toda a minha vida, e ato contínuo
eu disse: — Bem, seus desejos foram plenamente
atendidos. — E saí dali aos beijos com a minha
gata, não antes de passar pelos meus amigos com
um grande sorriso e dizendo para eles: — vou ter
que ir embora para proporcionar a melhor noite da
vida desta deusa que me acompanha. E daí fui para
casa da gata, onde tudo estava perfeitamente
arrumado parecendo que estava à minha espera, e
tivemos uma noite de amor intenso e frenético.

PARTE II – Realidade
— Ah, tenho apenas um, quero que você SUMA
(falou com ênfase) daqui, e ato contínuo, saiu
disparada daquele local como se ali estivesse
chovendo ácido ou algo parecido de tão rápida e
incomodada que ela se foi.
Não me dei por vencido — vou tentar mais uma
vez — pensei. Fui para o lado inicial, em que meu
amigo se deu bem, e esperei até aparecer uma
gatinha para lhe “presentear” com os 3 desejos.
Minutos após, acabara de chegar na casa uma
morena bem bonita, não tão bela quanto a que me
destratou momentos antes, mas valia a pena a
tentativa com ela.
Mais uma vez, o canhão de fumaça funcionou e
deu-se a mesma encenação do gênio:
— Sou o gênio da lâmpada e tenho…. — não
esperou nem eu terminar a frase — que susto seu
doido! E jogou o copo de cerveja na minha cara. O
interessante disso foi um grupo de mineiros, que
estava ali por perto e assistiram a tudo, e quando
eu tomei um fora, eles quase caíram no chão de
tanto rir e disseram pra mim: — fica assim não sô,
que ela não te merece! (o cara ria quase
desmaiando). Só que eles também fizeram a
mesma coisa que eu, e não é que alguns deles se
deram bem?
Resumo da situação: Tomei dois “tocos” (era gíria
para quando se tomava um fora de uma gata na
balada) e estava completamente encharcado de
cerveja. Acho que esse negócio de gênio da
lâmpada não era pra mim.
2. O dançarino de lambada
Um dia fui numa casa noturna na via Dutra
chamada RIOSAMPA, lá pelo final dos anos 90. Uma
casa de eventos onde tinha uma banda que tocava
pagode, samba e, como estava muito em voga na
época, a tal da lambada.
Bem, o lugar era muito grande, cabendo
tranquilamente ali mais de mil pessoas, e nesse dia,
eu era uma dessas milhares de pessoas que
estavam na casa (o lugar estava lotado). Meu
brother, que estava comigo, arrumou uma mesa
daquelas pequenas com o pé alto pra colocar as
bebidas. Sendo assim, compramos um balde de
cerveja e começamos a fazer uma “varredura” no
território a procura das nossas “vítimas”. Em dado
momento, começou a tocar uma lambada que
estava muito na moda na época e, quando olhei pro
lado, tinha uma menina muito lindinha dançando
bem à vontade, curtindo o som e se requebrando no
ritmo. Pensei: — porque não? — falei com meu
amigo e ele me disse o seguinte:
— Vai lá e dá show! — falou isso porque sabia que
eu tinha jeito pra dançar lambada também. Fui com
tudo, com a moral lá em cima, confiante na minha
habilidade e cheguei na menina pedindo-a pra
dançar. Ela, com um sorrisão nos lábios,
prontamente atendeu o meu pedido e começamos
a bailar.
PARTE I – Expectativas
— Nossa, como você dança bem! — disse ela.
— Na verdade, eu só estou te acompanhando, você
que é a dançarina aqui, eu sou só um sujeito
esforçado tentando não fazer vergonha.
— Que bonitinho você, humilde e simpático.
— Como poderia deixar de ser simpático com você,
linda, alto-astral e uma excelente dançarina, você é
apaixonante. Naquele instante, olhamo-nos nos
olhos e demos um beijo daqueles de final de filme de
romance. E foi-se a noite entre beijos e conversas
animadas. A seguir, saímos do local e fomos passar
a noite juntos.

PARTE II – Realidade
— Nossa, como você dança bem!
— Ah, muito obrigada — disse ela
— Você está sozinha aqui.
— Não, estou com meus irmão e minhas primas ali
na mesa do lado da sua — nesse momento ela deu
um giro e se jogou para trás num movimento muito
rápido que não deu para acompanhar. Quando fui
abraçar sua cintura para trazê-la pra cima, foi tarde
demais, não a abracei a tempo de evitar que ela
batesse a cabeça no chão. Quando eu a puxei pra
cima, ela já me afastou e com uma mão na cabeça
gritou com fúria.
— Seu maluco você quer me matar? — e sem
esperar que eu falasse alguma coisa, já desferiu um
tapa no meu rosto, que minha cabeça rodou igual
coruja.
Naquele instante, eu vi com minha visão periférica
um balde de cerveja vazio na direção do meu
crânio, e num ato de muito reflexo, eu me abaixei.
Resultado: O balde pegou na cabeça da menina,
cena padrão filme dos Trapalhões, e dali ela já
estava caindo no chão para bater a cabeça de
novo. Mais uma vez, reflexos apuradíssimos,
segurei-a para amenizar a queda. Só que isso não
adiantou pra toda a família dela, que estava na
mesa ao lado da nossa. Eles avançaram pra cima
de mim, com toda a ira que um ser humano poderia
ter. Graças a Deus, fui salvo por um segurança da
casa, que estava assistindo a todo o cenário e viu
que eu não tive culpa alguma, colocando-se na
frente daquela turba, pra me dar tempo de fugir.
Saí dali sem me despedir do amigo e peguei meu
carro, totalmente frustrado e derrotado.

PARTE III – A noite não acabou


Olhei pro relógio e vi que ainda não era nem uma
hora da manhã de sábado, ainda dava pra tentar
alguma coisa. Renovei minhas esperanças, pois tem
um ditado que diz: “Nunca rasgue o seu bilhete,
porque o trem pode atrasar”. Então, contaminado
por essa injeção extra de ânimo, segui altivo para
buscar outro ambiente para cumprir a minha
“missão” da noite.
Já estava na lagoa, perto do estádio do Flamengo,
e decidi parar no famoso Posto Mengão (tenho
certeza que vai passar um filme agora na mente de
muitos leitores que viveram essa época) para
abastecer. Saí do carro e fui verificar a bomba de
combustível, e quando olhei pro lado tinha uma
menina linda, com os olhos azuis igual ao mar do
caribe, e um corpo estonteante. Confesso que,
naquele momento, eu não desejava parar de olhar
pra ela nunca mais na minha vida. Foi esse
momento, que eu falei algo, que na verdade, era a
pura expressão do meu pensamento, mas o disse
em voz alta, sem querer.
— Bom gosto eu tenho, só não tenho é sorte!
PARTE IV – Expectativas
— Então tenta a sorte, quem sabe ela não sorri pra
você! — abrindo um sorriso lindo, um dos mais
lindos que já tinha visto na vida.
— Ah, se a sorte for tão sorridente quanto você, aí
não seria mais sorte, seria uma graça divina.
Cativei aquele sorriso lindo, momento em que eu
me aproximei olhando-a nos olhos, e sem falar
nada, beijamo-nos ardentemente.

PARTE V - Realidade
— Agora você vai ficar mais sem sorte ainda! —
surgiu uma voz gutural, daquelas de filme de terror
saindo de dentro do carro que estava atrás do meu.
Quando eu olhei, saiu um dos maiores seres
humanos que já vi em toda minha vida, que,
sinceramente, parecia não ter nascido de parto
normal, muito menos de uma mulher terrena. Devia
ser um alienígena, deve ter vindo junto com “Os
Eternos” (heróis do filme da MARVEL), há mais de 7
mil anos e estava desmemoriado. Sem brincadeiras
e exageros, o maluco era gigantesco.
O mamute veio na minha direção e eu
desesperadamente comecei a balbuciar algumas
palavras:
— Desculpa, desculpa — e fui me afastando,
momento em que me virei e iniciei a corrida mais
rápida da minha existência, até então.
Corri tão rápido que teve um momento em que as
minhas pernas não conseguiam acompanhar a
ordem do cérebro de correr mais rápido ainda. Caí
rolando igual salsichão na farinha, mas já estava
bastante afastado, graças a Deus (graças a Deus
mesmo!!!!) .

Com o coração na boca, levantei todo ralado, olhei


pra trás, e graças ao bom Pai, o sujeito não me
seguiu. Dei um tempinho e voltei para o posto pra
pegar o meu carro. Lá chegando, todos os frentistas
estavam rindo de chorar, e um deles se aproximou e
disse:
— Parece que você está sem sorte!
— Pois é, está ruim pro meu lado hoje. Nisso,
quando eu olhei pro carro, o caput estava
amassado e o espelho retrovisor estava no chão
todo quebrado. O frentista que falou comigo
completou:
— O namorado da menina estava com tanta raiva,
que ele deu um soco no caput do seu carro e
chutou o espelho retrovisor. Daí ele disse que agora
estava mais calmo, e nós respondemos — ainda
bem!
— Ainda bem que foi no carro e não na minha cara
— e daí, entrei no carro todo ralado e mancando. O
carro parecia que tinha caído um meteoro em cima
dele.
Conclusão: se eu continuasse naquela busca
frenética pela vitória na noite, o que mais poderia
acontecer de pior? Fui pra casa que era bem mais
seguro.
3. Você me quer, taradinho?
Estávamos no Carnaval, acho que era de 1993 ou
94, não lembro ao certo. Fomos eu, Pedro e Antônio
para uma cidadezinha de praia chamada Piúma, no
Espírito Santo. Cidade agradável, completamente
lotada, várias gatas de tudo que era parte do Brasil,
bloquinhos na rua, muito bacana mesmo. Estava
adorando o lugar, sem muito carioca, o que era bem
importante, porque muito carioca junto em outro
lugar do país era complicado. Era sempre muita
competição, cada um querendo aparecer mais que
o outro.
Bem, era um domingo excepcional, uma noite
estupenda, estávamos numa barraquinha, cujo
dono virou nosso amigo, guardava as nossas coisas
e ainda bebia com a gente.
Conversávamos amenidades quando apareceu,
de repente, uma loira que parecia a Ellen Roche de
tão linda e perfeita. Antônio, chamado por nós de
“magrinho”, acompanhou o andar da loira, como
todos nós fizemos, meio com cara de bobo, com
direito a queixo caído e tudo mais. A loira percebeu
a nossa cara de panaca e começou a rir, e daí o
magrinho foi rápido no gatilho, chegando nela antes
até da gente sequer se mexer.
Pedro desmotivou-se e saiu dali meio frustrado,
mas eu não perdi a esportiva não, fiquei ali
segurando vela numa boa, vai que aparece uma
amiguinha no mesmo estilo?
— Você é muito legal — disse a loira pra mim, cujo
nome era Andressa — vou te apresentar a minha
amiga.
— Obaaa, se for igual a você já pode mandar ela vir
arrumada pro casamento — rebati com as minhas
gracinhas habituais — ela riu e não falou nada, algo
que eu deveria ter desconfiado, mas estava tão
contente com a possibilidade de vir outra Andressa,
que estava nem aí pra nada não.
Enquanto estávamos esperando, eu fiquei olhando
em volta pra ver se achava alguém tão linda quanto
a Andressa, pois na minha mente a amiga seria
alguém daquele nível de beleza, e se fosse mesmo,
seria minha futura esposa.
— Oi Marilda, como você demorou! — falou a
Andressa — meu coração deu uma leve parada —
é ela — imaginei exultante.
— Chegou na hora — eu disse — e quando eu virei
e vi a Marilda.........bem, não era propriamente a
Andressa, muito menos a Ellen Roche, mas OK, tá
valendo mesmo assim.
Carnaval, cidade bonita, noite linda, comecei a
colocar várias atenuantes pra me acostumar com a
ideia de formar um par com a Marilda.
Papo vai, papo vem, e cada um firmou o romance
com suas respectivas, com direito a beijos, abraços,
carícias, etc. Num dado instante, o magrinho falou:
Carnaval de Piúma

— Vamos para o apartamento que elas estão aqui,


nêgo! (esse era meu apelido até então).
— Com certeza, ô da magreza, é aqui perto?
— É sim, respondeu a Marilda.
— Então vamos.

PARTE I – Expectativas
Todos entramos no elevador e fomos para o
apartamento delas. Quando entramos, vimos um
apartamento bem grande com uma sala bem
bacana, e assim que chegamos, a Andressa já
tratou de colocar um som bem insinuante para
todos. Ao som daquela música, começamos a nos
beijar, e cada casal foi para cada quarto, tirando a
roupa e fechando a porta. Depois do “rala e rola”
com a Marilda, ela virou-se para mim e disse:
— Peraí que eu tenho uma surpresa pra vocês, ela
pediu para eu fechar os olhos e quando pediu para
abrir, já não era mais a voz da Marilda, ERA A VOZ
DA ANDRESSA.......sim, elas trocaram de quarto tipo
aqueles filmes de sessão da tarde, de festinha em
fraternidade de Universidade americana —
irmãooo!!! A Andressa cara, que demaisssss —
Enfim, olhei para o Céu e dei uma piscadinha para o
Criador pensando: — É, agora o Senhor caprichou.

PARTE II - Realidade
Chegando no prédio, o magrinho e a Andressa
foram rápidos para o elevador e se trancaram lá
dentro e subiram, mas não sem antes ter ouvido
risinhos sarcásticos deles dois.
— É, parece que teremos que ir de escada, falou a
Marilda. Olhei dentro dos olhos da Marilda e estava
sentindo algo diferente no ar, parecia uma
armação. Mais tarde, entenderia que não era uma
armação, e sim uma verdadeira cilada mesmo
(lembrei daquele filme Cilada.com......rindo aqui)
— É sim, parece — respondi meio seco.
Dali pra frente foi só derrota. Quando eu entrei no
hall da escada, a Marilda deu uma corridinha, subiu
uns três degraus da escada, encostou-se na
parede, e com o dedinho na boca começou a
escorregar para baixo, subindo e descendo,
sensualizando aquele momento, dizendo:
— Você me quer, taradinho? — Bom, já estava ali
mesmo, e seria algo meio diferente do que eu estava
acostumado, porque não? Fui de encontro a ela
para pegá-la pela cintura e largar o aço em cima
dela, mas ela foi mais rápida e subiu mais uns três
degraus, escorregou na parede, dedinho na boca,
etc, dizendo:
— Ahhh, vem me pegar, seu tarado! Tá certo, um
charminho a mais, tá valendo, e fui rindo, entrando
no jogo, fazendo cara de tesão, momento em que
ela subiu mais 3 degraus, e o resto vocês já sabem.
— Você me quer mesmo, taradinho? Porra, aquilo já
começou a me aborrecer, mas compreendi e fui de
boa pra cima da Marilda. Ela, novamente, subiu mais
uns dois ou três degraus, etc, etc, etc, até o quarto
andar onde ficava o apartamento delas.
Cheguei cansado, meio puto com a situação, mas
ainda estava vislumbrando algo que compensasse
todo aquele esforço. Quando entrei na sala, a
Marilda me abraçou pelas costas, e pensei: —
finalmente vou conseguir agarrar de jeito esta
mulher, mas quando virei-me de frente para beijá-la,
ela se abaixou e foi me beijando o pescoço e
baixando devagar — ahhh, até que tá bem
gostosinho isso aqui —, mas sabe como é, alegria
de pobre dura pouco, diz o ditado, e foi exatamente
isso que aconteceu.
Quando ela chegou na altura da cintura, ela deu
uma dentada no “dito cujo”. Dei um berro alto:
— AIIIII PORAAAAA!!! E a Marilda, olhou pra cima e
falou entre os dentes:
— É tesão, taradinho?
— Tesão é o car&*#@%*, sua maluca! — E afastei
ela, com jeito, somente pra sair daquela posição
dolorida e constrangedora, e fui bater lá na porta do
quarto onde estava o magrinho com a “Andreusa”
(Andressa Deusa).
— Abre essa porta, pelo Amor de Deus, vombora
magrinho, essa mulher é maluca, magrinho! tô
saindo fora, quero saber de doida não, tá de
sacanagem, vai morder a PQP.....e saí dali batendo a
porta do apartamento e peguei o elevador pra
descer (ainda bem que dessa vez usei o elevador).
Quando cheguei lá embaixo, me chega o magrinho,
também todo esbaforido por ter descido de escada
correndo.
— Que foi nêgo? — Contei toda a história (ou
estória) pra ele, e o safado riu de nervoso, porque
quando estava quase nos “finalmentes”, deu-se
início aquela palhaçada toda. Ele se compadeceu
da minha situação e não ficou tão chateado por ter
perdido a “Lua de Mel” com a “Andreusa”.
Voltamos pra barraca do Abreu, o nosso recém-
amigo de Piúma, e contei toda a minha “saga” pra
ele, que riu tanto que chegou a se babar. Ele ficou
com tanta pena de mim, que bebi de graça o resto
da noite com ele, o que não chegava a compensar
tudo que passei, mas era o que tinha para o
momento.
4. Mulher Tocha Humana
Dessa vez estava na cidade de Belém, no estado
do Pará. Fui a trabalho com amigos, e depois do
trabalho executado, tivemos uma folga no final de
semana, e partimos para um local que se chamava
DOCAS BOULEVARD. Nesse lugar, tinham vários
barzinhos bem arrumados, com uma galera bem
bonita, parecendo ser o “point” da cidade.
Fui com a galera para um daqueles barzinhos,
indicação de um amigo nosso de trabalho que
morava em Belém havia algum tempo. Meti a minha
melhor roupa, uma camisa prateada (prestem
atenção nisso, vai ser importante mais pra frente)
que comprei à prestação numa loja de roupa
masculina caríssima aqui no Rio. A calça também
era dessa loja, da última coleção da época, ou seja,
estava bem estiloso e preparado pra balada.
Pedimos uma mesa para dez pessoas,
começamos a beber, falar besteiras e mentiras
para diversão de todos.
O papo estava excelente, mas já era hora de
começar a ser profissional e sair atrás do objetivo
de todo “testicocéfalo” (como chamávamos na
época àqueles que só pensavam com a cabeça do
membro reprodutor).
O bar em que estávamos tinha uma parte interna
gigantesca, onde havia uma pista enorme que
rolava sempre um show de uma banda local ou
artistas convidados.
Mas antes de entrarmos na pista, chegou na
mesa um amigo nosso, cujo o apelido era DiCaprio.
Ele estava vestido com uma calça preta e por cima
uma camisa roxa. Daí, eu falei o seguinte:
— Irmão, tá pensando que tá numa festa a
fantasia, veio fantasiado de Gorpo do He-Man? (ele,
afrodescendente como eu, só que de noite e com
calça preta, só aparecia em destaque a camisa, o
que dava a impressão dele flutuar com a camisa
roxa, exatamente igual ao Gorpo do He-Man).
Importante dizer que naquela época não tinha
muito essa coisa de tudo ser racismo. Enfim, todos
na mesa riram, e também todos que estavam nas
mesas ao lado. O meu amigo Sérgio me olhou com
aquele risinho amarelo do tipo, “Vai ter volta”.
NOTA: O apelido todo era "DiCaprio ao
contrário".....a imaginação dessa galera era algo
impressionante!!!!!....rindo sozinho, lembrando.
Tinha um detalhe bem interessante no local:
quando se entrava na parte interna do bar com a
banda tocando, todos recebiam uma numeração
que era colocada presa à camisa. Não entendi o
porquê daquilo, mas logo, logo saberia. A banda
estava tocando Legião Urbana e todos muito
empolgados. Chegara o momento do intervalo e
percebi que o vocalista da banda recebeu um
bilhete e logo em seguida ele pegou o microfone e
falou:
— Número 37, o número 83 falou que você é linda e
mataria um boi com um tapa só pra ter o seu
telefone. — Ah, então era tipo uma azaração
aquela parada de numeração, que original! Logo a
seguir, vi que o vocalista abria outro bilhete e repetiu
o gesto:
— Número 111, — caramba, era o meu número! —
pensei na hora que deveria ser uma lorinha bem
bonitinha que estava na minha diagonal a uns
poucos metros de mim. Ri silencioso, com a certeza
da vitória. O vocalista continuou:
— Você que tá com essa camisa prateada, tá
parecendo papel laminado de enrolar em bombom,
e pelo jeito, esse bombom tá estragado! — Ah
maluco! — olhei em volta do palco e estava lá o
meu amigo vingativo Sérgio, rindo de se contorcer
de dor.
Os olhares do bar, todos voltados pra mim, e foi
aquela risada geral. Agora era o meu momento de
dar aquele sorrisinho amarelado, pra transparecer
que eu não perdi a esportiva, mas, como dizia a
música da Legião Urbana que tinha acabado de
tocar, “Era só ódio por dentro”.
Passado esse momento, resolvi acender o meu
cigarro e pedi uma bebida ao garçom que passava
por ali, meio que pra esquecer que virei chacota de
um bar inteiro.
Depois de uns minutos, terminando o cigarro
(naquela época podia-se fumar dentro de
ambientes fechados), aquela loirinha lindinha que
eu achava que estava me dando mole e havia
mandado o (fatídico) bilhete pro vocalista, chegou
perto e me pediu o isqueiro:
— Você tem fogo? O idiota aqui resolveu, do nada,
dar uma de exibido pra menina, e peguei o zippo
que eu tinha e fui acender daquele estilo cowboy
americano, riscando na perna.

PARTE I – Expectativas
— Nossa, adorei o seu estilo, disse a menina.
— Obrigado, são anos de prática.
— Eu não estava falando só do zippo.
— Ah não é? Você estava falando de quê então?
— Você não imagina?
— Não.
— Eu to falando de você, seu bobinho. E daí, eu ri e
a beijei com toda a paixão que brotava no meu ser
naquele momento insólito. Depois desse beijo ela
falou:
— Vamos pra minha casa, quero este estilo todo só
pra mim hoje.
— Pode deixar, que o “estilo” já tá indo. E fomos
para casa dela onde fomos felizes até de manhã.

PARTE II – Realidade
Dito e feito, acendi o zippo na perna e, sem mesmo
olhar pra menina, direcionei a chama na direção
dela. Só que, como eu não estava olhando, eu errei
a boca dela, que estava com o cigarro esperando
pela chama do isqueiro, e o zippo aceso foi parar no
cabelo dela.
Assim, sendo sincero, não sei o que diabo ela
estava usando no cabelo, só sei que,
instantaneamente, pegou fogo.
— CREDO!!! — Gritei. Subiu uma labareda que doía
só de olhar. A menina, coitada, parecia aquele herói
do Quarteto Fantástico, o Tocha Humana, só que
mulher.
Não consegui articular uma palavra, nem mexer
um músculo sequer, tamanho era o meu terror com
a situação, pensando na merda que eu acabara de
fazer. Nisso, passou um garçom na hora, e
derramou um balde de gelo, que ele trazia na
bandeja, na cabeça dela. Logo depois, imaginem
aquele cheiro de cabelo queimado, a menina toda
molhada, com cara de choro, igualmente sem
entender o que acabara de acontecer. Bem, não
deu nem tempo de eu pedir desculpas, porque senti
dois braços, cada um por baixo de cada axila
minha a me suspender, levando-me pra fora do bar,
atirando-me lá na rua.
— Que isso mano, o que aconteceu lá dentro? —
Perguntou um rapaz que estava na porta do bar.
— Acabei de incendiar uma menina lá dentro.
— Porquê mano, como assim?
— Irmão, se eu tivesse a resposta pra essa sua
pergunta, eu certamente te daria — e saí dali
andando, com a cabeça baixa, tentando decifrar o
porquê de tudo aquilo que tinha acontecido. Vejam:
virei motivo de piada para um bar lotado, ainda por
cima, paguei de Nero (Imperador romano que
colocou fogo em Roma)........é muita coisa pra uma
pessoa só.
5. Gringa do EL TURF
Tinha uma casa noturna no Rio, no Jockey Clube e
era a sensação da juventude da época, o famoso
EL TURF. Um ambiente grande, com aquelas
chopeiras na mesa onde você poderia tirar seu
próprio chope, e obviamente, pagar por isso.
Quando a turma ia pra lá, tínhamos um
procedimento padrão: passávamos sempre no
Baixo Gávea antes.
Baixo Gávea era o nome dado a um amontoado
de barzinhos em frente a uma pracinha, que se
localizava quase na frente do EL TURF, a poucos
metros. O pré-night era bastante divertido lá,
porque era na rua, e tinha uns mais afoitos que já
chegavam frenéticos nas meninas por ali mesmo.
Eu não era um deles, porque lá no Baixo Gávea era
um ambiente aberto, e na minha concepção,
dificultava a minha aproximação. Na verdade, acho
que no fundo mesmo, eu era tímido e com
autoestima variável e dependente de diversos
fatores para que eu me sentisse a vontade pra rolar
uma azaração. Ambiente aberto, decididamente,
não era um desses fatores.
Enfim, chegada a hora, todos entramos no EL
TURF, como sempre lotado e muito bem
frequentado. Nesse dia, acho que tinha uma
excursão de gringos (o aspecto deles não indicava
que eram brasileiros).
Ficamos em uma mesa próxima aonde os gringos
se concentraram, e dali começamos a traçar as
nossas estratégias para aquela noite.
Eu confesso que, naquele dia, estava meio
desestimulado, com a moral bem baixa, muito
pouco entusiasmado se ia pegar mulher ou não.
Estava ali porque me colocaram uma pressão
danada. Minha vontade era de ter alugado um filme
(naquela época ainda tinha Blockbuster) e ter
ficado em casa.
Saí da mesa e fui para o bar, que ficava ali
próximo e pedi um drink maravilhoso, um tal de Kir
Royal. Esse drink era uma mistura de champagne
com licor de cassis, que custava os olhos da cara.
De qualquer forma, precisava de algum estímulo e,
como tinha acabado de receber meu santo e suado
salário, resolvi pagar de rico.
Rapaz, quando eu olhei para o lado, tinha uma
ruiva com os olhos verdes, mas um verde tão
intenso que nem parecia real. Ela estava me
encarando de tal forma, que cheguei a ficar
arrepiado. Parecia ser daquele grupo de gringos
que estavam ao lado da nossa mesa. Assim, aquela
encarada daquela menina linda, linda não,
exuberante, comecei a desconfiar daquilo, porque
não podia ser real — será que é pegadinha do
Faustão? — Pensei.
Mas, não era nada disso, ela realmente estava me
encarando, e foi ela que deu o primeiro passo,
tentando falar em espanhol comigo. Perguntei se ela
falava inglês, porque entre falar o “portunhol” e falar
o inglês paraguaio, preferia a última opção.
Embalamos um papo bem interessante. Ela me
disse que era holandesa e estava com um grupo de
comissárias e comissários de bordo da companhia
aérea holandesa chamada KLM. A coisa estava
fluindo com uma facilidade absurda, — tá tudo
muito bom pra ser verdade, tá estranho! —
Desconfiava, mas, ao mesmo tempo, curtia cada
segundo daqueles momentos ao lado daquela
mulher linda, linda, linda.
Acho que tinha toda mística da gringa vir pro
Brasil e experimentar um afrodescendente local.
Antes que alguém fale alguma coisa, o
“experimentar” neste contexto seria no sentido de
se relacionar. Muito provavelmente, eu estava
sendo o felizardo da vez.
Depois da gente ter ido pra pistar “dar um dance”,
como a gente dizia na época quando ia dançar,
resolvemos que iríamos para o hotel dela passar o
resto da noite, e o dia seguinte também, para
aproveitarmos os últimos momentos dela no Brasil.
Saímos dali, pegamos um táxi e fomos para o hotel
Sheraton, na subida da avenida Niemeyer, em
direção a São Conrado. Perguntei pra ela se não
teria problema de entrar lá, e ela me disse que não
costumam perguntar nada. Desta forma, concluí
que eu não era o primeiro a estar com ela naquela
situação. Engraçado que me passou um sentimento
de estar sendo usado sexualmente, porém, logo
veio à mente uma frase, que sem querer, falei alto:
— AINDA BEM PORRAAA!!!! e cerrei meu punho
naquele gesto de vitória, momento em que a gringa
me perguntou:
— Are you all right? (você está bem?).
— Yes, don’t bother (sim, não se preocupe), olhei-a
com aquele ar de contentamento, que só os poucos
que já passaram por um momento parecido podem
compreender.
Chegamos no hotel, passamos pela recepção e,
dito e feito, somente foram gentis, dizendo-nos boa
noite em inglês e dali pegamos o elevador e fomos
para o quarto.

PARTE I – Expectativas
Entramos no quarto dela, perfume de rosas no ar,
uma cama king size gigantesca. Fomos pra
varanda do quarto, a noite estava linda com uma
lua esplendorosa. Ela levou uma champagne pra
comemorarmos aquela ocasião tão especial.
Bebemos cruzando os braços como se
estivéssemos comemorando o nosso casamento, e
aí ela falou pra mim (vou colocar a tradução já pra
não perder tempo):
— Que noite linda, que companhia agradável, não
poderia estar tão bem quanto agora.
— Eu posso te dizer, com toda certeza, que este
instante é um dos melhores da minha vida, vou
guardar na memória para o resto da minha
permanência neste planeta.
— Que lindo e exagerado que você é! Ato contínuo,
beijamo-nos apaixonadamente, daqueles beijos
que a gente sente arrepio na nuca e borboletas no
estômago.
Após isso, fomos para cama nos beijando e
daquele momento pra frente, a mágica aconteceu.
De manhã acordamos e o sol brilhava com uma
intensidade diferente naquela manhã. Trocamos
carícias, beijinhos estilo pinguim (narizinho com
narizinho, bem fofinho), tudo que um casal
apaixonado faz, ou faria num momento daqueles.
Tomamos o nosso café, fomos pra piscina,
corremos na praia particular do hotel, voltamos
para o quarto para namorar mais um pouco, fomos
almoçar. Um dia intenso de romance e paixão como
nunca havia tido antes.

PARTE II - Realidade
Entramos no quarto e ela me arrastou
imediatamente para o banheiro, mal chegou no
banheiro e ela já foi tirando a minha roupa, numa
voracidade impressionante, mas, ao mesmo tempo,
alucinante de bom.

Quando eu fui tirar a roupa dela, alguém começou


a esmurrar a porta do banheiro gritando algo que
não consegui compreender.
— O que é isso? Perguntei.
— É a minha companheira de quarto, está bem
chateada, porque você está aqui e combinamos
que não levaríamos mais homens, nem mulheres
para o nosso quarto (Obs.: mulheres??? porque eu
não a conheci antes?).
A companheira de quarto dela continuou a
esmurrar a porta e gritar algumas coisas que devia
ser em holandês e a minha gringa começou a
responder também, gritando. Eu, imediatamente,
coloquei a minha roupa, mas quando eu estava
com a calça no joelho, a doida da companheira de
quarto dela conseguiu abrir a porta e entrou
parecia um furacão. Eu tentei sair dali pra terminar
a me arrumar e sair correndo, mas quando eu dei
um pulo na direção do corredor logo após o
banheiro, a doida pegou um taser (arma que te dá
um choque elétrico punk) e largou em cima de
mim.......…olha, não sei descrever a dor que eu senti,
cai no chão com metade do corpo no banheiro e
outra metade no corredorzinho que ia para porta
do quarto. Fiquei de bunda pra cima (sem cueca
pra piorar, porque ficou agarrada na calça na
altura do joelho) com os braços na perna, e não
conseguia falar nada.
Minha boca travou com a língua pra fora,
totalmente imobilizado, parecia um leitão a
pururuca. A minha cara estava de lado, graças a
Deus, porque senão ficaria com a cara no chão e
me causaria mais dor e desconforto. Mas o pior
ainda estava por vir.
O detalhe maior foi o seguinte: a amiga dela
entrou no quarto e quando ouviu o barulho no
banheiro, entrou sem fechar a porta. Sendo assim,
começou a juntar uma pequena plateia na porta do
quarto delas.
As duas nem se importaram comigo e
continuaram a discussão, gritando uma para outra.
A crise escalou e elas começaram a se bater, e
quando a amiga doida pisou em cima de mim, ela
me deu um bico na bunda (sem cueca) com toda a
força que ela poderia ter.
Meus amigos, fiquei reticente de contar o que
aconteceu depois do bico, mas tenho que ser
sincero pra vocês. A porra da gringa estava
calçada com um salto de bico BEM fino, e quando
ela me deu o bico na bunda, sem cueca, a ponta
entrou um pouco lá no furico! Irmãoooo, que dor
FDP. Dei um URRO DE DOR:
— MMMMMMMMMMMMMM (só saía este som, por
conta da língua travada fora da boca).
E nisso, a plateia que já estava rindo, nesse
momento, gargalhou de gritar.
Umas senhoras que estavam assistindo àquilo,
ficaram chocadas com a cena e gritaram:
— MEU DEUSS!!
É, meus amigos, meu DEUS, sim! Imaginem agora:
eu estava no chão, com a bunda para cima, sem
cueca, com a pontinha do salto cravado no ânus,
braços para baixo segurando a calça no joelho,
cara para o lado com a língua pra fora. Se vi cena
pior em filmes de pornô bizarro, não me lembro!
Lágrimas escorriam pelos meus olhos. A gringa
"descravou" o salto, e acho que já ia dar outro bico,
mas chegou um iluminado do hotel e foi logo me
acudir. O rapaz chegou a perguntar:
— O que está acontecendo senhor?
— MMMMMMMMMMMMMMMM — só conseguia
grunhir igual um porco.
Olha, longe de ser igual, mas me veio aquela
cena do filme PULP FICTION, que tinha um
personagem chamado Marsellus Wallace, que foi
amordaçado com uma bola de sinuca na boca.
— Espera que vou ajudar o senhor a levantar, disse
o rapaz do hotel. Quando ele conseguiu me
levantar, por um milagre divino, meus movimentos
começaram a voltar e eu imediatamente, com
muito esforço, terminei de colocar a calça e falei:
— Amigo, disse lacrimejando — gostaria de ficar
pra te dar explicações, mas só quero ir embora
daqui.
— Pois não senhor, aproveita que o elevador ainda
está neste andar.
Fui embora com tanta dor que parecia que eu
tinha sido atropelado por um caminhão.
O pior não foi a dor física, FOI A DOR MORAL
(explicações no Capítulo Final)!!! Fui deflorado irmão,
PQP!!!
Cheguei na portaria e pedi para que me
arrumassem um taxi urgentemente.
Cheguei em casa com muita raiva da vida,
imaginando porquê eu merecia aquilo: choque
elétrico, ridicularizado, e, sodomizado!!! — CACETA,
Marsellus Wallace não! Só me vinha isso a cabeça
de tão traumatizado que fiquei.
Hoje eu dou gargalhadas disso (tragicômico), mas
na hora, foi deprimente demais.
Por fim, só tenho a dizer o seguinte: o limite da
extrema felicidade e da grande tragédia
REALMENTE é muito tênue.
6. O Fugitivo da Kombi

Para IHUUUU!!!!
insanidade!!!
Certa vez fui passar o pós-Carnaval em Arraial da
Ajuda, depois de ter passado o Carnaval em
Salvador.
Fui com uma galera grande, umas 8 cabeças,
todos esperançosos de ter um período incrível lá em
Arraial da Ajuda, porque alguns já tinham ido e
falavam que, realmente, era algo espetacular. Eu
nunca tinha ido e estava cheio de expectativas
positivas. No meu pensamento, não teria como sair
dali no “zero a zero” (era como dizíamos quando
não se conseguia beijar uma boca sequer na
balada).
Para chegar a Arraial da Ajuda, tinha que pegar
uma balsa em Porto Seguro e dali seguir para
Arraial da Ajuda.
Seguimos o roteiro, pegamos a balsa rumo a
Arraial. Na balsa iam vários carros também, no que,
invariavelmente, alguns colocavam o som alto e já
iniciavam ali mesmo o Carnaval do lugar.
Achei uma “vibe” muito legal, galera colocando
Axé, ensaiando os passinhos, geral numa diversão
que não tinha fim. A minha turma engajou numa
coreografia com uma galera de São Paulo e alguns
baianos. Eu também não perdi a oportunidade e me
juntei a eles. Quando eu comecei a dançar,
apareceu do meu lado uma morena de cabelo
castanho claro, um corpinho de modelo, com um
sorriso lindo.
Ela tentava me acompanhar na dança, com uma
simpatia sem igual. Iniciei um diálogo e percebi que
ela tinha um sotaque espanhol. Perguntei de onde
ela era, e ela me disse que era da Argentina. O som
rolando, a gata dançando, todos se divertindo, eu ia
querer mais o que na vida?
A balsa chegou ao seu destino em Arraial, e todos
começaram a sair da balsa. Eu já tinha engatado
um papo com a argentina, que estava sozinha indo
pra Arraial para encontrar com a sua turma.
Coloquei-me a disposição para levá-la até a sua
turma de forma que ela não ficasse sozinha até lá:
— Você faria isso?
— Lógico, não deixaria uma menina linda como
você sozinha em nenhum lugar do mundo.
— Ah, muito obrigada, disse com os olhinhos
brilhando. A esta altura, já sentia o doce sabor da
vitória, mal começando o pós-Carnaval, algo
inacreditável para mim. Portanto, aproveitando
essa maré de sorte, dirigi-me com a argentina e
meus amigos a uma das Kombis, que ficavam no
cais ali de Arraial. Essas Kombis levavam os turistas
até o centro da cidade, onde ficava o comércio e as
hospedagens.

PARTE I – Expectativas
Entramos todos na Kombi e sentei-me do lado da
argentina linda.
— Você já sabe onde você vai ficar?
— Ainda não, meus amigos é que vão me levar pra
lá. Marcaram comigo na praça onde chegam essas
kombis aqui, segundo o que eles me disseram.
— Queria muito ir com você, ficar com você, porque
este nosso encontro não pode ter sido por acaso,
não pode — e olhei pra ela, com aquele olhar estilo
“gato de botas”, e daí, ela juntou suas mãos no meu
rosto e disse:
— É, não pode ser por acaso mesmo! E me deu um
beijo na boca, como se já fôssemos velhos
amantes.
A minha galera começou a gritar dentro da Kombi
— Aê nêgo, esse é “o cara”!
— Dá-lhe nêgo, uhuuuu!
Nesse momento eu me virei pra ela e disse:
— Olha, estou numa pousada num quarto grande e
sozinho, não queria perder este momento com
você. Encontrando seus amigos, se a gente se
afastar agora, a probabilidade da gente se
encontrar depois é muito pequena. Caso isso
aconteça, com certeza alguém vai te roubar de
mim, e você não estará mais sozinha.
— É, você tem razão, vou com você, depois você
me leva para onde vou ficar. Continuei a beijar a
minha argentina linda até a kombi chegar no
destino.
balsa de arraial

Desci com ela e logo em seguida, ela avistou seus


amigos e se dirigiu a eles, no que eu a acompanhei
também.
Ela cumpriu o que falara, deixou suas coisas e
nos dirigimos para pousada onde eu me
hospedaria. Essa pousada ficava ao lado de onde
todos os meus amigos iam ficar, porque quando
reservamos essa pousada, era um pacote único.
Como não tinha mais quartos nessa pousada e já
havia pago o pacote, ofereceram-me um quarto
bem maior nessa outra pousada, pelo mesmo
preço (acho que eram os mesmos donos, embora a
minha pousada fosse bem mais luxuosa do que a
dos meus amigos). Fomos a pé e abraçados para
minha pousada, que ficava a apenas algumas
quadras ali da praça das Kombis.
Chegando na pousada, fiz o check-in e peguei a
chave, dirigindo-me imediatamente para o meu
quarto. Lá chegando, começamos a nos beijar
fervorosamente e nos amamos loucamente, como
se não existisse o amanhã.

PARTE II – Realidade
Entramos na Kombi, e me sentei do lado da minha
argentina linda, momento em que o motorista da
kombi saiu dizendo que ia fazer um lanche e depois
voltar.
— Ô motorista, você tá prejudicando o nosso
Carnaval, cada minuto é precioso pra gente, come
depois! Falou um amigo meu que era conhecido
como “insanidade” (vocês verão que, o próprio
apelido já diz tudo dele).
— Meu rei, falou o motorista, só tenho a dizer o
seguinte pra vocês: ema-ema-ema, cada um com
seus “pobrema”.
— Tá bom então, vai là...(pausa)...meu rei! Falou o
insanidade com aquele olhar de lunático que não
era um bom sinal, e não era mesmo, como eu iria
perceber logo a seguir. A essa altura, eu e a
argentina acompanhávamos aquele diálogo com
bastante apreensão, e não era pra menos. A gente
só não imaginava o que aconteceria minutos
depois.
O insanidade esperou o motorista se afastar, e
quando ele entrou num bar, o insanidade pulou
para o banco do motorista, ligou a kombi e gritou:
— Cada um com seus “pobrema” mesmo, seu
FDP!!!! E meteu o pé no acelerador e partiu com
tudo na kombi, padrão daquelas cenas do filme
“velozes e furiosos”.
— Para insanidade, porra, tá maluco!! Gritou um
amigo nosso.
— Yeaaah man, speed it up bro!!! (Isso aê homem,
acelera irmão) gritou um gringo, que devia ser
americano pelo sotaque, e já estava na kombi
quando entramos. Devia ser dodói também, da
mesma “tribo” do insanidade.
— Para com essa maluquice, insanidade, vai
estragar o nosso Carnaval, irmão! — falei pra ele,
mas ele “cagou e andou” pra mim.
— Arrepia maluco! Gritou outro amigo nosso,
totalmente desiquilibrado igual o insanidade.
— Cala boca chokito! Falei pra esse amigo, cuja
cara era cheia de acne, igual aquele chocolate
chokito.
— Ihuuuuuuuu! Gritava o americano, no que foi
seguido pelo chokito,
Nisso, tinha uma senhora que estava na kombi,
que após gritar: — Ai meu Deus! Desmaiou no
banco, no que foi acudida por um outro amigo
nosso, abraçando-a dizendo:
— Calma minha senhora, isso tudo é uma grande
brincadeira, foi tudo combinado — disse na
péssima tentativa de acalmar aquela pobre
senhora.
Cara, aquilo tudo devia ser algo semelhante a
uma fuga de hospício, um verdadeiro show de
horrores.
A minha gringa segurava forte no meu braço
enquanto o insanidade subia a ladeira com toda a
velocidade, derrapando na areia, parecendo
aquelas corridas OFF ROAD, que passava na TV.
Quando a kombi partiu, ainda deu tempo de ver o
motorista com um pão na boca, um copo que devia
ser de café na mão, e correndo desesperado para
alcançar a kombi, mas já era muito tarde para isso.
No final da reta em subida, que estávamos a
toda velocidade, tinha uma curva bem fechada, e o
insanidade tentou fazer a curva. Fez muita força,
mas o volante da kombi, com aquela folga peculiar,
não conseguiu acompanhar a curvatura de 90º e só
aconteceu o certo.....a kombi se chocou com uma
árvore já no final dessa curva. O insanidade não se
fez de rogado e meteu o pé no acelerador,
novamente, para iniciar uma nova corrida.
— A gente vai morrer! — gritou o nosso amigo que
acudiu a pobre senhora.
— Arrepia insanidade!
Gritou o chokito batendo no banco da frente e
dando risadas, feliz da vida, como se estivesse num
parque de diversões.
— Para seu mongoloide maluco! Gritou outro.
Outra curva se aproximava, mais amena que a
anterior, e o insanidade, desta vez, diminuiu a
velocidade para completá-la. Ao final dessa curva
havia uma barreira policial com umas duas viaturas
e um policial no megafone gritando:
— Para senão vamos atirar!
— Para insanidade, pelo amor de Deus! Falou um
amigo nosso que estava exatamente atrás dele. O
insanidade parou e ficamos estáticos dentro da
kombi, sem nos mexer. A argentina começou a
chorar, e a polícia entrou e mandou todos saírem
com as mãos pra cima.
Saímos da Kombi, e a minha argentina saiu
tremendo e chorando copiosamente, momento em
que o policial falou:
— As mulheres estão liberadas, ficam aqui só os
“arrojados”! Nesse momento saíram a senhora e a
argentina, que saiu sem se despedir. Nesse
instante, eu percebi que todo aquele romance que
havia programado, mentalmente, acabara de
terminar da maneira mais inacreditável e cruel
possível.
— FUCK YOU PIG! ( F@%*#$ porco!) — gritou o
americano dodói e ainda cuspiu no chão (acho que
PIG era uma gíria americana para se referir a
polícia). O policial que estava na frente dele
imediatamente aplicou-lhe um “pescoção” (tapa no
pescoço) daqueles de fazer barulho e estalar até a
espinha dorsal. Ele não quis saber nem o que isso
significava na nossa língua.
— Mais algum valente aí? Perguntou o policial do
tapa.
— Não senhor, gostaria somente de explicar que
isso foi um terrível mal entendido! falou o nosso
amigo, cujo apelido era “Tonho Pilantra”, porque
era um tremendo 171 (sujeito malandro em quem
não se pode confiar), daqueles que ia te passar pra
trás por qualquer coisa. Ele era tão convincente
nisso, que mesmo sabendo que era enrolação,
você acabava caindo no golpe.
— Então fale, meu rei, o que eu entendi mal aqui?
Até agora to entendendo que vocês roubaram um
veículo de transporte público e ainda colidiram com
ele danificando o patrimônio alheio. Então, digue aí,
o que está mal entendido nisso?
— Senhor, não sei se o senhor viu uma menina que
saiu correndo chorando daqui (ele estava se
referindo a minha argentina).
— Sim, continue.
— Pois então, o motorista saiu da kombi dizendo
que ia lanchar e, pelo jeito, ele ia demorar-se um
pouco. Nesse instante, a menina começou a passar
mal e dizer que estava com muita dor e mais
alguma coisa que não conseguimos entender,
porque o português dela era muito difícil de se
compreender.
— Sim, continue.
— Daí, o nosso amigo Bruno (abro um parêntese
para informar que esse era o nome fictício do
insanidade), num ato de muita coragem e
preocupação com o próximo, pegou a direção e
estava indo na direção do Centro aqui da cidade. A
intenção era a de chegar num posto de saúde.
— Sei, a gringa tava passando mal é? E seu amigo,
motorista de ambulância foi socorrer, né isso?
— Quanto ao “motorista de ambulância”, achei
engraçado, mas não concordo muito com a
comparação.
Caso o nosso amigo tivesse a habilidade de um
motorista de ambulância, não teríamos colidido o
veículo. E Tonho continua no convencimento:
— Mas foi isso mesmo senhor! não teria porque
mentir, e de mais a mais, o senhor consegue ver
alguma outra explicação para isso? O senhor acha
que roubaríamos esta kombi velha, cheia de turistas
e amigos, pisando fundo, colocando a vida de todos
em risco pra quê?
— Olhe rapaz, você é bom hein!!! Tudo mentira, mas
é Carnaval e não quero prejudicar a vida de
ninguém, muito menos a minha. Vamos fazer o
seguinte: vocês vão levar esta kombi pra oficina de
Miltinho (dono da única oficina que tinha em Arraial,
eu acho) e vocês vão pagar o conserto dela. E tem
mais: vocês vão pagar a diária de Norildo, o
motorista, e o que ele deixou e vai deixar de ganhar
com esta peripécia de vocês, tá certo?
— Está justo, né galera? O Tonho perguntou pra
gente, no que respondemos em coro:
— Tá sim, senhor!
— Fuck you mother fucker (F@%*#$ FDP)! Outra
vez o descompensado do americano gritando e
cuspindo no chão. Tomou mais duas porradas no
pescoço: uma do policial que estava dialogando
com a gente; e outra do policial que o
acompanhava.
Mas foi isso
mesmo senhor!

Ele deu tão forte que o gringo chegou a ficar com


torcicolo (não conseguia virar a cabeça para lado
algum depois desse tapa).
— Então tá tudo certo, vá com eles lá, Cabo Bebeto
(o policial que causou um torcicolo no gringo), entre
lá e leve a kombi pra oficina.
— E este aqui, Sargento? O Cabo Bebeto
perguntou para o nosso interlocutor, colocando as
mãos no ombro do gringo.
— Esse aí vai ficar mais um cadinho com a gente
para se acalmar mais um pouco, afinal de contas, é
Carnaval, né não Tininho? (falou olhando pro
americano) Não pode ter ninguém estressado
nesta cidade — e torceu o braço do americano pra
colocar as algemas, no que ele deu um grito de dor,
que chegou a doer em mim.
Esse com certeza teria uma sessão de
“desestresse” especial e voltaria pro carnaval um
novo homem.
O que eu não entendi foi que o policial se dirigiu
ao gringo chamando-o de “Tininho”. Porque isso?
Será que era tipo uma gíria local para estrangeiros?
Antes de entrar na Kombi de novo, aparece no
horizonte, o Norildo, o motorista, com meio metro de
língua pra fora, um presunto grudado na camisa
toda manchada de café e gritando:
— Libera esses FDP não!
— Calma Norildo — falou o Sargento — já tá tudo
resolvido, vá com eles na Kombi pra loja de Miltinho,
que eles vão pagar o conserto e te dar um troco aê
como combinado.
Não preciso dizer que morremos numa grana
considerável, e depois desse acontecimento, voltei
a minha normalidade de “tocos”, só que agora, com
recursos financeiros minguados.
Mais uma vez, comprova-se aquela minha tese
levantada no episódio do hotel Sheraton: é tênue a
linha que divide a extrema felicidade da tragédia
completa.
NOTA 1: Viemos a saber depois que o “americano”, na
realidade era um brasileiro, gaúcho eu acho, de nome Walter,
ou Tininho como era chamado. Cara muito doido, pancado de
drogas, que vivia nos Estados Unidos. Todo ano passava o
Carnaval em Arraial da Ajuda e sempre arrumava confusão. Já
era conhecido na região.
NOTA 2: Encontrei a argentina linda num lugar chamado
PARRACHO com um daqueles dançarinos do local, beijando-o
de todas as formas possíveis e imagináveis…..rolou até uma
certa cobiça (e não inveja, porque a diferença entre a inveja e
a cobiça é que, a cobiça você só quer o que o outro tem, a
inveja, além disso, você quer que o outro morra, fique
paraplégico, etc).

foto do Parracho
7. O Chá das 5 Dimensões
Uma vez eu conheci uma mulata linda na NUTH,
uma casa noturna na Barra da Tijuca muito
concorrida na época (anos 2000 e pouquinho). Foi
um cenário horroroso, que prometo contar pra
vocês, num outro livro.
Então, eu liguei pra essa menina da NUTH, uns
dois dias depois de tê-la conhecido. Conversamos
demoradamente, ela me pediu muitas desculpas,
no que falei para deixarmos pra lá o episódio
ocorrido e construirmos um novo começo.
— Gostei disso, um novo começo, ela disse.
— Recomeçar é sempre bom, completei.
— Vamos fazer o seguinte, vou viajar e na semana
que vem a gente sai pra jantar, o que você acha?
— Eu acho maravilhoso, tá combinado então.
Desliguei o telefone, feliz pela oportunidade de
revê-la, porque ela era bem bonita e apesar da
TPM intensa (explico quando contar da NUTH), era
uma menina meiga e do jeitinho que eu gostaria de
ter ao meu lado.
Passada a semana, num sábado, eu liguei para
menina, vamos dizer que seu nome era Deise.
Liguei umas duas vezes e ela não atendeu: —
Caramba, será que ela perdeu a vontade? Resolvi
ligar a terceira vez.
— Alô, Hermano?
— Oi Deise, e aí, como foi sua viagem?
— Foi maravilhosa!
— É? E o que teve de maravilhoso?
— Vou te contar os detalhes hoje no nosso jantar.
Já escolheu onde a gente vai jantar? Uma dica,
adoro comida japonesa.
— Ah, beleza, sei o lugar certo pra gente ir, uma
comida japonesa maravilhosa.
— Que bom, estou ansiosa pra conhecer.
— Você me pega aqui em casa às 2000hs? Te falei
onde eu moro né?
— Falou sim, pode deixar que as oito em ponto
estarei na porta da sua casa.
— Gosto assim, homens pontuais.
Desligamos o telefone e olhei para o relógio, que
aquela hora marcava 1645hs. Portanto, faltavam
pouco mais de três horas, dava tempo de fazer
algumas coisas em casa, arrumar-me e encontrá-
la.
Sai de casa, na Tijuca, umas 1840hs, pois ela
morava num condomínio na Barra. Como era
sábado, tinha que contar com algum
engarrafamento até lá.
Cheguei as 1959hs na porta da casa da Deise e
ela já estava me esperando.
— Você é pontual mesmo né? Adoro isso.
— Mesmo que eu não fosse, seria agora só por sua
causa.
— Ah que bonitinho, você merece um beijo, e ela
me deu um beijinho bem molhado no rosto.
— Hum, que delícia hein! Desculpa a sinceridade.
— Relaxa que a noite promete hoje, ela completou,
fazendo-me ficar totalmente excitado.
Chegamos ao restaurante, e fomos direcionados
para aquelas cabines com tatame que eram bem
reservadas.
— Nossa, que lugar legal mesmo hein? Ela disse
com os olhinhos brilhando.
— Não te falei? E a comida aqui é sensacional,
você vai ver, ou melhor, comer!
A noite foi passando, a gente conversou várias
coisas, a comida chegou, chegou a sobremesa
depois, tudo ia a mil maravilhas.
— Hermano, como é que são as coisas né? Te
tratei mal pra caramba naquele dia na NUTH e hoje
estou aqui, completamente encantada por você.
— Olha Deise, uma das poucas coisas que aprendi
nesta vida foi o seguinte: quando algo tem que
acontecer, acontecerá, não importa quando, onde
ou com quem estejamos.
— E o que você acha que tinha que acontecer com
a gente? Ela me olhou e deu um sorrisinho
malicioso.
— Isso aqui ó! E peguei seu rosto com toda a
delicadeza do mundo e lhe dei um beijo daqueles
bem demorados, cheio de paixão.
— Hum, ai ai ai! Disse ela.
— Que foi? Perguntei.
— Acho que a gente vai ter que ir lá pra minha
casa agora mesmo.
Ela falou passando a língua nos lábios e me
olhando de uma maneira bem sexy. Saí correndo
atrás do garçom pra pagar a conta, disse que
estava com pressa. Ele me levou no caixa e me
apresentou o papel da conta, no que dei pra
menina do caixa sem nem mesmo conferir, já
puxando o cartão pra pagar. Foi tudo muito rápido.
Voltei na cabine e a Deise já estava do lado de
fora me esperando. Saímos dali e fomos para o
carro. Entrando no carro, ela me deitou no banco e
foi me beijando a testa e foi descendo e quando
chegou no meu peito falou o seguinte:
— Vamos pra minha casa, por favor.
— Deise, seus pais não estão lá que você disse?
— Eles voltaram pra Minas hoje, quando saí de
casa eles já estavam terminando de se arrumar
para pegar um táxi e ir pro aeroporto. Já devem
estar lá na casa deles a esta hora.
— Então vamos. Saí meio que cantando pneu com
o carro, tamanho era o desespero de ter aquela
mulher em meus braços.

PARTE I – Expectativas
Chegando na casa dela, peguei-a no colo e fui em
direção a porta, ela abriu a casa e eu entrei com ela
em meus braços, tipo chegando na lua de mel,
sabem? Coloquei ela no chão e ela me puxou para
o quarto dela, arrancando de mim uma parte do
meu vestuário a cada passo, e eu fazendo o mesmo
com ela. Chegamos no quarto já completamente
nus e nos entregamos por inteiro. Transamos
praticamente em todos os cômodos da casa, e
finalmente, dormimos um sono leve e tranquilo.
Acordamos já quase meio dia e namoramos de
novo, da mesma forma intensa da noite anterior.
Levantei da cama e abri a cortina para ver o dia,
que por sinal estava maravilhoso, um sol radiante
de dar gosto, sem uma nuvem sequer no Céu.
Ela levantou-se e pegou a minha mão e apoiou a
sua cabeça no meu ombro e ficamos admirando
aquela cena por alguns instantes.
— Que presente maravilhoso o destino me deu, eu
disse.
— Ela olhou pra mim e não disse nada, só
confirmou com a cabeça e voltou a apoiá-la no
meu ombro.

PARTE II - Realidade
Chegamos na casa dela, e quando saímos do
carro ela disse:
— Peraí, tem alguma coisa estranha, a porta de
casa está aberta, como assim? Meus pais nunca
deixariam a porta de casa aberta.
Neste momento me sai a mãe dela aos prantos
gritando:
— Minha filha, o seu pai minha filha, ele está
possuído!!!
— Cruz credo mãe, que isso?
— É minha filha, é sim.
Em tempo, vamos voltar um pouco para o
momento do jantar:
— Pra onde você viajou Deise? Se é que posso
saber.
— Pode sim, fui pra casa dos meus tios no interior
de Minas, um sítio muito legal. Foi a maior diversão
com os meus primos.
— Sei dessa diversão com primos! Falei meio com
ciúmes.
— Deixa de ser bobo garoto! Disse ela rindo.
— São primas e dois primos, um casado e outro
gay, maravilhosos. Eles fizeram um luau com uma
galera bem legal de lá. Eles me deram um copo e
disseram pra eu beber que eu ia ficar muito louca, e
você sabe né? Louca é comigo mesma.
— E aí? Que bebida era essa?
— Eles falaram que era um tal de chá das “cinco
dimensões”.
— Caramba, das cinco dimensões? Se com quatro
vagabundo já fica muito pancado das ideias,
imagina com cinco, que perigo hein Deise?
— Também não exagera né? A parada é muito
louca mesmo, tive alucinações muito intensas, mas
muito maneiras. Trouxe até uma garrafa d’água
cheia desse chá pra experimentar aqui também,
vamos?
— Sei lá Deise, não curto essas paradas.
— Deixa de ser medroso homem, fala sério!
— Vou pensar no assunto — não queria falar “não”
naquele momento, porque poderia estragar o
romance.
Agora voltando para o momento da “possessão”
do pai da Deise. Assim que a mãe dela terminou de
falar, entramos na casa, passando pela cozinha. A
geladeira estava aberta e tinha uma garrafa d’água
vazia no chão. A Deise viu a garrafa e comentou
comigo baixinho:
— Ih, ferrou, tá vendo aquela garrafa vazia ali?
— Sim, respondi.
— Era a garrafa que eu trouxe o chá das 5
dimensões lá dos meus primos. Isso quer dizer
que….......(não terminou de falar).
— Filha, olha o seu pai aqui, filha!!! Gritou a mãe
dela na sala. Quando eu olhei pra sala, vi o pai dela
quicando no sofá e gritando:
— EU SOU UM JACARÉ, EU SOU UM JACARÉ!!!
Cara, eu coloquei imediatamente a mão na boca
pra não rir, e as lágrimas rolavam de meus olhos
igual cachoeira. Nisso, passou um gato correndo e
miando desesperadamente do meu lado, momento
em que o pai dela saltou do sofá e foi correndo
atrás do gato, meio que imitando um jacaré.
— Olha isso minha filha, segura seu pai, porque ele
tá tentando comer o gato.

Aí eu não aguentei, caí no chão de tanto rir, não


conseguia me controlar de forma alguma. A Deise
gritando comigo:
— Para seu maluco, vem ajudar meu pai.
Eu olhei o pai dela se arrastando como um jacaré,
com direito a mexer o rabo e tudo, daí eu disse:
— Calma jacaré! E caí mais na gargalhada ainda.
— Este menino é do capeta também minha filha,
tira ele daqui. Daí quando eu ouvi isso, eu mesmo
levantei e fui embora, sem ter conseguido parar de
rir ainda.
— Sai daqui! Não quero te ver nunca mais, nem
pintado de ouro na minha frente, seu miserável
insensível! Gritou a Deise.
Entrei no carro rindo de chorar ainda, era
interminável aquela gargalhada. Eu pensava o
seguinte:
— PQP, o pai da menina tá doidaraço, a mãe tá
pensando que ele tá possuído, e ele tá abanando o
rabo, irmão!!! — falando comigo mesmo igual
esquizofrênico — e ainda por cima, quem tá se
fud$%*#@ todo é o gato! Coitado do gato, tem
nada a ver com isso! E mais uma vez, outra
gargalhada intensa.
Consegui parar um pouco de rir depois de uns
trinta minutos. Saí com o carro, mas voltei a rir
tanto, que não estava conseguindo dirigir direito.
Parei no primeiro posto de gasolina com loja de
conveniência que vi. Liguei para um camarada
meu, que morava ali perto pra me socorrer, porque
toda vez que eu me lembrava da cena, caía na
gargalhada e não ia conseguir dirigir desse jeito.
O Carlos chegou e já foi me perguntando:
— Qual foi nêgo, que tá acontecendo?
— Irmão, foi o seguinte — tentei começar a contar
e gargalhadas frenéticas vieram de novo, ele
também começou a rir e disse:
— Fala homem de Deus! — Nisso tinha um casal
que parou o carro ali perto e vendo aquela
situação, começaram a rir também e se chegaram
pra perto pra ouvir o meu relato.
Comecei a contar todo o cenário, desde o início lá
na NUTH, e quando eu contei do pai que virou um
jacaré:
— Ahhhh Para!!! Que isso! Que doideira é essa —
falou soluçando de rir o maluco que estava com a
namorada. O meu amigo, cagava-se de rir também.
Até a namorada do rapaz, mesmo sendo mulher e,
portanto, mais sensível e talvez fosse se
compadecer da situação, também riu de se
acabar.
— Um jacaré? Que isso gente! Não dá não, jacaré
não! A menina do casal falava soluçando de tanto
rir.
— E o pior vocês não sabem, ele tava querendo
comer o gato! Aí pronto! Todos caíram no chão,
literalmente, e até gente no posto que estava perto.
— Nêgo, tô imaginado aqui o “jacaré” correndo
atrás do gato! Parada de desenho animado, irmão!
só faltou aparecer o Pernalonga e o Patolino! Falou
se contorcendo de rir, o Carlos.
— E aì, o "jacaré" pegou o gato?
Perguntou a namorada do rapaz.
— Não sei, a mulher do jacaré falou que eu estava
possuído também e me botou pra fora da casa!
Falei já gritando de tanto rir.
— Ah sei....a JACAROAAA!!! O Carlos emendou com
essa pérola, e daí, rimos mais um tempão!
Eu sei que eu tinha que ter ajudado e tudo mais,
e minha vontade sincera era essa, mas foi muito
mais forte que eu. Afinal de contas, que trip foi
aquela do pai da menina? bagulho doido aquele
chá. E que irresponsabilidade da menina, deixar
um veneno daqueles na geladeira? Tinha que se
ferrar mesmo. Ainda bem que não aconteceu nada
mais sério, imagina se o pai dela passa mal de
verdade?
As pessoas estão muito sem noção mesmo.
Felizmente, a doideira do "jacaré" ia passar. Mais
hora, menos hora, deve ter passado a vontade de
comer o gato, etc. E aí, vai falar o quê? Se eu fosse
a Deise, eu sustentaria a tese da possessão mesmo
(comecei a rir de novo aqui).
Só uma coisa me chateava: aquela mulata linda
tinha que ser doida daquele jeito? O pai dela tinha
que beber aquele "bendito" chá? Que azar
"ducaceta", mermão!!!!!
8. Lições Aprendidas
Depois de algumas histórias (ou estórias), e depois
de muito refletir sobre todas elas, eu cheguei a
conclusão que existem alguns pontos que devemos
observar no decorrer da balada, desde o pré-night
até o final:
a) Se for andar em “galera”, certifique-se de que
não tenha um "sem noção" dentre eles. Levar o sem
noção é legal, mas para lugares em que se
pretenda apenas se divertir, e mesmo assim,
prepara-se para o pior. Agora, nunca leve para
ambientes onde se tenha a pretensão de arrumar
alguém, pois a chance de “dar ruim” É QUASE
CERTO! E daí, alguém vai ter que controlar e
desfazer (caso seja possível) os danos causados (as
vezes, perde-se dinheiro também);
b) Se for dançar a dois com alguém, na intenção
de beijar na boca, seja um expert naquele estilo de
dança e esteja preparado para o inesperado. Não
vá pagando de bobão na dança, achando que a
outra parte vai te acompanhar e achar
engraçadinho. Primeiro esteja ciente que a mulher
quer e deve ser conduzida. Se ela está dançando
um estilo de música, normalmente, ela sabe muito
bem dançar aquele estilo e vai querer alguém a
altura, caso contrário, É TCHAU PRA VOCÊ;
c) Se for chamado para ir a um hotel junto com
sua gata, que você acabou de conhecer, nunca vá
para um quarto em que tenha uma outra amiga
com ela. Não vá achando que vai rolar aquela
pegada de duas amigas juntas, porque isso só
acontece em filme, ou pagando. Seja realista e
saiba que, se ela está fazendo isso, é porque acha
que a outra amiga não estará no quarto no
momento, e provavelmente, bebeu e tá sem noção
também. Pergunte para ela se, realmente, ela está
sozinha no quarto. Se estiver dividindo com alguém,
vá para outro lugar, não tente a sorte, porque o
azar é certo!;
d) Irmão, se você foi num posto de gasolina e viu
uma menina linda de bobeira, ESQUECE! Fique na
sua, a probabilidade dela estar ali de carro com
namorado, amigo ciumento, marido, amante, etc, é
muito grande. Não vale a pena o risco de ser
audacioso num posto de gasolina. O destino sorri
para os audazes, mas num posto de gasolina não!;
e) Quando você for abordado por uma mulher,
pense no seguinte: não se precipite em suas
conclusões, pode ser que ela apenas queira algum
favor seu, sem demais interesses. A precipitação
pode levar ao exibicionismo desnecessário, e aí, a
Lei de Murphy vai atuar com tudo (comentários na
nota ao final dessas observações). Ah, e olhe para a
pessoa também ( caso da mulher tocha humana);
f) Se você achou que algo tá estranho, não tente
achar que vai melhorar (no caso do "taradinho"). Vai
ficar cada vez pior, sem chance alguma de
melhorar (mais uma vez, a Lei de Murphy sendo
evidenciada); e
g) Por fim e não menos importante, NÃO
CONSUMAM DROGAS!!! Muito menos aquelas que
falam de dimensões, não vai dar certo!
NOTA: Lei de Murphy – a definição é: “Tudo que pode dar
errado, dará, e da pior maneira possível”, é aquela lei que fala
que: se jogar um pão com manteiga pro ar, ele sempre vai cair
com a parte da manteiga virado pro chão; por mais tomadas
que se tenham em casa, os móveis estão sempre na frente;
não importa a fila que você esteja, a do lado sempre vai andar
mais rápido; e se você for mudar para lado que está andando
mais rápido, ele automaticamente passará a andar mais
devagar e a fila que você estava passará automaticamente a
ser a mais rápida; e por aí vai.

créditos a www.fotocomedia.com
9. Capítulo Final
Galera, tenho que contar pra vocês as
decorrências daquele episódio da Gringa do EL
TURF, porque foi muito traumático pra mim. Vou
explicar pra vocês a questão da dor moral e como
eu lidei com isso após esse fato.
Bem, a questão da dor moral foi que, eu me senti
violentado, apesar de não ter sido propriamente um
abuso sexual (foi muito longe disso), mas me senti
como se fosse.
Foi muito dolorido, fiquei sem sentar direito pra
mais de mês. Quando fazia o "número 2" (pra quem
não sabe, seria cagar, no bom e chulo português),
era uma dor terrível, que me relembrava toda
aquela agonia, e aquela piranha FDP que me
causou isso.
Cara, imagina como deve ser complicada essa
questão pra quem já passou por isso. O meu
cenário nem chega a ser caracterizado como
abuso, mas já me causou sequelas por quase um
ano.
Pra vocês terem uma ideia, fui parar numa
psicóloga (que era maior gatinha, por sinal.
His/estória pra outro livro). Quando fui narrar a
história (ou estória), chegou no momento do taser, a
doutora já se escangalhou de rir dizendo:
— Para garotooooo!!!!
Não deu pra continuar.
Tentei com outra psicóloga, que foi mais resistente,
mas quando falei do bico que cravou no
fiofó......tombou também!
— Menino, não tenho condições de te tratar! disse
rindo de cair o óculos que usava.
Aquilo foi me causando mais mal estar. Até que
num terceiro psicólogo, o cara já demonstrou
firmeza. Depois de narrar toda a história (ou estória)
pra ele, disse-me:
— Vamos fazer o seguinte: você volta na semana
que vem pra começarmos a terapia. Achei estranho
que ele só disse isso, mas tudo bem.
Na semana seguinte liguei pra confirmar e ele
falou:
— Vamos deixar pra outra semana, porque tenho
compromissos inadiáveis para esta semana inteira.
Na outra semana eu fui e o doutor foi muito bem,
e me causou tamanha empatia, que continuei com
ele até o final.
Anos mais tarde encontrei com ele, e começamos
a lembrar da terapia.
— Poxa doutor, o senhor foi o único que não riu da
minha situação, à época, que profissional que o
senhor foi e é.
— Meu querido Hermano, deixa eu te confidenciar
uma coisa. Minha vontade de rir era tanta que tive
que encerrar a consulta um pouco mais cedo.
— Que isso doutor, sério?
— Seríssimo. Cheguei em casa e ri tanto que minha
esposa teve que me dar um calmante para eu
parar de rir.
— E aí?
— Lembra que te mandei voltar na outra semana e
remarquei para a seguinte?
— Lembro.
— Pois é. Não conseguia lembrar do seu caso sem
rir. Quem teve que se tratar fui eu, naquela semana
que adiei sua consulta. Mas, também, né Hermano,
salto agulha no rabo? Quem tá preparado pra ouvir
uma porra dessas?
Rimos mais um bocado.
— E aí?
— Fui no terapeuta e quando eu contei, não deu
outra, ficou rindo pra caceta também. Ficamos os
dois rindo e imaginando a cena. Demorou uns três
dias pra desenvolver técnicas para conter o riso.
— Funcionou então, porque quando retornei você
tava bem sereno.
— Clinicamente falando, a tua história foi bizarra
demais. Já tinha tratado com sucesso vários casos
de violência sexual, mas taser e salto agulha no
rabo? Foi a primeira vez. Nem tem classificação pra
isso, do jeito que foi.
Rimos mais um tempão.
É isso pessoal! Tudo superado, vida que segue.
ATÉ BREVE

E assim, termina os meus relatos de tantas


derrotas e “semivitórias” que obtive ao longo de
inúmeras noites e baladas pelo Rio (e outros
estados). Espero que tenham gostado e se
quiserem que eu escreva mais um livro com mais
histórias (ou estórias), deixem suas mensagens no
meu insta @contos_da_night, ou face
@hermanogouvea.
Muito obrigado por vocês terem contribuído com
este livro modesto, que foi feito com muito carinho,
pensando na alegria de poder proporcionar a
vocês um momento agradável. Se foi tão divertido
pra vocês terem lido este livro, quanto foi pra mim,
que o fiz, rememorando velhas e engraçadas
passagens da minha vida, todo meu esforço terá
valido a pena, sem dúvida.

Um grande ATÉ BREVE, se Deus quiser!


Hermano Emmauel Gouvêa.

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