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OUTUBRO/2021
RESUMO
No contexto pós-guerra, a discussão da moradia mínima já era recorrente, basicamente por
questões econômicas. Hoje isso pode ser devido a um estilo de vida mais minimalista,
sustentável, eficiente ou por um desejo de se viver nômade, e, quem sabe, sobre rodas.
Este artigo apresenta formas de arquitetura móvel, explicando as diferenças entre trailers,
motorhomes e tiny houses, passando por assuntos como moradia mínima e nomadismo
para contextualizar o assunto.
Palavras-chave: tiny houses, mini casas, moradia mínima, nomadismo digital, wanderlust,
arquitetura nômade.
ABSTRACT
In the post-war context, the discussion of minimum housing was already recurrent, basically
by priority. Today this may be due to a more minimalist, sustainable, efficient lifestyle and,
even, a desire to live a nomadic, sometimes, on wheels kind of life. This article presents
forms of mobile architecture, explaining the differences between trailers, motorhomes and
tiny houses, going through topics such as minimum housing and nomadism to contextualize
the subject.
Keywords: tiny houses, mini houses, minimal housing, digital nomadism, wanderlust,
nomadic architecture.
1 INTRODUÇÃO
A discussão sobre opções de habitação sempre será atual. Com o passar dos anos,
a humanidade evoluiu muito nesse aspecto e continua evoluindo. Antes, procurando
cavernas para se abrigar; hoje, planeja e projeta de forma cuidadosa o espaço de
moradia.
Assim, após um contexto de guerras, surge o pensamento sobre a moradia mínima,
que no início se difundiu pelas questões econômicas, mas atualmente é também
uma escolha consciente para um modo de vida minimalista, sustentável e eficiente.
O presente artigo tem, portanto, o objetivo de esclarecer as formas de arquitetura
móvel e, para isso, explica conceitos de casa mínima e nomadismo.
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A presença desse tema em obras culturais reflete o período que abrange a segunda
metade da década de 1960 e os 15 anos seguintes. Foram marcados pelo ápice da
vida na estrada, canções enalteciam os acampamentos hippies e uma convivência
libertária. Como disse Marcelo Abreu (apud Souza, 2020): “O desejo era seguir em
frente. Porque parar significava apodrecer.”
No Brasil, já na década de 1980, os Engenheiros do Havaí fizeram sucesso com o
verso da música Infinita Highway: “não precisamos saber pra onde vamos/ nós só
precisamos ir (...)/ sem motivos, nem objetivos/ estamos vivos e isto é tudo”.
Segundo Matheus de Souza (2020) era o wanderlust já aparecendo e tomando
conta do imaginário. Esta palavra, de origem alemã, viralizou nas redes sociais e
expressa o desejo por viajar. Ou, mais filosoficamente, um desejo incontrolável de
explorar o mundo, de desbravar o desconhecido e que muitos millennials¹
ambicionam hoje.
¹millennials: Pessoa que pertence à geração que atingiu a idade adulta perto do ano
2000; designação dada ao conjunto de pessoas que nasceram entre o início dos
anos 1980 e o final dos anos 1990.
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4 O NOMADISMO DIGITAL
O nomadismo digital surge como a solução perfeita para aqueles que anseiam por
viver o wanderlust. Devido ao trabalho remoto, atualmente, é possível trabalhar
menos, com mais qualidade e enquanto se está do outro lado do mundo.
Essa nova modalidade de trabalho proporciona uma experiência única, sendo
possível carregar o serviço consigo, na mochila, enquanto se passeia por uma praia
ou um ponto turístico, desde que se tenha acesso à internet (Figura 03). Como
Souza (2020) relata “é o estilo de vida e trabalho perfeito para aqueles que sentem o
tal desejo incontrolável de explorar o mundo.”
Trailer
O Código Brasileiro de Trânsito (CTB) define trailer como “reboque ou semi-reboque
tipo casa, com duas, quatro, ou seis rodas, acoplado ou adaptado à traseira de
automóvel ou camionete, utilizado em geral em atividades turísticas como
alojamento ou para atividades comerciais”.
Dessa maneira, um trailer sempre será um reboque, sem um motor independente.
Sendo que para ser considerado “trailer”, conforme Marcos Pivari (2019), deve
possuir instalações internas que “fujam do vazio destinado à pura carga”. Qualquer
item como cama, sofá, mesa, cozinha ou banheiro, juntos ou isolados, definirão o
reboque como um fim de “atividade turística” ou de “alojamento”.
O surgimento do trailer remonta o próprio início do carro. Já diziam que Napoleão,
em suas jornadas, contava com um carro onde podia dormir, comer, tomar banho e
fazer reuniões (PIVARI, 2000). O povo cigano e circense também foi o primeiro a
usar desse tipo de moradia, mas, concretamente, o primeiro registro de trailer foi
feito no final do século XIX (PIVARI, 2000). Segundo o texto de Marcos Pivari
(2000), em 1886, um escritor, o Dr. Gordon Stables, projetou e mandou construir um
veículo na Companhia de Vagões Bristol, em Londres. Nascia assim, tracionado por
cavalos e possuindo dois eixos distantes, o primeiro trailer (ou caravana, como é
chamado na língua inglesa).
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Figura 05 - A primeira caravana de turismo de lazer do mundo, The Wanderer, por volta de 1890.
Fonte: https://nationalmotormuseum.org.uk/
Como toda e qualquer tecnologia, o mundo dos trailers foi impulsionado pelas
guerras. Com a Segunda Guerra Mundial, diversas indústrias investiram nas
adaptações desses veículos, e, já no pós guerra, os trailers se tornaram mais
acessíveis, além dos campings surgirem em maior número (PIVARI, 2000).
No Brasil, a primeira fábrica de trailer surgiu em 1965, a Turiscar. Ela fechou em
1990 e ressurgiu em 2016, seguindo o mesmo propósito. No seu auge de
antigamente, a marca chegou a fabricar mais de 70 trailers em um mês (PIVARI,
2000).
Motorhome
Segundo o CTB, “motor-casa (motorhome) é um veículo automotor cuja carroçaria
seja fechada e destinada a alojamento, escritório, comércio ou finalidades análogas”.
Isso significa, basicamente, que qualquer veículo automotor que possua instalações
com fins de alojamento ou comerciais, serão considerados motorhome (desde
carroceria ou chassi de caminhões, ônibus, furgões, vans, até mesmo de carros de
passeios ou motos) (PIVARI, 2019).
O importante é que todos esses equipamentos estejam registrados como tais em
seu documento veicular.
Apesar do que se pode imaginar, esses ambientes podem ser bastante confortáveis
e bem projetados. Atualmente existe uma série de opções dentre tipos e tamanhos
no mercado, um modelo pequeno custa a partir de 70 mil reais.
A Figura 07 mostra o interior de um motorhome de luxo, que custa cerca de 780 mil
reais, segundo o Jornal Folha de São Paulo. Mas existem muitos outros tipos,
menores e mais simples, como as vans transformadas (Figura 08) e as famosas
Kombi homes (Figura 09).
Figura 07 - Interior de um motorhome 8.5 SI, produzido pela Santo Inácio, que custa em torno de 780
mil reais.
Fonte: Cibele Selbach Divulgação, disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/
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Tiny House
Não há uma definição singular sobre o que constitui uma Tiny House, ou Mini Casa.
Para Robson Lunardi, dono da empresa Tiny House Brasil e idealizador do
movimento Pés Descalços, “Uma Tiny House é onde tem alguém vivendo e
colocando em prática a filosofia de um consumo consciente”. Segundo o movimento,
uma estrutura residencial já se configura com menos de 37 m², podendo estar sobre
rodas ou uma fundação fixa (Pés Descalços, 2020).
As Tiny Houses sobre rodas foram popularizadas por Jay Shafer que idealizou,
construiu e morou na primeira mini casa, ela tinha apenas 9m².
Já nos Estados Unidos o movimento das Tiny Houses surgiu no final dos anos 90 e
se fortaleceu com a grande crise econômica em 2008, o que deixou muitos
americanos sem moradia, segundo Yeska Coelho (2021). Embora no Brasil ainda
seja pouco difundido, está ganhando espaço.
Seu crescimento é em decorrência da necessidade de simplificar a vida, diminuir
custos, quitar dívidas e reduzir o impacto ambiental. É um movimento social que
defende a vida com menos, o minimalismo, e resulta de uma reflexão sobre o
consumo consciente e uma vida sustentável.
Geralmente elas seguem os métodos de construções norte-americanos, com
estrutura de Steel Frame ou Wood Frame (Figura 10).
Figura 10 – Prints do vídeo “Como construir MINI CASA sobre rodas em Steel Frame | O Passo a
passo da 1a Tiny House móvel - Ep. 3”. Pés Descalços.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=kmrQb2OUW-k
Diferentemente dos trailers ou motorhomes, suas paredes e janelas são mais
grossas e existem isolamentos térmicos e acústicos como uma casa convencional
(Pés Descalços, 2018).
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Figura 11 – Projeto de: Wyatt Komarin, Addison Godine, Rachel Moranis, Emily Margulies.
Fonte: Divulgação/CASACOR, https://casacor.abril.com.br/sustentabilidade/tiny-house/
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Nos dias de hoje, elas são comercializadas no Brasil, principalmente pela empresa
Tiny House Brasil, com diversos modelos de plantas e volumetrias, sendo um deles
o modelo Bauhaus (Figura 13).
A Tiny House Brasil foi uma empresa fundada a partir do projeto Pés Descalços,
pelo casal Robson Lunardi e Isabel Albornoz, que hoje são referências na área. Os
dois resolveram estudar a técnica nos Estados Unidos e, ao voltarem para o Brasil,
construíram sua primeira Tiny House, a Gralha Azul (Figura 14), que hoje está
estacionada em uma cidade do interior de São Paulo.
Figura 14 – Gralha Azul, Tiny House construída por Robson Lunardi e Isabel Albornoz.
Fonte: https://casacor.abril.com.br/sustentabilidade/tiny-house/
O projeto executivo em 3D foi realizado pelo próprio casal, que diz que seu objetivo,
hoje, “não é apenas vender, mas sim, inspirar pessoas a um novo modelo de vida,
extremamente possível” (Pés Descalços, 2020).
O casal ainda faz alguns workshops de forma on-line e ao vivo para quem quiser
aprender a fazer sua própria Tiny House ou, ainda, aprender a viver do modo
minimalista.
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6 CONCLUSÃO
Durante todo o artigo observamos que o mercado de Tiny Houses está aquecido e
crescendo. Como vimos antes, o desejo de uma vida mais minimalista e sustentável
tem encantado os jovens já há algum tempo no mundo todo.
O assunto, que inclusive rendeu uma série de televisão – Movimento Tiny House,
com quatro temporadas, duas delas disponíveis na Netflix –, é opção de
hospedagem no Airbnb de todo o mundo, além de ser o sonho de muitos que
anseiam pela vida nômade, sem local fixo e vivendo o wanderlust.
Com essas novas formas de morar, surge, então, novos mercados para os
profissionais arquitetos e designers. Ouso dizer que projetar uma casa tão pequena
é até mesmo mais complexo que projetar uma casa “normal”.
Dessa forma, cabe a nós, arquitetos, nos posicionarmos, estando dispostos e
preparados para adentrar esse nicho do mercado. A Tiny House é exatamente o que
chamamos de boa arquitetura moderna: confortável, inteligente e sustentável.
Portanto, nada melhor do que nós, profissionais que criam espaços de qualidade,
para assumirmos esses projetos e produções.
Concluo, assim, que uma Tiny House é um projeto complexo e delicado, no qual o
mobiliário deve ser minuciosamente pensado para que cumpra a função da melhor
forma. Portanto, a escolha de um profissional qualificado para projetá-lo com certeza
traria maior qualidade para o espaço, transformando as pequenas casas em
espaços muito aconchegantes e versáteis.
7 REFERÊNCIAS
ABREU, Marcelo. A atração do Movimento. 2020. Disponível em:
<https://revistacontinente.com.br/edicoes/235/a-atracao-do-movimento> Acesso em
16 de agosto de 2021.
CASELLI, Cristina Kanya et al. 100 anos de habitação mínima: ênfase na Europa
e Japão. 2008. Disponível em:
<http://tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/2621/1/Cristina%20Kanya%20Caselli1
.pdf> Acesso em 12 de agosto de 2021.
Pés Descalços. Tiny House: mais do que uma mini casa, um estilo de vida.
2018. Disponível em: <https://pesdescalcos.com.br/blog/o-que-e-o-movimento-tiny-
house/> Acesso em 22 de setembro de 2021.