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PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU

ARQUITETURA E EXECUÇÃO DE OBRAS DE PEQUENO PORTE

A TENDÊNCIA DO NOMADISMO E SUAS RELAÇÕES COM A


ARQUITETURA: DA MORADIA MÍNIMA ÀS TINY HOUSES

OUTUBRO/2021

(GABARDO, Bianca Elisa)


biancaelisagabardo@gmail.com

Dr. SASTRE, Rodolfo Marques


rodolfo.sastre@up.edu.br
Me. DORIGO, Adriano Lucio
adriano.dorigo@up.edu.br

RESUMO
No contexto pós-guerra, a discussão da moradia mínima já era recorrente, basicamente por
questões econômicas. Hoje isso pode ser devido a um estilo de vida mais minimalista,
sustentável, eficiente ou por um desejo de se viver nômade, e, quem sabe, sobre rodas.
Este artigo apresenta formas de arquitetura móvel, explicando as diferenças entre trailers,
motorhomes e tiny houses, passando por assuntos como moradia mínima e nomadismo
para contextualizar o assunto.
Palavras-chave: tiny houses, mini casas, moradia mínima, nomadismo digital, wanderlust,
arquitetura nômade.

ABSTRACT
In the post-war context, the discussion of minimum housing was already recurrent, basically
by priority. Today this may be due to a more minimalist, sustainable, efficient lifestyle and,
even, a desire to live a nomadic, sometimes, on wheels kind of life. This article presents
forms of mobile architecture, explaining the differences between trailers, motorhomes and
tiny houses, going through topics such as minimum housing and nomadism to contextualize
the subject.
Keywords: tiny houses, mini houses, minimal housing, digital nomadism, wanderlust,
nomadic architecture.

1 INTRODUÇÃO
A discussão sobre opções de habitação sempre será atual. Com o passar dos anos,
a humanidade evoluiu muito nesse aspecto e continua evoluindo. Antes, procurando
cavernas para se abrigar; hoje, planeja e projeta de forma cuidadosa o espaço de
moradia.
Assim, após um contexto de guerras, surge o pensamento sobre a moradia mínima,
que no início se difundiu pelas questões econômicas, mas atualmente é também
uma escolha consciente para um modo de vida minimalista, sustentável e eficiente.
O presente artigo tem, portanto, o objetivo de esclarecer as formas de arquitetura
móvel e, para isso, explica conceitos de casa mínima e nomadismo.
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O tema me interessou depois que eu, a autora, observei a valorização de um nicho


de mercado explorado por um amigo, que é engenheiro mecânico, e constrói kombi
homes. E, a partir disso, refleti como profissionais da minha área, os arquitetos,
podem fazer parte deste nicho também.
Então, dessa forma, por perpassar pelo morar nômade e o desejo de viver viajando,
ambos desejos pessoais, apresento aqui um trabalho que me rendeu sonhos, além
de um aprofundamento profissional.

2 CASA: A CASA MÍNIMA


A casa, em seu vasto sentido, é uma preocupação humana desde os primórdios da
humanidade e das civilizações. Mesmo sem adentrar profundamente na história,
podemos dizer que a casa sempre esteve ligada à questão de sobrevivência,
proteção e segurança.
Le Corbusier, um dos arquitetos mais prestigiados do século XX, definiu assim: “uma
casa: um abrigo contra o frio, a chuva, os ladrões, os indiscretos. Um receptáculo de
luz e de sol. Um certo número de divisões dedicadas à cozinha, ao trabalho, à vida
íntima.” (LE CORBUSIER; “hacia una arquitectura”, apud PINTO, C.; 2020).
Ao evoluirmos para o conceito específico de casa mínima, nos aproximamos então
do que realmente é essencial, do pragmático. Segundo Catarina Pinto (2020), a
exploração do conceito da casa mínima foi trabalhada por diversos arquitetos, desde
o século passado, e é, ainda nos dias de hoje, um tema em constante
desenvolvimento.
Ao final do século XIX, com o advento da revolução industrial e o grande fluxo de
pessoas migrando para os centros urbanos, as cidades ficaram incapazes de
comportar os novos habitantes vindos das áreas rurais. As moradias disponíveis na
época, correspondiam geralmente a valores monetários incompatíveis com a
realidade da classe trabalhadora. Deste modo, este setor da população vivia em
apartamentos compartilhados por várias famílias, sem condições sanitárias e de
salubridade, ou privacidade (PINTO, C.; 2020).
Condições de vida e de trabalho perigosas, insalubres e baixos salários repercutiram
em protestos e greves, culminando em movimentos que reivindicavam melhores
condições. O cenário vigente impulsionou, então, segundo Benedita Pinto (2016), a
busca por uma arquitetura funcionalista e racional, que desse uma resposta
pragmática às necessidades habitacionais desta nova classe social.
Essa é a base do Movimento Moderno: o conceito de funcional passa a ser sinônimo
de Arquitetura Moderna.
Catarina Pinto (2020) ressalta que a discussão sobre a habitação mínima foi
debatida em diversos congressos e, concomitantemente, por diversos movimentos,
como na criação da Associação Deutscher Werkbund, (antecessora da Bauhaus), na
exploração do conceito da Neue Sachlichkeit (Nova Objetividade) e até mesmo na
própria Bauhaus. Sendo que a última se propôs a pensar sobre o mobiliário para a
habitação mínima (CASELLI, 2008).
Já quando chegamos à atualidade, a temática de habitação mínima nem sempre
está ligada a escassos recursos econômicos. Como escreve Catarina Pinto (2020),
foram diversos os fatores que levaram ao crescimento da procura por habitação
mínima.
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A busca por um estilo de vida mais sustentável e consciente, mais minimalista, é um


dos fatores atuais. Já que, por suas dimensões reduzidas, morar em uma casa
mínima resulta em menor utilização de espaço e recursos materiais, pois aqueles
que a habitam passam a constituir menor quantidade de bens (PINTO, C.; 2020).
Já em uma nova era, a era do home office, em que se tornou comum a ideia de
trabalhar remotamente, um mercado atrelado ao da casa mínima, a casa sobre
rodas e o nomadismo, ganharam adeptos ao redor do mundo.

3 O MOVIMENTO NÔMADE TRADICIONAL


Segundo o dicionário, nômade é aquele “que muda de local de fixação, geralmente
para procurar pastagens novas ou alimentos” ou “aquele que não tem casa ou
residência fixa”.
Vários povos têm o nomadismo como tradição. Dessa forma, são muitas as formas
de nomadismo tradicionais. A primeira delas, o nomadismo pastoril, cuja mobilidade
é consequência imediata da criação de animais associada ao clima e à vegetação.
Há, também, os ciganos. Embora existam hoje vários grupos sedentários, a
habitação cigana tem grande valor quando se diz respeito ao morar nômade. Com
presença registrada no Brasil desde 1574, o número de ciganos no país ainda é
grande, distribuídos segundo suas origens, morando em tendas, barracas ou casas
sobre rodas (trailers) (GUTIERREZ, 2008).
Outro grupo, há muito tempo nômade é a população circense. A criação dos
espetáculos circenses é atribuída aos ciganos, mas, independentemente de sua
origem, o circo está associado a uma linguagem arquitetônica bem característica
(Figura 01). Isso porque, é como uma casa de espetáculos autônoma e itinerante,
que transporta consigo a infraestrutura necessária para seu funcionamento, e
também, todos os funcionários e artistas com suas habitações (GUTIERREZ, 2008).

Figura 01 - Circo Rhoney Espetacular estreia no Parque Barigui.


Fonte: https://www.curitiba.pr.gov.br, 2019.
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Destacamos então, a comunidade circense que se abriga basicamente em trailers


onde moram famílias de quatro integrantes em média.
Já na segunda metade do século XX, por volta da década de 1960, parte
considerável da população jovem passou a almejar a chamada “vida na estrada”,
que corresponde a passar um tempo vivenciando experiências variadas e “fora do
sistema” (ABREU, 2020). Era o início do movimento hippie, da recusa à sociedade
de consumo e do rompimento com o conceito de família tradicional (Figura 02).

Figura 02 - Jovens acampando no Festival de Woodstock - Movimento Hippie.


Fonte: Annie BIRCH personal collection/AFP, https://domtotal.com/noticia/, 2019.

A presença desse tema em obras culturais reflete o período que abrange a segunda
metade da década de 1960 e os 15 anos seguintes. Foram marcados pelo ápice da
vida na estrada, canções enalteciam os acampamentos hippies e uma convivência
libertária. Como disse Marcelo Abreu (apud Souza, 2020): “O desejo era seguir em
frente. Porque parar significava apodrecer.”
No Brasil, já na década de 1980, os Engenheiros do Havaí fizeram sucesso com o
verso da música Infinita Highway: “não precisamos saber pra onde vamos/ nós só
precisamos ir (...)/ sem motivos, nem objetivos/ estamos vivos e isto é tudo”.
Segundo Matheus de Souza (2020) era o wanderlust já aparecendo e tomando
conta do imaginário. Esta palavra, de origem alemã, viralizou nas redes sociais e
expressa o desejo por viajar. Ou, mais filosoficamente, um desejo incontrolável de
explorar o mundo, de desbravar o desconhecido e que muitos millennials¹
ambicionam hoje.

¹millennials: Pessoa que pertence à geração que atingiu a idade adulta perto do ano
2000; designação dada ao conjunto de pessoas que nasceram entre o início dos
anos 1980 e o final dos anos 1990.
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Já com o advento da tecnologia, internet e comunicação em tempo real, tornou-se


possível uma reflexão acerca do modo de vida e trabalho tradicionais. A rotina de
bater ponto das 9h às 18h, todos os dias, semana após semana, vivendo uma vida
para o trabalho, o famoso workaholic, vendo a vida “passar pela janela”, passou a
ser questionada.
Dessa forma, wanderlust expõe, a insatisfação mundial dos mais jovens com a
relação da sociedade e do trabalho de forma tradicional (SOUZA, 2020). Nesse
contexto, com tais características, nasce o princípio do que podemos chamar de
Nomadismo Moderno ou Nomadismo Digital.

4 O NOMADISMO DIGITAL
O nomadismo digital surge como a solução perfeita para aqueles que anseiam por
viver o wanderlust. Devido ao trabalho remoto, atualmente, é possível trabalhar
menos, com mais qualidade e enquanto se está do outro lado do mundo.
Essa nova modalidade de trabalho proporciona uma experiência única, sendo
possível carregar o serviço consigo, na mochila, enquanto se passeia por uma praia
ou um ponto turístico, desde que se tenha acesso à internet (Figura 03). Como
Souza (2020) relata “é o estilo de vida e trabalho perfeito para aqueles que sentem o
tal desejo incontrolável de explorar o mundo.”

Figura 03 – Nômades digitais no RJ.


Fonte: Getty Images.
Segundo Souza (2020), já há vinte anos atrás, em seu livro Digital Nomad, o japonês
Tsugio Makimoto previu essa revolução. “Redes sem fio de alta velocidade e
dispositivos móveis de baixo custo quebrarão o vínculo entre ocupação e
localização”, foi o trecho premonitório de Makimoto. Apesar dessa “premonição”,
nenhum autor considerava que tal transformação teria uma evolução tão rápida
como aconteceu.
Fronteiras geográficas já não são mais problemas nessa nova era de smartphones,
aplicativos e redes sociais. O nomadismo digital já é, então, realidade para milhares
no mundo, além de ser o sonho de consumo de tantos outros.
Ainda, com a pandemia da COVID-19, que se iniciou no primeiro semestre de 2020,
a ideia do home office foi rapidamente fortalecida. Logo no começo, empresas foram
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obrigadas a aceitar a forma remota de trabalho. A pandemia gerou “as mudanças


mais profundas no turismo desde a invenção da aviação comercial”, disse o
marketeiro CEO do Airbnb, Brian Chesky, segundo Campos (2021).
E essa mudança é perceptível ao observarmos os dados de novembro de 2020,
quando havia 7,3 milhões de brasileiros trabalhando de modo remoto (IBGE, apud
Campo, 2021). Número nunca antes alcançado.
O que a princípio foi forçado, hoje está longe de acabar: diversas empresas não
pretendem voltar com o trabalho 100% presencial pós-pandemia. É o nomadismo
digital ganhando mais força ainda e substituindo a forma tradicional de trabalho.
Ainda, algumas cidades como Dubai e a Ilha da Madeira investiram em grandes
campanhas para atrair viajantes com interesse em viver e trabalhar remotamente de
seus hotéis ou albergues (CAMPOS, 2021). Já o Rio de Janeiro, pretendendo se
tornar o primeiro polo de nômades digitais da América, lançou no início de julho de
2021 uma grande campanha com o slogan “seja carioca pelo tempo que quiser”
(Figura 04).

Figura 04 – Cartaz da Campanha Nômades Digitais RJ.


Fonte: https://embarquenaviagem.com/
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São as grandes cidades se adaptando à uma nova demanda de moradia e de vida.

5 ARQUITETURA MÓVEL: MORANDO SOBRE RODAS


Além daqueles que embarcam para lugares diferentes e buscam fixar-se nesse lugar
por um tempo determinado, existem outros, que, por sua vez, estão em constante
movimento, morando em casas sobre rodas.
Assim, denominamos de 'arquitetura móvel' qualquer solução que possibilite aos
usuários tomar uma decisão direta e transformar abertamente seu ambiente a
qualquer momento (FRIEDMAN, Y. 1973, p.132 Apud GUTIERREZ, 2008).
Percebe-se na citação anterior, na maneira como o arquiteto define “arquitetura
móvel”, sendo não somente associada ao deslocamento, mas também, ao arranjo
formal e espacial. Seu conceito de “arquitetura móvel” sugere soluções
arquitetônicas adaptáveis possibilitando aos usuários modificações de acordo com
seus interesses.
Especificamente então, englobamos no conceito de arquitetura móvel toda a gama
de veículos, habitações e dispositivos variados que compõem o ambiente urbano e
que são móveis, ou seja, não estáticos em relação ao solo (GUTIERREZ, 2008).
Podemos dar como exemplo, portanto, a arquitetura veicular e a naval.
Dessa forma, quando entramos no assunto de arquitetura móvel veicular, temos os
seguintes tipos: trailer, motorhome e tiny house.

Trailer
O Código Brasileiro de Trânsito (CTB) define trailer como “reboque ou semi-reboque
tipo casa, com duas, quatro, ou seis rodas, acoplado ou adaptado à traseira de
automóvel ou camionete, utilizado em geral em atividades turísticas como
alojamento ou para atividades comerciais”.
Dessa maneira, um trailer sempre será um reboque, sem um motor independente.
Sendo que para ser considerado “trailer”, conforme Marcos Pivari (2019), deve
possuir instalações internas que “fujam do vazio destinado à pura carga”. Qualquer
item como cama, sofá, mesa, cozinha ou banheiro, juntos ou isolados, definirão o
reboque como um fim de “atividade turística” ou de “alojamento”.
O surgimento do trailer remonta o próprio início do carro. Já diziam que Napoleão,
em suas jornadas, contava com um carro onde podia dormir, comer, tomar banho e
fazer reuniões (PIVARI, 2000). O povo cigano e circense também foi o primeiro a
usar desse tipo de moradia, mas, concretamente, o primeiro registro de trailer foi
feito no final do século XIX (PIVARI, 2000). Segundo o texto de Marcos Pivari
(2000), em 1886, um escritor, o Dr. Gordon Stables, projetou e mandou construir um
veículo na Companhia de Vagões Bristol, em Londres. Nascia assim, tracionado por
cavalos e possuindo dois eixos distantes, o primeiro trailer (ou caravana, como é
chamado na língua inglesa).
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Figura 05 - A primeira caravana de turismo de lazer do mundo, The Wanderer, por volta de 1890.
Fonte: https://nationalmotormuseum.org.uk/
Como toda e qualquer tecnologia, o mundo dos trailers foi impulsionado pelas
guerras. Com a Segunda Guerra Mundial, diversas indústrias investiram nas
adaptações desses veículos, e, já no pós guerra, os trailers se tornaram mais
acessíveis, além dos campings surgirem em maior número (PIVARI, 2000).
No Brasil, a primeira fábrica de trailer surgiu em 1965, a Turiscar. Ela fechou em
1990 e ressurgiu em 2016, seguindo o mesmo propósito. No seu auge de
antigamente, a marca chegou a fabricar mais de 70 trailers em um mês (PIVARI,
2000).

Figura 06 - Propagandas dos trailers Turiscar por volta da década de 60.


Fonte: http://turiscar.com.br/site/catalogos-antigos/
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Em meados da década de 70 a empresa começou a fabricar outro tipo de moradia


sobre rodas, os motorhomes.

Motorhome
Segundo o CTB, “motor-casa (motorhome) é um veículo automotor cuja carroçaria
seja fechada e destinada a alojamento, escritório, comércio ou finalidades análogas”.
Isso significa, basicamente, que qualquer veículo automotor que possua instalações
com fins de alojamento ou comerciais, serão considerados motorhome (desde
carroceria ou chassi de caminhões, ônibus, furgões, vans, até mesmo de carros de
passeios ou motos) (PIVARI, 2019).
O importante é que todos esses equipamentos estejam registrados como tais em
seu documento veicular.
Apesar do que se pode imaginar, esses ambientes podem ser bastante confortáveis
e bem projetados. Atualmente existe uma série de opções dentre tipos e tamanhos
no mercado, um modelo pequeno custa a partir de 70 mil reais.
A Figura 07 mostra o interior de um motorhome de luxo, que custa cerca de 780 mil
reais, segundo o Jornal Folha de São Paulo. Mas existem muitos outros tipos,
menores e mais simples, como as vans transformadas (Figura 08) e as famosas
Kombi homes (Figura 09).

Figura 07 - Interior de um motorhome 8.5 SI, produzido pela Santo Inácio, que custa em torno de 780
mil reais.
Fonte: Cibele Selbach Divulgação, disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/
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Figura 08 – Vans casas.


Fonte: https://creativevans.com/.
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Figura 09 – Exemplo de projeto de uma Kombi Home – Victoria Motor homes


Fonte: http://victoriamotorhomes.blogspot.com/p/kombinet-motor-home-popular.html?m=1
Com a era digital, inclusive, existem muitos projetos que fazem uso da imagem
nômade como um atrativo. Não são poucas as contas na rede social Instagram de
viajantes em suas kombi homes que contam sobre seu dia a dia, viagens e sobre o
processo de montagem do veículo, por exemplo. Inclusive, passam a monetizar e
viver desse uso de suas redes sociais.
Por último, sendo o objetivo central desse artigo, temos a modalidade de Tiny
House.
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Tiny House
Não há uma definição singular sobre o que constitui uma Tiny House, ou Mini Casa.
Para Robson Lunardi, dono da empresa Tiny House Brasil e idealizador do
movimento Pés Descalços, “Uma Tiny House é onde tem alguém vivendo e
colocando em prática a filosofia de um consumo consciente”. Segundo o movimento,
uma estrutura residencial já se configura com menos de 37 m², podendo estar sobre
rodas ou uma fundação fixa (Pés Descalços, 2020).
As Tiny Houses sobre rodas foram popularizadas por Jay Shafer que idealizou,
construiu e morou na primeira mini casa, ela tinha apenas 9m².
Já nos Estados Unidos o movimento das Tiny Houses surgiu no final dos anos 90 e
se fortaleceu com a grande crise econômica em 2008, o que deixou muitos
americanos sem moradia, segundo Yeska Coelho (2021). Embora no Brasil ainda
seja pouco difundido, está ganhando espaço.
Seu crescimento é em decorrência da necessidade de simplificar a vida, diminuir
custos, quitar dívidas e reduzir o impacto ambiental. É um movimento social que
defende a vida com menos, o minimalismo, e resulta de uma reflexão sobre o
consumo consciente e uma vida sustentável.
Geralmente elas seguem os métodos de construções norte-americanos, com
estrutura de Steel Frame ou Wood Frame (Figura 10).

Figura 10 – Prints do vídeo “Como construir MINI CASA sobre rodas em Steel Frame | O Passo a
passo da 1a Tiny House móvel - Ep. 3”. Pés Descalços.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=kmrQb2OUW-k
Diferentemente dos trailers ou motorhomes, suas paredes e janelas são mais
grossas e existem isolamentos térmicos e acústicos como uma casa convencional
(Pés Descalços, 2018).
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Elas podem ainda ser construídas em diferentes tamanhos, formatos e tipos, e,


apesar de pequenas, são espaçosas e inteligentes, já que o mobiliário é pensado
para ser prático e multifuncional, sendo extremamente eficiente (Pés Descalços,
2018). As Tiny Houses podem, e em geral são, muito sustentáveis, equipadas com
energia solar, reaproveitamento de água da chuva e privada seca.
Segundo o Pés Descalços, as principais vantagens são: baixo custo de manutenção
(contas como água e luz chegam a ser 90% menores que em uma casa tradicional)
menor tempo para limpeza e pode também proporcionar um maior contato com a
natureza e comunidade (podendo aliviar o estresse).
As Tiny Houses podem ser projetadas de diversas formas, como podemos observar
nas figuras 11 e 12, resultando em espaços multifuncionais e únicos.

Figura 11 – Projeto de: Wyatt Komarin, Addison Godine, Rachel Moranis, Emily Margulies.
Fonte: Divulgação/CASACOR, https://casacor.abril.com.br/sustentabilidade/tiny-house/
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Figura 12 – Tiny House, Histórias de casa.


Fonte: https://www.historiasdecasa.com.br/2021/06/30/a-vida-dentro-de-uma-tiny-house/

Nos dias de hoje, elas são comercializadas no Brasil, principalmente pela empresa
Tiny House Brasil, com diversos modelos de plantas e volumetrias, sendo um deles
o modelo Bauhaus (Figura 13).

Figura 13 – Modelo Bauhaus, vendido por Tiny House Brasil.


Fonte: https://www.tinybrasil.com.br/portfolio-modelo/bauhaus/
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A Tiny House Brasil foi uma empresa fundada a partir do projeto Pés Descalços,
pelo casal Robson Lunardi e Isabel Albornoz, que hoje são referências na área. Os
dois resolveram estudar a técnica nos Estados Unidos e, ao voltarem para o Brasil,
construíram sua primeira Tiny House, a Gralha Azul (Figura 14), que hoje está
estacionada em uma cidade do interior de São Paulo.

Figura 14 – Gralha Azul, Tiny House construída por Robson Lunardi e Isabel Albornoz.
Fonte: https://casacor.abril.com.br/sustentabilidade/tiny-house/
O projeto executivo em 3D foi realizado pelo próprio casal, que diz que seu objetivo,
hoje, “não é apenas vender, mas sim, inspirar pessoas a um novo modelo de vida,
extremamente possível” (Pés Descalços, 2020).
O casal ainda faz alguns workshops de forma on-line e ao vivo para quem quiser
aprender a fazer sua própria Tiny House ou, ainda, aprender a viver do modo
minimalista.
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6 CONCLUSÃO
Durante todo o artigo observamos que o mercado de Tiny Houses está aquecido e
crescendo. Como vimos antes, o desejo de uma vida mais minimalista e sustentável
tem encantado os jovens já há algum tempo no mundo todo.
O assunto, que inclusive rendeu uma série de televisão – Movimento Tiny House,
com quatro temporadas, duas delas disponíveis na Netflix –, é opção de
hospedagem no Airbnb de todo o mundo, além de ser o sonho de muitos que
anseiam pela vida nômade, sem local fixo e vivendo o wanderlust.
Com essas novas formas de morar, surge, então, novos mercados para os
profissionais arquitetos e designers. Ouso dizer que projetar uma casa tão pequena
é até mesmo mais complexo que projetar uma casa “normal”.
Dessa forma, cabe a nós, arquitetos, nos posicionarmos, estando dispostos e
preparados para adentrar esse nicho do mercado. A Tiny House é exatamente o que
chamamos de boa arquitetura moderna: confortável, inteligente e sustentável.
Portanto, nada melhor do que nós, profissionais que criam espaços de qualidade,
para assumirmos esses projetos e produções.
Concluo, assim, que uma Tiny House é um projeto complexo e delicado, no qual o
mobiliário deve ser minuciosamente pensado para que cumpra a função da melhor
forma. Portanto, a escolha de um profissional qualificado para projetá-lo com certeza
traria maior qualidade para o espaço, transformando as pequenas casas em
espaços muito aconchegantes e versáteis.

7 REFERÊNCIAS
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<https://revistacontinente.com.br/edicoes/235/a-atracao-do-movimento> Acesso em
16 de agosto de 2021.

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Estadão. 2021. Disponível em: <https://viagem.estadao.com.br/blogs/sala-vip/como-
a-pandemia-fortaleceu-o-nomadismo-digital/> Acesso em 02 de setembro de 2021.

CASELLI, Cristina Kanya et al. 100 anos de habitação mínima: ênfase na Europa
e Japão. 2008. Disponível em:
<http://tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/2621/1/Cristina%20Kanya%20Caselli1
.pdf> Acesso em 12 de agosto de 2021.

Código Brasileiro de Trânsito (Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997).


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9503compilado.htm>
Acesso em 13 de setembro de 2021.

COELHO, Yeska. O que é Tiny House? Conheça a história do movimento e


lindos projetos. Casa Cor. 2021. Disponível em:
<https://casacor.abril.com.br/sustentabilidade/tiny-house/> Acesso em 22 de
setembro de 2021.
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Leia mais em: https://casacor.abril.com.br/sustentabilidade/tiny-house/

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<https://dicionario.priberam.org/>. Acesso em 13 de agosto de 2021.

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<https://teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16134/tde-16042010-
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MUNIZ, Carolina. Viagens de motorhome ganham adeptos no Brasil; veja


custos e como se planejar. 2021. Folha de São Paulo. Disponível em:
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Pés Descalços. Tiny House: mais do que uma mini casa, um estilo de vida.
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contextualização da habitação de áreas reduzidas na atualidade. 2016. Tese de
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<https://macamp.com.br/historico_no_mundo/> Acesso em 13 de setembro de 2021.
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Texto adaptado do livro “Nômade digital: um guia para você viver e trabalhar
como e onde quiser”. Disponível em:
<https://matheusdesouza.com/2020/01/07/contracultura-do-seculo-xxi/> Acesso em
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