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MÉXICO: A

GLOBALIZAÇÃO
CULTURAL NUMA
CIDADE QUE SE
DESINTEGRA
Aula 7

OBRA: APRESENTADO POR:


CANCLINI, Néstor Garcia. Alex Dylan Freitas Silva e
Consumidores e cidadãos: Camila Jorge
conflitos multiculturais da
globalização. 4 ed. Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, 1999, p.
71 a 100.

PROFESSORA:
Maria Cecília Máximo Teodoro

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Crise das megacidades x crise
do conhecimento social
3 problemas inter-relacionados

◎ 1) É possível falar em cidade e vida urbana em


megalópoles que superem os dez milhões de
habitantes?
◎ 2) Em que medida podem as culturas urbanas
(tradições locais) subsistir em uma época de
globalização (transnacionalidade da informação,
comunicação comércio e turismo)?
◎ 3) Como se estudar a problemática urbana com os
atuais instrumentos das ciências sociais? Qual
disciplina mais pertinente (sociologia, antropologia,
comunicação)?

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1.
SOCIÓLOGOS
VERSUS
ANTROPÓLOGOS
O sociólogo urbano estuda a cidade. O antropólogo urbano, na cidade. O
primeiro constrói os mapas de comportamentos a partir de censos e
estatísticas. O segundo faz trabalho prolongado de campo - leituras densas
de interação social.

Alguns dizem que a antropologia, por isso, se limita a pequenas causas


(bairros). Outros defendem que seus estudos podem se aplicar a uma larga
escala (cidades).
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◎ Há quem diga que o antropólogo se distingue pelos métodos de
estudo e não pelo objeto.

◎ O sociólogo falaria da cidade e o antropólogo deixaria a cidade


falar (com observações minuciosas e entrevistas aprofundadas).

◎ Mas a antropologia encara problemas como a confiabilidade da


informação obtida.

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2.
INCOERÊNCIAS DE
BABEL

Imagem: https://www.meionorte.com/curiosidades/conheca-a-verdadeira-historia-da-torre-de-babel-296358
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◎ Em megacidades há outro problema: polifonia caótica de suas
vozes, espaço desmembrado e experiências disseminadas –
diluindo o sentido dos discursos globais.

◎ Cidade do México (Distrito Federal até 2016 – capital do México,


sede dos poderes federais):
1. Há 263 mil indígenas de mais de 30 grupos étnicos, de várias
línguas;
2. Mais de 8 milhões de habitantes (2020), sendo mais de 20 milhões
contando toda a região metropolitana;

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Estudos de Canclini sobre
consumo cultural da
Cidade do México (enquete
em 1500 residências):
◎ Baixo uso das instalações culturais
públicas (41,2% afirmaram que há mais de
1 ano não iam ao cinema; 62,5% que
gostavam de teatro não iam há 1 ano;
89,2% não iam a concertos; mais de 90%
não se interessava por eventos populares
ou festas locais dos bairros);

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◎ A maioria prefere ficar em casa durante a
semana (24,7% veem televisão, 16,3%
descansam/dormem ou se ocupam de tarefas
domésticas);
◎ Nos finais de semana, retiram-se na vida do
lar (20,5% saem da cidade, buscando contato
com a natureza, evitando a vida hostil da
cidade – que desestimula os usos recreativos
e culturais);
◎ Audiência da cultura a domicílio: 95% da
população assistia à televisão, 87% escutava
rádio, 52% videocassetes.

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◎ Portanto, as massas vão pouco a espetáculos
(em instalações públicas – cinemas, teatros,
salões de dança), aumentando-se a audiência
da cultura a domicílio (rádio, televisão e
vídeo).
◎ Nos finais de semana, retiram-se na vida do
lar (20,5% saem da cidade, buscando contato
com a natureza, evitando a vida hostil da
cidade – que desestimula os usos recreativos
e culturais);
◎ Há outros problemas: como as desigualdades
econômicas e educacionais, concentração
das ofertas culturais em áreas nobres
(urbanização irracional e especulativa).
Aliado a isso, tem-se a eficácia comunicativa
das redes tecnológicas – que diagramam os
novos vínculos invisíveis da cidade.; 10
Festival da Cidade do México
◎ Ao fazer uma pesquisa de campo (em 1990)
num festival de quase 200 mil pessoas, notou
que a maioria era constituída de estudantes
(20,91%), funcionários (19,90%), profissionais
(17,78%) e trabalhadores ligados à arte
(14,18%). Operários apenas 2,14%, artesãos
1,37% e aposentados/desempregados 1%.

◎ Quanto ao grau de escolaridade, nível primário


e secundário 20,02%, sendo 78,54% cursos
preparatórios ou superiores. Tais dados
mostram que o festival da cidade reproduz as
segmentações e segregações da população
engendradas pela desigualdade de acesso ao
capital, à educação e à distribuição residencial
dos habitantes.

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◎ As enquetes também ◎ A cidade é um quebra- ◎ Há poucos consensos
apontam para uma cabeça desmontado – o advindos de movimentos
heterogeneidade dos que se vê até pelo extraordinários (ecologia,
espectadores e setores. movimentos populares terremoto etc.), ou alguns
urbanos (uns guiados poucos partidos políticos, que
◎ A maioria sabia apenas
pelo local onde moram, buscam novas formas de
do que lhe interessava,
outros pelos interesses integração (revalorização de
sem saber que aquilo
do comércio que bairros, centros históricos).
fazia partes de um
festival (mesmo participam, etc.). Cada ◎ Esses defendem uma tentativa
eventos com público um defende seus de manter o sentido da cidade
mais bem informado – interesses sem se como expressão da sociedade
com alto grau de preocupar com o local e como resistência aos
escolaridade). contexto global da efeitos do mercado
cidade. internacional.

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◎ Mas há quem defenda que a
desorganização das grandes
cidades e a crise das formas
partidárias de representação
política fazem prevalecer
reações individualistas ou
corporativistas
(corporativismos familiares,
corporativismos de bairros,
associações cívicas).

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3.
GLOCALIZE:
O LOCAL
GLOBALIZADO

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GLOCALIZE:
O LOCAL GLOBALIZADO

Mas há problemas
Existe uma cidade
comuns, que
A maioria se globalizada, que
demandam a
recolhe ao seu se conecta com as
integração, como a
entorno imediato e redes mundiais de
poluição, trânsito,
quer esquecer o economia,
mercado (disputa
macrourbano. finanças e
nacional e
comunicações.
internacional).

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GLOCALIZE:
O LOCAL GLOBALIZADO

Glocalize é um
Mas também é visto em
neologismo japonês Isso é bem observado
outros locais que
que alude ao novo em concentrações possuem capacidade de
esquema urbanas (de alto concentrar a acumulação
“empresário-mundo”, poder econômico), financeira e as
que articula (em sua como Nova Iorque, inovações no consumo.
cultura) informação, Londres, Tóquio – Ou seja, processos
crenças e rituais que combinam informais e financeiros
têm redefinido melhor a
procedentes do local, dispersão especial e
urbanização e a
nacional e integração global. polarização de cidades.
internacional.

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GLOCALIZE:
O LOCAL GLOBALIZADO

Indicativos para a Mas também é visto em


Serviços de coexistência de uma As consequências
comunicação e nova elite, socioculturais é o
processamento da administradora destes direcionamento para
serviços (com uma cultura global (por
informação passam a
exemplo: ler notícias em
ocupar o lugar de migrantes e inglês individualmente,
ponta na geração de desempregados), ou ver o Poder Público
investimentos e criando condições planejar atividades
empregos. radicalmente distintas voltadas para
para o exercício da interessados em culturas
cidadania. internacionais).

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CULTURA CONSUMISTA

BAUMAN, Zygmunt. Capítulo 3. Cultura


Vida para consumo: consumista na
a transformação das modernidade líquida.
pessoas em
mercadoria.
Tradução: Carlos
Alberto Medeiros.
Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2008.

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Antropologia do Consumo

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Por que o papel higiênico está se esgotando
no mundo com o coronavírus?

21
O papel higiênico, está sendo o principal
produto da crise do Covid-19 e os
especialistas em marketing apontam que uma
prateleira vazia desencadeia a euforia
consumista.

22
Por Steve Cutts

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Quem precisa de mim?

◎ Livro: Richard Sennett .–Trad. A Corrosão do caráter:


consequências pessoais do trabalho no novo
capitalismo. Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Record,
1999.
◎ Laços sociais com os outros, concepção de caráter.

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4.
CIDADE
SEM MAPA

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◎ É preciso buscar entender as novas formas de identidade que se
organizam nas redes imateriais (nos processos de transmissão de
conhecimento, nos laços difusos do comércio, nos ritos ligados à
comunicação transnacional).
◎ Há que se reconhecer um multiculturalismo constitutivo da
cidade.
◎ A antropologia deve entender os problemas atuais decorrentes
da velocidade da informação transnacional em conflito com a
lentidão do território próprio (e sua coexistência), bem como as
novas formas de racismo e exclusão advindas da maior
comunicação e racionalidade da globalização.

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A questão é saber como atingir um
multiculturalismo democrático e
inteligente.

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5.
DETETIVES OU
PSICANALISTAS

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◎ O antropólogo deve, agora, considerar as práticas múltiplas que
transformam a cidade.
◎ É preciso analisar objetivamente, mas também considerar as
experiências subjetivas.
◎ Numa época globalizadora, a cidade não se constitui apenas do
que acontece em seu território.
◎ É preciso contrastar discursos, fatos sociais e experiências dos
sujeitos que os enunciam.
◎ Necessário adotar uma antropologia pós-empirista e pós-
hermenêutica.

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◎ Não se pode supor a verdade nos fatos trazidos por enquetes e
trabalhos de campo. Também não basta a confrontação de fatos
(dados) e discursos.
◎ Antropólogo deve parecer menos com o detetive do que com o
psicanalista. Ou seja, deve considerar o que se passa no íntimo
do sujeito (até mesmo sobre o que ele acha que é verdade ou não
– independentemente de ser de fato ou não). Fatos e discursos
estão no imaginário de quem os relata e isso deve ser
considerado.
◎ O que ocorre na cidade não pode ser estudado de forma isolada
por nenhuma disciplina. A análise tem que ser multidisciplinar.

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◎ Tudo isso demonstra a dificuldade de se estudar e entender as
cidades. Algumas questões ficam sem resposta. Mas, ainda
assim, algumas questões saltam aos olhos, como as catástrofes
das cidades latino-americanas (em comparação com as
europeias) – pela poluição, inundações, desabamentos, pobreza,
qualidade de vida, violências sistemática (cidades como
Santiago do Chile e México, Bogotá e Carácas, Buenos Aires, Lima
e São Paulo).
◎ Isso nos leva a ter cautela sobre a disseminação da
multipolaridade, baseada numa vida mais livre (baseadas na
autogestão e na pluralidade descentrada). Cidades, como as
citadas, diferentemente das europeias, necessitam de mais
descentralização e mais planejamento, mais sociedade civil e
mais Estado. 32
◎ Isso em razão da explosão demográfica, invasão popular e
especulativa do solo (sem formas democráticas de
representação ou administração do solo).
◎ Multidisciplinariedade se faz necessária (antropologia,
sociologia, comunicação, psicanálise).

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Lugares onde opera o capitalismo

◎ Livro: Richard Sennett .–Trad. A Corrosão do caráter:


conseqüências pessoais do trabalho no novo
capitalismo. Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Record,
1999.
◎ Capítulo 8: Os problemas do novo capitalismo
concentram-se nos lugares onde ele opera.

34
Agradecimento!
Alex Dylan
e
Camila Jorge

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Referências

◎ BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das


pessoas em mercadoria. Tradução: Carlos Alberto Medeiros. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
◎ CANCLINI, Néstor Garcia. Consumidores e cidadãos: conflitos
multiculturais da globalização. 4 ed. Rio de Janeiro: Editora
UFRJ, 1999.
◎ Richard Sennett .–Trad. A Corrosão do caráter: conseqüências
pessoais do trabalho no novo capitalismo. Marcos Santarrita.
Rio de Janeiro: Record, 1999.

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