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Apesar da boa fama dos Mercedes-Benz, MB-180 D dá trabalho ao reparador.

Devido a defeitos recorrentes na suspensão dianteira, corrente de comando associados ao


descuido dos proprietários, profissionais precisam se especializar para trabalhar com a
manutenção da van.

Era início dos anos 90 e o mercado nacional era dominado pela Volkswagen Kombi. Para
conquistar este público e até disponibilizar mais conforto e opções, algumas montadoras
passaram a oferecer veículos versáteis que podiam ser utilizados, assim como a Kombi, como
vans de transporte de passageiros, como furgões e até como ambulâncias. Era o que a Kia fez
com a Besta e a extinta Asia fez com a Topic.

Vendo esta grande oportunidade de mercado, a Mercedes assistia a tudo de camarote e


decidiu ingressar no segmento de 3.500kg de PBT com a MB180D em 1993, importada da
Espanha. Assim como as concorrentes asiáticas, esta van tinha a vantagem, perante a Kombi,
de ser a diesel e, perante às demais, de ser de uma montadora gabaritada no cenário
internacional.

Trazendo o motor OM-616 originário do automóvel 240 D muito utilizado como táxi na Europa,
Oriente Médio e África, este era movido a diesel e trabalhava com pré-câmara de combustão e
com seus 2.4litros possuía apenas 75cv de potência a 4.400RPM. O veículo permaneceu então
no mercado até o ano de 1996, quando foi substituída pelo moderno Sprinter, que permanece
sendo comercializada até os dias de hoje.

NA OFICINA
Com seus 20 anos de mercado completado no ano passado, a MB180D é um veículo que
frequenta as oficinas independentes apresentando os mais diversos defeitos, tanto que
encontramos na Speed Vans de São Paulo-SP, uma unidade fabricada em 1995 que estava com
320.000km rodados e havia apresentado a quebra da corrente de comando do motor, com
consequente travamento do motor.

Sobre essa falha e outras que o veículo costuma apresentar, opinaram o reparador Antônio
Silva Cândido Jr de 28 anos de idade, dos quais 10 anos são dedicados à profissão. “Comecei
junto com meu pai, pois ele possuía uma oficina e com ele aprendi muita coisa. Depois
montamos essa oficina, eu e meu cunhado e agora sócio, Robson Silva de Almeida”. Robson
possui 29 anos de idade e também tem 10 anos de experiência no setor de reparação.

Antônio disse que atende, em média, 160 veículos por mês na Speed Vans, sendo 30% destes
modelos MB180D. “Quando iniciamos na profissão, nosso maior público era destes veículos,
pois havia vendido muito. Portanto, com a experiência que adquirimos com a manutenção
destes, nos tornamos referência e especializados. Posso dizer que hoje é o nosso ‘carro-chefe’
nas passagens da oficina”.

Confirmamos essa afirmação de Antônio quando notamos que, na data de nossa entrevista,
ele possuía 6 exemplares destes para reparo. “Muitos mecânicos não gostam de mexer com
elas, pois existem muitos detalhes a serem verificados e o espaço para trabalhar é reduzido
(FOTO 1). Tem uma aqui que, só pelo barulho, dá para termos uma ideia de que o defeito pode
estar atrelado à cabeça da vela aquecedora que deve ter ‘pulado’, isso ocorre devido ao motor
estar apresentando compressão excessiva. Só sabemos disso devido à rotina de manutenções
do modelo e existem casos de outros reparadores que, sabendo que somos especializados, nos
enviam os veículos para reparar. Houve casos, inclusive, de MB180 que chegaram para nós
trazidas do Rio Grande do Sul.

Segundo Robson, um dos defeitos mais comuns desta van está na correia de comando do
motor. Porém, nem sempre o problema é causado por falha mecânica, mas por falta de
manutenção preventiva adequada. “Esta MB180 está vindo pela segunda vez trocar a corrente
de comando (FOTO 2). Nesta, o proprietário não fez a manutenção preventiva e o componente
se desgastou e quebrou, causando travamento do motor”.

Ao contrário do que ocorre com a maioria dos motores que apresentam quebra da corrente de
comando, quem mais sofre não são as válvulas neste motor, mas sim o comando de válvulas
(FOTO 3).
“É muito difícil empenar as válvulas quando a corrente quebra neste motor, pois estas ficam
travadas entre as engrenagens e não descem. O mais comum é ver os mancais do comando,
que são de alumínio, quebrarem”, comentou Robson.

Porém, se o cliente der sorte, mesmo com a quebra da corrente, pode não ter o motor
danificado. “Existe outra situação em que, se a corrente quebrar e for para o cárter e o
comando parar numa posição específica onde não apresente interferência, o motor gira livre
sem causar danos mais sérios”, contou Antônio.

Além deste inconveniente, outra intervenção que os reparadores informaram ser frequentes
neste modelo é na suspensão dianteira (FOTO 4).

“Como o motopropulsor fica na frente e sobre esta, as borrachas costumam se degradar


rapidamente, pois além de peso trocam muito calor com o motor”, comentou Antônio.

Robson ainda completou dizendo que o pivô é um dos que mais dá problema neste veículo. “Já
fui socorrer clientes que a roda havia caído, pois o pivô quebrou por inteiro. Ainda bem que
nada mais sério ocorreu, mas isso pode gerar acidentes graves. Nós da oficina avisamos qual a
melhor hora de trocar, mas infelizmente os clientes nem sempre acatam e colocam sua própria
segurança em risco. É uma pena”.

DICA DE MANUTENÇÃO

Pensando na dificuldade que o reparador encontra em realizar o acerto do ponto da corrente


de comando, os reparadores indicaram o procedimento de manutenção, conforme veremos a
seguir.

1) Para trocar a corrente, inicialmente removemos a tampa de válvulas (FOTO 5) e, após isso,
temos como verificar se ela caiu ou não para o cárter e que estrago provocou;

2) Em seguida, temos que retirar a frente do veículo para termos acesso ao radiador e ao
eletroventilador (FOTO 6). É necessário removê-los;
3) Com acesso mais amplo, remova as polias e as correias (FOTO 7);

4) Agora, retire os itens de suspensão como a barra estabilizadora e as bieletas (FOTO 8);

5) Retire o suporte do filtro de óleo do motor juntamente com o filtro (FOTO 9);

6) Retire o cárter e a tampa frontal para ter acesso a corrente e ao esticador (FOTO 10);

7) Saque a bomba de vácuo (FOTO 11). Verifique ainda que, atrás dela, existe uma
engrenagem que também deve ser retirada, pois a corrente passa por ela;

8) Ao retirar as peças danificadas, observe se as engrenagens estão danificadas (FOTO 12) (sem
os dentes). Se for o caso, devemos substituí-las;
9) Os pinos dos guias da corrente também podem quebrar (FOTO 13). Observe também a
necessidade de sua troca para que não haja prejuízos e retrabalhos desnecessários;

10) Os guias e o esticador da corrente (FOTO 14) devem ser substituídos como manutenção
preventiva;

11) Ao colocar a nova corrente, a recomendação dos reparadores é apoiá-la na parte superior
com uma chave de fenda grande (FOTO 15), evitando que ela caia dentro do motor fazendo
com que seja gerado um retrabalho desnecessário;

Após substituir todas as peças novas e remontar os agregados antes retirados (polias,
eletroventilador e itens de suspensão), siga o procedimento descrito. Lembre-se sempre que,
ao girar o motor com a corrente solta, segure-a esticada (FOTO 16) para que ela não remonte
ou caia, pois se isso ocorrer, você terá que desmontar tudo novamente e refizer todo o
procedimento.

12) Alinhe a marca da engrenagem do comando de válvulas com a referência no mancal do


comando (FOTO 17);
13) Coloque a polia com a referência no PMS (Ponto morto superior) (FOTO 18);

14) Após verificar a marca de referência da bomba injetora, a marca deve estar alinhada com a
falha conforme a figura abaixo posicionando-a na engrenagem (FOTO 19);

15) Retire o bujão que se encontra na lateral da bomba injetora (FOTO 20);

16) Após alinhada, devemos travar o êmbolo da bomba com um parafuso 10mm com passo de
rosca 1,50mm (FOTO 21 e 21A);

17) Gire a polia do virabrequim até a posição de 27° e, somente depois de efetuado este
procedimento é que deve-se colocar a bomba injetora (FOTO 22);

18) Efetuado este procedimento, gire o motor manualmente algumas vezes para observar se,
ao girá-lo, não há nenhuma interferência . Se isso não for conferido e um dente ficar fora, o
motor poderá travar e apresentar todos os danos relatados anteriormente.
INFORMAÇÕES TÉCNICAS E PEÇAS

Embora o veículo tenha bastante tempo no mercado, segundo Robson, conseguir material de
apoio técnico com a Mercedes é algo muito difícil. “Se fossemos depender da Mercedes para
isso estaríamos sem nada. Assim, quando precisamos de informações de itens internos do
motor como um controle dimensional, entramos em contato com retíficas parceiras e, com
eles, conseguimos o que precisamos. Agora quando precisamos de um manual técnico mais
geral, temos que recorrer a amigos que o possuam ou a fóruns como o do Jornal Oficina
Brasil”.

Robson ainda acrescentou que, devido ao veículo possuir uma mecânica de reparo trabalhoso,
o segredo é a experiência e o macete adquirido com a rotina. “Sem isso, não tem material que
ajude”.

De acordo com Antônio, as peças da MB180 nas concessionárias são muito caras, portanto o
reparador sempre acaba ouvindo do proprietário para usar aquelas mais baratas ofertadas no
mercado de reposição independente. “Estas peças não possuem a mesma durabilidade e
qualidade das genuínas, portanto este é um fator que colabora muito para que os veículos
retornem frequência para efetuar reparos já efetuados. Fora que os clientes não têm o hábito
de efetuar as manutenções preventivas, onde quando o primeiro barulho aparece, nem se
preocupa em descobrir a causa, vai andando até o carro ‘desmontar’”.

Porém, não são todas as peças que ainda são encontradas nas concessionárias. Algumas de
vital importância, como a corrente de comando, não é mais fornecida pela montadora (FOTO
23). “A original era mais larga e reforçada que esta que, além de mais estreita, apresenta
desgaste acentuado. Infelizmente é só o que temos no mercado disponível para o veículo”,
reclamou Robson.

Outro problema relacionado à compra de peças nas concessionárias é o alto preço. “São
difíceis de achar e, quando achamos, é muito mais cara que a paralela e não tem a pronta-
entrega. Isso faz com que dificilmente o cliente opte por esta. Assim, posso afirmar que 90%
das peças para este modelo eu adquiro no mercado independente”, finalizou Antônio.

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