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A VINGANÇA DO BILIONÁRIO

Copyright © 2023 Lua Dantas


TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
Capa: KG Designer
Revisão: Lih Pareira
Diagramação: Lua Dantas

Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meio eletrônico,
mecânico, fotocópia ou qualquer outro tipo, sem prévia autorização por escrito da
autora.
Esta é uma obra de ficção com o intuito de elevar a imaginação do leitor. Toda e
qualquer semelhança com nomes, datas, personagens, lugares e acontecimentos é
mera coincidência.
Tudo aqui narrado ocorre apenas na imaginação fértil da autora.

A VINGANÇA DO BILIONÁRIO
Setembro/2023
Formato E-book
Criado no Brasil
Imagens: Canva
A minha intenção ao escrever esta história é trazer entretenimento ao
leitor, recorrendo ao uso da licença poética a história aborda temas da realidade e
que talvez por alguma razão pode causar algum desconforto ao leitor, caso isso
ocorra com você é recomendável dar uma pausa na leitura. Afinal, a sua saúde
mental vem em primeiro lugar. Eis alguns temas que podem acionar gatilhos
como: perdas de pessoas queridas, cárcere privado, fuga, violência e linguajar
inapropriado. Se insistir a ir adiante saiba que muito me alegra e além disso
recomendo que prepare o coração para as dosagens certas: amor, paixão,
compreensão, sacrifícios e uma pitada de hot daquelas de tirar o fôlego.

Marco e Diana aguardam você, logo adiante!

Se permitam navegar nas correntezas da vida pregressa de Marco e na


sensibilidade da Diana e na doçura da pequena Sophia.

Lua Dantas
SUMÁRIO

NOTA DA AUTORA

SINOPSE

PRÓLOGO

CAPÍTULO 1

CAPÍTULO 2

CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 4

CAPÍTULO 5

CAPÍTULO 6

CAPÍTULO 7

CAPÍTULO 8

CAPÍTULO 9

CAPÍTULO 10

CAPÍTULO 11

CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13

CAPÍTULO 14

CAPÍTULO 15

CAPÍTULO 16

CAPÍTULO 17

CAPÍTULO 18

CAPÍTULO 19

CAPÍTULO 20

CAPÍTULO 21

CAPÍTULO 22

CAPÍTULO 23

CAPÍTULO 24

CAPÍTULO 25

CAPÍTULO 26

CAPÍTULO 27

CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29

CAPÍTULO 30

CAPÍTULO 31

CAPÍTULO 32

CAPÍTULO 33

CAPÍTULO 34

CAPÍTULO 35

CAPÍTULO 36

CAPÍTULO 37

EPÍLOGO

AGRADECIMENTOS

SOBRE A AUTORA

NOTA DA AUTORA
Foi com imensa alegria e entusiasmo que escrevi esta
história, desde o princípio me apaixonei pelo Marco. Ele foi
incrível e eu estou torcendo que você, leitor (a) se encante por
meu menino, que teve um passado difícil. Diante da dor cada
um de nós reage de forma distinta. Quando estamos diante da
dor ou de alguma perda, temos uma maneira própria de lidar
com isso e com o Marco não é diferente. Entendê-lo, é a única
coisa que eu peço a cada um que parar o seu mundo para ler
o meu, ou seja, o mundo de Marco.

Obrigada, por estar aqui!


DIVIRTA-SE!

LUA DANTAS
SINOPSE
Marco Roga sempre se considerou acima do bem e do
mal. Por trás da fachada de um grande empresário, esconde
inúmeros segredos.
Ele consegue tudo o que quer.
Ele criou as suas próprias regras.
Um gênio na arte da sedução e poder.
Ele não suporta crianças.
Ele não acredita no lado bom da vida.
Ele é cético, pragmático e extremamente reservado.
Diana Santinni sempre viveu cercada pelo luxo, riqueza e
poder. Além disso, vive em constante confronto com a mãe,
uma mulher extremamente manipuladora e possessiva.
Ela enxerga bondade nas pessoas.
Ela é amorosa.
Ela é voluntária em um abrigo que acolhe crianças órfãs.
Diana e Marco são como água e óleo, não se misturam.
No entanto, há uma linha tênue que interliga um ao outro,
que só mais tarde eles irão descobrir.
Uma pessoa do passado será a ponta do iceberg e isso
acabará desencadeando um jogo de manipulação, mentiras,
luxúria e paixão.
Enquanto Marco surfa na onda do acaso, convicto de que
suas escolhas não terão consequências, Diana ingenuamente
acredita ter encontrado o verdadeiro amor. No entanto, ela irá
descobrir que aquilo que começa errado, em algum momento
vai dar errado.
Diana se vê enredada em uma teia de mentiras e
segredos obscuros e logo ela percebe o quanto é perigoso
entregar o seu coração a alguém com um passado duvidoso.
Só nos resta descobrir se Diana, uma pessoa iluminada, vai
suportar conviver com a escuridão do homem que ela acabou
se apaixonando.
O amor pode ser uma tragédia para aqueles que
acreditam ou um acontecimento raro para aqueles que
duvidam.
PRÓLOGO
Passado

A tristeza do velho era comovente. Genaro era um


homem que já tinha experimentado de tudo nessa vida, desde
a perda da mulher amada até traições de pessoas em quem
ele confiava. No auge dos seus sessenta e cinco anos, Genaro
era um homem bastante envelhecido devido às inúmeras
decepções sofridas. O último golpe sofrido deixou o velho na
lona e eu, um garoto de 17 anos, não pude deixar de me
compadecer da sua situação. Ele era a figura mais próxima
que eu tinha de um pai.
Nunca conheci meu genitor e creio que não precisava, já
que ele pouco teria feito por mim. Um homem que vai buscar
de sexo em um puteiro qualquer de um subúrbio da cidade,
tudo que menos quer é ser um pai. Por infeliz sorte, a minha
mãe me largou para trás no casebre miserável em que
vivíamos. Lá no fundo, tento justificar as atitudes da minha
mãe, afinal, qual é o ser humano que vive feliz em um lugar
que fede a uísque barato e a cigarro de quinta categoria?! Eu
tinha nove anos de idade quando ela me abandonou e teria
morrido à míngua se não tivesse cruzado o meu caminho com
o do velho.
Sorte ou azar.
Não sei qual é a resposta. O fato é que ele me acolheu,
me ensinou muitas coisas e, além disso, me orientou sobre
como sobreviver nesse mundo miserável, onde o mais forte se
sobressai sobre o mais fraco.
Genaro foi um carrasco no início, porém me afeiçoei ao
velho e passei a admirá-lo.
— Escuta aqui, garoto! — a voz grave do velho
interrompe meus devaneios. Encaro-o com um misto de
rebeldia e veneração. — Você precisa fugir, antes que a polícia
coloque as garras sobre você. — Sinto que vou verter em
lágrimas aqui mesmo na sua frente, o que seria uma imensa
vergonha, pois para ele isso é uma fraqueza e, segundo ele,
homem que é homem não deve chorar. O choro significa que
somos fracos. A cada segundo, a sirene da polícia soa mais
próxima da residência.
— Não posso ir e deixar o senhor aqui… — a polícia não
pode encontrá-lo. Genaro está ferido por conta do ataque de
seus inimigos e, por ser um homem com mais de cem quilos,
não vou conseguir carregá-lo.
— Não vê que esse é o fim da linha para mim? — diz de
uma forma que me causa uma sensação de pânico. O velho
Genaro que eu conheço não entregaria os pontos dessa
maneira.
Se não fosse aquele imbecil foder com as nossas vidas,
não estaríamos nesse beco sem saída.
— Não diga besteira! Só vou embora se o senhor vier
comigo — minha firmeza não o demove da sua decisão. Ele
prefere ficar aqui e ser engolido pelos leões.
— Para com isso, moleque! — Ladra gemendo com dor
devido ao ferimento, que voltou a sangrar. O curativo que fiz
não foi suficiente. Genaro precisa de um médico e precisa ir
para um hospital com urgência. Esforça-se para sentar-se. É
um velho turrão mesmo. — Salve o teu rabo! Ou você acha
que aqueles abutres terão piedade de você? Eles vão te comer
vivo! — ele pode estar morrendo, porém nunca vai deixar de
impor a sua autoridade. — O dinheiro que sobrou é suficiente
para recomeçar bem longe de toda essa merda. — Me encara
com o olhar abatido. — Aproveita a tua terceira chance
porque não terá uma quarta. — Suas palavras repercutem de
uma forma arrasadora dentro de mim. É em vão tentar ir
contra as suas vontades. Ele já ditou os meus passos.
O sinal de que a polícia está se aproximando fica cada
vez mais intenso.
— Eu vou, mas eu prometo que volto para tirar o senhor
de qualquer buraco que eles te enfiarem, nem que seja no
inferno! — digo com veracidade. Pela primeira vez vejo
orgulho no olhar do velho e um sorriso amarelado se abre de
forma acolhedora. — Esse dinheiro eu vou triplicar,
quadruplicar. Vou transformar isso aqui... — mostro a
mochila com o dinheiro — e vou fazer disso um grande
império. Ninguém nunca mais vai passar a gente para trás. —
É uma promessa que faço com convicção.
— Quer superar o mestre, moleque? Primeiro de tudo,
precisa ir até onde eu fui e, mesmo assim, vai precisar ir além
de mim. Se quiser realmente seguir a mesma trajetória,
precisa se esforçar para ser o melhor também. E não ser um
fracote! — Faz uma careta devido às dores que sente. — E
saiba que se trilhar a mesma trajetória que a minha, já sabe
como ela começa e como termina. — Suas palavras têm um
peso imenso dentro de mim. Noto a sua agonia e percebo o
quanto ele luta para não deixar transparecer o quanto aquela
ferida dói. Não tem problema algum perceber que perdemos a
guerra, porém, para o velho Genaro, admitir isso é como
matá-lo em vida. Mesmo sofrendo com a dor, ele continua em
seu monólogo autoritário. — Apesar de tudo, tenho certeza
que você vai cumprir tudo isso que está prometendo. —
Suspira, tentando levar um pouco de ar aos seus pulmões. —
Saiba que estarei esperando você cumprir a sua palavra de
me tirar deste inferno. Eu sei que você jamais irá me
decepcionar. — Mesmo sem forças, levanta a mão e bate em
minhas costas, reforçando o quanto ele acredita nisso. —
Agora vá, garoto! — Ordena e então percebo que não posso
desobedecê-lo. Maldito seja o Demétrio que está nos
obrigando a seguir direções opostas. Eu nunca vou perdoá-lo
por essa traição e, algum dia, ele vai acertar as contas
comigo.
Recuo por alguns segundos. Coloco a mochila nas costas.
Encaro o velho com certa tensão, preocupação e medo.
Começo a sentir a dor da nossa despedida. É doloroso fugir e
deixá-lo para trás. Não queria que fosse assim, porém ele não
me deu outra escolha.
— Promete que vai ficar bem? — Tento segurar o choro.
O velho resmunga de forma rabugenta, reprovando o meu
comportamento.
— Eu vou ficar. — Não sei se ele diz aquilo com alguma
verdade ou porque deseja me deixar tranquilo. Inspiro
profundamente.
Caminho em direção à saída, porém me detenho e volto
até o velho, abro os braços e aperto bem forte aquele homem
que me ensinou tudo da vida. Que me tirou da sarjeta, salvou
a minha vida e me deu um teto, comida e muito mais. O pego
de surpresa e ele não têm como se desvencilhar. Tentou
resmungar, porém, cedendo, pela primeira vez aceitou o meu
abraço e me abraçou de volta. Não sei dizer quanto tempo
demorou esse nosso afeto, mas foi o suficiente para eu nunca
mais esquecer. Quando enfim nos afastamos, pude ouvir um
pequeno soluço saindo de suas entranhas que imediatamente
ele tentou ocultar. Sem coragem para me virar e me certificar
da verdade, saí porta afora com a certeza que, pela primeira
vez desde que conheci o velho, eu o ouvi chorando.
Enquanto olhava para o céu iluminado pela lua e as
estrelas, as minhas lágrimas desciam pelo meu rosto
molhando a minha camisa. Eu chorava por não poder levar
ele comigo e porque, lá no fundo, eu sabia que jamais
voltaríamos a nos encontrar. Enquanto a polícia se
aproximava da casa do velho, eu seguia em direção oposta,
sem coragem de olhar para trás.
O tempo é um caminho só de ida, não adianta querer
voltar para aquilo que a gente era. O tempo se esvai como as
gotas de um orvalho no frio de uma manhã.
CAPÍTULO 1
O passado é como um controle remoto: eu aciono e todas
as lembranças surgem em minha memória, me fazendo
relembrar tudo àquilo que fui obrigado a deixar para trás. Não
cultivo arrependimentos, mas às vezes me sinto culpado por
não ter conseguido salvá-lo. Gostaria de ter feito mais por ele,
da mesma maneira que ele fez por mim. No entanto, na época,
eu era apenas um garoto franzino de dezessete anos que nada
sabia da vida. Infelizmente, para a maioria das pessoas,
algumas escolhas são impostas e, nesse conceito, eu me
encaixo de forma perfeita.
Inspiro o ar da noite inquieto, com os pensamentos
descontrolados em meu cérebro. Como ocorre com frequência,
a insônia mais uma vez é a minha mais fiel companheira.
Anos de terapia e nem isso conseguiu aplacar os muitos
demônios que rodopiam em minha mente.
O silêncio é quase sepulcral na minha riquíssima
mansão. E isso é algo que não me amedronta. Acostumei-me
a viver assim. Aqui não há ninguém que interrompa os meus
devaneios. A solidão é um privilégio para poucos, e sou um
dos contemplados. É reconfortante saber que estou sozinho e
que não tenho mais ninguém para perder. É conveniente não
viver apegado a nada e nem a ninguém. Eu sou completo
vivendo dessa forma. Toda noite compartilho a mesa do jantar
com os meus próprios demônios, e eles fazem festa quando
resolvo dar-lhes liberdade.
Essa inquietude em meu peito é o que está me
incomodando nos últimos dias. Estou vivendo em um estado
de nervos efervescente e, às vezes, tenho a nítida sensação
que estou andando em uma corda bamba. Tenho me dedicado
expressivamente no trabalho, na esperança de expurgar todos
esses demônios, no entanto, nada disso está surtindo efeito.
Eu poderia ter ligado para minha terapeuta, Helena, mas
decidi não a importunar com minhas crises existenciais. A
pobre da profissional não tem o antídoto para o meu
problema. A outra opção seria ir a um desses clubes de sexo e
foder a noite inteira, mas mesmo assim seria em vão. Resumo
da ópera: terminei a noite enclausurado nesta casa, olhando
para o meu próprio abismo e prestes a colidir com o caos.
Liliana seria uma das pessoas a quem eu poderia
recorrer neste momento, mas não me sinto no direito de
interromper o delicioso sono da única pessoa na face da terra
que me atura durante todos esses anos. Tem quase duas
décadas que eu conheci Liliana. Lembro que na época
estávamos do mesmo lado da trincheira. Éramos dois seres
errantes caminhando pela vida, vivendo à margem estreita da
sociedade. Em meio ao caos, encontramos apoio um no outro.
No auge do campeonato, ouso admitir que Liliana seja a
pessoa mais próxima quem eu tenho de família.
Ela carrega a sua própria carga e eu vou levando as
minhas bugigangas. Ela já enfrentou de tudo nesta vida, mas
ela nunca me contou tudo. Enquanto isso, eu abri o meu
reservatório de podridão e ela viu exatamente quem eu sou.
Um cara fodidamente só.
Ela é uma mulher impecável, aquela pessoa que pegou as
merdas que a sociedade jogou sobre ela e as transformou em
adubo, renascendo do pó. Ela é a melhor funcionária que eu
poderia ter e administra essa mansão com firmeza. Ela
conhece todos os meus gostos e, por isso, sempre busca dar o
melhor de si. Depois dela, só há mais uma pessoa em quem
confio: Herbert Moraes que, além de ser o meu homem de
confiança, é também o meu motorista e segurança particular.
No passado, Herbert era um contrabandista e matador de
aluguel. Não ousaria dizer que o nosso encontro foi uma
coincidência, pois tenho certeza de que minha vida não teria
tomado o rumo que tomou sem a presença do Herbert e
Liliana.
Encosto no parapeito e observo a rua fortemente
iluminada e os vários carros que transitam pela avenida. Dou
uma longa tragada no cigarro e a fumaça se dissipa pelo ar. O
hábito de fumar foi adquirido na minha primeira infância,
quando eu via minha mãe fumando e, depois, o velho Genaro.
É óbvio que o cheiro do tabaco que consumo hoje é muito
superior ao odor barato que minha mãe e o velho Genaro
exalavam. O dinheiro e o poder nos proporcionam a
oportunidade de alçar voos mais altos e desfrutar conforto,
comidas e bebidas caras.
À medida que construí meu império, houve muitas
especulações e dúvidas a meu respeito. As pessoas não
aceitam o fato de que um garoto sem parentes possa
construir uma grande empresa. Nunca me importei com todas
estas especulações, o fato é que tudo isso ficou para trás.
Hoje sou um grande empresário, rico e temido por todos. O
sobrenome Roga hoje tem destaque na sociedade. A maioria
dos prédios e hotéis tem minha marca registrada e todos têm
que engolir isso. Não é à toa que sou o maior empresário da
América Latina.
Há muitos anos, quando fugi daquela fazenda deixando o
velho Genaro para trás, jurei na sua frente que usaria o
dinheiro que nos restou para criar um grande negócio. Não
sei dizer se ele acreditou nas minhas palavras, afinal, naquele
dia estávamos com a emoção à flor da pele, sem contar a
Polícia Federal nos nossos calcanhares. Mas o fato é que eu
consegui realizar a minha promessa. Infelizmente, naquela
época, apenas um de nós sobreviveu para ver isso
concretizado.
Eu superei você, seu velho turrão! - digo em voz alta para
a escuridão com um sentimento de glória.
Era pra você estar aqui para usufruir de toda esta riqueza!
- murmuro para o breu, mas com a convicção de que ele me
escuta, mesmo que esteja no inferno. E por alguma razão
inexplicável, acredito que ele está orgulhoso por ver que eu
consegui ir além.
Termino o resto do cigarro, atirando-o no cinzeiro. Me
afasto do parapeito e me dirijo ao térreo com destino ao
frigobar. Preciso beber um uísque forte para acalmar os meus
nervos. Odeio quando as lembranças do passado insistem em
permanecer. Tudo o que eu preciso fazer é manter a caixa de
pandora fechada. Não vou permitir que o que aconteceu há
muitos anos boicote a minha vida no presente. Preciso manter
tudo enterrado em um lugar bem distante. Preparo a dose de
uísque da maneira que gosto e bebo de uma só vez, sentindo
o líquido rasgando a minha garganta.
Abri os olhos, incomodado com os raios de sol que
adentravam pelas frestas da janela, tudo isso porque alguém
não puxou as cortinas. Não consigo me lembrar em que
momento acabei adormecendo. A verdade é que quando
cheguei à minha suíte, já tinha ingerido quase duas garrafas
de uísque. Resmunguei mal-humorado, jogando o cobertor
para o lado e me dirigindo ao banheiro. Uma ducha gelada vai
colocar meus neurônios em seu devido lugar. Debaixo do
chuveiro, meus pensamentos continuam efervescentes, mas
resolvo ignorá-los. O passado não vai alugar um tríplex em
minha cabeça. Me recuso a permanecer com essa trave
entalada na minha garganta. Preciso resolver isso logo.
Desligo o chuveiro e, enquanto enxugo o meu corpo, sigo
para o quarto e entro no closet para escolher a minha roupa.
É com ostentação que tenho um closet com os mais variados
ternos, todos fabricado na França e com uma única cor:
preta, a minha cor favorita. Desde que comecei a ter sucesso
na vida e a triplicar o meu patrimônio, optei por roupas da
mesma cor. As cores das minhas roupas complementam a
escuridão que tem sido a minha vida nas últimas décadas.
Negra. Escura. Sem cor. Me arrumo com cuidado e, depois de
pronto, encaro o meu reflexo no espelho, gostando do que
vejo: um homem com privilégios, mas amargurado.
Não esboço sequer um sorriso, afinal, há tempos que não
sei o que isso significa. Levanto levemente as sobrancelhas,
de forma irônica, aprovando assim o resultado final.
Como um leão que domina a própria selva, caminho para
fora da suíte com um destino em mente: degustar meu
desjejum matinal. Com passos firmes, desço as escadas em
diagonal, com destino ao meu objetivo e logo vejo a realidade
diante dos meus olhos: uma mesa colorida com muitas
iguarias, comidas e sucos de vários sabores. Liliana está
terminando de colocar os últimos ingredientes sobre a mesa e
seus olhos se voltam na minha direção ao me ver entrando na
sala. Temos outros empregados, entretanto, a
responsabilidade de cuidar da minha alimentação é exclusiva
dela.
— Bom dia, patrão — cumprimenta ao me ver entrar.
Mesmo tendo um laço amigável, ela ainda insiste em me
tratar com formalidade.
— Bom dia, Liliana — respondo, me sentando no lugar
de costume. Imediatamente, ela se dispõe a me servir, em
silêncio. Ao terminar a sua tarefa, Liliana fica em pé um
pouco à minha frente. Saboreio cada uma das delícias de
forma silenciosa. Tudo está perfeitamente do meu agrado.
Após finalizar a minha refeição me levanto de forma solene,
agradecendo-a por sua presteza e dedicação.
Satisfeito com a primeira refeição do dia, me retiro da
sua presença e ela se dispõe a desfazer a mesa na companhia
de Melanie, outra empregada da mansão.
Foi aos poucos que construí o meu próprio império. A
construtora Roga é considerada a melhor no país. Não é à toa
que ela ocupa o primeiro lugar no ranking há mais de dez
anos. Para mim, isso é motivo de orgulho e me dá a certeza
que conquistei tudo aquilo que um dia eu projetei. Não foi
fácil, reconheço que não, mas jamais desisti de alcançar meus
objetivos. Um sonho que um dia esteve em minha cabeça até
que eu pude concretizá-lo.
Mais uma coisa eu devo admitir em meio a tudo isso: à
medida que vamos subindo no poder, causamos inveja e
admiração nas pessoas, principalmente quando há pessoas
que questionam e até criticam a forma como você é. Por sua
vez, vamos colecionando inimigos ao redor do mundo. No
entanto, quanto as minhas inimizades, evito pensar nelas.
Elas não têm poder sobre nós quando as colocamos nos
devidos lugares. Contudo, o passado sempre deixa alguma
sequela. Uma ferida que nunca cicatriza. Durante toda a
minha vida, sempre pude me livrar de cada pedra no meu
caminho e, no entanto, a maior de todas elas, nunca consegui
me livrar.
Demétrio Linhares é uma pedra que eu nunca consegui
remover da minha vida. Há mais de vinte anos que aquele
filho da puta desapareceu da face da terra e nunca pude
entender como ele conseguiu tal feito. Sumir sem deixar
vestígios. Anos de buscas e nunca pude sequer encontrar um
fio de cabelo daquele puto fodido e agourento.
Só terei paz no dia que descobrir o seu paradeiro e, dessa
forma, dar-lhe o fim que ele merece. Nada do que ele fez no
passado ficará impune porque, nesse dia, eu juro que vou
beber o seu sangue enquanto ele agoniza até a morte. Mesmo
que ele me peça clemência, não terei compaixão.
Envolto nessas lembranças, sequer percebo que cheguei
à empresa. Saio do carro assim que Herbert para no
estacionamento. Com passos ligeiros, caminho em direção ao
elevador com destino a minha sala, situada no quinto andar.
No caminho para a minha sala, encontro a minha
secretária, Melissa Arantes, uma loira sorridente e com um
corpo escultural, capaz de levar qualquer homem à ruína.
— Bom dia, Mar... — revirei os olhos deixando claro que
não gostei da forma que ela iria me tratar — Sr. Roga. —
Corrige-se. Aceno levemente e não interrompo a minha
caminhada.
Percebo que ela se esforça para me alcançar. Entro na
minha sala bufando ao perceber que ela também faz o
mesmo. Ao fechar a porta se insinua na minha direção. Tento
me manter neutro. Afinal, tenho como uma das minhas
regras não transar com uma mulher duas vezes. Nem com as
prostitutas profissionais eu faço isso. Melissa usa suas
artimanhas de sedução. Ela acha que assim vou me jogar aos
seus pés. Pobre criatura!
— Você estava mais receptivo na semana passada! —
reclama ela.
Começo a me arrepender de ter transado com a minha
secretária. Isso foi um erro. Não devia ter levado Melissa para
cama. Tenho experiência de sobra para saber que é um erro
comer a secretária. O que aconteceu no passado devia ter me
servido de exemplo.
— Sabe qual é o meu maior desejo? — Antes que o meu
cérebro me leve por caminhos turbulentos, a voz da minha
secretária me traz de volta a realidade. E a cena que surge
diante dos meus olhos me deixa extremamente furioso,
escuto-me rosnar. — Ser fodida pelo meu chefe deitado sob
esta mesa. — Meus olhos saltam das órbitas quando vejo a
malvada de pernas abertas na minha direção, sem nenhum
pudor, tocando sua boceta. A infeliz está sem calcinha. O meu
pau desobediente dá indícios do quanto quer se enterrar
naquela boceta úmida, mas me recuso a cair na armadilha
dessa víbora, que sabe tão bem como seduzir um homem.
— Saia da minha sala agora! — Sibilo com uma fúria
descomunal, erguendo aquela serpente em forma de mulher.
Ela se assusta com a minha atitude ríspida e, a princípio,
noto um tom de vergonha pairando em seu rosto branco.
— Eu achei... que a gente podia... — Ela se atrapalha nas
próprias palavras.
— Você não é paga para achar nada, e sim, para cumprir
as suas funções aqui nesta empresa. — Rebato com mais
arrogância, deixando claro o quanto estou furioso por
presenciar o seu jogo de sedução, como se eu fosse um garoto
de quinze anos que nunca viu uma boceta. — O que foi que
eu falei quando fomos para a cama? — Indaguei friamente.
Ela permanece muda, quase sem me encarar, e acredito
que deve estar se sentindo envergonhada. Ela imaginava que
eu iria cair de boca na sua boceta. Como ela se recusa a me
encarar, faço um gesto para que ela olhe diretamente em
meus olhos, para que assim ela entenda que aquilo que
aconteceu na semana passada não vai se repetir. — Não fodo
duas vezes com a mesma mulher. E não será você, uma
subordinada, que vai quebrar uma das minhas principais
regras. — Estou sendo rude, reconheço, mas me recuso a
sentir algum tipo de sentimento por usar tais palavras. Ela
estremece ao ouvir cada palavra dita, e os seus olhos ficam
lacrimejando. Será que essa infeliz vai começar a chorar aqui
na minha frente? — Saia da minha sala antes que eu resolva
te mandar direto para o RH. — Ordeno severo.
Ela fica aturdida, descrente e confusa, como se não
esperasse que eu tivesse uma atitude assim. Completamente
muda e cabisbaixa, vejo-a dando as costas e se retirando da
minha frente. Suspiro fortemente quando a porta se fecha,
percebendo tardiamente que arranjei um grande problema.
Melissa, que não me apronte mais uma dessas, senão os seus
dias como minha secretária estão contados.
Nota mental: não foder com as secretárias – resmungo,
sentando-me em minha poltrona e mergulhando no trabalho.
Só assim para desanuviar essa fumaça negra que Melissa
deixou.
Passo a manhã inteira dentro da minha sala realizando
tarefas costumeiras e aliviado por não ter visto a cara da
minha secretária novamente. Sem dúvida, ela deve estar
envergonhada pela sua atitude e deve estar me evitando.
Quando recordo a cena que ela fez deitada nesta mesa, sinto
vontade de gargalhar. Seria cômico, se não fosse trágico.
Porque dentro de mim paira aquela sensação de perigo
iminente e, geralmente, quando isso começa a incomodar, é
porque por aí está vindo uma forte tempestade.
Após o almoço, decido visitar algumas das obras no
centro da cidade e percebo que a maioria das casas,
apartamentos e prédios construídos nesta cidade tem minha
marca em cada tijolo levantado. Isso me causa muito orgulho
e a certeza de que tudo aquilo que eu projetei há mais de
vinte anos está sendo realizado. A minha empresa, além de
levar o meu sobrenome, carrega todo o meu legado. Hoje, sou
um homem bem visto na sociedade, respeitado e até temido,
devo admitir. Aquele garoto franzino que fugiu com o rabo
entre as pernas ficou para trás e, em seu lugar, nasceu um
homem que não teme seus inimigos, confia em poucos e tem
uma conta bancária para viver bem por muitos séculos. Após
fazer a minha vistoria nos canteiros das obras, retorno para a
empresa.
No final do expediente, quando estou prestes a deixar a
empresa, Melissa surge na porta, acompanhada. Ela sequer
tem coragem de me encarar. Anuncia o visitante e se retira
rapidamente, fechando a porta.
— Juan Carlo? — Levanto-me instantaneamente. — Que
surpresa! Espero que traga boas notícias. — Me dirijo a ele e o
cumprimento.
— Este é o motivo da minha visita. Pensei em ligar para
combinar um happy hour, mas achei melhor chegar
repentinamente. — Sorri, mostrando seus dentes amarelados.
Juan Carlo é um detetive que já esteve preso várias
vezes. Antes era um policial, mas aconteceram várias merdas
na sua vida e ele acabou perdendo o distintivo. Agora
trabalha de forma clandestina. Indico uma poltrona para que
ele se sente e logo ele o faz, colocando sua maleta de couro ao
seu lado.
Juan é um homem alto, branco e bastante magro e,
quem o vê deve imaginar que o pobre homem não se alimenta
de forma regular. Às vezes me pergunto onde o infeliz
armazena tudo aquilo que come. Deve ser aquele ditado que
eu ouvia o velho Genaro dizer: “é magro de ruim”.
— Trouxe comigo todas as informações que descobri —
diz, abrindo a maleta surrada e retirando de lá um enorme
envelope amarelo — isso custou uma grande fortuna
— Dinheiro não é o problema. Pago o que for preciso para
ter todas as informações necessárias.
— E, é também uma bomba-relógio que, se acionada, não
deixará pedra sobre pedra. — Ele faz uma expressão
dramática, como se isso pudesse me intimidar. Mal sabe ele
que o inferno é pequeno para tudo o que eu vivi. Ele me
entrega o envelope.
Agora, finalmente, vou descobrir em que lugar aquele
rato se esconde.
Ergo-me com uma naturalidade calculada, vou direto até
o cofre, digito a chave secreta e retiro de lá o dinheiro que já
havia separado para esta ocasião. Entrego-o.
— Não vai conferir? — Indaga, apontando o envelope que
deixei sob a mesa.
— Vou te dar um voto de confiança, mesmo com a
certeza que você não merece. — Ironizei.
Ele confere a grana, cheirando-a. Quis pagar em espécie
porque não quero deixar rastros. E, se algum dia eu o
encontrar na rua, mudarei de calçada. Para todos os efeitos,
este encontro jamais existiu. Sequer as câmaras da empresa
vão mostrar que ele esteve aqui.
— Foi uma honra ter feito negócio com um homem
poderoso como você. — Intimidade demais para alguém que
oscila entre o diabo e o capeta, nunca é um bom negócio. É
preciso colocar cada um no seu quadrado.
— Não posso dizer o mesmo. — Reteso o meu corpo,
deixando explícito que o seu tempo se esgotou. — Aceite como
um conselho para a sua vida miserável: os nossos caminhos
jamais se cruzaram. — Meu tom é ameaçador e ele entende o
recado. Existe uma linha tênue entre o bem e o mal e eu sou
adepto de seguir o mal. Ele guarda o dinheiro na maleta e, em
silêncio, se retira da minha sala, deixando atrás de si aquele
cheiro de cigarro e perfume barato.
Enfim, algumas pessoas nasceram para viver na margem
da sociedade, e eu não sou responsável por isso.
Passados alguns minutos, decido olhar o que tem dentro
do envelope e, à medida que vou vendo fotos e lendo algumas
anotações, vou ficando cada vez mais perplexo.
Ele sempre soube como se dar bem em cima da bondade
alheia, um mestre na manipulação e na maldade. Mas eu não
estou surpreso; uma pessoa capaz de trair e roubar o próprio
pai não tem coração.
Espalho todas as fotos no chão do meu escritório e
encaro aquilo tudo sentindo asco, raiva e ódio. Tudo ao meu
redor fica vermelho.
Demétrio.
Pronuncio o seu nome só para sentir o gosto amargo que
as lembranças me trazem. Naquele dia, tudo na minha vida
mudou. Naquele dia, ele conseguiu tirar de mim o pouco de
paz que ainda restava. Naquele dia, ele decretou a sua
sentença ao trair o seu pai e a mim. Naquele dia, jurei que
viveria para me vingar por tudo o que ele nos impediu de
viver.
Se um dia é da caça e o outro do caçador, finalmente
tinha chegado o dia da caça, depois de mais vinte anos.
Enfim, chegou o momento de colocar essa cidade abaixo.
CAPÍTULO 2
Por fora estou calma, mas por dentro estou a ponto de
explodir. Não acredito que caí igual a uma pata nesta
armadilha feita pela minha mãe. A ilustre Marieta Santinni é
um poço da manipulação e persuasão inquestionáveis. Às
vezes, tenho dúvidas se eu realmente saí do útero dessa
mulher. Dona Marieta adora ver as pessoas se curvando
diante dos seus pés. Ela, com certeza, deve imaginar que
ainda estamos vivendo século XIX.
Resmungo raivosamente, em silêncio, observando aquele
circo onde a única palhaça sou eu. São invejáveis os sorrisos
calculados e as palavras brandas que a minha mãe esbanja
neste salão, cercada por pessoas elegantes e holofotes
intensos. Aparentemente, a única pessoa feliz nesse lugar é
ela, o que me deixa com uma sensação amarga na boca.
— Eu juro que não sabia de nada disso — meu pai me
confidencia, com uma expressão de culpa.
Balanço a cabeça, inconformada, até porque as palavras
resolveram me abandonar. Acredito nas palavras do meu pai,
afinal, somos tão apegados um ao outro que dificilmente ele
participaria desta palhaçada se soubesse. Por outro lado, se
ele tivesse descoberto antes as ideias loucas da minha mãe,
ele nada poderia ter feito. Ela é tão manipuladora e
controladora que muitas vezes fico me perguntando o que foi
que o meu pai viu nela para estarem casados há mais de vinte
anos. Sabe aquele casal que não têm nada em comum? Esses
são os meus pais.
Durante toda a minha existência, eu nunca presenciei
nenhum gesto de carinho entre eles. Mesmo não verbalizando,
acredito que eles estão casados apenas no papel e não se
separam porque, segundo a minha mãe, não querem ver o
nome da nossa família na lama. Preferem viver um casamento
de aparências a cada um seguir o seu rumo.
Para mim, minha mãe se casou com a fortuna do meu
pai, já que ele é o herdeiro rico da família. De acordo com
alguns rumores, na época que a minha mãe engravidou - de
mim, por sinal -, seus pais estavam prestes a falir e, com o
casamento, eles conseguiram contornar a situação.
Após o meu nascimento, minha mãe assumiu a
presidência da empresa Império Cosméticos e o meu pai se
tornou o vice-presidente. Algo que sempre questionei é porque
meu pai não é o presidente.
Após concluir meu MBA nos Estados Unidos, voltei ao
Brasil para ser Diretora de Vendas. Há um mês retornei e
consegui fechar uma nova parceria com um grupo de
chineses que pretende investir seu capital no Brasil. Essa
conquista, a princípio considerada perdida, foi possível após
convencê-los a fechar o negócio.
A coletiva de imprensa é para anunciar esse grande
negócio, até o momento que a minha mãe decidiu acionar a
bomba em minhas mãos, em meio a toda a imprensa, e eu
não consegui desarmá-la antes da explosão. Senti-me como
um boi indo para o matadouro quando George abriu uma
caixinha de veludo vermelha, atraindo a atenção dos curiosos
de plantão, e pediu a minha mão em casamento, como se
ainda estivéssemos no século passado.
Naquele momento, fui ao inferno e voltei em menos de
segundos. Por um momento, fiquei tentada a dizer que não
aceitava o seu pedido, porém não conseguir balbuciar sequer
uma palavra. Eu congelei. Eu travei. E me vi naquele instante
de vibrações e alegrias que não eram minhas, com um
solitário gigante cravejado de diamantes enfiado na minha
mão direta. Foi tudo tão rápido e confuso que sentia que
tinha saído do meu corpo, parecendo um robô.
Conheci George Darwin assim que ele se mudou para o
Brasil. Ele é um dos gerentes da Império Cosméticos. Ele
trabalha conosco há quatro anos e, durante esse meio tempo,
nos envolvemos. Contudo, no último ano, tenho pensado
muito sobre o futuro da nossa relação. Estive muito enrolada
nos estudos e não consegui conversar com o George para
colocar um ponto final na nossa história. Tentei nas últimas
semanas falar com ele sobre o assunto, mas sempre acontecia
algo e, no fim, acabava adiando.
George é um homem bonito, loiro, olhos azuis, másculo e
atlético. Ele se parece com aqueles atores de cinema. Um
homem clássico, gentil e sorridente. Quando começamos a
nos envolver, imaginei que ele era o homem da minha vida,
mas com a convivência eu descobri o quanto estava
enganada. Mesmo sendo um homem romântico, não o amo
como imaginava.
Meu sonho sempre foi encontrar e viver um amor igual
ao dos meus avós paternos. Dona Celeste e Seu Júlio era um
casal que servia de inspiração para qualquer história
romântica. Eles se casaram aos vinte anos e a história que
eles construíram começou aos dez anos. Permaneceram
casados por mais de setenta anos, até o dia que partiram pra
eternidade. Minha avó era uma mulher sábia e maravilhosa.
Sempre me contava histórias incríveis da sua época, de como
ela e meu avô se conheceram e descobriram que estavam
apaixonados um pelo outro. O amor deles era muito lindo.
Cada vez que ela falava sobre isso, eu me imaginava vivendo
um amor tão grandioso assim.
Entro no banheiro do clube com o coração batendo forte.
Finalmente consegui me livrar dos fotógrafos e encontrar um
lugar onde pudesse respirar tranquilamente. Suspiro
inúmeras vezes antes de molhar o meu rosto, na esperança de
dissipar essa nuvem de incerteza que encobre minha face.
Encaro o anel reluzente em meu dedo e uma lágrima de
tristeza rola pelo meu rosto.
Eu preciso me livrar disso o quanto antes! - penso
amargurada.
Aproveito para fazer xixi e, ao retornar para lavar minhas
mãos, a porta se abre e Pâmela entra. Ela me abraça tão forte
que chega a doer.
Pâmela Soares é minha melhor amiga e confidente. Ela
conhece todos os meus segredos, desejos e anseios, assim
como eu conheço os seus. Crescemos praticamente juntas e
temos a mesma idade: vinte e quatro anos. Ela trabalha na
empresa da minha família como assessora jurídica.
— Ah, amiga, posso imaginar o que está se passando
nessa sua cabecinha linda! — lamenta. — Deveria ter previsto
que a megera da sua mãe estava aprontando algo. — Pâmela
e a minha mãe nunca conseguiram se entender. Ela vive
chamando a minha mãe de megera e costuma dizer que a
minha mãe está mais para ser a madrasta má da Cinderela
do que uma mãe.
— Eu sei, amiga. — Choramingo com a cabeça apoiada
em seu ombro. Entre as poucas pessoas com quem eu
convivo, Pâmela é uma das quais eu mais confio para
compartilhar os meus dilemas. Ela sempre me apoia em tudo
e sempre me incentiva a romper o meu compromisso com o
George.
— Nós vamos encontrar uma saída para tudo isso. Pode
contar comigo. — Ter o seu apoio é fundamental para não
enlouquecer nessa zona. Permanecemos ainda mais alguns
minutos desabafando e, após ficar mais tranquila, decidimos
sair. Ao abrirmos a porta, encontramos o George. Franzi a
testa com desgosto ao encontrá-lo ali como um cão de guarda.
— Que bom que te encontrei, amor! Te procurei pelo
salão todo. — Revela com nítida preocupação. Passamos por
ele sem ao menos lhe dirigir uma palavra. Ele segue atrás de
nós, me deixando muito nervosa. O salão continua lotado,
pessoas transitando de forma ininterrupta com os sorrisos no
rosto. Bebem, conversam, dançam.
Por fim, acabo sentando em uma das mesas vazias,
cruzando os meus braços. Se as pessoas prestassem atenção
em mim, perceberiam que não estou feliz. Pâmela senta-se ao
meu lado, deixando um lugar vazio na minha frente que
George ocupa com o olhar questionador. Um garçom passa
oferecendo champanhe, mas não estou com vontade e recuso.
— Vamos dançar, amor! — Sinto um gosto amargo na
minha garganta. — Você está muito distante... — resmungo
baixinho. — É a nossa festa de noivado...
—Uma festa que eu nem sabia que você e a minha mãe
estavam planejando! — expresso com raiva.
— Era uma surpresa! — grunhi, áspera. — Toda mulher
fica feliz com algo assim...
— Para a sua informação, eu não sou esta mulher! —
Explodi, rígida. O meu tom de voz faz as pessoas nos
observarem e alguns flashes nos ultrapassarem.
— Olha o vexame que você está nos fazendo passar. —
Alerta em um murmúrio forçando um sorriso, o que aumenta
a minha ira. Observo esse monte de curiosos, ávidos por um
escândalo e me levanto, fazendo um sinal para que Pâmela
venha comigo.
Não fico nem mais um segundo neste circo.
Com destino a saída, noto alguns olhares julgadores me
sondando, mas sequer paro para prestar atenção. Minha mãe
me lança um olhar de ultraje. Logo ouvirei os seus sermões e
suas críticas de sempre.
Não me importo.
Só quero ir embora deste lugar.
O dia nem ao menos começou e já escuto a ladainha da
minha mãe assim que coloco os meus pés na sala. Lá estava a
imponente Marieta Santinni, com muitas rugas de
preocupação explícita, na sala, me recriminando por tudo o
que aconteceu na noite passada.
Para ela, sou a culpada de tudo. Se ocorrer um terremoto
em Nova York eu sou a culpada. Provavelmente, sou
responsável pelo atentado ocorrido em onze de setembro nas
Torres Gêmeas. Ainda bem que Pâmela não foi embora e está
aqui comigo. Sem ela, possivelmente não teria voltado pra
casa.
— Espero que você tenha alguma explicação razoável
pelo que aconteceu. — Severamente, destila o seu veneno sem
se importar que estamos em pleno domingo.
— Bom dia, mamãe — digo com um tom cínico. Abraço e
dou um beijo em meu pai, o qual me abraça de volta.
— Oi, padrinho — os dois se abraçam. Meu pai é o
padrinho da minha amiga. Minha mãe continua sapateando
pela casa.
— Não vai pedir desculpas por suas atitudes infantis? —
Ela retoma o assunto anterior. — Não imagina o quanto me
custou apagar os vestígios da sua imprudência. Como pode
abandonar o seu noivo antes de encerrar a festa? Os
convidados ficaram intrigados e fofocando sobre o motivo de
você ter ido embora daquela forma.
— Da próxima vez, a senhora me avisa o que está
pretendendo, e eu decido se vou lá ou não.
— Não seja ridícula! Eu preparei o melhor para fazer
desta uma noite memorável, e você quase coloca tudo a
perder.
— Eu estava indo para a comemoração de uma parceria
de negócios e não para um circo orquestrado pela minha
própria mãe, onde a única palhaça era eu.
— Era uma surpresa.
— Era? — Desdenhei. — Pois fique sabendo que eu odiei.
— Deixa de bobagem! A festa estava linda, antes de você
estragar tudo. Isso é porque eu e o seu pai te demos liberdade
demais. Deveríamos ter te criado com uma rédea mais curta,
assim você seria uma pessoa mais obediente. — Tento
argumentar, mas ela não permite. — Isso também é por causa
das más influências. Essa garota é uma péssima influência
para você! — Fico chocada. Agora ela decidiu atacar a Pâmela
que nada tem a ver com as merdas que ela apronta. —
Deveríamos proibir essa amizade boba entre essas duas!
— Marieta! — meu pai repreende. — Não vou permitir
que você ofenda minha afilhada e minha filha na minha
frente. — Ele soa mais ríspido, algo que nunca o vi fazendo.
Enfrentar minha mãe é algo inédito. — Você foi leviana ao
planejar essa festa de noivado sem ao menos consultar a sua
filha...
— Consultar? — resmunga com raiva. — Agora eu tenho
que consultar o que é melhor para minha filha? Isso é o
cúmulo! Esse casamento já deveria ter acontecido, se ela... —
aponta na minha direção — não tivesse indo estudar fora e se
você não a tivesse incentivado a ir. Quanto mais cedo se
casarem, melhor.
— A senhora já se perguntou se eu quero me casar? —
indago de forma brusca. Minha mãe me encara como se eu
fosse uma aberração. — A senhora fica aí planejando meu
futuro e sequer pergunta a minha opinião.
— Claro que você vai se casar! — É um absurdo ela
sequer levar em consideração aquilo que acabei de dizer. —
George é um ótimo partido. Sem contar que quero ver a
minha única filha casada.
Estou completamente frustrada ao ouvir as palavras que
soam nesta sala.
— Eu posso muito bem acabar com esse relacionamento.
Eu não amo o George, como todos vocês imaginam. — Minhas
palavras saem em desfiladeiros, o que faz a minha mãe me
olhar com mais fúria.
— Não diga besteiras, garota! O que as pessoas irão dizer
caso essa união não se consolide? Já imaginou o escândalo
que isso terá, caso continue com uma loucura dessas? Isso
seria uma tragédia!
— Tragédia será se eu me casar com uma pessoa que não
me fará feliz. Tenho pensado frequentemente em terminar
tudo de vez...
— Você não ouse! — Corta brava. — Filha minha não
rompe nenhum relacionamento prestes a se consolidar no
altar. Você só pode estar bêbada para dizer tudo isso. Não irei
levar nada do que disse em consideração. — Odeio todo o seu
autoritarismo. Ela sempre quer ser a dona da verdade. — É
melhor tirar essas ideias absurdas da sua cabeça. E você... —
aponta o dedo para Pâmela — faça o favor de tirar as
minhocas da cabeça da sua amiga. Esse casamento vai
acontecer, nem que para isso eu seja obrigada a te levar
arrastada para o altar!
Dando o seu ultimato, retira-se da sala pisando firme.
Durante os primeiros cinco minutos, nenhum de nós
consegue dizer uma só palavra. Minha mãe está tão obcecada
em me ver casada que não consegue enxergar um palmo
diante do nariz.
Mas, se ela pensa que as coisas vão acontecer da forma
que ela idealiza, está muito enganada. Não vou permitir que
ninguém decida as coisas por mim. A vida é minha e eu
escolho se quero me casar ou não.
CAPÍTULO 3
Eu sei que não será fácil convencer minha mãe que eu
não quero mais me casar com o George. Ainda teremos
muitas discussões por causa disso, mas por hora não vou
pensar nisso. Se ela não quer entender, é um problema dela.
— Se você realmente pretende terminar esse
compromisso, saiba que tem o meu apoio — meu pai declara,
me abraçando e me deixando muito feliz. Saber que ele me
entende já me dá mais esperanças. — Agora você precisa falar
com o George.
Seu conselho faz sentido, tenho que encontrar uma
maneira de expressar meus sentimentos. Nossa relação está
morna há algum tempo. Não posso ficar com um homem por
quem não estou mais apaixonada, se é que algum dia estive
realmente apaixonada por ele.
Nós três seguimos para a sala para tomarmos o café da
manhã. Margarida já está terminando de arrumar a mesa e
nos cumprimenta sorrindo. Margarida trabalha aqui desde
antes do meu nascimento e eu sinto um carinho imenso por
ela. Praticamente foi ela quem cuidou de mim, já que a minha
mãe dificilmente parava em casa. Passava os dias enfurnada
na empresa e pouco se dava conta que tinha uma filha. Se
não fosse o amor e os cuidados dessa bela senhora, minha
infância teria sido bastante solitária.
— Como se sente, menina? — pergunta, me dando um
longo e afetuoso abraço. Ontem, quando cheguei em casa, ela
ficou bastante preocupada. Digno de uma mãe.
— Estou melhor — respondo, me sentando e logo ela
começa a nos servir.
— Não se avexe, menina! Logo a sua mãe vai acabar
entendendo.
Suas palavras são convincentes, porém eu continuo
tendo as minhas dúvidas.
Mudamos o foco da conversa e o clima durante o café se
torna mais tranquilo. É uma alegria saber que as três pessoas
mais importantes da minha vida me dão total apoio.
Agora só preciso encontrar o George e colocar um ponto
final na nossa história.

Passei a tarde de domingo no abrigo, onde


sou voluntária. Desde os meus dezoitos anos que sou
voluntária aqui. Abrigamos crianças que vivem em extrema
pobreza ou que foram abandonados pelos pais. A principal
responsável é Amélia, uma senhora aposentada que nunca
deixou de ajudar os mais necessitados e o seu esposo
Ronaldo, que também é jardineiro e contador de histórias. E
Sarah, irmã de Amélia. Os três idealizaram este espaço e o
mesmo existe há mais de dez anos. Eu amo essas crianças e
sempre que venho aqui, volto para casa com a paz renovada.
— Tia Diana, se eu te pedir uma coisa, a senhora faria
por mim? — Sophia me pergunta, quando estou fazendo uma
trança em seus cabelos, igual a da Rapunzel, como ela pediu.
Sophia tem quatro anos e é a doçura em pessoa. Seu olhar
expressivo, com seus imensos cílios, parece uma estrela
reluzente. O seu sorriso de covinhas é o que mais me
impressiona. Sinto um carinho por todas as crianças que
moram aqui, mas o que sinto por Sophia é algo inexplicável. É
um amor tão grande que gostaria que ela fosse minha filha.
Ela chegou aqui ainda recém-nascida. Ela foi deixada na
porta do abrigo enrolada em uma manta rosa por alguma
alma sebosa. Porque só alguém assim abandonaria um ser
tão especial.
Lembro-me como se fosse hoje do momento que abri a
porta me deparei com a cesta largada na entrada principal.
Foi um momento único e que jamais vou esquecer. Ela era tão
frágil e eu tive medo de que ela se desintegrasse em meus
braços quando a retirei da cesta.
Tentamos de tudo para descobrir a sua origem, mas não
obtivemos resultados.
— Pode pedir, meu amor, sabe que eu faço tudo por você.
— Termino de trançar seu cabelo.
— A senhora aceitaria ser a minha mamãe? — Pisco de
emoção ao escutar o seu pedido tão genuíno. — Se a senhora
quisesse que eu fosse a sua filha, não precisaria procurar a
minha mãe de verdade.
— Oh, Soph... — Aperto-a firme em meus braços, com os
olhos encharcados pelas lágrimas.
— Eu posso te chamar de mamãe?
Fungo um pouco mais. Como eu posso negar um pedido
desse? É óbvio que eu quero ser a mãe de Sophia. Sempre
desejei ter uma filha como ela. Em meu coração ela sempre foi
a minha filha.
— Você pode me chamar do que você quiser — digo, e ela
abre um sorriso que ilumina o meu mundo interno.
— Obaaaaaaaaaaa! Eu tenho uma mamãe! — comemora.
Presenciar a sua felicidade me causa muitas sensações
boas.
Neste momento faço uma promessa em meu coração: se
eu não conseguir encontrar os seus pais biológicos, irei entrar
com um pedido de adoção.

Sabe aquela frase: “não coloque a sua


felicidade nas mãos de ninguém”? Eu levo isso para a vida.
Minha vida, minhas escolhas e minha felicidade são os
meus bens mais essenciais e irrenunciáveis. Por essa razão,
acordei na segunda-feira disposta a colocar de uma vez um
ponto final na minha relação com o George. Só que as minhas
tentativas de conversar com ele estavam indo para o espaço.
Parecia que existia uma força oculta boicotando os meus
planos ou o George estava fazendo isso de propósito. É como
se ele desconfiasse de algo do gênero e, por conseguinte,
inventasse uma desculpa qualquer.
Quase tive uma síncope nos dias seguintes quando os
mesmos acontecimentos foram a desculpa que ele encontrou
para se manter ocupado.
Ok, Diana! Respira e não pira - repetia constantemente,
como um precioso mantra para não enlouquecer.
Enfim, quando a sexta-feira chegou, o universo resolveu
girar ao meu favor. Foi o que pensei assim que vi o George
atravessando a recepção da empresa, com passos apressados,
em direção ao estacionamento. Ele estava indo embora da
empresa, quando tinha prometido almoçar comigo em um
restaurante perto dali. Já tinha até feito a reserva. O sangue
subiu aos meus olhos. Ele não vai me fazer de idiota, não vai.
Segui seus passos, tentando alcançá-lo. Hoje ele não me
escapa. Estava decidida a me livrar disso o mais breve
possível.
— George? — Chamei-o. Mas ele não escutou ou fingiu
que não. Adiantei os passos e consegui me colocar à sua
frente, interrompendo assim a sua caminhada. Ele me olhou
como se eu tivesse alguma doença contagiosa. — Não me
ouviu te chamando? — questiono de forma agressiva. Ele
titubeia palavras incoerentes.
— Amor... — divaga. — Desculpe, estou muito atrasado e
não vou poder...
Mordo os meus lábios para não gritar no meio do
estacionamento por ele estar me deixando louca.
— Ok, você escolheu que seria assim! — expresso cada
palavra com veracidade. — A conversa que teríamos durante o
almoço é que eu quero terminar...
— Diana, não precisa ser tão radical! — Foi isso o que
ouvi? Ele está me recriminando? — Eu já disse que estou
muito ocupado no trabalho e nesse momento estou indo para
o aeroporto. Temos uma reunião de negócio com os italianos,
ou será que já se esqueceu?
Não esqueci, mas me recuso a responder. Está parecendo
que ele faz tudo isso de propósito.
— É isso que você ouviu. Não quero mais me casar com
você. — George arregala os olhos, impactado com as minhas
palavras, só que, antes de dizer alguma coisa, o seu telefone
começa a tocar, e ele logo atende. Conversa com a pessoa que
está ligando e de repente alega estar atrasado e desaparece,
sem dizer uma palavra sobre aquilo que eu acabei de falar e
ainda com a desculpa que assim que retornar da Itália,
conversaremos sobre isso.
Resmungo internamente, com a adrenalina à mil.
Definitivamente, acabei de romper o nosso compromisso.
Recuso-me a ficar martelando sobre isso na minha
cabeça.
Experimento a margarita que pedir ao barman. Entrei na
onda da Pâmela e aqui estou, no local cheio de pessoas
dançando, bebendo, se beijando como se não houvesse o
amanhã. Reconheço que não sou muito fã desses locais
barulhentos, mas às vezes faz bem para o espírito sair da
zona de conforto. A energia que emana desses lugares pode
ser benéfica ou maléfica, depende do ponto de vista de cada
pessoa.
Isso aqui tem muita agitação, mas a princípio não parece
o fim do mundo. Estou precisando espairecer. As pessoas que
aqui se encontram estão em busca de diversão, bebidas e
sexo. Nada disso é o meu caso. Só não queria ficar em casa
no sábado, presenciando a cara azeda da minha mãe e, como
a Pâmela é assídua em lugares assim, ela insistiu tanto para
que eu viesse que acabei entrando na sua onda.
Terminar com George foi extremamente desgastante e
não quero pensar sobre isso. Sinto-me até mais leve por ter
finalmente colocado um ponto final em nossa história. Pâmela
não para de beber e estou começando a me preocupar. Ela
não tem pudor algum quando está bêbada, e nem quando
está sóbria! Ela dança com os rapazes, paquera e seduz, ou
seja, não se preocupa com a opinião dos outros. Eu também
amo dançar, mas hoje prefiro ficar no canto mais escuro da
boate. Olhando ao redor, não vejo ninguém!
— Uau! Hoje é o dia em que vou me acabar! — Diz em
um tom alterado, entre risos. — Amiga, você precisa se
divertir mais. Agora que estar solteira, deve aproveitar esses
boys maravilhosos e cheios de testosterona que estão
disponíveis. — Fico envergonhada quando ela aperta a bunda
de um deles, confirmando o que está dizendo. Alarmada,
desvio meu olhar. Ela é louca e pervertida! Quanto vexame já
vivi ao seu lado!
Logo vejo o mesmo rapaz conversando com a minha
amiga e, em menos de segundos, estão se beijando com muita
safadeza. Eles seguem na direção da pista e, nesse momento,
percebo que acabei de perder a minha companhia. A minha
única companhia.
Termino a minha margarita e me retiro dali. Estou
desanimada para ficar perto de um barulho assim. Constato
que tenho que voltar para casa sozinha. Antes de ir embora,
sinto vontade de ir ao banheiro.
Durante o trajeto, esbarro em muitas pessoas e, mesmo
desviando, é impossível algo assim não acontecer. De repente,
choco com alguém que mais parece uma rocha, e, ao mesmo
tempo, sinto um líquido frio molhando a minha roupa e
atingindo a minha pele.
Não acredito que algum imbecil acaba de me dar um
banho de bebida, seja ela qual for. Minha blusa branca ficou
muito molhada!
Reteso o meu corpo e estou prestes a abrir a boca para
dizer algumas verdades para o idiota que não olha por onda
anda. No entanto, as palavras morrem em minha garganta no
momento em que ergo a minha cabeça e encontro um par de
olhos tão negros quanto a noite, uma testa franzida num
semblante de riso e o seu olhar ardente como se me despisse
lentamente.
Sinto a minha boca seca quando observo o homem alto,
bonito e moreno umedecendo os lábios com a língua. Meu
coração dispara e meu cérebro parece dar um curto-circuito.
Nunca na vida alguém me deixou tão impactada como estou
neste momento. E não só isso que mexe comigo, mas sim, a
maneira como olha para o meu decote. Com o incidente da
bebida e a blusa molhada, ele deve estar vendo os bicos dos
meus seios, pois não estou usando sutiã.
O meu rosto parece que vai pegar fogo e imediatamente
cruzo os meus braços. Não consigo deixar de reparar no seu
corpo másculo, atlético, vestido naquela camisa preta cheia
de botões, que desenha com perfeição o corpo incrível que
Deus lhe deu. Ou talvez tenha sido resultado de anos de
academia. Não importa. O fato é que o homem parado e me
encarando me deixa incomodada. Ele é sexy e exala virilidade
por todos os poros. Dizer que ele é apenas bonito seria uma
ofensa, ele arrasa quarteirões. O tipo de boy que faz as
mulheres molharem a calcinha só de olharem pra ele. Com
certeza, este é o tipo de homem que a Pâmela se referia.
Começo a hiperventilhar com as cenas obscenas e sexuais
que passam pela minha mente.
— Desculpe-me! — a sua voz é grave, rouca e sombria e,
ainda assim, é o melhor som que já ouvi. Ele é uma incógnita.
Tenho a impressão de que existe um véu encobrindo tudo que
ele representa. Por um breve momento, tive a sensação que já
o tinha visto antes, mas o meu cérebro não conseguiu se
lembrar. — Eu não a vi e foi um acidente. Eu posso... — ele
tenta tocar na região molhada, mas o impeço bruscamente,
recuando. Ele retira a mão, insatisfeito e ao mesmo tempo,
incomodado.
— Não é preciso. Eu posso dar um jeito nisso sozinha...
— frisei a palavras “sozinha” e não entendi o motivo da minha
hostilidade. Ele só estava sendo gentil.
— O seu olhar... — ouço a sua voz e o meu coração
explode — parece tão familiar! — Ele se aproxima um pouco
mais e eu prendo a respiração. Sinto o cheiro cítrico e
amadeirado invadindo-me. Esforço-me para não me atirar em
seus braços, algo que a maluca da Pâmela faria sem pensar.
Consigo me conter. Aspiro lentamente a fragrância vinda dele.
Sua presença forte e eloquente me deixa perturbada. — Será
que já nos conhecemos? — Sua pergunta atinge os meus
ouvidos no mesmo instante que sua mão máscula e quente
toca o meu rosto. Mordo os lábios involuntariamente,
inebriada com o peso do seu toque. Seu gesto é tão gostoso e
ao mesmo tempo tão confuso! Não encontro palavras para
justificar o impacto que seu contato físico faz em mim. A
adrenalina percorre o meu sangue, me deixando nervosa e
aflita. Esses sentimentos são tão desconhecidos que fico
imóvel, engolindo em seco por alguns instantes.
— Tenho certeza que nunca o vi mais gordo... —
abruptamente, ele afasta a mão da minha pele e sinto um
vazio. Mordo os lábios, arrependida do que acabei de dizer.
Ele me olha com uma expressão fria e furiosa. Antes que eu
cometa alguma besteira, me afasto de sua presença e sigo em
direção ao banheiro. Quando chego ao recinto, consigo
respirar com naturalidade.
Luto para recuperar o ar que ele tinha roubado.
O que foi que acabou de acontecer?
Molho as minhas mãos para acalmar meu nervosismo,
faço mesmo no rosto e no pescoço.
Quando consigo me acalmar, a porta é aberta e meu
coração gela ao ver quem surge em meu campo de visão. Não
consigo me virar, apenas encaro através do espelho. O seu
olhar me sonda.
— Você estava demorando e eu vim checar se estava
precisando de ajuda...
Por alguns segundos, permaneci sem voz, tentando
entender o que isso significa, e nada do que passa pela minha
mente é razoável. Respiro lentamente, buscando reorganizar
as minhas ideias, e o que sai da minha boca é gelado até para
os meus ouvidos.
— Como vê, não preciso!
Pronuncio cada palavra de forma silábica. Era para soar
com veracidade, mas expressei completamente o contrário.
Tudo o que eu queria era afugentá-lo para longe e, no
entanto, ele prezava um desafio. Faço um “O” quando ele
entra no banheiro, fechando a porta atrás de si. O ar vai
diminuindo nos meus pulmões, e não consigo desviar o meu
olhar do seu. Parece que estamos ligados por um fio invisível
que nos leva para perto um do outro.
Aperto tanto as minhas mãos no balcão da pia, que meus
dedos ficam embranquecidos. Minhas pernas tremem e todo o
meu corpo parece estar entrando em curto-circuito. Seu olhar
vagueia por todo o meu corpo e a sensação é como se ele
estivesse riscando um fósforo. Desvio o meu olhar, pois já não
consigo ficar imune à sua presença. Vagamente, ele dá dois
passos na minha direção, parando atrás de mim, arrepiando-
me por inteiro.
Fecho os meus olhos no momento que ele curva a cabeça
e começa a beijar o meu pescoço, deixando-me em chamas. A
sua língua nesta região é como um vulcão e, neste caso, será
o meu corpo que vai explodir. Da minha garganta escapa um
gemido incontrolável e, com um gesto abrupto, ele me faz ficar
de frente, puxando-me para si e invadindo a minha boca.
Erguendo-me em seus braços, ele me coloca sentada sobre o
lavabo e, com um gesto, me faz abrir as minhas pernas e
sinto o seu pau rígido dentro da calça perto da minha boceta.
Suas mãos estão em todos os lugares do meu corpo, e a
sensação é como se cada parte estivesse em chamas. Sua
boca desce pelo meu pescoço e vai descendo até chegar na
região dos meus seios e, em um gesto abrupto, arranca minha
blusa e eu fico seminua diante dele.
Ele me encara cheio de luxúria, enquanto acaricia o meu
mamilo como se fosse algo sagrado para ele.
— Desde o momento que vislumbrei o seu mamilo por
trás da blusa molhada, fiquei fantasiando como seria tê-los
em minha boca. — Arfo ao ouvir a sua declaração. — Você é a
perdição de todo homem, pequena.
— Agora você pode realizar a sua fantasia... — Digo
implorando para que ele comece a me tocar. O seu sorriso de
canto serve como um deleite.
— Além de gostosa, ainda é marrenta... — Ele me beija
com fervor antes de abocanhar um dos seios. Sinto a sua mão
quente na entrada da minha boceta. Nesta altura ela está
igual a um rio. Afastando a minha calcinha para o lado,
escuto-o grunhindo.
— Quente! — diz quando os seus dedos deslizam pelo
meu clitóris.— Do jeito que o diabo gosta! — Começa a
movimentar os seus dedos dentro de mim me deixando mais
molhada. — Alguém está querendo gozar hoje. — Se diverte
com muita sensualidade, sem parar os movimentos na minha
boceta melada e encharcada, ansiosa pelo orgasmo.
Puta merda!
Eu não tenho estrutura para ser racional em um
momento como esse. No estado em que estamos, vamos
terminar quebrando a pia do banheiro. Seus dedos se
movimentam cada vez mais velozes, enquanto a sua língua
me tortura sugando os meus seios.
— Eu... — Tento processar algo, mas as palavras morrem
na garganta no momento que a porta é abruptamente aberta
e duas garotas param estáticas, nos encarando e sorrindo ao
presenciar as nossas situações.
Pulo da pia como um raio, caindo no desconhecido que
está fodendo com a minha vida. Não tenho coragem de
encará-lo, muito menos olhar na direção das empatas foda.
Não sei como a minha blusa veio parar em minhas mãos.
Desesperada, entro na primeira porta que encontro,
trancando-me lá e tentando recapitular meus pensamentos.
Meu coração bate acelerado e ainda consigo sentir as suas
mãos por todo o meu corpo.
Meu pai do céu, que loucura foi essa?
E como ele beija bem! Fecho os olhos, relembrando cada
detalhe. Sinto um arrepio na nuca e uma frustração por não
ter conseguido gozar. Aquelas garotas tinham que aparecer
justo no momento que eu estava prestes a ter um dos
melhores orgasmos da minha vida?!
— Estamos saindo. Pode voltar e terminar aquilo que
estava fazendo...
Escuto as duas idiotas falando alto, gargalhando. Elas
estão se divertindo às minhas custas!
Nessa altura, o desconhecido não está mais lá porque
assim que entrei no banheiro ele se retirou e, mesmo que
ainda estivesse, nada entre a gente iria acontecer.
Por hoje, basta a vergonha que passei. Ser flagrada quase
fazendo sexo com um homem que não conheço no banheiro
de uma boate.
A que ponto eu cheguei! - bufei.
CAPÍTULO 4
Mau humor, este é o sentimento que me persegue desde
ontem, quando fui flagrado em um banheiro feminino prestes
a transar com aquela garota. Bonita. Atrevida. Que despertou
o meu desejo de uma forma avassaladora. Eu já sabia que ela
era gata, só não imaginava que fosse tão intensa!
Foi proposital estar naquela boate, sabendo que a
herdeira da Império Cosméticos estaria lá.
Diana Santinni. Jovem, rica, sexy, vinte e quatro anos,
morena com um corpo fenomenal e que sabe usar a boca
como ninguém, com um único defeito: noiva. Contudo, esse
detalhe no seu estado civil não me impediu de beijá-la com
muito tesão e volúpia e, por sua vez, ela não se fez de
puritana ou se sentiu ofendida.
Muito pelo contrário, ela amou cada pequeno detalhe que
compartilhamos naqueles míseros instantes. Não tenho
dúvidas que ela teria se entregado a mim se alguém não
tivesse aparecido e acabado com o nosso clima. Mesmo tendo
tomado banho e trocado de roupa, o seu perfume continua
impregnado em mim e eu posso jurar que ainda consigo
sentir o gosto da sua boceta, já que os seus fluídos ficaram
nos meus dedos. Em toda a minha vida, jamais fiquei
impressionado por mulher alguma, no entanto, não consigo
esquecê-la.
Neste momento, tudo o que eu quero é encontrar-me com
ela e terminar aquilo que começamos. Quanto ao fato de ela
ter um compromisso, não muda a minha vontade em tê-la em
meus braços. Não tenho dúvidas que Diana será minha, nem
que seja por uma noite. Até porque, como regra, eu não faço
sexo com uma mulher duas vezes.
Não me importo se ela tem um noivo e pretende se casar
em breve. O fato é que a levarei para a cama e a farei minha,
mesmo que seja por uns breves momentos. Caminho a passos
lentos até o meu escritório, mesmo sendo um domingo à
tarde. Preciso resolver alguns assuntos pendentes
relacionados ao trabalho. Por hora, deixo de lado o assunto
Diana, libertando-me dos pensamentos pecaminosos em
relação a ela.
Mais tarde, totalmente absorto nas minhas tarefas,
Liliana surge no escritório, sondando se eu não quero comer
algo. Depois do desjejum, não comi absolutamente nada e
mesmo assim estou sem fome.
Atrevida como ela é, acaba adentrando o escritório com
os pontos de interrogação espalhados em seu rosto. Ela me
encara com olhos curiosos e intimidadores. Se ela não tivesse
um grau de importância em minha vida, com certeza já a teria
obrigado a se aposentar. Mas percebo que, se ela fosse
embora, eu ficarei sozinho neste casarão. Liliana e Herbert
são a família que a vida me deu e eu não saberia viver longe
deles.
— Você falou que localizou o Demétrio, mas não revelou
quais são os seus planos! — Indaga, cruzando os braços me
encarando com olhares julgadores. Resmungo algo
ininteligível. Não quero envolvê-la em meus planos e muito
menos contar o que tenho em mente para aquele filho de uma
rapariga.
— Porque ainda não formulei um plano conclusivo de
como foder com a vida daquele desgraçado. — Respondo
impaciente, deixando explícito que não quero conversar sobre
isso com ela.
— Você pode enganar a qualquer pessoa que não te
conheça, mas eu te conheço e sei que na sua cabeça você já
orquestrou inúmeras vezes o que pretende fazer para destruí-
lo. — Rebate convicta. Liliana, quando quer, se torna uma
pedra em nosso sapato. — Você poderia me contar quais
serão as armas que pensa em utilizar para a essa vingança,
que eu acho um pouco idiota. — Ela faz uma pausa
questionadora, mas como não respondo, ela continua — Você
deveria se preocupar com outras coisas na vida do que
construir um tríplex na sua cabeça com o homem que te
arruinou. — Engulo em seco, me esforçando para não
explodir e também por respeito à nossa amizade. — Marco,
olha para tudo aquilo que você já conquistou nas últimas
duas décadas — faz um giro no centro do meu escritório como
se quisesse desenhar todo o meu patrimônio, que, sem
modéstia, é o maior de toda a América. — Já parou para
pensar que talvez você esteja jogando o essencial fora em prol
de algo que possa vir lhe destruir?
A sua pergunta é um caso a ser pensado se fosse com
outra pessoa e se essa pessoa não tivesse trilhado o caminho
do inferno. Neste caso, a sua pergunta não está favorável ao
homem em que eu tive que me tornar devido às atrocidades
de alguém desprovido de sentimentos nobres.
— Não há nesta vida algo mais vitorioso do que ver um
inimigo derrotado. E saiba que é isso que vai acontecer com
aquele verme que se intitula ser humano. — É nítido o meu
rancor escorrendo em cada palavra pronunciada. Em se
tratando de Demétrio, eu sou extremamente radical. Sabe
aquela máxima escrita pelos antigos? “Olho por olho, dente
por dente”. É assim que vai ser. Demétrio vai lamentar o dia
do seu nascimento quando tudo o que ele mais ama e almeja
estiver reduzido no pó.
— Marco, pense bem naquilo que vai fazer. Nós, mais do
que ninguém, sabemos como os nossos atos têm
consequências desastrosas. — Se ela está se referindo ao
passado, eu não me importo. Não importa o quanto tudo isso
vai levar ou o quanto irá me custar, mas se no final eu tiver
concluído a minha missão, o desfecho é irrelevante.
— Esse assunto está encerrado, Liliana — digo
autoritariamente, deixando claro que não quero que ela fique
me enchendo com as suas filosofias de certo e errado. — O
que eu faço ou deixo de fazer não é da sua conta. Se atenha
ao fato de apenas administrar esta casa e os empregados. —
Ela se cala, me encarando feio, convicta que nada do que ela
diga vai me demover dos meus objetivos. — Assim como eu
não me intrometo nas merdas do seu passado, você também
não deve ficar se intrometendo nas minhas decisões e muito
menos na maneira que eu encontrei para desenterrar o meu
passado. — Ela respira incomodada. — Se eu fosse também te
dar um conselho, seria de que você deveria ir atrás da mulher
que te arruinou há mais de vinte anos. — Ela morde os
lábios, engolindo o próprio fel. — Contudo, me atenho ao fato
que cada um de nós é responsável por nossas escolhas, seja
para o bem ou para o mal. — Silencio, permitindo assim que
ela reflita no que eu falei.
Liliana se acomodou e foi se acostumando a se esconder
do mundo e, consequentemente, colocou uma pedra
irremovível no seu passado. Mal sai desta mansão. Ela não
frequenta lugares movimentados. É como se ela tivesse
entrado em uma caixa e se acostumado a viver ali. Anos de
convivência e ela ainda é um mistério para mim, porque
existem coisas em seu passado que ela nunca verbalizou em
voz alta.
— O abismo é perigoso se olhar para ele durante muito
tempo. — Uma frase dita em tom metafórico. Isso é tão típico
de alguém que já esteve no fundo do poço!
Encarei-a e em seus olhos eu vi uma tristeza infinita.
Esta tristeza raramente está presente ali.
— Acho que vamos nos magoar se continuarmos a
debater sobre nosso passado. — Ela meneia a cabeça,
compartilhando do mesmo medo que eu: ferir-nos por conta
daquilo que nos foi tirado. — E você é preciosa demais para
que eu te machuque. — A vida nos uniu em um dos
momentos mais difíceis de nossas vidas. É injusto eu cobrar
dela algo que ela nunca soube como consertar. Somos o
suporte um do outro. É como se fôssemos uma muleta. Um
sem o outro não consegue caminhar. Ela é a minha amiga.
Minha cúmplice. Meu braço direito. Ela tem dores que
desconheço porque sempre respeitei seu espaço, mesmo
quando mal cabia nele, e ela, mesmo conhecendo todos os
meus segredos e pecados, mataria e morreria por mim.
— Será que algum dia deixaremos de ser duas almas
fodidas na vida?
Balancei a cabeça sem ter a resposta. Ela sorri e me
abraça. Me pega desprevenido e sem jeito, mas retribuo o
gesto.
— Nunca vou esquecer o dia em que você me salvou. —
Ela choraminga com o rosto colado em meu ombro.
Estremeço com essa recordação, mas me recuso a me derreter
em lágrimas. Um homem não chora. Palavras proféticas do
velho Genaro. Lembranças que carrego comigo.
— Naquele dia, você também me salvou. — Confesso,
encarando o seu rosto brilhando pelas lágrimas. Sempre
sentimental. — Depois do velho Genaro, você é a pessoa mais
próxima que tenho de família. Você é a irmã que a vida me
deu. — Ela escancara uma gargalhada enquanto permaneço
meio sisudo. Chorar e sorrir não faz parte da minha rotina.
— Você é o meu irmão do coração. — Ela me envolve
novamente em outro abraço, que dessa vez retribuo com
maior eficiência. — Obrigada por ser o meu tripé nesta vida
dos excluídos.
Quando eu comecei a crescer profissionalmente, eu quis
dar a ela um cargo à altura na minha empresa, mas ela
recusou, alegando que gostaria de ser a governanta da
mansão. Achei tudo isso um absurdo, mas no fim acabei
concordando. Liliana não sabe, mais eu fiz questão de
garantir uma vida digna caso algo na minha vida dê errado
algum dia. Tanto ela quanto Herbert tem um futuro
garantido, longe de qualquer suspeita. Ninguém sabe o que
pode acontecer no futuro, e por essa razão não hesitei em
garantir uma vida menos miserável para eles.

Tive uma noite agitada, com muitos sonhos eróticos em


relação ao evento que ocorreu na boate. Em toda a minha
vida nunca cruzei com um homem com uma libido igual
àquele, e também nunca fiquei tão impressionada com a
presença imposta por aquele homem. Ainda consigo sentir as
suas pegadas por todo o meu corpo, e isso me faz queimar.
Eu nunca o tinha visto, mas dentro de mim paira a sensação
de que já nos cruzamos por aí. Mas porque eu não consigo me
lembrar?
Suspiro, frustrada, levantando abruptamente da cama.
Fiquei deitada além do horário habitual, pensando naquele
homem desconhecido. Nem sequer tive tempo de perguntar o
seu nome, na verdade, eu sequer pensei nisso. Quando
percebi, já estava em seus braços, implorando por orgasmos,
dos quais nem tive tempo de experimentar, porque fomos
interrompidos na hora H. Isso foi frustrante e me senti
envergonhada por ter sido tão devassa. Mas não posso
contestar que o estranho tinha uma pegada intensa e
maravilhosa. Se nas preliminares ele era aquele furacão todo,
imagina o que aconteceria se tivéssemos concluído os fatos.
Fico arrepiada só em pensar. Inspiro diversas vezes,
tentando afugentar os pensamentos insanos da minha cabeça
e sigo para o banheiro. Tenho certeza que um banho frio me
fará pensar coerentemente. Até porque imagino que tudo
aquilo que o desconhecido poderia me proporcionar nunca irá
acontecer. Nem sequer sei onde ele mora e tenho certeza que
ele sequer se recorda do que ocorreu entre nós. Possivelmente
fui apenas mais uma mulher que ele encontrou na boate.
Então, está na hora de descartar todos esses pensamentos
aleatórios e esquecer de uma vez por todas o bonitão sarado
da boate. E é exatamente isso o que faço, enquanto ligo o
chuveiro e água fria desce por todo o meu corpo, trazendo
uma nova paz de espírito.
Mas se eu achava que teria uma manhã de domingo
tranquila, estava muito enganada. Foi só descer para tomar o
meu desjejum, já que o meu estômago roncava igual a um
porco. Estava sonhando com todas aquelas delícias
preparadas com muito amor pelas mãos de Margarida. Ela
tinha mãos de fadas e sempre fazia questão de me mimar com
seus dotes culinários. Claro que, sempre que possível, eu
adorava preparar a minha própria comida. Algo que para a
minha mãe foi sempre motivo de críticas. Porém, nunca me
importei. Um fato já havia sido comprovado: nada do que eu
fizesse ou deixasse de fazer agradaria a ilustríssima senhora
Santinni.
Então, ao invés de entrar na sua onda de amargura,
críticas e afins desnecessários, comecei a ignorá-la. Às vezes
obtenho sucesso, em outras vezes não. Até porque é difícil
conviver no mesmo teto que uma pessoa tão amarga e
possessiva quanto a minha mãe. Desse modo, não pretendo
passar o resto da minha vida ao lado dos meus pais. Essa
mansão é enorme, mas às vezes me sinto sufocada com ela
por perto. Pretendo logo alugar um apartamento e ter o meu
próprio cantinho. Adio este momento por conta do meu pai.
Sei que será um martírio para ele conviver sozinho com as
loucuras da minha mãe, que é uma pessoa indomável.
Às vezes, acho que meu pai merecia uma mulher melhor
do que minha mãe. É desafiador conviver ao seu lado. Em
alguns momentos me questiono curiosamente sobre o motivo
que levou os meus a se casarem. Porque nenhuma pessoa em
sã consciência suportaria conviver com uma pessoa igual a
ela. Não é possível que o meu pai não tenha percebido a
mulher mesquinha, possessiva e controladora que ela é.
Desconheço o real motivo que mantém meus pais juntos até
hoje, porque estou certa que amor não é.
— Pode me explicar o que você estava fazendo ontem em
uma boate, enquanto o seu noivo está viajando? — Pensativa,
estou prestes a atravessar a sala indo em direção à cozinha
quando a voz cavernosa e gelada da minha mãe me
interrompe. Pronto, a paz que eu estava buscando vivenciar
acaba de dissipar. — Me diga o que isso significa!
Não vou surfar na sua onda de loucuras. Isso é tudo o
que penso antes de me virar e olhar na direção de uma
pessoa que a qualquer momento vai explodir. Com o olhar
inquiridor, encaro-a em silêncio, fazendo aumentar a sua
raiva.
— Que eu saiba, sou maior, independente e dona da
minha vida. — Respondo calmamente depois de algum tempo.
— Você tem uma reputação a zelar. Está noiva — cospe
fogo e posso jurar que saem faíscas dos seus olhos. — Já leu
o que está escrito na espelunca deste jornal? — Indaga atroz
colocando o jornal ao alcance dos meus olhos. Reviro os olhos
achando aquilo um tanto absurdo. Lá jaz uma reportagem
maluca com algumas fotos minhas e do homem que
acidentalmente derramou bebida em mim. Um acontecimento
banal que alguém decidiu transformar em uma tragédia grega
e me estão me usando para vender notícia. Acho tudo isso um
absurdo. — Leu o que está escrito? Está satisfeita? Feliz, por
ver o nome da nossa família na lama? — Claro que li não sou
analfabeta, penso em responder com ironia, mas olhando as
feições da minha mãe concluo que é melhor não. — Nessas
alturas George deve estar pensando que você o traiu em um
banheiro de quinta categoria. Deus meu, não criei uma filha
para que ela me desse tanto desgosto. — Minha mãe lamenta
quase chorosa, mas eu diria que estava furiosa por ver que o
nome da nossa família em todos os sítios eletrônicos de fofoca
do país.
— Nada do que está escrito é verdade. — Digo após
alguns instantes.
— Como não é? — Esbraveja com raiva — Vai me dizer
que este rapaz que sequer sei de onde saiu, entrou em um
banheiro feminino quando só havia você lá? E o que fazia em
um lugar fechado com a companhia de um estranho?
— Com certeza ele se enganou. — Minha mãe me olha
descrente em cada palavra dita. — O local estava lotado e ele
deve ter se confundido. A senhora não deveria armar todo
este circo, até porque, se fosse verdade o que está escrito
neste jornal, não houve traição, porque antes do George
embarcar, eu rompi o nosso compromisso...
— Você o quê? — Berra de forma insana, me deixando
assustada. Confesso que nunca vi minha mãe tão nervosa em
toda a minha vida. Sua atitude está me deixando um pouco
assustada. — Eu não entendi direito...
— Entendeu sim. — Não quero mais esconder nada
dela. — Mas, se quiser, eu repito para que assim a senhora
possa entender. Não vai ter mais casamento. Eu não vou me
casar com o George. O nosso compromisso foi desfeito. —
Sinto meu rosto arder no momento que a palma de sua mão
desce sobre ele. Encaro aturdida, percebendo a que ponto a
nossa relação entre mãe e filha chegou. Ela me encara
confusa, mas não esboça nenhum gesto de arrependimento.
Sinto os meus olhos arderem e me esforço para não me
debulhar em lágrimas por sua atitude.
— Não vou levar nada do que disse em consideração. —
Ela parece possuída. — Eu não vou ver o nome da nossa
família na ruína por causa de uma estupidez sua. — Encaro
em silêncio, com o ódio crescente em meu peito, odiando tudo
o que ela representa em minha vida. Odiando o fato dela não
me entender. Ela nunca me apoiou em nada. Às vezes, sinto
como se eu não fosse filha dela. Pela primeira vez na vida,
estou sentindo ódio por alguém que eu deveria amar. —
Espero que você reflita sobre todas essas besteiras que estão
em sua cabeça, enquanto eu vou tentar reverter o estrago que
você fez.
Ela recupera a sua postura e, como se nada tivesse
ocorrido nesta sala se retira, deixando uma nuvem negra pelo
ar.
— Você não vai controlar a minha vida, entendeu? —
Digo alto antes de ela desaparecer. Ela não se vira e muito
menos contesta.
Sinto um nó preso em minha garganta e uma dor
dilacerante em meu coração. Em muitas discussões que tive
com a minha mãe, esta foi a que me fez perceber que nossa
convivência seria ladeira abaixo. Nós nunca chegaríamos a
um consenso. Ela nunca vai me respeitar e muito menos
compreender e aceitar as minhas escolhas.
Margarida ouviu parte da nossa briga e assim que ela se
foi, apareceu para me consolar. Em seus braços, eu chorei e
solucei como tantas vezes isso já havia acontecido. Seus
braços firmes me seguraram, suas palavras generosas me
trouxeram o carinho e a compreensão que eu buscava.
Sempre que o meu mundo desaba, toda vez que discuto com
a minha mãe é ela quem me apoia e me segura para eu não
cair.
Ela é a mãe que o meu coração escolheu.
CAPÍTULO 5
Seria trágico se não fosse cômico.
É com este pensamento que encaro a reportagem
estampada no jornal na segunda-feira, na sala da
presidência. Pedi para não incomodado enquanto estava em
reunião.
Não sou adepto do mundo de fofocas sensacionalistas.
Tenho aversão a tudo que é ligado à imagem pública.
Dificilmente concedo entrevistas e, quando as faço, são todas
relacionadas ao meu trabalho. Minha vida particular sempre
esteve fora desse mundo sensacionalista. Até o dia que eu
decidi fazer parte do mundo de Diana Santinni.
É como um jogo de cartas e eu sempre levo a melhor
jogada.
No entanto, os meus planos mudaram. Não quero apenas
conquistar Diana, quero também levá-la para cama e fazê-la
minha. Só falta mais uma coisa, que eu preciso fazer para
conseguir tudo o que desejo: impedir que ela se case. Pra isso,
devo fazê-la se apaixonar por mim. Durante toda a minha a
vida eu nunca me apaixonei e não acredito nessas tolices que
as pessoas apaixonadas inventaram, mas não sou eu quem
precisa acreditar, e sim, Diana. Ela precisa acreditar que
estou interessado por ela e isso só poderá acontecer se a
gente se encontrar outra vez.
Enquanto penso nos planos que tenho em minha mente,
sou interrompido pelo barulho do meu telefone. Mesmo não
sendo um cara adepto a sorrisos, sorrio ironicamente quando
vejo o nome na tela do aparelho: Herbert. Ele tem notícias, ele
não telefonaria à toa. Imediatamente deslizo o dedo sob a tela
e escuto a voz de uma das pessoas mais confiáveis, satisfeito
por ouvir algo que me agrada. Desligo o aparelho assim que
nos despedimos.
Chegou a hora de ir à caça.

Desde muito novo aprendi a me livrar das pedras do meu


caminho, removendo uma por uma. Para isso, contava com o
melhor dos mestres, que me ensinou tudo aquilo que
precisava para sobreviver. O velho Genaro sabia todos os
jogos de mentiras e manipulações para conseguir se livrar dos
seus desafetos e, de uma forma ou de outra, ele me deu dicas
importantes que hoje utilizo como uma cartilha pessoal. Se
hoje sou um homem rico e muito respeitado, devo isso a ele.
Eu poderia ter morrido naquela época, quando minha mãe me
abandonou no nosso casebre, se o velho Genaro não tivesse
me encontrado e, de uma maneira inexplicável, se afeiçoado a
mim. No início, não tivemos uma convivência fácil, porém,
com o passar do tempo, fomos conquistando um ao outro.
Conquistei a sua lealdade e confiança e, a partir disso, seu
respeito e admiração.
Acostumei-me a ter as coisas do jeito que eu quero.
Quando eu desejo algo, vou lá e pego. Não importa quem
esteja no meu caminho.
Admiro o ilustre salão cheio de mesas e cadeiras, pessoas
importantes conversando entre si, todas as bebidas e comidas
caras ao meu alcance. É com certo orgulho que admiro tudo
isso, percebendo, com o meu ego um tanto exacerbado, que
também faço parte dessa cadeia social. A cadeia dos mais
fortes. Vim a este restaurante com o objetivo de desfrutar do
melhor cardápio e, além disso, colocar o meu plano maléfico
em ação. Foram muitos anos de busca e, agora que
finalmente descobri o seu paradeiro, não posso perder tempo.
Estou próximo do meu alvo. Diana Santinni, de alguma
forma, vai me levar até meu objetivo.
Estou atento aos seus movimentos, gestos e sorrisos na
companhia de sua melhor amiga, Pâmela Soares. Distraída
em seu diálogo, Diana ainda não percebeu que estou poucos
metros à sua frente. É um privilégio observá-la e recordar
tudo o que ela desperta dentro de mim. O garçom enche a
minha taça com champanhe e bebo vagarosamente,
deleitando-me com o líquido gelado descendo pela minha
garganta.
Diana Santinni.
É um bonito nome, assim como a mulher em si. Uma das
mulheres mais ricas do país esteve prestes a se ajoelhar e
chupar o meu pau. Se não tivéssemos sido interrompidos no
sábado, eu a teria feito gemer de prazer enquanto fodia a sua
boceta. Claro que o jornalista não viu nem um milésimo do
que fizemos no banheiro da boate. Quando uma mentira é
bem espalhada, ela se torna uma verdade irrefutável. Não há
nada melhor na vida do que conseguir realizar aquilo que se
almeja. Tudo isso envolve uma pessoa específica: George
Darwin. Assim que ele descobrir que foi traído pela noiva,
prestes a subir ao altar, ele vai enlouquecer. Ser traído por
alguém que se ama é uma desonra.
Isso será a sua ruína e eu vou adorar ver o seu mundo
desmoronando sobre a sua cabeça. Foi por causa dele que vivi
o meu segundo purgatório. Todas as pessoas que, de alguma
forma, contribuíram para a minha desonra, estão debaixo da
terra. Eu mesmo fiz questão de dar-lhes a extrema unção e,
com o George, não será diferente. Não terei compaixão
quando ele estiver lamentando o seu destino trágico.
Discretamente, chamo o garçom, um dos auxiliares do
restaurante, para pedir um favor. Assim que ele se aproxima,
incumbo-lhe de levar algo especial à mesa ao lado, satisfeito
por dar início ao meu objetivo. Observo o momento que o
rapaz se aproxima da mesa com a garrafa de champanhe a
tiracolo. Ambas olham surpresas quando ele começa a
conversar com elas. Assim que ele explica a razão de estar ali,
elas olham na minha direção. Aceno brevemente, deixando-as
com a expressão perplexa.
Mas foi o olhar da morena que demorou mais nos meus.
Ela esboçou um gesto de surpresa, nervosismo, fúria e,
fingindo indiferença, voltou à sua postura inicial. Suspiro.
Contemplo com magnitude os seus pequeninos gestos. Ela
tenta se concentrar naquilo que a sua amiga diz, mas no
fundo sinto que a minha presença mexeu com ela. Um pouco
aborrecida, Diana recusa o meu pequeno mimo. Vejo o pobre
do homem ficando alarmado e pedindo socorro enquanto olha
para mim.
Sem pressa, levanto-me e caminho na direção das
donzelas. Ela abre e fecha a boca quando percebe qual é a
minha intenção. Dirijo-me para lá e sou observado por ela de
uma maneira perturbadora e agradável.
— Pode deixar, amigo. Eu assumo daqui. — Dispenso o
cumin, que imediatamente se afasta levando a garrafa
consigo, já que ambas se recusaram a beber álcool durante o
almoço. Pâmela agradece a gentileza, enquanto Diana não
esboça nenhum sinal de simpatia.
— Eu poderia dizer que foi coincidência te encontrar
neste restaurante, mas não acredito em nada assim. —
Comento sem tirar os olhos dela, quando o garçom se afasta.
É natural que Diana permaneça muda, como se alguém
tivesse roubado a sua voz. Ela não imaginava que este
reencontro pudesse acontecer. Pâmela cochicha algo que não
consigo ouvir, mas consigo imaginar. Estou certo de que é
algo relacionado a mim, até porque não restam dúvidas que
Diana falou sobre a gente.
— Eu sou Pâmela. — Isso eu sei, porém, é algo que
guardo para mim. Não é difícil descobrir sobre as pessoas. A
internet está aí para isso. Aperto com firmeza a sua mão
branca estendida. Ela mostra dentes alvos, mas tento
permanecer com a minha máscara de seriedade. Afinal, não
sou um homem de viver sorrindo.
— Marco Roga. — Digo em um volume mais alto, para
que assim Diana saiba o meu nome. Esse detalhe foi riscado
no sábado. Soltamos as nossas mãos e olho para Diana, que
continua sem se mover. O seu olhar castanho me traz uma
sensação nova, mas não me atento a este detalhe. Estendo a
minha mão na sua direção, e por alguns segundos, ela decide
se me cumprimenta ou não. No momento que sinto o toque
dos seus dedos, me sinto um pouco confuso, mas resolvo
ignorar. Afinal, essas coisas não existem.
— Diana Santinni. — Sua voz é tão doce e suave que me
faz sentir uma leveza incomum. — Não imaginava que fosse te
reencontrar... — Seu tom é um pouco amargo, o que me faz
ficar confuso. Percebo que ela não está feliz em me ver.
— Foi tão ruim assim o que compartilhamos? —
Interrogo, sussurrando próximo ao seu ouvido. Vejo que sua
nuca se arrepia e isso é perfeito. Significa que eu mexo com
ela de alguma forma.
— Não sei do que você está falando! — A desgraçada
tenta negar o óbvio. Então, tenho um novo desafio?!
Tentador.
— Eu posso te fazer lembrar, se assim preferir. — Minhas
palavras causam um reboliço dentro dela. Percebo isso no
momento que ela me encara de forma assustada.
Imediatamente desvia o olhar.
— Você… O senhor está sendo desrespeitoso. — Suas
palavras são como aço frio ao me atingir. — Está
interrompendo o meu almoço com a minha amiga… —
Olhamos ao mesmo tempo na direção em que Pâmela se
encontra, ou melhor, se encontrava. A bonita saiu à francesa.
Melhor para mim.
— Você foi mais receptiva na boate. — Não me afasto um
milímetro sequer do seu lado. Ela suspira pausadamente. —
Posso te fazer companhia até sua amiga voltar. — Me ofereço.
Espero pela sua recusa, contudo ela não vem. Aproveito para
ocupar o mesmo lugar que a sua amiga. — Sabe o que eu
gostaria de fazer nesse momento? — Pergunto, atraindo a sua
atenção. — Te levar para um lugar mais discreto e terminar o
que começamos no sábado passado. — Ouço-a inspirar
lentamente. — Pensei bastante em você. — Minto
descaradamente. Aliás, não é totalmente uma mentira. Ela
ocupou a maior parte dos meus pensamentos nos últimos
dias, só que por outra razão, e não aquela que ela deve estar
imaginando. Gentilmente tento tocar na sua mão, que está
pousada sobre a mesa, mas ela a afasta bruscamente. Então
tenho alguém para domar?! Ótimo. Nada em minha vida foi
tão desafiador quanto conquistá-la.
— Você não leu o que estava escrito no jornal? — Finjo
desconhecer sobre tal fato. Ergo as sobrancelhas,
dissimulado. — Fomos fotografados!
— Fomos? — Faço-me de desinformado.
— Há uma fofoca circulando por aí de que temos um
caso.
— Temos? — Ela resmunga algo que não escuto
perfeitamente. É certo o quanto essa situação é embaraçosa
para ela. — Adoraria que tivéssemos algo além de um caso. —
Expresso, sedutor. Ela grunhe.
— Eu tenho um noivo. — Solta entredentes.
— Tem? — Finjo estar decepcionado.
— Antes que você pense que saio por aí beijando
qualquer um, quero me explicar. — Ela se apressa em querer
explicar. — Eu rompi com o George, meu noivo. Entretanto,
poucas pessoas sabem do fim do nosso relacionamento. —
Não era para ser dessa forma. Fico desconfortável com essa
informação, mas tento disfarçar antes que ela note.
— Eu gostei de você. — Digo sincero, ou ao menos tento
ser. — E gostaria de te encontrar em um lugar mais
reservado. Aceita jantar comigo?
— Está me convidando para sair? — Um sorriso brota
em seus lábios. Acho que ela esperava que eu ficasse
chateado ao me contar que recentemente desfez um
compromisso sério. O fato de saber que ela rompeu com o
noivo só me deixa mais feliz, porque nesta altura ele vai
pensar que ela terminou para ficar comigo. Tudo está
acontecendo muito melhor do que o previsto.
— Uma coisa justifica a outra. — O seu olhar me penetra
de uma maneira intensa.
— Pode ser amanhã?
— Claro. — Comemoro internamente. — Eu posso te
pegar em sua casa…
— Melhor não. — Se recusa, de forma apressada. — Vou
te dar o meu número, você avisa qual será o restaurante e eu
te encontro lá. Pode ser?
— Como você quiser. — Percebo que ela está tentando
me ocultar algo. É como se ela não quisesse que eu fosse até
a sua casa. Ela digita seu número no meu telefone e me
entrega em seguida. — Até amanhã, então. — Nesse
momento, me levanto e ela faz o mesmo. Ficamos mais
próximos, com o nossos olhares fixados um no outro. Posso
sentir a adrenalina percorrendo todo o seu corpo. Com a
minha mão, acaricio o seu rosto e, involuntariamente, seus
olhos se fecham. Sinto um desejo irresistível de beijá-la
naquele momento, porém me contenho. Beijo sua face
esquerda antes de me afastar.
Isso é só um jogo e estou adorando cada lance, porque
significa que eu serei o vencedor.
Sigo em direção à saída e tenho certeza que ela não
retirou o olhar de mim enquanto desaparecia.
Um sorriso de vitória brotados meus lábios.
— Uau! Que homão é esse que acaba de ir embora? —
Pâmela reaparece, me assustando. Só então me dou conta
que estava quase babando, admirando aquele homem que
está mexendo com a minha imaginação.
Marco Roga é a perdição de toda mulher. Por um
momento, achei que ele fosse me beijar. Como eu desejei
ardentemente que ele o fizesse!
— Será que a fábrica que o criou fez a versão número
dois? — Pâmela se abana de forma assanhada, me fazendo
rir. — Amiga, tu marca território. Porque se tu não pegar, eu
garanto que pego.
— Sua maluca! — Às vezes me assusto com as
maluquices que saem da cabeça dessa garota. — Marco é
apenas um cara gentil.
— Gentil? Isso é modéstia! Ele é versão masculina mais
que perfeita. Eu com um homem assim 24 horas por dia, 365
dias por ano, ai, meu Deus! — Suspira causando alarde. —
Sem contar que ele estava te comendo com os olhos.
— Melhor pedir logo a conta. — Digo só para mudar o
assunto. Pâmela está colocando cenas tentadoras na minha
mente. Só de pensar que estive prestes a fazer sexo com ele,
sinto todo o meu corpo estremecer.
Seguimos para o estacionamento e Pâmela não para de
enaltecer as qualidades físicas de Marco. Admito que ele seja
um homem extremamente bonito e com muitos atributos. É
um homem tentador, sexy e enigmático. Já tive uma pequena
amostra daquilo que ele parece dominar bem.
— Ele me convidou para jantar. — Revelo, deixando a
minha amiga boquiaberta.
— Uau, ele está muito a fim de terminar o que começou
na boate. — Insinua, divertida. — Você aceitou? — Me encara
e antes que eu responda, ela mesma dá a resposta. — É óbvio
que você aceitou. Você não seria louca de recusar o convite.
Sem dar muita atenção a tudo que Pâmela diz sobre
Marco, contorno o meu carro assumindo o controle. Pâmela
não para de tecer elogios à beleza impressionante do homem
que acabou de sair do restaurante. Para ela, Marco parece ser
a oitava maravilha do mundo e, lá no fundo, eu também estou
achando isso, mesmo não admitindo em voz alta.
Deixo Pâmela em seu apartamento após me faz prometer
que não vou deixar um partido como ele passar batido. Ignoro
as suas loucuras e me despeço, acenando brevemente e
retomando o meu trajeto.
Rezo mentalmente para não encontrar minha mãe assim
que entro na mansão. A última coisa que desejo no momento
é ter aquela discussão novamente e ouvir suas críticas. Saber
da sua falta de compreensão já é demais para mim. Agradeço
quando não encontro minha mãe em nenhuma parte da casa.
Sigo direto para o meu quarto e permaneço lá o resto do dia.
Preocupada com o meu isolamento, Margarida bate na porta
do meu quarto com uma bandeja composta de todas as coisas
que eu gosto.
— Interrompo? — Pergunta, aparecendo na porta com
um sorriso afetuoso nos lábios.
— Não. Você sabe que não. — Carinhosamente peço para
que ela entre, no que prontamente sou atendida. Ela coloca a
bandeja sobre a mesa de cabeceira.
— Fiquei preocupada porque você não apareceu para
almoçar e não desceu para jantar. Eu mesma preparei algo
delicioso para você não adormecer de estômago vazio.
— Ah, Margarida, você é um anjo em minha vida. —
Expresso maravilhada, beliscando algo. — Não precisava, mas
já que trouxe, eu não vou recusar. — Degusto a comida
trazida por ela. — Aliás, você sabe por que eu não desci para
o jantar? Não quero ter que encarar a minha mãe. — Ela
suspira compreensiva. Tudo o que eu puder fazer para evitar
estar no mesmo ambiente que ela, eu vou fazer.
— Entendo, filha. — Diz com pesar. — E, por sinal, ela
tem andado meio azeda. — Reviro os olhos. Às vezes, eu acho
que a Margarida sabe a razão dela ser meio amarga.
— Me diz em qual em momento a dona Marieta foi uma
pessoa dócil? — Indago rancorosa.
— Algumas pessoas são difíceis em lidar...
— A minha mãe, você quer dizer, não é, Margarida? —
Ironizo amargamente. Ela nada diz, mas tenho a sensação
que há muitos pensamentos fervilhando em sua cabeça. —
Margarida, você trabalha aqui há tantos anos, deve saber se
houve algum momento que os meus pais foram um casal
apaixonado.
— Por que isso agora, menina? — Percebo que ela ficou
um pouco nervosa ao ouvir as minhas especulações.
— Não é estranha a forma como meus pais convivem? —
Levanto-me encarando Margarida, que finge mexer em
qualquer coisa para não ter que olhar para mim. Como ela
não responde, continuo em minhas divagações. — Na minha
vida inteira, eu nunca vi um gesto de carinho entre eles.
Minha mãe sempre teve aquele ar de autoritarismo e o meu
pai varrendo tudo para debaixo do tapete. Às vezes, acho que
essa relação é mais um arranjo financeiro do que um
casamento de verdade.
— São anos de convivência e talvez a união entres tenha
se tornado monótona.
— A união dos meus pais não se tornou monótona, ela
sempre foi. — Percebo que Margarida se esforça para não se
contradizer. — Na verdade, Margarida, o meu pai nunca foi
apaixonado pela minha mãe e tenho quase certeza que ela
sequer amou meu pai algum dia. — Fico pensativa. — Uma
vez, meu pai comentou a respeito de uma namorada que ele
tinha na juventude, que foi embora da cidade sem muitas
explicações. Será que era por essa mulher que meu pai estava
apaixonado?
Os olhos de Margarida parecem que vão saltar das
órbitas do tanto que ela fica assustada ao ouvir a minha
pergunta. Ela faz algumas gesticulações incongruentes. Está
mais do que óbvio que essa história é uma parte proibida do
passado dos meus pais e a Margarida sabe os motivos.
— Eu não sei do que você está falando. Durante a
juventude, seu pai teve muitas namoradas antes de se casar
com a sua mãe. — Seja qual for o segredo relacionado a vida
dos meus pais, Margarida não vai revelar nada. Acredito que
ela deve ter feito voto de silêncio com relação a essa história.
Ela alega ter algumas tarefas a cumprir e sai fugida do meu
quarto antes que eu pense em uma nova pergunta.
Se ela se recusa a me dizer qualquer coisa que justifique
as atitudes incoerentes e egoístas de Marieta Santinni, eu
preciso descobrir sobre tudo buscando outras fontes.

O dia seguinte passou tão rápido que, quando me dei


conta, já havia anoitecido. Ansiosa, penso no encontro
marcado com o Marco. Nem acredito que aceitei sair para
jantar com o homem que vem ocupando a maior parte dos
meus pensamentos.
Depois de passar meu contato para ele, Marco me ligou
perguntando se nosso encontro ainda estava de pé. Não tive
dúvidas. Flertarmos durante algum tempo por ligação e eu
nunca fiquei tão impactada e confusa em relação a alguém.
Marco parecia compreender e entender qualquer assunto que
mencionávamos durante nossas conversas. Pela primeira vez
na vida, sentia como era bom ter alguém para conversar sem
grandes preocupações. Sem perceber, eu ria e cantava
pensando nele e em tudo o que a nossa amizade poderia
significar. Não é estranho conhecer uma pessoa e,
imediatamente, ela ocupar mais de 90% do seu dia? Estava
me sentindo leve, sorridente, calma, como se tudo o que eu
estivesse buscando na vida começasse a fazer sentido. Nada
sabia da sua vida, tudo o que sabia era que ele era um grande
empresário, um homem empreendedor que construiu seu
próprio império. Me pergunto como um homem do seu
patamar ainda continua solteiro.
Sei que, se me arrumasse em casa para ir a este jantar,
minha mãe iria implicar. Decidi me preparar para este
encontro no orfanato. Como fui visitar as crianças naquela
tarde, optei por me arrumar por lá. Assim, eu também teria
mais tempo com as crianças, especialmente com a Sophia,
que agora cismou que eu sou a mãe dela. Seria maravilhoso
encontrar os pais dela, pois o sonho dela é ter uma família,
mas seria muito melhor se eu a adotasse. Sei que posso obter
a guarda dela, só que isso é um processo demorado. Mas
tenho pensando muito em entrar com o pedido de guarda. Se
for o desejo dela, eu vou realizá-lo.
Enquanto me arrumo, escuto o meu telefone tocar, mas
não atendo, pois é o George me ligando do outro lado do país.
Ele não vai estragar minha noite, penso um pouco aborrecida.
Ignoro as suas insistências, assim como das outras vezes. O
telefone toca até cansar.
— A senhora está muito bonita. — Sophia me elogia.
Todas as crianças e Amélia, dizem o mesmo. — Um dia a
senhora nos leva para jantar em algum restaurante chique?
— pergunta com empolgação.
Garanto-lhe que um dia iremos juntos a um desses
restaurantes, que eles vão amar.
Ela comemora e todas as crianças entram na onda.
É tão mágico ver a alegria estampada em seus olhos
infantis! Quero proporcionar a todos eles uma vida com
menos tristezas.
Encaro-me no espelho e estou satisfeita com o resultado.
Me despeço de Amélia, Sarah, Ronaldo e de todos os
pequenos.
Então, finalmente sigo para o meu local de destino.
CAPÍTULO 6
No momento que os nossos olhos se encontraram, a
poucos metros de distância, sinto uma palpitação intensa no
coração. O seu olhar me acompanhou até eu ficar à sua
frente. Quando cheguei ao restaurante, Marco já me
aguardava sentado em frente à mesa que tinha reservado.
Senti a temperatura ambiente e achei tudo muito acolhedor e
uma música suave de fundo trazia mais leveza ao lugar.
Orientada pelo garçom, caminhei até ele, que se levantou
quando me viu atravessando o extenso salão. Acho que eu
nunca caminhei sentindo as minhas pernas bambas. O seu
sorriso discreto era a garantia que estava feliz em me ver.
Ao me aproximar, Marco veio até mim e me
cumprimentando com um beijo intenso na bochecha. Por
alguns segundos, ficamos presos um no olhar do outro. É
difícil calcular a dimensão do que isso significou. Algumas
coisas a gente não conseguem explicar, apenas sentimos.
— Você está radiante. — Seu elogio mexe comigo. Apenas
sorrio em agradecimento. Optei por um vestido preto que
tinha um ótimo caimento, com um decote e frente única. O
modelo realça perfeitamente minhas curvas femininas. Seu
olhar de admiração me deixa com muitas borboletas no
estômago.
— Você também está muito bonito. — Afirmo em tom
moderado. Marco está incrivelmente perfeito. Sem o terno, ele
está esplêndido. A camiseta polo preta o deixa com uma
aparência clássica e magnífica. Ele assente, ao mesmo tempo
em que afasta a cadeira para que eu me sente. Um cavalheiro.
Sentamos um de frente para o outro.
— O que deseja beber? — Pergunta mansamente.
— O que você escolher. — Respondo, apertando as
minhas mãos uma na outra. Estou bastante nervosa e não
entendo a razão por sentir tantos calafrios. É só um encontro
com um homem bonito em um restaurante da cidade.
— Confia tanto assim em mim? — O seu ar zombeteiro
me faz sorrir.
— Estou correndo um grande risco tão grande assim? —
Indago, tentando ser sedutora. Ele ergue uma sobrancelha,
inquiridor. O seu olhar intenso, como se estivesse me
despindo, me faz sentir borboletas geladas no estômago.
— Algo que você terá que descobrir. — Que ótimo! Um
desafio. Confesso que estou adorando o nosso flerte. — Para
começar, podemos beber um vinho e fazer um brinde. —
Concordo em silêncio. Ele chama o garçom, que não demora a
atender ao pedido.
— Ao que iremos brindar? — Pergunto, segurando a
minha taça no momento em que o garçom está se afastando.
— A nós e a tudo aquilo que a noite pode nos
proporcionar. — Suas palavras causam um tremor no meu
peito. Assinto. Então fazemos o brinde, selando o nosso
encontro e tomando um dos melhores vinhos.
Passados alguns instantes, pedimos os nossos pratos. A
escolha é uma sopa de frutos do mar com camarão e salmão,
que por sinal está uma delícia. Dialogamos afavelmente e logo
percebo como ele é um bom ouvinte. Noto que Marco é um
homem extremamente reservado, não fala nada sobre
familiares ou pessoas próximas. Quando indagado a respeito,
ele consegue mudar de assunto.
— Em algum momento já pensou em seguir outra
carreira que não fosse trabalhar na empresa dos seus pais? —
pergunta quando já estamos na sobremesa, um sorvete de
baunilha com banana.
— Não. — Mordo os lábios, pensativa. — Sempre desejei
trabalhar na empresa. Aliás, fui preparada a minha vida
inteira para assumir o comando da Cosméticos Império.
— O que foi? — Indaga, preocupado, quando eu me calo
de forma abrupta. — Está tudo bem? Eu disse algo...
— Você não me convidou para me ouvir falar sobre o meu
trabalho e os problemas da minha família!
— Não, não. — Gentilmente, ele se desculpa. É estranho
ficar comentando sobre a minha família com alguém que
acabei de conhecer. — Peço desculpas se pareceu que fui
invasivo. — Realmente, ele parece arrependido.
— Tudo bem. — Digo, dando de ombros. — Mas posso
falar algo que tenho orgulho em fazer e sempre faço com
muito amor! — Ele ergue as sobrancelhas em curiosidade. —
Sou voluntária em uma ONG na zona norte da cidade, que
abriga crianças órfãs.
— ONG? — Indaga, como se escutasse a palavra pela
primeira vez.
— Sim, é um lugar pequeno, mas muito acolhedor. A
responsável é a Amélia, sua irmã Sarah e seu esposo Ronaldo.
Eles passaram a abrigar crianças quando viram que muitas
delas não tinham sequer um lar. Sempre que possível, eu vou
lá e ajudo no que é necessário. Aqueles meninos são a minha
alegria diária. — Faço uma pausa, constrangida, quando
percebo o quanto fiquei empolgada ao falar sobre as crianças.
E o mais estranho e confuso foi a maneira como ele ouvia
atentamente enquanto eu falava. É difícil saber o que ele
estava pensando. — Desculpe-me, acho que falei demais.
— Não precisa se desculpar. Pude perceber o quanto
essas crianças são importantes. O seu olho brilhava enquanto
você falava delas. — Ruborizo quando ele aponta este detalhe.
Não há dúvidas de que meu trabalho como voluntária é
especial, mas saber que alguém acha isso o máximo,
especialmente ele, me deixa tão entusiasmada! Fico sem
palavras para dizer neste momento. Enquanto tento recuperar
a minha postura, aproveito para tomar mais um pouco da
sobremesa, que, por sinal, está deliciosa.
— Na verdade, é um abrigo que acolhe crianças carentes.
Hoje atendemos vinte crianças que não têm família.
Marco se curva um pouco na minha direção com um
guardanapo, me olhando com um olhar perturbador. Encaro,
sentindo as batidas do meu coração. Vê-lo tão próximo me
trouxe várias recordações.
— Você se sujou com o sorvete. — Meu pai do céu!
Naquele momento, senti que o ar demorou a chegar aos meus
pulmões, quando, com gentileza, ele começou a limpar o lugar
que estava sujo. Durante a tarefa, não movi um músculo
sequer e muito menos desviei o meu olhar do seu. Era como
existisse uma lareira acesa dentro do meu corpo, crepitando
sem parar. Ele se afasta minutos depois e eu me esforço para
recuperar o meu equilíbrio, já que o mesmo subiu para o
espaço no momento em que ele tocou em mim. — Você está
bem? — Sua pergunta chega a jato, me açoitando e me
recordando que estou fazendo papel de idiota.
— Estou. — Tento esconder a adrenalina que ainda
percorre todo o meu corpo. Desvio minha atenção dele e aos
poucos volto ao meu estado normal. Por alguns minutos,
ficamos em silêncio.
Por fim, finalizamos o jantar e logo ele pede a conta. Após
o pagamento, saímos do restaurante em direção ao
estacionamento. A brisa noturna é acolhedora e caminhamos
lado a lado. Mansamente, ele coloca uma das mãos sobre
minha cintura e todo o meu corpo estremece. Paramos ao
lado do seu carro, o meu está um pouco mais à frente.
— Desde que te vi entrando no restaurante, eu quis fazer
algo. —Confessa, me encarando com um brilho diferente no
olhar. Não precisa ser alguém inteligente para entender o que
ele está querendo dizer.
— Ainda não é meia-noite e talvez consiga realizar aquilo
que deseja. — Brinco, desafiando. Não sei se por causa do
vinho que tomei ou porque, na verdade, eu quero que ele faça
isso que esteve o tempo todo imaginando.
Uma das suas mãos seguram firme a minha nuca, ao
mesmo tempo que me puxa de encontro ao seu corpo, me
beijando de uma forma avassaladora. Neste momento, sinto
que paro de respirar e flutuo em seus braços, quando sinto a
sua língua abdicando para si tudo o que ele acha que lhe
pertence. Estamos no meio do estacionamento, nos beijando
como se dependêssemos disso para sobreviver. As suas mãos
passeiam por todo o meu corpo, despertando inúmeras
sensações.
— Estou louco para foder a sua boceta, você não tem
noção... — declara, com os lábios colados nos meus. —
Caralho!— Eu deveria estar chocada por ver o quanto de
desejo ele está sentindo por mim e, no entanto, estou ainda
em seus braços, desejando que ele me foda como tem
imaginado. — Vamos sair daqui antes que eu te coma agora
mesmo.
Que loucura e essa?
Ele usa as palavras “foda” e “comer” como se fossem as
mais naturais. Este homem é uma incógnita.
Não tenho nenhuma pretensão de recusar a sua
proposta.
Em segundos, estou dentro do seu carro, sentada no
banco do carona, enquanto ele faz o contorno e assume o
volante. Sinto minha garganta seca, minhas pernas trêmulas
e minhas mãos suadas.
Ao colocar a chave na ignição, ele me encara cheio de
tesão, mas não me beija e também não diz para onde está me
levando. Estou tão impressionada que sequer pergunto a
respeito. Deixo apenas que ele seja o condutor. A amostra
grátis já garante que eu não vou me arrepender de tudo o que
acontecer nesta noite.
Logo saímos do estacionamento. O carro vagueia pelas
ruas da cidade. Estou tão apreensiva que não presto atenção
em nada. Vez ou outra sinto o seu olhar preso em mim, mas o
silêncio impera dentro do veículo.
CAPÍTULO 7
Dirijo em silêncio, mas por dentro os meus pensamentos
não me dão trégua. Vez ou outra, olho de relance na direção
em que Diana está e tento camuflar os sentimentos que
insistem em prevalecer. Digo para mim mesmo que não existe
nada de anormal, afinal, Diana é uma mulher adulta e deve
saber em que terreno está pisando. Não é nada pessoal, neste
momento ela está sendo apenas uma ponte que me levará a
atingir meu objetivo.
Desvio-me desses pensamentos e me concentro apenas
na foda incrível e surreal que teremos daqui a pouco. Estou
louco para foder a sua boceta várias vezes e posso imaginar
que, neste momento, ela está pensando o mesmo que eu. Vejo
o sinal fechando e isto é tudo o que eu preciso para
enlouquecê-la. Quero ouvi-la me implorando por um
orgasmo.
Em meio ao breu, nossos olhares se encontram e vejo-os
brilhando de desejo. Sem pensar, reivindico para mim a sua
boca de uma forma insana, repleta de luxúria e paixão. Diana
se entrega sem protestos. Afasto os meus lábios dos seus.
Neste momento, o sinal abre e assumo novamente o volante,
continuando o trajeto.
— Tire a calcinha. — Ordeno.
— Oi!? — Ela me encara com espanto, contudo não
desvio o olhar do percurso. Ela se dá conta de que estou
falando sério.
— Quero ver você tocando a sua boceta enquanto eu
dirijo. — Percebo em sua fisionomia uma expressão chocada,
e seu queixo parece prestes a cair. Sua pose me deixa
sorridente por dentro. — Ou vai me dizer que não sabe como
fazer? — Provoco-a, ironicamente.
— Não… Sim! — exclama nervosa. Noto o quanto ela
parece estar embaraçada. Acho que nenhum homem tinha
feito uma proposta como esta. Muito menos o imprestável do
George. É óbvio que ele não sabe como dar prazer a uma
mulher.
— Me mostre o que você sabe fazer. Quero ver a sua
boceta molhada enquanto estou dirigindo. — Minha voz soa
mais grave do que outrora. Confesso que estou ansiando para
ver o seu show.
— Você está falando sério? — Pergunta em um tom leve,
desacreditando do meu pedido.
— Quero assistir você se tocando e se dando prazer —
digo no controle, olhando diretamente em seus olhos. Ela arfa
nervosamente. Sei o quanto ela está louca para fazer o que
estou pedindo. — Se toque! — sussurrei, próximo ao seu
ouvido, arrepiando a sua pele. Ela inspira profundamente.
Afasto-me, voltando minha atenção total ao trajeto. Ela
se remexe no banco e de soslaio vejo-a retirando a calcinha fio
dental preta, meio tímida. Ao retirar toda a peça, pego-a das
suas mãos e aspiro o cheiro da sua boceta. Neste momento,
imagino que ela tem dificuldades para respirar.
— Erga o vestido! Quero ter uma visão privilegiada.
Obediente, ela faz o que peço, subindo a peça até
próximo ao seu umbigo. Encaro travesso ao ver a sua boceta.
Imagino que ela espera ouvir os meus comandos.
— Abra bem as pernas e coloque dois dedos dentro da
sua boceta. — A desgraçada parece ter sido programada por
mim, pois segue todos os meus comandos. Incito-a para que
comece a se tocar de forma regular e, aos poucos, ir
aumentando a velocidade dos movimentos. — Imagine que é a
minha língua chupando o seu clitóris. — Ouço seu gemido
enquanto ela se contorce, jogando a cabeça para trás. Sinto o
volume do meu pau e, se não estivesse dirigindo, foderia ela
aqui mesmo. — Imagine o meu pau se enterrando na sua
carne macia. — Ela geme com um volume maior, sem tirar os
dedos do seu clitóris. Observar ela nesta posição, louca por
prazer, é uma visão perfeita! A pequena diaba sabe como
agradar o capeta. Instigo-a um pouco mais, reivindicando
para mim tudo que a ela pertence. Sei que o seu orgasmo está
vindo e continuo provocando com mais intensidade.
— Marco, eu... — Não preciso ser algum vidente para
saber o que ela quis dizer.
Sussurro no seu ouvido.
— Goze nos seus dedos. — Ela arfa, se desmanchando
em prazer. Isso é o próprio deleite. Ela respira lentamente,
olhando pra mim com os olhos brilhando, satisfeita. Mas
ainda não totalmente. Ela sequer vivenciou tudo aquilo que
penso em lhe proporcionar. Ao ver os seus dedos melados
pelo seu gozo, coloco-os na minha boca, sugando com
devoção. Ela me olha desacreditada, mas vejo o prazer
explícito nos seus olhos.
— Onde estamos? — Pergunta com a voz grogue,
percebendo neste momento que parei o carro. Olha curiosa de
um lado a outro.
— Prometi que tornaria esta noite inesquecível. Honrarei
minha promessa.— Respondo, segurando a sua nuca e
trazendo seu rosto para mais perto, beijando-a
imediatamente. Ela se entrega sem resistência. Eu a foderia
neste carro, mas não foi isso que planejei. Geralmente,
costumo fazer isso de acordo com meu cronograma. Antes
que eu me sacie aqui mesmo, afasto a minha boca da sua e
vejo os olhos brilhando, implorando por mais. Ela suspira
com dificuldade quando me afasto e saio do carro. Contorno o
veículo e abro a porta do carona. Ela parece ficar em dúvidas
se quer sair do carro ou não. Admiro suas coxas nuas e me
curvo, ficando próximo ao seu rosto. — Garanto que a minha
cama é bem melhor do que este banco. — Pisco de uma forma
safada. Ela compreende onde estamos, mas não questiona
nada. Meio sem jeito, ela abaixa o vestido e, com a minha
ajuda, sai do carro. Pressiono o seu corpo entre o meu e o
carro. Afago com ternura o seu rosto ruborizado. — Estou a
um ponto de explodir de desejo. — Declaro, mesmo com a
certeza que ela já percebeu. Meu pau está tão rígido que em
breve vai sofrer uma explosão se eu não foder logo a sua
boceta. — O que você está fazendo comigo, morena? — Indago
mais para mim do que para ela. Ela apenas me olha sem
entender o que eu estou querendo dizer, e eu prefiro deixar
por isso mesmo. Até porque, depois que eu finalmente tiver
gozado, Diana fará parte do ranking de mulheres que tiveram
o privilégio de ter feito sexo comigo.
Seguro a sua mão e a guio até a entrada principal. Diana
está tão silenciosa que, às vezes, tenho a impressão que estou
sozinho.
— É aqui que você mora? — pergunta quando chegamos
à sala, admirando o cômodo. Afirmo com um gesto. Não quero
estender o diálogo entre a gente e logo a levo para a minha
suíte. A mansão está silenciosa, presumo que tanto Liliana
quanto os demais empregados já tenham se recolhido. — A
sua família pode não gostar de me ver aqui... — não respondo
e ainda a calo com um beijo.
Não há ninguém aqui com quem você deva se preocupar
ou ter receio, afinal, o conceito família não existe no meu
vocabulário - penso, mas não revelo isso a ela.
Durante o percurso da sala para a suíte, arranco o seu
vestido, deixando-a completamente nua. Ela me olha,
espantada com a minha ousadia, o que faz com que eu erga
uma sobrancelha, com ironia. Colo meu corpo ao seu ao
fechar a porta e distribuo vários beijos e lambidas por cada
partícula do seu corpo. Sinto a maciez da sua boceta e gemo
de prazer ao ver o quanto ela está molhada. Diana diz
palavras incoerentes, o que aumenta ainda mais o animal em
mim. Vejo suas pupilas se dilatarem quando enfio dois dedos
em sua boceta, levando-a ao ápice. Arranco a minha calça e
cueca, e o meu pau salta para fora. Ela faz uma interjeição,
arrepiando-se completamente. Suas mãos tocam o meu tórax
e ela distribui beijos por todo o meu corpo. Sim, ela é uma
feiticeira e está me dominando de uma maneira avassaladora.
Pego uma camisinha na gaveta e, antes de abri-la, ela se
prontifica a desfazer a embalagem e o faz de uma maneira tão
eficiente e proativa que, quando me dei conta, ela já tinha
colocado no meu pau. As suas mãos de feiticeiras tocando o
meu membro foi o ápice da minha loucura. Inebriado e
ansioso por prazer, envolvo seu corpo enquanto encaixo meu
pau em sua entrada. Ela mordisca os lábios levemente
enquanto se esforça para me forçar a entrar. Sorrio
descaradamente, deixando claro que aqui sou eu quem
manda. Beijo seu pescoço, descendo pelos seus seios, só para
torturá-la.
— Marco... eu... — sua frase fica incompleta quando sugo
um dos seus seios, levando-a ao limite. Solta um resmungo
desesperado quando eu não faço aquilo que ela mais deseja.
Volto minha atenção para o seu rosto e, ao ver suas pupilas
dilatadas, fico cada vez mais fora de mim. O suor escorre dos
nossos corpos. Passo minhas mãos nos seus cabelos
espalhados pelo colchão.
— Está pronta para me ter inteiro dentro de você? —
provoco-a. Ela reclama.
Como a tortura também está me atingindo, penetro-a de
uma vez, arrancando um grito de surpresa da sua garganta.
Perco o controle e, segurando firme seu corpo, estoco o meu
pau várias vezes dentro dela.
— Caralho, que boceta mais quente... — Expresso ao me
enterrar completamente dentro da sua boceta. Sua vagina se
contrai, apertando meu pau. — Gostosa pra cacete! — Sibilo,
movimentando-me dentro dela arrancando suspiros, gemidos
e palavras impróprias. A sua boceta me engole com prazer e
luxúria. Em toda a minha vida nunca comi uma boceta tão
ardente como a dela. É tão bom fodê-la!
— Marco... Ahhhh..... Não para, por favor! — Pede, como
se eu tivesse tal intenção.
Eu sabia que o inferno era quente, mas a boceta dela
crepitava fogo.
— Mais forte... — Atendo ao seu pedido, aumentando os
movimentos. Seus gemidos são como músicas aos meus
ouvidos.
Percebo que ouvi-la gemer é uma melodia que eu quero
sempre escutar. Está cada vez mais difícil não explodir, mas
só vou gozar quando eu der isso a ela, o que não demora
muito. Sinto pela pressão da sua boceta que o orgasmo está
chegando. Ela grita ao atingir o ápice, tomando os seus
lábios, e também me permito explodir. Sinto o seu corpo
relaxar e saio de dentro dela, me erguendo e me livrando do
preservativo, descartando-o na lixeira. Ela continua deitada,
olhando para o teto.
Nenhuma mulher esteve aqui neste quarto e
miseravelmente, esta é uma imagem que dificilmente vou
apagar da minha memória.
Percebo o seu olhar doce e interrogativo me encarando e,
pela primeira vez, reconheço o canalha que mora em mim e,
neste instante, admito que não posso mais voltar atrás.
Com uma desculpa esfarrapada, me dirijo ao banheiro
para tomar uma ducha, depois ela pode fazer o mesmo.
Ela apenas assente em silêncio no momento que lhe dou
as costas.
Entro no box, ligando o jato de água fria que se derrama
pelo o meu corpo, onde ainda tem as pegadas das suas mãos.
Caralho, acho que vou gozar outra vez imaginando ela
ajoelhada chupando o meu pau.
CAPÍTULO 8
Sinto uma sensação maravilhosa percorrendo cada fibra
do meu corpo ao despertar. Marco é um amante insaciável.
Não acredito que transamos quase a noite inteira, em várias
partes do quarto, no box e de frente para o imenso espelho
que tem aqui no quarto. Sinto as suas pegadas por cada
partícula do meu corpo. Ele não mentiu quando garantiu que
eu teria uma noite inesquecível. Minha boceta está um pouco
sensível. Em toda a minha vida nunca fiz sexo com uma
pessoa igual a noite passada. Marco compensou todas as
fodas ruins que eu tive enquanto namorava o George.
Resmungo baixinho por lembrar do meu ex-noivo neste
momento.
O fato é que tive uma única noite de sexo que equivale a
uma noite inteira. Quer dizer, se for para ter mais momentos
como aqueles, claro que eu quero repetir. Marco é um
dominador nato e eu gozei todas as vezes que esteve dentro de
mim, seja com o seu pau, seus dedos ou sua língua. Temi
que, pelo cumprimento do seu pau, ele não coubesse dentro
de mim. No entanto, aqui estou rememorando tudo aquilo que
ele me proporcionou.
Suspiro mansamente, fazendo o mínimo barulho para
não o despertar. Por volta das duas horas da manhã que
finalmente pude adormecer, depois de saciada e bastante
exausta. Não vi o momento que o Marco conseguiu dormir.
Não sei que horas são, mas pela claridade presumo que já
passa das primeiras horas da manhã.
Com os olhos já abertos, aproveito para olhar a suíte. A
decoração do quarto é bucólica, com tons escuros e neutros.
Pelo que pude perceber, a sala segue o mesmo tom. Encaro o
lugar vazio ao meu lado, só agora percebendo que ele não se
encontra aqui. Sinto um frio percorrendo a minha espinha
dorsal. Enxergo o meu rosto no espelho.
Que extravagante!
Marco deve ter o arquétipo de Narciso, penso com
curiosidade.
Saio de debaixo das cobertas e coloco os meus pés para
fora da cama. O meu corpo nu reflete no espelho. Presumi
que ele acordou antes e, para não me acordar, saiu do quarto.
Preciso apenas tomar um banho, encontrar o meu vestido e
descer para encontrá-lo. Vejo o meu vestido dobrado em uma
das poltronas. Imagino que deve ter sido Marco quem o
deixou ali, já que o tinha arrancado quando vínhamos para a
suíte, consumidos pelo fogo do desejo. Ao passar próximo ao
espelho, enxergo várias marcas que ele deixou espalhadas
pelo meu corpo. Em meus seios, há marcas da sua boca. Toco
em algumas delas e relembro tudo o que ele me fez sentir.
Com um sorriso em meu rosto, entro no banheiro, iniciando a
minha higiene matinal.
Encontro toalha, sabonete, escova de dente e creme
dental. Ele deixou lá porque sabia que eu iria precisar. Faço
xixi, já que a bexiga começa a incomodar, escovo os meus
dentes e, em seguida, entro no box. Ensaboo todo o meu
corpo e logo após, retiro todo o excesso do sabão. Visto o
roupão, seguindo para o quarto.
O bicho da curiosidade bate forte dentro de mim, e eu
aproveito para bisbilhotar a sua suíte e descobrir um pouco
da sua intimidade. Começo pelo closet e fico boquiaberta com
as roupas de marca que ele tem. Retiro uma das suas
camisas, aspirando o seu cheiro. É inacreditável que ele tenha
um cheiro tão peculiar e embriagante. Vejo os seus sapatos,
cintos, carteiras e relógios. Ele é um homem extremamente
vaidoso. Curiosamente, constato que ele está sempre usando
preto e no closet as peças são todas pretas.
Em algum momento, vou querer entender o porquê dessa
opção.
Em outra parte do closet encontro várias variedades de
perfume, todos importados. Estico a minha mão, pegando um
frasco de perfume. Sinto a fragrância, reconhecendo que este
é o perfume que ele usa com frequência. Em todos os
momentos que nos encontramos, senti esta fragrância. Sem
dúvidas, é o seu perfume predileto. Borrifo algumas gotas nas
partes essenciais do meu corpo, constatando como é
agradável a sensação de sentir o cheiro do Marco em mim.
Sinto-me uma tola ter esses pensamentos. Devolvo o
produto em seu lugar original, me afastando em seguida.
Depois desta vistoria apressada, retiro o roupão e coloco o
meu vestido. Não encontrei a calcinha, mas não adianta
procurar, com certeza se perdeu dentro do carro. Fico
arrepiada, relembrando cada detalhe da noite anterior. Calço
as minhas sandálias e arrumo os meus cabelos. Para não sair
da suíte com a cara lavada, passo um pouco de base no meu
rosto e máscara nos cílios, que sempre carrego em minha
bolsa. Olho-me no espelho e sorrio de maneira tímida,
satisfeita com o resultado. Abandono a suíte e sigo direto para
o térreo. Desço a escada em formato diagonal e logo me vejo
parada na imensa sala, com uma decoração impecável à
altura de uma mansão de cinema. Marco deve ser um homem
de muito dinheiro para ostentar tantos luxos. Pelo que pude
notar, a mansão é muito grande, com certeza sua família é
enorme. Observo alguns quadros de artistas famosas
espalhados pelas paredes da sala. Perdida naquela mobília
histórica e bonita, não percebo a entrada de uma mulher.
Arregalo os olhos, chocada ao vê-la parada igual a uma
estátua, me olhando com bastante interesse e com uma
expressão de curiosidade. Ela percebe que me assustei ao vê-
la e ligeiramente esboça um pedido de desculpas.
— Desculpe se te assustei. — Sua voz é meiga e sinto
sinceridade em suas palavras. — Mas a senhorita estava tão
distraída que não me achei certo interromper. — Ela se refere
à maneira que eu admirava os quadros, como se estivesse em
uma exposição.
— É que adoro obras de arte. E a curiosidade foi maior.
— Explico.
— Imaginei. — Ela diz de forma compreensiva. — Marco
também ama obras de arte. — Tenho a impressão que ela cita
o nome de Marco com certa veneração. Me questiono quem é
essa senhora e, como se lesse os meus pensamentos, tenho a
resposta logo em seguida. — Eu sou Liliana, governanta da
mansão.
Fico boquiaberta. Em nenhum momento imaginei que ela
fosse empregada do Marco. Ela se veste tão elegantemente
que a primeira impressão é que ela é a dona daqui.
— Eu sou D...
— Diana — diz o meu nome, me interrompendo como se
já soubesse quem sou. Ela estende a mão e eu a cumprimento
um pouco nervosa. — Marco avisou que tinha uma mulher
em sua suíte e quase não acreditei. — Revela ao soltar a
minha mão. O seu comentário aumenta o meu nervosismo.
Isso nunca aconteceu comigo. Acordar e encontrar os
empregados do homem com quem eu transei a noite toda.
Mas também não tive uma fila de homens em toda a minha
vida. A minha juventude foi praticamente amarrada a um
homem que nunca conheci direito, que nem sabia quem era
seus pais e nem como eles morreram antes do George vim
morar no Brasil. E antes do George, só tive alguns namoricos.
Nada comparado a tudo que Marco me proporcionou. —
Imagino que a senhorita esteja com fome, já que não tomou o
café da manhã. O almoço está servido, é só me acompanhar.
— Liliana não me dá tempo para pensar e logo, de forma
gentil, me leva até a antessala onde as refeições são servidas.
Entro na sala com a expectativa de encontrar o olhar
negro do Marco, mas sinto um incômodo em meu peito ao
perceber que o lugar está vazio. Educadamente, ela puxa uma
cadeira na cabeceira da mesa e me convida a sentar.
— O Marco não vem almoçar? — Pergunto, sentindo um
formigamento estranho. Liliana para de me servir e me encara
com um triste pesar. Fico desconfortável com o seu silêncio.
— Como vocês compartilharam a mesma cama, imaginei
que ele tivesse te comunicado — ela faz uma pausa
proposital, me dando tempo para assimilar suas palavras. No
entanto, tudo isso me deixa mais confusa e com aquele bolo
crescente na garganta. Eu imaginei que ele estivesse aqui e
não que houvesse todo este suspense. — Ele viajou para
Londres esta manhã.
— Viajou? — Cuspo a pergunta como se não tivesse
entendido. Ela assente, confirmando. Sinto que defloro ao me
dar conta que Marco viajou e sequer me falou quais eram os
seus planos. Me deixou dormindo em sua cama e saiu sem
dizer nada. Ergo-me como se a cadeira tivesse espinhos. — É
melhor eu ir embora. — Perdi completamente o apetite. A
governanta deve estar pensando que sou alguma golpista ou
uma mulher que ele encontrou na noite. Sinto calafrios ao
pensar nestas coisas. Imediatamente sigo em direção à sala.
— Almoce primeiro, menina. — Liliana pede aflita,
caminhando atrás de mim, insistindo em me convencer a
sentar naquela mesa gigante e farta sozinha. Pego a minha
bolsa, que deixei em um dos sofás. — Foi recomendação do
Marco para te tratar bem.
Meu Deus, que loucura é essa que estou vivendo? Pela
primeira vez, estou me sentindo usada.
— Quantas mulheres ele já tratou da forma que está me
tratando? — Viro-me para a governanta e pergunto de
supetão. Liliana pisca sem compreender, mas logo em seguida
se recompõe e respira com profundidade antes de responder.
— Não tenho a menor ideia. Você foi a primeira mulher
que ele trouxe para esta casa. — Fico pasma, mas não dou
nenhum crédito às suas palavras. Ele deve ter comido tantas
mulheres em sua suíte, que a governanta deve ter perdido a
conta. — O Marco é um homem extremamente ocupado. Não
se sinta ofendida por ele não ter falado sobre esta viagem.
Com certeza deve ter esquecido. — Ela defende o seu patrão
com uma adoração quase medonha. — Tem muito tempo que
vocês se conhecem? — Procura saber. Encaro-a sem
respostas. Não consigo dizer sequer uma palavra. Como vou
lhe dizer que conheço o Marco há menos de uma semana? O
pior é este sentimento desconfortável em meu coração devido
à sua falta de consideração. Ele poderia ter me falado dessa
viagem, assim eu teria acordado mais cedo e não estaria aqui
me sentindo usada, descartada e jogada fora. Caramba! Eu
não devo ter estes pensamentos. Marco tem a vida dele, sua
rotina e ele não ia pará-la por causa de mim. Mas porque esta
angústia em meu peito?
— Antes que a senhora me julgue, eu não saio por aí
dormindo com o primeiro homem que encontro — digo com
raiva.
— Eu jamais faria isso — ela parece decepcionada pelo
meu tom acusatório. — O Marco é um homem bem grandinho
e, por sua vez, a senhorita é a dona do seu nariz — suas
palavras transmitem certa amargura. Ela parece
decepcionada pelo que eu disse antes.
— É melhor eu ir embora — reforço, e ela não tentam me
impedir. — Desculpe se fui grosseira.
Ela apenas balança a cabeça silenciosamente. Sigo em
direção à saída. Antes de abrir a porta para sair dali, já que o
clima ficou um pouco tenso entre nós, Liliana me interrompe.
— O Marco pediu que te entregasse... — olho para ela e
ela me entrega as chaves do meu carro. — Ele pediu que
Herbert trouxesse o seu carro.
Assinto, agradecida. Retomo a minha caminhada e ela
não insiste em me manter ali contra a minha vontade. Ela
deve ter visto que estou arrasada, mesmo me esforçando para
ocultar. Caminho a passos rápidos na direção do meu carro,
aciono o alarme e assumo imediatamente o controle do
volante. Permaneço por alguns instantes refletindo em tudo o
que aconteceu, sentindo uma angústia quase sufocante.
Custava ele ter se despedido? - penso com tristeza.
Babaca egocêntrico.
Giro a chave, ouvindo o ronco do motor, e saio daquele
lugar o mais rápido possível.
CAPÍTULO 9
O meu plano era unicamente seduzi-la. Por que não
consigo me sentir satisfeito após ter conseguido o que eu
queria?
Interrogo-me, colocando mais uma dose de uísque e
bebendo de uma só vez. Desde que saí do Brasil esta manhã,
não parei de pensar em Diana. Foi um verdadeiro sacrifício
me concentrar na reunião com os londrinos. Ela parecia ter
sido tatuada em meus pensamentos.
Fui informado da sua reação quando acordou na minha
casa e descobriu que tinha viajado. Pela visão óptica de
Liliana, Diana tinha ficado decepcionada, mesmo se
esforçando para não deixar transparecer. Era para eu estar
me sentindo vitorioso, mas não é esse sentimento que estou
sentindo. Pelo contrário, é algo que não consigo explicar.
Imaginei que com o meu gelo ela me ligaria ou enviaria
alguma mensagem me cobrando alguma explicação, mas
nada típico aconteceu. Por tudo o que eu lhe proporcionei na
noite anterior, era para ela estar caidinha aos meus pés. Mas
não tenho nenhuma louca aos meus pés.
Idiota.
Bebo praticamente a garrafa inteira de uísque e mesmo
assim só consigo me sentir mais amargurado. Nunca a
solidão doeu tanto em mim como está doendo agora. O fato de
sempre ser um lobo solitário nunca me causou essa sensação
de sufocamento na garganta. A impressão que tenho é como
se eu tivesse pegado o controle da minha vida e entregado
para outra pessoa e sequer sei o que essa merda significa.
Isso não pode estar acontecendo!
Eu não vou permitir que aquela garota, que chegou
ontem na minha vida, domine o leão que eu sou.
Eu tenho as minhas regras.
Eu sou dono e senhor das minhas escolhas. Ela é só a
porta de entrada para o meu propósito final.
Seguro o aparelho de telefone, desejando ardentemente
que ele toque e que seja ela. No entanto, os segundos se
transformam em minutos, os minutos em horas e, sentindo a
frustração amarga, concluo que ela não vai me ligar.
Em revolta e com o peito ardente, atiro o objeto na
parede, que se espedaça caindo no chão.
Porra! Xingo mentalmente, sentindo-me péssimo e
convicto da ressaca desagradável que terei amanhã.
Eu quero que o George se exploda. Que a Diana se
exploda. Que o mundo se exploda. Me jogo na cama,
sentindo-me pessimamente destruído.

A sensação de ter sido usada por um babaca não sai da


minha cabeça. Por mais que mergulhe no trabalho no período
vespertino, essa sensação não diminui. E o babaca sequer me
dá um telefonema. Nem mesmo um pedido de desculpas.
— Amiga, não precisa ficar assim, com certeza ele é um
homem muito ocupado. — Olho feio para Pâmela com o seu
tom sarcástico. Ela insiste em tomar as dores do Marco desde
que lhe contei que ele foi viajar sem me informar nada e ainda
me levou para a sua casa, onde me fez sentir uma puta. Que
ódio. — Por que você não liga para ele?
— Nunca! — Digo áspera. Jamais vou me prestar a um
papel desses. — Ele também tem o meu número, se quisesse
me ligaria ou enviava um SMS.
Pâmela continua se divertindo às minhas custas, o que
aumenta a minha ira e a raiva que estou sentindo dele. Estou
tão revoltada que a expulso da minha sala, pois não quero
ficar ali ouvindo-a fazer mil conjecturas, todas elas a favor do
Marco.
Não sei se ela está fazendo isso para me provocar ou
porque realmente acredita que todo esse silêncio da parte dele
tem explicação. Sei que estou idealizando demais este
envolvimento, afinal, ele não fez promessas ou deu garantias
de uma relação duradoura. Acho que ele só queria me foder
mesmo. Acho não, tenho certeza. Devia ter previsto que algo
assim aconteceria. Marco é o tipo de homem que deve ter uma
mulher em cada esquina e sabe quantas delas não estiveram
em sua cama. Eu devo ter sido a número mil e uma que ele
pegou. Este sentimento de ter sido usada é frustrante!
Pâmela se vai sorrindo de orelha a orelha e eu permaneço
em minha sala com o pensamento fervilhando e o gosto ácido
em minha boca.
Ah, Marco vá para o inferno!
Excomungo cada pensamento relacionado a ele. Espero
nunca mais voltar a vê-lo.
Se eu achava que o meu único problema era o fato do
Marco ter ido viajar depois de uma noite maravilhosa que
compartilhamos, logo mais tarde descobrir que não era. Após
finalizar o expediente naquela tarde, resolvi passar na ONG
para visitar as crianças e só fui para casa à noite. Tudo o que
mais desejava era tomar um banho ducha frio, deitar em
minha cama e dormir, até porque jantei na companhia das
crianças. Contudo, este pensamento é interrompido quando,
ao passar pela sala, encontro a minha mãe fazendo
companhia para o George.
— Finalmente lembrou que ainda mora aqui — o desdém
está estampado em suas palavras no momento em que piso
na sala. Meu pai também está presente e silencioso. Meu
sexto sentido indica que a minha mãe está prestes a aprontar
mais umas de suas loucuras.
— Boa noite. — Digo, com ironia, encarando a plateia.
Minha mãe revira os olhos.
— George está aqui porque vocês precisam conversar. —
Minha mãe revela, como se ele não tivesse vida própria. —
Espero que você tenha refletido e tenha tirado essa ideia
maluca de romper o seu noivado. — Agora é a minha vez de
revirar os olhos. Ela continua batendo na mesma tecla.
George continua mudo, com certeza combinou este teatro com
ela. — Ele vai relevar o seu deslize e te perdoar. E podemos
marcar a data do casamento.
— Em qual século a senhora vive? — Explodo. — Quando
vai entender que este casamento nunca irá acontecer?
— Não seja idiota! — Recrimina. — Filha minha não
expõe a família desta maneira. Você vai se casar com o George
nem que para isso...
— Chega, Marieta! — Confesso que me assustei quando o
grito de autoridade do meu pai rompeu pela sala, calando de
uma vez a minha mãe. Ela o olhou com tanta revolta, que sua
mandíbula estremeceu. Até tenta argumentar, mas o meu pai
não permite. Por alguma razão, o gigante acordou. — Nossa
filha já é adulta e, se ela não quer se casar, você deveria ser a
primeira a apoiar. E você — aponta na direção do George que
o encara confuso — deveria ter mais respeito por si mesmo e
não ficar se humilhando por uma mulher que já disse que
não te ama...
— Antero... — Minha mãe reprova sua atitude. — Ele é o
melhor partido que a nossa filha poderia ter.
— E desde quando ter um relacionamento com uma
pessoa considerada o melhor partido é garantia de um amor
verdadeiro? — Meu pai confronta minha mãe com
argumentos válidos e, pela primeira vez, presencio minha mãe
ficar calada, embora esteja espumando com raiva. — Diana já
disse milhares de vez que este relacionamento acabou e, se
ela não quer se casar, eu sou o primeiro a apoiar a sua
decisão. Estou do lado da minha filha. — Por fora, estou
chocada com as palavras do meu pai e, por dentro, estou
sorrindo por presenciar este embate. — E você — ele se volta
para ela — pode parar com essa tortura psicológica com
nossa filha. E saiba que, enquanto vocês não respeitarem a
escolha da Diana, George não será mais bem-vindo nesta
casa. — Não sei se abri e fechei a boca, impactada com o que
ouvi. O fato era que estava gostando de ver aquela cena. As
suas expressões eram de terror.
— O senhor está me expulsando da sua casa? — George
pergunta completamente desanimado.
— Não foi isso o que meu marido disse, ele só está um
pouco alterado. — Não entendo esta adoração que ela tem
pelo George.
— É exatamente isso que você entendeu. E se você tiver
bom senso, sequer ousará dirigi alguma palavra à minha
filha.
Vejo George mudando de branco para pálido em
segundos. Percebo que ele se esforça para não agredir meu
pai.
— Eu nunca fui tão humilhado em toda a minha vida. —
George diz, possesso — mas saiba que isso não vai ficar
assim. — A ameaça é dita em um tom velado que não me
abala, mas me deixa confusa. — Um dia você vai se
arrepender por estar me dispensando e vai implorar de
joelhos para que eu me case com você. — Meneio a cabeça,
deixando claro que isso nunca irá acontecer. Revoltada, vejo
George se retirando. Minha mãe nos fuzila quando isso
ocorre, desaprovando cada palavra dita no meio desta sala.
— Você é uma ingrata! — Acusa-me, antes de sair da
sala.
Respiro profundamente quando ela se retira. O meu pai
me envolve em um afetuoso abraço, garantindo que tudo vai
ficar bem. Por mais que isso aparentemente tenha se
resolvido, sinto que minha mãe não vai engolir isso fácil.
Mas, por ora, este é um assunto que não devo me
preocupar.
CAPÍTULO 10
Achei que, ficando distante do Brasil durante uma
semana, acabaria esquecendo Diana, mas não foi isso que
aconteceu. Uma hora ou outra, eu estava pensando nela e me
perguntando o que ela estava fazendo naquele momento. Por
algumas vezes cheguei até a discar seu número, mas não tive
coragem de completar a ligação e sempre terminava o dia
dentro do quarto do hotel ingerindo álcool, fumando cigarro e
desejando que ela estivesse aqui. Desgraçadamente, constato
que aquela pequena vem dominando os meus pensamentos.
Depois daquela noite eu não consegui transar com outra
mulher e, sempre que tentava, era o seu rosto que eu via, era
a sua boca que eu imaginava se fundindo à minha e me
despertando os melhores prazeres. Sim, Diana era uma
feiticeira e eu estava ferrado pelo resto dos meus dias.
Se ao menos ela não tivesse dando uma de difícil e me
ligado, mas não, a desgraçada está fingindo perfeitamente
bem que não sentiu nada especial por mim. Ou será que ela
não sentiu mesmo? Este último pensamento causa um
arrepio quase espinhoso pelo meu corpo. Será que estou
querendo que existam coisas onde não há? Talvez Diana só
estivesse em busca de sexo, assim como eu. Um homem como
eu deveria me sentir tranquilo com este pensamento, mas não
é isso que acontece. Pensar nisso só faz crescer o meu mau
humor, que já é constante nos últimos dias. Ela está
povoando os meus pensamentos de uma maneira que estou
perdendo o controle, e isso é péssimo. Por andar
constantemente frustrado, quase perco um grande negócio na
última reunião. Por um triz não coloquei tudo a perder. E
tudo por conta dela. Acho que alguém está precisando
aprender uma nova lição.
Desembarquei no Brasil às sete horas da noite de sábado
e, como de costume, Herbert estava me esperando. Ele
percebeu o meu humor assim que entrei no carro.
— Algum fato novo? — Indago depois de alguns minutos
dentro do carro.
— Não. — Herbert continua atento na avenida.
— Relacionado à Diana? — Indago rígido.
— O que eu falei por mensagem: ela continua indo para o
trabalho, para a ONG e retornando para casa. — Estalo os
meus dedos um no outro. É assim que ajo quando algo
começa a me incomodar. — Pelo que pude apurar, ela
terminou mesmo com o George. — Bom. Sorrio intimamente.
Essa informação é reconfortante. Saber que ela não voltou
atrás na sua decisão conta muitos pontos ao meu favor. —
Mas tem algo que você precisa saber — não gostei do seu tom
e pacientemente espero qual será a bomba — Diana tem ido
àquela boate na companhia da amiga e — o suspense está me
causando um tique nervoso — teve alguns gaviões dando em
cima dela. — O sangue ferve e aperto forte o maxilar ao
imaginar que outro idiota escutou os mesmos gemidos que
eu. — Não quis te dizer por telefone, mas acho que ela saiu
com um deles na última vez que esteve lá... — Esmurro o
vidro blindado do carro que não quebra, mas faz um estrago
em meus dedos. Herbert para o carro de forma abrupta.
— Foram apenas algumas escoriações — diz a médica ao
colocar medicamento no local machucado. Herbert permanece
lá parado no consultório médico, se divertindo às custas do
meu desespero, sem dúvida. Esse filho de uma rapariga disse
aquilo apenas para me provocar. Se ele não fosse alguém que
eu tenho em grande estima, eu quebraria o seu nariz. — O
senhor pode sentir algum desconforto, vou receitar um
antibiótico e, caso sinta dores, pode tomar.
Ela escreve algo na receita e entrega a Herbert. Saímos
do consultório minutos depois. De volta ao carro, Herbert
retoma o assunto. Continuo me sentindo desconfortável.
— Hoje a boate deve estar lotada e, com certeza, a Diana
e aquela amiga gostosa estarão lá. — Aquela suposição ativa
um sino na minha cabeça. Se essa teoria estiver certa, talvez
seja o momento de dar uma lição naquela feiticeira. Ela
precisa me pagar por todo esse gelo.
— Deixe-me na boate. — Digo sem pensar. Herbert me
encara com ironia e prontamente me obedece. — Invente
qualquer coisa para fazer com a Liliana, mas tire ela da
mansão. — Como é sábado, os empregados estão de folga. Só
estão lá os seguranças e Liliana, que nunca se afasta da
mansão. Mas se ela souber que quero a mansão só para mim,
ela atende o meu pedido. Dispenso Herbert. Ele retorna para
casa em um táxi.
— Não era você que tinha como regra não comer a
mesma mulher mais de uma vez? — O seu tom é provocativo.
Não respondo. Em vez disso, instruo o taxista a levá-lo
embora antes que eu esqueça que ele é o meu melhor amigo.
Herbert tem razão, estou prestes a quebrar uma das
minhas principais regras.
Mas, se for para dar uma boa lição àquela feiticeira, o
risco vale a pena.
Entro na boate que, como Herbert tinha previsto, está
muito cheia. Estou aqui com um único objetivo: encontrar a
garota que tem ocupado a maior parte dos meus
pensamentos. E como se o diabo estivesse disposto a zombar
de mim, a primeira pessoa que vejo é ela, que está na pista de
dança rebolando para um monte de homens fodidos que
babam só de assistir a sua desenvoltura. Sua amiga está ao
seu lado, mas só enxergo Diana. Pela primeira vez, sinto
aquilo que as pessoas classificam como ciúmes. E esso é o
pior dos sentimentos.
Prendo o maxilar, me segurando para não ir até lá e
expulsar aquele monte de abutres. Observo a certa distância
o seu rosto e suas feições plenas, seu sorriso transparente.
Deduzo o quanto ela está se divertindo ao se sentir livre.
Desço, observando cada detalhe do seu corpo e o formato dos
seus seios naquele cropped preto. Mordo os meus lábios,
desejando segurar ambos em minhas mãos enquanto os
chupo até ela enlouquecer. Aprofundo o meu olhar,
demorando-me em seu traseiro. Suas coxas lisas e a mostra.
Atrevida. Provocante. Sensual. Ela não tinha nenhuma
vergonha em estar ali atiçando os instintos selvagens dos
homens. Maldita seja. Não gostei de ver um deles cochichar
algo em seu ouvido, que logo foi repelido e ela o afastou. Por
dentro, fiquei contente ao ver que ela dispensou o sujeito,
mas ainda havia muitos outros que, assim como eu , estavam
imaginando cenas eróticas.
Diana era um convite para o pecado e eu, como um
pecador que sou, não posso permanecer imune. Depois de
pedir uma bebida ao barman e ingerir em um gole único,
percebi que estava na hora de acabar com o seu show ou
apenas destruir os sonhos dos idiotas de plantão. Diana era
minha e eu faria questão de mostrar isso a eles.
Considerado um rei, me aproximei e, antes que ela
tivesse tempo para pensar e enquanto piscava como se não
acreditasse que fosse eu, a puxei de encontro ao meu corpo,
envolvendo-a em meus braços ao mesmo tempo que invadia a
sua boca. Sob protestos ela tentou em vão resistir, mas eu fui
mais firme e, com a minha língua, forcei a entrada, abdicando
para mim o território que me pertencia. Ela se debatia em
meus braços, mas à medida que fui avançando, ela foi se
entregando e, de repente, não havia mais nada além de nós
dois.
Tudo o que eu queria era que os meus pensamentos não
fossem todos direcionados ao Marco. O fato de passar uma
semana sem notícias dele só fez aumentar a falta que eu
estava sentindo.
Por essa razão, quando o final de semana chegou após
uma semana árdua de trabalho e embates desenfreados com
a minha mãe que após a nossa última discussão e depois que
o meu pai resolveu intervir a meu favor-, não olhava mais na
minha cara. Continuamos morando sob o mesmo teto, mas
convivendo como se fôssemos pessoas estranhas. Ela nunca
foi o tipo mãe amorosa, e agora então, a nossa relação de mãe
e filha está longe de ser a mais legal.
Contudo, não faço questão em me tornar a sua melhor
amiga. No fundo, até acho que nós nunca teremos uma
relação saudável. Faz muito tempo que deixei de entender as
suas atitudes e parei em querer cobrar o mínimo de afeto. Ela
quem escolheu que a nossa convivência seria assim. Não
posso exigir o amor de uma pessoa que desconhece este
sentimento.
Foi por conta de todos os meus dilemas familiares e
amorosos que decidi sair a fim de curtir a noite. Pâmela me
convidou e na hora eu não pensei duas vezes. Me arrumei e lá
fui eu curtir uma social longe dos meus problemas. No
sábado o local enche que é uma maravilha! E tudo o que eu
menos queria era esbarrar em algum idiota e terminar como
da outra vez que estive aqui, mas também não queria ficar
parada em um canto sem diversão. A energia do lugar é
contagiante, especialmente hoje, então logo fui para a pista de
dança. Quando me dei conta, estava sendo conduzida pela
música e dando um show. Percebi os olhares masculinos
libidinosos ao me assistir dançando. Para aqueles que ainda
não me conhecem, eu adoro dançar, mesmo não fazendo com
frequência. Sempre tive aquela máxima de que a música e a
dança são transcendentais e ambas têm o poder de nos
arrebatar para lugares distantes de nós mesmos. Já que
todos estavam parando para me admirar, dei o meu melhor e
nunca me senti tão livre. Até a Pâmela estava radiante ao me
ver dando um espetáculo.
Tudo o que eu queria era ser livre. Livre das
preocupações, das decepções e ilusões, e usufruir deste
instante tão unicamente meu. Não tinha pretensão de atrair a
atenção masculina e, no entanto, alguns deles insistiam em
passar alguma cantada. Dispensei cada uma delas. A última
coisa que eu desejava era um ficante a cada vez que eu fosse
a uma boate. As pessoas ainda não entenderam que sozinha a
gente também pode se divertir.
Envolta nesta linha de poder e liberdade, o mundo parou
no instante em que vi aquele par de olhos negros que me
atormentaram durante a semana, a poucos centímetros de
mim. Sua presença imponente e atraente afastou a maioria
dos homens que tinham parado para me assistir. Não
consegui tirar os meus olhos dele nem sequer por um
segundo. Sua seriedade em pessoa era como uma incógnita
que mexia com os meus pensamentos de uma forma
assustadoramente perversa.
— Marco... — não sei se realmente cheguei a pronunciar
o seu nome ou se tudo não passou de um delírio. Inalei de
forma arrastada a minha respiração — O que... — as palavras
morreram no fundo da minha garganta quando, em um só
passo, ele avançou na minha direção, me arrastando para os
seus braços e, com aquele jeito bruto que eu já conhecia,
invadiu a minha boca de forma possessiva.
No princípio, relutei em aceitar que ele tivesse o controle
da situação, mas falhei miseravelmente quando a sua língua
me dominou de uma forma absurdamente fantástica. Só me
restou colocar as minhas mãos ao redor do seu pescoço e
aceitar o seu jogo, onde ele se considerava um exímio jogador.
Mal sabia ele que eu também gosto de jogar. No meio da pista
eu me entreguei aos seus caprichos fazendo-o pensar que ele
venceu. O seu beijo tem gosto de uísque e eu me sinto
confusa e estranha ao mesmo tempo.
Consegui me soltar ou ele permitiu que eu o fizesse, não
importa. Tomando fôlego, destilo meu humor amargo,
abominando sua forma de aparecer e sumir da minha vida. O
seu sorriso perverso no canto dos lábios me faz pensar que o
diabo deve ter um igual.
— O que deu em você? O que pensa que eu sou? —
Estou tão histérica, que estapeio o seu tórax, que mal ele se
move. Enxergo tudo vermelho e me afasto, antes que eu parta
para cima dele e quebre o seu rosto quase perfeito. Percebo
que ele vindo atrás de mim. Encosto-me no bar e peço um
drink ao barman. Estava esse tempo todo sem colocar um gole
de álcool em minha boca, mas depois que eu o vi, sinto que
preciso beber. Marco para ao meu lado, fazendo o mesmo
pedido que o meu. Com o meu olhar periférico, observo suas
feições serenas e me pergunto como ele ousa ficar assim tão
tranquilo, como se nada tivesse acontecido. O barman coloca
os dois copos sobre o balcão. Ofuscada pela raiva, engulo a
bebida de uma só vez. Ele parece me imitar.
— Como ousa me beijar na frente de tantas pessoas? —
reclamo. Atrevido, ele ergue uma sobrancelha de forma
sarcástica. Paciente, termina o drink, pedindo mais para o
barman.
— Você não reclamou e sequer me impediu — Meu pai do
céu, como ele é convencido! — Ao contrário, parecia estar
gostando. — Provoca.
— Babaca! — xingo, fazendo-o sorrir descaradamente.
— Babacas eram os abutres que te comiam com os olhos
quando eu cheguei. — Encaro-o boquiaberta com as suas
palavras, enquanto bebo outro drink.
— Se tivéssemos um caso, eu diria que você ficou com
ciúmes — desdenho. Ele não me responde de imediato.
Percebo que ele ficou desconfortável com as minhas palavras.
— O que te faz pensar que eu fiquei com ciúmes de todos
aqueles babacas? — A sua pergunta me deixa incomodada,
até porque eu não encontro uma resposta à altura para lhe
responder.
Voltamos a ficar em silêncio.
Os drinks que ingeri começam a bagunçar a minha
cabeça e pensamentos aleatórios deslizam pelo meu cérebro.
— Precisamos resolver as nossas desavenças em outro
lugar. — Nunca! penso frenética. Sua sugestão é cheia de
segundas intenções. — Não imagina o quanto estava sentindo
a sua falta! — Ele faz questão de beijar o meu pescoço, mas
abruptamente me afasto. Encaro-o com desdém.
— Pois saiba que sequer lembrei-me da sua mísera
existência — digo, sem convicção, mas consigo deixá-lo
oscilando entre a verdade e a descrença. Sem aviso, ele me
leva para perto do seu corpo. Fecho os meus olhos, aspirando
seu perfume e isso me desconcerta. Estou tão a sua mercê
que sinto que posso me desmanchar ao seu toque. Ele aperta
firme o meu corpo no seu.
— Tem certeza? — Puta merda! A sua voz é tão
embriagante que sinto que estou perdendo o controle. — Deve
estar imaginando como seria gostoso foder a sua boceta com
os meus dedos. Nesse momento, a sua boceta está tão
molhada que a sua calcinha com certeza está encharcada. —
Pressiona ainda mais o meu corpo no seu e respiro com
dificuldade, lutando para não cair na armadilha que me
impõe. Ruborizo apreensiva, temendo ser flagrada nesta
situação. Estamos em um lugar público e ele não tem pudor
algum. É um pervertido! Sinto a sua língua mordiscando a
minha orelha e o meu corpo esquenta. — É melhor aceitar a
minha sugestão antes que eu te jogue sobre o balcão e te foda
aqui mesmo. Quer ter o meu pau atolado na sua boceta? —
Ele não seria capaz de fazer isso, penso incerta. No entanto, o
seu olhar diz outra coisa. Ele seria capaz de ter uma atitude
desse tipo. Maldito seja! Sussurra em meu ouvido, fazendo a
minha vagina pulsar. — Vai querer pagar para ver, 1pequeña?
— Com a mão firme ele vai descendo com a intenção de
concluir tudo isso que falou. Caso ele o faça, estarei perdida,
porque não responderei pelos meus atos.
— Marco — detenho. Nossos olhares se encontram e eu
vejo o quanto de lascívia há nos seus. — Podemos conversar
em outro lugar. — Digo trêmula, obrigada a ceder às suas
chantagens. Ele beija os meus lábios levemente.
— Boa menina! — Comemora, fazendo um gesto para o
barman e pagando nossos drinks.
Silenciosamente, entro no seu carro quando ele abre a
porta. Penso que não deveria ceder as suas chantagens. Meus
protestos não adiantaram em nada e dizer que o odeio não
abalou nem feriu seu orgulho. Ele parece estar se divertindo.
Bufo, colocando o cinto quando ele assume o controle.
Imediatamente dá partida no carro.
— Você poderia me poupar do trabalho e dizer de uma só
vez a razão por ter sumido sem maiores explicações.
— A noite é uma criança, anjo. Quando chegarmos ao
nosso destino, prometo que lhe explicarei tudo. — Grunhi
com raiva em meu peito por estar nesta situação. Estou certa
de que nada do que ele explicar vai mudar o que eu penso a
seu respeito. Que ele é um aproveitador barato e sem caráter.
Penso em dizer isso a ele, mas duvido que ele vá me ouvir. E
como aceitei entrar em seu carro, dificilmente ele vai me
deixar sair.
Muitas perguntas pipocam na minha cabeça e o silêncio
de Marco está me matando de curiosidade. Quando ele para o
carro na sua casa, eu noto o lugar silencioso. Taciturno, vejo-
o saindo do veículo e fazendo a volta. Encaro-o com muitas
interrogações assim que ele abriu a porta.
— Está um pouco frio aqui fora, mas garanto que dentro
de casa você ficará bem aquecida. — Reviro os olhos, dando a
entender que estou pouco preocupada com o frio natural. —
Vem, Diana. — Convida-me, estendendo a sua mão. —
Prometo que vou te explicar tudo lá dentro. — Reluto em
atender ao seu pedido. — Eu não sou um cara mal, mas tem
momentos na vida que eu tenho atitudes, digamos, um tanto
egoístas — quanta modéstia! — E ter viajado sem te informar
nada foi uma delas. — Podia agora vir o pedido de desculpas,
mas não é nada disso que escuto.
Depois de muita insistência e promessas vazias eu saio
do veículo e faço aquilo que ele pede.
Enfim, estou de volta à toca do lobo.
— Se você pensa que com essa sua lábia vai conseguir
me arrastar para a sua cama, quero te dizer que não vou
transar com você nunca mais. — A palavra “nunca mais” soa
mentirosa até para mim. Sento-me no sofá, cruzando as
pernas, com uma expressão emburrada.
— Não tenho intenção alguma de te arrastar pra minha
cama — revela sentando-se ao meu lado —, embora tenha a
impressão que posso te fazer mudar de ideia rapidamente. —
Faço uma careta de desagrado, que ele não se importa. —
Você já jantou? — Encaro-o confusa. Ele não está tentando
me seduzir? — Pela expressão em seu rosto, imagino que não.
Eu também estou com fome. — Levanta-se. — Odeio comer
comida requentada e tenho certeza que é só isso que vamos
encontrar na cozinha. — Fica em silêncio, com uma expressão
pensativa. — Eu posso preparar um jantar especial para a
gente.
— Você? — Confirma. — Você sabe cozinhar? — Estou
pasma. Ele parece estar falando sério.
— Garanto-lhe que sou o rei da gastronomia. — Termino
rindo ao ouvir tanta modéstia. Pode alguém nesta vida ser tão
convencido dessa maneira? Acho aquilo um exagero. Duvido
que ele saiba como fritar um ovo. — Você pode assistir o
quanto sou bom na arte da culinária e, depois de provar
aquilo que vou preparar, tirar suas próprias conclusões. —
Diz, como se tivesse lido os meus pensamentos. Não protesto
quando ele me direciona para a cozinha, me explicando que
todos os empregados estão de folga e que Liliana e Herbert
não se encontram. Estamos sozinhos nesta casa, constato
arrepiada, quando ele começa a abrir e fechar portas,
retirando utensílios e mantimentos. Retira o paletó e a
gravata, ficando apenas com a camisa social, que desenha
magnificamente o seu peitoral.
— O que foi isso? — Pergunto preocupada, pois só agora
percebi os seus dedos machucados. No ímpeto, seguro a sua
mão, analisando o ferimento que não é grave, mas me deixou
curiosa. Como ele conseguiu isso?
— Um pequeno arrombo. — Franzo o cenho sem
compreender, mas ele não explica e, se desvencilhando,
dedica-se exclusivamente ao suposto jantar.
— Precisa de ajuda? — Me ofereço para ajudar no que for
necessário.
— Não é necessário. — Recusa. — Pode sentar aí e me
assisti. — Pisca. — Se você tem habilidade com a dança, eu
tenho os meus truques na cozinha. — O seu olhar é mais
intenso agora. Engulo em seco quando ele menciona o show
na boate. Desvio o olhar. Faço o que ele sugeriu. Me sento e
aguardo.
Estou ficando impaciente vendo ele se dedicar aquela
tarefa caseira. Extremamente concentrada, vejo que ele se
dedica a preparar seja lá o que está passando por sua mente.
Durante o seu momento gastronômico ele não balbucia uma
só palavra e este silêncio está me deixando inquieta. Dá a
sensação que eu sequer estou presente.
— Enquanto preparo a salada — sua voz rompe no
ambiente e eu olho na sua direção. — Podíamos beber algo.
Tem vinho na geladeira. — Aponta na direção oposta a ele.
Em silêncio faço o que ele pede. Abro a geladeira e encontro a
garrafa de vinho. Ao retornar, ainda de costas, esbarro em
seu corpo rígido. Calmamente ele retira a garrafa das minhas
mãos. Encaro e vejo que ele segura duas taças. — Terminei de
preparar a salada. Agora é só esperar o prato principal ficar
pronto. — Explica. Nervosa e sentindo a garganta seca, coloco
parte do meu cabelo atrás da orelha. Observo-o abrindo a
garrafa de vinho e nos servindo. — Que tal fazermos um
brinde? — Ele diz ao entregar uma das taças com o líquido,
ao mesmo tempo em que coloca a garrafa sobre a mesa.
— E a que brindaremos? — Interrogo, tentando ficar o
máximo que consigo longe dele, o que não vou muito além,
pois entre nós existe a mesa.
— A nós. — O meu coração palpita com mais
intensidade. — Os acontecimentos raros na vida. Aquilo que é
indecifrável. — Ele me olha de uma forma tão profunda que
me sinto arrepiar. Assinto lentamente em silêncio, porque
infelizmente, estou hipnotizada demais para verbalizar
qualquer palavra de forma coesa.
Tocamos as nossas taças e, assim como ele, bebo o
primeiro gole da bebida.
Observo quando ele enche a minha taça novamente.
Depois da terceira garrafa de vinho optamos por nos
sentarmos.
— A sua ideia é me embriagar na tentativa de me seduzir
e me levar para a sua cama? — pergunto em um tom irônico,
observando o líquido na taça.
Ele faz uma expressão sarcástica e dá um sorriso meio
torto, como se dissesse que não seria uma má ideia. Neste
momento percebo algo intrigante nele. Marco é um homem
sério e dificilmente esboça sorrisos, mas quando o faz, é o
mais perfeito que já vi. Deveria sorrir mais. Ele se aproxima
de mim e, nesse instante, me arrependo pelo meu comentário.
— Seria uma artimanha perversa se eu tivesse essa
intenção — diz com sinceridade, acariciando o meu rosto. —
A ideia de te levar para a cama é muito tentadora, mas te
quero completamente sóbria. — Aproxima o seu rosto do meu
e eu me sinto perdida. Seus lábios estão próximos dos meus.
Céus, ele vai me beijar! E, por mais que eu negue, anseio por
isso constantemente. Ele se detém por alguns segundos,
olhando no fundo dos meus olhos. — Não imagina como eu
penso em fodê-la sobre esta mesa. — Arregalo os meus olhos,
abrindo a minha boca, perplexa. Mordo os lábios quando ele
desliza a boca pelo meu pescoço. — Não sei qual foi o feitiço
que você colocou em mim, mas desde que a conheci não paro
de pensar em você. — A sua voz é um sussurro rouco próximo
ao meu ouvido. Ele continua com as suas investidas, beijando
e mordendo o meu pescoço, deslizando as mãos por entre os
meus seios sem retirar a blusa. — Vai negar que o que nós
sentimos é irreal? — Sinto a sua língua quando ele beija a
minha boca de forma sedenta. Não tenho forças para negar o
óbvio. A verdade é que, quando ele me toca desse jeito, não
consigo raciocinar. Suas mãos deslizam por todo o meu corpo.
Quando me dou conta estou sentada no seu colo, sentindo o
meu pau completamente duro.
Ele ainda precisa me explicar muita coisa, mas nesse
momento só penso no seu pau entrando na minha boceta,
que está completamente molhada. Sinto os seus dedos no
meu clitóris se tornando impossível conter os meus gemidos.
— Acho que vamos ter que adiar o jantar. — Diz,
enfiando os dedos na minha boceta, me fazendo cavalgar
sobre eles.
— Marco... — Repito o seu nome como se fosse um
mantra.
— Quer sentir o meu pau arregaçando essa boceta? —
Ruge como um animal feroz. Afasta os dedos da minha
entrada e xingo mentalmente por ele estar fazendo isso
comigo, me impedindo de ter um orgasmo. O brilho que está
expresso em seus olhos é como um farol na escuridão. Sinto
que falta o ar e, diabolicamente, ele sorri ao ver o meu
desespero. — Precisa me pedir por isso.
Desgraçado, filho da mãe! - penso internamente,
revoltada.
Ele suga um dos meus mamilos, me levando ao limite.
— Por favor... — Sibilo em desespero. Sorridente, afaga o
meu rosto, se divertindo às minhas custas.
— Pede... não é feio pedir, Diana! — Odeio isso que ele
está fazendo, mas ele não vai me dar aquilo que eu quero sem
ouvir da minha boca. Ele me paga. — Quer que eu te foda? —
Indaga, mordendo a minha orelha.
— S... Sim... — engasgo-me nas minhas próprias
palavras. — Marco, eu preciso de você.
Em instantes, ele fica nu na minha frente e coloca o
preservativo, sem tirar os olhos de mim. Ele me vira de costas
e sinto sua mão pesada batendo na minha bunda, enquanto a
minha boceta pulsa, sentindo seu pau na entrada da minha
boceta. Sinto o calor ardente que emana dele.
— Me responde algo pequeña, que fiquei curioso. — Seus
olhos encontram os meus. — Durante a semana que estive
fora, você transou com outro homem? — Não entendi o motivo
da sua pergunta.
— Não. Que ideia... — Me senti ofendida, quis me afastar,
mas foi inútil. De forma abrupta ele invade a minha boceta,
me fazendo gritar de surpresa.
— Já tive a minha resposta, pequeña! — Estoca tão
fundo dentro de mim que o meu corpo parece estar em
ebulição.
As suas mãos ganham vida própria, ora estão segurando
meus cabelos, ora meu pescoço ou meus seios, e a sua boca
quente viaja por cada parte do meu corpo.
— Gostosa do caralho! Que boceta mais quente...
caralho! — Sua voz grave e rouca é a minha perdição. O seu
pau entra e sai da minha boceta com movimentos acelerados,
e não consigo me lembrar como é respirar. — Minha gostosa,
é o meu pau que você quer? Então toma... — São vários
arremetes que minha vagina pulsa.
— Marco, eu... — Minha boceta aperta o seu pau. Ele
pressente o que eu estou querendo dizer. Nossos olhos se
encontram.
— Goza gostoso no meu pau! — Pede, afastando os
cabelos do meu rosto. Ele não precisa pedir outra vez. Logo
me desmancho em prazer, atingindo o clímax mais intenso da
minha vida.
Fizemos uma bagunça na cozinha, mas tudo foi por uma
boa causa.
CAPÍTULO 11
— Estou com inveja da minha camisa no seu corpo. —
Marco diz quando nos sentamos à mesa. Enfim, o tão
esperado jantar vai acontecer. Após a nossa saliência aqui na
cozinha, decidimos tomar um banho antes do jantar.
Fomos os dois para o banheiro na sua suíte. Marco fez
questão de me ensaboar ao mesmo tempo em que deslizava as
suas mãos safadas pelo meu corpo. Não resisti quando vi o
seu pau rígido e ereto, tudo o que pensei foi me ajoelhar e cair
de boca nele, como se a minha vida dependesse disso. Dei-lhe
prazer e recebi também.
Saímos do banheiro e optei por vestir uma de suas
camisas e circulava sem calcinha com plena liberdade na sua
rica mansão. Como só havia nós dois na casa, não tinha com
o que me preocupar. A sua camisa larga cobria partes das
minhas coxas, qualquer agachamento que eu fizesse, o meu
bumbum ficava à mostra, assim como a minha boceta que
acabara de ser bem fodida.
— Por que inveja? Você já usou e abusou dela. —
Debocho, arrancando-lhe uma gargalhada.
— Nunca será o suficiente. — Pisca provocador,
começando a me servir.
Se o sabor do que ele preparou estiver tão bom quanto ao
cheiro, então ele vai acabar me ganhando pelo estômago.
Espero ele se servir para começar a comer. Ele decidiu
sentar-se à minha frente. Neste momento, ele está apenas de
camiseta e bermuda, ambas pretas. Se de roupa social ele já é
muito charmoso, imagine todo o seu corpo com essas roupas
casuais. Estou quase sentando em seu colo e implorando que
ele me foda.
— Gostaria de saber a sua opinião a respeito dos meus
dotes culinários. — Confessa de forma modesta. — Estou
confiante de que você vai gostar do 2Cioppino. — É realmente
surpreendente descobrir que ele cozinha e ainda sabe
preparar um prato tão sofisticado. Começo a comer. Olho
para ele e o encontro em expectativa. Degusto.
— Está uma delícia! — Minha sinceridade o faz alargar o
sorriso. — Acho que alguém aqui escolheu a profissão errada.
— Teço elogios sinceros relacionados à gastronomia. Marco
seria um ótimo chef de cozinha. — Como aprendeu a ser tão
prendado assim? — Pergunto curiosa.
— Cozinhar é como um hobbie. — Declara em um tom de
suspense. Fico sem compreender o que ele quis dizer, mas o
assunto morre ali.
— Mais um detalhe interessante que descubro em você.
— Ah é? — Curioso, me encara tentando me ler nas
entrelinhas. — Que outro detalhe interessante você viu em
mim? — O seu sorriso não desaparece dos lábios.
— O seu sorriso. — Ele franze o cenho. — É algo que
você não faz com frequência, mas quando o faz é o mais
bonito e genuíno que já vi. Deveria sorrir mais. — Percebo que
ele ficou desconfortável ao ouvir as minhas palavras. Em
silêncio, o vejo tomando um gole de vinho. Pela primeira vez,
eu o vejo ficar sem palavras. Voltamos a comer em silêncio. Se
não fosse pelo som dos batimentos do meu coração, a sua
respiração um pouco intensa e o leve tilintar de copos e
talheres, eu pensaria que estava sozinha.
— Os seus pais devem ter muito orgulho por ter um filho
com tantos talentos. — Volto a me expressar quando limpo o
prato. Se a minha barriga coubesse, eu repetiria. O toque do
garfo e faca no prato dele é mais intenso do que o normal.
Olho para ele e vejo uma sombra rondando seus olhos.
Confusa, tento procurar na minha mente algo que eu disse
que tenha contribuindo para a mudança de humor. Em
segundos ele passou de sorridente para uma expressão
fechada e carrancuda.
— Não sei se eles ficariam orgulhosos de alguma coisa
relacionada a mim. Eles estão mortos. — Frio. Levo alguns
segundos tentando assimilar a informação e, principalmente,
tentando entender a raiva abissal que ele sente em relação a
esse assunto.
— Desculpe, eu desconhecia este triste fato. — É tudo o
que consigo exprimir na tentativa de dissipar aquela nuvem
mórbida que se alojou entre nós.
— Não precisa se desculpar. — A sua voz é como ácido.
— Às vezes também me esqueço deste detalhe. — Aquele
clima que tínhamos no início do jantar se evaporou por
completo. Sinto que toquei em uma ferida recém curada.
Mordo os lábios apertando os meus dedos. — Eles morreram
a tanto tempo que o baú está trancado desde então. E eu
gostaria de não trazer lembranças desagradáveis para este
encontro.
— Claro.
O meu cérebro pipoca com milhares de perguntas e a
curiosidade está batendo à porta do meu cérebro, querendo
saber qual foi a causa da morte dos seus pais e qual será o
motivo para ele se referir aos pais com uma certa indiferença
e frieza. No entanto, ele se cala, se fechando em copas, então
eu percebo que não conseguirei arrancar nada dele referente
a esse assunto. Talvez algum dia ele revele alguma coisa.
Terminamos com o jantar, limpamos a cozinha e lavamos
a louça. É surpreendente estar ali em sua casa, realizando
tarefas domésticas ao seu lado, conversando e rindo como se
nos conhecêssemos a vida toda. Percebi que Marco é um
homem muito rico desde o nosso primeiro contato, no
entanto, ele parece ser um homem simples, como se toda a
sua fortuna fosse apenas um mero detalhe. Mesmo sendo um
homem introspectivo, sério e centrado, vez ou outra ele
consegue ser engraçado, esboçando alguns sorrisos e
brincando, o que é divertido. Confesso que estou ficando
encantada por esse outro lado dele.
— No que está pensando? — ele pergunta acariciando os
meus cabelos, e eu estou adorando este pequeno gesto. Estou
deitada com a minha cabeça apoiada em seu peito nu, já que
ele retirou a camiseta e está usando apenas uma boxer.
Continuo com a sua camisa cheirosa e larga. Suspiro antes de
dar uma resposta. São tantas coisas que estão passando pela
minha cabeça que não consigo compreender.
— Neste momento, estou pensando como é tão bom estar
aqui em seus braços. — Ele faz uma expressão surpresa. —
Isso é tão bom e tão confuso ao mesmo tempo!
— Explique-se, pequeña! — Adoro quando me chama de
pequena com sotaque espanhol. Isso me faz sentir especial
para ele. Ele me encara, parecendo interessado. Em nenhum
momento me afastei dos seus braços.
— Ah, sei lá, pode parecer bobagem — ergue as
sobrancelhas, parecendo perplexo. — Alguma vez você já
sentiu algo mais intenso por alguém? — Não formulei bem a
minha pergunta, o pensamento veio e eu soltei. Neste
momento, só quero sanar a minha curiosidade em saber se
algum dia ele amou ou foi apaixonado por alguém. Sei que o
nosso lance é só um lance. Estamos aqui apenas por sexo.
Prazer carnal. Mas nada impede que eu queira saber como foi
a sua vida antes de nos conhecermos. Parecendo incomodado
com pergunta, ele se ergue, sentando com as pernas
cruzadas. Ansiosa, aguardo a sua resposta.
— Por que está me perguntando isso? — Mordo os lábios,
não era o que esperava ouvir. Mas isso é típico dele, buscar se
esquivar de responder perguntas que sejam relacionadas a
ele.
— É intrigante ver que um homem na sua posição social
não tem ninguém para compartilhar a vida.
— Para mim, isso é normal.
— Quantos anos você tem?
— Isso é uma entrevista? — Ele brinca.
— Não. Sou estou curiosa para saber qual é a sua
idade... ou você não revela a sua idade nem sobre decreto? —
Pergunto, desdenhando.
— A minha idade é um problema para você? — Pergunta
provocante levantado a minha camisa. Suas mãos tocam nas
minhas coxas, alcançando a minha boceta, mas ele não
penetra. Nego balançando a cabeça, porque ele me fez perder
a voz. O seu sorriso travesso deixa claro quais são as suas
intenções. — Direi quantos anos eu tenho se você me disser
qual é a sua idade. — à medida que ele fala, vai desabotoando
os botões da camisa até deixar os meus seios à amostra.
Chupa cada um deles de forma leve. — Hummm... deliciosos!
— Agarro firme em seus cabelos, querendo que ele aprofunde
as suas investidas.
— Vinte quatro anos. — Digo, sentindo o pulsar da
minha boceta, desejando ardentemente que ele me foda com o
seu pau.
— Dezoito anos de diferença. — Ronrona ainda com a
boca atolada nos meus seios. — Interessante! Bem safada
para alguém da sua idade. — Afirma, me encarando com
tesão em seus olhos. — Abre bem essas pernas que eu quero
te foder com a minha língua! — Caralho! Estremeço ouvindo a
sua voz e fazendo aquilo que ele ordena.
Sinto a sua língua quente lambendo a minha boceta com
sensualidade antes de invadir o meu clitóris rígido. Meu corpo
entra em convulsão à medida que ele acelera os movimentos.
Arrepios, espasmos e gemidos absorvem o meu cérebro, me
levando ao limite. Grito no volume máximo quando atinjo o
clímax. O seu pau selvagem me invade de forma profunda e
uma nova onda de prazer começa a percorrer cada célula do
meu corpo.
— É o meu pau que você quer, safada? Então toma. — A
sua voz é alucinógena e, na medida em que os movimentos na
minha boceta aumentam, sinto que atinjo altos picos de
prazer. — Lambuza o meu pau com o seu prazer, feiticeira! —
O seu pedido é a minha própria perdição, pois ele pega para si
tudo o que me pertence. Descanso em seu corpo, relaxada.
Suas mãos percorrem minhas costas, fazendo com que me
sinta segura. Mas eu sei que nada disso é para sempre.
CAPÍTULO 12
Estou consciente que quebrei uma das minhas principais
regras. Mas a sensação maravilhosa que preenche o meu ser
quando acordo valeu toda essa ruptura. Nenhuma outra
mulher me deixou tão saciado e satisfeito como a Diana, e é
por isso que sempre precisarei repetir. A mulher é um vulcão
em pessoa. Sua pureza e alegria me conquistaram de uma
forma inexplicável. Nunca me senti tão em paz comigo mesmo
como quando estou com ela.
Porra!
Xingo mentalmente, levantando-me da cama como se um
bicho peçonhento tivesse me picado. Olho o lado da cama que
ela dormiu e nada da minha feiticeira. Os lençóis estão
amassados e, neste momento, sinto que essa ausência não
me agrada. Cerro os olhos, levantando-me da cama e, mesmo
nu, perambulo do quarto ao banheiro, mas na há sinal da sua
presença. Será que ela tinha ido embora depois da noite
fodástica que tivemos? Aqui estou eu, bebendo do meu
próprio veneno. Paro no centro do quarto, refletindo sobre
tudo o que estava acontecendo, e começo a me chatear por ela
ter ido embora.
Diana!
Recito o seu nome, sentindo uma tensão no ar, seguida
de uma sensação esquisita em meu peito. Balanço a cabeça,
tentando bloquear os pensamentos. Noto alguma coisa sobre
os lençóis do lado que ela dormiu. É um papel escrito. A
caligrafia é impecável.

Obrigada pela noite fantástica. Vejo que você não mentiu quando garantiu que
eu teria uma noite de sexo inesquecível. Você foi incrível! E só para deixar
registrado: em toda minha vida eu nunca tive um jantar tão especial igual ao
que você proporcionou. Você é ótimo no que faz. Jamais duvide disso.
Beijos, Dih... sua pequeña.
Ela rabiscou a palavra pequena, o que fez me arrancar
um sorriso.
— A farra deve ter sido boa. — Liliana comenta, ao me
ver entrando na sala para o meu desjejum. Imagino que ela
não gostou em ter que sair da mansão atendendo a um
pedido meu. Não compreendo essa fobia social que ela possui.
Embora que, na maioria das vezes, eu prefira a solidão do
meu teto do que conviver com os humanos. Quanto ao fato
dela ter se afastado do convívio social, é injustificável. Ela tem
os seus traumas. Mas o que leva uma pessoa a querer viver
isolada? — Conseguiu convencer a garota a cair no seu
papinho de um bom rapaz? — Há um tom de desdém em cada
palavra. Ignoro-a. Começo a me servir assim que me sento.
Liliana está parada na minha frente com os braços cruzados
como um sargento. Encho a xícara de café preto sem açúcar.
A minha bebida matinal antes de qualquer outra tarefa. — Vi
quando a garota estava indo embora — ergo o meu olhar para
ela e noto o tom zombeteiro implícito. — Dessa vez ela foi
mais esperta do que você. — Continuo neutro. — O que você
pretende usando uma pessoa inocente? — Está claro que ela
está tomando as dores de alguém que ela sequer conhece.
Aprecio o meu café. Estou perto de conseguir o que almejo e
não vai ser ela que vai estragar isso.
— Por enquanto, ela não está reclamando de nada. —
Ironizo.
— Como ela vai reclamar de algo se ela está achando que
está dormindo com um anjo, quando você é o próprio diabo?
— gargalho com a comparação. Liliana acha que, por eu lhe
permiti total liberdade, ela pode me aconselhar, mas não
pode. Faz muito tempo que eu deixei de ouvir conselhos e
passei a seguir as minhas próprias crenças. — Já imaginou
no quanto você pode magoar esta moça se continuar com essa
ideia absurda? — Sua pergunta tem um fundo de verdade eu
poderia refletir sobre, mas neste momento estou pensando em
mim.
— Não estou fazendo nada que eu possa me envergonhar.
Diana é uma mulher adulta e bonita. Não tenho culpa se os
meus instintos falam mais alto. — Liliana reluta para me
dizer mais, no entanto, se cala. Ela sabe que essa discussão
vai nos conduzir por águas turbulentas.
— Sinceramente, eu espero que você tenha um pouco
de bom senso e perceba a besteira que está fazendo. —
Conselhos. Ladainhas. Intuições. Reviro os olhos, deixando
claro que estas coisas não me agregam em nada. — Já
pensou que você pode acabar se apaixonando por essa
menina? — Cuspo o café da minha boca, alvoroçado com
aquilo que escutei. É o pensamento mais idiota e estúpido
que escutei em toda a minha vida. Zangado, limpo em mim a
sujeira que causei. Aliás, que ela causou.
— A paixão é para os fracos e os tolos, e eu estou imune
a isso. — Desdenho.
— Será mesmo? — Rebate como se quisesse me provocar.
E ela quer. Oh, mulherzinha atrevida! — Na vida existem
freios e contrapesos, pense nisso! — Recomenda, encerrando
o nosso diálogo em ebulição e se retirando, convencida de que
ganhou a causa. Perco o apetite.
O domingo passou em banho-maria, lento e sem grandes
acontecimentos. Tirando o fato da Liliana estar zangada
comigo e vice-versa, nada estranho aconteceu. Tentei
trabalhar em alguns projetos, mas não obtive resultados, já
que o assunto Diana não me deixava em paz. Depois de foder
milhares de vezes, era para eu me sentir sossegado e, no
entanto, nada assim ocorreu. Pelo contrário, desejo
ardentemente tê-la comigo. O que é estranho, porque sou um
homem que nunca me apeguei a nada e, de repente, não
consigo tirar a feiticeira da minha cabeça, seja a de cima ou a
de baixo.
Ela poderia ter escolhido passar o domingo aqui comigo,
mas decidiu fugir no meio da madrugada. Isso deve ser algum
tipo de revanche.
No alto da minha estupidez, cometi a imprudência de
ligar para convidá-la para passar o domingo comigo, mas ela
não viu a minha ligação ou não quis atender. O mais provável
é que ela não queira falar comigo. Enviei-lhe mensagens de
cunho clichê e piegas que os românticos fazem, e mesmo
assim o resultado foi o mesmo: o silêncio.
Começo a ficar irritado por não ter obtido êxito e passo o
restante do dia enfurnado no meu escritório, de mau humor,
fumando e tomando uísque.
Odiei o fato de estar assim tão dependente de alguém.
Esse sentimento é novo para mim e bastante corrosivo.

— Não vai atender? — Pâmela mostra o aparelho celular


com mais uma chamada do Marco. Afirmei que não. O
telefone toca até cansar e, em seguida, recebo inúmeras
mensagens que vi pela barra de notificação, mas não abri
nenhuma para ler na íntegra. Desligo o aparelho. Deixei a
casa do Marco logo cedo, fui para casa, tomei banho, me
arrumei e fui visitar as crianças e depois vim para o seu
apartamento. Ela procurou saber em detalhes tudo o que
aconteceu entre mim e o Marco. Mesmo com vergonha, narrei
alguns episódios, claro, sem tantos detalhes que ela exigiu. —
Não compreendo essa atitude de gato e rato que você está
fazendo. — Comenta. — Um homem tipo Marco Roga
arrastando um bonde por mim, você acha que estaria aqui
com fantasias eróticas?
— Não estou tendo nenhuma fantasia erótica, quem está
nesta situação aí é você! — Repreendo. — E eu não quero e
não vou criar ilusões em relação a ele. O Marco é o tipo de
homem que está buscando diversão. Não duvido nada que ele
esteja transando com outra.
— Ah, credo, amiga! — Joga o travesseiro em mim. —
Essa sua imaginação é conflitante. Senti um ciúme implícito.
— Ciúme? Que bobagem! — digo na defensiva.
— Tem certeza? — Ignoro-a, mas fico com aquela pulga
atrás da orelha. Hoje é domingo e não acho que ele ficaria
sozinho naquela mansão sem foder alguém. Será que eu fiz
bem em ignorar as suas ligações?
Mas, por outro lado, se estiver com outra pessoa, não
tenho do que reclamar, até porque o nosso lance não é nada
sério. Em nenhum momento ele falou em ter um
relacionamento ou namoro, ou qualquer coisa do tipo.
— Ficou pensativa... — Pâmela fala, me trazendo de
volta. — Está refletindo se é realmente verdade? — Minto com
veemência. Se ela já está se divertindo por tudo o que eu não
falei, imagina se eu assumir que estou me sentindo estranha
com todos estes pensamentos.
Chego à empresa logo cedo na segunda-feira, e a
primeira cara que vejo é a da minha secretária. Encontrar
aquele ser não é uma boa maneira de começar a semana. Meu
humor não é um dos melhores. Tive uma noite atormentada
por pesadelos e sonhos eróticos com a garota que está virando
o meu mundo de cabeça para baixo. Não adiantou ter gozado
na minha mão durante a masturbação. Tudo isso só serviu
para me fazer lembrar que eu queria derramar a minha porra
na boceta quente daquela feiticeira. Sempre me considerei um
homem pervertido, mas nos últimos dias esse estado tem
piorado. É surreal a obsessão que sinto por aquela garota. A
maldita parece ter vindo ao mundo só para me atormentar, é
a única explicação plausível que encontro.
A secretária me entrega alguns documentos para assinar
e, em seguida, repassa os recados e algumas informações
essenciais.
— O senhor deseja mais alguma coisa? — Interroga,
fazendo movimentos aleatórios com as mãos. Observo o
quanto ela está nervosa e incomodada por estar ali comigo.
Com certeza deve lembrar-se da palhaçada que protagonizou.
Foi algo tão cômico que me pego rindo às vezes. Ela realmente
achou que ia fodê-la na mesa de trabalho. As mulheres têm
uma imaginação fora do normal. Eu até seria capaz de fazer
algo assim, se a mulher fosse a Diana. Chego até a visualizar
a cena. Como seria prazeroso ouvi-la gemer enquanto fodo a
sua boceta centena de vezes! Meu pau pulsa conforme meus
pensamentos viajam. Pisco arrepiado, lembrando que estou
na sala com a secretária e que ela espera pela minha
resposta.
— Não. — Respondo seco. — Pode se retirar. — Faço um
gesto com a mão na direção da porta. Ela recolhe o tablet
sobre a mesa e em segundos some, fechando a porta.
Caralho, Diana me paga por não me deixar concentrar no
meu trabalho. Será que tudo isso é um carma, como às vezes
Liliana classifica? O que deixa frustrado é todo esse silêncio
que ela está fazendo depois que enviei inúmeras mensagens
para sua caixa postal. Custava responder as minhas
mensagens? Precisava ser tão difícil assim?
Frustração. Raiva. Mau humor. Esses foram os
sentimentos que me acompanharam durante a semana.
Diana sequer me procurou ou respondeu às minhas
mensagens. No fim do expediente na sexta-feira, decidi que a
esperaria na saída da sua empresa. Não vou permitir que ela
brinque comigo desta maneira. Eu já conhecia como era a sua
rotina de trabalho, através das informações cedidas por
Herbert. Sabia que ela ainda estava na empresa.
Pacientemente, esperei ela sair do prédio. Parei o meu carro
bem próximo ao seu. Ela não terá como escapar, mesmo que
tente.
Enquanto aguardava ela aparecer, recalculei a rota dos
meus planos. Por ora, deixei de lado a ideia de destruir o
George. Agora, a minha prioridade é outra. Nesse momento, a
vejo andando na minha direção, a mesma direção que seu
carro se encontra. Sinto algo estranho dentro de mim e me
recuso a buscar alguma classificação. Enquanto caminha
com leveza, certa de que tem o mundo sob controle, notei-a
mordendo os lábios levemente. Característica natural dela.
Ela usa uma calça pantalona verde e eu imagino cada curva
do seu corpo por baixo dela. A blusa é branca e o caimento
define com lealdade os seus seios, que tive o privilégio de ter
em minha boca. Vejo que ela procura algo na bolsa, acredito
que deve ser a chave para destravar o carro. Ligo os faróis do
meu carro, fazendo com que seus olhos se voltem na direção
em que encontro. Ela parece amedrontada, pois ainda não me
reconheceu e também não tem como, já que os vidros do
carro estão fechados.
— Oi... — Digo, colocando a minha cabeça para o lado de
fora ao baixar as janelas do carro. A sua boca forma um “O” e
ela leva alguns segundos para processar a minha aparição.
— Marco... — pelo menos ela ainda lembra o meu nome,
penso satisfeito. — O que você está fazendo aqui? — O tom da
sua pergunta deixa claro que não ficou feliz em me ver. Bom,
mas eu não esperava milagres. É típico dela, fingir que não
gostou.
— Senti a sua falta. — Era para ser fingimento, mas
expresso sinceridade. Neste momento, reconheço o quanto eu
sentia a sua falta. Ela ignora as minhas palavras e insiste em
encontrar a chave na intenção de escapar o quanto antes
daqui. Nem fodendo que ela conseguirá ir embora antes que
eu consiga convencê-la do contrário. Antes que ela consiga o
que pretende, saio do carro caminhando até ela. Sob a
claridade, ela me encara com receio, mordendo os lábios.
Tentação do caralho! — Porque não respondeu às minhas
mensagens? — Pergunto frio igual como uma navalha.
— Estive bastante ocupada. — É uma mentira, percebo.
— Até quando vai continuar me ignorando? — Estou
rangendo os dentes com tanta fúria e por estar sendo
ignorado.
— Não estou te ignorando — fuzilo-a após a sua desculpa
descabida. — A verdade é que não temos nada em comum. E
eu não tinha nada para te dizer. — Suas palavras foram como
um soco no meu estômago.
— Como não? E tudo o que compartilhamos? — Depois
eu irei me arrepender por estar me humilhando dessa forma.
— Aquilo que tivemos foi sexo... — o meu sangue circula
lentamente, o frio na espinha dorsal chega a ser agudo. A sua
sinceridade e realismo doem.
— Podemos ter muito mais se você permitir. — Expresso
sentindo o desespero na minha voz. Marco Roga implorando é
quase um sacrilégio. Ela suspira com frustração, me
encarando com o olhar lívido.
— O sexo é bom entre nós, admito. — Finalmente algo
que ela diz me causa felicidade, mas dura pouco. — Mas uma
relação não é apenas baseada em sexo. — Aperto o maxilar,
estremecido. — E nós dois sabemos que algum dia isso acaba.
— E isso não pode ser o suficiente? — A tristeza corrói
velozmente. — Apenas sexo...
— Não é isso que eu quero e sonho para mim, entende?
— Não entendi, mas deixei que ela interpretasse que sim. Ela
parece triste com a minha expressão. Vim até ali na intenção
de convencê-la a ter mais uma noite intensa e, no entanto,
agora não sei mais o que fazer. Me senti um pouco perdido.
Sinto o conflito existencial gritando forte dentro de mim. Uma
vontade de incendiar esta cidade e observar o caos tomando
conta. Mais do que nunca, odiei o George por tudo o que ele
fez. Aquele maldito imundo demoliu tanta coisa dentro de
mim que não sei mais como é viver. — Marco, eu gostei de
você. — Me pergunto se ela não está dizendo aquilo porque
viu que fiquei arrasado. Pela primeira vez, eu senti o impacto
do meu passado nas minhas costas. — Mas nós estamos
buscando coisas diferentes na vida. — Faz uma pausa,
intencional. — Tem algo que eu não te contei, imagino que
você deve saber — fico atento as suas palavras — eu não
cresci em um lar com pais amorosos, quer dizer, o meu pai é
o melhor pai do mundo, já a minha mãe... — reluta em dizer
— a gente nunca se entendeu. Ela é o oposto do meu pai. —
Fica em silêncio. — O que estou querendo dizer é que os
meus pais vivem um casamento de aparências e nenhum
deles é feliz ou foi feliz em algum momento. — Seu relato é
uma carga muito pesada. Compreendo, até porque tive
exemplos piores, mas não tenho coragem para expurgar tais
demônios como ela faz. — Apesar de tudo, eu cresci com a
certeza que algum dia eu conheceria um homem e que este
homem seria o grande amor da minha vida. — Achei brega a
sua declaração, mas nada comentei. — Os meus avós
paternos são um dos exemplos de amores verdadeiros que eu
conheci na vida. Eles se conheceram ainda na adolescência e,
juntos, construíram a mais bonita história de amor, que não
caberia em nenhum livro de história romântica. E, como tal,
também sonho em um dia viver algo parecido. — Visualizei o
amor que ela sentia pelos avós. Mesmo não concordando com
nada daquilo, sinto uma emoção diferente dentro de mim.
Isso é uma ilusão quase cor-de-rosa na qual as pessoas se
apegam para evitar a escuridão dentro de si. Elas devem ser
felizes assim. Contudo, não posso deixar de admirar. — Foi
por essa razão que não me casei com o George. Felizmente,
descobri que nós não éramos compatíveis. — Encontro-me
sem palavras. — E é por essa mesma razão que não quero
continuar com você apenas pelo sexo. — Meu orgulho está
ferido. O meu ego está ferido. A porra toda está ferida. Depois
de longos anos, voltei a me sentir como aquele garoto
machucado, destruído e abandonado por todos.
O maldito dé javú.
CAPÍTULO 13
Encontro-me na beira de um princípio e percebo como é
amargo o peso de não conseguir aquilo que a gente quer. No
meio daquele estacionamento, me senti tão vazio, tão oco. Ela
estava me dispensando como se dentro de mim não existisse
nada de especial. E talvez não exista mesmo, e ela tenha
percebido e só está pulando fora do barco antes que eu a
machuque.
Ela reluta em se afastar e me olha com aqueles olhos
tristes, brilhando com lágrimas que ainda não caíram. Sinto
uma fisgada no peito, uma tensão na alma. Vejo que ela
conseguiu encontrar a chave e, em segundos, ela não estará
mais aqui. No fundo, é um alívio, assim eu consigo diminuir a
minha dívida com o diabo. Ao sair da minha vida, significa
que eu não vou destruir uma pessoa inocente. Liliana ficará
contente e talvez acredite na minha redenção.
— Alguma vez você já sentiu como se alguém te esfolasse
vivo? — A minha objeção é ilógica e imprudente, mas para
alguém com alma fodida, não estou preocupado. O horror da
minha pergunta está impregnado no seu olhar. — Diferente
de você, eu não tive bons exemplos. Para mim, tudo é muito
prático. Isso significa que eu não tenho ilusões. A minha
experiência de vida é digna de um filme de terror, e eu não sei
se algum dia terei coragem abrir o cadeado do meu passado
obscuro. — Não sei se ela entende o meu desabafo, mas eu
quero que ela saiba. — Eu te entendo e, acima de tudo, eu te
respeito pela forma como você enxerga a sua vida. Eu lamento
não ser o homem que você gostaria que eu fosse. — Porra,
estou ficando sentimental. — Mas, se você permitir, eu posso
me esforçar para ser alguém além daquilo que você espera. —
Ela me olha com expectativa. Ainda existe alguma esperança.
— Durante toda a minha vida, eu nunca tive um
relacionamento sério. Todas as mulheres que eu tive foram
para me satisfazer. Não havia promessas, e todas elas sabiam
quais eras as regras...
— Regras? — Me interrompe.
— Antes de você, eu só transava com uma mulher uma
única vez e nunca mais voltava a encontrá-la. — Não me
orgulho dessa parte da minha vida, principalmente quando
ela está me encarando como se eu fosse um ser vindo de
outro planeta. — Você foi a única mulher que eu transei mais
de uma vez. — Ela me encara admirada, ainda assim
perplexa.
— Devo me sentir especial? — Esnoba, sem mágoas.
— Talvez. — Provoco. Ela fica em silêncio. — Vamos
começar de novo? — Me ouço propondo. Descrente, ela me
encara. — Olá, eu só Marco Roga, solteiro. Fodi algumas
mulheres ao longo da minha vida, mas estou disposto a
deixar o passado para trás. — Ela ri e isso significa que estou
avançando.
— Olá, eu sou Diana Santinni. Terminei um
relacionamento há poucos dias e estou a fim de experimentar
coisas novas... — Ela se diverte. Estende a mão, a qual a pego
com um sorriso. Puxo-a para mim e dou-lhe um beijo no seu
rosto, deslizando até o seu ouvido e sussurrando.
— Gostei do que disse: a fim de experimentar coisas
novas. — Sinto o seu corpo estremecer. Encaramo-nos e ela
continua sorridente.
— Foi só isso que você escutou? — Debocha. — Você é
um tarado! — Bate em meu ombro, rindo.
— A provocadora aqui é você. — Rebato. Ela sorri de
maneira graciosa e alguma coisa estremece forte dentro de
mim.
Depois da nossa quase despedida, fizemos as pazes. Ela
me deu a chance de conhecê-la com profundidade e, nesse
dia, me senti tão feliz! Há muito tempo não sentia essa
sensação em meu peito.
Era uma proposta ousada, eu sabia, mas não dei muita
credibilidade às minhas indagações. A partir daquele dia, me
vi fazendo coisas que jamais pensei que faria, como ter um
relacionamento sério, ficar com uma única mulher, jantar em
um restaurante ouvindo músicas românticas ou dançando em
uma danceteria, comprando flores e enviando mensagens de
textos com teor romântico. Para aqueles que observam de
fora, acreditam que estou apaixonado, mas eu sei que não é
nada disso.
Incorporei tão bem o papel de homem apaixonado que eu
transmitia isso às pessoas. Liliana dizia que Diana tinha
modificado a visão que eu tinha em relação ao amor. Para
Liliana, eu estava completamente apaixonado por Diana.
Muitas vezes me provocava apenas para me deixar puto.
Outra coisa que observei desde que Diana ficou assídua em
minha casa foi a maneira que minha governanta passou a
tratá-la. Liliana parece arrastar um bonde pela minha
namorada. A relação entre elas é algo que não se explicar.
Tudo bem que a Diana tem uma luz própria que ilumina tudo
ao seu redor, mas, convenhamos Liliana é uma pessoa difícil
de lidar. Após alguns acontecimentos em sua vida, ela não se
abre para muitas pessoas, especialmente com alguém que ela
acaba de conhecer. Ilógico ou não, tenho presenciado a minha
governanta ser generosa, amável e gentil com a Diana. É algo
intrigante e bonito ao mesmo tempo.
— Você vai gostar das crianças, especialmente da
princesa Sophia. — Vejo o entusiasmo com que ela fala sobre
a ONG e de todas as crianças. Quis evitar vir a um lugar
como este, mas não tive escolha. Tudo o que Diana pede, não
consigo dizer não. Não contei a ela que não suporto crianças e
tenho certeza que todas elas vão me odiar assim que me
conhecerem. Não dizem que as crianças têm a sensibilidade
exacerbada? Logo vão enxergar o ser humano malvado que eu
sou.
Depois de vinte minutos, paro o carro em uma rua
cercada por árvores gigantes e vejo o letreiro Lar do Coração já
desgastado, a casa amarela com a pintura em um estado
decadente, o portão velho e enferrujado. Logo se nota que o
lugar precisa de uma reforma. Saímos do carro e Diana
continua tagarelando algo que não presto atenção. Estou
mais preocupado com a estrutura do lugar.
O portão range ao abrir e logo nos vemos dentro de um
jardim muito bem cuidado, por sinal. Um senhor de barba
branca e sorriso de orelha a orelha se aproxima de nós. Diana
e o velho se abraçam com entusiasmo e logo ela nos
apresenta. Descubro que se chama Ronaldo, um dos
responsáveis por cuidar da integridade das crianças. Sarah
também vem nos cumprimentar, seguida de Amélia. Os três
são muito carismáticos e conversadores.
— Olha, é a tia Diana! — Ouvimos um barulho e então
vemos várias crianças correndo em nossa direção. Dá a
impressão ser uma imensidão de pássaros. Todas elas
abraçam a Diana. Ao notarem a minha presença e quando
Diana fala quem sou, direcionam a sua empolgação para
mim. Me vejo abraçando e beijando muitas crianças, algo
inédito na minha vida. Elas falam ao mesmo tempo, pulam e
brincam na nossa frente. A última criança que eu abraço é a
princesa Sophia, como Diana se refere.
— Oi, eu sou a Sophia! — Faz questão de dizer o seu
nome. Acho tão linda a forma que ela se expressa!
— Eu sou o Marco. — Me apresento. Ela sorri no
momento em que a aperto com delicadeza em meus braços.
— O senhor é muito bonito. — O seu elogio sincero
alarga o meu sorriso. Fico encantado por ela.
— Você também é muito bonita. — Ela agradece.
Sem que eu me dê conta, me sinto contagiado pela
alegria daquelas crianças. Brinco de bola, de boneca e conto
histórias para eles. Confesso que nunca me senti tão feliz
durante uma tarde de domingo.
— O senhor vai voltar outra vez? — Sophia me pergunta
quando estamos no portão. Diana está ao meu lado. Já nos
despedimos das crianças e dos seus cuidadores, mas Amélia
está ali conosco para levar a Sophia. Me abaixo para ficar na
altura dela, mas claro que não fiquei.
— Sim. Eu prometo. — Garanto-lhe.
— Eu tenho um segredo — ela confessa — a Diana
aceitou ser a minha mãe. O senhor não quer ser o meu pai?
— Segundo ela, era um segredo, segredo este que todos
ouviram. Sinto algo desconfortável em meu peito. É algo sem
explicação. Amélia me pede desculpas pelo pedido da Sophia,
enquanto Diana permanece em silêncio. Sei que ela aguarda a
minha resposta, só que neste momento não sei o que lhe
dizer.
— Eu vou pensar sobre o seu pedido. — Sou sincero.
Vejo o brilho de lágrimas em seus olhos negros. Isso me
quebra. — Eu prometo que vou pensar com muito carinho e
na próxima vez que eu vier te visitar, eu respondo o que você
me perguntou, está bom? — Ela pensa um pouquinho antes
de falar.
— Você promete? — Balanço a cabeça, afirmando que
sim. Ela fica contente e me abraça. Retribuo com entusiasmo.
Nos afastamos, seguindo na direção que deixamos o
carro. Não paro de pensar na Sophia, reconhecendo como é
triste não ter o amor dos pais. De todas as crianças ali, ela é
a que mais sente a carência por não ter uma família. Eu, que
sou um homem sem coração, me compadeci pela sua história
de vida. Ser deixada ao relento como se não fosse nada. Sei
que ela é acolhida e amada, mas ainda assim é injustificável
abandonar uma criança. É por essas e outras que nunca
quero ter filhos. Não quero transmitir a eles o legado da
minha estupidez e muito menos deixá-los à mercê, sofrendo
maus tratos e abandono.
— Gostou do passeio? Você voltou bastante calado. —
Diana é observadora e procura saber após o jantar. Estamos
na área externa com a lareira acesa e tomando vinho.
— Foi diferente. — Digo pensativo. — O lugar está
precisando de uma reforma.
— Sim. — Concorda. — Já tem um tempo que estamos
tentando conseguir verba para reformar o orfanato, mas você
sabe como os materiais e a mão de obra são caros. — Sua
observação tem fundamento. — Contribuo naquilo que posso,
mas ainda precisamos de mais.
— Eu sei. — Não deixo de pensar na Sophia. Aquela
garotinha ficou registrada nos meus pensamentos. — E os
pais da Sophia? — Diana suspira com pesar.
— Nunca conseguimos descobrir quem são. E também
não sabemos quem a deixou na porta do abrigo.
— Pobrezinha! — Lamento.
— Ela sente falta de não ter um lar. — Não respondo,
mas sei qual é esse sentimento. É doloroso. Algo insuperável.
— Você pretende mesmo se tornar a mãe dela? —
Questiono.
— Pode parecer loucura da minha parte, mas eu sempre
senti uma ligação muito forte com aquela garotinha. — Reflito
sobre as suas palavras. — Se pais não aparecerem, pretendo
adotar a Sophia. — Em nenhum momento ela titubeia. É
perceptível o amor incondicional que ela sente pela menina.
Estou impressionado, mas eu não seria capaz de tanto. Não
pretendo ter os meus próprios filhos e muito menos adotar
uma criança. Eu não quebraria mais uma das minhas regras.
— Não se sinta pressionado a dizer para a Sophia que você
quer ser o pai dela — encaro confuso. Ela parece interpretar o
meu silêncio e desconforto. — Vi como você relutou em dar
alguma resposta.
— O pedido da Sophia me deixou comovido. — Ergo-me,
não quero que ela veja coisas das quais não estou preparado
para falar. — Vamos mudar de assunto. — Peço. — Acredite,
serei sincero com ela quando chegar o momento. Não vou ferir
o seu coração fragilizado e também não pretendo dizer nada
que não seja verdadeiro. — É a única garantia que posso dar
a ela. Diana assente, calada.
Volto a me sentar ao seu lado, dessa vez trazendo-a para
perto de mim. Seus braços me envolvem eu me sinto feliz.
Diana é a minha calmaria no meu mar revolto.
— Você foi uma das coisas boas que me aconteceram nos
últimos tempos — confesso com seriedade. Deslizo a minha
mão pelo seu rosto enquanto ela respira devagar, olhando-me
com profundidade. Estar com ela dá a sensação de que os
meus problemas não existem. Por um momento, começo a
crer que isso que compartilhamos vai durar para sempre.
Beijo sua clavícula e o seu corpo se arrepia. Diana desliza
suas mãos pelos meus cabelos, beijando o meu tórax.
Mordendo os lábios de forma safada, retira a bermuda e
a boxer que estou usando. Engole em seco ao ver meu pau
ereto e grosso. Suas mãos deslizam entre seus dedos antes de
chupá-lo. Sua boca quente no meu pau me deixa cheio de
tesão. Ela é uma feiticeira e, neste instante, sou
completamente dominado pelo seu poder feminino.
— Caralho... que boca gostosa... — Digo entredentes, me
esforçando para não gozar em sua boca. As suas pupilas
estão dilatadas e estou certo que ela quer sentir a porra toda
descendo pela sua garganta. Mais alguns segundos e,
finalmente, consigo dar a ela tudo o que ela quer. Sorrindo,
ela se ergue e me beija com muita paixão. Retiro a sua blusa e
seu short, apreciando a sua boceta sedenta pelo meu pau.
— Me fode, caralho! — Grunhe com uma expressão
safada. Mesmo tendo gozado na sua boca, meu pau deseja se
enterrar na sua boceta quente. Ela não precisa ficar
implorando. Meu pau está posicionado na sua entrada.
— Não tenho preservativo aqui. — Digo frustrado,
tentando me afastar. Ela me impede. Tenho que ir ao segundo
andar para pegar o preservativo.
— Eu tomo anticoncepcional e estou em dias com a
minha saúde. — Eu também estou limpo. Sem contar que vai
ser o melhor sexo da minha vida foder a sua boceta sem o uso
do preservativo. Sair daqui vai quebrar este clima
sensacional. Não penso duas vezes e estoco fundo dentro
dela, arrancando um grito de surpresa. A sua boceta me
engole de forma magistral. Reconheço perfeitamente que o
meu pau foi feito para usufruir da sua boceta. Ao mesmo
tempo em que o meu pau se movimenta dentro dela, com os
meus dedos massageio o seu clitóris, proporcionando a ela
muito mais do que prazer.
Diminuo os movimentos, apreciando com encanto as
suas feições delicadas e bochechas vermelhas, os bicos dos
seus seis rígidos que não resisto e chupo cada um deles.
— Marco... isso é tão gostoso! — Declara com a voz
aveludada, percorrendo o meu peitoral com a sua língua
ardente. Não paro os movimentos e vou apreciando cada
gesto, cada palavra, cada delírio. — Marco... eu vou....gozar...
— Sorrio, encantando ao ouvir o meu nome, tão perfeito em
seus lábios. Estamos ofegantes e, dessa vez, aumento os
movimentos, afagando o seu rosto enquanto permito que ela
se derrame de forma perfeita. Também sinto a minha porra
escorrendo dentro dela, algo tão raro e único que sinto uma
batida diferente no meu coração. Sobre o seu corpo suado,
tomo os seus lábios, selando este momento raro que
vivenciamos. Relaxado, saio de dentro dela, com o olhar
percorrendo o seu corpo mais que perfeito, distribuindo beijos
em cada partícula sua, recomeçando assim o nosso momento,
muito mais que mágico.
Quando subimos para suíte, ela está tão exausta que
preciso carregá-la nos meus braços. Com os olhos fechados e
as pálpebras cerradas, essa é uma das imagens mais
significativas que já vi na minha vida. Deito-a na cama. Ela
praticamente apagou. Limpo o seu corpo antes de cobrir com
as cobertas. Diminuo a luz do quarto, me dirijo ao banheiro.
Preciso de uma ducha antes de me deitar ao seu lado.
Instantes depois deito ao seu lado, me aconchegando ao
seu corpo. Ela balbucia algo ininteligível. Às vezes, ela
conversa durante o sono. Sorrindo, fecho os meus olhos e
permito que a escuridão me domine. Pela primeira vez sinto
uma alegria inexplicável em meu peito.
Estou me sentindo um dos homens mais completos do
Planeta Terra. Acho que não há alguém em toda a galáxia
mais feliz do que eu.
Diana é o motivo de estar me sentindo dessa forma.
CAPÍTULO 14
Não tive filhos porque não queria transmitir a eles nenhum
o legado da minha ignorância e estupidez.
Era uma frase célebre que sempre fiz questão de carimbar
no meu passaporte da vida. O fato é que não desejo ser pai.
Não gosto de crianças e as prefiro longe de mim.
No entanto, estou me sentindo estranho correndo atrás
daquela menininha com os cabelos pretos e longos presos em
trança sorrindo e me chamando de papai. “Espera, filha, não
vá por aí, é perigoso” alerto, mas a garotinha adora brincar e
me desafiar. Não consigo visualizar seu rosto e isso me deixa
angustiado. “Vem, papai, vamos brincar”, a voz terna e infantil
me permite avançar na sua direção, mesmo assim é difícil
alcançá-la. Estamos no alto de um penhasco, o que é bastante
estranho, porque antes estávamos em um jardim coberto por
flores. Como viemos parar aqui? Um local pedregoso... quase
um precipício.
É um precipício, contemplo alarmado. “Filha, não! ” Grito
alto e forte na tentativa de que a menina não avance. Corro
desesperado para evitar que uma tragédia ocorra. Tardiamente
percebo que falhei quando a menininha grita com pavor,
desaparecendo no abismo infinito. Uma dor dilacera meu peito,
sinto objetos cortantes sobre os meus pés e, no momento que
ergo os meus olhos na direção que a garota desapareceu,
encontro a figura quase humana do velho Genaro.
A imagem é digna de um filme de terror, porque lá está o
velho com o sorriso amarelado e o sangue descendo pela ferida
exposta no seu abdômen. Com essa visão quase demoníaca,
sinto o ar diminuir dentro do peito e meus pés serem impedidos
de caminhar. Contemplo a figura do velho com o rosto banhado
pelo horror, mas o que me deixa em pânico são as palavras
letais que saem da boca daquele ser. “Você não conseguiu me
salvar e também não salvou a garotinha. Mais uma vez você
falhou. Você é tão culpado quanto ele. ” “Não! ”. Grito tão alto e
de forma tão desesperado, que dói os meus tímpanos.
— Marco... O que está acontecendo? Acorda!
Alguém me chocalha e então abro os olhos, percebendo
que estou na minha suíte. Passo as mãos pelos meus olhos
buscando refrescar a minha memória que foi apenas um
pesadelo. Muito estranho e surreal. Mais um pesadelo. Diana
me olha com um olhar apreensivo. Com certeza eu devo ter
gritado e ela acordou com o meu barulho.
— Está tudo bem? — Interroga depois de alguns
segundos. Balanço a cabeça, incerto daquilo que significa
estar bem. — Você estava se debatendo enquanto dormia e
dizia palavras incoerentes e frases cortadas que não consegui
assimilar. A única palavra que eu consegui distinguir foi a
palavra “filha”. — Pisquei diversas vezes ainda confuso pelo
que presenciei. Já tive alguns pesadelos, mas nada se
compara ao que tive nesta noite.
— Estava tendo um pesadelo. Não me recordo direito o
que acontecia. Só sei que via uma garotinha correr e, de
repente, parar diante de um abismo até que desapareceu ou
cair... não sei... — Revelo com muita angústia. Os outros
detalhes guardo para mim. Não me sentia pronto para falar
sobre o velho. E não compreendi nada do que ele disse no
final da frase.
— Foi só um pesadelo e pesadelos não são reais. — Diz,
mas eu não concordo com isso. Os meus pesadelos são
bastante reais porque eles me remetem a um passado
distante. E isso não é nenhum pouco agradável.
Ela me abraça, me trazendo alento. Estou um pouco
assustado, mas aos poucos consigo voltar a dormir.

— O meu pai quer conhecer você. — Informei na manhã


seguinte, quando estava terminando de passar o gloss nos
meus lábios. Fiquei assídua em acordar todos os dias na sua
casa. Praticamente estou morando aqui e visitando a casa dos
meus pais. Marco me olha de esguelha enquanto tenta
colocar a gravata. Me aproximo e termino a tarefa. Desde que
descobriu que estou namorando com o Marco, meu pai insiste
em conhecê-lo. Claro que o que temos não é bem um namoro,
até porque ele não pediu formalmente. Mas, na concepção do
meu pai, isso aqui é um namoro. Não ouso discutir, até
porque eu nem mesmo sei o que a nossa relação significa.
— Andou falando sobre a gente para o meu sogro? —
Abraça a minha cintura enquanto beija o meu pescoço.
— Não consigo esconder nada do meu pai.
— Vou adorar conhecer o meu sogro. Será que ele vai me
aprovar como seu genro ou vai preferir que você se case com o
George? — Ele desdenha. Recrimino-o. Meu pai nunca
aprovou a minha relação com o George, ele apenas respeitou,
tanto é que me deu bastante apoio quando eu decidi
terminar.
— Fique tranquilo, o meu pai é o melhor homem que eu
conheço.
— Assim vou ficar com ciúmes... — Ele se diverte.
— Bobo. — Beijo os seus lábios levemente. — Você
também é especial!
— Sou? — Ergue uma das sobrancelhas, me abraçando e
insistindo em querer me levar para a cama. Acabamos de
transar tanto que a minha boceta está sensível. Nós curtimos
muito quando decidimos abdicar do uso preservativo. Transar
sem camisinha foi a melhor coisa. Nem pensar que vou me
desarrumar porque ele não consegue ficar algumas horas sem
colocar o seu pau dentro de mim! — Estamos atrasados, meu
querido! — Empurro-o com firmeza, afastando-o de mim. Ele
finge estar ofendido por ter sido rejeitado. Sob protestos,
deixamos a suíte. Estou muito atrasada para chegar à
empresa.
Tudo parece estar normal até o momento que encontro a
minha mãe me aguardando na minha sala, com uma
expressão fechada e séria. Minha intuição avisa que ela estar
ali é um mau sinal. Cumprimento-a formalmente, de forma
cortês. Ela apenas acena brevemente e espera eu me sentar.
Ficamos frente a frente.
— Quero falar a sério com você. — A sua voz reverbera
pela sala. Faço um gesto para que ela diga o que precisa. —
Não acha que este seu casinho com alguém que você acabou
de conhecer já não foi longe demais? — Sabia que tinha
demorado para ela começar a se intrometer na minha vida. —
Filha, o George te ama e está disposto a esquecer tudo e
recomeçar.
— Ele pediu para que a senhora viesse aqui me dizer isso
ou tomou essa decisão sozinha? — Pergunto de forma irônica.
Ela não responde, mas não é difícil imaginar. Semanas se
passaram e ela ainda insiste que a gente deveria reatar.
— Estou preocupada com o seu futuro. Tem certeza de
que este Marco é um bom cidadão?
— Ah, pelo amor de Deus! — Explodo. Agora ela vai
questionar a índole de uma pessoa que ela não conhece e não
tem pretensão nenhuma em fazê-lo. — Não vou ficar aqui
ouvindo a senhora enumerar os defeitos de alguém que nunca
viu na vida. E quer mesmo saber a minha resposta? Sim, o
Marco é o melhor homem que eu conheci em toda a vida. E
sinceramente, é uma lástima não ter conhecido antes do
George, porque assim eu já estaria casada com ele. — Ela me
fuzila, enraivecida.
— Intuição de mãe é algo sério e eu pressinto que este
rapaz não é quem ele diz ser. — Ignoro as suas palavras. A
minha mãe está fora de si se acha que vou dar ouvidos as
suas intuições. Não entendo o porquê de tanto empenho em
me ver casada com o George. — Filha, desiste deste rapaz
antes que ele te faça sofrer. — Implora. Encaro-a com a
postura séria e a expressão fechada, encerrando de uma vez
este assunto.
Crente de que não vai conseguir me convencer a mudar
de ideia, ela aceita que perdeu e se prepara para sair da sala,
mas antes de ir, dá um último aviso.
— O tempo vai me dar razão. — É uma ameaça velada
que eu não levo a sério.
Após a discussão com a minha mãe passei o dia
pensativa. Muitos sentimentos se misturavam dentro de mim
e eu me sentia meio que perdida. Pâmela me aconselhou a
não dar trela para as palavras da minha mãe. Segundo a
Pâmela, a minha mãe estava inconformada que a fila havia
andado e estava semeando a discórdia no meu
relacionamento com o Marco. Meu pai também disse a mesma
coisa.
— Não tenha medo de ser feliz, querida. — Suas palavras
foram como um bálsamo neste momento que estou me
sentindo triste e confusa. — E não dê crédito às palavras da
sua mãe. Ela nunca soube o que é um amor verdadeiro. —
Suas palavras têm um tom melancólico. No fundo, ele sabe
que a minha mãe nunca o amou. Me questiono se algum ele a
amou.
— Pai, o senhor nunca foi apaixonado por ela?! — É uma
pergunta, mas está mais para uma afirmação. O meu pai me
olha lentamente, com uma expressão triste.
— Eu me esforcei o máximo que eu pude para ser uma
boa companhia para a sua mãe, e, à sua maneira, ela
também tentou, mas... — Vejo que ele recua pensativo, como
se estivesse buscando um complemento. Faço isso por ele.
— Não foi o suficiente. — Ele ri com pesar, concordando.
— Não foi. — Há um toque de dor nisso. Fico em silêncio,
digerindo as suas palavras. Meu pai é um homem que
raramente fala sobre sentimentos. Em seus olhos vejo dor,
tristeza e saudade. — Por isso, não permita que a sua
felicidade escape por entre os dedos, porque quando isso
acontece, começamos a nos sentir vazios por dentro. — Fico
comovida ao ouvir suas palavras. Ele também parece
emocionado.
— O senhor foi apaixonado por outra mulher no passado
e, por alguma razão, ela escapou de você. É por esse motivo
que está me dizendo isso? — Ele reluta em me responder.
Deve ser doloroso lembrar-se de uma ferida que ainda não
cicatrizou. — Minha mãe apareceu grávida de mim e o senhor
se viu no dever de assumi-la, deixando seu verdadeiro amor
escapar? — Sem perceber, uma lágrima desce pelo meu rosto.
Ouvi parte desta história em uma das inúmeras discussões
dos meus pais e agora estou ligando os pontos. Meu pai me
encara com uma tristeza absoluta, negando qualquer coisa
que eu tenha dito.
— Você não foi o motivo da nossa separação. — Ele diz
com veemência. — Você foi o melhor presente que a vida
poderia me dar. — Sua sinceridade transparece em cada
palavra proferida. — Infelizmente, alguns amores não dão
certo. E, sinceramente, eu nunca soube o que realmente
aconteceu para ela ter ido embora sem um adeus. — Ele não
menciona o nome da mulher que destruiu o seu coração e
também não me atrevo a perguntar.
— Se um dia, por algum motivo, vocês se
reencontrassem, o que o senhor sentiria? Seria capaz de
perdoá-la? — Ele pensa um pouco.
— Sinceramente, eu não sei. São mais de duas décadas,
e eu não sei se conseguiria perdoá-la pela forma que o laço
entre nós se rompeu. E também duvido que a gente se
reencontre algum dia. — Silencia por alguns segundos. —
Infelizmente, quando algo se rompe, dificilmente pode existir
conserto.
Meu pai se cala, e essa é a maneira que ele busca para
mudarmos de assunto. Falamos sobre outras coisas, e ele
reforça a vontade de conhecer o Marco. Vamos marcar este
encontro em breve.

Um mês se passou, o segundo também, até que o terceiro


mês chegou. A cada dia, o meu relacionamento com o Marco
se tornava mais forte e intenso. Sua companhia era uma das
melhores. Algumas vezes, eu o flagrava pensativo e com o
semblante rígido. Nossas visitas ao abrigo se tornaram
rotineiras e o Marco não abria mão de visitar as crianças aos
domingos. Certo dia, ele as levou ao cinema. Foi realmente
uma festa. No meio disso, eu observei o quanto Sophia ficou
apegada a ele e vice-versa. Em meio a uma batalha particular
interna, eu escutei o Marco aceitando ser o pai de faz de
conta para a princesa Sophia. Foi um momento marcante,
especialmente para ela. Ver o seu sorriso lindo e maravilhoso
foi um dos maiores privilégios que tive na vida.
O meu pai também aprovou o meu relacionamento com o
Marco e desde que se conheceram, vi ali nascendo uma
amizade recíproca. Conforme fomos nos aproximando e
passando a maior parte do tempo na casa dele, fui apreciando
a companhia de Liliana. Ela era alguém que transmitia uma
luz diferente. Seu jeito calmo e sereno trazia frescor para
minha vida. Me afeiçoei também ao Herbert. Aquele cara forte,
com a fisionomia fechada como se o tempo todo estivesse de
mal com as pessoas e cheio de tatuagens espalhadas pelo
corpo que eu conheci, não é nada comparado ao homem que
conheço hoje. Ele é um homem que não se abre, assim como
o seu patrão, mesmo assim são pessoas que tem uma alma
raríssima.
A minha vida está maravilhosa. É como se aquele
momento de escuridão e incertezas tivesse ficado para trás.
Tirando a amargura da minha mãe a cada vez que nos
encontramos e a insistência do George, tudo está perfeito. O
fato é que até hoje ele não se conformou que a nossa história
não tem mais volta. Está me cansando com todo este assédio.
Chegará o momento que um de nós precisará sair dessa
empresa e, o mais provável, é que vai ser ele a ir embora.
Evito pensar muito nestes pormenores, pois é encrenca, e me
ocupo em viver e ser feliz ao lado do homem que eu descobri
que estou apaixonada. Eu sei que prometi a mim mesma que
não o amaria, mas infelizmente não mandamos no coração.
Agora não sei como dizer isso a ele, e o pior é que não sei
como será a sua reação.
Sentei-me na cama da Pâmela enquanto aguardava o
resultado do teste de farmácia. Mesmo com todos os sintomas
de uma possível gravidez, não fui procurar um médico.
Pâmela sugeriu fazer o teste de farmácia que ela mesma
comprou. Estou com a sensibilidade à flor da pele, os meus
seios estão mais sensíveis que o normal e a minha
menstruação está há dias atrasada. Os cinco minutos
demoram a passar e começo andar pelo quarto ansiosa e
amedrontada. Se eu estiver mesmo grávida, como vai ser?
Como eu vou contar para o Marco? Os enjoos que tive na
semana passada deve ser o início. Estou mesmo grávida. O
medo assola o meu coração. Sinto vontade de chorar.
— Como posso ter engravidado se eu tomava
anticoncepcional direitinho? — Divago, com o peito apertado.
— O anticoncepcional pode falhar, amiga. — Pâmela
pontua observadora. — Lembra que você ficou resfriada no
mês passado? O antibiótico pode ter cortado o efeito da pílula.
— Recordo desse detalhe, entrando em desespero. Como não
pensei nisso? Ela vai até o banheiro, retornando em seguida,
segurando o palito que vai mudar a minha vida para sempre.
Alarga o sorriso, parando no meio da porta. Meu coração bate
forte.
— Fala de uma vez! — Ordeno, zangada com este
suspense desnecessário e esse sorriso fora de hora. Sentei-me
porque sentia que iria desabar a qualquer momento.
— Eu vou ser madrinha! — Sinto o sangue gelar. As
lágrimas romperam os meus olhos sem controle quando vejo
a confirmação. Pâmela me abraçou com a felicidade exalando
pelos seus poros. Eu também deveria estar comemorando,
afinal, sempre sonhei em ser mãe. Mas minha gravidez não foi
planejada e isso me assusta. Não sei como o pai da criança
vai reagir quando eu contar a novidade. — Amiga, não fica
assim. Essa criança vai ser muito amada. E você vai ser uma
ótima mãe, e eu serei a melhor madrinha. E o Marco, mesmo
sendo um cara com a expressão zangada, vai ficar radiante
com essa notícia. — Tento me alegrar, mas as dúvidas pairam
na minha cabeça, deixando-me em um estado de pânico. É
um futuro novo que se abre. Futuro esse que é tão
desconhecido e, por isso, é assustador.
Marco me avisa por mensagem que precisa viajar para
Londres a negócios. Fico triste porque significa que a gente
não vai se ver até no sábado, e hoje ainda é terça-feira. Como
foi uma viagem que surgiu de última hora, a gente não se
despediu pessoalmente. Da empresa ele foi direto para o
aeroporto. Enfim, contar sobre a descoberta da gravidez está
suspenso, por enquanto. Desejo-lhe uma boa viagem e ele
garante que quando voltar me recompensará. Sorrio
intimamente, mas não me sinto feliz. Tem um caroço de
abacate na minha garganta para engolir. Por fim, só me resta
ficar com a Pâmela e, só na manhã seguinte, vou para casa.
Aproveitei a ausência do Marco para iniciar o pré-natal. A
saúde do meu bebê é a minha prioridade, assim como a
minha também.
Agendo um horário com a ginecologista obstetra e vou
para a primeira consulta como gestante tendo a companhia
da minha melhor amiga. No consultório médico, a médica
sanou as minhas dúvidas, checando a saúde do feto e a
minha, garantindo que nós estávamos bem. Ainda não dá
para ver o sexo do bebê, mas ouvi o seu coração batendo e
essa foi uma das melhores sensações que experimentei.
Pâmela saiu de lá emocionada e empolgada para a
chegada do seu afilhado ou afilhada. Imagino Marco
presenciando esta cena. Será que ele ficaria contente?
Enquanto pensava nele recebi uma mensagem dizendo o
quanto sentia a minha falta e que não via a hora de voltar
para casa. Respondo que está tudo bem e que também estou
morrendo de saudade. Por um momento, pensei em enviar-lhe
o vídeo do ultrassom, mas desisti, temendo a sua reação.
O resto dos dias foi tranquilo. Não sentia enjoos, já que
com as vitaminas e o remédio para enjoos, eu me sentia
melhor. Torcia para que o sábado chegasse logo e assim
pudesse dividir com ele que estou esperando um filho dele.
Passado o susto, eu já comecei a me acostumar com a
existência do meu filho. Saber que dentro de mim cresce uma
sementinha nova me deixa feliz e radiante. Ainda tenho medo
do futuro ou de não ser uma boa mãe para esta criança, mas
já consigo me visualizar segurando este pacotinho de amor
que a vida está me trazendo. Pâmela está cheia de ideias,
fazendo pesquisas para comprar o enxoval do meu bebê. É
cada coisa que ela me mostra que fico encantada. Na sexta-
feira ela passou no shopping e comprou um sapatinho branco
de tricô. Segundo ela, era uma coisa tão fofa que não resistiu.
Eu também achei uma maravilha.
No final da tarde me preparava para deixar a minha sala
quando a porta se abriu e por ela entrou o George. Tinha
demorado, pensei, fuzilando-o com o olhar. Ele atravessa a
minha sala e para na minha frente.
— Que bom que ainda te encontrei aqui — diz ele —
precisamos conversar, Diana. — Ignoro totalmente e termino
de arrumar as minhas coisas. — Você precisa me ouvir. Só
cinco minutos. — Implora com aquela cara de cachorro que
perdeu o dono.
— Você tem dois minutos. — Digo energeticamente.
Daqui vou direto para a casa do Marco, quero esperar por ele
em sua cama. Sem contar que ainda temos assuntos
importantes a tratar.
— Você sabe que ainda tenho esperanças de que você
volte para mim. — Reviro os olhos. Este papo de novo não. —
Por favor, Diana, você não pode jogar fora tudo o que a gente
construiu.
— O que a gente construiu, George? — Questiono
gelidamente.
— Eu te amo! Quando você vai entender isso? Duvido
que o idiota que te come toda noite te ame da forma que eu te
amo. — Vejo o peso da minha mão subir e descer no seu
rosto. Não sou uma pessoa agressiva, mas infelizmente ele
não me deixou escolha. George me olha em choque, com um
brilho de ódio se espalhando em seus olhos, contudo nada
disso me amedronta.
— Nunca mais se refira a mim desta maneira, ouviu? —
Minha voz é sonora e versátil. Ele alisa a região que levou o
tapa. — E saia da minha sala antes que eu te coloque para
fora aos pontapés. — Me dirijo a fim de abrir a porta e fazê-lo
ir embora se ele insistir, chamarei os seguranças.
— Isso não vai ficar assim. — São venenosas as suas
palavras, mas não dou a mínima. Ele só está com o orgulho
ferido. — Você ainda vai se arrepender e vai se rastejar aos
meus pés, implorando o meu perdão. — Desafio-o furiosa.
— Quem vai se arrepender é você. — Digo com o dedo em
riste na sua direção. — Se voltar mais uma vez aqui com esse
assédio, eu te denuncio. Eu passo por cima daquilo que eu
chamo de respeito e te denuncio por assédio. — Ele estremece
porque sabe que não estou blefando. Sem dizer mais uma
palavra, ele se retira, levando consigo todo o seu veneno.
Fecho a porta abruptamente, respirando devagar.
Espero que ele não venha me importunar mais.
CAPÍTULO 15
Acordei no meio da noite com vontade de fazer xixi e com
a minha garganta seca. Olhei em volta e notei que o Marco
ainda não tinha chegado. É mais provável que ele só chegue
de manhã. Levantei da cama e fui ao banheiro. Ao retornar,
decido ir até a cozinha tomar água. Vesti o robe e sai do
quarto. Fui dormir tarde, passei horas conversando e
assistindo a um filme antigo com a Liliana, que ultimamente
chamo de Lili e ela não reclama. Geralmente, discute quando
Marco a chama pelo apelido. Em nossas conversas, descobri
que temos os mesmos gostos.
Quando estou prestes a chegar na cozinha, escuto vozes.
Logo reconheço que são as vozes do Marco e de Liliana. Abro
um sorriso quando percebo que ele havia chegado. Penso em
interromper o diálogo entre eles, mas paro receosa quando
escuto o teor da conversa. Me escondo em um canto para que
eles não vejam que estou aqui.
Os assuntos entre eles eram sobre filhos, crianças,
formar uma família. Liliana que fala sobre isso. A forma como
o Marco reagia a esses assuntos me deixou intrigada e
apreensiva. Meu coração parecia que ia parar de bater
quando percebi a aversão que ele sentia em ter crianças por
perto.
Permaneci ali, ouvindo cada palavra e pensamento seu, e
num gesto involuntário e protetor, coloquei as minhas mãos
na barriga, na tentativa de proteger o meu filho de sofrer a
rejeição paterna. Meu coração se aperta e, com a visão
embaçada, retorno para a suíte sem deixar que eles percebam
que estou aqui. Entro na suíte banhada em lágrimas, deito-
me na minha cama, sentindo o mundo caindo sobre mim.
Soluço baixinho, certa de que, ao contar que estou
grávida, Marco vai rejeitar o bebê e me culpar por engravidar
de propósito. Escuto passos vindos e rapidamente me cubro
com a coberta e quando ele abriu a porta eu fechei os meus
olhos, fingindo estar dormindo. Sinto a sua presença ao meu
lado e reluto para não abrir meus olhos quando ele se
debruça, beijando o meu rosto. Por alguns segundos, acaricia
meu rosto até se erguer e andar na direção do banheiro.
Acordo sentindo o calor da sua boca por cada parte do
meu corpo. Abro meus olhos, encontrando os seus.
— Bom dia, pequeña. — Diz, beijando os meus lábios. —
Estava morrendo de saudades suas. — Declara avançando
um pouco mais. Não consigo dizer a mesma coisa. Em
silêncio, afasto-o de mim. Ele me olha sem entender a razão.
Coloco meus pés para fora da cama, pronta para me levantar.
Não vou conseguir transar com ele sentindo essa amargura
dentro de mim.
— Estou com um pouco de cólica. — Minto. Ele suspira
frustrado.
— Precisa de alguma coisa? Posso providenciar um
remédio? — Seu olhar passa de frustração para preocupação.
Ele também se senta.
— Não precisa. — Recuso. — Vou tomar uma ducha e
tenho remédio para cólica na minha bolsa. — Pelo menos ele
acredita na história de que estou menstruada. Vejo-o assentir
e, nesse momento, sigo para o banheiro. Minha tristeza é tão
imensa que, debaixo do chuveiro, deixo-me ser consumida
pelas lágrimas.
O sábado começou e terminou em uma angústia infinita.
Inventei algumas desculpas e retornei para casa. Não
suportava ficar no mesmo ambiente que o Marco sem sentir
uma dor aguda no meu peito.
— Tem certeza que o que você está sentindo é só cólica?
— Pergunta preocupado quando saio da sua casa. Não
consigo verbalizar, apenas assinto. — Você pode ficar aqui e
eu prometo cuidar de você. — Seu pedido me deixa na corda
bamba. Mas não vou suportar ficar aqui. Garanto-lhe que
ficarei bem e que nos vemos na segunda-feira. Decepcionado,
ele aceita as minhas escolhas.
Fui embora e chorei bastante no colo da Margarida, que
me ouvia com atenção, dando todo o conforto do mundo que
eu precisava. A Pâmela tinha ido visitar os pais em outra
cidade e, neste momento, eu não poderia contar com ela. Só
me restou o colo da Margarida para derramar a minha dor,
pois já tinha contado a ela sobre a gravidez.
Neste momento, era para eu estar feliz ao lado do Marco
e, no entanto, estou aqui arrasada e me sentindo um fracasso
como pessoa.
CAPÍTULO 16
Pensativo, vejo o dia de domingo cedendo espaço para o
anoitecer. Estou na área externa com um copo de uísque na
mão e a garrafa sobre a mesinha ao lado. Bebo o líquido,
sentindo o gosto forte descendo pela minha garganta.
Contemplo as luzes se acendendo, absorvendo toda a tensão
do momento. Meus pensamentos são frenéticos e os
sentimentos conflitantes desde o momento que Diana
resolveu ir embora. Tentei de todas as maneiras convencê-la a
passar o fim de semana comigo, mas ela não aceitou, usando
o seu período menstrual como desculpa para ficar longe de
mim.
Por mais que ela tenha dito que o que estava sentindo
era só cólica, lá no fundo tenho a impressão que não era só
isso. Seu olhar não mente e ele revelava algo diferente. Algo
tinha acontecido nesses dias em que estive em Londres. O
que será que aconteceu para que ela fosse embora sem
muitas explicações?
Procuro na minha memória alguma coisa que eu possa
ter feito ou dito que fez Diana me ignorar assim. Perguntei a
Liliana se ela sabia ou imaginava algo, mas ela não soube
dizer. Segundo ela, Diana parecia feliz e ansiosa na sexta-feira
quando chegou aqui. Essas indagações estão me deixando
bastante confuso e preocupado.
Fiz inúmeras ligações, mandei mensagens e em todas
elas não obtive resposta. Aborrecido, terminei de beber todo o
uísque, fumei inúmeros cigarros e, mesmo assim, essa
angústia em meu peito não diminuiu. Meu pau sentia falta da
sua boceta quente. Há dias que eu não faço sexo e isso está
me torturando. Quando subi para o meu quarto, já era uma
hora da madrugada. A mansão estava em um silêncio
fúnebre. Subi as escadas a passos lentos, com a visão
embaçada devido a quantidade de álcool que ingeri. Sei que
assim que acordar sofrerei as consequências.
Essa era uma das piores ressacas da minha vida e tudo
isso por causa dela. Desde quando eu ficava nesse estado por
conta de um rabo de saia? Nunca. Sempre fui imune a esses
sentimentos de dependência. A minha vida nunca girou em
torno de ninguém. Estou me odiando por me sentir assim.
Chego à suíte, capoto na cama. Rolando de um lado para o
outro, acabo vencido pela exaustão e pela confusão no
cérebro.
Eu te odeio, Diana - murmuro entre a lucidez e a
embriaguez.
Desperto quase meio dia na segunda-feira e me
arrependo amargamente por ter me deixado consumir desta
maneira. Caminho para o banheiro ainda grogue e deixo que
o jato de água gelada leve os resquícios das minhas
indagações. Recrimino-me por não conseguir tirar aquela
feiticeira dos meus pensamentos. Por causa dela, hoje é a
primeira vez que chegarei à minha empresa ao meio dia.
Maldita seja! Esmurro com ódio a parede, enquanto me seco.
Segui para o closet e vesti a minha roupa. Assim que
estou pronto, saio da suíte. Encontro Liliana na sala assim
que desci às escadas.
— Bom dia...
— Não fala... — Peço, colocando as mãos na cabeça.
Qualquer pequeno barulho me deixa em um estado de
vertigem. Liliana entende que foi devido a minha extrapolação
na bebida. Como um general que conhece todos os meus
passos e, se duvidar, até os meus pensamentos, ela me
entrega um comprimido com um copo d’água. Ingiro tudo
rapidamente. Só quero que essa dor vá embora de uma vez.
— Não vai comer alguma coisa? — pergunta quando lhe
devolvo o copo. Afirmo que não com um gesto. Neste
momento, qualquer alimento embrulha o meu estômago.
Sem muita demora me retiro da sala e logo me vejo a
caminho da empresa. Olhei as mensagens no meu celular e
nenhuma delas é as da Diana. Aperto o maxilar, sentindo a
cabeça doer. Herbert me observa pelo retrovisor, mas nada
comenta. Ele já me conhece. Seria pedir muito, que ao menos,
ela mandasse um sinal?
Quando entro na minha sala, estou espumando de raiva
e sinto que a qualquer momento vou perder o controle. Como
sempre, minha secretária entra junto comigo para me passar
alguns recados. Fecho a porta, olhando com profundidade
para ela. Minha mente está tão fodida depois do silêncio da
Diana que não raciocino. Melissa me encara confusa quando
entende aquilo que meus olhos revelam. Ela transmite alguns
recados enquanto vou me aproximando de forma lenta, como
se eu fosse um caçador que só quer pegar a sua presa.
— Marco... — sua voz está à beira do precipício. Olhando
para ela, a única pessoa que consigo enxergar é a Diana. É a
sua voz que eu escuto. É os gemidos dela que eu quero ouvir
enquanto fodo a sua boceta. Quero castigá-la por tudo o que
ela está fazendo comigo. Como um animal, trago-a para perto
de mim, invadindo a sua boca com muito desejo. O meu pau
aumenta e a tensão dentro de mim se intensifica. Ouço os
seus protestos, mas não me afasto nem um milímetro.
Arranco sua blusa e abocanho os seus seios como se eles
fossem uma espécie de água e eu estivesse no centro do
deserto. Com um gesto brusco, faço com que ela se sente
sobre a minha mesa, arrancando sua saia e sua calcinha.
Nua na minha frente, a encaro com certo desdém e algum
resquício de realidade. Mas ignoro cada sentimento.
— Você tem o fetiche de ser fodida por mim na minha
mesa de trabalho? — Grunho, chupando partes do seu corpo
e enfiando meus dedos na sua boceta. Ela grita, inebriada
com o meu toque. — Responde sua vadia! — Afasto a minha
mão da sua boceta, agarrando forte seus cabelos e invadindo
sua boca, mordendo o seu lábio inferior.
— Isso é tudo o que eu sempre desejei, Marco...
— Para você, sou Sr. Roga! — Balanço o seu corpo,
deixando claro que estou no controle. Ela se assusta, mas se
corrige.
Volto toda a atenção para o seu corpo. Nessa altura, ela
já retirou a minha camisa, desfazendo o nó na gravata. Desço
as minhas calças e, no momento que encaro o seu rosto com
as bochechas vermelhadas e aquele olhar de vadia, um
choque de realidade me atinge em cheio. A visão da figura de
Diana preenche todos os meus recônditos e eu recuo como se
estivesse diante do diabo.
Passo as mãos pelo meu rosto, tentando recobrar a
consciência. Eu estava a ponto de foder a minha secretária.
Porra! Pego suas roupas e dou-lhe um ultimato.
— Se vista! — O som da minha voz foi tão forte como um
trovão. Melissa desce da mesa desorientada, confusa e, o que
é isso nas suas feições? Ódio.
— Você... — Seja lá o que ela fosse dizer, corto bravo.
— Esqueça tudo o que aconteceu aqui. — Meu desdém se
impregna pela sala.
Sem esperar que ela vestir a roupa, me afasto daquele
lugar, indo em direção ao banheiro, buscando recuperar o
resto do meu bom senso.
Não foi difícil imaginar que o dia terminaria uma merda,
assim como foi o começo da manhã. Depois do episódio
lamentável, Melissa tirou a tarde de folga. Não fiz muita
questão que ela continuasse ali e venho pensando seriamente
em transferi-la de setor.
Quando me preparava para deixar a empresa, fui
informando que tinha alguém à minha espera. Bufo,
incomodado com esta falta de controle para comigo mesmo.
Entre todas as pessoas da face da terra que eu imaginava
encontrar àquela hora do dia, ninguém específico passou pela
minha cabeça. Quando a porta se abre eu aperto com força o
maxilar e o sangue circula de forma lenta dentro das minhas
veias. Em seu rosto, um sorriso desdenhoso, sarcástico e um
tanto cruel estava estampado.
Estava diante do maior rival de todos os tempos. Em
presença, carne, osso e sangue.
Demérito Linhares ou George Darwin.
— Olá, querido irmão! — Rangi feroz ao ver aquele ser
diabólico entrando no meu território.
— Não sou e nunca fui irmão de um traidor. — Expresso
com o sangue em ebulição quando ele sentou-se com o sorriso
cínico. Observa de relance a minha sala.
— Devo te dar os parabéns, você conseguiu chegar longe
— sarcástico, ergo as sobrancelhas — não mais do que eu. —
Vejo o veneno e a inveja escorrer pelos cantos da sua boca. —
Que mundo pequeno, irmão! — abre os braços como se
estivesse em defensiva — a vida girou e girou e girou, e
estamos nós dois parados no mesmo lugar. Podemos chamar
isso de carma? — Não sorrio. Apenas o encaro com ódio.
— Estou um pouco mais longe do que você. — Digo com
segurança, deixando transparecer minha indignação.
— Tem certeza? — Ironiza. Não respondo. — No quesito
esperteza eu sou melhor do que você. — Vangloria-se.
— No quesito vingança, eu sou o melhor. — Vejo o seu
sorriso presunçoso diminuindo. Fico satisfeito.
— Eu tirei tudo de você — volta a atacar. — O velho. O
dinheiro. Mandei você direto para a sarjeta.
— E eu tirei a sua noiva. A mulher que você pretendia
casar. — Dou-lhe o troco e, dessa vez, eu o vejo engolindo o
seu próprio fel. Caminho pela sala, permitindo que ele
assimile o peso das minhas palavras. Perder Diana para mim
é o seu ponto fraco.
— Não por muito tempo. Uma hora ela vai ver o monte de
estrume que você é e vai meter o pé na sua bunda sem
vacilar. — Suas palavras venenosas se propagam pela sala.
Absorvo cada palavra e, mesmo reconhecendo um fundo de
verdade em cada uma delas, não deixo transparecer o quanto
isso me afeta. — Agora me tire uma dúvida: qual foi o golpe
que você aplicou para ter toda essa fortuna? — Ficamos mais
próximos, mas não sano a sua curiosidade. — Sim, porque
grana você não tinha e eu roubei toda a grana do velho
Genaro. — Meus punhos coçam para meter a porrada no
nariz deste infeliz ouvindo-o admitir o tamanho da sua
covardia, mas me controlo. Não quero que este infeliz saia
daqui direto para a delegacia com a intenção de me denunciar
por agressão. Ainda vou destruir este puto, mas será do meu
jeito.
— Sempre tive essa certeza — ralhei, rangendo os dentes.
— Um filho que rouba o próprio pai não é digno de perdão. E
especialmente aquele que o trai.
— O velho sofreu muito? — Indaga irônico, com a
expressão diabólica. Sabia que ele era um ser desprovido de
sentimentos. Mas o velho Genaro era sangue do seu sangue,
me custa a acreditar que este puto não tenha sentido nada
pelo próprio pai. — A jornada do velho tinha chegado ao fim e
ele se recusava a admitir isso. Apenas antecipei o inevitável.
— Me esforço para não dar a ele a lição que ele merece.
— Saia da minha empresa, agora! — Digo ríspido,
encerrando a nossa discussão, que não vai nos levar a lugar
algum.
— Qual é! Não está feliz em me ver? — Indaga
debochado. — Podemos relembrar os velhos tempos, repetir
velhos hábitos...
— Saia daqui agora — digo, segurando-o de uma forma
que ele fica amedrontado. Encaro-o com fúria — antes que eu
te esfole vivo. — Ele repuxa os lábios como se não acreditasse
que eu seria capaz de fazer algo perverso. Mal sabe ele que
aquele garoto que acreditava na bondade humana morreu há
muito tempo.
— Você não seria capaz...
— Quer pagar para ver? — Interrompo grosseiro. — Está
mesmo disposto a conhecer essa minha versão? — Questiono
ameaçador. Ele parece reconsiderar. Estando em
desvantagem ele não ousa arriscar.
— Ok! — Suspira e nesse momento eu o solto, me
afastando. — Não vim aqui para conhecer a sua versão nova.
— Diz cínico. — Isso não significa que eu tenha medo das
suas ameaças que não passam desta porta. — Ergo as
sobrancelhas com ironia. É melhor não me subestimar. — Eu
ainda vou ver a derrocada do grande Marco Roga. Alexandre o
Grande foi destronado e você também será. — As suas
ameaças não me intimidam.
— O único que vai cair aqui é você. — Encaramo-nos.
Duelamos em silêncio por alguns segundos.
Sorrindo com cinismo, vejo-o atravessando a sala e
saindo pela mesma porta que entrou.
Este babaca não sabe o que lhe espera e eu preciso lhe
lembrar disso, reflito quando a porta se fecha.

Olho mais uma vez para o celular, onde as mensagens do


Marco estão, mas ainda sem serem lidas. Nem sei se tenho
coragem para ler depois de todo o gelo que dei.
Enquanto penso no que fazer, minha assistente aparece
na minha sala informando que o Marco está do outro lado,
querendo falar comigo. Meu coração estremece de
nervosismo. Não tenho outra escolha a não ser autorizar a
sua entrada.
No momento que ele rompe a minha sala, sinto as
minhas pernas tremerem. Tenho a impressão de que cairia
senão estivesse sentada.
— Como você não respondia às minhas mensagens,
resolvi vir até aqui. — Diz ao se aproximar e beijar os meus
lábios com leveza.
— Desculpa — minha voz sai muito baixa. Tento
controlar-me. — Estava com muito trabalho. — Não sei se ele
acredita nas minhas desculpas, mas vejo dúvidas em seu
olhar, mesmo assim ele aceita.
Ele consegue me persuadir a ir almoçar em um
restaurante que fica aqui perto. Ao sairmos, encontramos
George, que nos observa com uma cara de poucos amigos.
Aceno brevemente e não paro para dar explicações. Desde o
dia que ameacei de que o denunciaria, ele não voltou a me
procurar e minha mãe também resolveu me deixar em paz.
Depois do almoço, foi difícil ficar imune aos meus
sentimentos. Cheguei a um ponto da nossa história que não
resta mais dúvidas. Eu amo o Marco como jamais imaginei
ser possível. Sei que ainda temos muitas arestas para aparar
e um longo caminho para percorrer, sem contar o fato de que
estou grávida e ele tem o direito de saber que será pai. Vendo-
o feliz, falante e risonho, esqueci por completo as minhas
dúvidas e incertezas.
Agora eu só preciso ter coragem para falar sobre a
gravidez. Naquele dia, aceitei dormir em sua casa e passamos
a noite quase inteira fazendo sexo. Cada beijo, cada palavra,
cada estocada em minha boceta me davam a certeza de que
ele era o homem da minha vida. Eu me sinto única em seus
braços e o seu sorriso lindo iluminando o seu rosto deixa meu
coração em festa. Por um momento, me vi tentada a contar
sobre o bebê, mas, por receio, adiei a novidade.
CAPÍTULO 17
Algumas semanas depois, tudo seguia em perfeita ordem.
Nós fazíamos muitos programas juntos, seja ir ao cinema ou
ao zoológico com as crianças. Vendo a sua desenvoltura com
elas, cheguei à conclusão de que ele seria um ótimo pai para
o nosso filho. Ainda não sabia qual era o sexo do bebê, mas
dentro de mim eu tinha quase certeza que seria um menino.
Marco desliza a mão por dentro da minha blusa,
alcançando o meu seio. Estou sem sutiã, pois acabei de tomar
banho depois de uma tarde agradável ao lado das crianças.
Massageia um dos seios e depois o outro. Levanto os meus
braços quando ele suspende a minha blusa. Ele me olha com
luxúria antes de abocanhar os meus seios. Gemo, inebriada
pelos seus toques. Retira minha calcinha e introduz o dedo
polegar, alcançando o meu clitóris inchado. Minha boceta
lateja. Retira sua boxer e massageia o seu pau.
— Você me enlouquece, pequeña! — diz, aumentando os
movimentos na minha boceta, me fazendo gemer alto. —
Gosto quando você se derrete com os meus toques. Gosto de
te ouvir gemer quando meu pau entra rasgando nessa boceta
macia. Gosto de tudo em você — diz, alcançando a minha
boca. Sinto a sua língua invadindo na minha boca, enquanto
o meu corpo parece estar em chamas.
— Me fode! — Peço quando a sua boca se afasta da
minha. Ele ri e logo o seu pau entra na minha boceta. Deslizo
as minhas mãos pelas suas costas. — Mais rápido... — Ele
começa movimentos de vai e vem e os nossos corpos ficam
suados. Cada estocada é mais intensa do que a outra. Sinto o
meu corpo estremecer, uma contração na minha boceta e logo
o orgasmo vem de forma transcendental. Com as mãos em
seus cabelos e com o seu olhar profundo, eu me sinto perdida
e, sem perceber, digo. — Eu amo você!
Alguma coisa perde o equilíbrio, sinto o momento em que
ele se afasta, caindo para o lado. Meu coração acelera, os
meus olhos ficam embaçados, não tenho coragem de olhar na
sua direção. Ouço a sua respiração ofegante enquanto
aguardo ansiosa pelo que ele vai dizer. Um. Dois. Três. E
nada acontece. Em silêncio, observo-o se erguendo da cama e
seguindo para o banheiro. Escuto o momento em que a porta
é aberta e fechada de forma brusca. Sinto-me oca, confusa,
insegura e temerosa. E sem conseguir lutar com isso que me
amedronta, sinto as lágrimas rompendo pelos meus olhos.
Pela primeira vez, concluo com tristeza que cometi a pior
besteira da minha vida ao declarar aquilo que estou sentindo.
Enquanto tento lutar com os vários demônios que duelam
dentro de mim, aguardo ansiosa ele retornar, algo que não
aconteceu até que adormeci.
Depois daquela noite, o trem descarrilou. Marco passou a
inventar desculpas para não nos encontrarmos. Trabalho
demais. Viagens constantes. Desculpas esfarrapadas, eu
tenho certeza.
Até o dia que não suportei mais e fui procurá-lo na sua
empresa, interrompendo uma das suas reuniões. Se queria
terminar o que nós tínhamos, teria que fazer isso olhando nos
meus olhos.
— Qual é o seu problema? — Pergunto, explosiva, depois
de cinco minutos que entrei na sala. Estou parada no meio do
seu escritório, na pose da mulher-maravilha. A verdade é que,
por dentro, estou um caco de pessoa.
— Estava no meio de uma reunião importante. Você
queria o quê? Que eu soltasse rojões? — Rebate grosseiro.
— Eu não estaria aqui se você não tivesse ignorado todas
as minhas ligações! — Contraponho. Desde o momento que
invadi a sua sala, ele sequer me olha nos olhos. A sua
expressão é dura e rígida. Marco voltou a incorporar o homem
malvado.
— Estou trabalhando. Tenho muito trabalho atrasado. —
Desculpa esfarrapada. Fuzilo-o com o olhar, deixando claro
que não acredito nisso. Já são três dias desde que resolveu
fazer pacto de silêncio e procurar se manter distante.
— Tudo isso porque eu disse que te amo? — Minha voz
soa tão estranha! Neste momento, seu olhar me alcança.
Sinto uma dor aguda no meu coração. Sua expressão fechada
não esboça nenhuma emoção. Virando-se de costas, a sua voz
soa tão cavernosa que dói só de escutar.
— Nosso caso está com prazo de validade vencido. —
Mordo os lábios, me esforçando para não desabar na sua
frente. — Fomos longe demais com tudo isso.
— Eu achei que você conseguiria me amar... — Confesso,
num fio de voz.
— Eu não amo você. — Vira-se e, dessa vez, sou eu que
não consigo olhar. — Eu não posso te amar, Diana.
— Não pode ou não quer? — Indago, sentindo a minha
voz ficar embargada.
— Isso não importa. Desde o começo, deixei claro o que
penso sobre o amor. Não tenho culpa se você criou ilusões a
meu respeito.
— As pessoas podem mudar de ideia.
— Eu não. — Ele rebate seco. — O que tínhamos era
apenas sexo e você sempre soube disso. Mas isso chegou ao
fim. Será melhor que cada um de nós siga sua própria
jornada. — Sinto as lágrimas descendo pelo meu rosto, a sala
começa a rodar, os móveis saem do lugar, vejo vários Marcos
na minha frente. Sinto dificuldade para respirar e não consigo
distinguir nada do que ele diz. Ouço ele dizer meu nome antes
do meu corpo perder as forças e eu ser arremessada para
dentro da minha própria escuridão. — Diana...

Tentei contornar o caos lidando com o meu próprio


inferno particular. Desde o momento que Diana disse aquelas
três palavras, meu mundo desabou, não de felicidade, mas de
remorso, culpa e arrependimento. Naquele instante, descobri
que aquilo que eu mais temia havia acontecido. Foi uma luta
interna e não encontrei nenhuma saída para lidar com o
desconhecido, restando apenas a fuga como escape para a
minha colisão.
Imaginei que, com a minha indiferença e ausência, ela
permaneceria longe de mim, mas congelei no momento em
que ela me interrompeu em uma das reuniões e exigiu que
conversássemos. Não tive outra escolha senão dar isso a ela.
No início, estava convencido de que estaria no controle e que
seria fácil fazê-la sair da minha vida. Ela estava em busca de
amor, um sentimento que nunca fez parte do meu habitat, e
eu estava disposto a fazer de tudo para que nunca fizesse.
Durante nossas discussões, quando vi Diana passando mal,
meu coração disparou. Fui rápido em sua direção e, antes
que ela caísse no chão, a peguei nos meus braços. Seus olhos
fechados e seu rosto pálido me fizeram entrar em desespero.
— Diana... fala comigo... — Tentei em vão reanimá-la,
mas não consegui. Ela precisava de um médico com urgência
e foi isso exatamente que eu fiz. Correndo desesperado, passei
pela minha secretária com a Diana nos braços. Desci pelo
elevador privativo e logo estava dirigindo em direção ao
hospital. Diana continuava quase sem vida quando entrei na
emergência, implorando para ser atendido. Imediatamente,
surgiu uma maca na qual a deitei. Enfermeiros e o médico de
plantão a levaram por uma porta, seguindo um longo
corredor, até entrarem em uma sala. Fui até a recepção para
fazer a ficha de entrada no hospital, como fui orientado.
Angustiado, com uma sensação de mal-estar, ando de
um lado a outro da recepção sem saber qual era o seu real
estado. Diana é uma pessoa saudável, não entendo o motivo
que possa ter causado o desmaio. Depois de mais de duas
horas de espera, o médico finalmente aparece trazendo
informações.
— Como a Diana está? E o que aconteceu para ela ter
desmaiado? — Bombardeei o médico com as minhas
indagações.
— Felizmente, não foi nada grave. A Diana teve uma
queda de pressão e já está estável. — Suspira antes de
continuar. — Está tomando uma medicação e, assim que
terminar, está liberada para voltar para casa. — Fico aliviado
ao saber que ela está bem e que foi apenas um susto.
— Eu posso ir vê-la? — Pergunto ansiosamente.
— Claro. — Informa em qual quarto ela está. O médico
parece querer me dizer mais alguma coisa, mas apenas se
afasta. Sigo na direção que o médico indicou. Observo-a
deitada na cama enquanto o medicamento desce em sua veia.
Ela está de olhos fechados, mas os abre assim que sente
minha presença. Percebo que ela se remexe com desconforto e
fecha a cara. Ela está com raiva.
— Como está se sentindo? — Murmuro.
— Estou ótima. — Responde com ironia. — Você pode ir
agora. Como vê, estou viva.
— Di... — Suspira bruscamente. — Precisamos
conversar...
— Não temos mais nada para dizer um para o outro. —
Bufa. — Já dissemos tudo. Você pode seguir a sua vida
tranquilamente. — Tento argumentar, mas nesse momento
ela está com raiva e não vai me ouvir.
— Não vou sair daqui até ter certeza de que você está
recuperada e não vai desmaiar novamente. — Revira os olhos.
— Não precisa se sentir culpado — diz amargamente —
Não vou ficar aqui sozinha. Já liguei para a Pâmela e ela está
vindo. — Ela está fazendo de tudo para me manter longe.
Compreensível depois de tudo o que eu falei. A última pessoa
que ela deseja ter por perto sou eu. Neste momento, alguém
bate na porta e, ao abrir, vejo que é a Pâmela. Reconheço que
não devo permanecer ali, por mais que eu deseje. Diana mal
me olha e as suas palavras são frias e agudas. Resolvo deixá-
la, mas garantindo que a gente ainda precisa conversar.
Saio do hospital com uma tristeza em meu coração. Pela
primeira vez, constato o quanto seria estranho permanecer na
mansão sem a presença dela.
CAPÍTULO 18
— Vai permanecer com este humor ácido até quando? —
Liliana questiona, observadora, no momento do meu
desjejum. Dois dias se passaram desde que a minha vida deu
um giro de 360º e eu fui parar em abismo infinito. Diana não
quer conversar comigo e, para piorar, ela me bloqueou. Não
adiantou ir atrás dela. Nada do que eu disse consertou o
estrago que fiz. Saí da sua sala acompanhado por seguranças
e ela proibiu terminantemente a minha entrada em seu local
de trabalho. Liliana continua me encarando com o seu olhar
inquiridor, esperando que eu diga alguma coisa. Ignoro-a. —
Procure a Diana e explique tudo a ela. — Encarei-a com raiva,
fazendo-a se calar. Deposito a xícara na mesa e digo,
rangendo os dentes.
— Não acha que já tentei isso? — Meneio a cabeça,
desanimado. — A partir de hoje, não quero mais ouvir
nenhuma menção a ela. — Jogo o guardanapo sobre a mesa,
raivoso. — O que tínhamos acabou — levantei-me,
encarando-a com expressão dura — ou melhor, não acabou
porque nunca existiu.
— Marco... — Liliana fica alarmada ao ouvir as minhas
palavras. Ela sabe o quanto de verdade havia nelas, por isso,
o seu temor. Levanto a mão, impedindo seja lá o que ela está
tentando me dizer na tentativa de me convencer a mudar de
ideia. Ela me obedece, contrariada. Sem dizer mais uma
palavra, me afasto dali, carregando comigo todo o peso das
minhas escolhas.
A Diana não quer me ver, eu preciso respeitar isso. Ela
está me odiando agora e tudo bem, eu mereço isso. Lá no
fundo, acredito ser melhor assim. Dessa forma, eu me dedico
exclusivamente ao meu objetivo principal: destruir o puto do
George. Ao lado dela, eu estava me tornando sentimental e até
cogitei a possibilidade de ser pai. Em um momento de loucura
desejei adotar a Sophia junto com a Diana. A que ponto eu
pensei em chegar! Agora, com o meu lado racional
recuperado, posso parar de pintar a realidade com a cor rosa
e aceitar como ela realmente é: preto e branco.
Os dias foram passando e, conforme isso foi acontecendo,
a saudade que sentia também foi crescendo. Lutava
constantemente para me desligar das suas lembranças. Não
visitei mais o abrigo, pois queria esquecer todas aquelas
crianças sem pais, principalmente a Sophia, que era a mais
carente de todas. Foquei no meu trabalho, evitando assim
trazer ela para dentro da minha cabeça. Herbert ainda me
trouxe informações relacionadas a Diana, mas cortei cada
uma delas. Se a gente não tinha mais nada, não tinha razão
de saber o que ela fazia ou deixava de fazer. Sua vida não me
importava mais.
Tentei voltar a ser o cara que eu era antes de ela começar
a fazer parte da minha vida. Voltei a frequentar os clubes em
busca de sexo. No entanto, isso foi catastrófico, pois sempre
que estava com uma mulher era o rosto da Diana que
conseguia imaginar. Resumindo, saía de lá sem concluir o ato
e retornava para casa mais frustrado do que estava antes. O
meu pau não queria entrar em nenhuma boceta que não fosse
à da feiticeira.
Atirei o copo com o uísque na parede oposta que vi o
líquido descendendo pela parede enquanto os vidros se
espatifavam no chão. Gritei alto, arrasado, destruído e
cansado. Percebi, com raiva, que estava perdendo o controle.
Tudo milimetricamente planejado e eu estava perdendo o
rumo. Liliana apareceu na sala e, ao ver a situação precária,
seus olhos esboçaram pesar e tristeza. Ela estava vendo
minha dor.
Sem pronunciar uma palavra, caminha até mim e,
abrindo os braços, me prende neles como se eu fosse uma
criança frágil. Desabo totalmente esgotado, cansado de lutar e
remar sozinho. Cansado de lutar com algo muito maior do
que eu. Depois de muitos anos, o menino que nunca mais
chorou depois daquele dia na fazenda, abre sua própria
represa de dor, perdas e solidão. Solucei forte enquanto seus
braços me seguravam com firmeza.
— Você precisa assumir o que está sentindo. — Ela
verbaliza e eu entendo o significado de suas palavras. Fungo
em revolta. É difícil e eu me recuso a admitir que estou
prestes a perder a minha própria batalha.

Olhei-me no espelho, passando a mão pela minha


barriga, e um sorriso nasce nos meus lábios quando imagino-
me segurando o meu filho nos braços. Estou ficando muito
ansiosa para viver este momento. O meu bebê ainda é uma
sementinha pequenina, mas o meu amor por ele é imenso,
maior do que qualquer outra coisa no mundo. Acaricio-me
com singela doçura. Poucas pessoas sabem que vou ter filho.
Por enquanto, pouco se nota que estou grávida, mas já sinto
as modificações que a gestação está fazendo no meu corpo.
Daqui a alguns meses, não vou poder ocultar essa gravidez.
Penso no pai do meu filho e sinto uma tristeza muito
grande em meu coração. Ele não sabe que geramos uma
criança e que ela está crescendo todos os dias dentro de mim.
Estava tão magoada que cortei toda e qualquer aproximação
que poderíamos ter. Desconheço como anda a sua vida, a sua
rotina, o seu trabalho. Uma dose de ciúme me atinge quando
penso que ele pode ter voltado a ser o cara garanhão que não
ficava sem sexo uma noite sequer.
Estou saindo para o horário de almoço junto com a
Pâmela quando encontramos o George dentro o elevador. Se
eu soubesse que este palerma estaria aqui, teria descido de
escada. Inspirei profundamente quando vi o seu sorriso
presunçoso se espalhando pela face.
— Descobri que você e o construtor de araque
romperam — expressa com uma felicidade doentia. Encarei-o
com raiva por ver o seu divertimento. — A paixão que dizia
sentir era apenas fogo de palha.
— É melhor você guardar a sua língua, seu puto —
Pâmela ralha. Os dois nunca foram melhores amigos. Pâmela
sempre deixou claro a sua aversão a ele, e o George, por sua
vez, nunca fez questão de ser agradável com ela.
O elevador para no térreo e eu agradeço. A última coisa
que desejo é ficar discutido com ele. Não me importa o que ele
pensa e nem o que ele diga. Minha paz vale ouro para
permitir que ele me tire isso. As portas se abrem e então
saímos rapidamente deixando-o para trás com todo aquele
veneno escorrendo pela sua boca.
Quando o domingo chega, decido passar o dia no abrigo.
A companhia das crianças é uma das poucas alegrias que
ainda sinto. Estar ao lado delas me faz bem, sem contar como
a alegria dos pequenos é contagiante. Nos momentos que
estou aqui, consigo esquecer as minhas angústias
existenciais.
— Você ainda vai querer que eu seja sua filha? — Me
surpreendi quando a Sophia me pergunta. Encaro-a com
meiguice, tentando discernir o motivo que ela está me
perguntando isso.
— Claro que sim, meu amor. Por que está me
perguntando isso? — Sinto o meu coração bater forte ao
sentir a sua tristeza.
— É que agora que o papai Marco não veio mais aqui,
fiquei imaginando que você desistiria de ser a minha mamãe.
— A sua fisionomia triste me emociona. Fico impactada com
suas palavras. Ela tem estado triste e pensativa desde que
Marco deixou de visitá-la no abrigo. Trago-a para perto e a
abraço com firmeza, querendo absorver toda a dor que vejo
em seus olhos.
— Eu jamais vou desistir de ser a sua mãe. — Ela sorri
lindamente, feliz por me ouvir dizer aquilo. — Eu te amo,
minha flor. — Dou um beijo em sua bochecha.
— Então, o papai Marco não gosta mais de mim? Eu fiz
alguma coisa errada para ele? — Dói ver o quanto o
afastamento dele está fazendo ela sofrer.
— Ele com certeza está muito ocupado, por isso não veio
mais aqui. Mas eu tenho certeza que ele gosta muito de você e
você não fez nada errado, entendeu? — Balança a cabeça,
acreditando no que ouviu.
Fiquei bastante mexida com as palavras da Sophia e com
a conclusão ela chegou ao pensar que a ausência do Marco foi
por causa dela.
No horário do almoço, estamos todos na cozinha servindo
as crianças.
— Olha lá o tio Marco! Ele veio nos ver! — Congelo no
momento que ouço uma das crianças citando o nome dele e
apontando em uma direção qualquer. As crianças se
levantam, correndo naquela direção. Permaneço ao lado de
Amélia, observando o desenrolar da cena. As crianças
pulavam enquanto falavam ao redor dele. Observo que ele
abraça e sorri para cada uma delas. Vejo o sorriso que a
Sophia oferece quando tem a atenção dele para si. Vejo como
a minha menina fica contente só em vê-lo ali.
Depois dessa recepção eles caminham até onde estamos
paradas. Cordialmente, Marco cumprimenta o senhor
Ronaldo, Sarah e Amélia.
— Oi, Diana. — Dirige-se a mim, retirando os óculos de
sol. Meu coração palpita quando a sua voz atinge os meus
ouvidos. Não consigo desviar o meu olhar do seu.
— Oi. — É tudo o que consigo falar depois de alguns
segundos. Logo as crianças nos interrompem e ele se dedica a
prestar atenção nelas.
No finalzinho do dia, me despeço de todos e sigo o meu
caminho. Marco caminha ao meu lado em silêncio. Por
incrível que pareça, nossos carros estavam estacionados um
próximo do outro.
— Eu senti saudades suas. — Estou de costas para ele e
paro no momento que a sua voz quebra o gelo entre nós. —
Eu tentei te esquecer, mas eu não consigo. — Sua voz é tão
suave e leve que faz o meu coração acelerar. — Me diz o que
eu tenho que fazer para ter você de volta. — Me amar. Gostar
de mim. É isso que vem no meu pensamento como reposta,
mas não consigo dizer em voz alta. Lembro perfeitamente qual
foi a sua reação quando eu disse que o amava. — Por favor,
Diana, me diga alguma coisa... — pede, tocando no meu
braço e, neste momento eu o encaro. Ele está tão perto que
consigo sentir o cheiro cítrico que é único nele. Mordo os
lábios tentando encontrar as palavras certas.
— O que você quer de mim? — Questiono em um tom
mais alterado. Eu só quero não me mostrar vulnerável perto
dele. — Nós já falamos tudo um para o outro e você deixou de
forma clara o que pensa em relação a nós dois. Foi você quem
me expulsou da sua vida. — Paro para recuperar o fôlego. —
Você não quis ao menos tentar gostar um pouquinho que
fosse de mim...
— Eu gosto de você! — Revela acelerado, me
interrompendo. Encaro-o em choque, procurando vestígios da
sua mentira, mas tudo que enxergo é que ele está dizendo a
verdade.
CAPÍTULO 19
Quando decidi vir ao abrigo depois de dias sem visitar as
crianças, eu não cogitei a possibilidade de encontrá-la. Mas
assim que a vi, senti uma sensação reconfortante em meu
coração. Vir até aqui foi como comprovar o óbvio: eu gosto
dela e esse sentimento não acabará tão facilmente.
Há um monte de coisas que preciso compreender e
assimilar internamente, mas dizer que eu gosto dela é uma
verdade irrefutável. Algo que admiti no calor da emoção, já
que a qualquer momento ela poderia entrar em seu carro e
essa conversa morreria para sempre.
Os seus olhos redondos e expressivos me analisam,
buscando ver alguma mentira. No entanto, o que saiu da
minha boca foi perfeitamente verdadeiro. Assustador para ela,
mas algo libertador para mim.
— Eu cresci em um ambiente hostil onde a palavra
“amor” não existia. No meu mundo, as pessoas que conviviam
comigo não expressavam este sentimento. Lá, cada um
buscava tirar algum proveito da situação. — Comecei
relembrando acontecimentos que moldaram o homem que eu
acabei me tornando. Diana presta atenção em cada desabafo
que sai da minha boca. — Sempre me disseram que amar
uma pessoa ou ser amado por alguém te deixa vulnerável.
Dentro de mim, cultivei o conceito de que eu nunca amaria
ninguém e, consequentemente, não seria amado também. —
Suspiro, fazendo uma pausa. — Por isso, quando escutei você
dizendo que me amava com tanta convicção, me senti
perdido, confuso... vulnerável... — Dou mais um passo em
sua direção e ela não se move, o que significa que não vai me
rejeitar. Pego em suas mãos e ela não protesta ou faz alguma
objeção. — Eu não sei se vou aprender a te amar algum dia e
também não sei explicar o que isso significa. A verdade é que
eu não quero ficar longe de você. — Silencio encarando sua
fisionomia. Espero que ela diga algo, mas continua pensativa.
Continuo. — Me ensina a te amar. — Peço. Ao ouvir as
palavras, seus olhos se enchem de lágrimas e, sem forças
para entender a dimensão disso tudo, a trago para os meus
braços e a abraço, afundando a minha cabeça no seu
pescoço. Sou arremessado para um caminho totalmente novo,
mas extremamente familiar. Ali, eu não choro, mas fico
emocionado. Quando ela se afasta, seco o restante de suas
lágrimas com as minhas mãos.
— Você tem noção disso que está me pedindo? — Indaga
após alguns instantes. Eu não tenho, mas balanço a cabeça
afirmando que tinha. O medo é que ela vá embora e me deixe
aqui, agarrado ao meu tormento. E, de verdade, eu quero
tentar e fazer a nossa história dar certo.
Em silêncio ela volta a se aproximar de mim.
— Eu também estava sentindo bastante a sua falta. — As
suas palavras e o seu sorriso é a resposta que preciso para
voltar a respirar. Sem pensar muito, trago ela para mais perto
e a beijo lentamente. Com paixão. Com volúpia. Com
saudade. Pressiono meu corpo contra o dela, aprofundando
com mais intensidade o nosso beijo, que tem o gosto de algo
que vai durar para sempre.
Admiro o seu corpo nu sobre os lençóis e custo a
acreditar que fizemos as pazes. Preciso me beliscar para ter
essa certeza. Diana dorme tão serenamente que me vi
encantado ao velar o seu sono. Estava sentindo tanta
saudade que não paramos de transar a noite inteira. Ela se
entrega a mim de uma maneira tão intensa, tão verdadeira e
profunda que é impossível esquecer. Voltamos com mais
desejo do que antes. Os nossos corpos se encaixam de uma
forma tão perfeita que eu comecei a acreditar naquela história
de alma gêmea. Sorrio intimamente com a ideia. Se o velho
Genaro me ouvisse dizendo isso, com certeza me
excomungaria. Coloco a lembrança do velho de volta do baú.
Sabia que Diana acreditou em cada palavra que eu falei
e, pela primeira vez, fui sincero com ela. Eu ainda não a
amava como ela realmente sonhava, mas eu me esforçaria
para dar isso a ela. Uma coisa eu tinha certeza: ela seria
minha prioridade. E assim que eu acabasse com o desgraçado
do George eu me dedicaria exclusivamente a ela. Diana seria
a prioridade e eu enterraria de uma vez por todas o meu
passado. O velho Genaro, a minha mãe e o Demétrio seriam
enterrados para sempre no fundo das minhas recordações.
Diana começa a se remexer e logo abre os olhos. Foi
como ver o sol da manhã despontando no horizonte. Ela sorri
e todo o meu céu se ilumina.
— Acordado há muito tempo?
— Tempo suficiente para te admirar. — Aproximo o meu
rosto do seu. — Você parece um anjo quando dorme. — Seu
sorriso se alarga. Unimos ainda mais os nossos corpos.
Estamos os dois na banheira enquanto ensaboo o seu
corpo com prazer. Deslizo as minhas mãos pelo seu corpo até
chegar na sua boceta que ainda está sensível do tanto que eu
a fodi ontem à noite. Deslizo o meu dedo para dentro dela,
sentindo sua boca beijando o meu pescoço com intensidade.
Transamos dentro da banheira, ouvindo-a gritar o meu nome.
Ela se levanta para alcançar o roupão, enquanto permaneço
admirando-a. Noto algo diferente no seu corpo, como se ela
tivesse ganhado uns quilinhos a mais.
— O seu corpo está diferente. — Comento, e ela me olha
com uma expressão assustada. Quase noto medo no seu
olhar.
— Diferente como? — Indaga, fechando o roupão, como
se quisesse esconder alguma coisa.
— Não sei. — Reflito sobre o que quero dizer. — A sua
cintura parece estar um pouco larga, como se a sua barriga
tivesse crescido, e os seus seios parece maiores. — Achei que
ela fosse ficar ofendida por estar dizendo que aparentemente
ela parecia estar mais gorda, mas ela apenas gargalha,
deixando claro que nada do que eu falei a afetou.
— É apenas impressão sua, meu querido. — Sorri. —
Nunca me senti tão bem. — Pisca provocante para mim antes
de se retirar. Fico alguns minutos dentro da banheira,
pensativo, e o meu instinto diz que tem algo estranho
acontecendo.
Mas, no momento, eu estou me sentindo tão inteiro de
novo que não consigo pensar em coisas que não compreendo.
Talvez ela tenha razão, eu só fiquei impressionado. Afinal, há
semanas que nós não nos víamos.
Tentei vestir uma calça, depois outra, em seguida outra e
tirei sem fechar o zíper, frustrada. Preciso comprar roupas
novas para mim. E também preciso contar ao Marco sobre a
gravidez. Uma hora ele vai perceber, como já havia notado a
sutil diferença no meu corpo, que logo não será mais tão sutil
assim. Consigo encontrar um vestido que serve, mas que não
vai durar muito. Termino de me arrumar e sigo para a
empresa. Faz uma semana que eu e o Marco reatamos e como
hoje pretendo dormir na sua casa, penso que é um bom
momento para contar sobre o nosso filho.
“O papai hoje vai saber que você existe”, comento com a
criança no meu ventre com uma expressão boba.
Frequentemente me pego conversando com o meu filho e
visualizo o seu sorriso travesso enquanto mama no meu peito.
Suspiro, maravilhada com o pensamento.
Ultimamente tenho andado feliz e alegre como um
passarinho, desde o dia que o Marco voltou para mim e me
confidenciou que pretende pedir para adotar a Sophia como
nossa filha. Quando ele falou sobre os seus planos, fiquei
muito comovida e orgulhosa por saber o que ele pretende.
Pensando sobre isso, não me restam dúvidas de que ela vai
vibrar com a notícia que vai ser pai.
Ao entrar na empresa, esbarro em George, que me olha
com o olhar mais cínico do mundo. Ele já sabe que eu e o
Marco reatamos. Cumprimento-o brevemente por cortesia e
sigo para a minha sala. Sinto uma vertigem e uma sensação
de perigo no ar. George continua parado no mesmo lugar, me
olhando de uma forma eu diria ser quase intimidadora. Como
se lá no fundo dos seus olhos houvesse um perigo oculto, um
brilho de vitória que eu não consigo explicar o que realmente
significa.
Não vou me preocupar com nada que diz respeito a ele.
Se ela quer ficar secando o meu relacionamento com o Marco,
que fique. O que vem de baixo não me atinge. As portas do
elevador se fecham e ele fica lá com o seu veneno, que é a
única coisa que produz.
Dirijo-me à minha sala logo assim que o elevador para no
quinto andar. Dou bom dia à minha assistente e entro na
sala. Ao sentar na minha cadeira, vejo que há algo grande na
minha mesa. Franzo a testa, sem compreender o que aquilo
está fazendo na minha mesa. Curiosa, pego o caderno de capa
preta. Logo percebo que se trata de um dossiê. O que isso faz
aqui? Alguém esqueceu na minha sala. Ia deixar de lado
quando vi o meu nome e o do Marco escrito em letras
pequenas. Não sei de quem é aquela caligrafia. Meu primeiro
pensamento foi de que tinha sido o Marco que deixou isso
aqui. Desfaço o laço, abrindo a capa e, em seguida, a primeira
página. Vou passando lentamente página por página,
sentindo a minha garganta seca. Infelizmente, o conteúdo não
é algo agradável de olhar. O dossiê relata todo o passado do
Marco. Mas não o Marco que eu conhecia, e sim, uma pessoa
totalmente desconhecida. Mesmo que as imagens e fotos
sejam a fisionomia do homem que eu amo e o pai do meu
filho, é difícil acreditar que ele seja essa pessoa que está
descrita em cada palavra que eu leio.
Durante a leitura sinto o meu coração apertado, como se
alguém o perfurasse lentamente. Sinto dificuldades até para
respirar e minhas lágrimas são inevitáveis. Acho que nunca
senti tanta dor em toda a minha vida. Debruçada sobre o
conteúdo nefasto, me vejo despedaçada, perdida, usada e
enganada por alguém a quem tinha entregado o meu coração.
Aos poucos as lágrimas vão se secando no meu rosto e,
mesmo sabendo que a dor em meu peito irá durar por muito
tempo, eu preciso de uma explicação. Tento me recompor e,
quando me sinto mais confiante, guardo o dossiê na minha
bolsa, saindo da sala. Durante o trajeto relembro-me de
muitos dos nossos momentos e só agora, diante dos fatos,
reconheço que eu não enxerguei a sua verdadeira face. Ele me
usou da forma mais vil e desumana. Sinto asco por tudo que
compartilhamos. Não acredito que estava disposta a dividir a
minha vida com uma pessoa inescrupulosa, que não tinha
limites e passava por cima de qualquer coisa para conseguir
tudo o que almejava. A minha cabeça briga tentando entender
quem é o Marco que convivi nos últimos meses e quem é esse
outro Marco que fui apresentada.
Observo a extensão do prédio onde situa a sua empresa e
penso em como ele chegou longe, desrespeitando os valores
éticos e morais do ser humano. Ninguém imagina que por trás
desta fachada de grande empresário ele foi capaz de matar,
roubar e enganar pessoas. Recuso-me a continuar ali
chorando. Eu preciso enfrentá-lo e, para isso, eu tenho que
ser forte. Com este pensamento, entro na sua empresa. Sei
que ele está na sua sala e é para lá que marcho, caminhando
com firmeza e com a cabeça erguida, mesmo que por dentro
eu esteja destroçada. Encontro sua secretária sentada em sua
mesa de trabalho, com aquele ar arrogante, que me olha com
desprezo quando me vê chegando. Pouco me importo com
isso. Desde o primeiro dia que conheci esta mulher, não
gostei dela e parece que o sentimento foi recíproco. Não a
cumprimento. Não paro para prestar atenção nesta coisa
insignificante e sigo em direção à sala da presidência.
— A senhorita não pode entrar aí. O Marco está em
reunião... — Ela tenta me impedir. Tarde demais. Acabei de
abrir a porta de forma abrupta. Vejo três pares de olhos
arregalados, olhando na direção em que estou. A secretária
estava certa, ele estava em reunião, havia mais dois homens
ali. — Eu tentei impedir, Sr. Roga. — Ouço a voz da secretária
pronunciando um pedido de desculpas. Marco apenas assente
e pede que ela se retire. Conversa com os homens e logo eles
nos deixam a sós. A porta é fechada por um deles. Marco vem
na minha direção, mas não consigo dar mais nenhum passo.
Busco na mente o real motivo de ter vindo aqui. Quando ele
tenta me tocar, eu recuo. Ele fica sem entender
absolutamente nada.
— Que surpresa agradável. — Diz, tentando sorrir, mas
continuo neutra. — Aconteceu alguma coisa importante que
você não aguentou esperar até a noite? Ou será que tudo isso
foi saudades? — insiste em chegar perto novamente, mas
mais uma vez me afasto.
Sem pronunciar uma palavra, retiro o dossiê da minha
bolsa, entregando a ele. Ele fica confuso, mas pega com certo
receio. Suspirando, observo quando ele começa a abri-lo. À
medida que vai passando as páginas e tendo noção da
realidade, seu olhar passa de feliz para perplexo. Vejo
também pavor, horror, raiva e medo. Ergue o olhar com o
semblante fechado. Tenta balbuciar alguma coisa, mas parece
estar sem voz. Está tentando lidar com seu passado sombrio e
se dando conta que eu já sabia quem realmente ele é.
— Quem é você realmente? — indago temerosa,
implorando internamente para que ele negue cada verdade
escrita neste dossiê.
— Diana... — sibila algo, olhando-me com muito pesar.
— Quando ia me contar que você é um assassino, ladrão
e mentiroso? — Exclamo com raiva. Ele me olha chocado ao
ouvir a acusação.
— Você não está achando que eu matei a única pessoa
que me salvou da miséria, não é? — A dor está impregnada
em cada palavra dita, mas me recuso a acreditar que ele está
sofrendo. Isso tudo é teatro. O medo que vejo nos seus olhos é
porque agora eu descobri toda a verdade.
— Este tempo todo você me usou para atingir o George
ou Demétrio. Seja lá que raios de nomes vocês tinham no
passado. — Acuso. Ele tenta negar, dizendo que estou
enganada. Que tudo aquilo é uma mentira. Alguém inventou
tudo isso para prejudicá-lo. Mas eu não acredito em nada do
que sai da sua boca. — Você roubou e matou o pai do George
para usufruir de toda a sua riqueza. — As minhas acusações
trovejam pela sala.
— Eu não matei o velho Genaro. — Tenta negar,
insistindo em me convencer do contrário. — Não fui eu quem
o matou. — Repete. — Por favor, acredite em mim...
— Não me toque, seu monstro! — Berro furiosa quando
ele tenta segurar o meu braço. Ele recua, alarmado com a
minha explosão.
— Posso te explicar tudo como realmente aconteceu. —
Afirma, mas me recuso a ficar aqui ouvindo as suas mentiras.
— Nada do que você diga vai mudar aquilo que você é:
um assassino, um mentiroso e um monstro. — Verbalizo cada
palavra com muito ódio. Ele me olha como se não me
reconhecesse, e eu também não estou me reconhecendo.
Porque eu nunca senti tanto ódio na vida por alguém como
estou sentindo neste momento. Descobrir que fui usada por
um assassino despertou sentimentos conturbados dentro de
mim. Ninguém nunca me feriu tanto na vida como ele fez.
Ninguém nunca brincou com os meus sentimentos como ele
brincou. Ele me envolveu em uma teia de mentiras e
manipulações. Fingiu gostar de mim apenas para se vingar do
George, sendo que foi ele quem destruiu a vida de George
quando matou o pai dele e roubou todo o dinheiro que eles
possuíam. Uma lágrima insiste em rolar pelo meu rosto, que
eu seco abruptamente. — Você devia estar preso...
— Me escuta...
— Não quero ouvir nenhuma palavra que saia da sua
boca, porque são todas mentirosas. Você mentiu para mim.
Você brincou com os meus sentimentos e eu não quero nunca
mais te ver. — Ele tenta me fazer mudar de ideia. — Esquece
que eu existo. Não me procura nunca mais. E eu desejo que
você seja julgado, condenado e preso em um presídio de
segurança máxima, porque lá é que é o seu lugar!
Sigo em direção à porta. Não tenho mais nada para dizer
para ele. Ele tenta me dissuadir, mas eu consigo sair de lá
levando comigo toda a dor que sinto no meu coração. Passo
veloz pela secretária, correndo para o elevador antes que as
lágrimas comecem a cair.
CAPÍTULO 20
Observo com desespero Diana saindo pela porta,
carregando consigo toda a dor e decepção causadas pelos
meus erros, minhas loucuras e minhas mentiras.
Naquele momento, quando ela despejou todo o seu
desprezo sobre mim, fui obrigado a colher tudo o que havia
semeado. E isso me doeu de uma maneira tão intensa que eu
senti o chão sendo tirado de mim.
Minhas palavras seriam inúteis e não seriam ouvidas. O
preço da minha vaidade não me permitiu enxergar a
armadilha em que estava caindo. E só agora o peso das
minhas escolhas cobram seu preço. Não posso desacelerar o
tempo, atrasar o relógio e contar a minha versão, porque
neste momento ela escolheu acreditar em uma versão forjada.
Tudo bem, reconheço meus erros, sei das minhas falhas.
Reconheço que eu sou um canalha, mas não sou um
assassino, como ela acredita.
Sabia que as minhas mentiras teriam consequências
mais cedo ou mais tarde, mas não esperava que fosse tão
cedo.
Tudo que eu tinha projetado para mim era o bastante até
o dia que o meu caminho cruzou com o da Diana. Sem que eu
esperasse, ela iluminou tudo ao meu redor e, como um idiota,
não enxerguei a luz que emanava toda vez que ela estava
presente. Eu achava que era imune ao amor e que nunca me
apaixonaria. Afinal, cresci em um mundo ao lado de pessoas
avessas a este sentimento, então a probabilidade era de que
eu teria o mesmo fim que elas. Pessoas que são criadas em
um ambiente hostil tendem a se transformar em pessoas
solitárias, e eu era um lobo solitário até ela chegar e mudar o
curso da história, como se eu fosse um peão no tabuleiro da
vida.
As suas acusações me tiraram do eixo e, quando vi o
maldito dossiê, descobri tardiamente a tempestade arrasadora
que veio para me destruir. O seu olhar de dor e decepção foi o
que me matou lentamente. Argumentos seriam inválidos,
porque nada do que eu dissesse conteria o caos.
Então ela se foi sem que pudesse fazer nada.
Encaro o vazio da sala e os meus pensamentos pipocam
na minha mente, consciente de que o caos se alastrou.
Estou condenado a viver uma vida sem ela, a única
mulher a quem eu mostrei a minha escuridão. Claro que
preferi manter alguns fatos no obscurantismo, afinal, se ela
me conhecesse por completo, seria demais para ela, como
agora ficou comprovado.
Meu telefone vibra neste exato momento e atendo sem
olhar quem é. Fico irado quando ouço a sua voz.
“Está feliz, irmão?”
O seu tom é de vitória, de glória. De alguém que
acreditava que havia me derrotado. E a verdade é que era
exatamente assim que eu me sentia.
“Recebeu o meu presente?”
Demérito.
Sempre no meu caminho.
Desgraçado.
“Gostou da minha obra de arte?” – sinto meu sangue
esquentar.
Vá para o inferno!
É tudo o que consigo dizer. A sua gargalhada estoura.
Com a raiva consumindo todo o meu organismo, encerro a
ligação, jogando o aparelho longe.
Volto a contemplar a minha própria escuridão com a
sensação que estou sendo jogado em um buraco negro,
reconhecendo que dificilmente conseguirei sair de lá. Sinto
minhas pálpebras pesadas, mas as lágrimas não vêm. Nada
me doeu tanto na vida como saber que eu perdi a Diana. Nem
quando a minha mãe me abandonou quando ainda era uma
criança. Nem quando fui obrigado a deixar o velho Genaro
naquela fazenda, agonizando até morrer.
A minha vida daqui em diante será oca e vazia. Isso não
me surpreende, até porque sempre vivi dessa maneira. A
diferença é que agora que eu havia experimentado o gosto da
felicidade, da alegria e da paz, seria doloroso me acostumar
com a vida de antes.

Acordo na manhã seguinte me sentindo um lixo. O gosto


amargo na boca e a tristeza em meu peito é o recomeço da
minha nova era. Ando pelo quarto como se carregasse o peso
do mundo. O sol brilhando lá fora deixa à mostra que será
um dia bonito, mas a escuridão dentro de mim impede-me de
contemplar isso.
Não sou nenhum tolo, sei que o meu inferno está longe
de acabar e essa sensação de abandono, dor e desalento não
será apagada nunca. Mesmo sem ânimo, tomo uma ducha.
Preciso aliviar a tensão do meu corpo. Permaneço trancado no
quarto com as cortinas fechadas, sem deixar entrar um raio
de sol sequer. Eu cavei o meu próprio túmulo e agora preciso
ser sepultado nele.
Nesse estado de lamentações vi o dia começar e terminar
sem colocar nenhuma comida na minha boca. Tudo o que eu
queria era arrancar essa dor do meu coração. Sumir para um
lugar bem distante onde ninguém tivesse ouvido falar de mim.
Tudo o que queria era poder expurgar os meus demônios e
esquecer todas as merdas que me aconteceram ao longo dos
anos.
E mais do que tudo nesta vida eu precisava ter o seu
perdão.
E foi isso o que eu fiz. Fui à sua procura.
No momento que a vi parada na minha frente, com o
rosto inchado devido as muitas lágrimas, senti que o meu
coração estava se desmanchando. Ela não olhava para mim e
comecei a ficar impaciente e amedrontado, porque não
conseguia verbalizar nada.
— Aceitei te ouvir por cinco minutos e já se passaram
dois. — Aperto o maxilar. Ela nem queria me receber, só
aceitou vir porque o seu pai a convenceu. Nesta altura, Arturo
está sabendo de tudo. Ele sempre demonstrou ser simpático
comigo, mas hoje quando me viu, seu olhar foi frio e as suas
palavras duras.
— Me perdoa, Diana. — Consigo falar alguma coisa. A
minha voz soa estranha até para os meus ouvidos. — Nunca
foi a minha intenção mentir para você — ela ergue o olhar,
duvidando das minhas palavras. — Admito que, no início, só
me aproximei de você para chegar até o George. Tínhamos
contas a acertar.
— Claro. — Cospe fogo. — Não bastou destruir sua
família, precisava enterrar o cadáver. — Gelo ao ouvir suas
palavras. — Não bastou ter matado o pai dele e roubado o seu
dinheiro...
— Não foi assim que aconteceu. — Interrompo, alterando
a voz, horrorizado. — Não fui eu quem matou o pai do
Demétrio. Foi ele quem colocou o próprio pai em uma
armadilha e eu também estaria morto se não tivesse fugido
dali. Foi o Demétrio.
Ela se aproxima, bastante decepcionada e zangada.
— Eu não acredito em você. — Expressa com firmeza, me
encarando. — Você é um mentiroso e criminoso.
Faço um gesto na tentativa de tocá-la, mas ela recua,
deixando claro que não me quer por perto. Baixo as minhas
mãos, colocando nos bolsos, me sentindo um derrotado. Um
fracassado. Demétrio vencia mais uma vez.
— Pense em tudo em que vivemos juntos. Me recuso a
crer que não haja nenhuma fagulha daquilo que
compartilhamos.
— Você é uma farsa e, portanto, tudo o que você diz que
vivemos foi uma farsa.
— Diana... — O desespero me açoita, me
desestruturando.
— O seu tempo se esgotou — sinto que ali era o fim da
linha. — Saia da minha casa e não volte nunca mais.
Reconheci que novamente eu tinha perdido. Arturo
entrou na sala e, nesse momento, não adiantava gastar
saliva. A mágoa era imensa e ia levar um tempo para
diminuir. Por enquanto, eu ia dar um tempo para ela. O
tempo ia amenizar a dor e talvez ela consiga me perdoar.
Quando tudo isso diminuir, talvez ela decida ouvir o que de
fato aconteceu no passado.
Demétrio ainda não tinha vencido, e eu não vou dar este
gostinho a ele.
Ele podia cantar a vitória que fosse, mas a eu ia vencer
esta guerra.
CAPÍTULO 21
Estava entrando no sexto mês de gestação e o meu bebê
se mexia de forma constante. Eu o chamava de pimentinha
atrevida na minha barriga. Marco se afastou da minha vida
como eu pedi. Mesmo sofrendo, eu seguia em frente por causa
do meu filho. Tive o apoio do meu pai, da Pâmela e da
Margarida. Até a dona Amélia, Sarah e Ronaldo ficaram
radiantes quando descobriram minha gravidez.
Minha mãe teve um surto ao descobrir que eu estava
grávida. Ela me falou vários impropérios, dizendo que eu era
irresponsável por ter engravidado. Viver sobre o mesmo teto
se tornou impossível, então resolvi sair da mansão e aluguei
um apartamento no centro da cidade.
No início, meu pai quis me dissuadir da decisão que
tomei, mas no fim entendeu que seria melhor assim.
Em uma das muitas conversas que tivemos, meu pai me
questionou quando eu pretendia contar ao Marco sobre o
bebê. Mesmo já tendo passado alguns meses do nosso
rompimento, infelizmente ainda estava muito decepcionada e
bastante magoada.
Agora eu tinha o meu próprio espaço e pretendia começar
logo a decoração do quarto do bebê. Seríamos apenas nós
dois e eu amava essa criança mais do que qualquer coisa na
minha vida. Conforme a minha barriga vai crescendo, meu
amor também aumenta. Essa criança é o meu tudo agora. Foi
pensando nisso que dei início ao trabalho de deixar tudo
organizado para a sua chegada.
Semanas após terminar o meu relacionamento com o
Marco, George ficou sabendo e veio me procurar. Acho que ele
imaginava que reataríamos. No fim, ele entendeu que entre
nós dois não existiria mais nada e foi embora com o olhar de
decepção e derrota.
— Se você aceitar, eu posso assumir esta criança —
foram as suas palavras em uma manhã de inverno, quando
retornou à minha sala ao saber da minha gravidez. — Eu não
me importo que esse bebê tenha em seu DNA o sangue do
homem que me fez mal, mas por você, eu passo por cima do
meu orgulho e assumo o seu filho. — Ouvi tudo aquilo calada,
com um gosto amargo na boca. — Imagino como deve ser
difícil criar uma criança sozinha. — Por mais que ele estivesse
ali de forma solidária, lá no fundo do meu coração eu
duvidava das suas boas intenções. E, convenhamos, o inferno
está cheio delas. Em nenhum momento estava preocupada
com o fato de ser mãe solteira. Por que as pessoas julgam
mães solo?
— Eu não vou me casar com um homem que eu não
amo. — Disse a ele com veemência. — O meu filho não
merece passar por nada disso.
— E você acha que este bebê merece não ter um pai?
— Mas ele tem um pai. — Rebati com firmeza. Vi sua
expressão ficar um pouco rígida. George não gostava de ser
contrariado. Não duvido nada que tenha sido a minha mãe
quem o mandou aqui. — Querendo ou não, o pai do meu filho
é o Marco.
— Um bandido. Um miserável. Um impostor!
— E ainda assim continua sendo o pai da criança que
cresce dentro de mim. — Ele rugiu com raiva.
— É inadmissível que depois de tudo você ainda continue
defendendo ele.
— Primeiro de tudo, baixe o tom quando falar comigo. —
Digo ríspida. — E, em segundo lugar, não estou defendendo
ninguém, apenas estou pontuando os fatos. Este fato é
inquestionável e você sabe disso. — Ele resmunga raivoso. —
E para que fique bem claro de uma vez por todas: eu não vou
me casar com você e troque logo este disco que está ficando
chato. — Ele abre a boca para me contradizer ou tentar me
dissuadir da minha decisão, mas vejo que desiste.
— Então, quando aquele filho de uma chocadeira estiver
trancafiado em uma prisão de segurança máxima, você leve o
seu filho para ver o pai criminoso. — Diz com o ódio se
espalhando em sua face antes de se retirar da minha sala.
Não respondo. Não vou ficar aqui discutindo o futuro do meu
filho com uma pessoa que não faz parte de nada.
Outra pessoa que ficou horrorizada com a gravidez foi a
minha mãe, que teve a desforra de dizer que perdoaria o meu
deslize, segundo ela, se eu aceitasse o pedido de casamento
do George, pois dessa maneira eu preservaria a minha
reputação.
— Não vim aqui te contar que você vai ter um neto ou
uma neta, estou apenas te informando e, sinceramente, já
esperava por essa reação. E também não estou em busca do
seu perdão, até porque não cometi pecado algum.
Depois da nossa última conversa, não voltamos a nos
encontrar e nem conversar. Para ela eu não existo mais. Para
ela, eu sou sua decepção.
Saio do consultório do obstetra que faz o meu
acompanhamento pré-natal com um sorriso pleno nos lábios
por ter ouvido o coraçãozinho do meu bebê lindo batendo.
Cada vez mais ele cresce forte e saudável. Caminho
tranquilamente quando ouço o som de uma voz.
— Diana? — Congelo na hora antes de me virar e
comprovar aquilo que o meu coração sentiu. Com receio, vejo-
a parada a poucos centímetros de mim, me encarando com
espanto e meiguice. — Você... — Se aproxima um pouco mais.
— Vai ter um bebê. — Engulo em seco, temendo a
repercussão que isso causaria. Essa cidade é tão grande e há
tantos consultórios! Ela tinha que estar justo onde o médico
que faz o meu acompanhamento durante a gestação trabalha?
— Liliana, como vai? — A minha voz sai num sussurro.
Ela dá mais alguns passos e me abraça, me pegando de
surpresa. Tudo o que faço é retribuir ao gesto. Ao se afastar,
ela acaricia a minha barriga com um sorriso que me deixa
trêmula.
— Eu vou bem, querida! — Eu sentia saudades das
nossas conversas, das suas palavras mansas e do seu sorriso
doce. — Sinto tantas saudades de você! — Sinto a sua
sinceridade em cada palavra. Mordo os lábios, relutando para
não deixar transparecer que eu sinto o mesmo. — Aquela
casa não é mais a mesma sem a sua presença.
— Desculpa Liliana, mas estou um pouco atrasada e...
— Por favor, querida! Podemos conversar nem que seja
apenas por alguns minutos? — Ela me detém quando tento
fugir dali o mais rápido possível.
No fim das contas, termino sendo persuadida por ela a ir
até uma cafeteria que havia do outro lado da rua. Sentamos
em uma das mesas que fica perto de uma janela, onde se
pode ver a rua. Ficamos assim durante uns cinco minutos,
olhando para fora do recinto, sem coragem para olhar nos
olhos dela.
— Este bebê é filho do Marco. — Pela primeira vez desde
que entramos aqui, olho para ela. Não consigo responder,
mas também não era necessário, ela sabia. — Pelo tamanho
da sua barriga, presumo que esteja no sexto mês. — Comenta
como se tivesse conhecimento de causa, colocando duas gotas
de adoçante no café que pediu ao garçom. O meu está
intocado. Neste momento, tudo que menos sentia era apetite.
— Um filho é sempre uma benção na vida de uma mulher. —
Tenho a impressão de alguma comoção na sua voz. Ela bebe
um gole do seu café antes de voltar a me encarar. — Eu sei
que você e o Marco tiveram um desentendimento...
— Não foi um desentendimento, ele mentiu para mim. —
Corto amarga. Ela assente e, colocando a xícara sobre a
mesa, volta a falar.
— Apesar de tudo isso, não acha que ele tem o direito de
saber sobre a existência desta criança?! — Mordo os lábios,
pois não quero ser indelicada. Estou odiando esta nossa
conversa. Liliana não pergunta, ela afirma, e isso está me
deixando irritada.
— É um direito meu preservar o meu filho de saber sobre
o passado do seu pai. Ele não precisa conviver com um
criminoso. — A minha voz soa mais amarga do que eu
imaginava.
— Já ouviu falar na palavra “perdão”?
— Perdão? — Agora fiquei irada e elevo o tom de voz. —
Você fala em perdão para o homem que matou e roubou para
ter a vida que tem hoje? — Liliana me encara com tristeza.
— Por um acaso você deu a ele o direito de defesa? —
Retorço a boca com raiva, presenciando toda essa calmaria.
— Direito de defesa? Isso é o cúmulo! — Bebo o meu café
morno e sem açúcar com uma raiva intensa. Respiro infinitas
vezes. Ela espera eu me acalmar.
— Eu já estive presa. — Atônita, encaro-a. Liliana
continua séria, sem desviar o olhar. Por que ela esteve presa?
Liliana parece ser uma pessoa tão bondosa! O que ela fez para
ter sido presa? — Fui acusada por furto. — Explica-me. — E
foi dessa maneira que eu perdi o mais importante. Eu teria
passado o resto da minha vida jogada naquele lugar se o meu
caminho não tivesse cruzado com o do Marco. Foi ele quem
me salvou.
— Eu não sabia. — Estou impactada e isso é tudo o que
consigo murmurar.
— Pouquíssimas pessoas sabem. Não é algo que a gente
sai contando por aí. E especialmente não é algo que a gente
gosta de lembrar. — Silencia enquanto bebe um novo gole do
café que nessas alturas deve estar morno. Tento assimilar
essa informação e fico sensibilizada por saber desta parte do
seu passado. — O Marco não é nenhum exemplo a ser
seguido. — Franzo o cenho sem compreender, mas ela
continua. — O que eu quero dizer é que eu conheço a sua pior
versão e posso te assegurar que ele não matou e muito menos
roubou a única pessoa que lhe estendeu a mão quando ele foi
deixado à própria sorte quando ainda era uma criança. — Me
remexo na cadeira sentindo-me desconfortável.
— O que o seu passado tem a ver com o Marco? —
Pergunto com incredulidade, porque ela falou e falou e não
vejo aonde isso tudo vai nos levar. Ela demora alguns
segundos antes de responder.
— Duas pessoas que acreditaram nas pessoas erradas.
Duas pessoas que foram injustiçadas. — Balanço a cabeça,
descrente. — Assim como eu, ele está sendo acusado de algo
que não fez e, pior ainda, está sendo acusado por alguém que
ele admira e possivelmente ama também. — Ela está louca, é
tudo o que consigo pensar. Agora ela quer que eu acredite que
ele não fez nada de errado? Ela quer que eu passe pano para
tudo o que ele fez? Aproximou-se de mim por interesse. Usou-
me e mentiu para mim enquanto eu morria de amores por ele.
Ela quer que eu acredite que ele é um homem íntegro?
Embora o meu cérebro esteja fervendo, não consigo perguntar
nada a ela e muito menos discordar verbalmente. — Meus
pais trabalharam a vida inteira como empregados na casa de
um homem muito rico, ou pelo menos era assim que a
sociedade enxergava. Eles ostentavam riqueza. Eles tinham
uma filha. Éramos amigas, pelo menos eu achava isso.
Durante nossa juventude, fui conhecendo outra
personalidade dela e isso foi minha ruína. Ela conseguiu
roubar de mim o pouco de dignidade que eu possuía e quando
percebi, foi tarde demais. Só me restou arcar com o peso das
suas maldades e inveja. — Ela dá uma pausa para respirar e
noto o quanto relatar partes desta história mexe com os seus
sentimentos. Não há lágrimas nos seus olhos, apenas
vislumbro a comoção dentro deles. Não entendo o motivo de
revelar fatos do seu passado, vejo isso como um desabafo e
não posso deixar de sentir a imensidão da sua dor.
Retomando seu relato volto a prestar atenção. — Eu fui
acusada de ladra porque ela armou para mim.
— Meu Deus, Lili! — Levo as mãos aos lábios ao ver de
fato como aquilo ainda dói nela. — Sinto muito. — Demonstro
a minha solidariedade e, em um gesto de agradecimento, ela
sorri. Isso deve tê-la machucado muito. — A senhora
conseguiu provar que era inocente? — Indago depois de um
tempo.
— Um ano depois consegui um bom advogado e eu saí de
lá. — Fico aliviada por saber que ela não passou boa parte de
sua vida em uma cadeia, acusada por um crime que não
cometeu. — Quanto a isso, eu agradeço o Marco. Ele foi o
meu salvador. O meu herói. O irmão e o amigo que a vida me
deu. — Exprime orgulho. Devoção. E as suas palavras mexem
comigo. — O que posso resumir é que tudo isso deixou
marcas indeléveis em mim. Marcas estas que dificilmente
serão apagadas. Porque depois daquele dia, nunca mais fui a
mesma. — Faz uma pausa, pensativa. — Ver o próprio filho
crescer longe do nosso alcance é uma dor tão imensa que
ninguém tem noção. Não prive o Marco disso. — Engulo em
seco, amortecida por suas palavras. — Tudo isso pode ter
mais vilões do que você pensa. E o Marco não é o vilão da sua
história. — Atônita, encaro-a sem saber o que dizer. Ela me
revelou coisas que mexeram comigo de uma maneira
inexplicável. A sua defesa acirrada pelo Marco. O seu passado
que ainda estou tentando digerir. O seu conselho de que eu
devo dar ao Marco o benefício da dúvida. Será que eu sou
capaz em passar sobre os meus preceitos e valores e perdoá-
lo, como ela sugeriu? Vejo que ela chama o atendente para
pagar a conta. Ela se levanta, enquanto eu não consigo fazer
o mesmo. Antes de ir, ela me dá um ultimato.
— Eu sei que tudo isso mexeu com você de alguma
maneira. E vou te dar alguns dias para pensar e reordenar as
informações. — Suspira. — Só quero te alertar que, se dentro
de uma semana você não contar ao Marco sobre o bebê, eu
mesma conto isso a ele. — Faço uma cara feia. Quem ela
pensa quem é para me ameaçar dessa maneira? Que ela traga
um caminhão de coisas boas para o Marco eu até entendo,
mas vir até aqui e me ameaçar é o cúmulo. — Pode não
parecer, mas esta criança é a prova que existe um futuro
diferente para o garoto que se perdeu naquele dia, há muito
tempo, naquela fazenda. — Piscando atrevida, se retira do
meu campo de visão.
Fazenda! Qual fazenda?
Indago-me confusa, olhando ao redor para contestar,
mas ela havia desaparecido. Frustrada e com a minha cabeça
borbulhando com interrogações, levanto-me e retorno para
casa.
Liliana me deixou mais confusa do que já estava.
Não sei dizer se ela está certa, mas não duvido das coisas
que ela revelou.
CAPÍTULO 22
— Encontrei a Diana… — leva um segundo para o meu
cérebro trazer tudo de volta assim que ouço Liliana falando. O
meu coração vai da euforia para a saudade em tempo recorde.
Repouso o garfo e a faca no prato, fingindo uma calma que
estou longe de sentir. “Seis meses são suficientes para
esquecer alguém especial”, eu imaginava isso até descobrir
esta manhã que não, principalmente quando minha
governanta decide fazer o comentário. Sabe aquele suspense
implícito? Foi exatamente isso que senti quando ela se calou,
como se estivesse me dando o direito de absorver o significado
das suas palavras.
Suspiro. Respiro. Internamente faço aquela contagem do
número 10 ao 0 para não explodir. Fixo meu olhar no dela, na
tentativa de decifrar o que jazia oculto ali. Nada que eu
pudesse decifrar.
O que esta informação pode me trazer de benéfico? Nada
além do fato de que vou ter que reorganizar o caos na minha
mente sozinho. Admitindo isso ou não. A curiosidade bate um
pouquinho e, por um instante, estive tentado a perguntar
alguma coisa relacionada a ela e, dessa forma, descobrir se
ela ainda se lembra de mim. Por fim, termino engolindo as
minhas próprias palavras, sentindo o sabor amargo.
Frustrado por tantas vezes apertar a mesma tecla, ciente
de que Liliana gostava de mexer na ferida não cicatrizada só
para me ver aborrecido, restava-me apenas beber o próprio fel
e ignorar tudo o que esta mulher disser.
Estou disposto a, mais uma vez, sair pela tangente em
vez de ter que encarar o olhar pesaroso e comovido da única
pessoa que conhece meu lado avesso.
Levanto-me e ela entende que esta é a maneira que eu
lido com a dor. A fuga é o meu escape natural para não ter
que encarar com a escuridão dentro de mim. A escuridão que
habita em todas as pessoas, ou pelo menos a grande maioria,
e que muitas delas conseguem ocultar perfeitamente. No meu
caso, eu até tento, mas acabo sendo derrotado terrivelmente.
Vou para mais um dia de trabalho de cabeça erguida,
mas o meu coração sempre terá um buraco.
Busco escape na bebida, no cigarro e na terapia, mas
nada disso surte o efeito esperado. Infelizmente não existe
antídoto para a minha dor.
Voltei a frequentar o único lugar que me fazia sentir um
ser humano: o abrigo. Estar com as crianças, principalmente
voltar a conviver com Sophia, de alguma maneira inexplicável,
me mantém em equilíbrio. Mesmo sabendo que a Diana
sempre é assídua naquele local, nunca mais nos
encontramos. Não sei se isso queria dizer alguma coisa ou se
ela está me evitando. Prefiro acreditar na segunda opção,
típica de alguém que foi magoado e não quer encontrar o
outro, evitando-o.
Quando a sexta-feira chega, decido ir até o shopping
comprar um presente para Sophia. Eu sei que podia delegar
esta função para algum empregado ou pedir para a minha
secretária, que anda estranha nos últimos meses, mas quero
eu mesmo escolher este presente. Não sei ainda o que será,
talvez quando estiver lá eu tenha alguma ideia. Nunca
comprei nada para nenhuma criança, então isso é algo inédito
e um pouco estranho.
Andei pelo shopping em vários departamentos infantis e
nada do que eu via ou que os funcionários sugeriam era
atraente. Depois de mais de uma hora andando pelo
shopping, passo em frente a uma loja que vende roupas de
bebês. De forma involuntária varri o meu olhar na direção da
loja e o meu coração estremeceu ao ver uma mulher
conversando com uma das atendentes. Quando ela sorriu
com algo relacionado que a outra mulher falou, tive noção da
realidade me absorvendo aos poucos. Era ela. A minha Diana.
Senti meu coração acelerado e não era só pelo fato de
estar vendo ela, e sim por ver com os meus próprios olhos a
sua barriga tão visível e tão natural em alguém que carrega
uma vida dentro de si. Petrificado, permaneço como se os
meus pés estivessem cravados no chão e o meu coração
batendo tão forte como nunca senti.
Não pode ser. Por um instante, imagino estar diante de
uma fantasia, uma alucinação criada pela minha cabeça, mas
logo percebo o quanto isso é real. O sorriso não sumiu do seu
rosto enquanto a funcionária da loja mostrava-lhe várias
peças para recém-nascidas.
Presenciar a sua felicidade como um mero espectador me
deixa encantado e triste ao mesmo tempo. Um sentimento
terrível e irreconhecível se aloja dentro de mim. Travo o
maxilar quando constato o quão mágica seria a realidade para
um de nós. Enquanto ela emanava alegria e felicidade com a
gestação, eu não podia participar de nada daquilo.
Enquanto duelo entre a emoção e a razão, os seus olhos
castanhos pousam em mim e observo o sorriso se desfazendo
do seu rosto. Assustada, ela me olha como se duvidasse da
minha presença a poucos metros de distância. Por alguns
segundos, apenas nos encaramos, enquanto o meu cérebro
pipoca com muitas interrogações.
Observo-a falando algo com a atendente e se afastando a
passos rápidos. Ela está fugindo.
Nem fodendo que ela vai sair daqui sem uma explicação.
Caminho atrás dela, pisando duro, deixando-me corroer
pelos ciúmes.
— É por isso que me evitava este tempo todo? — Disparo
quando estou a certa distância, sabendo que ela me ouviria.
Estou aflito. Estou com raiva. E não meço as minhas
palavras. Porque nesse momento, tudo o que eu sinto é
ciúmes por descobrir que ela seguiu em frente, enquanto eu
sofro amargurado pelas besteiras que fiz. Ao menos a minha
acusação serviu para ela interromper os passos e, assim,
consegui alcançá-la. Ela se vira como em câmara lenta e eu
posso ver o quanto ela está assustada. — Para alguém que se
dizia apaixonada, me esqueceu rápido! — Sabia que estava
sendo insensível, mas o fato de reencontrar ela meses depois
e ver que a fila tinha andado estava mexendo comigo de uma
maneira horrível. Será que foi isso que Liliana quis revelar no
início da semana? E, como eu ignorei, ela se aquietou? Pelo
tamanho da sua barriga, presumo que estava me traindo
enquanto estávamos juntos. Este pensamento me deixou
incomodado. — Porque esta criança não pode ser meu filho!
— Ela me olha furiosa. — Você tinha outro homem quando a
gente transava! — Era para ser uma pergunta, mas sai em
um tom acusatório. Fúria. Mágoa. Tristeza. Tudo isso
transpareceu no seu olhar.
— Você é um imbecil e não sabe o que está dizendo! —
diz com a voz aflita, me olhando como se tivesse nojo de mim.
— Não vou ficar aqui ouvindo as suas ofensas! — retoma os
passos. Vejo que ficou decepcionada.
— Então é assim que vai fazer? Vai fugir de mim para
não ter que admitir a sua traição? — Acuso-a com mais
agressividade. — É engraçado que alguém que preza tanto
pela verdade foi para a cama com outro quando a gente tinha
um caso.
— Babaca idiota! O pai do meu filho… — Ela volta-se
furiosa na minha direção, me segurando firme. Fico um pouco
confuso, mas não deixo que ela admita aquilo que eu já
sabia.
— Não sou eu porque eu não posso ser pai. Fiz
vasectomia há quatro anos. — Revelo, deixando-a abalada.
Não entendo a sua atitude quando me olha com desprezo.
Uma lágrima rola em sua face, mas não sinto compaixão. Só
espero que este filho não seja do George, porque isso me
mataria. Ela se afasta horrorizada como se eu a tivesse
picado. — E pensar que poderíamos ter outra chance — sinto
uma fisgada no peito e isso parte o meu coração. Não choro,
mas fico bastante mexido com o nosso reencontro.
Não existe um futuro para nós porque o laço entre nós
tinha sido desfeito, restando apenas uma história com muitos
nós.
— Eu esperava qualquer coisa de você, menos isso. —
Aponto para a prova real da sua traição, e os seus olhos se
tornam duas represas. Deve ser a culpa corroendo a sua alma
ao ser desmascarada.
— Marco… — Ela tenta dizer algo, mas eu me recuso a
ficar aqui ouvindo suas mentiras.
Resignado, vou me afastando e, cada vez mais longe dela,
constato com pesar, que o futuro para mim não existe.
Só me resta conviver com o peso da minha escuridão.

Então é assim que termina - pensei, sentindo-me


derrotado e, pela primeira vez, reconhecendo o par de chifres
que ganhei. Porque isso é um fato inquestionável: Diana tinha
alguém quando estávamos juntos.
O uísque desce queimando e sequer me importo. Isso não
é nada comparado com a traição dela. Ela sequer admitiu a
verdade e ficou lá se remoendo entre o remorso e a culpa.
Xinguei, blasfemei. E me odiei por não ter visto a vadia que
ela era.
Um brinde para a minha cara de corno! - bradei para o
luar, enquanto levava mais um copo de bebida para a minha
boca.
Um brinde aos cornos do Planeta Terra.
As minhas palavras e revolta devem ter atraído a atenção
de Liliana, já que ela acabou de entrar na sala e está me
olhando como se eu fosse alguma espécie de aberração.
Ignoro seus passos, ignoro sua presença e bebo pouco a
pouco cada gota de álcool. Vejo que ela permanece lá, como
um verdadeiro cão de guarda.
— A traição é o pior veneno da humanidade. — Expresso
rebelde, virando mais um copo de bebida. — Como minha
amiga você podia ter me poupado o trabalho em descobrir
sobre o filho que a Diana que está esperando. — Acuso-a. —
Bela amiga que fui arranjar! — Esboço ironicamente.
— Não acha que já bebeu demais por hoje? — diz, depois
de algum tempo. — Se embriagar não vai resolver os seus
problemas.
— Descobrir que você é corno também não. — Blasfemo.
Ela parece ficar confusa. Hoje só quero encher a cara e
esquecer o homem miserável que eu sou.
— O excesso de álcool queimou os seus neurônios, só
pode! — Era para ser uma piada? Desculpa, mas não consigo
rir. — Você devia estar orgulhoso e feliz por saber que vai ser
pai.
O copo solta da minha mão, causando um barulho
enorme ao deslizar pela mesa. Não quebrou. Sorte a dele.
Encarei-o com certo ultraje, esboçando um sorriso irônico,
porque a sua última frase me faz rir. Agora quem está com os
neurônios queimados é ela. Me dedico a encher o copo
novamente.
— Não existe a menor probabilidade de que eu seja o pai
daquela criança — Sinto-me esmorecido.
— Como não? — Interroga-me, se aproximando com um
brilho latente no olhar. Senta-se à minha frente, me
encarando. Gargalho irônico, pensando na falta de tato que
ela demonstra algumas vezes. Ela vivia onde? Em um
universo paralelo?
— Você sabe tão bem quanto eu — falo bruscamente. Ela
finge que esqueceu. Abruptamente, viro o copo mais uma vez.
— Eu fiz a porra da vasectomia há cinco anos, esqueceu? —
Ladro como um animal ferido, me erguendo.
Ela sabe sobre o que aconteceu há cinco anos e ainda
permanece com aquela expressão idiota no seu rosto. Desde
aquele episódio lamentável, quando aquela mulher louca
forjou uma gravidez, optei pela cirurgia porque não queria ter
filhos e muito menos passar por aquilo novamente. A última
coisa que eu desejava era que as mulheres com quem eu
transava ficassem grávidas ou quisessem dar o golpe do baú.
Porque muitas delas, ou a maioria, só se interessavam pelo
meu dinheiro.
— Tem algo que você precisa saber — sua voz calma e
segura me deixa assustado. Olho na sua direção — em
relação ao que aconteceu naquela época. Lembra que você me
contou o que pretendia? — Assinto. Lembro vagamente. — Eu
sabia que você estava cometendo um erro e que mais tarde
poderia se arrepender da sua escolha. — Não me liguei muito
no que ela dizia. — No dia da sua cirurgia eu conversei com o
médico — ela se cala para se certificar de que eu estou
prestando atenção. — Eu pedi para o médico não fazer o
procedimento. — Franzo o cenho, sem entender. O que ela
está dizendo não tem lógica. — No início o médico relutou em
fazer aquilo que eu estava pedindo, mas eu lhe ofereci
dinheiro.
— O que você fez, Liliana? — Agarro em seus braços, não
com a intenção de lhe machucá-la, mas naquele momento eu
fiquei cego, consumido pela raiva.
— Eu sugeri que o médico te enganasse, fazendo você
acreditar que ele tinha feito o que você queria. — Solto-a
antes que eu cometa alguma imprudência que, sem dúvidas,
me arrependerei. Vago exasperado pela sala, tentando
assimilar a bomba que ela jogou em minhas mãos. Liliana me
olha com uma tristeza velada, encolhida em um canto
qualquer da sala. — Tudo o que eu fiz foi pensando no seu
bem. Porque nada me tira da cabeça que aquela história do
passado seja verdade e ela só mentiu porque queria te punir.
Nunca pensou nisso?
— Cale-se, Liliana! — Corto brutalmente. Nunca havia
gritado assim com ela. Assustada, ela silencia.
— Marco, pense nesta história como a sua quarta
chance. — Mulherzinha desobediente e intrometida! Olho feio
para ela e ela faz questão de me ignorar. — Não é você que
vive dizendo que está vivendo a sua terceira chance dada pelo
velho que te criou? Já pensou que o seu filho com a Diana é a
sua quarta chance? Aproveite!
Caralho!
Diana. O bebê. As palavras rudes que eu disse a ela.
Reneguei o meu próprio filho. Sinto o peso das minhas
escolhas caindo sem piedade sobre os meus ombros.
Eu preciso rastejar para alcançar o seu perdão.
Sem parar para raciocinar, pego meu celular e as chaves
do carro e saio porta afora. Liliana vem atrás de mim,
perguntando-me o que vou fazer. Não paro para responder.
Deixo-a lá parada, sem entender nada.
Dirijo em alta velocidade pelas ruas da cidade.
Tudo o que eu quero é chegar ao meu destino e consertar
as coisas.
Eu preciso ter minha vida de volta.
E a minha vida é ela. Ela e o meu filho.
CAPÍTULO 23
Olho em pânico o fogo arrasando e devastando tudo ao
seu redor. Minha vontade é de correr, ultrapassar o bloqueio
feito pelos bombeiros e entrar lá para trazer Sophia de volta.
Ninguém sabe explicar como o incêndio começou; quando se
deram conta o fogo já invadia todos os cantos deste abrigo.
Eu estava no meu apartamento quando o senhor Ronaldo me
ligou, informando-me. Vim correndo para cá.
Todas as crianças foram trazidas em segurança, menos a
Sophia. Minhas lágrimas secam no meu rosto e estou
bastante fragilizada. Os bombeiros tentam conter o fogo.
— O senhor não pode entrar aí! — Escuto um membro da
equipe interceptando a entrada do Marco em um dos
bloqueios. O Marco chegou ao meu apartamento assim que
fui informada. — Deixe que as nossas equipes façam o
serviço!
— Caralho! Tem uma garotinha de cinco anos no meio
deste fogaréu!
— Senhor, a nossa equipe está trabalhando para salvar a
garotinha.
O bombeiro insiste para que o Marco se afaste e ele
reluta, mas parece desistir. Em um descuido do bombeiro,
observo o momento que ele consegue correr na direção da
casa.
Ele está louco ao querer entrar naquela fornalha!
— Marco... — Chamo-o, mais ele me ignora. Tento ir até
ele, mas o senhor Ronaldo me segura, me impedindo. É um
ato suicida, mas a minha garotinha está no meio deste
inferno e eu também entraria no meio das chamas se eu não
estivesse carregando uma vida.
Os segundos se transformam em minutos, os minutos se
arrastam e nada do Marco retornar. Isso está me deixando
angustiada. As crianças estão sentadas no chão, todas
desoladas. Os bombeiros trabalham incansavelmente.
Paredes e teto desabam. O fogo, que deveria diminuir, parece
se propagar em níveis elevados. Quando uma nova explosão
acontece e alguns membros da equipe são arremessados pelo
ar, meu coração gela, aterrorizado. O pavor está diante dos
nossos olhos.
Depois de todo este desastre, dificilmente haverá
sobreviventes. Sem forças nas minhas pernas, desabo no
chão, chorando, sendo aparada pelo senhor Ronaldo. À nossa
frente, tudo é vermelho. Negro. Fúnebre. Terrível.

— Eu não vou dizer onde é o apartamento da minha


filha. Você já estragou demais a vida dela. — É tudo o que
escuto de Arturo, o pai da Diana, quando fui a sua mansão
depois que a Liliana revelou o que tinha feito. — E além de
tudo, isso não é hora de ir à casa de alguém.
Praticamente implorei para que ele me dissesse onde a
Diana estava morando, mas o velho foi implacável. Sem muita
cordialidade, ele me expulsou da mansão como se eu fosse
um nada. No fundo, eu reconhecia que merecia todo o seu
desprezo. Qual seria o pai que ficaria a favor depois de tudo o
que eu fiz?
Caminhei derrotado na direção do meu carro, sentindo
como se carregasse o peso do mundo nas minhas costas.
Margarida, a empregada da família Santinni me abordou e,
com uma postura meiga, me deu o endereço dela.
— Não conte à Diana que eu fui quem te dei o endereço
dela — claro que não ia revelar as minhas fontes. Radiante,
agradeci aquela senhora, beijando com empolgação no seu
rosto. Ela acaba de colocar esperança no meu caminho e isso
é algo tão maravilhoso! — Estou fazendo isso porque não
suporto mais ver a minha menina sofrer. — Ela se aproximou
um pouco mais de mim, na intenção de me confidenciar algo.
— Sei que ela nutre sentimentos pelo senhor e ela merece ser
feliz. Então, cumpra o seu papel.
Se o meu papel era fazer a Diana feliz, seria por essa
felicidade que eu iria lutar.
O apartamento que ela estava morando não era longe da
casa dos pais e, em menos de quinze minutos, parei em frente
ao seu prédio. Quando me preparava para sair do veículo,
Diana acabava de sair para a rua.
— Diana? — Chamei-a, porque senti que havia alguma
coisa errada. Ao ouvir o meu chamado, ela praticamente se
atirou nos meus braços.
— As crianças... — sua voz chorosa deixou um nó na
minha garganta. — Elas... — Estava tão desesperada que mal
conseguia falar. — Está acontecendo um incêndio no abrigo...
as crianças estão presas... a Sophia... — Pedi para que ela se
acalmasse e, aos poucos, ela conseguiu contar o que estava
acontecendo. Com o coração batendo forte, seguimos direto
para lá no meu próprio carro. Ela estava tão abalada que não
tinha condições de dirigir.
O pânico se alastrou em meu peito ao ver as chamas
consumindo tudo ao redor. A vizinhança local auxiliava no
que era necessário. As equipes de bombeiros realizavam o seu
trabalho, mas o quadro era algo horrível de presenciar. A casa
onde começou o incêndio, que é o mesmo local que as
crianças vivem, cuspia labaredas de fogo. As crianças foram
retiradas da casa, mas a pequena Sophia não conseguiu sair,
pois estava no banheiro quando o incêndio começou. Alguns
membros da equipe tinham adentrado no local, mas eu
duvidava que eles conseguissem chegar até Sophia ilesos.
Disposto a fazer tudo por aquela garota que era a luz dos
meus dias, invadi o local, mesmo com todos os prós e contras.
Naquele momento de agonia, tudo o que eu queria fazer era
poder tirá-la lá de dentro. Era um risco que podia custar a
minha vida, mas eu estava disposto a pagar o preço. Se do
lado externo a coisa era horrenda, dentro o estado estava
chocante para os olhos humanos. Tanto o teto como algumas
paredes tinham desabado, conforme a intensidade das
chamas, obstruindo a passagem. Precisei me desviar quando
uma parte do teto cedeu e o barulho explosivo ensurdeceu.
Caminhei a ermo entre os destroços e as chamas, disposto a
chegar ao meu objetivo final.
Em um dos corredores que dava acesso ao banheiro,
presumindo que seria ali onde ela estava, chamei.
— Sophia?
— Estou aqui! Me tira daqui. — A sua voz desesperada
me deixou atordoado. Senti o quanto ela estava assustada.
— Estou chegando, meu amor, fique calma. — Busquei
tranquilizá-la. Tentei abrir a porta, mas ela estava emperrada.
Caralho! Rugi, socando a mesma. Escutei o seu choro fino e
aquilo acabou comigo. — Eu vou te tirar daí. — Garanti a ela.
Se um de nós dois precisava morrer hoje, não seria ela. Eu
precisava de algum objeto cortante para arrancar a maçaneta
da porta, só assim eu conseguiria abri-la e libertar Sophia.
Olhei a minha volta e não havia nada do tipo.
— Papai... — Petrifiquei quando ouviu a sua voz doce.
Lembrei-me do sonho, ou pesadelo. Não. Neguei a realidade
assustadora prestes a me engolir, em chamas. — O senhor vai
me tirar daqui?
— Vou sim, meu anjo. — Respondi com a dor rasgando o
meu peito.
— Eu amo muito o senhor. E a mamãe Diana. — Eu
precisava agir. Ficar aqui seria fatal para ambos. Mas não
tinha forças para me afastar e perder essa conexão única e
que eu sabia que não duraria para sempre. — Sabia que eu
sonhei que a gente seria uma família? — A sua voz ficou mais
rouca. Ela tossiu, com certeza devido a fumaça. Sorri com
aquilo que ela dizia. Era um sonho e eu viveria para tornar
isso real para ela. — Eu, o senhor, a mamãe Diana e o
bebezinho na sua barriga. Eu amo muito o senhor... — Algo
deslizou na minha face e, ao passar a mão no rosto, senti que
estava chorando. Novas lágrimas vieram e não me importei
em enxugar. Elas deslizaram pela minha face.
— Sophia... Sophia...
Mas o silêncio e o fogo crepitando foram a resposta que
obtive.
Uma angústia se impregnou no meu ser. Aquela dor que
você sente quando fracassou miseravelmente. Se ao menos eu
soubesse rezar, talvez Deus tivesse misericórdia de mim. Ao
meu lado, havia uma ferramenta do senhor Ronaldo, que ele
usava para arrancar as ervas daninhas do jardim, e foi com
aquele instrumento que bati com força na porta até ela ceder.
Quando a porta cedeu, senti o sangue se esvaindo das
minhas veias ao vê-la caída no chão frio ou quente, não sei
dizer.
Peguei-a em meus braços e rapidamente tentei sair de lá.
Corri dali o mais que eu pude, mas quando uma nova
explosão me alcançou, o frio no meu coração me alertou que
talvez fosse tarde demais.
CAPÍTULO 24
Por alguns segundos, o tempo congela de uma maneira
fúnebre e tenebrosa. O caos diante dos meus olhos é algo
medonho de se ver. A dor latente no meu coração me deixa
em um estado letárgico. Sequer tenho forças para me erguer
quando a crueldade dos episódios repercute com velocidade
dentro de mim.
Por que isso teve que acontecer?
Por que comigo?
Por que com a Sophia?
Por que com o Marco?
A desolação que se abate em mim é atroz.
O silêncio é total, assim como a frustração de sermos
derrotados por um processo chamado fogo.
Encarando este acontecimento trágico à minha frente,
preciso recuperar minhas forças quando os meus olhos focam
em uma silhueta que vai se materializando em meio ao caos.
Pisco a fim de dissipar esta vertigem, no entanto, ela se
tornou real.
— Marco?! — Murmuro entre a descrença e a euforia,
quando ele se aproxima. Em seus braços, traz com cuidado a
Sophia. A minha Sophia. Lágrimas deslizam pelos meus
olhos, só que agora de felicidade.
Imediatamente eles são atendidos pelos paramédicos.
Caminho na direção que eles recebem os primeiros socorros,
eufórica. Abraço Sophia, beijando o seu rostinho, me
certificando que isso tudo é real. Minha menina está
assustada, mas a equipe que cuida dela garante que logo
ficará bem.
Vou até Marco, que está com uma máscara de oxigênio.
Apesar de tudo, fisicamente ele está bem.
— Como está se sentindo? — Pergunto-lhe, parando a
poucos centímetros. Ele me encara e retira a máscara antes
de responder.
— A sensação é de ter sido atropelado por um caminhão,
mas vou ficar bem. — Esboça um gesto de rir, mas não vai
adiante.
— Obrigada, por ter salvado a Sophia. — Agradeço,
emocionada. Se não fosse o seu ato de heroísmo,
provavelmente teríamos um resultado catastrófico. Não quero
nem pensar como seria.
— Eu a salvaria quantas vezes fosse necessário — vejo
que ele está sendo sincero. E gostei de saber disso. Significava
que o que ele sentia era verdadeiro.
— E você, como está se sentindo? — Interroga-me,
cauteloso, olhando especificamente para a minha barriga.
Mordo os lábios, me sentindo desconfortável com a maneira
que ele me encara.
— Eu estou bem. — Afirmo, algo que ele não leva muito a
sério. Fico surpresa quando ele pede para que um dos
paramédicos me examine.
— Foram muitas emoções para uma gestante. E eu não
quero que a mãe do meu filho passe mal. — Encaro-o,
assustada com aquilo que ele afirma. Mas não tenho tempo
de perguntar nada a respeito. Assim como ele pediu, a médica
me examina, garantindo que está tudo bem. Marco me olha
com uma ternura que faz o meu coração borbulhar. Não sabia
o que tinha mudado, mas algo tinha acontecido.
Lembro-me que, no momento em que fiquei sabendo do
incêndio, estava tão desesperada para chegar aqui, que saí
em busca de um táxi, pois não tinha condições de dirigir, e
justamente naquele momento ele estava parado em frente ao
prédio onde eu estava morando. No meu desespero, não parei
para pensar ou até mesmo perguntar o que ele fazia ali. Seria
coincidência tê-lo encontrado naquele local?
— Você tem certeza disso que está fazendo? — Indago
com o coração a mil. Marco conversa com Liliana, pedindo
que ela providenciasse tudo. Ele tinha acabado de dizer que
hospedaria as crianças, Amélia, Sarah e Ronaldo na sua
mansão. Finalizou a ligação me encarando.
— Tenho. Nenhum deles vai ficar desamparado. — Eles
não ficariam desamparados e nós dois sabíamos disso. Com
certeza a polícia ou o corpo de bombeiros indicariam um local
para abrigá-los. — A minha casa é grande e tem muitos
quartos, e eles podem ficar lá pelo tempo que for necessário.
— Diz, com o olhar vago, analisando a fumaça negra se
dissolvendo pelo ar. Orgulhosa por este gesto de
solidariedade, abraço-o forte, como uma forma de agradecer
por tudo o que ele está fazendo. Sinto os seus braços me
envolverem.
— Você é um herói. — Sussurro, trêmula. Andávamos na
corda bamba, mas no momento a gente estava muito
vulnerável. — Obrigada! — Dou-lhe um beijo em sua face. Ele
sorri de um modo que faz nascer borboletas no meu peito.
Passado o susto coletivo, o dia estava nascendo. Vivemos
uma das noites mais tensas das nossas vidas. Dificilmente
iremos nos esquecer. A casa de Amélia, que por muitos anos
serviu de abrigo para aquelas crianças, agora só tinha os
destroços de um pesadelo horrível. Pesadelo este bastante
real. As crianças ainda estavam assustadas, confusas e em
pânico. Conseguimos levar todas elas para os carros. Dali
seriam guiados para a mansão onde o Marco morava. O
semblante do senhor Ronaldo é de muita tristeza e desolação.
Em seus quase setenta anos, imagino que ele nunca
presenciou nada como isto.
— A sua esposa está aguardando o senhor para ir
embora. — Informo me aproximando, quando noto que ele
ficava para trás. Me encara com a fisionomia banhada pela
tristeza e os olhos marejados.
— É doloroso ver o sonho de uma vida se tornar cinzas.
— Comenta pesaroso. — Estou aqui refletindo como foi que
este incêndio começou.
— Não pense sobre isso agora, seu Ronaldo — digo,
buscando acalentá-lo enquanto pego as suas mãos e seguro
entre as minhas. — Todos nós estamos exaustos. Foi uma
noite difícil. Na casa do Marco o senhor vai poder descansar.
Ele já está providenciando tudo. E logo vamos descobrir o que
causou este incêndio.
— O Marco foi um herói quando arriscou sua vida para
salvar a Sophia — assenti. — E agora está sendo um anjo ao
ceder a sua casa para nós e as crianças. São raras as pessoas
na vida que teriam esta atitude.
Reconheço a grandeza do seu gesto. Só uma pessoa com
muita nobreza e humanidade para fazer tudo o que ele está
fazendo.
Seu Ronaldo fica parado ali por mais alguns minutos, até
que caminha para onde os demais estavam esperando. A
polícia fazia o seu trabalho para descobrir como isso
começou.
Apesar de tudo, ninguém sofreu sequelas graves ou
físicas. Aparentemente, tudo estava sob o controle. Imaginei
que a Sophia precisaria ir para o hospital, mas felizmente
tudo podia ser controlado ali. Ela faria alguns exames assim
que o dia amanhecesse. No momento, ela podia ir para casa
na companhia de todos.
Quando os carros com as crianças partiram, Marco e eu
nos dirigimos até o seu carro em silêncio. Entro e me sento no
banco do carona, logo ele faz o mesmo, ocupando o seu lugar.
Coloca a chave na ignição, mas não liga o veículo. Encosto a
minha cabeça na poltrona e suspiro lentamente.
— Foi uma noite longa... — Comenta, passando as mãos
pelos olhos. Olho-o de soslaio, sem me mexer. — A gente
precisa conversar. — Eu sabia disso, mas não sei o que dizer
a ele. Os acontecimentos mexeram demais com as nossas
emoções. Os acontecimentos de hoje foram uma verdadeira
montanha-russa e não sei se este é um bom momento para
termos esta conversa. — Tudo o que presenciamos aqui nos
deixou esgotados, acredito que esta conversa terá que ficar
para depois. — Vira-se para mim e então o encaro,
concordando com a sua sugestão. — Só quero que saiba que
me arrependo muito pelas coisas que eu te disse no nosso
último encontro. — Mordo os lábios, nervosa, sei a qual
encontro ele se refere. Sem que eu esperasse, ele toca a
minha barriga. Fico rígida, encarando-o, sem entender o
motivo do seu gesto.
— Marco, eu sei que você deve estar pensando o pior de
mim, mas eu quero que saiba que eu nunca te enganei e
muito menos... — Não completo o meu pensamento, porque
ele me interrompe, colocando um dedo nos meus lábios.
— Eu acredito em você. — Minha pele fica arrepiada
quando escuto as suas palavras. Fico confusa também, sem
entender nada. — Eu sei que este bebê é meu filho. Carrega o
meu sangue. — Franzo o cenho, mais confusa ainda.
— Sabe? Como? Se você me acusou...
— Esqueça tudo o que eu falei, pequeña! — Meu coração
bate forte ao escutar o apelido carinhoso.
— Se você quiser, aceito fazer um teste de DNA para que
não teste dúvidas. — Declaro, porque não entendo o que as
suas palavras significam. Em um momento ele duvidava
sobre ser o pai do meu filho e um dia depois, repete convicto
que é o pai do meu filho. Isso está me deixando confusa.
— Não preciso de nenhum teste de paternidade. — A sua
mão desliza pelo meu rosto. Sentir o calor da sua pele era tão
reconfortante! — Eu sei que sou o pai desta criança. Fui um
imbecil por colocar em dúvidas a minha participação. —
Encosta o seu rosto no meu, roçando meus lábios. Entreabri
a boca, esperando o beijo que não chegou. Seu olhar focado
em mim me deixa com um frio no estômago. Lentamente,
acaricia minha barriga com uma suavidade que mexe com
meus neurônios. Este era um momento tão único, que estava
amando ser a protagonista.
— Ai!
— O que foi, Diana? Eu fiz alguma coisa que te
machucou? — Pergunta aturdido, retirando a mão da minha
barriga. Seu olhar de pânico foi a coisa mais cômica que já
visualizei. Começo a rir ao ver sua expressão de medo. Ele
não entende nada do meu ato eufórico. Realmente, ele parece
aturdido.
— Não foi nada demais. Foi ele quem chutou.
— Chutou? — Repete um pouco grogue. Claro que ele
não está entendendo nada. Olho na direção da minha barriga
e ele me acompanha. — Espera... você disse ele? — Sua
emoção transparece em seu rosto.
— É um menino...
— Caralho! Que notícia incrível, Di... — Ele volta a tocar
a minha barriga, só que dessa vez se curva, beijando-a com
veneração. Novamente o bebê mostra sinais. Ele ri quando
sente os movimentos do bebê. Parece um bobo quando
começa a conversar com ele, como tantas vezes eu fazia.
Ergue o rosto emocionado, encosta o seu rosto no meu e
dessa vez me beija como eu ansiava. Não resisto. Grudo-me
nele, trazendo-o para mais perto quando sinto sua língua
explorando cada cantinho da minha boca. O beijo é
demorado, intenso e traz um gosto de saudade.
Sinto o pulsar da minha boceta. Há meses não faço sexo.
Às vezes, a masturbação não resolvia, porque tudo o que eu
queria era ter o contato do seu pau me preenchendo de forma
avassaladora e profunda. Sua boca desliza pelo meu pescoço
e, ao sentir o contato da sua língua na minha pele, sinto o
meu corpo inteiro esquentar. Deslizo as minhas mãos até o
cós da sua calça e posso ter um pequeno vislumbre da
espessura do seu pau, que neste momento está muito duro.
Desabotoo a sua calça, ansiando por ter o seu pau em minhas
mãos. Salivo ansiosa por realizar a minha fantasia.
— Nem pensar que eu vou te foder dentro deste carro. —
O ar sumiu dos meus pulmões quando ele abruptamente se
afastou. Encarei-o confusa. O meu corpo iria entrar em
combustão logo se ele não retornasse aquilo que estava
fazendo.
— Não seria a primeira vez. — Debocho, retomando
minhas investidas, mas ele recua.
— Agora é diferente! Você espera um filho meu. — Faço
uma careta de desagrado.
— Eu estou grávida e não doente! — Ralho, mas ele não
dá importância. A minha boceta pulsa. Tudo o que eu quero é
gozar. Invisto novamente e, dessa vez, a sua voz é mais
categórica e chego a imaginar que a descoberta de que seria
pai tinha deixando-o inconsciente.
— Este carro é minúsculo para alguém neste estado. —
Aponta o volume da minha barriga. A vontade que eu sinto de
esganar ele é imensa. — A última coisa que eu quero é te
machucar. E também não vou enfiar o meu pau com meu
filho aí dentro. — Oi?! Encaro-o, perplexa com os absurdos
que ele diz. Ele tinha enlouquecido, só pode.
— Grávidas também transam. — Olha-me como se
reprovasse aquilo que eu dizia. Meu Deus, quanta
caretice! Bufo.
— É melhor sairmos daqui. — Dessa vez liga o carro.
Coloco o cinto com raiva, fingindo estar furiosa.
Durante o trajeto, seguimos em um eterno silêncio.
Reflito sobre os acontecimentos das últimas horas e, apesar
de tudo, eu sinto algo reconfortante em meu peito desde o
momento que o Marco garantiu não ter dúvidas em relação a
paternidade do nosso filho. Vi o quanto ele ficou emocionado,
reconhecendo o quanto fui egoísta em não revelar sobre a
gravidez desde o início. O Marco seria um ótimo pai para o
meu bebê.
Estava me sentindo arrasada por ele ter se recusado a
transar comigo. Quem já se viu negar desejo a uma mulher
grávida? No entanto, percebi que ele fez aquilo só para me
provocar, porque assim como eu, ele estava louco para me dar
todo o prazer que eu mereço.
Chegamos à mansão algum tempo depois. As crianças e
os demais estavam sendo recepcionados por Liliana e pelos
demais empregados. As crianças ainda estavam assustadas,
mas acredito que um bom banho, uma boa refeição e uma
boa noite sono amenizará a angústia que eles estão sentindo.
Quando finalmente o sol nasce no horizonte, todas as
crianças estão confortáveis em seus novos quartos. Sophia foi
a última a dormir, mas, no fim, acabou sendo vencida pelo
cansaço. Amélia e os demais foram descansar um pouco.
Depois de tudo o que vivenciaram, é justo que tenham este
momento de paz.
— Volta para mim. — Marco me pede quando ficamos a
sós na sala. Estava me preparando para retornar para casa.
Encaro-o com ternura. Seu pedido me deixa em um beco sem
saída. — Eu sei que falhei miseravelmente com você — ele
toca meu rosto com o dorso das mãos. Fecho os meus olhos.
Sinto-me hipnotizada. — Eu só preciso de mais uma chance
para te provar que posso ser o melhor pai que o nosso filho
precisa e que eu posso te fazer feliz — ele roça a sua boca na
minha. Sentir a sua respiração tão próxima me deixa sem
raciocinar. Abro os olhos e os seus parecem ser dois faróis
gigantes iluminando a escuridão que havia em mim desde o
dia que terminamos. Acaricio sua nuca e ele sorri ao sentir a
suavidade do toque.
— Me faça sua! — Peço com uma expressão safada.
— Você já é minha... — ele ri. — Para sempre minha! —
Arfo quando a sua boca invade a minha.
Todos estavam dormindo ou preocupados com os seus
afazeres. Então ele me ergue nos braços e me leva para seu
escritório. Tranca a porta e me deita em uma poltrona,
tomando os meus lábios mais uma vez.
— Precisa se comportar. Não quero que ninguém na
mansão escute você gemer enquanto estiver fodendo a sua
boceta, feiticeira! — Assinto, quando ele morde levemente o
meu queixo, roçando a sua barba pelo meu pescoço, descendo
pela região dos meus seios.
Ele fez com que eu me sentasse, retirando o meu vestido.
Contornando as suas mãos, retira o fecho do meu sutiã, que
desliza, caindo sobre a poltrona. Sorridente, suas mãos
tocaram os meus mamilos rígidos, me deixando arrepiada.
— Linda... — diz, antes de levar à boca, um de cada vez.
Afastando a boca dos meus seios, desce pela minha barriga,
beijando-a com veneração. — Você está uma deusa! —
Sussurra quando as suas mãos descem tocando o elástico da
minha calcinha. Essa parte do meu corpo esquenta mais um
pouco. Sinto o leve pulsar da minha vagina. Com gentileza e
sem pressa, remove a minha calcinha, introduzindo o dedo
polegar no clitóris. Arfo, dispersa e tonta pelo seu toque. —
Tão ardente e molhada para mim, feiticeira! — Ri. — Abre
bem as pernas que eu hoje eu quero te chupar, pequeña... —
Obedeço, abrindo-me para ele. Sorri ao invadir com a sua
língua o meu sexo úmido. Contorço-me desesperada para
atingir o orgasmo tão esperado, quando a sua língua desliza
pelo meu clitóris e pela minha fenda.
— Sem gemer, feiticeira. Esqueceu? — Ralha, sem
afastar a boca da minha vagina. Ele está louco se acha que eu
tenho algum controle quando ele está nesta posição, me
obrigando a esquecer até mesmo o meu nome. Minhas pernas
insistem em querer fechar-se, mas ele as mantém abertas. O
meu corpo se arrepia no momento em que um espasmo de
prazer percorre a minha corrente sanguínea, sentindo quando
o orgasmo chega em uma proporção assustadora, me
arrematando para um lugar longínquo. Os seus olhos me
serpenteiam, retirando a sua roupa e libertando o seu pau.
— Senti tanto a sua falta, feiticeira! — Diz, segurando o
seu pau. Engulo em seco, vendo aquele monumento feito para
mim. Eu tinha acabado de ter um orgasmo, mas ainda queria
mais. Se aproximando lentamente, ele posiciona o seu pau na
entrada da minha boceta. Beija a minha boca, o meu pescoço
e os meus seios. — Eu vou te foder de uma forma tão intensa
que você jamais poderá se esquecer. — Diz, olhando nos
meus olhos. — E isso se deve ao fato de ter me deixado sem
sexo durante quase seis meses. — Olho pra ele, perplexa com
sua revelação. Não acredito que o rei do sexo esteve no
celibato até hoje. Ele está mentindo. Não parece. Antes que eu
pudesse me certificar se aquilo que ele confessou era verdade
ou mentira, ele me invade de forma profunda. Deixo me levar
pelas estocadas intensas e constantes na minha boceta. Com
tudo isso ele ainda era carinhoso, gentil e sempre atento em
me deixar confortável.
Gemo a cada estocada dentro de mim, sentindo a minha
boceta apertar o seu pau.
— Caralho de boceta gostosa! — Murmura, distribuindo
beijos pelo meu corpo.
Quando o orgasmo me atinge, sinto-me consumida pelo
fogo do prazer. Sorrindo, ele me abraça forte enquanto retira o
seu pau de dentro de mim.
— Está se sentindo bem? — Vejo seu olhar de
preocupação. Sorri. Acho que ele imaginava que eu fosse me
desmanchar porque acabei de ser bem fodida. Toco em seu
rosto, beijando levemente os seus lábios.
— Como se tudo estivesse alinhado. — Ele ri.
— A sensação que eu sinto é a mesma.
Beija-me.
E neste momento eu não penso em mais nada.
CAPÍTULO 25
Quase não acreditei quando o meu advogado me contou
que o incêndio foi criminoso. A perícia mostrou que foram
espalhados galões de gasolina ao redor do abrigo, e que foi
assim que o fogo começou.
Não sei como irei contar essa notícia ao senhor Ronaldo e
a dona Amélia. Se para mim foi difícil acreditar que alguém
mal-intencionado faria isso, imagina para eles. E como Diana
vai lidar com esta informação? A pessoa que fez isso queria
que todos naquele local morressem. Meu Deus, isso é
perverso demais! É de uma crueldade imensa. A pessoa que
fez isso não é um ser humano. Matar pessoas e crianças
inocentes. Onde foi parar os valores do ser humano?
Não importa quem tenha cometido este crime, essa
pessoa e quem mais estiver envolvido serão
responsabilizados. Não vou medir esforços para descobrir e
punir os criminosos. Já até falei com o meu advogado para
agilizar as investigações. Não vou permitir que essa barbárie
seja arquivada. Irei usar todos os recursos e os meios para
descobrir o responsável por essa tragédia.
Duas semanas após a tragédia, a polícia liberou o local
onde ocorreu o incêndio. Fazendo uma minúcia no local, o
estrago foi grande demais. Só restaram cinzas e madeira
queimada. O senhor Ronaldo e a esposa não tinham recursos
para reconstruir a casa em que viveram por tantos anos.
Tudo foi perdido no incêndio: roupas, móveis, comida... nada
restou. Eles estavam em dúvidas quando a manter aquele
lugar depois de tudo. Conversando com os dois, garanti a eles
que a minha construtora iria entrar com todos os recursos
necessários para a reconstrução do Lar do Coração.
— Tudo isso vai custar uma verdadeira fortuna. — Dona
Amélia diz emotiva, quando relato a eles a minha decisão.
Liliana aprova a minha ideia e a Diana me olha com olhos de
gratidão. Dona Amélia e o esposo não queriam aceitar a
minha oferta.
— Eu posso colaborar na questão financeira. — Diana
sugere.
— Não se preocupe com isso. — Digo com sinceridade. —
A construtora tem suporte suficiente para dar início a este
projeto. E, para mim, se tornou uma questão de honra
reconstruir aquele lugar. — Digo, olhando para todos os
presentes. — O Lar do Coração vai ser reerguido. — Sempre
fui assim. Quando tomo uma decisão eu só descanso quando
atinjo o meu propósito. Muitas crianças dependiam daquele
lugar para ter aquilo que chamam de família, e eu tenho os
meios financeiros e trabalho para isso, inclusive eu já havia
designado uma equipe para começar os trabalhos. — Logo
iremos descobrir quem cometeu esta tragédia. — Estava
convencido de que os meus advogados e a polícia irão
descobrir quem foi o autor deste crime. — E quanto aos
documentos pessoais de vocês e das crianças, já estão sendo
providenciados. Logo os terão em mãos.
— O senhor é um anjo nas nossas vidas. — Sarah diz
agradecida, beijando as minhas mãos. Fico confuso com o seu
gesto e com suas palavras. Eu estou longe de ser o anjo que
elas tanto falam, mas se eu posso fazer alguma coisa de útil
nesta vida, por que não fazer?
— Você é uma verdadeira benção para nós. — Amélia
reforça as palavras da irmã. Conheço-os há pouco tempo,
mas sinto uma verdadeira admiração por eles.
— Nunca será o suficiente te agradecer por tudo isto que
você está fazendo. — Acrescenta o senhor Ronaldo, me
abraçando. Em seguida eles se retiram, indo se juntar às
crianças. Liliana também se vai. Diana se aproxima, me
abraçando.
— Concordo com cada palavra que eles disseram. —
Sorri. — Por que eu não vi isso antes? — Encaro-a confuso,
pois não entendo o que ela quer dizer. — Sua bondade e
generosidade. Uma pessoa que é capaz de entrar no meio do
fogo para resgatar uma criança, não é alguém que seria capaz
de matar. Alguém que pretende gastar uma fortuna para
reconstruir o lar de crianças, não é um ser humano que
tiraria a vida de outro. — Ela fala com emoção. — Você me
perdoa por não ter acreditado em você? — Sem resistir, choro.
Suas palavras tocam tão fundo dentro de mim!
— Eu não tenho nada o que te perdoar. Fui eu quem
falhou contigo...
— Você não falhou comigo — me interrompe — se você
não tivesse surgido na minha vida, eu não teria descoberto o
que é o amor. Eu não teria uma parte de você crescendo
dentro de mim. Você me deu tudo. — Beija-me, com lágrimas
nos olhos.
Ela tem razão em cada palavra dita. Se eu não tivesse
entrado na sua vida, eu não seria tão feliz como sou agora. Eu
nunca saberia a graça de ser um pai. Eu nunca teria
conhecido a Sophia. Sim, porque os quatro são parte
fundamental da minha vida.
— A Sophia sempre desejou que fôssemos os pais dela.
Você gostaria de ter mais uma filha? — Ela abre um sorriso.
— Porque eu já me sinto pai daquela garotinha.
— Eu nunca duvidei que eu fosse a mãe dela.
Meu Deus, esta mulher é o meu mundo.
Trago-a para perto, segurando a sua cintura. Ela está
linda com o meu filho no ventre. Ela é a personificação da
beleza mais sublime.
— Vou entrar com o pedido de adoção. — Garanto, e ela
concorda comigo.
— Ela vai ficar tão feliz!
— Como nós estamos. — Ela assente. Beijo-a com toda a
alegria do mundo estampada no meu rosto.

— Papai, posso mexer a massa? — Sophia pergunta-me,


segurando uma colher. Prometi a ela que hoje a gente ia
preparar croissant para o lanche da tarde. As crianças
ficaram tomando banho na piscina. Sophia optou por ser a
minha ajudante, enquanto os demais estão na parte externa.
Desde que as crianças vieram morar aqui, minha casa se
tornou uma verdadeira zona. A alegria infantil tem me
deixado mais leve. Sophia só me chama de papai desde o dia
que contei a ela que pretendíamos adotá-la como filha. Seus
olhinhos brilharam de felicidade ao saber que ganharia uma
família.
Já tinha colocado todos os ingredientes na tigela, por
essa razão ela me perguntava se podia mexer. Assenti. Mesmo
sem força, ela se esforçava para fazer bem o trabalho. Fui
para perto dela e a auxiliei no que foi preciso.
Quem poderia imaginar que um homem rústico e
atormentado por muitos demônios, ficaria feliz em uma
cozinha ao lado de uma criança de quatro anos realizando
tarefas tão rotineiras? De alguma maneira, o último ano fez
modificações incríveis em mim. Acostumado a ser uma pessoa
ranzinza, mal-humorada, fria e calculista, tinha me tornado
em um ser humano mais leve e mais feliz. Tudo bem que
ainda tinha um passado sombrio para administrar, mas isso
já não era nenhum impedimento para que eu desfrutasse os
prazeres simples da vida, como, por exemplo, permanecer na
cozinha em um dia de domingo, preparando croissant com a
minha filha do coração. Em outra era eu estaria neste horário
enfurnado dentro de um escritório, trabalhando sem parar e
desperdiçando minha vida devido aos acontecimentos e às
escolhas dos outros, que eu não tinha controle.
— Pronto! Agora é só esperar nossos croissants assarem.
— Digo, fechando o forno depois de colocar a bandeja lá
dentro.
— Quando eu for grande, quero ser cozinheira. — Diz,
fazendo um gesto com a mão para cima.
— Você vai poder ser tudo o que quiser, meu amor! —
Garanto-lhe.
— Imaginei que os dois estivessem aqui preparando o
lanche das outras crianças, mas estão é jogando conversa
fora. — Diana surge na cozinha no momento do nosso abraço.
— Mamãe! — Sophia corre até ela, que a abraça. —
Estava dizendo para o papai que quando eu crescer vou ser
chef de restaurante.
— Hum, que legal! — Parabeniza. — E se duvidar, você
vai ter o melhor exemplo. — Pisca para mim.
Tê-las em minha vida é uma das melhores coisas que já
ganhei.
Ao entardecer e após a nossa diversão, Aline, uma
das empregadas, anuncia que tem alguém aguardando por
mim na sala. Não sei por que, mas senti uma impressão ruim.
Não era normal pessoas virem à minha casa, principalmente
quando não são convidadas. Seja quem fosse a pessoa que
estava à minha espera, pediu para que a empregada dissesse
que estava com pressa.
Dou um selinho na minha mulher e me dirijo até lá.
Cabisbaixo e pensativo entro na sala. No momento que ergo a
cabeça, sinto um gosto amargo descendo pela minha
garganta. Paro, sentindo-me zonzo e incrédulo. O passado
está ali, em pé no meio da minha sala. Ao sentir a minha
presença ela vira-se, me encarando com um olhar
amaldiçoado. Respiro devagar, garantindo a mim mesmo que
a sua presença não me deixa abalado.
Observo suas feições, o seu olhar com um brilho que
beirava a raiva e a certeza expressa no seu olhar de que está
de volta só para me atormentar. Nunca passou pela minha
cabeça que a veria outra vez.
— Marco Roga, quanto tempo! — Sua voz carrega todo o
escárnio que sente.
— O que você está fazendo na minha casa? — Indago
severo, deixando tão claro como uma água cristalina todo o
desprezo que sinto.
Vanessa Drucker não está no Brasil à toa. Tive a
comprovação disso quando ela deu uma gargalhada carregada
de ironia, convicta que está se divertindo às minhas custas.
— Quase não acreditei quando fiquei sabendo que o todo
poderoso Marco Roga estava abrigando criancinhas órfãs. —
Diz hostil. — Queria ver isso com os meus próprios olhos.
Patético. — Gargalha outra vez. Eu preciso retirar esta
serpente da minha sala antes que o seu veneno contamine
todo mundo.
— Diga logo o que quer e volte por onde entrou! — Falo
frio, me esforçando para não explodir.
— O que foi? Não está contente em me ver? — Debocha.
Aproxima-se, tocando o meu tórax com as unhas pintadas de
um vermelho vivo. Lambe a língua. Enojado, afasto-a. —
Saiba que não houve um só dia que eu não tenha pensado em
você. — Dedilha os dedos por entre os móveis da sala,
analisando tudo. — Eu poderia ter me tornado dona e
senhora de tudo isso — faz um gesto com mão, voltando a me
encarar — se você tivesse assumido aquela criança. — Aperto
fortemente o maxilar. Descarada sem noção. Eu estava
disposto a dar-lhe uma vida de rainha. Mas ela jogou na
minha cara que tinha fodido com um dos meus seguranças e
que o filho era dele.
Foi um erro tê-la levado para a cama quando ela era a
minha secretária, e tudo piorou depois, com a descoberta da
gravidez e, mais ainda, quando descobri que tinha sido
corno. Eu fui traído sobre o meu próprio teto.
— E se eu te disser que a criança era mesmo sua? — É
uma mentira e eu não vou cair nessa.
— Não acredito em uma só palavra que saia da sua boca.
— deixo isso claro.
— Será mesmo? — Senta-se, cruzando as pernas. —
Sabia que o seu capacho fez um teste de paternidade quando
a criança nasceu? — Morde a unha com o intuito de fazer
uma pausa. — E, para se vingar de mim e de você, roubou a
criança e deixou em um lugar qualquer. — Não. Isso é um
blefe. Não vou levar isso a sério. — A menina era sua filha.
— Menina? — Indago atônito. Esta história é muito
fantasiosa, mas há um tom de veracidade.
— Isso mesmo, o bebê que eu esperava era uma menina.
— Levanta-se, me analisando como se quisesse me revelar
algo mais. — O incêndio naquela espelunca que vocês
chamam de lar não te diz nada de especial? — Cego pela
minha ira, agarro-a com força, empurrando-a contra a
parede. Qual era a merda que ela estava falando?
— O que você está querendo me dizer, serpente dos
infernos? — Eu estava tão possuído com as merdas que ela
dizia, que já não conseguia mais raciocinar.
— O Norberto te vigiava o tempo todo e descobriu que
você estava frequentando o abrigo onde ele havia deixado a
criança. — Norberto era o desgraçado que come ela, ou comia.
Pelo que soube, os dois continuaram juntos mesmo depois
que ele sequestrou a própria filha.
— O que aquele puto dos infernos fez? — Perguntei,
mesmo imaginando qual seria a resposta. Não a soltei e
sequer afrouxei a forma que eu a segurava, mesmo vendo que
ela sofria de dor.
— Ele espalhou gasolina e colocou fogo naquele lugar
onde só havia crianças. — Fecho os meus olhos, alvoroçado
por escutar a sua confissão.
— O que você disse? — Diana acaba de entrar na sala e
escuta o fim da nossa conversa. Solto aquela imunda. Olho
para Diana e vejo que ela está tão branca quanto um papel.
Preocupo-me com o seu estado e procuro dar-lhe o suporte
que precisa. Esta notícia abala qualquer pessoa.
— O que essa mulher está dizendo é verdade? — Diana
está sofrendo muito. Não queria que ela sofresse por causa
disso. Eu mesmo ia resolver esta história. Tanto o Norberto
quanto a Vanessa vão pagar por este crime.
— É a verdade, sim. — Confirma, irada. — E você deve
ser a Diana. A santa Diana! A mulher que todos idolatram! —
Diz com deboche e, aparentemente, inveja. — A mulher que
com toda certeza deve ter doce na boceta para ter feito um
homem deste tamanho ficar de quatro. — Pontua, com ênfase.
— Sabia que eu também tive uma filha dele? — diz, sem filtro.
Diana olha de mim para ela com incredulidade. — O que você
fez para fisgar um homem como o Marco? Sim, porque é
muito estranho que um homem que dizia que não fodia mais
de uma vez com a mesma mulher e que não tinha o desejo de
procriar, esteja arrastando um caminhão de mudanças por
sua causa.
— Cala a sua boca, Vanessa! — Falo, irado.
— Não me calo. — Rebate, me enfrentando. — Por muitos
anos eu permaneci calada, mas estou cansada de viver me
escondendo. Você pode continuar brincando de casinha com
a sua mulher e todos estes pirralhos. — Torce o nariz. — Mas
isso vai ter um preço. Eu quero a metade do seu patrimônio.
— O quê? Ficou louca?
— Não. — Ironiza. — Só quero ficar rica. — Caminha
pela sala. — Mas eu ainda tenho a opção B. — Faz um ar de
suspense e, sorrindo com ironia, anuncia. — Eu posso
conseguir a guarda da Sophia na justiça — Diana encara-me,
apreensiva. — Assim eu conseguirei arrancar uma boa
quantia sua.
— Nunca que você vai ficar com a guarda da minha
menina! — Diana levanta-se, enfrentando-a. As duas duelam
entre si.
— Sua menina? — Esnoba. — Que eu saiba fui eu quem
pariu aquela pirralha.
— Não chama minha filha de pirralha! — Diana desce a
mão no rosto dela, que só sente o estalo. Vanessa ergue o
rosto e tenta levantar a mão para bater em Diana, na
intenção de retribuir o tapa que levou.
— Você não encosta uma unha na minha mulher. —
Asseguro. Ela me olha com ódio. — Você nunca vai ter o meu
dinheiro e muito menos a minha filha! — Sou incisivo e ela
não gosta.
— Isso é o que nós veremos nos tribunais.
— Se eu fosse você, não iria tão longe. — Asseguro.
— Você ainda não viu nada, meu amor. — Encara-nos. —
O que aconteceu aqui hoje vai ter revanche. — Ameaça-nos.
Não dou importância. — Eu vou passar por cima de vocês
igual a um trator.
— Você não me assusta. — Garanto-lhe. — E você já
sabe onde tudo isso vai terminar.
Ela pisca ao ouvir as minhas palavras, sabendo
perfeitamente o significado por trás de cada sílaba.
— Saia da minha casa antes que eu chame os
seguranças para te retirar à força. — Ameaço.
Fulminando-nos com os olhos ela vai embora, nos
odiando um pouco mais. Diana me abraça tão forte que fico
mexido.
— A Sophia é sua filha biológica?! — Não sei dizer se ela
afirmou ou perguntou, o fato é que absorvi aquela informação
com uma emoção imensa. — Sabe a dimensão do que isso
significa?
Eu sabia.
CAPÍTULO 26
O barulho da porta sendo aberta e fechada abruptamente
é a confirmação que aquela mulher não está mais aqui. Marco
parece se sentir perdido, confuso e pensativo.
— Estou aqui se quiser desabafar. — Falo, me
aproximando. — Não vou sair de perto de você nunca mais. —
Ele me envolve nos seus braços.
— E eu te agradeço por isso. — Diz, beijando o topo da
minha cabeça. — Eu sempre senti um carinho especial pela
Sophia, mas nunca passou pela minha cabeça que ela poderia
ser minha filha. — É natural este sentimento confuso que
transita dentro dele. — A filha que eu reneguei...
— Você não a renegou. — Não vou permitir que ele sinta
isso. — Você foi enganado por duas pessoas sem sentimentos.
Ele encosta a sua cabeça no meu ombro e ali permanece
por alguns instantes.
— Quantos erros eu cometi! — Lamenta. — Perdi anos
preciosos ao lado da minha filha. Tudo bem que eu não
amava a Vanessa e nem mesmo gostava dela, mas pela minha
filha eu teria me sacrificado. — Ele está sendo sincero.
— Pense em tudo aquilo que vocês vão viver juntos a
partir de agora. — Busco consolá-lo.
— Você tem toda a razão. Mesmo diante de tudo o que
aconteceu, saber que agora estamos juntos só fortalece o meu
amor por ela. — Suspira. — Eu quero estar presente no
desenvolvimento do meu filho. — Diz, acariciando a minha
barriga. — Quero acompanhar cada pequeno gesto que ele
fizer. Quero rir com ele e chorar também. Quero poder usufrui
da sua primeira gargalhada. Quero ver os seus primeiros
passos e ouvir as suas primeiras palavras. Levá-lo ao seu
primeiro dia no jardim. Curar os seus machucados quando
ele cair. Quero ser um exemplo para ele e quero que ele tenha
orgulho de mim. Quero ser o apoio quando ele precisar. — Ele
diz cada palavra com uma emoção que me deixava
emocionada.
— Você vai ver tudo isso, meu amor. E o nosso filho terá
muito orgulho do pai que tem. — Beijo seu rosto. — Falando
nisso, a gente nunca escolheu um nome para ele. — Lembro-
lhe.
— Eu posso escolher o nome? — Ele indaga, com
expectativa. Balanço a cabeça, afirmando que sim. Ele fica
pensativo. — Ele poderia se chamar Zion.
— Zion? — Indago curiosa. É a primeira vez que escuto
esse nome, que não deve ser originário do Brasil. Logo ele
explica a sua escolha.
— É de origem hebraica. O nome Zion carrega uma
conotação espiritual e, ao mesmo tempo, significa paz e
redenção. — Sorrio encantada com a sua explicação. Está
mais do que claro que ele já tinha pensando naquele nome
muitas vezes. Agora eu entendo o motivo da sugestão.
— O nosso filho se chamará Zion. — Nos seus lábios
forma-se um sorriso que ilumina tudo ao meu redor. — O
nosso Zion. — Sussurro com a minha boca colada à sua.
— A minha redenção — sussurra e, em seguida, me beija
com paixão.


— É definitivo, você vai viver com o boy magia! — Pâmela
brincou ao me ver guardando os meus pertences no closet da
suíte do Marco. Definitivamente eu tinha me mudado para cá
desde o dia do incêndio e somente agora eu admitia isso.
— Espero que o boy magia não tenha mais nenhum
esqueleto no armário. — Revirei os olhos ouvindo os seus
comentários. — Porque amiga, conviver com este homem é
uma verdadeira montanha-russa. — Deita-se na cama de
bruços, me encarando com aquele olhar petulante. — Nunca
tive dúvidas que o Marco seria um cara surpreendente, agora,
que o homem tinha um passado duvidoso, isso eu nunca
imaginei. — Ela está fazendo drama dos acontecimentos. —
Primeiro que o homem mais rico de toda a América foi um
garoto morto de fome que comeu o pão que o diabo amassou e
jogou fora. E que além de tudo, o homem ainda tem uma ex
barraqueira e, ainda por cima, mãe de uma garotinha que, se
pudesse, roubava para mim. — Gargalha quando me vê
ficando preocupada com o seu comentário. Logo demonstra
estar me gozando. Sophia é uma garotinha esperta que
consegue conquistar todas as pessoas. — Espero que as
surpresas parem por aí. — Terminei de guardar os meus
pertences e me juntei a ela. — Mas, estou muito feliz em ver o
quanto você está amada e bem comida.
— Pam... — Ralhei, me fingindo ofendida. Eu tenho uma
amiga devassa. Ela riu me provocando.
— Chego a sentir inveja da família comercial de
margarina que vocês estão construindo. — Revirei os olhos,
desaprovando os seus comentários, mesmo sabendo que ela
está brincando. — Estive observando o cão de guarda do
Marco e percebi que ele não é de se jogar fora. Aquele homem
grandão, forte com os bíceps salientes cheio de tatuagem e
com pinta de criminoso. Quase cheguei a ter um orgasmo só
em olhar. — Gargalhou igual a uma hiena. — Você alguma
vez já o viu de sunga quando estão na piscina se certificando
qual é o tamanho do documento?
— Sua louca pervertida! Eu nunca vi o Herbert nesta
situação. Ele está sempre com aquelas roupas de trabalho,
aquele aparelho no ouvido. E ele é sempre silencioso e nunca
se junta a nós.
— Suspeito! — Meneei a cabeça me divertindo com a sua
expressão.
— Você pode tentar descobrir o tamanho do documento
dele fazendo o teste drive. — Ela me olhou chocada.
— E a única pervertida aqui era eu! — Debocha jogando-
me o travesseiro.
— Já pensou que o Herbert pode ser a versão número
dois do Marco? — Relembrei a ela que acabou rindo.
— Aquele lá deve estar no celibato há tantos anos que
deve ter até casa de aranha na região do seu pau.
— Você pode desfazer a casa de aranha. — Provoquei-a.
— Depravada! Depois que engravidou ficou safada!
Gargalhamos juntas quando ela me abraçou. A Pâmela
sempre vai a minha amiga e irmã do coração.
CAPÍTULO 27
O chão se abriu sobre os meus pés quando o meu
advogado me revelou sobre a decisão do juiz. Isso é um
pesadelo. O maldito de um pesadelo. Não acredito que o juiz
levou em consideração as palavras daquela mulher.
Vanessa Drucker voltou das profundezas do inferno para
me atazanar, só pode. Foi diretamente mandada pelo capeta
para retirar a minha paz.
— Você precisa fazer alguma coisa, Carvalho! — Ralhei
com o pobre do advogado que estava se esforçando para
realizar o seu trabalho.
— Estou fazendo o que posso, Marco...
— Precisa fazer o que não pode também! — Bufei,
caminhando pela sala da presidência com a minha cabeça
prestes a explodir. Ele tenta me acalmar. Inútil. — Tem que
ter algum jeito de não levar a Sophia embora da minha casa.
— Enquanto o processo de guarda estiver em andamento
não existe outro meio a não ser acatar a decisão do juiz. —
Passei minhas mãos nas minhas têmporas, com um
sentimento de derrota me consumindo. — Hoje à tarde a
assistente social vai à mansão para levá-la, como o juiz
ordenou. — Ele explica, como se eu não soubesse o alfabeto.
Eu só não quero ter que ficar longe dela! Eles vão levá-la
para um lugar estranho que ela não está habituada. Se ao
menos não tivesse tido o incêndio... Maldito Norberto! Se ele
não estivesse morto eu mesmo faria isso com as próprias
mãos.
Depois que a polícia descobriu que ele foi quem colocou
fogo no abrigo Lar do Coração, ele foi encontrado morto antes
de prestar seu depoimento. Estava tão claro quanto a água
que ele foi morto como queima de arquivo. Era óbvio que
tinha alguém por trás deste atentado. Norberto foi um ratinho
nas mãos do rato-mor e Vanessa sabia disso e não contou
tudo. Como odeio aquela vadia!
Mataram o desgraçado e as suspeitas recaíram todas
sobre mim. Era só o que me faltava: nesta altura do
campeonato ser acusado de criminoso. E para a minha vida
ficar pior, minha secretária Melissa decidiu espalhar mentiras
ao meu respeito. Aquela vadia dos infernos está me acusando
de assédio. E o mais trágico é que a vadia é prima da
Vanessa. Porra, como eu nunca percebi isso? Duas pistoleiras
de plantão, prontas para me ferrar.
— Assim como você, a Vanessa também quer a guarda da
menina. — A voz do meu advogado me retira dos meus
devaneios.
— Ela não quer ficar com a guarda, ela quer o meu
dinheiro! — Ladro.
— Isso nós sabemos, mas não temos provas. E é a sua
palavra contra a dela. — Lanço-lhe um olhar frio. E lá no
fundo concordo que ele tem razão.
— Mexa o seu traseiro, Carvalho. — Digo ríspido. — E
descubra meios de destruir esta mulher. Porque o inferno vai
precisar congelar, mas ela não vai conseguir ficar com a
minha filha. — A nossa reunião estava encerrada. — Estou
indo para casa antes que esta assistente apareça por lá. E só
me contate se realmente encontrar uma solução. — Aviso, ao
passar pela porta e sumir. Olhei o local vago deixado pela
secretária e balancei a cabeça. Se ao menos eu tivesse visto a
serpente que ela era, não estaria vivendo esta situação.
Doeu ver os olhinhos da Sophia cheios de
lágrimas quando a assistente chegou para levá-
la daqui. Todos na sala tinham uma expressão fúnebre nos
rostos. Diana se desmanchava em lágrimas e tristeza, assim
com os demais. Quando a minha pequena me abraçou, com
os seus bracinhos frágeis, eu quis eternizar a sua lembrança
em mim. Mesmo ciente que esta partida seria temporária, lá
no fundo, eu temia por tudo o que ainda viria.
— Logo você estará aqui conosco, meu amor. — Prometi
a ela, beijando o seu rostinho. Diana e ela se abraçaram e os
seus soluços doíam bastante em mim. Assim que ela se
despediu de cada um de nós, a assistente segurou sua mão,
guiando-a para fora da mansão. Para distante da gente. A
porta se fechou e, por enquanto, só a lembrança da minha
garotinha estaria em cada um de nós. Isso me daria forças
para trazê-la de volta. Apertei Diana em meus braços,
querendo trazer para mim um pouquinho que fosse da sua
dor.
À noite, sentado na cama, olhava a sua foto, sorridente,
em um porta-retratos que fiz questão de colocar ali. Diana
saiu do banheiro e, me encarando com os olhos tristes, me
abraçou quando se sentou ao meu lado.
— Eu sinto como se estivesse perdendo a minha filha
mais uma vez. — Confessei aos prantos. Ela me apertou mais
forte.
— Isso não vai acontecer. A Sophia vai voltar para gente,
meu amor. — Garante.
Fico pensando como ela deve estar se sentindo em um
lugar cheio de pessoas estranhas. A vida inteira, ela só
conhecia a Amélia e os demais. Nós éramos a família que ela
conhecia e, de repente, ser arrancada do seio familiar deve
mexer com a sua cabeça infantil. O mais doloroso é que não
podemos fazer uma visita. Para vê-la tem que ser na presença
da assistente social e em dias estipulados. O Carvalho tem
que agilizar este processo de guarda logo, não vou aguentar
ficar longe dela por muito tempo.
Em meio a minha agonia, consigo me deitar e, aos
poucos, sou engolido pela escuridão. Dormir ao menos não
me fará pensar tanto nela.
CAPÍTULO 28
Os dias não estão sendo fáceis. A cada minuto é um
acontecimento. Ao menos trabalhando eu não penso tanto
nos meus problemas. Ontem eu visitei a Sophia no orfanato e
o meu coração se partiu em mil pedaços quando vi sua
tristeza tão transparente. Foi doloroso ver o seu sofrimento.
Há algo que notei que está me deixando inquieta. Não gostei
de algumas atitudes da assistente. É como se ela não fosse
quem tenta parecer.
— Posso entrar? — Meu pai surgiu na porta, pedindo
autorização para entrar na minha sala. Como se ele
precisasse disso. Assenti, pedindo que o fizesse. — Tudo bem?
E o meu neto? — Pergunta-me, dando um beijo no meu rosto.
— Estou bem. Ou ao menos tentando ficar bem. — Ele se
senta e noto uma ruga de preocupação na sua testa.
— Agora quem não está bem é o senhor. — Sondei. Ele
desviou o olhar como se não quisesse que eu descobrisse o
que está acontecendo. Mas, em seguida, decidiu revelar o que
estava deixando inquieto.
— A sua mãe me expulsou da mansão.
— Como assim, te expulsou de casa? — Não estava
entendendo nada. Ele suspirou, antes de responder.
— Eu descobri que ela tem um caso com o George. —
Arregalei os olhos, em choque. Juro que se não tivesse
sentada teria caído no chão. — Caso este, que iniciou quando
vocês ainda estavam juntos. — Não. Custei a crer naquela
história maluca. Mas logo vejo que não é tão maluca. Vejo que
a história é mais escabrosa do que pensava. O George me
traía com a minha própria mãe! Aliás, ambos me traíram. — E
ela roubou a empresa... — Fiquei perplexa. O que ela tinha na
cabeça? — Tudo agora pertence a ela.
— Como assim? — Tudo era muito confuso. Eu precisava
que ele me explicasse detalhadamente. Eu estava vivendo em
alguma novela mexicana e ninguém tinha me avisado?
— A sua mãe me deu um golpe e todo o meu patrimônio
agora pertence a ela. — Se exasperou, e com razão. — Não
tenho nenhum dinheiro nas minhas contas. Ela raspou tudo!
Levei alguns segundos tentando assimilar aquilo que ele
disse. Como a minha fez isso? Ela deu um golpe no meu pai!
O homem com quem ela está casada há mais de vinte anos. E
o mais perverso disso tudo é o fato de ela ter um amante, e o
seu amante ser o homem que algum dia eu cogitei em me
casar. Céus! Eu não reconheço quem é a mulher que me deu
a vida.
Levantei-me e me dirigi para fora da minha sala. Eu
precisava conversar com ela. Precisava entender tudo o que
estava acontecendo e o que ela foi capaz de fazer.
— Aonde você vai, Diana? — Meu pai indagou-me, mas
sequer olhei para trás ou respondi. Acho que ele entendeu
para onde eu estava me dirigindo.
Invadi a sua sala de forma abrupta. A secretária tentou
me impedir, sem resultados. Ela ergueu o olhar assim que me
viu entrando pela porta. Cruzou os braços de forma soberba.
— Pode me explicar qual é a palhaçada que você
aprontou desta vez? — Perguntei ríspida, batendo os meus
punhos na sua mesa. Ela não me respondeu, apenas me
olhou com cinismo. — Que história é essa que você deu um
golpe no meu pai? Onde está...
— Ah! Ele já foi chorar no ombro da filha? — Disse com
desdém, ficando em pé. — Eu não dei golpe algum. O seu pai
que escolheu passar tudo para o meu nome.
— Sua víbora! Judas! Traidora! — Vi seus olhos piscando
ao ouvir as minhas palavras.
— Você me respeite.
— Te respeitar? — Gargalhei com deboche, devido a sua
empáfia. — Quando você mesmo não se dá o respeito? Esses
anos todos estava tendo um caso com o namorado da própria
filha. E ainda quer falar de respeito?
— Não admito que você fale assim comigo. O seu pai está
exagerando.
— É engraçado que a senhora vive falando tanto em
preservar a família, quando é a primeira a não seguir as
próprias regras que criou. — Ela me fulminou, mas não temia
e, neste momento, tudo o que eu queria era colocar para fora
tudo aquilo que guardei estes anos todos. — A vida toda vivia
me criticando, colocando defeitos em mim, quando na
verdade, todos estes defeitos estavam em você. Tentar
entender a sua falta de amor e afeto eu até entendo, agora
olhar para essa mulher... — fiz um gesto com as mãos de
cima a baixo. Ela engoliu em seco, — e descobrir que ela não
só traía o meu pai como a mim também, e, além de tudo, foi
capaz de roubar o homem com quem viveu por mais de vinte
anos, é diabólico! Começo a duvidar se eu realmente vim do
seu útero. — Fiz uma pausa, tentando recuperar o meu
equilíbrio. Ela não tinha mais aquele brilho de vitória nos
olhos e o seu olhar revelava outra coisa, que não consegui
decifrar. — Me tratou como uma vadia quando eu fiquei
grávida, mas agora eu vejo quem é a vadia aqui — segurei a
sua mão por reflexo quando ergueu para me bater — nunca
mais encoste essas mãos imundas em mim. — Apertei com
forças. O seu rosto estava banhado pelo ódio. — E saiba que
você vai devolver cada centavo que roubou do meu pai.
— Vai sonhando. — Debochou, quando eu a larguei. — E
a partir de hoje você não trabalha mais aqui. Pegue a sua
trouxa e suma daqui! — Disse categórica. — Não quero
nenhuma filha de Belzebu trabalhando ao meu lado.
A única Belzebu aqui é ela. Mas não vou entrar neste
embate.
Eu sei que se, quisesse, continuaria nesta empresa, mas,
sinceramente, não faço questão de continuar ao seu lado
sabendo de tudo o que ela fez e, principalmente, tendo a
certeza que o George vai continuar aqui. Como o capacho que
é.
— Saiba que sou que prefiro não trabalhar aqui
enquanto você ocupar esta cadeira. — Fiz uma pausa. — Mas
saiba que isso será temporário. Porque eu vou atrás dos meus
direitos e dos direitos meu pai e, quando a gente conseguir
tudo de volta, você vai terminar os seus dias atrás das grades.
— Ameacei. Virei-me para sair, mas a sua voz sonora e
carregada de maldade me impediu de continuar.
— Hoje vejo o quanto é bom saber que você não carrega o
sangue da família Santinni e muito menos o meu. — Olhei
aturdida, descrente. Ela viu o quanto as suas palavras me
deixaram abalada e continuou despejando o seu veneno. —
De alguma maneira você foi bem útil para mim no passado,
mas hoje não me serve para nada. Porque foi através de você
que o seu pai me escolheu. Eu dei uma filha ao Arturo, algo
que aquela mulherzinha que ele dizia amar não fez.
— Do que você está falando? — Indaguei assustada,
temendo ouvir a verdade dolorosa, cruel e crua.
— Isso o que você acabou de ouvir. — Disse em um tom
mais brando, se divertindo ao ver a minha dor. — Você não
queria tanto entender o motivo de eu nunca ter te amado?
Então agora você sabe. — Gargalhou cinicamente — Você não
é e nunca foi minha filha. E muito menos o Arturo é o seu
pai, como você pensou.
— Não... — Não tendo forças para permanecer em pé,
sentei-me. — Isso é mais uma das suas mentiras. — O meu
rosto estava debulhado em lágrimas.
— Por que você acha que o seu pai se casou comigo? —
Desdenhou. — Eu o fiz acreditar que estava grávida e, ao
saber disso, o idiota achou que o bebê tinha o seu DNA. — Se
aproximou de mim, dizendo com soberba. — Uma mulher
precisa ter algumas armas para enganar um homem. Ter você
foi o meu passaporte carimbado para usufruir de todas as
regalias que o dinheiro e o poder podem proporcionar. Por
isso não pensei duas vezes quando tive que pagar para ter
você.
— Pagar? — Que merda ela está dizendo? Enxuguei as
minhas lágrimas com brutalidade. Esta história era muito
cabeluda para ser real. E era real. E eu fazia parte desse
horror.
— A sua mãe biológica vendeu você.
— Não... — Ela riu histericamente.
— O que você falou? — Meu pai e Pâmela entraram na
sala no momento que ela confessa que eu tinha sido
comprada. Pâmela sentou-se ao meu lado, segurando as
minhas mãos, me dando apoio. Meu pai olhava para ela,
atônito.
— Pergunte a ela. Não vou ficar aqui repetindo a mesma
história. — Disse, com deboche. — E todos vocês podem se
retirar da minha sala. — Seguiu na direção da porta e, com
um sorriso cínico, completou. — E quanto a esta coisinha
insignificante — apontou para a Pâmela — está demitida. Não
quero ninguém que faça parte do fã clube Diana trabalhando
nesta empresa.
— Coisinha insignificante é a tua avó, sua megera! —
Pâmela avançou na sua direção, dizendo-lhe poucas e boas.
— Nunca gostei de você, cobra-mor!
— Garota, você está me ofendendo...
— Eu que não quero trabalhar aqui para ficar vendo esta
tua cara azeda todos os dias, serpente.
— Saiam daqui! — Berrou.
— Tem mais uma coisa que eu preciso fazer. — Disse, se
aproximando e cuspindo na cara dela. Fiquei pasma com o
que eu a vi fazendo, mas sorri por dentro quando vi a cara
que ela fez. — Você me dá nojo!
Afastou-se.
Saímos enquanto ela ficava lá aos berros, nos
amaldiçoando por sete gerações.
CAPÍTULO 29
Meu pai chorou quando contei a ele tudo o que a minha
mãe disse. Para ele, foi muito difícil entender a crueldade da
minha mãe, que agora descobri que nunca foi minha mãe. Eu
cresci achando que os meus pais eram os meus pais e mais
de vinte anos depois descubro que não sou filha deles.
Sentia uma dor imensa no meu coração quando cheguei
à conclusão de como descobrir isso me deixou
desestruturada. É como se a minha base tivesse sido
removida e eu me sentia a beira de um princípio prestes a
colidir com a minha tristeza. Meu pai segurou minhas mãos
e, com a voz emocionada, confessou.
— Descobrir que não sou o seu pai biológico não modifica
em nada o amor que sinto por você — suspirou — você é a
minha filha. O sangue não é nada comparado ao amor que
tenho por você. — Tocou no meu rosto de forma gentil. — Eu
te segurei nos meus braços, tão pequenina e frágil e, naquele
dia, eu descobri que tinha recebido uma dádiva. Eu te vi
crescer, se desenvolver e se tornar essa mulher forte e
determinada que me enche de orgulho. Uma filha
maravilhosa. Uma mulher bondosa. Uma mãe guerreira. O
meu neto será muito amado por você. — Sorrio, ouvindo suas
palavras. — Uma mulher que tem o coração imenso e que
está sempre preocupada com o bem-estar de todos. E,
independente de tudo, eu ainda continuo sendo o seu pai.
Abraçamo-nos chorando. Nunca tive dúvidas do seu
amor. Suas palavras me comoveram. Saber que nada anulava
aquilo que construímos juntos me deixava forte. Porque o
meu amor de filha não mudou em nada ao saber do meu
passado.
— O senhor é um pai maravilhoso. E tenho muito
orgulho de ser sua filha.
Os últimos acontecimentos deram uma chacoalhada na
minha maneira intensa. O processo da guarda da Sophia
corria na justiça. Vanessa estava disposta a tirar a paz do
Marco. Ele vivia triste e pensativo pelos cantos.
Desde o momento que descobriu que era o pai biológico
da Sophia, tudo o que queria era ficar perto da filha. As
poucas horas em que eles ficavam juntos não era suficiente
para ficarmos em paz. Era um processo lento e doloroso.
Quanto à reconstrução do Lar do Coração essa era uma das
únicas coisas que parecia estar de vento em polpa. Logo a
casa estaria pronta e Dona Amélia poderia se mudar para lá
com as crianças. Todos nós lamentávamos a ausência de
Sophia. É como se ficar longe dela tivesse feito um buraco no
meu coração que só seria preenchido no dia que ela voltasse
para nós.
Estava entrando na trigésima semana de gestação e o
meu bebê se movimentava igual um gigante dentro da minha
barriga. Às vezes pensava que o meu filho lutava caratê,
porque não é possível que um ser tão pequeno se mexesse
tanto. Tinha a impressão de que carregava um lutador dentro
da minha barriga e não um bebê.
A cada dia eu via o amor incondicional que o Marco
demonstrava pelo nosso Zion. Marco nunca declarou que me
amava ou que estava apaixonado por mim. Tais palavras
nunca saíram da sua boca e às vezes concluo que não é
preciso. Porque sinto o seu amor por mim em cada gesto, em
cada olhar, em cada beijo. Na maneira como ele acaricia a
minha barriga. Na forma como ele conversa com o nosso filho
e em como canta desafinadamente para ele. O jeito peculiar
que fazemos sexo. A gentileza com que ele segura a minha
mão durante uma refeição ou quando passeamos de mãos
dadas pelo calçadão. Até o seu jeito silencioso e a sua
bagunça interna. Tudo isso eu sinto que é amor. O amor mais
sublime e real que alguém já sentiu por mim.
Eu amo este homem de uma forma tão intensa e madura
que às vezes sinto emoção em cada parte do meu ser. Ele se
acostumou a me ouvir dizendo que o amo toda vez que tenho
um orgasmo e não foge mais de mim, como também não diz
uma palavra. Apenas me puxa para perto de si e me abraça
forte e, com ele, sinto que consigo enfrentar o mundo. Nunca
tive a pretensão ou esperança que ele diga que me ama
verbalmente. Até porque presencio a sua batalha interna em
admitir aquilo que tanto teme em voz alta. O fato dele estar ali
ao meu lado, colorindo o meu mundo mesmo que no seu haja
tanta escuridão, é compensatório. Acho que eu já consegui
muito quando ele quebrou a maioria das suas regras para me
deixar acessar o seu mundo particular de dor, lutas e perdas
imensas.
O homem sombrio é a pessoa mais humana que já
conheci.
No fim, tenho a impressão que foi ele quem me resgatou
quando resolveu me mostrar o seu lado mais obscuro e, ainda
assim, me fazer amá-lo.
Meu pai estava tentando contornar a situação e reaver os
seus bens que a minha mãe roubou. Outro processo que vai
levar um tempo, mas não descansaremos enquanto todas as
coisas não estiverem no seu devido lugar.
— Que bom que o senhor veio! — Digo com um sorriso,
abraçando e beijando o meu pai. Ele nunca colocou os pés na
casa do Marco, hoje é a primeira vez. Quando a gente se
afastou o meu pai ficou decepcionado com ele, mas depois
que a gente reatou, ele decidiu dar outra chance. Afinal, era
visível o quanto conviver com Marco me deixava feliz. Estando
feliz, o meu pai também ficaria. Apresentei o meu pai a todos.
— Vem pai, quero que o senhor uma pessoa especial...
— Lili.
— Arturo.
Ambos disseram em uníssono e os encarei sem entender
nada. Eles demonstraram que já se conheciam. O Marco
estava tão perplexo quanto eu.
— Vocês se conhecem? — Indaguei, percebendo o
impacto que a presença do meu pai causou na Liliana. A sua
fisionomia impregnava medo, e acabei ficando confusa.
— A gente... não acredito que te encontrei aqui. — O meu
pai estava surpreso e a sua voz foi quase um sussurro. — Não
acredito que depois de tantos anos nos reencontramos!
— Arturo, eu não sei o que te dizer. Faz tantos anos que
foi um choque te reencontrar. — Realmente ela parecia estar
chocada mesmo. — Mesmo ciente de que um dia isso
aconteceria, eu não estava preparada para rever você. — Senti
uma tensão no ar. Um desconforto de ambas as partes. Um
reencontro que prometia trazer recordações para eles.
— A Lili foi o grande amor da minha juventude. — Meu
pai confessou com certa tristeza e provavelmente uma grande
mágoa. Foi neste momento que a minha ficha caiu. A Liliana
era a mulher que o meu pai nunca conseguiu esquecer. — E
até hoje eu nunca entendi a razão pela qual ela partiu. — As
suas palavras exprimiam uma grande dor. Aquela dor que
arranha toda vez que a gente lembra de algo que ficou
inacabado.
— Talvez ela possa te explicar agora. — Lá no fundo do
meu coração eu torcia para que eles se entendessem. Quis me
retirar na intenção em deixar os dois sozinhos fazendo um
sinal para o Marco me acompanhar, mas as palavras da
Liliana me fizeram permanecer parada no mesmo lugar.
— Você pode ficar, Diana. — Não era uma pergunta, era
o pedido de uma pessoa que eu admirava muito. — É
importante que você escute tudo o que vou dizer. — Ela nos
olhou por alguns segundos, logo em seguida retomou. — Eu
sempre tive a doce ilusão que o passado seria para sempre
uma pedra removível. E eu me agarrei a isso todo santo dia.
Eu te contei uma vez que fui para a prisão? — Assenti,
relembrando a nossa conversa de meses atrás. O meu pai
parecia não estar entendendo nada.
— A senhora disse que foi acusada injustamente. —
Relembrei. Ela assentiu, me olhando com uma doçura e um
pouco de tristeza. Foi neste instante que a minha ficha voltou
a cair novamente.
— A senhora disse que foi traída por uma amiga. Essa
amiga, por acaso, era a mulher que eu pensava ser a minha
mãe? — Afirmou que sim.
O seu relato e as suas lembranças eram de doer o
coração. Fiquei sensibilizada porque pude ver sua dor e a
tristeza que ela carregava dentro de si em todos aqueles anos.
Liliana ficou tão traumatizada que, em vez de buscar justiça
ou vingança, escolheu viver reclusa. Agora eu entendia a sua
fobia social. Ela sofreu horrores na prisão e o pior nem é isso
e sim, o fato de ter que viver longe do homem que amava
devido às maldades de uma pessoa egoísta e invejosa.
Relembrou sobre a sua gravidez e o filho que ela tanto
queria ter e que foi impedida de exercer o seu amor de mãe
por causa da crueldade de uma mulher que se intitulava a
sua amiga. Amigos assim, para que inimigos?
— Minha adorada filha, algum dia você conseguiria me
perdoar? — Perguntou-me comovida. Estávamos próximas.
Agora eu sei de onde eu vim. Agora eu sei o motivo da
Marieta nunca ter gostado de mim. Eu sou a personificação
mais real da mulher que ela sempre desejou ser. Descobri que
não fui comprada, como a Marieta queria que eu acreditasse.
— A senhora não tem que me pedir perdão. A senhora foi
tão vítima quanto o meu pai. Quanto eu. As maldades da
Marieta são sem limites. — Abracei e ela retribuiu. Naquele
instante eu percebi que, finalmente, tinha um lar acolhedor e
amoroso. Agora eu entendia a razão de sempre ter gostado
dela e confidenciado muitos dos meus medos. Laço materno a
gente reconhece, independente das circunstâncias. Descobrir
que a minha mãe biológica era a Liliana foi o melhor presente
que a vida me trouxe. Sei que as suas dores não serão
esquecidas de um momento para o outro. A cura equivale a
um caminho lento e doloroso. Mas, juntas, poderemos colorir
o nosso futuro e escrever um novo capítulo na história das
nossas vidas.
— Minha mãe. — Expressei, porque seria assim que a
chamaria a partir de agora. Ela era minha mãe e, portanto,
exerceria o papel que lhe foi arrancado há duas décadas.
— Minha bebezinha... — Ela riu, me trazendo para perto.
— Minha menina.
Agora eu era uma mulher, mas isso não me impediu de
sorrir e agradecer por reencontrar a mulher que me deu a
minha vida.
Foram muitas emoções, mas ali não restou resquícios de
mágoa, ódio e acusações. Tristeza e dor talvez, mas isso seria
sanado pelo tempo.
CAPÍTULO 30
Foi de cabeça erguida e consciência limpa que entramos
no edifício da empresa da família do meu pai. Nós quatro: eu,
meu pai, a Pâmela e minha mãe Liliana.
Finalmente tinha chegado o dia da revanche e eu ia amar
ver a cara perplexa da Marieta. Os seguranças tentaram
impedir a nossa entrada, mas não foram além quando
explicamos qual era o nosso objetivo ali. E também por ver a
viatura chegando compreenderam que não tinham muitas
escolhas. Todos no edifício nos encaravam como se fôssemos
seres vindos de outro planeta. A maioria ali era fisionomia
nova e desconhecia a veracidade dos fatos. Ignoramos todos
eles. O nosso objetivo aqui era outro e ele se encontrava no
último andar. Entramos no elevador e Pâmela cochichou no
meu ouvido que estava se sentindo uma integrante do
quarteto fantástico em uma de suas missões. Sorri com o seu
comentário.
As portas se abriram quando o elevador parou e então
saímos. A secretária da minha mãe nos olhou e tentou
impedir-nos de ir adiante, sem sucesso. Abrimos a porta e
invadimos o espaço, chocados com a cena que se desenrolava
diante dos nossos olhos.
Tinha um gogo boy com a boca enfiada entre as pernas
dela, chupando sua boceta. Os seus seios saltando para fora
do sutiã e o homem estava com o pau de fora. O choque dela
ao ser pega em flagrante foi muito maior do que o nosso, por
vê-la ela naquela situação constrangedora. Pela primeira vi
um lampejo de vergonha enquanto empurrava o homem para
o lado, tentando se recompor. Rapidamente o homem se
recompôs e saiu da sala correndo.
— O que estão fazendo aqui? Já não proibi a entrada de
todos vocês? — Resmungou nervosa. Claro que ela nunca
esperava nos ver aqui e principalmente em uma situação tão
constrangedora! — Saiam daqui agora ou eu chamo os
seguranças. — Assegurou, segurando o interfone, tentando
nos intimidar. Em silêncio meu pai se aproximou da sua
mesa e entregou o documento que comprovava que ele era o
verdadeiro dono de tudo isso aqui. — O que? — Retirou o
papel das suas mãos com brutalidade e passou a ler. A cada
segundo o seu maxilar se contraía ao ficar a par do teor do
conteúdo. — Saia agora mesmo da minha empresa! — Ela
ergueu o olhar e, atrevida, rasgou o documento na nossa
frente com um brilho de vitória que durou pouquíssimo
tempo.
— Isso, minha querida, é apenas uma cópia. Gostando
ou não, seu tempo de reinado se esgotou. — Rangeu
fortemente.
— Eu ainda sou a sua esposa e ainda tenho direito na
metade de tudo aquilo que construímos juntos. — Argumenta.
— Duvido que algum juiz vai te dar algum centavo
quando você for julgada e condenada. — Ela estremeceu ao
ouvir as palavras do meu pai. Não teve contra-argumentos. O
seu olhar vagou na gente e a sua soberba foi substituída pelo
pânico e pelo horror quando focou em Liliana.
— O que essa mulherzinha está fazendo aqui? —
Indagou, possuída pela raiva.
— Vim assistir a sua queda, amiga! — Ironizou. — O
inferno que você me jogou não era suficiente, então eu tive
que voltar para pegar de volta tudo o que você me roubou. —
Marieta parecia estar diante de um fantasma. Seu medo era
quase tocável. — O homem que eu amo. A minha filha. Eu
voltei das profundezas do inferno para te ver pagar por todo o
mal que você me fez.
— Não sei do que você está falando, sua louca!
— Ah, sabe sim. — Decidi me manifestar. — Não adianta
mais negar. Todo mundo já sabe sobre os seus crimes.
— Todo mundo quem, cara pálida? — Mesmo diante dos
fatos ela não perdia a arrogância. Era inacreditável.
— As provas de todos os seus crimes estão com a polícia
e não vai demorar em você ser presa. — Ela fingiu que nada
disso a deixava abalada. Aproximei-me e revelei, deixando-a
medrosa. — Sabia que foi o seu queridinho George quem te
entregou?
— Ele... — Agora ela não conseguia fingir que estava
calma. O medo estava lá estampado no seu rosto.
— Isso mesmo. — Espremi mais pimenta na ferida. —
Mas você já devia imaginar que, ao puxar o tapete de alguém,
tem outra pessoa atrás de você fazendo o mesmo, não é?
— Oras, não me venha com a sua filosofia barata. —
Recriminou-me, mesmo sabendo que eu estava coberta de
razão.
— E quer saber? — Encarei-a, desafiando. — Foi um
alívio descobrir que eu não tenho algum parentesco com uma
pessoa igual a você. — Ela engoliu o próprio fel. — Seria algo
muito doloroso admitir que temos o mesmo DNA. — Ela
mordeu os lábios, feroz. O ódio pulsava em seus olhos. — E
sabe como vai ser o futuro? — Ergueu o rosto, fingindo não
estar interessada. — Muito amargo e solitário. E toda vez que
você fechar os olhos, vai se lembrar que estaremos juntos e
felizes. E isso vai ser a sua ruína.
Quando acabei de falar a polícia entrou na sala, dando
voz de prisão a ela.
— Desgraçados! — Berrou ao ser algemada e levada pelos
policiais. — Isso não vai ficar assim. Vocês me pagam!
Essas foram as últimas palavras que escutamos da sua
boca, antes de ser arrastada pelos policiais.
Finalmente tínhamos resolvido um grande problema,
mas ainda tinha outro.
E lá no fundo eu sentia uma sensação esquisita. Algo que
eu não sabia explicar o que era, mas que me fazia ficar em
alerta.

Depois de alguns dias pensando nos últimos


acontecimentos, decidi que tinha chegado a hora de entregar
o Demétrio para as autoridades. Relutei por longos meses
porque, apesar de tudo e mesmo o odiando, ele é o único elo
que eu tinha com o passado.
Quando criança eu fiz de tudo para gostar dele e para
que fôssemos amigos, já que o velho Genaro sempre quis que
a gente fossem irmãos. O que ele me ensinou também
ensinou a ele. Mas o Demétrio nunca foi uma criança fácil e
acabou se tornando um adolescente rebelde e, logo depois,
um jovem com raiva do mundo. Algumas pessoas não
conseguem ou não sabem lidar com os próprios demônios e o
Demétrio era um exemplo disso. Demétrio ou George, não
importa. A essência é a mesma. Não mudou.
— Calado? Pensativo? Quer me contar o que está te
remoendo a alma? — Diana perguntou ao entrar no meu
escritório com aquele olhar quem conseguia me ler em
silêncio. Olhei para ela e admirei a sua sagacidade. A sua
ousadia. A sua beleza. Ela carregando o meu filho era uma
das imagens que carregaria na lembrança para sempre. Ela
veio e se sentou no meu colo, colocando as suas mãos macias
no meu pescoço.
— Você já pode imaginar. Amanhã o juiz vai decidir quem
ficará com a guarda da Sophia. E eu te confesso que estou
com um pouco de medo.
— Meu amor, nós vamos conseguir trazer a nossa
menininha de volta. — Ela dizia com convicção, mas eu não
conseguia ficar tranquilo. — Quando o Zion nascer a Sophia
estará conosco. — Tentei focar o meu pensamento nesta
fantasia. Ficamos em silêncio por alguns instantes.
— Você acha que ele vai se parecer com quem?
— Ele? — Não entendi a sua pergunta.
— O Zion. Você imagina que ele será parecido comigo ou
com você? — Enquanto perguntava ela mexia nos meus
cabelos.
— Acho que ele vai se parecer com a mãe dele. Esse
carisma incomum que conquista todos ao seu redor. Esses
olhos castanhos que foram a minha remissão e essa boca
gostosa que eu gosto tanto de beijar. — Para provar, me beija
com fervor. Gostei de ouvir o que ele falou. Mas eu prefiro que
o meu filho herde tudo isso do pai. Os olhos negros com uma
noite. Esse sorriso que eu me derreto toda vez que presencio.
— O velho Genaro era o meu pai de sangue. — Contou-
me de repente. Eu já desconfiava disso. — Mas fui descobrir
isso no dia que deixei a fazenda. Eu nunca consegui me
perdoar por ter fugido e o deixado ali agonizando até morrer.
Sabia que ele se matou antes da polícia chegar? — Percebi a
dor em seus olhos.
— Você não teve culpa. Era apenas um garoto. — Digo
isso a ele. — E você só o deixou lá porque ele pediu. —
Assentiu, inconformado. A culpa era um mau presságio. E eu
não estava gostando dos rumos dos meus pensamentos. —
Você fez tudo o que pode e ele sabia disso. Por essa razão te
absolveu. Meu amor, você precisa se perdoar e seguir em
frente. — Ela tinha razão, no entanto, essa luta eu já havia
perdido.
— Assim que comecei a ganhar dinheiro eu procurei
saber o paradeiro da minha mãe. — Ela reconhecia que eu
precisava desabafar e por isso me ouvia com atenção. É
preciso sepultar os nossos mortos. — Tive êxito, no entanto,
foi muito tarde para nós. O seu estado era deplorável. A
bebida, as drogas e a prostituição acabaram com sua vida de
forma gradual. Quando a encontrei, ela estava em um estado
crítico. Eu teria gastado todo o meu dinheiro para curar ela.
— Sabia disso. Apesar do mal que lhe fizeram, ele era um ser
humano extraordinário. — Mas era tarde demais e dois meses
depois ela morreu de overdose. — As suas lágrimas pingaram
no meu vestido. — E o mais doloroso nisso tudo é que ela não
me reconheceu.
Um soluço, em seguida outro, e mais outro, e o seu choro
torrencial se rompeu como as lavas de um vulcão. Segurei
firme tentando acalentá-lo. Em meio ao seu caos eu chorei
também. De alívio. De esperança. Porque eu sabia que depois
da tempestade vem a calmaria. Aquele homem de um metro e
noventa desaguava em meus braços como se ainda fosse uma
criança de nove anos de idade.
Quando ele se acalmou e as suas lágrimas tinham
secado. Olhei dentro dos seus olhos.
— Faça amor comigo. — Pedi com gentileza. Ele me
encarou com demora. Devido ao meu estado, a gente não fazia
sexo com frequência, mas esta noite em específico eu queria
senti-lo dentro de mim.
— Eu não quero te deixar desconfortável. — Mesmo com
vontade, ele estava relutante.
— Faremos como o obstetra orientou. — Pisquei com
ousadia o fazendo rir. Beijando-me com paixão, ele me levou
para o nosso quarto.
Deitou-me na cama, retirando toda a minha roupa.
Colocou alguns travesseiros para que eu ficasse confortável.
Observei-o retirando as próprias roupas, admirando a sua
nudez. Suas mãos tocaram a minha boceta, que estava
latejando e bastante molhada.
— Assim você me mata. — Ralhou antes de sugar cada
pedacinho dela. O seu toque me deixa em chamas e sedenta,
gemendo e louca para ter o seu pau dentro de mim. — Se
sentir algum incômodo, me avise. — Pediu com ternura e eu o
amei ainda mais. Beijou levemente os meus lábios e, como
não podia ficar sobre o meu corpo para não machucar a
minha barriga, me virou de lado e, se aconchegando atrás de
mim, senti o seu pau pulsando na minha bunda antes de
penetrar na minha vagina. Relaxei quando senti o volume do
seu pau dentro de mim. Ele começou a se movimentar de
forma lenta. Nossas respirações estavam ofegantes, suas
mãos apalpavam meu corpo e as suas estocadas eram
infinitas.
Senti o prazer me absorvendo de forma sedenta e,
naquele momento, ele ergueu a cabeça, me olhando com
veneração. Acariciou o meu rosto quando eu gritei em um
estado alucinógeno, atingindo o prazer.
— Eu amo você, pequeña. — Me senti flutuar. Imaginei
estar ouvindo coisas. — Eu sempre vou amar você. Nunca se
esqueça disso.
Beijou-me, ajeitando o meu corpo de maneira mais
confortável.
A minha cabeça parecia uma confusão infinita. Será que
ele falou aquelas palavras ou eu apenas imaginei escutar?
Olhei para ele, querendo perguntar se de fato ele tinha
falado aquilo ou eu estava tendo uma alucinação. Mas
quando abri a boca para perguntar, ele já estava ressonando.
Não me sentia no direito de retirar esta paz.
Senti um arrepio na nuca e um aperto no peito.
Isso era uma despedida?
Um gosto amargo percorreu a minha garganta e, pela
primeira vez, temi que a minha premonição estivesse certa.
Contudo, resolvi ignorar tais pensamentos, e me
aconchegando a ele, fechei os olhos, tentando dormir
também.
CAPÍTULO 31
Estava de costas no parapeito da janela encarando a
escuridão lá fora que, inevitavelmente, se parecia com a
minha. Despertei algumas horas depois ao lado de Diana e o
coração doeu apenas em velar o sono. Tranquilo. Sereno. Eu
trocaria a vida inteira apenas para ter mais alguns instantes
ao seu lado.
Desconheço como será o futuro e, neste momento, tudo o
que menos quero é pensar em como seria. Me permiti viver
aqueles instantes quando ela me pediu para fazer amor com
ela. No início relutei devido ao seu estado, mas eu não podia
negar isso a ela. Ela merecia ter uma lembrança para se
recordar de mim. E lá no fundo eu queria me lembrar disso
enquanto eu pudesse respirar. Eternizar ela em mim era tudo
o que poderia ter neste momento.
Ela me deu muito mais do que momentos felizes, ela
transformou a minha escuridão em rajadas de amor,
cumplicidade e ternura.
E para sempre ela estaria comigo.
Escutei a porta rangendo. Sinal indicativo de que Herbert
estava aqui, como tínhamos combinado. Virei-me e observei a
sua figura pela penumbra.
Sério. Calado. Focado. Sempre pronto para todo e
qualquer embate. Caminhou a passos como uma ave de
rapina.
— Tem alguma noção do perigo que está correndo? —
Indagou-me. Continuei imóvel, sem reposta. Não preciso
preocupá-lo com os meus fantasmas. O que ele está fazendo e
o que ainda vai fazer são suficientes para eu ser eternamente
grato a ele. — Esta é a maneira mais suicida que alguém pode
encontrar. — Senti a sua voz falhar. Sentimentalismo, a esta
altura do campeonato, não combina com alguém como ele. —
Diga-me que existe outra escolha além desta...
— Não tem. — Fui incisivo. Aproximei-me, encarando o
seu rosto. Dois homens atormentados por demônios. Tão
distintos e, ao mesmo tempo, tão comuns. — Diana vai
precisar do seu apoio e da sua proteção. Tudo o que eu peço é
que não falhe com ela e muito menos comigo, meu irmão. —
Disse com a voz dura, segurando o seu ombro e o trazendo
para mim. Tantas lutas já enfrentamos juntos. Tantas
batalhas e, em todas elas, saímos ilesos. Só que dessa vez eu
não sei como vai ser. — Todas as informações estão naquele
envelope — apontei na direção da mesa onde descansava um
grosso envelope marrom. Direcionou o olhar para lá. — O
Carvalho já está a par de tudo e tem o meu aval para agir
quando o momento certo chegar. — Me afastei.
— Porra, velho... essa merda... — Lamentou, exasperou-
se. — A Liliana vai ficar uma arara quando descobrir... podia
ao menos ter revelado quais eram os seus planos a ela.
— Quanto menos pessoas souberem, melhor. E você me
conhece, odeio despedidas. — Suspirei exausto. — E com
certeza ela tentaria me convencer a desistir de tudo e, por
mais estranho que isso fosse, eu terminaria cedendo.
— E se as coisas não saírem como você quer? Já pensou
que pode haver este risco? Você não tem o controle de tudo,
cara!
As suas preocupações não eram sem sentido. Já
tinha refletido sobre tudo isso, porém, só tinha uma saída.
Quanto a mim, só restava torcer para as coisas acontecessem
da forma que eu tinha planejado. Nada do que Herbert
dissesse tentando me dissuadir teria resultados, então se
calou. Sem fazer barulho caminhou na direção da mesa e
pegou o envelope. Não me encarou mais. Murmurando “boa
sorte”, se retirou. Suspirei profundamente, buscando acalmar
os meus nervos.
Sorte. Era tudo o que eu não poderia contar.

O ar noturno estava cedendo espaço para o dia começar


a raiar. Fechei os olhos, tentando relaxar, embora soubesse
que seria em vão. O redemoinho na minha cabeça não me
dava trégua.
Respirei de forma lenta e intercalada me preparando para
me deixar guiar por alguém doente, cruel e violento. Demétrio
seria sempre uma pedra nos meus calcanhares enquanto
existisse.
Como combinado, parei o carro no acostamento e
aguardei aquele filho de uma rapariga aparecer, o que
demorou menos de cinco minutos. Logo ouvi ao longe o
barulho do jatinho, que não demorou a pousar a poucos
metros de distância de onde estávamos. Quando os vi saindo
da máquina fiz o mesmo, saindo do veículo. Distraído, andei
na direção deles. Um sorriso de glória repercutiu no seu rosto,
reconhecendo que estava vencendo o jogo. Coloquei as
minhas mãos nos bolsos da calça, ignorando o seu olhar.
— Pontual. Sabia que você não ia me decepcionar, irmão.
— O cinismo escorria em cada sílaba. Parei a poucos
centímetros de distância e, dessa vez, olhei bem dentro dos
seus olhos, e, por uma breve fração de segundos, o vi
estremecer. A calma nunca foi uma das minhas melhores
virtudes, mas aprendi a cultivar este sentimento.
— Parece um cordeiro pronto para o abate! — Vanessa se
juntou a ele no momento que eu me aproximei. Olhando
milimetricamente para mim, ambos gargalharam com
demonstrada histeria. — Quem sabe podemos fazer um
trisal? — George a encarou alarmado ao ouvir as ideias
obscenas que saíam da sua boca.
— Nem pense em uma putaria deste tamanho — repeliu
incisivo, fulminando-a — ou eu te deixo aqui mesmo para ser
comida pelos leões da floresta. — Ela estremeceu, temendo
que ele cumprisse a ameaça.
Os dois discutiam entre si e eu apenas fiquei parado lá,
observando o desenrolar da cena.
— Estou aqui, porra! — Bradei alto, acabando com show
dos dois merdas. — Aconselho a ir direto ao plano macabro de
vocês e suspender o ataque no orfanato. — Eles me encaram
soberbos.
— Apressado, irmão? — Hostilizou-me. — Estava
querendo me divertir mais um pouco...
— Nem pense nisto, seu terrorista de merda! — Avancei
para ele igual a uma fera. George ficou em pânico ao me ver
tão furioso. — Não ouse continuar com o seu plano macabro.
— Você não dá as ordens aqui. — Enfrentou-me. Dos
seus olhos saíam faíscas de fogo. Imagino que dos meus
também. — Sou eu quem está no controle. E se eu quiser
mandar todas aquelas crianças pelos ares, basta fazer isso —
estalou os dedos — e dessa vez não será um mero incêndio
sem nenhuma vítima. Se a bomba for acionada não restará
um só fio de cabelo da sua preciosa filha. — Filho de uma
chocadeira. Penso em dizer várias verdades, mas reconheço
que estou em desvantagem. Não posso contrariá-lo. Um
telefonema e eu perco tudo. Contra a minha vontade soltei
aquele miserável criminoso.
— Vejo que ainda tem bom senso. — Debochou. — Entre
na aeronave. — Mandou-me.
— O quê? — Olhei com incredulidade. — Não era esse o
nosso combinado.
— Mudanças de planos, irmão. — Sacou a pistola,
apontando na minha direção. — Entra! — Ordenou. Relutei
por alguns instantes. — Entra antes que eu desista e atire na
sua cabeça agora mesmo. E você sabe que eu sou capaz.
Não existia outra opção. Infelizmente, eu caí em uma das
suas armadilhas. Caminhei na direção da aeronave.
— Vamos fazer um passeio pela fazenda do nosso pai. —
Ironizou. E eu vi um brilho diabólico nos seus olhos quando o
avião decolava.
Reconheci que eu tinha perdido.

Acordei em um sobressalto, sentindo um gosto amargo


na boca e uma angústia no peito.
O Marco não estava ao meu lado como todas as manhãs.
Procurei no banheiro e por toda a mansão. Perguntei aos
empregados. Eles informaram que não o tinham visto. Tudo
estava muito estranho. Liguei para o seu celular e obtive o
silêncio como resposta.
— Não fique assim, filha. — Liliana tentava me acalmar,
insistindo que talvez ele tivesse alguns compromissos e não
conseguiu me avisar. Duvidei daquilo que ela dizia. Conhecia
Marco o suficiente para saber que ele não sumiria assim.
Tinha algo errado.
— Herbert deve saber nos dizer para onde ele foi. —
Herbert era o seu fiel amigo, sabia de todos os seus passos e,
com certeza, ele teria alguma explicação para o seu sumiço.
Levantei-me para sair a sua procura.
— Herbert também não está na mansão. Não o vi
também, assim com os demais empregados. — As palavras da
minha mãe foram como se alguém jogasse água gelada no
meu rosto. Se antes eu tinha dúvidas de que algo tinha
acontecido ao Marco, agora eu tenho certeza. Nervosa,
caminhei pela sala sentindo uma dor pontiaguda perfurando
o meu peito.
— Logo teremos uma resposta do que tudo isso significa.
— Ela me consolava. E tivemos. Só que não da maneira que
estávamos imaginando.
Às duas horas da tarde saiu a sentença do juiz.
Felizmente, tínhamos a guarda da Sophia. Oficialmente ela
era a nossa filha. Foi emocionante o nosso reencontro.
Finalmente o pesadelo tinha chegado ao fim.
Quem trouxe a Sophia para casa foi a assistente social e
Herbert. Fiquei tão feliz quando tive a minha menina de volta
nos meus braços! A reconstrução do abrigo tinha sido
concluída e a dona Amélia já estava morando em seu novo lar
com as crianças. O Marco fez um trabalho lindo!
Era um dia de festa porque a Sophia finalmente era
nossa, mas não íamos comemorar.
— Onde está o Marco? — Indaguei mais uma vez ao
homem tatuado que nem coragem para me encarar tinha.
Liliana estava presente e, assim como eu, estava desesperada
com o desaparecimento dele. — Diga-me para onde ele foi! E
não quero ouvir mentiras eu quero a verdade. Fala, caralho!
— Essa agonia estava me deixando nervosa. Tentou em vão
resistir em nos contar o que de fato aconteceu. No fim acabou
revelando tudo.
— Onde vocês estavam com a cabeça quando planejaram
algo tão suicida? — Liliana brigou com o Herbert.
Meu Deus, que pesadelo é este que eu estou vivendo?
— Foi a única maneira que ele encontrou para salvar as
pessoas que ele ama. — Herbert parecia arrasado. Natural
que estivesse se sentindo assim. — Eu tentei Lili, tirar essa
ideia insana da cabeça dele, mas você sabe como ele é. Me
perdoa, Diana... — Implorou arrependido. Solucei mais forte,
tentando entender tudo isso.
Como eu ia imaginar que o George, além de assassino,
era um terrorista e que foi ele quem mandou colocar fogo no
orfanato? Meu Deus, eu tive um relacionamento com um
doente mental. Um sociopata. Como eu nunca enxerguei isso?
George pretendia nos matar, por isso Marco marcou este
encontro com ele. Como uma forma de fazê-lo parar. Agora
estamos aqui, todos desesperados e em pânico, sem saber de
notícias suas.
— Vocês deviam ter me contado o que estava
acontecendo. — Comentei enxugando as lágrimas, em vão,
pois elas não paravam de cair.
— Eu sei. — Assentiu com pesar. — Mas o Marco não
queria deixar ninguém preocupado. Ele achava que ia
conseguir resolver tudo sozinho.
Funguei com o coração apertado.
— Você ao menos sabe aonde eles iam se encontrar? —
Perguntei, cheia de esperanças em obter uma resposta.
Balançou a cabeça dizendo que não e eu vi a minha
esperança aos poucos ir morrendo. — Porra, Herbert... —
disse desesperada. — Precisamos fazer alguma coisa para
encontrá-lo. Avisar a polícia.
— As autoridades já foram informadas e elas até
iniciaram as buscas. — Suspirou. — A polícia já está com as
provas de todos os crimes do George. Ele não só está sendo
procurado pela polícia brasileira, mas também pela Interpol.
Ele não vai conseguir escapar.
A cada minuto que passava, mais difícil se tornava para
encontrarmos o Marco. Isso era desesperador.
Começou a anoitecer e eu sabia que a noite ia ser longa.
Uma lágrima rolou na minha face, que sequei às pressas.
— Mamãe, a senhora precisa comer — a voz da Sophia
me retirou da inércia. Com tristeza encarei o meu prato
intocado. Liliana também estava em uma tristeza de cortar o
coração — se a senhora não comer, o meu irmãozinho não vai
nascer forte e saudável, não é vovó Lili? — Não aguentei e
esbocei um sorriso, ainda que carregado de dor ao ouvir as
suas palavras. A Sophia pegava as coisas no ar e logo ela
entendeu que a Liliana era a minha mãe e, por sua vez, a sua
avó. Pode isso? — Mamãe, o papai vai voltar em breve. Ele
prometeu que nunca abandonaria a gente. — Me derreti igual
manteiga na torradeira ao ouvir as suas palavras tão
convincentes e cheias de certeza. Quisera eu não ter medo e
acreditar nisso também! Mesmo sem vontade, resolvi comer
um pouco. Afinal, eu tinha que concordar com a minha filha.
Tinha alguém dentro de mim que precisava estar bem
nutrido.
CAPÍTULO 32
Eu olhava aturdido ao meu redor, com o rosto coberto do
sangue que escorria da minha boca e nariz. Aquele puto
desgraçado amarrou os meus braços e pernas e começou a
me esmurrar sem que eu pudesse me defender, tendo como
plateia a vadia da Vanessa e o piloto da aeronave.
— Olha só o seu estado, irmão! — Agarrou o meu couro
cabeludo, me erguendo com um brilho de vitória estampado
em seu rosto. Minha cabeça rodava e eu sentia calafrios por
todo o meu corpo. — Deplorável! — Contando vantagem
desamarrou minhas mãos e pés, pois sabia que eu não tinha
forças e tato para atacar. Espezinhou-me. Zombou de mim. E
me largou no chão como se eu fosse um saco de batatas.
Tossi, pingando sangue para todos os cantos.
Retirou um papel não sei de onde e me fez sentar na
poltrona, todo molengo como um boneco de pano.
— Chegou a hora do nosso último ato, irmão. — Tinha
um monte de merda escrita no documento e eu ficava cada
vez mais chocado com o seu estado psicótico. Sempre soube
que ele beirava à loucura, mas não imaginava que isso ia
além. Naquele maldito documento, não só estava escrito para
tomar tudo àquilo que eu havia construído como também
dava a ele o direito de ser o marido da minha mulher, Diana.
Porra. Ele queria minha vida e tudo que tinha. Nem fodendo
que este animal vai obter resultados. — Assine! — Pegou a
pistola e colocou na minha cabeça. — Assine a porra deste
documento! — Ordenou, puxando o gatilho. Demonstrei que
suas ameaças não me amedrontavam.
Percebi que o avião estava se preparando para pousar.
Tínhamos chegado à fazenda.
O lugar que foi o início da minha libertação seria o lugar
da minha ressurreição. Não é irônico?
— Assina, porra! — Deu-me uma coronhada que minha
cabeça tombou e o sangue desceu na testa. — Estou
perdendo a paciência, irmão!
O mal a gente corta pela raiz, filho!
Sorri como se estivesse sob o efeito de uma droga ao me
recordar das palavras do velho Genaro.
Um dia você vai embora deste inferno.
Mais eu não quero ir e deixar o senhor.
Deixa de bobagem. Ou você prefere continuar aqui e ser
espancado pelo Demétrio? Aquele lá fez pacto com o diabo.
Não. Mas se eu for o senhor vem comigo?
E por que você quer que eu vá com você?
Porque eu gosto do senhor.
Bobagem, menino. Eu sou uma alma ruim.
Não para mim. Você é um pai para mim.
Na época, eu ainda não sabia que ele era o meu
verdadeiro pai. Porém, com toda a minha inocência, tive a
impressão que ele gostou de saber disso. É verdade que ele
me ensinou muitas coisas que não serviam para nada,
contudo, os seus ensinamentos, ainda que contra os valores
humanos, foram a base para sobreviver neste mundo onde as
pessoas enxergam crianças pobres como marginais. Lembrar
de tudo isso, por alguma razão estranha, me absolveu da
culpa que carregava nestes anos todos.
No meio daquele dia fatídico, pela primeira vez desde que
deixei aquele lugar no meio da madrugada, eu percebi que o
velho Genaro nunca me responsabilizou por sua jornada ter
chegava ao fim. Ele não imputou a culpa por eu ter ido
embora enquanto ele agonizava de dor até morrer. Prestes a
pisar de novo naquele solo manchado de dores, lágrimas e
tragédias, eu me perdoei e assim eu concedia a mim mesmo o
próprio indulto.
O lugar que te destrói é o mesmo lugar que te absolve.
Aceitei o passaporte da minha vida carimbado pelo meu
destino.
Por mais cruel que isso fosse.
Por mais que isso doesse.
A única saída era essa.
Ainda sorrindo, encarei com profundidade aquele que um
dia eu considerei como irmão. Nós não tínhamos nada em
comum. Mas, naquela pequena aeronave, naquele pequeno
cubículo, fomos igualados. Ele com o seu mal. E eu
alcançando a redenção.
O espectro do velho Genaro alcançou os meus olhos e,
pelo seu semblante, vi que ele estava de acordo. É preciso
aprender a sepultar os próprios mortos e não fugir dos
fantasmas, porque eles sempre vão te pegar.
Vanessa nos encarava com certo pavor e um misto de
rebeldia, esperando ansiosamente o desfecho deste capítulo.
Mal ela sabe que serei eu quem vai apitar o final do jogo.
O pavor do Demétrio era suficiente para enlouquecer
qualquer mente sã.
Para ele sempre seria trágico admitir ou aceitar que eu
sempre daria a última cartada.
O último sacrifício seria meu, e não dele.
Neste jogo, só podia existir um vencedor e, portanto...
— O quê? — Indagou-me quase sem voz quando remexi
no meu bolso e trouxe algo para fora. O brilho diabólico
continuava nos seus olhos, só que agora eles revelavam algo
diferente.
O medo o atingiu em cheio, reconhecendo tardiamente
que o fim era iminente. Breve. E ininterrupto.
— Espero que tenha aprendido a voar, irmão!
Apertei o botão mandando tudo pelos ares.
CAPÍTULO 33
— Não!
Foi tudo o que saiu da minha boca no momento que
escutei o investigador nos avisar sobre a tragédia.
— Marco Roga estava em uma aeronave com os seus
supostos sequestradores quando teve uma explosão… —
Sinto as minhas pernas tremerem. Liliana permanece ao meu
lado, segurando as minhas mãos e me dando forças. Herbert
permanece parado em pé, próximo ao investigador, ouvindo
tudo em silêncio. — Ainda é cedo para termos uma resposta
conclusiva, mas ao que tudo indica não houve sobreviventes.
— A cada palavra, sinto como se alguém tivesse cortado o
meu coração em pedaços pequeninos. — Sinto muito por ser o
portador de uma notícia tão trágica como esta. — Mirou em
cada um de nós ao dizer.
Um silêncio fúnebre tomou conta de cada um de nós,
como se o chão tivesse sido removido dos nossos pés.
Sem dizer mais nenhuma palavra, apenas um aceno e
um sonoro "até logo", o investigador se retirou. Herbert o
acompanhou até a porta. Eu só conseguia soluçar e chorar
nos braços da minha mãe, que também estava arrasada.
Senti uma dor desconfortável na minha barriga, sentindo
um líquido frio descendo entre as minhas pernas.
— O Zion vai nascer! — Liliana percebeu e foi a primeira
a gritar, com um misto de alegria e tristeza.
Levei alguns minutos para processar a imensidão de tudo
isso. Não sabia se chorava pela probabilidade da morte
trágica do Marco ou se pelas dores das contrações, que
pareciam aumentar a cada instante.
Liliana foi uma verdadeira mãe, me auxiliando nesse
processo. Sua calma diante do caos era o que me deixava
impressionada. Herbert se prontificou a nos levar ao hospital,
ao mesmo tempo que Aline, uma das empregadas, foi ao
segundo andar e trouxe os pertences do bebê.
Seguimos apressados e aflitos para a maternidade.
Estava ansiosa para segurar o meu bebê nos meus braços e,
ao mesmo tempo, sentia uma dor imensa no meu coração ao
concluir que o Marco não estaria conosco para vivenciar este
momento. Lágrimas desciam pelo meu rosto à medida que
pensava sobre isso, ao mesmo tempo em que as contrações
aumentavam.
Chegamos à maternidade e uma equipe de enfermeiros e
médicos, assim como a minha obstetra, me aguardava na
emergência. Imediatamente eles me deitaram em uma maca e
me levaram por um longo corredor até chegarmos a um
elevador e irmos para a sala de parto, que estava situada no
quinto andar. As dores não diminuíam e eu comecei a gritar
enquanto eles tentavam-me tranquilizar. Minha mãe não
largava minha mão um minuto sequer. Meu pai já tinha sido
informado, assim como minha amiga Pâmela. Nessa altura,
eles já estavam na sala de espera, aguardando as notícias.
Na sala de parto eles me prepararam, examinando-me e
afirmando que o bebê ia nascer a qualquer momento. Meu
coração batia forte com essa possibilidade. Eles me pediram
para fazer forças, mas me sentia tão esgotada que não já
conseguia mais gritar, de tão rouca que estava. Minha mãe
enxugava o suor que escorria pelo meu rosto, assegurando
que não demoraria. Os médicos pediram que eu me
esforçasse. Sinto vontade de dizer vários absurdos. Mais do
que já estava me esforçando? Impossível. Deveria ter optado
por uma cesariana, assim eu não estaria aqui, sofrendo e
desesperada.
Marco e eu sempre falamos em ter um parto normal.
Durante nossas conversas ele sonhava com esse momento.
Segurar minhas mãos, como a minha mãe está fazendo, e me
dar forças para trazer o nosso filho ao mundo. Quem poderia
imaginar que a realidade seria diferente? Neste momento,
Marco pode estar perdido em algum lugar daquela mata, ou
até mesmo morto.
Solucei forte quando esse pensamento rebobinou em
minha mente.
Gritei tão forte e tão alto que todos na sala sentiram o
som em seus tímpanos. Assim como gritei, também fiz uma
força descomunal e fui preenchida com o choro do meu bebê.
Animações, vozes e risos foram ouvidos quando meu filho
nasceu. Emocionada demais, deixei que as lágrimas rolassem
no meu rosto.
— É um lindo menino! — comentou a minha obstetra
quando colocou o meu filho em meus braços. Encantada
demais com o pequeno herói, toquei gentilmente o seu
rostinho vermelho, admirando os seus olhos e reconhecendo
nele os mesmos olhos do Marco. O meu coração transbordou
de uma maneira inimaginável. Eu tinha em minhas mãos
uma mini cópia do homem que eu amava. Solucei forte com a
emoção à flor da pele. Ele ainda chorava, mas foi só encontrar
o meu olhar que ele se acalmou. E o meu coração se encheu
de paz.
— Ele é lindo... — minha mãe sussurrou, como uma avó
babona que ela era. Assim como eu, ela também foi
enfeitiçada por ele. Zion era capaz de cativar a todos ao seu
redor.
Logo, ele foi retirado dos meus braços, pois precisava
receber alguns cuidados essenciais, assim como eu também
precisava. Assim que eu fosse levada para o quarto, o meu
Zion também estaria lá.
Permaneci quarenta e oito horas na maternidade antes
de ser liberada. Eu e o meu filho nos preparamos para voltar
para a nossa casa. Foi um momento de comoção, solidão e
aceitação, porque ainda estava doendo ter a noção da
realidade que estava vivendo. Essa era uma daquelas dores
que dificilmente teria cura.
Retornei para a mansão do Marco porque sentia que lá
era a minha casa e porque lá no fundo do meu âmago, eu
alimentava a esperança que ele voltaria para mim. Para a
nossa família. Seu desejo era acompanhar passo a passo o
desenvolvimento do Zion e ele honraria a sua promessa.
Contudo, uma semana se passou, seguida de outra, e o
resultado continuava sendo o mesmo. Isso começou a me
deixar aflita e, aos poucos, eu me sentia sem esperanças de
que ele fosse encontrado. Durante o dia, eu tentava passar
aquela pose de mulher forte. Aquela que ainda tinha
esperança que ele voltasse. E eu dizia isso para as pessoas.
Mas quando chegava à noite, quando todos na mansão se
recolhiam e eu ficava sozinha na suíte, chegava à triste
conclusão de que nunca mais o veria. Recordava de nós e
então caía em um pranto infinito. Nunca pensei que nosso
final seria assim tão doloroso e insuportável. Lembrava dos
seus beijos lentos e selvagens. Das suas palavras doces e
gentis. Na maneira como ele acreditava e vivia a sua vida.
Tudo isso me deixava com o semblante de tristeza por aquilo
que não construímos juntos e, ao mesmo tempo, grata por ele
ter me proporcionado os melhores momentos da minha
existência. Momentos estes que sempre seriam preservados
em minha lembrança. Grata pelos pequenos e grandes
instantes. Grata pelos dois filhos que ele me deu. Sophia e
Zion são a parte mais bonita do Marco, e isso é algo que não
se explica. Lembro que foi aqui que fizemos sexo pela última
vez. Lembro o quanto ele foi doce, gentil, preocupado e
compreensivo. Pensar que foi naquela noite que ele me disse
que me amava.
Refletir sobre tudo isso dói, mas me deixa em paz, pois
tenho certeza do quanto fui amada por ele.
O homem rude que buscava vingança não era um
homem cruel, muito pelo contrário, era o homem mais
amoroso que eu conheci.

Quinze dias depois que voltei do hospital para casa,


recebi uma das piores notícias. A polícia encerrou as buscas
referente ao sequestro de Marco, que resultou em uma
explosão. A cada palavra proferida era como ter uma adaga
enfiada no meu peito.
Para as autoridades, o homem que eu amava estava
morto.
— Eu me recuso a acreditar nisso — revelei com tristeza.
Minha mãe me abraçou, compreendendo aquilo que eu estava
sentindo.
— Infelizmente, isso é lamentável para todos nós. —
Carvalho, um dos advogados de Marco, estava conosco no
escritório e lamentava com tristeza a morte do seu cliente. —
Com isso, só resta realizar a última vontade do senhor Roga.
— Ainda estava furiosa e abatida com o fato que até o
advogado sabia daquele plano absurdo. E agora ele estava ali
para fazer cumprir o desejo de Marco.
Isso era revoltante. Percebi que todos tinham perdido a
esperança de encontrá-lo. Pelo que eu percebi, Marco fez um
testamento deixando todo o seu patrimônio para os nossos
filhos, e eu, como a única responsável por eles, precisava
administrar todos os bens, ou seja, tinha que assumir a
presidência da Construtora Roga. O advogado ainda leu uma
cláusula em que o Marco deixava uma alta quantia em
dinheiro e imóveis para Liliana e Herbert.
— Como ele pode... — Liliana estava incrédula. Jamais
imaginou que durante aqueles anos, Marco tivesse criado
uma reserva de emergência para as duas pessoas em quem
mais confiava no mundo. A quantia em dinheiro era muito
alta, e não acabaria tão facilmente. Era óbvio que tanto
minha mãe quanto Herbert haviam se tornado milionários.
— O Marco sempre quis garantir o futuro de vocês. —
Revelou o advogado. — Com o fim das investigações, não
temos outra escolha a não ser cumprir sua última vontade.
— O senhor acredita que Marco está morto? — Arrisquei
perguntar. Percebi que o advogado relutou em me dar uma
resposta imediata. Ele refletiu por alguns instantes antes de
responder.
— Uma explosão daquela magnitude dificilmente deixaria
sobreviventes. — Suspirou. — De verdade, sinto muito. —
Balancei a cabeça, sem saber o que dizer.
Uma nuvem fúnebre se estendeu entre nós ao longo dos
dias.
Realizamos uma cerimônia na igreja para que Marco
pudesse descansar. Ele não era religioso, mas acredito que,
independente de tudo, a sua alma encontrou o descanso que
tanto precisava. Foi uma cerimônia linda e muito
emocionante. O padre fez um sermão que emocionou a todos
os presentes. Por alguma razão que eu desconhecia, naquele
dia eu me senti mais confortável.
Depois do encerramento, retornamos para casa. Para as
nossas vidas. Em um mundo onde não nos veríamos nunca
mais.
CAPÍTULO 34
A vida fluía lenta às vezes, em outras vezes rápida
demais. Passava horas dentro do closet cheirando as suas
roupas, segurando as suas coisas e a saudade em meu peito
aumentando. O luto foi diminuindo, mas a dor ainda não.
Sentia sua presença de forma constante e às vezes
duvidava que ele não estivesse mais aqui. Sonhava com ele
todas as noites. Ele chegando sorrateiro, me abraçando, me
beijando e repetindo o quanto me amava. Tudo isso não
passava de uma fantasia da minha cabeça, mas às vezes eu
queria tanto que tudo isso se tornasse real!
Em um mês, ou setecentos e vinte horas, escutei o meu
telefone tocar quando terminava de amamentar o Zion.
Sophia estava na escola. Procurei o meu celular, pois ele não
parava de tocar.
Herbert.
Franzi o cenho ao ver o nome na tela. Há dois dias ele
inventou uma viagem, não sei para onde e nem para tratar
sobre o que, e somente agora estava me ligando. Atendi a
ligação colocando no viva-voz enquanto embalava o Zion para
fazê-lo dormir.
— Oi, Herbert. Aconteceu alguma coisa? — Perguntei
quando o seu rosto surgiu na tela do aparelho.
— Tem como você vir a Montes Claros? — perguntou-me
com um vislumbre de empolgação. Já tinha ouvido falar sobre
esta cidade. É uma cidade pequena, acho que não chega a
cinco mil habitantes, mas não me recordei no momento. — É
sobre a construtora... — A sua voz tinha certo receio, como se
ele tivesse ocultando alguma coisa importante.
— Precisa ser hoje? — Estava em dúvidas se atendia o
seu chamado ou não.
— Sim. — Percebi que ele estava nervoso, impactado com
alguma coisa. — Já avisei ao Carvalho para preparar o jatinho
da empresa. Ele vai fazer companhia à você.
Achei tudo aquilo muito estranho, mas acabei dizendo
que iria. Sem me agradecer, a tela escureceu.
Grosso!
Ralhei como se ele pudesse me escutar. Me preparei para
essa curta e repentina viagem, que não demorava mais do que
dez minutos de avião. Em menos duas horas, deixei a Liliana
cuidando das crianças e fui ao encontro do Herbert com certa
temeridade.
Não demoramos e logo me vi na cidade que tinha o
formato de um ovo. Tudo era muito próximo: aeroporto,
supermercado, farmácia, posto de gasolina e hospital.
Vimos o Herbert andando em nossa direção com o
semblante fechado, como sempre. Paramos ao nos deparar
frente a frente e ele fez um breve aceno ao nos cumprimentar.
— Eu não sabia como te dar esta notícia por telefone, por
isso pedi que você viesse. — Comecei a ficar preocupada com
todo este suspense. — Não quer se sentar? Tomar uma água?
— Perguntou indeciso ou só estava tentando ganhar tempo.
— Me fala logo, Herbert. — Pedi, ficando apreensiva.
— Eu descobri o paradeiro do Marco... — Meus olhos
aumentaram de tamanho em um misto de euforia e
desespero. Levei alguns segundos para processar a
intensidade desta informação.
— Como? Onde ele está? Ele está bem? — Disparei
perguntas querendo arrancar todas as informações que ele
sabia.
— Ele está bastante ferido e desidratado. Os médicos não
sabem dizer qual é a dimensão do estado. — Meu coração
bate tão forte que acho que não vou aguentar. — Ele passou
muitos dias perdido na floresta e está em um estado muito
crítico. Ele está em um hospital.
— Hospital? — Coloquei minhas mãos na boca, sentindo
as lágrimas descendo no meu rosto. — Aquele? — Apontei na
direção. Ele assentiu. Desesperada, como se carregasse algum
saco de chumbo nos meus ombros, corri na direção. Ansiosa
para reencontrá-lo. Para ver de perto qual era o seu estado.
Corri até alcançar o hall de entrada e entrei na recepção.
Algumas pessoas me observaram ao entrar, mas não dei a
mínima. Neste momento, eu só queria ver e estar com o
Marco. O advogado e Herbert estavam atrás de mim.
O médico, um pouco franzino, que cuidava do Marco,
autorizou a minha entrada. O hospital era público e era nítido
que faltavam muitos recursos.
Entrei no quarto 302, onde ele se encontrava, com o
coração nas mãos. Encostei-me na porta, tentando não
chorar, mas logo percebi que seria impossível. Respirando
infinitas vezes, caminhei devagar até a cama onde ele estava
deitado. O barulho dos aparelhos ligados e a sua respirando
rítmica eram um dos momentos que jamais irei esquecer
porque isso reforça o fato que ele ainda continua ao meu lado.
Me aproximei e fiquei chocada com a sua aparência
física, que em nada se parecia com o Marco vaidoso que ele
era. Aqueles trintas dias na floresta devem ter sido um dos
momentos mais difíceis e dolorosos para ele. Seu rosto estava
um pouco roxo, os seus olhos fundos mesmo estando
fechados. Seus braços e pernas tinham vários hematomas.
Deslizei minha mão pela sua pele com receio, temendo
machucá-lo ainda mais. Notei que ele havia perdido alguns
quilos. Segurei sua mão e percebi que ele ainda conservava o
mesmo toque, que tantas vezes havia tocado meu corpo. Suas
unhas estavam grandes e seus dedos machucados. Ele sofreu
muito neste último mês, passando frio e fome.
Solucei com mais intensidade ao ver de perto sua dor e
sofrimento. Aproximei a sua mão do meu rosto, acariciando
de maneira terna, transmitindo-lhe todo o meu amor. Voltei a
olhar o seu rosto e um sorriso brotou dos meus lábios quando
vi que ele me encarava.
— Meu amor... — murmurei, encantada com a doçura
que eu via em seus olhos. A emoção me dominou quando
aquele par de olhos de negros olhou para mim outra vez.
Naquele momento, percebi que ainda existia esperança
para nós.
— Di-a-na. — Pronunciou meu nome com dificuldade,
me fazendo rir ao perceber que ele me reconhecia. Isso era um
sinal de que ele ficaria bem. — Eu... — Tentava formular
palavras, mas tinha dificuldades.
— Não precisa falar nada, meu amor. Eu estou aqui e
nunca mais vou me afastar de você. — Fez um gesto de rir,
mas foi mais como uma careta, ainda assim a mais bonita
que já vi.
— Te amo... — Disse com a língua enrolada. Seus olhos
se fecharam. Os aparelhos começaram a apitar. Fiquei
desesperada, olhando para ele.
— Marco... Marco... fala comigo, meu amor! — Novas
lágrimas brotaram dos meus olhos quando braços fortes me
impediram de chegar perto dele. Os médicos entravam e
saíam do quarto tentando reanimá-lo. Contra a minha
vontade, fui retirada de lá pelos enfermeiros e pelo Herbert.
— Ele não pode morrer... — dizia sem parar, sendo
consolada pelo advogado e o fiel escudeiro do Marco.
Se algo grave acontecer, eu não vou aguentar.

— Não aguento mais ficar deitado nesta


cama. — resmungou igual aqueles idosos quando são
obrigados a ficar deitados. — O doutor Cristóvão podia me
liberar logo — bufou. — Não vejo a hora de segurar os meus
filhos em meus braços — ele tinha razão. Era muito doloroso
para ele ver as crianças por vídeo chamadas.
Desde que o encontrei no hospital de Montes Claros, sua
cidade de origem, após aquela crise, ele ficou em coma
durante quinze dias e mais quinze dias em observação.
Completando hoje. O hospital de Montes Claros não tinha
suporte para fazer o seu tratamento, então ele foi transferido
para um hospital aqui na capital.
— E sem contar que estou louco foder com a minha
mulher — revirei os olhos, recriminando-o. Pronto, Marco
Roga estava de volta. O depravado. — O quê? Vai dizer que
você não sentiu falta do meu pau? — Meu Deus, tinha me
esquecido como ele era assim. Sem filtro. Não respondi, mas
ele sabia que tinha razão. Não só sentia falta do seu pau,
como também do pacote completo.
As quatorze horas, o médico entrou no seu quarto e
finalmente agora ele podia retornar para casa.
Comemoramos. Finalmente ele estava recuperado e não
teria sequelas.
— De volta ao meu lar, onde está o meu coração — disse
quando Herbert parou o carro na garagem. — Desculpa por
ter sido impulsivo e ter feitos algumas besteiras — pediu.
— Você não precisa me pedir desculpas — acariciei o seu
rosto, beijando os seus lábios. — O pesadelo acabou. Você
está de volta e é isso o que realmente importa — assentiu.
Saímos do carro.
Quando abrimos a porta, todos estavam nos aguardando
na sala e vibraram quando entramos. Ficamos envoltos em
um clima de alegrias, risos, aplausos e lágrimas.
— Papai, o senhor está de volta! — Sophia disse quando
ele a abraçou e a levantou no ar, o que ela adorou. Quando
ele a colocou no chão, seu olhar voltou-se para Liliana, que
segurava o Zion. Emocionado, ele se aproximou até pegar
nosso filho nos braços. Sentia a emoção que emanava dele ao
se ver diante desse acontecimento. Lágrimas brotaram de
seus olhos. Com gentileza, ele tocava o bebê com uma
comoção imensa, como se ele fosse um acontecimento raro
em sua vida. Alisou seus cabelinhos e o trouxe para o seu
peito, beijando o topo de sua cabeça. Foi uma cena linda de
se ver. Também fiquei emocionada.
— O que eu perdi?! — Enxerguei sofrimento em suas
palavras. Sabia a que ele se referia. Ao fato de que Zion
cresceu tanto nesses penosos dois meses. Os meses mais
dolorosos e felizes de nossas vidas. — Ele cresceu tanto e eu
não acompanhei isso... — Toquei seu ombro.
— Você não perdeu nada. — Ele fez menção de rir. —
Você pode viver tudo a partir daqui.
Ele concordou que eu tinha razão e me abraçou.
CAPÍTULO 35
Eu estava de volta.
E este sentimento era um misto de euforia e medo
martelando dentro de mim, porque todas às vezes que eu
fechava os meus olhos, eu sentia estar vivendo de novo aquele
pesadelo. Mas ainda eu ouvia a voz da minha filha, a
presença de Diana e os pequenos sussurros do meu filho.
Percebia que estava em casa. No meu lar. O lar da minha
família. E isso me trazia paz.
Depois de dois meses, eu voltava a tomar banho no
banheiro da minha suíte, usar as minhas roupas, os meus
perfumes. Perambular naquela mansão que tinha uma nova
aparência. Sim, depois de dias vivendo no inferno sem
esperanças de sair, eu sentei na minha mesa e tive uma
refeição decente.
— Você nos deu um susto enorme. — Levantei o olhar ao
escutar o seu comentário. Como sempre, ela me encarava
com certo alívio. Se para mim não foi fácil passar por aquele
inferno, para eles deve ter doído em dobro. — Quando Herbert
me contou o que você tinha feito, eu pensei em te dar uma
surra por tamanha irresponsabilidade. — Caminhou e se
sentou ao meu lado. — Só que aí você não voltou para casa e
o pesadelo começou. — As lágrimas deslizaram.
— Desculpa... — Foi tudo o que eu consegui dizer ao
sentir o seu sofrimento.
— Você não precisa me pedir desculpas. No seu lugar, eu
teria feito a mesma coisa para salvar as pessoas que eu amo.
— Não cheguei a derramar uma lágrima, mas estava
comovido. — Eu não sei o que aconteceu naquela explosão,
mas seja lá o que tenha acontecido, não carregue nenhuma
culpa do que aconteceu com você.
Ela me conhece.
E ela sabe.
No entanto, eu não preciso falar.
— E é muito bom saber que eu tenho o irmão que a vida
me deu de volta.
Emocionada, me abraçou. Quanto a mim, só me restou
retribuir a tanto carinho e compreensão.

— Ele é tão fofo dormindo. — Comentei quando vi o Zion


dormindo tranquilamente no berço. Tinha acabado de sair do
quarto da Sophia. Li uma história para ela até que ela pegou
no sono. Ajeitei-a com cuidado, aconchegando nos cobertores
e, ao apagar a luz, saí do quarto.
— Ele é sim. — Concordou, se posicionando ao meu lado.
— Parece tanto com o pai dele! — Fiquei orgulhoso com a
comparação. Zion era a minha cópia e isso ninguém podia
negar. Vaguei o meu olhar pelo seu corpo naquela camisola
de renda branca, que podia jurar que não tinha nada abaixo
dela além do seu corpo, que era quase uma escultura. Ela
sentiu o meu olhar varrendo o seu corpo. E o seu traseiro,
que sempre foi o meu fetiche. Só imaginava enterrar o meu
pau naquela bunda gostosa e na sua boceta gulosa.
Percebendo o meu olhar, ela passeou as suas mãos pelo
meu tórax com um olhar sedutor. Ainda que de camisa, senti
o meu corpo esquentar e o meu pau pulsar dentro da boxer.
— O Zion não vai acordar tão cedo — sustentei o olhar —
acho que podemos tirar o nosso atraso. O nosso filho não vai
se importar se os pais sumirem por alguns instantes.
Segurando a sua mão, levei-a para fora do quarto do
Zion. Seguimos pelo corredor, nos resvalando entre beijos,
abraços e amassos, até chegamos à nossa suíte.
— Quanta falta sentia deste pau em minhas mãos... —
Diana estava ajoelhada assim que removeu a minha calça e a
boxer. Seus dedos seguravam o meu pau como se fosse o seu
brinquedo predileto — na minha boca... — gemi quando senti
a sua língua me lambendo antes de ela colocar o membro na
boca e chupá-lo, me levando ao limite.
— Porra! — Gemi, segurando seus cabelos como um rabo
de cavalo dando a ela maior liberdade para fazer de mim o
que quisesse. — Vai engolir toda a minha porra... — Suas
pupilas dilatadas e ela se entregando, enquanto eu me
derretia cada vez mais, era uma visão perfeita. Em pé na
porta e ela ajoelhada me chupando era uma das visões mais
promíscuas que já vi. Quando enfim pude me libertar, ela
aproveitou cada gota que deslizava naqueles lábios que
sempre foram minha perdição.
Assim que gozei como ela queria, ergui-a para mim,
arrancando a sua camisola e, como eu previa, ela estava nua
como Deus fez. Deslizei minhas mãos pelo seu corpo, com o
prazer nos meus olhos, alcançando a sua boceta.
— Sempre pronta, feiticeira! — Resmunguei embriagado
de tanto desejo. — Dispensa as preliminares.
Virei o seu corpo, encostando-a na porta onde estive a
poucos segundos. Colei o meu corpo ao dela, massageando-a
com o meu pau. Ela gemia como a uma gata no cio. Segurei
as suas duas mãos acima da sua cabeça. Coloquei o meu pau
na sua entrada e arremeti com força dentro dela, arrancando
um gritinho de surpresa. Comecei a me movimentar,
aumentando a pressão dos nossos corpos, beijando os seus
lábios, seu pescoço, seus seios. Não os chupei, embora tivesse
o desejo de fazê-lo.
— Marco... Oh... Ah... — Seus gemidos me deixavam
cada vez mais louco, enquanto socava o meu pau dentro dela.
— Caralho... assim tu me matas, pequeña... — Dizia,
possuído por uma onda de prazer.
Diminuí os movimentos, deslizando as minhas mãos
pelos seus seios e abdômen. Segurando firme na sua cintura,
aumentei a velocidade, dando a ela todo o prazer que ela
merecia. A sua cabeça tombou no meu ombro no momento
em que gozamos juntos. Ainda com ela em meus braços, a
levei até nossa cama, deitei e comecei a beijar o seu corpo,
reiniciando assim a nossa noite que não teria hora para
acabar.
CAPÍTULO 36
Olhei-me no espelho não me reconheci neste vestido
branco e longo. Meus cabelos em um penteado fenomenal
feito pelas mãos da lindíssima Cibele Cordeiro, uma das
melhores cabeleireiras que eu conheço. A maquiagem bem-
feita, destacando meu olhar, feitas pela maquiadora Clarice
Fonseca. No meu peito, uma sensação de missão cumprida
pairava. Estava me sentindo uma diva e não era para menos,
afinal, hoje era o dia do meu casamento. Perante Deus e o
mundo íamos oficializar nossa união, que já era bastante
sólida.
Dez meses depois que tudo aconteceu, finalmente o
pesadelo que vivemos tinha ficado no passado. Marco é o
sonho de consumo de qualquer mulher deste planeta. Ele é
meu companheiro, meu amante, meu amigo e meu porto
seguro. É o melhor pai do mundo para os nossos filhos. Sim.
Ele ainda continua sendo aquele homem com um monte de
regras, ranzinza de vez em quando, mas acima de tudo,
bastante amoroso. Para alguém que enchia a boca para dizer
que não se apegaria a nenhum tipo de relacionamento, é uma
verdadeira surpresa ver no que ele se transformou.
Agradeço a Deus todos os dias por tê-lo colocado em meu
caminho e, mesmo tendo vividos momentos de atritos, medos
e desavenças, olhando para trás, reconheço que faria tudo
novamente. Tudo o que vivemos nos mostrou que o verdadeiro
amor tudo suporta, mesmo que, naquele momento, a gente
não compreenda.
Eu não sei dizer como o Marco sobreviveu àquela
explosão. Talvez um milagre. Prefiro acreditar que foi
exatamente isso. O George, a Vanessa e o piloto da aeronave
não tiveram a mesma sorte. O caso foi arquivado pela polícia,
afinal, o único responsável não existia mais. Quanto à minha
mãe, ou melhor, a Marieta, foi condenada a quinze anos em
regime fechado. Praticamente o resto de sua beleza e vaidade
se acabará naquela cela. Não a vi mais, como também não fiz
questão. Para mim, é como se ela nunca tivesse existido.
Mesmo tendo sido criada por ela, entre nós nunca houve um
laço verdadeiro. Enfim, ela vive lá, confinada na solidão de
seus dias, colhendo aquilo que semeou.
Já a Melissa, a secretária mentirosa do Marco, está presa
por ter sido cúmplice do George e da Vanessa e também por
difamá-lo, mesmo ele sendo um cidadão de bem. Enfim, tudo
o que fazemos nesta terra, pagamos aqui. É a lei do retorno.
Margarida continua morando na mansão, como sempre
foi, e quando possível, me ajuda a cuidar do Zion e da Sophia,
assim como no passado cuidou de mim.
Meu pai está tentando reconquistar a Liliana, seu grande
amor do passado. Mesmo ela não cedendo, percebo o quanto
ela fica balançada. Torço tanto para que eles se deem uma
chance! Mas não posso decidir nada por eles.
— Você está mais bonita do que já é — disse com uma
ternura ao se aproximar. — É uma verdadeira benção estar
com você em um dia tão especial como o seu casamento. —
Suas palavras me comoveram. Mesmo tendo sido criada longe
do seu amor, a conexão de mãe e filha é real e verdadeira.
Esta mulher segurou o meu mundo quando tudo estava
desabando. Ela me sustentou quando eu não sabia mais o
que fazer. Acho que Deus escreve tão certo em nossas vidas
que só vamos entender depois de um bom tempo.
— Estou tão feliz, mãe! — digo com a voz embargada,
tentando não chorar para não estragar a maquiagem, embora
soubesse que era a prova d’água. — Parece que o meu
coração está prestes a sair pela boca a qualquer instante.
Ela sorriu entre lágrimas e me abraçou com muito amor.
A porta se abriu e meu pai entrou, me admirando com um
semblante feliz.
— Meu Deus, você está radiante! — Segurou em minhas
mãos, permanecendo ao lado de Liliana. — A minha princesa
vai se casar. Inacreditável! Obrigado Deus, por me
proporcionar tamanha alegria! — Fez um gesto de oração,
elevando as mãos ao alto. Meu pai é uma figura. Desde que se
livrou das mãos da Marieta, ele mostrou de verdade a sua
essência. Não é mais aquela pessoa apagada que precisava
medir as palavras o tempo todo. Ele sorri com facilidade,
brinca com os meus filhos como se tivesse a mesma idade que
eles. Ele é hilário e muito divertido. Percebi a sua fisionomia
ficando séria e tive a impressão de que ele queria revelar
alguma coisa antes de nos levar até o jardim, onde tinha sido
montado um altar. Lá era onde ia ser realizada a cerimônia.
— Tenho uma novidade — notei uma troca de olhares
entre o meu pai e a Liliana — na verdade, nós temos. —
Aguardei ele continuar, embora o meu coração já avisasse o
que seria. — A Lili resolveu nos dar mais uma chance...
— Pai... — a euforia tomou conta do meu coração. Isso
sempre foi o meu sonho desde que soube do passado de
ambos. Eles estavam me dando o melhor presente de
casamento. — Torcia tanto para que isso acontecesse! Vocês
merecem isso.
— Na verdade, isso é um recomeço — minha mãe disse
com a voz carregada de emoção. — Fomos brutalmente
afastados, mas tudo isso ficou no passado. E nós merecemos
ter a nossa segunda chance, igual aqueles clichês românticos
que você está acostumada a ler. — Piscou e sorriu para mim,
enquanto meu pai e ela deram um selinho. Bati palmas
comemorando. Essa era imagem que sempre desejei ver nos
meus pais, a mesma que eu via nos meus avós e que eu
sempre desejei para mim.
— Eu amo muito vocês. — Beijei as faces de ambos. —
Vocês são o meu maior orgulho.
— Nós também te amamos muito. — O meu pai
sussurrou, e Lili concordou.
Chegou o momento de caminhar pelo tapete vermelho
coberto de flores vermelhas, em direção aos braços do meu
futuro marido, e sacramentar este sentimento que não cabia
apenas no meu coração. Era preciso deixar o mundo ao nosso
redor também sentir.

As vozes e risadas ecoavam dentro do meu escritório. Eu


estava sentado, tentando digerir a decisão do Herbert.
Porra!
No primeiro momento, fiquei inconformado ao saber o
que ele pretendia fazer. E o pior era que ele não estava
pedindo a minha autorização, e sim informando da sua
decisão.
— A Lili já sabe disso? — perguntei, ainda abalado depois
de ter brigado com a minha mente por cincos minutos.
— Contei a ela — respondeu, dando de ombros. Mais de
duas décadas juntos e agora isso...
Não sei lidar com a sua decisão, por mais que isso vá
fazer bem a ele. Isso significa que ele irá embora. Para
sempre? Não possuo a resposta.
— Desde quando pensa em fazer isso? — Indaguei
curioso. Herbert era uma pessoa que não gostava de falar
sobre o passado. Infelizmente, para algumas pessoas, o
passado era um livro fechado com cadeado, e ele se encaixava
nesta categoria. Sempre pronto para te servir, te ouvir e até
opinar, mas jamais para contar algo relacionado a si mesmo.
Algo que sempre busquei compreender, até porque
alguns assuntos ou acontecimentos não são fácies em
recordar, muito menos falar. O que eu sabia sobre ele era
suficiente para não ter dúvidas de que sempre seria um amigo
fiel. Amigo este que me salvou. Se não fosse ele, eu não
estaria aqui, pronto para me casar com a mulher que eu amo.
Não veria os meus filhos crescerem e não estaria me sentindo
feliz como sou agora. Ele me resgatou no meu pior momento e
para sempre eu terei uma dívida de gratidão.
— Desde o dia que te encontrei na floresta, quase
irreconhecível — a sua voz saiu rouca, como se fosse doloroso
lembrar-se daquele momento. — E também porque agora você
tem uma família, e observar a sua felicidade ao lado deles tem
despertado alguns demônios em mim. Você entende do que
estou falando? — Levantou-se, caminhando em círculos. Foi o
mais perto que ele conseguiu chegar, e isso o afligia. Sabia
exatamente do que ele estava falando. Quando eles
despertam, não há para onde correr, a não ser enfrentá-los.
— Eu preciso ir de encontro daquilo que eu tive que deixar
para trás, entende? — Assenti.
— Sinto tanto que hoje seja a nossa despedida! —
Levantei-me, ficando ao seu lado, encarando-o. — E vou
sentir ainda mais se a gente nunca mais se cruzar. Você é um
amigo leal. Aquele que salvou a minha vida... — respirei
profundamente.
— Você também já salvou a minha. Estamos quites! —
Fungou, dando de ombros. — Sentimentalismo não combina
com nenhum de nós. — Recriminou.
Ele tinha razão.
Mas passar por tudo o que passei e não me comover seria
algo trágico.
— Se este é um desejo seu, então nada poderei fazer que
não seja te abençoar e torcer para que você encontre as
respostas que está procurando. — Segurei nos seus ombros,
trazendo-o para mim e o abraçando com emoção exacerbada.
Ele resmungou, mas não se afastou e me envolveu também.
— Saiba que sempre que precisar, estarei aqui. Você sabe
onde me encontrar. — Assentiu, sabendo que não mentia. —
Não importa em qual inferno esteja não hesite em entrar em
contato. Eu estarei lá por você. — Não é isso que os
verdadeiros amigos fazem? Entra na toca do leão para salvar
o outro.
Sem mais palavras, ele se preparou para se retirar.
Provavelmente, pela manhã, ele não estaria mais aqui. No
máximo ficará por aqui somente esta noite.
— Eu prefiro pensar que isso aqui não é um adeus, mas
um até logo.
Parou, mirando-me com a porta entreaberta e, sem
esboçar qualquer gesto ou palavra, virou de costas e
desapareceu ao fechar a porta.
Suspirei, rendido. Sabendo que o capítulo da nossa
história tinha chegado ao final da linha.

Foi com um sorriso nos lábios que caminhei ao lado do


meu pai rumo ao altar, onde os olhos do homem que eu amo
estavam vidrados em mim, como se estivesse me vendo pela
primeira vez. Uma lágrima serpenteou pelo meu rosto e eu
não fiz questão de enxugar. A emoção é tanta que é natural
que ela transborde.
Era um caminho curto, em meio às pétalas deixadas pelo
chão, orvalhando a minha caminhada em direção à felicidade,
mas parecia durar uma eternidade. Enquanto não atingia o
meu objetivo, aproveitei para observar a decoração: os
arranjos de flores, a marcha nupcial tocando e me fazendo
lembrar toda a minha trajetória até chegar a este momento.
Meus amigos, os convidados, o padre, minha mãe que me
olhava com um sorriso meigo. Minha amiga Pâmela,
Margarida segurando o Zion e seu olhar infantil olhando para
mim sem ter noção da dimensão que este momento
significava. Sophia, com sua doçura de menina, segurando as
alianças. As crianças do abrigo Lar do Coração, juntamente
com a dona Amélia e a sua família. Herbert em um local mais
discreto, com o seu olhar sereno e calmo, um breve aceno em
conformidade com a situação. Enfim, voltei meu olhar na
direção certa e deparei-me com o olhar profundo e marejado
do homem que seria o meu marido, e o coração bateu tão
forte que cheguei a escutar.
Paramos no momento que minha caminhada tinha
chegado ao fim. Eu estava trêmula e nervosa, prestes a ser a
protagonista de uma das cenas mais significativas da minha
vida.
Uma parada simples, mais ao mesmo tempo tão
simbólica: o cumprimento de mãos entre os dois homens mais
importantes da minha vida.
— Ela é o meu tesouro e acredito que será o seu também
a partir de agora — disse meu pai, e sorri encantada com
tanta meiguice. — Que o amor entre vocês seja tão verdadeiro
quanto a felicidade que transparece no olhar de cada um de
vocês. — Eu não tinha dúvidas que seria. Com um aperto de
mão e um abraço, meu pai beijou minha testa e se afastou se
posicionando ao lado de Liliana, que estava com o rosto em
lágrimas.
Marco segurou minha mão e, fazendo uma reverência, a
beijou. Meu coração explodiu como fogos de artifícios. Ele
sussurrou um “eu te amo”, algo que ele dizia constantemente.
Algo que não era apenas verbalizado, mas também
demonstrado em atitudes e gestos. Viramos para o altar e foi
surpreendente ver o padre enxugando o rosto com as mãos.
Tossindo discretamente, ele iniciou a cerimônia aguardada
por todos.
CAPÍTULO 37
Não me lembro de ter vivenciado uma emoção como esta.
Um misto de ansiedade e euforia tomou conta do meu
peito quando vi a minha mulher caminhando toda iluminada
neste tapete de pétalas. Por mais que tentasse, não conseguia
desviar o meu olhar do seu.
Era algo tão emocionante que me aquecia por dentro. Eu
juro que, por um momento, senti que desabaria ali no chão,
encantado com tanta magnitude. Foi um trajeto lindo e
aparentemente eterno. Ela dava passos para me encontrar
quando eu já tinha sido encontrado por ela.
Escancarei um sorriso, sem me importar com as lágrimas
que rolavam pelo meu rosto. Eu só queria registrar este
momento nos recônditos da minha mente, para que se
tornasse eterno.
O filme da minha vida passou naquele instante na minha
cabeça, ao me recordar a forma como tudo isso começou e
como isso parecia estar terminando. Ou melhor, isso é o
começo de uma nova história. Antes, eu era um lobo solitário,
conformado com a minha escuridão e amedrontado com as
marcas que o passado me deixou.
Foi só conhecer a Diana para que a minha vida inteira
tivesse um novo significado. Ao seu lado, eu me tornei um
homem melhor. Ela, com o seu jeitinho dócil e amoroso, me
ensinou a extensão e o significado da palavra amor.
Ela é o meu novo sentido.
A minha redenção.
Ela é o meu lar e o meu coração.
Quando o padre ia dar início ao nosso casamento, eu
precisava dizer algumas coisas. Por essa razão, pedi
autorização ao padre, que logo consentiu. Olhando fixamente
para a minha mulher, deixei que as palavras expressassem
tudo aquilo que o meu coração sentia.
— Eu nunca fui um homem religioso ou o tipo de pessoa
que ora pedindo qualquer coisa a Deus ou ao universo.
Quando eu queria algo, eu ia lá e pegava, não importava o
preço. No lugar em que eu cresci e com as pessoas que me
educaram, aprendi inúmeras coisas, dentre elas, que um
homem nunca deve chorar. Chorar te deixa vulnerável e as
pessoas que estão ao seu redor se aproveitam das suas
fraquezas. Portanto, eu sempre tive que engolir o choro e me
fazer de forte o tempo todo. Quando a minha mãe me
abandonou aos nove anos de idade, achei que não fosse
sobreviver, até que alguém me resgatou. Mas a minha vida
não foi uma maravilha, pelo contrário, foi então que conheci o
lado mais cruel das pessoas e tive que me tornar cruel para
lutar de igual para igual. Mas essa é a parte ruim da minha
história, mas sempre tem a parte boa... — Algumas pessoas
soltaram um Ahhhh de surpresa ou alívio, mas não parei para
diferenciar. — A parte em que eu conheci esta mulher que
não só entregou o seu coração, como também abraçou a
escuridão que residia em mim. Sem medo, ela avançou e quis
conhecer os recônditos mais obscuros de dentro de mim e,
mesmo assim, ela me escolheu para ser a mãe dos filhos dela.
— Interrompi-me devido a alguns risos e também porque
estava emocionado demais para continuar. — Quando eu fui
sequestrado e, depois daquela dolorosa fatalidade, enquanto
estava perdido e desorientado, só pensava nela e nos meus
filhos. Naquele dia, pedi que, se existisse um Deus como a
maioria das pessoas acredita, que me desse a minha quarta
chance... — Diana soluçou ao ouvir a minha declaração. —
Você e os meus filhos são a minha quarta chance. E diante
desta multidão e de Deus, prometo honrar esta chance que
recebi. Porque você é o mundo desde o dia que te procurei
naquela boate... — ela riu, relembrando o nosso primeiro
encontro. O clima e a situação tensa. Quem poderia imaginar
que, a partir daquela noite, a minha vida ia mudar? —
Naquela noite, só fui naquela boate porque sabia que você
estaria lá, mas logo percebi que não fui eu quem estava te
procurando, foi você quem me encontrou. Eu amo você... —
Surpreendendo-me, ela me abraçou tão forte que, com o
impacto, eu pensei que ia cair. Aplausos, assobios e sorrisos
contagiaram o lugar.
— Eu amo você mais do que tudo... — Sussurrou com
um sorriso de felicidade.
Após este momento de tamanha emoção, a cerimônia foi
iniciada.
— Sermão para que, depois desta declaração tão
emocionante deste homem para a sua amada?! — Algumas
pessoas concordavam entre si. No entanto, o padre fez o seu
discurso belo, de acordo com os princípios bíblicos, o que
também nos deixou emocionados. Em seguida, houve a troca
dos votos, a benção das alianças e estávamos oficialmente
casados.
Depois, houve festas, danças, comidas e bebidas, e a
alegria estava presente em todos nós.
— Estou louco para fugir de todas estas pessoas e ficar
em lugar a sós com a minha esposa. Esse vestido de noiva
tem deixado a minha imaginação fértil. — Beijei a região do
seu pescoço. — Estou louco para foder a sua boceta, que deve
estar molhadinha.
— Pervertido! — Recriminou, divertida. — Quem ouve
você falando assim, pensa que sou uma noiva virgem!
— Mais eu nunca comi a sua boceta estando casado. —
Expressei com a voz melosa.
— E isso faz diferença?
— Faz. Agora você vai descobrir como o pau de um
homem casado fode.
— Fiquei curiosa agora! — Esboço maliciosa.
— Ficou? — Segurei sua mão e a levei dali sem sermos
vistos, ou pelo menos eu queria pensar assim. — Vem comigo,
esposa, que eu te mostro.
Ela não relutou e subimos apressadamente para a nossa
suíte.
Tomei a sua boca e a beijei com volúpia assim que fechei
a porta.
— Passei a noite inteira desejando arrancar este vestido e
te ver nua para mim. — Confessei, desabotoando o seu
vestido. Senhor, tinha mais botões do que eu imaginava.
Quando finalmente consegui, encarei o seu corpo maravilho
usando uma lingerie branca de renda.
— Não seja por isso, marido. Também te imaginei nu. —
Atrevida, começou a desabotoar o paletó e desfez o nó da
gravata. Distribuiu beijos pelo meu tórax com um olhar
sedento. Sua língua queimava a minha pele enquanto ela
lambia. Com um gesto abrupto, arranquei minhas calças.
— Sempre pronto, marido. — Ergueu a sobrancelha como
uma menina travessa. Seus dedos se movimentaram no meu
pau, que estava bastante rígido.
— Para você sempre! — Beijei seus lábios. Eu sabia que
ela estava ansiosa para chupar meu pau, mas eu tinha outros
planos. Tirei seu lingerie enquanto chupava e mordia seus
mamilos rosados e durinhos. Deslizei minha mão ao redor das
suas coxas, parando bem perto da sua vagina e sentindo o
calor que emanava dela.
— Quente pra porra! — Grunhi, dominado pela luxúria.
— Pronta para receber o seu pau! — Caralho! — Foda-
me, amado! — Ela pediu. Levei-a para a cama e a deitei de
bruços.
— Empina este traseiro, feiticeira! — Ordenei. — Quero te
comer por trás. — Sorridente, ela me obedeceu. Era uma das
cenas mais inebriantes que já vi. Deslizei as minhas mãos em
sua cintura, me encaixando nela. Ouvia sua respiração
ofegante e intensa. Dei um tapa na sua bunda que seu corpo
estremeceu. Ouvi-a gemer. Encaixei o meu pau na entrada de
sua boceta e, sem esforço algum, arrematei para dentro dela,
movimentando-me abruptamente e arrancando-lhe suspiros,
gemidos e palavras desconexas.
— Bocetinha apertada! Caralho! — Não diminui os
movimentos e a cada estocada, ela gemia com mais
intensidade. Eu queria derramar a minha porra dentro dela.
— Caralho, Marco... isso e delicioso... Ahhhh... Ahhhh...
Porra!
Que sincronia perfeita é esta! Eu nunca me cansarei de
fodê-la, enquanto eu viver.
No momento que o orgasmo chegou, estávamos prontos
para escrever o novo capítulo da nossa história.
Ela gritou. Ela gemeu, me levando por um labirinto
ininterrupto de prazer e luxúria.
Minha pequeña.
Minha feiticeira.
Minha mulher.
Minha vida.
Meu destino.
Para toda a eternidade.
EPÍLOGO
Tenho uma sensação como se tivesse sido ontem que
tudo começou, mas uma década se passou desde que conheci
o Marco. Juntos, trilhamos um caminho de altos e baixos.
Não foi fácil conquistar o seu coração e fazê-lo enxergar que o
seu mundo interior poderia ser um pouco mais colorido além
da sua escuridão.
O Marco não se cansa de repetir o quanto é apaixonado
por mim, e isso me deixa com o coração transbordando de
alegria e felicidade. Saber que o amor que a gente construiu
se consolidou com a nossa família é algo que me enche de
orgulho. Olhando para estes dez anos que se passaram, sinto
um sentimento de vitória ao reconhecer o quanto fui feliz e
muito amada pelo pai dos meus filhos.
É maravilhoso ver a mocinha linda que a Sophia está se
tornando, isso me dá muito orgulho e me enche de felicidade.
A minha menina mais velha é a riqueza da minha vida.
Inteligente, amável e que me conquistou desde o primeiro dia
que a segurei em meus braços naquela manhã fria no abrigo.
Quem poderia imaginar que a nossa conexão seria eterna? O
Zion é um garoto carismático e lindo, mas não se engane, ele
não só herdou as características do pai, como também o seu
humor e o seu comportamento. É como se ele fosse o espelho
do pai.
A Zaíra chegou em nossas vidas dois anos depois do
nosso casamento. Desde o seu nascimento, ela nos encantou
com o seu brilho natural. Contudo, noto um ar de rebeldia e
tenho a impressão de que ela vai me dar trabalho. Zaíra é
bastante paparicada pelo avô, Arturo. Lucas é o meu filho
caçula. Descobri que estava grávida três anos depois que a
Zaíra nasceu. Foi uma gravidez inesperada e, ainda assim,
muito feliz. O Lucas tem as minhas características, mas é
bastante apegada ao Marco.
O Marco é um pai afetuoso e que ama os nossos filhos de
uma maneira igual, sem distinção. Quando necessário, dá
algumas broncas, conversa, coloca de castigo, brinca com
eles. Não me arrependo por ter escolhido ele para ser o pai
dos meus filhos. Para alguém que foi criado em um ambiente
sem amor e afeto, ele tem estes sentimentos de sobra para os
nossos filhos.
— O que foi? — Marco perguntou-me ao me ver com cara
de paisagem. — Algum problema?
— Nenhum. Só estava pensando na família linda que eu
tenho. No homem que está ao meu lado e com quem durmo e
acordo todos os dias. — Beijamo-nos ainda deitados. Ele me
abraça, alisando a minha pele. — Nesta última década,
vivemos momentos inesquecíveis. O nosso casamento. O
nascimento dos nossos filhos.
— Tudo isso é maravilhoso. — Concordou.
— Eu te amo, Marco.
— Eu te amo, minha feiticeira.
Aconcheguei ainda mais nos seus braços. Meu porto
seguro. Meu amigo de todas as horas. Meu amante. Meu
amor. Meu marido.

— Enfim, acho que superei você, velho! — falei para a


fotografia do velho Genaro. — Eu consegui ir além de onde
voc
ê
foi
e
do
que
voc
ê
foi.
Ainda é difícil para eu imaginar que ele me criou dos
nove aos dezessete anos e nunca revelou que era meu pai
biológico.
Sempre perguntava à minha mãe quem era o meu pai e
ela sempre dizia de forma desaforada.
Um imbecil que tinha um pau e tudo o que ele queria era
se aproveitar de mulheres como eu e deixar prenha.
Eu via o desgosto que ela sentia por ter me gerado.
Esmeralda nunca foi uma mulher afetuosa. E toda vez que ela
olhava para mim, eu percebia, mesmo ainda sem ter noção da
realidade, que eu era a sua péssima escolha. Até o dia que ela
não aguentou me abandonando naquele casebre que fedia a
bebida e a cigarro de péssima qualidade.
Lembrar disso ainda era doloroso, no entanto, eu estava
liberto das más influências dos meus pais. Embora que ainda
guarde uma centelha de admiração e veneração pelo velho
Genaro. Por vias tortas, ele me fez alcançar um patamar
inimaginável. Ele me mostrou os caminhos das pedras, mas
eu consegui sair ileso das bifurcações que surgiram no meu
caminho.
Ele me deu a vida, porém nunca foi o meu pai. Para mim
ele sempre seria o velho Genaro. O homem que me tirou da
miséria, mas me jogou em outra mais perigosa.
É preciso deixar que os mortos descansem em paz - refleti,
olhando para a sepultura, com a certeza que não voltaria
mais aqui.
Agora eu não vivia mais na escuridão. Meu mundo era
colorido e tinha ela.
Diana.
A mulher que eu vou amar até depois que o meu coração
parar de bater.
E foi para os seus braços que eu regressei naquele dia e
nunca mais pensei em sair.
AGRADECIMENTOS
Como é que se agradece algo que você quis tanto
realizar?
Foi este o meu primeiro pensamento quando a palavra
“fim” foi escrita. Indaguei-me: será que alguém sabe explicar a
dimensão disso? Pasmem!! Eu não tenho a resposta, mas
tenho algumas indagações.
Quando eu comecei a escrever a história de Marco Roga,
eu tinha apenas o esqueleto do Velho Genaro e do garoto que
logo se consolidou pelo nome Marco Roga. A minha emoção
foi imensa porque o nome casou extremamente bem com o
personagem que eu pretendia desenvolver.
Eu amei cada evolução desde personagem que me levou
por caminhos estranhos, caminhos estes que nunca ousaria
percorrer. Dar vida a um personagem tão complexo foi muito
desafiador e, por essa razão, estou orgulhosa em mostrar o
meu novo filho ao mundo. De verdade, eu espero que ele te
encante como ele me encantou. E até mesmo que você o
odeie, como eu mesma fiz. Mas acima de tudo, que você
busque compreendê-lo.
Quanto à Diana, ela é aquela mulher que não abaixa a
cabeça para nada e muito menos se contenta a viver uma vida
que ela não se encaixa. E por essa razão vai em busca daquilo
que acredita, mesmo que exista um preço a pagar, como
quase tudo na vida.
Já a Sophia é aquela criança que já nasceu iluminada e
pronta para conquistar o que quer que seja. Liliana foi uma
surpresa até para mim, ouso dizer. E foi demais ver o
resultado positivo de uma pessoa marcada por tragédias
humanas. Arturo é aquele paizão que eu queria que fosse e
que se escondia por trás do medo na intenção de ceder espaço
para uma mulher manipuladora definir as regras do jogo.
Marieta Santinni é a típica pessoa que acha que está
acima do bem do mal e que imagina que as suas escolhas não
terão consequências. George/Demétrio é o típico ser humano
que acha que pode passar por cima das pessoas sem
importar-se com o quanto isso pode machucar.
Para o bem ou para o mal, cada um constrói a sua
própria história e precisa lidar quando a conta chega.
Sou grata a Deus por me conceder o dom de escrever e
criar enredos e cenários incríveis. Como também sou grata a
todas as pessoas que encontrei ao longo desta caminhada.
SOBRE A AUTORA
Encontrei na escrita o meu propósito para deixar a
minha marca no mundo.

Desde a minha adolescência que escrevo "romance" e,


após de tê-lo escrito, lia a estória para a minha irmã.

Mas somente em 2021 tomei a decisão de levar ao


público essa pequena parte da minha vida.

Antes de ser escritora, sou também uma leitora


apaixonada por histórias de tirar o fôlego.

Adoro tomar café (quem nunca, né? rsrs)

Desde 1989 que eu existo.

Sou uma virginiana cheia dos detalhes.

Graduada em Matemática.

Nas histórias que escrevo sempre vai ter dramas.

Te convido a conhecer as minhas histórias que já escrevi.

https://www.amazon.com.br/dp/B09Y4XRT6L
https://www.
amazon.com.br/d
p/B0BJZVB78X

https://w
ww.amazon.co
m.br/dp/B0BX
BKKM1D

GRATIDÃO é dessa maneira que encerro esta história.


Muito obrigada, por ter lido e chegado ao final. Muito
obrigada, por ter se permitido conhecer uma parte do
meu universo através da escrita. Muito obrigada, por
parar o seu mundo, a rotina dos seus dias para dar
uma chance para este casal. Marco e Diana nasceram
do meu coração e agora eles moram no de vocês.
Obrigada, obrigada!
Antes de partir para uma outra aventura eu te peço
que não esqueça de avaliar esta história. Saiba que irei
amar ter o seu feedback.
Ps: o seu apoio é crucial para a minha trajetória!
Até uma próxima vez,
Lua Dantas
Notas
[←1]
Pequena
[←2]
Caldeirada Italiana de Frutos do Mar

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