Você está na página 1de 196

Aos meus leitores amados do grupo

Histórias de Má Marche
Obrigada pelo apoio incondicional.
Se.du.ção. Sf (lat seductione) 1 Ato de seduzir ou ser seduzido 2 Atrativo que é
difícil ou impossível resistir 3 Aquilo que provoca encanto, atração, fascínio 4
Dom que induz a corrupção de postura ou ações do outro.
– Ei! Sam! – Chamou alto na porta da sua pacata casa amarela.
– Ah, oi, Bianca. – Cumprimentou, o garoto, em tom neutro. – Eu tenho
que... – Andava de costas em direção à bicicleta vermelha que o levava para
todos os lados que precisasse, indicando estar de saída.
– Minha nossa, que saudades de você! Me diz: Você sentiu minha falta? –
Cortou, afobada, carente, e ainda falando alto demais.
– Eu, bem... Claro. Escuta, eu tenho mesmo que ir. – Repuxou os lábios
apontando com o polegar para trás.
– Mas já? Não nos vemos há semanas! – Fez um bico infantil antes de um
pensamento cruzar sua mente. – Ah... Vai sair com a Milena de novo?
– Sim! – O sorriso do garoto quase não cabia na face. Sua alegria era
perceptível de longe. A miserabilidade da garota, também. – Que bom que você
entende, Biba. Então eu vou indo nessa. Digo a ela que você mandou um beijo.
Tchau!

Bianca Caproni era uma garota comum como qualquer outra. Com seus
dezesseis anos, ia todos os dias à escola, sonhava com personagens fictícios e já
teve um crush ou outro em bandas adolescentes. Talvez o que a diferenciava fosse
sua personalidade excessivamente certinha, com notas impecáveis e vida social
negativa, do tipo que nunca faz algo minimamente fora da curva.
Bianca tinha um único amigo: Samuel Luscenti.
Sam era loiro, tinha cativantes olhos castanhos, um sorriso largo e quente,
era bondoso com todos, gentil e simpático na medida certa. Ele e a garota eram
amigos desde pequenos por fruto da amizade entre seus pais. Estavam sempre
juntos, sentavam-se juntos na sala de aula, comiam na mesma mesa do refeitório,
moravam na mesma rua. Bianca não sentia que precisava de mais do que aquela
singela companhia em seus dias.
Mas Sam não concordava muito. Justamente por ser tão simpático, ele
fazia amizades com facilidade, era bastante convidado a ir a festas e acabava
envolvido em rodinhas de conversa nos corredores. Ele era bem na dele, é
verdade, mas não se comparava com Bianca, que tinha praticamente um casulo a
sua volta, protegendo-a dos outros mortais.
Mesmo assim, com suas diferenças, a amizade dos dois não sofreu abalos
durante muito tempo, e a cada dia a garota descobria nele uma nova qualidade
para admirar, mais alguma característica que ela própria não possuía, mas achava
encantador que ele tivesse.
Chegou um ponto em que, sendo a única pessoa que ela tinha realmente
deixado aproximar-se, cada mínimo detalhe dele lhe era sabido, desde o contorno
de seu sorriso, até os diversos tons que sua voz adquiria conforme mudavam seus
sentimentos. A companhia agradável e o riso fácil do garoto a cativando a cada
nova hora passada lado a lado com o loiro.
E ela bem que quis, mas não pode evitar se apaixonar por ele.
Foram tantos momentos especiais, tantas coisas inéditas que vivenciou ao
lado dele, que lhe atribuir mais um primeiro lugar – no caso, em seu coração –
parecia simplesmente certo. Certo demais para que sua racionalidade sempre tão
reclusa se pusesse contra.
Levava bem essa paixão secreta até o segundo colegial, quando Sam
arrumou uma namorada. Milena, também conhecida como a loira-perfeita-
gostosa-vadia-e-burra que todos os caras do colégio queriam ter na cama uma vez
na vida pelo menos.
É passageiro, ela pensou. Ele logo se cansa dela e pronto, eu sequer vou
precisar sofrer por isso. Então, um dia, ele vai saber que eu sou a pessoa perfeita
para ele. Ele vai reparar em mim, e vai ficar tudo bem.
Exceto que não ficou. O namoro dos dois progrediu por meses a fio, e a
cada novo passo que davam, Bianca sentia seu coração morrer um pouquinho
mais. Alianças de compromisso, viagens em família, apelidos fofos, etc. etc. A
garota cada vez perdia mais a esperança ao passo que sua amizade com Sam
ficava também cada dia mais desgastada. Ele só tinha olhos para a namorada
agora, e perder tempo com a amiga nerd chata não estava em seus planos. Ainda
mais considerando o fato de que ela estaria sempre ali, na espreita, esperando que
ele retornasse. Sua linda namorada não tinha a mesma disponibilidade e entrega,
disputada como era, e por isso era essencial que concentrasse seu tempo e
esforços em estar com ela.
A garota estava cansada de disputar a atenção do amigo. Ela devia ser o
bastante, e ele devia saber disso, devia ser a pessoa que via suas qualidades
escondidas e que abraçava seus defeitos. Mas Sam não era aquela pessoa, e isso
a esgotava; Esperar que ele fosse essa pessoa, torcer, iludir-se disso era
cansativo.

Estava sentada à sua mesa de sempre no refeitório: no fundo e debaixo de


uma falha na iluminação, de forma que aquele costumava ser o melhor lugar para
ela comer sem se preocupar – tanto – com as pessoas ao seu redor. Bianca achava
que o que fazia aquele lugar tão ideal eram seus atributos de localização, mas
especialmente naquele dia, depois de sentar-se ali sozinha, percebeu que o que
tornava a mesa tão aconchegante era a presença incandescente do melhor amigo.
E ela só teve a chance de perceber isso porque ele não estava ali.
Por que ele não estava ali?
Ele havia prometido! "Não se preocupe, Biba, eu fico com você no
almoço, não vai precisar encarar toda aquela gente sozinha", ele disse no início
do ano letivo, quando descobriram que haveriam aulas a tarde, e que, portanto,
teriam que almoçar na escola. Todavia, não havia sinal de sua cabeleira loira em
nenhum canto do lugar.
Será que algo havia acontecido com ele?
Um acidente no laboratório de química, um tropeço em educação física,
uma intoxicação alimentar por algo comido de manhã...?
Antes que pudesse começar a se desesperar, uma risada familiar tomou
conta de seus ouvidos. Sam entrava no refeitório rodeado por pessoas
desconhecidas e com um outro ser loiro pendurado em seu pescoço.
Eles todos se dirigiram para uma das mesas centrais do lugar, e sentaram
por ali; Milena acomodando-se no joelho do namorado mesmo com a infinidade
de cadeiras disponíveis.
Bianca esperou pacientemente o momento em que ele pediria licença a
toda aquela gente para vir acompanhá-la em seu refúgio solitário, mas minutos se
passaram e nenhuma atitude foi percebida por parte do garoto. Ela resolveu então
sacar o celular e investigar se ele estaria bravo com ela, pois essa lhe parecia a
única desculpa plausível para a falta de interesse dele com seus desejos e
receios.
"Eu fiz alguma coisa errada?", digitou rapidamente, observando ele
mexer-se desconfortável dois segundos depois e retirar seu próprio aparelho do
bolso com as sobrancelhas franzidas.
"O que? Não, por que pergunta?"
"Você não veio sentar comigo..."
"Ah, desculpe. Estamos fazendo seis meses de namoro, então vamos ficar
juntos hoje. Você não se importa, não é?"
Sim, ela se importava. Se importava até demais, mas não podia dizer-lhe
isso pura e simplesmente. Sentia um gosto amargo tomar-lhe a boca por isso.
"Ah, parabéns. E, bem, eu não gosto muito de ficar sozinha, você sabe."
Bianca assistiu Sam abrir a mensagem de longe, e logo ser agarrado pela
nuca pelo ser siliconado do seu lado, e então o celular foi tirado de suas mãos e
isolado no canto oposto da mesa, em uma brincadeira infantil e mesquinha da qual
ela não achou a menor graça.
Sam, por outro lado, pareceu achar agradabilíssimo, pois logo gargalhava
com a namorada e lhe dava beijos, esquecendo completamente a mensagem
parcialmente lida da melhor amiga.
Mais uma vez trocada. Mais uma vez deixada de lado por quem não
valia a pena. Aquela era a, o quê, quarta vez na semana? Por quanto tempo mais
aquilo iria continuar? Ela aguentaria esse tempo inteira? Ou, quando chegasse sua
hora, estaria despedaçada demais para conseguir assumir seu amor de direito?
Bianca resolveu que algo deveria ser feito a respeito. Aquela situação
estava insustentável, e por mais boazinha que fosse, não aguentaria mais um
minuto naquele estado semidepressivo e recluso, sofrendo a cada vez que Sam a
jogava mais para escanteio. Pesou suas alternativas para sair daquele poço sem
fundo. Assassinar a dita cuja namorada parecia-lhe muito extremo; mudar-se de
cidade, muito covarde; e enfrentá-lo cara-a-cara era mais do que sua coragem
aguentava.
Precisava pensar em uma alternativa, um meio de fazê-lo perceber que ela
estava ali todo aquele tempo, e que era melhor do que qualquer outra alternativa
que ele pudesse ter.
Se bem que... Ela era?
Era desengonçada, envergonhada além da conta e feia. Ou, pelo menos,
achava que sim. Enquanto a namorada do cara era praticamente a Barbie Malibu.
Seria o estereótipo do sonho americano, um filme de roteiro ruim, um clichê
desastroso tornado real, quem sabe? Como competir com isso, desafiar o destino
e as regras da sociedade em que se vive?
Só se ela se transformasse em outra pessoa.
Da cabine em que estava enfiada há alguns minutos desde ter seu grito de
socorro ignorado, ela pôde ouvir algumas meninas entrarem no banheiro. Elas
pararam na frente do grande espelho que ali havia, provavelmente para retocar a
maquiagem exagerada para o dia-a-dia.
Bianca encolheu as pernas para cima e fez silêncio, não querendo chamar-
lhes a atenção.
– Ai, Clara, eu não aguento mais esse mesmo look, essa mesma cara. Tá
na hora de me renovar, sabe? Vou ver se arrumo hora pra ir no Philippo hoje e dar
uma mudada. O que você acha? – Uma delas exclamou na voz enjoada que era
esperado que tivesse.
– Eu acho que nada ruim vem da mudança. É sempre bom se reinventar.
Como em um clique, Bianca percebeu que a resposta para seus anseios
podia vir, inesperadamente, de um bate-papo ouvido sem querer no banheiro
feminino sim.
Reinventar. Era isso. Era disso que ela precisava na sua vida.
Estava tão irritada e magoada com o melhor amigo, que a cada nova
batida em seu peito uma lasca do seu ser parecia ser descamada, e com ela uma
vontade crescente de mudar se fazia presente.
Mas ela não fazia a menor ideia de como fazê-lo. Sempre havia se vestido
da mesma forma, usado o mesmo corte de cabelo, se portado de certa maneira.
Não saberia fazer nada diferente daquilo, e se sentiria ridícula e mais insegura
ainda se o fizesse.
Em um suspiro dolorido, assumiu que precisava de ajuda. Mas quem
poderia prestar-lhe essa assistência? A gama de amigos era, agora, inexistente, os
pais não serviriam para o trabalho, a internet podia ser traiçoeira. Ela precisava
de alguém de fora, alguém em todos os sentidos diferente dela, alguém com
experiência no ramo amoroso, e alcançável.
Pensou por um momento em todas as pessoas que conhecia. Seus vizinhos,
primos, colegas de sala, pessoas do colégio, até mesmo professores e
celebridades. Pensou em todas as alternativas, tentando encontrar quem melhor
faria o papel.
– Ai, você não sabe! – A segunda voz voltou a se pronunciar,
interrompendo seus pensamentos. – Sabe na sala de quem eu vou passar a ter aula
no segundo período? Do tesão do Theo Versolati!
– Mentira! Nossa, que inveja branca de você, amiga. Esse menino sabe
das coisas, viu... Além de ser maravilhoso, é claro.
– É claro. – Concordou. – Mas nossa, ele é sensacional. Você acredita que
ele conseguiu fazer a professora adiar a prova só de conversar com ela?
– Ah, mas é o charme, né?! Não tem nada que aquele garoto peça que eu
não faça na hora.
– Não precisa nem pedir, né, querida. É um olhar e a gente já fica toda
saidinha! – As duas continuaram a rir e a elogiar as qualidades e habilidades do
garoto, mas novamente Bianca estava imersa em seus próprios pensamentos.
Theo Versolati era o veterano mais desejado de sua escola. Ele era o
epítome da sensualidade, o ás da conquista, o rei da pegação. Toda e qualquer
garota na sua escola não pensaria duas vezes se pudesse doar um rim para estar
na sua cama. Ela sabia muito bem daquilo, despercebida, como sempre passava,
acabava ouvindo sempre mais do que gostaria, e não estaria exagerando se
dissesse que pelo menos metade de todas as fofocas exclamadas em intensa
admiração eram direcionadas àquele único ser. A outra metade da população
feminina lamentava que ele estivesse no último ano, pois isso significava que em
breve ele estaria fora de vista, em alguma faculdade cheia de garotas lindas, e,
consequentemente, não perderia mais tempo com elas. E, por fim, haviam os
homens, que guardavam resmungos de inveja e incredulidade a cada novo feito de
Theo. De qualquer forma, era unânime a excelência do garoto no quesito sedução.
E... Não era exatamente de alguém assim que Bianca precisava? Alguém
que soubesse as regras da conquista e que pudesse ensiná-la?
Ah, mas ele era simplesmente perfeito para o papel. Seu nome parecia
piscar em letras rosa neon com glitter na mente da garota.
Olhou para o celular mais uma vez. "Nenhuma nova mensagem", ele dizia.
Fazia quarenta minutos que ela havia mandado o último suplício para Sam, e ele
tivera a capacidade de esquecer-se dela por todo aquele tempo.
Ele não merecia seu sofrimento, ele não deveria ser a pessoa que o
causava. Se era preciso ser a Barbie Malibu para conquistá-lo, ela acharia um
jeito de sê-lo.
Estava decidido então. Ela ia juntar toda a fibra que coubesse em si e
falar com Theo Versolati. Naquele mesmo instante, sem falta, sem adiar.
“Ele vai me ajudar”, pensou, “vai sanar meus problemas e me ensinar tudo
aquilo que eu preciso fazer para inverter os papéis e ter meu amado Sam na palma
das minhas mãos, como sempre deveria ter sido”.
Pressionando a descarga para disfarçar a permanência, Bianca deixou a
cabine para trás e rumou para fora de seu casulo em direção ao seu novo eu, em
direção à sua chance de ser feliz de uma vez por todas.
Theo caminhava tranquilamente pelos corredores como se nada no seu dia
tivesse a capacidade de surpreendê-lo. Ele tinha um ar confiante e o corpo
malhado, tudo parte da grande áurea de sedução que dele emanava.
Bianca estava escondida na lateral do bloco de armários, observando-o e
tentando maquinar qual seria a melhor maneira de falar com ele. Ainda não
acreditava que a ideia tivesse permanecido na sua cabeça, que ainda não tivesse
desistido daquela loucura. Era completamente atípico de sua personalidade ainda
não ter colocado o rabo entre as pernas e voltado para casa assustada e
insatisfeita.
Mas ali estava ela. Miúda em sua insignificância, e esperançosa em seu
coração. Tinha estado tão infinitamente farta daquela situação amorosa mal
resolvida que estava se arriscando além dos limites que seu conforto traçou para
ter uma chance de resolvê-la.
Mas, novamente, sua inexperiência social era uma barreira. Como falar
com ele? "Oi, tudo bem? Escuta, será que você pode me dar umas dicas de como
ser mais... Você?", não parecia uma boa ideia. Suspirou. Podia sentir a certeza
começar a se esvair. O que estava fazendo ali? Se sequer tinha coragem de falar
na cara do melhor amigo como se sentia, como podia achar que conseguiria
admitir um de seus maiores defeitos para o cara mais gostoso da face da Terra e
ainda convencê-lo, persuadi-lo a lhe ajudar? Aquilo era impraticável.
Perdeu Theo de vista a partir do momento que sua insegurança começou a
bater mais forte. Ela tinha a cabeça apoiada na lateral do armário em que se
escorava, os olhos fechados, e milhões de autocríticas na cabeça. E foi assim que
não percebeu quando o seu suposto salvador da pátria ia em sua direção.
O armário de Theo era o de número 100, seu número da sorte. E ele
simplesmente adorava isso, exceto pelo fato de isso significar que ele era o
último da sua fileira. Sempre tinha um casal se pegando ali do lado, achando que
ninguém nunca veria, e ele achava isso patético. Amasso em público era, para ele,
sinônimo de entrada na puberdade. Em outras palavras, aqueles que não tinham a
capacidade de fazer o clima surgir em lugares apropriados precisavam se
contentar com o tesão momentâneo e expor-se dessa forma. Era triste, até.
Mas dessa vez não eram preliminares ao vivo que ele contemplou a
caminho de pegar seu livro gordo de química. Aquela garota pequena que
estudava em sua escola desde sempre estava ali com uma cara de particular
sofrimento. Tinha quase certeza que seu nome era Bianca – talvez já tivesse
escutado algum comentário a seu respeito -, mas nunca tinham conversado de
verdade para confirmar. Ele abriu seu armário, assustando a mais nova, que
rapidamente saiu de seu estado de torpor e encarou-o com os olhos bem abertos.
- Oi? - Ele tentou, visto que ela não parecia nem tão perto de conseguir se
comunicar.
- Olá. - Respondeu baixo ao que passou a pressionar os lábios um contra
o outro. Veja bem, ela parecia precisar conversar, e ele não estava fazendo nada.
- Você tá bem, anjo? Precisa de alguma coisa? - Ele indagou solícito,
percebendo então do que tinha lhe chamado sem querer. Bem, ela realmente se
enquadrava no retrato de um anjo. Era bastante branca, carinha de inocente e tinha
grandes olhos transparentes. Ficou satisfeito com o apelido acidental.
- Eu... Sim, tô bem. - Respondeu, optando pela sentença mais fácil.
- Seu nome é Bianca, certo? - Ela acenou positivamente em silêncio -
Onde está aquele garoto loiro que anda sempre com você?
- Ah, não sei... Com a namoradinha, talvez. - Ela disse em meio a uma
careta fofa de desagrado.
- Ouch! Sinto um romance mal resolvido no ar. - Theo brincou, ao que ela
entreabriu os lábios e ainda mais os olhos, em completo choque pela fala
descontraída e certeira do mais velho. Ele percebeu. - Olha, foi mal me meter,
não precisava ficar tão sem graça. - Repuxou os lábios, como quem sente muito.
Vendo a falta de reação dela, virou o corpo pronto para se retirar. - Eu já estou
indo de qualquer maneira. Fica bem, viu?
- Não! - Ela disse alto em um sobressalto, chamando de volta sua atenção
- Eu... Precisava falar com você. E, bem... É sobre esse assunto mesmo. - Ele
arqueou uma sobrancelha, intrigado. O que ela poderia possivelmente querer de
um homem que mal conhecia e ainda por cima relacionado ao cara de quem
gostava? Divertiu-se com a ideia de ela pedir-lhe que fosse seu namorado de
mentira, para fazer ciúmes. Não ia topar, mas o pensamento era engraçado.
Gesticulou que ela continuasse. Ela olhou para os dois lados do corredor,
respirou fundo e gesticulou para o garoto que a seguisse até a sala desocupada
que havia há alguns passos dali.
Ele foi, curioso e complacente com o nervosismo que a menor aparentava
sofrer. Ela pôs-se de frente a ele torcendo os dedos das mãos, incomodada. Tinha
o olhar de um cão assustado, e buscava qualquer intimidade com o rosto familiar
a sua frente para que pudesse colocar para fora as palavras impulsivas e pouco
ensaiadas que tinha em mente. Ele lhe franziu a testa, amigável, incitando-a a
falar.
- Olha, Theo, eu preciso que você prometa que não vai rir de mim e que
vai me deixar terminar. O que eu vou te dizer agora é muito difícil pra mim e eu
espero que você aja com toda a maturidade que você parece ter nesse assunto. -
Ela começou com a voz desafinada de nervosismo. Tentava repetir o tempo todo
na cabeça que aquela era uma boa ideia, e que se tinha alguém capaz de ajudá-la,
esse alguém era o moreno.
- Bianca, relaxa. Eu não sou esses babacas cheios de hormônio que saem
rindo de qualquer besteira. Eu mal te conheço, mas posso ver que você está
bastante atônita com algo, então só me diz de uma vez o que é para que a gente
veja como resolver e possamos voltar para as nossas vidas. - Ele garantiu, agora
com receio de que ela fosse se dizer apaixonada por ele. Perdeu a conta de
quantas vezes tinha escutado aquilo já, mas nunca ficava mais corriqueiro.
- Tá bem, lá vai. - Respirou fundo e apertou os olhos fechados - Eu gosto
do Sam. - Ela despejou em uma só respirada, parabenizando a si mesma por ter,
enfim, dito em voz alta. No entanto, sentiu a necessidade de explicar melhor ao
ver a cara de desentendido do garoto. - O loiro que “vive comigo”. – Completou,
usando o termo que ele mesmo tinha escolhido. - Ele está namorando agora e por
isso eu fui meio que jogada de escanteio. E, bem, eu tô cansada de ser o plano B.
Os homens nunca reparam em mim, eu sou sempre a última opção, eu não chamo
atenção como as líderes de torcida por aí, e mesmo que eu chamasse, eu não
saberia levar uma conversa normal sem gaguejar e falar qualquer porcaria que me
deixasse extremamente encabulada, e eu...
- Bianca! - Ele sentiu a necessidade de interromper o falatório
desenfreado e claramente nervoso que ela tinha engatado. - Garota, respira. -
Sugeriu, segurando-a pelos ombros. Então, passou a mão na testa, confuso com
tudo o que tinha absorvido até ali. - Deixa eu ver se entendi: Você é afim do loiro,
ele não retribui, e você quer conquistar ele?
- Bom, simplificando muito mesmo tudo que eu acabei de dizer... É.
- E onde eu entro nessa história?
- Ah, Theo, você sabe. - Fez um gesto com a mão, fazendo o pouco caso
que não sentia realmente.
- Não, anjo, eu não sei. Coloque em palavras. - Pediu.
- Você... - Ela começou, engolindo em seco e deixando novamente as
palavras impulsivas dominarem a fala - Ah, você é todo confiante, anda por ai
como se fosse a última bolacha do pacote, e eu já tô cansada de ouvir no banheiro
feminino garotas suspirando por um mísero olhar seu. Eu queria, não sei, ser um
pouco assim? Aprender com você como ser sedutora ou algo do tipo.
- Você quer aulas de como seduzir um homem, é isso?
- Err... Você falando desse jeito parece muito errado, -Defendeu-se, logo
recebendo um olhar contido de impaciência - mas é, acho que é isso aí que eu
quero. - Afirmou por fim, ficando rosada nas bochechas.
O garoto ficou em silêncio analisando minuciosamente o rosto da mais
nova. Se sentia em um universo paralelo com um pedido daqueles, a coisa toda
era surreal demais, e absurdamente inesperada para um dia tão ordinário como
aquele tinha sido até então. Sentia-se honestamente curioso com o que poderia
fazer por ela, com a possibilidade de mudar uma vida daquela maneira, e de ter
uma pequena bonequinha a quem pudesse moldar ao seu bel prazer até que
estivesse perfeita para ser solta no mundo. Mas... Infelizmente a realidade o
arrebatou. Theo largou os ombros com a perspectiva de ter que dizer não àqueles
olhinhos sinceros que gritavam por ajuda.
- Olha, anjo, mesmo que eu estivesse disposto a te ajudar nessa saga
amorosa agora, eu não tenho tempo. Os vestibulares estão aí e eu preciso passar
em uma boa faculdade, coisa que não está nem perto de acontecer, então... Fica
pra próxima. - Ele concluiu vendo a menina murchar diante de sua negativa.
Achava que seria divertido dizer a ela como se portar para fisgar o amiguinho,
mas sua vida pessoal já estava ferrada demais para que se comprometesse com
mais uma atividade sem propósito. Sua coleção de notas vermelhas, fruto de
muito foco em coisas externas à escola, e as constantes discussões inflamadas
com seu padrasto sobre seu futuro e ambições eram boas recordações daquele
fato infeliz. - De qualquer forma, te desejo boa sorte. - Ele disse por cima do
ombro enquanto levava seu corpo para fora da sala escura, deixando para trás
uma Bianca desiludida sem qualquer chance de reerguer-se tão cedo.
Theo caminhava tranquilamente em direção ao refeitório. Em suas mãos,
carregava dezenas de cartões de estudo, nenhum que ele já tivesse decorado, ou
sequer perto disso. Cada dia que passava, sentia-se mais desmotivado a continuar
com aquela missão impossível. Não encontrava em seu ser a dedicação
necessária para passar na faculdade chique na qual esperavam que ele estudasse
no ano seguinte. Nada daquilo era seu sonho, estava longe de ser.
Embora imerso em suas divagações, pôde notar um alvoroço acontecendo
no centro da lanchonete. Enquanto todas as pessoas pareciam segurar a respiração
- fosse para ouvir melhor o barraco ou para forçar-se a não dar risada - duas
garotas disputavam sua atenção no meio de todo o círculo. Uma delas parecia
coberta de café, as roupas todas manchadas, e estava vermelha de fúria. A outra
tinha um copo vazio em mãos e lágrimas correndo pelo rosto livremente.
Reconheceu a segunda como sendo Bianca, a garota que havia lhe pedido ajuda há
alguns dias, a qual ele prudentemente negou.
- Escuta aqui, sua nerdzinha infeliz! A próxima vez que você
"acidentalmente" derrubar qualquer coisa em mim, eu te juro... - Respirou fundo,
mordendo os lábios pintados, os olhos em fendas. - Eu não quero saber se seu
coraçãozinho adolescente bate mais forte pelo meu namorado. É comigo que ele
está, e é comigo que ele vai continuar! Se você não teve a competência de ser boa
o suficiente pra ele, encolha seu rabinho entre as pernas e saia da minha frente.
- Mas eu juro que foi sem querer, Milena... – Ela ainda tentou falar, a voz
vários tons mais baixa que a de sua interlocutora, falhando audivelmente em
alguns pontos.
- Uma ova! – Vociferou, gesticulando para todos os lados. - Garota, todo
mundo nessa escola sabe a inveja que você tem de mim. E quer saber de uma
coisa? Enquanto você estiver chorando no banheiro por se sentir inútil de não ter
conseguido sair por cima nem jogando sua bebida em mim, eu vou estar abraçada
no Sam toda molhada dizendo como você é uma pessoinha nojenta! E sabe em
quem ele vai acreditar? Em mim, porque ele também está cansado de saber que
você arrasta um bonde por ele, e porque ele vai estar muito ocupado olhando a
minha blusa colada nos meus peitos! Então parabéns, querida, você só conseguiu
ser mais ridícula do que todos aqui já sabiam que você era!
E então, Milena virou-se batendo os cabelos loiros exuberantes no rosto
da menor e saiu marchando por um corredor que se abriu com diversas pessoas
aplaudindo-a. Bianca engoliu as ofensas dolorosamente e agachou-se para
apanhar sua mochila e sair correndo dali, provavelmente para o banheiro
feminino, para chorar, como Milena havia previsto que ela faria.
Theo ficou por alguns segundos sem saber o que fazer. Não costumava se
meter naquele tipo de briga, mas, por algum motivo, sentia-se responsável por
aquilo. Talvez ter negado ajuda a Bianca tivesse fazendo seu subconsciente pesar,
uma vez que ele poderia ter prevenido aquele acontecimento. Ou talvez fosse o
fato de já ter ficado com Milena no ano anterior, e a amargura que ela tinha
demonstrado tenha feito seu pênis se contorcer em desgosto pelos lugares dela em
que ele já havia passeado.
Em um suspiro derrotado, deu meia volta e foi para a biblioteca, mais
especificamente para o banheiro feminino de lá, onde tinha certeza que
encontraria uma garota pequena e chorosa tentando se reestabelecer.
Abriu a porta encostada com esmero, procurando não fazer barulho e
certificar-se de que quem procurava fosse a ocupante. Ouviu os resmungos
enérgicos de Bianca falando consigo mesma, e tranquilizou-se sobre seu pequeno
delito.
- Burra, burra, burra! Péssima hora para me aventurar a tomar café...
Querendo parecer gente grande quando mal consegue sentar sozinha na porcaria
do refeitório. Eu sou mesmo uma idiota sem noção, e...
- E parece que autoestima não é o seu forte. - Theo cortou o monólogo
derrotista da mais nova, apoiando o quadril na pia de mármore gelado enquanto a
observava com cinco lenços entre os dedos ocupados em secar a enxurrada de
lágrimas grossas que continuavam caindo sem freio pelo rosto pálido. - Vou ter
mais trabalho do que imaginei. – Constatou.
- Theo? O...O que está fazendo aqui? - Perguntou, os lábios ainda
tremendo, inconsolável.
- Eu acabei testemunhando a ceninha no refeitório. Você jogou mesmo café
na loira gostosa? - Provocou, por mais que suspeitasse que ela seria incapaz
daquilo.
- É claro que não, eu sou muito desajeitada, tropecei em meus próprios
pés e quando fui ver... O destino parece gostar de pregar peças em mim, pois
poderia ser qualquer outra pessoa, mas ele escolheu que fosse justamente a única
que saberia me humilhar da forma mais cruel possível. - Desabafou soluçando ao
final da frase. Theo tinha dó e compaixão em sua alma, e não pôde evitar revirar
os olhos e puxar a garota miúda para seu abraço. Ela encostou a cabeça em seu
peito e deixou o choro doído tomar conta, sendo este o único som do banheiro
abafado por minutos a fio. Eles não tinham intimidade para aquilo, e tampouco se
importavam. Ela precisava de alguém, e ele era simplesmente humano demais
para negar-lhe aquele carinho.
- Escuta, anjo - Chamou, ao que ela cessou a molhadeira que fazia em sua
camisa para olhá-lo nos olhos - Eu vou te ajudar.
- J-jura? - Confirmou em expectativa.
- Sim, parece que você realmente precisa de ajuda, e sabendo que posso
fazer algo a respeito, eu não vou conseguir te negar isso. Mas você vai ter que
fazer tudo que eu mandar e ter em mente que o meu tempo é muito corrido, então
você vai precisar andar comigo bastante se quiser absorver uma dica ou outra
durante os meus intervalos entre tarefas. - A garota acenou enfaticamente em
concordância, com um sorriso singelo de agradecimento.
Ainda estava chateada com a humilhação no refeitório, mas parecia haver
uma luz no fim do túnel agora. Seja lá o que tenha feito Theo ajudá-la, se o fez por
bom coração ou por pena da situação em que se encontrava: ela seria eternamente
grata.
Mesmo assim, lembrou-se dos motivos que ele havia lhe dado para não
aceitar seu pedido em um primeiro momento, apenas reforçados pela constatação
de sua falta de tempo contida em sua fala. Bianca olhou para baixo, envergonhada
de estar atrapalhando-o e sem saber como retribuir. Notou que ele ainda segurava
os cartões de estudo na mão esquerda, e estendeu os dedos curiosos para ele,
pedindo para vê-los.
Eram matérias que ela já havia visto. O último ano da sua escola passava
basicamente revisões, o que significava que todo o conteúdo ela já tinha tido,
estando apenas um período abaixo do dele. Com a primeira recusa do garoto em
mente, onde dizia que precisava focar no vestibular, uma ideia lhe acometeu: com
algum esforço, talvez pudesse ajudá-lo também.
- Eu acho que sei como posso te agradecer, Theo. - Disse, esperançosa, os
pequenos olhos transparentes brilhando. - Posso tentar te ajudar a estudar. Fui
quadro de honra pelos últimos 5 anos, em alguma coisa eu posso te ser útil. Você
está tentando alguma faculdade muito concorrida?
- Só a pior delas. - Deu de ombros, fazendo pouco caso tanto da sua
ambição quanto dos méritos dela. Não era nada que ele já não esperasse. - Tem
certeza que pode estudar comigo? Talvez uma nerd... - Interrompeu-se vendo a
mágoa e a chateação voltarem aos olhos dela, mesmo que não intencionasse que o
adjetivo fosse maldoso. - Quero dizer, uma pessoa tão inteligente, me faça
entender uma coisa ou outra. – Consertou, ao que a garota abriu um pequeno
sorriso solícito. – Mas, anjo, você entende que se quer realmente aprender a
conquistar um cara, vai ter que seguir à risca tudo que eu disser, certo? Porque,
como eu já disse, eu preciso do meu foco em outras coisas nesse momento, e
estou abrindo uma exceção porque vejo que você realmente precisa de mim, mas
não posso ficar me interrompendo a todo momento porque você tem ressalvas
sobre meus ensinamentos. - Ela acenou positivamente com entusiasmo de novo.
- Sim, senhor! – Clamou, batendo a lateral do indicador na testa fazendo-o
soltar uma risada espontânea da animação da pequena. - Então... Quando
começamos as aulas de sedução? - Perguntou ansiosa, ao que Theo apenas riu
mais a abraçando de lado pelo pescoço e levando-a para fora do banheiro e da
áurea depressiva que ainda podia sentir por ali.
- Apressadinha... - "Isso será no mínimo curioso" pensou consigo. - Tudo
bem. Esteja amanhã às 17h no Shopping do centro da cidade. E não se atrase! -
Ameaçou apontando em seu rosto, e então bagunçando os cabelos compridos dela
antes de caminhar despojadamente para a saída da biblioteca.
Apesar do estômago agitado em virtude de um futuro que ela não podia
prever, o sorriso demorou a deixar o rosto de Bianca naquele dia.
Bianca estava pontualmente às 17h no grande Shopping da cidade. Tinha
um frio curioso na espinha, mãos geladas e uma sensação avassaladora de que
não deveria estar ali. A insegurança estava batendo forte, e os cinco minutos que
levou da sua chegada até a aparição de Theo foram tortura chinesa para a garota
miúda. Mal sabia ela que o verdadeiro pesadelo começaria só a partir dali,
quando o mais velho a jogou em um salão chique no segundo andar cheio de
predadores loucos para fazer estrago em suas madeixas e unhas.
- A sua primeira aula é sobre como chamar a atenção de um homem.
Fisicamente, por assim dizer. – Theo começou a explicar. - Cada um tem um
gosto, é verdade, mas existem algumas coisas que você pode fazer pela sua
aparência para valorizar seus pontos positivos e esconder o que não deve ser
mostrado, e que vão de acordo ao senso comum. Além disso, o modo como você
se mostra diz muito sobre você, e sobre o que um cara pode esperar quando
estiverem sozinhos ou já em um relacionamento. O ideal é que não pareça muito
trabalhada, pois todo homem sabe que isso significa que você é alguém
completamente diferente sem todos os artifícios cosméticos, mas ao mesmo tempo
um pouco de cuidado e vaidade mostram que você se valoriza, e nós gostamos
disso.
- Então... Eu não posso me arrumar nem demais e nem de menos? -
Perguntou, confusa. O sexo masculino era exigente como ela não esperava que
fosse. Theo acenou positivamente, satisfeito que ela tivesse entendido o principal
da aula. Então, se virou para a equipe do salão que aguardava suas ordens.
- Preciso um corte que chame atenção para os olhos dela, talvez um
repicado a partir da linha do sorriso, mas o comprimento fica. – Ditou o garoto
para os profissionais que a observavam atentamente, já devidamente munidos com
tesouras e escovas dos tipos mais variados, provando que sabia mais do assunto
do que gostaria, de todas as vezes que sua mãe ou alguma namorada o haviam
arrastado para aquele lugar.
- Podemos dar uma iluminada na cor? É bonita, mas apagada do jeito que
ela está qualquer tom fica morto. – Uma das pessoas ali perguntou, recebendo um
aceno positivo em resposta.
- Depois eu queria que a Rosa desse umas dicas pra ela de maquiagem e
penteado. Diga a ela que eu lhe pago o dobro na próxima vinda da minha mãe. - A
assistente morena e peituda logo garantiu a Theo que todos os seus desejos seriam
realizados com apreço, enquanto lhe tocava sutilmente o braço malhado. Ele
retribuiu com um olhar baixo, o lábio inferior preso entre os dentes, uma
promessa de que os desejos dela também teriam vez. Bianca ficou sem graça, mas
tão logo pôde notar o flerte acontecendo atrás dela, Theo já estava de volta,
dando um tapinha no encosto da cadeira onde ela estava e dizendo: - Te vejo em
duas horas. Faça tudo que te mandarem, preste bem atenção no que te disserem, e
diga que quer esmalte escuro.
E se foi, a deixando para os cães fazerem a festa.

Theo já tinha vagado por quase o shopping inteiro, comido qualquer coisa
e comprado um relógio novo, antes de ir resgatar a garota no salão.
Esperou nos sofás confortáveis da entrada até ela aparecer, rodeada por
pelo menos cinco pessoas e completamente melhorada. Ele abriu um sorriso
confiante, parabenizando o trabalho da equipe, e estendeu a mão para a menina,
que a segurou apressada, louca para dar o fora daquele lugar.
- Aprendeu bastante? - Ele perguntou, ao que se dirigiam para o próximo
andar, onde haviam centenas de lojas de roupas femininas.
- Ah... Sim. Não entendi metade das palavras que eles falavam, mas acho
que uma coisa ou outra deu pra guardar. - Ele riu da simplicidade dela, e
continuou caminhando em silêncio, observando as pessoas ao redor. - Você... Não
vai me dizer o que achou? - Ela perguntou, novamente insegura. Ele a mirou nos
olhos, provocando-a a dizer as palavras certas, explicitamente o que queria saber.
- Quero dizer... Estou bonita? - Indagou mais baixo, tendo dificuldade de aguentar
qualquer resposta. Theo sorriu em aprovação, e cessou os passos que ambos
davam, segurando-a pelos ombros e aproximando suas faces.
- Você é bonita, Bianca. Nada disso teria surtido efeito se você não fosse.
Mas você está sempre se escondendo e pouco se cuida, então fica difícil para os
meros mortais notarem isso. Pedi para valorizarem seus olhos porque eles são
muito expressivos, para cortar seu cabelo a partir da boca porque seu sorriso é
encantador, e para deixá-lo comprido porque ele te dá sensualidade, assim como
as unhas escuras. Você entende? - Ela acenou devagar, ainda com dificuldades de
acreditar nas palavras do mentor. - Olhe em volta, anjo. Noventa por cento do
Shopping está te olhando nesse momento. Você sabe por que? – Levantou as
sobrancelhas, compadecido com sua falta de amor próprio.
- Porque eu estou com você? – Indagou, confusa.
- Não, Bianca. Porque você é bonita e chama atenção por si própria. –
Disse, paciente. Ela o olhou em desconfiança. - E porque está comigo. - Ele
completou, revirando os olhos. - Vamos ter que dar um jeito nessa sua
autoestima... - Resmungou para si mesmo, voltando a andar e já entrando em uma
grande loja de departamento que havia no final do corredor, sendo seguido de
perto pela mais nova.

- Aqui. - Theo disse ao entregar nas pequenas mãos de Bianca uma pilha
de roupas de todos os tipos e cores e já a empurrando para entrar no provador.
Ela bem que tentou protestar, mas ele estava irredutível, então logo ela saía de
trás das cortinas azuladas com combinações aleatórias, as quais ele julgava com
atenção, sendo preciso para isso que ela desse algumas voltinhas, que a matavam
de vergonha. - Essa vai com certeza, mas você vai precisar usar sem sutiã, anjo. -
Exemplificou puxando a alça do modelo sem graça que atrapalhava o decote mais
cavado da blusa.
- O que? Mas, Theo, olha pra isso, dá pra praticamente ver os meus
órgãos nessa coisa! Eu não quero ser vulgar para conquistar ninguém. – Rebateu,
nervosa com toda a pele a mostra. Não estava nem de longe acostumada a usar
aquele tipo de vestimenta. Theo revirou os olhos, sem ver sentido na reclamação.
- Me escuta, Bianca. Isso não é vulgar, é sensual. E você não sabe a
diferença porque esteve muito ocupada a vida inteira escondida embaixo de
camisetas e cardigãs dois números maiores que você. O decote dessa blusa é
provocador, não mostra demais e nem esconde uma parte... Especialmente
tentadora do seu corpo, e a transparência nos lugares certos deixa seu contorno
mais "violão". - Ela tentou fortemente controlar as bochechas coradas e a vontade
de tapar o corpo inteiro para que ele não a analisasse daquela forma tão carnal.
Mas sabia que levaria uma bronca, seguida de um "o que eu disse sobre não me
questionar?" – já estava até mesmo abusando da quebra daquela regra -, então
optou por desviar a atenção dele com uma pergunta.
- Como você sabe tudo isso? Quero dizer, você é homem, não devia estar
insistindo que eu saísse de roupa íntima por aí?
- Justamente por ser homem eu sei o que eu valorizo em uma mulher, e por
isso sei como eu quero te ver dentro de cada roupa. E, além disso, quem mostra
demais costuma ter pouco a oferecer em outros aspectos. Não é sempre assim,
porque algumas mulheres só se sentem bem dessa forma e é o direito delas. Mas,
infelizmente, nossa sociedade ainda é machista e julga esse tipo de escolha com
maus olhares. Mas não fique ansiosa sobre roupas íntimas, anjo, pois será a nossa
próxima parada depois daqui de qualquer maneira. – Piscou, apoiando o
tornozelo no joelho de maneira displicente, sentado em uma poltrona em frente ao
provador.
- Nós vamos juntos comprar calcinhas? - Indagou horrorizada de
vergonha.
- Sim, pequena. Não te adianta de nada conquistar o cara se na hora que
ele estiver se animando tiver um vislumbre do seu sutiã bege de avó. - Ele
levantou uma sobrancelha desafiando-a a retrucar, o que obviamente não
aconteceu. - Mas não precisa ficar molhada agora, nas lojas de lingerie eles não
permitem homens e mulheres dentro do mesmo vestiário, então é uma vendedora
que vai ter que fazer o serviço por mim e ver como você fica em cada peça que eu
escolher. Uma pena. – Suspirou, pegando gosto por deixá-la sem graça. - Agora
vamos. Troque-se de volta, pegue todas as roupas para as quais eu disse sim e me
encontre no caixa.

Theo era simplesmente o cara mais maduro e sexualmente resolvido da


face da Terra, era o que Bianca achava ao não notar a menor mudança nas feições
do garoto quando segurava uma cinta-liga vermelha rendada nas mãos. Para
começo de conversa, ela tinha acabado de descobrir que deveria chamar
"calcinha" de "lingerie" a partir de agora, e que o que a sua vida toda achou ser
"sutiã de prostituta", era, para Theo, "roupa íntima fina e elegante". O que já era
informação demais, não bastasse ele querer que ela usasse aquele tipo de coisa.
Os dois entraram em uma discussão interminável sobre o assunto, onde a
cada meia dúzia de palavras dele, ela sentia vontade de se esconder atrás do
manequim, e onde a cada fraquejo de voz dela, ele sentia vontade de ir embora e
desistir daquelas aulas imbecis. Mas nenhum deles fez o que queria, e apenas
permaneceram com os sussurros enérgicos sobre a peça rendada e chamativa nas
mãos do mais velho.
Por fim, chegaram a um consenso. Vermelho era demais, cinta-liga era de
menos. Ou algo assim. O que importa é que eles conseguiram colocar um bom
tanto de modelos na sacola, modelos mais discretos, e ainda assim incrivelmente
sensuais; modelos que brincavam com a inocência da garota, mas não deixavam
de ser feitos de tecidos luxuosos. E então, Bianca foi para o provador novamente.
Estava completamente esgotada de tantas provações, e tudo que queria era
colocar o cabelo para cima, um pijama velho, os pés sob uma almofada e relaxar
pela próxima semana. De preferência, em um local onde Theo não pudesse vê-la
para ditar como deveria se comportar, ou lembrá-la de que homem nenhum -
especialmente seu Sam - gostaria de tê-la naquelas condições.
Se moldar às expectativas dos outros era muito cansativo. Em
compensação, tinha que admitir que o garoto se mostrara melhor que o esperado.
Ele estava levando a tarefa a sério, pegando realmente o problema para si. Fosse
por faltar envolvimento em sua vida ou apenas por diversão, Theo estava de fato
tendo bons momentos moldando a pequena boneca como achava melhor. Além do
que, suas personalidades eram tão contrastantes que lhe era até mesmo curioso
ver como alguém como Bianca pensava sobre certas coisas que sempre lhe
pareceram tão naturais.
- E então? - Ele perguntou ao vê-la sair detrás da cortina pesada,
avermelhada nas bochechas e pressionando os lábios um contra o outro. Ele
estava ansioso, queria ter participado melhor dessa etapa tão crucial das compras
do dia, mas as estúpidas regras da loja não permitiam.
- Tudo bem. Quase tudo serviu, a não ser essas duas peças aqui. - Ela
disse, ainda de cabeça levemente abaixada por tudo que tinha visto de seu corpo
no espelho do local.
- E o que teve de errado com elas? - Ele perguntou analisando duas de
suas peças favoritas com as sobrancelhas franzidas.
- O sutiã estava apertado demais, e a calcinha não coube... Na minha parte
traseira.
- Em outras palavras seus seios são maiores do que isso, e a calcinha é fio
dental. - Ele disse revirando os olhos com um sorriso de canto, divertido. - Mas,
jura? Eu realmente te subestimei por causa das camisetas largas e tops, então. -
Continuou claramente comparando o corpete com os seios da garota, que
arregalou os olhos para depois fechá-los apertados e não ter que presenciar a
inevitável desconfiança que acreditava que ele demonstraria.
Realmente, sua autoestima estava com severas mutilações não
cicatrizadas. Mas, por algum motivo, naquela noite, depois de deixar todas as
sacolas espalhadas pela cama, Bianca se sentiu bem. A cada nova coisa que
tirava de dentro das embalagens para guardar, uma lembrança de um comentário
gentil de Theo vinha a sua mente. Um sorriso, um olhar mais vidrado, o tom de
voz macio e aconchegante. Se tinha alguém certo para o trabalho de lhe ensinar a
ser mais mulher, mais confiante, mais sedutora, esse alguém era ele. E pensando
em todos aqueles elementos constantes do seu dia, a garota não conseguiu se
arrepender do pedido de ajuda.
Pelo contrário: naquela noite, dormiu abraçada consigo mesma, em um
gesto raro de auto aprovação por ter falado com ele para começo de conversa.
Passou pelos corredores como normalmente fazia: invisível e na dela.
Tinha um sobretudo por cima das roupas que Theo tinha lhe comprado, a cabeça
baixa e as bochechas queimando de vergonha só em cogitar a possibilidade de
alguém reparar nela por mais de dois segundos e perceber todas as mudanças
pelas quais havia passado nas últimas 24 horas.
Ia em direção ao seu armário como fazia em todas as manhãs letivas,
separar os livros didáticos do dia e também escolher qual romance utópico
pegaria emprestado da biblioteca a seguir. Então, deixaria o local para sentar-se
na sala vazia novamente desapercebida como lhe era costumeiro.
O que não fazia parte daquele cenário era o monte de músculos charmoso
e despreocupado que estava escorado na porta do seu armário.
Bianca já podia sentir os olhos intensos do garoto queimando nela a cada
novo passo dado. Sabia que ele estava falando sério quando disse que eles agora
deveriam andar juntos, mas esperava uma bronca no fim da semana por isso não
ter ocorrido, e não que ele viesse ao seu encontro.
- Ou você tira esse casaco agora, ou eu desisto de te ensinar qualquer
coisa. - Rosnou com cara de poucos amigos para o grande manto que escondia sua
obra prima. – Está fazendo 30 graus, pelo amor de Deus, Bianca!
- Bom dia pra você também, professor. - Ela murmurou contrariada se
livrando do tecido pesado de costas para o corredor, para que pudesse esconder a
vermelhidão do rosto dos olhares enxeridos que questionavam o que Theo
Versolati fazia conversando com Bianca Caproni.
Ok, isso era uma mentira. Eles perguntavam o que ele fazia conversando
com essazinha. Saberem seu nome já era demais.
Ele parecia concentrado demais em avaliar o trabalho do dia anterior -
vulgo o caimento das roupas e cabelos novos - para perceber o que acontecia nas
rodinhas de fofoca ao seu redor, ou para se preocupar com elas, para falar a
verdade.
Mas não deixou passar o apelido acidental que ela havia usado para se
referir a ele. Era ingênuo e honesto, e ecoava devidamente nas paredes de sua
cabeça.
- Professor, huh? Taí... Gostei. Tá permitida de me chamar assim mais
vezes. - Disse, convencido, ainda a assistindo lutar com as mangas do sobretudo.
Bianca congelou um segundo, antes de xingar a própria boca por manifestar as
raízes de sua nerdice, e se resignar com o uso do vocativo, que se tornaria
constante sem dúvidas. Enfim conseguiu se libertar de vez do que lhe escondia do
julgo alheio. - Assim está bem melhor. - Ele garantiu com um sorriso confortante.
Mas Bianca ainda estava envergonhada demais para levantar o rosto e retribuí-lo.
Theo bufou e voltou a falar grosso. - Eu já tenho tudo em mente pra sua próxima
lição, mas preciso sentir que você está realmente empenhada, Bianca. –
Engolindo em seco e fechando os olhos por um breve segundo, ela conseguiu
levantar o rosto na direção dele.
- Eu tô, professor, eu juro. Só é tudo muito novo pra mim, e eu acho que
talvez leve um tempo pra me acostumar com essas coisas. - Indicou a roupa que
usava como exemplo.
- Não temos esse tempo, meu anjo. Seu amiguinho está por aí com a
namorada sem perder tempo algum. - Disse sugestivamente.
- Tá bem, você está certo. – Suspirou, resignada. - Vou tentar me esforçar
mais. - Ela prometeu, repuxando os lábios em conformidade. - E então quando vai
ser a próxima aula? Hoje?
- Não, criança. Hoje eu preciso estudar, tenho prova de física amanhã. -
Revirou os olhos. Odiava a matéria, para variar.
- Física? - Perguntou alto demais, afobada e com os olhos brilhando.
- Não me diga que é a sua...
- É a minha matéria preferida! - Completou, para o desgosto de Theo. - Eu
posso te ajudar!
- É, acho que eu posso usar um pouco desse entusiasmo nos estudos hoje. -
O mais velho respirou fundo e balançou a cabeça como se dissesse "o que eu faço
com você?". Acabou passando o braço pelos ombros dela e puxando-a pela
passagem enquanto ditava o horário que ela devia aparecer no estacionamento
mais tarde, onde ele estaria esperando-a dentro do carro para irem à sua
residência estudar.

Bianca dava passos curtos e apressados em direção ao estacionamento da


escola. Atrasou-se sem querer, sempre tão acostumada a deixar a grande massa de
alunos que ali se concentrava após o último sinal ir embora antes de dar as caras,
acabou perdendo a noção do tempo. Mesmo assim, conseguiu chegar enquanto o
local ainda estava abarrotado, o que, claro, a fez se esconder atrás dos cabelos
para procurar Theo entre os carros estacionados.
O garoto estava apoiado em seu carro moderno, um joelho dobrado e os
braços cruzados, observando-a. Ela aproximou-se rapidamente, mordendo o
interior da bochecha, grata que pudessem ir embora logo.
- Vamos? – Pediu. Theo não se mexeu de sua posição quando ela chegou a
sua frente.
- Arruma a postura e joga o cabelo de lado. - Ele ditou em tom de ordem.
Ela obedeceu.
- Tudo bem, agora vamos? - Perguntou afobada como sempre.
- Espera. Deixa eles te olharem mais um pouquinho. - Ele olhava por cima
do ombro da menina para cada uma das pessoas residentes no lugar.
- C-como assim?
- Vamos dar a chance aos homens dessa escola de babarem na minha
criação. – Explicou em tom de obviedade e orgulho. Silêncio. Bianca queria mais
do que tudo abrir um buraco para se enfiar. Sentiu a respiração acelerar e
esforçou-se para que as bochechas não corassem. - Seu amiguinho também está
olhando. - Comentou.
- Sam está aqui? – Investigou o rosto do mais velho como se buscasse
algum indício de uma pegadinha. Ele acenou positivamente. - Reparando em mim?
- Havia esperança em sua voz e gratidão em seus olhos. Theo sorriu para a garota,
com compaixão. Então voltou a encarar sutilmente o loiro e murmurou
conspiratório:
- Ah, sim. Isso, meu querido, aprecia o que você está perdendo. - Em uma
risada, se deu por satisfeito e entrou no carro chamando Bianca para se juntar a
ele.

- Uau, você mora aqui? - A menor perguntou admirada com a elegância e


imponência do lugar.
- Não. - Ele disse, sincero. Ela o questionou com os olhos. - Minha mãe e
meu padrasto moram aqui. Eu moro nos fundos, na casa da piscina.
- Sem querer me intrometer... Mas porque não mora com os seus pais,
Theo? - Bianca era curiosa na mesma medida que era tímida. Ele não pôde evitar
um sorriso carinhoso para o cuidado que ela tinha em se meter na sua vida. A
maioria das garotas que já tinham pisado ali haviam feito a mesma pergunta com
muito mais indelicadeza.
Entraram na casinha modesta de madeira e deixaram suas coisas no sofá
da pequena sala. Theo ia em direção a cozinha e a chamou para se juntar a ele
antes de respondê-la.
- Aqui eu posso ser eu mesmo. - Ele deu de ombros. - Tenho meu espaço,
e... - Ele indicou com a cabeça a porta que dava para o quintal, e ao abri-la
Bianca tomou um susto com o tamanho do cachorro que apareceu pulando em
felicidade extrema, lambendo o rosto do dono. - Esse é Whisky. Ele é um Bernese
Montanhês de três anos, e é toda a família que eu preciso. - Sorriu com os olhos
apertados. Bianca sentiu o seu próprio sorriso erguer-se sem se dar conta. - Bom,
sinta-se em casa, Anjo. Eu vou fazer nosso almoço.
- Minha nossa, você é mil e uma utilidades mesmo! - Ela riu,
descontraída. Estava se sentindo cada vez mais à vontade na presença do garoto,
e mostrando sua personalidade. Theo achava incrível que a menina miúda da qual
ninguém tivesse notícias na escola, estivesse se desabrochando em sua frente.

A comida estava pronta e a mesa estava posta, e Theo tinha feito tudo
sozinho porque Bianca e Whisky haviam sumido há mais de quarenta minutos, e
ele não fazia ideia de onde tinham se metido. Foi procurá-los pelos poucos
cômodos da casa, e, assim que se deparou com todos vazios, também pelo quintal.
Encontrou Bianca com um sorriso aberto, descabelada, de roupas amassadas, e
com Whisky em cima dela, quase a derrubando na piscina.
- Para, Whisky! Seu grandalhão fofo, você tá me babando toda! - Ela
gritava entre risadas espontâneas. - Ok, ok. Eu prometo não roubar mais sua bola!
Whisky deu dois passos para trás, livrando-a de suas enormes patas. Ela
colocou a mão para trás do corpo revelando a bola laranja favorita do cachorro e
então jogando-a longe para que ele fosse em uma corrida desenfreada buscar.
Theo riu com a cena.
- Anjo, o almoço está pronto. - Chamou.
- Ai, Theo, me desculpa! Eu sequer te ajudei, me distrai aqui brincando
com o seu cachorro.
- Não faz mal. Só venha comer antes que esfrie.
Foram para dentro novamente, com Whisky de volta após recuperar a
bolinha, trançando as pernas de Bianca pedindo para brincar mais. Theo precisou
trancar o cão no quintal novamente para que ele deixasse a visita em paz.
- Parece que você gosta muito de cachorros. - Comentou no almoço. -
Você não é assim espontânea com as pessoas.
- Cachorros te aceitam como você é, e se te machucam, é realmente sem
querer. Eles não guardam rancor, não te culpam por nada, nem exigem de você
mais do que você pode dar. Só querem brincar e lamber seu rosto, se possível. -
Ela explicou, dando de ombros, e Theo imediatamente entendeu que havia um
passado turbulento ali, que explicava o fato de Bianca ser tão retraída com as
pessoas.
- Quem foi? – Perguntou subitamente, olhando-a com interesse.
- Quem foi o quê? – Não entendeu.
- Que te estragou, que te fez ter tanto receio da humanidade. – Ele clareou,
o rosto contorcido como se tentasse ler seus pensamentos.
- Ah... Eu não gosto muito de falar sobre isso, Theo. – Bianca baixou a
cabeça, mexendo na comida sem propósito.
- Eu só quero te entender. - Pediu, a voz morna. Ela suspirou, não tendo
como negar.
- Vamos fazer assim: Você me conta algo da sua vida e eu conto algo da
minha. Assim ficamos quites e eu não preciso sair daqui para me esconder de
vergonha debaixo das minhas cobertas. - Bianca sugeriu, tentando quebrar o clima
pesado.
- Parece justo. – Ponderou. - Eu começo então. - Respirou fundo. - Meu
pais se separaram há alguns anos. Meu pai sumiu e minha mãe se casou com outro
cara. Eu resolvi ir morar com o meu avô. Ele era demais, o tipo de figura que
todo mundo deveria ter na família, mas já estava velho e debilitado, e com isso eu
tive que aprender a me virar. Aprendi a cozinhar, lavar, passar, limpar e lidar com
dinheiro por causa dele. Ele me ensinou tudo o que eu sei.
- O que aconteceu? - Perguntou, observando os pontos vermelhos que
tomavam o rosto do garoto com a memória da pessoa que mais amou no mundo.
- Ele faleceu. E eu fui obrigado por lei a voltar a morar com a minha mãe.
Mas eu não aguento o clima daquela casa e principalmente não aguento meu
padrasto, então arrumei um jeito de reformar isso aqui para que eu pudesse ter ao
menos um pouco de paz. - Terminou, dando de ombros.
- Você fala com tanta assertividade. É forte e independente. - Bianca
elogiou, encantada com as qualidades e história de vida do rapaz.
- Obrigado, meu anjo. - Agradeceu com um sorriso leve. - Sua vez.
- Meus pais também se separaram há algum tempo. A diferença é que eu
não tive pra onde correr, e tive que enfrentar as acusações da minha mãe sobre ter
sido minha culpa. - Suspirou entre uma garfada e outra com a lembrança
desagradável. - Meu pai estava depressivo e tinha essa aura negra
acompanhando-o o tempo todo. Eu era pequena, só queria ver meu pai feliz.
Então, eu sugeri que ele fosse arrumar novos amigos para brincar, porque era isso
que eu fazia para me animar. E, bem... Digamos que ele achou uma amiguinha
bastante especial disposta a brincar com ele.
- Ele deixou a sua mãe por outra? - Indagou, as sobrancelhas levantadas
em choque.
- Sim. E ela me responsabiliza por isso. Pelo fim do casamento deles.
Porque eu estava feliz pelo meu pai ter encontrado alguém que o fizesse feliz. Eu
não tinha a menor noção do que traição era, sequer que meu pai, meu ídolo,
pudesse estar fazendo isso. Enfim... É por isso que eu prefiro os cachorros. As
pessoas não são confiáveis.

Depois da sessão desabafo, Theo e Bianca decidiram que precisavam se


distrair, e que aquela era, portanto, uma boa hora pra pegar nos estudos. Eles
limparam a mesa e arrumaram os livros e cadernos em cima do grande tapete
felpudo que tinha na sala e ficaram por lá mesmo, debruçados em exercícios e
mais exercícios.
Apesar de todas as probabilidades, estava sendo uma tarde agradável.
Bianca era engraçada sem querer, e fazia analogias inesperadas que realmente
ajudavam o garoto a entender uma coisa ou outra da matéria. Em determinado
momento, ele já resolvia os problemas sem qualquer ajuda dela, mostrando-se
muito mais capaz intelectualmente do que a menina esperava.
- Você não é tão ruim nisso como eu tinha imaginado. - Ela comentou
dobrando os lábios, depois de terem resolvido dar um basta pelo dia. - Qual o
motivo então de todas as notas vermelhas?
- Eu só não vejo ponto em nada disso, em aprender essas coisas. Não me
esforço. - Levantou um ombro, conformado.
- Mas, Theo, você não me disse que quer entrar em uma faculdade muito
boa? Esse é o ponto de estudar. – Evidenciou com obviedade.
- Aí é que está, anjo: Eu não quero. Esse é o desejo do meu padrasto. Não
o meu. Ele só quer que eu seja um advogado rico que livre a cara de seus amigos
corruptos. - Bianca tinha uma grande interrogação no rosto, a curiosidade
transbordando dos olhos transparentes.
- E qual é o seu sonho então? - Theo respirou fundo e afastou a cadeira,
decidido a contar mesmo que tivesse que lidar depois com o preconceito que ela
provavelmente demonstraria, como todas as outras pessoas.
- Eu quero fazer a diferença e ajudar quem precisa. Meu sonho é me
formar em psicologia e me juntar a estes grupos de doutores que ajudam os
necessitados na África. Eu acho importante cuidar não só da saúde orgânica
dessas pessoas, mas também da familiar. Quero dizer... Se eu, que tenho todas as
condições, dinheiro, saúde, e educação já sofri tanto com a morte de alguém
querido e com a base desestruturada de família que tenho, imagina essas pessoas,
que não têm ninguém ou que não sabem se vão sobreviver ao dia seguinte? Elas
precisam de amparo, precisam que alguém as ajude a ter força para lidar com
todas essas dificuldades. E eu quero ser essa pessoa. - Terminou emocionado
como sempre ficava quando falava do assunto. Levantou o rosto quente para
Bianca, apenas para perceber que ela mesma tinha lágrimas nos olhos e feição de
admiração.
- Theo... Isso é lindo! - Exclamou encantada. - Você quer se juntar aos
Médicos Sem Fronteiras?
- Bem, sim. Mas eles não são a única organização que promove esse tipo
de trabalho, e francamente... Eu só quero ser útil. Independente de como eu chegue
lá.
- Nossa... Uau. Juro, acho que não vou conseguir te olhar da mesma forma
nunca mais. - Ela sorriu alcançando impulsivamente a mão dele em apoio. Theo
gostou do agrado e ficou muito grato pela reação tão fora do padrão da mais nova
às suas ambições, por isso apertou a mão dela de volta. – Mas pense assim: Para
fazer a faculdade de psicologia você também precisa aprender essas coisas.
Então não está necessariamente perdendo tempo.
- Meu plano é começar a cursar o que ele quer até eu ser maior de idade
para poder me livrar dessas amarras e viver minha vida. Mas acho que você tem
razão. Eu não vou conseguir me livrar de física tão cedo. – Eles riram juntos,
descontraídos e esperançosos por um futuro melhor. - Sabe, Bianca, você é uma
garota bem legal. Tenho certeza que o loiro vai ver isso um dia. Embora eu espere
que já seja tarde demais e você perceba até lá que, se ele preferiu alguém fútil e
sem cérebro a você, ele não te merece.
- O que você está dizendo, Theo?
- Nada, anjo. - Ele balançou a cabeça, sabendo que ela era ingênua demais
para entender que mudar por alguém não a faria feliz. - Vamos, já está
escurecendo, vou te levar pra casa.
Já era sexta-feira.
Entre tomar mais um fora de Sam, pedir ajuda a Theo, passar por uma
transformação total, estudar física e dividir aspectos bastante particulares de sua
vida, a semana passou voando para Bianca.
Aquele dia em especial, no entanto, estava demorando a acabar.
Theo grudou nela a partir do momento que atravessou os portões de ferro
da escola, e estava ao seu lado a cada passo que dava, sempre a conduzindo com
uma mão. E isso lhe era muito incômodo.
Não a presença do garoto, de forma alguma, mas sim os olhares que
recebia de toda a escola por estar em sua companhia.
O pior é que, como agora não passava mais despercebida, não conseguia
escutar as fofocas do corredor e, portanto, não sabia o que estavam achando
daquilo. Não sabia se achavam suas roupas ridículas ou maravilhosas, idem com
o cabelo e as unhas, e não sabia o que achavam que Theo fazia ao seu lado. Será
que achavam que eles eram amigos? Mais do que isso? Namorados talvez?
Ele dizia para ela não se preocupar. Toda vez que a flagrava tensa por ter
captado algum olhar, entoava o mesmo discurso para que se acalmasse e deixasse
fluir. Claro, ele podia estar tão tranquilo assim porque não tinha o que temer - não
havia nada que fizesse que diminuísse a admiração que aquele colégio tinha por
ele - mas não era esse o motivo de tanta serenidade. Theo sabia o que estavam
falando.
Diziam que ela era linda e se perguntavam onde estava escondida todo
esse tempo. Elogiavam e invejavam sua forma física. E especulavam sobre um
suposto relacionamento entre os dois.
Essa parte era sacada. Ia acontecer inevitavelmente, mas Theo até tinha
previsto como uma boa vantagem no plano da garota de conquistar o amiguinho:
ele ficaria com ciúmes, e iria atrás dela.
E isso era o que ela mais queria, embora ele ainda achasse uma má ideia.
Procurava não julgar, no entanto, não sabia como o tal do melhor amigo era com
ela quando estavam sozinhos.
Apesar da aparência de Bianca ter melhorado radicalmente, a postura
frente ao assédio que agora sofria ainda era pífia. Ela ou corava, ou se escondia,
ou corava e se escondia. E, sabendo disso, Theo não podia mais adiar a próxima
aula. Marcaram no dia seguinte, sábado, na casa dele. Seu "QG" da missão como
Bianca resolveu apelidar.
Ele explicou que a aula seria demorada, que provavelmente tomaria o dia
todo, pois passaria a ela o básico sobre como se comportar para fazer os caras a
quererem, e sabia que mesmo o básico seria complicado para ela entender.

Não eram nem nove da manhã do sábado e eles já estavam reunidos na


sala do garoto, prontos para começar a segunda lição. Theo havia feito questão de
ir buscá-la em sua casa, pois Bianca não tinha carro e ele não queria que ela
dependesse de transporte público para chegar ali. Estaria cansada de fugir das
roçadas de velhos nojentos no ônibus e com isso não aguentaria o pique da aula
que ele tinha planejado.
- Vamos começar. A primeira coisa que eu vou te ensinar hoje é sobre
postura. Eu vou encenar pra você o andar de três pessoas, e você vai me dizer o
nome de alguém com quem elas se pareçam. - Bianca achou engraçada a
metodologia do mais velho, mas concordou com a brincadeira.
O primeiro personagem que interpretou andava com o quadril balançando
de um lado para o outro, o queixo para cima e o peito estufado. Praticamente
cruzava os pés um na frente do outro, como em um verdadeiro desfile. Bianca
precisou gargalhar, ver um homem daquele tamanho andando daquela forma era,
no mínimo, hilário.
- Milena! - Ela gritou como em um jogo de mímica.
- Muito bem. – parabenizou. - Segunda pessoa agora.
Agora o andar de Theo era normal, despreocupado e elegante, como se
tivesse todas as respostas da vida nas mãos, a postura ereta, mas a linha dos olhos
no mesmo patamar da cabeça, nem para cima, nem para baixo. Era um andar
familiar demais, e logo a menina soube:
- Theo. - Ela entregou, sabendo que era daquela forma mesmo que ele
próprio caminhava.
- Boa menina. Ok, a última.
Muito diferente dos personagens até então, este tinha os ombros curvados,
o rosto baixo e olhar preso no chão. Dava passos curtos e apressados, como se
estivesse louco para sair daquele lugar ou com muita pressa. Bianca teve mais
dificuldade nessa. Foi preciso três passadas entre uma extremidade da sala e
outra para que ela se desse conta.
- Sou... Eu? - Indagou, temerosa. Era horrível pensar que poderia ser tão
enclausurada daquela forma.
- Sim. E você percebe qual a diferença entre Milena, eu e você? A postura
do seu andar diz muito sobre quem você é, Bianca. - Ela acenou devagar
absorvendo enquanto ele se sentava do seu lado no sofá. - O que você me diz de
me deixar te ensinar como andar sem se esconder?
- Eu não vou precisar parecer a Milena, vou?
- Acho que um meio termo entre ela e você já está de bom tamanho. - Ele
ria de sua desgraça. Theo se levantou e ofereceu a mão para que ela também o
fizesse. - Primeiro vamos arrumar essa postura. Aqui - Encostou a mão no centro
das costas de Bianca e fez pressão até que elas estivessem levemente arqueadas
para frente. Então, puxou com delicadeza os ombros dela para trás e fez o mesmo
com seu quadril. Só o suficiente para que parecesse natural.
- Isso dói! - Reclamou.
- É porque você não está acostumada. Dois ou três dias segurando essa
posição serão o suficiente para ela te ser corriqueira.
- Se você diz... - Murmurou começando a andar com a posição travada.
- Não, anjo! Você precisa de um pouco mais de leveza e gingado ao andar.
Aqui, deixa eu te ajudar. - Theo parou um passo atrás dela e apoiou as mãos em
seu quadril quebrando-os para um lado e depois para o outro a cada novo passo.
Bianca riu, se sentindo uma boneca de pano. - Dê passos maiores, Bianca. Você é
uma mulher linda e confiante agora, aja como tal. - Ele ditou ao pé do seu ouvido,
mas a menina estava acostumada demais com os passos de passarinho para
conseguir fazê-lo sem se desequilibrar e depender das mãos de Theo para
ampará-la.
- É, acho que vou dar mais trabalho do que você esperava. - Ela se
desculpou, risonha pela falta de jeito. Ele negou com a cabeça, já esperava que
seria uma tarefa complicada e explicou que não havia vergonha alguma em não
conseguir de primeira.
- Não se assuste, eu só quero ajudar. - Ele adiantou antes de dar um passo
para frente e colar seus corpos. Ela ficou tensa com a proximidade, mas o carinho
modesto que Theo fez com o polegar no seu quadril a acalmou. - Eu vou empurrar
com o meu joelho a sua perna, e você vai andar seguindo esse comando. Tudo
bem? - Ela fez que sim com a cabeça, e então ele pressionou com a própria perna
direita a dela, que continuou o movimento dando um passo longo e certeiro. As
mãos dele novamente lhe auxiliaram na quebra do quadril e logo ela estava
andando por toda a sala rebolando na medida certa.
A lição estava sendo aprendida com êxito, ainda que o colar de seus
corpos fosse desconcertante para os dois. O leve rebolar de Bianca no colo do
garoto o fazia se animar sem querer e com que ela perdesse o ar, e as instruções
sendo murmuradas diretamente no seu ouvido não ajudavam. Quando ela tropeçou
nos próprios pés de nervosismo e ele sentiu uma gota escorrer pela nuca, acharam
melhor afastar-se para que ela tentasse sozinha.
Mais vinte minutos depois estavam os dois cansados de tanta andança e
dando aquela parte da lição como encerrada. Ele estava sentado no sofá com os
antebraços apoiados nas coxas, levemente inclinado, e ela se jogou ao seu lado
esticando as pernas e cruzando os tornozelos. Theo passou a mão pela testa,
percebendo que também teria que ensiná-la a sentar.
- Última coisa e então vamos almoçar. - Ele indicou. - Você vai se sentar
sempre que puder com as pernas cruzadas e as mãos no colo. Não vai brincar com
seus dedos, não vai cruzar os braços e não vai se inclinar para trás. - Bianca
suspirou. Queria se levantar, achar Sam e gritar na sua cara que ela não merecia
ter que passar por tudo aquilo por ele. Mas optou por fazer o que Theo havia
ditado, sendo mais fácil, depois de tanto treino, manter a postura. - Muito bem. Se
seu olhar se cruzar com algum cara com quem queira flertar, você descruza e
cruza as pernas novamente para o outro lado.
- Entendi, mas e como eu sei que o cara também quer flertar comigo?
- Acho que esse é um dos seus maiores problemas, anjo, não saber nos
interpretar. Vou te ensinar a fazer isso hoje também. Mas antes, vamos encher essa
barriguinha. - Brincou dando um apertão em sua cintura. Levantaram-se e foram
rumo à cozinha apreciar novamente os dotes culinários do garoto.

- Ok, segunda parte dos ensinamentos do dia. - Disse pomposo arrancando


uma gargalhada de Bianca. - Como saber se um cara está flertando com você?
Uma ou outra ação entregam. Ele pode olhar no fundo dos seus olhos e não
desviar o olhar por mais de três segundos. Isso significa que não foi acidental, e
ele está realmente interessado. Então, cruzou o olhar? Segura e conta. Deu mais
de três? Ele tá na sua.
- Não sei se eu consigo segurar o olhar por três segundos.
- Então vamos ao segundo sinal. Ele vai se inclinar na sua direção.
Principalmente a cabeça, o que significa que pode ser que ele te olhe de baixo.
- Tá. E o que mais?
- Ele vai arranjar qualquer desculpa para te tocar. Principalmente na base
da coluna. É como fazemos para vocês sentirem nosso amparo e calor, e ainda
tem o bônus da desculpa de estar te guiando quando na verdade estamos "mijando
no poste" e dizendo para quem estiver por perto que vocês estão conosco.
"Agora, se estiverem conversando, tem mais alguns sinais de interesse,
como as pupilas dilatarem, as sobrancelhas levantarem, e inquietação. Se os pés
dele não pararem de se mexer é ruim, porque significa que você não está
conseguindo prender a atenção dele realmente, e tudo que ele quer é pular a parte
da conversa e ir fazer outra coisa, mas se ele mexer com as mãos ou a boca é
porque está ansioso para te beijar ou te tocar, e isso sim é bom.
- Uau, você é bom nisso. Vocês fazem essas coisas conscientemente? –
Indagou, curiosa, depois de prestar muita atenção em tudo que ele dizia.
- Não, anjo. É tudo natural, e vai ser para você também em algum tempo.
- Bom, tudo bem, agora eu sei que ele tá interessado, mas como eu faço
pra flertar de volta?
- Simples, também tem alguns movimentos clássicos que você pode
performar. Um deles é retribuir o olhar rapidamente, então olhar para qualquer
outro lugar com um sorriso discreto, e voltar a olhá-lo. É como se dissesse "te
notei, tentei disfarçar, mas não deu". Isso nos deixa loucos. Outra coisa clássica é
mexer com o cabelo, ou, como eu já disse hoje, descruzar e cruzar as pernas.
- E se estivermos conversando já?
- Daí você precisa se mostrar interessada no que ele fala, fazendo
comentários esporádicos, sorrir constantemente, e a cartada final: apertar alguma
parte do corpo dele. O mais comum é o bíceps, se estiverem conversando em pé.
Se for sentado pode ser o antebraço ou mesmo o fim da coxa. Mas é necessário
um apertão.
- Nossa, isso tudo é muito complexo, acho que vou precisar anotar. - Ela
disse ingenuamente, fazendo Theo rir.
- A gente vai treinar enquanto eu te falo um pouco sobre as conversas em
si, não se preocupe.
- Então fala que eu já to curiosa! – Agitou-se, arrancando mais uma risada
do professor.
- Tá, digamos que o cara de aproximou, ou qualquer cenário que seja, o
que importa é que vocês vão ter um contato mais direto, vão conversar. Vamos
fazer de conta que eu sou o cara. Você vai precisar saber a deixa de quando falar
sobre si e quando me deixar falar, quando interromper, sorrir, fazer caretas, ser
misteriosa. Acho que fica mais claro se a gente for por exemplos. - Ele fez um
gesto explicando que começaria. - Se eu disser que te acho gostosa, o que você
faz?
- Eu me escondo. - disse astuta, sabendo que levaria uma bronca.
- Não, Bianca. O que você acha que deveria fazer?
- Rir? – Tentou mais uma vez, e logo Theo tinha os olhos em fendas,
entendendo que ela o estava provocando.
- Não, sua pequena pilantra. Você me olha séria por dois segundos, abre
um sorriso de canto, e desvia a atenção para a pista de dança ou o lugar mais
agitado próximo e faz um comentário misterioso. Isso vai me manter interessado
sem te achar vulgar.
- Que tipo de comentário?
- Qualquer coisa que desvie a conversa e não me faça rir.
- Tá... Entendi. O que mais?
- E se eu elogiar as roupas que você está usando?
- Isso não faria sentido algum, foi você que as comprou para mim.
- Finja que eu não sou eu. – Revirou os olhos, com obviedade.
- Bom, daí eu falo obrigada e conto a loja na qual elas foram compradas?
– Disse em tom tentativo.
- Para um amigo gay, talvez, - ele maneou a cabeça - mas para um homem
hétero você tem que entender que o elogio não é para a sua roupa, é para o seu
corpo. E agora, que você faz?
- Eu o olho séria por dois segundos com um sorriso de canto, então desvio
o olhar e faço um comentário misterioso.
- Isso, minha garota! - Ele a chacoalhou pelos ombros, orgulhoso - Mas
veja bem, o cara foi mais sutil dessa vez, então você pode agradecer antes de
tudo.
- Sim, senhor.
- E se eu te ofereço uma bebida?
- Eu não bebo nada de estranhos. – Deu de ombros.
- Você é impossível, menina! Está me provocando. - Ela tinha um sorriso
arteiro nos lábios e ele diversão no olhar. - Tudo bem, vamos tentar um cenário
mais próximo da sua realidade. Se o loiro bate na sua porta dizendo que brigou
com a namorada, o que você faz?
- Ofereço uma bebida.
- Isso! Um whisky, por exemplo. - Indicou o cão dormindo tranquilo no
canto da sala.
- Ah, eu tinha pensado mais em um chocolate quente, mas pode ser.
- Não, anjo, você oferece uma bebida alcoólica, escuta o desabafo dele, e
inflama seu ego um pouco para então dar a cartada final.
- Que seria...?
- Lembrá-lo de que você é melhor do que ela.

Eles ainda ficaram horas praticando diversos tipos de situação para que
ela pegasse o jeito da coisa, mas o trabalho valeu a pena quando o teste final, que
seria um diálogo livre e não hipotético, teve vez. Bianca se saiu bem e seguiu de
perto a cartilha, e o resultado na vida real haveria de ter sido positivo.
Resolveram parar novamente a lição enquanto comiam sorvete direto do pote e
assistiam qualquer série que passava na televisão.
Era um episódio que Theo já tinha visto, então teve a chance de repassar
as dificuldades do dia para saber onde poderia ajudá-la em seguida.
Todos os tropeços da menina no quesito sedução acabavam apontando
para um mesmo problema, o da baixa autoestima. Bianca não se amava, não se
achava sexy e não estava confortável com o próprio corpo, e por isso tinha tanta
dificuldade em passar isso para as pessoas: para ela, era equivalente a contar
uma mentira.
Ele sabia como podia contornar isso, mas tinha quase certeza que Bianca
teria algumas pedras na mão e uma grande barreira para aceitar a próxima aula.
Teria que preparar bem o terreno, porque aquilo não podia ser adiado.
Olhou para o lado onde a garota estava sentada com a postura perfeita
apesar da áurea que ela emanava deixando claro que preferia estar abraçando as
pernas em cima do sofá. Suspirou desgostoso, novamente lhe incomodando o fato
de ela querer tanto se moldar para atender às expectativas de alguém que não
seria bom para ela.
Passou um braço ao redor de seus ombros e a puxou para recostar em seu
peito, o que ela fez de bom grado, já conseguindo encarar melhor a presença dele
com a intimidade que estavam criando. Ele sentia uma vontade irracional de
acolhê-la em seus braços, para protegê-la do mundo preto e branco que existia ao
seu redor. Ela podia beirar os dezessete, mas ainda era uma menina ingênua e
muito machucada pela vida que não merecia a discriminação que sofria. "O que
eu faço com você, anjo?", pensou. Ela estava trazendo luz para sua vida,
animação e esperança, e o que ele trazia para a dela eram regras e imposições de
uma sociedade quadrada.
Não queria que tivesse que ser assim.
Naquela segunda-feira à tarde, depois do período de aulas, Theo e Bianca
foram embora juntos direto para a casa do mais velho. Ele disse a ela que a
terceira aula teria que ser naquele dia, pois não podiam mais adiar lidar com
aquele obstáculo.
Ela, como sempre, acatou, embora não fizesse ideia do que ele estava
falando.
Mas o jeito como Theo estava, tão agitado e nervoso, a fez ficar
assustada. Ele não parava de repuxar os lábios e os cabelos já normalmente
bagunçados, estavam caóticos de tantas vezes que ele passava as mãos tensas por
eles.
- Por que você parece tão nervoso hoje? Aconteceu alguma coisa? Eu fiz
algo errado? - Perguntou, já não aguentando mais o estado do garoto sem saber o
motivo daquilo.
- Não, nada disso. Eu só sei que você não vai gostar nada do que eu tenho
preparado pra hoje.
- E o que é que você tem? - Bianca estava curiosa, e se não fosse a
confiança que havia desenvolvido nele, naquele momento estaria tencionando sair
dali correndo.
- Bom... Sabe como o seu maior problema é de autoestima, certo? -
Gesticulou com as sobrancelhas levantadas.
- É, você está sempre falando isso. Que eu preciso me amar antes das
outras pessoas poderem. Mas, você sabe, não é tão fácil quanto falar.
- Eu sei. Mas talvez a gente precise ser mais... Literal nessa coisa de se
amar.
- Como assim?
- Nas nossas primeiras aulas, eu podia ver a vergonha que você tinha de si
mesma. A falta de confiança na sua aparência e o desmerecimento quando falava
sobre você. Era como se você estivesse fazendo tudo isso, todo esse esforço...
mas achasse que estava aprendendo a enganar os homens e não a deixá-los ver o
melhor de você. Isso é porque você não acredita no seu potencial, nas suas
qualidades, não se ama. E então eu acho que você precisa conhecer melhor você
mesma, conhecer melhor o seu corpo. Explorá-lo, acariciá-lo, amá-lo. - Ela ainda
parecia confusa. - Tudo bem, o que eu to dizendo é que eu acho que você precisa
fazer amor consigo mesma para que os outros queiram fazer amor com você. - Os
olhos dela imediatamente se arregalaram, talvez estivesse enfim entendendo
aonde Theo queria chegar.
- Nesse nível de literalidade?
- É, nesse nível. Bianca... - Suspirou. Ia precisar falar as palavras. - Eu to
falando de masturbação.
- Ai, meu deus, eu não to ouvindo isso. - Ela se levantou começando um
caminhar nervoso em círculos pela sala.
- Você disse que ia fazer tudo que eu mandasse. - Lembrou.
- Você não pode estar sinceramente mandando eu me tocar! - Queria
parecer ultrajada, mas a falha na voz entregou que ela estava apenas muito
nervosa.
- Bom, pois eu estou. - Ele bateu o pé, sabendo que seria complicado
convencê-la. Depois, percebeu que falar grosso com a garota nem sempre
funcionava, e preferiu tirar a máscara de carrasco. - Anjo... - Começou,
levantando-se e pegando as mãos dela entre as suas. - Eu sei que é estranho.
Ainda mais por ter um cara falando isso pra você. Mas eu realmente acho que
esse é o melhor caminho. Porque não importa o trabalho que façamos pra você se
aceitar, vai ser tudo superficial, se chegar na hora H e você estiver sem roupa eu
tenho certeza que a timidez e a vergonha de si mesma vão voltar com força total.
Você precisa estar confortável consigo mesma desde debaixo da pele, confortável
com o seu prazer egoísta, com o que quer, com o que precisa. Aí sim vai poder se
concentrar em pedir isso aos outros e dar a eles também. Você entende?
- M-mas... Por mais que eu entenda o que você tá falando... Theo, eu não
faço nem ideia de como fazer isso. Por onde começar. - Ele engoliu em seco.
Tinha alguma noção da inexperiência da garota no quesito sexualidade, mas
achava que ao menos nesse aspecto tão íntimo ela soubesse se orientar.
- Não se preocupa... eu te ajudo.
- A-ajuda?
- É. Eu vou te dizendo o que fazer. Como em uma aula normal. – Garantiu,
tentando apaziguar seu nervosismo.
- Não tem nada de normal nisso. – Ela resmungou, ainda insegura.
- Eu sei. Eu sei, mas é o que temos para o momento. - Ele deu de ombros,
mas os olhos estavam analíticos em cima dela como se ainda esperasse algumas
objeções.
- O que? É pra começar agora? – Ela perguntou ao se sentir analisada.
- Vamos fazer assim: A gente vai pro meu quarto, senta na minha cama,
confortáveis, e eu te explico melhor tudo que puder. Daí a gente vê como fazer de
lá. Tá bem? - Ele podia dizer que ela estava tensa e desconfortável com toda a
perspectiva dos próximos minutos, mas tinha esperança de que dar um passo de
cada vez fosse ajudá-la a relaxar.

Uma vez sentados na cama de casal do garoto um de frente para o outro e


de pernas de índio, Theo começou a explicar a parte teórica da masturbação, para
tentar sanar as dúvidas que ela tivesse antes de colocar em ação.
- Antes de mais nada, anjo, você precisa se excitar. Não é um processo
mecânico e automático, então você vai precisar desse gatilho inicial. Então, pode
acariciar diversas partes sensíveis do seu corpo, fazendo um carinho em si
mesma. Não tem necessidade de ir direto ao ponto. Na verdade, existem pelo
menos outros cinco lugares com zonas erógenas que você pode explorar, e
milhares de terminações nervosas espalhadas que ajudam nesse objetivo. Tudo
bem?
- Quais são as cinco? - Perguntou, como sempre envergonhada e curiosa
na mesma medida.
- Eu vou te mostrar já, já. - Theo garantiu, logo continuando a explicação.
- Depois disso que eu falei, você deve se sentir molhada lá. É normal e esperado
que se sinta escorregadia. Saberemos se está no ponto certo se, ao esfregar as
coxas uma contra a outra, puder sentir algum alívio momentâneo.
- Tá, entendi.
- Então você pode começar a se massagear. Primeiro por cima da
calcinha, pois o atrito com o algodão deve ser gostoso, e depois dentro. E é
exatamente isso que é: uma massagem. Você só precisa encontrar o ponto onde a
pressão é mais agradável e investir nele. Você vai sentir calor e alguns calafrios,
e isso é extremamente normal. Se sentir vontade de fechar as pernas e parar tudo,
é justamente quando você mais deve continuar. Você tem alguma pergunta? -
Indagou vendo os olhos da pequena mais abertos que o natural.
- Ahm... Você não precisa, você sabe, colocar algo ali dentro?
- Só se você quiser. A maioria das mulheres prefere fazer como eu disse
só, sem penetração. Mas se você sentir vontade, pode escorregar um ou dois
dedos para dentro de si. Você pode curvá-los dessa forma - Ele exemplificou com
os seus - e seguir o ritmo que te fizer confortável. É tudo uma questão de ler seu
próprio corpo e seguir seus instintos.
- Bom, tudo bem. Mas e como eu... Me excito?
- Você pode fechar os olhos e imaginar algum cenário sensual que você
tenha visto em filmes, livros, ou que gostaria que acontecesse na vida real. Para
nós, homens, imaginar uma mulher muito... Bonita - Escolheu -, já é suficiente.
Mas acredito que para vocês seja um pouco mais complexo do que isso.
Theo assistiu, intrigado, Bianca fechar os olhos bem ali a sua frente e
franzir a testa, tentando imaginar alguma coisa. Ele quis dizer que ela podia
esperar ele sair do quarto, mas achou encantadora a feição de esforço que ela
fazia.
- Não tô conseguindo pensar em nada, Theo. - Ela decretou depois de
quase um minuto daquela forma, com os olhos novamente abertos.
- Eu posso te ajudar nisso também. Mas antes, venha aqui. – Chamou,
parando na frente do espelho de corpo inteiro que ele tinha no quarto. Ela se
levantou e foi até ele, sendo direcionada até ficar a sua frente, o corpo miúdo
ainda menor em comparação com o do garoto atrás de si. - Aqui, Bianca - Theo
começou, encaixando suas mãos por detrás das dela e as guiando para cima. -
Essa é a primeira das cinco áreas que eu te indiquei. - Ele fez a ponta dos dedos
dela tocarem superficialmente seu próprio lábio inferior. - Por isso que
normalmente as pessoas se animam tanto com um beijo. Você pode mordê-lo o
quanto quiser na sua preparação. - Em seguida, carregou as mãos dela até que
elas passeassem calmamente pelo pescoço alvo chegando quase no limite da
blusa de alça. - Esse é o segundo lugar. Você pode sentir vontade de esfregá-lo ou
de arranhar. Todas as opções vão fazer você se arrepiar, e arrepio é bom. - Ela
acenou devagar, os olhos cravados no espelho e em cada movimento de Theo. As
quatro mãos unidas desceram e se encaixaram nas laterais dos seios médios da
menina em formato de concha. O mais velho empurrou as próprias contra as dela,
fazendo os dois montes de carne apertarem-se um contra o outro, cavando o
decote da blusa. Mais tarde se o perguntassem, não saberia dizer se o fez para
mostrar a Bianca como lidar com aquela parte de seu corpo ou se por vontade
própria. - Essa parte aqui em especial é muito importante de se ser explorada. Da
forma como achar melhor, suave ou rude, o toque aqui é bastante importante. - A
seguir, ele levantou brevemente a barra da regata que ela usava, expondo, ainda
que minimamente, sua barriga. Deu suaves batidinhas com os dedos ali, bem
próximo do ventre, fazendo um ou outro deslizar, e assistiu o ar esvair-se dos
pulmões de Bianca.
- Nossa, isso é bom! - Ela exclamou, ansiosa. Ele riu, modesto.
- Exatamente, e essa é a quarta área. Me dê suas mãos de novo. - Ela o
fez, e ele as levou mais para baixo e obrigou-as a apertar o interior das próprias
coxas quentes. - Esse é o último. Tem muitos outros lugares, mas que você
consiga explorar sozinha acho que esses estão de bom tamanho. Ela repuxou os
lábios e murmurou em concordância, um pouco decepcionada que ele estivesse
voltando para a cama, mesmo sem saber o porquê. - Sente-se aqui no meio, vou te
ajudar a criar um cenário. Só até você pegar o jeito, e aí eu saio do quarto e te
dou privacidade. - Bianca abriu os olhos, o nervosismo voltando a dar as caras. -
Não se preocupe, eu vou estar no corredor se precisar de mim. - Garantiu,
confortando-a. - Vem.
A mais nova subiu na cama novamente e sentou-se no meio das pernas do
mentor, de costas para ele. Ele a ajeitou e manuseou, até que ela tivesse as pernas
esticadas e o tronco descansando em seu peito, em uma posição confortável e
entregue. Daquela forma, as palavras fantasiosas de Theo podiam ser sussurradas
diretamente no ouvido da menor, tendo um efeito mais direto.
- Feche os olhos e deixa a mente em branco. - Pediu, sendo obedecido
imediatamente. - Agora imagine-se em um lugar que te traga paz, com clima
ameno e uma vista bonita. Onde você está, Bianca?
- Em uma cabana de madeira escura dentro de um bosque claro e lotado
de árvores floridas.
- Ótimo. Agora imagine que você não está sozinha. Tem um homem muito
bonito, malhado e suado com você. Ele acaba de chegar na cabana com algumas
peças de lenha para aquecer vocês quando escurecesse.
- Um lenhador? - Ela perguntou, animada. Ele agradeceu mentalmente ter
acertado no fetiche improvável.
- Sim, um lenhador. Ele prepara tudo para que você aproveite o fim de
tarde da melhor maneira possível. Tem vinho esperando na cômoda ao lado da
cama. Os lençóis são claros e sedosos, e é para baixo deles que vocês vão. - Ela
se remexeu em seu peito, realmente vivenciando a história. Theo sorriu e
acariciou seus braços em conforto, continuando. - Ele acaricia seu rosto e te
lembra o quanto te acha linda. Diz que você é tudo o que precisa e inclina-se para
te beijar. - Bianca subiu uma mão para a boca e esfregou um dedo contra ela,
como se para deixá-la dormente. - Vocês estão com gosto de vinho na boca e
apreciam o ritmo do contato. Ele se coloca em cima de você, e te abraça
apertado, correndo os dedos em seu entorno. O calor da fogueira e do corpo dele
te fazem ficar ofegante. - O peito dela se movimentou com mais rapidez,
espelhando as palavras do garoto. - Você sente que quer mais contato. Espalma as
mãos nas costas dele e percebe que ele está sem a camisa. Na verdade, vocês
dois não tem praticamente roupas no corpo, e a última peça ele lhe tirava agora
enquanto esbarrava a boca pela sua barriga. - A menina encolheu o ventre e
suspirou, se escorando mais contra o professor. - Você se arrepia e entranha os
dedos nos cabelos macios dele, o puxando para cima, onde ele distribui mordidas
no contorno do seu pescoço e ombros. - Theo tinha o hálito quente, e vez ou outra
deixava beijos por conta própria na nuca da garota, onde também passeava o
nariz gelado. Apoiou as palmas da mãos contra as coxas dela, e continuou o relato
quente por mais alguns minutos, até perceber os movimentos inquietos do quadril
dela ajeitando-se freneticamente no colchão sem achar posição. Sabia que ela
estava pronta, e com muito custo, obrigou-se a sair de trás dela e deitá-la nos
travesseiros. Ela ainda tinha os olhos fechados e os lábios entreabertos, e ele
precisou molhar os seus próprios, de repente tão secos, antes de lhe sussurrar que
ela estava pronta e deixar o quarto, deixando a porta encostada. Ele encostou as
costas na parede e se permitiu deslizar até o chão, quando constatou que sua
respiração estava igualmente acelerada.
No quarto, Bianca deu continuidade à fantasia que Theo havia criado.
Seguia instintivamente os movimentos que ele tinha lhe ensinado, contornando de
leve os seios e esfregando os bicos, então passeando pelo interior das coxas e se
aventurando no calor molhado entre as pernas. Por algum motivo desconhecido,
os olhos que ela imaginava sobre si eram claros e os cabelos escuros, uma
inversão interessante do Sam inicial que tinha projetado. Ele também tinha mais
músculos do que o usual, os quais ela fazia questão de explorar milímetro por
milímetro, enquanto encontrava um ponto interessante de sua intimidade que a
fazia pular e perder a linha do raciocínio a cada novo toque.
Theo escutou o primeiro gemido surpreso escapar pelas frestas da porta, e
em uma tortura silenciosa olhou para baixo, deparando-se com seu amigo bastante
animado para entrar pra festa a que não foi convidado. Ele suspirou incomodado,
ouvindo outros sons seguirem o primeiro, e entranhou dos dedos nos cabelos
impedindo-se de se aliviar. Os grunhidos de Bianca ficavam cada vez mais longos
e apelativos, e ele precisou puxar as madeixas escuras pela raiz para tentar se
distrair. Culpava o sexo masculino pela incapacidade de se controlar, embora no
fundo soubesse que aquilo não tinha nada a ver com inevitabilidade, e era mérito
único e exclusivo da menina inocentemente sensual que aproximava-se do êxtase
aliviado sobre sua própria cama.
Dormir ali nunca mais seria a mesma coisa.
Theo odiou-se por um momento, enquanto pegava-se rastejando para a
abertura da porta, para espiar a visão proibida da garota em seu quarto. Bianca
tinha as pernas abertas, a cabeça contra o travesseiro, as costas arqueadas, e as
mãos alternando-se entre um movimento frenético no ponto inchado no topo de
sua intimidade, e um entra e sai coordenado mais abaixo. Chegou a tempo apenas
de vê-la ranger os dentes e contrair os dedos do pé em liberação, jogando-se em
seguida contra os lençóis para aproveitar os últimos espasmos deliciosos.
Balançando a cabeça rapidamente, ele se levantou e rumou para o
banheiro, afim de tirar aquela imagem da cabeça.
Um pouco de água fria no rosto ajudaria.
Ou talvez não.
Ou talvez nada ajudasse.
A não ser... Não. A água lhe teria que servir.
Depois de dignar-se a uma ducha rápida no banheiro da suíte, usar a
toalha de Theo e colocar as mesmas roupas por falta de uma troca, Bianca foi
encontrá-lo sentado pensativo na sala. Ela tentou ser discreta ao entrar no
cômodo, mas assim que o garoto ouviu o menor sinal de sua presença ele se
levantou sorrindo orgulhoso, e abriu os braços para que ela se encaixasse ali em
um abraço caloroso.
- Essa é a minha garota! - Dizia enquanto a apertava e balançava, tirando
risos espontâneos da menor. - Meus parabéns, anjo.
Bianca ainda se sentia mole e carregava um sorriso satisfeito no rosto
pequeno, que se abriu mais em um realizado ao ouvir a congratulação de seu
mentor.
Os dois se sentaram no sofá e Theo pegou uma das mãos dela entre as
suas, onde fazia um carinho modesto como se não tocá-la fosse inviável.
- E então? Como você se sente? - Ele perguntou sereno embora estivesse
ansioso pelo relato completo, para saber do sucesso daquela primeira parte da
aula.
- Nossa, incrível! É como se eu tivesse me libertado de amarras que eu
nem sabia que existiam. - Ela explicou, levantando-se do sofá apesar do cansaço
e dando algumas piruetas no tapete. - É como se eu pudesse conquistar o mundo! -
Exclamou com os braços levantados. Theo ria e a olhava com carinho, feliz pelo
seu momento.
- Meu anjo, quando eu terminar com você, não vai haver pessoa do sexo
masculino que não deseje justamente isso. - Ele piscou, garantindo. - Bom, agora
essa aula é sobre ser confiante com seu corpo e atitudes que o envolvam. O
primeiro grande passo foi muito bem cumprido pelo que eu posso ver. Eu só vou,
então, te ensinar mais algumas sutilezas, alguns movimentos que devem ajudar a
passar essa sensualidade recém descoberta.
- Ai, Theo, faça o que quiser. Depois de hoje eu definitivamente não te
questiono mais. - Disse, entregue, arrancando risos dos dois.
- Ótimo, ao trabalho então.

Theo foi até o aparelho de som da sala e mexeu ali alguns minutos até que
uma música envolvente e sensual dos Arctic Monkeys saísse dos amplificadores.
Bianca levantou uma sobrancelha, indagando-se o que aquilo significava, mas não
pôde fazer a pergunta em voz alta antes que o garoto a puxasse pela mão e
chocasse seus corpos. A outra mão de Theo pousou em sua cintura e ela, sem
saber o que fazer com o braço livre, o descansou no ombro forte do mentor.
- Eu vou te ensinar a dançar. - Ele explicou, mais próximo do que o
recomendável do rosto dela para que ambos não perdessem os sentidos.
- Dançar? - Bianca confirmou, feliz por não ter gaguejado.
- Sim. É importante que você saiba se mover com graciosidade e
sensualidade, sem passos ensaiados. É uma etapa importante da conquista se ela
envolver uma festa ou balada. - Theo continuava dizendo tudo com serenidade e
perto demais da face da menor, que apenas engoliu em seco e gesticulou que tinha
entendido. Ele colou seus troncos e aproximou a boca de seu ouvido. - Siga o
movimento do meu corpo. Se deixe conduzir, se deixe levar. Vai perceber que
isso é mais fácil do que parece.
Sem pensar no teor das palavras do mais velho, Bianca fechou os olhos e
deixou que todas as partes do seu corpo que escoravam a superfície rígida que
era o dele se entregassem. Eles tinham as bochechas coladas e balançavam-se
sutilmente ao ritmo da música, o quadril dele incitando o movimento do dela. Até
que com um impulso um pouco maior, eles começaram a dar passos modestos e
requebradas mais acentuadas. Para frente e para trás, para um lado e para o outro,
dançaram por todo o tapete com graciosidade e informalidade.
Todos os gestos que Theo incitava com seus ombros ou pernas, faziam
Bianca completar o movimento, de forma que ao final da música ela já quase
conseguia prever o próximo passo dele e agir de acordo.
- Muito bem. Dançar em dupla você aprendeu bem, mas essa não é a
modalidade mais comum nas festas pra gente da nossa idade. Então agora vamos
ver como você se vira sozinha. Aqui. - Disse, indo para trás de Bianca e
novamente apoiando as mãos em sua cintura, como haviam feito na segunda aula,
a da postura. Ele a ajudou a começar a rebolar, e logo ela assumiu o controle. A
forçou a dar pequenas abaixadas curvando os joelhos, para que a dança ficasse
mais sensual. E, assim como no quarto, segurou as mãos dela, mostrando o que
fazer com as mesmas.
Fez ela passeá-las pelos cabelos, traçarem a curva do pescoço e da
cintura, e desenharem desenhos abstratos nas coxas. Tudo devagar, com calma e
sensualidade. - Você pode deixar os lábios entreabertos e olhar por cima do
ombro. - Ensinou, e ela reproduziu imediatamente, de forma que o nariz e a boca
do rapaz encostavam-se à sua bochecha na virada, perto do ouvido. - Isso.
Continue assim. - Pediu, a voz rouca e baixa acabou por incentivá-la a
movimentar mais o quadril encaixado no dele. Theo suspirou pelo contato,
fechando os olhos apertados, e optou por se afastar para sentar-se no sofá de
frente a ela. - Vamos ver se você aprendeu. Dança pra mim, Bianca.
A garota parou o que fazia estática no centro da sala. Tinha um par de
olhos sobre si e a ordem do professor ecoava nos confins de sua mente, como uma
daquelas fórmulas que você precisa muito decodificar em uma prova importante,
mas nada no mundo te ajuda a fazê-lo. Ele abriu as pernas e apoiou os antebraços
nas coxas, fazendo um gesto com a mão para que ela começasse. Só assim ela saiu
do transe, forçando os pés a saírem do lugar sem destino certo, e, embora em seus
olhos ainda transparecessem o receio e a vergonha, tentou manter o corpo se
movendo ao ritmo mais devagar da nova música ao fundo, lembrando-se de como
era mais fácil com Theo ao seu redor.
Ouviu-se um barulho de estalar de dedos no cômodo e foi então que ela
levantou os olhos de seus pés e encontrou o olhar do mais velho. E alguma
conexão estranha se estabeleceu, de forma que todos os flashes de elogios e dicas
que ele havia lhe dado até ali a atingiram em um piscar de olhos. E ela entendeu
que ele não era qualquer um. Era Theo naquele sofá, e eles já tinham estabelecido
vínculo suficiente para que ela pudesse se dignar a ao menos... Tentar com
propriedade.
Fechou os olhos apertados e soltou o pescoço, deixando o corpo livre
para acompanhar as batidas. O quadril foi o primeiro a sair da inércia, quebrando
de um lado para o outro, enquanto os ombros ainda continuavam duros. Sentiu um
calor tocar-lhe a coxa esquerda e abriu os olhos vendo a mão de Theo ali. Ele a
estava puxando mais para frente, quase para o meio de suas pernas. Ela foi com
os lábios entre os dentes, dessa vez arriscando passear as mãos pelo pescoço e
cintura, como ele tinha instruído.
Theo se recostou no sofá, deixando que ela se habituasse à situação.
Ainda lhe parecia pouco confortável, mas a cada descida que os olhos dele
davam pelo seu corpo, um novo passo parecia ser dado para que a dança ficasse
mais natural. Ele tocou dois dedos no joelho, indicando-a para dobrá-los, e jogou
a cabeça de um lado para o outro, como se a avisasse para brincar com os
cabelos também. E dessa forma, o conjunto de movimentos foi ganhando jeito, e
desinibição.
- Vire-se. - Ordenou mais uma vez, fazendo-a ficar de costas para o sofá.
Bianca continuou a dançar, agora recobrando traços de timidez com a suspeita de
ter a bunda observada, ao passo que Theo molhava os lábios e puxava o tecido da
calça jeans, desconfortável com a visão tentadoramente mais apurada. Ele subiu
uma mão pela lateral do quadril dela, em uma tortura silenciosa do local que
queria realmente tocar, e a alcançou nos cabelos sedosos caídos pelas costas até
podê-los puxar levemente, para que ela voltasse a relaxar o pescoço. - Curve-se e
olhe pra mim por cima do ombro. - Inesperadamente, apesar da posição sugestiva,
o ar de inocência que Bianca exalava apenas era um afrodisíaco a mais em todo o
showzinho particular. Como se quanto mais inexperiente ela soasse, mais traria o
gosto de corrupção e sensual inevitabilidade. - Agora venha aqui.
Estando novamente cara-a-cara com Theo, ela tinha uma interrogação nos
olhos perante a nova ordem, que só agravou quando ele deu dois tapinhas no
jeans, e a ajudou a sentar-se em seu colo de frente, as pernas abertas onde
encaixava-se o quadril dele, e o traseiro firme e posicionado no início das coxas
musculosas sobre si.
- Apoie-se nos joelhos e ondule o seu corpo. Brinque com o cabelo.
Entenda que eu sou quem você quer conquistar e não um mero professor. - Ela
seguiu, frase-a-frase, cada uma das orientações dele, aproveitando para enlaçar
os braços ao redor de seu pescoço e encostar suas testas de forma que tivesse
mais apoio e em busca do pouco de coragem que a intimidade deles sempre a
incitava. O corpo dela inclinou-se para frente e para trás, unindo virilhas,
barrigas e peitos, sempre chocando a maciez e suavidade dela com a rigidez dele.
Aprovado o movimento, Theo apertou-lhe a cintura indicando que ela estava indo
bem. O incentivo a fez ir além, voltando a dançar no colo dele, o rebolado em
pequenos círculos atiçando-o aos poucos. - Isso... Muito bem, anjo. - elogiou
subindo o rosto do ponto em que se encontravam para novamente olhá-la nos
olhos, e assim diminuindo o ângulo de contato das faces, aproximando suas bocas.
Tão perto, que Bianca diminuiu a intensidade do movimento, com medo de
esbarrar seus lábios nos dele acidentalmente.
Ela tinha a respiração dele batendo no rosto, o hálito provocando como
seria seu sabor e o calor sempre presente a envolvendo. Theo não sabia onde
pousar os olhos, que ficavam vagando entre os lábios vermelhos entreabertos de
Bianca e os olhos transparentes e vidrados.
Bem, o que se seguiria àquele momento, normalmente, seria um beijo.
E ele queria.
Pensava que aquela não era uma vontade momentânea; Estava crescendo
em seu ser já há algum tempo. Mas ainda não tinha decidido se era a curiosidade,
o acesso fácil ou a simples beleza discreta dela chamando.
O que sabia, era que não devia fazê-lo.
Aquela garota precisava dele, gostava de outro, e era frágil demais para
servir-lhe como cardápio do dia. Até mesmo merecia mais do que ter a cabeça
confusa sem propósito. Ele sabia melhor do que se meter com ela. Então engoliu o
gosto doce do quase beijo em seco e afastou a cabeça tentando pensar com
clareza.
- Está ficando tarde e você deve estar cansada. Por que não continuamos
essa aula amanhã? - Sugeriu, precisando criar força para aguentar a feição
decepcionada que inevitavelmente cruzaria a face da menor. Ele acariciou sua
cintura em um consolo mudo. Sabia que ela também queria, embora não tivesse
consciência disso. E aquela vontade demoraria a passar, - como se tivesse fome,
mas não houvesse comida disponível por um longo tempo - até que,
eventualmente, se acalmaria e conseguiria levar as aulas normalmente. Ou assim
acreditava que seria. E quanto a Bianca... Bom, o encantamento também passaria.
Ela se habituaria a ele, à sua experiência e charme, e conseguiria focar
exclusivamente no amado melhor amigo, ainda que esse também não merecesse.

"Traga roupa de banho" dizia a mensagem de Theo que ela recebeu na


manhã do próximo dia de aula, uma terça-feira de feriado sem escola. Estranhou o
pedido, mesmo que o sol estivesse a pino e ele desfrutasse de um exemplar de
piscina quase olímpica na casa dos pais. Afinal, eles não iam continuar a aula do
dia anterior?
Por algum motivo desconhecido, Bianca estava animada com aquela lição.
Fosse pelos bons momentos que ela já tinha lhe propiciado, ou pela previsão do
que ainda lhe traria, ela queria terminá-la. Mas, não podia contrariar o mentor, e
por isso foi até o quarto da mãe e lhe roubou um biquíni simples e pequeno, pois
sabia que os que tinha Theo não aprovaria.
Tocou a campainha da casa enorme ansiosas três vezes, antes de dar de
cara com o peitoral definido do garoto exposto, uma vez que ele usava apenas
uma bermuda azul. Bianca engoliu em seco, contendo a vontade de esticar um
dedo e cutucar o monte de músculos desenhados, checando se eram reais.
Ele a analisou sistematicamente de cima a baixo, parando para dar um
puxão de leve na alça do biquíni em volta do pescoço, que aparecia apesar da
roupa que ela tinha por cima.
Uma troca de sorrisos saudosos depois, foram para o quintal, onde
espreguiçadeiras e toalhas estavam dispostas, junto com uma mesa repleta de
comida.
- Theo, a gente não vai continuar a aula? - Bianca perguntou, já bastante
confusa com o cenário.
- Vamos, meu anjo. Isso tudo faz parte dela. Mas não existe motivo para
não aproveitarmos o feriado também, certo? - Perguntou, um sorriso no rosto.
Como um passe de mágica, toda a tensão que dominava o corpo dela
esvaneceu. Não porque a aula teria continuidade de fato, ou porque soubesse o
que Theo tinha preparado para o dia. Não, Bianca sentia-se serena naquele
momento porque o mentor havia lhe dito nas entrelinhas que gostaria de passar
seu dia livre com ela.
Um dia que ele podia usar para fazer basicamente o que quisesse, sair a
bares para pegar meninas, estudar, praticar esportes com os diversos amigos,
viajar. E ele estava ali; pura e simplesmente desfrutando de um dia de piscina
com uma garota sem sal que havia acabado de conhecer. Aquilo a fez sentir
especial, querida, como há muito tempo não se sentia. A fez sentir como se tivesse
alguém ao seu lado, para variar.
Por isso, Bianca não pôde se frear quando caminhou até o garoto e passou
os braços por seu pescoço em um abraço desajeitado de gratidão.
Não importavam os motivos que haviam unido os dois. Ela só era grata de
não se sentir mais sozinha.
Tho retribuiu o abraço, como sempre sabendo o que se passava na cabeça
da menor. Parecia-lhe um crime que ela tivesse sido tão judiada pelas pessoas,
pois era uma garota incrível, meiga e gentil que só queria um pouco de carinho e
amparo. Apertou os braços em sua cintura e depositou um beijo em seus cabelos
cheirando a jasmim.
- Vamos cair na piscina ou o quê? - ela perguntou animada saindo do
abraço com as bochechas coradas para variar.
- Vamos sim. Mas você acha que o chato do seu professor vai perder a
oportunidade de te ensinar alguma coisa antes disso? - Theo levantou as
sobrancelhas, arrancando um riso da mais nova.
- Você não é chato. - Elogiou com o sorriso preso entre os lábios.
- Vamos ver por quanto tempo mais você continua achando isso. - Ele
apostou, risonho, então batendo as mãos indicando que estava assumindo a pose
de mentor. - Calor é um bom motivo para as pessoas flertarem. As roupas são
menores e mais inexistentes, os programas envolvem mais contato, e os
hormônios ficam à flor da pele. Por isso mesmo, piscina é um cenário que a gente
pode explorar.
- O que eu vou precisar fazer?
- Vai tirar a roupa que cobre seu biquíni devagar e pacientemente, e então
eu vou te ensinar a sair da piscina com graciosidade. Pode começar. - Com um
gesto dele, Bianca começou a tirar a blusa, segurando a barra nas laterais com os
braços cruzados e puxando para cima com lentidão. Theo aprovou, e balançou a
cabeça indicando que ela jogasse os cabelos como quando dançava. Então, as
mãos pequenas dela se dirigiram para a saia jeans que ele havia lhe comprado, a
qual ela desabotoou e ia começar a descer de qualquer jeito quando ele a parou
com um toque, indicando que ela deveria se curvar levemente e balançar os
quadris para fazê-lo. Uma vez que a saia passou pelos pés, Theo entregou um tubo
de protetor solar para ela, que logo começou a espalhar pelos braços e barriga. -
Tome mais tempo para passar nas pernas, e sempre as apoie, uma de cada vez, em
um local mais elevado. Você deve se curvar sobre a perna e se concentrar no seu
trabalho, sem olhar em volta. - Ela o fez, e então teve ajuda para se empinar toda
para espalhar o creme branco no traseiro. - Você pode pedir para a pessoa em
quem está interessada passar o protetor nas suas costas, embora isso fique óbvio
até demais. Mas, se o fizer e ele aceitar e tiver interesse em você, é assim que ele
deve fazer. - Theo indicou que ela se virasse e tomou o tubo das mãos dela.
Afastado o cabelo e os fios do biquíni, ele colocou um tanto de creme na mão e
começou a passar devagar pelas omoplatas, passando por dentro do limite da
peça de banho e continuando em direção a lombar. Passou algum tempo ali, entre
apertadas sutis de sua cintura e contornos tentadores da calcinha presa no quadril.
Então subiu as mãos novamente, aproximou a respiração quente do ouvido dela, e
massageou ombros, pescoço e braços com o que sobrou de protetor nas mãos. -
Entendeu? - Sussurrou no ouvido de Bianca, que se arrepiou sem querer e acenou
positivamente. - Muito bem, na hora de tomar sol, tanto faz se é de frente ou de
costas, de qualquer jeito é interessante para nós. Agora sim, - Ele disse com um
sorriso caloroso - vamos cair na água.
Entre empurrões idiotas de implicância eles iam para a grande banheira
azul mais à frente. E um segundo antes de chegarem à borda, Theo passou um
braço pelas pernas de Bianca e outro pelas costas, içando-a no colo e levando-a
com ele em um mergulho abrupto, sem sequer sentirem a temperatura da água
antes.
Quando submergiram, ele tinha um tom arteiro no rosto e ela tossia o
pouco de água que tinha engolido contra sua vontade.

Quase uma hora havia se passado, e apesar dos dedos enrugados, a dupla
não dava sinais de que sairia dali tão cedo. Naquele momento, Theo apoiava a
cabeça e o alto das pernas da garota, que boiava tranquilamente enquanto era
conduzida de um lado ao outro do imenso retângulo de água. O silêncio havia
recaído entre os dois naquele instante de calmaria, mas daquela forma não
permaneceria muito tempo.
- Você já se inscreveu pra faculdade que seu padrasto quer? - Ela
começou, ainda flutuando de olhos fechados.
- Ainda não, mas vou ter que. Contra vontade, mas sim. Ou então, ele vai
fazer por mim.
- E na que você quer?
- Ah... Não também. Não sei se deveria. Depois se eu passar não vou
saber dizer não e vou precisar enfrentar mais um quebra-pau aqui em casa onde
eu vou sair perdendo no final.
- Meu tio é advogado.
- Bem...?
- Ele é especializado nessas coisas de família. Não sei bem o nome.
Divórcio, herança, emancipação de menor, ele cuida dessas coisas.
- Você está sugerindo o que eu acho?
- Eu podia ligar pra ele. A gente sentava pra tomar um sorvete e contava
sua situação. Ouvir o que ele tem a dizer... Não pode fazer mal, certo? - Bianca
enfim abriu os olhos e estudou o rosto do garoto. Ele parecia brilhar em
admiração e a fez afundar até estar em pé a sua frente. Segurou seu rosto entre as
palmas das mãos e puxou para si, deixando um beijo estalado e molhado na testa
dela.
- Desse jeito vai me fazer louco por você. - Ele disse com um sorriso, e a
abraçou novamente. Estavam dando muitos abraços ultimamente, mas ali,
molhados e com pouquíssimo pano entre eles, a intimidade e conexão que agora
tinham parecia gritar aos sete ventos.
Gritava que eles não sabiam mais viver sem o outro.

Sentados na mesa rodeados de comidas frescas de todos os tipos, Theo e


Bianca ainda riam da última comparação que ela havia feito. Enquanto ele a
ensinava a deixar a piscina com sensualidade, Bianca deixou escapar toda uma
analogia hilária onde ela era Ariel, Milena era Úrsula, Sam, o príncipe, e para
Theo restou dividir os papéis entre Seu Sebastião e Linguado. Segundo ela, ele
podia ser ranzinza e mandão como o siri, mas amável e bobo como o peixe
amarelo, e por isso ela estava decidida a costurar garras e pintar de vermelho as
nadadeiras do bicho de pelúcia que tinha que imitava o melhor amigo da pequena
sereia e dá-lo de presente ao garoto.
Depois da brincadeira, eles resolveram comer. Theo tinha preparado tudo
com bastante cuidado, principalmente a sobremesa, que seria usada para mais
uma parte daquela aula. Eles comeram tudo com Bianca a todo momento dizendo
o quão bom ele era na cozinha. Então, tirado o pano que cobria a cesta com os
doces, ele começou a ensinar.
- Você me disse que quer aprender a seduzir. Bem, tem um jeito bastante
clássico e gostoso de fazer isso que é brincando com a comida. Não tem quase
nada que deixe um cara mais louco do que ver uma mulher comendo do jeito
certo. Aqui, pegue um morango, Bianca. - A menor esticou o braço segurando
pelo cabinho a fruta gorda e avermelhada. - Agora passe ele no chocolate, até a
metade. Isso, leve à boca devagar e morda com os lábios soltos de forma que eles
descansem sobre o morango. - Bianca mordeu a ponta melada de chocolate e
sentiu que fazia biquinho sem querer ao seguir as instruções do garoto. Por estar
muito fresca e suculenta, a mordida na fruta fez um filete de suco e chocolate
escorrer de sua boca. Theo a parou antes que limpasse e esperou ela terminar de
mastigar para explicar o porquê. - Agora você passa um dedo pela trajetória que
a gota escorreu e chupa o dedo quase inteiro para limpar. Pode fazer isso? - Ela
reproduziu, sendo precisa nos movimentos. - E se não escorrer você só limpa a
boca com a ponta da língua, novamente, devagar.
- Entendi. Mas é assim que se come qualquer coisa? Parece complexo. –
Comentou com ingenuidade.
- Não, anjo. É só uma coisa ou outra, algumas comidas mais afrodisíacas
como morango com chocolate.
- Tudo bem então. - Ela concordou com a cabeça, fazendo uma nota mental
de mais tarde pesquisar quais comidas se encaixariam naquelas condições. -
Bom, já que você teve o trabalho de cozinhar tudo isso, eu faço questão de lavar a
louça.
- Não precisa, linda.
- Theo, por favor. Eu já estou fazendo pouco demais comparado com o
que você tem feito por mim. Me deixa fazer essa gentileza.
- Tá bem, mas eu não prometo te deixar em paz enquanto faz isso. –
Pirraçou, e Bianca sorriu com a provocação.
- Não achei que deixaria.

- Acho que a minha cozinha nunca ficou tão bem servida. - Ele brincava,
trazendo as últimas peças de louça para colocar dentro da pia enquanto Bianca,
ainda de biquíni, já estava ensaboando prato a prato.
- Para, seu bobo. - Reclamou, tentando se concentrar em não quebrar nada,
desastrada que era.
- Mas eu mal comecei! - Theo foi para trás da garota, usando as mãos para
liberar um dos lados de seu pescoço dos cabelos ainda úmidos, e ali depositou
um beijo simplório, que a fez rir levemente. Passou então os braços ao redor da
cintura dela, e ficou ali, a abraçando apertado com a cabeça pousando em seu
ombro, até que ela se acostumasse com a presença e o calor dele e continuasse os
movimentos da esponja sem espirrar mais água que o necessário.
- A aula três acabou? – Perguntou.
- Eu só vou te ensinar a jogar cartas quando acabar aqui, e finito. – Ele
respondeu, murmurando ao pé do ouvido dela. Truco e poker eram jogos bastante
comuns entre os jovens da cidade, que sempre acabavam de uma fora ou de outra
com alguém bêbado e se pegando. Por isso, ele achava interessante ensiná-la a se
dar bem com as cartas também, a ficar confortável consigo mesma mesmo em um
ambiente de provação competitiva como aquele.
- Essa foi longa. – Comentou, como quem não quer nada, mas não havia
sequer um tom de reclamação contido na fala.
- Bem, a primeira parte dela era a mais necessária. O restante foi para te
habituar com a confiança no seu corpo em situações diversas.
- Sabe, eu gostei dessa mais do que das outras.
- Você é uma safada, só não sabe disso ainda.
- Theo! - Reclamou, alarmada. Ele ria.
- Eu tô brincando, calma. Mas olha, você pode reproduzir todas as coisas
que treinamos mais vezes, viu? Pra pegar o jeito e tudo mais.
- Você quer dizer me tocar de novo?
- Também, sempre que possível. Não tem nada melhor pro corpo do que
um orgasmo, e a mudança que essa única vez causou em você foi muito positiva. -
Ela virou brevemente o rosto em direção ao ombro onde o dele estava com um
sorriso envergonhado. Recebeu um beijo na bochecha e um tapinha na bunda e se
virou apenas a tempo de ver Theo voltando para a sala caçando um baralho, e de
sentir a parte de trás formigar no local onde antes havia um corpo másculo e
tentador encostado.
Depois de uma semana puxada de trabalhos e relatórios na escola, Theo e
Bianca não puderam dar continuidade às aulas. Os poucos momentos em que se
viam eram nos intervalos e saída, onde trocavam abraços saudosos e desculpas
por mais um dia atarefado.
Não havia sido até aquela sexta-feira que conseguiram marcar mais uma
reunião em seu QG. Logo, Theo a esperava apoiado no carro que dirigia apesar
de menor de idade. Aquilo era comum por ali, os pais daqueles adolescentes
abastados preferiam lidar com a possibilidade remota de receberem multas do
que perder o conforto de eles terem sua própria forma de locomoção e a
possibilidade de se expor dando carros de luxo aos filhos. No máximo,
contratavam motoristas, o que não era o caso dos Versolati, já que Theo sempre
fora adepto demais de sua independência para ter um funcionário ao seu dispor.
Bianca não se atrasou daquela vez, agora estava mais à vontade de falar
com o garoto em público, apesar dos olhares que sempre os seguiam quando isso
acontecia. Entretanto, um olhar em específico pareceu subitamente interessado
demais nos passos e vida social da garota miúda: Sam.
Ele, claro, não havia largado a namorada ainda nem um segundo, mas
havia algum tempo que vigiava a proximidade da melhor amiga com o gostosão
do colégio. Ele estranhava muito aquela amizade, a achava improvável e tentava
não ouvir os rumores que diziam que estavam juntos.
Theo não ficaria com alguém como Bianca... Ficaria?
Quer dizer, com tantas garotas lindas como Milena se jogando aos pés
dele, não era possível que ele tivesse escolhido justo aquela. Não que ela fosse
feia, apenas não se encaixava no padrão, não se destacava, não era festeira e
atirada como as garotas com as quais ele era visto normalmente. Ainda que,
depois de ela ter aparecido bastante mudada na escola, essa distância tivesse
diminuído significativamente. Mas ele a conhecia bem, e sabia que por mais que
por fora ela tentasse se arrumar como as garotas normais, nunca passaria de uma
criança assustada e carente que precisa só de colo de vez em quando, e não de um
namorado.
Bem, aquilo não era da sua conta. Mas mesmo assim, por algum motivo,
não conseguia deixar de encará-los e indagar os motivos daquela união.
Theo, por outro lado, havia, aos poucos, parado de avisar Bianca sobre os
olhares de Sam. Não que eles tivessem ficado menos frequentes - pelo contrário -,
mas cada vez que via a menor interromper sua tagarelice e se retesar inteira por
conta daquilo, ressentia ter mencionado qualquer coisa. Ela estava fazendo
grandes avanços, mas parecia que a pessoa que desencadeou a mudança não ia
colher os frutos dela tão cedo.
Além disso, aquela história de ela ter escolhido fazer tudo aquilo por
aquele imbecil ainda não lhe descia. Theo entendia que ela se dizia apaixonada e,
portanto, disposta ao que fosse necessário, mas ele preferia não se lembrar disso,
porque o loiro simplesmente não a merecia. Quer dizer, eles podiam ser melhores
amigos, mas quem estava com Bianca todos os dias nas últimas duas semanas?
Quem havia cozinhado para ela, conversado sobre seus medos, ambições e sobre
sua família? Quem a havia feito rir? Quem tinha despertado seu lado sensual? A
resposta para todas aquelas perguntas não continha sequer uma vez o nome do
amiguinho precioso. Então, é, por mais que ele estivesse lhe dando aulas para
conquistar supostamente Sam, ele optava por deixar essa informação de lado em
sua cabeça, e, preferencialmente, da dela também.

Sentados novamente no sofá da sala de Theo, eles assistiam à primeira


série que encontraram passando na TV enquanto comiam seus sanduíches de
almoço. Era Once Upon A Time que passava, e uma das cenas era um diálogo
sobre um cara com pose de malvado que tinha se apaixonado por uma loirinha
gata com apenas um beijo.
Por mais desinteressado que Theo estivesse na história, já que ele não
acompanhava o seriado, aquela passagem em particular chamou sua atenção.
Até então, estava ensinando à Bianca coisas teóricas sobre
comportamento, fala, postura, autoestima. Ele estava falando de flerte e sedução,
de conquista e caça. Mas ela queria aprender como fazer um homem se apaixonar.
Veio até ele se queixando de sua vida amorosa, e nada daquilo lhe traria o
coração de um cara. Ao menos, não se o arsenal dela de situações aprendidas
com ele acabasse.
Precisava então ensinar pra ela as coisas essenciais sobre a passagem do
"estamos só saindo como amigos" para o "temos um relacionamento". E, na sua
opinião, a primeira coisa que fazia um cara não largar uma garota ou colocá-la na
friendzone indefinidamente era a química, a pegação, o que rola com as luzes
apagadas, o que os deixava esperando por mais.
Por fim, por mais que soubesse que aquilo seria complicado e
potencialmente a deixasse confusa, havia uma coisa ou outra que ele não ia ter
como escapar se quisesse ser um bom professor, se quisesse que aquela
empreitada toda dela valesse de alguma coisa.
Depois de almoçar e escovar os dentes, tudo que a dupla queria era um
pouco de descanso. A semana havia sido realmente pesada, e embora ainda
tivessem a quarta aula para acontecer, eles tinham resolvido que não custava nada
esperar mais um pouco e abstrair.
Bianca ficou curiosa quando viu todas as seleções de jogos de videogame
que ele tinha empilhados no móvel da TV, e acabou que a opção escolhida para
matar aquele tempo seria jogando um pouco.
Não que ela soubesse jogar, mas aprendia rápido e seria divertido de
qualquer maneira, mesmo perdendo de lavada.
Eles se posicionaram confortavelmente no sofá, ele sentado normal com
os pés sob a mesa de centro e ela de lado, as pernas jogadas em cima das dele.
Depois de aprender que botão fazia o quê e de ter convencido Theo a jogar um
jogo menos violento - no caso, Super Mario -, eles se compenetraram no que
acontecia na tela e no movimento de seus dedos por um longo espaço de tempo.
Fase após fase, com a garota dando gritinhos contidos cada vez que alguma coisa
surgia para atacá-los ou quando era necessário pular rápido de uma plataforma
para a outra, e o mais velho dando risada das habilidades inexistentes dela com o
controle.
Até Bianca resolver que salvar a princesa era um objetivo menos digno do
que tirar Theo do sério. Ela passou a atrapalhar o caminho dele, a sempre que
possível fazê-lo cair em algum buraco ou lidar com algum monstrinho sozinho.
Dava risadas longas sempre que conseguia fazê-lo rosnar um palavrão, e sorrisos
arteiros quando não conseguia e por isso preferia tentar fazer-lhe cócegas na
barriga com a ponta dos pés.
Chegou um momento que Theo desistiu de tentar chegar até a bandeira
sozinho, largou o controle e segurou a perna dela na altura dos dentes, onde
distribuiu mordidas ardidas que a faziam se balançar toda e chorar durante a
risada.
Foi durante aquele contexto que o celular de Bianca escolheu tocar. Ela
atendeu ainda com a voz desafinada dos gritos e gargalhadas e conversou com a
outra pessoa na linha por alguns segundos antes de reclamar com Theo do volume
da televisão - a musiquinha de Mario não a deixava ouvir muita coisa - e colocar
no viva-voz assim que esta foi desligada.
- Querida, está me ouvindo agora?
- Oi, padrinho. Estou sim, desculpe por aquilo. Theo não queria colaborar.
- Alfinetou com um meio sorriso provocador nos lábios, e recebeu um apertão na
barriga que a fez soltar um gritinho.
- É por isso mesmo que eu estou ligando. Tenho um tempinho pra
conversar com você e seu namorado hoje mais tarde. Podemos nos encontrar na
sorveteria do centro, o que acha? - Theo tinha a testa enrugada e um meio sorriso
atravessado no rosto pelo título, ao que a menina corava violentamente.
- Ahn, tudo bem. - Depois de concordar, eles marcaram o horário
direitinho e se despediram.
- Namorado, huh? - Theo provocou. - Eu sabia que você queria o meu
corpo nu.
- Cala a boca! - Ela pediu ainda corada. - Ele deve ter entendido errado -
Sentiu a necessidade de justificar, para que a vergonha a deixasse em paz um
pouco. - Ele que é o advogado que te disse. Meu tio e padrinho.
- Legal, vamos conversar com ele então e ver se dá em alguma coisa. Mas
como é só mais tarde, acho que agora a gente pode começar a aula, o que acha?
- É, parece uma boa hora. O que vou aprender hoje?
- Bom, digamos que você conseguiu fazer o cara ficar interessado. -
Começou, gesticulando. - Agora você precisa realmente atiçá-lo, fazer com que
ele tente um passo mais ousado, escolha você entre todas as presas que ele listou
para a noite.
- Certo... E como eu faço isso?
- Vai precisar aprender a beijar de verdade, anjo.
- O... quê? Eu sei beijar, Theo. Não sou tão perdida assim.
- Ah, pode saber como movimentar sua boca quando em contato com a de
um desconhecido. Mas vai precisar aprender a deixá-lo duro com o menor sinal
do seu hálito quente. E isso não se aprende com os imbecis que devem ter enfiado
a língua na sua boca até agora.
- Então como é que eu aprendo essa sua macumba doida?
- Não é óbvio? Eu vou ter que te ensinar, anjo. - Ele levantou, puxando-a
pela mão para que fizesse o mesmo e então estavam parados sobre o tapete,
frente-a-frente. - A primeira coisa que você precisa saber é que não existe nada
nesse mundo mais gostoso do que o momento que precede o beijo. A
proximidade, o olhar, o contato mínimo e intenso. - Theo deu um passo e puxou
Bianca pela cintura, até que seus corpos estivessem grudados e ela precisasse
passar os braços pelo pescoço dele. Aproximou os rostos, olhando fundo nos
olhos dela. Ao perceber que eles transbordavam nervosismo, abriu um sorriso
tranquilizador e beijou demoradamente sua bochecha, em seguida passeando a
ponta do nariz por ali, aproveitando para inspirar com vontade o cheiro fresco de
sua pele. Uma das pernas dela falhou, mas com o aperto que tinha na cintura
acabou conseguindo manter-se de pé.
Theo esfregou o princípio de barba por fazer levemente no rosto da
menor, enquanto seu caminho seguia pelo maxilar e então pescoço dela. Molhou
os lábios e os arrastou na pele sensível, por vezes aprisionando uma pequena
parte dela entre os dentes. A respiração alcançou o ouvido de Bianca, e era solta
ali devagar e levemente ruidosa, fazendo-a sentir o calor de seu hálito. Ela então
procurou alguma forma de recuperar a estabilidade, agarrando os cabelos da nuca
do garoto e deixando uma das pernas dele entre as suas.
- Sua vez. - Ele sussurrou, e ela precisou lembrar-se de que aquilo era
uma aula para descer o rosto contra o pescoço de Theo e beijá-lo com apreço,
mais apressada e faminta do que ele havia sido, mas conseguindo igual resultado
quando ele o jogou para o lado oposto do que ela explorava em uma exclamação
de alívio. Era como se tivesse passado anos querendo sentir aquela sensação e
enfim o momento havia chegado. Depois de deixar rastros molhados e formigando
por ali, subiu para a orelha fazendo o mesmo que ele tinha lhe mostrado, embora
sua respiração não tivesse nem de longe tão controlada quanto a dele. - Aqui. -
Ele disse, virando o rosto para ela. - Faça isso contra a minha boca. - E da mesma
forma como respirava forte no ouvido de Theo ela fez entre os lábios semi
abertos dele, enquanto tinha os narizes se provocando, e recebia um carinho
simples porém tentador na base das costas.
Bianca tentou avançar, não aguentando mais a provocação, mas Theo
recuou brevemente, como se explicasse que ainda não era a hora. Irritada e
ansiosa, ela colocou a língua para fora e provou o gosto do lábio inferior dele, em
uma lambida deliciosa. O garoto trancou o maxilar e engoliu em seco, e soube que
não teria tanto trabalho quanto esperado quando pressionou contra o corpo miúdo
dela a reação imediata de seu organismo: a ereção que lhe explodia as calças.
- Siga a minha velocidade e procure fazer com a língua os mesmos
movimentos. Não queremos saliva nem demais nem de menos. - Murmurou por
fim, respirando fundo e agarrando os cabelos dela para controlar o movimento de
sua cabeça.
Nenhuma das dicas foi necessária no fim das contas.
A partir do momento que chocaram as bocas e lábios se entreabriram
engolindo uns aos outros e línguas se provavam sem pudor ou recato, nem Theo
nem Bianca se lembraram de que se tratava de uma aula e algo deveria ser
ensinado ou aprendido ali.
A força com que se beijavam era tanta que os lábios roxos estariam
garantidos pelos próximos dias, e eles mergulhavam tanto na boca um do outro
que não haveria enxaguante bucal que os livrasse do gosto de suas salivas
misturadas.
Era muito melhor do que se imaginava. Pareciam se conhecer tanto que
velocidade e inclinação eram quase instintivos, as sugadas e mordidas
sincronizadas, e o caminho percorrido pelas mãos encomendado.
As respirações ficaram altas e ofegantes, cabelos já totalmente
bagunçados, roupas amassadas e palmas suando. Bianca se obrigou a segurar o
rosto quadrado dele entre as mãos, os polegares pousados nas bochechas quase
coradas, e afastá-lo para poder recuperar as batidas de seu coração.
Eles se olharam em contemplação
por quase um minuto sem dizer nada, a vontade de pelo menos encerrar
com mais algumas encostadas de lábios pairando no ar. Theo limpou a garganta,
mas sua voz ainda saiu inevitavelmente rouca e falha quando disse:
- Muito bem. É... Desse jeito mesmo que deve fazer. Estou orgulhoso,
Bianca. - Ela tinha as bochechas queimando e mordia o interior da boca
compulsivamente sem achar forças para rebater nada ainda. Ele lhe estendeu a
mão parecendo quase recuperado. - Vamos, seu tio deve estar nos esperando
agora.

- A maioridade completa nesse país é a partir dos dezoito anos. No


entanto, até os 21 existe uma ou outra coisa que ainda muda. Em primeiro lugar as
sentenças criminais podem ser mais leves, e também podem existir algumas
burocracias a mais para a abertura de empresas, contas em banco, e afins, que
podem demandar a assinatura de pais ou responsáveis, embora, pela lei, isso não
esteja certo. O que acontece é que ainda existe muito protocolo baseado na
Constituição prévia a 2002, que continha ainda diferenças significativas entre os
poderes de uma pessoa de dezoito e uma de vinte e um. Sobre emancipação, é
muito comum adolescentes serem emancipados com dezesseis ou dezessete anos
quando existe alguma dependência de herança, principalmente. Assim, é como se
para o Estado eles tivessem vinte e um anos, e portanto têm plenos poderes para
fazer tudo sozinhos.
- E como eu faço para me emancipar? - Theo perguntou, sentado ao lado
de Bianca na mesa da sorveteria de frente ao advogado/padrinho/tio da garota.
- Você pode dar entrada no processo, mas não consegue se emancipar
sozinho. É preciso que pelo menos o seu pai ou a sua mãe assine o documento.
- Minha mãe nunca vai concordar em assinar e eu sequer sei onde meu pai
está. Não gostaria de ir atrás dele, muito menos com esse motivo. - A garota
sentia a tensão do mentor e segurou sua mão entre as dela para passar conforto. O
carinho que fazia ali fez ele se acalmar, ainda que muito pouco.
- Nesse caso, você tem algumas outras opções, como provar sua
capacidade de se auto sustentar, o que significa que precisaria de renda própria
ou carteira assinada.
- Eu to no colégio ainda, e é semi integral. Não tenho como ir atrás de um
emprego bom por enquanto. E mesmo na faculdade acho difícil eu ter tempo para
fazer alguma coisa.
- Só resta mais uma alternativa pela lei que seria se casar.
- Casar? - Indagou alarmado, trocando um olhar desconfortável com
Bianca, que tinha os olhos igualmente arregalados.
- É. Mas, escute, Theo. Eu não acho que apressar um casamento seja sua
melhor alternativa. Nós até poderíamos entrar com um processo judicial dizendo
que seus pais são negligentes e tentando antecipar sua maioridade sem precisar da
assinatura deles, mas você acha que toda essa dor de cabeça é a melhor forma de
fazer a faculdade que quer?
- Eu já tentei conversar de todas as formas possíveis... Não vejo saída.
- Olha, eu estou cansado de ver famílias se afastarem e perderem os laços
por conta de processos legais. Sei que está com raiva da sua mãe e que gostaria
de fazer algo a respeito, mas no fim das contas você ainda a ama, certo? Não vai
querer perdê-la.
- É, acho que não. - Ponderou.
- Então, garoto. E por mais que esteja disposto a correr esse risco, você
teria que largar sua faculdade para conseguir um emprego se isso acontecesse,
pois não teria mais o sustento que eles te dão hoje. Pense melhor nisso, estude
suas opções. - Aconselhou. - Se precisar de mim novamente, Bianca tem meu
telefone.

Permaneceram na sorveteria ainda algum tempo, pois Bianca não podia


cogitar a ideia de ir embora com o padrinho sem saber como o garoto estava se
sentindo sobre tudo aquilo.
- Vou precisar desistir do meu sonho. - Ele disse com a voz fraca e
conformada.
- Não diga isso! Você mesmo me disse um tempo atrás que iria fazer por
um tempo a faculdade que eles queriam para depois seguir suas vontades quando
tivesse idade. - Ela lembrou.
- É, mas vai ser tempo demais sendo infeliz para não perder as
esperanças.
- São apenas alguns meses! Você já vai fazer dezoito e...
- Você ouviu seu tio. Mesmo que eu tenha dezoito, não vai me adiantar de
nada bater o pé. Eu ainda vou precisar deles pra pelo menos me sustentar
enquanto faço a faculdade. Em qualquer das opções eu não tenho escolha.
- Theo, não. Não desista. Tente conversar com eles ao menos mais uma
vez. Eu vou com você! A gente dá um jeito. Só não quero que você perca esse
brilho no olhar tão lindo quando fala do seu futuro.
- Se é que há um futuro dessa vez... - Bianca o censurou com o olhar,
pedindo que não continuasse a falar daquela maneira derrotista. Doía nela ver a
pessoa de melhor coração que conhecia tão desolada por uma injustiça daquelas.
Ele corrigiu a postura e mais uma vez tinha cada mão segurando uma dela com
força, em busca de amparo. - Eu não prometo nada... Mas vou tentar.
- Promete sim. Pelas criancinhas que precisam de você, por você mesmo e
por mim. Promete que não vai parar de lutar pelo seu sonho. - Por ela... Não tinha
como negar.
- Eu prometo, meu anjo. Se tiver você ao meu lado, eu prometo qualquer
coisa.
Ela ainda torcia as mãos, enquanto esperava atenderem a porta. Ia estudar
novamente com Theo, e apesar de tudo que já haviam passado juntos, dessa vez
ela estava nervosa e ansiosa, como se algo grande estivesse para acontecer
quando fosse vê-lo.
No entanto, diferente de como sempre acontecia, a pessoa que atendeu a
porta no hall de entrada não era Theo. Era uma mulher, beirando os quarenta e
tantos anos, de traços expressivos e bastante parecida com seu mentor. Estava
extremamente arrumada, denunciando todas as roupas caras e diversas idas ao
salão de cabelereiro, ostentava joias pesadas e um batom chamativo.
- Hm, olá, você deve ser a mãe do Theo. - Bianca forçou-se a dizer,
estendendo uma mão gelada para ela que apertou fraco, por não saber quem era a
garota miúda fazendo suposições a sua porta.
- Olá. Sim, e você é...? – Franziu os olhos, desconfiada.
- Sou Bianca. Nós somos... Amigos. Eu vim ajudá-lo a estudar.
- Ah! Pois bem, Bianca, entre. – A postura da mulher se alterou ao que ela
deu passagem para Bianca colocar os pés dentro da casa. Parecia agora bastante
receptiva. - Aquele garoto precisa mesmo de alguém que o ajude a manter a
cabeça nos nossos objetivos ambiciosos. – Sorriu fechado, beliscando a bochecha
da menor.
- Seus. - Corrigiu, impulsiva, sem querer. Logo, tapou a boca com a mão,
como se para punir-se por dizer coisas impensadas. No entanto, era de Theo que a
mulher falava, e lhe parecia quase instintivo defendê-lo como pudesse. Talvez
porque sabia que ele faria o mesmo por ela.
- Meus o que? - A mulher questionou, os olhos claros muito parecidos
com os do filho, por mais penetrantes que fossem, não a assustavam mais.
- Seus objetivos ambiciosos. Os dele são, na verdade, bastante humildes. -
Explicou, sentindo o gosto amargo da verdade na boca.
- Ora, mas trabalho voluntário não dá dinheiro. – Ridicularizou, fazendo
pouco caso. Então, endireitou as costas para falar com seriedade. - Ele precisa
entender que eu só quero o melhor pra ele.
- E a senhora, entende que o melhor pra ele é ser feliz? – Bianca piou,
baixinho, sem compreender se a senhora Versolati só não tinha pensado naquilo
ou se tinha escolhido ignorar.
- Menina, estamos falando do meu filho. É claro que eu quero que ele seja
feliz. - Exasperou-se levantando os braços e elevando a voz.
- Então por que quer fadar ele a uma vida tão diferente de tudo que ele
sonha? – Era uma pergunta honesta. Bianca queria muito receber uma resposta
satisfatória, algo que realmente justificasse o terror psicológico que estavam
infringindo sobre o garoto.
Mas sabia que não receberia.
- Você não acha que está sendo abusada demais? - O tom era perigoso e
Bianca teria realmente se assustado se já não tivesse ido longe demais. No
entanto, para ficar ao lado de Theo e nunca mais vê-lo com o ar desistente que
tinha apresentado depois da conversa com seu padrinho, ela estava disposta a
fazer uma coisa ou outra, como enfrentar sua mãe.
- Me desculpe, eu sei que é a sua família e eu sou uma ninguém para me
meter. Mas entenda, senhora Versolati, seu filho quer mudar o mundo, fazer a
diferença, fazer o bem. Ele é um garoto incrível com um coração imenso e está se
tornando amargurado sendo aprisionado debaixo das suas asas. Ele pode ser feliz,
mas não é defendendo criminosos que ele vai sê-lo.
- Já chega. – Vociferou, em tom definitivo. - Se veio estudar com o Theo
ele está lá nos fundos. Mas eu não vou aguentar mais essas acusações. Passar
bem, Bianca. - A senhora se retirou, subindo as escadas imponentes no fim do hall
onde discutiam. Bianca suspirou, chateada, e contornou o lugar para encontrar o
professor.

Optou por não mencionar a discussão que tivera com a senhora Versolati
para o garoto. Sabia que aquilo o deixaria agitado, sem ação e que o lembraria da
sua impotência sobre o assunto que estava tentando esquecer. Então, Bianca
simplesmente entrou na casinha de madeira, e, sem jeito, cumprimentou o amigo
com um abraço infinitamente mais íntimo e longo do que deveria ter sido, e logo
foram se sentar para estudar.
Havia um grande problema, no entanto.
Não havia fórmula algébrica no mundo que lhes tirasse da cabeça o
maldito beijo.
A dupla havia subestimado o que o breve contato trocado no abraço
despertaria. O encostar a princípio suave das bocas e então o encontro fervoroso
de gostos e saliva era mais distrativo do que qualquer livro didático que tivessem
ao alcance. Principalmente, se o coprotagonista dessas memórias estivesse
sentado ao seu lado, há míseros centímetros de distância, sendo tão tentador a
cada nova mordida que dava nos próprios lábios.
Era tortura para os dois.
Focar em números e fórmulas parecia uma tarefa muito aquém do
permitido pelas mentes ocupadas demais naquele tipo de pensamento pecaminoso
e incerto.
Mas eles se esforçaram mesmo assim, obrigando-se a fazer exercício após
exercício, a conversar e trocar olhares de duração passável, independente do
quanto queriam prolongá-los.
Bianca sentia-se um ratinho assustado. Achava-se patética por estar tão
encantada, embora sentisse que o trabalho do mentor não estivesse sendo em vão,
pois a pouca autoestima que tinha ganho a impedia de ter crises de insegurança
sobre o beijo da aula anterior. Ela se lembrava dos parabéns dele, de como disse
estar orgulhoso dela, e do carinho e intimidade que trocaram momentos depois, e
sentia-se bem, como se aquilo fosse certo e ela não tivesse motivos para se sentir
acuada. Mais do que isso, permitia-se até mesmo fantasiar que ele tivesse gostado
do seu beijo, que ele também quisesse outro.
Mas então lembrava-se de Sam, de seu objetivo inicial, e da fama do
professor, e a confusão a dominava, incerteza e curiosidade disputando lugar com
suas vontades momentâneas. Era certo aquilo? Querer beijá-lo novamente? Quer
dizer... Tinha sido apenas uma aula, certo? Então não havia o que questionar. E
não era novidade a excelência do garoto no quesito sedução, então admitir ter
vontade de beijá-lo novamente era até mesmo esperado.
Como a inexperiência jogava a seu lado, preferia deixar as decisões por
conta dele. Se fosse para se beijarem novamente, ele diria assim. E pronto.
Quanto aos exercícios matemáticos... Esses não se fariam sozinhos.
Para Theo, a situação desenvolvia-se de forma diferente. Ele estava, antes
de mais nada, intrigado. Queria entender como uma garota simples e pequena
como Bianca conseguia dominar seus pensamentos daquela forma. Claro, toda a
situação de submissão em que ela se encontrava com relação a ele era tentadora
por si só, mas havia mais. A intimidade também não ajudava, saber que ela era a
única pessoa que ficara ao seu lado na busca de um sonho bastante inalcançável.
Por fim, a ingenuidade e doçura contidos no beijo da menina, faziam seu estômago
contorcer-se desconfortável até agora, aquela sendo uma novidade que ele não
havia provado até então, mas que muito tinha gostado.

Embora distraídos pelo mesmo motivo, havia uma diferença crucial nos
pensamentos de cada. Enquanto Bianca encontrava-se em um estado mais
contemplativo e esperançoso, Theo tinha certezas e tomava decisões. Ficar
naquela tortura silenciosa não fazia seu feitio. Precisava de distração melhor.
- Qual a sua cor favorita? - Perguntou, interrompendo o raciocínio
matemático da menina.
- Laranja, por que?
- Porque eu quero saber. - Ele deu de ombros. - A gente tem passado tanto
tempo juntos, quero saber mais sobre você, anjo. - Em um suspiro aliviado,
Bianca largou a lapiseira sobre a mesa e virou-se completamente na direção dele,
agradecida pela chance de mudar o rumo de seus pensamentos de forma mais
efetiva.
- É laranja. – Repetiu. - É a cor de pôr do sol, e eu adoro pôr do sol.
- Que romântica. - Ele provocou, recebendo a língua da menor.
- Vai, seu insensível, vai dizer que pôr do sol não é lindo?
- É, mas eu prefiro o depois, quando já está de noite e toda a claridade
depende das estrelas.
- Quem é romântico agora? - Ela rebateu, recebendo cócegas vingativas
por alguns segundos. - Deixa eu adivinhar, sua cor favorita é preto? - Tentou, em
uma careta.
- Não. Azul escuro.
- Ah, Theo, você é muito menininho.
- Menina! Olha como fala comigo. – Reclamou, beliscando de leve sua
cintura.
- Tá, tá. – Fez pouco caso, como uma criança levada.
- Vai, sua vez de perguntar alguma coisa.
- Isso é um jogo por acaso?
- Agora é. – Deu de ombros.
- Tudo bem, vamos ver... – Bateu um dedo no queixo, pensativa - Você tem
um hobbie preferido?
- Transar. - Ela revirou os olhos para a piadinha.
- Um esporte preferido então.
- Transar. - Ele disse, novamente, embora carregasse um sorriso de canto
provocador.
- Theo, assim não vale! A pergunta é séria. - Ralhou.
- Ué, mas a resposta também é. Você quer que eu seja honesto, ou o quê? -
Ela rosnou qualquer xingamento, e recebeu um sorriso maroto de volta. - Tá bem,
meu hobbie favorito é te ensinar a ser sedutora, e meu esporte favorito é futebol.
Emburradinha. - Brincou, apertando as bochechas de Bianca em provocação. -
Minha vez. Você já sabe o que quer fazer de faculdade?
- Ainda não. Penso em ou veterinária ou jornalismo, mas não é nada certo.
- Qualquer coisa pra fugir de contato humano, huh? Ou se esconde atrás de
letras em um computador, ou atrás de animais.
- Você já pode parar de me analisar, obrigada. - Reclamou, incomodada,
embora não tivesse sucesso em esconder o riso por muito tempo. - E séries, você
assiste?
- Já dei uma chance pra maioria dessas famosinhas, mas só consigo me
prender em uma ou outra. Dexter, House, Game of Thrones. E você?
- Eu gosto quando tem algum romance. - Ela deu de ombros, fazendo
pouco caso. - Você sabe, a maioria das pessoas assiste séries porque se identifica
com um ou outro personagem. Acontece mais ou menos o mesmo processo de
quando lemos um livro de ficção. – Não pôde deixar de comentar, em
contemplação a seu jeito nerd.
- É? E quem eu seria nessas suas séries água com açúcar? O galã? - Ele
alfinetou, rindo.
- Você podia ser sem dúvidas o Mark Sloan de Grey's Anatomy ou o
Capitão Gancho de Once Upon a Time. - Bianca respondeu, rindo também. - Os
dois são teimosos e convencidos. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
- Você tá a cada dia mais saidinha, dona Caproni.
- A culpa é sua. Vem com essas ideias malucas de me dar confiança e
intimidade. Dá nisso! – Disse gargalhando.
- Tudo bem, essa culpa eu assumo com gosto. - Olhou para ela com
carinho, sentindo-a tão menos retraída do que era no primeiro dia que pisou
naquela mesma casa. - Acho que é a minha vez de novo. - Ele constatou, apesar
de ninguém estar prestando atenção à ordem das perguntas. Pensou um instante e
resolveu tirar da frente algo que tinha muita curiosidade de saber. - Por que você
gosta do loiro? – Bianca mordeu o lábio e olhou para baixo, pesando a melhor
maneira de explicar.
- Sam é... Especial. Ele é gentil, simpático, me quis quando ninguém mais
me queria, ficou do meu lado quando tudo que eu queria era sumir, e me fez
companhia quando eu não tinha ninguém. Além de ser lindo.
- Mas seguindo esses motivos é por mim que você devia estar apaixonada!
- Theo brincou, um gosto amargo na boca incomodando. Então era realmente
carência. A garota não gostava realmente do amiguinho, ele acreditava, apenas
achava que devia se sentir assim pela pessoa que a tirou da solidão. Era o que o
universo ensinava para garotas ingênuas como Bianca: o príncipe encantado da
modernidade disfarçava-se de melhor amigo atencioso. E isso bastava para que
elas não olhassem mais ao redor e consequentemente não vissem toda a
destruição que os defeitos egoístas desses mesmos caras causavam nelas.
Bianca sorriu sem graça, deixando um tapa fraco na perna dele. Fez mais
uma pergunta, e o jogo teve continuidade por mais alguns minutos, em que eles se
permitiram conhecer-se melhor. Então, precisaram voltar aos estudos, para que
aquela tarde escolar não tivesse sido em vão, e mergulharam no livro chato e
confuso de matemática, mesmo aquela sendo a última vontade que tinham.

Theo olhava para todos os lados possíveis, entediado com a falta de


objetividade daquela matéria em particular.
Seus olhos claros acabaram pousando na concentração irreparável da
menor, que mordia a ponta da lapiseira rosa bebê e vez ou outra fazia biquinho
para alguma parte do enunciado que lia. Ela tinha os cabelos presos atrás da
orelha, deixando todo o rosto inocente e sem falhas a mostra, de forma que ele
pôde encarar os movimentos que ela fazia com a boca sem dificuldades.
Ele se lembrava muito bem da sensação de ter aquela boca na sua.
E então, no silêncio abafado da sala de estar, novamente o clima pesava.
Era aquela vontade irrefreável batendo às portas. Aquele desejo
desgraçado que fazia formigar os lábios e coçar as palmas das mãos. E dessa vez
não tinha mais jogo de perguntas pra distraí-lo, de forma que o pedido que gritava
na cabeça de Theo não tinha freio.
Ele precisava beijá-la.
Ele precisava beijá-la.
E algo tinha que ser feito quanto aquilo imediatamente.
Nunca fora uma pessoa acostumada a se barrar de qualquer maneira.
Ele pesou uma ou outra consequência, e não encontrando nenhum motivo
bom o suficiente para deter-se, fechou o livro pesado com as mãos grandes e
virou-se para Bianca que o encarava sem expressão, com os lábios entreabertos,
surpresa.
- Sabe? Acho que a gente devia praticar mais um pouco.
Não esperou resposta antes de segurá-la pela nuca e trazer seus lábios
para si.
E o gosto maravilhosamente doce e delicado desfez-se em sua boca,
diferente em gênero, número e grau dos das garotas com quem já tivesse estado.
Não tinha nada a ver com o sabor do brilho labial, ou da pasta de dente, era de
Bianca mesmo. Era o aroma suave que exalava de sua pele e o toque gentil de
suas mãos agarrando-lhe o tecido da camisa. Era a entrega mais absoluta e a
dedicação completa em querer sentir e agradar, a perda dos sentidos e a falha da
respiração a cada novo movimento que a agraciava.
Beijar Bianca era sentir todas as propriedades de sua personalidade entre
encontros de boca e línguas.
E lhe causava um tesão tão cru e instantâneo que era difícil de acreditar.
Theo jogou as pernas da garota por cima das suas, apenas para que
pudesse estar mais colado à ela. Então a abraçou pela cintura e aprofundou o
beijo, eventualmente sugando sua língua ou mordendo seus lábios. Ela o copiava
a medida que aprovava alguma sensação causada. Era a fórmula perfeita: ela via
que era bom e queria que ele sentisse também. Tudo isso ao passo que caminhava
as pontas das unhas pintadas pela pele do garoto, inocentemente lhe causando
arrepios.
Para Bianca, beijar era sinônimo de fazer carinho. Desde afagar o rosto
dele com o nariz ou os dedos, até massagear com calma e cuidado os ombros de
músculos tensos, ela fazia tudo que pudesse. E ele apreciava muito o gesto tão
puro de cuidado e adoração.
Assim como quando beijava outras mulheres, ele tinha vontade de lhe
arrancar a roupa e foder pesado. Mas mais do que isso, tinha vontade de despi-la
devagar, deitá-la na cama e cobrir seu corpo com o dele. Bianca incitava isso
nele, essa ambiguidade, a pressa e a paciência.
Ao passo que ela não sabia por onde começar a descrever suas sensações.
Sentia um calor interminável, que só parecia aliviar ao passear das mãos de Theo
pelo local, antes de arder em brasa novamente. Por algum motivo, tinha certeza de
que se fosse necessário ficar em pé naquele momento, ela cairia pateticamente,
sem a firmeza necessária nas pernas molengas com as carícias do professor.
O beijo molhado que trocavam lhe dava fome, sede, ânsia por um "mais"
que ela não compreendia. Tinha que se segurar ou logo estaria mordendo Theo
inteiro sem controle, como se precisasse disso para ter um pedaço dele consigo.
E o tocar suave da pele dele ou dos cabelos sedosos entre seus dedos pareciam
deixar a vontade mais urgente.
Podiam passar a vida inteira ali, naquele beijo, sem que ninguém ouvisse
um reclamar.
Mas só tinham aquele final de tarde.
E ele foi bem aproveitado, em outros beijos semelhantes, que oscilavam
entre o rápido e intenso e o tranquilo e carinhoso. Nas cadeiras da mesa de jantar,
no sofá, na bancada da pia, no tapete, na porta, no gramado. Em cada lugar que
aventuraram estar durante aquele dia, aquela cena se repetiu. Sem que para isso
fosse necessário qualquer questionamento ou permissão.
Era como se uma folga tivesse sido tirada da vida, e nada mais importava
a não ser aquela brincadeira de tocar e sentir. E qualquer dúvida ou consequência
tivesse ficado para o dia seguinte, um futuro distante e desimportante, que lhes
parecia tão menos tentador do que o presente gostoso e agradável que estavam
tendo, afogados no gosto um do outro.
As pessoas sempre fogem quando não sabem o que fazer.
É o natural do ser humano, ele quer evitar situações desconcertantes,
possíveis mágoas e humilhações, e por isso foge.
Algumas pessoas agem como se nada tivesse acontecido. Outras viajam.
Outras preferem não falar mais com a pessoa que as lembram do ocorrido.
Bianca estava obviamente fazendo esse último.
Desde que colocou os pés na escola, teve oportunidades diversas de
conversar com Theo, mas ao invés disso se encolheu como o ratinho que
costumava ser e perambulou pelos corredores pelos cantos, tentando não ser
notada.
Quer dizer... Os diversos beijos trocados na tarde anterior poderiam ser
interpretados como continuação da aula quatro. E podiam não ser. Podiam ser
espontâneos e fruto de desejo e vontade apenas.
E com relação a essa possibilidade ela não sabia lidar.
Era Theo Versolati, pelo amor de Deus! Ele não podia escolher ela entre
todas as opções que pulavam aos seus olhos na escola para beijar, entre todas as
garotas tão desesperadas para serem suas próximas presas, que não se dignavam
ao mínimo respeito antes de jogar-se em seus braços pelos corredores. Não fazia
o menor sentido!
E, no entanto..., era no que ela estava mais tentada a acreditar.
Talvez fosse sua recém descoberta autoestima dando as caras. Ou talvez
fosse a simples noção de que aquilo não tinha sido uma aula, pois estava longe de
ter algum ensinamento, alguma racionalidade.
Theo, por outro lado, estava tranquilo. Já tinha tido mais tempo do que a
garota para avaliar o que queria e mais experiência também com beijos
imprevistos. Para ele, aquele assunto era infinitamente mais natural, e não lhe
causava, nem de longe, a mesma preocupação que causava à sua aprendiz.
Ele entendia que tinha um peso maior do que a primeira vez. Mas não via
alarde nesse fato: Eles eram adolescentes cheios de hormônios, trocando
confissões e segredos, e passando tanto tempo juntos quanto possível. Era o tipo
de coisa que estava quase fadada a acontecer, se parasse para pensar.
Assim, alheio ao desespero da menor, Theo caminhava pelos corredores
como sempre fazia, sem um músculo mais tenso que o normal.
Isso é, até avistar Bianca espremida contra uma parede sendo quase
completamente ocultada pelo amiguinho, com quem conversava.
Ela apertava dois ou três livros em um abraço e repuxava o interior da
bochecha em claros sinais de nervosismo, apesar do sempre presente falatório
ininterrupto. Era assim: bastava um pouco de intimidade e ela tinha a boca aberta
por onde vomitava informações aleatórias, em uma busca desesperada de entreter
seu interlocutor. Em certo ponto, era até mesmo adorável, uma demonstração de
afeto que ela fazia sem se dar conta.
Sam tinha as mãos nos bolsos, em uma posição de descaso forçado que
não condizia com o brilho de seus olhos abertos demais. Mordia os lábios toda
vez que precisava conter um sorriso, e quando isso não bastava, ele logo olhava
por cima dos ombros para os lados, como se estivesse preocupado se alguém
teria visto.
Era o retrato do pau mandado. A namorada teria dito em alto e bom tom
que a menina à sua frente estava apaixonada por ele, e ele agora achava que
precisava se conter para não demonstrar o mesmo, ou não lhe dar esperanças.
Se soubesse um pouco que fosse sobre ela, teria certeza que aquilo era
inútil. Bianca não precisava ser incentivada, ela nutria a paixão por conta própria
independente de qualquer atitude da parte dele. Mas ele não a conhecia; não
realmente. Tinha estado ao seu lado durante praticamente toda a infância: é
verdade. Mas isso só o fazia mais cego que o esperado. Podia reconhecer um ou
outro trejeito e saber os medos que ela verbalizava, mas qualquer coisa que
estivesse mais abaixo do que a extrema superfície da garota ele não fazia questão
de saber.
Isso irritava bastante a Theo. Apesar de saber que o loiro não fazia de
propósito, o desinteresse que ele demonstrava pelo seu pequeno anjinho agitava
suas entranhas e amargava o gosto de sua saliva.
Mas é dele que ela gosta, idiota, sussurrou uma voz chata na sua cabeça.
Isso não é da sua conta. Suspirou e deu de ombros, continuando a caminhada que
não devia ter parado até seu armário, onde um grupo de garotos o esperavam.
Eram quase todos da sua sala, uns mais bombados que outros, mas todos
corpulentos, jogadores de futebol ou membros do time de natação. Theo estava
acostumado a andar com eles, e a estar rodeado de garotas líderes de torcida e
afins, antes de começar toda aquela história de aulas de sedução. Não que não
falasse mais com aquelas pessoas - apenas não era nem de longe com a mesma
frequência. Ele suspeitava que eles não fossem entender o que fazia em
companhia de Bianca, então se esquivava das perguntas com tom definitivo e
ninguém ousava lhe questionar duas vezes. Ele nunca precisou se provar, ou se
explicar, e mostrava que não pretendia começar agora. Aos poucos, as conversas
a respeito cessaram, e só o que ficou no lugar foram boatos não confirmados, e
algumas provocações ingênuas - e com aquilo era fácil lidar.
- E aí, Theo! - Um deles disse, alto, cortando o assunto anterior com a
chegada do moreno. - Prova fudida, hein? Acho que dessa vez eu não escapo da
reprovação.
- Eu até que mandei bem. - Deu de ombros abrindo caminho para deixar o
livro de física dentro do armário. A porcaria quase não cabia na sua mala, estava
louco para se livrar dele.
- Mérito próprio, ou a nerdzinha te deu uma mão? - Perguntou um outro
garoto, em uma curiosidade ingênua.
- Bianca - corrigiu, em tom irritado - tem me ajudado, sim.
- E outro tipo de mão, ela tem te dado? – Outro imbecil provocou,
recebendo quase que imediatamente olhares reprovadores do grupo. Theo não
precisou dar-se ao trabalho de demonstrar irritação com o comentário: todos ali
já o conheciam o suficiente para saber que aquele tipo de intrusão não seria
aceita.
Ainda assim, outro garoto, que não o que tinha se pronunciado, tentou
mostrar-se preocupado com o amigo, em uma inversão da simples intromissão.
- E isso acabou agora ou esse relacionamento estranho de vocês é aberto?
- Theo uniu as sobrancelhas, não entendendo a pergunta, e sentiu baterem em seu
peito de leve antes de apontarem para onde ela estava - ainda - conversando com
Sam.
- É, cara, olha lá ela toda se engraçando com o loiro do basquete! - Outro
menino clamou, como se tivesse pego a garota no flagra. Theo quase rugiu "não
temos um relacionamento", mas em troca preferiu apenas rosnar que aquilo não
era da conta de nenhum deles – repetindo o mesmo para si -, e o assunto foi
trocado mais uma vez.

- Eu só quero entender, Biba. Você sabe que eu me preocupo. - Sam dizia,


as sobrancelhas unidas em contestação, mas na cabeça da garota só repetia a
mesma pergunta, vez atrás da outra: "Eu sei...?"
- Olha, Sam, não tem nada pra entender. A gente ficou amigo por obra do
destino. Foi meio... Sem querer. - Ela sentia a mentira coçar sua garganta, e
arriscou alguns olhares tímidos a Theo, que conversava com alguns brutamontes
do outro lado do corredor. Tentava suplicar por telepatia que ele fizesse uma
speed class sobre como mentir, pois estava precisando.
- Tá, tá. Mas vocês são só amigos mesmo? Porque se esse garoto quebrar
seu coração... - A promessa ficou no ar, tão vazia para ela quanto era para ele. Se
tinha alguém quebrando o coração de Bianca era justamente aquele que queria
prometer vingá-la. Era tão irônico, que chegava a ser engraçado, e os dois não
contiveram o riso vago. A sacralidade do momento era garantida pelo clichê, e
não houve clima ruim por conta disso.
- Eu vou ficar bem, eu juro.
- Bem, eu até acho que vai te fazer bem sair um pouco debaixo das minhas
asas, conhecer pessoas novas, lugares novos... Até seu visual mudou! - "Fazer
bem?”, Bianca se perguntou. Não conseguia entender qual o benefício que ele
achava que lhe faria estar afastada do mesmo. Engoliu a vontade de bater com os
livros que segurava em sua cabeça e chamá-lo de estúpido quando seu cérebro
decodificou o elogio disfarçado em sua fala. Era impressão, ou ele tinha dito que
ela estava bonita...?

- Olha, cara, já deu pra sacar que você não gosta de falar nisso. Por isso
eu juro que é a última vez que eu comento algo a respeito. - Derek tinha ficado
para trás quando o grupo de garotos começou a se mover para o refeitório,
especificamente para conseguir falar com Theo, que fechava seu armário antes de
acompanhá-los. Era o mais próximo do moreno dali, e se deu a liberdade de
voltar ao assunto Bianca apesar de todos os avisos para não fazê-lo. - Mas se
vocês estão ficando, velho, você não tem porque se envergonhar. A menina é
bonitinha, até, ou pelo menos ela está agora. Não me lembro como ela era antes,
mas se nunca a notei não devia ser grandes coisas. - Ele balançou a cabeça
freneticamente, percebendo que havia se perdido no discurso. - O que eu quero
dizer é que a gente não se importa se você tiver com ela. Você sempre tomou suas
decisões sem ligar pro que achamos de qualquer forma. Mas se esse é o caso,
Theo, se você tá pegando a novinha, talvez seja uma boa você mostrar isso pro
resto do colégio. Porque boatos e suposições não vão impedir que as líderes de
torcida deem mole pra você e nem vão impedir aquele cara de dar em cima dela.
Por enquanto, vocês são território neutro, sacou? - Theo estreitou os olhos pro
amigo, claramente não gostando de ter que falar sobre isso novamente, e menos
ainda do teor do assunto em questão. Infelizmente, ele tinha acabado de acender
uma luz em sua mente, e ele seria obrigado a colocar em prática aquilo. Antes, no
entanto, precisava se livrar de Derek.
- Você tem razão, cara. - Disse, dando tapinhas mais fortes do que o
aconselhável nas costas do mais baixo. - Eu não ligo pro que vocês acham. -
Então, em um sorriso irônico e deixando um leve beliscão na bochecha do outro
em provocação, ele posicionou melhor a mochila no ombro e marchou para onde
Bianca estava, do outro lado do corredor. Sam já se despedia com um aceno
comedido e ia como um pato atrás do rabo de saia que era sua namorada aguada.
Theo não gostava de falar daquela forma com quem quer que fosse,
mesmo que já tivesse deixado cristalino que não queria tocar mais no tema "ele e
Bianca". Mas, quando Derek soubesse que ele fizera exatamente o que
aconselhou, ele perdoaria a grosseria momentânea e tudo ficaria bem de novo,
então não havia porque se preocupar.
Chegou perto da menina sem ela perceber, não dando assim o tempo que
ela gostaria para se preparar melhor para aquela conversa. Não que qualquer
preparação pudesse ajudá-la para o que viria a seguir.
O mais velho a encurralou na parede, um braço dobrado ao redor de sua
cabeça e o outro estendido, por onde se apoiava com a mão. Ele aproximou seus
rostos tanto quanto podia sem que seus narizes se encostassem, e ficou quieto,
apenas mirando-a no fundo dos olhos transparentes com intensidade.
- O-Oi? - Ela gaguejou, nervosa com a energia que emanava dele. Theo
mordeu os lábios e expirou com força, então tirando uma das mãos da parede para
enlaçá-la pela cintura.
- Nossa próxima aula é hoje depois do último período. Eu vou querer
saber o que o loiro queria com você e vou te punir por ter se escondido hoje a
manhã inteira. - Disse assertivo, fazendo-a concordar depressa.
- T-Tudo bem. – Ela estava nervosa, por ter que encará-lo depois da tarde
anterior, e por tê-lo a enlaçando na frente de todo mundo. Mas não podia negar
que por mais fora de sua zona de conforto que aquilo fosse... Era estranhamente
animador.
- Mais uma coisa, Bianca. A partir de agora, e para todos os efeitos até
nossas aulas acabarem, nós estamos juntos.
- Juntos? Como em um... Relacionamento?
- Isso. Namorando, transando casualmente, ou só ficando. Você quem sabe.
- Deu de ombros. - Mas estamos juntos. - Reafirmou.
- Eu... - Bianca tentou questionar.
- Não, anjo. Não é uma opção. Mais tarde eu te explico o motivo disso,
mas saiba que tem a ver com você laçar seu precioso amiguinho. Ciúmes pode ser
a melhor forma de ele te notar. - Piscou, sem deixar margem para novos “mas”.
Então, roçou seus lábios com voracidade, o que a fez trancar a respiração, e
partiu, finalmente, para o refeitório, puxando-a atrás de si pela mão.

- Linda, vamos? - Theo perguntou alto, ao avistar a garota passando pelos


portões de ferro do colégio, chamando a atenção de algumas pessoas ao redor.
- Linda? - Ela parecia confusa ao se aproximar dele, tentando arduamente
ignorar o incômodo que os olhares ainda a causavam.
- Estamos juntos, lembra? - Ele sussurrou, lembrando-a da conversa que
tiveram espremidos contra a parede do corredor. - E não deixa de ser uma
verdade. - Murmurou como quem conta um segredo, colocando uma mecha de
seus cabelos atrás da orelha.
- Ah. Tudo bem então... Lindo. – Ela tinha as bochechas mais rosadas que
o normal, em puro desconserto.
- Isso. Agora vem cá. - Ele a puxou pela cintura, e ela automaticamente
passou os braços ao redor do pescoço perfumado do garoto. Um segundo de
espera e tinham um a boca pressionada a do outro. Bianca suspirou com o gosto e
textura dos lábios do rapaz, como se sua lembrança não fosse suficiente ou não
lhe fizesse jus, e ele aproveitou que ela soltava o ar e encaixou melhor suas
bocas, logo a acariciando com sua língua. Mordidas aqui e mais suspiros lá, eles
conseguiram se separar. Theo afastou-se da menor, descolando a testa da dela, e a
olhou nos olhos entre uma respirada mais profunda e um sorriso. Entraram no
carro, e foram mais uma vez para o agitado QG, vulgo a casa do garoto, sob o
olhar espantado e bocas escancaradas dos colegas de escola.
- Vai ser assim agora? Vamos nos beijar a cada cinco minutos? Porque eu
não sei se meu coração aguenta passar por isso toda hora sem nenhum piripaque. -
Bianca disse, caminhando agitada de um lado para o outro na pequena sala do
lugar enquanto Theo a observava tranquilo do sofá.
Ela definitivamente não estava mais em seu perfeito juízo, a cena no
estacionamento sendo mais do que sua racionalidade conseguia explicar.
- Aguenta sim. É necessário, anjo. Ciúmes é a maneira mais rápida e
eficaz do loiro prestar atenção em você. Ele vai desejar estar no meu lugar, isso
vai causar uma série de reflexões do porquê ele deseja isso, e então, através de
uma epifania, ele vai notar que é porque gosta de você. - Quanto mais falava do
assunto, mais Theo sentia que aquela decisão não tinha sido pautada tanto assim
nos objetivos da menina. Não estava mentindo: Os ciúmes seriam realmente uma
carta na manga ideal para abrir os olhos do loiro, mas sentia como se houvesse
um motivo oculto dentro de sua mente confusa, um que fizesse referência a uma
certa tarde de beijos roubados e vontade incontrolável de repetição.
- Fácil assim? – Confirmou, a cabeça caída de lado como um animalzinho
que não entende o que está acontecendo.
- Não tem nada de fácil quando se trata de relacionamentos. – Disse, tanto
para si mesmo quanto para ela. - Mas é, esse é o melhor caminho.
- Bom... – Suspirou. - Então tudo bem. Mas a gente tá namorando, então,
porque eu não sei lidar bem com esses compromissos casuais que você sugeriu. –
Abanou a mão na direção dele, enfim conseguindo fazer a ideia permear sua
mente.
- Sem problema, namorada. - Ele deu uma piscadinha, então batendo no
sofá ao seu lado indicando que ela se sentasse, agora que parecia mais calma. Ela
o fez.
- E qual é a aula de hoje? Como ser uma boa namorada? – Ela disse em
tom jocoso, um sorriso meigo estampando a face.
- Algo assim. - Ele deu de ombros também com um sorriso nos lábios,
virando-se para ela. - Eu te ensinei como se portar, agir, falar, e até mesmo andar.
O que significa que você já sabe, na teoria, como fazer um cara ficar interessado
em você. Apesar de às vezes teimar em não aplicar os meus ensinamentos. - Theo
beliscou de leve a barriga da garota, provocando-a no que dizia respeito aos
resquícios de timidez que ela vez ou outra deixava aparecer a superfície. Ela riu
como uma criança que foi pega fazendo arte. - Então, eu te ensinei a beijar. - Nada
no mundo seria capaz de explicar racionalmente o porquê dos dois sentirem o
sangue subindo as bochechas com a mera menção do fato. - Porque é uma
evolução natural do flerte que você precisava saber responder a altura para que
ele não se decepcionasse. - Ela acenou positivamente, mostrando que estava
acompanhando a linha de pensamento do mais velho. - E, agora, eu acredito ser
prudente te ensinar a evolução natural a isso também.
- Que seria...? – Ela fraziu as sobrancelhas, nem perto de adivinhar por si
só.
- Sexo, Bianca. - Theo disse com os lábios pressionados, direto ao ponto,
mesmo sabendo que a reação dela não seria tranquila nem de longe. Como tudo o
mais que havia ensinado até ali, ela teria uma barreira grande para superar
naquele aspecto, que para ele era tão comum e ordinário.
Ele era resolvido e queria que ela fosse também. Não via motivos no
alarde todo que a maioria das mulheres fazia quando o assunto envolvia falta de
roupas e esforço físico.
- Não. - Decidiu. - Olha, professor, não é necessário. Eu juro! Podemos
pular essa etapa? - Ela suplicava, os lábios mordidos até esbranquiçarem.
- Não, minha linda, nós não podemos. - Rebateu, paciente com o jeito
afobado dela, a voz baixa e grossa, em uma tentativa de tranquilizá-la. - Antes de
tudo, se acalme. Sou eu, você me conhece, sabe que eu não vou te obrigar a nada.
- Fez um carinho modesto no rosto dela, que tinha a forma de um filhote de cão,
pedinte e encurralado, mas não hesitou em deitar o mesmo na palma quente da
mão dele. - Mas... Realmente acho que essa é uma etapa muito importante que
você precisa passar. Afinal, anjo, você acha que o quê? Que vai aprender sozinha
com vídeos pornográficos e contos eróticos? Acredite em mim, menina, se o
garoto está animado, tenta alguma coisa com você e vezes seguidas é frustrado na
tentativa, ele desiste. É uma merda, egoísta e escroto, mas eu sei de mais de um
cara que fez isso com a namorada de anos porque ela se recusava a lhe abrir as
pernas. Para nós, homens, o contato físico é tão importante quanto são as palavras
para as mulheres. Na verdade, sexo é um elemento muito importante de qualquer
relacionamento. Inclusive é o pilar onde muitos se sustentam.
- Mas... Como algo assim pode ser tão importante? - Bianca tinha as mãos
tremendo e os olhos arregalados, estava apavorada como era de se esperar.
Felizmente, o garoto já estava preparado para essa reação, uma vez que
acreditava fielmente que ela fosse virgem e a inexperiência a deixasse ainda mais
insegura no assunto.
- Olha, eu entendo. Você é virgem e está assustada. Mas não precisa, eu
estou aqui. Eu vou cuidar de você. - Antes que pudesse emendar qualquer
discurso confortante para acalmá-la, Bianca o cortou.
- Eu não... - Pigarreou, tentando dizer as palavras direito. - Eu não sou
mais virgem.
- Não?! - Theo alarmou-se, sem entender. Tímida daquela forma e sem
nenhum jeito com os homens, como...?
- Não. - Ela engoliu em seco, e ajeitou-se no sofá até estar
confortavelmente apoiada de lado no encosto e de frente para o mentor. Começou
o relato que não havia dito mais do que uma vez, e apenas para sua própria
ginecologista. - Era uma sexta à noite. A gente tava comemorando o fato do Sam
ter sido aceito no time de basquete da escola. Bem, ele estava muito feliz, e
comprou um vinho pra brindarmos. Eu nunca fui fã de bebida alcóolica, e ele
achava um desperdício deixar a garrafa aberta, então uma coisa levou a outra e
ele a bebeu inteira sozinho. - Theo franziu as sobrancelhas, não gostando muito do
rumo que o relato tomava, mas colocou uma mão no joelho de Bianca passando
confiança para que ela colocasse tudo pra fora. - Ele estava tão, tão feliz. E eu já
gostava dele, óbvio, então vê-lo daquela forma me deixava meio grogue também.
Eu não sei bem como aconteceu... Mas em determinado momento ele me falava
coisas de forma meio enrolada sobre eu estar sempre ao lado dele, fazendo tudo
que ele queria, me elogiando por ser tão disponível... E aí ele me beijou. - Ela
deu de ombros, repuxando os lábios com a lembrança. - Quando eu fui ver a gente
estava na cama da minha mãe, e já quase não tinham roupas entre nós. Eu fiquei
meio apavorada... Acho que é normal, né? E tentei parar e racionalizar o
momento. Ele não deixou, me disse que era infantil parar naquela hora. Eu não
queria que ele ficasse com aquela imagem de mim, queria que ele me visse como
mulher. E aí... Aconteceu. – Ela deu de ombros, os olhos transparentes um pouco
nublados.
- Você perdeu sua virgindade com o Sam? – Sussurrou, desacreditado.
- É. Doeu como o inferno, e eu fiquei roxa durante semanas, mas só de
lembrar da cara de felicidade dele... Eu quase acho que é isso que move o meu
coração, sabe? E, por mais que no dia seguinte ele não se lembrasse de nada...
Alguma coisa em mim mudou naquela noite, e foi aí que eu percebi que estava
apaixonada. – Olhava para baixo, mexendo nas mãos nervosas pelo relato pessoal
e sincero demais.
Theo estava, em uma palavra, transtornado. O imbecil tinha feito ser ruim
pra ela, tinha a machucado e magoado, tinha esquecido de um dos dias mais
importantes de sua existência! E ela estava ali, inocentemente achando que aquilo
era normal, e se permitindo sentir algo pelo filho da puta. Porque Bianca não
conhecia nada diferente daquilo. Não conhecia carinho, apreço, amor de verdade,
e só se achava merecedora daquele tipo de afeto egoísta e carnal que o melhor
amigo podia oferecer. Por algum motivo, o coração do garoto doía.
- Bianca... O que aconteceu nessa noite, eu posso te garantir que não teve
nada a ver com sexo. - "Foi violência, isso sim", pensou, apesar de não
verbalizar. - Sexo é bom, eu prometo pra você. Não é feito pra doer e machucar, é
feito para dar prazer, trocar intimidade e carinho. - Ele esfregou a mão na testa
com força, tentando clarear os pensamentos e parar de ver vermelho. - Lembra
quando você se tocou no meu quarto? - Ele perguntou, tentando uma abordagem
diferente. A menina levantou os olhos das mãos e esperou que ele continuasse. -
Foi bom, certo? - Ela acenou que sim, fraquinho, constrangida. Ele abriu um
sorriso ladino pela doçura dela. - Imagina que sexo é pelo menos três vezes
melhor do que aquilo.
- Nossa! Você... Tem certeza? – Bianca tinha os olhos muito abertos,
deixando sua sempre iminente curiosidade transbordar.
- Claro que sim, anjo. E eu vou te provar.

Depois de pegar uma água para Bianca, que aos poucos voltava ao estado
normal com a premissa da aula ser tão menos pior do que ela imaginava, Theo se
sentou novamente ao seu lado no sofá. Ele estava ainda levemente embasbacado
de ter descoberto que toda a paixão que Bianca clamava sentir pelo melhor amigo
tinha raízes mais profundas. A expressão "amor de pica" que tantas vezes ouviu
no colégio quando estava para completar dezesseis anos, por algum motivo, fazia
sentido agora. Diziam-se apaixonadas as garotas da sua sala da época por aqueles
que lhes tiravam a virgindade, por aquela ser a primeira grande expressão de
intimidade que elas tinham, e isso as deslumbrava a esse ponto. Bianca podia
estar sofrendo dessa doença terminal. Mas independentemente do que justificava
o amor errado que ela dizia bater em seu peito, o que mais o impressionava era a
confiança que ela parecia depositar nele próprio. Theo quase se via como um
leão de peito inflado e orgulhoso quando percebia a sua capacidade de acalmar a
pequena garota com qualquer simples combinação de palavras. Era um dos
melhores elogios que lhe podia fazer.
- Como a gente vai fazer isso? – Ela perguntou, deixando o copo de água
de lado. - Você vai ditar orientações como naquela vez no seu quarto,
ou...Vamos... Direto... Ao ponto?
- Eu não sei se tem como ensinar isso sem ser na prática, pequena. Mas a
gente começa devagar. Tudo bem? Você claramente não tem experiência e eu não
quero que se assuste. – Assegurou, tranquilo.
- Devagar... Quanto? – Espremeu os olhos, como se tentasse avançar o
relógio para ter as respostas de seu futuro próximo.
- Paramos quando você deixar de se sentir confortável e só vamos
continuar outra hora, quando você estiver calma novamente.
- Tudo bem... Acho que eu posso fazer isso. - Theo sorriu, sentindo a
curiosidade perpassar a voz da garota, e sua sempre notável ansiedade
transparecer a cada vez que ela insistia em molhar os lábios.
Se inclinou devagar para ela, apoiando-se no encosto do sofá e usando
uma mão para afastar os cabelos pesados de seu colo. Observou Bianca fechar os
olhos apertados ao depositar um selinho simples em sua bochecha, os lábios em
seguida escorregando para o maxilar e então o pescoço alvo. Sua respiração
tocou a pele sensível, causando arrepio imediato.
A primeira mordida veio, e com ela foi-se o resto de autocontrole dos
dois. Bianca agarrou o tecido da blusa de Theo, puxando-o para si, para sentir seu
calor a envolvendo. Ao mesmo tempo, ele envolvia sua cintura, o braço forte
quase dando a volta inteira. Não sabia se era o sabor de sua pele ou o perfume de
seus cabelos que o deixava tão sem ar tão depressa.
Bianca afastou-se o suficiente para que o rosto do professor focalizasse
em sua visão novamente, e logo tinha seus olhos fortemente fechados enquanto
chocava seus lábios. Não houve espaço para justificativa antes que eles se
abrissem, e línguas se massageassem como velhas conhecidas com saudades.
Um beijo tão gostoso, de encaixe tão certo, que sentiam como se tivessem
feito aquilo a vida inteira. O virar dos rostos, o puxar dos lábios inferior e então
superior, as sugadas e os suspiros quase sincronizados. Era quase como se álcool
estivesse embebido na saliva trocada, no gosto de cada um, que deixava o outro
severamente embriagado.
E com o porre, vinha também a luxúria.
A mão grande de Theo percorreu cada vértebra singular do corpo da
menor, deixando choques e espasmos por onde passava, até alcançar o quadril e
então encher os dedos na bunda. Apertou e massageou como desejava fazer desde
sua segunda aula, quando teve ela se esfregando inocentemente contra ele ao que
lhe ensinava a postura correta de como andar. Bianca não ficou atrás, cravava as
unhas médias nas omoplatas repletas de músculos das costas dele, e sem saber
porque, insistia em empurrar o joelho contra a perna do rapaz.
Mas Theo sabia ler o corpo de uma garota. E por isso, não demorou a
puxá-la para si até que estivesse ajeitada no sofá, deitada de costas com ele por
cima, a um passo de encaixar-se no meio de suas pernas.
Deixou a língua no lábio inferior, desconcentrado, ao acompanhar o
movimento que suas mãos faziam novamente pelo corpo miúdo. Ainda levemente
sentado sobre o próprio calcanhar esquerdo, tinha a visão perfeita do contorno
sinuoso do quadril, e então da cintura fina e brevemente exposta pelo levantar
sutil da camiseta, e por fim o colo avermelhado e arfante, por onde a respiração
entrecortada dela se manifestava.
Hipnotizado, Theo estava a um passo de enfim deitar-se para desfrutar de
tudo que seus olhos acompanhavam, se não tivesse caído nas graças de procurar
os transparentes de Bianca e não os encontrar.
Ela os tinha fechados com força, e não da forma como se espera. Não
estavam fechados para que ela se concentrasse melhor nas sensações ou ainda por
estar imaginando outras coisas, e sim por receio e medo.
Era como se estivesse dizendo para si mesma que se não visse o que
estava prestes a acontecer, poderia fingir que não era real.
E aquilo era tudo que ele precisava para entender que não ia acontecer.
- Bianca, abra os olhos. - Sussurrou, contido. A dor no seu tom de voz era
genuína e ela logo o obedeceu. - Eu estou te machucando? - Ela mordeu os lábios,
os olhos cristalinos preocupados de ver o garoto daquela maneira, e negou
fortemente com a cabeça.
- Não. - Theo respirou fundo, a testa vincada, e acariciou com suavidade o
contorno do rosto dela.
- Você confia em mim?
- Sim. - Respondeu, resoluta. Não precisava pensar sequer para ter
certeza.
- Então confia que eu não vá te machucar?
Silêncio.
As marcas do passado falavam mais alto que suas resoluções. Não
importava que fosse Theo, por mais que ela gostasse de pensar assim. Continuava
sendo algo que suas memórias gritavam como ruim.
- Eu vou parar agora. - Explicou devagar. - E seu corpo vai formigar
pedindo por mais. - Acariciou com leveza os braços arrepiados dela, como se
para demonstrar um ponto. - E eu não vou te dar mais até amanhã. E então, se
você continuar sem uma resposta afirmativa pra essa pergunta, eu vou parar de
novo. E vamos continuar nessa dança até você conseguir se acalmar e confiar em
mim o suficiente pra irmos até o fim. - Ela tinha os olhos presos nele, uma
conexão forte, praticamente inquebrável, que aguardava o fim daquela sequência
que descrevia. - E aí... Algo me diz que você não vai querer parar nunca mais.
- Bem, e o que o seu amiguinho queria ontem? - Theo perguntou enquanto
ele e Bianca perambulavam pelos corredores vazios depois de um acidente no
laboratório de química ter coincidentemente liberado os dois de suas salas até o
próximo período.
- Eu não entendi muito bem. Ele veio me perguntar sobre você e dizer que
se preocupa, que estaria cuidando de mim caso alguma coisa acontecesse ou algo
do tipo.
- Ele já estava com ciúmes, então. Mesmo antes de assumirmos um
relacionamento. – Constatou, pensativo.
- É... Pode ser. – Murmurou, distraída pelo som do celular do garoto
avisando o recebimento de uma nova mensagem. Curiosa, ela se inclinou para ler
junto com ele, que o permitiu; não haviam motivos para esconder o que fosse de
seu anjo.
"A escola ligou para avisar que você foi dispensado da aula. Mas nem
pense em matar o restante do dia! Pelo seu horário, hoje tem as matérias que você
tem tido piores notas e não queremos ter que adiar a faculdade que tanto
sonhamos."
Theo estalou os lábios, já devia estar conformado com a atitude ditatorial
do padrasto, mas aquilo não deixava de irritá-lo. Entrou em uma sala qualquer,
vazia pelo horário e de luzes apagadas. Bianca foi atrás, preocupada, embora
soubesse que ele precisava de distração e não de conversar sobre o assunto.
Encostado em uma mesa no escuro, o mais velho tinha os olhos cravados
no chão e o rosto tensionado, que não combinava com ele. A garota se aproximou,
segurando suas mãos grandes com força, mostrando que estava ali com ele, que
apoiava sua causa e entendia como ele se sentia.
- Ele é um babaca que não te conhece como eu conheço. Ignora, Theo,
deixa isso pra lá. - Ela disse, em conforto, sem perceber que ele abria então um
pequeno sorriso repuxando o canto dos lábios. - O que foi? - Bianca não estava
entendendo a mudança de feição.
- É engraçado te ouvir xingar alguém; nada demais. - Ela revirou os olhos.
- Bobo. Eu aqui tentando te consolar e...
- Sabe o que me consolaria? - Ele interrompeu, esperto. Bianca incentivou
com os olhos que ele terminasse o raciocínio, e em resposta o mentor deu dois
toques na própria boca, indicando o que queria. Ela revirou os olhos, tentando
parecer indignada, mas o sorriso mal contido entregava que aquela
espontaneidade dele a agradava e muito.
Passou os braços em torno do moreno, que a abraçou firme pela cintura.
Era um sentimento estranho. Ao mesmo tempo que sentiam que já houvessem feito
aquilo por toda as suas vidas, tamanha a familiaridade, era como se não fossem
vezes suficientes. Não importava a frequência, cansar-se do gosto do outro era
uma opção inimaginável.
O beijo que começaram tinha ritmo próprio. Ele ia de calmo e sensual a
forte e ofegante em segundos e de volta sem que fosse preciso mais do que um
puxar de cabelos ou suspiro. Theo sentia a respiração doce da garota em seu
rosto, e dedilhava suas costas por cima da blusa e por baixo dela, sempre sutil o
bastante para que ela não se alarmasse. E Bianca deliciava-se com o aperto do
mais velho, com a maneira com que ele parecia capaz de branquear seus
pensamentos e calar os sons ao redor.
Alguns minutos embebidos na entrega do momento, Theo desencostou-se
da mesa em que se apoiava e trocou as posições, puxando-a para que se sentasse
ali e permitisse a passagem do corpo forte dele entre suas pernas. Bianca se
deixou manusear, aprovando o fato de terem as alturas equiparadas e um lugar
para apertar suas coxas, que pareciam ansiar por aquilo irracionalmente. Com
uma panturrilha em cada lado do traseiro do garoto, ela puxou-o para si, ao passo
que ele desistia de brincar com a barra de sua camiseta erguida até o umbigo para
apertar com entusiasmo as coxas parcialmente descobertas pela saia.
Bagunçou completamente os cabelos curtos dele e suspirava
constantemente, quando ele decidiu desgrudar suas bocas dormentes e investir nos
beijos contra o pescoço alvo e maxilar dela. O hálito quente dele soprando ali se
provava uma das fraquezas de Bianca, que estremecia e mordia a língua tentando
segurar as reações exageradas para si.
Theo passou os braços pelo quadril dela, puxando-o para a beirada da
mesa e encaixando o seu próprio ali com mais propriedade, e seus beijos
desceram para o limite da blusa de gola em "V", que mostrava o princípio do
formato arredondado de seus seios arrebitados. Cobriu toda a região com seus
lábios, as mãos posicionadas sem receio na bunda da garota, e antes de dar o
próximo passo, levantou os olhos para ela que o olhava por detrás das pálpebras
pesadas, a boca entreaberta e inchada de tantas mordidas. Ele sorriu malicioso e
com cuidado puxou o tecido para o lado, revelando um sutiã desconhecido cinza
com uma renda branca inocente e sexy.
- Esse eu comprei por conta própria. - Ela explicou, sem ar e
envergonhada com o olhar dele.
- Vou te dizer que foi uma ótima surpresa. - Ele congratulou, orgulhoso,
antes de lamber a nova área exposta e engolir em chupões generosos a pele
perfumada. Bianca fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, empurrando-se na
direção do professor e pensando que, de fato, não conseguia imaginar que aquilo
pudesse ser tão... Bom. Gostoso. Excitante. Se amassar com Theo em uma sala
escura em pleno horário de aulas era surpreendentemente ideal. E por falar
naquilo...
O sinal tocou, indicando que o novo período de aulas tomaria frente nos
próximos dois minutos. E, consequentemente, que haviam grandes chances
daquela mesma sala ser utilizada.
O garoto bufou, dando-se conta daquele fato lastimável, e encostou a testa
brevemente na clavícula dela, tentando recuperar a respiração alterada. Um
momento depois, afastou-se e gesticulou com as duas mãos apontando a porta que
ela tinha a passagem para sair primeiro. Com um sorriso conformado e um
carinho singelo no ombro do menino, ela se levantou, ajeitou as roupas, e desfilou
para fora da sala, precisamente da maneira que ele tinha lhe ensinado, com
quadris para um lado e para o outro, em um rebolado impossível, e ombros para
trás, confiante.
Theo sorriu genuinamente e balançou a cabeça, chacoalhando os cabelos,
antes de segui-la, soberbo.

A caminho do QG e conversando amenidades, Bianca se lembrou que


havia esquecido algo em sua própria casa. Um algo especial que queria muito
mostrar a Theo naquele dia em particular, sem esperar pelo dia seguinte. Então,
com um pouco de persuasão, conseguiu convencer o garoto a dar meia volta no
carro e pegar o caminho que os levaria até lá.
Não houve muita reclamação da parte dele. Pelo contrário, estava até
animado com a perspectiva de conhecer o quarto da menor, o qual ele jurava que
seria repleto de pôsters de boybands e paredes rosas. Não perdeu a oportunidade
de perturbá-la, ameaçando jogar as roupas antigas, que ele tinha certeza que ainda
tinham um lugar no armário, no lixo, e dar um fim em potenciais bichinhos de
pelúcia que lotassem a cama, que deveria ser o "ninho de amor" dela e não um
lembrete de sua infância e meninice. Bianca revirava os olhos a cada nova
suposição estereotipada que ele proferia, e ria de suas soluções para resolver o
problema.
Enfim chegaram à pacata casa amarela.
Por força do hábito, Bianca arriscou um olhar para outra casa da rua, a de
Sam, tentando ver se ele estaria em casa, e, se sim, se estava acompanhado. Theo
bloqueou sua visão sem saber o que estava fazendo.
Ele parecia estranhamente empertigado, ereto demais e linhas de
expressão denunciavam sua seriedade.
- Sua mãe está em casa? - Perguntou, e todo o mistério se diluiu.
- Não, pastor Versolati, acalme-se. - Ela brincou, assistindo-o desmontar a
armadura a sua frente. - Está trabalhando e só volta quando o dia vira noite.
Entraram, e Bianca logo apontou a porta que escondia seu quarto, para
onde ele andou sem frescuras, esfregando as mãos, ansioso pelo que encontraria.
O quarto era normal. Até mesmo impessoal demais. As paredes eram
todas brancas, a escrivaninha abaixo da janela tinha poucos objetos pessoais e a
cama parecia estranhamente vazia. Theo não sabia se aquilo seria um sinal de que
ela não se sentia confortável em sua própria casa ou se era apenas uma pessoa
minimalista. Ele andou devagar até o criado mudo, pegando um porta-retrato que
estava ali, virado, servindo de apoio de copo como se estivesse daquela forma há
bastante tempo. Tinha um senhor beirando os quarenta anos com um sorriso
honesto e contagiante de olhos apertados e abraçado com uma Bianca alguns anos
mais nova.
- É o meu pai. - Ela explicou, vendo a interrogação na face do outro. - Eu
esqueço de guardar e acabou ficando aí. - Deu de ombros, como se não fosse
grandes coisas, embora ele soubesse que aquele devia ser o discurso decorado
que ela entoava todas as manhãs para a mãe, em justificativa ao apego
completamente compreensível que ainda tivesse pelo progenitor. Ela resolveu que
ele já estava suficientemente à vontade no cômodo e foi em direção ao armário,
pegar o que havia objetivado no fim das coisas.
Theo se sentou na cama, esperando, mas seu tornozelo brevemente
descoberto pela calça lhe deixou sentir o roçar de algo peludo e sintético contra
sua pele. Ele se levantou rapidamente, e sem fazer alarde puxou o edredom para
que pudesse ver o que tinha debaixo da cama. Uma pata depois da outra,
descobriu todo um arsenal de bichinhos de pelúcia escondidos por ali. Antes que
pudesse questionar a garota, observou as portas do armário abertas e ela atracada
ali no meio, procurando em sua bagunça particular o que queria. Haviam centenas
de livros ao seu redor. Ele temia, inclusive, que se ela se mexesse demais alguns
deles pudessem despencar sobre sua cabeça frágil. Também, nas portas internas
do mesmo móvel, fotos, desenhos e rabiscos estavam pregados.
Toda a intimidade meticulosamente escondida de um espectador menos
atento.
E foi então que o atingiu: Assim também era a personalidade de Bianca.
Fechada e simples à primeira vista, e incrivelmente fascinante se você olhasse de
perto.
- Achei! - Ela disse mais alto, trazendo a atenção dele de volta ao que
acontecia no quarto. A pequena garota se jogou ao lado dele na cama, e se ajeitou
com as pernas em cima do colchão, dobradas graciosamente ao seu redor.
Estendeu as mãos e entregou para ele uma porção de panfletos sobre as mais
variadas faculdades, incluindo a que o padrasto o obrigava a prestar.
- E o que eu faço com isso, anjo? – Ele perguntou, confuso com todos
aqueles papéis.
- Eu tava pensando: Não existem motivos pra você não conseguir realizar
seu sonho apesar das limitações da sua família. Tem outras dezenas de faculdades
que podem conciliar os dois, na verdade.
- Mas... Como?
- São várias as opções. Uma delas é a dupla graduação. Embora sejam
cursos muito diferentes, fazer direito e psicologia ao mesmo tempo ou um seguido
do outro é uma possibilidade bastante palpável. Você pode até mesmo diminuir os
anos de graduação em um deles por ter feito as matérias básicas no outro. - Ela
explicou apontando algumas das universidades que ofereciam aquele tipo de
recurso, e ele observou intrigado as imagens daqueles panfletos em específico. -
Tem mais. Eu dei uma pesquisada, e existe uma congregação de advogados que
prestam assistência exclusivamente para causas sociais. Alguns trabalham em
escritórios normais e na congregação ao mesmo tempo, é verdade, mas outros
conseguem seu sustento só disso, só revisando contratos e defendendo ONGs,
abrigos e afins perante a lei. Daí eu imaginei que mesmo que você não fizesse
psicologia, ainda tem um jeito legal de você fazer a diferença. – Sorriu, animada
com aquela perspectiva, a de não desistir de um sonho. – Também, todas as
universidades daqui exigem que o aluno faça matérias eletivas, isso é, que ele
escolhe, nos últimos semestres. E se você entrar pra uma grande, pode ter a opção
de eleger matérias de psicologia ou qualquer outro curso, na verdade. -
Continuou, o brilho nos olhos transparentes puxando o sorriso do professor, que
já não sabia se acompanhava o que ela falava pelos informativos que lhe dera, ou
se a admirava sendo tão preocupada e solícita com um problema que era só dele.
- E, por fim, tem as entidades. Sabe como sempre escutamos falar de Empresas
Júnior, Diretório Acadêmico e Atlética de faculdades, né? Bom, esses não são os
únicos tipos de entidades, e mesmo eles têm milhares de opções e áreas para
explorar. Aqui, eu descobri o nome de uma que chama Aiesec. Eu não li muito a
respeito, mas parece que ela foi fundada por um grupo de estudantes pós-guerra
para garantir o intercâmbio de culturas e experiências entre os países. Ela tá em
quase todas essas universidades que eu to te mostrando, e tem esse programa
deles muito legal que chama intercâmbio social. O aluno paga pra eles uma taxa
administrativa super baixa e passa as férias fazendo trabalho voluntário no país
de escolha. E, Theo, tem vários países da África participantes e vários tipos de
programa diferentes, desde cuidar de crianças e doentes, até ensinar inglês e fazer
pesquisa de gênero. É uma atividade extracurricular que, independente do curso
que você faça, já te coloca um passo mais perto dos seus objetivos, percebe? E
mesmo que você não queira nada disso, eu encontrei relatos de pessoas que
faziam duas faculdades ao mesmo tempo, uma de dia e uma de noite, e todos
disseram que é perfeitamente possível conciliar os dois com um pouco de
disposição e planejamento. As três últimas que você tá segurando, inclusive,
oferecem curso de noite e gratuito, e a relação de vagas não é tão impossível; eu
realmente acredito que no seu ritmo de estudo atual você conseguiria com o pé
nas costas! - Quando finalmente parou de tagarelar, Bianca estava praticamente
pendurada no garoto, tamanha era sua animação, e não percebeu o olhar com que
ele a encarava. Theo tinha um sorriso fixo estampado, como se alguém o tivesse
tatuado ali, e uma quantidade de carinho e afeto tão grande transbordando dos
olhos claros que qualquer um podia quase se sentir abraçado só de olhar para
eles. - O que... Foi? - Ela perguntou, receosa com a feição desconhecida.
- Eu não acredito que você fez tudo isso por mim. - Ele murmurou,
balançando a cabeça em negativa desviando os olhos para os papéis em mãos, o
sorriso crescendo exponencialmente. - O que eu faço com você, Bianca? Vou
precisar te agradecer para sempre ou algo assim. - Riu, feliz como ela não o havia
visto até então. - E, quer saber? Acho que vou começar agora. Hoje de manhã
você me beijou para me consolar. Agora eu retribuo a gentileza para te agradecer.
- Inclinou-se para ela com o sorriso esperto, mas não encontrou barreiras na face
serena da aprendiz.
Tomou a boca na sua com gosto, como se há milênios não o fizesse, e
sugou a saliva para si, sentindo fome de agradá-la tanto quanto pudesse depois
do enorme gesto de carinho que essa tinha lhe feito.
Com uma mão segurando firme o rosto dela - o dedão na bochecha e os
demais dedos em algum lugar entre detrás da orelha e entranhados no couro
cabeludo farto -, a outra espalmou a cintura até conseguir girá-la, encostando suas
costas na cama macia. Ele adorava o controle de ficar por cima, mas mais do que
aquilo, era louco pela possibilidade de ficar entre as coxas quentes dela,
encaixados como se estivessem no ato. Bianca, embora sem muita liberdade de
movimento daquela forma, não podia reclamar das sensações que tinha ao senti-lo
bem ali, sobre ela, todas as partes do corpo grudadas e o calor que aquecia todo o
seu ser.
Era um beijo profundo marcado da mais absoluta intimidade e entrega.
Devoravam os lábios um do outro, em tentativas frustradas de tomar aquele
pequeno pedaço tentador de carne para si, as línguas apenas atiçando encontros
breves, que rastejavam resquícios do sabor alheio. Theo percorria todo o corpo
da menor, conhecendo cada mínima curva, onde a pele se arrepiava, onde se
retraía, todos os lugares que alcançasse com ou sem esforço, nada sendo
negligenciado pelo tato astuto. Ela, por sua vez, percorria com as pontas dos
dedos os relevos de músculos sobre a roupa, sentindo como eles trabalhavam
maravilhosamente esforçados a cada novo movimento, e apenas imaginando ou
lembrando de como eles eram sem camadas de tecido por cima.
O calor agradável do início passou a ser incômodo quando a velocidade
do beijo aumentou e o fôlego não podia mais acompanhar. Foi preciso que
descolassem os tórax para recuperar o ar, e levado pela busca de maior conforto,
Theo não hesitou a fazer menção de arrancar a própria blusa, antes de lembrar
que se tratava de uma garota tímida ali com ele, e que não podia ser tão
impulsivo. Ainda assim, com as mãos congeladas na barra da camiseta, foi notado
por ela, que apenas umedeceu os lábios, ansiosa pela concretização do ato, e o
incentivou a passar o tecido pela cabeça e jogá-lo em qualquer canto
desconhecido do quarto.
Maravilhosamente nu da cintura para cima, Theo abaixou-se novamente,
pronto para começar um novo beijo frenético, sentindo as mãos curiosas dela
espalharem-se por suas costas. Cada nova nuance descoberta com o tato
provocava um salivar mais intenso em Bianca, que preferiu interromper o beijo
ao qual não conseguia dar total atenção.
Ele aproveitou-se, achando interessante a entrega óbvia, para beijar-lhe o
pescoço, como fizera na sala escura do colégio. Mordia, lambia, arrastava os
lábios pela pele perfumada, sentindo-a se remexer desconfortável por baixo. O
dançar incontrolável do quadril de Bianca acabava por esfregar a ereção em
crescimento de Theo, que inconscientemente a segurou pelas coxas, seus pés
agora cruzados sem questionamento atrás do corpo dele, direcionando o
movimento de forma que fosse agradável para os dois.
Na primeira investida lenta que ele fez contra a calcinha ligeiramente
umedecida de Bianca, uma vez que a saia já tinha se levantado há muito, os dedos
finos dela agarraram os cabelos curtos dele pela raiz, achando toda aquela
sensação mais do que conseguia aguentar. Mas então novas vieram, e apesar da
gota de suor frio que escorreu pela nuca da garota e do nó deliciosamente
incômodo que sentiu formar atrás do estômago, não houve como segurar o soluço
de prazer. Ele estava massageando a parte simplesmente certa dela, aquela que
fora tocada com afinco algumas aulas atrás, mas que não se comparava à maneira
que era esfregada agora, com precisão e vontade, em uma promessa de melhora
silenciosa.
Os rosnados de Theo em seu ouvido não ajudavam. Nem tampouco a mão
ousada que segurava seu seio como se fosse um prêmio do qual ele não poderia
se desfazer nem se quisesse.
Subiu novamente para beijar-lhe a boca, lamber os lábios, morder queixo
e maxilar, tentando calar os gemidos, tentando transformá-los em meros suspiros
profundos. Sem sucesso. Aquela transa vestida apenas a fazia imaginar todas as
promessas que ele tinha feito sendo cumpridas, e isso não ajudava a organizar os
pensamentos ou controlar o corpo fervente.
A respiração de Theo soprou em sua boca, e ela perdeu o controle. A mão
livre caminhou com desespero para a bunda do garoto, e a empurrou para si,
forçando-o a investir o quadril contra o seu mais uma vez, com força. Ele revirou
os olhos, achando a inesperada ousadia da garota inocente muito mais sensual do
que qualquer obscenidade que outras já lhe tivessem dito, e abriu caminho entre
seus corpos grudados para pousar uma mão na virilha dela.
Bianca abriu os olhos repentinamente alarmada e recebeu um selinho
confortante.
- Eu só quero te fazer carinho. - Sussurrou contra os lábios vermelhos e
inchados de seus beijos. - Posso? Você promete que relaxa? - Bianca estava
prestes a ceder, o corpo implorando por alívio, quando bateu os olhos sem querer
no relógio do criado mudo e viu que horas eram.
Puta. Merda.
Empurrando Theo de cima de si até que ele caísse de costas ao seu lado
na cama - ainda com o peitoral e abdómen gloriosamente expostos - ela ajeitou a
saia e os cabelos, levantando-se correndo.
- Theo! Minha mãe! Está para chegar a qualquer minuto! - Engasgou
afobada alcançando a blusa amassada dele. - Você precisa dar o fora daqui!
Dolorosamente frustrado, o mais velho se vestiu e pegou as chaves do
carro. Compreendia o alarde da menor, mas isso não fazia mais fácil de aceitar e
nem mais rápido de sua ereção latente baixar. Engolindo em seco e chupando uma
última vez os lábios de Bianca, ele foi para sua casa, onde teria que cuidar do
problema sozinho.
Mais uma vez.
- Theo, acho que você perdeu a entrada... - Bianca comentou ao assistir o
garoto continuar reto na curva que deveria fazer para chegarem em sua casa.
- Não, eu estou exatamente onde deveria estar. - Ele respondeu, com um
sorriso enigmático que a manteve calada e desconfiada pelos próximos minutos,
até que o carro embicou no portão aberto de um paredão grande e discreto,
ornamentado com algumas poucas árvores e luzes, onde podia-se ler, em um
letreiro colorido, "Colonial Palace Motel".
- T-theo? O que a gente tá fazendo aqui?
- Calma, linda. - Disse, pousando uma mão firme e quente na coxa coberta
dela. - Só confia em mim. – Pediu, e ela acenou incerta. O nome do lugar a
apavorava, mas ter ele ali lhe pedindo calma, era seu remédio particular.
Pararam na cabine de entrada, onde uma senhora pediu para Theo
selecionar em um painel digital a suíte que desejava e o tempo de permanência.
Ele passou o dedo reto por todas as opções, pousando no último quadrado que
dizia "Tenho uma reserva". Bianca sentiu a boca secar, sem saber o que a
aguardava adiante.
- Documentos, por favor. - A moça pediu, e ele alcançou a mão dentro do
porta luvas, de onde tirou dois RGs que definitivamente não eram seus originais.
Motéis não deveriam aceitar menores de idade, mas costumavam fazer vista
grossa para a veracidade do que lhes era apresentado, assim como muitas boates
e baladas. A mulher pescou uma chave grande com um chaveiro que trazia o
número dezoito e depositou nas mãos dele, ficando com os documentos para
devolução na saída. - O seu quarto é no primeiro corredor à direita, senhor.
Aproveitem sua estadia.
Theo dirigiu entre as casinhas idênticas até achar a de número dezoito. A
garagem estava aberta, como a de todas as casas vagas, e ele estacionou o carro
ali sem maiores problemas. Desceu, fechou o portão e foi para a escada de pedra
no fundo, incentivando Bianca a acompanhá-lo.
Ela foi, tímida e receosa, segurando o tecido da camisa dele entre os
dedos nervosos. Ao final de todos os degraus, tinha a porta na qual ele deveria
usar a chave que lhe foi dada. Em uma pausa, Theo respirou fundo e olhou para a
garota com expectativa, gesticulando para que ela entrasse primeiro.
O quarto era espaçoso e arejado. Tinha uma mesa quadrada de pedra
polida perto da entrada com duas cadeiras, um box e uma grande pia de mármore,
ambos duplos, à esquerda, um solário com teto retrátil e cadeiras almofadadas de
recostar perto do qual podia-se notar um ofurô de tamanho médio, e, ao fundo,
uma imponente cama de casal das maiores que já tinha visto em uma espécie de
palco, ornamentado com luzes e alguns outros botões e visores que controlavam
de onde saía a televisão e o som.
Absolutamente todo o espaço, da porta até a cama e mesmo em cima
desta, estava coberto de pétalas de rosa. Havia um ou outro arranjo espalhado
pelo cômodo também, e mais alguns pedaços de flor na hidromassagem, que além
de tudo estava repleta de sais de banho. Na mesa, havia uma grande garrafa de
champanhe, duas taças, dois roupões com os dizeres "ele" e "ela" e uma grande
bandeja cheia de frutas. A música ambiente ajudava a completar o clima, e idem
com as luzes neon que iluminavam a cama de uma maneira exótica e sensual.
Bianca perdeu o ar ao ver tudo aquilo. Sentia seus dedos do pé se
contorcerem mais a cada novo detalhe que reparava, de tudo que parecia ter sido
metodicamente pensado e organizado para que ela tivesse a melhor das surpresas,
ainda que o lugar em si a assustasse.
Theo estava logo atrás dela, fechando a porta com cuidado, e pareceu
satisfeito com a arrumação que havia encomendado.
- Bianca... - Chamou, fazendo-a voltar a atenção, os olhos ainda
brilhando, para sua explicação. - Eu não sou fã de nada disso, porque para mim o
mais importante no sexo é se ter vontade e estar pronto e não todos esses
romancetes superestimados... Mas eu imaginei que, como você teve sua primeira
vez às pressas, e eu te garanti que a próxima seria melhor... Você merecesse que
eu fizesse as coisas direito. Nem que seja para você perceber o quão tosco é, ou
para contar para os seus filhos. - Ele completou com um riso fácil, que puxou o
admirado dela.
- Você não precisava... Mas eu adorei. Você sabe que eu posso ser bem
menininha de conto de fadas às vezes...
- Às vezes? Anjo... - Ele levou um tapa fraco no ombro. - Ok, mulherão. -
Riu. - Você gostou mesmo?
- Sim! É desse jeito que eu gostaria que tivesse acontecido... Lá atrás.
- Bom, agora você pode ter.
- Mas, Theo... - Chamou, temerosa. - Por maiores que tenham sido os
nossos avanços, eu não sei se vou conseguir... Você sabe... Hoje. Pronta eu estou,
mas eu ainda fico insegura de que seja realmente bom.
- Não tem problema, minha linda. Você sabe que não tem problema. Não
quero que se sinta pressionada de maneira alguma. Mas, isso - Indicou com os
braços todos os elementos ao redor - É algo que eu queria fazer pra você de
qualquer jeito. Com ou sem sexo, é uma experiência que queria que tivesse. - Deu
de ombros, simplório, e Bianca precisou conter o sorriso ao vê-lo ser tão fofo. Só
com ela.
- Bem, príncipe encantado... Por onde a gente começa?

Devagar, o casal experimentou de todos os elementos que o quarto


oferecia. Ficaram levemente alegres com o champanhe, deram frutas na boca um
do outro como viram fazer em tantos filmes, aumentaram a música para dançar um
pouco e descontrair, entraram no ofurô com as roupas de baixo, sopraram bolhas
para cima, assistiram o pôr do sol juntos, e Bianca ligou para a secretária
eletrônica de sua casa, avisando que dormiria na casa de uma amiga, para que
pudessem aproveitar o pernoite do quarto, como ele tinha planejado.
Ainda molhados e com espuma saindo de seus poros, Theo e Bianca
resolveram tomar um bom banho antes de experimentarem a cama. Não que a
hidromassagem não servisse com aquele propósito também - mas um pequeno
acidente com a garrafa de espumante garantiu que ficassem melados do jeito ruim.
Entraram no chuveiro duplo ainda com as roupas de baixo, dizendo a si
mesmos que aquilo era normal e nada além do que se estivessem de biquíni e
sunga, embora os olhares nada discretos de contemplação não cessassem,
qualquer que fosse a desculpa.
O jato quente da água era relaxante e massageava os músculos tensos de
suas costas, deixando-os mais leves e descontraídos com o que quer que os
esperasse mais tarde. Havia uma esponja, shampoo e condicionador em um
pequeno embrulho no canto do box, e eles abriram para poder se banhar
propriamente.
Foi Theo quem começou a pirraça. Afastando as mãos de Bianca, ele fez
questão de pegar um bom bocado de creme nas suas para esfregar com gentileza
os cabelos cumpridos dela. O fez com a menor de costas para si, os corpos
brevemente encostados, mais quentes do que a temperatura da água. Depois
repetiu o procedimento, e ela se animou, resolvendo fazer o mesmo com as
madeixas escuras dele. Riam como bobos com a espuma e o sorriso perpetuava
no rosto com os carinhos.
Até a esponja aparecer repleta de sabão, não tinham imaginado que as
coisas fossem evoluir daquela forma. Um braço de cada vez Theo ensaboou, a
garota quieta e ansiosa esperando. Depois foram os ombros, e as alças do sutiã
foram abaixadas. O princípio das costas, passando pelo meio do fecho, que se
soltou quase sem querer. A lombar e o virar do corpo, enquanto a peça caía aos
seus pés, a começar pela barriga encolhida para chegar enfim aos seios
arrebitados. Ele os contornou, deixou espuma nos bicos e tentou os arredores,
antes de finalmente abandonar a esponja e pegá-los nas próprias mãos.
Não precisou de mais do que alguns apertões e mordidas de lábio para
ambos perceberem que a excitação já estava insuportável.
Terminaram o banho em questão de segundos, ansiosos para cair na cama,
o que fizeram, ainda levemente molhados. Os cabelos de Bianca se espalharam
em aglomerados de fios unidos pela água pelo travesseiro, ao que ela se deitou de
barriga para cima, com Theo ajoelhado na altura de seus joelhos.
Ele se permitiu dobrar sobre o corpo dela, para tomar sua boca para si,
iniciando um beijo suave e molhado, provocante na medida certa. Então, desceu
os beijos pelo pescoço, colo e barriga, até arrepiar o local com mordidas na
barra da calcinha quase transparente. Ela juntou os próprios seios em mãos,
tentando respirar corretamente enquanto a lingerie lhe era retirada, passando por
seus pés.
Theo fez com que ela dobrasse os joelhos e separou as pernas devagar
para não assustá-la. Resolveu fazer o caminho oposto, começando os beijos pelo
tornozelo e panturrilha, passando os lábios de leve pela dobra da perna e usando
a língua e dentes ao atingir a parte interior das coxas. Bianca se remexeu inquieta,
engolindo a saliva sobressalente que parecia não parar de produzir.
Ele esfregou o nariz pela nudez dela, na parte do triângulo, deixando a
respiração quente bater por ali. Os lábios entreabertos eram constantemente
umedecidos, em uma tentativa de autocontrole forçada cada vez que seu olhar
recaía no rosto corado da mais nova.
Enfim, resolveu não perpetuar a provocação, e com a ajuda dos dedos
para abri-la, afastando os grandes lábios, pôde cair de boca na intimidade
pulsante de Bianca.
A garota soluçou em surpresa e agrado, ao que ele a abocanhava inteira,
antes de distribuir chupões concentrados no clitóris e lambidas generalizadas em
busca de saborear melhor o suco que garantia sua lubrificação.
Ela mal conseguia olhar para baixo sem gritar. Nunca nada que tivesse
sentido se comparava àquela sensação única de ter a língua e os lábios de Theo a
acariciando daquela forma. E ele o fazia como se estivesse faminto, louco para
devorá-la inteira, sem vontade sequer de parar para respirar. Ela achava que
devia se sentir envergonhada, que devia querer que ele parasse ou que devia estar
achando ruim, mas tudo que seu corpo berrava era para que a cabeça se calasse e
prestasse atenção no argumento que se colocava que a boca do garoto devia ser
considerada uma das sete maravilhas.
Não haveria historiador que discordasse, em seu lugar.
Pousando a língua em cima do ponto mais sensível da menina, Theo
passou a fazê-la vibrar, enviando ondas de prazer por todo o seu corpo e tornando
os gemidos altos e apelativos. Ela rosnava pedidos interrompidos pelo nome dele
e sílabas aleatórias, até apostar nas vogais ininterruptas, e cada novo som que
saia de sua boca estimulava mais as ações dele, e, também, o tamanho de sua
ereção já gigantesca que lhe rasgava a boxer colada do banho.
- Bianca... - Ele murmurou ainda contra sua intimidade. - Eu posso
continuar e te levar ao paraíso assim em dois minutos... - Ele se interrompeu,
precisando dar mais uma lambida entusiasmada no líquido que brilhava as
paredes interiores da garota. - Ou eu posso transar com você e te mostrar que isso
também pode ser muito bom. - Sugeriu, alisando as coxas dela, incapaz de manter
as mãos longe por muito tempo.
- Eu... Acho que não pode ficar melhor... Mas gostaria de sentir seu corpo
contra o meu. - Ela balbuciou não mais envergonhada com tantas mini explosões
ocupando seu pensamento.
Acenando uma vez positivamente, ele içou o próprio corpo pra cima,
cobrindo o dela com seu peso e calor. A boca instintivamente procurou a da
menor, animada por dividir o gosto único que dominava suas papilas gustativas, e
foi recebida com igual vontade, como se houvesse grande saudade para se matar.
Se beijaram longamente, os sexos procurando um ao outro como lembrete
de que aquele momento não poderia ser adiado. Em meio ao roçar delicioso do
tecido da boxer contra a feminilidade sensível de Bianca, Theo alcançou no
criado mudo a cartela de camisinhas que na certa estaria ali, e rasgou uma com
pressa. Tentou ser rápido ao baixar a roupa de baixo e se vestir com o plástico
escorregadio, mas não foi o suficiente para que ela deixasse de notar seu tamanho,
o que provocou um arregalar de olhos que o deixou singelamente orgulhoso.
Uma vez que a ponta da camisinha havia sido espremida e ela estava já
desenrolada em seu mastro, Theo se abaixou novamente para unir seus corpos e
dar um beijo e um ligeiro chupão no peito da garota, antes de unir seus lábios e
sussurrar abafado para que ela relaxasse.
Ainda passeou a cabeça do pau de um lado a outro da intimidade de
Bianca, afim de molhar ainda mais a ereção e de provocá-la, para então
posicionar-se na entrada e aos poucos forçar seu caminho para dentro. Afundou
centímetro por centímetro na carne apertada, tirando o fôlego de ambos a cada
novo espaço conquistado. Chegou ao fim, completamente enterrado dentro dela, e
parou ali, sentindo o calor e a conexão de sua junção íntima, dando tempo para
que ela se acostumasse com as coisas feitas com calma.
Unindo as testas e os olhares, começaram a se mover, primeiro devagar e
gostoso e depois deliciosamente rápido, onde cada extensão sensível era
devidamente estimulada, dando a ambos a vontade de ficar para sempre naquele
vai e vem.
Theo já havia transado com dezenas de garotas, de todos os tipos,
personalidades, e cores de cabelo. Algumas mais experientes e saidinhas, outras
mais quietas e tímidas, mas nenhuma, absolutamente nenhuma, se comparava à
Bianca. Não era que ela sabia fazer o que outras não sabiam, não era que fosse
mais gostosa ou bonita. Era o fato de ela o conhecer como ninguém. Era o fato de
se preocupar com seus problemas de família e saber quando precisava de um
abraço. Era a inocência e a entrega de ter colocado a vida nas suas mãos, e de
acatar tudo que lhe dissesse. Era a intimidade, a incrível e arrebatadora
intimidade, que os unia e fazia todo o contato ser tão mais intenso e poderoso do
que normalmente era. Estar dentro dela já era o paraíso, porque estava mais
dentro dela do que já esteve em qualquer mulher, mesmo as que se diziam
apaixonadas. Porque sabia que o significado de tudo aquilo era tão maior do que
só sexo, e porque a sensação ia muito além de uma mera aula.
Segurou-a pela cintura e investiu com necessidade, aproximando-se do
clímax. Bianca estava muito perto de amolecer e lacrimejar por todos os lados em
um orgasmo arrebatador de alívio, e ele não suportava a ideia de não segui-la de
perto. Ela aprendia rápido, rebolando o quadril e apostando na fricção e contato
dos seus corpos, e aquilo o enlouquecia em todos os sentidos. As mãos dela,
então, não se preocupavam em excitá-lo ainda mais, como outras fariam, apenas
se agarravam a tudo que tivessem ao alcance em novas ondas de prazer, e
distribuíam carinhos adoráveis, com único intento de afago, pelos cabelos dele, já
praticamente secos. E todo aquele cuidado e afeto eram apenas um afrodisíaco a
mais dentre todos os outros.
Um gemido falho e o desfazer do nó em seu ventre indicaram que Bianca
havia chego lá. Ela parou de sentir o suor escorrer e a respiração de Theo na sua,
e passou a ser só estremecimento e calor. Sua visão nublou e os ouvidos
tamparam, era só prazer, prazer, prazer e prazer.
Os músculos internos apertaram-se sem controle contra o membro do
garoto, que, já muito estimulado pela passagem apertada, acabou derramando-se
enfim. Todos os músculos descansaram involuntariamente e a consciência se
perdeu por alguns instantes.
Para não esmagá-la, Theo rolou para o lado na grande cama, e ficaram os
dois encarando o teto colorido de luzes e espelhos sem realmente ver nada,
indagando-se, embora ainda fosse cedo, da única dúvida existencial que parecia
ter forças para se manifestar em um momento sublime como aquele:
Aquilo poderia se repetir?
E, se sim, quando?, Bianca perguntou-se. Seria "agora" precipitado
demais?
Bianca havia acabado de chegar em casa, depois de uma noite animada
que a deixou leve e... Feliz. Ela não sabia realmente explicar o porquê, mas algo
havia mudado em si, como se uma das suas várias barreiras tivesse sido quebrada
e, com ela, tivesse levado um peso desnecessário e incômodo, que ela não fazia
ideia que carregava consigo até tê-lo perdido.
Theo estava excessivamente quieto no carro a caminho da casa amarela,
mas ela não estranhou, muito imersa nos próprios pensamentos e lembranças para
se incomodar com a falta de assunto. Era normal, não era? Depois de tanta
intimidade trocada, era no mínimo natural que o silêncio confortável tivesse
espaço para se manifestar entre eles.
Ela pisou com cuidado o caminho para o seu quarto, ciente de que sua mãe
estaria muito provavelmente em casa, visto que era sábado de manhã, e não
queria ter que lidar com seu mal humor constante naquele ponto alto do seu dia.
Abriu a porta do quarto com os olhos apertados, lamentando o ranger inevitável
das dobradiças, apenas para se deparar com a luz acesa e sua progenitora sentada
na ponta da cama com cara de poucos amigos. Ela ainda tentou abrir um sorriso
amarelo, para amenizar um pouco que fosse o motivo daquela visita
desagradável, mas não surtiu efeito algum na face irritada da mãe.
- Bianca... Você acha que eu sou idiota? - Começou, a voz morna e baixa,
contradizendo o rosto rígido e repleto de marcas de expressão severas.
- Eu... Não, mãe. Só não queria te acordar. – Rebateu, temerosa,
metaforicamente pisando sobre cacos de vidro.
- Acordar? Eu não estou falando da ceninha patética de você andando nas
pontas dos pés como uma fugitiva. Estou falando da mensagem de voz que você
deixou no telefone dizendo que iria dormir na casa de uma "amiga". – Simbolizou
as aspas com as mãos para enfatizar a descrença da palavra.
- Mas e... Qual o problema? – Perguntou, ainda confusa sobre o teor do
questionamento regado a ironia. No entanto, indagar qualquer coisa, ela logo
percebeu, era pior. Sua mãe se levantou com os olhos em frestas, e inspirou todo
o ar do cômodo para, enfim, abandonar a compostura de vez e elevar o tom de
voz.
- O problema, sua vadiazinha, é que a tal amiga tem um pênis entre as
pernas! – Disse com o dedo em riste apontando para todos os lados. - Já passei
por isso antes com o seu pai, garota, e não vou aturar suas mentiras enquanto você
farreia por aí, dando para qualquer um que se dê ao trabalho de olhar duas vezes
para essa cara sofrida!
Longos minutos se seguiram, com Bianca tentando arduamente segurar o
choro incontrolável e a mãe proferindo todo tipo de ofensa baseadas em uma
única suposição e na desconfiança que carregava consigo há muitos anos.
A garota se trancou no quarto arrasada depois que a progenitora saiu
batendo a porta, se encolheu como um feto na cama e se desmanchou em lágrimas
doídas de injustiça. O braço latejava onde a mais velha a segurou com força,
sacudindo e rosnando todas as variações da palavra "puta" em que pudesse
pensar. Detestava quando a mãe resolvia despejar os problemas nela, mas, mais
do que isso, odiava ter que passar por aquilo sozinha.
Sozinha.
Se ao menos o pai estivesse ali...
Ou Theo.
Theo a abraçaria apertado, beijaria seus cabelos e sussurraria palavras
reconfortantes que a fariam levantar-se confiante para lidar com aquela briga da
maneira que gostaria.
Alcançou o celular abandonado ao fim da cama e discou os números que
já sabia de cor. Queria pelo menos ouvir a voz grossa dele a chamando de "anjo"
e lhe pedindo calma, da forma com que já estava ridiculamente acostumada e,
arriscaria dizer, dependente.
Mas... A mensagem automática lhe informava que isso não seria possível.
O celular do garoto estava desligado.

E permaneceu desligado pelo restante do final de semana, apesar das


ligações insistentes dela e das mensagens perguntando se havia algo errado.
Incomunicável, e sem precedentes de ser culpa do aparelho ou da
operadora, visto que o facebook e o twitter pareciam formas igualmente
ineficazes para alcançar o moreno.
A preocupação a fez roer toda a cutícula, caçar excessivamente as pontas
duplas agora inexistentes do cabelo, e cometer um ou outro acidente ao
perambular nervosa pelo quarto, batendo-se nos móveis até colecionar meia
porção de pequenos roxos claros pelo corpo.
Não queria pensar. Não iria pensar. E ainda assim, precisava deixar o
racional falar mais alto do que suas emoções, que espaçavam-se por todos os
cantos, fazendo com que tivesse vontade de chorar, gritar e rir compulsivamente.
De preferência, ao mesmo tempo.
Por fim, quase onze horas da noite do domingo, ele respondeu dizendo que
precisavam conversar na manhã seguinte.

Milhões de teorias inundavam a cabeça de Bianca desde então. Ela


tentava se convencer de que algo havia acontecido com ele, com a mãe ou o
padrasto, até mesmo com o pai desaparecido ou o babão do Whisky, por pior que
aquilo pudesse soar. Um acidente, uma emergência médica, brigas ou
reconciliações, viagens inesperadas, visitas desagradáveis, qualquer coisa.
Ainda era melhor do que a alternativa: o problema era ela.
O silêncio excessivo do garoto no carro, levando-a para casa depois de
uma das melhores noites da sua vida, agora ficava perpassando seus pensamentos,
rindo na cara da sua confiança.
Era ela, não era?
"Ele odiou. Percebeu que não vale a pena perder o tempo comigo.
Percebeu que não tem como ajudar um ser tão sem jeito", pensou. “Eu não devia
estar surpresa. Quem em sã consciência ia querer algo comigo depois disso? Eu
devo ter sido um lixo, devo ser o pior ser humano do mundo na cama, feia,
pequena demais, sem graça demais. Como ele sequer me aturou nesse tempo
todo? Ele devia receber uma medalha por isso”.
Era sempre assim. Não importava o quanto mudasse por fora, o quanto
suas atitudes fossem moldadas, era só dar espaço e sua insegurança entrava a
toda, cuspindo na cara do amor próprio. Seu pilar de sustentação era Theo, e sem
ele o processo era ainda mais rápido. Cada fisgada em seu natural jeito de ser era
confortável demais, e ela logo engatinhava para o buraco negro de sua timidez e
se enchia de desesperança.
E ela estava cansada daquilo, como tudo em sua vida, definir quem ela
deveria ser.
Parou em frente ao espelho do quarto e olhou a imagem refletida por
longos segundos. Cada milímetro de pele exposta, cada mínima curva sinuosa, os
poros arrepiados com o vento que entrava da janela.
Uma mexa de cabelo caiu na frente do rosto, e ela a capturou, colocando
detrás da orelha novamente. Quantas vezes Theo não tinha feito exatamente aquilo
para poder olhar com propriedade para o seu rosto? Quantas vezes ele não tinha
lhe dito que era bonita, sorrido para ela e feito sua alma se aquecer? Quantas
vezes reclamou da quantidade de vezes que já tinha feito aquele elogio sem que
ela acreditasse? Sinceridade. Se tinha algo em que ela apostaria nessa vida era na
honestidade contida atrás daquelas palavras, por mais teimosa que sua mente
fosse de deixa-las entrar.
Lembrava-se das mãos grandes dele percorrendo seu corpo
carinhosamente, e agarrava-se ao desejo que lembrava ter visto brilhar nos olhos
claros. Todos os beijos correspondidos com entusiasmo, e os grunhidos de prazer
aliviados quando sua pele encostava a dela. O menor toque simplório na mão ou
no ombro do garoto, parecia fazer um bem tão imenso para ele, que era irreal
imaginar que ele pudesse querer se livrar daquilo.
Abraçou a própria cintura, tentando colocar na cabeça que estava tudo
bem. Tentando se amar, já que outra pessoa não o faria naquele momento.
Respirando fundo, preparou um suco de maracujá com muito açúcar. Teria
que se manter calma até realmente descobrir o que estava acontecendo.
Aí sim se daria ao luxo de surtar.

A manhã estava contraditoriamente ensolarada. Bianca arrastava os pés


em direção ao ponto de encontro de sempre dela com o mentor, no cantinho ao
lado do armário de número 100. Ao mesmo tempo que queria descobrir de uma
vez o teor da conversa, temia que saber fosse pior do que a ansiedade que sentia.
Chegou não mais que dois minutos atrasada, mas ele já estava lá. A mão
direita massageava com entusiasmo o próprio pescoço dobrando-se sobre o braço
forte e marcado de veias de preocupação. Ela imediatamente ficou alerta,
praticamente prevendo a seriedade daquela conversa, e como consequência quase
tropeçou nos próprios sapatos.
- Theo...? – Engasgou, recuperando o equilíbrio e parando a sua frente.
- Ah, você chegou. - Comentou, distraído e tão imerso em seus próprios
pensamentos quanto possível. O coração da garota doeu por qualquer motivo
profundo que ela não soube explicar.
- É. - Respondeu baixinho, olhando para baixo. Os pés nunca pareceram
tão interessantes, mesmo que já estivesse cansada das sapatilhas vermelhas –
compradas por ele, inclusive.
Com dois dedos, Theo tocou seu queixo até que a face delicada da menina
novamente o encarasse. Balançou a cabeça com pesar, sabendo que, se ela estava
se fechando como fazia no início de tudo aquilo, era culpa dele. Respirando
fundo, decidiu por puxá-la para a mesma sala vazia em que conversaram pela
primeira vez. A familiaridade não era tão confortante. Aquele era o mesmo lugar
em que ele havia lhe dito “não” para o pedido que desencadeou mudanças tão
significativas na vida de ambos.
- Eu vou direto ao ponto, Bianca. - Estralou os dedos, preparando-se, e o
som ricocheteou pelas paredes do ambiente mal iluminado, deixando ambos mais
atentos. - Eu errei muito com você. – Decretou como quem tira um band-aid. -
Passei dos limites. Usei sua inocência para os meus próprios motivos egoístas. –
Os olhos estavam apertados como se a dor do curativo ainda não tivesse se
esvaído. E fosse demorar para passar.
- O que você está dizendo...? – Perguntou, confusa, mentalmente e
emocionalmente cansada demais para tentar adivinhar o teor das palavras do mais
velho.
- Estou dizendo que eu não devia ter feito aquilo. – Disse, rápido demais e
com a face cada vez mais contraída. - Estou dizendo que... Merda... Que acredito
que as aulas devem parar.
- Parar? - Esganiçou, tão desentendida quanto possível.
- Sim. – Acenou, para enfatizar a decisão que, ele acreditava, estava
tomada sem chance de questionamentos. - Eu te manipulei, te persuadi a aceitar
transar comigo, e te fiz acreditar que era uma escolha sua. Eu fui um imbecil! –
Exaltou-se jogando as mãos para os altos. - Peguei uma garota tão inocente e me
aproveitei como se fosse qualquer uma. Como se fosse um brinquedo que eu tinha
na palma da mão para fazer o que bem entendesse. E você, definitivamente, não
merece isso. Não merece que mais alguém se aproveite da sua bondade. - Por
uma fresta iluminada na cortina que cobria a janela da sala, ela agora podia notar
as olheiras pesadas e os lábios secos do garoto. Ele parecia doente, perturbado,
decepcionado. E, agora ela entendia, era consigo mesmo.
- Theo, você está enganado. Olha o quanto eu já melhorei! – Sinalizou a si
mesma, sob o olhar descrente dele. - Eu não sinto mais dor nas costas porque não
ando mais curvada; minhas roupas agora são tão bonitas que sinto como se tivesse
assaltado o guarda-roupa de uma modelo, e meu cabelo - eu quase não o odeio
mais! E quando você me olha durante as aulas... É quase como se eu fosse uma
Milena da vida, querida, desejada, e normal, com amigos... Pode não ter sido o
objetivo inicial disso tudo e eu posso estar falando besteira, que vai só te afastar
mais, mas... Eu não me sinto mais sozinha. Você não faz ideia de como isso muda
as coisas para mim! Eu me sinto outra pessoa, uma que eu gosto de ser, uma que
eu admiro e tenho orgulho, que não vê motivos para se esconder e que luta contra
qualquer pensamento que a coloque para baixo! – Ofegou em meio ao discurso
apaixonado, parando de gesticular tão depressa. - Isso tudo é mérito seu. Por
favor, não abandone o barco agora. – Pediu, a voz ainda trêmula.
- Anjo, não. - Apesar da negativa, o apelido aqueceu o interior da menor
como um cobertor quente em meio de inverno. - Você conseguiria essas coisas
sozinha, é linda e forte por conta própria. Tudo que eu fiz foi me aproveitar de
você. – Theo tinha a cabeça baixa sem querer encarar tudo de que achava precisar
abrir mão.
- Você transou comigo porque sexo é um elemento muito importante de
qualquer relacionamento e não adiantava nada eu aprender a estar em um e ele
acabar porque eu sou péssima na cama. – Ela entoou, sabendo que aquele era o
cerne da loucura.
- Isso foi o que EU disse para você, para justificar meus atos. Não
significa que seja verdade! Tá cheio de cara por aí que é homem de verdade e
sabe lidar com ficar sem sexo quando a garota vale a pena, o que obviamente é o
seu caso. – Apontou para ela, enfim subindo o olhar para o rosto claro que
parecia quase tão pálido quanto o seu próprio.
- Mesmo assim. Eu tinha medo, Theo! Tinha um bloqueio horrível quando
se tratava de algo que é bom, e muito! Você me ajudou a superar essa barreira
independente do que nos levou a isso. E eu não me arrependo disso nem um
segundo. - Ela via que as coisas que dizia não estavam exatamente convencendo o
garoto, que permanecia com a aparência sofrida. Ele se sentia um canalha, alguém
que não queria ser, e isso estava acabando consigo. - Olha, eu sei que você acha
que eu sou super inocente e que não questiono nada do que você faz, mas eu não
sou tão idiota assim e sei cuidar de mim. Cuidei de mim todo esse tempo sozinha,
mesmo que precariamente. Então, se eu tô te falando que tá tudo bem, que eu
gostei e que quero continuar com as aulas, você deve acreditar em mim. – Bianca
havia colocado todas as suas fichas naquela cartada final, e implorava aos céus
para essa ser suficiente.
Um sorriso de canto iluminou brevemente o rosto do mais velho, que se
sentia orgulhoso de ouvi-la falando daquela maneira. A pequena Bianca rugia em
face de perder o que vinha animando sua vida dia após dia nas últimas semanas, e
lutaria contra a sua decisão com unhas e dentes, se assim fosse preciso. E tudo
aquilo apenas para mantê-lo em sua vida... Ele respirou profundamente, tentando
achar formas de voltar a argumentar, mas um breve olhar ao relógio o fez ver que
não seria possível.
- Eu tenho aula agora e você também. A gente continua essa conversa no
fim do período. Tudo bem?

O último sinal bateu e Theo colocou pé ante pé rumo ao portão de entrada


do colégio, onde a encontraria. Pessoas lhe davam tapas fracos nas costas em
cumprimento, mas ele não se obrigava a virar para acenar de volta; estava se
dando um dia de folga. A conversa que teve via Whatsapp com Breno pouco antes
de levar Bianca em casa depois da noite luxuosa no motel não saia de sua cabeça.
O garoto tinha lhe chamado para uma festa - nada de excepcional até aí. Porém,
quando ele negou o convite e, tranquilo como estava enquanto esperava a menor
terminar de se recompor para poderem ir, acabou dizendo que estava sem pique e
que teria que levar Bianca para casa, o amigo somou dois mais dois e logo o
parabenizou por conseguir "entrar nas calças da nerd".
Theo não pensou duas vezes antes de defendê-la, mas não foi rápido o
suficiente, e então a frase "Sabia que tinha que ser isso que você queria com ela
desde o começo. Boa jogada, cara!" apareceu em um balão branco na tela do seu
celular.
A partir daí, tudo desandou. Uma coisa horrível aconteceu: Ele começou a
pensar.
Pensar em tudo que tinha passado com Bianca e duvidar da reciprocidade
dela nas aulas, duvidar que ela realmente quisesse aquilo e duvidar que ele fosse
um bom professor. Uma boa pessoa.
Passou o final de semana recluso sem atender as ligações da menina, e por
mais que fizesse força não conseguia lembrar de um momento em que tivesse de
fato pensado o pior, que tivesse planejado uma aula pensando só em si mesmo e
não nela aprendendo o máximo possível, ou que tivesse seguido qualquer plano
sem os devidos sinais de reciprocidade dela.
Mas sua mente não descansou. Só porque não se lembrava não queria
dizer que não tivesse acontecido, certo? Talvez até mesmo em um nível
subconsciente...
E por estar tão acostumado em confiar em si mesmo e orgulhar-se de ser
alguém íntegro, aquilo pareceu mexer com seus neurônios de uma maneira surreal.
Achou por bem, então, cortar o "mal" pela raiz, conversar com ela e parar com as
aulas.
Mas... O jeito meigo da menina defendendo com unhas e dentes ele de si
mesmo, novamente, o confundiu. Ela não poderia ter tantos argumentos para cima
dele se não estivesse gostando das aulas, se não estivesse satisfeita com ele. Por
melhor que pudesse ser seu poder de persuasão.
Chegando ao estacionamento, varreu o local com os olhos a procura da
figura miúda e delicada que deveria estar esperando-o. A encontrou caminhando
em direção ao seu carro, quando observou outro ser alto e loiro interceptá-la no
caminho.
Sam a segurou pelos ombros com um sorriso certeiro, e disparou a falar
sobre qualquer coisa que Theo não podia ouvir entusiasmadamente. Bianca
acompanhava na medida do possível, com curtas interjeições quando tinha
espaço, um tom rosado acentuando as bochechas erguidas em um riso contido.
O suposto melhor amigo ergueu uma das mãos para colocar uma mecha de
cabelo dela caída atrás da orelha e Bianca acabou por soltar, sem querer, a pasta
que segurava depois do gesto, a qual foi rapidamente recuperada por um Sam
estranhamente solícito.
Claro que ele estava atraído por ela. Suas qualidades estavam à mostra,
sua postura lapidada, a atitude menos afobada... E ela continuava tão doce, tão
carinhosa quanto sempre.
Quem não estaria?
Theo sentia algo ardendo em seu interior. Como um monstro verde e feio
que comia suas entranhas e obrigava suas mãos a se cerrarem em punhos. Dessa
vez, no entanto, não era mero ódio, já que o loiro abusado não a tinha trocado ou
magoado, não era seu instinto protetor.
Era posse. A noção de que ela o pertencia - já que ele a fez desabrochar
daquela maneira - e qualquer coisa que perturbasse esse cenário o incomodava.
Era ciúmes. Puro, simples, flamejante. Vê-la conversando com Sam tinha
despertado um sentimento que ele não estava acostumado a sentir. De fato, não
tinha recordações de qualquer tipo de relacionamento que já tivesse causado
aquela reação nele.
Parecia que não era só Bianca que tinha primeiras vezes por ali.
Sem perceber, seus pés se moveram sozinhos e logo ele tinha uma mão
rodeando a cintura da menina que o encarava confusa.
- Vamos embora, linda? – Perguntou, logo cravando os olhos em quem o
ameaçava. Com um gesto de cabeça que anunciava sua despedida, puxou-a
consigo pelo caminho de asfalto liso até o carro imponente. A resposta nunca
veio, mas não era necessária para nenhum dos dois. Havia mais com o que se
preocupar.
- Hm... Isso quer dizer que você reconsiderou? - Ela indagou, tentando
desfazer a nuvem de perguntas que embaçavam sua mente. Theo não precisou
pensar muito. Ela queria aquilo, havia deixado claro, e ele não poderia mais se
dar ao luxo de ouvir aos outros quando estava na corda bamba para perder seu
anjo a qualquer momento para o cara mais retardado da face da Terra. Se as aulas
acabassem afastando-a dele no fim quando ela decidisse usar os conhecimentos
no tal do loiro, ele teria que se conformar. Mas por burrada de mérito exclusivo
dele isso não aconteceria. No mínimo, aproveitaria mais um pouco a companhia
exclusiva da garota, e, com alguma sorte, as aulas a deixariam tão perfeita, que
até ela notaria ser boa demais para o jogador de basquete.
- Sim, meu anjo. Vamos voltar com as aulas, se é o que você quer.
- Eu quero! - Acenou freneticamente com a cabeça, provando seu ponto.
- Então tudo bem. Desculpe a confusão, Bianca. Eu perdi a cabeça por um
minuto e quase estraguei tudo.
- Não se preocupe com isso, Theo. É o cara mais incrível que eu conheço,
se fosse sempre centrado eu começaria a duvidar da sua existência. - Com um
sorriso admirado no rosto, ele a abraçou de lado, apoiando a cabeça nos cabelos
sedosos dela e inalando o eterno odor de jasmim que dali emanava.
- Você nunca vai parar de me surpreender com tanta meiguice, linda. Me
prometa que se houver uma próxima vez que eu tente te afastar você vai me
lembrar desse exato momento?
- Eu prometo, professor.
- Ótimo. Agora vamos, menina. O babão do seu professor tá doido de
saudades para passar uma tarde tranquila com seu anjo.
- E o Whisky. - Ela lembrou.
- Ah, sim. E aquele outro babão também.
A caminho para a casa de Theo, o garoto não parava de listar todas as
coisas que faria por Bianca quando eles chegassem, a fazendo ter crises de risos
espontâneos, uma atrás da outra. Ele brincava que andaria atrás dela com a
bolinha de Whisky na boca como um perfeito cachorro, que cozinharia todas as
comidas preferidas dela por dias, que assistiria todos os filmes mela-cueca que
ela tivesse vontade, tudo para agradá-la e compensar a súbita crise de
consciência que os afastou por não mais que alguns dias.
A verdade é que ele se sentia culpado. Toda a conexão com a garota, a
intimidade trocada, os segredos relevados... Ele não podia estragar esse
relacionamento por nada no mundo. Nunca tinha se apegado tanto a alguém como
tinha acontecido com a menina, e só de realizar que qualquer ação impensada sua
poderia afastá-la dele e de volta para os braços do amiguinho babaca, o fazia
perder a cabeça.
Ele queria ser tão bom para ela que a busca pela perfeição acabou
mexendo com a sua cabeça e nublando suas memórias, deixando os comentários
ácidos de Breno fazerem algum sentido e trazendo à tona toda uma culpa
infundada.
Ele não a estava manipulando. Nunca fora do seu feitio fazer isso, e não
seria essa a primeira vez que enganaria uma mulher para levá-la para a cama.
Ainda mais alguém tão doce como Bianca: Ele nunca encontraria a cara de pau no
seu ser para fazer qualquer maldade com aquele anjo que entrou na sua vida.
O que significava que todas as bobagens que cozinhou na cabeça durante o
final de semana foram nada mais do que uma momentânea crise de identidade já
irremediavelmente superada. Theo havia colocado uma pedra naquele assunto,
que considerava agora irrelevante, incabível, superado e enterrado.
Entraram na simpática casa de madeira e o garoto foi logo soltar o grande
cachorro que correu para trançar as pernas de Bianca, mostrando saudades. Ela
riu e apertou as bochechas do animal, que pareceu fazer uma careta conformada e
lhe lambeu os dedos finos.
Sentaram-se no sofá, Theo com a cabeça no colo de Bianca que acariciava
seus cabelos rebeldes, e Whisky aos pés da menina, rapidamente engatando um
sono profundo. Os garotos daquela casa pareciam gostar dela um bocado, e a
cercavam como se fosse fugir a qualquer instante.
- Me conta, linda. Você sentiu alguma dor no final de semana? - Ele
perguntou, preocupado com o bem estar dela após os momentos maravilhosos que
tiveram no motel luxuoso, embora soubesse que ela não era mais virgem. Sabia
que a dor do rompimento do hímen era a pior, mas que haviam certos incômodos
que poderiam dar as caras nas relações que se seguissem a primeira, dependendo
do quão apertada a garota fosse e da intensidade das próximas transas.
- Não, Theo. Foi até uma surpresa ótima... Eu achava que não fosse
conseguir sentar no dia seguinte, já que... Bom... Você é grande e tudo mais. -
Bianca respondeu, adquirindo certa vermelhidão no rosto envergonhado. E ficar
tímida de fazer tal elogio não significava retrocesso na sua autoconfiança. Pelo
contrário: há algumas semanas ela apenas responderia que não e se calaria. Ao
menos agora gaguejava e corava, mas dizia tudo o que queria dizer.
Theo inflou o peito e sorriu largo com o comentário da menor. Sentiu-se
orgulhoso por diversos motivos: Por ela ter reconhecido seu tamanho pura e
simplesmente, por muito provavelmente ser comparativamente maior do que o
loiro infeliz, e por ouvi-la dizer algo tão descarado, impensável no começo de
tudo aquilo.
- Isso é ótimo, meu anjo. E obrigado. - Ela retribuiu seu sorriso já da cor
normal, e ele preparou-se para fechar brevemente os olhos e aproveitar a
delicadeza do carinho que recebia na cabeça quando deparou-se com uma grande
mancha arroxeada no braço dela. - Bianca, isso fui eu quem fiz? - Ele perguntou
alarmado enquanto impulsionava para se sentar direito ao lado dela e indicava
com a cabeça o hematoma.
- Ah... Não. Não, Theo, claro que não foi você. - Ela negou enfaticamente,
instintivamente cobrindo o machucado com a mão, como se o fato de não poderem
vê-lo fosse dispensar novas perguntas a respeito.
- Bem, então quem foi? - Ele perguntou preocupado, a testa severamente
franzida. Podia ver que ela relutava a dizer e aquilo só o deixava mais inquieto.
- Foi a minha mãe... A gente acabou brigando quando eu cheguei em casa
sábado de manhã. Mas olha... Nem dói, não há nada a se preocupar.
- Meu amor... – Entoou, morno de carinho e afeto. - Não me importa que
não doa agora, na hora deve ter doído! Porque você não... - Ele se interrompeu.
Sabia muito bem porque Bianca não havia lhe contado nada e era culpa dele.
Estava tão imerso duvidando de si mesmo que não pensou que todas as ligações
da menina poderiam significar mais do que simplesmente querer conversar com
ele. Ela brigou com a mãe, ganhou um roxo feio no braço... E ele não estava ao
seu lado para ampará-la. Deixou-a sozinha para lidar com os seus problemas,
sozinha como sempre havia estado. Uma grande onda de auto aversão tomou conta
dele. - Bianca, eu... Me desculpe. Eu devia ter estado com você. - Sussurrou
sentido, segurando as mãos dela nas suas. - Me conta, linda, qual foi o motivo da
briga?
Ela relatou o que aconteceu tentando poupar todos os detalhes mais
insignificantes como como se sentiu e o quanto chorou. E mesmo assim, não
conseguiu conter as lágrimas quando o garoto a abraçou apertado e ela pôde
sentir-se amparada dentro dos braços quentes do mentor novamente. Era a
primeira vez que realmente sentia que alguém se importava com o que acontecia
com ela, e apenas a constatação daquele fato fez com que a intensidade do choro
aumentasse. Então lembrou-se também de toda a tensão que havia dividido espaço
com a tristeza dentro de si durante o final de semana, quando ele não a respondia,
e passou a soluçar de encontro ao pescoço cheiroso do mais velho.
Theo sabia que o choro doído de Bianca englobava mais do que apenas a
briga horrível com a mãe, e a apertava contra seu peito como se pudesse protegê-
la de todo o mal do mundo - inclusive dele próprio. Sussurrava pedidos de
desculpa de dez em dez segundos, intercalando com palavras suaves sobre ela ser
forte, corajosa e sobre tudo ficar bem no final.
Aos poucos, Bianca foi se acalmando e sentindo-se muito melhor por ter
colocado para fora todo o sofrimento que havia engolido. Sorriu fechado para
Theo, enquanto ele secava seu rosto cheio de rastros de lágrimas com cuidado.
- Eu já devia estar acostumada com os pitis dela, mas nunca deixa de
machucar quando ela projeta em mim seus problemas e me xinga de todas as
variações de "vagabunda" que você possa imaginar. - Disse, dando de ombros.
- Ela é sua mãe, eu imagino que seja dolorido mesmo. – Ponderou o
garoto. O silêncio confortável recaiu no cômodo, em meio a trocas de olhares
solidários, da parte dele, e agradecidos da parte dela. Theo refletia sobre a
dinâmica familiar complicada da menina, e pareceu lembrar-se de um pensamento
especialmente insistente que havia ficado em sua mente desde a primeira vez que
conversaram sobre o assunto. Arriscando, resolveu colocá-lo em palavras. -
Bianca... Você ainda fala com o seu pai?
- Ah, não. – Negou, fungando o fim de choro. - Depois que ele saiu de
casa para ir morar com a nova namorada, minha mãe disse que ele não teria mais
paciência para mim. E, como eu não ouvi dele nos últimos dois anos, acho que ela
estava certa. – Deu de ombros, dolorosamente conformada com o abandono do
pai. Mas, para Theo, aquela história parecia errada. Claramente a mãe de Bianca
tinha problemas com o ex, mas nada na história que ela havia lhe contado
indicava que pudesse ressentir a filha por qualquer motivo. Muito pelo contrário;
apesar de pequena na época, Bianca tinha sido a única pessoa que de fato ficara
ao lado dele quando incitava tomar alguma atitude sobre a miserabilidade em que
se encontrava dentro do casamento. E, justamente por ser tão nova ainda, não
tomaria atitudes bruscas para afastá-lo depois de sair de casa, pois ainda
precisava do progenitor em sua vida, e o pai dela deveria saber disso, assim
como ele sabia. Theo não sabia se estava sendo paranoico apenas, ou
esperançoso demais, mas havia uma grande falha de nexo causal naquela narrativa
e ele estava determinado a encontrar a fonte.
- Você já tentou ligar para ele? – Perguntou, acariciando as mexas
compridas do cabelo dela entre os dedos longos.
- Eu não tenho o número, já que ele nunca me ligou. Só sei onde ele mora
porque ouvi minha mãe falando com alguma empresa que as cobranças deveriam
ir para um endereço diferente. – A fala da menor era carregada de ressentimento,
mas nem por isso menos verdadeira.
- Já tentou aparecer por lá? – Continuou, ainda mais desconfiado e no
limbo entre realmente tecer uma teoria válida e mais suposições.
- Para quê, Theo? Se ele não quer me ver, porque eu vou impor a minha
presença? - Ela disse parecendo levemente irritada de cavar um assunto que lhe
trazia mágoa.
- Anjo... – Disse morno, como quem se desculpa antes de jogar uma
bomba. - Existe alguma possibilidade da sua mãe ter interceptado as ligações que
seu pai te fazia, ou mesmo alguma carta ou visita que tenha tido como objetivo te
alcançar? - Falou devagar, tentando não alarmá-la demais com as suas suspeitas.
- Bom, sim, eu nunca atendo o telefone de casa nem a porta quando minha
mãe está, as cartas também não são minha responsabilidade, e eu ganhei o celular
só depois que eles já eram separados... – Ela respondeu mecanicamente, tentando
entender qual a lógica por trás do raciocínio do professor.
- Bianca, - molhou os lábios, pronto para colocar as cartas coringa na
mesa - eu acho que existe alguma chance da sua mãe ter tentado afastar vocês
porque ela estava machucada. - Theo concluiu, apertando amigavelmente o joelho
da menor.
- Mas... Será? Você acha que ele ainda se importa comigo? - Indagou, o
rosto lívido e as mãos nervosas apertando umas às outras.
- Eu não vejo porque ele não se importaria. Nada do que aconteceu no
casamento dele foi culpa sua, e vocês nunca chegaram a brigar. Não tem qualquer
motivo que explique esse sumiço, e mesmo que tenha, você claramente foi
privada da explicação. Talvez devêssemos fazer uma visita ao seu pai, minha
linda.
- Theo... Se isso for verdade, eu não vou acreditar! - Ela deu um breve
pulo no sofá, os olhos brilhando de expectativa. Mesmo sabendo que havia
alguma chance de ela se decepcionar, de o pai estar estabelecido com outra
família, filhos, e que tenha basicamente se esquecido dela sim, ele não quis
manter seus pés no chão. Ela merecia um pouco de esperança para variar. - Você
iria comigo?
- Eu vou aonde você estiver, anjo. - Garantiu, e logo eles estavam
novamente apertados em um abraço caloroso cheio de carinho e amparo.

- E hoje? Não tem aula? - Ela perguntou depois que o assunto diluiu e eles
combinaram de levar a Operação Pai com calma.
- Não. As lições podem esperar um pouco para que eu curta a minha
menina que teve alguns dias ruins. - Ele sorriu saudoso, fazendo um carinho
singelo na nuca de Bianca.
- Achei que você fazia o tipo ditador que não perde tempo. - Ralhou,
mordendo os lábios para não sorrir.
- Te mimar e passar tempo com você nunca é perda de tempo. - Piscou
levantando-se e colocando a carteira no bolso da calça. - Vamos, vou te pagar um
sorvete e depois vamos fazer o que você tiver vontade.
- Pelo resto da tarde? - Ela perguntou, e recebeu um aceno positivo de
resposta. - E eu escolho? - Novamente, Theo sibilou um "sim". - Você tá ferrado.
Vou te enfiar em todos os programas nerds que me der na telha e você vai fazê-los
com um sorriso no rosto. - Ela brincou rindo para o garoto.
- Se você estiver sorrindo, com certeza vai valer a pena. - Ele disse
passando um braço ao seu redor e recebendo um selinho tímido e doce em
retorno.

Aquele foi um dia turbulento emocional e fisicamente para a dupla. Theo


se ocupou de fazer realmente todas as vontades da garota, comprou uma mão
cheia de livros para ela na maior livraria da cidade, visitaram o aquário onde ela
revelou em um suspiro estar inclinada a cursar biologia ao invés das opções que
considerava anteriormente, e ainda assistiram uma peça de romance clássico no
palco improvisado montado ao ar livre em um parque cheio de árvores floridas.
O sorriso rasgava o rosto de Bianca, que praticamente pedia em pensamentos pela
próxima vez que o professor se sentisse em dívida com ela para mimá-la daquela
maneira novamente.
No dia seguinte só poderiam ir para o seu QG consideravelmente tarde,
pois era dia de aulas vespertinas. O colégio tinha uma política estranha de
horários: em uma semana os alunos teriam período integral de segunda e quarta, e
na outra semana seria de terça e quinta.
De qualquer maneira, naquela terça feira teriam que almoçar na escola, e
Theo e Bianca foram juntos para o refeitório como já lhes era de praxe. Bianca
não sabia dizer se o burburinho a respeito deles havia parado ou se a recém
adquirida confiança a ajudava a ignorar, mas não se sentia mais
desconfortavelmente observada como antes. Mesmo agora que fingiam ser
namorados, que Theo estava sempre com as mãos nela quando andavam, fosse em
sua cintura, em seus ombros ou mesmo segurando as suas. O comportamento não
era diferente quando estavam parados, ele fazia o tipo carinhoso e sempre
acariciava seus cabelos, suas costas, seu rosto... Os beijos também. Variavam de
selinhos de cumprimento a puxadas de lábio, e um ocasional encontro forte entre
bocas saudosas.
Novamente, Bianca não sabia se ele estava engatado no automático, mas,
quando estavam sozinhos, sem ninguém que pudesse ver a ambos, as ações do
mais velho não se alteravam em nada. Ela quase começava a se sentir
verdadeiramente a namorada de Theo Versolati, e preferia não pensar nisso
demais para não ter um "ataque de esquilo". Era assim que ela chamava quando
garotas se reuniam para falar de um homem bonito e esganiçavam, davam
pequenos gritinhos e giravam no lugar. Nunca teve uma amiga que tivesse o ataque
com ela, mas quando o observava sendo feito de longe era assim que lhe parecia.
Assim que entraram no refeitório, Theo pegou a bandeja de comida com
ela, mas assim que eles estavam estabelecidos na mesa - que não era a favorita de
Bianca, sob a falha de iluminação e isolada, pois Theo se recusava a sentar ali e
escondê-la da vista dos outros - ele pareceu ver alguém entrar e pediu licença
para resolver uma coisa rapidamente.
Ela balbuciou um "tudo bem" contido, odiava ficar sozinha na hora do
almoço mais que tudo, mas sabia que se ele precisava realmente fazer algo era
porque era importante. Concentrou-se no seu creme de milho com o qual ficou
brincando ao arrastar os grãos até que compusessem formas engraçadas, se
perguntando se deveria esperá-lo para começar a comer como mandava a
educação.
Então, todos os alunos no refeitório ecoaram um grito mudo em coro, e ela
precisou se virar para saber o motivo de todos estarem impressionados daquela
forma. No centro do lugar, uma rodinha expressiva começava a se formar. Devido
a sua estatura baixa, Bianca não conseguia ver muito bem o que estava se
passando ali no meio, mas considerando o sorriso sádico no rosto dos jogadores
de futebol que espreitavam, deveria ser uma briga.
Por algum motivo, seu coração acelerou e ela passou a buscar com os
olhos pelo mentor nos arredores. Encontrou o olhar de Sam a observando
intrigado, mas não podia ligar menos para aquilo no momento. Theo não estava
em nenhum lugar, o que só podia significar que ele estava... No centro da briga.
Bianca se levantou correndo, derrubando a cadeira no processo e avançou
abaixada por entre os braços e quadris das pessoas a sua frente, até que pudesse
ver o que estava acontecendo ali no meio da multidão.
Theo segurava Breno pela camiseta de forma que seus pés não tocavam o
chão. Por ser maior e mais forte que o outro, aquela não era exatamente uma
tarefa difícil.
- Repete, seu infeliz! Fala mais uma vez assim dela pra você ver se eu
penso duas vezes antes de te quebrar a cara! - Theo rugiu na face do até então
amigo, que engoliu em seco e pareceu enfim assumir uma postura arrependida.
- Cama, cara... - Ele esganiçou sem conseguir respirar direito,
gesticulando para que o soltasse. Theo parecia impassível. As pessoas
começaram a entoar o famoso grito de "Briga! Briga! Briga!" e se movimentar
ansiosas, o que acabou empurrando a menina franzina mais para frente. Ela
interpretou aquilo como um sinal, e, cuidadosamente e de maneira temerosa,
pousou uma mão no braço contraído e cheio de veias saltadas de Theo, para que
ele olhasse para ela.
A feição inegavelmente irritada do garoto se transformou quando a viu
parada ali no meio de tanta gente, com os olhos transparentes arregalados de
preocupação pelo motivo que pudesse ter levado o professor até àquela situação.
Com os traços mais relaxados só de vê-la a sua frente, Theo pareceu decidir por
mudar o curso de suas ações.
- Sabe o que você vai fazer? Vai se desculpar com ela. - Theo ditou,
soltando Breno no chão e puxando a garota para seus braços, segurando-a de
frente ao outro pelos ombros. Ele ainda olhou em volta pesando suas opções e
aquela pareceu, de fato, a melhor saída, de forma que falou baixo encarando os
pés um "sinto muito, Bianca".
Ela não fazia ideia do que estava acontecendo. A multidão pareceu
perceber que mais nada aconteceria de bom por ali e começou a se dispersar.
Theo puxou Bianca pela mão para longe e voltaram a se sentar na mesa com suas
bandejas já quase frias.
- Theo, o que foi isso? Por que você...? E ele...? - Bianca era só
perguntas, e ele precisou respirar fundo e segurar as mãos dela nas suas para
poder explicar.
- Calma, anjo. Aconteceu o seguinte... - Começou devagar, procurando
acalmar os nervos dele e dela. - O Breno me mandou uma mensagem na noite que
passamos juntos me chamando para uma festa... - Ele contou a história e sobre
como a frase do amigo tinha sido o gatilho de toda a confusão que dominou sua
cabeça no final de semana. - Eu só ia explicar as coisas para ele, dizer que eu
gostava de você e que não era tudo parte de um plano, para que ele parasse de
tirar conclusões precipitadas... E aí, ele me deu alguns tapas nas costas antes que
eu pudesse dizer qualquer coisa e me cumprimentou alto na frente do resto dos
caras por ter... Transado com você. Mas digamos que as palavras que ele usou
para se referir a isso não foram das mais agradáveis e eu acabei perdendo a
cabeça. - Deu de ombros repuxando os lábios. Queria fazer pouco caso, não
alarmá-la, pois o comportamento agressivo que tinha assumido não lhe era
padrão.
- Meu herói. - Bianca zombou com um sorriso carinhoso nos lábios.
Nunca tinha se sentido tão protegida por alguém e a sensação era... Única. Theo
sorriu de volta e se inclinou para depositar um selinho apertado e gostoso contra
a boca da menor. Eles foram enfim comer, sob o olhar atento e estranhamente
incomodado de um certo melhor amigo loiro.

Mais um dia de estudos compenetrados se seguiu. Theo já estava


praticamente recuperado em todas as matérias, e agora arriscava fazer simulados
das universidades mais difíceis da região, embora nesses ainda não obtivesse os
resultados desejados. Bianca aproveitou para se inscrever a alguns vestibulares
como traineira para incentivar mais o garoto e já pegar o "jeito da coisa".
Naquela tarde, o segmento escolhido para estudo era Humanas, longe da
preferência de qualquer um dos dois - Theo gostava mais de Biológicas e Bianca
de Exatas. Foram horas pesadas para ambos, enquanto Theo via tudo que teria que
passar para se tornar advogado como a mãe e o padrasto queriam, e Bianca
decidia que Jornalismo não era mais uma opção para si.
Decidiram fazer uma pausa após finalizarem a última questão aberta do
simulado. Theo levantou-se para pegar algo para eles beberem, enquanto deixava
para Bianca a incumbência de escolher algo para assistirem na TV.
Ela revirou as estantes do professor, passeando os olhos e mãos curiosas
por todos os títulos em DVD ou Blue-Ray, perguntando a ele, que ainda estava na
cozinha fazendo milk-shakes, vez ou outra se o exemplar era legal ou não. Mas
estava indecisa demais e ainda acreditava encontrar algo que saltasse os seus
olhos o suficiente para que todas as outras opções parassem de ser consideradas.
Bufando, sentou no chão e abriu a última gaveta do móvel, que tinha uma
camiseta velha por cima dos objetos. Ela riu do que achou ser uma prova do quão
bagunceiro o mentor era no fundo, e puxou o tecido da frente, revelando...
Toda a coleção de filmes pornô de Theo.
Alarmada, quase se desequilibrou para trás. O som de surpresa que a
menina emitiu chamou a atenção do garoto, que vinha se juntar a ela com as
bebidas em mãos. Quando viu o motivo do alarde, Theo deu risada.
- Acho que esses não são bem os tipos de filme que você procurava, anjo.
- Ele brincou, só então observando com a atenção os olhos da menor vidrados nos
títulos e capas gráficas demais.
Estaria ela... Curiosa?, perguntou-se.
Mas é claro que sim. Bianca tinha interesse em tudo que dissesse respeito
a sua recentemente descoberta sexualidade, apesar de fazer questão de disfarçar,
ainda que mal e porcamente. Como se as bochechas coradas e as mãos em fendas
em frente aos olhos fossem o bastante para convencer Theo de que ela não estava
absurdamente intrigada.
Ele via por baixo de toda a timidez. Os olhos brilhando, as mordidas
nervosas na boca. Tinha certeza que ela nunca havia visto sequer um vídeo,
quanto mais um filme. Ele sorriu olhando para cima. Aquela garota não podia
existir!
- Vamos, pegue um. - Incentivou, indicando com a cabeça a gaveta aberta.
- Mas... - Procurou protestar, logo sendo interrompida pelo professor.
- Mas nada, Bianca. Anda, eu sei que você está curiosa. - Abanou com as
mãos, apressando-a.
- Theo! - Reclamou.
- Não adianta fazer a ultrajada. Posso ver o sorriso arteiro querendo se
abrir no canto da sua boca. - Ele cruzou os braços em tom definitivo, e Bianca,
embora ainda relutante, mordeu o interior da bochecha decidindo o que fazer.
Fechou os olhos com força e passeou a mão por cima dos DVDs enfim puxando
um qualquer da pilha.
- "Pirates II: Stagnetti's Revenge" - Ela leu em voz alta repuxando os
lábios em desgosto. - É sequência, melhor deixar pra lá.
- Não, anjo. Não tem a menor necessidade de ter visto o primeiro, e se foi
esse que você sorteou, é esse que assistiremos. Além disso, a Jesse Jane é muito
boa, e o segundo filme tem a Sasha Grey ainda. - Comentou, alheio à cara de
incredulidade com que ela o olhava.
- Você sabe o nome das atrizes? - Esganiçou, a cada minuto mais
descrente.
- Mas é claro! - Exclamou, rindo da feição dela. - Me diz uma coisa:
quando você assistiu Titanic, o que achou da atuação do Leonardo Dicaprio? -
Perguntou em tom zombeteiro.
- Ué, muito boa. - Deu de ombros meramente.
- Tá, e a partir daquele filme, quando viu que ele estrelava mais algum,
não teve vontade de assistir?
- Bem, sim, mas... - Foi cortada novamente.
- É a mesma coisa nesse caso. O gênero do filme pode mudar, mas a
avaliação dos atores e a escolha de novos títulos é quase igual. - Explicou. Ela
ainda parecia desconfiada, mas tinha desistido dos questionamentos. - Pode
colocar no aparelho. Quero muito ver sua reação assistindo. - Theo bateu as
palmas e esfregou, como se antecipasse grandes momentos de diversão.
Ela colocou o CD no compartimento, e levantou-se correndo para se atirar
ao lado do garoto. Puxou uma almofada grande para o colo e se abraçou a ela,
escondendo boa parte do rosto pequeno que tinha os olhos cravados nas chamadas
iniciais do filme.
Os primeiros minutos correram bem. Uma historinha boba e efeitos ruins
era de fato o máximo que se podia esperar, mesmo a produção daquele título em
específico tendo sido bem pensada. Theo não sabia se ria da apreensão de Bianca
por qualquer cena erótica que pudesse começar sem justificativa ou do
personagem principal, o capitão Edward, que era tão convencido e caricato
quanto possível.
E então, em um instante, haviam dois homens espremendo uma mulher
seminua entre eles.
Bianca sugou todo o ar até inflar as bochechas que, vermelhas, só a
deixavam mais fofa. Theo riu discreto e continuou observando a cadeia de
reações que tomavam o corpo da menor, que se encolhia e chegou a tapar os olhos
de vez quando o primeiro boquete da história tomava forma na tela.
- Como você vai assistir ao filme assim, menina? Precisa tirar as mãos da
frente. - Theo provocou, recebendo um enfático balançar de cabeça em negação.
Ver aquelas cenas tão, tão explícitas com ele ali do lado soava todos os alarmes
da cabeça dela, e faziam seu corpo entrar em combustão. - Bianca...! - Chamou, a
fala quebrando devido à risada.
Puxou a almofada que a escondia e jogou longe. Ela se encolheu toda com
os braços em frente ao rosto, ameaçando uma risada de nervosismo, e ele a pegou
pelo cotovelo e a manuseou até que estivesse sentada entre suas pernas com os
braços firmemente presos para trás.
Theo havia encontrado um jeito de colocá-la em frente à TV e ao mesmo
tempo de segurá-la para que não pudesse fugir das imagens. Estava se divertindo
às custas de sua vergonha, e ela também, embora mais discretamente, com o jeito
brincalhão do menino.
Com os braços imobilizados e os gemidos escandalosos de pano de fundo,
Bianca reclamou com um sorriso:
- Me solta, seu chato! Não quero assistir as suas imundices!
- Se eu bem me lembro, você que escolheu o filme, senhorita hipócrita.
- Mas eu não sabia que eles iam... Uau. - Ela se interrompeu ao olhar de
relance para a tela e assistir o corpo molhado da mulher subir e descer com
rapidez no mastro duro de um homem de corpo escultural. Calou-se
imediatamente, engolindo o excesso de saliva e torcendo para a pausa não ser
desconfortável. Pelo contrário, Theo estava adorando que ela estivesse finalmente
cedendo à sua curiosidade e observando os movimentos de corpos delineados
transando bonito.
Cansada de lutar contra os braços obviamente mais fortes de Theo, Bianca
se permitiu deitar a cabeça no peitoral duro dele, relaxando o corpo para enfim
assistir ao que tinha se proposto. Ainda ficava incomodada com tamanha
explicitude, e isso a fazia remexer no lugar como se não achasse posição, mas
precisava admitir que era estranhamente gostoso assistir aquilo. Libertador, até.
Theo largou seus braços, percebendo que ela não ia mais fugir, e passou
os próprios ao redor da garota, abraçando-a. Por mais experiente que pudesse ser
em assuntos íntimos, assistir a um filme pornô com uma garota era algo que ele
não havia riscado de sua lista ainda, e, por algum motivo, queria explorar o
momento o quanto fosse possível.
A respiração de Bianca se acelerava entre uma posição e outra
performada na tela, e ele achava aquilo único e bizarramente fofo. Ele podia ver
os poucos pelinhos claros do braço dela se eriçarem, e sorria com o pensamento
de que ela estivesse de fato se entregando a ponto de ficar excitada, ainda que
minimamente. Aproximou a boca do ouvido dela, jogando seu hálito quente por
ali.
- Você pode se tocar, se quiser. - Sussurrou maroto, a fazendo entreabrir
os lábios e olhar em dúvida para ele por cima do ombro, os olhos muito abertos. -
Eu não vou me importar, e além do mais... É o que as pessoas normalmente fazem
ao assistirem filmes assim. - Explicou com calma, e ela se moveu mais uma vez,
inquieta, aproximando-se mais de Theo, que lhe acalmava. Não esperava, no
entanto, esbarrar em seu membro ereto.
- Você está...? - Esganiçou, sem ar.
- Shhh, calma... - Ele murmurou calmamente, a apertando mais contra si
em conforto, a ereção alojada estrategicamente entre as nádegas dela. - Você
também está. - Disse com simplicidade, levantando um pouco a saia dela e
encaminhando a mão pequena da mesma até sua calcinha, cujo fundo encontrava-
se molhado. Bianca trancou a respiração em um breve soluço no momento que
seus dedos encostaram o tecido fino da roupa íntima. Tinha tanta adrenalina
correndo seu corpo que ela sentia como se pudesse apagar a qualquer momento.
- Theo...? - Sussurrou, temerosa do que tudo aquilo pudesse significar. Ele
distribuiu um carinho lento em sua cintura, lembrando-a de relaxar os ombros.
- Anjo, pare de se privar, de racionalizar cada sensação. Pornô é muito
mais do que imagem, é som, é toque, é clima, é deixar o corpo livre para se
arrepiar e esquentar. - Theo murmurou ainda ao seu ouvido. - Você teve interesse
de assistir... Agora que tal vivenciar a experiência por completo?
Bianca não tinha certeza se todas as aulas tinham culminado naquele
momento, se sua recém adquirida confiança era a grande propulsora das suas
próximas ações, ou se era apenas Theo e sua voz morna e gostosa mexendo com
seus hormônios em fúria, mas entre um e outro suspiro de prazer da mulher na
tela, ela jogou qualquer pudor para trás e pressionou a própria bunda contra o
colo excitado do professor.
A reação foi imediata. Theo mergulhou o rosto no pescoço quente da
menina em uma lufada aliviada, e distribuiu beijos empolgados pela pele alva na
medida que a mão forte obrigava a delicada dela a massagear o ponto mais alto
de sua intimidade pulsante ainda por sobre o tecido fino da roupa íntima.
Soltando todo o ar preso dolorosamente nos pulmões, a pequena resolveu
finalmente relaxar, girando o quadril de acordo com os espasmos de prazer que
sentia, e inevitavelmente massageando o próprio mastro do rapaz por tabela. Não
podia negar mais a si mesma que queria as mãos de Theo em si pelo máximo de
tempo possível, por mais distorcido que aquele sentimento pudesse ser. Ela
queria desesperadamente sentir de novo todos os arrepios e choques que
conheceu alguns dias antes, e por mais que soubesse que Theo não era
necessariamente detentor de exclusividade na arte de lhe prover aquilo, não
queria que nenhum outro o fizesse.
Nem mesmo Sam...
Não. Não podia pensar aquilo. Uma experiência ruim com ele não poderia
definir tudo o que pensava do loiro. Assim como uma experiência boa com Theo
não podia direcionar todos os seus pensamentos para....
Ah, sim. Isso, professor, mais forte.
É, talvez pudesse.
Ele subiu uma das mãos por entre o decote da blusa de Bianca para puxá-
la para os lados e revelar o contorno dos seios perfeitos. Envolveu um com a
mão, sentindo cada poro eriçado e a maneira como parecia caber perfeitamente
em sua palma. O mamilo rosado ergueu-se quase que imediatamente como se
houvesse sido chamado, e esfregou-se contra o tecido fino do sutiã sem bojo em
uma tentativa de liberdade.
Grunhindo e com água na boca, Theo afastou o toque da mão da garota
apenas um segundo para puxar a calcinha de lado e expor sua intimidade quente e
pulsante a toques mais precisos. Ia segurar a mão dela novamente para guiá-la,
naquela dança sensual que haviam assumido, mas Bianca parecia ter outros
planos. Estrategicamente impedindo o entrelace breve de dedos, ela deixou que
Theo assumisse sozinho o carinho enfático em sua feminilidade e arrastou o braço
para o espaço em que seus corpos se chocavam. Acariciou o abdômen definido e
as entradas perfeitas de sua barriga, até atingir o cós da bermuda e então a
imponente protuberância que se espremia mais abaixo.
Envolveu-o com os dedos por cima do tecido e sentiu o calor e a dureza
daquilo que já esteve um dia dentro de si. E mesmo sem movimentar a mão,
provocou em Theo um aliviado suspiro de deleite, que a fez sentir-se novamente
poderosa e capaz de tudo, como na noite no motel.
Completamente alheios ao que a televisão projetava, o casal trocou
carícias e gemidos, chegando ao ponto dele inserir dois dedos em sua entrada, e
de ela puxar seu membro para fora das roupas.
Por mais divertida que a brincadeira estivesse, Theo não aguentava mais
um segundo sem sentir o sabor de Bianca percorrendo sua língua ou olhar em seus
olhos translúcidos.
Por isso, largou tudo que estava fazendo e puxou sua cintura por cima da
perna, até deitá-la no sofá macio e escalou seu corpo como um morto de sede no
deserto arrasta-se para um oásis.
Bianca o recebeu de braços - e pernas - abertos, as mãos pequenas
encaixando-se nos cabelos escuros da nuca do rapaz, levantou o pescoço em sua
direção e capturou os lábios nos seus.
Era quase como se fizessem milênios, e, ainda assim, não haviam
esquecido o êxtase e a voracidade que o encontro de bocas, línguas e saliva
trazia.
Enquanto se devoravam, as intimidades nuas se procuravam, ficando entre
um roçar gostoso e um desejo de se aprofundar. Rapidamente ele alcançou a
carteira no bolso de trás do short, e procurou às cegas o pacote quadrado que
continha o que o separava de seu paraíso particular.
Quis falar para ela colocar, mas não sabia se estava em condições de
explicar como fazê-lo. Bianca, para sua sorte, compartilhava da mesma vontade, e
em um impulso tirou a camisinha de suas mãos e rasgou o plástico com cuidado,
para não perfurar a borracha.
Tinham os olhos conectados e as respirações igualmente arfantes, mas a
pausa estava longe de ser incômoda. Pelo contrário - só deixava a adrenalina
mais pulsante.
- Coloca na cabeça e espreme a pontinha. - Ele sussurrou contra os lábios
molhados dela.
- A-assim? - Indagou após obedecer, as mãos trêmulas tocando com
suavidade a masculinidade do professor que parecia a ponto de explodir.
- Isso, anjo. Agora desenrola. - Ele soltava o ar em lufadas quentes a
cada novo centímetro coberto, e teve vontade de pedir que ela tirasse e colocasse
de novo infinitas vezes até ele gozar.
Mas não o fez, e, uma vez pronto, pôde finalmente posicionar-se para se
enterrar no aperto, calor e umidez que Bianca carregava entre as pernas. A glande
forçou o caminho estreito e estava quase cedendo a passagem, quando ele se
lembrou de uma coisa.
- Bianca? - Procurou seus olhos, fortemente fechados com a expectativa, e
recebeu um sussurro incerto em resposta. - Você quer isso, certo? Eu não estou te
forçando a...
- Ai, Theo, só cala a boca e faz amor comigo logo, que eu não aguento
mais! - Esganiçou, desesperada, para o divertimento do mais velho.
- Como quiser, vossa alteza. - Ele brincou e mordeu os lábios antes de
penetrá-la com toda a sua virilidade, como deveria ter feito antes e por todos os
dias de sua vida.
Os grunhidos idênticos não pararam a movimentação, que logo se tornava
sincronizada e ideal para que ambos atingissem seus orgasmos o mais depressa
possível.
Theo entrelaçou seus dedos nos de Bianca acima de sua cabeça, e usava o
outro braço para puxá-la pela cintura para mais perto de seu corpo escorrendo
prazer. Investia com necessidade e com carinho, e, de alguma forma, o fazia
simultaneamente.
Soluço após soluço, Bianca apertou as pernas em volta do quadril do
moreno com força e relaxou o corpo de uma vez em tremeliques espontâneos que
indicavam a intensidade de seu orgasmo, e foi seguida de perto pelo garoto, que
tinha o abdômen contraído involuntariamente e uma gota de suor manchando o
rosto bonito.
Alguns minutos depois, desfazendo-se da proteção usada com um nó, ele
puxou a menina para os seus braços, e, depositando-a na cama de casal que
habitava seu quarto, a abraçou apertado até que ambos estivessem no mais
absoluto sono profundo.
- Bianca Caproni! - Sam gritou do fim do corredor, vindo em sua direção
como se nada no caminho tivesse a capacidade de pará-lo. - Desde quando você
está namorando o queridinho da galera? E porquê raios eu fui o último a saber? -
Continuava gritando, embora agora o fizesse a centímetros do rosto
impressionado da garota.
- Ah... É que... Bem, é. - Ela murmurou, atordoada, sem saber ao certo que
resposta ele esperava receber.
- Você só pode estar de brincadeira com a minha cara! – Grunhiu,
frustrado, batendo as mãos na parede. - Eu me recordo muito bem de você me
dizendo que vocês eram apenas amigos. Que palhaçada é essa agora?
- Olha, não precisa se exaltar, Sam. – Apaziguou, as mãos à frente do
corpo. - Desculpa por não ter te contado, eu só não achei que você se importaria.
- Rebateu, esperta, sem se deixar levar pelo jeito agressivo do menino. Já estava
preparada para uma reação incoerente como aquela, Theo a havia preparado.
- Não me importaria? Eu sou ou não sou seu melhor amigo? Você ao
menos me considera parte da sua vida ainda? - Espremeu os olhos, jogando pelo
emocional, mas Bianca estava longe de ser a mesma menina ingênua que cairia
neste tipo de cena.
- Ah, não. Não venha colocar a culpa em mim. Se alguém aqui se afastou
quando começou a namorar foi você, eu só segui os limites que você impôs. - Deu
de ombros, indiferente, embora o coração ainda despontasse uma dorzinha chata
por lembrar o que havia passado.
- Biba! - Reclamou, ultrajado. - O que você está dizendo? Ele já está te
envenenando contra mim? – Tinha as sobrancelhas muito unidas e as mãos nos
quadris, na defensiva.
- Sam, só para. Eu estou feliz, está bem? Se você é meu amigo mesmo,
deveria estar feliz por mim também. - Ela disse, cansada de todo o tom
melodramático dado à conversa. Então, percebeu que sua fala estava definitiva
demais, e preocupou-se de não afastar o loiro mais do que já havia feito. - Quer
dizer... A não ser que tenha algum motivo que te impeça de aceitar meu
relacionamento. - Jogou verde, simultaneamente dando abertura para que ele
revelasse um suposto sentimento que nutria por ela, e deixando claro que não
haviam reais motivos para ele se opor ao seu namoro.
- Não, não... - Murmurou, contrariado. - Eu só não acho ele a melhor
pessoa para você. Por que, convenhamos, vocês não têm nada em comum, e até
algumas semanas atrás ele sequer sabia quem você era. - "Bem, você sabia, e isso
não te fez me dar mais carinho e atenção, não é mesmo?", ela pensou.
- Temos mais em comum do que você imagina. Olha, não quero ficar
discutindo os pormenores disso. Só... Aceite que dói menos. - Disparou acenando
graciosamente e saindo rebolando levemente após depositar um suave beijo
cálido na bochecha do amigo em direção ao outro extremo do corredor, deixando-
o incrédulo e sem saber que trem o atropelou.

Entrou no carro como um furacão e debruçou-se sobre o garoto até ter a


boca dele na sua.
Não havia qualquer explicação racional que justificasse as atitudes de
Bianca para cima do professor, mas ela se sentia poderosa e amaciada como
nunca, e queria agradecê-lo por aquilo de alguma maneira.
Talvez aquilo tivesse algo a ver com as reclamações injuriadas de um
certo melhor amigo sobre um relacionamento de mentirinha que parecia dia após
dia mais real. Talvez seguisse a linha do carinho sem precedentes trocado entre
eles a todo momento, e da luxúria fervorosa que batia às portas quando estavam
juntos. Ou talvez ela só quisesse beijá-lo até o entardecer e nenhum outro motivo
precisasse se apresentar por trás. Theo não hesitava em responder à altura,
também não lhe importando as motivações da menina.
E assim os minutos se passaram, ele segurando seu rosto delicado nas
mãos grandes enquanto os cabelos de Bianca faziam um carinho engraçado no
antebraço descoberto do garoto. Só se separaram quando o ar acabou, os lábios
estavam dormentes e sorrisos bobos acompanhados de olhares ternos eram
trocados.
Bianca sentou direito em seu lugar, colocaram os cintos e foram para o
QG.

- O que a gente vai almoçar hoje, Theo? - Perguntou, enfiando a cabeça


dentro da geladeira enquanto o outro ainda se ocupava de esvaziar os bolsos da
calça na bancada.
- Vou te dar alguns minutos para perceber sozinha que está me
escravizando pela barriga. - Ele comentou, distraído, a fazendo dar risada.
- A culpa não é minha se você é todo prendado quando eu queimo até
água. - Rebateu, como quem não quer nada, entortando o pé de forma inocente.
- É, peste, mas hoje você quem vai cozinhar pra mim. - Theo apertou seu
nariz, passando pela garota para alcançar um avental listrado de verde e branco, o
qual ele logo passou pelo pescoço dela, amarrando nas costas e finalizando com
um tapinha singelo na bunda.
- Você não estava aqui há um segundo atrás? Eu não sei cozinhar, Theo. –
Explicou com obviedade.
- E eu não sei Física, mas aprendi mesmo assim. Anda, pode pegar o pote
de tampa azul, a abobrinha, e o tomate na geladeira, e vamos começar. - Ele
começou a ditar, assistindo-a agir conforme sua fala, embora ainda sem entender
muita coisa.
- O que nós vamos fazer? - Perguntou, equilibrando os ingredientes nos
braços finos, exigindo um pequeno malabarismo que já era complicado demais
sem levar em conta sua afinidade com o desastre.
- Começamos com uma omelete incrementada e eu vou te dar lição de
casa. Quero ver chegar o dia em que eu vou ficar sentadinho ali na bancada, como
você sempre faz, só observando você balançar essa bunda de um lado pro outro
na minha cozinha. - Ele sorriu descarado, ajudando-a a colocar tudo na pia e
aproveitando para pegar uma grande frigideira e uma espátula de plástico que não
esquentaria as mãos da menor.
- Mas é um folgado... - Ela reclamou de brincadeira, fazendo-se de
emburrada.
- Folgado? Menina, olha como fala comigo... - Apertou sua barriga,
fazendo cócegas.
- Tudo bem, então! - Ela deu de ombros, se esquivando depois da risada
espontânea. - Você vai ver, vou te conquistar pelo estômago. Depois não reclame!
- Avisou, as sobrancelhas erguidas e os lábios repuxados, como se dissesse "é
inevitável".
- Estômago... - Theo murmurou com deboche. - Como se eu já não
estivesse fisgado por todo o resto...
O comentário foi impensado e tão baixo que quase não se podia ouvi-lo.
Mas isso não mudou o peso que as palavras causaram no ambiente. O garoto
franziu o rosto, como se tivesse ouvido outra pessoa falando e estranhasse a
junção de sílabas, que lhe pareciam chinês. Bianca olhou imediatamente para ele,
que não correspondeu o olhar, com a boca entreaberta no meio do caminho entre
completamente impressionada e risonha, em duas versões de si mesma que
poderiam interpretar aquilo como uma gracinha, uma piada carinhosa, ou a mais
absoluta demonstração de afeto que já havia ouvido na vida.
Motivada pela força da gravidade, a espátula, antes apoiada
precariamente na caixa de ovos, cedeu e caiu ao fundo da pia. O barulho forçou
uma reação do casal, que saiu do transe momentâneo, e ali um pacto foi feito
silenciosamente de não tocar mais no assunto. Pelo menos, não naquele dia.
Bateu as mãos e as esfregou ansioso pela aula que daria a seguir. Theo
tinha pego gosto pela coisa, não só pela aluna exemplar que tinha, mas por que se
divertia em pensar meticulosamente cada ensinamento e pesar cada parâmetro de
relacionamentos diversos que pudessem elevar a qualidade de suas falas e
atividades propostas.
Havia ensinado Bianca a cozinhar já como uma preview daquela sexta
aula, e tinha se animado bastante depois de toda a movimentação envolvida em
um simples auxílio que prestou a ela na hora de virar a bendita omelete. Bianca
temia estraçalhar a massa de ovos sozinha, e ele precisou se aproximar por trás
dela para ajudar com o manuseio da espátula. O mero encostar de seus corpos,
próximos ao calor do fogão e tão sincronizados para poder executar corretamente
a virada, já o havia preparado para mais uma sessão de flerte e excitação, que era
consequência óbvia e natural à o que aquela aula em específico tinha guardado.
Estavam sentados à beira da piscina no que parecia ser um dia quente
demais para se enfurnar na casa de madeira, e Whisky encolhia-se em uma
sombra minúscula perto da palmeira, os observando por entre os montes de pelo e
olhos castanhos em fendas, desejando finalmente se fechar.
- Sexta aula, huh? - Ela começou. - E eu já tive mais tarefa e dificuldade
nesse “curso” do que em um ano de matemática. – Observou, sinalizando as aspas
com os dedos.
- Algumas matérias são mais difíceis pra uns, mais fáceis para outros... -
Outch! - Theo reclamou quando ela lhe deu um tapa solto no braço enquanto ria.
- Pode parar de me zuar, engraçadinho. - Avisou, o dedo em riste. - Eu
ainda vou ser pós-graduada nesse assunto. - Empinou a cabeça, fazendo a metida.
- Não duvido. - Theo levantou as mãos em rendição, ainda carregando um
sorriso mole no rosto bonito.
- Sei. - Espremeu os olhos, deixando claro que o jeito engraçadinho do
professor não a enganava. - E sobre o que é a aula hoje? - Perguntou, não mais
enrolando no assunto. Ele logo endireitou a postura e molhou os lábios, preparado
para começar o monólogo explicativo.
- Bom... As pessoas se traem o tempo inteiro. Seja com o desconhecido na
rua com quem você tem um pensamento caliente mais tarde, seja naquele suspiro
de cobiça vendo um casal de dar inveja passar perto de você, seja em um sonho
incontrolável, ou mesmo fisicamente com outra pessoa. - Introduziu,
exemplificando ao máximo, pois queria deixar claro que seu foco não era a
simples infidelidade. - A aula de hoje é sobre como manter um cara contigo. Eu
vou te ensinar como ser o centro dos pensamentos desse cara, como você pode se
inserir em todos os âmbitos da vida dele de forma que seja impensável para ele
olhar para o lado ou querer se livrar de você. Vamos tornar sua companhia tão
absolutamente necessária e deliciosa que sua falta será sentida a todo momento,
de forma que qualquer vontade que surja na cabeça do sujeito orbite em torno de
estar perto de você novamente.
- Uau! - Assobiou, impressionada. - Não sabia que isso era possível ou
sequer "ensinável". Você tem mesmo talento pra coisa, devia ser essas tias donas
de site de relacionamento em uma vida passada. - Comentou, achando graça.
- É? E o que eu tô fazendo, juntando minha cliente Bianca com seu par
perfeito, Sam? Porque eu vejo várias falhas nesse sistema, a começar pelo
critério de união dos casais. O capeta e o anjo, juntos? As variáveis estão todas
alteradas com certeza! - Arregalou os olhos, como se fosse um problema grave.
Bianca deu uma risada contida, puxando a barra da camiseta dele em um aviso
mudo de que queria desfocar do assunto.
- Tá, Querubim, e como eu consigo um A+ nesse módulo?
- Não é óbvio? - Perguntou, se fazendo de sonso. Estava especialmente
cômico naquela tarde. - Como se consegue tudo nessa vida: Dormindo com o
superior! - Levantou os braços, enfatizando seu ponto. Bianca engasgou em um
riso contínuo que fez seus músculos da barriga doerem pedindo descanso. - No
caso, eu. Se não tiver ficado claro. - Piscou, malandro, e ela balançou a cabeça
como se não acreditasse em sua audácia. - Ok, agora falando sério. Para
conseguir tudo isso, você precisa se tornar um desafio constante. Ser provocativa,
indisponível, misteriosa, mandar alguns sexts...
- Como assim?
- Responder a pessoa na hora, atender o telefone no primeiro toque,
disponibilizar muito tempo para estar com ela, como se não tivesse outros
compromissos, são gentilezas das quais muitos abrem mão para passar a
mensagem de "eu não preciso de você, então, se quiser, corra atrás de mim". Não
ser grudenta e parecer disputada são dois adjetivos que movem montanhas no que
diz respeito ao interesse do sexo oposto.
- Eu preciso não tornar a pessoa minha prioridade, é isso?
- Exatamente. O mesmo se aplica quando for dar informações sobre você.
É melhor deixá-lo sempre que possível no escuro, tentando descobrir mais,
tentando te desvendar, te entender, do que simplesmente dar tudo de mão beijada,
fácil demais. Como eu disse, precisa ser um desafio, inconstante, volátil, até. Mas
é tudo uma questão de feeling. Não é para ser sempre indisponível. Funciona mais
ou menos como pescaria: Você dá corda quando precisa, e puxa o anzol quando
sente que é a hora. Então, você dá uma leve esnobada no alvo, e quando sentir que
ele está a dois passos de reclamar ou desistir, mostra-se completamente na dele,
embora por um curto período de tempo. Isso vai mostrá-lo que precisa se dedicar
para te ter ao seu lado, entende?
- Acho que sim. Mas, seguindo essa lógica, eu não estou sendo muito
grudenta com você?
- Linda, nós somos diferentes. Não existe nada de convencional que se
aplique ao nosso relacionamento, e você não deve se preocupar com ele. - A
menina preferiu não demonstrar, mas a palavra "relacionamento" saindo da boca
de Theo para se referir ao que tinham, a fazia sentir-se muito, muito bem. Por
mais que não houvesse tanto significado por trás da mesma no dicionário... Ainda
significava que eles tinham alguma coisa. Paralelamente, Theo se alegrava com a
noção de que ela se preocupava em perdê-lo, e que estava direcionando seus
ensinamentos não apenas para o abstrato ou para o loiro aguado, mas para a
dinâmica entre eles dois também.
- Tudo bem, então. E o que é essa última palavra que você mencionou?
Sexts...?
- São mensagens com teor sensual ou sexual. É um curto conjunto de frases
que deixam algo no ar ou provocam sensações em quem receber, normalmente
rondando quatro bases: o que você quer fazer com a pessoa, o que quer que ela
faça com você, o que vai fazer consigo mesma, e o que quer que ela faça consigo
mesma. São normalmente ações, que brincam com o inesperado, e que podem ser
exploradas muito bem pelo ar inocente que você passa.
- Acho que eu não tô conseguindo entender muito bem, Theo.
- Vou te dar um exemplo, mas antes você vai ler um artigo muito bom a
respeito no acessorestrito.com sobre sexting para entender melhor, pode ser?
- Mais lição de casa? – Ergueu as sobrancelhas, tentando conter o sorrido
arteiro pela provocação.
- Não finja que não adora praticar o que eu mando em casa. É o ponto alto
do seu dia que eu sei! - Ele provocou segurando o rosto de Bianca pelo queixo e
balançando um pouco.
- Tá, tá. Convencido. - Ralhou fugindo o aperto dele. - É pra eu pegar meu
celular?
- Não, menina. Já disse que sexting trabalha com o inesperado. Vou te
mandar alguns só quando não estiver esperando.
- Mas agora que me avisou eu vou estar esperando. – Comentou com
obviedade.
- Bianca! Para de pirraça, garota. - Ele riu com a teimosia da menor e ela
repuxou os lábios como se confirmasse que não tinha solução. - Tudo bem,
voltando à aula então. Outra coisa que é importante é você se tornar o escape do
cara. Então quando ele está estressado, teve um dia intenso e quer espairecer,
você ser o refúgio para onde ele corre. Isso o manterá do seu lado por mais
tempo, te fará essencial. É um paradoxo: Ao mesmo tempo que você precisa ser a
fonte de loucura dele, a pessoa que o tirará o sono, que o desafiará, deverá ser o
apoio onde ele se estabiliza, a droga da qual é dependente.
- Entendi, mas como eu ajudo ele a desestressar?
- Você escuta seus problemas e arranja uma forma de amenizá-los. Às
vezes é legal fazer o prato favorito, uma piada, uma massagem. Coisas simples
que podem fazer toda a diferença.
- Eu não sei fazer massagem, Theo. Sou horrível nisso!
- Bom, então eu vou ter que te ensinar, não é mesmo? - Piscou, cheio de
más intenções.

Deitada de bruços sobre grandes almofadas no chão da sala de móveis


afastados, Bianca esperava o professor voltar do quarto, onde tinha ido buscar
algum óleo com essência relaxante comprado especificamente para massagem.
Pensava em sobre como não podia reclamar da vida. Tudo bem, o cara por quem
era apaixonada não lhe retribuía, mas ela estava prestes a receber uma massagem
profissional do cara mais gostoso do colégio e uma coisa tinha que anular a
outra... Certo?
- Não, senhora. Pode ir tirando a roupa, se ela chegar em casa toda
lambuzada de creme a sua mãe vai ter uma síncope e já estamos fartos dos surtos
dela por um bom tempo. - Theo disse, ranzinza, ao observar a garota com apenas
a blusa erguida até as omoplatas. Aquilo não bastaria, e além do mais ele queria
performar uma massagem de corpo inteiro. - Aqui, se cubra com essa toalha e
volte a deitar de bruços. Eu vou escolher uma música para tocar enquanto isso.
Theo foi até a estante e fuçou entre as centenas de vinis que colecionava,
tentando achar algum que contribuísse pro clima relaxante que estava tentando
criar, enquanto Bianca despia-se timidamente. Ela confiava que ele não fosse
olhar, mas não sabia se isso era gratificante ou decepcionante.
- Como eu coloco a toalha pra ela não atrapalhar também? - Perguntou,
sem saber se amarrava no busto ou nos quadris.
- Você deita primeiro e coloca a toalha por cima, como um cobertor. Eu
dobro ela até estar fora do caminho. - Ele ditou, a cabeça levemente de lado para
que a voz se sobressaísse por cima do ombro. Bianca concordou e ia fazer o que
foi instruída, e ele ia voltar a cruel escolha musical, não fosse os seus olhos se
encontrando pelo reflexo da televisão.
Não durou mais que alguns segundos, enquanto ela o olhava com os lábios
entreabertos em expectativa e apreensão, e ele se punia mentalmente por passear
a visão pelo corpo esbelto e exposto da menor. Logo, voltavam às suas atividades
como se nada tivesse acontecido, já acostumados demais com os momentos
íntimos avassaladores para se manifestar com qualquer objeção.
- Pronta? - Indagou ao ouvir o som da garota se acomodando nas imensas
almofadas. A música já tomava o ambiente de forma tranquilizadora e eletrizante
ao mesmo tempo.
- Acho que sim. - Bianca respondeu, e logo Theo estava ao seu lado,
observando as costas parcialmente nuas, que tinham apenas uma toalha branca e
felpuda cobrindo do meio até a parte de trás dos joelhos.
Com as pontas dos dedos, Theo segurou a borda da toalha e dobrou uma e
outra vez, até que esta não fosse mais do que uma curta faixa branca escondendo a
bunda da garota. Era tanta pele à disposição agora, que lhe parecia difícil
concentrar-se nos movimentos que devia fazer nos músculos tensos da menina.
Jogou uma boa porção de óleo pelo cumprimento da coluna, e o espalhou
com os dedos pelos ombros e pela lombar, pressionando devagar e gentilmente
um ou outro ponto. Passou a desenhar o contorno da cintura e circular cada
vértebra de forma a obrigar o corpo pequeno a se soltar e receber o carinho
propriamente. Bianca, que tinha a cabeça de lado apoiada nos braços e o cabelo
preso para não cair no creme, fechou os olhos para sentir tudo melhor.
Apertou e empurrou os ombros dela até senti-los mais largados macios,
segurou o nervo do pescoço com o mesmo propósito, e passeou as mãos quentes e
suaves por toda a extensão das costas da garota por tanto tempo quanto o
necessário para ver os poros dela todos arrepiados.
Então, deu-se por vencido e resolveu descer a massagem para as pernas
dela.
Mais uma boa quantia de óleo foi espalhada por ali, entre cócegas na sola
do pé e apertões de palma inteira na batata da perna e coxa inferior. Theo, que
sempre achou relativamente chato fazer massagem nos outros, se divertia com as
reações da pequena e com a possibilidade de ter seu corpo sedoso nas mãos sem
restrições.
Chegou à altura do ciático, entre o topo das coxas e a parte superior do
quadril, e o percebeu muito tensionado, provavelmente pela força que ela estava
fazendo ultimamente para manter a postura correta que ele havia lhe ensinado.
Quis seguir o caminho do nervo com os polegares, afim de relaxá-lo, e aquilo
exigia percorrer a região coberta pela toalha. Sem pensar duas vezes, a retirou da
frente para fazer o trabalho direito.
Bianca sobressaltou-se brevemente, sentindo a bunda exposta demais, mas
logo os dedos quentes e gostosos de Theo estavam ali, massageando cada
centímetro da carne dolorida, soando tão bons que parecia impossível fazer algo
a respeito da recuperação da toalha perdida. Ela, portanto, relaxou para sentir
melhor cada segundo daquela aula maravilhosa.
Uma vez tendo amaciado o ciático abusado, as mãos de Theo pareceram
criar vida própria e passear pela região desimpedidas, segurando porções
generosas da bunda da garota, e afastando as nádegas uma da outra, permitindo
um olhar mais cuidadoso sobre sua feminilidade lisa e rosada. O professor sentiu
seu próprio sexo se manifestar com a imagem, pressionando os tecidos da calça
de moletom como se também quisesse massageá-la com a cabeça. Ele puxou as
costuras para frente discretamente, tentando dar mais espaço ao amigo, que só
reclamou mais da atenção insuficiente que estava ganhando.
Colocou as mãos no interior das coxas fartas de Bianca e em movimentos
repetitivos massageou a área, cada vez mais afastando uma perna da outra sem
querer e dando mais visibilidade para o que havia ali no meio. A provocação,
sem intenção, proporcionou longas ondas de prazer para a menina, que, sem se
privar, emitiu um gemidinho suplicante em direção ao braço dobrado que agora
escondia sua cabeça.
Theo lambeu os lábios, tentado, e já ia dar a massagem como encerrada
quando observou um brilho característico de umidez reluzir da intimidade da
menor, e a percepção de sua correspondente excitação bastou para que enfiasse a
mão ali sem rodeios.
Encaixou o indicador e o mindinho no cumprimento da virilha dela, o
pulso apoiado na bunda, e a penetrou com os dedos do meio e anelar. Bianca
arqueou as costas, sem ar, e se apoiou nos antebraços para recuperar-se.
O movimento de vai-e-vem teve início, no qual Theo só se preocupava em
aumentar a velocidade e em passear a outra mão por todos os lugares que lhe
dava vontade, desde os cabelos macios de Bianca, seu seio agora acessível, a
nádega contraída de prazer ou mesmo o próprio membro, cada vez mais ansioso
por sair das roupas que lhe escondiam.
Os dedos entravam fortes e saíam embebidos no seu líquido, lubrificados
e quentes, e tão logo estavam na superfície, já emergiam dentro dela novamente,
em pancadas constantes que arrancavam suspiros e soluços irrefreáveis de
Bianca.
Inundada de prazer, a menina se jogou novamente nas almofadas, dessa
vez esticando o braço para trás até segurar o cós elástico da calça de Theo. Puxou
para baixo com os dedos fracos, e acariciou o mastro ereto por cima da boxer, em
retribuição ao que estava sentindo.
Em um rugido, ele afastou sua mão e cessou os movimentos que fazia,
ajeitando seu quadril mais alto, forçando ela a se apoiar nos joelhos. Então,
revirou a carteira sobre a mesa atrás de um preservativo, e subiu ele próprio nas
almofadas. Uma vez protegido e com as calças arriadas de vez, Theo inspirou
fundo, segurou uma nádega em cada mão e se enterrou no calor e umidade que a
menina trazia entre as pernas.
Não houveram perguntas dessa vez, uma vez que os gemidos e arranhões à
capa das almofadas já lhe diziam tudo que precisava saber.
Bianca queria tanto quanto ele, mesmo em uma posição tão safada quanto
aquela por trás, e o mergulho no mundo de prazer parecia inevitável.
Transaram fundo e gostoso, até o fôlego lhes faltar e o orgasmo bater à
porta. E dormiram ofegantes embolados entre almofadas, toalhas e muito óleo
corporal, ao som calmo de algum álbum antigo do Oasis.
Theo sentia que ia morrer.
Era praticamente incontestável para ele que, se tédio matasse, ele estaria
com os minutos contados a caminho de algum espaço celestial alternativo.
Alternativo, pois era necessário ter acesso aos prazeres da carne e à Bianca, que
era um anjo, portanto céu e inferno juntos. Isso se ele acreditasse em toda essa
história.
Mas a morte iminente não era questão de credo. Ele quase podia ver a luz.
Afinal, não existia nada no mundo mais chato do que aquelas palestras que
o diretor inventava de dar para todos os alunos do colegial de vez em quando.
De "saúde sexual" a filmes sobre o Steve Jobs, o tema das palestras
variava absurdamente, sempre motivadas por algum artigo besta que alguém da
coordenação havia lido sobre pedagogia.
Era tão bizarramente inútil, que metade dos alunos considerava cortar os
pulsos, enquanto a outra metade fingia doenças terminais para pelo menos matar
algum tempo na enfermaria.
Theo quase acreditava que nenhum fingimento seria necessário, se
continuasse ouvindo a voz estridente da senhora Maple discorrer sobre as
diferentes variações e significados da palavra "bem-sucedido".
Percorreu os olhos pelas incontáveis fileiras de cadeiras do auditório,
procurando achar uma em especial.
Bianca parecia tão alheia ao assunto tratado quanto ele próprio, sentada
com sua sala do segundo ano conforme ordenado, enquanto brincava com os
lábios, esboçando caretas e biquinhos que, como tudo nela, só a deixavam mais
adorável.
Theo se pegou sorrindo sem querer, só de observá-la, e uma ideia cruzou
seu pensamento. Discretamente, pegou o celular do bolso da calça e diminuiu o
brilho da tela até que a luz dele aceso passasse desapercebida. Então, achou
Bianca no Whastapp, com sua foto de perfil espontânea e sorridente tirada por ele
próprio, e resolveu brincar com o juízo da menina.
"Se continuar mexendo os lábios assim, não terá nada que me impeça de ir
até aí tomar eles pra mim.", mandou, observando quando o celular dela tremeu em
seu colo, onde estava, e sua face ruborizada quando leu a mensagem.
"Na verdade, pensando melhor, acho que só te pegar na frente de todas
essas pessoas não é suficiente. Vou precisar te arrastar pra um canto e arrancar
suas roupas uma por uma.", enviou em seguida, ainda de olho na menor, que
pareceu segurar o ar.
"Você tá falando sério?", ela respondeu, e ele teve que conter uma risada
pela inocência da garota.
"Tão sério quanto a noite passada. Ainda sinto seu cheio no meu corpo.
Você pensou em mim antes de dormir?". Bianca se revirou na cadeira, parecendo
inquieta, e mordeu o lábio inferior que parecia teimar em ficar escancarado.
"Como se eu tivesse a opção de não pensar.", Bianca respondeu, e ele
quase se levantou para ir abraçá-la.
"É? E o que você fez quando pensou em mim?", provocou, maroto.
"O que eu sempre faço. Minhas mãos parecem criar vida própria e
escorregam cada vez mais para baixo...". A garota não podia estar mais vermelha
nem se quisesse. Theo sabia que falar sacanagem não era a coisa mais fácil do
mundo pra ela, mas a julgar pelas reações que estava causando nele, parecia estar
se saindo muito bem.
"Minha menina safada se tocou pensando no professor? Já perdi a conta
de quantas vezes o contrário aconteceu.". Bianca engoliu em seco e olhou em
volta antes de responder.
"Theo, para. Não vou conseguir prestar atenção na palestra desse jeito."
"Por que, anjo? Vai estar muito ocupada pensando no pau do seu professor
dentro de você?"
"Para, por favor. Eu já to ficando molhada.". O gosto de vitória se
espalhou pela boca do mais velho, que teve que fincar os pés no chão para não
levantar e ir atrás dela naquele mesmo instante.
"Ótimo, porque eu já to duro feito aço pela sua bocetinha. Quando a gente
sair daqui você não me escapa."
"O que você vai fazer comigo?". Ah, Bianca, o que eu não vou fazer com
você?, ele se perguntou, a visão borrada de possibilidades.
"Vou enfiar a mão no meio das tuas pernas e esfregar até te ouvir gritar.
Você vai ficar tão encharcada que ela vai sair pingando. E aí, sabe o que eu vou
fazer?"
"... O que?"
"Te comer como se não houvesse amanhã. Até você ficar marcada e eu
não conseguir mais andar."
"Theo, eu não to conseguindo respirar."
"Bem-vinda ao sexting, linda."
- Theo Versolati! Aquilo não se faz! - Ralhou, com sua estatura mínima e
as mãos em punhos na cintura, mostrando o quão brava ela estava.
- Desculpa, anjo... Mas eu não me arrependo nem por um segundo de ter te
deixado excitada e envergonhada na frente de todo mundo. - Ele disse,
displicente, rindo da cara da menor.
- Você é impossível! - Ela rosnou desafinado, pressionando os lábios.
Tinha vontade de dar risada da situação como um todo, e só não o fazia para não
perder a pose.
- Tá, tá, tá. - Theo fez pouco caso, passando os braços em volta dela e a
conduzindo para o carro. A palestra havia acabado finalmente e eles tinham
aquela tarde livre para terminar os trabalhos finais, cujos deadlines de entrega se
aproximavam. - Você quer que eu te deixe na casa da menina lá pra fazer o
trabalho de literatura?
- A menina lá tem nome, espertinho. - Cerrou os olhos, teimosa. - E sim.
- Ai, senhorita correta, a menina lá nunca olhou na sua cara nem falou
comigo antes de ser designada para esse trabalho com você, então eu não tenho a
obrigação de decorar o nome da sujeita.
- Eu só não vou dizer que você é impossível de novo, porque já gastei
minha cota de reclamação do dia.
- Ainda bem que você sabe. - Exclamou, rindo, enquanto Bianca revirava
os olhos com o jeito moleque do professor. - E que horas eu te busco?
- Eu tô me sentindo com chofer particular. - Comentou, apenas para
provocar a carranca óbvia na face do menino. - A gente se fala, Jarbas.

Depois de deixar Bianca na casa da colega que, mesmo se esforçando, ele


não conseguia lembrar o nome, Theo foi para a sua própria, matar o resto do
tempo. Por estar no terceiro colegial, os professores aliviavam bem a cota de
trabalhos e lições de casa para que os alunos tivessem tempo para estudar para o
vestibular.
Vestibular esse pro qual ele tinha que se inscrever logo, se ao menos
conseguisse decidir quais prestar.
Abriu o notebook e olhou a url em branco do navegador esperando que
uma intervenção divina lhe dissesse em qual site entrar primeiro. Sabia que
precisava se inscrever para a faculdade que a mãe e o padrasto tanto queriam. E
agora a ideia não lhe parecia mais tão odiável depois de saber das mil
possibilidades que teria de fazer a diferença mesmo ali, mostradas a ele por
Bianca e seus infinitos panfletos. Direito, no fim das contas, não precisava ser um
curso direcionado a absolver bandidos. Se ele manejasse direito suas escolhas,
poderia usar sua cota pró-bono e fazer serviços gratuitos a todo tipo de gente
injustiçada por grandes empresas ou pelo próprio governo.
Mas ainda havia uma pequena faísca de esperança em seu ser que lhe
dizia que a faculdade dos sonhos de psicologia não precisava ser deixada de
lado.
Abriu o site da grande universidade e preencheu os dados conforme o
pedido. Na hora de escolha do curso, descobriu que poderia colocar duas opções.
As instruções lhe davam como exemplo colocar o mesmo curso em períodos
diferentes, medicina diurno e medicina vespertino, no caso. Mas ele tinha outros
planos. Selecionou Direito Diurno na primeira caixa, e reservou a segunda para
Psicologia Noturno. Se não passasse no primeiro curso, lidaria com isso depois.
Então, procurou se inscrever em outros dois vestibulares, em uma
faculdade cara que permitia dupla graduação, e em outra pública com horários de
curso reduzidos, que lhe permitissem fazer voluntariado junto, no mínimo.
Satisfeito com suas decisões, imprimiu todos os três boletos e atravessou
o jardim para a casa grande, em busca da progenitora ou seu marido.
Os encontrou no escritório, trabalhando, como sempre, em cima de pilhas
e mais pilhas de extratos financeiros e cada um em um telefone diferente rosnando
ordens pouco educadas para quem quer que estivesse do outro lado da linha.
Quando o viram parado no batente, desligaram sem mais do que um "já te
retorno", e esperaram o filho falar o que o havia trazido até ali.
- Eu tô com os boletos dos vestibulares pra vocês pagarem. Me inscrevi
em três, e acho que vocês vão aprovar as instituições, são todas renomadas. - O
padrasto pegou os papéis das mãos do enteado, e abriu um sorriso ao identificar o
curso de direito em todos eles.
- Finalmente você nos escutou, filho. Você dará um excelente advogado, e
terá uma gama de oportunidades ímpar para seguir carreira com os contatos que
temos.
- É, eu acabei indo no curso que vocês queriam... Mas não quero nenhuma
ajuda. Quero que prometam me deixar fazer isso do meu jeito. Eu já cedi
demais... Já abri mão dos meus sonhos para perseguir o que vocês acham ser
melhor para mim. Agora eu quero ter o direito de conquistar meu caminho
sozinho, sem empurrões.
- Mas, Theo...
- Sem mais. Eu sei que vocês querem o melhor pra mim. Tá? Eu entendo
isso. Mas eu também quero ser feliz, e não vou conseguir sê-lo se tiver tirando
bandidos da cadeia e defendendo corruptos no cartório. E sei que se for pelos
contatos de vocês, é isso que eu vou acabar fazendo. - O padrasto já estava
levantado, pronto para argumentar e reclamar, fazer o enteado ouvir até que
deixasse a sala fazendo exatamente o que ele queria, mas a senhora Versolati tinha
outros planos. Escutou o discurso do filho como um espelho da revolta que tinha
ouvido da boca de Bianca há semanas, e a consciência pesou seu instinto materno.
Não podia obrigar o menino a ser como ela, não podia fazê-lo abrir mão do
coração enorme com o qual nasceu, mesmo que ela própria tivesse princípios tão
diferentes. Querendo ou não, ele havia sido criado pelo avô, e tinha ambições que
ela não compreendia. Via em todos os seus atos - morar sozinho na casa dos
fundos, quase nunca falar com ela ou com o padrasto, as notas baixas e a
insatisfação pesando os ombros fortes - um grito de ajuda por se sentir
enclausurado na própria vida, sem poder fazer suas próprias escolhas. Já tinha
estragado um casamento... Não podia estragar o filho também.
Por mais que odiasse admitir, o discurso apaixonado da amiga do filho
tinha ecoado em sua cabeça por noites a fio. Era a hora de mostrar que estava do
lado dele, que o apoiaria. Estava mais do que na hora de ser sua mãe.
- Tudo bem, Theo. Como você quiser. - Ela se adiantou, falando por cima
das interjeições do marido. - Se você precisar de ajuda, vai falar com a gente,
certo? - Theo parecia confuso e ser norte pelo apoio inesperado da mãe. Estava
preparado para argumentar mais um bom tanto de horas, mas precisou se contentar
com um gaguejar positivo, e se retirou do escritório ainda sem saber o que
infernos tinha acontecido.
"Acho que a minha mãe está com alguma doença terminal. Ela acabou de
concordar com algo que eu falei sobre o meu futuro.", mandou para Bianca,
voltando para a casa de madeira. Whisky dormia encostado no sofá e só se deu ao
trabalho de levantar a cabeça, antes do dono se jogar na poltrona a sua diagonal.
"Ela mudou de ideia então? Fico feliz. Ela não tinha reagido bem da vez
que conversamos.", a resposta veio quase imediata, e desencadeou uma série de
dúvidas na cabeça do mais velho.
"Que vez? Por que eu não estou sabendo disso?". Bianca se deu um tapa
na testa ao lembrar que não havia contado ao professor do encontro explosivo que
teve com a mãe dele. Estava tão acostumada a ele saber todos os detalhes do seu
dia-a-dia que a informação acabou escapando nas mensagens.
"Ah... Uma vez que eu fui aí estudar com você, acabei encontrando com
ela. Não foi nada de mais.". O texto gritava aos dois que havia sido algo "de
mais" sim. E Theo só pode se sentir agraciado de saber que ela provavelmente
tinha o defendido para a mãe, e que, consequentemente, em algum nível, era a
responsável pela mudança positiva nas atitudes da progenitora.
Sentiu a necessidade de retribuir imediatamente a gentileza, e já sabia
exatamente como fazê-lo. Mandou mais uma mensagem para Bianca perguntando,
como quem não quer nada, onde o pai dela estava morando atualmente. Muito
distraída com o trabalho que fazia e que estava em fase de finalização, ela o
respondeu sem fazer maiores questionamentos, e Theo pegou o carro rumo ao
endereço obtido.

Com o óculos escuros no rosto e escondido dentro do carro de insufilme,


Theo estacionou a alguns metros da bonita casa com portões de ferro e ficou
observando, de tocaia, o movimento. Havia um carro tipicamente feminino
estacionado na garagem, e ele conseguiu escutar vozes, embora sem distinguir
precisamente o que era dito ou quantas eram.
Não foi até 50 minutos depois que conseguiu observar, pela janela ao lado
da porta dupla, uma garota alguns anos mais velha que ele dando comida a um
simpático menininho que não podia ter mais de três anos. Por um momento, achou
estar na casa errada. O pai de Bianca não podia ter uma filha mais velha que ela,
mesmo que tivesse se casado novamente, a não ser que tenha traído a mãe dela
desde muito antes. Também não poderia estar casado com alguém tão novo. Se
uma dessas duas possibilidades era a certa, ele não devia merecer ter Bianca
novamente em sua vida.
Estava a um passo de desistir daquela empreitada, quando viu, ao fundo
da cena de alimentação, uma senhora de uns 40 anos falando ao telefone, enquanto
olhava com carinho para a mesa de jantar. "Bingo", pensou, "aquela deve ser a
nova esposa".
A visão ficou prejudicada pela aparição de uma Mercedes prata
adentrando a garagem. "Papai chegou", ele imaginou. Saiu do carro rapidamente e
foi a largas passadas em direção aos portões de ferro. Queria dar uma olhada
mais de perto no homem que havia abandonado sua menina.
Esgueirou-se em volta das trepadeiras que ocupavam os muros do vizinho
bem a tempo de vê-lo grisalho saindo de dentro do carro luxuoso com uma pasta
de couro em mãos. O senhor tinha um sorriso frouxo no rosto e uma mão já
soltando a gravata do pescoço, saindo do nó apertado que aguentou o dia todo.
Mesmo assim, não se virou para o garoto, que deixou a curiosidade tomar conta
até demais, e acabou tropeçando em uma elevação da calçada na ânsia por chegar
mais perto.
Sendo um bairro tranquilo até demais e os portões vazados, o homem
percebeu sua presença superinteressada e virou-se em sua direção.
- Posso ajudar, garoto? - Perguntou, franzindo a testa, mas com ares ainda
amigáveis. Theo não era mal apessoado, não passava insegurança ou ameaça.
- Ah, eu... Você é o senhor Caproni? - Resolveu perguntar de uma vez,
mesmo estando claro agora para ele a incrível semelhança entre as feições do
mais velho e de seu anjo.
- Sim, eu te conheço de algum lugar?
- Não, não... Eu só sou amigo de uma pessoa que costumava lhe conhecer.
- Ele abanou o ar, tornando aquilo menos importante do que era de fato. O senhor
pareceu estudar por alguns segundos o jeito do menino em busca de alguma dica
que denunciasse sua procedência. Encontrou o que queria entre os indícios de sua
idade.
- Você é amigo da Bianca? - Perguntou, afobado, dando vários passos para
se aproximar de Theo, que se impressionou com o imediato interesse
demonstrado.
- É, sou sim.
- Como ela está? Ela fala de mim? Veio com você? - A armadura que Theo
tinha vestido para conversar com o homem imediatamente se desfez ao perceber o
óbvio desespero dele ao tocar no nome da filha. Estava na cara que ele tinha
vontade de se comunicar com ela, e algo ou alguém o tinha impedido de fazê-lo
por todos aqueles anos. Com um sorriso conformado ao perceber que Theo estava
sendo encurralado por suas perguntas, e notando que a filha claramente não estava
por perto, o pai de Bianca respirou fundo e olhou para baixo, se recompondo. -
Me desculpe, eu não estou acostumado a ter notícias dela. Gostaria de entrar para
um café?

Theo foi apresentado a toda a nova família de Augusto, como o senhor


Caproni preferia ser chamado, desde a esposa Bethani, a filha dela de outro
casamento, Sarah, e o pequeno Bernardo, o meio-irmão que Bianca ainda não
conhecia. Todos o receberam com muita simpatia, e logo ele e Augusto estavam
sentados na sala de estar para conversar sobre a menina.
- Eu acho que devo começar com uma explicação, certo? - O mais velho
perguntou, preocupado. Theo deu de ombros, sinalizando para que continuasse. -
Bem, eu me separei da mãe de Bianca há alguns anos. Nosso casamento já tinha
ido para o espaço há um bom tempo, mas foi só nos últimos meses que eu conheci
Bethani. Nosso relacionamento foi completamente platônico, porque eu não me
permitia realmente trair fisicamente a mãe da Bianca, mas conforme eu me vi
apaixonado por ela, precisei pedir a separação.
- E desde então não tentou se comunicar com a sua filha?
- No início, eu ia todos os dias tentar vê-la, ligava, mandava cartas,
flores, chocolates. Mas nunca conseguia falar com ela pessoalmente, e minha ex-
mulher dizia que era porque ela estava brava comigo, me ressentia por ter
deixado elas, e não queria me ver. Tentei respeitar seu espaço, mas a falta de
notícias foi me deixando cada vez mais aflito. Nem meus telefonemas ela atendia!
Com o tempo... Acho que eu cansei de me torturar e resolvi deixar nas mãos dela
nosso reencontro.
- Não passou pela sua cabeça que talvez a mãe dela estivesse
interceptando seu contato?
- Não... Eu sei que ela ficou com muita raiva de mim, mas ela não
descontaria na Bianca. Quando a gente se separou ela lutou com unhas e dentes
comigo para que a filha morasse com ela, então eu não vejo como... - Augusto se
interrompeu, parecendo notar que seu discurso era muito mais decorado, uma
desculpa repetida um milhão de vezes, do que de fato uma explicação satisfatória
do porquê a ex-mulher não faria aquilo. - Você acha que ela seria capaz?
- Eu não acho nada, senhor Augusto. O que eu sei é que sua filha acha que
você não quer saber dela, que se esqueceu da sua existência, e que, mesmo assim,
ela te ama demais.
- Ai meu deus... É claro que não! - Ele parecia arrasado, desolado, e as
rugas de seu rosto estavam tão fundas quanto possíveis, só de pensar no que a
filha estava passando. - Garoto, eu amo a minha filha. – Sentiu a necessidade de
explicitar. - Quero estar com ela sim, sempre. Qualquer motivo que tenha a
convencido do contrário... Está equivocado. – Respirou fundo, vendo que Theo o
olhava com pena, comprando sua fala como verdadeira. Lhe ocorreu que aquela
era a sua melhor chance de consertar as coisas. - Você pode arranjar um encontro
entre nós dois, certo? Pode fazer isso? - Suplicou, no mesmo momento que o
celular de Theo vibrava com a chegada de uma nova mensagem, coincidentemente
do alvo daquela conversa, pedindo que ele fosse buscá-la.
- Considere feito.
- Você está oficialmente estranho. - Bianca observou, enquanto reparava
nos tiques de ansiedade que o menino não conseguiria disfarçar nem se quisesse.
- Claro que não, é coisa da sua cabeça. - Ele dispersou, caminhando lado
a lado com ela pelo jardim que levava ao QG.
- Theo. - Ela reclamou, virando ele para si pelos ombros e inspecionando
o rosto bonito atrás de qualquer indício do motivo de tanta inquietude. - Fala
comigo. O que tá acontecendo? - O garoto bufou o trocou o peso de perna,
olhando para ela insatisfeito. O encontro arranjado com o pai era naquele dia, e
ele queria manter a ciosa toda como surpresa, para que ela fosse livre de
expectativas e rancores. Mas não contava que fosse ser tão impossível guardar um
segredo da sua menina.
- Você vai saber ainda hoje, tudo bem? Só vou te deixar no escuro por
mais algumas horas, eu prometo. - Bianca ainda estava desconfiada, mas vendo
que ele havia se acalmado só de ter revelado a ela que de fato existia um motivo
para deixá-lo tão agitado, deu-se por satisfeita. A curiosidade sem limites gritava
na cabeça, mas era abafada pela própria ansiedade, que não via a hora de eles
terem a aula do dia, a qual Theo havia frisado ser bem importante.
Era um bonito sábado ensolarado, mas o tempo ameno não o tornava
propício ao banho de piscina, uma vez que a dos Versolati não era aquecida.
Mesmo assim, não viam motivos para se enfurnar dentro da casa de madeira com
um dia tão bonito passando do lado de fora.
Theo tinha ido buscar a menina em casa logo pela manhã, e se surpreendeu
quando ela apareceu com uma cesta em mãos, pronta para um piquenique desses
de filme. Ela explicou que estava com vontade de fazer aquilo há algum tempo,
visto o enorme gramado fofo que habitava a casa do garoto, e se desculpou por tê-
lo pego de surpresa com um programa "romântico além da conta". Mas ele logo a
livrou de suas preocupações, garantindo que não havia nada que ele quisesse
fazer mais naquele dia do que exatamente aquilo.
Então, ela estendeu a toalha tipicamente quadriculada que havia trazido
sob o jardim e espalhou os potinhos de frutas frescas pãezinhos pela sua extensão,
enquanto o garoto ia até a geladeira da casa buscar uma belíssima garrafa de
vinho branco, perfeita para a ocasião. Eles se acomodaram sobre a claridade do
sol das 10 horas, ela com as costas apoiadas sobre o peitoral dele, e conversaram
amenidades por quase duas horas, conhecendo e deixando conhecer mais sobre
gostos e preferências musicais e de leitura, ao mesmo tempo que desfrutavam dos
comes e bebes sem restrição.
Riram muito com a interpretação de Bianca de uma música nova da Taylor
Swift cujo clipe tinha uma cena muito parecida com a que estavam vivendo, Blank
Space, na qual ela balançava os cabelos com intensidade e dublava a voz da
cantora que saía do celular. Riram mais ainda quando Theo resolveu dar um show
de Air Guitar, sob o single de mesmo nome do McBusted, e quase derrubou o
pouco que restava da garrada de vinho no processo.
Com o tempo e as brincadeiras - e o doce teor de álcool percorrendo suas
veias -, ambos conseguiram se esquecer dos motivos de agitação que perturbavam
suas cabeças no começo do dia. De alguma forma, aquela parecia ser uma
constante: Se estavam juntos, não havia problema no mundo que merecesse muita
importância.
Até mesmo Whisky resolveu dar as caras depois de algum tempo, mesmo
ainda sendo indiscutivelmente cedo demais para o peludo estar acordado,
levando em conta o quão preguiçoso normalmente era. O potencial carinho que
receberia de Bianca parecia ser motivo o suficiente para tirá-lo da cama antes do
habitual, e os pães frescos que conseguiu roubar quando o casal se distraía, mais
ainda.
Uma sequência de nuvens apareceu eventualmente para tornar o
piquenique menos interessante. Ainda estava longe de chover, mas, sem o sol, o
vento resolveu dar as caras e o interior da casa de madeira pareceu subitamente
irrecusável.
Entraram os três então, e se jogaram no conhecido sofá da sala - Whisky
desceu depois de alguns gritos de Theo, e se recolheu no quarto, chateado de não
poder participar da "farra", sob os risos do dono pela sua cara de "cachorro que
caiu da mudança" e dos protestos de Bianca, que defendia o amigo canino com
unhas e dentes.
- Hoje você vai me dar a sétima aula? - Bianca perguntou depois que os
risos cessaram e o silêncio tomou conta dos dois. Ela tinha a cabeça deitada no
ombro do professor, que acariciava seu quadril com o braço por volta dela.
- Ainda não. Não acabei a sexta. - Ele explicou, repuxando os lábios.
- Não? Mas achei que o sexting era o ensinamento final. - Bianca se
afastou para que pudesse olhá-lo de frente, e Theo suspirou, notando a
curiosidade da menina, e se acomodou direito para poder dizer o que tinha em
mente.
- A sexta aula é sobre como manter o cara com você, certo? - Perguntou
retoricamente, vendo-a acenar positivamente. - Bem, eu te ensinei como agradá-lo
no dia-a-dia, cozinhando, fazendo massagem, ajudando com os problemas, etc.
Mas é importante também saber como agradá-lo à noite. Como desestressar ele
entre quatro paredes.
- Mas isso é meio óbvio. - Ela deu de ombros, curiosamente à vontade
com o assunto. - A aula de sexo já foi, Theo.
- Existe mais de uma modalidade, cabeção. E uma especialmente
importante são as preliminares.
- Preliminares?
- É. Strip-tease, handjob, sexo oral, entre outras. Eu não vou entrar em
detalhes sobre as primeiras duas porque acho que a aula de dança já ajuda
bastante nesse quesito e porque já vi que você não tem grandes dificuldades com
punheta na noite que assistimos o filme pornô. - Ele mencionou, assistindo-a
perder a pose de bem-resolvida que carregava para manchar as bochechas de
rosado. Aquela característica de sua personalidade tímida nunca perderia a graça.
- Então me resta te ensinar a pagar um boquete.
- Tudo bem, hora da verdade... - Disse com as mãos a frente do corpo e os
olhos fechados como quem conta um segredo muito vergonhoso. - Eu meio que
sempre quis aprender isso. Mas tinha um pouco de... Nojo? Não sei. E medo de
fazer tudo errado e machucar o cara. Sabe?
- É pra isso que seu professor está aqui. - Piscou, sagaz.
- Então... Como a gente começa?
- Ansiedade podia ser seu nome do meio, sabia? - Ele riu, acariciando o
rosto pequeno e rabugento dela. - Vem aqui me beijar primeiro, antes de ocupar
essa boquinha linda com o meu pau. - Puxou a menina pelo queixo, que se apoiou
nos joelhos em cima do sofá e engatinhou para ele, selando seus lábios.
Contornou eles com a língua e chupou o inferior, deixando ali seu gosto único. -
Hm... Eu nunca vou me cansar disso.
Theo passou o braço pela cintura da menina e a puxou no susto para se
sentar em seu colo, uma perna de cada lado do quadril, e ela emitiu um gritinho
assustado com o movimento. Então, ele enfiou a mão entre os cabelos da nuca
dela e segurou firme sua cabeça para iniciar um beijo alucinado e apaixonado,
obrigando-a a abrir a boca e corresponder com igual fervorosidade.
Bianca acariciava o peitoral do garoto por cima da camiseta de algodão
fina, sentindo os músculos se tencionarem com o seu toque, e se deliciava com o
quão gostoso era o homem entre as suas pernas. Ela tinha vontade de lambê-lo
inteiro, músculo por músculo, cada mínimo pedaço de pele, protuberância ou
curva.
Não que ele ficasse atrás, agora enterrando a boca no pescoço perfumado
dela, engolindo em goles generosos a pele sensível, mordendo, chupando,
beijando. Bianca fechava os olhos e inclinava a cabeça, já sentindo o acúmulo de
saliva e o deslizar característico de umidez em sua virilha. Instintivamente,
agarrou os cabelos curtos do garoto e ordenou ao quadril que rebolasse, alojando
a agora aparente ereção de Theo no lugar mais certo possível.
Sentindo o estímulo, Theo cessou o ataque que descia o colo em chamas
da menor para olhá-la nos olhos e constatar aquilo que ambos já sabiam:
- Desse jeito não vai ter aula nenhuma porque eu não vou conseguir não te
comer, Anjo. - Soprou contra os lábios inchados dela, já quase desistindo de tudo
e levantando com ela para a cama.
- Não! Não, não, não... - Ela repetia, tentando se lembrar o que estava tão
determinada a negar. - Eu quero aprender. - Ela engoliu, quase convencida de que
precisava se afastar. - Me ensina! Daí mais tarde você faz o que quiser comigo. -
Sob a perspectiva de que aquilo teria continuidade e lembrando-se da vontade
iminente de se derramar na boca da garota, o professor concordou uma vez com a
cabeça, ajudando-a a desmontar de cima de si e voltar para a posição ajoelhada
no sofá ao seu lado.
- Tá, é... Deixa eu me concentrar um segundo. - Tossiu, clareando um
pouco que fosse os pensamentos, e fechou os olhos com força, procurando por seu
auto-controle. Os abriu subitamente ao sentir as mãos pequenas dela lhe abrindo o
botão e zíper da bermuda cargo preta. Suspirou, conformado, se sentindo mais
duro ainda com a iniciativa dela. - E depois eu sou o impossível... - Reclamou,
ajudando a abaixar de vez as vestes e libertar seu amigo do aperto. Pôde ver
Bianca engolindo em seco ao observar tão sem filtros o tamanho que já a tinha
preenchido outras vezes. Sorriu discreto, se inclinando para buscar a carteira na
mesa de centro, mas um toque delicado em seu braço o impediu.
- É muito necessária a camisinha nesse caso? Eu meio que queria sentir...
O seu gosto, sabe? E não o de borracha. - Disse, tímida, temendo estar falando
uma grande baboseira.
- O ideal é usar camisinha sim, para evitar transmissão de doenças como
herpes, que são cutâneas, e para não fazer sujeira quando acabar. Mas como eu
não tenho nada e você quer... Não vejo porquê não, linda. - Sorriu, acariciando os
cabelos sedosos dela com carinho. Bianca molhou os lábios e se acomodou de
forma a poder debruçar sobre ele propriamente. Olhou para o professor uma
última vez buscando apoio, e tendo o obtido, segurou seu mastro bela base com
uma das mãos, deslizando o polegar de cima a baixo devagar, em agrado.
- E como eu começo?
- Primeiro você cria um clima, morde as entradas, lambe a virilha... Para
preparar o cara. Como nesse caso é obviamente desnecessário já que eu tô mais
do que pronto - Indicou a dureza de seu sexo e a gota de suor já descendo sua
testa. -, seu primeiro passo vai ser molhar ele todo. Lamba desde a cabeça até a
base e mais abaixo se quiser. - Com um aceno de entendimento, Bianca estendeu a
língua para fora e passeou a mesma por toda a extensão de pele disponível,
caprichando bastante em movimentos circulares na cabecinha e usando um pouco
os lábios no comprimento, como se o beijasse. Desceu um pouco mais a cabeça
quando se deu por satisfeita e chupou a pele do saco escrotal. Achou aquilo
estranho, no entanto, e preferiu voltar para cima, onde deixava sua saliva escorrer
e ajudava a espalhá-la com a mão. Theo tinha as narinas infladas e a mão
apertada nos cabelos da menor, tentando a todo momento se lembrar de que tinha
que lhe dar instruções ainda. Com o pau suficientemente molhado, ele encontrou
voz para falar. - Ótimo, linda. Agora você vai colocar ele na boca, tudo bem? Usa
seus lábios para proteger os dentes, pois eles podem machucar, e tenta sugar as
bochechas quando estiver subindo. A sucção é ainda mais prazerosa. Cobre a
parte que você não conseguir alcançar com a mão e a movimenta junto com a sua
boca. - Um a um, Bianca obedeceu todos os passos, abocanhando o membro de
Theo até mais da metade, com muita fome. O conteúdo acabou sendo demais, e
ela engasgou, tirando ele da boca em uma tossida. - Calma, anjo, calma... - Ele a
acalmou, acariciando os cabelos. - Não precisa por tudo. E relaxa a garganta, eu
não vou te forçar contra mim. - Recuperada e com novas instruções, Bianca tentou
de novo, dessa vez colocando um pouco menos na boca, apenas o suficiente para
arrancar um grunhido do professor e permiti-la sentir o gosto único que ele tinha.
Com a ajuda da mão, começou a subir e descer em um movimento vai-e-vem,
alcançando novas porções de carne a cada nova abocanhada. Se atreveu a sugar e
percebendo não ser tão difícil, tornou aquele movimento constante. Theo jogou a
cabeça para trás, respirando com dificuldade, achando inacreditável que uma
boca tão inexperiente estivesse o levando a loucura daquela maneira.
Mas era ela... E nada era conforme o esperado quando se tratava daquela
menina.
Colocou a mão livre em cima da dela para mostrar que ela devia torcer o
pulso ao subir e descer a mão no handjob, e usar mais do dedo indicador e
polegar como em um anel. Quando percebeu que ela pegou o jeito, se afastou e se
permitiu aproveitar a carícia íntima de uma vez.
Bianca continuou engolindo tanto do membro do professor quanto
conseguia, e embora por vezes o ar lhe faltasse, os gemidos roucos e
completamente sensuais que Theo deixava escapar a estimulavam a continuar.
Ela logo percebeu o porquê de tanto interesse naquela modalidade do
sexo em particular: Era o poder. Bianca se sentia poderosa, capaz de qualquer
coisa, responsável diretamente pelo prazer do parceiro e com a decisão de parar
ou continuar pairando única e exclusivamente nas suas mãos. Era inebriante.
Quando se aproximou perigosamente do êxtase, Theo acariciou de forma
diferente os cabelos da menor indicando que ela parasse. Ainda assim, teimosa,
ela lhe deu mais duas longas chupadas deliciosas que tornaram quase impossível
de segurar o gozo, que veio em seguida, quente e irrefreável, sendo contido pelos
dedos de Theo pressionando firmemente a cabeça como quem segura o jato de
uma mangueira. Alguns tremores e suspiros de alívio depois, todos os músculos
do corpo de Theo relaxaram e ele fechou os olhos aproveitando os últimos
segundos do ápice de sua luxúria.
Bianca esperava pacientemente enquanto ele se recuperava, não podendo,
no entanto, conter a vontade de passar os dedos pela única gota de suco que
escapou a prisão atenta do garoto, e a levando imediatamente aos lábios. O
líquido branco era pastoso e engraçado, não chegando a ser bom ou ruim, mas a
experiência serviu para matar sua curiosidade.
- Bianca... - Theo chamou, uma vez que o ar passou a entrar e sair
ordenadamente de seus pulmões novamente. - Você foi perfeita. Se saiu muito bem
com pouca ou nenhuma instrução. Por incrível que pareça, acho que esse foi
potencialmente o melhor boquete que eu já recebi na vida!
- Uau! Tô me sentindo agora. - Ela riu, orgulhosa.
- Sua peste. Vou te sequestrar e prender no meu quarto, e você só vai
poder sair mediante o pagamento integral de um blowjob por dia. - Brincou,
puxando a menina para se escorar nele, agora que já tinha se recomposto e puxado
a bermuda de volta para o lugar.
- Com todos esses elogios eu acho que sou até capaz de abaixar as calças
do Sam e chupar ele na frente da namoradinha nojenta! - Bianca riu, achando a
maior graça ao pensar na cara azeda de Milena assistindo a cena, ainda mais por
ela ter certeza que a garota devia ser uma das inúmeras que já haviam feito o
agrado a Theo em tempos passados, mas o professor não compartilhou do riso
contínuo. Pelo contrário, se incomodou muito com a imagem mental de Bianca de
joelhos em um momento tão íntimo como o que acabara de dividir com ele com o
loiro aguado. A ânsia de vômito lhe foi inevitável, e logo ele estava em pé,
tentando desesperadamente mudar de assunto para um que ao menos não lhe
revirasse o estômago daquela forma tão peculiar.
- Enfim... Tem um lugar onde eu quero te levar hoje. Uma pessoa que
quero que conheça. - Disse, caminhando para o banheiro a fim de se limpar,
deixando uma Bianca levemente confusa pela seriedade súbita dada à conversa.
- É? Quem é? - Ela perguntou, ainda sentada e pensativa, ao passo que
Theo já estava com os pertences no bolso pronto para sair.
- Levanta essa bunda gostosa daí que você descobre.
Era uma cafeteria extremamente simpática, em um lado da cidade que ela
não estava acostumada a frequentar, com cadeiras forradas em estampas alegres e
uma estante com grandes títulos nacionais ao fim, para usufruto dos clientes que
desejassem ler alguma coisa. Bianca imediatamente se afeiçoou pelo lugar, e
parecia uma criança em parque de diversões enquanto observava o cardápio
extenso de batidas cafeinadas e doces gordurosos quando Theo lhe perguntou o
que queria. Respondeu impulsivamente e foi obrigada a corrigir o pedido com o
caixa mais duas vezes até se dar por satisfeita, só então cortando o encanto
excessivo com que tratava o local para reparar na tensão óbvia que acompanhava
as atitudes do professor. Ele parecia correto demais, ereto demais, educado
demais. Não havia feito nenhuma piadinha suja ainda, nem apertado sua barriga
ou bagunçado seus cabelos, e a bermuda estava, pela primeira vez na vida, no
lugar certo, sem deixar a mostra a curta faixa da boxer tentadora como sempre
costumava ficar. Os famosos alarmes soaram na cabeça da menina.
- Theo, tá tudo bem? Você parece... Nervoso. - Escolheu, dentre todas as
palavras que poderia usar para descrever o comportamento dele. Theo a olhou
nos olhos e abriu a boca para responder alguma coisa, mas os pedidos sendo
colocados à sua frente no balcão foram a perfeita desculpa para que
permanecesse quieto. Ele segurou a embalagem com os cafés e a sacola parda
com as gordices de Bianca em uma só mão, e com a outra entrelaçou a dela para
conduzi-la pelas mesas. Passaram por duas perfeitas para duas pessoas, como era
o caso deles, e Theo mesmo assim continuou caminhando até os fundos do lugar,
perto da estante com os livros e, agora Bianca podia ver, jornais da semana.
Ali, na última mesa, haviam 4 cadeiras, e uma delas estava ocupada. Era
um senhor meio grisalho, de costas para os dois, que parecia metade entretido no
livro que tinha em mãos e metade ansioso por algo, pois balançava freneticamente
o pé dobrado sobre o joelho e checava as horas de segundo em segundo.
- Theo, tá ocupado, vamos... - Ela tentou argumentar, apontando com o
polegar para trás, mas foi impiedosamente interrompida. O homem virou-se para
ela, e Theo logo tratou de fazer as apresentações, que não eram, de fato,
necessárias.
- Bianca... Essa é a pessoa que eu queria que conhecesse. Augusto
Caproni. Seu...
- Pai. - Ela completou. - O que...? Você... E ele...? - Ela balbuciou sem
conseguir se situar naquele encontro tão inesperado, e Theo imediatamente
abandonou as coisas que segurava na mesa para poder abraçá-la de lado, dando o
apoio que ela precisava.
- Calma, minha linda... Senta aqui, vamos conversar. - Com a ajuda
sempre solícita do maior, ela o fez na cadeira mais próxima e observou ele fazê-
lo ao seu lado e seu pai se acomodar temeroso na que tinha à sua frente. - Ontem,
quando eu descobri que você tinha conversado com a minha mãe sobre os meus
sonhos, fiquei com vontade de fazer algo por você também. Então eu fui até o
endereço que você me passou, ver se descobria alguma coisa sobre seu pai sem
que você precisasse passar por surpresas demais. - Explicou devagar, segurando
as mãos frias dela entre as suas. Bianca, que nunca desviava o olhar dele quando
estava falando, tinha os olhos cravados no pai, as íris transparentes amedrontadas
e os lábios entreabertos em expectativa. - Mas aí... Eu acabei não me aguentando
e conversando com o Sr. Augusto, porque queria entender, queria saber o que
raios tinha acontecido para vocês não terem mais contato. E qual não foi a minha
surpresa em descobrir que ele tinha sido privado disso tanto quanto você? -
Imediatamente, a menina virou o rosto para o mentor como se lhe perguntasse
silenciosamente se aquilo era verdade. Se podia confiar no que seus olhos e
ouvidos testemunhavam. Com um sorriso carinhoso, Theo fez questão de mostrar
a ela que sim; que estava mais do que na hora. - Seu pai tentou falar com você por
eras, anjo... Mas as ligações e visitas foram todas interceptadas. Te diziam que
seu pai não tinha procurado por você, e diziam a ele que você não tinha qualquer
interesse em vê-lo. Sua mãe, magoada, deve ter achado que estava te protegendo
dessa maneira...
- Mas ela não tem o direito de fazer isso. Eu tenho que poder escolher se
quero conversar com o meu pai ou não! - Bianca se exaltou, as lágrimas
rapidamente preenchendo os olhos, entre um desejo de cair e o orgulho teimoso
de não demonstrar fraqueza.
- Ninguém está discordando de você, principessa. - Augusto interferiu,
chamando-a do apelido que usava quando ela ainda era pequena, que significava
"princesa" em italiano. Olhou para Theo como se pedindo licença para falar, e
esta lhe foi concedida. - Olha, querida... Eu nunca me afastaria de você sem mais
nem menos. Se criei a coragem para sair de um relacionamento que me fazia
infeliz e me permiti tentar novamente é só porque você me deu o empurrão inicial.
E eu jamais me esqueceria disso. Além do mais... Você é minha filha. Sangue do
meu sangue. E pode parecer estranho ouvir isso depois de tantos anos, mas... Eu
amo você. Incondicionalmente. - Bianca finalmente se permitiu explodir em um
choro doído de alívio e injustiça, caindo no peito de Theo que lhe abraçou
instintivamente. Era no mínimo complexo ter que encarar uma realidade tão
diferente daquela apresentada por tanto tempo, e todo mundo ali entendia que a
garota precisaria de um tempo para processar tudo.
- Isso quer dizer que você...? E eu...? - Ela murmurava, sentida, morta de
saudades do pai e de tudo que significava tê-lo novamente em sua vida.
- Shhh, meu amor... Tá tudo bem agora. Vai ficar tudo bem. - O mais velho
sussurrava, alcançando a mão da filha e a apertando entre as suas tão maiores,
beijando as pontas dos dedos para provocar cócegas.
- Como você pode saber disso, pai? - Ela perguntou com o choro mais
controlado, olhando-o por entre cílios colados de água salgada.
- Porque no final tudo fica bem. E se ainda não tá tudo bem... É porque
ainda não chegou o fim. - A menina conseguiu abrir um sorriso, lembrando-se de
todas as vezes que ele lhe recitava aquela mesma frase quando ela se indignava
com algum acontecimento no meio de um livro de histórias, lido para ela antes de
dormir. Aquilo sempre conseguia acalmá-la, e aquela vez não foi diferente. -
Escuta, filha... Eu sei que é muita coisa para absorver de uma vez só. Mas eu
gostaria muito que você fosse em casa um dia, conhecer a minha esposa, a Sarah,
seu irmãozinho... Todos eles tão loucos pra saber um pouco mais de você e eu
tenho certeza que vocês vão se dar muito bem. - Convidou baixinho, sempre
olhando para Theo em aprovação como se ele fosse um guarda costas muito bravo
que atacasse a qualquer passo em falso.
- Claro, pai... Eu vou adorar. - Fungou, limpando sem jeito os rastros de
lágrima do rosto.
- E ai, querida, se você quiser, e só se você quiser... Eu prometo lutar pela
sua guarda na justiça e você vem morar comigo. O que você acha? - Perguntou, os
olhos brilhando de expectativa e até mesmo esperança.
- Acho legal que, pela primeira vez em tanto tempo, tenham me dado
finalmente o direito de optar.
O restante do final de semana passou sem maiores emoções, visto que
Theo entendia que a garota precisava de um pouco de espaço para pensar sobre
toda aquela dinâmica familiar complicada e a proposta que o pai fez, tão
impulsiva quanto ela mesma era.
Era sim horrível morar com a mãe, conviver com suas cobranças e
acessos de raiva infundados, mas ao mesmo tempo ela não sabia se seria melhor
passar seus dias com a nova família do progenitor, a quem não via há tantos anos.
Haveria alguma chance de reestabelecerem o vínculo e criarem intimidade,
mesmo depois de todas as barreiras que o tempo e a mãe colocaram entre eles?
Se sim, se alguma prova da veracidade dessas afirmações pudesse lhe ser
dada, ela aceitaria sem pensar duas vezes. De pequena, sempre tinha sido mais
próxima do pai, mais parecida com ele, mais apegada à sua presença, enquanto
com a mãe a relação sempre tinha sido fria e distante, ainda mais depois dela ter
se tornado uma mulher tão amarga.
A escolha parecia óbvia.
Mas os fantasmas da sua solidão não pensavam assim. Eles a obrigavam a
pensar e recriar circunstâncias, para ter certeza de que tomaria a decisão que
mais garantiria conforto e amparo familiar, a forçavam a pesar todos os riscos,
possíveis ganhos e perdas. Vez após outra.

A segunda-feira chegou, entre aulas entediantes das matérias de humanas


que Bianca abominava e centenas de exercícios gratificantes de matemática. As
exatas, diferentemente da vida real, sempre tinham uma resposta correta no
gabarito para conferir, e aquilo a acalmava.
No intervalo, todos saíram correndo de suas salas para colocar a fofoca
do final de semana em dia. Ela caminhou com a multidão pronta para ser parada a
qualquer momento por um par de braços quentes e conhecidos, como Theo sempre
fazia, e passar alguns minutos no aperto de seu abraço perfumado antes de
retomar a tortura escolar com a apresentação do trabalho de literatura.
Entretanto, antes que o moreno tivesse a chance de fazê-lo, alguém puxou
o elástico que prendia sua trança lateral em brincadeira, o que fez com que a
mesma se desfizesse inteira, fino como era o cabelo dela.
- Ei! - Ela reclamou, virando-se para tentar recuperar o elástico de quem
quer que o tivesse pego. Deparou-se com um Sam risonho a menos centímetros do
que o recomendável.
- Oi, estranha. - Soprou com a voz alguns tons mais baixa. Bianca
estranhou, ele nunca falava daquela maneira tão... Sensual. Ou algo assim.
- Estranha?
- É modo de dizer. - Deu de ombros. - Sabe... Será que a gente pode
conversar? - Perguntou com um quê de apreensão forjada que por algum motivo
amoleceu o coração da garota, que até então havia aprendido a se blindar contra
os estímulos que ele desse.
- Claro. - Suspirou, sem ter como negar. Theo não estava por perto -
provavelmente a esperava no armário 100, mas isso era longe dali - então não
tinha nenhuma desculpa boa o suficiente para negar. E, se quisesse ser sincera
consigo mesma, não queria ter. A perigosa junção de sua curiosidade com um
pedido sigiloso de conversa era mais do que ela podia ignorar. - Sobre o quê? -
Sam olhou para os lados, provavelmente à procura do namorado da amiga, e
acabou por indicar com a cabeça que fossem para outro lugar. Ela deu de ombros
mentalmente, perguntando-se "por que não?" e o seguiu até o pátio da escola,
onde algumas árvores bem grandes abrigavam dezenas de casais e alguns
dorminhocos. Ele foi até uma vazia e se sentou nas raízes, sob a sombra bem-
vinda do dia abafado.
- Então... - Ele começou sem parecer saber como continuar. Olhava para
qualquer lugar menos a garota, inquieto e estranhamente disperso.
- Então...? - Ela estimulou, sem paciência para esperar a boa vontade dele
de saciar sua curiosidade de uma vez.
- Eu pensei bastante no que você me disse semana passada. Você sabe,
sobre eu ser o culpado pelo nosso afastamento. E... Acho que você está certa. -
Disse de uma vez, como se dessa forma fosse acabar logo. Orgulho era seu nome
do meio, e falar aquele tipo de coisa quase lhe causava dor física, mas entendia
que era necessário.
- Eu estou? - Bianca levantou as sobrancelhas, impressionada.
- Sim. E eu me sinto bem culpado por isso.
- Sente? – Bianca se viu como um daqueles papagaios treinados que só
sabiam repetir o que lhes era dito, mas não podia evitar a ausência de raciocínio
próprio em um diálogo tão irreal.
- É. E eu quero consertar isso. Então o que você me diz de passarmos o
dia juntos hoje? Você vem assistir o meu treino de basquete e depois a gente sai
pra tomar um sorvete ou algo assim. Topa? - Bianca se sentia em um universo
paralelo, como se de repente ela virasse um personagem fictício e tivesse alguma
alma mentalmente desequilibrada escrevendo os próximos passos de sua vida
incoerente. Ainda assim, acabou balbuciando um "s-sim" assustado. - Ótimo!
Você vai ver, vai ser como antigamente, Biba.
- ...Yey?
- Agora me conta, o que você tem aprontado? - Sam estava demonstrando,
em uma conversa, mais interesse em escutar suas respostas do que em toda a
história de sua amizade, e aquilo era perturbador. Tinha se virado em direção a
ela, encostando-se de lado no tronco da árvore que compartilhavam para poder
olhar para o seu rosto.
- Não sei o que você quer escutar, Sam. - Deu de ombros, sem vontade de
desembestar a falar sobre qualquer assunto, como normalmente fazia. Não sentia
ter mais intimidade com o loiro para isso.
- Pode começar me dizendo como você acabou namorando o bambambã
do colégio. - Ele sugeriu, ao passo que o celular dela apitou com uma nova
mensagem de Theo onde se lia "Julieta, ó Julieta! Onde estás, minha bela dama?
Romeu está triste e desolado com a falta de sua inebriante presença aqui na
Alameda dos Rouxinóis, armário 100." Bianca instintivamente deu risada do tom
pomposo usado pelo professor e Sam olhou de lado, claramente infeliz com a
reação espontânea dela a algo que não havia sido ele o autor.
- Bem... - Ela começou o relato, interrompendo-se brevemente para
responder a mensagem de Theo: "Estou resolvendo uma coisa, Romeu. Vá para o
intervalo sem mim e não beba nenhum veneno. Mais tarde eu te compenso.
Beijos". - Eu tive um dia ruim há alguns meses, e o Theo me encontrou e consolou
mesmo sem me conhecer. Acabamos conversando, nos dando bem e... Acho que
uma coisa levou à outra. - Aquela era a versão mais verdadeira que Bianca podia
dar omitindo o amigo da equação e ela se prometeu permanecer fiel àquele
discurso.
- Ele te chamou para sair sem mais nem menos? - Investigou como se
soubesse que havia um motivo maior por trás.
- Não. Ele me disse que estava com dificuldades nas matérias e eu me
ofereci para ajudar. Em uma tarde de estudos rolou um clima e a gente se beijou.
Desde então nós só... Não paramos. - A garota percebeu o quanto aquilo era
verdade. Por mais que estivessem quase sempre motivados por alguma aula, ela e
o moreno não se desgrudavam, nem se continham, independente do lugar ou
contexto. Claro que ela já tinha diagnosticado aquilo como costume, achava que
Theo só não saía do papel quando estavam no particular, mas não podia ser só
isso. Estava mais do que na hora de admitir que de "fake" aquele relacionamento
não tinha nada. E, por incrível que pudesse parecer, a constatação daquele fato só
provocou uma onda quente pelo corpo miúdo de Bianca, como se fosse algo
natural e esperado pelo que ela tivesse almejando há tempos.
- Então não houve um pedido oficial? - O loiro parecia determinado a
tentar pegá-la no pulo. Ela lembrou-se da forma abrupta com a qual Theo lhe
disse que "para todos os efeitos" agora eles estavam namorando, após vê-la
conversando com Sam. Riu sozinha mais uma vez da cara de alucinado que ele
trazia naquela hora, e da forma como não deixou espaço para que ela negasse,
para variar.
- Foi mais uma ordem. - Contou, ainda risonha e a testa do melhor amigo
se enrugou inteira em incompreensão. Bianca não se deu ao trabalho de explicar. -
Vamos mudar de assunto?
- Ah... Claro! - Sam balançou a cabeça, em uma tentativa de se conformar
que não podia insistir no tema ou seria indelicado.
- E você e a Milena, como estão? - Bianca perguntou, mais por educação
do que qualquer outra coisa.
- Pra falar a verdade... Não muito bem. Ela meio que me cansa. Dá muito
trabalho namorar. - Confidenciou em um suspiro, esperando concordância da
menor.
- Engraçado... Pode ser porque eu e o Theo estamos juntos há pouco
tempo, mas para mim namorar é tão natural... - Comentou, repuxando os lábios e
olhando em volta, inconscientemente procurando pelo professor, que não estava
no seu campo de visão.
- Vai ver isso é mérito seu, Biba. Você torna tudo mais fácil. - Sam se
aproximou ainda mais e olhou no fundo dos seus olhos ao dizer aquilo, como se
fosse o elogio mais grandioso que pudesse fazer a alguém. Bianca só podia se
lembrar da última aula e de como Theo dizia que ela precisava ser o motivo de
loucura e também de apoio da pessoa amada, e se perguntar se aquilo significava
que ela estava fazendo as coisas absolutamente certas ou notoriamente erradas.
- ... Obrigada? - O loiro sorriu abertamente e a puxou para um abraço
apertado, esfregando seus cabelos com mais força do que o desejado.
- Eu senti sua falta, garota.

Voltando para a sala de aula ao final do intervalo, Bianca encontrou Theo


escorado na parede ao lado da porta. Sam tinha ficado para trás, pois era de uma
sala diferente de Bianca apesar de também ser do segundo colegial. Quando Theo
a avistou se aproximando, abriu um meio-sorriso preocupado.
- Você tá bem? Aconteceu alguma coisa? - Perguntou, correndo os olhos
pelo corpo dela como se buscasse algum machucado visível. Ela não era de
querer passar o intervalo sozinha, então o fato de não ter estado com ele alarmava
que algo ruim poderia ter se passado.
- Tá tudo bem, Theo. Eu só fui arrastada para o pátio pelo Sam. Ele queria
conversar.
- Sobre o quê? - A sobrancelha franzida indicava sua desconfiança no seu
em questão.
- Tudo e nada ao mesmo tempo... Perguntou de você, contou da Milena,
disse sentir a minha falta e acabou me chamando para tomar sorvete depois do
treino. - Ela suspirou, repassando rapidamente todos os assuntos abordados nos
30 minutos de conversa. Theo parecia surpreso e perdido, os bonitos olhos claros
alternando-se freneticamente entre os transparentes dela em busca de respostas.
- E você vai?
- Ah, vou. Eu acho que ele me chamou como amigo, porque estamos os
dois namorando teoricamente, mas não custa nada sentir onde eu to pisando. ...
Certo?
O professor de química chegou e apressou a menina para dentro, e ela o
foi sem nunca ter escutado uma resposta.

Se fosse ser sincera consigo mesma, Bianca teria que dizer que não tinha a
menor vontade de tomar chá de cadeira - ou arquibancada, no caso - por uma hora
só por um mísero sorvete depois e mais um interrogatório sobre o seu namoro.
Ela preferia muito mais ir com Theo para casa e passar o final de tarde assistindo
algum filme deitada no colo dele e fazendo carinho em Whisky. Mas algo dentro
dela a obrigava a não levantar a bunda dali, a passar por aquele dia, minuto após
minuto, e aproveitar toda a súbita atenção que Sam a estava oferecendo. Sentia
que devia isso à Bianca de alguns meses atrás, com todo seu amor infundado e
choros incontroláveis nos reservados dos banheiros da escola, de pelo menos ir
tomar um maldito sorvete com o cara por quem era apaixonada.
Mesmo que agora achasse ele chato e infantil. Mesmo que seu coração não
agisse com o mesmo desespero enlouquecedor quando ele estava por perto.
Mesmo que estivesse louca para segurar Theo pela gola da camiseta e perguntar o
que, afinal de contas, os dois tinham. Ela só estava em um dia ruim, com coisas
demais na cabeça devido ao fim do ano letivo, e confusa quanto às suas
prioridades.
Afinal, quem em sã consciência negaria um encontro informal com o
jogador alto e atlético do time de basquete, tão fofo em sua regata gigante do
uniforme, correndo de um lado para outro na quadra, fazendo seus cabelos loiros
pularem? Só uma garota idiota. Ela, certamente, não queria esse título.

- Vamos, Biba? - Perguntou, uma toalha em volta do pescoço molhado e


um sorriso frouxo no rosto levemente avermelhado.
- Aham. - Ela se levantou, passando a bolsa no ombro e caminhando com
ele para fora do colégio, em direção a sorveteria que ficava alguns quarteirões
adiante.
- E aí, gostou do treino? - Sam tinha uma pose levemente convencida,
como se soubesse - ou achasse saber - que ela havia babado nele durante os 60
minutos que o jogo durou.
- É, você manda bem. - Disse simplesmente, não dando muita atenção. O
loiro a olhou de lado, intrigado, tentando buscar na mente algo que pudesse
impressioná-la.
- Sabe... Eu acho que finalmente decidi o que quero fazer quando sair do
colégio.
- Jura? O quê? - Sam olhou para os lados como se estivesse sendo
espionado, e puxou Bianca pela mão até um beco entre dois prédios, de forma a
ficarem mais escondidos. Ela riu, achando ele doido das ideias.
- Atenção que é segredo, hein! - Disse com um dedo em riste sinalizando
que ela ficasse calada. - Meu pai conseguiu um passe para que eu assista um
treino da seleção de basquete nacional. Meu plano é me infiltrar lá de algum jeito
até virar gandula, e daí para assistente do técnico, e então alguém mais
importante. O próprio técnico talvez, ou um comentarista, ou é capaz até mesmo
de me contratarem pro time! Não é o máximo? - Bianca o encarou atônita,
assistindo toda a sua animação no auge da infantilidade, o achando a pessoa mais
imatura do mundo. Suas aspirações se resumiam àquilo? Usar os contatos do pai e
crescer de forma irreal e ilusória? Sem sequer fazer faculdade? Não pôde evitar
pensar em comparação, em como os objetivos de Theo eram tão mais dignos.
Mudar o mundo um passo por vez, fazer sua parte na sociedade, ajudar as
pessoas. Isso eram sonhos de um homem! Um homem maduro, consciente,
responsável. Inconscientemente, desbloqueou a tela do celular para ver se havia
alguma mensagem não lida dele, mas o aparelho não denunciava nada.
- Que bom pra você, Sam. Boa sorte nessa empreitada. - Murmurou
mecanicamente para o amigo confiante e sorridente. - Podemos tomar o sorvete
agora de uma vez?

Entediada. Essa era a definição do estado de espírito no qual se


encontrava Bianca depois de já ter tomado tudo o que interessava do sorvete e
escutar Samuel Luscenti falando sem parar sobre festas, os amigos babacas, o
time imbecil, e suas noções mais que equivocadas sobre a vida, política, arte e
cultura por quase 50 minutos. Os restos de calda e massa derretida no pote não
eram interessantes o suficiente para distraí-la do monólogo incessante do garoto
sobre todos os assuntos fúteis e sem profundidade existentes na face da Terra. Ela
empurrava a cereja de um lado para o outro torcendo para que ela se
transformasse em um dragão e comesse a cabeça do loiro para que pudesse
levantar e ir embora de uma vez como se nada tivesse acontecido. Mas então, se
lembrava de que, se ele conseguia ter assuntos tão inúteis e desinteressantes por
tanto tempo, era porque não usava a cabeça de fato, e portanto perdê-la não faria
a menor diferença.
Suspirando, lembrava-se das aulas de Theo novamente, dele dizendo que
ela precisava fingir interesse no que o alvo dizia para conquistá-lo, e do quanto
ela não queria fazer aquele esforço no momento. Tudo bem, ter Sam na palma das
suas mãos era praticamente questão de princípio agora, mas seduzi-lo teria que
ficar para outro dia, pois naquele, em específico, ela não podia ter menos vontade
de fazê-lo.
De todo o blá blá blá do loiro, só uma coisa havia lhe prendido a atenção,
e ela estava louca para ligar para o professor e contar a notícia, para saber o que
ele diria a respeito. Ao perceber que sua educação já tinha passado longe, ela
interrompeu qualquer frase que ele dizia no meio e pediu licença para usar o
toalete, onde pretendia contatar, enfim, o moreno.
Levantou-se e se encaminhou para os fundos da sorveteria, onde ficavam
os banheiros privativos, que funcionavam mais ou menos como lavabos, o que era
suficiente considerando o porte do estabelecimento. Abriu a porta do feminino,
que nada mais era que um corredor pequeno com uma pia arrumadinha e um único
vaso ao fundo, e já estava sacando o celular quando uma mão impediu a porta de
se fechar. Bianca teria se assustado, não fosse a porta se abrindo de novo e
revelando o professor com uma careta determinada.
Theo se enfiou no cubículo com ela e girou a tranca atrás de si.
- Theo! O que você tá fazendo aqui? - Esganiçou baixinho, com medo de
que alguém do lado de fora os escutasse.
- Digamos que bateu a saudades e eu não podia esperar. - Ele piscou, já
colocando as mãos grandes uma de cada lado da cintura de Bianca e puxando-a
para si, chocando seus corpos.
- Eu preciso te contar uma coisa. - Tentou dizer, enquanto ele já tinha a
cabeça enterrada no pescoço perfumado dela, distribuindo generosos chupões e
beijos lânguidos, que, sem mais nem menos, amoleciam as pernas da garota sem
autorização.
- Depois. - Rugiu, levantando a blusa dela até a cintura e já a colocando
sentada na pia, as pernas abertas onde seu corpo se encaixava perfeitamente.
Segurou as coxas fartas firmemente e obrigou as pernas a se cruzarem atrás do seu
quadril, os beijos descendo pelo colo já arfante da menina, que tinha seus cabelos
entre os dedos.
- Se eu demorar, o Sam vai estranhar. - Soprou, sem muita força para
negar aquele momento proibido e roubado, simultaneamente descendo as mãos
pelo peitoral forte do mais velho até brincar com a abertura de seus jeans.
- Ele supera. - Não podendo dar menos importância àquele fato, Theo
arrancou sem cerimônias a calça de Bianca e a própria camiseta, antes de chocar
com brutalidade e fome os lábios com os dela. Apertou e bolinou um seio
enquanto o quadril se empurrava por conta própria contra o fundo já bastante
úmido da calcinha de algodão que ela usava.
Rosnando fora de controle, Theo rompeu o beijo alucinado e se abaixou
em frente a ela para colocar a calcinha de lado e distribuir entusiasmadas
lambidas por toda a intimidade rosa e mordidas no clitóris.
Bianca mordia os próprios dedos, tentando se manter silenciosa, quando
tudo que queria era gritar de tesão e gemer como uma vadia no cio,
surpreendendo-se com o quanto aquele amasso estava sendo sensacional.
Vagamente ciente da pressa que a situação exigia, Theo entregou uma
camisinha para Bianca abrir enquanto se livrava das próprias calças e boxer,
ficando gloriosamente nú. Trêmula de ansiedade, ela conseguiu vesti-lo com
propriedade, e logo ele estava dentro dela. Suspiros de alívio idênticos foram
emitidos, e maiores manifestações foram abafadas na boca alheia ao partilharem
outro beijo molhado e gostoso, que acompanhava com perfeição o ritmo frenético
que o choque entre quadris seguia.
Nenhum dos dois conseguiu segurar muito tempo, bêbados de adrenalina e
desejo, e se derramaram ao mesmo tempo em um êxtase longo, aliviado e cheio
de incuráveis saudades.
Ofegando no colo de Bianca, Theo murmurou um "até amanhã, linda", se
vestiu na velocidade da luz e deixou o reservado com um selinho e um beijo na
testa da garota.
Levemente recomposta, Bianca imitou o professor, detendo-se uns
segundos a mais para colocar os cabelos no lugar, e voltou para a mesa, vendo um
Sam preocupado perguntar ao caixa do lugar se tinha visto uma garota com as
suas qualidades saindo da sorveteria abruptamente. Ao vê-la se sentar de volta no
lugar onde estavam, ele voou para a cadeira na sua frente, perguntando o que
diabos tinha acontecido para atrasá-la 20 minutos em uma simples ida ao
banheiro. Contendo um sorriso arteiro com o olhar na porta, Bianca disse que só
tinha recebido um chamado inadiável.
- Mas está tudo bem? - Ele perguntou, provavelmente entendendo que era
uma ligação de sua mãe ou algo similar.
- Agora tá tudo perfeito. - Ela respondeu, arrumando a camiseta amassada
com prazer.
O mundo estava caindo em uma típica chuva de verão. Rápida e
devastadora, ela obrigava os alunos a entrarem na escola correndo e a
partilharem guarda-chuvas pequenos demais para o número de pessoas que
normalmente protegiam.
Theo esperou impaciente a chegada de Bianca, que veio segurando o
fichário sob a cabeça e mais gelada que um esquimó. Imediatamente ele colocou a
própria jaqueta em cima dos ombros dela, e a acompanhou para sua sala, sem
dizer sequer uma palavra. O casal parou à porta e trocou um longo olhar, seguido
de um sorriso ameno por parte da garota. Theo esticou a mão e acariciou seu
rosto delicado, ainda olhando seriamente para cada detalhe do mesmo.
- Você vai lá pra casa hoje, né? - Perguntou baixinho, parecendo
hipnotizado.
- Óbvio. Achou que ia se livrar de mim tão fácil? - Bianca riu arteira,
conseguindo arrancar um riso curto do mais velho.
- Tá bem, passo aqui no final do período. - Ela concordou em um aceno e
eles tomaram rumos diferentes.
Theo se sentia um pouco contraditório. Como se tivesse engolido uma
bola de pelos ou algo igualmente desagradável, que mastigava seu peito e o
deixava com uma sensação estranha de incompletude.
Apesar de ter sido incrível e muito gostoso, ele se sentia mal pela
aventura no banheiro da sorveteria, pois tinha a sensação de ter aparecido ali por
todos os motivos errados. Não era necessariamente saudades de Bianca, embora
sua presença sempre lhe fizesse falta. Não era tesão, pois ele já não era mais um
pré-adolescente no cio que não sabia se controlar. Era algo diferente, algo que se
relacionava não ao fato de que sua menina não estava consigo, mas sim ao fato de
que ela estava ali com ele.
E assim ele tinha dado nome ao seu problema. Sam. Até quando precisaria
se sentir preterido com relação àquele idiota? Ele era melhor em tudo, mais
bonito, charmoso, inteligente, simpático. Não havia um único motivo que
colocasse o estúpido do loiro à sua frente para que ficasse tão incomodado.
Exceto pela mais importante das características: Era ele quem tinha a
Bianca.
Então era isso? Tinha se resumido a um infeliz garotinho assustado e com
ciúmes?
Arg. Só o pensamento lhe causava repulsa. Ciúmes era o sentimento mais
vil e sem fundamentos que o ser humano poderia sentir. Ele sabia bem disso, já
tinha lidado com inúmeras crises das garotas com quem estava costumado a sair.
E agora o jogo tinha virado contra ele.

Entraram na casa de madeira correndo para fugir da chuva e de um


Whisky encharcado, louco para pular em suas roupas com as patas lamacentas.
Bianca ria abertamente, lembrando da face do cachorro querendo brincar e
pulando em poças de água como se fosse carnaval, espirrando a mesma para
todos os lados. Ele até mesmo chegava a morder as gotas que caiam do céu em
uma piada só sua. Aquele grandalhão era mesmo único.
Uma vez dentro da segurança do teto que os cobria e já recuperados da
correria, Theo e Bianca se jogaram no sofá em frente à televisão desligada e
descansaram as cabeças no encosto, se olhando.
- Eu acho que eu te devo desculpas, anjo. - Theo disse, repuxando os
lábios.
- Desculpas? Pelo quê? - Indagou com as sobrancelhas franzidas em
confusão.
- Por ter aparecido ontem no seu encontro com o loiro sem ser chamado. -
Ele deu de ombros, simplório.
- Mas... Eu gostei de você ter aparecido. - Disse com as bochechas
adoravelmente vermelhas.
- Eu sei que sim, sua safada. - Brincou apertando a barriga dela como de
costume. - Mas não foi certo ainda assim.
- Se você diz, senhor correto, eu acredito. Mas não se preocupe, está
desculpado.
- Obrigado, linda.
- Disponha, professor.
- Por falar em professor... Acho que posso te passar a sétima aula já.
- Eba! Sobre o que é? - Bateu palminhas, animada.
- Sobre inovar. - Pontuou, misterioso. Eles sentaram corretamente. -
Rotina é algo maravilhoso para disciplinar crianças, mas letal para muitos
relacionamentos. É importante sempre o casal achar uma forma de quebrar a
inércia e se colocar em situações diferentes, que lidem com o inesperado e tragam
alguma experiência nova. Isso vale para tudo, então é importante inovar no
programa dos encontros, variar os restaurantes, os motéis, as posições na cama,
tudo. Principalmente no sexo, que como já expliquei, é um alicerce
importantíssimo no qual muitos namoros se baseiam, fazer coisas diferentes
mantém a dinâmica do casal interessante e excitante. Afinal de contas, ninguém
aguenta fazer papai-e-mamãe para sempre. - Revirou os olhos com obviedade.
- Deixa eu adivinhar: Minha lição de casa vai ser ler o Kama Sutra? -
Desconfiou, espremendo os olhos.
- Não, linda. O Kama Sutra é um livro arcaico, criado por um indiano
machista para descrever o que suas várias esposas deveriam fazer para lhe dar
prazer. Em um momento ele enaltece a mulher e no outro está dizendo que sexo
oral é coisa de prostituta. É sem noção e eu sou bem contra ele. Pelo menos o
original... Esses manuais de posições que tem em lojas de conveniência levam o
nome de "Kama Sutra" levianamente.
- Então o que eu vou ter que fazer? - Franziu as sobrancelhas, sem
entender.
- Dessa vez, nada. Você já cumpriu sua lição, de certa forma.
- Hã?
- Seguinte, quando os casais querem quebrar a rotina além das posições,
normalmente eles procuram casas de swing, amigos interessados em ménage a
trois, dildos e vibradores, artigos de BDSM, cursos de massagem tailandesa,
tentam sexo anal, voyerismo, exibicionismo... Tem uma série de alternativas. Uma
delas é o sexo em público, que foi basicamente o que fizemos ontem, com todo o
perigo e adrenalina que correu nossas veias, deixando tudo melhor.
- Uau! A gente praticou antes da aula? Isso que é gabaritar uma prova. -
Bianca riu, puxando o garoto para acompanhá-la.
- Exatamente! E outra coisa que também dá sempre uma apimentada no
relacionamento é ir para a cama com diferentes sentimentos, diferentes emoções.
Ao invés da tradicional paixão e luxúria, usar a raiva do trabalho, a melancolia
do dia chuvoso, a ansiedade pelo resultado de um exame. Se afogar realmente no
parceiro. Novamente, nós fizemos isso ontem. Eu estava um pouco irritado... -
"me mordendo de ciúmes, na verdade", completou em sua cabeça. - E você estava
feliz, arrisco dizer, pelo seu encontro. - "feliz... Mais para morta de tédio", foi a
vez de Bianca dizer mentalmente.
- Entendi. Então quanto mais diferente for cada transa, melhor.
- Sim, senhora. - Theo parabenizou, dando por finalizada mais aquela
aula. Estava chegando ao ponto de não ter mais muito o que ensinar para a garota,
que já estava pegando as orientações dele com muito mais facilidade e
desinibição. De fato, aquela Bianca era uma pessoa completamente diferente
daquela que havia estado em seu sofá pela primeira vez, uns dois meses e meio
antes.
- Ah, deixa eu te falar! Acho que eu decidi o que fazer com relação ao
meu pai. - Ela interrompeu seus pensamentos contemplativos, e mesmo assim ele
não pode evitar olhá-la com carinho e um sorriso cúmplice no rosto bonito.
- É? Quando isso aconteceu? Você agora toma decisões sem falar comigo
antes? - Bianca deu um tapa estalado no braço do mais velho, rindo com seu
exagero premeditado.
- Sim, ó todo poderoso, eu consigo andar com os meus próprios pés. -
Mostrou a língua, birrenta.
- Bem, eu estou orgulhoso então. Me diz, o que você decidiu?
- Bom... Meu pai me ligou ontem. No celular, claro, porque em casa minha
mãe não passaria a ligação. -Revirou os olhos, irritada. Aquele fato não deixaria
de emburrá-la tão cedo. - E a gente conversou um monte, por quase duas horas.
Ele me contou um pouquinho da vida dele depois que saiu de casa e algumas
histórias engraçadas sobre a nova família e eu me senti... Acolhida, sabe? E aí eu
decidi dar uma chance e tentar morar com ele, nem que só durante as férias para
ver como é que é.
- Mas e a sua mãe? - Theo lembrou, preocupado que se as coisas não
corressem como ela pensava, fosse perder a moradia na qual habitava atualmente.
- Então, essa é a parte mais legal. - Bianca se sentou com pernas de índio,
como costumava fazer quando tinha algo muito interessante para falar ou escutar. -
Meu pai apareceu no trabalho dela e disse tudo, que já sabia que ela estava
impedindo nossa comunicação, e que, se ela não colaborasse com quaisquer
escolhas que eu fizesse, ele ia na justiça me tirar dela. E, aparentemente, apesar
de todas as patadas que ela me dá, ela valoriza a minha presença na casa dela o
suficiente para aguentar calada.
- Que demais, Bianca! Fico feliz por você, anjo. De verdade. - Theo
puxou a mão dela para si, apertando com força para mostrar que estava ao seu
lado, o sorriso rasgando a face ao ver a dela iluminada. - Aliás, lembrei agora
que eu não te deixei falar no banheiro. O que você queria me contar?
- Ai, é! Você não vai acreditar! Ontem, na sorveteria, o Sam me disse que
tinha pensado bem durante o dia, e que naquela mesma noite ele ia terminar com a
Milena! - Abriu os braços na maior novidade que recebeu durante aquele ano,
animada e incrédula como poucas vezes Theo havia visto. O garoto recebeu a
notícia congelado, com os olhos levemente arregalados e sem conseguir esboçar
reação. Devia parecer feliz por ela? Porque agora... Bianca tinha o caminho livre,
certo? O que poderia impedí-la de ficar com o melhor amigo? ... Ele?
E se sim... Com que direito faria isso?
- Interrompo alguma coisa? - Uma voz feminina falou vinda de trás do
casal. Ambos viraram a cabeça para deparar-se com uma garota encharcada de
calça cargo, botas de combate e top cropped, deixando a barriga sarada a mostra.
Ela era esbelta, alta, com todas as curvas certas no lugar, extremamente
bronzeada, e seus longos cabelos castanhos cacheados e descoloridos nas pontas
pingavam, contribuindo para deixar a meia blusa branca transparente. A garota
era a definição de exótica, e Bianca podia apostar que não havia um homem no
mundo que a julgaria como algo menos do que maravilhosa.
- Sophia? - Theo perguntou baixinho, como se visse uma miragem.
- Vem me dar um abraço, seu gostoso! - Ela gritou, com um sorriso
contagiante no rosto, e logo estavam os dois enroscados em um abraço mais que
apertado, a menina desconhecida pulando no colo dele, passando as pernas a sua
volta.
Bianca se sentiu uma intrusa na ceia de natal. Havia uma intimidade tão
palpável ali que ela chegava a ficar constrangida e incomodada, e de repente tudo
que queria era estar do lado de fora brincando com Whisky para não ter que
observar a cena.
- Desde quando você voltou? - Theo perguntou quando ela já tinha
descido de seu colo.
- Vim direto do aeroporto. Minhas malas estão no carro, até! Pra você ver
o quanto eu te amo, peste.
- Garota, que saudades que eu estava de você! Essa cidade não é a mesma
coisa sem essa sua bunda magra balançando de um lado para o outro.
- Olha, você me respeita que aqui tem carne o suficiente pra levar
qualquer um à loucura e eu não sou obrigada a lidar com o seu recalque. -
Brincou, dando um beijo no próprio ombro. Theo deu risada e se virou para o
sofá de volta, parecendo só então se lembrar da presença de Bianca ali no
cômodo.
- Que cabeça a minha, Bianca! Essa é Sophia. Ela é minha melhor amiga
que estava fazendo intercâmbio no Vietnã pelos últimos seis meses. - Apresentou,
não tirando os olhos saudosos da amiga.
- Prazer em te conhecer. - Disse, polida, excessivamente educada e
formal.
- Menina, você é muito travada! Não vai nem me chamar de doida de ter
ido pra um país tão aleatório e ter aparecido aqui assim, toda destrambelhada? -
Zombou, a sinceridade além da conta enfatizando seu jeito despojado.
- Ahm... Desculpe?
- De onde você raptou esse anjinho, Versolati? - Sophia se virou para o
moreno, as mãos na cintura como se o tivesse pego fazendo arte.
- Ela quem me achou, por incrível que pareça. - Ele deu de ombros, com
um sorriso de canto.
- Ainda vou decidir se acredito em você. Anda, vamos sentar que eu to
aqui há dois minutos e você já cansou a minha beleza. - Ela se jogou no sofá sem
convite, Bianca apenas dobrou os joelhos voltando para a mesma posição, e Theo
se apoiou no braço da poltrona para ficar de frente à amiga.
- Mas e aí, como foi lá no fim de mundo? - Perguntou, curioso e
implicante.
- Você tá brincando com o fogo, bonito. - Avisou, em tom de brincadeira. -
Ah, foi tudo que eu esperava! Eu vivi uma vida de típica vietnamita, aprendi
muito sobre a cultura deles e principalmente sobre as dificuldades que o turismo
tem no país.
- Conseguiu mudar o mundo?
- Um passo de cada vez, como sempre. - Deu de ombros em falsa
modéstia. - E vocês dois? É uma foda casual ou vocês foram encoleirados? -
Soltou, sem filtro, fazendo Bianca ficar mais vermelha que maçã e Theo tossir em
meio a uma risada.
- Eu to ajudando a Bianca com... - Theo começou a explicar, sendo
brutalmente interrompido por um latido de Bianca.
- Estamos namorando. Firme. - Ela disse em tom definitivo olhando para
ele, lembrando-o de que ninguém devia saber da suposta farsa. Mesmo estando
brava na superfície, por dentro a menina estava arrasada por ele não ter sequer
tentado ficar ao seu lado naquela história, sem fazê-la parecer mais inferior à
Sophia do que o óbvio. Mas a morena era a melhor amiga dele, e não haviam
filtros entre os dois, logo, Theo não o fez por mal.
- Olha só, a baixinha tem garras! Arrasou, amiga! - Sophia riu divertida,
sendo novamente brutalmente sincera e simpática em um nível que não podia ser
saudável.
- E você, maluca, tá presa? - Theo perguntou e Bianca não pode deixar de
indagar se tinha interesse próprio por trás daquela inocente fala.
- Eu sou do mundo, Theo, você sabe disso. - Abanou o ar, fazendo pouco
caso.
- Piranhando como sempre então. - Ele concluiu, com um sorriso
zombeteiro ladino.
- Eu faço o que posso. - Piscou, então se levantando e batendo na calça
para tirar a poeira inexistente. - Bom, crianças, eu tenho que ver a velha ainda.
Mas nos encontramos no reformatório juvenil amanhã, muito provavelmente. -
Sophia deu um beijo estalado na bochecha de Theo e um apertão na bochecha de
Bianca, a qual também teve os cabelos bagunçados.
- Reformatório juvenil? - Bianca perguntou baixinho com os olhos
arregalados após a saída da outra.
- Ela quis dizer a escola. - Theo riu, voltando a se jogar no sofá, cansado
como se tivesse corrido uma maratona. Era o efeito Sophia: ela o enlouquecia
tanto, com suas frases de efeito e molecagens, que quando ela se afastava ele tinha
vontade de nunca mais levantar. - Como ela trancou o ano letivo no meio pra fazer
o intercâmbio, ela provavelmente vai cursar o terceiro com você.
- Ah, maravilha. - Bianca resmungou. Não tinha nada diretamente contra a
garota, mas a presença dela a incomodava por algum motivo desconhecido. Para
começo de conversa, por que cazzo ela nunca havia ouvido falar dessa menina
antes? - Eu não lembro dela ter estudado na nossa escola.
- Isso é porque ela nunca ia nas aulas. Ficava no pátio atrás das árvores
falando com todo tipo de pessoa aleatória. Ela conseguia ter segredos das mais
diversas naturezas com as pessoas do colégio, e ninguém nunca ficava sabendo.
- Ela parece ser uma pessoa única. - Bianca tinha certeza que vista de
fora, ela se assemelhava a um robôzinho, treinado para não transmitir emoções.
Porque, se alguém visse como ela estava se sentindo naquele momento, se
protegeria com armaduras pesadas, pois seu humor estava a ponto de explodir.
- Única? A Soph é completamente pirada! Teve uma época que eu chegava
em casa e ela tinha aberto a porta com clips e tava dormindo no meu tapete sem
avisar. Outra que ela pegou o técnico do time de futebol e prometeu que eu ia
entrar pro time quando eu nem tava interessado na peneira. E antes dela ir pro
intercâmbio, apareceu abraçada com uma garota se dizendo lésbica quando era
tudo um plano pra enlouquecer a mãe até ela pagar o boleto da viagem.
Resumindo: Convencional não é uma palavra que se aplica àquele caso perdido. -
Contou, fazendo longas pausas para rir das estripulias da amiga perfeita.
- Você fala dela com muito carinho. Devem ter uma história e tanto... - As
unhas de Bianca estavam excessivamente interessantes naquele momento, mesmo
que as cutículas estivessem no lugar e o esmalte inteiro. Ela estava decidida a dar
continuidade àquela conversa com naturalidade, mas ver o brilho no olhar do
professor ao se referir a outra garota já era pedir demais.
- Acho que se pode dizer isso. A gente se pegou há uns três anos e no dia
seguinte ela armou uma cena, ao colocar um lenço na cabeça, dizendo que era
islâmica e que seu marido ia me matar. Eu praticamente enfartei até ela cair na
risada, bater na minha bunda e dizer que ia me fazer uma vitamina porque eu
estava "muito tenso". Foi ali que a gente ficou amigo. - Sorriu, saudoso. No
entanto, a confirmação de que eles haviam ficado juntos em algum tempo remoto
só piorou toda aquela bolha de insatisfação e revolta dentro de Bianca, que, não
aguentando mais, resolveu fazer uma proposta ousada.
- Legal... Escuta, Theo, eu ainda não to muito segura se aprendi direito a
aula do sexo oral e queria praticar um pouco mais. - Jogou, como quem não quer
nada, inocente do pau oco.
- Isso é sério? - Ele levantou as sobrancelhas, admirado.
- Você não quer? - Fez pouco caso, os olhos em fendas.
- Anjo... Existe algum cenário em que você me imagina dizendo "não" pra
essa boquinha enlouquecedora?
- Talvez... – Murmurou, pensando que havia uma possibilidade de não ser
a boca dela que ele almejava.
- Bom, então nós vamos precisar ir pro quarto para que eu te convença,
não é mesmo?

Theo pegou a menina no colo em meio a reclamações e interjeições sobre


poder andar sozinha e a soltou na cama de casal, fazendo seu corpo quicar uma ou
duas vezes. Então, rastejou sobre ela até colocar o lóbulo de sua orelha na boca e
sugar como se sua vida dependesse daquilo. Bianca sentiu o corpo estremecer
sem permissão, e escolheu por colocar as preocupações de lado para pelo menos
explorar as costas do rapaz com as unhas médias, sentindo cada contorno
maravilhosamente esculpido, os músculos tensionados por estar segurando seu
peso para não jogá-lo inteiro na garota.
Apesar de ser muito bom sentí-los assim, saltados, Bianca enlaçou as
pernas no quadril de Theo e o puxou para si, demonstrando o quanto o contato
entre seus corpos era bem-vindo. Rosnando, ele subiu a boca na direção da sua,
já enfiando a língua na garganta da menor e sugando sua saliva. Beijaram-se
alternando velocidade e quem puxaria o lábio de quem entre os dentes, até que a
temperatura do quarto estivesse perceptivelmente elevada.
Theo tomou a iniciativa de tirar as roupas do caminho, puxando de uma
vez só a própria camiseta e o vestidinho de Bianca, e ela o ajudou a desabotoar a
calça e a empurrou com os pés para longe. Em questão de segundos, estavam nus
e prontos para se enterrar um no corpo do outro.
O mais velho apertava entre os dedos o mamilo sensível e rosado de
Bianca, enquanto ela se aventurava a dar chupões que na certa deixariam marcas
no pescoço perfumado dele. Já se preparava para abrir a boca e gemer, quando
Theo se jogou para o lado, saindo de cima dela.
Confusa, ela o olhou, sorridente e ofegante.
- Você não disse que queria praticar? Aí a sua chance. - Levemente
frustrada, Bianca se ajoelhou do lado do quadril do moreno, colocando os
cabelos de lado para não atrapalharem o trabalho. Apesar de inegavelmente
divertido assistir todas as reações em cadeia que aquilo causava no corpo dele,
ela também estava excitada e ansiosa por sentir prazer. Mas, não ia reclamar, pois
ela própria havia pedido por aquilo. Mas antes que pudesse descer a boca morna
sobre o mastro irremediavelmente duro do rapaz, Theo a interrompeu. - Não,
linda. Você se senta aqui e aí faz o que tem que fazer. - Ele explicou, batendo no
próprio peito. Sem entender nada, Bianca o olhou com as sobrancelhas franzidas.
- Mas aí o seu rosto vai ficar... Ah. - Apesar de inexperiente, ela logo
entendeu que Theo havia achado uma forma de lhe agraciar simultaneamente ao
que recebia o boquete. Eles fariam o famoso 69.
Envergonhada de uma forma adorável, Bianca passou a perna para o outro
lado do corpo dele, ficando com a intimidade timidamente molhada bem ao
alcance da boca do professor. Estava decidindo se conseguiria ficar confortável
com aquele nível de exposição, quando Theo caiu literalmente de boca na boceta
rosada, engolindo de uma vez sua lubrificação e chupando o clitóris já sensível.
Soluçando em surpresa com o prazer arrebatador que sentiu sem
precedentes, ela se animou para enfiar o pau de Theo quase todo na boca. Tirou
em seguida e cuspiu para umedecê-lo de uma vez, já tornando a abocanhá-lo
novamente. Subia e descia a cabeça na mesma velocidade que sua respiração
desenfreada, sufocando gemidos e gritos pelas maravilhas que o garoto
performava com ela.
Theo chegou a pousar a língua no grelinho dela e fazê-la vibrar, como um
maldito pau à pilha, enviando choques desesperados pelo seu corpo em busca de
alívio. Em outro momento, a penetrava com a língua molhada, em uma sensação
indescritível que beirava a satisfação insana e a vontade irracional por algo
maior e mais duro.
De alguma forma, quanto mais prazer recebia, mais prazer Bianca se
dignava a dar, sugando as bochechas e chupando com força a cabecinha, até ter
Theo urrando no mesmo volume em que ela própria. Ele aproveitava ainda para
deixar a marca de seus dedos cristalizada nas nádegas dela, onde também deixou
um tapinha quando o elogio "gostosa" escapou de seus lábios, e ela descobriu que
fazia sim o tipo que se excitava com isso.
Seu orgasmo veio, a atingindo em ondas contínuas por quase 60 segundos,
o mais longo que já teve, e ela fez questão de recebê-lo com o pau de Theo na
garganta, o grito de prazer tremendo as cordas vocais e estimulando-o com igual
força para que também alcançasse seu ápice.
Dessa vez, Bianca não deixou que ele a afastasse e engoliu gota a gota a
liberação do garoto no que marcou uma das noites mais intensas de seu
relacionamento nada convencional.
Sophia marchou pelos corredores do colégio com seus jeans surrados, as
botas do dia anterior e mais uma camiseta cropped, dessa vez de alguma banda de
rock, cumprimentando vez ou outra algum aluno fantasma, dos integrantes do coral
aos jogadores de truco compulsivos. Ela parecia incapaz de ter um amigo
simples; todas as pessoas com quem falava eram peculiares em sua própria
forma. Quando avistou Breno perto do bebedouro, escondeu-se sorrateira atrás de
uma porta aberta e pulou dali abruptamente, fazendo o outro dar um grito de susto.
Rindo até a barriga doer e vendo o grandalhão afastar-se aos resmungos,
ela procurou o melhor amigo com o olhar, encontrando-o um pouco mais a frente.
Acenou um beijo espalhafatoso que fez algumas pessoas ao redor encararem com
diversão no olhar.
Theo se afastou da roda de amigos com quem conversava para se
aproximar da garota, gargalhando.
- Ele vai achar que eu te mandei fazer isso. - Constatou ainda dando
risada.
- Que? Quem? - Soph perguntou, não fazendo ideia sobre o que ele falava.
- O Breno. A gente brigou um tempo atrás, e ele sabe que você é minha
amiga.
- Ah. Bom, sinto muito por ele, mas eu não podia ligar menos nem se eu
quisesse. – Deu de ombros, displicente.
- E não é sempre assim com você? - Theo passou um braço ao redor do
pescoço da morena e caminhou com ela meio sem rumo. - Você vai à aula hoje? –
Incrédula, Sophia encarou o amigo como se questionasse a saúde mental dele.
- Querido, eu só vim fazer a matrícula, mas mesmo se tivesse aulas para
frequentar, você sabe que eu não iria. – Ela enfatizou, fingindo um arrepio por
considerar a ideia.
- Não sei nem porquê eu perguntei... - Theo revirou os olhos, um sorriso
de canto.
- Anda, vamos comigo pro pátio. Faz tempo que a gente não conversa
direito e eu quero ficar por dentro das fofocas. – Piscou, puxando-o consigo sem
esperar resposta.
- Então, fofoqueira, o que você quer saber? - Theo perguntou, implicante,
após estarem os dois sentados atrás de uma árvore grande, longe da vista de
alunos curiosos. Ele deveria estar na aula de matemática, mas, sendo sua melhor
matéria, achou por bem faltar para passar um tempo de qualidade com a amiga.
- Eu quero saber de você, seu insuportável. – Deu um tapinha no joelho de
Theo. - Como tão as coisas com os seus pais?
- Ah, com meu padrasto é o de sempre. Ele não consegue aceitar nada do
que eu digo e a recíproca é verdadeira, então a gente se evita o quanto der. Mas a
minha mãe... - Parou por um segundo, buscando as palavras que descrevessem o
quanto ela havia mudado. - Parece uma nova mulher. Ela fica me incentivando em
tudo que eu faço agora, como se fosse minha própria equipe de torcida. É
francamente assustador. – Arregalou os olhos, dramático.
- Nossa! E que raio caiu na cabeça dela pra causar essa mudança? -
Sophia brincou, virando na boca a garrafinha de água que carregava na bolsa.
- Eu diria que o raio leva o nome de Bianca. Elas conversaram um dia
brevemente, e não sei se a senhora minha mãe estava tão desacostumada a ouvir
verdades que aquilo a impactou, mas desde então ela tem sido assim, mais...
Materna. - Deu de ombros, como se dissesse "não sei o motivo, mas continuando
assim, tá tudo bem!".
- Bom, é uma ótima notícia! - Sorriu.
- E a sua família, como está?
- Doidos da vida preocupados com o que eu quero fazer da vida depois
desse intercâmbio. Acho que estão começando a perceber que eu não vou ter
futuro em um lugar fixo, com marido e filhos como eles esperavam. - Revirou os
olhos, cansada do conservadorismo que a sociedade impunha em garotas de sua
idade para seguirem aquele destino.
- Já contou à eles sobre a entrevista de emprego na companhia aérea? -
Theo perguntou, lembrando-se da mensagem que recebeu naquela manhã, que só
continha o print de um e-mail marcando um encontro profissional.
- Ainda não. Mas algo me diz que não vai ser tão surpresa assim.
Trabalhar em um lugar que me proporcione viajar para todos os lados é...
- A sua cara. - Ele completou.
- Exatamente. - Concordou, repuxando os lábios. - Assim como a sua é
tratar famílias de refugiados na África. Você acha que agora que sua mãe tá mansa
isso pode rolar? - Levantou as sobrancelhas, francamente esperançosa por ele.
- Ainda não sei, e prefiro deixar nas mãos do destino. - Maneou a cabeça,
esmagando uma folha seca nas mãos apenas porque sim.
- É justo. - Ponderou. - Agora, vai! Já fingi ser uma boa amiga por tempo
demais. Você vai precisar me contar da sua namoradinha. - Bateu palmas,
animada. Theo suspirou, sabendo que aquele era o cerne no interesse da amiga
naquela conversa desde o princípio.
- Não tem nada pra contar, Soph. A Bianca só... Aconteceu. - Disfarçou,
louco para fugir do interrogatório.
- Theo, não me enrola que eu não sou teus beck! - Sophia disse alto,
enfurecida, e arrancou risos do garoto pela expressão peculiar usada. - Qual é a
história dessa menina? Anda, desembucha.
- Você sabe que não é normal, certo? - Conferiu, só para ter certeza.
- Versolati... - Avisou, ameaçatória.
- Tá, tá. - Se rendeu. - Ela não queria que eu te contasse, então você vai
ter que ficar de boca fechada. - Sophia cruzou os dedos em um "x" e beijou-os
duas vezes, sinalizando que aquilo não seria problema. - Bom... Ela veio até mim
um tempo atrás pedindo ajuda pra conquistar o melhor amigo. Ela era bem tímida
e simplória, então o imbecil não prestava atenção nela e acabou preferindo uma
outra gostosa sem cérebro. - Explicou, passando rápido por aquela parte final,
que ainda lhe dava raiva. - Bom, eu relutei no começo, mas acabei aceitando
ajudar, e dei verdadeiras aulas pra ela sobre sedução, flerte e relacionamentos.
Algumas dessas aulas passaram um pouco do nível e a gente acabou se beijando e
transando, até. E, com o tempo gasto juntos, criamos muita intimidade e
cumplicidade. O namoro foi mais uma jogada para causar ciúme no amiguinho,
mas parece a cada dia mais real. - Constatou, só então percebendo aquele fato em
específico. Ele e Bianca realmente agiam como namorados 24/7, sem pausas, e
era engraçado de se pensar que não precisariam. Nem passava pela sua cabeça a
ideia de mudar aquilo.
- Sei. E como ela é? Digo, com você?
- Ela é um anjo, Soph. Juro, todos os meus dramas de faculdade e
familiares ela escuta e entende e ainda se mete a resolver, trazer soluções. Chegou
a me entregar um bilhão de folhetos sobre voluntariado e dupla graduação, e me
levou para conversar com o tio advogado sobre emancipação. E ela é carinhosa, e
engraçada, e toda vez que eu consigo tirá-la do sério ou deixá-la envergonhada eu
sinto como se tivesse ganhado na loteria de tão adorável que ela fica. E mesmo
com todo esse jeito de menina, toda essa doçura... Na cama é como se ela pegasse
fogo e libertasse a mulher dentro dela. Ela é impossivelmente sexy, de um jeito
único e suave, que me deixa louco. - Theo fechou os olhos brevemente e bagunçou
os cabelos, como se os efeitos da menina tivessem implicações mesmo ali, só de
falar nela. Sophia estava intrigada com o relato do rapaz, por toda a devoção
contida ali em exemplificações da mais absoluta entrega.
- Entendi... E quando você descobriu que tava apaixonado por ela? -
Perguntou, simplesmente.
- QUE? - Theo engasgou com a água que ele tomava, surpreso pela
pergunta completamente inesperada.
- Quer dizer, eu sei que você é bem cabeça dura, por isso deve ter
demorado, mas ainda assim, faz tempo? - Explicou, só causando mais indignação
com o questionamento que Theo julgava descabido.
- Eu não estou apaixonado pela Bianca, Sophia! Você tá doida?
- Sempre, mas aparentemente você também. - Gesticulou para ele, sem
entender como era capaz de não ter sequer considerado aquela opção até então.
- Olha, você passou tempo demais vivendo imersa em uma cultura
diferente e não tá mais acostumada com o mundo como ele é... - Começou,
tentando achar um jeito de invalidar qualquer argumento que estivesse para vir.
- Pra quê criar tantas desculpas, amigo? Sua teimosia não conhece
limites? - Franziu as sobrancelhas, francamente desacreditada de tamanha
cegueira.
- Não é questão de desculpa, Soph, eu to falando sério. Eu não penso nela
dessa maneira, ela sequer gosta de mim, só se aproximou pelo amigo. - Tentou se
racional, percebendo que ela não desistiria daquela ideia com facilidade.
- Você não pensa nela dessa maneira porque acha que ela não
corresponde, saquei. - Sophia fingiu dar o assunto por acabado, ao pegar um
cabinho e fazer desenhos abstratos no chão, mas sabia que tinha acabado de
atingir um ponto sensível dentro do garoto e que se queria ajudá-lo a compreender
a extensão de suas emoções, precisaria explorá-lo com sensatez.
- Não foi isso que eu disse! - Defendeu-se. - Eu não penso nela assim e
ponto final. Ela é completamente diferente de todas as garotas com quem eu estou
acostumado a sair, não teria nada a ver. - Sinalizou com a mão, em um gesto
blassé, fazendo pouco caso. Sophia revirou os olhos.
- Não vê o que está bem na sua frente? É justamente por ela ser tão
diferente que você tá apaixonado. Mais do mesmo não atrai ninguém, cabeçudo. -
Ela tinha vontade de bater com a cabeça dele em uma parede para ver se
acordava os neurônios aparentemente adormecidos.
- Mas isso não pode ser verdade! Me apaixonar pela Bianca só tornaria
tudo mais complicado. Toda a integridade das aulas, toda a caça pela perfeição,
por atrair o infeliz do loiro aguado, tudo seria questionado. - Ele rebateu, soando
no princípio do desespero.
- Só porque as coisas se complicariam, não torna o sentimento inexistente.
- Constatou o óbvio.
- Como você pode saber o que eu tô sentindo? Não nos falamos há eras! -
Theo era assim. Ele se sentia acuado em um canto e começava a ficar na
defensiva. Sempre absurdamente reacionário e intempestivo.
- E eu sinto muito por isso, amigo. Mas eu te conheço e sei quando você
está em negação. - Percebendo que precisaria de mais do que aquilo para
conseguir fisgá-lo no seu raciocínio, ela preferiu jogar pelo emocional. - Por mais
distante que seja, foi exatamente assim que você ficou quando seu avô faleceu.
Você não queria aceitar porque sabia que teria que lidar com a dor, com o olhar
de pena dos outros, com todos os sentimentos que você aprendeu tão bem a
trancar dentro de si por tantos anos, se afogando em corpos desconhecidos que
não invadissem sua zona de conforto.
- Sophia, uma coisa não se compara com a outra! - Ele avisou, meio
vermelho de irritação pela lembrança.
- Olha, eu sei. - Apaziguou, as mãos estendidas a frente do corpo. - Mas a
forma como você tá agindo, fugindo de uma verdade inevitável para não correr o
risco dela preferir o amigo, me lembra daquela época. Independente das escolhas
que essa menina fizer, Theo, você precisa ser honesto com os seus próprios
sentimentos. - Ele olhava o horizonte, sem querer mais enfrentá-la. Aquela
ladainha estava se saindo plausível demais para o seu gosto. - Me diz, o que você
sente quando tá com ela? - Ele respirou profundamente, sentindo um sorriso de
canto tomar seu rosto sem permissão.
- Eu me sinto em casa. Aquela música do John Meyer, A Face To Call
Home, de repente faz todo sentido, e isso me irrita. - Sophia, percebendo a luta
interna que ele travava então, o abraçou de lado pelos ombros, diminuindo a voz
para um tom morno, que o acalmasse.
- Não precisa ser assim. Ela ainda pode escolher você.
- Não, não pode. Eu concordei em dar essas aulas com um propósito e
seria no mínimo injusto com ela obrigá-la a tomar uma decisão porque eu me
envolvi. Não foi pra isso que ela veio até mim, para começo de conversa. - O
sorriso do garoto agora havia adquirido um quê de sádico, e ele negou com a
cabeça enfaticamente.
- Então nós passamos para a fase de aceitação? - Sophia perguntou,
sentindo uma grande mudança na fala do maior. Ele a encarou durante alguns
segundos, temeroso. Então, pressionou os lábios um contra o outro.
- É, acho que tá na hora de admitir... - Suspirou, fechando os olhos como
se em dor física. - Eu tô apaixonado pela Bianca.
- Ai, que amorzão! - Sophia gritou, achando aquilo a coisa mais linda do
mundo. - Vem aqui me dar um abraço, seu cabeça oca. O que você faria sem mim?
- Viveria cego pelos meus medos, aparentemente. - Resmungou contra os
cabelos cacheados da amiga, ainda agarrada a sua cintura.
- Não se sente melhor de ter colocado isso pra fora?
- Vou me sentir melhor no dia em que eu já estiver recuperado do coração
estilhaçado. Até lá, você vai ter que me aguentar mais rabugento que o normal.
- Olha, se tem uma coisa que eu não sou nessa vida é obrigada. Mas, tudo
bem! Eu escolhi te aturar três anos atrás, e não é agora que vou me arrepender
dessa decisão. - Sorriu para ele, olhando fundo em seus olhos claros parecidos
com a estação. - Você está se tornando um homem muito decente, meu amigo.
Estou orgulhosa de você.
- Quem é o amorzão agora? - Theo levantou uma sobrancelha,
aproveitando-se para encerrar o assunto e iniciar um ataque de cócegas na
morena, que ria estridente dando alguma leveza ao seu ser sombreado.

- Biba! - Sam gritou ao vê-la caminhar para fora da sala apressada. Tinha
escutado um grupinho de meninas fofocando sobre o Theo ter sido visto matando
aula com a Miss Vietnã, e aquilo tinha incomodado. Não porque eles estavam
juntos, afinal eram amigos, e sim porque ele não podia perder aulas para passar
no vestibular...
Ok, era porque eles estavam juntos.
Ah, qual é, alguém poderia culpá-la? A menina era maravilhosa, super
despojada e simpática. Como ela poderia competir com aquilo? Seu namoro já
não estava mais em terras firmes, o burburinho de que talvez tivesses terminado já
estava percorrendo os corredores. E ela precisava de Theo para fazer ciúmes no
Sam.
Não precisava?
- Oi, Sam. - Respondeu apática, preocupada e ansiosa para puxar Theo
pelas orelhas e jogá-lo em alguma sala escura para que voltasse a focar nela.
- Você chegou a receber minha mensagem? Eu não recebi resposta... - Ele
disse com carinha de cachorro que caiu da mudança. Bianca não se lembrava de
ter lido nada com o ID do garoto.
- Não, desculpe. O que dizia?
- Ah, nada de mais... Só que eu gostei da nossa saída. A gente podia
repetir, né? - Os olhos do loiro brilhavam no decote modesto da menina, mas ela
não percebia, ainda distraída demais com onde quer que Theo estivesse.
- É...
- Quando você tá livre? - Só então Bianca percebeu que Sam a estava
chamando para sair novamente. O encontro na sorveteria não havia sido o mais
divertido do mundo, mas a companhia do amigo não era de todo ruim, quando ele
a deixava falar. Mas entre organizar seus estudos e as aulas de Theo, as próximas
duas semanas seriam uma loucura e ela sabia.
- Agora eu entro em vestibular, que eu vou prestar de treineiro, e ainda
tenho um ou outro trabalho pra entregar... Tá bem complicado. Até a formatura eu
acho que não vou ter muito tempo livre, Sam. - Respondeu com tom apologético, e
o loiro repuxou os lábios em desgosto.
- Bom, se não vamos poder nos ver direito até a formatura, acho que eu
vou precisar fazer isso agora. - Motivado pela cena que viu mais cedo do suposto
namorado de Bianca fazendo cócegas em outra garota, puxou a mão dela entre as
suas e mirou fundo em seus olhos transparentes. - Bianca Caproni, você aceita ser
meu par na festa de formatura? - Bianca ficou pálida. Seu ser se dividiu entre a
mais absoluta animação por ter enfim, comprovadamente, captado a atenção do
amigo por quem se disse apaixonada, e murcha pela incerteza sobre se Theo
gostaria de levá-la ou não.
Era relativamente cedo para decidir quem acompanharia - mesmo nunca
tendo imaginado que aquela seria uma preocupação, pois achava que não teria
nem sequer uma opção, quanto mais duas -, mas o loiro estava a sua frente
esperando uma resposta e ela não poderia dizer que precisava "ver com o
namorado" primeiro. Ele certamente só estava convidando porque tinha ouvido os
boatos do término.
Ainda assim, não se sentia nem remotamente tentada a aceitar. Sam era
legal e tudo mais... Mas ele parecia melhor quando era inalcançável, quando ela o
idealizava e não tinha parâmetros de comparação com outros caras. Agora,
conhecendo Theo e sabendo tudo que o amigo tinha feito já de errado com ela... O
sonho tinha se perdido.
Mas... Se Theo já tivesse planos para a festa, ela não gostaria de ir
sozinha, observar ele com outra se divertindo a noite toda. Só que ele não faria
isso, faria? Ainda mais cedo assim, ele não podia já ter compromisso com a
Sophia, por exemplo. Dava tempo ainda de sondá-lo a respeito e garantir uma
noite muito melhor do que a que teria com o loiro. Abriu a boca para dar uma
desculpa qualquer, quando uma voz grossa e conhecida respondeu por ela.
- Ela aceita. - Bianca e Sam se viraram imediatamente para observar um
Theo melancólico com olhos fundos, parado ali perto. Obviamente, tinha escutado
uma parte da conversa, e vendo a relutância da menina em responder, o que ele
rapidamente julgou ser por vergonha ou timidez, resolveu interceder e dar a
resposta que ele tinha certeza que sairia eventualmente dos lábios dela.
Bianca ficou paralisada olhando para ele, sem acreditar que tivesse
tomado essa decisão por ela, e, mais do que isso, sem acreditar que tinha
simplesmente a entregado de bandeja quando ela tinha considerado tanto ele para
optar pelo sim ou pelo não.
Seria possível que ele estivesse tão desesperado para se livrar dela como
possível acompanhante que teria a embrulhado em papel de presente e jogado nos
braços do amigo?
Sophia apareceu atrás do moreno, e colocou uma mão em seu ombro como
apoio. Ele se virou para ela e trocaram um olhar acalorado, cheio de significados.
Ela sabia o quanto tinha doído para ele fazer aquilo, o quão altruísta sua ação era,
e se compadecia com sua dor, oferecendo abrigo.
Bianca observou em silêncio toda a comprovação de seus pensamentos até
então paranoicos. Ele estava mesmo a dispensando pela vietnamita, por ela, mais
uma vez, não ser boa o suficiente.
Voltando a olhar para o casal a sua frente, Theo resolveu tirar o band-aid
de uma vez e resolver a situação como um homem.
- Bianca, sei que terminou comigo hoje cedo, mas eu continuo querendo
seu bem e acho que se divertir com o Sam pode ser uma forma de fazê-lo. Você
quebrou meu coração, mas tudo que eu quero é que seja feliz. Aproveitem a noite
de vocês. - O teatro crucial para taxar Bianca como disponível, mas poderosa,
era tudo que o loiro precisava para abrir um sorriso de orelha a orelha e alugar
ela para falar sobre detalhes fúteis como a cor do vestido dela para que ele
pudesse combinar o lenço do terno, e que horas deveriam chegar a festa. Theo e
Bianca continuavam se olhando, um mais machucado que o outro, até terem o
contato quebrado por uma série de alunos que passaram no meio, a caminho da
próxima aula que já estava para começar.
E eles fizeram o mesmo, cada um seguindo seu rumo, cada vez mais
distante do do outro.
Procurando se distrair dos pensamentos conflituosos que ocupavam sua
mente desde a intervenção de Theo no dia anterior, Bianca foi mais que grata ao
telefonema do pai. O mais velho se ofereceu para levá-la a comprar artigos de
decoração para seu quarto novo em sua casa, e ela prontamente aceitou, mesmo
um pouco apreensiva ao saber que toda a família também iria, aquela sendo a
primeira vez que os conheceria de verdade.
Contrariando seus medos, todos a receberam muito bem. Bernardo
inclusive não desgrudou da irmã desde o momento em que ela ganhou sua
confiança, ao cantar com o rádio a mais nova música da Galinha Pintadinha. Foi
um divisor de águas para o pequeno, que estava relutante em aceitá-la no início, e
depois não ousou soltar sua mão no passeio pelo shopping.
Bethani, a madrasta, era um amor. Elogiava seus cabelos e suas roupas,
ria de suas piadas sem graças, e não se cansava de narrar como seria tê-la em sua
moradia pelos próximos dois meses. Ela fez questão de convencer o marido a
comprar cada um dos enfeites nos quais Bianca se demorava mais de um minuto
olhando, sumindo na hora de pagarem para voltar com um pacote de luzinhas de
natal nas mãos, alegando ter visto no Tumblr que adolescentes gostavam daquilo.
Bianca, que sempre sonhou em ter um quarto personalizado daquela forma, mas
que nunca teve coragem o suficiente, estava realizada e ansiosa para ver o
resultado final.
Quando ficou sabendo da festa de formatura, Bethani fez questão de
arrastar a família para uma loja de vestidos de gala para que a menor escolhesse
o seu. Depois, se sentiu culpada e fez todo um discurso sobre não querer comprar
seu afeto, mas estar animada com a presença da filha postiça. Bianca ficou
emocionada com todo o carinho, e acabou dando um abraço caloroso na madrasta,
que puxou os filhos e o marido para acompanhar, em um gesto brega, mas muito
lindo, de amor.
Abraços grupais a parte, Bianca acabou escolhendo um branco lindo, com
aplicações de pedras nos lugares certos e que realçava suas curvas como nada
mais no mundo. Se sentiu poderosa no modelito e entregou para a vendedora
cobrar com um sorriso no rosto.
Sorriso esse que não durou muito, ao que ela lembrou de todo o drama
relacionado ao seu par.
Subitamente cabisbaixa, ela deu qualquer desculpa para esperar do lado
de fora enquanto seu pai escolhia um terno para um evento de final de ano no
escritório. Sentou-se em um banquinho de madeira e ficou ali, remoendo suas
infelicidades, até perceber pela visão periférica, alguém juntar-se a ela.
Era Sarah, a filha mais velha do casamento passado de Bethani. Ela tinha
alguns anos a mais que Bianca - já estava terminando a faculdade de Relações
Internacionais -, e era bonita de uma forma muito minimalista. Tinha sido a mais
retraída da família até então, não sendo intensa e espalhafatosa como a mãe, nem
apegada como o irmão, mas nem por isso tinha sido rude com Bianca. Ela só era
mais na dela, e Bianca não a julgaria por isso.
- Eu consigo ver que você tá morta de vontade de chorar. - Constatou
apoiando os cotovelos nos joelhos e assistindo Bernardo correndo de um lado
para o outro dentro da loja através da vitrine. - Quer conversar?
- Imagina... Não precisa, Sarah. Mas obrigada. - Bianca disfarçou, sem
querer incomodar.
- Cara, se a gente vai ser irmã, eu quero poder te ajudar. Não precisa
sofrer em silêncio. - Garantiu, solícita. Sempre foi o sonho de Bianca ter uma
irmã mais velha, e ela realmente precisava desabafar, então o pequeno discurso
de Sarah foi o suficiente para convencê-la a colocar o que estava incomodando
para fora.
Então ela contou tudo. Desde o primeiro momento em que achava ser
apaixonada por Sam, até o pedido de ajuda a Theo, as aulas, o namoro falso, o
súbito interesse do loiro e sobre Theo ter aceitado o convite da formatura por ela.
Disse como se sentiu em cada momento, como estava se sentindo agora, e qual era
o seu horizonte de emoções caso tudo continuasse daquela forma.
Sarah ouviu tudo pacientemente, fazendo interjeições engraçadas por
vezes, e perguntas quando não entendia alguma coisa. E só o fato de Bianca ter
falado com alguém sobre tudo aquilo já a fez imensamente bem. Ela já se sentia
mais leve, mesmo não tendo chegado a uma conclusão do que fazer ainda. E
mesmo que esse não fosse o caso, a conexão que conseguiu ter com filha da
madrasta valeria a pena o relato doloroso.
- Olha, Biba, eu não sou a melhor pessoa do mundo com conselhos
amorosos... Mas me parece que você precisa conversar com o Theo. Pelo menos
isso, sabe? Perguntar porque ele fez o que fez ao invés de tentar adivinhar. - Deu
de ombros, tendo noção que a sugestão não ia mudar montanhas, mas que talvez
ajudasse um pouco. Não conhecia as pessoas da história, então não se sentia
muito segura para dizer o que a irmã mais nova devia fazer.
- Eu acho que você tá certa. Vou falar com ele amanhã.
- Boa, vai fazer bem pra você. Me conta como foi por mensagem depois. -
Bem no momento que o assunto acabou, Bethani apareceu com um adormecido
Bernardo no colo, cansado depois de brincar no pula-pula que ficava ao lado da
praça de alimentação onde todos jantaram. Augusto deixou a filha em casa antes
de ir para a sua própria, prometendo ir buscá-la novamente com as malas no final
daquela semana.

No dia seguinte, Bianca se esquivou de falar com qualquer pessoa que


cruzasse seu caminho, mesmo evitando os eventuais "com licença" que
naturalmente diria para abrir espaço e continuar seu andar. Ela queria guardar sua
voz para dizer tudo que estava entalado para Theo, e tinha medo de abrir a boca e
esganiçar em um grito agudo antes que tirasse o que queria a limpo.
Quando chegou próximo do armário de número 100, o garoto já estava ali,
alheio à conversa de seus amigos ao redor e, para a surpresa de Bianca, longe de
Sophia, que conversava com um nerd da sua sala mais à frente. Não teve tempo
nem paciência de se perguntar o que aquilo podia significar. Ela chegou até o
meio da roda e disse para ele ainda de costas.
- Posso falar com você? - Theo se virou, reconhecendo instantaneamente a
voz da garota e, sob os olhares atentos do resto dos brutamontes, acenou
positivamente e indicou com a mão que ela fosse na frente.
Bianca passou por eles todos e marchou corredor adentro, só parando
quando já estava longe da vista dos conhecidos, e entrando em uma sala vazia
pelo horário. Theo a seguiu, colocando sua mochila no chão assim que a porta foi
fechada.
- Por que você fez aquilo, Theo? Porque tomou a decisão por mim sem me
consultar? Eu sou perfeitamente capaz de usar minha própria boca para responder
qualquer convite que me seja feito, e para opinar no que é melhor para mim. Você
passou o dia inteiro com a sua amiga e nem sabia o que eu estava pensando já que
nós mal conversamos sobre o Samuel depois da sorveteria, e mesmo assim se
sentiu no direito de invadir a minha privacidade e me empurrar para os braços
dele. Qual é o seu problema? - Disparou a falar, colocando em palavras toda a
sua frustração pelo ocorrido. A única parte que Bianca não se sentia à vontade de
verbalizar era, infelizmente, o cerne de tudo aquilo: O fato de ela querer que ele a
levasse na festa, e não o imbecil do amigo que a menosprezou por anos a fio, e
ele não parecia disposto a fazer justamente isso.
- Meu problema... É que você, claramente, não precisa mais de mim. E eu
ainda não aprendi a lidar com isso. - Ele disse baixo, com pesar. Podia ver que
ela estava brava, mas em meio a tanta dor só pode se limitar a achá-la adorável
naquele estado.
- O que você quer dizer?
- Quero dizer que eu estou te libertando. - Deu de ombros, no caminho
para a aceitação de que ele tinha feito a sua parte, e por mais maravilhosa que ela
tenha sido... Havia acabado. Bianca estava pronta para alçar voo rumo ao seu
objetivo inicial. Sua esperança de que ela um dia percebesse que Sam não era
bom o suficiente para merecê-la já havia ficado para trás. - Aqui, essa é a minha
última aula. - Abriu a mochila em um instante, e estendeu uma folha sulfite
enrolada para ela, selada por uma fita azul com um pingente no centro. Era um par
de asas de prata. - Boa festa, Anjo. - Theo deu um longo beijo na testa de uma
Bianca atônita, abrindo e fechando a boca como se tivesse algo para dizer, mas
não achasse as palavras, e saiu da sala com ares de despedida.
Ouvindo o som da porta se fechando, a garota despertou de seu limbo,
olhando para o bastão de folha intrigada. Ela desfez o laço com cuidado,
guardando o pingente imediatamente em um bolso adjacente de sua bolsa, e
desenrolou o papel, deparando-se com uma carta escrita na letra caprichada do
professor, onde se lia:

"Bianca,
Foi um longo caminho para chegarmos até aqui.
Enfrentamos demônios e superamos dificuldades, objetivando uma vida
mais fácil, que, quem sabe, nos proporcionasse felicidade. Fizemos isso juntos,
com a sensação de que nunca fôssemos chegar lá. A cada novo passo, nos
deparávamos com mais uma pedra, mais um desafio a ser perpassado. E, se por
ventura chegássemos onde queríamos, saberíamos que o mérito era de nossa
impremeditada e peculiar convivência.
Acho seguro dizer que, embora eu fosse a pessoa dando as aulas, aprendi
muito com você. Uma nova lição todo dia, sendo ensinada pela sua
espontaneidade, seu coração enorme e sua bondade infinita. Aprendi a perseguir
os meus sonhos, a não julgar um livro pela capa, a abraçar as diferenças e o
inesperado, e aprendi o que é ser feliz. E, por isso, eu te sou muito grato.
Garanto que não tinha conhecimento de que a minha vida estava tão
nebulosa até você aparecer, com seu jeito único e seu carinho incomparável. Me
empurrando na direção de um futuro promissor e jogando um pano quente no
passado doloroso. Explorando as minhas habilidades e perdoando meus defeitos.
Com suas asas de anjo, me levando mais próximo do paraíso a que eu não me
achava merecedor.
Fez por mim muito mais do que eu me propus a fazer por você. Sendo tão
naturalmente cativante, sempre esteve próxima demais do seu objetivo, apenas
mirando equivocadamente. Apesar dos meus esforços, o alvo permaneceu o
mesmo, e eu precisei me adaptar para te ajudar a alcançar o seu círculo de cem
pontos. Naquela altura da jornada, faria o que precisasse para selar suas feridas e
colocar um sorriso no seu rosto, não importasse os meios ou o que eu achasse. E,
no fim das contas, você precisou de bem menos instrução do que o esperado.
Durante nossa caminhada, demos muitas risadas e passamos por momentos
do mais absoluto prazer e entrega. Passamos por situações inimagináveis,
conversas profundas e animadas, e roubamos confissões e suspiros. Construímos
uma intimidade avassaladora, e criamos cumplicidade e confiança um no outro.
Encontramos um no outro um porto seguro, um ponto de apoio, um cúmplice
valioso, um aliado essencial, um par inexorável.
Tudo isso contribuiu para esse momento. O momento em que eu te diria:
Parabéns, você se formou.
Não na escola, não no vestibular, mas na arte da sedução. Você agora tem
o dom de fazer os homens se ajoelharem aos seus pés, de enlouquecer quem bem
entender, de se fazer indispensável e irrecusável. Tem o poder de mudar emoções
e manipular cabeças usando apenas da sua fala e do seu corpo. Tem o dever de
escolher a dedo quem será digno o suficiente para se manter por perto, e o
trabalho de dispensar aqueles cuja companhia não te interessa. Tem o direito de
dizer "sim" e a opção de dizer "não".
E, justamente por ter a aluna tão habilmente superado o professor, eu não
posso mais ficar no seu caminho para exercer todo esse potencial.
Por isso, eu te escrevo agora a sua última aula, e então você estará livre
para bater suas asas e voar para onde a brisa te levar.

Aula 8: Como fazê-lo se apaixonar.


Seja uma boa ouvinte. Pergunte e comente as histórias que ele contar e
ofereça o ombro para os desabafos. Não o interrompa com casos seus: cada qual
deve ter seu momento.
Tenha assuntos interessantes para conversar. Procure temas que captem a
atenção dele, e não necessariamente aqueles que mais lhe agradam. No entanto,
estabeleça um ponto de encontro, pois se informar sobre algo que você também
não domina vai levar a conversa a um fim rapidamente.
Se preocupe em saber mais sobre ele. Seu dia, o resultado de uma prova,
como se dá com a família, quais os hobbies e os gostos.
Divida preocupações com o futuro. Se ele aspira algo, esteja ao seu lado,
o apoie.
Faça-o rir.

Sem lição de casa. Essa aula você já concluiu com êxito.


Vou sentir sua falta.
Do seu eterno,
Theo."

Quando acabou a leitura, seus olhos se derramavam em lágrimas de


injustiça. Talvez devesse estar feliz por todos os elogios contidos no contexto,
mas o tom de despedida da carta era mais gritante, deixando-a ser ar.
Não importando a família que tinha ganhado, o interesse de Sam, ou a sua
recente não-exclusão no colégio, Bianca se sentia, naquele momento,
irremediavelmente sozinha.
Não tinha como ser diferente: Uma parte do seu ser tinha acabado de lhe
dar adeus.

- Você entregou a carta? – Sophia perguntou abruptamente, adentrando a


casa de madeira sem ser convidada e encontrando Theo sentado pensativo em sua
poltrona, uma dose de whisky recém-colocada banhando o gelo no copo em sua
mão. O cachorro de mesmo nome estava deitado por perto, como se sentisse que o
dono precisava de companhia naquele momento, embora carregasse a mesma
expressão de luto que o humano.
- Sim. – Murmurou entredentes, dando um gole do líquido âmbar.
- Eu não vou dizer que você vai se arrepender só para não ser uma vadia
insuportável. – A morena disse, sentando-se no braço do sofá, de frente para ele. -
Mas você vai.
- Sophia... – Avisou, sem paciência para julgamentos naquele momento.
Ele só queria encontrar paz de uma vez.
- Não, Theo, eu não consigo ficar calada. – Exaltou-se. Sempre odiou ser
silenciada. - Dois dias atrás, quando você me disse que não importavam os seus
sentimentos porque ela gostava de outro, eu não te questionei. Você tinha dado um
passo bem grande ao assumir suas emoções e eu achei por bem deixar aquilo
como estava. Mas não é possível que você tenha que ser esse altruísta pé no saco
que nem sequer vai lutar pela garota! – Jogou as mãos para cima, gesticulando
brutalmente. Estava muito tentada a segurar a cabeça dele pelas orelhas e
chacoalhar até que a razão voltasse a habitá-lo.
- Eu só quero poupar ela da confusão e avançar para a fase em que eu
tento superar essa história toda. Me desculpe por facilitar as coisas. – Reclamou,
ranzinza. Sophia balançou a própria cabeça em negação, desacreditada do
discurso do amigo.
- Você é um covarde. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas é a verdade.
– Cuspiu, repuxando os lábios. Conseguiu finalmente a atenção do garoto, que
levantou o olhar vidrado do tapete para encará-la com a testa franzida.
- De que lado você está? – Rosnou, irritado.
- Do lado que não se conforma que você tenha abraçado a infelicidade
dessa maneira. – Ela respondeu, igualmente nervosa. Então, respirou fundo
procurando argumentos mais concisos. - Me escuta, um ano atrás você estava
vivendo sob o teto de um senhor doente, batalhando para se virar e ainda assim
perseguir um sonho distante de continuar cuidando das pessoas. Era um rapaz
forte e determinado que não pararia por nada no mundo. – Fez uma pausa. - O que
aconteceu?
- Você pode não concordar, mas aquela carta exigiu de mim mais força e
determinação do que qualquer outra coisa na vida. – Suspirou, cansado do
assunto. - Esse pode não ser o final feliz que nós esperávamos para essa história,
Sophia, mas é o melhor que eu vou conseguir.
- Melhor pra quem, meu amigo? – Uniu as sobrancelhas, sofrendo com ele.
- Para todo mundo. Dessa forma, pelo menos ela vai estar feliz, e isso já é
o suficiente para mim. – Deu de ombros, embora o ato parecesse friamente
calculado, sem sinceridade. - Eu vou ficar ok. – Disse, tanto para acalmar a amiga
como para si. Precisaria repetir aquela frase algumas muitas vezes ainda para
fazê-la valer.
Sophia observou o moreno em silêncio, indignada com a sua força de
vontade em manter tudo mais confortável para a menina. O conhecia há tempo
demais e o amava muito para aceitar sua decisão sem buscar dar-lhe uma
alternativa melhor. Então, naquele momento, jurou que faria algo a respeito. “Ok”
não era o bastante quando se tratava do estado de espírito do seu melhor amigo. E
ela faria o possível e o impossível para mudar aquele status.
Era sexta-feira. O dia que antecedia a famosa festa de formatura do
terceiro ano. Todos os alunos da escola queriam um ingresso, mas só os do
colegial podiam comprá-lo. Era uma espécie de peneira para garantir o nível alto
da mesma, que era basicamente uma super balada, com um camarote para os
formandos regado a bebidas alcoólicas contrabandeadas. Todas as histórias que
percorriam os corredores ao longo do ano eram feitas majoritariamente ali, em
momentos únicos de desapego da escola, onde lendas nasciam e mitos eram
criados.
Mas não no dia anterior. Na sexta-feira, todos colocavam a cara de santos
e se comportavam em frente aos pais, pois a escola organizava a colação de grau.
Isto é, os formandos vestiam suas becas cafonas e aqueles chapéus quadradões
com um cordão pendurado, e ficavam sentados ouvindo discursos e assistindo
vídeos emocionantes sobre o tempo que passou. Um desses discursos era,
inclusive, do orador da turma que, como esperado, era ninguém menos do que
Theo Versolati.
Por ser querido pela grande maioria dos colegas, ele era a escolha certa
para celebrar a união de sua série, seu jeito com as palavras sendo muito bem
utilizado durante a fala emotiva. Aclamado por todos ao subir no palco, Theo leu
suas cinco páginas cheias de boas memórias e saudades, arrancando risos e
assobios, e não deixando um único olho seco ao terminar.
A cerimônia era feita no ginásio do colégio durante o período que
simbolizaria o último dia de aula, e era organizada de tal forma que pais e alunos
de outras séries se sentavam nas arquibancadas e os alunos terceiranistas tinham
cadeiras espalhadas pela quadra, onde também ficava um palanque grande com a
mesa dos professores convidados. O gran finale ficava por conta do paraninfo,
que assumia o microfone e chamava um a um o nome dos alunos formados para
entregar o canudo com o diploma e anunciar quais seriam os planos futuros de
cada.
Em ordem alfabética, foram todos sendo chamados, cada um tendo uma
reação diferente de comemoração - uns choravam, outros pulavam, e alguns
faziam gracinhas constrangedoras -, e o mesmo acontecia com o informe, que ia
das faculdades prestadas, até esperanças de viagem e trabalho, e algumas zoações
como "Filipe quer viver intensamente e morrer ainda novo como Kurt Cobain, e
pediu calma para a mãe, garantindo que ele não vai usar drogas no processo".
Quando chegou a vez de Theo, Bianca trancou sem querer a respiração,
assim como seus pais e uma ansiosa Sophia.
"Theo Versolati espera poder ser duplo graduado em direito e psicologia,
e trabalhar no auxílio de famílias refugiadas e na soltura de presos de guerra. Está
se aplicando com honra para as maiores faculdades do país."
Theo recebeu o canudo e passou o cordão do chapéu para o outro lado,
apenas para virar-se para a plateia e oferecer o diploma na direção de Bianca
com um meio sorriso. A menina tinha lágrimas nos olhos, orgulhosa de sua
decisão e grata por todas as tardes de estudo ao seu lado, independente dos outros
sentimentos conflituosos que agora dividia a seu respeito.
Perto dela, a senhora Versolati se levantou, apressando os passos para
falar com o filho antes de ele se juntar ao amontoado de formandos mais à frente.
Ela colocou uma mão em seu ombro para chamar-lhe a atenção e ele se virou
esperando um sermão que nunca veio. Ao contrário, a mãe o colocou nos braços
em um abraço apertado.
- Eu quero que você seja feliz, meu filho. - Murmurou contra os cabelos
dele, ainda preso no abraço apertado. - Só quero o seu bem, eu prometo.
Desculpa se eu tentei te privar do seu sonho, mas aquele lugar é perigoso e
psicologia é um futuro incerto, e eu não quis que você passasse qualquer
dificuldade na vida. - Ela estava chorando, o que fazia sua voz falhar e Theo
sentiu um incômodo no peito por vê-la pela primeira vez daquela maneira.
- Eu sei me cuidar, mãe. - Garantiu, acariciando suas costas por cima da
blusa de seda cara.
- Eu sei que sim, meu amor. E por isso você vai poder fazer as duas
faculdades. Mas terá que me manter por perto para acalmar meu coração. – Disse,
agora segurando-o pelos ombros para poder olhar em seus olhos. Sua maquiagem
estava um pouco borrada, mas para o moreno a mãe nunca tinha parecido tão
bonita.
- O que você quer dizer? - Theo sentia o coração acelerar com a
possibilidade de ter finalmente se libertado das amarras que travavam suas
ambições.
- Que eu vou te apoiar, seja fisicamente ou investindo na organização que
você escolher trabalhar para. Só assim vou ficar tranquila enquanto você toma as
suas próprias decisões. - A mulher ditou sendo então esmagada em mais um
abraço, dessa vez iniciado pelo filho, comovido com a mudança de postura da
mãe. Ele ainda teria que fazer direito, mas agora aquilo não parecia nem de longe
tão ruim e ele sabia a quem devia aquela sensação de plenitude. Com os olhos
molhados, focou em Bianca na arquibancada e respirou fundo, a agradecendo
ainda que mentalmente.

O sábado de festa enfim chegou. Os preparativos estavam à toda, com a


Comissão de Formatura, formada basicamente pelas patricinhas da escola e um ou
outro cara mas festeiro, correndo de um lado para o outro para garantir que tudo
ficasse perfeito, o Grêmio da escola auxiliando na contratação de seguranças, DJ,
barmen e equipe de limpeza, e alguns brutamontes do time de rugby ajudando a
pendurar as decorações nos pontos mais altos do salão. Finalmente, às sete horas
da noite, todos deram o trabalho como feito e foram para as suas casas tomar
banho e se arrumar para a comemoração que viria a seguir.
Augusto levou a família para jantar antes de Bethani e Sarah se trancarem
com Bianca em seu mais novo quarto para ajudá-la a se arrumar. Bernardo ficou
carrancudo por não poder ser o par da irmã e chiou em birra até às nove horas,
quando seu horário de dormir chegou e ele não resistiu, se entregando a Morpheu.
Só então a menina relaxou o coração apertado de ver o pequeno chateado e se
permitiu aproveitar todas as preparações que a madrasta e sua filha tinham
reservado. Elas pintaram suas unhas, e fizeram seu cabelo e maquiagem, a todo
tempo contando histórias divertidas de quando elas passaram pelo mesmo ritual.
Bianca entrou no vestido e pegou a bolsa pontualmente às dez horas, no
mesmo momento em que Sam buzinou do lado de fora da casa. Calçou seus
sapatos de salto alto com pressa e deu um beijo nos familiares saindo pela porta
com votos de "divirta-se" e avisos de "comporte-se".
Sam estava impecável em seu smoking preto, e beijou sua mão ao ajudá-la
a entrar no carro pelo lado do passageiro. Muito embora ela não estivesse com
grandes expectativas para aquele encontro em particular, esperava conseguir se
divertir dignamente na festa mais esperada do ano.
O lugar estava primoroso. Tudo perfeitamente pensado para garantir uma
noite inesquecível e já bastante tumultuado de alunos chegando em vestimentas
luxuosas com seus pares-troféu a tiracolo. Bianca e Sam não ficavam atrás,
misturando-se à população e adentrando o salão após deixarem seus ingressos
com um responsável na porta.
A música era alta no lugar semi-iluminado, que já contava com alguns
casais dançando animadamente, enquanto outros ainda conversavam nos arredores
da pista e alguns poucos já trocavam beijos entusiasmados nos sofás que
contornavam as paredes como se não houvesse amanhã. Sam murmurou para
Bianca que o esperasse ali enquanto ele tentaria conseguir algo para beberem. Ela
não perguntou se ele ia dar um jeito de surrupiar algumas bebidas mais fortes do
camarote dos formandos ou se ia se contentar com algum drink sem álcool do bar
a que tinham acesso, apenas acenou positivamente e continuou a observar os
arredores.
Foi aí que ela viu.
Theo ria abertamente, excessivamente alegre, com Sophia ao seu lado,
pendurada em seu braço, e mais alguns amigos os rodeando. Todos foram direto
da entrada para o elevado reservado aos terceiranistas (Sophia por ser par de
Theo, pois não era formanda) e pareciam destoar do clima ainda não tão
alucinado da festa. Logo Bianca concluiu que eles tivessem feito um "esquenta" e
já estivessem um pouco bêbados.
O moreno estava maravilhoso em um terno cinza chumbo que realçava os
músculos de seu corpo maduro demais para um menino daquela idade, e tinha os
cabelos bagunçados mais atraentes que o normal. Ao passo que Sophia modelava
com um colado vestido azul, moderno e despojado, de uma forma que só ela teria
estilo o suficiente para bancar. Bianca estava hipnotizada olhando para os dois.
- Aqui, Biba. – Sam chamou, detendo novamente sua atenção. Ele estendia
um copo com um líquido coral bonito que ela não fazia ideia do que continha.
Agradeceu e deu um gole, sentindo o sabor doce se espalhar pela sua boca e a
acidez da vodca descer sua garganta. Vendo a face da garota de surpresa pelo
conteúdo da bebida, o loiro tratou de se explicar. – Peguei um pouco de vodca
com um veterano do basquete. Se não gostar a gente pega um refrigerante pra
você. – Bianca apreciou o gesto raro de preocupação do amigo, mas bastou uma
última olhada para um Theo alterado sendo erguido pelos amigos no camarote
para que ela negasse.
- Não, hoje eu vou abrir uma exceção.

O tempo passou rapidamente ao som das batidas mais badaladas da rádio


e conversas pra lá de engraçadas entre bêbados bem humorados. A pegação nesse
ponto já era generalizada, sendo praticamente impossível achar um lugar vazio
para se sentar nos sofás ou mesmo uma parede deserta. Vários casais da escola se
revelaram, alguns improváveis, outros surpreendentemente homossexuais, e
outros héteros ainda mais inesperados. E, motivadas pelos shots a mais, algumas
pessoas faziam questão de passar o relato a todos que encontravam, de forma que
nenhuma fofoca teria o poder de permanecer na festa. Havia inclusive um telão
que, a mando de alguém da Comissão de Formatura, passava tweets bombásticos
postados sobre a hashtag #bafodaformatura.
Naquela altura da madrugada já era difícil encontrar quem não estivesse
pelo menos cativado pelo cheio embriagante no ar, dançando até se acabar na
pista ou dando brutalmente em cima de alguém. Por isso, não era de se
surpreender que Theo estivesse sem camisa em cima de um elevado
sensualizando com a plateia de garotas desesperadas. Ele conseguia ficar sério se
movimentando de forma a deixar a imaginação correr solta, mas era só alguém
gritar um elogio descarado para que ele caísse na risada.
Sophia, que tinha desaparecido com o capitão do time de xadrez há meia
hora, voltou para perto do amigo com a boca inchada e descabelada, e não perdeu
tempo em esticar as mãos para que ele a içasse para dançar com ele. Percebeu, no
entanto, que ele não estaria em condições e que ela não conseguiria sozinha, então
só assobiou para os gêmeos zagueiros do futebol e eles seguraram cada um um
braço dela e conseguiram colocá-la ao lado do moreno no palquinho
improvisado.
A plateia mudou consideravelmente, dobrando de tamanho pela junção dos
homens, também animados por ver Sophia dançar. Ela e Theo deram mais uma
longa risada e juntaram as mãos para fazer graça descendo até o chão. Era
impossível dizer quem rebolava mais, mas Theo ganhou mais assobios pelo
detalhe do dedo na boca.
Continuaram dançando juntos, cada vez mais descarados, Sophia fazendo
muito mais por diversão e Theo porque estava embriagado. Eles se esfregavam
um do corpo do outro, sendo obscenos para o agrado da multidão que assistia,
embora seus movimentos não tivessem qualquer maldade para eles mesmos, que
se viam como irmãos. Sophia descia as mãos pelo peitoral e abdómen do amigo,
fazendo inveja nas recalcadas aos seus pés, e ele lhe dava tapas generosos na
bunda, que faziam brilhar os olhos dos marmanjos.
Bianca assistia à cena vidrada. O álcool funcionava diferente em seu
corpo, já tendo passado há muito a fase da desinibição e alcançando rapidamente
a melancolia. Quando o casal estrela decidiu deixar o elevado, ela já tinha as
mãos de Sam entre as suas e marchava para o centro da pista, decidia a se divertir
nem que à força.
Sam foi obediente e de corpo mole, e ficou quase que parado enquanto
Bianca se esforçava em dançar provocante e animada, tentando despertar alguma
chama em si mesma. Ela se virava de costas, rebolando, ou se apertava a ele de
frente, sempre no ritmo da música.
Theo acabou colocando os olhos nela por uma fatalidade, enquanto
esperava seu próximo shot. Ela fazia exatamente como ele tinha ensinado, e
apesar de esperar sentir raiva, Theo só conseguia se sentir vazio.
Sam pareceu voltar à vida, criando controle sobre as próprias mãos
apenas para colocá-las em todos os lugares inapropriados de se tocar em público
e apertá-la em um abraço até aproximar a boca da dela. Bianca ficou confusa do
que deveria fazer, mas não teve tempo de pensar, já que o loiro avançou de
repente aprisionando-a em um beijo molhado demais. Ele mexia a língua mais
rápido do que ela conseguia acompanhar, colocando-a inteira na boca da menor,
que sentia algum nível de nojo. Não se lembrava dele beijar desse jeito, mas
procurou culpar o álcool pela performance pífia do amigo, que agora descia os
lábios para o seu pescoço, deixando o caminho babado demais e mordendo a pele
delicada de uma maneira nada prazerosa.
Bianca inconscientemente procurou pelo ex-professor, queria saber se ele
estava presenciando aquela cena, e na hora que o encontrou se sentiu um lixo.
Por que ela estava se dignando a passar por isso? Fazer esse tipo de
vingancinha? Seria possível que Theo merecesse tamanho desprezo a ponto de ela
se colocar naquela situação deplorável para se sentir melhor?
Empurrando Sam pelos ombros com força e assistindo-o cambalear para
trás, ela correu para o banheiro feminino. Tinha lágrimas nos olhos e tamanho
desgosto por si mesma que só passaria depois de ela, no mínimo, lavar o rosto e
ter uma boa noite de sono.
Se apoiou na pia encarando o reflexo, tentando se reconhecer enquanto
deixava as lágrimas continuarem a cair livremente, cansada de se privar do que
quer que estivesse sentindo. A porta se abriu e ela estava pronta para xingar quem
quer que fosse a bêbada desagradável que tivesse ido ali vomitar, quando se
deparou com Sophia.
A morena tinha um olhar complacente, entendedor, e Bianca suspirou
profundamente ao vê-la.
- Veio esfregar na minha cara o quão patético é chorar em uma festa? –
Perguntou, arisca. Diziam que o ataque é a melhor defesa...
- Eu não sei com quem você tem andado menina, mas eu não sou tão vadia
mor assim. Eu vim ver se você está bem. – Sophia rebateu, aproximando-se da
pia onde a outra se encostava.
- Ah, claro que eu estou. Estou ótima! Eu acabei de beijar o cara por quem
eu era apaixonada, foi uma bosta, e o Theo viu ainda por cima e me olhou com
uma cara tão... – Faltaram-lhe as palavras, enquanto cuspia todo o cinismo
guardado por uma vida, a raiva de si mesma novamente dando as caras. A morena
suspirou, paciente.
- Escuta, você obviamente precisa de uma amiga e por um acaso do
destino eu estou disponível. Modéstia à parte, eu faço o trabalho muito bem.
Então venha aqui. – Sophia puxou Bianca pela mão até um sofázinho contido no
banheiro, provavelmente para apoio de bolsas e afins. Elas se sentaram viradas
uma para a outra e Bianca limpou os rastros de lágrima com violência, dividida
entre o incômodo de não ter ninguém melhor com quem partilhar seus problemas,
e a sensação sufocante de tê-los guardados por tanto tempo. Sarah tinha ajudado,
há duas semanas, mas Sophia conhecia Theo. O tipo de discurso necessário era
infinitamente diferente. – Põe pra fora, Bianca. Me conta o que você tá sentindo. –
Incentivou.
- Eu sinto como se fosse explodir. Ainda não superei que Theo tenha me
afastado sem mais nem menos e agora tudo que eu tinha no meu horizonte também
ruiu, porque o Sam é um pé no saco e beija mal. – Sophia não conteve uma
risadinha por ouvi-la com toda aquela cara de anjo falar de maneira tão chula.
- Querida, você já se perguntou o porquê de te incomodar tanto que o
Theo tenha te afastado ou o porquê de não estar sendo tão bom com o seu amigo?
– Perguntou, tentando chegar no cerne de tudo aquilo.
- Porque eu sou uma idiota dependente da opinião dos outros...? – Tentou,
sabendo que mesmo que aquilo pudesse ser minimamente verdade, não se
aplicava ao caso.
- Acho que não, Biba. Presta atenção em todos os sinais. O que você
sentiu quando Theo se despediu? – Sophia se sentia fazendo o mesmo
interrogatório de duas semanas antes e achou graça sozinha do quanto a menina à
sua frente e seu melhor amigo eram parecidos. Ambos cegos e atrapalhados.
- Não sei, acho que eu ressenti muito mais a mim mesma do que a ele. Eu
tô com esse pensamento constante sobre não ser boa o suficiente, e...
- Opa, pera aí que acho que temos um vencedor! – Sophia interrompeu,
imitando o sinal da buzina que soa nas máquinas de blackjack quando se consegue
três sacos com cifrão na mesma rodada. - Porque te incomoda que ele talvez não
te ache boa o suficiente?
- Ah, porque dessa forma ele vai precisar procurar alguém que seja. Quer
dizer, eu não bastaria. Ele teria que ir atrás de alguém como você, o que
obviamente já está acontecendo. – Resmungou, insatisfeita.
- Menina, escuta muito bem porque eu não sou de dar satisfação então esse
é o tipo de coisa que só vai acontecer uma vez na vida. – Ela tinha um indicador
em riste, chamando a atenção da menor. - Eu e o Theo? Nunca vai rolar.
- Por que não? Vocês são perfeitos um pro outro. – Murmurou com
desgosto, mesmo acreditando piamente ser verdade.
- E você lá quer que role pra estar me empurrando pra ele dessa forma? –
Sophia tinha as mãos na cintura, como se lhe desse um sermão. - Acredita em
mim, a gente não tem nada a ver junto. Somos amigos porque somos parecidos
demais e por isso é como conversar com o espelho. Mas em um relacionamento?
Isso seria nossa ruína. Relacionamentos são feitos de pessoas diferentes, que se
complementam, que acrescentam algo uma para a outra. Eu e o Theo só sabemos
encher a cara, subir em mesas e tirar a roupa. – Bianca deu risada, achando graça
no discurso enfático da morena sobre a não-funcionalidade de um enlace entre os
dois.
- Ele também acha isso? – Resolveu se assegurar, embora já tivesse
bastante tentada a crer na fala da garota.
- A gente chegou nessa conclusão juntos. – Deu de ombros, sabendo que
aquela era a prova final para tirar aquilo da cabeça da outra. – Agora voltando ao
que interessa. – Bateu as mãos, se concentrando no principal. - Você disse que
não quer que ele tenha que procurar em outras pessoas o que pode ter com você.
E o que seria isso?
- Ah, sei lá... O que ele quisesse. – Bianca respondeu, subitamente tímida.
- Bianca, o que você quer? – Aquela pergunta era tão simples e ao mesmo
tempo tão importante para Bianca, que ela sentiu como se, pela primeira vez na
vida, tivesse uma amiga. Alguém que se importasse com o que ela queria ao invés
de indagar meramente suas ações e resultados.
- Sinceramente? – Perguntou, vendo a outra revirar os olhos e acenar
positivamente. - Acho que eu gostaria de que tudo voltasse ao que era. Quando a
gente se via todo dia e namorava de mentirinha.
- Mas não era de mentira pra você, era? – Sophia tinha um sorriso de
lado, sabendo que tinha chegado ao centro do problema.
- Ah... Eu...
- Querida, você consegue ser mais atrapalhada que ele. Qual a dificuldade
de admitir? – Levantou-se, arrumando o cabelo pelo reflexo do espelho, relaxada
agora que o assunto estava dominado.
- Admitir o quê? – Bianca estava acostumada a ser taxada como
inteligente, mas ali, naquela conversa, estava se sentindo um patinho assustado e
ignorante, conversando com um ganso imponente e com todas as respostas, em
uma língua que ela não compreendia completamente.
Sophia se virou para a menor e sorriu como se tivesse descoberto a cura
da Aids.
- Você gosta dele. Quer que ele seja seu namorado, que só fique com você,
que durma ao seu lado, que se preocupe. – Bianca arregalou os olhos, negando
freneticamente com a cabeça.
- Que? Não, Sophia, você está enganada.
- Ah, é? Então me diz, por que foi tão ruim ficar com o seu amigo? –
Novamente, ela tinha uma mão na cintura e as sobrancelhas erguidas, como se
lidasse com uma criança especialmente teimosa.
- Não sei, ele babava demais, era muito chato, não tava dando certo...
- Ele não era a pessoa que você queria estar beijando. – Sugeriu.
- É, e ele não... – Bianca se interrompeu no mesmo momento em que
percebeu ter concordado com a morena, arregalando mais ainda os olhos
transparentes.
- Viu? – Sophia lhe ofereceu um sorriso complacente.
- Ai, meu deus. – Cobriu a boca com as mãos, como se pudesse frear o
processo de percepção. - Eu gosto dele. – Sussurrou, a voz abafada.
- Eu iria mais longe e diria que você está apaixonada. – Deu de ombros,
agora consertando a maquiagem.
- Sophia! – Esganiçou, desesperada. - O que eu vou fazer?
- Ué, você vai ganhá-lo de volta. – Comentou em tom de obviedade.
- E como eu vou fazer isso?
- Eu ouvi dizer que você era formada na “arte da sedução”. Me disseram
errado? – Piscou para a outra, e ambas trocaram sorrisos cúmplices, já sabendo o
que Theo tinha guardado pela frente.
Agora que todo mundo estava de férias e a única preocupação deles era
com os resultados dos vestibulares, que só sairiam em janeiro, Bianca conseguiu
um tempo para se centrar e decidir quais seriam suas ações para conquistar o
objetivo mais enredado de sua vida: Theo.
Ficou sabendo por Sophia que o mais velho tinha planos de ir
desanuviar a cabeça na praia durante o ano novo, o que significava que ela só
teria mais alguns dias até perdê-lo para a família no natal e para o mar aberto na
virada. Por isso, correu para o cabelereiro o mais rápido que pôde, passando de
quebra em lojas conhecidas para comprar algumas mudas de roupas
extraordinárias.
Em resumo, Bianca passou por uma revitalizada geral. Se tinha alguma
coisa que tinha aprendido na Aula 1 era justamente que mudar sempre fazia bem,
ainda mais se refletisse uma mudança interna.
Se sentindo nova em folha, Bianca pegou um taxi e rumou para a
casa de Theo. Sophia havia lhe garantido que ele não estaria lá até a hora
combinada, de forma que ela poderia lhe fazer surpresa. Logo, bateu na porta, que
foi atendida pela empregada simpática que já estava mais que acostumada a vê-la
por ali. A mesma alertou sobre Theo não estar em casa, mas Bianca lhe
confidenciou que queria fazer uma surpresa e a senhora a deixou entrar, achando
adorável o romance adolescente.
Então Bianca percorreu a passagem até a casa de madeira,
encontrando um Whisky cheio de saudades no caminho. Brincou com o cachorro
por alguns minutos, também tendo sentido a falta dele, e depois foi para o quarto
de Theo se preparar. Ela trocou as roupas pelas que trazia na sacola, o que
consistia em um mini vestido preto que a deixava particularmente sexy, saltos, e
um lingerie vermelho, especialmente escolhido para a situação. Finalizou a
preparação com uma maquiagem mais forte, com delineador preto e um batom da
mesma cor da roupa íntima. Satisfeita com o resultado, Bianca também tirou da
sacola uma porção de velas aromáticas e as espalhou pelo quarto, acendendo uma
a uma.
Estava tudo saindo como planejado, até ela escutar o som longínquo
do carro de Theo estacionando na garagem. Apressou-se para a sala, onde se
sentou na poltrona com toda a graça e postura aprendidas na Aula 2. Esperou,
iluminada apenas pela luz do abajur ao seu lado, que o dono da casa entrasse.
E ele o fez, alheio ao que poderia estar acontecendo, o que levou
Bianca a crer que a empregada não havia estragado a surpresa. Ele abriu a porta
da cozinha assobiando a última música que tinha ouvido na rádio, e esvaziou os
bolsos na bancada antes de finalmente se virar para a abertura da sala e encontrar
Bianca ali, sentada toda sedutora, apenas esperando-o pacientemente.
Sua boca foi ao chão na mesma hora. Não haviam palavras que
descrevessem tudo que ele sentiu quando a viu, tão suntuosamente maravilhosa e
novamente dentro da sua casa, onde tantas memórias já haviam tido espaço. Os
olhos de Theo percorriam seu corpo dos pés à cabeça, desacreditados que ela
pudesse realmente estar ali, depois que já havia se convencido de que o discreto
“adeus” contido na carta teria sido definitivo.
- Bianca... – Disse baixinho, quase como se não quisesse perturbar o
ambiente demais, para que a fantasia de desfizesse. Ela se levantou, com calma e
graciosidade, e com os olhos cravados nos dele, suspirou:
- Theo. – Ele adorava a forma como seu nome soava na voz da
garota, e fechou os olhos brevemente para sentir o som reverberar. Agora que a
miragem falava, ela lhe parecia mais real, mais alcançável.
- A que devo a honra da sua presença? – Ele tinha um sorriso de
canto, intrigado do que tudo aquilo poderia significar, mas ao mesmo tempo
gostava demais do ar misterioso para quebrar tudo com informalidades. Ela
apontou para o sofá, sugerindo que ele se sentasse, e fez o mesmo bem ao seu
lado.
- Você estava errado. – Sussurrou. - Eu ainda tenho mais uma aula
para aprender.
- É? E sobre o que ela fala? – Bianca sorriu fechado, reservada, e
ele entendeu que aquela não era a hora de ela lhe revelar.
“Se seu olhar se cruzar com algum cara com quem queira flertar,
você descruza e cruza as pernas novamente para o outro lado.”
Lembrando-se novamente dos ensinamentos do garoto, ela fez o que havia
aprendido, logo depois conectando novamente seus olhares. Theo estava
hipnotizado pelo cumprimento do vestido e mordeu os lábios instintivamente com
a visão dele se levantando brevemente com o movimento de suas pernas.
- Você tá muito gostosa. – Constatou, não se freando de dizer aquilo que
era a mais absoluta verdade, que dançava no ar como um elogio necessário.
Bianca sorriu mais uma vez, e olhou para a janela aberta, que mostrava um fim de
tarde ameno e cheio de nuvens.
- O tempo está nublado. Você não adora tempo nublado? – Perguntou,
desviando o assunto com a sutileza de uma dama.
- Eu deveria? – Indagou, apertando os olhos em curiosidade de onde ela
queria chegar.
- É bom para tomar decisões. – Deu de ombros delicadamente. - Você não
se sente pressionado pela positividade do sol, nem amuado pela melancolia da
chuva. Qualquer um dos dois pode ser igualmente provável. – Explicou, e o mais
velho rapidamente pegou a linha de raciocínio.
- Ou o sol aparece ou a chuva cai. – Acenou em compreensão. - Qual
decisão você tomou?
- Você é um garoto grande... – Bianca soprou, pousando uma mão
suavemente no fim da coxa do moreno e apertando ao umedecer os lábios. Todos
gestos que exigiam muita autoconfiança, coisa que ela conseguiu também a partir
de uma aula. No caso, a Aula 3:
“Você precisa estar confortável consigo mesma desde debaixo da pele,
confortável com o seu prazer egoísta, com o que quer, com o que precisa.”
O que ela precisava era dele. E estava ali para justamente para mostrá-lo.
- Tenho certeza que pode descobrir sozinho. – Embora sua fala contivesse
um desafio implícito, nada era mais claro do que a conexão feita entre seus
olhares, que dizia basicamente tudo que era necessário ao garoto saber.
Respirando fundo e cansado de vê-la tão longe sentindo-a tão perto, Theo
enlaçou uma mão na nuca de Bianca, e puxou-a pelos cabelos direto para sua
boca.
Testa contra testa, seus hálitos se misturavam, quentes e saudosos, em um
roçar vigoroso que provocava arrepios pela coluna. Os pelos eriçados e os
narizes se encontrando, apenas premeditando a hora que alguém fosse partir os
lábios de uma vez.
Ela tomou a iniciativa.
Theo nem ousou não retribuir, sentindo-a colocando seu corpo e alma no
movimento, entregando-se como planejava fazer desde o início, dando seu
coração em uma bandeja de prata.
Seus lábios se moveram em conjunto, como se lembrassem um do outro, e
tivessem sentido falta de seu gosto e maciez. Diferente de qualquer outra
experiência, uma estranha corrente de eletricidade percorreu seus corpos,
derretendo cada nervo tensionado. Tinham feito aquilo tantas vezes, e ainda assim
parecia ter sido em uma fantasia ou sonho distante, no melhor tipo de déja vu
possível.
Era como na Aula 4, quando se beijaram pela primeira vez, e todos os
encaminhamentos de Theo se provaram desnecessários. Eles não poderiam dizer
que tinham aprendido a lidar perfeitamente com o ritmo um do outro, que tinham
decorado os tipos de agrados que o outro preferia, pois seria mentira. Afinal,
ficou claro desde o começo que tinham nascido com aquele dom.
Quando o beijo começou a ficar bom demais para a sanidade de ambos
falar mais alto, Bianca se levantou do sofá, puxando Theo pelas mãos para
acompanhá-la, os olhos sempre conectados. Ele ficou em pé também, logo
segurando-a com força pela cintura e dando impulso, de forma que a garota
enlaçasse as pernas ao seu redor. Assim, com ela no colo, ele se dirigiu para o
quarto, outro ambiente de memórias indescritíveis, visando o espaço e conforto
provido pela cama.
O moreno ficou impressionado ao ver todas as pequenas velas que
iluminavam o lugar, deixando um aroma característico no ar e uma sensação
gostosa de acolhimento. Sorrindo para ela e acariciando sua bochecha quente,
Theo aproximou-se do colchão, colocando primeiro o próprio joelho e só então a
depositando de costas com toda a gentileza do mundo.
Ao passo que voltaram a unir seus lábios e gostos, as roupas foram
desaparecendo, uma a uma sendo jogadas no chão, enquanto mãos ansiosas
exploravam a pele descoberta, tocando, apertando, pressionando. Eles não
conseguiam evitar.
Bianca sentia-se molhada só de sentir o tronco nu do professor sobre ela,
com todos os músculos nos lugares certos, o odor mais maravilhosamente
másculo que já tinha sentido, em uma maciez infinita que lhe dava água da boca.
Tinha descoberto aquela sensação com ele, tendo entendido o significado da
palavra tesão pela primeira vez só quando ouviu seus sussurros libidinosos ao pé
do ouvido ou visto o olhar pecaminoso dele lhe analisando as curvas. Cada uma
daquelas ações era capaz de fazê-la entortar os dedos dos pés e ansiar por uma
pressão mais enfática sobre si e um quadril duro entre as coxas. E tudo aquilo era
novo. Aquele anseio por sexo só surgiu na Aula 5, quando ele pacientemente lhe
provou que o que era capaz de fazer entre quatro paredes era mais do que
gratificante, quebrando todos os seus estigmas anteriores.
Como agora, que ele beijava seus seios com uma fome a que era
impossível não se entregar, arqueando a coluna para empurrá-los mais dentro da
boca dele. Theo fazia cada mínimo agrado parecer surreal, e Bianca revirava os
olhos, enlouquecida e perturbada pela enxurrada de sentimentos e pela inquietude
que se estabelecia no seu baixo ventre. Era tão absurdo, que ela tinha vontade de
jogá-lo do outro lado da cama para comandá-lo ao seu ritmo, com a sua pressa.
E foi o que ela fez. Arranjou um jeito de girar com o mais velho pelos
lençóis até as posições inverterem, e arrancou a última peça de roupa dele como
se sua vida dependesse daquilo. E então, antes que pudesse parar para pensar no
que estava fazendo, tinha o pau dele enfiado até a garganta.
A vontade de colocá-lo na boca estava insuportável, ela percebeu.
Adorava sentir ele estremecer por sua causa, deixá-lo mais duro do que achava
capaz, e vê-lo espelhando todos os desesperos dos quais ela sofria quando ele a
provocava. Adorava lembrar do rosto dele de sofrimento e do mais absoluto
êxtase quando a ensinou aqueles movimentos na Aula 6. Fazia ela se sentir
poderosa e ainda mais excitada, se aquilo era possível.
Theo a puxou pelos cabelos, mostrando que era o suficiente, e que ele
queria tê-la naquele instante. A guiou até tê-la sentada em seu quadril, o mastro
entre as coxas da garota, onde ela se esfregava sem se conter. A posição era nova
para ela, mas ele tinha certeza que seus gritos seriam passíveis de se ouvir a
quilômetros quando se acostumasse.
Ele se protegeu rapidamente e segurou Bianca pela bunda, levantando-a
até estar encaixada na cabeça de seu membro. Segurando em seus ombros fortes,
ela desceu centímetro por centímetro, sentindo-o preenchê-la por inteiro, em um
ângulo diferente do usual que a obrigava a girar os olhos nas órbitas. Apesar de
ser claramente um esforço descomunal para Theo ir devagar naquele momento,
ele aguentou, mordendo os lábios com os olhos vidrados no lugar onde se
tornavam um só. Bianca notou o cuidado com ela, a paciência em esperar que se
movesse quando se sentisse pronta. E ela adorava quando o garoto era bruto e
sexy, mas tamanho carinho e conexão podiam ser até mesmo melhores em dadas
situações.
Tinha um sentimento alarmante impregnado no ar, um pouco de saudade
misturada com alívio e, arriscaria dizer, até mesmo uma porção de amor. E toda
aquela áurea, unida com a posição nova e desafiante, tornavam tudo
espetacularmente melhor, assim como Theo havia explicado na Aula 7:
“É importante sempre o casal achar uma forma de quebrar a inércia e se
colocar em situações diferentes, que lidem com o inesperado e tragam alguma
experiência nova.”
Respirando fundo e já perto demais de um final inevitavelmente bom,
Bianca começou a se mover, subindo e descendo com graça e em seu próprio
ritmo. Theo a forçava a rebolar de vez em quando, quando estava inteiro dentro
dela, e ambos arfavam com a sensação. Ele estava hipnotizado no movimento que
os seios dela faziam com o vai-e-vem, enquanto ela tinha os olhos baixos,
incapazes de permanecerem abertos propriamente, mirando o peitoral e abdômen
do moreno tensionados pelo gozo postergado.
Juntos, abraçaram-se em um aperto gostoso quando tudo aquilo se tornou
insuportável, e se entregaram a um orgasmo elétrico e relaxante, gemendo na boca
um do outro.
Agora, deitados lado a lado ainda levemente ofegantes, Bianca percebeu
como tinha passado em poucas horas por todas as 7 aulas ministradas pelo mais
velho. Com um sorriso sofrido, percebeu que a única que ela achava não ter
cumprido com méritos, era justamente a oitava. Fazê-lo se apaixonar... Aquele era
todo o objetivo. Teria ela sido bem sucedida?
Simultaneamente, Theo avaliava a loucura que havia sido aquele par de
horas. Encontrar Bianca em sua casa, tão absurdamente tentadora, dizendo todas
as coisas certas e agindo como uma mulher de verdade... Era de tirar o fôlego.
Mesmo assim, o elemento que mais jogava a favor de toda a sedução da menina
era justamente o fato de ela ser quem era, com sua meiguice à flor da pele e os
olhares intimistas que sempre carregava nas íris transparentes. Apesar desses
elementos sempre presentes em suas atitudes, até mesmo inconscientemente, ele
percebia agora que ela estava sim agindo diferente, como se seguisse um manual
de regras.
Em um clique, Theo percebeu, extremamente surpreso, que Bianca estava
colocando em prática as aulas que ele tinha lhe dado. Uma a uma, estavam todas
presentes ali, exceto... A Aula 8. Era isso que Bianca objetivava? Ela queria
conquistá-lo?
- Você sabe... Eu percebi o que você fez. – Comentou, trazendo a atenção
da menina para si. – E você foi perfeita como sempre.
- Mas? – Bianca disse com um sorriso penoso de canto. Se ele estava lhe
dizendo aquilo, era porque tinha entendido onde ela queria chegar. E, mesmo
assim, ele não tinha dito aquilo em um tom apaixonado. Ele virou-se para ela com
dúvida no olhar.
- Mas nada disso é necessário. Muito menos a oitava aula. – Ele deu de
ombros, ruborizado. Falar de seus sentimentos nunca deixaria de ser estranho.
- Por que eu nunca vou surtir efeito em você, né? – Ela completou,
cabisbaixa. Theo franziu o cenho, não entendendo sua reação.
- Pelo contrário, menina... Você não vai me conquistar por causa dessas
aulas. – Sentindo-se boba, ela continuava a mirar as próprias pernas. - Você já me
conquistou... Apesar delas. – Bianca subiu o rosto para mirá-lo imediatamente,
tentando fazer sentido das palavras que se embaralhavam em seu cérebro.
- O que isso quer dizer? – Sussurrou, tímida e confusa. Theo coçou a nuca,
desconfortável de colocar em palavras aquilo novamente, mas sabendo ser
necessário.
- Quer dizer que eu sou completamente apaixonado por você, Anjo. – Ele
brincava com os dedos dela para não precisar encará-la. - E não é de agora. –
Surpresa e sem se conter, Bianca ficou imediatamente de joelhos e se jogou nos
braços de Theo, chocando os corpos com violência, abraçando-o pelo pescoço
com força e forçando os lábios contra os dele em um selinho apertado. Ele
exclamou, surpreso, segurando-a com cuidado pela cintura em equilíbrio.
- Você tá falando sério? Não é brincadeira? Não é nenhuma lição a mais
que você quer me dar sobre coração partido nem nada assim, é? – Rindo de seu
jeito eternamente afobado, Theo também se sentou encostado à cabeceira com ela
ainda apoiada em si, e decidiu colocar tudo em panos limpos. Ela já tinha
demonstrado que não ia fugir... Pelo menos ele colocaria aquilo para fora.
- Eu não tinha percebido, você sabe, sou muito cabeça dura. Mas aí a
Sophia começou a me fazer um monte de perguntas a seu respeito... E eu fui
notando que meu ciúmes e necessidade de contato não eram a coisa mais normal
do mundo para quem não sente nada além de amizade pela pessoa. Daí eu me
senti super mal de estar ficando no seu caminho para chegar até o loiro aguado,
porque aquele era seu objetivo desde o começo e eu não estava sendo muito
condescendente com isso. Então eu resolvi me afastar e te deixar ter a chance que
você merecia com ele, mesmo que fosse para perceber que ele não te merecia. –
Explicou para uma Bianca boquiaberta.
- Você fez tudo isso por mim? – Bianca tinha os olhos marejados,
finalmente compreendendo todos os motivos por trás de atitudes que a tinham
magoado tanto. Na verdade, agora ela se sentia extremamente importante,
comovida pelo altruísmo dele.
- Sempre por você, Anjo. – Theo acariciou seu rosto, e ela viu, enfim, o
jeito como ele a olhava. Em algum lugar entre o carinho e a admiração, fervia um
sentimento. E aquilo era paixão, com toda a certeza.
- Eu fiquei tão brava com você... – Comentou risonha, negando com a
cabeça.
- Brava? O que eu fiz? – Theo franzia as sobrancelhas, confuso, e ao
mesmo tempo sorria, não podendo evitar a imagem mental de uma Bianca muito
fofa nervosa.
- Sim, brava! Por ter me afastado, por ter me jogado no colo do idiota do
Samuel. – Revirou os olhos, sem saco de tocar naquele nome. - Também morri de
ciúmes da Soph...
- Espera, espera, espera. – Theo interrompeu, confuso. - O que você tá
dizendo? – Bianca o olhou como se não tivesse solução.
- Que eu gosto de você também, Theo. Achei que isso tava na cara depois
de tudo isso. – Ela abriu os braços, mostrando os arredores simbolizando seus
preparativos, e Theo ponderou por alguns instantes, repassando cada mínimo
detalhe desde sua chegada na casa, por fim se achando imbecil. – Eu decidi
encarar tudo como mais uma aula, para ter coragem o suficiente para fazer tudo
que precisava ser feito. – De fato, quando Theo colocava os termos de algum
ensinamento, Bianca assumia uma postura diferenciada, como se ter o passo-a-
passo tornasse tudo menos assustador. Aquela havia sido, portanto, a tática que
encontrou de não se atrapalhar em seu próprio plano.
- E dessa vez você foi a professora? – Perguntou com um sorriso de canto,
maravilhado.
- É. Aula 9: Como não deixar o cara que você ama escapar. – Disse em
um tom pomposo que o fez rir com gosto e apertar sua barriga.
- Eu gosto de como isso soa... – Comentou, o nariz passeando pelo rosto
da garota, em uma carícia gostosa que arrepiava seus poros. Afastou-se contendo
a vontade de interromper o assunto e começar tudo de novo o que tinha
acontecido ali há pouco. – Desculpe não ter percebido antes. Acho que eu não
penso direito quando se trata de você.
- Acho que eu posso te perdoar com uma condição. – Piscou os cílios com
inocência, e ele logo soube que ela estava tramando alguma.
- É? Qual condição? – A menina sorriu, batendo com dois dedos na
própria boca, sinalizando que queria um beijo. – Hm. Acho que essa penitência eu
vou pagar com vontade. – Sorriu, conformando-se que sua garota era tão safada
quanto ele próprio.
Com um gritinho agudo, Bianca foi deitada na cama novamente, e se
embolou com Theo para baixo dos lençóis, onde ficaram pelo resto da tarde.
E por muitas tardes, manhãs e noites, pelo resto dos dias.
- Anjo? - Theo gritou ao bater a porta do apartamento. Tinha acabado de
chegar da faculdade de psicologia que fazia durante a noite, e apesar de
extremamente cansado, uma única olhada no rosto da namorada fazia com que ele
se sentisse refrescado. Isso não mudou em dois anos e meio de relacionamento, e
o mesmo ocorria com o apelido que ele insistia em usar para se referir a ela.
- Oi, amor. - Bianca disse, aparecendo no fundo do corredor depois de
alguns segundos, com os braços abertos para recepcioná-lo, Whisky no seu
encalço, também ansioso por recepcionar o dono - embora o traidor tivesse se
afeiçoado demais pela nova mamãe -, e a nova membra da família, Tequila, uma
Shitsu de oito meses, ocupada demais em morder os calcanhares do cachorrão.
Bianca tinha demorado pois estava distraída com as novas fotos enviadas
por Sophia do último lugar maluco em que estava de visita. A morena tinha se
provado a amiga que Bianca sempre quis ter, e nunca falhava em mandar
recordações e imagens dos lugares por onde passava como gerente de aeroporto,
e dos gatos from abroad com quem tinha affairs. O jeito independente da garota
nunca falhava em entreter o casal, que adorava fazer skypes de quase uma hora
com o cupido que os uniu. - Como foi hoje? - Eles trocaram um abraço apertado e
um selinho, inspirando o perfume um do outro, como faziam todos os dias.
- O de sempre. To dando graças a deus que semestre que vem essa loucura
melhora. - Cursar duas faculdades ao mesmo tempo exigia muito do moreno, mas
ele não trocaria aquilo por nada. Apesar de tudo, passou a gostar muito de direito,
o que o fez perceber que talvez toda a sua birra fosse fruto do preconceito que
tinha quanto as escolhas do padrasto e da mãe. Já psicologia era tudo o que ele
podia esperar, sem tirar nem por. Mas, ainda que estivesse realizado no âmbito
profissional, todo o tempo que as faculdades exigiam o faziam ficar esgotado e
sem pique para aproveitar a namorada.
Isso foi motivo de um grande abalo no relacionamento durante um tempo, até
ele ter a brilhante ideia de morarem juntos. O que se concretizou alguns meses
atrás, perto do campus, e garantia que eles pelo menos pudessem dormir juntos
todo dia, o que ajudava a matar a saudade que a rotina enlouquecida dele criava.
Além disso, no semestre seguinte, o garoto que criaria sua própria grade de
horários, pois teria que escolher suas matérias eletivas, e com isso o ritmo
deveria diminuir também. Ambos ansiavam muito por esse momento.
Morar juntos foi, inclusive, uma boa alternativa para o problema familiar
que Bianca estava enfrentando. Agora que tinha decidido morar de vez com o pai,
a mãe tinha ficado louca, perdido o emprego e chorado diversas vezes na porta da
casa de Augusto. Bianca levou a mulher a um psicólogo, onde foi constatado tudo
que todo mundo já suspeitava: Ela estava depressiva. Para ajudar a mãe e
apaziguar a situação, Bianca achou por bem sair da casa do pai, e o convite de
Theo acabou sendo muito bem-vindo. Agora, sua mãe estava sendo medicada,
novamente em um emprego estável, e bem mais calma por falar com a filha todo
dia e não sentir que a estava perdendo para o ex-marido. Augusto também
compreendeu a situação completamente, e só fazia questão que Bianca os
visitasse sempre que possível.
- Eu também. Não aguento mais te ver tão abatido. - Acariciou o rosto do
mais velho, sempre tão meiga apesar de todo o crescimento. Bianca deu a sorte de
passar na mesma faculdade que Theo, um ano depois que o próprio, no curso de
jornalismo. Encontrou em sua profissão uma forma de exercitar a recém adquirida
confiança, começando um site onde postava textos sobre os ensinamentos do
namorado e suas próprias experiências, que acabou surpreendentemente fazendo
muito sucesso, sendo até a fonte de renda deles, ao que grandes empresas a
procuravam para colocar anúncios lá.
- Eu sei, amor. Você já jantou? - Theo perguntou, acariciando o rosto
delicado da garota. Se perguntava se algum dia enjoaria daqueles traços.
- Estava te esperando. - Ela respondeu, reprimindo um sorriso arteiro, sendo
ainda assim pega pela pessoa que mais a conhecia no mundo.
- Safada, quem você quer enganar? Queria que eu fizesse a comida, isso sim.
- Theo estreitou os olhos, tentando se passar por bravo, mas seus lábios
brincavam de se levantar nos cantos, provando que ele estava mais que
acostumado com as estripulias da namorada, que sempre se aproveitava dos dons
dele na cozinha.
- Eu prometo te recompensar direitinho depois... - Soprou, entortando um pé
e abaixando a cabeça em falsa inocência. Theo não se aguentou ao vê-la daquela
forma e a tomou em seus braços em um aperto forte, aproveitando para
canibalizar sua bochecha, deixando a marca dos dentes alinhados ali.
- Eu te amo, sabia? - Murmurou a centímetros de seu rosto, a face contorcida
na expressão favorita, que gritava "você é impossível".
- É? Eu nem suspeitava... - Theo apertou a barriga da menina, que ria um
sorriso provocativo, arrancando a confissão. - Eu também te amo, professor.
Agora mova essa bunda linda pro fogão que eu estou com fome! - Ordenou,
deixando um tapinha na nádega dura do mais velho e mordendo os lábios,
sabendo que ele reclamaria.
- Eu sabia que devia ter me alongado mais na aula que eu te ensinei a
cozinhar... - Sempre resmungão, Theo arrastou os pés para o cômodo de piso
ladrilhado. Apesar da birra, adorava cozinhar e até preferia fazê-lo se isso
significasse ver o sorriso da namorada tão agradecido como costumava ser.
Deixou para trás apenas milhões de lembranças de um tempo divertido e único,
dividido no colegial por duas pessoas que descobriram ser o complemento
perfeito para um amor sem precedentes.
Bianca ficou na sala, ainda sorrindo, dando-se conta de toda a sorte que
possuía. Antes de seguir o namorado, planejando provocá-lo mais até que desse
altas gargalhadas ao seu lado como normalmente fazia, ela pousou os olhos no
quadro emoldurado que enfeitava sua sala de estar.
Branco no preto, o escrito simbolizava tudo que eles gostariam de dizer para
os jovens de todo o mundo. Uma última aula a ser adicionada à lista para fechar
os ensinamentos e memórias com chave de ouro:

Aula 10:
Seguir todas as regras pode te fazer conquistar qualquer um.
Ser você mesmo pode te fazer conquistar a pessoa certa.

Fim
Queria agradecer, novamente e incansavelmente, a quem esse livro é
dedicado, aos meus leitores maravilhosos do grupo Histórias de Má Marche, aos
fiéis acompanhadores das postagens do Wattpad, às minhas meninas falantes dos
grupos de Whatsapp, e a todo mundo que já leu algo que eu escrevi e teve a
presença de espírito de me deixar um recado ou vir compartilhar seus
pensamentos a respeito. Muito, muito obrigada. Vocês me possibilitaram estar
seguindo esse sonho e eu devo muito a vocês.
Também queria dizer um imenso obrigado às minhas amigas eternas do
UP, todas as autoras geniais e maravilhosas, de corações enormes e tão criativas
com quem eu partilhei a administração do site. Bru, Ray, Gi, Nat, Lola, Jess, Ana,
Bia, Lyli, Soph, Laís, Andie, Ju, Andy, Cris e Lan, vocês arrasam e eu tenho muito
orgulho de ter podido trabalhar lado a lado com cada uma.
Meu muito obrigada à Luiza Kok, minha melhor amiga, a todo o pessoal
do Bonde, a todo o pessoal do Pio XII, e a toda a galera do DNCEG, por terem
sempre me motivado a escrever, por terem sido meu pilar de ficção na vida real,
e por serem os melhores parceiros que eu poderia ter nessa jornada. Vocês me
ensinaram a abraçar quem eu sou e a ter orgulho do meu hobbie tão fora do
comum. Mil vezes obrigada!
Agradeço à minha família, minha mãe Dulce e minha tia Solange, por
terem sempre me dado a liberdade de escrever sobre o que eu quisesse e me dado
amparo para perseguir esse objetivo. Eu amo muito vocês, com todo o meu
coração.
Obrigada a você, leitor, por acreditar no meu trabalho e dar uma chance à
minha escrita. Espero de verdade que tenha se divertido, se emocionado, se
excitado, e que essas páginas tenham feito do seu tempo livre algo mais
prazeroso.
Até uma próxima,

Má.

Você também pode gostar