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Aos meus leitores amados do


grupo
Histórias de Má Marche
Obrigada pelo apoio
incondicional.

NACIONAIS - ACHERON
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Se.du.ção. Sf (lat seductione) 1 Ato de seduzir ou


ser seduzido 2 Atrativo que é difícil ou impossível
resistir 3 Aquilo que provoca encanto, atração,
fascínio 4 Dom que induz a corrupção de postura
ou ações do outro.

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– Ei! Sam! – Chamou alto na porta da sua


pacata casa amarela.
– Ah, oi, Bianca. – Cumprimentou, o
garoto, em tom neutro. – Eu tenho que... – Andava
de costas em direção à bicicleta vermelha que o
levava para todos os lados que precisasse,
indicando estar de saída.
– Minha nossa, que saudades de você! Me
diz: Você sentiu minha falta? – Cortou, afobada,
carente, e ainda falando alto demais.
– Eu, bem... Claro. Escuta, eu tenho mesmo
que ir. – Repuxou os lábios apontando com o
polegar para trás.
– Mas já? Não nos vemos há semanas! –
Fez um bico infantil antes de um pensamento
cruzar sua mente. – Ah... Vai sair com a Milena de
novo?
– Sim! – O sorriso do garoto quase não
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cabia na face. Sua alegria era perceptível de longe.


A miserabilidade da garota, também. – Que bom
que você entende, Biba. Então eu vou indo nessa.
Digo a ela que você mandou um beijo. Tchau!

Bianca Caproni era uma garota comum


como qualquer outra. Com seus dezesseis anos, ia
todos os dias à escola, sonhava com personagens
fictícios e já teve um crush ou outro em bandas
adolescentes. Talvez o que a diferenciava fosse sua
personalidade excessivamente certinha, com notas
impecáveis e vida social negativa, do tipo que
nunca faz algo minimamente fora da curva.
Bianca tinha um único amigo: Samuel
Luscenti.
Sam era loiro, tinha cativantes olhos
castanhos, um sorriso largo e quente, era bondoso
com todos, gentil e simpático na medida certa. Ele
e a garota eram amigos desde pequenos por fruto da
amizade entre seus pais. Estavam sempre juntos,
sentavam-se juntos na sala de aula, comiam na
mesma mesa do refeitório, moravam na mesma rua.
Bianca não sentia que precisava de mais do que
aquela singela companhia em seus dias.
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Mas Sam não concordava muito.


Justamente por ser tão simpático, ele fazia
amizades com facilidade, era bastante convidado a
ir a festas e acabava envolvido em rodinhas de
conversa nos corredores. Ele era bem na dele, é
verdade, mas não se comparava com Bianca, que
tinha praticamente um casulo a sua volta,
protegendo-a dos outros mortais.
Mesmo assim, com suas diferenças, a
amizade dos dois não sofreu abalos durante muito
tempo, e a cada dia a garota descobria nele uma
nova qualidade para admirar, mais alguma
característica que ela própria não possuía, mas
achava encantador que ele tivesse.
Chegou um ponto em que, sendo a única
pessoa que ela tinha realmente deixado aproximar-
se, cada mínimo detalhe dele lhe era sabido, desde
o contorno de seu sorriso, até os diversos tons que
sua voz adquiria conforme mudavam seus
sentimentos. A companhia agradável e o riso fácil
do garoto a cativando a cada nova hora passada
lado a lado com o loiro.
E ela bem que quis, mas não pode evitar se
apaixonar por ele.
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Foram tantos momentos especiais, tantas


coisas inéditas que vivenciou ao lado dele, que lhe
atribuir mais um primeiro lugar – no caso, em seu
coração – parecia simplesmente certo. Certo demais
para que sua racionalidade sempre tão reclusa se
pusesse contra.
Levava bem essa paixão secreta até o
segundo colegial, quando Sam arrumou uma
namorada. Milena, também conhecida como a
loira-perfeita-gostosa-vadia-e-burra que todos os
caras do colégio queriam ter na cama uma vez na
vida pelo menos.
É passageiro, ela pensou. Ele logo se cansa
dela e pronto, eu sequer vou precisar sofrer por
isso. Então, um dia, ele vai saber que eu sou a
pessoa perfeita para ele. Ele vai reparar em mim, e
vai ficar tudo bem.
Exceto que não ficou. O namoro dos dois
progrediu por meses a fio, e a cada novo passo que
davam, Bianca sentia seu coração morrer um
pouquinho mais. Alianças de compromisso, viagens
em família, apelidos fofos, etc. etc. A garota cada
vez perdia mais a esperança ao passo que sua
amizade com Sam ficava também cada dia mais
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desgastada. Ele só tinha olhos para a namorada


agora, e perder tempo com a amiga nerd chata não
estava em seus planos. Ainda mais considerando o
fato de que ela estaria sempre ali, na espreita,
esperando que ele retornasse. Sua linda namorada
não tinha a mesma disponibilidade e entrega,
disputada como era, e por isso era essencial que
concentrasse seu tempo e esforços em estar com
ela.
A garota estava cansada de disputar a
atenção do amigo. Ela devia ser o bastante, e ele
devia saber disso, devia ser a pessoa que via suas
qualidades escondidas e que abraçava seus defeitos.
Mas Sam não era aquela pessoa, e isso a esgotava;
Esperar que ele fosse essa pessoa, torcer, iludir-se
disso era cansativo.

Estava sentada à sua mesa de sempre no


refeitório: no fundo e debaixo de uma falha na
iluminação, de forma que aquele costumava ser o
melhor lugar para ela comer sem se preocupar –
tanto – com as pessoas ao seu redor. Bianca achava
que o que fazia aquele lugar tão ideal eram seus
atributos de localização, mas especialmente
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naquele dia, depois de sentar-se ali sozinha,


percebeu que o que tornava a mesa tão
aconchegante era a presença incandescente do
melhor amigo.
E ela só teve a chance de perceber isso
porque ele não estava ali.
Por que ele não estava ali?
Ele havia prometido! "Não se preocupe,
Biba, eu fico com você no almoço, não vai precisar
encarar toda aquela gente sozinha", ele disse no
início do ano letivo, quando descobriram que
haveriam aulas a tarde, e que, portanto, teriam que
almoçar na escola. Todavia, não havia sinal de sua
cabeleira loira em nenhum canto do lugar.
Será que algo havia acontecido com ele?
Um acidente no laboratório de química, um
tropeço em educação física, uma intoxicação
alimentar por algo comido de manhã...?
Antes que pudesse começar a se desesperar,
uma risada familiar tomou conta de seus ouvidos.
Sam entrava no refeitório rodeado por pessoas
desconhecidas e com um outro ser loiro pendurado
em seu pescoço.
Eles todos se dirigiram para uma das mesas
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centrais do lugar, e sentaram por ali; Milena


acomodando-se no joelho do namorado mesmo
com a infinidade de cadeiras disponíveis.
Bianca esperou pacientemente o momento
em que ele pediria licença a toda aquela gente para
vir acompanhá-la em seu refúgio solitário, mas
minutos se passaram e nenhuma atitude foi
percebida por parte do garoto. Ela resolveu então
sacar o celular e investigar se ele estaria bravo com
ela, pois essa lhe parecia a única desculpa plausível
para a falta de interesse dele com seus desejos e
receios.
"Eu fiz alguma coisa errada?", digitou
rapidamente, observando ele mexer-se
desconfortável dois segundos depois e retirar seu
próprio aparelho do bolso com as sobrancelhas
franzidas.
"O que? Não, por que pergunta?"
"Você não veio sentar comigo..."
"Ah, desculpe. Estamos fazendo seis meses
de namoro, então vamos ficar juntos hoje. Você
não se importa, não é?"
Sim, ela se importava. Se importava até
demais, mas não podia dizer-lhe isso pura e
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simplesmente. Sentia um gosto amargo tomar-lhe a


boca por isso.
"Ah, parabéns. E, bem, eu não gosto muito
de ficar sozinha, você sabe."
Bianca assistiu Sam abrir a mensagem de
longe, e logo ser agarrado pela nuca pelo ser
siliconado do seu lado, e então o celular foi tirado
de suas mãos e isolado no canto oposto da mesa,
em uma brincadeira infantil e mesquinha da qual
ela não achou a menor graça.
Sam, por outro lado, pareceu achar
agradabilíssimo, pois logo gargalhava com a
namorada e lhe dava beijos, esquecendo
completamente a mensagem parcialmente lida da
melhor amiga.
Mais uma vez trocada. Mais uma vez
deixada de lado por quem não valia a pena. Aquela
era a, o quê, quarta vez na semana? Por quanto
tempo mais aquilo iria continuar? Ela aguentaria
esse tempo inteira? Ou, quando chegasse sua hora,
estaria despedaçada demais para conseguir assumir
seu amor de direito?
Bianca resolveu que algo deveria ser feito a
respeito. Aquela situação estava insustentável, e
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por mais boazinha que fosse, não aguentaria mais


um minuto naquele estado semidepressivo e
recluso, sofrendo a cada vez que Sam a jogava mais
para escanteio. Pesou suas alternativas para sair
daquele poço sem fundo. Assassinar a dita cuja
namorada parecia-lhe muito extremo; mudar-se de
cidade, muito covarde; e enfrentá-lo cara-a-cara era
mais do que sua coragem aguentava.
Precisava pensar em uma alternativa, um
meio de fazê-lo perceber que ela estava ali todo
aquele tempo, e que era melhor do que qualquer
outra alternativa que ele pudesse ter.
Se bem que... Ela era?
Era desengonçada, envergonhada além da
conta e feia. Ou, pelo menos, achava que sim.
Enquanto a namorada do cara era praticamente a
Barbie Malibu. Seria o estereótipo do sonho
americano, um filme de roteiro ruim, um clichê
desastroso tornado real, quem sabe? Como
competir com isso, desafiar o destino e as regras da
sociedade em que se vive?
Só se ela se transformasse em outra pessoa.
Da cabine em que estava enfiada há alguns
minutos desde ter seu grito de socorro ignorado, ela
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pôde ouvir algumas meninas entrarem no banheiro.


Elas pararam na frente do grande espelho que ali
havia, provavelmente para retocar a maquiagem
exagerada para o dia-a-dia.
Bianca encolheu as pernas para cima e fez
silêncio, não querendo chamar-lhes a atenção.
– Ai, Clara, eu não aguento mais esse
mesmo look, essa mesma cara. Tá na hora de me
renovar, sabe? Vou ver se arrumo hora pra ir no
Philippo hoje e dar uma mudada. O que você acha?
– Uma delas exclamou na voz enjoada que era
esperado que tivesse.
– Eu acho que nada ruim vem da mudança.
É sempre bom se reinventar.
Como em um clique, Bianca percebeu que a
resposta para seus anseios podia vir,
inesperadamente, de um bate-papo ouvido sem
querer no banheiro feminino sim.
Reinventar. Era isso. Era disso que ela
precisava na sua vida.
Estava tão irritada e magoada com o melhor
amigo, que a cada nova batida em seu peito uma
lasca do seu ser parecia ser descamada, e com ela
uma vontade crescente de mudar se fazia presente.
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Mas ela não fazia a menor ideia de como


fazê-lo. Sempre havia se vestido da mesma forma,
usado o mesmo corte de cabelo, se portado de certa
maneira. Não saberia fazer nada diferente daquilo,
e se sentiria ridícula e mais insegura ainda se o
fizesse.
Em um suspiro dolorido, assumiu que
precisava de ajuda. Mas quem poderia prestar-lhe
essa assistência? A gama de amigos era, agora,
inexistente, os pais não serviriam para o trabalho, a
internet podia ser traiçoeira. Ela precisava de
alguém de fora, alguém em todos os sentidos
diferente dela, alguém com experiência no ramo
amoroso, e alcançável.
Pensou por um momento em todas as
pessoas que conhecia. Seus vizinhos, primos,
colegas de sala, pessoas do colégio, até mesmo
professores e celebridades. Pensou em todas as
alternativas, tentando encontrar quem melhor faria
o papel.
– Ai, você não sabe! – A segunda voz
voltou a se pronunciar, interrompendo seus
pensamentos. – Sabe na sala de quem eu vou passar
a ter aula no segundo período? Do tesão do Theo
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Versolati!
– Mentira! Nossa, que inveja branca de
você, amiga. Esse menino sabe das coisas, viu...
Além de ser maravilhoso, é claro.
– É claro. – Concordou. – Mas nossa, ele é
sensacional. Você acredita que ele conseguiu fazer
a professora adiar a prova só de conversar com ela?
– Ah, mas é o charme, né?! Não tem nada
que aquele garoto peça que eu não faça na hora.
– Não precisa nem pedir, né, querida. É um
olhar e a gente já fica toda saidinha! – As duas
continuaram a rir e a elogiar as qualidades e
habilidades do garoto, mas novamente Bianca
estava imersa em seus próprios pensamentos.
Theo Versolati era o veterano mais desejado
de sua escola. Ele era o epítome da sensualidade, o
ás da conquista, o rei da pegação. Toda e qualquer
garota na sua escola não pensaria duas vezes se
pudesse doar um rim para estar na sua cama. Ela
sabia muito bem daquilo, despercebida, como
sempre passava, acabava ouvindo sempre mais do
que gostaria, e não estaria exagerando se dissesse
que pelo menos metade de todas as fofocas
exclamadas em intensa admiração eram
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direcionadas àquele único ser. A outra metade da


população feminina lamentava que ele estivesse no
último ano, pois isso significava que em breve ele
estaria fora de vista, em alguma faculdade cheia de
garotas lindas, e, consequentemente, não perderia
mais tempo com elas. E, por fim, haviam os
homens, que guardavam resmungos de inveja e
incredulidade a cada novo feito de Theo. De
qualquer forma, era unânime a excelência do garoto
no quesito sedução.
E... Não era exatamente de alguém assim
que Bianca precisava? Alguém que soubesse as
regras da conquista e que pudesse ensiná-la?
Ah, mas ele era simplesmente perfeito para
o papel. Seu nome parecia piscar em letras rosa
neon com glitter na mente da garota.
Olhou para o celular mais uma vez.
"Nenhuma nova mensagem", ele dizia. Fazia
quarenta minutos que ela havia mandado o último
suplício para Sam, e ele tivera a capacidade de
esquecer-se dela por todo aquele tempo.
Ele não merecia seu sofrimento, ele não
deveria ser a pessoa que o causava. Se era preciso
ser a Barbie Malibu para conquistá-lo, ela acharia
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um jeito de sê-lo.
Estava decidido então. Ela ia juntar toda a
fibra que coubesse em si e falar com Theo
Versolati. Naquele mesmo instante, sem falta, sem
adiar.
“Ele vai me ajudar”, pensou, “vai sanar
meus problemas e me ensinar tudo aquilo que eu
preciso fazer para inverter os papéis e ter meu
amado Sam na palma das minhas mãos, como
sempre deveria ter sido”.
Pressionando a descarga para disfarçar a
permanência, Bianca deixou a cabine para trás e
rumou para fora de seu casulo em direção ao seu
novo eu, em direção à sua chance de ser feliz de
uma vez por todas.

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Theo caminhava tranquilamente pelos


corredores como se nada no seu dia tivesse a
capacidade de surpreendê-lo. Ele tinha um ar
confiante e o corpo malhado, tudo parte da grande
áurea de sedução que dele emanava.
Bianca estava escondida na lateral do bloco
de armários, observando-o e tentando maquinar
qual seria a melhor maneira de falar com ele. Ainda
não acreditava que a ideia tivesse permanecido na
sua cabeça, que ainda não tivesse desistido daquela
loucura. Era completamente atípico de sua
personalidade ainda não ter colocado o rabo entre
as pernas e voltado para casa assustada e
insatisfeita.
Mas ali estava ela. Miúda em sua
insignificância, e esperançosa em seu coração.
Tinha estado tão infinitamente farta daquela
situação amorosa mal resolvida que estava se
arriscando além dos limites que seu conforto traçou
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para ter uma chance de resolvê-la.


Mas, novamente, sua inexperiência social
era uma barreira. Como falar com ele? "Oi, tudo
bem? Escuta, será que você pode me dar umas
dicas de como ser mais... Você?", não parecia uma
boa ideia. Suspirou. Podia sentir a certeza começar
a se esvair. O que estava fazendo ali? Se sequer
tinha coragem de falar na cara do melhor amigo
como se sentia, como podia achar que conseguiria
admitir um de seus maiores defeitos para o cara
mais gostoso da face da Terra e ainda convencê-lo,
persuadi-lo a lhe ajudar? Aquilo era impraticável.
Perdeu Theo de vista a partir do momento
que sua insegurança começou a bater mais forte.
Ela tinha a cabeça apoiada na lateral do armário em
que se escorava, os olhos fechados, e milhões de
autocríticas na cabeça. E foi assim que não
percebeu quando o seu suposto salvador da pátria ia
em sua direção.
O armário de Theo era o de número 100,
seu número da sorte. E ele simplesmente adorava
isso, exceto pelo fato de isso significar que ele era o
último da sua fileira. Sempre tinha um casal se
pegando ali do lado, achando que ninguém nunca
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veria, e ele achava isso patético. Amasso em


público era, para ele, sinônimo de entrada na
puberdade. Em outras palavras, aqueles que não
tinham a capacidade de fazer o clima surgir em
lugares apropriados precisavam se contentar com o
tesão momentâneo e expor-se dessa forma. Era
triste, até.
Mas dessa vez não eram preliminares ao
vivo que ele contemplou a caminho de pegar seu
livro gordo de química. Aquela garota pequena que
estudava em sua escola desde sempre estava ali
com uma cara de particular sofrimento. Tinha
quase certeza que seu nome era Bianca – talvez já
tivesse escutado algum comentário a seu respeito -,
mas nunca tinham conversado de verdade para
confirmar. Ele abriu seu armário, assustando a mais
nova, que rapidamente saiu de seu estado de torpor
e encarou-o com os olhos bem abertos.
- Oi? - Ele tentou, visto que ela não parecia
nem tão perto de conseguir se comunicar.
- Olá. - Respondeu baixo ao que passou a
pressionar os lábios um contra o outro. Veja bem,
ela parecia precisar conversar, e ele não estava
fazendo nada.
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- Você tá bem, anjo? Precisa de alguma


coisa? - Ele indagou solícito, percebendo então do
que tinha lhe chamado sem querer. Bem, ela
realmente se enquadrava no retrato de um anjo. Era
bastante branca, carinha de inocente e tinha grandes
olhos transparentes. Ficou satisfeito com o apelido
acidental.
- Eu... Sim, tô bem. - Respondeu, optando
pela sentença mais fácil.
- Seu nome é Bianca, certo? - Ela acenou
positivamente em silêncio - Onde está aquele
garoto loiro que anda sempre com você?
- Ah, não sei... Com a namoradinha, talvez.
- Ela disse em meio a uma careta fofa de desagrado.
- Ouch! Sinto um romance mal resolvido no
ar. - Theo brincou, ao que ela entreabriu os lábios e
ainda mais os olhos, em completo choque pela fala
descontraída e certeira do mais velho. Ele percebeu.
- Olha, foi mal me meter, não precisava ficar tão
sem graça. - Repuxou os lábios, como quem sente
muito. Vendo a falta de reação dela, virou o corpo
pronto para se retirar. - Eu já estou indo de
qualquer maneira. Fica bem, viu?
- Não! - Ela disse alto em um sobressalto,
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chamando de volta sua atenção - Eu... Precisava


falar com você. E, bem... É sobre esse assunto
mesmo. - Ele arqueou uma sobrancelha, intrigado.
O que ela poderia possivelmente querer de um
homem que mal conhecia e ainda por cima
relacionado ao cara de quem gostava? Divertiu-se
com a ideia de ela pedir-lhe que fosse seu
namorado de mentira, para fazer ciúmes. Não ia
topar, mas o pensamento era engraçado. Gesticulou
que ela continuasse. Ela olhou para os dois lados do
corredor, respirou fundo e gesticulou para o garoto
que a seguisse até a sala desocupada que havia há
alguns passos dali.
Ele foi, curioso e complacente com o
nervosismo que a menor aparentava sofrer. Ela pôs-
se de frente a ele torcendo os dedos das mãos,
incomodada. Tinha o olhar de um cão assustado, e
buscava qualquer intimidade com o rosto familiar a
sua frente para que pudesse colocar para fora as
palavras impulsivas e pouco ensaiadas que tinha em
mente. Ele lhe franziu a testa, amigável, incitando-a
a falar.
- Olha, Theo, eu preciso que você prometa
que não vai rir de mim e que vai me deixar
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terminar. O que eu vou te dizer agora é muito


difícil pra mim e eu espero que você aja com toda a
maturidade que você parece ter nesse assunto. - Ela
começou com a voz desafinada de nervosismo.
Tentava repetir o tempo todo na cabeça que aquela
era uma boa ideia, e que se tinha alguém capaz de
ajudá-la, esse alguém era o moreno.
- Bianca, relaxa. Eu não sou esses babacas
cheios de hormônio que saem rindo de qualquer
besteira. Eu mal te conheço, mas posso ver que
você está bastante atônita com algo, então só me
diz de uma vez o que é para que a gente veja como
resolver e possamos voltar para as nossas vidas. -
Ele garantiu, agora com receio de que ela fosse se
dizer apaixonada por ele. Perdeu a conta de quantas
vezes tinha escutado aquilo já, mas nunca ficava
mais corriqueiro.
- Tá bem, lá vai. - Respirou fundo e apertou
os olhos fechados - Eu gosto do Sam. - Ela
despejou em uma só respirada, parabenizando a si
mesma por ter, enfim, dito em voz alta. No entanto,
sentiu a necessidade de explicar melhor ao ver a
cara de desentendido do garoto. - O loiro que “vive
comigo”. – Completou, usando o termo que ele
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mesmo tinha escolhido. - Ele está namorando agora


e por isso eu fui meio que jogada de escanteio. E,
bem, eu tô cansada de ser o plano B. Os homens
nunca reparam em mim, eu sou sempre a última
opção, eu não chamo atenção como as líderes de
torcida por aí, e mesmo que eu chamasse, eu não
saberia levar uma conversa normal sem gaguejar e
falar qualquer porcaria que me deixasse
extremamente encabulada, e eu...
- Bianca! - Ele sentiu a necessidade de
interromper o falatório desenfreado e claramente
nervoso que ela tinha engatado. - Garota, respira. -
Sugeriu, segurando-a pelos ombros. Então, passou
a mão na testa, confuso com tudo o que tinha
absorvido até ali. - Deixa eu ver se entendi: Você é
afim do loiro, ele não retribui, e você quer
conquistar ele?
- Bom, simplificando muito mesmo tudo
que eu acabei de dizer... É.
- E onde eu entro nessa história?
- Ah, Theo, você sabe. - Fez um gesto com
a mão, fazendo o pouco caso que não sentia
realmente.
- Não, anjo, eu não sei. Coloque em
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palavras. - Pediu.
- Você... - Ela começou, engolindo em seco
e deixando novamente as palavras impulsivas
dominarem a fala - Ah, você é todo confiante, anda
por ai como se fosse a última bolacha do pacote, e
eu já tô cansada de ouvir no banheiro feminino
garotas suspirando por um mísero olhar seu. Eu
queria, não sei, ser um pouco assim? Aprender com
você como ser sedutora ou algo do tipo.
- Você quer aulas de como seduzir um
homem, é isso?
- Err... Você falando desse jeito parece
muito errado, -Defendeu-se, logo recebendo um
olhar contido de impaciência - mas é, acho que é
isso aí que eu quero. - Afirmou por fim, ficando
rosada nas bochechas.
O garoto ficou em silêncio analisando
minuciosamente o rosto da mais nova. Se sentia em
um universo paralelo com um pedido daqueles, a
coisa toda era surreal demais, e absurdamente
inesperada para um dia tão ordinário como aquele
tinha sido até então. Sentia-se honestamente
curioso com o que poderia fazer por ela, com a
possibilidade de mudar uma vida daquela maneira,
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e de ter uma pequena bonequinha a quem pudesse


moldar ao seu bel prazer até que estivesse perfeita
para ser solta no mundo. Mas... Infelizmente a
realidade o arrebatou. Theo largou os ombros com
a perspectiva de ter que dizer não àqueles olhinhos
sinceros que gritavam por ajuda.
- Olha, anjo, mesmo que eu estivesse
disposto a te ajudar nessa saga amorosa agora, eu
não tenho tempo. Os vestibulares estão aí e eu
preciso passar em uma boa faculdade, coisa que
não está nem perto de acontecer, então... Fica pra
próxima. - Ele concluiu vendo a menina murchar
diante de sua negativa. Achava que seria divertido
dizer a ela como se portar para fisgar o amiguinho,
mas sua vida pessoal já estava ferrada demais para
que se comprometesse com mais uma atividade
sem propósito. Sua coleção de notas vermelhas,
fruto de muito foco em coisas externas à escola, e
as constantes discussões inflamadas com seu
padrasto sobre seu futuro e ambições eram boas
recordações daquele fato infeliz. - De qualquer
forma, te desejo boa sorte. - Ele disse por cima do
ombro enquanto levava seu corpo para fora da sala
escura, deixando para trás uma Bianca desiludida
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sem qualquer chance de reerguer-se tão cedo.

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Theo caminhava tranquilamente em direção


ao refeitório. Em suas mãos, carregava dezenas de
cartões de estudo, nenhum que ele já tivesse
decorado, ou sequer perto disso. Cada dia que
passava, sentia-se mais desmotivado a continuar
com aquela missão impossível. Não encontrava em
seu ser a dedicação necessária para passar na
faculdade chique na qual esperavam que ele
estudasse no ano seguinte. Nada daquilo era seu
sonho, estava longe de ser.
Embora imerso em suas divagações, pôde
notar um alvoroço acontecendo no centro da
lanchonete. Enquanto todas as pessoas pareciam
segurar a respiração - fosse para ouvir melhor o
barraco ou para forçar-se a não dar risada - duas
garotas disputavam sua atenção no meio de todo o
círculo. Uma delas parecia coberta de café, as
roupas todas manchadas, e estava vermelha de
fúria. A outra tinha um copo vazio em mãos e
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lágrimas correndo pelo rosto livremente.


Reconheceu a segunda como sendo Bianca, a
garota que havia lhe pedido ajuda há alguns dias, a
qual ele prudentemente negou.
- Escuta aqui, sua nerdzinha infeliz! A
próxima vez que você "acidentalmente" derrubar
qualquer coisa em mim, eu te juro... - Respirou
fundo, mordendo os lábios pintados, os olhos em
fendas. - Eu não quero saber se seu coraçãozinho
adolescente bate mais forte pelo meu namorado. É
comigo que ele está, e é comigo que ele vai
continuar! Se você não teve a competência de ser
boa o suficiente pra ele, encolha seu rabinho entre
as pernas e saia da minha frente.
- Mas eu juro que foi sem querer, Milena...
– Ela ainda tentou falar, a voz vários tons mais
baixa que a de sua interlocutora, falhando
audivelmente em alguns pontos.
- Uma ova! – Vociferou, gesticulando para
todos os lados. - Garota, todo mundo nessa escola
sabe a inveja que você tem de mim. E quer saber de
uma coisa? Enquanto você estiver chorando no
banheiro por se sentir inútil de não ter conseguido
sair por cima nem jogando sua bebida em mim, eu
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vou estar abraçada no Sam toda molhada dizendo


como você é uma pessoinha nojenta! E sabe em
quem ele vai acreditar? Em mim, porque ele
também está cansado de saber que você arrasta um
bonde por ele, e porque ele vai estar muito ocupado
olhando a minha blusa colada nos meus peitos!
Então parabéns, querida, você só conseguiu ser
mais ridícula do que todos aqui já sabiam que você
era!
E então, Milena virou-se batendo os cabelos
loiros exuberantes no rosto da menor e saiu
marchando por um corredor que se abriu com
diversas pessoas aplaudindo-a. Bianca engoliu as
ofensas dolorosamente e agachou-se para apanhar
sua mochila e sair correndo dali, provavelmente
para o banheiro feminino, para chorar, como
Milena havia previsto que ela faria.
Theo ficou por alguns segundos sem saber o
que fazer. Não costumava se meter naquele tipo de
briga, mas, por algum motivo, sentia-se responsável
por aquilo. Talvez ter negado ajuda a Bianca
tivesse fazendo seu subconsciente pesar, uma vez
que ele poderia ter prevenido aquele
acontecimento. Ou talvez fosse o fato de já ter
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ficado com Milena no ano anterior, e a amargura


que ela tinha demonstrado tenha feito seu pênis se
contorcer em desgosto pelos lugares dela em que
ele já havia passeado.
Em um suspiro derrotado, deu meia volta e
foi para a biblioteca, mais especificamente para o
banheiro feminino de lá, onde tinha certeza que
encontraria uma garota pequena e chorosa tentando
se reestabelecer.
Abriu a porta encostada com esmero,
procurando não fazer barulho e certificar-se de que
quem procurava fosse a ocupante. Ouviu os
resmungos enérgicos de Bianca falando consigo
mesma, e tranquilizou-se sobre seu pequeno delito.
- Burra, burra, burra! Péssima hora para me
aventurar a tomar café... Querendo parecer gente
grande quando mal consegue sentar sozinha na
porcaria do refeitório. Eu sou mesmo uma idiota
sem noção, e...
- E parece que autoestima não é o seu forte.
- Theo cortou o monólogo derrotista da mais nova,
apoiando o quadril na pia de mármore gelado
enquanto a observava com cinco lenços entre os
dedos ocupados em secar a enxurrada de lágrimas
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grossas que continuavam caindo sem freio pelo


rosto pálido. - Vou ter mais trabalho do que
imaginei. – Constatou.
- Theo? O...O que está fazendo aqui? -
Perguntou, os lábios ainda tremendo, inconsolável.
- Eu acabei testemunhando a ceninha no
refeitório. Você jogou mesmo café na loira
gostosa? - Provocou, por mais que suspeitasse que
ela seria incapaz daquilo.
- É claro que não, eu sou muito desajeitada,
tropecei em meus próprios pés e quando fui ver... O
destino parece gostar de pregar peças em mim, pois
poderia ser qualquer outra pessoa, mas ele escolheu
que fosse justamente a única que saberia me
humilhar da forma mais cruel possível. - Desabafou
soluçando ao final da frase. Theo tinha dó e
compaixão em sua alma, e não pôde evitar revirar
os olhos e puxar a garota miúda para seu abraço.
Ela encostou a cabeça em seu peito e deixou o
choro doído tomar conta, sendo este o único som
do banheiro abafado por minutos a fio. Eles não
tinham intimidade para aquilo, e tampouco se
importavam. Ela precisava de alguém, e ele era
simplesmente humano demais para negar-lhe
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aquele carinho.
- Escuta, anjo - Chamou, ao que ela cessou
a molhadeira que fazia em sua camisa para olhá-lo
nos olhos - Eu vou te ajudar.
- J-jura? - Confirmou em expectativa.
- Sim, parece que você realmente precisa de
ajuda, e sabendo que posso fazer algo a respeito, eu
não vou conseguir te negar isso. Mas você vai ter
que fazer tudo que eu mandar e ter em mente que o
meu tempo é muito corrido, então você vai precisar
andar comigo bastante se quiser absorver uma dica
ou outra durante os meus intervalos entre tarefas. -
A garota acenou enfaticamente em concordância,
com um sorriso singelo de agradecimento.
Ainda estava chateada com a humilhação no
refeitório, mas parecia haver uma luz no fim do
túnel agora. Seja lá o que tenha feito Theo ajudá-la,
se o fez por bom coração ou por pena da situação
em que se encontrava: ela seria eternamente grata.
Mesmo assim, lembrou-se dos motivos que
ele havia lhe dado para não aceitar seu pedido em
um primeiro momento, apenas reforçados pela
constatação de sua falta de tempo contida em sua
fala. Bianca olhou para baixo, envergonhada de
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estar atrapalhando-o e sem saber como retribuir.


Notou que ele ainda segurava os cartões de estudo
na mão esquerda, e estendeu os dedos curiosos para
ele, pedindo para vê-los.
Eram matérias que ela já havia visto. O
último ano da sua escola passava basicamente
revisões, o que significava que todo o conteúdo ela
já tinha tido, estando apenas um período abaixo do
dele. Com a primeira recusa do garoto em mente,
onde dizia que precisava focar no vestibular, uma
ideia lhe acometeu: com algum esforço, talvez
pudesse ajudá-lo também.
- Eu acho que sei como posso te agradecer,
Theo. - Disse, esperançosa, os pequenos olhos
transparentes brilhando. - Posso tentar te ajudar a
estudar. Fui quadro de honra pelos últimos 5 anos,
em alguma coisa eu posso te ser útil. Você está
tentando alguma faculdade muito concorrida?
- Só a pior delas. - Deu de ombros, fazendo
pouco caso tanto da sua ambição quanto dos
méritos dela. Não era nada que ele já não esperasse.
- Tem certeza que pode estudar comigo? Talvez
uma nerd... - Interrompeu-se vendo a mágoa e a
chateação voltarem aos olhos dela, mesmo que não
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intencionasse que o adjetivo fosse maldoso. -


Quero dizer, uma pessoa tão inteligente, me faça
entender uma coisa ou outra. – Consertou, ao que a
garota abriu um pequeno sorriso solícito. – Mas,
anjo, você entende que se quer realmente aprender
a conquistar um cara, vai ter que seguir à risca tudo
que eu disser, certo? Porque, como eu já disse, eu
preciso do meu foco em outras coisas nesse
momento, e estou abrindo uma exceção porque
vejo que você realmente precisa de mim, mas não
posso ficar me interrompendo a todo momento
porque você tem ressalvas sobre meus
ensinamentos. - Ela acenou positivamente com
entusiasmo de novo.
- Sim, senhor! – Clamou, batendo a lateral
do indicador na testa fazendo-o soltar uma risada
espontânea da animação da pequena. - Então...
Quando começamos as aulas de sedução? -
Perguntou ansiosa, ao que Theo apenas riu mais a
abraçando de lado pelo pescoço e levando-a para
fora do banheiro e da áurea depressiva que ainda
podia sentir por ali.
- Apressadinha... - "Isso será no mínimo
curioso" pensou consigo. - Tudo bem. Esteja
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amanhã às 17h no Shopping do centro da cidade. E


não se atrase! - Ameaçou apontando em seu rosto, e
então bagunçando os cabelos compridos dela antes
de caminhar despojadamente para a saída da
biblioteca.
Apesar do estômago agitado em virtude de
um futuro que ela não podia prever, o sorriso
demorou a deixar o rosto de Bianca naquele dia.

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Bianca estava pontualmente às 17h no


grande Shopping da cidade. Tinha um frio curioso
na espinha, mãos geladas e uma sensação
avassaladora de que não deveria estar ali. A
insegurança estava batendo forte, e os cinco
minutos que levou da sua chegada até a aparição de
Theo foram tortura chinesa para a garota miúda.
Mal sabia ela que o verdadeiro pesadelo começaria
só a partir dali, quando o mais velho a jogou em um
salão chique no segundo andar cheio de predadores
loucos para fazer estrago em suas madeixas e
unhas.
- A sua primeira aula é sobre como chamar
a atenção de um homem. Fisicamente, por assim
dizer. – Theo começou a explicar. - Cada um tem
um gosto, é verdade, mas existem algumas coisas
que você pode fazer pela sua aparência para
valorizar seus pontos positivos e esconder o que
não deve ser mostrado, e que vão de acordo ao
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senso comum. Além disso, o modo como você se


mostra diz muito sobre você, e sobre o que um cara
pode esperar quando estiverem sozinhos ou já em
um relacionamento. O ideal é que não pareça muito
trabalhada, pois todo homem sabe que isso
significa que você é alguém completamente
diferente sem todos os artifícios cosméticos, mas ao
mesmo tempo um pouco de cuidado e vaidade
mostram que você se valoriza, e nós gostamos
disso.
- Então... Eu não posso me arrumar nem
demais e nem de menos? - Perguntou, confusa. O
sexo masculino era exigente como ela não esperava
que fosse. Theo acenou positivamente, satisfeito
que ela tivesse entendido o principal da aula. Então,
se virou para a equipe do salão que aguardava suas
ordens.
- Preciso um corte que chame atenção para
os olhos dela, talvez um repicado a partir da linha
do sorriso, mas o comprimento fica. – Ditou o
garoto para os profissionais que a observavam
atentamente, já devidamente munidos com tesouras
e escovas dos tipos mais variados, provando que
sabia mais do assunto do que gostaria, de todas as
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vezes que sua mãe ou alguma namorada o haviam


arrastado para aquele lugar.
- Podemos dar uma iluminada na cor? É
bonita, mas apagada do jeito que ela está qualquer
tom fica morto. – Uma das pessoas ali perguntou,
recebendo um aceno positivo em resposta.
- Depois eu queria que a Rosa desse umas
dicas pra ela de maquiagem e penteado. Diga a ela
que eu lhe pago o dobro na próxima vinda da
minha mãe. - A assistente morena e peituda logo
garantiu a Theo que todos os seus desejos seriam
realizados com apreço, enquanto lhe tocava
sutilmente o braço malhado. Ele retribuiu com um
olhar baixo, o lábio inferior preso entre os dentes,
uma promessa de que os desejos dela também
teriam vez. Bianca ficou sem graça, mas tão logo
pôde notar o flerte acontecendo atrás dela, Theo já
estava de volta, dando um tapinha no encosto da
cadeira onde ela estava e dizendo: - Te vejo em
duas horas. Faça tudo que te mandarem, preste bem
atenção no que te disserem, e diga que quer esmalte
escuro.
E se foi, a deixando para os cães fazerem a
festa.
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Theo já tinha vagado por quase o shopping


inteiro, comido qualquer coisa e comprado um
relógio novo, antes de ir resgatar a garota no salão.
Esperou nos sofás confortáveis da entrada
até ela aparecer, rodeada por pelo menos cinco
pessoas e completamente melhorada. Ele abriu um
sorriso confiante, parabenizando o trabalho da
equipe, e estendeu a mão para a menina, que a
segurou apressada, louca para dar o fora daquele
lugar.
- Aprendeu bastante? - Ele perguntou, ao
que se dirigiam para o próximo andar, onde haviam
centenas de lojas de roupas femininas.
- Ah... Sim. Não entendi metade das
palavras que eles falavam, mas acho que uma coisa
ou outra deu pra guardar. - Ele riu da simplicidade
dela, e continuou caminhando em silêncio,
observando as pessoas ao redor. - Você... Não vai
me dizer o que achou? - Ela perguntou, novamente
insegura. Ele a mirou nos olhos, provocando-a a
dizer as palavras certas, explicitamente o que
queria saber. - Quero dizer... Estou bonita? -
Indagou mais baixo, tendo dificuldade de aguentar
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qualquer resposta. Theo sorriu em aprovação, e


cessou os passos que ambos davam, segurando-a
pelos ombros e aproximando suas faces.
- Você é bonita, Bianca. Nada disso teria
surtido efeito se você não fosse. Mas você está
sempre se escondendo e pouco se cuida, então fica
difícil para os meros mortais notarem isso. Pedi
para valorizarem seus olhos porque eles são muito
expressivos, para cortar seu cabelo a partir da boca
porque seu sorriso é encantador, e para deixá-lo
comprido porque ele te dá sensualidade, assim
como as unhas escuras. Você entende? - Ela acenou
devagar, ainda com dificuldades de acreditar nas
palavras do mentor. - Olhe em volta, anjo. Noventa
por cento do Shopping está te olhando nesse
momento. Você sabe por que? – Levantou as
sobrancelhas, compadecido com sua falta de amor
próprio.
- Porque eu estou com você? – Indagou,
confusa.
- Não, Bianca. Porque você é bonita e
chama atenção por si própria. – Disse, paciente. Ela
o olhou em desconfiança. - E porque está comigo. -
Ele completou, revirando os olhos. - Vamos ter que
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dar um jeito nessa sua autoestima... - Resmungou


para si mesmo, voltando a andar e já entrando em
uma grande loja de departamento que havia no final
do corredor, sendo seguido de perto pela mais
nova.

- Aqui. - Theo disse ao entregar nas


pequenas mãos de Bianca uma pilha de roupas de
todos os tipos e cores e já a empurrando para entrar
no provador. Ela bem que tentou protestar, mas ele
estava irredutível, então logo ela saía de trás das
cortinas azuladas com combinações aleatórias, as
quais ele julgava com atenção, sendo preciso para
isso que ela desse algumas voltinhas, que a
matavam de vergonha. - Essa vai com certeza, mas
você vai precisar usar sem sutiã, anjo. -
Exemplificou puxando a alça do modelo sem graça
que atrapalhava o decote mais cavado da blusa.
- O que? Mas, Theo, olha pra isso, dá pra
praticamente ver os meus órgãos nessa coisa! Eu
não quero ser vulgar para conquistar ninguém. –
Rebateu, nervosa com toda a pele a mostra. Não
estava nem de longe acostumada a usar aquele tipo
de vestimenta. Theo revirou os olhos, sem ver
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sentido na reclamação.
- Me escuta, Bianca. Isso não é vulgar, é
sensual. E você não sabe a diferença porque esteve
muito ocupada a vida inteira escondida embaixo de
camisetas e cardigãs dois números maiores que
você. O decote dessa blusa é provocador, não
mostra demais e nem esconde uma parte...
Especialmente tentadora do seu corpo, e a
transparência nos lugares certos deixa seu contorno
mais "violão". - Ela tentou fortemente controlar as
bochechas coradas e a vontade de tapar o corpo
inteiro para que ele não a analisasse daquela forma
tão carnal. Mas sabia que levaria uma bronca,
seguida de um "o que eu disse sobre não me
questionar?" – já estava até mesmo abusando da
quebra daquela regra -, então optou por desviar a
atenção dele com uma pergunta.
- Como você sabe tudo isso? Quero dizer,
você é homem, não devia estar insistindo que eu
saísse de roupa íntima por aí?
- Justamente por ser homem eu sei o que eu
valorizo em uma mulher, e por isso sei como eu
quero te ver dentro de cada roupa. E, além disso,
quem mostra demais costuma ter pouco a oferecer
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em outros aspectos. Não é sempre assim, porque


algumas mulheres só se sentem bem dessa forma e
é o direito delas. Mas, infelizmente, nossa
sociedade ainda é machista e julga esse tipo de
escolha com maus olhares. Mas não fique ansiosa
sobre roupas íntimas, anjo, pois será a nossa
próxima parada depois daqui de qualquer maneira.
– Piscou, apoiando o tornozelo no joelho de
maneira displicente, sentado em uma poltrona em
frente ao provador.
- Nós vamos juntos comprar calcinhas? -
Indagou horrorizada de vergonha.
- Sim, pequena. Não te adianta de nada
conquistar o cara se na hora que ele estiver se
animando tiver um vislumbre do seu sutiã bege de
avó. - Ele levantou uma sobrancelha desafiando-a a
retrucar, o que obviamente não aconteceu. - Mas
não precisa ficar molhada agora, nas lojas de
lingerie eles não permitem homens e mulheres
dentro do mesmo vestiário, então é uma vendedora
que vai ter que fazer o serviço por mim e ver como
você fica em cada peça que eu escolher. Uma pena.
– Suspirou, pegando gosto por deixá-la sem graça. -
Agora vamos. Troque-se de volta, pegue todas as
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roupas para as quais eu disse sim e me encontre no


caixa.

Theo era simplesmente o cara mais maduro


e sexualmente resolvido da face da Terra, era o que
Bianca achava ao não notar a menor mudança nas
feições do garoto quando segurava uma cinta-liga
vermelha rendada nas mãos. Para começo de
conversa, ela tinha acabado de descobrir que
deveria chamar "calcinha" de "lingerie" a partir de
agora, e que o que a sua vida toda achou ser "sutiã
de prostituta", era, para Theo, "roupa íntima fina e
elegante". O que já era informação demais, não
bastasse ele querer que ela usasse aquele tipo de
coisa.
Os dois entraram em uma discussão
interminável sobre o assunto, onde a cada meia
dúzia de palavras dele, ela sentia vontade de se
esconder atrás do manequim, e onde a cada
fraquejo de voz dela, ele sentia vontade de ir
embora e desistir daquelas aulas imbecis. Mas
nenhum deles fez o que queria, e apenas
permaneceram com os sussurros enérgicos sobre a
peça rendada e chamativa nas mãos do mais velho.
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Por fim, chegaram a um consenso.


Vermelho era demais, cinta-liga era de menos. Ou
algo assim. O que importa é que eles conseguiram
colocar um bom tanto de modelos na sacola,
modelos mais discretos, e ainda assim
incrivelmente sensuais; modelos que brincavam
com a inocência da garota, mas não deixavam de
ser feitos de tecidos luxuosos. E então, Bianca foi
para o provador novamente.
Estava completamente esgotada de tantas
provações, e tudo que queria era colocar o cabelo
para cima, um pijama velho, os pés sob uma
almofada e relaxar pela próxima semana. De
preferência, em um local onde Theo não pudesse
vê-la para ditar como deveria se comportar, ou
lembrá-la de que homem nenhum - especialmente
seu Sam - gostaria de tê-la naquelas condições.
Se moldar às expectativas dos outros era
muito cansativo. Em compensação, tinha que
admitir que o garoto se mostrara melhor que o
esperado. Ele estava levando a tarefa a sério,
pegando realmente o problema para si. Fosse por
faltar envolvimento em sua vida ou apenas por
diversão, Theo estava de fato tendo bons momentos
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moldando a pequena boneca como achava melhor.


Além do que, suas personalidades eram tão
contrastantes que lhe era até mesmo curioso ver
como alguém como Bianca pensava sobre certas
coisas que sempre lhe pareceram tão naturais.
- E então? - Ele perguntou ao vê-la sair
detrás da cortina pesada, avermelhada nas
bochechas e pressionando os lábios um contra o
outro. Ele estava ansioso, queria ter participado
melhor dessa etapa tão crucial das compras do dia,
mas as estúpidas regras da loja não permitiam.
- Tudo bem. Quase tudo serviu, a não ser
essas duas peças aqui. - Ela disse, ainda de cabeça
levemente abaixada por tudo que tinha visto de seu
corpo no espelho do local.
- E o que teve de errado com elas? - Ele
perguntou analisando duas de suas peças favoritas
com as sobrancelhas franzidas.
- O sutiã estava apertado demais, e a
calcinha não coube... Na minha parte traseira.
- Em outras palavras seus seios são maiores
do que isso, e a calcinha é fio dental. - Ele disse
revirando os olhos com um sorriso de canto,
divertido. - Mas, jura? Eu realmente te subestimei
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por causa das camisetas largas e tops, então. -


Continuou claramente comparando o corpete com
os seios da garota, que arregalou os olhos para
depois fechá-los apertados e não ter que presenciar
a inevitável desconfiança que acreditava que ele
demonstraria.
Realmente, sua autoestima estava com
severas mutilações não cicatrizadas. Mas, por
algum motivo, naquela noite, depois de deixar
todas as sacolas espalhadas pela cama, Bianca se
sentiu bem. A cada nova coisa que tirava de dentro
das embalagens para guardar, uma lembrança de
um comentário gentil de Theo vinha a sua mente.
Um sorriso, um olhar mais vidrado, o tom de voz
macio e aconchegante. Se tinha alguém certo para o
trabalho de lhe ensinar a ser mais mulher, mais
confiante, mais sedutora, esse alguém era ele. E
pensando em todos aqueles elementos constantes
do seu dia, a garota não conseguiu se arrepender do
pedido de ajuda.
Pelo contrário: naquela noite, dormiu
abraçada consigo mesma, em um gesto raro de auto
aprovação por ter falado com ele para começo de
conversa.
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Passou pelos corredores como normalmente


fazia: invisível e na dela. Tinha um sobretudo por
cima das roupas que Theo tinha lhe comprado, a
cabeça baixa e as bochechas queimando de
vergonha só em cogitar a possibilidade de alguém
reparar nela por mais de dois segundos e perceber
todas as mudanças pelas quais havia passado nas
últimas 24 horas.
Ia em direção ao seu armário como fazia em
todas as manhãs letivas, separar os livros didáticos
do dia e também escolher qual romance utópico
pegaria emprestado da biblioteca a seguir. Então,
deixaria o local para sentar-se na sala vazia
novamente desapercebida como lhe era costumeiro.
O que não fazia parte daquele cenário era o
monte de músculos charmoso e despreocupado que
estava escorado na porta do seu armário.
Bianca já podia sentir os olhos intensos do
garoto queimando nela a cada novo passo dado.
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Sabia que ele estava falando sério quando disse que


eles agora deveriam andar juntos, mas esperava
uma bronca no fim da semana por isso não ter
ocorrido, e não que ele viesse ao seu encontro.
- Ou você tira esse casaco agora, ou eu
desisto de te ensinar qualquer coisa. - Rosnou com
cara de poucos amigos para o grande manto que
escondia sua obra prima. – Está fazendo 30 graus,
pelo amor de Deus, Bianca!
- Bom dia pra você também, professor. - Ela
murmurou contrariada se livrando do tecido pesado
de costas para o corredor, para que pudesse
esconder a vermelhidão do rosto dos olhares
enxeridos que questionavam o que Theo Versolati
fazia conversando com Bianca Caproni.
Ok, isso era uma mentira. Eles perguntavam
o que ele fazia conversando com essazinha.
Saberem seu nome já era demais.
Ele parecia concentrado demais em avaliar
o trabalho do dia anterior - vulgo o caimento das
roupas e cabelos novos - para perceber o que
acontecia nas rodinhas de fofoca ao seu redor, ou
para se preocupar com elas, para falar a verdade.
Mas não deixou passar o apelido acidental
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que ela havia usado para se referir a ele. Era


ingênuo e honesto, e ecoava devidamente nas
paredes de sua cabeça.
- Professor, huh? Taí... Gostei. Tá permitida
de me chamar assim mais vezes. - Disse,
convencido, ainda a assistindo lutar com as mangas
do sobretudo. Bianca congelou um segundo, antes
de xingar a própria boca por manifestar as raízes de
sua nerdice, e se resignar com o uso do vocativo,
que se tornaria constante sem dúvidas. Enfim
conseguiu se libertar de vez do que lhe escondia do
julgo alheio. - Assim está bem melhor. - Ele
garantiu com um sorriso confortante. Mas Bianca
ainda estava envergonhada demais para levantar o
rosto e retribuí-lo. Theo bufou e voltou a falar
grosso. - Eu já tenho tudo em mente pra sua
próxima lição, mas preciso sentir que você está
realmente empenhada, Bianca. – Engolindo em
seco e fechando os olhos por um breve segundo, ela
conseguiu levantar o rosto na direção dele.
- Eu tô, professor, eu juro. Só é tudo muito
novo pra mim, e eu acho que talvez leve um tempo
pra me acostumar com essas coisas. - Indicou a
roupa que usava como exemplo.
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- Não temos esse tempo, meu anjo. Seu


amiguinho está por aí com a namorada sem perder
tempo algum. - Disse sugestivamente.
- Tá bem, você está certo. – Suspirou,
resignada. - Vou tentar me esforçar mais. - Ela
prometeu, repuxando os lábios em conformidade. -
E então quando vai ser a próxima aula? Hoje?
- Não, criança. Hoje eu preciso estudar,
tenho prova de física amanhã. - Revirou os olhos.
Odiava a matéria, para variar.
- Física? - Perguntou alto demais, afobada e
com os olhos brilhando.
- Não me diga que é a sua...
- É a minha matéria preferida! - Completou,
para o desgosto de Theo. - Eu posso te ajudar!
- É, acho que eu posso usar um pouco desse
entusiasmo nos estudos hoje. - O mais velho
respirou fundo e balançou a cabeça como se
dissesse "o que eu faço com você?". Acabou
passando o braço pelos ombros dela e puxando-a
pela passagem enquanto ditava o horário que ela
devia aparecer no estacionamento mais tarde, onde
ele estaria esperando-a dentro do carro para irem à
sua residência estudar.
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Bianca dava passos curtos e apressados em


direção ao estacionamento da escola. Atrasou-se
sem querer, sempre tão acostumada a deixar a
grande massa de alunos que ali se concentrava após
o último sinal ir embora antes de dar as caras,
acabou perdendo a noção do tempo. Mesmo assim,
conseguiu chegar enquanto o local ainda estava
abarrotado, o que, claro, a fez se esconder atrás dos
cabelos para procurar Theo entre os carros
estacionados.
O garoto estava apoiado em seu carro
moderno, um joelho dobrado e os braços cruzados,
observando-a. Ela aproximou-se rapidamente,
mordendo o interior da bochecha, grata que
pudessem ir embora logo.
- Vamos? – Pediu. Theo não se mexeu de
sua posição quando ela chegou a sua frente.
- Arruma a postura e joga o cabelo de lado.
- Ele ditou em tom de ordem. Ela obedeceu.
- Tudo bem, agora vamos? - Perguntou
afobada como sempre.
- Espera. Deixa eles te olharem mais um
pouquinho. - Ele olhava por cima do ombro da
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menina para cada uma das pessoas residentes no


lugar.
- C-como assim?
- Vamos dar a chance aos homens dessa
escola de babarem na minha criação. – Explicou em
tom de obviedade e orgulho. Silêncio. Bianca
queria mais do que tudo abrir um buraco para se
enfiar. Sentiu a respiração acelerar e esforçou-se
para que as bochechas não corassem. - Seu
amiguinho também está olhando. - Comentou.
- Sam está aqui? – Investigou o rosto do
mais velho como se buscasse algum indício de uma
pegadinha. Ele acenou positivamente. - Reparando
em mim? - Havia esperança em sua voz e gratidão
em seus olhos. Theo sorriu para a garota, com
compaixão. Então voltou a encarar sutilmente o
loiro e murmurou conspiratório:
- Ah, sim. Isso, meu querido, aprecia o que
você está perdendo. - Em uma risada, se deu por
satisfeito e entrou no carro chamando Bianca para
se juntar a ele.

- Uau, você mora aqui? - A menor


perguntou admirada com a elegância e imponência
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do lugar.
- Não. - Ele disse, sincero. Ela o questionou
com os olhos. - Minha mãe e meu padrasto moram
aqui. Eu moro nos fundos, na casa da piscina.
- Sem querer me intrometer... Mas porque
não mora com os seus pais, Theo? - Bianca era
curiosa na mesma medida que era tímida. Ele não
pôde evitar um sorriso carinhoso para o cuidado
que ela tinha em se meter na sua vida. A maioria
das garotas que já tinham pisado ali haviam feito a
mesma pergunta com muito mais indelicadeza.
Entraram na casinha modesta de madeira e
deixaram suas coisas no sofá da pequena sala. Theo
ia em direção a cozinha e a chamou para se juntar a
ele antes de respondê-la.
- Aqui eu posso ser eu mesmo. - Ele deu de
ombros. - Tenho meu espaço, e... - Ele indicou com
a cabeça a porta que dava para o quintal, e ao abri-
la Bianca tomou um susto com o tamanho do
cachorro que apareceu pulando em felicidade
extrema, lambendo o rosto do dono. - Esse é
Whisky. Ele é um Bernese Montanhês de três anos,
e é toda a família que eu preciso. - Sorriu com os
olhos apertados. Bianca sentiu o seu próprio sorriso
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erguer-se sem se dar conta. - Bom, sinta-se em


casa, Anjo. Eu vou fazer nosso almoço.
- Minha nossa, você é mil e uma utilidades
mesmo! - Ela riu, descontraída. Estava se sentindo
cada vez mais à vontade na presença do garoto, e
mostrando sua personalidade. Theo achava incrível
que a menina miúda da qual ninguém tivesse
notícias na escola, estivesse se desabrochando em
sua frente.

A comida estava pronta e a mesa estava


posta, e Theo tinha feito tudo sozinho porque
Bianca e Whisky haviam sumido há mais de
quarenta minutos, e ele não fazia ideia de onde
tinham se metido. Foi procurá-los pelos poucos
cômodos da casa, e, assim que se deparou com
todos vazios, também pelo quintal. Encontrou
Bianca com um sorriso aberto, descabelada, de
roupas amassadas, e com Whisky em cima dela,
quase a derrubando na piscina.
- Para, Whisky! Seu grandalhão fofo, você
tá me babando toda! - Ela gritava entre risadas
espontâneas. - Ok, ok. Eu prometo não roubar mais
sua bola!
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Whisky deu dois passos para trás, livrando-


a de suas enormes patas. Ela colocou a mão para
trás do corpo revelando a bola laranja favorita do
cachorro e então jogando-a longe para que ele fosse
em uma corrida desenfreada buscar. Theo riu com a
cena.
- Anjo, o almoço está pronto. - Chamou.
- Ai, Theo, me desculpa! Eu sequer te
ajudei, me distrai aqui brincando com o seu
cachorro.
- Não faz mal. Só venha comer antes que
esfrie.
Foram para dentro novamente, com Whisky
de volta após recuperar a bolinha, trançando as
pernas de Bianca pedindo para brincar mais. Theo
precisou trancar o cão no quintal novamente para
que ele deixasse a visita em paz.
- Parece que você gosta muito de cachorros.
- Comentou no almoço. - Você não é assim
espontânea com as pessoas.
- Cachorros te aceitam como você é, e se te
machucam, é realmente sem querer. Eles não
guardam rancor, não te culpam por nada, nem
exigem de você mais do que você pode dar. Só
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querem brincar e lamber seu rosto, se possível. -


Ela explicou, dando de ombros, e Theo
imediatamente entendeu que havia um passado
turbulento ali, que explicava o fato de Bianca ser
tão retraída com as pessoas.
- Quem foi? – Perguntou subitamente,
olhando-a com interesse.
- Quem foi o quê? – Não entendeu.
- Que te estragou, que te fez ter tanto receio
da humanidade. – Ele clareou, o rosto contorcido
como se tentasse ler seus pensamentos.
- Ah... Eu não gosto muito de falar sobre
isso, Theo. – Bianca baixou a cabeça, mexendo na
comida sem propósito.
- Eu só quero te entender. - Pediu, a voz
morna. Ela suspirou, não tendo como negar.
- Vamos fazer assim: Você me conta algo
da sua vida e eu conto algo da minha. Assim
ficamos quites e eu não preciso sair daqui para me
esconder de vergonha debaixo das minhas cobertas.
- Bianca sugeriu, tentando quebrar o clima pesado.
- Parece justo. – Ponderou. - Eu começo
então. - Respirou fundo. - Meu pais se separaram
há alguns anos. Meu pai sumiu e minha mãe se
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casou com outro cara. Eu resolvi ir morar com o


meu avô. Ele era demais, o tipo de figura que todo
mundo deveria ter na família, mas já estava velho e
debilitado, e com isso eu tive que aprender a me
virar. Aprendi a cozinhar, lavar, passar, limpar e
lidar com dinheiro por causa dele. Ele me ensinou
tudo o que eu sei.
- O que aconteceu? - Perguntou, observando
os pontos vermelhos que tomavam o rosto do
garoto com a memória da pessoa que mais amou no
mundo.
- Ele faleceu. E eu fui obrigado por lei a
voltar a morar com a minha mãe. Mas eu não
aguento o clima daquela casa e principalmente não
aguento meu padrasto, então arrumei um jeito de
reformar isso aqui para que eu pudesse ter ao
menos um pouco de paz. - Terminou, dando de
ombros.
- Você fala com tanta assertividade. É forte
e independente. - Bianca elogiou, encantada com as
qualidades e história de vida do rapaz.
- Obrigado, meu anjo. - Agradeceu com um
sorriso leve. - Sua vez.
- Meus pais também se separaram há algum
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tempo. A diferença é que eu não tive pra onde


correr, e tive que enfrentar as acusações da minha
mãe sobre ter sido minha culpa. - Suspirou entre
uma garfada e outra com a lembrança desagradável.
- Meu pai estava depressivo e tinha essa aura negra
acompanhando-o o tempo todo. Eu era pequena, só
queria ver meu pai feliz. Então, eu sugeri que ele
fosse arrumar novos amigos para brincar, porque
era isso que eu fazia para me animar. E, bem...
Digamos que ele achou uma amiguinha bastante
especial disposta a brincar com ele.
- Ele deixou a sua mãe por outra? - Indagou,
as sobrancelhas levantadas em choque.
- Sim. E ela me responsabiliza por isso.
Pelo fim do casamento deles. Porque eu estava feliz
pelo meu pai ter encontrado alguém que o fizesse
feliz. Eu não tinha a menor noção do que traição
era, sequer que meu pai, meu ídolo, pudesse estar
fazendo isso. Enfim... É por isso que eu prefiro os
cachorros. As pessoas não são confiáveis.

Depois da sessão desabafo, Theo e Bianca


decidiram que precisavam se distrair, e que aquela
era, portanto, uma boa hora pra pegar nos estudos.
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Eles limparam a mesa e arrumaram os livros e


cadernos em cima do grande tapete felpudo que
tinha na sala e ficaram por lá mesmo, debruçados
em exercícios e mais exercícios.
Apesar de todas as probabilidades, estava
sendo uma tarde agradável. Bianca era engraçada
sem querer, e fazia analogias inesperadas que
realmente ajudavam o garoto a entender uma coisa
ou outra da matéria. Em determinado momento, ele
já resolvia os problemas sem qualquer ajuda dela,
mostrando-se muito mais capaz intelectualmente do
que a menina esperava.
- Você não é tão ruim nisso como eu tinha
imaginado. - Ela comentou dobrando os lábios,
depois de terem resolvido dar um basta pelo dia. -
Qual o motivo então de todas as notas vermelhas?
- Eu só não vejo ponto em nada disso, em
aprender essas coisas. Não me esforço. - Levantou
um ombro, conformado.
- Mas, Theo, você não me disse que quer
entrar em uma faculdade muito boa? Esse é o ponto
de estudar. – Evidenciou com obviedade.
- Aí é que está, anjo: Eu não quero. Esse é o
desejo do meu padrasto. Não o meu. Ele só quer
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que eu seja um advogado rico que livre a cara de


seus amigos corruptos. - Bianca tinha uma grande
interrogação no rosto, a curiosidade transbordando
dos olhos transparentes.
- E qual é o seu sonho então? - Theo
respirou fundo e afastou a cadeira, decidido a
contar mesmo que tivesse que lidar depois com o
preconceito que ela provavelmente demonstraria,
como todas as outras pessoas.
- Eu quero fazer a diferença e ajudar quem
precisa. Meu sonho é me formar em psicologia e
me juntar a estes grupos de doutores que ajudam os
necessitados na África. Eu acho importante cuidar
não só da saúde orgânica dessas pessoas, mas
também da familiar. Quero dizer... Se eu, que tenho
todas as condições, dinheiro, saúde, e educação já
sofri tanto com a morte de alguém querido e com a
base desestruturada de família que tenho, imagina
essas pessoas, que não têm ninguém ou que não
sabem se vão sobreviver ao dia seguinte? Elas
precisam de amparo, precisam que alguém as ajude
a ter força para lidar com todas essas dificuldades.
E eu quero ser essa pessoa. - Terminou emocionado
como sempre ficava quando falava do assunto.
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Levantou o rosto quente para Bianca, apenas para


perceber que ela mesma tinha lágrimas nos olhos e
feição de admiração.
- Theo... Isso é lindo! - Exclamou
encantada. - Você quer se juntar aos Médicos Sem
Fronteiras?
- Bem, sim. Mas eles não são a única
organização que promove esse tipo de trabalho, e
francamente... Eu só quero ser útil. Independente de
como eu chegue lá.
- Nossa... Uau. Juro, acho que não vou
conseguir te olhar da mesma forma nunca mais. -
Ela sorriu alcançando impulsivamente a mão dele
em apoio. Theo gostou do agrado e ficou muito
grato pela reação tão fora do padrão da mais nova
às suas ambições, por isso apertou a mão dela de
volta. – Mas pense assim: Para fazer a faculdade de
psicologia você também precisa aprender essas
coisas. Então não está necessariamente perdendo
tempo.
- Meu plano é começar a cursar o que ele
quer até eu ser maior de idade para poder me livrar
dessas amarras e viver minha vida. Mas acho que
você tem razão. Eu não vou conseguir me livrar de
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física tão cedo. – Eles riram juntos, descontraídos e


esperançosos por um futuro melhor. - Sabe, Bianca,
você é uma garota bem legal. Tenho certeza que o
loiro vai ver isso um dia. Embora eu espere que já
seja tarde demais e você perceba até lá que, se ele
preferiu alguém fútil e sem cérebro a você, ele não
te merece.
- O que você está dizendo, Theo?
- Nada, anjo. - Ele balançou a cabeça,
sabendo que ela era ingênua demais para entender
que mudar por alguém não a faria feliz. - Vamos, já
está escurecendo, vou te levar pra casa.

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Já era sexta-feira.
Entre tomar mais um fora de Sam, pedir
ajuda a Theo, passar por uma transformação total,
estudar física e dividir aspectos bastante
particulares de sua vida, a semana passou voando
para Bianca.
Aquele dia em especial, no entanto, estava
demorando a acabar.
Theo grudou nela a partir do momento que
atravessou os portões de ferro da escola, e estava ao
seu lado a cada passo que dava, sempre a
conduzindo com uma mão. E isso lhe era muito
incômodo.
Não a presença do garoto, de forma alguma,
mas sim os olhares que recebia de toda a escola por
estar em sua companhia.
O pior é que, como agora não passava mais
despercebida, não conseguia escutar as fofocas do
corredor e, portanto, não sabia o que estavam
achando daquilo. Não sabia se achavam suas
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roupas ridículas ou maravilhosas, idem com o


cabelo e as unhas, e não sabia o que achavam que
Theo fazia ao seu lado. Será que achavam que eles
eram amigos? Mais do que isso? Namorados
talvez?
Ele dizia para ela não se preocupar. Toda
vez que a flagrava tensa por ter captado algum
olhar, entoava o mesmo discurso para que se
acalmasse e deixasse fluir. Claro, ele podia estar
tão tranquilo assim porque não tinha o que temer -
não havia nada que fizesse que diminuísse a
admiração que aquele colégio tinha por ele - mas
não era esse o motivo de tanta serenidade. Theo
sabia o que estavam falando.
Diziam que ela era linda e se perguntavam
onde estava escondida todo esse tempo. Elogiavam
e invejavam sua forma física. E especulavam sobre
um suposto relacionamento entre os dois.
Essa parte era sacada. Ia acontecer
inevitavelmente, mas Theo até tinha previsto como
uma boa vantagem no plano da garota de
conquistar o amiguinho: ele ficaria com ciúmes, e
iria atrás dela.
E isso era o que ela mais queria, embora ele
ainda achasse uma má ideia. Procurava não julgar,
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no entanto, não sabia como o tal do melhor amigo


era com ela quando estavam sozinhos.
Apesar da aparência de Bianca ter
melhorado radicalmente, a postura frente ao assédio
que agora sofria ainda era pífia. Ela ou corava, ou
se escondia, ou corava e se escondia. E, sabendo
disso, Theo não podia mais adiar a próxima aula.
Marcaram no dia seguinte, sábado, na casa dele.
Seu "QG" da missão como Bianca resolveu
apelidar.
Ele explicou que a aula seria demorada, que
provavelmente tomaria o dia todo, pois passaria a
ela o básico sobre como se comportar para fazer os
caras a quererem, e sabia que mesmo o básico seria
complicado para ela entender.

Não eram nem nove da manhã do sábado e


eles já estavam reunidos na sala do garoto, prontos
para começar a segunda lição. Theo havia feito
questão de ir buscá-la em sua casa, pois Bianca não
tinha carro e ele não queria que ela dependesse de
transporte público para chegar ali. Estaria cansada
de fugir das roçadas de velhos nojentos no ônibus e
com isso não aguentaria o pique da aula que ele
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tinha planejado.
- Vamos começar. A primeira coisa que eu
vou te ensinar hoje é sobre postura. Eu vou encenar
pra você o andar de três pessoas, e você vai me
dizer o nome de alguém com quem elas se
pareçam. - Bianca achou engraçada a metodologia
do mais velho, mas concordou com a brincadeira.
O primeiro personagem que interpretou
andava com o quadril balançando de um lado para
o outro, o queixo para cima e o peito estufado.
Praticamente cruzava os pés um na frente do outro,
como em um verdadeiro desfile. Bianca precisou
gargalhar, ver um homem daquele tamanho
andando daquela forma era, no mínimo, hilário.
- Milena! - Ela gritou como em um jogo de
mímica.
- Muito bem. – parabenizou. - Segunda
pessoa agora.
Agora o andar de Theo era normal,
despreocupado e elegante, como se tivesse todas as
respostas da vida nas mãos, a postura ereta, mas a
linha dos olhos no mesmo patamar da cabeça, nem
para cima, nem para baixo. Era um andar familiar
demais, e logo a menina soube:
- Theo. - Ela entregou, sabendo que era
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daquela forma mesmo que ele próprio caminhava.


- Boa menina. Ok, a última.
Muito diferente dos personagens até então,
este tinha os ombros curvados, o rosto baixo e olhar
preso no chão. Dava passos curtos e apressados,
como se estivesse louco para sair daquele lugar ou
com muita pressa. Bianca teve mais dificuldade
nessa. Foi preciso três passadas entre uma
extremidade da sala e outra para que ela se desse
conta.
- Sou... Eu? - Indagou, temerosa. Era
horrível pensar que poderia ser tão enclausurada
daquela forma.
- Sim. E você percebe qual a diferença entre
Milena, eu e você? A postura do seu andar diz
muito sobre quem você é, Bianca. - Ela acenou
devagar absorvendo enquanto ele se sentava do seu
lado no sofá. - O que você me diz de me deixar te
ensinar como andar sem se esconder?
- Eu não vou precisar parecer a Milena,
vou?
- Acho que um meio termo entre ela e você
já está de bom tamanho. - Ele ria de sua desgraça.
Theo se levantou e ofereceu a mão para que ela
também o fizesse. - Primeiro vamos arrumar essa
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postura. Aqui - Encostou a mão no centro das


costas de Bianca e fez pressão até que elas
estivessem levemente arqueadas para frente. Então,
puxou com delicadeza os ombros dela para trás e
fez o mesmo com seu quadril. Só o suficiente para
que parecesse natural.
- Isso dói! - Reclamou.
- É porque você não está acostumada. Dois
ou três dias segurando essa posição serão o
suficiente para ela te ser corriqueira.
- Se você diz... - Murmurou começando a
andar com a posição travada.
- Não, anjo! Você precisa de um pouco mais
de leveza e gingado ao andar. Aqui, deixa eu te
ajudar. - Theo parou um passo atrás dela e apoiou
as mãos em seu quadril quebrando-os para um lado
e depois para o outro a cada novo passo. Bianca riu,
se sentindo uma boneca de pano. - Dê passos
maiores, Bianca. Você é uma mulher linda e
confiante agora, aja como tal. - Ele ditou ao pé do
seu ouvido, mas a menina estava acostumada
demais com os passos de passarinho para conseguir
fazê-lo sem se desequilibrar e depender das mãos
de Theo para ampará-la.
- É, acho que vou dar mais trabalho do que
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você esperava. - Ela se desculpou, risonha pela


falta de jeito. Ele negou com a cabeça, já esperava
que seria uma tarefa complicada e explicou que não
havia vergonha alguma em não conseguir de
primeira.
- Não se assuste, eu só quero ajudar. - Ele
adiantou antes de dar um passo para frente e colar
seus corpos. Ela ficou tensa com a proximidade,
mas o carinho modesto que Theo fez com o polegar
no seu quadril a acalmou. - Eu vou empurrar com o
meu joelho a sua perna, e você vai andar seguindo
esse comando. Tudo bem? - Ela fez que sim com a
cabeça, e então ele pressionou com a própria perna
direita a dela, que continuou o movimento dando
um passo longo e certeiro. As mãos dele novamente
lhe auxiliaram na quebra do quadril e logo ela
estava andando por toda a sala rebolando na
medida certa.
A lição estava sendo aprendida com êxito,
ainda que o colar de seus corpos fosse
desconcertante para os dois. O leve rebolar de
Bianca no colo do garoto o fazia se animar sem
querer e com que ela perdesse o ar, e as instruções
sendo murmuradas diretamente no seu ouvido não
ajudavam. Quando ela tropeçou nos próprios pés de
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nervosismo e ele sentiu uma gota escorrer pela


nuca, acharam melhor afastar-se para que ela
tentasse sozinha.
Mais vinte minutos depois estavam os dois
cansados de tanta andança e dando aquela parte da
lição como encerrada. Ele estava sentado no sofá
com os antebraços apoiados nas coxas, levemente
inclinado, e ela se jogou ao seu lado esticando as
pernas e cruzando os tornozelos. Theo passou a
mão pela testa, percebendo que também teria que
ensiná-la a sentar.
- Última coisa e então vamos almoçar. - Ele
indicou. - Você vai se sentar sempre que puder com
as pernas cruzadas e as mãos no colo. Não vai
brincar com seus dedos, não vai cruzar os braços e
não vai se inclinar para trás. - Bianca suspirou.
Queria se levantar, achar Sam e gritar na sua cara
que ela não merecia ter que passar por tudo aquilo
por ele. Mas optou por fazer o que Theo havia
ditado, sendo mais fácil, depois de tanto treino,
manter a postura. - Muito bem. Se seu olhar se
cruzar com algum cara com quem queira flertar,
você descruza e cruza as pernas novamente para o
outro lado.
- Entendi, mas e como eu sei que o cara
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também quer flertar comigo?


- Acho que esse é um dos seus maiores
problemas, anjo, não saber nos interpretar. Vou te
ensinar a fazer isso hoje também. Mas antes, vamos
encher essa barriguinha. - Brincou dando um
apertão em sua cintura. Levantaram-se e foram
rumo à cozinha apreciar novamente os dotes
culinários do garoto.

- Ok, segunda parte dos ensinamentos do


dia. - Disse pomposo arrancando uma gargalhada
de Bianca. - Como saber se um cara está flertando
com você? Uma ou outra ação entregam. Ele pode
olhar no fundo dos seus olhos e não desviar o olhar
por mais de três segundos. Isso significa que não
foi acidental, e ele está realmente interessado.
Então, cruzou o olhar? Segura e conta. Deu mais de
três? Ele tá na sua.
- Não sei se eu consigo segurar o olhar por
três segundos.
- Então vamos ao segundo sinal. Ele vai se
inclinar na sua direção. Principalmente a cabeça, o
que significa que pode ser que ele te olhe de baixo.
- Tá. E o que mais?
- Ele vai arranjar qualquer desculpa para te
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tocar. Principalmente na base da coluna. É como


fazemos para vocês sentirem nosso amparo e calor,
e ainda tem o bônus da desculpa de estar te guiando
quando na verdade estamos "mijando no poste" e
dizendo para quem estiver por perto que vocês
estão conosco.
"Agora, se estiverem conversando, tem
mais alguns sinais de interesse, como as pupilas
dilatarem, as sobrancelhas levantarem, e
inquietação. Se os pés dele não pararem de se
mexer é ruim, porque significa que você não está
conseguindo prender a atenção dele realmente, e
tudo que ele quer é pular a parte da conversa e ir
fazer outra coisa, mas se ele mexer com as mãos ou
a boca é porque está ansioso para te beijar ou te
tocar, e isso sim é bom.
- Uau, você é bom nisso. Vocês fazem essas
coisas conscientemente? – Indagou, curiosa, depois
de prestar muita atenção em tudo que ele dizia.
- Não, anjo. É tudo natural, e vai ser para
você também em algum tempo.
- Bom, tudo bem, agora eu sei que ele tá
interessado, mas como eu faço pra flertar de volta?
- Simples, também tem alguns movimentos
clássicos que você pode performar. Um deles é
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retribuir o olhar rapidamente, então olhar para


qualquer outro lugar com um sorriso discreto, e
voltar a olhá-lo. É como se dissesse "te notei, tentei
disfarçar, mas não deu". Isso nos deixa loucos.
Outra coisa clássica é mexer com o cabelo, ou,
como eu já disse hoje, descruzar e cruzar as pernas.
- E se estivermos conversando já?
- Daí você precisa se mostrar interessada no
que ele fala, fazendo comentários esporádicos,
sorrir constantemente, e a cartada final: apertar
alguma parte do corpo dele. O mais comum é o
bíceps, se estiverem conversando em pé. Se for
sentado pode ser o antebraço ou mesmo o fim da
coxa. Mas é necessário um apertão.
- Nossa, isso tudo é muito complexo, acho
que vou precisar anotar. - Ela disse ingenuamente,
fazendo Theo rir.
- A gente vai treinar enquanto eu te falo um
pouco sobre as conversas em si, não se preocupe.
- Então fala que eu já to curiosa! – Agitou-
se, arrancando mais uma risada do professor.
- Tá, digamos que o cara de aproximou, ou
qualquer cenário que seja, o que importa é que
vocês vão ter um contato mais direto, vão
conversar. Vamos fazer de conta que eu sou o cara.
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Você vai precisar saber a deixa de quando falar


sobre si e quando me deixar falar, quando
interromper, sorrir, fazer caretas, ser misteriosa.
Acho que fica mais claro se a gente for por
exemplos. - Ele fez um gesto explicando que
começaria. - Se eu disser que te acho gostosa, o que
você faz?
- Eu me escondo. - disse astuta, sabendo
que levaria uma bronca.
- Não, Bianca. O que você acha que deveria
fazer?
- Rir? – Tentou mais uma vez, e logo Theo
tinha os olhos em fendas, entendendo que ela o
estava provocando.
- Não, sua pequena pilantra. Você me olha
séria por dois segundos, abre um sorriso de canto, e
desvia a atenção para a pista de dança ou o lugar
mais agitado próximo e faz um comentário
misterioso. Isso vai me manter interessado sem te
achar vulgar.
- Que tipo de comentário?
- Qualquer coisa que desvie a conversa e
não me faça rir.
- Tá... Entendi. O que mais?
- E se eu elogiar as roupas que você está
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usando?
- Isso não faria sentido algum, foi você que
as comprou para mim.
- Finja que eu não sou eu. – Revirou os
olhos, com obviedade.
- Bom, daí eu falo obrigada e conto a loja na
qual elas foram compradas? – Disse em tom
tentativo.
- Para um amigo gay, talvez, - ele maneou a
cabeça - mas para um homem hétero você tem que
entender que o elogio não é para a sua roupa, é para
o seu corpo. E agora, que você faz?
- Eu o olho séria por dois segundos com um
sorriso de canto, então desvio o olhar e faço um
comentário misterioso.
- Isso, minha garota! - Ele a chacoalhou
pelos ombros, orgulhoso - Mas veja bem, o cara foi
mais sutil dessa vez, então você pode agradecer
antes de tudo.
- Sim, senhor.
- E se eu te ofereço uma bebida?
- Eu não bebo nada de estranhos. – Deu de
ombros.
- Você é impossível, menina! Está me
provocando. - Ela tinha um sorriso arteiro nos
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lábios e ele diversão no olhar. - Tudo bem, vamos


tentar um cenário mais próximo da sua realidade.
Se o loiro bate na sua porta dizendo que brigou
com a namorada, o que você faz?
- Ofereço uma bebida.
- Isso! Um whisky, por exemplo. - Indicou
o cão dormindo tranquilo no canto da sala.
- Ah, eu tinha pensado mais em um
chocolate quente, mas pode ser.
- Não, anjo, você oferece uma bebida
alcoólica, escuta o desabafo dele, e inflama seu ego
um pouco para então dar a cartada final.
- Que seria...?
- Lembrá-lo de que você é melhor do que
ela.

Eles ainda ficaram horas praticando


diversos tipos de situação para que ela pegasse o
jeito da coisa, mas o trabalho valeu a pena quando
o teste final, que seria um diálogo livre e não
hipotético, teve vez. Bianca se saiu bem e seguiu de
perto a cartilha, e o resultado na vida real haveria
de ter sido positivo. Resolveram parar novamente a
lição enquanto comiam sorvete direto do pote e
assistiam qualquer série que passava na televisão.
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Era um episódio que Theo já tinha visto,


então teve a chance de repassar as dificuldades do
dia para saber onde poderia ajudá-la em seguida.
Todos os tropeços da menina no quesito
sedução acabavam apontando para um mesmo
problema, o da baixa autoestima. Bianca não se
amava, não se achava sexy e não estava confortável
com o próprio corpo, e por isso tinha tanta
dificuldade em passar isso para as pessoas: para ela,
era equivalente a contar uma mentira.
Ele sabia como podia contornar isso, mas
tinha quase certeza que Bianca teria algumas pedras
na mão e uma grande barreira para aceitar a
próxima aula. Teria que preparar bem o terreno,
porque aquilo não podia ser adiado.
Olhou para o lado onde a garota estava
sentada com a postura perfeita apesar da áurea que
ela emanava deixando claro que preferia estar
abraçando as pernas em cima do sofá. Suspirou
desgostoso, novamente lhe incomodando o fato de
ela querer tanto se moldar para atender às
expectativas de alguém que não seria bom para ela.
Passou um braço ao redor de seus ombros e
a puxou para recostar em seu peito, o que ela fez de
bom grado, já conseguindo encarar melhor a
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presença dele com a intimidade que estavam


criando. Ele sentia uma vontade irracional de
acolhê-la em seus braços, para protegê-la do mundo
preto e branco que existia ao seu redor. Ela podia
beirar os dezessete, mas ainda era uma menina
ingênua e muito machucada pela vida que não
merecia a discriminação que sofria. "O que eu faço
com você, anjo?", pensou. Ela estava trazendo luz
para sua vida, animação e esperança, e o que ele
trazia para a dela eram regras e imposições de uma
sociedade quadrada.
Não queria que tivesse que ser assim.

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Naquela segunda-feira à tarde, depois do


período de aulas, Theo e Bianca foram embora
juntos direto para a casa do mais velho. Ele disse a
ela que a terceira aula teria que ser naquele dia, pois
não podiam mais adiar lidar com aquele obstáculo.
Ela, como sempre, acatou, embora não
fizesse ideia do que ele estava falando.
Mas o jeito como Theo estava, tão agitado e
nervoso, a fez ficar assustada. Ele não parava de
repuxar os lábios e os cabelos já normalmente
bagunçados, estavam caóticos de tantas vezes que
ele passava as mãos tensas por eles.
- Por que você parece tão nervoso hoje?
Aconteceu alguma coisa? Eu fiz algo errado? -
Perguntou, já não aguentando mais o estado do
garoto sem saber o motivo daquilo.
- Não, nada disso. Eu só sei que você não vai
gostar nada do que eu tenho preparado pra hoje.
- E o que é que você tem? - Bianca estava
curiosa, e se não fosse a confiança que havia
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desenvolvido nele, naquele momento estaria


tencionando sair dali correndo.
- Bom... Sabe como o seu maior problema é
de autoestima, certo? - Gesticulou com as
sobrancelhas levantadas.
- É, você está sempre falando isso. Que eu
preciso me amar antes das outras pessoas poderem.
Mas, você sabe, não é tão fácil quanto falar.
- Eu sei. Mas talvez a gente precise ser
mais... Literal nessa coisa de se amar.
- Como assim?
- Nas nossas primeiras aulas, eu podia ver a
vergonha que você tinha de si mesma. A falta de
confiança na sua aparência e o desmerecimento
quando falava sobre você. Era como se você
estivesse fazendo tudo isso, todo esse esforço... mas
achasse que estava aprendendo a enganar os homens
e não a deixá-los ver o melhor de você. Isso é porque
você não acredita no seu potencial, nas suas
qualidades, não se ama. E então eu acho que você
precisa conhecer melhor você mesma, conhecer
melhor o seu corpo. Explorá-lo, acariciá-lo, amá-lo. -
Ela ainda parecia confusa. - Tudo bem, o que eu to
dizendo é que eu acho que você precisa fazer amor
consigo mesma para que os outros queiram fazer
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amor com você. - Os olhos dela imediatamente se


arregalaram, talvez estivesse enfim entendendo
aonde Theo queria chegar.
- Nesse nível de literalidade?
- É, nesse nível. Bianca... - Suspirou. Ia
precisar falar as palavras. - Eu to falando de
masturbação.
- Ai, meu deus, eu não to ouvindo isso. - Ela
se levantou começando um caminhar nervoso em
círculos pela sala.
- Você disse que ia fazer tudo que eu
mandasse. - Lembrou.
- Você não pode estar sinceramente
mandando eu me tocar! - Queria parecer ultrajada,
mas a falha na voz entregou que ela estava apenas
muito nervosa.
- Bom, pois eu estou. - Ele bateu o pé,
sabendo que seria complicado convencê-la. Depois,
percebeu que falar grosso com a garota nem sempre
funcionava, e preferiu tirar a máscara de carrasco. -
Anjo... - Começou, levantando-se e pegando as mãos
dela entre as suas. - Eu sei que é estranho. Ainda
mais por ter um cara falando isso pra você. Mas eu
realmente acho que esse é o melhor caminho. Porque
não importa o trabalho que façamos pra você se
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aceitar, vai ser tudo superficial, se chegar na hora H e


você estiver sem roupa eu tenho certeza que a
timidez e a vergonha de si mesma vão voltar com
força total. Você precisa estar confortável consigo
mesma desde debaixo da pele, confortável com o seu
prazer egoísta, com o que quer, com o que precisa.
Aí sim vai poder se concentrar em pedir isso aos
outros e dar a eles também. Você entende?
- M-mas... Por mais que eu entenda o que
você tá falando... Theo, eu não faço nem ideia de
como fazer isso. Por onde começar. - Ele engoliu em
seco. Tinha alguma noção da inexperiência da garota
no quesito sexualidade, mas achava que ao menos
nesse aspecto tão íntimo ela soubesse se orientar.
- Não se preocupa... eu te ajudo.
- A-ajuda?
- É. Eu vou te dizendo o que fazer. Como em
uma aula normal. – Garantiu, tentando apaziguar seu
nervosismo.
- Não tem nada de normal nisso. – Ela
resmungou, ainda insegura.
- Eu sei. Eu sei, mas é o que temos para o
momento. - Ele deu de ombros, mas os olhos
estavam analíticos em cima dela como se ainda
esperasse algumas objeções.
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- O que? É pra começar agora? – Ela


perguntou ao se sentir analisada.
- Vamos fazer assim: A gente vai pro meu
quarto, senta na minha cama, confortáveis, e eu te
explico melhor tudo que puder. Daí a gente vê como
fazer de lá. Tá bem? - Ele podia dizer que ela estava
tensa e desconfortável com toda a perspectiva dos
próximos minutos, mas tinha esperança de que dar
um passo de cada vez fosse ajudá-la a relaxar.

Uma vez sentados na cama de casal do


garoto um de frente para o outro e de pernas de
índio, Theo começou a explicar a parte teórica da
masturbação, para tentar sanar as dúvidas que ela
tivesse antes de colocar em ação.
- Antes de mais nada, anjo, você precisa se
excitar. Não é um processo mecânico e automático,
então você vai precisar desse gatilho inicial. Então,
pode acariciar diversas partes sensíveis do seu corpo,
fazendo um carinho em si mesma. Não tem
necessidade de ir direto ao ponto. Na verdade,
existem pelo menos outros cinco lugares com zonas
erógenas que você pode explorar, e milhares de
terminações nervosas espalhadas que ajudam nesse
objetivo. Tudo bem?
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- Quais são as cinco? - Perguntou, como


sempre envergonhada e curiosa na mesma medida.
- Eu vou te mostrar já, já. - Theo garantiu,
logo continuando a explicação. - Depois disso que eu
falei, você deve se sentir molhada lá. É normal e
esperado que se sinta escorregadia. Saberemos se
está no ponto certo se, ao esfregar as coxas uma
contra a outra, puder sentir algum alívio
momentâneo.
- Tá, entendi.
- Então você pode começar a se massagear.
Primeiro por cima da calcinha, pois o atrito com o
algodão deve ser gostoso, e depois dentro. E é
exatamente isso que é: uma massagem. Você só
precisa encontrar o ponto onde a pressão é mais
agradável e investir nele. Você vai sentir calor e
alguns calafrios, e isso é extremamente normal. Se
sentir vontade de fechar as pernas e parar tudo, é
justamente quando você mais deve continuar. Você
tem alguma pergunta? - Indagou vendo os olhos da
pequena mais abertos que o natural.
- Ahm... Você não precisa, você sabe, colocar
algo ali dentro?
- Só se você quiser. A maioria das mulheres
prefere fazer como eu disse só, sem penetração. Mas
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se você sentir vontade, pode escorregar um ou dois


dedos para dentro de si. Você pode curvá-los dessa
forma - Ele exemplificou com os seus - e seguir o
ritmo que te fizer confortável. É tudo uma questão de
ler seu próprio corpo e seguir seus instintos.
- Bom, tudo bem. Mas e como eu... Me
excito?
- Você pode fechar os olhos e imaginar
algum cenário sensual que você tenha visto em
filmes, livros, ou que gostaria que acontecesse na
vida real. Para nós, homens, imaginar uma mulher
muito... Bonita - Escolheu -, já é suficiente. Mas
acredito que para vocês seja um pouco mais
complexo do que isso.
Theo assistiu, intrigado, Bianca fechar os
olhos bem ali a sua frente e franzir a testa, tentando
imaginar alguma coisa. Ele quis dizer que ela podia
esperar ele sair do quarto, mas achou encantadora a
feição de esforço que ela fazia.
- Não tô conseguindo pensar em nada, Theo.
- Ela decretou depois de quase um minuto daquela
forma, com os olhos novamente abertos.
- Eu posso te ajudar nisso também. Mas
antes, venha aqui. – Chamou, parando na frente do
espelho de corpo inteiro que ele tinha no quarto. Ela
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se levantou e foi até ele, sendo direcionada até ficar a


sua frente, o corpo miúdo ainda menor em
comparação com o do garoto atrás de si. - Aqui,
Bianca - Theo começou, encaixando suas mãos por
detrás das dela e as guiando para cima. - Essa é a
primeira das cinco áreas que eu te indiquei. - Ele fez
a ponta dos dedos dela tocarem superficialmente seu
próprio lábio inferior. - Por isso que normalmente as
pessoas se animam tanto com um beijo. Você pode
mordê-lo o quanto quiser na sua preparação. - Em
seguida, carregou as mãos dela até que elas
passeassem calmamente pelo pescoço alvo chegando
quase no limite da blusa de alça. - Esse é o segundo
lugar. Você pode sentir vontade de esfregá-lo ou de
arranhar. Todas as opções vão fazer você se arrepiar,
e arrepio é bom. - Ela acenou devagar, os olhos
cravados no espelho e em cada movimento de Theo.
As quatro mãos unidas desceram e se encaixaram
nas laterais dos seios médios da menina em formato
de concha. O mais velho empurrou as próprias contra
as dela, fazendo os dois montes de carne apertarem-
se um contra o outro, cavando o decote da blusa.
Mais tarde se o perguntassem, não saberia dizer se o
fez para mostrar a Bianca como lidar com aquela
parte de seu corpo ou se por vontade própria. - Essa
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parte aqui em especial é muito importante de se ser


explorada. Da forma como achar melhor, suave ou
rude, o toque aqui é bastante importante. - A seguir,
ele levantou brevemente a barra da regata que ela
usava, expondo, ainda que minimamente, sua
barriga. Deu suaves batidinhas com os dedos ali,
bem próximo do ventre, fazendo um ou outro
deslizar, e assistiu o ar esvair-se dos pulmões de
Bianca.
- Nossa, isso é bom! - Ela exclamou, ansiosa.
Ele riu, modesto.
- Exatamente, e essa é a quarta área. Me dê
suas mãos de novo. - Ela o fez, e ele as levou mais
para baixo e obrigou-as a apertar o interior das
próprias coxas quentes. - Esse é o último. Tem
muitos outros lugares, mas que você consiga
explorar sozinha acho que esses estão de bom
tamanho. Ela repuxou os lábios e murmurou em
concordância, um pouco decepcionada que ele
estivesse voltando para a cama, mesmo sem saber o
porquê. - Sente-se aqui no meio, vou te ajudar a criar
um cenário. Só até você pegar o jeito, e aí eu saio do
quarto e te dou privacidade. - Bianca abriu os olhos,
o nervosismo voltando a dar as caras. - Não se
preocupe, eu vou estar no corredor se precisar de
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mim. - Garantiu, confortando-a. - Vem.


A mais nova subiu na cama novamente e
sentou-se no meio das pernas do mentor, de costas
para ele. Ele a ajeitou e manuseou, até que ela tivesse
as pernas esticadas e o tronco descansando em seu
peito, em uma posição confortável e entregue.
Daquela forma, as palavras fantasiosas de Theo
podiam ser sussurradas diretamente no ouvido da
menor, tendo um efeito mais direto.
- Feche os olhos e deixa a mente em branco.
- Pediu, sendo obedecido imediatamente. - Agora
imagine-se em um lugar que te traga paz, com clima
ameno e uma vista bonita. Onde você está, Bianca?
- Em uma cabana de madeira escura dentro
de um bosque claro e lotado de árvores floridas.
- Ótimo. Agora imagine que você não está
sozinha. Tem um homem muito bonito, malhado e
suado com você. Ele acaba de chegar na cabana com
algumas peças de lenha para aquecer vocês quando
escurecesse.
- Um lenhador? - Ela perguntou, animada.
Ele agradeceu mentalmente ter acertado no fetiche
improvável.
- Sim, um lenhador. Ele prepara tudo para
que você aproveite o fim de tarde da melhor maneira
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possível. Tem vinho esperando na cômoda ao lado da


cama. Os lençóis são claros e sedosos, e é para baixo
deles que vocês vão. - Ela se remexeu em seu peito,
realmente vivenciando a história. Theo sorriu e
acariciou seus braços em conforto, continuando. -
Ele acaricia seu rosto e te lembra o quanto te acha
linda. Diz que você é tudo o que precisa e inclina-se
para te beijar. - Bianca subiu uma mão para a boca e
esfregou um dedo contra ela, como se para deixá-la
dormente. - Vocês estão com gosto de vinho na boca
e apreciam o ritmo do contato. Ele se coloca em
cima de você, e te abraça apertado, correndo os
dedos em seu entorno. O calor da fogueira e do
corpo dele te fazem ficar ofegante. - O peito dela se
movimentou com mais rapidez, espelhando as
palavras do garoto. - Você sente que quer mais
contato. Espalma as mãos nas costas dele e percebe
que ele está sem a camisa. Na verdade, vocês dois
não tem praticamente roupas no corpo, e a última
peça ele lhe tirava agora enquanto esbarrava a boca
pela sua barriga. - A menina encolheu o ventre e
suspirou, se escorando mais contra o professor. -
Você se arrepia e entranha os dedos nos cabelos
macios dele, o puxando para cima, onde ele distribui
mordidas no contorno do seu pescoço e ombros. -
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Theo tinha o hálito quente, e vez ou outra deixava


beijos por conta própria na nuca da garota, onde
também passeava o nariz gelado. Apoiou as palmas
da mãos contra as coxas dela, e continuou o relato
quente por mais alguns minutos, até perceber os
movimentos inquietos do quadril dela ajeitando-se
freneticamente no colchão sem achar posição. Sabia
que ela estava pronta, e com muito custo, obrigou-se
a sair de trás dela e deitá-la nos travesseiros. Ela
ainda tinha os olhos fechados e os lábios
entreabertos, e ele precisou molhar os seus próprios,
de repente tão secos, antes de lhe sussurrar que ela
estava pronta e deixar o quarto, deixando a porta
encostada. Ele encostou as costas na parede e se
permitiu deslizar até o chão, quando constatou que
sua respiração estava igualmente acelerada.
No quarto, Bianca deu continuidade à
fantasia que Theo havia criado. Seguia
instintivamente os movimentos que ele tinha lhe
ensinado, contornando de leve os seios e esfregando
os bicos, então passeando pelo interior das coxas e se
aventurando no calor molhado entre as pernas. Por
algum motivo desconhecido, os olhos que ela
imaginava sobre si eram claros e os cabelos escuros,
uma inversão interessante do Sam inicial que tinha
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projetado. Ele também tinha mais músculos do que o


usual, os quais ela fazia questão de explorar
milímetro por milímetro, enquanto encontrava um
ponto interessante de sua intimidade que a fazia
pular e perder a linha do raciocínio a cada novo
toque.
Theo escutou o primeiro gemido surpreso
escapar pelas frestas da porta, e em uma tortura
silenciosa olhou para baixo, deparando-se com seu
amigo bastante animado para entrar pra festa a que
não foi convidado. Ele suspirou incomodado,
ouvindo outros sons seguirem o primeiro, e
entranhou dos dedos nos cabelos impedindo-se de se
aliviar. Os grunhidos de Bianca ficavam cada vez
mais longos e apelativos, e ele precisou puxar as
madeixas escuras pela raiz para tentar se distrair.
Culpava o sexo masculino pela incapacidade de se
controlar, embora no fundo soubesse que aquilo não
tinha nada a ver com inevitabilidade, e era mérito
único e exclusivo da menina inocentemente sensual
que aproximava-se do êxtase aliviado sobre sua
própria cama.
Dormir ali nunca mais seria a mesma coisa.
Theo odiou-se por um momento, enquanto
pegava-se rastejando para a abertura da porta, para
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espiar a visão proibida da garota em seu quarto.


Bianca tinha as pernas abertas, a cabeça contra o
travesseiro, as costas arqueadas, e as mãos
alternando-se entre um movimento frenético no
ponto inchado no topo de sua intimidade, e um entra
e sai coordenado mais abaixo. Chegou a tempo
apenas de vê-la ranger os dentes e contrair os dedos
do pé em liberação, jogando-se em seguida contra os
lençóis para aproveitar os últimos espasmos
deliciosos.
Balançando a cabeça rapidamente, ele se
levantou e rumou para o banheiro, afim de tirar
aquela imagem da cabeça.
Um pouco de água fria no rosto ajudaria.
Ou talvez não.
Ou talvez nada ajudasse.
A não ser... Não. A água lhe teria que servir.

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Depois de dignar-se a uma ducha rápida no


banheiro da suíte, usar a toalha de Theo e colocar
as mesmas roupas por falta de uma troca, Bianca
foi encontrá-lo sentado pensativo na sala. Ela
tentou ser discreta ao entrar no cômodo, mas assim
que o garoto ouviu o menor sinal de sua presença
ele se levantou sorrindo orgulhoso, e abriu os
braços para que ela se encaixasse ali em um abraço
caloroso.
- Essa é a minha garota! - Dizia enquanto a
apertava e balançava, tirando risos espontâneos da
menor. - Meus parabéns, anjo.
Bianca ainda se sentia mole e carregava um
sorriso satisfeito no rosto pequeno, que se abriu
mais em um realizado ao ouvir a congratulação de
seu mentor.
Os dois se sentaram no sofá e Theo pegou
uma das mãos dela entre as suas, onde fazia um
carinho modesto como se não tocá-la fosse
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inviável.
- E então? Como você se sente? - Ele
perguntou sereno embora estivesse ansioso pelo
relato completo, para saber do sucesso daquela
primeira parte da aula.
- Nossa, incrível! É como se eu tivesse me
libertado de amarras que eu nem sabia que
existiam. - Ela explicou, levantando-se do sofá
apesar do cansaço e dando algumas piruetas no
tapete. - É como se eu pudesse conquistar o mundo!
- Exclamou com os braços levantados. Theo ria e a
olhava com carinho, feliz pelo seu momento.
- Meu anjo, quando eu terminar com você,
não vai haver pessoa do sexo masculino que não
deseje justamente isso. - Ele piscou, garantindo. -
Bom, agora essa aula é sobre ser confiante com seu
corpo e atitudes que o envolvam. O primeiro
grande passo foi muito bem cumprido pelo que eu
posso ver. Eu só vou, então, te ensinar mais
algumas sutilezas, alguns movimentos que devem
ajudar a passar essa sensualidade recém descoberta.
- Ai, Theo, faça o que quiser. Depois de
hoje eu definitivamente não te questiono mais. -
Disse, entregue, arrancando risos dos dois.
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- Ótimo, ao trabalho então.

Theo foi até o aparelho de som da sala e


mexeu ali alguns minutos até que uma música
envolvente e sensual dos Arctic Monkeys saísse
dos amplificadores. Bianca levantou uma
sobrancelha, indagando-se o que aquilo significava,
mas não pôde fazer a pergunta em voz alta antes
que o garoto a puxasse pela mão e chocasse seus
corpos. A outra mão de Theo pousou em sua
cintura e ela, sem saber o que fazer com o braço
livre, o descansou no ombro forte do mentor.
- Eu vou te ensinar a dançar. - Ele explicou,
mais próximo do que o recomendável do rosto dela
para que ambos não perdessem os sentidos.
- Dançar? - Bianca confirmou, feliz por não
ter gaguejado.
- Sim. É importante que você saiba se
mover com graciosidade e sensualidade, sem
passos ensaiados. É uma etapa importante da
conquista se ela envolver uma festa ou balada. -
Theo continuava dizendo tudo com serenidade e
perto demais da face da menor, que apenas engoliu
em seco e gesticulou que tinha entendido. Ele colou
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seus troncos e aproximou a boca de seu ouvido. -


Siga o movimento do meu corpo. Se deixe
conduzir, se deixe levar. Vai perceber que isso é
mais fácil do que parece.
Sem pensar no teor das palavras do mais
velho, Bianca fechou os olhos e deixou que todas
as partes do seu corpo que escoravam a superfície
rígida que era o dele se entregassem. Eles tinham as
bochechas coladas e balançavam-se sutilmente ao
ritmo da música, o quadril dele incitando o
movimento do dela. Até que com um impulso um
pouco maior, eles começaram a dar passos
modestos e requebradas mais acentuadas. Para
frente e para trás, para um lado e para o outro,
dançaram por todo o tapete com graciosidade e
informalidade.
Todos os gestos que Theo incitava com seus
ombros ou pernas, faziam Bianca completar o
movimento, de forma que ao final da música ela já
quase conseguia prever o próximo passo dele e agir
de acordo.
- Muito bem. Dançar em dupla você
aprendeu bem, mas essa não é a modalidade mais
comum nas festas pra gente da nossa idade. Então
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agora vamos ver como você se vira sozinha. Aqui. -


Disse, indo para trás de Bianca e novamente
apoiando as mãos em sua cintura, como haviam
feito na segunda aula, a da postura. Ele a ajudou a
começar a rebolar, e logo ela assumiu o controle. A
forçou a dar pequenas abaixadas curvando os
joelhos, para que a dança ficasse mais sensual. E,
assim como no quarto, segurou as mãos dela,
mostrando o que fazer com as mesmas.
Fez ela passeá-las pelos cabelos, traçarem a
curva do pescoço e da cintura, e desenharem
desenhos abstratos nas coxas. Tudo devagar, com
calma e sensualidade. - Você pode deixar os lábios
entreabertos e olhar por cima do ombro. - Ensinou,
e ela reproduziu imediatamente, de forma que o
nariz e a boca do rapaz encostavam-se à sua
bochecha na virada, perto do ouvido. - Isso.
Continue assim. - Pediu, a voz rouca e baixa
acabou por incentivá-la a movimentar mais o
quadril encaixado no dele. Theo suspirou pelo
contato, fechando os olhos apertados, e optou por
se afastar para sentar-se no sofá de frente a ela. -
Vamos ver se você aprendeu. Dança pra mim,
Bianca.
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A garota parou o que fazia estática no


centro da sala. Tinha um par de olhos sobre si e a
ordem do professor ecoava nos confins de sua
mente, como uma daquelas fórmulas que você
precisa muito decodificar em uma prova
importante, mas nada no mundo te ajuda a fazê-lo.
Ele abriu as pernas e apoiou os antebraços nas
coxas, fazendo um gesto com a mão para que ela
começasse. Só assim ela saiu do transe, forçando os
pés a saírem do lugar sem destino certo, e, embora
em seus olhos ainda transparecessem o receio e a
vergonha, tentou manter o corpo se movendo ao
ritmo mais devagar da nova música ao fundo,
lembrando-se de como era mais fácil com Theo ao
seu redor.
Ouviu-se um barulho de estalar de dedos no
cômodo e foi então que ela levantou os olhos de
seus pés e encontrou o olhar do mais velho. E
alguma conexão estranha se estabeleceu, de forma
que todos os flashes de elogios e dicas que ele
havia lhe dado até ali a atingiram em um piscar de
olhos. E ela entendeu que ele não era qualquer um.
Era Theo naquele sofá, e eles já tinham
estabelecido vínculo suficiente para que ela
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pudesse se dignar a ao menos... Tentar com


propriedade.
Fechou os olhos apertados e soltou o
pescoço, deixando o corpo livre para acompanhar
as batidas. O quadril foi o primeiro a sair da
inércia, quebrando de um lado para o outro,
enquanto os ombros ainda continuavam duros.
Sentiu um calor tocar-lhe a coxa esquerda e abriu
os olhos vendo a mão de Theo ali. Ele a estava
puxando mais para frente, quase para o meio de
suas pernas. Ela foi com os lábios entre os dentes,
dessa vez arriscando passear as mãos pelo pescoço
e cintura, como ele tinha instruído.
Theo se recostou no sofá, deixando que ela
se habituasse à situação. Ainda lhe parecia pouco
confortável, mas a cada descida que os olhos dele
davam pelo seu corpo, um novo passo parecia ser
dado para que a dança ficasse mais natural. Ele
tocou dois dedos no joelho, indicando-a para dobrá-
los, e jogou a cabeça de um lado para o outro, como
se a avisasse para brincar com os cabelos também.
E dessa forma, o conjunto de movimentos foi
ganhando jeito, e desinibição.
- Vire-se. - Ordenou mais uma vez,
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fazendo-a ficar de costas para o sofá. Bianca


continuou a dançar, agora recobrando traços de
timidez com a suspeita de ter a bunda observada, ao
passo que Theo molhava os lábios e puxava o
tecido da calça jeans, desconfortável com a visão
tentadoramente mais apurada. Ele subiu uma mão
pela lateral do quadril dela, em uma tortura
silenciosa do local que queria realmente tocar, e a
alcançou nos cabelos sedosos caídos pelas costas
até podê-los puxar levemente, para que ela voltasse
a relaxar o pescoço. - Curve-se e olhe pra mim por
cima do ombro. - Inesperadamente, apesar da
posição sugestiva, o ar de inocência que Bianca
exalava apenas era um afrodisíaco a mais em todo o
showzinho particular. Como se quanto mais
inexperiente ela soasse, mais traria o gosto de
corrupção e sensual inevitabilidade. - Agora venha
aqui.
Estando novamente cara-a-cara com Theo,
ela tinha uma interrogação nos olhos perante a nova
ordem, que só agravou quando ele deu dois
tapinhas no jeans, e a ajudou a sentar-se em seu
colo de frente, as pernas abertas onde encaixava-se
o quadril dele, e o traseiro firme e posicionado no
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início das coxas musculosas sobre si.


- Apoie-se nos joelhos e ondule o seu corpo.
Brinque com o cabelo. Entenda que eu sou quem
você quer conquistar e não um mero professor. -
Ela seguiu, frase-a-frase, cada uma das orientações
dele, aproveitando para enlaçar os braços ao redor
de seu pescoço e encostar suas testas de forma que
tivesse mais apoio e em busca do pouco de
coragem que a intimidade deles sempre a incitava.
O corpo dela inclinou-se para frente e para trás,
unindo virilhas, barrigas e peitos, sempre chocando
a maciez e suavidade dela com a rigidez dele.
Aprovado o movimento, Theo apertou-lhe a cintura
indicando que ela estava indo bem. O incentivo a
fez ir além, voltando a dançar no colo dele, o
rebolado em pequenos círculos atiçando-o aos
poucos. - Isso... Muito bem, anjo. - elogiou subindo
o rosto do ponto em que se encontravam para
novamente olhá-la nos olhos, e assim diminuindo o
ângulo de contato das faces, aproximando suas
bocas. Tão perto, que Bianca diminuiu a
intensidade do movimento, com medo de esbarrar
seus lábios nos dele acidentalmente.
Ela tinha a respiração dele batendo no rosto,
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o hálito provocando como seria seu sabor e o calor


sempre presente a envolvendo. Theo não sabia
onde pousar os olhos, que ficavam vagando entre
os lábios vermelhos entreabertos de Bianca e os
olhos transparentes e vidrados.
Bem, o que se seguiria àquele momento,
normalmente, seria um beijo.
E ele queria.
Pensava que aquela não era uma vontade
momentânea; Estava crescendo em seu ser já há
algum tempo. Mas ainda não tinha decidido se era a
curiosidade, o acesso fácil ou a simples beleza
discreta dela chamando.
O que sabia, era que não devia fazê-lo.
Aquela garota precisava dele, gostava de
outro, e era frágil demais para servir-lhe como
cardápio do dia. Até mesmo merecia mais do que
ter a cabeça confusa sem propósito. Ele sabia
melhor do que se meter com ela. Então engoliu o
gosto doce do quase beijo em seco e afastou a
cabeça tentando pensar com clareza.
- Está ficando tarde e você deve estar
cansada. Por que não continuamos essa aula
amanhã? - Sugeriu, precisando criar força para
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aguentar a feição decepcionada que


inevitavelmente cruzaria a face da menor. Ele
acariciou sua cintura em um consolo mudo. Sabia
que ela também queria, embora não tivesse
consciência disso. E aquela vontade demoraria a
passar, - como se tivesse fome, mas não houvesse
comida disponível por um longo tempo - até que,
eventualmente, se acalmaria e conseguiria levar as
aulas normalmente. Ou assim acreditava que seria.
E quanto a Bianca... Bom, o encantamento também
passaria. Ela se habituaria a ele, à sua experiência e
charme, e conseguiria focar exclusivamente no
amado melhor amigo, ainda que esse também não
merecesse.

"Traga roupa de banho" dizia a mensagem


de Theo que ela recebeu na manhã do próximo dia
de aula, uma terça-feira de feriado sem escola.
Estranhou o pedido, mesmo que o sol estivesse a
pino e ele desfrutasse de um exemplar de piscina
quase olímpica na casa dos pais. Afinal, eles não
iam continuar a aula do dia anterior?
Por algum motivo desconhecido, Bianca
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estava animada com aquela lição. Fosse pelos bons


momentos que ela já tinha lhe propiciado, ou pela
previsão do que ainda lhe traria, ela queria terminá-
la. Mas, não podia contrariar o mentor, e por isso
foi até o quarto da mãe e lhe roubou um biquíni
simples e pequeno, pois sabia que os que tinha
Theo não aprovaria.
Tocou a campainha da casa enorme
ansiosas três vezes, antes de dar de cara com o
peitoral definido do garoto exposto, uma vez que
ele usava apenas uma bermuda azul. Bianca
engoliu em seco, contendo a vontade de esticar um
dedo e cutucar o monte de músculos desenhados,
checando se eram reais.
Ele a analisou sistematicamente de cima a
baixo, parando para dar um puxão de leve na alça
do biquíni em volta do pescoço, que aparecia
apesar da roupa que ela tinha por cima.
Uma troca de sorrisos saudosos depois,
foram para o quintal, onde espreguiçadeiras e
toalhas estavam dispostas, junto com uma mesa
repleta de comida.
- Theo, a gente não vai continuar a aula? -
Bianca perguntou, já bastante confusa com o
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cenário.
- Vamos, meu anjo. Isso tudo faz parte dela.
Mas não existe motivo para não aproveitarmos o
feriado também, certo? - Perguntou, um sorriso no
rosto.
Como um passe de mágica, toda a tensão
que dominava o corpo dela esvaneceu. Não porque
a aula teria continuidade de fato, ou porque
soubesse o que Theo tinha preparado para o dia.
Não, Bianca sentia-se serena naquele momento
porque o mentor havia lhe dito nas entrelinhas que
gostaria de passar seu dia livre com ela.
Um dia que ele podia usar para fazer
basicamente o que quisesse, sair a bares para pegar
meninas, estudar, praticar esportes com os diversos
amigos, viajar. E ele estava ali; pura e
simplesmente desfrutando de um dia de piscina
com uma garota sem sal que havia acabado de
conhecer. Aquilo a fez sentir especial, querida,
como há muito tempo não se sentia. A fez sentir
como se tivesse alguém ao seu lado, para variar.
Por isso, Bianca não pôde se frear quando
caminhou até o garoto e passou os braços por seu
pescoço em um abraço desajeitado de gratidão.
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Não importavam os motivos que haviam


unido os dois. Ela só era grata de não se sentir mais
sozinha.
Tho retribuiu o abraço, como sempre
sabendo o que se passava na cabeça da menor.
Parecia-lhe um crime que ela tivesse sido tão
judiada pelas pessoas, pois era uma garota incrível,
meiga e gentil que só queria um pouco de carinho e
amparo. Apertou os braços em sua cintura e
depositou um beijo em seus cabelos cheirando a
jasmim.
- Vamos cair na piscina ou o quê? - ela
perguntou animada saindo do abraço com as
bochechas coradas para variar.
- Vamos sim. Mas você acha que o chato do
seu professor vai perder a oportunidade de te
ensinar alguma coisa antes disso? - Theo levantou
as sobrancelhas, arrancando um riso da mais nova.
- Você não é chato. - Elogiou com o sorriso
preso entre os lábios.
- Vamos ver por quanto tempo mais você
continua achando isso. - Ele apostou, risonho, então
batendo as mãos indicando que estava assumindo a
pose de mentor. - Calor é um bom motivo para as
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pessoas flertarem. As roupas são menores e mais


inexistentes, os programas envolvem mais contato,
e os hormônios ficam à flor da pele. Por isso
mesmo, piscina é um cenário que a gente pode
explorar.
- O que eu vou precisar fazer?
- Vai tirar a roupa que cobre seu biquíni
devagar e pacientemente, e então eu vou te ensinar
a sair da piscina com graciosidade. Pode começar. -
Com um gesto dele, Bianca começou a tirar a blusa,
segurando a barra nas laterais com os braços
cruzados e puxando para cima com lentidão. Theo
aprovou, e balançou a cabeça indicando que ela
jogasse os cabelos como quando dançava. Então, as
mãos pequenas dela se dirigiram para a saia jeans
que ele havia lhe comprado, a qual ela desabotoou
e ia começar a descer de qualquer jeito quando ele
a parou com um toque, indicando que ela deveria se
curvar levemente e balançar os quadris para fazê-
lo. Uma vez que a saia passou pelos pés, Theo
entregou um tubo de protetor solar para ela, que
logo começou a espalhar pelos braços e barriga. -
Tome mais tempo para passar nas pernas, e sempre
as apoie, uma de cada vez, em um local mais
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elevado. Você deve se curvar sobre a perna e se


concentrar no seu trabalho, sem olhar em volta. -
Ela o fez, e então teve ajuda para se empinar toda
para espalhar o creme branco no traseiro. - Você
pode pedir para a pessoa em quem está interessada
passar o protetor nas suas costas, embora isso fique
óbvio até demais. Mas, se o fizer e ele aceitar e
tiver interesse em você, é assim que ele deve fazer.
- Theo indicou que ela se virasse e tomou o tubo
das mãos dela. Afastado o cabelo e os fios do
biquíni, ele colocou um tanto de creme na mão e
começou a passar devagar pelas omoplatas,
passando por dentro do limite da peça de banho e
continuando em direção a lombar. Passou algum
tempo ali, entre apertadas sutis de sua cintura e
contornos tentadores da calcinha presa no quadril.
Então subiu as mãos novamente, aproximou a
respiração quente do ouvido dela, e massageou
ombros, pescoço e braços com o que sobrou de
protetor nas mãos. - Entendeu? - Sussurrou no
ouvido de Bianca, que se arrepiou sem querer e
acenou positivamente. - Muito bem, na hora de
tomar sol, tanto faz se é de frente ou de costas, de
qualquer jeito é interessante para nós. Agora sim, -
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Ele disse com um sorriso caloroso - vamos cair na


água.
Entre empurrões idiotas de implicância eles
iam para a grande banheira azul mais à frente. E um
segundo antes de chegarem à borda, Theo passou
um braço pelas pernas de Bianca e outro pelas
costas, içando-a no colo e levando-a com ele em
um mergulho abrupto, sem sequer sentirem a
temperatura da água antes.
Quando submergiram, ele tinha um tom
arteiro no rosto e ela tossia o pouco de água que
tinha engolido contra sua vontade.

Quase uma hora havia se passado, e apesar


dos dedos enrugados, a dupla não dava sinais de
que sairia dali tão cedo. Naquele momento, Theo
apoiava a cabeça e o alto das pernas da garota, que
boiava tranquilamente enquanto era conduzida de
um lado ao outro do imenso retângulo de água. O
silêncio havia recaído entre os dois naquele instante
de calmaria, mas daquela forma não permaneceria
muito tempo.
- Você já se inscreveu pra faculdade que seu
padrasto quer? - Ela começou, ainda flutuando de
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olhos fechados.
- Ainda não, mas vou ter que. Contra
vontade, mas sim. Ou então, ele vai fazer por mim.
- E na que você quer?
- Ah... Não também. Não sei se deveria.
Depois se eu passar não vou saber dizer não e vou
precisar enfrentar mais um quebra-pau aqui em
casa onde eu vou sair perdendo no final.
- Meu tio é advogado.
- Bem...?
- Ele é especializado nessas coisas de
família. Não sei bem o nome. Divórcio, herança,
emancipação de menor, ele cuida dessas coisas.
- Você está sugerindo o que eu acho?
- Eu podia ligar pra ele. A gente sentava pra
tomar um sorvete e contava sua situação. Ouvir o
que ele tem a dizer... Não pode fazer mal, certo? -
Bianca enfim abriu os olhos e estudou o rosto do
garoto. Ele parecia brilhar em admiração e a fez
afundar até estar em pé a sua frente. Segurou seu
rosto entre as palmas das mãos e puxou para si,
deixando um beijo estalado e molhado na testa
dela.
- Desse jeito vai me fazer louco por você. -
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Ele disse com um sorriso, e a abraçou novamente.


Estavam dando muitos abraços ultimamente, mas
ali, molhados e com pouquíssimo pano entre eles, a
intimidade e conexão que agora tinham parecia
gritar aos sete ventos.
Gritava que eles não sabiam mais viver sem
o outro.

Sentados na mesa rodeados de comidas


frescas de todos os tipos, Theo e Bianca ainda riam
da última comparação que ela havia feito. Enquanto
ele a ensinava a deixar a piscina com sensualidade,
Bianca deixou escapar toda uma analogia hilária
onde ela era Ariel, Milena era Úrsula, Sam, o
príncipe, e para Theo restou dividir os papéis entre
Seu Sebastião e Linguado. Segundo ela, ele podia
ser ranzinza e mandão como o siri, mas amável e
bobo como o peixe amarelo, e por isso ela estava
decidida a costurar garras e pintar de vermelho as
nadadeiras do bicho de pelúcia que tinha que
imitava o melhor amigo da pequena sereia e dá-lo
de presente ao garoto.
Depois da brincadeira, eles resolveram
comer. Theo tinha preparado tudo com bastante
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cuidado, principalmente a sobremesa, que seria


usada para mais uma parte daquela aula. Eles
comeram tudo com Bianca a todo momento
dizendo o quão bom ele era na cozinha. Então,
tirado o pano que cobria a cesta com os doces, ele
começou a ensinar.
- Você me disse que quer aprender a
seduzir. Bem, tem um jeito bastante clássico e
gostoso de fazer isso que é brincando com a
comida. Não tem quase nada que deixe um cara
mais louco do que ver uma mulher comendo do
jeito certo. Aqui, pegue um morango, Bianca. - A
menor esticou o braço segurando pelo cabinho a
fruta gorda e avermelhada. - Agora passe ele no
chocolate, até a metade. Isso, leve à boca devagar e
morda com os lábios soltos de forma que eles
descansem sobre o morango. - Bianca mordeu a
ponta melada de chocolate e sentiu que fazia
biquinho sem querer ao seguir as instruções do
garoto. Por estar muito fresca e suculenta, a
mordida na fruta fez um filete de suco e chocolate
escorrer de sua boca. Theo a parou antes que
limpasse e esperou ela terminar de mastigar para
explicar o porquê. - Agora você passa um dedo pela
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trajetória que a gota escorreu e chupa o dedo quase


inteiro para limpar. Pode fazer isso? - Ela
reproduziu, sendo precisa nos movimentos. - E se
não escorrer você só limpa a boca com a ponta da
língua, novamente, devagar.
- Entendi. Mas é assim que se come
qualquer coisa? Parece complexo. – Comentou com
ingenuidade.
- Não, anjo. É só uma coisa ou outra,
algumas comidas mais afrodisíacas como morango
com chocolate.
- Tudo bem então. - Ela concordou com a
cabeça, fazendo uma nota mental de mais tarde
pesquisar quais comidas se encaixariam naquelas
condições. - Bom, já que você teve o trabalho de
cozinhar tudo isso, eu faço questão de lavar a louça.
- Não precisa, linda.
- Theo, por favor. Eu já estou fazendo
pouco demais comparado com o que você tem feito
por mim. Me deixa fazer essa gentileza.
- Tá bem, mas eu não prometo te deixar em
paz enquanto faz isso. – Pirraçou, e Bianca sorriu
com a provocação.
- Não achei que deixaria.
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- Acho que a minha cozinha nunca ficou tão


bem servida. - Ele brincava, trazendo as últimas
peças de louça para colocar dentro da pia enquanto
Bianca, ainda de biquíni, já estava ensaboando
prato a prato.
- Para, seu bobo. - Reclamou, tentando se
concentrar em não quebrar nada, desastrada que
era.
- Mas eu mal comecei! - Theo foi para trás
da garota, usando as mãos para liberar um dos
lados de seu pescoço dos cabelos ainda úmidos, e
ali depositou um beijo simplório, que a fez rir
levemente. Passou então os braços ao redor da
cintura dela, e ficou ali, a abraçando apertado com
a cabeça pousando em seu ombro, até que ela se
acostumasse com a presença e o calor dele e
continuasse os movimentos da esponja sem espirrar
mais água que o necessário.
- A aula três acabou? – Perguntou.
- Eu só vou te ensinar a jogar cartas quando
acabar aqui, e finito. – Ele respondeu, murmurando
ao pé do ouvido dela. Truco e poker eram jogos
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bastante comuns entre os jovens da cidade, que


sempre acabavam de uma fora ou de outra com
alguém bêbado e se pegando. Por isso, ele achava
interessante ensiná-la a se dar bem com as cartas
também, a ficar confortável consigo mesma mesmo
em um ambiente de provação competitiva como
aquele.
- Essa foi longa. – Comentou, como quem
não quer nada, mas não havia sequer um tom de
reclamação contido na fala.
- Bem, a primeira parte dela era a mais
necessária. O restante foi para te habituar com a
confiança no seu corpo em situações diversas.
- Sabe, eu gostei dessa mais do que das
outras.
- Você é uma safada, só não sabe disso
ainda.
- Theo! - Reclamou, alarmada. Ele ria.
- Eu tô brincando, calma. Mas olha, você
pode reproduzir todas as coisas que treinamos mais
vezes, viu? Pra pegar o jeito e tudo mais.
- Você quer dizer me tocar de novo?
- Também, sempre que possível. Não tem
nada melhor pro corpo do que um orgasmo, e a
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mudança que essa única vez causou em você foi


muito positiva. - Ela virou brevemente o rosto em
direção ao ombro onde o dele estava com um
sorriso envergonhado. Recebeu um beijo na
bochecha e um tapinha na bunda e se virou apenas
a tempo de ver Theo voltando para a sala caçando
um baralho, e de sentir a parte de trás formigar no
local onde antes havia um corpo másculo e tentador
encostado.

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Depois de uma semana puxada de trabalhos


e relatórios na escola, Theo e Bianca não puderam
dar continuidade às aulas. Os poucos momentos em
que se viam eram nos intervalos e saída, onde
trocavam abraços saudosos e desculpas por mais
um dia atarefado.
Não havia sido até aquela sexta-feira que
conseguiram marcar mais uma reunião em seu QG.
Logo, Theo a esperava apoiado no carro que dirigia
apesar de menor de idade. Aquilo era comum por
ali, os pais daqueles adolescentes abastados
preferiam lidar com a possibilidade remota de
receberem multas do que perder o conforto de eles
terem sua própria forma de locomoção e a
possibilidade de se expor dando carros de luxo aos
filhos. No máximo, contratavam motoristas, o que
não era o caso dos Versolati, já que Theo sempre
fora adepto demais de sua independência para ter
um funcionário ao seu dispor.
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Bianca não se atrasou daquela vez, agora


estava mais à vontade de falar com o garoto em
público, apesar dos olhares que sempre os seguiam
quando isso acontecia. Entretanto, um olhar em
específico pareceu subitamente interessado demais
nos passos e vida social da garota miúda: Sam.
Ele, claro, não havia largado a namorada
ainda nem um segundo, mas havia algum tempo
que vigiava a proximidade da melhor amiga com o
gostosão do colégio. Ele estranhava muito aquela
amizade, a achava improvável e tentava não ouvir
os rumores que diziam que estavam juntos.
Theo não ficaria com alguém como
Bianca... Ficaria?
Quer dizer, com tantas garotas lindas como
Milena se jogando aos pés dele, não era possível
que ele tivesse escolhido justo aquela. Não que ela
fosse feia, apenas não se encaixava no padrão, não
se destacava, não era festeira e atirada como as
garotas com as quais ele era visto normalmente.
Ainda que, depois de ela ter aparecido bastante
mudada na escola, essa distância tivesse diminuído
significativamente. Mas ele a conhecia bem, e sabia
que por mais que por fora ela tentasse se arrumar
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como as garotas normais, nunca passaria de uma


criança assustada e carente que precisa só de colo
de vez em quando, e não de um namorado.
Bem, aquilo não era da sua conta. Mas
mesmo assim, por algum motivo, não conseguia
deixar de encará-los e indagar os motivos daquela
união.
Theo, por outro lado, havia, aos poucos,
parado de avisar Bianca sobre os olhares de Sam.
Não que eles tivessem ficado menos frequentes -
pelo contrário -, mas cada vez que via a menor
interromper sua tagarelice e se retesar inteira por
conta daquilo, ressentia ter mencionado qualquer
coisa. Ela estava fazendo grandes avanços, mas
parecia que a pessoa que desencadeou a mudança
não ia colher os frutos dela tão cedo.
Além disso, aquela história de ela ter
escolhido fazer tudo aquilo por aquele imbecil
ainda não lhe descia. Theo entendia que ela se dizia
apaixonada e, portanto, disposta ao que fosse
necessário, mas ele preferia não se lembrar disso,
porque o loiro simplesmente não a merecia. Quer
dizer, eles podiam ser melhores amigos, mas quem
estava com Bianca todos os dias nas últimas duas
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semanas? Quem havia cozinhado para ela,


conversado sobre seus medos, ambições e sobre sua
família? Quem a havia feito rir? Quem tinha
despertado seu lado sensual? A resposta para todas
aquelas perguntas não continha sequer uma vez o
nome do amiguinho precioso. Então, é, por mais
que ele estivesse lhe dando aulas para conquistar
supostamente Sam, ele optava por deixar essa
informação de lado em sua cabeça, e,
preferencialmente, da dela também.

Sentados novamente no sofá da sala de


Theo, eles assistiam à primeira série que
encontraram passando na TV enquanto comiam
seus sanduíches de almoço. Era Once Upon A Time
que passava, e uma das cenas era um diálogo sobre
um cara com pose de malvado que tinha se
apaixonado por uma loirinha gata com apenas um
beijo.
Por mais desinteressado que Theo estivesse
na história, já que ele não acompanhava o seriado,
aquela passagem em particular chamou sua
atenção.
Até então, estava ensinando à Bianca coisas
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teóricas sobre comportamento, fala, postura,


autoestima. Ele estava falando de flerte e sedução,
de conquista e caça. Mas ela queria aprender como
fazer um homem se apaixonar. Veio até ele se
queixando de sua vida amorosa, e nada daquilo lhe
traria o coração de um cara. Ao menos, não se o
arsenal dela de situações aprendidas com ele
acabasse.
Precisava então ensinar pra ela as coisas
essenciais sobre a passagem do "estamos só saindo
como amigos" para o "temos um relacionamento".
E, na sua opinião, a primeira coisa que fazia um
cara não largar uma garota ou colocá-la na
friendzone indefinidamente era a química, a
pegação, o que rola com as luzes apagadas, o que
os deixava esperando por mais.
Por fim, por mais que soubesse que aquilo
seria complicado e potencialmente a deixasse
confusa, havia uma coisa ou outra que ele não ia ter
como escapar se quisesse ser um bom professor, se
quisesse que aquela empreitada toda dela valesse de
alguma coisa.

Depois de almoçar e escovar os dentes, tudo


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que a dupla queria era um pouco de descanso. A


semana havia sido realmente pesada, e embora
ainda tivessem a quarta aula para acontecer, eles
tinham resolvido que não custava nada esperar mais
um pouco e abstrair.
Bianca ficou curiosa quando viu todas as
seleções de jogos de videogame que ele tinha
empilhados no móvel da TV, e acabou que a opção
escolhida para matar aquele tempo seria jogando
um pouco.
Não que ela soubesse jogar, mas aprendia
rápido e seria divertido de qualquer maneira,
mesmo perdendo de lavada.
Eles se posicionaram confortavelmente no
sofá, ele sentado normal com os pés sob a mesa de
centro e ela de lado, as pernas jogadas em cima das
dele. Depois de aprender que botão fazia o quê e de
ter convencido Theo a jogar um jogo menos
violento - no caso, Super Mario -, eles se
compenetraram no que acontecia na tela e no
movimento de seus dedos por um longo espaço de
tempo. Fase após fase, com a garota dando
gritinhos contidos cada vez que alguma coisa surgia
para atacá-los ou quando era necessário pular
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rápido de uma plataforma para a outra, e o mais


velho dando risada das habilidades inexistentes
dela com o controle.
Até Bianca resolver que salvar a princesa
era um objetivo menos digno do que tirar Theo do
sério. Ela passou a atrapalhar o caminho dele, a
sempre que possível fazê-lo cair em algum buraco
ou lidar com algum monstrinho sozinho. Dava
risadas longas sempre que conseguia fazê-lo rosnar
um palavrão, e sorrisos arteiros quando não
conseguia e por isso preferia tentar fazer-lhe
cócegas na barriga com a ponta dos pés.
Chegou um momento que Theo desistiu de
tentar chegar até a bandeira sozinho, largou o
controle e segurou a perna dela na altura dos
dentes, onde distribuiu mordidas ardidas que a
faziam se balançar toda e chorar durante a risada.
Foi durante aquele contexto que o celular de
Bianca escolheu tocar. Ela atendeu ainda com a voz
desafinada dos gritos e gargalhadas e conversou
com a outra pessoa na linha por alguns segundos
antes de reclamar com Theo do volume da televisão
- a musiquinha de Mario não a deixava ouvir muita
coisa - e colocar no viva-voz assim que esta foi
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desligada.
- Querida, está me ouvindo agora?
- Oi, padrinho. Estou sim, desculpe por
aquilo. Theo não queria colaborar. - Alfinetou com
um meio sorriso provocador nos lábios, e recebeu
um apertão na barriga que a fez soltar um gritinho.
- É por isso mesmo que eu estou ligando.
Tenho um tempinho pra conversar com você e seu
namorado hoje mais tarde. Podemos nos encontrar
na sorveteria do centro, o que acha? - Theo tinha a
testa enrugada e um meio sorriso atravessado no
rosto pelo título, ao que a menina corava
violentamente.
- Ahn, tudo bem. - Depois de concordar,
eles marcaram o horário direitinho e se despediram.
- Namorado, huh? - Theo provocou. - Eu
sabia que você queria o meu corpo nu.
- Cala a boca! - Ela pediu ainda corada. -
Ele deve ter entendido errado - Sentiu a
necessidade de justificar, para que a vergonha a
deixasse em paz um pouco. - Ele que é o advogado
que te disse. Meu tio e padrinho.
- Legal, vamos conversar com ele então e
ver se dá em alguma coisa. Mas como é só mais
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tarde, acho que agora a gente pode começar a aula,


o que acha?
- É, parece uma boa hora. O que vou
aprender hoje?
- Bom, digamos que você conseguiu fazer o
cara ficar interessado. - Começou, gesticulando. -
Agora você precisa realmente atiçá-lo, fazer com
que ele tente um passo mais ousado, escolha você
entre todas as presas que ele listou para a noite.
- Certo... E como eu faço isso?
- Vai precisar aprender a beijar de verdade,
anjo.
- O... quê? Eu sei beijar, Theo. Não sou tão
perdida assim.
- Ah, pode saber como movimentar sua
boca quando em contato com a de um
desconhecido. Mas vai precisar aprender a deixá-lo
duro com o menor sinal do seu hálito quente. E isso
não se aprende com os imbecis que devem ter
enfiado a língua na sua boca até agora.
- Então como é que eu aprendo essa sua
macumba doida?
- Não é óbvio? Eu vou ter que te ensinar,
anjo. - Ele levantou, puxando-a pela mão para que
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fizesse o mesmo e então estavam parados sobre o


tapete, frente-a-frente. - A primeira coisa que você
precisa saber é que não existe nada nesse mundo
mais gostoso do que o momento que precede o
beijo. A proximidade, o olhar, o contato mínimo e
intenso. - Theo deu um passo e puxou Bianca pela
cintura, até que seus corpos estivessem grudados e
ela precisasse passar os braços pelo pescoço dele.
Aproximou os rostos, olhando fundo nos olhos
dela. Ao perceber que eles transbordavam
nervosismo, abriu um sorriso tranquilizador e
beijou demoradamente sua bochecha, em seguida
passeando a ponta do nariz por ali, aproveitando
para inspirar com vontade o cheiro fresco de sua
pele. Uma das pernas dela falhou, mas com o
aperto que tinha na cintura acabou conseguindo
manter-se de pé.
Theo esfregou o princípio de barba por
fazer levemente no rosto da menor, enquanto seu
caminho seguia pelo maxilar e então pescoço dela.
Molhou os lábios e os arrastou na pele sensível, por
vezes aprisionando uma pequena parte dela entre os
dentes. A respiração alcançou o ouvido de Bianca,
e era solta ali devagar e levemente ruidosa,
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fazendo-a sentir o calor de seu hálito. Ela então


procurou alguma forma de recuperar a estabilidade,
agarrando os cabelos da nuca do garoto e deixando
uma das pernas dele entre as suas.
- Sua vez. - Ele sussurrou, e ela precisou
lembrar-se de que aquilo era uma aula para descer o
rosto contra o pescoço de Theo e beijá-lo com
apreço, mais apressada e faminta do que ele havia
sido, mas conseguindo igual resultado quando ele o
jogou para o lado oposto do que ela explorava em
uma exclamação de alívio. Era como se tivesse
passado anos querendo sentir aquela sensação e
enfim o momento havia chegado. Depois de deixar
rastros molhados e formigando por ali, subiu para a
orelha fazendo o mesmo que ele tinha lhe
mostrado, embora sua respiração não tivesse nem
de longe tão controlada quanto a dele. - Aqui. - Ele
disse, virando o rosto para ela. - Faça isso contra a
minha boca. - E da mesma forma como respirava
forte no ouvido de Theo ela fez entre os lábios semi
abertos dele, enquanto tinha os narizes se
provocando, e recebia um carinho simples porém
tentador na base das costas.
Bianca tentou avançar, não aguentando
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mais a provocação, mas Theo recuou brevemente,


como se explicasse que ainda não era a hora.
Irritada e ansiosa, ela colocou a língua para fora e
provou o gosto do lábio inferior dele, em uma
lambida deliciosa. O garoto trancou o maxilar e
engoliu em seco, e soube que não teria tanto
trabalho quanto esperado quando pressionou contra
o corpo miúdo dela a reação imediata de seu
organismo: a ereção que lhe explodia as calças.
- Siga a minha velocidade e procure fazer
com a língua os mesmos movimentos. Não
queremos saliva nem demais nem de menos. -
Murmurou por fim, respirando fundo e agarrando
os cabelos dela para controlar o movimento de sua
cabeça.
Nenhuma das dicas foi necessária no fim
das contas.
A partir do momento que chocaram as
bocas e lábios se entreabriram engolindo uns aos
outros e línguas se provavam sem pudor ou recato,
nem Theo nem Bianca se lembraram de que se
tratava de uma aula e algo deveria ser ensinado ou
aprendido ali.
A força com que se beijavam era tanta que
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os lábios roxos estariam garantidos pelos próximos


dias, e eles mergulhavam tanto na boca um do
outro que não haveria enxaguante bucal que os
livrasse do gosto de suas salivas misturadas.
Era muito melhor do que se imaginava.
Pareciam se conhecer tanto que velocidade e
inclinação eram quase instintivos, as sugadas e
mordidas sincronizadas, e o caminho percorrido
pelas mãos encomendado.
As respirações ficaram altas e ofegantes,
cabelos já totalmente bagunçados, roupas
amassadas e palmas suando. Bianca se obrigou a
segurar o rosto quadrado dele entre as mãos, os
polegares pousados nas bochechas quase coradas, e
afastá-lo para poder recuperar as batidas de seu
coração.
Eles se olharam em contemplação
por quase um minuto sem dizer nada, a
vontade de pelo menos encerrar com mais algumas
encostadas de lábios pairando no ar. Theo limpou a
garganta, mas sua voz ainda saiu inevitavelmente
rouca e falha quando disse:
- Muito bem. É... Desse jeito mesmo que
deve fazer. Estou orgulhoso, Bianca. - Ela tinha as
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bochechas queimando e mordia o interior da boca


compulsivamente sem achar forças para rebater
nada ainda. Ele lhe estendeu a mão parecendo
quase recuperado. - Vamos, seu tio deve estar nos
esperando agora.

- A maioridade completa nesse país é a


partir dos dezoito anos. No entanto, até os 21 existe
uma ou outra coisa que ainda muda. Em primeiro
lugar as sentenças criminais podem ser mais leves,
e também podem existir algumas burocracias a
mais para a abertura de empresas, contas em banco,
e afins, que podem demandar a assinatura de pais
ou responsáveis, embora, pela lei, isso não esteja
certo. O que acontece é que ainda existe muito
protocolo baseado na Constituição prévia a 2002,
que continha ainda diferenças significativas entre
os poderes de uma pessoa de dezoito e uma de
vinte e um. Sobre emancipação, é muito comum
adolescentes serem emancipados com dezesseis ou
dezessete anos quando existe alguma dependência
de herança, principalmente. Assim, é como se para
o Estado eles tivessem vinte e um anos, e portanto
têm plenos poderes para fazer tudo sozinhos.
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- E como eu faço para me emancipar? -


Theo perguntou, sentado ao lado de Bianca na mesa
da sorveteria de frente ao advogado/padrinho/tio da
garota.
- Você pode dar entrada no processo, mas
não consegue se emancipar sozinho. É preciso que
pelo menos o seu pai ou a sua mãe assine o
documento.
- Minha mãe nunca vai concordar em
assinar e eu sequer sei onde meu pai está. Não
gostaria de ir atrás dele, muito menos com esse
motivo. - A garota sentia a tensão do mentor e
segurou sua mão entre as dela para passar conforto.
O carinho que fazia ali fez ele se acalmar, ainda
que muito pouco.
- Nesse caso, você tem algumas outras
opções, como provar sua capacidade de se auto
sustentar, o que significa que precisaria de renda
própria ou carteira assinada.
- Eu to no colégio ainda, e é semi integral.
Não tenho como ir atrás de um emprego bom por
enquanto. E mesmo na faculdade acho difícil eu ter
tempo para fazer alguma coisa.
- Só resta mais uma alternativa pela lei que
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seria se casar.
- Casar? - Indagou alarmado, trocando um
olhar desconfortável com Bianca, que tinha os
olhos igualmente arregalados.
- É. Mas, escute, Theo. Eu não acho que
apressar um casamento seja sua melhor alternativa.
Nós até poderíamos entrar com um processo
judicial dizendo que seus pais são negligentes e
tentando antecipar sua maioridade sem precisar da
assinatura deles, mas você acha que toda essa dor
de cabeça é a melhor forma de fazer a faculdade
que quer?
- Eu já tentei conversar de todas as formas
possíveis... Não vejo saída.
- Olha, eu estou cansado de ver famílias se
afastarem e perderem os laços por conta de
processos legais. Sei que está com raiva da sua mãe
e que gostaria de fazer algo a respeito, mas no fim
das contas você ainda a ama, certo? Não vai querer
perdê-la.
- É, acho que não. - Ponderou.
- Então, garoto. E por mais que esteja
disposto a correr esse risco, você teria que largar
sua faculdade para conseguir um emprego se isso
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acontecesse, pois não teria mais o sustento que eles


te dão hoje. Pense melhor nisso, estude suas
opções. - Aconselhou. - Se precisar de mim
novamente, Bianca tem meu telefone.

Permaneceram na sorveteria ainda algum


tempo, pois Bianca não podia cogitar a ideia de ir
embora com o padrinho sem saber como o garoto
estava se sentindo sobre tudo aquilo.
- Vou precisar desistir do meu sonho. - Ele
disse com a voz fraca e conformada.
- Não diga isso! Você mesmo me disse um
tempo atrás que iria fazer por um tempo a
faculdade que eles queriam para depois seguir suas
vontades quando tivesse idade. - Ela lembrou.
- É, mas vai ser tempo demais sendo infeliz
para não perder as esperanças.
- São apenas alguns meses! Você já vai
fazer dezoito e...
- Você ouviu seu tio. Mesmo que eu tenha
dezoito, não vai me adiantar de nada bater o pé. Eu
ainda vou precisar deles pra pelo menos me
sustentar enquanto faço a faculdade. Em qualquer
das opções eu não tenho escolha.
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- Theo, não. Não desista. Tente conversar


com eles ao menos mais uma vez. Eu vou com
você! A gente dá um jeito. Só não quero que você
perca esse brilho no olhar tão lindo quando fala do
seu futuro.
- Se é que há um futuro dessa vez... - Bianca
o censurou com o olhar, pedindo que não
continuasse a falar daquela maneira derrotista. Doía
nela ver a pessoa de melhor coração que conhecia
tão desolada por uma injustiça daquelas. Ele
corrigiu a postura e mais uma vez tinha cada mão
segurando uma dela com força, em busca de
amparo. - Eu não prometo nada... Mas vou tentar.
- Promete sim. Pelas criancinhas que
precisam de você, por você mesmo e por mim.
Promete que não vai parar de lutar pelo seu sonho. -
Por ela... Não tinha como negar.
- Eu prometo, meu anjo. Se tiver você ao
meu lado, eu prometo qualquer coisa.

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Ela ainda torcia as mãos, enquanto esperava


atenderem a porta. Ia estudar novamente com Theo,
e apesar de tudo que já haviam passado juntos,
dessa vez ela estava nervosa e ansiosa, como se
algo grande estivesse para acontecer quando fosse
vê-lo.
No entanto, diferente de como sempre
acontecia, a pessoa que atendeu a porta no hall de
entrada não era Theo. Era uma mulher, beirando os
quarenta e tantos anos, de traços expressivos e
bastante parecida com seu mentor. Estava
extremamente arrumada, denunciando todas as
roupas caras e diversas idas ao salão de cabelereiro,
ostentava joias pesadas e um batom chamativo.
- Hm, olá, você deve ser a mãe do Theo. -
Bianca forçou-se a dizer, estendendo uma mão
gelada para ela que apertou fraco, por não saber
quem era a garota miúda fazendo suposições a sua
porta.
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- Olá. Sim, e você é...? – Franziu os olhos,


desconfiada.
- Sou Bianca. Nós somos... Amigos. Eu vim
ajudá-lo a estudar.
- Ah! Pois bem, Bianca, entre. – A postura
da mulher se alterou ao que ela deu passagem para
Bianca colocar os pés dentro da casa. Parecia agora
bastante receptiva. - Aquele garoto precisa mesmo
de alguém que o ajude a manter a cabeça nos
nossos objetivos ambiciosos. – Sorriu fechado,
beliscando a bochecha da menor.
- Seus. - Corrigiu, impulsiva, sem querer.
Logo, tapou a boca com a mão, como se para punir-
se por dizer coisas impensadas. No entanto, era de
Theo que a mulher falava, e lhe parecia quase
instintivo defendê-lo como pudesse. Talvez porque
sabia que ele faria o mesmo por ela.
- Meus o que? - A mulher questionou, os
olhos claros muito parecidos com os do filho, por
mais penetrantes que fossem, não a assustavam
mais.
- Seus objetivos ambiciosos. Os dele são, na
verdade, bastante humildes. - Explicou, sentindo o
gosto amargo da verdade na boca.
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- Ora, mas trabalho voluntário não dá


dinheiro. – Ridicularizou, fazendo pouco caso.
Então, endireitou as costas para falar com
seriedade. - Ele precisa entender que eu só quero o
melhor pra ele.
- E a senhora, entende que o melhor pra ele
é ser feliz? – Bianca piou, baixinho, sem
compreender se a senhora Versolati só não tinha
pensado naquilo ou se tinha escolhido ignorar.
- Menina, estamos falando do meu filho. É
claro que eu quero que ele seja feliz. - Exasperou-
se levantando os braços e elevando a voz.
- Então por que quer fadar ele a uma vida
tão diferente de tudo que ele sonha? – Era uma
pergunta honesta. Bianca queria muito receber uma
resposta satisfatória, algo que realmente justificasse
o terror psicológico que estavam infringindo sobre
o garoto.
Mas sabia que não receberia.
- Você não acha que está sendo abusada
demais? - O tom era perigoso e Bianca teria
realmente se assustado se já não tivesse ido longe
demais. No entanto, para ficar ao lado de Theo e
nunca mais vê-lo com o ar desistente que tinha
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apresentado depois da conversa com seu padrinho,


ela estava disposta a fazer uma coisa ou outra,
como enfrentar sua mãe.
- Me desculpe, eu sei que é a sua família e
eu sou uma ninguém para me meter. Mas entenda,
senhora Versolati, seu filho quer mudar o mundo,
fazer a diferença, fazer o bem. Ele é um garoto
incrível com um coração imenso e está se tornando
amargurado sendo aprisionado debaixo das suas
asas. Ele pode ser feliz, mas não é defendendo
criminosos que ele vai sê-lo.
- Já chega. – Vociferou, em tom definitivo. -
Se veio estudar com o Theo ele está lá nos fundos.
Mas eu não vou aguentar mais essas acusações.
Passar bem, Bianca. - A senhora se retirou, subindo
as escadas imponentes no fim do hall onde
discutiam. Bianca suspirou, chateada, e contornou o
lugar para encontrar o professor.

Optou por não mencionar a discussão que


tivera com a senhora Versolati para o garoto. Sabia
que aquilo o deixaria agitado, sem ação e que o
lembraria da sua impotência sobre o assunto que
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estava tentando esquecer. Então, Bianca


simplesmente entrou na casinha de madeira, e, sem
jeito, cumprimentou o amigo com um abraço
infinitamente mais íntimo e longo do que deveria
ter sido, e logo foram se sentar para estudar.
Havia um grande problema, no entanto.
Não havia fórmula algébrica no mundo que
lhes tirasse da cabeça o maldito beijo.
A dupla havia subestimado o que o breve
contato trocado no abraço despertaria. O encostar a
princípio suave das bocas e então o encontro
fervoroso de gostos e saliva era mais distrativo do
que qualquer livro didático que tivessem ao
alcance. Principalmente, se o coprotagonista dessas
memórias estivesse sentado ao seu lado, há míseros
centímetros de distância, sendo tão tentador a cada
nova mordida que dava nos próprios lábios.
Era tortura para os dois.
Focar em números e fórmulas parecia uma
tarefa muito aquém do permitido pelas mentes
ocupadas demais naquele tipo de pensamento
pecaminoso e incerto.
Mas eles se esforçaram mesmo assim,
obrigando-se a fazer exercício após exercício, a
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conversar e trocar olhares de duração passável,


independente do quanto queriam prolongá-los.
Bianca sentia-se um ratinho assustado.
Achava-se patética por estar tão encantada, embora
sentisse que o trabalho do mentor não estivesse
sendo em vão, pois a pouca autoestima que tinha
ganho a impedia de ter crises de insegurança sobre
o beijo da aula anterior. Ela se lembrava dos
parabéns dele, de como disse estar orgulhoso dela,
e do carinho e intimidade que trocaram momentos
depois, e sentia-se bem, como se aquilo fosse certo
e ela não tivesse motivos para se sentir acuada.
Mais do que isso, permitia-se até mesmo fantasiar
que ele tivesse gostado do seu beijo, que ele
também quisesse outro.
Mas então lembrava-se de Sam, de seu
objetivo inicial, e da fama do professor, e a
confusão a dominava, incerteza e curiosidade
disputando lugar com suas vontades momentâneas.
Era certo aquilo? Querer beijá-lo novamente? Quer
dizer... Tinha sido apenas uma aula, certo? Então
não havia o que questionar. E não era novidade a
excelência do garoto no quesito sedução, então
admitir ter vontade de beijá-lo novamente era até
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mesmo esperado.
Como a inexperiência jogava a seu lado,
preferia deixar as decisões por conta dele. Se fosse
para se beijarem novamente, ele diria assim. E
pronto. Quanto aos exercícios matemáticos... Esses
não se fariam sozinhos.
Para Theo, a situação desenvolvia-se de
forma diferente. Ele estava, antes de mais nada,
intrigado. Queria entender como uma garota
simples e pequena como Bianca conseguia dominar
seus pensamentos daquela forma. Claro, toda a
situação de submissão em que ela se encontrava
com relação a ele era tentadora por si só, mas havia
mais. A intimidade também não ajudava, saber que
ela era a única pessoa que ficara ao seu lado na
busca de um sonho bastante inalcançável. Por fim,
a ingenuidade e doçura contidos no beijo da
menina, faziam seu estômago contorcer-se
desconfortável até agora, aquela sendo uma
novidade que ele não havia provado até então, mas
que muito tinha gostado.

Embora distraídos pelo mesmo motivo,


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havia uma diferença crucial nos pensamentos de


cada. Enquanto Bianca encontrava-se em um estado
mais contemplativo e esperançoso, Theo tinha
certezas e tomava decisões. Ficar naquela tortura
silenciosa não fazia seu feitio. Precisava de
distração melhor.
- Qual a sua cor favorita? - Perguntou,
interrompendo o raciocínio matemático da menina.
- Laranja, por que?
- Porque eu quero saber. - Ele deu de
ombros. - A gente tem passado tanto tempo juntos,
quero saber mais sobre você, anjo. - Em um suspiro
aliviado, Bianca largou a lapiseira sobre a mesa e
virou-se completamente na direção dele, agradecida
pela chance de mudar o rumo de seus pensamentos
de forma mais efetiva.
- É laranja. – Repetiu. - É a cor de pôr do
sol, e eu adoro pôr do sol.
- Que romântica. - Ele provocou, recebendo
a língua da menor.
- Vai, seu insensível, vai dizer que pôr do
sol não é lindo?
- É, mas eu prefiro o depois, quando já está
de noite e toda a claridade depende das estrelas.
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- Quem é romântico agora? - Ela rebateu,


recebendo cócegas vingativas por alguns segundos.
- Deixa eu adivinhar, sua cor favorita é preto? -
Tentou, em uma careta.
- Não. Azul escuro.
- Ah, Theo, você é muito menininho.
- Menina! Olha como fala comigo. –
Reclamou, beliscando de leve sua cintura.
- Tá, tá. – Fez pouco caso, como uma
criança levada.
- Vai, sua vez de perguntar alguma coisa.
- Isso é um jogo por acaso?
- Agora é. – Deu de ombros.
- Tudo bem, vamos ver... – Bateu um dedo
no queixo, pensativa - Você tem um hobbie
preferido?
- Transar. - Ela revirou os olhos para a
piadinha.
- Um esporte preferido então.
- Transar. - Ele disse, novamente, embora
carregasse um sorriso de canto provocador.
- Theo, assim não vale! A pergunta é séria. -
Ralhou.
- Ué, mas a resposta também é. Você quer
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que eu seja honesto, ou o quê? - Ela rosnou


qualquer xingamento, e recebeu um sorriso maroto
de volta. - Tá bem, meu hobbie favorito é te ensinar
a ser sedutora, e meu esporte favorito é futebol.
Emburradinha. - Brincou, apertando as bochechas
de Bianca em provocação. - Minha vez. Você já
sabe o que quer fazer de faculdade?
- Ainda não. Penso em ou veterinária ou
jornalismo, mas não é nada certo.
- Qualquer coisa pra fugir de contato
humano, huh? Ou se esconde atrás de letras em um
computador, ou atrás de animais.
- Você já pode parar de me analisar,
obrigada. - Reclamou, incomodada, embora não
tivesse sucesso em esconder o riso por muito
tempo. - E séries, você assiste?
- Já dei uma chance pra maioria dessas
famosinhas, mas só consigo me prender em uma ou
outra. Dexter, House, Game of Thrones. E você?
- Eu gosto quando tem algum romance. -
Ela deu de ombros, fazendo pouco caso. - Você
sabe, a maioria das pessoas assiste séries porque se
identifica com um ou outro personagem. Acontece
mais ou menos o mesmo processo de quando lemos
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um livro de ficção. – Não pôde deixar de comentar,


em contemplação a seu jeito nerd.
- É? E quem eu seria nessas suas séries água
com açúcar? O galã? - Ele alfinetou, rindo.
- Você podia ser sem dúvidas o Mark Sloan
de Grey's Anatomy ou o Capitão Gancho de Once
Upon a Time. - Bianca respondeu, rindo também. -
Os dois são teimosos e convencidos. Qualquer
semelhança não é mera coincidência.
- Você tá a cada dia mais saidinha, dona
Caproni.
- A culpa é sua. Vem com essas ideias
malucas de me dar confiança e intimidade. Dá
nisso! – Disse gargalhando.
- Tudo bem, essa culpa eu assumo com
gosto. - Olhou para ela com carinho, sentindo-a tão
menos retraída do que era no primeiro dia que
pisou naquela mesma casa. - Acho que é a minha
vez de novo. - Ele constatou, apesar de ninguém
estar prestando atenção à ordem das perguntas.
Pensou um instante e resolveu tirar da frente algo
que tinha muita curiosidade de saber. - Por que
você gosta do loiro? – Bianca mordeu o lábio e
olhou para baixo, pesando a melhor maneira de
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explicar.
- Sam é... Especial. Ele é gentil, simpático,
me quis quando ninguém mais me queria, ficou do
meu lado quando tudo que eu queria era sumir, e
me fez companhia quando eu não tinha ninguém.
Além de ser lindo.
- Mas seguindo esses motivos é por mim
que você devia estar apaixonada! - Theo brincou,
um gosto amargo na boca incomodando. Então era
realmente carência. A garota não gostava realmente
do amiguinho, ele acreditava, apenas achava que
devia se sentir assim pela pessoa que a tirou da
solidão. Era o que o universo ensinava para garotas
ingênuas como Bianca: o príncipe encantado da
modernidade disfarçava-se de melhor amigo
atencioso. E isso bastava para que elas não
olhassem mais ao redor e consequentemente não
vissem toda a destruição que os defeitos egoístas
desses mesmos caras causavam nelas.
Bianca sorriu sem graça, deixando um tapa
fraco na perna dele. Fez mais uma pergunta, e o
jogo teve continuidade por mais alguns minutos,
em que eles se permitiram conhecer-se melhor.
Então, precisaram voltar aos estudos, para que
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aquela tarde escolar não tivesse sido em vão, e


mergulharam no livro chato e confuso de
matemática, mesmo aquela sendo a última vontade
que tinham.

Theo olhava para todos os lados possíveis,


entediado com a falta de objetividade daquela
matéria em particular.
Seus olhos claros acabaram pousando na
concentração irreparável da menor, que mordia a
ponta da lapiseira rosa bebê e vez ou outra fazia
biquinho para alguma parte do enunciado que lia.
Ela tinha os cabelos presos atrás da orelha,
deixando todo o rosto inocente e sem falhas a
mostra, de forma que ele pôde encarar os
movimentos que ela fazia com a boca sem
dificuldades.
Ele se lembrava muito bem da sensação de
ter aquela boca na sua.
E então, no silêncio abafado da sala de
estar, novamente o clima pesava.
Era aquela vontade irrefreável batendo às
portas. Aquele desejo desgraçado que fazia
formigar os lábios e coçar as palmas das mãos. E
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dessa vez não tinha mais jogo de perguntas pra


distraí-lo, de forma que o pedido que gritava na
cabeça de Theo não tinha freio.
Ele precisava beijá-la.
Ele precisava beijá-la.
E algo tinha que ser feito quanto aquilo
imediatamente.
Nunca fora uma pessoa acostumada a se
barrar de qualquer maneira.
Ele pesou uma ou outra consequência, e não
encontrando nenhum motivo bom o suficiente para
deter-se, fechou o livro pesado com as mãos
grandes e virou-se para Bianca que o encarava sem
expressão, com os lábios entreabertos, surpresa.
- Sabe? Acho que a gente devia praticar
mais um pouco.
Não esperou resposta antes de segurá-la
pela nuca e trazer seus lábios para si.
E o gosto maravilhosamente doce e
delicado desfez-se em sua boca, diferente em
gênero, número e grau dos das garotas com quem já
tivesse estado. Não tinha nada a ver com o sabor do
brilho labial, ou da pasta de dente, era de Bianca
mesmo. Era o aroma suave que exalava de sua pele
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e o toque gentil de suas mãos agarrando-lhe o


tecido da camisa. Era a entrega mais absoluta e a
dedicação completa em querer sentir e agradar, a
perda dos sentidos e a falha da respiração a cada
novo movimento que a agraciava.
Beijar Bianca era sentir todas as
propriedades de sua personalidade entre encontros
de boca e línguas.
E lhe causava um tesão tão cru e
instantâneo que era difícil de acreditar.
Theo jogou as pernas da garota por cima
das suas, apenas para que pudesse estar mais colado
à ela. Então a abraçou pela cintura e aprofundou o
beijo, eventualmente sugando sua língua ou
mordendo seus lábios. Ela o copiava a medida que
aprovava alguma sensação causada. Era a fórmula
perfeita: ela via que era bom e queria que ele
sentisse também. Tudo isso ao passo que
caminhava as pontas das unhas pintadas pela pele
do garoto, inocentemente lhe causando arrepios.
Para Bianca, beijar era sinônimo de fazer
carinho. Desde afagar o rosto dele com o nariz ou
os dedos, até massagear com calma e cuidado os
ombros de músculos tensos, ela fazia tudo que
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pudesse. E ele apreciava muito o gesto tão puro de


cuidado e adoração.
Assim como quando beijava outras
mulheres, ele tinha vontade de lhe arrancar a roupa
e foder pesado. Mas mais do que isso, tinha
vontade de despi-la devagar, deitá-la na cama e
cobrir seu corpo com o dele. Bianca incitava isso
nele, essa ambiguidade, a pressa e a paciência.
Ao passo que ela não sabia por onde
começar a descrever suas sensações. Sentia um
calor interminável, que só parecia aliviar ao passear
das mãos de Theo pelo local, antes de arder em
brasa novamente. Por algum motivo, tinha certeza
de que se fosse necessário ficar em pé naquele
momento, ela cairia pateticamente, sem a firmeza
necessária nas pernas molengas com as carícias do
professor.
O beijo molhado que trocavam lhe dava
fome, sede, ânsia por um "mais" que ela não
compreendia. Tinha que se segurar ou logo estaria
mordendo Theo inteiro sem controle, como se
precisasse disso para ter um pedaço dele consigo. E
o tocar suave da pele dele ou dos cabelos sedosos
entre seus dedos pareciam deixar a vontade mais
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urgente.
Podiam passar a vida inteira ali, naquele
beijo, sem que ninguém ouvisse um reclamar.
Mas só tinham aquele final de tarde.
E ele foi bem aproveitado, em outros beijos
semelhantes, que oscilavam entre o rápido e intenso
e o tranquilo e carinhoso. Nas cadeiras da mesa de
jantar, no sofá, na bancada da pia, no tapete, na
porta, no gramado. Em cada lugar que aventuraram
estar durante aquele dia, aquela cena se repetiu.
Sem que para isso fosse necessário qualquer
questionamento ou permissão.
Era como se uma folga tivesse sido tirada
da vida, e nada mais importava a não ser aquela
brincadeira de tocar e sentir. E qualquer dúvida ou
consequência tivesse ficado para o dia seguinte, um
futuro distante e desimportante, que lhes parecia
tão menos tentador do que o presente gostoso e
agradável que estavam tendo, afogados no gosto
um do outro.

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As pessoas sempre fogem quando não


sabem o que fazer.
É o natural do ser humano, ele quer evitar
situações desconcertantes, possíveis mágoas e
humilhações, e por isso foge.
Algumas pessoas agem como se nada
tivesse acontecido. Outras viajam. Outras preferem
não falar mais com a pessoa que as lembram do
ocorrido.
Bianca estava obviamente fazendo esse
último.
Desde que colocou os pés na escola, teve
oportunidades diversas de conversar com Theo,
mas ao invés disso se encolheu como o ratinho que
costumava ser e perambulou pelos corredores pelos
cantos, tentando não ser notada.
Quer dizer... Os diversos beijos trocados na
tarde anterior poderiam ser interpretados como
continuação da aula quatro. E podiam não ser.
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Podiam ser espontâneos e fruto de desejo e vontade


apenas.
E com relação a essa possibilidade ela não
sabia lidar.
Era Theo Versolati, pelo amor de Deus! Ele
não podia escolher ela entre todas as opções que
pulavam aos seus olhos na escola para beijar, entre
todas as garotas tão desesperadas para serem suas
próximas presas, que não se dignavam ao mínimo
respeito antes de jogar-se em seus braços pelos
corredores. Não fazia o menor sentido!
E, no entanto..., era no que ela estava mais
tentada a acreditar.
Talvez fosse sua recém descoberta
autoestima dando as caras. Ou talvez fosse a
simples noção de que aquilo não tinha sido uma
aula, pois estava longe de ter algum ensinamento,
alguma racionalidade.
Theo, por outro lado, estava tranquilo. Já
tinha tido mais tempo do que a garota para avaliar o
que queria e mais experiência também com beijos
imprevistos. Para ele, aquele assunto era
infinitamente mais natural, e não lhe causava, nem
de longe, a mesma preocupação que causava à sua
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aprendiz.
Ele entendia que tinha um peso maior do
que a primeira vez. Mas não via alarde nesse fato:
Eles eram adolescentes cheios de hormônios,
trocando confissões e segredos, e passando tanto
tempo juntos quanto possível. Era o tipo de coisa
que estava quase fadada a acontecer, se parasse
para pensar.
Assim, alheio ao desespero da menor, Theo
caminhava pelos corredores como sempre fazia,
sem um músculo mais tenso que o normal.
Isso é, até avistar Bianca espremida contra
uma parede sendo quase completamente ocultada
pelo amiguinho, com quem conversava.
Ela apertava dois ou três livros em um
abraço e repuxava o interior da bochecha em claros
sinais de nervosismo, apesar do sempre presente
falatório ininterrupto. Era assim: bastava um pouco
de intimidade e ela tinha a boca aberta por onde
vomitava informações aleatórias, em uma busca
desesperada de entreter seu interlocutor. Em certo
ponto, era até mesmo adorável, uma demonstração
de afeto que ela fazia sem se dar conta.
Sam tinha as mãos nos bolsos, em uma
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posição de descaso forçado que não condizia com o


brilho de seus olhos abertos demais. Mordia os
lábios toda vez que precisava conter um sorriso, e
quando isso não bastava, ele logo olhava por cima
dos ombros para os lados, como se estivesse
preocupado se alguém teria visto.
Era o retrato do pau mandado. A namorada
teria dito em alto e bom tom que a menina à sua
frente estava apaixonada por ele, e ele agora achava
que precisava se conter para não demonstrar o
mesmo, ou não lhe dar esperanças.
Se soubesse um pouco que fosse sobre ela,
teria certeza que aquilo era inútil. Bianca não
precisava ser incentivada, ela nutria a paixão por
conta própria independente de qualquer atitude da
parte dele. Mas ele não a conhecia; não realmente.
Tinha estado ao seu lado durante praticamente toda
a infância: é verdade. Mas isso só o fazia mais cego
que o esperado. Podia reconhecer um ou outro
trejeito e saber os medos que ela verbalizava, mas
qualquer coisa que estivesse mais abaixo do que a
extrema superfície da garota ele não fazia questão
de saber.
Isso irritava bastante a Theo. Apesar de
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saber que o loiro não fazia de propósito, o


desinteresse que ele demonstrava pelo seu pequeno
anjinho agitava suas entranhas e amargava o gosto
de sua saliva.
Mas é dele que ela gosta, idiota, sussurrou
uma voz chata na sua cabeça. Isso não é da sua
conta. Suspirou e deu de ombros, continuando a
caminhada que não devia ter parado até seu
armário, onde um grupo de garotos o esperavam.
Eram quase todos da sua sala, uns mais
bombados que outros, mas todos corpulentos,
jogadores de futebol ou membros do time de
natação. Theo estava acostumado a andar com eles,
e a estar rodeado de garotas líderes de torcida e
afins, antes de começar toda aquela história de
aulas de sedução. Não que não falasse mais com
aquelas pessoas - apenas não era nem de longe com
a mesma frequência. Ele suspeitava que eles não
fossem entender o que fazia em companhia de
Bianca, então se esquivava das perguntas com tom
definitivo e ninguém ousava lhe questionar duas
vezes. Ele nunca precisou se provar, ou se explicar,
e mostrava que não pretendia começar agora. Aos
poucos, as conversas a respeito cessaram, e só o
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que ficou no lugar foram boatos não confirmados, e


algumas provocações ingênuas - e com aquilo era
fácil lidar.
- E aí, Theo! - Um deles disse, alto,
cortando o assunto anterior com a chegada do
moreno. - Prova fudida, hein? Acho que dessa vez
eu não escapo da reprovação.
- Eu até que mandei bem. - Deu de ombros
abrindo caminho para deixar o livro de física dentro
do armário. A porcaria quase não cabia na sua
mala, estava louco para se livrar dele.
- Mérito próprio, ou a nerdzinha te deu uma
mão? - Perguntou um outro garoto, em uma
curiosidade ingênua.
- Bianca - corrigiu, em tom irritado - tem
me ajudado, sim.
- E outro tipo de mão, ela tem te dado? –
Outro imbecil provocou, recebendo quase que
imediatamente olhares reprovadores do grupo.
Theo não precisou dar-se ao trabalho de demonstrar
irritação com o comentário: todos ali já o
conheciam o suficiente para saber que aquele tipo
de intrusão não seria aceita.
Ainda assim, outro garoto, que não o que
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tinha se pronunciado, tentou mostrar-se preocupado


com o amigo, em uma inversão da simples
intromissão.
- E isso acabou agora ou esse
relacionamento estranho de vocês é aberto? - Theo
uniu as sobrancelhas, não entendendo a pergunta, e
sentiu baterem em seu peito de leve antes de
apontarem para onde ela estava - ainda -
conversando com Sam.
- É, cara, olha lá ela toda se engraçando
com o loiro do basquete! - Outro menino clamou,
como se tivesse pego a garota no flagra. Theo
quase rugiu "não temos um relacionamento", mas
em troca preferiu apenas rosnar que aquilo não era
da conta de nenhum deles – repetindo o mesmo
para si -, e o assunto foi trocado mais uma vez.

- Eu só quero entender, Biba. Você sabe que


eu me preocupo. - Sam dizia, as sobrancelhas
unidas em contestação, mas na cabeça da garota só
repetia a mesma pergunta, vez atrás da outra: "Eu
sei...?"
- Olha, Sam, não tem nada pra entender. A
gente ficou amigo por obra do destino. Foi meio...
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Sem querer. - Ela sentia a mentira coçar sua


garganta, e arriscou alguns olhares tímidos a Theo,
que conversava com alguns brutamontes do outro
lado do corredor. Tentava suplicar por telepatia que
ele fizesse uma speed class sobre como mentir, pois
estava precisando.
- Tá, tá. Mas vocês são só amigos mesmo?
Porque se esse garoto quebrar seu coração... - A
promessa ficou no ar, tão vazia para ela quanto era
para ele. Se tinha alguém quebrando o coração de
Bianca era justamente aquele que queria prometer
vingá-la. Era tão irônico, que chegava a ser
engraçado, e os dois não contiveram o riso vago. A
sacralidade do momento era garantida pelo clichê, e
não houve clima ruim por conta disso.
- Eu vou ficar bem, eu juro.
- Bem, eu até acho que vai te fazer bem sair
um pouco debaixo das minhas asas, conhecer
pessoas novas, lugares novos... Até seu visual
mudou! - "Fazer bem?”, Bianca se perguntou. Não
conseguia entender qual o benefício que ele achava
que lhe faria estar afastada do mesmo. Engoliu a
vontade de bater com os livros que segurava em sua
cabeça e chamá-lo de estúpido quando seu cérebro
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decodificou o elogio disfarçado em sua fala. Era


impressão, ou ele tinha dito que ela estava
bonita...?

- Olha, cara, já deu pra sacar que você não


gosta de falar nisso. Por isso eu juro que é a última
vez que eu comento algo a respeito. - Derek tinha
ficado para trás quando o grupo de garotos
começou a se mover para o refeitório,
especificamente para conseguir falar com Theo,
que fechava seu armário antes de acompanhá-los.
Era o mais próximo do moreno dali, e se deu a
liberdade de voltar ao assunto Bianca apesar de
todos os avisos para não fazê-lo. - Mas se vocês
estão ficando, velho, você não tem porque se
envergonhar. A menina é bonitinha, até, ou pelo
menos ela está agora. Não me lembro como ela era
antes, mas se nunca a notei não devia ser grandes
coisas. - Ele balançou a cabeça freneticamente,
percebendo que havia se perdido no discurso. - O
que eu quero dizer é que a gente não se importa se
você tiver com ela. Você sempre tomou suas
decisões sem ligar pro que achamos de qualquer
forma. Mas se esse é o caso, Theo, se você tá
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pegando a novinha, talvez seja uma boa você


mostrar isso pro resto do colégio. Porque boatos e
suposições não vão impedir que as líderes de
torcida deem mole pra você e nem vão impedir
aquele cara de dar em cima dela. Por enquanto,
vocês são território neutro, sacou? - Theo estreitou
os olhos pro amigo, claramente não gostando de ter
que falar sobre isso novamente, e menos ainda do
teor do assunto em questão. Infelizmente, ele tinha
acabado de acender uma luz em sua mente, e ele
seria obrigado a colocar em prática aquilo. Antes,
no entanto, precisava se livrar de Derek.
- Você tem razão, cara. - Disse, dando
tapinhas mais fortes do que o aconselhável nas
costas do mais baixo. - Eu não ligo pro que vocês
acham. - Então, em um sorriso irônico e deixando
um leve beliscão na bochecha do outro em
provocação, ele posicionou melhor a mochila no
ombro e marchou para onde Bianca estava, do
outro lado do corredor. Sam já se despedia com um
aceno comedido e ia como um pato atrás do rabo de
saia que era sua namorada aguada.
Theo não gostava de falar daquela forma
com quem quer que fosse, mesmo que já tivesse
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deixado cristalino que não queria tocar mais no


tema "ele e Bianca". Mas, quando Derek soubesse
que ele fizera exatamente o que aconselhou, ele
perdoaria a grosseria momentânea e tudo ficaria
bem de novo, então não havia porque se preocupar.
Chegou perto da menina sem ela perceber,
não dando assim o tempo que ela gostaria para se
preparar melhor para aquela conversa. Não que
qualquer preparação pudesse ajudá-la para o que
viria a seguir.
O mais velho a encurralou na parede, um
braço dobrado ao redor de sua cabeça e o outro
estendido, por onde se apoiava com a mão. Ele
aproximou seus rostos tanto quanto podia sem que
seus narizes se encostassem, e ficou quieto, apenas
mirando-a no fundo dos olhos transparentes com
intensidade.
- O-Oi? - Ela gaguejou, nervosa com a
energia que emanava dele. Theo mordeu os lábios e
expirou com força, então tirando uma das mãos da
parede para enlaçá-la pela cintura.
- Nossa próxima aula é hoje depois do
último período. Eu vou querer saber o que o loiro
queria com você e vou te punir por ter se escondido
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hoje a manhã inteira. - Disse assertivo, fazendo-a


concordar depressa.
- T-Tudo bem. – Ela estava nervosa, por ter
que encará-lo depois da tarde anterior, e por tê-lo a
enlaçando na frente de todo mundo. Mas não podia
negar que por mais fora de sua zona de conforto
que aquilo fosse... Era estranhamente animador.
- Mais uma coisa, Bianca. A partir de agora,
e para todos os efeitos até nossas aulas acabarem,
nós estamos juntos.
- Juntos? Como em um... Relacionamento?
- Isso. Namorando, transando casualmente,
ou só ficando. Você quem sabe. - Deu de ombros. -
Mas estamos juntos. - Reafirmou.
- Eu... - Bianca tentou questionar.
- Não, anjo. Não é uma opção. Mais tarde
eu te explico o motivo disso, mas saiba que tem a
ver com você laçar seu precioso amiguinho.
Ciúmes pode ser a melhor forma de ele te notar. -
Piscou, sem deixar margem para novos “mas”.
Então, roçou seus lábios com voracidade, o que a
fez trancar a respiração, e partiu, finalmente, para o
refeitório, puxando-a atrás de si pela mão.

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- Linda, vamos? - Theo perguntou alto, ao


avistar a garota passando pelos portões de ferro do
colégio, chamando a atenção de algumas pessoas
ao redor.
- Linda? - Ela parecia confusa ao se
aproximar dele, tentando arduamente ignorar o
incômodo que os olhares ainda a causavam.
- Estamos juntos, lembra? - Ele sussurrou,
lembrando-a da conversa que tiveram espremidos
contra a parede do corredor. - E não deixa de ser
uma verdade. - Murmurou como quem conta um
segredo, colocando uma mecha de seus cabelos
atrás da orelha.
- Ah. Tudo bem então... Lindo. – Ela tinha
as bochechas mais rosadas que o normal, em puro
desconserto.
- Isso. Agora vem cá. - Ele a puxou pela
cintura, e ela automaticamente passou os braços ao
redor do pescoço perfumado do garoto. Um
segundo de espera e tinham um a boca pressionada
a do outro. Bianca suspirou com o gosto e textura
dos lábios do rapaz, como se sua lembrança não
fosse suficiente ou não lhe fizesse jus, e ele
aproveitou que ela soltava o ar e encaixou melhor
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suas bocas, logo a acariciando com sua língua.


Mordidas aqui e mais suspiros lá, eles conseguiram
se separar. Theo afastou-se da menor, descolando a
testa da dela, e a olhou nos olhos entre uma
respirada mais profunda e um sorriso. Entraram no
carro, e foram mais uma vez para o agitado QG,
vulgo a casa do garoto, sob o olhar espantado e
bocas escancaradas dos colegas de escola.

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- Vai ser assim agora? Vamos nos beijar a


cada cinco minutos? Porque eu não sei se meu
coração aguenta passar por isso toda hora sem
nenhum piripaque. - Bianca disse, caminhando
agitada de um lado para o outro na pequena sala do
lugar enquanto Theo a observava tranquilo do sofá.
Ela definitivamente não estava mais em seu
perfeito juízo, a cena no estacionamento sendo mais
do que sua racionalidade conseguia explicar.
- Aguenta sim. É necessário, anjo. Ciúmes é
a maneira mais rápida e eficaz do loiro prestar
atenção em você. Ele vai desejar estar no meu lugar,
isso vai causar uma série de reflexões do porquê ele
deseja isso, e então, através de uma epifania, ele vai
notar que é porque gosta de você. - Quanto mais
falava do assunto, mais Theo sentia que aquela
decisão não tinha sido pautada tanto assim nos
objetivos da menina. Não estava mentindo: Os
ciúmes seriam realmente uma carta na manga ideal
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para abrir os olhos do loiro, mas sentia como se


houvesse um motivo oculto dentro de sua mente
confusa, um que fizesse referência a uma certa tarde
de beijos roubados e vontade incontrolável de
repetição.
- Fácil assim? – Confirmou, a cabeça caída
de lado como um animalzinho que não entende o que
está acontecendo.
- Não tem nada de fácil quando se trata de
relacionamentos. – Disse, tanto para si mesmo
quanto para ela. - Mas é, esse é o melhor caminho.
- Bom... – Suspirou. - Então tudo bem. Mas a
gente tá namorando, então, porque eu não sei lidar
bem com esses compromissos casuais que você
sugeriu. – Abanou a mão na direção dele, enfim
conseguindo fazer a ideia permear sua mente.
- Sem problema, namorada. - Ele deu uma
piscadinha, então batendo no sofá ao seu lado
indicando que ela se sentasse, agora que parecia mais
calma. Ela o fez.
- E qual é a aula de hoje? Como ser uma boa
namorada? – Ela disse em tom jocoso, um sorriso
meigo estampando a face.
- Algo assim. - Ele deu de ombros também
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com um sorriso nos lábios, virando-se para ela. - Eu


te ensinei como se portar, agir, falar, e até mesmo
andar. O que significa que você já sabe, na teoria,
como fazer um cara ficar interessado em você.
Apesar de às vezes teimar em não aplicar os meus
ensinamentos. - Theo beliscou de leve a barriga da
garota, provocando-a no que dizia respeito aos
resquícios de timidez que ela vez ou outra deixava
aparecer a superfície. Ela riu como uma criança que
foi pega fazendo arte. - Então, eu te ensinei a beijar. -
Nada no mundo seria capaz de explicar
racionalmente o porquê dos dois sentirem o sangue
subindo as bochechas com a mera menção do fato. -
Porque é uma evolução natural do flerte que você
precisava saber responder a altura para que ele não
se decepcionasse. - Ela acenou positivamente,
mostrando que estava acompanhando a linha de
pensamento do mais velho. - E, agora, eu acredito ser
prudente te ensinar a evolução natural a isso
também.
- Que seria...? – Ela fraziu as sobrancelhas,
nem perto de adivinhar por si só.
- Sexo, Bianca. - Theo disse com os lábios
pressionados, direto ao ponto, mesmo sabendo que a
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reação dela não seria tranquila nem de longe. Como


tudo o mais que havia ensinado até ali, ela teria uma
barreira grande para superar naquele aspecto, que
para ele era tão comum e ordinário.
Ele era resolvido e queria que ela fosse
também. Não via motivos no alarde todo que a
maioria das mulheres fazia quando o assunto
envolvia falta de roupas e esforço físico.
- Não. - Decidiu. - Olha, professor, não é
necessário. Eu juro! Podemos pular essa etapa? - Ela
suplicava, os lábios mordidos até esbranquiçarem.
- Não, minha linda, nós não podemos. -
Rebateu, paciente com o jeito afobado dela, a voz
baixa e grossa, em uma tentativa de tranquilizá-la. -
Antes de tudo, se acalme. Sou eu, você me conhece,
sabe que eu não vou te obrigar a nada. - Fez um
carinho modesto no rosto dela, que tinha a forma de
um filhote de cão, pedinte e encurralado, mas não
hesitou em deitar o mesmo na palma quente da mão
dele. - Mas... Realmente acho que essa é uma etapa
muito importante que você precisa passar. Afinal,
anjo, você acha que o quê? Que vai aprender sozinha
com vídeos pornográficos e contos eróticos?
Acredite em mim, menina, se o garoto está animado,
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tenta alguma coisa com você e vezes seguidas é


frustrado na tentativa, ele desiste. É uma merda,
egoísta e escroto, mas eu sei de mais de um cara que
fez isso com a namorada de anos porque ela se
recusava a lhe abrir as pernas. Para nós, homens, o
contato físico é tão importante quanto são as palavras
para as mulheres. Na verdade, sexo é um elemento
muito importante de qualquer relacionamento.
Inclusive é o pilar onde muitos se sustentam.
- Mas... Como algo assim pode ser tão
importante? - Bianca tinha as mãos tremendo e os
olhos arregalados, estava apavorada como era de se
esperar. Felizmente, o garoto já estava preparado
para essa reação, uma vez que acreditava fielmente
que ela fosse virgem e a inexperiência a deixasse
ainda mais insegura no assunto.
- Olha, eu entendo. Você é virgem e está
assustada. Mas não precisa, eu estou aqui. Eu vou
cuidar de você. - Antes que pudesse emendar
qualquer discurso confortante para acalmá-la, Bianca
o cortou.
- Eu não... - Pigarreou, tentando dizer as
palavras direito. - Eu não sou mais virgem.
- Não?! - Theo alarmou-se, sem entender.
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Tímida daquela forma e sem nenhum jeito com os


homens, como...?
- Não. - Ela engoliu em seco, e ajeitou-se no
sofá até estar confortavelmente apoiada de lado no
encosto e de frente para o mentor. Começou o relato
que não havia dito mais do que uma vez, e apenas
para sua própria ginecologista. - Era uma sexta à
noite. A gente tava comemorando o fato do Sam ter
sido aceito no time de basquete da escola. Bem, ele
estava muito feliz, e comprou um vinho pra
brindarmos. Eu nunca fui fã de bebida alcóolica, e
ele achava um desperdício deixar a garrafa aberta,
então uma coisa levou a outra e ele a bebeu inteira
sozinho. - Theo franziu as sobrancelhas, não
gostando muito do rumo que o relato tomava, mas
colocou uma mão no joelho de Bianca passando
confiança para que ela colocasse tudo pra fora. - Ele
estava tão, tão feliz. E eu já gostava dele, óbvio,
então vê-lo daquela forma me deixava meio grogue
também. Eu não sei bem como aconteceu... Mas em
determinado momento ele me falava coisas de forma
meio enrolada sobre eu estar sempre ao lado dele,
fazendo tudo que ele queria, me elogiando por ser
tão disponível... E aí ele me beijou. - Ela deu de
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ombros, repuxando os lábios com a lembrança. -


Quando eu fui ver a gente estava na cama da minha
mãe, e já quase não tinham roupas entre nós. Eu
fiquei meio apavorada... Acho que é normal, né? E
tentei parar e racionalizar o momento. Ele não
deixou, me disse que era infantil parar naquela hora.
Eu não queria que ele ficasse com aquela imagem de
mim, queria que ele me visse como mulher. E aí...
Aconteceu. – Ela deu de ombros, os olhos
transparentes um pouco nublados.
- Você perdeu sua virgindade com o Sam? –
Sussurrou, desacreditado.
- É. Doeu como o inferno, e eu fiquei roxa
durante semanas, mas só de lembrar da cara de
felicidade dele... Eu quase acho que é isso que move
o meu coração, sabe? E, por mais que no dia
seguinte ele não se lembrasse de nada... Alguma
coisa em mim mudou naquela noite, e foi aí que eu
percebi que estava apaixonada. – Olhava para baixo,
mexendo nas mãos nervosas pelo relato pessoal e
sincero demais.
Theo estava, em uma palavra, transtornado.
O imbecil tinha feito ser ruim pra ela, tinha a
machucado e magoado, tinha esquecido de um dos
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dias mais importantes de sua existência! E ela estava


ali, inocentemente achando que aquilo era normal, e
se permitindo sentir algo pelo filho da puta. Porque
Bianca não conhecia nada diferente daquilo. Não
conhecia carinho, apreço, amor de verdade, e só se
achava merecedora daquele tipo de afeto egoísta e
carnal que o melhor amigo podia oferecer. Por algum
motivo, o coração do garoto doía.
- Bianca... O que aconteceu nessa noite, eu
posso te garantir que não teve nada a ver com sexo. -
"Foi violência, isso sim", pensou, apesar de não
verbalizar. - Sexo é bom, eu prometo pra você. Não é
feito pra doer e machucar, é feito para dar prazer,
trocar intimidade e carinho. - Ele esfregou a mão na
testa com força, tentando clarear os pensamentos e
parar de ver vermelho. - Lembra quando você se
tocou no meu quarto? - Ele perguntou, tentando uma
abordagem diferente. A menina levantou os olhos
das mãos e esperou que ele continuasse. - Foi bom,
certo? - Ela acenou que sim, fraquinho, constrangida.
Ele abriu um sorriso ladino pela doçura dela. -
Imagina que sexo é pelo menos três vezes melhor do
que aquilo.
- Nossa! Você... Tem certeza? – Bianca tinha
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os olhos muito abertos, deixando sua sempre


iminente curiosidade transbordar.
- Claro que sim, anjo. E eu vou te provar.

Depois de pegar uma água para Bianca, que


aos poucos voltava ao estado normal com a premissa
da aula ser tão menos pior do que ela imaginava,
Theo se sentou novamente ao seu lado no sofá. Ele
estava ainda levemente embasbacado de ter
descoberto que toda a paixão que Bianca clamava
sentir pelo melhor amigo tinha raízes mais
profundas. A expressão "amor de pica" que tantas
vezes ouviu no colégio quando estava para completar
dezesseis anos, por algum motivo, fazia sentido
agora. Diziam-se apaixonadas as garotas da sua sala
da época por aqueles que lhes tiravam a virgindade,
por aquela ser a primeira grande expressão de
intimidade que elas tinham, e isso as deslumbrava a
esse ponto. Bianca podia estar sofrendo dessa doença
terminal. Mas independentemente do que justificava
o amor errado que ela dizia bater em seu peito, o que
mais o impressionava era a confiança que ela parecia
depositar nele próprio. Theo quase se via como um
leão de peito inflado e orgulhoso quando percebia a
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sua capacidade de acalmar a pequena garota com


qualquer simples combinação de palavras. Era um
dos melhores elogios que lhe podia fazer.
- Como a gente vai fazer isso? – Ela
perguntou, deixando o copo de água de lado. - Você
vai ditar orientações como naquela vez no seu
quarto, ou...Vamos... Direto... Ao ponto?
- Eu não sei se tem como ensinar isso sem ser
na prática, pequena. Mas a gente começa devagar.
Tudo bem? Você claramente não tem experiência e
eu não quero que se assuste. – Assegurou, tranquilo.
- Devagar... Quanto? – Espremeu os olhos,
como se tentasse avançar o relógio para ter as
respostas de seu futuro próximo.
- Paramos quando você deixar de se sentir
confortável e só vamos continuar outra hora, quando
você estiver calma novamente.
- Tudo bem... Acho que eu posso fazer isso. -
Theo sorriu, sentindo a curiosidade perpassar a voz
da garota, e sua sempre notável ansiedade
transparecer a cada vez que ela insistia em molhar os
lábios.
Se inclinou devagar para ela, apoiando-se no
encosto do sofá e usando uma mão para afastar os
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cabelos pesados de seu colo. Observou Bianca fechar


os olhos apertados ao depositar um selinho simples
em sua bochecha, os lábios em seguida escorregando
para o maxilar e então o pescoço alvo. Sua
respiração tocou a pele sensível, causando arrepio
imediato.
A primeira mordida veio, e com ela foi-se o
resto de autocontrole dos dois. Bianca agarrou o
tecido da blusa de Theo, puxando-o para si, para
sentir seu calor a envolvendo. Ao mesmo tempo, ele
envolvia sua cintura, o braço forte quase dando a
volta inteira. Não sabia se era o sabor de sua pele ou
o perfume de seus cabelos que o deixava tão sem ar
tão depressa.
Bianca afastou-se o suficiente para que o
rosto do professor focalizasse em sua visão
novamente, e logo tinha seus olhos fortemente
fechados enquanto chocava seus lábios. Não houve
espaço para justificativa antes que eles se abrissem, e
línguas se massageassem como velhas conhecidas
com saudades.
Um beijo tão gostoso, de encaixe tão certo,
que sentiam como se tivessem feito aquilo a vida
inteira. O virar dos rostos, o puxar dos lábios inferior
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e então superior, as sugadas e os suspiros quase


sincronizados. Era quase como se álcool estivesse
embebido na saliva trocada, no gosto de cada um,
que deixava o outro severamente embriagado.
E com o porre, vinha também a luxúria.
A mão grande de Theo percorreu cada
vértebra singular do corpo da menor, deixando
choques e espasmos por onde passava, até alcançar o
quadril e então encher os dedos na bunda. Apertou e
massageou como desejava fazer desde sua segunda
aula, quando teve ela se esfregando inocentemente
contra ele ao que lhe ensinava a postura correta de
como andar. Bianca não ficou atrás, cravava as unhas
médias nas omoplatas repletas de músculos das
costas dele, e sem saber porque, insistia em empurrar
o joelho contra a perna do rapaz.
Mas Theo sabia ler o corpo de uma garota. E
por isso, não demorou a puxá-la para si até que
estivesse ajeitada no sofá, deitada de costas com ele
por cima, a um passo de encaixar-se no meio de suas
pernas.
Deixou a língua no lábio inferior,
desconcentrado, ao acompanhar o movimento que
suas mãos faziam novamente pelo corpo miúdo.
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Ainda levemente sentado sobre o próprio calcanhar


esquerdo, tinha a visão perfeita do contorno sinuoso
do quadril, e então da cintura fina e brevemente
exposta pelo levantar sutil da camiseta, e por fim o
colo avermelhado e arfante, por onde a respiração
entrecortada dela se manifestava.
Hipnotizado, Theo estava a um passo de
enfim deitar-se para desfrutar de tudo que seus olhos
acompanhavam, se não tivesse caído nas graças de
procurar os transparentes de Bianca e não os
encontrar.
Ela os tinha fechados com força, e não da
forma como se espera. Não estavam fechados para
que ela se concentrasse melhor nas sensações ou
ainda por estar imaginando outras coisas, e sim por
receio e medo.
Era como se estivesse dizendo para si mesma
que se não visse o que estava prestes a acontecer,
poderia fingir que não era real.
E aquilo era tudo que ele precisava para
entender que não ia acontecer.
- Bianca, abra os olhos. - Sussurrou, contido.
A dor no seu tom de voz era genuína e ela logo o
obedeceu. - Eu estou te machucando? - Ela mordeu
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os lábios, os olhos cristalinos preocupados de ver o


garoto daquela maneira, e negou fortemente com a
cabeça.
- Não. - Theo respirou fundo, a testa vincada,
e acariciou com suavidade o contorno do rosto dela.
- Você confia em mim?
- Sim. - Respondeu, resoluta. Não precisava
pensar sequer para ter certeza.
- Então confia que eu não vá te machucar?
Silêncio.
As marcas do passado falavam mais alto que
suas resoluções. Não importava que fosse Theo, por
mais que ela gostasse de pensar assim. Continuava
sendo algo que suas memórias gritavam como ruim.
- Eu vou parar agora. - Explicou devagar. - E
seu corpo vai formigar pedindo por mais. - Acariciou
com leveza os braços arrepiados dela, como se para
demonstrar um ponto. - E eu não vou te dar mais até
amanhã. E então, se você continuar sem uma
resposta afirmativa pra essa pergunta, eu vou parar
de novo. E vamos continuar nessa dança até você
conseguir se acalmar e confiar em mim o suficiente
pra irmos até o fim. - Ela tinha os olhos presos nele,
uma conexão forte, praticamente inquebrável, que
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aguardava o fim daquela sequência que descrevia. -


E aí... Algo me diz que você não vai querer parar
nunca mais.

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- Bem, e o que o seu amiguinho queria


ontem? - Theo perguntou enquanto ele e Bianca
perambulavam pelos corredores vazios depois de
um acidente no laboratório de química ter
coincidentemente liberado os dois de suas salas até
o próximo período.
- Eu não entendi muito bem. Ele veio me
perguntar sobre você e dizer que se preocupa, que
estaria cuidando de mim caso alguma coisa
acontecesse ou algo do tipo.
- Ele já estava com ciúmes, então. Mesmo
antes de assumirmos um relacionamento. –
Constatou, pensativo.
- É... Pode ser. – Murmurou, distraída pelo
som do celular do garoto avisando o recebimento
de uma nova mensagem. Curiosa, ela se inclinou
para ler junto com ele, que o permitiu; não haviam
motivos para esconder o que fosse de seu anjo.
"A escola ligou para avisar que você foi
dispensado da aula. Mas nem pense em matar o
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restante do dia! Pelo seu horário, hoje tem as


matérias que você tem tido piores notas e não
queremos ter que adiar a faculdade que tanto
sonhamos."
Theo estalou os lábios, já devia estar
conformado com a atitude ditatorial do padrasto,
mas aquilo não deixava de irritá-lo. Entrou em uma
sala qualquer, vazia pelo horário e de luzes
apagadas. Bianca foi atrás, preocupada, embora
soubesse que ele precisava de distração e não de
conversar sobre o assunto.
Encostado em uma mesa no escuro, o mais
velho tinha os olhos cravados no chão e o rosto
tensionado, que não combinava com ele. A garota
se aproximou, segurando suas mãos grandes com
força, mostrando que estava ali com ele, que
apoiava sua causa e entendia como ele se sentia.
- Ele é um babaca que não te conhece como
eu conheço. Ignora, Theo, deixa isso pra lá. - Ela
disse, em conforto, sem perceber que ele abria
então um pequeno sorriso repuxando o canto dos
lábios. - O que foi? - Bianca não estava entendendo
a mudança de feição.
- É engraçado te ouvir xingar alguém; nada
demais. - Ela revirou os olhos.
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- Bobo. Eu aqui tentando te consolar e...


- Sabe o que me consolaria? - Ele
interrompeu, esperto. Bianca incentivou com os
olhos que ele terminasse o raciocínio, e em resposta
o mentor deu dois toques na própria boca,
indicando o que queria. Ela revirou os olhos,
tentando parecer indignada, mas o sorriso mal
contido entregava que aquela espontaneidade dele a
agradava e muito.
Passou os braços em torno do moreno, que a
abraçou firme pela cintura. Era um sentimento
estranho. Ao mesmo tempo que sentiam que já
houvessem feito aquilo por toda as suas vidas,
tamanha a familiaridade, era como se não fossem
vezes suficientes. Não importava a frequência,
cansar-se do gosto do outro era uma opção
inimaginável.
O beijo que começaram tinha ritmo próprio.
Ele ia de calmo e sensual a forte e ofegante em
segundos e de volta sem que fosse preciso mais do
que um puxar de cabelos ou suspiro. Theo sentia a
respiração doce da garota em seu rosto, e dedilhava
suas costas por cima da blusa e por baixo dela,
sempre sutil o bastante para que ela não se
alarmasse. E Bianca deliciava-se com o aperto do
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mais velho, com a maneira com que ele parecia


capaz de branquear seus pensamentos e calar os
sons ao redor.
Alguns minutos embebidos na entrega do
momento, Theo desencostou-se da mesa em que se
apoiava e trocou as posições, puxando-a para que
se sentasse ali e permitisse a passagem do corpo
forte dele entre suas pernas. Bianca se deixou
manusear, aprovando o fato de terem as alturas
equiparadas e um lugar para apertar suas coxas, que
pareciam ansiar por aquilo irracionalmente. Com
uma panturrilha em cada lado do traseiro do garoto,
ela puxou-o para si, ao passo que ele desistia de
brincar com a barra de sua camiseta erguida até o
umbigo para apertar com entusiasmo as coxas
parcialmente descobertas pela saia.
Bagunçou completamente os cabelos curtos
dele e suspirava constantemente, quando ele
decidiu desgrudar suas bocas dormentes e investir
nos beijos contra o pescoço alvo e maxilar dela. O
hálito quente dele soprando ali se provava uma das
fraquezas de Bianca, que estremecia e mordia a
língua tentando segurar as reações exageradas para
si.
Theo passou os braços pelo quadril dela,
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puxando-o para a beirada da mesa e encaixando o


seu próprio ali com mais propriedade, e seus beijos
desceram para o limite da blusa de gola em "V",
que mostrava o princípio do formato arredondado
de seus seios arrebitados. Cobriu toda a região com
seus lábios, as mãos posicionadas sem receio na
bunda da garota, e antes de dar o próximo passo,
levantou os olhos para ela que o olhava por detrás
das pálpebras pesadas, a boca entreaberta e inchada
de tantas mordidas. Ele sorriu malicioso e com
cuidado puxou o tecido para o lado, revelando um
sutiã desconhecido cinza com uma renda branca
inocente e sexy.
- Esse eu comprei por conta própria. - Ela
explicou, sem ar e envergonhada com o olhar dele.
- Vou te dizer que foi uma ótima surpresa. -
Ele congratulou, orgulhoso, antes de lamber a nova
área exposta e engolir em chupões generosos a pele
perfumada. Bianca fechou os olhos e jogou a
cabeça para trás, empurrando-se na direção do
professor e pensando que, de fato, não conseguia
imaginar que aquilo pudesse ser tão... Bom.
Gostoso. Excitante. Se amassar com Theo em uma
sala escura em pleno horário de aulas era
surpreendentemente ideal. E por falar naquilo...
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O sinal tocou, indicando que o novo período


de aulas tomaria frente nos próximos dois minutos.
E, consequentemente, que haviam grandes chances
daquela mesma sala ser utilizada.
O garoto bufou, dando-se conta daquele fato
lastimável, e encostou a testa brevemente na
clavícula dela, tentando recuperar a respiração
alterada. Um momento depois, afastou-se e
gesticulou com as duas mãos apontando a porta que
ela tinha a passagem para sair primeiro. Com um
sorriso conformado e um carinho singelo no ombro
do menino, ela se levantou, ajeitou as roupas, e
desfilou para fora da sala, precisamente da maneira
que ele tinha lhe ensinado, com quadris para um
lado e para o outro, em um rebolado impossível, e
ombros para trás, confiante.
Theo sorriu genuinamente e balançou a
cabeça, chacoalhando os cabelos, antes de segui-la,
soberbo.

A caminho do QG e conversando
amenidades, Bianca se lembrou que havia
esquecido algo em sua própria casa. Um algo
especial que queria muito mostrar a Theo naquele
dia em particular, sem esperar pelo dia seguinte.
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Então, com um pouco de persuasão, conseguiu


convencer o garoto a dar meia volta no carro e
pegar o caminho que os levaria até lá.
Não houve muita reclamação da parte dele.
Pelo contrário, estava até animado com a
perspectiva de conhecer o quarto da menor, o qual
ele jurava que seria repleto de pôsters de boybands
e paredes rosas. Não perdeu a oportunidade de
perturbá-la, ameaçando jogar as roupas antigas, que
ele tinha certeza que ainda tinham um lugar no
armário, no lixo, e dar um fim em potenciais
bichinhos de pelúcia que lotassem a cama, que
deveria ser o "ninho de amor" dela e não um
lembrete de sua infância e meninice. Bianca
revirava os olhos a cada nova suposição
estereotipada que ele proferia, e ria de suas
soluções para resolver o problema.
Enfim chegaram à pacata casa amarela.
Por força do hábito, Bianca arriscou um
olhar para outra casa da rua, a de Sam, tentando ver
se ele estaria em casa, e, se sim, se estava
acompanhado. Theo bloqueou sua visão sem saber
o que estava fazendo.
Ele parecia estranhamente empertigado,
ereto demais e linhas de expressão denunciavam
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sua seriedade.
- Sua mãe está em casa? - Perguntou, e todo
o mistério se diluiu.
- Não, pastor Versolati, acalme-se. - Ela
brincou, assistindo-o desmontar a armadura a sua
frente. - Está trabalhando e só volta quando o dia
vira noite.
Entraram, e Bianca logo apontou a porta
que escondia seu quarto, para onde ele andou sem
frescuras, esfregando as mãos, ansioso pelo que
encontraria.
O quarto era normal. Até mesmo impessoal
demais. As paredes eram todas brancas, a
escrivaninha abaixo da janela tinha poucos objetos
pessoais e a cama parecia estranhamente vazia.
Theo não sabia se aquilo seria um sinal de que ela
não se sentia confortável em sua própria casa ou se
era apenas uma pessoa minimalista. Ele andou
devagar até o criado mudo, pegando um porta-
retrato que estava ali, virado, servindo de apoio de
copo como se estivesse daquela forma há bastante
tempo. Tinha um senhor beirando os quarenta anos
com um sorriso honesto e contagiante de olhos
apertados e abraçado com uma Bianca alguns anos
mais nova.
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- É o meu pai. - Ela explicou, vendo a


interrogação na face do outro. - Eu esqueço de
guardar e acabou ficando aí. - Deu de ombros,
como se não fosse grandes coisas, embora ele
soubesse que aquele devia ser o discurso decorado
que ela entoava todas as manhãs para a mãe, em
justificativa ao apego completamente
compreensível que ainda tivesse pelo progenitor.
Ela resolveu que ele já estava suficientemente à
vontade no cômodo e foi em direção ao armário,
pegar o que havia objetivado no fim das coisas.
Theo se sentou na cama, esperando, mas seu
tornozelo brevemente descoberto pela calça lhe
deixou sentir o roçar de algo peludo e sintético
contra sua pele. Ele se levantou rapidamente, e sem
fazer alarde puxou o edredom para que pudesse ver
o que tinha debaixo da cama. Uma pata depois da
outra, descobriu todo um arsenal de bichinhos de
pelúcia escondidos por ali. Antes que pudesse
questionar a garota, observou as portas do armário
abertas e ela atracada ali no meio, procurando em
sua bagunça particular o que queria. Haviam
centenas de livros ao seu redor. Ele temia,
inclusive, que se ela se mexesse demais alguns
deles pudessem despencar sobre sua cabeça frágil.
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Também, nas portas internas do mesmo móvel,


fotos, desenhos e rabiscos estavam pregados.
Toda a intimidade meticulosamente
escondida de um espectador menos atento.
E foi então que o atingiu: Assim também
era a personalidade de Bianca. Fechada e simples à
primeira vista, e incrivelmente fascinante se você
olhasse de perto.
- Achei! - Ela disse mais alto, trazendo a
atenção dele de volta ao que acontecia no quarto. A
pequena garota se jogou ao lado dele na cama, e se
ajeitou com as pernas em cima do colchão,
dobradas graciosamente ao seu redor. Estendeu as
mãos e entregou para ele uma porção de panfletos
sobre as mais variadas faculdades, incluindo a que
o padrasto o obrigava a prestar.
- E o que eu faço com isso, anjo? – Ele
perguntou, confuso com todos aqueles papéis.
- Eu tava pensando: Não existem motivos
pra você não conseguir realizar seu sonho apesar
das limitações da sua família. Tem outras dezenas
de faculdades que podem conciliar os dois, na
verdade.
- Mas... Como?
- São várias as opções. Uma delas é a dupla
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graduação. Embora sejam cursos muito diferentes,


fazer direito e psicologia ao mesmo tempo ou um
seguido do outro é uma possibilidade bastante
palpável. Você pode até mesmo diminuir os anos
de graduação em um deles por ter feito as matérias
básicas no outro. - Ela explicou apontando algumas
das universidades que ofereciam aquele tipo de
recurso, e ele observou intrigado as imagens
daqueles panfletos em específico. - Tem mais. Eu
dei uma pesquisada, e existe uma congregação de
advogados que prestam assistência exclusivamente
para causas sociais. Alguns trabalham em
escritórios normais e na congregação ao mesmo
tempo, é verdade, mas outros conseguem seu
sustento só disso, só revisando contratos e
defendendo ONGs, abrigos e afins perante a lei.
Daí eu imaginei que mesmo que você não fizesse
psicologia, ainda tem um jeito legal de você fazer a
diferença. – Sorriu, animada com aquela
perspectiva, a de não desistir de um sonho. –
Também, todas as universidades daqui exigem que
o aluno faça matérias eletivas, isso é, que ele
escolhe, nos últimos semestres. E se você entrar pra
uma grande, pode ter a opção de eleger matérias de
psicologia ou qualquer outro curso, na verdade. -
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Continuou, o brilho nos olhos transparentes


puxando o sorriso do professor, que já não sabia se
acompanhava o que ela falava pelos informativos
que lhe dera, ou se a admirava sendo tão
preocupada e solícita com um problema que era só
dele. - E, por fim, tem as entidades. Sabe como
sempre escutamos falar de Empresas Júnior,
Diretório Acadêmico e Atlética de faculdades, né?
Bom, esses não são os únicos tipos de entidades, e
mesmo eles têm milhares de opções e áreas para
explorar. Aqui, eu descobri o nome de uma que
chama Aiesec. Eu não li muito a respeito, mas
parece que ela foi fundada por um grupo de
estudantes pós-guerra para garantir o intercâmbio
de culturas e experiências entre os países. Ela tá em
quase todas essas universidades que eu to te
mostrando, e tem esse programa deles muito legal
que chama intercâmbio social. O aluno paga pra
eles uma taxa administrativa super baixa e passa as
férias fazendo trabalho voluntário no país de
escolha. E, Theo, tem vários países da África
participantes e vários tipos de programa diferentes,
desde cuidar de crianças e doentes, até ensinar
inglês e fazer pesquisa de gênero. É uma atividade
extracurricular que, independente do curso que
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você faça, já te coloca um passo mais perto dos


seus objetivos, percebe? E mesmo que você não
queira nada disso, eu encontrei relatos de pessoas
que faziam duas faculdades ao mesmo tempo, uma
de dia e uma de noite, e todos disseram que é
perfeitamente possível conciliar os dois com um
pouco de disposição e planejamento. As três
últimas que você tá segurando, inclusive, oferecem
curso de noite e gratuito, e a relação de vagas não é
tão impossível; eu realmente acredito que no seu
ritmo de estudo atual você conseguiria com o pé
nas costas! - Quando finalmente parou de tagarelar,
Bianca estava praticamente pendurada no garoto,
tamanha era sua animação, e não percebeu o olhar
com que ele a encarava. Theo tinha um sorriso fixo
estampado, como se alguém o tivesse tatuado ali, e
uma quantidade de carinho e afeto tão grande
transbordando dos olhos claros que qualquer um
podia quase se sentir abraçado só de olhar para
eles. - O que... Foi? - Ela perguntou, receosa com a
feição desconhecida.
- Eu não acredito que você fez tudo isso por
mim. - Ele murmurou, balançando a cabeça em
negativa desviando os olhos para os papéis em
mãos, o sorriso crescendo exponencialmente. - O
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que eu faço com você, Bianca? Vou precisar te


agradecer para sempre ou algo assim. - Riu, feliz
como ela não o havia visto até então. - E, quer
saber? Acho que vou começar agora. Hoje de
manhã você me beijou para me consolar. Agora eu
retribuo a gentileza para te agradecer. - Inclinou-se
para ela com o sorriso esperto, mas não encontrou
barreiras na face serena da aprendiz.
Tomou a boca na sua com gosto, como se
há milênios não o fizesse, e sugou a saliva para si,
sentindo fome de agradá-la tanto quanto pudesse
depois do enorme gesto de carinho que essa tinha
lhe feito.
Com uma mão segurando firme o rosto dela
- o dedão na bochecha e os demais dedos em algum
lugar entre detrás da orelha e entranhados no couro
cabeludo farto -, a outra espalmou a cintura até
conseguir girá-la, encostando suas costas na cama
macia. Ele adorava o controle de ficar por cima,
mas mais do que aquilo, era louco pela
possibilidade de ficar entre as coxas quentes dela,
encaixados como se estivessem no ato. Bianca,
embora sem muita liberdade de movimento daquela
forma, não podia reclamar das sensações que tinha
ao senti-lo bem ali, sobre ela, todas as partes do
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corpo grudadas e o calor que aquecia todo o seu


ser.
Era um beijo profundo marcado da mais
absoluta intimidade e entrega. Devoravam os lábios
um do outro, em tentativas frustradas de tomar
aquele pequeno pedaço tentador de carne para si, as
línguas apenas atiçando encontros breves, que
rastejavam resquícios do sabor alheio. Theo
percorria todo o corpo da menor, conhecendo cada
mínima curva, onde a pele se arrepiava, onde se
retraía, todos os lugares que alcançasse com ou sem
esforço, nada sendo negligenciado pelo tato astuto.
Ela, por sua vez, percorria com as pontas dos dedos
os relevos de músculos sobre a roupa, sentindo
como eles trabalhavam maravilhosamente
esforçados a cada novo movimento, e apenas
imaginando ou lembrando de como eles eram sem
camadas de tecido por cima.
O calor agradável do início passou a ser
incômodo quando a velocidade do beijo aumentou
e o fôlego não podia mais acompanhar. Foi preciso
que descolassem os tórax para recuperar o ar, e
levado pela busca de maior conforto, Theo não
hesitou a fazer menção de arrancar a própria blusa,
antes de lembrar que se tratava de uma garota
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tímida ali com ele, e que não podia ser tão


impulsivo. Ainda assim, com as mãos congeladas
na barra da camiseta, foi notado por ela, que apenas
umedeceu os lábios, ansiosa pela concretização do
ato, e o incentivou a passar o tecido pela cabeça e
jogá-lo em qualquer canto desconhecido do quarto.
Maravilhosamente nu da cintura para cima,
Theo abaixou-se novamente, pronto para começar
um novo beijo frenético, sentindo as mãos curiosas
dela espalharem-se por suas costas. Cada nova
nuance descoberta com o tato provocava um salivar
mais intenso em Bianca, que preferiu interromper o
beijo ao qual não conseguia dar total atenção.
Ele aproveitou-se, achando interessante a
entrega óbvia, para beijar-lhe o pescoço, como
fizera na sala escura do colégio. Mordia, lambia,
arrastava os lábios pela pele perfumada, sentindo-a
se remexer desconfortável por baixo. O dançar
incontrolável do quadril de Bianca acabava por
esfregar a ereção em crescimento de Theo, que
inconscientemente a segurou pelas coxas, seus pés
agora cruzados sem questionamento atrás do corpo
dele, direcionando o movimento de forma que fosse
agradável para os dois.
Na primeira investida lenta que ele fez
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contra a calcinha ligeiramente umedecida de


Bianca, uma vez que a saia já tinha se levantado há
muito, os dedos finos dela agarraram os cabelos
curtos dele pela raiz, achando toda aquela sensação
mais do que conseguia aguentar. Mas então novas
vieram, e apesar da gota de suor frio que escorreu
pela nuca da garota e do nó deliciosamente
incômodo que sentiu formar atrás do estômago, não
houve como segurar o soluço de prazer. Ele estava
massageando a parte simplesmente certa dela,
aquela que fora tocada com afinco algumas aulas
atrás, mas que não se comparava à maneira que era
esfregada agora, com precisão e vontade, em uma
promessa de melhora silenciosa.
Os rosnados de Theo em seu ouvido não
ajudavam. Nem tampouco a mão ousada que
segurava seu seio como se fosse um prêmio do qual
ele não poderia se desfazer nem se quisesse.
Subiu novamente para beijar-lhe a boca,
lamber os lábios, morder queixo e maxilar,
tentando calar os gemidos, tentando transformá-los
em meros suspiros profundos. Sem sucesso. Aquela
transa vestida apenas a fazia imaginar todas as
promessas que ele tinha feito sendo cumpridas, e
isso não ajudava a organizar os pensamentos ou
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controlar o corpo fervente.


A respiração de Theo soprou em sua boca, e
ela perdeu o controle. A mão livre caminhou com
desespero para a bunda do garoto, e a empurrou
para si, forçando-o a investir o quadril contra o seu
mais uma vez, com força. Ele revirou os olhos,
achando a inesperada ousadia da garota inocente
muito mais sensual do que qualquer obscenidade
que outras já lhe tivessem dito, e abriu caminho
entre seus corpos grudados para pousar uma mão
na virilha dela.
Bianca abriu os olhos repentinamente
alarmada e recebeu um selinho confortante.
- Eu só quero te fazer carinho. - Sussurrou
contra os lábios vermelhos e inchados de seus
beijos. - Posso? Você promete que relaxa? - Bianca
estava prestes a ceder, o corpo implorando por
alívio, quando bateu os olhos sem querer no relógio
do criado mudo e viu que horas eram.
Puta. Merda.
Empurrando Theo de cima de si até que ele
caísse de costas ao seu lado na cama - ainda com o
peitoral e abdómen gloriosamente expostos - ela
ajeitou a saia e os cabelos, levantando-se correndo.
- Theo! Minha mãe! Está para chegar a
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qualquer minuto! - Engasgou afobada alcançando a


blusa amassada dele. - Você precisa dar o fora
daqui!
Dolorosamente frustrado, o mais velho se
vestiu e pegou as chaves do carro. Compreendia o
alarde da menor, mas isso não fazia mais fácil de
aceitar e nem mais rápido de sua ereção latente
baixar. Engolindo em seco e chupando uma última
vez os lábios de Bianca, ele foi para sua casa, onde
teria que cuidar do problema sozinho.
Mais uma vez.

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- Theo, acho que você perdeu a entrada... -


Bianca comentou ao assistir o garoto continuar reto
na curva que deveria fazer para chegarem em sua
casa.
- Não, eu estou exatamente onde deveria
estar. - Ele respondeu, com um sorriso enigmático
que a manteve calada e desconfiada pelos próximos
minutos, até que o carro embicou no portão aberto
de um paredão grande e discreto, ornamentado com
algumas poucas árvores e luzes, onde podia-se ler,
em um letreiro colorido, "Colonial Palace Motel".
- T-theo? O que a gente tá fazendo aqui?
- Calma, linda. - Disse, pousando uma mão
firme e quente na coxa coberta dela. - Só confia em
mim. – Pediu, e ela acenou incerta. O nome do
lugar a apavorava, mas ter ele ali lhe pedindo
calma, era seu remédio particular.
Pararam na cabine de entrada, onde uma
senhora pediu para Theo selecionar em um painel
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digital a suíte que desejava e o tempo de


permanência. Ele passou o dedo reto por todas as
opções, pousando no último quadrado que dizia
"Tenho uma reserva". Bianca sentiu a boca secar,
sem saber o que a aguardava adiante.
- Documentos, por favor. - A moça pediu, e
ele alcançou a mão dentro do porta luvas, de onde
tirou dois RGs que definitivamente não eram seus
originais. Motéis não deveriam aceitar menores de
idade, mas costumavam fazer vista grossa para a
veracidade do que lhes era apresentado, assim
como muitas boates e baladas. A mulher pescou
uma chave grande com um chaveiro que trazia o
número dezoito e depositou nas mãos dele, ficando
com os documentos para devolução na saída. - O
seu quarto é no primeiro corredor à direita, senhor.
Aproveitem sua estadia.
Theo dirigiu entre as casinhas idênticas até
achar a de número dezoito. A garagem estava
aberta, como a de todas as casas vagas, e ele
estacionou o carro ali sem maiores problemas.
Desceu, fechou o portão e foi para a escada de
pedra no fundo, incentivando Bianca a acompanhá-
lo.
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Ela foi, tímida e receosa, segurando o tecido


da camisa dele entre os dedos nervosos. Ao final de
todos os degraus, tinha a porta na qual ele deveria
usar a chave que lhe foi dada. Em uma pausa, Theo
respirou fundo e olhou para a garota com
expectativa, gesticulando para que ela entrasse
primeiro.
O quarto era espaçoso e arejado. Tinha uma
mesa quadrada de pedra polida perto da entrada
com duas cadeiras, um box e uma grande pia de
mármore, ambos duplos, à esquerda, um solário
com teto retrátil e cadeiras almofadadas de recostar
perto do qual podia-se notar um ofurô de tamanho
médio, e, ao fundo, uma imponente cama de casal
das maiores que já tinha visto em uma espécie de
palco, ornamentado com luzes e alguns outros
botões e visores que controlavam de onde saía a
televisão e o som.
Absolutamente todo o espaço, da porta até a
cama e mesmo em cima desta, estava coberto de
pétalas de rosa. Havia um ou outro arranjo
espalhado pelo cômodo também, e mais alguns
pedaços de flor na hidromassagem, que além de
tudo estava repleta de sais de banho. Na mesa,
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havia uma grande garrafa de champanhe, duas


taças, dois roupões com os dizeres "ele" e "ela" e
uma grande bandeja cheia de frutas. A música
ambiente ajudava a completar o clima, e idem com
as luzes neon que iluminavam a cama de uma
maneira exótica e sensual.
Bianca perdeu o ar ao ver tudo aquilo.
Sentia seus dedos do pé se contorcerem mais a cada
novo detalhe que reparava, de tudo que parecia ter
sido metodicamente pensado e organizado para que
ela tivesse a melhor das surpresas, ainda que o
lugar em si a assustasse.
Theo estava logo atrás dela, fechando a
porta com cuidado, e pareceu satisfeito com a
arrumação que havia encomendado.
- Bianca... - Chamou, fazendo-a voltar a
atenção, os olhos ainda brilhando, para sua
explicação. - Eu não sou fã de nada disso, porque
para mim o mais importante no sexo é se ter
vontade e estar pronto e não todos esses romancetes
superestimados... Mas eu imaginei que, como você
teve sua primeira vez às pressas, e eu te garanti que
a próxima seria melhor... Você merecesse que eu
fizesse as coisas direito. Nem que seja para você
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perceber o quão tosco é, ou para contar para os seus


filhos. - Ele completou com um riso fácil, que
puxou o admirado dela.
- Você não precisava... Mas eu adorei. Você
sabe que eu posso ser bem menininha de conto de
fadas às vezes...
- Às vezes? Anjo... - Ele levou um tapa
fraco no ombro. - Ok, mulherão. - Riu. - Você
gostou mesmo?
- Sim! É desse jeito que eu gostaria que
tivesse acontecido... Lá atrás.
- Bom, agora você pode ter.
- Mas, Theo... - Chamou, temerosa. - Por
maiores que tenham sido os nossos avanços, eu não
sei se vou conseguir... Você sabe... Hoje. Pronta eu
estou, mas eu ainda fico insegura de que seja
realmente bom.
- Não tem problema, minha linda. Você
sabe que não tem problema. Não quero que se sinta
pressionada de maneira alguma. Mas, isso - Indicou
com os braços todos os elementos ao redor - É algo
que eu queria fazer pra você de qualquer jeito. Com
ou sem sexo, é uma experiência que queria que
tivesse. - Deu de ombros, simplório, e Bianca
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precisou conter o sorriso ao vê-lo ser tão fofo. Só


com ela.
- Bem, príncipe encantado... Por onde a
gente começa?

Devagar, o casal experimentou de todos os


elementos que o quarto oferecia. Ficaram
levemente alegres com o champanhe, deram frutas
na boca um do outro como viram fazer em tantos
filmes, aumentaram a música para dançar um
pouco e descontrair, entraram no ofurô com as
roupas de baixo, sopraram bolhas para cima,
assistiram o pôr do sol juntos, e Bianca ligou para a
secretária eletrônica de sua casa, avisando que
dormiria na casa de uma amiga, para que pudessem
aproveitar o pernoite do quarto, como ele tinha
planejado.
Ainda molhados e com espuma saindo de
seus poros, Theo e Bianca resolveram tomar um
bom banho antes de experimentarem a cama. Não
que a hidromassagem não servisse com aquele
propósito também - mas um pequeno acidente com
a garrafa de espumante garantiu que ficassem
melados do jeito ruim.
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Entraram no chuveiro duplo ainda com as


roupas de baixo, dizendo a si mesmos que aquilo
era normal e nada além do que se estivessem de
biquíni e sunga, embora os olhares nada discretos
de contemplação não cessassem, qualquer que fosse
a desculpa.
O jato quente da água era relaxante e
massageava os músculos tensos de suas costas,
deixando-os mais leves e descontraídos com o que
quer que os esperasse mais tarde. Havia uma
esponja, shampoo e condicionador em um pequeno
embrulho no canto do box, e eles abriram para
poder se banhar propriamente.
Foi Theo quem começou a pirraça.
Afastando as mãos de Bianca, ele fez questão de
pegar um bom bocado de creme nas suas para
esfregar com gentileza os cabelos cumpridos dela.
O fez com a menor de costas para si, os corpos
brevemente encostados, mais quentes do que a
temperatura da água. Depois repetiu o
procedimento, e ela se animou, resolvendo fazer o
mesmo com as madeixas escuras dele. Riam como
bobos com a espuma e o sorriso perpetuava no
rosto com os carinhos.
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Até a esponja aparecer repleta de sabão, não


tinham imaginado que as coisas fossem evoluir
daquela forma. Um braço de cada vez Theo
ensaboou, a garota quieta e ansiosa esperando.
Depois foram os ombros, e as alças do sutiã foram
abaixadas. O princípio das costas, passando pelo
meio do fecho, que se soltou quase sem querer. A
lombar e o virar do corpo, enquanto a peça caía aos
seus pés, a começar pela barriga encolhida para
chegar enfim aos seios arrebitados. Ele os
contornou, deixou espuma nos bicos e tentou os
arredores, antes de finalmente abandonar a esponja
e pegá-los nas próprias mãos.
Não precisou de mais do que alguns
apertões e mordidas de lábio para ambos
perceberem que a excitação já estava insuportável.
Terminaram o banho em questão de
segundos, ansiosos para cair na cama, o que
fizeram, ainda levemente molhados. Os cabelos de
Bianca se espalharam em aglomerados de fios
unidos pela água pelo travesseiro, ao que ela se
deitou de barriga para cima, com Theo ajoelhado na
altura de seus joelhos.
Ele se permitiu dobrar sobre o corpo dela,
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para tomar sua boca para si, iniciando um beijo


suave e molhado, provocante na medida certa.
Então, desceu os beijos pelo pescoço, colo e
barriga, até arrepiar o local com mordidas na barra
da calcinha quase transparente. Ela juntou os
próprios seios em mãos, tentando respirar
corretamente enquanto a lingerie lhe era retirada,
passando por seus pés.
Theo fez com que ela dobrasse os joelhos e
separou as pernas devagar para não assustá-la.
Resolveu fazer o caminho oposto, começando os
beijos pelo tornozelo e panturrilha, passando os
lábios de leve pela dobra da perna e usando a
língua e dentes ao atingir a parte interior das coxas.
Bianca se remexeu inquieta, engolindo a saliva
sobressalente que parecia não parar de produzir.
Ele esfregou o nariz pela nudez dela, na
parte do triângulo, deixando a respiração quente
bater por ali. Os lábios entreabertos eram
constantemente umedecidos, em uma tentativa de
autocontrole forçada cada vez que seu olhar recaía
no rosto corado da mais nova.
Enfim, resolveu não perpetuar a
provocação, e com a ajuda dos dedos para abri-la,
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afastando os grandes lábios, pôde cair de boca na


intimidade pulsante de Bianca.
A garota soluçou em surpresa e agrado, ao
que ele a abocanhava inteira, antes de distribuir
chupões concentrados no clitóris e lambidas
generalizadas em busca de saborear melhor o suco
que garantia sua lubrificação.
Ela mal conseguia olhar para baixo sem
gritar. Nunca nada que tivesse sentido se
comparava àquela sensação única de ter a língua e
os lábios de Theo a acariciando daquela forma. E
ele o fazia como se estivesse faminto, louco para
devorá-la inteira, sem vontade sequer de parar para
respirar. Ela achava que devia se sentir
envergonhada, que devia querer que ele parasse ou
que devia estar achando ruim, mas tudo que seu
corpo berrava era para que a cabeça se calasse e
prestasse atenção no argumento que se colocava
que a boca do garoto devia ser considerada uma das
sete maravilhas.
Não haveria historiador que discordasse, em
seu lugar.
Pousando a língua em cima do ponto mais
sensível da menina, Theo passou a fazê-la vibrar,
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enviando ondas de prazer por todo o seu corpo e


tornando os gemidos altos e apelativos. Ela rosnava
pedidos interrompidos pelo nome dele e sílabas
aleatórias, até apostar nas vogais ininterruptas, e
cada novo som que saia de sua boca estimulava
mais as ações dele, e, também, o tamanho de sua
ereção já gigantesca que lhe rasgava a boxer colada
do banho.
- Bianca... - Ele murmurou ainda contra sua
intimidade. - Eu posso continuar e te levar ao
paraíso assim em dois minutos... - Ele se
interrompeu, precisando dar mais uma lambida
entusiasmada no líquido que brilhava as paredes
interiores da garota. - Ou eu posso transar com
você e te mostrar que isso também pode ser muito
bom. - Sugeriu, alisando as coxas dela, incapaz de
manter as mãos longe por muito tempo.
- Eu... Acho que não pode ficar melhor...
Mas gostaria de sentir seu corpo contra o meu. - Ela
balbuciou não mais envergonhada com tantas mini
explosões ocupando seu pensamento.
Acenando uma vez positivamente, ele içou
o próprio corpo pra cima, cobrindo o dela com seu
peso e calor. A boca instintivamente procurou a da
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menor, animada por dividir o gosto único que


dominava suas papilas gustativas, e foi recebida
com igual vontade, como se houvesse grande
saudade para se matar.
Se beijaram longamente, os sexos
procurando um ao outro como lembrete de que
aquele momento não poderia ser adiado. Em meio
ao roçar delicioso do tecido da boxer contra a
feminilidade sensível de Bianca, Theo alcançou no
criado mudo a cartela de camisinhas que na certa
estaria ali, e rasgou uma com pressa. Tentou ser
rápido ao baixar a roupa de baixo e se vestir com o
plástico escorregadio, mas não foi o suficiente para
que ela deixasse de notar seu tamanho, o que
provocou um arregalar de olhos que o deixou
singelamente orgulhoso.
Uma vez que a ponta da camisinha havia
sido espremida e ela estava já desenrolada em seu
mastro, Theo se abaixou novamente para unir seus
corpos e dar um beijo e um ligeiro chupão no peito
da garota, antes de unir seus lábios e sussurrar
abafado para que ela relaxasse.
Ainda passeou a cabeça do pau de um lado
a outro da intimidade de Bianca, afim de molhar
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ainda mais a ereção e de provocá-la, para então


posicionar-se na entrada e aos poucos forçar seu
caminho para dentro. Afundou centímetro por
centímetro na carne apertada, tirando o fôlego de
ambos a cada novo espaço conquistado. Chegou ao
fim, completamente enterrado dentro dela, e parou
ali, sentindo o calor e a conexão de sua junção
íntima, dando tempo para que ela se acostumasse
com as coisas feitas com calma.
Unindo as testas e os olhares, começaram a
se mover, primeiro devagar e gostoso e depois
deliciosamente rápido, onde cada extensão sensível
era devidamente estimulada, dando a ambos a
vontade de ficar para sempre naquele vai e vem.
Theo já havia transado com dezenas de
garotas, de todos os tipos, personalidades, e cores
de cabelo. Algumas mais experientes e saidinhas,
outras mais quietas e tímidas, mas nenhuma,
absolutamente nenhuma, se comparava à Bianca.
Não era que ela sabia fazer o que outras não
sabiam, não era que fosse mais gostosa ou bonita.
Era o fato de ela o conhecer como ninguém. Era o
fato de se preocupar com seus problemas de família
e saber quando precisava de um abraço. Era a
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inocência e a entrega de ter colocado a vida nas


suas mãos, e de acatar tudo que lhe dissesse. Era a
intimidade, a incrível e arrebatadora intimidade,
que os unia e fazia todo o contato ser tão mais
intenso e poderoso do que normalmente era. Estar
dentro dela já era o paraíso, porque estava mais
dentro dela do que já esteve em qualquer mulher,
mesmo as que se diziam apaixonadas. Porque sabia
que o significado de tudo aquilo era tão maior do
que só sexo, e porque a sensação ia muito além de
uma mera aula.
Segurou-a pela cintura e investiu com
necessidade, aproximando-se do clímax. Bianca
estava muito perto de amolecer e lacrimejar por
todos os lados em um orgasmo arrebatador de
alívio, e ele não suportava a ideia de não segui-la
de perto. Ela aprendia rápido, rebolando o quadril e
apostando na fricção e contato dos seus corpos, e
aquilo o enlouquecia em todos os sentidos. As
mãos dela, então, não se preocupavam em excitá-lo
ainda mais, como outras fariam, apenas se
agarravam a tudo que tivessem ao alcance em
novas ondas de prazer, e distribuíam carinhos
adoráveis, com único intento de afago, pelos
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cabelos dele, já praticamente secos. E todo aquele


cuidado e afeto eram apenas um afrodisíaco a mais
dentre todos os outros.
Um gemido falho e o desfazer do nó em seu
ventre indicaram que Bianca havia chego lá. Ela
parou de sentir o suor escorrer e a respiração de
Theo na sua, e passou a ser só estremecimento e
calor. Sua visão nublou e os ouvidos tamparam, era
só prazer, prazer, prazer e prazer.
Os músculos internos apertaram-se sem
controle contra o membro do garoto, que, já muito
estimulado pela passagem apertada, acabou
derramando-se enfim. Todos os músculos
descansaram involuntariamente e a consciência se
perdeu por alguns instantes.
Para não esmagá-la, Theo rolou para o lado
na grande cama, e ficaram os dois encarando o teto
colorido de luzes e espelhos sem realmente ver
nada, indagando-se, embora ainda fosse cedo, da
única dúvida existencial que parecia ter forças para
se manifestar em um momento sublime como
aquele:
Aquilo poderia se repetir?
E, se sim, quando?, Bianca perguntou-se.
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Seria "agora" precipitado demais?

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Bianca havia acabado de chegar em casa,


depois de uma noite animada que a deixou leve e...
Feliz. Ela não sabia realmente explicar o porquê,
mas algo havia mudado em si, como se uma das
suas várias barreiras tivesse sido quebrada e, com
ela, tivesse levado um peso desnecessário e
incômodo, que ela não fazia ideia que carregava
consigo até tê-lo perdido.
Theo estava excessivamente quieto no carro
a caminho da casa amarela, mas ela não estranhou,
muito imersa nos próprios pensamentos e
lembranças para se incomodar com a falta de
assunto. Era normal, não era? Depois de tanta
intimidade trocada, era no mínimo natural que o
silêncio confortável tivesse espaço para se
manifestar entre eles.
Ela pisou com cuidado o caminho para o
seu quarto, ciente de que sua mãe estaria muito
provavelmente em casa, visto que era sábado de
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manhã, e não queria ter que lidar com seu mal


humor constante naquele ponto alto do seu dia.
Abriu a porta do quarto com os olhos apertados,
lamentando o ranger inevitável das dobradiças,
apenas para se deparar com a luz acesa e sua
progenitora sentada na ponta da cama com cara de
poucos amigos. Ela ainda tentou abrir um sorriso
amarelo, para amenizar um pouco que fosse o
motivo daquela visita desagradável, mas não surtiu
efeito algum na face irritada da mãe.
- Bianca... Você acha que eu sou idiota? -
Começou, a voz morna e baixa, contradizendo o
rosto rígido e repleto de marcas de expressão
severas.
- Eu... Não, mãe. Só não queria te acordar. –
Rebateu, temerosa, metaforicamente pisando sobre
cacos de vidro.
- Acordar? Eu não estou falando da ceninha
patética de você andando nas pontas dos pés como
uma fugitiva. Estou falando da mensagem de voz
que você deixou no telefone dizendo que iria
dormir na casa de uma "amiga". – Simbolizou as
aspas com as mãos para enfatizar a descrença da
palavra.
- Mas e... Qual o problema? – Perguntou,
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ainda confusa sobre o teor do questionamento


regado a ironia. No entanto, indagar qualquer coisa,
ela logo percebeu, era pior. Sua mãe se levantou
com os olhos em frestas, e inspirou todo o ar do
cômodo para, enfim, abandonar a compostura de
vez e elevar o tom de voz.
- O problema, sua vadiazinha, é que a tal
amiga tem um pênis entre as pernas! – Disse com o
dedo em riste apontando para todos os lados. - Já
passei por isso antes com o seu pai, garota, e não
vou aturar suas mentiras enquanto você farreia por
aí, dando para qualquer um que se dê ao trabalho de
olhar duas vezes para essa cara sofrida!
Longos minutos se seguiram, com Bianca
tentando arduamente segurar o choro incontrolável
e a mãe proferindo todo tipo de ofensa baseadas em
uma única suposição e na desconfiança que
carregava consigo há muitos anos.
A garota se trancou no quarto arrasada
depois que a progenitora saiu batendo a porta, se
encolheu como um feto na cama e se desmanchou
em lágrimas doídas de injustiça. O braço latejava
onde a mais velha a segurou com força, sacudindo
e rosnando todas as variações da palavra "puta" em
que pudesse pensar. Detestava quando a mãe
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resolvia despejar os problemas nela, mas, mais do


que isso, odiava ter que passar por aquilo sozinha.
Sozinha.
Se ao menos o pai estivesse ali...
Ou Theo.
Theo a abraçaria apertado, beijaria seus
cabelos e sussurraria palavras reconfortantes que a
fariam levantar-se confiante para lidar com aquela
briga da maneira que gostaria.
Alcançou o celular abandonado ao fim da
cama e discou os números que já sabia de cor.
Queria pelo menos ouvir a voz grossa dele a
chamando de "anjo" e lhe pedindo calma, da forma
com que já estava ridiculamente acostumada e,
arriscaria dizer, dependente.
Mas... A mensagem automática lhe
informava que isso não seria possível. O celular do
garoto estava desligado.

E permaneceu desligado pelo restante do


final de semana, apesar das ligações insistentes dela
e das mensagens perguntando se havia algo errado.
Incomunicável, e sem precedentes de ser
culpa do aparelho ou da operadora, visto que o
facebook e o twitter pareciam formas igualmente
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ineficazes para alcançar o moreno.


A preocupação a fez roer toda a cutícula,
caçar excessivamente as pontas duplas agora
inexistentes do cabelo, e cometer um ou outro
acidente ao perambular nervosa pelo quarto,
batendo-se nos móveis até colecionar meia porção
de pequenos roxos claros pelo corpo.
Não queria pensar. Não iria pensar. E ainda
assim, precisava deixar o racional falar mais alto do
que suas emoções, que espaçavam-se por todos os
cantos, fazendo com que tivesse vontade de chorar,
gritar e rir compulsivamente. De preferência, ao
mesmo tempo.
Por fim, quase onze horas da noite do
domingo, ele respondeu dizendo que precisavam
conversar na manhã seguinte.

Milhões de teorias inundavam a cabeça de


Bianca desde então. Ela tentava se convencer de
que algo havia acontecido com ele, com a mãe ou o
padrasto, até mesmo com o pai desaparecido ou o
babão do Whisky, por pior que aquilo pudesse soar.
Um acidente, uma emergência médica, brigas ou
reconciliações, viagens inesperadas, visitas
desagradáveis, qualquer coisa.
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Ainda era melhor do que a alternativa: o


problema era ela.
O silêncio excessivo do garoto no carro,
levando-a para casa depois de uma das melhores
noites da sua vida, agora ficava perpassando seus
pensamentos, rindo na cara da sua confiança.
Era ela, não era?
"Ele odiou. Percebeu que não vale a pena
perder o tempo comigo. Percebeu que não tem
como ajudar um ser tão sem jeito", pensou. “Eu não
devia estar surpresa. Quem em sã consciência ia
querer algo comigo depois disso? Eu devo ter sido
um lixo, devo ser o pior ser humano do mundo na
cama, feia, pequena demais, sem graça demais.
Como ele sequer me aturou nesse tempo todo? Ele
devia receber uma medalha por isso”.
Era sempre assim. Não importava o quanto
mudasse por fora, o quanto suas atitudes fossem
moldadas, era só dar espaço e sua insegurança
entrava a toda, cuspindo na cara do amor próprio.
Seu pilar de sustentação era Theo, e sem ele o
processo era ainda mais rápido. Cada fisgada em
seu natural jeito de ser era confortável demais, e ela
logo engatinhava para o buraco negro de sua
timidez e se enchia de desesperança.
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E ela estava cansada daquilo, como tudo em


sua vida, definir quem ela deveria ser.
Parou em frente ao espelho do quarto e
olhou a imagem refletida por longos segundos.
Cada milímetro de pele exposta, cada mínima curva
sinuosa, os poros arrepiados com o vento que
entrava da janela.
Uma mexa de cabelo caiu na frente do
rosto, e ela a capturou, colocando detrás da orelha
novamente. Quantas vezes Theo não tinha feito
exatamente aquilo para poder olhar com
propriedade para o seu rosto? Quantas vezes ele
não tinha lhe dito que era bonita, sorrido para ela e
feito sua alma se aquecer? Quantas vezes reclamou
da quantidade de vezes que já tinha feito aquele
elogio sem que ela acreditasse? Sinceridade. Se
tinha algo em que ela apostaria nessa vida era na
honestidade contida atrás daquelas palavras, por
mais teimosa que sua mente fosse de deixa-las
entrar.
Lembrava-se das mãos grandes dele
percorrendo seu corpo carinhosamente, e agarrava-
se ao desejo que lembrava ter visto brilhar nos
olhos claros. Todos os beijos correspondidos com
entusiasmo, e os grunhidos de prazer aliviados
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quando sua pele encostava a dela. O menor toque


simplório na mão ou no ombro do garoto, parecia
fazer um bem tão imenso para ele, que era irreal
imaginar que ele pudesse querer se livrar daquilo.
Abraçou a própria cintura, tentando colocar
na cabeça que estava tudo bem. Tentando se amar,
já que outra pessoa não o faria naquele momento.
Respirando fundo, preparou um suco de
maracujá com muito açúcar. Teria que se manter
calma até realmente descobrir o que estava
acontecendo.
Aí sim se daria ao luxo de surtar.

A manhã estava contraditoriamente


ensolarada. Bianca arrastava os pés em direção ao
ponto de encontro de sempre dela com o mentor, no
cantinho ao lado do armário de número 100. Ao
mesmo tempo que queria descobrir de uma vez o
teor da conversa, temia que saber fosse pior do que
a ansiedade que sentia.
Chegou não mais que dois minutos atrasada,
mas ele já estava lá. A mão direita massageava com
entusiasmo o próprio pescoço dobrando-se sobre o
braço forte e marcado de veias de preocupação. Ela
imediatamente ficou alerta, praticamente prevendo
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a seriedade daquela conversa, e como consequência


quase tropeçou nos próprios sapatos.
- Theo...? – Engasgou, recuperando o
equilíbrio e parando a sua frente.
- Ah, você chegou. - Comentou, distraído e
tão imerso em seus próprios pensamentos quanto
possível. O coração da garota doeu por qualquer
motivo profundo que ela não soube explicar.
- É. - Respondeu baixinho, olhando para
baixo. Os pés nunca pareceram tão interessantes,
mesmo que já estivesse cansada das sapatilhas
vermelhas – compradas por ele, inclusive.
Com dois dedos, Theo tocou seu queixo até
que a face delicada da menina novamente o
encarasse. Balançou a cabeça com pesar, sabendo
que, se ela estava se fechando como fazia no início
de tudo aquilo, era culpa dele. Respirando fundo,
decidiu por puxá-la para a mesma sala vazia em
que conversaram pela primeira vez. A familiaridade
não era tão confortante. Aquele era o mesmo lugar
em que ele havia lhe dito “não” para o pedido que
desencadeou mudanças tão significativas na vida de
ambos.
- Eu vou direto ao ponto, Bianca. - Estralou
os dedos, preparando-se, e o som ricocheteou pelas
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paredes do ambiente mal iluminado, deixando


ambos mais atentos. - Eu errei muito com você. –
Decretou como quem tira um band-aid. - Passei dos
limites. Usei sua inocência para os meus próprios
motivos egoístas. – Os olhos estavam apertados
como se a dor do curativo ainda não tivesse se
esvaído. E fosse demorar para passar.
- O que você está dizendo...? – Perguntou,
confusa, mentalmente e emocionalmente cansada
demais para tentar adivinhar o teor das palavras do
mais velho.
- Estou dizendo que eu não devia ter feito
aquilo. – Disse, rápido demais e com a face cada
vez mais contraída. - Estou dizendo que... Merda...
Que acredito que as aulas devem parar.
- Parar? - Esganiçou, tão desentendida
quanto possível.
- Sim. – Acenou, para enfatizar a decisão
que, ele acreditava, estava tomada sem chance de
questionamentos. - Eu te manipulei, te persuadi a
aceitar transar comigo, e te fiz acreditar que era
uma escolha sua. Eu fui um imbecil! – Exaltou-se
jogando as mãos para os altos. - Peguei uma garota
tão inocente e me aproveitei como se fosse
qualquer uma. Como se fosse um brinquedo que eu
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tinha na palma da mão para fazer o que bem


entendesse. E você, definitivamente, não merece
isso. Não merece que mais alguém se aproveite da
sua bondade. - Por uma fresta iluminada na cortina
que cobria a janela da sala, ela agora podia notar as
olheiras pesadas e os lábios secos do garoto. Ele
parecia doente, perturbado, decepcionado. E, agora
ela entendia, era consigo mesmo.
- Theo, você está enganado. Olha o quanto
eu já melhorei! – Sinalizou a si mesma, sob o olhar
descrente dele. - Eu não sinto mais dor nas costas
porque não ando mais curvada; minhas roupas
agora são tão bonitas que sinto como se tivesse
assaltado o guarda-roupa de uma modelo, e meu
cabelo - eu quase não o odeio mais! E quando você
me olha durante as aulas... É quase como se eu
fosse uma Milena da vida, querida, desejada, e
normal, com amigos... Pode não ter sido o objetivo
inicial disso tudo e eu posso estar falando besteira,
que vai só te afastar mais, mas... Eu não me sinto
mais sozinha. Você não faz ideia de como isso
muda as coisas para mim! Eu me sinto outra
pessoa, uma que eu gosto de ser, uma que eu
admiro e tenho orgulho, que não vê motivos para se
esconder e que luta contra qualquer pensamento
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que a coloque para baixo! – Ofegou em meio ao


discurso apaixonado, parando de gesticular tão
depressa. - Isso tudo é mérito seu. Por favor, não
abandone o barco agora. – Pediu, a voz ainda
trêmula.
- Anjo, não. - Apesar da negativa, o apelido
aqueceu o interior da menor como um cobertor
quente em meio de inverno. - Você conseguiria
essas coisas sozinha, é linda e forte por conta
própria. Tudo que eu fiz foi me aproveitar de você.
– Theo tinha a cabeça baixa sem querer encarar
tudo de que achava precisar abrir mão.
- Você transou comigo porque sexo é um
elemento muito importante de qualquer
relacionamento e não adiantava nada eu aprender a
estar em um e ele acabar porque eu sou péssima na
cama. – Ela entoou, sabendo que aquele era o cerne
da loucura.
- Isso foi o que EU disse para você, para
justificar meus atos. Não significa que seja
verdade! Tá cheio de cara por aí que é homem de
verdade e sabe lidar com ficar sem sexo quando a
garota vale a pena, o que obviamente é o seu caso.
– Apontou para ela, enfim subindo o olhar para o
rosto claro que parecia quase tão pálido quanto o
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seu próprio.
- Mesmo assim. Eu tinha medo, Theo!
Tinha um bloqueio horrível quando se tratava de
algo que é bom, e muito! Você me ajudou a superar
essa barreira independente do que nos levou a isso.
E eu não me arrependo disso nem um segundo. -
Ela via que as coisas que dizia não estavam
exatamente convencendo o garoto, que permanecia
com a aparência sofrida. Ele se sentia um canalha,
alguém que não queria ser, e isso estava acabando
consigo. - Olha, eu sei que você acha que eu sou
super inocente e que não questiono nada do que
você faz, mas eu não sou tão idiota assim e sei
cuidar de mim. Cuidei de mim todo esse tempo
sozinha, mesmo que precariamente. Então, se eu tô
te falando que tá tudo bem, que eu gostei e que
quero continuar com as aulas, você deve acreditar
em mim. – Bianca havia colocado todas as suas
fichas naquela cartada final, e implorava aos céus
para essa ser suficiente.
Um sorriso de canto iluminou brevemente o
rosto do mais velho, que se sentia orgulhoso de
ouvi-la falando daquela maneira. A pequena Bianca
rugia em face de perder o que vinha animando sua
vida dia após dia nas últimas semanas, e lutaria
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contra a sua decisão com unhas e dentes, se assim


fosse preciso. E tudo aquilo apenas para mantê-lo
em sua vida... Ele respirou profundamente,
tentando achar formas de voltar a argumentar, mas
um breve olhar ao relógio o fez ver que não seria
possível.
- Eu tenho aula agora e você também. A
gente continua essa conversa no fim do período.
Tudo bem?

O último sinal bateu e Theo colocou pé ante


pé rumo ao portão de entrada do colégio, onde a
encontraria. Pessoas lhe davam tapas fracos nas
costas em cumprimento, mas ele não se obrigava a
virar para acenar de volta; estava se dando um dia
de folga. A conversa que teve via Whatsapp com
Breno pouco antes de levar Bianca em casa depois
da noite luxuosa no motel não saia de sua cabeça. O
garoto tinha lhe chamado para uma festa - nada de
excepcional até aí. Porém, quando ele negou o
convite e, tranquilo como estava enquanto esperava
a menor terminar de se recompor para poderem ir,
acabou dizendo que estava sem pique e que teria
que levar Bianca para casa, o amigo somou dois
mais dois e logo o parabenizou por conseguir
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"entrar nas calças da nerd".


Theo não pensou duas vezes antes de
defendê-la, mas não foi rápido o suficiente, e então
a frase "Sabia que tinha que ser isso que você
queria com ela desde o começo. Boa jogada, cara!"
apareceu em um balão branco na tela do seu
celular.
A partir daí, tudo desandou. Uma coisa
horrível aconteceu: Ele começou a pensar.
Pensar em tudo que tinha passado com
Bianca e duvidar da reciprocidade dela nas aulas,
duvidar que ela realmente quisesse aquilo e duvidar
que ele fosse um bom professor. Uma boa pessoa.
Passou o final de semana recluso sem
atender as ligações da menina, e por mais que
fizesse força não conseguia lembrar de um
momento em que tivesse de fato pensado o pior,
que tivesse planejado uma aula pensando só em si
mesmo e não nela aprendendo o máximo possível,
ou que tivesse seguido qualquer plano sem os
devidos sinais de reciprocidade dela.
Mas sua mente não descansou. Só porque
não se lembrava não queria dizer que não tivesse
acontecido, certo? Talvez até mesmo em um nível
subconsciente...
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E por estar tão acostumado em confiar em si


mesmo e orgulhar-se de ser alguém íntegro, aquilo
pareceu mexer com seus neurônios de uma maneira
surreal. Achou por bem, então, cortar o "mal" pela
raiz, conversar com ela e parar com as aulas.
Mas... O jeito meigo da menina defendendo
com unhas e dentes ele de si mesmo, novamente, o
confundiu. Ela não poderia ter tantos argumentos
para cima dele se não estivesse gostando das aulas,
se não estivesse satisfeita com ele. Por melhor que
pudesse ser seu poder de persuasão.
Chegando ao estacionamento, varreu o local
com os olhos a procura da figura miúda e delicada
que deveria estar esperando-o. A encontrou
caminhando em direção ao seu carro, quando
observou outro ser alto e loiro interceptá-la no
caminho.
Sam a segurou pelos ombros com um
sorriso certeiro, e disparou a falar sobre qualquer
coisa que Theo não podia ouvir
entusiasmadamente. Bianca acompanhava na
medida do possível, com curtas interjeições quando
tinha espaço, um tom rosado acentuando as
bochechas erguidas em um riso contido.
O suposto melhor amigo ergueu uma das
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mãos para colocar uma mecha de cabelo dela caída


atrás da orelha e Bianca acabou por soltar, sem
querer, a pasta que segurava depois do gesto, a qual
foi rapidamente recuperada por um Sam
estranhamente solícito.
Claro que ele estava atraído por ela. Suas
qualidades estavam à mostra, sua postura lapidada,
a atitude menos afobada... E ela continuava tão
doce, tão carinhosa quanto sempre.
Quem não estaria?
Theo sentia algo ardendo em seu interior.
Como um monstro verde e feio que comia suas
entranhas e obrigava suas mãos a se cerrarem em
punhos. Dessa vez, no entanto, não era mero ódio,
já que o loiro abusado não a tinha trocado ou
magoado, não era seu instinto protetor.
Era posse. A noção de que ela o pertencia -
já que ele a fez desabrochar daquela maneira - e
qualquer coisa que perturbasse esse cenário o
incomodava. Era ciúmes. Puro, simples, flamejante.
Vê-la conversando com Sam tinha despertado um
sentimento que ele não estava acostumado a sentir.
De fato, não tinha recordações de qualquer tipo de
relacionamento que já tivesse causado aquela
reação nele.
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Parecia que não era só Bianca que tinha


primeiras vezes por ali.
Sem perceber, seus pés se moveram
sozinhos e logo ele tinha uma mão rodeando a
cintura da menina que o encarava confusa.
- Vamos embora, linda? – Perguntou, logo
cravando os olhos em quem o ameaçava. Com um
gesto de cabeça que anunciava sua despedida,
puxou-a consigo pelo caminho de asfalto liso até o
carro imponente. A resposta nunca veio, mas não
era necessária para nenhum dos dois. Havia mais
com o que se preocupar.
- Hm... Isso quer dizer que você
reconsiderou? - Ela indagou, tentando desfazer a
nuvem de perguntas que embaçavam sua mente.
Theo não precisou pensar muito. Ela queria aquilo,
havia deixado claro, e ele não poderia mais se dar
ao luxo de ouvir aos outros quando estava na corda
bamba para perder seu anjo a qualquer momento
para o cara mais retardado da face da Terra. Se as
aulas acabassem afastando-a dele no fim quando
ela decidisse usar os conhecimentos no tal do loiro,
ele teria que se conformar. Mas por burrada de
mérito exclusivo dele isso não aconteceria. No
mínimo, aproveitaria mais um pouco a companhia
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exclusiva da garota, e, com alguma sorte, as aulas a


deixariam tão perfeita, que até ela notaria ser boa
demais para o jogador de basquete.
- Sim, meu anjo. Vamos voltar com as
aulas, se é o que você quer.
- Eu quero! - Acenou freneticamente com a
cabeça, provando seu ponto.
- Então tudo bem. Desculpe a confusão,
Bianca. Eu perdi a cabeça por um minuto e quase
estraguei tudo.
- Não se preocupe com isso, Theo. É o cara
mais incrível que eu conheço, se fosse sempre
centrado eu começaria a duvidar da sua existência.
- Com um sorriso admirado no rosto, ele a abraçou
de lado, apoiando a cabeça nos cabelos sedosos
dela e inalando o eterno odor de jasmim que dali
emanava.
- Você nunca vai parar de me surpreender
com tanta meiguice, linda. Me prometa que se
houver uma próxima vez que eu tente te afastar
você vai me lembrar desse exato momento?
- Eu prometo, professor.
- Ótimo. Agora vamos, menina. O babão do
seu professor tá doido de saudades para passar uma
tarde tranquila com seu anjo.
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- E o Whisky. - Ela lembrou.


- Ah, sim. E aquele outro babão também.

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A caminho para a casa de Theo, o garoto


não parava de listar todas as coisas que faria por
Bianca quando eles chegassem, a fazendo ter crises
de risos espontâneos, uma atrás da outra. Ele
brincava que andaria atrás dela com a bolinha de
Whisky na boca como um perfeito cachorro, que
cozinharia todas as comidas preferidas dela por
dias, que assistiria todos os filmes mela-cueca que
ela tivesse vontade, tudo para agradá-la e
compensar a súbita crise de consciência que os
afastou por não mais que alguns dias.
A verdade é que ele se sentia culpado. Toda
a conexão com a garota, a intimidade trocada, os
segredos relevados... Ele não podia estragar esse
relacionamento por nada no mundo. Nunca tinha se
apegado tanto a alguém como tinha acontecido com
a menina, e só de realizar que qualquer ação
impensada sua poderia afastá-la dele e de volta para
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os braços do amiguinho babaca, o fazia perder a


cabeça.
Ele queria ser tão bom para ela que a busca
pela perfeição acabou mexendo com a sua cabeça e
nublando suas memórias, deixando os comentários
ácidos de Breno fazerem algum sentido e trazendo
à tona toda uma culpa infundada.
Ele não a estava manipulando. Nunca fora
do seu feitio fazer isso, e não seria essa a primeira
vez que enganaria uma mulher para levá-la para a
cama. Ainda mais alguém tão doce como Bianca:
Ele nunca encontraria a cara de pau no seu ser para
fazer qualquer maldade com aquele anjo que entrou
na sua vida.
O que significava que todas as bobagens
que cozinhou na cabeça durante o final de semana
foram nada mais do que uma momentânea crise de
identidade já irremediavelmente superada. Theo
havia colocado uma pedra naquele assunto, que
considerava agora irrelevante, incabível, superado e
enterrado.
Entraram na simpática casa de madeira e o
garoto foi logo soltar o grande cachorro que correu
para trançar as pernas de Bianca, mostrando
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saudades. Ela riu e apertou as bochechas do animal,


que pareceu fazer uma careta conformada e lhe
lambeu os dedos finos.
Sentaram-se no sofá, Theo com a cabeça no
colo de Bianca que acariciava seus cabelos
rebeldes, e Whisky aos pés da menina, rapidamente
engatando um sono profundo. Os garotos daquela
casa pareciam gostar dela um bocado, e a cercavam
como se fosse fugir a qualquer instante.
- Me conta, linda. Você sentiu alguma dor
no final de semana? - Ele perguntou, preocupado
com o bem estar dela após os momentos
maravilhosos que tiveram no motel luxuoso,
embora soubesse que ela não era mais virgem.
Sabia que a dor do rompimento do hímen era a
pior, mas que haviam certos incômodos que
poderiam dar as caras nas relações que se
seguissem a primeira, dependendo do quão
apertada a garota fosse e da intensidade das
próximas transas.
- Não, Theo. Foi até uma surpresa ótima...
Eu achava que não fosse conseguir sentar no dia
seguinte, já que... Bom... Você é grande e tudo
mais. - Bianca respondeu, adquirindo certa
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vermelhidão no rosto envergonhado. E ficar tímida


de fazer tal elogio não significava retrocesso na sua
autoconfiança. Pelo contrário: há algumas semanas
ela apenas responderia que não e se calaria. Ao
menos agora gaguejava e corava, mas dizia tudo o
que queria dizer.
Theo inflou o peito e sorriu largo com o
comentário da menor. Sentiu-se orgulhoso por
diversos motivos: Por ela ter reconhecido seu
tamanho pura e simplesmente, por muito
provavelmente ser comparativamente maior do que
o loiro infeliz, e por ouvi-la dizer algo tão
descarado, impensável no começo de tudo aquilo.
- Isso é ótimo, meu anjo. E obrigado. - Ela
retribuiu seu sorriso já da cor normal, e ele
preparou-se para fechar brevemente os olhos e
aproveitar a delicadeza do carinho que recebia na
cabeça quando deparou-se com uma grande
mancha arroxeada no braço dela. - Bianca, isso fui
eu quem fiz? - Ele perguntou alarmado enquanto
impulsionava para se sentar direito ao lado dela e
indicava com a cabeça o hematoma.
- Ah... Não. Não, Theo, claro que não foi
você. - Ela negou enfaticamente, instintivamente
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cobrindo o machucado com a mão, como se o fato


de não poderem vê-lo fosse dispensar novas
perguntas a respeito.
- Bem, então quem foi? - Ele perguntou
preocupado, a testa severamente franzida. Podia ver
que ela relutava a dizer e aquilo só o deixava mais
inquieto.
- Foi a minha mãe... A gente acabou
brigando quando eu cheguei em casa sábado de
manhã. Mas olha... Nem dói, não há nada a se
preocupar.
- Meu amor... – Entoou, morno de carinho e
afeto. - Não me importa que não doa agora, na hora
deve ter doído! Porque você não... - Ele se
interrompeu. Sabia muito bem porque Bianca não
havia lhe contado nada e era culpa dele. Estava tão
imerso duvidando de si mesmo que não pensou que
todas as ligações da menina poderiam significar
mais do que simplesmente querer conversar com
ele. Ela brigou com a mãe, ganhou um roxo feio no
braço... E ele não estava ao seu lado para ampará-
la. Deixou-a sozinha para lidar com os seus
problemas, sozinha como sempre havia estado.
Uma grande onda de auto aversão tomou conta
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dele. - Bianca, eu... Me desculpe. Eu devia ter


estado com você. - Sussurrou sentido, segurando as
mãos dela nas suas. - Me conta, linda, qual foi o
motivo da briga?
Ela relatou o que aconteceu tentando poupar
todos os detalhes mais insignificantes como como
se sentiu e o quanto chorou. E mesmo assim, não
conseguiu conter as lágrimas quando o garoto a
abraçou apertado e ela pôde sentir-se amparada
dentro dos braços quentes do mentor novamente.
Era a primeira vez que realmente sentia que alguém
se importava com o que acontecia com ela, e
apenas a constatação daquele fato fez com que a
intensidade do choro aumentasse. Então lembrou-se
também de toda a tensão que havia dividido espaço
com a tristeza dentro de si durante o final de
semana, quando ele não a respondia, e passou a
soluçar de encontro ao pescoço cheiroso do mais
velho.
Theo sabia que o choro doído de Bianca
englobava mais do que apenas a briga horrível com
a mãe, e a apertava contra seu peito como se
pudesse protegê-la de todo o mal do mundo -
inclusive dele próprio. Sussurrava pedidos de
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desculpa de dez em dez segundos, intercalando


com palavras suaves sobre ela ser forte, corajosa e
sobre tudo ficar bem no final.
Aos poucos, Bianca foi se acalmando e
sentindo-se muito melhor por ter colocado para fora
todo o sofrimento que havia engolido. Sorriu
fechado para Theo, enquanto ele secava seu rosto
cheio de rastros de lágrimas com cuidado.
- Eu já devia estar acostumada com os pitis
dela, mas nunca deixa de machucar quando ela
projeta em mim seus problemas e me xinga de
todas as variações de "vagabunda" que você possa
imaginar. - Disse, dando de ombros.
- Ela é sua mãe, eu imagino que seja
dolorido mesmo. – Ponderou o garoto. O silêncio
confortável recaiu no cômodo, em meio a trocas de
olhares solidários, da parte dele, e agradecidos da
parte dela. Theo refletia sobre a dinâmica familiar
complicada da menina, e pareceu lembrar-se de um
pensamento especialmente insistente que havia
ficado em sua mente desde a primeira vez que
conversaram sobre o assunto. Arriscando, resolveu
colocá-lo em palavras. - Bianca... Você ainda fala
com o seu pai?
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- Ah, não. – Negou, fungando o fim de


choro. - Depois que ele saiu de casa para ir morar
com a nova namorada, minha mãe disse que ele não
teria mais paciência para mim. E, como eu não ouvi
dele nos últimos dois anos, acho que ela estava
certa. – Deu de ombros, dolorosamente conformada
com o abandono do pai. Mas, para Theo, aquela
história parecia errada. Claramente a mãe de
Bianca tinha problemas com o ex, mas nada na
história que ela havia lhe contado indicava que
pudesse ressentir a filha por qualquer motivo.
Muito pelo contrário; apesar de pequena na época,
Bianca tinha sido a única pessoa que de fato ficara
ao lado dele quando incitava tomar alguma atitude
sobre a miserabilidade em que se encontrava dentro
do casamento. E, justamente por ser tão nova ainda,
não tomaria atitudes bruscas para afastá-lo depois
de sair de casa, pois ainda precisava do progenitor
em sua vida, e o pai dela deveria saber disso, assim
como ele sabia. Theo não sabia se estava sendo
paranoico apenas, ou esperançoso demais, mas
havia uma grande falha de nexo causal naquela
narrativa e ele estava determinado a encontrar a
fonte.
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- Você já tentou ligar para ele? – Perguntou,


acariciando as mexas compridas do cabelo dela
entre os dedos longos.
- Eu não tenho o número, já que ele nunca
me ligou. Só sei onde ele mora porque ouvi minha
mãe falando com alguma empresa que as cobranças
deveriam ir para um endereço diferente. – A fala da
menor era carregada de ressentimento, mas nem
por isso menos verdadeira.
- Já tentou aparecer por lá? – Continuou,
ainda mais desconfiado e no limbo entre realmente
tecer uma teoria válida e mais suposições.
- Para quê, Theo? Se ele não quer me ver,
porque eu vou impor a minha presença? - Ela disse
parecendo levemente irritada de cavar um assunto
que lhe trazia mágoa.
- Anjo... – Disse morno, como quem se
desculpa antes de jogar uma bomba. - Existe
alguma possibilidade da sua mãe ter interceptado as
ligações que seu pai te fazia, ou mesmo alguma
carta ou visita que tenha tido como objetivo te
alcançar? - Falou devagar, tentando não alarmá-la
demais com as suas suspeitas.
- Bom, sim, eu nunca atendo o telefone de
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casa nem a porta quando minha mãe está, as cartas


também não são minha responsabilidade, e eu
ganhei o celular só depois que eles já eram
separados... – Ela respondeu mecanicamente,
tentando entender qual a lógica por trás do
raciocínio do professor.
- Bianca, - molhou os lábios, pronto para
colocar as cartas coringa na mesa - eu acho que
existe alguma chance da sua mãe ter tentado afastar
vocês porque ela estava machucada. - Theo
concluiu, apertando amigavelmente o joelho da
menor.
- Mas... Será? Você acha que ele ainda se
importa comigo? - Indagou, o rosto lívido e as
mãos nervosas apertando umas às outras.
- Eu não vejo porque ele não se importaria.
Nada do que aconteceu no casamento dele foi culpa
sua, e vocês nunca chegaram a brigar. Não tem
qualquer motivo que explique esse sumiço, e
mesmo que tenha, você claramente foi privada da
explicação. Talvez devêssemos fazer uma visita ao
seu pai, minha linda.
- Theo... Se isso for verdade, eu não vou
acreditar! - Ela deu um breve pulo no sofá, os olhos
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brilhando de expectativa. Mesmo sabendo que


havia alguma chance de ela se decepcionar, de o
pai estar estabelecido com outra família, filhos, e
que tenha basicamente se esquecido dela sim, ele
não quis manter seus pés no chão. Ela merecia um
pouco de esperança para variar. - Você iria
comigo?
- Eu vou aonde você estiver, anjo. -
Garantiu, e logo eles estavam novamente apertados
em um abraço caloroso cheio de carinho e amparo.

- E hoje? Não tem aula? - Ela perguntou


depois que o assunto diluiu e eles combinaram de
levar a Operação Pai com calma.
- Não. As lições podem esperar um pouco
para que eu curta a minha menina que teve alguns
dias ruins. - Ele sorriu saudoso, fazendo um carinho
singelo na nuca de Bianca.
- Achei que você fazia o tipo ditador que
não perde tempo. - Ralhou, mordendo os lábios
para não sorrir.
- Te mimar e passar tempo com você nunca
é perda de tempo. - Piscou levantando-se e
colocando a carteira no bolso da calça. - Vamos,
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vou te pagar um sorvete e depois vamos fazer o que


você tiver vontade.
- Pelo resto da tarde? - Ela perguntou, e
recebeu um aceno positivo de resposta. - E eu
escolho? - Novamente, Theo sibilou um "sim". -
Você tá ferrado. Vou te enfiar em todos os
programas nerds que me der na telha e você vai
fazê-los com um sorriso no rosto. - Ela brincou
rindo para o garoto.
- Se você estiver sorrindo, com certeza vai
valer a pena. - Ele disse passando um braço ao seu
redor e recebendo um selinho tímido e doce em
retorno.

Aquele foi um dia turbulento emocional e


fisicamente para a dupla. Theo se ocupou de fazer
realmente todas as vontades da garota, comprou
uma mão cheia de livros para ela na maior livraria
da cidade, visitaram o aquário onde ela revelou em
um suspiro estar inclinada a cursar biologia ao
invés das opções que considerava anteriormente, e
ainda assistiram uma peça de romance clássico no
palco improvisado montado ao ar livre em um
parque cheio de árvores floridas. O sorriso rasgava
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o rosto de Bianca, que praticamente pedia em


pensamentos pela próxima vez que o professor se
sentisse em dívida com ela para mimá-la daquela
maneira novamente.
No dia seguinte só poderiam ir para o seu
QG consideravelmente tarde, pois era dia de aulas
vespertinas. O colégio tinha uma política estranha
de horários: em uma semana os alunos teriam
período integral de segunda e quarta, e na outra
semana seria de terça e quinta.
De qualquer maneira, naquela terça feira
teriam que almoçar na escola, e Theo e Bianca
foram juntos para o refeitório como já lhes era de
praxe. Bianca não sabia dizer se o burburinho a
respeito deles havia parado ou se a recém adquirida
confiança a ajudava a ignorar, mas não se sentia
mais desconfortavelmente observada como antes.
Mesmo agora que fingiam ser namorados, que
Theo estava sempre com as mãos nela quando
andavam, fosse em sua cintura, em seus ombros ou
mesmo segurando as suas. O comportamento não
era diferente quando estavam parados, ele fazia o
tipo carinhoso e sempre acariciava seus cabelos,
suas costas, seu rosto... Os beijos também.
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Variavam de selinhos de cumprimento a puxadas


de lábio, e um ocasional encontro forte entre bocas
saudosas.
Novamente, Bianca não sabia se ele estava
engatado no automático, mas, quando estavam
sozinhos, sem ninguém que pudesse ver a ambos,
as ações do mais velho não se alteravam em nada.
Ela quase começava a se sentir verdadeiramente a
namorada de Theo Versolati, e preferia não pensar
nisso demais para não ter um "ataque de esquilo".
Era assim que ela chamava quando garotas se
reuniam para falar de um homem bonito e
esganiçavam, davam pequenos gritinhos e giravam
no lugar. Nunca teve uma amiga que tivesse o
ataque com ela, mas quando o observava sendo
feito de longe era assim que lhe parecia.
Assim que entraram no refeitório, Theo
pegou a bandeja de comida com ela, mas assim que
eles estavam estabelecidos na mesa - que não era a
favorita de Bianca, sob a falha de iluminação e
isolada, pois Theo se recusava a sentar ali e
escondê-la da vista dos outros - ele pareceu ver
alguém entrar e pediu licença para resolver uma
coisa rapidamente.
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Ela balbuciou um "tudo bem" contido,


odiava ficar sozinha na hora do almoço mais que
tudo, mas sabia que se ele precisava realmente
fazer algo era porque era importante. Concentrou-
se no seu creme de milho com o qual ficou
brincando ao arrastar os grãos até que
compusessem formas engraçadas, se perguntando
se deveria esperá-lo para começar a comer como
mandava a educação.
Então, todos os alunos no refeitório
ecoaram um grito mudo em coro, e ela precisou se
virar para saber o motivo de todos estarem
impressionados daquela forma. No centro do lugar,
uma rodinha expressiva começava a se formar.
Devido a sua estatura baixa, Bianca não conseguia
ver muito bem o que estava se passando ali no
meio, mas considerando o sorriso sádico no rosto
dos jogadores de futebol que espreitavam, deveria
ser uma briga.
Por algum motivo, seu coração acelerou e
ela passou a buscar com os olhos pelo mentor nos
arredores. Encontrou o olhar de Sam a observando
intrigado, mas não podia ligar menos para aquilo no
momento. Theo não estava em nenhum lugar, o que
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só podia significar que ele estava... No centro da


briga.
Bianca se levantou correndo, derrubando a
cadeira no processo e avançou abaixada por entre
os braços e quadris das pessoas a sua frente, até que
pudesse ver o que estava acontecendo ali no meio
da multidão.
Theo segurava Breno pela camiseta de
forma que seus pés não tocavam o chão. Por ser
maior e mais forte que o outro, aquela não era
exatamente uma tarefa difícil.
- Repete, seu infeliz! Fala mais uma vez
assim dela pra você ver se eu penso duas vezes
antes de te quebrar a cara! - Theo rugiu na face do
até então amigo, que engoliu em seco e pareceu
enfim assumir uma postura arrependida.
- Cama, cara... - Ele esganiçou sem
conseguir respirar direito, gesticulando para que o
soltasse. Theo parecia impassível. As pessoas
começaram a entoar o famoso grito de "Briga!
Briga! Briga!" e se movimentar ansiosas, o que
acabou empurrando a menina franzina mais para
frente. Ela interpretou aquilo como um sinal, e,
cuidadosamente e de maneira temerosa, pousou
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uma mão no braço contraído e cheio de veias


saltadas de Theo, para que ele olhasse para ela.
A feição inegavelmente irritada do garoto se
transformou quando a viu parada ali no meio de
tanta gente, com os olhos transparentes arregalados
de preocupação pelo motivo que pudesse ter levado
o professor até àquela situação. Com os traços mais
relaxados só de vê-la a sua frente, Theo pareceu
decidir por mudar o curso de suas ações.
- Sabe o que você vai fazer? Vai se
desculpar com ela. - Theo ditou, soltando Breno no
chão e puxando a garota para seus braços,
segurando-a de frente ao outro pelos ombros. Ele
ainda olhou em volta pesando suas opções e aquela
pareceu, de fato, a melhor saída, de forma que falou
baixo encarando os pés um "sinto muito, Bianca".
Ela não fazia ideia do que estava
acontecendo. A multidão pareceu perceber que
mais nada aconteceria de bom por ali e começou a
se dispersar. Theo puxou Bianca pela mão para
longe e voltaram a se sentar na mesa com suas
bandejas já quase frias.
- Theo, o que foi isso? Por que você...? E
ele...? - Bianca era só perguntas, e ele precisou
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respirar fundo e segurar as mãos dela nas suas para


poder explicar.
- Calma, anjo. Aconteceu o seguinte... -
Começou devagar, procurando acalmar os nervos
dele e dela. - O Breno me mandou uma mensagem
na noite que passamos juntos me chamando para
uma festa... - Ele contou a história e sobre como a
frase do amigo tinha sido o gatilho de toda a
confusão que dominou sua cabeça no final de
semana. - Eu só ia explicar as coisas para ele, dizer
que eu gostava de você e que não era tudo parte de
um plano, para que ele parasse de tirar conclusões
precipitadas... E aí, ele me deu alguns tapas nas
costas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa e
me cumprimentou alto na frente do resto dos caras
por ter... Transado com você. Mas digamos que as
palavras que ele usou para se referir a isso não
foram das mais agradáveis e eu acabei perdendo a
cabeça. - Deu de ombros repuxando os lábios.
Queria fazer pouco caso, não alarmá-la, pois o
comportamento agressivo que tinha assumido não
lhe era padrão.
- Meu herói. - Bianca zombou com um
sorriso carinhoso nos lábios. Nunca tinha se sentido
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tão protegida por alguém e a sensação era... Única.


Theo sorriu de volta e se inclinou para depositar um
selinho apertado e gostoso contra a boca da menor.
Eles foram enfim comer, sob o olhar atento e
estranhamente incomodado de um certo melhor
amigo loiro.

Mais um dia de estudos compenetrados se


seguiu. Theo já estava praticamente recuperado em
todas as matérias, e agora arriscava fazer simulados
das universidades mais difíceis da região, embora
nesses ainda não obtivesse os resultados desejados.
Bianca aproveitou para se inscrever a alguns
vestibulares como traineira para incentivar mais o
garoto e já pegar o "jeito da coisa".
Naquela tarde, o segmento escolhido para
estudo era Humanas, longe da preferência de
qualquer um dos dois - Theo gostava mais de
Biológicas e Bianca de Exatas. Foram horas
pesadas para ambos, enquanto Theo via tudo que
teria que passar para se tornar advogado como a
mãe e o padrasto queriam, e Bianca decidia que
Jornalismo não era mais uma opção para si.
Decidiram fazer uma pausa após
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finalizarem a última questão aberta do simulado.


Theo levantou-se para pegar algo para eles
beberem, enquanto deixava para Bianca a
incumbência de escolher algo para assistirem na
TV.
Ela revirou as estantes do professor,
passeando os olhos e mãos curiosas por todos os
títulos em DVD ou Blue-Ray, perguntando a ele,
que ainda estava na cozinha fazendo milk-shakes,
vez ou outra se o exemplar era legal ou não. Mas
estava indecisa demais e ainda acreditava encontrar
algo que saltasse os seus olhos o suficiente para que
todas as outras opções parassem de ser
consideradas.
Bufando, sentou no chão e abriu a última
gaveta do móvel, que tinha uma camiseta velha por
cima dos objetos. Ela riu do que achou ser uma
prova do quão bagunceiro o mentor era no fundo, e
puxou o tecido da frente, revelando...
Toda a coleção de filmes pornô de Theo.
Alarmada, quase se desequilibrou para trás.
O som de surpresa que a menina emitiu chamou a
atenção do garoto, que vinha se juntar a ela com as
bebidas em mãos. Quando viu o motivo do alarde,
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Theo deu risada.


- Acho que esses não são bem os tipos de
filme que você procurava, anjo. - Ele brincou, só
então observando com a atenção os olhos da menor
vidrados nos títulos e capas gráficas demais.
Estaria ela... Curiosa?, perguntou-se.
Mas é claro que sim. Bianca tinha interesse
em tudo que dissesse respeito a sua recentemente
descoberta sexualidade, apesar de fazer questão de
disfarçar, ainda que mal e porcamente. Como se as
bochechas coradas e as mãos em fendas em frente
aos olhos fossem o bastante para convencer Theo
de que ela não estava absurdamente intrigada.
Ele via por baixo de toda a timidez. Os
olhos brilhando, as mordidas nervosas na boca.
Tinha certeza que ela nunca havia visto sequer um
vídeo, quanto mais um filme. Ele sorriu olhando
para cima. Aquela garota não podia existir!
- Vamos, pegue um. - Incentivou, indicando
com a cabeça a gaveta aberta.
- Mas... - Procurou protestar, logo sendo
interrompida pelo professor.
- Mas nada, Bianca. Anda, eu sei que você
está curiosa. - Abanou com as mãos, apressando-a.
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- Theo! - Reclamou.
- Não adianta fazer a ultrajada. Posso ver o
sorriso arteiro querendo se abrir no canto da sua
boca. - Ele cruzou os braços em tom definitivo, e
Bianca, embora ainda relutante, mordeu o interior
da bochecha decidindo o que fazer. Fechou os
olhos com força e passeou a mão por cima dos
DVDs enfim puxando um qualquer da pilha.
- "Pirates II: Stagnetti's Revenge" - Ela leu
em voz alta repuxando os lábios em desgosto. - É
sequência, melhor deixar pra lá.
- Não, anjo. Não tem a menor necessidade
de ter visto o primeiro, e se foi esse que você
sorteou, é esse que assistiremos. Além disso, a
Jesse Jane é muito boa, e o segundo filme tem a
Sasha Grey ainda. - Comentou, alheio à cara de
incredulidade com que ela o olhava.
- Você sabe o nome das atrizes? -
Esganiçou, a cada minuto mais descrente.
- Mas é claro! - Exclamou, rindo da feição
dela. - Me diz uma coisa: quando você assistiu
Titanic, o que achou da atuação do Leonardo
Dicaprio? - Perguntou em tom zombeteiro.
- Ué, muito boa. - Deu de ombros
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meramente.
- Tá, e a partir daquele filme, quando viu
que ele estrelava mais algum, não teve vontade de
assistir?
- Bem, sim, mas... - Foi cortada novamente.
- É a mesma coisa nesse caso. O gênero do
filme pode mudar, mas a avaliação dos atores e a
escolha de novos títulos é quase igual. - Explicou.
Ela ainda parecia desconfiada, mas tinha desistido
dos questionamentos. - Pode colocar no aparelho.
Quero muito ver sua reação assistindo. - Theo bateu
as palmas e esfregou, como se antecipasse grandes
momentos de diversão.
Ela colocou o CD no compartimento, e
levantou-se correndo para se atirar ao lado do
garoto. Puxou uma almofada grande para o colo e
se abraçou a ela, escondendo boa parte do rosto
pequeno que tinha os olhos cravados nas chamadas
iniciais do filme.
Os primeiros minutos correram bem. Uma
historinha boba e efeitos ruins era de fato o máximo
que se podia esperar, mesmo a produção daquele
título em específico tendo sido bem pensada. Theo
não sabia se ria da apreensão de Bianca por
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qualquer cena erótica que pudesse começar sem


justificativa ou do personagem principal, o capitão
Edward, que era tão convencido e caricato quanto
possível.
E então, em um instante, haviam dois
homens espremendo uma mulher seminua entre
eles.
Bianca sugou todo o ar até inflar as
bochechas que, vermelhas, só a deixavam mais
fofa. Theo riu discreto e continuou observando a
cadeia de reações que tomavam o corpo da menor,
que se encolhia e chegou a tapar os olhos de vez
quando o primeiro boquete da história tomava
forma na tela.
- Como você vai assistir ao filme assim,
menina? Precisa tirar as mãos da frente. - Theo
provocou, recebendo um enfático balançar de
cabeça em negação. Ver aquelas cenas tão, tão
explícitas com ele ali do lado soava todos os
alarmes da cabeça dela, e faziam seu corpo entrar
em combustão. - Bianca...! - Chamou, a fala
quebrando devido à risada.
Puxou a almofada que a escondia e jogou
longe. Ela se encolheu toda com os braços em
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frente ao rosto, ameaçando uma risada de


nervosismo, e ele a pegou pelo cotovelo e a
manuseou até que estivesse sentada entre suas
pernas com os braços firmemente presos para trás.
Theo havia encontrado um jeito de colocá-
la em frente à TV e ao mesmo tempo de segurá-la
para que não pudesse fugir das imagens. Estava se
divertindo às custas de sua vergonha, e ela também,
embora mais discretamente, com o jeito brincalhão
do menino.
Com os braços imobilizados e os gemidos
escandalosos de pano de fundo, Bianca reclamou
com um sorriso:
- Me solta, seu chato! Não quero assistir as
suas imundices!
- Se eu bem me lembro, você que escolheu
o filme, senhorita hipócrita.
- Mas eu não sabia que eles iam... Uau. -
Ela se interrompeu ao olhar de relance para a tela e
assistir o corpo molhado da mulher subir e descer
com rapidez no mastro duro de um homem de
corpo escultural. Calou-se imediatamente,
engolindo o excesso de saliva e torcendo para a
pausa não ser desconfortável. Pelo contrário, Theo
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estava adorando que ela estivesse finalmente


cedendo à sua curiosidade e observando os
movimentos de corpos delineados transando bonito.
Cansada de lutar contra os braços
obviamente mais fortes de Theo, Bianca se
permitiu deitar a cabeça no peitoral duro dele,
relaxando o corpo para enfim assistir ao que tinha
se proposto. Ainda ficava incomodada com
tamanha explicitude, e isso a fazia remexer no lugar
como se não achasse posição, mas precisava
admitir que era estranhamente gostoso assistir
aquilo. Libertador, até.
Theo largou seus braços, percebendo que
ela não ia mais fugir, e passou os próprios ao redor
da garota, abraçando-a. Por mais experiente que
pudesse ser em assuntos íntimos, assistir a um filme
pornô com uma garota era algo que ele não havia
riscado de sua lista ainda, e, por algum motivo,
queria explorar o momento o quanto fosse possível.
A respiração de Bianca se acelerava entre
uma posição e outra performada na tela, e ele
achava aquilo único e bizarramente fofo. Ele podia
ver os poucos pelinhos claros do braço dela se
eriçarem, e sorria com o pensamento de que ela
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estivesse de fato se entregando a ponto de ficar


excitada, ainda que minimamente. Aproximou a
boca do ouvido dela, jogando seu hálito quente por
ali.
- Você pode se tocar, se quiser. - Sussurrou
maroto, a fazendo entreabrir os lábios e olhar em
dúvida para ele por cima do ombro, os olhos muito
abertos. - Eu não vou me importar, e além do
mais... É o que as pessoas normalmente fazem ao
assistirem filmes assim. - Explicou com calma, e
ela se moveu mais uma vez, inquieta, aproximando-
se mais de Theo, que lhe acalmava. Não esperava,
no entanto, esbarrar em seu membro ereto.
- Você está...? - Esganiçou, sem ar.
- Shhh, calma... - Ele murmurou
calmamente, a apertando mais contra si em
conforto, a ereção alojada estrategicamente entre as
nádegas dela. - Você também está. - Disse com
simplicidade, levantando um pouco a saia dela e
encaminhando a mão pequena da mesma até sua
calcinha, cujo fundo encontrava-se molhado.
Bianca trancou a respiração em um breve soluço no
momento que seus dedos encostaram o tecido fino
da roupa íntima. Tinha tanta adrenalina correndo
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seu corpo que ela sentia como se pudesse apagar a


qualquer momento.
- Theo...? - Sussurrou, temerosa do que tudo
aquilo pudesse significar. Ele distribuiu um carinho
lento em sua cintura, lembrando-a de relaxar os
ombros.
- Anjo, pare de se privar, de racionalizar
cada sensação. Pornô é muito mais do que imagem,
é som, é toque, é clima, é deixar o corpo livre para
se arrepiar e esquentar. - Theo murmurou ainda ao
seu ouvido. - Você teve interesse de assistir...
Agora que tal vivenciar a experiência por
completo?
Bianca não tinha certeza se todas as aulas
tinham culminado naquele momento, se sua recém
adquirida confiança era a grande propulsora das
suas próximas ações, ou se era apenas Theo e sua
voz morna e gostosa mexendo com seus hormônios
em fúria, mas entre um e outro suspiro de prazer da
mulher na tela, ela jogou qualquer pudor para trás e
pressionou a própria bunda contra o colo excitado
do professor.
A reação foi imediata. Theo mergulhou o
rosto no pescoço quente da menina em uma lufada
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aliviada, e distribuiu beijos empolgados pela pele


alva na medida que a mão forte obrigava a delicada
dela a massagear o ponto mais alto de sua
intimidade pulsante ainda por sobre o tecido fino da
roupa íntima.
Soltando todo o ar preso dolorosamente nos
pulmões, a pequena resolveu finalmente relaxar,
girando o quadril de acordo com os espasmos de
prazer que sentia, e inevitavelmente massageando o
próprio mastro do rapaz por tabela. Não podia
negar mais a si mesma que queria as mãos de Theo
em si pelo máximo de tempo possível, por mais
distorcido que aquele sentimento pudesse ser. Ela
queria desesperadamente sentir de novo todos os
arrepios e choques que conheceu alguns dias antes,
e por mais que soubesse que Theo não era
necessariamente detentor de exclusividade na arte
de lhe prover aquilo, não queria que nenhum outro
o fizesse.
Nem mesmo Sam...
Não. Não podia pensar aquilo. Uma
experiência ruim com ele não poderia definir tudo o
que pensava do loiro. Assim como uma experiência
boa com Theo não podia direcionar todos os seus
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pensamentos para....
Ah, sim. Isso, professor, mais forte.
É, talvez pudesse.
Ele subiu uma das mãos por entre o decote
da blusa de Bianca para puxá-la para os lados e
revelar o contorno dos seios perfeitos. Envolveu
um com a mão, sentindo cada poro eriçado e a
maneira como parecia caber perfeitamente em sua
palma. O mamilo rosado ergueu-se quase que
imediatamente como se houvesse sido chamado, e
esfregou-se contra o tecido fino do sutiã sem bojo
em uma tentativa de liberdade.
Grunhindo e com água na boca, Theo
afastou o toque da mão da garota apenas um
segundo para puxar a calcinha de lado e expor sua
intimidade quente e pulsante a toques mais
precisos. Ia segurar a mão dela novamente para
guiá-la, naquela dança sensual que haviam
assumido, mas Bianca parecia ter outros planos.
Estrategicamente impedindo o entrelace breve de
dedos, ela deixou que Theo assumisse sozinho o
carinho enfático em sua feminilidade e arrastou o
braço para o espaço em que seus corpos se
chocavam. Acariciou o abdômen definido e as
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entradas perfeitas de sua barriga, até atingir o cós


da bermuda e então a imponente protuberância que
se espremia mais abaixo.
Envolveu-o com os dedos por cima do
tecido e sentiu o calor e a dureza daquilo que já
esteve um dia dentro de si. E mesmo sem
movimentar a mão, provocou em Theo um aliviado
suspiro de deleite, que a fez sentir-se novamente
poderosa e capaz de tudo, como na noite no motel.
Completamente alheios ao que a televisão
projetava, o casal trocou carícias e gemidos,
chegando ao ponto dele inserir dois dedos em sua
entrada, e de ela puxar seu membro para fora das
roupas.
Por mais divertida que a brincadeira
estivesse, Theo não aguentava mais um segundo
sem sentir o sabor de Bianca percorrendo sua
língua ou olhar em seus olhos translúcidos.
Por isso, largou tudo que estava fazendo e
puxou sua cintura por cima da perna, até deitá-la no
sofá macio e escalou seu corpo como um morto de
sede no deserto arrasta-se para um oásis.
Bianca o recebeu de braços - e pernas -
abertos, as mãos pequenas encaixando-se nos
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cabelos escuros da nuca do rapaz, levantou o


pescoço em sua direção e capturou os lábios nos
seus.
Era quase como se fizessem milênios, e,
ainda assim, não haviam esquecido o êxtase e a
voracidade que o encontro de bocas, línguas e
saliva trazia.
Enquanto se devoravam, as intimidades
nuas se procuravam, ficando entre um roçar
gostoso e um desejo de se aprofundar. Rapidamente
ele alcançou a carteira no bolso de trás do short, e
procurou às cegas o pacote quadrado que continha
o que o separava de seu paraíso particular.
Quis falar para ela colocar, mas não sabia se
estava em condições de explicar como fazê-lo.
Bianca, para sua sorte, compartilhava da mesma
vontade, e em um impulso tirou a camisinha de
suas mãos e rasgou o plástico com cuidado, para
não perfurar a borracha.
Tinham os olhos conectados e as
respirações igualmente arfantes, mas a pausa estava
longe de ser incômoda. Pelo contrário - só deixava
a adrenalina mais pulsante.
- Coloca na cabeça e espreme a pontinha. -
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Ele sussurrou contra os lábios molhados dela.


- A-assim? - Indagou após obedecer, as
mãos trêmulas tocando com suavidade a
masculinidade do professor que parecia a ponto de
explodir.
- Isso, anjo. Agora desenrola. - Ele soltava
o ar em lufadas quentes a cada novo centímetro
coberto, e teve vontade de pedir que ela tirasse e
colocasse de novo infinitas vezes até ele gozar.
Mas não o fez, e, uma vez pronto, pôde
finalmente posicionar-se para se enterrar no aperto,
calor e umidez que Bianca carregava entre as
pernas. A glande forçou o caminho estreito e estava
quase cedendo a passagem, quando ele se lembrou
de uma coisa.
- Bianca? - Procurou seus olhos, fortemente
fechados com a expectativa, e recebeu um sussurro
incerto em resposta. - Você quer isso, certo? Eu não
estou te forçando a...
- Ai, Theo, só cala a boca e faz amor
comigo logo, que eu não aguento mais! -
Esganiçou, desesperada, para o divertimento do
mais velho.
- Como quiser, vossa alteza. - Ele brincou e
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mordeu os lábios antes de penetrá-la com toda a sua


virilidade, como deveria ter feito antes e por todos
os dias de sua vida.
Os grunhidos idênticos não pararam a
movimentação, que logo se tornava sincronizada e
ideal para que ambos atingissem seus orgasmos o
mais depressa possível.
Theo entrelaçou seus dedos nos de Bianca
acima de sua cabeça, e usava o outro braço para
puxá-la pela cintura para mais perto de seu corpo
escorrendo prazer. Investia com necessidade e com
carinho, e, de alguma forma, o fazia
simultaneamente.
Soluço após soluço, Bianca apertou as
pernas em volta do quadril do moreno com força e
relaxou o corpo de uma vez em tremeliques
espontâneos que indicavam a intensidade de seu
orgasmo, e foi seguida de perto pelo garoto, que
tinha o abdômen contraído involuntariamente e
uma gota de suor manchando o rosto bonito.
Alguns minutos depois, desfazendo-se da
proteção usada com um nó, ele puxou a menina
para os seus braços, e, depositando-a na cama de
casal que habitava seu quarto, a abraçou apertado
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até que ambos estivessem no mais absoluto sono


profundo.

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- Bianca Caproni! - Sam gritou do fim do


corredor, vindo em sua direção como se nada no
caminho tivesse a capacidade de pará-lo. - Desde
quando você está namorando o queridinho da
galera? E porquê raios eu fui o último a saber? -
Continuava gritando, embora agora o fizesse a
centímetros do rosto impressionado da garota.
- Ah... É que... Bem, é. - Ela murmurou,
atordoada, sem saber ao certo que resposta ele
esperava receber.
- Você só pode estar de brincadeira com a
minha cara! – Grunhiu, frustrado, batendo as mãos
na parede. - Eu me recordo muito bem de você me
dizendo que vocês eram apenas amigos. Que
palhaçada é essa agora?
- Olha, não precisa se exaltar, Sam. –
Apaziguou, as mãos à frente do corpo. - Desculpa
por não ter te contado, eu só não achei que você se
importaria. - Rebateu, esperta, sem se deixar levar
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pelo jeito agressivo do menino. Já estava preparada


para uma reação incoerente como aquela, Theo a
havia preparado.
- Não me importaria? Eu sou ou não sou seu
melhor amigo? Você ao menos me considera parte
da sua vida ainda? - Espremeu os olhos, jogando
pelo emocional, mas Bianca estava longe de ser a
mesma menina ingênua que cairia neste tipo de
cena.
- Ah, não. Não venha colocar a culpa em
mim. Se alguém aqui se afastou quando começou a
namorar foi você, eu só segui os limites que você
impôs. - Deu de ombros, indiferente, embora o
coração ainda despontasse uma dorzinha chata por
lembrar o que havia passado.
- Biba! - Reclamou, ultrajado. - O que você
está dizendo? Ele já está te envenenando contra
mim? – Tinha as sobrancelhas muito unidas e as
mãos nos quadris, na defensiva.
- Sam, só para. Eu estou feliz, está bem? Se
você é meu amigo mesmo, deveria estar feliz por
mim também. - Ela disse, cansada de todo o tom
melodramático dado à conversa. Então, percebeu
que sua fala estava definitiva demais, e preocupou-
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se de não afastar o loiro mais do que já havia feito.


- Quer dizer... A não ser que tenha algum motivo
que te impeça de aceitar meu relacionamento. -
Jogou verde, simultaneamente dando abertura para
que ele revelasse um suposto sentimento que nutria
por ela, e deixando claro que não haviam reais
motivos para ele se opor ao seu namoro.
- Não, não... - Murmurou, contrariado. - Eu
só não acho ele a melhor pessoa para você. Por que,
convenhamos, vocês não têm nada em comum, e
até algumas semanas atrás ele sequer sabia quem
você era. - "Bem, você sabia, e isso não te fez me
dar mais carinho e atenção, não é mesmo?", ela
pensou.
- Temos mais em comum do que você
imagina. Olha, não quero ficar discutindo os
pormenores disso. Só... Aceite que dói menos. -
Disparou acenando graciosamente e saindo
rebolando levemente após depositar um suave beijo
cálido na bochecha do amigo em direção ao outro
extremo do corredor, deixando-o incrédulo e sem
saber que trem o atropelou.

Entrou no carro como um furacão e


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debruçou-se sobre o garoto até ter a boca dele na


sua.
Não havia qualquer explicação racional que
justificasse as atitudes de Bianca para cima do
professor, mas ela se sentia poderosa e amaciada
como nunca, e queria agradecê-lo por aquilo de
alguma maneira.
Talvez aquilo tivesse algo a ver com as
reclamações injuriadas de um certo melhor amigo
sobre um relacionamento de mentirinha que parecia
dia após dia mais real. Talvez seguisse a linha do
carinho sem precedentes trocado entre eles a todo
momento, e da luxúria fervorosa que batia às portas
quando estavam juntos. Ou talvez ela só quisesse
beijá-lo até o entardecer e nenhum outro motivo
precisasse se apresentar por trás. Theo não hesitava
em responder à altura, também não lhe importando
as motivações da menina.
E assim os minutos se passaram, ele
segurando seu rosto delicado nas mãos grandes
enquanto os cabelos de Bianca faziam um carinho
engraçado no antebraço descoberto do garoto. Só se
separaram quando o ar acabou, os lábios estavam
dormentes e sorrisos bobos acompanhados de
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olhares ternos eram trocados.


Bianca sentou direito em seu lugar,
colocaram os cintos e foram para o QG.

- O que a gente vai almoçar hoje, Theo? -


Perguntou, enfiando a cabeça dentro da geladeira
enquanto o outro ainda se ocupava de esvaziar os
bolsos da calça na bancada.
- Vou te dar alguns minutos para perceber
sozinha que está me escravizando pela barriga. -
Ele comentou, distraído, a fazendo dar risada.
- A culpa não é minha se você é todo
prendado quando eu queimo até água. - Rebateu,
como quem não quer nada, entortando o pé de
forma inocente.
- É, peste, mas hoje você quem vai cozinhar
pra mim. - Theo apertou seu nariz, passando pela
garota para alcançar um avental listrado de verde e
branco, o qual ele logo passou pelo pescoço dela,
amarrando nas costas e finalizando com um tapinha
singelo na bunda.
- Você não estava aqui há um segundo
atrás? Eu não sei cozinhar, Theo. – Explicou com
obviedade.
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- E eu não sei Física, mas aprendi mesmo


assim. Anda, pode pegar o pote de tampa azul, a
abobrinha, e o tomate na geladeira, e vamos
começar. - Ele começou a ditar, assistindo-a agir
conforme sua fala, embora ainda sem entender
muita coisa.
- O que nós vamos fazer? - Perguntou,
equilibrando os ingredientes nos braços finos,
exigindo um pequeno malabarismo que já era
complicado demais sem levar em conta sua
afinidade com o desastre.
- Começamos com uma omelete
incrementada e eu vou te dar lição de casa. Quero
ver chegar o dia em que eu vou ficar sentadinho ali
na bancada, como você sempre faz, só observando
você balançar essa bunda de um lado pro outro na
minha cozinha. - Ele sorriu descarado, ajudando-a a
colocar tudo na pia e aproveitando para pegar uma
grande frigideira e uma espátula de plástico que
não esquentaria as mãos da menor.
- Mas é um folgado... - Ela reclamou de
brincadeira, fazendo-se de emburrada.
- Folgado? Menina, olha como fala
comigo... - Apertou sua barriga, fazendo cócegas.
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- Tudo bem, então! - Ela deu de ombros, se


esquivando depois da risada espontânea. - Você vai
ver, vou te conquistar pelo estômago. Depois não
reclame! - Avisou, as sobrancelhas erguidas e os
lábios repuxados, como se dissesse "é inevitável".
- Estômago... - Theo murmurou com
deboche. - Como se eu já não estivesse fisgado por
todo o resto...
O comentário foi impensado e tão baixo que
quase não se podia ouvi-lo. Mas isso não mudou o
peso que as palavras causaram no ambiente. O
garoto franziu o rosto, como se tivesse ouvido outra
pessoa falando e estranhasse a junção de sílabas,
que lhe pareciam chinês. Bianca olhou
imediatamente para ele, que não correspondeu o
olhar, com a boca entreaberta no meio do caminho
entre completamente impressionada e risonha, em
duas versões de si mesma que poderiam interpretar
aquilo como uma gracinha, uma piada carinhosa,
ou a mais absoluta demonstração de afeto que já
havia ouvido na vida.
Motivada pela força da gravidade, a
espátula, antes apoiada precariamente na caixa de
ovos, cedeu e caiu ao fundo da pia. O barulho
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forçou uma reação do casal, que saiu do transe


momentâneo, e ali um pacto foi feito
silenciosamente de não tocar mais no assunto. Pelo
menos, não naquele dia.

Bateu as mãos e as esfregou ansioso pela


aula que daria a seguir. Theo tinha pego gosto pela
coisa, não só pela aluna exemplar que tinha, mas
por que se divertia em pensar meticulosamente
cada ensinamento e pesar cada parâmetro de
relacionamentos diversos que pudessem elevar a
qualidade de suas falas e atividades propostas.
Havia ensinado Bianca a cozinhar já como
uma preview daquela sexta aula, e tinha se animado
bastante depois de toda a movimentação envolvida
em um simples auxílio que prestou a ela na hora de
virar a bendita omelete. Bianca temia estraçalhar a
massa de ovos sozinha, e ele precisou se aproximar
por trás dela para ajudar com o manuseio da
espátula. O mero encostar de seus corpos, próximos
ao calor do fogão e tão sincronizados para poder
executar corretamente a virada, já o havia
preparado para mais uma sessão de flerte e
excitação, que era consequência óbvia e natural à o
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que aquela aula em específico tinha guardado.


Estavam sentados à beira da piscina no que
parecia ser um dia quente demais para se enfurnar
na casa de madeira, e Whisky encolhia-se em uma
sombra minúscula perto da palmeira, os observando
por entre os montes de pelo e olhos castanhos em
fendas, desejando finalmente se fechar.
- Sexta aula, huh? - Ela começou. - E eu já
tive mais tarefa e dificuldade nesse “curso” do que
em um ano de matemática. – Observou, sinalizando
as aspas com os dedos.
- Algumas matérias são mais difíceis pra
uns, mais fáceis para outros... - Outch! - Theo
reclamou quando ela lhe deu um tapa solto no
braço enquanto ria.
- Pode parar de me zuar, engraçadinho. -
Avisou, o dedo em riste. - Eu ainda vou ser pós-
graduada nesse assunto. - Empinou a cabeça,
fazendo a metida.
- Não duvido. - Theo levantou as mãos em
rendição, ainda carregando um sorriso mole no
rosto bonito.
- Sei. - Espremeu os olhos, deixando claro
que o jeito engraçadinho do professor não a
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enganava. - E sobre o que é a aula hoje? -


Perguntou, não mais enrolando no assunto. Ele logo
endireitou a postura e molhou os lábios, preparado
para começar o monólogo explicativo.
- Bom... As pessoas se traem o tempo
inteiro. Seja com o desconhecido na rua com quem
você tem um pensamento caliente mais tarde, seja
naquele suspiro de cobiça vendo um casal de dar
inveja passar perto de você, seja em um sonho
incontrolável, ou mesmo fisicamente com outra
pessoa. - Introduziu, exemplificando ao máximo,
pois queria deixar claro que seu foco não era a
simples infidelidade. - A aula de hoje é sobre como
manter um cara contigo. Eu vou te ensinar como
ser o centro dos pensamentos desse cara, como
você pode se inserir em todos os âmbitos da vida
dele de forma que seja impensável para ele olhar
para o lado ou querer se livrar de você. Vamos
tornar sua companhia tão absolutamente necessária
e deliciosa que sua falta será sentida a todo
momento, de forma que qualquer vontade que surja
na cabeça do sujeito orbite em torno de estar perto
de você novamente.
- Uau! - Assobiou, impressionada. - Não
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sabia que isso era possível ou sequer "ensinável".


Você tem mesmo talento pra coisa, devia ser essas
tias donas de site de relacionamento em uma vida
passada. - Comentou, achando graça.
- É? E o que eu tô fazendo, juntando minha
cliente Bianca com seu par perfeito, Sam? Porque
eu vejo várias falhas nesse sistema, a começar pelo
critério de união dos casais. O capeta e o anjo,
juntos? As variáveis estão todas alteradas com
certeza! - Arregalou os olhos, como se fosse um
problema grave. Bianca deu uma risada contida,
puxando a barra da camiseta dele em um aviso
mudo de que queria desfocar do assunto.
- Tá, Querubim, e como eu consigo um A+
nesse módulo?
- Não é óbvio? - Perguntou, se fazendo de
sonso. Estava especialmente cômico naquela tarde.
- Como se consegue tudo nessa vida: Dormindo
com o superior! - Levantou os braços, enfatizando
seu ponto. Bianca engasgou em um riso contínuo
que fez seus músculos da barriga doerem pedindo
descanso. - No caso, eu. Se não tiver ficado claro. -
Piscou, malandro, e ela balançou a cabeça como se
não acreditasse em sua audácia. - Ok, agora falando
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sério. Para conseguir tudo isso, você precisa se


tornar um desafio constante. Ser provocativa,
indisponível, misteriosa, mandar alguns sexts...
- Como assim?
- Responder a pessoa na hora, atender o
telefone no primeiro toque, disponibilizar muito
tempo para estar com ela, como se não tivesse
outros compromissos, são gentilezas das quais
muitos abrem mão para passar a mensagem de "eu
não preciso de você, então, se quiser, corra atrás de
mim". Não ser grudenta e parecer disputada são
dois adjetivos que movem montanhas no que diz
respeito ao interesse do sexo oposto.
- Eu preciso não tornar a pessoa minha
prioridade, é isso?
- Exatamente. O mesmo se aplica quando
for dar informações sobre você. É melhor deixá-lo
sempre que possível no escuro, tentando descobrir
mais, tentando te desvendar, te entender, do que
simplesmente dar tudo de mão beijada, fácil
demais. Como eu disse, precisa ser um desafio,
inconstante, volátil, até. Mas é tudo uma questão de
feeling. Não é para ser sempre indisponível.
Funciona mais ou menos como pescaria: Você dá
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corda quando precisa, e puxa o anzol quando sente


que é a hora. Então, você dá uma leve esnobada no
alvo, e quando sentir que ele está a dois passos de
reclamar ou desistir, mostra-se completamente na
dele, embora por um curto período de tempo. Isso
vai mostrá-lo que precisa se dedicar para te ter ao
seu lado, entende?
- Acho que sim. Mas, seguindo essa lógica,
eu não estou sendo muito grudenta com você?
- Linda, nós somos diferentes. Não existe
nada de convencional que se aplique ao nosso
relacionamento, e você não deve se preocupar com
ele. - A menina preferiu não demonstrar, mas a
palavra "relacionamento" saindo da boca de Theo
para se referir ao que tinham, a fazia sentir-se
muito, muito bem. Por mais que não houvesse tanto
significado por trás da mesma no dicionário...
Ainda significava que eles tinham alguma coisa.
Paralelamente, Theo se alegrava com a noção de
que ela se preocupava em perdê-lo, e que estava
direcionando seus ensinamentos não apenas para o
abstrato ou para o loiro aguado, mas para a
dinâmica entre eles dois também.
- Tudo bem, então. E o que é essa última
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palavra que você mencionou? Sexts...?


- São mensagens com teor sensual ou
sexual. É um curto conjunto de frases que deixam
algo no ar ou provocam sensações em quem
receber, normalmente rondando quatro bases: o que
você quer fazer com a pessoa, o que quer que ela
faça com você, o que vai fazer consigo mesma, e o
que quer que ela faça consigo mesma. São
normalmente ações, que brincam com o inesperado,
e que podem ser exploradas muito bem pelo ar
inocente que você passa.
- Acho que eu não tô conseguindo entender
muito bem, Theo.
- Vou te dar um exemplo, mas antes você
vai ler um artigo muito bom a respeito no
acessorestrito.com sobre sexting para entender
melhor, pode ser?
- Mais lição de casa? – Ergueu as
sobrancelhas, tentando conter o sorrido arteiro pela
provocação.
- Não finja que não adora praticar o que eu
mando em casa. É o ponto alto do seu dia que eu
sei! - Ele provocou segurando o rosto de Bianca
pelo queixo e balançando um pouco.
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- Tá, tá. Convencido. - Ralhou fugindo o


aperto dele. - É pra eu pegar meu celular?
- Não, menina. Já disse que sexting trabalha
com o inesperado. Vou te mandar alguns só quando
não estiver esperando.
- Mas agora que me avisou eu vou estar
esperando. – Comentou com obviedade.
- Bianca! Para de pirraça, garota. - Ele riu
com a teimosia da menor e ela repuxou os lábios
como se confirmasse que não tinha solução. - Tudo
bem, voltando à aula então. Outra coisa que é
importante é você se tornar o escape do cara. Então
quando ele está estressado, teve um dia intenso e
quer espairecer, você ser o refúgio para onde ele
corre. Isso o manterá do seu lado por mais tempo,
te fará essencial. É um paradoxo: Ao mesmo tempo
que você precisa ser a fonte de loucura dele, a
pessoa que o tirará o sono, que o desafiará, deverá
ser o apoio onde ele se estabiliza, a droga da qual é
dependente.
- Entendi, mas como eu ajudo ele a
desestressar?
- Você escuta seus problemas e arranja uma
forma de amenizá-los. Às vezes é legal fazer o
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prato favorito, uma piada, uma massagem. Coisas


simples que podem fazer toda a diferença.
- Eu não sei fazer massagem, Theo. Sou
horrível nisso!
- Bom, então eu vou ter que te ensinar, não
é mesmo? - Piscou, cheio de más intenções.

Deitada de bruços sobre grandes almofadas


no chão da sala de móveis afastados, Bianca
esperava o professor voltar do quarto, onde tinha
ido buscar algum óleo com essência relaxante
comprado especificamente para massagem.
Pensava em sobre como não podia reclamar da
vida. Tudo bem, o cara por quem era apaixonada
não lhe retribuía, mas ela estava prestes a receber
uma massagem profissional do cara mais gostoso
do colégio e uma coisa tinha que anular a outra...
Certo?
- Não, senhora. Pode ir tirando a roupa, se
ela chegar em casa toda lambuzada de creme a sua
mãe vai ter uma síncope e já estamos fartos dos
surtos dela por um bom tempo. - Theo disse,
ranzinza, ao observar a garota com apenas a blusa
erguida até as omoplatas. Aquilo não bastaria, e
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além do mais ele queria performar uma massagem


de corpo inteiro. - Aqui, se cubra com essa toalha e
volte a deitar de bruços. Eu vou escolher uma
música para tocar enquanto isso.
Theo foi até a estante e fuçou entre as
centenas de vinis que colecionava, tentando achar
algum que contribuísse pro clima relaxante que
estava tentando criar, enquanto Bianca despia-se
timidamente. Ela confiava que ele não fosse olhar,
mas não sabia se isso era gratificante ou
decepcionante.
- Como eu coloco a toalha pra ela não
atrapalhar também? - Perguntou, sem saber se
amarrava no busto ou nos quadris.
- Você deita primeiro e coloca a toalha por
cima, como um cobertor. Eu dobro ela até estar fora
do caminho. - Ele ditou, a cabeça levemente de
lado para que a voz se sobressaísse por cima do
ombro. Bianca concordou e ia fazer o que foi
instruída, e ele ia voltar a cruel escolha musical,
não fosse os seus olhos se encontrando pelo reflexo
da televisão.
Não durou mais que alguns segundos,
enquanto ela o olhava com os lábios entreabertos
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em expectativa e apreensão, e ele se punia


mentalmente por passear a visão pelo corpo esbelto
e exposto da menor. Logo, voltavam às suas
atividades como se nada tivesse acontecido, já
acostumados demais com os momentos íntimos
avassaladores para se manifestar com qualquer
objeção.
- Pronta? - Indagou ao ouvir o som da
garota se acomodando nas imensas almofadas. A
música já tomava o ambiente de forma
tranquilizadora e eletrizante ao mesmo tempo.
- Acho que sim. - Bianca respondeu, e logo
Theo estava ao seu lado, observando as costas
parcialmente nuas, que tinham apenas uma toalha
branca e felpuda cobrindo do meio até a parte de
trás dos joelhos.
Com as pontas dos dedos, Theo segurou a
borda da toalha e dobrou uma e outra vez, até que
esta não fosse mais do que uma curta faixa branca
escondendo a bunda da garota. Era tanta pele à
disposição agora, que lhe parecia difícil concentrar-
se nos movimentos que devia fazer nos músculos
tensos da menina.
Jogou uma boa porção de óleo pelo
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cumprimento da coluna, e o espalhou com os dedos


pelos ombros e pela lombar, pressionando devagar
e gentilmente um ou outro ponto. Passou a
desenhar o contorno da cintura e circular cada
vértebra de forma a obrigar o corpo pequeno a se
soltar e receber o carinho propriamente. Bianca,
que tinha a cabeça de lado apoiada nos braços e o
cabelo preso para não cair no creme, fechou os
olhos para sentir tudo melhor.
Apertou e empurrou os ombros dela até
senti-los mais largados macios, segurou o nervo do
pescoço com o mesmo propósito, e passeou as
mãos quentes e suaves por toda a extensão das
costas da garota por tanto tempo quanto o
necessário para ver os poros dela todos arrepiados.
Então, deu-se por vencido e resolveu descer
a massagem para as pernas dela.
Mais uma boa quantia de óleo foi espalhada
por ali, entre cócegas na sola do pé e apertões de
palma inteira na batata da perna e coxa inferior.
Theo, que sempre achou relativamente chato fazer
massagem nos outros, se divertia com as reações da
pequena e com a possibilidade de ter seu corpo
sedoso nas mãos sem restrições.
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Chegou à altura do ciático, entre o topo das


coxas e a parte superior do quadril, e o percebeu
muito tensionado, provavelmente pela força que ela
estava fazendo ultimamente para manter a postura
correta que ele havia lhe ensinado. Quis seguir o
caminho do nervo com os polegares, afim de
relaxá-lo, e aquilo exigia percorrer a região coberta
pela toalha. Sem pensar duas vezes, a retirou da
frente para fazer o trabalho direito.
Bianca sobressaltou-se brevemente,
sentindo a bunda exposta demais, mas logo os
dedos quentes e gostosos de Theo estavam ali,
massageando cada centímetro da carne dolorida,
soando tão bons que parecia impossível fazer algo a
respeito da recuperação da toalha perdida. Ela,
portanto, relaxou para sentir melhor cada segundo
daquela aula maravilhosa.
Uma vez tendo amaciado o ciático abusado,
as mãos de Theo pareceram criar vida própria e
passear pela região desimpedidas, segurando
porções generosas da bunda da garota, e afastando
as nádegas uma da outra, permitindo um olhar mais
cuidadoso sobre sua feminilidade lisa e rosada. O
professor sentiu seu próprio sexo se manifestar com
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a imagem, pressionando os tecidos da calça de


moletom como se também quisesse massageá-la
com a cabeça. Ele puxou as costuras para frente
discretamente, tentando dar mais espaço ao amigo,
que só reclamou mais da atenção insuficiente que
estava ganhando.
Colocou as mãos no interior das coxas
fartas de Bianca e em movimentos repetitivos
massageou a área, cada vez mais afastando uma
perna da outra sem querer e dando mais
visibilidade para o que havia ali no meio. A
provocação, sem intenção, proporcionou longas
ondas de prazer para a menina, que, sem se privar,
emitiu um gemidinho suplicante em direção ao
braço dobrado que agora escondia sua cabeça.
Theo lambeu os lábios, tentado, e já ia dar a
massagem como encerrada quando observou um
brilho característico de umidez reluzir da
intimidade da menor, e a percepção de sua
correspondente excitação bastou para que enfiasse
a mão ali sem rodeios.
Encaixou o indicador e o mindinho no
cumprimento da virilha dela, o pulso apoiado na
bunda, e a penetrou com os dedos do meio e anelar.
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Bianca arqueou as costas, sem ar, e se apoiou nos


antebraços para recuperar-se.
O movimento de vai-e-vem teve início, no
qual Theo só se preocupava em aumentar a
velocidade e em passear a outra mão por todos os
lugares que lhe dava vontade, desde os cabelos
macios de Bianca, seu seio agora acessível, a
nádega contraída de prazer ou mesmo o próprio
membro, cada vez mais ansioso por sair das roupas
que lhe escondiam.
Os dedos entravam fortes e saíam
embebidos no seu líquido, lubrificados e quentes, e
tão logo estavam na superfície, já emergiam dentro
dela novamente, em pancadas constantes que
arrancavam suspiros e soluços irrefreáveis de
Bianca.
Inundada de prazer, a menina se jogou
novamente nas almofadas, dessa vez esticando o
braço para trás até segurar o cós elástico da calça
de Theo. Puxou para baixo com os dedos fracos, e
acariciou o mastro ereto por cima da boxer, em
retribuição ao que estava sentindo.
Em um rugido, ele afastou sua mão e cessou
os movimentos que fazia, ajeitando seu quadril
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mais alto, forçando ela a se apoiar nos joelhos.


Então, revirou a carteira sobre a mesa atrás de um
preservativo, e subiu ele próprio nas almofadas.
Uma vez protegido e com as calças arriadas de vez,
Theo inspirou fundo, segurou uma nádega em cada
mão e se enterrou no calor e umidade que a menina
trazia entre as pernas.
Não houveram perguntas dessa vez, uma
vez que os gemidos e arranhões à capa das
almofadas já lhe diziam tudo que precisava saber.
Bianca queria tanto quanto ele, mesmo em
uma posição tão safada quanto aquela por trás, e o
mergulho no mundo de prazer parecia inevitável.
Transaram fundo e gostoso, até o fôlego
lhes faltar e o orgasmo bater à porta. E dormiram
ofegantes embolados entre almofadas, toalhas e
muito óleo corporal, ao som calmo de algum álbum
antigo do Oasis.

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Theo sentia que ia morrer.


Era praticamente incontestável para ele que,
se tédio matasse, ele estaria com os minutos
contados a caminho de algum espaço celestial
alternativo. Alternativo, pois era necessário ter
acesso aos prazeres da carne e à Bianca, que era um
anjo, portanto céu e inferno juntos. Isso se ele
acreditasse em toda essa história.
Mas a morte iminente não era questão de
credo. Ele quase podia ver a luz.
Afinal, não existia nada no mundo mais
chato do que aquelas palestras que o diretor
inventava de dar para todos os alunos do colegial
de vez em quando.
De "saúde sexual" a filmes sobre o Steve
Jobs, o tema das palestras variava absurdamente,
sempre motivadas por algum artigo besta que
alguém da coordenação havia lido sobre pedagogia.
Era tão bizarramente inútil, que metade dos
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alunos considerava cortar os pulsos, enquanto a


outra metade fingia doenças terminais para pelo
menos matar algum tempo na enfermaria.
Theo quase acreditava que nenhum
fingimento seria necessário, se continuasse ouvindo
a voz estridente da senhora Maple discorrer sobre
as diferentes variações e significados da palavra
"bem-sucedido".
Percorreu os olhos pelas incontáveis fileiras
de cadeiras do auditório, procurando achar uma em
especial.
Bianca parecia tão alheia ao assunto tratado
quanto ele próprio, sentada com sua sala do
segundo ano conforme ordenado, enquanto
brincava com os lábios, esboçando caretas e
biquinhos que, como tudo nela, só a deixavam mais
adorável.
Theo se pegou sorrindo sem querer, só de
observá-la, e uma ideia cruzou seu pensamento.
Discretamente, pegou o celular do bolso da calça e
diminuiu o brilho da tela até que a luz dele aceso
passasse desapercebida. Então, achou Bianca no
Whastapp, com sua foto de perfil espontânea e
sorridente tirada por ele próprio, e resolveu brincar
com o juízo da menina.
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"Se continuar mexendo os lábios assim, não


terá nada que me impeça de ir até aí tomar eles pra
mim.", mandou, observando quando o celular dela
tremeu em seu colo, onde estava, e sua face
ruborizada quando leu a mensagem.
"Na verdade, pensando melhor, acho que só
te pegar na frente de todas essas pessoas não é
suficiente. Vou precisar te arrastar pra um canto e
arrancar suas roupas uma por uma.", enviou em
seguida, ainda de olho na menor, que pareceu
segurar o ar.
"Você tá falando sério?", ela respondeu, e
ele teve que conter uma risada pela inocência da
garota.
"Tão sério quanto a noite passada. Ainda
sinto seu cheio no meu corpo. Você pensou em
mim antes de dormir?". Bianca se revirou na
cadeira, parecendo inquieta, e mordeu o lábio
inferior que parecia teimar em ficar escancarado.
"Como se eu tivesse a opção de não
pensar.", Bianca respondeu, e ele quase se levantou
para ir abraçá-la.
"É? E o que você fez quando pensou em
mim?", provocou, maroto.
"O que eu sempre faço. Minhas mãos
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parecem criar vida própria e escorregam cada vez


mais para baixo...". A garota não podia estar mais
vermelha nem se quisesse. Theo sabia que falar
sacanagem não era a coisa mais fácil do mundo pra
ela, mas a julgar pelas reações que estava causando
nele, parecia estar se saindo muito bem.
"Minha menina safada se tocou pensando
no professor? Já perdi a conta de quantas vezes o
contrário aconteceu.". Bianca engoliu em seco e
olhou em volta antes de responder.
"Theo, para. Não vou conseguir prestar
atenção na palestra desse jeito."
"Por que, anjo? Vai estar muito ocupada
pensando no pau do seu professor dentro de você?"
"Para, por favor. Eu já to ficando
molhada.". O gosto de vitória se espalhou pela boca
do mais velho, que teve que fincar os pés no chão
para não levantar e ir atrás dela naquele mesmo
instante.
"Ótimo, porque eu já to duro feito aço pela
sua bocetinha. Quando a gente sair daqui você não
me escapa."
"O que você vai fazer comigo?". Ah,
Bianca, o que eu não vou fazer com você?, ele se
perguntou, a visão borrada de possibilidades.
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"Vou enfiar a mão no meio das tuas pernas


e esfregar até te ouvir gritar. Você vai ficar tão
encharcada que ela vai sair pingando. E aí, sabe o
que eu vou fazer?"
"... O que?"
"Te comer como se não houvesse amanhã.
Até você ficar marcada e eu não conseguir mais
andar."
"Theo, eu não to conseguindo respirar."
"Bem-vinda ao sexting, linda."

- Theo Versolati! Aquilo não se faz! -


Ralhou, com sua estatura mínima e as mãos em
punhos na cintura, mostrando o quão brava ela
estava.
- Desculpa, anjo... Mas eu não me
arrependo nem por um segundo de ter te deixado
excitada e envergonhada na frente de todo mundo. -
Ele disse, displicente, rindo da cara da menor.
- Você é impossível! - Ela rosnou
desafinado, pressionando os lábios. Tinha vontade
de dar risada da situação como um todo, e só não o
fazia para não perder a pose.
- Tá, tá, tá. - Theo fez pouco caso, passando
os braços em volta dela e a conduzindo para o
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carro. A palestra havia acabado finalmente e eles


tinham aquela tarde livre para terminar os trabalhos
finais, cujos deadlines de entrega se aproximavam.
- Você quer que eu te deixe na casa da menina lá
pra fazer o trabalho de literatura?
- A menina lá tem nome, espertinho. -
Cerrou os olhos, teimosa. - E sim.
- Ai, senhorita correta, a menina lá nunca
olhou na sua cara nem falou comigo antes de ser
designada para esse trabalho com você, então eu
não tenho a obrigação de decorar o nome da sujeita.
- Eu só não vou dizer que você é impossível
de novo, porque já gastei minha cota de reclamação
do dia.
- Ainda bem que você sabe. - Exclamou,
rindo, enquanto Bianca revirava os olhos com o
jeito moleque do professor. - E que horas eu te
busco?
- Eu tô me sentindo com chofer particular. -
Comentou, apenas para provocar a carranca óbvia
na face do menino. - A gente se fala, Jarbas.

Depois de deixar Bianca na casa da colega


que, mesmo se esforçando, ele não conseguia
lembrar o nome, Theo foi para a sua própria, matar
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o resto do tempo. Por estar no terceiro colegial, os


professores aliviavam bem a cota de trabalhos e
lições de casa para que os alunos tivessem tempo
para estudar para o vestibular.
Vestibular esse pro qual ele tinha que se
inscrever logo, se ao menos conseguisse decidir
quais prestar.
Abriu o notebook e olhou a url em branco
do navegador esperando que uma intervenção
divina lhe dissesse em qual site entrar primeiro.
Sabia que precisava se inscrever para a faculdade
que a mãe e o padrasto tanto queriam. E agora a
ideia não lhe parecia mais tão odiável depois de
saber das mil possibilidades que teria de fazer a
diferença mesmo ali, mostradas a ele por Bianca e
seus infinitos panfletos. Direito, no fim das contas,
não precisava ser um curso direcionado a absolver
bandidos. Se ele manejasse direito suas escolhas,
poderia usar sua cota pró-bono e fazer serviços
gratuitos a todo tipo de gente injustiçada por
grandes empresas ou pelo próprio governo.
Mas ainda havia uma pequena faísca de
esperança em seu ser que lhe dizia que a faculdade
dos sonhos de psicologia não precisava ser deixada
de lado.
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Abriu o site da grande universidade e


preencheu os dados conforme o pedido. Na hora de
escolha do curso, descobriu que poderia colocar
duas opções. As instruções lhe davam como
exemplo colocar o mesmo curso em períodos
diferentes, medicina diurno e medicina vespertino,
no caso. Mas ele tinha outros planos. Selecionou
Direito Diurno na primeira caixa, e reservou a
segunda para Psicologia Noturno. Se não passasse
no primeiro curso, lidaria com isso depois.
Então, procurou se inscrever em outros dois
vestibulares, em uma faculdade cara que permitia
dupla graduação, e em outra pública com horários
de curso reduzidos, que lhe permitissem fazer
voluntariado junto, no mínimo.
Satisfeito com suas decisões, imprimiu
todos os três boletos e atravessou o jardim para a
casa grande, em busca da progenitora ou seu
marido.
Os encontrou no escritório, trabalhando,
como sempre, em cima de pilhas e mais pilhas de
extratos financeiros e cada um em um telefone
diferente rosnando ordens pouco educadas para
quem quer que estivesse do outro lado da linha.
Quando o viram parado no batente, desligaram sem
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mais do que um "já te retorno", e esperaram o filho


falar o que o havia trazido até ali.
- Eu tô com os boletos dos vestibulares pra
vocês pagarem. Me inscrevi em três, e acho que
vocês vão aprovar as instituições, são todas
renomadas. - O padrasto pegou os papéis das mãos
do enteado, e abriu um sorriso ao identificar o
curso de direito em todos eles.
- Finalmente você nos escutou, filho. Você
dará um excelente advogado, e terá uma gama de
oportunidades ímpar para seguir carreira com os
contatos que temos.
- É, eu acabei indo no curso que vocês
queriam... Mas não quero nenhuma ajuda. Quero
que prometam me deixar fazer isso do meu jeito.
Eu já cedi demais... Já abri mão dos meus sonhos
para perseguir o que vocês acham ser melhor para
mim. Agora eu quero ter o direito de conquistar
meu caminho sozinho, sem empurrões.
- Mas, Theo...
- Sem mais. Eu sei que vocês querem o
melhor pra mim. Tá? Eu entendo isso. Mas eu
também quero ser feliz, e não vou conseguir sê-lo
se tiver tirando bandidos da cadeia e defendendo
corruptos no cartório. E sei que se for pelos
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contatos de vocês, é isso que eu vou acabar


fazendo. - O padrasto já estava levantado, pronto
para argumentar e reclamar, fazer o enteado ouvir
até que deixasse a sala fazendo exatamente o que
ele queria, mas a senhora Versolati tinha outros
planos. Escutou o discurso do filho como um
espelho da revolta que tinha ouvido da boca de
Bianca há semanas, e a consciência pesou seu
instinto materno. Não podia obrigar o menino a ser
como ela, não podia fazê-lo abrir mão do coração
enorme com o qual nasceu, mesmo que ela própria
tivesse princípios tão diferentes. Querendo ou não,
ele havia sido criado pelo avô, e tinha ambições
que ela não compreendia. Via em todos os seus atos
- morar sozinho na casa dos fundos, quase nunca
falar com ela ou com o padrasto, as notas baixas e a
insatisfação pesando os ombros fortes - um grito de
ajuda por se sentir enclausurado na própria vida,
sem poder fazer suas próprias escolhas. Já tinha
estragado um casamento... Não podia estragar o
filho também.
Por mais que odiasse admitir, o discurso
apaixonado da amiga do filho tinha ecoado em sua
cabeça por noites a fio. Era a hora de mostrar que
estava do lado dele, que o apoiaria. Estava mais do
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que na hora de ser sua mãe.


- Tudo bem, Theo. Como você quiser. - Ela
se adiantou, falando por cima das interjeições do
marido. - Se você precisar de ajuda, vai falar com a
gente, certo? - Theo parecia confuso e ser norte
pelo apoio inesperado da mãe. Estava preparado
para argumentar mais um bom tanto de horas, mas
precisou se contentar com um gaguejar positivo, e
se retirou do escritório ainda sem saber o que
infernos tinha acontecido.
"Acho que a minha mãe está com alguma
doença terminal. Ela acabou de concordar com algo
que eu falei sobre o meu futuro.", mandou para
Bianca, voltando para a casa de madeira. Whisky
dormia encostado no sofá e só se deu ao trabalho de
levantar a cabeça, antes do dono se jogar na
poltrona a sua diagonal.
"Ela mudou de ideia então? Fico feliz. Ela
não tinha reagido bem da vez que conversamos.", a
resposta veio quase imediata, e desencadeou uma
série de dúvidas na cabeça do mais velho.
"Que vez? Por que eu não estou sabendo
disso?". Bianca se deu um tapa na testa ao lembrar
que não havia contado ao professor do encontro
explosivo que teve com a mãe dele. Estava tão
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acostumada a ele saber todos os detalhes do seu


dia-a-dia que a informação acabou escapando nas
mensagens.
"Ah... Uma vez que eu fui aí estudar com
você, acabei encontrando com ela. Não foi nada de
mais.". O texto gritava aos dois que havia sido algo
"de mais" sim. E Theo só pode se sentir agraciado
de saber que ela provavelmente tinha o defendido
para a mãe, e que, consequentemente, em algum
nível, era a responsável pela mudança positiva nas
atitudes da progenitora.
Sentiu a necessidade de retribuir
imediatamente a gentileza, e já sabia exatamente
como fazê-lo. Mandou mais uma mensagem para
Bianca perguntando, como quem não quer nada,
onde o pai dela estava morando atualmente. Muito
distraída com o trabalho que fazia e que estava em
fase de finalização, ela o respondeu sem fazer
maiores questionamentos, e Theo pegou o carro
rumo ao endereço obtido.

Com o óculos escuros no rosto e escondido


dentro do carro de insufilme, Theo estacionou a
alguns metros da bonita casa com portões de ferro e
ficou observando, de tocaia, o movimento. Havia
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um carro tipicamente feminino estacionado na


garagem, e ele conseguiu escutar vozes, embora
sem distinguir precisamente o que era dito ou
quantas eram.
Não foi até 50 minutos depois que
conseguiu observar, pela janela ao lado da porta
dupla, uma garota alguns anos mais velha que ele
dando comida a um simpático menininho que não
podia ter mais de três anos. Por um momento,
achou estar na casa errada. O pai de Bianca não
podia ter uma filha mais velha que ela, mesmo que
tivesse se casado novamente, a não ser que tenha
traído a mãe dela desde muito antes. Também não
poderia estar casado com alguém tão novo. Se uma
dessas duas possibilidades era a certa, ele não devia
merecer ter Bianca novamente em sua vida.
Estava a um passo de desistir daquela
empreitada, quando viu, ao fundo da cena de
alimentação, uma senhora de uns 40 anos falando
ao telefone, enquanto olhava com carinho para a
mesa de jantar. "Bingo", pensou, "aquela deve ser a
nova esposa".
A visão ficou prejudicada pela aparição de
uma Mercedes prata adentrando a garagem. "Papai
chegou", ele imaginou. Saiu do carro rapidamente e
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foi a largas passadas em direção aos portões de


ferro. Queria dar uma olhada mais de perto no
homem que havia abandonado sua menina.
Esgueirou-se em volta das trepadeiras que
ocupavam os muros do vizinho bem a tempo de vê-
lo grisalho saindo de dentro do carro luxuoso com
uma pasta de couro em mãos. O senhor tinha um
sorriso frouxo no rosto e uma mão já soltando a
gravata do pescoço, saindo do nó apertado que
aguentou o dia todo. Mesmo assim, não se virou
para o garoto, que deixou a curiosidade tomar conta
até demais, e acabou tropeçando em uma elevação
da calçada na ânsia por chegar mais perto.
Sendo um bairro tranquilo até demais e os
portões vazados, o homem percebeu sua presença
superinteressada e virou-se em sua direção.
- Posso ajudar, garoto? - Perguntou,
franzindo a testa, mas com ares ainda amigáveis.
Theo não era mal apessoado, não passava
insegurança ou ameaça.
- Ah, eu... Você é o senhor Caproni? -
Resolveu perguntar de uma vez, mesmo estando
claro agora para ele a incrível semelhança entre as
feições do mais velho e de seu anjo.
- Sim, eu te conheço de algum lugar?
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- Não, não... Eu só sou amigo de uma


pessoa que costumava lhe conhecer. - Ele abanou o
ar, tornando aquilo menos importante do que era de
fato. O senhor pareceu estudar por alguns segundos
o jeito do menino em busca de alguma dica que
denunciasse sua procedência. Encontrou o que
queria entre os indícios de sua idade.
- Você é amigo da Bianca? - Perguntou,
afobado, dando vários passos para se aproximar de
Theo, que se impressionou com o imediato
interesse demonstrado.
- É, sou sim.
- Como ela está? Ela fala de mim? Veio
com você? - A armadura que Theo tinha vestido
para conversar com o homem imediatamente se
desfez ao perceber o óbvio desespero dele ao tocar
no nome da filha. Estava na cara que ele tinha
vontade de se comunicar com ela, e algo ou alguém
o tinha impedido de fazê-lo por todos aqueles anos.
Com um sorriso conformado ao perceber que Theo
estava sendo encurralado por suas perguntas, e
notando que a filha claramente não estava por
perto, o pai de Bianca respirou fundo e olhou para
baixo, se recompondo. - Me desculpe, eu não estou
acostumado a ter notícias dela. Gostaria de entrar
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para um café?

Theo foi apresentado a toda a nova família


de Augusto, como o senhor Caproni preferia ser
chamado, desde a esposa Bethani, a filha dela de
outro casamento, Sarah, e o pequeno Bernardo, o
meio-irmão que Bianca ainda não conhecia. Todos
o receberam com muita simpatia, e logo ele e
Augusto estavam sentados na sala de estar para
conversar sobre a menina.
- Eu acho que devo começar com uma
explicação, certo? - O mais velho perguntou,
preocupado. Theo deu de ombros, sinalizando para
que continuasse. - Bem, eu me separei da mãe de
Bianca há alguns anos. Nosso casamento já tinha
ido para o espaço há um bom tempo, mas foi só nos
últimos meses que eu conheci Bethani. Nosso
relacionamento foi completamente platônico,
porque eu não me permitia realmente trair
fisicamente a mãe da Bianca, mas conforme eu me
vi apaixonado por ela, precisei pedir a separação.
- E desde então não tentou se comunicar
com a sua filha?
- No início, eu ia todos os dias tentar vê-la,
ligava, mandava cartas, flores, chocolates. Mas
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nunca conseguia falar com ela pessoalmente, e


minha ex-mulher dizia que era porque ela estava
brava comigo, me ressentia por ter deixado elas, e
não queria me ver. Tentei respeitar seu espaço, mas
a falta de notícias foi me deixando cada vez mais
aflito. Nem meus telefonemas ela atendia! Com o
tempo... Acho que eu cansei de me torturar e
resolvi deixar nas mãos dela nosso reencontro.
- Não passou pela sua cabeça que talvez a
mãe dela estivesse interceptando seu contato?
- Não... Eu sei que ela ficou com muita
raiva de mim, mas ela não descontaria na Bianca.
Quando a gente se separou ela lutou com unhas e
dentes comigo para que a filha morasse com ela,
então eu não vejo como... - Augusto se
interrompeu, parecendo notar que seu discurso era
muito mais decorado, uma desculpa repetida um
milhão de vezes, do que de fato uma explicação
satisfatória do porquê a ex-mulher não faria aquilo.
- Você acha que ela seria capaz?
- Eu não acho nada, senhor Augusto. O que
eu sei é que sua filha acha que você não quer saber
dela, que se esqueceu da sua existência, e que,
mesmo assim, ela te ama demais.
- Ai meu deus... É claro que não! - Ele
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parecia arrasado, desolado, e as rugas de seu rosto


estavam tão fundas quanto possíveis, só de pensar
no que a filha estava passando. - Garoto, eu amo a
minha filha. – Sentiu a necessidade de explicitar. -
Quero estar com ela sim, sempre. Qualquer motivo
que tenha a convencido do contrário... Está
equivocado. – Respirou fundo, vendo que Theo o
olhava com pena, comprando sua fala como
verdadeira. Lhe ocorreu que aquela era a sua
melhor chance de consertar as coisas. - Você pode
arranjar um encontro entre nós dois, certo? Pode
fazer isso? - Suplicou, no mesmo momento que o
celular de Theo vibrava com a chegada de uma
nova mensagem, coincidentemente do alvo daquela
conversa, pedindo que ele fosse buscá-la.
- Considere feito.

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- Você está oficialmente estranho. - Bianca


observou, enquanto reparava nos tiques de ansiedade
que o menino não conseguiria disfarçar nem se
quisesse.
- Claro que não, é coisa da sua cabeça. - Ele
dispersou, caminhando lado a lado com ela pelo
jardim que levava ao QG.
- Theo. - Ela reclamou, virando ele para si
pelos ombros e inspecionando o rosto bonito atrás de
qualquer indício do motivo de tanta inquietude. -
Fala comigo. O que tá acontecendo? - O garoto
bufou o trocou o peso de perna, olhando para ela
insatisfeito. O encontro arranjado com o pai era
naquele dia, e ele queria manter a ciosa toda como
surpresa, para que ela fosse livre de expectativas e
rancores. Mas não contava que fosse ser tão
impossível guardar um segredo da sua menina.
- Você vai saber ainda hoje, tudo bem? Só
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vou te deixar no escuro por mais algumas horas, eu


prometo. - Bianca ainda estava desconfiada, mas
vendo que ele havia se acalmado só de ter revelado a
ela que de fato existia um motivo para deixá-lo tão
agitado, deu-se por satisfeita. A curiosidade sem
limites gritava na cabeça, mas era abafada pela
própria ansiedade, que não via a hora de eles terem a
aula do dia, a qual Theo havia frisado ser bem
importante.
Era um bonito sábado ensolarado, mas o
tempo ameno não o tornava propício ao banho de
piscina, uma vez que a dos Versolati não era
aquecida. Mesmo assim, não viam motivos para se
enfurnar dentro da casa de madeira com um dia tão
bonito passando do lado de fora.
Theo tinha ido buscar a menina em casa logo
pela manhã, e se surpreendeu quando ela apareceu
com uma cesta em mãos, pronta para um piquenique
desses de filme. Ela explicou que estava com
vontade de fazer aquilo há algum tempo, visto o
enorme gramado fofo que habitava a casa do garoto,
e se desculpou por tê-lo pego de surpresa com um
programa "romântico além da conta". Mas ele logo a
livrou de suas preocupações, garantindo que não
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havia nada que ele quisesse fazer mais naquele dia


do que exatamente aquilo.
Então, ela estendeu a toalha tipicamente
quadriculada que havia trazido sob o jardim e
espalhou os potinhos de frutas frescas pãezinhos
pela sua extensão, enquanto o garoto ia até a
geladeira da casa buscar uma belíssima garrafa de
vinho branco, perfeita para a ocasião. Eles se
acomodaram sobre a claridade do sol das 10 horas,
ela com as costas apoiadas sobre o peitoral dele, e
conversaram amenidades por quase duas horas,
conhecendo e deixando conhecer mais sobre gostos
e preferências musicais e de leitura, ao mesmo
tempo que desfrutavam dos comes e bebes sem
restrição.
Riram muito com a interpretação de Bianca
de uma música nova da Taylor Swift cujo clipe tinha
uma cena muito parecida com a que estavam
vivendo, Blank Space, na qual ela balançava os
cabelos com intensidade e dublava a voz da cantora
que saía do celular. Riram mais ainda quando Theo
resolveu dar um show de Air Guitar, sob o single de
mesmo nome do McBusted, e quase derrubou o
pouco que restava da garrada de vinho no processo.
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Com o tempo e as brincadeiras - e o doce


teor de álcool percorrendo suas veias -, ambos
conseguiram se esquecer dos motivos de agitação
que perturbavam suas cabeças no começo do dia. De
alguma forma, aquela parecia ser uma constante: Se
estavam juntos, não havia problema no mundo que
merecesse muita importância.
Até mesmo Whisky resolveu dar as caras
depois de algum tempo, mesmo ainda sendo
indiscutivelmente cedo demais para o peludo estar
acordado, levando em conta o quão preguiçoso
normalmente era. O potencial carinho que receberia
de Bianca parecia ser motivo o suficiente para tirá-lo
da cama antes do habitual, e os pães frescos que
conseguiu roubar quando o casal se distraía, mais
ainda.
Uma sequência de nuvens apareceu
eventualmente para tornar o piquenique menos
interessante. Ainda estava longe de chover, mas, sem
o sol, o vento resolveu dar as caras e o interior da
casa de madeira pareceu subitamente irrecusável.
Entraram os três então, e se jogaram no
conhecido sofá da sala - Whisky desceu depois de
alguns gritos de Theo, e se recolheu no quarto,
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chateado de não poder participar da "farra", sob os


risos do dono pela sua cara de "cachorro que caiu da
mudança" e dos protestos de Bianca, que defendia o
amigo canino com unhas e dentes.
- Hoje você vai me dar a sétima aula? -
Bianca perguntou depois que os risos cessaram e o
silêncio tomou conta dos dois. Ela tinha a cabeça
deitada no ombro do professor, que acariciava seu
quadril com o braço por volta dela.
- Ainda não. Não acabei a sexta. - Ele
explicou, repuxando os lábios.
- Não? Mas achei que o sexting era o
ensinamento final. - Bianca se afastou para que
pudesse olhá-lo de frente, e Theo suspirou, notando
a curiosidade da menina, e se acomodou direito para
poder dizer o que tinha em mente.
- A sexta aula é sobre como manter o cara
com você, certo? - Perguntou retoricamente, vendo-a
acenar positivamente. - Bem, eu te ensinei como
agradá-lo no dia-a-dia, cozinhando, fazendo
massagem, ajudando com os problemas, etc. Mas é
importante também saber como agradá-lo à noite.
Como desestressar ele entre quatro paredes.
- Mas isso é meio óbvio. - Ela deu de
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ombros, curiosamente à vontade com o assunto. - A


aula de sexo já foi, Theo.
- Existe mais de uma modalidade, cabeção. E
uma especialmente importante são as preliminares.
- Preliminares?
- É. Strip-tease, handjob, sexo oral, entre
outras. Eu não vou entrar em detalhes sobre as
primeiras duas porque acho que a aula de dança já
ajuda bastante nesse quesito e porque já vi que você
não tem grandes dificuldades com punheta na noite
que assistimos o filme pornô. - Ele mencionou,
assistindo-a perder a pose de bem-resolvida que
carregava para manchar as bochechas de rosado.
Aquela característica de sua personalidade tímida
nunca perderia a graça. - Então me resta te ensinar a
pagar um boquete.
- Tudo bem, hora da verdade... - Disse com
as mãos a frente do corpo e os olhos fechados como
quem conta um segredo muito vergonhoso. - Eu
meio que sempre quis aprender isso. Mas tinha um
pouco de... Nojo? Não sei. E medo de fazer tudo
errado e machucar o cara. Sabe?
- É pra isso que seu professor está aqui. -
Piscou, sagaz.
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- Então... Como a gente começa?


- Ansiedade podia ser seu nome do meio,
sabia? - Ele riu, acariciando o rosto pequeno e
rabugento dela. - Vem aqui me beijar primeiro, antes
de ocupar essa boquinha linda com o meu pau. -
Puxou a menina pelo queixo, que se apoiou nos
joelhos em cima do sofá e engatinhou para ele,
selando seus lábios. Contornou eles com a língua e
chupou o inferior, deixando ali seu gosto único. -
Hm... Eu nunca vou me cansar disso.
Theo passou o braço pela cintura da menina
e a puxou no susto para se sentar em seu colo, uma
perna de cada lado do quadril, e ela emitiu um
gritinho assustado com o movimento. Então, ele
enfiou a mão entre os cabelos da nuca dela e segurou
firme sua cabeça para iniciar um beijo alucinado e
apaixonado, obrigando-a a abrir a boca e
corresponder com igual fervorosidade.
Bianca acariciava o peitoral do garoto por
cima da camiseta de algodão fina, sentindo os
músculos se tencionarem com o seu toque, e se
deliciava com o quão gostoso era o homem entre as
suas pernas. Ela tinha vontade de lambê-lo inteiro,
músculo por músculo, cada mínimo pedaço de pele,
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protuberância ou curva.
Não que ele ficasse atrás, agora enterrando a
boca no pescoço perfumado dela, engolindo em
goles generosos a pele sensível, mordendo,
chupando, beijando. Bianca fechava os olhos e
inclinava a cabeça, já sentindo o acúmulo de saliva e
o deslizar característico de umidez em sua virilha.
Instintivamente, agarrou os cabelos curtos do garoto
e ordenou ao quadril que rebolasse, alojando a agora
aparente ereção de Theo no lugar mais certo
possível.
Sentindo o estímulo, Theo cessou o ataque
que descia o colo em chamas da menor para olhá-la
nos olhos e constatar aquilo que ambos já sabiam:
- Desse jeito não vai ter aula nenhuma
porque eu não vou conseguir não te comer, Anjo. -
Soprou contra os lábios inchados dela, já quase
desistindo de tudo e levantando com ela para a
cama.
- Não! Não, não, não... - Ela repetia, tentando
se lembrar o que estava tão determinada a negar. -
Eu quero aprender. - Ela engoliu, quase convencida
de que precisava se afastar. - Me ensina! Daí mais
tarde você faz o que quiser comigo. - Sob a
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perspectiva de que aquilo teria continuidade e


lembrando-se da vontade iminente de se derramar na
boca da garota, o professor concordou uma vez com
a cabeça, ajudando-a a desmontar de cima de si e
voltar para a posição ajoelhada no sofá ao seu lado.
- Tá, é... Deixa eu me concentrar um
segundo. - Tossiu, clareando um pouco que fosse os
pensamentos, e fechou os olhos com força,
procurando por seu auto-controle. Os abriu
subitamente ao sentir as mãos pequenas dela lhe
abrindo o botão e zíper da bermuda cargo preta.
Suspirou, conformado, se sentindo mais duro ainda
com a iniciativa dela. - E depois eu sou o
impossível... - Reclamou, ajudando a abaixar de vez
as vestes e libertar seu amigo do aperto. Pôde ver
Bianca engolindo em seco ao observar tão sem
filtros o tamanho que já a tinha preenchido outras
vezes. Sorriu discreto, se inclinando para buscar a
carteira na mesa de centro, mas um toque delicado
em seu braço o impediu.
- É muito necessária a camisinha nesse caso?
Eu meio que queria sentir... O seu gosto, sabe? E não
o de borracha. - Disse, tímida, temendo estar falando
uma grande baboseira.
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- O ideal é usar camisinha sim, para evitar


transmissão de doenças como herpes, que são
cutâneas, e para não fazer sujeira quando acabar.
Mas como eu não tenho nada e você quer... Não vejo
porquê não, linda. - Sorriu, acariciando os cabelos
sedosos dela com carinho. Bianca molhou os lábios
e se acomodou de forma a poder debruçar sobre ele
propriamente. Olhou para o professor uma última
vez buscando apoio, e tendo o obtido, segurou seu
mastro bela base com uma das mãos, deslizando o
polegar de cima a baixo devagar, em agrado.
- E como eu começo?
- Primeiro você cria um clima, morde as
entradas, lambe a virilha... Para preparar o cara.
Como nesse caso é obviamente desnecessário já que
eu tô mais do que pronto - Indicou a dureza de seu
sexo e a gota de suor já descendo sua testa. -, seu
primeiro passo vai ser molhar ele todo. Lamba desde
a cabeça até a base e mais abaixo se quiser. - Com
um aceno de entendimento, Bianca estendeu a língua
para fora e passeou a mesma por toda a extensão de
pele disponível, caprichando bastante em
movimentos circulares na cabecinha e usando um
pouco os lábios no comprimento, como se o
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beijasse. Desceu um pouco mais a cabeça quando se


deu por satisfeita e chupou a pele do saco escrotal.
Achou aquilo estranho, no entanto, e preferiu voltar
para cima, onde deixava sua saliva escorrer e
ajudava a espalhá-la com a mão. Theo tinha as
narinas infladas e a mão apertada nos cabelos da
menor, tentando a todo momento se lembrar de que
tinha que lhe dar instruções ainda. Com o pau
suficientemente molhado, ele encontrou voz para
falar. - Ótimo, linda. Agora você vai colocar ele na
boca, tudo bem? Usa seus lábios para proteger os
dentes, pois eles podem machucar, e tenta sugar as
bochechas quando estiver subindo. A sucção é ainda
mais prazerosa. Cobre a parte que você não
conseguir alcançar com a mão e a movimenta junto
com a sua boca. - Um a um, Bianca obedeceu todos
os passos, abocanhando o membro de Theo até mais
da metade, com muita fome. O conteúdo acabou
sendo demais, e ela engasgou, tirando ele da boca
em uma tossida. - Calma, anjo, calma... - Ele a
acalmou, acariciando os cabelos. - Não precisa por
tudo. E relaxa a garganta, eu não vou te forçar contra
mim. - Recuperada e com novas instruções, Bianca
tentou de novo, dessa vez colocando um pouco
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menos na boca, apenas o suficiente para arrancar um


grunhido do professor e permiti-la sentir o gosto
único que ele tinha. Com a ajuda da mão, começou
a subir e descer em um movimento vai-e-vem,
alcançando novas porções de carne a cada nova
abocanhada. Se atreveu a sugar e percebendo não ser
tão difícil, tornou aquele movimento constante. Theo
jogou a cabeça para trás, respirando com
dificuldade, achando inacreditável que uma boca tão
inexperiente estivesse o levando a loucura daquela
maneira.
Mas era ela... E nada era conforme o
esperado quando se tratava daquela menina.
Colocou a mão livre em cima da dela para
mostrar que ela devia torcer o pulso ao subir e descer
a mão no handjob, e usar mais do dedo indicador e
polegar como em um anel. Quando percebeu que ela
pegou o jeito, se afastou e se permitiu aproveitar a
carícia íntima de uma vez.
Bianca continuou engolindo tanto do
membro do professor quanto conseguia, e embora
por vezes o ar lhe faltasse, os gemidos roucos e
completamente sensuais que Theo deixava escapar a
estimulavam a continuar.
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Ela logo percebeu o porquê de tanto interesse


naquela modalidade do sexo em particular: Era o
poder. Bianca se sentia poderosa, capaz de qualquer
coisa, responsável diretamente pelo prazer do
parceiro e com a decisão de parar ou continuar
pairando única e exclusivamente nas suas mãos. Era
inebriante.
Quando se aproximou perigosamente do
êxtase, Theo acariciou de forma diferente os cabelos
da menor indicando que ela parasse. Ainda assim,
teimosa, ela lhe deu mais duas longas chupadas
deliciosas que tornaram quase impossível de segurar
o gozo, que veio em seguida, quente e irrefreável,
sendo contido pelos dedos de Theo pressionando
firmemente a cabeça como quem segura o jato de
uma mangueira. Alguns tremores e suspiros de alívio
depois, todos os músculos do corpo de Theo
relaxaram e ele fechou os olhos aproveitando os
últimos segundos do ápice de sua luxúria.
Bianca esperava pacientemente enquanto ele
se recuperava, não podendo, no entanto, conter a
vontade de passar os dedos pela única gota de suco
que escapou a prisão atenta do garoto, e a levando
imediatamente aos lábios. O líquido branco era
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pastoso e engraçado, não chegando a ser bom ou


ruim, mas a experiência serviu para matar sua
curiosidade.
- Bianca... - Theo chamou, uma vez que o ar
passou a entrar e sair ordenadamente de seus
pulmões novamente. - Você foi perfeita. Se saiu
muito bem com pouca ou nenhuma instrução. Por
incrível que pareça, acho que esse foi
potencialmente o melhor boquete que eu já recebi na
vida!
- Uau! Tô me sentindo agora. - Ela riu,
orgulhosa.
- Sua peste. Vou te sequestrar e prender no
meu quarto, e você só vai poder sair mediante o
pagamento integral de um blowjob por dia. -
Brincou, puxando a menina para se escorar nele,
agora que já tinha se recomposto e puxado a
bermuda de volta para o lugar.
- Com todos esses elogios eu acho que sou
até capaz de abaixar as calças do Sam e chupar ele
na frente da namoradinha nojenta! - Bianca riu,
achando a maior graça ao pensar na cara azeda de
Milena assistindo a cena, ainda mais por ela ter
certeza que a garota devia ser uma das inúmeras que
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já haviam feito o agrado a Theo em tempos


passados, mas o professor não compartilhou do riso
contínuo. Pelo contrário, se incomodou muito com a
imagem mental de Bianca de joelhos em um
momento tão íntimo como o que acabara de dividir
com ele com o loiro aguado. A ânsia de vômito lhe
foi inevitável, e logo ele estava em pé, tentando
desesperadamente mudar de assunto para um que ao
menos não lhe revirasse o estômago daquela forma
tão peculiar.
- Enfim... Tem um lugar onde eu quero te
levar hoje. Uma pessoa que quero que conheça. -
Disse, caminhando para o banheiro a fim de se
limpar, deixando uma Bianca levemente confusa
pela seriedade súbita dada à conversa.
- É? Quem é? - Ela perguntou, ainda sentada
e pensativa, ao passo que Theo já estava com os
pertences no bolso pronto para sair.
- Levanta essa bunda gostosa daí que você
descobre.

Era uma cafeteria extremamente simpática,


em um lado da cidade que ela não estava
acostumada a frequentar, com cadeiras forradas em
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estampas alegres e uma estante com grandes títulos


nacionais ao fim, para usufruto dos clientes que
desejassem ler alguma coisa. Bianca imediatamente
se afeiçoou pelo lugar, e parecia uma criança em
parque de diversões enquanto observava o cardápio
extenso de batidas cafeinadas e doces gordurosos
quando Theo lhe perguntou o que queria. Respondeu
impulsivamente e foi obrigada a corrigir o pedido
com o caixa mais duas vezes até se dar por satisfeita,
só então cortando o encanto excessivo com que
tratava o local para reparar na tensão óbvia que
acompanhava as atitudes do professor. Ele parecia
correto demais, ereto demais, educado demais. Não
havia feito nenhuma piadinha suja ainda, nem
apertado sua barriga ou bagunçado seus cabelos, e a
bermuda estava, pela primeira vez na vida, no lugar
certo, sem deixar a mostra a curta faixa da boxer
tentadora como sempre costumava ficar. Os famosos
alarmes soaram na cabeça da menina.
- Theo, tá tudo bem? Você parece... Nervoso.
- Escolheu, dentre todas as palavras que poderia usar
para descrever o comportamento dele. Theo a olhou
nos olhos e abriu a boca para responder alguma
coisa, mas os pedidos sendo colocados à sua frente
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no balcão foram a perfeita desculpa para que


permanecesse quieto. Ele segurou a embalagem com
os cafés e a sacola parda com as gordices de Bianca
em uma só mão, e com a outra entrelaçou a dela para
conduzi-la pelas mesas. Passaram por duas perfeitas
para duas pessoas, como era o caso deles, e Theo
mesmo assim continuou caminhando até os fundos
do lugar, perto da estante com os livros e, agora
Bianca podia ver, jornais da semana.
Ali, na última mesa, haviam 4 cadeiras, e
uma delas estava ocupada. Era um senhor meio
grisalho, de costas para os dois, que parecia metade
entretido no livro que tinha em mãos e metade
ansioso por algo, pois balançava freneticamente o pé
dobrado sobre o joelho e checava as horas de
segundo em segundo.
- Theo, tá ocupado, vamos... - Ela tentou
argumentar, apontando com o polegar para trás, mas
foi impiedosamente interrompida. O homem virou-
se para ela, e Theo logo tratou de fazer as
apresentações, que não eram, de fato, necessárias.
- Bianca... Essa é a pessoa que eu queria que
conhecesse. Augusto Caproni. Seu...
- Pai. - Ela completou. - O que...? Você... E
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ele...? - Ela balbuciou sem conseguir se situar


naquele encontro tão inesperado, e Theo
imediatamente abandonou as coisas que segurava na
mesa para poder abraçá-la de lado, dando o apoio
que ela precisava.
- Calma, minha linda... Senta aqui, vamos
conversar. - Com a ajuda sempre solícita do maior,
ela o fez na cadeira mais próxima e observou ele
fazê-lo ao seu lado e seu pai se acomodar temeroso
na que tinha à sua frente. - Ontem, quando eu
descobri que você tinha conversado com a minha
mãe sobre os meus sonhos, fiquei com vontade de
fazer algo por você também. Então eu fui até o
endereço que você me passou, ver se descobria
alguma coisa sobre seu pai sem que você precisasse
passar por surpresas demais. - Explicou devagar,
segurando as mãos frias dela entre as suas. Bianca,
que nunca desviava o olhar dele quando estava
falando, tinha os olhos cravados no pai, as íris
transparentes amedrontadas e os lábios entreabertos
em expectativa. - Mas aí... Eu acabei não me
aguentando e conversando com o Sr. Augusto,
porque queria entender, queria saber o que raios
tinha acontecido para vocês não terem mais contato.
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E qual não foi a minha surpresa em descobrir que ele


tinha sido privado disso tanto quanto você? -
Imediatamente, a menina virou o rosto para o mentor
como se lhe perguntasse silenciosamente se aquilo
era verdade. Se podia confiar no que seus olhos e
ouvidos testemunhavam. Com um sorriso carinhoso,
Theo fez questão de mostrar a ela que sim; que
estava mais do que na hora. - Seu pai tentou falar
com você por eras, anjo... Mas as ligações e visitas
foram todas interceptadas. Te diziam que seu pai não
tinha procurado por você, e diziam a ele que você
não tinha qualquer interesse em vê-lo. Sua mãe,
magoada, deve ter achado que estava te protegendo
dessa maneira...
- Mas ela não tem o direito de fazer isso. Eu
tenho que poder escolher se quero conversar com o
meu pai ou não! - Bianca se exaltou, as lágrimas
rapidamente preenchendo os olhos, entre um desejo
de cair e o orgulho teimoso de não demonstrar
fraqueza.
- Ninguém está discordando de você,
principessa. - Augusto interferiu, chamando-a do
apelido que usava quando ela ainda era pequena, que
significava "princesa" em italiano. Olhou para Theo
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como se pedindo licença para falar, e esta lhe foi


concedida. - Olha, querida... Eu nunca me afastaria
de você sem mais nem menos. Se criei a coragem
para sair de um relacionamento que me fazia infeliz
e me permiti tentar novamente é só porque você me
deu o empurrão inicial. E eu jamais me esqueceria
disso. Além do mais... Você é minha filha. Sangue
do meu sangue. E pode parecer estranho ouvir isso
depois de tantos anos, mas... Eu amo você.
Incondicionalmente. - Bianca finalmente se permitiu
explodir em um choro doído de alívio e injustiça,
caindo no peito de Theo que lhe abraçou
instintivamente. Era no mínimo complexo ter que
encarar uma realidade tão diferente daquela
apresentada por tanto tempo, e todo mundo ali
entendia que a garota precisaria de um tempo para
processar tudo.
- Isso quer dizer que você...? E eu...? - Ela
murmurava, sentida, morta de saudades do pai e de
tudo que significava tê-lo novamente em sua vida.
- Shhh, meu amor... Tá tudo bem agora. Vai
ficar tudo bem. - O mais velho sussurrava,
alcançando a mão da filha e a apertando entre as
suas tão maiores, beijando as pontas dos dedos para
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provocar cócegas.
- Como você pode saber disso, pai? - Ela
perguntou com o choro mais controlado, olhando-o
por entre cílios colados de água salgada.
- Porque no final tudo fica bem. E se ainda
não tá tudo bem... É porque ainda não chegou o fim.
- A menina conseguiu abrir um sorriso, lembrando-
se de todas as vezes que ele lhe recitava aquela
mesma frase quando ela se indignava com algum
acontecimento no meio de um livro de histórias, lido
para ela antes de dormir. Aquilo sempre conseguia
acalmá-la, e aquela vez não foi diferente. - Escuta,
filha... Eu sei que é muita coisa para absorver de
uma vez só. Mas eu gostaria muito que você fosse
em casa um dia, conhecer a minha esposa, a Sarah,
seu irmãozinho... Todos eles tão loucos pra saber um
pouco mais de você e eu tenho certeza que vocês
vão se dar muito bem. - Convidou baixinho, sempre
olhando para Theo em aprovação como se ele fosse
um guarda costas muito bravo que atacasse a
qualquer passo em falso.
- Claro, pai... Eu vou adorar. - Fungou,
limpando sem jeito os rastros de lágrima do rosto.
- E ai, querida, se você quiser, e só se você
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quiser... Eu prometo lutar pela sua guarda na justiça


e você vem morar comigo. O que você acha? -
Perguntou, os olhos brilhando de expectativa e até
mesmo esperança.
- Acho legal que, pela primeira vez em tanto
tempo, tenham me dado finalmente o direito de
optar.

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O restante do final de semana passou sem


maiores emoções, visto que Theo entendia que a
garota precisava de um pouco de espaço para
pensar sobre toda aquela dinâmica familiar
complicada e a proposta que o pai fez, tão
impulsiva quanto ela mesma era.
Era sim horrível morar com a mãe, conviver
com suas cobranças e acessos de raiva infundados,
mas ao mesmo tempo ela não sabia se seria melhor
passar seus dias com a nova família do progenitor,
a quem não via há tantos anos. Haveria alguma
chance de reestabelecerem o vínculo e criarem
intimidade, mesmo depois de todas as barreiras que
o tempo e a mãe colocaram entre eles?
Se sim, se alguma prova da veracidade
dessas afirmações pudesse lhe ser dada, ela
aceitaria sem pensar duas vezes. De pequena,
sempre tinha sido mais próxima do pai, mais
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parecida com ele, mais apegada à sua presença,


enquanto com a mãe a relação sempre tinha sido
fria e distante, ainda mais depois dela ter se tornado
uma mulher tão amarga.
A escolha parecia óbvia.
Mas os fantasmas da sua solidão não
pensavam assim. Eles a obrigavam a pensar e
recriar circunstâncias, para ter certeza de que
tomaria a decisão que mais garantiria conforto e
amparo familiar, a forçavam a pesar todos os
riscos, possíveis ganhos e perdas. Vez após outra.

A segunda-feira chegou, entre aulas


entediantes das matérias de humanas que Bianca
abominava e centenas de exercícios gratificantes de
matemática. As exatas, diferentemente da vida real,
sempre tinham uma resposta correta no gabarito
para conferir, e aquilo a acalmava.
No intervalo, todos saíram correndo de suas
salas para colocar a fofoca do final de semana em
dia. Ela caminhou com a multidão pronta para ser
parada a qualquer momento por um par de braços
quentes e conhecidos, como Theo sempre fazia, e
passar alguns minutos no aperto de seu abraço
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perfumado antes de retomar a tortura escolar com a


apresentação do trabalho de literatura.
Entretanto, antes que o moreno tivesse a
chance de fazê-lo, alguém puxou o elástico que
prendia sua trança lateral em brincadeira, o que fez
com que a mesma se desfizesse inteira, fino como
era o cabelo dela.
- Ei! - Ela reclamou, virando-se para tentar
recuperar o elástico de quem quer que o tivesse
pego. Deparou-se com um Sam risonho a menos
centímetros do que o recomendável.
- Oi, estranha. - Soprou com a voz alguns
tons mais baixa. Bianca estranhou, ele nunca falava
daquela maneira tão... Sensual. Ou algo assim.
- Estranha?
- É modo de dizer. - Deu de ombros. -
Sabe... Será que a gente pode conversar? -
Perguntou com um quê de apreensão forjada que
por algum motivo amoleceu o coração da garota,
que até então havia aprendido a se blindar contra os
estímulos que ele desse.
- Claro. - Suspirou, sem ter como negar.
Theo não estava por perto - provavelmente a
esperava no armário 100, mas isso era longe dali -
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então não tinha nenhuma desculpa boa o suficiente


para negar. E, se quisesse ser sincera consigo
mesma, não queria ter. A perigosa junção de sua
curiosidade com um pedido sigiloso de conversa
era mais do que ela podia ignorar. - Sobre o quê? -
Sam olhou para os lados, provavelmente à procura
do namorado da amiga, e acabou por indicar com a
cabeça que fossem para outro lugar. Ela deu de
ombros mentalmente, perguntando-se "por que
não?" e o seguiu até o pátio da escola, onde
algumas árvores bem grandes abrigavam dezenas
de casais e alguns dorminhocos. Ele foi até uma
vazia e se sentou nas raízes, sob a sombra bem-
vinda do dia abafado.
- Então... - Ele começou sem parecer saber
como continuar. Olhava para qualquer lugar menos
a garota, inquieto e estranhamente disperso.
- Então...? - Ela estimulou, sem paciência
para esperar a boa vontade dele de saciar sua
curiosidade de uma vez.
- Eu pensei bastante no que você me disse
semana passada. Você sabe, sobre eu ser o culpado
pelo nosso afastamento. E... Acho que você está
certa. - Disse de uma vez, como se dessa forma
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fosse acabar logo. Orgulho era seu nome do meio, e


falar aquele tipo de coisa quase lhe causava dor
física, mas entendia que era necessário.
- Eu estou? - Bianca levantou as
sobrancelhas, impressionada.
- Sim. E eu me sinto bem culpado por isso.
- Sente? – Bianca se viu como um daqueles
papagaios treinados que só sabiam repetir o que
lhes era dito, mas não podia evitar a ausência de
raciocínio próprio em um diálogo tão irreal.
- É. E eu quero consertar isso. Então o que
você me diz de passarmos o dia juntos hoje? Você
vem assistir o meu treino de basquete e depois a
gente sai pra tomar um sorvete ou algo assim.
Topa? - Bianca se sentia em um universo paralelo,
como se de repente ela virasse um personagem
fictício e tivesse alguma alma mentalmente
desequilibrada escrevendo os próximos passos de
sua vida incoerente. Ainda assim, acabou
balbuciando um "s-sim" assustado. - Ótimo! Você
vai ver, vai ser como antigamente, Biba.
- ...Yey?
- Agora me conta, o que você tem
aprontado? - Sam estava demonstrando, em uma
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conversa, mais interesse em escutar suas respostas


do que em toda a história de sua amizade, e aquilo
era perturbador. Tinha se virado em direção a ela,
encostando-se de lado no tronco da árvore que
compartilhavam para poder olhar para o seu rosto.
- Não sei o que você quer escutar, Sam. -
Deu de ombros, sem vontade de desembestar a falar
sobre qualquer assunto, como normalmente fazia.
Não sentia ter mais intimidade com o loiro para
isso.
- Pode começar me dizendo como você
acabou namorando o bambambã do colégio. - Ele
sugeriu, ao passo que o celular dela apitou com
uma nova mensagem de Theo onde se lia "Julieta, ó
Julieta! Onde estás, minha bela dama? Romeu está
triste e desolado com a falta de sua inebriante
presença aqui na Alameda dos Rouxinóis, armário
100." Bianca instintivamente deu risada do tom
pomposo usado pelo professor e Sam olhou de
lado, claramente infeliz com a reação espontânea
dela a algo que não havia sido ele o autor.
- Bem... - Ela começou o relato,
interrompendo-se brevemente para responder a
mensagem de Theo: "Estou resolvendo uma coisa,
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Romeu. Vá para o intervalo sem mim e não beba


nenhum veneno. Mais tarde eu te compenso.
Beijos". - Eu tive um dia ruim há alguns meses, e o
Theo me encontrou e consolou mesmo sem me
conhecer. Acabamos conversando, nos dando bem
e... Acho que uma coisa levou à outra. - Aquela era
a versão mais verdadeira que Bianca podia dar
omitindo o amigo da equação e ela se prometeu
permanecer fiel àquele discurso.
- Ele te chamou para sair sem mais nem
menos? - Investigou como se soubesse que havia
um motivo maior por trás.
- Não. Ele me disse que estava com
dificuldades nas matérias e eu me ofereci para
ajudar. Em uma tarde de estudos rolou um clima e a
gente se beijou. Desde então nós só... Não paramos.
- A garota percebeu o quanto aquilo era verdade.
Por mais que estivessem quase sempre motivados
por alguma aula, ela e o moreno não se
desgrudavam, nem se continham, independente do
lugar ou contexto. Claro que ela já tinha
diagnosticado aquilo como costume, achava que
Theo só não saía do papel quando estavam no
particular, mas não podia ser só isso. Estava mais
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do que na hora de admitir que de "fake" aquele


relacionamento não tinha nada. E, por incrível que
pudesse parecer, a constatação daquele fato só
provocou uma onda quente pelo corpo miúdo de
Bianca, como se fosse algo natural e esperado pelo
que ela tivesse almejando há tempos.
- Então não houve um pedido oficial? - O
loiro parecia determinado a tentar pegá-la no pulo.
Ela lembrou-se da forma abrupta com a qual Theo
lhe disse que "para todos os efeitos" agora eles
estavam namorando, após vê-la conversando com
Sam. Riu sozinha mais uma vez da cara de
alucinado que ele trazia naquela hora, e da forma
como não deixou espaço para que ela negasse, para
variar.
- Foi mais uma ordem. - Contou, ainda
risonha e a testa do melhor amigo se enrugou
inteira em incompreensão. Bianca não se deu ao
trabalho de explicar. - Vamos mudar de assunto?
- Ah... Claro! - Sam balançou a cabeça, em
uma tentativa de se conformar que não podia
insistir no tema ou seria indelicado.
- E você e a Milena, como estão? - Bianca
perguntou, mais por educação do que qualquer
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outra coisa.
- Pra falar a verdade... Não muito bem. Ela
meio que me cansa. Dá muito trabalho namorar. -
Confidenciou em um suspiro, esperando
concordância da menor.
- Engraçado... Pode ser porque eu e o Theo
estamos juntos há pouco tempo, mas para mim
namorar é tão natural... - Comentou, repuxando os
lábios e olhando em volta, inconscientemente
procurando pelo professor, que não estava no seu
campo de visão.
- Vai ver isso é mérito seu, Biba. Você torna
tudo mais fácil. - Sam se aproximou ainda mais e
olhou no fundo dos seus olhos ao dizer aquilo,
como se fosse o elogio mais grandioso que pudesse
fazer a alguém. Bianca só podia se lembrar da
última aula e de como Theo dizia que ela precisava
ser o motivo de loucura e também de apoio da
pessoa amada, e se perguntar se aquilo significava
que ela estava fazendo as coisas absolutamente
certas ou notoriamente erradas.
- ... Obrigada? - O loiro sorriu abertamente
e a puxou para um abraço apertado, esfregando
seus cabelos com mais força do que o desejado.
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- Eu senti sua falta, garota.

Voltando para a sala de aula ao final do


intervalo, Bianca encontrou Theo escorado na
parede ao lado da porta. Sam tinha ficado para trás,
pois era de uma sala diferente de Bianca apesar de
também ser do segundo colegial. Quando Theo a
avistou se aproximando, abriu um meio-sorriso
preocupado.
- Você tá bem? Aconteceu alguma coisa? -
Perguntou, correndo os olhos pelo corpo dela como
se buscasse algum machucado visível. Ela não era
de querer passar o intervalo sozinha, então o fato de
não ter estado com ele alarmava que algo ruim
poderia ter se passado.
- Tá tudo bem, Theo. Eu só fui arrastada
para o pátio pelo Sam. Ele queria conversar.
- Sobre o quê? - A sobrancelha franzida
indicava sua desconfiança no seu em questão.
- Tudo e nada ao mesmo tempo... Perguntou
de você, contou da Milena, disse sentir a minha
falta e acabou me chamando para tomar sorvete
depois do treino. - Ela suspirou, repassando
rapidamente todos os assuntos abordados nos 30
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minutos de conversa. Theo parecia surpreso e


perdido, os bonitos olhos claros alternando-se
freneticamente entre os transparentes dela em busca
de respostas.
- E você vai?
- Ah, vou. Eu acho que ele me chamou
como amigo, porque estamos os dois namorando
teoricamente, mas não custa nada sentir onde eu to
pisando. ... Certo?
O professor de química chegou e apressou a
menina para dentro, e ela o foi sem nunca ter
escutado uma resposta.

Se fosse ser sincera consigo mesma, Bianca


teria que dizer que não tinha a menor vontade de
tomar chá de cadeira - ou arquibancada, no caso -
por uma hora só por um mísero sorvete depois e
mais um interrogatório sobre o seu namoro. Ela
preferia muito mais ir com Theo para casa e passar
o final de tarde assistindo algum filme deitada no
colo dele e fazendo carinho em Whisky. Mas algo
dentro dela a obrigava a não levantar a bunda dali,
a passar por aquele dia, minuto após minuto, e
aproveitar toda a súbita atenção que Sam a estava
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oferecendo. Sentia que devia isso à Bianca de


alguns meses atrás, com todo seu amor infundado e
choros incontroláveis nos reservados dos banheiros
da escola, de pelo menos ir tomar um maldito
sorvete com o cara por quem era apaixonada.
Mesmo que agora achasse ele chato e
infantil. Mesmo que seu coração não agisse com o
mesmo desespero enlouquecedor quando ele estava
por perto. Mesmo que estivesse louca para segurar
Theo pela gola da camiseta e perguntar o que,
afinal de contas, os dois tinham. Ela só estava em
um dia ruim, com coisas demais na cabeça devido
ao fim do ano letivo, e confusa quanto às suas
prioridades.
Afinal, quem em sã consciência negaria um
encontro informal com o jogador alto e atlético do
time de basquete, tão fofo em sua regata gigante do
uniforme, correndo de um lado para outro na
quadra, fazendo seus cabelos loiros pularem? Só
uma garota idiota. Ela, certamente, não queria esse
título.

- Vamos, Biba? - Perguntou, uma toalha em


volta do pescoço molhado e um sorriso frouxo no
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rosto levemente avermelhado.


- Aham. - Ela se levantou, passando a bolsa
no ombro e caminhando com ele para fora do
colégio, em direção a sorveteria que ficava alguns
quarteirões adiante.
- E aí, gostou do treino? - Sam tinha uma
pose levemente convencida, como se soubesse - ou
achasse saber - que ela havia babado nele durante
os 60 minutos que o jogo durou.
- É, você manda bem. - Disse simplesmente,
não dando muita atenção. O loiro a olhou de lado,
intrigado, tentando buscar na mente algo que
pudesse impressioná-la.
- Sabe... Eu acho que finalmente decidi o
que quero fazer quando sair do colégio.
- Jura? O quê? - Sam olhou para os lados
como se estivesse sendo espionado, e puxou Bianca
pela mão até um beco entre dois prédios, de forma
a ficarem mais escondidos. Ela riu, achando ele
doido das ideias.
- Atenção que é segredo, hein! - Disse com
um dedo em riste sinalizando que ela ficasse
calada. - Meu pai conseguiu um passe para que eu
assista um treino da seleção de basquete nacional.
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Meu plano é me infiltrar lá de algum jeito até virar


gandula, e daí para assistente do técnico, e então
alguém mais importante. O próprio técnico talvez,
ou um comentarista, ou é capaz até mesmo de me
contratarem pro time! Não é o máximo? - Bianca o
encarou atônita, assistindo toda a sua animação no
auge da infantilidade, o achando a pessoa mais
imatura do mundo. Suas aspirações se resumiam
àquilo? Usar os contatos do pai e crescer de forma
irreal e ilusória? Sem sequer fazer faculdade? Não
pôde evitar pensar em comparação, em como os
objetivos de Theo eram tão mais dignos. Mudar o
mundo um passo por vez, fazer sua parte na
sociedade, ajudar as pessoas. Isso eram sonhos de
um homem! Um homem maduro, consciente,
responsável. Inconscientemente, desbloqueou a tela
do celular para ver se havia alguma mensagem não
lida dele, mas o aparelho não denunciava nada.
- Que bom pra você, Sam. Boa sorte nessa
empreitada. - Murmurou mecanicamente para o
amigo confiante e sorridente. - Podemos tomar o
sorvete agora de uma vez?

Entediada. Essa era a definição do estado de


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espírito no qual se encontrava Bianca depois de já


ter tomado tudo o que interessava do sorvete e
escutar Samuel Luscenti falando sem parar sobre
festas, os amigos babacas, o time imbecil, e suas
noções mais que equivocadas sobre a vida, política,
arte e cultura por quase 50 minutos. Os restos de
calda e massa derretida no pote não eram
interessantes o suficiente para distraí-la do
monólogo incessante do garoto sobre todos os
assuntos fúteis e sem profundidade existentes na
face da Terra. Ela empurrava a cereja de um lado
para o outro torcendo para que ela se transformasse
em um dragão e comesse a cabeça do loiro para que
pudesse levantar e ir embora de uma vez como se
nada tivesse acontecido. Mas então, se lembrava de
que, se ele conseguia ter assuntos tão inúteis e
desinteressantes por tanto tempo, era porque não
usava a cabeça de fato, e portanto perdê-la não faria
a menor diferença.
Suspirando, lembrava-se das aulas de Theo
novamente, dele dizendo que ela precisava fingir
interesse no que o alvo dizia para conquistá-lo, e do
quanto ela não queria fazer aquele esforço no
momento. Tudo bem, ter Sam na palma das suas
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mãos era praticamente questão de princípio agora,


mas seduzi-lo teria que ficar para outro dia, pois
naquele, em específico, ela não podia ter menos
vontade de fazê-lo.
De todo o blá blá blá do loiro, só uma coisa
havia lhe prendido a atenção, e ela estava louca
para ligar para o professor e contar a notícia, para
saber o que ele diria a respeito. Ao perceber que
sua educação já tinha passado longe, ela
interrompeu qualquer frase que ele dizia no meio e
pediu licença para usar o toalete, onde pretendia
contatar, enfim, o moreno.
Levantou-se e se encaminhou para os
fundos da sorveteria, onde ficavam os banheiros
privativos, que funcionavam mais ou menos como
lavabos, o que era suficiente considerando o porte
do estabelecimento. Abriu a porta do feminino, que
nada mais era que um corredor pequeno com uma
pia arrumadinha e um único vaso ao fundo, e já
estava sacando o celular quando uma mão impediu
a porta de se fechar. Bianca teria se assustado, não
fosse a porta se abrindo de novo e revelando o
professor com uma careta determinada.
Theo se enfiou no cubículo com ela e girou
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a tranca atrás de si.


- Theo! O que você tá fazendo aqui? -
Esganiçou baixinho, com medo de que alguém do
lado de fora os escutasse.
- Digamos que bateu a saudades e eu não
podia esperar. - Ele piscou, já colocando as mãos
grandes uma de cada lado da cintura de Bianca e
puxando-a para si, chocando seus corpos.
- Eu preciso te contar uma coisa. - Tentou
dizer, enquanto ele já tinha a cabeça enterrada no
pescoço perfumado dela, distribuindo generosos
chupões e beijos lânguidos, que, sem mais nem
menos, amoleciam as pernas da garota sem
autorização.
- Depois. - Rugiu, levantando a blusa dela
até a cintura e já a colocando sentada na pia, as
pernas abertas onde seu corpo se encaixava
perfeitamente. Segurou as coxas fartas firmemente
e obrigou as pernas a se cruzarem atrás do seu
quadril, os beijos descendo pelo colo já arfante da
menina, que tinha seus cabelos entre os dedos.
- Se eu demorar, o Sam vai estranhar. -
Soprou, sem muita força para negar aquele
momento proibido e roubado, simultaneamente
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descendo as mãos pelo peitoral forte do mais velho


até brincar com a abertura de seus jeans.
- Ele supera. - Não podendo dar menos
importância àquele fato, Theo arrancou sem
cerimônias a calça de Bianca e a própria camiseta,
antes de chocar com brutalidade e fome os lábios
com os dela. Apertou e bolinou um seio enquanto o
quadril se empurrava por conta própria contra o
fundo já bastante úmido da calcinha de algodão que
ela usava.
Rosnando fora de controle, Theo rompeu o
beijo alucinado e se abaixou em frente a ela para
colocar a calcinha de lado e distribuir
entusiasmadas lambidas por toda a intimidade rosa
e mordidas no clitóris.
Bianca mordia os próprios dedos, tentando
se manter silenciosa, quando tudo que queria era
gritar de tesão e gemer como uma vadia no cio,
surpreendendo-se com o quanto aquele amasso
estava sendo sensacional.
Vagamente ciente da pressa que a situação
exigia, Theo entregou uma camisinha para Bianca
abrir enquanto se livrava das próprias calças e
boxer, ficando gloriosamente nú. Trêmula de
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ansiedade, ela conseguiu vesti-lo com propriedade,


e logo ele estava dentro dela. Suspiros de alívio
idênticos foram emitidos, e maiores manifestações
foram abafadas na boca alheia ao partilharem outro
beijo molhado e gostoso, que acompanhava com
perfeição o ritmo frenético que o choque entre
quadris seguia.
Nenhum dos dois conseguiu segurar muito
tempo, bêbados de adrenalina e desejo, e se
derramaram ao mesmo tempo em um êxtase longo,
aliviado e cheio de incuráveis saudades.
Ofegando no colo de Bianca, Theo
murmurou um "até amanhã, linda", se vestiu na
velocidade da luz e deixou o reservado com um
selinho e um beijo na testa da garota.
Levemente recomposta, Bianca imitou o
professor, detendo-se uns segundos a mais para
colocar os cabelos no lugar, e voltou para a mesa,
vendo um Sam preocupado perguntar ao caixa do
lugar se tinha visto uma garota com as suas
qualidades saindo da sorveteria abruptamente. Ao
vê-la se sentar de volta no lugar onde estavam, ele
voou para a cadeira na sua frente, perguntando o
que diabos tinha acontecido para atrasá-la 20
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minutos em uma simples ida ao banheiro. Contendo


um sorriso arteiro com o olhar na porta, Bianca
disse que só tinha recebido um chamado inadiável.
- Mas está tudo bem? - Ele perguntou,
provavelmente entendendo que era uma ligação de
sua mãe ou algo similar.
- Agora tá tudo perfeito. - Ela respondeu,
arrumando a camiseta amassada com prazer.

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O mundo estava caindo em uma típica


chuva de verão. Rápida e devastadora, ela obrigava
os alunos a entrarem na escola correndo e a
partilharem guarda-chuvas pequenos demais para o
número de pessoas que normalmente protegiam.
Theo esperou impaciente a chegada de
Bianca, que veio segurando o fichário sob a cabeça
e mais gelada que um esquimó. Imediatamente ele
colocou a própria jaqueta em cima dos ombros
dela, e a acompanhou para sua sala, sem dizer
sequer uma palavra. O casal parou à porta e trocou
um longo olhar, seguido de um sorriso ameno por
parte da garota. Theo esticou a mão e acariciou seu
rosto delicado, ainda olhando seriamente para cada
detalhe do mesmo.
- Você vai lá pra casa hoje, né? - Perguntou
baixinho, parecendo hipnotizado.
- Óbvio. Achou que ia se livrar de mim tão
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fácil? - Bianca riu arteira, conseguindo arrancar um


riso curto do mais velho.
- Tá bem, passo aqui no final do período. -
Ela concordou em um aceno e eles tomaram rumos
diferentes.
Theo se sentia um pouco contraditório.
Como se tivesse engolido uma bola de pelos ou
algo igualmente desagradável, que mastigava seu
peito e o deixava com uma sensação estranha de
incompletude.
Apesar de ter sido incrível e muito gostoso,
ele se sentia mal pela aventura no banheiro da
sorveteria, pois tinha a sensação de ter aparecido ali
por todos os motivos errados. Não era
necessariamente saudades de Bianca, embora sua
presença sempre lhe fizesse falta. Não era tesão,
pois ele já não era mais um pré-adolescente no cio
que não sabia se controlar. Era algo diferente, algo
que se relacionava não ao fato de que sua menina
não estava consigo, mas sim ao fato de que ela
estava ali com ele.
E assim ele tinha dado nome ao seu
problema. Sam. Até quando precisaria se sentir
preterido com relação àquele idiota? Ele era melhor
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em tudo, mais bonito, charmoso, inteligente,


simpático. Não havia um único motivo que
colocasse o estúpido do loiro à sua frente para que
ficasse tão incomodado.
Exceto pela mais importante das
características: Era ele quem tinha a Bianca.
Então era isso? Tinha se resumido a um
infeliz garotinho assustado e com ciúmes?
Arg. Só o pensamento lhe causava repulsa.
Ciúmes era o sentimento mais vil e sem
fundamentos que o ser humano poderia sentir. Ele
sabia bem disso, já tinha lidado com inúmeras
crises das garotas com quem estava costumado a
sair.
E agora o jogo tinha virado contra ele.

Entraram na casa de madeira correndo para


fugir da chuva e de um Whisky encharcado, louco
para pular em suas roupas com as patas lamacentas.
Bianca ria abertamente, lembrando da face do
cachorro querendo brincar e pulando em poças de
água como se fosse carnaval, espirrando a mesma
para todos os lados. Ele até mesmo chegava a
morder as gotas que caiam do céu em uma piada só
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sua. Aquele grandalhão era mesmo único.


Uma vez dentro da segurança do teto que os
cobria e já recuperados da correria, Theo e Bianca
se jogaram no sofá em frente à televisão desligada e
descansaram as cabeças no encosto, se olhando.
- Eu acho que eu te devo desculpas, anjo. -
Theo disse, repuxando os lábios.
- Desculpas? Pelo quê? - Indagou com as
sobrancelhas franzidas em confusão.
- Por ter aparecido ontem no seu encontro
com o loiro sem ser chamado. - Ele deu de ombros,
simplório.
- Mas... Eu gostei de você ter aparecido. -
Disse com as bochechas adoravelmente vermelhas.
- Eu sei que sim, sua safada. - Brincou
apertando a barriga dela como de costume. - Mas
não foi certo ainda assim.
- Se você diz, senhor correto, eu acredito.
Mas não se preocupe, está desculpado.
- Obrigado, linda.
- Disponha, professor.
- Por falar em professor... Acho que posso
te passar a sétima aula já.
- Eba! Sobre o que é? - Bateu palminhas,
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animada.
- Sobre inovar. - Pontuou, misterioso. Eles
sentaram corretamente. - Rotina é algo maravilhoso
para disciplinar crianças, mas letal para muitos
relacionamentos. É importante sempre o casal achar
uma forma de quebrar a inércia e se colocar em
situações diferentes, que lidem com o inesperado e
tragam alguma experiência nova. Isso vale para
tudo, então é importante inovar no programa dos
encontros, variar os restaurantes, os motéis, as
posições na cama, tudo. Principalmente no sexo,
que como já expliquei, é um alicerce
importantíssimo no qual muitos namoros se
baseiam, fazer coisas diferentes mantém a dinâmica
do casal interessante e excitante. Afinal de contas,
ninguém aguenta fazer papai-e-mamãe para
sempre. - Revirou os olhos com obviedade.
- Deixa eu adivinhar: Minha lição de casa
vai ser ler o Kama Sutra? - Desconfiou,
espremendo os olhos.
- Não, linda. O Kama Sutra é um livro
arcaico, criado por um indiano machista para
descrever o que suas várias esposas deveriam fazer
para lhe dar prazer. Em um momento ele enaltece a
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mulher e no outro está dizendo que sexo oral é


coisa de prostituta. É sem noção e eu sou bem
contra ele. Pelo menos o original... Esses manuais
de posições que tem em lojas de conveniência
levam o nome de "Kama Sutra" levianamente.
- Então o que eu vou ter que fazer? -
Franziu as sobrancelhas, sem entender.
- Dessa vez, nada. Você já cumpriu sua
lição, de certa forma.
- Hã?
- Seguinte, quando os casais querem
quebrar a rotina além das posições, normalmente
eles procuram casas de swing, amigos interessados
em ménage a trois, dildos e vibradores, artigos de
BDSM, cursos de massagem tailandesa, tentam
sexo anal, voyerismo, exibicionismo... Tem uma
série de alternativas. Uma delas é o sexo em
público, que foi basicamente o que fizemos ontem,
com todo o perigo e adrenalina que correu nossas
veias, deixando tudo melhor.
- Uau! A gente praticou antes da aula? Isso
que é gabaritar uma prova. - Bianca riu, puxando o
garoto para acompanhá-la.
- Exatamente! E outra coisa que também dá
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sempre uma apimentada no relacionamento é ir


para a cama com diferentes sentimentos, diferentes
emoções. Ao invés da tradicional paixão e luxúria,
usar a raiva do trabalho, a melancolia do dia
chuvoso, a ansiedade pelo resultado de um exame.
Se afogar realmente no parceiro. Novamente, nós
fizemos isso ontem. Eu estava um pouco irritado...
- "me mordendo de ciúmes, na verdade", completou
em sua cabeça. - E você estava feliz, arrisco dizer,
pelo seu encontro. - "feliz... Mais para morta de
tédio", foi a vez de Bianca dizer mentalmente.
- Entendi. Então quanto mais diferente for
cada transa, melhor.
- Sim, senhora. - Theo parabenizou, dando
por finalizada mais aquela aula. Estava chegando
ao ponto de não ter mais muito o que ensinar para a
garota, que já estava pegando as orientações dele
com muito mais facilidade e desinibição. De fato,
aquela Bianca era uma pessoa completamente
diferente daquela que havia estado em seu sofá pela
primeira vez, uns dois meses e meio antes.
- Ah, deixa eu te falar! Acho que eu decidi o
que fazer com relação ao meu pai. - Ela
interrompeu seus pensamentos contemplativos, e
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mesmo assim ele não pode evitar olhá-la com


carinho e um sorriso cúmplice no rosto bonito.
- É? Quando isso aconteceu? Você agora
toma decisões sem falar comigo antes? - Bianca
deu um tapa estalado no braço do mais velho, rindo
com seu exagero premeditado.
- Sim, ó todo poderoso, eu consigo andar
com os meus próprios pés. - Mostrou a língua,
birrenta.
- Bem, eu estou orgulhoso então. Me diz, o
que você decidiu?
- Bom... Meu pai me ligou ontem. No
celular, claro, porque em casa minha mãe não
passaria a ligação. -Revirou os olhos, irritada.
Aquele fato não deixaria de emburrá-la tão cedo. -
E a gente conversou um monte, por quase duas
horas. Ele me contou um pouquinho da vida dele
depois que saiu de casa e algumas histórias
engraçadas sobre a nova família e eu me senti...
Acolhida, sabe? E aí eu decidi dar uma chance e
tentar morar com ele, nem que só durante as férias
para ver como é que é.
- Mas e a sua mãe? - Theo lembrou,
preocupado que se as coisas não corressem como
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ela pensava, fosse perder a moradia na qual


habitava atualmente.
- Então, essa é a parte mais legal. - Bianca
se sentou com pernas de índio, como costumava
fazer quando tinha algo muito interessante para
falar ou escutar. - Meu pai apareceu no trabalho
dela e disse tudo, que já sabia que ela estava
impedindo nossa comunicação, e que, se ela não
colaborasse com quaisquer escolhas que eu fizesse,
ele ia na justiça me tirar dela. E, aparentemente,
apesar de todas as patadas que ela me dá, ela
valoriza a minha presença na casa dela o suficiente
para aguentar calada.
- Que demais, Bianca! Fico feliz por você,
anjo. De verdade. - Theo puxou a mão dela para si,
apertando com força para mostrar que estava ao seu
lado, o sorriso rasgando a face ao ver a dela
iluminada. - Aliás, lembrei agora que eu não te
deixei falar no banheiro. O que você queria me
contar?
- Ai, é! Você não vai acreditar! Ontem, na
sorveteria, o Sam me disse que tinha pensado bem
durante o dia, e que naquela mesma noite ele ia
terminar com a Milena! - Abriu os braços na maior
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novidade que recebeu durante aquele ano, animada


e incrédula como poucas vezes Theo havia visto. O
garoto recebeu a notícia congelado, com os olhos
levemente arregalados e sem conseguir esboçar
reação. Devia parecer feliz por ela? Porque agora...
Bianca tinha o caminho livre, certo? O que poderia
impedí-la de ficar com o melhor amigo? ... Ele?
E se sim... Com que direito faria isso?
- Interrompo alguma coisa? - Uma voz
feminina falou vinda de trás do casal. Ambos
viraram a cabeça para deparar-se com uma garota
encharcada de calça cargo, botas de combate e top
cropped, deixando a barriga sarada a mostra. Ela
era esbelta, alta, com todas as curvas certas no
lugar, extremamente bronzeada, e seus longos
cabelos castanhos cacheados e descoloridos nas
pontas pingavam, contribuindo para deixar a meia
blusa branca transparente. A garota era a definição
de exótica, e Bianca podia apostar que não havia
um homem no mundo que a julgaria como algo
menos do que maravilhosa.
- Sophia? - Theo perguntou baixinho, como
se visse uma miragem.
- Vem me dar um abraço, seu gostoso! - Ela
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gritou, com um sorriso contagiante no rosto, e logo


estavam os dois enroscados em um abraço mais que
apertado, a menina desconhecida pulando no colo
dele, passando as pernas a sua volta.
Bianca se sentiu uma intrusa na ceia de
natal. Havia uma intimidade tão palpável ali que ela
chegava a ficar constrangida e incomodada, e de
repente tudo que queria era estar do lado de fora
brincando com Whisky para não ter que observar a
cena.
- Desde quando você voltou? - Theo
perguntou quando ela já tinha descido de seu colo.
- Vim direto do aeroporto. Minhas malas
estão no carro, até! Pra você ver o quanto eu te
amo, peste.
- Garota, que saudades que eu estava de
você! Essa cidade não é a mesma coisa sem essa
sua bunda magra balançando de um lado para o
outro.
- Olha, você me respeita que aqui tem carne
o suficiente pra levar qualquer um à loucura e eu
não sou obrigada a lidar com o seu recalque. -
Brincou, dando um beijo no próprio ombro. Theo
deu risada e se virou para o sofá de volta,
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parecendo só então se lembrar da presença de


Bianca ali no cômodo.
- Que cabeça a minha, Bianca! Essa é
Sophia. Ela é minha melhor amiga que estava
fazendo intercâmbio no Vietnã pelos últimos seis
meses. - Apresentou, não tirando os olhos saudosos
da amiga.
- Prazer em te conhecer. - Disse, polida,
excessivamente educada e formal.
- Menina, você é muito travada! Não vai
nem me chamar de doida de ter ido pra um país tão
aleatório e ter aparecido aqui assim, toda
destrambelhada? - Zombou, a sinceridade além da
conta enfatizando seu jeito despojado.
- Ahm... Desculpe?
- De onde você raptou esse anjinho,
Versolati? - Sophia se virou para o moreno, as
mãos na cintura como se o tivesse pego fazendo
arte.
- Ela quem me achou, por incrível que
pareça. - Ele deu de ombros, com um sorriso de
canto.
- Ainda vou decidir se acredito em você.
Anda, vamos sentar que eu to aqui há dois minutos
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e você já cansou a minha beleza. - Ela se jogou no


sofá sem convite, Bianca apenas dobrou os joelhos
voltando para a mesma posição, e Theo se apoiou
no braço da poltrona para ficar de frente à amiga.
- Mas e aí, como foi lá no fim de mundo? -
Perguntou, curioso e implicante.
- Você tá brincando com o fogo, bonito. -
Avisou, em tom de brincadeira. - Ah, foi tudo que
eu esperava! Eu vivi uma vida de típica vietnamita,
aprendi muito sobre a cultura deles e
principalmente sobre as dificuldades que o turismo
tem no país.
- Conseguiu mudar o mundo?
- Um passo de cada vez, como sempre. -
Deu de ombros em falsa modéstia. - E vocês dois?
É uma foda casual ou vocês foram encoleirados? -
Soltou, sem filtro, fazendo Bianca ficar mais
vermelha que maçã e Theo tossir em meio a uma
risada.
- Eu to ajudando a Bianca com... - Theo
começou a explicar, sendo brutalmente
interrompido por um latido de Bianca.
- Estamos namorando. Firme. - Ela disse em
tom definitivo olhando para ele, lembrando-o de
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que ninguém devia saber da suposta farsa. Mesmo


estando brava na superfície, por dentro a menina
estava arrasada por ele não ter sequer tentado ficar
ao seu lado naquela história, sem fazê-la parecer
mais inferior à Sophia do que o óbvio. Mas a
morena era a melhor amiga dele, e não haviam
filtros entre os dois, logo, Theo não o fez por mal.
- Olha só, a baixinha tem garras! Arrasou,
amiga! - Sophia riu divertida, sendo novamente
brutalmente sincera e simpática em um nível que
não podia ser saudável.
- E você, maluca, tá presa? - Theo
perguntou e Bianca não pode deixar de indagar se
tinha interesse próprio por trás daquela inocente
fala.
- Eu sou do mundo, Theo, você sabe disso. -
Abanou o ar, fazendo pouco caso.
- Piranhando como sempre então. - Ele
concluiu, com um sorriso zombeteiro ladino.
- Eu faço o que posso. - Piscou, então se
levantando e batendo na calça para tirar a poeira
inexistente. - Bom, crianças, eu tenho que ver a
velha ainda. Mas nos encontramos no reformatório
juvenil amanhã, muito provavelmente. - Sophia deu
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um beijo estalado na bochecha de Theo e um


apertão na bochecha de Bianca, a qual também teve
os cabelos bagunçados.
- Reformatório juvenil? - Bianca perguntou
baixinho com os olhos arregalados após a saída da
outra.
- Ela quis dizer a escola. - Theo riu,
voltando a se jogar no sofá, cansado como se
tivesse corrido uma maratona. Era o efeito Sophia:
ela o enlouquecia tanto, com suas frases de efeito e
molecagens, que quando ela se afastava ele tinha
vontade de nunca mais levantar. - Como ela trancou
o ano letivo no meio pra fazer o intercâmbio, ela
provavelmente vai cursar o terceiro com você.
- Ah, maravilha. - Bianca resmungou. Não
tinha nada diretamente contra a garota, mas a
presença dela a incomodava por algum motivo
desconhecido. Para começo de conversa, por que
cazzo ela nunca havia ouvido falar dessa menina
antes? - Eu não lembro dela ter estudado na nossa
escola.
- Isso é porque ela nunca ia nas aulas.
Ficava no pátio atrás das árvores falando com todo
tipo de pessoa aleatória. Ela conseguia ter segredos
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das mais diversas naturezas com as pessoas do


colégio, e ninguém nunca ficava sabendo.
- Ela parece ser uma pessoa única. - Bianca
tinha certeza que vista de fora, ela se assemelhava a
um robôzinho, treinado para não transmitir
emoções. Porque, se alguém visse como ela estava
se sentindo naquele momento, se protegeria com
armaduras pesadas, pois seu humor estava a ponto
de explodir.
- Única? A Soph é completamente pirada!
Teve uma época que eu chegava em casa e ela tinha
aberto a porta com clips e tava dormindo no meu
tapete sem avisar. Outra que ela pegou o técnico do
time de futebol e prometeu que eu ia entrar pro
time quando eu nem tava interessado na peneira. E
antes dela ir pro intercâmbio, apareceu abraçada
com uma garota se dizendo lésbica quando era tudo
um plano pra enlouquecer a mãe até ela pagar o
boleto da viagem. Resumindo: Convencional não é
uma palavra que se aplica àquele caso perdido. -
Contou, fazendo longas pausas para rir das
estripulias da amiga perfeita.
- Você fala dela com muito carinho. Devem
ter uma história e tanto... - As unhas de Bianca
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estavam excessivamente interessantes naquele


momento, mesmo que as cutículas estivessem no
lugar e o esmalte inteiro. Ela estava decidida a dar
continuidade àquela conversa com naturalidade,
mas ver o brilho no olhar do professor ao se referir
a outra garota já era pedir demais.
- Acho que se pode dizer isso. A gente se
pegou há uns três anos e no dia seguinte ela armou
uma cena, ao colocar um lenço na cabeça, dizendo
que era islâmica e que seu marido ia me matar. Eu
praticamente enfartei até ela cair na risada, bater na
minha bunda e dizer que ia me fazer uma vitamina
porque eu estava "muito tenso". Foi ali que a gente
ficou amigo. - Sorriu, saudoso. No entanto, a
confirmação de que eles haviam ficado juntos em
algum tempo remoto só piorou toda aquela bolha
de insatisfação e revolta dentro de Bianca, que, não
aguentando mais, resolveu fazer uma proposta
ousada.
- Legal... Escuta, Theo, eu ainda não to
muito segura se aprendi direito a aula do sexo oral
e queria praticar um pouco mais. - Jogou, como
quem não quer nada, inocente do pau oco.
- Isso é sério? - Ele levantou as
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sobrancelhas, admirado.
- Você não quer? - Fez pouco caso, os olhos
em fendas.
- Anjo... Existe algum cenário em que você
me imagina dizendo "não" pra essa boquinha
enlouquecedora?
- Talvez... – Murmurou, pensando que havia
uma possibilidade de não ser a boca dela que ele
almejava.
- Bom, então nós vamos precisar ir pro
quarto para que eu te convença, não é mesmo?

Theo pegou a menina no colo em meio a


reclamações e interjeições sobre poder andar
sozinha e a soltou na cama de casal, fazendo seu
corpo quicar uma ou duas vezes. Então, rastejou
sobre ela até colocar o lóbulo de sua orelha na boca
e sugar como se sua vida dependesse daquilo.
Bianca sentiu o corpo estremecer sem permissão, e
escolheu por colocar as preocupações de lado para
pelo menos explorar as costas do rapaz com as
unhas médias, sentindo cada contorno
maravilhosamente esculpido, os músculos
tensionados por estar segurando seu peso para não
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jogá-lo inteiro na garota.


Apesar de ser muito bom sentí-los assim,
saltados, Bianca enlaçou as pernas no quadril de
Theo e o puxou para si, demonstrando o quanto o
contato entre seus corpos era bem-vindo.
Rosnando, ele subiu a boca na direção da sua, já
enfiando a língua na garganta da menor e sugando
sua saliva. Beijaram-se alternando velocidade e
quem puxaria o lábio de quem entre os dentes, até
que a temperatura do quarto estivesse
perceptivelmente elevada.
Theo tomou a iniciativa de tirar as roupas
do caminho, puxando de uma vez só a própria
camiseta e o vestidinho de Bianca, e ela o ajudou a
desabotoar a calça e a empurrou com os pés para
longe. Em questão de segundos, estavam nus e
prontos para se enterrar um no corpo do outro.
O mais velho apertava entre os dedos o
mamilo sensível e rosado de Bianca, enquanto ela
se aventurava a dar chupões que na certa deixariam
marcas no pescoço perfumado dele. Já se preparava
para abrir a boca e gemer, quando Theo se jogou
para o lado, saindo de cima dela.
Confusa, ela o olhou, sorridente e ofegante.
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- Você não disse que queria praticar? Aí a


sua chance. - Levemente frustrada, Bianca se
ajoelhou do lado do quadril do moreno, colocando
os cabelos de lado para não atrapalharem o
trabalho. Apesar de inegavelmente divertido assistir
todas as reações em cadeia que aquilo causava no
corpo dele, ela também estava excitada e ansiosa
por sentir prazer. Mas, não ia reclamar, pois ela
própria havia pedido por aquilo. Mas antes que
pudesse descer a boca morna sobre o mastro
irremediavelmente duro do rapaz, Theo a
interrompeu. - Não, linda. Você se senta aqui e aí
faz o que tem que fazer. - Ele explicou, batendo no
próprio peito. Sem entender nada, Bianca o olhou
com as sobrancelhas franzidas.
- Mas aí o seu rosto vai ficar... Ah. - Apesar
de inexperiente, ela logo entendeu que Theo havia
achado uma forma de lhe agraciar simultaneamente
ao que recebia o boquete. Eles fariam o famoso 69.
Envergonhada de uma forma adorável,
Bianca passou a perna para o outro lado do corpo
dele, ficando com a intimidade timidamente
molhada bem ao alcance da boca do professor.
Estava decidindo se conseguiria ficar confortável
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com aquele nível de exposição, quando Theo caiu


literalmente de boca na boceta rosada, engolindo de
uma vez sua lubrificação e chupando o clitóris já
sensível.
Soluçando em surpresa com o prazer
arrebatador que sentiu sem precedentes, ela se
animou para enfiar o pau de Theo quase todo na
boca. Tirou em seguida e cuspiu para umedecê-lo
de uma vez, já tornando a abocanhá-lo novamente.
Subia e descia a cabeça na mesma velocidade que
sua respiração desenfreada, sufocando gemidos e
gritos pelas maravilhas que o garoto performava
com ela.
Theo chegou a pousar a língua no grelinho
dela e fazê-la vibrar, como um maldito pau à pilha,
enviando choques desesperados pelo seu corpo em
busca de alívio. Em outro momento, a penetrava
com a língua molhada, em uma sensação
indescritível que beirava a satisfação insana e a
vontade irracional por algo maior e mais duro.
De alguma forma, quanto mais prazer
recebia, mais prazer Bianca se dignava a dar,
sugando as bochechas e chupando com força a
cabecinha, até ter Theo urrando no mesmo volume
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em que ela própria. Ele aproveitava ainda para


deixar a marca de seus dedos cristalizada nas
nádegas dela, onde também deixou um tapinha
quando o elogio "gostosa" escapou de seus lábios, e
ela descobriu que fazia sim o tipo que se excitava
com isso.
Seu orgasmo veio, a atingindo em ondas
contínuas por quase 60 segundos, o mais longo que
já teve, e ela fez questão de recebê-lo com o pau de
Theo na garganta, o grito de prazer tremendo as
cordas vocais e estimulando-o com igual força para
que também alcançasse seu ápice.
Dessa vez, Bianca não deixou que ele a
afastasse e engoliu gota a gota a liberação do garoto
no que marcou uma das noites mais intensas de seu
relacionamento nada convencional.

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Sophia marchou pelos corredores do colégio


com seus jeans surrados, as botas do dia anterior e
mais uma camiseta cropped, dessa vez de alguma
banda de rock, cumprimentando vez ou outra
algum aluno fantasma, dos integrantes do coral aos
jogadores de truco compulsivos. Ela parecia
incapaz de ter um amigo simples; todas as pessoas
com quem falava eram peculiares em sua própria
forma. Quando avistou Breno perto do bebedouro,
escondeu-se sorrateira atrás de uma porta aberta e
pulou dali abruptamente, fazendo o outro dar um
grito de susto.
Rindo até a barriga doer e vendo o
grandalhão afastar-se aos resmungos, ela procurou
o melhor amigo com o olhar, encontrando-o um
pouco mais a frente. Acenou um beijo
espalhafatoso que fez algumas pessoas ao redor
encararem com diversão no olhar.
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Theo se afastou da roda de amigos com


quem conversava para se aproximar da garota,
gargalhando.
- Ele vai achar que eu te mandei fazer isso. -
Constatou ainda dando risada.
- Que? Quem? - Soph perguntou, não
fazendo ideia sobre o que ele falava.
- O Breno. A gente brigou um tempo atrás,
e ele sabe que você é minha amiga.
- Ah. Bom, sinto muito por ele, mas eu não
podia ligar menos nem se eu quisesse. – Deu de
ombros, displicente.
- E não é sempre assim com você? - Theo
passou um braço ao redor do pescoço da morena e
caminhou com ela meio sem rumo. - Você vai à
aula hoje? – Incrédula, Sophia encarou o amigo
como se questionasse a saúde mental dele.
- Querido, eu só vim fazer a matrícula, mas
mesmo se tivesse aulas para frequentar, você sabe
que eu não iria. – Ela enfatizou, fingindo um
arrepio por considerar a ideia.
- Não sei nem porquê eu perguntei... - Theo
revirou os olhos, um sorriso de canto.
- Anda, vamos comigo pro pátio. Faz tempo
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que a gente não conversa direito e eu quero ficar


por dentro das fofocas. – Piscou, puxando-o
consigo sem esperar resposta.

- Então, fofoqueira, o que você quer saber?


- Theo perguntou, implicante, após estarem os dois
sentados atrás de uma árvore grande, longe da vista
de alunos curiosos. Ele deveria estar na aula de
matemática, mas, sendo sua melhor matéria, achou
por bem faltar para passar um tempo de qualidade
com a amiga.
- Eu quero saber de você, seu insuportável.
– Deu um tapinha no joelho de Theo. - Como tão as
coisas com os seus pais?
- Ah, com meu padrasto é o de sempre. Ele
não consegue aceitar nada do que eu digo e a
recíproca é verdadeira, então a gente se evita o
quanto der. Mas a minha mãe... - Parou por um
segundo, buscando as palavras que descrevessem o
quanto ela havia mudado. - Parece uma nova
mulher. Ela fica me incentivando em tudo que eu
faço agora, como se fosse minha própria equipe de
torcida. É francamente assustador. – Arregalou os
olhos, dramático.
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- Nossa! E que raio caiu na cabeça dela pra


causar essa mudança? - Sophia brincou, virando na
boca a garrafinha de água que carregava na bolsa.
- Eu diria que o raio leva o nome de Bianca.
Elas conversaram um dia brevemente, e não sei se a
senhora minha mãe estava tão desacostumada a
ouvir verdades que aquilo a impactou, mas desde
então ela tem sido assim, mais... Materna. - Deu de
ombros, como se dissesse "não sei o motivo, mas
continuando assim, tá tudo bem!".
- Bom, é uma ótima notícia! - Sorriu.
- E a sua família, como está?
- Doidos da vida preocupados com o que eu
quero fazer da vida depois desse intercâmbio. Acho
que estão começando a perceber que eu não vou ter
futuro em um lugar fixo, com marido e filhos como
eles esperavam. - Revirou os olhos, cansada do
conservadorismo que a sociedade impunha em
garotas de sua idade para seguirem aquele destino.
- Já contou à eles sobre a entrevista de
emprego na companhia aérea? - Theo perguntou,
lembrando-se da mensagem que recebeu naquela
manhã, que só continha o print de um e-mail
marcando um encontro profissional.
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- Ainda não. Mas algo me diz que não vai


ser tão surpresa assim. Trabalhar em um lugar que
me proporcione viajar para todos os lados é...
- A sua cara. - Ele completou.
- Exatamente. - Concordou, repuxando os
lábios. - Assim como a sua é tratar famílias de
refugiados na África. Você acha que agora que sua
mãe tá mansa isso pode rolar? - Levantou as
sobrancelhas, francamente esperançosa por ele.
- Ainda não sei, e prefiro deixar nas mãos
do destino. - Maneou a cabeça, esmagando uma
folha seca nas mãos apenas porque sim.
- É justo. - Ponderou. - Agora, vai! Já fingi
ser uma boa amiga por tempo demais. Você vai
precisar me contar da sua namoradinha. - Bateu
palmas, animada. Theo suspirou, sabendo que
aquele era o cerne no interesse da amiga naquela
conversa desde o princípio.
- Não tem nada pra contar, Soph. A Bianca
só... Aconteceu. - Disfarçou, louco para fugir do
interrogatório.
- Theo, não me enrola que eu não sou teus
beck! - Sophia disse alto, enfurecida, e arrancou
risos do garoto pela expressão peculiar usada. -
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Qual é a história dessa menina? Anda, desembucha.


- Você sabe que não é normal, certo? -
Conferiu, só para ter certeza.
- Versolati... - Avisou, ameaçatória.
- Tá, tá. - Se rendeu. - Ela não queria que eu
te contasse, então você vai ter que ficar de boca
fechada. - Sophia cruzou os dedos em um "x" e
beijou-os duas vezes, sinalizando que aquilo não
seria problema. - Bom... Ela veio até mim um
tempo atrás pedindo ajuda pra conquistar o melhor
amigo. Ela era bem tímida e simplória, então o
imbecil não prestava atenção nela e acabou
preferindo uma outra gostosa sem cérebro. -
Explicou, passando rápido por aquela parte final,
que ainda lhe dava raiva. - Bom, eu relutei no
começo, mas acabei aceitando ajudar, e dei
verdadeiras aulas pra ela sobre sedução, flerte e
relacionamentos. Algumas dessas aulas passaram
um pouco do nível e a gente acabou se beijando e
transando, até. E, com o tempo gasto juntos,
criamos muita intimidade e cumplicidade. O
namoro foi mais uma jogada para causar ciúme no
amiguinho, mas parece a cada dia mais real. -
Constatou, só então percebendo aquele fato em
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específico. Ele e Bianca realmente agiam como


namorados 24/7, sem pausas, e era engraçado de se
pensar que não precisariam. Nem passava pela sua
cabeça a ideia de mudar aquilo.
- Sei. E como ela é? Digo, com você?
- Ela é um anjo, Soph. Juro, todos os meus
dramas de faculdade e familiares ela escuta e
entende e ainda se mete a resolver, trazer soluções.
Chegou a me entregar um bilhão de folhetos sobre
voluntariado e dupla graduação, e me levou para
conversar com o tio advogado sobre emancipação.
E ela é carinhosa, e engraçada, e toda vez que eu
consigo tirá-la do sério ou deixá-la envergonhada
eu sinto como se tivesse ganhado na loteria de tão
adorável que ela fica. E mesmo com todo esse jeito
de menina, toda essa doçura... Na cama é como se
ela pegasse fogo e libertasse a mulher dentro dela.
Ela é impossivelmente sexy, de um jeito único e
suave, que me deixa louco. - Theo fechou os olhos
brevemente e bagunçou os cabelos, como se os
efeitos da menina tivessem implicações mesmo ali,
só de falar nela. Sophia estava intrigada com o
relato do rapaz, por toda a devoção contida ali em
exemplificações da mais absoluta entrega.
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- Entendi... E quando você descobriu que


tava apaixonado por ela? - Perguntou,
simplesmente.
- QUE? - Theo engasgou com a água que
ele tomava, surpreso pela pergunta completamente
inesperada.
- Quer dizer, eu sei que você é bem cabeça
dura, por isso deve ter demorado, mas ainda assim,
faz tempo? - Explicou, só causando mais
indignação com o questionamento que Theo
julgava descabido.
- Eu não estou apaixonado pela Bianca,
Sophia! Você tá doida?
- Sempre, mas aparentemente você também.
- Gesticulou para ele, sem entender como era capaz
de não ter sequer considerado aquela opção até
então.
- Olha, você passou tempo demais vivendo
imersa em uma cultura diferente e não tá mais
acostumada com o mundo como ele é... - Começou,
tentando achar um jeito de invalidar qualquer
argumento que estivesse para vir.
- Pra quê criar tantas desculpas, amigo? Sua
teimosia não conhece limites? - Franziu as
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sobrancelhas, francamente desacreditada de


tamanha cegueira.
- Não é questão de desculpa, Soph, eu to
falando sério. Eu não penso nela dessa maneira, ela
sequer gosta de mim, só se aproximou pelo amigo.
- Tentou se racional, percebendo que ela não
desistiria daquela ideia com facilidade.
- Você não pensa nela dessa maneira porque
acha que ela não corresponde, saquei. - Sophia
fingiu dar o assunto por acabado, ao pegar um
cabinho e fazer desenhos abstratos no chão, mas
sabia que tinha acabado de atingir um ponto
sensível dentro do garoto e que se queria ajudá-lo a
compreender a extensão de suas emoções,
precisaria explorá-lo com sensatez.
- Não foi isso que eu disse! - Defendeu-se. -
Eu não penso nela assim e ponto final. Ela é
completamente diferente de todas as garotas com
quem eu estou acostumado a sair, não teria nada a
ver. - Sinalizou com a mão, em um gesto blassé,
fazendo pouco caso. Sophia revirou os olhos.
- Não vê o que está bem na sua frente? É
justamente por ela ser tão diferente que você tá
apaixonado. Mais do mesmo não atrai ninguém,
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cabeçudo. - Ela tinha vontade de bater com a


cabeça dele em uma parede para ver se acordava os
neurônios aparentemente adormecidos.
- Mas isso não pode ser verdade! Me
apaixonar pela Bianca só tornaria tudo mais
complicado. Toda a integridade das aulas, toda a
caça pela perfeição, por atrair o infeliz do loiro
aguado, tudo seria questionado. - Ele rebateu,
soando no princípio do desespero.
- Só porque as coisas se complicariam, não
torna o sentimento inexistente. - Constatou o óbvio.
- Como você pode saber o que eu tô
sentindo? Não nos falamos há eras! - Theo era
assim. Ele se sentia acuado em um canto e
começava a ficar na defensiva. Sempre
absurdamente reacionário e intempestivo.
- E eu sinto muito por isso, amigo. Mas eu
te conheço e sei quando você está em negação. -
Percebendo que precisaria de mais do que aquilo
para conseguir fisgá-lo no seu raciocínio, ela
preferiu jogar pelo emocional. - Por mais distante
que seja, foi exatamente assim que você ficou
quando seu avô faleceu. Você não queria aceitar
porque sabia que teria que lidar com a dor, com o
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olhar de pena dos outros, com todos os sentimentos


que você aprendeu tão bem a trancar dentro de si
por tantos anos, se afogando em corpos
desconhecidos que não invadissem sua zona de
conforto.
- Sophia, uma coisa não se compara com a
outra! - Ele avisou, meio vermelho de irritação pela
lembrança.
- Olha, eu sei. - Apaziguou, as mãos
estendidas a frente do corpo. - Mas a forma como
você tá agindo, fugindo de uma verdade inevitável
para não correr o risco dela preferir o amigo, me
lembra daquela época. Independente das escolhas
que essa menina fizer, Theo, você precisa ser
honesto com os seus próprios sentimentos. - Ele
olhava o horizonte, sem querer mais enfrentá-la.
Aquela ladainha estava se saindo plausível demais
para o seu gosto. - Me diz, o que você sente quando
tá com ela? - Ele respirou profundamente, sentindo
um sorriso de canto tomar seu rosto sem permissão.
- Eu me sinto em casa. Aquela música do
John Meyer, A Face To Call Home, de repente faz
todo sentido, e isso me irrita. - Sophia, percebendo
a luta interna que ele travava então, o abraçou de
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lado pelos ombros, diminuindo a voz para um tom


morno, que o acalmasse.
- Não precisa ser assim. Ela ainda pode
escolher você.
- Não, não pode. Eu concordei em dar essas
aulas com um propósito e seria no mínimo injusto
com ela obrigá-la a tomar uma decisão porque eu
me envolvi. Não foi pra isso que ela veio até mim,
para começo de conversa. - O sorriso do garoto
agora havia adquirido um quê de sádico, e ele
negou com a cabeça enfaticamente.
- Então nós passamos para a fase de
aceitação? - Sophia perguntou, sentindo uma
grande mudança na fala do maior. Ele a encarou
durante alguns segundos, temeroso. Então,
pressionou os lábios um contra o outro.
- É, acho que tá na hora de admitir... -
Suspirou, fechando os olhos como se em dor física.
- Eu tô apaixonado pela Bianca.
- Ai, que amorzão! - Sophia gritou, achando
aquilo a coisa mais linda do mundo. - Vem aqui me
dar um abraço, seu cabeça oca. O que você faria
sem mim?
- Viveria cego pelos meus medos,
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aparentemente. - Resmungou contra os cabelos


cacheados da amiga, ainda agarrada a sua cintura.
- Não se sente melhor de ter colocado isso
pra fora?
- Vou me sentir melhor no dia em que eu já
estiver recuperado do coração estilhaçado. Até lá,
você vai ter que me aguentar mais rabugento que o
normal.
- Olha, se tem uma coisa que eu não sou
nessa vida é obrigada. Mas, tudo bem! Eu escolhi te
aturar três anos atrás, e não é agora que vou me
arrepender dessa decisão. - Sorriu para ele, olhando
fundo em seus olhos claros parecidos com a
estação. - Você está se tornando um homem muito
decente, meu amigo. Estou orgulhosa de você.
- Quem é o amorzão agora? - Theo levantou
uma sobrancelha, aproveitando-se para encerrar o
assunto e iniciar um ataque de cócegas na morena,
que ria estridente dando alguma leveza ao seu ser
sombreado.

- Biba! - Sam gritou ao vê-la caminhar para


fora da sala apressada. Tinha escutado um grupinho
de meninas fofocando sobre o Theo ter sido visto
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matando aula com a Miss Vietnã, e aquilo tinha


incomodado. Não porque eles estavam juntos,
afinal eram amigos, e sim porque ele não podia
perder aulas para passar no vestibular...
Ok, era porque eles estavam juntos.
Ah, qual é, alguém poderia culpá-la? A
menina era maravilhosa, super despojada e
simpática. Como ela poderia competir com aquilo?
Seu namoro já não estava mais em terras firmes, o
burburinho de que talvez tivesses terminado já
estava percorrendo os corredores. E ela precisava
de Theo para fazer ciúmes no Sam.
Não precisava?
- Oi, Sam. - Respondeu apática, preocupada
e ansiosa para puxar Theo pelas orelhas e jogá-lo
em alguma sala escura para que voltasse a focar
nela.
- Você chegou a receber minha mensagem?
Eu não recebi resposta... - Ele disse com carinha de
cachorro que caiu da mudança. Bianca não se
lembrava de ter lido nada com o ID do garoto.
- Não, desculpe. O que dizia?
- Ah, nada de mais... Só que eu gostei da
nossa saída. A gente podia repetir, né? - Os olhos
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do loiro brilhavam no decote modesto da menina,


mas ela não percebia, ainda distraída demais com
onde quer que Theo estivesse.
- É...
- Quando você tá livre? - Só então Bianca
percebeu que Sam a estava chamando para sair
novamente. O encontro na sorveteria não havia sido
o mais divertido do mundo, mas a companhia do
amigo não era de todo ruim, quando ele a deixava
falar. Mas entre organizar seus estudos e as aulas
de Theo, as próximas duas semanas seriam uma
loucura e ela sabia.
- Agora eu entro em vestibular, que eu vou
prestar de treineiro, e ainda tenho um ou outro
trabalho pra entregar... Tá bem complicado. Até a
formatura eu acho que não vou ter muito tempo
livre, Sam. - Respondeu com tom apologético, e o
loiro repuxou os lábios em desgosto.
- Bom, se não vamos poder nos ver direito
até a formatura, acho que eu vou precisar fazer isso
agora. - Motivado pela cena que viu mais cedo do
suposto namorado de Bianca fazendo cócegas em
outra garota, puxou a mão dela entre as suas e
mirou fundo em seus olhos transparentes. - Bianca
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Caproni, você aceita ser meu par na festa de


formatura? - Bianca ficou pálida. Seu ser se dividiu
entre a mais absoluta animação por ter enfim,
comprovadamente, captado a atenção do amigo por
quem se disse apaixonada, e murcha pela incerteza
sobre se Theo gostaria de levá-la ou não.
Era relativamente cedo para decidir quem
acompanharia - mesmo nunca tendo imaginado que
aquela seria uma preocupação, pois achava que não
teria nem sequer uma opção, quanto mais duas -,
mas o loiro estava a sua frente esperando uma
resposta e ela não poderia dizer que precisava "ver
com o namorado" primeiro. Ele certamente só
estava convidando porque tinha ouvido os boatos
do término.
Ainda assim, não se sentia nem
remotamente tentada a aceitar. Sam era legal e tudo
mais... Mas ele parecia melhor quando era
inalcançável, quando ela o idealizava e não tinha
parâmetros de comparação com outros caras.
Agora, conhecendo Theo e sabendo tudo que o
amigo tinha feito já de errado com ela... O sonho
tinha se perdido.
Mas... Se Theo já tivesse planos para a
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festa, ela não gostaria de ir sozinha, observar ele


com outra se divertindo a noite toda. Só que ele não
faria isso, faria? Ainda mais cedo assim, ele não
podia já ter compromisso com a Sophia, por
exemplo. Dava tempo ainda de sondá-lo a respeito
e garantir uma noite muito melhor do que a que
teria com o loiro. Abriu a boca para dar uma
desculpa qualquer, quando uma voz grossa e
conhecida respondeu por ela.
- Ela aceita. - Bianca e Sam se viraram
imediatamente para observar um Theo melancólico
com olhos fundos, parado ali perto. Obviamente,
tinha escutado uma parte da conversa, e vendo a
relutância da menina em responder, o que ele
rapidamente julgou ser por vergonha ou timidez,
resolveu interceder e dar a resposta que ele tinha
certeza que sairia eventualmente dos lábios dela.
Bianca ficou paralisada olhando para ele,
sem acreditar que tivesse tomado essa decisão por
ela, e, mais do que isso, sem acreditar que tinha
simplesmente a entregado de bandeja quando ela
tinha considerado tanto ele para optar pelo sim ou
pelo não.
Seria possível que ele estivesse tão
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desesperado para se livrar dela como possível


acompanhante que teria a embrulhado em papel de
presente e jogado nos braços do amigo?
Sophia apareceu atrás do moreno, e colocou
uma mão em seu ombro como apoio. Ele se virou
para ela e trocaram um olhar acalorado, cheio de
significados. Ela sabia o quanto tinha doído para
ele fazer aquilo, o quão altruísta sua ação era, e se
compadecia com sua dor, oferecendo abrigo.
Bianca observou em silêncio toda a
comprovação de seus pensamentos até então
paranoicos. Ele estava mesmo a dispensando pela
vietnamita, por ela, mais uma vez, não ser boa o
suficiente.
Voltando a olhar para o casal a sua frente,
Theo resolveu tirar o band-aid de uma vez e
resolver a situação como um homem.
- Bianca, sei que terminou comigo hoje
cedo, mas eu continuo querendo seu bem e acho
que se divertir com o Sam pode ser uma forma de
fazê-lo. Você quebrou meu coração, mas tudo que
eu quero é que seja feliz. Aproveitem a noite de
vocês. - O teatro crucial para taxar Bianca como
disponível, mas poderosa, era tudo que o loiro
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precisava para abrir um sorriso de orelha a orelha e


alugar ela para falar sobre detalhes fúteis como a
cor do vestido dela para que ele pudesse combinar
o lenço do terno, e que horas deveriam chegar a
festa. Theo e Bianca continuavam se olhando, um
mais machucado que o outro, até terem o contato
quebrado por uma série de alunos que passaram no
meio, a caminho da próxima aula que já estava para
começar.
E eles fizeram o mesmo, cada um seguindo
seu rumo, cada vez mais distante do do outro.

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Procurando se distrair dos pensamentos


conflituosos que ocupavam sua mente desde a
intervenção de Theo no dia anterior, Bianca foi
mais que grata ao telefonema do pai. O mais velho
se ofereceu para levá-la a comprar artigos de
decoração para seu quarto novo em sua casa, e ela
prontamente aceitou, mesmo um pouco apreensiva
ao saber que toda a família também iria, aquela
sendo a primeira vez que os conheceria de verdade.
Contrariando seus medos, todos a
receberam muito bem. Bernardo inclusive não
desgrudou da irmã desde o momento em que ela
ganhou sua confiança, ao cantar com o rádio a mais
nova música da Galinha Pintadinha. Foi um divisor
de águas para o pequeno, que estava relutante em
aceitá-la no início, e depois não ousou soltar sua
mão no passeio pelo shopping.
Bethani, a madrasta, era um amor. Elogiava
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seus cabelos e suas roupas, ria de suas piadas sem


graças, e não se cansava de narrar como seria tê-la
em sua moradia pelos próximos dois meses. Ela fez
questão de convencer o marido a comprar cada um
dos enfeites nos quais Bianca se demorava mais de
um minuto olhando, sumindo na hora de pagarem
para voltar com um pacote de luzinhas de natal nas
mãos, alegando ter visto no Tumblr que
adolescentes gostavam daquilo. Bianca, que sempre
sonhou em ter um quarto personalizado daquela
forma, mas que nunca teve coragem o suficiente,
estava realizada e ansiosa para ver o resultado final.
Quando ficou sabendo da festa de
formatura, Bethani fez questão de arrastar a família
para uma loja de vestidos de gala para que a menor
escolhesse o seu. Depois, se sentiu culpada e fez
todo um discurso sobre não querer comprar seu
afeto, mas estar animada com a presença da filha
postiça. Bianca ficou emocionada com todo o
carinho, e acabou dando um abraço caloroso na
madrasta, que puxou os filhos e o marido para
acompanhar, em um gesto brega, mas muito lindo,
de amor.
Abraços grupais a parte, Bianca acabou
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escolhendo um branco lindo, com aplicações de


pedras nos lugares certos e que realçava suas
curvas como nada mais no mundo. Se sentiu
poderosa no modelito e entregou para a vendedora
cobrar com um sorriso no rosto.
Sorriso esse que não durou muito, ao que
ela lembrou de todo o drama relacionado ao seu
par.
Subitamente cabisbaixa, ela deu qualquer
desculpa para esperar do lado de fora enquanto seu
pai escolhia um terno para um evento de final de
ano no escritório. Sentou-se em um banquinho de
madeira e ficou ali, remoendo suas infelicidades,
até perceber pela visão periférica, alguém juntar-se
a ela.
Era Sarah, a filha mais velha do casamento
passado de Bethani. Ela tinha alguns anos a mais
que Bianca - já estava terminando a faculdade de
Relações Internacionais -, e era bonita de uma
forma muito minimalista. Tinha sido a mais
retraída da família até então, não sendo intensa e
espalhafatosa como a mãe, nem apegada como o
irmão, mas nem por isso tinha sido rude com
Bianca. Ela só era mais na dela, e Bianca não a
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julgaria por isso.


- Eu consigo ver que você tá morta de
vontade de chorar. - Constatou apoiando os
cotovelos nos joelhos e assistindo Bernardo
correndo de um lado para o outro dentro da loja
através da vitrine. - Quer conversar?
- Imagina... Não precisa, Sarah. Mas
obrigada. - Bianca disfarçou, sem querer
incomodar.
- Cara, se a gente vai ser irmã, eu quero
poder te ajudar. Não precisa sofrer em silêncio. -
Garantiu, solícita. Sempre foi o sonho de Bianca ter
uma irmã mais velha, e ela realmente precisava
desabafar, então o pequeno discurso de Sarah foi o
suficiente para convencê-la a colocar o que estava
incomodando para fora.
Então ela contou tudo. Desde o primeiro
momento em que achava ser apaixonada por Sam,
até o pedido de ajuda a Theo, as aulas, o namoro
falso, o súbito interesse do loiro e sobre Theo ter
aceitado o convite da formatura por ela. Disse
como se sentiu em cada momento, como estava se
sentindo agora, e qual era o seu horizonte de
emoções caso tudo continuasse daquela forma.
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Sarah ouviu tudo pacientemente, fazendo


interjeições engraçadas por vezes, e perguntas
quando não entendia alguma coisa. E só o fato de
Bianca ter falado com alguém sobre tudo aquilo já
a fez imensamente bem. Ela já se sentia mais leve,
mesmo não tendo chegado a uma conclusão do que
fazer ainda. E mesmo que esse não fosse o caso, a
conexão que conseguiu ter com filha da madrasta
valeria a pena o relato doloroso.
- Olha, Biba, eu não sou a melhor pessoa do
mundo com conselhos amorosos... Mas me parece
que você precisa conversar com o Theo. Pelo
menos isso, sabe? Perguntar porque ele fez o que
fez ao invés de tentar adivinhar. - Deu de ombros,
tendo noção que a sugestão não ia mudar
montanhas, mas que talvez ajudasse um pouco. Não
conhecia as pessoas da história, então não se sentia
muito segura para dizer o que a irmã mais nova
devia fazer.
- Eu acho que você tá certa. Vou falar com
ele amanhã.
- Boa, vai fazer bem pra você. Me conta
como foi por mensagem depois. - Bem no momento
que o assunto acabou, Bethani apareceu com um
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adormecido Bernardo no colo, cansado depois de


brincar no pula-pula que ficava ao lado da praça de
alimentação onde todos jantaram. Augusto deixou a
filha em casa antes de ir para a sua própria,
prometendo ir buscá-la novamente com as malas no
final daquela semana.

No dia seguinte, Bianca se esquivou de falar


com qualquer pessoa que cruzasse seu caminho,
mesmo evitando os eventuais "com licença" que
naturalmente diria para abrir espaço e continuar seu
andar. Ela queria guardar sua voz para dizer tudo
que estava entalado para Theo, e tinha medo de
abrir a boca e esganiçar em um grito agudo antes
que tirasse o que queria a limpo.
Quando chegou próximo do armário de
número 100, o garoto já estava ali, alheio à
conversa de seus amigos ao redor e, para a surpresa
de Bianca, longe de Sophia, que conversava com
um nerd da sua sala mais à frente. Não teve tempo
nem paciência de se perguntar o que aquilo podia
significar. Ela chegou até o meio da roda e disse
para ele ainda de costas.
- Posso falar com você? - Theo se virou,
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reconhecendo instantaneamente a voz da garota e,


sob os olhares atentos do resto dos brutamontes,
acenou positivamente e indicou com a mão que ela
fosse na frente.
Bianca passou por eles todos e marchou
corredor adentro, só parando quando já estava
longe da vista dos conhecidos, e entrando em uma
sala vazia pelo horário. Theo a seguiu, colocando
sua mochila no chão assim que a porta foi fechada.
- Por que você fez aquilo, Theo? Porque
tomou a decisão por mim sem me consultar? Eu
sou perfeitamente capaz de usar minha própria boca
para responder qualquer convite que me seja feito,
e para opinar no que é melhor para mim. Você
passou o dia inteiro com a sua amiga e nem sabia o
que eu estava pensando já que nós mal
conversamos sobre o Samuel depois da sorveteria,
e mesmo assim se sentiu no direito de invadir a
minha privacidade e me empurrar para os braços
dele. Qual é o seu problema? - Disparou a falar,
colocando em palavras toda a sua frustração pelo
ocorrido. A única parte que Bianca não se sentia à
vontade de verbalizar era, infelizmente, o cerne de
tudo aquilo: O fato de ela querer que ele a levasse
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na festa, e não o imbecil do amigo que a


menosprezou por anos a fio, e ele não parecia
disposto a fazer justamente isso.
- Meu problema... É que você, claramente,
não precisa mais de mim. E eu ainda não aprendi a
lidar com isso. - Ele disse baixo, com pesar. Podia
ver que ela estava brava, mas em meio a tanta dor
só pode se limitar a achá-la adorável naquele
estado.
- O que você quer dizer?
- Quero dizer que eu estou te libertando. -
Deu de ombros, no caminho para a aceitação de
que ele tinha feito a sua parte, e por mais
maravilhosa que ela tenha sido... Havia acabado.
Bianca estava pronta para alçar voo rumo ao seu
objetivo inicial. Sua esperança de que ela um dia
percebesse que Sam não era bom o suficiente para
merecê-la já havia ficado para trás. - Aqui, essa é a
minha última aula. - Abriu a mochila em um
instante, e estendeu uma folha sulfite enrolada para
ela, selada por uma fita azul com um pingente no
centro. Era um par de asas de prata. - Boa festa,
Anjo. - Theo deu um longo beijo na testa de uma
Bianca atônita, abrindo e fechando a boca como se
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tivesse algo para dizer, mas não achasse as


palavras, e saiu da sala com ares de despedida.
Ouvindo o som da porta se fechando, a
garota despertou de seu limbo, olhando para o
bastão de folha intrigada. Ela desfez o laço com
cuidado, guardando o pingente imediatamente em
um bolso adjacente de sua bolsa, e desenrolou o
papel, deparando-se com uma carta escrita na letra
caprichada do professor, onde se lia:

"Bianca,
Foi um longo caminho para chegarmos até
aqui.
Enfrentamos demônios e superamos
dificuldades, objetivando uma vida mais fácil, que,
quem sabe, nos proporcionasse felicidade. Fizemos
isso juntos, com a sensação de que nunca fôssemos
chegar lá. A cada novo passo, nos deparávamos
com mais uma pedra, mais um desafio a ser
perpassado. E, se por ventura chegássemos onde
queríamos, saberíamos que o mérito era de nossa
impremeditada e peculiar convivência.
Acho seguro dizer que, embora eu fosse a
pessoa dando as aulas, aprendi muito com você.
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Uma nova lição todo dia, sendo ensinada pela sua


espontaneidade, seu coração enorme e sua bondade
infinita. Aprendi a perseguir os meus sonhos, a não
julgar um livro pela capa, a abraçar as diferenças e
o inesperado, e aprendi o que é ser feliz. E, por
isso, eu te sou muito grato.
Garanto que não tinha conhecimento de que
a minha vida estava tão nebulosa até você aparecer,
com seu jeito único e seu carinho incomparável.
Me empurrando na direção de um futuro promissor
e jogando um pano quente no passado doloroso.
Explorando as minhas habilidades e perdoando
meus defeitos. Com suas asas de anjo, me levando
mais próximo do paraíso a que eu não me achava
merecedor.
Fez por mim muito mais do que eu me
propus a fazer por você. Sendo tão naturalmente
cativante, sempre esteve próxima demais do seu
objetivo, apenas mirando equivocadamente. Apesar
dos meus esforços, o alvo permaneceu o mesmo, e
eu precisei me adaptar para te ajudar a alcançar o
seu círculo de cem pontos. Naquela altura da
jornada, faria o que precisasse para selar suas
feridas e colocar um sorriso no seu rosto, não
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importasse os meios ou o que eu achasse. E, no fim


das contas, você precisou de bem menos instrução
do que o esperado.
Durante nossa caminhada, demos muitas
risadas e passamos por momentos do mais absoluto
prazer e entrega. Passamos por situações
inimagináveis, conversas profundas e animadas, e
roubamos confissões e suspiros. Construímos uma
intimidade avassaladora, e criamos cumplicidade e
confiança um no outro. Encontramos um no outro
um porto seguro, um ponto de apoio, um cúmplice
valioso, um aliado essencial, um par inexorável.
Tudo isso contribuiu para esse momento. O
momento em que eu te diria: Parabéns, você se
formou.
Não na escola, não no vestibular, mas na
arte da sedução. Você agora tem o dom de fazer os
homens se ajoelharem aos seus pés, de enlouquecer
quem bem entender, de se fazer indispensável e
irrecusável. Tem o poder de mudar emoções e
manipular cabeças usando apenas da sua fala e do
seu corpo. Tem o dever de escolher a dedo quem
será digno o suficiente para se manter por perto, e o
trabalho de dispensar aqueles cuja companhia não
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te interessa. Tem o direito de dizer "sim" e a opção


de dizer "não".
E, justamente por ter a aluna tão habilmente
superado o professor, eu não posso mais ficar no
seu caminho para exercer todo esse potencial.
Por isso, eu te escrevo agora a sua última
aula, e então você estará livre para bater suas asas e
voar para onde a brisa te levar.

Aula 8: Como fazê-lo se apaixonar.


Seja uma boa ouvinte. Pergunte e comente
as histórias que ele contar e ofereça o ombro para
os desabafos. Não o interrompa com casos seus:
cada qual deve ter seu momento.
Tenha assuntos interessantes para
conversar. Procure temas que captem a atenção
dele, e não necessariamente aqueles que mais lhe
agradam. No entanto, estabeleça um ponto de
encontro, pois se informar sobre algo que você
também não domina vai levar a conversa a um fim
rapidamente.
Se preocupe em saber mais sobre ele. Seu
dia, o resultado de uma prova, como se dá com a
família, quais os hobbies e os gostos.
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Divida preocupações com o futuro. Se ele


aspira algo, esteja ao seu lado, o apoie.
Faça-o rir.

Sem lição de casa. Essa aula você já


concluiu com êxito.
Vou sentir sua falta.
Do seu eterno,
Theo."

Quando acabou a leitura, seus olhos se


derramavam em lágrimas de injustiça. Talvez
devesse estar feliz por todos os elogios contidos no
contexto, mas o tom de despedida da carta era mais
gritante, deixando-a ser ar.
Não importando a família que tinha
ganhado, o interesse de Sam, ou a sua recente não-
exclusão no colégio, Bianca se sentia, naquele
momento, irremediavelmente sozinha.
Não tinha como ser diferente: Uma parte do
seu ser tinha acabado de lhe dar adeus.

- Você entregou a carta? – Sophia


perguntou abruptamente, adentrando a casa de
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madeira sem ser convidada e encontrando Theo


sentado pensativo em sua poltrona, uma dose de
whisky recém-colocada banhando o gelo no copo
em sua mão. O cachorro de mesmo nome estava
deitado por perto, como se sentisse que o dono
precisava de companhia naquele momento, embora
carregasse a mesma expressão de luto que o
humano.
- Sim. – Murmurou entredentes, dando um
gole do líquido âmbar.
- Eu não vou dizer que você vai se
arrepender só para não ser uma vadia insuportável.
– A morena disse, sentando-se no braço do sofá, de
frente para ele. - Mas você vai.
- Sophia... – Avisou, sem paciência para
julgamentos naquele momento. Ele só queria
encontrar paz de uma vez.
- Não, Theo, eu não consigo ficar calada. –
Exaltou-se. Sempre odiou ser silenciada. - Dois
dias atrás, quando você me disse que não
importavam os seus sentimentos porque ela gostava
de outro, eu não te questionei. Você tinha dado um
passo bem grande ao assumir suas emoções e eu
achei por bem deixar aquilo como estava. Mas não
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é possível que você tenha que ser esse altruísta pé


no saco que nem sequer vai lutar pela garota! –
Jogou as mãos para cima, gesticulando
brutalmente. Estava muito tentada a segurar a
cabeça dele pelas orelhas e chacoalhar até que a
razão voltasse a habitá-lo.
- Eu só quero poupar ela da confusão e
avançar para a fase em que eu tento superar essa
história toda. Me desculpe por facilitar as coisas. –
Reclamou, ranzinza. Sophia balançou a própria
cabeça em negação, desacreditada do discurso do
amigo.
- Você é um covarde. Nunca pensei que
fosse dizer isso, mas é a verdade. – Cuspiu,
repuxando os lábios. Conseguiu finalmente a
atenção do garoto, que levantou o olhar vidrado do
tapete para encará-la com a testa franzida.
- De que lado você está? – Rosnou, irritado.
- Do lado que não se conforma que você
tenha abraçado a infelicidade dessa maneira. – Ela
respondeu, igualmente nervosa. Então, respirou
fundo procurando argumentos mais concisos. - Me
escuta, um ano atrás você estava vivendo sob o teto
de um senhor doente, batalhando para se virar e
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ainda assim perseguir um sonho distante de


continuar cuidando das pessoas. Era um rapaz forte
e determinado que não pararia por nada no mundo.
– Fez uma pausa. - O que aconteceu?
- Você pode não concordar, mas aquela
carta exigiu de mim mais força e determinação do
que qualquer outra coisa na vida. – Suspirou,
cansado do assunto. - Esse pode não ser o final feliz
que nós esperávamos para essa história, Sophia,
mas é o melhor que eu vou conseguir.
- Melhor pra quem, meu amigo? – Uniu as
sobrancelhas, sofrendo com ele.
- Para todo mundo. Dessa forma, pelo
menos ela vai estar feliz, e isso já é o suficiente
para mim. – Deu de ombros, embora o ato
parecesse friamente calculado, sem sinceridade. -
Eu vou ficar ok. – Disse, tanto para acalmar a
amiga como para si. Precisaria repetir aquela frase
algumas muitas vezes ainda para fazê-la valer.
Sophia observou o moreno em silêncio,
indignada com a sua força de vontade em manter
tudo mais confortável para a menina. O conhecia há
tempo demais e o amava muito para aceitar sua
decisão sem buscar dar-lhe uma alternativa melhor.
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Então, naquele momento, jurou que faria algo a


respeito. “Ok” não era o bastante quando se tratava
do estado de espírito do seu melhor amigo. E ela
faria o possível e o impossível para mudar aquele
status.

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Era sexta-feira. O dia que antecedia a


famosa festa de formatura do terceiro ano. Todos os
alunos da escola queriam um ingresso, mas só os
do colegial podiam comprá-lo. Era uma espécie de
peneira para garantir o nível alto da mesma, que era
basicamente uma super balada, com um camarote
para os formandos regado a bebidas alcoólicas
contrabandeadas. Todas as histórias que percorriam
os corredores ao longo do ano eram feitas
majoritariamente ali, em momentos únicos de
desapego da escola, onde lendas nasciam e mitos
eram criados.
Mas não no dia anterior. Na sexta-feira,
todos colocavam a cara de santos e se
comportavam em frente aos pais, pois a escola
organizava a colação de grau. Isto é, os formandos
vestiam suas becas cafonas e aqueles chapéus
quadradões com um cordão pendurado, e ficavam
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sentados ouvindo discursos e assistindo vídeos


emocionantes sobre o tempo que passou. Um
desses discursos era, inclusive, do orador da turma
que, como esperado, era ninguém menos do que
Theo Versolati.
Por ser querido pela grande maioria dos
colegas, ele era a escolha certa para celebrar a
união de sua série, seu jeito com as palavras sendo
muito bem utilizado durante a fala emotiva.
Aclamado por todos ao subir no palco, Theo leu
suas cinco páginas cheias de boas memórias e
saudades, arrancando risos e assobios, e não
deixando um único olho seco ao terminar.
A cerimônia era feita no ginásio do colégio
durante o período que simbolizaria o último dia de
aula, e era organizada de tal forma que pais e
alunos de outras séries se sentavam nas
arquibancadas e os alunos terceiranistas tinham
cadeiras espalhadas pela quadra, onde também
ficava um palanque grande com a mesa dos
professores convidados. O gran finale ficava por
conta do paraninfo, que assumia o microfone e
chamava um a um o nome dos alunos formados
para entregar o canudo com o diploma e anunciar
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quais seriam os planos futuros de cada.


Em ordem alfabética, foram todos sendo
chamados, cada um tendo uma reação diferente de
comemoração - uns choravam, outros pulavam, e
alguns faziam gracinhas constrangedoras -, e o
mesmo acontecia com o informe, que ia das
faculdades prestadas, até esperanças de viagem e
trabalho, e algumas zoações como "Filipe quer
viver intensamente e morrer ainda novo como Kurt
Cobain, e pediu calma para a mãe, garantindo que
ele não vai usar drogas no processo".
Quando chegou a vez de Theo, Bianca
trancou sem querer a respiração, assim como seus
pais e uma ansiosa Sophia.
"Theo Versolati espera poder ser duplo
graduado em direito e psicologia, e trabalhar no
auxílio de famílias refugiadas e na soltura de presos
de guerra. Está se aplicando com honra para as
maiores faculdades do país."
Theo recebeu o canudo e passou o cordão
do chapéu para o outro lado, apenas para virar-se
para a plateia e oferecer o diploma na direção de
Bianca com um meio sorriso. A menina tinha
lágrimas nos olhos, orgulhosa de sua decisão e
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grata por todas as tardes de estudo ao seu lado,


independente dos outros sentimentos conflituosos
que agora dividia a seu respeito.
Perto dela, a senhora Versolati se levantou,
apressando os passos para falar com o filho antes
de ele se juntar ao amontoado de formandos mais à
frente. Ela colocou uma mão em seu ombro para
chamar-lhe a atenção e ele se virou esperando um
sermão que nunca veio. Ao contrário, a mãe o
colocou nos braços em um abraço apertado.
- Eu quero que você seja feliz, meu filho. -
Murmurou contra os cabelos dele, ainda preso no
abraço apertado. - Só quero o seu bem, eu prometo.
Desculpa se eu tentei te privar do seu sonho, mas
aquele lugar é perigoso e psicologia é um futuro
incerto, e eu não quis que você passasse qualquer
dificuldade na vida. - Ela estava chorando, o que
fazia sua voz falhar e Theo sentiu um incômodo no
peito por vê-la pela primeira vez daquela maneira.
- Eu sei me cuidar, mãe. - Garantiu,
acariciando suas costas por cima da blusa de seda
cara.
- Eu sei que sim, meu amor. E por isso você
vai poder fazer as duas faculdades. Mas terá que
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me manter por perto para acalmar meu coração. –


Disse, agora segurando-o pelos ombros para poder
olhar em seus olhos. Sua maquiagem estava um
pouco borrada, mas para o moreno a mãe nunca
tinha parecido tão bonita.
- O que você quer dizer? - Theo sentia o
coração acelerar com a possibilidade de ter
finalmente se libertado das amarras que travavam
suas ambições.
- Que eu vou te apoiar, seja fisicamente ou
investindo na organização que você escolher
trabalhar para. Só assim vou ficar tranquila
enquanto você toma as suas próprias decisões. - A
mulher ditou sendo então esmagada em mais um
abraço, dessa vez iniciado pelo filho, comovido
com a mudança de postura da mãe. Ele ainda teria
que fazer direito, mas agora aquilo não parecia nem
de longe tão ruim e ele sabia a quem devia aquela
sensação de plenitude. Com os olhos molhados,
focou em Bianca na arquibancada e respirou fundo,
a agradecendo ainda que mentalmente.

O sábado de festa enfim chegou. Os


preparativos estavam à toda, com a Comissão de
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Formatura, formada basicamente pelas patricinhas


da escola e um ou outro cara mas festeiro, correndo
de um lado para o outro para garantir que tudo
ficasse perfeito, o Grêmio da escola auxiliando na
contratação de seguranças, DJ, barmen e equipe de
limpeza, e alguns brutamontes do time de rugby
ajudando a pendurar as decorações nos pontos mais
altos do salão. Finalmente, às sete horas da noite,
todos deram o trabalho como feito e foram para as
suas casas tomar banho e se arrumar para a
comemoração que viria a seguir.
Augusto levou a família para jantar antes de
Bethani e Sarah se trancarem com Bianca em seu
mais novo quarto para ajudá-la a se arrumar.
Bernardo ficou carrancudo por não poder ser o par
da irmã e chiou em birra até às nove horas, quando
seu horário de dormir chegou e ele não resistiu, se
entregando a Morpheu. Só então a menina relaxou
o coração apertado de ver o pequeno chateado e se
permitiu aproveitar todas as preparações que a
madrasta e sua filha tinham reservado. Elas
pintaram suas unhas, e fizeram seu cabelo e
maquiagem, a todo tempo contando histórias
divertidas de quando elas passaram pelo mesmo
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ritual.
Bianca entrou no vestido e pegou a bolsa
pontualmente às dez horas, no mesmo momento em
que Sam buzinou do lado de fora da casa. Calçou
seus sapatos de salto alto com pressa e deu um
beijo nos familiares saindo pela porta com votos de
"divirta-se" e avisos de "comporte-se".
Sam estava impecável em seu smoking
preto, e beijou sua mão ao ajudá-la a entrar no carro
pelo lado do passageiro. Muito embora ela não
estivesse com grandes expectativas para aquele
encontro em particular, esperava conseguir se
divertir dignamente na festa mais esperada do ano.
O lugar estava primoroso. Tudo
perfeitamente pensado para garantir uma noite
inesquecível e já bastante tumultuado de alunos
chegando em vestimentas luxuosas com seus pares-
troféu a tiracolo. Bianca e Sam não ficavam atrás,
misturando-se à população e adentrando o salão
após deixarem seus ingressos com um responsável
na porta.
A música era alta no lugar semi-iluminado,
que já contava com alguns casais dançando
animadamente, enquanto outros ainda conversavam
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nos arredores da pista e alguns poucos já trocavam


beijos entusiasmados nos sofás que contornavam as
paredes como se não houvesse amanhã. Sam
murmurou para Bianca que o esperasse ali
enquanto ele tentaria conseguir algo para beberem.
Ela não perguntou se ele ia dar um jeito de
surrupiar algumas bebidas mais fortes do camarote
dos formandos ou se ia se contentar com algum
drink sem álcool do bar a que tinham acesso,
apenas acenou positivamente e continuou a
observar os arredores.
Foi aí que ela viu.
Theo ria abertamente, excessivamente
alegre, com Sophia ao seu lado, pendurada em seu
braço, e mais alguns amigos os rodeando. Todos
foram direto da entrada para o elevado reservado
aos terceiranistas (Sophia por ser par de Theo, pois
não era formanda) e pareciam destoar do clima
ainda não tão alucinado da festa. Logo Bianca
concluiu que eles tivessem feito um "esquenta" e já
estivessem um pouco bêbados.
O moreno estava maravilhoso em um terno
cinza chumbo que realçava os músculos de seu
corpo maduro demais para um menino daquela
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idade, e tinha os cabelos bagunçados mais atraentes


que o normal. Ao passo que Sophia modelava com
um colado vestido azul, moderno e despojado, de
uma forma que só ela teria estilo o suficiente para
bancar. Bianca estava hipnotizada olhando para os
dois.
- Aqui, Biba. – Sam chamou, detendo
novamente sua atenção. Ele estendia um copo com
um líquido coral bonito que ela não fazia ideia do
que continha. Agradeceu e deu um gole, sentindo o
sabor doce se espalhar pela sua boca e a acidez da
vodca descer sua garganta. Vendo a face da garota
de surpresa pelo conteúdo da bebida, o loiro tratou
de se explicar. – Peguei um pouco de vodca com
um veterano do basquete. Se não gostar a gente
pega um refrigerante pra você. – Bianca apreciou o
gesto raro de preocupação do amigo, mas bastou
uma última olhada para um Theo alterado sendo
erguido pelos amigos no camarote para que ela
negasse.
- Não, hoje eu vou abrir uma exceção.

O tempo passou rapidamente ao som das


batidas mais badaladas da rádio e conversas pra lá
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de engraçadas entre bêbados bem humorados. A


pegação nesse ponto já era generalizada, sendo
praticamente impossível achar um lugar vazio para
se sentar nos sofás ou mesmo uma parede deserta.
Vários casais da escola se revelaram, alguns
improváveis, outros surpreendentemente
homossexuais, e outros héteros ainda mais
inesperados. E, motivadas pelos shots a mais,
algumas pessoas faziam questão de passar o relato
a todos que encontravam, de forma que nenhuma
fofoca teria o poder de permanecer na festa. Havia
inclusive um telão que, a mando de alguém da
Comissão de Formatura, passava tweets
bombásticos postados sobre a hashtag
#bafodaformatura.
Naquela altura da madrugada já era difícil
encontrar quem não estivesse pelo menos cativado
pelo cheio embriagante no ar, dançando até se
acabar na pista ou dando brutalmente em cima de
alguém. Por isso, não era de se surpreender que
Theo estivesse sem camisa em cima de um elevado
sensualizando com a plateia de garotas
desesperadas. Ele conseguia ficar sério se
movimentando de forma a deixar a imaginação
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correr solta, mas era só alguém gritar um elogio


descarado para que ele caísse na risada.
Sophia, que tinha desaparecido com o
capitão do time de xadrez há meia hora, voltou para
perto do amigo com a boca inchada e descabelada,
e não perdeu tempo em esticar as mãos para que ele
a içasse para dançar com ele. Percebeu, no entanto,
que ele não estaria em condições e que ela não
conseguiria sozinha, então só assobiou para os
gêmeos zagueiros do futebol e eles seguraram cada
um um braço dela e conseguiram colocá-la ao lado
do moreno no palquinho improvisado.
A plateia mudou consideravelmente,
dobrando de tamanho pela junção dos homens,
também animados por ver Sophia dançar. Ela e
Theo deram mais uma longa risada e juntaram as
mãos para fazer graça descendo até o chão. Era
impossível dizer quem rebolava mais, mas Theo
ganhou mais assobios pelo detalhe do dedo na
boca.
Continuaram dançando juntos, cada vez
mais descarados, Sophia fazendo muito mais por
diversão e Theo porque estava embriagado. Eles se
esfregavam um do corpo do outro, sendo obscenos
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para o agrado da multidão que assistia, embora seus


movimentos não tivessem qualquer maldade para
eles mesmos, que se viam como irmãos. Sophia
descia as mãos pelo peitoral e abdómen do amigo,
fazendo inveja nas recalcadas aos seus pés, e ele
lhe dava tapas generosos na bunda, que faziam
brilhar os olhos dos marmanjos.
Bianca assistia à cena vidrada. O álcool
funcionava diferente em seu corpo, já tendo
passado há muito a fase da desinibição e
alcançando rapidamente a melancolia. Quando o
casal estrela decidiu deixar o elevado, ela já tinha
as mãos de Sam entre as suas e marchava para o
centro da pista, decidia a se divertir nem que à
força.
Sam foi obediente e de corpo mole, e ficou
quase que parado enquanto Bianca se esforçava em
dançar provocante e animada, tentando despertar
alguma chama em si mesma. Ela se virava de
costas, rebolando, ou se apertava a ele de frente,
sempre no ritmo da música.
Theo acabou colocando os olhos nela por
uma fatalidade, enquanto esperava seu próximo
shot. Ela fazia exatamente como ele tinha ensinado,
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e apesar de esperar sentir raiva, Theo só conseguia


se sentir vazio.
Sam pareceu voltar à vida, criando controle
sobre as próprias mãos apenas para colocá-las em
todos os lugares inapropriados de se tocar em
público e apertá-la em um abraço até aproximar a
boca da dela. Bianca ficou confusa do que deveria
fazer, mas não teve tempo de pensar, já que o loiro
avançou de repente aprisionando-a em um beijo
molhado demais. Ele mexia a língua mais rápido do
que ela conseguia acompanhar, colocando-a inteira
na boca da menor, que sentia algum nível de nojo.
Não se lembrava dele beijar desse jeito, mas
procurou culpar o álcool pela performance pífia do
amigo, que agora descia os lábios para o seu
pescoço, deixando o caminho babado demais e
mordendo a pele delicada de uma maneira nada
prazerosa.
Bianca inconscientemente procurou pelo
ex-professor, queria saber se ele estava
presenciando aquela cena, e na hora que o
encontrou se sentiu um lixo.
Por que ela estava se dignando a passar por
isso? Fazer esse tipo de vingancinha? Seria possível
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que Theo merecesse tamanho desprezo a ponto de


ela se colocar naquela situação deplorável para se
sentir melhor?
Empurrando Sam pelos ombros com força e
assistindo-o cambalear para trás, ela correu para o
banheiro feminino. Tinha lágrimas nos olhos e
tamanho desgosto por si mesma que só passaria
depois de ela, no mínimo, lavar o rosto e ter uma
boa noite de sono.
Se apoiou na pia encarando o reflexo,
tentando se reconhecer enquanto deixava as
lágrimas continuarem a cair livremente, cansada de
se privar do que quer que estivesse sentindo. A
porta se abriu e ela estava pronta para xingar quem
quer que fosse a bêbada desagradável que tivesse
ido ali vomitar, quando se deparou com Sophia.
A morena tinha um olhar complacente,
entendedor, e Bianca suspirou profundamente ao
vê-la.
- Veio esfregar na minha cara o quão
patético é chorar em uma festa? – Perguntou,
arisca. Diziam que o ataque é a melhor defesa...
- Eu não sei com quem você tem andado
menina, mas eu não sou tão vadia mor assim. Eu
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vim ver se você está bem. – Sophia rebateu,


aproximando-se da pia onde a outra se encostava.
- Ah, claro que eu estou. Estou ótima! Eu
acabei de beijar o cara por quem eu era apaixonada,
foi uma bosta, e o Theo viu ainda por cima e me
olhou com uma cara tão... – Faltaram-lhe as
palavras, enquanto cuspia todo o cinismo guardado
por uma vida, a raiva de si mesma novamente
dando as caras. A morena suspirou, paciente.
- Escuta, você obviamente precisa de uma
amiga e por um acaso do destino eu estou
disponível. Modéstia à parte, eu faço o trabalho
muito bem. Então venha aqui. – Sophia puxou
Bianca pela mão até um sofázinho contido no
banheiro, provavelmente para apoio de bolsas e
afins. Elas se sentaram viradas uma para a outra e
Bianca limpou os rastros de lágrima com violência,
dividida entre o incômodo de não ter ninguém
melhor com quem partilhar seus problemas, e a
sensação sufocante de tê-los guardados por tanto
tempo. Sarah tinha ajudado, há duas semanas, mas
Sophia conhecia Theo. O tipo de discurso
necessário era infinitamente diferente. – Põe pra
fora, Bianca. Me conta o que você tá sentindo. –
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Incentivou.
- Eu sinto como se fosse explodir. Ainda
não superei que Theo tenha me afastado sem mais
nem menos e agora tudo que eu tinha no meu
horizonte também ruiu, porque o Sam é um pé no
saco e beija mal. – Sophia não conteve uma
risadinha por ouvi-la com toda aquela cara de anjo
falar de maneira tão chula.
- Querida, você já se perguntou o porquê de
te incomodar tanto que o Theo tenha te afastado ou
o porquê de não estar sendo tão bom com o seu
amigo? – Perguntou, tentando chegar no cerne de
tudo aquilo.
- Porque eu sou uma idiota dependente da
opinião dos outros...? – Tentou, sabendo que
mesmo que aquilo pudesse ser minimamente
verdade, não se aplicava ao caso.
- Acho que não, Biba. Presta atenção em
todos os sinais. O que você sentiu quando Theo se
despediu? – Sophia se sentia fazendo o mesmo
interrogatório de duas semanas antes e achou graça
sozinha do quanto a menina à sua frente e seu
melhor amigo eram parecidos. Ambos cegos e
atrapalhados.
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- Não sei, acho que eu ressenti muito mais a


mim mesma do que a ele. Eu tô com esse
pensamento constante sobre não ser boa o
suficiente, e...
- Opa, pera aí que acho que temos um
vencedor! – Sophia interrompeu, imitando o sinal
da buzina que soa nas máquinas de blackjack
quando se consegue três sacos com cifrão na
mesma rodada. - Porque te incomoda que ele talvez
não te ache boa o suficiente?
- Ah, porque dessa forma ele vai precisar
procurar alguém que seja. Quer dizer, eu não
bastaria. Ele teria que ir atrás de alguém como
você, o que obviamente já está acontecendo. –
Resmungou, insatisfeita.
- Menina, escuta muito bem porque eu não
sou de dar satisfação então esse é o tipo de coisa
que só vai acontecer uma vez na vida. – Ela tinha
um indicador em riste, chamando a atenção da
menor. - Eu e o Theo? Nunca vai rolar.
- Por que não? Vocês são perfeitos um pro
outro. – Murmurou com desgosto, mesmo
acreditando piamente ser verdade.
- E você lá quer que role pra estar me
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empurrando pra ele dessa forma? – Sophia tinha as


mãos na cintura, como se lhe desse um sermão. -
Acredita em mim, a gente não tem nada a ver junto.
Somos amigos porque somos parecidos demais e
por isso é como conversar com o espelho. Mas em
um relacionamento? Isso seria nossa ruína.
Relacionamentos são feitos de pessoas diferentes,
que se complementam, que acrescentam algo uma
para a outra. Eu e o Theo só sabemos encher a cara,
subir em mesas e tirar a roupa. – Bianca deu risada,
achando graça no discurso enfático da morena
sobre a não-funcionalidade de um enlace entre os
dois.
- Ele também acha isso? – Resolveu se
assegurar, embora já tivesse bastante tentada a crer
na fala da garota.
- A gente chegou nessa conclusão juntos. –
Deu de ombros, sabendo que aquela era a prova
final para tirar aquilo da cabeça da outra. – Agora
voltando ao que interessa. – Bateu as mãos, se
concentrando no principal. - Você disse que não
quer que ele tenha que procurar em outras pessoas
o que pode ter com você. E o que seria isso?
- Ah, sei lá... O que ele quisesse. – Bianca
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respondeu, subitamente tímida.


- Bianca, o que você quer? – Aquela
pergunta era tão simples e ao mesmo tempo tão
importante para Bianca, que ela sentiu como se,
pela primeira vez na vida, tivesse uma amiga.
Alguém que se importasse com o que ela queria ao
invés de indagar meramente suas ações e
resultados.
- Sinceramente? – Perguntou, vendo a outra
revirar os olhos e acenar positivamente. - Acho que
eu gostaria de que tudo voltasse ao que era. Quando
a gente se via todo dia e namorava de mentirinha.
- Mas não era de mentira pra você, era? –
Sophia tinha um sorriso de lado, sabendo que tinha
chegado ao centro do problema.
- Ah... Eu...
- Querida, você consegue ser mais
atrapalhada que ele. Qual a dificuldade de admitir?
– Levantou-se, arrumando o cabelo pelo reflexo do
espelho, relaxada agora que o assunto estava
dominado.
- Admitir o quê? – Bianca estava
acostumada a ser taxada como inteligente, mas ali,
naquela conversa, estava se sentindo um patinho
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assustado e ignorante, conversando com um ganso


imponente e com todas as respostas, em uma língua
que ela não compreendia completamente.
Sophia se virou para a menor e sorriu como
se tivesse descoberto a cura da Aids.
- Você gosta dele. Quer que ele seja seu
namorado, que só fique com você, que durma ao
seu lado, que se preocupe. – Bianca arregalou os
olhos, negando freneticamente com a cabeça.
- Que? Não, Sophia, você está enganada.
- Ah, é? Então me diz, por que foi tão ruim
ficar com o seu amigo? – Novamente, ela tinha
uma mão na cintura e as sobrancelhas erguidas,
como se lidasse com uma criança especialmente
teimosa.
- Não sei, ele babava demais, era muito
chato, não tava dando certo...
- Ele não era a pessoa que você queria estar
beijando. – Sugeriu.
- É, e ele não... – Bianca se interrompeu no
mesmo momento em que percebeu ter concordado
com a morena, arregalando mais ainda os olhos
transparentes.
- Viu? – Sophia lhe ofereceu um sorriso
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complacente.
- Ai, meu deus. – Cobriu a boca com as
mãos, como se pudesse frear o processo de
percepção. - Eu gosto dele. – Sussurrou, a voz
abafada.
- Eu iria mais longe e diria que você está
apaixonada. – Deu de ombros, agora consertando a
maquiagem.
- Sophia! – Esganiçou, desesperada. - O que
eu vou fazer?
- Ué, você vai ganhá-lo de volta. –
Comentou em tom de obviedade.
- E como eu vou fazer isso?
- Eu ouvi dizer que você era formada na
“arte da sedução”. Me disseram errado? – Piscou
para a outra, e ambas trocaram sorrisos cúmplices,
já sabendo o que Theo tinha guardado pela frente.

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Agora que todo mundo estava de férias e a


única preocupação deles era com os resultados dos
vestibulares, que só sairiam em janeiro, Bianca
conseguiu um tempo para se centrar e decidir quais
seriam suas ações para conquistar o objetivo mais
enredado de sua vida: Theo.
Ficou sabendo por Sophia que o mais
velho tinha planos de ir desanuviar a cabeça na
praia durante o ano novo, o que significava que ela
só teria mais alguns dias até perdê-lo para a família
no natal e para o mar aberto na virada. Por isso,
correu para o cabelereiro o mais rápido que pôde,
passando de quebra em lojas conhecidas para
comprar algumas mudas de roupas extraordinárias.
Em resumo, Bianca passou por uma
revitalizada geral. Se tinha alguma coisa que tinha
aprendido na Aula 1 era justamente que mudar
sempre fazia bem, ainda mais se refletisse uma
mudança interna.
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Se sentindo nova em folha, Bianca


pegou um taxi e rumou para a casa de Theo. Sophia
havia lhe garantido que ele não estaria lá até a hora
combinada, de forma que ela poderia lhe fazer
surpresa. Logo, bateu na porta, que foi atendida
pela empregada simpática que já estava mais que
acostumada a vê-la por ali. A mesma alertou sobre
Theo não estar em casa, mas Bianca lhe
confidenciou que queria fazer uma surpresa e a
senhora a deixou entrar, achando adorável o
romance adolescente.
Então Bianca percorreu a passagem até
a casa de madeira, encontrando um Whisky cheio
de saudades no caminho. Brincou com o cachorro
por alguns minutos, também tendo sentido a falta
dele, e depois foi para o quarto de Theo se preparar.
Ela trocou as roupas pelas que trazia na sacola, o
que consistia em um mini vestido preto que a
deixava particularmente sexy, saltos, e um lingerie
vermelho, especialmente escolhido para a situação.
Finalizou a preparação com uma maquiagem mais
forte, com delineador preto e um batom da mesma
cor da roupa íntima. Satisfeita com o resultado,
Bianca também tirou da sacola uma porção de velas
aromáticas e as espalhou pelo quarto, acendendo
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uma a uma.
Estava tudo saindo como planejado, até
ela escutar o som longínquo do carro de Theo
estacionando na garagem. Apressou-se para a sala,
onde se sentou na poltrona com toda a graça e
postura aprendidas na Aula 2. Esperou, iluminada
apenas pela luz do abajur ao seu lado, que o dono
da casa entrasse.
E ele o fez, alheio ao que poderia estar
acontecendo, o que levou Bianca a crer que a
empregada não havia estragado a surpresa. Ele
abriu a porta da cozinha assobiando a última
música que tinha ouvido na rádio, e esvaziou os
bolsos na bancada antes de finalmente se virar para
a abertura da sala e encontrar Bianca ali, sentada
toda sedutora, apenas esperando-o pacientemente.
Sua boca foi ao chão na mesma hora.
Não haviam palavras que descrevessem tudo que
ele sentiu quando a viu, tão suntuosamente
maravilhosa e novamente dentro da sua casa, onde
tantas memórias já haviam tido espaço. Os olhos de
Theo percorriam seu corpo dos pés à cabeça,
desacreditados que ela pudesse realmente estar ali,
depois que já havia se convencido de que o discreto
“adeus” contido na carta teria sido definitivo.
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- Bianca... – Disse baixinho, quase


como se não quisesse perturbar o ambiente demais,
para que a fantasia de desfizesse. Ela se levantou,
com calma e graciosidade, e com os olhos cravados
nos dele, suspirou:
- Theo. – Ele adorava a forma como seu
nome soava na voz da garota, e fechou os olhos
brevemente para sentir o som reverberar. Agora
que a miragem falava, ela lhe parecia mais real,
mais alcançável.
- A que devo a honra da sua presença? –
Ele tinha um sorriso de canto, intrigado do que tudo
aquilo poderia significar, mas ao mesmo tempo
gostava demais do ar misterioso para quebrar tudo
com informalidades. Ela apontou para o sofá,
sugerindo que ele se sentasse, e fez o mesmo bem
ao seu lado.
- Você estava errado. – Sussurrou. - Eu
ainda tenho mais uma aula para aprender.
- É? E sobre o que ela fala? – Bianca
sorriu fechado, reservada, e ele entendeu que
aquela não era a hora de ela lhe revelar.
“Se seu olhar se cruzar com algum cara
com quem queira flertar, você descruza e cruza as
pernas novamente para o outro lado.”
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Lembrando-se novamente dos ensinamentos


do garoto, ela fez o que havia aprendido, logo
depois conectando novamente seus olhares. Theo
estava hipnotizado pelo cumprimento do vestido e
mordeu os lábios instintivamente com a visão dele
se levantando brevemente com o movimento de
suas pernas.
- Você tá muito gostosa. – Constatou, não
se freando de dizer aquilo que era a mais absoluta
verdade, que dançava no ar como um elogio
necessário. Bianca sorriu mais uma vez, e olhou
para a janela aberta, que mostrava um fim de tarde
ameno e cheio de nuvens.
- O tempo está nublado. Você não adora
tempo nublado? – Perguntou, desviando o assunto
com a sutileza de uma dama.
- Eu deveria? – Indagou, apertando os olhos
em curiosidade de onde ela queria chegar.
- É bom para tomar decisões. – Deu de
ombros delicadamente. - Você não se sente
pressionado pela positividade do sol, nem amuado
pela melancolia da chuva. Qualquer um dos dois
pode ser igualmente provável. – Explicou, e o mais
velho rapidamente pegou a linha de raciocínio.
- Ou o sol aparece ou a chuva cai. – Acenou
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em compreensão. - Qual decisão você tomou?


- Você é um garoto grande... – Bianca
soprou, pousando uma mão suavemente no fim da
coxa do moreno e apertando ao umedecer os lábios.
Todos gestos que exigiam muita autoconfiança,
coisa que ela conseguiu também a partir de uma
aula. No caso, a Aula 3:
“Você precisa estar confortável consigo
mesma desde debaixo da pele, confortável com o
seu prazer egoísta, com o que quer, com o que
precisa.”
O que ela precisava era dele. E estava ali
para justamente para mostrá-lo.
- Tenho certeza que pode descobrir sozinho.
– Embora sua fala contivesse um desafio implícito,
nada era mais claro do que a conexão feita entre
seus olhares, que dizia basicamente tudo que era
necessário ao garoto saber.
Respirando fundo e cansado de vê-la tão
longe sentindo-a tão perto, Theo enlaçou uma mão
na nuca de Bianca, e puxou-a pelos cabelos direto
para sua boca.
Testa contra testa, seus hálitos se
misturavam, quentes e saudosos, em um roçar
vigoroso que provocava arrepios pela coluna. Os
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pelos eriçados e os narizes se encontrando, apenas


premeditando a hora que alguém fosse partir os
lábios de uma vez.
Ela tomou a iniciativa.
Theo nem ousou não retribuir, sentindo-a
colocando seu corpo e alma no movimento,
entregando-se como planejava fazer desde o início,
dando seu coração em uma bandeja de prata.
Seus lábios se moveram em conjunto, como
se lembrassem um do outro, e tivessem sentido
falta de seu gosto e maciez. Diferente de qualquer
outra experiência, uma estranha corrente de
eletricidade percorreu seus corpos, derretendo cada
nervo tensionado. Tinham feito aquilo tantas vezes,
e ainda assim parecia ter sido em uma fantasia ou
sonho distante, no melhor tipo de déja vu possível.
Era como na Aula 4, quando se beijaram
pela primeira vez, e todos os encaminhamentos de
Theo se provaram desnecessários. Eles não
poderiam dizer que tinham aprendido a lidar
perfeitamente com o ritmo um do outro, que tinham
decorado os tipos de agrados que o outro preferia,
pois seria mentira. Afinal, ficou claro desde o
começo que tinham nascido com aquele dom.
Quando o beijo começou a ficar bom
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demais para a sanidade de ambos falar mais alto,


Bianca se levantou do sofá, puxando Theo pelas
mãos para acompanhá-la, os olhos sempre
conectados. Ele ficou em pé também, logo
segurando-a com força pela cintura e dando
impulso, de forma que a garota enlaçasse as pernas
ao seu redor. Assim, com ela no colo, ele se dirigiu
para o quarto, outro ambiente de memórias
indescritíveis, visando o espaço e conforto provido
pela cama.
O moreno ficou impressionado ao ver todas
as pequenas velas que iluminavam o lugar,
deixando um aroma característico no ar e uma
sensação gostosa de acolhimento. Sorrindo para ela
e acariciando sua bochecha quente, Theo
aproximou-se do colchão, colocando primeiro o
próprio joelho e só então a depositando de costas
com toda a gentileza do mundo.
Ao passo que voltaram a unir seus lábios e
gostos, as roupas foram desaparecendo, uma a uma
sendo jogadas no chão, enquanto mãos ansiosas
exploravam a pele descoberta, tocando, apertando,
pressionando. Eles não conseguiam evitar.
Bianca sentia-se molhada só de sentir o
tronco nu do professor sobre ela, com todos os
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músculos nos lugares certos, o odor mais


maravilhosamente másculo que já tinha sentido, em
uma maciez infinita que lhe dava água da boca.
Tinha descoberto aquela sensação com ele, tendo
entendido o significado da palavra tesão pela
primeira vez só quando ouviu seus sussurros
libidinosos ao pé do ouvido ou visto o olhar
pecaminoso dele lhe analisando as curvas. Cada
uma daquelas ações era capaz de fazê-la entortar os
dedos dos pés e ansiar por uma pressão mais
enfática sobre si e um quadril duro entre as coxas.
E tudo aquilo era novo. Aquele anseio por sexo só
surgiu na Aula 5, quando ele pacientemente lhe
provou que o que era capaz de fazer entre quatro
paredes era mais do que gratificante, quebrando
todos os seus estigmas anteriores.
Como agora, que ele beijava seus seios com
uma fome a que era impossível não se entregar,
arqueando a coluna para empurrá-los mais dentro
da boca dele. Theo fazia cada mínimo agrado
parecer surreal, e Bianca revirava os olhos,
enlouquecida e perturbada pela enxurrada de
sentimentos e pela inquietude que se estabelecia no
seu baixo ventre. Era tão absurdo, que ela tinha
vontade de jogá-lo do outro lado da cama para
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comandá-lo ao seu ritmo, com a sua pressa.


E foi o que ela fez. Arranjou um jeito de
girar com o mais velho pelos lençóis até as
posições inverterem, e arrancou a última peça de
roupa dele como se sua vida dependesse daquilo. E
então, antes que pudesse parar para pensar no que
estava fazendo, tinha o pau dele enfiado até a
garganta.
A vontade de colocá-lo na boca estava
insuportável, ela percebeu. Adorava sentir ele
estremecer por sua causa, deixá-lo mais duro do
que achava capaz, e vê-lo espelhando todos os
desesperos dos quais ela sofria quando ele a
provocava. Adorava lembrar do rosto dele de
sofrimento e do mais absoluto êxtase quando a
ensinou aqueles movimentos na Aula 6. Fazia ela
se sentir poderosa e ainda mais excitada, se aquilo
era possível.
Theo a puxou pelos cabelos, mostrando que
era o suficiente, e que ele queria tê-la naquele
instante. A guiou até tê-la sentada em seu quadril, o
mastro entre as coxas da garota, onde ela se
esfregava sem se conter. A posição era nova para
ela, mas ele tinha certeza que seus gritos seriam
passíveis de se ouvir a quilômetros quando se
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acostumasse.
Ele se protegeu rapidamente e segurou
Bianca pela bunda, levantando-a até estar
encaixada na cabeça de seu membro. Segurando em
seus ombros fortes, ela desceu centímetro por
centímetro, sentindo-o preenchê-la por inteiro, em
um ângulo diferente do usual que a obrigava a girar
os olhos nas órbitas. Apesar de ser claramente um
esforço descomunal para Theo ir devagar naquele
momento, ele aguentou, mordendo os lábios com os
olhos vidrados no lugar onde se tornavam um só.
Bianca notou o cuidado com ela, a paciência em
esperar que se movesse quando se sentisse pronta.
E ela adorava quando o garoto era bruto e sexy,
mas tamanho carinho e conexão podiam ser até
mesmo melhores em dadas situações.
Tinha um sentimento alarmante impregnado
no ar, um pouco de saudade misturada com alívio e,
arriscaria dizer, até mesmo uma porção de amor. E
toda aquela áurea, unida com a posição nova e
desafiante, tornavam tudo espetacularmente
melhor, assim como Theo havia explicado na Aula
7:
“É importante sempre o casal achar uma
forma de quebrar a inércia e se colocar em
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situações diferentes, que lidem com o inesperado e


tragam alguma experiência nova.”
Respirando fundo e já perto demais de um
final inevitavelmente bom, Bianca começou a se
mover, subindo e descendo com graça e em seu
próprio ritmo. Theo a forçava a rebolar de vez em
quando, quando estava inteiro dentro dela, e ambos
arfavam com a sensação. Ele estava hipnotizado no
movimento que os seios dela faziam com o vai-e-
vem, enquanto ela tinha os olhos baixos, incapazes
de permanecerem abertos propriamente, mirando o
peitoral e abdômen do moreno tensionados pelo
gozo postergado.
Juntos, abraçaram-se em um aperto gostoso
quando tudo aquilo se tornou insuportável, e se
entregaram a um orgasmo elétrico e relaxante,
gemendo na boca um do outro.

Agora, deitados lado a lado ainda levemente


ofegantes, Bianca percebeu como tinha passado em
poucas horas por todas as 7 aulas ministradas pelo
mais velho. Com um sorriso sofrido, percebeu que
a única que ela achava não ter cumprido com
méritos, era justamente a oitava. Fazê-lo se
apaixonar... Aquele era todo o objetivo. Teria ela
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sido bem sucedida?


Simultaneamente, Theo avaliava a loucura
que havia sido aquele par de horas. Encontrar
Bianca em sua casa, tão absurdamente tentadora,
dizendo todas as coisas certas e agindo como uma
mulher de verdade... Era de tirar o fôlego. Mesmo
assim, o elemento que mais jogava a favor de toda
a sedução da menina era justamente o fato de ela
ser quem era, com sua meiguice à flor da pele e os
olhares intimistas que sempre carregava nas íris
transparentes. Apesar desses elementos sempre
presentes em suas atitudes, até mesmo
inconscientemente, ele percebia agora que ela
estava sim agindo diferente, como se seguisse um
manual de regras.
Em um clique, Theo percebeu,
extremamente surpreso, que Bianca estava
colocando em prática as aulas que ele tinha lhe
dado. Uma a uma, estavam todas presentes ali,
exceto... A Aula 8. Era isso que Bianca objetivava?
Ela queria conquistá-lo?
- Você sabe... Eu percebi o que você fez. –
Comentou, trazendo a atenção da menina para si. –
E você foi perfeita como sempre.
- Mas? – Bianca disse com um sorriso
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penoso de canto. Se ele estava lhe dizendo aquilo,


era porque tinha entendido onde ela queria chegar.
E, mesmo assim, ele não tinha dito aquilo em um
tom apaixonado. Ele virou-se para ela com dúvida
no olhar.
- Mas nada disso é necessário. Muito menos
a oitava aula. – Ele deu de ombros, ruborizado.
Falar de seus sentimentos nunca deixaria de ser
estranho.
- Por que eu nunca vou surtir efeito em
você, né? – Ela completou, cabisbaixa. Theo
franziu o cenho, não entendendo sua reação.
- Pelo contrário, menina... Você não vai me
conquistar por causa dessas aulas. – Sentindo-se
boba, ela continuava a mirar as próprias pernas. -
Você já me conquistou... Apesar delas. – Bianca
subiu o rosto para mirá-lo imediatamente, tentando
fazer sentido das palavras que se embaralhavam em
seu cérebro.
- O que isso quer dizer? – Sussurrou, tímida
e confusa. Theo coçou a nuca, desconfortável de
colocar em palavras aquilo novamente, mas
sabendo ser necessário.
- Quer dizer que eu sou completamente
apaixonado por você, Anjo. – Ele brincava com os
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dedos dela para não precisar encará-la. - E não é de


agora. – Surpresa e sem se conter, Bianca ficou
imediatamente de joelhos e se jogou nos braços de
Theo, chocando os corpos com violência,
abraçando-o pelo pescoço com força e forçando os
lábios contra os dele em um selinho apertado. Ele
exclamou, surpreso, segurando-a com cuidado pela
cintura em equilíbrio.
- Você tá falando sério? Não é brincadeira?
Não é nenhuma lição a mais que você quer me dar
sobre coração partido nem nada assim, é? – Rindo
de seu jeito eternamente afobado, Theo também se
sentou encostado à cabeceira com ela ainda apoiada
em si, e decidiu colocar tudo em panos limpos. Ela
já tinha demonstrado que não ia fugir... Pelo menos
ele colocaria aquilo para fora.
- Eu não tinha percebido, você sabe, sou
muito cabeça dura. Mas aí a Sophia começou a me
fazer um monte de perguntas a seu respeito... E eu
fui notando que meu ciúmes e necessidade de
contato não eram a coisa mais normal do mundo
para quem não sente nada além de amizade pela
pessoa. Daí eu me senti super mal de estar ficando
no seu caminho para chegar até o loiro aguado,
porque aquele era seu objetivo desde o começo e eu
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não estava sendo muito condescendente com isso.


Então eu resolvi me afastar e te deixar ter a chance
que você merecia com ele, mesmo que fosse para
perceber que ele não te merecia. – Explicou para
uma Bianca boquiaberta.
- Você fez tudo isso por mim? – Bianca
tinha os olhos marejados, finalmente
compreendendo todos os motivos por trás de
atitudes que a tinham magoado tanto. Na verdade,
agora ela se sentia extremamente importante,
comovida pelo altruísmo dele.
- Sempre por você, Anjo. – Theo acariciou
seu rosto, e ela viu, enfim, o jeito como ele a
olhava. Em algum lugar entre o carinho e a
admiração, fervia um sentimento. E aquilo era
paixão, com toda a certeza.
- Eu fiquei tão brava com você... –
Comentou risonha, negando com a cabeça.
- Brava? O que eu fiz? – Theo franzia as
sobrancelhas, confuso, e ao mesmo tempo sorria,
não podendo evitar a imagem mental de uma
Bianca muito fofa nervosa.
- Sim, brava! Por ter me afastado, por ter
me jogado no colo do idiota do Samuel. – Revirou
os olhos, sem saco de tocar naquele nome. -
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Também morri de ciúmes da Soph...


- Espera, espera, espera. – Theo
interrompeu, confuso. - O que você tá dizendo? –
Bianca o olhou como se não tivesse solução.
- Que eu gosto de você também, Theo.
Achei que isso tava na cara depois de tudo isso. –
Ela abriu os braços, mostrando os arredores
simbolizando seus preparativos, e Theo ponderou
por alguns instantes, repassando cada mínimo
detalhe desde sua chegada na casa, por fim se
achando imbecil. – Eu decidi encarar tudo como
mais uma aula, para ter coragem o suficiente para
fazer tudo que precisava ser feito. – De fato,
quando Theo colocava os termos de algum
ensinamento, Bianca assumia uma postura
diferenciada, como se ter o passo-a-passo tornasse
tudo menos assustador. Aquela havia sido,
portanto, a tática que encontrou de não se
atrapalhar em seu próprio plano.
- E dessa vez você foi a professora? –
Perguntou com um sorriso de canto, maravilhado.
- É. Aula 9: Como não deixar o cara que
você ama escapar. – Disse em um tom pomposo
que o fez rir com gosto e apertar sua barriga.
- Eu gosto de como isso soa... – Comentou,
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o nariz passeando pelo rosto da garota, em uma


carícia gostosa que arrepiava seus poros. Afastou-
se contendo a vontade de interromper o assunto e
começar tudo de novo o que tinha acontecido ali há
pouco. – Desculpe não ter percebido antes. Acho
que eu não penso direito quando se trata de você.
- Acho que eu posso te perdoar com uma
condição. – Piscou os cílios com inocência, e ele
logo soube que ela estava tramando alguma.
- É? Qual condição? – A menina sorriu,
batendo com dois dedos na própria boca,
sinalizando que queria um beijo. – Hm. Acho que
essa penitência eu vou pagar com vontade. –
Sorriu, conformando-se que sua garota era tão
safada quanto ele próprio.
Com um gritinho agudo, Bianca foi deitada
na cama novamente, e se embolou com Theo para
baixo dos lençóis, onde ficaram pelo resto da tarde.
E por muitas tardes, manhãs e noites, pelo
resto dos dias.

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- Anjo? - Theo gritou ao bater a porta do


apartamento. Tinha acabado de chegar da faculdade
de psicologia que fazia durante a noite, e apesar de
extremamente cansado, uma única olhada no rosto
da namorada fazia com que ele se sentisse
refrescado. Isso não mudou em dois anos e meio de
relacionamento, e o mesmo ocorria com o apelido
que ele insistia em usar para se referir a ela.
- Oi, amor. - Bianca disse, aparecendo no
fundo do corredor depois de alguns segundos, com
os braços abertos para recepcioná-lo, Whisky no
seu encalço, também ansioso por recepcionar o
dono - embora o traidor tivesse se afeiçoado demais
pela nova mamãe -, e a nova membra da família,
Tequila, uma Shitsu de oito meses, ocupada demais
em morder os calcanhares do cachorrão.
Bianca tinha demorado pois estava distraída
com as novas fotos enviadas por Sophia do último
lugar maluco em que estava de visita. A morena
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tinha se provado a amiga que Bianca sempre quis


ter, e nunca falhava em mandar recordações e
imagens dos lugares por onde passava como
gerente de aeroporto, e dos gatos from abroad com
quem tinha affairs. O jeito independente da garota
nunca falhava em entreter o casal, que adorava
fazer skypes de quase uma hora com o cupido que
os uniu. - Como foi hoje? - Eles trocaram um
abraço apertado e um selinho, inspirando o perfume
um do outro, como faziam todos os dias.
- O de sempre. To dando graças a deus que
semestre que vem essa loucura melhora. - Cursar
duas faculdades ao mesmo tempo exigia muito do
moreno, mas ele não trocaria aquilo por nada.
Apesar de tudo, passou a gostar muito de direito, o
que o fez perceber que talvez toda a sua birra fosse
fruto do preconceito que tinha quanto as escolhas
do padrasto e da mãe. Já psicologia era tudo o que
ele podia esperar, sem tirar nem por. Mas, ainda
que estivesse realizado no âmbito profissional, todo
o tempo que as faculdades exigiam o faziam ficar
esgotado e sem pique para aproveitar a namorada.
Isso foi motivo de um grande abalo no
relacionamento durante um tempo, até ele ter a
brilhante ideia de morarem juntos. O que se
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concretizou alguns meses atrás, perto do campus, e


garantia que eles pelo menos pudessem dormir
juntos todo dia, o que ajudava a matar a saudade
que a rotina enlouquecida dele criava. Além disso,
no semestre seguinte, o garoto que criaria sua
própria grade de horários, pois teria que escolher
suas matérias eletivas, e com isso o ritmo deveria
diminuir também. Ambos ansiavam muito por esse
momento.
Morar juntos foi, inclusive, uma boa
alternativa para o problema familiar que Bianca
estava enfrentando. Agora que tinha decidido morar
de vez com o pai, a mãe tinha ficado louca, perdido
o emprego e chorado diversas vezes na porta da
casa de Augusto. Bianca levou a mulher a um
psicólogo, onde foi constatado tudo que todo
mundo já suspeitava: Ela estava depressiva. Para
ajudar a mãe e apaziguar a situação, Bianca achou
por bem sair da casa do pai, e o convite de Theo
acabou sendo muito bem-vindo. Agora, sua mãe
estava sendo medicada, novamente em um emprego
estável, e bem mais calma por falar com a filha
todo dia e não sentir que a estava perdendo para o
ex-marido. Augusto também compreendeu a
situação completamente, e só fazia questão que
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Bianca os visitasse sempre que possível.


- Eu também. Não aguento mais te ver tão
abatido. - Acariciou o rosto do mais velho, sempre
tão meiga apesar de todo o crescimento. Bianca deu
a sorte de passar na mesma faculdade que Theo, um
ano depois que o próprio, no curso de jornalismo.
Encontrou em sua profissão uma forma de exercitar
a recém adquirida confiança, começando um site
onde postava textos sobre os ensinamentos do
namorado e suas próprias experiências, que acabou
surpreendentemente fazendo muito sucesso, sendo
até a fonte de renda deles, ao que grandes empresas
a procuravam para colocar anúncios lá.
- Eu sei, amor. Você já jantou? - Theo
perguntou, acariciando o rosto delicado da garota.
Se perguntava se algum dia enjoaria daqueles
traços.
- Estava te esperando. - Ela respondeu,
reprimindo um sorriso arteiro, sendo ainda assim
pega pela pessoa que mais a conhecia no mundo.
- Safada, quem você quer enganar? Queria
que eu fizesse a comida, isso sim. - Theo estreitou
os olhos, tentando se passar por bravo, mas seus
lábios brincavam de se levantar nos cantos,
provando que ele estava mais que acostumado com
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as estripulias da namorada, que sempre se


aproveitava dos dons dele na cozinha.
- Eu prometo te recompensar direitinho
depois... - Soprou, entortando um pé e abaixando a
cabeça em falsa inocência. Theo não se aguentou
ao vê-la daquela forma e a tomou em seus braços
em um aperto forte, aproveitando para canibalizar
sua bochecha, deixando a marca dos dentes
alinhados ali.
- Eu te amo, sabia? - Murmurou a centímetros
de seu rosto, a face contorcida na expressão
favorita, que gritava "você é impossível".
- É? Eu nem suspeitava... - Theo apertou a
barriga da menina, que ria um sorriso provocativo,
arrancando a confissão. - Eu também te amo,
professor. Agora mova essa bunda linda pro fogão
que eu estou com fome! - Ordenou, deixando um
tapinha na nádega dura do mais velho e mordendo
os lábios, sabendo que ele reclamaria.
- Eu sabia que devia ter me alongado mais na
aula que eu te ensinei a cozinhar... - Sempre
resmungão, Theo arrastou os pés para o cômodo de
piso ladrilhado. Apesar da birra, adorava cozinhar e
até preferia fazê-lo se isso significasse ver o sorriso
da namorada tão agradecido como costumava ser.
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Deixou para trás apenas milhões de lembranças de


um tempo divertido e único, dividido no colegial
por duas pessoas que descobriram ser o
complemento perfeito para um amor sem
precedentes.
Bianca ficou na sala, ainda sorrindo, dando-se
conta de toda a sorte que possuía. Antes de seguir o
namorado, planejando provocá-lo mais até que
desse altas gargalhadas ao seu lado como
normalmente fazia, ela pousou os olhos no quadro
emoldurado que enfeitava sua sala de estar.
Branco no preto, o escrito simbolizava tudo
que eles gostariam de dizer para os jovens de todo
o mundo. Uma última aula a ser adicionada à lista
para fechar os ensinamentos e memórias com chave
de ouro:

Aula 10:
Seguir todas as regras pode te fazer conquistar qualquer
um.
Ser você mesmo pode te fazer conquistar a pessoa certa.

F im
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Queria agradecer, novamente e


incansavelmente, a quem esse livro é dedicado, aos
meus leitores maravilhosos do grupo Histórias de
Má Marche, aos fiéis acompanhadores das
postagens do Wattpad, às minhas meninas falantes
dos grupos de Whatsapp, e a todo mundo que já leu
algo que eu escrevi e teve a presença de espírito de
me deixar um recado ou vir compartilhar seus
pensamentos a respeito. Muito, muito obrigada.
Vocês me possibilitaram estar seguindo esse sonho
e eu devo muito a vocês.
Também queria dizer um imenso obrigado
às minhas amigas eternas do UP, todas as autoras
geniais e maravilhosas, de corações enormes e tão
criativas com quem eu partilhei a administração do
site. Bru, Ray, Gi, Nat, Lola, Jess, Ana, Bia, Lyli,
Soph, Laís, Andie, Ju, Andy, Cris e Lan, vocês
arrasam e eu tenho muito orgulho de ter podido
trabalhar lado a lado com cada uma.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Meu muito obrigada à Luiza Kok, minha


melhor amiga, a todo o pessoal do Bonde, a todo o
pessoal do Pio XII, e a toda a galera do DNCEG,
por terem sempre me motivado a escrever, por
terem sido meu pilar de ficção na vida real, e por
serem os melhores parceiros que eu poderia ter
nessa jornada. Vocês me ensinaram a abraçar quem
eu sou e a ter orgulho do meu hobbie tão fora do
comum. Mil vezes obrigada!
Agradeço à minha família, minha mãe
Dulce e minha tia Solange, por terem sempre me
dado a liberdade de escrever sobre o que eu
quisesse e me dado amparo para perseguir esse
objetivo. Eu amo muito vocês, com todo o meu
coração.
Obrigada a você, leitor, por acreditar no
meu trabalho e dar uma chance à minha escrita.
Espero de verdade que tenha se divertido, se
emocionado, se excitado, e que essas páginas
tenham feito do seu tempo livre algo mais
prazeroso.
Até uma próxima,

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Má.

NACIONAIS - ACHERON

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