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Cartas para o Sol e a Lua.

- Baseado em fatos reais.


Dia 06 de outubro, exatamente às 20:35 da noite, Sunny recebeu uma mensagem que faria sua vida virar do
avesso.
“Eu gosto de você” Sunny tinha lido o imenso texto, e quando chegou nessa frase em específico, congelou.
Pensou em várias formas de responder, não sabia ao certo o que sentia. O que seus pais iriam achar disso?
Eles nunca aceitariam. Sunny respondeu, disse que tinha desenvolvido sentimentos, mas não sabia se eram
verdadeiros ou apenas digitou tais palavras no calor da emoção.
O tempo foi passando e elas começaram a trocar cartas, presentes feitos à mão, origamis, sorrisos, olhares
constrangidos com um genuíno sorriso no rosto... era tudo bonito no começo. Mas, uma hora iriam
descobrir. Sunny não tinha costume de manter um diário, mas quando não conseguia expressar seus
sentimentos, amava escrever. Escreveu sobre como as duas estavam tendo uma relação muito boa, não eram
namoradas, nem ficantes, eram amigas com algo à mais. Péssima ideia. Por um momento pensou que sua
mãe não acharia o caderno de capa preta com vermelho aveludado, confiava nela.
Quando estava voltando da igreja, percebeu que sua mãe a tratava com rigidez e desprezo. Seu coração
acelerou. “Merda, merda, merda, ela mexeu nas minhas coisas”, queria gritar. Suas mãos suavam, seu corpo
tremia e parecia que aqueles minutos dentro do veículo abafado pela aura aterrorizadora de sua mãe eram
horas. Quando chegou em casa, confrontou-a. Ah, mas que ideiazinha. Tapas e gritos ecoavam pela casa.
Ainda não sei como os vizinhos não chamaram a polícia, tenho certeza de que pelo menos dona Lucinda, da
parede germinada ao lado do quarto de Sunny, ouviu o escarcéu.
Depois disso, tudo virou um inferno. Seu celular foi pego, não ia mais a escola com suas amigas e chorava
todas os dias a ponto de crises fortíssimas. Tentava falar a verdade, que estava confusa, não sabia o que
sentia, mas quem disse que acreditaram? Só cuspiam rudes palavras em seu rosto, que foi se desfazendo ao
passar dos dias, perdeu sua essência. Quem era Sunny afinal? Nem ela mesma sabia.
Nesse meio tempo, ela mandou uma carta para Luna explicando toda a situação e que teriam que se afastar.
Mas quem era Luna afinal? Era uma menina de grandes cabelos afros, um pouco mais baixa que Sunny,
usava óculos um pouco redondos e tinha um sorriso cativante, o que provavelmente fez Sun se apaixonar.
Luna nunca foi de demonstrar sentimentos, mas com ela era diferente, uma cativou a outra, como no livro O
Pequeno Príncipe, onde a rosa cativava o príncipe com apenas sua sútil beleza, era assim com as duas
também. Tentaram conversar pessoalmente. Se abraçaram, um abraço sem jeito, mas que confortou os
pedaços que sobraram do coração de Sun.
Passaram-se três meses até a poeira baixar. Seus pais voltaram a confiar nela e as coisas foram voltando ao
“normal”, mas ela não. Como reparar danos profundos? Só quem já teve o coração partido sabe a dor que é
deixar alguém que você gosta para trás. A dor no peito, reviradas no estômago, pensamentos de culpa por ter
sido tão descuidada... Não era sua culpa, nunca foi, mas pensamentos não mudam assim tão facilmente,
nunca mais se permitiu amar. Tentou mascarar o que sentia por Luna até esquecer que o sentimento existia.
Luna tentou conversar com ela várias vezes, porém nunca deu certo, até que desistiu. Sun se sentia covarde
por nunca ter conversado pessoalmente para explicar vírgula por vírgula, ponto por ponto. Odiava lembrar
das noites em crise. Eu a entendo, quem gosta de relembrar os traumas? Tudo pelo que passou foi doloroso.
Desenvolveu nesse meio depressão e ansiedade. Nunca mais quis amar. Luna foi seu primeiro e último
amor. Ainda hoje, guarda as cartas e embalagens dos presentes que trocavam, e quando ela passa pela janela
da sala, Sunny se culpa por dentro, mas por fora a encara “como pode estar mais bonita a cada dia que
passa?”.
“Almas gêmeas estão destinadas a se encontrarem, não a ficarem juntas” - desconhecido.

Fim

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