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Te Desejando

Copyright © 2023 Malana Andrade

Design de Capa: Jaque Summer


Leitura Sensível: Isamara Gomes
Revisão: Sophia Ferreira
Diagramação: Malana Andrade

Todos os direitos reservados.


Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de qualquer meio eletrônico, mecânico e
processo xerográfico, sem o consentimento da autora desta obra. (Lei 9,610/98)

Esta é uma obra literária de ficção. Todos os nomes de lugares, acontecimentos e descrições são
fruto da mente da autora. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Texto revisado conforme o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.


Julian Ollier saiu de um namoro complicado há pouco tempo e por isso está determinado
a ficar longe de relacionamentos.
Dominic Davis se afastou da maioria dos amigos por conta de um segredo, mas agora
que está de volta precisa lidar com isso.
Os dois são colegas de time e acabaram se beijando durante uma festa.
Julian vai tentar ignorar o que está sentindo.
Dominic vai ter medo de deixar acontecer.
Será que o desejo que sentem um pelo outro vai falar mais alto? Ou o passado vai acabar
atrapalhando os dois?
Avisos
Playlist
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Epílogo
Agradecimentos
ATENÇÃO!
Sejam bem-vindos ao livro extra da série Aparentemente Amor!
Fico muito feliz em te ver aqui para prestigiar a história desses dois. Julian e Dominic
originalmente não tinham um livro, mas depois de tantos pedidos e deles decidirem me contar
um pouco mais sobre a história de amor que os levaram a viver felizes para sempre, decidi
escrever um conto.
Esse livro vai ser curto e mega rápido de ler, mas espero que aproveite cada segundo e
que se apaixone por cada detalhe desses dois que são simplesmente perfeitos uma para o outro
Por se tratar de um conto, que faz parte de uma série de livros que se interligam de várias
formas, aconselho você ler os livros anteriores para ter um entendimento melhor de toda a
história e não ficar perdido em alguns acontecimentos.
Além disso, antes de começar a leitura, preciso que saiba que este conto é um romance
new adult recomendado para maiores de dezoito anos. E essa classificação é devido alguns temas
sensíveis abordados durante a história e que podem causar desconforto em algumas pessoas.
Sendo assim, fique atento a lista de gatilhos: homofobia, cenas gráficas, sem violência
física. Menção a relacionamento abusivo, abuso de bebidas e cenas explicitas de sexo.
Nenhum dos temas abordados aqui é romantizado, eles são utilizados apenas para o
desenvolvimento da obra. Por favor, peço que respeite seus limites, se você se sentir em algum
momento desconfortável pare imediatamente. Preze pelo seu bem-estar.
Além disso, deixo avisado que algumas questões e situações sobre personagens
secundários podem ficar em aberto, mas tudo será respondido e resolvido nos próximos livros.
Avisos finalizados, desejo a você uma ótima leitura.
Para ouvir a playlist do livro, escaneie o código do Spotify abaixo:
Para todas as leitoras que me mandaram mensagem dizendo que Julian merecia um livro.
Espero que gostem da história de amor dele.
Julian Ollier

2 meses antes
Depois de encher mais meu copo, vou em direção a roda que se formou no meio da sala.
O apartamento, que divido com mais dois amigos, está uma loucura. Hoje estamos fazendo uma
festa de despedida para Dayton, o capitão, e para mais quatro colegas de time que estão se
formando esse mês.
Pedimos pizza e alguns outros petiscos, mas todos estão concentrados mesmo é nas
bebidas. Na verdade, está todo mundo bêbado, inclusive eu. Me sento ao lado de Ian, um outro
amigo meu, e uma ideia passa pela minha cabeça. Como não estou raciocinando direito por causa
do álcool, apenas digo sem analisar muito se a ideia soa estranha ou não.
— Todo mundo precisa contar alguma história com Dayton — declaro e vejo Dominic
me olhando como se eu tivesse dito algo absurdo.
— Isso é uma despedida, ele vai se formar, ele não morreu para termos que contar
histórias dele — Dominic declara parecendo indignado, mas eu o ignoro.
— Ele não morreu, mas James vai se não descer dessa mesa — escuto Mark, outro
jogador que também está se formando, falar.
James, um dos meus melhores amigos e o mais sem noção também, está pulando em
cima da mesa de centro e isso tem tudo para dar uma merda enorme.
— E se não morrer assim, eu mato — April afirma nervosa. — Desce daí, James, porra!
Esses dois têm um tesão reprimido que se simplesmente transassem logo, parariam de
implicar tanto um com o outro.
— Eu estou bem, não precisa se preocupar — ele praticamente grita. — Olha só. — Pede
tentando fazer o quatro com a perna, mas desequilibra e só não vai direto para o chão porque eu e
Ian seguramos ele, que levanta se apoiando em nós dois.
— Oh cacete, você é pesado — Ian o empurra e eu faço o mesmo.
— Credo, já tive amigos melhores, caçulinha. Não seja malvado — ele se vira para
Melanie, que é a namorada do mais novo. — Faça ele se comportar — James exige e a ruiva
revira os olhos sem dar importância.
— É hoje que eu gasto meu réu primário — April o encara de forma assassina.
Mark serve mais uma rodada de bebida, enquanto James e sua criatividade quase
inexistente, não que a minha seja melhor, inventa um jogo totalmente sem noção como ele.
Basicamente é uma verdade ou consequência, só que as duas pessoas que forem
escolhidas pela garrafa precisam responder uma pergunta ou fazer alguma coisa que vai ser
escolha de quem rodou a garrafa, e se recusarem, precisam tomar uma dose.
Talvez ele ache que ainda não estamos bêbados o suficiente.
Eles começam o jogo, mas eu não estou realmente prestando atenção até escutar o nome
da April e do James, aí eu fico interessado na brincadeira. Eu sei, parece que sou meio obcecado
pelos dois, mas seja amigo do James e escute ele falar dela várias e várias vezes durante o dia e
jurar que não é nada demais. Dessa forma, com certeza, fica fácil de entender por qual motivo eu
só queria que eles se pegassem logo.
— Sorte é uma coisa que eu não tenho, com certeza — April bufa olhando para Diana,
que foi quem rodou a garrafa.
— Eu quero que… — Diana pensa tranquilamente. — James dê um beijo no pescoço da
April, mas tem que ser com vontade, nada de só encostar os lábios, um beijo direito.
— Não vai rolar — April nega tão rápido que a outra quase nem termina de falar. — Sem
chances nenhuma.
— Que isso pequena, só um beijinho — James dá a volta na mesa indo até ela, que o
impede de se aproximar esticando o braço.
— Não quero um beijo seu — ela afirma e ele a olha ofendido.
— Que maldade — ele abaixa o rosto para perto do dela, mas como estou do lado
contrário não entendo o que fala, mas a irrita.
— Vai para casa do caralho, James — ela o empurra de leve. — Pronto, já bebi, agora
volta para o seu lugar.
— Vou me lembrar que recusou meu beijo — James dramatiza, mas vai se sentar.
— Próximo — Mel anuncia, pegando a garrafa e girando. — Bonnie e Oliver — ela
comemora.
— Não estamos brincando — Bonnie afirma, sentada no sofá atrás da nossa roda junto
com o namorado.
— Estão sim, se estão na mesa têm que brincar — Afirmo, porque todo mundo tem que
participar e é legal atentar o Oliver, ele é tímido e fica todo sem graça.
— Não estamos na mesa, estamos no sofá — Bonnie retruca e eu reviro os olhos.
— Roda de novo, Mel — incentivo decidindo não insistir, até porque eu não venceria
uma discussão com Bonnie.
A garrafa gira umas cinco vezes e para apontando para mim e Dominic, a coisa mais
improvável do mundo, porque ele é hétero, então não tem chance de rolar qualquer coisa. Por
isso, já me preparo para alguma pergunta, mas sou surpreendido pelo pedido da Melanie.
— Eu quero um beijo — eu a olho sem acreditar e achando meio sem noção o pedido,
mas nem julgando a ideia maluca. — Só um beijinho gente, o que é que tem demais?
Para mim nada, ele é lindo, não, na verdade, ele é um gostoso. Com certeza, eu não teria
problema nenhum em beijá-lo, mas para ele deve ter todos os problemas possíveis.
— Mas o Dominic é uma criatura hétero — Diana se embaralha com as palavras e
arranca risada de todo mundo.
— Na verdade, não — Dominic fala e eu me surpreendo.
Como assim?
— Você é uma criatura BI? — Diana continua e Wendy cutuca ela.
— Para de chamar ele de criatura — Wendy pede ainda rindo.
— Não sou bi, na verdade, eu sou gay — Dominic conta e eu fico completamente
perplexo.
Conheço Dominic desde o primeiro ano da universidade, no começo éramos mais
próximos, nunca fomos mega amigos, daqueles que sabiam tudo sobre a vida um do outro, mas
nos falávamos bem mais. Depois, porém, ele deu uma afastada de praticamente todo mundo. No
entanto, nos últimos meses anda próximo novamente, talvez seja apenas coincidências que
fizeram ele estar sempre por perto, não sei, mas estamos nos vendo com mais frequência. O
ponto na conversa não é esse, entretanto.
O ponto é que eu nunca vi Dominic com um cara, não que ele tenha que fazer isso para
provar alguma coisa, mesmo assim é estranho, principalmente porque já vi ele com algumas
garotas. Não estou entendendo nada, e acho que ninguém está, porque, primeiro, todos
encararam ele, e agora estão em uma discussão sem fim sobre o assunto.
— Mas ele pode estar brincando — escuto James opinar, enquanto Wendy desiste da
discussão e caminha em direção a cozinha.
— Ele está falando bem sério pelo jeito — Dayton opina e eu até acharia essa discussão
muito sem noção se não estivéssemos com um nível extremamente alto de álcool no sangue.
Dominic se levanta chamando a atenção deles ou pelo menos tentando, mas não tem
muito sucesso, porque eles continuam tentando decidir se ele falou a verdade ou não.
Vejo Bonnie e Oliver levantarem e caminharem para fora do apartamento, não julgo eles,
se eu estivesse um pouco mais sóbrio também iria querer fugir dessa situação sem sentido.
Me levanto, porque está simplesmente impossível se manter sentado com a cacofonia de
vozes ao redor. Meu ouvido já está pedindo socorro.
— Mas é sério? — Diana pergunta olhando para Dominic.
— É verdade — é Mark quem afirma e Dominic revira os olhos rindo.
— Caralho, vocês são complicados — ele fala se afastando e caminhando na minha
direção.
Acompanho seus passos com o olhar até ele parar a centímetros de mim, me encarando
com aqueles olhos azuis que parecem se destacar ainda mais em seu rosto, de pele clara e
emoldurado pelos fios lisos e pretos do seu cabelo.
— Eu vou te beijar — ele avisa e não sei se é por culpa da bebida, do barulho ou por eu
nunca sequer ter cogitado a possibilidade de escutar isso da boca dele, mas levo uns bons
segundos para processar o que essa frase significa e quando consigo, ele já colocou a mão na
minha nuca me puxando e grudando a boca na minha.
Novamente, demoro uns dois segundos para processar o que está acontecendo, mas
quando Dominic entreabre os lábios, eu retribuo o beijo. Invadindo sua boca com a minha língua,
explorando cada canto dela e provando com avidez o beijo que eu nunca sequer cogitei receber.
Agarro a lateral de sua blusa, puxando-o mais para mim, e ele passa o outro braço pelas
minhas costas, grudando mais o corpo no meu.
Ok, já esqueci tudo que estava acontecendo e o número de pessoas que está ao nosso
redor. Minha cabeça só está processando eu e Dominic nos beijando. Já beijei muito e já tive
beijos muito bons, mas esse é demais, ele beija bem pra caralho.
Passo minha mão livre pelo seu pescoço e aprofundo ainda mais o beijo. Mordiscando
seu lábio, fazendo-o suspirar contra minha boca, e eu quase deixo um gemido de satisfação
escapar quando ele suga minha língua.
— Eita, porra — escuto a voz de Diana e alguém batendo palmas, me obrigando a
lembrar onde estamos.
— Era só um beijo, já entendemos, vocês já podem parar ou ir para um quarto também,
se preferirem — James afirma e eu ignoro, porque é a melhor opção.
Dominic se afasta de mim, mantendo os olhos nos meus por dois segundos antes de
desviar, parecendo sem jeito, e ir se sentar sem falar nada. Enquanto eu fico ali parado, ainda
processando o que acabou de acontecer e agradecendo que todos estão bêbados, porque já se
distraíram e não estão prestando atenção em mim.
Estou surtando, que porra acabou de acontecer aqui?
Julian Ollier

Pesquisa do dia: Como esquecer um beijo?


Estou quase fazendo isso mesmo, porque essa é a única coisa em que consigo pensar nos
últimos dias. Ainda não acredito que beijei Dominic. Ou ele me beijou, mas isso não importa.
O ponto aqui é que ele me pediu desculpas, eu o tranquilizei, afinal, realmente não fiquei
chateado com o beijo. E depois disso era para seguirmos em frente como amigos, pois é o que
somos. Mas não, eu quero beijar ele de novo. Que ideia maravilhosa.
Caralho, qual o problema com a minha vida?
Saí de um relacionamento conturbado faz poucos meses, inclusive foi Dom que me
contou que fui traído. Falei que não queria nada sério por um bom tempo, e agora estou me
envolvendo com um colega de time. Dá para ver o tamanho da merda?
Não que eu ache que vamos casar, adotar um filho e ter dois cachorros por conta de um
beijo. Mas quando você fica com alguém próximo isso acaba envolvendo outras pessoas além de
apenas vocês. Ainda mais quando temos um grupo de amigos tão intrometidos.
Era desse tipo de coisa que eu devia estar fugindo para ter um pouco de paz, mas não, eu
só consigo pensar como foi bom beijar ele. E não posso nem me defender, porque desde que
conversamos a alguns dias atrás, já pensei em umas dez formas diferentes de beijar ele de novo.
Me sinto naqueles desenhos onde em cada ombro carrego um anjinho ou um demônio;
um me diz que eu devia parar de me preocupar e beijar ele de novo logo, porque não é por
sermos colegas de time, ou que terminei a pouco tempo, que as coisas vão dar errado. Enquanto
o outro afirma que essa história com certeza está fadada a dar uma grande merda.
Porém, como nada é tão ruim que não possa piorar, além da minha mente, eu ainda tenho
James, que não perde a oportunidade de me atentar sobre o assunto. Amigos são ótimos, só que
às vezes eu tenho vontade de esganar os meus. O Jay em específico, para ser mais sincero. E para
piorar, eu moro com ele.
— Jameees — chamo terminando de limpar a bancada da cozinha e bloqueando qualquer
pensamento que seja sobre algo que não quero lidar agora.
Faz poucos dias que eu e ele estamos oficialmente morando só nós dois, já que o nosso
outro colega se formou e mudou antes das férias, e o apartamento está parecendo um
pandemônio de tanta bagunça.
Meu amigo vai criar vergonha na cara e arrumar essa zona toda? Com certeza, não, então
terei que pedir para ver se assim a mágica acontece. Não que eu seja um exemplo de
organização, longe disso, mas tenho certeza que mais da metade das coisas espalhadas é dele.
— O que foi? Alguém está morrendo? — pergunta, aparecendo na sala.
— Não, mas você vai se não arrumar a bagunça que fez — indico a sala e ele encara o
local, coçando a cabeça.
— Ok, pode ser que desde que chegamos eu tenha espalhado algumas coisas… — me
lança o sorriso mais falso do mundo. — No entanto, tem coisas suas espalhadas também.
— E eu vou juntar todas elas. — Saio da cozinha e sigo até a sala, pegando minha
jaqueta, que está jogada no encosto do sofá, meu boné, que está logo ao lado, e um par de
sapatos que deixei perto da porta.
Passo o olhar pelo local apenas para ter certeza de que não tem mais nada meu por ali e
caminho até o corredor dos quartos.
— Só isso é seu? Está dizendo que todo o resto é meu? — Ele olha o caos que está a sala
e depois se vira, olhando para mim. — E a louça na estante?
— É sua — declaro e ele me olha indignado.
— Mas hoje era seu dia de lavar a louça.
— Eu lavei, a que estava na pia, não é minha culpa se você suja as coisas e não coloca no
lugar certo — dou de ombros e continuo meu caminho para o meu quarto.
— Vai à merda, Julian! — ele fala mais alto do que o necessário e eu nem dou muita
importância.
— E não enrola que você tem que ir buscar as bebidas que faltam para a festa com o Ian.
— Sim, senhor — ele debocha, mas começa a juntar as coisas e é isso que importa.
Guardo tudo que havia pegado e sigo direto para o banheiro do meu quarto. Tomo um
banho e me arrumo rapidamente.
Quando volto para a sala, parece até que entrei em um universo paralelo de tão
organizado que está o local.
— Olha, não é que ele consegue arrumar as coisas dele — debocho e James, que está
terminando de lavar a sua louça, se vira para mim.
— Para de ser insuportável — manda, me fazendo arquear a sobrancelha enquanto ainda
o encaro.
— Olha quem fala — devolvo e ele apenas revira os olhos. — Estou indo para a casa dos
meninos, prometi ajudar a organizar as coisas da festa.
Como vários dos nossos colegas de time se formaram no último semestre, o time passou
por várias mudanças. Começando pelo fato de que fui escolhido para ficar no lugar que Dayton
ocupava, ou seja, sou o novo capitão. Ainda é um pouco estranho estar ocupando esse lugar, mas
fiquei feliz em ser escolhido, mesmo que seja por pouco tempo, já que também me formo em
breve.
Outra mudança são os novos jogadores que entraram agora após as férias. Acho que,
desde a época que iniciei a faculdade, essa é a primeira vez que temos tantos novatos. Por isso, e
porque meus colegas nunca perdem a oportunidade, decidimos fazer uma festa de boas-vindas
para eles. Ela vai acontecer na casa em que alguns dos jogadores moram e que a maioria dos
calouros vão morar também a partir de agora.
— Prometeu para os meninos ou para o Dominic?
— Tão engraçado você — finjo rir e ele se diverte ainda mais.
— Só queria esclarecer, para não rolar confusão — debocha.
— Foi só um beijo, ok? Há, sei lá, uns dois meses.
— Se você diz — ele continua. — Mas não sou eu que estou contando quanto tempo faz.
Acho que assim fica fácil de entender porque às vezes simplesmente tenho vontade de
matar o James. Sinceramente, vou me divertir muito quando todo mundo começar a pegar no pé
desse garoto. Porque ele pode até tentar fingir que não sabe de nada sobre uma certa loira gostar
dele, mas uma hora vai ter que parar e assumir a verdade. E se acha que vai sair ileso, está muito
enganado. Tem um grupo inteiro pronto para infernizar a vida dele, assim como ele fez com
todos nós.
— Você me irrita.
— Tudo te irrita, Julian. — diz tranquilamente.
— Estou de saída.
— Até mais tarde, eu até iria agora, mas não prometi nada e já vou ter que ajudar na
limpeza amanhã.
— Você não tem nenhum pingo de vergonha na cara — rio.
— Não mesmo — ele acena para mim. Eu pego minha carteira e meu celular e saio de
casa.
A meta da festa de hoje é me divertir, não deixar nenhum dos meninos, principalmente os
mais novos, entrar em coma alcoólico, se não o treinador mata a gente. E me manter longe de um
certo moreno que, pelo jeito, alugou meus pensamentos só com um beijo.
Vou falhar nessa última parte com certeza.

A casa está lotada, todo mundo aproveitando a festa e eu estou sentado com um copo de
bebida, observando Dominic perto da entrada da cozinha conversando com Mark. Nem ao menos
tentando ser discreto.
Tentei seguir meu plano e fingir que ele não anda ocupando minha mente vinte quatro
horas por dia, sete dias por semana. Mas, depois de conversar com todos os meus colegas de
time, participar da conversa mais sem noção de todas, porque James queria gravar um vídeo com
April e ela recusou, eu desisti de tentar ignorar os pensamentos intrusos que invadiam minha
mente.
Tenho certeza que se Bonnie – uma das minhas amigas mais próximas, com quem
inclusive já fiquei uma época, mas nunca foi nada sério – estivesse aqui, já havia mandado eu
parar de pensar tanto e simplesmente fazer o que quero. Mas ainda não acho que é uma boa ideia,
sinto que não consegui virar a página anterior da minha vida totalmente. O término com Nick
ainda está me travando muito. Além disso, nunca me envolvi com ninguém do time. Tenho medo
de isso trazer problemas para a equipe ou para o treinador, e dos outros jogadores implicarem.
Sem contar que Dominic voltou a se aproximar da gente agora, não quero que ele se
afaste de novo. Ainda mais se isso acontecer por minha culpa, de alguma forma.
— Dominic vai explodir de tanto que você olha fixamente para ele — me viro e encontro
Ian com um sorriso zombeteiro no rosto.
— Não vem implicar comigo, já basta o James.
— Está bravo, Julian? Relaxa, vai beber mais, transar, às vezes ajuda. — implica. —
Posso saber o que te impede?
— Muito próximo, pode dar merda — digo, me virando para ele quando Dominic olha na
minha direção e eu me xingo mentalmente por ser tão óbvio.
— Minha irmã também era muito próxima e isso não pareceu um problema quando
ficaram — afirma, me fazendo bufar, porque ele tem um ponto.
— O que estão conversando? — Mel chega até a gente e Ian a abraça pela cintura,
depositando um beijo em seu pescoço antes de explicar o assunto para ela — Julian, vai beijar o
menino logo, um cabeça dura para eu dar conta, se é que me entende, já está de bom tamanho.
— Olha quem fala — devolvo e ela balança os ombros sem se importar.
— Eu fui cabeça dura, no passado, por isso agora posso falar.
— Por que pediu para a gente se beijar no jogo?
— Eu estava bêbada, não foi proposital, a ideia da brincadeira era pedir coisas inusitadas,
certo?
— Acho que sim — aceno concordando e me virando para onde Dominic estava, no
exato momento que ele se afasta e segue em direção a cozinha.
— Vai logo lá, amanhã você culpa a bebida — Ian bate de leve no meu ombro e eu olho
para ele rindo.
— Vocês são ridículos — afirmo, mas quando Melanie me empurra de leve eu apenas
aceno para eles e sigo para a cozinha, decidido a fazer o que quero.
Dominic Davis

Nunca mais vou beber. Nunca mais vou beber. Nunca mais vou beber.
Estava tentando transformar isso em um mantra, porque não é possível tomar tantas
atitudes impensáveis, estando sóbrio. No entanto, falhei, mas pelo menos já passou da metade da
festa e eu só bebi um copo e meio até agora. Acho que é um bom começo, e pelo menos bêbado
eu não fico hoje.
Sendo assim, a chance de eu cometer outra loucura é pequena. Porque tenho certeza que
tudo que fiz há alguns meses é culpa do estado de embriaguez em que eu me encontrava. Só
existe essa explicação para eu ter me assumido gay para todos os meus colegas de time e mais
algumas pessoas presentes e, além disso, ainda ter beijado um deles do nada.
É verdade que eu já queria me assumir, estava cansado de ficar fingindo uma coisa que
eu não era, mas também não precisava ter feito isso da forma que eu fiz. Não faço ideia de como
faria, mas tenho certeza que havia uma forma melhor, ou não, mas enfim. Foi uma completa
loucura.
Acordei no outro dia, após beber tudo possível, sem ao menos lembrar quem eu era
direito de tanta dor de cabeça e ressaca. Apenas depois de um banho, uma xícara de café e um
remédio para dor, foi que realmente voltei para o meu corpo e tomei total ciência do que havia
feito.
Enlouqueci, não tinha outra reação possível, a não ser um completo surto.
A sorte é que já estávamos de férias, aproveitei essa dádiva e fui para a casa dos meus
pais do outro lado da cidade, para não precisar lidar com as consequências dos meus próprios
atos e com a forma que as pessoas ao meu redor iriam reagir.
Na realidade, eu nem deveria ficar preocupado com isso. Ninguém tem nada a ver com o
que faço ou gosto. Porém, em um mundo perfeito eu também não precisaria me assumir para
ninguém, mas, infelizmente, não é assim que as coisas funcionam ainda.
Espero que um dia seja tudo mais simples e melhor.
De qualquer forma, os dias em casa foram tranquilos. Consegui me acalmar e quando
voltei, tive uma feliz surpresa: os envolvidos que descobriram a fofoca contada por mim sobre a
minha vida, não pareciam realmente se importar muito com o fato de eu ser ou não gay. Isso foi
ótimo, porque a primeira vez que tentei ser eu mesmo, digamos assim, foi terrível e traumático.
No entanto, não era só com isso que eu estava preocupado. Eu ainda precisava lidar com
a parte que beijei um dos meus colegas.
Olhando pelo lado positivo, eu pelo menos já sabia que ele é bissexual e não beijei um
hétero, acho que teria sido pior. Agora, olhando pelo lado negativo, acho que não é legal você
beijar ninguém de surpresa, seja hétero, gay, bi, ou o caralho de asa. É importante saber se a
pessoa quer aquilo também.
Porém, não fiz isso, e o que me restou foi pedir desculpas, com a maior cara de vergonha.
Confesso que ainda estou meio que processando essa parte da história. Inclusive, é o motivo dos
meus surtos atuais, porque depois de conversar com Julian e ele me desculpar, dizer que não
tinha problema e que ele não ficou com raiva, eu deveria apenas seguir em frente e fim da
história. Só que não consigo, a única coisa que se passa pela minha mente é que ele beija bem
demais e que eu queria repetir a loucura que cometi.
— E aí? Como vai essa casa sem mim? — Mark, meu melhor amigo, pergunta se
encostando ao meu lado.
— Uma paz, como se eu estivesse no paraíso — afirmo e ele me lança um olhar
indignado.
— Você morre de saudade de mim, Dom, assume — solto uma risada debochada e ele
me acompanha.
Nós dois nos conhecemos na época da escola, ele e Wendy eram os únicos presentes da
festa de despedida que sabiam sobre mim e não foram surpreendidos.
Mark também fazia parte do time, mas, após a formatura, decidiu não continuar com o
futebol americano e achou melhor assumir a empresa da família dele. Como nascemos e
crescemos em Madison, obviamente ele continua na cidade, e a gente se encontrou durante as
férias, mas ele gosta de fazer uma gracinha.
— Posso saber o que está fazendo aqui? Você já se formou.
— Festas universitárias ainda me parecem ótimas — ele pisca para mim, me fazendo
revirar os olhos.
— Sei bem o que parece interessante para você nessas festas.
— Mas mudando de assunto, você e o Julian, está rolando algo? — pergunta, parecendo
muito interessado.
— Você sabe muito bem que não, apenas pedi desculpa para ele e somos colegas, no
máximo amigos — Me viro e tomo um gole da minha bebida, escondendo uma careta ao
perceber o quanto está ruim.
— Certo, foi eu que entendi errado.
— O quê?
— O beijo que vocês deram e os olhares — acena para o outro lado da sala e vejo Julian
conversando com Ian, mas olhando na nossa direção.
Assim que ele percebe que o peguei no flagra, tenta disfarçar, mas é tarde, porque eu já o
vi e minha mente inventa dez paranoias diferentes ao mesmo tempo.
— Não, eu e Julian, não temos nada, foi apenas um beijo.
Que quero repetir, mas não vem ao caso.
— Se você diz — dá de ombros.
— Dá para parar? Não quero me envolver com ninguém por enquanto, ainda mais com
meu colega de time, que é o capitão e que terminou um relacionamento, porque eu vi o
namorado dele o traindo e contei, sem contar que… você sabe.
— Concordo, é um pouco complicado. — me observa. — Mas se não vai ficar com ele,
devia beijar alguém pelo menos. Aproveitar que agora você não tem que ficar se escondendo.
Pelo menos eu espero que você tenha desistido dessa ideia ridícula.
— Não vou ficar me escondendo, já me assumi para um monte de gente mesmo, não faz
mais sentido — suspiro. — Só preciso decidir como contar para o meu pai e a minha mãe.
— Mas pode fazer isso depois, não no meio da festa. Agora vou arrumar alguém para
você beijar.
— Não vai mesmo. Pode ficar tranquilo, se eu quiser beijar alguém eu consigo isso
sozinho.
— Tem certeza? — aceno concordando. — E por qual motivo está aqui encostado na
parede com um copo de bebida que já deve estar quente ao invés de estar beijando o Julian?
— Vai à merda, Mark. Vou buscar outra bebida, porque realmente essa está quente —
declaro, caminhando para longe.
Procuro Wendy com o olhar, mas vejo que ela está conversando com James e Diana.
Desisto de falar com ela, porque se eu for lá, James vai fazer mais alguma gracinha. Por isso,
apenas sigo para a cozinha.
Pego um copo e me sirvo, assim que me viro de frente para a sala novamente, dou de cara
com Julian, que acabou de entrar no cômodo em que estou. Ele sorri para mim e pega uma
bebida também. Retribuo o sorriso e caminho até a porta que leva para parte de trás da casa, na
intenção de sair um pouco da confusão que está ali dentro.
— Está fugindo do Mark? — pergunta de forma descontraída, se encostando na parede ao
meu lado. — Eu vi vocês dois conversando.
Ele assumiu, achei que iria fingir que nada aconteceu.
— Talvez — brinco e ele sorri. — Mark fica me atentando, dá raiva às vezes.
Não que eu possa dizer muita coisa, porque amo atentar os outros também.
— Entendo a sensação — afirma e eu arqueio a sobrancelha, olhando para ele. — Eu
moro com o James, Dominic, se tem uma coisa que ele faz o dia todo, é me atentar — declara e
eu rio de verdade dessa vez, entendendo.
Ele leva o copo aos lábios dando um gole em sua bebida, concentrado nos poucos carros
que passam na rua e eu acompanho o movimento do seu pescoço quando ele engole o líquido,
sem conseguir desviar a atenção, e em seguida levanto meu olhar, vendo Julian passar a mão
pelo cabelo.
Acho que não existe outra forma para definir ele do que gostoso pra caralho. Seu jeito
sério e seus olhos castanhos, que parecem estar sempre atentos a tudo, são um charme. E como
se não bastasse tudo isso, ele conseguiu ficar mais gato agora que praticamente raspou o cabelo e
pintou os fios loiros naturais de um tom quase platinado.
— Se for me beijar de novo me avisa, mas dessa vez me dê pelo menos dois segundos
para processar a informação — ele se vira, focando os olhos nos meus, que recaem em seguida
sobre a boca dele.
Engulo em seco e desvio o olhar, focando minha atenção no meu copo. Dou um gole
demorado antes de voltar a falar.
— Se quer me beijar, é só falar, não precisa ficar jogando indireta.
Foi ele que começou, então posso provocar de volta, certo? Até porque eu não iria deixar
ele sair por cima, não nesse caso, pelo menos.
Socorro, olha minha mente já pensando o que não deve.
— Não se ache tanto, Dom, foi você quem me atacou da primeira vez.
— Mas eu pedi desculpas, e não fui eu que voltei a esse assunto — arqueio a sobrancelha
de forma desafiadora e ele me lança um sorriso debochado.
Parecemos duas crianças competindo para ver quem perde ou vence.
— Só confessa logo que quer me beijar de novo e a gente resolve isso — provoca e eu
reviro os olhos.
Como pode ser tão marrento?
— Não tenho nada para confessar, mas você pode assumir que não consegue esquecer
meu beijo.
Nos viramos na direção um do outro e nossos olhos travam uma batalha silenciosa por
alguns segundos. O clima descontraído some completamente, sendo dominado por um cheio de
tensão. Me aproximo um pouco e ele faz o mesmo. Quando Julian faz menção de me empurrar
contra parede da casa, sou mais rápido e inverto nossas posições, colando minha boca na dele em
seguida.
As mãos de Julian agarram o tecido da minha blusa, me puxando para mais perto, e sua
boca se move contra minha com certa ansiedade. Passo meus dedos pelo seu cabelo curto e por
sua nuca, explorando seu beijo com toda a calma que não tive da primeira vez, constatando que
não foi culpa da bebida eu achar o beijo bom. Ele realmente beija bem, até demais.
Julian enfia uma das mãos por baixo da minha blusa, tocando a pele quente da minha
barriga e meu pau reage no mesmo segundo, endurecendo dentro da calça contra o dele, que não
parece estar muito diferente.
Nossa situação só piora quando chupo sua língua e ele deixa um gemido escapar. Nesse
segundo eu sei que fodeu e não foi no bom sentido, porque se antes nosso beijo não saía da
minha cabeça, agora é que não vai sair mesmo.
Julian Ollier

Encaro meus colegas de time no meio do campo, desanimado. Nosso time é bom, a gente
tem um grande potencial e nos preparamos para as mudanças que iriam acontecer há algum
tempo. E claro, estávamos torcendo por uma vitória. Já ganhamos vários e vários jogos, não seria
estranho ganhar mais um. Porém, hoje não vai ser um desses dias.
Gostaria de ser mais otimista, mas agora estou sendo mais realista que sempre. Pela
lógica, por mais frustrante que seja, o placar e a fase de adaptação em que estamos me mostra
que não temos chances de ganhar essa partida.
E tudo apenas se torna ainda mais real quando nosso adversário marca mais um
touchdown conquistando a vitória e nos dando a primeira e, espero eu, a única derrota da
temporada.
Seria incrível ganhar meu primeiro jogo como capitão, mas não foi possível. No
momento, preciso apenas respirar, aceitar que não deu, apesar de termos nos esforçado bastante,
e pensar em algo para dizer a esses caras. Além de analisar melhor o que precisaremos melhorar
para o próximo jogo.
Assim que a partida é finalizada, me reúno com meus colegas e juntos caminhamos em
direção ao vestiário. É perceptível em seus ombros caídos que todos estão chateados com a
derrota, mas consigo ver um olhar diferente em alguns; os que são titulares desde semestre
anteriores demonstram estar mais tranquilos do que os novatos.
Espero todo mundo entrar e sentar nos bancos que ficam entre os armários e respiro
fundo, não sei se sou um bom motivador, mas vou tentar.
— Sei que perder um jogo é uma merda, mas esse foi só o primeiro, estamos passando
por mudanças e adaptações, é normal isso acontecer — declaro e eles me encaram. — Então,
vamos superar essa derrota, voltar para casa, treinar muito e arrasar no próximo jogo. Eu sei que
somos capazes.
Foi bom? Não sei, mas espero que eles tenham entendido o recado.
— É isso mesmo, só foi o primeiro jogo, temos muitos pela frente ainda, nada dessa
tristeza sem fim — Ian pede.
— Animação, nós vamos comemorar muitas vitórias esse ano ainda. — James completa
logo em seguida.
As frases motivacionais fazem efeito, porque os outros levantam parecendo menos
chateados e começam a parabenizar uns aos outros pelo esforço no jogo, antes de seguirem para
as duchas. Como não há chuveiros suficientes, me sento nos bancos vagos e fico mexendo no
celular até eu conseguir uma cabine vazia.
Me livro da minha roupa e me enfio debaixo da água morna, sentindo o cansaço tomar
conta do meu corpo. Pego meu sabonete e aproveito o silêncio que vai tomando conta do
vestiário enquanto todo mundo termina de se arrumar e deixar o local, para relaxar a mente. Fico
ali embaixo da ducha o máximo de tempo que consigo e quando saio, apenas com uma toalha
enrolada no quadril, dou de cara com Dominic fazendo o mesmo, da cabine na ponta contrária a
que eu estava.
Meus olhos não demoram nem dois segundos em registrar seu peitoral úmido pelas gotas
de água que descem até seu abdômen e param na barreira que a toalha faz presa ao redor do seu
corpo. Por um segundo, lamento que ela esteja ali e minha mente tenta imaginar como ele é
completamente nu.
O nosso último beijo vem à minha mente e eu engulo em seco, pensando o quanto foi
bom e como eu quis socar Peter por ter atrapalhado a gente. Não me arrependi de ter beijado ele,
era o que eu queria fazer e não adiantava eu continuar fingindo que não, nem arrumando milhões
de surtos para simplesmente não aceitar isso. Nunca fui de complicar as coisas e sinceramente
não sei porque estava tentando fazer isso agora.
Dominic desvia o olhar primeiro e caminha em direção aos armários, pigarreio fazendo o
mesmo e caminho até o meu, que fica do lado contrário ao dele e por isso perco ele de vista. O
que é ótimo, porque ver meus colegas pelados no vestiário é algo comum, afinal, depois de um
jogo ou treino estamos todos mortos e loucos para ir embora descansar ou comemorar. Então,
ninguém liga muito para quem está trocando de roupa ao lado. E obviamente ninguém fica
reparando também.
Porém, a situação hoje seria completamente diferente, começando pelo fato de que todos
os nossos colegas já saíram e só tem eu e ele aqui agora. Que maravilha.
Me troco rapidamente e quando já estou pronto, apenas terminando de colocar as coisas
dentro da mochila, Dominic se aproxima e para na minha frente, também já devidamente vestido.
— Podemos conversar, rapidinho? — ele pergunta.
— Se for por causa do beijo, relaxa, foi eu que provoquei dessa vez, Dom — comento. —
Acho que estamos quites.
— Eu diria que sim — ele sorri. — Mas é que…
— Ei, vocês dois, vamos logo, já está todo mundo no ônibus — o treinador aparece na
entrada do vestiário, interrompendo nossa conversa.
— Já estamos indo, senhor Smith — Dominic afirma.
Ele apenas acena em concordância e caminha para fora novamente enquanto volto a olhar
para Dom.
— Vou ser bem sincero, porque acredito que não tem motivos para ficarmos negando o
óbvio — digo, decidido a não deixar a situação mal conversada. — Eu gostei do beijo e diria que
você também.
Dominic parece sem graça de repente, mas acena concordando.
— No entanto, eu não quero um relacionamento agora, porque como sabe, saí de um faz
pouco tempo e estou lidando com isso ainda, e imagino que você também não queira, já que deve
estar lidando com o fato de… — paro pensativo sobre como continuar, porque não havíamos
falado ainda sobre essa parte da história.
— Que me assumi faz pouco tempo — completa e eu concordo. — Está sendo mais
tranquilo do que imaginei, até agora, mas sim você está certo.
— Por isso acho que a melhor forma de resolvermos isso é não surtar. Somos amigos,
temos amigos em comum, convivemos muito e se ficarmos surtando toda vez que algo assim
acontecer, fodeu. — rio e ele me acompanha. — Vamos apenas relaxar e se acontecer de novo,
aconteceu. Acho que não tem necessidade de irmos pedir desculpas um para o outro, ou tornar
isso um problema, só porque estávamos afim de nos beijar e foi bom pra caralho.
— Você está certo nessa parte.
— Fiquei preocupado no começo, mas se não for um problema para você, não é para mim
— sou sincero. — E de qualquer forma, você não é a primeira pessoa próxima com quem já me
envolvi.
— Só não queria que ficasse uma situação estranha e nem queria causar problemas.
Fiquei tenso por isso.
— Se depender de mim, não vai.
Dominic acena concordando, mas mantém os olhos em mim, parecendo um pouco
ansioso e querendo falar outra coisa. Porém, mais uma vez, somos interrompidos pelo treinador
lembrando que só falta a gente.
— Acho melhor irmos logo antes que ele nos arraste daqui — comento divertido.
— Eu também acho — concorda enquanto pego minha mochila e o sigo em direção ao
ônibus, com a sensação que a conversa não havia acabado ainda. Mas satisfeito que esclarecemos
as coisas. Eu estava cansado de surtar por besteira.
Dominic Davis

— Eu peguei uma novinha ontem na festa do time de basquete que era uma delícia —
David, um dos novos jogadores, se gaba e seguro a vontade de rir ao ver Julian revirar os olhos
para o comentário.
Saímos do treino direto para o Tina's, uma lanchonete que fica perto da faculdade, a
convite do capitão que prometeu pagar duas porções de batatas fritas para todo mundo.
Obviamente isso não deu nem para começar a encher o estômago desse bando de jogadores que
já são esfomeados, mas que após o treino parecem dez vezes piores. Por isso, a maioria acabou
pedindo um lanche completo após as batatas e aqui estamos até agora, conversando.
O que está sendo ótimo para conhecermos melhor o pessoal que acabou de chegar,
mesmo que eu esteja dividido entre a conversa e meus pensamentos, que andam cheios desde a
última festa.
Só consigo lembrar do meu último beijo com Julian e da nossa conversa no vestiário. Eu
estava pronto para esclarecer tanta coisa, mas ele me cortou e depois o treinador nos
interrompeu. A ideia dele de não surtarmos e apenas deixarmos as coisas acontecerem seria
ótima, se eu não estivesse guardando um segredo que pode complicar tudo entre nós dois.
Nunca me envolvi com ninguém próximo, na verdade, com ninguém de maneira alguma.
Até poucos meses atrás eu no máximo beijava um ou dois caras escondido em festas, agora estou
me envolvendo com um amigo, o qual fui responsável pelo término de um relacionamento e
além disso é o motivo real para eu ter me afastado de todo mundo.
Claro que ele não sabe disso, porque ainda não tive coragem de contar nada. Devia ter
feito isso meses atrás quando contei que ele foi traído pelo seu ex imbecil, mas não tive coragem.
Não fiz nada de errado, eu sei disso, mas também não estou totalmente certo. Eu devia ter falado
tudo quando aconteceu e não fugido por medo de descobrirem que eu era gay. Por isso, eu sei
que tem chances dele ficar com raiva de mim e eu não tiraria a razão dele.
Antes que a gente se beije de novo em alguma festa por aí, preciso esclarecer algumas
coisas.
— Garoto, você tem dezoito anos. Você é o novinho, baixa a bola, oh gostosão — James
zomba e eu volto a prestar atenção na conversa, e infelizmente nas merdas que David fala.
— Mas por falar em garotas — um dos outros se anima. — Vocês são amigos das líderes
de torcidas, não são? Podiam apresentar elas para a gente — ele foca atenção em mim, James,
Ian e Julian enquanto mais três cabeças ao seu lado acenam concordando.
— E você acha que vai ser fácil assim? — Julian arqueia a sobrancelha, analisando os
novatos.
— Sim, o que custa? Vocês já devem ter pegado, podem compartilhar agora — David
volta a falar e eu agradeço mentalmente que já são onze horas e daqui a pouco está na hora de eu
ir, porque só sai merda da boca desse garoto.
— Elas não são mercadorias para serem compartilhadas, não sei se você sabe — Ian
declara em um tom nada amigável.
— Só foi jeito de falar.
— Fica quieto, David, você só fala merda e ainda vai estragar as coisas para a gente — o
garoto ao lado dele pede e eu apenas acompanho enquanto levo o canudo do meu milkshake até a
boca, sentindo o gosto de chocolate me dominar.
— Eu sei que a ruiva é a namorada do Ian e que a irmã dele também está comprometida,
mas tem as outras garotas — eles continuam insistindo. — Inclusive, uma baixinha com o cabelo
castanho escuro que vai até o ombro…
— Diana, ela namora — Ian se adianta.
— Droga, e a outra baixinha, do cabelo também no ombro só que loiro e com olhos
extremamente azuis. — April, ele com certeza está falando dela.
— Com certeza, ela não está disponível para nenhum de vocês — James afirma mais
rápido do que eu julgaria necessário.
— Ela namora também? — vejo Julian e Ian encararem James esperando uma resposta e
escondo a risada com a mão.
— Não, mas ela não é uma opção.
A mesa fica em silêncio enquanto os garotos parecem processar a informação e, enquanto
termino minha bebida, quase consigo ver a engrenagem dos cérebros deles funcionando de tão
pensativo que ficaram.
De repente, os quatro que estão do outro lado da mesa se olham e depois voltam a encarar
James, acenando rapidamente em concordância que ela não é uma opção.
Pego meu celular e vejo que é melhor eu ir para não atrasar, então tiro o valor
correspondente ao que consumi de dentro da carteira e coloco em cima da mesa antes de me
levantar.
— Vou deixar vocês com essa discussão super produtiva e já vou indo — aviso.
— Por que você já vai? — Julian questiona, e eu olho para ele.
— Vou buscar a Wendy no trabalho — explico.
— Ela também é líder de torcida? — David questiona.
Eles estão mesmo focados nisso?
— Sim, ela é — respondo despreocupado.
— E é sua namorada ou você está só pegando?
A pergunta reverbera pela minha mente e eu analiso o rosto de todos na mesa. Os que não
me conhecem direito parecem apenas curiosos, já os outros três me encaram parecendo querer
saber se precisam se intrometer para me livrar de perguntas que não quero responder ou se
podem relaxar.
— Ela é só minha amiga — esclareço. — Eu sou gay, cara.
Conto porque depois de ficar fingindo por tanto tempo ser hétero e ter que aguentar
diversas perguntas para as quais eu tinha que inventar respostas, quero apenas deixar isso bem
claro para não restar dúvidas a ninguém. Mesmo que dizer isso para as pessoas ainda me assuste
um pouco.
Os quatro que não sabiam dessa informação me olham parecendo surpresos e eu esboço
um sorriso educado, acenando para eles antes de me virar de costas e caminhar em direção a
saída.
— Até amanhã para vocês.
— Até amanhã — respondem em uníssono e eu apresso o passo, sem dar oportunidade de
alguém comentar qualquer coisa que seja.
Posso até estar julgando mal o tal David, mesmo que duvide, porque pelo que já ouvi dele
só essa noite, sinto que se fosse falar alguma coisa, não seria nada de muito produtivo. Por isso
prefiro evitar.
E é uma boa técnica, eu acho, soltar a informação e sair. A chance de me estressar com
comentários babacas é menor.
Chego até meu carro e enfio a mão no bolso para pegar a chave… e então percebo que ela
não está ali. Solto um suspiro contrariado e dou meia volta, seguindo para dentro da lanchonete
novamente, já imaginando que a esqueci em cima da mesa.
Me animei cedo demais em ter conseguido fugir.
Assim que passo pela porta, percebo que a mesa em que eu estava até algum tempo atrás
não parece mais tão tranquila. Me aproximo com cautela, conseguindo escutar um pouco da
conversa antes de realmente chegar até a mesa e todos ali perceberem a minha presença.
— Eu não fazia ideia que tinham jogadores gays no time, nunca imaginei. — David
comenta em um tom debochado.
— Cara, do jeito que você falou, até parece que é uma coisa anormal. O que tem demais
ele ser gay e jogar futebol? — um dos outros meninos pergunta.
— Vocês vão ter que concordar que é estranho, esse pessoal normalmente é cheio de
frescura. — declara e sinto meu estômago se revirar, uma sensação horrível tomando conta do
meu corpo.
— Cara, você só fala merda? — James pergunta. — Estamos aqui de boa conversando e
toda vez que você abre a boca é uma bomba.
— E você é o evoluído que se acha bonzão com essas suas piadinhas ridículas — David
retruca.
— Não sou mesmo, inclusive falo muita merda também, mas pelo menos eu respeito as
pessoas.
— Não sou obrigado a achar normal esse tipo de coisa — David continua. — E
sinceramente não sei se quero continuar em um time que aceita esse tipo de pessoa.
— Cale a porra da boca — Julian parece perder a calma e eu resolvo que é melhor
anunciar minha presença, antes que faça alguma merda que vá prejudicar ele.
— Eu esqueci a chave — explico ao parar ao lado da mesa e todos se virarem para mim.
— Sinto muito que você seja esse tipo de pessoa, David, mas eu ser gay ou não, não influencia
no time. Com licença, eu preciso ir.
— Se tem problema em jogar no time por causa disso, é só falar com o treinador —
escuto Julian falar, mas não me viro. Apenas continuo meu caminho para fora do restaurante.
Assim que chego ao meu carro novamente, paro e respiro fundo, tentando me acalmar e
não ligar para as merdas que escutei. É um inferno ter que lidar com pessoas desse tipo. Elas
podiam simplesmente não expressar as babaquices que pensam, facilitaria a vida de todo mundo.
— Dom, espera — escuto a voz de Julian e me viro para ele.
— Oi, precisa de algo? — tento fingir que estou bem.
— Sim, que você me dê a chave do carro — pede, me deixando surpreso, eu nem sabia
que ele dirigia.
— Eu estou legal, cara, relaxa — esboço um sorriso nada animado e volto a caminhar na
direção do carro.
— Estou vendo que não está.
— Preciso buscar a Wendy.
— Tenho certeza que ela pode voltar de outro jeito hoje, manda uma mensagem.
Respiro fundo e desisto de negar. Usar Wendy como desculpa não vai resolver, porque eu
já havia avisado a ela mais cedo que não poderia buscá-la, por causa de um trabalho da faculdade
que achei que tomaria minha noite toda. Só decidi ir agora porque consegui finalizar tudo antes
do treino.
— Ok, você está certo — entrego a chave para ele, que sorri satisfeito.
— Que ir lá para casa? Imagino que não queira lidar com David de novo.
— Pode ser, se não for incômodo — acena respondendo que não é, e caminha para o
outro lado do carro.

— Está melhor? — Julian pergunta e eu aceno positivamente.


Fiquei agradecido por ele se oferecer para me ajudar e ainda me convidar para vir para o
apartamento dele, eu realmente não estava afim de ir para casa e lidar com o imbecil do meu
novo colega.
Queria dizer que me surpreendi ao ouvir o que David disse, mas a verdade é que já era de
se esperar comentários homofóbicos.
Mesmo assim, foi difícil ouvir, ainda mais quando me fez lembrar de tantas coisas.
— Não fique pensando nas merdas que ele falou, não vale a pena — Julian passa a mão
pelas minhas costas e seu toque parece aquecer minha pele por baixo da blusa.
— Não, eu não estava... — suas sobrancelhas sobem e ele fixa os olhos nos meus.
Solto uma risada sem ânimo, porque era óbvio que ele não cairia nessa mentira. Subo
meu olhar para o seu rosto e ele prende os olhos nos meus, esperando que eu continue. Percebo
que não vou conseguir mentir para ele e enfio os dedos por entre os fios do meu cabelo, focando
minha atenção na mesinha em frente ao sofá.
— Eu já me assumi uma vez — confesso. — Na época da escola, para os meus colegas
de time e… foi uma merda.
Julian, que estava em pé, se senta ao meu lado e eu inspiro o ar, sentindo seu perfume me
invadir. Ele me observa com mais atenção, como se já quisesse falar comigo sobre isso, mas não
tivesse arrumado uma maneira de começar o assunto.
Lembro que antes de decidir me afastar, nós dois nos entendíamos bem. Nunca fomos
próximos ao ponto de contar algo muito particular, como o que estou fazendo agora. Mas acho
que posso dizer que éramos amigos; inclusive, por saber que ele era bi, pensei várias vezes em
dizer para ele sobre mim. Mas minha insegurança nunca deixou, e depois tudo simplesmente
desandou.
— Eu me dava bem com todos do time e achei que seria uma boa ideia contar para eles,
pensei que seriam as pessoas que levariam essa informação da forma mais tranquila. Só que eu
estava errado.
— O que aconteceu?
— Mark e mais dois jogadores realmente reagiram como eu esperava, mas a maioria não
gostou muito, fizeram comentários tipo os de David hoje e não pararam por aí, porque eles...
Levanto o olhar e inspiro o ar profundamente, contendo uma lágrima que quase caí dos
meus olhos. Era por culpa deles que eu havia me fechado em relação a quem eu realmente sou.
Foi por causa do que eles fizeram que fiquei com medo de me assumir e tomei atitudes que não
me orgulho muito atualmente.
— Eles o quê? — Julian pergunta, volto o olhar para ele.
— Foram até o treinador pedir meu afastamento do time, alegando que não se sentiam
confortáveis em jogar comigo ou dividir o vestiário.
— Que desgraçados, isso é inacreditável. — ele fica ainda mais nervoso, mas se mantém
sentado esperando eu terminar de falar.
— O treinador tentou reverter a situação, mas obviamente a história chegou ao ouvido
dos pais e o caos se instaurou. Fiquei com medo que aquilo tudo acabasse chegando até meus
pais e como só faltavam dois jogos a serem disputados, eu conversei com o treinador e disse que
preferia ficar fora. — A mão de Julian encontra a minha e eu deixo que ele entrelace nossos
dedos. — Ele concordou e prometeu que ninguém contaria para os meus pais, e como eu também
não podia dizer para eles que desisti do time sem contar a verdade, tive que arrumar desculpas
para não participar dos dois jogos.
— E até hoje seus pais não sabem?
— Não, nunca tive coragem de contar. Minha mãe eu acho que vai reagir tranquilamente,
mas meu pai eu não sei. Ele é muito fechado para alguns assuntos e a gente nunca sequer
conversou sobre a possibilidade de eu gostar de garotos, ou dos dois, ou qualquer opção que não
seja o que consideram "comum" — explico. — Por isso fico preocupado como vai ser quando ele
souber.
— Eu entendo. E agora faz sentido você ter se escondido por todo esse tempo.
— Mark não concordou muito quando viemos para a faculdade e eu decidi fingir que não
era gay. Mas eu tinha medo, tanto de ter problemas com a universidade e com o time, quanto
com a reação das pessoas — confesso. — Porque escutar comentários desnecessários é ruim,
mas quando usam o que somos para nós fazer algum mau é pior ainda, e isso me assusta — sou
sincero.
— O que te fez mudar de ideia?
— Eu estava cansado, fingir ser algo que não sou requer um malabarismo enorme e
estava me esgotando. Além disso, eu queria parar de sentir medo, porque não era uma opção eu
passar a vida toda ignorando esse fato sobre mim, então decidi que precisava contar a verdade,
para quem eu achasse importante — esclareço. — Mas obviamente não planejei fazer daquele
jeito.
— Eu achei bem prático — brinca na intenção de me fazer relaxar e eu acabo rindo.
— Isso eu não posso negar — concordo.
— Sinto muito mesmo pelo que aconteceu hoje — diz mais sério. — Mas apesar de
existir gente babaca com David, também existem pessoas incríveis. E eu imagino que você já
saiba disso, mas para não restar dúvidas, no nosso grupo você sempre vai poder ser você. Às
vezes parecemos um pouco sem noção, mas somos legais.
— Eu não tenho dúvida alguma disso — sorrio, me sentindo melhor.
— E eu sei que é uma sensação horrível escutar essas coisas, mas os errados são eles, não
a gente — afirma. — Lembrar disso ajuda muito.
— Obrigado, Julian, vou seguir essa dica.
— Por nada — sorri e eu retribuo o gesto, olhando para nossas mãos ainda presas uma na
outra.
Julian parece perceber isso também e se afasta um pouco, esfregando uma mão na outra e
esboçando um sorriso sem graça no rosto. Encaro ele provavelmente do mesmo jeito e nossos
olhos ficam presos um no outro, parecendo ser impossível desviar a atenção. Até que escutamos
um barulho da porta, nos fazendo virar, vendo James entrar e nos observar parecendo aliviado.
— Vocês estão aqui, estava preocupado pensando se estava tudo bem.
— Achei que era melhor trazer Dominic para cá — Julian explica, se afastando um pouco
mais para a outra ponta do sofá.
— Com certeza — James concorda. — Espero que esteja bem, Dom.
— Estou sim, obrigado, Jay — tranquilizo e ele caminha até a cozinha.
— Eu quis muito socar a cara daquele desgraçado, mas o Ian não deixou — confessa,
fazendo a gente rir.
— Ainda bem, o treinador odiaria vocês chegando machucados amanhã.
— Foi o que o Caçulinha disse, mas o desgraçado merecia.
— Mas não resolveria, o melhor é deixar pra lá — afirmo, pegando meu celular e vendo
que já é muito tarde. — Eu já vou indo, está tarde e todos nós precisamos dormir.
— Dorme aqui, Dom — Julian convida, eu encaro ele.
— É, você pode ficar no quarto... — James olha para mim e para Julian, mas no último
segundo parece desistir de fazer uma piada. Agradeço mentalmente, porque com tudo que
aconteceu hoje, não sei se estou no clima para as provocações dele. — Que era do Dayton, tem
uma cama lá ainda.
Analiso os dois pensando se fico ou vou para casa, mas acabo decidindo que é uma boa
opção ficar ali e ter uma noite tranquila sem precisar enfrentar mais comentários desnecessários.
— Obrigado, acho que vou aceitar.
— Ótimo, vem comigo — Julian pede e eu sigo ele enquanto James nos deseja boa noite
e vai dormir.
Julian me mostra o quarto, me entrega um travesseiro e uma coberta e depois segue para
fora, fechando a porta. Arrumo a cama rapidinho, me livro da roupa que estou usando e como
não trouxe nenhuma outra, decidi dormir de cueca mesmo, melhor do que com calça jeans e a
blusa apertada que eu estava. Quando estou prestes a deitar, vejo a porta do quarto abrir
novamente e Julian entrar.
Ele para no meio do caminho, me encarando. Seus olhos esquadrinham meu corpo,
fazendo a temperatura do ambiente subir no mesmo segundo. Precisamos urgentemente parar de
nos encontrar seminus, seja pelo apartamento dele ou no vestiário, como no último jogo.
Levo minha mente para qualquer lugar que não seja Julian, seus olhos me encarando e
nossos beijos. Tentando quase que miseravelmente fazer meu pau não reagir a esse combo. Ele
parece perceber a situação e desvia o olhar caminhando até mim.
— Só trouxe uma calça de moletom e uma blusa para você dormir, espero que sirva —
ele me entrega a roupa e caminha rapidamente para fora do quarto. — Boa noite.
— Boa noite — digo e assim que a porta se fecha me jogo na cama, sendo dominado pelo
cheiro dele, que eu não sei se vem do travesseiro, da coberta ou das roupas que me entregou.
Mas sei que fica difícil pensar em qualquer outra coisa desse jeito.
Nunca gostei de alguém. Fiquei escondido com alguns caras enquanto fingia não ser gay,
mas nunca cheguei a desejar algo além de beijos ou uma boa noite de sexo. Por isso, nunca tive
ninguém ocupando meus pensamentos como anda acontecendo ultimamente.
Não estou dizendo que gosto dele ou que estou apaixonado, não mesmo. Seria muito cedo
para isso, não é? Tudo bem que a gente se conhece faz tempo, passa muito tempo junto e que por
isso talvez eu já tenha tido muitas oportunidades de observar ele, várias e várias vezes. Mas não
é paixão.
Foram só dois beijos que não consigo esquecer. E uma vontade de que esses beijos se
repitam e que talvez eles levem a gente a algo mais. Mas é só isso. Tenho certeza. E meu corpo
reagir a ele é apenas algo físico.
E de qualquer forma, nós dois concordamos que não queremos relacionamento agora,
então vai continuar sendo apenas desejo. E o melhor que eu faço agora é dormir.
Julian Ollier

O Holly's, um bar de esporte que fica perto da universidade, está lotado. Ganhamos o
jogo de hoje e obviamente todo mundo decidiu se juntar em um único lugar para comemorar.
— Como está se sentindo em ganhar o primeiro jogo como capitão? — Dayton questiona.
Ele apareceu de surpresa para ver Diana, que é a namorada dele, e assistir ao nosso jogo.
Acho que ele deu sorte para a gente. Claro, somado com o fato que jogamos em casa e isso
sempre deixa tudo melhor, porque a torcida ajuda demais a animar, e também porque treinamos
pra caralho desde o último jogo.
— Muito bem — respondo, realmente feliz.
— Chegamos — April aparece, junto com Oliver e Bonnie.
— Parabéns pelo jogo, capitão! — Bonnie beija minha bochecha e eu sorrio para ela e
Oliver, que também me parabeniza.
— Esse lugar está lotado demais, daqui uns dias eles vão ter que aumentar, não está mais
cabendo esse tanto de universitário aqui dentro não — April reclama abrindo um sorriso, Diana
estende um copo para ela logo em seguida. — Achei que vocês dois nem iriam aparecer por aqui,
com toda a saudade que essa aqui estava.
— Eu tentei, mas Dayton quis vir aqui ver os meninos, às vezes tenho que compartilhar
meu namorado com os namorados dele — Diana solta um suspiro e Dayton ri abaixando o rosto,
dando um beijo nela.
— Daqui a pouco a gente vai, Di — ele afirma.
— Vamos mesmo, você já vai embora amanhã, preciso aproveitar as horas que tenho para
usar esse corpinho — ela aperta o braço dele e a gente observa. — Inclusive, você parece mais
forte.
— Mas você estava com saudade dele todo ou só de uma parte específica? — Bonnie
brinca e a morena olha para ela.
— Dele todo, mas principalmente do pau, da língua, dos dedos — diz tranquilamente e
todo mundo cai na risada sem se aguentar enquanto Dayton apenas acena em negação, já
acostumado com a espontaneidade da namorada.
Pego minha bebida que havia pedido ao atendente do balcão e depois que ele me entrega,
nós todos caminhamos até as mesas que foram encostadas umas nas outras, para formar uma só.
Nos acomodamos nos lugares vagos e nos sentamos, conversando mais um pouco. Até April dar
um grito de susto quando James se aproxima sem ela ver e a abraça pela cintura, dando um beijo
em seu rosto.
— Que porra, James — ela se vira dando um tapa no ombro dele, que tenta se esquivar.
— Isso é agressão, pequena — ele afirma e ela bufa nervosa.
— E você deve gostar de apanhar, porque continua me provocando.
James abre um sorriso provocativo e ela revira os olhos.
Mas, para a minha sorte e de todos na mesa, a implicância dos dois é interrompida pela
aproximação de Dominic.
— Boa noite — ele sorri para todos. — Queria falar com vocês dois — diz olhando para
mim e James.
Concordamos e nos afastamos um pouco da mesa junto com ele.
— Aconteceu alguma coisa? Se David...
— Não, ele só continua com os comentários desnecessários — Dominic expira o ar,
cansado.
Depois da noite que começou péssima e terminou comigo indo dormir com a imagem de
Dom só de cueca, tomando conta da minha mente, ele havia voltado para casa. Pelo que vinha
comentando, o babaca do nosso colega não havia feito nada para ele diretamente, mas ficava
soltando piadinhas e comentários desnecessários em todas as oportunidades que tinha.
— Só queria saber se vocês se importam de eu dormir no apartamento de vocês de novo?
Na maioria dos dias eu estou apenas ignorando, mas hoje com certeza ele vai chegar bêbado e
não estou afim de lidar com isso.
— Claro que pode, o quarto está lá quando precisar — afirmo e ele sorri.
— Muito obrigado por me hospedarem. Agora vou pegar uma bebida que prometi para
Wendy — ele acena indo em direção ao balcão do bar. — Até mais tarde.
Voltamos para a mesa encontrando apenas Bonnie, Oliver e agora Jake, o melhor amigo
dele. Bonnie me olha arqueando a sobrancelha de um jeito engraçado e acenando em direção a
Dominic, eu rio. Estávamos conversando esses dias e acabei contando para ela como o moreno
anda dominando meus pensamentos. Com certeza não foi uma boa ideia ter dito isso, porque
agora ela fica me atentando sempre que pode.
— Cadê todo mundo? — James questiona.
— Diana arrastou Dayton para pedir um lanche e ir embora, ele disse que fala com vocês
depois, e April disse que ia arrumar uma boca para beijar — Bonnie resume.
— Acho que vou fazer o mesmo — meu amigo, que havia puxado a cadeira para se
sentar, volta a ficar em pé e acena para a gente antes de se afastar.
Nos olhamos sem entender nada e voltamos a conversar. Fico ali com os outros três
terminando minha bebida e comendo batata frita, até que Jake resolve ir buscar outra coisa para
beber e não volta. Pouco tempo depois, Bonnie e Oliver decidem ir embora, então fico sozinho e,
apesar de estar feliz com a vitória do time, estou cansado e louco para me jogar no meu sofá e
começar a série que estou enrolando há semanas.
Por isso, pego meu celular e envio uma mensagem para James avisando que já estou
indo. Ele responde dizendo que vai ficar um pouco mais e eu começo a procurar Dominic,
porque se ele for agora também, vamos no carro dele, mas se não, terei que ver como vou, já que
não tenho carro.
Depois de um tempo andando por entre as pessoas encontro ele conversando com um
rapaz e, mesmo que não esteja claro se é só um amigo ou se está rolando algo, prefiro não me
aproximar, mesmo que meu corpo pareça discordar e eu travo no lugar, decidido a ir para fora do
bar enquanto minhas pernas parecem achar uma ideia melhor ir até onde Dom está.
Nego com um aceno e sigo até a saída, não faz sentido nenhum eu ir até lá e atrapalhar.
Somos amigos e eu não tenho nada a ver com isso, e mesmo que fossemos outra coisa além disso
e eu estivesse com ciúmes, que não estou, porque não tem nem motivo para eu ter esse
sentimento. Mas se fosse o caso, eu provavelmente também não faria nada, odeio crises de
ciúmes, briga e escândalos, passo longe.
— Julian, espera — escuto a voz de Dom e paro, me virando para ele. — Já está indo
embora?
— Sim, precisa de algo?
— Não, é que eu também já estava pensando em ir — conta. — Estava pensando em
procurar você ou James para pedir a chave.
— Então vamos juntos — digo mais animado do que planejei e olho em direção ao rapaz
com quem ele estava conversando. — Mas e o seu…
— É um colega de curso, estávamos falando de trabalho da faculdade, olha que animador
— brinca e eu expiro o ar com calma, por algum motivo me sinto aliviado. — Podemos ir? —
pergunta e eu aceno concordando, seguindo ele em direção ao carro.
Dominic Davis

Vou para a cozinha com a intenção de pegar um copo d’água e depois voltar a dormir,
mas assim que passo pela sala, vejo Julian sentado no sofá procurando alguma coisa na televisão.
Chegamos do Holly's e fui direto tomar um banho, e ele seguiu para o próprio quarto, por
isso imaginei que teria ido dormir.
Me aproximo do sofá, observando ele e percebendo que está usando apenas um short e
me demoro um pouco admirando isso, até que ele parece notar minha presença porque se vira na
minha direção.
— Achei que tinha ido dormir — comenta, mostrando que pensamos iguais.
— Vim buscar água, vai assistir o quê? — indico a televisão, querendo disfarçar que eu
estava babando nele enquanto ele não me via ali.
— Invasão Secreta, da Marvel — conta enquanto encho meu copo e bebo o líquido
transparente. — Já assistiu?
— Não, estou bem atrasado. Acho que depois de Vingadores Guerra Infinita quase não
assisti mais nada da Marvel — confesso.
— Talvez eu seja um pouco viciado, assisto tudo — conta rindo. — Que ver comigo?
Vou começar agora.
— Sendo assim, aceito.
— Você também lê as hq’s ou é mais fã do universo cinematográfico? — me acomodo ao
lado dele e Julian me entrega uma vasilha cheia de pipoca.
Encho a mão, levando até minha boca antes de responder com os olhos fixos totalmente
no rosto dele, apenas para não perder o foco. E ele parece fazer o mesmo, mas talvez disfarce
melhor.
— Uma época decidi que iria ler, mas desisti logo depois, acompanho mais os filmes.
Você lê?
— Na adolescência eu era mais viciado, mas ainda leio às vezes. Quais você leu?
— Li vários, mas lembro que os que mais gostei foram dos Jovens Vingadores.
— Eu tenho várias deles, depois se quiser tentar ler de novo, posso te emprestar.
— Seria legal, acho que a deles eu gostaria de continuar — afirmo. — Principalmente
porque li comentários de que talvez tenha adaptações deles.
— Estou super ansioso por isso, vou até voltar a assistir tudo na ordem se for verdade.
— Inclusive, acho que você deveria fazer um teste. Ficaria perfeito como Wiccano.
— Talvez ele seja meu personagem preferido, mas sou péssimo atuando, é melhor não
estragar o filme — entro na brincadeira, fazendo-o rir.
Continuamos conversando sobre o universo da Marvel e quando percebemos, nem
começamos ainda o primeiro episódio. Julian aperta o play e se levanta, caminhando até a
cozinha e pegando dois copos com refrigerante. Ele me entrega um dos copos, voltando a se
sentar do meu lado e eu me viro para agradecer.
Minha atenção recai sobre ele e meus olhos passeiam por seu peitoral e abdômen bem
definidos, descendo até a única peça de roupa que ele está usando. Falho miseravelmente em não
voltar a babar nele e reparo com mais atenção do que deveria seu pau marcado no short. Por
conta da posição em que ele está sentado, eu sei que ele não está usando nada por baixo.
— Interessante a série, não é? — Sua voz soa divertida e eu subo o olhar, encontrando os
olhos dele em mim.
Meu interior se aquece e eu me arrumo melhor no sofá, pegando uma almofada e a
colocando no meu colo.
— Sim, muito interessante — forço um sorriso e me viro para a frente.
Escuto Julian rindo, mas me obrigo a focar a atenção na televisão quando ele também se
vira para frente e não fala mais nada. Ficamos quietos assistindo, ou pelo menos fingindo, já que
estou muito mais consciente da presença dele do que de qualquer outra coisa, e ele também
parece estar bem distraído para quem deveria prestar atenção.
Pela minha visão periférica, vejo Julian se esticar colocando o copo em cima da mesinha
de centro e depois voltar a se acomodar, apoiando as costas no encosto do sofá novamente.
— Se eu te perguntar alguma coisa sobre esse episódio, que teoricamente a gente está
assistindo bem concentrados, você vai saber responder?
— Com certeza não, mas você também não saberia me perguntar nada — dou de ombros
e ele me olha com um sorriso maroto no rosto.
— Sendo assim, acho que podemos assistir depois — ele se estica na minha direção,
deixando o corpo quase totalmente em cima do meu, e pega o copo da minha mão, se afastando
para o colocar junto com o dele.
Sinto a minha respiração falhar e observo ele apoiar a mão na minha coxa. Todo o sangue
do meu corpo parece se acumular em um único lugar. Julian se aproxima novamente até seu
braço estar colado no meu e eu sinto os pelos do meu corpo se eriçarem em um arrepio.
Passo o olhar por ele rapidamente até alcançar seu pau, que agora parece ainda mais
marcado no short. A visão envia uma onda de tesão direto para o meu, que se anima com as
ideias que surgem na minha mente.
— Me diz que você está pensando o mesmo que eu — Julian encaixa o rosto no meu
ombro e praticamente sussurra no meu ouvido.
— Se envolver o seu pau, com certeza.
Uma risada escapa por entre seus lábios e ele morde o lóbulo da minha orelha,
escorregando a boca pela minha pele e passando a língua pelo meu pescoço, me causando uma
descarga elétrica que atinge minha coluna. Estico a mão a passando por seu abdômen e a
escorrego até suas costas, puxando ele na minha direção e fazendo ficar parcialmente em cima de
mim de novo.
Seu rosto volta a ficar na mesma altura do meu e é minha vez de me curvar na direção
dele e depositar um beijo em seu pescoço, antes de morder de leve um ponto sensível da sua pele
e o ouvir arfar contra o meu ouvido.
— Eu estava mais interessado no seu — afirma, puxando um pouco o meu rosto e
focando o olhar no meu enquanto seus dedos descem pelo meu tronco, em um carinho que faz
minha pele queimar, até alcançar a almofada no meu colo e a tirar dali.
Julian permanece me encarando e, ao invés de dizer se sim ou não para o que ele está
sugerindo, quando seus dedos brincam com o cós da minha calça, eu avanço na sua direção e
capturo sua boca na minha, iniciando um beijo acelerado e cheio de luxúria.
Agarro seu pescoço aprofundando o beijo e explorando sua boca com a língua. Julian
entende meu recado e puxa minha calça para baixo quando levanto meu quadril para o ajudar.
Meu pau pula para fora completamente duro e sua mão não perde tempo e o envolve, me fazendo
gemer contra sua boca.
— Gostoso — afirma e sugo sua língua, passando a mão pelas suas costas e ele me
aperta, passando o polegar pela glande e massageando antes de começar a fazer movimentos
lentos e extremamente torturantes.
Interrompo o beijo jogando a cabeça para trás com a respiração falha, e ele desce a boca
do meu queixo para o meu pescoço. Continua pela minha clavícula, depositando alguns beijos e
se demorando um pouco mais ao sugar e provocar meus mamilos excitados.
Suas mãos continuam a me masturbar, me arrancando suspiros de aprovação enquanto
seus lábios continuam o caminho pelo meu abdômen, sua barba por fazer roçando na minha pele
aumenta a sensação de tesão que já domina todo o meu corpo.
Julian se abaixa na minha frente e afasta um pouco o rosto, focando os olhos nos meus.
Ele parece tão dominado pelo desejo quanto eu e isso só me faz ficar ainda mais ansioso pelo que
ele pretende fazer.
— Caralho, Julian — fecho os olhos quando ele passa a língua pela cabecinha do meu
pau.
As mãos dele se afastam e seus dedos escorregam pela parte interna das minhas coxas,
enquanto sua boca me envolve por completo. Um gemido alto escapa dos meus lábios e ele
desliza a língua quente por todo meu pênis, me fazendo estremecer de desejo. Passo a mão por
seu cabelo curto, mas sem ter a chance de segurar ali, agarro a almofada ao meu lado quando ele
me chupa com mais vontade, me colocando quase todo dentro daquele inferno de boca gostosa
que ele tem.
Fecho os olhos e agarro com mais força a almofada quando meu pau pulsa. Subo meu
quadril e arfo quando ele chupa com força.
Porra, que delícia.
Julian escorrega uma das mãos até minhas bolas e eu resfolego, sentindo meu orgasmo se
aproximar ainda mais.
— Julian… puta que pariu — cada músculo do meu corpo estremece e meu pau cresce
em sua boca. — Eu vou…
Minha tentativa de avisar ele é totalmente falha, já que minha voz some completamente.
— Pode gozar, lindo — Julian incentiva, afastando a boca de mim por poucos segundos e
voltando a me chupar em seguida.
Perco completamente a noção de qualquer coisa e, enquanto meu cérebro tenta processar
a forma que ele me chamou, eu alcanço meu orgasmo, me derramando na boca dele que me
toma, engolindo tudo que consegue.
Isso foi bom pra caralho.
Julian se levanta com os olhos fixos em mim e quando vejo ele passar a língua pelos
lábios, estico minha mão e o puxo na minha direção. Sua boca busca a minha, e eu o beijo com
necessidade. Ele se aproxima ainda mais e eu desço minhas mãos até o cós do seu short, que nem
consegue mais fazer o papel de esconder seu pau.
— Acho que você ainda precisa gozar. — brinco com a boca praticamente colada na dele.
— Não seria uma má ideia. Estou quase… — a frase se perde por alguns segundos
quando toco seu pau, sentindo minha boca salivar ao observá-lo com atenção pela primeira vez.
— explodindo.
Médio, grosso com algumas veias saltadas e extremamente convidativo. Envolvo ele com
meus dedos e movimento minha mão em um vai e vem lento, apenas para torturar Julian, assim
como ele fez comigo mais cedo.
— Goza na minha boca, quero sentir seu gosto — peço, subindo meu olhar até o dele. Ele
me lança um sorriso malicioso enquanto se afasta e apoia um dos joelhos entre minhas pernas,
deixando seu pau na altura do meu rosto, já que estou praticamente deitado no sofá.
Julian leva a própria mão até seu pau e se masturba, ao mesmo tempo em que levo minha
boca até a glande e sugo, com os olhos presos nos dele.
Subo minhas mãos por suas coxas, alisando sua pele, até alcançar sua bunda e a apertar,
puxando-o mais para frente, levando-o ainda mais fundo em minha boca.
— Porra, Dominic — ele sobe uma mão para o meu cabelo e apoia a outra no encosto do
sofá, enquanto um gemido sôfrego escapa por entre seus lábios.
Empurro seu quadril para longe e depois o puxo na minha direção novamente, e não
preciso fazer mais nada para que Julian entenda o que quero.
Ele segura meu cabelo com mais força e começa a mover o quadril, fodendo minha boca
de um jeito delicioso. Entrando e saindo de forma rápida, sem tirar os olhos dos meus e eu nem
sou louco de desviar a atenção, porque sua expressão dominada pelo prazer é uma tentação.
— Caralho, eu vou gozar — avisa e seu pau pulsa em minha boca.
Chupo com mais vontade e ele fecha os olhos ainda movendo o quadril, entrando e
saindo da minha boca até não aguentar mais e se derramar em um orgasmo intenso, afrouxando o
aperto da sua mão em meu cabelo.
Provo seu gozo, engolindo tudo. E Julian se afasta, largando o corpo em cima do sofá, ao
lado do meu. Ofegante.
— Acho que foi um bom jeito de terminar a noite — brinco, porque simplesmente não sei
o que falar e minha cabeça está começando a se dar conta de tudo que aconteceu.
— Vem aqui — Julian chama e eu levanto, me curvando na direção dele e ficando com o
rosto a poucos centímetros de distância. — Foi gostoso pra caralho — declara e disso não posso
discordar, então apenas concordo e retribuo o beijo quando ele gruda a boca na minha.

Encaro o teto do quarto e me enrolo melhor na coberta. Dormi tarde ontem porque,
depois de tudo que rolou, a gente ainda ficou na sala assistindo seriado e pouco depois James
chegou, e eu agradeci mentalmente por ter sido em um momento onde já estávamos devidamente
vestidos de novo.
Já passava das três da manhã, após assistirmos a dois episódios. Por isso, sei que eu
nunca conseguiria acordar cedo e agora já deve passar da hora do almoço. Eu teria certeza se o
meu celular não tivesse descarregado e eu esquecido o carregador em casa.
O ponto é que já ensaiei para levantar umas cinco vezes, mas ainda não tive coragem. Sei
que o combinado foi não surtarmos se algo rolasse entre a gente de novo. Mas como é que faz
isso?
Porra, foi o melhor boquete que já recebi na vida. A cena de Julian com meu pau na boca
nunca mais vai sair da minha mente. Assim como seu gosto e a porra daquela voz rouca me
chamando de lindo.
De onde diabos veio esse apelido, inclusive? Tenho a sensação que nem ele percebeu que
me chamou assim. Apenas saiu. Ou melhor, toda a noite de ontem apenas aconteceu. Nada
planejado, e foi bom pra caralho.
Não, você não vai ficar de pau duro agora, péssima ideia.
Inspiro o ar profundamente, focando em outra coisa e jogo a coberta para o lado, pulando
da cama antes que eu perca a coragem novamente. Pelo número de vozes que consigo escutar sei
que não está apenas James e Julian na sala, o que pode ser ótimo e facilitar a ideia de agir
normalmente.
Arrumo a calça de moletom que estou usando, visto uma camiseta, e sigo para fora do
quarto, enquanto passo a mão pelo meu cabelo, tentando colocar no lugar.
— Bom dia… ou tarde — digo ao chegar na sala e encontrar Julian, James, Melanie e
Bonnie.
— Boa tarde — eles respondem juntos enquanto me sento em uma das banquetas em
frente à bancada da cozinha.
— E tchau — James e Melanie completam e acenam para a gente antes de sair do
apartamento.
Franzo o cenho sem entender para onde eles estão indo, mas me distraio em seguida
quando Julian muda o foco da conversa e eu me viro para ele.
— Café? — pergunta.
— Sim, por favor — digo e ele me entrega uma caneca. — Obrigado.
— Não sabia que você estava aqui, a gente te acordou? Porque estamos conversando na
maior altura a horas — Bonnie se preocupa e eu sorrio.
— Acordei faz tempo, só estava com preguiça de levantar — afirmo dando um gole na
minha bebida e ela concorda, revezando o olhar entre eu e Julian. — Não dormimos juntos —
digo, imaginando o que ela está pensando e tento fugir de um momento estranho.
Apesar de ter voltado a conviver com eles a pouco tempo, conheço muito bem esse grupo
para saber o quanto eles se intrometem na vida um do outro e como isso pode virar um caos.
— É não, a gente não dormiu juntos não — Julian completa, mas não sei se ajuda muito.
Se bem que, do jeito que eles são, provavelmente a intenção dele nem era ajudar e se não
fosse pela surpresa dela em saber que dormi aqui, eu diria inclusive que ela já sabe o que rolou
entre a gente ontem.
— Entendi — ela ri. — Também não dormi com muita gente na vida — diz em um tom
divertido. — Mas, infelizmente, nenhum deles tinha um quarto extra para eu ficar.
Julian ri, balançando a cabeça em negação, enquanto foco minha atenção no meu café e
ignoro minhas bochechas quentes, que terminam de entregar a situação e provar para ela que
entendeu tudo certo.
Não sou tímido, só não sou muito comunicativo, principalmente se eu não conhecer a
pessoa direito. Mas quando conheço e já tenho alguma proximidade, gosto muito de brincar e
provocar. Acho que é por isso que até me encaixo bem com esse pessoal.
Porém, por algum motivo, quando as coisas são relacionadas a Julian, por menor que
seja, eu tenho o dom de ficar sem graça, com uma facilidade inexplicável. Não entendo bem o
motivo.
Simples, você gosta dele, mesmo que negue.
Ignoro meu pensamento e foco na conversa de volta.
— Bonnie, você não quer ir ver se seu namorado já terminou o trabalho que estava
fazendo? — Julian é direto e ela ri sem nem se importar por claramente estar sendo expulsa.
— Credo, hein? Você já foi mais legal comigo — brinca se curvando por cima da
bancada e dando um beijo no rosto dele, depois repetindo o gesto comigo. — Até depois,
Dominic.
— Até depois, Baby B — digo e ela sorri para o apelido.
Observo ela caminhar em direção a porta e assim que ela sai, me viro para Julian, que
está distraído olhando para a tela do celular.
— Não precisava mandar ela embora — brigo e ele me lança um olhar divertido.
— Não mandei, convidei ela a ir ficar com o namorado — zomba e eu reviro os olhos. —
E eu só estava te salvando, você ficou tão vermelho que achei melhor não deixar ela comentar
mais nada senão você explodiria.
— Nossa, como você é engraçado — levo minha caneca à boca, finalizando meu café.
— Inclusive, eu não sabia que você era tímido — comenta. — Ontem, quando me pediu
para gozar na sua boca, você não parecia nada envergonhado.
— Julian, vai à merda — me levanto e ele ri, se divertindo.
— Só estava brincando, parei — levanta as mãos em sinal de paz. — Quer terminar de
assistir a série?
— Preciso ir embora, meu celular descarregou e tenho que começar um trabalho que
preciso entregar semana que vem.
— Eu tenho carregador — ele debocha. — E já pedi almoço para nós dois — indica o
celular.
Olho para ele um pouco em dúvida e ele mantém os olhos em mim, parecendo ansioso
pela resposta.
— Ok, vou embora depois de almoçar — não discuto, porque ele já havia pedido a
comida. — E podemos continuar a série — concordo.
Julian pisca um olho para mim e me puxa em direção ao sofá. Me sento ao lado dele e
quando o episódio começa, foco de verdade minha atenção na televisão dessa vez, mesmo que
seja um pouco difícil.
Julian Ollier

Desde a hora que Dominic foi embora, após almoçarmos juntos no fim de semana, estou
me sentindo extremamente entediado e arrumando mil coisas para ocupar a mente e não mandar
mensagem para ele.
Me controlei bem por dois dias. Mas hoje está mais difícil, não tive aula, por isso não nos
encontramos. Já limpei a casa toda para me manter ocupado e, sinceramente, não sei mais o que
inventar para distrair a mente. A única coisa que penso é em enviar uma mensagem, nem que
seja para ter a conversa mais boba de todas.
— A pergunta que mais precisa de resposta — James anuncia e eu me viro para ele, já
esperando a palhaçada. — Você e Dominic, ainda é só um beijo?
— Do que está falando? Não tem nada acontecendo. — desconverso.
— Não é o que vem parecendo nos últimos dias.
— Cala boca, James, vou assistir alguma coisa e te ignorar. — Me jogo no sofá e ele me
encara com um sorriso divertido.
— É muito bom sempre ter alguém para atentar.
— Sabe que se rolar alguma coisa de verdade entre a gente você vai ser o único solteiro,
não é?
— Já aceitei que esse é meu destino — diz, dramaticamente jogando a cabeça para trás
com as costas da mão apoiadas na testa.
— Só porque você é burro — afirmo e espero que me mande à merda, mas me
surpreendo quando ele me dá as costas e caminha em direção ao próprio quarto, soltando um
comentário que apesar de baixo eu consigo escutar.
— É, talvez eu realmente seja.
Ainda espero que ele volte, mas quando isso não acontece, me viro para a televisão e
pego o controle, pensando no que vou assistir e em uma boa desculpa para mandar mensagem
para Dominic.
Fecho os olhos querendo me xingar, e a primeira coisa que me vem à mente é a porra do
momento mais sensacional que tivemos juntos, na noite de sábado. Foi incrível, e no dia seguinte
fiquei preocupado com a possibilidade de ele surtar, por isso tentei agir o mais natural possível,
digamos assim.
No entanto, achei que minha preocupação em tentar mostrar que tudo continuava igual
estava ligada apenas às reações que ele teve das últimas vezes que nos beijamos. Mas acho que
não.
Primeiro porque quando ele disse que precisava ir embora eu poderia apenas ter
concordado, mas a verdade é que eu queria que ele ficasse mais. E segundo, porque eu não devia
estar pensando tanto nele, mas parece que cada dia que passa fica pior.
Olha, sinceramente, Julian Ollier, você é uma piada.
Batuco os dedos na tela do celular e repasso as diversas ideias que passaram pela minha
mente nas últimas horas… por fim decido usar o bom e velho "oi".
Julian: Oii, você conseguiu terminar seu trabalho?
Julian: E as coisas por aí? Tranquilas?
Largo o aparelho em cima do sofá e me levanto de uma vez, caminhando até a cozinha e
bebendo um copo com refrigerante vagarosamente, enquanto espero ansioso por uma resposta.
Meu celular vibra e eu volto para o sofá no mesmo segundo, já pensando no que vou falar
para continuar o assunto. E não é que eu não esteja preocupado, porque estou. Com ele morando
na mesma casa que David, fico com medo do babaca falar alguma merda ou fazer alguma coisa e
Dominic se sentir mal.
No entanto, não vou ser hipócrita de fingir que é só por isso que estou mandando
mensagem. Tem algo além, tesão também já que nossa noite retorna para minha mente toda hora,
e um pouco de saudade talvez…. Não, já seria demais, não é? Nos vimos ontem na faculdade.
Dominic: Terminei sim. E até agora estava tudo tranquilo, já que eu estava sozinho, mas
os outros meninos chegaram.
Dominic: Por isso fui até a cozinha, preparei um lanche, peguei uma garrafa de água e
vou ficar na paz do meu quarto até a hora de sair.
Dominic: E você, o que está fazendo?
Pensando em você de dois em dois segundos.
É o que tenho vontade de responder, mas obviamente não faço isso, apenas coço a testa e
inspiro o ar profundamente enquanto penso em algo melhor para enviar.
Julian: Organizei um pouco a bagunça que estava o apartamento e agora estou aqui
olhando para televisão e decidindo o que assistir.
Julian: Se você estivesse aqui poderíamos terminar a série.
Nem largo mais o celular e sorrio quando vejo uma resposta chegar tão rápida quanto a
que eu enviei.
Dominic: Se quiser terminar, prometo que não vou ficar com raiva.
Julian: Não, começamos juntos, agora vamos terminar juntos.
Julian: Vai ter que arrumar um tempo para mim na sua agenda.
Porra, o que estou fazendo? Território perigoso com certeza.
Dominic: Tenho certeza que consigo te encaixar em algum horário.
Dominic: Só espero que dessa vez a gente tenha mais atenção na série do que em outras
coisas.
Solto uma risada sem me aguentar e digito uma resposta rapidamente.
Julian: Não tenho culpa se seu pau parecia mais interessante.
Julian: E só para deixar claro, não me importo de seguirmos a mesma ordem de novo e
assim eu te fazer gozar primeiro para depois terminar a série.
Nenhuma resposta chega por alguns minutos e quando já estou prestes a largar o celular,
o nome de Dominic aparece em uma nova notificação na tela.
Dominic: Porra, Julian, assim você não me ajuda.
Julian: Só estou tentando combinar de terminarmos a série.
Me faço inocente na maior cara de pau e imagino ele revirando os olhos enquanto solta
uma risada leve.
Dominic: Vamos com certeza terminar ela e outras coisas também.
Dominic: Mas infelizmente agora preciso ir, meu pai já ligou três vezes e se eu não
atender daqui a pouco ele tem um treco.
Julian: Vou ficar esperando você marcar uma data.
Julian: Te vejo no treino.
Me despeço dele e jogo o celular para ao lado, me deitando no sofá e enfiando o rosto na
almofada. Pensando apenas que se antes era difícil me segurar porque eu simplesmente queria
outro beijo dele, agora vai ser completamente impossível.

Encaro a quadra esperando o resto dos meus colegas aparecerem para o treino e finjo não
perceber Dominic do meu lado batucando o dedo incansavelmente na grade.
Ele parecia mais tranquilo quando nos encontramos, mas à medida que a hora do treino
foi chegando ele voltou a ficar claramente incomodado. O que é compreensível.
Hoje, antes de virmos para cá, enquanto estávamos na cafeteria com alguns dos nossos
amigos, David passou com outros colegas nossos de time dizendo em alto e bom som que já
havia falado com o treinador sobre alguns jogadores com quem ele estava incomodado por
precisar dividir a quadra e o vestiário.
Não precisamos somar um mais um para ter certeza que ele estava falando de nós dois.
Eu simplesmente ignorei a porra do comentário, mas Dom ficou preocupado com isso. E agora
está quase surtando de vez.
Mas juro que se David vier falar alguma merda hoje, seja sobre mim, Dom, ou qualquer
outra coisa, eu não respondo por mim e meto um soco na cara dele. Que moleque babaca do
cacete.
— Dom, se acalma — digo, não conseguindo ignorar o batuque incessante dos seus
dedos.
— Desculpa, só estou pensando se ele falou mesmo com o treinador.
— Não sei, mas se falou, o treinador vai resolver isso. E você não tem com que se
preocupar.
— Não é o que minha mente diz — ele passa a mão pelo cabelo, claramente nervoso, e
um sorriso contido se forma no meu rosto enquanto o observo.
— Você joga no time há quase cinco anos, não é por causa de um pedido de David que te
tirariam agora — afirmo. — Se alguém tem que sair, esse alguém é ele que está incomodado.
— Eu sei, é só que já vivi isso antes e minha mente fica me fazendo pensar em tudo que
pode dar errado.
— Mas não vai dar nada errado, relaxa — peço e ele acena em agradecimento.
Volto a encarar a quadra, vendo alguns dos outros jogadores entrando, mas fico
consciente que Dom continua me observando. Por isso volto a olhá-lo e encontro um sorriso
divertido em seus lábios, que inclusive me fazem lembrar de algumas coisas.
— O que foi? — questiono, observando ele.
— Só é engraçado — afirma e eu arqueio a sobrancelha, sem entender. — Esse seu jeito
tipo "eu sou o cara e sei disso", até mesmo quando está tentando me acalmar.
Fico surpreso com o comentário e me sinto um pouco sem jeito, porque simplesmente
não sei se é uma crítica ou apenas uma observação.
— Eu gosto — afirma, e involuntariamente eu sorrio. — Inclusive, acho que marrento
seria um bom apelido para você.
— Você está me dando um apelido, Dominic? — brinco, sem conseguir aguentar.
Amigos, somos amigos. Que se beijaram e se pegaram algumas vezes. E que com certeza
querem continuar fazendo isso outras vezes. Mas somos só amigos.
— Foi só um comentário — diz sem graça, me divertindo. — Mas pelo menos é mais
criativo que lindo.
— Nem vem com essa, você gostou de eu te chamar assim — provoco, mesmo sem saber
se é verdade.
O apelido, isso é, se eu posso chamar "lindo" de apelido, saiu sem querer uma vez e
depois eu nunca mais usei. Nunca fui de dar apelidos para ninguém, por mais próximo que eu
fosse da pessoa. Normalmente, o máximo que uso é algo relacionado ao nome, como quando
chamo ele de Dom, ou a Melanie de Mel e assim por diante. Mas apelidos carinhosos nunca
foram o meu forte.
— Eu nunca disse que não gostei — ele pisca um olho para mim e sinto meu estômago
revirar.
Cacete, péssima ideia.
— Boa tarde — o treinador Smith fala e eu desvio o olhar na direção dele, agradecendo
mentalmente por não precisar falar mais nada agora.
— Boa tarde — respondemos em uníssono.
— Como vai ser o treino hoje? — Ian pergunta.
— Já vamos falar sobre isso, mas antes preciso conversar com vocês — Smith fala
extremamente sério.
Todos nós olhamos ficando tensos no mesmo segundo e eu percebo Dominic retesar o
corpo ao meu lado, prendendo a mão uma na outra atrás do corpo e voltando a ficar nervoso.
— Um colega de vocês veio falar comigo sobre estar incomodado em continuar no time,
porque ficou sabendo que alguns dos colegas são homossexuais — ele começa tranquilamente.
— Isso é um absurdo do cacete — James se estressa e eu apenas olho para ele, pedindo
para ele esperar o treinador terminar.
— Não vou expor quem são, apesar dele ter me dito os nomes. Mas, por conta dessa
reclamação ter acontecido, eu obviamente precisei tratar do assunto com a universidade e fiquei
aliviado em saber que eles pensam da mesma forma que eu.
Puxo o ar com força e estico a mão tocando a de Dominic, que me olha rapidamente e
entrelaça os dedos nos meus.
— A sexualidade de uma pessoa não interfere em nada no esporte que ela pratica, no
curso que ela faz, no trabalho que ela desempenha ou em qualquer outro assunto. Se a pessoa é
gay, lésbica, bissexual ou o que quer que seja, isso só diz respeito a ela — decreta, não abrindo
espaço para alguém discordar. — Desde que comecei como treinador, nunca precisei lidar com
uma questão dessa e sinceramente nunca achei que precisaria. Mas aqui estou e fico triste que
alguém se incomode com algo tão pessoal em relação ao outro.
Todos permanecem quietos, o clima ao nosso redor é tenso e eu faço o máximo para não
olhar na direção de David, apenas para não ter vontade de mandar ele para a puta que o pariu.
— Uma das coisas que sempre peço a vocês é que respeitem uns aos outros e dessa vez
não vai ser diferente — o treinador continua. — Ninguém vai ser retirado do time por uma
bobagem dessa, se a intenção da pessoa ao falar comigo era essa, sinto informar que não vai
acontecer — determina. — Mas se assim como o colega que veio reclamar, mais alguém se sente
incomodado com o fato de termos colegas homossexuais no time, peço que falem agora.
Todo mundo se entreolha, mas ninguém pronuncia nada, permanecendo em seus lugares
em completo silêncio.
— Acredito que com isso podemos encerrar esse assunto. Espero não ter problemas dessa
natureza novamente, e se alguém quiser deixar o time por causa disso, ficarei triste, mas
respeitarei a decisão. É só vir falar comigo após o treino.
Todos acenam concordando e quando o treinador está prestes a mudar de assunto, David
decide abrir a boca, para o nosso desgosto.
— Mas e o vestiário?
— O que tem o vestiário? — Smith questiona.
— Terei que trocar de roupa junto com eles, não sei se gosto dessa ideia.
— Ainda não estou entendendo, David — o treinador olha para ele.
— Não vou ficar confortável em trocar de roupa na frente desses caras que são...
— Se está achando que eles vão ficar olhando para o seu pau murcho, nos poupe, David,
ninguém quer ter essa imagem desagradável gravada no cérebro, não — James se adianta e todo
mundo tenta segurar a risada, mas falham totalmente.
— James — o treinador repreende, mas consigo ver ele escondendo o sorriso. — Por qual
motivo eles ficariam olhando você pelado, David?
— Não é o que eles gostam?
— Sendo assim, você está dizendo que não teria o respeito e a educação de não olhar, se
entrasse em algum lugar e tivesse uma garota trocando de roupa? Você ficaria lá encarando? —
Ian o desafia.
— É diferente — David afirma.
— Não vejo onde é diferente — um dos outros meninos declara. — É exatamente a
mesma coisa. Não é porque eles sentem atração por homens que eles vão ficar olhando qualquer
um que passe na frente deles.
— Nunca tive reclamações em relação a essa situação, sinto que o único incomodado
com os colegas é você. — O treinador havia dito que não diria nomes, mas era óbvio que o
causador da confusão era David. — Sua reclamação já foi apresentada para a universidade e a
decisão já foi tomada — treinador Smith diz, incisivo. — Espero que respeite, e se continuar
achando que não consegue continuar, a solução é sair.
David acena concordando, mesmo que a contragosto, e o treinador dá o assunto por
encerrado batendo palmas e mandando todo mundo aquecer.
Sorrio para Dominic, que expira o ar parecendo aliviado, e afasto minha mão da dele para
ir me aquecer também. Mas antes que eu possa começar, o treinador se aproxima de nós dois.
— Sinto muito por isso, meninos, não sei se todo o time sabe, mas preferi não dizer o
nome de vocês para não causar mais confusão.
— Todo mundo sabe, treinador, mas muito obrigado — digo com sinceridade.
— Só fiz o meu trabalho, e quero pedir que se David ou qualquer um dos outros fizer ou
disser algo, seja durante os treinos, dentro da quadra ou mesmo fora daqui, me avisem que
tomarei alguma providência.
— Avisamos sim, obrigado mesmo — Dominic diz e Smith sorri para ele.
— Agora aquecendo que precisamos treinar, temos um jogo em poucos dias — ele
lembra e a gente apenas obedece, se juntando aos nossos outros colegas.

— Está mais tranquilo? — questiono assim que o treino acaba.


— Sim, eu…
— Julian — o treinador me chama, interrompendo-o. — Posso falar com você rapidinho?
Concordo e aceno para Dominic, dizendo que depois a gente conversa. Ele assente e
segue para o vestiário, que deve estar lotado, enquanto vou até o treinador que quer me mostrar
uma ideia que teve para o próximo treino.
Conversamos rapidamente e depois seguimos juntos em direção ao vestiário. Ele iria para
a sua sala e eu tomar uma ducha, mas quando nos aproximamos escutamos uma leve discussão,
nada agradável.
— É disso que estou falando, é incômodo trocar de roupa com ele bem ali — uma voz se
sobressai por cima da bagunça do vestiário e eu não preciso olhar para saber quem falou. — É
um absurdo que ele e Julian continuem no time.
Eu não havia contado diretamente para ele que sou bi, mas como essa informação é algo
que nunca escondi de ninguém, imagino que não foi difícil dele juntar as coisas e descobrir sobre
isso.
Respiro fundo, prestes a entrar no vestiário pronto para mandar ele à merda, porque odeio
o número de babaquices que ele fala e também imagino que Dominic deve estar péssimo
escutando isso e, por algum motivo, só a ideia dele magoado desperta todo meu lado protetor.
Porém, o treinador me impede, pedindo para eu esperar. Não gosto muito da ideia, mas obedeço
e continuamos escutando.
— Sabe que eu acho? Que a porra do problema é você — algum dos garotos, que não
reconheço a voz, afirma. — O que Dominic e Julian fizeram para você?
— Eles…
— São super legais, foram super receptivos com a gente tanto no time, quanto na casa em
que estamos morando e, sinceramente, com quem eles transam ou deixam de transar não mudou
nada na minha vida até agora.
David continua calado e isso com certeza poderia ser considerado uma dádiva.
— Me mantive próximo de você mesmo depois de todas as merdas que você falou sobre
Dom quando ele contou que era gay, porque acabamos de chegar, David, e achei que nós quatro,
por sermos novatos, devíamos ser amigos, mas você só fala merda, passa o dia comentando sobre
a porra da sexualidade dos outros. Eu cansei e, sinceramente, se não parar com essa merda talvez
eu vá até o treinador dizer que quem não se sente confortável sou eu em estar no mesmo time
que você.
O vestiário fica em completo silêncio e David não parece muito feliz em descobrir que os
amigos também não concordam com o que ele pensa, mas quando abre a boca para retrucar, o
treinador entra no local e eu, claro, vou atrás.
— Tenho uma boa solução — Smith fala e todos se viram para ele. — Vou te deixar
suspenso dos próximos dois jogos, com isso você vai ter tempo para pensar se realmente isso é
um problema tão grande, e se for, veremos como eu e você resolvemos sua situação.
— Treinador, você não pode…
— Posso sim, uma das partes do meu trabalho é manter o time focado nos treinos e jogos
e você claramente não está sendo capaz de fazer isso — afirma. — Você está causando confusão
desnecessária e deixando todo mundo desconfortável, então estou te afastando sim.
— E quem vai ficar no meu lugar? — pergunta presunçoso, porque o desgraçado joga
bem pra caralho e por isso estava no time titular desde o primeiro jogo.
— Ninguém é insubstituível, David — o treinador declara. — Agora, esse assunto está
encerrado e eu não quero ninguém mais falando sobre isso, nem sobre a vida de ninguém. Quem
vocês beijam, transam ou namoram não me diz respeito e desde que não atrapalhe o time, eu não
me importo e não quero saber.
Todo mundo concorda e observa o treinador sair, enquanto David puxa a mochila de
cima do banco e sai praticamente soltando fogo pelos olhos de tanto ódio que exala.
— Acho que agora teremos paz — Ian diz tranquilamente. — E, por favor, terminem
nessas duchas logo que quero tomar banho.
Os meninos riem e isso ameniza o clima tenso do vestiário enquanto todos voltam a se
arrumar para ir embora, como estavam fazendo antes da pequena confusão que isso virou.
— Que cara imbecil — digo ainda nervoso e Dominic me lança um olhar cansado.
— Vamos só ignorar a existência dele.
— Você tem razão — declaro. — Mesmo que ele me irrite e eu tenha vontade de socar a
cara dele.
O sorriso de Dom aumenta enquanto ele se abaixa um pouco, já que é poucos centímetros
mais alto que eu, e sussurra em meu ouvido.
— Marrento — brinca e eu sorrio para o apelido que ele arrumou.
— Sabe, é uma pena que esse vestiário esteja tão cheio — pisco um olho para ele e
caminho em direção aos armários enquanto escuto ele inspirar o ar profundamente.
Dominic Davis

Bebo um gole do meu café com leite enquanto franzo o cenho vendo Julian beber
felicíssimo seu café puro e sem açúcar. Como diabos alguém bebe café sem açúcar?
Deve ser por isso que esse garoto parece tão estressado às vezes.
— Por qual motivo está me encarando? — Julian questiona.
Porque sua alma está morta e você está bebendo café sem a melhor coisa inventada no
mundo, que é o açúcar. Ele foi criado justamente para deixar a vida mais feliz e você está se
entregando a esse negócio amargo sem dó e muito menos piedade.
— Por causa do seu café — explico e ele arqueia a sobrancelha, parecendo não entender.
— Amargo.
— É gostoso — afirma, me fazendo suspirar.
— Estou começando a achar seu gosto um pouco duvidoso, o que me ofende diretamente
— declaro e ele solta uma risada alta que chama a atenção do pessoal da mesa ao lado.
Mas não me importo, porque quase nunca vejo Julian rindo assim, então meio que fico
hipnotizado admirando. Ele é sempre muito sério, até quando faz alguma brincadeira ou algo do
tipo. Muitas vezes as pessoas riem e ele se mantém neutro. É engraçado.
Não acho que seja por nenhum motivo específico, é só o jeito dele, que inclusive gosto
muito, mas também é gostoso ver ele rindo tão espontaneamente assim.
— Não menti quando disse que te acho gostoso. — fala assim que se acalma.
— Então mentiu sobre achar esse café gostoso. — decreto. — Não tem como achar nos
dois gostosos, esse negócio aí é horrível.
— Exagerado — revira os olhos e eu semicerro os meus na direção dele.
— Vou te apresentar a alegria dos seus dias, se chama açúcar — implico e ele nega, se
curvando na minha direção e depositando um beijo rápido nos meus lábios.
Isso me pega totalmente desprevenido e eu travo no lugar, encarando ele sem saber o que
fazer. Ele se afasta e me olha, parecendo perceber o que fez.
— Desculpa, foi... foi sem…
— Tudo bem, Julian, eu só não estava esperando — levo uma rosquinha até a boca e ele
acena concordando, sem dizer mais nada.
Voltamos a tomar nosso café em silêncio, e pouco depois James e Ian aparecem. O que
ameniza o clima que havia ficado estranho.
Esperamos os dois tomarem alguma coisa também, e em seguida caminhamos os quatro
para a academia.
Assim que descemos do carro conversando e rindo de alguma besteira que James falou,
meu humor some completamente quando vejo Nick parado na entrada do local. Ele não demora a
ver a gente e caminhar até Julian, que o olha com uma expressão dura e parecendo não entender
a aparição repentina do ex-namorado.
— O que está fazendo aqui? — Julian pergunta, curto e grosso.
— Estou tentando falar com você há dias, mas parece que você me bloqueou de todas as
formas possíveis.
Meu cérebro grita que eu deveria me afastar, mas não consigo sair do lado de Julian. E
claro, isso não passa despercebido por Nick, que analisa a proximidade de nós dois.
— Deve ser porque não quero falar com você — Julian retruca e Nick revira os olhos.
— Percebi, pelo jeito me superou rapidinho, não é? — Seu tom é carregado de deboche e
eu sinto meu coração acelerado dentro do peito.
— Nicolas, o que você quer aqui?
— Só vim te entregar suas coisas que estava no meu apartamento, pensei em jogar fora,
mas não queria ter mais nem um vínculo com você, ainda mais se fosse para me culpar por não
ter devolvido algo — ele entrega uma sacola para Julian.
— Obrigado, acho que agora você já pode ir — ele afirma e Nick concorda, fazendo
menção de se afastar. Quase respiro aliviado, mas ele volta no último segundo e olha para nós
dois novamente.
Claro que ele não perderia a oportunidade.
— Felicidades, vocês formam um casal bonito — ele abre um sorriso que me causa um
arrepio. — Só espero que seu novo namorado, Julian, tenha te contado que eu e ele já ficamos.
— Julian mantém a expressão neutra enquanto James e Ian, que estão por perto apenas
observando, me lançam um olhar surpreso. — Enquanto eu e você já estávamos juntos.
Fecho os olhos esperando a reação de Julian e me surpreendo quando o silêncio domina o
ambiente por alguns segundos, antes dele voltar a falar com a voz mais calma de todas.
— Sim, ele já me contou tudo — Julian afirma e eu abro os olhos, encarando ele.
— Você gosta mesmo de ser corno, não é? Porque se ele foi meu amante, para te trair
também é fácil, fácil.
— O que eu gosto ou deixo de gostar não é da sua conta, Nick — Julian o corta. — E se o
que faltava para você me deixar em paz para sempre era me entregar essas coisas, pronto, está
feito. Agora, por favor, some da minha vida.
— Com prazer, já fiz mesmo o que precisava — ele afirma e vira na minha direção com
um sorriso vitorioso. — Até nunca mais para vocês.
Observamos ele se afastar e em seguida me viro para Julian, me sentindo ansioso demais
e com medo da reação real dele.
— Julian…
— Temos academia agora, Dom, depois a gente conversa — afirma e se afasta junto com
James e Ian.
Burro, burro, burro. É isso que eu sou. Ensaiei várias vezes para contar tudo para ele e
não tive coragem. Depois veio toda a história do David e a gente se envolvendo mais…. Eu
simplesmente deixei passar.
Devia ter contado. O que Nick falou não é verdade, pelo menos não uma verdade
completa.

Levo meus dedos até minhas têmporas, massageando e inspirando o ar profundamente.


Faltam vinte minutos para minha aula e eu queria estar em casa, na minha cama, fingindo que
não tenho que lidar com os problemas que eu mesmo causei por ser burro e medroso.
Minha cabeça parece que vai explodir de tanta dor. Depois de tanto tempo convivendo
com esse latejar incessante eu deveria ter me acostumado, mas pelo jeito não é assim que as
coisas funcionam, e infelizmente essa merda continua me incomodando.
— Bom dia — Wendy se senta ao meu lado e eu a encaro. — Posso saber por qual
motivo está ignorando minhas mensagens?
— Porque não quero conversar.
— E está resolvendo seu problema não conversar? — Ela me encara séria.
Wendy é uma das pessoas mais incríveis que já conheci. Com certeza tenho sorte de ter
ela como melhor amiga e saber que isso vai durar. Até porque, depois de uma noite com nós dois
bêbados, ela vomitando em mim e a gente desabafando literalmente tudo sobre nossas vidas um
para o outro, vai ser difícil algo realmente acabar com a nossa amizade.
— Não — bufo e ela abre a boca para falar alguma coisa, mas eu a interrompo. — Eu sei
que estou errado, não precisa brigar comigo.
— Eu não ia brigar com você — afirma, passando o braço pelo meu ombro e me puxando
para mais perto. — Só ia perguntar como você está.
— No momento, me odiando — sou sincero.
— Já tentou falar com ele e explicar a história verdadeira?
Após Nick contar uma grande mentira com pedaços de verdade, eu segui para academia
assim como Julian, James e Ian, mas não consegui me concentrar em nada direito. Quando
finalizamos o treino e ele praticamente fugiu de mim, preferi não insistir e segui para o prédio da
saúde. Encontrei Wendy e contei o que havia acontecido.
— Ele não parece muito afim de conversar comigo nos últimos dias — sou sincero.
— E por isso você vai deixar ele acreditar na mentira que Nick contou? E vai fazer o
quê? Se afastar novamente e fingir que nada aconteceu?
— Não é uma má ideia, para ser sincero — declaro e ela me lança um olhar bravo.
— Eu já te proibi de se afastar de novo, espero que se lembre — briga. — Você precisa
contar para ele.
— Eu sei. Mas e se ele não acreditar em mim? E se ele entender que realmente foi uma
traição? Ou ficar com raiva por eu não ter contado na época que aconteceu? — Passo a mão pelo
meu cabelo, apoiando meus cotovelos no joelho e abaixando o olhar.
— Consigo imaginar ele ficando chateado. Agora não acreditando em você ou qualquer
coisa além disso, não acho que vá acontecer. — Ela parece segura disso. — Você teve os seus
motivos para não contar na época, e ele conhece o ex-namorado que tem. Duvido que ele esteja
acreditando cem por cento em Nick.
Suspiro cansado e apenas concordo, sem voltar a olhar para ela.
— Tem mais alguma coisa acontecendo além disso, Dom?
Eu não havia contado para ela sobre David, porque ela já está passando por um monte de
problemas e não precisa de mais um para se estressar. Além disso, esse assunto está rolando mais
dentro do time, ninguém levou ele para fora desse ambiente e acho melhor assim.
No entanto, apesar disso ainda ser um problema, já que ele continua no time e eu ainda
divido a mesma casa com ele, no momento ele é a menor questão na minha cabeça, e como sei
que ela não vai desistir de me arrancar qualquer informação, levanto o olhar e começo a falar o
que mais está me incomodando.
— Meus pais, eles não param de ligar e perguntar quando vou visitar eles — explico.
— Depois das férias, você nunca mais foi em casa? — pergunta e eu nego.
O lado ruim de morar na mesma cidade, não consigo fugir e dizer que só consigo ir nos
feriados ou nas férias. Sempre vou ver eles, e em épocas mais corridas, vou pelo menos uma vez
no mês.
— Não, passei as férias todas lidando com o fato de que havia me assumido para todo
mundo, mas também pensando em como contar para eles sobre isso e não tive coragem —
explico. — Depois que voltei, meio que estou evitando encontrar os dois, porque não quero
continuar escondendo, mas continuo sem saber como falar.
— Eu entendo — afirma. — Consegue enrolar eles mais algum tempo?
— Acho que sim — concordo, mesmo sem entender onde ela quer chegar.
— Ótimo, resolve as coisas com Julian primeiro e depois vamos pensar como contar para
eles, e se quiser vou com você, às vezes assim você se sente mais confortável. Pode ser?
— Pode ser — sorrio para ela.
— Que bom — retribui o gesto. — Agora, me promete que vai conversar com o Julian?
— Prometo — sou sincero, porque realmente quero resolver isso e porque sei que ela está
certa, não dá para me isolar de todos de novo. Apesar de estar preocupado com a reação dele,
vou ser muito babaca se continuar fugindo.
— Você lida bem assim com seus problemas? — brinco quando vejo Jake, uma das dores
de cabeça dela se aproximar.
— Com certeza, não — ela ri. — Mas eu tento.
Jake se senta em uma das poltronas vazias perto da gente e nos cumprimenta. Apenas
aceno de volta para ele e me levanto, pegando minha mochila e vendo que falta pouco tempo
para a minha aula começar.
— Obrigado por me ouvir — digo para Wendy.
— Amigos são para isso — ela pisca para mim e eu aceno concordando.
— Vou deixar vocês — digo me virando para Jake novamente. — Preciso ir para a aula,
e depois resolver minha vida.
Aceno para os dois e caminho em direção a escada para ir para a minha sala, mas antes de
subir um degrau, desisto. Sei que não tenho cabeça para prestar atenção em nada hoje, por isso
me viro para o outro lado e caminho em direção a saída, determinado a encontrar Julian, ou
qualquer um dos meninos que possa me dizer onde ele está.
Preciso resolver isso e vai ser agora, antes que eu perca a coragem novamente.
Julian Ollier

Encaro o professor de cálculo explicando uma conta que já entendi, mas que tem gente
com dúvida ainda, e tento não pensar no que Nick contou há alguns dias. Não quis dar o gostinho
para ele de ter certeza que eu não fazia ideia do que ele estava falando. Mas a verdade é que eu
nem imaginava que ele e Dominic já se envolveram.
Escutar aquilo fez uma raiva tão grande me consumir que agradeci mentalmente por estar
indo para academia e ter onde descontar todo meu ódio. Quando finalizei o treino, saí de lá o
mais rápido possível, porque sabia que Dominic tentaria falar comigo e eu não estava com humor
para conversar.
Tenho certeza que ele tem uma versão para essa história e provavelmente uma explicação
para não ter me contado essa merda antes. Mas eu me conheço e sei que se a gente fosse ter essa
conversa naquele momento, não daria certo.
Se agora ainda estou com raiva, na hora que soube de tudo eu deixaria o ódio e a mágoa
que estou sentindo, só com a ideia de tudo isso ser verdade, me dominar e nada do que ele
falasse iria adiantar.
O melhor é termos essa conversa quando eu realmente tiver terminado de processar tudo
que escutei. Inclusive, vou fazer isso em outro lugar, porque essa aula só está me deixando mais
nervoso.
Junto minhas coisas, vendo que tem três novas mensagens de Dominic no meu celular, e
saio da sala, guardando o aparelho sem abrir nenhuma das notificações. Caminho pelo
estacionamento sem saber para onde ir e vejo Bonnie se aproximar. Aposto o que for que ela já
sabe o que aconteceu e que não está aqui por acaso, com certeza ela já estava me esperando.
— Quem te contou? Ian? — deduzo, porque é a cara do irmão dela fazer isso.
— Ian — concorda. — Como você está?
— Com ódio — sou sincero.
— Que dar uma volta? Estou precisando ir ao shopping — afirma tranquilamente. —
Tenho certeza que ninguém vai te procurar lá.
Rio, porque realmente seria o lugar menos provável para me encontrar, e concordo,
seguindo ela até seu carro. Bonnie começa a dirigir em silêncio e eu encaro a paisagem pela
janela.
— Não confio no Nick — afirmo sem me virar para ela, mas vejo ela me lançar um olhar
rápido.
— Ainda bem, acho que depois de tantas idas e vindas por culpa dele, e depois dele te
trair, realmente ele não é muito confiável — comenta.
— Mesmo assim, o que ele disse não sai da minha cabeça, fico pensando qual vai ser a
outra versão e se o que Nicolas falou não tem um fundo de verdade.
— Só quem pode te dizer isso é o Dominic.
— Eu sei — bufo chateado.
— Julian — chama, e por fim olho para ela. — Tenho certeza que ele tem uma boa
explicação.
— Espero que sim — minha voz sai carregada de dúvidas. — Eu devia ter parado no
primeiro beijo, eu sabia que ia dar merda e deixei as coisas acontecerem. Qual o meu problema?
— Você gosta dele — dá de ombros entrando no estacionamento e procurando uma vaga.
— Não gosto. Não quero gostar de ninguém agora. — declaro e ela arqueia a
sobrancelha.
— Pena que nem tudo acontece como a gente quer, não é? — ela brinca se virando para
mim. — Se quiser negar para si mesmo, não posso fazer nada, mas é óbvio o que sente.
Bufo de novo, chateado porque não quero aceitar essa possibilidade agora, e decido
mudar o rumo da conversa.
— Vamos comprar o que você precisa para ver se eu consigo esquecer essa merda dos
infernos.
— Você sendo um doce como sempre — debocha, saindo do carro e prendendo o braço
no meu. — Tenho uma listinha de coisas, começando por uns materiais de arquitetura — ela diz,
abrindo uma lista no celular.
— Você vai me fazer passar a tarde nas compras, não vai?
— Sim, eu ia arrastar o Oliver, mas ele tinha que ir para o jornal. Que bom que você está
precisando distrair a cabeça, não é mesmo?
— Você vai ficar me devendo uma.
— Tranquilo, do jeito que você está sendo teimoso, vai precisar de mim em breve para
colocar juízo nessa cabeça — pisca para mim e eu escolho ignorar o sentido completo da sua
frase enquanto seguimos para dentro. E eu torço para realmente relaxar minha mente por
algumas horas.

Escuto baterem na porta do meu apartamento pela terceira vez e xingo baixinho enquanto
me levanto. Estava me esforçando para ignorar e fingir que não tinha ninguém em casa, mas
parece que a pessoa do outro lado está determinada a falar comigo ou atormentar a cabeça de
quem quer que seja, já que continua batendo sem cansar.
Abro a porta em um rompante, pronto para xingar alguém, e travo ao ver Dominic parado
do outro lado. Eu ainda estava fugindo dele com grande esforço, porque, por mais que eu queira
saber a versão dele da merda que Nick falou, meu medo de quebrar a cara vem falando mais alto.
— Podemos conversar? — ele pergunta direto e eu saio da frente, dando espaço para que
ele entre no apartamento. Por mais que minha vontade seja adiar um pouco mais essa conversa,
sei que é agora ou nunca. Ele veio aqui só por isso, eu seria um grande imbecil se o mandasse
embora sem dar uma chance dele se explicar.
Enrolo o máximo de tempo possível para terminar de fechar a porta e caminho até o sofá,
indicando o lugar ao meu lado para ele, que se senta passando as mãos na calça, claramente
nervoso.
— Estou ouvindo — declaro, sem expressar humor algum.
— Primeiro, eu queria me desculpar por não ter dito nada antes.
— Com isso você está dizendo que realmente teve algo com o Nick enquanto eu e ele
estávamos juntos? — Sinto meu estômago revirar, mas mantenho a expressão neutra.
— Mais ou menos, eu… — arqueio a sobrancelha e ele força um sorriso que parece mais
um comprimir de lábios. — Com isso estou dizendo que tenho algo para contar e que deveria ter
feito isso antes, mas não tive coragem — ele aperta uma mão contra a outra e eu o analiso.
— Certo, pode falar...
Dominic puxa o ar profundamente e acena, ainda demorando alguns segundos para voltar
a falar, o que me deixa um pouco impaciente, mas me seguro para não comentar nada que possa
transformar isso aqui em um desastre completo.
— Lembra de uma festa de aniversário que Mark fez no final do nosso primeiro ano? Que
foi metade da universidade. — Franzo o cenho sem entender por qual motivo ele está falando
dessa festa, que inclusive eu nem fui, porque estava doente. Mas aceno positivamente, dizendo
que me lembro. — Eu fiquei com Nick nessa festa. Não nos conhecíamos antes, encontrei ele lá
e rolou. Ele não queria que ninguém soubesse e eu também, por motivos óbvios, e achei que
estava tranquilo ficar com ele — explica. — Apenas nos beijamos e conversamos um pouco. Ele
parecia bastante interessado em falar sobre o time de futebol americano, perguntou um monte de
coisas sobre isso e eu não entendi direito na época o interesse dele, mas não achei nada demais
— Dom encolhe os ombros. — A merda começou quando Dean viu a gente.
— Dean? Ele sabia sobre você e nunca contou nada para ninguém? — Me surpreendo, já
que nosso ex-colega de time, e que também foi um namorado extremamente tóxico para Bonnie,
era um grande babaca do cacete.
— Não contou, mas usou essa informação para infernizar minha cabeça de outras
maneiras. Sempre fazendo piadas e comentários em momentos desnecessários. Ameaçando
deixar a informação escapar sem querer — declara me fazendo revirar os olhos e ter ainda mais
raiva do imbecil. — Mas esse não é o ponto.
— Claro, continua — incentivo, realmente curioso para saber onde vamos chegar.
— Percebi que Dean havia visto eu e Nick juntos e fiquei com medo dele fazer alguma
coisa, mas quando fui falar com ele, me surpreendi, porque ele me afirmou que não contaria nada
para ninguém. — Dominic passa a mão pelo rosto. — Hoje sei que fui bobo, mas na época
acreditei nele, e juntos falamos para o Nick que ele não precisava se preocupar, que ninguém
ficaria sabendo do que rolou entre a gente na festa. — Balança a cabeça parecendo não acreditar
na própria ingenuidade. — Só que alguns dias depois dessa festa, você apareceu na lanchonete
junto com Nicolas e eu estava lá com o time, e lembro que você o apresentou como o seu
namorado. Basicamente, surtei com essa informação, porque fazia pouco tempo que tínhamos
ficado, por isso fui perguntar para ele desde quando vocês estavam namorando.
— E o que foi que o babaca do meu ex disse? — questiono já começando a juntar uma
coisa na outra.
— Ele me disse que vocês estavam juntos há um mês e que por isso tinha ficado
escondido comigo na festa — Dom desvia o olhar. — Fiquei sem reação na hora. Achei que era
piada e que ele estava zoando com a minha cara, só que Nick continuou afirmando que eu meio
que havia sido amante dele por uma noite.
— Puta que pariu — inspiro o ar tentando não ter um treco de ódio, mesmo que minha
vontade seja procurar Nicolas e xingar ele inteiro. Mas isso não adiantaria de nada, ele é um
babaca sem perspectiva de melhora.
— Depois disso decidi que o certo era contar para você, meu erro foi que comentei isso
com ele. — olho incrédulo para ele. — Eu sei, muito burro.
— Que porra ele fez, Dominic?
— Primeiro, afirmou que só tinha ficado comigo na festa porque queria mais informações
sobre o pessoal do time, para saber com quem ele devia ou não se preocupar em relação a você.
Hoje em dia, sabendo o quanto ele era ciumento e possessivo, acho que faz total sentido.
— É bem a cara do Nick.
— Depois disso ele me ameaçou. Disse que assim que foi embora aquela noite, Dean o
procurou e disse que se ele devia se preocupar com alguém, esse alguém era eu que, apesar de
não confessar, tinha uma paixão platônica por você. Só não sei como Dean já sabia sobre você e
ele.
— Dean ainda namorava Bonnie nessa época e eu já havia apresentado Nick para ele,
James e Dayton — explico.
— Certo, isso faz muito sentido — concorda com um suspiro.
— Mas você disse que Nick te ameaçou. O que foi que ele fez para isso?
— Ele me disse que se eu fizesse isso e não me afastasse de você, ele contaria para o
pessoal sobre a minha sexualidade — declara. — Fiquei desesperado só com a ideia disso
acontecer e deixei meu medo falar mais alto, não tive coragem de te contar nada, mesmo que
tenha tentado fazer isso algumas vezes, e acabei me afastando, porque achei que era a melhor
opção.
— Inacreditável — solto uma risada de puro ódio. — Depois de escutar tudo isso eu
poderia dizer com tranquilidade que essa situação toda foi armação de Dean e Nick juntos.
— Acha que eles planejaram tudo?
— Não tenho como ter certeza. Só que Nick e eu nos conhecíamos a pouco tempo
quando começamos a namorar, mas desde antes ele parecia incomodado com os meus colegas de
time. Vivia me perguntando se todos eram héteros mesmo. Com quem eu ficaria se tivesse a
chance. Parecia conversa boba, brincadeira, mas não era. — esfrego a testa desviando o olhar. —
Em uma das vezes eu disse que se fosse para ficar com alguém do time eu ficaria com você,
porque te achava lindo, e talvez isso tenha ligado uma luz neon de alerta na cabeça dele.
Fecho os olhos processando as novas informações e suspiro, porque achei que tudo que
eu precisava saber para odiar Dean e Nick havia sido exposto para mim meses atrás. Mas esses
dois conseguem se superar e me dar mais motivos para detestar eles mais e mais a cada dia.
— E quando descobriu que eu era gay, achou um jeito de me manter longe e não ser uma
ameaça para o namoro de vocês.
— Justamente.
— Mas e o Dean, o que ele ganhava com isso?
— Manter minha proximidade e da Bonnie em um campo seguro na visão dele. Você
sabe que ele também era super problemático e odiava qualquer um que fosse muito próximo dela
e que ele considerasse uma ameaça. Sendo assim, ajudou Nick, porque se eu estivesse
namorando, era mais seguro.
— Caralho, como vocês dois foram arrumar duas bençãos dessa? Me diz porque quero
passar bem longe desse lugar.
Acabo rindo, porque sinto o mesmo, nunca mais quero precisar lidar com uma pessoa tão
problemática como meu ex-namorado, e muito menos uma sequer parecida com meu ex-colega
de time.
— Acho que você está seguro — pisco para ele, que sorri parecendo um pouco sem jeito.
— Obrigado por me deixar contar minha versão. Só tive medo de dizer antes, e por isso
tudo virou uma confusão, mas espero que me entenda e não me odeie completamente.
— Eu não te odeio, Dom. Fiquei com raiva ao escutar a história da boca do Nick e com
medo de ser verdade, por isso adiei tanto essa conversa. Mas fico feliz em saber a verdade e ter
certeza que você nunca foi amante do Nick — afirmo e encontro seu olhar cheio de expectativas
em mim. — Começamos a namorar depois da festa do Mark. Por isso, quando encontrei todo o
time na lanchonete, decidi contar que estávamos juntos. Antes disso éramos amigos, ou o mais
próximo disso.
— É bom saber disso, me culpei por muito tempo por estar enganando você.
— Namorar Nick foi complicado, ele sempre estava causando confusão por besteira,
querendo ser melhor que todo mundo, sem contar os ciúmes que ele sentia de mim com qualquer
pessoa, se duvidar até com a minha própria sombra. Era cansativo demais. — declaro, apoiando
minha cabeça no encosto do sofá e encarando o teto. — Eu gostava muito dele e achava que ele
iria mudar. Foi uma boa ilusão, por um tempo.
— Sinto muito — diz, parecendo não saber o que comentar.
— Eu também, mas Nick é passado e é lá que vai continuar. Não tenho mais que lidar
com ele e nem quero — afirmo, voltando a me sentar direito. — Só tenho um pedido para você
— Certo, pode falar.
— Nunca mais me esconda nada, por favor.
— Não vou fazer isso, prometo — afirma e eu assinto, satisfeito. Dominic me observa,
parecendo pensativo.
— O que foi?
— Sendo assim, está tudo bem entre a gente novamente?
— Sim, está tudo bem — concordo e ele abre um sorriso que me hipnotiza por alguns
segundos. — Mas sobre… sobre o que estava rolando entre a gente. Acho melhor pararmos.
Dominic tenta disfarçar, mas consigo perceber que não era bem isso que ele estava
esperando escutar. Não me surpreendo, porque sei que ele estava curtindo, assim como eu, mas,
infelizmente, não acho que é uma boa ideia continuar com aquilo.
— Eu disse que não quero nada sério por agora e acho que tudo entre a gente estava indo
um pouco acelerado demais. Preciso de um tempo, e acho que o melhor é pararmos e
continuarmos apenas amigos.
Seu olhar abandona meu rosto e ele se levanta, esfregando a palma da mão na calça jeans,
parecendo meio desconfortável e sem jeito por estar ali comigo.
— Tudo bem, continuamos amigos — ele concorda e o silêncio domina a sala por alguns
segundos enquanto nos encaramos.
Quando ele percebe que não tem mais nada para falar e que também não vou dizer mais
nada, caminha na minha direção e para na minha frente, bem mais próximo que antes.
— Acho que já vou indo. Só queria te explicar tudo mesmo.
— Certo — concordo, sem saber o que falar. — Nos vemos amanhã no treino.
— Com certeza, até amanhã — ele segue seu caminho e eu o observo sair, sabendo que
tomei a decisão errada.
Não devia ter pedido um tempo, eu devia ter assumido o que realmente estou sentindo.
Só que ainda estou com medo de viver algo assim de novo.
Dominic Davis

Passo o olhar pela sala lotada, procurando por alguém vestido de Deadpool, mas não
encontro ninguém. É Halloween e as meninas, Mel, Bonnie, Wendy e April, decidiram fazer uma
festa na casa delas. Confesso que não me animei muito no começo, apesar de gostar dessa
comemoração, não estava no clima de procurar fantasia e coisas do tipo. Porém, Mark disse que
queria participar e que eu também viria, ou seja, lá fui eu procurar algo que gostaria de usar e
agora aqui estou.
Para ser sincero, está bem divertido e estou com uma fantasia que escolhi e amei, mas,
porque sempre tem um, mas, a única coisa que consigo pensar é em Julian. Depois da nossa
conversa há alguns dias, fiquei aliviado que consegui esclarecer tudo e em saber que realmente
era um grande mal-entendido que o babaca do Nick havia aprontado. Ainda assim, eu havia me
iludido que se ele não ficasse com raiva as coisas voltariam do exato ponto em que estavam
antes. Porém, não foi isso que aconteceu.
Julian pediu um tempo e claro estou respeitando isso. Entretanto, por mais que as coisas
entre nós dois pareçam normais, me sinto incomodado com nossa situação atual. Sei bem o que
sinto por ele, parei de negar para mim mesmo faz algum tempo, e é por isso que parece um
pouco sufocante ter que fingir que nada aconteceu. Várias vezes me pego abrindo a boca para
fazer alguma brincadeira ou provocar ele e lembro que não devo fazer isso.
Eu só queria beijar ele de novo e terminar aquela série que começamos.
Está sendo uma prova de resistência, no início da festa até fiquei por lá junto com todo o
pessoal, mas assim que todo mundo começou a se dispersar, achei melhor me afastar também.
Até porque é quase impossível ficar admirando aqueles olhos castanhos, o cabelo curto e a pose
de marrento sem querer agarrar ele nem que seja só um pouquinho.
Como não posso, desde que me afastei estou procurando meu amigo, mas falhando
miseravelmente.
A fantasia que Mark escolheu não é muito difícil de ser encontrada no meio desse
pessoal, ainda mais que ele afirmou que iria passar a festa toda usando ela completa. Normal?
Mark nunca foi. Mas, apesar disso, eu não encontrei ele em lugar nenhum ainda, por isso estou
aqui, no meio de um bando de gente, sozinho.
— Cheguei — me assusto com a voz próxima ao meu ouvido e me viro, vendo Mark
atrás de mim.
— Até que enfim, onde você estava?
— Desculpa a demora, mas quando estava chegando eu vi uma gostosa vestida de mulher
gato, tive que fazer uma parada e aproveitar.
— Com isso você quer dizer que você estava…
— Não, foi só uns beijos, só tiro essa roupa aqui hoje quando valer muito a pena, porque
vai dar um trabalho dos infernos vesti-la de novo — explica, me fazendo revirar os olhos.
— Você é inacreditável. — Acabo rindo. — Vai mesmo passar a festa toda de máscara?
— Sim, incorporei o personagem — ele faz uma pose e eu desisto de entender meu
amigo. — Mas e você? Quantas bocas já beijou?
— Está fazendo uma contagem por acaso?
— Talvez, mas não desconverse e me responda.
— Nenhuma, Mark.
— Sinceramente, acho que você beijava mais antes — ele afirma. — Mas eu entendo a
situação.
— Entende é? — arqueio a sobrancelha de forma desafiadora e ele concorda.
— Seu problema está em alguém específico, alguém que inclusive está olhando na nossa
direção com uma cara bem carrancuda — afirma e eu faço menção de me virar para olhar na
mesma direção, mas sou interrompido pela mão de Mark, que me puxa de uma vez, me fazendo
voltar a atenção para ele. — Não olha, deixa ele achar que você nem está lembrando da
existência dele.
— E por qual motivo eu faria isso?
— Para ver se assim ele toma uma atitude. Vamos combinar que vocês querem a mesma
coisa e ele só está enrolando? E provavelmente por um motivo bobo.
— Ele pediu um tempo — defendo Julian e não estou vendo o rosto do meu amigo, mas
conheço muito bem sua cara de desdém.
— Ele vai precisar de quanto mais para assumir que está se enganando?
— Sabe que não tem nada de errado em ele não querer ficar mais comigo, não sabe? —
contraponho.
Mesmo que eu queira muito que ele me diga que já teve o tempo que precisava e que
agora podemos continuar com o que estávamos tendo, até aquilo se tornar algo a mais.
Melhor não sonhar muito, se eu for muito alto a queda pode ser feia.
— Sei, mas ele quer — afirma, determinado. — Vocês gostam um do outro, para não
dizer a palavra com a.
— Eu não… — ele me lança um olhar entediado e eu me calo, porque não tem porque eu
fingir para ele, não consigo fingir nem mais para mim mesmo. — Como tem tanta certeza que ele
quer?
— Se não quisesse, ele estaria curtindo a festa e não sentado ali encarando nós dois. Ele
está com ciúmes.
— Por qual motivo ele teria ciúmes de mim com você? Ele sabe que você é apenas meu
amigo, e hétero.
— Ele não sabe que eu sou eu — Mark indica a própria roupa e eu arqueio a sobrancelha,
entendendo.
Faz sentido, total sentido. Será mesmo que ele está com ciúmes? Será que o sentimento
que anda me consumindo está fazendo o mesmo com ele?
— Ficou cheio de esperança agora, não é? — Meu amigo cutuca minha cintura e eu
reviro os olhos.
— Cala boca, Mark — bufo.
Mas a verdade é que sim, fiquei cheio de esperanças.
Julian Ollier

Os últimos dias foram muito difíceis, até mais do que quando eu estava com medo do que
Nick falou ser verdade. Pelo simples fato que achei que, com o tempo que pedi para Dom,
conseguiria colocar a cabeça no lugar e perceber que a única coisa que sinto por ele é desejo. Só
que não, isso não aconteceu.
A única coisa que consegui com esse tempo foi perceber o quanto gosto da companhia
dele e de tudo que estava acontecendo entre a gente. Já pensei em confessar isso umas dez vezes,
mas sempre desisto, porque uma parte minha ainda continua teimando e batendo na tecla de que
não estava nos meus planos me envolver com ninguém por agora. Solteiro, era essa a meta. Em
que momento tudo desandou?
No exato momento em que ele te beijou e você não conseguiu esquecer.
Como nada é tão ruim que não possa piorar, além de eu não ter falado com ele e estar
surtando em silêncio, agora estou aqui no meio da festa de Halloween me contorcendo de
ciúmes. O sentimento que mais odeio.
Ele está conversando com um cara e minha mente, ao invés de me ajudar, só fica
pensando que provavelmente o único envolvido nisso tudo era eu e que ele já está seguindo em
frente, enquanto eu fico sendo um grande burro por me apaixonar.
— Vem comigo! — Bonnie se aproximou sem eu nem perceber, manda e eu apenas
obedeço, porque é assim que funciona normalmente quando ela usa esse tom com qualquer um
de nós. Somos um grupo obediente, às vezes.
Ela segura meu braço e me puxa para o lado, um pouco afastado de alguns dos nossos
amigos que estão ali sentados, obviamente prestando atenção em nós dois, porque são um bando
de fofoqueiros que não tem o que fazer.
— Lembra que eu estou te devendo um favor e que eu já sabia que iria precisar colocar
juízo na sua cabeça teimosa? — pergunta se referindo à conversa que tivemos há algumas
semanas, quando fui ao shopping com ela.
— Sim, lembro. — desvio o olhar, encarando os meus pés
— O que está te travando, Julian?
— Não sei se estou pronto para deixar isso entre eu e ele realmente acontecer.
— Sei que é uma merda, quando saímos de um namoro ferrado a gente precisa de um
tempo para assimilar tudo e confiar nesse negócio de relacionamento de novo — ela declara mais
calma. — Mas você gosta dele, não gosta?
— Sim, gosto muito — sou sincero.
— E quer perder essa oportunidade por medo?
— Com certeza não.
— Imaginei. — ela ri. — Sinto muito em ser eu a te dizer isso, mas sendo assim, você vai
ter que enfrentar essa merda e ir lá, antes que seja tarde, porque ficar de cara ruim encarando ele
não vai adiantar — bufo com raiva. — Ele não é o Nick, Julian, não vai ser igual.
— Cacete — xingo, frustrado por estar deixando o babaca do meu ex me travar de
alguma forma. — Eu sei que você está certa.
— Então faça alguma coisa — briga e sei que ela só está fazendo isso para ajudar. Bonnie
me conhece melhor que qualquer um nessa loucura de grupo de amigos que temos.
Respiro fundo e encaro ela, determinado.
— Ok, vou fazer — afirmo e me afasto dela, caminhando até Dominic com a cabeça a
mil, tendo milhões de ideias de como resolver isso, mas não chegando à conclusão nenhuma.
O moreno está de costas para mim, mas quando me aproximo, ele parece perceber minha
presença, porque se vira na minha direção com um olhar surpreso. Em questões de segundos,
foco meus olhos nos dele e tento formular uma frase que explique tudo que estou sentindo, mas
não sai nada bom o suficiente.
— Eu vou te beijar — aviso, apenas decidido a agir de alguma forma.
Dominic parece não entender no primeiro momento e arregala aqueles olhos azuis pelos
quais sou apaixonado. Quando grudo minha boca na dele, ele leva milésimos de segundo para
processar o que está acontecendo e em seguida corresponder o beijo com tanto desejo quanto eu.
Nossas línguas se encontram, um gemido baixo escapa dos seus lábios quando a minha
vence a batalha e domina a dele. Agarro sua nuca com mais força e o puxo mais para mim,
intensificando um pouco mais o beijo, que fica ainda mais gostoso. Suspiro quando seus dedos
tocam minha nuca e sobem pelos fios curtos do meu cabelo.
— É isso, caralho, eu sabia — escuto uma voz abafada comentar, mas não dou muita
importância. No entanto, Dominic sim, e se afasta quebrando nosso contato, para minha tristeza.
Ele lança um olhar de repreensão para o carinha vestido de Deadpool, com quem estava
conversando. Mas não perco tempo e chamo sua atenção, fazendo ele voltar a me olhar,
parecendo ainda assimilar o que acabou de acontecer.
— Podemos conversar? — peço um pouco ansioso e ele concorda, me puxando em
direção a cozinha e depois até a porta, que nos leva para a parte de trás da casa.
Nos encostamos um ao lado do outro e nos olhamos por um longo período.
— Gostei da fantasia — comenta quando o silêncio parece durar demais.
Pisco algumas vezes, me sentindo mais calmo por ele parecer tranquilo com o que acabei
de fazer. Afinal, sei bem que não foi a melhor atitude, podia ter raciocinado melhor e não…
enfim, já foi.
— Também gostei da sua — sou sincero, enquanto meus olhos analisam Dom com
atenção.
Lindo, talvez seja considerado um apelido nada criativo, mas combina perfeitamente com
ele.
Totalmente sem querer, nossas fantasias combinam. Tenho certeza que se tivéssemos
tentado vir assim, não teríamos achado algo que se encaixasse tão bem. Estamos vestidos de
Hulkling e Wiccano, dois personagens da Marvel que fazem parte de uma equipe conhecida
como Jovens Vingadores; e o mais interessante é que eles são um casal.
— Você está lindo — sou sincero, a fantasia combinou muito com ele.
— Acho que você poderia ser um pouco mais verde, mas ficou um gato — brinca e eu
sorrio.
— Achei que me pintar de verde daria um pouco de trabalho — explico no mesmo tom
descontraído. — Desculpa ter te beijado daquele jeito, agi sem pensar.
— Tudo bem, já fiz isso também, e às vezes é necessário — ele parece realmente
despreocupado com isso.
— E desculpa por ter te tirado de lá, você estava conversando com…
— O Mark, o cara vestido de Deadpool, é o Mark — explica e eu tenho vontade de cavar
um buraco e me enfiar de vergonha.
— Eu não fazia ideia — sinto meu estômago se revirar e acho que minha cara entrega o
quanto estou sem graça, porque Dominic tenta disfarçar, mas acaba rindo e se divertindo com
minha situação.
— Percebi — zomba. — Mas só para eu saber, esse beijo significa que você já teve o
tempo que precisava? Oi só estava querendo devolver o que fiz há alguns meses?
— É, tive tempo até demais — confesso e ele passa a mão pela frente do colete da minha
fantasia, me puxando para mais perto.
— Sendo assim, posso voltar a te beijar quando quiser?
— Pode, já estávamos fazendo isso mesmo — digo, despreocupado.
— Eu me lembro bem — seu tom é descontraído. — Senti falta, inclusive.
— Preciso confessar que eu também — alcanço sua cintura e o puxo para mim.
— Estamos bem agora, certo? — aceno positivamente. — Sobre o tempo que pediu, tem
algo que queira falar?
— Eu só precisei de uns dias para assimilar tudo que estava acontecendo entre a gente e
tudo que me contou sobre Nick — sou sincero. — Além de aceitar que o que estou sentindo vai
além de apenas te desejar.
— Entendo, acho que passei por todo esse processo enquanto tentava descobrir como te
explicar a situação com Nick — confessa. — Fico feliz que nada disso tenha mudado as coisas
entre a gente. — afirma parecendo aliviado, e eu dou um beijo rápido em seu pescoço, antes dele
chamar minha atenção novamente. — Vai querer voltar para a festa?
— Pensei em terminarmos aquela série, estou com tempo de sobra hoje, o que acha? —
pisco um olho para ele. — E também podemos conversar com mais calma.
— Acho que é uma boa ideia.
Com certeza é uma excelente ideia.
— No meu apartamento ou na sua casa?
Dominic não responde, apenas segura minha mão e me puxa em direção ao seu carro.

Assim que fecho a porta do meu apartamento, sinto as mãos de Dominic me empurrarem
contra a parede ao lado enquanto sua boca devora a minha em um beijo carregado de tesão.
Pensei que ele iria conversar um pouco mais sobre tudo que aconteceu, mas se optou por esse
caminho, não sou eu que vou reclamar.
Infiltro uma das minhas mãos por entre os fios escuros do seu cabelo, enquanto levo a
outra até seu pescoço, soltando a capa da sua fantasia, e antes que caia no chão, ele segura como
uma de suas mãos. Aproveito os segundos de distrações e o empurro em direção ao corredor,
agarrando sua mão e puxando Dom até meu quarto, entrando junto com ele e fechando a porta
em seguida.
Dominic solta a capa em cima da cadeira que tem ali e volta a me beijar. Quando nossas
bocas se encontram, sinto um arrepio atingir meu corpo enquanto meu sangue parece entrar em
combustão, queimando minha pele a cada novo toque dele.
Seu beijo é bom, assim como todos os outros que trocamos, mas, ao mesmo tempo, é
melhor, como se enfim significasse algo a mais que os anteriores. Como se enfim tivéssemos
entendido que isso aqui vai muito além de apenas estarmos desejando um ao outro. E acho que é
isso mesmo que aconteceu.
Levo minha mão de volta para o seu pescoço, e Dominic geme contra minha boca quando
puxo seu cabelo com força. Suas mãos apertam minha cintura e ele sobe uma delas até encontrar
o zíper da minha fantasia, abrindo, enquanto pressiona o corpo no meu, fazendo sua ereção se
esfregar contra a minha.
Sugo sua língua e ele geme, antes de se afastar e começar a puxar a roupa que estou
usando. O ajudo e me livro da fantasia, jogando ela em cima da cadeira junto com a capa dele.
Tiro o adorno que tem na minha cabeça, enquanto sinto os olhos de Dom concentrados em meu
peitoral e abdômen, queimando de desejo. Até caírem em cima do meu pau coberto pela cueca.
Um sorriso safado surge em seu rosto e eu o viro de costas para mim, empurrando-o
contra a porta enquanto começo abrir o zíper da fantasia que ele está usando, igual ele fez com a
minha. Ele suspira e levo minha boca até seu pescoço, beijando ele, e encaixando minha ereção
contra sua bunda.
— Julian — ele arfa quando me esfrego nele.
— Você é gostoso demais — sussurro, mordiscando sua orelha em seguida e vendo
Dominic arrepiar.
Me afasto apenas o suficiente para nos livrarmos de sua roupa também, e quando ele se
vira de frente para mim, é a minha vez de admirar o abdômen bem definido e o "v" bem marcado
que é uma tentação dos infernos.
— Estou te querendo na minha cama faz tempo — declaro indo na direção dela com certa
ansiedade.
— Também estou te querendo faz tempo — brinca enquanto empurro ele para cima do
colchão e subo, ficando por cima de Dom.
Nosso beijo incendeia meu corpo, e nossos gemidos preenchem meu ouvido quando
nossos quadris se chocam em uma fricção torturante.
Neste momento, não entendo por qual motivo eu estava me esforçando para negar o que
claramente está rolando entre a gente. A conexão que temos, mesmo que tenha sido inesperada, é
claramente fácil de perceber.
Já me envolvi com várias pessoas, já tive uma namorada e um namorado, e tenho certeza
que nada foi tão bom e intenso quanto é com ele. Dominic tomou conta dos meus pensamentos
com um único beijo, e nos dias seguintes só foi se infiltrando mais e mais em cada parte.
Puxo sua cueca, liberando seu pau duro, e umedeço os lábios, admirando. Ele é grande,
com certeza acima da média, e me lembro que ter ele na minha boca foi bom para cacete.
— Isso está injusto — Dominic me arranca dos meus devaneios se ajoelhando na cama e
depositando um beijo no meu pescoço, enquanto seus dedos puxam minha cueca, também
liberando meu pau duro por causa dele.
Sua língua quente escorrega pela minha pele, enviando uma descarga elétrica direto para
a minha coluna, e sua mão segura meu pênis com firmeza enquanto me masturba.
— Dom… — um gemido me escapa e ele morde meu ombro quando minha mão alcança
sua ereção, e eu toco ele da mesma forma.
— Julian — ele chama e eu olho para ele. — camisinha — pede e indico a gaveta da
mesinha do outro lado da cama.
Ele se afasta de mim e vira de costas, indo até a gaveta. Meus olhos descem por suas
costas e se concentram em sua bunda redonda e em suas coxas definidas.
Toco meu pau, sentindo latejar, e me estico, acertando um tapa em uma das bandas e a
segurando com força, puxando-o na minha direção. Sua bunda se choca contra mim e eu arfo
contra sua orelha, enquanto ele me lança um olhar carregado de luxúria.
Minhas mãos seguram seu quadril com força enquanto ele se move contra meu pau, e
minha boca desce pela sua nuca.
— Você parece ansioso por algo, lindo — provoco, levando minha mão até seu pau e
tocando vagarosamente.
Dominic solta o pacote de camisinha e o tubo de lubrificante em cima da cama, e leva a
mão para trás tocando minha nuca e arfando a cada vai e vem da minha mão.
— Você nem imagina o quanto — afirma, mordendo os lábios quando o aperto com mais
força.
— Então deita na cama, quero estar olhando nos seus olhos quando gozar — afirmo e ele
atende meu pedido, me puxando para cima dele em seguida.
Dominic Davis

A boca de Julian na minha é uma delícia, mas o que estava me enlouquecendo de verdade
é sua mão em meu pau, enquanto a outra desce pela minha bunda, apertando a carne com
vontade. Transar com ele já havia passado pela minha cabeça mais vezes do que consigo
lembrar. Mas nenhuma delas me preparou para a realidade.
Estamos afobados e ansiosos, é verdade. Mas, ao mesmo tempo, sinto que enfim estamos
nos entregando para algo que sentimos desde a primeira vez em que nos beijamos e que tentamos
negar de todas as maneiras, mesmo falhando.
— Caralho — resfolego quando sua mão aperta minhas bolas da forma certa e que ele
sabe que vai me causar ainda mais desejo, depois escorrega os dedos por entre as bandas da
minha bunda.
— Olhos abertos, lindo — ele pede quando os meus se fecham em reflexo ao sentir seu
dedo rodear meu ânus.
Julian passa o polegar pela cabecinha do meu pau, espalhando o pré-gozo por toda minha
extensão, e me penetra com um dedo, me fazendo agarrar seus ombros e soltar palavras
totalmente desconexas. Estou com tanto tesão, de um jeito que nunca senti na vida, que sei muito
bem que não vou demorar a gozar.
— Me fode, Marrento, por favor — peço ansioso e ele move o dedo que está dentro de
mim antes de afastar as mãos.
Julian pega o pacote de preservativo, colocando um rapidamente e lambuza seu pau e
mão com o lubrificante, voltando a me tocar com seus dedos enquanto sua boca volta até a minha
em um beijo delirante de tão bom.
Sua mão puxa minha perna mais para cima e ele se encaixa roçando seu pau em meu
ânus, enquanto suga minha língua, me arrancando um gemido, antes de me penetrar.
Sinto-o se afundar dentro de mim e quebro o beijo, soltando um grito rouco de desejo,
enquanto observo Julian morder o lábio inferior e inspirar o ar profundamente.
— Me fala quando eu puder… — interrompo sua frase, acenando positivamente, e ele
agarra minha cintura começando a se movimentar.
No início ele entra e sai lentamente, enquanto me acostumo com seu pau me preenchendo
completamente. Mas não demora para ele aumentar o ritmo de suas estocadas, me fazendo
choramingar enquanto quase me leva a insanidade.
Nunca achei que Julian fizesse o tipo carinhoso na cama, e sempre imaginei como isso
devia ser bom. Mas ele se superou, é melhor. Seu pau entra e sai de mim em um ritmo
alucinante, enquanto suas mãos me tocam nos lugares certos. Seja apertando minha bunda,
puxando meu cabelo ou deslizando por meu peitoral e abdômen.
— Era isso que você queria? Meu pau enterrado nessa sua bunda gostosa — ele me
aperta com mais força e se move parecendo ir ainda mais fundo.
Resfolego arqueando as costas, e todos os músculos do meu corpo tremem enquanto sinto
meu pau pulsar entre nós dois. Levo minha mão até ele e me toco, sentindo um arrepio percorrer
meu corpo.
— Eu vou g-gozar — é o que consigo dizer enquanto subo e desço minha mão em meu
pau com mais força.
Vejo Julian arfar apertando mais meu quadril e não consigo me segurar quando ele parece
ir ainda mais fundo dentro de mim. Alcanço meu orgasmo, melando meus dedos, minha barriga e
a dele.
Julian abaixa a cabeça, mordendo meu ombro, e solta um gemido rouco enquanto
também atinge seu próprio ápice e se derrama dentro da camisinha. Ele sai de dentro de mim e se
joga no colchão ao meu lado.
Com a respiração ainda acelerada, deixo ele me puxar para mais perto e o olho com um
sorriso enorme dominando meu rosto.
— Isso foi melhor do que imaginei — afirmo e ele sorri.
— Acho que faltava eu te comer para terminar de ficar totalmente viciado e dependente
— afirma, puxando o ar com força.
— Como você é romântico, Julian — debocho e ele solta uma risada divertida.
— Às vezes eu me esforço — fala e eu reviro os olhos também rindo, encostando minha
testa na dele.
Ele abre os dele, focando nos meus, e eu me perco por alguns segundos em pensamentos
enquanto observo ele.
— O que você fez comigo? — indaga em um tom bem mais sério e mudando totalmente
o rumo da nossa conversa anterior.
— O mesmo que você fez comigo — brinco.
— Eu estava prestes a me fechar, quem mandou você chegar escancarando a porta?
— Eu já tinha perdido muitas chances, tive que agarrar essa oportunidade — deposito um
beijo em seus lábios. — Acho que sempre fui meio encantado por você.
— É mesmo? Que me contar sobre isso? — Um sorriso convencido surge em seus lábios.
— Acho que começou com uma admiração, você sempre foi superseguro e nunca se
escondeu, muitas vezes eu quis ter a mesma coragem e não ficar mentindo — confesso, sentindo
sua mão descer pelas minhas costas em um carinho tranquilo. — Depois eu fui te conhecendo
melhor e apenas aconteceu, naturalmente.
— Se eu não estivesse tão cego por alguém que não valia a pena — ele respira
profundamente. — Talvez eu tivesse percebido tudo que você me causa antes.
— Talvez se tivesse sido antes, não daria tão certo — declaro e ele sorri.
— É, acho que você tem razão — ele me abraça com mais força e fecha os olhos
novamente, enquanto continuo observando-o e pensando em tudo que aconteceu entre a gente em
tão pouco tempo.
— Marrento — chamo e ele volta a me encarar com um sorriso enorme tomando conta do
seu rosto.
— Eu gosto desse apelido — afirma. — Mas se contar isso para alguém eu vou negar até
a morte.
— Vai ser algo só nosso — prometo rindo.
— É uma boa ideia — sorri. — O que você ia falar?
Olho para ele, pensando em quais palavras usar, e ele espera claramente curioso.
— Gosto do que a gente está tendo, de verdade.
— Também gosto, muito — ele puxa meu rosto e volta a me beijar.
Enquanto me sinto bem pela noite terminar completamente diferente do que eu esperava.
Feliz por ele não ter decidido acabar de vez com o que estamos tendo. E principalmente bem por
ter a certeza de que o que está rolando entre a gente não vai mais ficar nesse limbo, sem
determinarmos o que realmente temos. Não vou deixar isso acontecer.
Dominic Davis

Aperto o volante com um pouco mais de força enquanto espero Julian. Convidei ele para
ir ao cinema e agora estou um pouco nervoso, porque é a primeira vez que vamos sair só nós
dois. Como um…
Casal? Acho que meio que somos um. Ou pelo menos é o que eu quero que a gente se
torne.
De qualquer forma, estou animado e ansioso na mesma medida para o nosso passeio.
Espero que seja divertido.
— Demorei? — Julian pergunta, entrando no carro e me dando um beijo antes de se
acomodar melhor no banco ao lado do meu.
— Não, cheguei faz pouco tempo — afirmo, passando meus olhos por ele, constatando
que ele está lindo demais.
— Você está gato pra cacete hoje — diz espontaneamente e eu fico totalmente sem
reação, o que o diverte.
— Até para elogiar você é cheio de marra — declaro e ele dá de ombros.
— Você já comprou os ingressos?
— Não, vou comprar quando chegarmos lá — respondo, começando a dirigir e ele acena
concordando.
O cinema não fica muito longe da casa dele e vamos o caminho todo conversando, como
sempre, não temos dificuldade alguma em ter assunto que pode durar por horas.
Quando chegamos, a fila para comprar os ingressos está um pouco grande, mas como
ainda faltam uns vinte minutos para a nossa sessão, temos tempo de esperar com calma.
— Eu pago os dois ingressos — afirmo quando está quase chegando nossa vez e ele pega
a carteira.
— Eu pago o meu.
— Não, eu que te convidei, eu pago.
— Se você comprar os ingressos, eu compro a pipoca e o refrigerante — insiste, me
fazendo semicerrar os olhos na direção dele.
— Ok, você paga a pipoca e o refrigerante — concordo, porque sei que ele não vai
desistir.
Julian parece satisfeito e guarda a carteira de volta no bolso. Depois estica a mão e segura
a minha, o que me deixa um pouco sem reação por alguns segundos.
Ele percebe que fiquei tenso e faz menção de afastar a mão da minha, mas eu seguro a
dele com mais força e o puxo para mais perto, ele me analisa sorrindo e eu retribuo o gesto,
mesmo com meu coração disparado dentro do peito.
Nunca namorei, nunca saí com ninguém, nem andei de mãos dadas ou beijei outra pessoa
na frente de um bando de desconhecidos. É estranho, mas não é ruim. Só ainda não sei se meu
nervosismo é apenas por isso ou por ser com o Julian.
De qualquer forma, eu gosto muito.
— Só relaxa, lindo — ele pede e eu sorrio, abraçando ele.
Compramos os ingressos, depois pegamos a fila da pipoca que é inacreditavelmente é
bem mais rápida e então seguimos para dentro da sala procurando nossos lugares para nos
acomodar nas nossas poltronas, que ficam na última fileira, no canto ao lado da escada, assim,
ninguém vai sentar ao nosso lado, já que a outra poltrona fica depois da escada.
Julian coloca o copo de refrigerante no local designado para ele e deixa o balde de pipoca
em seu colo, mas quando levo a mão para pegar um pouco, ele me impede.
— Deixa o filme começar, se não daqui a pouco não tem mais.
— Era só uma.
— Uma mão cheia, você quis dizer — implica e eu bufo.
— Chato.
— Já me chamaram de coisa pior — afirma e eu acabo rindo.
— Ainda faltam cinco minutos, o que vamos ficar fazendo se eu não posso comer a
pipoca?
— Você pode me beijar, pode ter certeza que não vou reclamar — dá de ombros e eu
arqueio a sobrancelha.
Julian coloca o balde de pipoca em cima da mesinha que tem na nossa frente e estica a
mão, apoiando na minha nuca e me puxando na sua direção.
Puxo ele mais para mim e retribuo o beijo com a mesma vontade, mas mantendo um
ritmo tranquilo, bem diferente dos outros beijos que trocamos até agora. É bom, muito bom.
Parece que sempre que nos beijamos fica melhor e me faz desejar ele ainda mais, porque nunca é
suficiente.
Quando o filme começa, ele se afasta um pouco, voltando a pegar o balde de pipoca. É
um filme de ação, então ficamos totalmente focados no que está acontecendo, mesmo que às
vezes eu desvie meu olhar até Julian, observando sem conseguir me segurar.
Venho pensando sobre algo que quero fazer desde a noite do Halloween, só espero que
hoje dê certo e saia tudo como estou planejando.

Quando o filme acabou, decidimos ir caminhando até uma lanchonete que tem perto do
cinema e agora estamos voltando para o carro. Estou nervoso e sei que Julian percebeu, mas
estou fingindo que não.
— Amei nossa noite — afirma e me viro para ele.
— Eu também — me estico dando um selinho em seus lábios e depois volto a focar
minha atenção ao nosso redor, pensando onde posso seguir com meu plano.
Pensei que a lanchonete seria um lugar legal, porém, quando chegamos lá, me pareceu
tão sem graça que desisti. Mas quero muito fazer isso, talvez para ele nem seja nada demais, mas
estou tão feliz com tudo que estamos vivendo que apenas quero viver cada fase.
— Vamos tomar sorvete? — pergunto de repente e ele franze o cenho, surpreso.
É compreensível, já que hoje não está sendo a noite mais quente dos últimos dias. No
entanto, eu nunca recuso sorvete e acho que vai ser um lugar legal.
— Vamos — concorda, e já puxo ele para dentro da loja atrás da gente.
— Que sabor você quer? — pergunto, cheio de expectativas.
— Estou um pouco cheio, pede um e a gente divide, pode ser? — propõe e eu concordo,
indo até o balcão enquanto ele caminha até uma das mesas.
Me junto a ele pouco tempo depois com uma taça de sorvete, que com certeza daria para
nós dois e mais umas duas pessoas, mas estou empolgado e ele parece perceber, porque não
comenta nada sobre isso. Apenas sorri e aceita a colher que entrego quando me sento do outro
lado da mesa, ficando na frente dele.
— Gostoso, não é? — questiona algum tempo depois e eu concordo. — Está tudo bem?
— pergunta e eu tento esboçar meu melhor sorriso, mas não sai muito convincente. — O que
está acontecendo?
— Queria te perguntar uma coisa, estou ensaiando tem uns dias, mas nunca parece ser o
momento certo — sou sincero.
— O que é? Pode falar — me olha de um jeito que me deixa mais calmo.
Inspiro o ar profundamente e seguro uma das mãos dele antes de enfim dizer o que tanto
planejei nos últimos dias
— Já deixamos bem claro que estamos gostando muito de tudo que está acontecendo.
Ficarmos um tempo meio separados quando você precisou foi horrível para mim, e além disso…
— esfrego uma mão na outra e ele acompanha o gesto com um olhar. — Nos últimos três dias
passamos mais tempo juntos do que passamos nos últimos quatro anos e foram momentos
incríveis. Por isso tomei uma decisão, que é algo que tenho certeza que quero faz um tempo, mas
gostaria de saber se você também quer.
— E o que é? — pergunta, mesmo já parecendo entender.
— Marrento, quer ser meu primeiro namorado? — pergunto e parece que imediatamente
fico ainda mais nervoso em colocar as palavras para fora.
Julian me analisa em silêncio e fica extremamente sério, o que me faz começar a pensar
se foi realmente uma boa ideia ter decidido fazer esse pedido. Talvez continuar apenas do jeito
que estávamos era uma ideia melhor.
— Não, Dominic, não quero ser seu primeiro namorado — meu sorriso some
completamente e eu fico sem reação por alguns segundos, enquanto sinto um aperto no peito.
Faço menção de me afastar, mas ele segura minha mão com mais força para me impedir.
Fixo meus olhos nos dele, vendo surgir um sorriso bem animado e isso me causa uma confusão
ainda maior. Afinal, que merda está acontecendo aqui?
— Quero ser o primeiro e o único, lindo — explica e sinto tanta raiva que tenho vontade
de bater nele.
— Porra, Julian — falo bravo. — Eu quero te esganar e te beijar ao mesmo tempo —
bufo e ele começa a rir.
— Prefiro a segunda opção — sussurra, me puxando na sua direção, mas a mesa no meio
de nós dois atrapalha um pouco. — Você está muito longe, vem para cá.
Ainda tentando não surtar com a gracinha dele, me levanto e vou para o seu lado. Julian
gruda a boca na minha, enquanto aperto seu braço com força, suprindo de uma vez só a vontade
que estou de bater nele e de o beijar.
— Não sei bem como aconteceu, mas sou totalmente rendido por você.
— Eu também sou totalmente rendido por você — afirma, voltando a me beijar, enquanto
esqueço a brincadeira que ele fez e deixo a felicidade que estou sentindo me dominar
completamente.
Julian Ollier

Vejo Dominic em pé em frente à academia mexendo no celular e me aproximo, dando um


beijo em seu pescoço, fazendo-o levar um susto e se virar para mim com os olhos um pouco
arregalados. Sorrio para ele tranquilamente e passo meu braço por sua cintura, deixando meu
corpo encostado no seu.
Namorando, eu e Dominic estamos namorando. Quem diria que os surtos por um beijo
nos levariam a isso, não é? Ok, acho que todo mundo diria e só eu estava tentando me enganar,
mas isso não importa mais, o que vale agora é que estamos juntos e muito felizes.
— Tudo bem? — pergunto quando percebo que ele continua parado como uma estátua
desde o momento em que o abracei.
— Tudo, só me acostumando ainda com… — ele faz uma pausa indicando as pessoas ao
redor.
— Entendi, só é natural e faço sem pensar.
— Não estou reclamando, eu gosto, pode me abraçar, me beijar e fazer o que mais quiser.
— O que mais quero a gente não pode fazer em público — roço minha barba em seu
pescoço e ele nega com um leve aceno. — Mas podemos ir lá para casa depois do treino e
resolver isso.
— Não sei se estou tão fácil assim hoje — brinca e eu arqueio a sobrancelha, analisando
ele.
— Só para você saber, eu estou fácil, fácil — afirmo e ele ri, se divertindo comigo antes
de mudar de assunto.
— Animado para lidar com David hoje de novo? — questiona, já que nosso colega, que
havia sido afastado, deve voltar agora.
— Não, preferia inclusive não lidar, mas como não temos essa opção, só espero que ele
fique quieto — afirmo.
— Eu também — concorda antes de desviar a atenção para o seu celular, que vibra,
deixando-o mais sério enquanto encara a tela do aparelho.
Abro a boca para perguntar qual foi a mensagem, mas Ian e James chegam e nós quatro
caminhamos juntos para o treino, deixando os meus questionamentos para depois.
Assim que entramos, encontramos todos os nossos colegas já prontos para aquecer. Nos
cumprimentamos rapidamente e caminhamos até o vestiário, onde guardamos nossas coisas e
voltamos, juntando-se a eles e esperando o treinador, que não demora a aparecer.
— Boa tarde — treinador Smith fala. — Hoje vamos fazer um treino mais leve e depois
quero mostrar alguns vídeos para vocês. Temos jogos em alguns dias e quero todo mundo
focado. Principalmente você, James, que anda sei lá em que mundo.
— Claro, treinador, vou ficar mais atento — James afirma e eu lanço um olhar rápido
para ele, que se mantém quieto.
— Certo, assim eu espero — ele declara e pigarreia antes de continuar. — Não sei se
perceberam, mas David não está aqui hoje — ele comenta e só então passo meu olhar pelo local,
dando falta dele. — Era para ele voltar do afastamento que dei, no próximo jogo, mas isso não
vai acontecer.
— Ele vai continuar suspenso? — Ian questiona e o treinador passa o olhar por todos nós
antes de falar.
— Infelizmente o colega de vocês realmente parece ter um sério problema com as
questões que já tratamos aqui e, mesmo com a suspensão dos jogos, ele se mostrava bastante
incomodado em continuar no time. Por esse motivo, conversei diretamente com a universidade e
foi decidido que ele seria afastado do time definitivamente para não termos mais problemas —
nos entreolhamos sem acreditar e ninguém comenta nada.
Na verdade, acho que ninguém sabe nem o que comentar. Realmente, não achei que
chegaríamos a esse ponto, e por um lado é ruim ele ter saído, porque assumo que era um bom
jogador. Mas, por outro, é um alívio, apesar de termos convivido com alguns jogadores babacas
na equipe, normalmente os problemas que causavam eram externos. Acho que além de David, só
me lembro de mais um que foi convidado a se retirar.
Me viro para Dominic e vejo que, assim como todos nós, ele está surpreso com a notícia,
mas também é perceptível ver que se sente aliviado. Afinal, era um saco ficar convivendo com
David e esperando comentários desnecessários a qualquer segundo.
— Agora que realmente colocamos um ponto final nessa situação. Nada de dispersar com
o assunto, foco no treino e nos jogos — o treinador pede e a gente apenas concorda.
Treinamos na primeira parte, focando nos pontos em que precisamos melhorar, e em
seguida fomos para a sala de vídeo, onde assistimos algumas coisas que o treinador havia
separado para nos mostrar.
Quando somos liberados, todo mundo se levanta e segue em direção ao vestiário. Estou
fazendo o mesmo caminho quando Dominic me chama e eu me viro para falar com ele.
Esperamos a sala ficar vazia e voltamos a nos sentar nos bancos disponíveis.
— O que foi? — questiono, já que ele parece ansioso e fico na dúvida se isso é por causa
das notícias que recebemos sobre David, apesar de achar que não, ou sobre a mensagem que ele
recebeu mais cedo.
— O que vai fazer hoje de noite? Tem algum compromisso? — ele esfrega uma mão na
outra e eu fico sem entender.
— Não, lindo, por quê? Repensou e decidiu que está fácil e eu posso te levar para o meu
apartamento, meu quarto, minha cama? — brinco, me esticando e dando um beijo em seus
lábios.
Estou impressionado comigo mesmo nos últimos dias. Acho que nunca fiquei tão bobo,
ou melhor, nunca ficou tão escancarado o quanto sou apaixonado por alguém como fica em
relação ao que sinto por Dom. Simplesmente não consigo disfarçar.
— Talvez eu deixe. — Ele entra na brincadeira e relaxa um pouco. — Mas não era isso,
quero te pedir uma coisa.
— Pode falar, esse mistério está me deixando preocupado.
— Combinei de ir jantar na casa dos meus pais hoje, desde o fim das férias nunca mais os
visitei e eles estão preocupados, prestes a me levar pelo cabelo — explica. — Nesse jantar, quero
aproveitar e contar para eles sobre mim, porque não tem sentido eu continuar escondendo isso
deles, quando ando me sentindo tão bem e feliz.
— Isso é ótimo — fico realmente empolgado por ele ter decidido falar.
— Wendy até se ofereceu para ir comigo, mas eu queria mesmo é que você fosse.
— Sério? — me surpreendo, porque não achei que ele já iria querer me apresentar aos
pais tão rápido.
Não que seja ruim. Até porque tenho certeza do que sinto por ele e de que o que temos
vai durar.
— Se não quiser ir, por termos começado a namorar há poucos dias, eu entendo. Mas
sendo sincero, sim, queria que você fosse. Quero muito apresentar você para eles — seu olhar
esquadrinha meu rosto ansioso por uma resposta. ]
— É claro que eu vou. Vai ser um prazer conhecer sua mãe e rever seu pai — puxo seu
rosto para mim e beijo ele.
— Muito obrigado.
— Você não tem que agradecer — digo e ele entrelaça a mão na minha. — Tenho certeza
que vai ser tudo bem com seus pais, pelo que já me falou deles, os dois parecem muito
tranquilos.
— Eles são, só estou um pouco ansioso, mas acho que vai dar tudo certo — concorda,
expirando o ar com calma.
— Vai sim — dou mais um beijo nele e o puxo para se levantar. — Você me busca lá em
casa?
— Sim, vou confirmar o horário com eles e te aviso — declara e eu concordo, enquanto
seguimos para o vestiário.
Dominic Davis

Encaro a sala da casa dos meus pais batucando os dedos na perna. A moça que trabalha
aqui abriu a porta para mim e Julian, e avisou que meus pais já estavam descendo. Acho que faz
uns dez minutos que estamos esperando, mas para mim parece bem mais.
Tenho total certeza da decisão que tomei e, apesar de ter surtado um pouco alguns meses
atrás quando me assumi para todos os meus amigos, hoje sei que foi a melhor decisão. Me sinto
muito feliz de enfim ser quem eu sou, sem precisar me esconder. Além, claro, de tudo que
aconteceu entre mim e Julian, essa parte só deixou tudo ainda melhor.
No entanto, ainda estou ansioso pela reação dos meus pais. Sou filho único e sempre fui
muito apegado aos dois. Mesmo com a rotina louca que eles sempre tiveram no hospital, os dois
nunca deixaram de organizar a vida para termos tempo juntos. Então quero muito que reajam
bem.
— Como foi quando você contou para sua mãe? — questiono de repente e Julian ri.
— Eu nunca contei — afirma e eu fico perdido. — Foi minha mãe que me contou —
explica. — Eu tinha uns quinze para dezesseis anos, já tinha saído com várias garotas e já havia
percebido que alguns garotos me chamavam atenção, mas não achei que era algo a mais. Por
isso, só ignorei o fato.
— E sua mãe percebeu?
— Sim, eu tinha um amigo na época que a gente se dava muito bem e vivíamos juntos, eu
falava dele o tempo inteiro — conta. — Poderia não ser nada demais, mas alguns comentários
deixavam claro que era, só eu que continuava ignorando — ele ri. — Aí um dia ela me perguntou
se eu gostava dele, no primeiro momento fiquei pensando que era óbvio que sim, porque ele era
meu amigo. Mas aí ela reformulou a pergunta e perguntou se eu tinha vontade de beijar ele. Foi
assim que parei para analisar a situação e percebi que novamente a resposta era sim.
— E como ela reagiu?
— Lembro que fiquei preocupado, acho que é a primeira reação em uma situação dessas,
mas ela apenas disse que não precisava disso e conversou comigo tranquilamente.
— Deve ter sido engraçado sua mãe te assumindo para você — ele ri e eu acompanho.
— Na época foi estranho, mas agora nos arranca boas risadas — confessa.
Sorrio para ele, achando a história bem diferente, e no mesmo segundo volto a ficar sério
quando escuto passos. Me viro, vendo minha mãe e meu pai descendo a escada.
Julian aperta minha mão antes de nos levantarmos e ele se afastar um pouco.
Cumprimentamos meus pais, que parecem super animados, e depois voltamos a nos sentar.
— Eu não sabia que você iria trazer um amigo — Minha mãe comenta.
— Vocês jogam juntos, não é? — meu pai fala antes que eu possa responder ela.
Ele e Julian haviam se conhecido em um dos jogos que meu pai foi assistir.
— Sim, Julian é meu colega de time — concordo. — E desculpa, mãe, esqueci de avisar.
— Não tem problema, só fiquei surpresa, você quase nunca traz ninguém aqui —
relembra e eu forço um sorriso, esfregando minhas mãos.
Sinto Julian tocar minhas costas discretamente e inspiro o ar, mantendo a calma. Pensei
em várias maneiras de dizer, mas decidi que a melhor era falar tudo de uma vez, sem ficar
criando historinhas para amenizar a verdade.
— Preciso contar uma coisa para vocês — digo, não querendo enrolar, e os dois me
olham atentamente.
— É por isso que estava fugindo dos nossos convites? — Minha mãe é esperta, como
sempre.
— Sim, é uma explicação para isso também.
— Então diga logo, que estou curiosa — ela pede, eu lanço um olhar rápido para o meu
namorado antes de voltar a olhar para os meus pais.
— Julian não é só meu colega de time.
— Não? — Meu pai pergunta, parecendo confuso, e vejo que minha mãe arqueia a
sobrancelha, ainda mais curiosa.
— Não, ele também é meu namorado — solto de uma vez, observando um sorriso
enorme se formar no rosto da minha mãe enquanto meu pai reveza o olhar entre eu e meu
namorado.
— Até que enfim — minha mãe fala e eu arregalo os olhos, porque não esperava essa
reação. Julian solta uma risada baixa ao meu lado.
— A senhora não ficou…
— A única coisa que fiquei foi é feliz — afirma. — Eu já imaginava, só queria que você
contasse no seu tempo.
Isso acalenta quase que cem por cento meu coração acelerado no peito, mas me viro para
o meu pai. Ele continua encarando nós dois, parecendo ainda assimilar o que acabei de falar. E é
isso que me preocupa mais.
— E o senhor? — Me viro para ele, que me olha com atenção.
— Você está feliz? — aceno concordando. — Julian te faz bem? — aceno concordando
novamente, sem conseguir formular uma frase boa. — Para mim é o que importa, se você está
feliz, eu também estou.
Sorrio, me sentindo realmente aliviado por ter contado tudo para eles e fico ainda melhor
quando os dois vêm me abraçar, em seguida abraçando Julian também.
— Você é muito bem-vindo aqui sempre que quiser aparecer — Meu pai diz para o meu
namorado.
— Se é importante para Dominic, é importante para a gente também — minha mãe
completa.
— Muito obrigado, é ótimo estar aqui com vocês — afirma meio tímido.
Quem diria que algo consegue deixá-lo sem jeito de verdade, não é?
— E você, meu filho, não precisava ter fugido da gente por isso — minha mãe passa a
mão pelo meu rosto, e eu sorrio sem graça.
Agora sei que não, mas antes, silenciar minha mente e acreditar nisso parecia impossível.
— Nós te amamos e te respeitamos, do jeito que você é — meu pai completa e eu abraço
os dois, realmente muito feliz por ter pais tão incríveis.
— Agora vamos jantar, a comida já deve estar esfriando — mamãe pede quando nos
afastamos e nos guia para a sala de jantar. — Eu já estava começando a ficar preocupada —
franzo o cenho sem entender, enquanto nos acomodamos ao redor da mesa. — Você tem vinte e
dois anos e nunca apresentou um namorado para a gente. Estava começando a achar que não
tinha mais solução.
— É impressão minha ou ela estava me achando um encalhado? — olho para Julian, que
ri junto com meu pai.
O jantar segue tranquilamente, saboreamos a comida deliciosa que minha mãe preparou
enquanto conversamos e rimos ainda de mais algumas brincadeiras que ela solta.
Quando finalizamos a sobremesa, ficamos mais um pouco com os dois, mas logo em
seguida nos despedimos e seguimos para o meu carro para irmos embora.
— O que vamos fazer? — Julian pergunta quando paro em frente ao parque.
— Só quero dar uma volta — explico.
Seguro sua mão e o puxo em direção a pista de caminhada, sentindo o vento frio do
inverno, que está cada vez mais perto. Julian me observa e eu olho para ele com um sorriso que
está dominando meu rosto desde a hora que o apresentei de verdade para os meus pais.
— Como está se sentindo?
— Muito feliz — sou sincero e ele me puxa na sua direção, me fazendo ficar de frente
para ele.
— Também estou muito feliz — ele me dá um selinho. — Por você, por nós dois e por
tudo que vamos viver.
— Cinco dias é pouco tempo para começarmos a fazer planos juntos?
— Eu acho que não, mas se for também, quem liga?
— Eu com certeza não — declaro.
— Eu também não — afirma me abraçando com mais força e focando os olhos nos meus.
— Amo você.
Encaro ele de volta, absorvendo as palavras, e só não aumento o sorriso porque acho que
isso é impossível. Mas essas duas palavrinhas só fazem minha noite, minha semana, meu mês,
meu ano, ficarem ainda melhor.
— Eu também amo você — beijo ele, me sentindo completo.
Isso com toda certeza não é o fim da nossa história, é só o fim de uma parte dela. Porque
eu sei que vamos viver muitas coisas incríveis ainda, e realizar muitos desejos juntos.
Julian Ollier

Alguns anos depois


Encosto na porta do quarto, que até algumas semanas atrás servia como escritório, mas
agora está todo decorado com o tema de super-heróis. Ainda parece loucura para mim pensar que
sou pai, mesmo que já tenha alguns meses que isso aconteceu.
A paternidade nunca foi um grande sonho, mas também nunca foi algo que eu descartava
completamente. Eu apenas tratava o assunto como algo que aconteceria no momento certo, e se
por algum motivo não acontecesse, por mim estaria tudo bem também.
Depois da faculdade, eu e Dominic vivemos um relacionamento tranquilo. Tivemos que
nos adaptar a uma nova rotina onde ele ficou em Madison durante uns dois meses e eu me mudei
por causa do time no qual fui jogar. Apesar de um pouco de distância, as coisas fluíram bem e
pouco depois ele foi morar comigo e continuar a segunda etapa do curso de medicina na mesma
cidade onde eu estava.
Curtimos muito a fase namoro e eu o pedi em casamento uns dois anos depois que nos
formamos, achei que era o mais justo, já que ele havia feito o primeiro pedido e eu quase havia
matado ele do coração quando brinquei com a situação. Acho que até hoje ele guarda esse
momento para jogar na minha cara se precisar um dia.
Casamos pouco tempo depois, em uma cerimônia simples e só para as pessoas mais
próximas. Viajamos em lua de mel e muitas outras vezes depois dessa data, bastava aparecer
uma oportunidade.
A vida de casal estava indo bem, até que há um ano mais ou menos Dominic
compartilhou a vontade que estava sentindo de aumentarmos a família. No primeiro momento
fiquei em dúvida, afinal, criar uma criança requer muitas coisas e eu fui pego de surpresa. Mas,
após conversarmos bastante, acabei concordando que era uma excelente ideia.
Pesquisamos todas as alternativas que tínhamos, mas depois de conversarmos com um
casal de amigos, optamos pela adoção. Organizamos tudo que era necessário, e há cinco meses
Ryan chegou. Por termos optado pelo que eles chamam de adoção tardia, o que engloba crianças
e adolescentes, o processo foi mais rápido do que esperávamos.
Nosso filho tem atualmente 10 anos e é uma criança muito empolgada com tudo que
acontece ao seu redor. Seja com uma brincadeira que a gente invente no dia a dia ou com uma
viagem de férias onde ele vai conhecer todos os tios, tias e primos.
— Estou pronto — Ryan se vira para mim, puxando a mala que acabou de arrumar de
cima da cama.
As férias de verão chegaram e nós três estamos indo passar alguns dias com os meus
amigos da época da faculdade. Nosso grupo, apesar de ter seguido cada um o seu caminho,
nunca perdeu o contato. Infelizmente, eu e Dominic os vemos com menos frequência agora, mas
sempre que surge uma oportunidade damos um jeito de nos encontrar.
E claro, quando nos convidaram para passar as férias juntos, porque eles estão todos
animados para conhecer o Ryan, concordamos na hora. Mas como pais de primeira viagem,
fizemos uma escolha um pouco precipitada, porque assim que aceitamos o convite, contamos
sobre a viagem para o nosso filho, que está há exatos dois meses surtando e fazendo uma
contagem regressiva por esse momento.
— Eu levo isso, vai ver se seu pai, Dom, terminou os lanches para irmos — peço e ele
concorda, praticamente correndo para fora do quarto enquanto pego a mala dele e vou até meu
próprio quarto buscar a minha e a de Dominic.
Assim que chego na cozinha, os dois estão terminando de guardar a última vasilha. Nossa
viagem vai ser um pouco longa, já que decidimos ir de carro, por isso resolvemos separar alguns
lanches e jogos. Com a intenção de não precisarmos fazer tantas paradas na estrada, e também
com fé que vamos conseguir entreter um pequeno rapaz no caminho.
Por Ryan já ter dez anos, imagino que vai ser mais tranquilo viajar tanto tempo, ainda
assim, ele é uma criança e se eu fico entediado depois de tantas horas preso dentro do carro,
imagino que ele também vai ficar e em um tempo bem menor.
— Prontos para nossa primeira viagem em família? — Dominic pergunta, empolgado.
— Sim, estou doido para brincar com todas as crianças que vocês falaram que vão estar
lá — Ryan afirma enquanto caminhamos para fora do apartamento. — Quantos dias vamos ficar
mesmo?
— Ainda não sabemos, mas você vai aproveitar bastante, pode ter certeza — afirmo,
segurando a risada, porque ele já havia feito essa pergunta no mínimo cinco vezes de ontem para
hoje.
Entramos no elevador, Dom aperta o botão da garagem e assim que chegamos ao andar,
seguimos até nosso carro. Guardamos todas as malas e sacolas, acho que nunca viajei com tanta
coisa na minha vida. Quando termino de organizar tudo e me viro para ir em direção ao banco do
passageiro, sinto Ryan segurar minha mão.
— O que foi? — questiono ao ver que ele também está segurando a mão de Dominic.
— Só queria dizer que amo vocês e amo ter vocês como meus pais — explica.
Um sorriso se forma em meu rosto e vejo Dom piscar os olhos algumas vezes surpreso.
Ryan se adaptou até que rápido à nossa família, chegou meio tímido, mas poucos dias depois já
estava super à vontade com nós dois e com a casa. Ainda assim, demorou uns dois meses até
chamar a gente de pai, o que foi tudo bem para mim e Dominic, porque, apesar de ser bem legal
de ouvir, é apenas uma palavra e se ele preferisse não usar a gente entenderia.
Agora, “amo você”, ele nunca havia dito. Agradecia por tudo no começo, desde o quarto
até um pequeno passeio que fazíamos. Depois passou a dizer que gostava de morar com a gente,
que era divertido ser nosso filho, e com o tempo se mostrou mais aberto a compartilhar as coisas,
a abraçar nós dois e coisas do tipo. Mas, apesar de eu e Dom já termos falado o quanto o amamos
várias vezes, ele parecia não estar pronto e a gente estava respeitando o processo dele. Tanto que,
sinceramente, eu não estava esperando escutar agora, achei que demoraria mais um tempo, e pela
cara do meu marido, ele também achou.
— Nós também te amamos — Dom afirma se abaixando na frente dele e eu imito o gesto,
retribuindo o abraço quando meu filho puxa nós dois.
— Nunca contei para vocês, mas me falaram uma vez que quanto mais velho eu ficava,
menos chances eu tinha de ser adotado — conta. — Quando fiz dez anos, achei que minhas
oportunidades já estavam ficando pequenas, por isso fiquei tão feliz quando me avisaram que
minha vez havia chegado.
— Ficamos muito felizes que você ainda estava lá, esperando pela gente — pisco para
ele, que sorri.
— Nunca contamos para você também, mas o pai Julian sabia que você era nosso filho
desde a primeira vez que colocou os olhos em você — Dom comenta e Ryan me olha com os
olhos brilhando.
— Sério?
— Sim, achei que seria um processo muito longo, mas assim que coloquei meus olhos em
você brincando de pular de um banco para o outro eu soube que você era nosso filho —
confesso. — Acho que nossa vida estava muito tranquila e precisava de um pouco de bagunça —
aperto sua cintura e ele solta uma risada divertida.
— Quando me perguntaram o que eu achava de vocês, eu disse que seria a coisa mais
legal do mundo ter dois pais, e eu não estava errado.
Olho para Dominic, que parece muito feliz, e volto a encarar nosso filho, me sentindo
igual.
— Que bom que nos encontramos, não é? — Dou um beijo na bochecha dele, tentando
ignorar as lágrimas que se formam em meus olhos.
— Sim e agora vou ter uma família enorme, quantos tios e tias vocês disseram que vou
conhecer mesmo? — ele pergunta e a gente ri.
Dom responde ele, enquanto nos levantamos e entramos no carro. Ryan ainda pergunta
mais diversas coisas sobre todo mundo que vai conhecer, mas depois de um tempo acaba
pegando no sono, já que ainda é muito cedo.
— Acho que enfim arrumei alguém que consegue destruir toda essa sua marra — Dom
implica, pegando um chocolate e me dando um pedaço após parar o carro no pequeno
engarrafamento que se formou na estrada.
— Você já não tinha feito isso? — assumo e ele me lança um olhar convencido.
— Um pouquinho, mas não como ele faz.
— Ele é muito especial — sou sincero.
— Com certeza, sorte a nossa ter ele como filho — afirma e eu concordo, porque é
verdade. — Amo você, obrigado por ter topado viver isso comigo.
— Também amo você, obrigado por ter tido a melhor ideia de todas — me estico e dou
um beijo nele, feliz por estar vivendo tudo que sempre desejei, mesmo não sabendo disso antes.
Escrever esse conto foi uma experiência muito interessante. No início confesso que fiquei
com medo de não conseguir, mas depois que entrei no mundinho desses dois a escrita fluiu muito
fácil e eu me diverti bastante contando cada detalhe do amor deles.
Como sempre os primeiros que agradeço por aqui são os personagens, sem eles gritando
na minha cabeça e confiando em mim, nenhuma desses livros que estou tendo o prazer de
escrever, existiriam. Por isso deixo meu muito obrigada para Julian e Dominic por confiarem em
mim e me deixarem apaixonada por eles e pela forma que se completam.
Em seguida quero agradecer a cada leitora que pediu pelo livro deles, vocês tinham toda
razão, Julian merecia uma história e Dominic que foi aparecendo aos pouquinhos durante os
livros, também. Eles são lindos juntos e eu espero que vocês tenham gostado e aproveitado esse
pequeno presentinho.
Deixo também um muito obrigada as minhas betas, Mari que está comigo me ajudando e
aguentando meus surtos desde o primeiro livro e a Lari, que entrou agora, mas que foi incrível e
me ajudou bastante. Elas com certeza são as fãs número 01, sim elas dividem a colocação, desse
casal e fico grata por terem me incentivado tanto a criar esse conto.
Agradeço também a Baby que me ajudou com alguns posts para o lançamento e a Isa que
sempre me dá dicas incríveis e faz uma leitura sensível maravilhosa para o livro chegar incrível
para vocês.
E por último, mas com muito amor no coração, dedico meu muito obrigada a cada leitor
que continua acompanhando meu mundinho literário e aos que chegaram por agora também.
Vocês são muito importantes para mim e obrigada por me permitirem viver esse sonho.
Beijos para todos vocês e nos vemos no livro da April. Eu sei que você está ansioso por
isso.

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