Segundo Jung, arquétipos são padrões básicos de organização psíquica, sem
conteúdo a priori, presentes desde o nascimento, que mediam a experiência psíquica em torno de temas fundamentais da vida humana e são preenchidos por conteúdos advindos da vivência pessoal. Jung em “O Desenvolvimento da Personalidade” (1981) aborda o desenvolvimento da consciência durante a infância. Ele afirma que ao nascer não há consciência, mas apenas fragmentos de consciência amalgamada com a psique materna. É somente entre os três e os cinco anos de vida que a criança toma consciência do próprio “eu” e pode-se dizer que, a partir de então, surge à psique individual. Nesse estado (estado infantil germinal) estão escondidas não só os indícios da vida adulta, como também toda a herança que nos vem da série dos ancestrais e, são de extensão ilimitada.” (§ 97) Jung (1984) refere: “Nesse estado (estado infantil germinal) estão escondidas não só os indícios da vida adulta, como também toda a herança oriundos dos ancestrais e, são de extensão ilimitada.” (§ 97) Desta forma, a psique infantil, apesar de ser única e individual, está entrelaçada ao inconsciente parental. Assim, só será possível obter as primeiras imagens oníricas da criança com o advento da linguagem e da habilidade de representação a partir do desenvolvimento da função simbólica. As imagens obtidas por meio do relato e da representação gráfica serão ilustrações. A partir desse tempo, a psique apresenta um intenso fervilhar de aquisições, adaptações, ampliações e construções. Estando na base do desenvolvimento, esses conteúdos por sua vez indicam o funcionamento de padrões básicos de organização mental, arquetípicos, que aos poucos são recheados de conteúdos advindos da relação do sujeito com seu mundo circundante, com suas experiências primordiais. Estando na base do desenvolvimento, esses conteúdos, por sua vez indicam o funcionamento de padrões básicos de organização mental, arquetípicos, que aos poucos são recheados de conteúdos advindos da relação do sujeito com seu mundo circundante, com suas experiências primordiais. Jung em seus seminários sobre os sonhos infantis ressalta aspectos particulares dos sonhos em crianças, compreendendo, que “estes primeiros sonhos provêm da totalidade da personalidade e revelam diversos aspectos seus que não encontraremos mais adiante, quando a vida nos força a fazer diferenciações unilaterais” (JUNG, 2011, p. 29). Para Jung e outros autores, relacionamentos saudáveis com os pais e com o ambiente nestes primeiros anos, são fundamentais para a manifestação de uma personalidade com características de autoconfiança e capacidade de realização do seu potencial. A tarefa da criança é realizar a transição da inconsciência, da coletividade, da indiferenciação, do aconchego na família e do vínculo estreito com a mãe característicos da primeira infância, para um estágio no qual se inicia a conscientização, a diferenciação, objetividade, a saída para o mundo e a separação da família (JUNG, 2011, pg. 433) Assim, os arquétipos evidenciados no desenvolvimento infantil têm por finalidade organizar a dinâmica psicológica da criança, auxiliando-a na sua trajetória de desenvolvimento. Todos os temas são importantes, por exemplo: o arquétipo materno está ao apego, cuidado e regulação das necessidades psíquicas e fisiológicas; já o arquétipo paterno vigora como princípio da lei, da diferenciação e da cultura, o arquétipo fraterno organiza as experiências de dividir, negociar, de ampliar a relação com os iguais e empatizar com eles. Como fator primordial que impulsiona o desenvolvimento do ego e a ampliação da consciência, o arquétipo do herói na infância pode ser considerado, simbolicamente, uma representação de uma força motriz agindo para auxiliar o ego infantil na adaptação ao mundo externo, na organização do mundo interno e no fortalecimento de sua individualidade. Este é o arquétipo que organiza a necessidade de exploração, de afirmação e até de reagir, aversivamente. Desta forma, explorar a imagem simbólica, que advém de forma inconsciente, assume maior importância. Observar, registrar e integrar as produções artísticas e intuitivas infantis pode fornecer possibilidades de observar o desenvolvimento da personalidade e a odisseia egóica para sua estabilização no mundo. As primeiras manifestações de autonomia infantil, nas várias áreas do comportamento, demarcam o modo pelo qual o desenvolvimento do ego é observável, externamente. A constituição da autonomia psicológica da criança pode ser observável, simbolicamente, no nascimento do herói, indicando o modo pelo qual, o ego infantil integrará as vivências do mundo interno e externo, administrando as transformações próprias do amadurecimento, sucedendo etapas e interagindo com outros elementos da psique. Por que a psicoterapia com crianças? A criança nasce com todo o seu conteúdo inconsciente, advindo do inconsciente coletivo, não acessível pelo ego, uma vez que o ego, sequer ainda foi formado. Em assim sendo, tudo que chega ao recém-nascido, chegará, inicialmente, pelas vias do corpo, como experiências sensoriais, mas, também pela experiência psicológica, emocional, mas pelo padrão do inconsciente, que é o que vige. Assim, como esse tecido é por demais delicado, sensível e impressionável, esta vivência é da ordem do mais intenso, do mais energético e do mais marcante. Desta forma, como toda a experiência familiar é altamente conflituosa, maior parte das vezes, a psique infantil pode já apresentar marcas traumáticas, nos primeiros momentos após o nascimento, sem que haja o recurso da palavra, do gestual adequado e, principalmente, do ego com os seus mecanismos de defesa. Desta forma a criança é um ser altamente indefeso.
Os principais mecanismos de defesa são: repressão, negação,
racionalização, formação reativa, isolamento, projeção e regressão. A repressão consiste em afastar da consciência eventos e ideias provocadores de ansiedade. Algumas doenças psicossomáticas podem estar relacionadas com a repressão.
A negação refere-se aos fatos da realidade que são rejeitados e substituídos
por uma fantasia ou ação. A racionalização é o processo pelo qual o indivíduo apresenta uma justificativa racional, desprovida de conteúdos emocionais, para uma ação inaceitável. A formação reativa consiste em uma atitude ambivalente. Por exemplo, o ódio torna-se inconsciente, e assim permanece enquanto reacende o amor. Assim o ódio é substituído pelo amor, à crueldade pela gentileza, a obstinação pela submissão etc. O isolamento é o mecanismo de defesa muito raro. Trata-se de um processo inconsciente pelo qual um pensamento é isolado de outros que o precederam. A projeção trata-se de um mecanismo de defesa no qual o indivíduo atribui a outros seus próprios desejos e impulso, dos quais, por lhes serem inaceitáveis, procuram inconscientemente se livrar. A tendência é que o indivíduo repudie impulsos ou comportamentos indesejáveis, atribuindo a outros. A regressão é, sem dúvida, o mecanismo de defesa mais amplo. Refere-se ao retorno a um nível de desenvolvimento anterior. Segundo Roudinesco e Plon (1998), o mecanismo de defesa passa adquirir forma de conversão na neurose histérica, a de substituição na neurose obsessiva e, por fim, a de projeção na paranoia. Sob esses aspectos ligados à entidade patológica, a defesa visa a um mesmo objetivo: “separar, quando essa operação não mais pode efetuar-se diretamente por meio da ab-reação, a representação perturbadora do afeto que lhe esteve originalmente ligado” (ROUDINESCO; PLON, 1998, p.141). Ab-reação: descarga emocional pela qual um indivíduo se liberta do afeto que acompanha a recordação de um acontecimento traumático. Pode ser provocada, por exemplo, por hipnose, ou ocorrer de forma espontânea no decorrer do processo psicoterápico. Bibliografia:
JUNG CG. O desenvolvimento da personalidade. In.: Obras Completas de
C. G. Jung. Vol. XVII. Petrópolis: Editora Vozes; 1981.
_______. Os Arquétipos do Inconsciente Coletivo. In.: Obras Completas de
C. G. Jung. Vol. IX/1. Petrópolis: Editora Vozes; 1981.
_______. Tipos Psicológicos. In.: Obras Completas de C. G. Jung. Vol. VI.
Petrópolis: Editora Vozes; 1981.
_______. A Energia Psíquica. In.: Obras Completas de C. G. Jung. Vol.
VIII/1. Petrópolis: Editora Vozes; 1981.
ROUDINESCO E.; PLON M. Dicionário de Psicanálise. Tradução: Vera