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Autores da história da Psicologia

Wilhelm Wundt

A psicologia nasceu há pouco mais de um século. Antes de se constituir como ciência autónoma, as questões
da consciência, das emoções ou do pensamento pertenciam à esfera da filosofia. Wundt, ao instalar o primeiro
laboratório de psicologia na Alemanha, dedicando-se à análise da consciência, rompeu com a tutela da filosofia.
Propôs-se analisar a consciência [objeto] através da introspeção [método], defendendo a possibilidade de
compreendermos a consciência. Acreditava que o método introspetivo permitiria estudar cientificamente o
pensamento, a memória, a aprendizagem e a linguagem. Inspirado na tabela periódica dos elementos, defendia
que a mente era composta pela combinação de elementos básicos e que seria possível decompô-los. Uma vez que
não é possível aceder diretamente aos processos mentais alheios, pois são fenómenos internos de cada indivíduo,
o método introspetivo consistia numa abordagem em que os participantes descreviam as suas experiências
conscientes, procedendo-se a um rigoroso registo de toda a informação. (…) Dado que o método introspetivo lida
com relatos e não com dados objetivos observáveis, Wundt foi bastante criticado e o seu método foi abandonado
passadas algumas décadas. Apesar de tudo, Wundt é reconhecido como “pai” da psicologia, pois afastou-a da
filosofia e criou o primeiro laboratório onde se formou a primeira geração de psicólogos.

John Watson

Watson defendeu que apenas os métodos objetivos deviam ser considerados em psicologia. Acreditava que
o estudo dos processos mentais deveria ser abandonado e que a psicologia apenas se deveria dedicar à análise do
comportamento observável (objeto). Por esta razão, Watson é reconhecido como fundador do behaviorismo ou
comportamentalismo. Para Watson, o comportamento humano seria o produto de estímulos e respostas, tal como
ocorre num ato reflexo. Na sua perspetiva, o comportamento é o conjunto de reações adaptativas objetivamente
observáveis que o organismo executa em resposta a estímulos também observáveis.
Watson recusou a introspeção como método, contrapondo a análise experimental do comportamento
observável. Neste sentido, os estímulos do meio são considerados determinantes para o comportamento. Watson
valorizava assim a continuidade das aprendizagens, a importância do meio e a dimensão externa do ser humano.
Apesar de constituir um marco importante na história da psicologia, o behaviorismo de Watson sofreu
duras críticas, dado que valorizava unicamente o papel do meio e das experiências passadas para a análise do
comportamento humano. Esta teoria não deixava espaço para o livre-arbítrio, dada a sua filiação no determinismo.

Sigmund Freud

Freud concluiu a sua formação em medicina e interessou-se pelas áreas da neurociência e da psiquiatria.
Intrigado com o funcionamento do cérebro, começou a observar pacientes que apresentavam sintomas físicos
diversos que não tinham explicação fisiológica. Se os sintomas não tinham origem no consciente, então poderiam
estar a ser produzidos no inconsciente. Ao estudar o tratamento da histeria através da hipnose, desenvolveu o seu
próprio método [e teoria do psiquismo], a psicanálise.
Freud defendia [na 1ª tópica] que a mente humana era como um icebergue. A parte visível do icebergue,
a mais pequena, correspondia à consciência, enquanto a parte submersa, a maior, representava o inconsciente.
Mais tarde, Freud reformulou a teoria [2ª tópica] e propôs o Id, o Ego e o Superego como estrutura do psiquismo.
O Id é composto pela parte mais primitiva e menos acessível. É nesta região que estão os instintos sexuais e os
instintos agressivos. As pulsões do Id requerem satisfação imediata, procurando reduzir a tensão através do prazer,
sem análise prévia da realidade. O Ego é um mediador e um facilitador da interação entre o Id e o mundo exterior,
representando a razão e a racionalidade, ao contrário da paixão e da irracionalidade do Id. O Ego obedece ao
princípio da realidade e manipula-a de forma a satisfazer as necessidades de prazer do Id, refreando-o e evitando
que as ações do individuo o ponham em choque com a realidade e com os outros. Por fim, o Superego é formado
pela educação a que se está sujeito desde a infância e representa a moralidade. O Superego está, assim, em conflito
com o Id.
Segundo Freud, existem duas pulsões inatas, eros (pulsão de vida) e thanatos (pulsão de morte). A primeira
visa a autopreservação do indivíduo, a segunda está ligada ao comportamento agressivo.
Para Freud, a maioria dos problemas psíquicos têm origem em conflitos mal resolvidos no processo de
desenvolvimento psicossexual. A sua teoria do desenvolvimento psicossexual identifica cinco estádios: oral (do
nascimento aos 12-18 meses), anal (dos 12-18 meses aos 3 anos), fálico (dos 3 aos 6 anos), latência (dos 6 anos à
puberdade) e genital (da puberdade à idade adulta). [ver caraterização dos estádios no manual].
Freud propõe o método psicanalítico como forma de trazer ao consciente as causas dos conflitos
inconscientes que se manifestam em transtornos psicológicos. Um dos procedimentos adotados é o da associação
livre. Neste procedimento, o paciente é convidado a exprimir-se livremente, tendo como ponto de partida uma
palavra ou imagem. Outro dos procedimentos utilizados consiste na análise de atos falhados (lapsos de memória,
de linguagem, de leitura ou de escrita).
Também Freud foi duramente criticado, em virtude do caráter inovador e arrojado das suas teorias. O rigor
do seu método foi constantemente posto em causa, dada a dificuldade em avaliar os seus resultados.

Carl Rogers
Cansados da visão redutora dos seus antecedentes (centrada no comportamento ou no inconsciente), os
psicólogos humanistas optaram por uma abordagem diferente do comportamento e dos processos mentais, pois,
diziam, uma visão da psicologia centrada no determinismo da relação estímulo-resposta ou nas patologias da mente
descurava os aspetos positivos da existência humana.
Rogers propôs uma intervenção psicológica centrada no cliente, enquanto ser ativamente responsável e
consciente, capaz de promover a melhoria dos seus estados psicológicos. Segundo Rogers, na prática clínica, os
psicólogos deviam orientar a consulta facilitando a transformação dos processos negativos em comportamentos e
pensamentos desejáveis, com base em evidências. Identificou um conjunto de processos-chave que conduziam os
seus clientes à promoção de mudanças construtivas na sua vida. Um deles é a empatia, pois abre a possibilidade
de o cliente sentir o terapeuta como genuinamente empenhado no seu caso, criando um ambiente de confiança.
Resgatou a consciência como objeto de estudo da psicologia, fazendo-o, no entanto, numa perspetiva diferente da
de Wundt, pois o seu objetivo não era decompô-la, mas colocar o seu potencial ao serviço da autorrealização da
pessoa com auxílio do livre-arbítrio.

Jean Piaget
Piaget centrou a sua investigação nos processos cognitivos, em particular os relativos à inteligência.
Defendia que o ser humano se constrói na interação do seu património genético com o meio envolvente. A
construção do conhecimento resulta da adaptação aos desafios do meio e implica três processos: assimilação,
acomodação e equilibração. Quando nos confrontamos com uma realidade desconhecida, entramos em
desequilíbrio. Começamos por procurar integrar os estímulos do meio nas estruturas mentais existentes
(assimilação). Caso tal não se revele possível, ajustamos as estruturas à nova realidade (acomodação). Este
ajustamento permite que nos adaptemos à nova realidade (adaptação). Nesta fase restabelecemos o equilíbrio
(equilibração).
A abordagem de Piaget é construtivista, na medida em que o bebé, a criança ou o adolescente, ao longo
do seu desenvolvimento, vai construindo esquemas cognitivos cada vez mais complexos. A partir da observação
naturalista, Piaget identificou quatro fases (estádios) no desenvolvimento cognitivo:
Estádio sensório-motor (até aos 2 anos): a criança percebe o mundo privilegiando a sua relação sensorial e
física com a realidade envolvente.
Estádio pré-operatório (dos 2 aos 7 anos): a criança desenvolve a capacidade simbólica, representando o
mundo com as suas próprias palavras e imagens.
Estádio das operações concretas [operatório concreto] (dos 7 aos 11 anos): a criança desenvolve o
pensamento lógico a respeito de acontecimentos concretos.
Estádio das operações formais [operatório formal] (dos 11 aos 15 anos): o adolescente desenvolve o
pensamento abstrato.
Um modelo de desenvolvimento baseado em estádios aproxima esta teoria de conceções que valorizam a
descontinuidade e mudança. A evolução do desenvolvimento humano dá-se por saltos qualitativos, uma vez que
os estádios são marcadamente diferentes e as aquisições de cada estádio comportam modos de perceber o mundo
radicalmente diversos. Piaget atribui um papel amplamente ativo ao sujeito.

In Manual de Psicologia B, “Nós”, Areal Editores

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