O conhecimento psicológico que possuímos sobre nós e os outros é limitado.
DEFINIÇÃO E ÂMBITO DA PSICOLOGIA A psicologia é o estudo científico do comportamento e da mente em termos de organização e diversidade. A sua função é constituir um corpo coerente de enunciados, empiricamente fundamentados, de forma a explicar o comportamento e a organização mental das pessoas e proporcionar previsões corretas. O objetivo da psicologia é descobrir leis e regularidades entre fenómenos de modo a formular modelos e teorias consistentes para compreender, explicar e prever os fenómenos humanos. Ao contrário da Psicologia enquanto ciência, a Psicologia Popular ou de Senso Comum apresenta um corpo de saberes praticamente imutável ao longo dos tempos. A psicologia científica e a do senso comum podem ter aspetos comuns em termos de conteúdo, mas são saberes de natureza diferente, em termos de pesquisa de dados, organização do saber, previsão e controlo da ação. O saber do Senso Comum é contraditório nas suas afirmações, sem consistência, com fronteiras mal definidas, sem capacidade preditiva.
Qual o âmbito da psicologia científica?
Dando-se como exemplo a investigação sobre o comportamento de ira ou cólera, o objeto da psicologia é analisado sob as seguintes perspetivas: Biológica: ativação de circuitos neuronais do cérebro; lesões cerebrais provocadas pelo parto; alterações cromossomáticas ou genéticas e presença ou ausência de certo nível hormonal no organismo. Comportamental: gestos e expressões faciais. Cognitiva: experiências passadas, o modo como o indivíduo as organiza, representa e manifesta; a forma como tais vivências afetam a maneira de pensar e raciocinar em situações específicas. Sociocultural: pertença a grupos sociais, meio residencial, contextos em que há ou não público (os acessos de ira são raros na ausência de público). Psicanalítica: conflitos parentais não resolvidos na infância; traumatismos de natureza sexual reprimidos pela pessoa para evitar a ansiedade daí resultante, podendo irromper inesperadamente. Fenomenológica: história de vida da pessoa tendo em atenção os ultrajes e afrontas vividos; a imagem que tem de si própria e o controlo que julga ter sobre as situações. Tratando-se de um fenómeno comportamental e social de enorme complexidade, a ira está associada a guerras, violência e agressões entre pessoas, grupos e nações. É um fenómeno estudado desde a antiguidade clássica por filósofos, como foi o caso de Aristóteles na obra “Ética a Nicómaco” e Séneca em “De Ira”.
MARCO DA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA
A psicologia é uma construção cultural europeia. Surgiu e desenvolveu-se na Europa, onde se verificaram, nos finais do séc. XIX e na primeira metade do séc. XX contribuições notáveis. Na Alemanha: Wundt: fundou em 1879 o primeiro laboratório de psicologia experimental, possibilitando assim a autonomização da psicologia como ciência. Ebbinghaus: realizou estudos experimentais sobre memória e esquecimento. Afirmou que a psicologia tinha um longo passado (motivado por questões no âmbito da relação mente/corpo, consciência e outras, advirem já de filósofos gregos da antiguidade), mas uma curta história (oficialmente remonta a 1879 com o primeiro laboratório de psicologia experimental de Wundt). Na Áustria: Freud: atribuiu ao inconsciente um papel fundamental na origem das desordens do comportamento e propôs a psicanálise como método de tratamento. Na Rússia: Pavlov: fez descobertas no domínio do condicionamento com aplicação ao estudo da aprendizagem. Na Inglaterra: Galton: investigou e desenvolveu o tema das diferenças individuais. Em França: Binet: elaborou uma escala de medida da atividade intelectual, cujos desenvolvimentos e ramificações posteriores, influenciaram a psicologia aplicada ao longo do séc. XX. Na Suíça: Piaget: fez descobertas no domínio do desenvolvimento intelectual da criança e do adolescente.
Psicologia estruturalista => Wundt definia a psicologia como a ciência da consciência
e propôs a introspeção como método de estudo da experiência imediata, baseado na sensação, perceção e tempos de reação, tendo realizado vários estudos sensoriais (ex. 1 individuo provava um alimento e, em seguida, eram analisados elementos simples como o sabor doce, amargo ou ácido presente na consciência). Este método foi contestado por um grupo de psicólogos alemães, nomeadamente Wertheimer, Köhler e Koffka. Para estes autores a experiência imediata é elementar e defenderam: Psicologia da forma ou gestaltismo, os fenómenos perceptivos eram antes percebidos imediatamente no seu todo (em alemão gestalt) em vez de serem percebidos pelos seus elementos constituintes. Entretanto, nos EUA surgiu o behaviorismo, uma perspectiva radicalmente diferente das europeias da época (princípio séc. XX) proposta por John Watson. Para o aparecimento do behaviorismo contribuíram os estudos desenvolvidos pelo americano Thorndike e pelo russo Pavlov sobre a aprendizagem animal. Desenvolveram uma investigação experimental que permitiu maior rigor e objetividade na obtenção de dados revelando grandes similaridades com os métodos usados nas ciências naturais da época. Behaviorismo rejeita qualquer recurso à introspeção e pretendia reduzir a psicologia a uma ciência natural que tinha por objeto somente o comportamento observável do indivíduo, excluindo do seu âmbito a consciência e os processos mentais que aí tinham lugar, como a atenção, a memória, a inteligência e a vontade. Este tipo de investigação deu origem à expressão psicologia do E-R (estímulo – resposta). De acordo com os behavioristas entre o (E) e o (R) há como que um vazio, ou uma caixa negra, e se há ou não consciência, atenção e memória são temas que não interessam. Apenas interessa a resposta do organismo a um estímulo. Na Europa o beaviorismo teve uma influência mínima e circunstancial. A visão simplista do ser humano, que o beaviorismo pressupõe, foi substancialmente refutada por George Miller, que defendeu: Psicologia cognitiva (Neisser), estudo dos processos pelos quais uma pessoa capta, retém, manipula e recupera a informação. O Homem é um processador e um intérprete ativo do meio ambiente que o rodeia, respondendo em função da própria experiência. As pessoas, longe de serem meros figurantes passivos que reagem ao meio, são antes organismos activos, que no comportamento do dia-a-dia usam planos, estratégias e regras de acção. Os cognitivistas não são anti-beavioristas, apenas consideram o beaviorismo um sistema incompleto em termos de explicação do comportamento. Sem a perspectiva cognitiva em psicologia não classificaria possível caracterizar e explicar satisfatoriamente os processos mentais como o reconhecimento e a recordação, a atenção, a linguagem, o pensamento, o raciocínio e a tomada de decisões.