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Aprendizagem

Segundo Pinto a aprendizagem caracteriza-se como “…uma mudança relativamente


permanente no comportamento e no conhecimento devido à prática ou experiência…” (Pinto,
2001.pag.54), ou seja, é um processo de mudança de comportamento construído pelas
experiências e interações entre indivíduos nas suas estruturas mentais e no seu meio
ambiente. No entendimento comum, aprender significa adquirir novos conhecimentos e
comportamentos ao longo da vida de cada individuo, contribuindo significativamente para o
seu desenvolvimento.
O mesmo autor, no que concerne à temática da aprendizagem, defende que a investigação
sobre este tema deve ser categorizada mediante o grau de complexidade e organizada
segundo cinco tipos diferentes: habituação, condicionamento clássico e operante,
aprendizagem observacional e verbal.
A observação por habituação consiste na diminuição da propensão para responder a
determinado estímulo, permitindo ao individuo ignorar o que lhe é familiar e relevar o que é
importante; O organismo recorda as suas experiências anteriormente vividas e confia na sua
memória, para futuras aplicações.
Na perspetiva behaviorista, nomeadamente com Pavlov (1849-1936) temos o
condicionamento clássico; com Thorndike (1874-1949) e Skinner (1904-1990) o
condicionamento Instrumental/operante, são consideradas como aprendizagem quaisquer
modificações observáveis e mensuráveis sucedidas no comportamento, “…o aspecto essencial
era a modificação da ação.” (Gleitman et al, 2014:221), por conseguinte, ”as mudanças naquilo
que os organismos fazem.” (Pinto, 2001:54)
A corrente psicológica behaviorista não aceita qualquer relação com o que se passava na
mente, já que a mesma é impossível de ser observada, ao contrário do estudo dos
comportamentos objetivos que podem ser observáveis. (Demond, 2015:80)
Para Pavlov, a aprendizagem por condicionamento clássico envolve uma aprendizagem em
que o estimulo neutro, ao ser constantemente emparelhado com um estímulo incondicionado,
acaba por, ao fim de algum tempo provocar o mesmo tipo de resposta condicionada ou
natural. O condicionamento clássico é um sistema simples de aprendizagem, associado a
respostas de tipo reflexo ou involuntário, como salivação, diminuição do ritmo cardíaco e
reflexo das pálpebras.
A aprendizagem por condicionamento instrumental ou operante baseia-se em associar
determinado comportamento às suas consequências ou efeitos, podendo ser reforçado ou
enfraquecido mediante as consequências das ações em que se tendem a aumentar, diminuir
ou extinguir no futuro. Thorndike explicou este tipo de aprendizagem como sendo resultado
de inúmeros ensaios e erros, seguidos por sucesso acidental, em que a mesma é gradual e
progressiva mediante a Lei do Efeito: “ …se uma resposta for seguida de recompensa, então
essa resposta será fortalecida. Se a resposta não for seguida de recompensa…será
enfraquecida.” (Gleitman, 2014:175) Segundo Skinner o condicionalismo operante é uma
forma de aprendizagem na qual a probabilidade de ocorrência de uma resposta ou
comportamento pode aumentar ou diminuir mediante a consequência da sua ação, que pode
ser por meio de reforço positivo, negativo ou continuo (fortalece a tendência de repetição) ou
por punição (enfraquece a tendência de repetição).
Relativamente às semelhanças entre o condicionamento clássico e o operante, destacam-se as
caraterísticas ao nível dos processos de aquisição (resposta apreendida a um estimulo neutro
por o associarmos a um não condicionado), extinção (enfraquecimento ou extinção da
resposta aprendida), recuperação espontânea (reaparecimento de uma resposta condicionada
após algum tempo), generalização (resposta condicionada é provocada por outros estímulos
para além do condicionado original) e discriminação (consiste na aptidão de distinguir
estímulos semelhantes, produzindo resposta apenas ao estímulo correto), entre outras, os
seja, ” …verificam-se mais em termos substanciais em relação aos processos comuns.”(Pinto,
2001:88)
No segundo semestre do século XX, com a corrente cognitivista: teoria de Tolman (1886-1959),
compreensão da relação entre dois acontecimentos-estímulo, representação ato-
consequência; e Köhler (1887-1968), compreensão intuitiva (Gleitman et al,
2014:188,194,215),bem como a teoria da aprendizagem observacional ou social, Rotter (1916-
2014) e Bandura (1977-1986) desde a década de 1960.
Os teóricos cognitivos, como Tolman e Köhler consideravam que, os seres humanos e os
animais, ao aprenderem estão a adquirir novos conhecimentos ou cognições. Tolman
construiu uma perceção cognitiva do condicionamento, mediante a qual, os animais possuem
expetativas, aprendem relações previsíveis e causais entre acontecimentos, levando-os a agir
de determinada forma. A substância do que é aprendido, deve-se essencialmente à cognição
e não a resposta. Köhler sustentou que alguns animais manifestavam comportamentos
inteligentes, porque conseguiam compreender intuitivamente determinado problema e as
relações pertinentes à sua resolução.
A aprendizagem por observação é uma teoria desenvolvida por Rotter e Bandura, sendo este
último o principal responsável por grande parte da investigação na área da teoria desta
aprendizagem. Como ocorre em contexto social, através das interações em sociedade entre
indivíduos, é também designada por aprendizagem social. Brandura defende que a
aprendizagem humana, na sua maioria, acontece através da observação e imitação de outros
indivíduos, em que o comportamento do observador é condicionado ou influenciado pelo
observado, designado de modelo, recorrendo ao processo de modelagem. Esta aprendizagem
é espontânea, acontecendo sem esforço deliberado do observador ou intenção de ensinar da
parte do modelo, bastando apenas a sua exposição. Esta teoria surge como alternativa ao
condicionamento para explicar o funcionamento da aprendizagem, mas com o passar do
tempo, tornou-se “…mais cognitiva ao incluir na sua estrutura o papel dos processos cognitivos
de atenção, perceção, memória, pensamento, além da ação e motivação.” (Pinto, 2001:98)
Para Brandura, esta teoria explica o comportamento do ser humano na interação reciproca de
fatores comportamentais, cognitivos e até mesmo ambientais.
A aprendizagem verbal foi estudada inicialmente por Ebbinghaus (1885) numa perspetiva
associada à memória. (Pinto, 201:94-99) Esta aprendizagem menciona a capacidade do
homem em adquirir e recordar itens verbais.

Desta forma, surgem questões quanto à natureza do conhecimento e a sua relação com os
processos mentais. (Demont, 2005:80)
Numa perspetiva cognitiva a aprendizagem “é … aquisição de conhecimento” que “…é a
informação construída pelo sujeito a partir da sua estrutura cognitiva.” (Pinto, 2001:54) “…
apela à compreensão e ao raciocínio.” (Demont, 2005:80)
Sendo a aprendizagem responsável pelos processos de aquisição (realizada pelos sentidos,
depende do grau de atenção seletiva ou dividida) e a codificação de conhecimento (a forma
como a informação é convertida), a memória surge como “local” de armazenamento desse
conhecimento, pelos processos de retenção (organização e conservação para uso posterior) e
recuperação (acesso e escolha da informação desejada). Face ao exposto, é possível afirmar
que a aprendizagem e a memória estão relacionadas. “…são interdependentes.” (Pinto,
2001:109). Todavia, a “…memória não é um sistema único e utilitário, mas é formada
provavelmente por vários sistemas ou sub-sistemas, cada um com funções próprias e
diferenciadas.” (Pinto, 2001:110)
A memória humana encontra-se dividida em termos estruturais e processuais responsáveis
pela entrada de informação na memória, ficando retida em determinado espaço de tempo
(retenção de memória a curto prazo-MCP e memória a longo prazo-MLP) , ficando desta forma
pronta para ser usada ou recordada.
A memória a curto prazo armazena temporariamente a informação, a de trabalho permite
organizar cognitivamente atividades de raciocínio lógico, de compreensão imediata e a de
longo prazo guarda todas as informações a aceder de forma consciente (memória declarativa),
as aquisições conceptuais (memória semântica), os acontecimentos de foro pessoal
enquadrados temporalmente (memória episódica) e as competências cognitivas e motoras
(memória processual).(Pinto, 2001; Gleitman et al, 2014; Demont, 2015) ;

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