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Orientação de pais

Me. Isabela Pizzarro Rebessi


Apresentação
✘ Psicóloga pela FFCLRP-USP (CRP 06/141115)
✘ Mestre em Psicologia pela FFCLRP-USP
✘ Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental pelo CETCC
✘ Terapeuta Certificada pela Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC)
✘ Membro integrante do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo
Comportamental (LaPICC-USP)

2
“Fui criado(a) assim e não
Eles não escutam Não colaboram
morri”

Quais são as maiores dificuldades enfrentadas


na hora de orientar pais?

Não querem fazer as “Você tem filhos? Quando


São rudes
sessões de orientação tiver, vai entender”

3
Empatia e acolhimento
4
Temas abordados

✘ O que é orientação de pais?


✘ Por que fazer a orientação de pais?
✘ Breve histórico
✘ Avaliação
✘ Prática clínica
✘ Desafios

5
1.
O que é orientação de pais?
O que é orientação de pais?
✘ É diferente de um processo terapêutico;
✘ Pode ser feita com pais ou cuidadores da
criança;
✘ Orientação e acolhimento

(Friedberg e McClure, 2004; Pardo7& Carvalho, 2012; Neufeld, Benedetti & Caminha, 2017)
2.
Por que orientar pais?
Por que fazer a orientação de pais?
✘ Família é o primeiro núcleo social da criança;

✘ Relação entre pais e filhos muda conforme a etapa do


desenvolvimento e pode entrar como fator de risco ou
de proteção;

✘ Pais pouco preparados: tentativa e erro.

9 (Biasoli-Alves, 2005; Olivares et al., 2005)


“É impossível a realização de uma
psicoterapia infantil sem o trabalho
com os adultos responsáveis, uma vez
que os problemas de comportamento
tendem a ocorrer muito mais fora do
ambiente da sessão do que na própria
terapia.”
10 (Friedberg e McClure, 2004)
3.
Breve histórico
Histórico

✘ Abordagem comportamental: modelo de intervenção


para o enfrentamento de problemas comportamentais
das crianças
✘ Terapeuta como consultor dos pais (o quê e como
fazer)
✘ Década de 70: generalização dos princípios aprendidos
no treinamento

(McMahon,
12 1999; Caminha, 2011; Pardo & Carvalho, 2012)
Histórico

✘ Década de 80: ampliar ainda mais a generalização e


englobar aspectos do relacionamento familiar

✘ Variabilidade de comportamentos: gênese e


manutenção

Relação pais e filhos

(McMahon,
13 1999; Caminha, 2011; Pardo & Carvalho, 2012)
História na tcc
Orientação de pais
✘ TCC: modelo cognitivo e
distorções dos pais
✘ Treinamento de Pais X
Orientação de Pais
Treinamento de pais
✘ Intervenção Individual X
Intervenção Grupal

(McMahon,
14 1999; Caminha, 2011; Pardo & Carvalho, 2012)
benefícios
◦ Aumento da eficácia do processo terapêutico infantil;

◦ Intervenção precoce nos problemas familiares;

◦ Habilidades educativas e demonstração de afeto


positivo.

15 (Olivares, Mendes e Rios, 2005)


4.
bases teóricas
17 (Baumrind, 1966)
Práticas parentais

✘ Controle comportamental
✘ Conhecimento (supervisão) dos pais acerca dos filhos
✘ Suporte oferecido
✘ Demonstração de afeto
✘ Punição corporal
✘ Controle psicológico
✘ Regras instáveis

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Estilos e práticas parentais
- Conjunto de atitudes e práticas utilizado pelos pais
como estratégias educativas com seus filhos
- Categorias:
à Monitoria positiva: Práticas que visam obter
conhecimento a respeito das crianças;
à Comportamento moral: Conjunto de práticas
utilizado para a promoção de valores e virtudes;
à Punição inconsistente: Falha ao aplicar a punição,
que por sua vez acaba perdendo a eficácia;
Corresponde ao humor dos pais e responsáveis.
Gomide (2006)
19
Estilos e práticas parentais

à Negligência: Ocasiões nas quais os pais não apresentam


qualquer tipo de resposta aos seus filhos, ignorando-os,
sem qualquer tipo de comunicação;
à Disciplina relaxada: Quando não ocorre o cumprimento
de regras que foram estabelecidas em família;
à Monitoria negativa: Supervisão estressante, fiscalização
excessiva da vida dos filhos e ordens repetitivas;
à Abuso físico: Resultado da punição corporal empregada
na intenção de ferir ou machucar a fim de controlar
algum tipo de comportamento;
Gomide (2006)
20
Habilidades básicas para um bom relacionamento
✘ Capacidade de dialogar de forma efetiva
✘ Capacidade de se desculpar
✘ Expressar sentimentos agradáveis e desagradáveis
✘ Solicitar mudanças de forma adequada
✘ Saber dizer ‘não’
✘ Saber cumprir promessas
✘ Estabelecer limites e regras

21 (Silva, 2000; Friedberg & McClure, 2021)


5. avaliação
Entrevista
✘ Histórico do casal (Separados? Namorados? Como é a relação
atual? Guarda da criança? Novos relacionamentos? Como é a
convivência com os novos relacionamentos?)
✘ Outras pessoas com as quais a criança convive
✘ Dificuldades com o filho (Regras/Diálogo/Tempo de qualidade)
✘ Histórico com os próprios pais (Criação, anseios, práticas que eles
se percebem repetindo)
✘ Pensamentos automáticos e crenças acerca da parentalidade e
da relação com o filho
Cuidado
✘ “Quando isso acontece, como você age?” com a
terapia
23
IEP (Inventário de estilos parentais)
✘ Permite identificar os sete estilos parentais
✘ Pode ser respondido pelos próprios pais e/ou pelos filhos
(práticas maternas e/ou paternas)
✘ São 42 itens (seis para cada estilo) distribuídos em ordem
aleatória
✘ Escala de 2, 1 ou 0 (2 = sempre, 1 = às vezes, 0 = nunca)

24 (Gomide, 2006)
25 (Gomide, 2006)
Child Behavior Checklist (CBCL)
✘ Permite identificar as competências e dificuldades de crianças e
adolescentes de 6 a 18 anos

✘ Dividido em duas partes: primeira consiste em uma avaliação de


20 itens sobre habilidades e competências das crianças, e a
segunda parte tem um total de 120 afirmações de problemas
comportamentais e emocionais em que o pai avalia a frequência
com que eles ocorrem com seu filho.

26
27
6. Tipos de intervenção
Precoce, individual e em grupo
Atenção precoce
✘ Destinada a pais de crianças na primeira infância (0 a 3 anos)

✘ As práticas baseadas na família promovem os recursos e o


apoio necessários para que a família tenha tempo, energia,
conhecimento e habilidades para promover as habilidades
necessárias para o desenvolvimento infantil saudável.

(Sánchez, 2019)
29
Atenção precoce
✘ Os profissionais devem fortalecer as habilidades familiares
para apoiar o desenvolvimento infantil, a fim de aumentar seu
senso de competência nas práticas parentais e não como
uma forma de deixar a família com um sentimento de
dependência dos profissionais.

✘ As intervenções devem se basear nas habilidades e


potencialidades das crianças, famílias e no relacionamento
pais-filhos para obter os resultados mais benéficos e
duradouros.
(Sánchez, 2019)
30
O exemplo da Noruega
✘ Assumem que o cuidado precoce tem a função de melhorar a saúde
física e também as habilidades cognitivas, sociais e emocionais das
crianças.

✘ Essa intervenção de cuidado precoce deve começar durante a gravidez


e ser monitorada durante todo o período até o nascimento.

✘ Apontam a formação, orientação e apoio dos pais como um


denominador comum que aumenta exponencialmente as possibilidades
de uma relação saudável entre pais e filhos, garantindo a autonomia e a
saúde de ambas as partes.

(Marklund et al., 2012)


31
O exemplo da Noruega
✘ 3 níveis de intervenção:

Programas Grupos de Orientações


baseados em apoio e individuais
evidências acolhimento (transtornos)

(Marklund et al., 2012)


32
Orientação individual

✘ Voltada para queixas específicas dos pais

✘ Pode abordar os temas gerais

✘ Pode ser feita ao final de cada sessão e depois em


sessões separadas

33
Orientação em grupo
✘ Fatores terapêuticos específicos que auxiliam
no processo:
✘ Universalidade
✘ Compartilhamento de informações
✘ Altruísmo
✘ Instilação de esperança

(Yalom & Leszcz, 2006)


34
Alguns exemplos

✘ ACT (Raising Safe Children)

✘ Triple P for Parents

✘ The Incredible Years

(Sanders, 35
Kirby, Tellegen & Day, 2014; Hardcastle, Bellis, Hughes & Sethi, 2015)
7.
temas comumente
abordados
Regras

◦ Convivência em sociedade;

◦ Excesso de regras X Sem regras;

◦ Casos específicos (TOD, TDAH);

◦ Idade da criança/adolescente.

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Noções de desenvolvimento infantil

✘ Comportamento desejável X
Comportamento esperado

✘ Adaptabilidade das regras

✘ Mudanças (é normal?)

38
Consequências dos comportamentos

◦ Reforço e seus tipos;

◦ Punição e seus tipos;

◦ Punição física: religião, história de


vida dos pais, funcionalidade

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Relacionamento pais e filhos

Tempo de qualidade Diálogo Amor inconcional


O que importa é a qualidade A compreensão e assertividade Entender a diferença entre
do tempo passado com os de ambas as partes é criticar a pessoa e criticar o
filhos, mesmo que a rotina fundamental comportamento, e como o
impeça tempos maiores afeto prevalece mesmo que
outras emoções estejam
presentes

40
Modelo cognitivo

◦ Pensamentos automáticos e como


eles interagem com as emoções e
comportamentos

◦ Rotulação, catastrofização,
vitimização, tudo-ou-nada,
personalização, abstração seletiva

41
Resolução de problemas

✘ Por que isso é um problema?

✘ Definição, opções, vantagens e


desvantagens, testar soluções;

✘ Recursos

42
Manejo das emoções

✘ O receio de falar sobre o que sente

✘ Time-out

✘ Relaxamento

43
8. Propais I
Intervenção em grupo
45
46
47
Dados qualitativos
Ana “Gabi chora quando me vê triste... Antes eu fazia de tudo para esconder
essas emoções ruins...depois do grupo eu consegui demonstrar e conversar
sobre isso... Hoje ela lida bem melhor”

Julia “Estou ignorando quando ele faz birra e ele está percebendo as
consequências e está com medo delas. Já vi que ele mudou”

Henrique “O grupo pra mim foi igual a fisioterapia...”

Rosa “Acho que fiz tudo errado até hoje, eu só cobro, cobro, cobro, e esqueço
de valorizar as coisas boas que ela faz”

Iara “Não enxergava que rotulava tanto meu filho”


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Dados qualitativos
Dora “funcionou muito a parte de paciência, consegui controlar minha raiva e não
descontar no Gabriel... Eu não dava nada para o grupo, mas teve muitos resultados no
final”

Juliana “A semana foi bem melhor, tivemos um resultado bem positivo... Eu inverti a
frase como vocês falaram e deixei o elogio para o final”

Iara “Colocar regras dessa forma, faz diferença mesmo... Antes eu só mandava e pronto”

Almir “Notei que pesa muito a nossa falta de paciência do dia-a-dia e descontamos na
situação com os filhos. Percebi que surte maior efeito quando sentamos e explicamos”
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9. Transtornos específicos
Transtornos de Ansiedade
✘ Psicoeducação

✘ Engajamento nas exposições

✘ Praticar relaxamento em conjunto

✘ Gatilhos
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Caso: Antônia*
✘ 8 anos

✘ Pais separados

✘ Mãe hipervigilante com histórico de pânico

52
Transtornos de humor
✘ Psicoeducação

✘ Avaliação de risco

✘ Flexibilidade

✘ Acolhimento: culpa
53
Caso heitor*
✘ 9 anos

✘ Pais separados, mãe sobrecarregada

✘ Ideação suicida

✘ “Tem certeza que não é frescura?”


54
Transtornos disruptivos
✘ Psicoeducação

✘ Aspectos do ambiente que


mantêm padrões

✘ Constância

✘ Paciência
55
Caso Gabriel*
✘ 12 anos

✘ Pais casados com dificuldade na comunicação

✘ Permissivos e punitivos

✘ Prognóstico e tentativas
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10. Desafios clínicos
Pais separados
Início da terapia Discordância de informações
• Ambos podem saber da terapia e • Apontar necessidade de diálogo;
serem convidados a participar oferecer sessão conjunta (sem tom
de acareação)
Não se comunicam
Desautorizam-se
• Oferecer sessões separadas ou
online; grupo de WhatsApp para • Impactos para a criança
recados

Tudo o que é discutido


As sessões de
deve ser com foco na Indicação de terapia
orientação não são
qualidade de vida do(a) individual
sobre as brigas do casal
filho(a)

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Outros cuidadores

Novos cônjuges Avós


• A depender da convivência, também • Desafios maiores (criação
chamar para orientação e definir papéis anterior dos pais); explicar
Outros membros da família mudanças e acolher
• Qual é o papel nos cuidados? Caso pais Regras e limites
sejam presentes, falar do diálogo entre
as partes • Valem em todos os ambientes

Nível de diálogo com os


Entender o papel Importância crucial da
pais (caso sejam
desses cuidadores comunicação
presentes)

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Pais não colaborativos
Desqualificam
Não seguem as orientações
• Distorções cognitivas, impacto para a
• As orientações são plausíveis dentro criança e acolhimento
da rotina familiar?
Não estão dispostos
Não comparecem à orientação
• Fortalecimento da
• Contrato terapêutico criança/adolescente ou possibilidade
de interrupção do atendimento

Envolvimento dos pais


Investimento financeiro Questões pessoais
no processo terapêutico

60
Pais que cobram resultados rápidos

Não compreendem a terapia “Já tentei de tudo”


• Psicoeducação • Outras alternativas e explicação do
processo
Filho(a) é o problema Mudanças de comportamento
• Papel da família • Colaboração (ambiente em casa X
ambiente terapêutico)

Envolvimento dos pais


Processo Constância
no processo terapêutico

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11. O(a) terapeuta
Quais aspectos são importantes para refletirmos?

✘ Contratransferência
✘ Experiências próprias como “régua”
✘ Empático e acolhedor
✘ Evitar tom professoral
✘ 1 vez na semana X todos os dias
✘ Às vezes eles estão dando o melhor que podem
63
Obrigada!
isabela.rebessi@hotmail.com

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