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TDO -Transtorno Desafiador de Oposição

1. Quando percebo que a indisciplina e a desobediência excede padrão


normal?

Sabemos que tanto as crianças quanto os adolescentes apresentam


comportamentos de desobediência, oposição e testam os adultos desafiando
seus limites. É natural observar esses comportamentos tanto por pais quanto por
professores, contudo, o que fazer quando esses comportamentos torna-se
excessivos e capaz de desestruturar uma relação familiar/educacional
harmoniosa? Até que ponto chega um problema de indisciplina em casa e na
sala de aula?

É imprescindível ficar alerta a casos constantes de desobediência, uma vez que


eles podem se agravar transformando em uma doença, um transtorno muito
comum, conhecido como o transtorno desafiador oposição.

2. TDO – O que é?

É definido com um padrão recorrente de comportamentos negativista, hostil,


desafiador e desobediente em relação a figuras de autoridade que acarreta um
prejuízo significativo ao funcionamento social, acadêmico e ocupacional (Serra-
Pinheiro, Schmitz et al. 2004; Serra-Pinheiro, Guimarães et al. 2005; Giovannini
2014). Tanto a criança quanto o adolescente discute excessivamente com
adultos, enfrentam dificuldades em aceitar regras, não aceitam responsabilidade
devido sua má conduta, incomodam exageradamente os demais, e perdem
facilmente o controle caso as coisas não saiam da forma que eles esperam
(Serra-Pinheiro, Schmitz et al. 2004; Teixeira 2013; Teixeira 2014).

3. Qual Incidência do TDO?

Estima-se que entre 2% e 16% das crianças em idade escolar apresentem TOD
(Parra 2012). É destacado como o mais prevalente em crianças entre 9 e 10
anos (Giovannini 2014). Sendo frequente em meninos, já na adolescência a
frequência é igual para meninos e meninas. A prevalência no transtorno de
oposição oscila entre 0,3% e 22%, uma média de 3,2% (Lahey, Miller et al. 1999).
Os chamados transtornos exteriorizantes (problemas de atenção,
comportamentos delinquentes ou de “quebrar” regras, comportamento
agressivo)*, incluindo a hiperatividade parecem estar na linha de chegada para
os problemas de comportamento mais frequentes encaminhados e
diagnosticados pelos especialistas de saúde mental da infância e adolescência
(Lahey, Miller et al. 1999; Parra 2012).

Escalas de atenção e de comportamentos externalizantes no ASEBA*

TDO – Sintomas?

Os sintomas aparecem em varias circunstâncias, contudo, sua repetição ocorre


em casa e no contexto escolar. Dentre os sintomas destacam-se:

 Perda da paciência;

 Acessos de raiva;

 Baixa autoestima;

 Baixa tolerância a frustrações;

 Discussões excessivas com adultos;

 Recusa em obedecer a solicitações ou regras;

 Comportamento de indisciplina, desafiador, opositor;

 Irritação excessivamente;

 Ou provocações às pessoas.

Sintomas na Escola:

 Dificuldade interpessoal;

 Desempenho escolar comprometido;

 Dificuldade em realizar tarefas em grupo;

 Não aceita ou pede ajuda dos professores;

 Discute com professores e colegas;

 Apresenta agressividade com colegas de classe;


 Recusa trabalhar em grupo;

 Não faz atividades escolares;

 Não aceita criticas;

 Desafia autoridade professores, coordenadores e demais educadores;

 Deseja tudo do seu jeito;

 Apresenta comportamento de “pavio curto” ou “esquentado” em sala de


aula;

 Não assume responsabilidade para si, acusa os outros por seu


comportamento hostil.

 6. TDO – Diagnóstico?

De acordo com a nomenclatura vigente desde 1994, do Diagnostic and


Statistical Manual of Mental Disorders – Fourth Edition (DSM-IV) (Association
2002).

A. Um padrão de comportamento negativista, hostil e desafiador durando pelo


menos 6 meses, durante os quais quatro (ou mais) das seguintes características
estão presentes:

(1) frequentemente perde a paciência;

(2) frequentemente discute com adultos;

(3) com frequência desafia ou se recusa ativamente a obedecer a solicitações


ou regras dos adultos;

(4) frequentemente perturba as pessoas de forma deliberada;

(5) frequentemente responsabiliza os outros por seus erros ou mau


comportamento;

(6) mostra-se frequentemente suscetível ou é aborrecido com facilidade pelos


outros;

(7) frequentemente enraivecido e ressentido;


(8) frequentemente rancoroso ou vingativo

Obs: Considerar o critério satisfeito apenas se o comportamento ocorre com


maior frequência do que se observa tipicamente em indivíduos de idade e nível
de desenvolvimento comparáveis.

B. A perturbação do comportamento causa prejuízo clinicamente significativo no


funcionamento social, acadêmico ou ocupacional.

C. Os comportamentos não ocorrem exclusivamente durante o curso de um


Transtorno Psicótico ou Transtorno do Humor.

D. Não são satisfeitos os critérios para Transtorno da Conduta e, se o indivíduo


tem 18 anos ou mais, não são satisfeitos os critérios para Transtorno da
Personalidade Anti-Social.

7. TDO – Como pode ser tratado?

Infelizmente o TOD esta associado com mau prognóstico na vida adulta,


expresso por alto risco de depressão, tentativas de suicídio (Angold and Costello
2001; Stringaris, Lewis et al. 2014), abuso de substâncias e problemas com a lei
(Tremblay, Pihl et al. 1994).

O diagnóstico e o tratamento precoce podem exercer um papel preventivo


fundamental para o manejo e melhora dos sintomas (Serra-Pinheiro, Schmitz et
al. 2004; Serra-Pinheiro, Guimarães et al. 2005).

Na terapia medicamentosa há relatos do efeito da medicação em caso de


oposição e agressão, mas especialmente em pacientes que são tratados
transtorno de conduta ou déficit de atenção e hiperatividade comórbido (Serra-
Pinheiro, Schmitz et al. 2004). A maioria das pesquisas estão focadas na
agressão ou nos sintomas de TDO não necessariamente em pacientes com um
diagnóstico de TOD. Estudos mostram que metilfenidato e clonidina diminuem
os sintomas TOD (Kolko, Bukstein et al. 1999; Connor, Barkley et al. 2000; Serra-
Pinheiro, Schmitz et al. 2004; Serra-Pinheiro, Guimarães et al. 2005). Entretanto,
não há evidências que os psicoestimulantes ou a clonidina sejam eficazes para
o TOD sem combinação com diagnóstico TDAH.
Terapia que tem se mostrado eficaz é a cognitivo-comportamental, trabalhando
com técnicas de manejo parental. Que tem como premissa modificar o
comportamento da criança por meio da alteração na forma dos pais lidarem com
a criança (Ho, Chow et al. 1999; Kazdin and Wassell 2000; Greene, Ablon et al.
2003; Serra-Pinheiro, Schmitz et al. 2004).

8. Dicas para os pais lidarem com filhos com TDO:

 Manter sempre o controle, sem apelar para gritos ou palmadas;

 Educar com firmeza, mas nunca se esquecer do afeto;

 Ser firmes, mas acolhedor;

 Dedicar tempo e atenção diariamente;

 Montar uma tabela com colunas referentes comportamento indesejado,


conduta que tomou no ato do comportamento e resultados obtidos frente
à conduta;

 Sempre que agir de forma inadequada, repreender, colocar para pensar


(1 minuto por idade) e após prazo conversar sobre ocorrido;

 Não ceder aos apelos da criança e mantenha a palavra;

 Incentive a prática de trabalhos e esportes em grupo (interação social);

 Não dar atenção a “birras”;

 Explicar claramente regras e instruções;

 Dê castigos proporcionais (e não se sinta culpado depois);

 Explique detalhadamente as consequências em casos de indisciplina;

 Evite medir forças com a criança, mas seja flexível de vez em quando;

 Proponha acordos e privilégios quando a criança tiver atitudes assertivas


(reforço positivo);

 Elogie atitudes positivas;

 Evite punições físicas (bater reforça comportamento agressivo/hostil);


 Ao corrigir seu filho, olhe diretamente nos olhos e abaixe para ficar no
mesmo nível, com tom de voz firme orientando sobre as regras, se houver
resistência, socorrer de uma discreta pressão física (segurar firme no
braço, por exemplo), sem deixar de ser amoroso;

 Retirar privilégios, caso descumpra as regras;

 Evite retardar ou desistir de uma ordem quando esta já foi estabelecida;

 Evite orientar/corrigir a criança na hora da raiva;

9. O que os pais NÃO DEVEM fazer?

 Utilizar de agressão física/verbal para que seu filho obedeça;

 Orientar a criança à distância (deve orientar olhando para criança e


certificando que ela compreendeu);

 Dar instruções vagas (por ex.: “seja uma boa criança”);

 Orientar com muitas explicações (argumentam excessivamente para


criança entender), é bem provável que a criança vá se perder durante as
explicações;

 Orientar em tom ameaçador (em casos onde existe um acontecimento já


instalado, é normal que os pais deem bronca com tom ameaçador para
criança recuar, nesses casos a criança tende a revidar);

 Pedir que realize alguma tarefa em forma de pergunta (você pode ir agora
fazer as lições de casa? Vai abrir espaço para que a criança pense e diga
não);

 Retirar “castigo” já estabelecido (estipula “punição” por não se comportar


proibindo de assistir TV por um mês e depois percebe que é muito tempo
e recua reduzindo), avalie qual “castigo” vai estipular antes de
estabelecer.

10. Os pais e a instituição de ensino:


É importante que os pais compreendam que tanto eles quanto seu filho precisam
da ajuda e apoio dos professores/instituição de ensino. Trazendo-os para sua
causa, faça deles seus parceiros para que juntos possam ter êxito no
desenvolvimento e sucesso do seu filho.

 Procure estar sempre atento às reclamações da escola e evite levar para


o lado pessoal;

 Unir forças com professor/instituição. Procurar ser o mais “transparente


possível” já no início, em uma nova escola ou na mudança de ano escolar,
explicando as dificuldades enfrentadas pelo seu filho e quais são suas
necessidades;

 Ressaltar os conhecimentos adquiridos pelo estudo. Mostrando interesse


pelo aprendizado, pela leitura. Lembre-se de que os pais são os
“espelhos” dos filhos;

 Procurar minimizar as expectativas. Valorizar cada passo alcançado em


relação a ela mesma (reforço positivo);

 Fazer com que seu filho realize as atividades escolares em casa, e


respeite as regras estipuladas pelo professor, criando tabela para rotina
da criança.

11. O professor e a criança com TDO:

Compreendendo que os pais apresentam dificuldade no manejo com os filhos


com TDO, então não é difícil imaginar que na escola não deve ser diferente com
o professor, sem mencionar que o professor é responsável por varias crianças.

 Em se tratando de crianças diagnosticadas com qualquer transtorno, o


primeiro passo para o professor ajudar é buscar informações a respeito
do transtorno, assim poderá ter maior compreensão a despeito das
dificuldades enfrentadas pela criança;
 Motivar sempre os alunos, tendo em mente que o resultado estará
diretamente ligado à diferença entre a quantidade de reforço positivo em
relação a uma pressão em excesso;

 Peça ajuda ao aluno com TDO, permitindo assim, motivá-lo, de forma


intermitente, exemplo, apagar a lousa, ajudar na distribuição de materiais
para a classe;

 Peça gentilmente para o aluno ficar mais próximo de você, sentado a


frente, de preferência longe de janelas ou porta;

 Evitar criticar na presença de outras crianças, evitando assim uma


indisposição do aluno para com o professor;

 Procurar ressaltar as regras e anotar na lousa o plano de aula, bem como


as tarefas e datas de provas;

 Considerar a possibilidade de mudança na forma de avaliação,


possibilitando provas orais ou com maior tempo para a execução ou
menor número de questões, em relação ao restante da classe;

 Procure tornar o ensino prazeroso, estimulando a participação dos alunos


e a interação social em atividades de grupo;

 Demonstre percepção dos resultados e progressos alcançados pelo


aluno;

 Ajude os pais com uma maior comunicação, monitorando os progressos


ou dificuldades, além da participação no controle em anotar as atividades
e datas de provas;

 Evitar fazer reclamações do aluno ao entrega-lo aos pais na saída.


Qualquer reclamação deve ser feita via agenda ou em particular (agendar
reunião);

 As tarefas acadêmicas devem ser compatíveis com as habilidades da


criança, ir reforçando passo a passo até igualar com as demais crianças
da classe;
 Trabalhar questões relacionadas ao planejamento e organização do
estudo na escola e em casa (rotina diária);

 Intercalar as aulas expositivas ou períodos de estudo com breves


momentos de atividade física, ajudando a minimizar a fadiga e a
monotonia de períodos longos de estudo;

 Evitar corrigir as lições com canetas vermelhas ou lápis;

 Criar momentos de descontração para minimizar o stress e ajudar na


socialização com colegas de classe;

 Procurar compreender que a criança não tem controle dos seus


comportamentos, elas estão tão assustadas quanto todos envolvidos e
precisa de ajuda;

 É importante comunicar via agenda os comportamentos inadequados,


entretanto é primordial comunicar os comportamentos positivos da
criança, evitando que venham escritas somente reclamações.

12. Aspectos importantes:

Crianças com TDO podem apresentar outros transtornos associados, sendo os


mais prevalentes o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, transtornos
de aprendizagem, transtorno de humor e os transtornos ansiosos. Quando não
tratado, o TDO pode evoluir para o transtorno de conduta (TC), este fato acomete
75% dos casos de crianças com diagnóstico inicial. Nos casos de associação as
orientações aos pais/instituição de ensino podem ser similares para alguns
transtornos distinguindo-os em detalhes.

Fonte:http://avaliacaoneuropsico.com.br/transtorno-desafiador-opositor/
13. Referências Bibliográficas:

1. Angold, A. and E. J. Costello (2001). “The epidemiology of disorders of


conduct: Nosological issues and comorbidity.” Conduct disorders in
childhood and adolescence: 126-168.

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mentais: texto revisado (DSM-IV-TR), Artmed.

3. Connor, D. F., R. A. Barkley, et al. (2000). “A pilot study of


methyiphenidate, clonidine, or the combination in ADHD comorbid with
aggressive oppositional defiant or conduct disorder.” Clinical
Pediatrics 39(1): 15-25.

4. Giovannini, E. (2014). Psiquiatria da Infância e da Adolescência: Casos


Clínicos, Artmed Editora.

5. Greene, R. W., J. S. Ablon, et al. (2003). “A transactional model of


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approach.” Journal of Psychosomatic Research 55(1): 67-75.

6. Ho, T.-p., V. Chow, et al. (1999). “Parent management training in a


Chinese population: Application and outcome.” Journal of the American
Academy of Child & Adolescent Psychiatry 38(9): 1165-1172.

7. Kazdin, A. E. and G. Wassell (2000). “Therapeutic changes in children,


parents, and families resulting from treatment of children with conduct
problems.” Journal of the American Academy of Child & Adolescent
Psychiatry 39(4): 414-420.

8. Kolko, D. J., O. G. Bukstein, et al. (1999). “Methylphenidate and behavior


modification in children with ADHD and comorbid ODD or CD: main and
incremental effects across settings.” Journal of the American Academy of
Child & Adolescent Psychiatry 38(5): 578-586.

9. Lahey, B. B., T. L. Miller, et al. (1999). Developmental epidemiology of the


disruptive behavior disorders. Handbook of disruptive behavior disorders,
Springer:23-48.
10. Pacheco, J., P. Alvarenga, et al. (2005). “Stability of antisocial behavior on
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perspective.” Psicologia: Reflexão e Crítica 18(1): 55-61.

11. Parra, A. F. M., Lydia Munoz (2012). Avaliação dos transtornos de deficit
de atenção e de comportamento disruptivo. Manual para Avaliação
Clínica dos Transtornos Psicológicos: Estratégias de avaliação,
problemas infantis e transtornos de ansiedade. V. E. Caballo,
Santos: 696.

12. Serra-Pinheiro, M. A., M. M. Guimarães, et al. (2005). “A eficácia de


treinamento de pais em grupo para pacientes com transtorno desafiador
de oposição: um estudo piloto.” Revista de Psiquiatria Clínica 32(2): 68-
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13. Serra-Pinheiro, M. A., M. Schmitz, et al. (2004). “Transtorno desafiador de


oposição: uma revisão de correlatos neurobiológicos e ambientais,
comorbidades, tratamento e prognóstico.” Revista Brasileira de
Psiquiatria 26: 273-276.

14. Stringaris, A., G. Lewis, et al. (2014). “Developmental pathways from


childhood conduct problems to early adult depression: findings from the
ALSPAC cohort.” The British Journal of Psychiatry: bjp. bp. 113.134221.

15. Teixeira, G. (2013). Manual dos Transtornos Escolares, Editora Best


Seller.

16. Teixeira, G. (2014). O Reizinho da Casa, Editora Best Seller.

17. Tremblay, R. E., R. O. Pihl, et al. (1994). “Predicting early onset of male
antisocial behavior from preschool behavior.” Archives of general
psychiatry 51(9): 732-739.

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