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ORIENTAÇÃO AOS PAIS DE CRIANÇAS COM TDAH -

TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE

Edyleine Bellini Peroni Benczik

As pessoas dizem algumas coisas bastante insensíveis, e a infinidade


de mitos e desinformação sobre TDAH por aí não ajudam. As pessoas nos 1
culpam (ou aos nossos filhos) pelos comportamentos controlados pela doença,
mesmo quando tentamos educá-los sobre as realidades da química do cérebro.

Às vezes, porém, mesmo os pais mais amorosos, às vezes, dizem coisas das quais
se arrependem depois de um longo dia de comportamentos desafiadores.

"Você é preguiçoso." "Você nem está tentando!" "Por que você não pode
simplesmente ser normal ??" Essas observações e outras frases ofensivas - devem
ser evitadas a todo custo se você quiser promover a auto-estima, as habilidades
sociais e a sensação de segurança de seu filho em sua família.

Goldstein & Goldstein (1990) propõem um modelo de intervenção para orientar


os pais em como melhorar a interação com seus filhos.

1. Entender as causas do TDAH. Os pais devem tentar ver o mundo através


dos olhos de suas crianças. Isso os auxilia a entenderem as necessidades da
criança e diminuir o estresse causado. Muitos pais acreditam que o filho é
desinteressado, preguiçoso e que não se esforça. Ou, ainda, que é ruim ou
teimoso. Outros pais podem culpar os professores e a escola pelos
insucessos escolares da criança. Os pais acabam rivalizando-se com o
professor de seu filho, ou com a escola, acarretando mais problemas e
agravando, assim, a situação da criança. Outro fato similarmente
prejudicial é que a criança é frequentemente transferida de escola. A
mudança de escola para uma outra mais adequada ao pleno
desenvolvimento da criança é bem vinda e necessária, mas desde que as
necessidades desta sejam efetivamente reconhecidas. Trocar uma escola
por outra qualquer sem levar em conta essas necessidades não pode trazer
os benefícios que a criança com TDAH necessita. A escolha da escola deve
ser feita criteriosamente, levando-se em conta o que será melhor para o
desenvolvimento emocional, social e educacional da criança. Por isso, é
importante que os pais reconheçam quais os sintomas do TDAH e
entendam os problemas sociais e escolares que a criança enfrenta.
A partir do momento em que os pais identificam o porquê das atitudes do
filho podem assumir uma postura de compreensão, unindo-se com os
profissionais em questão (professores, escola, psicopedagogo, etc.) ficando
mais fácil ajudá-los. 2
Os pais deverão também ter conhecimento de regras básicas e técnicas de
conduta, pois, como vimos, em razão da natureza de seu temperamento, a
criança com TDAH apresenta uma coleção e variedade de problemas.
Algumas dessas regras estão posteriormente descritas. O psicólogo poderá
marcar algumas sessões para explicar aos pais sobre essas regras, para dar
oportunidades de eles colocarem-se sobre como estão lidando com as
dificuldades da criança e para dar sugestões mais efetivas dentro de casa.

2. Fazer distinção entre desobediência e incompetência. Nesta segunda etapa,


é importante que os pais façam a distinção entre os comportamentos que
resultam de uma incompetência (dificuldade) daqueles que resultam da
desobediência da criança. Sabemos que a maior parte dos comportamentos
da criança com TDAH é mais em razão de suas dificuldades do que por
teimosia. Por exemplo, os pais não deveriam punir uma criança de 5 anos;
por sua dificuldade de leitura, esperando que com isso, na próxima vez, a
criança melhore a sua capacidade de leitura. Sabendo distinguir
desobediência de incompetência, os pais podem reduzir punições
inadequadas e orientar a criança para o desenvolvimento de
comportamentos mais desejáveis.

3. Dar orientações positivas. A criança com TDAH deve saber previamente


como agir, de acordo com cada situação.
O psicólogo deverá, nesta etapa, ajudar os pais a pensarem sobre como eles
interagem com seus filhos. Para alguns pais é mais fácil tomar uma atitude,
ou punir, somente depois de a criança ter feito algo errado. É mais fácil
para a criança saber de antemão o que é esperado dela em determinadas
situações, e os pais devem orientá-la, explicando como querem que ela aja,
para que, dessa forma, ela possa tentar corresponder. Os pais devem
funcionar como um guia para a criança, norteando sua conduta.
No início, os pais devem começar dando orientações e dirigindo
(controlando) a conduta dos filhos até que estes possam sozinho,
desenvolverem suas próprias orientações e direções.

4. Interagir com sucesso. Os pais devem passar uma mensagem clara para a
criança de que esta deveria, eventualmente, pedir consentimento dos pais
para agir. Por exemplo, não sair de casa sem pedir ordem. Nesta fase, os 3
pais devem dar pequenas punições se a criança desobedecer, a fim de
demonstrarem claramente que ficaram insatisfeitos, esclarecendo o porquê
da punição.
O profissional pode auxiliar os pais a fornecerem às suas crianças um nível
significante de estrutura que promova mudanças positivas de
comportamento.
Concluímos, então, que o papel do profissional em saúde mental é de
conscientizar os pais quanto ao impacto que o TDAH pode causar na vida
da criança, mediar a relação entre pais e filhos, propondo-lhes formas de
otimizar essa interação, e entre pais-criança-escola, a fim de que todos os
envolvidos possam, juntos buscar uma forma mais harmoniosa de
solucionar problemas. Deverá também discutir com os pais qual a melhor
pedagogia, onde e como a criança poderá obter êxito.

Seguem abaixo algumas das dicas úteis aos pais:

• Reforçar o que há de melhor na criança.


• Não estabelecer comparações entre os filhos. Cada criança apresenta um
comportamento diante da mesma situação.
• Procurar conversar sempre com a criança sobre como está se sentindo.
• Dar instruções diretas e claras, uma de cada vez, em um nível que a criança
possa corresponder.
• Ensinar a criança a não interromper as suas atividades, tentar finalizar tudo
aquilo que começa.
• Manter em casa um sistema de código ou sinal que seja entendido por todos
os membros da família.
• Advertir construtivamente o comportamento inadequado, esclarecendo
com a criança o que seria mais apropriado e esperado dela naquele
momento.
• Usar um sistema de reforço imediato para todo o bom comportamento da
criança.
• Estabelecer uma rotina diária clara e inconsistente (hora de almoço, jantar
e dever de casa, por exemplo).
• Priorizar e focalizar o que é mais importante em determinadas situações.
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• Manter limites claros e consistentes, relembrando-os frequentemente.
• Organizar e arrumar o ambiente como um meio de otimizar as chances para
sucesso e evitar conflitos.
• Preparar a criança para qualquer mudança que altere a sua rotina, como
festas, mudanças de escola ou residência, etc.
• Escolher cuidadosamente a escola e a professora para que a criança possa
obter sucesso no processo ensino-aprendizagem.
• Manter o ambiente doméstico o mais harmônico e o mais organizado
quando possível.
• Reservar um espaço arejado e bem iluminado para a realização da lição de
casa.
• Aprender a controlar a própria impaciência.
• Não sobrecarregar a criança com excesso de atividades extracurriculares.
• Não exigir mais do que a criança pode dar; deve-se considerar sua idade.
• Ensinar a criança maios de lidar com situações de conflito (pensar,
raciocinar, chamar um adulto para intervir, esperar por sua vez).
• Não esperar “perfeição”.
• Ter sempre um tempo disponível para interagir com a criança.
• Incentivar a criança a exercer uma atividade física regular.
• Estimular a independência e a autonomia da criança, considerando a sua
idade.
• Estimular a criança a fazer e manter amizades.
• Incentivar as brincadeiras como jogos de regras, pois além de ajudar a
desenvolver a atenção, permitem que a criança se organize por meio de
regras e limites, e aprenda a participar ganhando, perdendo ou mesmo
empatando.

Deve sempre lembrar-se aos pais que estes devem ser otimistas, pacientes
e persistentes com o filho. Não devem desanimar diante dos possíveis obstáculos.
PATERNIDADE POSITIVA

Uma técnica de paternidade radicalmente positiva: a abordagem do coração


nutrido

Você tem um filho com TDAH que simplesmente não escuta ou não segue
nenhuma regra? A situação é tão difícil que parece sem esperança? Nesse caso, a 5
Abordagem do Coração Nutrido, criada pelo terapeuta Howard Glasser, pode ser
a resposta para suas lutas. Aprenda sobre a abordagem do coração nutrido e como
você pode se reconectar com seu filho.

POR HOWARD GLASSER , MELISSA LOWENSTEIN, M.ED.

As abordagens de modificação de comportamento padrão são projetadas para


apoiar os adultos na orientação de crianças enérgicas com transtorno de déficit
de atenção em relação a escolhas que manterão a harmonia em lares e salas de
aula.

O Nurtured Heart Approach® (NHA), criado pelo terapeuta Howard Glasser no


final dos anos 1990, é frequentemente considerado "modificação de
comportamento". Mas é realmente uma forma revolucionária de construir
relacionamentos positivos entre adultos e crianças .

Em vez de tentar modificar o comportamento e exercer controle, a Abordagem


do Coração Nutrido transforma a criança, alterando a maneira como seus pais se
relacionam com ela. Eventualmente, isso muda a maneira como a criança se
relaciona consigo mesma e com o mundo.

Testemunhos não são difíceis de encontrar. Uma mãe disse: “Meu marido e eu
estávamos desesperados para encontrar uma abordagem que funcionasse para
nosso filho de seis anos de alta energia. Nenhuma forma de disciplina o fez nos
ouvir ou seguir regras. Tentamos a Abordagem do Coração Nutrido e ela
transformou meu filho em um menino bem-comportado e atencioso que ouve os
pais. Eu considero isso um milagre.”
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Uma breve história da abordagem do coração nutrido

Do início a meados da década de 1990, Howard Glasser trabalhava como


terapeuta familiar em consultório particular em Tucson, Arizona. Muitas famílias
o procuraram em busca de ajuda para lidar com seus filhos desafiadores. Todo o
seu treinamento e foco foram no sentido de tentar ajudar essas famílias, mas as
táticas que seu treinamento lhe ensinou não melhoraram a situação de seus
clientes.

Desiludido e frustrado, Glasser começou a trabalhar em novas formas de trabalhar


com essas crianças, guiado por sua própria história de ser uma criança
extremamente difícil. Por meio de um processo de intuição, tentativa e erro, ele
criou uma abordagem que, durante anos, não teve nome. A notícia viajou
rapidamente, pois ele parecia "curar" jovens com TDAH . Os estagiários foram
treinados em seus métodos em um centro de terapia familiar que ele abriu em
Tucson, e se tornou mais eficaz do que profissionais em melhorar o
comportamento de crianças desafiadoras.

Eventualmente, Glasser começou a formalizar seus métodos, o que lhe permitiu


ensiná-los como uma abordagem unificada. E ele veio com um nome. Ele
escreveu seu primeiro livro com a terapeuta Jennifer Easley, Transforming the
Difficult Child , que - mais de uma década depois - continua sendo um campeão
de vendas na Amazon.

Desde o seu início, a Abordagem do Coração Nutrido foi adotada por centenas de
milhares de famílias, milhares de professores e administradores, dezenas de
escolas e dezenas de outros sistemas escolares e sistemas de bem-estar infantil.

Um estudo de pesquisa de vários anos da Universidade do Arizona sobre essa


abordagem está quase completo no momento em que este livro é escrito. Ele
analisa se a abordagem do coração nutrido reduz os sintomas de impulsividade,
hiperatividade e desatenção das crianças com TDAH, reduz o estresse dos pais e
aumenta o senso de competência entre os pais de crianças com TDAH. Os
primeiros resultados são promissores.
Algumas das evidências mais convincentes da eficácia da abordagem vêm dos
pais: “Nosso filho sempre foi intenso, mas à medida que se aproximava dos
quatro, ele estava começando a agir de maneiras cada vez mais difíceis e
físicas. 48 horas depois de [usar a Abordagem do Coração Nutrido] e reforçar
seus comportamentos positivos e desenergizar seus comportamentos negativos,
ele era uma criança diferente. Eu me apaixonei pelo meu filho de novo.”

Abordagem do coração nutrido em poucas palavras

O ímpeto abrangente da Abordagem do Coração Nutrido é que a intensidade que


sai errada e que eventualmente se torna sintomática e diagnosticável é a fonte de
energia que alimenta a grandeza da criança. Em vez de fazer uma criança correr
voltas para queimar a intensidade ou colocá-la em atividades destinadas a
canalizar essa força vital, você pode usar maneiras específicas de se relacionar
com a criança que transformam essa intensidade em combustível para a grandeza
inata da criança. Desse lugar, a criança é atraída a fazer boas escolhas, usar
sabedoria e autocontrole e ser compassiva e colaborativa.

A NHA estabelece a transformação criando uma mudança de paradigma para o


adulto. Ele conduz o aluno adulto por uma série de contendas, intenções e
técnicas para engendrar essa mudança. Os princípios da Abordagem do Coração
Nutrido são:

Passo 1: Recuse a energia negativa

As crianças aprendem desde cedo que obtêm muito mais “energia” dos adultos
quando as coisas vão mal. Crianças naturalmente intensas trabalharão nessa
dinâmica para obter a maior dose possível de conexão focada e emocionalmente
vívida dos adultos. Passo um começa a inverter essa dinâmica: a simples recusa
de se conectar de forma energética com a criança em torno de comportamentos
desafiadores. É crucial estabelecer este primeiro suporte antes dos outros dois,
mas ele se torna efetivo apenas quando é usado ao lado do segundo suporte.

Passo 2: Sucesso Intencionalmente Energizador

Esta posição é sobre encontrar e reconhecer comportamentos positivos e neutros


- quaisquer comportamentos que não envolvam quebrar regras. Ele transforma a
dinâmica de energia para comportamentos negativos em energia para
comportamentos positivos e neutros. À medida que a criança passa a esperar ser
recompensada com conexão e apreço por não agir, ela muda.
Dominar esta posição envolve uma apreciação consistente e um compromisso de
lembrar de declarar apreciação nos momentos em que um pai não pensou em nada
digno de nota sobre o que estava acontecendo. O que é expresso com apreço à
criança nunca é BS. Vem do reconhecimento baseado na verdade, com base no
que sempre existiu.

Passe 3: Regras claras e consequências

A terceira posição é: seja claro sobre as regras de sua casa ou sala de aula,
declarando-as em um formato “Não ...”: (“Não agride”, “Não mente”, “Não 8
provoca provocações”, “Não deixa bagunça”). Isso traz uma clareza maior do que
as chamadas "regras positivas": "Mantenha suas mãos longe de você" ou "Seja
gentil" ou "Limpe-se".

Os adultos que criaram filhos desafiadores sabem que, se a linha entre a regra
seguida e a regra quebrada não for perfeitamente clara, a criança fará o teste e
tentará descobrir onde está a linha. Você pode acabar com muitas regras, mas
tudo bem. Isso deixa mais espaço para apreciações da Posição Dois, onde as
regras não estão sendo quebradas: “Billy, eu amo que você escolheu não discutir
quando o jogo com seu irmão não saiu do seu jeito. Eu vi que você estava
chateado e você lidou com esses sentimentos tão poderosa e sabiamente ao decidir
não se preocupar.”

Quando uma regra é quebrada, a Abordagem do Coração Nutrido usa um “reset”


não energizado como consequência. Esta é uma forma de castigo em que o adulto
se desconecta temporariamente da criança, dando zero reatividade ao
comportamento de quebra de regras e dizendo: "Billy, reinicie"

O adulto observa atentamente o próximo momento quando algo está dando certo
ou a quebra de regras está diminuindo ou parando, e volta para o Estande Dois:
“Obrigado por reiniciar. Vejo que você não está mais pressionando sua irmã, e
isso me mostra que está usando seu autocontrole e expressando gentileza com
consideração.

Uma abordagem baseada na verdade

A abordagem do coração nutrido pode parecer excessivamente positiva no


início. O que é verdade é que se baseia na verdade absoluta do momento. Ou uma
regra está sendo quebrada ou não está. Se uma regra não está sendo quebrada,
ofereça ativamente reconhecimento e apreciação positivos e enérgicos. Se uma
regra está sendo quebrada, é hora de uma reinicialização e uma nova chance de
sucesso.
UM GUIA PRÁTICO PARA PAIS POSITIVOS

Irritar não funciona. Nem gritar ou bater.

Por quê? Essas punições apenas destroem as crianças - o que é particularmente


contraproducente para crianças com TDAH.

Então, como você pode aumentar a auto-estima de seu filho - e ainda fazer
cumprir as regras? Comece com essas técnicas positivas de criação de filhos.
9
1. Seja um detetive de comportamento.

Preste muita atenção ao que seu filho faz bem.

Encontre maneiras de estender essas realizações a outras áreas.

2. Use as palavras certas na hora certa.

A chave para um elogio eficaz é o tempo.

Elogiar cada ação parecerá falso. Ofereça incentivo autêntico quando seu filho
realmente tiver sucesso.

3. Configure um sistema de recompensas.

Recompense os sucessos com estrelas douradas que seu filho pode ganhar como
recompensa.

Isso dá ao seu filho objetivos do mundo real e motivação a longo prazo.

4. Expanda sua definição de sucesso.

Não há uma única medida de inteligência ou talento.

Seu filho pode ser um artista natural ou um chef quatro estrelas em formação.

5. Discipline de forma justa e consistente.

A paternidade positiva não está dando passe livre ao seu filho.

É perceber conscientemente o bem ao lado do mal - mesmo quando a punição é


necessária.
Referências:
Benczik, E.B.P. (2000 -2010). Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade: Atualização Diagnóstica e Terapêutica - Um guia de
orientação para profissionais. Ed. Pearson. São Paulo.
Howard Glasser , Melissa Lowenstein, Paternidade positiva.
Rev.ADDmagazine.28/07/2021.

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