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Hiperactividade e défice de atenção

Tem a certeza que sabe exactamente o que é hiperactividade? E o défice de atenção? E


a perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção (PHDA)?

Sabe o que é a PHDA?

A PHDA é uma perturbação neurocomportamental, que se manifesta desde cedo na infância e


geralmente persiste ao longo do crescimento, no entanto os sintomas podem modificar-se ao
longo do tempo.

A PHDA caracteriza-se por um padrão persistente de pelo menos 6 meses de sintomas de Falta
de Atenção, de Hiperactividade e/ou de Impulsividade.

Não basta ter estes sintomas mas que os mesmos tenham uma intensidade desadaptativa e
inconsistente relativamente ao nível de desenvolvimento e que causam défices que surgem
frequentemente antes dos 7 anos de idade.

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E que sintomas são esses?

Sintomas de Falta de Sintomas de Sintomas de


Atenção Hiperactividade Impulsividade

Dificuldades em Movimenta com Respostas


prestar e manter a frequência as mãos e
precipitadas antes
atenção; os pés, move-se
quando está sentado; das perguntas terem
Parece não escutar
quando lhe falam; Levanta-se com sido concluídas;
frequência na sala de
Não segue as aulas ou noutras Têm com
instruções e não situações em que se
termina os trabalhos frequência
espera que esteja
escolares, encargos sentado; dificuldade em
ou deveres;
Corre ou salta em esperar a sua vez;
Têm dificuldade em demasia em situações
organizar tarefas e nas quais isto é Interrompe ou
actividades; inapropriado;
mete-se nos
Evita, envolver-se em Têm com frequência assuntos dos outros
tarefas que exijam dificuldades em jogar
esforço mental ou dedicar-se com frequência.
contínuo; tranquilamente a
actividades de lazer;
Distrai-se facilmente
com os estímulos Anda ou só actua
alheios à tarefa; como se estivesse
“ligado a um motor”;
Perde objectos
necessários às tarefas Fala em excesso.
ou actividades;

Esquece-se com
frequência das
actividades
quotidianas.

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E a PHDA é toda igual?

Existem três subtipos:


Tipo Predominantemente Hiperactivo-impulsivo;
Tipo Predominantemente Desatento;
Tipo Misto.

Em que são diferentes?

No Tipo Predominantemente Hiperactivo-Impulsivo - persistem durante pelo menos seis


meses (ou mais), seis sintomas de hiperactividade-impulsividade, mas menos que seis
sintomas de falta de atenção;

No Tipo Predominantemente Desatento - persistem durante pelo menos seis meses (ou mais),
6 sintomas de falta de atenção (mas menos que seis sintomas de hiperactividade-
impulsividade);

No Tipo Misto – persistem durante pelo menos seis meses (ou mais) 6 ou mais sintomas de
cada um dos tipos anteriormente apresentados.

Segundo o DSM-IV-TR (2002) cerca de 3% a 7% das crianças em idade escolar pode ter um
diagnóstico de PHDA e esta parece ser mais frequente nos rapazes do que nas raparigas, no
entanto estas percentagens podem variar muito de acordo com o tipo de PHDA.
A PHDA é mais provável em crianças cujas figuras parentais apresentam também um quadro
de hiperactividade com défice de atenção.

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Quais poderão ser as causas da PHDA?

As causas desta perturbação não são totalmente conhecidas. Sabe-se que a estrutura cerebral
das crianças com PHDA é normal, embora não produza substâncias químicas suficientes em
áreas chave do cérebro que são responsáveis pela organização do pensamento, que podem
resultar de causas como:

Hereditariedade;
Substâncias ingeridas na gravidez (álcool e outras substâncias tóxicas);
Lesões no sistema nervoso central;
Exposição a chumbo;
Problemas familiares;
Factores Sociais.

Onde se manifesta?

Os sintomas podem manifestar-se em diferentes contextos, sobressaindo mais em alguns do


que em outros: escola, casa...

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Que consequências tem?

Para a criança
Se não for sujeita a uma intervenção adequada e precoce poderá ter diversas consequências
nos diferentes contextos da criança, podendo:
baixar o seu rendimento escolar,
ter mau aproveitamento,
não conseguir controlar o seu comportamento,
não conseguir garantir a organização e funcionamento das suas rotinas e
consequentemente vivenciar um sentimento de
o falta de auto-controlo,
o insegurança,
o incapacidade de auto-regulação e
o baixa auto-estima.

Os sintomas de PHDA e a sua manifestação tornam, por vezes, difícil a convivência da criança
com os outros; é chamada frequentemente à atenção, começa a ter bastantes conflitos, e
recebe repreensões. Por serem tantas as vezes que perturba o meio que a rodeia, é por vezes
injustamente culpabilizada o que leva a que possa sentir-se rejeitada e desvalorizada, levando
a uma imagem negativa de si própria e baixa auto-estima.

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Para a família
Os pais sentem-se frequentemente cansados, impacientes, com dificuldade em lidar com os
comportamentos da criança e com as queixas constantes e recados vindos da escolar.

Frequentemente esforçam-se e sentem que os seus esforços não permitem alcançar os


resultados que desejam. Surgem os conflitos pela exaustão e dificuldade em lidar com os
comportamentos e por vezes é inevitável que haja repercussões negativas na relação entre os
elementos da família e até da família com outros amigos: os pais sentem que quem os rodeia
associa os comportamentos do filho a má educação, a falta de castigos e regras, a famílias com
problemas. A relação entre pais e filho pode asssim ser prejudicada, bem como todo o
ambiente familiar.

Como pode evoluir?

Na maioria dos casos os sintomas persistem desde a infância até pelo menos à adolescência,
podendo mesmo persistir na idade adulta. A evolução da PHDA depende das características da
criança, dos sintomas que manifesta e das consequências dos mesmos na sua vida, da
existência de outras perturbações associadas, do ambiente familiar, escolar e social e da
intervenção a que foi sujeita e quando foi sujeita.

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Os mitos da PHDA

É frequente pela incompreensão e dificuldade de diagnóstico de PHDA surgirem mitos,


absolutamente desfasados da realidade, e que prejudicam o bem-estar da criança e da família,
como, por exemplo:
“É uma criança mal educada”;
“É uma criança má”;
“É uma criança que os pais não lhe dão regras nem limites”;
“É uma criança “doente”, com muitos problemas”;
“A família de certeza que tem muitos conflitos e é desequilibrada”.

E há solução?

Uma intervenção precoce e multidisciplinar e que envolva todos os contextos da criança,


poderá permitir à criança superar as suas dificuldades e desenvolver estratégias para lidar com
os sintomas e problemáticas da PHDA, com a colaboração dos agentes educativos que
trabalham e interagem diariamente com a criança.

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Intervenção com a Escola
Articular com os professores para que criem as condições possíveis e necessárias para ajudar a
criança/adolescente a lidar com as suas dificuldades; definir e auxiliar os professores na gestão
de tarefas adaptadas às características da criança/adolescente;

Intervenção Familiar
Psicoeducação com a família (o que é a PHDA, causas, como se manifesta, consequências);
munir os pais e educadores de estratégias e ferramentas que possam ajudar a
criança/adolescente a lidar com as dificuldades e consequências da PHDA e a ter sucesso;
estratégias para um ambiente familiar equilibrado; gestão da auto-estima da
criança/adolescente;

Intervenção com a Criança


Uma abordagem cognitivo-comportamental com:
psicoeducação (explicar à PHDA, como se manifesta e consequências);
desenvolvimento de técnicas de gestão do comportamento,
gestão emocional, controlo da impulsividade,
treino de competências sociais,
gestão de tarefas;
Mindfulness;
intervenção através de Neurofeedback.

Em alguns casos poderá ser necessário recorrer a intervenção farmacológica.

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Como os pais podem ajudar?

Talvez queira experimentar algumas dicas, enquanto não começamos a trabalhar


consigo e com o seu filho

Em casa proporcionar-lhe um ambiente estruturado. Manter constantes os horários


das refeições, do estudo, do banho, do deitar, etc.;

Pai e mãe deverão estar em consonância nas estratégias que usam, contribuindo para
que a criança não receba mensagens contraditórias;

Criar oportunidades para estar com o seu filho sem lhe estar a dar ordens, ralhar ou
corrigir. Dê-lhe a sua atenção de forma positiva (nem que seja por 15 minutos
diários);

Comunicar-lhe com antecedência qualquer possível alteração da dinâmica do lar, para


que ele possa adaptar-se;

Fazê-lo participar, de acordo com as suas possibilidades, nas tarefas domésticas.


Ensiná-lo directamente e elogiá-lo quando tenta fazer sozinho;

Elogiar não só o que conseguiu melhorar mas também quando se observa que se
esforçou;

Ajudá-lo a organizar as suas tarefas e actividades, proporcionando-lhe orientações e


incentivos para que se consiga concentrar e envolver-se nas tarefas;

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Acompanhá-lo nas suas tarefas escolares, ajudando-a com um ambiente tranquilo,
eliminando distractores, auxiliando-a na organização das tarefas escolares, motivando-
a para as mesmas e elogiando-a pelos seus progressos;

Fraccionar todas as tarefas em curtos intervalos de tempo;

Faça-lhe pedidos simples e directos, sempre mantendo o contacto visual com a


criança e certificando-se que ela entendeu. Focarem o que deve fazer e como deve ser
feito e não o que não se deve fazer;

Tentar que a proximidade e o contacto entre pais e professores seja bastante e de


qualidade, para que todos contribuam para ajudar a criança a lidar com as suas
dificuldades;

Sempre que pais cometem erros poderão reconhecê-los, servindo como exemplo para
a criança e procurando corrigir esses erros;

Incentivá-la quando fizer algo bem feito dirigindo-lhe um sorriso, uma palavra de
elogio ou uma recompensa, mantendo sempre o contacto visual com a criança;

Falar com ela sobre os seus erros, fazendo com que ela própria imagine possíveis
alternativas;

Existência de normas claras e coerentes que orientem as suas acções (de forma a que
a criança saiba o que se espera dela);

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Utilizar a autoridade de uma forma assertiva, o que implica dizer “não” quando a
criança pede ou exige coisas pouco razoáveis;

Ajudar a criança a aumentar a confiança em si mesma e a sua auto-estima, elogiando-


a (sobretudo quando quer ver o mesmo comportamento repetido mais vezes ex: estar
a brincar sozinha, estar quieta, etc. nem que seja por breves minutos);

Gerar expectativas adequadas aquilo que a criança é capaz de fazer;

Usar métodos que permitam o auto-controlo, como horário de estudo, agendas, listas,
cronogramas…

Dicas de ajuda para a criança/adolescente

Construção de um mapa das tarefas escolares


- Construir um mapa/calendário com as tarefas escolares que tem para fazer e a
organização do seu tempo perante tais tarefas, fixando tempos e momento para
estudo, realização de trabalhos, tempos livres... Colocar o mapa em local visível e da
fácil consulta. Ajudá-la a cumprir as tarefas agendadas.

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Jogos de atenção e concentração
- Jogo das categorias: Com frutos, objectos, nomes, cidades, o que se lembrarem, um
elemento começa por dizer uma palavra, o elemento seguinte tem de dizer essa
palavra e acrescentar outra, o seguinte tem de dizer essas duas pela ordem em que
surgiu e acrescentar outra e assim sucessivamente. Ganha quem conseguir dizer mais
sem se enganar na ordem e sem esquecer nenhuma palavra. Não só treina
a concentração, como a memória.

- Jogo das sequências numéricas: O pai, a mãe, a avó, o avô, a tia ou o tio escreve numa
folha algumas sequências de nºs (1 a 9) crescentes (começam com uma
sequência de dois números, depois de três, depois de quatro...). A criança ou jovem
deve repetir a sequência após a mesma ter sido dita por quem está a fazer o treino
com ele. Quando se engana em alguma, tem três vezes para tentar dizer bem. Se não
conseguir após três tentativas, nesse dia ou momento o jogo termina e é retomado
após algumas horas ou no dia seguinte, começando na sequência onde ficou.

- Jogo do STOP: Quem estiver fazer o jogo com a criança ou jovem começa por dizer
para pensar num sinal de STOP e apenas num sinal de STOP. Quando a criança/jovem
conseguir invadir o pensamento apenas com um sinal de STOP, o adulto diz-lhe
diversos objectos para a criança/jovem substituir no pensamento pelo sinal de STOP. A
criança/jovem vai dizendo cada vez que consegue estar só a pensar no objecto que lhe
foi referido. Este jogo treina a flexibilidade do pensamento e a
possibilidade de controlar o mesmo.

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O STOP
- Construir um sinal de STOP com a criança e colocá-lo em frente à secretária onde
realiza os trabalhos de casa. Treinar com a criança associar o sinal de STOP a ter de
voltar a concentrar-se, regressando à tarefa que estava a realizar. Poderá ser feito um
mais pequeno e colocado no estojo para que esteja sempre visível na sala de aula;

Técnica co 5 para o 0
- Para controlar a impulsividade, poderá ser proposto à criança um jogo em que antes de
falar, responder ou agir deverá contar de 5 para 0 e só depois responder ou agir;

Jogo do SIM, NÃO, JÁ


- Fazer perguntas à criança e esta só pode responder às mesmas sem usar Sim, Não, Já, o
que a ajudará a treinar o seu auto-controlo e o pensar antes de agir. Depois poderá ser a
criança a fazer ao adulto.

Jogo da estátua
- Um exercício que ajuda a criança a controlar o seu comportamento. O adulto põe música,
enquanto a música dá, a criança pode dançar, saltar, mexer-se como quiser. Assim que a
música pára, a criança deve parar exactamente onde está. Treina a atenção e a capacidade
de se controlar.

Exercícios de mindfulness para crianças e adolescentes


O mindfulness é simples e complicado ao mesmo tempo. É ter consciência de cada momento,
do presente, do agora, é dirigir a atenção para aquilo que normalmente não dirigimos a
atenção. Aqui e agora. No fundo é tomarmos contacto com o momento presente, com aquilo
que está a acontecer no momento actual. Permite aumentar a concentração, a resistência a
distractores e o auto-controlo.

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- Treine respiração mindfulness com os seus filhos:
Pode sugerir-lhe para ambos fecharem os olhos e respirarem fundo, lentamente, como se
quisessem encher um balão que têm na barriga muito devagarinho para ele não rebentar.
Através desta imagem, ajuda o seu filho a conseguir concentrar-se e mobilizar toda a atenção
para a sensação da barriga. Ao longo das respirações pode introduzir o suster a respiração para
o balão ficar cheio durante um bocadinho, o que vai aumentar a atenção para a sensação. É
natural que o seu filho se distraia com os barulhos do exterior ou qualquer outra situação ou
pensamento. Se isto acontecer, peça-lhe que repare melhor no que o distraiu e depois tente
novamente concentrar-se em encher e esvaziar o seu balão que está na barriga, como se isso
fosse agora a única missão que têm, faça-o de forma tranquila, sem pressas ou sem o acusar
de não conseguir. Estas tentativas de mudanças dos focos de atenção permitem treinar a
atenção e lidar com os diferentes tipos de acontecimentos que nos rodeiam e pelos quais
passamos (pensamentos que nos distraem, sentimentos, desconforto físico).

- Faça a sonda corporal com os seus filhos:


A sonda corporal permite-nos estar mais conscientes das sensações corporais. Sugira aos seus
filhos que progressivamente se concentrem nas partes do corpo que vai nomeando e cada vez
que nomear uma parte do corpo, eles devem torná-la tensa, contrai-la e depois relaxá-la
devagarinho. Neste tipo de exercício e tratando-se de mindfulness o objectivo é dirigir a
atenção sem qualquer juízo crítico para cada parte do corpo, ganhando consciência da mesma.
Com crianças mais pequenas pode mesmo arranjar metáforas para ajudar a concentrar-se e a
contrair cada parte do corpo de forma independente. Por exemplo: para contrair as mãos,
imaginar que tem uma laranja em cada mão cheia de sumo e que vão espremê-las muito,
muito, muito; na barriga, fazer força na barriga porque vai passar um gigante ou um elefante e
não podem deixar que vos esmague. Para cada parte do corpo pode ser arranjada uma
metáfora que ajuda a contrair e depois a relaxar.

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- Leve a família a fazer uma caminhada mindfulness:
Proponha uma caminhada diferente à família: em vez de irem apenas andar para chegarem a
um local específico, o objectivo é andar e prestar atenção a todos os aspectos da caminhada:
as sensações corporais dos pés a baterem no chão; mudanças de temperatura no corpo,
luminosidades, sons. Pode ser proposto o desafio da caminhada ter um momento (com
crianças mais pequenas pouco tempo) em que não conversam, cada um tem o desafio de
apenas se focar nas suas sensações corporais ao longo da caminhada, sons, pensamentos,
emoções, tentando sempre não se distrair com o que ouve das pessoas que passam. Pode
mesmo ser sugerido que enquanto caminhem respirem com a respiração mindfulness que
treinaram e irem percorrendo o corpo, os sons, a temperatura para no final, quando o pai ou a
mãe ou outro adulto disser que terminou o tempo possam partilhar o que sentiram no corpo,
o que ouviram, o que prestaram atenção na caminhada. Depois façam uma actividade em
família do agrado de todos.

Prática de um desporto/actividade física


A escolha de um desporto ou actividade física estruturado pela criança/adolescente é
essencial, permite desenvolver competências de concentração, empenho, cumprimento de
regras, auto-controlo e a interacção com os outros.

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Notas finais

As estratégias aqui sugeridas são apenas alguns exemplos de ferramentas que poderão ajudar,
no entanto não dispensam a avaliação e parecer técnico de um profissional.

Estas estratégias exigem treino, persistência e a criação de uma rotina na implementação das
mesmas. É pela sua implementação prolongada que os resultados desejados mais facilmente
serão alcançados.

A escolha de estratégias pelos pais deverá ser feito de acordo com o que for mais confortável e
nas quais se sentirem melhor e mais à vontade. Nem todas são eficazes em todos os casos, no
entanto, poderão ser uma valiosa ajuda.

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