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Hiperatividade ou falta de limites?

Andréia Schmidt

A escola se queixa: “Esse menino não pára!”; “Parece que ele está sempre com a cabeça
no mundo da lua!”; “Ele não consegue acompanhar porque não presta atenção no que
faz!”; “Esse menino precisa de limites!”. Quando os pais ouvem esses comentários dos
professores, uma pergunta muito séria ronda sua cabeça: até que ponto a “energia” ou a
“distração” do filho são normais ou são sinais de que há algo realmente errado
acontecendo?

Responder a essa pergunta não é nada fácil. Afinal, que criança não é, em certa medida,
desatenta, agitada ou impulsiva? Pode-se desconfiar de que há algo de errado quando
todas essas características estão presentes na criança de maneira exagerada. O
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (denominação correta da conhecida
hiperatividade) é um quadro que ocorre antes dos 7 anos de idade e, segundo algumas
estimativas norte-americanas, atinge cerca de 3% a 5% das crianças, sendo muito mais
freqüente em meninos do que em meninas. A criança com déficit de atenção e
hiperatividade apresenta problemas em quatro áreas: atenção, controle de impulsos,
atividade motora e baixo limiar para a frustração. A seguir, vamos descrever brevemente
as principais características desse quadro, mas é importante lembrar que os problemas
causados pelo déficit de atenção e hiperatividade podem variar em gravidade de acordo
com a criança e a forma como os pais e a escola lidam com o problema. Em relação à
atenção, a criança apresenta dificuldade em se concentrar nas tarefas que deve realizar e
costuma distrair-se com facilidade. Essa dificuldade, no entanto, não significa que ela
seja “incapaz” de se concentrar. Em determinadas circunstâncias, pode até fixar sua
atenção em uma história que está sendo contada por um adulto ou em algum programa
de TV. Na sala de aula, por exemplo, a criança pode inicialmente entender o que deve
fazer e começar a tarefa, mas a movimentação do colega ao lado ou um barulho do lado
de fora podem fazê-la “perder o fio da meada”, diferentemente do que acontece com
outras crianças, que conseguem permanecer atentas ao que estão fazendo. Controlar
impulsos é uma tarefa difícil para todos nós: quem, por exemplo, já não teve vontade de
“pular no pescoço” de alguém que fala algo desagradável? O problema com a criança
hiperativa é que ela tem muita dificuldade de se controlar em situações que exigem
planejamento, reflexão sobre conseqüências futuras ou seguimento de regras. Por
exemplo, ao jogar bolinha de gude com outras crianças, ela pode não conseguir esperar
a sua vez e “atropelar” os colegas. Ao resolver um problema de matemática, pode não
conseguir planejar todos os passos que deve seguir e começar de qualquer forma. Mas,
de novo, é importante lembrar: isso não significa que a criança nunca vai conseguir fazer
um planejamento ou se controlar diante de dificuldades. O excesso de atividade motora é
o sinal mais característico e conhecido do quadro: a criança tem dificuldades em se
manter sentada por muito tempo e, em geral, movimenta-se muito e o tempo todo. Esse
exagero pode ocorrer também em relação às emoções, já que muitas crianças com déficit
de atenção e hiperatividade costumam ter reações emocionais muito intensas, sejam elas
de raiva, alegria ou frustração. Em geral, é o excesso de atividade motora que leva os
professores a fazer reclamações quanto aos limites que são dados às crianças. E, por fim,
a dificuldade em lidar com a frustração faz com que a criança desista muito facilmente de
seus objetivos. Em outras palavras, diante de dificuldades para alcançar algo que deseja
ou para terminar uma tarefa (por exemplo, um exercício no caderno), a criança acaba
não indo até o fim, ainda que os pais ou os professores insistam para que ela tente mais
uma vez. É muito importante identificar corretamente se a criança realmente tem o
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) para que ela receba
atendimento adequado o mais rápido possível. Em geral, quando a criança apresenta o
quadro e não é diagnosticada (e, por conseqüência, não recebe o atendimento
adequado), as suas relações com a família, escola e amigos vão ficando cada vez piores:
ela é muito criticada por todos, não consegue se sair bem na escola e os colegas tendem
a se afastar. O resultado? Um grande sentimento de incapacidade, dúvida sobre o amor
das outras pessoas e uma auto-imagem muito ruim (”eu não sei fazer nada direito
mesmo”). A criança com TDAH não é distraída ou agitada porque quer. Ela se comporta
dessa forma porque não consegue ser diferente! Por isso, se você desconfia de que a
conduta do seu filho (ou seu aluno) pode ser um sinal de que ele tenha o TDAH, procure
um neuropediatra ou um psiquiatra infantil (ou então sugira que os pais da criança façam
isso). Esses profissionais poderão fazer o diagnóstico adequado e receitar medicamentos,
se for necessário. O trabalho de um psicólogo será necessário para ajudar a criança a
lidar com suas dificuldades e com as pessoas com quem convive. Algumas dicas para
lidar com a criança com TDAH:

- A criança precisa de estruturação. Um ambiente organizado ajudará na organização


interna da criança.

- Nunca dê mais que uma instrução ao mesmo tempo. A criança certamente se


esquecerá de alguma coisa.

- Ao falar com a criança, olhe sempre nos olhos dela. Isso a ajudará a manter a atenção
no que você está dizendo.

- Repita sempre as instruções, pois a criança precisa disso.

- Na escola, o professor deve procurar dar tarefas curtas para a criança. Se a for longa,
é importante tentar dividi-la em tarefas menores para que a criança não tenha a
sensação de que é longa demais e que nunca vai terminar tudo aquilo.

- Sempre valorize as coisas boas que a criança faz e as tarefas que consegue cumprir:
ela provavelmente está cansada de saber de suas limitações, mas poucas vezes tem a
oportunidade de ouvir sobre suas conquistas.

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