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Formador:
Octávio Moura
* om@octaviomoura.com
8 octaviomoura.com
8 dislexia.pt
8 hiperatividade.com.pt
8 academia.dislexia.pt
2021
Perturbação de Hiperatividade /
Défice de Atenção (PHDA)
DEFINIÇÃO
§ A PHDA é uma perturbação do comportamento infantil, de base genética, em que estão implicados
diversos fatores neuropsicológicos, que provocam na criança alterações atencionais,
impulsividade e uma grande atividade motora. Trata-se de um problema generalizado de falta de
autocontrolo com repercussões no seu desenvolvimento, na sua capacidade de aprendizagem e
no seu ajustamento social (Cardo & Servera-Barceló, 2005, p.11).
CRITÉRIO A. 1) ou 2):
1 – DESATENÇÃO
6 (ou mais) dos seguintes sintomas persistiram pelo menos durante 6 meses num grau que é
inconsistente com o nível de desenvolvimento e que tem impacto negativo direto nas atividades
sociais e académicas/ocupacionais. Para ³ 17 anos são necessários pelo menos 5 critérios:
1. Frequentemente, falha em prestar atenção suficiente aos pormenores ou comete erros por
descuido nas tarefas escolares, no trabalho ou noutras atividades (por exemplo, negligência
ou perde pormenores, o trabalho é impreciso).
2 – HIPERATIVIDADE E IMPULSIVIDADE
6 (ou mais) dos seguintes sintomas persistiram pelo menos durante 6 meses num grau que é
inconsistente com o nível de desenvolvimento e que tem impacto negativo direto nas atividades
sociais e académicas/ocupacionais. Para ³ 17 anos são necessários pelo menos 5 critérios:
1. Frequentemente, agita ou bate com as mãos e os pés ou remexe-se quando está sentado.
2. Frequentemente, levanta-se em situações em que se espera que esteja sentado (por exemplo,
levanta-se do seu lugar na sala de aula, no escritório ou outro local de trabalho ou noutras
situações que requerem permanecer sentado).
3. Frequentemente, corre ou salta em situações em que é inadequado fazê-lo (nota: em
adolescentes ou adultos pode limitar-se a sentir-se irrequieto).
4. Frequentemente, é incapaz de jogar ou envolver-se com tranquilidade em atividades de lazer.
- Diagnóstico:
o 6 de 9 sintomas de Desatenção
o 3 de 5 sintomas de Hiperatividade
o 1 de 4 sintomas de Impulsividade
sintomas.
PREVALÊNCIA
§ Polanczyk et al. (2007) numa meta-análise de 102 estudos (de todas as regiões do mundo)
compreendendo 171.756 indivíduos identificou uma prevalência de 5.29% de PHDA.
§ Thomas et al. (2015) realizaram uma meta-análise de 175 estudos publicados de 1977 a 2013 e
identificaram uma prevalência de 7.2%.
§ Willcutt (2012) numa meta-análise de 97 estudos, num total de 163.688 crianças e 14.112 adultos
identificou uma prevalência de 5.9% a 7.1% em crianças e de 5.0% em adultos.
Perturbação do Comportamento
§ A PC coocorre em 25% das crianças com PHDA com Apresentação Combinada (DSM-5)
Fatores Neurológicos
§ Estudos neuroimagiológicos com crianças e adultos com PHDA têm encontrado alterações
estruturais e funcionais no córtex pré-frontal, sistema límbico (e.g., estriado, núcleo accumbens,
gânglios da base, tálamo, amígdala, hipocampo, núcleo caudado e putamen), corpo caloso, lobo
parietal e cerebelo, bem como na conectividade do córtex pré-frontal com estas regiões (Barkley,
2015; Castellanos & Proal, 2012; Cortese et al., 2012; Friedman & Rapoport, 2015).
§ Shaw et al. (2007) analisaram as trajetórias de desenvolvimento cortical, com o grupo com PHDA
a atingir o pico de espessura cortical em 50% dos pontos aos 10.5 anos, substancialmente mais
tarde do que ocorre no grupo de controlo (7.5 anos).
§ Hoogman et al. (2017) num recente estudo volumétrico das áreas subcorticais observaram, nos
indivíduos com PHDA, uma redução significativa do volume da amígdala, núcleo accumbens,
putamen, caudado e hipocampo. Esta redução é mais pronunciada nas crianças e com tendência
para a normalização na idade adulta.
§ EEG – Aumento da atividade da onda teta (θ) e diminuição da atividade da onda beta (β) no lobo
frontal. SPECT – Diminuição da circulação sanguínea nas regiões pré-frontais (em especial no
hemisfério direito) e nas conexões desta região frontal com o sistema límbico e o cerebelo. PET –
Diminuição do metabolismo da glucose na região frontal do cérebro nos adultos e anormal
atividade da dopamina na região mediana direita do cérebro.
Alterações Neuropsicológicas
§ FUNÇÕES EXECUTIVAS:
- São processos cognitivos associados às capacidades metacognitivas que permitem ao
indivíduo perceber os estímulos do ambiente, responder de modo adaptativo, com
flexibilidade na mudança de estratégia/direção, antecipar objetivos futuros, analisar as
consequências e responder de forma integrada (Baron, 2004).
- Planeamento; flexibilidade cognitiva; memória de trabalho; controlo e manutenção da
atenção nas tarefas; inibição da resposta; fluência verbal; velocidade de processamento.
- Shanahan et al. (2006) e Willcutt et al. (2005): A velocidade de processamento encontra-
se significativamente comprometida nas crianças com PHDA e Dislexia, sendo um fator de
risco cognitivo que explica a comorbilidade entre estas duas Perturbações do
Neurodesenvolvimento. Na PHDA os défices mais pronunciados encontram-se na inibição,
velocidade de processamento e MT Verbal.
- Holmes et al. (2010) analisaram um vasto conjunto de FE e identificaram que as mais úteis
no diagnóstico da PHDA foram: MT Visuoespacial – Sensibilidade = 84.3% e Especificidade
= 58%; MT Verbal – Sensibilidade = 77.1% e Especificidade = 62%; Inibição – Sensibilidade
= 83.1% e Especificidade = 70%.
- O funcionamento executivo depende do córtex pré-frontal e do lobo parietal, contudo
um funcionamento executivo eficiente só ocorrerá nas situações em que se observa a
integridade estrutural e funcional de todo o sistema cerebral, no qual as diferentes
estruturas agem numa relação de complementaridade.
Fatores Genéticos
§ Genes do Sistema Dopaminérgico
§ Genes do Sistema Noradrenérgico
§ Genes do Sistema Serotoninérgico
Coghill (2009)
§ Sistema de Saúde (50% + acidentes de bicicleta; 2-4 vezes mais acidentes automóveis)
§ Escola (40% expulsos da sala de aula e da escola; 35% abandono Escolar)
§ Família (3-5 vezes mais divorcio ou separação parental; 2-4 vezes mais lutas e discussões com
os irmãos)
§ Emprego (maior absentismo ao trabalho (também nas figuras parentais); menor
produtividade)
§ Uso de Substâncias (2x mais risco do uso de substância ilícitas; Início precoce; menor
probabilidade de abandonar na idade adulta)
• Défice de atenção
• Controlo dos impulsos (impulsividade)
• Agitação motora (hiperatividade)
• Dificuldades em seguir regras e instruções
• Excessiva variabilidade nas respostas às situações
• Défice primário na inibição comportamental
• Irrequietude
• Desorganização
• Imaturidade
• Relacionamento social pobre
• Desajustamento social
• Problemas/dificuldades de aprendizagem
• Irresponsabilidade
• Falta de persistência
• Culpam frequentemente os outros pela sua conduta disruptiva (locus de controlo externo)
• Dificuldades em compreender as consequências do seu comportamento
- Franz et al. (2018) numa meta-análise com 12 estudos que inclui 1787 sujeitos (ADHD e controlos).
Obtiveram um OR = 3.04 com um risco 3 vezes superior (300%) de diagnóstico de PHDA em sujeitos
com baixo peso à nascença ou prematuridade. Este risco é maior em sujeitos com extremo baixo
peso à nascença (< 1000gr) ou extrema prematuridade (<28 semanas) (OR = 4.05 vs. OR = 2.25).
1. ENTREVISTA CLÍNICA
• PAIS e ADULTO — Entrevistas:
o Entrevista Clínica de Barkley (Barkley & Murphy, 2006) – Versão Criança e Versão Adulto
o Entrevista Diagnóstica para a PHDA na Infância — ACE (Young, 2005)
o Entrevista Diagnóstica para a PHDA no Adulto — ACE+ (Young, 2005)
o Entrevista de Diagnóstico de PHDA em Adultos — DIVA-2 (Kooij et al., 2010)
• CRIANÇA — Entrevista informal. Entrevista Clínica Semi-Estruturada para Crianças e Adolescentes.
• PROFESSORES — Recolha de informação sobre os sintomas nucleares da PHDA em contexto
escolar.
• Informação a recolher – História pré, peri e pós-natal; desenvolvimento infantil; história clínica e
desenvolvimental; história familiar, social e escolar; comportamentos disruptivos evidenciados
pela criança nos vários contextos e o seu impacto no funcionamento social e académico, etc.
CRIANÇA e JOVENS:
§ Conner’s Rating Scales (K. Conner)
o Escala de Likert de 4 pontos (0 = Nunca; 1 = Um Pouco; 2 = Frequente; 3 = Muito
Frequente)
o 4 Fatores:
§ Pais:
• Comportamentos de Oposição (5 itens: 2, 11, 16, 20, 24)
• Problemas Cognitivos/Desatenção (5 itens: 3, 8, 12, 17, 21)
• Excesso de Atividade Motora (7 itens: 4, 9, 14, 18, 22, 25, 26)
• Índices de Défice de Atenção e Hiperatividade (12 itens: 1, 5, 7, 10, 13,
15, 17, 19, 21, 23, 25, 27)
§ Professores:
• Comportamentos de Oposição (5 itens: 2, 6, 10, 15, 20)
• Problemas Cognitivos/Desatenção (5 itens: 4, 8, 13, 18, 22)
• Excesso de Atividade Motora (7 itens: 3, 7, 11, 17, 21, 24, 27)
• Índices de Défice de Atenção e Hiperatividade (12 itens: 1, 5, 9, 12, 14,
16, 19, 23, 25, 26, 27, 28)
§ Pais: Nota T > 65 – Sensibilidade de 47% e Especificidade de 98%
§ Professores: Nota T > 65 – Sensibilidade de 53% e Especificidade de 100%
§ Strengths and Weaknesses of ADHD-Symptoms and Normal-Behaviors Questionnaire – SWAN
Rating Scale (J. M. Swanson)
o 18 itens (+ 12 itens suplementares) com base no DSM-IV.
o Elaboração dos itens refletem um comportamento normativo (forma positiva).
ADULTOS:
§ ASRS – WHO Adult ADHD Self-Report Scale (Kessler et al., 2005; Kessler et al., 2007)
o 2 Sistemas de Classificação:
§ 0-6 pontos — SINTOMAS
• Respostas na área sombreada são fortes indicadores da presença de
PHDA no Adulto.
• Na Parte A a presença de 4 ou mais itens na área sombreada é
considerada suficiente para diagnóstico de PHDA.
• Esta classificação apresenta uma Sen = 39.1% e Esp = 88.3%.
§ 0-24 pontos — SOMATÓRIO
• Ponto-de-corte são os 14 pontos.
• Esta classificação apresenta uma Sen = 64.9% e Esp = 94.0%.
§ WURS – Wender-Utah Rating Scale (Ward, Wender & Reimherr, 1993)
o Aplicação a adultos para discriminar os seus antecedentes de PHDA na infância e idade
escolar.
o Versão reduzida - 25 itens (cutoff de 36 pontos)
4. AVALIAÇÃO NEUROPSICÓLOGICA
§ ATENÇÃO: Testes de Realização Continua (e.g., Conners Continuous Perfomance Test, Test of
Variables of Attention - TOVA); Testes de Cancelamento ou Barragem (Toulouse-Piéron, Zazzo,
d2; …); Testes de Dupla Tarefa; etc.
FUNÇÕES EXECUTIVAS
§ Flexibilidade: Wisconsin Card Sorting Test, Trail Making Test – B, Rapid Alternating
Stimulus (RAS), …
§ Inibição: Stroop - Teste de Cores e Palavras, Stop-Signal Test, Go/No-Go (e.g., Conners
Continuous Performance Test); Matching Familiar Figures, …
ATENÇÃO
(1) Arousal
(2) Atenção Seletiva ou Focalizada
§ É a capacidade de atender a um estímulo em detrimento dos outros. Coloca em
jogo duas operações: (1) focalização atencional; (2) inibição atencional.
§ Dificuldades provocam distração e incapacidade para tomar atenção em relação a
certos estímulos.
§ Testes: Teste de Barragem de Toulouse-Piéron (Cancelamento 3 Sinais – BANC);
Teste de Zazzo (Cancelamento de 2 Sinais – BANC); Teste d2; etc.
(3) Atenção Sustentada ou Mantida
§ É a capacidade de manter a atenção deliberada num dado aspeto ou tarefa
durante um período de tempo alargado.
§ Testes: Conners Continuous Performance Test (Conners CPT); Test of Variables of
Attention (TOVA); Gordon Diagnostic System; etc.
(4) Atenção Dividida
§ É a capacidade de dar atenção a mais de um estímulo em alternância, isto é,
partilhar e alternar a atenção seletiva entre duas tarefas ou estímulos.
§ Dificuldades graves na Atenção Dividida podem originar uma incapacidade de fazer
duas tarefas em simultâneo.
§ Testes: Trail Making Test – B, Teste de Stroop, Teste de Classificação de Cartões de
Wisconsin e alguns subtestes da WISC/WAIS (Código, Pesquisa de Símbolos e
Sequência de Letras e Números).
§ É uma das principais funções cognitivas que permite manter a informação na memória durante
curtos períodos de tempo.
§ A Memória de Trabalho tem uma capacidade limitada. É utilizada para compreender o que lemos,
efetuar cálculos, recordar instruções para utilizarmos de seguida, etc.
§ Na PHDA é importante como capacidade de armazenar um acontecimento na memória para o
utilizar aquando do controlo da resposta comportamental. Melhora com o metilfenidato.
§ Na PHDA a componente executiva e a componente de armazenamento visuoespacial encontram-
se mais comprometidas que a componente de armazenamento verbal. A Memória de Trabalho
está bastante relacionada com os processos de atenção.
§ Modelo de Baddeley sobre Memória Trabalho:
Moura, O., Pereira, M., Alfaiate, C., Fernandes, E., Fernandes, B., Nogueira, S., Moreno, J., & Simões, M. R. (2016).
Neurocognitive Functioning in Children with Developmental Dyslexia and Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder:
5. AVALIAÇÕES COMPLEMENTARES
Poderá ser necessária uma avaliação complementar em diversas especialidades médicas para
despistar eventuais problemáticas: avaliação sensorial (visual, auditiva); neurológica; intelectual;
outras condições clínicas (síndromes e outras patologias).
- Neurofeedback não foi eficaz no tratamento da PHDA (amostras cegas com d = 0.15) e sem
melhores resultados que a intervenção neuropsicológica (Cortese et al., 2016).
1. TERAPÊUTICA FARMACOLÓGICA
2. INTERVENÇÃO PSICOSSOCIAL
A. CONTEXTO FAMILIAR: (1) Programas de promoção de competências para pais; (2) Grupos de
suporte; (3) Relação e interação pais-filho.
a. Programa de Treino para Pais: Anos Incríveis (“Incredible Years” de Carolyn Webster-
Stratton; versão portuguesa: M.J. Seabra Santos e Filomena) e Juntos no Desafio
(Paulo Costa)
A. CONTEXTO FAMILIAR
§ Informar os pais sobre as principais características das crianças com PHDA e ensinar/trabalhar
sobre as práticas educativas parentais mais adaptativas:
¾ Técnicas eficazes para promover a disciplina e potenciar comportamentos positivos
nas suas crianças.
¾ Lidar e reagir adequadamente face aos comportamentos disruptivos dos filhos.
¾ Estratégias disciplinares consistentes, firmes e adequadas para reforçar o
comportamento adaptativo e diminuir o comportamento disruptivo.
¾ Utilização de Registos Comportamentais.
B. CONTEXTO ESCOLAR
3. INTERVENÇÃO COGNITO-COMPORTAMENTAL
4. INTERVENÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
§ Intervenção Neuropsicológica (1ª geração)
- Programas de promoção cognitiva: atenção, memória, funcionamento executivo
- Programa de Promoção Cognitiva (Leandro Almeida & Maria Fátima Morais)
- PIAAR-R ― Programa de Intervenção Educativa para Aumentar a Atenção e a Reflexividade
(Nível 1 - 7 aos 11 anos; Nível 2 - 12 aos 14 anos)
Este DL estabelece os princípios e as normas que garantem a inclusão, enquanto processo que visa
responder à diversidade das necessidades e potencialidades de todos e de cada um dos alunos,
através do aumento da participação nos processos de aprendizagem e na vida da comunidade
educativa.
MEDIDAS UNIVERSAIS
a) A diferenciação pedagógica;
b) As acomodações curriculares;
¾ realizar o teste em sala à parte, realizar testes com consulta do livro; possibilitar testes
orais; realização de testes sem limite de tempo; permissão de pausas durante um
teste; técnicas de avaliação variadas: escolha múltipla, respostas curtas,
preenchimento de espaços em branco, correspondência; provas orais; oportunidade
para se movimentar na sala de aula; colocar o aluno longe de distrações; reforço
positivo; uso consistente de rotinas da sala de aula; apresentação faseada de novos
conceitos; alternativas para formato de pergunta/resposta; privilégios/ recompensas;
entre várias outras.
c) O enriquecimento curricular;
d) A promoção do comportamento pró-social;
e) A intervenção com foco académico ou comportamental em pequenos grupos.
O diagnóstico da PHDA é um processo de avaliação bastante complexo, uma vez que envolve
a aplicação de um amplo protocolo, nomeadamente a observação/identificação dos comportamentos
nucleares desta perturbação em vários contextos, o diagnóstico diferencial de outras perturbações
que poderão estar igualmente presentes e/ou a explicar as alterações comportamentais, a avaliação
do funcionamento neurocognitivo (funções executivas, atenção e memória de trabalho), a análise do
ajustamento psicossocial, das dinâmicas familiares e das práticas parentais, entre outras.
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