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A PHDA E AS SUAS

CARACTERÍSTICAS
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A PHDA e as suas características |

Conteúdo
01. Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) 4

1.1. Sintomatologia específica da PHDA 7

1.2. Sintomatologia associada ao PHDA 11


1.2.1. Dificuldades nas habilidades sociais 11
1.2.2. Dificuldades de aprendizagem 12
1.2.3. Dificuldades de autoestima, estado de ânimo e motivação 14

1.3. Bases biológicas e psicossociais da PHDA 16

02. História e modelos da PHDA 18

2.1. Modelos explicativos da PHDA 19

03. Comorbidades 21

04. Deteção e diagnóstico da PHDA 23

4.1. O protocolo a seguir 23

4.2. Como realizar uma deteção precoce 24

4.3. O processo de avaliação da PHDA 25

05. Os principais níveis de intervenção 29

5.1. A intervenção farmacológica 30

5.2. As novas tecnologias na intervenção com PHDA 31

ANEXO 1. ESCALA EDAH 32


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ANEXO 2. ADHD RATING SCALE 33

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01. Perturbação de
Hiperatividade e Défice
de Atenção (PHDA)
Durante muito tempo foram questionados vários aspetos relacionados com a PHDA1, sendo um dos
mais controvertidos, as dúvidas que recaem sobre a sua existência. Este facto deve-se a que, tendo
em consideração as diferenças individuais das crianças, em muitos casos, certa falta de atenção ou
uma maior atividade, consideram-se dentro do normal.

O problema de pensar que esta falta de atenção ou maior atividade é “normal”, é que pode prejudicar seria-
mente a imagem que as pessoas próximas à criança têm da mesma, considerando que existe uma intenciona-
lidade negativa nos seus comportamentos, o que repercute na forma em como se trata a criança e na forma
em como esta se sente tratada e incompreendida.

Por exemplo, frequentemente, os pais de crianças com um carácter muito ativo e irritável, têm uma alta
probabilidade de reagir de forma exagerada ou impulsiva perante alguma dificuldade, o que aumenta o
stress e a tensão na relação pais-filho. Assim, quando os pais percebem o comportamento geral do seu
filho como problemático, isso costuma implicar uma interação defeituosa, instaurando-se, em muitos
casos, comportamentos mais restritivos ou agressivos, o que aumenta a probabilidade de que as dificul-
dades se mantenham.

Mesmo que as dificuldades associadas à PHDA se tenham vindo a descrever desde há muito tempo – prova-
velmente não se tendo aprofundado mais nas mesmas no início por não ser uma das patologias que causa-
vam maiores dificuldades, pelo que se preferia estudar mais sobre outras –, a verdade é que o diagnóstico
com a “etiqueta” PHDA é relativamente novo. Atualmente, sabe-se que a PHDA é uma perturbação que apre-
senta, sem dúvida, uma base genética, tratando-se de crianças com diferenças claras no seu funcionamento
geral em comparação com o resto.

Contudo, atualmente, também se considera que se trata de uma perturbação diagnosticada com demasiada
frequência, provavelmente, pela falta de especificidade dos seus sintomas e a tranquilidade que, por vezes, se
provoca no contexto da criança ao ter um diagnóstico que explique a forma como se comporta. Apesar disso,
há que ter em conta que um diagnóstico repercute, muitas vezes, de forma negativa no dia a dia da criança:
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quer pela administração de tratamentos farmacológicos não necessários que possam provocar efeitos secun-
dários, mudando o comportamento da criança...

1 Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) em Portugal, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) no Brasil,
   

correspondendo ambas às traduções de Attention Deficit and Hyperactivity Disorder (ADHD).

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O EFEITO PIGMALEÃO
SABIA QUE...

Conhece-se como efeito de Pigmaleão a influência positiva que exercem as expectati-


vas do professor, tutor ou mentor sobre a aprendizagem e desenvolvimento do aluno
ou tutelado.

Foi estudado por Rosenthal, professor de psicologia da Universidade de Harvard. Para


o efeito realizou a seguinte experiência:

Numa escola de primária com 18 aulas passou um teste de inteligência às crianças


no início do ano letivo. Sem ver os resultados do teste, escolheu à sorte 20% dos
alunos de cada aula e informou os seus professores que estas crianças tinham um
alto potencial segundo os testes realizados e que se podia esperar que melhoras-
sem muito durante o ano.

Oito meses depois voltou a passar-lhes o mesmo teste. As crianças com suposto
potencial melhoraram 4 pontos de QI mais do que as restantes.

Os professores surpreenderam-se muito quando souberam que a diferença entre os


dois grupos estava só nas suas cabeças, pois pensavam que tinham tratado todos
de forma igual.

Contudo, Rosenthal encontrou 4 fatores que distinguiam o comportamento e explica-


vam a diferença de resultados:

1. Ambiente: os professores tinham a tendência a criar um ambiente mais cálido à


volta das crianças das quais esperavam mais. Mostravam-se mais afetuosos tanto
no que lhes diziam como nos seus gestos e tom de voz.

2. Informação: os professores ensinavam-lhes mais coisas.

3. Oportunidade de Resposta: faziam-lhes mais perguntas, davam-lhes mais tempo


para responder e ajudavam-nos a completar a resposta.

4. Feedback: quanto mais esperavam da criança, mais a elogiavam. Também lhes cor-
rigiam a resposta se não era correta, enquanto que aceitavam respostas de baixa
qualidade daqueles de quem esperavam menos.

Este efeito deve ser um dos aspetos mais importantes a ter em conta tanto no mo-
mento do diagnóstico, como no momento de tratar uma criança que o apresente, pois
a ideia de dar um diagnóstico é que este melhore a qualidade de vida da criança por
se poder trabalhar de uma forma adaptada às suas necessidades. Se este efeito não
se tem em conta, pode-se conseguir precisamente o contrário.
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Deve-se ter em conta que nem sempre tudo o que parece PHDA o é realmente, pois tanto a atenção como a
atividade são parte do temperamento e, portanto, há muita variabilidade entre crianças. Normalmente, até
aos 3 anos, o comum é que haja muita dificuldade e impulsividade nos menores e, a partir dos 6 anos, es-
sas características começam a diminuir, aumentando a capacidade de controlo e de manter a atenção. Por
exemplo, há que ter em conta que algumas crianças estão em continuo movimento se este se dirige a uma
atividade específica, mas depois podem-se concentrar noutra atividade: livros, filmes, etc... Nestes casos, as
possibilidades de que os diagnóstico de PHDA esteja presente diminuem.

Por isso é tão importante não se precipitar no diagnóstico desta perturbação, sendo sempre mais importante
atuar sobre as dificuldades específicas que a criança apresenta e que se possam melhorar com certas pau-
tas em casa ou na escola, do que aplicar um diagnóstico que muitas vezes não é necessário e que pode ter
repercussões a longo prazo.

EXISTE UM EXCESSO DE DIAGNÓSTICOS DE PHDA

Existe uma grande controvérsia entre os profissionais em relação às dimensões reais do PHDA, afirmando uns
que existe uma carência de diagnósticos, “estão todos os que existem?” e, outro que afirmam que existe um
excesso de diagnóstico, “são todos os que estão?”

Paralelamente, a ONU, através da UNICEF, e a OMS chamaram a atenção para o aumento dos diagnósticos de
PHDA e dos tratamentos farmacológicos associados.

Na análise deste aumento dos diagnósticos, alguns dos fatores expostos como causa são:

» Um maior conhecimento da perturbação pelos » Fatores educativos relacionados com a sociedade


profissionais que atendem as crianças (educado- de consumo e com os modelos de família atu-
res e pediatras), pelos pais e também pelos pro- ais. Assim, a mentalidade materialista apresenta
fissionais responsáveis pelo seu diagnóstico. menores oportunidades para favorecer e treinar
a atenção sustentada, a cultura do esforço, a de-
» Os instrumentos que se utilizam para o diagnós-
mora de recompensa e o desenvolvimento de
tico não são totalmente eficazes, o que leva a que
um autocontrolo mental eficaz. Do mesmo modo,
se “etiquetem” com PHDA crianças que não a têm.
o estabelecimento de limites e de modelos de
» Possibilidade de fatores “epidémicos”. Tal como comportamento organizado, implicam um esfor-
aconteceu com outras alterações do neuro-de- ço educativo e um investimento de tempo que se
senvolvimento, como o autismo, e apesar de que vê dificultado pela menor disposição de tempo e
não se tenha estabelecido uma relação causal, menor número de membros das famílias.
relacionam-se com o efeito de corantes e aditivos
alimentares, tais como o chumbo, com processos
de infecção por gérmens...

» A atual sociedade tecnológica e o seu excesso de


informação. Em relação a este fator, e apesar de
não ter sido estabelecida uma relação causal en-
tre o modo de vida e a PHDA, estabeleceu-se uma
relação entre o tipo de sociedade atual e uma
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maior disfunção da PHDA.


   

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Com o objetivo de evitar um excesso de diagnósticos e os riscos que isso implica, como por exemplo a etique-
tação e os tratamentos farmacológicos desnecessários, é importante saber que os critérios pré-estabelecidos
e as escalas de apreciação da PHDA não são elementos diagnósticos de forma direta, pelo que não devem
substituir juízos clínicos realizados por equipas multidisciplinares e análises contextuais de cada menor.

1.1. Sintomatologia específica da PHDA


A Perturbação de Hiperatividade Défice de Atenção e Hiperatividade (PHDA) é uma perturbação neurobiológi-
ca e do desenvolvimento caracterizada por 3 tipos de sintomas que aparecem com uma intensidade e frequ-
ência altas:

• Hiperatividade: atividade motora excessiva para a etapa evo-


lutiva ou momento em questão, com dificuldades para perma-
necer imóvel, sem fazer ruído, relaxado ou para terminar uma
atividade.

• Impulsividade: atuações sem reflexão prévia sobre as mesmas


e as suas consequências, com dificuldades para esperar a vez
ou ter paciência, sendo comuns as respostas espontâneas e a
impaciência.
“O que é a PHDA /TDAH?”
• Desatenção: dificuldade para manter o foco de atenção numa
Fonte: CUF
atividade ou conversa por um tempo prolongado, deter-se nos
pormenores, seguir ou recordar instruções e indicações.

Hiperatividade Impulsividade
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Desatenção
   

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CARACTERÍSTICAS CARACTERÍSTICAS CARACTERÍSTICAS


DA DESATENÇÃO DA HIPERATIVIDADE DA IMPULSIVIDADE

Dificuldade para realizar a Movimento constante e É-lhes difícil não fazer a


mesma atividade durante dificuldades para permanecer primeira coisa que lhes passa
muito tempo, aborrecendo-se sentados. pela cabeça, dado que não
e começando a pensar nou- pensam nas consequências.
Falar sem parar e fazer mui-
tras coisas.
tos ruídos. Fazem comentários inapro-
Têm que fazer um grande priados sem se preocupar
Sentem-se inquietos e nervo-
esforço para terminar ações e pela reação dos demais, ou
sos interiormente.
não se distrair com qualquer falam antes de que a outra
pormenor. A atividade excessiva difi- pessoa termine.
culta o trabalho da criança
Se recebem várias ordens ao Organizam mal o espaço no
noutras atividades, produzin-
mesmo tempo, esquecem-nas. papel, escrevendo rápido e
do também consequências
sem reparar no que fazem.
Pode parecer que não ouvem. negativas.
Não ponderam as consequ-
Podem cometer erros, por
ências dos seus atos, não
não reparar nos pormenores.
aprendendo de uma vez para
outra.

É-lhes difícil esperar pela sua


vez, e às vezes as outras crian-
ças não os aceitam por isso.

→ É o sintoma mais duradou-


ro da PHDA e, nalguns casos,
é responsável pelo consumo
de drogas lícitas e ilícitas,
mudanças de trabalho ou de
grupos social ou de parceiro,
acidentes, etc.

Em função da apresentação destas 3 características podem-se considerar 3 formas de PHDA:

» Apresentação predominante de falta de atenção. inclusive quando está sentada. Interrompe con-
versas ou atividade dos demais e responde preci-
A criança predominantemente desatenta caracte-
pitadamente. Tem dificuldades para as atividades
riza-se por parecer que não ouve quando se tenta
tranquilas e pode ser agressiva.
interagir com ela, como se estivesse no seu pró-
prio mundo. Também é comum que se esqueça ou » Apresentação combinada de hiperatividade- im-
perca as suas coisas, distraindo-se com qualquer pulsividade e défice de atenção.
estímulo à sua volta e, também, se costuma dis-
persar em atividades que lhe pareçam atraentes.
Na escola apresenta um ritmo lento, não mostran-
do interesse e esquecendo-se das suas obrigações
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ou apresentando trabalhos descuidados.

» Apresentação predominante de hiperatividade-


-impulsividade
A criança predominantemente hiperativa-impul-
siva caracteriza-se por se mover constantemente,
“Crianças com PHDA”
   

Fonte: Oficina de Psicologia

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Mas, para que estas dificuldades se enquadrem no âmbito da perturbação, devem aparecer durante um perí-
odo de, pelo menos, 6 meses na infância, antes dos 12 anos, com uma alta frequência e intensidade, de tal
forma que interfiram significativamente no rendimento da criança em dois ou mais âmbitos da sua vida (fa-
miliar, escolar, social) e descartando-se outro diagnóstico médico possível.

Neste sentido, torna-se especialmente importante que os sintomas


sejam prolongados no tempo, pois é relativamente frequente que por
diversas circunstâncias que afetem a criança, esta possa apresentar
temporalmente determinados comportamentos semelhantes (por
exemplo, mudar de escola, dificuldades com os seus colegas, crises
entre os pais...).

Por outro lado, deve-se ter em conta que os sintomas devem-se apre-
sentar em diferentes ambientes (casa, escola, amigos...), apesar de que
“Perturbação
possam variar em forma, em função do lugar ou das pessoas, ou até
de Hiperatividade
pode acontecer que não se apresentem em circunstâncias muito con-
e Défice de Atenção”
cretas, como por exemplo, quando se recebe uma estimulação muito
Fonte: PIN Progresso Infantil intensa ou recompensas muito imediatas ao jugar com a consola.

Em relação a quando se manifesta, segundo estudos epidemiológicos


a nível mundial estima-se que um 5-7% se manifesta em idade escolar 2,5-3% na idade adulta.

No que respeita ao sexo, a PHDA é uma perturbação bastante mais predominante nos meninos, com uma pro-
porção de 3 para 1 em relação às meninas. Contudo, esta diferença nas taxas implica que, por vezes, se descar-
te o diagnóstico por ser uma menina o que leva a que muitas meninas sofram dificuldades durante períodos
muito longos até que se dá o diagnóstico. Acredita-se que aqui pode influenciar o facto de que costuma ser
mais comum o subtipo “desatento”, o qual é mais difícil de detetar quando há hiperatividade presente.

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O PHDA NOS ADOLESCENTES E EM ADULTOS

É relativamente comum definir a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção como uma


perturbação infantil, o que é certo em relação à sua aparição, a qual se verifica normalmente na
infância, mas isto não significa que a perturbação desapareça na adolescência ou na idade adulta.

A adolescência é um momento de mudança complicado, na qual a criança começa a ser mais au-
tónoma e a tomar as suas decisões, o que pode representar um obstáculo muito importante se o
menor apresenta esta perturbação, fundamentalmente devido às dificuldades de organização, que
em crianças podem ser compensadas por um maior controlo por parte dos pais e pelas reações
impulsivas que podem limitar as suas relações com os outros ou que podem derivar em comporta-
mentos perigosos, como por exemplo, o consumo de drogas. Além do mais, os sintomas de desaten-
ção costumam influenciar no desenvolvimento da sua vida académica e profissional, uma vez que
um baixo rendimento tem maior impacto conforme se avança na idade.

Contudo, acredita-se que a sintomatologia hiperativa se reduz ou se gere de melhor forma quando
a pessoa alcança a adolescência, continuando assim quando chega à idade adulta, passando a per-
ceber-se como uma sensação interior de inquietude ou de falta de paciência e não em comporta-
mentos externos.

Na idade adulta, a sintomatologia é semelhante à que


se verifica na adolescência, podendo limitar a pessoa
na sua vida profissional, sendo comum que a pessoa
tenha uma sobrecarga de tarefas, problemas de ges-
tão do tempo e organização de trabalhos, além de
constantes alterações nos seus projetos e nas suas
relações. Por vezes, também se repercute em com-
portamentos perigosos como o consumo de tóxicos, a
condução temerária, etc... “PHDA nos Estudantes
Universitários (Consultório -
Porto Canal)”
Fonte: UPPC

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A PHDA e as suas características |

1.2. Sintomatologia associada ao PHDA


Frequentemente, na Perturbação por Défice de Atenção e Hiperatividade, independentemente do subtipo a
que pertença, podem-se observar como consequência dos seus sintomas, outras dificuldades associadas que
são importantes de trabalhar para que não impliquem limitações à criança.

Apesar de que os sintomas possam ser de diverso tipo e que possam até chegar a provocar outra perturbação
que acompanhe a PHDA, os mais frequentes são: dificuldades em habilidades sociais, dificuldades de apren-
dizagem e dificuldades relacionadas com a área afetiva-emocional.

1.2.1. Dificuldades nas habilidades sociais


Diz-se que uma criança tem umas habilidades sociais ótimas quando o seu comportamento influencia de
forma positiva na reação dos outros em relação a ela e é capaz de modificar tal comportamento em função
do contexto, por exemplo, uma criança tem boas habilidades sociais quando não fala com os pais e com os
amigos da mesma maneira.

Nas dificuldades que as crianças com PHDA apresentam nas relações com outros têm influência diferentes
variáveis:

• Por um lado, as suas dificuldades de atenção • Por outro lado, as dificuldades em controlar
impedem a captação de determinados sinais os impulsos complicam o poder fazer uso das
das outras pessoas que são chave para uma normas estabelecidas, por exemplo, não po-
correta interação, assim como interiorizar as dendo controlar os seus movimentos ou a sua
regras que regulam as relações. Por exemplo, frustração, esperar pela sua vez para falar, etc.
é comum que percam o fio condutor quando
• Paralelamente, têm uma baixa percepção das
outra pessoa está a falar.
emoções dos outros, o que se repercute con-
sideravelmente na possibilidade de estabele-
cer relações sociais de qualidade.

Todas estas dificuldades causam-lhes, frequentemente,


conflitos com os que o rodeiam, provocando a rejeição
a criança, especialmente por outras crianças, que difi-
cilmente podem compreender que são comportamen-
tos involuntários que não pode controlar, o que provoca
que não contem com a criança com PHDA para desen-
volver atividades em grupo.

Se se pergunta a colegas de turma, é possível que co-


mentem que preferem não partilhar tempo com essa
criança devido a que sempre se está a mexer, aos com-
portamentos exagerados ou bruscos que às vezes pro-
vocam acidentes, à dificuldade para seguir um jogo e as
emoções extremas (alegria, ira, etc.) que manifesta.
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Como consequência dessa rejeição, por vezes é a pró-


pria criança com PHDA que decide afastar-se dos seus
colegas, compreendendo que não é bem recebido no
grupo.
   

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1.2.2. Dificuldades de aprendizagem


Considera-se que há um problema de aprendizagem quando se dá uma alteração ou atraso na leitura, escrita,
fala, raciocínio ou realização de cálculos matemáticos em relação ao que seria de esperar em função da idade
da criança, dificultando assim o seu rendimento escolar.

É relativamente comum que as crianças com PHDA, como consequência da sua sintomatologia, apresentem
dificuldades em relação ao seu processo de aprendizagem. As mais comuns são:

» Dificuldades com a leitura: dentro das perturbações de aprendizagem, aquele que provavelmente tem uma
prevalência maior nas crianças com PHDA (cerca de 25%), é a dislexia, isto é, problemas na leitura, seja
como consequência dos próprios sintomas, seja por uma dificuldade específica para esta tarefa paralela
à perturbação.
Contudo, independentemente de qual seja a origem da dificuldade, o resultado na leitura da criança cos-
tuma ser semelhante:

˗ Omissões de letras, sílabas ou frases ao ler.

˗ Acrescentar letras, sílabas ou palavras por outras.

˗ Dificuldade para ler “pr”, “pl”...

˗ Má compreensão leitora.

Quando estas dificuldades de leitura se dão com o PHDA, as dificuldades na memória de trabalho2 e mo-
nitorização3 próprias da perturbação, influenciam no esquecimento do significado do texto e nas compro-
vações sobre se leu bem uma frase ou não, pelo que a criança tem que investir tanto tempo em ler que se
cansa facilmente e o seu rendimento diminui.

» Dificuldades na escritura: os problemas de atenção, assim como estar em movimento constante, pode
influenciar nos traços e na impulsividade, omitindo caracteres ou modificando-os. Se, além do mais, a
criança apresenta problemas na motricidade fina esta repercute na forma em como segura o lápis, mede
a força, finaliza ou começa um traço...

» Dificuldades no cálculo: problemas nos procedimentos ao calcular tamanhos ou realizar operações e pro-
blemas. Tendo em conta que para um bom rendimento nesta área é fundamental uma boa capacidade de
retenção e organização mental, assim como manter o foco de atenção na tarefa, é relativamente frequente
que se apresentem dificuldades deste tipo em crianças com PHDA.

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2 A memoria de trabalho (MT), também como memoria operativa, pode-se definir como o conjunto de processos que permitem o armaze-
namento e manipulação temporal da informação para a realização de atividades cognitivas complexas como a compreensão da linguagem, da
leitura, das habilidades matemáticas, da aprendizagem ou do raciocínio. A memória de trabalho é um tipo de memória a curto prazo.
3 A monitorização é uma função cognitiva de ordem superior que permite ao Ser Humano controlar e supervisionar o seu próprio rendimento
durante a realização de uma tarefa ou imediatamente depois de a terminar, com o objetivo de certificar se o objetivo definido se alcançou apro-
   

priadamente.

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COMO SE DESENVOLVE O PENSAMENTO MATEMÁTICO

O sentimento numérico é uma capacidade inata, no Ser Humano e noutras espécies animais, que
permite distinguir, manipular e representar quantidades pequenas de elementos e, portanto,
facilita a adaptação ao ambiente.

O conhecimento lógico-matemático desenvolve-se desde uma idade muito precoce, graças à ma-
nipulação e interação da criança com os objetos e pessoas que constituem o seu meio ambiente.
Assim, antes da escolarização, as crianças já conhecem o conceito de número como representa-
ção de uma quantidade e os sistemas básicos de simbolização:

» Princípio de cardinalidade: correspondência de quantidade e número.


» Princípio de ordinalidade: relação de ordem de um número com outros números.

Estes princípios, são a base sobre a que posteriormente, através da escolarização, se desenvol-
vam capacidades matemáticas e de cálculo mais complexas.

A aprendizagem do sistema numérico passa por diferentes etapas:

1. O sistema numérico inato: permite a um bebé distinguir entre 1 e 3 objetos.

2. O sistema numérico verbal: produz-se a associação das quantidades a uma palavra concreta (como
por exemplo, dois).

3. O sistema numérico arábico: produz-se a associação das quantidades a um número concreto.

4. A linha numérica mental: vai-se adquirindo a representação dos números numa linha mental in-
terna que permite ordenar e contar os números de forma sequencial (incluindo pouco a pouco as
dezenas, centenas, milhares, etc.) e de forma flexível e a possibilidade de fazer algumas operações
de cálculo aproximadas. Esta linha numérica requer memória a curto prazo e a simbolização do
número (linguagem).

» Dificuldades na fala: é frequente que a PHDA se apresente com atraso ou dificuldades nas habilidades
requeridas para uma fala fluída. Neste sentido, os problemas podem-se dar na articulação dos sons, no
volume ou forma da voz, ou no ritmo e fluidez. Podem-se, também, verificar dificuldades na receção da
linguagem (distinguir palavras, recordar o que se ouviu, entender expressões ou perguntas indiretas...). Por
outro lado, é comum a falta de precisão na organização de um relato, substituindo palavras por outras que
não fazem sentido, utilizando verbos na forma temporal incorreta, omitindo informação relevante...
Assim, é relativamente comum a apresentação de dificuldades académicas, fundamentalmente em disci-
plinas nas quais é necessário entender conceitos complexos e responder ou redigir exercícios elaborados.
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Além do mais, em muitos casos apresentam também atrasos ou dificuldades na aparição da linguagem
interna, a qual é a responsável de regular o comportamento e a linguagem externa posterior, o que leva
a que cometam mais erros e a que tenham dificuldades para seguir um comportamento em função de
umas regras.
   

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A PHDA e as suas características |

No que se refere ao comportamento escolar geral da criança com PHDA, é frequente que apresente um baixo
rendimento, sem que o mesmo esteja relacionado com uma inteligência deficitária na maioria dos casos. Este
baixo rendimento, normalmente, relaciona-se com:

» As próprias dificuldades de aprendizagem que os li-


mitam ao seguir o ritmo das crianças da sua idade.

» É frequente que as outras crianças não queiram fazer


trabalhos de grupo com ela, porque é difícil planear
e continuar um projeto a médio prazo. Isto provoca,
muitas vezes, que a criança se sinta deslocada e que
deixe de realizar certas atividades da escola que im-
pliquem trabalhar com os outros, o que afeta ao seu
rendimento escolar.

» As dificuldades que o menor apresenta pela organi-


zação ou a má memória que influi na realização das
tarefas.

Por isso, é necessário que sempre que exista uma PHDA,


estar especialmente atento às dificuldades, tentando fa-
zer as adaptações necessárias para que a criança possa
continuar com a sua aprendizagem sem obstáculos.

1.2.3. Dificuldades de autoestima, estado de ânimo e motivação


Constituem dificuldades que na maior parte das vezes derivam de outros sintomas e as atitudes que provo-
cam no entorno e que, portanto, a criança percebe e interioriza:

» As pobres habilidades sociais que possui o menor implicam um distanciamento em relação aos demais,
que faz com que se sinta inferior e menos válido, afetando a como se vê a si mesmo, tendendo o seu esta-
do de ânimo à tristeza e provocando um isolamento da criança que cada vez se deteriora mais nesta hora.
Além do mais, o facto de receber por parte dos outros comentários que indicam que a criança “é má”, di-
minuem a sua motivação para tentar fazer as coisas de uma forma diferente.

» As dificuldades de aprendizagem que muitas vezes as crianças observam em si mesmas ao comparar-se


com as outras crianças, fazem com que se sintam menos capacitadas e menos válidas.
Além do mais, em muitos casos, os adultos não lhes pedem que faça determinadas atividades porque
pensam que não podem responsabilizar-se pelas mesmas, enquanto que consideram outras crianças da
mesma idade aptos para o fazer. Isto vai afetando a autoestima da criança, a qual se vai sentido cada vez
menos útil e, ao repercutir na forma como se vê a si mesma e as suas capacidades implica que diminua os
seus esforços por modificar determinados padrões, caíndo num ciclo vicioso difícil de parar.
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Dificuldades de Baixa autoestima,


estado de ânimo e Comentários
aprendizagem e
motivação para a externos negativos
pobres habilidades
mudança e rejeição
sociais
   

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A PHDA e as suas características |

RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA


FORTALECER A AUTOESTIMA

• Elogiar e reconhecer o que fazem ou o que são capa-


zes de fazer.

• Apreciar e mostrar interesse pelas suas opiniões, con-


tribuições e participação.

• Interessar-se pelas coisas que lhe acontecem e por


aquelas que a afetam emocionalmente (o que faz com
que esteja triste, o que o faz zangar-se...).

• Ensinar a tolerar a frustração, uma vez que por vezes


não se consegue o que se quer.

• Dar responsabilidades e que aprenda a fazer tarefas


sozinha.

• Corrigir os comportamentos, indicando quais deve


modificar, justificando, reconhecendo os motivos do
comportamento, indicando claramente os objetivos e
acordando um compromisso de mudança.

• Fazê-lo consciente das suas habilidades para que


reconheça as coisas para as quais tem jeito. Para o
incentivar pode fazer perguntas do tipo: o que fazes
bem em casa?

• Fazer com que se sinta orgulhosa dos seus êxitos per-


guntando: do que gostas mais de ti?

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“Hiperatividade e Défice de
Atenção- Ajuda para pais e
professores”

Fonte: VersodeKapa
   

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A PHDA e as suas características |

1.3. Bases biológicas


e psicossociais da PHDA
Atendendo à etiologia da perturbação, parece que consiste em múltiplas causas, sem estar clara a sua ori-
gem. Contudo, pode-se afirmar que existe uma base neurobiológica que predispõe para a mesma, a qual é
influenciada pelo ambiente no qual a criança se desenvolve.

A nível genético, apesar de que se tenha demonstrado que se algum progenitor apresenta PHDA se multiplica
o risco de que a criança tenha também esta perturbação, explicando-se um 75% dos casos com causas ge-
néticas, não existe uma ação genética direta. Isto é, que um pai tenha PHDA não determina necessariamente
que os seus filhos a venham a desenvolver, significa apenas que existe uma maior possibilidade, tal como se
verifica com outras patologias psiquiátricas como a depressão ou a esquizofrenia.

Nos estudos de genética molecular, a perturbação aparece relacionada com vários genes em diferentes cro-
mossomas e as suas variações no número de cópias de tal maneira que a PHDA se considera uma perturbação
de herança poligénica, isto é, a heritabilidade não radica apenas num gene, mas sim numa combinação de
vários genes, que por sua vez, podem ser potenciados por fatores ambientais.

Existem também uma alta percentagem de crianças com PHDA que apresentam antecedentes familiares de
outras perturbações psiquiátricas.

No que respeita à anatomia do cérebro, este tem circuitos es-


peciais para cada uma das funções que cumpre, e os circui-
tos da atenção estão situados na zona frontal, isto é, no córtex
pré-frontal, que se ocupa da regular a memória de trabalho, a
atenção e a inibição de respostas, isto é, daquilo que se co-
nhece como “função executiva”, que serve para planificar ações,
regulá-las, corrigir erros, evitar distrações, flexibilizar, etc.

Acredita-se que nas crianças com PHDA, estes circuitos evo-


luem mais lentamente, são de menor tamanho e têm menor
atividade, pelo que o cérebro tenta compensar, ativando mais “TDAH e o Cérebro”
outras zonas, o que produz um mau processamento da infor- Fonte: Eu Foco
mação. Mas, além do mais, acredita-se que existem outras zo-
nas cerebrais cujo tamanho e funções também são alterados
por esta perturbação, como é o caso dos gânglios basais, os
quais se ocupam normalmente do controlo dos impulsos e dos
comportamentos automáticos.

No nível da química cerebral, as substâncias que se ocupam de que as hormonas possam comunicar infor-
mação de umas áreas do cérebro a outras, aparentemente estão concentradas em níveis mais baixos nas
pessoas com PHDA, o que pode provocar hiperatividade e impulsividade. Neste caso, são estas sustâncias
chamadas recetores e neurotransmissores, são a dopamina, a adrenalina e a noradrenalina, as responsáveis
de comunicar o córtex pré-frontal e os gânglios basais. Portanto, frequentemente, os tratamentos farmacoló-
gicos vão dirigidos à regulação de tais substâncias.
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Em relação à atividade do cérebro, também parece haver dificuldades no fluxo sanguíneo de algumas áreas,
assim como na atividade elétrica e a ativação neuronal. Contudo, vários estudos coincidem em que as dife-
renças na anatomia cerebral se podem dever a um atraso de uns 3 anos no desenvolvimento destas, sendo o
seu desenvolvimento normal mas lento.
   

16
A PHDA e as suas características |

Contudo, o dado mais relevante a nível cerebral é a dificuldade que apresentam estas crianças no desenvol-
vimento das funções cognitivas básicas, o que se conhece como défice de funcionamento executivo, isto é,
nas funções que o córtex pré-frontal – parte do cérebro que coordena os processos cognitivos e comporta-
mentais – cumpre, o que se manifesta fundamen-
talmente em:

• Dificuldades para manter a atenção.

• Dificuldades de aprendizagem, compreensão,


raciocínio e planificação.

• Dificuldades para inibir comportamentos.

• Dificuldades para alternar entre diferentes


atividades.

• Dificuldades para ordenar passos e conseguir


uma meta.

Outros fatores que se dão antes, durante e depois


do nascimento também influenciam no desenvolvi-
mento da perturbação: exposição intrauterina ao
Os níveis de transporte da dopamina
álcool, nicotina e determinados fármacos como as
são muito menores em crianças que têm
benzodiazepinas, prematuridade, baixo peso ao
PHDA.
nascer, encefalite, hipoglicémia, etc. E, por outro
lado, apesar de que sejam necessárias mais inves- Sem a quantidade adequada deste neu-
tigações nesta linha, acredita-se que as alergias rotransmissor, dificulta-se a maduração
alimentárias também são fatores com influência na normal da zona frontal do cérebro na
aparição da PHDA. área que se encarrega de planificar e de
aprender de situações anteriores.
Por último, referimos alguns dos fatores psicosso-
ciais com influência significativa na manifestação e
desenvolvimento da perturbação:

• Ambiente familiar adverso (entre os pais, entre O Omega-3 e outras gorduras


SABIA QUE...

pais e filhos, entre irmãos...). saudáveis que se podem encon-


trar nalguns alimentos como o
• Incompreensão ou desconhecimento da pertur-
salmão, ou algumas verduras,
bação por parte dos que a rodeiam.
são benéficas para pessoas com
• Falta de recursos económicos que possam im- PHDA dado que aumentam os
pedir um diagnóstico precoce e uma boa inter- níveis de dopamina, uma das
venção. substâncias que são afetadas
por esta perturbação, pelo que
• Outras perturbações que se verifiquem simulta-
é recomendável aumentar o seu
neamente com a PHDA.
consumo.
| Divulgação Dinâmica Formação
   

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|

02. História e modelos


da PHDA
Apesar de que desde o séc. XIX se possam encontrar descrições de crianças com perfis inquietos, para
encontrar os primeiros comentários descritos atendendo à forma de uma perturbação, só em 1900
encontramos os primeiros autores – entre os quais destaca George Still –, que começaram por falar
de uma perturbação no controle das ações de algumas crianças sem que existisse deterioro da capacidade
intelectual, acompanhando-a como podia acontecer noutros diagnósticos como o autismo.

Em 1920, devido a diferentes epidemias de encefalite, começa-se a relacionar com as mesmas os sintomas
que determinadas crianças apresentavam como a hiperatividade, a falta de concentração e impulsividade,
o que com o tempo se foi comprovando que não parecia encaixar a 100% , pois a maioria das crianças que
apresentavam os sintomas não tinham tido a doença.

Mais tarde, já nos anos 60, Leon Esenberg, falava da “reação hipercinética da infância” e começou a utilizar fár-
macos para trabalhar com as crianças, substâncias que hoje em dia ainda se utilizam, como o metilfenidato.
A finais dessa década, essa reação foi incluída nos manuais de perturbações mentais e por volta de 1980, nos
mesmos começa a aparecer a referência à Perturbação de Défice de Atenção, considerando-se que se podia
apresentar com ou sem hiperatividade.

Finalmente, nos anos 90, os conhecimentos


sobre a perturbação desenvolveram-se e os
progressos em neuroimagem e genética fo-
ram apoiando cada vez mais a sua origem
biológica, começando também a detetar-
-se a perturbação em adultos e começa-se
a chamar Perturbação de Hiperatividade e
Défice de Atenção.
| Divulgação Dinâmica Formação
   

18
A PHDA e as suas características |

2.1. Modelos explicativos da PHDA


Os modelos de PHDA baseados na hipótese cognitiva afirmam que as alterações destas crianças se devem
a uma desregulação do controlo cognitivo do seu comportamento, dando-se um défice numa ou várias das
funções executivas superiores, encontrando-se assim modelos que falam de um défice único e outros que
falam de um défice múltiplo.

Pode-se considerar que existem dois modelos explicativos fundamentais que são os que mais aceitação têm,
são os modelos de Barkley e o modelo de Brown.

MODELO DE BARKLEY

Barkley propõe o conhecido como modelo de inibição comportamental, segundo o qual se dá um atraso para
regular o próprio comportamento nas habilidades cognitivas que abrangem as funções executivas:

» Memória de trabalho: dentro da mesma pode-se distinguir a interna ou verbal, como a capacidade de falar
consigo mesmo que também possibilita ler em voz baixa e se utiliza para resolver problemas, para se au-
tocolocar dúvidas e decidir ações.
E, paralelamente, a Memória de Trabalho não verbal, que consiste na capacidade para imaginar visualmen-
te e auditivamente, tanto factos passados, como futuros para poder tomar decisões.

» Autorregulação do humor, a motivação, a ativação e a intensidade da emoção: capacidade de auto-mo-


tivação para manter uma atividade até ao fim e decidir se a resposta emocional que surge perante uma
situação se mantém em privado ou se externaliza.

» Reconstrução: serve para criar situações no futuro perante obstáculos inesperados para as resolver.

RESPOSTA
ADEQUADA
INIBIÇÃO

· FUNÇÕES EXECUTIVAS

Memória de trabalho
ESTÍMULO
Inibição emocional e
motivação
RESPOSTA
Planificação e resolução de IMPULSIVA
problemas
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A PHDA e as suas características |

MODELO DE BROWN

Modelo que ao modelo de Barkley acrescenta a importância da motivação e a regulação emocional. Segundo
este modelo, quando há uma grande motivação pela atividade, a criança é capaz de utilizar toda a sua aten-
ção. Assim, segundo Brown, a função executiva é composta por 6 blocos;

» Ativação: implicar organizar atividades calculan- » Emoção: administrar a frustração e a preocupa-


do o tempo e priorizando. ção de forma a que não afete outras ações como
a atenção.
» Concentração: concentrar-se, manter e mudar de
atividade sem perder a concentração devido a es- » Memória: manter ideia inclusivamente dando
tímulos externos. atenção a outras coisas e recordar informação
memorizada.
» Esforço: manter o esforço em algo, processando
a informação. » Ação: regular ações e tirar conclusões, tendo em
conta as emoções dos demais e as suas próprias.

Além destes dois modelos, cabe destacar algumas contribuições de outros autores:

» Modelo de regulação do estado de Sergeant: afirma que


consiste num défice na capacidade de regular o esforço e
a motivação, que se regulam com recompensas positivas
e diminuíram com os castigos.

» Modelo de transtorno evolutivo do controlo da frustra-


ção de Greene: entende que existe uma dificuldade evo-
lutiva para controlar a frustração que as torna crianças
explosivas e inflexíveis, frustrando-se rapidamente, o que
implica perder o controlo e mostrar agitação física.

» Modelo cognitivo-energético: segundo este modelo a fa-


lha verifica-se em 3 níveis; o nível computacional dos me-
canismos de atenção que implicam a codificação, decisão
e organização motora, o nível do estado que compreende
a alerta, o esforço e a ativação, e o nível de alerta que é
o estado de excitabilidade ou passividade que vem dado
pela intensidade do estímulo e pela sua novidade.

» Modelo dual de Sonuga-Barke: este modelo combina


a aversão ao atraso com a inibição comportamental de
Barkley. Afirma que as crianças com PHDA têm preferên-
cia por uma gratificação imediata, ainda que seja peque-
na, o que dificulta trabalhar prolongadamente e provoca
uma alta frustração quando não se satisfaz desta forma.
Segundo este modelo, a impulsividade dá-se para reduzir
a recompensa o antes possível.
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20
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03. Comorbidades
A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção, como a maioria das perturbações, pode apre-
sentar-se com certa regularidade juntamente com outra sintomatologia ou perturbações associadas,
o que frequentemente dificulta o diagnóstico, dado que gera dúvidas sobre quais são os sintomas
principais, piorando assim a evolução e as respostas às intervenções que se realizem. A estas perturbações
que se verificam simultaneamente chama-se perturbações comórbidas.

Existem alguns fatores que se acredita que têm influência em que as crianças apresentem comorbidades com
mais frequência: um diagnóstico tardio, um quociente intelectual baixo (QI)4 , um nível educativo e cultural
baixo, ou a presença de antecedentes familiares.

As perturbações comórbidas mais comuns são:

» Perturbações de Comportamento. Referem-se a comportamentos disruptivos que saem do normal apre-


sentando um perfil agressivo.
Quando uma perturbação de comportamento se verifica na infância, costuma-se manifestar por explosões
de ira manifestadas frente a ordens dos adultos negando-se a cumpri-las: Perturbação Negativista Desa-
fiante. Normalmente, quando esta perturbação se apresenta na infância é frequente que se não há uma
boa intervenção, derive numa perturbação do comportamento dissocial, agravando-se os sintomas, come-
çando a violar direitos essências dos demais e a incumprir normas sociais importantes (frequentemente
produzem-se robôs, agressões, etc).
Em geral, as perturbações de comportamento, como consequência dos seus sintomas, costumam provocar
um deterioro importante nas relações com o ambiente, assim como na vida académica ou profissional.
Constitui uma das comordidades mais frequentes e muitas vezes os sintomas da PHDA se podem confundir
e atribuir à perturbação do comportamento (por exemplo, “não quer atender, mas poderia fazê-lo), o que
implica que não se trabalhe como seria necessário.
O principal factor que contribui à aplicação conjunta da PHDA e às Perturbações de Comportamento é o
atraso na intervenção com o menor.
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» Ansiedade. Constitui um estado de alerta, medo e preocupação excessivas por diferentes áreas (estar
sozinhos, saúde pessoa e a das outras pessoas, falhar nalgum aspeto, etc.), que frequentemente nestes
casos se relacionam com o fracasso escolar, as críticas recebidas pelo entorno e a sensação de que não

4 O Quociente Intelectual é uma medida da inteligência que se obtém comparando a execução de diferentes problemas com a forma em como
   

o fazem a maioria das pessoas da mesma idade.

21
A PHDA e as suas características |

se podem controlar. As dificuldades que as crianças detetam que têm para se organizar e seguir pautas ou
rotinas podem ser stressantes e chegar a causar ansiedade. Além do mais, a maior dificuldade para contro-
lar as emoções e o stress não ajudam a abordar a situação e pensar com clareza a forma de a administrar.

» Depressão e outras perturbações do estado de ânimo. Devido à frustração e confusão em relação ao seu
comportamento e dificuldades de atenção, em muitos casos gera-se uma falta de interesse e desmotivação
em relação à escola, às amizades, etc., gerando-se pouco a pouco na criança sentimentos de inferioridade
em relação aos outros, impotência e baixa autoestima.

» Perturbação do espectro do autismo. Trata-se de uma perturbação que afeta a forma como a criança fala,
se comunica, aprende, interage e se comporta no seu entorno. Os sinais mais comuns que se observam são
os comportamentos repetitivos ou as dificuldades para estabelecer uma conversa sobre o que se espera
para a sua idade. Por vezes, quando ambas perturbações se apresentam juntas origina-se uma grande con-
fusão ao estabelecer o diagnóstico, fundamentalmente pela amplia gama de opções que se apresentam no
espetro do autismo no que se refere à complexidade dos seus sintomas.

» Perturbação do sono: é frequente que os sintomas


próprios da perturbação sejam acompanhados
por dificuldades em conciliar o sono, movimentos
exagerados durante o sono, padrões instáveis de
sono, etc. Consequentemente, quando as crianças
não dormem bem, isto reflete-se num menor ren-
dimento escolar e cognitivo e também em mais
dificuldades a nível social e emocional. Alguns es-
tudos indicam que isto pode ter a ver com o facto
de que nestas crianças se dá uma maior concen-
tração de serotonina no cérebro durante a noite.
Além do mais, tendo em conta a dificuldade para
se concentrar em qualquer atividade e manter-se
quietos, o sono é especialmente complexo.

Um aspeto importante a ter em conta nas comor-


bidades é que, por vezes, não chega a haver uma
perturbação comórbida, mas apresenta-se sintoma-
tologia associada à PHDA (sintomas isolados de an-
siedade, problemas de comportamento, etc.) que é
importante abordar tanto em casa como na escola
de forma que são desemboquem numa perturbação. | Divulgação Dinâmica Formação
   

22
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04. Deteção e
diagnóstico da PHDA
Entende-se por deteção o momento em que os profissionais reconhecem uma dificuldade ou pertur-
bação na criança e, por conseguinte, começa-se a trabalhar com ele. Desta forma, tendo em conside-
ração que só se começa a trabalhar quando a dificuldade foi detetada, fazê-lo cedo é fundamental
para: permitir um início precoce do tratamento, uma planificação educativa correta adaptada às necessidades
de aprendizagem da criança, uma atenção médica especializada no caso de que se requeira medicação, a pre-
visão de ajudas familiares e assistenciais necessárias e uma menor administração do stress e necessidades
da família.

Contudo, isto não costuma ser uma tarefa simples, pois os sinais podem ser muitas vezes minimizados, tanto
desde o âmbito sanitário como desde a família e a escola, classificando-os de transitórios ou leves e sendo
normal que se recomende esperar quando se detetam as primeiras dificuldades.

Além do mais, apesar de que o diagnóstico de PHDA não se pode definir antes dos 7 anos, o ideal é que se
faça uma avaliação quando se suspeita que pode existir algum tipo de dificuldade, com o objetivo de come-
çar a trabalhar o que realmente é importante, isto é, as necessidades específicas de cada criança que podem
entorpecer o seu desenvolvimento.

Desta forma, se as dificuldades se começam a trabalhar assim que aparecem, isto é, nos primeiros anos da
criança, esta não tem tempo de aprender um padrão erróneo de comportamento, de atenção e relacional, os
quais são mais difíceis de modificar mais tarde.

Por exemplo, a idades precoces é mais difícil que a criança tenha interiorizado que “é má” e se comporte
de acordo a esse estereotipo, assim como que o resto de colegas da escola o tratem em função dos seus
comportamentos.

4.1. O protocolo a seguir


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Em caso de suspeita de que uma criança possa apresentar PHDA, os pais ou tutores legais devem levá-la a
uma Consulta médica de Desenvolvimento, Consulta de Pedopsiquiatria ou de Neuropediatria para que seja
realizada ou uma avaliação média.

Também é recomendável que realize uma avaliação em Consulta de Psicologia, com o intuito de averiguar
   

que aspetos devem ser trabalhados e estimulados, assim como para definir a estratégia adequada para o

23
A PHDA e as suas características |

caso concreto a aplicar tanto no contexto escolar como no familiar. Nos casos em que o estabelecimento de
ensino que a criança frequente tenha uma equipa de psicologia, esta avaliação pode ser realizada no próprio
estabelecimento de ensino.

Passado um tempo de ter realizado as avaliações que de que se tenha iniciado o trabalho, ser os pais ou
tutores legais, se apercebem que o tratamento não está a ser suficiente nem eficaz, devem consultar os es-
pecialistas e pedir uma reavaliação assim que possível. Neste caso, é recomendável que a criança seja acom-
panhada pela equipa de neurodesenvolvimento para que as novas estratégias de intervenção se adaptem às
características concretas que a criança apresenta nesse momento.

4.2. Como realizar uma deteção precoce


Tendo conta que costumam ser as famílias a ter as primeiras suspeitas ou que são avisadas pelo estabeleci-
mento de ensino, convém que os pais estejam informados sobre os primeiros sinais que devem ter em conta.

Para a deteção é importante saber que


muitas vezes é mais difícil captar uma
criança com dificuldades mais relaciona- SINAIS DE ALERTA ANTES DOS 7
das com a atenção, pois as suas limitações ANOS
costumam passar mais desapercebidas
por serem menos manifestas.
• Dificuldades no jogo social com outras
Deve-se também ter presente que os sin- crianças.
tomas ou dificuldades devem aparecer
• Preferência por jogos físicos em compara-
em vários contextos (em casa, na esco-
ção com jogos educativos.
la...), uma vez que se se dão em apenas
um deles podem estar relacionados com • Jogar montando e desmontando sem inte-
problemas de adaptação a esse contexto resse.
em concreto, pelo que a forma de traba-
• Pouco interesse em manter uma atividade
lho da dificuldade deve ser mais dirigida
ou jogo no tempo.
à procura dos fatores que lhe dificultam a
adaptação concreta a esse contexto. • Atraso na linguagem e na motricidade fina*.

O normal é que quando aparecem os pri- • Dificuldades para as primeiras aprendiza-


meiros sintomas em idades precoces, es- gens (cores, números, letras, animais...).
tes começam a aumentar com o passar
• Dificuldades para os primeiros traços de es-
do tempo, originando cada vez mais si-
critura.
tuações de conflito, aspeto que se deve
ter também em conta quando se trata de • Limitações emocionais.
detetar uma dificuldade que pode derivar
• Muitas birras e acidentes.
numa perturbação.
• Dificuldades para permanecer sentado e
Como é lógico, outro aspeto a ter em con-
manter atenção em conversas ou histórias.
ta na deteção precoce, relaciona-se com
os fatores de risco que podem aumentar
a probabilidade de que se trata de uma
PHDA, como por exemplo, o facto de que * Motricidade fina: coordenação dos movimentos de pequenos
músculos ou extremidades como os dedos que requerem pre-
os seu pais padeçam da mesma ou de ou- cisão e a frequentemente um trabalho visual que os acompanhe.
tra perturbação, estejam diagnosticados
ou não...

24
A PHDA e as suas características |

4.3. O processo de avaliação da PHDA


Quando na criança são detetados vários sintomas que podem estar relacionados com esta perturbação, é
importante que os profissionais desenhem um protocolo de avaliação que inclua diferentes instrumentos.

Os resultados das provas acompanham as observações dos pais, professores e profissionais e, se a criança
tiver mais de 7 anos, permitir um diagnóstico fiável.

Para saber quais são as observações de pais e de professores, é importante realizar com eles uma entrevista
na qual se especifique cada um dos sintomas que detetem na criança, assim como a forma, idade de apare-
cimento dos mesmos, evolução e como atua o contexto quando aparece.

Além do mais, deve-se realizar uma observação em vivo do comportamento da criança, tendo em conta que
é possível que numa situação nova, estruturada e breve possam não se apresentar da mesma forma em que
o fazem no dia a dia.

Esta informação deve ser complementada com o historial médico, os antecedentes médicos e psicológicos fa-
miliares, os registos académicos (notas, fichas, etc.), estudos prévios (se existem) e qualquer outro documento
que possa orientar na definição das dificuldades.

Frequentemente, na avaliação têm-se em conta várias áreas e abrange tanto os sintomas próprios da PHDA,
como sintomas associados (ansiedade, dificuldades sociais, dificuldades emocionais, capacidade intelectual,
dificuldades de aprendizagem, etc.), pois o ideal é não apenas detetar a PHDA, mas também conhecer todas
as dificuldades que está a causar na vida da criança de modo a poder trabalhá-las de uma forma mais eficaz.

Escalas comportamentais: são ferramentas nas quais normalmente se pontua tipo Likert5 para determinar o
nível de verificação de cada sintoma. Uma das mais habituais é a Escala para a Avaliação do Défice de Aten-
ção com Hiperatividade (EDAH) que se passa aos adultos (normalmente professores) que lidam com a criança
diariamente e que avalia de uma forma rápida para uma primeira orientação, a hiperatividade, a atenção, a
impulsividade e o comportamento da criança. Outra das mais utilizadas neste âmbito é a ADHD Rating Sacle.

ANEXO 1 Escala EDAH

ANEXO 2 ADHD. Rating Scale

Provas neuropsicológicas: com elas avalia-se o funcionamen-


to de algumas atividades cerebrais (funcionamento cognitivo).
Entre as mais comuns podem-se destacar:

Avaliação do nível intelectual. Em crianças é comum utilizar a


Escala Wechsler de Inteligência pra Crianças (WISC). Apesar de
que o nível intelectual não ser um critério para diagnosticar o
PHDA, a sua avaliação é útil no desenho de uma intervenção
adaptada a cada criança. Esta prova permite conhecer a ca-
pacidade intelectual geral, a compreensão verbal, o raciocínio
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percetual, a memória de trabalho e a velocidade de processa-


mento... com ela pode-se também destacar que as dificulda-
des se devam a um baixo ou muito alto nível intelectual e não
a uma perturbação como a PHDA.

5 Likert: ferramenta que permite medir uma resposta por categorias em função de
   

graus e não só pela sua presença ou ausência.

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A PHDA e as suas características |

Funções executivas. Tendo em conta a sua implicação na PHDA, é especialmente importante a sua avaliação
para conhecer as dificuldades de funcionamento da criança e nas suas tarefas diárias. Entre as provas mais
importantes pode-se encontrar a Torre de Hanoi e o Teste de Stroop. Na classificação de cartas de Winscon-
sin, trata-se de agrupar cartas seguindo algum dos critérios que estas cumprem (segundo a sua forma, cor,
número...).

Cartas de Wisconsin

A torre de Hanoi é a tarefa mais tipicamente utilizada para avaliar a planificação.

Nesta atividade apresenta-se um tabuleiro com três colunas. Na primeira delas mostram-
-se uma série de peças ordenadas de maior a menor que dever ser reorganizadas do lado
esquerdo até ao direito, uma a uma, até reproduzir corretamente a mesma pirâ-
mide na última coluna, utilizando o menor número de movimentos possíveis,
ajudando-se com a coluna central e não podendo colocar-se uma peça maios
sobre uma menos.

O teste de Stroop avalia a interferência e a atividade consiste assinalar a cor na qual está
escrita a palavra, independentemente daquilo que esteja escrito.

Exames de neuroimagem. Apesar de que estes exames não servem para estabelecer o diagnóstico, tendo em
conta que se sabe que em menores com PHDA a atividade cerebral de algumas zonas do cérebro costuma
ser menor, verificar se apresenta esta forma de funcionamento pode ser mais um indicador. Além do mais,
são exames que podem ser úteis se na pessoa se apresentam simultaneamente alterações do sono, na fala,
epilepsia, etc.

Provas específicas de atenção. Trata-se de medir o nível de atenção da criança e a sua influência em diferen-
tes atividades. Assim, pode-se determinar o tipo de atividade em que é mais importante trabalhar a atenção
de cada criança. Entre as mais comuns estão o Teste de Caras que é composto por 60 desenhos de caras com
os quais se avalia a capacidade para perceber semelhanças e diferenças. Outro dos mais utilizados é o Teste
de Atenção D2, que consiste numa procura seletiva de estímulos relevantes para a qual se requer uma veloci-
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dade de processamento, concentração e atenção seletiva.


   

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A PHDA e as suas características |

| Divulgação Dinâmica Formação


   

Teste de Caras: marcar em cada grupo a cara diferente.

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A PHDA e as suas características |

Quando nos primeiros passos numa avaliação se deteta uma possível perturbação comórbida, a avaliação
deve-se estender a esses sintomas e detetar quais são as dificuldades principais.

Além da avaliação própria da sintomatologia da PHDA deve-se ter em conta a sintomatologia que aparece
normalmente associada, pelo que é necessário verificar as competências sociais da criança, utilizando uma
escala como a BAS, a qual consiste numa escala que pode ser aplicada a pais, professores e à própria criança
e que avalia a existência de características que beneficiam e dificultam umas relações sociais ótimas.

O RELATÓRIO DIAGNÓSTICO

Realizada a avaliação e estabelecido o diagnóstico, é necessário que o profissional emita um relatório para
que se possa utilizar quando for necessário, isto é, normalmente, na escola para que se realizem as oportunas
adaptações, por parte dos pais, para o caso de ser necessária alguma intervenção (psicológica, psiquiatra,
terapia da fala, etc.) ou ajudas...

Para que um relatório esclareça o mais possível sobre o caso à pessoa que o lê é necessário que recolha os
seguintes dados:

1. Motivo de consulta e situação que se apresenta 5. Juízo diagnóstico com base aos resultados obti-
na primeira valoração. dos. Devem-se incluir também as possíveis co-
morbidades.
2. Antecedentes pessoais e familiares, tanto de do-
enças médicas como psicológicas, assim como de 6. Intervenção proposta pelo profissional que reali-
intervenções anteriores que tenham existido. za a avaliação.

3. Contexto psicossocial do menor, no qual se inclua 7. Recomendações propostas pelo profissional, fun-
o ambiente familiar, o ambiente social e escolar, damentalmente para a escola e a família: pautas
assim como possíveis alterações que se tenham para dificuldades que se apresentam em casa,
dado nos mesmos e que possam ser revelantes. possíveis medidas a tomar no estabelecimento
de ensino para melhorar o rendimento, etc.
4. Exploração realizada: exames, observações, etc. e
número de sessões nas quais se realiza o processo.

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05. Os principais níveis


de intervenção
Realizada a avaliação pertinente e diagnosticado o PHDA, deve-se, assim que possível, começar a
trabalhar as dificuldades que limitem a criança na sua vida diária, tanto a sintomatologia específica
como a sintomatologia associada.

Para que a intervenção seja eficaz, é indispensável trabalhar tanto com o menor como no contexto escolar e
no familiar, pois é onde a criança passa a maior parte do seu tempo e, portanto, são os contextos que mais a
podem ajudar a regular as suas dificuldades e normalizar o seu desenvolvimento.

O nível didático refere-se às adaptações que a daí, os especialistas devem trabalhar com a criança
criança precisa no contexto escolar. Por um lado, en- diferentes ferramentas que a ajudem a administrar
contra-se o trabalho a nível de critérios curriculares, o seu comportamento, a comunicar-se, a melhor a
que consiste em adaptar tanto os tipos de atividades atenção-concentração e o próprio autocontrole.
como o conteúdo exigido à criança em cada ano le-
O nível familiar é provavelmente o mais importante
tivo com o objetivo que a criança possa avançar sem
onde se deve intervir, uma vez que é neste contexto
que a sua perturbação implique uma limitação. Mas,
onde a criança precisa de se sentir mais apoiada e
além do mais, no âmbito escolar é importante que
onde passa a maior parte do seu tempo. Desta for-
tanto professores como colegas conheçam e respei-
ma, é importante proporcionar aos pais certas pau-
tem a criança de modo a que esta se possa sentir
tas para que possam reagir de forma correta perante
cómoda e em igualdade na escola no plano social
as dificuldades que a criança possa apresentar, que
(para o efeito, por vezes, são necessárias atividades
normalmente estão relacionadas com as tarefas e
informativas, atividades de conscientização, etc.).
com as normas a seguir. Mas, além do mais, muitas
A nível individual, é importante que, na medida do vezes é vantajoso que a família receba também uma
possível, em função da idade e do nível de funcio- ajuda direta (não só de intervenção para a criança),
namento, trabalhar a psicoeducação, não só com de forma a que sejam compreendidos e atendidos
a família, mas também com a criança, isto é, fazer por profissionais. Neste sentido, costuma funcionar
com que conheça a perturbação e o que esta im- muito positivamente os grupos de ajuda para pais,
plica desde a sua compreensão, para que entenda nos quais, entre eles se partilham experiências,
que é necessário aplicar certas estratégias. A partir emoções, pautas, etc.
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Frequentemente, com uma adequada intervenção a sintomatologia diminui de forma importante, ainda que a
perturbação em si se considere crónica, pois, normalmente, requere uma série de ferramentas a implementar
a longo prazo.
   

29
A PHDA e as suas características |

5.1. A intervenção farmacológica


Ao realizar a intervenção com as crianças com PHDA uma questão que costuma gerar controvérsia é o trabalho
com fármacos, fundamentalmente porque normalmente são crianças muito novas e pelas consequências que
os químicos podem ter.

Contudo, apesar de que esta intervenção nem sempre é necessária, em muito casos os profissionais con-
sideram-na oportuna, pelo menos temporalmente, para estabilizar a sintomatologia da criança através da
regulação das substâncias químicas que estão alteradas a nível cerebral.

Ao definir o tratamento farmacológico, o profissional deve ter em consideração os sintomas que o paciente
em questão apresenta, pois não são os mesmos em todos os casos, nem têm a mesma intensidade, o que
pode ter influência no tipo de medicamento e na sua dose. Devem-se também verificar as possíveis pertur-
bações comórbidas que possam requer medicação ou ser incompatíveis com determinados fármacos. Por
outro lado, deve-se sempre ter em conta a opinião da família sobre a farmacoterapia, proporcionando toda a
informação necessária sobre o tratamento e respondendo a todas as possíveis dúvidas.

Outro aspeto a ter em conta é a duração dos efeitos dos fármacos, procurando que seja durante as horas mais
necessárias do dia o momento em que mais efeito têm (por exemplo, na escola, quando se requer maiores ní-
veis de atenção). Deve-se evitar, se possível, que a toma de fármacos provoque uma estigmatização por parte
do contexto (fundamentalmente entre os seus iguais), tentando facilitar que as tomas se realizem em casa.

Os fármacos mais comumente utilizados são os estimulantes (metilfenidato), que atuam principalmente nos
circuitos de dopamina e os não estimulantes (atomexetina), que atuam sobre a substância norepinefrina. Os
estimulantes costumam ser de rápida ação, sendo os seus efeitos percetíveis passadas poucas horas da toma,
passando o seu efeito da mesma forma. Os não estimulantes demoram
cerca de 15 dias em estabilizar o seu efeito.

O mais importante no caso de que se administrem fármacos é combi-


ná-los com outras terapias e intervenções que reforcem os seus efei-
tos, pois esta cominação demostrou ser a alternativa mais eficaz.

Neste aspeto é importante fazer um seguimento da medicação e do


efeito que está a produzir no menor, tratando sempre de evitar efeitos
secundários que afetem a vida da criança (irritabilidade, dor de cabe-
ça, náuseas...). No que se refere à finalização do tratamento, não existe “O Tratamento do TDAH”
um período exato e, por vezes, definem-se períodos de descanso para
Fonte: Eu Foco
verificar como se encontra o menor sem os mesmos, podendo depois
retomar os fármacos com a mesma ou outra diferente. | Divulgação Dinâmica Formação
   

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A PHDA e as suas características |

MITOS DA FARMACOLOGIA EM PHDA

A medicação está na moda: na realidade tem-se vindo a utilizar há mais de 50 anos para as dificuldades
desta índole.

A medicação seda as crianças pra que não incomodem: pelo contrário, a medicação mais utilizada são os esti-
mulantes cujo objetivo é melhorar a concentração e regular a impulsividade.

A medicação pode predispor a vícios: os estimulantes utilizados não são viciantes nas doses corretas e
podem-se interromper em ocasiões por determinados períodos. De facto, um bom tratamento diminui a
probabilidade do consumo de substâncias.

A medicação é para toda a vida: se o tratamento se faz a tempo os sintomas podem-se chegar a controlar
sem medicação em quase todos os casos.

5.2. As novas tecnologias na intervenção


com PHDA
O tratamento da PHDA, tal como o de outras perturbações, é beneficiado pelas novas tecnologias, que permi-
tem facilitar a vida dos pais, professores e crianças que convivem com esta perturbação.

Estas tecnologias proporcionam vantagens desde o momento das avaliações, permitindo que os testes se
realizem de forma online, o que além de ser mais simples e prático para os profissionais, costuma também
ser mais atrativo para as crianças.

Também têm vantagens na intervenção direta com as crianças, existindo programas que facilitam o trabalho
das funções cognitivas que estejam mais deterioradas na criança. Além do mais, este tipo de treinos costu-
ma permitir um registo individualizado da evolução da criança o que fomenta a capacidade de superação. E
outro aspeto positivo, é a sensação de carácter lúdico que este tipo de intervenção gera nas crianças, poten-
ciando-se assim as suas capacidades sem a sensação de esgotamento ou rejeição que às vezes produzem as
intervenções mais tradicionais. Por exemplo: Focus http://focustdah.com.br/#kids

No âmbito escolar existem diferentes aplicações que se podem utilizar em função das necessidades de cada
criança e os computadores, em muitos casos, facilitam as avaliações destas crianças, para as quais um teste
em papel pode ser mais difícil de realizar.

Por outro lado, as tecnologias mais inovadoras também têm sentido no mundo do PHDA, de maneira que, por
exemplo, os óculos de realidade virtual podem-se utilizar com estas crianças para trabalhar determinados
| Divulgação Dinâmica Formação

comportamentos como se estivessem no momento ou em questão ou para praticar técnicas de descontração.

Contudo, também se deve ter presente que a criança com PHDA, pela sua impulsividade e hiperatividade,
pode ser mais tendente a comportamentos viciantes e/ou de risco, pelo que a utilização das novas tecnolo-
gias deve estar sempre controlada pelos adultos que a rodeiam.
   

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A PHDA e as suas características |

ANEXOS

ANEXO 1. ESCALA EDAH

NADA POUCO BASTANTE MUITO

1. Tem excessiva inquietude motora.

2. Tem dificuldades de aprendizagem escolar.

3. Incomoda constantemente outras crianças.

4. Distrai-se facilmente, mostra pouca atenção.

5. Exige a satisfação imediata das suas exigências.

6. Tem dificuldade para as atividades cooperativas.

7. Está nas nuvens, ensimesmada.

8. Não acaba as atividades que começa.

9. É pouco aceite pelo grupo.

10. Nega os seus erros ou culpa os outros pelos


mesmos.

11. Costuma gritar em situações não apropriadas.

12. É respondona.

13. Mexe-se constantemente, não está tranquila.

14. Discute e briga por qualquer coisa.

15. Tem explosões imprevisíveis de mau génio.

16. Não segue as regras dos jogos.

17. É impulsiva.

18. Dá-se mal com a maioria dos seus colegas.

19. Os seus reforços frustram-se facilmente, é incons-


tante.

20. Aceita mal as indicações dos adultos.

ESCALAS ÀS QUAIS CORRESPONDEM OS DIFERENTES


PONTOS E CORREÇÃO

Cada resposta vale de 0 a 3 pontos, sendo 0 nada e 3 muito. Deve-se calcular a soma dos pontos
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de cada escala.

Hiperatividade-impulsividade: 1, 3, 5, 13, 17. Ponto de corte patológico por cima de 10.

Atenção: 2, 4, 7, 8, 19. Ponto de corte patológico por cima de 10.

Comportamento: 6, 9, 10, 11, 12, 14, 15, 16, 18, 20. Ponte de corte patológico por cima de 11.
   

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A PHDA e as suas características |

ANEXOS

ANEXO 2. Adhd Rating Scale

NUNCA (0) ÀS VEZES (1) FREQUENTE (2) CONSTANTE (3)

FALTA DE ATENÇÃO

Não presta atenção suficiente


aos detalhes ou tem erros por
descuido nas atividades escola-
res ou jogos.

Tem dificuldade para manter a


atenção em atividades ou jogos.

Parece não ouvir quando se lhe


fala diretamente.

Não segue instruções, não termi-


na as atividades escolares nem
as obrigações.

Tem dificuldade para organizar


tarefas e atividades.

Evita ou é reticente a ativida-


des que exigem esforço mental
sustentado.

Extravia objetos necessários para


tarefas ou atividades.

Distrai-se facilmente com estí-


mulos irrelevantes.

É descuidada nas atividades


diárias.

HIPERATIVIDADE

Mexe excessivamente as mãos ou


os pés ou mexe-se na cadeira.

Abandona o seu lugar na aula ou


quando deve estar sentada.

Corre ou salta excessivamente


quando não é apropriado fazê-lo.

Dificuldade para jogar ou para


se dedicar a atividades de lazer
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tranquilamente.

Está sempre em atividade, como


se tivesse um motor.

Fala em excesso.
   

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A PHDA e as suas características |

ANEXOS
IMPULSIVIDADE

Precipita-se a responder, não


esperando o fim da pergunta.

Tem dificuldades para esperar


pela sua vez.

Interrompe ou mete-se nas ativi-


dades dos outros.

CORRECÇÕES

Na escala de falta de atenção considera-se patológica uma pontuação a partir de 6.

As pontuações das escalas de hiperatividade e impulsividade devem-se somar e é patológica uma


pontuação total a partir de 6.

Se só uma das pontuações é patológica, indica o subtipo de PHDA, se as duas o são, deve-se sus-
peitar de sum subtipo combinado.

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