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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROFESSORA: TEREZA CORVELO
DISCIPLINA: GENÉTICA APLICADA EM PSICOLOGIA

Fernanda Cristine do Monte Santos


Fernanda Souza da Silva
Julie Gabriele Melo da Silva
Lorena Rodrigues Soares
Márcia Xwarye
Marinice Nogueira Mendes
Samara Fontenelle Costa Bentes

ASPECTOS GENÉTICOS E CLÍNICOS DE CRIANÇAS COM TDAH

BELÉM- PA
JUNHO/ 2022
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 2
CARACTERIZAÇÃO DO TDAH 4
ESTATÍSTICAS GERAIS 5
ASPECTOS NEURO-GENÉTICO AMBIENTAIS 6
4.1 GENÉTICA RELACIONADA AO TDAH 6
4.2. NEUROBIOLOGIA COM BASE GENÉTICA 7
4.3. INFLUÊNCIA AMBIENTAL 8
ASPECTOS CLÍNICOS 8
5.1. SINTOMAS 8
5.2. DIAGNÓSTICO 9
5.3. TRATAMENTOS 10
5.4. DISCUSSÕES SOBRE O DIAGNÓSTICO E O TRATAMENTO 10
CONSIDERAÇÕES FINAIS 12

BIBLIOGRAFIA 13
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INTRODUÇÃO

A exposição verificada busca adentrar no mundo diverso conhecido como TDAH,


Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Nesse sentido, a característica basilar da
doença é exibida, principalmente pela alta dificuldade de concentração, hiperatividade e a
relação com os dois, o que causa muito prejuízos para esses indivíduos no convívio familiar,
nas relações intersociais e, prioritariamente no âmbito acadêmico/escolar

Dessa forma, o estudo e o aprofundamento direcionado ao TDAH precisa ser cercado


de maiores pesquisas voltadas para área e na divulgação midiática sobre esse público, com o
fito de que haja, aos poucos, uma resolutividade maior de questionamentos que serão
expostos e que o sujeito atípico possa prosseguir sua vida de maneira mais humanizada e
acompanhada.

Dentro dessa perspectiva, o escrito redigido almeja elucidar os pontos constitutivos


do TDAH com uma narrativa que engloba os aspectos cerebrais, biológicos e genéticos
atrelados a fatores ambientais. Mas também, com o início no cenário histórico, sua
caracterização, as manifestações clínicas e sintomáticas recorrentes nessa população,
acompanhados dos desafios impostos e das prerrogativas do enfoque no diagnóstico e no
tratamento.

Com base nisso, as relações mencionadas foram baseadas em artigos, pesquisas e


revistas imersas no tema, o qual é de fundamental importância para o entendimento da saúde
dos portadores, do profissionalismo daqueles que atuam nesse panorama e na desmistificação
do TDAH para com a sociedade.
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1. ASPECTOS HISTÓRICOS

Uma das primeiras descrições de que se tem registro do Transtorno de Déficit de


Atenção e Hiperatividade (TDAH) foi a do médico Henrich Hoffman em 1845, através de
histórias em quadrinhos destinadas ao público infantil, cujos personagens possuíam
características do TDAH. Ao longo do século XX, o TDAH como conhecemos hoje, recebeu
diversas denominações. Dentre as quais, as mais utilizadas antes da terminologia atual eram: 
lesão cerebral mínima, disfunção cerebral mínima, hipercinesia, síndrome hipercinética ou
impulsiva, reação hiperpercinética da infância (DSM-II) e déficit de atenção com ou sem
hiperatividade (DSM-III).

Essas diferentes nomenclaturas acabam refletindo as divergências que sempre


dominaram o estudo do TDAH, divergências essas que estavam em uma perspectiva
biológica, unidimensional, e uma perspectiva psicossocial, multidimensional. Enquanto esta
ótica biológica está sobretudo presente nos Estados Unidos (Chess, 1960), os estudiosos
europeus dão enfoque ao aspecto desenvolvimental e psicossocial dos entraves e dificuldades
sofridas pelas crianças hiperativas ou impulsivas. Diante desta dualidade a respeito do
Transtorno “a ótica desenvolvimental de Wallon (1925,1959) será retomada e ampliada por
pesquisadores (Ajuriaguerra, 1970) que, sob a influência da abordagem psicanalítica,
elaboram as dimensões psicológica e psicossocial da hiperatividade” (Dumas, J. E, 2011).
Nesse sentido, de acordo com Dumas (2011):

          O DSM-II postula não apenas que a criança hiperativa “reage” às


circunstâncias de vida que afetam, mas igualmente que se protege delas recorrendo
os sintomas do transtorno. Essa segunda edição também utiliza claramente de uma
perspectiva biológica, especificando que diagnóstico não pode ser estabelecido
quando o transtorno é consequência de uma lesão cerebral. O DSM-III Marca uma
ruptura completa com o DSM-II. Como destacado no capítulo 1 essa nova edição do
DSM pretende-se não descritiva e abandona a orientação psicanalítica de edições
anteriores. Além disso renomeia transtorno de Déficit de Atenção com ou sem
hiperatividade enfatizando assim as dificuldades de atenção da criança mais do que a
atividade excessiva ou a impulsividade. Por último, passa-se de uma abordagem
unidimensional do transtorno (representado por uma lista única de sintomas) a uma
abordagem multidimensional ponto baseado em três listas de sintomas de desatenção
de hiperatividade e de impulsividade. (DUMAS,2011, P.228-232)
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Até hoje ainda é possível observar uma divergência de pontos de vista por conta de
perspectivas teóricas e práticas diagnósticas diferentes, principalmente entre países da Europa
e os Estados Unidos, entretanto o DSM-IV contribui para uma harmonização das práticas
diagnósticas tanto na pesquisa quanto no âmbito clínico (DUMAS,2011).

2. CARACTERIZAÇÃO DO TDAH

A partir do entendimento breve sobre o aspecto histórico do TDAH é importante


buscar a compreensão de suas principais características na infância, e até em outras fases da
vida. As crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade tem como principais
características comportamentos perturbadores em que predominam a desatenção e/ou
hiperatividade e a impulsividade. As crianças que possuem tais comportamentos são
facilmente distinguíveis das outras crianças, pois as características deste transtorno impõem
grandes dificuldades no contexto familiar e escolar, o que acaba atrapalhando
consideravelmente o desenvolvimento adequado daquela criança e por vezes o da classe
(DUMAS, 2011. P.236)

Ademais, segundo Barkley:

 O transtorno de Déficit de Atenção/hiperatividade, o TDAH, é um transtorno de


desenvolvimento do autocontrole que consiste em problemas com os períodos de
atenção, com o controle do impulso e com o nível de atividade. Contudo, [...] é
muito mais, esses problemas são refletidos em prejuízos na vontade da criança ou
em sua capacidade de controlar seu próprio comportamento. BARKLEY (2002,
p.36)

Tendo em vista as principais características do TDAH, é importante citar que um de


seus principais aspectos, o déficit de atenção, é definido atualmente pelo contraste negativo,
ou seja, aquilo que a criança não consegue fazer (CAMUS, 1993). Assim muitos critérios
diagnósticos de desatenção do DSM-IV e da CID-10 descrevem as lacunas ao invés de
características comportamentais distintas.

 Dito isso, para além dos critérios de diagnóstico utilizados no TDAH, ele é
acompanhado de dificuldades que atrapalham o desenvolvimento dos afetados
(Barkley,2003). Tais dificuldades afetam diversos aspectos do funcionamento adaptativo,
como as competências motoras, afetivas e cognitivas. Devido às características neurológicas
do TDAH, as funções executivas, que são relacionadas a capacidade controlar o
comportamento de forma flexível e precisa, nos portadores do Transtorno são prejudicadas
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nos principais pontos: controle motor, controle das emoções, falar mais que seus pares,
possuir de dificuldade de organizar os pensamento ao falar não espontaneamente, possuir
também dificuldade em organizar tarefas ou resolver problemas, por conta de uma memória
de trabalho limitada, além disso possuem dificuldades de resistir a tentações e de retardar a
gratificação. (Dumas, 2011, p. 242-243)

       Análogo a isso, teorias atuais têm sugerido que indivíduos com TDAH
apresentam comprometimento no sistema de recompensa, demonstrando dificuldades em
perseverar e lidar com condições de pouca ou ausência de gratificação (Shimizu, Miranda,
2012), justamente por conta de que possuem um comprometimento no sistema de transporte
da dopamina. (OHLWEILER, 2016). Além disso, em conformidade com BRIDI et al. (2016)
, em algumas pessoas que possuem o transtorno, quando tentam se concentrar, a atividade do
córtex pré-frontal diminui ao invés de aumentar (diferente dos sujeitos do grupo de controle)
(Santos, PT. 2017). Dessa forma surgem muitos sintomas que foram explanados até aqui e que
serão tratados futuramente.

3. ESTATÍSTICAS GERAIS

Estudos epidemiológicos indicam que 3% a 7% das crianças norte-americanas com


idade escolar apresentam TDAH (Goldman, Genel, Bezman, & Slanetz, 1998; Pastor &
Reuben, 2002). No Brasil, alguns estudos em populações de crianças brasileiras em idade
escolar corroboram estes índices (Guardiola, Terra, Ferreira & Londero, 1999; Rohde & cols.,
1998; Souza, Serra, Mattos, & Franco, 2001; Freire & Pondé, 2005). (Santos, Vasconcelos,
2010).

Sob essa ótica, percebe-se uma alta prevalência relativa do TDAH na infância, pois
diversos fatores, sejam eles ambientais, sejam genéticos, contribuem para isso. Ademais, para
complementar, "Em outro estudo, Faraone e colaboradores (1992) concluíram que 57% das
crianças com TDAH têm pais afetados com o transtorno, com um risco de 15% entre irmãos.
Também confirmaram esta teoria os estudos feitos com gêmeos monozigotos, nos quais se
constatou a concordância de 51%, enquanto em dizigotos a concordância é de 33% com maior
incidência de TDAH em familiares de primeiro grau do indivíduo afetado" (PEPSIC, 2010).
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Vemos aqui que os fatores genéticos demandam grande parte da herdabilidade do


TDAH, no entanto fatores ambientais como os comportamentos e hábitos familiares são um
terreno fértil para quem já possui predisposição genética de desenvolver o transtorno. Do
mesmo modo que alguém que possui predisposição genética possui chances de não
desenvolver o TDAH por conta de influências ambientais.

4. ASPECTOS NEURO-GENÉTICO AMBIENTAIS

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade tem sua etiologia em


parâmetros ainda muito estudados pela academia científica, com conhecimentos em parte
imprecisos e questionados. Sabe-se que o TDAH, em sua heterogeneidade sofre influência de
fatores ambientais e genéticos, sendo uma herança multifatorial atuante na manifestação do
endofenótipo do indivíduo afetado.

A partir do conhecimento do caráter múltiplo do transtorno, estudos na área


constatam seu aspecto neuro-genético ambiental. O que na década de 60 foi chamado de
“disfunção cerebral mínima”, segundo Caliman (2008) baseado em pesquisas neurológicas
com utilização de neuroimagens e estudos de biologia molecular, está relacionado em um
déficit funcional no córtex cerebral e um déficit funcional de certos neurotransmissores. No
ponto de vista genético, genes associados as neuro funções afetadas pelo transtorno seguem
em constante estudo, apontando o TDAH como um dos transtornos psiquiátricos com maior
herdabilidade genotípica estimada em 70-80%.

4.1 GENÉTICA RELACIONADA AO TDAH

Apesar da concordância na influência genética exercida no TDAH, as afirmações


científicas ainda são vagas quanto a identificação dos genes envolvidos no transtorno.
Associando o seu caráter poligênico, estudos buscam desvendar os mistérios por trás desta
disfunção utilizando de abordagens baseadas em hipóteses, desenvolvendo estratégias
associadas aos avanços de ferramentas tecnológicas. Entre os principais projetos estão os
estudos de gene-candidato, com varreduras genômicas de linkage e GWAS.

A abordagem de gene-candidato centraliza seus estudos em genes de interesse


pré-definidos e compara a influência desses em determinado grupo de caso-controle,
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analisando se a manifestação com maior frequência do gene encontra-se em indivíduos


portadores do fenótipo de TDAH ou em neurotípicos. Assim, as associações, seguindo os
preceitos da indústria farmacêutica, focam principalmente nos genes relacionados à
neurotransmissão dopaminérgica e noradrenérgica. Outros estudos apontaram maior
consistência associada ao TDAH os genes dos transportadores de serotonina (5HTT/SLC6A)
e dopamina (DAT1/SLC6A3), receptores de dopamina D4 e D5 (DRD4 e DRD5) e de
serotonina 1B (HTR1B), o gene codificador de uma proteína envolvida na liberação de
neurotransmissores (SNAP25 – synaptossomal-associated protein 25) e do brainderived
neurotrophic factor (BDNF)

Estudos de Associação genômica ampla (GWAS), buscam pelo genoma variantes


associadas ao transtorno utilizando um chip capaz de identificar inúmeros polimorfismos de
nucleotídeos únicos (SNP), variações numericamente mais abundantes nas comparações de
genomas humanos, e pequenas deleções ou inserções. Em 2019, com consórcios de pesquisas
mundiais, esse estudo apresentou um resultado amostral com 12 loci associados
significativamente ao TDAH. Desse modo, os genes implicados relacionam-se previamente a
fenótipos psiquiátricos ou com características biológicas, como o FOXP2 (Forkhead box P2),
ST3GAL3 (ST3 beta-galactoside alpha-2,3-sia), MEF2C (Myocyte enhancer factor 2C), entre
outros.

4.2. NEUROBIOLOGIA COM BASE GENÉTICA

Ao separarem endofenótipos relacionados ao TDAH, metodologia que visa facilitar a


compreensão da arquitetura genética de fenótipos comportamentais, pesquisadores analisaram
que é possível através de neuroimagem obter maior entendimento a respeito do transtorno,
ainda que por ora o estudo esteja em fase inicial.

Ademais, estudos já demonstraram a ligação existente entre o TDAH e deficiências


funcionais cerebrais (Pepsic, 2010). Com base nisto, mostrou-se possível estipular a
herdabilidade em aspectos cerebrais com influência genética, ainda que as evidências
comprovadas das bases genéticas integrantes na formação estrutural e funcional do cérebro
sejam imprecisas ou até desconhecidas. No entanto, os presentes estudos demonstram
afirmativamente herdabilidades variantes de acordo com a região cerebral. Na região do lobo
frontal, onde há disfunção na neurotransmissão de dopamina, a herdabilidade estima-se entre
90 e 95%, enquanto para o hipocampo ela varia de 40 a 70%.
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Thomas Brown (2002), ao abordar o TDAH com afetação a função executiva


desempenhada pelo lobo frontal cerebral, fez analogia a uma sinfonia de uma orquestra
composta por bons músicos, mas sem um condutor para organizá-la, relacionando aos
problemas no sistema que controla e integra os aspectos cognitivos do indivíduo portador do
transtorno. Concluindo Brown, que são seis as partes funcionais executivas desse indivíduo
afetadas: Ativação, Concentração, Esforço, Emoção, Memória e Ação.

A ativação, correspondente ao ato de iniciar e priorizar uma tarefa, é negligenciada


nesse fenótipo por procrastinação; a Concentração, responsável por manter o foco em uma
tarefa, pode exigir grande esforço por parte do indivíduo que constantemente se distrai; o
Esforço exigido para a conclusão de uma tarefa processada a longo prazo, é prejudicado pelas
duas funções distorcidas presentes em quem porta TDAH; a Emoção, capacidade de gerenciar
as próprias emoções, embora não percebido de forma precisa, com frequência se manifesta
principalmente em crianças; Memória, função afetada quando a  curto prazo e por fim, Ação,
com falta de domínio na regulamentação das próprias ações ou contextualização dessas ações
em relação a outras pessoas.

4.3. INFLUÊNCIA AMBIENTAL

Os fatores ambientais influentes no transtorno do déficit de atenção e hiperatividade,


referem-se a uma pré-disposição, embora tal afetação seja analisada por especialista como
algo para além das disposições genéticas, susceptíveis a mudanças e não específicas ao
transtorno (DSM-5, 2013).

Entre as condições apresentam-se como possibilidades: níveis menores de inibição


comportamental ou de controle; história de abuso infantil, negligência e múltiplos lares
adotivos; hábitos de consumo de bebida alcoólica ou tabagismo durante a gestação;
prematuridade e baixo peso ao nascer, ainda que a maioria das crianças com baixo peso no
nascimento não desenvolva o transtorno.

5. ASPECTOS CLÍNICOS

5.1. SINTOMAS

Apresentando-se, normalmente, durante a infância, e afeta de 3% a 5% das crianças,


no contexto da sala de aula, pode-se afirmar que a criança com TDAH tem a capacidade de
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aprender, mas apresenta maior dificuldade do que as que não são portadoras do transtorno,
uma vez que há maior dificuldade de concentração. Costumeiramente, considera-se uma
tríade de sintomas do TDAH: inquietude (física e mental), impulsividade e falta de atenção.
Consoante à Silva (2010), o transtorno costuma manifestar-se durante a infância, e
em cerca de 70% dos casos, permanece até a vida adulta. Aponta-se, que o cenário que mais
reconhece sintomas de TDAH nos indivíduos, é o cenário escolar. O aluno que é identificado
com os sintomas recorrentes ao TDAH, normalmente tem um baixo rendimento escolar,
dificuldade de aprendizagem, hiperatividade e falta de atenção. (Silva, 2021, p 34) É
importante pontuar que a questão escolar não diz respeito à dificuldade de aprender,
especificamente, mas à dificuldade de atentar-se a algo por um tempo maior. (Ferreira, 2011).
Nos adultos, os sintomas manifestam-se de forma semelhante, mas aplicados à
realidade de vida em questão. Desorganização, hiperatividade e impaciência são alguns dos
traços marcantes, frisa Silva (2010), mas essas características são somadas ao fato de
iniciarem diversos projetos ao mesmo tempo e abandonarem no meio do caminho,
apresentarem altos e baixos repentinos, impulsividade, esquecerem com frequência de
compromissos importantes.
Lopes, Nascimento e Bandeira (2005) enfatizam ainda que, nos adultos, é comum
que o TDAH seja visto como uma doença camuflada, pois os sintomas são menos claros, mas
levam a problemas afetivos, interpessoais, de comunicação, entre vários outros. É mais fácil
notar os sintomas durante o ensino fundamental, pois é quando a desatenção se mostra mais
incisiva e prejudicial. Na adolescência e vida adulta, os comportamentos hiperativos tendem a
diminuir, dificultando um pouco a percepção da doença.

5.2. DIAGNÓSTICO

O diagnóstico do TDAH é difícil, uma vez que se trata da análise comportamental de


crianças, normalmente – o que não impede que uma pessoa seja diagnosticada já na vida
adulta. A princípio, quando se identifica sinais frequentes de hiperatividade, impulsividade
e/ou falta de atenção, e essa repetição estiver prejudicando o desenvolvimento da pessoa, o
mais indicado é que a ela seja encaminhada a um médico especialista em TDAH, que
encaixará a pessoa em algum subtipo, nível de remissão e gravidade do transtorno. Não é
necessário exame de ressonância, eletrocefalograma ou qualquer outro que avalie
características físicas. Durante a consulta (que costuma ser mais demorada que o normal), há
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uma investigação do comportamento da pessoa com familiares, busca de casos na família,


análise da vida da mãe durante a gestação, análise do parto, desenvolvimento
neuropsicomotor e, se for o caso, como está sendo a vida conjugal.

Alguns sinais analisados para fechar o diagnóstico dizem respeito à concentração em


atividades quando se está em ambiente barulhento; à facilidade de lembrar de compromissos;
aos erros, por falta de atenção, em trabalhos ou projetos chatos; à falta de persistência; à
dificuldade de manter-se atento a algo chato; ao adiamento de compromissos que exigem
muita concentração; à dificuldade de concentração no que as pessoas dizem; à dificuldade de
realizar tarefas que exigem concentração; à dificuldade de manter-se organizado.

5.3. TRATAMENTOS

O tratamento para o TDAH deve ser multimodal, combinando a ingestão de


medicamentos e o apoio de profissionais da área médica, da saúde mental e da pedagógica.
Tratando-se da atuação dos psicólogos, a Associação Brasileira do Défict de Atenção, ABDA,
aconselha que a psicoterapia aplicada à esse público seja a Terapia Cognitivo
Comportamental (TCC), pois eles afirmam que é a psicoterapia que melhor auxilia os
portadores de TDAH. A Ritalina é o psicoestimulante mais comumente indicado para tratar o
transtorno e, dependendo da dosagem, pode ter efeito durante 8 horas, melhorando o foco e a
atenção do indivíduo. Técnicas de relaxamento, medicação, prática de atividade física e
controle da alimentação auxiliam no tratamento do TDAH.

5.4. DISCUSSÕES SOBRE O DIAGNÓSTICO E O TRATAMENTO

É válido pontuar, que ao se discorrer sobre o diagnóstico das pessoas com TDAH,
uma questão importante é mencionada, tendo em vista as diversas polêmicas e discursos
relacionados a sua confirmação e credibilidade perante a sociedade civil. Diante disso, seu
questionamento inicial refere-se aos altos casos de crianças e adolescentes sendo
diagnosticados com o transtorno, num período muito curto de consolidação da doença, algo
que foi visualizado principalmente a partir da confirmação da patologia pelo DSM IV, no ano
de 1994. Em decorrência disso, a resolução 370 (Estados Unidos da América, 2004) estimava
que cerca 2.000.000 de infantos juvenis e 8.000.000 adultos estavam diagnosticados com
TDAH.
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Essa perspectiva, começou a chamar a atenção dos estudiosos desse meio e as pautas
levantadas sobre esses casos serem especialmente dos EUA e estarem submerso a uma cultura
fortemente ocidental, o qual preza por fortes exigências de rendimento e produtividade das
pessoas, prioritariamente nas escolas e no cenário laboral, somados ao interesse das grandes
indústrias com a venda de remédios e prescrições médicas. Tal indagações trouxeram à tona
interesses que partiam de um viés muito mais econômico e financeiro, deixando a parte o real
comprometimento da doença do TDAH e sim no enfoque a uma performance produtiva.

Outro ponto crucial, acerca dos debates e lacunas deixadas pelo campo do TDAH,
estão diretamente posta na forma como os sintomas e a identificação da patologia é
confirmada, o qual é feita por meio de questionários e uma análise clínica aprofundada, o que
chama a atenção por parte dos seus críticos, é o caráter subjetivo referidos aos sintomas, haja
vista que parte de uma pergunta do que é considerado normal ou atípico, uma vez que todos
os seres humanos apresentam as características de inquietude e desorganização nas suas vidas
e, apesar do DSM IV prever a frequência e a intensidade dos aspectos clínicos, a confirmação
do TDAH parte da presença médica e da avaliação por partes dos psiquiatras do que seria algo
fora da curva. ob esse viés, pode-se entender mais precisamente essa relação quando se
analisa o livro do Foucault, O Nascimento da Clínica, o qual transcreve sob a interferência do
discurso médico nos corpos humanos e possui o poder de legitimação sobre o que é
patológico e é considerado normal na sociedade.

Por fim, a ritalina, que é o medicamento que foi e ainda continua sendo amplamente
usado como tratamento do TDAH, segundo a revista The New York Times, de janeiro de
1999, mostrou um aumento de cerca de 700%, desde o início da década, do consumo do
medicamento por parte de crianças americanas, o que leva a discussão acerca do uso
indiscriminado do remédio para o tratamento do TDAH, principalmente em relação aos
infantes, que compreende uma maior vulnerabilidade nessa situação e o grande risco de
dependência química desse medicamento que alguns estudos já mostram.

Tal cenário é preocupante quando inclui o tema do TDAH, dentre os quais todas
essas polêmicas e controvérsias sobre o diagnóstico e o tratamento mostram a carência de
resolução dessas problemáticas pontuadas e prioritariamente a continuação de uma vida mais
digna dos portadores da doença em questão.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final do exposto, conclui-se que os aspectos discutidos e expostos sobre o TDAH,


mostra a relevância sobre a doença e a sua compreensão de forma mais abrangente, ao passo
que aprofundada, sobre suas interseções. Desse modo, cabe aos profissionais da área e sua
rede multidimensional, avaliar com cautela e compreender os aspectos éticos da questão, com
base no entendimento sobre as dificuldades e os desafios impostos sobre a patologia. O olhar
mais humano e diferencial daqueles que estão com o TDAH, retirando do enfoque o aspecto
saúde-doença, prezando-se, porém, para um direcionamento do tratamento voltado para
continuação de vida mais digna e acolhedora dos sujeitos.

O estudo buscou, então, trazer aspectos significativos e importantes que ressaltam


todos aqueles fatores que condicionam e rodeiam acerca do TDAH, com o respeito aqueles
que possuem o transtorno e a luta por um reconhecimento e seriedade por parte da população
civil. A partir disso, a complexidade da patologia possibilita o real comprometimento dos
profissionais da área e a intensa procura por mais conhecimentos, fora do âmbito comum da
doença, além disso o debate sobre o assunto nas redes midiáticas, promoveriam uma maior
explicação e desmistificação da doença aqueles que não possuem acesso direto a esse
panorama.

Posto isso, os questionamentos e as indagações feitas sugerem que precisam ser


feitas mais pesquisas que englobem e consigam aprofundar os estudos do fenômeno, com o
intuito de que a doença seja cada vez mais reconhecida e vista como séria perante a sociedade.
Além disso, salienta-se a importância da ciência e dos seus métodos, na compreensão e
assistência do indivíduo portador do transtorno por parte dos profissionais da saúde, das
instituições públicas e da sociedade civil. Por fim, espera-se que os pontos tenham trazidos
esclarecimentos sobre o assunto ao leitor, e que a proposta pela busca do saber continue cada
vez mais.
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