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1.

Introdução:
A existência do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) na
forma adulta foi oficialmente reconhecida pela Associação Americana de
Psiquiatria na publicação da terceira versão do Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais (DSM-III). A partir de então foram feitas mudanças
sutis a respeito de seu diagnóstico. A edição atual do manual, o DSM-V, traz
algumas alterações que contribuem para facilitar um melhor diagnóstico a
respeito do transtorno, mesmo ainda sendo motivo de muitas controvérsias
(MCCOUGH; BARKLEY, 2004).

Como o nome sugere, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é


caracterizado por uma dificuldade nestas duas esferas, além de apresentar uma
possível impulsividade. Estas dificuldades acarretam sérios problemas relacionados à
organização, problemas de humor, abuso de substâncias e relacionamentos. Estas
características conduzem então, ao levantamento de diferentes hipóteses do
diagnóstico nesta fase, pois estes sintomas comórbidos tornam difícil seu diagnóstico,
principalmente no público feminino (BARKLEY, 2002; PHELAN, 2005).

A hiperatividade e a impulsividade diminuem na fase adulta, mas se persiste a


dificuldade em sustentar a atenção e memória (MATTOS; COLS, 2006). Por isso, é
requerido um tratamento voltado para o desenvolvimento de habilidades que
contribuam para criação de estratégias que facilitem a vida pessoal e profissional do
portador do transtorno (BARKLEY, 1998). A Terapia Cognitivo-Comportamental
apresenta um tratamento que pode auxiliar as dificuldades apresentadas pelo adulto
com TDAH (BARKLEY, 1998).

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) traz em seu formato bases teóricas,


técnicas e metodologia das abordagens cognitivas e comportamentais, o que a deixa
dinâmica e eficaz no tratamento de pensamentos e comportamentos disfuncionais
(KNAPP; BECK, 2008). Trata-se de uma abordagem que segue uma análise
fundamentada que a cognição poderá influenciar o comportamento como o
comportamento pode influenciar o pensamento. Esta terapia em conjunto com a
medicalização pode ter um bom efeito no tratamento do TDAH (BARKLEY, 1998).

A Terapia Cognitivo-Comportamental não é uma abordagem voltada para o


tratamento do TDAH, no entanto, compreende-se que se o mesmo se caracteriza pela
desatenção, impulsividade e hiperatividade. Com isso, as pessoas que têm o
transtorno precisam aprender a lidar com estes comportamentos disfuncionais a fim
de melhorar suas relações interpessoais e intrapessoais. Assim, a TCC vem contribuir
por meio de técnicas cognitivas, resolução de problemas, autoinstrução, levando o
indivíduo a compreender e a construir mecanismos que facilite seu dia-a-dia (BARKLEY,
1998; KNAPP, 2008).

Tem-se dado muito enfoque nos últimos tempos ao tratamento de TDAH na


população de crianças e adolescentes, e pouco se tem falado sobre tratamento não
medicamentoso em adultos. A realização do presente estudo se justifica pela
necessidade de se avaliar o conteúdo literário sobre o tratamento em TCC de TDAH
neste público (LOPES; NASCIMENTO; BANDEIRA, 2005). Visando preencher esta lacuna,
este trabalho conceitua e explica a Terapia Cognitivo-Comportamental, assim como o
faz com o TDAH, para então abordar a TCC como tratamento para este transtorno.

4.1 Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

O TDAH foi descrito pela primeira vez na literatura pelo médico escocês
Alexander Crichton no século XVIII, mais precisamente em 1798. Foram descritas
características de desatenção, para ele os sintomas iniciavam-se na infância e
diminuíam com a idade (PALMER; FINGER, 2001). Em seguida, já no século XIX, o
médico Heirinch Hoffman relatou casos de crianças em seus poemas com queixas de
hiperatividade/impulsividade, trazendo para a literatura novos olhares para o
transtorno. As características apresentadas por ele aproximam-se mais do conceito
atual (BARKLEY, 2002).

Outro importante pesquisador para a ampliação do conhecimento a respeito


do Transtorno foi George Still, seus achados são considerados a primeira descrição
médica detalhada do transtorno. O autor descreve em 1902, casos de crianças que
apresentavam dificuldades na atenção e no controle dos impulsos, além de
apresentarem comportamentos agressivos e disruptivos (BARKLEY, 1998).

Still, por meio de suas observações, traz contribuições importantes para o que
ele chamava de “defeito permanente ou temporário do controle moral”. Este “defeito”
estaria associado a um distúrbio cerebral, mesmo sendo descartada a possibilidade de
déficit intelectual. Foram atribuídos todos os sintomas a uma falha no
desenvolvimento do controle motor, que para ele, seria a capacidade que o indivíduo
possui em regular a volição dos processos cognitivos e atencionais (BARKLEY, 1998).
A literatura científica de George Still é considerada por muitos estudiosos como
a primeira descrição clínica de sintomas de TDAH. O autor preconiza ideias relevantes,
principalmente a respeito dos comportamentos apresentados por estas crianças,
sugerindo anormalidades cerebrais. Estes estudos possibilitaram conhecimentos
posteriores (BARKLEY, 1998).

Inúmeros nomes foram dados ao Transtorno de Déficit de Atenção e


Hiperatividade, entre eles têm-se lesão cerebral mínima, síndrome da criança
hiperativa e distúrbio primário da atenção. Esta variação contribuiu para uma série de
incertezas dos pesquisadores em relação às causas e aos critérios de diagnósticos
acerca da precisão dos sinais e sintomas do transtorno (BARKLEY, 1998).

Também surgiram considerações de ordem familiar, relativa à má educação,


que poderiam vir a contribuir com tais sintomas apresentados pelos portadores do
transtorno. Esta seria então a origem dos comportamentos “inapropriados”, pois estes
eram tidos como voluntários, realizados de forma consciente por estas crianças
(HALLOWELL; RATEY, 1994).

Mas foi a partir da década de 1930 que o tratamento do transtorno passou a


ter início por meio de Brandley, ao apresentar os efeitos das anfetaminas no controle
dos comportamentos das crianças. Em 1950 surge a substância metilfenidato,
inicialmente indicado para o tratamento de depressão e astenia (LOUSÂ, 2010). Só a
partir de 1954 é que esta substância passou a ser utilizado no tratamento do TDAH em
crianças e adultos, sendo inicialmente comercializada no Brasil em 1998,
regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (ITABORAHY;
ORTEGA, 2013).

Após anos de pesquisas sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e


Hiperatividade, tem-se hoje um conceito global em relação ao mesmo. Sabe-se que o
transtorno é de conjuntura neurobiológica que se caracteriza pela desatenção,
impulsividade e hiperatividade, podendo afetar crianças, adolescentes e adultos de
ambos os sexos. Atingindo cerca de 3% a 7% da população mundial, em média 67% das
crianças diagnosticadas continuam com os sintomas na idade adulta (LOPES;
NASCIMENTO; BANDEIRA, 2005).

O TDAH se torna mais evidente na infância, por as crianças apresentarem na


escola muitas das vezes comportamentos de falta de atenção, concentração e
interesse nas atividades. O que pode vir a ocasionar um baixo rendimento escolar, por
não concluírem as atividades propostas em sala de aula (SILVA, 2014). Esta dificuldade
de atenção fica mais evidente quando se é exigida uma maior predisposição de vigília,
principalmente quando a informação não se apresenta suficientemente estimulante
para o indivíduo (DALGALARRONDO, 2008).

Não só na infância, como também na adolescência, a prevalência dos sintomas


do TDAH está agregada a problemas de conduta, ajustamento social e acadêmico
(ARGOLLO, 2003). A incidência é maior no sexo masculino, por apresentarem
comportamento mais impulsivo, enquanto que na mulher predomina a desatenção,
comportamento esse que pode ser mais sutil, dificultando o diagnóstico precoce nesse
público (LOPES; NASCIMENTO; BANDEIRA, 2005)

Porém, no final da adolescência e início da vida adulta ocorre melhora global


dos sintomas, principalmente da hiperatividade. Estudos longitudinais demonstraram
que o sintoma predominante do TDAH na fase adulta é a desatenção, enquanto que a
impulsividade e a hiperatividade tendem a diminuir. Em amostras clínicas, cerca de
50% apresentam sintomas de impulsividade e hiperatividade, enquanto que 90%
apresentam os sintomas de desatenção (GARCIA, 2007 apud WILENS; COLS., 2003).

Ainda não se sabe precisar as causas do TDAH, mas acredita-se que fatores
genéticos, bioquímicos, ambientais e sociais estão envolvidos (GARCIA, 2007), assim
como, o uso de tabaco e álcool usados pela mãe no período da gestação (GARCIA,
2007 apud THAPAR; COLS, 2003). Estudos mais recentes apontam para a
hereditariedade como uma das principais causas relacionadas ao transtorno,
apresentando uma prevalência de 80% para a causa genética (BARKLEY, 2002).

Fatores orgânicos, como atraso no amadurecimento de determinadas áreas


cerebrais, principalmente no lobo pré-frontal, tem sido cogitado nos portadores do
transtorno. Foi encontrado que as pessoas que possuem TDAH apresentam um
comprometimento no lobo frontal e de suas estruturas subcorticais, exibindo uma
assimetria, em que o lobo pré-frontal direito é um pouco maior que o esquerdo
(BARKLEY, 2002).

4.1.1 Critérios diagnósticos do TDAH

O diagnóstico do TDAH é substancialmente clínico. Toma-se como referência


critérios com fundamentação científica provenientes de sistemas classificatórios como
o DSM e o CID (Classificação Internacional de Doenças). Estes manuais sistematizam e
definem os indicadores que contribuirão para uma melhor avaliação dos sinais e
sintomas do transtorno (ROHDE et al., 2000).

A primeira vez que o TDAH foi descrito em um manual de diagnóstico, foi no


DSM-III, porém este transtorno apresentava nomenclatura diferente da que é utilizada
hoje. Era utilizado TDA (Transtorno de Déficit de Atenção), o qual se subdividia em TDA
com hiperatividade e TDA sem hiperatividade. Só a partir da quarta versão do DSM, é
que o transtorno recebeu o nome que conhecemos atualmente, TDAH (Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade), trazendo três subtipos: Desatenção,
Hiperatividade e Impulsividade (PHELAN, 2005).

No DSM-V, as mudanças nos critérios foram sutis em relação à versão anterior.


Esta atual versão manteve a lista com os mesmos dezoito sintomas, no entanto
subdividiu-se em dois critérios, Desatenção e Hiperatividade/Impulsividade. Os três
subtipos antes apresentados (Desatenção, Hiperatividade e Impulsividade) foram
substituídos por dois especificadores (Desatenção e Hiperatividade/Impulsividade).

Quadro 1: DSM-V (APA, 2013)

1. Desatenção: Seis (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos seis meses em um
grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas
atividades sociais e acadêmicas/profissionais:
Os sintomas não são apenas uma manifestação de comportamento opositor, desafio, hostilidade ou
dificuldade para compreender tarefas ou instruções. Para adolescentes mais velhos e adultos (17
anos ou mais), pelo menos cinco sintomas são necessários.

2. Hiperatividade e impulsividade: Seis (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos
seis meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento é têm impacto negativo
diretamente nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais:
Em adolescentes ou adultos, pode se limitar a sensações de inquietude.

Os sintomas anteriormente apresentados no DSM-IV-R deveriam estar


presentes antes dos sete anos de idade foram alterados no novo manual para doze
anos. Houve também redução do limiar de diagnóstico para adultos, deixando de ser
necessário o mínimo de seis sintomas para ser cinco em ambos os tipos Desatenção e
Hiperatividade/Impulsividade (ARAÚJO, LOTUFO NETO, 2014).
Além do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais apresentar
critérios para diagnosticar o TDAH, o CID-10 (Classificação Internacional de Doenças)
também discrimina as seguintes características para análise que contribui para o
diagnóstico:

• Seis ou mais sintomas de desatenção;

• Três ou mais sintomas de hiperatividade;

• Um sintoma de impulsividade.

Para o diagnóstico preciso serão necessários que estes sintomas tenham a


prevalência de ocorrências em mais de um ambiente em que o portador do TDAH está
inserido (FOLQUITTO, 2009). É importante observar que pouco se fala sobre o
transtorno na fase adulta, e que seu diagnóstico muitas vezes recebe a denominação
de TDAH Sem Outra Especificação. Os sinais residuais apresentados até então ao
adulto portador do Transtorno são a impulsividade e o déficit de atenção, os quais
levam a dificuldades significativas no desenvolvimento e desempenho ocupacional,
social e familiar, acarretando muitas das vezes baixa autoestima (KAPLAN; SADOCK;
GREBB, 1997).

Se comparados características de comportamento de crianças e adultos com


TDAH, percebe-se uma redução dos níveis globais da hiperatividade com o passar dos
anos, levando aos pesquisadores a algum interesse pelo tema (SILVA, 2003). Este
interesse levou a criação de escalas de avaliação, ainda muito criticadas por diversos
pesquisadores. As críticas se dão, pois alguns as consideram incompletas ao não
trazerem informações relevantes, como a distinção entre as fases do desenvolvimento
adulto e não identificarem com exatidão o subtipo predominantemente (MCGOUGH;
BARKLEY, 2004).

4.1.2 TDAH Adulto

O diagnóstico de TDAH em adultos se torna difícil por apresentar sintomas


comórbidos, pois os problemas enfrentados por este grupo estão relacionados com
uso abusivo de substâncias, desorganização, impulsividade, mudança de humor e
dificuldades na interação social (BARKLEY, 2002; PHELAN, 2005). Este diagnóstico se
torna ainda mais difícil, pois as informações colhidas durante a infância são geralmente
imprecisas, sendo necessário muitas das vezes buscar informações dos pais e/ou
parentes (PARY et al., 2002).

Além disso, os sintomas do TDAH podem apresentar similaridades com outros


vários transtornos mentais como o de bipolaridade, depressão maior, ansiedade,
personalidade, esquizofrenia e abuso de substâncias, sendo de suma importância
considerar o diagnóstico diferencial. É importante considerar ainda, que estes
transtornos poderão ser também comorbidades do TDAH (MCGOUGH; COLS, 2005).

Aproximadamente 80% dos adultos que possuem o TDAH apresentam uma


comorbidade psiquiátrica (MURPHY; BARKLEY, 1996; KOOIJ; COLS, 2001), enquanto
que 56% apresentam dois outros transtornos psiquiátricos além do TDAH (MCGOUGH;
COLS, 2005).

Adultos com TDAH apresentam, típicamente, histórico de déficit escolar, tanto


na aprendizagem, quanto no comportamento, alto nível de repetência e transtornos
de aprendizagem (BARKLEY, 2002). Estas características poderão continuar, inclusive
com intensidade no ensino superior, podendo não concluir o curso; além de terem
mais chances no envolvimento em acidentes de trânsito (BARKLEY; COLS, 2008;
BARKLEY, 2002). É comum que os portadores tenham tido uma vida sexual precoce,
sendo imprudentes no uso de preservativos e anticoncepcionais. Este funcionamento
pode gerar prejuízos para sua vida, como adquirir muitas doenças sexualmente
transmissíveis e/ou terem filhos precocemente (BIERDERMAN, 2004).

Estes também tendem a ter baixo nível socioeconômico, pois apresentam


muitas dificuldades no trabalho por terem maiores taxas de demissões, atrasos,
absenteísmo, erros excessivos, falta de organização e planejamento. Os adultos que
possuem o TDAH queixam-se em ter dificuldades na atenção focalizada e seletiva,
características estas que levam a receberem nomenclaturas de distraídos e
irresponsáveis (HESSLINGER et al., 2003). E nas relações conjugais possuem
dificuldades em seus relacionamentos, com maiores números em divórcios, brigas e
separações (BARKLEY, 2002).

A hiperatividade nesta fase diminui significativamente, enquanto que a


desatenção acaba comprometendo sua memória por não conseguirem permanecer
por muito tempo atentos. A impulsividade também é um dos sintomas que prejudicam
muito o adulto com TDAH, podendo ser bem visualizado em atitudes impensadas nos
diversos aspectos de sua vida (MONTANO, 2004).
5. Terapia Cognitivo-Comportamental

A Terapia Cognitivo-Comportamental reúne conceitos e técnicas da Terapia


Comportamental e da Terapia Cognitiva, esta última propõe o pensamento como
subjacente aos sentimentos e comportamentos (BAHALS; NAVOLAR, 2004). A Terapia
Comportamental, por sua vez, define que as ações do indivíduo são produtos das
contingências a que este foi ou está sendo submetido. Apesar da dicotomia sobre as
determinantes do comportamento, a TCC propõe uma conceitualização de caso a
partir da perspectiva cognitiva, e o uso de técnicas não só desta abordagem, mas
também da comportamental.

Isso ocorre porque entende-se que alterações comportamentais provocam


também alterações de pensamento. Assim como se reconhece a existência de
fenômenos descobertos na Análise Experimental do Comportamento e que
contribuem para a prática clínica da TCC (KNAPP; BECK, 2008). A Terapia Cognitiva tem
como fundamentação base três proposições primordiais para sua compreensão: o
primeiro deles é que a atividade cognitiva influencia o comportamento, assim como, a
atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada, e por último, o comportamento
desejado pode ser influenciado mediante a mudança cognitiva (KNAPP et al., 2004).

O objetivo da TCC não é o de interpretar, mas o de em conjunto ao paciente,


identificar e corrigir os pensamentos distorcidos que leva ao sofrimento psíquico,
sendo estes pensamentos consciente e/ou inconscientes. Na TCC se acredita que a
cognição, emoção e comportamento não se separam e que estas estão intimamente
ligadas e caso uma destas venha a se alterar, levará consigo outras duas (KNAPP et al.,
2004).

Por focalizar na identificação e correção de pensamentos distorcidos de tipo


consciente e inconsciente, na compreensão de que os pensamentos podem ser tornar
acessíveis à consciência, a Terapia Cognitiva lança mão de um modelo caracterizante
destes níveis de pensamentos que contribuem para ativar emoções e
consequentemente comportamentos. São eles: pensamentos automáticos,
pressupostos subjacentes e crenças nucleares (KNAPP et al., 2004).

Quadro 2: modelo de níveis de pensamento


FONTE: Knapp et al., 2004.

As crenças nucleares são afirmações enraizadas, sobre si, o mundo e o futuro.


Elas são formadas desde a infância e são incorporados como verdades absolutas que
geram sofrimento psicológico ao longo dos anos, pois estas crenças fazem parte da
formação do indivíduo e influenciam a personalidade (BECK, 1997). Tais crenças
ocorrem automaticamente e involuntariamente podendo contribuir para o
aparecimento ou manutenção de transtornos psiquiátricos, como depressão,
ansiedade e abuso de substâncias. Estas crenças, quando geradoras de sofrimento,
podem ser da ordem do Desamparo, em que a pessoa tem a certeza (inconsciente) de
que é incompetente e sempre será um fracasso; Elas podem ser também do tipo
Desamor, em que a pessoa tem a certeza de que será rejeitado e o de Desvalor, em
que se considera sem valor algum (BECK,1997).

Com a existência destas crenças a pessoa passa a criar estratégias


compensatórias para conseguir lidar com o sofrimento, essas estratégias muitas vezes
se tornam desadaptativas, trazendo prejuízos emocionais. As crenças nucleares
acabam por afetar a forma como os indivíduos interpretam de forma restritiva as
situações do dia-a-dia. As atitudes das pessoas são baseadas em suas crenças, por isso
é importante conhecê-las, pois é de fundamental importância para o processo de
autoconhecimento e assim aprender a lidar com as situações de forma mais racional,
as transformando em processos cognitivos residuais (BECK, 1997).

Os pressupostos subjacentes referem-se à construção dos pensamentos


disfuncionais subjacentes aos pensamentos automáticos e originados das crenças
centrais. São padrões de condutas adotados como normas, e que estão em
concordância com as crenças centrais. Quando estas regras não estão sendo
cumpridas surgem conflitos significativos entre a pessoa, seu comportamento e sua
cognição, pois os pressupostos subjacentes são acionados para que o indivíduo tente
lidar com suas crenças nucleares (BECK, 1997).

Os pensamentos automáticos (PA) são aqueles involuntários que ocorrem


muitas das vezes tão depressa que nem se percebe, mas que automaticamente são
tidos como verdades. São a instância cognitiva mais facilmente modificada e acessada,
estando em concordância com as crenças centrais (KNAPP et al., 2004).

Para Judith Beck (1995), o Pensamento Automático pode ser classificado em


três tipos de acordo com sua validade e utilidades destes pensamentos:
 O pensamento distorcido: pode ocorrer apesar das evidências em
contrário.

Ex: “Se não me sair bem nessa apresentação, significa que sou um fracasso
total”.

 Acurado, mas com conclusão distorcida: são os pensamentos


generalistas e negativos privando a oportunidade de ampliar sua visão diante de um
único episódio.

Ex: “Não cumpri o que prometi ao meu filho, portanto sou uma péssima mãe”.

 Acurado, mas totalmente disfuncionais: o indivíduo acaba por


desvalorizar ou não dá nenhuma importância a algo positivo, transformando a
experiência em algo desagradável por não aceitar o mérito por suas realizações.

Ex: “Sou um péssimo apresentador”. (após muitos aplausos e elogios)

Os pensamentos percorrem a mente com muita velocidade, desta forma, nem


sempre os percebemos, tornando-se muitas das vezes inconscientes. No entanto
pode-se sentir sua intensidade e presença por meio das vias emocionais e
comportamentais, as quais se alteram. O indivíduo se torna então vulnerável a
pensamentos, o que corrobora para que suas crenças se fortaleçam, distorcendo
eventos externos e estímulos internos (BECK, 1997).

A Terapia Cognitivo-Comportamental, por ser uma abordagem integradora,


traz consigo conceitos e técnicas de linhas que compreende o indivíduo em sua forma
macro (comportamento) e microestrutura (cognição). Micro não por ser de menos
importância, mas por necessitar de um olhar mais preciso e cuidadoso (LIMA;
WIELENSKA, 1993).

A TCC é focal, auxiliando o indivíduo a aprender estratégias para mudar seus


pensamentos/comportamentos disfuncionais. Nessa abordagem há uma cooperação
entre paciente e terapeuta, em que o trabalho realizado no espaço terapêutico é
construído em conjunto, sendo definidos objetivos claros, centrando-se no problema
atual trazido pelo paciente (LIMA; WIELENSKA, 1993).
Neste funcionamento colaborativo entre paciente e terapeuta e na perspectiva
de resolução de problemas, em um tratamento dirigido por metas e na perspectiva de
mudança, esta linha teórica vem a contribuir para o tratamento dos portadores de
TDAH adulto. Este tratamento se norteia por estratégias que facilitam e contribuem
para que o transtorno cause menos impacto possível na vida do indivíduo, a fim de lhe
proporcionar uma melhor relação consigo mesmo e com os outros (BARKLEY, 2008).

5.1 TCC e TDAH adulto

Se forem considerados grupos de transtornos mentais na abordagem


cognitivo-comportamental, vê-se que o portador do TDAH apresenta déficit cognitivo e
distorções de pensamento. No TDAH, as distorções cognitivas referem-se em
alterações do pensamento que levam mudanças no humor e no comportamento,
podendo possivelmente desencadear tristeza, ansiedade e baixa autoestima (BARKLEY,
2007; HAASE, 2005; SAGVOLDEN et al., 2005). Os déficits cognitivos estão relacionados
à capacidade de autocontrole, planejamento e inibição do comportamento, aspectos
estes que necessitam ser trabalhados numa linha comportamental (BARKLEY, 2007;
HAASE, 2005; SAGVOLDEN et al., 2005).

Diante das publicações a respeito do Transtorno de Déficit de Atenção e


Hiperatividade e por compreender que este não é um transtorno específico da
infância, mas que persiste na fase adulta (BARKLEY, 2008), estudiosos têm ido em
busca de respostas para auxiliar no tratamento do TDAH na fase adulta.

Pesquisas apontam a Terapia Cognitivo-Comportamental como uma


ferramenta no tratamento deste diagnóstico. Como já dito, este modelo baseia-se no
princípio de que a cognição pode influenciar o comportamento e sentimentos (DA
COSTA; BÁRBARA, 2014). A TCC pode contribuir em conjunto com a medicalização para
o tratamento do TDAH, já que esta abordagem psicoterápica apresenta mecanismos
que favorecem uma melhor qualidade de vida ao indivíduo que apresenta o
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (KNAPP, 2004).

A TCC tem mostrado em seus resultados eficácia no tratamento do TDAH,


contribuindo para a melhora dos sintomas referente ao transtorno, por auxiliar o
portador a reestruturar e redirecionar seus sentimentos e comportamentos,
aprendendo estratégias para resolução de problemas, controle dos impulsos
agressivos, entre outros. O funcionamento mal organizado ocasionará ansiedade,
assim como, pensamentos negativos de incompetência e incapacidade (DA COSTA;
BÁRBARA, 2014).

A depender do grau, é fundamental para o tratamento do TDAH o uso da


medicalização (SENA; SOUZA, 2008). A medicação combinada com a psicoterapia tem
resultados bem mais eficazes. Principalmente quando este medicamento se torna
insuficiente para as questões intrínsecas ao indivíduo. Por exemplo, são originados
sentimentos a partir de pensamentos distorcidos criados a partir das vivências de uma
vida com o transtorno (SENA; SOUZA, 2008).

Assim como no tratamento de diversos transtornos, a TCC realiza um trabalho


voltado para a psicoeducação, o que já reduz prejuízos típicos do TDAH, a partir do
entendimento do funcionamento do transtorno. A TCC possibilita o indivíduo a ser
responsável por seu desempenho e resultado, por meio de técnicas de autoinstrução,
registro de pensamentos disfuncionais, resolução de problemas, automonitoramento e
autoavaliação. Este aparato juntamente com a medicalização poderá diminuir os
prejuízos do transtorno (SENA; SOUZA, 2008).

As alterações orgânicas do TDAH têm como consequência alterações


significativas no comportamento. Com isso, os grandes problemas enfrentados pelos
indivíduos com o transtorno se dão no dia-a-dia nos diversos espaços em que está
inserido, sendo necessárias mudanças nesses comportamentos desadaptativos para
que o indivíduo consiga ter uma melhor qualidade de vida (BARKLEY, 1998).

A sessão da TCC é estruturada a partir de um olhar cooperativo entre o


paciente e o terapeuta. As consultas são organizadas e estruturadas a fim de manter o
foco no ponto a ser trabalhado, o que facilita também na promoção do autocontrole e
da autorregulação, pontos primordiais a serem trabalhados no tratamento do TDAH na
fase adulta (FRIEDBERG; MCCLURE, 2004). A estrutura da sessão a abordagem
Cognitivo-Comportamental inclui:

 Revisão do humor/ revisão da semana

 Ponte com a última sessão

 Revisão das tarefas


 Fazer a agenda

 Trabalhar itens da agenda

 Resumos periódicos e resumo final

 Feedback da sessão

A TCC vem se desenvolvendo muito nos últimos anos, estando entre seus
objetivos identificar e modificar comportamentos e pensamentos também
característicos do TDAH. No tratamento irão se desenvolver habilidades que
contribuirão para uma melhor qualidade de vida por meio de atividades que levem ao
planejamento, organização e conhecimento acerca do problema e de si mesmo
(CORDIOLI, 2008).

5.1.1 Intervenções clínicas

Os tratamentos considerados eficazes para o TDAH são a combinação entre


medicação e psicoterapia, incluindo o manejo de contingências. Nenhum destes
tratamentos promovem a cura do transtorno, mas reduzem os sintomas e as
dificuldades em que o portador apresenta, como baixo rendimento acadêmico,
profissional, baixa autoestima, entre outros (BARKLEY, 1998). O trabalho psicoterápico
é fundamental no tratamento do TDAH e tem como um de seus objetivos informar o
indivíduo a respeito do transtorno. Este trabalho em conjunto contribuirá no
melhoramento do comportamento e pensamentos disruptivos do portador (BARKLEY,
1998).

A abordagem Cognitivo-Comportamental é modelo psicoterápico indicado para


o tratamento do transtorno, mesmo não sendo originalmente formulado para o
tratamento do TDAH adulto. Este tratamento tem apresentado um melhor resultado
na redução dos sintomas comportamentais, do que nos sintomas da desatenção
(GREVET et al., 2003). As técnicas utilizadas da TCC no tratamento de TDAH adulto não
diferem da aplicada também em crianças e adolescentes, o que modifica é a forma que
será trabalhada, fundamentando-se no paradigma de que o comportamento interage
com os pensamentos, comportamentos e sentimentos (REINECKE,1999).
Existem muitas técnicas da TCC que poderão ser utilizadas para o tratamento
do TDAH adulto, no entanto, serão apresentadas algumas delas por serem
consideradas mais apropriadas para o tratamento, são elas: psicoeducação,
reestruturação cognitiva, treino comunicativo/habilidades sociais e manejo de
contingências. A primeira técnica a ser utilizada, e talvez uma das mais importantes
para o desenvolvimento da qualidade de um bom resultado terapêutico da linha
cognitivo-comportamental, é a psicoeducação. Esta tem como um de seus objetivo
conectar paciente e terapeuta no processo psicoterápico (CALLAHAM; BAUER, 1999).

A psicoeducação informa o paciente dados sobre seu diagnóstico, desde seu


funcionamento até o tratamento, conduzindo o indivíduo a se tornar parceiro, pois
estará compreendendo de fato o que acontece com ele e assim, em conjunto com o
terapeuta, buscar soluções para resolver o problema a ser enfrentado (CAMINHA et
al., 2003). A reestruturação cognitiva tem como característica central levar a
identificação dos pensamentos disfuncionais, possibilitando o indivíduo a observar e
controlar os pensamentos negativos e retificar as interpretações tendenciosas (BECK,
EMERY; GREEMBERG, 1985).

O paciente aprenderá a reavaliar e corrigir seus pensamentos distorcidos a


respeito dele e do outro, e assim perceberá que poderá estar valorizando
demasiadamente situações que favorecem ao seu adoecimento. Indivíduos com TDAH
tendem a ter pensamentos depreciadores acerca de si e desmotivação para o futuro. A
reestruturação cognitiva pode ajudá-lo a pensar de forma mais racional sobre si,
atribuindo muitas de suas características ao transtorno e não a uma falta de
competência sua (HOFMANN, 2004).

As Habilidades Sociais são utilizadas para desenvolver a competência


comunicativa de forma clara e objetiva. O paciente é instruído a se comunicar de
forma não agressiva, enfatizando o que é necessário. A falta de habilidade social
poderá levar o indivíduo a evitar ambientes que favoreçam a interação social, por não
saber “se comportar bem” acabará se isolando e assim se prejudicando inclusive em
sua vida profissional, em uma entrevista de emprego, por exemplo (CURRAN,1982).

No Treino de Habilidades Sociais (THS) as técnicas mais comuns utilizadas para


desenvolver estas habilidades são a modelagem pelo terapeuta, ensaio
comportamental, reforço social, exposição, e atividades extra-sessão, “tarefas de casa”
voltadas para estimular e treinar a comunicação assertiva (ARGYLE et al., 1974). Pode-
se pensar na utilidade do THS para o TDAH, pois muitas vezes o indivíduo com o
transtorno tem comportamentos de interromper o interlocutor quando este está
falando, não demonstra paciência em ouvir uma conversa e em relacionamentos
interpessoais acaba agindo por impulso sem considerar a opinião e sentimento outro.

Já o manejo das contingências, maximiza os comportamentos funcionais, os


quais são reforçados por meio de recompensas (GUILHARDI, 2004). Sabe-se que
contingências de reforço aumentam a probabilidade do comportamento voltar a
ocorrer, o manejo delas pode ser útil no TDAH. Assim, o uso desta ferramenta leva o
indivíduo a selecionar, monitorar e se auto recompensar por comportamentos
desejáveis, reforçando adequadamente estes comportamentos, e se esforçar para a
diminuição dos que não são construtivos (RODRIGUEZ, 2008; HIGGINS; PETRY, 1999).
Também é importante que o indivíduo controle o seu ambiente, para diminuir a
frequência em se expor a situações que fornecem contexto para o aparecimento de
comportamentos que o trazem prejuízos.

Além das técnicas cognitivas e comportamentais para o tratamento do TDAH


adulto, é aconselhável também o uso de medicação em alguns casos. Nas situações em
que se opta por um co-tratamento medicamentoso, é importante a avaliação do custo-
benefício em se iniciar com o psicofármaco. Os psicoestimulantes são as medicações
de primeira escolha no tratamento farmacológico deste Transtorno, o mais consumido
é o metilfenidato, que se tem demonstrado seguro e eficaz (BIEDERMAN et al., 2006).
Assim, o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade na fase
adulta é multimodal, uma combinação entre medicação e psicoterapia (BAPTISTE,
1997). A psicoterapia pode levar a redução da dosagem do medicamento (FLICK,
1998), mas ela sozinha para este diagnóstico tem-se mostrado insuficiente (BARKLEY,
2008).

6. Considerações Finais

A Terapia Cognitivo-Comportamental tem contribuído no tratamento do TDAH.


No entanto, em se tratando deste diagnóstico no público adulto, ainda há de se
percorrer longos caminhos, a maioria dos materiais científicos encontrados são para o
diagnóstico, tratamento e discussões deste transtorno na fase da adolescência ou
infância. O TDAH não acaba no final da adolescência, portanto, deve-se enfatizar a
importância de pesquisas e materiais que contribuam para disseminar a curiosidade e
que assim se crie espaços de diálogo de cunho científico. É importante a construção de
mecanismos de diagnósticos e tratamentos mais específicos para o atendimento aos
portadores do TDAH adulto.
Diante dos dados apresentados, percebe-se que o tratamento do TDAH adulto
é multimodal, sugere-se a junção de medicação e psicoterapia de abordagem cognitiva
e comportamental. A psicoterapia apresentada como apoio ao tratamento, tem como
objetivo conduzir o paciente a se tornar consciente e responsável por suas ações e
pensamentos. A TCC não vem para interpretar as atitudes e comportamentos, e sim
reestruturar estes por meio de técnicas e trabalho em conjunto ao paciente, a fim de
proporcionar compreensão a respeitos dos fatos. Tem-se como objetivo melhorar o
dia-a-dia do portando para que este não venha a sofrer de outros transtornos
psiquiátricos, como por exemplo, a depressão e ansiedade, por se considerar burro ou
incapaz em todos os acontecimentos que vierem a surgir e que sejam desestimulantes.

As publicações apresentadas neste trabalho possuem alguns pontos que


merecem uma avaliação crítica. Uma limitação importante a ser destacada são os
manuais diagnósticos não apresentarem critérios diagnósticos com características
específicas na idade adulta para o TDAH. Dada a importância destas ferramentas para
o diagnóstico, a inclusão desta especificidade seria muito importante. Além dos
manuais, cabe ressaltar a quantidade mínima de materiais encontrados a respeito do
tema em português, principalmente em se tratando de eficácia e técnicas da TCC
exclusivas para tratar o TDAH na idade adulta.

Existe ainda a ineficiência das escalas que avaliam este público adulto com o
transtorno. Além de haver inúmeras controvérsias sobre características e diagnósticos
diferenciais. Portanto, o tema apresentado no trabalho abre um leque de
possibilidades a respeito de novas e modernas pesquisas para que, assim, de fato
possa-se contribuir com a qualidade da vida profissional e pessoal dos portadores do
TDAH na fase adulta.

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