Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Nilma Aparecida Ferreira Gomes – Faculdade Famma – UNIFAMMA – Maringá – PR, Brasil; Keila Mari Gabriel
– Faculdade Famma – UNIFAMMA – Maringá – PR, Brasil; Marcos Maestri* - UEM: Universidade Estadual de
Maringá – PR, Brasil.
Contato: mmaestri@uem.br
Palavras-chave: Funções Executivas; Neuropsicologia; TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e
hiperatividade.
INTRODUÇÃO
1.2 ETIOLOGIA
Apesar de estudos sobre o assunto que revelam a prevalência do TDAH na população nacional e
mundial, quando nos referimos à etiologia do transtorno, ainda não há uma causa definida, mas, a
influência de fatores genéticos e ambientais é bastante aceita pela literatura científica. Sendo a
contribuição genética bastante significativa, assim como na maioria dos transtornos psiquiátricos.
Acredita-se que vários genes de pequeno efeito sejam responsáveis pela predisposição genética
ao transtorno, somando-se também à fatores ambientais. O desenvolvimento e a evolução do TDAH irão
depender de quais genes de predisposição ou suscetibilidade ao transtorno estará agindo em um
indivíduo, quanto eles contribuem para o desenvolvimento do transtorno e o quanto eles interagem entre
si e com o ambiente (ROHDE e HALPERN, 2004).
Estudos genéticos clássicos apontam uma contribuição genética significativa para o transtorno,
pois o risco para TDAH é de duas a oito vezes maiores nos pais de crianças afetadas pelo transtorno do
que na população em geral. No entanto, há de se considerar a possibilidade de transmissão familiar ser
de ordem ambiental, pois, agentes psicossociais atuam na saúde emocional e no desenvolvimento
adaptativo da criança, e ao que parece isso tem uma participação significativa no desenvolvimento e
manutenção do transtorno. Há uma associação positiva entre problemas matrimoniais severos, classe
social muito baixa, família numerosa, psicopatologia materna e criminalidade dos pais. Outra hipótese
ambiental é a associação entre TDAH e complicações na gestação ou parto, porém ainda há divergências
de opiniões entre estudiosos do assunto. Tende-se a aceitar que complicações como: má saúde materna,
hemorragia, pré-parto, toxemia, eclampsia, pós-maturidade fetal, duração do parto, stress fetal, baixo
peso durante o nascimento, são fatores que podem pré-dispor o indivíduo ao transtorno. Existe, ainda,
uma relação positiva entre TDAH e o uso de fumo e de álcool durante a gestação, além de fatores como
danos cerebrais perinatais no lobo frontal, que podem afetar a atenção, motivação e planejamento que
são aspectos contemplados no diagnóstico do transtorno. Entretanto, é importante ressaltar que a maioria
dos estudos sobre os agentes ambientais, apenas apontam uma possível relação entre esses fatores e o
TDAH, mas ainda não é possível determinar uma relação de causa e efeito (ROHDE e HALPERN,
2004).
Segundo Mota (2014), a etiologia do TDAH envolve vários fatores, resultando em uma
combinação entre fatores genéticos, alterações estruturais e funcionais e fatores ambientais, pois,
segundo neuroimagem e neuropsicológicos, indivíduos com TDAH apresentam anormalidade na
estrutura e função cerebral. Para a autora, os fatores ambientais são o uso de álcool e tabaco durante a
gestação e o baixo peso do bebê ao nascer. Em fatores genéticos, verifica-se a presença de TDAH no
progenitor, como um fator de risco.
As bases neurológicas das funções executivas se encontram no córtex pré-frontal e a essa função
dos lobos frontais denomina-se função executiva. Filogeneticamente, o córtex-pré-frontal é a região mais
moderna do cérebro humano, que compreende as regiões do lobo frontal anteriores ao córtex motor
primário. Desempenha um papel fundamental na formação de objetivos e metas, assim como no
planejamento de estratégias para alcançá-los, na seleção de habilidades necessárias para execução de
planos, coordenando e organizando as mesmas para aplicá-las na ordem correta rumo à um alvo. O
córtex pré-frontal é o responsável ainda pela avaliação do sucesso ou fracasso relacionado às ações
dirigidas em alcance de alvos específicos previamente estabelecidos. (MOURÃO JUNIOR, MELO,
2011).
Assis (2008) relata que o córtex pré-frontal seleciona habilidades cognitivas, as coordena e as
aplica em ordem correta com intuito de alcançar objetivos, além de avaliar o sucesso ou fracasso de
ações em relação aos objetivos propostos.
Segundo Mota (2014), alguns estudos mencionam que o quadro clínico do TDAH é oriundo de
alterações no córtex pré-frontal e de suas conexões com a rede subcortical, o que resultaria nos
comportamentos típicos do TDAH, como déficit do comportamento inibitório, memória de trabalho,
planejamento, autorregulação e limiar para ação dirigida a um objetivo estabelecido.
Percebe-se, com isso, que a importância do diagnóstico do TDAH vai além de apenas evidenciar
os sintomas e o impacto negativo na vida de seus portadores. Segundo Couto, Melo-Junior e Gomes
(2010), é preciso ir além, ou seja, entender que por traz do transtorno há um conjunto de aspectos
biológicos, genéticos e cerebrais. Estudos neurológicos realizados a partir de tecnologias de imagem
cerebral e pesquisas moleculares embasam o conceito de que há uma condição biologicamente
prejudicada do funcionamento cerebral.
Matos (2014) ressalta que o TDAH além de um déficit de atenção é também uma alteração dos
conjuntos de funções cerebrais denominadas funções executivas. Diante disso, Couto et al. (2010)
relatam que alterações destas regiões cerebrais sofrem a participação de sistemas noradrenérgicos nos
indivíduos com TDAH, mais especificamente, as insuficiências nos circuitos do córtex-pré-frontal e
amígdala. A partir da neurotransmissão das catecolaminas, resultam os seguintes sintomas:
esquecimento, distração, impulsividade e desorganização. As alterações destas regiões do cérebro
culminam em impulsividade do indivíduo com TDAH. Através de ressonância magnética, constatou-se
menor atividade neural na região frontal, córtex cingular anterior e nos gânglios de base de pacientes
com TDAH. Sendo que a maioria dos genes específicos relacionados ao TDAH codifica sistemas de
sinais de catecolaminas e incluem o transportador de dopamina (DAT), transportador de noradrenalidan
(NET), receptores dopaminérgicos D4 E D5, dopamina b-hidroxilase e proteína-25 (SNAP-25)
facilitadora da liberação dos neurotransmissores relacionados ao TDAH (COUTO et al., 2010).
Para conseguir lidar consigo mesmo, o ser humano, utiliza-se de recursos internos e competências
que o ajudam a alcançar suas metas e objetivos. Existe um conceito neuropsicológico aplicado ao
processo cognitivo, que é o responsável por esses recursos e competências, conhecido como Funções
Executivas.
Segundo Assis (2008), as funções executivas referem-se às funções cognitivas superiores que
direcionam, regulam e controlam os processos cognitivos no alcance de um objetivo. São definidas como
um conjunto de habilidades cognitivas, princípios e organização necessários para uma conduta adequada
e responsável em convívio social, na realização de ações de acordo com as demandas atuais e o ambiente
no que o indivíduo está inserido, baseando-se em experiências anteriores. A autora relata que mais de
2500 artigos científicos vêm sendo publicados na base de dados PUBMED (Public Medlineor Publisher
Medline), sobre o assunto nos últimos dez anos, com o intuito de conhecer o papel das funções
executivas no desenvolvimento normal e no desenvolvimento de transtornos Neuropsiquiátricos como:
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, Esquizofrenia, Doença de Parkinson, Transtorno de
Personalidade Antissocial, Transtorno Obsessivo Compulsivo, entre outros.
Para Uehara et al. (2013), as funções executivas se definem como um mecanismo de controle
dos processos cognitivos, que controla, coordena e direciona o comportamento humano do modo a se
flexibilizar diante da necessidade de mudanças rápidas e novos comportamentos de acordo com as
exigências do ambiente. Envolvem competências relacionadas entre si e de alto nível cognitivo, cujo
reflexo atingem as mais diversas áreas da vida, sejam elas comportamentais, afetivos, emocionais ou
sociais. De acordo com Capovilla (2006), as funções executivas referem-se a capacidade do indivíduo
se autorregular e se auto organizar, com ações voluntárias e independentes rumo a um objetivo
específico.
Outra autora relata sobre a definição de função executiva como:
...uma série de processos mentais que envolvem: planejamento, seleção, inibição de repostas,
percepção, atenção, memória operacional, entre outros, e que essas funções incluem as
capacidades/habilidades de se antecipar, estabelecer objetivos, planejar, monitorar resultados,
comparando-os com o objetivo inicial (BOLFER, 2009, p. 36).
Segundo Corso (2013), podem ser definidas como um sistema funcional neuropsicológico, cujos
componentes são um conjunto de funções responsáveis por iniciar e finalizar uma ação rumo a um
objetivo. Esse sistema tem como função gerenciar recursos cognitivo-comportamentais cuja finalidade
é o planejamento e a regulação do comportamento. O aspecto destacado entre as diferenças de definição
está relacionado a diferenciação entre funções cognitivas, e funções de segunda ordem, cujo papel é
fornecer organização às primeiras, ou seja, às funções executivas. Desta forma, os recursos cognitivos e
emocionais são controlados e integrados pelas funções executivas.
Saboya et al., (2009) e Mota (2014) relatam que as funções executivas podem ser divididas em:
(1) volição; (2) planejamento; (3) ação intencional e (4) desempenho afetivo. Para ambos, a volição é a
capacidade de estabelecer objetivos, sendo necessária a motivação, consciência de si e do ambiente. O
planejamento é a capacidade de organizar e prever ações para o alcance de uma meta. No entanto, para
isso, é preciso que haja a capacidade de criar estratégias, tomar decisões, estabelecer prioridades e
controlar impulsos. Já a ação intencional, é a realização de um objetivo e planejamento, gerando uma
ação produtiva. Para tanto, é necessário iniciar, manter, modificar ou interromper uma série de ações
complexas e atitudes integrada e organizadamente. Por fim, o desempenho efetivo é a capacidade de se
autorregular, auto monitorar a intensidade e o ritmo de seu comportamento e ações.
Para Capovilla (2006), as alterações nas funções executivas têm sido relacionadas a transtornos
cognitivos e psiquiátricos, decorrentes de lesões ou disfunções neurológicas, como o autismo,
esquizofrenia, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, entre outros.
Saboya et al., (2007) ressaltam que os sintomas são manifestações de uma patologia relatada pelo
paciente, no entanto, o indivíduo com TDAH nem sempre é sintomático e, ao queixar-se dos sintomas,
estes já podem ser sinal de complicações ou de uma comorbidade, como, por exemplo, a depressão. Para
a autora, os comprometimentos neurológicos no TDAH são bastante relatados pela literatura, no entanto,
os achados sobre o assunto ainda são relativamente controversos. Segundo ela, não há evidências de que
testes neuropsicológicos, para funções executivas, apresentam poder preditivo positivo ou negativo na
prática clínica, tanto em adulto quanto em crianças, pois, os tipos de alterações neuropsicológicas, seus
mecanismos, as associações com os subtipos de TDAH e o comprometimento adaptativo, apontado por
alterações neuropsicológicas, ainda não foram definitivamente caracterizados pela literatura cientifica
sobre o assunto. Portanto, necessitam de maiores estudos e investigações sobre os achados científicos
(SABOYA et al., 2007).
Barkley (1997 apud SABOYA et al., 2007), propôs uma teoria que explicasse as disfunções
encontradas no TDAH. Segundo o autor, há uma alteração central no córtex pré-frontal que compromete
a capacidade de adaptação da função executiva. Seria esta alteração um déficit na capacidade inibitória
das respostas, o que justificaria vários tipos de manifestações e comprometimentos no TDAH. Para
Saboya et al.,(2007), salientam que os déficits relacionados às funções executivas são descritos nos
subtipos de TDAH, mas os prejuízos relacionados à adaptação à vida real, nem sempre são
correlacionados com os resultados dos testes neuropsicológicos. Porém, o perfil de alterações em testes
neuropsicológicos poderia, teoricamente, ajudar na predição, objetivação e quantificação dos impactos
negativos do TDAH no cotidiano do indivíduo portador do transtorno.
Diante disso, Corso (2013) ressalta que as funções executivas organizam as capacidades de
percepção, memória e ação dentro de um contexto, com a finalidade de estabelecer um objetivo, decidir
o início da proposta, planejar etapas de execução, modificá-las e avaliar o resultado final em relação ao
objetivo proposto. Esses processos não estão presentes apenas durante um processamento cognitivo, mas
também são necessários em decisões pessoais e interações sociais, envolvem desejo e motivação. Sendo
assim, funções executivas vão além de aspectos cognitivos, abrangendo o comportamento pessoal e
social do indivíduo.
Assis (2008) relata que as funções executivas exercem grande valor adaptativo diante da vida
social e pessoal. Seu comprometimento interfere no desempenho de atividades complexas, tanto
profissionais, quanto familiares ou cotidianas. São os lobos frontais que desempenham essas funções,
consideradas as mais avançadas e mais complexas de todo o cérebro. Essas estruturas encefálicas estão
relacionadas à intencionalidade, ao propósito e tomada de decisões. Podemos dizer que os lobos frontais,
são o que nos diferenciam dos animais e nos tornam independentes. Alterações nas funções executivas,
que são coordenadas pelas regiões pré-frontais, são denominadas de disfunções executivas. Estas se
caracterizam por dificuldades em iniciar uma ação, diminuição da motivação e dificuldades de
planejamento relacionado à priorização de ações necessárias para o alcance de metas. Sendo assim, a
disfunção em circuitos pré-frontais culmina em prejuízos na habilidade de resolução de problema, na
capacidade de abstração, no controle de impulsos e leva a tendência de perseverar. A autora destaca,
ainda, que outro aspecto a considerar é que indivíduos com disfunção executiva tendem a terem
dificuldades em aprender uma sequência lógica de comportamentos e perceberem quanto tempo gastam
em sua realização (ASSIS, 2008).
Diante disso, Saboya et al. (2007) relatam, ainda, que para o convívio social adequado e
realização de tarefas diárias, o indivíduo terá que contar com a integridade das funções executivas, que
desenvolvidas durante a infância, proporcionam gradual adequação e o melhor desempenho do indivíduo
para iniciar, continuar e finalizar atividades. A identificação de fatores imprevistos e de sua importância
e a elaboração de respostas alternativas diante de problemas demonstram a capacidade adaptativa do
sujeito, dada pelas funções executivas.
Os portadores de TDAH apresentam alterações específicas nas funções executivas, que são
responsáveis pela coordenação da memória imediata, da memória imediata verbal, da autorregulação
dos afetos e permite a reconstituição e análise do próprio comportamento. Alguns autores consideram
as funções executivas como o “maestro da sintonia mental do indivíduo” (GREVET et al., 2003).
Em função disso, Saboya et al., (2007) e Travela (2004 apud MOTA, 2014), discorrem à respeito
de uma variedade de manifestações decorrentes de alterações nas funções executivas. Entre elas estão:
(1) procrastinação, ou seja, a tendência ao adiamento de tarefas, principalmente, quando envolvem maior
necessidade de atenção ou com recompensa em longo prazo; (2) alternância de tarefas, deixando-as
incompletas, devido à baixa capacidade de persistir em uma tarefa ou a alta necessidade de variar; (3)
labilidade motivacional, apresentando interesse passageiro, com necessitando buscar novidades, fato que
se relaciona com a alternância de tarefas; (4) dificuldade de focalização e sustentação da atenção,
revelando dificuldade para filtrar estímulos internos e externos, maior sensibilidade à distração, necessita
de lembretes para manter tarefas habituais, apresenta inconstância e abandono de tarefas; (5) dificuldades
de organização e hierarquização, problemas no estabelecimento de prioridades e grau importância; (6)
menor velocidade de processamento; (7) manejo deficiente da frustração e da modulação do afeto, com
baixa tolerância à frustração, baixa autoestima, irritabilidade e excessiva sensibilidade mediante críticas.
Para Lopes (2005), as alterações nas funções executivas podem ser percebidas através de
manifestações como: o indivíduo tende a atropelar tarefas; iniciar tarefas e não completá-las, alternando-
as; buscar novidades; a ter problemas com a atenção e focalização; a ter problemas de velocidade de
processamento; baixa tolerância à frustração e modulação do afeto. Em alguns casos, baixa autoestima;
sensibilidade excessiva mediante críticas, irritabilidade; dificuldade de reter informações verbais e não
verbais; esquecimento de responsabilidade e compromissos e pré-estabelecidos.
Segundo Barkley (1997 apud, ASSIS, 2008), é a memória de trabalho que permite ao indivíduo
lembrar-se de eventos, agir de acordo com eles e controlar uma resposta motora. Permite ao indivíduo a
aprendizagem de uma sequência de ações e a percepção de tempo gasto na realização dessas ações.
Pessoas com disfunção executiva não aprendem com as experiências porque não possuem noção de
tempo. O autor define essa falta de noção do tempo como uma “miopia” do tempo, característica de
adultos com TDAH, cujo transtorno causa uma série de desafios diários, pois, estão sempre impacientes,
não gostam de esperar e, no entanto, parecem não ter compromisso com o tempo por estarem sempre
atrasados em suas atividades. Grevet et al. (2003) salientam que alterações nas funções executivas
também acarretarão menor capacidade de controle dos impulsos, dificuldade em reter informações,
expressão de respostas verbais inadequadas e problemas com controle motor, mediante estímulos.
Diante disso, Mota (2014) ressalta que a integridade das funções executivas reflete a capacidade
do indivíduo nas mais diversas áreas da vida. Seja na realização de tarefas diárias ou no convívio social,
pois, os processos cognitivos são utilizados nas relações sociais, assim como na resolução de problemas
simples ou complexos. Adultos com TDAH, cujas funções executivas apresentam alterações, tendem a
terem as mais variadas dificuldades em seu cotidiano, levando-se em consideração as consequências das
disfunções executivas, que acabaram de ser citadas.
O tratamento farmacológico não será abordado neste trabalho, no entanto, salienta-se que o
tratamento do TDAH em adultos é feito com três grupos de fármacos: os psicoestimulantes, os
antidepressivos e a atomoxetina. Os psicoestimulantes são considerados como os de primeira escolha
(LOUZÃ e MATTOS, 2007). Cesar et al., (2012) salientam que o hidrocloridrato de metilfenidato é um
dos estimulantes mais prescritos no mundo todo e licenciado em muitos países. No entanto, tratamento
do TDAH conta com a associação entre medicamento e psicoterapia. A desatenção responde muito
pouco à psicoterapia, porém, a psicoterapia é de grande importância para o paciente, uma vez que o
informa sobre sua condição, pode melhorar seu desempenho cognitivo e o ajudar a melhorar seu
comportamento em ambientes onde os sintomas são mais prejudiciais. Pessoas portadoras de TDAH,
por apresentarem alterações nas funções executivas, apresentam menor controle dos impulsos,
problemas no controle motor a estímulos, dificuldades de reter informação e a expressão de respostas
verbais inadequadas. Pessoas com ou sem TDAH podem apresentar algum comprometimento nas
funções executivas, porém, o TDAH é entendido como o extremo comprometimento de um mau
funcionamento dessas funções (GREVET et al., 2003).
Partindo da compreensão do TDAH, como uma disfunção executiva, que impacta negativamente
a vida do adulto e resulta na dificuldade da absorção de novos conteúdos, Grevet et al., (2003), propõem
uma nova abordagem psicoeducativa, que se utilize de técnicas pedagógicas na criação de grupos
psicoeducativos para adultos portadores do TDAH, pois as abordagens utilizadas, atualmente, são
criadas para crianças e adolescentes e quanto utilizadas em adultos partem de uma adaptação das
mesmas, ainda não validadas. Os autores relatam ainda que:
Em crianças e adolescentes são utilizadas terapia cognitivo-comportamental individual, a terapia
cognitivo-comportamental para familiares, a terapia de apoio para pacientes e familiares, o
treinamento comportamental para familiares, o biofeedback biblioterapia e o treinamento de
habilidades sociais para pacientes e familiares (GREVET et al, 2003, p.447).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificou-se através deste estudo que o TDAH compromete a vida do adulto em vários aspectos,
seja no âmbito familiar, acadêmico, profissional ou social, que existe relação entre TDAH e funções
executivas. Foi possível, ainda, identificar estratégias para auxiliar o adulto com TDAH, de modo que
consiga lidar com as implicações do transtorno. Constatou-se, ainda, que indivíduos com TDAH
apresentam alterações nas funções executivas, o que causa complicações diárias aos mesmos. As funções
executivas são encarregadas de alguns processos cognitivos responsáveis pelo bom funcionamento do
comportamento cotidiano.
A integridade das funções executivas se faz indispensável para a realização de atividades diárias
e o bom convívio social, visto que a memória de trabalho, antecipação, organização, planejamento,
controle inibitório, flexibilidade, autorregularão e controle de conduta, são aspectos imprescindíveis para
um bom convívio familiar, acadêmico, profissional e social entre as pessoas. As alterações das funções
executivas, além de acarretar grandes prejuízos ao adulto com TDAH, causam maior suscetibilidade à
comorbidades.
Diante disso, entende-se que o TDAH pode impactar negativamente a vivência do adulto
portador do transtorno, nas mais diversas áreas de sua vida. Neste sentido, observa-se a necessidade de
novos estudos, contemplando o TDAH em adultos, que venham evidenciar a importância de estratégias
para auxiliá-los a lidar com as implicações do transtorno.
REFERÊNCIAS
APA - AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos
mentais. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
BOLFER, C.P.M. Avaliação neuropsicológica das funções executivas e da atenção em crianças com
transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH). 2009. 123f. Dissertação (Mestrado) – Programa de
Pós-Graduação em Neurologia, USP, São Paulo, 2009. Disponível em:
<www.teses.usp.br/teses/disponiveis/.../CristianaPachecoMartiniBolfer.pdf>Acesso em: 07 fev.2016.
CORSO, H.V. et al. Metacognição e funções executiva: relações entre os conceitos e implicações para
aprendizagem. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Brasília, v.29. n.1. pp. 21-29. Jan-mar. 2013. ISSN 1806-3446.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ptp/v29n1/04.pdfAcesso em: 09 fev.2016.
COUTO, T.S.; MELO-JUNIOR, M.R.; GOMES, C.R.A. Aspectos neurobiológicos do transtorno de déficit de
atenção e hiperatividade (TDAH): uma revisão. Ciências e Cognição. V.15. n.1, 20 abr.2010. ISSN 1806-5821.
Disponível em: <http://www.cienciasecognicao.org/revista/index.php/cec/article/view/202/174>Acesso em: 09
fev.2016
DIAS, G.et al. Diagnosticando o TDAH na prática clínica. J.Bras.Pisiquiatr. Rio de Janeiro, v.56, sppl.1;9-13,
2007. ISSN 1982-0208. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0047-20852007000500003> Acesso em:
11 fev.2016.
GREVET, E. H.; ABREU, P. B.; SHANSIS, F. Proposta de uma abordagem psicoeducacional em grupos para
pacientes adultos com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. Ver. Psiq. v.25, n.3, p. 446-452,
set.2003. ISSN0101-8108. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rprs/v25n3/19617.pdf>Acesso em: 10 de
dez. 2015.
LOUZÃ, M.R. e MATTOS, P. Questões atuais no tratamento farmacológico do TDAH em adultos com
Metilfenidato. Jornal Brasileiro de Psiquiatria. Rio de Janeiro, v.56..supp.1;53-56. jan.2007. ISSN 1982-
0208. Disponível em: <http://dx;dpo;prg/10.1590/S0047-20852007000500012>Acesso em: 20 dez.2015.
MESQUITA, C.; COUTINHO, G.; MATTOS, P. Perfil neuropsicológico de adultos com queixa de desatenção:
diferenças entre portadores de TDAH e controles clínicos. Rev.Psiquiatr.Clin. São Paulo, v.37. n.5. 2010.
ISSN 0101-6083. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0101-60832010000500005> Acesso em : 08
fev.2016.
MOTA, A.H. Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) na vida adulta e funções executivas:
uma revisão teórica. Revista Interfaces da Saúde. Aracati·v.1, n.1. P.39-50, Jun.2014. ISSN 2358-517X.
Disponível em: www.fvj.br/revista/wp-content/uploads/2014/11/Interfaces4.pdf Acesso em: 13 fev. 2016.
MOURÃO JUNIOR, C.A.; MEL, L.B.R., Integração de três conceitos: função executiva, memória de trabalho e
aprendizado.Psicologia: Teoria e Pesquisa. Brasília,v.27. n.3, pp.309-314, jul/set.2011. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ptp/v27n3/06.pdf>Acesso em: 21 jan.2016.
SABOYA, E. et al. Disfunção executiva como uma medida de funcionalidade em adultos com TDAH. J. Bras.
Psiquiatr. Rio de Janeiro, v.56 suppl.1. 2007. ISSN 1982-0208. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1590/S0047-20852007000500007 Acesso em: 09 de fev.2016.