Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Avançado de
Dislexia
Manual da Formação
Formador:
Octávio Moura (PhD., MSc.)
* octavio@octaviomoura.com
8 octaviomoura.com
8 dislexia.pt
8 hiperatividade.com.pt
OUTUBRO 2017
Dificuldades de Aprendizagem Específicas
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ESPECÍFICAS
“É um termo genérico que diz respeito a um grupo heterogéneo de desordens manifestadas por
dificuldades significativas na aquisição e uso das capacidades de escuta, fala, leitura, escrita, raciocínio ou
habilidades matemáticas. Estas dificuldades são intrínsecas ao individuo, presumivelmente devidas a disfunções
do sistema nervoso central, e podem ocorrer ao longo do ciclo de vida. Problemas na autorregulação
comportamental, perceção social, e interação social podem existir nas DA, mas elas em si próprias não
constituem uma DA. Embora as DA possam ocorrer concomitantemente com outras condições desvantajosas
(por ex. alteração sensorial, deficiência mental, perturbação emocional grave) ou influências extrínsecas (tal
como diferenças culturais, ensino inadequado ou insuficiente), elas não são resultantes a tais condições ou
influências.” (National Joint Committee on Learning Disabilities Definition, 1994).
Conceitos presentes na definição de DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ESPECÍFICAS:
Baixa realização e desempenho escolar. Discrepância entre a realização escolar, numa ou mais áreas, e
o seu potencial intelectual. A etiologia radica em alterações ao nível do sistema nervoso central. Estão presentes
ao longo do ciclo de vida do sujeito. As dificuldades abrangem uma ou mais das seguintes áreas: linguagem oral,
leitura, escrita, matemática, raciocínio, aptidões sociais, etc. Embora possam ocorrer concomitantemente com
outras condições deficitárias individuais (ex. privação sensorial, deficiência mental, perturbação emocional, ...)
ou ambientais (ex. condições familiares, diferenças culturais e ensino insuficiente ou inadequado) não resultam
diretamente de tais condições ou influências. (Hammill, 1990).
CRITÉRIOS DE OPERACIONALIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO:
§ Critério de Especificidade – O problema de aprendizagem está confinado a um n.º limitado de domínios
académicos e cognitivos. Afetas as habilidades académicas ou processos cognitivos concretos, mas
deixa intacta a capacidade intelectual geral.
§ Critério de Exclusão – Este critério estabelece que se devem excluir uma série de problemas, tais como,
deficiência sensorial ou mental, distúrbio emocional severo, privação sócio-cultural, absentismo escolar,
inadequação dos métodos educativos, privação envolvimental, privação cultural e económica,
bilinguismo ou aprendizagem normal. De acordo com este critério as causas são intrínsecas ao próprio
indivíduo, e que este, para além de adequadas características sensoriais, físicas, mentais, emocionais e
envolvimentais, devem ter uma inteligência normal.
§ Critério de Discrepância – Caracteriza-se por uma discrepância entre o resultado real de uma
aprendizagem e o esperado em função das suas habilidades e competências cognitivas ou intelectuais
do indivíduo.
1 Bibliografia:
Frith, U. (1985). Beneath the surface of developmental dyslexia. In K. E. Patterson, J. C. Marshall & M. Coltheart (Eds.),
Surface dyslexia: Neuropsychological and cognitive studies of phonological reading (pp. 301-330). London: Erlbaum.
Lopes, J. A., Velasquez, M. G., Fernandes, P. P. & Bártolo, V. N. (2004). Aprendizagem, ensino e dificuldades da leitura.
Coimbra: Quarteto.
Snowling, M. (2000). Dyslexia. Oxford: Blackwell Publishers Ltd.
Moura, O., Moreno, J., Pereira, M., & Simões, M. R. (2015). Developmental Dyslexia and Phonological Processing in European Portuguese
Orthography. Dyslexia, 21(1), 60-79. doi: 10.1002/dys.1489
Tipologia da Dislexia
DISLEXIA DESENVOLVIMENTAL (Boder, 1973)
Dislexia Auditiva ou Disfonética; Dislexia Visual ou Diseidética; Dislexia Mista ou Intermodal
The Dyslexia Spectrum
+
No impairment phonology core Poor comprehender
+ Wider language _
Prevalência da Dislexia
§ Percentagem de 5 a 10% das crianças com idade escolar (segundo o DSM-IV é de 4%).
§ Em Portugal foi observada uma prevalência de 5.4% em crianças do 1º Ciclo do Ensino Básico (Vale et al.,
2011).
§ Maior frequência de casos diagnosticados com Dislexia no sexo Masculino (estudos mais recentes apontam
para percentagens próximas entre o género).
§ Aproximadamente 30% a 40% dos irmãos de crianças disléxicas apresentam de uma forma mais ou menos
graves a mesma perturbação. Elevada concordância entre gémeos monozigóticos [68%] e dizigóticos [38%]
(Fisher & DeFries, 2002).
§ A criança apresenta um risco de 50% de vir a ser disléxico se o pai for disléxico e 40% no caso da mãe ser
disléxica (Snowling, 2006).
§ Pessoas famosas: Einsten, Alexander Bell, Thomas Edison, Antony Hopkins, Bill Gates, Agatha Christie, Julio
Verne, Franklin D. Roosevelt, Leonardo da Vinci; Louis Pasteur, Picasso, Spielberg, Tom Cruise, etc.
Etiologia da Dislexia
Inicialmente atribui-se aos fatores pedagógicos a origem da dislexia. Mais tarde, pensava-se que a dislexia
era resultante de défices ao nível da perceção (visual e/ou auditiva, etc.). Atualmente, estas duas correntes
teóricas estão totalmente excluídas dos fatores etiológicos da dislexia. Presentemente, a comunidade científica
associa a dislexia a 3 fatores que se encontram relacionados entre si:
Ø Fatores Genéticos – grande percentagem de disléxicos numa mesma família, em especial entre gémeos
monozigóticos e dizigóticos; identificados alguns genes nos cromossomas 6, 15 e 18, entre outros.
Ø Fatores Neurológicos – lóbulo temporal, parietal e occipital do hemisfério esquerdo – região parietal-
temporal (análise das palavras), occipital-temporal (leitura automática) e região inferior frontal (Sally
Shaywitz). Supramarginal gyrus – associado à conversão grafema-fonema (Cummine et al., 2014, 2015).
Ø Fatores Psicolinguísticos – processamento fonológico: (1) consciência fonológica, (2) memória
fonológica e (3) nomeação rápida.
Utha Frith (1997) – Modelo causal da dislexia
1 - ANAMNESE
§ Recolha de informação de índole escolar, clínica, desenvolvimental, familiar e dificuldades específicas
na aprendizagem.
2 - AVALIAÇÃO INTELECTUAL/COGNITIVA
§ As crianças com Dislexia (mesmo com um QI elevado) fazem menores progressos na leitura do que a
generalidade das restantes crianças em idade escolar, pois as suas dificuldades não se encontram a nível
do funcionamento intelectual, mas em défices neuropsicológicos/neurolinguísticos específicos.
§ WISC-III
o Capacidade intelectual (QIEC) pelo menos normativa (QIEC > 80 ou > 85; DSM-5 considera QI >
70).
o Análise da DQIV-QIR e a existência de discrepâncias estatisticamente significativas. Atualmente
não é relevante para o diagnóstico.
o Análise dos diferentes subtestes; análise dos fatores (Compreensão Verbal, Organização
Percetiva, Velocidade de Processamento).
o Análise da presença do padrão de Bannatyne (habilidade espacial > habilidade conceptual >
habilidade sequencial) e dos perfis ACID, SCAD e FD (total, parcial e medidas compósitas).
o ACID £ 37 (em crianças com WISC-III QIEC ³ 90) apresenta uma sensibilidade de 67% e uma
especificidade de 90% (Moura et al., 2014).
Moura, O., Moreno, J., Pereira, M., & Simões, M. R. (2015). Developmental Dyslexia and Phonological Processing in European Portuguese
Orthography. Dyslexia, 21(1), 60-79. doi: 10.1002/dys.1489
§ Outras Competências Linguísticas: Conhecimento de Vocabulário; Fonológico; Semântico; Morfo-
Sintático; Pragmático, etc.
§ Testes: Consciência Fonológica (BANC); Nomeação Rápida (BANC); Provas de Avaliação da Linguagem e
da Afasia em Português (PALPA-P; Kay, Lesser & Coltheart; Castro, Caló & Gomes); Avaliação da Leitura
em Português Europeu (ALEPE; Sucena & Castro); Bateria de Provas Fonológicas (Ana Cristina Silva);
Bateria de Avaliação da Linguagem Oral (ALO; Inês Sim-Sim); Teste de Identificação de Competências
Linguísticas (TICL; Leopoldina Viana); Teste Illinois de Aptidões Psicolinguísticas (ITPA, Samuel Kirk); etc.
Avaliação Neuropsicológica das Funções da MEMÓRIA
Moura, O., Simões, M. R., & Pereira, M. (2015). Working Memory in Portuguese Children with Developmental Dyslexia. Applied
Neuropsychology: Child, 4(4), 237-248. doi: 10.1080/21622965.2014.885389
Avaliação Neuropsicológica das Funções da ATENÇÃO e das FUNÇÕES EXECUTIVAS (opcional, apenas em
algumas situações é que se justifica esta avaliação. Importante no caso de comorbilidade com a PHDA)
§ Funções da Atenção: Teste D2; Testes de Cancelamento, TMT-A, etc.
§ Funções Executivas: Velocidade de Processamento, Planeamento, Flexibilidade Cognitiva, Inibição,
Fluência Verbal, etc.
§ Comorbilidade com a PHDA (diagnóstico diferencial).
Avaliação Neuropsicológica da PERCEÇÃO VISUOESPACIAL E LATERALIDADE (opcional, apenas em algumas
situações é que se justifica esta avaliação)
§ Perceção Visual, Organização Visuoperceptiva: Fig. Complexa Rey; Teste Visuomotor de Bender; etc.
§ Lateralidade, Dominância Lateral e Perceção de Simetrias: Avaliação da Lateralidade Cruzada;
Avaliação da Discriminação Direita-Esquerda; Prova de Lateralidade M. Auzias; Bateria Psicomotora
(BPM), Reversal Test, etc.
4 - AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
§ Leitura
- Testes específicos para avaliação da fluência e precisão da leitura:
§ Teste de Idade de Leitura (TIL; Sucena & Castro, 2009)
§ O Rei: Precisão e Fluência da Leitura (O REI; Carvalho & Pereira, 2009)
§ Avaliação da Leitura em Português Europeu (ALEPE; Sucena & Castro)
§ Bateria de Avaliação da Leitura (BAL; Ribeiro et al.)
§ Prova de Avaliação da Capacidade de Leitura (DECIFRAR; Emílio Salgueiro)
- Leitura de diversos textos com níveis diferentes de complexidade
- Leitura de lista de palavras frequentes e irregulares (via visual ou direta)
- Leitura de lista de palavras pouco frequentes, regulares e pseudopalavras (via fonológica ou
indireta)
- Analisar o efeito da Regularidade, Lexicalidade e Frequência
- Avaliação da compreensão leitora
§ Escrita
- Escrita de textos/composições, ditados
- Escrita de palavras regulares, irregulares, frequentes, pouco frequentes, pseudopalavras
- Análise e avaliação da construção e estruturação frásica
- Análise e caracterização da tipologia dos erros ortográficos encontrados nos cadernos diários
5 - APLICAÇÃO DE TESTES ESPECÍFICOS DE DISLEXIA
§ Adult Reading History Questionnaire
§ Prova Exploratória de Dislexia Específica (PEDE)
§ Prova de Análise e Despiste da Dislexia (PADD)
§ The Dyslexia Screening Test
§ International Dyslexia Test
O estudo das dificuldades na leitura e escrita, em geral, e da Dislexia, em particular, vem suscitando o
interesse de (neuro)psicólogos, (neuro)pediatras, professores, terapeutas e outros profissionais da saúde e
educação interessados na investigação dos fatores implicados no sucesso e/ou insucesso educativo. As
competências de leitura e escrita são objetivos essenciais de qualquer sistema educativo, pois constituem
aquisições iniciais que funcionam como uma base para todas as restantes aprendizagens. Assim, uma criança
com dificuldades acentuadas na leitura e escrita apresentará lacunas em todas as restantes áreas curriculares, o
que provocará um desinteresse cada vez mais marcado pela aprendizagem, uma diminuição da sua autoestima
e alterações emocionais.
A Dislexia é uma das perturbações infantis mais frequentes e etiologicamente resulta de alterações
genéticas, neurológicas e neurolinguísticas. Estudos genéticos recentes identificaram alguns cromossomas como
estando associados à Dislexia. Encontram-se igualmente mapeadas as regiões do córtex cerebral responsáveis
pelas alterações disléxicas. Essas regiões localizam-se no hemisfério esquerdo (lobo temporal, occipital e
parietal).
Para além destas alterações, as crianças disléxicas podem apresentar outras perturbações có-mórbidas,
nomeadamente Discalculia e Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção. A avaliação e intervenção
nesta perturbação deverão ser realizadas por técnicos especializados por envolve a aplicação de um protocolo
específico e complexo, sendo necessário uma avaliação diferencial para despistar eventuais variáveis/fatores
que possam explicar tais dificuldades.