Você está na página 1de 29

ACÇÃO DE FORMAÇÃO

Dislexia
Avaliação e Intervenção

ISPA – Instituto Superior de Psicologia Aplicada


Departamento de Formação Permanente

Octávio Moura
www.dislexia-pt.com
octaviomoura@portalpsi.net

2009
Dificuldades Específicas de Aprendizagem

DIFICULDADES ESPECÍFICAS DE APRENDIZAGEM


“É um termo genérico que diz respeito a um grupo heterogéneo de desordens manifestadas por
dificuldades significativas na aquisição e uso das capacidades de escuta, fala, leitura, escrita, raciocínio
ou habilidades matemáticas. Estas dificuldades são intrínsecas ao individuo, presumivelmente devidas
a disfunções do sistema nervoso central, e podem ocorrer ao longo do ciclo de vida. Problemas na
auto-regulação comportamental, percepção social, e interacção social podem existir nas DA, mas elas
em si próprias não constituem uma DA. Embora as DA possam ocorrer concomitantemente com outras
condições desvantajosas (por ex. alteração sensorial, deficiência mental, perturbação emocional grave)
ou influências extrínsecas (tal como diferenças culturais, ensino inadequado ou insuficiente), elas não
são resultantes a tais condições ou influências.” (National Joint Committee on Learning Disabilities
Definition, 1994).

CONCEITOS PRESENTES NAS DEFINIÇÕES DE DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM:


Baixa realização e desempenho escolar. Discrepância entre a realização escolar, numa ou mais áreas,
e o seu potencial intelectual. A etiologia radica em alterações ao nível do sistema nervoso central.
Estão presentes ao longo do ciclo de vida do sujeito. As dificuldades abrangem uma ou mais das
seguintes áreas: linguagem oral, leitura, escrita, matemática, raciocínio, aptidões sociais, etc. Embora
possam ocorrer concomitantemente com outras condições deficitárias individuais (ex. privação
sensorial, deficiência mental, perturbação emocional, ...) ou ambientais (ex. condições familiares,
diferenças culturais e ensino insuficiente ou inadequado) não resultam directamente de tais condições
ou influências. (Hammill, 1990).

PERTURBAÇÕES DA APRENDIZAGEM segundo o DSM-IV-TR (2002)


ƒ Perturbação da Leitura (F81.0)
ƒ Perturbação do Cálculo (F81.2)
ƒ Perturbação da Escrita (F81.8)
ƒ Perturbação da Aprendizagem Sem Outra Especificação (F81.9)

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 2


DIFICULDADES ESPECÍFICAS DE PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM
APRENDIZAGEM
Termos mais específico Termo mais genérico e ambíguo
Défices específicos numa determinada área Dificuldades generalizadas e mais abrangentes
Etiologia relacionada com causas neurológicas Etiologia relacionada com causas intrínsecas e
(intrínsecas ao próprio indivíduo) extrínsecas

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:

Correia, L. M. (1997). Alunos com necessidades educativas especiais nas classes regulares. Porto: Porto Editora.

Correia, L. M. (2004). Problematização das dificuldades de aprendizagem nas necessidades educativas especiais. Análise
Psicológica, 22(2), 369-376.

Correia, L. M. (2008). Dificuldades de aprendizagem específicas: Contributos para uma definição portuguesa. Porto: Porto
Editora.
Cruz, V. (1999). Dificuldades de aprendizagem – Fundamentos. Porto: Porto Editora.

Fonseca, V. (1984). Uma introdução às dificuldades de aprendizagem. Lisboa: Editorial Notícias.

Fonseca, V. (1999). Insucesso Escolar: Abordagem psicopedagógica das dificuldades de aprendizagem. Lisboa: Âncora
Editora.

Hammill, D. D. (1990). On defining learning disabilities: No emerging consensus. Journal of Learning Disabilities, 23, 74-84.

Shaw, S. F., Cullen, J. P., McGuire, J. M., & Brinckerhoff, L. C. (1995). Operationalizing a definition of Learning Disabilities.
Journal of Learning Disabilities, 28(9), 586-597.

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 3


Modelo Desenvolvimental da Aprendizagem da Leitura
ESTÁDIO 1 ESTÁDIO 2 ESTÁDIO 3

U. FRITH (1985)1 LOGOGRÁFICO ALFABÉTICO ORTOGRÁFICO

As crianças reconhecem globalmente As crianças adquirem o conhecimento das Reconhecimento de palavras é feito de forma
algumas palavras utilizando a sua correspondências grafema-fonema e directa, pois a prática da leitura permite à
configuração global ou alguns indicadores consciência fonémica. Para isso tem de criança reconhecer imediatamente os
gráficos mais salientes. aprender as letras, aprender a segmentar padrões ortográficos da sua própria língua.
palavras, a aplicar as correspondências letra- Inicialmente aplica-se apenas à leitura para
Enquanto que a leitura desta etapa se som e a combinar os sons para produzir posteriormente se generalizar à escrita.
caracteriza por estas estratégias palavras.
logográficas, a escrita caracteriza-se por 2
fases: começa por ser simbólica e só depois As estratégias alfabéticas começam
é que utiliza as estratégias logográficas. inicialmente por se aplicar apenas à escrita,
continuando a predominância das estratégias
logográficas na leitura. Numa segunda fase
estas estratégias passam a ser utilizadas
tanto na escrita como na leitura.

1 Bibliografia:
Frith, U. (1985). Beneath the surface of developmental dyslexia. In K. E. Patterson, J. C. Marshall & M. Coltheart (Eds.), Surface dyslexia: Neuropsychological and cognitive studies of
phonological reading (pp. 301-330). London: Erlbaum.
Lopes, J. A., Velasquez, M. G., Fernandes, P. P. & Bártolo, V. N. (2004). Aprendizagem, ensino e dificuldades da leitura. Coimbra: Quarteto.
Snowling, M. (2000). Dyslexia. Oxford: Blackwell Publishers Ltd.

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 4


Definição

A dislexia tem sido, muitas vezes, erradamente interpretada como um sinal de baixa capacidade
intelectual. Pelo contrário, muitos disléxicos conseguem, em certas áreas, um desempenho superior à
média. No nosso sistema de ensino, as competências de leitura e escrita são considerados requisitos
fundamentais para a obtenção de conhecimento, assim, uma criança que leia e escreva mal torna-se
rapidamente deficitária em todas as restantes matérias e disciplinas. Pode-se então definir dislexia
como:

ƒ “A dislexia é uma dificuldade específica de aprendizagem de origem neurológica. É caracterizada


por uma dificuldade na correcção e/ou fluência na leitura de palavras e uma fraca competência
ortográfica. Estas dificuldades resultam de um défice na componente fonológica da linguagem, que
é inesperada em relação às outras competências cognitivas e às condições educativas
proporcionadas. Secundariamente podem surgir dificuldades ao nível da compreensão da leitura,
uma reduzida experiência leitora, o que pode condicionar o desenvolvimento do vocabulário e dos
conhecimentos gerais. Os estudos demonstram que os disléxicos processam a informação em
áreas diferentes do cérebro comparativamente com os indivíduos não disléxicos.” (The
International Dyslexia Association, 2002; National Institute of Child Health and Human
Development, 2002).

ƒ A dislexia é uma dificuldade duradoura da aprendizagem da leitura e aquisição do seu mecanismo,


em crianças inteligentes, escolarizadas, sem qualquer perturbação sensorial e psíquica já existente
(Victor da Fonseca, 1999).

ƒ A Federação Mundial de Neurologia (1968) define-a como uma perturbação que se manifesta
pela dificuldade na aprendizagem da leitura, apesar de uma educação convencional, uma
adequada inteligência e oportunidades sócio-culturais.

ƒ Dislexia: (do grego) dus = difícil, mau, dificuldade; lexis = palavra.

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 5


Psicolinguística e Aprendizagem da Leitura

ƒ “… a especificação do papel do processamento fonológico nas fases iniciais da aprendizagem da


leitura é uma das mais notáveis histórias de sucesso científico da década passada.” (Stanovich,
1991) .

ƒ SISTEMA LINGUÍSTICO – Sistema Fonológico, Sistema Semântico, Sistema Sintáctico/Gramatical


e Sistema Pragmático.

ƒ MODELO DESENVOLVIMENTAL DA APRENDIZAGEM DA LEITURA (Frith, 1985):


- Estádio Logográfico
- Alfabético
- Ortográfico

ƒ A aprendizagem da leitura requer que a criança estabeleça a respectiva correspondência entre


as letras impressas (grafemas) e os sons correspondentes (fonemas). Esta capacidade para
fazer as devidas correspondências entre a ortografia e a fonologia irá permitir a descodificação de
novas palavras, sendo a base futura para uma maior capacidade para a leitura automática.

ƒ Está cientificamente comprovado que a componente fonológica é o recurso cognitivo mais


importante para a aprendizagem da leitura e escrita … e que a dislexia resulta de um défice
fonológico. O cérebro das crianças disléxicas codifica a informação fonológica de um modo
menos eficiente que nas restantes crianças.

ƒ PROCESSAMENTO FONOLÓGICO
- Consciência Fonológica
ƒ Estádios de Desenvolvimento da Consciência Fonológica
- Codificação Fonológica
- Recuperação dos Códigos Fonológicos

ƒ MECANISMO DE LEITURA – Modelo de Dupla Via:


- Via Fonológica (Sublexical)
- Via Lexical (Semântica)

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 6


Alguns Sinais de Alerta na Infância e na Idade Escolar

NA INFÂNCIA:
ƒ Atraso na aquisição da linguagem. Começou a dizer as primeiras palavras mais tarde do que o
habitual e a construir frases mais tardiamente.
ƒ Apresentou problemas de linguagem durante o seu desenvolvimento, dificuldades em
pronunciar determinados sons, linguagem ‘abebezada’ para além do tempo normal.
ƒ Revelou dificuldades em construir frases lógicas e com sentido.
ƒ Apresentou dificuldades em memorizar e acompanhar canções infantis e a rima das lenga-
lengas.
ƒ Dificuldade em se aperceber que os sons das palavras podem dividir-se em bocados mais
pequenos.
ƒ Confusão entre a direita e a esquerda, etc...

NA IDADE ESCOLAR:
ƒ Dificuldade em compreender que as palavras se podem segmentar em sílabas e fonemas.
ƒ Lentidão na aprendizagem dos mecanismos da leitura e escrita.
ƒ A velocidade da leitura é inadequada para a idade, muitas vezes silábica e por soletração
(após o primeiro ano).
ƒ Bastantes dificuldades na leitura, com a presença constante de erros, inventando palavras ao
ler um texto.
ƒ A escrita surge com muitos erros ortográficos e a qualidade da caligrafia é bastante deficiente.
ƒ Dificuldade na leitura de pseudopalavras (ex: modigo; catapo; manfasa, etc.).
ƒ Dificuldades na compreensão de textos escritos. Boa compreensão quando as histórias lhe são
lidas.
ƒ Dificuldades em seguir e realizar correctamente determinadas ordens ou instruções mais
complexas que envolvam várias tarefas diferentes a serem executados sequencialmente.
ƒ Demora demasiado tempo na realização dos trabalhos de casa (uma hora de trabalho rende 10
minutos), necessitando do apoio de terceiros para a sua realização.
ƒ Distrai-se com bastante facilidade perante qualquer estímulo, parecendo que está a "sonhar
acordado". Curtos períodos de atenção quando está a ler ou a escrever, cansando-se muito
rapidamente.

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 7


ƒ Os resultados escolares não são condizentes com a sua capacidade intelectual.
ƒ Melhores resultados nas avaliações orais do que nas escritas.
ƒ Dificuldade em recordar informações verbais (memória verbal curto prazo).
ƒ Dificuldades na aprendizagem de uma língua estrangeira (em especial o Inglês).
ƒ Dificuldades ao nível da organização pessoal.
ƒ Apresenta “picos de aprendizagem”, nuns dias parece assimilar e compreender os conteúdos
curriculares e noutros dias parece ter esquecido o que tinha aprendido anteriormente.

Alguns Critérios de Diagnóstico


ƒ Dificuldades acentuadas ao nível do processamento e consciência fonológica.
ƒ Leitura silábica, decifratória, hesitante, sem ritmo e pausas, com bastantes correcções e erros
de antecipação, interferindo na compreensão do texto.
ƒ Velocidade de leitura bastante lenta para a idade e para o nível escolar, sem fluência e
bastante esforçada. Durante a leitura ficam letras e palavras por dizer, podendo ser inventadas
outras.
ƒ Omite ou adiciona letras e sílabas quando está a ler palavras multissilábicas (ex: famosa-fama;
casaco-casa; livro-livo; batata-bata; biblioteca/bioteca; ...).
ƒ Confusão e/ou substituição de letras ou sílabas com diferenças subtis de grafia ou de som (a-o;
o-u; a-e; p-t; b-v; s-ss-ç; s-z; f-t; t-d; m-n; v-u; f-v; g-j; ch-j-x; v-z; nh-lh-ch; ão-am; ão-ou; ou-on;
au-ao;…).
ƒ Confusão, substituição e/ou omissão de letras ou sílabas com grafia similar, mas com diferente
orientação no espaço (b-d; d-p; b-q; d-q; n-u, a-e;…).
ƒ Inversões parciais ou totais de letras, sílabas ou palavras (ai-ia; per-pre; fla-fal; me-em; sal-las;
pla-pal; ra-ar;…).
ƒ Substituição de palavras por outras de estrutura similar, porém com significado diferente
(saltou-salvou; cúbico-bicudo;...).
ƒ Substituição de palavras inteiras por outras semanticamente vizinhas (cão-gato; bonito-lindo;
carro-automóvel).
ƒ Dificuldades em exprimir as suas ideias e pensamentos em palavras.
ƒ Má qualidade da grafia: letra rasurada, disforme e irregular.
ƒ Défices ao nível da memória auditiva.

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 8


Critérios de Diagnóstico de Perturbação da Leitura segundo o DSM-IV

A. O rendimento na leitura, medido através de provas normalizadas de exactidão ou compreensão da


leitura, aplicadas individualmente, situa-se substancialmente abaixo do nível esperado para a idade
cronológica do sujeito, quociente de inteligência e escolaridade própria para a sua idade.

B. A perturbação do critério A interfere significativamente com o rendimento escolar ou actividade da


vida quotidiana que requerem aptidões de leitura.

C. Se estiver presente um défice sensorial, as dificuldades de leitura são excessivas em relação ás


que lhe estariam habitualmente associadas.

Tipologia da Dislexia
DISLEXIA DESENVOLVIMENTAL (Boder, 1973)
Dislexia Auditiva ou Disfonética; Dislexia Visual ou Diseidética; Dislexia Mista ou Intermodal

CASTLE & COLTHEART (1993)

Dislexia Fonológica - Recorre a associações específicas de palavras, mas denota grandes


dificuldades na aquisição das regras de descodificação grafema-fonema. Apresenta um
desempenho normal na leitura de palavras regulares e irregulares, mas uma incapacidade na
leitura de pseudopalavras.

Dislexia de Superfície - Dificuldades em recorrer à informação específica das palavras, estando


inteiramente dependente do mecanismo fonológico, o que conduz a um desempenho mais baixo
na leitura de palavras irregulares e um desempenho normal na leitura de pseudopalavras e de
palavras regulares.

Dislexia Equilibrada - Corresponde à combinação das duas categorias anteriores.

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 9


ESPECTRO DAS PERTURBAÇÕES DE LEITURA (Snowling, 2006)

The Dyslexia Spectrum


+
No impairment Poor comprehender

phonology core
+ Wider language _

Dyslexia Classic SLI

Prevalência da Dislexia
ƒ Percentagem de 5 a 10% das crianças com idade escolar (segundo o DSM-IV é de 4%).
ƒ 70 a 80% dos casos diagnosticados de dislexia são do sexo masculino (estudos mais recentes
apontam para percentagens mais próximas entre os géneros).
ƒ Aproximadamente 30% a 40% dos irmãos de crianças disléxicas apresentam de uma forma mais
ou menos graves a mesma perturbação. Elevada concordância entre gémeos monozigóticos [68%]
e dizigóticos [38%] (Fisher & DeFries, 2002).
ƒ A criança apresenta um risco de 50% de vir a ser disléxico se o pai for disléxico e 40% no caso da
mãe ser disléxica (Snowling, 2006).

ƒ Pessoas famosas: Einsten, Alexander Bell, Thomas Edison, Antony Hopkins, Bill Gates, Agatha
Christie, Julio Verne, Franklin D. Roosevelt, Leonardo da Vinci; Louis Pasteur, Picasso, Spielberg,
Tom Cruise, etc.

Comorbilidade

DISORTOGRAFIA – Perturbação que afecta as aptidões da escrita, onde se observa um conjunto de


défices na capacidade para compor textos escritos (erros gramaticais, produção textos, erros
ortográficos, caligrafia deficiente, etc.).

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 10


DISCALCULIA – É uma perturbação estrutural da capacidade matemática e da simbolização dos
números, é de carácter desenvolvimental (não resulta de uma lesão cerebral ou de défices intelectuais)
e caracteriza-se por dificuldades específicas da aprendizagem que afectam a normal aquisição das
competências aritméticas, apesar de uma inteligência normal, estabilidade emocional, oportunidades
académicas e motivação.
DISGRAFIA – Perturbação de tipo funcional na componente motora do acto de escrever, que afecta a
qualidade da escrita, sendo caracterizada por uma dificuldade na grafia, no traçado e na forma das
letras, surgindo estas de forma irregular e disforme.

HIPERACTIVIDADE e DÉFICE ATENÇÃO (ADHD)

Etiologia da Dislexia

¾ Factores genéticos – grande percentagem de disléxicos numa mesma família, em especial entre
gémeos monozigóticos e dizigóticos; identificados alguns genes nos cromossomas 6, 15 e 18,
entre outros.

¾ Factores neurológicos – lóbulo temporal, parietal e occipital do hemisfério esquerdo – região


parietal-temporal (análise das palavras) e occipital-temporal (leitura automática) (Sally Shaywitz),
simetria no planum temporal dos hemisférios cerebrais, etc.

¾ Factores linguísticos – processamento e consciência fonológica.

Utha Frith (1997) – Modelo causal da dislexia

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 11


Problemática Emocional e Comportamental
As repercussões da dislexia são muitas vezes consideráveis, quer ao nível do sucesso escolar,
quer ao nível do comportamento e do estado emocional da criança, originando nestes domínios
perturbações de gravidade variável, que importa reconhecer e evitar na medida do possível.

PROBLEMAS EMOCIONAIS:
- Recusa ou medo de ir à escola.
- Reduzida motivação e empenho pelas actividades escolares.
- Recusa de situações e actividades que exijam a leitura e escrita.
- Sintomatologia ansiosa.
- Sintomatologia depressiva.
- Baixa auto-estima e auto-conceito académico.
- Sentimentos de tristeza, de vergonha e de culpa pelo seu rendimento escolar.
- Enurese nocturna, encoprese e alterações do sono.
- Sintomas psicossomáticos (alterações gastrointestinais, dores de cabeça, febre, suores
palpitações, tremores, etc.).
- Etc.

PROBLEMAS COMPORTAMENTAIS:
- Problemas comportamentais no contexto de sala de aula e no contexto familiar.
- Comportamentos de oposição e desobediência.
- Impulsividade.
- Agressividade verbal e/ou física.
- Tendência para enveredar pelo mundo da delinquência (pouca assiduidade às aulas e
abandono escolar precoce).
- Etc.

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 12


Avaliação Psicológica e Psicopedagógica

DIAGNÓSTICO PRECOCE
ƒ Saber que as dificuldades na leitura e escrita são resultantes da dislexia e não de outras
condições.
ƒ Mais rapidamente é empreendida uma intervenção reeducativa e mais cedo são
implementadas medidas educativas especiais.
ƒ Um menor número de problemáticas do foro psicológico se desenvolve.

I – ÁREAS DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E NEUROPSICOLÓGICA

AVALIAÇÃO INTELECTUAL
ƒ Capacidade intelectual geral e análise das diferentes sub-testes: Memória Dígitos; “Factor
ACID”

AVALIAÇÃO PSICOLINGUÍSTICA
ƒ Processamento fonológico e outras competências psicolinguísticas

AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO E LATERALIDADE


ƒ Percepção e organização visuo-perceptiva
ƒ Lateralidade, dominância lateral e percepção de simetrias

AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
ƒ Leitura
‫ ـ‬Leitura de diversos textos e caracterização dos erros
‫ ـ‬Leitura de palavras de alta frequência e irregulares (via visual ou directa)
‫ ـ‬Leitura de palavras de baixa frequência e pseudopalavras (via fonológica ou indirecta)
‫ ـ‬Velocidade de leitura
‫ ـ‬Análise compreensiva da informação lida

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 13


ƒ Escrita
‫ ـ‬Produção de textos e análise da construção frásica
‫ ـ‬Ditados
‫ ـ‬Escrita de palavras de baixa/alta frequência, regulares/irregulares, pseudopalavras, etc.

ƒ Análise e caracterização da tipologia dos erros ortográficos encontrados nos cadernos


diários

ƒ Testes específicos de avaliação da dislexia

II – INSTRUMENTOS CLÍNICOS

AVALIAÇÃO INTELECTUAL E COGNITIVA


Escalas de Inteligência de Wechsler (WISC ou WAIS); Matrizes Progressivas de Raven (CPM,
SPM ou APM); etc…

AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA E PERCEPÇÃO AUDITIVA


Fig. Complexa Rey; Reversal Test; Teste Visuomotor de Bender; Teste D2.
Wepman Auditory Discrimination Test; Diagnóstico das Aquisições Perceptivo-Auditivas
(DAPA), etc…

AVALIAÇÃO PSICOMOTORA E DA DOMINÂNCIA LATERAL


Avaliação da Lateralidade Cruzada; Avaliação da Discriminação Direita-Esquerda; Prova de
Lateralidade M. Uzias; Bateria Psicomotora (BMP); etc…

AVALIAÇÃO DOS PROCESSOS FONOLÓGICOS E PSICOLINGUÍSTICOS


Bateria de Provas Fonológicas; Bateria de Avaliação da Linguagem Oral; Bateria de Avaliação
dos Comportamentos Iniciais de Leitura; Teste de Identificação de Competências Linguísticas
(TICL); Teste Illinois de Aptidões Psicolinguísticas (ITPA), etc.

AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 14


LEITURA: Análise, avaliação e caracterização da tipologia dos erros presentes na leitura;
leitura de diversos textos; leitura de pseudopalavras e de palavras de alta/baixa frequência
(adequadas a cada nível escolar); Prova de Avaliação da Capacidade de Leitura; Avaliação da
Compreensão Leitora; Teste de Velocidade de Leitura; etc…

ESCRITA: Análise, avaliação e caracterização da tipologia dos erros ortográficos; análise dos
cadernos diários e testes de avaliação escolares; escrita de pseudopalavras e de palavras de
alta/baixa frequência (adequadas a cada nível escolar); ditados; análise/avaliação da
construção frásica através de composições e frases; etc…

PROVAS DE AVALIAÇÃO ESPECÍFICA NA DISLEXIA


Teste Exploratório de Dislexia Específica (PEDE); Prova de Análise e Despiste da Dislexia
(PADD); The Dyslexia Screening Test; International Dyslexia Test, etc.

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 15


Intervenção Reeducativa da Dislexia

ASPECTOS A TER EM CONTA QUANDO SE INICIA UMA INTERVENÇÃO REEDUCATIVA


ƒ O grau das dificuldades nas competências de leitura e escrita
ƒ As competências da criança
ƒ A idade da criança
ƒ Condição emocional da criança
ƒ Contexto escolar
ƒ Contexto familiar

INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA
1. Intervenção psicológica (emocional).
2. Intervenção específica e reeducativa nas dificuldades de leitura e escrita.
3. Intervenção noutras valências (caso seja necessário) para correcção de outras áreas
deficitárias. Ex: Terapia da Fala, Psicomotricidade, …
4. Aplicação de estratégias de ensino diferenciado e de medidas educativas especiais (se
necessário).
5. Apoio ao contexto familiar.
6. Articulação de estratégias com o contexto escolar e familiar.

EXEMPLO DE EXERCÍCIOS E ACTIVIDADES NA INTERVENÇÃO REEDUCATIVA DA DISLEXIA:

ƒ Processamento Fonológico:
- Segmentação e consciência silábica e fonémica. Discriminação dos elementos fonéticos e
estruturais das palavras. Lengalengas, rimas e contos rimados. Ligação de rimas. Manipulação
silábica e fonémica (omissão, adição e inversão de sílabas iniciais, intermédias e finais).
Memória verbal imediata e pseudopalavras.

ƒ Inventários e Ficheiros Cacográficos.

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 16


ƒ Actividades lúdicas e multimédia que apelem para a manipulação de sons e para os processos de
descodificação da leitura e escrita.

ƒ Intervenção nas trocas específicas:


- Exemplo: pre/per; nh/lh; ch/x; m/n; g/gu; s/ss/ç; ...

ƒ Técnicas multissensoriais.

ƒ Manuais de Intervenção Reeducativa:


- Método Distema (Paula Teles e Leonor Machado); Distúrbios de Leitura e Escrita (Santos &
Navas, 2002); Manual de Leitura Correctiva (Condemarim & Blomquistm 1986); Dislexia –
Cadernos 1, 2, 3, e 4 (Helena Serra); Entre outros …

ƒ Exercícios de leitura e escrita:


- Leitura e escrita de palavras, frases e textos (adequadas ao nível da dificuldade; com sílabas
de progressiva complexidade: cv; vc; cvc; ccv; …).
- Leitura e escrita de pseudopalavras (adequadas ao nível da dificuldade; com sílabas de
progressiva complexidade: cv; vc; cvc; ccv; …).
- Análise compreensiva da informação lida.
- Escrita: Composições, ditado de palavras, ordenar frases, completar frases e/ou palavras,
ordenar histórias, palavras cruzadas, sopa de letras, etc.
- Jogos e actividades lúdicas de leitura e escrita.

ƒ Intervenção ao nível dos efeitos secundários:


- Percepção e memória visual e auditiva; Orientação espácio-temporal; Grafomotricidade,
motricidade global, esquema corporal e lateralidade; Problemática emocional associada; Défice
atencional e hiperactividade; Problemas de linguagem ou articulatórios; Etc.

ƒ Exercícios não recomendáveis:


- Ditados, cópias, escrita repetitiva das palavras que errou.

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 17


Medidas Educativas Especiais

- DECRETO-LEI n.º 3/2008 – “Necessidades Educativas Especiais”

Este DL define os apoios especializados a prestar na educação pré-escolar e nos ensinos básico e
secundário dos sectores público, particular e cooperativo, visando a criação de condições para a
adequação do processo educativo às necessidades educativas especiais dos alunos com limitações
significativas ao nível da actividade e da participação num ou vários domínios de vida, decorrentes
de alterações funcionais e estruturais, de carácter permanente, resultando em dificuldades continuadas
ao nível da comunicação, da aprendizagem, da mobilidade, da autonomia, do relacionamento interpessoal e
da participação social.

Medidas Educativas - Artigo 16.º - Adequação do Processo de Ensino e de Aprendizagem


a) Apoio Pedagógico Personalizado
b) Adequações Curriculares Individuais (*)
c) Adequações no Processo de Matrícula
d) Adequações no Processo de Avaliação
e) Currículo Específico Individual (*)
f) Tecnologias de Apoio
(*) – Não cumuláveis entre si

- DESPACHO NORMATIVO n.º 14/2007 – “Regulamento dos Exames Nacionais”

(…) 18.1.3 — “Os alunos com desordens a nível do desenvolvimento da linguagem — dislexia —,
devidamente comprovadas, que apresentaram limitações na fase de aquisição das aprendizagens e
competências da leitura e da escrita diagnosticadas até ao final do 2º ciclo do ensino básico e que
exigiram medidas do regime educativo especial, consignadas em plano educativo individual, podem
beneficiar, para efeitos de não penalização na classificação das provas de exame, de condições
especiais na sua correcção/classificação.”

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 18


Bibliografia Recomendada para a Dislexia
Albuquerque, C. P. (2003). A avaliação do processamento fonológico nas dificuldades de aprendizagem da leitura.
Psychologica, 34, 155-176.

Artigas, J. (2000). Disfunción cognitiva en la dislexia. Revista de Neurologia Clínica, 1, 115-124.

Breier, J. I., et al. (2003). Abnormal activation of temporoparietal language areas during phonetic analysis in children with
dyslexia. Neuropsychology, 17 (4), 610-621.

Bryant, P., & Bradley, L. (1987). Problemas de leitura na criança. Porto Alegre: Artes Médicas.

Capovilla, A. G., Gutschow, C. R., & Capovilla, F. C. (2004). Habilidades cognitivas que predizem competências de leitura e
escrita. Psicologia: Teoria e Prática, 6(2), 13-26.

Castle, A., & Coltheart, M. (1993). Varieties of developmental dyslexia. Cognition, 47, 149-180.

Cervera-Mérida, J. E., & Ygual-Fernández, A. (2006). Una propuesta de intervención en trastornos disortográficos
atendiendo a la semiología del os errores. Revista de Neurología Clínica, 42, 117-126.

Citoler, S. D. (1996). Las dificultades de aprendizaje. Un enfoque cognitivo: Lectura, escritura, matematicas. Malaga:
Ediciones Aljibe.

Coltheart, M. (1996). Phonological dyslexia. Erlbaum: Psychology Press.

Condemarin, M., & Blomquist, M. (1986). Dislexia – Manual de leitura correctiva. Porto Alegre: Artes Médicas.

Condemarin, M., & Chadwick, M. (1987). A escrita criativa e formal. Porto Alegre: Artes Médicas.

Correia, L. M. (1997). Alunos com necessidades educativas especiais nas classes regulares. Porto: Porto Editora.

Correia, L. M. (2004). Problematização das dificuldades de aprendizagem nas necessidades educativas especiais. Análise
Psicológica, 22(2), 369-376.

Cruz, V. (1999). Dificuldades de aprendizagem: Fundamentos. Porto: Porto Editora.

Ellis, A. W. (1993). Reading, writing and dyslexia : A cognitive analysis. Hillsdale: Lawrence Erlbaum Associates.

Etchepareborda, M. C. (2003). La intervención en los trastornos disléxicos: Entranamiento de la consciência fonológica.


Revista de Neurologia Clínica, 36, 13-19.

Fisher, S. E., & DeFries, J. C. (2002). Developmental dyslexia: Genetic dissection of a complex cognitive trait. Neuroscience,
3, 767-780.

Fonseca, V. (1984). Uma introdução às dificuldades de aprendizagem. Lisboa: Editorial Notícias.

Fonseca, V. (1999). Insucesso Escolar: Abordagem psicopedagógica das dificuldades de aprendizagem. Lisboa: Âncora
Editora.

Fonseca, V. (2002). Dislexia, cognição e aprendizagem: Uma abordagem neuropsicológica às dificuldades de aprendizagem
na leitura. Cadernos da APDIS, 1, 10-23.

Frith, U. (1997). Brain, mind and behaviour in dyslexia. In C. Hulme & M. Snowling (Eds.), Dyslexia: Biology, cognition and
intervention (pp. 1-19). London: Whurr Publishers Ltd.

Hennigh, K. A. (2003). Compreender a dislexia. Porto: Porto Editora.

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 19


Hulme, C., & Snowling, M. (Eds.) (1997). Dyslexia: Biology, cognition and intervention. London: Whurr Publishers.

Jordan, D. R. (1996). Overcoming dyslexia in children, adolescents and adults. Texas: Pro-Ed Publishers.

Lopes, J. A. (2005). Dificuldades de aprendizagem da leitura e da escrita: Perspectivas de avaliação e intervenção. Porto:
Edições Asa.

Lopes, J. A., Velásquez, M. G., Fernandes, P. P., & Bártolo, V. N. (2004). Aprendizagem, ensino e dificuldades da leitura.
Coimbra: Quarteto.

Lyon, G. R., Shaywitz, S. E., & Shaywitz, B. A. (2003). Defining dyslexia, comorbidity, teachers’ knowledge of language and
reading. Annals of Dyslexia, 53, 1-14.

Morgan, A. E., & Hynd, G. W. (1998). Dyslexia, neurolinguistic ability, and anatomical variation of the planum temporale.
Neuropsychology Review, 8, 79-93.

Ramus, F., Rosen, S., Dakin, S. C., Day, B. L., Castellote, J. M., White, S., & Frith, U. (2003). Theories of developmental
dyslexia: Insights from a multiple case of dyslexic adults. Brain, 126, 841-865.

Raposo, N. V., Bidarra, M. G., & Festas, M. I. (1998). Dificuldades de desenvolvimento e aprendizagem. Lisboa:
Universidade Aberta.

Rayner, K. (1999). What have we learned about eye movements during reading?. In R. M. Klein & P. McMullen (Eds.),
Converging methods for understanding reading and dyslexia (pp. 23-56). Massachusetts: The MTI Press.

Rebelo, J. A. S. (1993). Dificuldades da leitura e da escrita em alunos do ensino básico. Porto: Edições ASA.

Ribeiro, A. B., & Baptista, A. N. (2006). Dislexia: Compreensão, avaliação, estratégias. Coimbra: Quarteto.

Ritzen, P. D., & Debray, F. J. (1981). Como despistar uma dislexia num jovem estudante. Lisboa: Morais Editores.

Santos, M. T. M., & Navas, A. L. G. P. (Eds.) (2002). Distúrbios de leitura e escrita: Teoria e prática. São Paulo: Editora
Manole.

Shaywitz, S. (2005). Overcoming Dyslexia: A New and Complete Science-Based Program for Reading Problems at Any
Level. New York: Vintage Books.

Shaywitz, S. E., Shaywitz, B. A., et al. (1998). Functional disruption in the organization of the brain for reading in dyslexia.
Neurobiology, 95, 2636-2641.

Shaywitz, S. E., et al. (2001). Neuroimaging studies of reading development and reading disability. Learning Disabilities
Research & Practice, 16, 240-249.

Sim-Sim, I. (2006). Ler e ensinar a ler. Porto: Edições Asa.

Snowling, M. J. (2000). Dyslexia. Oxford: Blackwell Publishers Ltd.

Snowling, M. J. (2006). Language skills and learning to read: The dyslexia spectrum. In M. J. Snowling & J. Stackhouse
(Eds.), Dyslexia, Speech and Language: A Practitioner's Handbook (pp. 1-14). Chichester: Wiley.

Snowling, M. J., & Hulme, S. (2005). The Science of Reading: A handbook. Oxford: Blackwell Publishers Ltd.

Teles, P. (2004). Dislexia: Como identificar? Como intervir?. Revista Portuguesa de Clínica Geral, 20, 713-730.

Torres, R. M. R., & Fernández, P. (2001). Dislexia, disortografia e disgrafia. Lisboa: McGraw-Hill.

Vellutino, F. R. (1987). Dyslexia. Scientific American, 256 (3), 34-41.

Vellutino, F. R., Fletcher, J. M., Snowling, M. J., & Scanlon, D. M. (2004). Specific reading disability (dyslexia): What have we
learned in the past four decades?. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 45(1), 2-40.

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 20


Viana, F. L. (2005). Avaliação e intervenção em dificuldades de aprendizagem da leitura. In M. C. Taveira (Ed.), Psicologia
escolar: Uma proposta científico-pedagógica. Coimbra: Quarteto.

Endereços da Internet
Portal da Dislexia Learning Disabilities Association
www.dislexia-pt.com www.ldaamerica.org

The International Dyslexia Association Center for Dyslexia


www.interdys.com http://dyslexia.mtsu.edu

Dyslexia International Dyslexia Parents Resource


www.ditt-online.org www.dyslexia-parent.com

National Institute of Neurological Disorders and Stroke Associação Brasileira de Dislexia


www.ninds.nih.gov/disorders/dyslexia/dyslexia.htm www.dislexia.org.br

National Institute of Child Health & Human Development Associação Portuguesa de Dislexia
www.nichd.nih.gov www.apdis.com

National Research Center on Learning Disabilities


www.nrcld.org/

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 21


Perturbação da Escrita – Disortografia

ƒ Perturbação que afecta as aptidões da escrita, onde se observa um conjunto de défices na


capacidade da criança para compor textos escritos, evidenciando erros gramaticais ou de
pontuação na elaboração das frases, organização pobre dos parágrafos, múltiplos erros de
ortografia e uma grafia excessivamente deficitária (DSM-IV-TR, 2002).

ƒ Os erros ortográficos ocorrem de forma sistemática e recorrente, podendo provocar a total


ininteligibilidade dos escritos. Verificam-se omissões, adições, substituições e inversões de letras e
sílabas. Dificuldades em descodificar o som com o grafema correspondente.

ƒ Perturbação que afecta a componente da escrita, onde se observam dificuldades na:


1 – Organização das ideias no texto
2 – Erros ortográficos feitos de forma sistemática e recorrente
3 – Má qualidade gráfica

Critérios de Diagnóstico de Perturbação da Escrita segundo o DSM-IV

A. As aptidões de escrita, medidas através de provas normalizadas (ou avaliações funcionais das
aptidões da escrita), aplicadas individualmente, situam-se substancialmente abaixo do nível
esperado para a idade cronológica do sujeito, quociente de inteligência e escolaridade própria
para a sua idade.

B. A perturbação do critério A interfere significativamente com o rendimento escolar ou actividade


da vida quotidiana que requerem a composição de textos escritos (por exemplo, frases escritas
gramaticalmente correctas e parágrafos organizados).

C. Se estiver presente um défice sensorial, as dificuldades nas aptidões de escrita são excessivas
em relação às que lhe estariam habitualmente associadas.

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 22


Perturbação do Cálculo – Discalculia

ƒ (latim) - DYS = dificuldade, estado de disfunção + CALCULUS = realização de cálculos

ƒ A discalculia encontra-se sobretudo em crianças, é de carácter desenvolvimental, não resulta de


uma lesão cerebral ou de défices intelectuais e manifesta-se através de dificuldades nas operações
matemáticas básicas, tais como quantificação, numeração e cálculo aritmético.

ƒ A discalculia é uma perturbação estrutural da capacidade matemática que tem a sua origem numa
alteração genética ou congénita das áreas do cérebro que estão anatómica e fisiologicamente na
base da maturidade das competências matemáticas adequadas para a idade sem se observar
simultaneamente qualquer perturbação do funcionamento mental. [Kosc, L. (1974). Developmental
dyscalculia. Journal of Learning Disabilities, 7, 46-59.]

Prevalência:
ƒ 1% segundo o DSM-IV e surge isoladamente em 1 em cada 5 casos de Perturbação da
Aprendizagem.
ƒ 3% a 6% segundo vários outros autores e investigações.
ƒ Percentagem semelhante entre rapazes e raparigas.
ƒ ¼ das discalculias apresentam uma comorbilidade com a dislexia e a hiperactividade.

Sinais Indicadores:
ƒ Dificuldades em contar e associar ao respectivo número.
ƒ Dificuldades na compreensão da quantidade, do conceito de medida (maior/menor;
pesado/leve, 1kg=4x250g, ...), etc.
ƒ Dificuldade ou resultados inconsistentes nas operações matemáticas básicas (+, -, x, :).
ƒ Dificuldade no cálculo e raciocínio matemático.
ƒ Dificuldades na compreensão da linguagem matemática e dos símbolos e em recordar
conceitos matemáticos, regras, fórmulas, unidades matemáticas e sequências.
ƒ Quando escreve, lê ou se recorda de números estes frequentemente surgem errados (adição,
substituição, omissão e inversão de números).
ƒ Dificuldades em lidar com o dinheiro e com conceitos monetários.

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 23


ƒ Problemas em copiar números e/ou desenhos geométricos, ou de os reproduzir após
memorização.
ƒ Dificuldade na compreensão de conceitos abstractos de tempo e na orientação espacio-
temporal (dificuldade em aprender as horas, esquece-se de compromissos agendados,
desorienta-se com facilidade e dificuldades em compreender mapas).
ƒ Dificuldades em compreender conceitos de peso, direcções, espaço e tempo.
ƒ Reduzida memória de curto e longo prazo.
ƒ Dificuldade em planear estratégias em jogos como o xadrez, damas, etc., ou de se lembrar de
pontuações de jogos de cartas, bowling, jogos de tabuleiro, etc.
ƒ Entre outros sintomas ...

Bibliografia Recomendada para a Discalculia e Disgrafia


Butterworth, B. (2005a). The development of arithmetical abilities. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 46, 3-18.

Butterworth, B. (2005b). Developmental dyscalculia. In J. I. D. Campbell (Ed.), The handbook of mathematical cognition (pp.
455-467). New York: Psychology Press.

Butterworth, B., & Yeo, D. (2004). Dyscalculia guidance: Helping pupils with specific learning difficulties in maths. David
Fulton Publishers.

DfES (2001). Guidance to support pupils with dyslexia and dyscalculia (No. DfES 0512/2001). London: Department for
Education and Skills.

Geary, D. C., & Hoard, M. K. (2001). Numerical and arithmetical deficits in learning-disabled children: Relation to dyscalculia
and dyslexia. Aphasiology, 15, 635-647.

Hamstra-Bletz, L., & Blote, A. W. (1993). A longitudinal study on dysgraphic handwriting in primary school. Journal of
Leaning Disabilities, 26, 689-699.

Kadosh, R. C., Kadosh, K. C., Kaas, A., Henik, A., & Goebel, R. (2007). Notation-dependent and -independent
representations of numbers in the parietal lobes. Neuron, 53(2), 307-314.

Kosc, L. (1974). Developmental dyscalculia. Journal of Learning Disabilities, 7, 46-59.

Portallano Pérez, J. A. (1985). La disgrafia: Concepto diagnóstico y tratamiento de los trastornos de escritura. Madrid:
CEPE.

Poustie, J. (2001). Mathematics solutions: An introduction to dyscalculia. London: Next Generation.

Shalev, R. S. (2004). Developmental dyscalculia. Journal of Child Neurology, 19, 765-771.

Shalev, R. S., Manor, O., Kerem, B., Ayali, M., & Badichi, N. (2001). Developmental dyscalculia is a familial learning
disability. Journal of Learning Disabilities, 34, 59-65.

Torres, R. M. R., & Fernández, P. (2001). Dislexia, disortografia e disgrafia. Lisboa: McGraw-Hill.

Formador: Octávio Moura | www.dislexia-pt.com | Pág. 24


CASO PRÁTICO

Nome: SL (sexo feminino)


Idade: 8 anos
Escolaridade: 2º ano

Os pais da SL recorreram à consulta de dislexia em Junho para tentarem compreender as


causas associadas a algumas trocas de letras que a filha tem exibido desde o 1º ano de
escolaridade. Os dados anamnésicos obtidos no decurso da 1ª consulta foram os seguintes:

A SL começou a dizer as primeiras palavras por volta de um ano de idade e não apresentou
qualquer problema de linguagem. Frequentou o infantário, as educadoras não detectaram qualquer
problema (nas canções infantis e nas lenga-lengas).

A SL encontra-se presentemente no 2º ano de escolaridade, sem qualquer retenção, sem


apoio de uma professora do ensino especial, muito embora a professora já vá referindo que no final
do ano lectivo a SL vai ter que reter pois não tem conseguido atingir os objectivos mínimos
propostos.

No 1º ano de escolaridade o método pedagógico utilizado pela anterior professora foi o


método global-analítico. Esta professora faltava muito por motivos de doença o que prejudicou, de
certa forma, a automatização das competências de leitura e escrita a todos os alunos da turma.

Os pais referem que a SL durante o primeiro ano escolar trocava muito as seguintes letras e
n.º: b-d; m-n; p-q; 6-9. Presentemente, e ainda segundo os pais as trocas situam-se apenas no b-
d, tendo já conseguido ultrapassar as restantes. A nível visual e auditivo, já foram efectuados
exames médicos, não sendo detectado qualquer problema sensorial.

Acrescente-se que a SL viveu até aos 3 anos em França (os pais eram emigrantes), muito
embora só domine a língua portuguesa, conhecendo muito poucas palavras francesas. Por outro
lado, o irmão (agora com 23 anos) teve, segundo os pais, problemas de aprendizagem da leitura
na escola em França, uma vez que também trocava o b-d. Aos 8 anos de idade foi diagnosticado
disléxico e após 3 meses de intervenção numa ortofonista francesa o seu problema foi corrigido,
sendo que actualmente não apresenta qualquer problemática no domínio da literacia.

Por fim, refira-se que a SL é uma criança que denota paralelamente algumas dificuldades na
compreensão dos problemas matemáticos, é bastante distraída e pouco concentrada, sendo
igualmente bastante extrovertida e simpática.

1. Perante esta problemática quais as preocupações a ter neste caso específico? Que
áreas seriam as mais indicadas a serem avaliadas numa segunda consulta?
CASO PRÁTICO

Nome: A. M. (sexo masculino)


Idade: 9 anos
Escolaridade: 3ª ano (com aprendizagens ao nível do 2º ano)

CARACTERIZAÇÃO DESENVOLVIMENTAL:

A gravidez foi normal, com acompanhamento médico e sem complicações. O parto foi
normal, o bebé chorou logo que nasceu e não foi detectada qualquer doença. A mãe teve
depressão pós-parto, ainda toma medicamentos pois tem frequentes depressões.

O A.M. foi sempre uma criança sossegada, começou a andar ao 15 meses e começou a dizer
as primeiras palavras por volta dos 2 anos. Ao nível da linguagem não teve qualquer problema
articulatório. Deixou as fraldas cedo, não tendo qualquer problema de enurese e encoprese. O seu
sono era bastante agitado, falava durante o sono, tinha pesadelos e medo do escuro e dos sonhos.

Desde os 5 meses de idade foi para uma ama, a sua adaptação foi difícil, pois não comia,
dormia e chorava frequentemente. Ao fim de 3 meses estava bastante magro e teve anemia. Aos 2
anos foi para o infantário, a situação de adaptação piorou pois ia sempre contrariado, queria ficar
em casa a brincar.

No seu historial médico teve diversas crises de garganta associada a febre alta, teve
varicela, bem como esteve internado no Hospital S. João devido a uma gastroentrite. Não tem
qualquer tipo de problema visual ou auditivo.

CARACTERIZAÇÃO FAMILIAR:

Os pais do A.M. têm como habilitações literárias a 4ª classe, não sendo conhecidos casos de
dislexia na família, muito embora, os elementos da família alargada do lado materno e paterno não
tenham uma grande escolaridade, sendo conhecidos casos de elementos com bastantes
dificuldades de aprendizagem. O A.M. tem uma irmã de 14 anos que frequenta o 9º ano, não tendo
qualquer retenção. A figura materna apresenta algumas dificuldades de expressão, por vezes o seu
discurso é confuso e pouco claro, mesmo perante temáticas banais.
CARACTERIZAÇÃO SOCIAL, EMOCIONAL E ESCOLAR:

Apresenta algumas dificuldades no relacionamento interpessoal, só convive com os colegas


com quem tem mais confiança, por vezes isola-se e não gosta das brincadeiras dos colegas.

Inicialmente, rejeitou a escola, tal como aconteceu com a ama e o infantário. No início do 1º
ano de escolaridade desenvolveu alguns sintomas psicossomáticos, nomeadamente o vomitar
frequente e encoprese. Actualmente ainda se verificam esporadicamente alguns episódios de
encoprese, essencialmente perante situações ansiogénicas e perante actividades ou contextos
novos que alteram o seu ritmo normal (tem frequentado acompanhamento psicológico no Hospital
Pediátrico Maria Pia – Porto).

Na escola, começou desde logo a revelar muitas dificuldades na aprendizagem das letras,
não as conseguindo identificar todas. Só no 2º ano é que começou a ler as sílabas mais simples e
só mais tarde iniciou a leitura de algumas palavras (tais como: casa, carro, menino, etc.).
Actualmente ainda está na leitura silábica, sem ritmo, só conseguindo ler as palavras mais simples.
Só com muita ajuda é que lê pequenas frases, mas tem muitas dificuldades em compreender o seu
conteúdo, uma vez que demora muito tempo na descodificação das palavras. A escrita encontra-se
ao mesmo nível da leitura, apresenta imensos erros, tornando-se por vezes difícil de compreender
o que escreve. A qualidade da sua grafia é deficiente, aparecendo disforme, rasurada e irregular.
Na matemática consegue melhores desempenhos, muito embora, ainda não se encontre ao nível
dos restantes colegas.

1. Perante esta caracterização qual a avaliação psicológica que empreenderia para o


diagnóstico deste possível caso de dislexia?
RESULTADOS DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

WISC-R:
Informação = 6 Compl. Gravuras = 12 QI TOTAL = 88
Compreensão = 9 Dispos. Gravuras = 14 QI VERBAL = 78
Aritmética = 6 Cubos = 10 QI REALIZAÇÃO = 101
Semelhanças = 6 Comp. Objectos = 6
Vocabulário = 7 Código = 9
(Memória de Dígitos) = 6 (Labirintos) = 16

Figura Complexa de Rey:


CÓPIA: MEMÓRIA:
Percentil = 53 Percentil = 10
Rotação de 90º da figura complexa

Teste de Retenção Visual de Benton:


Nível de Desempenho = Limite

Reversal Test:
Percentil ≅ 73
8 erros de simetria direita/esquerda = 40% erros

Wepman Auditory Discrimination Test:


Boa discriminação auditiva = 1 erro |b| - |v| em 38 itens.

Avaliação da Linguagem Oral – ALO (Sim-Sim, 2001):

Pontuação Total PERCENTIL

1. Definição Verbal 27.5 10

3. Compreensão de Estruturas Complexas 25 25

4. Complemento de Frases 21 10

5. Reflexão Morfo-Sintática 47 77.5

6. Segmentação e Reconstrução Segmental

Bloco B – Reconstrução Fonémica 5 10

Bloco D – Segmentação Fonémica 6 40


Avaliação Psicopedagógica:
(VER AS FOLHAS ANEXAS)
- Avaliação das competências de leitura e escrita
- Velocidade de leitura
- Tipologia dos erros
- Análise interpretativa
- Estrutura frásica
- Etc.

Prova Exploratória de Dislexia Específica – PEDE (Condemarin & Blomquist):


I – NÍVEL DE LEITURA
1º Nível de leitura = não aplicado
2º Nível de leitura = 12 erros
3º Nível de leitura = 9 erros
II – ERROS ESPECÍFICOS
1 – Letras passíveis de serem confundidas pelo som no início da palavras = 0 erros
2 – Letras confundíveis por grafia semelhante = 4 erros
3 – Inversões de letras = 4 erros
4 – Inversões de palavras completas = 4 erros
5 – Inversões de letras dentro da palavra = 6 erros
6 – Inversões de ordem da sílaba dentro da palavra = 2 erros

2. Perante os resultados desta avaliação estaremos perante qual diagnóstico?

3. Quais as medidas de intervenção reeducativa que implementaria?

4. Quais as medidas educativas especiais que sugeria ao contexto escolar?

Você também pode gostar