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MÉTODOS TRADICIONAIS DE

ALFABETIZAÇÃO
Prof.ª Flávia Santana Araújo
Métodos tradicionais de alfabetização
(MORAIS, 2005)
• Os métodos tradicionais de alfabetização entendem o sistema
alfabético como um código, ou seja, o estudante deve aprender o
sistema de escrita alfabética para decodificar textos.
• Para alcançar tal feito, algumas habilidades “psiconeurológicas” ou
perceptivo-motoras” precisariam ser desenvolvidas.
• “Como a escrita alfabética era concebida como um código, para
memorizar e associar as letras aos sons, os alunos deveriam alcançar
um estado de ‘prontidão’.” (MORAIS, 2007, p. 39)
• Isso equivale dizer que bastava o aluno fazer a correta
correspondência letra-som para estar alfabetizado.
Métodos tradicionais sintéticos
Os métodos sintéticos partem de unidades
menores para posteriormente analisar unidades
maiores. São eles:
1. Alfabético;
2. Fônico;
3. Silabação.
Método alfabético (soletração)
• Empregado desde a antiguidade até meados do século XIX, em vários locais
cujo sistema de escrita é o alfabético, pode ser considerado o mais antigo
método de alfabetização.
• Em sua estrutura mais básica, propõe aprender os nomes das letras do
alfabeto, reconhecer cada letra fora da ordem, soletrar seu nome, decorar
alguns quadros de sílabas e depois tentar redescobri-las em palavras ou
textos, a partir da soletração – com separação por hífens ou espaços que
vão guiando a oralização.
• A soletração/deletreação significa dizer o nome das letras ao visualizar
sílabas e palavras, com o objetivo de se traduzir em sons uma palavra.
• Várias críticas ao método têm destacado a memorização e a falta de sentido.
A pronúncia do nome da letra afasta o aprendiz do significado da palavra
que ele soletra.
Método fônico (fonêmico)
• Este método surge como uma reação às críticas à soletração, e seu uso é
mencionado na França, por Vallange, em 1719; na Alemanha, por Enrique
Stefhani, em 1803; e é trabalhado por Montessori, na Itália, em 1907.
• O ensino se inicia pela forma e pelo som das vogais, seguidas pelas consoantes.
Cada letra (grafema) é aprendida como um som (fonema) que, junto a outros
fonemas, pode formar sílabas e palavras. Para o ensino dos sons, há uma
sequência que deve ser respeitada – dos mais simples para os mais complexos.
• O destaque ao fonema isolado é ainda hoje empregado em alguns materiais que
utilizam cartazes com figuras que ajudem a destacar a letra e seu som em posição
inicial e o fonema em posição final (Programa Alfa e Beto).
• Uma das principais críticas dirigidas a esse método de alfabetização refere-se à
impossibilidade de que um fonema que aparece na corrente da fala de forma
contextualizada seja pronunciado sem apoio de uma vogal.
Método silábico
• O método silábico se caracteriza pela apresentação visual de sílabas prontas,
sem forçar a articulação das consoantes com as vogais, e sem destacar as
partes que compõem a sílaba. O princípio básico é que a consoante só pode
ser emitida se apoiada na vogal; logo, somente a sílaba (e não as letras)
pode servir como unidade linguística para o ensino inicial da leitura.
• Em várias cartilhas, o trabalho inicial centra-se nas vogais e em seus
encontros, como uma das condições para a sistematização posterior das
sílabas. Muitas delas apresentam desenhos e palavras-chave cujas sílabas
iniciais, realçadas em outras cores e tipos gráficos, são apenas apresentadas
e depois destacadas das palavras e memorizadas em grupos silábicos.
• O método silábico atende a um princípio importante e facilitador da
aprendizagem: quando falamos, pronunciamos sílabas, e não letras ou sons
separados, e opera com um fragmento que pode ser reconhecido sem
preocupação sobre sua relação direta com o som da fala.
Métodos tradicionais analíticos
Já os métodos analíticos partem de unidades
significativas da linguagem para chegar a unidades
menores. São eles:
1. Palavração;
2. Sentenciação;
3. Método global (de contos ou historietas);
4. Método natural (ou de imersão).
Palavração
• Comênio é apontado como introdutor do método da palavração, por volta
da segunda metade do século XVII.
• As palavras são apresentadas em agrupamentos e os alunos aprendem a
reconhecê-las pela visualização e pela configuração gráfica. Para o
desenvolvimento de atividades, são utilizados como procedimentos cartões
para fixação, com palavras de um lado e figuras de outro; exercícios para o
ensino do movimento de escrita de cada palavra, entre outros.
• Ao mesmo tempo em que são incentivadas estratégias de leitura inteligente,
a atenção do aluno pode ser dirigida a detalhes da palavra.
• Algumas das vantagens deste método são: a ligação entre a palavra e a
unidade do pensamento (percepção de ideias); a ênfase no significado; a
busca de leitura como fonte de prazer e informação.
Sentenciação
• O método de sentenciação enfatiza a sentença como unidade que, depois de
reconhecida e compreendida globalmente, será decomposta em palavras e,
finalmente, em sílabas. Outra prática é a estratégia de comparar palavras e
isolar elementos nelas reconhecidos, para ler e escrever palavras novas.
• Braslavsky descreve o método da frase com um significado similar
ao método de sentenciação, destacando que nele se faz o uso de um grupo
de palavras com sentido desde o começo da alfabetização.
• Como principais desvantagens dos métodos baseados em palavras
apontam-se as falhas na aprendizagem de palavras novas, se os professores
mantêm a simples visualização, sem incentivar a análise e o reconhecimento
de partes da palavra. Atualmente, é comum a utilização, nas classes de
alfabetização, de palavras estáveis.
Global (de contos ou historietas)
• No final do século XIX e início do XX, o método global encontra sólido apoio na teoria de
Decroly, para quem a aprendizagem das crianças ocorreria através de observações,
associação e expressão de ideias. É possível verificar pontos comuns entre os defensores
dos métodos globais:
1) a linguagem funciona como um todo e as partes somente têm sentido em função de
uma unidade;
2) existe um princípio de sincretismo no pensamento infantil: primeiro percebe-se o todo
e depois as partes;
3) os métodos de alfabetização devem priorizar a compreensão;
4) no ato da leitura, o leitor utiliza estratégias globais de reconhecimento;
5) o aprendizado da escrita não pode ser feito por fragmentos de palavras, mas por seu
significado;
6) a escola tem que acompanhar os interesses, a linguagem e o universo infantil e,
portanto, as palavras percebidas globalmente também devem ser familiares e ter
sentido para a criança.
Método natural (ou de imersão)
• Segundo Gilda Rizzo Soares, o método natural foi implementado no Brasil
em 1946, no Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Sua análise
comparativa de métodos de alfabetização apontou relações entre método
global e método natural, com algumas diferenças: no segundo, haveria uma
produção mais “espontânea” de textos, escritos pelas crianças, a partir de
um repertório mínimo de palavras conhecidas pela classe.
• No método natural de Freinet as crianças escrevem porque é preciso realizar
um jornal escolar e trocar correspondências, e não apenas para cumprir
uma atividade escolar, escrevendo para pessoas que estão presentes.
• No método natural denominado linguagem integral por Ana Teberosky e
Teresa Colomer acredita-se que as crianças aprendem a ler e a escrever em
situações de imersão em seus diversos usos sociais, em situações
comunicativas e em intercâmbios em sala de aula.
O que é ser alfabetizado? E letrado?
(REBELLO, 2015)
• Alfabetizado é quem sabe ler e escrever; letrado é quem possui uma
boa compreensão leitora e produz textos dos mais variados gêneros e
temas adequados aos contextos sociais em que se inserem.
• Um indivíduo letrado não é necessariamente alfabetizado, pois
interage em contextos de letramento, mesmo sem saber ler e escrever.
• Da mesma forma, uma pessoa pode ser alfabetizada e não ser letrada,
se não tiver domínio das funções sociais da escrita em contextos
diversos.
• É necessário, cada vez mais, tornar o ensino do SEA significativo para o
estudante, propiciando o desenvolvimento de habilidades de
leitura/escrita cada vez mais aprimoradas.
Ensino do SEA na perspectiva do letramento
(REBELLO, 2015)
“Letrar é mais que alfabetizar. A alfabetização deve se
desenvolver em um contexto de letramento como início da
aprendizagem da escrita, como desenvolvimento de
habilidades de uso da leitura e da escrita nas práticas sociais.
Alfabetizar letrando é, portanto, ensinar a ler e escrever o
mundo, ou seja, no contexto das práticas sociais da leitura e
da escrita, tendo em vista que a linguagem é um fenômeno
social.” (p. 245-246)
Para refletir...

Por que Mafalda pede à professora para ensinar “coisas realmente importantes”?
BIBLIOGRAFIA
Texto-base:
GALVÃO, Andréa; LEAL, Telma Ferraz. Há lugar ainda para métodos de
alfabetização? Conversa com professores(as). In: MORAIS, Artur Gomes
de; ALBUQUERQUE, Eliana Borges Correia de; LEAL, Telma Ferraz
(orgs.). Alfabetização: apropriação do sistema de escrita alfabética.
Belo Horizonte: Autêntica, 2005. Disponível em:
<http://www.serdigital.com.br/gerenciador/clientes/ceel/arquivos/20.
pdf> Acesso em: 22 jul. 2016.
BIBLIOGRAFIA
Textos complementares:
✓Glossário CEALE (vários verbetes). Disponível em:
http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale. Acesso em: 15 set. 2017.
✓MORAIS, Artur Gomes de. Se a escrita alfabética é um sistema notacional (e não um
código), que implicações isso tem para a alfabetização? In: MORAIS, Artur Gomes de;
ALBUQUERQUE, Eliana Borges de; LEAL, Telma Ferraz. Alfabetização: apropriação do
sistema de escrita alfabética. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. Disponível em:
<http://www.serdigital.com.br/gerenciador/clientes/ceel/arquivos/20.pdf> Acesso
em: 22 jul. 2016.
✓REBELLO, Ilana da Silva. O papel social da leitura e da escrita: a questão do
letramento. Caderno Seminal Digital, ano 21, nº 24, v. 1, jul.-dez. 2015. Disponível
em: <http://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/cadernoseminal/article/view/20326/15058>. Acesso
em: 22 jul. 2016.

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