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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA CONTAGEM

CURSO DE PSICOLOGIA

ALESSANDRA LEITE RAMALHO LACERDA


ALICE LEITE RAMALHO LACERDA
DIRCILEIA SANTOS DE PAULA

ARQUÉTIPOS DA TEORIA DE JUNG E A SUA APLICAÇÃO NA


PRÁTICA CLÍNICA

Contagem

2022/1
ALESSANDRA LEITE RAMALHO LACERDA
ALICE LEITE RAMALHO LACERDA
DIRCILEIA SANTOS DE PAULA

ARQUÉTIPOS DA TEORIA DE JUNG E A SUA APLICAÇÃO NA


PRÁTICA CLÍNICA

Trabalho de Conclusão de Curso


(Modalidade Artigo Científico)
apresentado ao curso de Psicologia do
Centro Universitário UNA Contagem,
como requisito parcial para a obtenção
de título de bacharelado em Psicologia.

Orientador(a): Prof. Me. Luiz Felipe


Viana Cardoso

Contagem

2022/1

ATA DE APROVAÇÃO

1
ALESSANDRA LEITE RAMALHO LACERDA
ALICE LEITE RAMALHO LACERDA
DIRCILEIA SANTOS DE PAULA

ARQUÉTIPOS DA TEORIA DE JUNG E A SUA APLICAÇÃO NA


PRÁTICA CLÍNICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito de avaliação para a


obtenção do título de bacharel em Psicologia do Centro Universitário UNA Contagem.

Orientador: Prof. Me. Luiz Felipe Viana Cardoso


Linha de Pesquisa: Cultura e Subjetividade

Banca examinadora:

Prof. Me. Luiz Felipe Viana Cardoso


Centro Universitário UNA Contagem

Emerson Albino de Freitas Souza


Universidade Federal de São João del-Rei

Belo Horizonte, 23 de junho de 2022


AGRADECIMENTOS

Agradecemos aos nossos familiares, ao nosso professor orientador e ao grupo pela


finalização do trabalho.
SUMÁRIO

ARQUÉTIPOS DA TEORIA DE JUNG E A SUA APLICAÇÃO NA PRÁTICA CLÍNICA


7
Resumo 7
Abstract 7
Resumen 7
Introdução 7
Metodologia 8
A Psicologia Analítica e o Inconsciente Coletivo 9
Prática Clínica na Psicologia Analítica e Arquétipos 12
Considerações Finais 15
Referências Bibliográficas 16
ARQUÉTIPOS DA TEORIA DE JUNG E A SUA APLICAÇÃO NA PRÁTICA
CLÍNICA1
ARCHETYPES OF JUNG'S THEORY AND ITS APPLICATION IN CLINICAL
PRACTICE
ARQUETIPOS DE LA TEORÍA DE JUNG Y SU APLICACIÓN EN LA
PRÁCTICA CLÍNICA

Alice Leite Ramalho Lacerda2


Alessandra Leite Ramalho Lacerda3
Dircileia Santos de Paulo4
Luiz Felipe Viana Cardoso5

Resumo
Este artigo tem como objetivo refletir sobre os arquétipos em termos da construção
teórica de Jung e a sua aplicação na prática clínica. Com o uso de técnicas expressivas
como a imaginação ativa, relaxamento, meditação, desenho, pintura, dramatização e etc,
é coletado o material simbólico para a análise do processamento simbólico. Para que os
aspectos inconscientes se tornem conscientes essa análise deve ser baseada nos
parâmetros da causalidade, finalidade e sincronicidade presentes nos eventos
simbólicos.

Palavras-chave: Arquétipos; Prática Clínica, Psicologia Junguiana; Psicologia


Analítica; Símbolos; Aplicação na Clínica.

Abstract
This article aims to reflect on the archetypes in terms of Jung's theoretical construction
and its application in clinical practice. Using expressive techniques such as active
imagination, relaxation, meditation, drawing, painting, dramatization, etc., symbolic
material is collected for the analysis of symbolic processing. For the unconscious
aspects to become conscious, this analysis must be based on the parameters of causality,
purpose and synchronicity present in the symbolic events.

Keywords: Archetypes; Clinical Practice, Jungian Psychology; Analytical Psychology;


Symbols; Application in the Clinic.
1 Artigo científico apresentado como modalidade de Trabalho de Conclusão de
Curso de graduação de Psicologia do Centro Universitário UNA Contagem.
2 Discente em Psicologia do Centro Universitário UNA Contagem. E-mail:
alessandralacerda.1368@aluno.una.br
3 Discente em Psicologia do Centro Universitário UNA Contagem. E-mail:
alicelacerda.0136@aluno.una.br
4 Discente em Psicologia do Centro Universitário UNA Contagem. E-mail:
dircileiapaula.1991@aluno.una.br
5 Docente do curso de Psicologia do Centro Universitário Una Contagem. E-mail:
luiz.cardoso@prof.una.br
Resumen
Este artículo tiene como objetivo reflexionar sobre los arquetipos en términos de la
construcción teórica de Jung y su aplicación en la práctica clínica. Utilizando técnicas
expresivas como la imaginación activa, la relajación, la meditación, el dibujo, la pintura,
la dramatización, etc., se recopila material simbólico para el análisis del procesamiento
simbólico. Para que los aspectos inconscientes se vuelvan conscientes, este análisis debe
basarse en los parámetros de causalidad, propósito y sincronicidad presentes en los
eventos simbólicos.

Palabras Clave: Arquetipos; Práctica Clínica, Psicología Jungiana; Psicología


Analítica; símbolos; Aplicación en la Clínica.

Introdução

Este artigo tem como objetivo refletir sobre os arquétipos em termos da


construção teórica de Jung e a sua aplicação na prática clínica. A Psicologia Analítica
tem como objeto central o símbolo, assim, seus estudos se expandem por caminhos
diversos, com vários conhecimentos da história da humanidade, das religiões, da
filosofia, da biologia e de muitas outras áreas, tudo para alcançar um conhecimento
mais profundo dos fenômenos psíquicos. Esses símbolos são uma totalidade que une as
polaridades do inconsciente e consciente, que podem estar em conflito, para o alcance
de uma nova perspectiva, uma nova consciência (Padua & Serbena, 2018; Serbena,
2010).
Segundo Serbena (2010), os arquétipos são estruturas que podem ser utilizadas
como elementos ou base conceitual para compreender e explorar todos os tipos de
experiências nas quais a função criativa da imaginação esteja presente. Com a nossa
busca sobre arquétipos pretendemos compreender como estes conceitos podem se
articular com prática clínica.
Compreender o funcionamento dos arquétipos na clínica é importante para não
só identificar o papel que eles fazem em situações da vida do paciente, como também o
ponto de vista dele sobre si mesmo e o mundo. Ao ter consciência do arquétipo
manifestado em sua vida, o paciente aprende a identificar os momentos que o arquétipo
se apresenta para tornar consciente elementos do inconsciente e gerar novo
conhecimento.
Metodologia

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, do tipo revisão bibliográfica. Neste tipo de


pesquisa busca-se uma compreensão acerca do fenômeno pesquisado a partir de
materiais já elaborados e presentes na literatura. Nesse sentido, a produção de dados é
composta pelo material bibliográfico consultado (GIL, 2008).
Para a inclusão do material bibliográfico foram considerados artigos científicos,
além do referencial teórico sobre o tema. Só foram incluídos artigos em português.
Foram excluídos os artigos que não possuíam relação direta com o tema pesquisado
e/ou não fizeram uma discussão a partir da psicologia analítica. Para a busca dos artigos
foram consultados os principais indexadores de produção científica, como Lilacs,
Scielo, PePsic, BVS-Psi, a partir dos descritores: psicologia analítica, Jung, arquétipos,
inconsciente coletivo. Para a análise do material encontrado fora realizado uma análise
exploratória das produções levantadas, permitindo-se chegar em categorias centrais de
análise sobre a Psicologia Analítica e prática clínica.

A Psicologia Analítica e o Inconsciente Coletivo

Para falar de arquétipos na perspectiva Junguiana é necessário discutir sobre os


conceitos do inconsciente e do inconsciente coletivo. Jung (2000) definiu o inconsciente
como a totalidade de todos os fenômenos psíquicos em que falta a qualidade da
consciência. É nele em que são guardadas as lembranças perdidas e os conteúdos que
são fracos demais para se tornarem conscientes. O que produz esses conteúdos é uma
atividade associativa inconsciente, a mesma que dá origem aos sonhos. Além deles,
também há a repressão de pensamentos e impressões incômodas, que podem ser mais ou
menos intencionais. Isso tudo é o inconsciente pessoal (Jung, 2008). Enquanto a camada
mais ou menos superficial do inconsciente é pessoal, e adquirida pelo indivíduo através
de interações com o ambiente, há uma camada mais profunda que é inata, o inconsciente
coletivo (Jung, 2000).
O inconsciente coletivo não provém de ideias e influências de tradições e
estímulos individuais, mas de disposições herdadas, que nos fazem agir da mesma
forma que aqueles que vieram antes de nós (Jung, 2000). Nos sonhos, fantasias, e no
que o Jung chamou de “estados excepcionais da mente”, temas e símbolos mitológicos
mais distantes podem surgir, em qualquer época, não só como resultado de influências
externas, mas também sem esses fatores, indicando que a consciência individual não é
absolutamente isenta de pressupostos, além das influências do ambiente, há estes fatores
herdados (Jung, 2000).
Jung sugere a base fisiológica como um dos fatores que carregam as
informações do inconsciente coletivo, pressupondo que a base dos fenômenos psíquicos
está no inconsciente coletivo, que compreende também a vida psíquica dos
antepassados, desde os seus primórdios (Jung, 2000). São incluídos no inconsciente
coletivo, também, os instintos enquanto impulsos, isto é, quando são destinados a suprir
uma necessidade interior, sem motivação consciente, e os arquétipos, tema central deste
trabalho. Jung (2000) diz que o inconsciente coletivo é idêntico em todos os seres
humanos, o que justifica o estudo de seu conteúdo e modelos de comportamento. Como
os arquétipos já têm as suas formas e só podem se tornar conscientes secundariamente,
eles projetam imagens representativas dos conteúdos da consciência. O inconsciente
pessoal é constituído principalmente de complexos, que são estados emocionais
reprimidos que podem provocar distúrbios psicológicos, e o inconsciente coletivo, é
constituído principalmente de arquétipos (Jung, 2008).
Jung (2008) critica a má interpretação dos arquétipos por aqueles a quem falta
conhecimento sobre sonhos e mitologia, pois pensam que os arquétipos expressam
imagens predefinidas, mas essas imagens são representações conscientes, e é um
absurdo pensar que tais imagens poderiam ser transmitidas hereditariamente.

O arquétipo é uma tendência para formar estas mesmas


representações de um motivo - representações que podem ter
inúmeras variações de detalhes - sem perder a sua configuração
original. Existem, por exemplo, muitas representações do
motivo irmãos inimigos, mas o motivo em si conserva-se o
mesmo. Meus críticos supuseram, erradamente, que eu desejava
referir-me a ‘representações herdadas’ e, em consequência,
rejeitaram a ideia do arquétipo como se fosse apenas uma
superstição. Não levaram em conta o fato de que se os
arquétipos fossem representações originadas em nossa
consciência (ou adquiridas por ela) nós certamente os
compreenderíamos, em lugar de nos confundirmos e
espantarmos quando se apresentam. O arquétipo é, na realidade,
uma tendência instintiva, tão marcada como o impulso das aves
para fazer seu ninho ou o das formigas para se organizarem em
colônias. (Jung, 2008, p. 67)

Portanto, é possível compreender que Jung não estava falando de uma


superstição, como ele disse que algumas pessoas interpretaram desta forma, mas apenas
deu nome à fenômenos observáveis. Por exemplo, nomeou como instintos os impulsos
fisiológicos percebidos pelos sentidos, afirmando também que esses instintos podem se
manifestar como fantasias, revelando-se através de imagens simbólicas. A estas
representações simbólicas Jung chamou de arquétipos. Não se sabe ao certo como os
arquétipos se originam, mas eles se repetem em qualquer época e lugar do mundo. Os
arquétipos são semelhantes aos complexos, assim como os complexos pessoais têm sua
história individual, os complexos sociais de caráter arquetípico têm a sua. Os arquétipos
criam mitos, religiões e filosofias, caracterizando as nações e épocas, estes mitos são
como um tipo de terapia mental generalizada para os males que afligem a humanidade
(Jung, 2008). Por isso, a clínica visa investigar esses arquétipos. Jung (2008) diz que o
ser humano só consegue obter a realização pessoal se adquirir conhecimento e aceitação
do seu próprio inconsciente.

O homem gosta de acreditar-se senhor da sua alma. Mas


enquanto for incapaz de controlar os seus humores e emoções,
ou de tornar-se consciente das inúmeras maneiras secretas pelas
quais os fatores inconscientes se insinuam nos seus projetos e
decisões, certamente não é seu próprio dono. Estes fatores
inconscientes devem sua existência à autonomia dos arquétipos.
O homem moderno, para não ver esta cisão do seu ser, protege-
se com um sistema de ‘compartimentos’. Certos aspectos da sua
vida exterior e do seu comportamento são conservados em
gavetas separadas e nunca confrontados uns com os outros
(Jung, 2008, p. 89).

Segundo Jung (2008), a linguagem do inconsciente é dada por meios de


símbolos e comunicada através dos sonhos. O que Jung chama de símbolo é um
elemento que pode ser um termo, um nome ou uma imagem, que transmite
familiaridade, tendo conotações especiais além do seu significado evidente e
convencional. O símbolo implica em alguma coisa vaga, desconhecida ou oculta. Para
uma palavra ou imagem ser considerada simbólica, ela costuma ter um aspecto mais
“inconsciente” e amplo, sendo difícil de defini-la ou explicá-la. A nossa mente racional
não é capaz de explorar um símbolo e entendê-lo por completo. O inconsciente coletivo
é povoado de símbolos, e para Jung (2008), a negligência com o inconsciente coletivo
produz perturbações. Os arquétipos não têm uma forma definida e, portanto, o mesmo
arquétipo pode ser representado por diferentes símbolos, como o arquétipo materno, que
pode surgir por meio de imagens como a madrasta, a sogra, a avó, uma deusa, a virgem,
a Terra, o jardim, a fonte etc (Jung, 2000). Jung (2008) também descreve os arquétipos
como um sentido “permanente”, que vemos nos mitos e em elementos que se repetem
em histórias contadas em diferentes épocas e regiões.
Arquétipos são representações que se projetam através de expressões simbólicas
o drama interno e inconsciente da alma. Estas representações ajudam os humanos a
compreender seu drama interno (Jung, 2000). Jung nomeou algumas dessas projeções
como conteúdo do inconsciente coletivo, que representam partes da personalidade e
momentos do drama interno. A mesma imagem pode representar arquétipos diferentes,
pois embora o conteúdo do inconsciente coletivo seja idêntico em todos os seres
humanos, a forma que ele será projetado dependerá da consciência individual de cada
pessoa (Jung, 2000).
A seguir, exemplificamos alguns arquétipos descritos por Jung (2008) e seus
significados:
O Herói e o tutor/guardião: o mito do herói é uma história que se repete em
muitas culturas, as histórias seguem sua/ jornada de descoberta, luta e superação. Em
várias dessas histórias, o herói recebe auxílio de um tutor ou guardião no começo de sua
jornada. Os guardiões são uma representação da psique total (o self), e os heróis
representam o ego (centro da consciência), que necessita do self para suprir suas faltas.
O guardião também pode ser visto como um velho sábio, uma sacerdotisa, um guru,
uma deusa, contanto que esteja nesta posição de guia do herói. A imagem do herói
evolui de maneira a refletir cada estágio de evolução da personalidade humana. É
importante frisar que a imagem do herói não é idêntica ao ego, mas que ela representa a
separação do ego dos arquétipos evocados pelas imagens dos pais na infância, onde o
ego vai emergir do self, formando a consciência individualizada durante o crescimento.
Anima/Animus: segundo Jung (2008), mulheres tem em seu inconsciente um
arquétipo que personifica seu lado masculino, chamado Animus, e homens têm o
mesmo arquétipo personificando seu lado feminino, a Anima. Cada um deles carrega
aspectos que ele relacionou à masculinidade e feminilidade, estas estariam presentes em
todas as pessoas.
Jung nomeou vários conceitos em sua teoria, alguns destes são simbólicos, e por
isso podem ser confundidos com arquétipos. Cabe destacar que arquétipos são
conteúdos do inconsciente coletivo (Jung, 2000).

Prática Clínica na Psicologia Analítica e Arquétipos

Antes de desenvolver a Psicologia Analítica, Jung trabalhava com a livre


associação usando sonhos. Para Jung (2008), é possível tomar como ponto de partida da
livre associação várias coisas, seja uma conversa ocasional, ou uma meditação sobre
uma bola de cristal. Assim, percebeu que ao se fazer livre associação a partir dos
sonhos, eles não seriam diferentes de qualquer outra referência usada para isso. Jung
deduziu que os sonhos têm uma significação própria, levando-o a prestar mais atenção
na forma e no conteúdo do sonho, concentrando-se nas associações com o próprio
sonho, sem deixar o paciente se afastar dele, como ocorre na livre associação, pois o
sonho estaria expressando algo específico do inconsciente. A partir disso, houve uma
mudança em seus métodos, assim, a nova técnica leva em conta todos os aspectos do
sonho, analisando-os. Há muitos meios de identificar complexos, mas para entender
uma pessoa como um todo, é importante avaliar a relevância de seus sonhos e imagens
simbólicas (Jung, 2008). Os sonhos passaram a ser vistos como manifestações do que o
inconsciente fazia com os complexos. Através do processo de amplificação se descobre
o contexto do conteúdo do sonho, para isso se busca explicar os motivos mitológicos
observados (Jung, 1980) e trazê-los para a consciência (Wahba, 2019).
O processamento do simbólico é o cerne da obra de Jung, ao buscar
compreensão do fenômeno por meio dos símbolos, se alia a descrição à experimentação
e à comparação amplificada, buscando um sentido para estes símbolos, gerando assim
conhecimento de ordem intelectiva, perceptiva, valorativa e intuitiva (Wahba, 2019). Os
atendimentos em psicologia analítica podem ser breves ou longos, dependendo da
demanda do paciente, e podendo ser interrompidos ou finalizados a cargo do terapeuta.
É um local onde o paciente expõe seus medos e emoções mais profundos e escuros, e
onde eles são aceitos com empatia e segurança (Barrieu & Parisi, 2017).
Tanto memórias conscientes quanto pensamentos inteiramente novos podem
surgir do inconsciente. Mesmo as nossas impressões conscientes adquirem um sentido
inconsciente que possui algum significado psíquico, mesmo que não esteja evidente
(Jung, 2008). A Psicologia Analítica trabalha na clínica com o Processo de
Individuação, um processo lento e imperceptível de crescimento psíquico. Este processo
é descrito tendo em vista que o ser humano é capaz de participar de seu
desenvolvimento de forma consciente, desta maneira, apenas se ocorrer nessas
condições ele é chamado de processo de individuação (Jung, 2008). Os arquétipos
representam um conteúdo inconsciente, este conteúdo é modificado através de sua
conscientização e percepção, sua apresentação vai variar de acordo com cada indivíduo
(Jung, 2000). São essas apresentações que são vistas na prática clínica e que buscamos
tornar conscientes durante o processo terapêutico.
Como o inconsciente não pode ser observado pode ser investigado por meio das
manifestações arquetípicas, e é através dos símbolos que a psicologia analítica faz essa
investigação, eles são a chave para o entendimento do inconsciente, pois são usados
para exprimir aquilo que não é conhecido. O ego coordena o processamento simbólico
realizando a transformação de material inconsciente em consciente (Nasser, 2010).
O principal método de trabalho de Jung é a amplificação, muito usada em
interpretação de sonhos. Pela amplificação, se gera um novo conhecimento, pois ela
busca um sentido, e um significado para o sonhador. Através de um tema central, o
pensamento é desenvolvido por imagens, comparações e analogias, o material usado
para este desenvolvimento é conteúdo das ciências humanas em geral, como arte,
mitologia, religião, etc (Santos & Serbena, 2017), onde os arquétipos são expressos pelo
inconsciente coletivo. Ao se preencher os papéis dos personagens dos sonhos com
conteúdo arquetípico, as imagens dos sonhos são trabalhadas pela imaginação. O
contexto onírico possibilita então, que o sujeito entre em contato com os arquétipos
expressos e vivencie experiências cada vez mais ricas.
É importante separar “arquétipo” de “manifestação arquetípica”. O arquétipo
pertence ao inconsciente coletivo e não tem forma definida, quando o arquétipo se
manifesta com uma forma, ele se torna um símbolo, isto é, uma manifestação
arquetípica. Portanto, símbolos são arquétipos, mas não necessariamente arquétipos são
símbolos, pois os símbolos são o arquétipo manifesto. Investigar símbolos pode ser um
tanto complexo, já que o inconsciente não pode ser observado objetivamente, como o
conhecimento também é fruto da personalidade do pesquisador, isto também interfere
no fenômeno observado. Por isto, o método Junguiano aplicado à psicoterapia visa o
aspecto subjetivo, para compreender a dinâmica psíquica a partir das manifestações
individuais. O fenômeno é investigado pelo seu valor simbólico, no nível coletivo e
cultural, e pelo contexto, em que o mais amplo é o âmbito arquetípico e o mais estrito é
o individual. Esta investigação se dá pela observação através de experiência viva de
participação e diálogo entre o observador e o observado, e é um processo de
transformação do conhecimento para ambos (Nasser, 2010).
Para coletar o material simbólico, são utilizados materiais projetivos em geral,
técnicas expressivas que favorecem a apreensão dos símbolos, por exemplo, os sonhos,
a imaginação ativa, relaxamento, meditação, desenho, pintura, dramatização, expressão
corporal, etc, ou instrumentos de coleta de informações mais diretos, como
questionários e entrevistas. O material é analisado pelo processamento simbólico,
produzindo conhecimento de ordem intelectiva, perceptiva, valorativa e intuitiva. Para
que a função transformadora do símbolo seja efetivada, o processamento deve ser feito
a partir de parâmetros rigorosamente observados, tanto na coleta dos dados quanto na
análise, que são a causalidade, a finalidade e a sincronicidade presentes nos eventos
simbólicos. Desta forma, os aspectos do inconsciente passam para a consciência,
operando uma amplificação da consciência, o que significa produção de conhecimento
(tanto para o observado quanto para o observador), e para o indivíduo o processo de
individuação (Nasser, 2010).

Considerações Finais

A psicologia analítica usa os símbolos para compreender os arquétipos. Através


da observação e análise dos símbolos, o observador e o observado trabalham juntos
buscando o significado das expressões do inconsciente coletivo. Embora haja muitas
interpretações errôneas sobre inconsciente coletivo, Jung esclareceu que arquétipos não
são imagens pré-definidas e sim tendências instintivas, as quais cada pessoa dará formas
diferentes de acordo com sua história pessoal, mas se mantendo a essência.
Os arquétipos na prática clínica da psicologia analítica são objeto de
investigação com seus dados coletados através de recursos de projeção como desenho e
expressão corporal e entrevistas, e processados com parâmetros rigorosos, que são a
causalidade, a finalidade e a sincronicidade presentes nos eventos simbólicos. O
processamento simbólico produzirá conhecimento de ordem intelectiva, perceptiva,
valorativa e intuitiva, derivado de uma tomada de consciência dos processos
inconscientes, isto é, amplificação de consciência, onde os símbolos passam a ter
significado. Assim se dá o método de amplificação, que usa os arquétipos na clínica
para efetivar a ação transformadora dos símbolos.
Com o uso de técnicas expressivas como a imaginação ativa, relaxamento,
meditação, desenho, pintura, dramatização e etc, é coletado o material simbólico para a
análise do processamento simbólico. Para que os aspectos inconscientes se tornem
conscientes essa análise deve ser baseada nos parâmetros da causalidade, finalidade e
sincronicidade presentes nos eventos simbólicos.

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