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Calatonia

Apostila elaborada por:


Evaldo Mazer
Apostila

Calatonia

Este material é parte integrante do curso de qualificação em massagem terapêutica e não pode
ser vendido separadamente.

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“A maneira de passar pelos tempos de provação vai depender da sabedoria e do bom
senso que se teve nos tempos de abundância”.
(Pethö Sándor)

“Cada momento é uma realidade a ser conhecida.


Cada momento é único. Não se repete“.
(Pethö Sándor)

“O mundo existe para nós na medida em que o reconhecemos. O que percebemos


depende da nossa disposição pessoal. Cada um de nós tem, num determinado
momento, um campo energético que predispõe para que ocorra uma filtragem do que
se passa, acentuando mais certos aspectos e negligenciando outros. Sendo assim, o
que é captado depende dos olhos que vêem e dos ouvidos que ouvem”.
(Pethö Sándor)

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Índice
Quem foi Pethö Sándor 05
Pethö Sándor - Biografia 05
Calatonia 09
O que é? 09
Origem 09
Como atua 10
Os pés 11
O toque nos pés 11
A quem se destina 12
Como aplicar a calatonia 12
A seqüência 13
Seqüência de toques - Ilustração 13
Entendendo o processo 16
Características da estrutura da pele 16
A Calatonia na Psicologia / Psicoterapia 17
Bibliografia 19

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Quem foi Pethö Sándor
Não me sinto à vontade para começar a falar sobre Calatonia, sem antes lhes mostrar
quem foi o seu criador: Pethö Sándor.

Pethö Sándor
Biografia - Texto redigido por Rosa Maria Farah
“Morte não existe, só transformação de consciência”.
(Pethö Sándor)

O Professor Sándor sempre foi muito avesso a


qualquer forma de enaltecimento de sua personalidade.

Em seu estilo de vida extremamente simples e


despojado de qualquer ostentação, zelava também por sua
privacidade. No entanto, a sua trajetória de vida sempre
despertou interesse e admiração em todos que dele se
aproximaram.
Nossa intenção aqui, portanto, não é incentivar qualquer tipo de culto à sua pessoa,
mas ilustrar quanto sua vida e seu trabalho foram gestos integrados de amorosa e generosa
resposta frente às severas dificuldades e desafios que a vida lhe apresentou.
O Dr. Sándor nasceu em 28 de abril de 1916, em Gyertyamos, região que então
compreendia o sul da Hungria, e hoje compõe a Iugoslávia.
Foram seus pais: Tibor Sándor, juiz de direito, e Sarolta Kafka, e teve dois irmãos.
Quando Sándor tinha três anos de idade a família mudou-se para Also Göd, uma
cidade de intenso movimento intelectual e eventos culturais. Foi desse convívio que
provavelmente surgiu o interesse de Sándor pelas artes, em especial pela música: estudou
canto lírico e chegou a pensar em tornar-se tenor.
Sándor cresceu nessa atmosfera estável e refinada, e posteriormente formou-se médico
na Faculdade de Medicina de Budapeste, "Paz Many Peter", em 1943, com especialidade em
Ginecologia e Obstetrícia.
O Dr. Sándor já havia se casado com Marieta Marton ao se formar, e no mesmo ano de
1943 nasceu seu primeiro filho. Em 1944 nasceu o segundo filho do casal.
Com o início da guerra, porém, sobrevem uma seqüência de fatos dolorosos na sua, até
então, tranqüila vida de jovem médico.
O avanço das tropas russas obrigou a família a deixar a Hungria em abril de 1945, antes
do final da guerra, em busca de refúgio mais seguro.
Durante essa viagem de trem, o Dr. Sándor desembarcou em uma das paradas para
buscar água para os demais, que permaneceram no vagão. Nesse breve intervalo o comboio
foi confundido pelas tropas americanas com um trem militar, e foi intensamente metralhado.
Ele era o único médico presente, e iniciou prontamente o atendimento aos inúmeros
feridos.
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Como uma espécie de “deferência”, as duas primeiras vítimas que trouxeram para que
ele socorresse foram justamente, e em seqüência, seu pai e sua mãe. O Dr. Sándor, ao
constatar a gravidade de seus ferimentos teria dito: “Por estes não posso fazer nada. Tragam-
me os demais”. Então, após prestar socorros aos demais, voltou a procurar por seus pais,
constatando que já haviam falecido. Só então, permitiu-se um breve momento de
recolhimento: retirou-se para um ponto mais distante da cena, dentro da mata, sentou-se e
permaneceu por alguns minutos em isolamento.
Esse trágico episódio aconteceu em 20 de abril de 1945. O Dr. Sándor estava então
com 29 anos de idade.
No inverno seguinte Marieta, sua esposa, adoeceu e foi internada em um hospital. Ao
ser avisado sobre o agravamento de seu estado, seguiu em meio à neve de bicicleta, o único
meio de transporte viável. Ao chegar, soube que ela havia falecido de complicações
respiratórias. Marieta tinha apenas 26 anos.
Foi assim que, em menos de um ano, o ele perdeu o lar, a pátria, os pais e a esposa,
restando-lhe dois filhos, quase bebês, de 2 e 3 anos para cuidar.
Nessa ocasião já trabalhava como médico da Cruz Vermelha nos campos de refugiados,
na Alemanha. Ali conheceu aqueles que viriam a se tornar sua nova família por adoção: O
casal Irene e Jozseph Buydoso, ambos astrólogos e estudiosos de esoterismo.
Irene, que era também ceramista, acolheu maternalmente as crianças. Dr. Sándor, já
interessado na Psicologia Profunda, iniciou com eles seu estudo nessas matérias.
No campo de refugiados, Dr. Sándor iniciou suas observações sobre os procedimentos
que dariam origem a Calatonia.
Ao atender como obstetra nas enfermarias femininas deparou-se com numerosos casos
de problemas circulatórios. Sem os recursos convencionais, devido à escassez da guerra,
passou a “experimentar” toques e manipulações suaves nas extremidades do corpo de suas
pacientes, visando o alívio dos sintomas e dores. E assim iniciou a observação dos “efeitos
terapêuticos do toque suave”.
O mesmo recurso foi utilizado com as pessoas que, apresentavam as mais variadas
queixas: “... desde membros fantasmas e abalamento nervoso, até depressões e reações
compulsivas...” (*).
O Dr. Sándor foi muitas vezes solicitado pelos soldados alemães, que recorriam ao
“doutor que sabia tirar a dor com as mãos”. Nessas ocasiões, ele atendia aos pedidos de ajuda,
porém com uma única condição: ficar só com o paciente para preservar sua técnica e a
possibilidade de receber o precioso pagamento da época: alimentos que partilhava entre os
demais refugiados...
Depois, durante os três anos em que trabalhou na Alemanha em hospitais que recebiam
refugiados, tratou de pacientes poli-traumatizados:

“Aplicava-se a mesma técnica às pessoas deslocadas que se preparavam para a emigração e na


população alemã abalada e constrangida, mas desta vez não em doentes das clínicas cirúrgicas, mas em
pacientes das áreas psicológicas ou neuropsiquiátricas”.

Foi a partir dessas experiências que o Dr. Sándor iniciou a "fundamentação


multilateral" (sic) de seu trabalho, posteriormente ampliado no Brasil:

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“... onde houve a possibilidade de estudar as pesquisas mais recentes sobre a formação reticular, as
representações vegetativas no córtex e sobre proprioceptivos periféricos. Ao mesmo tempo acumulou-se bastante
material de ordem psicológica, reforçado aqui no Brasil, por aqueles colegas que adotaram o método,
particularmente na Psicologia”.

Em 1949, decidiu emigrar e recomeçar seu trabalho longe das lembranças da guerra.
Contam seus familiares (**), que ele tentou vários países: Canadá, Estados Unidos e mesmo a
Argentina, onde já vivia uma tia sua. Porém, o Brasil foi o único país que os aceitou sem
restrições.
O Dr. Sándor veio com sua família adotiva: um total de 10 pessoas, composição que
nenhum outro país aceitou.
A caminho do Brasil, a bordo do “Marine Marlise”, navio de origem alemã, o Dr.
Sándor iniciou seus estudos de português. Além do húngaro, falava alemão, inglês e, através
da sólida formação européia, sabia também as línguas clássicas: o grego e mais intensivamente
o latim.
Ele possuía um preciosismo e domínio impressionante de nosso idioma. Com
freqüência usava termos, em suas traduções, desconhecidos para seus alunos. Quando
perguntado, explicava seu significado acrescentando com humor: “Consta do Pequeno
Dicionário da Língua Portuguesa...”.
Chegou ao Brasil em 14 de junho de 1949. Não pôde, porém, atuar como médico por
causa da documentação necessária à validação de seu diploma. Trabalhou então como
laboratorista, por quatro anos na empresa "Nitroquímica" em São Miguel Paulista, zona leste
de São Paulo.
Nos primeiros tempos de sua chegada foi bastante atuante junto à comunidade húngara
de São Paulo, especialmente através da igreja dessa comunidade.
Anos depois, tendo já um maior domínio do idioma, mudou-se para a Rua Augusta,
onde atendia pacientes em terapia psicológica, iniciando o trabalho que se estruturou nos
moldes em que o conhecemos hoje. Passou também a ensinar suas técnicas aos profissionais
brasileiros, basicamente psicólogos, que passaram a introduzir a Calatonia em sua prática
clínica.
O companheiro de emigração Jozseph faleceu pouco depois da chegada do grupo ao
Brasil, mas o grupo familiar manteve-se unido.
Em 1955 o Dr. Sándor casou-se com Irene, assumindo então, por sua vez, a
responsabilidade de cuidar paternalmente da família do amigo, mesmo após o falecimento de
Irene, em 1966.
Seus familiares por adoção e afinidade são hoje, quase todos, profissionais dedicados à
continuidade de seu trabalho.
Nessa época, meado dos anos cinqüenta, ele passou a lecionar "Psicologia Profunda"
na Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Mantinha
também, nos grupos já mencionados, o estudo de temas correlatos: desde técnicas básicas de
relaxamento (Shultz, Jacobson, Reich, além da Calatonia) até variados textos de Psicologia
Junguiana, astrologia e temas esotéricos.
Não aceitava pagamento dos grupos de astrologia e estudos esotéricos, mas somente
dos grupos que optassem por temas estritamente acadêmicos. Explicava que não poderia
cobrar por ensinamentos que recebera gratuitamente. Era extremamente exigente quanto à
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pontualidade, assiduidade, bem como quanto à dedicação de seus alunos para participarem em
tais grupos.
Nos anos 70, passou a ensinar as técnicas de trabalho corporal no meio acadêmico, no
curso "Integração Fisiopsíquica" da Faculdade de Psicologia, na PUC-SP.
No início dos anos 80, o Dr. Sándor iniciou o Curso de Especialização no Instituto Sedes
Sapientiae de São Paulo, que conduziu até 1992, ano de seu falecimento.
No final dos anos 80, iniciou também a realização dos "Encontros de Final de Ano",
realizados no próprio Sedes Sapientiae, em que seus alunos relatavam os resultados de suas
próprias práticas e pesquisas.
Casado desde 1985 com Maria Luiza Simões, também psicóloga e colaboradora, o Dr.
Sándor dividia seu tempo entre os cursos no Instituto Sedes Sapientiae, os grupos de estudo e
seus pacientes em consultório. Seu “descanso sagrado” eram os finais de semana passados no
sítio de Pocinhos do Rio Verde (próximo à Poços de Caldas) onde se “recarregava” através
do contato com a natureza.
E foi nesse sítio no dia 28 de janeiro de 1992, onde passava as férias de verão, que veio
a falecer em seu sono.
Para o grande grupo de alunos o primeiro sentimento foi de incredulidade. Logo após,
o sentimento de uma grande perda. Mas em seguida, prevaleceu a mensagem essencial do
exemplo de vida do Dr. Sándor. Houve uma intensa mobilização do grupo no sentido de dar
continuidade ao trabalho por ele iniciado.
Os grupos de estudos continuam através de vários profissionais e o curso de
especialização, bem como os Encontros de Cinesiologia (todo final de ano), ainda acontecem
no Instituto Sedes Sapientiae.

(*) Referimo-nos ao livro "Técnicas de Relaxamento", em que Sándor apresentou a Calatonia. A indicação
completa desta publicação encontra-se na nossa bibliografia.

(**) Agradecemos à Agnes Geöcze (filha “de coração” de Sándor) por pacientemente nos auxiliar na
ordenação e complementação das informações aqui contidas.

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Calatonia
O que é?
Calatonia é uma técnica de relaxamento profundo que se destina à regulação do tônus,
promovendo o reequilíbrio físico e psíquico do cliente. Para isso, utiliza o toque suave e o alto
potencial de sensibilidade da pele, que é impregnada por uma infinidade de terminações
nervosas que tem repercussão em todo o corpo.

No próprio significado do termo, encontramos alguns elementos para responder


algumas questões:

Segundo o próprio Dr. Sándor, Calatonia é uma expressão que:

“... indica um tônus descontraído, solto, mas não apenas do ponto de vista estático e muscular. No
original grego o verbo khalaó indica relaxação e também alimentação, afastar-se do estado de ira, fúria,
violência, abrir uma porta, desatar as amarras de um odre, deixar ir, perdoar aos pais, retirar todos os véus
dos olhos, etc”.

Origem
Calatonia foi o termo cunhado pelo Dr. Sándor para designar o método de trabalho corporal
por ele desenvolvido desde suas primeiras observações sobre a atuação terapêutica do toque.

A origem deste método entrelaça-se, conforme veremos, à própria história de vida de


seu criador.

Como já vimos, o Dr. Sándor foi um médico húngaro, que na época da segunda guerra
mundial, trabalhava no atendimento a feridos e refugiados em deslocamento pela Europa.

Naquela época, devido às precárias condições geradas pela guerra, com freqüência se
encontrava, diante de situações em que os recursos médicos, além de precários, eram de
pouca ajuda no atendimento de seus pacientes. Mesmo sendo especialista em ginecologia e
obstetrícia, foi designado para o atendimento de pessoas com os mais variados tipos de
traumatismos, conforme ele mesmo relatou, ao falar sobre a origem do seu método:

“Idealizou-se este método durante a segunda guerra mundial, com base nas observações feitas em casos de
readaptação de feridos e congelados, no período posterior à grande retirada da Rússia. Num hospital da Cruz
Vermelha foram atendidas as mais diferentes queixas na fase pós-operatória, desde membros fantasma e
abalamento nervoso, até depressões e reações compulsivas”.

Era praticamente impossível, frente a estas pessoas, estabelecer um limite entre o


traumatismo físico e o sofrimento psicológico que os atingia. Mas já então, o Dr. Sándor
estava atento às estreitas relações existentes entre nossos processos corporais e nosso
funcionamento psicoemocional.

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Foi nestas condições dramáticas de trabalho, que ele tentou utilizar, sem sucesso, os
“métodos de relaxamento” usuais na época, como por exemplo, o método de Shultz. Porém,
a gravidade das condições destes pacientes não lhes permitiam a concentração e a colaboração
necessárias para a aplicação deste método. Foi então que ele percebeu o seguinte:

“Percebeu-se então, que além da medicação costumeira e dos cuidados de rotina, o contato bipessoal,
juntamente com a manipulação suave nas extremidades e na nuca, com certas modificações leves quanto à
posição das partes manipuladas, produzia descontração muscular, comutações vasomotoras e recondicionamento
do ânimo dos operados, numa escala pouco esperada”.

As duas citações acima foram extraídas de um texto dirigido a profissionais. Mas,


traduzindo sua observação para uma linguagem do cotidiano, podemos dizer que, em síntese,
ele está nos contando como e quando começou a perceber que “o contato suave, atento e cuidadoso
podia atuar terapeuticamente”, ajudando na recuperação daqueles pacientes.

É sabido, como já vimos anteriormente, que o Dr. Sándor e sua família também foram
duramente atingidos pelos horrores da guerra. No entanto, percebemos nas entrelinhas da sua
descrição, o tipo de conduta que o levou a estas observações: a atitude compassiva e
amorosa que assumia diante do sofrimento de seus pacientes...!

Por mais três anos o Dr. Sándor trabalhou na Alemanha, nesta época cuidando de
pacientes com queixas psicológicas ou neuropsiquiátricas. Neste período, já começava a
sistematizar e fundamentar sua técnica de trabalho, com base nos conhecimentos da
Psicologia e da Neurologia.

Vivendo no Brasil, prosseguiu seu trabalho, atuando principalmente na área da


Psicologia.

Em São Paulo, como Terapeuta e Professor, passou a aplicar e ensinar a Calatonia, que
passou a ser conhecida por seus alunos, como um “método de relaxamento”. E, como tal,
passou a ser utilizada no atendimento psicoterapêutico.

Como atua?
A reatividade e o estado de alerta constante que o indivíduo usa para defender-se, está
relacionado com o fato de nosso cérebro estar o tempo todo recebendo informações captadas
por todos os sentidos: tato, visão, audição, olfato, paladar e até, e tão importante quanto, o
que chamamos de 6.° sentido (intuição, premonição, etc.). Todas essas informações chegam e
ficam registradas no corpo (nosso corpo é uma memória). Como o indivíduo reagirá a elas,
depende de como ele as recebe e interpreta, utilizando para isso suas crenças e vínculos
formados através de sua herança genética e social.

Podemos reforçar essas informações, tomando como base a teoria Reichiana de que:
“...todas as emoções mal “trabalhadas” deixam “marcas” no corpo e na musculatura, retesando e
comprimindo-os e portanto, comprometendo a vitalidade...”.

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A aplicação da Calatonia proporciona a eliminação desta reatividade com o relaxamento
profundo que a forma sutil dos toques suaves propicia. O que ocorre então, é a liberação de
bloqueios e emoções reprimidas no plano muscular, trabalhando também o psiquismo do
indivíduo, trazendo ainda à tona, percepções e sensações que antes não eram notadas.

Desta forma, podem também ser observados durante o tratamento, alterações


neurovegetativas (involuntárias) como: mexer de mãos ou dedos respectivos; balançar de
cabeça e pés; contrações dos músculos da face; espasmos diversos; etc. Observa-se também,
visualizações e recordações de imagens; visualização de cores; flashes, insights, etc. (1)

O que esta acontecendo nesse estágio, é a regulação do tônus do corpo com uma maior
desconcentração muscular, gerando com isso a expansão e recondicionamento do ânimo.

É neste momento que se entende o que se o Dr. Sándor chamou de “auto-regulação”,


ou seja, a Calatonia não tem como meta mobilizar um aspecto específico, mas sim, promover
espontaneamente o que for mais adequado para equilibrar o indivíduo naquele momento. A
“auto-regulação”, capacidade também chamada de “sabedoria do corpo”, pode por si, quando
lhe for permitido, expressar sua vontade de reorganização visando a busca do seu equilíbrio,
dentro da intensidade e ritmo típicos de cada indivíduo.

(1) É importante notar, que os conteúdos que surgem têm, de alguma forma, ligações com os problemas do
momento, igualmente ao que acontece com os sonhos. São conteúdos prontos para aflorarem à consciência e
estão relacionados ao processo que o indivíduo está vivenciando.

Os pés
Na Calatonia, os pés são a principal ferramenta de trabalho.

Parte do corpo humano profundamente carregada com valores afetivos e sexuais, os


pés são usualmente reprimidos e muito desenvolvidos em termos de sensibilidade cutânea.

Na Medicina Tradicional Chinesa, os pés e as mãos são considerados áreas de troca de


polaridade. É importante lembrar que nos pés comunicam-se os meridianos Yang (estômago,
bexiga e vesícula biliar) e os Yin (baço-pâncreas, rins e fígado). Estão ligados aos pés todo o
processo de restauração, assimilação, transformação e excreção. Os pés são símbolos da força
da alma. Constituem o suporte da postura ereta. São a base do corpo. A estabilidade.

Se, por qualquer motivo os pés não puderem ser trabalhados, usa-se as mesmas
técnicas nas mãos e antebraço.

O toque nos pés


Os toques suaves nos pés têm o grande benefício de não mobilizarem sensações
invasivas do corpo, mesmo em se tratando de pessoas muito recatadas, permitindo a soltura
sem constrangimento.

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Em geral, a Calatonia nos pés, desde as primeiras aplicações, mobiliza sensações tão
boas de expansão, calma, segurança e bem-estar que se torna um trabalho sempre bem
recebido e muitas vezes solicitado.

O simples fato de se ter os pés cuidados com tanta delicadeza e atenção dirigida já
desencadeia um círculo de com fiança e bem querer, aspectos básicos num relacionamento
que visa ao reequilíbrio e à cura.

A quem se destina
Qualquer pessoa pode se beneficiar da Calatonia para obter um relaxamento profundo.

Embora a utilização da Calatonia não vise resultados específicos, porque a


reorganização psicofísica é global, (e cada organismo reage à sua própria maneira individual e
única) esta técnica atua sobre uma variada gama de queixas diante das quais têm-se observado
resultados bastante positivos. Por exemplo: estresse, enxaquecas, asma, obesidade, alergias,
distúrbios glandulares, dores, distúrbios de ordem psicossomática, etc...

Também é indicada em casos de pessoas com depressão, principalmente nas fases de


prostração; em pessoas com problemas de equilíbrio postural, cansaço e tensão nos membros;
na reabilitação de membros com fraturas, entorses e luxações; na dor fantasma de pessoas
com membros amputados; em pessoas com problemas de coluna, dor ciática, hérnia de disco;
em pessoas desligadas, sonolentas, sem base e estabilidade na vida; recuperação de cirurgias;
trabalhando junto à fisioterapia e na reabilitação do ânimo em geral.

A Calatonia nas mãos também já esta sendo bem utilizada, e com resultados bem
satisfatórios em pessoas com problemas de LER, bursite, dores musculares nos braços, no
restabelecimento de braços fraturados, luxados, problema de articulações nos dedos, etc.

Como aplicar a Calatonia


Posição
Paciente: Deve estar deitado em decúbito dorsal; com os braços ao longo do corpo
e, de preferência, com os olhos fechados.

Terapeuta: Procurar se acomodar de frente aos pés do cliente, se posicionando numa


altura adequada para poder trabalhar sem cansar os braços.

Orientação: Avisar o cliente do procedimento que será utilizado, informando-o de que


suaves toques serão aplicados nos pés, pernas e nuca, e que pequenas sensações ou
alterações podem ocorrer em outras partes do corpo. Orientá-lo a não interferir nessas
alterações, apenas “deixe-as acontecer”. Utilizar o mesmo procedimento se ocorrerem
pensamentos, lembranças ou imagens. Não os retê-los, nem empurrá-los, apenas deixar
que venha e se vá. Solicitar silêncio durante a aplicação dos toques, deixando os
comentários para após o término da aplicação.

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A seqüência
A seqüência original é de 9 toques, sendo 5 nos dedos dos pés, 2 nas solas nos pés, 1
no tendão próximo ao calcanhar e 1 próximo à panturrilha (batata da perna). Podemos
acrescentar um outro, conhecido como Calatonia da cabeça, aplicado na nuca, na região do
occipital.

O terapeuta deve utilizar ambas as mãos, e vai trabalhar na ponta de todos os dedos
simultânea e uniformemente. Deve-se tocar cada dedo como se fosse SEGURAR UMA
BOLHA DE SABÃO.

Os toques nas pontas dos dedos dos pés, com as pontas dos dedos das mãos deverão
ser efetuados da seguinte forma: por baixo, com a base do polegar encostando-se à região da
polpa, e por cima com os dedos correspondentes tocando a raiz da unha (na altura da
cutícula). Desta forma, o dedo médio do pé vai ser tocado pelo dedo médio e o polegar da
mão, o indicador do pé pelo indicador e o polegar da mão, etc. A posição do toque em cada
dedo lembra uma pinça, mantendo suave e constante abertura.

Já no hálux (dedo maior), a posição dos dedos lembra uma cestinha com todos dedos
em sua volta na altura da raiz da unha e o polegar na região da polpa.

Os demais toques são efetuados com as mãos em forma de concha e tocando com a
polpa dos dedos indicador, médio, anular e mínimo juntos, sempre com suavidade.

A duração de cada toque será de 3 minutos em média.

Seqüência de toques (com ilustração)


1.° toque

Toque no 3.° dedo, correspondente ao dedo médio.

2.° toque

Toque no 2.° dedo, correspondente ao dedo indicador.

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3.° toque

Toque no 4.° dedo, correspondente ao dedo anular.

4.° toque

Toque no 5.° dedo, correspondente ao dedo mínimo.

5.° toque

Toque no 1.° dedo, correspondente ao Hálux (dedão).


Utiliza-se todos os dedos formando uma cestinha em
volta do dedo, ficando o dedo polegar por baixo e os
demais na raiz da unha (cutícula).

6.° toque

Toque na depressão que aparece na sola do pé quando


ele é flexionado. Este toque é efetuado com as mãos
em forma de concha e tocando com a polpa dos dedos
indicador, médio, anular e mínimo juntos, sempre com
suavidade.

7.° toque

Toque no calcanhar do pé quando ele é flexionado.


Este toque é efetuado com as mãos em forma de
concha e tocando com a polpa dos dedos indicador,
médio, anular e mínimo juntos, sempre com
suavidade.

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8.° toque

Toque no tendão de Aquiles. Este toque é efetuado


com as mãos em forma de concha e tocando com
suavidade com a polpa dos dedos indicador, médio,
anular e mínimo juntos.

9.° toque

Toque na panturrilha. Este toque é efetuado com as


mãos em forma de concha e tocando com suavidade
com a polpa dos dedos indicador, médio, anular e
mínimo juntos.

10.° toque

Toque na nuca (altura do occipital). Este toque é


efetuado com as mãos em forma de concha e tocando
com suavidade com a polpa dos dedos indicador,
médio, anular e mínimo juntos. A seguir, balance
lentamente a cabeça de um lado pelo outro como se
estivesse embalando.

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Entendendo o processo
Para que se possa entender esse processo, é extremamente importante perceber,
algumas das muitas características especiais da nossa pele. A nossa pele, é uma estrutura que
atua, entre outras coisas, estabelecendo os limites do nosso corpo. Na verdade, é equipada de
uma infinidade de minúsculas estruturas chamadas de receptores nervosos.

Estudos mais recentes sobre as particularidades e funções dos receptores nervosos da


pele faz com que alguns autores já a considerem como um “órgão”, e não apenas um tecido
com a função, entre outras, de nos proteger do ambiente externo.

Visto desta forma, podemos considerar a pele como o nosso principal aparelho
sensorial. Não só porque os órgãos dos sentidos sejam, na verdade, tecidos cutâneos que se
diferenciaram (como as mucosas da boca, na percepção do paladar); mas, principalmente,
porque cada milímetro de nossa pele é munido de inúmeros “receptores nervosos”, ou seja,
estruturas neurológicas capazes de captar e conduzir os variados tipos de estímulos (calor,
frio, pressão, etc.) como se fossem minúsculos radares que nos mantêm informados sobre a
infinidade de estímulos à que somos submetidos a cada instante.

Outra característica, também muito importante da pele, diz respeito à sua própria origem
e formação, ou seja: durante nosso desenvolvimento, ainda no útero materno: As células que
lhe dão origem provêm da mesma camada embrionária da qual se forma nosso sistema
nervoso central, ou seja, a ectoderme. A descrição deste fato levou o pesquisador Montagu a
escrever esta curiosa observação: “Portanto, o sistema nervoso é uma parte escondida da pele, ou ao
contrário, a pele pode ser considerada como a porção exposta do sistema nervoso”.

Para ilustrar esse comentário, apresentamos no quadro a seguir, uma síntese das
descrições feitas pelo mesmo pesquisador Montagu, sobre a constituição da estrutura da nossa
pele.

Observemos como essa estrutura é altamente complexa e potencialmente "sensível"


aos estímulos táteis:

Características da estrutura da pele


1. O sentido do tato é o primeiro a ser desenvolvido no feto, podendo ser observado
ainda no período embrionário, já a partir da 6ª. semana de vida intra-uterina.
2. Média de Corpúsculos de Meissmer presentes na epiderme por milímetro quadrado:
a. Cerca de 80 em crianças.
b. Cerca de 20 em adultos.
c. Cerca de 4 em idosos.
3. Média de receptores nervosos presentes a cada 100mm2 de pele: Cerca de 640.000.
4. Pontos táteis por cm2 de pele: Cerca de 7 à 135.
5. Número de fibras nervosas oriundas da pele que entram na medula espinhal,
conduzindo estímulos aferentes: superior a meio milhão.
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6. Outras estruturas presentes em um pedaço de pele com aproximadamente 3 cm de
diâmetro:
a. 3 milhões de células.
b. Entre 100 e 340 glândulas sudoríparas.
c. 50 terminações nervosas.
d. 90 cm de vasos sangüíneos.

A Calatonia na Psicologia / Psicoterapia


Do ponto de vista da Psicologia, vemos hoje, por intermédio de diversos autores, o
reconhecimento da importância do contato, e por conseqüência, dos métodos que se utilizam
dele tanto para o adequado desenvolvimento de uma criança, quanto para a manutenção do
equilíbrio psicofísico do adulto. Porém, iremos perceber que este não é um achado tão
recente da Psicologia. Jung já dizia, em 1935, que no tempo de nossos ancestrais a
"consciência" humana formou-se a partir do "relacionamento sensorial da nossa pele com o mundo
exterior".
Outros pesquisadores como Neumann, estudando o desenvolvimento infantil,
divulgaram uma idéia similar, ao assegurar a “noção de eu” no recém nascido, vai se
formando gradativamente através do contato estabelecido entre a criança e sua mãe.
Com relação à forma de atuação da Calatonia, os toques são realizados na pele. Portanto,
estes estímulos irão atuar sobre os diversos receptores nervosos ali presentes. E, naturalmente
se espalharão (através das vias neurológicas conectadas a eles) para todo o sistema nervoso.
Por isso, é que percebemos, durante a aplicação, as particularidades expressas em cada
indivíduo que recebe o tratamento.
Em alguns indivíduos podem aparecer, predominantemente, reações fisiológicas e/ou
motoras, como "sensações" ou movimentos mais ou menos sutis. Em outros casos, se
manifestam em termos afetivos e/ou emocionais, na forma de recordações, associações, etc.
Podem ocorrer ainda, alterações do estado de consciência igual àqueles gerados pela meditação,
com a possibilidade de recordação de imagens, que terapeuticamente têm para os psicólogos,
psicoterapeutas e profissionais da área, valor semelhante ao valor dos sonhos.
Como podemos perceber, a Calatonia age potencialmente em diversos etapas da
complexa estrutura psicofísica de cada indivíduo, garimpando elementos e informações, que
podem ser elaborados dentro do contexto da psicoterapia.
Podemos entender a função da Calatonia como importante recurso para facilitar o
acesso ao universo interior do ser humano, à medida que compreendermos que o objetivo da
psicoterapia é criar condições para que o indivíduo amplie a sua auto consciência, a ponto de
poder expressar o mais fiel e pleno quanto for possível, o seu próprio potencial com
equilíbrio e criatividade. E mais ainda, que cada indivíduo é um todo, sendo o seu corpo e o
seu psíquico, apenas diferentes maneiras de expressar esse todo e essa unidade de forma
sincrônica.
Desta forma, podemos perceber que a forma de terapia que o Dr. Sándor desenvolveu
trás subentendida uma forma de entender tanto a natureza do ser humano, quanto a função
da psicoterapia.
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Entendemos que a Calatonia, mais do que uma simples técnica definida pelos seus
procedimentos práticos, constitui-se hoje em um método de trabalho terapêutico, que integra
elementos da Psicologia Profunda (especialmente as idéias de Jung) visando restabelecer e/ou
promover a integração psicofísica do indivíduo.
Vale acrescentar algo a respeito dos desenvolvimentos mais atuais deste método. Ao
longo de mais de quarenta anos de trabalho, o Prof. Sándor foi acrescentando inúmeros
outros procedimentos àquela seqüência inicial de 9 toques, conhecida como “os toques nos
pés”, porém, mantendo sempre as características básicas da atuação inicial, ou seja, os
estímulos táteis realizados de forma suave. Idealizou muitas novas formas de trabalho, além
de realizar e transmitir aos seus alunos farta pesquisa sobre os processos
anatômicos/fisiológicos envolvidos na aplicação destes toques.
Finalmente, cabe dizer ainda que este método, embora tão estreitamente baseado em
fundamentos psicológicos, não se constitui em um recurso de uso exclusivo de psicólogos e
psicoterapeutas. Diversos profissionais de áreas afins, dentre eles médicos, fisioterapeutas
terapeutas ocupacionais, massoterapeutas, educadores, fonoaudiólogos, dentistas têm já
relatado a sua efetiva utilidade em seus campos de atuação.

“Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma grande delicadeza”.
Clarice Lispector

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Bibliografia

Toques sutis – Uma experiência de vida com o trabalho de Pethö Sándor.


Suzana Delmanto. Summus Editorial

Técnicas de relaxamento.
Pethö Sándor. Editora Vetor

Apostila de Calatonia.
Humaniversidade Holística

Sites da Internet.
www.calatonia.net
www.geocities.com/~toquesutil
www.netlinks.com.br/psicologia
www.psicologiaastrosevoce.com.br

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Evaldo Mazer

Naturopata
Terapeuta Corporal
Acupunturista
Radiestesista

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