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#artemisia15anos

BOAS
HISTÓRIAS
PARA
C O N TA R
Índice
Introdução duLocal
03 Ganhar dinheiro ou mudar
33 Receitas para alavancar
o mundo? Por que escolher? a cidadania

Feira Preta Hand Talk


04 Ecossistema de
37 De Alagoas para o mundo:
inventividades pretas acessibilidade para promover
a inclusão de pessoas surdas

Banco Pérola Colab


08 Um banco diferente
41 A jornada em direção
à cidadania participativa

Vivenda Diaspora.Black
12 Inspiração para
45 O black power do
construir novos arranjos turismo brasileiro
para a habitação

Vittude PrograMaria
16 Quebrando o tabu
50 Lugar de mulher é,
da saúde mental também, na tecnologia

Geekie Simbiose Social


20 Educação para
55 O match perfeito: impacto
transformar futuros social e mais de R$ 300 milhões
em incentivos fiscais

Jaubra Vitalk
24 Mobilidade nas
59 Inteligência artificial para
quebradas de São Paulo promover o equilíbrio emocional

A Banca Gastromotiva
28 A potência empreendedora
64 A comida transforma
das periferias

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Ganhar dinheiro 3
ou mudar o mundo?
Por que escolher?
Uma visão de mundo maniqueísta tende a social dentro de uma equação que não dispensa
defender a perspectiva binária. As sociedades o lucro para garantir sustentabilidade. No centro,
estão repletas de narrativas pontuadas pelo o ser humano, pois essa mobilização tem como
dualismo das escolhas, do pensar, do agir e do norteadores o desenvolvimento pleno, a
sentir. Mas, e se perguntas incômodas dignidade e a igualdade de oportunidades – que
alterassem essa lógica? E, se as certezas fossem passam pelo acesso a serviços públicos e
suspensas por tempo indeterminado em nome privados de qualidade.
da construção de uma nova maneira de refletir e
criar futuros mais inclusivos? E, se as aspas não Fortalecer e repensar modelos de negócios e o
fossem fechadas para manter o diálogo sempre ecossistema de empreendedorismo têm sido a
aberto? Dizem, aliás, que as perguntas são muito jornada da Artemisia. Ao propagar esse conceito,
mais importantes do que as respostas. a organização provoca, por mais de uma década,
uma reflexão em empreendedoras e
Há 15 anos, a Artemisia formulou uma pergunta empreendedores profundamente incomodados e
que pontua a atuação da organização até os dias inconformados com a situação do Brasil. São
atuais. Ao aplicar a lógica dos negócios, será que cidadãos que, mesmo quando todas as
podemos contribuir para a resolução de probabilidades se mostram contrárias, insistem
problemas sociais? Com essa hipótese – e em quebrar paradigmas para investir na criação
acreditando na possibilidade de uma resposta de soluções inovadoras; são humanos que não
afirmativa ou em construção –, a reflexão quiseram ter de escolher entre ganhar dinheiro
provocada convergiu para a ideia do surgimento ou mudar o mundo. Desde o início da operação, a
de negócios de impacto social. Um novo modelo, organização defende que entre um e outro,
pautado pela consciência social unida ao lucro, pode-se optar pelos dois. Ao refutar a
no qual as empresas não substituem o Estado, obrigatoriedade da escolha, abre-se espaço para
pois o objetivo é qualificar e complementar a a inclusão de novos valores mais humanos,
presença governamental ao garantir acesso a empáticos e sustentáveis.
produtos e serviços essenciais à melhoria da
qualidade de vida da população em situação de Para mostrar os caminhos gerados pelo
vulnerabilidade econômica e social. questionamento, a Artemisia apresenta 15
histórias de empreendedores e empreendedoras
Mas, será que é viável? Será sustentável? Essas que ousaram questionar o status quo; pessoas
são duas, entre milhares de perguntas, muito que construíram negócios de impacto social que
pertinentes. Muitos podem classificar essa ideia estão transformando realidades e criando
como utópica, entretanto, com o passar dos futuros para o país, sobretudo para a população
anos, ficou evidente o pragmatismo desta em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
elaboração porque se apoia na lógica de
mercado, de oferta e demanda, tendo o impacto Espero que aprecie e se inspire com a leitura!

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FEIRA
P R E TA

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F E I R A P R E TA 5

Ecossistema de
inventividades pretas

“Desde cedo, aprendi que apesar da escassez Sem emprego formal depois de ter traba-
é possível criar soluções inventivas. Quando lhado em uma gravadora, Adriana e uma
muito jovem, minha família pedia esfirras em amiga tiveram a ideia de vender roupas e
uma rede de fast food; com o limão que comida em feirinhas da Vila Madalena, um
acompanhava o pedido, preparávamos uma bairro descolado de São Paulo. Em um dos
limonada com água e açúcar. E foi nesse eventos, houve um arrastão, e parte da
contexto de vulnerabilidade, em uma família mercadoria foi perdida. “Voltando de ônibus
matriarcal, que percebi o valor da abundância com, literalmente, a barraca nas costas,
criativa”, conta Adriana Barbosa, que há 19 conversamos sobre a possibilidade de
anos fundou a Feira Preta para estimular o criarmos uma feira com a temática, na Praça
empreendedorismo da população negra Benedito Calixto. Havia um contexto de
brasileira. O festival se tornou PretaHub – empresas multinacionais investindo em
uma plataforma com 200 mil participantes; produtos para a população negra. Procurei a
700 expositores; e 2 mil negócios impactados Unilever – que trabalhava com o sabonete
em 13 Estados. Eleita um dos 51 negros mais Pérola Negra – em busca de apoio. Esse foi o
influentes do mundo pela Most Influential start do negócio, que conquistou o patrocínio
People of African Descent, a empreendedora da marca”, conta, acrescentando que o
começou o negócio a partir da observação de público foi de 6 mil pessoas. A iniciativa se
que estava surgindo, no início dos anos 2000, tornou o maior festival de cultura e empreen-
uma produção cultural focada na estética dedorismo voltado a afrodescendentes da
negra. América Latina.

A Feira Preta surgiu em 2002 pelas mãos


dessa jovem mulher negra, oriunda de uma
família matriarcal e inovadora. A ideia central
era transformar o ecossistema de negócios,
tornando-o propício à inclusão de empreen-
dedores negros. Graduada em gestão de
eventos com especialização em gestão
cultural pelo Centro de Estudos Latino-Ameri-
canos sobre Cultura e Comunicação (CELACC)
da ECA-USP, Adriana percebeu que, enquanto
a economia brasileira se desenvolvia, também
se desenvolvia o poder do Black Money,

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dinheiro produzido por negros e negras e que da narrativa de sobrevivência que perdura em
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circula entre negros e negras. “Apostei em um país com um racismo estrutural brutal.
uma ideia bastante óbvia, mas que ainda não “Minha bisavó, uma empreendedora nata,
tinha sido devidamente trabalhada: um ensinou a gente a empreender para ‘se virar’.
empreendimento econômico-cultural com Mas não precisa ser assim, podemos inverter
caráter étnico”, conta. Hoje, a Feira Preta – essa lógica. Eu só queria fazer uma feira,
que movimenta anualmente R$ 4 milhões e é acabei criando um ecossistema. A gente abriu
replicada em outros Estados com novos mercado, conectou setores, empreendedores
formatos – é o centro de tendências afrocon- passaram a criar produto para essa demanda,
temporâneas do mercado e das artes, além falamos cada vez mais de diversidade, de
de ser um espaço para valorizar iniciativas inclusão. E, meu sonho é que esse ecossis-
afroempreendedoras de diversos segmentos. tema se fortaleça para ser diferente não para
as minhas bisnetas, mas para a minha filha”,
O negócio passou pela aceleração da Arte- finaliza.
misia, em 2006. “Foi maravilhoso, consegui
me compreender como empreendedora, Em 2020, Adriana entrou para a lista
dentro do processo de aceleração da organi- composta por 22 Inovadores Sociais no
zação. Foi nesse momento que consegui mundo, conduzida pela Cúpula de Impacto e
compreender os códigos do ecossistema do Desenvolvimento Sustentável do Fórum
empreendedorismo de impacto social. O Econômico Mundial. A Feira Preta criou uma
maior aprendizado foi o despertar para o meu plataforma de comércio eletrônico,
processo de autoconhecimento. Aprendi a me PretaHub.com, um marketplace com mais de
conhecer, a saber meus limites, a desenvolver mil empreendedores cadastrados. Além do
a minha autoestima”, conta. e-commerce, uma outra novidade é a Casa
PretaHub, que funciona como espaço de
Como visão de futuro, a empreendedora convivência e de apoio à digitalização de
aponta o fortalecimento do empreendedo- pequenos negócios.
rismo negro como essencial, ou seja, a saída

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FEIRA PRETA | Com 18 anos de história, a Feira Preta é o


maior evento de cultura e empreendedorismo negro da
América Latina. Um acontecimento anual que reúne
empreendedores negros para mostrarem sua criatividade e
inventividade nas áreas de moda, música, gastronomia,
audiovisual, design, tecnologia, entre outras.

PRETAHUB | Hub de criatividade, inventividade e tendências


pretas. É o resultado de dezoito anos de atividades do Instituto
Feira Preta no trabalho de mapeamento, capacitação técnica e
criativa, aceleradora e incubadora do empreendedorismo
negro no Brasil. É a compreensão de que muito já foi feito,
mas que o futuro é promissor, vasto e precisa ser olhado a
partir da inventividade preta para fazer negócio. Inventividade
que não é apenas potente, mas o que de mais criativo e
inovador existe nas práticas de um mercado saturado da falta
de representação e proporcionalidade em seus modos de
criar, desenvolver e escoar produtos e serviços.

FEIRA
P R E TA

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BANCO
PÉROLA

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BANCO PÉROLA 9

Um banco diferente
“Os bancos emprestam dinheiro a quem
comprova que já o tem. No que o seu banco é
diferente?”, questionou Antônio Abujamra,
em 2011, ao entrevistar Alessandra França,
diretora-presidente do Banco Pérola, para o
programa Provocações. Com 25 anos, à
época, ela sorriu e respondeu com firmeza: “O
nosso banco, porque ele é de todos os jovens.
Enxergamos que os clientes têm sonhos,
embora não tenham histórico de crédito, e
esse sonho possibilita que paguem o dinheiro
que pediram emprestado”. A forma de
entender a concessão de crédito e o real
significado do dinheiro diz muito sobre a
empreendedora. Ela gosta de citar, inclusive, A empreendedora social trabalha com o cha-
que a etimologia da palavra “crédito” tem mado microcrédito produtivo orientado, que
origem no latim creditum, particípio passado auxilia o empreendedor a fazer o melhor uso
de credere: acreditar, confiar. No dicionário da do dinheiro recebido. De 2010 a 2020, o
Língua Portuguesa, crédito é um substantivo Pérola apoiou 4.390 pessoas diretamente e
que significa confiança que inspira as boas 17.560 indiretamente – números que têm
qualidades de uma pessoa; confiabilidade, crescido ano a ano. Em 2017, o valor concedi-
credibilidade. Com o Banco Pérola, Ales- do foi de aproximadamente R$ 1 milhão; no
sandra França resgatou o sentido bonito e acumulado dos últimos onze anos com os
nobre da palavra. parceiros do FIDC, o montante atingiu mais
de R$ 83 milhões. Há quatro anos, o Pérola
Hoje, a instituição de crédito liderada por buscou aprovação de um fundo de investi-
Alessandra é uma organização de concessão mento em direitos creditórios na Comissão de
de crédito para nanoempreendedores, micro- Valores Imobiliários (CVM) e hoje atua com
empreendedores, pequenos empreendedores uma plataforma de Microfinanças, contando
e empresas de pequeno porte. Com um com diferentes parceiros e operadores, além
Fundo de Investimentos em Direitos Creditó- de participar como operador de fundos emer-
rios – um dos diferenciais do negócio –, a genciais que atendem empreendedores de
empreendedora criou um canal direto com o impacto de periferias e mulheres MEIs.
investidor para garantir taxas mais competi-
tivas, serviço ágil e adequado ao tamanho das A história de Alessandra começou em Guara-
empresas atendidas. niaçu, uma pequena cidade do Estado do

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Paraná. Filha de agricultores que lutavam Com um Fundo de Investimentos em Direitos
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muito contra a seca, veio para São Paulo com Creditórios – um dos diferenciais do negócio
a família. Após um período de estiagem, os –, a empreendedora criou um canal direto
Franças perderam a lavoura; os pais deci- com o investidor para garantir taxas mais
diram, então, partir para a cidade grande em competitivas, serviço ágil e adequado ao
busca de melhores condições de vida. Esco- tamanho das empresas atendidas. Alessandra
lheram o município de Sorocaba, onde trabalha com o chamado microcrédito produ-
passaram a residir em um bairro periférico, tivo orientado, que auxilia o empreendedor a
próximo às indústrias. A experiência familiar, fazer o melhor uso do dinheiro recebido. De
uma bolsa de estudos e um projeto social 2010 a setembro de 2020, o Banco Pérola
foram os ingredientes para transformar Ales- conduziu mais de 27 mil operações e mais de
sandra – formada em Marketing e com MBA R$ 83 milhões.
em gestão de pessoas e finanças com ênfase
em bancos – em uma das empreendedoras Sobre o que julga ser o principal impacto
sociais mais inspiradoras do Brasil. social do Banco Pérola, a empreendedora
afirma ser o acesso ao dinheiro. “Vemos que
Participante de um programa da Artemisia, há poucas organizações que entregam
em 2009, a empreendedora lembra que a recursos financeiros diretamente na conta do
organização foi fundamental para formatar a empreendedor com o cuidado de auxiliar na
ideia do Banco Pérola. “O banco nasceu gestão do recurso. Então, o principal impacto
dentro dessa formação de jovens líderes, ou é fazer o dinheiro chegar às mãos desses
seja, não há como dissociar uma coisa da empreendedores.
outra. Muito do DNA da própria Artemisia
está na nossa construção. Se eu pudesse Hoje, o Banco Pérola é um dos parceiros da
escolher uma palavra, seria ‘fundamental’. Artemisia no fundo emergencial Volta por
Uma das coisas que levo até hoje dessa Cima, com foco na concessão de empréstimos
vivência é a cooperação, algo que também sem juros para cobrir despesas essenciais de
pauta o nosso cotidiano”, conta. Alessandra negócios com forte atuação nas periferias.
lembra que, ao chegar na aceleração, a ideia Para Alessandra, é uma honra e uma forma
era fundar algum negócio de impacto voltado de retribuir o que foi feito pelo Pérola. “Fico
à educação empreendedora. Essa proposta foi bem feliz de existir uma relação de forte
reelaborada mediante às reflexões da neces- confiança”, finaliza.
sidade de concessão de crédito para nanoem-
preendedores, microempreendedores e
empresas de pequeno porte.

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BANCO PÉROLA | Fundado há uma década por Alessandra


França, o Banco Pérola – voltado à concessão de crédito –
já articulou R$ 86 milhões para microempreendedores,
microempresas, pequenas empresas e empresas de pequeno
porte. O acesso a crédito com qualidade é o foco de atuação
da empreendedora. Um dos diferenciais do negócio é operar,
desde 2014, por meio de um Fundo de Investimento em
Direitos Creditórios, o que garante parceiros investidores e
parceiros operadores de crédito. O Pérola trabalha com o
chamado microcrédito produtivo orientado, que auxilia o
empreendedor a usar, da melhor forma possível, o dinheiro
recebido. Com isso, registra taxa de inadimplência média de
2,5%. Com a aprovação de um fundo de investimento na
Comissão de Valores Imobiliários (CVM), o banco atua com
uma plataforma de microfinanças.

BANCO
PÉROLA

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VIVENDA

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VIVENDA 13

Inspiração para
construir novos arranjos
para a habitação
A máxima de que as palavras convencem veitamos para dar início às pesquisas explora-
poucas pessoas; os exemplos, no entanto, tórias e para colocar a ideia no papel. Com
movem multidões pode ser aplicada à traje- essa estrutura, integramos um processo de
tória da Vivenda. Pioneira no Brasil em aceleração na Artemisia. Para a gente, foi um
reformas para a população de menor renda, a grande trunfo! Chegamos com a ideia, um
empresa foi acelerada pela Artemisia no rascunho do modelo de negócios, muita
início de sua história e, com o passar do vontade e algumas conversas feitas no campo.
tempo, se tornou uma importante parceira Diante da aceleração, passamos a nos reco-
estratégica na mobilização em prol da nhecer como time e tomamos a decisão de
melhoria das condições de moradia para a nos jogarmos deste penhasco que é empre-
população de menor renda. Fernando Assad, ender”, relembra. Entre os aprendizados, a
um dos fundadores, conta que o primeiro importância de poder contar com quem está
contato com a Artemisia se deu no ambiente ao seu lado.
acadêmico. Com a proposta de fazer um
mestrado com ênfase em habitação de inte- Na aceleração, os empreendedores sabiam
resse social, a sinergia foi imediata. que o negócio focaria em reformas, mas não
tinham definido o formato. Com o apoio da
“Com Marcelo Coelho e Igiano Souza, meus equipe da Artemisia, surgiu a ideia de oferecer
sócios, já tínhamos uma ideia de empreender kits ligados às patologias habitacionais que
no setor. Nesse momento do mestrado, apro- impactavam a saúde. “Quando vimos, do
ponto de vista de uma abordagem mais
acadêmica, questões como falta de cobertura
adequada, iluminação e de ventilação e
banheiro inadequado, tivemos a ideia de
transformar os problemas em soluções por
meio de kits de reforma”, relembra. O formato
foi evoluindo, de acordo com o feedback
dos clientes.

Ao longo da trajetória do negócio, o papel da


Artemisia, segundo Assad, foi mudando.
“Primeiro, a organização teve um papel de
apostadora – ou seja, acreditou na proposta
de valor do negócio –; depois, de apoiadora,

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inclusive financeiramente. Em momentos e homologa profissionais e outros negócios de
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críticos, não deixou o negócio morrer. Hoje, impacto do setor por meio de uma metodo-
vejo que somos parceiros. Estamos conse- logia própria. Uma das primeiras empresas
guindo provar os pontos básicos e influenciar que está sendo beneficiada por essa novidade
o mercado. A Artemisia, no tema da habi- é a mineira Arquitetos da Vila. Fundado por
tação, tornou-se uma grande articuladora. Wanda em parceria com Lucas Jório, o
Temos trabalhado conjuntamente. Enquanto negócio responde à enorme demanda por
inovamos na operação, a organização inova na reformas habitacionais – voltadas a reduzir
articulação e no fomento de novos arranjos. o déficit habitacional qualitativo – realizando
Andamos de mãos dadas em muitos reformas com qualidade, preço acessível,
pontos”, afirma. possibilidade de financiamento e
prazo adequado.
Sobre a visão de futuro, Fernando Assad é
categórico na continuidade. “A aceleração de “Vivemos, hoje, um processo de empodera-
negócios, que estamos conduzindo em mento muito grande, diante da certeza de
parceria, tem a missão de fomentar um novo estar oferecendo para os clientes uma
fluxo para o setor, algo que criamos juntos. A solução completa e acessível”. A articulação
sinergia entre Artemisia e Vivenda é entre os principais players do setor e as ferra-
inegável”, declara. mentas que a Vivenda criou a partir desse
arranjo, estão levando o Arquitetos da Vila
Inspiração para uma para um outro patamar. “Como empreende-
nova geração dores, nós nos sentimos mais seguros; temos
o know-how de uma empresa que está execu-
A Vivenda desbravou um mercado quase tando, há anos, o que queremos oferecer.
inexistente no Brasil, mas com grande poten- Para além do crédito, temos um acompanha-
cial. Atualmente, o negócio de impacto social mento diário que nos estrutura como negócio.
que conduzia reformas exclusivamente no Para se ter uma ideia, a meta do primeiro
Jardim Ibirapuera, zona sul de São Paulo, mês foi superada rapidamente: vendemos 15
inspira e prepara uma nova geração de reformas! Claro que o aprendizado anterior –
empreendedores dispostos a combater a obtido na aceleração da Artemisia – nos
inadequação das habitações da população de preparou para assimilar essa parceria com a
menor renda pelo Brasil com inovação. Os Vivenda. Depois de dois anos, tivemos o
sócios continuam fazendo reformas, mas primeiro mês em que os sócios vão tirar um
ampliaram o escopo para tornar a empresa pró-labore; vendemos tanto que tivemos que
um agente integrador do ecossistema no contratar um gestor de obras”, conta Wanda
Brasil com a criação da Plataforma de Melho- Foresti, uma das fundadoras do negócio de
rias Habitacionais da Vivenda. A iniciativa, que impacto social, criado para combater o
conta com apoio da Artemisia, nasceu com o problema da inadequação de moradias no
objetivo de ofertar soluções de arquitetura, Aglomerado da Serra – a maior favela de Belo
crédito, material e mão de obra de forma Horizonte, que conta com, aproximadamente,
descentralizada pelo Brasil. Para isso, acelera 50 mil habitantes.

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VIVENDA | Em 2014, os jovens Fernando Assad, Marcelo


Coelho e Igiano Souza fundaram a Vivenda, um negócio de
impacto social focado em realizar o sonho da casa linda na
periferia de São Paulo. Para isso, oferecem soluções como o
Crédito Casa Linda (concessão de microcrédito e reformas para
moradores e empreendedores da periferia); Loja Vivenda
(focada em materiais de construção; produtos de baixo custo e
soluções de reforma na comunidade); e GeneroCidadeSP
(doação de reformas para famílias em situação de risco).

Em 2020, a Vivenda passou a ter uma atuação mais ampla,


tornando-se um agente integrador do ecossistema de
melhorias habitacionais no Brasil. Na busca por descentralizar
e escalar o impacto social que gera, deu início ao apoio de uma
nova geração de profissionais do setor e empreendedores de
impacto dedicados a enxergar a questão habitacional pela
lente da estruturação de um mercado para combater o déficit
qualitativo. Dentro dessa estratégia, a Vivenda desenvolveu
uma iniciativa para certificar e acelerar negócios de impacto
social em habitação, contando com a parceria da Artemisia. Os
negócios apoiados passam a integrar a Plataforma de
Melhorias Habitacionais da Vivenda, criada para ofertar
soluções de arquitetura, crédito, material e mão de obra de
forma descentralizada pelo Brasil. A iniciativa é pontuada pelo
triplo objetivo de estruturar o ecossistema de melhorias
habitacionais para a periferia; certificar negócios de impacto e
profissionais do setor como arquitetos e engenheiros – que
hoje estão pulverizados – a operar com as tecnologias e o
mecanismo de financiamento da Vivenda; e dar acesso aos
moradores de outros Estados a reformas acessíveis de baixa
complexidade e alto impacto social.

VIVENDA
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VITTUDE

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VITTUDE 17

Quebrando o tabu
da saúde mental

Um negócio de impacto social tem auxiliado os ambiente profissional apoia a missão de am-
brasileiros a inserir os cuidados com a saúde pliar o acesso à terapia. A proposta da Vittude
mental no cotidiano. Pioneira na temática, a Vit- Corporate é permitir que as empresas protejam
tude – criada em 2016 por Tatiana Pimenta e o capital intelectual com uma lógica de investir
Everton Höpner – se tornou uma das platafor- em promoção à saúde mental. Na maioria das
mas de terapia on-line mais populares do Brasil. vezes, questões relacionadas à saúde psíquica
O sucesso fez a empresa cruzar as fronteiras; começam a aparecer após anos de trabalho,
hoje, está presente em mais de 50 países. A submetendo o indivíduo a um sofrimento psí-
análise de que metade dos municípios do Brasil quico que pode gerar ansiedade, estresse e de-
não tem psicólogos atuando localmente revela pressão. Ao contratar o serviço, as companhias
o potencial da solução de democratizar o e os funcionários passam a contar com apoio
acesso à terapia. Para atender pacientes em especializado para lidar com a saúde da mente.
todos os continentes, a startup desenvolveu um
consultório virtual criptografado, que garante a Consultoria para a criação de soluções digitais –
confidencialidade das consultas, seguindo os que usa a tecnologia para otimizar e inovar a
protocolos internacionais de privacidade. operação de empresas –, a Nave.rs é uma das
clientes da Vittude Corporate. “Sempre tinha
Em 2019, teve início a atuação no mercado cor- ouvido falar sobre a importância de ter um psi-
porativo, resultado de um aporte financeiro de- cólogo e de fazer terapia, mas nunca tinha
corrente do crescimento da demanda e do pro- acessado um profissional de confiança;
pósito de aumentar, ainda mais, o impacto da também, nunca consegui ter tempo livre e me
empresa na sociedade. Isso porque oferecer organizar para tal. Quando a empresa firmou a
uma solução de apoio psicológico também no parceria com a Vittude, foi muito fácil encontrar
um psicólogo e criar conexão com ele. O fato de
eu poder fazer as consultas on-line ajudou bas-
tante, porque se encaixou na minha rotina e por
trazer apoio em um momento pessoal difícil –
com o impacto da pandemia – e profissional”,
conta Felipe Adamoli, sócio da empresa. Ao
final, temos pessoas mais felizes dentro da cor-
poração, que conseguem lidar com questões
humanas da melhor forma”, afirma, acrescen-
tando que tem sido um diferencial para a star-
tup poder contar com um negócio de impacto
social nesse sentido.

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Matheus Danemberg, sócio da Nave.rs, conta o número exato de pessoas que poderíamos
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que a parceria com a Vittude teve um impacto levar para a residência. Conseguimos, com isso,
muito positivo de consciência pessoal, em espe- ficar com o time inteiro dentro do espaço; o que
cial, em aprender a lidar com as demandas coti- pode parecer simples, facilitou muito.
dianas de uma empresa que está crescendo. Ou Levávamos clientes, fazíamos reunião com a
seja, um impacto no posicionamento e na forma equipe completa; chegamos a fazer um evento
de lidar com os desafios do dia a dia. Ficamos para psicólogos. Gostei muito, ainda, do processo
tão satisfeitos que, um mês depois, resolvemos individualizado de aceleração, que nos ajudou a
estender para todas as pessoas da empresa traçar metas e métricas pertinentes ao negócio
que tiverem interesse. Hoje, 70% dos profissio- naquele momento. Não foi um programa padrão;
nais da organização usam a plataforma. Nota- cada um dos 10 participantes
mos, então, o mesmo impacto positivo dentro foi tratado, nas suas peculiaridades, como único”,
do time”, afirma. detalha. A empreendedora conta que teve conta-
to com mentores, fundos e articuladores em
Impactando vidas 2018, que hoje permanecem importantes para
diferentes estágios do negócio.
“Um ponto relevante de ter participado do pro- “As conexões proporcionadas pela Artemisia
cesso foi entender que a Vittude é um negócio são estratégicas”, diz.
de impacto social. Eu, equivocadamente, asso-
ciava o modelo defendido pela Artemisia ao de Hoje, a Vittude está em franca expansão. Nos úl-
uma ONG. Na aceleração, tive, pela primeira timos três anos, a empresa cresceu 64 vezes. Em
vez, contato com conceitos como Teoria da Mu- 2020, em específico, o crescimento foi de cinco
dança; passei a entender que impacto também vezes, dado que a solução on-line se mostrou
tem a ver com o alcance, com a escala e a pos- ainda mais relevante frente à situação imposta
sibilidade de crescimento”, relembra Tatiana, do ano. Durante o período de isolamento e dis-
cofundadora. A reflexão da importância das mé- tanciamento social, o apoio psicológico disponibi-
tricas dentro do contexto de empreendedoris- lizado foi determinante para amparar as pessoas
mo social é, para a empreendedora, um dos com suporte profissional e evitar o agravamento
principais aprendizados. “Hoje, metrificamos in- de condições psíquicas. “O impacto da pandemia
formações sobre os clientes, entendendo, inclu- na saúde emocional das pessoas fez com que
sive, o número de pessoas que ganham até houvesse uma maior adesão ao on-line para ser-
cinco salários-mínimos que acessam os serviços viços, como os de telemedicina, por exemplo. O
da Vittude. Esse tipo de informação dimensiona isolamento causou um aumento de casos de de-
o quanto impactamos vidas. São insumos rele- pressão e ansiedade, ou seja, houve um impacto
vantes, também, para dialogar com fundos que na saúde das pessoas. Com isso, corremos para
têm teses de investimento voltadas ao impacto, atender essa demanda e saímos de um time de
ou seja, a organização nos abriu um novo olhar 13 pessoas para 60 profissionais”, detalha. Em
para o business”, afirma. 2019, a empresa recebeu um aporte de US$ 1
milhão e, em 2020, volta a captar para dar su-
A experiência de estar dentro da Aceleradora Es- porte a uma estratégia de expansão. “As pontes
tação Hack foi, na percepção de Tatiana, muito abertas pela Artemisia são para a vida. Temos
boa. “Na época, tínhamos sete colaboradores – muito orgulho dessa parceria”, finaliza.

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VITTUDE | Empresa referência em psicologia on-line e saúde


emocional corporativa, a Vittude foi criada em 2016 por
Tatiana Pimenta e Everton Höpner. A startup foi acelerada pela
Artemisia e pelo Facebook dentro da Estação Hack, programa
que apoiou startups que utilizam dados para geração de
impacto social. No final de 2019, recebeu um aporte de R$ 4,5
milhões para investir na ampliação do Vittude Corporate. A
rodada foi liderada pela Redpoint eventures e contou com a
participação da Superjobs – venture capital focado em
negócios de impacto e de saúde. No mesmo ano, a Vittude foi
a única empresa brasileira finalista da premiação internacional
Cartier Women's Initiative Awards, tendo recebido um prêmio
em dinheiro de US$ 30 mil. Atualmente, a startup já está
presente em mais de 50 países, com mais de 150 mil usuários
e cerca de 6 mil psicólogos cadastrados.

VITTUDE

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H I S T Ó R I A #5

GEEKIE

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Educação para
construir futuros

A educação forma e transforma vidas, altera A história dele começou a mudar quando o
destinos e promove mudanças perenes na seu caminho cruzou um negócio de impacto
sociedade. A história de Manoel de Lima social: a Geekie. Órfão de pai e com a mãe se
ilustra o quão longe as oportunidades educa- desdobrando para criar quatro crianças,
cionais podem nos levar. Nascido em Icó, desde cedo Manoel acreditava que apostar na
cidade do interior do Ceará, o jovem sempre educação era uma possibilidade para alterar
estudou em escolas públicas; uma delas, as condições de vida da família. Sempre
lembra, dispensava os alunos cada vez que adorou estudar, mas enfrentava imensas difi-
chovia. “A primeira escola que estudei, no culdades; a escola na qual cursou o Ensino
Ensino Fundamental I, tinha o teto todo fura- Médio estava em 46ª posição no ranking dos
dinho, então, quando vinha a chuva, tínhamos piores desempenhos do Exame Nacional do
que voltar para casa. Dividíamos o espaço Ensino Médio. Além disso, conciliar trabalho e
com uma oficina mecânica”, conta. Dos mais estudos comprometia o desempenho do
de 50 primos que possui, apenas dois conclu- jovem, embora ele fosse sempre o melhor
íram o Ensino Médio, mas não chegaram a aluno da turma.
acessar um curso superior. Desafiando um
futuro de escassez, Manoel entrou em Biome- Em 2013, essa história ganha novos capítulos
dicina, na Universidade Maurício de Nassau, quando o governo do Ceará decidiu adotar a
como bolsista do ProUni. plataforma Geekie Games como parte de um
programa oficial de preparo para o ENEM.
“Fiquei sabendo da Geekie pela escola, mas
não tinha muita convicção de que a plata-
forma iria me ensinar alguma coisa. Mas,
quando comecei a navegar, vi que havia muito
conteúdo que eu nem conhecia”, conta. A
partir dessa experiência, ele passou a estudar
até 14 horas por dia. Melhorou em 35% o seu
desempenho no exame, em dois meses de
estudos; tornou-se embaixador do Geekie
Games. Hoje, biomédico graduado e
mestrando da UNESP, atua profissionalmente
em um hospital de Ribeirão Pires (São Paulo).
O sonho de estudar fora do Brasil permanece

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
nos planos dele. Quando visitou a Geekie, em dava o empreendedor a refletir sobre
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São Paulo, conversou com todos os funcioná- questões como o propósito – foram muito
rios e sempre deixava uma mensagem: importantes para a Geekie. Eu me lembro que
“o trabalho que vocês fazem é incrível; para nós, como grupo, foi rico ter contato
continuem assim, pois muita gente depende com uma metodologia que coloca o ser
de vocês”. humano no centro. Essa experiência nos
ajudou a pensar e formatar metodologias de
Missão: transformar desenvolvimento de produtos; a ter um olhar
a educação qualificado para impacto, sobretudo, porque
não tínhamos repertório desse tema”, conta
A trajetória de Manoel de Lima emociona Sassaki. A busca por quantificar e mensurar o
Claudio Sassaki. Em 2011, o empreendedor impacto – do aprendizado, em especial – foi
fundou a Geekie – ao lado de Eduardo um input trazido pelo programa de acele-
Bontempo – com a missão de transformar a ração. Hoje, a parceria institucional com a
educação do país, ou seja, contribuir para Artemisia permanece.
novas narrativas de vida como a do jovem
nordestino. Em nove anos de atuação, a “Nesses anos, tivemos muitas Geekies e Arte-
empresa cresceu e tem desenvolvido soluções misias, que foram sendo reformuladas como
inovadoras que potencializam a aprendi- resposta às mudanças do mercado, mas
zagem de alunos, tanto de escolas públicas sempre mantivemos uma relação de suporte
quanto de privadas; são ferramentas educa- mútuo. A ponte com o fundo norte-americano
cionais que tornaram o negócio referência em Omidyar Network, por exemplo, foi feita pela
educação com o apoio de inovação no Brasil e organização; contratamos vários profissionais
no mundo. alinhados ao propósito indicados pela
Artemisia. Começamos a pensar sobre
A parceria da Geekie e da Artemisia teve mensuração de resultados a partir das refle-
início em 2012, quando Sassaki foi conectado xões e provocações trazidas na aceleração,
à organização por uma amiga. Mesmo com ou seja, são grandes contribuições para a
larga experiência adquirida pela carreira no Geekie”, avalia.
mercado financeiro, ele entendeu que o
processo de aceleração conduzido por uma Hoje, segundo o empreendedor, a parceria
das pioneiras no fomento de negócios de permanece sólida. Além de mentorar
impacto social no Brasil seria importante para empresas aceleradas pela organização, em
a equipe como um todo. 2019, Geekie e Artemisia criaram uma disci-
plina de Empreendedorismo Social voltada
“A troca de experiências entre as empresas para alunos do Ensino Médio. Juntas, parti-
participantes no processo de aceleração e a lham o sonho de transformar, positivamente,
ênfase em uma imersão pessoal – que convi- a educação do Brasil.

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
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GEEKIE | Com foco no Ensino Médio e Fundamental II, a empresa


alia tecnologia de ponta a metodologias pedagógicas inovadoras.
Única plataforma brasileira de ensino adaptativo credenciada
pelo Ministério da Educação (MEC) para o Guia de Tecnologias
Educacionais – que identifica soluções tecnológicas capazes de
melhorar a qualidade do ensino brasileiro –, em sua trajetória, a
Geekie alcançou mais de 5 mil escolas públicas e privadas de
todo o país, impactando mais de 12 milhões de estudantes.
Entre as certificações mais relevantes, a empresa destaca: WISE
2016 (Qatar Foundation), TOP Educação (Revista Educação,
categoria soware educacional mais lembrado do mercado),
Empreendedor Social Brasil (Folha de São Paulo e Fundação
Schwab), Empreendedor Social Mundial (Fundação Schwab), Trip
Transformadores e Empresas Mais Conscientes (Revista IstoÉ) –
além de compor a rede global de empreendedores Endeavor. A
Geekie já contou com aporte de investidores de tradição na área
educacional como família Gradin (por meio do fundo Virtuose),
Fundação Lemann, Jorge Paulo Lemann (por meio do Fundo
Gera), Arco Educação, além dos fundos Omidyar Network,
norte-americano, e o japonês Mitsui & Co.

GEEKIE GAMES | Criada em 2013, Geekie Games é uma


plataforma de estudo on-line que capacita e aprimora o
desempenho de estudantes em provas do Exame Nacional do
Ensino Médio e dos vestibulares. Adaptativa e com a oferta de
planos de estudos, aulas, exercícios, simulados e simulador do
SISU, a plataforma já foi usada por quase 12 milhões de
estudantes. Em 2016, foi selecionada como a ferramenta de
estudos oficial para o ENEM e contou com o reconhecimento do
Ministério da Educação e Cultura (MEC). Ao longo da trajetória, a
plataforma auxiliou 73% de estudantes com idade entre 18 anos
e 24 anos: 22% entre 25 anos e 44 anos; e 5% com mais de 44
anos, sendo 64% de mulheres e 36% de homens. Destes, 72%
são de escolas públicas e 28% particulares.

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JAUBRA

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JAUBRA 25

Mobilidade nas
quebradas de São Paulo
“Para muitos motoristas, o trabalho se
resume a dirigir. Na Jaubra, ultrapassa os
limites da profissão. Estou há mais de três
anos com eles e, para mim, significa sair da
zona de conforto, confrontar os meus
próprios preconceitos com os territórios e ser
empático”, conta José Orlando Ramos
Fernandes de Assumpção, um dos profissio-
nais parceiros do negócio de impacto social
criado por Alvimar da Silva e Aline Landim, no
bairro da Brasilândia. Experiente no trânsito,
ele coleciona histórias de corridas que
mostram a importância de levar a mobilidade
e o direito de escolha às quebradas.
muito além, porque as necessidades são
Segundo ele, duas histórias marcantes estão diversas”, conta, acrescentando que fez
associadas a situações-limite, nas quais o questão de mandar, depois, WhatsApp para
cliente precisava de transporte rápido para saber do estado de saúde dos passageiros.
chegar ao hospital. “A primeira, é o caso de Sobre os preconceitos, José Orlando é
uma moça que estava com o pé completa- enfático: “devo à Jaubra a oportunidade de
mente virado, ou seja, quebrado. Com muita sair do meu mundinho e fazer a diferença;
dor, a moradora do Jardim Peri precisava trabalhar com um propósito maior”.
chegar rapidamente ao hospital da Vila Nova
Cachoeirinha. No caminho, além de acomo- Propósito é uma palavra que define a jornada
dá-la da melhor forma possível, fui acalman- de Alvimar da Silva e o que o conectou com a
do-a. Em outro caso, de um rapaz com uma Artemisia. Envolvido em iniciativas comunitá-
dor abdominal absurda, pedi ajuda a uma rias da região da Brasilândia há mais de 20
viatura da polícia para que nos escoltasse. A anos, esse empreendedor prateado enxergou
ideia era chegar o quanto antes ao hospital; na escassez do transporte a oportunidade de
eles me aconselharam a ligar o pisca-alerta e fazer a diferença com a sua profissão. Longe
prosseguir. Em um trajeto que demoraria 30 do estereótipo de empreendedor de startup,
minutos, fizemos na metade do tempo! ele se surpreendeu com as possibilidades de
Nessas experiências, vi o quanto o serviço fazer o negócio crescer, alinhado ao conceito
acessível é essencial à vida das pessoas; não de impacto social. “Sempre falo para minha
estou falando de transporte para o lazer, vai filha, Aline, que demos muita sorte em

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
encontrar a organização. A Artemisia tem um “Eu não tinha compreendido que havia criado
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diferencial que é esse olhar mais humano; uma startup. Com a Artemisia, entendi que
trata a gente com um carinho a mais. A estava transportando vidas e levando impacto
mentoria é de um suporte absurdo, voltado a positivo para o meu território”, conta. O aten-
envolver todos os aspectos da nossa vida; dimento inicial começou via aplicativo de
sabem que por trás do negócio tem um ser mensagens e está evoluindo para um disposi-
humano”, afirma, acrescentando que as coisas tivo próprio, que será lançado em breve. A
que aprendeu na aceleração serão levadas startup, aliás, está crescendo com apoio de
para resto da vida – e disseminadas entre os um investidor e deve chegar a outras regiões
comerciantes do bairro. periféricas de São Paulo e do Brasil.

Entre os aprendizados, Alvimar – que era


motorista de aplicativo antes de empreender
– destaca o entendimento do próprio negócio.

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
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JAUBRA | Como em inúmeras periferias do país, a


comunidade da Brasilândia, zona norte da cidade de São
Paulo, enfrenta a ineficiência do transporte público e a falta
de serviços privados de mobilidade. Muitos dos aplicativos de
transporte costumam se recusar a circular dentro das
quebradas, sobretudo as que são consideradas “áreas de
risco”. Observando os desafios da mobilidade na região e a
importância de gerar empregos para quem mora no bairro, o
motorista Alvimar Silva teve uma ideia simples e brilhante:
criar um atendimento personalizado, via WhatsApp, para que
as pessoas pudessem ir ao médico, ao supermercado, ao
banco, à diversão e ao trabalho com a mesma comodidade
usufruída pelos moradores de áreas nobres. Com o apoio da
filha Aline Landim, em 2017, nasceu um empreendedor e um
negócio de impacto social: Jaubra.

Apelidado pelos moradores da Brasilândia como o “Uber da


Quebrada”, o serviço representa a proposta de uma
mobilidade inclusiva; uma cidade inteligente para todos.
Jaubra atua com uma taxa competitiva, em comparação a
outros aplicativos similares; oferece, também, a opção de
corridas compartilhadas – o que otimiza as locomoções de um
ponto a outro. Com isso, os moradores passaram a ter mais
mobilidade, conforto e segurança para se deslocarem em
qualquer horário.

JAUBRA

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H I S T Ó R I A #7

A BANCA

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A BANCA 29

A potência empreendedora
das periferias
“O diálogo entre os dois lados da ponte tem cultura hip-hop levou-o a conhecer a Arte-
um enorme potencial de promover conexões misia, em 2007. Na época, ele se inscreveu
transformadoras”, defende Marcelo Rocha, em um processo de formação pessoal e
conhecido como DJ Bola, ao se referir às técnica de jovens lideranças, conduzido pela
pontes que separam a cidade de São Paulo organização. “Após participar desse processo,
entre a região central e as periferias. Esse em 2008, A Banca passa de um movimento
pensamento da abundância de saberes, de juvenil a uma associação sem fins lucrativos,
oportunidades e de união de capacidades tem e posteriormente, nos posicionamos como
pautado uma iniciativa pioneira que apoia um negócio de impacto da periferia. Costumo
negócios de impacto social criados por dizer que foi uma virada de chave, um
empreendedores que têm transformado os processo de transformação relevante.
próprios territórios em polos de inovação. Um Tivemos, por dois anos, acompanhamento
dos protagonistas desse movimento de valori- estratégico, jurídico e de marketing, além
zação e apoio à potência empreendedora que disso, acessamos um capital-semente”,
emerge das periferias, Bola, conta que a detalha, acrescentando que a formação
trajetória como articulador social começou provocou muitas reflexões sobre os caminhos
com a produtora cultural A Banca, no início possíveis para potencializar o impacto que se
dos anos 1990. propunham a gerar.

A busca por participar de editais para finan- Na última década, A Banca conquistou um
ciar intervenções educacionais por meio da espaço de destaque no ecossistema brasileiro
de empreendedorismo social, tornando-se
uma referência para além do Jardim Ângela.
“Começamos na garagem dos meus pais, onde
montamos o nosso primeiro escritório. Desde
então, vemos que a estrutura da organização
cresceu; a equipe e o estúdio foram ampliados.
Hoje, expandimos a atuação para fora de São
Paulo ao desenvolver projetos em quebradas
de Estados como Minas Gerais – no bairro Igre-
jinha, em Juiz de Fora. Estruturamos o
processo de prestação de serviços para conso-
lidar a prática de oferecer serviços de desen-
volvimento local, tendo parceiros como a Nexa
Resource, um braço da Votorantim”, detalha.

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De oficinas de hip-hop a seminários, gestão de tecnológicas que deem suporte à expansão;


eventos e shows, a organização usa a lógica e de novas formas de mensurar o alcance
de estruturação para consolidar uma atuação e o impacto. “Desde o processo da Artemisia,
mais ampla. Hoje, atuamos em áreas como vivemos uma crescente que nos trouxe a
cultura, música e educação – aulas de música, esse momento; este ano, conseguimos
gestão de carreira, empreendimentos passar a pandemia sem demitir ninguém
musicais. “No nosso estúdio, a atuação da equipe”, conta.
envolve toda a cadeia de produção da música,
inclusive, a distribuição via parceria com a Na jornada, A Banca conduziu mais de 80
Tratore, uma distribuidora independente de eventos gratuitos em espaços públicos da
produções fonográficas”, afirma Bola, acres- cidade de São Paulo, nos quais já se apresen-
centando que A Banca vive a dor do cresci- taram mais de 100 grupos musicais, benefi-
mento, na prática, os desafios decorrentes da ciando, diretamente, 40 mil pessoas. Foram
ampliação do negócio para outros Estados; da mais de 25 escolas públicas e privadas aten-
definição de novas áreas de atuação correla- didas no Intercâmbio Social-Cultural; e a
cionadas com o impacto social que a produ- organização investiu mais de R$ 600 mil em
tora tem promovido; da necessidade de incor- empresas de impacto de periferia.
porar boas práticas associadas a ferramentas

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
Expansão das ideias que já estão transformando cenários. Essa
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e inspiração para uma história de ‘não tem empresas ou projetos’
nova geração nas quebradas deixou de ser propagada. Na
real, não existia uma mente aberta para en-
Presidente-fundador da produtora cultural de tender o jeito de fazer e inovar das periferias
impacto A Banca e um dos idealizadores da – que é totalmente diferente dos centros con-
Articuladora de Negócios de Impacto da vencionais de inovação. Então, entendo que
Periferia (ANIP), Bola tem apoiado uma essas provocações foram uma das contribui-
nova geração de negócios de impacto social ções para trazer impacto”, reflete.
que surge e atua nas periferias. A iniciativa
nasceu da crença de que o empreendedoris- Como futuro, ele enxerga a atuação de A
mo com propósito somente será efetivo se a Banca cada vez mais voltada ao empreende-
população das periferias for protagonista na dorismo e à música, dentro dos territórios.
criação de empresas que solucionem os pro- “Nas periferias brasileiras há uma potência
blemas sociais e ambientais da quebrada. Du- ainda não considerada pelo sistema de im-
rante muitos anos, a população da periferia pacto: a da economia criativa; mais especifi-
foi vista apenas como cliente, usuária ou be- camente a música. Não temos iniciativas
neficiária – não como a criadora das soluções. olhando para esse mercado. Então, estamos
Nas diversas periferias brasileiras, na nos estruturando para abrir um espaço para
verdade, há empreendedores com ideias e uma nesse sentido”, conta. Segundo Bola, o
soluções com alto potencial de impacto e impacto social não começa na ideia; sim, na
inovação social. desconstrução dela.

Na visão do empreendedor social, A Banca se Sobre a parceria com a Artemisia – uma rela-
tornou uma potência da periferia, porque es- ção pontuada por admiração e respeito
colheu ser. Na prática, o discurso que norteou mútuo; trocas; e acolhimento –, Bola ressalta
o início da organização tornou-se concreto, a profunda conexão entre ambas. “Somos
inspirando novas gerações. “Levamos nossa parceiros da melhor organização da América
visão e nossas provocações tanto dentro da Latina que trata de negócios de impacto
quebrada quanto fora; ocupamos um lugar social. Nós respeitamos muito isso e espera-
que tem intencionalidade de colaborar com o mos continuar juntos por muitos anos, des-
desenvolvimento da base. Questionamos, por travando temáticas e construindo novos ce-
exemplo, como o investimento social privado nários”, finaliza.
poderia dialogar com negócios e articulações

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A BANCA | A Banca nasceu como um movimento juvenil no final


da década de 1990, quando o Jardim Ângela – bairro periférico
paulistano – era considerado um dos lugares mais violentos do
mundo. Em 2007, a organização passou pelo processo de
aceleração da Artemisia; em 2008, estruturou-se juridicamente,
tornando-se uma associação. Desde o início de suas atividades,
A Banca já realizou mais de 130 eventos gratuitos em espaços
públicos da cidade de São Paulo, nos quais se apresentaram
120 grupos musicais, beneficiando diretamente 45 mil pessoas.
Atuou com mais de 25 escolas públicas e privadas, oferecendo
intervenções educacionais por meio da cultura Hip-hop e da
Educação Popular. Foi a pioneira em fazer conexões de impacto,
em busca de romper as barreiras invisíveis culturais, sociais e
econômicas com pessoas de diferentes realidades na cidade de
São Paulo.

ARTICULADORA DE NEGÓCIOS DE IMPACTO DA QUEBRADA


Do cenário periférico da cidade de São Paulo emergiu um novo
pensamento sobre negócios de impacto; uma geração de
empreendedores que se apresentou como potência de inovação, de
impacto e de superação. Para apoiar e potencializar esse
empreendedorismo transformador, A Banca, a Artemisia e o FGVcenn
se uniram, em 2018, para criar uma iniciativa pioneira na temática;
em 2020, as organizações anunciaram a nova Articuladora de
Negócios de Impacto da Periferia.

Com uma estratégia integrada de apoio à jornada empreendedora


dentro das periferias, a ANIP – que atua em quatro grandes frentes de
atuação: mobilização e inspiração; novos modelos financeiros;
geração de conhecimento; e formação de empreendedores – conta
com o apoio da Fundação ARYMAX, Fundação Tide Setubal, Fundação
Via Varejo, Instituto Humanize e AZ Quest. Hoje, como articuladora,
tem a intenção de compreender, articular e mobilizar atores
estratégicos para a consolidação do ecossistema de negócios de
impacto nas periferias. www.articuladoranip.com

A BANCA
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DULOCAL

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DULOCAL 34

Receitas para alavancar


a cidadania

Moradora de Paraisópolis há 11 anos, Renata


Felipe Santana se inscreveu em uma iniciativa
de capacitação de cozinheiras no bairro
paulistano, conduzida pelo programa Einstein
na Comunidade. Como parte da programação,
ela participou de um workshop ministrado
pela duLocal – negócio de impacto social e
ambiental que conecta pequenos produtores
de orgânicos a uma rede de cozinheiras-em-
preendedoras. “Minha vida mudou muito a
partir dessa experiência. Quando ingressei no
curso, estava muito cética em relação ao
futuro e com depressão. Na dinâmica, a
equipe me avisou que a startup daria início à
seleção e ao treinamento de novas profissio- para ser cozinheira-multiplicadora. Não vejo a
nais para integrar o time de parceiros. Deixei hora de voltar a trabalhar os cinco dias por
meu telefone, mas não acreditava que semana”, afirma, acrescentando que o apren-
ligariam. Estava bastante enganada. Parti- dizado constante é algo que a motiva. “É
cipei de algumas provas eliminatórias; a desafiador aprender a cozinhar somente com
última envolvia uma visita à minha cozinha. vegetais. Uma das receitas que mais gosto de
Fui aprovada e há um ano vivo uma nova preparar e de comer é a Baianidades, uma
realidade que me desafia diariamente”, conta. moqueca de cogumelo com abóbora. Reco-
mendo para todo mundo!”, diz a cozinheira-
Renata se tornou uma das cozinheiras-em- -parceira, comentando o menu.
preendedoras e uma das grandes fãs do
trabalho desenvolvido por Felipe Gasko,
Rafaela Soldan e Roberta Rapuano. “Costumo
dizer que tenho imensa gratidão pela duLocal Transformação por meio
e pela forma humana como lidam com todos da alimentação
os parceiros. Tive Covid-19 e fiquei três
semanas afastada do trabalho, ainda assim, Segundo o engenheiro ambiental Felipe
eles fizeram questão de me remunerar como Gasko, fundador da duLocal, a proposta de
se eu tivesse trabalhado dois dias por criar uma startup de gastronomia – focada na
semana. Então, penso em progredir com eles. entrega de refeições orgânicas e baseadas
Antes da pandemia, inclusive, fui convidada em vegetais, e que trouxesse um impacto

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social positivo – sempre esteve no seu radar, com apoio emocional, conhecimento, conexão
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da mesma forma como o sonho de ser acele- com os mentores e investidores. Sabemos
rado pela Artemisia. “Do mesmo jeito que que a duLocal se tornou o que é porque muita
pensamos, ao terminar o ensino médio, que o gente ajudou. Então, enxergamos essa força
próximo passo deveria ser a universidade, de uma coalizão; da chancela da organiza-
sempre acreditei que quando me tornasse um ção”, afirma, acrescentando que a aceleração
empreendedor social, naturalmente a minha resultou na evolução dos empreendedores e
empresa teria que ser acelerada pela organi- do negócio. “Legitimou a duLocal. Fizemos
zação”, brinca, acrescentando que essa visão uma rodada de captação e investimentos
começou a ser tangível quando participou, em nesse período; a visibilidade na imprensa, que
2018, do Artemisia Lab Alimentação. “A meta, tivemos via Artemisia, também foi muito rele-
depois, passou a ser a criação de um negócio vante. O apoio, a meu ver, foi tanto tangível
que pudesse ser impulsionado pela Acelera- quanto intangível”, salienta.
dora Estação Hack, programa da Artemisia em
parceria com o Facebook”, afirma. O impacto positivo da duLocal, na visão do
empreendedor, acontece em curto e longo
O empreendedor conta que não é nada trivial prazos. De imediato, a geração de renda
ter passado por essa experiência de ser um digna. No futuro, o desejo é de uma transfor-
dos residentes da Estação Hack por seis mação ainda maior. “Queremos mudar a
meses. “Sempre admirei a Artemisia pelo pio- forma como as pessoas se alimentam e, a
neirismo e pela capacidade de articular o partir dessa mudança, gerar impacto positivo
ecossistema brasileiro de impacto. Vivencian- ao longo da cadeia. Quando mais gente
do essa realidade de aceleração, vi a impor- aprender a comer do jeito certo, resolvere-
tância de uma articulação para apoiar o em- mos muitos problemas do mundo”, finaliza.
preendedor em diferentes momentos – seja

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DULOCAL | Startup de gastronomia com impacto social e


ambiental positivos, a duLocal foi fundada em 2018 por Felipe
Gasko. Hoje, o negócio funciona como uma plataforma que
conecta pequenos produtores locais de orgânicos a uma rede
de cozinheiras-empreendedoras de Paraisópolis para entregar
pratos 100% vegetais, frescos e gastronômicos via delivery.
Na prática, a empresa ajuda o produtor a escoar a produção,
oferece oportunidade de geração de renda a
cozinheiras-parceiras de bairros periféricos, além de criar
disponibilidade de comida orgânica e saudável para a
população. O cardápio é desenvolvido por uma chef que utiliza
os insumos disponíveis na estação; as cozinheiras são
capacitadas e recebem visitas periódicas; os pratos são
vendidos via aplicativos de delivery ou via WebApp do próprio
negócio. Hoje, a duLocal conta com três sócios envolvidos na
operação: Felipe Gasko, Rafaela Soldan e Roberta Rapuano.

DULOCAL

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HAND
TA L K

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De Alagoas para o mundo:


acessibilidade para promover
a inclusão de pessoas surdas
O desejo de deixar um legado e construir um
mundo melhor inspiraram Ronaldo Tenório a
unir duas paixões: tecnologia e comunicação.
“Em uma analogia, percebi que a tecnologia
poderia criar rios e levar acessibilidade para
outros lugares. Sempre olhei para o trabalho
dos intérpretes de Libras com muito respeito
e admiração. Hugo, um tradutor virtual em
3D, nasceu com esse propósito de tornar a
tradução de sinais acessível; ele foi criado
para quebrar barreiras”, afirma o empreen-
dedor social que fundou a Hand Talk, em
2012, em parceria com Carlos Wanderlan e
Thadeu Luz. O trio desenvolveu um aplicativo no mundo. As mentorias e as pessoas que
inovador para tradução de Língua Portuguesa conheci durante o processo trouxeram conhe-
para a Língua Brasileira de Sinais. Hoje, cimentos que carrego sempre. Hoje, a cada
a solução contabiliza mais de 3,5 milhões ação que eu faço, vejo refletido esse aprendi-
de downloads e mais de 12 milhões de zado”, afirma.
traduções mensais.
Segundo ele, um dos grandes aprendizados
O negócio de impacto social teve por base a foi equilibrar o negócio com o impacto; ou
empatia. Embora não tenha deficiência seja, entender que como empreendedor
auditiva, Ronaldo Tenório conta que olhar social não poderia ser nem um mercenário,
para a dor do próximo foi o start para pensar tampouco um missionário. “O equilíbrio é
em uma ferramenta com o apoio de tecno- necessário para construir um negócio esca-
logia assistiva. E, nesse caminho, a parceria lável e sustentável. Um ponto importante
da Artemisia o ajudou a compreender como nessa trajetória são os amigos que fiz, empre-
formatar um negócio de impacto social a endedores que participaram da mesma turma
partir de uma ideia solidária. “A organização que eu de aceleração. Até hoje, temos uma
me fez entender que eu era um empreen- relação de troca muito boa”, afirma Tenório,
dedor social. Antes da aceleração, eu não eleito pelo Massachusetts Institute of Techno-
tinha noção da relevância do meu potencial logy (MIT), por meio da MIT Technology
para promover uma mudança positiva na vida Review, como um dos jovens mais inovadores
das pessoas – não somente no Brasil, como com menos de 35 anos.

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projeto no colégio, Momento da Libras, para
Corrente do Bem 39
disseminar a inclusão. “Os meus alunos
A mesma empatia que mobilizou Ronaldo ficaram apaixonados pelo mocinho de óculos,
Tenório e seus sócios atingiu a professora gravata azul e tênis vermelho, Hugo”, conta.
Aretha Braz, que ministra aulas para crianças Em reuniões de pais, Aretha fez a comunicação
– na faixa etária de sete e oito anos – na acessível para que todos pudessem se sentir
Escola Municipal CEI Professor Antônio incluídos. Uma verdadeira corrente do bem.
Pietruza, em Curitiba. Ao notar que a agenda
escolar de determinado aluno nunca voltava Ronaldo Tenório conta que, em 2019, foi
assinada pelos pais, foi investigar o caso; criada – em parceria com a Fundação Lemann
descobriu que os pais do garoto eram surdos – uma função no aplicativo para ajudar as
e se comunicavam por Libras. Na casa, uma escolas a divulgarem os sinais acadêmicos. “É
irmã de 11 anos, ouvinte, intermediava a nessa ânsia de querer fazer algo maior, que
comunicação. Como já havia estudado a sempre estamos tentando ampliar a nossa
Língua Brasileira de Sinais, a professora foi atuação. Hoje, queremos compartilhar cada
pesquisar novas formas de aprimorar os vez mais conteúdos sobre a comunidade
próprios conhecimentos para poder interagir surda para sensibilizar toda a sociedade”, diz,
com a família. Ao achar o aplicativo da Hand acrescentando que, em janeiro de 2021, essa
Talk, passou a mandar bilhetes e recados, no função do aplicativo estará disponível
alfabeto em Libras. E foi além, iniciou um também na Língua de Sinais Americana (ASL).

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
40

HAND TALK | Negócio de impacto social criado com a missão


de tornar o mundo mais inclusivo, aproximando surdos e
ouvintes, a Hand Talk foi fundada por Ronaldo Tenório, Carlos
Wanderlan e Thadeu Luz, em 2012. Os empreendedores
desenvolveram um aplicativo para tradução de Língua
Portuguesa para a Língua Brasileira de Sinais (Libras), que já
conta com mais de 3,5 milhões de downloads e mais de 12
milhões de traduções mensais. Em 2020, a empresa deu mais
um passo rumo à defesa da inclusão: iniciou o processo de
internacionalização ao disponibilizar, também, a tradução de
textos e áudios em inglês para a Língua de Sinais Americana
(ASL).

Para viabilizar a expansão, os empreendedores contaram com


um time de especialistas no idioma. Esses profissionais
atuaram em sistema colaborativo, no qual gravaram e
etiquetaram vídeos dos sinais e das sentenças, melhorando a
tradução e construindo um vocabulário abrangente. Os dados
compilados foram insumos para o sistema de inteligência
artificial. Além do app que faz tradução de textos e áudios, a
Hand Talk também conta com um plugin de acessibilidade
para sites – ferramenta prática que torna o ambiente on-line
acessível: ao ativar o tradutor, o usuário é apresentado ao
Hugo, um simpático intérprete que traduz os textos dos
websites para a Língua Brasileira de Sinais. Em 2013, a
solução conquistou o título de Melhor Aplicativo Social do
Mundo pela Organização das Nações Unidas (ONU).

H A N D TA L K

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
H I S T Ó R I A #1 0
4

COLAB

B O A S
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P A R A
# a r t e m i s i a 1 5 a n o s C O N T A R
COLAB 42

A jornada em direção
à cidadania participativa

demandas dos cidadãos. O trabalho realizado


pela startup permite que os anseios da popu-
lação sejam levados às prefeituras pelo
sistema; os gestores, por sua vez, baseiam-se
nas propostas e nos pedidos dos cidadãos
para conduzir a administração pública. Hoje,
mais de 300 mil brasileiros acessam a
solução da govtech, que tem recebido
prêmios nacionais e internacionais pela
inovação na gestão pública. Foi eleito, inclu-
sive, o melhor aplicativo do mundo pela New
Cities Foundation.

De um game que ajuda os brasileiros a testar A Jornada do Cidadão, jogo de educação


os conhecimentos em questões como demo- política, é uma das inovações trazidas pelo
cracia, divisão de poderes e sistema eleitoral Colab para incentivar o engajamento e a
a uma parceria com o ONU-Habitat – participação dos brasileiros. O aplicativo, que
Programa das Nações Unidas para Assenta- pode ser baixado gratuitamente em versões
mentos Humanos – para diagnosticar os para iOS e Android, tem o objetivo de gerar
avanços do país nas metas de desenvolvi- engajamento a partir da educação política via
mento sustentável, o Colab tem se destacado game, uma forma divertida e lúdica de
entre os negócios de impacto social mais aprender. O Colab é também a ferramenta
relevantes dentro da temática de engaja- escolhida pelo ONU-Habitat para realizar no
mento cívico. A govtech fundada em 2013 por Brasil a consulta pública Cidades Sustentáveis.
Gustavo Maia e Paulo Pandolfi tem desenvol- Habitação e serviços básicos, acesso a trans-
vido maneiras inovadoras para dar mais voz e porte, espaços públicos e adaptação às
repertório ao cidadão e permitir ao governo mudanças climáticas são alguns dos temas
que pratique uma gestão mais compartilhada, abordados na pesquisa, que mede a
próxima e eficiente. percepção dos brasileiros sobre as suas
cidades e como elas estão evoluindo para
Presente em mais de 100 prefeituras do alcançar o Objetivo de Desenvolvimento
Brasil, a plataforma Colab conecta o cidadão Sustentável 11 (ODS 11) da ONU, que busca
ao governo; essa ponte estabelece um tornar as cidades e os assentamentos
diálogo com o poder público para que ele humanos inclusivos, seguros, resilientes e
pratique uma gestão mais conectada com as sustentáveis. A consulta está sendo conduzida

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
pelo terceiro ano consecutivo e, das edições Em 2017, os sócios começam a reestruturar a
43
anteriores, resultaram publicações que empresa e pensar em novos produtos; no ano
trazem a percepção de quase 10 mil brasi- seguinte – conta Gustavo – a Estação Hack
leiros sobre o desenvolvimento sustentável começou a selecionar negócios de impacto
nas cidades. O segundo volume possui social para uma aceleração conduzida pela
download gratuito. Artemisia. “Conhecia a organização e, embora
já tivéssemos passado por outras
Do marketing político acelerações, achamos que seria interessante
à cidadania cívica ser uma das 10 empresas selecionadas. E a
experiência foi muito boa. A organização tem
Paulo e Gustavo, sócios do Colab, são amigos um componente humano no processo que
desde a faculdade de Publicidade, que cursa- agrega os empreendedores – dos mais
ram em Pernambuco. Juntos, fundaram uma experientes aos que estão no início da
agência de marketing digital no Recife que, no jornada. A residência favorecia uma
período eleitoral, atendia campanhas políti- proximidade que vai além do espaço físico,
cas. A experiência fez com que começassem a porque passa por uma imersão intensa”,
pensar em algum programa sobre governo conta. O empreendedor ressalta que um
colaborativo. Em 2013, a ideia tomou forma e diferencial foi a pós-aceleração. “A relação de
atraiu mais de 50 cidades – sendo Curitiba a proximidade continua, porque o
primeira a aderir à solução da govtech. relacionamento criado pela organização com
os empreendedores é muito genuíno. De
todos os processos que passamos, esse foi,
em disparada, o melhor”, afirma.

Sobre o impacto social da govtech nesses sete


anos de atuação, o empreendedor é
categórico. “Conectar o cidadão com o
governo é a nossa principal colaboração.
Quando conectamos mil cidadãos com
determinada prefeitura, criamos condições
para que toda a população seja ouvida e
impactada; proporcionamos aos gestores
públicos a possibilidade de exercer suas
funções com base nas demandas populares.
Esse é o propósito que nos move”, finaliza.

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
44

COLAB | Plataforma que conecta o cidadão ao governo, o


Colab foi fundado em 2013 por Gustavo Maia e Paulo Pandolfi
para dar mais voz ao cidadão e permitir ao governo que
pratique uma gestão mais compartilhada e eficiente. As
demandas da população são levadas a prefeituras pelo
sistema do Colab, sem paradas burocráticas ou empecilhos. E
os gestores se baseiam nas propostas e nos pedidos dos
cidadãos para conduzir a administração pública. A plataforma
é usada por 300 mil brasileiros e mais de 100 prefeituras em
todo o país. A startup já recebeu prêmios nacionais e
internacionais pela inovação na gestão pública.

COLAB

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
H I S T Ó R I A #1 1

DIASPORA.
BLACK

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# a r t e m i s i a 1 5 a n o s C O N T A R
DIASPORA.BLACK 46

O black power do
turismo brasileiro

“Os empreendedores negros têm desafios


maiores, tais como acesso a ferramentas e
metodologias – e nós vivenciamos, na prática,
cada uma dessas barreiras. Embora fôssemos
uma empresa de tecnologia, nem sabíamos
que éramos uma startup! Com o objetivo de
crescer, dentro do conceito de impacto social,
mapeamos em 2017 os espaços e as organi-
zações mais qualificados para nos apoiarem
nessa jornada. No Rio de Janeiro, passamos
por algumas acelerações, mas houve um
momento em que o Estado ficou pequeno
para a Diaspora.Black. Nesse momento,
soubemos do processo da Aceleradora
Estação Hack e do envolvimento da Artemisia “A metodologia e a estrutura da própria ace-
– que já havíamos detectado como uma refe- leração precisava assimilar peculiaridades
rência na temática, como sinônimo de exce- para potencializar o desempenho dos empre-
lência e uma das maiores aceleradoras nacio- endedores negros. Foi um processo de troca
nais”, detalha Carlos Humberto Silva Filho. de experiências para além dos desafios do
negócio. Entre outros apoios, pudemos contar
Em São Paulo, já selecionados para o processo com a ajuda financeira da Artemisia e, em
de aceleração conduzido pela Artemisia e pelo contrapartida, auxiliamos na validação de um
Facebook, os empreendedores viveram os modelo de treinamento, que mais tarde se
desafios convencionais – que permeiam a transformou em um produto que temos para
natureza dos negócios – e os específicos, que a indústria hoteleira. A organização foi estru-
estão no cotidiano dos negros que empreen- turante para nós, sobretudo, nos momentos
dem. “Durante o dia, estávamos envolvidos mais desafiadores”, reflete.
com a rotina das atividades da aceleração; à
noite, corríamos com uma vaquinha on-line Em uma jornada intensa e produtiva, os
para levantar recursos para manter os sócios empreendedores tiveram acesso a ferra-
em São Paulo. Naquele espaço da Estação mentas, mentorias qualificadas, aporte de
Hack, representávamos o sonho de muitos em- fundo e conexões que fizeram o negócio
preendedores afro-brasileiros que não conse- crescer. “Auxiliamos o Facebook a montar uma
guiram chegar até ali”, conta o empreendedor, metodologia para potencializar as empresas
acrescentando que o aprendizado foi uma via lideradas por negros. Com a Feira Preta e o
de mão dupla.

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
Afrobusiness criamos o Afrohub, um projeto anfitriões residentes em cinco cidades norte-
47
que a rede social desenvolve até hoje e que -americanas –, apontou que pessoas com
se tornou uma plataforma. Tivemos muitos nomes e sobrenomes que soam ser afroame-
legados desse processo”, diz. Carlos ricanos têm 16% menos chances de serem
Humberto conta que, no período da aceitas via plataforma de aluguel de imóveis
pandemia, o negócio continuou crescendo a por temporada. A Diaspora.Black rompe essa
partir de um novo serviço que transporta barreira dos vieses inconscientes, do racismo
experiências para a versão on-line. “Não pivo- estrutural e influencia a criação de uma nova
tamos o nosso modelo. O que fizemos foi geração que se orgulha da ancestralidade e
criar um produto que dialoga com esses que dissemina a própria história de lutas e
novos tempos”, detalha. riqueza cultural singular. Em paralelo, a
geração de renda para a população negra
O modelo da Diaspora.Black tem sido apon- tem sido um catalisador de crescimento e
tado como uma grande tendência para o impacto social do negócio.
retorno do crescimento do setor pós-pan-
demia. Isso porque, a locação de residências – Entre os anfitriões da plataforma Diaspo-
que permite ao turista maior controle das ra.Black, 74% são mulheres negras, de 25
condições sanitárias do espaço e circulação anos a 44 anos, que têm um aumento de até
de pessoas onde se hospedará – deve ser 30% na geração de renda com a oferta de
ainda mais valorizada. Por outro lado, as acomodações compartilhadas. Entre os
experiências, depois dessa vivência de distan- clientes, 16% são estrangeiros vindos de
ciamento social, passarão a ser mais procu- países como Itália, França e Estados Unidos.
radas. “Lançamos outro marketplace para O pertencimento, a valorização identitária e
venda de atividades on-line, e esse site foi promoção da igualdade norteiam a relação
responsável por um crescimento no negócio entre a startup de impacto social e seus inte-
de 700% no comparativo do mesmo período grantes – anfitriões de experiências, clientes e
de 2019. Temos, nesse canal, as mesmas parceiros de negócio. “A plataforma também
coisas presenciais: histórias, vivências e articula roteiros históricos – presenciais e
memórias que são tratadas, no on-line, em on-line –, vivências em quilombos e centros
cursos, workshops e atividades culturais. culturais para divulgar o turismo de experiên-
Empreendedores de setores afins – gastro- cias autênticas”, conta Carlos Humberto. O
nomia e cultura – encontraram nesse espaço empreendedor acrescenta que as experiên-
virtual uma forma de manterem os seus cias virtuais são pontuadas pela mesma filo-
negócios vivos”, conta. sofia de valorizar a cultura e a ancestralidade
negra.
Conteúdo qualificado
contra o preconceito Uma das parceiras de conteúdo on-line é a
antropóloga Jaqueline Conceição da Silva,
Uma pesquisa conduzida pela Universidade mestre em Educação: História, Política, Socie-
Harvard, em 2015 – com mais de 6 mil dade pela Pontifícia Universidade Católica

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
(PUC-SP) e doutoranda em Antropologia das empresas por meio da experiência e do
48
Social pela Universidade Federal de Santa compartilhamento de redes. Nossos clientes,
Catarina. A fundadora e coordenadora do por exemplo, passam a conhecer o trabalho
Coletivo Di Jejê – centro de pesquisa e da Diaspora.Black e vice-versa”, afirma.
formação sobre o feminismo negro e o pensa-
mento racial no Brasil. “Trabalhamos com a Sobre o impacto social do negócio, Carlos
oferta de mais de 330 cursos on-line, disponí- Humberto ressalta que construir vínculos de
veis em sete plataformas de ensino, sendo pertencimento e formar uma comunidade
que quatro têm os pesquisadores como públi- global – que busca viver experiências centra-
co-alvo. Com a Diaspora.Black, fazemos um das no fortalecimento da cultura negra – têm
trabalho mensal de curadoria, que envolve sido uma grande jornada marcada pelo pro-
entender o perfil dos clientes da empresa pósito. “A plataforma intermedeia a oferta de
para selecionar os conteúdos mais alinhados acomodações compartilhadas em diversas
à jornada desse consumidor”, conta, acres- cidades, entendendo a casa como espaço de
centando que a parceria tem sido positiva. acolhida e bem-estar. No on-line, as experiên-
“A proposta de trabalhar em rede, sobretudo cias também trazem a essência desse
como negócios da comunidade negra, é muito trabalho que já atendeu mais de 5 mil
interessante. Essa união traz fortalecimento clientes, em 18 países e 140 cidades”, finaliza.

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
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DIASPORA.BLACK | Liderada por Carlos Humberto Silva Filho,


Antonio Pita, Cintia Ramos e André Ribeiro, a Diaspora.Black
nasceu para derrubar as barreiras que o racismo,
cotidianamente, cria e recria. Os empreendedores acreditam
que o conhecimento e a vivência são ferramentas poderosas
para combater o racismo e, também, para a criação de
pontes entre pessoas e culturas. O negócio de impacto social
é uma rede global de pessoas que amam a cultura negra e
buscam viver experiências autênticas e inesquecíveis; funciona
como elo de uma comunidade que tem, agora, uma conexão
para aproximar os negros da própria história, da essência e
riqueza por meio de hospedagens, experiências (presenciais e
on-line) e eventos. Na plataforma é conduzida a mediação de
oferta e procura de acomodações por temporada e venda de
produtos e serviços. Em tempos de pandemia, as viagens
foram substituídas por experiências on-line. A tecnologia é
usada para promover soluções de impacto social e venda do
turismo qualificado. A plataforma de hospedagem é focada em
viajantes e anfitriões interessados em promover a cultura
afro, com ênfase no empoderamento e fortalecimento
econômico da comunidade negra.

DIASPORA.
BLACK

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
H I S T Ó R I A #1 2

PROGRAMARIA

B O A S
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P A R A
# a r t e m i s i a 1 5 a n o s C O N T A R
PROGRAMARIA 51

Lugar de mulher é,
também, na tecnologia

A história da PrograMaria começa com a ideia sionais em 2024; a estimativa é que não
de formar um grupo feminino – composto por teremos pessoas qualificadas para atender
designers e jornalistas – interessado em totalmente a demanda. Somado a isso, a
aprender a programar. Algumas delas já disparidade entre gêneros ainda é algo que
tinham tentado estudar o tema, mas havia a chama a atenção: somente 20% dos profissio-
falta de apoio e de encorajamento. Esse nais de TI que atuam no Brasil são mulheres,
desafio, aliás, é compartilhado por muitas de acordo com PNAD. Apaixonada por tecno-
garotas no Brasil. As mulheres são consumi- logia, a jornalista Iana Chan sempre trabalhou
doras de tecnologia, mas pouco participam da com desenvolvedores e, à medida que alçava
produção dela. Com essa inquietação e da postos de liderança, sentia os obstáculos
reflexão sobre os caminhos possíveis para inerentes a um ambiente majoritariamente
romper com esse padrão, Iana Chan decidiu masculino. A constatação foi compartilhada
fundar, em 2018, o negócio de impacto social com uma amiga designer e esse bate-papo se
que oferece eventos e cursos, combinando tornou o embrião da PrograMaria. Hoje, o
base teórica e prática, e conectando as alunas negócio oferece soluções para grandes
com o mercado de trabalho. empresas interessadas em formar equipes
mais diversas para as áreas de tecnologia.
De acordo com a Associação Brasileira das
Empresas de Tecnologia da Informação e Segundo Iana, a aceleração conduzida pela
Comunicação (Brasscom), o mercado de TI Artemisia foi essencial para o crescimento do
pode apresentar um déficit de 290 mil profis- negócio. “O processo aconteceu em plena
pandemia da Covid-19, então, foi muito
importante ter a mentoria da organização,
porque nos ajudou a ler o contexto, entender
como poderíamos nos preparar para ele e
como acelerar o tempo de resposta frente
aos desafios do momento. Com essa orien-
tação, lançamos produtos digitais; uma estra-
tégia muito acertada, inclusive, para dar
suporte aos novos planos de expansão. Estre-
amos o Curso On-line Eu ProgrAmo com
formato B2C (business to consumer), que
trouxe escala e um novo modelo de negócio”,
conta, lembrando que conhece a Artemisia
desde o início de sua jornada empreendedora.

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
Ela passou por programas como Choice UP e peso. Uma dessas alianças é com a Intel, que
52
Artemisia Lab Educação e Empregabilidade, está fazendo um trabalho consistente com a
antes de chegar à Residência Estação Hack, área de comunicação. “Eles têm uma preocu-
programa da Artemisia em parceria com o pação genuína com a diversidade na tecno-
Facebook. logia e acreditam, firmemente, na inclusão de
mulheres. Em parceria, temos realizados
“Sempre olhei para a organização com muita eventos focados no público feminino, como a
admiração, justamente pelo foco no impacto Sprint PrograMaria. Fizemos uma edição sobre
social. Esse é o nosso core e onde nos reco- inteligência artificial que atraiu mais de 2 mil
nhecemos como negócio. Nessa perspectiva, inscritas do Brasil inteiro, por exemplo.
foi muito importante ter a chancela da Arte- A empresa é muito parceira na produção
misia; o processo de apoio que recebemos de conteúdos e no engajamento das mulheres
nos ajudou a sermos uma empresa melhor, e na tecnologia”, conta Mariana Pezarini, COO
eu a evoluir como empreendedora. Além da PrograMaria.
disso, estar em uma rede de empreendedores
sociais acelerados pela organização mostra Carol Prado, líder de Comunicação da Intel,
que somos um negócio potente. Um outro lembra que a parceria começou em 2016.
ganho é ter acesso a outros líderes de “Essa é uma aliança importante para imple-
empresas de impacto, podendo compartilhar mentar as nossas estratégias globais no país.
angústias, soluções e aprendizados”, reflete. Ou seja, temos metas de diversidade e
equidade de gênero bem agressivas e preci-

Os desafios de 2020 samos de parceiros locais para efetivar as


iniciativas. Nesse contexto, a PrograMaria é
A PrograMaria se consolidou como uma refe- uma peça-chave para atingirmos esses obje-
rência quando o tema é mulheres na tecno- tivos e, nesses quatro anos, realizamos muitos
logia, a despeito de todas as adversidades eventos e muitas ações cocriadas. Esco-
comuns ao empreendedorismo de impacto. lhemos o negócio, porque enxergamos a
“Vejo o futuro com otimismo. Investimos no seriedade e o fato de ter um propósito claro
digital para alcançar mais pessoas, ou seja, de trazer mais mulheres para a tecnologia –
ampliarmos o impacto. O mercado de tecno- algo que está em total sinergia com o que
logia está em pleno crescimento e precisamos queremos e acreditamos”, afirma Carol.
formar mais profissionais qualificadas. Nesse
contexto, vejo uma preocupação grande das Um desses eventos cocriados com a Intel – e
empresas com diversidade. Esse é um transpostos para o ambiente digital – animou
caminho sem volta, que tornará as compa- a amazonense Andrimarciely Souza. “Sempre
nhias de tecnologia mais inclusivas”, afirma. pensei que a PrograMaria era uma comuni-
dade de propósito sensacional, mas que
Para os planos de inserir mais mulheres nas conduzia iniciativas e realizava eventos
empresas e áreas de tecnologia, a somente em São Paulo. Não mais! No evento
PrograMaria tem contado com parcerias de on-line que participei tinha gente de todo

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
lugar; todo mundo animado, uma receptivi- tempos postergava. Hoje, a PrograMaria não
53
dade maravilhosa! Uma das coisas que me é mais só uma comunidade ‘lá de São Paulo’;
encheram os olhos na Sprint – jornada on-line é a minha comunidade, da qual tenho orgulho
sobre inteligência artificial para mulheres de fazer parte”, salienta.
desenvolvedoras – foi conhecer os trabalhos e
as pesquisas de mulheres incríveis para me Para as empreendedoras, ouvir o relato de
inspirar e aprender. No terceiro dia, acon- mulheres que estão se apropriando da tecno-
teceu o workshop e, com ele, todo aquele logia como desenvolvedoras – não somente
poder de ‘você é capaz de fazer também!’ e, como consumidoras – é muito significativo,
então, veio a certeza de estar em uma comu- sobretudo em um cenário tão desafiador
nidade empenhada na ajuda mútua – bugs e quanto o de 2020. “Empreender sempre foi
mais bugs, dúvidas e experiências comparti- lidar com um cenário de alta incerteza e pres-
lhadas, uma ajudando a outra”, conta, acres- são, mas, neste ano, essa potência foi elevada.
centando que o conhecimento gerado conjun- O principal aprendizado reside na importância
tamente é lindo, mas quando vem acompa- de se reinventar, olhar possibilidades, execu-
nhado de altruísmo é imbatível. tar com excelência e encontrar caminhos.
Vemos que os desafios deste ano nos torna-
“Foi uma jornada intensa e cheia de aprendi- ram imbatíveis. A certeza do propósito que
zados que deu às participantes um arcabouço nos move traz muita coragem. Há, também,
de como trilhar os nossos caminhos, com um sentimento de muita energia. Tanto da
dicas, explicações para cada área e como é nossa equipe, que tem uma alta capacidade
importante ter cada vez mais pessoas preocu- de execução e entrega, como do engajamento
padas com a ética e a diversidade ocupando das mulheres que participam de nossas
esses espaços. A Sprint me serviu como um ações”, comemora.
acelerador e motivador dos estudos que há

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
54

PROGRAMARIA | Liderada por Iana Chan e Mariana Pezarini, a


PrograMaria atua com formação e engajamento de mulheres
na tecnologia com a missão de aumentar a diversidade na
área, facilitando a conexão e a contratação desses talentos
por meio de cursos, eventos e outras ações. O impacto social
do negócio está diretamente associado à inserção de
mulheres no mercado de tecnologia e na geração de renda
por meio dos empregos; aumento da diversidade dentro das
empresas contratantes; e aumento de representatividade
feminina em cargos de tecnologia da informação. Atualmente,
mais de 6 mil mulheres foram impactadas pelo negócio,
sendo que mais de 2.000 mulheres já passaram pelo Curso
On-line Eu ProgrAmo.

PROGRAMARIA

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
H I S T Ó R I A #1 3

SIMBIOSE
SOCIAL

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# a r t e m i s i a 1 5 a n o s C O N T A R
SIMBIOSE 56

SOCIAL
O match perfeito: impacto
social e mais de R$ 300 milhões
e m i n c e n t i v o s fi s c a i s
Democratizar a distribuição de recursos
financeiros, via leis de incentivo fiscal, para
viabilizar e potencializar projetos e organiza-
ções que atuam além do eixo Rio-São Paulo é
uma das metas da Simbiose Social. O negócio
de impacto social criado pelos jovens empre-
endedores Raphael Mayer, Mathieu Anduze e
Tadeu Silva atua, desde 2017, com uma plata-
forma de mapeamento de dados, conectando
projetos sociais às empresas aptas a doarem
parte do pagamento de impostos. O match
perfeito entre iniciativas e recursos ganhou
novos contornos em 2020 com o lançamento
do Radar de Patrocinadores – iniciativa que
mostra a evolução da proposta empreende- Segundo Carlos Roberto Roncaglio, coorde-
dora pontuada pelo propósito social. nador de Recursos do Bairro da Juventude –
que usa o Radar de Patrocinadores para
Na ferramenta Radar de Patrocinadores, os potencializar a captação para o projeto, que
gestores de organizações não governamen- atende 1.500 jovens e crianças de 82 comuni-
tais podem identificar – entre as mais de 60 dades de Criciúma, em Santa Catarina –, a
mil empresas mapeadas – quais têm maior ferramenta é um grande funil para captar.
sinergia com as causas defendidas e as com “Com o uso do Radar, descobrimos coisas
maior potencial de se tornarem doadoras. O muito valiosas para a organização. Além dos
sistema conta com a integração de servidores dados, a segmentação é extremamente
públicos e possui filtros por região, perfil de importante para sermos assertivos. Temos,
investimento, tíquete de aporte, sazonalidade, inclusive, dois cases de sucesso de aporte, via
entre outros. As informações disponíveis Lei de Cultura. É uma ferramenta que vai
permitem maior eficiência no processo de contribuir muito com a nossa estratégia”,
captação de recursos, sendo uma solução afirma. A entidade busca ampliar a atuação
de apoio à tomada de decisão. As organiza- que, hoje, proporciona aos alunos inclusão
ções não governamentais interessadas social, assegurando o pleno exercício da cida-
em participar podem fazer um cadastro dania por intermédio da educação solidária,
na plataforma. cultura, do esporte e da profissionalização.

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
Uma outra iniciativa da Simbiose Social, que empreendedores planejam seguir com a
57
também surgiu para dialogar com as iniciativa, mirando em temas latentes que
demandas de 2020, é o Mapeamento de precisem de visibilidade e recursos.
Impacto – que neste momento reúne organi-
zações sociais com iniciativas focadas em As novas conquistas e a ampliação do impacto
reduzir os impactos da pandemia aptas a da Simbiose Social impelem os empreende-
receber recursos de incentivo fiscal. As sele- dores a olharem para o início da jornada.
cionadas trabalham com temas como saúde e “A aceleração da Artemisia fez e faz parte
apoio a idosos em situação de vulnerabilidade constante do nosso crescimento não apenas
e têm atuação em comunidades de baixa como negócio de impacto social, mas como
renda com alta concentração populacional. pessoas. Quando falamos dos principais
Esses projetos mapeados serão disponibili- desafios do processo empreendedor no Brasil
zados para as empresas interessadas em – e dos que passamos nos últimos anos
apoiar; as auditorias feitas pela equipe da pós-aceleração – entendemos cada vez mais
Simbiose Social não terão custos, e os investi- a metodologia utilizada pela organização e
dores contarão com todo o suporte neces- conseguimos colocar em prática todo o
sário. Nessa iniciativa já foram identificados ferramental que nos foi provido”, conta
48 projetos de organizações sociais; Raphael Mayer.
mapeadas nove leis (federais, estaduais e
municipais); a mobilização esperada é de R$ Na visão de Mathieu Anduze, empreender é a
35 milhões; e o impacto pode atingir 12 gestão constante de problemáticas complexas
Estados. Mesmo depois da pandemia, os que misturam gestão emocional, desafios de
modelos de negócios, gestão de pessoas e
escalabilidade de impacto. “A Artemisia nos
forneceu uma base ferramental para conse-
guirmos trabalhar e endereçar cada uma
dessas problemáticas. Sentimos que, da
aceleração para cá, conseguimos assimilar os
aprendizados vivendo na prática circunstân-
cias que nos colocaram à prova e que, sem
dúvida, o processo de aceleração nos apoiou a
superar os desafios”, afirma o empreendedor,
acrescentando que, hoje, a empresa conta
com 32 clientes multinacionais – como
Unilever, J&J, Grupo Volkswagen, IBM e BTG –
e contabiliza mais de R$ 300 milhões de reais
em incentivos fiscais geridos pela plataforma.

# a r t e m i s i a 1 5 a n o s
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SIMBIOSE SOCIAL | Negócio de impacto social, a Simbiose


Social atua no mercado de leis de incentivo fiscal no Brasil
para otimizar e democratizar a distribuição dos recursos
financeiros entre projetos e organizações sociais que geram
alto impacto e promovem acesso à cultura, saúde e ao
esporte. Após acessar por meio da Lei de Acesso à Informação
os dados de investimentos via leis de incentivos, em especial a
Lei Rouanet, de 1991 até os dias atuais, Raphael Mayer e
Mathieu Anduze criaram – em parceria com o programador
Tadeu Silva – uma plataforma de mapeamento de potenciais
patrocinadores para organizações sociais, que conecta
empresas aptas a doarem parte do pagamento de impostos a
projetos aprovados pelas leis de incentivo.

Além de desmontar uma “caixa-preta” das leis do país – que


reverteram pelo menos R$ 80 bilhões nos últimos 27 anos –,
a plataforma altera uma lógica de mercado, pautada por um
formato em que projetos entravam em contato com
empresas (usando ou não intermediários) para serem vistos e
avaliados para investimentos ou então participavam de
editais. Na prática, 71% dos 182 mil projetos que pleitearam
verbas de incentivo no Brasil não saíram do papel. A Simbiose
promove um match entre as empresas que querem – ou
costumam doar parte dos recursos para pagamento de
impostos – e os projetos que lutam para captar dinheiro. Ao
mesmo tempo, otimiza a pesquisa, a avaliação e a gestão dos
investimentos sociais.

SIMBIOSE
SOCIAL
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Inteligência artificial
para promover o equilíbrio
emocional
delas. A visão – de que a saúde igualitária é
construída com foco na atenção primária,
ampliando o acesso à informação e monito-
rando riscos – fez com que os empreende-
dores se aproximassem da Artemisia.

Desde então, o negócio passou a contar com


ainda mais chatbots, trazendo conteúdo quali-
ficado e engajamento, até chegarem ao
desenvolvimento do aplicativo Vitalk – que
permite que qualquer pessoa, gratuitamente,
consiga falar com a Viki, uma assistente
virtual que guia o usuário em conversas e
exercícios para apoiar no equilíbrio
Pioneira em chatbots no Brasil, a Vitalk atua emocional. O negócio de impacto social
com uma tecnologia que permite escalar o também possui outros produtos – voltados ao
cuidado com a saúde emocional das pessoas. mercado corporativo – que envolvem o mape-
Com base científica e clínica por trás, a amento de estresse, depressão e ansiedade
startup foi criada em 2013, originalmente com acompanhamento de colaboradores de
com o nome de TNH Health. Na época, a empresas para diminuição desses níveis.
proposta era baseada em um serviço de envio
de SMS destinado a lembrar as pessoas de “Quando cheguei à Artemisia, após fundar a
que deveriam tomar os seus remédios; os TNH Health, nem sabia o que era empreende-
fundadores – o norte-americano Thomas dorismo social; tinha uma noção muito vaga e
Prufer, o canadense naturalizado Michael pensava que era algo associado à ONG. Foi lá
Kapps e o brasileiro Juliano Froehner – que, pela primeira vez, tive contato com cases
tiveram a ideia de criar a empresa quando e com a máxima ‘entre ganhar dinheiro e
eram estudantes da Universidade Harvard. mudar o mundo, fique com os dois’” conta
Inquietos com a falta de acesso da população Michael Kapps, fundador e CEO da Vitalk.
em situação de vulnerabilidade social à saúde “Então, comecei a encarar o que eu estava
de qualidade, decidiram desenvolver soluções fazendo como uma iniciativa com potencial
tecnológicas focadas em ajudar as organiza- de impacto social”, relembra Kapps, que
ções públicas a monitorar populações em afirma que esse foi um passo importante para
larga escala e potencializar o engajamento o negócio, porque abriu as portas para

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receber investimentos de governos do Vejo esse passo como resultado do amadure-
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Canadá, dos Estados Unidos e da Alemanha. cimento da empresa”, afirma.

“Uma reflexão trazida pela aceleração foi que, Esse impacto positivo está registrado nos
ao ter uma tese de impacto e uma missão inúmeros depoimentos de clientes da solução.
clara, conseguimos atrair talentos impor- “Eu faço acompanhamento pelo aplicativo da
tantes para o crescimento da empresa. São Vitalk e acho muito bom. É inovador você
pessoas que poderiam trabalhar em grandes poder mandar mensagem para um psicólogo.
empresas, mas que são atraídas pela possibi- A abordagem é muito boa com os usuários; os
lidade de deixar um legado positivo no exercícios de respiração e de foco, além das
mundo. Hoje, temos 40 funcionários muito conversas com a inteligência artificial, ajudam
alinhados com o nosso propósito e que cres- muito. Sobre o atendimento dos psicólogos, é
ceram com a startup”. Kapps afirma, também, realmente muito bom! Eu não tinha muito
que a Vitalk possui grandes parceiros como a tempo para ir em consultório e o custo,
Johnson&Johnson, a GSK e a FGV; e a também, era muito alto. Um ponto interes-
empresa busca aumentar exponencialmente sante é que, no uso de mensagens, você
esse número de clientes no ano que vem. consegue pensar mais nas questões, porque
tem mais tempo para refletir. No consultório,
você só tem uma hora; no aplicativo, 24 horas
Foco na saúde mental e sete dias por semana”, conta Luana Venet
Tambosi, uma das usuárias da solução.
Quando decidiu morar no Brasil, Michael
Kapps – nascido em Moscou, mudou da Rússia Na Vitalk, a orientação psicológica é baseada
para o Canadá, onde cresceu – acreditava que em uma jornada formada por um plano indivi-
o país parecia, à primeira vista, o lugar mais dual de cuidados, ou seja, inclui análise da
feliz do mundo. Passados alguns anos, ao situação atual do paciente – aborda questões
identificar a crise da saúde mental local, emocionais e mentais, desafios, conflitos,
decidiu criar, dentro da TNH Health, uma pontos que gostaria de melhorar –; e, com
ferramenta que tem por foco o monitora- base nesse diagnóstico, o psicólogo monta
mento e a melhoria da saúde mental dos um plano de cuidado com exercícios e
usuários. A Vitalk, lançada em 2019, oferece técnicas especiais. Como plataforma tecnoló-
conteúdos constantemente atualizados por gica, permite ao usuário estar próximo de
uma equipe de profissionais das áreas de profissionais em qualquer lugar do país,
Psicologia, Design, Engenharia, Marketing e democratizando assim o acesso.
Ciência de Dados. A versão gratuita do
serviço, disponível via aplicativo, já foi usada Os empreendedores almejam tornar a
por mais de 200 mil pessoas. “É muito bacana empresa uma solução completa de assis-
ver que o nosso crescimento representa um tência médica primária, com conversas
maior impacto positivo na vida das pessoas. digitais que abarcam de saúde mental a

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doenças crônicas e gravidez. A solução não é na conscientização sobre o tema por
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um diagnóstico, tampouco tem o objetivo de meio de materiais de comunicação, webinars
substituir uma consulta médica ou terapia, e e-books, identificar riscos e encaminhá-los
mas se propõe a ser uma maneira acessível e para o tratamento adequado de forma
eficiente para problemas cotidianos de saúde eficiente – sempre preservando o sigilo indivi-
e bem-estar. Para escalar o acesso à saúde dual do colaborador que participa do programa.
mental de forma sustentável, além da versão
gratuita, a Vitalk também oferece uma experi- Segundo Michael Kapps, o empreendedo-
ência de saúde mental para empresas que rismo social da Vitalk – que começou a tomar
queiram apoiar o bem-estar dos colabora- forma na TNH Health – permanece central na
dores. A solução permite que as companhias empresa. “Na Artemisia, a gente não passa
disponibilizem um check-up de saúde mental por uma aceleração; é uma relação que a
para os funcionários, realizado totalmente gente cultiva ao longo do tempo”, finaliza.
por meios digitais, com a Viki. Além de atuar

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TNH HEALTH | Fundada em 2013 pelo norte-americano


Thomas Prufer, pelo canadense naturalizado Michael Kapps e
pelo brasileiro Juliano Froehner – que se conheceram na
Universidade Harvard – a TNH Health tem escritórios no Brasil
(Santa Catarina e São Paulo) e representação em Miami,
Estados Unidos. O negócio de impacto social tem expertise em
gestão de saúde populacional para mercados emergentes e
atua com soluções pensadas especificamente para populações
de baixa e média renda, que enfrentam fortes restrições de
custo e acesso à saúde. A empresa coopera com o setor público
para educar e monitorar as populações; alguns dos trabalhos
desenvolvidos incluem monitoramento de epidemias (zika e
dengue, por exemplo); educação de gestantes de menor renda;
e valorização dos programas saúde da família. Os
empreendedores também trabalham com empresas para
ajudá-las a implementar programas de prevenção. Os bots da
TNH Health são utilizados por companhias da indústria
farmacêutica para melhorar a adesão de pacientes a
medicamentos. Em 2019, a empresa lançou a Vitalk – que conta
com a assistente virtual Viki, destinada a falar com os usuários
sobre estresse, depressão, ansiedade e burnout.

VITALK | Fundada em 2019, pela empresa TNH Health, por


Michael Kapps, CEO, e por Dra. Ines Hungerbühler, psicóloga
com Phd e Chefe do Departamento de Psicologia da Vitalk. A
missão da Vitalk é ressignificar a relação das pessoas com a
saúde mental em todas as fases da vida usando tecnologia, base
científica e contato humano por meio de um aplicativo.
Qualquer pessoa pode baixar gratuitamente o app Vitalk e
começar sua experiência de autocuidado. Para empresas, o
aplicativo tem conteúdos exclusivos e, também, é feito um
trabalho de comunicação para engajar funcionários e líderes a
terem comportamentos mais saudáveis, visando melhorar a
produtividade e o bem-estar na empresa.

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A comida transforma
O empreendedor social David Hertz foi um “Em 2004, cheguei à Artemisia sem saber o
dos pioneiros no Brasil ao associar a gastro- que era empreendedorismo social ou negó-
nomia a um instrumento potente de transfor- cios de impacto. Mas, quando fui apresentado
mação da vida de cidadãos em situação de ao conceito, ele virou o meu norte. Estava
vulnerabilidade socioeconômica. Com a Gas- vindo de um projeto na Favela do Jaguaré, no
tromotiva – organização social que fundou qual ingressei com o sentimento partilhado
para oferecer educação gratuita e potenciali- por muitas pessoas que têm vontade de
zar a empregabilidade – o chef tem gerado in- ajudar: solidariedade por empatia. A primeira
clusão não apenas no país, mas também no diretriz que tive da organização, no processo
México, na África do Sul e em El Salvador, ter- de aceleração, foi que se eu quisesse mudar o
ritórios onde a organização aportou em um mundo, deveria começar com a mudança in-
processo de internacionalização das ativida- terna. A partir disso, a jornada envolveu
des. Essa história de consolidação de propósi- vários processos de autoconhecimento que,
to e crescimento exponencial teve início há aliás, tornaram-se a base da minha crença, do
16 anos, com um convite para ministrar aulas meu trabalho e da própria Gastromotiva”, re-
no projeto Cozinheiro Cidadão, na Favela do lembra. Com a cofundadora Urideia Andrade,
Jaguaré, em São Paulo. Com muita empatia, o mergulho foi intenso. Em 2006, surgiu a
desconforto com as condições sociais brasilei- Gastromotiva que, com o Bufê Escola, partia
ras e zero expertise em ações para transfor- da ideia de transformar a capacitação de pro-
mar a realidade vigente, ele se aventurou a fissionais com cursos como auxiliar de cozi-
aprender a formatar um negócio de impacto. nha e cozinheiro.
No longínquo 2004, meio a projetos e sonhos,
encontrou a Artemisia. Por meio da educação via cursos profissionali-
zantes, a Gastromotiva formou e encaminhou
para o mercado de trabalho mais de 6 mil
jovens em situação de vulnerabilidade socioe-
conômica e ofereceu educação nutricional a
100 mil pessoas. O Refettorio Gastromotiva –
inaugurado durante as Olimpíadas do Rio de
Janeiro, em 2016 – é um restaurante-escola,
cujos pratos foram elaborados pelos melho-
res chefs do mundo: Alain Ducasse, Mauro Co-
lagreco, Virgilio Martinez, Micha, Kamila Sei-
dler e Manu Buffara, que ao lado de alunos da
Gastromotiva utilizaram como matéria-prima
apenas alimentos que seriam desperdiçados,
embora estivessem em perfeito estado para

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consumo. Na prática, o Refettorio já evitou o duas no México, todas conduzidas por ex-alu-
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desperdício de mais de 100 mil quilos de ali- nos que apoiamos. Eles transformaram as
mentos, transformados em mais de 140 mil casas em centros produtivos de marmitas; se
pratos de comida por chefs e cozinheiros para viram, neste momento que vivemos, como
pessoas vulneráveis socialmente, principal- empreendedores sociais”, detalha.
mente em situação de rua. O chef acrescenta que, hoje, a Gastromotiva
estáministrando um curso de empreendedo-
Segundo Hertz, ao longo da trajetória, a Gas- rismo social.
tromotiva passou por quatro fases, sendo a
primeira a criação do Bufê Escola, uma tenta- “Acho muito simbólico e poético ver que a
tiva de dar suporte a moradores da periferia, Gastromotiva se tornou, hoje, o que a Artemi-
por meio de profissionalização. Na segunda sia representou para mim. Lembro que recebi
fase, houve a meta de escalar os cursos; uma bolsa-auxílio para cozinhar na minha
atuar com educação alimentar nas escolas; e casa e treinar quatro pessoas. Quando volto,
a criação, em 2015, do curso Empreenda, vol- 16 anos depois, a visitar as cozinhas desses
tado aos que já produziam algum tipo de ali- ex-alunos que estão empreendendo, é inevitá-
mento para a venda. A internacionalização vel não imaginar que eles podem chegar ao
marcou a terceira fase, caracterizada pela mesmo patamar que a organização”, afirma.
busca por uma transformação sistêmica; Quando reflete sobre os aprendizados dos
nesse momento, a organização encubou o tempos de aceleração, declara que são três
movimento global de Gastronomia Social. palavras que emergem: conhecimento, con-
Hoje, em plena pandemia da Covid-19, um fiança e coragem. “Sou muito grato à Artemi-
novo vírus se espalha com ajuda do empreen- sia por ter me mostrado o caminho do em-
dedor – o da solidariedade. preendedorismo social e do potencial humano
para a transformação”, enfatiza.
“Refettorio Gastromotiva atendia, antes da
pandemia, 90 pessoas todas as noites com
um cardápio gastronômico. Diante do contex- Novas narrativas de vida
to, falamos com parceiros em busca de am-
pliar o atendimento; com isso, criamos um Quando chegou a São Paulo, vinda de João
Banco de Alimentos para apoiar 40 organiza- Câmara, uma pequena cidade do Rio Grande
ções do Rio de Janeiro. Uma grande virada do Norte, Urideia Andrade não imaginava o
veio de nossos ex-alunos. Desempregados, rumo que a sua vida tomaria. Com 17 anos, à
muitos viram que o Reffeitorio oferecia ingre- época – e em fase de adaptação à nova
dientes para quem quisesse cozinhar para a morada, a Comunidade do Jaguaré, zona
população de rua fluminense. Uma aluna em- oeste da capital –, em 2005 ingressou no pro-
preendedora pediu parte desses alimentos jeto Cozinheiro Cidadão, onde conheceu David
para produzir quentinhas destinadas a ali- Hertz, um dos coordenadores da iniciativa.
mentar crianças que estavam sem merenda. Enquanto ele buscava aprofundar o próprio
Dessa iniciativa, surgiu o novo projeto Cozi- propósito, ela esperava se capacitar para
nhas Solidárias. Hoje, temos 50 no Brasil e ganhar o sustento diário. Desse encontro dos

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dois, surgiu uma parceria para a fundação da achava uma chatice participar daqueles en-
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Gastromotiva. “Ele me convidou para fazer contros; nem poderia imaginar o quanto esse
parte desse novo desafio e, no início, achei aprendizado seria determinante para a minha
uma insanidade, porque eu não tinha a menor carreira. Eu e David fazíamos planejamento
experiência. Mas, ele me disse que eu traria a estratégico, e esse foi um momento muito
vivência da quebrada e ele do asfalto; falou importante, que contabilizou para o nosso
sobre o poder de unir os nossos conhecimen- progresso e desenvolvimento como seres hu-
tos para fazer algo diferente. Diante desse ar- manos e empreendedores”, afirma.
gumento, topei a loucura do David!”, brinca.
Relembrando os tempos de aceleração,
Urideia conta que o sonho do David era algo Urideia – empresária e cozinheira-solidária da
que ela não poderia imaginar, sobretudo pelas Gastromotiva, cidadã engajada no projeto
condições financeiras. “Ele falava de planeja- Cozinha Solidária, montado durante a pande-
mento para cinco anos adiante sem que nós mia da Covid-19, e do Banco de Alimentos do
tivéssemos dinheiro em caixa. Sempre foi vi- Mobiliza Jaguaré – afirma que tudo o que
sionário, uma pessoa que enxergava para aprendeu de gestão foi com a Artemisia.
além das dificuldades; queria capacitar um “Toda a base que tive com a organização me
milhão de pessoas. Pela minha história de ajuda, até hoje, na implementação desses
vida, eu só via os desafios. Hoje, refletindo, projetos sociais com os quais me envolvo”, sa-
vejo que a condição social limita muito a ca- lienta. Ao refletir sobre o impacto social que
pacidade de sonhar e planejar a realização”, gera em sua comunidade e os aprendizados
afirma, acrescentando que a noção de criar conquistados nessa trajetória, declara:
estratégias para o futuro do negócio foi con- “Aprendi o meu poder como cidadã; muitos
quistada no processo de aceleração conduzi- não entendem o que significa a palavra ‘cida-
do pela Artemisia. dania’; e, a meu ver, ela resume o potencial de
devolver à sociedade tudo o que eu recebi”,
“Como cocriadora do projeto, penso que a Ar- afirma. E, acrescenta: “Eu sei muito claramen-
temisia teve um papel muito importante de te as minhas responsabilidades como cidadã,
fazer a Gastromotiva sair do papel; eu aprendi quero receber, mas preciso doar. O poder que
a fazer plano de negócios com a organização, a minha voz tem foi algo que aprendi na Gas-
a conhecer esse novo mundo. Quando che- tromotiva. Não adianta se calar e culpar a so-
guei à aceleração não sabia nem ligar um ciedade; a gente precisa descer do morro e
computador! No começo, muito jovem, mostrar que a nossa voz tem poder”, finaliza.

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GASTROMOTIVA | Fundada em 2006 pelo chef e


empreendedor social David Hertz, a Gastromotiva é
cocriadora do Movimento de Gastronomia Social – iniciativa
global que conecta pessoas, projetos, empresas,
universidades, agências internacionais, governos e a
sociedade civil em torno do poder transformador da comida.
Fome, desperdício, falta de oportunidades, obesidade e má
nutrição são desafios globais que demandam ações conjuntas.
A partir da experiência acumulada em mais de uma década de
trabalho e impacto social no Brasil, no México e com projetos
parceiros na África do Sul e em El Salvador, a Gastromotiva
segue transformando vidas nos locais em que atua e cada vez
mais amplia sua visão e ação global de cooperação com os
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, da ONU.

GASTROMOTIVA

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