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O V ENE NO DA
INVEJA
N O TRAB ALHO
Profissionais invejosos são menos dispostos
a partilhar informações, mais propensos à sabotagem
R$ 35,00
Inveja x Colaboração
ra uma noite de maio de 2015. Eu estava atra- seu sucesso não deveria ser motivo para uma ferida
E
vessando a Avenida Paulista para chegar à no nosso ego, e sim para a mais sincera admiração.
Livraria Cultura, onde começaria a sessão de Foi o que me lembrou Rode Ziembick, executiva de
dedicatórias do meu primeiro livro, Inveja RH e pesquisadora de como funciona o mecanismo
– Como ela mudou a história do mundo da inveja nas empresas.
(LeYa Brasil). Ainda na faixa de pedestres, Como ela me disse na entrevista para a reporta-
meu celular tocou. Era a produção do Pro- gem de capa desta edição, uma pessoa que apoia o
grama do Jô, me convidando para falar do livro próximo e se sente grata pelo que recebe, além de
numa entrevista com o gordo mais querido do país. ir no sentido contrário ao da inveja, tem mais pa-
Uau! Meu sonho de adolescência era um dia rea- ciência, generosidade, criatividade e empatia. Jus-
lizar algo relevante a ponto de sentar no sofá do Jô tamente skills essenciais para qualquer liderança.
Soares. Senti como a consagração de um trabalho E para qualquer colaborador também. Se o am-
iniciado um ano antes, quando tive meu primeiro biente corporativo, moldado pela competitividade,
contato profissional com o tema para desenvolver é um espaço ideal para a disseminação da inveja,
a obra – coincidentemente convidado pelo hoje di- colaborar de coração aberto com o projeto de um
retor responsável pela Você RH e mais dois títulos colega é uma atitude avessa à do invejoso. Assim
da Abril (Você S/A e Superinteressante), e cujo como inspirar-se no trabalho bem-sucedido de ou-
nome está no expediente desta edição: Alexandre tro e, enfim, agradecer sinceramente aos que nos
Versignassi. Obrigado para sempre, Versi! abrem caminhos.
Estudando sobre a inveja nas organizações, des- Eu agradeço todo dia pela oportunidade de editar
cobri que o melhor antídoto para esse sentimento esta revista cercado da colaboração de gente tão
destrutivo é a colaboração. talentosa, no texto e na arte. E agradeço a você,
Prestar atenção às circunstâncias do dia a dia leitor, por nos dar o privilégio da sua leitura.
que merecem nosso apoio é experimentar a empa-
tia, a camaradagem, a crença em que outros seres ALEXANDRE CARVALHO
humanos têm uma natureza boa – e que, portanto, EDITOR-CHEFE
SEÇÕES MATÉRIAS
3 | CARTA AO LEITOR
inveja x colaboração.
20 | OLHAR DO
PRESIDENTE
24 | OS PUXADORES DO TAPETE ALHEIO
profissionais invejosos são menos dispostos a partilhar
roberto prisco paraíso,
informações, mais propensos à sabotagem e se abstêm
BOLETIM ceo da ocyan.
de ajudar os outros. veja como lutar contra esse mal.
8 | NOTAS 60 | MELHORES PRÁTICAS
pessoas trans têm apoio Zucchetti: foco no 36 | WORKAHOLICS
para transição de gênero comportamento justo, É melhor pegar mais leve. Saiba por que pessoas
na mondelēz. seja entre funcionários, viciadas em trabalho se tornam menos produtivas.
seja com fornecedores.
12 | MACRO 44 | ONDE SE GANHA O PÃO…
os primeiros sinais do 62 | NA ESTANTE os limites que o rH deve estabelecer para
fracasso em uma gestão. Sororidade: mulheres relacionamentos entre funcionários – e os que ele não deve.
precisam de união
16 | PROFISSÕES para que mais delas
o que faz um advogado cheguem à liderança.
50 | CARREIRA EM Y
entenda o funcionamento desse modelo,
de compliance.
e conheça também a carreira em W.
66 | NA REAL
18 | DESAFIO DO RH transparência salarial
Latam contrata permite fazer um 56 | ENTREVISTA
mais mulheres para plano de progressão de Leonardo ferreira, vp de Gente e Gestão da americanas,
pilotar seus aviões. carreira mais objetivo. mostra como tem superado a crise da empresa.
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BOLETIM NOTAS POR LUISA COSTA
TRANSIÇÃO DE GÊNERO
EM PAUTA
N
a Mondelez, os funcionários receber o benef ício, passa por um uma equipe com endocrinologista,
trans recebem apoio para re- médico, faz os exames necessários e mastologista, cardiologista, clínico
tificação do nome e gênero no encaminha a receita para a Mondelez. geral, nutricionista, psicólogo e enfer-
RG e CPF. Mas não só: a empre- O RH, então, libera o subsídio no apli- meiro capacitados para atender às
sa implementou um auxílio cativo da Vidalink, negócio de bem- necessidades específicas de pessoas
para o subsídio integral da hormonio- -estar corporativo que atende a em- trans. Esse acompanhamento começa
terapia aos que querem fazer a tran- presa, para que o funcionário possa no início da transição de gênero e segue
sição de gênero. começar seu tratamento. por tempo indeterminado, até que o
Quando um colaborador deseja A companhia alimentícia oferece contrato de trabalho se encerre.
Preconceito, problemas
com a língua e com a
revalidação dos diplomas
são os maiores obstáculos.
ANO NOVO,
EMPREGO NOVO
50% DOS PROFISSIONAIS querem
procurar uma nova colocação em
2024, segundo a consultoria de re-
crutamento robert Half. 64% gos-
tariam de trocar de empresa, en-
quanto 36% desejam uma mudança
de carreira. estes são resultados da
26ª edição do Índice de confiança
robert Half, levantamento trimes-
tral que reflete a percepção de 1.161
profissionais.
a pesquisa também identificou
os principais motivos para a busca
por mudança. Quem quer trocar de
empresa está motivado a encontrar
melhores oportunidades de cresci-
mento, salários mais altos, bene-
fícios mais atrativos e modelo de
trabalho remoto ou híbrido.
por outro lado, quem deseja tro-
car de área de atuação, segmento
ou profissão aponta como principais
motivos a realização pessoal, a qua-
lidade de vida, a vontade de apren-
der algo novo e mais flexibilidade.
entre os profissionais desempre-
gados, existe algum otimismo: 36%
deles estão confiantes em conquis-
tar uma recolocação no próximo se-
mestre – um acréscimo de 3 pontos
percentuais na comparação com o
resultado da edição anterior do ín-
dice, lançada em setembro.
SINAIS DO
FRACASSO
DE UMA
GESTÃO
12 VOCÊ RH fev / mar 2024 ILUSTRAÇÃO: MIDJOURNEY
O IMPACTO
DA MÁ GESTÃO
PARA A EMPRESA
Há uma probabilidade
91% menor de os
1 colaboradores terem
alta performance.
Os profissionais têm
2 três vezes mais chances
de deixar a empresa.
1
FALTA DE SEGURANÇA Há três sinais precoces de que um gestor não
3
DESALINHAMENTO ENTRE O como identificar se as ações do
TRABALHO DO CHEFE E OS gestor estão distantes das ambições
de seus colaboradores.
OBJETIVOS DOS PROFISSIONAIS
1 2 3
OS FUNCIONÁRIOS CONCLUEM A EQUIPE PRECISA PASSAR UM OS OBJETIVOS SÃO
QUE AS TAREFAS QUE LHES TEMPO SIGNIFICATIVO DEDI- MUDADOS A TODA
SÃO DADAS PELO GESTOR CANDO-SE A ATIVIDADES QUE HORA SEM QUE HAJA
NÃO ESTÃO À ALTURA DE NÃO FICAM REGISTRADAS NA UMA COMUNICAÇÃO
SUAS HABILIDADES OU SEU EMPRESA – O QUE DIFICULTA O APROPRIADA A RESPEITO.
NÍVEL HIERÁRQUICO. RECONHECIMENTO DE CADA UM.
4
os gestores têm 2,7 vezes mais chances de falhar quando seus
liderados não veem valor em suas conversas. e o pior: apenas
INTERAÇÃO POBRE um em cada dois funcionários sente que ganhou reflexões
valiosas após essas interações. Veja como melhorar.
* EMPRESA DE BENCHMARKING GLOBAL DE CAPITAL HUMANO. CONTATO: VITORIO.BRETAS@GARTNER.COM fev / mar 2024 VOCÊ RH 15
PROFISSÕES
ADVOGADO DE
COMPLIANCE
ESSE ESPECIALISTA JURÍDICO
EXECUTA UM TRABALHO PREVENTIVO,
PARA QUE A EMPRESA NÃO INFRINJA
A LEI EM NENHUM DE SEUS
PROCESSOS. CONHEÇA MELHOR
A ÁREA, QUE ESTÁ EM EXPANSÃO.
Gabriel Passos,
advogado e
ex-presidente
da Associação
Nacional de
Compliance.
FOTO: REPRODUÇÃO
MAIS MULHERES NO
COMANDO DE AVIÕES
SÓ 2% DOS PILOTOS
DE AVIÃO NO BRASIL
SÃO MULHERES. MAS A
LATAM ESTÁ INVESTINDO
EM ESTRATÉGIAS PARA
MUDAR ESSE QUADRO.
RUBIA MALAGRINO,
COORDENADORA DE
DESENVOLVIMENTO
DA AÉREA, MOSTRA OS
PASSOS DA EMPRESA
NESSA ROTA.
FOTO: DIVULGAÇÃO
H
á 3.283 pilotas de avião diagnóstico do quadro de funcionários denadora. “nós preferimos começar
formadas no país, mas só para saber como eles estavam em ter- pela alta liderança para ganharmos
992 exercem a profissão de mos de representatividade: quantas força ao levar essa pauta, gradati-
fato, segundo um estudo mulheres trabalham em cada área? vamente, ao restante da pirâmide.”
da Universidade federal de esse diagnóstico, que também as metas principais, neste momen-
São carlos. elas represen- avaliou a presença de pessoas ne- to, estão relacionadas à igualdade de
tam 2,3% da mão de obra gras e indivíduos com deficiência gênero. o segundo compromisso é
brasileira nesse setor. a Latam não (pcDs), ajudou os profissionais de com a inclusão de pcDs no quadro
revela seu número total de pilotos, rH a desenhar suas campanhas de de colaboradores; o terceiro, com a
por considerar uma informação si- conscientização. eles adaptaram inserção de pessoas negras em áreas
gilosa. mas sua porcentagem é um peças de comunicação interna e estratégicas. “você precisa olhar para
pouco maior: 4%. e a diferença é organizaram eventos para discutir a diversidade como um todo. mas, se
fruto de um projeto em andamento: diversidade e inclusão – primeiro, não foca em alguns grupos, não sai
metade dessas pilotas foi contratada com a alta gestão. do lugar”, afirma malagrino.
em 2023. era fundamental conversar com
“o principal desafio de trabalhar os líderes, prepará-los e estabele- Seleção mais abrangente
com diversidade é que a gente es- cer o compromisso de aumentar a em seguida, o rH passou a investir
barra em problemas sociais”, afirma representatividade, segundo a coor- em ações diretas para a inclusão.
rubia malagrino, coordenadora de Junto às lideranças, a área reavaliou
desenvolvimento regional da em- alguns aspectos dos processos sele-
presa. “temos consciência de que o tivos. Decidiram, por exemplo, que
machismo da sociedade se reflete na não precisam exigir inglês avançado
companhia – e de que o transporte é para quem entra como tripulante de
historicamente uma área masculi- cabine fazendo rotas nacionais. o
na. mas precisamos de pluralidade, processo também pode ser online,
porque atendemos pessoas de dife- para atrair pessoas além do eixo
rentes perfis.” rio-São paulo.
a Latam Brasil investe em ações e a companhia organizou um
para a diversidade há três anos. processo seletivo só para mulhe-
essa inclusão é um processo lento, res – uma decisão fundamental
mas contínuo, segundo a coorde-
nadora. “a gente já entendeu que é TAMBÉM QUEREMOS para o aumento de pilotas, segundo
malagrino. nesse sentido, também
uma longa jornada. nós só vamos
avançar se conscientizarmos os INSPIRAR MENINAS há um programa de mentoria para
auxiliar na formação das mulhe-
nossos colaboradores.”
e foi assim que a empresa come- A SEREM PILOTAS, res da empresa, e o rH eventual-
mente convida pilotas (de dentro
FAZENDO EVENTOS
çou esse processo: de dentro para e de fora da Latam) para dividir
fora. e do alto para baixo. suas experiências.
“também queremos inspirar meni-
Conscientizando quem manda COM ESCOLAS – UM nas a serem pilotas, fazendo eventos
malagrino explica que o primeiro com escolas – um investimento de
passo foi trabalhar com a liderança INVESTIMENTO DE longo prazo. É preciso paciência para
da companhia. eles chamaram uma trabalhar com inclusão. não temos
consultoria, que ajudou a fazer um LONGO PRAZO. pressa. mas não fazemos pausas.”
DE VOLTA À
CADEIRA DE CEO
Em 2023, Roberto Prisco Paraíso assumiu o cargo máximo da Ocyan (ex-Odebrecht
Óleo e Gás) pela segunda vez, após nove anos no conselho de administração – um
período que o tornou mais comunicativo e aberto às opiniões dos colaboradores.
Saiba o que mudou de lá para cá na visão do presidente.
LUISA COSTA
A
conversa por chamada de vídeo funcionários, por exemplo.
começou com um pedido de Não é a primeira vez que Paraíso ocupa
desculpas do entrevistado. Mas o cargo de presidente dessa companhia
não era para tanto: o motivo foi especializada em afretamento e operação
que Roberto Prisco Paraíso, um de sondas para águas ultraprofundas,
executivo de 77 anos, estava de exportação e instalação de equipamentos
camiseta (assim como eu). Depois de ir à submarinos, entre outras atividades
academia, havia acabado de chegar offshore. A primeira foi entre 2010 e
em casa. 2014 – no período entre as duas gestões,
O cuidado do presidente da Ocyan tornou-se conselheiro de administração na
(ex-Odebrecht Óleo e Gás) com a empresa. Ele afirma que aprendeu muito
saúde física permite que ele brinque, enquanto não era executivo, e que hoje é
fazendo afirmações como: “Sou um cara uma pessoa mais aberta, comunicativa e
que não aceita empurrar nada com a com maior senso de urgência.
barriga. Afinal, nem tenho barriga”. A Atualmente, Paraíso gosta de se ver
preocupação com o bem-estar se estende como um líder que inspira as pessoas e
aos colaboradores da companhia que ele torna tudo mais leve: “Acho que não estaria
preside desde janeiro de 2023. Foi dele exagerando se eu dissesse que a gente
a ideia de implementar um programa tem um ambiente de trabalho muito bom”.
para incentivar exercícios físicos entre os Entenda por quê.
F O T O S : DY E G O T E S S I N A R I E B R U N O D E L I M A
20 VOCÊ RH fev / mar 2024
Paraíso afirma que
voltou à presidência
da Ocyan com
o objetivo de
se comunicar
melhor com os
colaboradores
e colegas de
trabalho. Para isso,
instituiu programas
como o Ligação
Direta e o Café da
Manhã com o Líder.
Como você definiria a gordura e massa magra. e nós Quais medidas vocês tomam para
cultura da Ocyan? criamos um sistema de pontuação promover a diversidade e inclusão?
temos três pilares: disciplina, que se revertia em cestas básicas nós temos um grupo de cultura
respeito e confiança. a gente espera para doação. foi um sucesso, e negra, por exemplo, no qual se
que o integrante [colaborador da distribuímos mais de mil cestas. fala sobre identidade, valores,
empresa] seja disciplinado e promova também temos um programa uma porção de coisas. e outros
o respeito. como consequência, para desenvolvimento da agricultura grupos de afinidade também
ele é credor de confiança. nosso familiar em Sana, uma comunidade [para PCDs, pessoas LGBTQIA+ e
sistema é muito baseado em pessoas; próxima a macaé [Rio de Janeiro, sobre equidade de gênero]. o rH
afinal, somos uma prestadora de onde fica uma unidade da Ocyan]. participa, identifica pessoas com
serviços. então, duas coisas são ali, temos 60 voluntários que potencial de liderança e considera
fundamentais: a importância do apoiam 27 famílias. outra iniciativa isso no planejamento de carreira.
integrante e o espírito de servir. na mesma linha é a casa da mas a gente promove a inclusão
nós temos, como consequência Juventude, no bairro de Santo não aceitando, de nenhuma
disso, uma vocação para a inclusão. cristo, resultado de uma parceria forma, algo que não seja igualdade
por exemplo: duas das sete pessoas com a prefeitura do rio de Janeiro. de oportunidades. Quando fazemos
do comitê executivo da companhia Lá, cerca de 400 jovens recebem um processo de seleção, nosso radar
são mulheres, e mais de 40% treinamento para atuar como é o mais amplo possível. porque a
dos nossos líderes são pretos ou cabeleireiros, barbeiros, manicures… mim não interessa
pardos. o que a gente gosta de isso tudo gera um ambiente muito saber se a pessoa tem uma
fazer é dar oportunidades. Seja interessante na companhia. deficiência. me interessa
qual for sua origem. para nós, saber se ela tem talento e
isso não interessa. nosso sistema está comprometida com o seu
existe para privilegiar talento. desenvolvimento. É a partir
disso que a companhia avança.
Você comentou que iniciativas
voltadas para os colaboradores Em 2014, você deixou a presidência
são comuns na Ocyan. Quais
são essas iniciativas?
NOSSO SISTEMA É da Ocyan. Em 2023, retomou a
posição. Por que resolveu voltar?
Há várias. nós oferecemos, por
exemplo, um programa de apoio
MUITO BASEADO muita gente me pergunta por que
eu não fiquei em casa cuidando
à creche e o ocyan Baby, em que EM PESSOAS; dos meus netos ou ouvindo música,
AFINAL, SOMOS
nossas mamães são assistidas coisa que eu adoro. mas eu não
por médicos e terapeutas durante consigo ficar parado. e achei que
e após a gestação, nos primeiros
meses do bebê. recentemente, nós UMA PRESTADORA tinha muita coisa que eu devia
ter feito e não fiz. então, eu voltei
estendemos esse programa aos
nossos integrantes LGBtQia+.
DE SERVIÇOS. NÓS nove anos depois para fazer.
que fizemos, depois que voltei. carreira. nos últimos 15 minutos, opiniões diferentes da minha. como
então, criamos vários programas cada integrante tem cinco fiquei em conselhos nesses nove
para tratar desse assunto. minutos para fazer críticas em anos, vi muita gente fazer coisas
Um exemplo é o café da manhã relação a mim ou à companhia, que eu não tinha feito. e o ruim
com o Líder. cada gestor se reúne dizer o que nós não estamos de ser conselheiro é que você tem
periodicamente com um grupo de fazendo certo, o que a gente responsabilidade em relação às
pessoas para tomar um café juntos, tem de modificar... É muito bom, decisões, mas eventualmente precisa
trocar informações – e os liderados porque a quantidade de ideias concordar com coisas que não faria.
perguntam o que quiserem ao líder. que recebo dessa conversa é aprendi muito nesse período,
também fizemos um programa impressionante. tomo nota e, então. aprendi a conviver com
muito bem-sucedido chamado na reunião de diretoria que se opiniões completamente diferentes.
Ligação Direta. faço uma segue, passo esses feedbacks. acho que fiquei mais plural. e passei
reunião com três integrantes de a ter um senso de urgência que eu
cada vez. a gente toma um café Como era o Roberto na primeira vez não tinha. Quando nós concordamos
da manhã e conversa por, mais ou como presidente e como é hoje? em fazer uma coisa, aí passa um
menos, uma hora. então, eles fiquei mais humilde. Há nove mês e eu não ouço falar mais desse
falam deles próprios ou fazem anos, eu achava que sabia tudo. assunto… eu fico agoniado. acho
perguntas sobre minha vida e tinha pouca paciência para escutar que essa é a grande diferença.
O VENENO DA
inveja
NO TRABALHO
PROFISSIONAIS INVEJOSOS SÃO MENOS
DISPOSTOS A PARTILHAR INFORMAÇÕES, MAIS
PROPENSOS À SABOTAGEM E SE ABSTÊM DE
AJUDAR OS OUTROS – PRINCIPALMENTE SE
ACHAM QUE FICARÃO EM SEGUNDO PLANO
NA HORA DO RECONHECIMENTO. CONHEÇA OS
ANTÍDOTOS PARA ESSA CULTURA PERVERSA.
TEXTO ALEXANDRE CARVALHO
DESIGN JULIANA KRAUSS
ILUSTRAÇÃO VINI CAPIOTTI
Rode Ziembick.
Quando estava no auge da car- pesquisadora:
reira, a âncora de telejornal “Entendo
Alycia Lane virou protagonis- que o RH e as
lideranças tenham
ta de um escândalo nos EUA: limitações quanto
Larry Mendte, seu parceiro à compreensão
de bancada em um noticiário da complexidade
da inveja e das
da Filadélfia, foi pego usando possibilidades
e abusando das senhas dos e- de intervenção”.
-mails dela. Entre 2006 e 2008,
ele arrumou bastante tempo
para ler mensagens da colega
– só nesse último ano foram
537 e-mails lidos, segundo
o FBI, que invadiu a casa do
aprendiz de hacker e confiscou
seu computador.
Como se não bastasse a que-
bra de privacidade, Mendte
explorou o conteúdo proibido
para se transformar em fonte
de tabloides, tornando públi-
cos os e-mails mais pessoais e
comprometedores da jornalista
– incluindo uma foto de biquí-
ni que ela tinha mandado para
um homem casado.
Mais do que uma fofoca ir-
responsável, a sabotagem era
uma vingança íntima contra
o sucesso da apresentadora.
Quinze anos mais nova que ele,
Alycia Lane vinha se transfor-
mando na nova estrela do jor-
nalismo do canal – e tinha o
maior salário da dupla. “O meu
papel estava sendo reduzido”,
1.
rizontal no organograma.
Não estamos falando das
grandes conspirações engen-
dradas por mentes criminosas.
São pequenos boicotes, um
SUBLIMADA
É a comum, que todo mundo sente de vez em quando. O
comentário desabonador na indivíduo reprime o sentimento negativo, então não há
hora do café, o corpo mole no efeitos colaterais. Na empresa, ele admite seus limites e
projeto liderado pelo colega em aproveita o talento dos outros para se aprimorar.
ascensão… Efeitos da inveja
2.
mais sub-reptícia, cultivada
em banho-maria.
Por que tanta mágoa? Porque
o escritório é o ambiente ideal
para a reprodução e o contá-
gio da inveja: aumentos indi- NEURÓTICA
Sabe o colega que vive reclamando da empresa e se
torturando diante dos triunfos alheios? Se não mudar
A inveja é um de ambiente (ou buscar ajuda), pode acabar envenenado
sentimento ruim e desenvolver um transtorno psiquiátrico. Quem está
pela quebra da nesse nível não costuma demonstrar explicitamente sua
inveja, mas pode explodir em situações de pressão.
autoimagem
3.
positiva quando
nos comparamos
desfavoravelmen- PERVERSA
te com outros. Mantenha distância de quem está nesse grau. Esse
profissional é capaz de destruir o trabalho ou a carreira
viduais de salário, promoções, dos outros mesmo sabendo que será responsabilizado.
bônus por atingimento de me- Ostensivamente invejoso, vive para bloquear a
tas, privilégios exclusivos, in- criatividade e o talento dos colegas. “Em outras
timidades com a alta direção, palavras, são os psicopatas corporativos, aqueles que
a mesa mais próxima da jane- puxam tapetes sem sentir culpa pela queda alheia, só
la… A vida de crachá é uma satisfação”, afirma Patrícia Tomei.
competição nem sempre justa,
movida por mérito, mas tam- É na região do córtex cingulado Nem sempre a inveja
bém por afinidade. E cria seu anterior, uma parte da massa é evidente. São
pequenos boicotes,
próprio portfólio de invejosos. cinzenta que fica logo atrás da um comentário
“O a mbiente cor porativo testa. Não por coincidência, é desabonador na
é persecutório por natureza também a área cerebral respon- hora do café, o
corpo mole no
porque entendemos, de forma sável por identificar a dor física. projeto liderado
inconsciente, que há uma limi- Ou seja, sentir inveja pode ser pelo colega em
tação de recursos. Isto é, se o tão doloroso quanto pisar numa ascensão.
meu colega é mais eficiente e pecinha de Lego.
talentoso do que eu, ele rece- Mas você sabe: não é só de
berá recursos que me faltarão, uma tortura mental que so-
e assim minha sobrevivência, a brevive o invejoso. Há uma
manutenção da minha fonte de emoção prazerosa que esse
vida, estará em risco”, afirma indivíduo sente diante de um
Rode Ziembick, diretora de RH tropeço da pessoa invejada –
da rede hoteleira Soho House uma sensação muito particu-
no Brasil e que há 30 anos pes- lar que os alemães chamam de
quisa a inveja nas organizações. Schadenfreude, termo sem
Ziembick lembra que a in- correspondente em qualquer
veja nasce junto com a gente. outra língua. Essa pequena
Todos somos invejosos em al- felicidade mesquinha, segun-
guma medida. O que nos dife- do o mesmo estudo, surge no
rencia, uns dos outros, é como estriado ventral, parte do sis-
lidamos com ela. Para isso, va- tema límbico que é justamente
mos entender como esse sen- onde processamos a sensação
timento evoluiu com a huma- de prazer.
nidade e qual seu padrão mais Não que essa alegria fugaz
abrangente de funcionamento. sir va para muita coisa. Na
maioria das vezes, o invejoso
Vantagem evolutiva não ganha nada com o fracasso
Então vamos aos fatos: a inveja do seu objeto de mau-olhado.
é basicamente um sentimento E sua amargura logo retorna,
ruim provocado pela quebra porque ele continua ciente de
da imagem positiva que cada sua pequenez em comparação
um tende a fazer de si mesmo com o invejado.
– seja no espelho da academia, É o inverso de uma situação
seja na sessão de feedback do ganha-ganha. A única função
chefe. Esse golpe no ego acon- da inveja, então, parece ser
tece quando você detecta que que a gente se sinta pior do que
está em uma situação aparen- estava antes de senti-la. Hum,
temente menos favorável que a mais ou menos. Se ela é tão
de outra pessoa. inútil e não traz nada de bom,
Um estudo feito pelo Instituto por que seria inata ao ser hu-
Nacional de Ciência Radiológica mano? O estresse, por exem-
de Tóquio identificou por resso- plo, serve para que tenhamos
nância magnética onde a inveja reações diante de uma ameaça
é processada no nosso cérebro. (física ou psicológica). A tris-
PERSONALISMO
São líderes que tratam cada liderado de um
jeito, expondo preferências e negligenciando
parte da equipe.
PATERNALISMO
O gestor adota a postura de um pai que sabe tudo
e dá preferência aos que abraçam a “família”.
1.
Grande diferença entre o discurso
e a prática, caracterizada por
questões de injustiça
e protecionismo.
2.
As expectativas de seleção,
avaliação e promoção não são
claras e estão pautadas em
personalismo sem critérios
transparentes.
3.
utilizada apenas como instrumento
para dar ordens, fiscalizar e
promover a operação do dia
a dia, gerando espaço para
fofocas e boatos.
4.
Não há o reconhecimento
da liderança com relação
aos trabalhos executados.
5.
Remuneração variável sem
definições claras dos critérios,
padrões e indicadores de
avaliação.
FOTO: REPRODUÇÃO
fev / mar 2024 VOCÊ RH 33
AMBIENTE CORPORATIVO
*Alexandre Carvalho é autor do livro Inveja – Como ela mudou a história do mundo (LeYa Brasil). fev / mar 2024 VOCÊ RH 35
SAÚDE MENTAL
WORK A
HOLISMO
Manual de
sobrevivência
TEXTO LUISA COSTA DESIGN E COLAGENS CAMILA LEITE
DeZ 2023
fev // mar
Jan 2024
2024 VOCÊ RH 37
VOCÊRH
SAÚDE MENTAL
O
ator britânico Idris Elba disse no podcast os workaholics têm dificuldade para delegar tarefas,
Changes With Annie Macmanus, em outubro, comunicar-se e cooperar com outras pessoas. Ten-
que faz terapia há mais de um ano. E que sua dem a ser, portanto, piores no trabalho em grupo.
jornada em busca de saúde mental começou Glamourizar o workaholismo, então, não faz sen-
quando percebeu que preferia trabalhar no tido. A melhor ideia é controlar o tempo dedicado
seu estúdio caseiro (ele também é DJ), de- ao trabalho de forma saudável – não “apenas” pela
pois de ficar horas e horas em um set, a passar um sanidade mental, mas também em nome do desem-
tempo no sofá com sua família. “Nada que é muito penho. Para saber como, vamos primeiro entender
extremo é bom. Tudo precisa de equilíbrio. Mas sou o problema.
muito recompensado por ser um workaholic.”
De fato. O mundo corporativo banaliza a dedicação Prazer, workaholismo
excessiva ao trabalho. Ela não é apenas aceitável, Segundo o dicionário Oxford, a palavra workaholic
mas também encorajada. Por isso, alguns pesqui- apareceu pela primeira vez em 1947, em uma piada
sadores afirmam que o vício no trabalho não é algo publicada no jornal canadense Toronto Daily Star.
individual, mas sistêmico. E sobram malefícios aos Ela dizia o seguinte: “Se você está amaldiçoado
profissionais, que têm dificuldade em aceitar o dolce por um desejo invencível de trabalhar, ligue para
far niente, como diriam os italianos. O ócio. Workaholics Anônimos, e um trabalhador recupera-
Acontece que o workaholismo tampouco é positivo do te ajudará a voltar ao feliz ócio”.
para as empresas. Uma pessoa que trabalha compul- O neologismo juntava work com aholic, sufixo in-
sivamente, sem conseguir afastar o escritório dos glês ligado à ideia de vício, análogo ao nosso “latra”
pensamentos, acaba sendo menos produtiva porque de “alcoólatra” e “chocólatra”. Mais tarde, em 1971,
vive cansada. Alguns estudos também mostram que o termo apareceria de novo em Confissões de um
PODEM DESENVOLVER A
mesmo assim mergulham nele.
“Amar o que se faz poderia mitigar os riscos associa-
dos à obsessão”, argumentam Lieke ten Brummelhuis,
professora da Simon Fraser University (Canadá), e
Combate ao vício nas empresas entregas do que às horas trabalhadas” e “um ambien-
Em abril de 2021, o LinkedIn deu uma semana de te saudável e produtivo deve ser baseado em uma
folga remunerada para mais de 15 mil funcionários cultura corporativa que incentive os funcionários a
ao redor do mundo e garantiu que ninguém recebesse não viver somente para o trabalho”.
e-mails ou mensagens de trabalho nesse meio-tempo. Essa é justamente a mentalidade que ajuda a combater
Era uma medida extrema para evitar o burnout e o workaholismo – e a desmistificar a ideia de que a dedi-
promover o bem-estar na companhia – que rendeu cação sem limites ao trabalho é uma virtude. Segundo os
outras políticas, de longo prazo, com o mesmo objeti- especialistas ouvidos pela VOCÊ RH, é importante que
vo. Alguns exemplos são os programas Half Fridays e os responsáveis pela gestão de pessoas nas companhias
No Meeting Days, que implementaram o meio período saibam identificar os sintomas do vício – e promovam
às sextas-feiras, em meses específicos, e um dia por discussões sobre saúde mental e bem-estar no trabalho.
mês sem reuniões, respectivamente. Os gestores podem contribuir incentivando os co-
Alexandre Ullmann, diretor de recursos humanos laboradores a se manifestar quando se sentirem so-
do LinkedIn Brasil, defendeu na época que “ficar até brecarregados e a descansar de verdade aos finais de
tarde e estar disponível o tempo todo não significa, semana e feriados, não permitindo trocas de e-mails
necessariamente, que o trabalho esteja sendo feito e mensagens sobre trabalho durante as folgas, por
corretamente”. Para ele, “a produtividade está mais exemplo. Construir cronogramas realistas também
ligada ao aproveitamento de tempo e à qualidade das é importante.
42 VOCÊ RH fev
DeZ /2023
mar/ 2024
Jan 2024
Proteja-se – e procure ajuda
Também há possíveis soluções individuais, que par-
tam do próprio viciado em trabalho. Arthur Brooks,
cientista social e professor de Harvard, listou algu-
mas em sua coluna da revista Atlantic. As sugestões
incluem manter um registro cuidadoso de rotina, du-
rante alguns dias, para entender quanto tempo você
passa trabalhando e o que faz quando não está tra-
balhando; reservar um tempo do dia para atividades
não relacionadas; e programar o lazer. “O tempo não
estruturado é um convite para voltar ao trabalho ou a
atividades passivas que não são boas para o bem-estar,
como navegar nas redes sociais ou assistir televisão”,
ele argumenta.
O ideal, naturalmente, é que workaholics busquem
ajuda profissional. É o que fez Carol Motta, paulista de
28 anos que trabalha como social media e ghostwriter
– e que hoje é uma pessoa como o “trabalhador recu-
perado”, da antiga anedota canadense.
Motta desenvolveu o vício em trabalho quando ainda
estava na graduação, motivada por um sentimento de
insegurança alimentado pela relação tóxica que tinha
com um orientador de pesquisa. O workaholismo levou
ao adoecimento físico e psicológico da profissional, que
desenvolveu um quadro de depressão e ansiedade, e
a afastou do emprego. Ela teve, então, de recorrer a
psicólogos e psiquiatras.
“Hoje, minha relação com o trabalho é bem mais
saudável”, ela afirma, “embora às vezes apareça uma
dificuldade ou outra, percebo que estou indo no modo
automático [trabalhando demais] e preciso fazer uma
pausa. Mas acredito que o mais importante é essa ob-
servação constante de si mesmo; o autoconhecimento
– além, claro, das medidas práticas que às vezes são
necessárias. Eu, por exemplo, tive de me afastar do
trabalho e da relação que estava me adoecendo”.
O professor Malvezzi afirma justamente que psicólo-
gos podem ajudar workaholics a “perceber a realidade
ao seu redor e a retomar sua capacidade de reflexão;
voltar a discernir vida pessoal e profissional”.
Mas soluções individuais, claro, não resolvem so-
zinhas um problema relacionado à mentalidade do
mundo corporativo e à estrutura dos ambientes de
trabalho. É uma causa de todos, para o bem das empre-
sas e de seus colaboradores – que, como todo mundo,
merecem um descanso.
PAIXÃO
ONDE SE GANHA O
fev
aGo//mar 2024 VOCÊ RH 45
Set 2023
POLÍTICAS & PRÁTICAS
MAIS COMUM
que é impossível evitar romances. “A gente passa a maior
parte do tempo na empresa. É natural que pessoas que
trabalham juntas tenham interesses em comum e eventu-
24%
Essa, aliás, é a premissa da série Ruptura (Apple TV+),
um thriller psicológico no qual uma equipe de funcioná-
rios tem as memórias cirurgicamente divididas entre vida
tiveram alguma
relação com um
profissional e pessoal – com consequências nefastas.
colega. Se até na ficção dá ruim, o que dirá na realidade... “O
ser humano é indivisível. A gente não controla sentimen-
tos, mas pode lidar com isso dentro do trabalho para que
o relacionamento não prejudique nem o casal, nem o re-
17%
sultado da empresa”, diz Fragalá.
Um dos riscos inerentes a ter casais no mesmo time é
quando há separação. Principalmente se a desunião não
oficializaram
for amigável. O melhor que o RH e as lideranças podem
o relacionamento.
fazer, nesse caso, é trocar a área de trabalho de um dos
dois – se possível – para que a interação seja mínima.
75%
Isso pode evitar a perda de um talento importante para
a empresa. E, como lembra Fragalá, separar-se não é de
forma alguma infringir alguma regra da companhia.
sentem-se confortáveis
com o fato de que colegas Mas, antes de tudo, vale a pena uma conversa franca
estão envolvidos num com os dois e identificar o quanto isso será um trans-
relacionamento com torno (há muitos ex-cônjuges que convivem amistosa-
uma pessoa da empresa. mente) para eles e para a equipe. Talvez o problema seja
mais simples do que parece.
18%
É proibido proibir
Para evitar embaraços, parece mais fácil baixar uma re-
gra proibindo que os funcionários criem vínculos amoro-
disseram já ter
namorado com algum
sos. Caso aconteça, um dos dois sai da empresa e pronto.
de seus superiores. Só que as organizações não podem fazer isso.
O artigo 5º da Constituição Federal de 1988 garante que
são invioláveis os direitos à intimidade e à vida privada dos
10%
indivíduos. “A Constituição é nossa regra maior. Nenhuma
norma inferior, como um código de conduta, pode feri-la”,
afirma a advogada trabalhista Isabelli Gravatá, professora
disseram já ter
namorado com algum
de Direito do Trabalho da Universidade Presbiteriana Ma-
de seus subordinados. ckenzie. “O que a empresa pode é vetar demonstrações de
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aGo // mar
Set 2023
2024 F O T O : D I V U L G AÇ ÃO
CÓDIGOS
Em 2015, a 6ª Turma do Tribunal O combinado não sai caro: como
Regional do Trabalho da 4ª Região, o RH deve agir
no Rio Grande do Sul, reverteu uma O primeiro passo é colocar o as-
E EVITAM
Vara do Trabalho de Rosário do Sul: podem acontecer, quais são os ris-
“Se há discrição e profissionalismo, cos envolvidos e como proceder”,
ou seja, se a relação profissional não aponta a filósofa e consultora de
EU NÃO POSSO
INTERFERIR NO ÍNTIMO
DAS PESSOAS, MAS
POSSO DIZER QUE O
AMBIENTE CORPORATIVO
TEM UMA EXPECTATIVA
DE COMPORTAMENTO.
CANDICE FERNANDES
da Stato
fev
aGo//mar 2024 VOCÊ RH 47
Set 2023
POLÍTICAS & PRÁTICAS
lecida, com políticas bem comuni- requer, de acordo com a cultura da relacionem e inclusive formem fa-
cadas e bem administradas”, diz empresa, uma solução respeitando mílias. Temos vários exemplos de
Grácia Fragalá. a regra, mas desde que não crie pessoas que começaram a namo-
Se, por um lado, normas ajudam mais confusão”. rar, se casaram e tiveram os filhos
a evitar conflitos, por outro é pre- nas nossas maternidades”, afirma
ciso tomar cuidado para não sim- Quando as relações são Lissandra Cunha, gerente de de-
plificar o que não é complexo por bem-vindas senvolvimento institucional.
natureza. “Antes de existir gover- Um contraponto às empresas que O Grupo Santa Joana é uma
nança escrita, havia o bom senso evitam o assunto é o Grupo Santa empresa familiar, atualmente ad-
para mediar conflitos de interesse Joana. Seus 4 mil colaboradores ministrada pela segunda geração
e preservar as decisões das empre- são livres para se relacionar com dos Amaro. Lissandra Cunha, en-
sas. Quando as regras foram escri- quem quiserem. tão, acredita que vetar a presença
tas, o trato pessoal foi distancia- A instituição de 75 anos é for- de casais seria algo contraditório.
do”, reflete Danilo Dias, diretor da mada pelos hospitais Pro Matre “Temos pais, filhos e irmãos no
Associação Brasileira de Recursos Paulista, Hospital e Maternidade nosso quadro de funcionários”, diz.
Humanos (ABRH). Santa Joana e Hospital e Mater- “A única recomendação do RH é de
Para ele, nenhuma diretriz em- nidade Santa Maria. “A nossa po- que não exista relação de liderança
pacota todos os conflitos possíveis, lítica é muito transparente nesse e subordinação entre casais”, diz.
tampouco substitui uma boa con- sentido. Não há nenhum tipo de O código de conduta das mater-
versa presencial: “Cada situação impedimento para que casais se nidades do grupo estabelece regras
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2024
O QUE FAZER
gerais para todos. “Nunca sentimos
a necessidade de criar uma política
clara e específica sobre romances. Já
houve separações entre colaborado-
Como os RHs podem atuar para prevenir
res, mas nada que interferisse no dia
conflitos e, ao mesmo tempo, preservar
a dia da empresa”, diz a gestora.
a privacidade dos colaboradores.
Para ela, essa liberdade contribui
para o clima corporativo e até facilita
ASSUNTO NA PAUTA a vida das pessoas. Afinal, é notório
que profissionais de saúde têm uma
Os relacionamentos não vão deixar de existir porque a empresa
jornada de trabalho com plantões e
não fala sobre isso. Rodas de conversa, palestras e outros canais
horários pouco ortodoxos. Relacio-
de comunicação interna podem preservar a instituição e, ao mesmo
tempo, educar os trabalhadores sobre como agir. “Se esse é um nar-se com alguém da mesma empre-
tema que preocupa, por que não usar as datas comemorativas, sa, em casos assim, pode facilitar a
como o Dia dos Namorados, para discutir o assunto do ponto de compreensão conjugal com a rotina
vista da ética e do compliance?”, sugere Grácia Fragalá, da ABQV. fora do padrão.
No caso de João e Maria, os perso-
nagens do início desta reportagem, o
EQUILÍBRIO, NA MEDIDA DO POSSÍVEL
casal declarou o conflito de interesse
Ok, as pessoas podem se relacionar. Mas existem limites que aos empregadores. O RH, então, suge-
precisam ser estabelecidos. Da mesma maneira que a empresa não riu que João mudasse de turno, mas a
pode intervir na vida das pessoas, a pessoa não pode trazer sua vida solução se mostrou inviável, porque o
para dentro do trabalho. “O RH pode estabelecer programas para colaborador conciliava trabalho e es-
ajudar as equipes a manter o equilíbrio entre os diferentes papéis tudo. O casal conversou e decidiu que
sociais. Isso serve não só para casais, mas para qualquer um do ele abriria mão do emprego, uma vez
quadro de colaboradores”, afirma Fragalá. que Maria trilhava uma carreira de li-
derança, e o relacionamento era sério.
REGRAS CLARAS “Quando o RH está preparado para
“Ninguém, por livre e espontânea vontade, vai avisar a empresa lidar com o assunto e os colaborado-
que está em um relacionamento. A pessoa só vai fazer isso se res são instruídos sobre como agir,
houver clareza a respeito de regras e do impacto dessa medida na fica mais fácil para todo mundo”,
sua carreira”, aponta Danilo Dias, da ABRH. Se a organização quer aponta Gabriela Bavay. Ela própria
transparência dos colaboradores, precisa ser transparente também. conheceu o marido no trabalho. Foi
no Club Med, onde atuava como GO
– sigla para gentil organizador –, e ele
SEDUÇÃO X ASSÉDIO
se hospedava.
Qual é o limite entre a sedução e o assédio? A comunicação “O relacionamento era liberado em
interna deve explicar a diferença, principalmente se há todas as instâncias, em todas as hie-
relação de hierarquia. Usar a autoridade para pressionar um rarquias. As regras eram muito claras.
subordinado é assédio sexual e deve ser reportado ao RH. Só não podia se relacionar com menor
de 18 anos e deixar transparecer o re-
FLEXIBILIDADE lacionamento no hotel”, conta ela, já
A empresa pode facilitar a vida de funcionários que se separaram e há 15 anos com o companheiro. “Para
estão se detestando, mas não trouxeram uma perturbação para o adultos criamos regras de adultos,
ambiente de trabalho. “Nesse caso, o RH pode realocar essas pessoas não de crianças.” Com a dose certa de
para áreas em que elas não precisem trabalhar mais juntas. Esses bom senso, dá para respirar livremen-
colaboradores não infringiram nenhuma regra”, diz Gabriela Bavay. te quando o amor está no ar.
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ormada em Ad-
ministração com
ênfase em ne-
gócios interna-
cionais, Gabriela
Rosa tem uma
trajetória profissional toda ligada
ao setor securitário. Começou
na Unibanco AIG e, em 2015, foi
convidada por um antigo chefe
para ser analista sênior na Allianz
Seguros. Lá, foi crescendo até se
tornar gerente técnica. Mas com
uma diferença para a maioria dos
gestores: ela não tinha equipe para
administrar. Virou gerente porque
era o jeito que a empresa tinha
de promovê-la.
O objetivo, naquele momento,
não era que liderasse pessoas. Era
continuar com seu bom trabalho,
então ganhando mais e sendo valo-
rizada. “Agora sou responsável por
resultados, geração de relatórios e
checagem sobre se estamos dentro
das metas”, diz a executiva.
Rosa conta que se destacou co-
mo colaboradora individual graças
ao que aprendeu com seus gestores
na empresa, e mesmo assim não
teve de ser líder para se sentir
reconhecida. Não precisou seguir
os passos deles – só os ensina-
mentos. “Meu último gestor fazia
questão de que participássemos de
iniciativas globais e mostrássemos
a cara na empresa. Cada um com
sua expertise.”
Talvez hoje Gabriela Rosa não
precisasse ser uma “gerente sem
equipe” na companhia por causa
de sua promoção. Isso graças a
uma tendência que vem crescendo
entre as organizações: o plano de
carreira em Y.
Essa bifurcação no desenho da
letra é o que inspira uma nova pos- sempre inovando, desempenhan- Gabriela Rosa,
da Allianz
sibilidade de trajetória nas empresas do com excelência e fornecendo Seguros: para
mais inovadoras em gestão de pessoas. soluções para as principais ser promovida,
ela chegou a
Pela tradição, ao iniciar a car- demandas também podem
ser gestora sem
reira, a maioria dos profissionais conquistar melhores remune- equipe para
só enxerga um caminho para ter rações, benefícios e condições administrar.
Sandra Souza, da
Lee Hecht Harrison:
poucas empresas
no Brasil têm um
programa dedicado
à carreira em Y que
realmente faça jus
ao conceito.
FOTOS: DIVULGAÇÃO
O modelo ainda é raro no Brasil
Segundo Sandra Souza, consultora para orientação e
transição de carreira na Lee Hecht Harrison – multina-
cional especializada em soluções de recursos humanos
–, grandes farmacêuticas, empresas de engenharia,
tecnologia e saúde são exemplos de negócios em que
a demanda constante por talentos inovadores tende a
abrir mais caminhos para a carreira em Y.
Segundo Souza, porém, poucas empresas no Brasil
têm um programa dedicado à carreira em Y que real-
mente faça jus ao conceito. Para isso, o RH precisa, por
exemplo, desenvolver uma estrutura de cargos e salários
em que o especialista possa ter crescimento de ganhos
equiparado aos de um gestor. E também analisar se essa
possibilidade faz sentido, de fato, para a organização.
“Afinal, sempre que pensarmos em plano de carreira,
precisamos ter como perspectiva o negócio”, diz.
Uma empresa que já oferece essa possibilidade é a
Natura. Segundo Mariana Talarico, diretora de Pessoas
e Cultura da companhia, o plano de carreira em Y na
organização tem permitido que especialistas ganhem
salários que se equiparam até aos de diretores. Por
outro lado, a empresa também pode testar na chefia
um excelente especialista que esteja de olho no topo.
Foi o caso de Tiago Cordeiro, que hoje é gerente global
de P&D de Maquiagem para os Olhos na Avon, marca
que faz parte do grupo.
Apaixonado por química, ele teve uma trajetória
profissional marcada pelo apreço ao trabalho técnico.
“Gostava de criar um produto novo, uma nova textura
para outro já existente ou propor algo do zero”, lembra
o executivo.
Porém, na hora da bifurcação do Y, quando a empresa
quis promovê-lo, ele optou pela gestão de pessoas. Quis
experimentar um novo caminho, mas a escolha foi feita
A carreira em Y sabendo que, na Avon, poderia manter-se especialista
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Ele leva menos tempo para terminar as tarefas e plinaridade do profissional, permite que ele
as conclui com uma qualidade que talvez nunca continue exercendo suas funções técnicas ao
tivesse na cadeira de líder. mesmo tempo em que administra uma equipe
Outro benefício diz respeito ao ambiente corpo- na empresa. Algo que vem a calhar num mer-
rativo. Respeitando os interesses individuais de cado como o brasileiro, em que falta mão de
cada um, a empresa demonstra sua valorização obra especializada ao mesmo tempo em que
desenvolver habilidades gerenciais demanda
tempo e dinheiro.
Ao ser reconhecido em um cargo compatível
Para a empresa, pode ser uma vantagem e
com as suas características, o funcionário
tanto. É a possibilidade de contar com um ges-
fica mais feliz. A carreira em Y, portanto,
tor que conhece profundamente os aspectos
ajuda a reter talentos. técnicos do trabalho de sua equipe – sendo ele
mesmo um craque na execução dessas tarefas.
pelos profissionais, que se sentem mais motivados. A organização ganha dois profissionais ao
Ao ser reconhecido ocupando um cargo compatí- preço de um. Mas é essencial que essa dupli-
vel com as suas características, seja como gestor, cidade de funções não signifique sobrecarga.
seja como especialista técnico, o funcionário, Não importa a letra com a qual a carreira
claro, fica mais feliz. A carreira em Y é, portanto, do profissional se identifique, é importante
também uma ferramenta de retenção de talentos. que o mercado esteja se adaptando às novas
relações de trabalho. Afinal, ser ou não chefe
A carreira em W deveria ser o que menos importa.
E se o profissional tem interesse e vocação para Os resultados conquistados mais a percep-
a liderança, mas a empresa necessite de suas ção (e a alegria) de estar no lugar certo é o
habilidades técnicas? É para esses casos que já que faz a diferença. E mudar de emprego deixa
existem planos de carreira em W. de ser um imperativo – seja por um salário
Essa possibilidade, que demanda multidisci- melhor, seja por uma vida mais feliz.
A ARTE DA
RECONSTRUÇÃO
VICE-PRESIDENTE DE GENTE E GESTÃO DA AMERICANAS, LEONARDO FERREIRA ENCAROU O DESAFIO DE ASSUMIR
O RH APÓS O ESCÂNDALO DAS FRAUDES CONTÁBEIS DO ANO PASSADO. SUA TAREFA É COLOCAR O COLABORADOR
NO CENTRO DA NOVA FILOSOFIA DA EMPRESA, INVESTINDO EM TRANSPARÊNCIA ABSOLUTA E NA SAÚDE MENTAL
DA EQUIPE – ALÉM DE EVITAR A FUGA DE TALENTOS. TEXTO aLexanDre carvaLHo FOTOS ceLSo Doni
A
comunicação interna da Brasil – tem passado desde o início empresa entraria com um pedido
Americanas tem o que a de 2023. de recuperação judicial, situação
empresa chama de jornal Foi em 11 de janeiro do ano em que se encontra até hoje.
eletrônico, divulgado entre passado que a companhia teve A nova liderança da varejista tem
os funcionários toda sexta- o maior baque de sua história. A como meta arrumar a casa e sair
-feira. A peculiaridade Americanas divulgou ao mercado da crise em 2026. E acredita que
dessa newsletter é trazer só um rombo que chegaria ao valor a reconstrução, tanto financeira
notícias boas. E tem um porquê de R$ 25,3 bilhões em dívidas quanto de reputação, passa
para essa escolha “poliana” de que não apareciam nos balanços. principalmente por seus recursos
pautas. O recurso é um contraponto Imediatamente, o então CEO, humanos. É o que mostra, nesta
à avalanche de acontecimentos Sérgio Rial, e o diretor de relações entrevista, Leonardo Ferreira,
terríveis pelos quais a varejista com investidores, André Covre, vice-presidente de Gente
– uma das mais tradicionais do renunciaram. Oito dias depois, a e Gestão da Americanas.
RAR MAIS FACILMENTE o que facilita a virada de jogo. pessoa se desenvolve na empresa e,
muitas vezes, vai embora após essa
UMA EQUIPE
NA ZUCCHETTI,
O ALINHAMENTO
DO COLABORADOR
À CULTURA
INTEIRA NO
ORGANIZACIONAL É
PRIORIDADE. VALORES
COMO JUSTIÇA E
CUMPRIMENTO
DE ACORDOS SÃO
MESMO TOM
MONITORADOS DESDE
O RECRUTAMENTO ATÉ
A ALTA GESTÃO.
Ana Paula
Zancanaro Socha,
diretora de RH:
“Entendemos
que é mais
importante o
alinhamento
cultural e de
valores das
pessoas do que
as competências
técnicas, pois
essas podem ser
desenvolvidas”.
FOTO: DIVULGAÇÃO
8.000
É assim na Zucchetti, multinacio- seus líderes. Segundo a diretora
nal italiana que atua com o desen- de rH, há menos competitividade
volvimento de softwares de gestão e tóxica e mais colaboração por conta
conta com mais de 400 funcionários dessa filosofia. “ontem mesmo eu
no Brasil. estava fazendo o feedback de um ANO DE CHEGADA AO BRASIL
2011
a cultura ali é o avesso da cha- diretor e ele me disse que nunca
mada “Lei de Gerson”: a companhia tinha vivido uma situação assim
faz questão de que não apenas os em outra empresa. confessou que
funcionários, mas também os for- estava acostumado a um ambiente
necedores, cresçam junto com o ne- em que cada um quer se sobrepor
SEDE NO BRASIL
gócio. “aqui não tem aquela história ao outro, e aqui o clima é sempre
de ‘vamos pagar o mínimo possível’,
por exemplo. Queremos pagar o que
é justo, para que os bons profissio-
de parceria.”
para que essa orquestra não
desaf ine, a Zucchet ti promove
MOGI MIRIM (SP)
nais e fornecedores desejem estar campanhas para disseminação da
conosco para sempre”, afirma ana cultura, workshops e capacitação FUNCIONÁRIOS NO PAÍS
445
paula Zancanaro Socha, diretora de de lideranças. além disso, há uma
rH da Zucchetti. análise documental periódica, com
“também entendemos que é mais questionários, para avaliar se as
importante o alinhamento cultural pessoas estão vendo os princípios
e de valores das pessoas do que aplicados no dia a dia.
as competências técnicas, pois es-
sas podem ser desenvolvidas”, diz
Socha. “porém, se há conflitos de
“Quando você tem uma cultura
clara e forte, é difícil haver inco-
erências de valores”, afirma ana
1° LUGAR
entre as empresas italianas de
valores, o casamento dificilmente paula Socha. “ma s precisamos software segundo o ranking da
vai funcionar.” Já no primeiro dia sempre reforçá-los e acompanhá- international Data corporation
de empresa, cada colaborador re- -los para saber se tudo continua (iDc), principal entidade do
mundo no que diz respeito aos
cebe um manual (“nossa bíblia”, fazendo sentido.”
mercados de tecnologia da
informação e telecomunicações.
UNIDAS
PELA
LIDERANÇA Em seu livro Mulheres que Lideram Jogam Juntas, Daniela
Bertoldo reflete sobre as dificuldades que elas têm para chegar
ao topo da empresa. E aponta o que considera o melhor caminho:
a solidariedade entre as executivas. Veja como.
Capítulo 4
O PODER DA SORORIDADE – UM NOVO PARADIGMA PARA AS EMPRESAS
romover a igualdade entre mulheres, rompendo com
de gênero nas empre- a ideia de competitividade. Há ESTIMULE AS
sas, por mais desafia-
dor que seja, é crucial
quem cresça profissionalmente
passando por cima das colegas e COLABORADORAS
para que todas nós
possamos ter a oportunidade de
alimentando um clima de rivalida-
de, mas isso só contribui para um
COM OPORTUNIDA-
desenvolver nosso potencial pleno.
Precisamos não só de mais mulhe-
ambiente tóxico que gera proble-
mas de saúde mental e emocional,
DES DE DESENVOL-
TRECHO DO LIVRO
dade nas equipes, e ressignifica o - Estimule a autoestima das rente regional de vendas em uma
trabalho de cada integrante do time. colaboradoras com atividades grande empresa de benefícios. Ela
Ou seja, ao reconhecermos as e oportunidades de desenvolvi- percebeu que, embora fosse uma
nossas próprias forças e apren- mento ligadas aos desafios que das mais experientes da equipe,
dermos a usá-las a nosso favor, poderão en frentar em cargos suas opiniões não eram levadas
contribuímos para construir uma de liderança. tão a sério quanto as de seus co-
cultura de irmandade que faz to- - Valorize os pontos fortes e legas homens – seus comentários
das as mulheres crescerem juntas. fracos da sua equipe – ao respei- nas reuniões nem sempre eram
De maneira colaborativa, fica mais tarmos umas às outras, os homens considerados nos debates com
fácil superar obstáculos e a discri- também passarão a fazê-lo. os colegas. Ela também observou
minação que ainda enfrentamos - Compartilhe suas vulnerabi- que as outras mulheres da equipe
no mundo empresarial – e fora lidades e crie chances para uma pareciam não estar enfrentando o
dele também. maior conexão com seu time. mesmo problema.
Parece um sonho distante? Nem - Promova processos de coaching Ana não queria simplesmente
tanto. A força feminina é poderosa e mentorias para dar oportunida- aceitar a situação, e decidiu agir:
e capaz de impulsionar novos pa- des de liderança a outras mulheres começou a documentar ocasiões
radigmas nas lideranças das em- e às novas gerações de meninas. específicas em que sentiu que suas
presas. E é plenamente possível - Comemore os sucessos: reco- ideias foram ignoradas ou subvalo-
criar culturas inclusivas, capazes nhecer e celebrar as realizações rizadas. Então abordou o proble-
de melhorar as corporações. Isso já das colegas promove um ambiente ma diretamente com sua gerente
vem sendo feito por meio de novos de trabalho positivo e aumenta a executiva, apresentando-o com os
modelos de gestão, com proces- confiança e a motivação. exemplos específicos que havia co-
sos e políticas direcionados para (...) letado. Ana fez questão de manter a
a diversidade. conversa positiva e construtiva, ex-
A diversidade é o assunto hoje Uma conversa construtiva pressando seu desejo de contribuir
nos departamentos de RH – que, e positiva mais efetivamente para a equipe e
aliás, são quase sempre liderados Considere o caso de Ana, uma ge- para a empresa.
por mulheres – e precisa estar pre- Ela não acusou seus colegas de
sente não só em ações pontuais ou serem sexistas, mas destacou a im-
voluntárias. É necessário um tra-
balho institucional, previsto nas
UMA PESQUISA portância de garantir que todas as
vozes fossem ouvidas e respeitadas.
metas e ações da organização, com DO FMI APONTOU A gerente de Ana ficou surpresa
profissionais, planejamento e verba ao ouvir sobre suas experiências
alcançados, a partir de um alinha- UMA ELEVAÇÃO e agradeceu por ela ter trazido o
mento direto com a alta liderança.
E não podemos excluir os ho- DE 8% A 13% DE problema à tona. Em resposta, a
gerente implementou treinamentos
mens desse cenário, pois precisa-
mos de aceitação e respeito mútuo
RENDIMENTO de conscientização e mudanças na
estrutura das reuniões para garan-
para celebrar a diversidade de to-
dos os tipos.
DOS ATIVOS EM tir que todos tivessem a oportuni-
dade de contribuir. Ao dar voz aos
O que você pode fazer para incen-
tivar a sororidade na sua empresa:
ORGANIZAÇÕES seus problemas de maneira asser-
tiva e construtiva, Ana conseguiu
- Pratique a empatia, a escuta e o
companheirismo, reduzindo assim o
COM DIVERSIDADE criar uma mudança positiva não só
para ela, como também para todas
clima competitivo entre mulheres. DE GÊNERO. as mulheres da equipe.
Os fatos da
transparência salarial
A
maioria dos brasileiros apoia uma maior clareza sobre a técnicas e comportamentais necessárias para cada cargo – consi-
remuneração como forma de combater a desigualdade derando a avaliação 360°.
salarial entre os gêneros. foi o que identificou uma pes- nos estados Unidos, o recrutador não pode perguntar quanto
quisa elaborada pelo talenses Group em parceria com a um candidato ganha, mas a checagem dos dados do currículo é
fGv-eaesp e com o apoio da plataforma de vagas talent. rigorosa. no mercado brasileiro, as contratações são feitas mais por
o estudo revela, porém, que a realidade está distante desse desejo. relacionamentos e habilidades de comunicação e empatia, e menos
Segundo a pesquisa, 75% dos respondentes não acreditam que as com base nas competências. além disso, aqui, as referências nem
empresas sejam transparentes sobre o tema ou apoiem leis que as sempre chegam a ser conferidas.
obriguem a divulgar o salário de uma posição anunciada ao merca-
do. mais da metade dos respondentes até admite que essa abertura Nivelamento por baixo?
da informação pode gerar empecilhos para suas próprias carreiras. considerando o mercado e o profissional brasileiro, vejo um desafio:
Dito isso, é importante saber que já temos uma diretriz formal o quanto uma pessoa pode ser julgada ou maltratada pelos cole-
quanto à equidade de remuneração entre gêneros e grupos diversos. gas por chegar à empresa com uma faixa salarial superior à dos
está em vigor a Lei 14.611/23, que “dispõe sobre a igualdade sala- demais? Será que temos maturidade para lidar com informações
rial e de critérios remuneratórios, entre mulheres e homens para explícitas e irrestritas?
a realização de trabalho de igual valor ou no exercício da mesma a maioria das pessoas não se sente confortável em falar aber-
função”. o texto diz que “na hipótese de discriminação por motivo tamente sobre remuneração, as empresas não costumam ter um
de sexo, raça, etnia, origem ou idade, o pagamento das diferenças diálogo claro com os colaboradores sobre salário e as trilhas de
salariais devidas ao empregado discriminado não afasta seu direito carreira precisarão ser mais bem desenhadas.
de ação de indenização por danos morais”. Diante dessas novas leis, o risco é que aconteça um nivelamento
por baixo dos salários, para que haja a equidade. Se a empresa julga
Vantagens de divulgar o salário para os interessados que não tem dinheiro para pagar às mulheres o que os homens
resolvi abordar esse tema, obviamente, pela relevância do assunto, ganham, eles é que passam a ganhar como elas – e não o contrário.
mas também porque está em tramitação na câmara dos Deputados e vale lembrar: a política de remuneração impacta diretamente
o projeto de Lei 1149/22, que obriga as empresas a mencionar, na o employee value proposition (evp), que mede a percepção do
oferta da vaga, a faixa salarial oferecida. colaborador sobre a relação dele com a empresa. algo a se pensar
como headhunter, vejo algumas vantagens nessas leis. Uma antes de igualar pelo piso – e não pelo que é justo para todos.
delas é que os profissionais passarão a se candidatar a uma vaga .
sabendo com exatidão o salário e os benefícios ofertados. Depen-
dendo das pretensões dessas pessoas, isso elimina (ou agiliza) a
fase da negociação salarial. com o alinhamento de expectativas, o
candidato pode dar um foco maior nos desafios da vaga.
Quando os profissionais têm maior clareza sobre as faixas sala- ISIS BORGE
riais praticadas em cada degrau da empresa, conseguem fazer um É executive director
plano de progressão de carreira mais objetivo. mas, para isso, as Talenses e managing
companhias precisam ter uma avaliação de desempenho estrutu- partner Talenses Group