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O Empreendedorismo como um Caminho para Inclusão e Protagonismo de Mulheres:

o Grupo “ARTE DELAS – FEIRA CRIATIVA”

1. Introdução

O avanço tecnológico e o surgimento de novos modelos de negócios, nos anos 1990,

estimulou a expansão de empreendedores em todo o mundo, e alterou as relações e postos

de trabalho nas organizações despertando assim o interesse de vários profissionais em se

autossustentarem. Essa tendência se consolidou com a escolha pelo empreendedorismo e o

negócio inclusivo. A motivação para empreender pode ter surgido em resposta à

oportunidade de criar novos produtos e serviços de forma inovadora e criativa (Schumpeter,

1934; Shane, Locke & Collins, 2003).

O negócio inclusivo é, com frequência, relacionado ao empreendedorismo como meio de

produção de bens e serviços para o sustento de pessoas de baixa renda, garantindo a presença

na cadeia de valor como fornecedores, distribuidores, revendedores ou clientes de acordo

com o Relatório G20 – Challenge on Inclusive Business Innovation (2011). O empreendedor

aplica as capacidades, os talentos e a vontade de gerar receita para desenvolvimento

econômico e social nas comunidades de baixa renda que está inserido (PNUD, 2015).

O empreendedor é visto como “uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões”

(Filion, 2004, p. 65), semelhante ao trabalho de um artesão que cria sua obra, reúne as peças

ou partes do trabalho e alcança o resultado em forma de quadro, escultura, roupa, objeto de

decoração e tantos outros produtos do trabalho criativo.

Os estudos sobre o tema dedicam atenção a quem é o empreendedor e o que ele faz.

Venkataraman (1997) acrescenta mais dois fenômenos à análise do empreendedor: a

presença de oportunidades lucrativas e a presença de indivíduos empreendedores. Chega-se

à definição que o empreendedor é capaz de identificar, avaliar e explorar oportunidades para


a criação de bens e serviços (Shane & Venkataraman, 2000). Quanto ao perfil do

empreendedor Markman e Baron (2003) observam algumas variáveis que podem ser

reconhecidas nesses profissionais, sendo elas: a capacidade de trabalhar de forma intensiva

e persistente; habilidade de liderar pessoas; autoeficácia como capacidade de se organizar e

executar ações para produzir resultados; reconhecimento de oportunidades; e capital humano

e social herdados e adquiridos.

Além dessas variáveis relacionadas ao perfil do empreendedor, Dheer, Li e Treviño (2019)

ressaltam que as diferenças entre gênero são divididas em três categorias: (1) Fatores de

personalidade: aversão ao risco, tolerância à incerteza, necessidade de realização e de

autonomia; (2) Crenças de gênero e papéis atribuídos: capacidade empreendedora,

oportunidades empresariais, capacidades de adquirir recursos; (3) Papéis do contexto: países

em desenvolvimento e desenvolvidos e suas variáveis econômicas e políticas públicas

(Filion, 2000; McClelland, 1965).

As abordagens e a estrutura conceitual sobre o empreendedor foi, durante algum tempo,

elaborada pelo, sobre e para o gênero masculino. Nos últimos anos, devido ao aumento no

número de mulheres empreendedoras, as pesquisas foram direcionadas para identificar as

características e o que influencia a mulher a empreender. Algumas conclusões mostram que

a mulher empreendedora se divide entre o negócio e a educação, a saúde e a alimentação dos

familiares. Por outro lado, no âmbito pessoal, a mulher empreendedora desenvolve

autonomia, autoestima e liberdade para suas atividades pessoais e profissionais (Holmquist

& Sundin, 1989).

Nesse contexto cabe destacar o Projeto Arte Delas – Feira Criativa que é um projeto que

nasceu na Semana da Mulher de 2022 por iniciativa da Procuradoria da Mulher da Câmara

Municipal de Piracicaba como forma de fortalecer e proporcionar a formação de um grupo


de mulheres que buscaram no artesanato uma forma de geração de renda durante o período

da pandemia.

A Semana da Mulher, instituída pelo Decreto Legislativo nº 01/2009, visa à realização de

palestras, debates, encontros, plenárias, fóruns, campanhas, painéis, solenidades,

homenagens, entre outras atividades que tenham por finalidade a promoção, proteção e

defesa dos direitos das mulheres bem como suas condições de vida.

A Procuradoria Especial da Mulher, composta pelas vereadoras Silvia Morales – Mandato

Coletivo (PV), Rai de Almeida (PT), Ana Lúcia Pavão (PL) e Alessandra Bellucci (REP),

através do Requerimento nº 76/2022, realizará as atividades em comemoração ao Dia

Internacional da Mulher, durante a Semana da Mulher e conta com o apoio da Rede de

Atendimento e Proteção às Mulheres de Piracicaba.

O Grupo de Trabalho da “Rede de Atendimento e Proteção às Mulheres de Piracicaba” é

composto pelos seguintes órgãos, instituições e entidades: Órgãos Estaduais Defensoria

Pública do Estado de São Paulo, Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP)

Governo do Estado de São Paulo, Secretaria da Saúde Departamento Regional de Saúde de

Piracicaba (DRS-X), Secretaria da Educação Diretoria de Ensino Regional Piracicaba

(DER), Secretaria de Segurança Pública: Polícia Civil: Delegacia de Defesa da Mulher

(DDM), Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP), Órgãos Municipais, Câmara de

Vereadores de Piracicaba, Fórum de Empreendedorismo Feminino, Procuradoria Especial

da Mulher, Prefeitura do Município de Piracicaba, Empresa Municipal de Desenvolvimento

Habitacional de Piracicaba (EMDHAP), Guarda Civil Municipal de Piracicaba (GCMP),

Patrulha Maria da Penha, Secretaria de Municipal de Ação Cultural (Semac), Centro de

Documentação, Cultura e Política Negra (CDCPN), Secretaria Municipal de Assistência e

Desenvolvimento Social (SMADS), Centro de Referência de Atendimento à Mulher

(CRAM/SMADS), Centro de Referência em Assistência Social (CRAS), Centro de


Referência Especializado em Assistência Social (CREAS), Secretaria Municipal de

Educação (SME), Secretaria Municipal de Saúde Centro de Vigilância em Saúde (CEVISA),

Centro de Doenças Infecto Contagiosas (CEDIC), Vigilância Epidemiológica (VE),

Departamento de Atenção Básica (DAB/SMS) Secretaria Municipal de Desenvolvimento

Econômico, Trabalho e Turismo (SEMDETTUR), Conselhos Municipais Conselho

Municipal da Mulher (CMM), Conselho Municipal de Políticas para a População LBGT –

Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual, Conselho de Participação e

Desenvolvimento da Comunidade Negra de Piracicaba (CONEPIR), Entidades da Sociedade

Civil e Órgãos de Classe Coletivo Feminista, antirracista e antifascista Marias de Luta,

Promotoras Legais Populares (PLP) de Piracicaba, Grupo Psicopret@s, Piracicaba OnG

CAPHIV – Centro de Apoio aos Portadores do Vírus HIV/AIDS e Hepatites Virais Projeto

“Não Viralize a Ignorância, Conheça”, OnG CASVI – Centro de Apoio e Solidariedade à

Vida, Comissão da Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – 8ª Subseção

Piracicaba, Sindicato dos Bancários de Piracicaba e Região (SindBan), Sociedade Metodista

de Mulheres da Catedral Metodista de Piracicaba (SMM-CMP) e ESALQ.

A proposta deste Grupo de Trabalho é a de promover a articulação da rede de proteção, bem

como promover as políticas públicas na área da proteção à mulher e outras políticas, entre

estas o Projeto da Arte Delas – Feira Criativa se configura como um processo aglutinador e

um importante espaço de formação que busca potencializar as capacidades criativas das

mulheres participantes.

As edições da Arte Delas – Feira Criativa apresenta-se como estimulante desafio de inclusão

social e produtiva, geração de renda e preservação dos contextos culturais que agregam as

trajetórias, dificuldades vivenciadas durante a pandemia e nos casos específicos que marcas

as vidas e histórias dessas mulheres, objetivando não apenas a comercialização de produtos,

mas o desenvolvimento de ações que promovam efetiva melhoria na vida das artesãos e
artesãs. Ressalta-se nesta organização do grupo um movimento constante que além do

aspecto cultural, promove a identidade, a cooperação, respeito às diferenças, consciência

coletiva, a administração das atividades socioeconômicas advindas da organização neste

grupo de mulheres.

2. Justificativa

O Projeto “Arte Delas – Feira Criativa” justifica-se pela necessidade do fortalecimento do

grupo de artesãs "ARTE DELAS: FEIRA CRIATIVA", bem como o de promover a

realização de um acompanhamento e fortalecimento junto ao grupo, da iniciativa do grupo

de artesãs empreendedoras na realização da adição da Feira nas dependências da ESALQ.

As estratégias positivas para conquista da independência e autonomia são algumas das

razões para a mulher empreender, contudo outros motivos são a falta de oportunidade para

mudar de profissão, a continuidade do negócio familiar e circunstâncias como perda de renda

devido à morte do parceiro ou separação. Para Machado et al (2003) as motivações se

resumem em circunstancial e pela vontade pessoal das mulheres criarem suas empresas.

As principais barreiras identificadas nas pesquisas sobre mulheres empreendedoras estão na

inserção em setores de atuação com maior presença de homens como nas áreas de Tecnologia

da Informação e Incubadoras Tecnológicas; a dificuldade em captar recursos financeiros; o

medo de falhar; o conflito entre desempenhar as atividades domésticas e o desejo de

empreender; e sentimento de culpa por ter menos tempo para cuidar da família (Porto, 2002;

Botelho et al, 2009; Alperstedt, Ferreira & Serafim, 2014).

Existem disparidades de gênero, em especial, em empreendimentos de alto crescimento,

como as startups e empresas voltadas às áreas de Tecnologias da Informação, Biotecnologia

e Eletrônica. As mulheres são menos propensas a fundarem empreendimentos de alto


potencial de crescimento e de obterem financiamentos de investidores externos e mais

predispostas a começarem empresas em setores associados a uma atividade comercial local

(Guzman & Kacperczyk, 2019).

No Brasil estima-se que 53,5 milhões de brasileiros sejam empreendedores, desse total,

56,5% de homens e 43,5% de mulheres criam novos negócios. A principal motivação para

iniciar um novo negócio é “ganhar a vida porque os empregos estão escassos” (GEM, 2019,

p. 12).

O Relatório de Desenvolvimento Humano (PNUD, 2019) mostra que a maior participação

da mulher na economia e nas questões sociais e políticas contribui para a redução da

desigualdade e torna a sociedade mais pacífica e resiliente. Além de propiciar o surgimento

de lideranças femininas empreendedoras com a capacidade de promover melhorias e novas

formas de gerar receitas para o território onde atuam.

O estilo de liderança feminino é definido como “uma capacidade de multiprocessamento de

informações e situações que ajudam a ter uma visão mais sistêmica e não sequencial da

realidade; maior flexibilidade e habilidade de enxergar as pessoas como um todo e não

apenas no âmbito profissional” (Fleury, 2013, p.46).

Neste sentido, as estratégias de ação criadas para fomentar o desenvolvimento da feira devem

ser compreendidas como estratégia para superação das condições de vulnerabilidade

relacionadas, notadamente, à ausência de condições de subsistência a partir do artesanato,

sobretudo num tempo em que a evidente instabilidade econômica ceifa postos de trabalho

formal e mitiga, também, a demanda por produtos artesanais, oriundos, em grande parte, do

trabalho informal, já notoriamente desprotegido, principalmente deste público de mulheres

e os processos de vulnerabilidade. Assim, a conquista de pontos de comercialização

organizada se apresenta coma uma alternativa para a inclusão produtiva e diminuição da


desigualdade social, estimulando atividades que facilitem a construção de novas relações

comerciais entre artesãos e consumidores, com foco na abertura de canais de

comercialização em espaços inovadores, ao mesmo tempo em que se dissemina o conceito

de consumo responsável e difusão cultural alias às questões anteriormente apresentadas de

fortalecimento do grupo e as diversas lutas específicas colocadas.

A proposta da feira vem sendo aperfeiçoada e hoje não é apenas uma agenda isolada, mas

um fator de otimização e aperfeiçoamento de atividades produtivas, geradora de

desenvolvimento comunitário, seja do ponto de vista cultural, seja partindo de uma visão

econômica sustentável.

3. Objetivo

Gerenciar o processo de trabalho coletivo do Grupo de Artesãs a fim de gerar suporte e

capacitação técnica para o desenvolvimento de suas atividades, bem como promover sua

feira itinerante.

Objetivos Específicos:

 Desenvolver planos de ação para veicular e comercializar os produtos gerados pelas

artesãs;

 Promover treinamentos e capacitações técnicas para as mulheres artesãs

 Promover a relação com grupos produtivos e o Poder Público municipal e seus

agentes, bem como parceiros e patrocinadores, fortalecendo a ideia de cooperação

institucional e interação progressiva e inclusiva entre o grupo e a comunidade.

4. Métodos
O referido grupo de mulheres desenvolve há cerca de seis meses a participação em feiras de

artesanato na cidade de Piracicaba e desde o mês de março de 2022, promove a organização

e os laços de pertencimento de um grupo de mulheres que está próximo de 100 artesãs.

As edições das Feiras da Arte Delas, Feira Criativa reúne expositoras e produtoras do

município e região, que integram o Fórum do Empreendedorismo Feminino, com seus

Stands comercializando diversos produtos artesanais.

A ideia é formar junto com os alunos, por meio da supervisão da orientadora, conhecimentos

sobre processos de marketing, finanças, vendas entre outros, para orientar essas mulheres

em seus processos de criação de preço e também sistemática de vendas.

5. Detalhamento das atividades a serem desenvolvidas pelo(s) bolsista(s)

Julga-se necessário 2 bolsistas de áreas distintas para contribuir da seguinte forma:

 Criar material para elaboração dos cursos que serão necessários (Recursos Humanos,

Marketing, Produção, Finanças, Economia, etc.);

 Preparar e ministrar, sob supervisão da orientadora, os cursos de capacitação e formação;

 Colaborar na organização das agendas das feiras e supervisionar as ações

 Redação do relatório final e elaboração de artigo científico para publicação.

6. Resultados esperados e seus respectivos indicadores de avaliação

Espera-se, com a execução deste projeto de extensão, gerar insumos concretos para o

fortalecimento da mulher que busca empreender, além de condições para seu

desenvolvimento profissional.

Para os discentes, espera-se a vivência com o campo da pesquisa, com o ensino de técnicas,

envolvimento com a observação em campo. Espera-se também proporcionar ao aluno


vivência na pesquisa social, pelo tema abordado, pensando nas particularidades desse campo

acadêmico e o que pode proporcionar de experiência de ensino.

7. Cronograma de execução

Data Especificações

Set/2022 a Out/2022 Levantamento das atividades desenvolvidas

Nov/2022 Elaboração do Plano de Ação

Dez/2022 a Junho/2023 Treinamentos e acompanhamento das feiras

Julho/2023 e Ago/2023 Redação relatório final

8. Referências bibliográficas

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