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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAPÁ

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA


ORGANIZAÇÕES, CULTURA E DESENVOLVIMENTO LOCAL
PROFESSOR: ANDRÉ LINS DE MELLO
ACADÊMICO: ANDRÉ PIRES BITENCOURT

Texto dissertativo abordando as questões quanto ao


padrão de desenvolvimento em curso no estado do
Amapá e de que forma esse padrão dialoga com as
culturas locais, abordando também os reflexos dessa
relação na construção das identidades das pessoas, bem
como a existência de uma política cultural no Amapá,
passando por suas características, abrangência e
efetivação por parte da Gestão.

2022
Macapá – AP
Para que se possa chegar ao conceito de Desenvolvimento é preciso perceber que este
sempre esteve, e até hoje continua sendo deturpado, limitando-se muitas vezes a ascensão
econômica do indivíduo, da comunidade em que está inserido ou mesmo de sua a nação, ficando
evidente a ausência do discernimento entre o Desenvolvimento e o crescimento econômico,
conforme corrobora Scatolin (1989, p.06):
Poucos são os outros conceitos nas Ciências Sociais que se têm
prestado a tanta controvérsia. Conceitos como progresso,
crescimento, industrialização, transformação, modernização, têm
sido usados frequentemente como sinônimos de desenvolvimento.
Em verdade, eles carregam dentro de si toda uma compreensão
específica dos fenômenos e constituem verdadeiros diagnósticos da
realidade, pois o conceito prejulga, indicando em que se deverá
atuar para alcançar o desenvolvimento.

Vale ressaltar que o Desenvolvimento não é completo quando restrito a pequenos nichos
ou grupos sociais, é necessário que todos tenham os mesmos direitos e a estes sejam aplicados
os memos deveres, caso contrário o que veremos cada vez mais será o aumento das
desigualdades sociais, principalmente no âmbito da concentração de renda, tão gritante em
nosso país. Segundo o estudo do World Inequality Lab (Laboratório das Desigualdades
Mundiais), que integra a Escola de Economia de Paris e é codirigido pelo economista francês
Thomas Piketty, autor do bestseller O Capital no Século 21:
No Brasil, a renda média nacional da população adulta, em termos
de paridade de poder de compra (PPP, na sigla em inglês), é de 14
mil euros, o equivalente a R$ 43,7 mil, nos cálculos dos autores do
estudo. Os 10% mais ricos no Brasil, com renda de 81,9 mil euros
(R$ 253,9 mil em PPP), representam 58,6% da renda total do país.
O estudo afirma que as estatísticas disponíveis indicam que os 10%
mais ricos no Brasil sempre ganharam mais da metade da renda
nacional.

Percebe-se então que o conceito de Desenvolvimento é complexo e envolve tanto os


aspectos econômicos, quanto sociais e culturais do indivíduo e o meio em que ele vive, é a
junção de diversos fatores que possibilitam ao ser humano a liberdade e o usufruto desta, a
possibilidade de acessar seus direitos previstos em Lei e de cumprir seus deveres com
responsabilidade, a possibilidade de ascensão econômica, a liberdade de assumir suas
identidades culturais e de viver com dignidade.

O Desenvolvimento social sempre esteve atrelado a cultura dos povos, e o Estado do


Amapá não foge a esta regra, ao rememorarmos as políticas públicas voltadas para o processo
de exploração da Amazônia desde os anos 1960 a 1970, período conhecido como o milagre
econômico, durante a Ditadura Militar, estas políticas enxergavam nossa território como um
grande vazio a ser desbravado e desenvolvido, com motes historicamente conhecidos como
“integrar para não entregar” e “Uma Amazônia sem homens, para homens sem-terra”,
trouxeram mudanças sociais drásticas para nosso território que se refletem até nossa sociedade
contemporânea.

O Estado do Amapá, como importante parte da Amazônia, também teve suas


modificações com a ocupação realizada pelo panejamento governamental no período ao norte
relatado, um dos principais empreendimento vindo para o estado na década de 50 a Indústria e
Comércio de Minérios S.A. (ICOMI), se instalou na Serra do Navio e foi a pioneira na extração
de minério de manganês, amplamente utilizado para suprir a indústria siderúrgica, a empresa
passaria 50 (cinquenta) anos explorando o minério nas terras tucujus, e apesar de ter empregado
um grande número de pessoas e ter trazido a urbanização e a estruturação portuária para o
estado, pouco deixou em investimentos duradouros.

Tais políticas públicas acabaram por causar desigualdade na sociedade e embora seja
inegável que nosso Estado possui um desenvolvimento em curso este desenvolvimento
encontra-se padronizado atualmente em uma economia baseada no funcionalismo público e no
comercio varejistas, que são os maiores empregadores de mão de obra no Estado. Este padrão
de desenvolvimento ainda muito desigual se relaciona com a cultura local ainda de forma muito
tímida, tendo em vista que importantes movimentos culturais de nossa população ainda são
marginalizados ou pouco conhecidos, até mesmo pelos moradores do Estado.

Podemos citar por exemplo o movimento cultural do Marabaixo, com suas raízes no
povo negro-quilombola, as louceiras do Distrito do Maruanum e os próprios povos originários
de nossa floresta, os indígenas que ainda hoje sofrem com o preconceito e a falta de apoio até
mesmo dentro de seus ambientes sociais. Desta feita a relação pouco conturbada entre o padrão
de desenvolvimento e as culturas locais acabam por criar preconceitos, que marginalizam ainda
mais nossa cultura, dificultando que haja uma formação identitária consistente das pessoas em
seus próprios nichos sociais.

Para sanar estes abismos entre o desenvolvimento e as expressões culturais, é necessário


que existam políticas públicas que fomentem ainda mais nossa cultura, tais políticas precisam
ser de Estado e não somente de gestões governamentais, embora vejamos atualmente ações
governamentais de valorização da cultural local, estas ações ainda se encontram muito
incipientes e não conseguem fomentar de maneira consistente nossa cultura local, mesmo em
nossos pontos turísticos e monumentos históricos de notório valor cultural o Estado ainda
caminha a passos curtos para um desenvolvimento que eleve as características de nosso povo.

Tal fato, acaba dando espaço a absorção de culturas importadas dos grandes centros
urbanos e mesmo de outros países, não que essa miscigenação não seja saudável, este não é o
ponto, porém nossas raízes devem ser mantidas e valorizadas para quem desta forma possamos
desenvolver nosso Estado, preservando nossa história e elevando nosso povo à melhores
patamares sociais.

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