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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAPÁ

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA


DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL
PROFESSOR: ANDRÉ RODRIGUES GUIMARÃES
ACADÊMICO: ANDRÉ PIRES BITENCOURT

Texto dissertativo abordando as questões apresentadas


em cada unidade da disciplina a respeito do tema
Desenvolvimento abrangendo seu conceito as
consequências no processo instituído em 1960 na
Amazônia, bem como formas de promover o pleno
desenvolvimento do estado do Amapá.

2022
Macapá – AP
Até o século XVIII o cenário mundial no que diz respeito poder do estado, este
encontrava-se fortemente concentrado nas mãos de monarcas e pequenas aristocracias, que
puniam com mãos de ferro quem ousa-se questionar tal poder. Porém neste mesmo século, sob
forte influência do Jusnaturalismo e das correntes do Iluminismo, as lutas contra o absolutismo
e os monarcas ganham forças através de movimentos que preconizavam a limitação dos poderes
do Estado e a superioridade do indivíduo e seus direitos naturais inalienáveis.
Tais movimentos acabaram culminando em revoluções que concretizaram, em partes,
os anseios da sociedade e se materializaram nos primeiros Textos Constitucionais, algum destes
ora voltados para as afirmações políticas de novas classes econômicas, ora impregnadas de
anseios intelectuais foram marcos que vislumbraram o reconhecimento de direitos humanos e
começaram a levantar a possibilidade do Desenvolvimento de uma grande maioria até então
não contempladas em qualquer outro instrumento.
A Declaração dos Direitos Humanos em 1948, destacou a proclamação dos direitos
econômicos, sociais e culturais e equiparando os valores e a eficácia jurídica dos direitos civis
e jurídicos, a possibilidade de valorização social do indivíduo pode ser considerada com o
primeiro passo para que este se desenvolva, logo pode-se inferir que o desenvolvimento
Humano está intimamente relacionado com a liberdade advinda da limitação e repartição do
poder político do estado.
Para que se possa chegar ao conceito de Desenvolvimento é preciso perceber que este
sempre esteve, e até hoje continua sendo deturpado, limitando-se muitas vezes a ascensão
econômica do indivíduo, da comunidade em que está inserido ou mesmo de sua a nação, ficando
evidente a ausência do discernimento entre o Desenvolvimento e o crescimento econômico,
conforme corrobora Scatolin (1989, p.06):
Poucos são os outros conceitos nas Ciências Sociais que se têm
prestado a tanta controvérsia. Conceitos como progresso,
crescimento, industrialização, transformação, modernização, têm
sido usados frequentemente como sinônimos de desenvolvimento.
Em verdade, eles carregam dentro de si toda uma compreensão
específica dos fenômenos e constituem verdadeiros diagnósticos da
realidade, pois o conceito prejulga, indicando em que se deverá
atuar para alcançar o desenvolvimento.

Trazendo a discussão para a sociedade brasileira, temos como principal marco do


reconhecimento dos direitos sociais a Carta Magna de 1988, considerada a Constituição cidadã,
esta trouxe em seu sentido formal uma importante fonte de possibilidades de Desenvolvimento
do indivíduo, pois prevê a importância dos direitos sociais da população, nos moldes da
Declaração dos Direitos Humanos e ainda preceitua que Poder emana do povo e para o povo.
Constituição Federal de 1988 é considerada por muitos especialistas como uma peça
fundamental para a consolidação do Estado democrático de direito no país, bem como da noção
de cidadania, ainda tão frágil para a população brasileira.
Vale ressaltar que o Desenvolvimento não é completo se restrito a pequenos nichos ou
grupos sociais, é necessário que todos tenham os mesmos direitos e a estes sejam aplicados os
memos deveres, caso contrário o que veremos cada vez mais será o aumento das desigualdades
sociais, principalmente no âmbito da concentração de renda, tão gritante em nosso país.
Segundo o estudo do World Inequality Lab (Laboratório das Desigualdades Mundiais), que
integra a Escola de Economia de Paris e é codirigido pelo economista francês Thomas Piketty,
autor do bestseller O Capital no Século 21:
No Brasil, a renda média nacional da população adulta, em termos
de paridade de poder de compra (PPP, na sigla em inglês), é de 14
mil euros, o equivalente a R$ 43,7 mil, nos cálculos dos autores do
estudo. Os 10% mais ricos no Brasil, com renda de 81,9 mil euros
(R$ 253,9 mil em PPP), representam 58,6% da renda total do país.
O estudo afirma que as estatísticas disponíveis indicam que os 10%
mais ricos no Brasil sempre ganharam mais da metade da renda
nacional.

Percebe-se então que o conceito de Desenvolvimento é complexo e envolve tanto os


aspectos econômicos, quanto sociais do indivíduo, é a junção de diversos fatores que
possibilitam ao ser humano a liberdade e o usufruto desta, a possibilidade de acessar seus
direitos previstos em Lei e de cumprir seus deveres com responsabilidade, a possibilidade de
ascensão econômica e de viver com dignidade.

Quando os olhares se voltam para Amazônia, percebemos que a ausência de políticas


públicas consistentes são as raízes dos abismos sociais e que vivemos. Durante os anos de 1960
a 1970, enquanto o Brasil vivia o período conhecido como milagre econômico, durante a
ditadura militar, a Amazônia era considerada um grande espaço vazio e começou compor os
planejamentos governamentais muito mais sob a ótica de ocupação e de soberania nacional do
que se preocupando com os povos originários que aqui residiam.

Os projetos governamentais planejados para a Amazônia, possuíam como objetivo de


Desenvolvimento a urbanização dos espaços e a exploração dos recursos naturais,
desconsiderando quase que por completo a existência dos povos que aqui já estavam, prova
disto está em um dos principais motes utilizados nas campanhas durante o regime militar “Uma
Amazônia sem homens, para homens sem-terra”, e aliado a este podemos citar também o slogan
utilizado no Plano de Integração Nacional: “Integrar para não Entregar”. Corroborando a lógica
da ocupação geografia sob a égide na soberania nacional.
Vejamos o que afirma Becker (2001):

O projeto geopolítico se apoiou, sobretudo, em estratégias


territoriais que implementaram a ocupação regional, num caso
exemplar do que Henri Lefebvre conceituou como “a produção do
espaço” pelo Estado (Lefebvre, 1978). Segundo esse autor, após a
construção do território, fundamento concreto do Estado, esta
passa a produzir um espaço político – o seu próprio espaço – para
exercer o controle social, constituído de normas, leis, hierarquias.
Para tanto, impõe sobre o território uma malha de duplo controle
– técnico e político – constituída de todos os tipos de conexões e
redes, capaz de controlar fluxos e estoques, e tendo as cidades como
base logística para a ação (BECKER, 2001, apud LEFEBVRE,
1978, p.3).

As mudanças na sociedade amazônida foram drásticas mas pouco Desenvolveram de


fato a população que aqui estava antes da chegada do “progresso”, a urbanização dos espaços
e as acessões sociais se deram em pequenos nichos muito mais para atender a necessidade dos
empreendimentos que para cá vieram, com fortes incentivos fiscais do Governo Federal, do que
como forma de desenvolvimento econômico e social, passamos a ser uma colônia de
exploração, onde os recursos daqui extraídos não voltaram na mesma proporção em
investimentos.

É claro que algumas capitais de desenvolveram como Belém e Manaus que se tornaram
importantes centros econômicos do país, que naquela época concentrava seu poderio
econômico principalmente em São Paulo que ainda possuía forte herança do sucesso cafeeiro
do Brasil, porém junto com o crescimento econômico surge também a concentração de renda e
a marginalização, principalmente da população originária de nosso território, fato que corrobora
que não há desenvolvimento se este não for igualitário.

O Estado do Amapá, como importante parte da Amazônia, também teve suas


modificações com a ocupação realizada pelo panejamento governamental no período ao norte
relatado, um dos principais empreendimento vindo para o estado na década de 50 a Indústria e
Comércio de Minérios S.A. (ICOMI), se instalou na Serra do Navio e foi a pioneira na extração
de minério de manganês, amplamente utilizado para suprir a indústria siderúrgica, a empresa
passaria 50 (cinquenta) anos explorando o minério nas terras tucujus, e apesar de ter empregado
um grande número de pessoas e ter trazido a urbanização e a estruturação portuária para o
estado, pouco deixou em investimentos duradouros.

Como exemplo atual desta relação da ausência de mutualidade na relação entre


empreendimentos e retornos em investimentos eficazes em nosso estado está nas hidrelétricas
aqui instaladas, 4 (quatro) ao todo, utilizando a força do rio Jarí e Araguari e mesmo assim o
Amapá passou quase todo o mês de novembro de 2020 sem energia elétrica distribuída de
maneira continua em 13 (treze) dos seus 16 (dezesseis) municípios. Além dos problemas da
mortandade dos peixes, uma das principais causas dos impactos ambientais que abalam a
população, principalmente nos municípios de Ferreira Gomes e Porto Grande.

Cumpre ressaltar que as razões das ausências de reflexos mais eficientes para a
população, e a geração de possibilidades de Desenvolvimento, estão muito mais ligadas a
ausência de políticas públicas responsáveis e duradouras, do que meramente por culpa da visão
capitalista das empresas. Se faz necessário e urgente planejamentos atemporais e apartidários
como forma de prover a continuidade dos benefícios gerados a população.

Fator igualmente importante está contido na organização social dos indivíduos e a busca
pela fiscalização de políticas públicas que favoreçam seu meio e a sociedade em que está
inserido, bem como na escolha de seus representantes políticos, conforme apregoa o parágrafo
único do art. 1º de nossa constituição, Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Voltando ao conceito abordado no início deste texto se faz necessário refletir sobre a
complexidade de Desenvolvimento em seu estado pleno, e de que forma pode-se chegar a ele,
estando claro que não é um caminho simples e que depende de diversos fatores. Ao pensar em
como alcançar está patamar em nosso estado se faz necessário pensar que, assim como na vida,
precisa-se enxergar as potencialidades e os pontos a potencializar.

Como o Desenvolvimento pleno, só se faz se for todo, precisa-se começar escutando a


sociedade, seus anseios e dificuldades, de forma a torná-los atores principais no processo rumo
ao que se almeja, a exploração de nossos recursos naturais de maneira responsável,
proporcionando oportunidades aos pequenos produtores e cooperativas ligadas a terra e a
natureza, afinal ninguém conhece melhor a Amazônia do que seus povos originários.

A valorização de nosso potencial turístico, passando pela nossa reserva ecológica e


nosso poderoso status de estado mais preservado do Brasil, como também considerando nossa
culinária e os fenômenos naturais que aqui ocorrem, como o equinócio e a pororoca. O
fortalecimento de nossos portos e a utilização de nossas vias fluviais como rotas muito mais
acessíveis e lucrativas para exportação, sem falar em nosso importante fronteira ao extremo
norte com a Guiana Francesa.
A exploração de outras fontes de energia renováveis como a solar e eólica, causando
menos danos ao meio ambiente e possibilitando que comunidades de difícil acesso sejam
beneficiadas, tendo em vista nosso clima equatorial com a predominância de períodos de forte
incidência da luz do sol e velocidade de ventos consideráveis por nossa posição geográfica
privilegiada.

Como se pode ver o Amapá tem diversas frentes com potencialidade inegável para se
desenvolver, porém este Desenvolvimento só será pleno se tiver como atores principais os
cidadãos, sendo respeitado cada um nos seus espaços, aperfeiçoando-os e provendo educação
de qualidade, gerando possibilidades de emprego e renda de maneira justa e igualitária,
escutando seus anseios e aprendendo com eles, afinal ninguém entenderá melhor do Amapá do
que os que aqui vivem.

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